Nova edição do Rússia

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Chamado dos xamãs Evento na Sibéria reuniu feiticeiros do mundo inteiro para curas espirituais © RIA NOVOSTI

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Produzido por

Este suplemento foi preparado e publicado pelo jornal Rossiyskaya Gazeta (Rússia), sem participação da redação da Folha de S.Paulo. Concluído em 29 de agosto de 2014. Publicado e distribuído com The New York Times (EUA), The Washington Post (EUA), The Daily Telegraph (Reino Unido), Le Figaro (França), La Repubblica (Itália), El País (Espanha), La Nacion (Argentina) e outros.

Tolerância zero Polícia especializada detém e indicia desde portadores com 50 miligramas a gangues que infiltram toneladas de entorpecentes

Países se unem no combate a drogas Tráfico de cocaína da América Latina à Rússia aumenta ano a ano, mas droga não representa tanta ameaça como heroína. MARINA OBRAZKOVA GAZETA RUSSA

Em operação conjunta no início de agosto, as polícias de combate ao tráfico de drogas da Rússia e do Uruguai apreenderam mais de 70 quilos de drogas ilícitas, segundo informou o chefe do Serviço Federal de Controle de Drogas russo, Víktor Ivanov. Segundo ele, aumentou nos últimos anos a quantidade de substâncias psicotrópicas vindas da América Latina. A notícia veio na esteira da prisão, em julho, de um estudante argentino que portava 50 miligramas de maconha durante uma viagem a turismo por São Petersburgo. No país, o porte de drogas mesmo em porções mínimas para consumo próprio é considerado crime. Já a quadrilha detida em agosto enviava diariamente da América Latina para a Rússia cerca de 300 quilos de cocaína por meio de São Paulo e Frankfurt. Seu líder era um ex-funcionário do serviço de controle de drogas de São Petersburgo demitido em 2009. No total, ci nco pessoas foram indiciadas. Em 2013 foram apreendidos na Rússia mais de 600 quilos de cocaína de origem latino-americana. O preço da grama pode chegar a quase R$ 350 no país.

Defesa de fora para dentro Nos últimos anos, mudou o equilíbrio de poder dos grupos envolvidos na produção e tráfico de drogas na América Latina. Se antes a Colômbia estava no centro das

GETTY IMAGES/FOTOBANK

Polícias de países latino-americanos só conseguem interceptar 30% das drogas destinadas à Europa e aos Estados Unidos, o que levou a Rússia a iniciar treinamentos conjuntos

atenções, agora Bolívia e Peru também se destacam. Além disso, apenas 30% da droga destinada ao exterior é interceptada, enquanto os 70% restantes atingem seu destino: Estados Unidos e Europa, incluindo Rússia. Para melhorar esse quadro, em 2012 o serviço de controle de drogas russo organizou cursos de qualificação

Para Ivanov, a criação de um grupo de trabalho para o combate ao narcotráfico pelos países do Brics é um marco. No âmbito do projeto, Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul irão combater a produção de narcóticos no Afeganistão. A eliminação da produção de drogas no Afeganistão e na América do Sul pode derru-

das unidades de narcóticos de países como Nicarágua e Peru. No total, foram treinados mais de 230 agentes. Paralelamente, o serviço russo colabora estreitamente com a polícia de vários países da região. Operações conjuntas são realizadas com Peru, Nicarágua, El Salvador, Honduras, Costa Rica e países do Caribe.

bar em 50% os lucros gerados com narcóticos no sistema financeiro mundial.

Afeganistão A principal ameaça na Rússia, porém, não está na cocaína, mas sim a heroína, proveniente sobretudo do Afeganistão. Impedir esse fluxo é uma tarefa muito mais árdua, já que o tráfico

de drogas para a Rússia está em expansão. “Uma imensa quantidade de drogas provenientes do Afeganistão entrou na Rússia durante a guerra no país. Após o início da guerra civil no Afeganistão, no final dos anos 1980, aumentou drasticamente o papel da região como um dos principais produtores e traficantes de dro-

gas. Números da ONU mostram que a produção de ópio e haxixe nas províncias controladas pelo Talibã aumentou mais de 20% nos últimos anos. Especialistas da ONU acreditam que três quartos da droga oriunda do Afeganistão chegam à Rússia e à Europa Ocidental através da CONTINUA NA PÁGINA 3

Crise País importou 60% de sua carne, 50% dos peixes e frutos do mar, 48% do queijo e 45% das nozes e frutas no ano passado

Enquanto a escassez de produtos ainda não é visível, aumento nos preços já foi detectado por consumidores e restaurantes na capital. KIRA TVERSKAIA ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA

Cozinheiros amadores e profissionais de Moscou passaram as últimas semanas batalhando para encontrar novos fornecedores de ingredientes para alguns de seus pratos mais populares depois que a Rússia proibiu a importação de uma série de alimentos frescos provenientes dos Estados Unidos, União Euro-

peia, Austrália e Noruega. A medida, implementada no início de agosto, proíbe a compra de carnes, peixes, mariscos, leite e derivados, legumes, frutas e nozes desses países. O diretor de operações da rede de lanchonetes American Diner Company de Moscou, Douglas Steele, disse que, por enquanto, a escassez de ingredientes não os atingiu, mas a empresa já se prepara para os possíveis efeitos. “Os produtos importados representam 20% dos itens do nosso cardápio. Seremos afetados sobretudo por pratos do cardápio que incluem queijos,

como nosso bacon blue burger, que leva queijo azul, nossa salada grega, com feta, a César, que tem Grana Padano, nosso cheddar americano, além de bacon de qualidade para nossos hambúrgueres. O salmão será um problema. Ainda não nos deparamos com a falta de ingredientes, mas vemos um aumento de preços que chega a 50% em alguns itens”, conta Steele. No ano passado, a Rússia importou cerca de US$ 1,3 bilhão em alimentos e produtos agrícolas. Mais de 60% da carne fresca e congelada vendida na Rússia é importada,

REUTERS

Consumidores são os mais afetados por sanções ao Ocidente

Queijos são um dos itens que mais atingirão os cardápios de restaurantes por sua especificidade

assim como 50% dos peixes e frutos do mar, 48% do queijo e 45% das nozes e frutas, de acordo com o jornal econômico russo “Vedomosti”.

