LUCY BERHENDS _________________________ __________________________
DESTINADA A SEDUZIR A RENDIÇÃO
Copyright © Berhends, Lucy Todos os direitos são reservados à autora, sendo esta uma produção independente. É uma obra de ficção e qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência. 1ª Edição. Formato digital Julho de 2015 Capa: Magic Capas Revisão: Lucy Berhends
luberhends@bol.com.br https://www.facebook.com/autoralucyberhends
Agradecimentos
A série Destinados surgiu da necessidade que eu tinha de colocar para fora um turbilhão de estórias e personagens que precisavam ganhar vida. Sempre fui leitora assídua e me perguntava como funcionava esse processo de escrever. Posso garantir a cada leitor que nós, escritores, viajamos na estória assim como quem lê. Eu ri, eu chorei, me emocionei diversas vezes com os conflitos vividos por meus personagens. O sonho de cada escritor é poder transmitir um pouco dessa emoção que ele sente no decorrer da narrativa. Me sinto realizada lendo e me sinto também escrevendo. Obrigada a todos que apreciaram as leituras dos livros anteriores e por tantas mensagens carinhosas que tenho recebido. Este livro tem um diferencial que é uma playlist sugerida por capítulo. Se possível, leia ouvindo a canção. Espero que sorriam, chorem e se emocionem com mais essa estória escrita com muito amor.
Boa leitura!
Lucy Berhends
SINOPSE
Frio. Zeus Melino é o cantor de uma banda de rock em ascensão e não tem interesse em se prender a uma só mulher agora. Para que ter uma se eu posso ter todas? É o que ele pensa. Fria. É como Jéssica Katherine se tornou depois de presenciar sua mãe morrendo por amor e de flagrar o homem de sua vida com outra. Seu lema agora é nada de relacionamento, namoro, muito menos amor. A mudança em suas vidas acontece a partir do momento que seus olhos se cruzam, dominados por um forte sentimento que pode levá-los a questionarem suas próprias convicções. Eles poderiam aprender a amar? Seria o amor mais importante que seus medos e anseios? Descubra e renda-se a mais uma estória que vai além do sexo, drogas e rock´n roll.
PLAYLIST Prólogo: Enquanto houver sol – Titãs 1. Primeiros erros – Kiko Zambianchi 2. Quem tá solteiro nunca fica só – Thiago Silva / Sergio Jr. / Bruno Cardoso 3. Toda forma de amor – Lulu Santos 4. Coleção – Cassiano 5. Anjo bem – Saulo Fernandes 6. Nocaute – André Vox 7. Jéssica – Bebeto 8. Sei – Nando Reis 9. Só por uma noite – Charlie Brown Jr. 10. Fixação – Leoni / Beni / Paula Toller 11. Mármore – Bruno Caliman 12. Eduardo e Mônica – Renato Russo 13. Cartório – Tierry Coringa / Magno Sant'Anna 14. Amo até o céu – Gabriel Gava 15. Gostava tanto de você – Tim Maia 16. Eu nunca disse adeus – Dinho Ouro Preto 17. Diz pra mim – Bruno Boncini 18. Aí já era – Jorge Alves Barcelos 19. The only exception – Hayley Williams, Josh Farro 20. Pedindo perdão – Lucas Silveira 21. Amor pra recomeçar – Frejat / Mauricio Barros / Mauro Sta. Cecília 22. It will rain – The Smeezingtons 23. Cê topa? – Luan Santana, Douglas Cezar, Caco Nogueira, Dudu Borges
Epílogo: A Thousand Years – Christina Perri
Prólogo
Ela
Música do capítulo: Enquanto houver sol – interpretada pelos Titãs
Seis anos antes...
Felicidade. Se alguém me pedisse para definir esta palavra, eu diria que Jéssica Katherine Rios seria a melhor definição. Eu era o protótipo do sentimento mais buscado pela humanidade. Minha vida não poderia estar mais perfeita. No alto dos meus dezoito anos, tenho um namorado que amo e que corresponde ao que sinto com muita intensidade. Gabriel. Meu Gabi. Nosso namoro já dura dois anos e ele é o homem que qualquer garota gostaria de ter ao lado. Lindo, sexy e apaixonado. Vejo como todas babam quando saio com ele. Sinto que já encontrei o homem com quem passarei o resto da minha vida. Estou no segundo semestre de administração e estou realizada com o curso. Os meus planos são de montar um ateliê de moda e fazê-lo prosperar através de um diferencial que ainda preciso descobrir. E irei descobrir. Além de lidar com números, gosto de desenhar, principalmente looks completos. Não consigo visualizar em minha mente uma determinada roupa sem completar com o sapato perfeito. Gosto de tudo por inteiro. Além de estar realizada em vários sentidos da minha vida, tenho também um grande irmão com quem posso contar. Maurício é quatro anos mais velho do que eu e a pessoa mais importante que tenho no mundo.
A única coisa que me entristece é a nossa mãe. O meu pai faleceu quando eu tinha quatorze anos e ela até agora não se conforma com a perda. Ele era das Forças Armadas e precisou chefiar uma missão da ONU no Haiti. Alguns morreram e o meu pai foi um deles. Eu havia lhe implorado para que não fosse, mas ele sempre dizia que nunca desistia de uma missão. Ele foi e nunca mais voltou. Cada pessoa aprende a lidar com a dor de seu jeito. Eu busco estudar para dar orgulho à memória dele, como sempre me pediu quando estava vivo. A minha mãe não soube reverter a sua dor para algo tão positivo. Ela recebe uma pensão vitalícia, o que lhe permite ficar sem trabalhar, e simplesmente resolveu gastar quase todo o dinheiro com bebidas, jogos e, ultimamente, homens. Homens, não, perdedores. De vez em quando a pego com um deles em casa, ambos bêbados e sempre o coloco para fora. Ela nunca discute comigo ou com Maurício e os caras acabam indo quando veem sua submissão aos filhos. Ela chora depois que eles se vão e eu sei que não é pela perda de mais um traste. Ela chora porque não consegue anestesiar a dor da saudade, dos momentos vividos com meu pai, das lembranças felizes em família. Eu também choro às vezes no meu cantinho, mas desde a morte dele, sempre soube que teria que ser forte por mim e por ela, então sempre tento lhe consolar e passar ânimo. Atualmente, apenas uma coisa está arranhando a minha redoma de mundinho perfeito: as dívidas de jogos de dona Hortência. A grana tem entrado cada vez menos em casa e meu irmão tem trabalhado muito para ajudar. Eu já estou pensando em procurar algum trabalho de meio período para dar uma força também. Do jeito que as coisas estão indo, provavelmente teremos que interditá-la ou nem mesmo teremos dinheiro para comer. A pensão daria mais que suficiente para ter uma boa vida, porém evapora antes mesmo de entrar na conta. Naquele dia, estava saindo da faculdade com minha amiga Clara Jensen. Nos tornamos mais que colegas de turma e de vez em quando ela me dava uma carona para casa. Seus pais são donos de
uma grande empresa e ela seria a sucessora natural da família. Já estava no sangue. Ela com certeza se tornaria uma grande administradora. Meus planos eram de almoçar e depois passar a tarde na casa de Gabi. Ele já está com vinte e quatro anos, é publicitário e já tem seu próprio apartamento. Me disse que talvez ficasse trabalhando em casa hoje e decidi lhe fazer uma surpresa. Espero que esteja em casa. – Jel, por que não passa o dia comigo lá em casa? Nós poderíamos almoçar e depois pegarmos um cineminha. O que acha? – Clara me perguntou. – Hoje não vai dar, Clarinha. Tenho outros planos para esta tarde e tenho que terminar a pesquisa de Teoria Geral. Fica para a próxima. – Está certo. Sei que tem um namorado delicioso e provavelmente está me dispensando para ficar com ele. Eu faria o mesmo, mas ache um tempinho para as amigas, ok? Às vezes me sinto tão só. Vamos esticar por aí qualquer dia. – Claro, vamos sim. Paisagens bastante conhecidas passavam pela janela ao lado do carona. Eu já estava chegando ao meu destino. Clara parou em frente à minha casa e se despediu de mim com um beijo no rosto. – Obrigada, Clara. Fico te devendo mais essa. Ela sorriu e piscou um olho. – Você sabe como pagar. Até amanhã. Seu carro foi se afastando da minha frente e eu fiquei de pé olhando até que ele sumisse. Sorri comigo mesma com a ideia de uma garota tão rica e bonita se sentir sozinha como ela afirmava. Sei que não é bem assim, pois ela tem uma amiga muito próxima chamada Brisa. Clara sempre foi um pouco dramática. Suspirei em saber que logo, logo estaria nos braços do homem que tanto amava e que fazia com que me sentisse a mulher mais amada do mundo. Meu. Aquele homem lindo é todo meu. Me senti orgulhosa por essa conquista com um sorriso que não queria abandonar o meu rosto.
Caminhei em direção à minha casa. Geralmente a minha mãe estava dormindo quando eu chegava, pois o seu estilo de vida fazia com que dormisse de madrugada todos os dias. Às vezes, ia para a faculdade e ela estava chegando da farra. Eu ou Maurício sempre fazíamos o almoço no dia anterior e já deixava pronto para quando eu voltasse. Se não fizesse isso, não encontraria nada para comer. Nem ela. Me aproximei da porta e ouvi o som do rádio tocando como acontecia todos os dias. Ela gostava de dormir com o rádio ligado. ‘Com certeza ainda dorme, não é, dona Hortência?’- Falei comigo mesma. Abri a porta da sala e olhei para os lados na esperança de vê-la acordada. Eu preferia que estivesse, pois a forçaria a se alimentar. Porém, não havia qualquer sinal dela e apenas o som de uma música sertaneja enchia o ambiente. Dei dois passos para dentro e joguei a minha bolsa no sofá. Fui até a cozinha e enchi um copo com água, entornado todo o conteúdo goela abaixo de uma vez só. – Mãe? – Chamei esperando que já estivesse acordada na cama. Ela não respondeu e resolvi ir até lá para conferir. À medida que caminhava, ouvia pequenos sussurros como se os interlocutores não quisessem que lhes escutassem. Será que a minha mãe já tinha chegado ao ponto de falar sozinha? Resolvi conferir com meus próprios olhos. As vozes foram tomando corpo a cada passo que eu dava e percebi que havia um homem no quarto. Ah, que saco! Mais um que eu teria que botar pra fora de casa. Alcancei a porta e parei, tentando ouvir sobre o que conversavam. Só consegui escutar palavras soltas que não davam para formar uma ideia do que estava acontecendo ali. Empurrei um pouco a porta e vi a minha mãe nua, ajoelhada na cama, com o rosto afogado em lágrimas. Seus olhos ficaram arregalados quando ela viu que eu havia chegado e começou a balançar a cabeça para os lados. – Não, porra, saia daqui agora. Por que você tem que ser tão pontual? Corra, Jéssica. – Ela gritava. Não iria fazer o que me pedia. Eu precisava saber o que a deixava tão assustada. Dei mais um
passo para dentro do quarto e naquele momento acabei me deparando com a imagem que mais temia na vida. Havia um homem de meia idade, barbudo e de aparência suja com uma arma apontada para a minha mãe. Ele olhou para mim, a princípio assustado por ter sido flagrado, mas logo abriu um sorriso cheio de dentes podres. – Então, a princesinha da mamãe chegou, hein? Você está com o dinheiro? Dei dois passos para trás e me bati contra a parede. – Dinheiro? Eu não sei do que está falando. Não tenho qualquer dinheiro. Ele esticou a mão que estava com a arma com mais firmeza em direção a ela. – Eu quero a porra do dinheiro que essa puta me deve. Eu te disse que só aceitaria até hoje. Comecei a chorar e a suplicar. – Por favor, não faça nada. Nos dê mais um tempo, prometo que vou conseguir. Ele deu uma gargalhada alta, fazendo com que o fedor de álcool e nicotina misturados tomassem todo o quarto. – Você não deve saber nada sobre a vida que sua mãe leva. Nesse mundo, princesinha, as dívidas são pagas no prazo. O pagamento pode ser em espécie ou com a própria vida. – Não, por favor. – Implorei. Ele me olhou de cima a baixo e parou fixando os meus olhos. Baixei a vista, pois não queria memorizar aquele rosto em minha mente. Queria esquecer tudo o que estava vendo naquele momento. – Às vezes, há outra forma de pagar dívidas. Me senti esperançosa e caí na besteira de lhe fazer a pergunta cuja resposta eu não queria ouvir. – O que posso fazer? Me diga e eu farei. Eu preciso que nos dê mais tempo. A minha mãe gritou na hora: – Não! Não ouse tocar na minha menina. O desgraçado sorriu e voltou sua atenção para mim. – Tire a roupa. Se quer um prazo, eu posso te dar, mas você terá que ser muito boazinha para me convencer. Vou te foder agora na frente de sua mãe e se eu gostar, te dou um prazo pra arrumar a
grana. Então, esse era o preço? Oh, meu Deus, eu não teria coragem de fazer isso. Senti a dúvida tomar a minha mente, comecei a pensar em meu namorado e nos planos que fazíamos para o futuro. Olhei para aquela mulher acabada e nua em cima da cama e percebi que ela estava horrorizada, sacudindo a cabeça o tempo todo em sinal de negação. Mirei uma lágrima após a outra descendo de seu rosto e juntei coragem para dar o próximo passo. Comecei a baixar uma alça da blusa e minha mãe se aproximou ainda mais da arma, sacudindo a mão que a segurava. – Não! Me mate. Pode me matar. Ela não vai ser sua, seu verme. Ela é melhor do que todos nós juntos e vai se tornar uma grande mulher como o seu pai queria. Deixe-a em paz! Fechei os olhos, buscando valentia no íntimo do meu ser para continuar me despindo para aquele homem. Decidi fazer o que fosse necessário para livrar a minha mãe daquela arma apontada para sua cabeça. Desci a outra alça da blusa, expondo a ponta do meu sutiã rendado. Respirei fundo e comecei a baixar a roupa quando ouvi um estrondo tão alto que me fez pular. Abri os olhos e vi diante de mim a cena que mais temia ter que presenciar algum dia em minha vida. A minha mãe... a minha mãezinha, estava jogada na cama, com a cabeça pendurada, jorrando sangue no chão do quarto. Olhei para o assassino e ele parecia também assustado. Eu não podia acreditar que ela havia tomado a arma e atirado em si mesma. Minha pequena e frágil mãezinha. Eu não queria perder mais uma pessoa que amo. Não, aquilo não estava acontecendo comigo. Olhei para o traste com todo ódio e saí correndo do quarto, pegando a minha bolsa em cima do sofá. Para minha sorte, estava passando um táxi naquele exato momento, acenei e ele parou, me tirando do inferno onde estava. – Para onde, senhorita? Eu soluçava, tentando controlar o bolo preso em minha garganta, buscando pronunciar uma palavra ao menos. – Senhorita, para onde gostaria de ir?
– Bairro de Ondina, por favor. Dei-lhe o endereço e tentei encher meus pulmões de ar para buscar as forças que já se esgotavam dentro de mim. Eu tinha que fazer alguns telefonemas e não poderia deixar para depois. Liguei para o SAMU e expliquei toda a situação, omitindo algumas informações. Eu lhes disse que havia encontrado a minha mãe sangrando sobre a cama e, por medo, saí de casa. Disseram que estariam lá o mais rápido possível, porém levariam a polícia com eles. Eu concordei e lhes passei o endereço. Olhei para o meu celular por alguns segundos e tomei coragem pra ligar para o meu irmão. Eu nunca conseguia mentir para ele, pois me conhecia melhor que ninguém. No segundo toque, ele atendeu. – Jess? – Oi, Mau. Onde você está? – Estou indo para casa. Tem comida pronta? Se não tiver, levo alguma coisa. Minhas emoções falaram mais alto e comecei a soluçar ao telefone. Se minha mãe não sobrevivesse, Maurício seria a minha única família. Ele e uma tia que tenho pouco contato. – Jess, o que está acontecendo? Jéssica, fale comigo. – Meu irmão implorava. – Não vá para casa, Mau, por favor, apenas confie em mim. Não vá até lá. – Por que, querida? Me diga onde está agora, vou te encontrar e você me explica pessoalmente porque não devo ir para lá, irmãzinha. Não chore, o problema é com mamãe? – Estou indo para o apartamento de Gabriel. Me encontre lá. Prometa que vai me ouvir, Mau, você não vai para a nossa casa. – Prometo, meu amorzinho. Estou indo ao seu encontro. Logo estarei chegando. Me senti mais confortada em saber que tinha meu irmão para me segurar nesse momento. Não sei o que seria de mim se eu não o tivesse ao meu lado. O táxi chegou ao destino, paguei a corrida e me identifiquei na recepção. O porteiro já me conhecia e nem conferiu a minha autorização para entrar no prédio. Ele percebeu as lágrimas em meu rosto e gentilmente ofereceu um copo com água e me convidou a sentar. Tomei o líquido, mas recusei a segunda oferta.
Eu precisava desabar nos braços do meu namorado o mais rápido possível. – Você sabe dizer se Gabriel está em casa, Sr. Silva? – Ele chegou há pouco, querida. Não percebi se saiu novamente. – Obrigada pela água. Vou ver se está lá. Caminhei em direção ao elevador que já estava sendo esperado por mais duas pessoas. Entrei, apertei o botão do décimo segundo andar e me encostei no canto, torcendo para que o equipamento andasse mais rápido hoje do que em outros dias. A senhora ficou olhando para o meu rosto e reconheci o sentimento de pena nos olhos dela. Lhe ofereci um pequeno sorriso e baixei a cabeça novamente, não me importando que me observasse. Não abriria o meu coração para um desconhecido. Essa dor não podia ser compartilhada com qualquer um, apenas com dois homens que estariam próximos a mim logo, logo. Cheguei ao meu andar e quando estava saindo, a senhora agarrou o meu braço, me fazendo parar. Ela olhou para mim e abriu um sorriso afetuoso nos lábios. – O que seja que esteja vivendo agora, vai passar, querida. Quando estiver com problemas, olhe para o mar. As ondas vão e vem, levando tudo o que estiver à sua frente para outros oceanos. Nunca de volta para o mesmo lugar. Às vezes, deixam marcas quando batem muito forte nas pedras, mas depois abrandam, deixando-as ainda inteiras. Assim será com você. Acredite. Engoli em seco, martelando suas palavras em minha mente. Senti que não eram apenas frases prontas. Aquela mulher foi tocada pelo desejo de me falar aquilo. – Obrigada. – Falei. Ela assentiu, folgando sua mão do meu braço. Caminhei pelo corredor, passando por várias portas de apartamento e contando seus números como se eu estivesse perdida. Parei diante do 1204 e bati, mas ninguém atendeu. Será que ele tinha saído sem ser visto? Mexi na maçaneta e ela estava aberta. Estranho, Gabi nunca deixava a porta destrancada. Entrei e dei uma olhada pela sala e na cozinha. Não havia ninguém à vista. Droga, logo agora que eu precisava tanto dele? Já andava em direção à porta para deixar o apartamento, quando ouvi um gemido. Claro, ele deve estar no quarto – pensei.
Andei em direção ao quarto que estava com a porta escancarada. Dei dois passos para a frente e, pela segunda vez no mesmo dia, fui surpreendida. E não era uma boa surpresa. Havia uma calcinha vermelha no chão. Meu mundo caiu. Meu castelo de conto de fadas estava desabando sobre a minha própria cabeça e não havia nada que eu pudesse fazer. Peguei a calcinha na mão tentando me convencer de que não era minha e sua imagem logo ficou borrada, pois minha visão ficou nublada de lágrimas. Não, Gabi. Você, não. Olhei para a cama que estava desforrada e todas as evidências caminhavam para comprovar que meus olhos não estavam enganados. Eu estava sendo traída. Ouvi um barulho de chuveiro ligado e, com o coração em tempo de sair pela boca, obriguei minhas pernas a dar passos em direção ao banheiro. Entrei no lavabo e parei, tentando engolir o bolo formado em minha garganta. Se era para o mundo desabar em minha cabeça, que fosse de vez. Não me pouparia mais essa dor. Olhei para o chão do banheiro e havia pelo menos dois preservativos usados. Ali estava a prova e eu não precisaria de mais para constatar que o ato havia sido consumado, contudo eu iria até o fim. Se estava na chuva era para me molhar. Ouvi gemidos de prazer e senti vontade de vomitar, porém a frase que ouvi em seguida foi o que me deixou em transe. – Abre as pernas, putinha. Hoje eu vou te foder toda. Tapei minha boca assustada e, nesse momento, as lágrimas já rolavam livremente pelo meu rosto. Andei com determinação até o box, aflorando o meu lado masoquista, pois sabia que formaria mais um registro que não fazia questão nenhuma de guardar em minha mente. Abri com tudo e flagrei o meu namorado com o pau todo enfiado por trás em uma loira peituda. Ele se assustou, arregalando os olhos e saiu de dentro dela, caminhando em minha direção.
Eu não saí do lugar, permanecendo parada, olhando para a mulher que tinha meu namorado dentro dela agora há pouco. – Jess, amor, calma. Não faça nenhuma besteira, eu posso explicar. – Ele falou, agarrando o meu braço. Olhei para ele como se estivesse num filme em câmera lenta. – Você pode explicar. – Repeti sua última frase entre soluços. – Sim, eu posso. Samanta já está de saída, me escute, por favor. A garota passou por mim rebolando, parecendo indiferente ao que estava acontecendo ali. – Minha bonequinha... – Ele implorou. Me chamar pelo apelido que sempre usou de forma carinhosa foi a gota d´água. Puxei o meu braço com força de sua mão e dei um passo longo em direção à porta. Parei antes de sair, olhei para trás e li seus lábios quando sussurrou baixinho: – Me desculpe. Não lhe dei qualquer resposta e deixei o apartamento no qual já fui tão feliz, mas que havia se tornado mais um lugar que iria enterrar bem longe da minha vida. Aos prantos saí sem saber que destino tomaria. Lembrei da senhora que falou sobre as ondas do mar e foi para onde decidi ir. Parei um táxi na rua e pedi para que me conduzisse para o Porto da Barra. Meu celular começou a tocar e quando olhei o visor, vi que era Gabriel. Rejeitei a chamada e guardei o aparelho no fundo da minha bolsa. Cheguei ao Porto da Barra e sentei no quebra-mar para fazer o que a senhora me aconselhou. Queria admirar as ondas e chorar. Precisava botar pra fora toda aquela vontade de morrer, de mandar tudo e todos irem para o inferno. Doía mais do que eu poderia suportar. A minha mãe poderia estar morta naquele momento e meu namorado estava me corneando pelas costas enquanto fazia mil juras de amor. Comecei a jogar pedras na água, ouvindo o meu celular tocar desesperadamente. De repente ouvi um toque diferente, que era exclusivo para as ligações de Maurício. Atendi, pois sabia que estava preocupado. – Jess, querida, onde você está? – Falou em alta voz, confirmando que estava nervoso. – Estou no Porto da Barra, naquele lugar que gostamos de vir de vez em quando. Por favor,
não conte a ninguém que estou aqui. Não quero ver mais ninguém além de você. – Gabriel está preocupado, querida. Não quer ver seu namorado? – Não, Mau, apenas você. Quando chegar, vai entender tudo. – Está bem, estou chegando, minha pequena. Tente se acalmar um pouco. – Ok. Continuei jogando pedras no mar e, em pouco tempo, meu irmão chegou e sentou-se ao meu lado. Olhei para ele com a cara inchada e dei um pequeno sorriso que não foi retribuído. Encostou minha cabeça em seu ombro e a torneira em meus olhos se abriu novamente. Ele respeitou o meu tempo e ajudou a me acalmar. Contei tudo o que tinha acontecido em nossa casa e sua primeira reação foi de levantar para ir até lá, mas o segurei e convenci que o melhor a fazer naquela hora era esperar. No calor da emoção, o seu desejo era de ir atrás do filho da puta que apontava uma arma para a nossa mãe, porém precisava lembrá-lo de que se tratava de gente muito perigosa. Decidimos que o certo seria deixar por conta da polícia. Maurício sentou novamente e eu pedi para que me escutasse, pois precisava desabafar tudo o que estava preso dentro de mim. Contei-lhe sobre a cena que tinha presenciado no apartamento de Gabriel e ele deu um soco na pedra, ferindo sua pele. – Eu mato aquele desgraçado. Estava comigo agora há pouco e se fez de namorado preocupado. Vou fazer pedacinhos dele. – Meu irmão bradou. Fiquei calada por um tempo, mas depois soltei a pergunta que estava me corroendo. – Você acha que eu não mereço ser amada, Mau? Por que todas as pessoas que amo acabam saindo da minha vida? Tenho tanto medo de perder você também. Ele me abraçou apertado. – É claro que você merece ser amada, querida. Nunca duvide disso, e eu não vou a lugar algum. – Não faça promessas que você não pode cumprir, meu irmão. A vida tem seus próprios planos. Meu pai dizia que me amava e se foi. O amor que minha mãe tinha por mim não foi suficiente para superar a perda de papai e ela pode estar morta agora. Quanto ao meu namorado? Dizia me amar, mas me traiu na primeira oportunidade que teve. O amor não é para mim, Mau. Eu nunca mais
quero dar meu coração a alguém. Amar dói demais. – Oh, minha pequena, deixe de falar besteiras. Um dia você encontrará alguém que te valorize como merece. Assenti e permaneci em silêncio jogando pedrinhas no mar e Maurício passou a fazer o mesmo. No final da tarde, decidimos voltar para casa e conferir o que havia acontecido. Estava rezando para que a minha mãe tivesse sobrevivido. Entrei no carro do meu irmão e partimos em silêncio. Chegamos à casa que já não chamaria mais de lar e havia alguns carros de polícia em frente e bastantes vizinhos ao redor sussurrando quando nos viu chegar. – Fique aqui, Jess. Vou tomar informações. – Maurício pediu. Fiquei parada olhando atentamente cada gesto dele, buscando qualquer coisa que pudesse me dar esperanças de que minha mãe estava viva. Ele balançou a cabeça em concordância com o policial e voltou em minha direção de cabeça baixa. Naquele momento eu já sabia. Minha mãe estava morta. Caí de joelhos sobre a grama e baixei a cabeça para chorar. Dessa vez solucei alto como se pudesse expulsar a dor que estava sentindo. Maurício encurtou a distância e me abraçou soluçando. Meu irmão, que também era de carne e osso, não tentou ser forte. Ele desabou em meus braços. – Por que, Jess? Por que ela fez isso? – Ela estava sofrendo, Mau. Vamos pensar que ela está em um bom lugar agora, ao lado de papai como ela sempre quis. – Eles disseram que ela já estava morta quando chegaram. Não podemos ficar aqui esta noite, pois a casa está interditada para a perícia. Vamos para um hotel e amanhã viremos pegar umas roupas para passar uns dias na casa de tia Graça. – Vamos. Eu acho que nunca mais vou querer voltar a esse lugar. Ele me levantou e começamos a caminhar em direção ao carro quando fui parada por uma mão forte. Era o traíra do Gabriel. – Jess, fiquei sabendo o que aconteceu. Quero que saiba que estou muito sentido por vocês. Se tiver algo que eu possa fazer para ajudar...
Ele não viu o que estava chegando. Maurício deu um murro cheio em seu rosto e só não conseguiu cumprir a promessa que havia feito de que acabaria com ele, porque foi agarrado por dois policiais. – Fique longe dela, filho da puta. Você acha pouco o que já fez? – Meu irmão gritava, entre lágrimas. – Sim, Maurício está certo, Gabriel. Tudo o que você pode fazer por mim agora é manter toda a distância possível. Eu não quero mais te ver. Nunca mais. – Emendei. Ele baixou a cabeça e só levantou para dizer uma última frase antes de sair: – Vou respeitar esse momento, Jess, mas ainda precisamos conversar. Vou esperar o seu tempo. Virei o rosto e deixei que as lágrimas se derramassem ainda com mais força. Os policiais soltaram o meu irmão e nos dirigimos para o carro. Aquele dia estava marcado como um divisor de águas na minha vida. Amor. Essa palavra estava definitivamente fora do meu dicionário a partir de agora. Eu desaprenderia a amar.
Capítulo 1
Ele
Música do capítulo: Primeiros erros – interpretada por Capital Inicial
Dias atuais...
– Zeus Melino! Zeus Melino! Zeus Melino! Eu estava no camarim de mais um show prestes a pisar no palco e toda adrenalina que precisava para dar o melhor de mim era essa. Ouvir o meu nome sendo gritado, sentir a expectativa do público era tudo o que me impulsionava a entrar em cena a todo vapor. A banda de abertura tinha acabado de sair e os caras do staff estavam terminando de arrumar os instrumentos e testar. Só entrávamos quando tudo estava perfeito, pois o nosso público merecia ouvir um som de qualidade. Entornei uma dose de uísque cowboy e senti a bebida queimar a minha garganta. Todos estavam na correria para fazer os últimos ajustes, mas eu não. Apenas tentava relaxar, economizando todas as energias para serem gastas no palco. Ou quase todas. Tinha que guardar um pouco para mais tarde. – Dez minutos, entendeu, Zeus? – Ben, nosso produtor e meu grande amigo, passou por mim alertando. Como sempre, não lhe respondi. Na verdade, era eu quem precisava de respostas. – Já liberou a entrada das meninas para o final do show, Benito? Você sabe de que forma gosto de liberar adrenalina depois do palco. Espero que as vadias já estejam aqui quando eu retornar. – Vá se foder com suas ordens, Zeus. Se as putinhas não estiverem aqui te esperando, basta escolher uma ou duas nos bastidores que elas virão correndo. Sempre foi assim, não?
