A receita do assessor de assuntos econômicos do Kremlin Página 03
Página 04 segunda-feira, 25 de abril de 2011
50º aniversário
Baikal, destino imperdível
nikolay korolev
Helipark compra primeiro Kamov-32 do país
lori/legion media
foto do arquivo pessoal
“Cupuaçu Voador” de volta ao Brasil
Privatizar e ampliar produção
Belas paisagens e cultura siberiana atraem turistas Página 08
do primeiro voo do homem ao espaço
P u b l i c a d o e d i st r i b u í d o co m Th e Wa s h i n g to n P o st ( E UA) , Th e D a i l y Te l e g ra p h ( Re i n o U n i d o) , Le F i g a ro ( Fra n ç a ) , L a Re p u b b l i c a ( I t á l i a ) , E l Pa í s ( E s p a n h a ) , Fo l h a d e S . P a u l o ( B ra s i l ) , Th e E co n o m i c Ti m e s ( Í n d i a ) , C l a r í n ( A rg e n t i n a ) , S ü d d e u t s c h e Ze i t u n g ( A l e m a n h a ) e o u t ro s g ra n d e s d i á r i o s i n te r n a c i o n a i s
Saúde Investimento de quase R$ 17 bilhões quer melhorar sistema público, sucateado desde os anos 90
Em busca do tempo perdido
Notas 25 anos de Tchernobil vêm com ajuda russa
Mudanças devem estabelecer infraestrutura básica de saúde no país e aumentar a expectativa de vida da população, combinando prevenção e tratamento. Galina Masterova
especial para gazeta russa
continua na Página 6
AFP/eastnews
Médicos russos vão receber aumento de 30% para evitar subornos. O salário real, porém, seguirá ínfimo
photoxpress
Quando a mãe de Evguênia Ivánovna foi hospitalizada recentemente, sua filha Zoia entendeu que deveria dar algum dinheiro para a enfermeira, mesmo se tratando de uma instituição do governo. Zoia lhe entregou 500 rublos (28 reais) e comprovou que o sistema de saúde russo, em tese gratuito de acordo com a Constituição de 1993, é na realidade dividido e mesclado entre serviços privados e um sistema público em condições inferiores. A falta de investimento sucateou o sistema público de saúde, hoje conhecido por seus hospitais precários e funcionários mal pagos que aceitam pagamentos por fora pelo trabalho.
O embaixador russo na Ucrânia, Mikhail Zurabov, anunciou que o país receberá uma ajuda de 45 milhões de euros para a reconstrução da estrutura que protege a usina de Tchernobil, segundo a agência de notícias Ria-Nóvosti. Em 26 de abril completam-se 25 anos do desastre no quarto bloco energético da usina atômica, provocando o maior desastre nuclear da história. Após os estragos, o reator foi envolvido por uma estrutura de concreto com o intuito de isolá-lo. No entanto, a estrutura apresentou rachaduras nos últimos anos e, para refazê-la, seriam necessários pelo menos R$1,37 bilhões. Muitos habitantes começaram a regressar à região em 2008, com a intenção de fazer renascer a agricultura e criação de gado. Gazeta Russa
nesta edição
Brasil e Argentina na mira dos filtros entrada no mercado brasileiro de uma empresa russa especializada em filtros para gases poluentes industriais, a Kondor-Eko. A empresa russa já implementou suas recém-adquiridas patentes de filtros elét r icos e m de ze n as de indústrias pesadas espalhadas pela Rússia e em pelo menos cinco outros países. Agora, tanto a Kondor-Eko como suas empresas-parceiras Niiogas e a alemã Synal tentam se aproximar do mercado brasileiro. “É uma tecnologia de implementação lenta, passo a passo, e nós temos a intenção de levar isso adiante. Sobretudo agora, depois da construção de nossa primeira usina de produção de combustível a partir de bio-
denis moreira fabrIcio yuri vitorino especial para gazeta russa
Com o fortalecimento dos BRICS nos últimos anos, não apenas o mercado de países desenvolvidos se abriu para Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, como os negócios entre esses países ganharam impulso. Depois de trocarem maquinaria pesada, produtos alimentícios e até culturais, Brasil e Rússia podem também comercializar soluções ambientais, com a possível
gás, na região de Iaroslav, na Rússia”, explica o alemão Markus Becker, diretor da Synal e representante do conglomerado. Nas operações com possíveis clientes na América do Sul, a carenagem dos produtos será construída por companhias locais, enquanto o planejamento, a supervisão e a instalação da tecnologia principal ficarão a cargo da empresa russa. A primeira parceria efetiva do grupo na América Latina acontece em Cuba. “Esse, por enquanto, é nosso único mercado certeiro, onde atuamos no parque industrial de metalurgia e gás com tecnologia de purificação de poluentes industriais. De lá, a partir da experiência que estamos adquirindo, vamos
expandir nossos negócios para o resto da América Latina”, garante Becker. Segundo o representante, existem negociações agora com o Chile, mas o conglomerado ainda estaria planejando novos passos no Brasil e na Argentina, para então seguir para mercados menores - mas não menos importantes - em outros países da região. A empresa também se prepara para as possíveis acusações de que o plano de se expandir para novos mercados seja apontado como uma tentativa europeia de usar a América Latina como laboratório para novas tecnologias ou mesmo como depósito de lixo.
reuters/vostock-photo
Já instalada em Cuba, a empresa de soluções ecológicas russa Kondor-Eko está em negociações com o Chile, mas ainda planeja chegar aos dois maiores países da América do Sul.
Plano quer produção local e supervisão russa
continua na Página 3
Sob suspeita Família de Iúri Lujkov, ex-prefeito de Moscou, é acusada de enriquecimento ilícito
É hora de explicar a fortuna Galina Masterova
especial para gazeta russa
Como um líder autocrático, o ex-prefeito de Moscou Iúri Lujkov tinha controle quase total de seu domínio. E, como muitas vezes acontece nesses casos, sua família foi acusada de lucrar com seu poder,
faturando bilhões de dólares durante seu governo. Agora que ele se foi, é hora de prestar contas. vasily shaposhnikov_kommersant
Dona de empreiteira, Elena Batúrina foi a mulher mais rica da Europa durante o mandato do marido, que agora afunda em acusações.
Começo do fim
Riqueza de Elena Batúrina, mulher do ex-prefeito, foi estimada em US$ 2,9 bilhões
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Agora a Gazeta Russa
A destituição de Lujkov se deu de forma humilhante. Após 18 anos no cargo, ele foi abruptamente afastado pelo presidente Dmítri Medvedev, em setembro passado. Mas isso foi só o começo. O vasto império de negócios da mulher de Lujkov, Elena
aniversário
NBastian
Sustentabilidade Fabricante quer ampliar mercado de sistema de purificação de ar para indústrias
Bolshoi, 11 anos no Brasil
Única filial do balé russo no mundo, escola comemora com grande apresentação Página 5
start 3
Bilateral e multipolar
Tratado de Redução de Armas Estratégicas entre EUA e Rússia completa um ano Batúrina, está agora sendo acusada, assim como os setores da cidade que o marido controlava. Um ano atrás, Batúrina era uma das mulheres mais ricas do mundo. Muitos a acusaram de roubo e nepotismo. Sua fortuna foi estimada em US$ 2,9 bilhões pela revista Forbes. “Essa redistribuição da propriedade não se refere apenas aos negócios de Batúrina, mas a qualquer coisa ligada a Lujkov e a seus re-
cursos administrativos”, afirma Nikolai Petrov, acadêmico do Centro Carnegie de Moscou. Por recursos administrativos, entende-se a influência de líderes políticos sobre determinadas escolhas. “Os bancos, o metrô, a indústria da construção civil, qualquer área que seja controlada pelo prefeito, ou pessoas próximas a ele”, completa Petrov. continua na Página 2
está também na internet
Página 7
corrupção
Fim à propina
Governo e organizações empresariais querem acabar com arbitrariedades Página 2
Política e Sociedade
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Reação Iniciativa privada e Estado querem pôr fim às inacreditáveis histórias de corrupção e abuso de poder
notas
Gazeta Russa
Adeus, corruptos!
Sueca Swepos é primeira a trocar GPS pelo russo Glonass
Estima-se que 10% das receitas das empresas é reservada ao pagamento de autoridades. Desde pequenos achaques até grandes tramoias. vladímir ruvínski
photoxpress
gazeta russa
Em 2006, quando Iana Ia-kovleva era diretora financeira da Sofeks, uma grande indústria química, foi incriminada por policiais antitráfico que queriam extorquí-la, aproveitando falhas na lei. Recusando-se a pagar, Iakovleva, hoje com 39 anos, acabou presa. “Graças a campanhas por todo o país e ao apoio de especialistas, a lei foi alterada”, diz a empresária. Reconhecida a ilegitimidade, Iakovleva foi liberada. Depois disso, criou o movimento “Negócio solidário”, que conta com apoio de outros empresários que também foram vítimas de atos ilegais de agentes públicos. Com os novos passos do governo para a luta contra a corrupção, Iakovleva tornou-se diretora de um centro anticorrupção, pouco depois de entrar na maior associação empresarial do país, a “Rússia Empreendedora”. A proposta do centro é ajudar empresários na luta contra o abuso de poder. “É uma ação em duas frentes: o governo e as empresas”, afirma o presidente da “Rússia Empreendedora”, Boris Titov, um dos líderes do centro anticorrupção.
entrevista
Boris Titov
Um dos primeiros casos que o centro defendeu foi o do casal de empreendedores Galina e Evguêni Konovalov, que tiveram sua empresa tomada pelas autoridades da cidade de Krasnodar. “Em 2008, ficamos sabendo que a empresa havia mudado secretamente de dono e, quando abrimos um processo, meu marido foi preso por inventar acusações criminais”, lembra Galina. Os advogados já não tinham esperanças, mas neste ano o casal
lilia zlakazova_rg
Caso Konovalov
O que mais dificulta a gestão das pequenas e médias empresas na Rússia? Normalmente, por parte do governo, diz-se que é a pressão das grandes empresas, a corrupção, os ataques de golpistas e regulação dos mercados.
Dos fatores enumerados, é claro, a corrupção. O grande negócio não atrapalha o pequeno, ele ocupa-se apenas de maiores operações, com rendimentos elevados. Dos outros fatores, os que interferem mais são, antes de tudo, as condições econômicas. Em especial a carga tributária. Altas tarifas de energia, altas taxas de juros bancários. O Estado não faz nada para regular esses processos e fazer o negócio mais rentável. Mas no Cazaquistão a taxa de impostos é 40% mais baixa e a de fronteira, livre, de modo que seu produto concorre livremente na Rússia sem qualquer tipo de restrição. Por isso, empresários que podem pegar tudo e ir embora realmente pensam em deixar o
país. Empresas de médio porte dificilmente deslocam sua produção, mas muitos começaram. O governo tem ajudado significativamente empresas de pequeno porte. Nós temos um dos melhores governos do mundo para a sua regulamentação: impostos baixos, contabilidade facilitada. Para essas empresas, o problema é outro – eles já ocuparam os nichos que poderiam: de comércio, de poucos edifícios, de pouco tráfego. Em todo o mundo, as pequenas empresas – principalmente as de produção industrial – vivem por meio de contratos com empresas maiores. E nós não temos tal cadeia. É por isso que até agora o desenvolvimento tem caminhado tão devagar.
conquistou duas vitórias importantes: em fevereiro, um tribunal constatou que o processo penal contra Evguêni era uma violação de direitos e, em março, Konovalov voltou à empresa. No entanto, o caso não está encerrado, já que durante o processo o prédio da companhia foi vendido. “Agora tentamos ajudálos a retomar a propriedade”, afirma Iakovleva.
Cultura da corrupção
“Todo ano, casos de corrupção atingem cerca de 70 mil empresas em todo o país. Até 10% da receita das firmas são gastas para atender às solicitações de funcionários públicos corruptos de todas as classes. É um sistema realmente bem estabelecido, numa escala nacional de extorsão”, explica Titov.
