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Top-3 no turismo Europa apostou em russos para incrementar setor emitindo vistos de até 5 anos de validade P.3 SHUTTERSTOCK/LEGION-MEDIA
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Este suplemento foi preparado e publicado pelo jornal Rossiyskaya Gazeta (Rússia), sem participação da redação da Folha de S.Paulo. Concluído em 26 de setembro de 2014. Publicado e distribuído com The New York Times (EUA), The Washington Post (EUA), The Daily Telegraph (Reino Unido), Le Figaro (França), La Repubblica (Itália), El País (Espanha), La Nacion (Argentina) e outros.
Direitos Humanos Jornalistas em foco
O papel do Império Russo na Primeira Guerra
Conflito ucraniano impulsiona novas leis Apesar de subestimado, órgão oficial de direitos humanos tem histórico de sucessos ao longo de seus 21 anos de história.
Celebrando o centenário da Primeira Guerra Mundial, a Gazeta Russa relembra o alinhamento da Rússia aos países aliados. País perdeu quase dois milhões de soldados nos combates, e sua colaboração foi definitiva para que a França se mantivesse no mapa, segundo avaliam historiadores.
ANNA VÊKLITCH ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA
O Conselho Presidencial para a Sociedade Civil e Direitos Humanos da Rússia apresentou uma nova leva de projetos de lei à Duma de Estado (câmara baixa do Parlamento russo) relacionados ao conflito na Ucrânia. Um dos projetos trata da proteção de jornalistas que trabalham em zonas de conflito. Para os membros do conselho, a liberdade de ação dos meios de comunicação, tanto em épocas de paz, como em guerras, é o ponto de partida para o desenvolvimento de uma sociedade civil. A questão se tornou prioritária para o órgão após a morte de Andrêi Stênin, fotógrafo da agência estatal Rússia Hoje, que controla, entre outros, o canal de TV Russia Today e a agência RIA Nôvosti. O fotojornalista trabalhava na Ucrânia quando foi declarado desaparecido, em 5 de agosto. Sua morte foi confi rmada em 3 de setembro, após o comboio de civis com o qual ele viajava no leste do país ser atacado por artilharia. Stênin foi o quarto jornalista russo morto nessa área nos últimos meses.
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Coletes e seguros
CORBIS/ALLOVERPRESS
Se aprovada, a lei proposta pelo conselho obrigará os veículos de imprensa a equipar seus correspondentes com coletes à prova de balas e capacetes, além de seguro de vida e outros instrumentos indispensáveis para os jor-
nalistas em zonas de conflito. A questão da proteção dos profissionais de imprensa se tornou recorrente principalmente após a guerra na Líbia, quando uma quantidade sem precendentes de freelancers do mundo inteiro rumou ao país para cobrir o conflito muitas vezes sem equipamento de proteção, seguro de vida ou cursos de primeiros socorros e treinamentos para cober tu ra em zonas de conflito.
Santo dos jornalistas Não é a primeira vez que o conselho aborda a questão da liberdade de imprensa. O órgão já conta, entre suas realizações, com um artigo no Código Penal russo que impõe penas a quem procurar interferir no trabalho dos jornalistas. Segundo o presidente do órgão, Mikhail Fedotov, que também é assessor do presidente Vladímir Pútin, “todas as iniciativas bem-sucedidas do conselho se realizaram sobretudo com muita perseverança”. O órgão tem a função de monitorar problemas sistêmicos na legislação e acompanhar casos individuais de direitos humanos, desenvolver propostas para apreciação do presidente e dos dev idos depa r ta mentos governamentais, e monitorar a implementação desses projetos. “Leis aprovadas com pressa não são precisas, e se transformam em armas de destruição em massa. O trabalho do conselho é introduzir a razão em cada caso”, explica Fedotov. CONTINUA NA PÁGINA 3
Bilateral Com alta acentuada dos preços brasileiros, Rússia já avalia focar importações na carne suína da Índia e da China, antes vetada
Aumento de preços pode prejudicar o Brasil Mesmo com embargo de produtos alimentícios da concorrência, país não consegue elevar exportações de modo significativo. VÍKTOR KUZMIN ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA
te ocupando alguns desses nichos, mas em muitos dos segmentos do mercado surgiu um déficit, devido ao qual os preços subiram de 15% a 20%. A carne suína brasileira foi uma das que registrou um aumento de preços notável. A diferença foi tanta que Serguêi Dankvert, diretor do órgão de vigilância sanitária russo, dedicou atenção especial ao aumento em reunião com o secretário brasileiro de Relações Internacionais do Agronegócio, Marcelo Ferraz. Dankvert ainda alertou Ferraz sobre as novas possibilidades que China e Índia abrem no mercado suíno. A
China, cujo acesso a esse mercado foi restrito por muito tempo, agora já tem dois frigoríficos autorizados a exportar à Rússia. Em breve, esse número deverá crescer: uma equipe de inspetores russos já está no país avaliando a conformidade das empresas locais às exigências veterinárias da União Aduaneira. Mas o diretor da agência de promoção de exportações brasileira (Apex) na Rússia, Almir Américo, mantém-se confiante.“Na competição com novos fornecedores, a qualidade é o diferencial do produto brasileiro no mercado russo”, diz.