– É, pode ser. Esse sou eu. Apesar de ser muito amigo de Ben, sou completamente o seu oposto. Ele se apaixona muito fácil e tem planos de ser um cara fiel, casar e todas essas coisas. Eu não. Apesar de já estar com vinte e sete anos, não quero essa coisa para mim. Sou filho de pais que viveram juntos por conveniência durante muitos anos, apenas para manterem as aparências e cuidar dos filhos. Na primeira oportunidade que tinha, meu pai traia minha mãe e ela sempre acabava descobrindo e sofrendo. Eu só não entendia porque não acabavam com aquela palhaçada de uma vez. Não havia amor entre eles e eu e meu irmão não éramos bobos, sabíamos disso. Acho que ela seria mais feliz se tivesse ficado sozinha. Quando saímos de casa, eles finalmente se separaram, mas meu pai teve um câncer de próstata e acabou voltando para os cuidados da minha mãe. Ele morreu já faz cinco anos. Ela tem apenas dois que se foi. Nunca quis esse tipo de relação para mim e, como a vida tem sido generosa, aproveito e curto as mulheres. Para quê ter apenas uma quando se pode ter várias? Dizem que sou um cara frio. Talvez isso seja verdade, mas até agora não tenho do que me queixar. Loira, morena, ruiva, não tenho preferências. Dou um pouco de mim a cada uma delas e, muitas vezes, para mais de uma. Gosto de dar prazer e gosto de sentir prazer. Sem amarras, sem amanhã, sem planos futuros. Elas já entram no camarim sabendo de tudo isso e lhes dou o que estão procurando: uma noite com um cara famoso. – Cinco minutos, Zeus! – Mais uma vez Ben gritou. Sim, já estava preparado para ouvir a convocação do publico e arrasar naquele palco. Nenhum show era igual a outro e a minha expectativa só aumentava a cada cidade que passávamos. – Rick! Rick! Rick! Os caras já estavam começando a se posicionar e era incrível ver como a galera sabia os nomes de cada componente da banda. Aquilo me deixava arrepiado. À medida que cada integrante entrava, o público explodia, gritando seus nomes.
– Bob! Bob! – Led! Led! E por último, antes da minha entrada: – Shy! Shy! O nosso guitarrista sempre arrasava no solo, aquecendo o público, deixando margem para que a minha entrada fosse triunfal. – Está na hora, Zeus, se posicione. Entornei a última dose de uísque antes de começar a cantar e passei a me mover. Enquanto caminhava, ouvi o apresentador anunciar: ‘com vocês, a banda No Return’. Uma chuva de aplausos e gritos tomou a casa de show e me senti privilegiado por saber que faríamos mais uma apresentação com casa lotada. Respirei fundo e entrei no palco, saudando a todos. As mulheres foram ao delírio, algumas tentando driblar os seguranças e chegar até mim, mas as tentativas sempre falhavam. Comecei cantando o nosso maior sucesso ‘Nunca mais serei o mesmo’ e um coral me acompanhou. Vez ou outra, eu estendia o microfone para o público e eles cantavam com ainda mais empolgação. “Você se foi, nem disse adeus Aqui estou sem saber o que aconteceu Até pensei que éramos um Hoje eu sei que nunca me pertenceu Nunca mais serei o mesmo Depois de te conhecer, Nunca mais serei o mesmo...”
Que artista não se sentiria realizado? Cantei outras canções da banda e outras de artistas renomados. A plateia estava embalada no ritmo das músicas e cheguei até a ver garotas desmaiando de emoção. Zeus, um poderoso deus da Mitologia Grega, era como estava me sentindo. Eu sempre tinha um momento de interação com a plateia e escolhi uma garota para subir ao
palco e cantar uma música comigo. A menina esperneava e gritava de tanta emoção. Coloquei-a sentada em um banco elevado e comecei uma canção menos ritmada, andando de forma sensual em volta dela. Lágrimas desciam em seu rosto e seus olhos não saiam de mim. Era um momento que eu gostava muito, pois podia sentir de perto todo o carinho que os fãs dedicavam à No Return. Ela cantou o refrão comigo, interrompendo às vezes para soluçar e quando a musica terminou, entreguei uma rosa, dando-lhe um abraço. As fãs ficaram loucas, pois cada uma queria ter essa oportunidade, mas infelizmente eu não poderia atender a todas. O show durou cerca de duas horas e logo nos despedimos de mais uma cidade, lhes presenteando com o bis de ‘Nunca mais serei o mesmo’ para encerrar. Joguei minha camisa para o público e saí correndo do palco, esperando que ninguém tenha se machucado. Fui para os bastidores e entre uma dose de uísque e outra dei autógrafos, entrevistas e tirei fotos. Caminhei em direção ao camarim e entrei me deparando com duas mulheres lindas, uma loira e a outra ruiva. Passei por elas sem oferecer um segundo olhar e fui direto para o banheiro. Precisava tomar um banho. Saí de lá apenas enrolado em uma toalha e enchi um copo com uísque. Prendi meus cabelos que batem na altura da orelha e entornei o conteúdo do copo de uma só vez. Elas pareciam decepcionadas com a minha falta de atenção. – Oi, meninas. – tentei quebrar o gelo – Querem uma bebida? A loira se aproximou primeiro. –Sim eu aceito. Enchi dois copos e ofereci às duas que beberam me olhando. Enchi outro para mim. – Como são os nomes de vocês? Mais uma vez, a loira foi a primeira a se pronunciar. – Eu sou Beatriz, mas pode me chamar de Bia. Encostei meus lábios nos dela e roubei um beijo rápido. – Hum, Bia, você é deliciosa. E o seu, linda, como é? – Perguntei olhando para a outra. A ruiva parecia que era um pouco mais tímida.
– Eu sou Fernanda e queria que soubesse que estou realizando um sonho em estar aqui ao seu lado. Porra, eu não tinha problemas em foder fãs, mas sempre detestei esse tipo meloso que acha que vai conquistar o coração do ídolo. – Então, Fernanda, que tal se esse sonho ficar ainda mais quente? Você sabe o que veio fazer aqui não é, docinho? – Sei, Zeus, eu quero tanto você. – E me terá. Só por hoje eu sou todo de vocês. Agora, lindas, tem alguém que está precisando muito de atenção. Abri a toalha e a deixei cair, exibindo o meu corpo tatuado e meu pau grande e ereto. A loira lambeu os lábios e olhou para a ruiva com um convite nos olhos. Ela respondeu com um sorriso safado e ambas baixaram para me chupar. Dois lábios quentes disputavam um espaço em minha ereção, meu saco e, de vez em quando, as duas bocas se encontravam raspando a língua uma na outra. Porra, não havia nada mais sensual do que duas mulheres lindas se dando prazer, embora eu também gostasse de compartilhar uma mulher com outro homem. – Beijem-se, putinhas. Quero que brinquem um pouco enquanto observo. Elas sorriram uma para a outra e, com empolgação, passaram a se beijar lentamente, trançando suas línguas, formando uma cena muito quente. Meu pau já latejava e uma pequena lágrima saiu da minha fenda. A loira, ainda beijando sua parceira, avistou o brilho na cabeça do meu pau e soltou os lábios da ruiva. Se aproximou com os lábios sedentos e lambeu a ponta da minha ereção, retirando dali o fluido que anunciava o meu desejo. Lambeu um pouco mais, deixando a glande limpa e, sem engolir, levou o meu mel para a boca da outra. Se beijaram com fervor, e depois de um tempo, a loira começou a passear seus lábios desde a base do pescoço até a orelha da ruiva, mordiscando, chupando e lambendo. – Porra, Bia, se continuar fazendo isso, eu vou gozar só de olhar. Tirem a blusa, quero ver seus seios. Ambas obedeceram prontamente, deixando quatro mamilos durinhos e redondos à minha
disposição. – Segurem seus seios. Vou dar um pouco de atenção a eles. Chupei primeiro o da ruiva, que gemia e arqueava seu corpo pedindo por mais. Enquanto chupava um, apertava o bico do outro, dando-lhe um pouco de dor. – Está doendo, linda? – Perguntei. – Um pouco, mas eu gosto. – Respondeu com voz engasgada. – Isso, querida. Aprenda a transformar dor em prazer. Vou aumentar a intensidade e você vai adorar. Confie em mim. Continuei lambendo, enquanto apertava ainda mais o outro seio e ela começou a implorar. Reversei, fazendo o mesmo com o outro e percebi que a loira se abaixava para chupar o grelo dela. – Céus, eu não foi suportar mais. Zeeeeeeeeus! Não demorou muito. Fernanda gritou o meu nome, endurecendo o corpo e liberando o seu prazer. Ainda ofegante, tomei seus lábios em um beijo longo e demorado enquanto já começava a apertar os mamilos da loira. – Você não acha que Bia também precisa de um pouco de atenção, Fe? Ela balançou a cabeça, tentando ainda regular sua respiração. Coloquei um peito em minha boca e ofereci o outro a Fernanda que passou a sugar com muito entusiasmo. Desci uma mão para brincar com o grelinho dela e comecei a massagear seu macio clitóris. Enfiei dois dedos em sua boceta, encharcando-os em seus fluidos e voltei a mexer em seu pequeno órgão. Com a voz engasgada, ela falou: – Porra, Zeus, pare de me massacrar e meta logo esse pau grosso em minha boceta. Sorri com sua ansiedade. – Calma, linda, quanto mais você tiver que esperar, mais gostoso será. Conduzi Beatriz para que sentasse em uma cadeira e escancarei suas pernas. Deixei que Fernanda continuasse brincando com seus seios enquanto me afastava para observar a boceta rosada da loira. – Sua boceta é linda, Bia. Estou vendo que tem a medida certa do meu pau.
Ela se contorceu e implorou. – Então venha, Zeus. Enfie seu pau em minha entrada. – Falou, abrindo sua fenda com as mãos, me dando a visão que eu mais amo no mundo. Dei-lhe um sorriso provocante, pois ainda não seria agora que iria lhe comer. Me aproximei dela e enfiei dois dedos em sua boceta. – É aqui que você quer que o meu pau entre, é? Rebolando em meus dedos, respondeu: – sim, por favor. – Ainda não, linda. Puxei os lábios de Fernanda para um beijo, enquanto metia os dedos sem dó na entrada de Beatriz. Deixei os lábios da ruiva e direcionei-a a continuar dando atenção aos seios da loira. – Eu vou te chupar, querida, e você vai gozar em minha boca. Depois eu vou comer gostoso a boceta e o cuzinho das duas. – Aaaaaahhhh. – Elas gemeram em antecipação. Mordisquei o pequeno clitóris de Beatriz e circulei minha língua em volta dele. Isso sempre deixava as mulheres loucas e com ela não estava sendo diferente. Passei minutos e minutos, incansavelmente, lambendo, chupando, mordiscando e passeando com a minha língua desde sua virilha até o seu pequeno cuzinho. Sempre adorei sexo oral e não me cansava de sentir uma boceta quente em minha boca. Eu sentia tanto prazer quanto elas. Dei um pouco de atenção à boceta de Fernanda também, que já estava pingando de tanto tesão. Elas gemiam e gritavam. Eu adorava saber que era eu quem estava provocando essa reação. Continuei me deliciando com aquela doce bocetinha e logo senti que o corpo de Beatriz se retesava. Ela gozou gostoso em minha boca, xingando alto e chamando o meu nome. Sabia que, embora estivesse em um camarim, não seria interrompido. O staff já estava acostumado e estava ciente que qualquer intromissão resultaria em demissão imediata. Os caras também deviam estar se divertindo, com exceção de Ben que estava sofrendo com o fim do namoro com uma garota chamada Brisa, que terminou antes de mesmo de começar. Eu precisava fazer alguma coisa para tirá-lo dessa fossa.
– Eu preciso foder vocês, lindas. Eu quero as duas sentadas na poltrona agora de pernas abertas. Elas assim fizeram, bastante obedientes como eu gostava. Beatriz ousou: – Deixe-nos te retribuir um pouco do prazer que nos deu, querido. Como negaria um pedido desses? Me aproximei agarrando os cabelos das duas enquanto elas voltavam a disputar espaço no meu pau. Essas garotas eram umas das mais gulosas que já comi. Elas me engoliam com fome, com vontade, levando o meu pau para o fundo de suas gargantas. Continuaram sua tortura até que eu não aguentava mais e precisava de liberação. – Meninas, abram a boca. Elas abriram olhando para mim e me toquei, pronto para gozar. Logo um jorro quente saiu da minha fenda em direção a boca de uma delas e continuei me liberando, enchendo as duas boquinhas com o meu leite. – Engulam. Elas obedeceram, abrindo a boca em seguida para me mostrar que haviam engolido tudo. Sorriram uma para a outra como duas meninas sapecas. – Boas garotas. Agora abram as pernas que eu vou comer a bocetinha de vocês. Coloquei um preservativo e penetrei primeiro na boceta de Fernanda. Ela era apertada, quente e meu pau invadia sua abertura tentando encontrar espaço em suas paredes apertadas. Ela estava muito molhada o que me permitiu ter melhor acesso e consegui penetrá-la até o fundo da vagina. Esperei um tempo para que se acostumasse e comecei a aumentar os movimentos, acelerando cada vez mais. Enquanto a comia, bombeava meus dedos na abertura de Beatriz e ela gemia, tomando os lábios de Fernanda em um beijo pra lá de sensual. Adoro transar com uma garota só, mas ménage sempre foi o meu estilo favorito de fazer sexo. Agora eu já penetrava a boceta de Fernanda sem pena, sentindo que o meu pau alcançava o colo do seu útero. Levei minutos me perdendo naquele buraco quente e delicioso, masturbando-a enquanto era penetrada. Senti que suas paredes se fechavam e sabia que estava perto. Acelerei um pouco mais e enfiei
um dedo em seu apertado cuzinho, sabendo que não resistiria. Dito e certo. – Aaaaaaiiiiiiiii. Ela se desmanchou em um gozo alucinante, latejando ao redor do meu pau. Esperei um pouco para que sua respiração se normalizasse e lhe dei um beijo rápido ao mesmo tempo que continuava a estimular a loira. – Está bem, docinho? Ela me deu um lindo sorriso de dentes perfeitos. – É sério que você está me perguntando isso? Eu estou melhor do que jamais estive em minha vida. Porra, Zeus, nunca tive um gozo tão potente. Voltei a lhe beijar e a convidei para compartilhar o corpo de Bia comigo. É claro que não se fez de rogada. Tomei conta dos lábios da loira, estimulando seu clitóris enquanto Fernanda se encarregava de dar atenção aos seios. Ela não era tão sensível quanto a ruiva e implorou para que fosse logo penetrada. Eu sabia ler cada mulher e esta gostava de ser fodida da forma mais selvagem possível. Eu estava pronto para lhe dar o que queria. Troquei o preservativo, penetrei-a sem dó e ela sorriu, demonstrando que era assim que gostava. Retirei meu pau devagar e novamente a bombeei com toda força. Permaneci lhe dando prazer desse jeito por um tempo, ouvindo um grito cada vez que meu pau alcançava o seu útero. Ela me deu um sorriso lascivo e abriu sua bunda, me dando livre acesso ao seu cuzinho. Retribuí seu sorriso e tirei o meu pau de sua boceta, direcionando ao seu pequeno ânus. Lubrifiquei a entrada de seu buraco apertado e penetrei pouco a pouco até que meu pau estivesse todo enfiado. Mais uma vez não tive pena. Comi seu delicioso cuzinho sem dó, dando estocadas cada vez mais fundas. Fernanda encostou-se na poltrona e pediu para ser fodida também. Permaneci reversando entre o pequeno buraco de uma e de outra e depois de bastante tempo fodendo como loucos, chegamos a um êxtase profundo e alucinante. Me joguei na poltrona junto com elas, aguardando que os batimentos cardíacos do meu coração diminuíssem. Quando já estava estabilizado, me levantei, dando um beijo em cada uma e fui para o banheiro.
Antes de entrar, me despedi delas. – Meninas, espero que tenham gostado, pois eu apreciei muito. Vocês são putinhas de primeira. Peguem suas roupas e podem ir. Um carro está lá fora as aguardando para levá-las onde quiserem. – Disse, já satisfeito, querendo que fossem e me deixassem sozinho. Já estava acostumado a lidar com as groupies e sabia que se tratasse bem demais depois da foda, elas iriam grudar. – Me deixe tomar um banho com você. – Pediu a ruiva. Puta que pariu! – Não. Você já teve o que queria e eu também tive, portanto ninguém pode sair daqui reclamando, não é? Acho que deixei tudo claro desde o começo. Uma lágrima desceu de seu rosto e ela limpou, tentando disfarçar. Porra, eu precisava conversar com os caras e explicar melhor o tipo de vadias que eu queria em meu camarim após o show. Não tenho paciência para esses dramas. A loira começou a rir da outra e olhei para ela confuso. – Você pensou que ele ia te pedir em casamento quando terminasse de te foder, bebê? Deixe de ser ingênua, garota. Isso aqui é só diversão. Amanhã ele vai estar enfiado em outra boceta e nem vai lembrar que você existe. Era desse tipo que eu gostava: garotas experientes que sabiam como a porra toda funcionava. A ruiva não respondeu e começou a catar suas roupas e vesti-las. Me aproximei dela, pegando em seu queixo. – Ei, não fique triste. Foi muito bom ficar com você, mas merece alguém melhor do que eu. Não estou procurando relacionamentos, apenas diversão. Você está procurando mais, então tenha um pouco de paciência que encontrará a pessoa certa. Tenha certeza que não sou eu. Tomei sua boca e a beijei lentamente, tentando ser carinhoso com ela. Peguei sua mão e a levei até a porta, sendo seguido por Bia que já estava vestida. Me despedi de cada uma com um beijo e antes que me virasse de volta, Fernanda puxou meu pescoço para sussurrar em meu ouvido: ‘obrigada’. Eu sabia que ela não estava me agradecendo por tê-la fodido sem sentido. Ela estava
agradecida pelo carinho com que tratei seus sentimentos. Eu senti o desejo de tratá-la diferente, mas não estava mais disposto a ter que lidar com essas merdas todos os dias. Fechei a porta atrás de mim e fui me banhar. Precisava voltar para o hotel e descansar, pois no outro dia teríamos mais um show do caralho com ingressos já esgotados. Tinha que juntar todas as energias para que Zeus Melino, o maior astro do rock pop atual, arrebentasse naquele palco como sempre. A música era a minha vida e sempre daria o melhor que eu tivesse pra dar.
Capítulo 2
Ela
Música do capítulo: Quem tá solteiro nunca fica só – por Sorriso Maroto
Férias. Eu daria um beijo na boca de quem a inventou. Amo o meu trabalho como administradora e figurinista no ateliê de moda Your Style , mas a vida de correria às vezes me cansa. Estava precisando de um descanso. Já faz cinco dias que estou no Rio de Janeiro com minha amiga Clara. Decidimos ficar em quartos separados no mesmo hotel, pois tínhamos planos malignos em nossa estadia. Quer dizer, nem tão malignos assim. Eu estava ficando com um cara antes de viajar, mas ele acabou dizendo a palavrinha mágica e ploft! Tive que fazê-lo evaporar. Relacionamento. Esta é a palavra que tenho mais pavor de ouvir há alguns anos. Isso não quer dizer que saio com um homem todos os dias. Geralmente fico um tempo com um cara, nos encontramos algumas vezes, saímos, nos divertimos, mas parece que tenho um imã. Todos querem partir para algo mais sério. Eu devo ser a única mulher no universo que não quer isso. Sim, pode dizer que sou fria, leviana e blá, blá, blá, mas eu diria que não é assim que me vejo. Eu simplesmente não atraio bons fluidos. Todos que diziam me amar saíram da minha vida de alguma forma, restando apenas meu irmão e minha tia. Não é que eu não acredite no tal sentimento chamado amor.
Eu só não o quero mais para mim. – Clarinha, olha só o que achei aqui na internet. Estão dizendo que é uma boate super badalada e que só frequentam os top. Vamos lá esta noite? – Eu não sei, Jel. Desde que chegamos não paramos no hotel. Acho que devemos descansar um pouco hoje. – Está falando sério? Você vai deixar sua solitária amiga sair sozinha na noite carioca correndo, sabe-se lá, algum tipo de perigo? Preciso de você para me proteger. Clara caiu na gargalhada. – Você tem o quê, cinco anos? Eu não quero bancar a chata, sei que viemos aqui para nos divertir, mas gostaria de frear um pouco apenas hoje. Cruzei meus dedos nos lábios. – Eu juro, por santa Rita Festeira, que se você sair comigo esta noite eu me comportarei como um anjinho amanhã. Vamos, Clara, só hoje. Ela ficou pensando por um tempo e depois abriu um largo sorriso. – Está bem, eu vou com você. Eu a agarrei, enchendo-a de beijos. – Você é a amiga mais linda... maravilhosa... e obediente de todas. Ela sorria alto com as minhas loucuras, se bem que era um pouco parecida comigo neste sentido. – Obediente, hein? Não, queridinha, não tenho uma veia submissa em meu corpo. Por falar em submissão, você já teve interesse em conhecer casas de fetiches, Jel? – Nunca passou por minha cabeça, mas não descarto a possibilidade. Por quê? Está pensando em conhecer uma aqui no Rio? – Talvez. Sempre tive curiosidade e imagino que seja muito prazeroso, principalmente as trocas de casais. Tenho vontade de experimentar. – Cuidado, Clarinha, você está em um lugar desconhecido com pessoas desconhecidas. Não é melhor deixar para visitar uma casa dessas em Salvador? – É, acho que você tem razão. Vamos aproveitar para conhecer outros lugares lindos no Rio.
– Hum... Você falando em trocas de casais e lembrei que até outro dia era arreada pelo ex de Brisa, como é o nome dele mesmo? Ah, Benito. Já esqueceu, foi? Ela respirou fundo, antes de responder. – De que adianta ficar alimentando sentimentos por um cara que não te vê com outros olhos? Eu sempre fui invisível para ele, então decidi que ia tentar me divertir e esquecê-lo. Eu e Brisa conhecemos Ben quando estávamos juntas, mas ele só conseguiu enxergá-la. Fazer o quê, a fila tem que andar, não é mesmo? – Mas já tem um tempo que eles terminaram, não? Ela já vai até casar. – Sim, tem um tempinho, mas não quero ficar falando mais nisso, Jel. Quero esquecer. Ele é produtor da banda No Return e não para em nenhuma cidade. Já deve estar com outras tantas garotas por aí. – Produtor da banda No Return? Porra, sou louca pelas músicas deles. O vocalista, Zeus Melino, é fodidamente gostoso. Daria tudo para ter aquele homem em minha cama. – Você e a torcida do Flamengo. O cara além de ser lindo, é talentoso. Todas as garotas solteiras gostariam de tirar uma lasquinha dele. – Se brincar, as casadas também. Sorrimos uma com a outra e continuamos a conversa descontraída por mais um tempo. A noite já estava chegando e logo tínhamos que nos arrumar. Escolhi um vestido justo no estilo foda-me para Clara na cor vermelha, acompanhado de saltos altíssimos pretos. Minha amiga amou o look. Ela já era linda e ficaria ainda mais perfeita naquela roupa. Para mim, escolhi uma calça de couro preta acompanhada de um bustiê preto, coberto por uma blusa transparente na cor branca. Emendei com uma botina preta de saltos altos que alongava ainda mais minha silhueta. Fui para a minha suíte descansar um pouco e quando o relógio marcava vinte e duas horas, eu já estava pronta para sair. Bati na porta do quarto de Clara e ela abriu, tentando colocar um brinco com a outra mão. Ajudei-a a terminar a maquiagem e saímos. Embora estivéssemos com um carro alugado, pretendíamos beber, então decidimos pegar uma taxi para a casa de show chamada ‘Tonight’.
Pediram nossas identidades na entrada, embora não houvesse dúvidas de que não éramos adolescentes. Provavelmente é um tipo de controle da casa. Entramos e fiquei chocada em ver um lugar tão bonito e moderno. Claro que já tinha ido a outras boates em Salvador, mas nenhuma era sequer parecida. Havia uma parede enorme toda traçada com luz neon em cores tipo dégradé. Encostado nela, havia um grande sofá ondulado com uma pequena e charmosa mesa em cada onda. O lilás e azul eram as cores que predominavam, dando um ar futurista ao local. Como trabalho com arte, não poderia deixar de observar esses detalhes. No meio da boate, havia um bar com formato circular, rodeado de vários bancos elevados. Os garçons pegavam as bebidas em uma espécie de freezer vertical com uma luz neon rosa choque circulando no meio. O palco era lindo com dois pequenos palcos atrás, onde mulheres faziam performances. Era tudo muito bonito. – Gostou do lugar, Clara? – Adorei, Jel. Bonito demais. Acho que vamos nos divertir muito. Olhei para as pessoas ao redor e percebi como os frequentadores eram selecionados. Pessoas muito bem vestidas e mulheres de beleza exótica enchiam o ambiente. Quanto aos homens? Nossa, acho que morri e fui para o paraíso. Nunca vi tanto homem lindo em um só lugar. Negro, loiro, moreno, grisalho. Havia para todos os gostos. – Ah sim, Clara. E como iremos nos divertir. – Respondi à minha amiga. – Vamos tomar uma bebida? Hoje estou a fim de encher a cara. Estou achando que vou ter que agradecer pela sua insistência em me tirar do hotel. – Ela me convidou. – Hum... se é assim, então vamos fazer valer a pena. Pedimos uma dose de cuba libre para cada, que é uma mistura de rum com refrigerante à base de cola. Contamos de um até três e entornamos a bebida em apenas um gole. – A primeira dose foi para abrir os trabalhos. Vamos à segunda. Continuamos bebendo, porém agora mais lentamente. Não tínhamos pressa para ficar bêbadas, pois geralmente a diversão acabava para uma de nós quando chegávamos a esse estágio.
Após o quarto drink, eu já me sentia mais leve e estava disposta a dançar até o dia amanhecer. – Vamos para a pista de dança. – Convidei. Clara respondeu puxando minha mão para caminhar entre casais e solteiros que já dançavam animadamente. A música ‘Nunca mais serei o mesmo’ da banda No Return começou a tocar e todos gritaram em reconhecimento. A canção já era conhecida por todos, que cantavam e dançavam com ainda mais empolgação. Eu também me identificava muito com essa música. Lembrava muito o meu passado. “Você se foi, nem disse adeus Aqui estou sem saber o que aconteceu Até pensei que éramos um Hoje eu sei que nunca me pertenceu Nunca mais serei o mesmo...”
Fechei os olhos para dançar e não sei se a bebida já estava fazendo efeito em minha mente, mas a canção me conduziu a outro mundo. Enquanto cantava a letra, fui remetida a outro lugar do passado que jamais gostaria de voltar. Uma mão na minha cintura me tirou do transe. Continuei dançando de olhos fechados e quando a música terminou, virei para ver quem se atrevia a me tocar sem autorização. Era um homem lindo, cerca de trinta centímetros mais alto que eu, loiro de cabelos desgrenhados, vestido em uma calça jeans e uma blusa gola V cavada, coberta por uma jaqueta de couro preta. Pela blusa, dava para perceber que era o protótipo da gostosura em forma de homem. Magro, com músculos na medida certa e tatuado. Ele me deu um sorriso safado, pois sabia que o havia avaliado da cabeça aos pés. – Está sozinha esta noite, gata? – Ele perguntou ao pé do ouvido. – Talvez. Eu não estava mentindo. Estava acompanhada por Clara.
– Posso saber seu nome? – Eu sou Jéssica. E você, quem é? – Perguntei som um sorriso mais que convidativo no rosto. Eu sabia que não podia deixar um homem daqueles escapar. Desde que cheguei ao Rio não havia ficado com ninguém, então já era hora de sentir um gosto carioca, não? – Meu nome é Rodrigo. – Ele virou para trás e deu um sinal para outro cara, que se aproximou. – Este é André, meu amigo. André, esta é Jéssica. Seu amigo estendeu a mão para me cumprimentar e percebi que ele já estava pra lá de Marrakesh, como diria Caetano Veloso. Seu olhar saiu de cima de mim e foi direto para Clara, que já estava bem animadinha por conta da bebida e, prontamente, se posicionou ao meu lado, querendo conhecer os caras. – André e Rodrigo, esta é Clara, minha namorada. – Apresentei. Os rapazes arregalaram os olhos e percebi tristeza no olhar de Rodrigo. Clara me deu um beliscão no braço e é lógico que não deixaria que a brincadeira fosse muito longe. – Brincadeirinha, rapazes. Não gostamos da mesma fruta que vocês. Gostamos de homens com H maiúsculo. Conhecem algum? Rodrigo deu uma linda gargalhada que mostrava todos os seus dentes brancos e perfeitamente enfileirados. Que sorriso! – Ah, se conheço, Jéssica. Sabia que adoro mulheres com senso de humor? – Fico feliz por isso ou a nossa conversa teria que acabar aqui mesmo. Então, o que faz da vida? – Sou médico pediatra. E você? A essa altura, Clara também já conversava paralelamente com André. Ele falava algo e, vez ou outra, minha amiga caia na gargalhada. Ela também contava suas estórias e ele não poupava nos risos. Pareciam se combinar. Voltei minha atenção para o médico lindo à minha frente. – Sou administradora e figurinista em um ateliê de Salvador. – Hum... é baiana?