Como resultado da prevaricação, o dinheiro foge da economia. De acordo com Titov, 17% dos empregadores querem emigrar e 50% não descartam essa p o s s ibi l id ad e . Atualmente, a lei penal é o principal meio para o achaque. “Os tribunais costu mava m ser arbitrários antes, mas a qualidade e a independência do julgamento aumentaram”, acredita Iakovleva. No ano passado, entraram em vigor alterações no Código do Processo Penal que proíbem a prisão preventiva de pessoas sob investigação por infrações menores e de temática econômica. Além disso, outras leis para reduzir a pena para crimes econômicos começaram a vigorar em março. “Mas ainda há problemas na implementação”, diz Iakovleva, dando como exemplo o caso Konovalov. Deputado da Duma, o vicepresidente do Comitê de Leis, Aleksei Nazarov, afirma que o problema está na aplicação da lei nos tribunais da Corte Suprema. “As alterações são eficazes e criam condições para melhorar o clima de investimento, mas é necessário mais trabalho nos detalhes”, afirma o deputado. O Ministério da Administração Interna relata que em 2010 o número de casos criminais com temática econômica caiu 35%, ou seja, a pressão sobre empresas privadas teria diminuído. Agora, o Kremlin prepara a terceira e mais radical fase de liberalização da legislação penal, em que propõe punir a maioria dos crimes econômicos com multa no lugar de prisão.
O ex-prefeito de Moscou e sua relação perigosa No mês passado, policiais armados usando máscaras invadiram o Banco de Moscou, os escritórios do grupo Inteko, comandado por Batúrina, e duas outras companhias ligadas a um controverso acordo de terras, que permitiram a ela quitar imensas dívidas após a crise de 2008. O banco é acusado de ter adquirido terrenos de Batúrina por 13 bilhões de rublos (quase R$ 732 milhões), valor muito superior ao preço de mercado, justamente quando Batúrina precisava de dinheiro para saldar empréstimos. No mesmo momento, o banco recebeu uma entrada em dinheiro proveniente da prefeitura de Moscou, então comandada por Lujkov. Os jornais russos chamaram atenção para a negociação. Mas foi somente após a des-
tituição de Lujkov que o caso começou a evoluir. Tanto o Inteko como Batúrina negaram irregularidades. “Sem dúvidas, as mudanças políticas na Rússia têm revelado segredos sobre a nossa empresa”, disse Batúrina em entrevista ao empresário e blogueiro Oleg Tinkov, em um restaurante em Londres, dias antes da incursão policial por seus negócios. “Você sabe que o meu aniversário será em breve, e acho que próximo à data eu ganharei um presente. As pessoas no Krem l i n adora m zomba r”, completou.
Família em fuga
A ação aconteceu algumas semanas antes do seu aniversário, no dia 8 de março. Paralelamente, o banco estatal VTB está tomando controle sobre o Banco de Moscou. Batúrina disse que tenta não voltar a Moscou, demonstrando o receio de ser presa e dei-
xar os filhos crescerem órfãos. Lujkov entrou com um pedido de residência na Letônia – que foi rejeitado –, e há rumores de que está tentando obter residência em outro país europeu. “Grande parte dessa divisão de riqueza é invisível”, disse Vladímir Pribilovski, acadêmico do grupo Panorama. Ele acrescenta que uma cadeia de empresas extraterritoriais era usada pela antiga administração municipal para controlar boa parcela da riqueza produzida pela cidade. Poucos simpatizam com Batúrina em Moscou. Ainda que ela negue, para muitos sua fortuna só foi acumulada por causa do marido. “Não é segredo algum que, além da influência política para receber encomendas, essa influência é usada de modo que a polícia, o corpo de bombeiros e os fiscais não transformem seu negócio em um
Interfax
Rússia ajudou em investigação de atentado no metrô de Minsk
AFP/eastnews
reuters/vostock-photo
continuação da Página 1
NASA
A sueca Swepos tornou-se a primeira companhia estrangeira a escolher o sistema russo de tecnologia de navegação global Glonass no lugar do sistema americano GPS. A Reuters noticiou que a rede sueca de suporte a satélites de posicionamento em tempo real teria afirmado que o Glonass funciona melhor que o GPS no hemisfério norte. “Ele é ligeiramente melhor nas latitudes do norte porque as órbitas de seus satélites estão localizados mais acima, e nós conseguimos vê-los melhor que os satélites GPS”, disse o vice-diretor da divisão de estudos geodésicos da Swepos, Bo Johnson. O primeiro-ministro russo Vladímir Pútin falou em apoio pessoal ao projeto de um sistema próprio de navegação por satélite. O Glosnass foi desenvolvido pela Rússia em 1976 como resposta ao americano GPS. Com um investimento de mais de US$ 2 bilhões ao longo da última década, a ideia é que em 2012 seu sitema esteja à altura do análogo americano.
Ex-prefeito e mulher tentaram um pedido de residência na Letônia, que foi negado
“Só quem é ingênuo pensa que tudo isso é feito para erradicar a corrupção”, acredita Batúrina pesadelo”, afirmou Batúrina em uma entrevista. A atrevida prática usada por funcionários públicos para afundar negócios alheios em troca de propinas fez até com que o presidente Dmítri Med-
vedev usasse o termo koshmar, ou pesadelo, como verbo. Medvedev pedia à polícia e a outros órgãos para não ‘koshmarit’ o mundo dos negócios. O novo prefeito Serguei Sobiânin começou a desmontar a administração de Lujkov, substituindo os aliados do exgovernante por pessoas presumidamente leais ao governo federal. “É um processo longo. Essa é a tarefa de Sobiânin, faci-
litar o andamento desse processo”, disse Petrov. O diretor do departamento de publicidade da cidade e o chefe do metrô de Moscou são apenas dois dos que serão afastados, já que também são acusados de corrupção. “Não posso dizer que estou surpresa”, disse Batúrina sobre as críticas a sua empresa. “Somente quem é ingênuo pensa que isso tudo está sendo feito para erradicar a corrupção.”
Logo após o atentado a uma estação de metrô de Minsk, capital da Bielorússia, a Rússia ofereceu assistência ao país vizinho. Dois agentes do FSB (Serviço Federal de Segurança) foram enviados no dia seguinte para colaborar na investigação e no mesmo dia se elaboraram os retratos falados dos suspeitos. Um dia depois, em 13 de abril, o presidente da Bielorússia, Aleksandr Lukashenko, anunciou que o caso havia sido solucionado e três pessoas, detidas. Na noite de 11 de abril, houve uma explosão na estação de metrô Oktiábrskaia, em Minsk. De acordo com as últimas informações, 13 pessoas morreram e 157 ficaram feridas. O procurador-geral bielorrusso qualificou o evento como atentado terrorista. Ria-Nóvosti
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Dúvidas? Ideias? Fale com a gente! br@rbth.ru
Economia e Mercado
Gazeta Russa
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entrevista ArkÁdi dvorkovitch
Acelerar a privatização e ampliar produção metas do governo para tornar economia do país mais
Um dos protagonistas das reformas liberais, assessor de assuntos econômicos da presidência fala sobre crise, economia e impacto da corrupção no futuro do país. Ben Aris
Gazeta Russa
Os investidores estrangeiros reclamam do papel do governo na economia. O que está sendo feito para reduzir a participação do Estado? Nós já concordamos em vender as ações do governo, é uma questão de tempo. É evidente que não precisamos mais da participação estatal em diversos setores. O banco Sberbank é um caso especial e precisamos ser cuidadosos, já que a empresa possui um grande componente social [muitos cidadãos russos depositam seu dinheiro no Sberbank]. A companhia estatal de energia Gazprom também e o [monopólio do transporte ferroviário] RZhD são casos à parte – mas todo o resto, como, por exemplo, o Banco VTB, não necessita da participação do Estado. O mercado, porém, só vai conseguir absorver uma parcela, e não podemos vender tudo de uma vez. Mas o presidente russo já deu ordens para acelerar o ritmo do processo de privatização. No início do mês, o comitê do Conselho Nacional dos Bancos concordou em ven-
der 7,58% do Sberbank nos próximos três anos. Um ano atrás, uma série de veículos de imprensa sugeria a saída do “R” do grupo BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China). Qual a sua opinião? Os mercados da China e da Índia são muito maiores que o da Rússia, e isso é importante para os investidores. Juntos possuem um total de 2,5 bilhões de pessoas quando comparados aos 142 milhões de russos. O mercado russo é melhor quando comparado ao Brasil, onde o nível tecnológico e o tamanho da população são semelhantes. As expectativas para a Rússia são muito maiores, já que somos tratados como um país europeu e precisamos atingir o mesmo nível de conforto para os investidores estrangeiros. Somos um país da Europa, portanto devemos seguir os mesmos padrões. Mas talvez a maior queixa sobre a Rússia seja o alto nível de corrupção. O movimento anticorrupção já obteve algum sucesso? Os esforços anticorrupção funcionam e a tendência é que continuem gerando efeito. Porém, embora venha ocorrendo uma mudança positiva, o trabalho não terminará em um ano. Os casos de subornos vêm aumentando, em parte porque as pessoas
envolvidas estão vendo que a situação não vai durar muito tempo e querem tirar até a última gota. Entretanto, essa é uma questão sistemática, já que não se trata apenas de uma quadrilha, mas sim da corrupção que existe em todos os níveis e que remete à interferência do governo na economia. Se pudéssemos diminuir essa presença, a probabilidade de corrupção também seria menor. A corrupção está ligada ao tratamento preferencial dado às empresas estatais. Muito se fala sobre reformas, mas por que as mudanças são tão lentas? A reforma perdeu força, pois não existe um foco preciso. Tivemos sucesso na redução da burocracia e também na diminuição de licenças, mas o programa ainda não tem um foco bem definido. O problema se torna ainda mais difícil porque, se a intenção é melhorar o clima de investimentos, temos que tentar combinar a iniciativa federal com a participação ativa das administrações regionais. Existem algumas regiões que já são bastante ativas e têm sido bem-sucedidas – Kaluga [um dos principais centros de produção automobilística da Rússia] e Tatarstão são dois bons exemplos de re-
giões ativas e que estão progredindo. Os governantes e prefeitos das regiões carregam uma grande responsabilidade. Precisamos introduzir as melhores práticas por todo o país, mas não podemos impor isso de cima para baixo. Poderíamos fazer mais para o projeto funcionar, mas não somos como a Geórgia ou a Estônia – ambos menores que uma única região da Rússia. Com a aplicação de mais de US$ 600 bilhões em reservas monetárias para conter a crise, parecia que o governo poderia salvar toda a economia do país. Mas a Rússia foi gravemente atingida. À medida que a crise regride, quais são seus principais efeitos? Se a crise tivesse sido local teríamos dinheiro suficiente para lidar com o problema, mas a crise foi global. A conclusão é que precisamos mudar a estrutura da economia e não repetir os mesmos erros. Mas veja os resultados da crise: não houve corrida aos bancos, nem grandes falências. Algumas pessoas compraram dólares, mas em poucos dias venderam o que tinham adquirido, e a demanda pelo rublo cresceu de novo. Existe uma confiança no setor bancário e no rublo que não sentimos da última vez.
