50 crônicas em 50 dias

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Teve um período, em especial, no ano de 2018 em que sabia que só haveria um assunto nas redes socias: eleições. Esse cenário já vinha se desenhando antes do ano começar, mas foi na metade de 2018 que a coisa começou a tomar uma intensidade atlântica. E foi nesse momento, de conflitos políticos, que decidi lançar um desafio literário pessoal: escrever 50 crônicas em 50 dias. O que começou no dia 12 de setembro, terminou, é claro, 50 dias depois, no dia 31 de outubro. Resistindo aos dois turnos eleitorais a única regra que me ocorreu era a de não falar sobre política em nenhum dos 50 textos. As crônicas foram, uma a uma, sendo publicadas no Medium. Sem hora específica e nem um anúncio prévio. Durante os 50 dias elas eram, praticamente, as únicas postagens do Facebook que não tinham relação alguma com as eleições. Se eu for parar para analisar os textos foram bem aceitos pelos meus “amigos” das redes e por aqueles que me seguem no Medium. Claro que, teve textos sem nenhuma leitura, outros com duas ou três... Mas, tem aqueles com 60 e até 100, para compensar. Quem escreve, escreve para ser lido. Mas, este nem parecia ser o meu propósito incial com as 50 crônicas em 50 dias. Como já disse, foi um desafio pessoal de me testar, de criar uma rotina de escrita diária. E isso só daria certo se fosse um número alto de textos em um período pequeno de tempo. Mesmo sem se quer um leitor fiel que aguardasse a publicação da crônica eu estava motivado a, todo santo dia, escrever. As 50 crônicas em 50 dias teriam que doer em mim. Porém, não doeram nada. Escrever diariamente, por uma obrigação auto-imposta, foi divertido, prazeroso e me fez perceber que de todas as formas de expressão que já experimentei, escrever é a ideal pra mim. A que mais combina. Nesta amostra você não irá encontrar as 50 crônicas. Selecionei, de forma bem aleatória, 10 delas. Mas, se quiser ler todas, é só acessar o meu perfil no Medium (medium.com/@geanpaulonaue). Os textos estão prontos para serem lidos por você. Faça bom proveito! Antes que eu me esqueça! O gato é o meu próprio. Gata, na verdade. Esteve comigo, grande parte das vezes que escrevi as crônicas. Ela ouviu eu ler, para uma revisão rápida, quase todos os textos e dessa forma, eles estão aprovados por ela também.

Gean Paulo Naue o que escreveu as 50 crônicas, revisou os textos e criou a arte desse material


1. Uma crônica “cronificada” sobre a própria crônica 2. Aos sete anos Dudu queria saber certas coisas 3. Surpresa! Você ganhou um dia da sorte, faça bom proveito 4. Que sol é esse? 5. Vou ignorar a morte e jamais morrerei 6. A loja que não vale a pena assaltar 7. Por onde andam os demônios? 8. Soluço, e agora? 9. O hino do Rio Grande do Sul não é um modelo à toda Terra 10. Matar uma formiga pode te ensinar uma coisa 11. A comunicação entre as buzinas 12. O cheiro da tempestade 13. Não troque a bicicleta por nada 14. Me espera 15. Por que comemos uns e outros não? 16. Dinheiro sujo 17. Casou e está feliz até hoje, que horror! 18. A cegueira da visão 19. Coisas que só quem tem uma Biz entende 20. Cuidado com o que você inventa 21. A melhor parte da viagem é voltar para casa 22. Com o fogo não se brinca 23. O dia mais misterioso do ano 24. A verdade é que todos somos “sim” e “não” 25. Pela metade 26. O montador 27. Quantas vezes, em um dia, olhamos para o céu? 28. O uivar 29. Felicidade, como se define? 30. Sofri 31. É muito clichê 32. A crucificação do pênis 33. A razão de viver 34. Não sabia que você sabia sorrir 35. Mostrastes ser invejoso 36. O amor indefinido 37. É das vacas que eles gostam mais 38. O som de uma mentira 39. Feminino: o único sexo capaz de assumir a saia e a calça 40. Uma conversa com o ateu 41. Não precisa chorar 42. O melhor amigo do bêbado 43. A maior dualidade da humanidade 44. Sonhar mais um sonho impossível 45. Infância herdada 46. Eu escolho você 47. Senta 48. Crônica ao passarinho 49. Cortando os relacionamentos 50. Terminal