O elo mais fraco Piotr, um DJ de Moscou, disse

que sentirá falta da carne marmoreio. “O queijo já está fora das prateleiras, os preços subiram. O embargo a alimentos é a coisa mais estúpida que eu já vi. Fui ao Toro Grill jantar na noite passada. Eles estavam sem peixe e não tinham

ideia de quando iam receber”, diz. Já o analista financeiro Nikolai está preocupado em ficar sem Nutella. “Temo que não verei mais Nutella no Ázbuka Vkusa [supermercado de produtos top de linha], o que será

Leia as notícias mais fresquinhas no site

terrível. Honestamente, eu não sei o que vai acontecer com o Ázbuka Vkusa, já que tudo lá é importado”, diz. A estagiária de jornalismo Elizaveta também já viu um aumento nos preços. “O preço do café italiano que comprei ontem simplesmente dobrou”, conta, acrescentando não ter certeza se o aumento de preços é devido à indisponibilidade dos produtos ou à inescrupulosidade dos fornecedores. O diretor do Centro de Pesquisas de Política Econômica da Universidade Estatal de Moscou, Oleg Bucklemichev, chama de “soviética” a abordagem do governo russo, e diz que a Rússia é quem mais vai sofrer. “Não vamos punir ninguém e não vamos conseguir nada. Pequenos empresários baixarão suas portas, estamos perdendo de novo. A competição é o melhor ambiente para o desenvolvimento da nossa indústria. Eliminar a concorrência nunca trouxe resultados positivos”, afirma.

b r. r b t h .co m

E NÃO DEIXE DE CONFERIR NOSSA PRÓXIMA EDIÇÃO IMPRESSA EM 17 DE SETEMBRO


Opinião

RÚSSIA O melhor da Gazeta Russa http://br.rbth.com

A VERDADE DEVE SER REVELADA

DMITRY DIVIN

Serguêi Lavrov MINISTRO DOS NEGÓCIOS ESTRANGEIROS DA RÚSSIA

s meios de comunicação, infelizmente, continuam a espalhar boatos, informações distorcidas e até mentiras descaradas. Recentemente, a Ucrânia alegou que sua artilharia destruiu uma coluna de blindados que teriam supostamente cruzado a fronteira da Rússia para a Ucrânia, e a mídia britânica disse ter testemunhado a incursão. Nenhuma evidência, no entanto, foi apresentada, e nem mesmo o Departamento de Estado dos EUA confirmou o incidente. Vemos todas essas histórias como parte de uma guerra de informação. Nossa posição é clara: queremos a paz na Ucrânia, que só pode ser alcançada por meio de um amplo diálogo nacional em que todas as regiões e todas as forças políticas do país participem. Isso é o que a Rússia, os EUA, a UE e a Ucrânia acordaram em Genebra, em 17 de abril. No recente encontro em Berlim entre os ministros das Rela-

O

ções Exteriores da Rússia, Alemanha, França e Ucrânia, ninguém se opôs aos itens dispostos na Declaração de Genebra. O importante para Kiev é cessar as investidas de guerra e abandonar a ilusão de que a profunda crise na Ucrânia pode ser resolvida vencendo uma guerra contra seu próprio povo. É muito triste ver que os EUA e a UE continuam apoiando cegamente qualquer iniciativa de Kiev. Vamos relembrar outro documento que Kiev e o Ocidente tentam esquecer. Em 21 de fevereiro, um acordo sobre a resolução da crise foi assinado por Víktor Ianukovitch, Arsêni Iatseniuk, Vitáli Klitschkô e Oleg Tiagnibok, e acompanhado pelos ministros das Relações Exteriores da F rança, A leman ha e Polônia. Eles dizem agora que o acordo “foi atropelado pelos acontecimentos”, porque [o ex-presidente da Ucrânia] Ianukovitch deixou o país. Mas deixe-me relembrar meus colegas que o acordo de 21 de fevereiro listava como priori-

dade número um o compromisso de um governo de unidade nacional. Será que esse objetivo só depende do próprio Ianukovitch? A unidade nacional não é o princípio universal para

fraestrutura em muitas cidades e vilarejos no leste da Ucrânia. As tentativas de resolver a crise por meio de sanções unilaterais fora do quadro das decisões do Conselho de Se-

É absolutamente inaceitável dialogar com a Rússia na língua de ultimatos e medidas coercivas

Faremos o necessário para defender nossos interesses legítimos, inclusive de segurança

qualquer país que queira permanecer integrado? Em vez de honrar esse compromisso, os líderes da oposição organizaram um golpe armado e declararam publicamente que haviam criado um “governo de vencedores”. Infelizmente, a lógica do “vencedor leva tudo” continua impulsionando as ações de Kiev, resultando em milhares de vítimas entre civis e em centenas de milhares de refugiados e pessoas internamente desalojadas, bem como na quase destruição total da in-

gurança da ONU ameaçam a pa z e a estabi l idade internacional. Tais tentativas são contraproducentes e contradizem as normas e princípios do direito internacional. É absolutamente inaceitável dialogar com a Rússia – ou qualquer país em questão – na língua de ultimatos e medidas coercivas. Nossa resposta a medidas unilaterais por parte dos Estados Unidos, da União Europeia e de alguns outros países tem sido equilibrada e em

consonância com os direitos e obrigações da Rússia no âmbito de tratados internacionais, incluindo a Organização Mundial do Comércio. Não é de forma alguma nossa escolha, mas não deve haver dúvida de que vamos fazer o que for necessário para defender nossos interesses legítimos, incluindo os interesses de segurança nacional em todas as suas dimensões. Essa foi a base para nossa decisão de restringir, durante o período de um ano, a importação de produtos agrícolas e alimentares de vários Estados que adotaram sanções econômicas setoriais contra a Rússia. Mas a Rússia não deseja seguir por esse caminho de agravamento da situação. Esperamos que os EUA, a União Europeia e outros deem ouvidos à razão e coloquem um fim a esse círculo vicioso e sem sentido por eles iniciado.