ria novosti
atraente também miram o problema crônico da corrupção
“A corrupção remete à interferência do governo na economia. Ela está ligada ao tratamento preferencial dado às empresas estatais” Um dos principais problemas é que as pessoas não percebiam a necessidade de competir globalmente. Agora, depois da crise, elas estão começando a entender cada vez mais esse cenário e percebem que não podem contar com nosso próprio mercado. O acordo de troca de ações entre a petrolífera BP e a estatal russa Rosneft foi suspenso depois que um tribunal independente da Suécia congelou o contrato por ir
Análise Tragédia no Japão e instabilidade no Oriente Médio pressionam preços
Barril de petróleo pode chegar a US$ 200 Aumento da produção de países alheios à OPEP, como Brasil, Rússia e Cazaquistão, é uma das opções para frear a disparada na cotação da commodity. Iúri Solozobov
No final de março, técnicos do banco de investimentosrusso VTB-Kapital comunicaram que a influência do petróleo sobre a economia mundial prenunciava recessão. A preocupação com os preços do óleo no mercado russo e internacional começou no fim de janeiro, quando os governos de Egito e Tunísia foram derrubados por manifestações populares. Em fevereiro, a confusão se espalhou para a Líbia e os preços do petróleo dispararam. Em Londres, o preço do petróleo Brent (tipo de petróleo do Mar do Norte) superou os US$ 100 pela primeira vez desde 2008. Pouco tempo depois, iniciou-se uma série de revoltas no mundo árabe. A instabilidade também já está instalada nos países do Golfo Pérsico, que abastecem de petróleo o mundo todo. Mas a maior preocupação é em relação à Arábia Saudita, com suas reservas que mantêm os preços mundiais em um nível relativamente alto. Segundo a Agência Internacional de Energia (IEA), a extração mundial de petróleo alcançou 89 milhões de bar-
getty images/fotobank
diretor do Centro PolíticoEnergético Internacional
No cenário otimista, combustíveis alternativos reduzem dependência do petróleo ris diários em fevereiro, uma nova marca histórica. A queda no fornecimento do petróleo líbio foi compensada pelo aumento da extração nos países do Golfo e de fora da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo). Mas é um equilíbrio instável. Conforme as estimativas de especialistas da IEA, o crescimento do consumo de petróleo e derivados vai levar ao mercado 1,4 milhões de novos barris diários em 2011. Os desastres naturais no Japão ameaçaram a terceira
maior economia do mundo com a falta de energia elétrica - consequência de avarias nas usinas atômicas que produziam um terço da energia do país. O Japão já enviou à Rússia um pedido para aumentar seus suprimentos de carvão e gás liquefeito, ou seja, as cotações dos hidratos de carbono vão crescer novamente. Em curto prazo, o setor energético japonês terá que corrigir seus planos em consequência da suspensão das usinas atômicas do país, segundo técnicos do Citibank, o que aumentará os preços do combustível fóssil (petróleo, gás, carvão etc.). Segundo o relatório, os problemas da economia japonesa pressionarão mais o mercado que o temor quanto a diminuição do fornecimento de pe-
tróleo da Líbia e de outros países do Golfo e do Norte da África. O ministro da Fazenda russo Aleksei Kúdrin declarou que as situações no Japão e no Oriente Médio podem provocar em curto prazo um aumento nos preços de petróleo para até US$ 200 (R$ 335) por barril. É possível que se repita o déficit nas reservas de petróleo da Guerra do Golfo, quando os preços da commodity saltaram 130% em sete meses, principalmente por causa da redução das reservas da OPEP. Hoje, entretanto, essa dinâmica seria outra: a oferta pelo petróleo deve seguir a procura. Caso contrário, o preço de US$ 200 pode virar realidade. Na Secretaria de Energia dos EUA acredita-se que o au-
mento da extração do petróleo será garantido por três países que não fazem parte da OPEP: Brasil, Rússia e Cazaquistão. Essas nações teriam chance de aumentar a oferta, favorecidas por novos investimentos e melhoria de infraestrutura. Já a estratégia energética russa prevê, só com investimento doméstico, um crescimento no 13% ou 14% de 2005 a 2035. O aumento dos preços do petróleo pode provocar inflação prolongada, o que colocará em alerta mercados em desenvolvimento como Índia, China, Coreia do Sul e Argentina. Setores dependentes do petróleo, como o de energia, metalurgia, química e agricultura serão mais afetados. Os preços dos gêneros alimentícios vão subir e a quantidade de pessoas vivendo na linha da pobreza será maior. O resultado serão graves problemas econômicos e, como consequência, conflitos internacionais e internos, crises monetárias e falência de empresas. São dois os cenários previstos em longo prazo. O primeiro seria uma nova crise econômica: a economia mundial apenas entra em fase de lenta recuperação após a crise financeira de 2008, mas os altos preços do petróleo elevam os custos de produção. O segundo panorama é mais otimista, com uma gradual renúncia ao petróleo até 2035 e a adoção de energias renováveis e outros combustíveis. Mikhail Krutíkhin, analista do setor energético, acredita que se inicia “a década do gás”. Para ele, o cenário levará as companhias de petróleo a investir pesado em sua prospecção e extração, inclusive em projetos até então pouco rentáveis no litoral ártico da Rússia.
contra outra parceria da BP na Rússia, a TNK-BP. O que será feito para resolver a situação? O acordo claramente começou com um risco legal e todos sabiam disso antes mesmo que fosse fechado, mas esperamos que as partes envolvidas cheguem a um consenso e a parceria não seja descartada por completo. O governo russo concordou com vários líderes mundiais em aumentar sua produção de automóveis. Os russos estão prontos para competir no mesmo patamar no mercado mundial? Esperamos atrair novos investimentos para a Rússia, e não apenas em linhas de montagem. Não estou certo de que esse objetivo possa ser atingido somente pelo aumento das tarifas, porque se trata de uma melhora nos investimentos. Não estamos preparados para competir em um mesmo nível com os pro-
dutores inter nacionais. Porém, a OMC (Organização Mundial de Comércio) estabelece um período de transição de sete anos, e isso é o bastante para estarmos prontos. Grandes empresas como a Avtovaz [fabricante do Lada] e a GAZ não são muito competitivas, portanto precisamos desse período de amadurecimento. Também precisamos de bons investidores estratégicos. No setor farmacêutico a estratégia parece ser semelhante: aumentar as tarifas de importação para companhias que não ampliarem a produção na Rússia. Com produtos farmacêuticos é um pouco diferente. Há uma grande demanda interna e podemos atrair investimentos só pelo tamanho do mercado. As empresas internacionais podem aumentar a produção em breve sem que precisemos aumentar os impostos.
Kondor-Eko quer mercado brasileiro Continuação da página 1
“A Alemanha há muito tempo não tem a necessidade de filtrar grandes quantidades de emissões poluentes“, explica Becker. “Não como Estados Unidos, Rússia, China ou mesmo o Brasil”. De acordo com dados da Comissão do Clima da ONU, embora a Alemanha ainda ocupe a sexta posição no ranking global dos países que mais emitem gases do efeito estufa, o país registra um decréscimo de quase 4% ao ano nas emissões. O Brasil vem logo atrás, em sétimo, mas com um aumento anual de quase 6%. A Rússia também apresentou um decréscimo, de cerca de 3%, mas ainda é o terceiro maior poluidor do mundo, atrás apenas de EUA e China. “Não temos grandes usinas geradoras de energia, apenas unidades pequenas e descentralizadas. E teremos ainda menos necessidade nos próximos anos, já que, após a tragédia no Japão, iremos desativar nosso parque nuclear. Por isso, não se trata de rejeição à tecnologia, mas simplesmente de não termos a simples necessidade de filtragem de gases”, afirma Becker. Enquanto multinacionais de todo o mundo desenvolvido se beneficiam de legislações ambientais mais brandas em países subdesenvolvidos, o uso de padrões técnicos obsoletos nessas regiões ainda é bastante discutido entre es-
pecialistas em comércio e meio ambiente. Mas, segundo a professora Luciana Togeiro, do departamento de Economia da Unesp (Universidade Estadual Paulista), o Brasil ainda não pode ser apontado com um desses “paraísos da poluição”, já que as leis ambientais do país vêm sofrendo mudanças, tornando-se cada vez mais rigorosas desde a década de 1980. Na opinião de Luciana, o problema no país é outro: a dificuldade para implantar as práticas e fiscalizar o que está registrado no papel. “Na literatura sobre legislação ambiental brasileira, essa deficiência é um assunto recorrente. Em várias obras, registra-se que temos melhores regras comparativamente a outros países em desenvolvimento, mas falhamos na hora de aplicá-las”, afirma a professora. O grupo russo-alemão, entretanto, tem outras intenções, além de conquistar um novo mercado. “Temos uma parceria com um instituto alemão chamado ISAS, que faz pesquisas independentes no campo da bioindústria, e que nos ajuda a qualificar catadores de lixo. Nós temos as primeiras usinas desse tipo. E planejamos implementar essa solução, em Cuba, no Chile, no Brasil e onde mais houver oportunidade para isso. Então, nossa chegada ao Brasil é simplesmente uma questão de tempo e de achar o parceiro ideal.”
Economia e Mercado
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notas negócios
Aviação Helipark compra primeiro Kamov-32 do país
“Cupuaçu voador” de volta ao Brasil carga. “Essa capacidade de levantamento de carga muito grande faz com que ele seja usado como guindaste aéreo”, explica o diretor da revista especializada Asas, Cláudio Lucchesi. Além disso, o helicóptero tem duas hélices superiores contra-rotativas, o que elimina a necessidade do rotor de cauda e possibilita mais precisão no transporte de cargas.
Marina Darmaros Gazeta Russa
Enquanto o Ministério da Defesa brasileiro anuncia um corte no orçamento que pode frear a compra de aeronaves pelas Forças Armadas, a iniciativa privada passa a investir no setor para uso em engenharia. Até o primeiro trimestre de 2012, a brasileira Helipark deve receber seu primeiro modelo de helicóptero Kamov, o Ka-32, que começou a ser negociado ainda em setembro de 2009. Fundamentada no setor civil, a empresa de táxi aéreo dá o primeiro passo para se tornar também uma prestadora de serviços a empreiteiras, carentes de equipamentos do gênero. “Existe no Brasil todo um mercado para helicópteros de carga: não há praticamente nenhum helicóptero que faça carga de grande porte. Para cargas menores, de 300 kg, 400 kg ou 500 kg existem, mas eu estou falando aqui de algumas toneladas”, explica o empresário João Velloso, dono da Helipark. Evolução da aeronave naval Ka-27, o Kamov Ka-32 pode carregar até 5 toneladas de
Segurança
“O rotor de cauda também é sempre um fator de risco, principalmente em situações de emergência, quando não dá tempo de desligá-lo. Parece muito fácil imaginar que ninguém em sã consciência vai sair do helicóptero e passar perto daquilo, mas infelizmente acontece”, explica Lucchesi. Segundo ele, a eliminação da hélice na cauda também facilitaria pousos em locais despreparados, já que não haveria risco de bater o componente na vegetação, causando acidentes. Para Velloso, as dimensões do Ka-32, razoavelmente pequenas para sua capacidade de carga, também atenderiam a necessidades ambientais. “Para contruir uma linha de transmissão, por exemplo, ao invés de se construir uma estrada para levar as torres, pode-se ir de helicóptero, assim como para transportar equi-
itar-tass
pes, fazer clareiras, nivelar o solo sob a torre, trocar queimadores de petróleo e até instalar equipamentos de ar-condicionado sem precisar parar o trânsito com guindastes gigantescos”, explica Velloso.
Manutenção brasileira
O contrato celebrado pela Helipark contempla também outros serviços adicionais para o uso do Ka-32, incluindo treinamento de pessoal e um provável centro de manutenção a ser estabelecido nas próprias instalações da empresa. Como parte das preparações, quatro pilotos, dois mecânicos de voo para operação do guindaste e quatro mecânicos todos brasileiros - serão enviados à Rússia em setembro. A equipe passará quatro meses na cidade de Kumertau, quase na fronteira do Cazaquistão, para treinamento com a aeronave. “A aeronave já está certificada ou em fase de certificação na EASA, autoridade aeronáutica europeia, e essa certificação facilita muito o processo aqui no Brasil”, diz Velloso. O Kamov Ka-32 já é usado em Portugal, Espanha, Suíça e Canadá, entre outros países, principalmente na indústria de construção e em operações anti-incêndio. “Com certeza o Brasil está muito atrasado nessa aquisi-
ria novosti
Helicóptero que passou dois meses na Amazônia nos anos 90 e ganhou o nome da fruta brasileira chega para transporte de cargas.
Veículo Tigre poderá ser feito no Brasil
Desenhado como modelo militar naval, o Kamov-32 é usado em larga escala na Europa
Frases
Cláudio Lucchesi
João Velloso
especialista em aviação russa
dono da helipark táxi aéreo
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O rotor de cauda, que o Kamov-32 eliminou, é sempre um fator de risco e uma preocupação com a segurança, principalmente durante a decolagem e o pouso do helicóptero. É muito fácil imaginar que ninguém em sã consciência vai sair do helicóptero e passar perto daquilo, mas infelizmente acontece.”
ção, e um dos motivos é um preconceito até meio esquisito com a Rússia, porque o Brasil não foi linha de frente da Guerra Fria”, acredita Lucchesi. Ele conta que um modelo da aeronave chegou ao
Amazônia, mas por uma questão muito mais política do que por qualquer outra coisa, não foi comprado”, afirma.
Cupuaçu Voador
“Uma coisa é fato: ele não teve nenhum problema na Amazônia, onde a operação durou cerca de dois meses”, disse à Gazeta Russa o coronel Fernando Cominato, piloto da FAB que na época servia em Manaus. Segundo o coronel, toda experiência foi uma “aventura”, começando pela instrução, dada por um piloto e um engenheiro que só falavam russo e um gerente de vendas que fazia as vezes de tradutor, mesmo sem saber vocabulário técnico. “Aquele helicóptero singular logo chamou a atenção do povo simples da região, que rapidamente o apelidou de Cupuaçu Voador”, conta.