– Sim, estou apenas aproveitando as férias aqui no Rio. Logo estarei de volta ao meu lar. – Sei. Aceita uma bebida, linda? – Claro, por que não? Ele chamou seu amigo e fomos os quatro para o bar. Depois de muita conversa, risos, doses e mais doses de bebidas, decidimos voltar para a pista de dança. Rodrigo dançava animadamente comigo, lançando olhares de flerte, mas o tal do André estava quase comendo Clara ali mesmo na pista. Ela estava tão bêbada que não se dava conta. Me aproximei e a puxei para falar em seu ouvido. – Clara, esse rapaz está visivelmente bêbado. Não é melhor eu pedir que Rodrigo o leve daqui? Ela gargalhou, apontando um dedo torto para mim, e com voz oscilante, respondeu: – Nem pense em afastá-lo. Você não queria que eu esquecesse o traste do Benito? Então é isso que estou fazendo. Vou esquecer aquele merdinha. Sabia que a nossa festa acabaria quando uma das duas ficasse bêbada. – Clara, por favor, não saia daqui. Eu vou buscar um copo com água para você. Fique onde está. Puxei a mão de Rodrigo e o levei comigo até o bar. Enquanto o garçom pegava a água, ouvi murmúrios e algumas pessoas se afastando. Não entendia como um ambiente tão seletivo poderia ter alguma briga. Só esperava que Clara estivesse bem distante dos briguentos. Voltei com o copo na mão tentando me equilibrar entre as pessoas dançando. Cheguei ao local onde estava e não havia qualquer sinal de minha amiga. Droga, eu devia ter levado ela comigo. – Onde será que ela se enfiou, Rodrigo? E seu amigo, onde está? Ele olhou para os lados como se estivesse procurando e devia ter reconhecido alguém, pois me puxou para acompanhá-lo. O seu amigo bêbado estava encostado em uma parede com a mão tapando um dos olhos e xingando. – André, o que aconteceu? – Rodrigo perguntou.
– Aquela vadia... ai, porra, está doendo... um filho da puta me deu um murro e a tomou dos meus braços. Não sei para onde ela foi. Fui tomada pelo desespero. Clara sozinha e bêbada em uma cidade enorme como o Rio de Janeiro? Liguei para o seu celular, mas chamou, chamou e ninguém atendeu. Que porra eu faria agora? – Rodrigo, eu preciso ir. Tenho que saber se Clara foi para o hotel. Comecei a me movimentar para sair, mas ele me segurou. Virei para ver o que queria e vi a resposta em seu olhar. – Posso ir com você, Jéssica? Dei-lhe um curto sorriso. – Claro, vamos. Pegamos um táxi e logo chegamos ao hotel. Desci rapidamente, deixando que o meu acompanhante acertasse a corrida. Tinha pressa em saber o paradeiro de Clara. Cheguei à recepção e perguntei se ela havia chegado, informando o número de seu quarto. A recepcionista conferiu os registros e, para meu sossego, confirmou. – A Srta. Jensen chegou agora há pouco acompanhada de um homem, Srta. Rios. Posso te garantir que ela se encontra em sua suíte. Soltei o ar que estava preso em meus pulmões e que eu sequer havia percebido que segurava. Rodrigo logo veio ao meu encontro e suas feições ficaram mais relaxadas quando disse que Clara estava em segurança. Quem será o cara que está com ela no quarto? Isso é algo que não vou descobrir hoje. Neste momento, o único interesse que tenho é de descobrir quantas tatuagens meu lindo médico tem no corpo. Registrei a entrada de Rodrigo no hotel e fomos para a minha suíte. O cara que estava contido até agora se transformou em um leão quando ficou a sós comigo dentro de quatro paredes. Tomei um susto quando me carregou em seu colo e foi em busca da cama, me jogando sobre ela. Sempre gostei de caras com pegada. Esse tinha. Subiu em mim e tomou meus lábios em um beijo sôfrego e necessitado. Levou minutos me
beijando, enquanto sua mão já fazia o caminho para encontrar os meus seios. Facilitei, abrindo os botões da minha blusa e o feixe do bustiê, deixando meus peitos à mostra. Ele soltou meus lábios e parou para admirar, voltando a me beijar em seguida, ao mesmo tempo que seus dedos brincavam com eles. Eu já estava morrendo de tesão e a coisa que mais queria naquela hora era seu pau duro e grosso enfiado em minha boceta inchada. Ele deve ter percebido a minha necessidade, pois levantou-se, tirou as minhas botinas e puxou a minha calça, retirando-a de uma vez só. Fiquei apenas com uma calcinha de renda preta, enquanto ele estava completamente vestido. – Acho que você está com roupas demais, não? Pense num cara com pressa. Pensou pouco. Em questão de segundos suas roupas já haviam voado de seu corpo e diante de mim, estava a mais bela visão do paraíso. Ele era lindo da cabeça aos pés. Comecei o escrutínio desde os seus pés e subi minha visão, terminando em seus olhos. Sorri para ele, transmitindo uma mensagem subliminar e ele sorriu de volta, entendendo a mensagem. Não houve muitas preliminares. Precisávamos daquilo com urgência e fiquei o observando enquanto vestia um preservativo em seu lindo pau. Oh, céus, aquilo é que era homem. Naquela noite, transamos duas vezes, sendo a segunda com tudo que tínhamos direito, sem pressa, lentamente. Tomamos banho juntos e nos jogamos na cama cansados e ofegantes. Sexo com Rodrigo é muito bom e, se ele quiser, podemos ficar juntos durante a minha estadia no Rio. Sei que terei boas lembranças desta cidade.
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– Que porra, Clara. Por que saiu da boate sem falar comigo? – Perguntei à minha amiga. – Calma, Jel, adivinha quem me raptou ontem. Vou dar uma dica: começa com Be e termina com nito. Estou tão feliz, minha amiga. – Jura? Você finalmente ficou com o produtor mais gostoso e badalado da atualidade? Como conseguiu encontrá-lo em uma cidade desse tamanho? Você não ligou para ele, não é?
– Não. Claro que não, foi pura coincidência. Eu não lembro de muita coisa, mas me contou tudo depois. Ele disse que tinha um cara tentando me atacar. Aliás, onde você estava que não o viu chegar? – Você estava quase caindo de bêbada e eu fui buscar um copo com água. Fiquei tão preocupada quando não a vi. Ela me deu um abraço apertado. – Oh, minha amiga, imagino o susto, mas o fato é que passei o dia inteirinho com o homem dos meus sonhos. Se eu morrer hoje, morro feliz. Dei três batidas em uma peça de madeira. – Vira essa boca pra lá. Você tem que ficar muito viva, pois só te perdoo quando cumprir uma missão: eu quero conhecer o vocalista deus grego da No Return. Providencie isso. Quero ficar frente a frente com o delicioso Zeus Melino. – Porra, você não acha que está sonhando demais? – Parece que estamos na safra dos sonhos realizados, querida. Então tente conseguir isso pra mim. Ben não é o produtor da banda? Então, para ele é fácil. – Eu não sei, Jel. Não quero dar uma de fã neurótica. Deixe rolar. De repente ele me convida para ir a um show e eu a levo comigo. – Tudo bem, mas deixe eu te contar... Falei sobre Rodrigo e tudo o que tinha acontecido entre nós durante a noite. Quer dizer, quase tudo. Disse que ele pediu para me ver outras vezes e que marcamos de ficar juntos novamente no outro dia. Minha amiga ficou super animada por mim e disse que gostaria de conhecê-lo. Fiquei de lhe apresentar quando tivesse oportunidade. Dias e dias se passaram e meu contato com Clara estava se tornando cada vez mais raro. Ela saia muito com seu Ben 10, como o apelidei, e eu com Rodrigo. Mauricio, meu irmão, me ligou algumas vezes, dizendo que eu sou uma irmã desnaturada. Adorava ouvir sua voz e já estava com saudades. Eu apresentei Rodrigo novamente a Clara, pois ela não tinha muita lembrança do dia da boate. Passei pelo Rio com ele, que me apresentou lugares fantásticos da cidade. Salvador é muito
bonita, mas a cidade maravilhosa não fica atrás. Sempre que meu médico gostoso estava de folga, nos encontrávamos e íamos à praia, cinema, Jardim Botânico e a baladas. Enlouqueci quando Clara me disse que iriamos a um show da banda. E fiquei mais enlouquecida ainda quando chegamos à casa de shows e descobri que ficaríamos na área VIP. Eu parecia pinto no lixo. Pulei, gritei, dancei e cantei como uma fã neurótica. Adorei o show e prometi para mim mesma que assistiria novamente quando fossem a Salvador. Hoje é o meu último dia no Rio. As férias estavam terminando e eu já estava com saudades do ateliê. Sinto que tenho mais que um trabalho, aquele lugar é onde coloco minhas ideias em prática, onde desenvolvo minha criatividade. Sou apaixonada pelo que faço. Rodrigo me levou para um jantar e, de lá, iriamos nos despedir em um lugar mais íntimo. Gostei muito de conhecê-lo e de ficar com ele esses dias. Estávamos saboreando a deliciosa comida, quando resolvi lhe agradecer por compartilhar comigo grandes momentos. – Rodrigo, obrigada por ter dedicado tanto tempo a mim. Você me apresentou lugares lindos e deixarei a cidade já com saudades. Graças a você, essas férias serão inesquecíveis. Ele limpou a garganta e ficou me olhando com seriedade. Ai, ai, ai, já não estava gostando daquilo. – Jéssica, não precisa me agradecer e muito menos sentir saudades. É... eu tenho uma proposta para te fazer. Pensei na possibilidade de iniciarmos uma relação, sei lá, partir para algo mais sério. Quando desse, você viria para cá e quando eu pudesse, iria te encontrar. Ah, céus, palavrinha mágica não. Relacionamento. – Não dá, lindo. Moramos muito distante e uma relação desse tipo nunca dá certo. Percebi que ele estava disposto a me convencer. – Nós podemos fazer dar certo. Estamos a distância de um voo, é tão rápido hoje em dia. Inspirei fundo. Não enrolaria mais o rapaz. Teria que ser direta.
– Rodrigo, querido, é o seguinte: eu não entro em relacionamentos. Eu não namoro, não faço amor e muito menos me apaixono por ninguém. O problema não é com você, é comigo. Já tive decepções demais e não estou mais aberta para esse tipo de coisas. Ele me encarou, com olhos lacrimejantes. – Do que tem medo, Jéssica? Eu poderia prová-la que nem todos os caras são canalhas. Passei a mão em seu rosto e lhe dei um sorriso terno. – Não tenho dúvidas de que você é um cara diferente e quantas mulheres não gostariam de ter a sorte de encontrá-lo? Você não vai conseguir mudar a minha opinião, simplesmente porque eu não quero mudar. Não tente. Eu sou assim, querido, e serei sempre. Ele parecia que não acreditava nas palavras que saiam de minha boca. Esse momento era sempre difícil para mim, pois vinha acompanhado de todo o drama de um fim de relacionamento. Me levantei da mesa e lhe dei um beijo rápido. – Eu preciso ir, Rodrigo. Obrigada por tudo. Peguei a minha bolsa e saí. Respirei aliviada por estar de volta para a vida onde meu coração sempre estaria seguro.
Capítulo 3
Ele
Música do capítulo: Toda forma de amor – interpretada por Lulu Santos
Clara. Esse é o nome da garota com quem meu amigo Ben saiu nos últimos dias. Finalmente largou aquela fossa que estava passando por causa da última. Ela já estava até para se casar. A menina é linda e, a princípio, ele afirmou que era amiga. Quem, em sua sã consciência, seria amigo de uma mulher daquelas? Eu, com certeza, não. Depois admitiu que estava rolando um lance entre eles, mas parece que não durou muito tempo. Ben ainda não estava preparado para algo mais e parece que a garota ficou bastante chateada. Continuamos a turnê e percebi que ele estava inquieto. Enquanto eu e os caras fodíamos as groupies como coelhos, meu amigo voltou a ser o cara pacato de antes, que dispensava milhares de garotas que se jogavam aos seus pés. Acho que ele está com uma nova fossa, mas desta vez por causa da tal amiga com benefícios. Era por isso que eu não me abria para ninguém. Não conseguia me ver assim, sofrendo pelos cantos como se só existisse uma mulher no mundo. Estávamos em Minas Gerais e o show ia começar em poucos minutos. Era um festival e outras bandas reconhecidas nacionalmente iriam tocar depois de nós. Já havia três garotas certas para me esperar no camarim e iria compartilhá-las com Rick, o baterista da banda. Dei autógrafos, posei para fotos e procurei por Ben para ver os últimos ajustes. Ele não me viu chegar e o flagrei com uma morena sentada no colo. Sorri comigo mesmo e me afastei, antes que me vissem. É, acho que meu amigo finalmente estava de volta como nos velhos tempos. Às vezes, compartilhávamos as mulheres ou fazíamos trocas de casais. Ultimamente, ele estava fora do páreo. Talvez a gente volte a fazer isso juntos.
Como sempre, o show foi espetacular. O público de Minas era muito fervoroso e lotaram um estádio inteiro. Me senti amado e reconhecido dentre tantos artistas renomados. Não havia dúvidas. A No Return era a banda da vez. De Minas fomos para Salvador. Eu sou carioca, enquanto Ben é baiano. Nos conhecemos no mundo da música e nos tornamos amigos. A partir daí surgiu a ideia de montar a banda. Eu sentia como se a Bahia fosse a minha segunda casa, pois meu irmão Mateus mora em Salvador e, depois do Rio, era o estado que melhor conhecia. – Estou pensando em visitar uma casa noturna, o que acha de irmos, Zeus? – Meu amigo perguntou. – Hum... é bom vê-lo de volta à ativa, mas vou ter que declinar o convite. Faz um bom tempo que não vejo Mateus e preciso ir lá. Garanti que ficaria em sua casa quando o show fosse na Bahia. – Porra, o grande Zeus recusando uma noitada de sexo para ficar com o irmãozinho? – Não enche, Ben. Mateus e meu cunhado estão me esperando para jantar. – Ele ainda está com o tal de Felipe ou já tem outro cara? – Você sabe como o meu irmão não é nada parecido comigo. Ele é romântico, fiel e todas essas coisas mais. Pelo menos não seguiu o modelo dos nossos pais em questão de relacionamento. Eles se amam e, sim, estão juntos até hoje. Até pensam em adotar um bebê. – Uau! Então, em breve, você se tornará tio Zeus. – Ele sorriu. – Sim. Espero que muito em breve. Uma noite após o show de Salvador, todos da banda foram para uma boate no bairro boêmio do Rio Vermelho. Adivinha com quem meu amigo estava? Desta vez, tenho certeza que Benito está encoleirado e estou torcendo muito por ele e Clara, pois percebo que se dão muito bem. – É, Ben, estou vendo que você reencontrou sua amiguinha. Nunca vi você cultivar amizades femininas por tanto tempo. – O provoquei. – Ela não é apenas minha amiga. É minha namorada e que fique avisado não só a você, mas aos caras também. Todos ouviram a declaração dele e não deixaram barato. Uns assoviaram, outros aplaudiram e eu fui saudar a garota que finalmente conseguiu acalmar o coração desse cara.
Logo depois, voltei para o lado da morena que estava em meu camarim e eu havia levado para a balada. Já a conhecia de algum lugar, mas não lembrava de onde. A minha memória reacendeu quando ela provocou Ben na frente de Clara. – É uma pena que não esteja mais disponível no mercado. Teria muito prazer em ser fodida por você novamente. Dessa vez, quem sabe, ser compartilhada por você e Zeus. Porra, isso ia dar merda. Benito ficou verde de raiva e quando ia soltar os cachorros na garota, Clara interviu: – Oh, queridinha, deve ser uma pena mesmo, porque agora ele já não está mais disponível para você e mais nenhuma putinha da sua laia. Ele agora é meu e não pretendo mudar isso. Minha companheira dessa noite ainda queria mostrar suas garras e tentou revidar: – Olha aqui, sua... – A interrompi, sorrindo. – Meninas, essa conversa está muito excitante, mas isso não é hora nem lugar para discussão. Se você insistir em aborrecer meu amigo, eu vou ter que colocar outra em seu lugar e te botar para fora da festa. – Falei incisivamente para a vadia. – Não, querido. Não será necessário. Eu prometo me comportar. Sorri para mim mesmo, pois já sabia que reagiria desse modo. As groupies sempre fazem o que mandamos ou sabem que estão fora do jogo. No decorrer do evento, Clara se mostrou uma grata surpresa, pois era muito divertida e engraçada. Conseguiu envolver a todos com suas histórias e toda a atenção dos caras estava voltada para ela. Confesso que senti uma pontinha de inveja do meu amigo naquela hora. Repentinamente, senti um pequeno desejo de me apaixonar, de admirar uma garota e tê-la só para mim. A morena se encostou, roçando seus seios siliconados e o desejo que sentia agora há pouco rapidamente passou. O tesão tomou o seu lugar. Levei a putinha até um canto escuro e levantei seu justo vestido. Ela me provocou por um bom tempo e eu não queria mais esperar. Vesti um preservativo em meu pau e o enfiei sem dó nem piedade em sua boceta molhada. A fodi de todas as formas possíveis, dentro dos limites daquele ambiente e ela logo gozou, me levando a acompanhá-la em um clímax forte e profundo. Naquela noite, dormimos em um hotel e
não poupei o seu corpo. Sabia que no outro dia estaria dolorida, mas era assim que elas sempre gostavam. Voltamos para o Rio no início da semana e não havia shows marcados por alguns dias. Só no final de semana. Decidi que passaria o dia no apartamento que havia comprado recentemente. Com a grana entrando, vendi o que tinha e comprei outro muito melhor. Liguei a televisão e fiquei assistindo a um programa de comédias como não fazia há tempos. Preparei um sanduiche, enchi um copo com suco de uva e me dediquei a passar horas e horas apenas assistindo TV. Depois de algum tempo, meu celular tocou e olhei a tela para identificar quem poderia ser. Era Ben. Porra, esperava que ele não quisesse falar de trabalho, pois embora ame o que faço, precisava de um espaço para mim. – Diga, Ben – Atendi. Ele atendeu com uma conversa estranha. – Cara, você sabe o quanto confio em você, não é? – Como não saberia? Somos amigos. – Claro. É justamente por isso que me sinto a vontade para te fazer um pedido. – Cara, você já está me deixando preocupado. O que há de tão importante? – Bem, não vou fazer rodeios. Eu levei Clara uma noite dessas em uma casa de swing e ela gostou muito, porém agora estamos namorando e não quero nos expor, você sabe como a mídia pode ser implacável. Então, gostaria de te convidar a compartilhá-la comigo. Fiquei em silêncio por um tempo, pois fui tomado pela surpresa. Eu não tenho experiência com relacionamentos, mas não sei se teria peito para dividir alguém que eu considerasse tão importante. Eu não estou o recriminando, pelo contrário, estou enaltecendo sua coragem. É preciso ser muito seguro de si para tomar uma decisão dessas. – Tem certeza do que está me pedindo, Ben? – Você é o único que confio para compartilhar a minha mulher, mas se não quiser, vou entender. Sorri. Clara é linda e é lógico que nenhum homem recusaria essa proposta. Além disso, eu
entendo o meu amigo. Ele não pode expor sua namorada para qualquer um. – Certo. Vou fazer esse sacrifício por você. Ele gargalhou alto do outro lado da linha telefônica. – Ah, filho da puta! Sacrifício, hein? Lembre-se que ela é só minha e só a tocará com minha autorização. – Não preciso ser lembrado dessas regras. Você sabe que eu sempre vou respeitar o que é seu. Nunca ultrapassei os limites. – Sei disso. Conversamos um pouco mais e marcamos de nos encontrar em seu apartamento ainda esta semana. Dias e dias se passaram, a noite marcada com Ben aconteceu e foi maravilhosa. Consegui entender melhor porque meu amigo resolveu se prender a apenas uma mulher: Clara era completa dentro e fora da cama. Como poucas que se pode ver por aí. Ela nos acompanhou em turnê e, de vez em quando, Ben a compartilhava comigo. Era tudo muito seguro, consensual e discreto. Eu a respeitava muito e os limites que Ben impunha. Encontrei nela a irmã que nunca tive e uma amiga que pretendia levar para a vida toda, independente de sua relação com meu amigo dar certo ou não. Era uma grande confidente e sabia escutar como ninguém, embora eu não tivesse lá tantos segredos para confidenciar. Chegamos à Brasília para fazer mais dois shows que estavam programados em nossa turnê. Essa cidade era especial, pois o público que curte rock é muito grande e a nossa chegada era muito esperada. Estava me preparando para iniciar o ensaio, quando Clara entrou no camarim. – Zeus, como está a expectativa para o show aqui? Está sabendo que todos os ingressos foram vendidos e que eles pleitearam até um espaço na agenda para mais um show? – Porra, mega ansioso. Vou dar tudo de mim hoje naquele palco e quero ver a No Return em todos os noticiários amanhã. Aguarde! – Parabéns! – ela sorriu e me abraçou. – Mas tem uma galera que não está nada feliz, pois não conseguiu comprar ingresso. Benito está vendo o que pode fazer para encaixar vocês em um show
futuro. – Por isso que temos tanto sucesso: temos o melhor produtor de todos. Ela virou para sair, porém parece que lembrou de algo e voltou: – Ah, deixa eu te falar. Uma amiga minha vem passar o fim de semana conosco e ela é simplesmente apaixonada pela banda. Ben a convidou, tem algum problema? – Claro que não. Então, ela é apaixonada só pela banda? Ela não teria preferência por um músico em particular? Clara gargalhou. – Safado e convencido! É claro que ela arrasta um bonde por você, Zeus. Já me pediu uma centena de vezes para te conhecer. Finalmente irei apresentá-lo. – Tudo bem. Se é sua amiga, é minha também, mas me diga uma coisa: é gostosa? Clara me deu um tapa no braço e se virou para sair. Antes de alcançar a porta, virou seu rosto para responder: – Sim, ela é muito bonita. Você vai gostar dela. Sacudi a cabeça com um sorriso nos lábios e voltei a dar uma olhada no repertório desta noite. Eu teria que ter muito cuidado com essas fãs alucinadas, especialmente se tratando da amiga de Clara. Ela podia achar que eu teria o mesmo interesse que Ben teve por sua amiga e confundir as coisas. Eu deixaria tudo claro para que não houvesse mal-entendidos. Zeus Melino não se envolve em relacionamentos. Apenas oferece o que pode e aceita o que lhe dão. Sexo. É o meu único interesse.
Capítulo 4
Ela
Música deste capítulo: Coleção interpretada por Ivete Sangalo
Ansiedade. Era a palavra que martelava em minha mente, pois hoje, finalmente, estaria conhecendo o astro de rock fodidamente lindo Zeus Melino. Era um sonho que estava prestes a ser realizado. Clara me ligou na semana passada, dizendo que seu namorado havia me convidado. Fiz todos os ajustes no ateliê para que neste fim de semana estivesse livre. Quero assistir aos shows, conhecer a cidade e, claro, colocar as conversas em dia com minha amiga. Maurício ficou louco quando soube que eu iria conhecer o pessoal da banda. Ele também curte muito o som deles. A única coisa que me deixou triste foi ter que ficar longe do meu lindo gatinho Plutão. Ele é um vira-lata preto que encontrei há um mês com a patinha quebrada e resolvi cuidar. Escolhi esse nome em homenagem a um conto que amo de Allan Poe. Levei ao veterinário, tratei da doença e hoje está lindo e vistoso. Se tornou meu mais novo companheiro. Cheguei ao aeroporto e avistei um cara segurando uma placa com o meu nome. Eu sinalizei e ele veio pegar minhas malas, me conduzindo para um táxi. Clara havia mandado alguém me buscar. O hotel, onde estavam hospedados, era ultra luxuoso e, antes de entrar, parei para admirar a fachada. Tenho certeza que esse era o melhor da cidade e isso mostrava o quanto a banda estava em ascensão. Me identifiquei na recepção e fui conduzida ao quarto onde Clara estava. Dei duas batidas na porta e, rapidamente, minha amiga atendeu, me recebendo com um afetuoso abraço. – Jel, que bom que veio. Estava precisando de ares femininos à minha volta. Vivo rodeada de machos.
Eu acho que não reclamaria se estivesse no lugar dela. – Você não pode se queixar. Está rodeada dos homens mais gostosos desse país e por falar neles, onde estão? Ela balançou a cabeça, dando a entender que eu não tinha jeito mesmo. – Hoje só os veremos à noite no show. Cumprimentei seu namorado, que me olhou de forma bem-humorada. – Estou sabendo do apelido que ganhei, Jéssica. Ben 10, hein? Caí na gargalhada, dando um tapa no braço de minha amiga por ter contado a ele. – Você tinha que abrir a boca, não é, Clara? Ela acompanhou meus risos: – Não me contive. Olhava para Ben e lembrava do seu apelido. Ele insistiu para saber do que eu achava tanta graça e acabei contando. Benito passou por mim com um sorriso nos lábios e sussurrou em meu ouvido: – Não espalhe o meu segredo para mais ninguém. Estou sem tempo para salvar o mundo. A banda está sugando muito de mim. Me joguei em uma poltrona, com a barriga doendo de tanto gargalhar e Ben deu as costas, nos deixando a sós. Decidimos sair e ter um dia de garota. Fizemos umas comprinhas no shopping e Clara aproveitou para explorar os meus serviços. – Vou aproveitar que está aqui para escolher alguns looks pra mim. Como você é figurinista, sei que vai arrasar na escolha das peças. Ela me mostrou alguns dos quais mais gostou e percebi que não era só eu quem entendia do assunto. Ela também tinha muito bom gosto para roupas. Circulando pelas araras, escolhemos alguns looks para que ela pudesse experimentar. Resolvi me dar ao Luxo de escolher alguns para mim também naquele dia. Eu recebia parte da pensão vitalícia deixada pelo meu pai e sempre guardava no banco, usando quase nada do dinheiro, pois o que recebia no ateliê era mais que suficiente para as minhas despesas. Decidi gastar um pouco.
Fiquei tão apaixonada pelas roupas daquele lugar que pensava em voltar a essa loja em outro momento, pois as peças eram muito selecionadas. – Que tal se a gente passar a tarde no spa Jéssica? O que você acha? – Adoraria. Era tudo que eu estava precisando ultimamente. Aproveitamos para colocar os assuntos em dia, enquanto éramos massageadas. Ela me contou sobre uma noite dos sonhos que teve no Rio com Ben, quando visitaram uma casa de swing. – A experiência foi fantástica, Jel. Já repetimos algumas vezes e é muito quente. – Porra, Clara, por que não me contou quando estávamos lá? – Quase nãos tivemos oportunidade de conversar. Você ficava o dia todo enfiado com aquele cara no quarto e eu com meu produtor gostoso, então esperei outra oportunidade para te contar. – Acho que se um dia eu tiver uma boa companhia que se proponha a fazer isso, vou topar na hora. Também tenho muita curiosidade de conhecer como é ser disputada por dois homens. – Jéssica, você não sabe o que está perdendo. É realmente muito bom. – E Zeus? Me conta, ele sabe que eu estaria vindo para cá? – Comentei que uma amiga gostosa viria e ele ficou super animado. – Ai, meu Deus! Sério? Vou caprichar nesse spa. Ele tem que conhecer a minha versão linda e maravilhosa. Preciso estar perfeita para esta noite. Minha amiga sorriu. – Como se precisasse, você já é linda. Assenti, me levantando, pois a massagem havia acabado. Ainda faria um serviço completo no salão e essas coisas são demoradas. Tinha que começar o quanto antes. Enquanto caminhávamos, perguntei: – Como está aquele rolo com Shy? Ele parou de te perseguir? Suas feições entristeceram. – Parece que se conformou. Às vezes percebo olhares em minha direção, mas não passa disso. – E Ben? Esse namoro está sério, hein? Eu vi a declaração que ele fez na TV.