Ajuda humanitária A situação humanitária nas regiões ucranianas de Lugansk e Donetsk é catastrófica e continua a se deterio-

rar. E essa não é apenas a nossa opinião. Essa avaliação é amplamente compartilhada pelas Nações Unidas, incluindo o Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários, pelo CICV (Comitê Internacional da Cruz Vermelha) e pelo Conselho da Europa. Mais de duas mil pessoas já foram mortas e mais de cinco mil ficaram feridas, incluindo muitas crianças. Há escassez aguda de alimentos e medicamentos, além do crescente risco de surtos de doenças infecciosas. Mais de 200 mil pessoas em Lugansk estão vivendo sem eletricid ade, ág u a pot áve l e comunicação. Diversas pessoas fugiram da área do conflito. Desde o dia 1° de abril, cerca de 775 mil cidadãos ucranianos entraram no território russo, e 190 mil ucranianos solicitaram estatuto de refugiado na Rússia. Foram criados abrigos temporários em nosso país para acomodar dezenas de milhares de refugiados. Diante dessas circunstân-

cias, é fundamental garantir o fornecimento imediato de ajuda humanitária ao povo no sudeste da Ucrânia. As questões humanitárias devem unir todos os povos que agem de boa fé para tentar aliviar o sofrimento das pessoas em extrema necessidade – especialmente mulheres, crianças e idosos. A Rússia, em colaboração com o CICV, enviou um comboio humanitário de cerca de 300 caminhões que transportavam duas mil toneladas de suprimentos médicos, alimentos, sacos de dormir, geradores de energia e outros produtos básicos. O comboio estava pronto para seguir adiante em 17 de agosto, mas foi adiado sobretudo devido às táticas de procrastinação empregadas pelas autoridades de Kiev, apesar dessas terem reconhecido a carga de ajuda humanitária sob os auspícios do CICV, e terem mandado os guardas de fronteira e funcionários aduaneiros da Ucrânia monitorar todos os procedimentos no posto de controle r usso per to de Donetsk. Pedimos ao governo ucraniano para cumprir suas promessas e facilitar a passagem segura e desimpedida dos futuros veículos com assistência humanitária. Esperamos também que nossos parceiros do Ocidente e organizações internacionais entendam a magnitude do desastre e contribuam concretamente para a satisfação das necessidades básicas da população civil no sudeste da Ucrânia. Mas a tarefa central dos esforços para acabar com o sofrimento de civis na Ucrânia continua, naturalmente, com a declaração de cessar-fogo. Pessoas estão morrendo, e a infraestrutura civil está sendo destruída a cada dia. Acreditamos fi rmemente na importância incondicional de um cessar-fogo, que abrirá caminho para um diálogo político sério e um processo de reforma constitucional com a participação de todas as regiões e todos os círculos políticos da Ucrânia, conforme acordado pela UE, Rússia, Ucrânia e EUA na Declaração de Genebra, em 17 de abril. Serguêi Lavrov é ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia desde 2004.

UMA INDENIZAÇÃO À YUKOS Aleksêi Lossan

propriedade russa: a embarcação histórica “Sedov”, caças no Salão Aeronáutico de Le Bourget, e mesmo contas da agência estatal de notícias “RIA Nôvosti” no exterior. O mais incrível é que a Noga acabou não recebendo nenhuma indenização da Rússia: as autoridades do país desbloquearam os bens sob embargo um após o outro. E em setembro de 2009, o Tribunal de Apelação dos EUA declarou que a Rússia não tinha nenhuma dívida com a empresa.

ECONOMISTA

m julho deste ano, o Tribunal Permanente de A rbit r age m de Haia condenou a Rússia a pagar mais de US$ 50 bilhões aos acionistas daquela que foi no passado a maior petrolífera do país, a Yukos. É um valor recorde, mas dificilmente os acionistas receberão o dinheiro. Nos últimos anos, só uma pessoa conseguiu receber uma indenização da Rússia por meio de embargo de seus bens no exterior: o alemão Franz Sedelmeier. Não que não tenham acontecido tentativas. A pequena empresa suíça Noga, por exemplo, buscou receber suas indenizações russas da mesma forma. A história começa há mais de vinte anos, quando, no início dos anos 1990, após a queda da União Soviética, a Noga fornecia alimentos à Rússia em troca de derivados de petróleo. Em 1993, porém, a Rússia rompeu o acordo, alegando que o custo dos alimentos no âmbito do acordo era alto demais e do petróleo, baixo.

E

Bem-sucedido

KONSTANTIN MALER

A partir daí, a Noga tornou-se uma ameaça à Rússia no exterior.

Um bilhão em quadros Em 2005 inaugurou-se na pequena cidade suíça de Martigny a exposição “Pinturas Francesas do Acervo do Museu Púchkin de Moscou”. O principal museu

EXPEDIENTE WWW.RBTH.RU E-MAIL: BR@RBTH.RU TEL.: +7 (495) 775 3114 FAX: +7 (495) 775 3114 ENDEREÇO DA SEDE: RUA PRAVDY, 24, BLOCO 4, 12º ANDAR, MOSCOU, RÚSSIA - 125993 EDITOR-CHEFE: EVGUÊNI ABOV; EDITOR-CHEFE EXECUTIVO: PÁVEL GOLUB; EDITOR: DMÍTRI GOLUB; SUBEDITOR: MARINA DARMAROS;

russo enviou à exibição 55 pinturas, incluindo obras de Nicolas Poussin, Claude Lorrain e Pablo Picasso. Os quadros, no valor total segurado de um bilhão de dólares, foram embargados por decisão judicial em favor da Noga. Isso ocorreu porque, em 1997, o Tribunal de Arbitra-

gem de Estocolmo decidiu que a Rússia deveria pagar US$ 27 milhões de indenização à empresa, e essa começou a buscar ativos russos em todo o mundo. De meados da década de 1990 até o fi nal da década de 2000, por meio de ações da Noga foram embargados os mais variados bens de

