itar-tass
afp/east news
Crise da família afeta população
País tenta entender baixa demográfica Página 06
Nua em blog, bailarina é expulsa de partido Página 03
Roberto Carlos quer mais tempo
Jogador dá primeira entrevista à mídia russa
Julia Vishnevets
Balé, política e barracos
Página 03
segunda-feira, 30 de maio DE 2011
Pioneiro Fazendeiro norte-americano leva técnicas de criação comercial de gado à Rússia
Notas
Escola para caubóis
Servestal adquire 25% da SPG Mineração
getty images/fotobank
govvrn.ru
Iniciativa pode reduzir dependência do país, que importou aproximadamente US$ 1 bilhão só em carne brasileira no ano passado. Peter Van Dyk
especial para gazeta russa
Meia dúzia de caubóis se senta ao redor de uma mesa comprida em um alojamento recém-construído, à espera do almoço. Eles passaram a manhã inteira na rotina de sempre – o rebanho de 1,5 mil bovi-
nos está dando cria e este tem sido um mês cheio. Mas, ao chegar a comida, lembram que não estão em casa, ou seja, em Montana, nos Estados Unidos. “Não temos constrangimento em dizer isso. Comemos
carne, muita carne”, diz Darrell Stevenson, fazendeiro norte-americano que se associou a dois empresários russos para criar o Rancho Stevenson-Sputnik, na região de Voronej, no sul da Rússia.
“Uma das mais difíceis etapas de adaptação para esses caubóis tem sido a mudança de dieta”, completa. O almoço é uma sopa, espaguete e empada de carne. continua na Página 4
Meta do governo é produzir pelo menos 85% da carne consumida no país até 2020
Brics Finanças globais, consumo de energia e alimentos serão bases para estabilidade dos países do bloco
De mera sigla a motor do crescimento Copresidente do Conselho Empresarial Rússia-Brasil, Serguei Vassiliev fala sobre papel dos Brics na economia e sugere adoção de moedas locais e ouro na reforma do sistema financeiro mundial. vladislav kuzmitchov gazeta russa
reuters/vostock-photo
Se fosse escritor de ficção científica, o presidente do banco Goldman Sachs, Jim O’Neill, poderia se considerar parte do grupo de autores cujas profecias se realizaram. Cunhada por ele, a expressão articial Bric (Brasil, Rússia, Índia e China, que tornou-se, “Brics” após a adesão da África do Sul) foi criada para a conveniência de se escreverem artigos analíticos, mas está se tornando um verdadeiro mecanismo de influência de
países em desenvolvimento no sistema econômico mundial. “A crise de 2008 e 2009 foi um divisor de águas tanto dentro do grupo, como em suas relações com o mundo exterior”, disse à Gazeta Russa o copresidente do Conselho Empresarial Rússia-Brasil, Serguei Vassiliev, que participou de encontros de cúpula dos Brics na China. “Durante a crise, tornou-se claro que esses países são bastante estáveis. Os países do G7 deixaram de ser o motor da economia mundial e os membros do Brics e outros países em desenvolvimento tomaram para si essa função”, acredita. A recente adesão da República da África do Sul tornou o grupo realmente global. Agora, ele conta com repre-
sentantes de todos os continentes-chave do planeta. “Como isso é uma associação global, a diferença de interesses não é tão importante. Pelo contrário, talvez sua vanta-
gem seja que cada país vê o mundo sob uma ótica, e a troca de opiniões pode ser muito útil”, afirma Vassiliev. Para ele, os Brics serão autossustentáveis no mundo desen-
“Papel do ouro terá que crescer nas trocas comerciais”, diz Vassiliev
volvido em um futuro próximo se obser varem suas políticas em pelo menos três esferas: finanças globais, consumo de energia e mercado de alimentos. “A estabilidade dos Brics acontece no contexto de um enfraquecimento da posição de todos os centros mundiais das principais moedas, ou seja, os Estados Unidos, a Europa e o Japão. Os Brics enfrentam um grave dilema: insistir na reforma do sistema financeiro mundial e reforçar o papel das moedas dos próprios Brics no FMI (Fundo Monetário Internacional) ou criar seu próprio mecanismo, uma alternativa ao FMI”, afirmou o copresidente do Conselho Empresarial Rússia-Brasil. continua na Página 5
Antimísseis Novos projetos já foram aprovados e devem integrar sistemas de controle do espaço russo
Defesa espacial sai até dezembro Impasse sobre integração da Rússia ao sistema da OTAN não deve frear a instalação das novas divisões DEA (Defesa Espacial e Aérea). VÍktor Litóvkin
especial para gazeta russa
itar-tass
Antes desconhecido da opinião pública, o tenente-general e comandante do projeto espacial bélico da Rússia, Oleg Ostápenko, passou a fazer aparições constantes na mídia em todo o país nos últimos tempos. Primeiro, Ostápenko conduziu uma conferência e um tour com a imprensa na até então altamente secreta base de radares do sistema antimíssil Don-2N, localizada
Propostas devem ser aperfeiçoadas pelo Conselho Nacional de Segurança
na cidade de Sôfrino, nos arredores da capital. Depois, pronunciou-se a respeito da participação da Rússia no sistema antimíssil europeu que a OTAN está criando em conjunto com o país (ou, possivelmente, sem ele). Declarou ainda que o sistema antimíssil russo pode colocar sob suas asas toda a Europa Ocidental, além das regiões do Mar Negro, Mar Báltico e do Mar do Norte. “Nossa contribuição poderá consistir na destruição de mísseis balísticos direcionados a alvos localizados na Federação Russa, em Estados vizinhos e na Europa Ocidental”, declarou. O comandante afir-
A gigante da mineração de ferro russa Severstal adquiriu 25 % da brasileira SPG Mineração, do Amapá, em meados de maio. O va lor da t ra n sação chegou a US$ 49 milhões, segundo fontes oficiais. A Severstal também incluiu um acordo sobre direitos opcionais de aquisição, com o objetivo de complementar 50% das ações da SPG. A operação, porém, pode ter mais a ver com as potencialidades da SPG Mineração, já que a companhia brasileira tem licença para explorar diversas jazidas de minério de ferro na região amazônica. O inventário inicial da companhia revelou que o projeto no Amapá tem reservas entre meio milhão de tonelada e 1,5 milhão de toneladas de minério com concentração de ferro entre 40% e 45%. O potencial total de mineração está avaliado de 10 milhões a 20 milhões de toneladas de concentrado de ferro. A companhia russa também afirmou que iria desenvolver sua própria solução de logística no Amapá, apesar da existência de malha ferroviária e de um porto nos arredores das jazidas. Ria Nóvosti
nesta edição homofobia
afp/east news
Moscou revoga Parada
Prefeitura cancela autorização de Parada Gay e LGTB recorrem a tribunal europeu Página 2
jogo limpo
IPO de US$ 1,3 bilhão
Yandex, maior site de busca russo, lança IPO, mas alerta investidores sobre riscos Página 4
mou ainda que a eliminação de mísseis lançados contra a Europa será possível por meio de um centro conjunto de operações militares, cuja criação está sendo discutida de acordo com o projeto desenvolvido pela OTAN. Segundo ele, caso as informações a respeito do alvo sejam recebidas, os sistemas russos de defesa antimíssil e antiaérea designados para um determinado quadrante poderão abater projéteis lançados por países de fora do sistema e que estejam em posição de ataque ou em trânsito na zona de responsabilidade russa. continua na Página 2
Grupo Voiná
Arte celebrada
photoxpress
Coletivo de arte ganha prêmio estatal por protesto Página 8
Política e Sociedade
Gazeta Russa
www.gazetarussa.com.br
Apatia Segundo pesquisa, 25% acham ativismo inútil
Russos perdem interesse por temas políticos Aleksandr BratÉrski the moscow times
Um novo estudo do centro de pesquisas de opinião pública VTsIOM mostra que 61% dos entrevistados ignoravam fatos políticos – parcela que, em 2007, correspondia a 39%. A principal causa da apatia é simplesmente a “falta de interesse”, alegada por 36% dos entrevistados – que em 2007 correspondia a 20% dos pesquisados. Neste ano, outros 25% acreditam que qualquer ativismo é inútil, enquanto 18% afirmam que simplesmente não entendem de política o suficiente. Os resultados poderiam ser preocupantes para os atuais líderes políticos, que esperam vencer as eleições para a Duma (câmara dos deputados) em dezembro, e a campanha presidencial, em 2012. Curiosamente, o número de russos que acredita que política seja um “negócio sujo” permaneceu praticamente inalterado, na faixa dos 58% em 2011 – comparáveis aos 59% de 2007.
Entre as pessoas que participam da vida pública de alguma maneira, 27% limitaram sua atividade política durante o ano passado ao voto. Esse índice vem caindo gradualmente após um pico de 55% em 2004, o que mostra que as eleições para a Duma em 2007 e a votação para presidente de 2008 não conseguiram mobilizar os eleitores. Outras formas de participação foram ainda menos populares: 8% afirmaram ter participado de ações pa ra melhorar seus bairros, enquanto 4% coletaram doações para os necessitados ou vítimas de desastres. Somente de 1% a 2% participaram ativamente de campanhas políticas, governos autônomos locais, sindicatos, manifestações ou assinaram petições públicas. E os entrevistados que assumiram ter envolvimento com partidos políticos, greves de trabalhadores ou eventos organizados por comunidades religiosas não chegaram a 1%. Foram entrevistadas 1,6 mil pessoas em 46 regiões do país, com margem de erro de 3,4 pontos percentuais. Serguei Mitrôkhin, líder do partido de oposição Iábloko, afirmou que as autoridades
números
61
por cento dos pesquisados declararam ao centro de pesquisas de opinião pública VTsIOM ignorar fatos políticos - em 2007, eram 39%.
27
por cento dos pesquisados afirmaram participar da vida pública de alguma maneira. Em 2004, esse índice atingiu um pico de 55%.
ap
Dois terços da população não se interessa pelo assunto e o restante não vai além do voto, de acordo com nova pesquisa do VTsIOM.
O desinteresse de grande parte da população pela política já começa a se refletir nos índices de aprovação dos dirigentes
estimulam a atitude passiva da sociedade. “A população é desmoralizada pelas autoridades que por sua vez preferem manter as coisas deste jeito, pois estão acostumadas a agir sem o consentimento público”, disse Mitrôkhin. A apatia pública já está sendo refletida nas avaliações dos atuais dirigentes. O apoio maciço ao presidente Dmítri Medevdev, ao primeiro-ministro
Vladímir Pútin e ao partido dominante Rússia Unida vem caindo desde janeiro. O Rússia Unida venceu a última e principal votação regional em março, mas com uma margem inferior à dos anos anteriores. Porém, é em relação à minoria ativa, e não às massas passivas que a elite dominante parece estar preocupada, diz o analista político Mark Feigin. “Os ativistas políticos com-
põem de 2% a 5% da população, mas são capazes de mobilizar os outros em prol de suas causas – se eles conseguirem ao menos chegar a um consenso entre si”, disse Feigin, que também é membro do grupo de oposição Solidariedade. “As pessoas que poderiam promover mudanças e inspirar os demais ainda estão divididas”, completou. Feigin afirma que alguns indivíduos da elite de negócios
também possuem um espírito ativista, embora uma espécie de contrato silencioso com o governo os impeça de se envolver na política. O analista político pró-Kremlin Igor Iurgens sugeriu a mesma coisa em uma entrevista recente ao jornal The Moscow Times. “Parte da elite não pensa apenas em fazer dinheiro, mas reflete sobre o futuro do país, por mais pomposo que isso pareça”, disse.
“A população é desmoralizada pelas autoridades, que, por sua vez, preferem manter as coisas deste jeito porque estão acostumadas a agir sem o consentimento público”
Proteção contra as ameaças do espaço Continuação da página 1
Se os EUA instalarem sistema de defesa na Romênia, projeto conjunto que inclua a Rússia não é possível defesa espacial e aérea. Na época, a proposta de integração do arsenal estratégico e do sistema DEA foi considerada inconsistente. Andrei Kokôchin, ex-assessor do Ministério da Defesa da Rússia, ex-secretário do Conselho Nacional de Segurança e atualmente membro da Duma e da Academia de Ciências, considera que deva haver uma relativa separação entre os dois
sistemas para que o governo tenha tempo de tomar decisões. Ou seja, as perspectivas da proposta do comandante em relação a isso não seriam tão garantidas. Resta ainda uma questão: se a criação do sistema europeu de defesa antimíssil contemplar a Rússia, como a DEA poderá ser unificada a ele? Por ora, não existe resposta. Ainda não está claro qual papel Washington e Bruxelas concederão a Moscou e qual será o nível de participação da Rússia no projeto. Na verdade, ainda existem mais perguntas que respostas. Os Estados Unidos, contrariando as resoluções tomadas na reunião de cúpula do conselho Rússia-OTAN, já estão prontos para instalar seu sistema de defesa na Romênia. Se a situação continuar a seguir este rumo, não será mais possível falar da criação conjunta de um sistema de defesa que integre a Rússia. É muito mais provável, isso sim, que se gere uma nova cisão dentro da Europa.