Frutas superam churrasco em feira
REUTERS
Em meados deste ano, a Rússia proibiu a importação de carnes, legumes e frutas, marisco e pescado resfriado, leite e laticínios da União Europeia, Austrália, Canadá, Noruega e EUA como resposta às sanções ocidentais ao país. Até agora, porém, o Brasil só conseguiu atingir um aumento nas exportações de carnes avícolas, apesar das
esperanças suscitadas pela queda da concorrência. O aumento aconteceu em decorrência da proibição do toicinho europeu e do encarecimento de outros tipos de carnes, que levou à maior procura por aves, mais baratas. Como resultado, somente na primeira metade de setembro, o Brasil exportou mais carnes avícolas (8,5 mil toneladas) que em julho passado (6 mil toneladas). Em 20 de agosto, a lista de produtos proibidos pela Rússia aumentou ainda mais, após o endurecimento das sanções ocidentais. Os produtores russos estão atualmen-
Na feira World Food Moscow, frutas mostraram potencial
Enquanto churrasqueiros profissionais roubavam potenciais clientes da lanchonete do centro de exposições ao grelhar carnes fresquíssimas na última World Food Moscow, a maior promessa brasileira no mercado russo ficou com as frutas. Seu estande não fez tanto sucesso quanto o das carnes em número de homens engravatados enfileirados para prová-las. Mas, com uma cartela de clientes e fornecedores já bem definida, as carnes terão muito
menos espaço para crescer que outros produtos nos nichos que se abrem com as sanções, como ficou claro na maior feira russa do ramo alimentício em meados de setembro. “Esperamos um aumento das remessas de maçãs e cítricos na próxima safra, embora muitas frutas brasileiras, como mangas e melões, possam ter seu fornecimento interrompido, pois chegavam via reexportações dos Países Baixos”, disse Almir Américo, gerente da Apex.
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Opinião
RÚSSIA O melhor da Gazeta Russa http://br.rbth.com
O FUTURO DO LESTE UCRANIANO O
cessar-fogo no leste da Ucrânia colocou fim ao derramamento de sangue na região, mas não aproximou as partes em conflito de uma solução aceita por todos, e o processo político que se aproxima promete ser extremamente difícil. Após a troca de prisioneiros, a primeira fase do cessar-fogo prevê a delimitação das áreas de responsabilidade de cada país. Conflitos desse tipo não têm uma linha de frente bem definida, por isso as “fronteiras” têm que ser negociadas após as tréguas. Uma vez que, do ponto de vista do direito internacional, o território da Ucrânia está sob a jurisdição de Kiev e a formação das repúblicas de Donetsk e Lugansk não tem estatuto reconhecido, o acordo exige boa vontade, principalmente do lado ucraniano - e o reconhecimento por parte desse de que perdeu o controle efetivo de uma parte do país. Depois da delimitação de fronteiras, surge a questão do controle da linha de contato. A OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação na Europa) está envolvida na resolução do conflito desde o início, sendo por isso lógico que venha a assumir o monitoramento da região. Para tanto, ela precisará de um mandato, que deve ser expedido em Viena, onde fica sua sede. Em seguida, deverão ter início as negociações sobre o estatuto da região. Mas a expe-
Quanto à União Europeia, que contribuiu bastante para a crise, sua prioridade será, provavelmente, encontrar parceiros para restaurar a Ucrânia - em outras palavras, alguém com quem partilhar os custos.
Requentando as relações
Com ou sem Donbass? A situação política é tensa, as próprias tréguas não são bem vistas por todos. Além disso, a ideia de que sem Donbass a Ucrânia teria maiores chances de implementar uma soberania nacional estável apareceu ainda antes da última rodada do confronto. As autoridades das repúblicas separatistas têm agora a tarefa de restabelecer o aparelho administrativo e econômico dos órgãos de gestão, que devem se apoiar em algum tipo de legitimidade. Para tal são necessárias eleições e organizações políticas que delas participem. A experiência dos conflitos anteriores mostra que após a conquista da independência é natural o surgimento de líderes individuais, como Ígor Smirnov, na Transnístria, ou V ladislav A rdzinba, na Abecásia. No entanto, no leste da Ucrânia não existem personalidades fortes que desfrutem de indiscutível autoridade de liderança, e um governo autocrático dificilmente será do agrado dos habitantes dessa região, localizada quase no centro da Europa. É evidente que, como em outros casos semelhantes, o
papel de membros e líderes das forças armadas, será muito importante. Outro fator a ser levado em consideração são os interesses das forças externas, que elevaram consideravelmente os riscos e o grau de tensão do conflito. A Rússia enfrenta uma escolha difícil, uma vez que a responsabilidade moral e material pelo território que se separou da Ucrânia recai sobre Moscou. É claro que será prestada
Cenário ideal para Rússia seria uma Ucrânia unida com grande autonomia a Donetsk e Lugansk Eventos de 2014 são clara indicação de que alinhamento geopolítico da exURSS ainda ocorre
O IMPACTO DAS SANÇÕES HOJE
KONSTANTIN MALER
Iákov Mírkin ECONOMISTA
É
preciso saber distinguir entre o impacto das sanções a curto e a longo prazo. Seu efeito imediato não é muito perceptível, já que as sanções foram planejadas de modo a não afetarem, em hipótese alguma, o atual fluxo de petróleo e gás para a Europa - e seus respectivos pagamentos. Isso significa que a entrada de divisas que mantêm a saúde das finanças russas irá continuar. De acordo com dados do Serviço Federal de Estatística, o saldo positivo da balança comercial foi de quase US$ 100 bilhões entre janeiro e maio de 2014. Isso significa que as empresas dispõem de meios para pagar suas dívidas em moeda estrangeira. E conseguiremos até corrigir algo na organi-
zação das finanças russas. O empresariado do país se dedicou com afinco a obter dinheiro estrangeiro, e nossa máquina financeira foi mantida em níveis baixos artificialmente. Mas agora existe u m motivo pa ra nos ocuparmos dela: inundar a economia com dinheiro e crédito, reduzir as taxas de juro, reabilitar cuidadosamente o rublo - atualmente desvalorizado -, fortalecer os mercados financeiros e lançar um pacote de incentivos fiscais para quem estiver pronto a impulsionar a produtividade. Mais à frente está a redução das importações e, se formos inteligentes, o crescimento econômico com a substituição das mesmas. Sob esse prisma, devemos agradecer pela imposição de sanções. Há muito fazia falta uma sacudida forte! Já as consequências das sanções em longo prazo serão
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mais pesadas. A política oficial da União Europeia e dos Estados Unidos é a de excluir a Rússia do mercado de combustíveis da Europa, executando um “boicote tecnológico”, e lhe fechar os canais de financiamento externos. Dive r sos setor e s importantes da economia russa dependem das importações, em porcentagens que variam de 50% a 80%.