EDITOR-ASSISTENTE: ALEKSANDRA GURIANOVA; REVISOR: PAULO PALADINO DIRETOR DE ARTE: ANDRÊI CHIMÁRSKI; EDITOR DE FOTO: ANDRÊI ZÁITSEV; CHEFE DA SEÇÃO DE PRÉ-IMPRESSÃO: MILLA DOMOGÁTSKAIA; PAGINADOR: MARIA OSCHÉPKOVA PARA A PUBLICAÇÃO DE MATERIAL PUBLICITÁRIO NO SUPLEMENTO, CONTATE JÚLIA GOLIKOVA, DIRETORA DA SEÇÃO PUBLICITÁRIA: GOLIKOVA@RG.RU © COPYRIGHT 2014 – FSFI ROSSIYSKAYA GAZETA. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS

Com o empresário alemão Franz Sedelmeier, porém, foi diferente. No início dos anos 1990, ele criou em São Petersburgo uma joint venture com representantes dos órgãos de aplicação da lei russos para a compra de uniformes e treinamento de policiais. Em 1994, a empresa foi fechada, o prédio em que seu escritório se encontrava passou ao Estado, e o empresário deixou a Rússia. Assim como a empresa suíça, Sedelmeier valeu-se do Tribunal de Arbitragem de Estocolmo e ganhou um

caso contra a Rússia no valor de US$ 2,35 milhões. Mas foi apenas no início dos anos 2010 que ele conseguiu embargar um prédio da antiga representação comercial soviética em Colônia. Como resultado, no fi nal de 2013, parte do prédio foi vendida por 2,1 milhões de euros à própria Rússia.

Tribunal decretou pagamento de US$ 51 bilhões do país à petrolífera de Khodorkóvski Na Rússia, muitos se lembram como Noga e Sedelmeier aterrorizavam colecionadores e fabricantes de aeronaves russos. Assim, quando, no final de julho, o Tribunal Permanente de Arbitragem em Haia publicou a decisão histórica a favor dos acionistas da Yukos contra a Rússia, o caso não era o primeiro. Sem precedentes, porém, foi o valor da indenização, de US$ 51 bilhões - abaixo, aliás, dos US$ 114 bilhões

PRESIDENTE DO CONSELHO: ALEKSANDR GORBENKO (ROSSIYSKAYA GAZETA); DIRETOR-GERAL: PÁVEL NEGÓITSA; EDITOR-CHEFE: VLADISLAV FRÓNIN É EXPRESSAMENTE PROIBIDA A REPRODUÇÃO, REDISTRIBUIÇÃO OU RETRANSMISSÃO DE QUALQUER PARTE DO CONTEÚDO DESTA PUBLICAÇÃO SEM PRÉVIA AUTORIZAÇÃO ESCRITA DA ROSSIYSKAYA GAZETA. PARA OBTER AUTORIZAÇÃO DE CÓPIA OU REIMPRESSÃO DE QUALQUER ARTIGO OU FOTO, FAVOR SOLICITAR PELO TELEFONE +7 (495) 775 3114 OU E-MAIL BR@RBTH.RU

exigidos pela acusação. É a maior indenização já decretada por um tribunal internacional. A Rússia já declarou que vai contestar a decisão do tribunal. O Ministério das Finanças russo já contou 13 falhas na decisão do Tribunal Permanente de Arbitragem, que serão usadas no recurso. O ponto de vista oficial também é compartilhado pela maior parte da população. De acordo com pesquisa realizada pelo instituto de pesquisas “Centro Levada”, 55% dos entrevistados acreditam que a Rússia não deve necessariamente obedecer às determinações do tribunal. De qualquer maneira, os antigos acionistas da Yukos dificilmente receberão os bilhões de dólares determinados pelo tribunal. E seus representantes já emitiram um comunicado no qual dizem estar dispostos a abrir mão da indenização pela libertação de ex-funcionários da empresa presos. Aleksêi Lossan é professor de jornalismo econômico na Universidade Estatal de Moscou.

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O SUPLEMENTO “RÚSSIA” FAZ PARTE DO PROJETO INTERNACIONAL RUSSIA BEYOND THE HEADLINES (RBTH), QUE É SUBSIDIADO PELO JORNAL RUSSO ROSSIYSKAYA GAZETA. A PRODUÇÃO DO SUPLEMENTO NÃO ENVOLVE A EQUIPE EDITORIAL DA FOLHA DE S.PAULO. O RBTH É FINANCIADO TANTO POR RECEITAS DE PUBLICIDADE E PATROCÍNIO, COMO POR SUBSÍDIOS DE AGÊNCIAS GOVERNAMENTAIS RUSSAS. NOSSA LINHA EDITORIAL É INDEPENDENTE. O OBJETIVO É APRESENTAR, POR MEIO DE CONTEÚDO DE QUALIDADE E OPINIÕES, UMA GAMA DE PERSPECTIVAS SOBRE A RÚSSIA E O MUNDO. ATUANDO DESDE 2007, TEMOS O COMPROMISSO DE MANTER OS MAIS ALTOS PADRÕES EDITORIAIS E APRESENTAR O MELHOR DO JORNALISMO RUSSO. POR ISSO, ACREDITAMOS PREENCHER UMA IMPORTANTE LACUNA NA COBERTURA MIDIÁTICA INTERNACIONAL. ESCREVA UM E-MAIL PARA BR@RBTH.RU CASO TENHA PERGUNTAS OU COMENTÁRIOS SOBRE A NOSSA ESTRUTURA CORPORATIVA E/OU EDITORIAL. A FOLHA DE S.PAULO É PUBLICADA PELA EMPRESA FOLHA DA MANHÃ S.A., ALAMEDA BARÃO DE LIMEIRA, 425, SÃO PAULO-SP, BRASIL, TEL: +55 11 3224-3222 O SUPLEMENTO “RÚSSIA” É DISTRIBUÍDO NA GRANDE SÃO PAULO, INTERIOR DE SÃO PAULO, RIO DE JANEIRO E BRASÍLIA, COM CIRCULAÇÃO DE 157.988 EXEMPLARES (IVC FEVEREIRO 2014)


Política e Sociedade

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ENTREVISTA ANTONIO GUERREIRO

“Brasil não quer espaço de ninguém”

RAIO-X IDADE: 60 ANOS FORMAÇÃO: INSTITUTO RIO BRANCO

Nascido em Madri, na Espanha, Antonio Guerreiro foi chefe da Divisão do Mar, da Antártida e do Espaço (1987), conselheiro na Embaixada em Paris (1990) e embaixador junto à Agência Internacional de Energia Atômica (2006), entre outros.

