Aliaksandra pushchanka

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Aliaksandra Pushchanka

O artigo abaixo representa uma reflexão do trabalho voluntário realizado na Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, revelando e meditando sobre algumas ideias trocadas durante as reuniões da Comissão de Trabalho em Marketing Internacional.

Belo Horizonte — a cidade que conquistará

Samba desassossegado e bossa nova saudosista, mar tentador e praias paradisíacas, futebol irresistível e carnaval encantador, flora poderosa e fauna colorida, folclore miscigenado e obras de Amado, picanha fina e caipirinha enganadora, arquitetura moderna e história aventureira… Tudo isso é o Brasil. O Brasil que todo mundo conhece e todo mundo vem procurar. Vem procurar no Rio de Janeiro, em São Paulo, na Bahia, no Ceará, no Amazonas e acha embaixo dos alegres Arcos da Lapa, ao longo das praias de Ipanema e Jericoacoara, no Maracanã iluminado, nas arquibancadas carnavalescas de Salvador e ruas romanescas de Ilhéus, churrascarias gaúchas e botecos mineiros, em larga Brasília e alto São Paulo, nas florestas selvagens e no Encontro das Águas manauenses… Atraídos por todas essas maravilhas e dirigidos por aspirações empresariais, mais que cinco milhões de turistas vêm ao Brasil anualmente. Como se sabe amplamente e como se pode assumir pela minha introdução lisonjeira, os principais destinos de turismo internacional no Brasil são tais lugares como o Rio de Janeiro, São Paulo, Foz de Iguaçu, Salvador, Brasília, Florianópolis, Búzios, Manaus, Fortaleza, Porto Alegre. É evidente que todos esses lugares possuem alguma peculiaridade que, através da sua primária fama no interior, chegou ao exterior e acabou atraindo os turistas estrangeiros em grande escala.


Devido à sua distante localização para tais tubarões do turismo internacional — como são os norte-americanos, europeus, japoneses e australianos, o Brasil recebe muito menos visitantes do exterior do que é capaz. Assumindo que a média duração de férias de que um individuo pode se dar o luxo de passar no Brasil é de uma semana a um mês, no máximo, podemos concluir que os alvos de tal individuo seriam os destinos brasileiros mais conhecidos mundialmente. Além disso, o enorme tamanho do Brasil não permite a visitação de todos os grandes destinos de uma só vez, e por isso, no caso de prováveis viagens seguintes, o nosso médio individuo voltaria para cobrir as outras maiores atrações que não tinha visitado anteriormente. Por exemplo, na sua primeira viagem ele poderia viajar ao Rio de Janeiro, Búzios, São Paulo e Brasília, e na sua provável segunda viagem ele iria aproveitar as maravilhas do nordeste do país, indo para Porto Seguro, Salvador, o Recife, Jijoca de Jericoacoara e Fortaleza, e na sua menos provável terceira visita ele iria ao Amazonas. Também não podemos nos esquecer da possibilidade de poder frequentar os mesmos locais de vez em quando sendo encantado por aquela coisa muito especial que aquele lugar oferece. Temos inúmeros turistas que preferem voltar ao estado do Rio de Janeiro cada vez que aparece uma oportunidade de viajar para o Brasil. Desse modo, temos um reservado circuito de turismo internacional no Brasil. O certo grau de desenvolvimento da infraestrutura turística presente nos principais destinos brasileiros automaticamente contribui ao maior divulgação da sua fama internacional, e resulta na atração números ainda maiores de visitantes a cada ano. Por outro lado, o sistema de atendimento turístico pouco desenvolvido nos outros locais, que têm certo potencial turístico, de forma nenhuma não contribui à quebra deste círculo vicioso da concentração de turistas estrangeiros no Brasil. É claro que o problema descrito acima não é exclusivamente brasileiro. De alguma maneira existe em todos os países do mundo. Então porque devemos lhe prestar a nossa atenção? Em vários lugares do mundo inteiro os habitantes, empresários e autoridades locais quebram cabeças para encorajar, atrair e estimular o turismo internacional, encarando a competição esmagadora vinda do lado dos famosos destinos compatriotas.

Sem dúvidas, todos os destinos que lutam pelo seu

reconhecimento mundial têm suas belezas únicas e marcas registradas que às vezes valem muito mais do que as atrações principais de grande turismo.