O Ka-32 pode ser usado na montagem de torres de uma linha de transmissão sem ter que construir uma estrada para isso, para levar equipes, para trocar queimadores de petróleo, instalar ar-condicionados em topos de prédios e no combate a incêncios, já que pode levar quatro toneladas de água.”
Brasil em meados dos anos 90, quando foi emprestado à FAB (Força Aérea Brasileira), com o intuito de ser vendido. “Esse helicóptero ficou um tempão aqui pelo Brasil e durante um período passou pela
Incentivos Fábricas que não aumentarem a produção para 300 mil unidades até 2020 vão pagar mais impostos
Mercado de carros pode ser líder europeu Novos acordos tributários vão incentivar a produção automobilística interna e tornar a Rússia o maior mercado da Europa.
Números
3%
Ben Aris
gazeta russa
Impulso à produção
As mudanças do código tributário entraram em vigor no dia 1º de março e, segundo as novas regras, as montadoras podem receber retorno de até 3% do imposto de
Dos impostos sobre importação poderão ser recuperados pelas empresas que aderirem aos acordos.
300
AFP/eastnews
No final de fevereiro, as montadoras de carros internacionais se apressaram em cumprir o prazo para novos acordos de investimento na Rússia. O motivo da corrida: imposições mais rigorosas para importação: o Kremlin irá elevar os impostos de todo fabricante que não se comprometer a aumentar não somente a sua produção para 300 mil unidades por ano, mas também a proporção do uso de insumos domésticos para 60%, até o ano de 2020.
Há espaço para crescimento da frota, segundo especialista
importação de itens como recompensa por atingir as metas em questão. Até então, as empresas automobilísticas evitavam taxas sobre a importação ao atingirem a meta de fabricação de 25 mil carros no país. A construção de linhas de montagens na Rússia, entretan-
to, não significava maiores compromissos. Com os novos ajustes, das oito indústrias internacionais já operando na Rússia, seis enviaram propostas, e outros acordos são esperados para junho, segundo o diretor do departamento de máquinas agrícolas e automóveis do Mi-
Mil unidades é a meta de fabricação de carros na Rússia para evitar sobretaxas na importação. Antes eram 25 mil.
nistério da Indústria e do Comércio Exterior, Aleksandr Rakhmanov. “Não tínhamos expectativa de um retorno tão expressivo dos fabricantes”, disse Rakhmanov. “Agora temos certeza de que a Rússia será a maior fabricante de carros da Europa nos próximos
rir à OMC (Organização Mundial do Comércio) – depois de 16 anos de espera – terá que reduzir as taxas de importação para carros. Porém, segundo Rakhmanov, a produção de carros de passeio já é suficiente para concorrer seriamente com os grandes fabricantes internacionais. “Há um período de transição de sete anos, e isso é tempo mais que suficiente para terminar as reformas e m a n d a m e n t o ”, d i z Rakhmanov. “Para cada emprego criado na indústria automobilística, geramos outros 16 postos de trabalho nos setores relacionados”, afirmou Rakhmanov. O consumidor russo também deve ser beneficiado. “Mais concorrência significará menores preços para os consumidores e, assim, mais vendas”, afirma o analista de transportes da Renaissance Capital, Aleksandr Kazbegi. “E ainda falta muito para que o mercado russo fique saturado”, completa Rakhmanov.
anos.” A Rússia sofreu subinvestimento de quase mil euros (aproximadamente R$ 2,3 mil) por capital de investimento direto estrangeiro em 2010, quando comparada aos valores quatro a oito vezes maiores praticados nos países da Europa Central.
OMC x importação
Na metade da última década, o governo negociou subsídios fiscais e quebra de impostos de importação para empresas estrangeiras dispostas a construir fábricas, estimulando a criação de diversos centros de produção automobilística – cujos maiores representantes se localizam em São Petersburgo e em Kaluga. Em 2008 a produção de marcas estrangeiras na Rússia despontou e as empresas internacionais superaram rapidamente as líderes nacionais, a Avtovaz e a Gaz. O setor emprega hoje mais de um milhão de pessoas no país. Se a Rússia finalmente ade-
Brasil e Rússia estudam a produção conjunta do carro de blindagem leve GAZ2330 Tigre, de acordo com a trading russa Rosboronexport. A instalação de uma fábrica, no Sul ou Sudeste do país, seria uma das condições para a compra de lotes maiores. O primeiro veículo chegou ao país em setembro do ano passado, para treinamento da polícia do Rio de Janeiro, com conclusão prevista para março passado, e adaptado às condições tropicais - ar refrigerado para os 11 ocupantes do veículo. O patrulhamento em favelas e subúrbios seria a primeira opção de uso para o Tigre. Cezar Faccioli
Acordo prevê compra de 150 helicópteros A Russian Helicopters e o Qualy Group Brasil assinaram um acordo de cooperação para o fornecimento ao Brasil de até 150 helicópteros leves Mi-34C1 até 2023. Segundo o Qualy, os Mi34C1 poderiam ser interessantes para empreiteiras e operadores do Estado, inclusive nos preparativos para a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. As empresas planejam ainda criar um centro de treinamento, manutenção e logística para a frota brasileira da aeronave. Outro acordo assinado com a Аtlas Táxi Aéreo deve gerar um centro de apoio ao Mi-171A1 no Brasil. C.F.
Mais de R$ 1 bi em fábrica de painéis solares Uma fábrica para produção de mais de um milhão de painéis solares de película fina com capacidade de 130 MW (megawatts) deverá ser instalada no início de 2012 na cidade Novotcheboksarsk, cerca de 700 km a leste de Moscou. “Quando a fábrica alcançar toda a capacidade planejada, no meio do ano que vem, a Khevel será o motor da indústria, assegurando a modernização da economia”, afirmou o gerente da joint-venture Khevel, formada pelas estatais Rusnano e Renova. O investimento ultrapassa os 20 bilhões de rublos (R$1,1 bilhão), e a sueca Oerlikon Solar abastecerá a linha de produção. Itar-Tass
Investimento Usina de processamento custará US$ 20 bilhões e alimentará gasoduto
Para competir com o Nabucco, gasoduto projetado para livrar a Europa da dependência russa, Kremlin anuncia usina de processamento de GNL na península de Iamal, na costa ocidental do país. ben aris
gazeta russa
No extremo leste da Rússia, a ilha de Sakhalin tem uma usina de GNL (gás natural liquefeito) que destina grande parte de sua produção ao Japão. Agora, o Kremlin anuncia planos para a construção de outra planta similar para o processamento de
gás na península de Iamal, lar dos maiores campos de produção de gás da costa ocidental do país. “A construção de uma usina de GNL em Iamal poderia representar uma alternativa ao fornecimento de gás natural à Europa através do problemático projeto do gasoduto Corrente do Sul [do russo, Iújni Potok ]”, disse o ministro da Energia, Serguei Shmatkó. O ainda incerto Corrente do Sul ligaria campos de gás russos ao sudeste europeu, mas compete com o Nabucco, um gasoduto promovido pela União Europeia que passaria fora do territó-
rio russo e ligaria a Europa diretamente às vastas reservas de gás do Cáucaso e da Ásia Central. Ambos enfrentam disputas geopolíticas em todos os países previstos no trajeto.
Oferta e procura
Com o aumento do preço do petróleo, o gás está novamente ganhando destaque. O banco VTB Capital estima que a interrupção do fornecimento de petróleo à Europa provocada pela guerra civil na Líbia poderia gerar um aumento de 10 bilhões a 15 bilhões de metros cúbicos nas exportações de gás da
Rússia, ou seja, um acréscimo de 7% a 10% nas exportações totais da Gazprom só neste ano. “Acreditamos que o aumento do preço seja reflexo da antecipação do mercado à demanda por GNL, que será maior que o esperado com os esforços do Japão para compensar a perda de sua capacidade em energia nuclear”, afirma Lev Snikov, analista do banco de investimentos VTB Capital. A Novatek, empresa privada líder na produção de gás natural na Rússia, investiu US$ 526 milhões em ações que correspondem a 25,1% da
usina de Iamal, ainda em planejamento. “A Novatek espera para fim de 2012 uma decisão final de investimento no projeto de GNL em Iamal”, afirmou o presidente da organização, Leonid Mikhelson. A empresa também assinou um memorando de entendimento com a francesa do gás e petróleo Total, que deve adquirir 20% da Iamal, além de uma participação inicial de 12% na Novatek, que lhe custou US$ 4 bilhões e poderá ser ampliada até 20% durante os próximos três anos Dentro de sete anos, a construção da Iamal, no valor de
photoxpress
Em alta, gás natural é a aposta
Demanda por gás russo deve aumentar até 10% este ano
US$ 20 bilhões, resultará na maior usina da Rússia para transporte de gás. “Também se espera que a companhia petroquímica russa Sibur assuma o controle da usina de GNL do Báltico das mãos da Gazprom Germania (subsi-
diária do monopólio estatal de gás Gazprom e da empresa estatal de transporte marítimo Sovcomflot)”, disse Aleksandr Krasnenkov, presidente da GNL do Báltico, em entrevista à revista Gazprom.
Especial
GAZETA RUSSA
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Diego da Cunha dança durante o ensaio geral. Garoto que saiu de Salvador para estudar em Joinville hoje pensa em integrar alguma das maiores companhias do mundo NBASTIAN (6)
Balé Inaugurada em 2000, escola de Santa Catarina segue como a única da companhia fora da Rússia e abriga brasileiros de 15 Estados
Bolshoi no Brasil completa primeiro ano de uma nova era Escola de Balé do Teatro Bolshoi em Joinville (SC) completa 11 anos e, para celebrar, companhia faz grande apresentação. FABRICIO YURI VITORINO
ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA
A única filial da companhia russa Bolshoi no mundo vai levar a Brasília, pela primeira vez, o chamado “balé de repertório”. Após meses de trabalho duro, no dia 5 de maio 90 alunos, bailarinos e professores sobem ao palco da Sala Villa Lobos, do Teatro Nacional, dispostos a encantar. “Estamos preparando algo grande, com produção nossa. Vai ter gente que nunca saiu de Joinville, gente que nunca viajou de avião... Vai ser muito emocionante mesmo”, diz o russo Pável Kazarian, supervisor da escola em Santa Catarina. Assim como Quixote quando lutava contra moinhos de vento, os idealizadores do projeto de montar no Brasil - e longe das capitais uma escola do mais tradicional balé da Rússia foram vistos, no final dos anos
1990, como loucos. A conquista, agora, deve ser celebrada com o espetáculo “Grande Suíte do Ballet Don Quixote”, uma nova versão coreográfica de Vladímir Vasiliev, considerado o “bailarino do século”.
Do Brasil para o mundo
Uma das estrelas da companhia, a jovem Bruna Gaglianone, de apenas 20 anos, já dançou em alguns dos palcos mais prestigiados do mundo e conhece de perto os desafios das companhias nos EUA e na Rússia. Ela conta que, para a apresentação na capital federal, a montagem será de alto nível e deve superar as expectativas. “A gente vem para se igualar aos russos. Dançamos com eles no ano passado e assistimos a muitos vídeos. Vamos fazer bonito”, afirmou a graciosa bailarina de traços leves e jeito de menina. Gaglianone é resultado da Companhia Jovem, um dos projetos sociais da escola do Bolshoi no Brasil, que, diante da dificuldade para inse-
ENTREVISTA
Diego da Cunha
20 ANOS, ALUNO DO BALÉ BOLSHOI NO BRASIL
Diego da Cunha começou na dança quando ainda morava em Salvador (BA). Não conhecia a escola e nem sabia o que era balé, mas já trabalhava com dança folclórica e contemporânea para ajudar no sustento da família. Em 2006, um teste mudou sua vida: foi selecionado para estudar no Bolshoi. Hoje, dança e impressiona gente do mundo inteiro com seus passos. Quando você chegou, estranhou a disciplina da escola? A disciplina, a cultura, a estrutura, o sotaque… Tudo é muito diferente, a adaptação é difícil. A comida foi um dos pontos mais difíceis, o horário e o frio [de Joinville]. Mas o sacrifício vale a pena se você pensa que vem de uma família pobre, chega aqui e consegue subir na vida e ter uma formação. Agora eu posso chegar em qualquer escola e dizer que tenho diploma e sou formado pelo Balé Bolshoi. Para ser professor, coreógrafo ou o que seja, agora eu tenho essa possibilidade.
futuro, que ia ser diferente, que ia conseguir mostrar algo diferente para as pessoas. Mesmo com dor, com sacrifício, vim muito determinado. Não é à toa que você larga sua família inteira, sua cultura, para vir para outro Estado completamente diferente. É para melhorar. Ou quer ou quer, não tem outra opção.