ENVIADO À FUNÇÃO NA CAPITAL RUSSA EM JANEIRO DESTE ANO, EMBAIXADOR FAZ BALANÇO DO PERÍODO E FALA SOBRE SANÇÕES, BRICS E G20.

Ainda com os cortes orçamentários sucessivos que o Ministério das Relações Exteriores vem sofrendo, uma imagem sorridente da presidente ilustra a parede verde atrás da mesa do embaixador brasileiro em Moscou. Na função desde janeiro, Antonio Guerreiro parece refletir os princípios do Itamaraty a cada declaração. Do não envolvimento em disputas internacionais à resolução pacífica de contendas. Ex-representante permanente do Brasil junto à Conferência do Desarmamento em Genebra (2012-2013), entre outros cargos diplomáticos ocupados desde 1975, Guerreiro concedeu uma entrevista exclusiva à Gazeta Russa em Moscou:

guei, a situação tem sido não só desafiadora, mas estimulante do ponto de vista profissional e pessoal também. O Brasil e a Rússia têm relações muito boas que têm sido fortalecidas ao longo dos anos. Neste ano, tivemos em Fortaleza a cúpula do grupo Brics, que inclui Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul. Talvez essa tenha sido a cúpula que rendeu mais resultados concretos, na medida em que houve a aprovação do estatuto do banco do desenvolvimento do Brics. Isso facilitará o intercâmbio e a realização de projetos conjuntos com os demais países. Nós, países do Brics, não nos definimos como contrários a ninguém ou a nada. Nós queremos incorporar, nós queremos adicionar, não queremos destruir ou abolir.

O sr. poderia fazer um balanço do período na função? Desde janeiro, quando che-

Como o Brasil vê a imposição de sanções econômicas por países desenvolvidos à Rús-

MARINA DARMAROS, DMÍTRI GOLUB GAZETA RUSSA

sia com fins de pressionar politicamente um Estado soberano? O Brasil sempre defendeu que uma solução pacífica para controvérsias internacionais deve dar-se por meio da negociação, do envolvimento diplomático, e não do recurso a sanções. Portanto, por definição, o Brasil prefere cam i n hos a lter nativos às sanções. Temos uma posição muito clara de que quem tem autoridade para impor sanções é o Conselho de Segurança das Nações Unidas, de acordo com a própria Carta da ONU. Existe alguma perspectiva para quantificar o aumento do volume de negócios que as respostas de Moscou às sanções irão abrir ao Brasil? Não, a resposta clara é não. O Brasil fornece mais de 50% do mercado de carnes para o país. Os exportadores brasileiros já conhecem os importadores russos.

que dele são membros. Não cabe a nenhum país deixar de convidar este ou aquele país por qualquer razão. Até o momento presente, não tenho informação concreta quanto à participação da Rússia no G20, mas minha suposição é que a Rússia estará presente no nível que considerar adequado na reunião da Austrália.

Essa é uma questão comercial, e caberá aos homens de negócios dos dois países se entenderem e chegarem a transações que considerem úteis para ambos os lados. O governo brasileiro não está aqui para ocupar espaço de quem quer que seja. O governo brasileiro dará, como sempre deu, o apoio que puder, que é parte institucional do que nós temos que fazer.

A participação do Brasil e da Rússia no Brics tem afetado as relações políticas e econômicas bilaterais? Como? Acho que sim, tem afetado e de forma muito positiva. Eu próprio não tinha ideia de que o grupo Brics cooperasse em tantas áreas específicas e concretas. Há encontros entre especialistas de cada um dos países do Brics sobre as áreas mais diversas. Por exemplo, na área de estatísticas nacionais, o nosso

Com o deterioramento das relações entre Rússia e países desenvolvidos, houve um apelo para que ela não participasse da cúpula do G20. Como o Brasil vê essa política de contenção? Especulou-se, em meios de comunicação, que a Rússia não seria convidada para a cúpula do G20, na Austrália. Nenhum país é dono do G20. O G20 é propriedade dos países

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística participa de reuniões com suas contrapartes de outros países, há iniciativas na área cultural, fora as declarações políticas, que são muito importantes, o posicionamento na área econômica... Apesar de a balança bilateral ter registrado alguma queda, nos últimos anos ocorre uma aproximação entre Brasil e Rússia. Por que isso não influencia os indicadores econômicos? O potencial de intercâmbio entre a Rússia e o Brasil é muito grande. Temos economias de mais de dois trilhões de dólares. Mas temos que reconhecer que, historicamente, o Brasil nunca esteve ou esteve muito pouco no radar da Rússia, e vice-versa. A intensificação das relações entre os dois países é algo

relativamente recente. A conjuntura internacional também contribui. De modos diferentes, é preciso assinalar, mas a crise internacional teve efeitos também. O Brasil já aguardava há tempos um apoio de peso em seu pleito a uma vaga no Conselho de Segurança da ONU. Houve negociações para garantir o apoio russo? O apoio russo para que o Brasil tenha uma participação mais ativa dentro do Conselho de segurança não é de hoje. E isso não se negocia. O apoio russo está muito ligado ao perfil internacional do Brasil, país que defende propostas e princípios da Carta das Nações Unidas, a solução pacífica das controvérsias, o envolvimento diplomático para a solução das controvérsias e o princípio da autodeterminação.

Bilateral Acordo abrirá portas para brasileiros na Universidade Nacional de Pesquisa Nuclear, entre outras instituições

UFRJ fecha parceria com cientistas nucleares russos Corporação estatal Rosatom assina acordo de cooperação com a Universidade Federal do Rio de Janeiro na esfera de energia atômica.