Encruzilhada Uma boa resposta será modernizar, colocar a energia da classe média e das empresas de médio porte a todo vapor, reforçar ao máximo os estímulos ao crescimento e aumentar a poupança. Tentar criar o próprio milagre econômico em condições de amplicação das liberdades empresariais e da redução de riscos dentro do país. Atrair investimento estrangeiro direto que traga consigo novas tecnologias.
Mas existem também respostas ruins, como fechar-se ao mundo, ou ficar onde estamos: com tudo convergindo para as mãos do Estado, pressão fiscal e muitas regras e proibições. De qualquer maneira, não será em três meses, nem em um ou dois anos que nos veremos livres da ruptura. Poderão vir tempos de reconciliação temporária com o Ocidente, mas as feridas abertas com os acontecimentos recentes serão profundas. O restabelecimento do nível anterior de integração da Rússia na comunidade internacional poderá levar de 10 a 15 anos. A aplicação das sanções será estendida, afetará pequenas partes da economia mundial, e deixará intacto o mais importante, que dá estabilidade à UE: os fluxos de matérias-primas da Rússia. As empresas ocidentais terão tempo e possibilidade de se adaptar, de transferir as operações para outras partes. Hoje assistimos ao surgimento de um mundo multipolar, no qual a concorrência dos países por esferas de influência é feroz. Ninguém sabe ainda qual será o alinhamento final de forças. Seja como for, ganhará aquele que tiver mais ideias e energia, mais criatividade e liberdade, mais qualidade de vida. Por isso, a Rússia terá que atender ao chamado e se tornar mais criativa, mais inovadora, mais leve na guinada. Deverá ter uma força inteligente, mais flexível, e encontrar sua própria receita de “milagre econômico”. Terá que se tornar aquela que atrai, e não aquela de quem fogem. Quando a Rússia produzir de 6% a 8% do PIB mundial - em vez dos 2,8% atuais -, aí a conversa será diferente. Iákov Mírkin é chefe da Seção de Mercados Internacionais da Academia Russa de Ciências.
EDITOR-ASSISTENTE: ALEKSANDRA GURIANOVA; REVISOR: PAULO PALADINO DIRETOR DE ARTE: ANDRÊI CHIMÁRSKI; EDITOR DE FOTO: ANDRÊI ZÁITSEV; CHEFE DA SEÇÃO DE PRÉ-IMPRESSÃO: MILLA DOMOGÁTSKAIA; PAGINADOR: MARIA OSCHÉPKOVA PARA A PUBLICAÇÃO DE MATERIAL PUBLICITÁRIO NO SUPLEMENTO, CONTATE JÚLIA GOLIKOVA, DIRETORA DA SEÇÃO PUBLICITÁRIA: GOLIKOVA@RG.RU © COPYRIGHT 2014 – FSFI ROSSIYSKAYA GAZETA. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS
ões poderia ser prestada no âmbito dos esforços internacionais para restaurar a Ucrânia, e fazer parte da Ucrânia daria a essa regiões alguma influência sobre a política interna do país. Moscou terá que promover a construção das instituições da República Popular de Donetsk e de Lugansk (cujos nomes devem mudar, mas provisoriamente usaremos os atuais), sem claras perspectivas para o futuro.
ajuda econômica para a recuperação de Donbass, no entanto, a inexistência de um acordo sobre o estatuto da região torna arriscado qualquer investimento feito ali. O cenário ideal para a Rússia, ao que parece, seria uma Ucrânia unida com elevado grau de autonomia em Donetsk e Lugansk e garantias de salvaguarda de seus direitos e oportunidades como parte constituinte do país vizinho. Então, a ajuda a essas regi-
Na Europa já ficou claro que sem a ajuda da Rússia a tarefa de levantar a Ucrânia se torna simplesmente impossível, e após a assinatura das tréguas os europeus vão procurar maneiras de colaborar com Moscou a fim de diminuir a pressão econômica sobre Kiev. Paralelamente, as sanções contra a Rússia naturalmente não contribuem para uma atmosfera de confiança construtiva. Os Estados Unidos obviamente assumirão uma posição mais destrutiva, já que olham para a crise ucraniana principalmente através do prisma de seus próprios interesses estratégicos na Europa e do objetivo de contenção da Rússia. Os eventos de 2014 foram uma clara indicação de que no território da ex-União Soviética continuam se desenrolando processos fundamentais, que também chegarão às fronteiras e à identidade dos diferentes povos, bem como ao alinhamento geopolítico do poder. O destino do leste da Ucrânia é parte de uma imagem grande e confusa do futuro, que por enquanto só podemos tentar adivinhar. Fiódor Lukianov é presidente do Conselho de Política Externa e Defesa da Rússia.