– Porra, eu não sou sortuda? Eu o amo também e a relação não poderia estar melhor. Sim, embora eu não estivesse em busca de algo parecido, queria ver a minha amiga feliz. Ela realmente era muito sortuda por poder amar e ser amada. Eu não teria a mesma sorte, portanto nem ao menos arriscava. Saímos do spa no início da noite prontas para arrasar. Benito não parava de ligar e, de hora em hora, ela tinha que dar um relatório do que estava fazendo. De vez em quando, tirava o telefone do ouvido e ficava fazendo caretas como se ele pudesse vê-la. Só me restava rir desses dois. O momento do show chegou e, mais uma vez, ficamos na área reservada aos mais próximos da banda. Além de nós, havia alguns integrantes do staff e algumas poucas garotas, provavelmente as refeições dos rapazes. Não sou boba e sei que esses caras fodem com fãs depois dos shows. Eles não seriam os primeiros nem os últimos a fazer isso. Eu mesma seria uma delas, se Zeus me desse bola. Só não me submeteria a ser uma rapidinha dentro de um camarim. Teria que ser em um outro lugar com cama e tudo o mais como pede o figurino. E só teria algo exclusivamente com ele. Embora os demais sejam lindos, Zeus é o único do grupo que chama a minha atenção. Pare de sonhar, Jéssica. – Disse para mim mesma. Esta noite, o show teve algo de especial. Não sei se por conta do público, que parecia alucinado pela banda, cantando música após música com toda empolgação, ou se a banda estava mais madura, devido ao sucesso e experiência que vinha adquirindo. Eles foram incríveis esta noite. Clara me levou para os bastidores e o meu coração parecia que ia sair pela boca. Zeus. Eu o conheceria a qualquer momento. Havia uma grande sala, onde alguns integrantes estavam dando entrevista e tirando fotos. Olhei para os lados e não avistei o meu deus grego. Onde ele estaria? Clara me apresentou aos caras e todos ficaram entusiasmados para me conhecer melhor. Ela mentiu para eles, dizendo que eu não estava disponível e alguns fizeram biquinho, demonstrando
decepção. Gostei muito deles. Deve ser legal conviver com rapazes tão divertidos. Ela me puxou pela mão e me levou para um lugar que identifiquei como um camarim. Deu três batidas na porta e já foi entrando, pois estava aberta. Entrei logo depois dela e a visão que tinha diante de mim era melhor do que havia imaginado. O homem estava sem camisa, mostrando suas tatuagens e músculos formados na medida certa e completamente proporcionais ao seu corpo. Havia uma mulher em seu colo e, quando me viu, tiroua de lá e veio em minha direção. – Zeus, quero te apresentar Jéssica, minha amiga. Fiquei estatalada no lugar, perdendo o controle da minha mente e do meu corpo. Parecia uma criança assustada depois de ter aprontado. Eu sabia que aquele era o momento para dizer alguma coisa, mas não estava conseguindo. Perfeito. Era a única palavra que piscava em luz neon na minha mente. Clara me deu uma leve cotovelada e apontou para ele. – Jel, você não queria conhecê-lo? Tentei formar uma frase coerente, mas nem uma palavra sequer saiu da minha boca. – Porra, Clara, por que você não me disse que tinha uma amiga gostosa assim? Venha cá, docinho, eu só mordo de vez em quando. Ele me puxou pelo braço e me aproximou dele, dando um beijo no canto de minha boca. Suas palavras e seu gesto fizeram com que meu corpo reagisse e consegui tomar o controle da minha mente de novo. Correspondi ao abraço com outro ainda mais apertado e dei alguns pulinhos como uma fã neurótica. – Sério que eu estou abraçando o fodidamente gostoso astro do rock Zeus Melino? Tem certeza que não morri e estou no céu? Percebi que Clara soltou a respiração que estava presa, pois havia se preocupado com a minha reação.
Repentinamente, o meu deus grego fez o que eu tanto desejava, mas nunca esperava que fosse de uma hora para outra. Me soltou de seus braços e agarrou a minha mão, me conduzindo à saída do camarim. A garota que estava com ele resmungou, mas não recebeu qualquer atenção de volta. Clara ficou boquiaberta. Ben chegou e viu o que estava acontecendo. – Zeus, tem um monte de fãs querendo um pouco de atenção lá fora. Para onde você vai? – Seu produtor perguntou. Ainda caminhando para a saída, ele deu um sorriso e respondeu: – É exatamente o que estou fazendo. Preciso dar atenção a uma fã em especial. Clara e seu namorado ficaram lá parados, apenas observando, sem poder fazer mais nada. Naquele momento, eu era a criatura viva mais feliz da terra. Teria uma noite dos sonhos com o meu superstar para guardar na memória. Eu faria de tudo para que ele também recordasse dessa noite.
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Zeus me levou para o hotel onde estávamos todos hospedados. No caminho, ficamos nos pegamos e quase transamos no carro mesmo, mas acabei o freando. Não que eu tivesse algo contra transar no carro, mas eu queria que nossa primeira vez fosse de tremer o universo e não daria para ser ali naquele minúsculo espaço. Passamos pela recepção direto e ninguém nos parou, pois logo o reconheceram. Fomos para o elevador e ele parecia ter pressa. Tive que correr um pouco para acompanhar seus passos. As portas se fecharam e, sem pensar duas vezes, Zeus me jogou contra a parede formada por espelhos. Tomou meus lábios em um beijo longo e ardente, enquanto suas mãos serpentavam em minhas pernas. Senti uma mão quente escorregando em minha virilha e dedos experientes já tentavam afastar minha lingerie para o lado. Meu corpo ardia, pedindo por mais e ele deve ter lido a minha reação, pois me deu o que eu queria. Enfiou primeiro um dedo em minha boceta molhada, reconhecendo o território nunca antes
navegado e, quando estava familiarizado, enfiou outro dedo iniciando uma doce tortura em minha abertura inchada. Aprofundei ainda mais o beijo e resolvi dar uma função às minhas mãos que até o momento estavam sem vida. Passei-as espalmadas pelo seu peitoral e senti como era duro e másculo. Minhas mãos desceram ainda mais até alcançar o cós de sua calça. Provoquei-o parando ali e ele gemeu, querendo que eu prosseguisse. Decidi continuar a minha caminhada rumo ao paraíso quando alcancei algo duro e saliente. Agarrei seu pau ainda dentro da calça com as duas mãos e apertei com vontade, mas sem impor muita força. – Jéssica! Ele pronunciou meu nome como se estivesse entoando uma canção. Continuei lhe provocando, massageando a sua ereção e ele reagia intensificado o beijo e investindo em minha boceta encharcada. O elevador abriu e, abruptamente, ele parou tudo o que estava fazendo, puxando minha mão para acompanhá-lo até a suíte. Quando entrei, fiquei assustada com o que vi. Eu nunca fui uma mulher vislumbrada com riqueza e essas coisas, mas me assustava ver tanto luxo em um só lugar. A cor que prevalecia era o dourado, dando um aspecto de realeza ao ambiente. Eu tinha certeza de que era a principal suíte do hotel. Claro, um deus grego tinha que ter o melhor, não? Zeus parou diante de mim e levou segundos apenas me olhando. Eu consegui ver confusão em seus olhos, mas seus traços logo suavizaram quando começou a caminhar. – Aceita alguma bebida, Jéssica? Só naquela hora me dei conta de que estava com sede. Sede em todos os sentidos. – Aceito um copo com água, por favor. – Claro. Colocou uma dose de uísque cowboy para ele e pegou uma garrafa mineral no frigobar, me oferecendo. Tomou sua bebida em um só gole e colocou um pouco mais no copo. – Onde você estava escondida esse tempo todo, linda? Falou, inspecionando o meu corpo de cima a baixo. Dei um gole em minha água e dois passos
em sua direção, sentindo sua respiração muito próxima. – Mais perto do que você imaginava. – Falei, sussurrando em seu ouvido. Dei alguns passos para trás, comecei a andar pelo ambiente e continuei falando: – Eu estava no show do Rio de Janeiro. Sabe aquele que você conheceu Clara? Então, estávamos de férias lá. Eu só estou aqui porque praticamente implorei à minha amiga e ela me garantiu que esse dia ia chegar e chegou, não é mesmo? Falei a última frase olhando em seus olhos. – Está aqui por minha causa, Jéssica? Tomou mais um gole de uísque e continuou me observando. – Também. Eu queria rever a minha amiga e já que eu podia juntar o útil ao agradável, vim no primeiro voo. A propósito, o show foi incrível. – Incrível... – ele repetiu. – Incrível era eu não saber da sua existência até hoje mais cedo. Clara me contou que viria, mas não deu detalhes. Tomei mais um gole da minha água e depositei a garrafa sobre uma banquinha. – O fato é que estou aqui, mas acho que não viemos para conversar, não é? Que tal continuarmos de onde paramos? – Convidei. Dessa vez, ele é quem foi pego de surpresa. Segurei a bainha do meu vestido e, de uma só vez, passei sobre a minha cabeça. Sacudi os cabelos loiro escuros para que se ajeitassem e fiquei parada em sua frente apenas de lingerie rosa e saltos vermelhos. Ele engoliu em seco como um adolescente que iria transar pela primeira vez e passou a caminhar em minha direção. Me beijou fervorosamente, movimentando suas mãos tal qual um polvo cheio de tentáculos. Apertei sua bunda e rocei sua ereção em meu ventre. Ele desceu seus lábios em rumo aos meus seios e começou a dar-lhes atenção chupando, lambendo e mordendo. – Que delícia! – Gemi. Permaneceu o que fazia por minutos e minutos, levando sua mão para um lugar que já havia explorado antes. Aproveitei sua ousadia e fiz o mesmo, mas dessa vez não queria nada que pudesse atrapalhar o contato com a pele.
Abri o botão de sua calça e o zíper, baixando a única peça de roupa que ele vestia. Não usava cueca, estava completamente nu. Segurei seu pau duro e grosso em minha mão que não conseguia fechar tamanha era a espessura. Comecei a friccionar, levando seu prepúcio para trás até sua base e para a frente, em um delicioso ritmo de vai e vem. Passei o polegar sobre sua pequena fenda e tirei dali uma gota de pré-semem. Levei o dedo até minha boca e lambi o doce fluido que havia retirado. Seus olhos pareciam fogo, me fitando como se eu fosse sua caça. Havia desejo neles. Havia luxúria. Segurei suas bolas enquanto continuava a fricção. Ele gemia, intensificando a brincadeira em meus seios e em minha entrada. Me afastei, deixando uma rajada de vento passar entre nós, e fui em busca da cama. Eu não suportaria esperar mais e precisava ser fodida. Caminhei rebolando em meus saltos e lingerie. Olhei para trás e vi que fitava a minha bunda. Lambeu os lábios e passou a me seguir, me alcançando e me jogando de frente na cama. – O que você quer? Diga! – Ele perguntou. – Quero que me foda. – Falei com voz espremida pelo tesão que estava sentindo. – Repita! – deu um tapa em minha bunda. – O que você quer, sua putinha? Rebolei, roçando a minha bunda em seu pau. – Eu quero você. Aqui. Dentro. De. Mim. – Respondi, pausadamente. Ele deu uma risada curta e se abaixou, puxando a minha calcinha no caminho. Abriu minhas pernas, tendo uma visão do meu cuzinho e boceta ao mesmo tempo. – Primeiro vou te chupar, depois dou o que precisa. Encaixou sua boca no meio das minhas pernas e passou a me lamber com vontade, saboreando o meu doce, limpando todo o mel que já me encharcava. Senti que meu grelo estava um pouco maior e duro de tanto desejo, e percebi que já estava ficando sensível. Eu não demoraria a gozar. Depois de minutos de tortura, com o clímax já se aproximando, resolvi mudar a posição. Por que não sentirmos prazer juntos?
O empurrei levemente e tomei sua mão para conduzi-lo. Acho que não estava acostumado a perder o comando no sexo, pois percebi confusão em seu rosto. Tomei os seus lábios, sentindo o meu sabor neles e lambi todos os fluidos que melavam o seu rosto. – Eu quero te chupar também, delícia, então achei que seria mais justo compartilharmos um do outro, não acha? Propus a posição de ‘meia nove’ em que ambos poderiam se deliciar no sexo oral. Seu rosto, que antes estava confuso, voltou a demonstrar desejo. Seus lindos olhos castanhos penetravam nos meus cor-de-mel, tentando me dominar. E conseguiram. Ele se deitou sobre a cama com seu pau eretamente estendido em um delicioso convite. – Coloque sua boceta em minha boca. – Ordenou. Sentei sobre sua barriga e ajustei meu corpo para trás, de modo que encaixasse meu clitóris na altura de seus lábios. Senti uma língua quente me invadir e, naquele momento, não conseguia me lembrar de algo que fosse mais gostoso no mundo. Enchi minha boca com o seu delicioso pau e o suguei, lambendo e alternando com suas bolas. Compartilhamos o maior dos prazeres um com o outro por bastante tempo, xingando e sussurrando palavras sujas. Sua língua era mágica e, por mais que tentasse me segurar, o gozo já batia na porta. Rebolei sobre sua boca e quando ele alcançou a entrada do meu cuzinho, não resisti. – Zeeeeeeeeus! Fui tomada por um nirvana tão profundo, que não havia palavras no dicionário que o descrevesse. Meu coração palpitava aceleradamente e não encontrei forças sequer para continuar respirando. O maior clímax que já tive na vida. E foi com Zeus. Voltei a lhe dar prazer no sexo oral, mas ele me levantou apressadamente e foi em busca de um preservativo. – Não vou gozar em sua boca, linda. Não dessa vez. Quero gozar em sua bocetinha primeiro. Meu deus grego me comeu em quase todas as posições possíveis e imagináveis como se
estivesse adorando o meu corpo. Eu me dei a ele em uma entrega completa, sem pudores, sem limitações, dando e recebendo tudo o que tínhamos a oferecer. Alcancei o clímax mais uma vez antes que ele me acompanhasse e se perdesse dentro de mim. O segundo foi tão intenso quanto o primeiro e, por uma fração de segundo, fiquei com medo de me viciar. Não pertencíamos um ao outro. E nunca pertenceríamos. Jogados de costas sobre a cama e com respiração ofegante, ficamos em silêncio por um bom tempo. Pela primeira vez, não sabia o que falar depois do sexo com um cara. Timidez e vergonha nunca foram marcas do meu caráter, então não conseguia entender porque as palavras haviam fugido da minha mente. Ele quebrou o gelo. – Quantos dias pretende ficar com Clara, Jéssica? Ainda olhando para o teto, respondi: – O combinado foi de que ficaria durante o final de semana. Por quê? O silêncio voltou a dominar o ambiente. Tempos depois, ele falou. – Eu a quero em minha cama durante esses dias. Fiquei surpresa por sua resposta. A fama dele era de que logo enjoava das mulheres e que não ficava mais de uma vez com elas. Por que comigo seria diferente? – Olha, Zeus, não se sinta obrigado a me dar atenção apenas porque sou amiga de Clara. Eu entendo seu estilo de vida e não estou aqui hoje alimentando esperanças de que sejamos um casal. Muito pelo contrário, pode acreditar. Ele virou para me fitar com os olhos arregalados, como se estivesse nascendo chifres em minha cabeça. Fiquei confusa por sua reação. Sentou na cama e prosseguiu a conversa. – Entenda uma coisa, querida. Eu nunca me sinto obrigado a nada. Se eu te pedi para que passasse esses dias comigo era porque eu realmente queria que passasse esses dias comigo. Quanto a sermos um casal, eu quero deixar isso bem claro, eu não...
O interrompi. – Não precisa continuar. Eu sou como você. Também não namoro, não entro em relacionamentos e nem me iludo com essa coisa de amor. Se é diversão que quer, então, sim, eu aceito passar esse final de semana com você. Para minha surpresa, seu rosto permaneceu sério. Eu esperava que se sentisse aliviado, porém não era o que demonstrava. Parecia chateado. – Você já teve um relacionamento ruim? Não é normal as mulheres pensarem assim. – Ele arguiu. Virei meu rosto para o lado. Não gostaria que tentasse ler os meus olhos. – Não quero e não vim aqui para falar do meu passado. Não importam os motivos que me fizeram ser quem sou. O fato é que essa sou eu. – Você está certa, não vou insistir. O mais importante é que nesse fim de semana você é minha. Minha apenas por um fim de semana. – Sua apenas por um fim de semana. – Repeti. Sim, durante esses dias eu seria dele, porém depois tomaria o controle da minha vida novamente. Quem sabe não ganharia um amigo deus do rock no percurso? Eu só ofereceria o que eu era capaz, então agradeci intimamente por estar com alguém na mesma página que eu. Tínhamos o mesmo objetivo e amor não estava incluso no pacote.
Capítulo 5
Ele
Música desse capítulo: Anjo bem - interpretada por Saulo
Tive um dos finais de semana mais intensos da minha vida. Fiz shows estrondantes em uma cidade totalmente receptiva ao rock e, na maior parte do tempo, fodi a garota mais gostosa e interessante que já conheci. Pela primeira vez, além de Clara, senti prazer em passar um tempo com uma mulher sem estar transando. Conversamos sobre assuntos mais diversos e ela demonstrou conhecer de tudo um pouco, apresentando uma visão fantástica de mundo. Sem falar em seu senso de humor. Porra, adoro mulheres com senso de humor. Ela era uma palhaça fora da cama e uma leoa quando estava nela. Não fiquei entediado sequer um minuto. A única coisa que não se abria era sobre o seu passado. Tentei sondar um pouco mais, porém não tive qualquer progresso. Seu passado era um livro fechado. Já estávamos na manhã de segunda-feira e ela logo iria acordar para ir embora. Pedi para que ficasse apenas um dia mais, porém se recusou, dizendo que teria trabalho à tarde. Olhei para a mulher deitada sobre a cama e a imagem que me veio à mente foi de um anjo. Ela estava serena e tranquila, parecendo tão inocente em sua respiração suave, que me deu vontade de procurar suas pequenas asas. Deveriam estar escondidas em algum lugar. Enquanto o seu rosto era de anjo, o seu corpo era de demônio. Aquela silhueta em forma de violão foi feita para levar qualquer fiel ao pecado. Seios perfeitos e a bunda mais redonda e definida que já vi. Olhos de mel e uma boca carnuda que convidava a ser beijada o tempo inteiro. Sua beleza era fora do comum.
Passeei minhas mãos pelo seu corpo, tentando acordá-la. Eu precisava sentir um último gosto antes que a cama estivesse vazia e apenas o seu cheiro restasse naquele quarto. – Hum... Zeus, que delícia acordar assim. – Ela gemeu. – Levante, linda, daqui a pouco precisa ir e eu quero te sentir um pouco mais antes disso. – Falei pausadamente, enquanto dava pequenos beijos por todo o seu corpo. – Você é insaciável, deus grego. Acho que vou sair daqui em uma cadeira de rodas. – Essa é a intenção. Agora abra as pernas para mim, Jéssica, quero ter uma última visão e mais um gostinho dessa boceta deliciosa em minha boca. Passamos parte da manhã transando, nos sentindo e trocando carícias. Algo dentro de mim não queria que ela partisse e eu tentava, desesperadamente, calar a voz que clamava por mais. Comigo não havia mais. Nunca. Ela estava fechando a mala, depois de pegar os poucos objetos que estavam do lado de fora. Eu sentia algo no peito que não sabia nomear, enquanto olhava para aquela mulher que tranquilamente se preparava para deixar o cômodo e o fim de semana juntos para trás. Ela veio em minha direção e me deu um beijo terno nos lábios. – Obrigada por dias tão maravilhosos ao seu lado. Foram inesquecíveis. Já te admirava como o grande artista que é, e agora tenho ainda mais admiração pelo amante. Preciso ir, vou me despedir de Clara. Ganhei mais um beijo e não consegui formar uma palavra para lhe dar como resposta. Ela puxou a mala e saiu do quarto sem ao menos olhar para trás. Não tive qualquer reação de acompanhá-la até a suíte de Clara ou de me oferecer para levá-la até o aeroporto. Minhas pernas estavam imóveis, presas ao lugar e uma angústia dominava o meu ser. Que porra estava acontecendo comigo? Você é o cara que todas as mulheres desse país gostariam de foder, Zeus. Por que diabos você está com essa sensação de que perdeu alguma coisa? – Me questionei. Depois de ficar pensando tanto que a cabeça parecia querer explodir, fui arrumar minha mala também. Já era hora de voltar para o Rio e descansar. O fim de semana havia sido muito intenso. Eu tinha algumas entrevistas marcadas para aquela semana, mas não seriam logo no início. Eu
sempre fazia questão de reservar algum tempo para mim. As emissoras de rádio e TV estavam loucas atrás de Benito para que eu fizesse participações em seus programas. Até mesmo uma novela de público juvenil havia me convidado para fazer algumas cenas. As gravações seriam marcadas com antecedência e eu logo seria avisado. O nosso sucesso estava tomando um nível continental e eu conseguia ver uma ascensão a nível global vindo por aí. Cheguei ao Rio de Janeiro pela tarde e decidi não sair de casa e desse modo permaneci pelos próximos dias. A semana passou como uma rajada de vento e, depois das entrevistas e participações na mídia, estávamos em Goiás para mais um show. O ensaio estava rolando e Ben andava de um lado a outro, tentando resolver as pendências para a apresentação desta noite. Terminei de cantar mais uma música e a banda deu uma pausa, pois Shy, o nosso guitarrista havia saído para beber água. Um estrondo alto chamou atenção de todos nós. Eu e os caras saímos correndo para os bastidores e, quando chegamos lá, meu amigo estava tentando matar Shy. Ele havia tentado estuprar Clara e quando os rapazes souberam disso, foram para cima dele. Um pandemônio estava formado. Minha amiga gritava para que parassem, um socava, outro chutava e sangue manchava o chão do camarim. Consegui afastar uns dois de cima dele, mas os caras estavam com sangue no olho. Eu precisava fazer algo ou estaríamos na capa dos jornais no dia seguinte. – A morte para ele será um alívio, porra, e vocês terão que pagar por suas merdas. Nós vamos prendê-lo aqui e Clara vai dar queixa. Shy merece apodrecer na prisão. – Falei. Com um riso nos lábios, mostrando dentes sujos de sangue, o desgraçado respondeu: – Vocês não tem como provar nada. Quem vai para a cadeia é Benito por ter me agredido. Mais uma vez tive que intervir ou Ben faria besteira. – Ah, filho da puta, eu vou te matar. Seguramos Benito e eu tomei a frente da situação. – Eu vou ligar para a polícia e eles poderão informar qual o melhor procedimento. Sem demora, três representantes da lei chegaram e, depois de ouvir os depoimentos, marcaram um exame para Clara e levaram Shy para a delegacia. Se dependesse de nós, mofaria na
cadeia. Sempre o achei esquisito, mas achava que era apenas uma marca de seu caráter ser tão isolado e com personalidade tão diferente dos outros integrantes da banda. Me enganei. Estava convivendo com um criminoso. Depois de um escândalo, onde perdemos o nosso guitarrista e que a mídia não nos deixava em paz, o que me deixou mais triste foi a possibilidade de perder uma amiga e confidente. Clara pediu um tempo para Benito e voltou para Salvador, deixando o meu amigo com um olhar triste e cabisbaixo. Isso quando não estava com um mal humor do cão. Tinha dias que ninguém mais o suportava, apenas eu tentava entender o seu lado e ter toda a paciência do mundo. Finalmente ela voltou para os braços de seu amado cerca de um mês depois, deixando todos da banda mais tranquilos. O coração de Benito sempre esteve diretamente ligado à sua razão: um só funcionava quando o outro estava bem, então o retorno de Clara era um sinal de dias melhores. Embora tenham ficado numa boa, minha amiga precisou viajar para ficar próxima à sua afilhada, que nasceria a qualquer momento, o que foi necessário, pois Shy havia saído da cadeia e sua vida poderia estar ameaçada. Nesse meio tempo, fizemos muitos shows e eu continuava fodendo as groupies nos bastidores. Continuei levando a mesma vida de sempre, mas ultimamente, algo me incomodava. Jéssica. O fim de semana com essa garota não saia da minha mente e a comparação que fazia entre ela e as putas era inevitável. Nenhuma conseguia superá-la. Minha mente repassava aqueles dias em Brasília todas as noites. Eu tentava fugir desse fantasma, mas não conseguia. Ela era a primeira pessoa que eu lembrava quando estava acordando e a última em quem pensava antes de dormir. Suas lembranças eram a droga que precisava para conseguir pegar no sono. Eu tinha que fazer algo para tirar essa mulher do meu sistema. Contratamos uma nova guitarrista para a banda. O nome dela é Joya Miller e está fazendo um grande sucesso, por ser bonita e ter muito talento. Se tornou um diferencial na equipe. Antes dela era eu quem estava assumindo temporariamente o lugar.
Um mês havia passado e, certo dia, estava em meu apartamento, quando Ben me ligou: – Diga, man. – Atendi. – Zeus, aquele filho da puta está solto. Eu preciso saber por onde anda. – Meu amigo falou, nervoso. – Foda-se! Eu terei que entrar em contato com o profissional que te falei. Não podemos perdê-lo de vista até ter certeza de que não fará mal a nenhum de nós, especialmente Clara. Eu havia proposto um profissional para ficar na cola de Shy, mas ele recusou, a princípio. – Resolva isso, irmão. Dê meu contato e peça urgência. Ele deve parar tudo o que estiver fazendo para cuidar apenas desse caso. Fiz o que me pediu e, imediatamente, havia vários homens espalhados, em busca do paradeiro de Shy, porém o que mais temíamos acabou acontecendo. Clara voltou de viagem antes da data marcada e foi sequestrada antes mesmo de reencontrar seu namorado. Shy fodido Scott a havia levado para Deus sabe onde. Ben estava furioso e profundamente abatido. Se algo acontecesse a ela, não sei qual seria sua reação. Clara era sua vida e não conseguia imaginá-lo mais sem ela ao seu lado. Fiquei puto quando ele me contou que havia sido chantageado. Shy queria o fim da banda em troca da liberdade dela. Filho da puta! Ele sabia que ela era seu ponto fraco e eu apoiaria meu amigo no que fosse preciso, mas não sem antes tentar fazer algo para salvar a todos. A banda não poderia acabar por um capricho de um lunático. Eu tinha que agir e tinha que descobrir como. Já era madrugada e eu estava tomando uma cerveja em um bar, quando uma lembrança tomou a minha mente: há cerca de um ano, Shy havia comprado uma espécie de sítio no bairro de Vargem Grande. Me apeguei à esperança de que ela poderia estar lá. Paguei a conta e saí do bar o mais rápido que pude, passando em meu apartamento apenas para pegar a minha arma. Eu tinha uma Taurus the Judge que tinha comprado por um impulso depois de ler sobre a sua precisão e que era uma arma de colecionador. Eu não pretendia usá-la, mas teria que me precaver. Saí de casa e parti em direção ao sítio onde eles possivelmente estariam. Resolvi tentar agir sozinho, pois Ben estava de cabeça quente e
poderia botar tudo a perder. Em cerca de uma hora cheguei ao local que ficava em uma região cercada por outros sítios. Ninguém perceberia qualquer acontecimento em qualquer um deles pela distância entre um e outro. Deixei o meu carro um pouco longe para não levantar suspeitas. Andei devagar pela rua escura e parei encostado ao muro do local. Olhei pra dentro por uma brecha que havia no portão e percebi que uma luz fraca estava acesa. Bingo! Tinha gente na casa. Sondei para tentar ouvir latidos ou achar qualquer movimento de animais soltos, mas não havia nada. Sem pestanejar, pulei o muro e caí no jardim que decorava a entrada da casa. Passei pela piscina e pela pequena varanda que ficava em frente, dando a volta para tentar o acesso pelos fundos. Mexi na porta e estava trancada. Comecei a pensar nas opções entre arrombar a porta ou tentar fazer algum barulho para forçá-lo a sair da casa, porém ambos seriam perigosos. Olhei para o lado e algo me chamou a atenção: uma janela estava entreaberta. Ponto pra mim! Essa era a minha deixa para entrar sem fazer alarde. Entrei e tive acesso a um quarto vazio cuja porta estava aberta. Consegui entrar nos outros cômodos e o silêncio imperava. Procurei por eles e o avistei de longe em um quarto, deitado em um colchão no chão. Clara estava no mesmo quarto, mas deitada em uma cama com cordas amarradas em seus braços e presas à cabeceira. Ela tinha corda suficiente apenas para se movimentar naquele curto espaço. Pensei em Ben vendo essa cena e decidi que fiz a escolha correta em vir sozinho. Preparei a arma e apontei em direção a Shy. Ele acordou nesse momento e me olhou assustado. Seus traços logo suavizaram e estampou um sorriso cínico em seus lábios. – Olha só quem veio me visitar. O superestrela bichinha da banda está na minha humilde residência finalmente. Só assim para aceitar o meu convite, hein? – Solte-a agora ou eu atiro. Vamos acabar com essa palhaçada. Você vai soltar Clara, nós vamos sair daqui e pode fazer o que quiser com essa merda que você chama de vida. – Claro, chefinho, ou então você atira não é? – Exatamente.