Nada de


especial. A situação é bem comum e bem indissolúvel. Porque teríamos que nos focar nesta habitualmente dramática situação da escassa visibilidade internacional de alguns destinos brasileiros que inteiramente merecem ser reconhecidos e procurados? A resposta é que hoje em dia o Brasil, mais que qualquer outro pais do mundo, é capaz e disposto a intensificar a sua rede de destinos de turismo internacional introduzindo os novos jogadores no campo. Os dois eventos esportivos mais importantes e populares no mundo – a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014™ e os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos Rio 2016™, vão ser realizados no Brasil um após o outro em 2014 e 2016, respectivamente. A Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014™ será hospedada em doze capitais brasileiras, enquanto as Olimpíadas de 2016 serão realizadas primeiramente na cidade do Rio de Janeiro com algumas partidas de futebol realizadas nos estádios de São Paulo, Belo Horizonte, Brasília e Salvador.

É óbvio que o acontecimento desses dois

eventos esportivos de tanta importância tenha o impacto excepcional sobre vários aspectos do país, dando-lhe um destaque extraordinário. Apesar de que os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos Rio 2016™seja um acontecimento positivo para todo o Brasil, sua maior parte será o evento de uma cidade só – o Rio de Janeiro. Todavia, a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014™ envolve a participação ativa de várias outras cidades brasileiras declarando-se como um evento que seja realmente nacional. Por isso, a partir daí eu gostaria de me concentrar no último evento, realçando a sua importância no desenvolvimento do turismo brasileiro. Porto Alegre, Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Cuiabá, Salvador, Recife, Natal, Fortaleza, Manaus são as doze sedes da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014™. Podemos dizer que pelo menos três capitais brasileiras: Curitiba, Belo Horizonte, Cuiabá, até agora não tanto participativas do turismo internacional no Brasil, vão fazer a sua estreia para a maior parte dos amantes e profissionais de futebol do mundo. Dessa maneira, a hospedagem de algumas partidas da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014™ trará uma oportunidade única a essas cidades de se registrar no palco mundial e ganhar certa visibilidade internacional. Assim terão a oportunidade de atrair os seus turistas potenciais em grande escala.


Após algumas viagens a curto e longo prazo que eu fiz à cidade de Belo Horizonte, e principalmente o meu trabalho voluntário na Secretaria Municipal Adjunta de Relações Internacionais da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, obtive experiências e conhecimentos que me permitem analisar o trabalho feito em relação ao desenvolvimento da imagem internacional dessa cidade. Belo Horizonte – a capital do vasto estado de Minas Gerais. Fundada em 1897, cresceu e alcançou uma população de cerca de 2.300.000 habitantes sendo a sexta cidade mais populosa do Brasil. As suas avenidas largas do centro geometricamente perfeito, fora o qual os bairros adquiriram formas mais relaxadas seguindo os morros íngremes, a tranquilidade dos seus parques, praças formosas, seus verdadeiramente belos horizontes ao pôr do sol, sua mistura espetacular de vários estilos arquitetônicos, tradição literária, inúmeros botecos, gente hospitaleira e amigável – é uma cidade muito tranquila e agradável, contudo bastante empolgante, para viver. Viver, mas até agora não para visitar. Belo Horizonte tem se esforçado ao longo dos anos para receber uma apropriada atenção internacional, mas sempre cedeu aos gigantes turísticos brasileiros. Como dá para perceber, a maioria dos destinos mais populares do Brasil é situada no litoral, atraindo todo o mundo pelas suas belas praias. São Paulo, sendo um fenômeno de urbanismo mundial, e Manaus, com sua beleza amazônica, não sentem falta da presença do mar em termos de atração dos turistas. Não obstante, parece-me que Belo Horizonte constantemente sente a ausência do mar culpando-a inconscientemente pelo pouco sucesso no palco turístico. Até o famoso “não tem mares, tem bares” leva em si o esforço contínuo para enfrentar e tentar equilibrar o irresistível poder das cidades litorâneas. Mesmo assim, apesar de ser a capital nacional de botecos, tendo mais bares per capita do que qualquer outra cidade no Brasil e provavelmente no mundo, Belo Horizonte não chegou a desfrutar do grande movimento de turismo internacional por este meio. O Rio de Janeiro tem as melhores praias, São Paulo tem a sua essência vibrante, Salvador ressoa o carnaval, Manaus domina a boa parte da Bacia do Rio Amazonas, mas o que é que tem você, Belo Horizonte? Pois essa é a grande pergunta. E, agora, nas vésperas da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014™ é necessário que se ache a