Tropas espaciais russas Entenda como o equipamento espacial protege o país de ataques
Parada é cancelada e LGBT criam lista negra
em Moscou, de 2006 a 2008. Segundo o líder do movimento, Nikolai Alekseiev, declarou à agência, é o próprio governo quem incentiva tal atitude da sociedade.
marina darmaros
gazeta russa
afp/east news
Lista enumera 646 indivíduos e instituições homofóbicas
Reformas e desenvolvimento brasileiros são elogiados
Índice homofóbico
Em menos de uma semana, prefeitura permite e proíbe demonstração LGBT, alegando que o evento geraria desordem.
No sistema de alerta contra ataques de mísseis entrarão as bases de radar de Olenegorsk, Lekhtusi, Petchora, Armavir, dos arredores de Irkutsk, de Gantsevitchi, na Bielorrússia, Qabala, no Azerbaijão, Balkhach, no Cazaquistão e a atualmente em construção em Kaliningrado (veja mapa ao lado). Outros componentes serão os satélites de órbitas elípticas ou geoestacionárias e o sistema de controle espacial e cósmico, incluindo a base próxima de Nurek, no Tadjiquistão. Ao sistema DEA também deve ser integrado o complexo de defesa antimíssil A-135 de Moscou, que compõe a base multifuncional Don-2N, e os complexos de defesa antiaérea e antimíssil S-300 e S-400 e, possivelmente, o S-500, cujos mísseis poderão interceptar alvos balísticos no espaço.
Bilateralidade Economistas discutem Brasil em Moscou
Falso alerta Prefeitura autoriza e cancela evento em Moscou
“Recentemente o governo de Moscou foi contatado por diversos órgãos estatais e governantes, membros da Igreja, organizações públicas e indivíduos, pedindo a suspensão do evento”, diz carta enviada a ativistas LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros), segundo reportou a agência Interfax. O evento, que seria realizado no dia 28 pela prefeitura, foi cancelado no dia 12. Um dia antes, o Tribunal Europeu de Direitos Humanos reconheceu a ilegalidade das proibições de três paradas gays
O que se quer unificar
ria novosti
São compreensíveis os motivos pelos quais Ostápenko tem fe it o t a nt a s apa r iç õ e s públicas. Até o dia 1º de dezembro de 2011, de acordo com as determinações do presidente Dmítri Medvedev, devem ser criadas no país novas divisões de DEA (Defesa Espacial e Aérea). A proposta de criação do sistema, feita pelo comandante do projeto bélico espacial, já foi aprovada pelo Estado Maior e deve ser posta em prática após discussão e aperfeiçoamento no Conselho Nacional de Segurança. As sugestões consistem essencialmente na integração de todos os sistemas que atualmente controlam o espaço aéreo, tanto no território da Rússia quanto de seus aliados e também na total extensão de suas fronteiras. De acordo com a proposta do general, o Estado Maior teria a tarefa de acatar os comandos do DEA. Além disso, alguns especialistas asseguram
que o sistema deve integrar o arsenal de mísseis estratégicos para que não se retarde um lançamento preventivo caso seja enviado o sinal de alerta de um ataque inimigo contra o país. Aliás, esse cenário foi previsto quando, no início deste século, a Rússia empreendeu uma tentativa inicial de criar um sistema de
O site GayRussia.ru publicou um índice de homófobos, em uma ação conjunta com a organização “Artigo 282” – que remete ao trecho da Constituição russa referente aos crimes de incitação de ódio, hostilidade e humilhação. Dividida em quatro partes, a lista em ordem alfabética enumera 487 políticos, funcionários públicos e figuras públicas, 100 juízes, 19 órgãos governamentais, 40 partidos, movimentos e organizações que tenham cometido nos últimos anos ações consideradas homófobas. A ideia é propor que países europeus e de democracia mais desenvolvida rejeitem a entrada desses indivíduos em seus territórios. Em outubro de 2010, o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos multou a Rússia em U$ 41 mil dólares por proibir paradas gays em Moscou.
Vladímir Golenkov
especial para gazeta russa
Os últimos 15 anos têm sido únicos não só na história do Brasil, mas também na história de toda a América Latina. Durante os anos de estabilidade política no maior país da América do Sul foram realizadas reformas socioeconômicas que transformaram radicalmente a cara do Brasil e da sociedade brasileira. Essa foi opinião unânime dos participantes do seminário “Modernização no Brasil: Progressos e Perspectivas”, que reuniu economistas e políticos russos de relevo em Moscou. “O Brasil tem mostrado ao mundo um exemplo de como um país agrário e subdesenvolvido pode se transformar, em um período relativamente curto, em um Estado desenvolvido. E para a Rússia essa experiência é
extremamente interessante”, disse o presidente do Conselho de Política Externa e de Defesa, Serguei Karaganov. Comparando as reformas brasileiras e russas, o presidente do Conselho Empresarial Rússia-Brasil, Serguei Vasiliev,
“Nossa população é aproximada, o PIB parecido, mas a eficácia e rapidez são muito diferentes” sublinhou que, em geral, no Brasil elas têm sido mais bem sucedidas. Entre os motivos objetivos para isso estariam as diferenças no desenvolvimento histórico dos dois países. Mas o empresário também destacou o alto nível de profissionalismo dos economistas brasileiros e a responsabilidade das elites.
“Em termos econômicos, a Rússia e o Brasil são muito semelhantes. Nós temos uma população aproximada, um volume de produção industrial e um PIB parecidos. No entanto, a eficácia e a velocidade de transformação nos dois países é muito diferente”, afirmou Vasiliev. Para ele, as perspectivas de aumento do crescimento econômico do país são grandes por sua situação demográfica favorável, estabilidade política e institucional, com o desenvolvimento do sistema de federalismo e de partidos políticos. O evento foi organizado pela Escola Superior de Economia da Universidade Estatal, o instituto de economia de maior prestígio de Moscou, e pelo Conselho de Política Externa e de Defesa, influente associação não-governamental da Rússia.
Política e Sociedade
GAZETA RUSSA
WWW.GAZETARUSSA.COM.BR
Contra todos Bailarina é expulsa do partido Rússia Unida após publicar fotos em seu blog nas quais aparece nua
Balé, política e barracos Mais conhecida pela demissão do Bolshoi por excesso de peso, a bailarina, atriz e política Anastassia Volotchkova agora leva seu estilo verborrágico para a oposição.
Veja slide show em www.gazetarussa.com.br
ANNA NEMTSOVA
ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA
Anti-heroína russa
Profissão oposição
Volotchkova postou em seu blog uma foto em que incluiu digitalmente o presidente russo olhando para ela nua
uma bailarina russa”, Volotchkova compara os capítulos de sua vida com a trama dos 12 principais balés russos por ela estrelados. Quando adolescente, Volotchkova escutou de seus professores na Academia Vagánova – a notoriamente severa escola de balé que também treinou Vaslav Nijínski e Rudolf Nureiev – que uma bailarina de ossos largos como ela jamais dançaria nos melhores palcos. Alguns anos depois, ela estreava como primeira bailarina de Mariinski, em O Lago dos Cisnes, no Metropolitan House de Nova York.
Expulsa do Bolshoi
Em seu relato, Volotchkova é sobrevivente de diversas batalhas dos bastidores, cercadas de inveja e insultos. Ela descreve o drama do filme Cisne Negro como “um mar de rosas” se comparado às intrigas no Balé Bolshoi. Depois de atuar como solista em seis grandes balés e de uma turnê mundial de cinco anos com a companhia, Volotchkova foi chamada de “bailaria gorda” pelos executivos da companhia mais famosa do mundo. Ela seria demasiadamente pesada para aparecer em um palco de teatro nova-
FRASE
Boris Nemtsov
EX-PRIMEIRO MINISTRO (1997-1998) E ADVERSÁRIO DO GOVERNO
"
Anastassia Volotchkova atraiu a atenção da elite russa ao mostrar o exemplo de uma posição civil virtuosa. Eu admiro a escolha dela.”
mente, e foi demitida em 2003, um ano depois de ganhar o prestigioso Prêmio Benois de la Danse. Volotchkova, no entanto, suspeita da mão vingativa de um ex-amante poderoso, cujo nome ela não revela. Segundo a própria, ela chorou sob as colunas de mármore do Bolshoi. “Ninguém me deu uma palavra de apoio”, contou. A bailarina lembra com amargura do dia em que foi pega de surpresa por um repórter do New York Times, que levou uma balança para uma entrevista, sem pedir permissão. O aparelho registrou 49,5 quilos, peso aceitável para uma ba i l a r i n a de 1,68m de altura. ITAR-TASS
Volotchkova virou mais uma vez o assunto do momento. E ela está interpretando um papel familiar: o da diva abandonada, sincera e ligeiramente escandalosa. “Eu sou mais importante do que o seu partido!”, bradou em entrevista recente. “Mantemos a posição firme de não fazer comentário algum sobre o escândalo Volotchkova”, retrucou a porta-voz do partido no poder, Inna Tchernavina. Em seu livro “A história de
GETTY IMAGES/FOTOBANK
Anastassia Volotchkova, 33 anos, não prima exatamente pela discrição. Em seu casamento milionário com o empresário Igor Vdovin, em 2007, ela chegou ao Palácio de Catarina, em São Petersburgo, sentada em uma cadeira presa a um balão, com um vestido de contos de fada flutuando no ar. Antes disso, em 2003, ela havia se envolvido em uma polêmica com o balé Bolshoi, que a demitiu alegando que estava acima do peso, embora ela afirme se tratar da vingança de um ex-amante. Nada disso, porém, se equipara ao seu mais recente escândalo. Ao se sentir preterida pelo partido Rússia Unida, do primeiro-ministro russo Vladímir Pútin, ela resolveu chamar a atenção por meio de uma sessão de fotos nua. As imagens foram publicadas em seu blog e alteradas digitalmente para fazer parecer que o presidente do país, Dmítri Medvedev, do mesmo partido, a olhava com desejo. Ela acabou expulsa do partido e seguiu disparando sua metralhadora verbal: “Hoje em dia, integrar o partido Rússia Unida de Vladímir Pútin é um fato muito mais comprometedor para a reputação de alguém do que ter fotos nuas publicadas na internet”, afirmou em seu blog. Agora ela integra o grupo dos críticos do governo.
Dança política
Logo após o escândalo, Volotchkova entrou no Rússia
Com 49,5kg e 1,68m, a bailarina era “gorda” para o Bolshoi
Unida como uma das diversas celebridades recrutadas para revigorar um partido geralmente associado a burocratas insossos. Segundo ela, não faltou dedicação. Sua imagem estampou materiais de campanha e ela acompanhou governantes regionais em viagens à Europa Ocidental como embaixatriz da cultura. Volotchkova ainda apresentou-se para 6 mil burocratas, magnatas do petróleo, executivos da companhia de gás e gestores de fundos de investimento no maior salão de concertos do Kremlin. Há poucos meses, dançou entre as mesas de um encontro do Rússia Unida, deslizando entre homens de terno e garrafas de vodca. “Durante o tempo em que levantei a bandeira do partido, eles eram meus amigos, mas agora me viram as costas”, diz. A relação com o partido começou a entrar em declínio em 2009, quando “problemas de papelada” levaram a sua exclusão na disputa pela prefeitura de Sôtchi, cidade que irá sediar os Jogos Olímpicos de Inverno de 2014. De repente, performances como solista estavam sendo canceladas por sua impertinência política em desafiar um dos escolhidos pelo partido. A ruptura final, contudo, ocorreu com a publicação das fotos, em fevereiro. “Minhas fotos na praia causaram indignação nas classes do partido. ‘Como isso é possível! Um membro do Rússia Unida mostrando os seios’, as tias do partido gritaram assustadas”, ironizou Volotchkova em seu blog. “De repente lembraram que eu era um membro do Rússia Unida.” Volotchkova foi exonerada pelos membros do alto escalão do partido, mas revidou dizendo que em 2005 o partido colocou, sem o seu conhecimento, sua assinatura em uma carta coletiva apoiando a prisão de Mikhail Khodorkóvski. Em comentário, Volotchkova disse que o exmagnata do petróleo era “mais homem” do que aqueles que ela viu no partido de Pútin. O apoio a ela agora vem da oposição russa.