– Hum... A ideia não seria tão ruim. Acho que alcançaria meu objetivo. Já estou vendo a manchete: “Vocalista mata ex guitarrista da banda e cumprirá pena de vários anos. É o fim da No Return”. Gostei, pode atirar. – Você só pode ser louco. Olhe, filho da puta, eu só quero sair daqui com Clara e nada mais. Agora vá até ela e a desamarre. Ela acordou naquele momento e me reconheceu com os olhos escancarados. – Não, Zeus. Não foda a sua vida por causa dele. Saia daqui enquanto é tempo. – Não. Eu tenho um amigo que está sofrendo e a qualquer momento estará anunciando o fim de um sonho por causa desse miserável. Não vou permitir que isso aconteça. Shy levantou e, mostrando tranquilidade, caminhou em minha direção. Eu mostrei que não estava para brincadeira e dei um tiro que pegou de raspão em seu braço. – Ah, desgraçado, você vai me pagar por isso. – Ele gritou, segurando seu braço. Me aproximei de Clara para tentar desamarrá-la, ele aproveitou o momento de distração e conseguiu montar em minhas costas, sacudindo a minha mão até que a arma caísse. Nós dois olhamos para onde a arma parou e começamos a travar uma luta braçal. Embora tivesse tomado um tiro, ele ainda tinha bastante força, mas eu consegui derrubá-lo. Fui em direção à arma, contudo ele alcançou as minhas pernas e me jogou ao chão. Nos embolamos caídos. Agora a questão era maior do que salvar Clara. Era uma questão de sobrevivência. Estávamos roxos e sangrando de tantos golpes deferidos e eu já estava começando a perder as forças. Ele também dava sinais de estafa. – Não, parem com isso. Solte-o, Shy, eu faço o que quiser. – Clara gritava. – Vou acabar com ele, docinho. Vou pegar o dinheiro daquele idiota e vamos fugir juntos. Só eu e você. – Ele falou, com voz fraca. Eu sabia que sua conversa estava mal contada. Ele não tinha planos de devolver Clara e sim sumir com ela, usando o próprio dinheiro de Ben. Soquei o seu rosto e voltei a minha atenção para Clara que tentava alcançar a arma com os pés. Eu sacudi a cabeça para alertá-la quando Shy nocauteou o meu rosto, me deixando desnorteado. Por um momento apaguei e quando consegui voltar à consciência, o fodido estava com a arma
apontada para mim. – Game over para você e sua bandinha de merda, Zeus Melino. Uma missão já estará cumprida, só preciso agora do dinheiro e ninguém nunca mais encontrará nem eu nem minha loira. Em minha mente se passou um filme de como tudo seria daqui pra frente, quantas pessoas seriam infelizes por eu ter fracassado em minha missão. A banda acabaria e Ben perderia o amor da sua vida e mais seu sonho construído através de muita luta. Agora eu era inútil e inofensivo, e dessa vez, o psicopata alcançaria seus objetivos. Shy engatilhou a arma para disparar o tiro e eu fechei os olhos para me preparar para a morte. Não havia mais o que fazer. Ouvi o barulho de um estilhaço e esperei pela dor, mas ela não veio. Abri os olhos e Shy não estava mais em minha frente. Ele estava caído no chão com os olhos e boca abertos e sangue jorrando de sua cabeça. Olhei para trás e dois policiais estavam de pé, um deles com uma arma na mão junto com o detetive que eu havia contratado a pedido de Ben. – Porra, e-eu estou vivo? – Perguntei, tocando por todo o meu corpo. – Essa foi por pouco. – O detetive Spy falou. – E Clara, está tudo bem? Ela não parava de chorar. – Eu estou bem, Zeus, e tão feliz que esse pesadelo acabou. – Todos nós, Clara. – me voltei para os homens que estavam ali parados. – Como desconfiaram que estavam aqui? Eles explicaram como tudo aconteceu e disseram que teríamos que prestar depoimento mais tarde. Puxei Clara para sair de lá o mais rápido possível. Tínhamos que alcançar Ben antes que ele cometesse um erro. Me identifiquei e consegui entrar no local da entrevista coletiva. Ben estava bastante abatido e havia dois homens ao seu lado o apoiando. Um era o irmão de Clara e o outro era o cunhado de Brisa. Graças a Deus conseguimos chegar a tempo de evitar uma tragédia. Clara deu um grito para chamar a sua atenção e quando o meu amigo a viu, saiu da bancada correndo em direção a ela.
A mídia teria mais um assunto para comentar no outro dia e isso era bom, pois desviava o foco dos rumores que já circulavam sobre o possível fim da banda. Meu amigo concluiu a entrevista, se saindo muito bem em suas respostas, aproveitando a oportunidade para pedir Clara em casamento em rede nacional. Ela prontamente aceitou, protagonizando uma cena que estaria em todos os jornais e revistas no dia seguinte. Respirei fundo e soltei um suspiro de alegria por saber que tive uma importante participação no desfecho dessa história. Eles mereciam ser felizes.
Capítulo 6
Ela
Música deste capítulo: Nocaute - interpretada por Jorge e Mateus
– Mau, me diz que a macarronada está pronta. Você quer matar sua irmãzinha de fome? Logo você que jurou cuidar de mim, me proteger, me alimentar... – Chega de drama, Jess. Apronte a mesa que já estou levando o almoço. Parece que nunca viu comida. O bom humor sempre foi a marca do meu convívio com Maurício. Quando minha mãe morreu, decidimos que a casa onde morávamos não representava mais o nosso lar, então decidimos vendê-la e comprar um apartamento. Foi a melhor decisão que tomamos. Me levantei do sofá, tirando meu gato manhoso do colo para caminhar em direção ao armário e pegar os pratos. Adoro comer e sou daquelas que não aguenta passar do horário. Meu irmão cozinha melhor que eu e sempre que estamos juntos, é ele quem prepara as refeições. Macarrão com almôndegas. Um prato tão simples, mas que me deixa com água na boca. Maurício faz isso como ninguém. Ainda não comi igual. Ele levou a travessa para a mesa e o cheiro do molho invadiu as minhas narinas. Ouvi o ronco da minha barriga e olhei para ele a fim de conferir se também tinha ouvido. Meu irmão me deu um sorriso de confirmação e balançou sua cabeça, voltando para a cozinha para pegar outras travessas. Depois de aprontar nossos pratos, coloquei uma garfada na boca e senti um gosto do paraíso. Maurício nunca errava a mão. – Está perfeito como sempre, Mau. Eu preciso trazer minhas amigas aqui para provar qualquer dia. Vou matá-las de inveja por ter um irmão tão bom de cozinha. – Falei, fechando os olhos a cada vez que provava o almoço. Estava realmente divino.
– Eu vou te ensinar a preparar, assim você mesmo faz. – Ele provocou. – E onde está a graça nisso? Eu posso levar mil anos na cozinha, nunca vou fazer um igual a esse. Cozinhar bem é um dom e acho que não nasci com ele. As coisas estão muito bem assim, meu irmão. Você na cozinha e eu na mesa, não é justo? – Justíssimo! – Ele respondeu, revirando os olhos. – E sobre as amigas? Gostei da ideia. Quando irá trazê-las mesmo? Se me apresentar umas duas, te deixo abastecida de macarronada com almôndegas por uma semana. Gargalhei alto ao ouvir a chantagem dele. Será que existia algum homem que prestasse nesse mundo? Maurício não fugia à regra: mulherengo, galanteador e lindo. Lindo! Olhos verdes, cabelos castanhos claros, pele morena e um corpo de tirar o fôlego. As meninas piravam tentando chamar a sua atenção e ele até engatava um namoro ou outro, mas a relação não durava. De qualquer modo, a vaga não ficava muito tempo vazia e logo eu conhecia uma suposta futura cunhada. E tudo se repetia outra vez. Não sabia onde estava o problema. Talvez ele perdesse o interesse rápido demais ou o mercado estava muito favorável e não se contentava em permanecer com apenas uma. A TV estava ligada e estávamos assistindo a um desses programas sensacionalistas, onde só rolam brigas de vizinhos, assaltos e assassinatos, embora eu não gostasse desse tipo de entretenimento. – Mude de canal, Maurício, pelo amor de Deus. Sei que está mostrando a realidade, contudo não precisava ser numa dose tão alta. Vê se encontra algo menos real na TV. Meu irmão deu de ombros e fez o que pedi, mudando de canal em canal, quase esgotando as opções da nossa TV por assinatura. Ele optou por um de música. Eu estava entretida no meu segundo prato de macarronada, quando ouvi uma voz conhecida. Era Zeus quem estava cantando. Parei de comer e voltei minha atenção para a sua performance como vocalista de uma das maiores bandas de rock atuais. Simplesmente lindo, exatamente como me lembrava. Minha boca encheu de água e memórias de um fim de semana encheram a minha mente. Eu
sabia que aqueles dias seriam inesquecíveis, mas o que eu não conseguia entender era por que, repentinamente, estava sentindo um aperto forte no coração. Não, porra, essa não é você. Repita o mantra, Jéssica: você não se apaixona, não faz amor e não entra em relacionamentos. Repita, Jéssica. – Estava perdida em meus próprios devaneios. – Alô, Planeta Terra chamando. – Meu irmão estalou os dedos diante do meu rosto, na tentativa de me tirar do transe. Olhei para ele assustada. Ele me fitou e depois seguiu com seu olhar até a televisão, reconhecendo o responsável por eu estar tão abalada. Tapou sua boca com uma mão e escancarou os olhos fixos em mim. – Você está apaixonada, Jess? Minha pequena irmã que não consegue amar ninguém está apaixonada pelo roqueiro? Porra, diz pra mim que é verdade, querida, não há algo no mundo que mais desejo do que vê-la se abrindo para o amor. Eu não podia acreditar que estava ouvindo essas palavras da boca do meu irmão. Logo ele que me conhecia tão bem. Não, ele estava enganado. Eu não podia amar Zeus e nem ninguém. Eu não queria amar. – Não diga besteiras! Eu não conhecia esse seu lado tão romântico, Mauricio, todo meloso falando de amor. Você conhece desse sentimento tanto quanto eu, pois nesta porta entra mais garotas do que em uma porta giratória de banco. Você sabe que eu não me apaixono por ninguém, muito menos por um cara que só falta ter um letreiro em LED piscando na testa: CAFAJESTE. Ele levantou e se posicionou ao meu lado, me abraçando e beijando a minha testa. – Eu acredito no amor, Jess. Eu quero me entregar a uma mulher que roube o meu coração e se aproprie dele. Quero sentir que ela é o ar que eu respiro e que preciso dela para viver, assim como os nossos pais eram quando estavam vivos. Eu só não a encontrei ainda. O meu maior desejo é que você encontre também, se não for Zeus, que seja outro, mas confio que você ainda será atropelada pelo amor e nem ao menos vai sentir. Quando perceber, ploft! Já está entregue. Olhei espantada para o cara que estava fazendo todo aquele discurso e bufei, batendo três vezes na madeira para neutralizar o poder de suas palavras. – Se é o que você quer, respeito, mas preciso que entenda que essa coisa não é para mim. Nossos pais se amavam e onde estão agora? O destino foi trágico para eles e não quero que o mesmo se repita comigo.
Tomei o controle remoto de sua mão e resolvi mudar de canal. Não queria mais ver a imagem do cara que estava mexendo tanto comigo nos últimos tempos. Eu evitaria o máximo ficar trazendo lembranças de dias que não se repetiriam. Mudei de canal em busca de um filme ou seriado que me chamasse atenção. Prosseguia em minha busca, quando uma imagem conhecida passou rapidamente. Voltei para encontrar a emissora e fiquei surpresa ao reconhecer Benito iniciando uma entrevista coletiva. O que me surpreendeu de fato não foi a entrevista em si, mas a especulação que o jornalista fazia sobre um possível fim da banda No Return. “Estamos aguardando a declaração do produtor Benito Adams que poderá decretar o fim da banda No Return a qualquer momento. Fontes seguras nos informaram que este era o motivo dele ter convocado uma coletiva com tanta urgência. Não mude o canal, fique com a gente e acompanhe o desfecho que pode marcar a história do rock brasileiro”. Não! Eles não podiam estar fechando as portas assim sem mais nem menos. Liguei para o celular de Clara, que chamava, mas a ligação caía. Tentei três vezes e nada. Ninguém atendia. Será que minha amiga ainda estava na Espanha com Brisa? – Jess, que loucura é essa? A banda realmente vai acabar? – Maurício perguntou. – É o que estou tentando descobrir. Tenho certeza de que essa história está mal contada. Eu os acompanhei de perto e vi que se relacionavam muito bem uns com os outros. Com exceção do exguitarrista, que tentou manchar o nome da banda, nunca percebi qualquer motivo que os fizesse repensar a formação do grupo. – Veja, aquela não é Clara na TV? Voltei minha atenção novamente para a televisão e assisti a emissora registrando o momento que Clara chegou acompanhada de Zeus. Ambos demonstravam péssima aparência e pareciam estar cansados. Ben estava prestes a fazer uma declaração e Clara gritou, fazendo com que ele viesse em sua direção. Os rumores do fim da banda foram desfeitos e presenciei uma das cenas mais bonitas que já vi na vida: um pedido de casamento em rede nacional. Ao mesmo tempo que estava feliz por eles, precisava saber o que estava acontecendo. Decidi ligar para a mãe dela, que costumava chamar de tia.
– Tia Carmen, como vai? – Melhor agora. Depois de tanto sufoco, parece que vou ter um pouco de sossego. – O que aconteceu? Clara não atende à minha ligação. – Oh, querida, não soube que ela foi sequestrada? Estamos nos preparando para pegar o jato e ir ao seu encontro. O maluco que a sequestrou está morto e ela disse que está bem, mas preciso ver com os meus próprios olhos. Uma ideia passou por minha mente. – Tia, teria vaga para me levar com vocês? Se não tiver, não tem problema, pegarei o primeiro avião disponível para o Rio. – Quer vir conosco? É claro que sim, filha. Como eu negaria levar uma amiga de Clara? – Obrigada. Prometo que não demoro a estar pronta. Não quero atrasá-los. Depois de me despedir de Maurício e do meu gatinho Plutão, fui para o aeroporto encontrar com os pais de Clara. Tia Carmem estava com o rosto inchado de tanto chorar e seu marido a acompanhava com o braço em suas costas. O irmão dela já estava no Rio. O voo foi tranquilo e demorou cerca de duas horas para chegar. No aeroporto, havia um carro nos esperando, o que encurtou a viagem. Em pouco tempo estávamos no apartamento de Benito e Clara. Havia algumas pessoas na casa e eles estavam em total clima de celebração. Motivos para isso era o que não faltavam, uma vez que Clara estava salva das mãos daquele psicopata e em breve, iria se se casar. Só em pensar que até brinquei com ela sobre a história de Shy estar apaixonado, me dava arrepios. A mãe dela saiu correndo ao seu encontro e lhe deu um abraço apertado. Conversaram um pouco e quando achei uma brecha, me aproximei de minha amiga. – Jel, você está aqui? – Ela veio de encontro a mim, retribuindo o confortante abraço que lhe dei. – Como não viria? Não sabia o que tinha acontecido até ligar a televisão e ver os noticiários. Como você está? Ele te maltratou, Clarinha?
– Graças a Deus, estou bem. Não me tratou mal, pois em sua mente fantasiosa, eu fugiria com ele e viveríamos felizes para sempre. Não era mesmo um louco? – Sem dúvidas, mas acabou pagando da pior forma. Como você conseguiu escapar? – Sozinha com certeza não iria conseguir. Eu devo minha vida a Zeus. Ele conseguiu lembrar que Shy havia comentado sobre esse lugar e desconfiou que eu poderia estar lá. Ele me salvou, Jel, não sei o que faria sem ele. Colocou sua própria vida em risco e quase morreu. Se não fosse a polícia ter chegado na hora... Passeei com minha visão pela sala e o avistei em um canto, conversando com um dos caras da banda e com um copo de bebida na mão. Seus olhos encontraram os meus e levaram um tempo sondando a minha reação, mas ele logo levantou sua mão ocupada, me cumprimentando. Dei-lhe um pequeno sorriso e voltei minha atenção para Clara. – Estou muito feliz em saber que tudo acabou bem, querida. Bem até demais não? Pedido de casamento em cadeia nacional? Não é para qualquer uma. Clara deu risada e percebi como seus olhos procuravam por Benito. Senti, repentinamente, o desejo de vivenciar algo parecido, mas sacudi a minha mente, me policiando. O problema não era iniciar uma relação e se apegar, o problema era como as coisas terminavam. Sempre tive um imã para o desastre e não envolveria alguém mais nesse carma. Benito fez sinal para a minha amiga e ela atendeu ao seu chamado com os olhos brilhando, depois de me dar um rápido beijo no rosto. Peguei uma taça de champanhe e comecei a beber devagar, observando como todos estavam felizes pelo modo como tudo terminou. Estava distraída quando senti que um corpo quente se aproximava do meu. Arrepios tomaram a minha vértebra no momento que um hálito quente soprava em meu ouvido e mãos experientes apertavam a minha cintura. Eu não precisava virar para saber quem era. Zeus. Meu deus grego. Ele estava onde minha mente jamais queria permitir, mas onde meu coração clamava para que ele estivesse. Meu coração. Desde quando eu dava ouvidos a este perigoso caçador? – Não fala mais comigo? Sou tão fácil assim de ser esquecido, linda? – Ele sussurrou em meu ouvido.
Virei para olhar em seus olhos e me arrependi amargamente. Eles diziam que ainda me queria e, por mais que eu tentasse disfarçar, sei que os meus estavam dizendo a mesma coisa. Senti admiração por aquele homem que não mediu esforços para ser fiel aos seus amigos. Sim, ele era o tipo de pessoa que todos queriam ter por perto e esse sentimento estava começando a ficar cada vez mais forte em mim. – Como vai, Zeus? – Hum... fico feliz que ainda lembre o meu nome. Estou melhor agora que você está aqui, Jéssica. Meu nome saiu como uma melodia dos seus lábios. Não foi pronunciado, mas sim entoado. Havia sensualidade, luxúria em sua voz. – Como não saberia o nome do homem que salvou a minha amiga? Você deve saber que não só Clara, mas todos nós somos eternamente gratos pelo que fez. Foi muito corajoso de sua parte. Ele pegou a minha mão e roçou seu polegar sobre o meu. – Eu sei de uma forma bem interessante para me agradecer. Puxei minha mão da sua. Quem ele pensava que eu era para fazer uma oferta destas a queimaroupa? Uma putinha que podia ser usada a qualquer momento? – Vá se foder, Zeus. – Dei as costas, virando para me afastar. Ele agarrou a minha mão, me mantendo no lugar. Virei em sua direção, com olhar confuso. O filho da puta estava sorrindo. – Ei, que mente maldosa! Apenas ia te convidar para ficar mais um fim de semana conosco, não para esquentar a minha cama. Só achei que Clara iria gostar de ter as pessoas queridas por perto esses dias. Poucas vezes me senti envergonhada. Essa era uma delas. – Desculpa, eu realmente o interpretei mal. – Ele sorriu, flertando. – Contudo, se quiser ficar em minha cama... eu ficaria muito feliz e garanto que você também. – Falou a última frase se aproximando do meu ouvido. Balancei a cabeça e sorri. Zeus continuava sendo apenas... Zeus. O mesmo galanteador de sempre. Decidi não me estressar mais e entrar na brincadeira. – Embora o convite seja muito atraente, eu vou ter que recusá-lo. Já pretendia ficar durante o
fim de semana com Clara, mas ficar em sua cama não estava em meus planos. É claro que eu estava falando a maior das mentiras, pois só essa semana, me peguei várias vezes pensando, e até sonhando com noites de sexo ardente como aquelas. Talvez se continuasse mentindo para mim mesma, conseguisse me convencer. – Mentirosa! – ele se aproximou ainda mais, me abraçando. – Sua boca fala uma coisa e seu corpo diz outra. Porra! Eu sempre fui ruim de disfarçar minhas reações. – Não sabe o que está dizendo, Zeus. – Falei, baixando a cabeça. Ele segurou em meu queixo e levantou meu rosto, deixando o seu olhar na direção do meu. – Você me quer, Jéssica, sua respiração inconstante está dizendo isso, suas pernas trêmulas estão dizendo isso e seus olhos jamais mentiriam para mim. Eu também a quero, princesa, aquelas noites não foram suficientes. Se nos der mais um fim de semana, tenho certeza que conseguiremos superar essa sensação de algo mal-acabado. Se eu ficasse mais um minuto olhando em seus olhos, eu sabia que não iria resistir. Ele estava certo. Eu precisava tirá-lo do meu sistema e só mais algumas noites juntos poderiam fazer isso. A sensação de incompletude também me perseguia e era necessário provar um pouco mais dessa água para matar a minha sede. Não havia outro caminho. Minhas feições, que agora a pouco demonstravam medo da entrega, haviam se transformado em traços intrépidos, ousados e destemidos. – Você tem razão, Zeus, aqueles dias não foram suficientes. Precisamos de um pouco mais um do outro para seguirmos em frente. Estou disposta a tentar. Ele trouxe seus lábios aos meus, mas o freei antes. – Só preciso que uma coisa permaneça clara: é apenas sexo. Não estou em busca de algo definitivo, então serão apenas mais três dias e depois disso, nossas vidas continuam separadas como sempre foram. Um lindo sorriso se abriu em seus lábios. – Será minha por apenas mais um fim de semana, linda. Minha, somente minha. Vamos trabalhar para queimar esse ardor que sentimos um pelo outro e podermos voltar a ser quem sempre fomos. É o que ambos queremos, então vamos conseguir.
– Sim, sei que vamos. – Eu também tenho uma exigência: eu a quero completamente desarmada. Sem pudores, sem receios, pura e totalmente entregue ao que estamos vivendo. – Ok, eu posso fazer isso. Desta vez, nada o impediria de tomar posse dos meus lábios e me dar um pouco do sabor que meu corpo tanto ansiava em sentir. Nos beijamos sem nos importar com quem estava olhando ou com qualquer outra pessoa além de nós. Havia sede, necessidade e, sem nos despedir de Clara e dos demais, saímos com pressa para apagar o incêndio que já se alastrava por nossos corpos. Eu precisava ser dele. Apenas por esses dias.
Capítulo 7
Ele
Música deste capítulo: Jéssica interpretada por Fundo de Quintal
O sol estava se pondo e as nuvens estavam manchadas de um tom cinzento pela noite que já anunciava a sua chegada e alaranjado por conta dos últimos reflexos de sol que se despedia de mais uma missão. Essa foi a última imagem que olhei, antes de me concentrar na mais bonita que eu já havia visto: Jéssica. Aquela linda garota de olhos cor de mel, cabelos loiro escuros e lábios carnudos estava diante de mim para mais um fim de semana de prazer. Era incrível perceber como o meu corpo a desejava. Ele a desejava como jamais desejou qualquer outra mulher. Chegamos sem demora ao meu apartamento e quase não conseguia abrir a porta, pois a chave caiu duas vezes da minha mão devido à minha ânsia. Jéssica acabou tomando da minha mão e, com um sorriso nos lábios, a abriu com toda a segurança. Bati a porta atrás de mim e conduzi minha amante até o meu quarto. Posicionei-a ao lado da minha cama king size e levei um tempo para apenas observá-la, como eu tanto gostava. Ela me deu um sorriso tímido ao perceber meu escrutínio, antes de perguntar: – Você deve trazer muitas garotas aqui, não? Respondi baixinho, lhe dando um sorriso sensual. – Nenhuma, linda. Você é a primeira mulher que pisa os pés em meu apartamento. Nem mesmo Clara já esteve aqui. Este lugar é o meu canto isolado, o refúgio onde posso desacelerar e compor minhas músicas. Eu nunca traria uma qualquer até aqui. Os olhos dela queimavam os meus e assentiu, sacudindo a cabeça suavemente. – Então, posso considerar que não sou uma qualquer, é isso? – ela olhou em volta do quarto.
– Apartamento legal. Obrigada pelo privilégio de me apresentar um lugar tão íntimo. Embora não sejamos nada um do outro, me sinto única quando estou com você. Fiquei pensando em suas palavras. De fato, não podemos nomear o tipo de relação que temos. Ela não é minha amiga nem namorada, e também não sei se posso chamá-la de amante, uma vez que nossos encontros são esporádicos. Me aproximei dela novamente e agarrei a sua cintura, estreitando meus olhos que deslizaram pelos seus lábios, pescoço até chegar aos seus deliciosos seios. – Essa é a intenção, Jéssica. Você se sente única porque, de fato, você é única. Venha, eu preciso te sentir. Ela respirou fundo e aproveitei para tomar seus lábios quentes e suaves, dando início novamente a um calor que incendiava o meu corpo e despertava um insaciável desejo de estar dentro dela. Nossas línguas se entrelaçavam ardentemente, enquanto minhas mãos buscavam o caminho para os seus seios. Ela separou seus lábios dos meus, jogando sua cabeça para trás, aproveitando o toque suave que sentia sobre sua pele. Desci minha boca rumo a um mamilo rosado e o suguei como se um tipo de mel pudesse ser extraído dele. Dei atenção ao outro seio e levei um tempo apenas desfrutando do prazer de sentir os bicos rígidos raspando a minha língua e levando o corpo de Jéssica a ter as mais diversas reações. Acariciei sua pele, descendo as mãos até encontrar o seu ventre, onde brinquei, fazendo pequenos círculos. A tensão aumentou instantaneamente e arfei, pedindo em voz baixa: – Diga que é minha. Ela gemeu, enquanto eu descia a boca em busca do meu lugar preferido no mundo. – Diga, Jéssica. Eu precisava ouvir sua resposta, ainda que ela representasse apenas um momento que estávamos vivendo. – Sim, Zeus, só por esses dias, eu sou sua. Percebi sua necessidade de reafirmar que o que está acontecendo entre nós é passageiro, mas não deixaria que isso afetasse o meu desejo cada vez mais crescente de possuí-la. – Minha só por esses dias. – Repeti.
Puxei as alças de seu vestido e repentinamente... caiu no chão. Ficou diante de mim apenas de lingerie, então abri o fecho do seu sutiã, deixando seus lindos e durinhos seios à mostra, e movi em direção à sua calcinha. Ela me freou. – Levante-se, Zeus. Quero retribuir o delicioso favor de deixá-lo nu. Obedientemente, me levantei, abrindo os braços para que ela fizesse o que bem entendesse. Jéssica tirou a minha camisa e em seguida, abriu o cós da calça, descendo-a sobre minhas pernas. – Agora estamos empatados, lindo. – Ela disse, sensualmente, enquanto seus olhos devoravam o meu abdômen definido e o meu peito sustentado por músculos enrijecidos. Passeou com suas mãos em meu tronco, apertando a cada toque e se aproximou, beijando toda a extensão do meu peito e barriga. Eu não conseguiria ficar muito tempo nessa tortura. Segurei em seus braços para que levantasse e me abaixei em busca do néctar que estava me deixando viciado. – Eu preciso te provar, linda. Preciso ter certeza que o gosto que sinto todos os dias em minha boca é o mesmo que está entre suas pernas. Ela endureceu o corpo, mas depois voltou a se entregar. Baixei sua calcinha e minha boca encheu de água. Lambi os lábios, aproximando o meu rosto da boceta mais perfeita que eu já havia fodido. – Zeus, eu cheguei de viagem agora há pouco. Estou suja. Dei-lhe um rápido sorriso como resposta, pois nada me impediria de matar a fome que descobri sentir desde o momento que a vi novamente. Levei minha língua ao centro do seu prazer e me mantive perdido no tempo, lambendo e chupando todo o desejo líquido que sua vulva liberava. Era a mais doce e deliciosa que já havia provado. Depois de um tempo, o corpo dela começou a tremer e eu sabia que um orgasmo visceral havia lhe tomado. Tirei minha boxer e a joguei na cama, encontrando tempo apenas de colocar um preservativo e me encaixar entre suas pernas. Penetrei sua boceta centímetro a centímetro, saboreando a maravilhosa sensação de estar dentro de seu corpo.