O TRATADO QUE É UM FARDO PARA O PAÍS tração de George W. Bush se retirou do Tratado de Defesa Antimíssil – considerado a pedra angular da estabilidade internacional em ambos os lados do Atlântico. O tratado limitava os sistemas de defesa antimíssil de ambos os países, não permitindo desestabilizar o equilíbrio entre defesa estratégica e ataque estratégico. Washington passou a implantar seus sistemas ao longo das fronteiras russas, justificando uma “proteção contra Estados párias” - entre esses, Irã e Coreia do Norte.
Víktor Litóvkin ESPECIALISTA MILITAR
O
Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF) foi assinado em 1987, em Washington, por Ronald Reagan e Mikhail Gorbatchov. Por meio dele, os líderes se comprometeram a destruir todos os seus mísseis balísticos e de cruzeiro com base em terra e cujo alcance estivesse entre mil e 5,5 mil km (médio alcance) e entre 500 e mil km (curto alcance). A Rússia assinou o tratado porque os mísseis americanos Pershing 1A, Pershing 2 e BGM-109G, em bases na Europa e armados com ogivas nucleares, poderiam atingir sua capital em apenas 12 minutos. Por sua vez, os soviéticos de médio alcance SS10, P-12, P-14 e RC-55 e, em menor medida, os OTP-22 e OTP-23, chegariam a qualquer país da Otan até o Atlântico. A eliminação desses mísseis foi uma grande contribuição para o abrandamento das tensões entre Moscou e Washington no início dos anos 1990. Mas, ao contrário da Rússia, os EUA não fazem fronteira com países que tenham mísseis de médio e curto alcance. Para eles, não interessava que a Turquia ou o Paquistão se livrassem desses mísseis, ou que a China e o Irã aderissem ao tratado. Além disso, toda a política externa norte-americana posterior se organizou de modo a obter vantagens unilaterais na expansão de mísseis e armas convencionais. Assim, em 2002, a adminis-
Podemos reagir aos antimísseis na Romênia e na Polônia com bombardeiros e Iskander-K na Crimeia Além disso, em violação ao tratado INF, Washington utiliza blocos dos mísseis Pershing em testes de mísseis-interceptores, e os drones supostamente usados para caçar terroristas correspondem, por suas características táticas e técnicas, a mísseis de cruzeiro terrestres. Os sistemas de lançamen-
to Mk-4, que os EUA pretendem colocar em bases na Polônia e na Romênia, também podem ser usados para lançar mísseis de cruzeiro de médio alcance - por isso sua instalação também representa grave violação do acordo. Assim, a Otan, como os países da Europa Oriental que se uniram à aliança, tornou-se de três a quatro vezes superior à Rússia em termos de armas convencionais. Afinal, como reagir aos antimísseis norte-americanos na Romênia e na Polônia? Ninguém esconde que eles estão voltados contra Moscou. Como compensar tal ameaça sem arruinar a economia com uma nova corrida armamentista? Por exemplo, com a colocação de bombardeiros de longo alcance Tu-22M3 e também do sistema tático-operativo Iskander-K na Crimeia. Talvez seja hora de o Kremlin anunciar a retirada da Rússia do Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário, que, na situação atual, já está se tornando um fardo para o país. Víktor Litóvkin é jornalista militar e coronel reformado do Exército russo.
IORSH
ANALISTA POLÍTICO
riência de outros conflitos suspensos – na Transnístria, Abecásia e Ossétia do Sul – indica que é muito difícil manter o controle adquirido. Por isso, para se conseguir manter a integridade da Ucrânia, serão necessários esforços extremos e uma abordagem muito criativa quanto aos direitos de autonomia.
NATALIA MIKHAYLENKO
Fiódor Lukianov
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Política e Sociedade
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Contra crise Turistas do país foram aposta de europeus após a crise, e França passou a conceder vistos com validade de cinco anos de descontos para os habitantes de São Petersburgo, muito gente tem ido para lá.” Grande parte da Europa entra em outra categoria menos popular: a do turismo cultural. Nessa, as pessoas tendem a visitar o maior número possível de cidades na mesma viagem, indo principalmente de ônibus para as capitais europeias. “Esses turistas costu mam v iajar para Alemanha, Itália, França, Finlândia, Suíça, Reino Unido e Lituânia”, diz.
Russos ficam em terceiro lugar entre turistas na Europa Simplificação na retirada de vistos foi um dos fatores para guinada russa, mas tendência não se verificou no Brasil e na Argentina.