Qual foi a influência do balé na sua vida? Foi fundamental. Tenho irmãos que trabalham na Europa há anos, ganham seus salários, moram lá... Subiram de vida, né? Graças à arte, ao projeto.
Você enfrentou preconceitos? Até tem preconceito, mas é mais medo de perder o lugar. Além de ser negro, brasileiro. Os europeus dizem: “tinha de ser brasileiro para dançar desse jeito diferente”. Eles sempre ficam maravilhados com essa energia, com a nossa vida. Outros povos são muito frios. Às vezes, falta “arte” para eles.
É uma rotina difícil. Você já pensou em largar tudo? Eu sabia que aqui eu tinha um
rir seus recém-formados no mercado mundial, criou um corpo de balé próprio, sediado no teatro da escola, em Joinville. Ali, ficam os grandes talentos brasileiros. Desde 2007, quando foram contratados cinco formandos, a companhia já absorveu 19 bailarinos da escola. Desse grupo, oito foram empregados por grandes companhias da Áustria, dos EUA, da Polônia, da Alemanha e pela consagrada formação brasileira de dança contemporânea Grupo Corpo. “Nós damos a eles o primeiro emprego com carteira assinada. Eles ganham dinheiro, ajuda m a fa m í l ia e economizam para viajar para as audições. E, se conseguem entrar para uma companhia, para nós é um orgulho”, explica Kazarian.
Estratégia bilateral
A escola tem importância estratégica nas relações entre o Brasil e a Rússia. Além de ser a única filial da tradicional companhia, é o maior projeto de intercâmbio cultural entre os dois países. “A escola une os governos. E está acima de partidos políticos e de interesses. Tudo na política muda, mas o apoio à escola continua”, ressalta o supervisor, que lembra das autoridades que já estiveram lá para admirar o projeto. “O presidente Lula passou por aqui e virou fã. Assim como o embaixador da Rússia e o diretor do Bolshoi de Moscou”, completa. Em seus onze anos de existência, mais de mil alunos já ensaiaram nas salas do prédio de 6 mil metros quadrados, em Joinville. Dezenas de alunos brasileiros já fizeram o curso de intercâmbio em Moscou, enquanto muitos outros russos – entre bailarinos, professores e músicos – estiveram em Santa Catarina. Neste ano, a escola conta com 283 alunos, de 15 diferentes Estados brasileiros, além de três alunas argentinas. Desses, 95% são bolsistas. A maior dificuldade enfren-
Fachada da Escola de Balé do Teatro Bolshoi em Joinville
Lado a lado, uma aluna brasileira e uma argentina
tada pela escola, no entanto, é angariar fundos. “Por isso as pessoas estão sempre atrás de coisas novas”, diz Kazarian. “Quando começamos, tínhamos só um espetáculo. Agora, no nosso repertório tem Gisele, Don Quixote...
Não é à toa que um dos maiores problemas enfrentados pela escola de Joinville (SC) é a evasão. Além de ter a rotina alterada, os alunos enfrentam rigorosos ensaios. Bruna Gaglianone lembra que, quando entrou, havia duas turmas de 40 alunos. Em um determinado momento, as turmas se juntaram e, dos 80, apenas 10 se formaram. “É uma vida de muito sacrifício. O balé é muito ego-
Brasília receberá o espetáculo “Grande Suíte do Ballet Don Quixote”, uma nova versão de Varsiliev Isso significa que temos alunos talentosos e evoluímos no ensino”, ressalta Galina Krávtchenko, uma das fundadoras e primeiras professoras da escola.
Até 60 alunos por vaga
Os alunos são escolhidos por professores qualificados, em disputadas audiências - algumas com até 60 candidatos por vaga. Essa competitividade, ao mesmo tempo em que reforça o prestígio do Bolshoi no Brasil, cria uma responsabilidade no ensino, destaca a professora. “Temos uma seleção muito dura, mas recebemos e ensinamos aqueles que atendem aos requisitos físicos. Não há diferenças entre brasileiros e russos”, enfatiza. Passar pela seleção é apenas o início de uma longa jornada que pode durar até oito
anos. Para grande parte dos alunos, significa deixar sua cidade natal e morar em Joinville, o que pode ser um choque. Todos recebem alimentação, atendimento médico, acompanhamento físico e aulas em escolas da cidade. As crianças de fora vão para as chamadas “Casas dos Estados”, espécies de repúblicas estudantis financiadas por alianças entre governos e iniciativa privada e supervisionadas por uma mãeorientadora. Na Casa do Piauí, por exemplo, vivem dez estudantes e uma mãe, Maria do Socorro. “Aqui a gente faz de tudo para trazer um pouquinho da nossa terra natal, para ficar com um jeito de casa mesmo”, diz ela. Entre desenhos de prédios da capital piauiense, Teresina, feitos por universitários da UFPI (Universidade Federal do Piauí), passando por uma sala repleta de redes de dormir e terminando no arroz Maria Isabel, prato típico daquele Estado, tudo ali é amor à terra natal, cercado de organização e disciplina.
ENTREVISTA
Galina Krávtchenko
FUNDADORA E UMA DAS PRIMEIRAS PROFESSORAS DA ESCOLA
Galina Krávchenko praticamente fundou a Escola do Bolshoi Brasil, onde está há 11 anos. Veio para viver o sonho do marido Aleksandr Bogatirev, que faleceu antes de ver o projeto que idealizou realizado. Rígida nos treinos, ela se derrete ao falar dos alunos. “Minhas meninas são recebidas bem em qualquer lugar. Elas dominam a técnica e isso me deixa muito orgulhosa”, diz.
Determinação
“Não é fácil para essas crianças abrir mão de tudo, vir para o outro lado do país, um outro Estado, sotaque e clima. A gente ajuda no que pode, mas também mantém o pulso”, explica Socorro.
O que você planeja para depois que se formar? Aqui é ótimo, mas chega uma hora que tem que sair. Não pode ficar parado em um só lugar. As companhias pedem dois anos de experiência e eu já tenho isso.
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A prática diária pode ter até 8 horas, e muitos não aguentam. Evasão é uma das dificuldades
ísta, ele quer tudo”, disse. Ainda assim, como bons adolescentes, eles tentam driblar os limites com saídas noturnas. “Às vezes, a gente faz festinha na sexta, quando é aniversário de alguém. Aí, chega na segunda e você pensa: meu Deus, por que eu fui sair?”, brinca a jovem bailarina. Desta vez, a festa será em Brasília e, certamente, a comemoração vai atravessar o mundo.
Como vocês trabalham com os alunos mais novos? Se na Rússia toda menina sonha em ser bailarina, aqui muitas crianças sequer viram isso na televisão. Quando eles começam a entender, descobrem que é preciso muito trabalho. Aula e apresentação são coisas completamente diferentes. Por isso, nas primeiras séries, eles vão aprendendo o que é o amor pelo balé. A cada aula, eles vão se tornando fanáticos pelo trabalho. E, nas últimas séries, se tornaram apaixonados. E como eles recebem o trabalho duro? Ninguém costuma reclamar. Ficam chateados quando há alguma contusão. Você aprende pela exaustão e, em algum momento, vai ter dor. Isso é normal, mas é difícil para eles. Embora todos entendam que isso faz parte da profissão. Nas suas aulas, muitas vezes a senhora se dirige aos alu-
nos com palavras em russo... Não é tão frequente assim. Quando eu digo em russo ‘horoshó’, significa que é muito, muito bom! Mas outras palavras eu até que falo pouco… Após 11 anos, mudou a receptividade dos brasileiros em relação ao balé? É difícil dizer. Eu conheço o trabalho excepcional das grandes companhias do Rio de Janeiro e de São Paulo. Nosso trabalho, além de trazer um pouco da nossa escola para cá, é fazer o público brasileiro conhecer um pouco da tradição. Por exemplo, quando o Bolshoi começou a se apresentar no Japão, ninguém sabia quando aplaudir. Às vezes, nós saíamos do palco sob um silêncio total. E agora, quando voltei lá, recentemente, eles sabem quando aplaudir, quando calar, quando há algum momento dramático. Eles já conhecem o balé. Então, depois de alguns anos, eles entenderam. Está sendo assim com o Brasil.
Capa
Gazeta Russa
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Saúde pública sofre reforma para elevar expectativa de vida Com população em queda, russos pretendem combater as
O governo russo está embarcando em uma enorme reforma, na qual serão investidos 300 bilhões de rublos (quase R$ 17 bilhões) com o objetivo de adequar os hospitais do país a novos e modernos equipamentos de alta tecnologia, aumentar os salários dos profissionais e, assim, melhorar o atendimento. “A taxa de natalidade na Rússia é semelhante à dos países desenvolvidos, mas há uma elevada taxa de mortalidade, como nos países emergentes”, compara Masha Lipman, analista do Centro Carnegie de Moscou. “Existem diversos motivos para esse alto índice, e um
deles é a baixa qualidade do sistema de saúde”, afirma. A combinação de uma dieta rica em gorduras, o hábito de fumar e o perigoso apreço nacional pela vodca está acelerando o crescimento da taxa de mortalidade russa. Segundo previsões mais pessimistas, a população da Rússia poderia cair de 142 milhões para 100 milhões até 2050. “Com as reformas, o governo construirá uma série de centros de atendimento de saúde por todo o país, além de focar nas doenças com maiores índices de mortalidade, as cardiovasculares e o câncer. Daremos ênfase à prevenção e as reformas incluirão treinamento para os médicos”, anunciou a minis-
A saúde se tornou prioridade do governo em 2006, mas o sistema público estava em estado tão precário que poucos russos puderam notar alguma melhora ao longo dos anos. Muitos optaram por seguros privados, e as empresas têm incluído planos de saúde como benefício, inflando o ramo de seguros. Enquanto isso, os ricos se tratam no exterior. Hospitais israelenses, que geralmente contam com muitos médicos russos entre os funcionários, anunciam seus serviços no país. Quem não pode arcar com os custos do tratamento acaba tendo problemas com o sistema público. Como Zoia descobriu, o pagamento de propina é uma praxe. “Desde o primeiro minuto em que você entra no hospital, tem que pagar todo mundo: as enfermeiras, o pessoal da limpeza, o médico, o cirurgião...”, conta a analista Lipman. “É a informalidade do sistema que torna a Rússia diferente e piora ainda mais o cenário.”
tra da Saúde, Tatiana Golikova, em um relatório oficial do governo.
Prevenção x tratamento
Gratuito e acessível a todo população, o sistema soviético focava basicamente no tratamento hospitalar, ignorando a prevenção. “Atualmente o câncer vem sendo, no geral, diagnosticado quando a doença já se espalhou e atingiu um estágio avançado”, explica Golikova. Um dos programas das novas reformas vai estabelecer a abertura de novos centros de medicina perinatal de alta tecnologia por todo o país e a prática da cirurgia neonatal deve ser difundida para salvar a vida de um milhão de crianças por ano.
Programa de SMS americano vai orientar mães russas Com uma notável queda de natalidade nos últimos anos, uma lei de 2007 introduziu na Rússia o “Bolsa-mãe” – um pagamento em dinheiro para mulheres que têm mais de um filho. Como resultado do programa, o presidente Dmítri Medvedev anunciou no ano passado um aumento de 21% na taxa de natalidade do país desde 2005, e um crescimento da população pela primeira vez em 15 anos. É evidente que o estímulo à natalidade é parte importante do plano do governo pa-
ra combater a queda do contingente populacional no país. Mas o que acontece quando o bebê é levado para casa? “Baby”, um programa aplicado nos Estados Unidos, provê um serviço às mulheres registradas que envia três SMS por semana sobre cuidados pré-natal, imunização e dicas de segurança no carro. Por ter um dos melhores níveis de penetração de aparelhos celulares do mundo, a Rússia atraiu os organizadores do programa, que será oficialmente lançado no país em setembro.
Na variante russa, especialistas do Centro Kulakov – órgão integrante do Ministério da Saúde e do Desenvolvimento Social – vão assumir uma importante função na produção das mensagens de texto, com o intuito de dar foco aos problemas mais comuns enfrentados pelas mães russas. Além disso, como as mulheres geralmente tomam decisões pela família toda, o programa deve ter impacto por todo o país.