FRASE

Ivan Dibov

MARK COOPER ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA

VICE-PRESIDENTE DE COMUNICAÇÕES DA “REDE INTERNACIONAL ROSATOM”

" © RIA NOVOSTI/ ALEXANDR KRYAZHEV

A UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) assinou um acordo de cooperação com a corporação estatal russa Rosatom. O documento trata de uma cooperação em diversas áreas: da organização de seminários conjuntos, mesas-redondas e palestras à participação de empresas russas do ramo nuclear em projetos comerciais e de pesquisa, futuros e já em andamento. A companhia russa tem vasta experiência de cooperação científica com países em todos os continentes. Ainda durante a era soviética, cientistas nucleares russos construíram uma série de reatores para pesquisa na Eu ropa, Ásia e Or iente Médio. A Rússia também foi a

Exportações de isótopos Cerca de 90% de isótopos médicos produzidos na Rússia são exportados. A partir desses, são fabricados radiofármacos no exterior. À Argentina, por exemplo, são fornecidos os isótopos médicos molibdênio-99, utilizados para diagnóstico e tratamento de doenças oncológicas.

Esta não é a primeira experiência da nossa corporação com universidades da América Latina. Já estamos no segundo ano de uma bem-sucedida cooperação com a Faculdade de Engenharia da Universidade de Buenos Aires, cujos estudantes e especialistas visitaram as empresas do ramo nuclear russo em junho de 2014. Acreditamos que a vasta experiência da Rosatom será importante para o Brasil.”

Rosatom tem longo histórico de cooperação acadêmica

responsável pela formação na área nuclear de milhares de profi ssionais do mundo todo. Esses voltaram para seus países ocupando posições de destaque na indústria de

energia nuclear. A ciência e a educação estão entre as prioridades da Rosatom, e os projetos que estão sendo implementados na Rússia podem inspirar estudantes e cientistas do Brasil.

Descobertas inspiradoras No mundo moderno, a ciência nuclear russa tem revelado novos elementos da tabela periódica de Mendeleev, como, por exemplo, o 117,

Ununséptio, descoberto em 2009 no Instituto Unido de Pesquisa Nuclear. As propriedades químicas desse ainda não foram estudadas. A ciência nuclear também salva vidas, ao desenvolver isótopos médicos a partir dos quais são criados radiofármacos utilizados para o diagnóstico e tratamento de câncer, doenças cardíacas e vasculares.

Portas abertas A Universidade Nacional de Pesquisa Nuclear, que ocupa o primeiro lugar entre os Brics em citações de artigos científicos, e que faz parte da base de dados da Web of Science e Scopus, poderá, agora, abrir suas portas ainda mais aos jovens cientistas nucleares brasileiros. Além disso, a Rosatom busca cooperar com grandes corporações e empresas não nucleares. Em 2014, por exemplo, com o apoio dos centros de informação da indústria nuclear foi organizada a competição do Goog l e “G e r a ç ã o D i g it a l . Adiante!”, no qual jovens talentos puderam criar seus projetos e ganhar conhecimento no campo das tecnologias da internet. Na Rússia também se realiza um dos principais fóruns nucleares do mundo, o “Atomexpo”, onde se reúnem

os chefes das principais empresas nucleares, e defi ne-se a agenda do ramo. Assim, a cooperação na esfera da ciência e da tecnologia com os cientistas nucleares russos significa que o Brasil terá a chance de entrar na lista dos líderes de t e c n olo g i a nu c le a r d o planeta.

Ano da fusão O ano de 2014 será o ano da fusão termonuclear controlada na Rússia. A ideia de utilização de energia de fusão foi proposta pela primeira vez pelo físico soviético Oleg Lavrentiev, já na década de 1950. Mais tarde, Andrêi Sákharov e Ígor Tamm desenvolveram os princípios de confinamento do plasma em tokamak, o aparelho para confinamento magnético do plasma. Hoje, no centro de pesquisas científicas Cadarache, na França, cria-se o futuro energético da humanidade com a tecnologia russa: o Reator Termonuclear Experimental Internacional. Não é coincidência que, em outubro de 2014, a Rússia vai abrigar a conferência internacional da AIEA sobre fusão termonuclear, da qual participarão cientistas de 40 países. Tudo isso levará a cooperação russo-brasileira a um novo e altíssimo nível.

Drogas na mira de operações conjuntas CONTINUAÇÃO DA PÁGINA 1

Á sia C e nt r a l”, e x pl ic a Ivanov. “Países como Azerbaijão, Cazaquistão, Quirguistão, Uzbequistão, Turquemenistão e Tadjiquistão se tornaram pontos de passagem das drogas provenientes do Afeganistão, Paquistão e Malásia para a Rússia e outros países europeus.”

Primeira em heroína Em 2009 a Rússia passou a ocupar o primeiro lugar no mundo em consumo de heroína. Atualmente, 1,5 milhão de pessoas no país são dependentes de heroína, e

todos os anos 250 mil crimes relacionados com a droga são investigados no país. No total, a polícia de combate ao tráfico de drogas estima existirem cerca de 8 milhões de usuários de drogas na Rússia. “Um exército de um milhão e meio de usuários de heroína não só consome três milhões de doses da droga diariamente, ou 1 bilhão por ano, como também comete uma infinidade de crimes para consegui-la”, afirma Ivanov. No ano passado, anunciaram-se planos de unir as forças de países pertencentes à OTSC (Organização do

Tratado de Segurança Coletiva) para buscar e destruir laboratórios e armazéns de produtores de opiáceos no Afeganistão.