resposta de uma vez e para sempre. Com as seis partidas, inclusive a semifinal, planejadas para ser realizadas na cidade, Belo Horizonte atrairá o número de turistas maior que já viu em qualquer outra hora da sua existência. Os visitantes das cidades serão os canais pelos quais a informação sobre a cidade poderá atingir o resto do mundo e provocar a sua curiosidade em conhecê-la. Sendo um evento de ocorrência única, a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014™ será como se fosse um portal para uma coisa potencialmente maior e duradoura – popularização de Belo Horizonte como um destino turístico. Desta forma, a questão, em que a administração da cidade faz ênfase, não é de como a Copa ocorrerá, mas o que será após a Copa, com o primeiro sendo os meios para o último. Por isso, a formação de uma identidade turística de Belo Horizonte há de estar pronta na hora da Copa do Mundo pois depois será muito tarde e o portal fechará sem ser usado. Durante o meu voluntariado, eu cheguei a classificar os dados do questionário geral sobre Belo Horizonte oferecido ao grupo de vinte e seis estudantes estrangeiros que ficaram na cidade por um mês. Foi uma mini-pesquisa muito interessante que me deixou justificar as minhas próprias opiniões em relação à imagem da cidade. Além disso, ajudaram-me a ver mais claramente quais são os seus poderes e desvantagens. Conforme a classificação dos resultados do questionário em termos dos prós da cidade, a famosa hospitalidade e simpatia dos habitantes vêm em primeiro lugar. Embora seja um traço encontrado e em Governador Valadares, Sete Lagoas, Divinópolis e qualquer outro lugar de Minas Gerais, é indubitavelmente um grande bônus a Belo Horizonte. Pode ser que é um pouco ousado basear a identidade de uma cidade em um mérito que pertence ao estado inteiro, mas ao mesmo tempo existem praias muito mais interessantes no resto do Brasil do que as do Rio de Janeiro. Contudo, é a especialidade turística da cidade. Todavia, quanto aos bens mineiros, Belo Horizonte deve se abstrair das cidades históricas de Minas Gerais, as quais já têm se apresentado suficientemente para aproveitar as regulares visitas turísticas. À vista disso, Belo Horizonte recentemente se serve de uma escala para os turistas no seu caminho a Ouro Preto ou a Tiradentes. Desse modo, os próprios belo-horizontinos automaticamente atribuem, por exemplo, Ouro Preto às boas características de Belo Horizonte. Assim não chegaremos a nada. Belo


Horizonte precisa conhecer, sortear e realçar os seus próprios méritos para poder apresentar-se ao mundo inteiro dignamente. É verdade que haja certa dificuldade em encontrar aquela peculiaridade única que fará a cidade inesquecível e inconfundível. Belo Horizonte tem vários méritos, mas infelizmente são pontos espalhados sem nenhuma ligação harmoniosa. É preciso achar aquele elo essencial que una e defina a identidade de Belo Horizonte. Agora nem estou falando da identidade turística, mas a identidade dos próprios belohorizontinos como cidadãos, que hoje parece bem embaçada. Antes dos cidadãos verem e sentirem os seus poderes clara e plenamente, não há grande futuro após a Copa. Por isso é fundamental que ocorra uma percepção em massa do que está acontecendo, acompanhada por uma colaboração em massa. Belo-horizontino, basta de ficar perdido, pensando em que mostrar ao seu raro amigo do exterior que vem o visitar! Não o limite somente aos chopes e tira-gostos nos botecos e bares! E, pelo amor de Deus, não o leve para Ouro Preto desesperadamente no segundo dia dos três da sua estadia! Vá ao Palácio do Governador da Praça da Liberdade (onde você nunca foi também), vá ao Museu das Minas e do Metal, volte ao Parque Municipal depois dos dez ou quinze anos sem retornar, e faça de uma vez um passeio bom em volta da Pampulha! As coisas estão acontecendo na sua cidade e precisam que você as note. Voltando aos dados da mini-pesquisa, gostaria de mencionar que o segundo assunto mais elogiado de Belo Horizonte é a variedade gastronômica. Os famosos bares e botecos, curiosamente, foram mencionados apenas três vezes com muito mais depoimentos positivos dados aos restaurantes e feiras citadinas por sua variedade de opção gastronômica, qualidade e preço bom. O fato dos botecos, a marca registrada belo-horizontina, não se achar suficientemente nos comentários de um grupo de jovens turistas, mesmo que sejam apenas vinte e seis pessoas interrogadas, é um fato que merece reflexão. Entre outras coisas mencionadas como poderes da cidade são (conforme o grau de popularidade): limpeza, feiras de rua, variedade de programação cultural, espaços verdes, museus, estrutura e planejamento da cidade com a relativamente fácil