Mesmo com investimento, Rússia aplicará 5% do PIB em saúde, contra até 10% dos europeus
mudanças ainda não são visíveis. “Não recebemos nada da reforma. Na verdade, nossos salários diminuíram”, conta a médica, que recebe 5.240 rublos (R$ 294) men-
Propinas em hospitais públicos são praxe e vão do enfermeiro ao cirurgião sais, depois de mais de 30 anos de serviço. Segundo Svetlana, o único benefício para a região será o recebimento do primeiro aparelho de tomografia axial computadorizada (TAC) no hospital, programado para o fim do ano. “Jogar dinheiro sobre o problema não é a solução. O ponto principal é mudar atitude e mentalidade”, acredita Lipman.
Sem garantia
“As reformas vão elevar os ordenados médicos em até 30%, mas, com salários tão baixos, a categoria não está impressionada com a medida”, afirma o especialista em saúde Kirill Danishevski. Para Svetlana, que não quis revelar seu sobrenome, uma médica na cidade de Makhatchkalá, no Cáucaso do Norte, as melhorias das primeiras
Emma Burrows
Investimento em tratamentos de ponta
Vício predominante entre homens, o consumo de álcool pode ser responsável por metade das mortes de russos entre 15 e 54 anos.
7,5
galina masterova
especial para gazeta russa
É o crescimento dos investimentos anuais em saúde para que a Rússia chegue ao padrão europeu até 2020, segundo o Instituto de Pesquisa Nacional
Ao entrar no Perekriostok, um supermercado popular de Moscou, é impossível deixar de notar o tamanho da seção de bebidas. Os clientes podem escolher entre mais de 70 tipos de vodka e 30 de conhaque, e com menos de R$ 10 pode-se comprar uma garrafa de bebida. Em pesquisa recente da Organização Mundial de Saúde (OMS), a Rússia ficou em quarto lugar na lista de países que mais consomem álcool, atrás da pequena Moldávia, da República Tcheca e da Hungria. Mas, quando o assunto é destilados, a Rússia é a número um. Baseado em estatísticas de 2006, o estudo mostra que os
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Ben Aris
gazeta russa
Os hospitais russos estão notavelmente degradados devido à falta de investimentos do governo na área da saúde, onde suborno e corrupção são práticas comuns. Mas esse é só um dos problemas com que o Kremlin pretende lidar por meio da reforma do sistema nacional de saúde, um dos chamados “Projetos Nacionais” do Estado. Em março, o primeiro-ministro Vladímir Pútin anunciou que neste ano a Rússia irá destinar 4,5 bilhões de rublos (cerca de R$ 259 milhões) para a compra de equipamentos médicos de ponta e lançou um decreto para dar início à reforma.
O maior investimento será na região de Krasnodar (R$ 25,5 milhões), enquanto Moscou e São Petersburgo, as duas cidades mais populosas da Rússia, receberão R$ 19,7 e R$ 20,1 milhões. A região siberiana de Kemerovo será a
Incentivos fiscais atraíram laboratórios, de olho em um mercado de R$ 14,5 bilhões destinatária do menor investimento, R$ 200 mil. Segundo Pútin, o governo estima gastar um total de R$7,5 bilhões no desenvolvimento de tratamentos médicos de alta tecnologia no período entre 2008 e 2013. Já houve algum progresso. O sistema de gestão das policlínicas foi revisado, os salários dos médicos aumenta-
ram e uma nova frota de ambulâncias foi adquirida. No fim do ano passado, o número de cidadãos russos que recebeu tratamento médico de ponta tinha crescido cinco vezes, atingindo 290 mil pessoas em cinco anos, de acordo com o premiê. Porém ainda há muito a ser feito. Segundo Lev Iakobson, primeiro pré-reitor da Escola de Economia do Instituto de Pesquisa Nacional, “para atingir o nível da União Europeia até 2020, a Rússia precisa aumentar os gastos na área da saúde em cerca de 15% ao ano”. A Rússia deve fabricar pelo menos metade dos equipamentos médicos de que necessita até o ano de 2020, partindo dos atuais 11%. “O Estado já destinou US$ 1,4 bilhão para apoiar o setor”, afirmou Pútin. Assim, o Kremlin lançou uma campanha para incen-
milhões de reais serão destinados à compra de equipamentos médicos de ponta em 2011. O país deve fabricar pelo menos 50% do equipamento necessário até 2020.
tivar as maiores empresas farmacêuticas internacionais a aumentarem os investimentos na Rússia, punindo com aumento das tarifas a importação dos produtos médicos e concedendo incentivo fiscal às empresas que têm produção em território russo. Como resultado, a multinacional AstraZeneca iniciou em abril a construção de uma nova indústria de produção e estrutura para pesquisa e desenvolvimento na cidade de Kaluga, no valor de R$ 236 milhões, enquanto a finlandesa Orion diz estar em negociações avançadas para entrar no mercado por meio de uma aquisição. As duas empresas seguem os passos da Novartis e da GlaxoSmithKlein, que já possuem estrutura de produção na Rússia. Só em 2010, a Rússia importou o equivalente a R$ 14,5 bilhões em pílulas e outros medicamentos.
russos bebem, em média, 15,7 litros de álcool puro por ano. Desses, 63% vêm de destilados, 22% da cerveja e somente 1% do vinho. “As consequências desse hábito são mortais. É a dependência de destilados que eleva a taxa de mortalidade”, afirma o diretor do Instituto de Estudos Demográficos, Igor Beloborodov. Em 2009, relatório publicado no periódico médico britânico The Lancet afirmava que metade das mortes de russos entre 15 e 54 anos eram causadas pelo consumo de bebidas alcoólicas. Foram analisados mais de 49 mil óbitos entre 1990 e 2001 em três cidades da Si-
Pelo menos 3 milhões de vidas poderiam ser poupadas com redução no consumo
AFP/eastnews
rex/fotobank
Iniciada neste ano, reforma da Saúde anunciada por Pútin dá ênfase à compra de equipamentos e instalação de plantas por farmacêuticas.
FRASE
Tatiana Golikova Ministra da Saúde
"
Com as reformas, o governo construirá uma série de centros de atendimento de saúde por todo o país, além de focar nas doenças com maiores índices de mortalidade, as cardiovasculares e o câncer. As ações incluirão treinamento.”
Governo entra na guerra ao alcoolismo
números
Número de russos que recebeu tratamento de alta tecnologia chegou a 290 mil
Mesmo com os novos recursos financeiros, a Rússia ainda continua bem atrás dos países europeus, que investem entre 7% e 10% do PIB no setor: seu investimento não ultrapassa os 5%. Golikova prevê que somente após cinco anos a sociedade poderá começar a perceber qualquer resultado concreto das reformas. No Daguestão, república do sul do país, os médicos lidam com a situação assumindo empregos extras. Um dos colegas de trabalho de Svetlana, por exemplo, tem seu próprio consultório. Apesar das ofertas de emprego, Svetlana nunca considerou realmente a possibilidade de deixar o sistema público, considerando que os pacientes precisa m de seus serviços. “É um crime ir para outro lugar trabalhar. Para onde irão os doentes?”, pergunta.
viktor vasenin_rg
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photoxpress
altas taxas de mortalidade e investir em medicina preventiva
Nos supermercados, oferta chega a 70 tipos de vodca
béria e chegaram à conclusão de que três milhões de vidas poderiam ser poupad a s c om a r e duç ão do consumo. Como o hábito de beber é um traço cultural masculino no país, o vício, que contribui também para a enorme incidência de doenças cardíacas, é um dos principais fatores para a baixa expectativa de vida entre os homens. Na Rússia, para cada 10 mil habitantes, 20 mortes são atribuídas ao álcool, enquanto na vizinha Suécia o índice é de 2,7 mortes. Algumas medidas começaram a ser tomadas. Moscou aprovou uma lei banindo a venda de bebidas alcoólicas entre 22h e 8h. A proibição, entretanto, não se aplica à cerveja. Outro problema grave no país é a venda de produtos alcóolicos ilegais. “Eles estão disponíveis em todo lugar e são baratos, chegando a um terço do preço do produto legal”, diz Martin McKee, professor de saúde pública. Já se iniciou um combate ao uso dos fluidos para fabricação das bebidas, encontrados em colônias e em produtos anticongelantes e médicamentos contendo etanol. “Os fabricantes agora devem registrar os produtos como uma forma de limitar a sua venda no mercado ilegal de bebidas”, disse McKee. Os preços da vodca também aumentaram, e o presidente Dmítri Medvedev apresentou em março uma nova lei à Duma (a câmara dos deputados) com mais restrições. “Existem alguns sinais de melhora atualmente”, afirma McKee, dizendo que, contudo, é muito cedo para se ter certeza de que esse progresso vai continuar.
Opinião
Gazeta Russa
www.gazetarussa.com.br
Desarmar para depois cooperar novar e expandir tarefas e testes conjuntos entre OTAN e Rússia na defesa antimísseis”, escreveram os especialistas americano e russo. Segundo os autores do artigo, as medidas incentivariam a transparência e a confiança mútua. No longo prazo, a OTAN e a Rússia deveriam considerar uma maior integração dos sistemas de defesa antimísseis. Um modo de fazer isso seria criando um protocolo comum aos dois, que baseasse todas as decisões em caso de ativação de mísseis. Em terceiro lugar, o texto pondera sobre as negociações acerca da redução de armamentos em Washington e Moscou, que deveriam abordar armas nucleares não-estratégicas. Antes de mais nada, os dois países devem estar de acordo sobre a classificação de armas da categoria “nãoestratégicas” e trocar informações sobre quantidade, tipo, disposição e forma de armazenamento. Os autores ainda acreditam que “questões secundárias podem afetar a redução de armas nucleares. Por exemplo, o progresso nas Forças Armadas na Europa certamente vai encorajar as negociações sobre armas nucleares não-estratégicas”. Além disso, o controle de armas nucleares não poderia ser exclusividade da Rússia e dos Estados Unidos. Assim consideram Albright, Ivanov, Talbott e Dinkin, recomendando que Moscou e Washington consultem representantes oficiais da Grã-Bretanha, da
Víktor Litóvkin especialista militar
dmitry divin
O
Start 3, o Tratado de Redução de Armas Estratégicas assinado entre a Federação Russa e os Estados Unidos em Praga completa um ano. O documento é tido como o símbolo do retorno das relações entre os dois países. Os líderes russo Dmítri Medvedev e americano Barack Obama decidiram reduzir seus arsenais nucleares estratégicos para 1.550 ogivas. Para a Rússia, na verdade, isso não significa uma diminuição, mas a possibilidade de acumular mais armas: no dia da assinatura do acordo, no país havia, ao todo, 611 ogivas nucleares estratégicas de grande escala. Vale lembrar como as partes chegaram a esse acordo e quanto de vontade política e de habilidades diplomáticas foram necessárias aos dois chefes de Estado e seus principais especialistas militares para concordarem sobre os termos e as modalidades de aplicação do documento Start 3. Houve ainda o esforço posterior para conseguir as ratificações no Senado norteamericano e no Parlamento russo. Os dois lados trocaram informações sobre composição, estrutura e implantação de suas forças nucleares estratégicas, começaram a realizar inspeções mútuas e demonstraram grande confiança um no outro. O Start 3 cria uma oportuni-
dade para os dois países iniciarem uma cooperação em questões sensíveis de garantia de segurança, como o estabelecimento de um sistema de defesa antimísseis e, principalmente, no cenário de operações militares europeu (EuroPro), ultrapassando a discussão do problema de redução de armas nucleares táticas e voltando ao acordo sobre as Forças Armadas na Europa. Em razão do primeiro aniversário dos acordos de Praga, a
ex-secretária de Estado dos EUA Madeleine Albright e o ex-ministro do Exterior russo Ígor Ivanov escreveram um artigo publicado no The New York Times. Eles propõem um sistema de medidas destinado a reduzir e controlar o armamento nuclear, conseguir a adesão de outros países com poderio nuclear e adotar medidas de confiança e transparência não só entre as duas maiores potências nucleares, mas também entre Moscou e Bru-
xelas - sede da OTAN (Organização Tratado do Atlântico Norte). Um artigo semelhante, que contou ainda com a colaboração do diretor do Instituto de Economia Mundial e Relações Internacionais, Aleksandr Dinkin, e o ex-subsecretário de Estado americano Strobe Talbott, foi publicado no International Herald Tribune. Os veteranos da política internacional pedem um plano de ação. Primeiramente, EUA e Rús-
sia deveriam negociar a próxima redução para até mil ogivas estratégicas. Além disso, as partes poderiam adiantar o cumprimento do Start 3 para 2014-2015, em vez de 2018. Em segundo lugar, EUA, OTAN e Rússia devem cooperar na defesa antimíssil. Para começar, Rússia e a OTAN poderiam criar um centro de articulação para coordenar e analisar as informações de vigilância do espaço. “Outro passo importante é re-
França e da China sobre como fazer o processo de redução de armas nucleares multilateral, principalmente sob a perspectiva do encontro dos membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU para discutir questões nucleares, em junho deste ano. “Em um momento posterior no processo de redução de armas nucleares, devem ser envolvidas outras potências nucleares”, acreditam os autores. Mas é possível ver um panorama ainda maior. A mudança total das relações entre Moscou e Washington não pode ser alcançada tocandose apenas no sistema de segurança. Nada fortalece as relações de boa vizinhança e a parceria estratégica como os benefícios econômicos da cooperação mútua. Como, por exemplo, o acordo bilateral que existe entre os EUA e a China, e que no ano passado chegou a US$ 60 bilhões (entre a Rússia e os EUA não passa de US$ 20 bilhões). Por hora, há apenas alguns obstáculos, em sua maioria inventados, no caminho da adesão da Rússia à OMC, e o Congresso americano não suspende as restrições ao comércio de bens de alta tecnologia entre Washington e Moscou. Sendo assim, não cabe esperar uma reaproximação entre os dois governos e seus colaboradores. Víktor Litóvkin é editor-chefe da revista Nezavisimoie voiennoie obozrenie (do russo, “Observador militar independente”).