ENTREVISTA ROBERTO CARLOS
Lateral-esquerdo quer mais tempo na Rússia Contratado no começo do ano, jogador brasileiro agradece a hospitalidade e diz que já pensa em morar na Rússia por mais tempo do que os dois anos e meio previstos em seu contrato. Você completou recentemente 38 anos. Dez anos atrás imaginava ainda estar jogando nessa idade, ainda mais no campeonato russo? Estive aqui mais de uma vez para jogar, tanto pela seleção brasileira quanto por clubes. E tinha vontade de voltar para cá, conhecer Moscou. Agora, esse sonho se tornou realidade. Estou morando numa cidade maravilhosa e jogando num
O que seus parentes acharam quando chegou a proposta do clube de Makhatchkalá? Para falar a verdade, toda a família ficou muito contente. Além disso, sou um jogador profissional e, por isso, não devo escolher o lugar em que vou trabalhar. Para minha família, é mais uma oportunidade de conhecer um país novo, uma cultura nova, talvez até uma língua nova. Para nós brasileiros, isso é muito importante. Alguns estereótipos sobre a Rússia se desfizeram depois que você veio para cá? Ainda é difícil falar algo concreto sobre isso, mas encontrei muita coisa na internet
que não correspondia de forma alguma à realidade. Na verdade, tanto Moscou quanto Makhatchkalá são cidades excelentes para se morar. Tem muita mentira na internet. Quais foram suas primeiras impressões sobre a capital e seus habitantes? Achei tudo muito bom, para ser sincero. Estou muito feliz de estar aqui. As pessoas na rua tratam a mim e a minha família muito bem. Geralmente, pedem para tirar fotos e, no trânsito, começam a buzinar quando me reconhecem dentro do carro. Para mim, é uma grande honra. E o metrô de Moscou, você já conheceu? Ainda não. Mas, um dia, sem dúvida irei com o meu tra-
dutor. Sou uma pessoa normal, por que não andaria de metrô? Quero viver do mesmo jeito que os outros. Você se mudou para Moscou com a família? Sim, com minha esposa e minha filha. Elas gostam muito de Moscou. No começo, tivemos algumas complicações relacionadas ao lugar onde íamos morar, mas agora já está tudo resolvido. Ao longo da sua carreira, você jogou em cinco países diferentes. Qual é seu preferido? Morei onze anos em Madri. Nesse tempo, passei a gostar muito da Espanha. Na Itália gostavam muito de mim. Eu falava muito bem italiano. Agora vou morar dois anos e meio em Moscou e espero
PHOTOXPRESS
O Ministério da Saúde da Federação Russa pretende lançar um teste de drogas em estudantes russos. “Vamos ter conversações preventivas com os jovens”, explica o especialista em narcóticos do governo, Evguêni Brun. Ele destaca principalmente que não se deve temer que o adolescente que tenha teste positivo tenha o resultado registrado.“Não vamos fazer isso”, garante. Os testes começarão a ser aplicados em alunos a partir dos 13 anos de idade. “Segundo as estatísticas, é quando se dá a pr i mei ra experiência com drogas”, afirma Brun Em Moscou, diz, há 30 mil dependentes qu í m icos registrados. Entre toda a população da capital, pelo menos 1,5 milhão de pessoas teria experimentado drogas pelo menos uma vez na vida. Entre os moscovitas, as mais populares são a maconha, o ecstasy, as a n feta m i nas e os alucinógenos. ITAR-TASS
Presidente russo defende oposição em site infantil O site infantil do presidente Dmítri Medvedev inaugurou uma nova seção para explicar às crianças o funcionamento e os benefícios da oposição. “Em latim, essa palavra significava contraste, confronto. Imagine duas multidões que ficam em frente uma da outra e disputam por algum motivo. Então, a oposição é a multidão que tem menos gente”, descreve o site. Um dos autores do projeto, o escritor Grigori Oster explica que ele é voltado para crianças de 10 a 12 anos. “É claro, a maioria é mais importante que a minoria. Mas cidadãos que querem viver em um país democrático devem aprender a respeitar a opinião da minoria e ouvi-la atentamente”, diz outro trecho.
Biblioteca de Lev Tolstói é indicada à Unesco
ITAR-TASS
R-SPORT
clube maravilhoso, que é o Anji.
Ministério da Saúde fará teste de drogas em estudantes
Interfax
EX-CORINTIANO ALMEJA “VIVER COMO OS OUTROS E PEGAR METRÔ” ALEKSANDRA VLADIMIROVA
NOTAS
Roberto Carlos e a esposa: felizes com mudança para Rússia
depois poder responder que meu país favorito é a Rússia. E, para falar a verdade, espero passar mais de dois anos e meio aqui. Os torcedores desses países são muito diferentes? É difícil comparar. Em cada país as pessoas torcem de maneiras muito diferentes. Na Turquia, as pessoas são simplesmente doentes por fute-
bol. Em Makhatchkalá também. Os torcedores apoiam o time de uma maneira sensacional. É claro que todo jogador precisa do suporte da torcida, especialmente jogando em casa. Em Makhatchkalá, eles apoiam o time durante os 90 minutos da partida, o que dá uma motivação extra. Eles são o décimo-segundo jogador da nossa equipe.
A biblioteca pessoal de Lev Tolstói foi indicada ao programa Memória do Mundo da Unesco, que lista documentos em situação de risco que tenham valor de patrimônio documental para a Humanidade. O acervo de Tolstói é vasto e contém manuscritos médicos chineses, arquivos do compositor austríaco de vanguarda Arnold Schoenberg, uma cópia da obra-prima do cinema expressionista alemão dos anos 20 “Metropolis”, livros antigos de matemática e astrologia iranianos e um compêndios das principais diretrizes do zen budismo. Gazeta.ru
Dúvidas? Ideias? Fale com a gente! br@rbth.ru
Economia e Mercado
Gazeta Russa
www.gazetarussa.com.br
teria sido impossível tomar conta do rebanho sem a ajuda estrangeira.
Desafio de caubói
ryan bell
Investimento total no rancho russo tocado por norte-americanos chega a US$ 19 milhões. Além das técnicas para lidar com o gado, há lições de gestão
Empresário pretende ampliar criação de gado Continuação da página 1
Diante desses homens, os pratos parecem pequenos. Todos os caubóis norte-americanos emagreceram, mas eles não estão ali de férias. “É tudo diferente, desde a comida até a cultura e a estrutura local. Só o clima é o mesmo”, diz Dan Conn, caubói que já concluiu o primeiro dos dois meses que ficará no rancho. O tempo pode ser o mesmo de Montana, mas a terra é muito diferente. “Alguns dos solos mais férteis do mundo estão nessa região. Isso não existe no lugar de onde eu venho”, diz Stevenson.
Independência
O gado angus importado custou aproximadamente US$ 7 milhões e o investimento total no rancho gira em torno de US$ 19 milhões, dos quais quase US$ 15 milhões foram subsidiados pelo governo por meio de empréstimo do Sberbank, o maior banco de varejo da Rússia. “O que a Rússia precisa é de gado vivo e, em relação a isso, eles estão pensando muito a frente e estão bastante empenhados”, diz Stevenson. O país importa regularmente de 40 mil a 50 mil bovinos vivos por ano, segundo os EUA. Só durante o ano de 2011, o
país importou mais de US$ 1 bilhão do Brasil, ou quase 300 mil toneladas do produto. O governo quer reduzir esse número, e a Doutrina de Segurança Alimentar assinada pelo presidente Dmítri Medevdev há um ano define que a Rússia produza domesticamente 85% da carne consumida até 2020. Um dos sócios russos da empreitada, Serguei Gontcharov afirma que reduzir as importações é tão importante para o governo que os subsídios cobrem um de cada quatro dólares injetados no projeto. “Em um gado como o nosso, uma vaca custa de US$ 3 mil
cursos, mas o que eles precisavam mesmo era de gestão, talvez até mais do que o gado vivo em si”, diz Stevenson. A fazenda tem três veterinários qualificados, mas alguns dos camponeses nunca trabalharam com gado antes. Depois de um mês no serviço, entretanto, o russo Leonid já se apresenta como caubói. “É a primeira vez que faço esse trabalho. Quando as vacas começam a dar cria, nós as trazemos para dentro e tomamos conta delas. Se os bezerros adoecem, nós os aquecemos”, conta entusiasmado. O chefe dos veterinários, Aleksandr Narítsin, admite que
a US$ 4 mil, e os touros, de US$ 6 mil a US$ 8 mil”, diz Gontcharov. Parte do valor está relacionado aos custos do transporte, que foi feito por avião ou navio a partir da Europa, da Austrália ou da América. “A esses preços, podemos facilmente pagar o banco e até mesmo lucrar [com a venda]”, completa.
Técnica americana
Sputnik, a empresa de Gontcharov nos entornos de São Petersburgo, já está envolvida no processo de transferência de embriões de gado e fertilização in vitro. “Queriam o melhor da tecnologia e dos re-
No início de dezembro não havia praticamente nada na região. Agora, mais de 900 beze r ros já n asce ra m n a fazenda. “Agradecemos imensamente aos norte-americanos. Se não fossem eles, nós estaríamos correndo atrás de uma única vaca o dia todo – eles conseguem trazê-las de volta em 10 minutos”, diz Narítsin. Quando o gado chegou de Chicago ao aeroporto Cheremétivo, nos arredores da capital, os funcionários do local não foram tão ágeis. Stevenson recorda que uma vaca escapou na transferência do Boeing 747 para o caminhão que as levaria ao rancho. O aeroporto ficou fechado para pousos por quase uma hora, até que a fugitiva foi encurralada e levada para dentro do transporte. Ensinar os colegas russos a cuidar do rebanho foi a parte mais difícil do trabalho para os caubóis. “Quando a oportunidade surgiu, apareceram dois ou três deles sobre seus cavalos em apenas alguns minutos. Tivemos que mostrar a eles como colocar sela em um cavalo – acho que nenhum deles tinha montado realmente antes. Um deles caiu de cabeça no segundo dia”, conta Stevenson. Para o caubói Dan Conn, nem todo trabalhador rural tem o que é preciso para realizar o trabalho. “Nós somos rancheiros de nascença, pecuaristas, e ensinar alguém que é relativamente novo no ramo, que nunca teve ao seu redor mais que uma vaca leiteira ou alguns porcos e ovelhas, é um grande desafio”, diz. Já Stevenson vê o empreendimento como uma oportunidade de colaborar para o progresso local, além de uma importante troca de cultura. “É uma porção do mundo que tem muitos recursos naturais e que é plenamente capaz de fazer isso”, acredita.
Transparência Site de busca lança relatório de 2 mil páginas sobre os desafios no país antes de lançar seu IPO
Yandex alerta sobre os riscos na Rússia Considerado o “Google russo”, Yandex se prepara para abrir capital e espera arrecadar pelo menos US$ 1,3 bilhão, mas sem o uso de artifícios.
conta da acelerada recuperação econômica.
“Caixa preta”
Tim Gosling
gazeta russa
photoxpress
Dizer aos investidores como é perigoso trabalhar na Rússia pode parecer uma forma inusitada de vender ações de uma empresa, mas foi isso que o Yandex, o site de busca líder na Rússia, fez em sua esperada oferta pública inicial de ações (IPO). Ao mesmo tempo, em seu prospecto de 2 mil páginas, a empresa se desdobrou para destacar os riscos políticos e os perigos da compra de ações por oligarcas próximos às autoridades. “Empresas de alta penetração na Rússia, como a nossa, podem ser vulneráveis a ações motivadas pela política”, afirma o relatório. O site apresentou oficialmente junto à agência federal norte-americana Securities and
Gigante da internet no país detém 64% do tráfego de busca. O Google é o segundo, com 22%
Exchange Commission (SEC, a Comissão de Valores Mobiliários) uma relação de 52,2 milhões de ações a preços de US$ 20 a US$ 22 cada no início de maio. Isso daria ao Yandex um valor de US$ 6,7 bilhões no topo da
variação, fazendo dele a maior empresa online da Europa, segundo analistas do banco de investimento russo UralSib. O Yandex afirma deter 64% de todo o tráfego de busca na internet russa – enquanto o Google tem apenas 22%.