Sol distante MARINA OBRAZKOVA
Vistos fáceis A porta-voz da Rosturizm (Agência Federal de Turismo da Rússia), Irina Chegolkova, acredita que o fator que mais influencia a demanda é o regime de vistos dos países. “Quando caiu o regime de vistos para turismo na Turquia, o número de turistas
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Em 2013, a Rússia ficou em terceiro lugar no ranking dos países que mais enviaram turistas à Europa, de acordo com dados da Associação de Operadores Turísticos da Rússia e da Comissão Europeia do Turismo. Com uma fatia de 6% dos turistas no continente, a Rússia só ficou atrás da Alemanha e do Reino Unido, responsáveis por 14% e 9% do turismo, respectivamente. Atrás da Rússia, vieram França, Holanda e Itália. Segundo a diretora-executiva da Associação dos Operadores de Turismo da Rúss i a, M a i a L om id z e, o s resultados se devem ao fato de os europeus terem passado a viajar menos devido à crise. “Na Espanha, por exemplo, a crise levou à falência milhares de agências de viagens. Os russos foram uma espécie de carta na manga dos europeus. Durante a crise, muitos países se reorientaram para os russos”, diz.
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aumentou muito - e vice-versa. Recentemente, simplificou-se também o regime de vistos com a China e imediatamente se verificou um aumento de 86% no número de viagens em 2013, em comparação a 2012”, diz. “No ano passado a Grécia deu vistos com muita facilidade, o que criou um enor-
Finlândia, Itália e Chipre. Bulgária, Croácia, França e Reino Unido são o segundo bloco dos mais visitados pelos russos, mas com uma grande margem de diferença para o primeiro.
Mas só a ausência de visto não basta para atrair o viajante. Países como o Brasil e a Argentina aboliram o regime de vistos para turistas, mas ainda são destinos pouco populares. O principal obstáculo é o elevado preço do voo. Os principais destinos dos russos são Grécia, Espanha,
me fluxo de turistas para lá. Também a Espanha começou a dar vistos de entrada múltipla e imediatamente disparou o número de viagens para o país. A mudança mais radical se deu com a França, que começou a conceder vistos de entrada múltipla com validade para cinco anos.”
Entre a praia e o museu Segundo Chegolkova, a preferência dos russos é por des-
tinos com praia. “No primeiro semestre de 2014 [quando é inverno], o top entre os destinos escolhidos pelos russos ficou com Egito e Tailândia, e, no verão, com a Turquia. Muitas pessoas vão para os Emirados Árabes e para o sul da Europa – Itália, Espanha e Grécia. Além disso, como a Finlândia tem um sistema
ENTREVISTA SVETLANA GANNUCHKINA
De acordo com Chegolkova, um fator que impede a organização de voos charter mais baratos para a América do Sul é a criminalidade. A América do Sul poderia atrair os turistas russos com suas praias e belezas naturais, mas seria preciso muito trabalho no marketing desses países. “É só ver como o México se está promovendo atualmente. Na Expo Turismo de Moscou, o México se apresentou com um stand enorme, muitos banners e publicidade. A promoção do país sai caro, mas sem isso as pessoas não o escolhem como destino”, explica. O nicho se torna ainda mais promissor com as previsões de que o número de turistas russos na Europa deverá diminuir em breve devido ao aumento acentuado do euro em relação ao rublo. Nesse contexto, deverão sair ganhando destinos que fazem a cotação dos preços com base no dólar. “Os países que mais ganham com essa situação são, principalmente, o Egito, que recebe quase 2 milhões de turistas russos, a Tailândia, com um fluxo na ordem de um milhão, os Emirados Árabes, com cerca de 700 mil turistas, e a República Dominicana, os países do Caribe, a Índia e a Indonésia. Os países da América Latina também têm chance de s e s o b r e s s a i r ”, d i z Lomidze.
RAIO-X IDADE: 72 ANOS ATUAÇÃO: DEFENSORA
“País não está preparado para receber refugiados” GAZETA RUSSA
A presidente do comitê “Assistência civil”, chefe da rede “Migração e direito” e ex-membro do Conselho Presidencial da Rússia para Assistência ao desenvolvimento de Institutos da Sociedade Civil e Direitos Humanos Svetlana Gannuchkina fala à Gazeta Russa sobre os refugiados ucranianos na Rússia, suas cond ições de v ida e problemas. Qual sua estimativa sobre o número de refugiados ucranianos na Rússia hoje? A onda mais recente de refugiados da Ucrânia é o primeiro caso desde os tempos do conflito Azerbaijão-Armênia em que o Estado [russo] se preocupa com os refugiados. Isso certamente é uma exceção positiva. Mas, ao determinar uma quantidade ou divulgar
quaisquer dados numéricos sobre os refugiados ucranianos, o Estado usa isso com finalidades políticas. Ao estimar o número de refugiados, nós nos baseamos na quantidade de pessoas que buscaram a organização “Migração e Direito”, a qual tem filiais em todas as regiões fronteiriças, em Moscou, em São Petersburgo e em outras cidades. No total, temos 45 pontos de atendimento. De acordo com os dados da nossa organização, atualmente a quantidade de refugiados já ultrapassou as 150 mil pessoas, que é um número que podemos comprovar. O decreto N° 691 de 22 de julho de 2014 do governo obriga as unidades federativas da Rússia a receberem determinado número de refugiados, baseando-se em uma quantidade geral de 150 mil. Ou seja, quando o assunto é a ação na prática, o governo declara, paradoxalmente, justamente a
fugiados. Obviamente, as condições nos campos não podem ser comparadas com as condições de uma pessoa que tem residência permanente, mas o Ministério para Situações de Emergência da Rússia provê um alto nível de organização nos campos de refugiados. Agora, inicia-se a transferência desses. Às custas dos refugiados, a Rússia resolveu ressuscitar seu programa estatal de migração voluntária de conterrâneos. Esse programa já falhou repetidas vezes. Ele foi modernizado, mas mesmo assim não funcionou. Enviam as pessoas, por exemplo, a Stavropol [no extremo Sul da Rússia], mas elas retornam a Rostov, já que a parte anfitriã não está preparada para lhe fornecer nem moradia, nem trabalho. As unidades federativas russas não estão preparadas para receber os ref ug iados da Ucrânia.