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Para que serve essa dita crônica? Para falar do mar? Das aulas de inglês? Do aeroporto? Do trânsito? Da casa da avó? Da casa do avô? Numa crônica cabe tudo isso e mais. Cabe o carnaval, o circo, o rio, o chocolate... E dá para ir além se você quer saber. Podemos falar do amor, ódio, inveja, tristeza, alegria, gritos, soluços e sobre sexo e a falta dele e de todas as outras coisas. A crônica nada mais é do que o ser humano em sua infinita capacidade de ser. Em geral este tipo de texto é a vivência do autor, no caso, eu mesmo. Mas, isso não quer dizer que deixa de ser a vivência do leitor, no caso, você. Dentro da cabeça de um cronista vive um povoado de assuntos que nascem em qualquer situação do cotidiano. As crônicas gostam de falar dos acontecimentos do dia a dia e se o episódio chama a atenção, aí pronto! Capaz de render três ou quatro crônicas à partir desse miserável ocorrido. As melhores crônicas são aquelas que nascem do inesperado. Você está caminhando distraído rumo ao trabalho e pisa em uma poça de água. Crônica! Você está numa balada, vai usar o banheiro e se vê trancado pela fechadura estragada. Crônica! Você perde o ônibus. Crônica! Caí de bicicleta. Crônica! Queima o dedo fazendo brigadeiro, que tragédia. Crônica! Espirra e não controla o ranho. Crônica! Está lavando a louça para a mãe e um dos copos quebra. Crônica! Os cronistas possuem o “raio cronicatizador”. Aconteceu, percebeu. É batata! Vai virar uma crônica. Este tipo de texto, curtinho e de fácil entendimento, precisa ter dois elementos básicos: a observação dos acontecimentos diários e a criatividade do autor, que precisa sentar seu traseiro em frente ao computador e narrar o ocorrido da forma que ele achar melhor. Tem crônicas pitorescas e engraçadas, outras reflexivas e profundas. Bom, se eu te disse que este tipo de gênero textual nada mais é do que a narração de um acontecimento, isso não é reportagem jornalística? É verdade que o lugar das crônicas sempre foram os jornais e as revistas, por justamente contarem com esse fato noticioso. Mas há uma longa separação entre o texto jornalístico que é distante e objetivo e a crônica que é pessoal e subjetiva. O objetivo da matéria que se lê no jornal ou na revista é fazer com que você entenda os fatos tal qual o acontecido, já o objetivo da crônica é fazer você pensar: “meu Deus, por qual razão eu estou lendo isso?”.


Sabe quando dois amigos se encontram para bater um papo: “Cara você viu o que aconteceu ontem na Ana Maria Braga?”, ou então, quando duas amigas se encontram: “Menina, você ficou sabendo que substituíram o goleiro do nosso time por aquele jogador que não defende nenhum gol?”. É isso que a crônica faz, te proporciona um momento de conversa leve e uma, breve ou não, reflexão sobre o tema. Por exemplo, aqui estou eu falando de crônica nesta crônica e aí está você lendo uma crônica que fala sobre crônica. Qual é a reflexão mais óbvia que podemos tirar sobre isso? Nada? Ah, não… Pensa um pouco! Enquanto pensa eu vou continuar a falar sobre esse gênero textual que não é novidade nenhuma neste mundo. As crônicas fazem sucesso nos jornais há muito tempo e sabe por qual motivo? No meio de tanta coisa preocupante, há um texto que quebra esse tom sério. Esse texto, no caso, sou eu! Então, minha dica é, toda vez que você enxergar uma crônica, dá uma chance para ela te conquistar, abra seu coração e sua mente, deixa que a vivência do autor te traga uma leitura sem dor, te traga lembranças e te faça pensar. É difícil uma crônica te arrebatar como acontece quando você está lendo um livro, um romance de duzentas páginas, em que há personagens e vivências complexas. Não meu amigo, a crônica não quer ser emoldurada na parede do seu quarto, ela só quer te dar uma cutucadinha. Lá no início do texto teve uma pergunta, tô certo? Qual era ela? Então… a resposta dessa pergunta não sou eu que vou te dar, é você mesmo que vai respondê-la depois de ter chegado ao final desta crônica.