Jéssica. O que estava acontecendo comigo para acreditar que sexo com ela era diferente? O que tinha que a fazia ser mais importante do que tantas outras que já havia fodido? Passei a bombear em sua bocetinha, seguindo um ritmo quente de entra e sai, levando o meu corpo a querer mais e mais, e suscitando o desejo de jamais sair daquele lugar. Nós dois éramos como pólvora e fogo quando estávamos juntos. De repente, ela conseguiu me dar um golpe, fazendo com que eu me virasse na cama. Ela ficou por cima de mim e passou a me cavalgar, gemendo e gritando a cada penetração profunda. – Você gosta de ser dominado, Zeus? Eu gosto de dominar e essa posição está no topo das minhas favoritas. Deixei o seu corpo parado e passei a dar estocadas lentas e fortes, alcançando o colo do seu útero. – Gosto de dominar também, mas não tenho problema em ser dominado. Eu sou um caçador, Jéssica, mas no sexo não gosto de regras. Não é uma disputa para que haja um mais forte que o outro. Apenas busco dar e receber prazer, nada mais. Soltei o seu corpo e ela continuou cavalgando, às vezes parando para rebolar sobre o meu pau. Eu olhava fixo em seus olhos e só conseguia enxergar uma mistura de prazer e confusão. Era exatamente assim que eu me sentia: confuso e extasiado. Ela fitou uma tatuagem em minha barriga e, ainda montando em meu pau, perguntou: – Veni, vidi, vici. É latim, não? O que significa? Sentindo suas paredes molhadas se fechando em volta do meu eixo, tentei formar uma resposta coerente. – Foi uma frase dita pelo general romano Júlio Cesar ao vencer uma batalha. Quer dizer: vim, vi e venci. – É realmente linda, como tudo em você. Puxei seu busto para a frente e tomei sua boca em um beijo ardente e apaixonado, levando ondas de calor por todo o meu corpo e fazendo com que meu pau pulsasse em sua boceta apertada. – Está na mesma sintonia que eu, Jéssica? Eu preciso gozar, linda, venha comigo. Senti que sua vagina se fechava ainda mais em volta da minha ereção e em pouco tempo, ela
convulsionou, jogando a cabeça para trás e soltando um gemido que me fez perder as forças e acompanhá-la, liberando todo o meu êxtase. Ela se jogou sobre mim, com o corpo amolecido e respiração arfante. Estávamos molhados de suor, mas ainda assim, não tínhamos força para nos separar. Eu ainda estava dentro dela e tentava adiar o máximo possível o momento que ela se afastaria de mim. Eu ainda queria sentir o seu calor. Precisava sentir o seu cheiro. Algum tempo depois, percebi que sua respiração ficou mais suave e acariciei seu cabelo, o afastamento para o lado a fim de sentir o seu delicioso perfume. Seus olhos estavam fechados e percebi que havia dormido. Tirei-a de cima de mim, saindo de dentro dela e a acomodei na cama, me levantando para tomar um banho. Parei um pouco para observar o seu lindo rosto iluminado pela luz da lua e as curvas do corpo que poderia levar qualquer homem ao céu ou ao inferno. Tomei um banho e saí do quarto para preparar algo para comermos. A minha cozinha estava abastecida, pois tinha uma funcionária que ia ao meu apartamento duas vezes por semana fazer a limpeza e as compras. Consegui preparar alguns sanduiches e fui para a sala tocar um pouco de violão. Estava perdido em melodias, provavelmente por horas, quando me lembrei de uma música que já tive o desejo de dar uma nova roupagem, mas ainda não tinha tentado tocar. O nome da canção não poderia ser mais sugestivo: “Jéssica”, feita pelo compositor Bebeto e cantada pelo grupo Samba de Quintal, em ritmo de pagode. Teria que falar com Ben para conseguir a autorização, pois estava decidido a interpretá-la no estilo rock pop. Comecei a dedilhar a música em meu violão, quando fui flagrado pela minha deusa, enrolada apenas em uma toalha. Continuei tocando e cantando, sem tirar os olhos dela, que caminhava em minha direção. “O nome dela é Jéssica Eu já falei pra vocês É a coisa mais linda Que Deus pode fazer...” Ela sentou ao meu lado em silêncio e ficou apenas me observando cantar. Quando terminei,
Jéssica estava de queixo caído, me mirando com admiração. – A música ficou... simplesmente linda, Zeus. Você teria coragem de regravá-la? Quer dizer, sei que não seria para mim, mas a imprensa não te daria sossego até descobrir se houve alguém em especial com esse nome em sua vida. – Por que acha que não seria por sua causa? Ela levou um instante pensando e respondeu desconcertada: – Por que existem muitas Jéssicas no mundo, não sou a única. Quantas fãs da banda devem ter esse nome? – Bem, saiba que pretendo gravá-la sim e quando a imprensa me perguntar sobre a musa inspiradora para a escolha desta canção, não medirei palavras. Direi que é você, uma garota muito especial que conheci e que me deixou algumas das melhores lembranças que já construí na vida. Não tenho nada a esconder, Jéssica, minha vida é um livro aberto. Ela baixou a cabeça e sua reação não foi das melhores. Para minha surpresa, pareceu triste e pensativa, porém não durou muito e ela logo voltou a ser a garota de personalidade forte e questionadora. – Por que está fazendo isso conosco? Você não sabe que a música eterniza momentos? Eu não posso, Zeus. Se eu tiver a opção de escolher, prefiro que não grave. Seria demais para mim. Tomei seu queixo em minha mão, levando seus olhos diretamente aos meus e com a outra, alisei sua bochecha. – Do que tem medo, querida? Você acha que um acordo de final de semana vai me fazer esquecer cada minuto que compartilhamos? É impossível. Eu tenho vivo cada pequeno momento do último fim de semana juntos e sei que com este não será diferente. O que estamos fazendo aqui, qualquer que seja o nome, já está eternizado. Pelo menos em minha mente, posso te garantir que sim. Ela olhou no fundo dos meus olhos azuis e me ofereceu um pequeno sorriso. – Está bem. Acho que mais uma vez, você tem razão. A música ficou realmente linda e não tenho dúvidas de que vai fazer muito sucesso. Jéssica deixou a toalha cair e não tive outra opção senão largar o violão e tomar posse do seu corpo convidativo. Ainda que tivesse, eu não iria querer outra opção. Fodemos como loucos mais uma vez e depois de nos alimentarmos, fomos dormir, pois ainda tínhamos uma deliciosa jornada de dois dias pela frente.
Algumas ideias estavam cruzando a minha mente e eu precisava acordar disposto para executรก-la. Tinha algumas surpresas programadas para o outro dia.
Capítulo 8
Ela
Música desse capítulo: Sei - interpretada por Nando Reis
Estava dormindo profundamente, quando ouvi uma sirene estrondando. Abri os olhos lentamente e percebi que não estava em meu quarto, muito menos em minha cama. Olhei para o lado da cama onde deitava e vi que estava vazia, mas lençóis amarrotados provavam que tudo o que rolou na noite anterior não havia sido um sonho. A pessoa do outro lado da porta parecia apressada, pois estava insistindo em ser atendida. Procurei por Zeus no quarto e no banheiro e não vi qualquer sinal dele. Embora o apartamento não fosse meu, decidi que abriria a porta para despachar logo quem estava me atrapalhando de recuperar o sono perdido. Peguei meu vestido jogado no chão e fui vestindo no caminho. A sirene tocou mais uma vez. – Já vai! – Gritei. Abri a porta, porém em vez de ser recebida por uma pessoa qualquer, havia uma arara de roupas me recepcionando. – O quê? Quem deixou isso aqui? Uma linda mulher loira saiu de trás das roupas e adentrou o apartamento, passando por mim com apenas um cumprimento de ‘bom dia’. – Quem é você? – Perguntei. Ela alisou seus cabelos e tirou um fiapo invisível de seu vestido, levando um tempo para se dignar a estender sua mão e se apresentar. – Olá! Sou Alícia, amiga de Zeus e figurinista da banda No Return. Ele me pediu um pequeno favor e aqui estou. – me olhou de cima a baixo. – É realmente muito bonita, como ele descreveu.
Também, para um deus como Zeus, não poderia ser qualquer uma, não? Continuei olhando para aquela mulher, totalmente confusa. – Mas, o que faz aqui? Para que todas essas roupas e onde está Zeus? Ela avistou um espelho na sala e, prontamente, correu para diante dele, conferindo se seus dentes brancos estavam limpos e retocando o batom. Essa mulher já estava me dando nos nervos. – Uma resposta de cada vez, lindinha. É muita pergunta para a minha cabeça recentemente acordada processar. Ah, meu pai, ela já tinha chegado ao limite de futilidade. – Você sempre entra no apartamento dele desse modo intempestivo? Desta vez a minha pergunta conseguiu tirar uma reação dela, que se virou para me responder olhando nos olhos. – Eu sempre sou intempestiva, mas não, eu nunca entrei no apartamento dele. É a primeira vez. Não sei por que, mas fui tomada por uma sensação de alívio. Então, ele não havia mentido. Eu fui a primeira mulher a pisar os pés aqui. – Será que você vai me responder as outras perguntas agora? – Continuei buscando sentido nisso tudo. – Bem, se quer saber o que vim fazer aqui, é só olhar para essa arara. Olha, garota, vou te confessar que não foi nada fácil convencer as maiores grifes de lingerie deste país a abrirem suas portas mais cedo apenas para me receber, contudo o que não fazemos por bons e endinheirados amigos? – Por que ele faria isso? – Zeus quer que escolha as peças que mais gostar. Facilitaria muito o meu trabalho se escolhesse tudo, mas como ele me disse que é figurinista, sei que será seletiva nas escolhas. Somos do mesmo ramo e eu entendo como é, darling. – Eu ainda não estou entendendo. Eu trouxe minhas próprias peças íntimas. Não preciso que um homem as compre para mim. – Ai, droga, quebrei uma unha. Está vendo o que acontece comigo quando fico nervosa? Você vai dificultar minha vida mesmo, não? Então, deixe-me entregar um cartão de Zeus.
Peguei o pequeno envelope e abri, lendo as poucas palavras ali escritas. “Não brigue com Alicia nem comigo. Escolha algumas peças como forma de me presentear. Tenho planos para nós e gostaria que usasse uma delas esta noite. Nos falamos mais tarde. Z.” A figurinista ficou parada me olhando, possivelmente tentando ler a minha reação ao bilhete. – Você está apaixonada por ele, querida? – Inquiriu à queima-roupa. – O quê? Por que está me perguntando isso? Ela começou a caminhar em volta da arara, tirando uma peça ou outra do cabide, as avaliando. – Já vi muitas como você caírem de amor por ele. Se não conhecesse Zeus, poderia dizer que ele também está apaixonado, mas já vi as garotas mais bonitas deste país e até de outros passarem por seu camarim e seu coraçãozinho continuar intacto. Engoli em seco, buscando uma resposta que pusesse fim de uma vez por todas a essa conversa. – Eu não sou mais uma estúpida que acha que vai casar com o ídolo. Embora não seja da sua conta, o meu objetivo aqui é o mesmo que o dele: diversão. Apenas diversão. Ela levantou as sobrancelhas e deu de ombros, seguindo com o que estava fazendo. – Então, deve ser por isso que ele a trata diferente. Você, de fato, não é igual às outras meninas. Como você consegue resistir a um segundo pensamento com Zeus? Ainda não vi nenhuma se aproximar sem um propósito sério em mente. – E você não consegue? Você é apaixonada por ele? – Perguntei intrepidamente. Ela caiu na gargalhada, me deixando com cara de boba, tentando descobrir o que eu disse de tão engraçado. – Amorzinho, posso te garantir que você é muito mais o meu tipo do que Zeus fodão Melino. Eu não sou cega e reconheço que é lindo, mas não sinto sequer o mínimo desejo de ter qualquer outra relação com ele, além da amizade e profissional, portanto eu não represento uma ameaça. – Então, você é lésbica? – Dê o nome que quiser: lésbica, homossexual, só não me chame de sapatão, pois é um termo
muito chulo, prefiro os que podem ser encontrados no dicionário. Nossa, que mulher estranha, e não estava achando isso por conta da sua orientação sexual, mas pelo seu comportamento mesmo. – Eu vou escolher algumas peças, Alícia. Zeus está preparando algo e não pretendo estragar a surpresa. Me assustei quando ela deu um pulo, parecendo lembrar de algo, pegou uma caixa que estava separada e destampou, suspirando. – Ah, já ia esquecendo. Ele escolheu este vestido pessoalmente alguns dias atrás, dizendo que lembrava alguém muito especial. Pediu para que o comprasse hoje e que você o esperasse vestida nele para o encontro desta noite. Veja como é lindo. Ela estendeu um vestido justo vermelho que mostrava mais do que cobria. Ele batia na altura do joelho, mas tinha um rasgão até o meio da coxa e era todo drapejado com pequenas pedras vermelhas, transpassado por tecido tule transparente. Meus seios e meu baixo ventre ficavam cobertos, porém meu colo e minha cintura ficavam completamente à mostra. As costas também ficavam nuas até a altura dos quadris. Experimentei e fiquei abismada como ele sabia a minha medida apenas de olhar. Caiu como uma luva em meu corpo e tenho certeza que nem eu faria uma escolha tão perfeita quanto a dele. Zeus tinha muito bom gosto. Batendo palmas e dando pulinhos, Alicia disse: – Está simplesmente lindo! Você é uma garota de sorte, Jéssica. Eu nunca vi meu amigo fazer esse tipo de coisa para mulher nenhuma. E não estou falando isso porque estou em sua frente. As mulheres sempre foram descartáveis para ele, mas você... não sei o que está acontecendo, só sei que vi um brilho em seus olhos quando falou de você. Eu não sabia o que responder. Não podia levar tanta informação a sério, pois ela não seria muito útil para o meu estilo de vida. É claro que qualquer pessoa gostaria de se sentir especial, ainda mais por um homem tão desejado, mas talvez seja tratada de modo diferente por ser bastante parecida com ele em minhas escolhas. – Olha que lindo esse espartilho, menina. Ficaria maravilhoso com aquela cinta-liga ali. Fiquei aliviada por ela ter mudado de assunto e entrei no clima das compras de novas calcinhas, sutiãs, corpetes e outros adereços.
Um conjunto me chamou atenção. Era um kit que vinha com calcinha, cinta-liga e meias, um par de plug de seios, uma coleira e um par de algemas, todos na cor vermelha. Visualizei algumas possíveis brincadeiras com este kit e, sem pestanejar, o escolhi. Selecionei mais quatro conjuntos bastante sensuais e passei um tempo conversando com Alícia sobre nossa profissão e novas tendências da moda. Acho que acabei ganhando uma amiga. Meio louca, mas é uma boa companhia para conversar. Ela foi embora e procurei algo para comer na cozinha. Havia uma bandeja pronta com um sanduiche, frutas e um bilhete indicando que o suco estava na geladeira. É, não tive café na cama, mas foi a vez que cheguei mais perto disso. Sorri comigo mesma. Meu celular apitou, avisando que havia chegado uma mensagem no Whatsapp. Era de Clara. C: Pensei que minha amiga tinha vindo ao Rio para me ver. Percebi que estava enganada : ( J: Own, como ela está carente. Eu também lembro que ontem uma certa pessoa só tinha olhos para o noivo e quase não me deu atenção. C: Não vou negar, Jel, estou tão feliz. Daqui a algum tempo, serei a Sra. Adams. Sonhei tanto com isso. E vocês? O lance está ficando sério, hein? J: Que nada! Você sabe que ‘sério’ não faz parte do meu vocabulário. Apenas estávamos atraídos um pelo outro e resolvemos nos dar mais um fim de semana para colocar um ponto final nessa história que sequer iniciou. C: Está certo, me engane que eu gosto. J: Você fala como se não me conhecesse, Clarinha. E sabe que Zeus é bastante parecido comigo neste sentido. Mas, mudando de assunto, deixa eu te contar: ele disse que vai fazer uma surpresa hoje e mandou uma figurinista com uma porção de peças íntimas de luxo, acredita? C: Não. Isso não é próprio de Zeus. Nunca o vi fazendo essas coisas desde que estou por perto. Porra, acho que não conheço mais nenhum dos dois. J: Estou ansiosa para esta noite. Teria ideia do que poderia ser essa surpresa? C: Posso imaginar, porém não vou especular. Só sei de uma coisa: quero saber amanhã em primeira mão, está entendendo? Vou roer as unhas de curiosidade.
J: Ok. Amanhã nos falaremos, então. Bjks! C: Bjs! Fui para o banheiro me arrumar. Nós, mulheres, não ficamos lindas em um passe de mágica e o processo de preparação para uma noite especial era uma das partes que eu mais gostava, pois aumentava as minhas expectativas. No início da noite eu já estava quase pronta. Fiz uma check list mental e percebi que tudo estava em ordem, faltando apenas a cereja do bolo, o vestido. Maquiagem √ Depilação √ Hidratante √ Cabelos √ Unhas feitas √ Lingerie perfeita √ É, ser mulher não é fácil. Estava terminando de deslizar o vestido, quando o meu celular apitou. Zeus havia deixado uma mensagem no Whatsapp. Z: Já tem um carro a aguardando na frente do prédio. Quando estiver pronta, desça e o motorista a trará até onde estou. O que Zeus estaria aprontando? – Me perguntei. A curiosidade já me corroía. Desci o mais rápido que pude e me deparei com uma limusine à minha espera. O motorista estava diante dela e, quando me viu, abriu a porta de trás para que eu entrasse. – Srta. Rios, entre, por favor. O Sr. Melino a aguarda. – Obrigada. Eu não recordava de ter dado o meu sobrenome a Zeus. Provavelmente Clara esteja por trás disso. Nunca havia andado de limusine e estava achando tudo aquilo mágico. Por que ele estava investindo tanto nesta noite? O que me confortava era que logo iria descobrir. Chegamos a um prédio luxuoso e imponente em estilo imperial. Logo reconheci como um hotel e percebi que se tratava de um dos lugares mais caros do Rio de Janeiro, senão o mais caro.
Estávamos no Copacabana Palace. Era o hotel onde os meus maiores ídolos ficavam hospedados quando vinham ao Brasil e um deles havia me convidado até lá. Uma mulher muito elegante me ajudou a sair da limo e me conduziu a um restaurante com vista para o mar. Tudo parecia um sonho, faltava apenas um príncipe encantado montado em um cavalo branco. Como se eu acreditasse nisso. Ela me levou a uma mesa nos fundos, em uma parte reservada e logo avistei o homem mais bonito que havia no local. Estava vestido em uma calça social e uma camisa esporte fino que contrastava muito bem com ela. Alguns botões estavam abertos, dando para ver uma ponta da sua tatuagem e as mangas estavam elegantemente enroladas, mostrando parte dos seus músculos. Deliciosamente comestível. – Você está simplesmente linda, Jéssica. Ainda mais do que imaginei que ficaria. – Disse, me fitando com brilho nos olhos. – Obrigada, Zeus. Você tem muito bom gosto. Sentei-me à mesa e fiquei lhe olhando curiosa, querendo saber do que se tratava aquele encontro. Ele apenas bebia e me observava, sem dar as respostas que meus olhos estavam pedindo. – Tomei a ousadia de pedir nosso jantar, espero que não se importe. Nada muito pesado, pois a noite será digamos... um pouco agitada. – Essa foi toda a informação que tive. Jantamos em silêncio e depois de um tempo sem trocarmos uma palavra sequer, eu quebrei gelo. Não suportava mais. Tinha que saber. – Então, Zeus, qual o motivo de tanta produção? Por que me trouxe até aqui? Ele tomou mais um gole de champanhe e me deu um sorriso fraco. – Não está obvio? Isto é um restaurante. Estamos aqui para jantar. Decepção me tomou. Apenas um jantar? – Eu não acredito que me traria até aqui apenas para comer. Deve haver um motivo maior para tudo isso.
Ele não respondeu à minha inquisição. Pelo contrário, acabou fazendo outra pergunta. – Você já compartilhou um parceiro ou foi compartilhada, Jéssica? Lembrei da minha conversa com minha amiga e como ela disse que havia gostado da experiência. – Não, nunca. Clara me falou um pouco sobre o assunto, mas permaneci na curiosidade. Não fui às vias de fato. Por quê? Zeus me olhava como se um raio pudesse sair de seus olhos e me queimar. Na verdade, eu já me sentia queimando. Se aproximou mais de mim e passou uma mão por meu rosto de forma carinhosa. – Eu adoro sexo a dois, linda. Sexo com você, então, é a coisa mais fantástica que já experimentei, mas eu gostaria que tivesse a mente aberta. Eu gosto de compartilhar. Gosto de ver as sensações que outra pessoa pode provocar em minha parceira e gosto de saber que estou sendo observado também. Já parou para pensar o quão delicioso poderia ser? Sempre fui ousada e nunca tive medo de experimentar qualquer coisa, ainda mais no que se referia a sexo. Eu já estava excitada só em ouvir sua pequena narrativa. – Já pensei no assunto e concordo que pode ser muito bom, mas acho que o que me impediu de tentar até agora foi o fato de não ter alguém que me deixasse à vontade para arriscar a experiência. Não foi por falta de convites, apenas não havia encontrado uma boa companhia para isso. – Você acha que essa boa companhia poderia ser eu? Me aproximei ainda mais do seu rosto para lhe dar a resposta. – Sem reservas, lembra? Você me pediu um fim de semana que eu estivesse sem pudores e totalmente entregue. Aqui estou, querido. Seus olhos cinzentos pareciam duas bolas de fogo me consumindo. Havia desejo naquele olhar e um instinto primitivo louco para ser liberado ali mesmo. – Quer que eu a foda nesta mesa, na frente de todos, Jéssica? Estou começando a achar que foi uma péssima ideia trazê-la a um restaurante em primeiro lugar. Eu deveria ter te mantido presa no quarto à minha disposição. Você gostaria disso? – Não vejo como uma má ideia estar à sua disposição desde que você estivesse à minha mercê também.
Zeus deu um sinal e chamou a mulher que havia me conduzido de volta. Falou algo baixinho para ela, que me olhou, estendendo a mão em um convite para acompanhá-la. – Para onde eu vou, Zeus? – Confie em mim, linda. Vá com ela e me aguarde que já estarei chegando. A mulher me conduziu até o quarto e colocou suas digitais na porta, me dando acesso ao cômodo. Entrei e me surpreendi. Estávamos na suíte presidencial, onde os maiores artistas do mundo haviam se hospedado. Todos os móveis tinham um estilo rústico e de muito bom gosto. O quarto era digno de hospedar um rei e eu, uma simples plebeia, o tinha apenas para mim naquele momento. Tudo estava tão perfeito que o medo começou a me dominar. Minha vida nunca foi assim. Essa não era eu. Se eu me permitisse algo além desse fim de semana com Zeus, com certeza algum desastre nos acometeria. Nada disso fazia parte da minha realidade. Andei até o quarto e fiquei olhando para a linda e enorme cama à minha frente. Caberiam umas cinco pessoas tranquilamente nela. Passei a mão pelo colchão macio e já me movia para deitar quando alguém tapou os meus olhos por trás. – Zeus? Ele não respondeu, apenas raspando sua barba por meu pescoço, soltando seu hálito quente em minha orelha e lambendo toda a extensão da minha nuca. Fui tomada pela excitação instantaneamente. Com meus olhos ainda vendados, sua mão desceu pelos meus seios, parando ali um pouco para provocar, e logo caminhava rumo ao centro da minha perdição, fazendo com que minha lingerie já estivesse se derretendo. Seu cheiro era delicioso, mas era desconhecido. Meu deus grego deveria ter trocado de colônia, pois não era o seu aroma habitual. Passei as mãos atrás de mim e senti os músculos distribuídos naquele corpo. Algo estava diferente. Seus dedos buscaram o centro do meu prazer e naquele momento me tornei seu pequeno brinquedo, no qual manuseou sem pena, mas com muita delicadeza. Fui virada para outra direção e, repentinamente, senti o calor de outro corpo diante de mim. Eu não podia acreditar. O homem atrás de mim não era Zeus. Eu estava iniciando a experiência de ser compartilhada. E já estava indo ao delírio.
– Está gostando, linda? – Meu amante inquiriu ao pé do ouvido. Ele sequer me deixou responder. Zeus tomou os meus lábios em um beijo ardente e profundo, trançando nossas línguas como se fosse me devorar. O homem passou a circular o seu dedo em meu apertado cuzinho enquanto o meu amante substituiu os dedos dele com os seus, dando atenção ao meu pequeno clitóris que já pulsava de prazer. – Sinta, Jéssica. Apenas sinta. E eu estava sentindo. A situação era muito excitante e passei a mergulhar em um mundo sensual, do qual desconhecia, mas que estava sendo muito intenso. A mão que vendava os meus olhos caiu e, lentamente abri, buscando o desconhecido em meu olhar. O cara era simplesmente lindo. Só não mais que Zeus, porém era também estonteante. – Este é um amigo do clube que frequento ocasionalmente. Seu nome é Dom e topou compartilhar sua primeira experiência comigo. Ele pegou a minha mão e depositou um beijo terno ali. – É um prazer conhecê-la, Jéssica, em todos os sentidos. Estou à sua disposição e espero que aproveite esta noite. – Obrigada. – Respondi, um pouco confusa. Ainda não sabia qual era o próximo passo daquele jogo. – Você já leu ou já viu algo sobre o assunto? Tudo o que acontecer aqui será consensual e se algo não te agradar apenas peça para que a gente pare. Não precisamos de palavra segura ou algo do tipo. Apenas peça e nós o faremos automaticamente. – Zeus me explicou. – Certo, mas até onde vai o limite desse jogo? – Não há limites, linda. Não faremos qualquer coisa que possa machucá-la nem usaremos instrumentos de dor e tortura. Dom tem uma tendência ao sadomasoquismo, porém eu não. Então as coisas serão do meu jeito hoje. Assenti, balançando a cabeça. Zeus tirou o meu vestido e se abaixou, ficando na direção da minha boceta. Deu um beijo por cima da calcinha vermelha e a esticou, rasgando em um puxão. Depositou outro beijo em minha vulva raspada e se levantou.
– Deite-se e abra as pernas. – fiz o que pediu. – Dom, você já viu boceta mais perfeita que essa? O homem levou um tempo admirando a minha nudez. Lambeu os lábios, antes de responder: – Simplesmente linda, como poucas que já vi. – Prove-a. – Zeus ordenou. Meu corpo se contorceu apenas com suas palavras. Imagine como ficaria quando fosse tocado? Dom se ajoelhou, levou um dedo ao centro do meu prazer e depois lambeu todo o mel que estava melado. – Delícia! – Exclamou. Encaixou sua boca com vontade na minha boceta e passou a me lamber e sugar tudo de mim, fazendo com que eu fosse transportada para outra dimensão. Zeus me beijou, tomando os meus gemidos e fazendo mágica com suas mãos em meus seios. A cena era muito sensual e nada do que havia lido ou ouvido sobre o assunto era semelhante à experiência viva. Depois de me dar muito prazer através do sexo oral, de ter todas as minhas partes do corpo beijadas e de me levar a um gozo infinitamente maior do que qualquer outro que já tive, Zeus se levantou e pediu para que o amigo fizesse o mesmo. – Eu vou comer sua doce bocetinha agora, Jéssica. Meu amigo vai apenas olhar e quando eu tiver o suficiente, vou comer o seu cuzinho. Já pensou na experiência de ter dois dentro de você? Busquei minha respiração, mas não a encontrei. Estava ofegante só em pensar. – Sei que sim, linda. É o que vai acontecer depois. Nós dois vamos te foder e prometo que vai gostar muito. Ele fez como havia dito e quando rondou o meu ânus, me preparei para a dor inicial. Havia algum tempo que não fazia sexo anal e sempre sentia dor no início, mas ela logo se transformava em prazer. Zeus encaixou seu pau, coberto por um preservativo, centímetro por centímetro, fazendo com que a tortura que sempre senti no começo, fosse leve daquela vez. Quando entrou completamente, senti um prazer inenarrável. Éramos apenas um. Não havia começo nem fim. Passou a se movimentar, deixando a minha pele em chamas, fazendo o meu clitóris
doer de desejo. Ele convidou Dom a se aproximar que, prontamente, tomou meu pequeno broto em seus lábios e chupou, me levando a um nível elevado de prazer. Ter dois homens lindos me dando atenção era mais do que eu poderia suportar e, sem demora, convulsionei, alcançando um estado de nirvana tão delicioso quanto o anterior. – Venha, Dom, vamos dar uma experiência ainda maior para a linda Jéssica. Vamos adorá-la e mostrar que não há limites para as sensações que o nosso corpo pode liberar. – Com todo prazer, Zeus. Tenho certeza que estar dentro dela será tão bom quanto sentir o seu gosto. Eu já estava encharcada em uma mistura de gozo e tesão. Fiquei o observando enquanto colocava um preservativo em seu pau grosso, cheio de veias pulsantes. Era um pouco menor que o de Zeus, porém um pouco mais grosso. Penetrou sem dificuldades em minha boceta, por estar extremamente lubrificada. Encaixou seu pau ali e permaneceu parado. Eu consegui sentir os dois membros dentro de mim, e apenas uma linha fina separava um do outro. A sensação era extraordinária. – Nós vamos reversar para que não tenha dor, linda. Feche os olhos e apenas nos sinta dentro de você. Se algo a incomodar, avise. Queremos que seja tomada apenas por prazer, nada mais. – Disse Zeus. E assim foi. Quando um entrava, o outro saía. Quando um saía, o outro entrava. Eu estava extasiada, ofegante e delirando. Nunca havia provado algo parecido e já tinha medo de ficar viciada. Nos perdemos no tempo, no espaço e nas sensações. Êxtase novamente estava se formando em mim, alcançando um ponto sensível em meu interior. A minha carne já implorava pela liberação que eu sabia, não demoraria a vir. Zeus rebolou, enfiado em meu cuzinho e eu não conseguiria resistir mais. Todo o meu corpo estremeceu em um gozo colossal e estrondoso, a ponto de deixar as minhas pernas trêmulas. – Zeus, aaaaaaahhhhhh! Os dois machos alfa, quando perceberam que eu havia chegado ao clímax, me acompanharam soltando gemidos engasgados de prazer, derramando todo o seu nirvana dentro de mim.
Os três se jogaram na cama: eu no meio e dois lindos homens dos dois lados. – Você está bem, Jéssica? – Zeus perguntou, dando um beijo em minha testa. Tentando regular a minha respiração, respondi: – Eu estou... não poderia estar melhor, Zeus. Dom sorriu e passou a alisar os meus cabelos. Em pouco tempo minha respiração já se tornava estável e percebi o quanto estava cansada. Repentinamente, caí em um sono profundo nos braços de dois homens.
Capítulo 9
Ele
Música do capítulo: Só por uma noite - interpretada por Charlie Brown Jr.