Sem tratamento De acordo com estatísticas oficiais da polícia russa de combate às drogas, até 70 mil pessoas morrem anualmente na Rússia devido ao uso de drogas. Além disso, mais de 12 milhões de russos experimentaram drogas pelo menos uma vez na vida. O presidente da União Antidroga, Nikita Luchnikov, diz que, apesar dos esforços da polícia especializada, o número de usuários de subs-

tâncias psicotrópicas não diminui. “Acho que a principal causa foi o aparecimento das drogas farmacêuticas. A obtenção de drogas a partir de substâncias farmacêuticas. é uma maneira mais acessível de adquirir entorpecentes e contribui para o aumento dos usuários. Além disso, agora há uma nova onda de dependência de misturas para fumar”, disse Luchnikov à Gazeta Russa. A porta-voz do ministro da Saúde russo, Tatiana Klimenko, disse à Gazeta Russa que é necessário canalizar maiores esforços para o tratamento e regresso à socie-

Dependentes e usuários

d ade dos u su á r ios de drogas. “Com nossa situação demográfica, não podemos perder pessoas. Hoje, só 5% dos ex-dependentes estão em programas para voltar à sociedade. De acordo com nossas estatísticas, 550 mil pessoas estão inscritas nos centros russos de tratamento de dependência de drogas. Dessas, 350 mil são cons id e r a d a s do e nt e s . A s restantes são usuárias, mas não dependentes. Aqui recebemos todos os que querem recebem ajuda. Mas esses doentes não estão muito ansiosos para obtê-la”, diz.


Em Foco

RÚSSIA O melhor da Gazeta Russa http://br.rbth.com

RECEITA

Esotérico Curandeiros do mundo todo se reúnem no Extremo Oriente para tratar doenças espirituais

Biscoitos de gengibre para iniciantes

Sibéria é palco do Chamado dos Xamãs

Anna Kharzeeva ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA

© RIA NOVOSTI

Normalmente, o priâniki, algo entre um biscoitinho e um bolinho de gengibre, leva uma semana para ficar pronto e requer equipamento especial para preparo. Mas esta versão simplificada é perfeita para quem não tem muito tempo nem experiência na cozinha. O priânik é produzido em diferentes formatos e sabores – principalmente baunilha, chocolate e menta -, além de ter recheios variados, que vão de geleia a doce de leite. O tipo mais famoso, porém, é feito em uma pequena cidade próxima de Moscou chamada Tula, também famosa por abrigar a antiga propriedade de Tolstói e uma das fábricas de armas mais famosas da Rússia. Assim, não é por acaso que lá se possa comprar o biscoito em formato de pistolas! Adorados por todas as crianças da Rússia, os priânik são mais fáceis de se comprar no

mercado do que fazer em casa. E acredito que os pais também prefiram assim. Isso porque a maioria das receitas são incrivelmente longas e complexas, e incluem instruções como “deixar a massa descansar por cinco a sete dias”, além de exigir um tipo especial de equipamento para assar. Esse longo processo permite que a massa atinja uma consistência ao mesmo tempo densa e quebradiça. Há, porém, uma maneira fácil de se fazer o priâniki. O resultado desta breve receita é um bolinho muito agradável e com forte sabor de mel. Claro, eles não serão iguais aos produzidos em Tula. Mas também não deixam de ser uma ótima opção caseira. Com esta receita, é possível escrever palavras e frases sobre o biscoito usando a própria massa. Também se pode fazer uma cobertura de caramelo, misturando água fervente e açúcar, para cobrir sua massa.

Feiticeiros aproveitaram momento geopolítico para perguntar ao “grande espírito” sobre o destino da humanidade. MARINA OBRAZKOVA

Os treze eleitos O festival de xamãs foi um marco para as pessoas envolvidas em práticas espirituais. Gusliakov foi um dos 13 eleitos do evento organizado pelo xamã da república russa de Tuva, Nikolai Oorjak. “Não sabíamos que nosso encontro iria acontecer em um período em que vários conflitos armados ocorriam simultaneamente no mundo”, diz. “A missão do evento foi perguntar ao grande espírito o que irá acontecer com a humanidade e com o pla-

ANDREY SHAPRAN(4)

GAZETA RUSSA

LORI/LEGION MEDIA

Entre milagres registrados, xamã da Mongólia fez chover durante retiro a uma temperatura ambiente de 40° C

neta, além de reunir os xamãs de todo o mundo. Atualmente muitas pessoas estão envolvidas em práticas espirituais, mas existe uma rivalidade, uns não aceitam as tradições dos outros”, afi rma. Oorjak conta que, durante o festival, aconteceram verdadeiros milagres. “Os participantes do evento estavam nas montanhas, a uma temperatura entre 40 e 50 graus - calor excessivo até mesmo para os locais. Em meio a essas circunstâncias, os xamãs subiram para um retiro de três dias. Muitos não levavam água. Então um xamã da Mongólia trouxe vasilhas vazias, começou a tocar o tambor e a cantar canções rituais e, depois de três m inutos, caiu u ma chuva muito forte. Foi uma manifestação de xamanismo muito antiga.”

Festival “O Chamado dos Xamãs” contou com a participação de feiticeiros do México, Groelândia, Mongólia e Coreia do Sul

© RIA NOVOSTI

Estamos sentados no que eu gostaria de chamar de seu escritório - essa, porém, não seria a palavra apropriada para designar o local. O cômodo está decorado com pinturas e objetos usados em rituais: na parede, em frente à escrivaninha, estão pendurados ícones ortodoxos; no canto, há um traje de xamã feito de pele de lobo, e o principal atributo de um feiticeiro - um tambor. O esotérico Mark Gusliakov, uma das principais figuras do festival internacional de feitiçaria “O Chamado dos 13 Xamãs”, recebeu a Gazeta Ru ssa de camiseta e bermudas para falar sobre o evento. Realizado no mês passado na Sibéria, o festival teve entre seus convidados líderes tribais do México, Groenlândia, Mongólia e Coreia do Sul. “Os moradores locais faziam filas para pedir ajuda aos esotéricos ali reunidos”, conta Gusliakov. Segundo ele, metade dos que os procuravam tinham problemas espirituais que provocaram mortes na família. “As pessoas não tinham nada para dar em troca do tratamento, mas era impossível recusar ajuda. Por gratidão, elas deixavam o que tinham: comida, notas de 50 rublos [cerca de três reais], objetos pessoais. No dia seguinte, elas telefonavam para agradecer, porque sentiam que sua vida estava mudando”, conta a companheira de Gusliakov, Iúlia.