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Quem já tomou um ônibus sabe muito bem como funciona, não é? Existe vários tipos de pessoas utilizando esse serviço magnífico que te faz sentar em uma poltrona, até que, confortável e ir de um lugar para o outro sem se preocupar com a sinalização do trânsito, sem ligar para os outros motoristas e sem prestar atenção na troca de marchas para arrancar um bom desempenho do motor. Não vim aqui pra falar do ônibus em si, nem da viagem. Pois bem, estava indo da minha cidade para a cidade vizinha em um sábado, cerca de sete e meia da tarde, no horário de verão onde tudo ainda está muito límpido. Era dezembro, um calor danado. Não quero desviar o foco, como quase sempre faço. Um pai, uma mãe e dois filhos: Guilherme, de um ano e Dudu de sete. Sei o nome e a idade porque ouvi a mãe falar. O mais velho sentou ao lado do pai, o mais novo ficou junto da mãe, como era de se esperar. E eu, uma poltrona à frente. Até tentei ler um livro, “Carcereiros” do Drauzio Varella, mas a conversa era tanta que a melhor opção foi a de abandonar a leitura e escutar o que o pai e o Dudu tanto conversavam. Fazer o que? Ler era impossível naquelas condições. Pelo o que percebi sete anos é a idade dos questionamentos: “Pai isso é uma floresta? Tem animais selvagens aqui, como aqueles que tem na Amazônia?” Perguntou o garotinho ao observar a paisagem externa. O pai, sensato, deu a melhor explicação: “isso é mato da cidade, não tem nenhum animal aí, a não ser mosquito, sapo e aranhas”. Logo pensei que jamais entraria nesse tal “mato da cidade”, só tem coisa ruim lá. Depois, logo outra: “Pai o que é um furgão?”. “Um furgão?”. O pai pareceu incomodado com a pergunta, talvez nunca em sua vida imaginou que um dia teria que explicar o que era um furgão, afinal, todos sabemos o que é um furgão e parece que ninguém nunca nos explicou sobre ele, aprendemos sozinho. Mas, o filho não sabia ao certo e esperava uma resposta, que por parte do pai, foi brilhante. Ele disse: “Furgão é igual uma Kombi só que na frente parece um carro”. O menino se deu por satisfeito com a resposta e ficou em silêncio por algum tempo. Até que veio a pergunta mais complicada que uma pessoa de sete anos poderia fazer para um pai: “Pai, o que é depressão?”.


Dessa vez eu me perguntei, qual a razão de uma criança estar perguntando sobre depressão? Primeiro, achei que ele tivesse lido em algum lugar, mas não havia placas nem outdoor de propaganda na beira da estrada. Segundo, com sete anos eu até sabia ler, mas em uma velocidade muito lenta para captar frases a sessenta por hora. Assim como as outras perguntas, ele tirou essa de dentro de si. Eu não ouvi a resposta que o pai deu. Fiquei perdido em meus pensamentos tentando explicar para o meu próprio eu o que é depressão. Tentei achar uma explicação que fugisse do “depressão é uma doença” e comecei analisando a palavra. Tudo começa na “pressão”. Ou seja, a pessoa que tem essa pressão está em perfeitas condições físicas e psicológicas. Quando acrescentamos “de” na frente da palavra “pressão” dá até para sentir como a expressão sofre uma guinada de sentido. Antes provida de um força propulsora: “pressão”. E agora como um puxão para trás: “de”pressão”. Um puxão forte e independente. O sufixo “de” tem origem latina e quando colocado em frente a uma palavra quer dar o sentido de separação ou negação. Quando se “aprecia” algo você gosta, quando “deprecia” não gosta nenhum pouco. O mesmo acontece com “pressão” e “depressão”. Nesse sentido, consegui entender do que se trata a depressão, ela não é repreensão, não há ninguém desprovido de liberdade e também não se trata de estagnação não há ninguém imóvel. Depressão é um buraco que se cai sem que você queira estar lá dentro. Espero que o Dudu entenda isso um dia, e que o pai dele saiba lhe explicar, com sabedoria, da melhor forma possível.


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Você pode achar qualquer coisa sobre o sol, que ele é quentinho no inverno, que carrega um belo dia depois de uma tempestade, que ilumina as coisas da vida. Mas tem que concordar comigo que nem sempre dá para defender o astro rei, afinal ele é o corpo celeste que mais enche o saco do nosso sistema solar. Primeiro que Júpiter, Vênus, Marte e os outros planetas não fazem diferença nenhuma nas nossas vidas. Você não se pega pensando no Urano enquanto espera o ônibus na parada. Tanto faz se ele está lá ou não, não é um lugar que se dê para visitar nas férias de verão, até porque lá nem deve ter verão. Você também não vai ver nos telejornais a moça do tempo anunciando se vai fazer Mercúrio ou chuva amanhã. Por mais que se diga: “sim, os outros planetas são importantes nas nossas vidas”, você sequer agradece ao universo a existência deles. E se, por milagre, fica preocupado com o estado rochoso de Vênus está na hora de voltar o seu foco aos problemas sociais que acontecem na Terra, seria mais útil para a humanidade da qual o seu ser participa. Tanto faz o alinhamento dos outros na nossa galáxia, a não ser que você esteja se referindo a nós mesmo, no caso o planeta Terra ou então, esteja se referindo ao maldito Sol. Não que eu odeie o Sol, estou longe do odiá-lo, mas irei te provar como essa bola gigante de fogo tira onda com a nossa cara. Quantas provas são necessárias para te convencer que o Sol é o maior “trollador” do universo? Duas está de bom tamanho? Talvez três, bem fundamentadas? Ok, lá vamos nós! Primeiro! É segunda-feira e você está no seu escritório trabalhando já fazem três horas e faltam mais duas até o fim do expediente. O que o Sol, esse engraçadinho, faz? Fica! Isso mesmo, parece que ele permanece mais tempo do que o de costume, como se o Sol e a Terra parasse sua rotação por algumas horas só pro tempo não passar. E você acha que a bola de fogo, esse queridinho, acabou por aí? O que ele faz quando você finalmente saí do trabalho, às seis horas da tarde? Vai embora! Exatamente! Justo no momento que você teria tempo para aproveitar o seu brilho celestial, o bonitinho se vai. Acabou o dia meu bem!