Havíamos cancelado os shows da sexta e do sábado por conta dos últimos acontecimentos, mas decidimos manter o show do domingo que seria no Rio de Janeiro mesmo. Levei Jéssica comigo e a deixei esperando enquanto dava entrevistas e tirava fotos. A imprensa estava louca atrás de todos os componentes da banda e eu precisava lhe dar um pouco de atenção ou não teria sossego. Voltei para onde Jéssica estava e a flagrei conversando com Rick, o integrante mais paquerador de todos nós. Nenhuma mulher passava ilesa de suas investidas. Ele se acabava de rir, enquanto ela lhe contava algo. – ... o cara fazia a maior pose de macho na frente das câmeras, mas quando chegou no ateliê queria experimentar roupas de mulher? A mim ele nunca enganou. Não que eu tenha algo contra, longe disso. A questão é que ele não tinha peito para sair do armário. Porra de homem frouxo. Me aproximei, pegando essa última fala dela. Eles perceberam a minha chegada e Rick bateu em meu ombro, com os olhos lacrimejantes de tanto rir. – Como você a conquistou antes de nós, Zeus? Inferno, Clara disse que ela tinha namorado, então não investi. Acho que preciso ir à Bahia ver se encontro mais garotas assim como ela. – Você acha que ela ia querer tamanha feiura? Essa veio de encomenda apenas para mim e nunca daria um segundo olhar para você. Jéssica se intrometeu, rindo. – Não briguem, garotos. Primeiro, acho você uma gracinha, Rick, mas, do grupo, apenas Zeus me atrai. Segundo, – ela falou virando em minha direção. – eu não vim ao Rio atrás de você. Vim para ver pessoalmente se minha amiga estava bem. Terceiro e último, não tenho compromisso com ninguém e nem pretendo ter. Clara mentiu. Espero ser amiga de todos vocês e estou torcendo para
que façam o show do século esta noite. Arrasem, garotos! Ela falou, puxando meus lábios em um beijo rápido. Senti um gosto amargo em minha boca e as batidas do meu coração acelerarem. Porra, por que suas palavras me abalaram tanto? Rick começou a me zoar, repetindo alguns trechos do discurso de Jéssica, imitando uma voz feminina. “Eu não vim ao Rio atrás de você, Zeus”. – Falava e voltava a cair no riso. Acabei entrando na brincadeira. Pessoas como Rick são do tipo ‘alie-se ao inimigo ou ele acaba com você’. – Ouviu a parte que ela disse também: “acho você uma gracinha, Rick, mas, do grupo, apenas Zeus me atrai”? Espero que você e os caras entendam isso. Ficamos discutindo como duas crianças por um tempo e pouco a pouco os demais se aproximaram, entrando na brincadeira. Clara também ficou entre nós, mas Benito logo a tirou de lá, levando-a para um local reservado. Esses dois não tinham jeito. Moravam na mesma casa, mas pareciam insaciáveis. Um jornalista me chamou e dei um beijo em Jéssica, antes de ir. – Linda, vá para o meu camarim e me aguarde lá. Logo estarei chegando. Percebi que ela se despedia dos rapazes e fazia o que eu pedi. Meus planos eram de me livrar da imprensa e me perder no corpo da deusa que estava à minha espera. Precisava da adrenalina do sexo para explodir naquele palco. Precisava da adrenalina que meu corpo liberava apenas quando estava com Jéssica. – Zeus Melino, você acha que a imagem da banda ficou abalada depois da morte do exguitarrista? Ah, já não aguentava mais responder aquele tipo de perguntas. – A sua resposta está lá fora, na quantidade de pessoas que estão aqui para nos prestigiar. Nós temos uma excelente guitarrista, que, além de tocar bem, tem muito caráter e não posso afirmar que a banda teve perdas com a saída do anterior. Apenas ganhamos com isso. – Por que nenhum integrante esteve presente no enterro do ex-componente da banda? – Quero deixar claro o nosso profundo respeito aos familiares e à memória dele como músico, mas não teríamos sangue frio para nos despedir de alguém que ameaçou a nossa vida e a de
pessoas que amamos. Espero que seja o suficiente. Preciso ir. O repórter segurou em meu braço e meu pediu para que respondesse apenas mais uma pergunta. – Aquela garota que estava com você agora há pouco é sua namorada? Pensei em que resposta daria a ele. Seu jornal era do tipo sensacionalista e precisava ter cuidado com o que diria, pois não queria passar a imagem de que Jéssica era apenas mais uma. – Prefiro não comentar sobre a minha vida pessoal. Ele me deu um sorriso de quem havia feito sua própria interpretação da resposta e saiu em busca dos outros caras. Fui para o camarim e não a encontrei. Havia duas garotas sentadas no sofá me esperando. – Zeus Melino, é você mesmo? Pensei que não viria mais. Olhei para elas confuso. – Onde está a garota que pedi para vir para cá? Quem as autorizou a entrar aqui? – Aquela garota sem graça? Saiu mais rápido do que entrou. Para que apenas uma, se pode ter duas, lindo? – Porra! – xinguei alto. – Vou matar quem as deixou ficar aqui. Saí rapidamente em busca de Jéssica. Esperava que não tivesse ido embora ou só iniciaria o show quando ela estivesse aqui, na primeira fila, assistindo. Depois de procurar nos lugares mais visíveis e não encontrar, fui ao camarim de Ben. Lá estava ela, conversando com Clara. Minha amiga veio ao meu encontro e cuspiu sua ira: – Como pode mandar Jéssica para o covil das putas? Não a trate como uma qualquer, Zeus. Ela é muito melhor do que qualquer uma delas. Jéssica segurou o braço de Clara, a afastando um pouco. – Não preciso que me defenda, Clarinha. Imagino que Zeus não sabia sobre as meninas ou não teria pedido que fosse até lá. Nunca me senti tão confuso quanto agora. Eu não sabia se ficava feliz em saber que confiava em mim ou triste porque ela não demonstrou qualquer ciúme das garotas. Eu realmente não passava
de uma diversão de fim de semana para Jéssica. – Você não sabia, Zeus? – Clara perguntou. Me aproximei de Jéssica e a abracei, dando-lhe um sorriso. – Sua amiga me conhece melhor do que você que convive comigo há mais tempo. É lógico que não sabia e vou encontrar quem as permitiu entrar. Mais tarde descobri que o nosso roadie foi quem havia permitido o acesso, uma vez que foi informado que eu gostava de receber garotas depois do show. Ele não sabia que eu estava acompanhado naquela noite. O show teve início e Jéssica estava exatamente onde eu imaginava. Eu tinha uma surpresa para ela e queria que estivesse no melhor local para assistir. Comecei falando um pouco sobre os últimos acontecimentos e pedindo uma salva de aplausos pela memória do grande profissional que a música havia perdido. O público atendeu ao pedido e foi ao delírio quando iniciamos de fato a apresentação. Depois de toda a performance que sempre fazíamos, pedi um segundo de silêncio para o que eu faria em seguida. – Pessoal, eu gostaria de fazer uma surpresa para uma pessoa muito especial que está presente aqui hoje. A surpresa é tão grande que nem a banda estava sabendo dela. – todos sorriram. – Gostaria de cantar a música “Jéssica” do compositor Bebeto em homenagem a ela. Peguei a minha guitarra e tirei o tom da música, fazendo uma espécie de som acústico, com pouco acompanhamento dos meus parceiros de banda. Olhei para ela e seus olhos estavam arregalados, sem acreditar no que estavam vendo. “Jéssica... Jéssica... O nome dela é Jéssica Eu já falei pra você É a coisa mais linda Que Deus pode trazer...” A plateia enlouqueceu e começou a chamar por Jéssica, querendo conhecê-la. Os integrantes da banda estavam boquiabertos por minha homenagem, mas eu não me importava. Sempre fiz o que tinha vontade e naquele momento era o que eu queria fazer. – Gente, eu apenas senti o desejo de homenageá-la, mas ela não precisa vir ao palco. Um dia
vocês vão conhecê-la, pois se tornou uma grande amiga. Todos aplaudiram e olhei para ela, que tinha uma lágrima descendo pelo seu rosto. Eu só podia esperar que fosse de alegria. Continuei o show e todos pareciam estar se divertindo. Inclusive a minha Jéssica. Cheguei nos bastidores e ela já estava lá. Quando me viu, veio em minha direção e se jogou nos meus braços. Intempestiva como um trovão, do jeito que eu adorava. – Obrigada, Zeus. Que linda homenagem. – Ela agradeceu, enquanto enchia o meu rosto de beijos. – Hum... Se for para ter uma recepção dessas, vou fazer uma homenagem a cada show. Deu um tapa no meu braço e sorriu, caminhando abraçada comigo em direção aos caras. – Porra, alguém aqui está apaixonado. – Led provocou, com uma loira pendurada em seu pescoço. – Deixe de conversa. Vocês viram como a música ficou perfeita no estilo rock acústico? Ben tem que conseguir a autorização dela para mim. Eu a quero em nosso próximo álbum. – Reconheço que ficou muito boa mesmo. – disse Joya. – É sempre interessante incluir bons compositores entre as nossas próprias composições. Eu apoio. Aliás, parabéns pela homenagem. Assenti, balançando a cabeça. Joya deixou passar, mas sabia que os caras não deixariam barato. Eu seria zoado por um mês, mas foda-se! Não me importo com qualquer um deles, embora sejam a minha família, depois do meu irmão. Esta era a minha última noite com Jéssica e eu pretendia tirar o máximo de proveito dela. Não ficaria mais tempo ali ouvindo ladainhas dos rapazes. Fomos para o meu apartamento e passamos toda a noite transando das formas mais deliciosas e possíveis. O dia estava amanhecendo quando decidimos dormir. Eu, não, apenas ela. Eu estava com sono, mas algo me impedia de fechar os olhos. Medo. Estava com receio de dormir e quando acordar, não vê-la mais em minha cama. Por que isso agora, Zeus? – Me perguntei. Não preguei os olhos até que o dia amanheceu. Pela manhã, fui preparar o nosso café e, sonolenta, ela levantou depois de ter dormido apenas poucas horas.
– Bom dia, dorminhoca. – Eu estava tenso, mas tentei disfarçar. – Bom dia, lindo. Eu queria dormir mais, porém tenho que voltar ainda hoje. Amanhã cedo estarei de volta ao ateliê. – Esse trabalho é o que gosta de fazer? Quer dizer, Clara me disse que é formada em administração. Nunca tentou trabalhar em uma empresa formal? Ela colocou manteiga em seu pão e encheu uma xícara de café preto. – Sim, trabalho no que eu sempre quis. Sempre gostei de desenhar, principalmente roupas e meu sonho era abrir o meu próprio ateliê. Estou juntando a pensão que recebo do meu pai e, quem sabe um dia, tenha meu próprio negócio. Minha admiração por ela crescia ainda mais. Não era como a maioria das garotas que conhecia, que apenas queria se dar bem através do relacionamento com um famoso. Ela tinha metas de crescer com o próprio esforço. – Fico feliz em saber que trabalha com o que gosta, assim como eu. Há tesão quando desempenhamos uma função da qual gostamos. Eu consigo vê-la um dia alcançando seus objetivos. – É, quem sabe algum dia. – E seus planos pessoais? Quais são? Pensa, em um futuro distante, constituir família ou essa coisa de não se relacionar é para a vida toda? – De fato, não penso em namoro, casamento e todas essas merdas que a sociedade nos cobra, mas um filho, talvez sim. Eu penso em adotar uma criança em um futuro muito, muito distante. – Você tem o mesmo pensamento do meu irmão. A diferença é que ele quer para logo. Qualquer dia, receberei a notícia de que me tornei tio. Estou esperando ansioso por isso. – Tem muita criança precisando de carinho e disposta a retribuir. Só darei esse passo se eu perder um certo medo que me corrói. – Que medo, linda? Do que você tem medo? O celular dela tocou no momento que me daria a resposta. Ela olhou para o visor e abriu um sorriso, atendendo em seguida. – Alô, Mau? Mau? Isso seria um apelido masculino? Quem era esse cara que estava ligando para a minha mulher a uma hora daquelas?
Ela ficou em silêncio, ouvindo o que a pessoa falava. Eu não tirava os olhos de seu rosto. Queria ler suas reações. Jéssica levantou da mesa e ficou circulando pela sala, com o celular no ouvido. – Ah, querido, também estou com saudades. Está cuidando bem de Plutão? Mais um? Quem era Plutão? Poderia ser uma pessoa ou um animal? Que tipo de relação ela poderia ter com esse tal de Mau a ponto de criar um animal com ele? – Estarei retornando ainda hoje. Te vejo à noite, então. Beijos. Ela desligou o telefone e continuou olhando para o aparelho com um sorriso no rosto. Eu não conseguia acreditar que a garota que tinha dormido comigo por três dias seguidos estivesse flertando com outro em minha cara. Era demais para a minha cabeça. – Terminou a conversinha com seu namorado? Ele sabe que está com outro aqui? Ela levantou a sobrancelha e me surpreendeu com sua reação. Se jogou no sofá, caindo na gargalhada. – O que há de tão engraçado? Jéssica tentava recuperar a voz, mas sua garganta estava embargada pelo riso. – Eu entendo que não temos nada sério, mas respeito é o mínimo que posso pedir. – Continuei. Sua crise de risos só aumentava a cada frase que eu dizia. Depois de um tempo, ela conseguiu se recompor, me respondendo com outra pergunta. – Você está com ciúmes de mim, Zeus? – Perguntou à queima-roupa. – Não seja patética, Jéssica. Como posso ter ciúmes de alguém que propaga aos quatro ventos que não quer nada sério com ninguém? – Ah, desculpe, então. Foi apenas impressão minha. – Quem é Mau? É seu amante na Bahia? Tem um no Rio e outro em cada estado do país? Ela deu longos passos em minha direção e só não acertou um tapa em meu rosto porque consegui segurar sua mão antes. – Quem é você para falar de respeito, Zeus? Acabou de faltar com respeito deliberadamente
agora. Não sou puta. Não ando com um e outro e muito menos coleciono amantes. Me envolvo por um tempo, caso me sinta atraída, e um de cada vez. Apesar de não te dever explicações, quero que saiba que Maurício é meu irmão. Irmão? Porra, que merda acabei de fazer! Ela saiu rumo ao quarto e eu a segui. Quando cheguei, já estava pegando suas roupas espalhadas e juntando para colocar na mala. Segurei-a nos ombros. – Ei, por favor, me desculpe. Eu não sei onde estava com a cabeça para te dizer esse tipo de coisa. Eu nunca pensei que fosse uma puta, Jéssica, pelo contrário, a considerei especial desde o primeiro dia que te conheci. Uma lágrima desceu de seu olho e ela limpou, tentando disfarçar sua tristeza. Eu estava com raiva de mim mesmo por fazer com que ela se sentisse assim, justo no dia da nossa despedida. Me aproximei, segurando seu braço. – O que é preciso para que me perdoe, linda? – Falei, levantando seu queixo. Ela olhou em meus olhos e me deu um sorriso fraco. – Apenas me abrace, Zeus. Fiz o que pediu e assim permanecemos por um longo tempo. Ela, suavemente, se soltou dos meus braços e voltou a arrumar suas roupas, desta vez sem muita pressa. Pegou sua mala e começou a caminhar para a sala, me deixando parado, apenas a observando. Eu tentava formar uma frase que fosse persuasiva para convencê-la a ficar, mas nada parecia bom o suficiente. – Até qualquer dia, Zeus. – Ela me deu um beijo no rosto e pegou sua bolsa de cima do sofá, caminhando em direção à porta. Eu precisava fazer alguma coisa. E rápido. Fui até ela e a puxei, tomando seus lábios nos meus em um beijo sôfrego, quente e determinado, tentando transmitir o que palavras não conseguiriam expressar naquele momento. Ela retribuiu com o mesmo fervor que eu, como se estivesse esperando apenas essa reação de mim. Quando nossos corpos se separaram, olhei no fundo dos seus olhos castanhos e implorei: – Não vá, fique mais um dia comigo. Jéssica suspirou e baixou a cabeça, levantando-a em seguida com determinação para me
responder. Eu só esperava que de seus lábios saísse apenas o que os meus ouvidos tanto queriam ouvir. Eu tinha que convencê-la a ser minha. Só por uma noite.
Capítulo 10
Ela
Música do capítulo: Fixação - interpretada por Kid Abelha
– Garota, tenho certeza de que você ainda não viu isso! Olha só o que está no jornal. Patrícia, uma das nossas funcionárias, chegou em meu escritório afobada e jogou um jornal aberto em minha mesa. Procurei pela tal matéria para me certificar do que se tratava. Tomei um susto ao perceber que era sobre eu e Zeus. Euzinha aqui, uma garota que nunca fez questão de mídia e que jamais teve interesse de ter a vida estampada em um jornal de grande circulação desse jeito. Lá estava escrito: “Jéssica Katherine Rios é a mais nova conquista do vocalista da banda No Return, Zeus Melino, que há algum tempo não circula com qualquer garota em público. Há especulações de que ele cantou uma música em sua homenagem e que a relação está caminhando para um namoro sério”. Ah, meu Deus! Que diabos é isso aqui? – Paty, se essa conversa chegou até um jornal da Bahia, imagino que a repercussão no Sudeste esteja pior. Droga, eu preciso ver se há mais alguma coisa na internet. Fiz uma busca por meu nome e o de Zeus no Google e mais de mil registros apareceram como um passe de mágicas. Todos os sites, inclusive alguns em que eu confiava, apostavam que logo anunciaríamos o nosso namoro. Patrícia estava ao meu lado, de boca aberta, acompanhando cada janela que se abria em meu computador, se mostrando entusiasmada. Eu não estava nem um pouco. Olhei para o meu iphone, que sempre deixava no modo silencioso, e me assustei com a quantidade de mensagens. Havia mais de quinhentas apenas de Whatsapp e mais de dez ligações perdidas. Abri o aplicativo e vi que havia recebido de vários amigos, provavelmente me perguntando a
mesma coisa. Eu estava até com medo de entrar em minhas redes sociais. Resolvi dar atenção às mensagens apenas de Maurício, Clara e Zeus. Isso mesmo. Até Zeus havia me procurado. Ele, eu deixaria por último, pois tinha muito o que me explicar. M: J, eu agora sou irmão de uma famosa? Que porra é essa que está nos jornais? M: J, me responda! M: Jéssica, você está bem? J: Desculpa por demorar a responder, Mau. Não! Não estou nada bem com o que acabei de ver e, pelo visto fui a última a saber. Eu não gosto e não quero essa invasão de privacidade. M: Converse com Zeus, amor, mas me dê notícias depois. Z: Sim, é o que farei. Até mais! Embora já imaginasse que Clara estaria me perguntando o mesmo que todos, decidi que iria verificar ainda assim. C: Ei, Jel, você e Zeus estão estampados em todos os jornais e revistas de fofocas aqui do Rio. É verdade o que eles estão dizendo? J: Não, Clara, você me conhece. Eu não me envolvo em relacionamentos. Se estivesse rolando algo mais sério entre nós, você seria a primeira a saber e não um bando de urubus que apenas querem vender revistas com informações falsas. C: Ufa! Pensei que precisaria ir até a Bahia te dar uma surra por me esconder essa informação. Se bem que... J: O quê, mulher, fala logo! C: Não seria má ideia você resolver quebrar esse coração de gelo e se abrir para um namoro com Zeus. Eu adoraria tê-la por perto. Todas as minhas amigas estão tão longes. J: Só espero que esteja lembrada que eu não sou a única a fugir desse lance de relacionamento. Seu amigo também não quer isso, portanto estamos muito bem assim. C: Ah, que pena! Vocês tornam a vida tão chata. Fico feliz em saber que está bem. Bjs! Pronto! Menos uma a dar explicações, embora eu não precisasse. Ainda, assim, fico feliz por saber que tantas pessoas estão preocupadas comigo. Dessa vez, iria ver o que Zeus teria a me dizer.
Z: Jéssica, atenda ao telefone. Desculpe, eu não tive a intenção de te expor desse jeito... nunca pensei que poderiam pesquisar sobre você, que loucura! Z: Eu preciso te ver, me diga que posso encontrá-la em Salvador. Z: Droga, Jéssica, atenda a porra do telefone. Preciso ouvir sua voz, saber que não está chateada comigo. Z: Porra, linda, espero que seu silêncio não seja proposital. Estou muito preocupado. Me ligue quando vir as mensagens. Eu deveria ligar para ele? O que diria? Acho que eu soltaria os cachorros, então melhor não ligar. Olhei as chamadas não atendidas e havia sete dele e mais cinco de números desconhecidos. Decidi mandar as resposta apenas por mensagem. J: Não estou bem, Zeus, mas vai passar. Sei que não fez de caso pensado, acontece que você é um cara famoso e tudo o que faz repercute na mídia. Apesar de saber disso, eu o deixaria cantar a música para mim novamente. Aquele momento foi maravilhoso. J: Estive pensando em entrar em contato com alguns advogados para ver o que poderia se feito, mas pensei melhor e decidi deixar a poeira baixar, não acha? Logo a mídia encontra outro osso para roer. Meu celular começou a tocar assim que a última mensagem foi enviada. – Olá, Zeus. – Atendi. – Tem certeza de que está tudo bem? Algum jornalista está te perturbando em seu trabalho? – Sua voz parecia ansiosa. – Ninguém está me incomodando, a não ser uma colega que está aqui no meu pé, bisbilhotando a minha vida, não é, Patrícia? Ela levantou as mãos em sinal de rendição e saiu se despedindo com um sorriso de quem estava se divertindo com tudo isso. – Ah, melhor assim. Se algo a incomodar, me ligue. Essa porra toda é culpa minha e vou mandar uma nota para a imprensa desmentindo tudo. Aqui está um inferno, você não tem noção. Alguém que estava nos bastidores tirou fotos nossas e vendeu para as publicações que não me deixam em paz agora. Eu não sabia explicar o motivo, mas algo dentro de mim se alegrou ao ouvir sua voz.
– Eu preciso voltar ao trabalho, Zeus, hoje o dia está cheio. Não era exatamente o que eu queria. Por mim, ficaria horas e horas conversando com ele, porém eu sabia que precisava dar um fim a essa conversa. Estava se tornando arriscada demais essa proximidade. – Tudo bem, vou deixá-la trabalhar. – já ia desligando quando ouvi sua voz longe me chamar novamente. – Jéssica... eu estava pensando... você gostaria de assistir a outro show da banda, quem sabe passar outro final de semana conosco? Não, não e não! Eu não podia levar isso adiante. Não daria em nada. No mínimo um dos dois sairia machucado e, se fosse eu, não resistiria. Sei que não, assim como a minha mãe não resistiu. – Quando vierem a Salvador, farei questão de estar presente. Até lá, estarei atolada no trabalho. Fica para a próxima. – Desconversei. Eu estava dando o fora no cara que qualquer mulher viva neste país ia querer estar ao lado. O pior era saber que eu também queria, mas eu não podia querer. Depois de me despedir dele e ouvir sua voz de decepção, continuei lendo o que alguns sites diziam sobre nós. Estava concentrada em cada palavra, mas um burburinho que vinha da loja estava tirando a minha atenção. Eu precisava ir até lá. Algo estava acontecendo. Uma linda morena, de cabelos negros como a escuridão e olhos bem marcados por delineador estava fazendo um escândalo dentro da loja. – Não, queridinha, eu quero ser atendida pela melhor. Onde está o gerente, ou melhor, quero falar com o dono dessa espelunca. – Ela gritava. Dei alguns passos em sua direção e me posicionei diante dela. – Pois não? Eu sou a administradora do ateliê. Ela me olhou da cabeça aos pés e com cara de nojo, começou a falar: – Essa vendedora me apresentou as piores peças da loja. Quero saber se neste lugar tem alguém de bom gosto, pois não sou qualquer uma, tenho dinheiro e só gosto do melhor. – Bem, se gosta do melhor, com certeza está no lugar certo. Só trabalhamos com produtos de alta costura. As nossas vendedoras também são muitos boas e, ainda que não fossem, merecem ser
bem tratadas por qualquer um que entre neste estabelecimento, portanto não vou admitir maus tratos como os que acabei de presenciar. Ela olhou dentro dos meus olhos, esfumaçando de raiva. – Você sabe com quem está falando? – Ela teve a audácia de perguntar. – Senhora, todos os nossos clientes são iguais a partir do momento que entram por aquela porta. Então, estou falando com uma grande cliente, que será tratada como tal e o mínimo que esperamos é que o tratamento seja recíproco. Acho que seus argumentos haviam acabado, pois não quis se delongar na conversa. – Chega desse assunto. Vamos ver se você tem um gosto melhor do que suas vendedoras. – Hum... acho que consegui colocá-la em seu lugar. – Antes de atendê-la, poderia me dizer seu nome? – Perguntei. Eu havia dito algo de errado? A mulher me olhou assustada como se eu estivesse dizendo que havia nascido outra cabeça em seu pescoço. – Eu sou a maior estrela de rock da atualidade neste país e você não sabe o meu nome? Lya Jhones, queridinha, grave bem esse nome. Não tem televisão em casa? Você deve ser a última brasileira a me conhecer. Ah, então foi por isso que ela chegou aqui como se fosse a última bolacha do pacote. Pensou que estenderíamos o tapete vermelho para ela. – Eu sou Jéssica Rios. Então, Sra. Jhones, agora que tive o prazer de te conhecer, poderia me acompanhar, por favor? Mostrei a ela alguns looks que poderiam estar dentro do seu estilo e outros para situações mais casuais. Fiquei aliviada quando vi que gostou de tudo e aquela mulher amarga que havia mostrado suas garras agora há pouco, estava se apresentando bastante gentil depois de tudo. Ela escolheu bastantes peças e estendeu seu cartão American Express para finalizar a compra. Passei tudo para as atendentes responsáveis e continuamos a conversa. Em algum momento, eu disse que tinha ido ao show da banda No Return no Rio e foi a oportunidade perfeita para que sua outra personalidade surgisse novamente. – Você foi assistir ao show de Zeus? Gostou? – Ela perguntou como se estivesse me desafiando.
– Sim, gostei muito. Eles são muito talentosos. – Respondi calmamente. Ela roeu uma unha e suspirou, antes de continuar falando. – Zeus Melino, sabe, o vocalista, vive andando atrás de mim. Ele é lindo, não? Estou pensando seriamente em lhe dar uma chance. Acho que seria bom para as nossas carreiras. Os nossos fãs iriam à loucura. Zeus andando atrás dela? Será? Não consigo imaginá-lo fazendo isso com mulher alguma, se bem que me procurou hoje, porém ele teve um motivo para isso. Será que era assim com todas? – É verdade, Zeus é muito bonito, mas já ouvi dizer que esses caras bonitos demais são tão ruins na hora ‘h’. Será que ele é uma exceção? – Provoquei. Ela pareceu pensativa. Idiota! Sempre odiei mulheres fúteis. – Será? Não é possível! Eu bem que imaginava que um homem perfeito daqueles deveria ter algum defeito, mas logo esse? Dei de ombros. – Pois é, menina, homens assim geralmente nos enganam. Pensamos que é uma coisa e quando se tira a prova dos nove, descobrimos que é completamente diferente do que imaginamos. Os pensamentos dela foram interrompidos pela atendente, que entregou as sacolas aos seus seguranças. Ela começou a se mover, mas antes de sair, me chamou de volta. – Jéssica, é esse se nome, não é mesmo? – Sim, Sra. Jhones. – Teria interesse em trabalhar como minha personal stylist por um tempo? Uau! Um trabalho como esses poderia me ajudar muito no mercado da moda, embora não fosse exatamente o que planejei para o meu futuro. – Por que não? Se não for um trabalho que precise tomar muito do meu tempo... Eu não tenho planos de deixar o ateliê. – Tudo bem, eu entrarei em contato. – Ela se despediu, pegando o meu número. Além dos transtornos desta manhã, nenhum outro problema surgiu no trabalho. O meu iphone estava cada vez mais cheio de mensagens e números desconhecidos continuavam a insistir. Eu não atendia, pois todos que eu conhecia estavam em minha agenda, e alguma coisa me
dizia que não ia gostar de falar com quem estava me ligando. No final da tarde, tentei sair do ateliê e qual não foi minha surpresa? Havia cerca de cinco fotógrafos registrando cada passo que eu dava e dois jornalistas tentando se aproximar. Consegui entrar rapidamente no carro sem falar com a imprensa e percebi que estava sendo seguida. Fui para um shopping próximo à minha casa e liguei para Maurício me buscar. – Mau, a imprensa está atrás de mim, preciso que me salve. Estou no Shopping Limoeiro, vou tentar despistá-los saindo em seu carro. – Está bem, estou indo. Ele não demorou, pois já havia chegado em casa e o shopping era próximo. Trocamos de carro e assim consegui sair ilesa. Ele só chegou em casa um tempo depois de mim. Quando cheguei, fui direto para o quarto. Tomei um banho demorado e coloquei uma roupa leve, já que não pretendia sair de casa. Quando meu irmão chegou, eu já estava na sala, assistindo televisão. – Ufa! Quando viram que havia um homem no carro, não me seguiram. Ainda assim dei a volta no quarteirão para despistá-los. Você sabe que se quiserem, encontrarão sua casa fácil, não? – É, sei disso, mas preferi não facilitar. – Você viu o que chegou mais cedo para você? Ele carregou um buquê de rosas na mão e me entregou. – De quem é? – perguntei. – Apesar da curiosidade, não olhei o cartão. Abra e depois me conte. No buquê, havia rosas champanhe e rosa claro. Já tinha lido sobre o que cada cor representava e sabia que ambas significavam admiração e simpatia. Eram simplesmente lindas. Abri o bilhete e nele estava escrito: “Dentre todas essas rosas, você é a mais linda. Adorei o fim de semana. Gostaria que outros iguais se repetissem”. Z. M. Meu coração estava palpitando forte e eu comecei a suar frio. Não era possível que eu estivesse desenvolvendo sentimentos por Zeus. Por que ele tinha que ser tão atencioso e gentil? Por
que não poderia ser o mesmo que sempre foi com as outras garotas? Será que na verdade era assim com todas? Eu só sabia de uma coisa: não podia correr o risco de me apaixonar. E o pior de tudo: tinha medo de já estar apaixonada. Coloquei as flores no vaso e guardei o bilhete. Mandei apenas uma mensagem de ‘obrigada pelas flores’ pelo Whatsapp e fiquei olhando para a tela, esperando que respondesse. Devo ter perdido infinitos minutos olhando para aquele telefone, mas não obtive qualquer sinal de Zeus. Ele devia estar muito ocupado para responder. Talvez já com outra esquentando sua cama. Subi para o meu quarto e me deitei na cama, pensando em tudo o que aconteceu por esses dias. Plutão deu um pulo, subindo para ficar ao meu lado e me olhou como se quisesse conversar. Eu correspondi aos seus anseios. – Oh, Plutão, em que confusão me meti. – falei alisando seu pelo. – Ele me pediu para ficar mais um dia no Rio e eu fugi como um coelhinho assustado. Eu não posso amá-lo. Não posso amar ninguém. Eu consegui passar por tantos caras e deixar meu coração ileso, porque com ele está sendo diferente? Meu gato manhoso roçou seu rabo em minhas mãos e, com olhar de quem entendia tudo o que eu disse, respondeu: – Miau! Eu sorri e lhe abracei, fechando os olhos. Não demorou muito e o cansaço me venceu, anestesiando todo o conflito interno que eu estava vivendo. Caí em um sono profundo.