mesma quantidade que nossa organização. Quão simples é para os ucranianos receber o status de refugiados e asilo temporário na Rússia? Quase 6 mil pessoas entraram com pedidos de refúgio. Desses, apenas 113 tiveram seus pedidos deferidos. Para asilo temporário, entraram com pedido todos os 150 mil, e receberam resposta favorável 110 mil. Ainda antes desses acontecimentos trágicos, uma enorme quantidade de cidadãos ucranianos já trabalhava na Rússia. Esses também compõem as centenas de milhares de pessoas referidas pelo Estado russo. E eles não são refugiados. Como você poderia avaliar as condições em que se encontram hoje os refugiados? Hoje, cerca de 60 mil pessoas vivem em campos de re-
Formada em 1967 pela Universidade Estatal de Moscou, Svetlana lecionou de 1970 a 1999 na Universidade Estatal Russa de Humanidades. Começou a atuar como ativista dos direitos humanos no final dos anos 1980, defendendo os direitos dos refugiados e imigrantes no país. Seu trabalho se concentra principalmente na violação dos direitos humanos na Tchetchênia. Foi condecorada com a Ordem Nacional da Legião de Honra e indicada ao Prêmio Nobel da Paz em 2010, juntamente à organização “Memorial”.
REUTERS
MARINA DARMAROS, VASSÍLI KRILOV
DOS DIREITOS HUMANOS
O Estado provê ajuda financeira aos refugiados? O premiê Dmítri Medvedev anunciou que o governo destinou aproximadamente R$ 62 milhões para ajudar os refugiados ucranianos. Os centros para onde são enviados esses cidadãos recebem 800 rublos (R$ 50) por dia por pessoa. É um uso totalmente irracional do dinheiro, porque todo ele é aplicado apenas na infraestrutura, e o refugiado não recebe dinheiro nem para comprar um sabão.
Além disso, essas dotações causam irritação na população local. Na cabeça dos moradores, os refugiados recebem uma soma que é maior que o salário da maioria ali. Mas agora foi aprovada uma resolução muito boa pela qual todos os refugiados ucranianos recebem permissão de trabalho. A concessão de cidadania russa para refugiados ucranianos está sendo simplificada? Surgem conflitos com outros
refugiados da Comunidade dos Estados Independentes, já que os ucranianos recebem documentos, trabalho e outros benefícios sociais mais rapidamente... Não se pode introduzir quaisquer cotas para os refugiados, a migração deles não é econômica, e os ucranianos não concorrem com ninguém! No final de 2013, havia na Rússia ao todo 632 refugiados, e nem esses recebiam qualquer morad ia ou be nef ício regular.
Projeto de lei de conselho protegerá jornalistas O Conselho Presidencial para a Sociedade Civil e Direitos Humanos da Rússia, que originalmente se chamava Comissão de Direitos Humanos, foi criado em 26 de setembro de 1993, durante a crise constitucional russa, quando o então presidente Boris Iéltsin dissolveu o Legislativo e ordenou um ataque contra os deputados que se opunham a suas políticas e tinham se barricado no interior do edifício conhecido como a Casa Branca russa. “Quando o ‘protesto sen-
tado’ começou na Casa Branca, foi criada uma força-tar e f a que s e r e u n i a no Kremlin. Nós nos encontrávamos todos os dias e desenvolvíamos propostas para o presidente. Parte dessa força-tarefa se transformou na nova comissão, que era chefiada pelo ativista de direitos humanos Serguêi Kovaliov”, explica Fedotov. O órgão tem 61 membros e inclui especialistas em áreas que vão desde a prevenção da violência doméstica ao combate a incêndios florestais. Apesar da diver-
sidade de pontos de vista políticos, Fedotov garante que as diferenças trabalham em benefício do próprio órgão, já que os membros têm de aprender a respeitar pontos de vista opostos.
Vitórias do conselho Outras duas grandes realizações do conselho foram a promulgação de uma lei que estabelece o controle público sobre as agências estatais e a criação da televisão pública russa, em 2013. Em dezembro do mesmo ano, o conselho também teve
AFP/EASTNEWS
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participação ativa na decisão da Duma de Estado de conceder anistia às integrantes do Pussy Riot, Nadejda Tolokonnikova e Maria Aliókhina, bem como aos 13 réus presos durante os protestos na Praça Bolotnáia, em 2012, e aos 30 ativistas do Greenpeace presos perto da plataforma de petróleo Prirazlômnaia, no Oceano Ártico. No entanto, de acordo com Vladislav Grib, vice-secretário da Câmara Pública da Rússia, organização que monitora o trabalho dos órgãos do governo, é impossível ava-
liar objetivamente a eficácia do conselho, uma vez que esse depende, em grande parte, das decisões das agências governamentais. “Com isso, claro que é possível notar problemas com a implementação de iniciativas do conselho”, diz. Outra área em que a atuação do conselho é notável é na proteção do empresariado. Suas ações no setor foram impulsionadas sobretudo após a morte do advogado Serguêi Magnítski, que teve rejeitados diversos pedidos de atendimento médico e morreu na prisão.