Segundo! É janeiro e lá vai você caminhando, ao meio dia, até o centro da cidade para renovar a porcaria da carteira de motorista, afinal desatento com o corre, corre das férias, não viu o prazo de validade que acabou de expirar e não pode se sentar em um carro novamente antes deste trâmite burocrático ser resolvido. Como é que vai ir até a praia? E o Sol, o que ele faz? Dá um jeito de brilhar como nunca antes. Tudo fica tão quente, mas tão quente que você realmente acredita ser possível fritar um ovo no asfalto. E o grandão, lá em cima, rindo da sua mortalidade, te fazendo de churrasquinho humano no planeta Terra. Terceira prova de como o Sol sacaneia a gente tem a ver com a sua ausência. É sábado de tarde, você se arrumou para um aniversário surpresa de uma amiga que acontecerá dali meia hora. O que acontece justo na hora que põe os pés pra fora de casa? O Sol some e umas nuvens, que são suas aliadas, aparecem carregadas de chuva. O “mundo despenca”. Parabéns sol, por não brilhar hoje e me deixar todo molhado. Situações assim, ou semelhantes, já aconteceram com todos, afinal o Sol é o mesmo. Mas, talvez ele tire uma onda com a nossa cara para nos lembrar que não somos, nem de longe, donos deste planeta, não conseguimos nem dominar nossas vidas direito. E não é errado dizer que o Sol, um lugar que nunca vamos visitar, manda em nós mais do que percebemos. Obrigado sol, por ser tão...


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Quando não estamos pensando na tragédia estamos renegando a sua existência. Quantas vezes por dia nos lembramos que a vida vai, mais cedo ou mais tarde, acabar? A morte, a princípio, é sentida como um dos acontecimentos mais trágicos na vida de um ser humano. Assim como o “bom dia” corriqueiro às pessoas que encontramos pela manhã, pensar no fim da vida deveria ser um exercício diário. A morte precisa ser acreditada cotidianamente ou pelo menos lembrada como um acontecimento futuro e garantido. Pasmem! Mas, morrer é a certeza que afeta igualmente todos os seres vivos do planeta Terra. A diferença é que o ser humano é a única espécie que tem consciência desse fim. Sendo assim, “vamos rir, pois a morte é certa”, neste caso, vamos filosofar sobre a morte, pois ela é certa. Animais com suas capacidades intelectuais inferiores não ponderam sobre o dia da sua morte, mas usam seus instintos caçadores e suas habilidades reprodutivas para retardar essa realidade iminente e dar continuidade a espécie. O ser humano com sua massa cinzenta mais evoluída do que a dos animais, tendo capacidade de planejar e construir aviões; fundamentar com plenitude um posicionamento político ou religioso que lhe convenha; ler uma placa de trânsito sem nenhuma letra presente e ter conhecimento de seu significado, se dá ao luxo de ignorar a tão certeira morte, quando pelo contrário, deveria levá-la de fio condutor de suas ações em vida: “O que farei em vida até o dia em que ‘bater as botas’?”. Morrer é a última grande crise de um ser humano e o seu diferencial está no fato de que nenhum gerenciamento, nenhuma prevenção ou prece divina será a salvação deste acontecimento glorioso. Essa distância entre a vida e a chegada da morte se dá à partir do fato de que o ser humano evita, mesmo inconscientemente, pensar no pior e sendo a morte o pior, este assunto é banido ou na melhor das hipóteses, pouco comentado entre as pessoas. A primeira coisa que se tem a fazer é admitir que, como um ser humano vivo, um dia há de se morrer, bem como, seu pai, mãe, amigos, vizinhos, marido, gato, cachorro... Tendo essa percepção, que nada mais é do que o bom e velho conformismo, a crise aos poucos vai se tornando menos apavorante e o assunto “morte” começa a tomar uma forma mais amigável.


A negação de coisas péssimas é uma característica natural do ser humano. Ao renegar a conclusão da vida deixamos de dar importância ao seu início e ao trajeto até então percorrido. Uma pergunta que fica: se a morte fosse guia da experiência terrestre dos seres humanos, teríamos escrito a história da forma que ela se apresenta? Estaríamos vivendo o presente com as configurações atuais? “Credo, vamos parar de falar sobre isso!”. A tão temida, distante e lamentável morte foi deixada de lado, mesmo ela se fazendo presente em todas as gerações. Ignora-se a morte e em seu lugar é elencado uma prioridade mais “positiva”, igualmente destruidora da vida: o dinheiro.