Em termos de receita, o site local é a maior empresa de internet do país. Isso lhe dá grandes chances de desenvolvimento rápido, já que a banda larga está difundida por todo o território e gastos com publicidade vêm crescendo por
Nos termos da legislação russa, todos os provedores de internet devem permitir que o FSB, o serviço de segurança da Rússia, instale uma “caixa preta” em seus servidores, com a finalidade de monitorar todo o tráfego de e-mails. Em abril, o FSB levou a medida à risca, afirmando que o Skype e o Gmail representam séria ameaça à segurança e solicitando sua proibição. O presidente Dmítri Medvedev nega o caso, mas a discussão coloca em evidência o contraste das difíceis relações do Estado com as v ias de informação. O líder da oposição Boris Nemtsov afirma que o Estado forçou a maioria dos provedores de internet a excluir sites da concorrência de seus servidores. No início de maio, quando a empresa anunciou que o FSB tinha forçado a companhia a
dar detalhes dos usuários do Yandex.Dengi, seu sistema de transferência monetária, houve uma grande polêmica. Mais precisamente, o FSB pedia informações sobre os patrocinadores do ativista anticorrupção Aleksei Naválni. Uma semana depois, o Comitê Investigativo da Rússia – a mais alta instância de investigação do país – abriu inquérito para apurar as atividades de Naválni, alegando que ele usava sua posição de conselheiro do governador de Kirov, que exerceu durante o ano de 2009, para forçar uma madeireira a entrar em um acordo desfavorável. Ainda assim, os investidores parecem não se importar com os riscos – desde que os preços sejam vantajosos. “Os investidores com quem estamos lidando não estão prestando muito atenção ao risco político”, afirma Aleksandr Vengranovitch, analista de mídia e TI do Yandex. “Eles estão mais interessados no crescimento do Yandex.”
Produção Desempenho do país equivale a um terço do norte-americano
Gazeta Russa
No fim de abril, o primeiroministro russo Vladímir Pútin lançou um desafio em seu relatório anual para a Duma (a câmara dos deputados na Rússia), no qual propõe dobrar a produtividade do país na próxima década. Se o governo realizar a proeza, duplicará o tamanho da
“O mínimo que podemos fazer é dobrar esse número na próxima década, ou talvez até tripicá-lo ou quadrupicá-lo nas indústrias de maior destaque”, completou. Em relatório de abril, a OCDE (Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômico) destaca a baixa produtividade dos mercados emergentes do Oriente como um dos principais problemas enfrentados pelos governos regionais. “A capacidade das políticas fiscais e monetárias para continuar apoiando a recuperação está praticamente esgo-
tada, portanto uma ênfase na implantação de reformas estruturais é a única maneira de impulsionar o crescimento”, disse o secretário geral da OCDE, Angel Gurría. “Os EUA sofreram um boom de produtividade por um longo período em virtude de sua inovação. A Grã-Bretanha o fez por meio da liberalização. As economias emergentes terão em breve que começar a promover inovações em si mesmas”, afirma Plamen Monovski, diretor de tecnologia da informação do fundo Renaissance Asset Managers.
kommersant
Dmítri Dovlatov
economia da Rússia, cuja produtividade é um terço da norte-americana. O grupo de consultoria McKinsey, entretanto, aponta em um relatório de 2010 que entre 60% e 80% dessa diferença deve-se tão somente à má gestão de recursos. “A Rússia tem que se tornar um país verdadeiramente competitivo. Esse é um requisito básico para governo, empresas e instituições sociais. Se olharmos para a produtividade do trabalho, esse índice é muito menor na Rússia do que nas principais economias”, afirmou Pútin.
Em 24 horas, carro tem 41 mil encomendas
itar-tass
O primeiro carro híbrido russo, o Io-Mobile teve 41 mil encomendas nas primeiras 24 horas de seu lançamento, segundo o fabricante Io-Auto. Nos modelos furgão, hatchback de cinco portas e crossover, a versão mais acessível custa 360 mil rublos (cerca de R$ 20 mil). O Io-Mobile tem 60 cv, motor rotativo de palhetas, gerador e supercapacitores que alimentam os motores elétricos de acionamento. Ele consome 3,5 litros por 100 km, com reserva de potência de até 1,1 mil km. A entrega dos carros híbridos vai começar no segundo semestre de 2012, na cidade de São Petersburgo. Lenta.ru
Ferrovias vão consumir R$ 57 bilhões na Copa O custo da organização do transporte ferroviário na Rússia para a Copa do Mundo 2018 será superior a 1 trilhão de rublos (R$57,8 bilhões). O conceito de desenvolvimento da rede ferroviária é composto por quatro pontos: a organização da rapidez do tráfego, o transporte entre aeroporto e cidade, e o desenvolvimento dos estacionamentos de trens. O financiamento do governo será usado também para o desenvolvimento de infraestrutura para os Jogos Olímpicos 2014 em Sôtchi, no sul do país. Segundo os planos iniciais, a Copa do Mundo será real i z ad a e m 13 c id ade s russas. Lenta.ru
Retomada da exportação de grãos O primeiro-ministro Vladímir Pútin declarou, na conferência inter-regional do Partido Rússia Unida, em Volgogrado, que a retomada das exportações de grãos devem ser feita de acordo com os resultados da safra deste ano. “Devemos ter a certeza de que com todo o volume vamos abastecer nossas necessidades internas e gerar as reservas exigidas para o país”, disse Pútin. A Rússia impôs o embargo às exportações de grãos em 15 de agosto do ano passado, já que com a seca excepcional do verão a colheita de 60,9 milhões de toneladas de grãos foi 37% menor em relação à de 2009. Ria Nóvosti
Imposto sobre gasolina pode continuar
Primeiro-ministro quer dobrar produtividade Má gestão de recursos é maior vilã da capacidade de produção russa e Kremlin muda foco no investimento para competitividade.
notas negócios
Pútin cobra que a Rússia seja um país mais competitivo
O Estado deu início ao processo de melhoria da gestão na Rússia, com grandes recursos destinados à criação da escola de negócios de Skôlkovo, que treinará a nova geração de gestores. O
segundo pilar do programa é promover inovação e alta tecnologia. Pútin afirma que a produção inovadora na próxima década irá aumentar dos 12% atuais para 25% ou 35%.
O Ministério do Desenvolvimento Econômico da Rússia propôs que o aumento dos impostos de exportação sobre a gasolina seja prorrogado até junho, declarou o vice-chefe do ministério, Andrei Slepnev. O imposto de exportação cresceu, desde o início de junho do ano passado, até US$ 462,1 dólares por tonelada. Com o aumento no preço da gasolina e a escassez de combustível desde o dia 1º de maio, o governo subiu os impostos sobre a exportação de gasolina mais do que o previsto – em até 90% da taxa do imposto sobre o petróleo –, prometendo suspendêlo com o fim do déficit. Ria Nóvosti
Economia e Mercado
Gazeta Russa
www.gazetarussa.com.br
IPO Banco Nomos é a primeira instituição privada do setor a fazer uma oferta pública inicial de ações e desperta o mercado
Após começo de ano fraco, o duto russo de ofertas públicas iniciais de ações (IPO, na sigla em inglês) está abrindo rapidamente, e os investimentos inundam o país. São esperados US$ 50 bilhões em dois anos. Tim Gosling
gazeta russa
Quando o banco Nomos realizou o primeiro IPO de um banco comercial privado na Rússia, no meio de abril, o ano ainda não tinha começado para as ofertas públicas iniciais de ações. Cinco empresas russas tentaram vender suas ações em fevereiro, mas os proprietários se excederam no preço, e o resu lt ado f icou longe do esperado. Apenas uma oferta de ações secundárias do gigante banco estatal VTB e um pequeno IPO de US$ 16 milhões em Frankfurt pela cadeia de pizzarias Papa John ultrapassaram a arrecadação. Depois do recorde de US$ 54 bilhões na primeira metade de 2008, os 22 IPOs dos últi-
frase
Aleksandr Krapivko diretor de operações do banco de investimentos Renaissance Capital
"
A lição extraída dos IPOs de baixo desempenho é que o preço não estava correto. No entanto, como em qualquer outra bolsa de valores, o risco é do comprador e os investidores devem fazer sua lição de casa"
mos dois anos levantaram apenas US$ 12 bilhões. Um dos maiores bancos russos, o Nomos, angariou US$ 710 milhões na Bolsa de Valores de Londres, com 22% das ações flutuando próximas ao índice máximo de sua variação de preço. Com a arrecadação, o Nomos, que apresentava baixos fundos após ter adquirido o Banco Khanti-Mansisk, em dezembro, será recapitalizado. A demanda reprimida por IPOs entre os empresários está crescendo rapidamente, mas ainda não foi acompanhada pela demanda de investidores internacionais. Analistas afirmam que pelo menos US$ 50 bilhões devam ser lançados em IPOs nos próximos dois anos.
Em outras palavras, eles eram caros e quase todos apresentavam desempenho inferior em sua variação (com algumas notáveis exceções). O sucesso do IPO do Nomos destaca a crescente atratividade das ações russas. O país é o único dos Brics a ter entrada líquida de investimento em carteira desde janeiro. Além disso, o setor bancário em rápido crescimento se mantém o preferido entre os investidores e foi um dos pri-
Antes da crise, proprietário estipulava o quanto quisesse e o investidor pagava
Bom presságio
Agora as empresas precisam se conter e os investidores estão exigindo um desconto saudável
Embora as ações do Nomos tenham sido fixadas a um valor próximo ao topo da variação, o valor foi baixo. O preço do IPO avalia o banco em US$ 3,2 bilhões ou 50% mais que o valor de tabela – que correspondia ao dobro disso antes da crise. “Os investidores não estavam completamente convencidos, então foram diretos em relação ao preço”, afirma um banqueiro que cuidava do IPO antes do anúncio. “Antes da crise, os proprietários estipulavam o quanto quisessem e, para ser sincero, os investidores estavam dispostos a pagar. Agora as empresas precisam se conter e os investidores estão exigindo um desconto saudável”, completa. Antes da crise, a maioria dos IPOs russos tinha o preço fixado pelo rápido crescimento.
meiros a se recuperar da crise de 2008. “Muitos investidores estão olhando para o Nomos simplesmente porque ele está no lugar certo na hora certa, e não por sua evolução histórica”, diz David Nangle, diretor de pesquisa no Renaissance Capital. “Com o Nomos, criamse ações de médio porte com liquidez decente, tapando um buraco em muitas carteiras de investidores dedicados à Rússia”, analisa. A Rússia tem quatro bancos de capital aberto: os estatais Sberbank e Banco VTB, que juntos somam bem mais da metade de todo o setor ban-
cário russo em ativos, e os menores Banco Vozrojdenie e Banco São Petersburgo, que têm uma liquidez combinada de US$ 300 milhões e não realizaram formalmente IPOs. O IPO do Nomos é uma novidade bem-vinda que fica entre esses dois g r upos, com US$ 700 milhões no mercado de ações. O Nomos é mais um grupo bancário financeiro-industrial clássico, que dominava os negócios na década de 1990, do que um tradicional banco universal. A maior parte das arrecadações do Nomos vem de transações bancárias corporativas, já que 50% de suas ações mais uma pertencem ao Grupo IST, holding de São Petersburgo que tem participação expressiva em engenharia, mineração e transporte de ouro. A maioria dos bancos bem-sucedidos na Rússia cresceu devido ao apoio de grupos industriais relacionados, os quais usam como plataforma para construir um negócio mais diversificado. No caso do Nomos, o retorno sobre capital próprio foi de 18% a 20% em 2010, contra as médias do setor na ordem de 3% a 5%. “O Nomos está em ótima posição, se comparado ao resto do setor”, diz o analista da Uralsib, Leonid Slipchenko. Segundo ele, o Nomos teria sofrido menos que a maioria dos bancos russos durante a crise e possuiria bons ativos, além de forte base financeira. “Como a economia está se recuperando, ele está realmente em uma posição muito forte, o que atrai a atenção dos investidores”, completa.
getty images/fotobank
A retomada das aberturas de capital
Quinto banco a abrir capital no país, Nomos será opção intermediária para o portfólio russo
Dinheiro virtual Sistema de pagamento online norte-americano terá concorrência do WebMoney e do local Yandex.Dengi
PayPal planeja entrada no mercado russo e mira a CEI Sem medo da corrupção, que afastou outras empresas do setor, empresa está de olho em um mercado cujas vendas cresceram 40% apenas em 2010. ben aris
gazeta russa
photoxpress
O sistema de pagamento para comércio eletrônico PayPal está planejando sua entrada na Rússia em um momento no qual a modalidade começa a decolar. Só em 2010, as vendas on-line cresceram 40% no país, segundo o diretor da Associação Russa de Comunicações Eletrônicas, Serguei Plugotárenko, e espera-se que esse volume aumente em 17% neste ano, chegando a 245 bilhões de rublos (R$ 14,2 bilhões). A Rússia possui um dos mercados de internet que mais rapidamente cresce no mundo, e o número de compradores registrou um aumento expressivo nos últimos três anos. “A quantidade de pessoas conectadas à internet dobra a cada 18 meses e, no fim de 2010,
Cartões não são disseminados no país, o que gera demanda por outras formas de pagamento
at i n g iu a m a r c a do s 57 milhões de usuários no país”, afirma Plugotárenko.
e a penetração atingiu 29,7% em dezembro, segundo relatório da AC&M-Consulting. A maioria dos novos acessos é de regiões mais remotas da Rússia, onde os moradores geralmente veem a internet como
Na Sibéria tem, sim
As conexões de banda larga crescem cerca de 3% ao mês
uma ferramenta educacional e uma forma de mostrar o mundo a seus filhos. O número de usuários na Sibéria cresceu 4,3% somente em dezembro, ultrapassando os índices de Moscou.