Especial
RÚSSIA O melhor da Gazeta Russa http://br.rbth.com
100 ANOS DA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL ANTES DE ASSINAR UM TRATADO DE PAZ EM 1917, PAÍS FEZ IMPORTANTES CONTRIBUIÇÕES COM O SEU EXÉRCITO IMPERIAL RUSSO NO REFORÇO À GUERRA DOS ALIADOS
A RÚSSIA ENTRE OS ALIADOS Autor franco-russo concentrou pesquisas em aspectos negligenciados da atuação russa durante a Primeira Guerra Mundial. DMÍTRI KOCHKÔ
1914: O Marne
1915: Verdun
NATALIA MIKHAYLENKO (2)
gências da guerra. Soldados russos foram forçados a pegar as armas de seus companheiros mortos no campo de batalha apenas para ter algo com o que lutar. No entanto, a guerra continuou, com soldados russos usando baionetas, facas e até mesmo os próprios punhos. Mais de 1,4 milhão de soldados russos foram mortos ou ficaram feridos naquele ano. Percebendo, porém, que não poderiam ganhar em ambas as frentes, os alemães ofereceram um acordo de paz com um bônus: os estreitos turcos e Constantinopla. Do ponto de vista militar, os próprios russos deveriam ter pedido uma trégua, já que sua inferioridade em termos de armas e equipamentos estava resultando em enormes perdas. Mesmo assim, o tsar Nikolai II decidiu rejeitar a oferta alemã.
Museu Restauração custou US$ 8 mi
País inagura espaço pioneiro dedicado à IGM Depois de três anos de obras, exibição permanente da casa abre com objetos raríssimos, como bandeiras imperiais, cartas e até um avião biplano. IRINA KRUZHILINA, KATHERINE TERS ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA
1916: Recuperação russa Em 1916, a Alemanha voltou sua atenção para a Frente Ocidental. Os russos usaram o breve período de alívio para abastecer e reequipar suas forças, lançando mais tarde pelo menos duas grandes campanhas, que se revelariam decisivas para o resultado final da guerra. A primeira delas foi uma ofensiva em junho, liderada pelo general Aleksêi Brusilov, na Bessarábia – região que atualmente faz parte da Moldávia e da Ucrânia. A iniciativa incapacitou dois mil h õ e s d e c o m b at e nt e s inimigos. A segunda foi liderada pelo general Nikolai Iudenitch, que derrotou os turcos nas montanhas do Cáucaso, na fronteira sul da Rússia, e conseguiu chegar ao rio Eufrates, na Turquia. A recuperação do Exército russo trouxe novo otimismo aos aliados. Winston Churchill, ministro das Armas da Grã-Bretanha, observou que “alguns episódios da Grande Guerra são mais surpreendentes do que a restauração, a reconstituição e o esforço gigantesco da Rússia em 1916”. No início de 1917, muitos participantes e observadores do conflito de ambos os lados estavam convencidos de que o Exército russo já havia vencido a guerra, pelo menos de acordo com o genera l Adolenko.
A ‘Grande Guerra’ em números
“O Exército russo não foi derrotado; muito pelo contrário”, diz seu fi lho, Pável Andolenko.
1917: Abdicação do Tsar Em janeiro de 1917, os austríacos começaram a negociar com os franceses, ingleses e italianos para dar um fim à guerra – fato que o tsar Nikolai II desconhecia. Se o imperador soubesse, ele provavelmente não teria abdicado em março – uma ação que teve um profundo efeito
sobre o moral dos soldados do Exército russo. Sem imperador, eles não sabiam por quem estavam lutando. Afinal, o lema do Exército Imperial era “Fé, tsar e pátria”. Estima-se que 2 milhões de soldados russos tenham morrido na Primeira Guerra Mundial. As perdas russas superaram até as francesas, que totalizaram cerca de 1,4 milhão. “Os exércitos francês e russo foram os que mais se sacrificaram pela vi-
tória, e devemos ter em mente que ambos lutaram em estreita cooperação durante a guerra, cada um se esforçando para aliviar o outro e suportando os principais ataques do inimigo”, afirma Pável Andolenko. No final da guerra, apesar do Tratado de Brest-Litovsk, o marechal francês Ferdinand Foch escreveu: “A França não foi apagada do mapa da Europa sobretudo devido à coragem dos soldados russos”.