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Percebi, nessas últimas andanças pelo interior, a relação das pessoas com alguns animais. A vaca, por exemplo, um bicho grande, dá leite e quando morta, carne. Alimentos de grande valor nutritivo. O porco. Não sei por qual razão deixa-se de tomar o leite da porca, talvez seja ruim ou o animal não costuma produzir em abundância como acontece com a vaca. Porcos servem para engordar e depois serem mortos oferecendo, assim, carne para os assassinos, digo, para o ser humano. Se falamos, rapidamente, da vaca e do porco, claro que não podemos deixar de lado ela, a galinha. Esse animal fantástico é muito menor que os anteriormente citados, mas nem por isso deixa de ser “carneada”. Não dá para pensar em galinha sem lembrar de seus ovos que são retirados dos ninhos e servem para tantas, mas tantas finalidades que faz crer que a galinha, dentre os três, é o animal com mais abençoado aos seres humanos. O que a torna o ser mais amaldiçoado para sua própria espécie. Porém, no interior existe um outro grupo de animais que fazem parte da feliz escolha, sabe se lá de quem, de não servirem como alimento ao ser humano. O cavalo é um bicho que ofereceria mais carne que a vaca e nem por isso é assinado. O cachorro ofereceria mais carne que uma galinha e permanece vivo até uma doença tomar conta de seu corpo, ser atropelado ou simplesmente morrer de velhice. Até mesmo os gatos poderiam ser mortos e cozinhados, mas não são. Por qual razão? Nessa minha visita ao interior entrei em contato com todos os animais citados e foi isso que me permitiu observar como eles reagem ao aprochego de uma pessoa. Começaremos com a vaca. Mesmo eu sabendo que o animal poderia acabar comigo em uma briga de “mãos” limpas a vaca se mostrou extremamente amedrontada com a minha aproximação, não quis saber, saiu de perto, correu pelo campo e ficou a uma grande distância. O porco no chiqueiro, coitado, não tinha para onde fugir quando me aproximei. O animal ficou grunhindo e não ousou tirar os olhos do meu corpo, suas orelhas em atenção para qualquer movimento meu. Assim como a vaca, manteve-se distante. Eu de um lado do chiqueiro e o porco do outro.


Com a galinha a experiência foi mais rápida, bastou ela me ver e saiu em disparado, correu para longe e seu único objetivo parecia manter a maior distância possível de mim. Cavalos me assustam e já ouvi dizer que eles conseguem sentir isso. Me aproximei daquele animal lindo e robusto, ele permaneceu parado a me olhar, não parecia demonstrar medo e nenhum sinal de que iria sair à galope dali. Diferente da vaca, o cavalo parecia saber que em uma briga limpa com o ser humano ele venceria. Ficamos ali a nos olhar, até eu cansar e sair, ele permaneceu. Com o cachorro, vocês devem imaginar, ao me ver a recepção do animal foi amigável. Pulava nas minhas pernas, abanava o rabinho, corria de um lado para o outro. Quando latia parecia ser de felicidade. O gato demonstrou indiferença. Não fugiu, mas também não fez questão de ficar por perto. A razão do primeiro grupo (vaca, porco e galinha) fazer parte daqueles que são assassinados e o segundo grupo (cavalo, cachorro e gato) daqueles que se salvam é a covardia do homem em fixar-se como um predador que caça somente as presas que, instintivamente, demonstram medo. O pavor que certos animais expressam perante um ser humano fazem deles uma caça fácil e dominadora. Com o fim dos dinossauros, os seres humanos ocuparam o topo da cadeia alimentar no planeta, mas como predadores desprezíveis escolheram atacar somente presas que demonstram terror a sua presença. Aqueles animais que desenvolvem sentimentos de alegria, indiferença, coragem ou que parecem ameaçar com maior vigor a vida humana não são convidados para o jantar.


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Dinheiro sujo pode nos remeter a um ato de corrupção e isso tem uma extensão gigantesca. Um dinheiro sujo pode ser aquele que o ladrão roubou ou aquele que advém do tráfico de drogas e nem por isso deixa de alimentar algumas famílias e destruir outras tantas. E o dinheiro limpo, afinal, qual seria ele? Aquele que não é sujo, óbvio! O salário do trabalhador, do sortudo que ganhou na loteria, daquele da aposentadoria. Mas até esse dinheiro é sujo e digo sujo, pensando na sujeira. Em outros termos não usem o sentido figurado na palavra sujeira e usem-a tal qual o seu significado. Dinheiro sujo é aquele pedaço de papel que contém muitas micróbios, bactérias e sabe se lá o que mais. O pior de tudo, sabe se lá da onde tanta porcaria surgiu. Não dá para negar que nossos dez dedos das duas mãos são a parte mais suja do corpo, elas passam e repassam por milhões de microrganismos que o saudável é nem dar bola à eles. Com o dinheiro a proliferação se potencializa. Quem nunca pegou uma nota de dois reais toda amassada? O papel chega a estar mole de tanto que sofreu. Parece que foi para a terceira guerra mundial e infelizmente sobreviveu para contar a história. Nas notas de cinco reais, a garça não voa mais, tem suas penas incrustada de sujeira, o mesmo acontece com a arara. Já parou para imaginar que os cinquenta reais que você carrega no bolso já foi usado para pagar uma prostituta? Algumas gramas de cocaína, o remédio para H1N1, o primeiro jantar da semana, o silêncio do moleque, o presente de um ano de namoro, a coroa de flores do pai que morreu, o adesivo da campanha eleitoral fraudulenta. Na fauna impressa nos papéis a Garoupa é a única que ainda se salva, pois a sua circulação de mãos em mãos é a menor. O beijaflor já foi até extinto. O mesmo dinheiro limpo que vem do seu salário, ontem mesmo foi roubado de uma senhora idosa que, também, recebeu seu salário.