A importância dos Brics continuação página 1
photoxpress
O especialista Serguei Vassiliev acredita que agora os membros dos Brics têm recursos financeiros suficientes para tentar criar um mecanismo alternativo ao FMI. “Não é uma questão de dinheiro, mas de oportunidade. A criação de um fundo próprio significaria o surgimento de um órgão supranacional de administração, e isso também é um sério desafio”, sublinha.
Serguei Vassiliev, copresidente do Conselho Empresarial Rússia-Brasil
Para Vassiliev, qualquer opção escolhida pelos Brics acarretará uma transformação do sistema financeiro internacional e um reforço significativo do papel do ouro. “Já que não há nenhum substituto para o dólar no futuro próximo e as perspectivas quanto a ele não são claras, é muito provável que seu lugar seja ocupado novamente pelo ouro. A China ainda não é um país forte o suficiente para transformar o yuan na moeda internacional, e é improvável
que isso aconteça nos próximos 10 anos. Isso não significa que o mundo retornará ao sistema anterior do padrãoouro, que existiu até 1973, mas o papel do ouro terá que aumentar”, acredita Vassiliev. Sobre o impacto do Brics no consumo de energia, ele observa que a adoção de tecnologias de eficiência energética pela China e pela Índia dependerá do balanço de energia do mundo. O atual perigo para o mercado mundial de energia residiria no fato de
Assim, menos de 25% dos usuários de internet na Rússia fizeram compras pela internet em 2010, de acordo com Plugotárenko. Paralelamente, a renda total gerada pelos anúncios virtuais aumentou 40% no ano passado, passando para 26,7 bilhões de rublos (cerca de R$1,5 bilhão).
O crescimento das vendas online, entretanto, tem avanço lento, já que ainda é muito difícil pagar por produtos e serviços. “A baixa penetração de cartões de crédito faz com que seja difícil receber dos clientes, mesmo quando eles estão dispostos a pagar por alguma coisa”, afirma o proprietário da livraria virtual Bookmate. ru, Simon Dunlop. “Em algumas empresas russas como Yandex.Dengi e WebMoney, embora seja possível fazer pagamentos online, é necessário antes inserir créditos na conta por meio de transferência bancária. A única maneira de fazer compras instantâneas é usando o serviço de mensagem de texto [SMS], o que as torna extremamente caras”, completa. Por esse método, o cliente envia um SMS para um número especial com o pedido e a cobrança é descontada do saldo do aparelho. No entanto, as empresas de telefonia cobram até 40% do valor da compra pelo serviço, segundo Dunlop.
Mercado a vista
que a China e a Índia estão na fase de industrialização primária, na qual não apenas a economia cresce, mas também o consumo de energia. E o balanço energético global é muito intenso. A taxa de crescimento da economia chinesa está na faixa dos 10% ao ano, o que durante os próximos 10 anos vai significar um aumento inevitável dos preços do mercado de energia. Diante disso, deve-se lembrar que a Índia, a Rússia, a China e o Brasil são as maiores potências continentais em riqueza ambiental, da qual depende t o d a a e c olo g i a do mundo. Para Vassiliev, o modo de de-
senvolvimento da dinâmica de produção e consumo de produtos agrícolas nos países dos Brics dependeria, em grande medida, do balanço global de alimentos. Nos países dos Brics vivem 42% da população da Terra, contando com cerca de 26% do território do planeta. E os principais fatores de tensão, na opinião de Vassiliev, são a rápida urbanização da China e da Índia e o forte aumento dos padrões de consumo. Isso causaria um rápido aumento na demanda por produtos agrícolas ao longo dos próximos 5 a 10 anos.
Com esse cenário, o PayPal teria tomado a “decisão estratégica” de entrar no mercado virtual russo, de acordo com o periódico de negócios russo RBC. A empresa norte-americana estaria apenas aguardando a aprovação de leis referentes ao sistema de pagamento nacional para abrir seu escritório no próximo ano. A iniciativa do PayPal vai na contramão de outras empresas virtuais norte-americanas como a CompuServe, que em 1998 cortou acesso para a Rússia alegando que muitos hackers haviam criado contas falsas ou usado números de cartões de créditos roubados ou falsificados, acumulando enormes encargos sobre os serviços. O PayPal está mais confiante em relação ao potencial do mercado e já está em negociações com os provedores de internet locais e empresas de telefonia celular. “Em linhas gerais, a empresa não está interessada somente na Rússia, mas na CEI (Co-
Rússia A Rússia foi o membro mais
munidade dos Estados Independentes) como um todo”, descreve o RBC. Em 2009, os principais sistemas de pagamento on-line no país, Yandex.Dengi e WebMoney, foram responsáveis por 90% das transações no mercado virtual russo, segundo a Associação de Dinheiro Eletrônico. Portanto, o PayPal terá que enfrentar uma concorrência já estabelecida. A WebMoney foi fundada em 1998 e registrada em Belize, país da América Central onde seu proprietário e administrador vive. Originalmente programada para atender clientes russos, a empresa vem crescendo rapidamente e hoje afirma ter mais de 14 milhões de usuários pelo mundo todo.
números
40
por cento foi o aumento das vendas on-line russas no ano passado. Espera-se que o número cresça 17% esse ano
1,5
bilhão de reais foi a renda total gerada por anúncios virtuais na Rússia
afetado do grupo pela crise, e sobreviveu à mais impressionante queda do PIB nas últimas décadas. No entanto, especialistas acreditam que desde o ano 2000 a Rússia tem demonstrado um aumento constante das taxas de crescimento. Além disso, no que se refere ao nível de desenvolvimento econômico, ela teria ultrapassado seus colegas em cinco vezes. “A Rússia continua a deter, como antes, 3% do PIB mundial. Em seus melhores anos, a União Soviética deteve 8%, e isso somente porque a maioria dos países em desenvolvimento estava em estado simplesmente deplorável”, diz Vassiliev.
Especial
GAZETA RUSSA
WWW.GAZETARUSSA.COM.BR
EDUCAÇÃO
Baixa natalidade Nem programas de incentivo do governo estimulam aumento da população Veja slide show em www.gazetarussa.com.br
POR UMA FAMÍLIA MAIS CARINHOSA
A cena da foto é raríssima na Rússia. A taxa de natalidade está estacionada em 1,59 filho por mulher
ou gostar do que gostamos. Esse conceito de indivíduo é praticamente inexistente na Rússia atual. Mas o que se pode esperar de uma nação que foi privada de seus cidadãos mais instruídos, incluindo o clero, durante quase todo século 20? O clero foi exterminado enquanto a “intelligentsia” de todos os setores foi deportada logo nos primeiros dias após a revolução. Não acredito que se possam listar todas as razões por trás do mal-estar da família moderna. Mas isso envolve uma grande falta de confiança e, secundariamente, a incapacidade de reconhecer os sagrados direitos dos outros. Essas são as mesmas gerações que aprenderam a tomar o que pertence aos outros. O que os bolcheviques fizeram em 1917? Implantaram uma política de saque, ao inventarem a ideia de que a propriedade de alguém é sempre potencialmente sua. Essa é uma das principais causas da perda da nossa moral, do nosso cinismo. Por que estamos falhando em nos tornar um país realmente capitalista? O capitalismo se apoia em dois grandes pilares: o reconhecimento do direito sagrado de propriedade privada e a confiança. O princípio da confiança desmoronou completamente e o direito à propriedade priva-
Elena Zaretskaia
ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA
O
colapso na comunicação entre pais e filhos na Rússia já se arrasta por décadas – e começou muito antes da perestroika. Pelo menos seis gerações de russos não foram ensinadas a criar laços e se tornar amigas de seus próprios filhos. E não me refiro ao tipo de amizade na qual não existem limites ou controle, mas a uma relação na qual os pais possam curtir e respeitar seus filhos, permitindo que a individualidade deles floresça com o passar do tempo. Esse tipo de criação tem sido, até recentemente, ausente na relação entre pais e filhos na Rússia. Agora, vemos apenas alguns traços dessa relação quando os pais viajam com as crianças, leem livros educativos e percebem que ex istem outras formas de educá-los que vão além dos métodos de antigamente. Entretanto, ainda há uma longa estrada pela frente, a qual eu chamaria de educação saudável e feliz. Por regra, pais russos não elogiam seus filhos o suficente. Depois de determinada idade, quando as crianças entram na escola, os pais deixam de ser afetivos no tom e na linguagem usada dentro de casa. Contudo, o primeiro passo para a vida familiar na Rússia é elogiar nossos filhos de um modo que nunca fomos elogiados quando crianças.
Crise familiar afeta demografia russa ELENA NOVIKOVA GAZETA RUSSA
a cada quatro casamentos simplesmente não dão certo. Não se trata apenas do número de divórcios. Mais e mais casais vivem juntos em vez de se casarem, e preferem isso ao registro de matrimônio, algo que era impensável durante os anos soviéticos. Mais de 30% das crianças russas nascem de mães solteiras,
Durante a era soviética, famílias grandes eram consideradas uma anomalia. E essa hostilidade às famílias grandes se mantém mesmo com os incentivos do governo para enfrentar a queda de natalidade na Rússia. Maria Ipátova, 25, tem dois filhos, um de dois anos e outro de seis meses, e planeja um terceiro. Mas ela é uma exceção. Somente 3% de todos os casais têm mais de dois filhos e 48% não têm nenhum, segundo o dos divórcios serviço federal de estatísacontecem nos ticas Rosstat. “Ter apenas primeiros quatros anos uma criança a torna egoísvivendo juntos ta, enquanto duas se tornam rivais. Três, contudo, formam Estímulo estatal uma família”, crê Ipátova. O Estado está tentando incenPsicólogos e sociologistas já tivar famílias jovens a ter mais anunciam a “crise” e até filhos, sobretudo oferecendo entre 10 e mesmo a “extinção” da um bônus de 365 mil rublos 19 anos de instituição familiar. (R$ 21 mil) concedido no nascasamento Estatísticas do cimento do segundo e do terRosstat mostram ceiro filho. Enquanto as meentre 5 e 9 anos de que, e nqu a nt o didas levaram ao aumento casamento cerca de um mide 22% na taxa de natalilhão de casamentos dade desde 2006, segundo depois de mais são registrados na mostra o VTsIOM, elas de 20 anos de Rússia todos os anos, não são suficientes para casamento 700 mil casais de separam. resolver por completo a Isso significa que quase três crise demográfica.
Até que a morte os separe?
40%
No ano passado, o partido governante Rússia Unida tomou uma medida desesperada. Os deputados do governo regional de Tcheliabinsk propuseram a introdução de um imposto para famílias sem filhos - o qual existiu na URSS entre 1942 e 1992. Os homens entre 20 e 50 anos que não possuíssem filhos e fossem casados com mulheres entre 20 e 45 anos deveriam pagar 6% do salário em impostos até que tivessem um filho ou decidissem adotar uma criança. Os membros da Duma (a câmara dos deputados na Rússia) cogitaram multar os pais que não tivessem filhos há alguns anos, mas uma revolta pública em relação à iniciativa forçou os deputados a de-
segundo estudos do Ministério da Saúde e do Desenvolvimento Social. Além disso, há uma queda preocupante na taxa de natalidade. O número médio de filhos por família russa é 1,59, comparado ao índice de 1,9 em 1990. A Rússia ainda está entre os líderes mundiais no número de abortos, com 60% de gestações interrompidas, de acordo com o Rosstat. Pesquisas do VTsIOM, o órgão de estatísticas oficial do governo, mostram que aproximadamente 30% dos russos não querem ter filhos por causa das dificuldades financeiras e pela falta de apoio do governo às famílias. Uma a cada cinco mulheres entre 24 e 35 não está preparada para casar e ter filhos porque quer antes seguir uma carreira, índice agravado pela escassez de creches e os altos custos das babás.
sistir da ideia e procurar métodos mais racionais para combater o problema. Victória Iakovleva, 34, foi casada por cinco anos. “Não é que eu seja uma partidária de um movimento de famílias sem filhos. Pelo contrário, eu sei que as crianças trazem muita felicidade e incorporam o sentido pleno da vida. Mas eu simplesmente não tenho tempo para elas”, diz. “Temos um financiamento imobiliário para pagar e trabalhamos muito. Eu não quero ter um filho para que ele seja criado por uma babá. Quero criá-lo eu mesma, mas, infelizmente, é muito difícil ser mãe em nossa sociedade”, afirma. Como os números deixam claro, ela está longe de ser a única a pensar assim.