Curandeiros buscam apoio para desenvolver seu trabalho, já que necessitam viajar para renovar as energias usadas nos tratamentos espirituais Missão do evento foi perguntar ao “grande espírito” o que vai acontecer com a humanidade, além de reunir xamãs do mundo todo

Pessoas formavam filas pela ajuda espiritual que davam os xamãs, e pagavam com objetos pessoais “Nossos antepassados usavam intuição e clarividência, não internet e telefone”

L E I A M A I S S O B R E C U LT U R A RUSSA NO NOSSO SITE: RÊNCIAS AS PREFE ÔMICAS GASTRON RCAS A N DOS MO S O S S RU m/26395 br.rbth.co

Modo de preparo:

· 2 ovos; · 100 gramas de açúcar mascavo; · ¾ xícara de mel; · 150 gramas de manteiga; · noz moscada; · cardamomo; · nozes; · cravos; · 525 gramas de farinha; · 2 colheres de chá de fermento em pó.

1. Misture os ovos com o açúcar. 2. Aqueça o mel e a manteiga em fogo baixo e deixe esfriar. Em seguida, junte à mistura de ovos e açúcar. 3. Misture a farinha e o fermento e adicione à massa. 4. Acrescente as especiarias e as nozes a gosto. 5. Corte a massa em pedaços. Abra os biscoitos no formato que desejar. 6. Asse por aproximadamente 15 minutos a 200°C.

Internet contra intuição

Ermitão podólatra? Iúlia diz que as coisas são difíceis para os xamãs na Rússia, e eles precisam de ajuda. “Ninguém apoia essas pessoas. Em outros países muitos xamãs são protegidos pelo Estado e até mesmo pela Unesco, como patrimônio cultural da humanidade”, diz. Ela acrescenta que os xamãs precisam de recursos para viajar a lugares onde suas energias possam ser recarregadas. Segundo seu companheiro Gusliakov, existe em Moscou um número considerável de pessoas que realmente podem tratar doentes por meio de sua energia. Para ele, a maioria dos xamãs que dão entrevistas, publicam textos em jornais e mantêm blogs são na verdade charlatões.

Todos meus antepassados eram curandeiros e faziam rituais. Meu próprio sobrenome, Gusliak, significa feiticeiro”, diz. O xamã diz que, quando rea l mente precisa m de ajuda, as pessoas conseguem encontrá-la sozinhas. “Tenho recebido mendigos, ricos, pobres, desafortunados, alcoólatras. Minha tarefa é ajudar as pessoas, e estou fazendo tudo o que posso”, diz. “Uma vez por dia meu corpo se contrai em convulsões por 15 a 20 minutos, sempre no mesmo horário. Nesse estado, a realidade se transforma, e são necessárias forças extraordinárias para retornar.”

Ingredientes:

Gusliakov não gosta de se encontrar com jornalistas e não tem um site próprio na internet. Ele nasceu no Cazaquistão, país ao sul da Rússia, e recebeu sua primeira iniciação como xamã aos cinco anos de idade. “As pessoas sempre são atraídas por algo: desenhar, compor música... Eu, pela cor da pele, formato e aspecto dos dedos dos pés, posso descobrir que tipo de doenças crônicas as pessoas têm, onde viveram seus antepassados etc. E não precisei aprender a fazer isso.

Gusliakov está convencido de que o xamanismo é algo genético. “Existem certas coisas que você pode sentir aqui mesmo, sem trajes e sem fogo ritual, sem canto e rezas: está dentro do corpo.” Antigamente, os xamãs eram identificados por características físicas determinadas, como cor dos olhos e padrão das veias, mas essas tradições se perderam. “O Xamanismo não consiste em escrever livros, e sim em desenvolver os sentidos. Todas as pessoas têm sete sentidos, pois além dos cinco habituais há ainda a clarividência e a intuição. O curioso é que agora o ser humano está reprimindo esses dois últimos sentidos. Os nossos antepassados faziam uso deles, em vez da internet e do telefone. Eles sentiam e entendiam uns aos outros à distância”, concluiu ele.

CALENDÁRIO CULTURA E NEGÓCIOS NIJÍNSKI - MINHA LOUCURA É O AMOR DA HUMANIDADE ATÉ 21 DE SETEMBRO, QUI. A SÁB. ÀS 21H30, DOM. ÀS 18H30, SESC BELENZINHO, SÃO PAULO-SP

Os altos e baixos da trajetória do bailarino russo-polonês Vaslav Nijínski são retratados nessa peça, desde seus surtos de esquizofrenia ao auge da fama no balé. A peça tem direção de Gabriela Mellão e João Paulo Lorenzon, que também interpreta o bailarino. › www.sescsp.org.br

FEIRA LESTE EUROPEIA ESPECIAL DE PRIMAVERA 14 DE SETEMBRO, RUA ARACATI MIRIM, AO LADO DO PARQUE ECOLÓGICO DA VILA PRUDENTE, SÃO PAULO-SP

Além de artesanato e culinária típica do Leste Europeu, o evento conta com exposição de veículos antigos do Automóvel Clube da Vila Zelina, oficinas culturais e shows artísticos. › www.amoviza.org.br

B R . R B T H .CO M /A R T E E não deixe de conferir nossa próxima edição impressa em 17 de setembro

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3° CONFERÊNCIA INTERNACIONAL DE NEGÓCIOS EM NÍJNI NÔVGOROD DE 10 A 12 DE SETEMBRO, EM NÍJNI NÔVGOROD - RÚSSIA

Em sua terceira edição anual, a Conferência Internacional de Negócios em Níjni Nôvgorod, reúne representantes de diversos ramos, indústrias e negócios do mundo todo para discutir o investimento na Rússia. Neste ano, assuntos econômicos prementes tomam importância: parcerias públicoprivadas no setor social, a substituição de importações, e medidas inovadores para desenvolver os territórios russos e atrair investimentos. A conferência é uma plataforma já tradicionalmente conhecida para o diálogo entre empresários e governo, e tem entre os participantes representantes da Liga dos Estados Árabes, Bélgica, Alemanha, Itália, França, China etc. › www.ibs-nn.ru

MAIS EM: www.gazetarussa.com.br


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