Você usa vinte reais para pagar a passagem do ônibus, recebe o troco de dez reais do cobrador que insiste em dar uma leve lambidinha nos dedos para conseguir lidar com as cédulas com maior destreza. Mal sabe ele que os dez reais que acabou de separar com os mesmos dedos que levou aos lábios foi aqueles que caíram no chão do banheiro da balada enquanto a moça fazia xixi. Todo dinheiro é sujo, o histórico por onde a nota andou está impresso ali, porém é invisível e essa é a nossa sorte, pois se conseguíssemos enxergar as verdades que uma cédula de real trás consigo, jamais a tocaríamos.


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Parece piada, mas foi o que aconteceu. A vaca um dia estava lá e na manhã seguinte havia sumido. Perder um animal desses não é como perder as chaves de casa, estamos falando de uma vaca que pesa cerca de mil quilos. Claro que a explicação mais lógica é a de que alguém roubou a pobrezinha. Foi isso que fez o dono da vaca chamar a polícia e relatar o caso. Os policiais olharam o campo onde o animal deveria estar, examinaram as saídas, das mais óbvias até as mais improváveis para o bovino ter fugido. Perguntaram nos arredores sobre uma vaca preta e branca solta por aí e ninguém pareceu ter visto nada. Não havia marcas de pneus, tão pouco de patas no chão. Ninguém jamais falaria isso em voz alta, mas a verdade é que vaca simplesmente deixou de existir. Enquanto os policiais queriam dar o caso por encerrado alegando, de uma forma nada convincente, que a vaca tinha pulado a cerca (coisa que nesses anos todos nunca havia feito) e fugido para longe, o proprietário do animal alegava se tratar de um roubo noturno. Até mesmo as outras companheiras vacas, que dividiam o pasto e o cocho com a sumida, pareciam intrigadas com o desaparecimento repentino. Ninguém queria aceitar e eu não ousei tocar na teoria, se não seria o louco da turma, mas a verdade é que a vaca foi abduzida. É um relato comum e nada impediu que com esta vaca em questão seria diferente. A falta de pistas não apontavam nem para roubo nem para fuga, restou a abdução. Mas como não há forma de cobrar pelo sumiço do animal aos extraterrestres, ou seja a vaca é caso perdido, ninguém cogita essa hipótese. Claro que não havia nenhum sinal alienígena. Sem relato de luzes mirabolantes no céu e nem queimaduras arredondadas no gramado, mas isso não significa que a vaca não tenha sido sugada por um disco voador. E a partir da abdução passou a ter uma experiência de outro mundo que muitos seres humanos sonham em ter.


Me pergunto, diante desse caso sem solução, o que leva um E.T a raptar uma vaca? Quem acredita nessas histórias extraterrestres defende a tese de que seres de outros planetas curtem o ambiente rural, que eles se afastam das luzes da cidade para não serem vistos ou para não atrapalharem a vida humana na Terra. E o que mais se vê no campo? Vaca! O E.T olha para baixo e só conseguem ver um armento e o que resta a ele é pegar uma vaca mesmo. Qual é a serventia de um bovino no interior do OVNI aí é outra questão a ser analisada por aqueles que acreditam nessas histórias. O que dá para garantir é que uma vaca para os seres humanos costuma ter muita serventia, quem sabe para os seres de outros planetas elas possuem o mesmo significado: leite e carne. E se não possuem esse significado? Então, quem sabe, os alienígenas só querem salvar as vacas das terríveis garras humanas que fazem desse bicho refém de um cárcere que só termina com a morte do animal. Você já ouviu algum relato de vaca sendo raptada por aliens na Índia? Aposto que não! É que na Índia esse animal é sagrado e por isso não é sacrificado em grande escala como acontece em outras partes do mundo. Logo, se a intenção dos extraterrestres é salvar as vacas a Índia não é um lugar a se fazer isso, lá elas já estão salvas. Não sabemos das paixões dos alienígenas, mas vai ver eles são tão exóticos que se enamoran por vacas. É um animal bem fofo se pararmos para analisar. Teorias sobre abdução de vacas não faltam. Com tantos relatos dá para crer que este é o animal preferido dos extraterrestres. Não se rapta pato, cachorro, cavalo, ovelha, cabra, zebra… Até mesmo os animais como touros e bois escapam das garras dos alienígenas. É fato! Seres de outros planetas só se interessam pelas vacas, talvez elas sejam a espécie mais evoluída deste planeta.