Um novo museu inteiramente dedicado à Primeira Guerra Mundial foi inaugurado em agosto na cidade de Púchkin, também conhecida como Tsárskoie Selô, nos arredores de São Petersburgo. O local tem uma exposição permanente intitulada “Rússia na Grande Guerra”, e está instalado em um impressionante edifício histórico chamado Câmara Marcial – um complexo construído no estilo do renascimento russo para abrigar o museu da história militar durante os últimos anos do reinado do tsar Nikolai II. A fundação do museu no início do século 20 foi idealizada por Elena Tretiakova, cunhada do fundador da renomada Galeria Tretiakov, em Moscou. O Museu da Grande Guerra na Câmara Marcial foi inaugurado no início de 1917, mas logo fechado, em 1919. Suas mostras foram realocadas ou destruídas nos primeiros anos de regime comunista. Em 2008, o prédio foi transferido para o domínio do Museu Estatal Tsárskoie Selô, um complexo tombado como Patrimônio Mundial que inclui os palácios de Catarina e de Aleksandr, bem como os parques em torno deles, em uma área com mais de 100 monumentos históricos. Nos preparativos para a abertura do museu neste ano, a Câmara Marcial passou por obras de restauro que levaram três anos e cust a r a m US$ 8 milhões. A coleção do museu inclui
L EI A M A I S S O B R E H I S TÓ R I A R U S S A N O N O S S O S I T E : A GUERRA A PRIMEIRNAS CARTAS MUNDIAL BATENTES DOS COM RUSSOS m/26761 br.rbth.co
A CRIMEIA GUERRA D TOU REPRESEN BIO INTERCÂML ENTRE CULTURA S INIMIGOS SOLDADO m/27301 br.rbth.co
roupas, uniformes militares, armas, fotografias, retratos e documentos, além de correspondências da época. O item mais impressionante em exposição é, provavelmente, um modelo de caça biplano francês Nieuport-17 pendurado no teto de uma das salas de exibição. Bandeiras com as cores preta, amarela e branca, de um antigo brasão de armas do Império, também fazem parte da mostra. As flâmulas são uma raridade nos dias atuais, pois poucas sobreviveram ao período soviético. Até a Segunda Guerra Mundial, possuir uma dessas era ofensa punível com execução. Um item bastante pessoal da mostra é um telegrama enviado pelo tsar Nikolai II ao Kaiser Wilhelm II, que era seu primo, pouco antes do início das hostilidades. Na mensagem, Nikolai fala a Wilhelm sobre sua amizade e assina o telegrama carinhosamente como “Nicky”. Fotografias sinistras de cães e cavalos em máscaras de gás são outro destaque das galerias de fotos em exibição. As próprias máscaras de gás, desenvolvidas na Rússia pelo cientista Nikolai Zelínski, também estão em exposição. Para mais detalhes sobre o museu e outras atrações em Púchkin, acesse: www.tzar.ru
Museu tem até biplano pendurado no teto
ITAR-TASS
Andolenko descreve 1915 como “Verdun antes de Verdun”. E foi em 1915 que o Exército russo teve que enfrentar tudo o que a indústria alemã era capaz de produzir. Em 1915, o número de perdas humanas superou até mesmo o de 1914, e a indústria russa se mostrou incapaz de acompanhar as exi-
“Fé, tsar e pátria”: Soldados não sabiam por quem lutar após renúncia de Nikolai II (centro)
CORBIS/ALLOVERPRESS
O Exército russo foi um dos melhores de seu tempo, segundo Adolenko, mas tinha dois grandes problemas: as dimensões do território da Rú ssia e sua econom ia subdesenvolvida. O império era tão grande que, logisticamente, era difícil manter o fornecimento de armas para o fronte. A economia da Rússia, que estava apenas começando a ser impactada pela modernização, não era forte o suficiente para resistir a um conflito global prolongado. No entanto, apesar dessas desvantagens, o Exército russo ainda conseguiu causar impacto nos dois primeiros anos da guerra. Em 17 de agosto de 1914, lançou uma ofensiva contra a Prússia Oriental, região da província alemã na costa sul-oriental do Báltico. A Rússia concordou em realizar a ofensiva a pedido dos franceses, para que o Exército francês pudesse se concentrar em defender o ataque alemão no Ma r ne, no nordeste da França. Essa ofensiva, que, segundo o historiador de São Petersburgo Víktor Pravdiuk, foi realizada “em prol dos aliados”, custou ao país nada menos que 100 mil homens e terminou com uma derrota na Batalha de Tannenberg. Porém, as primeiras vitórias russas provocaram pânico no Alto Comando alemão – e tanto, que a Alemanha tirou dois corpos do exército e uma divisão de cavalaria do Fronte Ocidental para lutar contra a Rússia. Esta foi uma das razões para o “milagre” no Marne.
© RIA NOVOSTI
ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA
Ao pensar sobre a Rússia e a Primeira Guerra Mundial, os historiadores geralmente se concentram no Tratado de Brest-Litovsk, que pôs fim à guerra para a Rússia, o mau desempenho do Exército russo e o papel que a guerra desempenhou no desencadeamento da Revolução de Outubro. Mas, em vez disso, as pesquisas do historiador Sergue Andolenko analisam o papel desempenhado pela Rússia no esforço de guerra dos aliados. Nascido na Rússia, Andolenko foi general e historiador militar. Ele emigrou para a França após a Revolução de Outubro, onde estudou na Escola Militar Especial de Saint-Cyr. Pável Andolenko, filho de Sergue e ex-oficial da Marinha Francesa, falou à Gazeta Russa sobre os estudos conduzidos pelo pai.
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O: O MARTEL A FOICE E EMBLEMA O MÍSTICOOS DO PAÍS D SOVIETES m/26525 br.rbth.co