por uma força militar reformada Ruslan Pukhov
analista político
H
á quatro anos, o pouco conhecido Anatóli Serdiukov foi inesp7eradamente nomeado ministro da Defesa. Naquela época, muitos observadores presumiram que a principal missão do ex-oficial de impostos seria colocar os assuntos financeiros dos militares em ordem. Os gastos da Defesa tinham crescido continuamente na primeira metade da última década, sem qualquer resultado tangível, e seu predecessor, Serguei Ivanov, tinha declarado que as reformas militares haviam acabado. Porém, após 18 meses no cargo, Serdiukov percebeu a necessidade de re-
formas radicais, já que pôde observar por si mesmo o quanto as forças armadas tinham se deteriorado - conclusão que se tornou ainda mais evidente depois do de-
Mudanças do ministro da Defesa devem acabar com o exército soviético e formular um novo sempenho decepcionante do exército na guerra entre a Rússia e a Geórgia em agosto de 2008. Em suma, as reformas de Serdiukov pretendem acabar com o exército soviético e construir outro, mais moder-
no, em seu lugar. O exército surgido daí deve ser capaz de conter novas ameaças à segurança do país e, ao mesmo tempo, refletir as atuais realidades econômicas e demográficas. Embora não se comente, sabe-se que uma guerra com a Otan ou com a China é pouco provável não só por razões políticas, mas também porque a Rússia careceria de recursos para tal. Todas as partes envolvidas sabem muito bem que, se eclodisse um conflito como esse, Moscou teria que contar com seu arsenal nuclear. Ao mesmo tempo, existe um perigo crescente de conflitos locais e regionais.Todas as exrepúblicas soviéticas, exceto os Estados bálticos, sofrem com a ameaça de movimentos étnicos e separatistas, bem
como de regimes autoritários e instáveis. A Rússia não pode ignorar esses fatos e deve se envolver na maior parte desses conflitos, como ocorrido em agosto de 2008. Esses são os tipos de conflitos para os quais o exército de Serdiukov deve se preparar. Além do mais, o exército já está envolvido em uma situação desse gênero no Cáucaso do Norte, onde rebeliões étnicas separatistas e ataques terroristas quase diários transformaram a região em uma zona de guerra. As reformas militares de Serdiukov são uma continuação das reformas econômicas e políticas da década de 1990, respondendo aos apelos de modernização atuais. Elas podem ser o maior projeto da última década relacionado ao
Estado, talvez só com exceção à tentativa razoavelmente bem-sucedida de levar a paz à Tchetchênia. Em um contexto histórico-militar mais amplo, as reformas conduzidas por Serdiukov e Nikolai Makarov, chefe do Estado-Maior do Exército, representam a transformação mais radical e profunda pela qual o exército já passou desde os tempos de Leon Trótski e do líder bolchevique Mikhail Frunze. O que é particularmente interessante é a reação dos líderes do país às mudanças. O Kremlin, que geralmente evita qualquer ação que possa provocar agitação social ou perturbar o status quo da burocracia, tem dado forte apoio a Serdiukov - apesar das muitas críticas a seu pro-
jeto e da oposição histérica dos militares. Esse apoio é demonstrado tanto em termos políticos quanto financeiros: mesmo durante o período mais difícil da
Mesmo com oposição histérica dos corporativistas, o Kremlin manteve apoio às reformas crise econômica de 2009, o financiamento a essas reformas continuou a ser prioridade orçamentária. Além disso, a julgar pelos recentes planos de abastecer as Forças Armadas com equipamento moderno e cumprir a obrigação legal de
prover moradia a todos os oficiais aposentados, esse apoio deve continuar no futuro. A verdadeira pergunta é: por quanto tempo esse apoio financeiro e político vai continuar? Talvez as mudanças tenham sido aprovadas com tanta rapidez devido ao medo de que as reformas enfraqueçam ou sejam desvirtuadas. Como o reformista Serguei Witte, primeiro-ministro da Rússia Imperial de 1905 a 1906, disse certa vez:“Na Rússia, as reformas devem ser realizadas logo e com muita pressa. Caso contrário, a maioria irá falhar ou esmorecer”. Ruslan Pukhov é diretor do Centro de Análises Estratégicas e Tecnológicas e editor do jornal Resumo da Defesa de Moscou.
Gueórgui Bovt
historiador
S
ociólogos e observadores políticos russos se perguntam se o país tem algo a aprender com o mundo árabe em matéria de revolta. A situação desses países, entretanto, é muito diferente. A onda de revoltas na Tunísia, Egito, Iêmen e outros países no Oriente Médio recebeu diversos apelidos, como “Revolução do Facebook” e “Revolução Wikileaks”, entre outros. É inútil, porém, tentar dissecar essas manifestações. Em primeiro lugar, a agitação começou de forma espontânea; em segundo, os principais catalisadores desses movimentos são os jovens e, por fim, as pessoas estão sendo chamadas a participar de manifestações por meio de redes sociais e telefones celulares. Além disso, os moti-
vos também são evidentes: paradoxalmente, os regimes autoritários árabes conferem grande valor à educação, vendo-a como uma forma de imunização contra o extremismo islâmico. Mas, ao mesmo tempo, uma geração mais jovem e de nível educacional superior não se sente realizada diante de condições autoritárias e regimes corruptos nos quais a mobilidade social é impossível, além da inexistência de sistemas judiciais que funcionem devidamente e estimulem um modo de vida honesto. A insatisfação logo se transforma em protesto. Na Rússia, analistas políticos estão cada vez mais atentos aos acontecimentos no mundo árabe. Muitos se perguntam se isso poderia, um dia, acontecer na Rússia. Para responder a essa pergunta, é importante reconhecer diferenças fundamentais entre a Rússia e os países árabes. A primeira é demográfica: a
expediente presidente do conselho: aleksandr gorbenko; Diretor-Geral: pável negóitsa; Editor-Chefe: Vladislav Frónin ENDEReÇO DA SEDE: AV. PRAVDY, 24, BLOCO 4, 12º ANDAR, MOSCOU, RÚSSIA - 125993 WWW.RBTH.RU E-mail: BR@RBTH.RU TEL.: +7 (495) 775 3114 FAX: +7 (495) 775 3114 Editor-chefe: EVGuêNi ABOV; editor-executivo: Pável Golub;
Rússia não possui as mesmas pressões demográficas do Egito, por exemplo. Até pouco tempo atrás, quando o governo começou uma iniciativa para elevar a taxa de natalidade, oferecendo incentivos materiais, o número de nascimentos na Rússia estava em queda. A população em idade ativa está diminuindo e a quantidade de aposentados cresce. Assim, os níveis de desemprego no país são baixos. Como o Estado desempenha um papel mais ativo na economia, um número crescente de jovens se emprega no setor público, considerado mais estável e que tem uma grande quantidade de agências de segurança pública. A segunda diferença é que a Rússia não possui uma poderosa força ideológica capaz de enfrentar informalmente o secular regime autoritário, um vazio que no Egito é preenchido pelo Islã. Na Rússia, a Igreja Ortodoxa Russa adota
uma posição firmemente estadista. Na maioria das vezes, a juventude na Rússia não está muito preocupada com política, e a sociedade, de modo geral, ao contrário da do que se crê, se preocupa cada vez mais com seus interesses individuais, ao invés de se unir. Ao mesmo tempo, a juventude russa não está imune à influência dos radicais de direita e ideias extremistas. Existem mais de 200 organizações extremistas no país, que reúnem cerca de 10 mil membros. Esses grupos são compostos principalmente por jovens entre 16 e 25 anos. A maior parte deles é formada por universitários ou estudantes de institutos profissionalizantes. Nos últimos dois anos, aumentou também o número de crimes cometidos por motivos nacionalistas, bem como a ocorrência de uma quantidade considerável de atos públicos extre-
mistas. Essa tendência foi especialmente evidenciada em uma manifestação ocorrida no centro de Moscou em dezembro do ano passado. No entanto, a ameaça do nacionalismo na Rússia, incluindo extremismo dentre os jovens, é algo que não deve ser exagerado. O objetivo de vida primordial dessa geração ainda é se adaptar às condições existentes e usar tais condições para obter benefícios pessoais: autorrealizar-se, construir carreira, melhorar a qualidade de vida e fazer pleno uso da “sociedade de consumo”. Segundo analistas independentes, a subcultura dos skinheads é adotada por não mais que 60 mil a 70 mil pessoas por toda a Rússia, e, na verdade, aqueles com tendência a atos violentos não passam de 25 mil a 30 mil. Além do mais, um “jovem de cabeça quente” geralmente passa a ter uma visão mais mode-
niyaz karim
jovens e conformados
rada com o tempo. De acordo com pesquisas do Centro Levada, se este panorama extremista é compartilhado por 15% dos jovens, o número cai para 4% dentre as pessoas mais velhas. No entanto, para eliminar o extremismo e o nacionalismo extremista, não será possível contar apenas com o nível relativamente elevado de tolerância russa a outras etnias
Editor: Dmítri golub; subeditor: marina darmaros; editores no brasil: felipe gil, wagner barreira; Editor de foto: ANDRéI ZáITSEV; Chefe da seção de pré-impressão: MILLA DOMOGATSKAIA; Paginadores: IRINA PáVLOVA; iliá ovcharenko representante no brasil: ALEksáNDER Medvedovsky (mir@mirmidia.com.br)
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– um legado da União Soviética. Disso também dependerá o sucesso dos jovens russos na busca de espaço e oportunidades para o progresso criativo da nação. Quando vista dessa forma, a situação geral na Rússia ainda não parece tão ameaçadora quanto a do Egito. Gueórgui Bovt é comentarista político e vive em Moscou.
escreva para a redação da Gazeta Russa em Moscou: BR@RBTH.RU
Em Foco
GAZETA RUSSA
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RECEITA
Turismo Entorno do lago reúne belas paisagens e contato com a rica cultura da Sibéria
Baikal
Os improvisados croquetes de Pojárski Jennifer Eremeeva
ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA
LORI/LEGION MEDIA
Veja slide show em www.gazetarussa.com.br
Lago mais profundo do mundo é um destino imperdível na Rússia Do xamanismo ao rafting e à canogem. As atrações do Baikal levam cada vez mais turistas ao lago, que desde 1996 é Patrimônio Mundial da Humanidade da Unesco. EVA HUA
ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA
Localizado no extremo sul da Sibéria, longe dos destinos turísticos mais convencionais, o Baikal impressiona os visitantes com seus 31,5 mil quilômetros quadrados de charme natural e paisagens únicas, cheias de espécies de flora e fauna que só existem ali. Além da nerpa, um tipo raro de foca, e do delicioso peixe omul, muito popular na culinária local, o lago guarda 20% de toda a reserva natural de água doce do mundo e é considerado o mais profundo do planeta, chegando a 1.750 metros em alguns pontos. Depois de ter sido colocado na lista dos Patrimônios Mundiais da Humanidade da Unesco, o local tornou-se alvo de expedições científicas e de turistas, que, normalmente, vêm pela ferrovia Transiberiana, descem do trem na capital local Irkutsk e chegam ao confortável e cada vez mais desenvolvido povoado de Listvianka (localizado a 65 km de Irkutsk). Os turistas, geralmente europeus e japoneses, costumam aparecer na região entre julho e agosto, para evitar o frio. Nessa época, o clima é ideal para caminha-
das, passeios de bicicleta, canoagem, acampamento e pesca. E também para uma das principais atrações do local: a tradicional “bania”, uma sauna no tradicional estilo russo. Mas quem gosta do inverno pode desfrutar de um passeio de trenó puxado por cães ou pescar sobre o lago, cuja superfície fica completamente congelada nesse período.