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Como esta crônica conta com fatos históricos, o primeiro a se fazer é nos situar. Estamos em pleno século XXI, vivendo o auge da “liberdade”. Hoje uma mulher usando calças é algo super, hiper, mega comum. Mas nem sempre foi assim. As calças vestidas em um corpo feminino representam muito mais do que uma roupa da moda ou uma peça de tecido para cobrir o corpo, se adequando, assim, aos costumes culturais da sociedade em que essa mulher está inserida. Observe que estamos falando das mulheres de grande parte do mundo, mas não de todas elas. Temos aqui aquelas que vivem em São Paulo, Buenos Aires, Chicago, Moscou, Roma, Barcelona, Melbourne, Joanesburgo, Tokio, Vancouver, Caracas… Se as mulheres destas cidades e de tantas outras mais, usam calças é porque houve um movimento desafiadoramente grande há algum tempo. Dizem que começou em Paris, mas isso é difícil de precisar, em plena Revolução Francesa onde algumas mulheres pararam de usar a vestimenta tradicional da época destinada à elas. Tiraram as saias e vestiram as calças, quer sejam calças feitas por elas mesmas ou as calças dos maridos, pais, irmãos, tios e vizinhos. O fato interessante é que usaram calças e foram julgadas, presas e até mesmo mortas. Parece um fato difícil de acreditar. Por qual razão a calça, que nos anos 80 foi tida como a grande inovação da moda mundial, um dia foi condenada? Na América e Europa leis que proibiam o uso das calças para as mulheres caíram em desuso no instante em que elas foram vestidas e adoradas pela população. Mas, ainda hoje, lembrando que estamos no século XXI, existem leis que proíbem o uso dessa vestimenta. Como por exemplo, no Sudão onde se acredita que calças em corpos femininos significa um gesto obsceno que incita o crime. Não se podia usar calças. Calças é coisa de homem. Vejamos pelo outro lado e tendo como base a realidade Contemporânea. Um homem que usar um vestido ou uma saia não é proibido nem punido, mas certamente correrá o risco de ser amplamente julgado e sua sexualidade posta em uma discussão pré-conceituosa. Sem falar da desconstrução que esse homem sofrerá, como se o fato de estar usando saia o transformasse em um animal de outro planeta.


A expressão: “Honre as calças que você veste” geralmente está associada a um ato de coragem masculina. A expressão vem do machismo e com ela surge a desvalorização da saia, oposto de calça e que era usada unicamente pelo sexo secundário. A herança dessa cultura podre ainda é sentida. Não quando uma mulher veste suas calças, mas sim quando um homem veste seu vestido. “Homem que é homem não usa saia”. Grande besteira! Há de chegar a vez do sexo masculino passar pela prova de fogo que as mulheres passaram no XVII e terem, eles, a liberdade de andarem pelas ruas usando suas saias e vestidos. Afinal, nem a calça é um artigo exclusivamente masculino e nem a saia é um exclusivamente feminino. Claro que não podemos comparar o choque de realidade das mulheres usando suas calças pelas grandes cidades do mundo e sendo perseguidas por homens polícias por infringimento a lei. Para os homens, a coisa vai ser mais fácil, como sempre foi. Não existe nenhuma lei que proíba o sexo masculino de usar vestidos, a não ser a lei machista. Falta nos homens hoje o que as mulheres na Revolução Francesa tinham: a coragem. Uma vez que elas experimentaram as suas calças e sentiram o prazer, a praticidade e a elegância que essa peça proporciona, não deixaram de usá-las, nem que para isso fosse preciso enfrentar o mundo. E elas o enfrentaram em prol da sua liberdade. Já os homens… Então lembre-se, mulheres, que se hoje vocês vestem suas calças jeans é porque muitas das suas antepassadas lutaram por esse direito. Toda vez que puxar o tecido para cima lembre-se de agradecê-las. Uma mulher não pode se sentir inferior ao sexo oposto. Caso isso aconteça, basta lembrar que são eles quem ainda não assumiram as suas saias por faltar-lhes a coragem.