navegação e possibilidade de andar e praticar esportes ao céu aberto, paixão da cidade pelo futebol, segurança, arquitetura, impecável serviço prestado pelos empregados do setor (setor do serviço – não quis repetir a palavra “serviço” duas vezes, ajude-me por favor!). Quanto aos setores a melhorar da cidade, a maior desvantagem de acordo com os dados do questionário é o perigo de mobilidade à pé, causado pela falta de respeito dos motoristas pelos pedestres e nível insuficiente de organização de faixas e semáforos. A seguinte desvantagem mais mencionada é o grande número de desabrigados estabelecendo-se diretamente nas ruas do centro de Belo Horizonte, que muitas vezes prejudica a percepção e aproveitamento das praças, parques e arquitetura da cidade. Depois segue o infame transporte público e trânsito sobrecarregado. Do ponto de vista de um visitante da cidade, o sistema de transporte público é geralmente desconfortável, incompreensível e desfavorável em relação aos turistas.

Isso nos leva à pobre organização geral de atendimento

turístico com a grande falta das informações. Falta de conhecimento de línguas estrangeiras, observada em Belo Horizonte, também não faz bem à boa recepção dos turistas, especialmente os em grande número da Copa do Mundo. De modo geral, os pontos falhos de Belo Horizonte são bem claros e conscientizados pelos habitantes e autoridades da cidade. Algum trabalho já foi e está sendo feito a respeito dos problemas acima mencionados. São problemas puramente técnicos e, com certo esforço nas estruturas apropriadas, são realmente solucionáveis. Sinceramente espero que a Prefeitura Municipal de Belo Horizonte consiga abordar os problemas da cidade com grande sabedoria e atenção, e não demore a fazê-lo. Agora, retomando o problema ideológico da cidade, gostaria de notar o trabalho que a Prefeitura Municipal de Belo Horizonte faz em termos de marketing internacional. Primeiramente, a existência do próprio Programa Voluntariado Internacional da Prefeitura Municipal, do qual eu sou a participante, já é uma ferramenta eficaz. Ambos os voluntários estrangeiros e os servidores e funcionários da Prefeitura desfrutam da experiência uns dos outros. Os voluntários estrangeiros ganham uma oportunidade excepcional de trabalhar em uma secretaria municipal, participam de


vários projetos e rotina cotidiana, assim chegam a conhecer a cidade de dentro e espalham as informações ao voltar aos seus países. Enquanto isso, a Prefeitura se enriquece com as ideias e opiniões dos voluntários realizando abordagem de alguns assuntos com pensamento out-of-the-box. O exemplo óbvio de empenho da Prefeitura Municipal no diálogo internacional é este artigo, que cada voluntário há de entregar para finalizar o programa e que depois pode ser encontrado na página web da Prefeitura Municipal. Além do programa do voluntariado internacional, gostaria de elogiar as mensais reuniões da Comissão de Marketing Internacional constituído por representantes de várias secretarias e autarquias municipais. Tais encontros geralmente compreendem apresentações de trabalho relacionado à visibilidade internacional de Belo Horizonte, discurso de um hóspede independente, debate e brainstorming sobre o assunto da identidade belo-horizontina. Fora isso, cada secretaria municipal tem inúmeras tarefas pois a hora crucial está se aproximando. Desta maneira, a Secretaria Municipal Adjunta de Relações Internacionais está se esforçando em preparar as bases de atração para maior atenção e número de visitantes ainda antes e, naturalmente, durante a Copa. Isso envolve tentativas de registrar o nome de Belo Horizonte pelos vários canais de comunicação social através de participação de concursos e prêmios mundiais, atração de famosos jornalistas e empresários, que pudessem ajudar no processo da popularização da cidade. Enfim, na direção ideológica da preparação para a Copa do Mundo há muita excitação e movimento. De novo espero que e nesse palco a administração de Belo Horizonte saiba agir com até maior entusiasmo, perspicácia e criatividade. Ao final, gostaria de exprimir o meu desejo de que Belo Horizonte alcance os seus objetivos, pois o merece inteiramente. E antes da cidade começar a mudar e eu não a reconhecer na minha próxima visita, eu queria recordar-lhe da importância da noção de meio-termo. É indiscutível que o aumento de turismo seja muito benéfico para a cidade. Contudo, carrega o perigo de ferir a sua autenticidade e se dissolver no mainstream tedioso e de baixa qualidade. Belo Horizonte, encontre a sua vocação turística, cresça, evolua, mas permaneça serena, ousada, unida, tão “ovo” e fiel à sua tradição e essência!


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