JULIA VISHNEVETS(2)
28%
Mães contratam pais de aluguel para filhos
Não dura para sempre
Disponíveis em agências de serviços domésticos ao lado de motoristas e babás, “pais” de aluguel viram solução temporária. ELENA LLORENTE GAZETA RUSSA
FOTOIMEDIA
Em Moscou e em outras cidades russas, as agências especializadas em profissionais de serviços domésticos também estão oferecendo o serviço de pais de aluguel. O custo na capital russa é de 500 rublos (R$28) por hora, e de quatro mil a seis mil rublos (R$230 a R$345) por dia. Nas demais regiões, o valor tende a ser menor. “Não tenho filhos e não sei se jamais os terei, mas precisava do dinheiro e estava disposto a fazer quase qualquer coisa”, conta Vladímir, 35. Ele conheceu a mãe de Dima em um restaurante sofisticado de Moscou, onde trabalhava como segurança, e aceitou a proposta de emprego inusitada: fingir ser pai do garoto. Irina estava desesperada. Seu filho estava se tornando cada dia mais desobediente e os amigos recomendaram que alugasse um pai para ver se as coisas mudavam.
Entre os candidatos ao cargo, ex-soldados são os preferidos
“Lembro-me do primeiro dia em que encontrei Dima. Nós três andamos juntos pelo parque. Contei a ele – na verdade, inventei – algumas histórias sobre os prédios pelos quais passamos. Depois fomos a um restaurante. Peguei uma cereja e arremessei nele. Ele amou. Imitava tudo que eu fazia”, diz Vladímir. Então com cinco anos de idade, Dima estava acostumado a viver sem a presença do pai, que a mãe dizia trabalhar como espião em Cuba. De re-
pente, ele “voltou para casa”. “O que mais me deixou surpreso foi que, na primeira noite, levei-o até a cama e ele me abraçou, dizendo: ‘Você é o melhor pai do mundo, bem melhor que o pai do Serguei!’”, conta Vladímir.
Presença paterna
Mimado pela mãe, Dima não sabia ouvir “não”. Recusavase a trocar de roupa sozinho ou a escovar os dentes, não escutava a babá e chegou até a trancá-la no banheiro.
“Irina me pagava mil euros por mês, o que era ótimo, mas a criança estava me deixando exausto. Ela não queria que eu deixasse o emprego, pois estava muito contente com meu desempenho. Dima tinha mudado bastante: recolhia os brinquedos, obedecia às ordens da mãe e até começou a estudar inglês”, explica Vladímir. Embora fosse apenas um emprego, o pai de aluguel esforçou-se para que a criança não percebesse que se tratava de uma farsa, e eles disseram ao garoto que Vladímir teria que retornar a Cuba por dois ou três anos. “Ele ficou bastante nervoso e me disse que jamais se tornaria um espião, porque isso significaria ter que abandonar a família”, conta. Um mês depois, o pai de aluguel se escondeu no parque para observar Dima brincando. E também visitou o menino algumas vezes, sem que ele percebesse sua presença. O emprego de “pai de aluguel” é diferente de caso para caso. Algumas vezes, eles são contratados por um fim de semana para brincar com as crianças, levá-las ao cinema,
ajudá-las a fazer a lição de casa, ir para o campo ou ao parque. Mas também participam dos afazeres domésticos, levam à escola, saem para caminhadas ou passam tempo com os “filhos” em casa. Psicólogos, educadores e outros especialistas discordam do uso de serviços de pai de aluguel, e parece evidente que algo está errado na sociedade se serviços como este são necessários. No entanto, alguns psicólogos que apoiam o experimento afirmam que a comunicação com um homem, mesmo que seja por algumas horas no fim de semana, representa uma experiência importante e positiva para qualquer criança que não vive com o seu pai. Outros acreditam que isso pode gerar um trauma psicológico severo, sobretudo se a criança for levada a acreditar que o pa i a lu gado é o verdadeiro. A idade dos homens que trabalham como pais de aluguel varia de 35 a 40 anos. Geralmente, são psicólogos profissionais ou ex-soldados. De acordo com a agência moscovita Luzes da Capital, muitas mães consideram os soldados mais confiáveis e, quando têm a opção de escolher entre um engenheiro e um médico, elas geralmente perguntam: “Vocês não têm um soldado?” Leia mais em www.gazetarussa.com.br
Para essas seis gerações russas, foi ensinado que, para educar os filhos, era preciso demonstrar poder. Durante os tempos soviéticos, a única maneira de um cidadão do país – traumatizado, se não “assombrado”, pela presença do Estado – sentir-se poderoso era dando ordens aos mais jovens. Os fi lhos estavam ali para serem controlados. Como resultado, diversas gerações foram criadas como deuses e escravos. Não havia estímulo à comunicação entre os membros da família, e a alegria da vida familiar era completamente suprimida. Com o intuito de estabelecer uma ligação com os filhos, os pais russos precisam começar a desenvolver a amizade assim que as crianças nascem, tendo em mente que eles não são piores por pesarem menos ou serem mais baixos. Vou ainda mais longe: as crianças são mais espertas do que os adultos! Se você puder começar a perceber seus filhos como membros legítimos da sociedade desde o início, também será capaz de se colocar no lugar deles sem ter que ficar dando ordens. Assim, será possível discutir quaisquer questões que possam surgir escutando os argumentos das crianças e propondo os seus. Temos expectativa de que nossos filhos sejam cópias melhores de nós mesmos, ou uma espécie de troféu. Não aprendemos que eles não devem fazer o que fazemos
Elena Zaretskaia é diretora da Escola de Ciências Sociais na Academia Presidencial Russa de Economia Nacional e Administração Pública e criadora do conceito de “educação comunicativa na Rússia”.
Evolução do estado civil na Rússia*
Estrutura atual da família russa
FONTE: ROSSTAT
Natalidade: subsídio para ter mais filhos é insuficiente
O pai de aluguel tinha que acordar às 6h todas as manhãs para estar na casa do “filho” às 7h, acordá-lo, preparar e servir o café da manhã, sair para o trabalho e voltar à noite. Quatro meses se passaram assim.
da simplesmente não faz parte de nossa visão de mundo. Na Rússia, alguns pensam que o marido alheio é uma propriedade em potencial, e o mesmo acontece com as mulheres de conhecidos. Ainda na escola, as meninas começam a avaliar o que há no bolso dos colegas. Vamos pegar o exemplo de uma mulher que seja jovem, atraente e casada. Na Rússia, ela pode começar a procurar um novo parceiro entre os amigos do seu marido. Se ela entrou no casamento como uma forma de “ascensão social”, ninguém pode esperar dela fidelidade e, consequentemente, não pode haver confiança. Ela continuará procurando um marido mais rico, enquanto seu marido poderá se encontrar com mulheres cada vez mais jovens e sexualmente atraentes, tratadas como mero objeto. É claro que existem muitas exceções maravilhosas, os chamados românticos russos, que se casam na esperança de passar suas vidas juntos. Esse tipo de amor e confiança existe na Rússia como em qualquer outro lugar do mundo. Mas não com a frequência necessária. É hora de difundir a confiança, e repassá-la a nossos filhos. Antes que seja tarde demais.
Curar o trauma familiar
22%
10%
Há gerações, relação entre pais e filhos russos é apenas entre quem manda e quem obedece
FONTE: ROSSTAT
Número de casamentos diminui, uniões terminam mais rápido e casais decidem não ter filhos. O governo cogita até a aplicação de multa por falta de filhos.
*A cada mil pessoas por ano
Opinião
Gazeta Russa
www.gazetarussa.com.br
Pútin ou Medvedev em 2012? Gueórgui Bovt
A
nalistas políticos na Rússia e em todo o mundo estão se perguntando quem será a bola da vez no Kremlin em 2012. E os dois principais membros do alto escalão do governo parecem fazer de tudo para manter a tensão. Recentemente, o presidente Dmítri Medvedev declarou que“não exclui a possibilidade”de buscar um segundo mandato. Ele deu a entender também que tem algumas diferenças com o primeiro-ministroVladímir Pútin quanto aos rumos para o desenvolvimento do país. Depois de alguns dias, foi a vez de Pútin. Ele deixou claro, do mesmo modo, que“não exclui a possibilidade” de concorrer, e ainda acrescentou que a eleição presidencial“não precisa ser tumultuada”. No entanto, as divergências entre Pútin e a Medvedev têm dado cada vez mais motivos para tumultos. Se no início do mandato presidencial de Medvedev os dois partilhavam assiduamente a mesma opinião (se um já havia emitido certa opinião, então o outro não comentava o mesmo assunto, como uma regra), agora em suas retóricas políticas apareceu sublinhada uma assimetria. Até mesmo contrastes deliberados. Mas vale notar que, pelas observações de analistas, as discrepâncias não alu-
dmitry divin
historiador
dem a todas as questões fundamentais e estratégicas. Na verdade, Pútin e Medvedev estiveram em uma situação bastante complexa. A política russa é tradicionalmente relacionada à primeira pessoa (ou, neste caso, às duas primeiras pessoas).Toda infindável burocracia orienta-se não em instituições, leis e regras escritas, mas antes de tudo no
chefe, em seu estilo, seus desejos, seus hábitos, seus humores, caprichos, fraquezas e opiniões. Uma vez que o chefe sai ou dá a entender que está saindo, ele deixa de existir. Desta forma, supondo que hoje Medvedev anuncie sua nãocandidatura, isso significará na prática que a Rússia ficou sem um presidente já um ano antes da eleição. Se Pútin de-
clarar sua aposentadoria da política, na prática isso levaria ao cessar completo de toda a hierarquia da máquina do governo. Portanto, estamos falando de uma máquina que foi construída sobre princípios de centralização rígida. Pútin e Medvedev entendem isso muito bem e aparentemente não querem correr tal risco. Além disso, cada um deles
pode ter suas próprias ambições políticas e seus próprios pontos de vista do posto presidencial. Outra coisa que não é totalmente clara é como os dois viram esta situação quando ambos a criaram, em 2008. Como Pútin planejou o acontecimento? O que Medvedev quis insinuar de fato, anunciando e dando a entender que
não lutaria por um segundo mandato? Não foi em vão que no início do governo de Medvedev já havia rumores de que ele renunciaria cedo para evitar um longo período de existência do “presidente indefeso”. Mas, então, para que aquela descrença de Pútin sobre a instituição da presidência, que ele mesmo tão diligentemente reforçou, e para a qual hipoteticamente pretende retornar? Ou Pútin inicialmente não supôs que se sentaria por tanto tempo na cadeira de primeiro-ministro, certificando-se de que Medvedev executaria todas as obrigações só até 2012? Então não daria para entender essa forma de saída de um político que está cheio de energia e ainda não atingiu a velhice. É possível que o próprio cenário da “tandemocracia” (nome dado à estratégia de Pútin quando apoiou Medvedev para presidente e esse o apoiou para o cargo de primeiro-ministro) e de seu crepúsculo em 2012 não tenham sido pensados totalmente e em detalhes em 2008. Talvez a própria vida tenha trazido alterações inesperadas. Por exemplo, não está claro se os dois políticos contavam com fatores da política moderna como a fadiga do eleitorado de qualquer regra muito longa, até mesmo das figuras políticas de maior sucesso. A mentalidade do homem moderno é construída de tal forma que ele precise de desenvolvimen-
to progressivo, notícias diárias, ainda que pequenas, mas diferentes. Ele quer na política, como no seriado de TV, novas histórias constantemente. Agora pesquisas já apontam que 25% dos russos prefeririam que nem Putin, nem Medvedev fossem candidatos às eleições de 2012. Amadurece na sociedade a necessidade de uma nova ordem. Ao que parece o principal problema hoje não é exatamente qual dos dois concorrerá, mas qual será a mensagem principal de um novo mandato presidencial deles. Talvez a nova mensagem seja que ambos se candidatarão à eleição. Isto, apesar das preocupações de muitos, não vai conduzir a uma divisão perigosa da elite em dois campos irreconciliáveis, mas, pelo contrário, permitirá que se estabilize todo o sistema que está passando agora por algumas dificuldades com a crise mundial e a evidente estagnação do programa de modernização do país. A campanha competitiva de Pútin contra Medvedev, que começa a focar nas diferenças individuais não-essenciais entre eles (e parece que eles não têm diferenças essenciais), permitirá preservar a integridade do curso estratégico de desenvolvimento do país como um todo e manter e estabilizar relativamente o sistema sócio-político.
o governo Bush, o limite às liberdades cívicas e pessoais dos norte-americanos foi justificado por essa incessante investigação. Agora, cumprida a missão, os dirigentes em Washington deverão rever essa política e planejar a continuidade das ações contra o terrorismo internacional. Para o presidente Obama, essa revisão poderá lhe dar a chave para a reeleição. O Kremlin, por sua vez, recebeu a notícia com alegria e destacou a importância de continuar a luta, mostrandose disposto a reforçar a cooperação internacional. As declarações de Obama, definindo o mundo como“um lugar mais seguro” depois de “a justiça ter sido feita”, geraram muitas reações na sociedade ocidental e em seus governos. Alg u n s qu e s t i o n a r a m a legalidade dos atos e outros alertaram sobre a instabilidade que eles podem gerar no
sistema internacional. Além disso, a própria celebração da população norte-americana poderia aumentar o ressentimento por parte do fundamentalismo islâmico, o que levaria a supor uma nova onda de atentados para vingar a morte do seu principal líder. Isso afeta diretamente a Rússia, uma vítima cotidiana desse tipo de ataque, que não tem intenção de expandir o terror, muito menos dentro de suas fronteiras. Em suma, longe de ganhar a batalha, o futuro do cenário internacional se apresenta ainda mais incerto. É possível que hoje o fundamentalismo islâmico encontre novas justificativas para continuar sua atividade com mais força e violência, multiplicando a possibilidade de novos atentados.