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Depois de dividir o mundo em duas partes, aqueles que acham que faz mal à saúde e aqueles que acham que faz bem, o café segue para uma nova discussão, que pode ser até anterior as questões relacionadas à saúde. Com ou sem açúcar? Há quem se negue a dissolver meia, uma ou duas colherinhas de açúcar no preto profundo do café. Há quem ache o café sem um adoçante é intragável. De um lado os tradicionais tomadores de café que o apreciam tal qual ele é, do outro lado os tradicionais tomadores de café que o apreciam com um adocicar que, segundo eles, tornam a bebida ainda melhor. Se no arroz branco se adiciona sal para dar gosto. Se na salada de alface se adiciona vinagre para dar gosto. Qual é o mal em adicionar açúcar no café para dar gosto? Muitos dizem que com a presença de algum adoçante o que resta ao sabor amargo e característico do café é se ausentar. Perde-se toda a elegância do grão. Os mais extremistas admitem consumir o café até mesmo gelado, porém nunca adocicado. Colocar açúcar nada mais é do que adaptar a bebida amarga a um gosto mediano e já conhecido. Muitos dos alimentos que consumimos no cotidiano são, salgados ou doces. O café não se encaixando em nenhum desses extremos, ele sai à regra e talvez seja por isso que a bebida é tão singular. Para adaptar o café ao paladar fabricado em nossas línguas, ou doce ou salgado, o café é submetido ao açúcar. E dessa forma ele deixa de ser estranho às papilas gustativas e se transforma em apenas mais um sabor doce. Não há de se duvidar que alguma pessoa, em algum momento da história, experienciou pôr sal no café. O resultado, como devem imaginar, foi um desastre. Então, apelou-se ao açúcar e o casamento foi perfeito, amargo e doce juntos. Dá até para imaginar como essa junção se deu. Um ofereceu a bebida desconhecida para o outro que tomou e fez careta: “credo que coisa mais ruim! Que porcaria mais amarga… E se colocar açúcar, será que melhora?”. Para um dos dois melhorou e o outro preferiu continuar a beber seu café sem a açúcar. Mal sabiam eles que ali nascia a maior batalha cafeinada da história da humanidade.


Depois que o café se tornou popular os fabricantes de açúcar, é claro, incentivaram o uso do adoçante na bebida e essa prática pegou, se tornou comum. Hoje em dia o café com açúcar é até mais popular que a sua forma mais primária. Os humanos já tragam tantas coisas amargas no cotidiano, mais uma bebida com essa característica seria uma péssima ideia. Então o açúcar, vilão disfarçado de melhor amigo, ajuda a pôr o café dentro dos parâmetros aceitáveis de um paladar já afetado. São poucas, e a tendência é diminuir ainda mais, as pessoas que bebem café sem açúcar e que seguem o mandamento de que só água quente é que se acrescenta ao grão moído. O café puro e o adocicado são amados e odiados, céu e inferno, malvado e bondoso... Em uma sociedade em que nada mais é preto no branco, oito ou oitenta, sim ou não, o café segue sendo com ou sem açúcar e essa batalha está longe de terminar, mesmo quando os indícios já indicam um vencedor.


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Só hoje, em quantos lugares diferentes você se sentou? E durante a semana? Durante o mês, consegue se lembrar? E em quantos lugares diferentes, em um ano, você se sentou? Sentar-se é estar. Senta na cadeira da cozinha, no banco do carro, moto ou caminhão. Senta na fila do banco, na parada de ônibus, na espera do correio, na cadeira do trabalho, no plantão do hospital, na escada, no chão e até na cama, onde achava que só se deitaria. Senta pra votar, pra pescar, pra assinar o documento do casamento e o da separação. Senta no banco da praça pro sorvete ou na grama. Senta onde estiver lugar e quando não há fica a procura de um pra sentar. Senta pra assistir filme, pra jogar video-game, pra comemorar o aniversário do amigo, pra velar o corpo da avó que se foi. Senta quando se está cansado de ficar de pé e quando não se está, senta do mesmo jeito. Não tem como saber, por mais que se aperte a memória, em quantos lugares diferentes já sentou. Todas as coisas ou a grande maioria delas, é planejada para que se possa sentar. A impressão que dá, ao olharmos para nosso corpo, é que ficar de pé é a condição mais natural do ser humano, mas se não estamos deitados, estamos, quase sempre, sentados. Desde o vaso sanitário até o sofá da sala. Em um ônibus lotado a maior regalia que se tem é a de poder sentar. É rei quem senta e não precisa viajar de pé lidando com o empurra-empurra das pessoas, os buracos da rua e as curvas da estrada. Quando reparamos nesse gesto tão comum dá para perceber que fazemos parte de certos lugares. Dá para notar, também, que já fizemos parte de outros tantos. Quando pequenos, sentamos no balanço do parquinho da cidade, depois de adulto esse lugar nem nos reconhece mais. A cadeira da escola nunca mais se vê. Há lugares que sentamos muitas e muitas vezes, há outros que sentamos em uma única oportunidade, outros tantos que nunca iremos sentar. Em pensar que o homem foi à lua sentado. E se parar para considerar, qual será o próximo lugar que vai se sentar?




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