Olkhon
Localizada a aproximadamente 320 km ao norte da capital da região, Olkhon é
Uma das ilhas que merece destaque é a rústica Olkhon, onde não havia energia elétrica até 2005 uma área que manteve sua natureza selvagem. A ilha é a maior dentre as 27 que o lago possui e, para se chegar até ela é preciso pegar um táxi especial ou um ônibus partindo de Irkutsk. As estradas deixam muito a desejar, por isso a jornada dura meio dia e só termina com a balsa que desembarca no maior povoado da ilha, Khujir. Quem se aventura, porém, nunca se arrepende. O tempo parece ter parado na ilha, onde a eletricidade só chegou em 2005 e 1,5 mil habitantes estão a salvo da vida agitada e estressante de qualquer cidade.
Devido a sua localização, Olkhon é o lugar perfeito para encontrar antigos habitantes da Buriátia e siberianos típicos, que são considerados diferentes dos outros russos pela sua maior exposição aos elementos naturais. Eles se sentem orgulhosos de viver em harmonia com a natureza, respeitando sua força e tradição. Os buriates locais, por exemplo, veneram a pedra de Shamanka (localizada na costa oeste de Olkhon), uma das muitas áreas nos arredores do Baikal que são consideradas sagradas. O consequente aumento do número de turistas, no entanto, vem causando receios quanto à depredação do meio ambiente e da cultura pelos visitantes. Por isso, os turistas são aconselhados a respeitar as crenças locais e a evitar tirar fotos do xamã ou destruir os artefatos sagrados, como marcações especiais nas árvores e oferendas de roupas e moedas. De qualquer maneira, Olkhon oferece aos visitantes um cenário bastante diverso. Montanhas íngremes preenchem sua costa oriental, enquanto, em outros pontos, os turistas exploram florestas, est epe s e at é me s mo u m pequeno deserto.
Hospedagem
Para desfrutar de tudo isso, uma área com hospedarias foi montada e uma infinidade de albergues recebe turis-
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mundo.
MOTIVOS PARA VISITAR O BAIKAL
É o maior, mais profundo e mais antigo lago de água doce do Tem 848 espécies de animais nativos e 133 espécies de plantas.
É o lugar ideal para ecoturismo e caminhadas, rafting, natação, canoagem, passeios de bicicleta ou a cavalo, pesca...
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Quem quer só descansar, curtindo o visual à beira do lago, pode se ajeitar em confortáveis tendas ou barracas, que são alugadas por ali mesmo.
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É um ponto de encontro de diferentes crenças: pode-se tanto assistir aos rituais de dança dos xamãs siberianos como meditar no monastério budista local.
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É considerado Patrimônio Mundial da Humanidade pela Unesco desde 1996. O Baikal foi um dos candidatos ao título de Sete Maravilhas da Natureza em 2008.
tas de todas as partes do mundo, sendo o mais famoso deles a Hospedaria do Nikita, comandada pelo morador e preservador ambiental Nikita Bentcharov. A ilha também possui um museu, áreas de lazer para crianças, uma livraria com materiais em inglês e em alemão e até mesmo um pequeno zoológico.
ORQUESTRA DO FESTIVAL DE BUDAPESTE
ATÉ 30 DE AGOSTO , PLANETÁRIO DO IBIRAPUERA, SÃO PAULO
7 DE MAIO, 11 H, SALA SÃO PAULO, SÃO PAULO
O cinquentenário da primeira viagem do homem ao espaço pelo russo Iúri Gagárin e os cinco anos da viagem do brasileiro Marcos Pontes ganham exposição fotográfica no saguão principal da Escola Municipal de Astrofísica.
Eleita em 2008 uma das dez melhores do mundo, a orquestra toca Bartok, Paganini e Piotr Tchaikovsky (Sinfonia nº 5 em mi menor, op. 64) sob regência de Ivan Fischer. Orquestra e maestro apresentam-se na companhia de Jozsef Lendway no violino e Dejan Lazic no piano.
Drama trata a difícil relação do escritor Lev Tolstói com a mulher, Sofia, e sua fuga da fazenda Iásnaia Poliana para encontrar a morte em uma estação de trem. O filme contrapõe realidade e imaginação ao introduzir um romance do secretário do escritor com uma personagem inventada.
› www.culturaartistica.com.br
› www.cinemasunibanco.com.br
› www.prefeitura.sp.gov.br/astronomia
A ÚLTIMA ESTAÇÃO SEX. A QUA., HORÁRIOS A CONFERIR, ESPAÇO UNIBANCO AUGUSTA 4
O albergue de Bentcharov contraria o velho estereótipo russo e não recebe os turistas com vodca à vontade. Ali, bebedeiras não são bemvindas, mas, em contrapartida, os turistas são recebidos com deliciosos pratos típicos da culinária siberiana, abundantes no tamanho das porções e na variedade. Os viajantes acostumados com Moscou são surpreendidos pelos preços locais: por 750 rublos (cerca de R$ 40) é possível reservar uma tradicional cabana siberiana com direito a três refeições por dia. E se optar por um dos diversos passeios de Nikita pela ilha, ganha-se ainda um generoso almoço. O aumento do turismo chegou a saturar o local, principalmente em relação a hospedagens, mas Bentcharov contornou o problema, recomendando aos hóspedes também regiões vizinhas. Tudo para evitar que a já tradicional hospitalidade da ilha se transforme em uma verdadeira relíquia.
2º ENERGIA DO FUTURO: EFICIÊNCIA
FEIRA INTERNACIONAL DO LIVRO
DE 15 A 18 DE NOVEMBRO, CROCUS EXPO, MOSCOU
DE 9 A 12 DE JUNHO, CASA CENTRAL DOS ARTISTAS, MOSCOU
A exibição tem a intenção de acelerar a solução de problemas relacionados à economia de energia e impulsionar sua geração por meio de fontes limpas. Patrocinada pelo Ministério da Energia da Federação Russa, tem apoio de diversos órgãos governamentais.
Neste ano a feira vai reunir 260 participantes de 21 países e terá 15 projetos especiais, ocupando todas as salas da Casa Central dos Artistas.
› www.crocus-expo.ru
perimentar os famosos croquetes. Sem costeletas e sem um pedaço sequer de carne bovina em sua despensa, o dono do estabelecimento teria preparado às pressas os bolinhos com as sobras de caça e aves que tinha à mão. Chamado pelo tsar, Pojárski teria confessado o que fez, envergonhado e temendo que o pior pudesse acontecer por ter desagradado o imperador, mas o monarca, extremamente bem-humorado e feliz com a deliciosa refeição, teria dadolhe uma medalha. O prato foi colocado no cardápio imperial e Pojárski, empreendedor astuto, começou a ostentar o título de “Fornecedor da Corte Imperial”. Mais de um século e meio depois, os croquetes de Pojárski, agora preparados com uma mistura de frango e vitela, continuam a ser indispensáveis nas festas da Rússia. Infelizmente, a receita exata e a pousada de Pojársky desapareceram no tempo, mas a escritora Elena Molokhovets, conhecida chef de cozinha russa, defende o uso de vinho Madeira no preparo da iguaria, embora outras especialistas sugiram ainda vodca, gim ou vinho branco seco. De qualquer maneira, os esforços para incrementar a receita são deliciosos: peru, perdiz ou coelho acrescentam nuances interessantes e são o contraponto perfeito para os acompanhamentos tradicionais, como cogumelos salteados e batatas.
Abundância
CALENDÁRIO CULTURA E NEGÓCIOS DE IÚRI GAGÁRIN A MARCOS PONTES
Uma das maiores homenagens que podemos fazer a um companheiro é dar seu nome a um prato. A exemplo de diversos lugares do mundo, na Rússia os pratos tendem a receber o nome de pessoas ricas ou famosas. É o caso do estrogonofe, inspirado no Conde de Stroganov. Pensando assim, imaginei que os croquetes de Pojárski – um prato que vem sobrevivendo à guerra, à revolução e à perestroika como favorito das sucessivas gerações russas – tivessem sido assim nomeados em homenagem ao príncipe Dmítri Pojárski de Suzdal, um dos heróis da revolta patriótica contra a invasão Polonesa-Lituana, no século 17. Viu no que dá não conhecer bem Púchkin? No século 18, o mais amado poeta russo, Aleksandr Púchkin, escreveu o seguinte conselho turístico e culinário a um amigo: “Faça uma pausa para o almoço / No Pojárski em Torjok / Experimente os croquetes fritos / E aproveite o seu dia.” Pojárski foi uma famosa taberna gerenciada por um homem ambicioso de mesmo nome na agitada Torjok, rica cidadezinha mercantil conhecida por seus bordados e requintadas igrejas, que fica estrategicamente localizada ao longo do “Caminho Imperial” entre Moscou e São Petersburgo. Diz a lenda que o tsar Nikolai I parou em Pojárski para ex-
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ALAMY/PHOTAS
Ingredientes:
• 1 e meio pão francês duro, sem casca, guardado por um ou dois dois dias e cortado em cubos de 2 cm • 100 ml de creme de leite fresco • 1 cebola pequena ou três ramos de cebolinha verde cortadas em fatias finas • 750 gramas de aves (frango, peru, perdiz, etc.) • 500 gramas de carne de vitela • 250 gramas de manteiga com sal • 1 ramo de dill (conhecido também como aneto ou endro) fresco (pode ser substituído por tomilho ou salsinha) • 4 ovos • Sal e pimenta a gosto • 30 ml de vinho da Madeira ou Marsala • 300 gramas de farelo de pão seco • 60 ml de óleo vegetal
Modo de preparo :
Espalhe os cubos de pão seco sobre um prato raso. Cubra-os completamente com creme de leite fresco. Reserve por 15 minutos. Com o auxílio de uma peneira, separe os pães do creme, que deve ser guardado. Separe dois ovos, reservando a clara de um deles. Misture as aves, a carne de vitela, os cubos de pão úmidos, a cebola ou cebolinha, duas gemas de ovo, sal, pimenta, dill, o vinho e 50 gramas de manteiga em um processador. Bata até que os ingredientes estejam bem misturados e coloque o conteúdo em um recipiente grande. Bata as claras em neve até que fiquem firmes e acrescente à mistura feita com a carne.
Cubra o recipiente e deixe no refrigerador por uma ou duas horas. Enquanto a mistura estiver esfriando, derreta a quantidade restante de manteiga em temperatura alta, tirando a superfície branca que se formará. Coloque então o líquido amarelado que sobrar em uma vasilha. Prepare-se para montar os croquetes: deixe uma tigela de água fria próxima à assadeira ou à tábua de corte. Espalhe o farelo de pão sobre um prato raso e bata os ovos restantes com 50 ml de creme de leite em uma vasilha funda. Mergulhe as mãos limpas na água fria, pegue um pouco da mistura e faça croquetes de formato oval com 10 a 12 centímetros de comprimento. Mergulhe os croquetes nos ovos batidos com creme de leite e depois passe-os delicadamente pelo farelo de pão. Coloque aproximadamente um terço da manteiga clarificada em uma frigideira grande e acrescente 20 ml de óleo vegetal. Frite os croquetes aos poucos até que dourem e fiquem crocantes. Retire com cuidado os croquetes da frigideira e coloque-os sobre um prato dentro do forno aquecido. Para fritar os demais croquetes, limpe a frigideira com um pedaço de papel, acrescente mais manteiga e repita o processo. Sirva imediatamente, espalhando um pouco de dill e salsinha fresca sobre os croquetes. Para acompanhar, cogumelos salteados ou batatas são uma boa pedida.
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