Gueórgui Bovt é um comentarista político baseado em Moscou.
O Terrorismo Pós-Bin Laden Sergio Caplan Especialista em segurança
O
anúncio da morte de Osama bin Laden pelas tropas norte-americanas no Paquistão abalou o mundo. Enquanto alguns festejam a vitória, outros temem uma nova onda de represálias. O que vai mudar no terrorismo global após a morte do seu principal líder? A primeira resposta para tal pergunta parece muito simples: nada. O terrorismo internacional em sua vertente do fundamentalismo islâmico é um aparato suficientemente forte, difundido e, sobretudo descentralizado. Assim, o desaparecimento física de seu líder número 1 não interfere em nada em seus principais objetivos. O terrorismo hoje se mostra a principal ameaça à esta-
bilidade do sistema internacional. Isso acontece porque ele põe em risco a sobrevivência da figura do Estadonação tal como a conhecemos atualmente. As redes terroristas não possuem as mesmas qualidades dos Estados, como território ou fronteiras. Ainda assim, as potências mundiais não hesitaram em lhes declarar guerra. Se os Estados Unidos estão liderando a guerra contra o terrorismo, o fato é que não são os únicos nem os primeiros a sofrer as consequências do fundamentalismo islâmico. A Federação Russa também conhece os efeitos deste mal, provavelmente muito mais de perto, e até mesmo na sua própria sociedade. O que começou como uma disputa territorial no Cáucaso do Norte hoje se transformou em um dos focos mais importantes de terrorismo e
uma das maiores ameaças para a segurança russa. Os métodos para enfrentá-lo se baseiam na cooperação internacional. Na esfera da Organização do Tratado de Segurança Coletiva (OTSC), a Rússia propôs ações pertinentes para encarar a questão junto aos outros países-membro. A internacionalização do problema representa para a Rússia a possibilidade de lidar com as possíveis respostas a essa complexa ameaça em vários níveis. Tanto é que a guerra contra o terrorismo é o principal motivo de cooperação entre o Kremlin e a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte). Depois de décadas de confronto durante a Guerra Fria, hoje os dois organismos encontram no terrorismo internacional um inimigo comum. As redes terroristas não estão limitadas à Al-Qaeda. No Cáucaso do Norte, a princi-
pal rede é encabeçada pelo fundamentalista Doku Umarov. Autoproclamado “Emir do Cáucaso”, a Umarov são atribuídos os atentados às estações Park Kultury e Lubianka do metrô de Moscou, em 2010, além da recente explosão, em janeiro deste ano, no aeroporto Domodêdovo. Esses não foram os únicos atentados promovidos pelas redes terroristas que atuam na Rússia, mas ganharam maior visibilidade internacional por terem acontecido na capital do país. A relação entre o terrorismo no Cáucaso do Norte e a AlQaeda ficou comprovada depois da incursão de mujahidins e enviados da Al-Qaeda na guerra da Tchetchênia, a partir de 1999. O contexto social e internacional mudou, mas o discurso e a justificativa para a luta pelo poder continuam os mesmos em diferentes redes que
perpetram a jihad internacional por meio de atentados terroristas. A principal questão é se a morte de bin Laden vai mudar algo nesse cenário. A princípio, o evento não significaria uma mudança de mentalidade ou alteração na estrutura da Al-Qaeda, já que Osama não cumpria funções de gerenciamento, mas sim de “guia espiritual” do fundamentalismo islâmico. O que realmente marca o antes e o depois na luta contra o terrorismo acaba sendo o pronunciamento do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, na Casa Branca, para confirmar o feito. O acontecimento evidencia a necessidade de uma mudança na política antiterrorista da principal potência mundial, que até então se baseava na busca daquele que era considerado a grande ameaça a sua segurança nacional. Durante
Sergio Caplan é pesquisador do Centro Argentino de Estudos Internacionais (CAEI).
Fiódor Lukianov
analista político
E
m todos os cinco países do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), acredita-se que o discurso mundial é quase monopólio do Ocidente, o que não corresponde à atual disposição econômica e política e também gera obstáculos para a tomada de novas resoluções, que só podem ocorrer com a ampliação do debate. Já as reuniões de cúpula do Brics produzem dois tipos de comentários. Em primeiro lugar, de menosprezo: é uma organização artificial e sem futuro, uma vez que os países que a compõem não possuem praticamente nada em comum. Em segundo lugar, de alarme: seus integrantes fazem oposição aos Estados Unidos e, por
isso, é preciso prestar atenção para que os interesses americanos não sejam afetados. Um ponto contradiz o outro. Afinal, se é tudo ficção, qual o motivo para receio? Após a crise financeira mundial, a presença da Rússia no Brics gerou desconfiança dos analistas ocidentais: o que um produtor de matérias-primas está fazendo entre os líderes do futuro? O país, de fato, destoa dos demais. E não apenas pelo ritmo de seu crescimento, nitidamente inferior ao chinês ou ao indiano. O ponto nevrálgico é que os problemas que os russos enfrentam são de um caráter completamente diferente dos enfrentados pelos demais integrantes do Brics. A despeito do ritmo impressionante de crescimento, essas nações ainda estão em desenvolvimento, enquanto a Rússia é um país desenvolvido, que passou por uma deca-
dência sem precedentes e agora tenta recuperar sua posição. Sob alguns aspectos, são tarefas equivalentes; sob outros, missões opostas. Tal discussão seria legítima se a questão fosse econômica. Mas é nítido que, para os Brics, esse grupo tem conteúdo político, acima de tudo. Isso reflete uma demanda objetiva por uma ordem mundial – que parece cada vez mais estar num beco sem saída – mais diversificada e menos ocidental. Em outras palavras: pautados nas instituições existentes desde os tempos de Guerra Fria, não será possível achar as respostas para os crescentes temas atuais. Novos processos ainda não surgiram e, por isso, os países descontentes com a situação tentam achar mais contornos que saídas. Uma ordem mundial multipolar exige formações diferentes daquelas que serviam em um
mundo bipolar. Mas isso não mudou até agora. Não à toa, nas declarações do Brics ecoam dúvidas quanto à legitimidade do sistema existente. No entanto, não se deve presumir, por exemplo, que ocorrerá a reforma do Conselho de Segurança da ONU, cuja disposição reflete as forças tal como eram em 1945: os atuais membros permanentes, que possuem privilégios, não pretendem dividilos. E isso inclui dois dos Brics: a Rússia e a China. Além disso, não existem critérios claros pelos quais se poderia reformar o Conselho de Segurança, criado a partir dos resultados da Segunda Guerra Mundial. Os países do Brics sentem-se limitados em suas tentativas de elevar seu peso e sua influência na arena internacional ao agir unicamente nos moldes das atuais estruturas. Eles buscam meios de fortalecer suas posições na formação de
uma nova ordem mundial, e representar uma parte significativa do planeta dá peso adicional a suas aspirações. Para a Rússia, que desde 1991 não consegue criar uma identidade estável em política externa, a ideia do Brics não poderia ter vindo mais a calhar. Seria difícil encontrar um formato mais apropriado para, em primeiro lugar, redirecionar a política externa para um sentido menos ocidental; em segundo lugar, relembrar que o país tem um horizonte global, que após o fim da União Soviética reduziu-se a um alcance mais regional; e, finalmente, realçar as semelhanças com os países que lideram o ritmo e a qualidade do crescimento econômico. E tudo isso é baseado em uma atitude de não confronto, uma vez que todos os integrantes do atual bloco neguem terminantemente que sua organização seja de
niyaz karim
O BRICS e a ordem mundial
oposição a alguém. O mundo necessita de um novo equilíbrio e, para criá-lo, não é necessário resistir ao surgimento e ao crescimento da influência de outros centros; ao contrário, deve-se estimulá-los e induzi-los a trabalhar para a construção de um novo sistema. Se alguns trabalharem apenas na manutenção de seus privilégios enquanto outros
cuidarem de limá-los secretamente, o mundo seguirá diretamente para um novo abalo. E a ordem mundial seguinte surgirá a partir dele e por critérios mais compreensíveis (os vencedores sairão fortalecidos), mas a um alto preço. Fiódor Lukianov é redator-chefe da revista Russia in Global Affairs.
As matérias publicadas na página Opinião expõem os pontos de vista dos autores, e não necessariamente representam a posição editorial da Gazeta Russa ou da Rossiyskaya Gazeta
expediente presidente do conselho: aleksandr gorbenko (Rossiyskaya Gazeta); Diretor-Geral: pável negóitsa (RG); Editor-Chefe: Vladislav Frónin (RG) ENDEReÇO DA SEDE: AV. PRAVDY, 24, BLOCO 4, 12º ANDAR, MOSCOU, RÚSSIA - 125993 WWW.RBTH.RU E-mail: BR@RBTH.RU TEL.: +7 (495) 775 3114 FAX: +7 (495) 775 3114 Editor-chefe: EVGuêNi ABOV; editor-executivo: Pável Golub;
Editor: Dmítri golub; subeditor: marina darmaros; editores no brasil: felipe gil, wagner barreira; Editor de foto: ANDRéI ZáITSEV; Chefe da seção de pré-impressão: MILLA DOMOGATSKAIA; Paginadores: IRINA PáVLOVA; iliá ovcharenko representante no brasil: ALEksáNDER Medvedovsky (mir@mirmidia.com.br)
© Copyright 2011 – ZAO Rossiyskaya Gazeta. Todos os direitos reservados. É expressamente proibida a reprodução, redistribuição ou retransmissão de qualquer parte do conteúdo desta publicação sem prévia autorização escrita da Rossiyskaya Gazeta.
PARA A PUBLICAÇÃO DE MATERIAIS PUBLICITÁRIOS NO SUPLEMENTO, CONTATE JúLIA GOLIKOVA, DIRETORA DA SEÇÃO PUBLICITÁRIA: GOLIKOVA@RG.RU
Para obter autorização de cópia ou reimpressão de qualquer artigo ou foto, favor solicitar pelo telefone +7 (495) 775 3114 ou e-mail bR@rBTH.ru.
escreva para a redação da Gazeta Russa em Moscou: BR@RBTH.RU
Em Foco
GAZETA RUSSA
WWW.GAZETARUSSA.COM.BR
Surpresa Ministério da Cultura ressaltou que a decisão do júri foi independente
Polêmico, grupo “Voiná” ganha prêmio do Estado Coletivo que desenhou pênis de sessenta metros de frente para prédio do governo e virou viaturas de cabeça para baixo leva prêmio do Estado. ANASTASSIA GORÓKHOVA GAZETA RUSSA
Discussão acalorada
P a r a a p ol íc i a de S ão Petersburgo, a noite de verão que coincidia com o 82º aniversário do nascimento do revolucionário latino-americano Che Guevara acabou sendo bem agitada. Nove jovens, todos vestidos de preto, usando máscaras e armados com tinta branca, invadiram a ponte levadiça Litêinaia, no c or aç ão d a e x- c apit a l russa. A ação do g r upo Voiná durou somente 23 segundos. Os guardas que protegem a ponte tentaram apanhá-los, mas conseguiram deter apenas um jovem. Todos os outros fugiram. Restaram os 65 metros verticais do pênis gigante, bem de frente para o prédio do FSB (Serviço Federal de Segurança) de São Petersburgo e de outras regiões do Estado. A ponte é erguida todas as noites e só volta a baixar ao amanhecer. São necessários apenas quarenta segundos para que ela seja içada.
Em “baldes azuis”, grupo protestou contra vantagens de portadores de giroflex no trânsito
O golpe palaciano
Banquete em um vagão de metrô foi uma homenagem ao poeta e artista Dmítri Prigov
PULCER.LIVEJOURNAL.COM(3)
“Um membro na prisão do FSB” foi o título da obra de arte que apareceu nas primeiras páginas de todos os jornais russos. Se outras ações do grupo Voiná – como “Sexo em grupo no Museu de Zoologia” ou “Tempestade da Casa Branca” – passaram despercebidas por alguém, dessa vez todo o país prestou atenção no grupo. Criado em 2007, o coletivo inclui mais de 60 pessoas, mas são três os principais mentores: o filósofo Oleg Vorotnikov, a física Natália Sokol, mulher de Oleg, e Leonid Nikolaev, apelidado de “Liônia Muito Irado”, que trabalhou até recentemente em uma empresa de aparelhos de calefação. Depois da obra da ponte, ele passou 48 horas em uma delegacia de polícia, mas foi liberado depois de ter o ato considerado como “conduta desordeira”. Não é fácil intimidar alguém como ele. Logo após a memorável manifestação, feita na escuridão e na neblina, Lênia Mal-Humorado correu pelas ruas de Moscou com um balde azul na cabeça, pulando por cima do carro de um agente do
Veja slide show em www.gazetarussa.com.br
“Golpe Palaciano” deixou viaturas de cabeça para baixo e levou quatro membros à prisão
serviço secreto nos arredores do Kremlin. A performance foi um protesto contra as luzes giroflex azuis nos carros oficiais de funcionários do governo, que gozam de liberdades diferenciadas nas ruas da capital. “O Voiná só reflete a opi-
nião do povo”, diz o fi lólogo Aleksei Plutser-Sarno, membro do grupo que se e x i lou n a E s t ôn i a p or precaução. Até hoje, a ação de maior impacto do Voiná foi contra reformas evasivas dos órgãos dos Departamentos de Assuntos Internos. O cole-
tivo personificou o debate público em uma performance realizada na Praça do Palácio, em São Petersburgo. Enquanto a praça era patrulhada pela polícia, o grupo gravou um vídeo em que Oleg e Natália passeiam na praça com o filho de dois anos e deixam uma bola
CALENDÁRIO CULTURA E NEGÓCIOS TRADIÇÕES NA TERRA DE GAGÁRIN 28 DE MAIO, ÀS 15H, PLANETÁRIO DO IBIRAPUERA, SÃO PAULO
A palestra dura 1h30min e tem inscrições gratuitas. Ocorre no Auditório da Escola Municipal de Astrofísica Aristóteles Orsini, junto ao planetário do ibirapuera. 100 vagas. › www.grupovolga.com.br
rolar para debaixo de uma viatura, que é virada de cabeça para baixo por quatro membros do coletivo. Não se divulgou quantas viaturas sofreram a ação do Voiná naquela noite. A ideia dos artistas era dar o exemplo de como é necessário conduzir a reforma da polícia: de forma radical. Para o Voiná, a ação teve inevitáveis consequências. A polícia abriu uma acusação de vandalismo e colocou Oleg e Leonid em prisão preventiva du rante quatro meses. Se o famoso ativista e artista plástico br itânico Banksy não tivesse arrecadado uma generosa fiança para eles com vendas em seu site, os artistas ainda estar ia m at rás das g rades. Agora, eles aguardam o julgamento em liberdade.
PANQUECAS BLINI NA TERRA E PÍLULAS NO ESPAÇO 18 DE JUNHO, ÀS 15H, PLANETÁRIO DO IBIRAPUERA, SÃO PAULO
Na Rússia, não são todos que partilham do entusiasmo de Banksy. Na internet, iniciou-se uma discussão acalorada depois que, há algumas semanas, um grupo de artistas resolveu indicar o Voiná como candidato a uma premiação estatal. “Um graffiti gigante é um símbolo de protesto, um prêmio digno”, declarou, quando saía do tribunal, o curador Andrei Erofeev – que também foi julgado recentemente por sua curadoria na exposição “Cuidado! Religião!”. Os próprios ativistas do Voiná teriam boicotado a entrega do prêmio, que representa um presente do inimigo, o Ministério da Cultura. Os funcionários do Ministério da Cultura, por sua vez, entraram em pânico depois da confirmação dos premiados e escreveram uma carta formal para salientar que não tiveram pa r te na escol ha dos vencedores. Muitos artistas de relevo também entraram na polêmica. “Desenhar um pênis em uma ponte... Como isso pode ser arte?! Não tem nada a ver com arte!”, declarou o pintor Iliá Glazunov, que tem uma galeria em frente ao Kremlin. “Nem todas as ações de grupos de arte têm um único sentido. Muitas apresentam características escandalosas e para a Rússia de hoje isso é uma raridade. O Voiná envia para a sociedade impulsos importantes”, rebateu o cr ítico Iossif Backstein. “Queremos agitar a sociedade”, diz Oleg Vorotnikov. “Mas nós não precisamos do Estado, esta forma ultrapassada de organização social”. A mulher dele, Natália, é ainda mais específica: “Queremos derrubar o regime de Pútin.”
Reação
Jovens na faixa dos 20 anos, ativistas do movimento da juventude pró-Kremlin protestaram junto ao Ministério da Cultura contra a entrega do prêmio ao Voiná. Os membros do Voiná, segundo eles, não são artistas, mas extremistas. O coletivo defende o inverso.
CONFIRA MAIS
no calendário online www.gazetarussa.com.br
A TORRE DE BABEL NO ESPAÇO
IV AUTOINDÚSTRIA E AUTOCOMPONENTES
MAKS (AVIAÇÃO)
9 DE JULHO, 15 H, PLANETÁRIO DO IBIRAPUERA, SÃO PAULO Palestra sobre a língua russa,
DE 23 A 25 DE NOVEMBRO, OLYMP, SAMARA
DE 16 A 21 DE AGOSTO, AEROPORTO JUKÓVSKI, MOSCOU
A oficina de culinária russa ocorre na laje da Escola Municipal de Astrofísica Aristóteles Orsini, junto ao planetário do Ibirapuera. Inscrições gratuitas. 40 vagas.
com duração de 1h30min e inscrições gratuitas. Ocorre no Auditório da Escola Municipal de Astrofísica Aristóteles Orsini, junto ao planetário do Ibirapuera. 100 vagas.
Neste ano o evento reúne mais de 200 companhias russas e estrangeiras (Alemanha, França, China, Eslovênia e outros).A região de Samara é considerada o coração da indústria automotiva russa.
Uma das principais feiras de aviação e indústria espacial da Rússia, a Maks atraiu mais de 650 mil visitantes na última edição. Organizada pela Aviasalon Plc.
› www.grupovolga.com.br
› www.grupovolga.com.br
› www.avtoindustry.ru
› www.maks2011.com
RECEITA
Ukhá, a sopa mais antiga da Rússia Jennifer Eremeeva
ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA
Existem duas maneiras de preparar a mais antiga sopa russa, a ukhá. O primeiro modo (e a maneira como eu experimentei pela primeira vez, à beira do Lago Baikal, em 1990) é assim: pesque um peixe em um lago ou rio de água cristalina. Coloque-o em uma caldeira com a mesma água e ferva até que os olhos do peixe saltem. Sirva imediatamente. Parece perfeito se você, por ventura, estiver à beira de um rio com água cristalina, souber como pescar e também fazer uma fogueira em meio ao nada. Porém, se um desses prérequisitos não for cumprido, não se desespere! Você não tem de ir até a Sibéria, aprender a pescar, ou mesmo ter coragem de lidar com o olho do peixe. É, contudo, uma boa ideia fazer amizade com o pessoal da peixaria local, para que eles o ajudem a conseguir o peixe mais fresco possível para sua versão da ukhá. Além disso, colocar um peixe fresco em água fervente não seria bem uma receita. A ukhá foi reformulada e refinada ao longo dos séculos.
Na mesa do tsar, a ukhá “âmbar”, impregnada com preciosos fios de açafrão, era feita com esturjão ou perca. Os chefes franceses que trabalhavam em cozinhas nobres na Rússia se concentraram no aperfeiçoamento do sabor e da aparência do próprio caldo, clarificando-o com claras e cascas de ovo e experimentando diversos tipos de peixe. Alguns chefs russos insistiram na adição de batatas e raízes leguminosas, enquanto outros se recusam a acrescentar qualquer outro ingrediente que não seja o peixe e a água. Para esses, a mistura de outros itens resultaria não mais na ukhá, mas sim em uma sopa genérica de peixe. Já ouvi opiniões diversas sobre colocar ou não fatias de limão, e algumas discussões fervorosas sobre os tipos de peixe que podem ser usados. Existem muitos peixes no oceano, e muitas receitas para a ukhá. Portanto, se você não estiver partindo para a Sibéria e não for pescador, mas quiser provar a ukhá, confira abaixo uma receita que é fruto de numerosas histórias, livros de receita e conselhos de pescadores russos.
FOTOIMEDIA
Ingredientes:
• 2 litros de caldo de peixe (receita abaixo) • 750 g de peixe branco sem escamas ou espinhas, em cubos de 5 cm (sugestões: linguado, lúcio ou halibute) •750 g de salmão em cubos de 5 cm • ½ salsa ou nabo em cubos de 2 cm • ½ aipo em cubos de 2 cm • 1 colher de sopa de azeite • 2 alhos-poró ou uma cebola grande • 1 a 2 folhas de louro • 15 bolinhas de pimenta-daJamaica • 4 colheres de sopa de sal Maldon • 1 colher de sopa de pimenta-do-reino • 1 maço de salsinha • 1 maço de dill • Fatias de limão para decorar
Modo de preparo :
1. Refogue o alho-poró ou as cebolas em óleo em fogo moderado. 2. Quando estiverem macios e com aspecto transparente, adicione a salsinha e os cubos de aipo, e refogue até que também fiquem macios (5-7 minutos). 3. Acrescente o caldo de peixe, as folhas de louro, a pimenta-da-Jamaica, o sal e a pimenta-do-reino. Aumente o fogo e leve à fervura. 4. Reduza o fogo, tampe a panela e deixe cozinhar por 30 minutos. 5. Acrescente o peixe, mexendo-o levemente em fogo baixo por 7-8 minutos. 6. Remova as folhas de louro, e acrescente a salsinha picada e o dill. 7. Sirva imediatamente. Por tradição, os russos servem a ukhá com “rastigai” ou tortas de peixe, e este é um acompanhamento comum para o Salmão Coulibiac.
Caldo de peixe: Ingredientes:
• 2 cabeças de peixe sem olhos
• 2 litros de água • 1 talo de salsão • ½ cebola • 2 colheres de sopa de sal Maldon • 1 colher de sopa de pimenta-do-reino 3 alhos amassados • Ervas frescas: salsa, dill, cebolinha, estragão etc. • 3 claras e cascas de ovo
Modo de preparo:
1. Coloque todos os ingredientes, exceto os ovos, em uma panela funda. 2. Deixe ferver e depois coloque em fogo baixo, cozinhando por mais 1 hora e mexendo de tempos em tempos para eliminar a espuma que se acumula sobre a superfície. 3. Tire o caldo do fogo. 4. Forre um escorredor com um pano de prato e coe o caldo. O caldo está pronto, mas você pode incrementá-lo assim: 1. Leve novamente a panela ao fogo até ferver. 2. Bata as claras em neve junto com uma xícara de caldo quente e, em seguida, despeje a mistura na panela. 3. Acrescente as cascas de ovo trituradas e mexa por quatro minutos. 4. Reduza a temperatura e coloque a panela mais para o lado, de modo que apenas um terço dela permaneça sobre a boca do fogão. Deixe ferver por dez minutos. À medida que as claras cozinham, a espuma que se forma irá aderir a elas. 5. Gire a panela para promover o mesmo efeito no lado que antes não estava sobre o fogo, deixando ferver por mais dez minutos. Tome cuidado para que a mistura não transborde com a fervura. 6. Retire a panela do fogo. Passe o caldo por um peneira fina, sem deixar que o caldo escorrido encoste na superfície da peneira.
Receba a Gazeta
Russa pela internet
www.gazetarussa.com.br/assine
PROGRAMA VOZ DA RÚSSIA Saiba tudo sobre o país através do site
Para anunciar neste jornal, contatar sales@rbth.ru Tel.: +7 (495) 775 3114