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Já fazia três dias que não falava com Zeus e a imprensa havia me deixado em paz. A minha vida voltou à normalidade como sempre e eu estava trabalhando quando o meu celular tocou. Era Clara. – Jel, como vai?
– As coisas estão melhor agora. Os fotógrafos não estão mais atrás de mim. – Ótimo. Bem, estou te ligando para falar sobre um assunto um pouco delicado. Isso está me martelando por dias e mesmo que não tenha um relacionamento com Zeus, achei que tinha obrigação de te contar. Ah, Deus, lá vem bomba. – Você sabe que pode me contar o que quiser, Clarinha. Desembucha logo, mulher. – Eu te contei que eu e Ben gostávamos de compartilhar, não foi? – Sim, me contou, e eu nem te falei: tive uma experiência recente com Zeus e um amigo e adorei. Gostaria de experimentar de novo. – Danada! Mas voltando ao assunto, Zeus e Ben preferem compartilhar com amigos, pois o risco de cair na mídia é menor e, embora ninguém deva nada, nós sabemos como esses abutres das revistas podem acabar com a carreira de uma pessoa do dia pra noite. – Imagino. – Pois é. Como você sabe, o melhor amigo de Ben é Zeus e como os dois gostavam da mesma prática sexual, acabou que... me compartilhou com ele algumas vezes. Eu já imaginava que isso podia ter acontecido e não vou negar que sentia uma ponta de ciúme, contudo não conseguia ver grandes problemas, ainda mais vendo o quanto Clara é apaixonada por Benito. Além disso, não tenho nada a ver com o presente dele, imagine com o seu passado. Eu só tinha uma curiosidade nessa história toda: – Há quanto tempo vocês não... você sabe, transam em grupo? – Faz algum tempo já. Deve ter cerca de dois meses ou mais. Não fazemos com frequência e agora que você apareceu, acredito que nem faremos mais. Acho até melhor assim. Eu não conseguia me imaginar compartilhando Zeus ou qualquer cara que eu gostasse com minha melhor amiga, mas se eles estavam bem com isso, quem era eu para julgar? – Tá tudo tranquilo, Clara, eu e ele não temos qualquer compromisso e o passado dele não me interessa. Estou vendo que aproveitou bastante já que repetiu a dose. Conversamos um pouco mais, tentando manter uma conversa descontraída e nos despedimos com promessas de voltar ao Rio qualquer dia desses. Eu realmente estava bem com isso, não disse apenas da boca pra fora.
Se fosse qualquer outra garota, talvez surgisse uma ponta de ciúmes, mas com Clara, sei que fez apenas por prazer e diversão. Nada mais. No final da tarde, dei o trabalho por encerrado e voltei para casa depois de mais um dia agitado. Entrei em meu prédio e cumprimentei o porteiro que já estava em nosso condomínio desde a construção do empreendimento. Todos já o conheciam pelo nome. – Como vai, Sr. José? Tudo tranquilo aqui hoje? – Sim, tudo em paz. E você, minha querida? Está cada dia mais bonita. – Obrigada. Tive dias turbulentos, mas agora está tudo bem. – Ótimo. Tem algumas correspondências aqui para o seu endereço. Quer levá-las agora? – Sim, por favor. Ele me entregou um pequeno amontoado de envelopes e uma pequena caixa, que logo abri, já sabendo qual era o seu conteúdo. Eram dois livros do gênero erótico que eu havia comprado e tinha acabado de chegar. Minha programação para o fim de semana já estava garantida. – Vocês têm visita. Interfonei e Sr. Maurício autorizou a entrada. – Sr. José falou. Assenti e comecei a caminhar em direção ao elevador. Quem poderia ser? Provavelmente uma das tantas namoradas de Mau. Será que eu atrapalharia alguma coisa? Olhei os envelopes, tentando identificar do que se tratavam e um deles me chamou atenção. Não tinha remetente, apenas destinatário. Abri no elevador mesmo. Estava muito curiosa. “A princesinha da mamãe conseguiu um namorado rico, hein? Você esqueceu, mas eu não. Ainda tem uma dívida comigo. A vida de sua mãe valia muito pouco diante do que ela devia”. Ânsia de vômito me dominou e uma tontura preencheu a minha mente. Busquei um pouco de ar naquele ambiente fechado e, com muito esforço, consegui me manter firme. Aquilo era uma ameaça? O assassino da minha mãe sabia onde eu morava e estava me cobrando uma dívida? Aquilo só poderia ser brincadeira. Decidi que não levaria a sério. Matar a minha mãezinha e ainda ficar impune era muito mais do que aquele filho da puta merecia. Cadeia ainda era pouco. Ele merecia morrer. Entrei no apartamento, tentando disfarçar o meu nervoso e buscando fazer o máximo de
barulho para que todos me escutassem e eu não tivesse que flagrar uma cena constrangedora. Na sala não havia qualquer pessoa, o que confirmava que deveria ser uma garota. Já estava indo em direção ao quarto quando ouvi vozes e risos masculinos vindo da cozinha. Fiquei curiosa e fui até lá para ver quem era. Zeus. Ele estava encostado em uma parede da cozinha, totalmente descontraído e batendo papo com meu irmão. Lindo! Simplesmente lindo! Era demais para a minha cabeça. Cheguei até a porta e mexi com a chave para que percebessem a minha presença. Ele arregalou os olhos e veio até mim. – Jéssica, sei que disse que eu não precisava vir, mas... tive que ver pessoalmente se estava bem. Espero que não se importe. Não sabia o que responder, então fiquei apenas parada, olhando para o seu corpo viril, dividido por músculos bem distribuídos. Vendo que eu estava atônita, Maurício interferiu. – Eu estava contando a Zeus agora como é péssima de cozinha, Jess. Quase sempre sou eu quem prepara a comida aqui em casa. Meu irmão me conhecia muito bem e sabia que precisava intervir ou eu poderia dizer qualquer besteira pelo susto de tê-lo em minha casa. – Você precisa comer a macarronada com almôndegas dele. Tenho certeza de que nunca provou uma igual. – Tentei brincar, ainda assustada. Nunca no mundo imaginaria voltar do trabalho e encontrar Zeus em minha casa. O maior astro do rock pop atual estava em minha cozinha jogando conversa fora com o meu irmão. Não! Na verdade não era o astro quem estava aqui. Não era Zeus Melino. Era apenas Zeus, o homem, o ser humano, o amigo, quem sabe. – Preciso provar qualquer dia então. Não tenho dúvidas de que deve ser delicioso. – Ele falou, dando ênfase à última palavra, sem tirar os olhos dos meus. – Por que vocês não vão conversar na sala? – Maurício sugeriu. Dei as costas e comecei a caminhar até o sofá, tirando Plutão que estava deitado e o colocando em meu colo. Zeus me acompanhou, sentando ao meu lado.
– Então, esse é o gato do qual falou. Plutão, não é mesmo? – Sim, este é Plutão, meu companheiro. Que meu irmão não me ouça, ele morre de ciúmes. Zeus olhou para a cozinha e abriu o sorriso que eu mais amava admirar neste mundo. Estonteante. – Você deve estar curiosa por causa da minha visita, não? – Sem dúvidas. Por que está aqui, Zeus? Ele abaixou a cabeça por um tempo e depois a levantou decidido, como se tivesse tomado coragem para falar. – Eu não sei, Jéssica. Eu estava conversando ao telefone com um conhecido daqui de Salvador e de repente me bateu uma vontade de falar contigo, de vê-la e me peguei tomando um voo para cá sem mais nem menos. Não sei o que está acontecendo, eu nunca fui assim com mulher alguma, mas o fato é que eu gosto de estar perto de você. O que eu deveria dizer diante de tantas revelações? – Eu também me sinto muito bem ao seu lado. E agora que está aqui, o que pensou em fazer? Ele soltou um riso fraco. – Esse conhecido me convidou para ir em uma espécie de pool party em sua mansão e eu pensei que talvez você aceitasse ir comigo. O que acha? – Eu não sei... amanhã tenho trabalho e... – Prometo que ficaremos apenas o tempo que quiser. Gostaria muito da sua companhia. Acontecerão algumas coisas lá que você pode considerar interessante. – Sendo assim, tudo bem, eu aceito. Se é uma pool party, eu devo usar biquíni por baixo? – Não será necessário, não vamos entrar na piscina, apenas observar. Apenas observar. Seu tom de voz já dava uma conotação do que poderia rolar nesse lugar. Ele ficou me aguardando, enquanto fui até o quarto trocar de roupa. Coloquei uma das lingeries sensuais que ele havia me presenteado e por cima dela um short jeans desfiado formando par com um cropped de manga comprida que mostrava um pouco da minha cintura chapada. Usei saltos Carmen Steffens, que eu havia comprado recentemente, e logo estava pronta.
Zeus havia alugado um carro, mas contratou um motorista para nos conduzir ao nosso destino. Eu queria ir com o meu, mas ele recusou, dizendo que poderíamos beber um pouco e não seria seguro. Não tinha como discutir com argumentos tão fortes, não é? Chegamos a uma casa um tanto escondida, mas sua fachada era enorme e imponente, como eu havia visto só em filmes. Os portões se abriram automaticamente quando nos aproximávamos e o carro entrou, nos deixando de frente à porta de entrada. Um homem de meia idade veio até nós com duas mulheres jovens penduradas em seus braços e cumprimentou Zeus. Seus olhos passaram do meu acompanhante para os meus e me avaliaram de cima a baixo. Quando parou em meu rosto, ficou admirado a princípio, mas depois abriu um grande sorriso, afastando as mulheres e se aproximando para me dar um abraço caloroso. Eu permaneci parada, sem entender o que estava acontecendo e fui tomada pela raiva quando, ainda abraçado comigo, virou para Zeus, perguntando: – Você a trouxe para brincar conosco ou ela é um presente apenas para mim?
Capítulo 11
Ele
Música do capítulo: Mármore interpretada por Fernando e Sorocaba
– Quem você pensa que é para falar comigo assim? Zeus, eu quero ir embora agora. – Jéssica falou, intempestiva. Segurei o seu braço, pedindo que confiasse em mim. – Você sempre me colocando em maus lençóis, hein, Thomas? Jéssica é uma garota de personalidade forte e não vai entender suas brincadeiras. – voltei minha atenção para ela. – Não ligue para o que ele fala, linda. Thomas é do tipo que se odeia a primeira vista, mas depois a gente descobre que é bobo como uma criança. Ela pareceu mais aliviada em ouvir isso e eu tive certeza que a minha Jéssica estava de volta quando a vi entrar na brincadeira. – Bem, você me perguntou se eu brincaria com vocês ou seria seu presentinho. A resposta é nenhum dos dois. Eu enganei Zeus para me trazer até aqui apenas porque eu estava morrendo de vontade de tomar um banho de piscina. Esse é o único motivo pelo qual eu vim. Thomas soltou uma gargalhada alta e eu o acompanhei, adorando o modo extrovertido de minha acompanhante. Na verdade, ainda não tinha descoberto qualquer característica dela que não fosse adorável. Eu estava cada vez mais envolvido. Batendo em meu braço, o anfitrião perguntou: – Onde a encontrou, Zeus? Adoro mulheres lindas e espirituosas. – voltou sua atenção para ela. – Eu falei brincando com você, lindinha, mas estou seriamente tentado a levar a sério. Se estiver interessada em um homem mais maduro, não esqueça de mim. Jéssica revirou os olhos e eu a livrei do escrutínio de Thomas, levando-a a conhecer a casa. Eu já tinha vindo aqui uma vez e acabei conhecendo um pouco do local. Era realmente muito bonito
em cada detalhe. Circulamos pelo espaço externo, onde ficava uma linda e grande piscina que ocupava quase toda a área, fazendo um ‘s’, e que estava cheia de garotas seminuas, algumas apenas se banhando, outras agarradas em alguns caras e mais algumas trocando carícias entre si. Jéssica ficou visualizando a cena, parecendo confusa, e depois me fitou com um olhar interrogativo. – Eles estão aproveitando, querida. Todos que estão aqui são de maior e sabem o que estão fazendo. Todos estão em comum acordo. Eu gostaria que se despisse de qualquer preconceito. Veja, eles estão dando e recebendo carinho e prazer. É tudo reciproco. Muitos deles estão em um relacionamento estável e não se importam em compartilhar desde que façam isso juntos. – Eu... eu não tenho preconceito, Zeus. É que... só não estou acostumada a ver esse tipo de coisa. A maioria das pessoas levanta tanto a bandeira da monogamia, fidelidade e tal que a gente acaba estranhando ao se deparar com o amor livre desse jeito. – Verdade. A sociedade prega um determinado padrão, mas você ficaria abismada com a quantidade de pessoas em um relacionamento fixo que frequentam clubes e festas particulares desse tipo onde podem satisfazer seus fetiches sem ter um dedo apontado em sua cara. – Imagino. – Além disso, a gente não pode afirmar que casais que compartilham praticam poligamia. A maioria deles é formada de pessoas bem-resolvidas e fieis ao seu relacionamento. – É... eu não sei se teria coragem, mas... não julgo o modo que cada um escolhe para sentir prazer, desde que ninguém seja forçado a nada. – Você não teria coragem de participar de uma orgia, linda? Lembre-se de que já foi compartilhada e gostou muito. O problema é a quantidade de pessoas? – Não sei, Zeus. Estou tentando manter a mente aberta como me pediu, mas acho que não saberia definir os meus limites para obter prazer. Talvez só experimentando. Eu puxei a mão dela, trazendo seu corpo para mais perto do meu e lhe dei um beijo ardente. Ofegante, separei o meu corpo do seu e a conduzi para dentro da casa. – Venha comigo, preciso te mostrar o que está rolando lá dentro. Enquanto adentrávamos o local, percebi que Jéssica examinava tudo, admirada com tanto bom gosto e elegância. O seu olhar brilhando estava me dando ideias que eu teria que pôr em prática
logo, logo. Um garçom estava passando e peguei duas taças de Dom Perrignon para nós. A levei para uma espécie de sala de jogos e, antes de entrar, me virei para falar com ela. – Continue com sua mente aberta. Se tiver interesse em participar, eu gostaria muito. Caso não, fale comigo. Eu quero que faça apenas o que se sentir à vontade para fazer, entendeu? Ela balançou a cabeça, assentindo e eu a levei para dentro do cômodo. Thomas estava lá, com cerca de três homens além dele e várias mulheres fazendo uma orgia privada. Outros casais, em volta, apenas observavam. Os participantes deveriam ser profissionais do sexo, ou até modelos, pois a beleza das garotas e dos rapazes era fora do comum. Só não eram mais bonitas do que Jéssica. O dono da casa estava fodendo uma loira por trás, enquanto mamava nos seios de uma morena que estava sendo fodida por outro rapaz. Ele me viu chegar e nos convidou a se aproximar. – Venha, Jéssica, vamos ver mais de perto. Ela parecia temerosa, mas não voltou atrás na decisão de conhecer melhor como isso tudo funcionava. Passamos um tempo observando como outros casais e não havia como negar que o ambiente todo cheirava a luxúria. As luzes eram fracas, em um tom avermelhado, dando uma atmosfera erótica ao local. Os homens reversavam as mulheres, sempre trocando os preservativos rapidamente, e elas também trocavam carinhos e beijos quentes umas com as outras. Meu pau já estava duro e me posicionei atrás de Jéssica, roçando minha ereção em sua bunda e cheirando o seu pescoço. Ela começou a retribuir, também enfeitiçada pelo ambiente e passou a arquear, espremendo o corpo em minha rigidez. Sabendo que não aguentaria aquela provocação por muito tempo e com o pau já pulsando de necessidade, falei baixinho em seu ouvido: – Você gostaria de experimentar a orgia? Se não gostar, nós podemos parar a hora que quiser. Ela me olhou nos olhos e percebi que ainda havia receio neles. Era natural que se sentisse amedrontada, uma vez que estava prestes a experimentar algo desconhecido. – Eu quero, Zeus, acho que devo tentar. Dei um beijo em sua testa e a conduzi ainda mais para perto do grupo. Tirei sua roupa
devagar, peça por peça e percebi que os olhares dos voyeurs já estavam se voltando para ela. Também tirei a minha roupa com a ajuda dela e tomei seus lábios nos meus, marcando território, mostrando a todos que eu estaria compartilhando alguém que me pertencia. Apenas a mim. Nos juntamos aos demais e logo uma loira escultural veio em nossa direção, porém sua atenção não estava voltada para mim, mas sim para Jéssica. A princípio, ela ficou receosa, mas percebi que sentia prazer quando a mulher tomou os seus mamilos na boca, se deliciando com vontade. Jéssica estava ali como eu realmente pedi: sem pudores. Voltei a tomar a sua boca, sentindo um acre sabor de luxúria misturado à uma doçura que eu só havia experimentado emanar de Jéssica. Me posicionei atrás dela, esfregando o meu pau em sua bunda e puxei seu cabelo levemente, trazendo os seus lábios para ficar novamente na direção dos meus. Thomas saiu de dentro da garota e veio em nossa direção, puxando carinhosamente o rosto da outra que dava atenção à Jéssica para tomar os seus lábios. Depois a conduziu para a outra garota e voltou para se concentrar na minha acompanhante. Ele tomou um tempo apenas admirando e, passando a língua em volta da boca, se abaixou para olhar sua bocetinha de perto. Abri as pernas dela, dando maior visibilidade àquele lugar paradisíaco que era a minha perdição. Olhou para mim pedindo autorização e eu balancei a cabeça, assentindo. Abrindo sua vulva, passou a lamber o clitóris dela, fechando os olhos para se deliciar em seu sabor. Jéssica começou a se contorcer, pedindo por mais e eu decidi que lhe daria. Me abaixei também, ainda detrás dela, e abri sua linda e redonda bundinha para que eu pudesse admirar seu pequeno e delicioso buraco. Aquele era meu segundo lugar preferido no mundo. Enquanto Thomas brincava com seu grelinho ao mesmo tempo que enfiava dois dedos em sua entrada, eu passei a brincar com o cuzinho dela, lambendo o caminho de sua boceta até o ânus. Ela estava indo à loucura, exatamente como eu planejava. Uma morena se posicionou ao meu lado e começou a me massagear e a Jéssica também. Levantei e lhe dei um beijo, passando o sabor da minha acompanhante para ela e tomando o dela em meus lábios. Continuei brincando com o cuzinho de Jéssica apenas com os meus dedos e concentrei minha atenção na morena, descendo minha língua por seu pescoço, passando por seu colo até alcançar os
seus seios. Percebi que o corpo de Jéssica estava congelado e parei o que estava fazendo para olhar em seus olhos a fim de entender sua reação. Ela estava respirando forte e balançando a cabeça em discordância. Thomas percebeu que havia algo errado e parou o que estava fazendo, se levantando para ver do que se tratava. – O que foi, Jéssica? Não quer continuar? – Perguntei. Ela continuou imóvel, olhando de mim para a outra garota, ainda balançando a cabeça. Seu olhar passou de nós dois e foi para a minha mão que segurava o braço da menina. Será que era o que eu estava pensando? Jéssica poderia estar com ciúmes? – Desculpas... eu... eu preciso ir. – Ela falou, catando suas roupas e se afastando enquanto vestia. Droga, que porra estava acontecendo aqui? – Jéssica, espera... Jéssica, calma, por que está saindo desse jeito? Saí andando atrás dela enquanto vestia a minha calça, tentando alcançá-la. Todos ficaram parados, olhando para nós, sem entender o motivo daquele rompante. Ouvi uma voz distante comentar “é por isso que eu nunca convido esses caras famosos para as minhas festas. Nunca estão bem acompanhados”. Se eu tivesse mais tempo, não levaria esse desaforo pra casa, porém agora minha prioridade era Jéssica. Consegui alcançá-la no rol da casa e segurei seu braço, fazendo-a parar. Posicionei-a diante de mim e ela baixou as vistas, sabendo que não conseguiria esconder suas inseguranças caso eu olhasse em seus olhos. Segurei seu queixo e levantei seu rosto em direção ao meu. Ela assim fez, cruzando suas duas esferas cor-de-mel com os meus acinzentados. – O que foi, linda? Eu não disse que poderia parar caso não estivesse confortável? Por que saiu daquele jeito? Ela balançou a cabeça de um lado para o outro, parecendo confusa. – Eu tentei, Zeus, eu realmente tentei. Achei de verdade que poderia sentir prazer em ser tocada por desconhecidos, mas...
– Como assim, querida? Não é a primeira vez. Você já foi tocada por aquele homem no hotel, lembra? Ela passou as mãos pelo rosto e respirou fundo, olhando para cima. – Eu acho... acho que a questão não foi ser compartilhada, muito menos saber que estava sendo observada. O problema foi... eu não sei dizer o que aconteceu, mas... fiquei fora de mim quando vi aquela mulher tocar em você. Ah, então era exatamente o que eu imaginava. Ela estava com ciúmes. Logo ela que apregoa a todo o momento que não quer ter um relacionamento e que não namora. Eu não tenho experiências com relacionamento, mas sei que só pessoas possessivas ou que amam possuem esse sentimento. Eu deveria acreditar que ela se enquadra em um dos dois casos? Não, acho que não. – Posso interpretar o que acabou de dizer como ciúmes, Jéssica? Você está com ciúmes de mim? – Decidi provocar. Ela voltou a baixar a cabeça, mas agora parecia apenas pensativa. Algum tempo depois, voltou a me olhar com determinação e começou a caminhar, desconversando. – Amanhã eu acordo cedo, Zeus. Poderia me deixar em casa? Andei ao seu lado até o estacionamento e, quando estávamos próximos ao carro, peguei em seu ombro a virando de frente para mim. – Quero que saiba que eu sinto o mesmo por você. Eu não sinto ciúmes quando a compartilho com outro porque sou eu quem está no controle, mas morro de raiva só de imaginar outro homem te tocando, outro cara sentindo o seu corpo, sentindo o sabor do seu mel, te preenchendo, dando e recebendo um prazer que deveria ser meu, que deveria se entregue apenas a mim. – Zeus, eu acho que você está confundindo as coisas. Eu não quero... – Ssrrr... pare de tentar me enganar. E pior, pare de tentar enganar a si mesma. Eu gosto de gastar meu tempo com você, Jéssica, e sei que também gosta de estar comigo. Para que fugir de algo que nós dois queremos? – Não! Você sabe que eu não posso. – Querida, não estou te pedindo em namoro, em casamento ou para que tenha os meus bebês. Estou te pedindo apenas que deixe rolar. Eu sinto um desejo pelo seu corpo como nunca senti por
nenhum outro. Adoro sua companhia e a admiro, acima de tudo. Só te peço que não me afaste assim. – Um de nós vai acabar se machucando se levarmos isso adiante. Eu tenho uma leve suspeita de que esse alguém serei eu. Você não me conhece, eu não atraio boas vibrações. Algo ruim sempre acaba acontecendo quando tenho expectativas. – Então, não as tenha. Por que é tão pessimista, Jéssica? É uma garota tão divertida e engraçada na maior parte do tempo, mas em alguns momentos consigo enxergar um lado tão obscuro em você. – Essa sou eu, Zeus. A vida me fez assim. Costumo aprender com as lições que ela me dá. – Tudo bem, linda. Não pense que parei por aqui, por que estará enganada. Eu a quero em minha cama como nunca quis ninguém e quero viver esse lance com você até onde der, mas hoje gostaria apenas que aceitasse um convite. – O quê? – Durma comigo. Estou na casa do meu irmão, mas poderíamos dormir em um hotel essa noite. – Não, eu não vou dormir com você. Porra! Essa mulher ia me fazer rastejar a qualquer hora. – Por que não? Pare de negar que me deseja tanto quanto a desejo. – Eu não vou dormir com você, Zeus, porque é você quem vai dormir comigo. Que tal irmos para o meu apartamento? Será que morri e fui para o céu? Eu estava escutando direito? – Você... você está me convidando para dormir em seu quarto? Em sua cama? E seu irmão, ele não vai se importar? Ela respondeu sorrindo. Minha garota linda estava de volta com o sorriso que era capaz de iluminar uma galáxia inteira. – Nah! Maurício me apresenta uma namorada nova todos os dias e eu nunca levei um cara para dormir em casa. Do jeito que o conheço, vai ficar até feliz em vê-lo lá. – Feliz? Por que um cara ficaria feliz em ver outro dormindo com sua irmã? – Por que ele é o romântico da casa, apesar de ser galinha. Ele acha que um dia eu vou encontrar o grande amor da minha vida e aquela lenga, lenga todo de ser feliz para sempre.
– Hum... Feliz para sempre eu não garanto, porém, como diz o poeta, “que seja eterno enquanto dure” está mais dentro do meu alcance. Ela riu e aproveitei seu momento de descontração, tomando-a em meus braços. A carreguei no colo e ela tomou um susto, soltando um grito. Ela não pesava muito, então não tive dificuldades em levá-la até o carro, aproveitando para provar um pouco mais do doce sabor de seus lábios. Tomei a direção e, antes de ligar o veículo, levei um tempo apenas admirando cada traço do seu rosto. Ela estava rindo sem parar, suscitando em mim o desejo de congelar esse momento para que jamais tivesse fim. Eu sabia que algo estava acontecendo comigo, mas ainda não queria dar um nome a esse sentimento. Ainda era cedo demais e eu tinha um longo caminho a percorrer para quebrar as paredes firmes levantadas por Jéssica. Antes de tudo, eu tinha que descobrir o que a levou a ser a pessoa fria que demonstra e depois trabalhar em cima da informação que obtiver. Não seria fácil, mas isso não era problema. Nada para mim jamais foi fácil. Eu não tinha dúvidas de que iria conseguir.
Capítulo 12
Ela
Música desse capítulo: Eduardo e Mônica interpretada por Legião Urbana
Zeus havia passado toda a semana comigo em Salvador. Ele foi até a casa de seu irmão apenas buscar a mala e depois se instalou em meu apartamento. Melhor dizendo: em meu quarto. Como imaginei, Maurício se deu muito bem com ele e até preparou a macarronada com almôndegas para que experimentasse. Ele simplesmente adorou. Eu ia para o ateliê durante o dia, enquanto o meu roqueiro delicioso trabalhava no computador e no celular. Benito já estava enlouquecendo, pois queria que ele voltasse para ensaiar e cumprir agenda de publicidade. Ele não parecia ter qualquer interesse em fazer isso. Eu estava trabalhando em uma nova coleção de roupas, quando o meu celular começou a vibrar. Olhei para a tela e o nome de Zeus estava piscando. Esse homem não estava me deixando em paz e eu nunca tinha gostado tanto disso. – Eu estou começando a pensar que você quer que eu perca o emprego. – Atendi, o repreendendo. – Bom dia, linda, eu precisava ouvir sua voz. Não tenho a intenção de deixá-la desempregada, mas a ideia até que não é ruim. Você poderia vir trabalhar com a banda no Rio. Acho que Alicia não recusaria uma ajudinha no figurino. – Deixe de brincadeiras. Você sabe que amo o meu trabalho. – Quem disse que estou brincando? No Rio você poderia fazer uma atividade semelhante a que faz aqui e ainda ficaria mais perto de mim. – Zeus, não é hora para brincar, eu preciso voltar ao trabalho. Deve ter um motivo para ter me ligado além de ouvir a minha voz, não?
– Sim. Na verdade liguei para avisar que vou te buscar na hora do almoço. Vamos almoçar em um lugar especial hoje. – Lugar especial, é? Posso saber onde fica? – Ainda não, mas sei que vai gostar. Quero te pedir mais uma coisa e não aceito uma resposta negativa. – Ah, lá vem você com suas propostas indecorosas. Ouvi seu riso pelo telefone. – Não é indecorosa, mas requer um pouco de sacrifício. Você tem como ficar livre esta tarde? – Hum... Eu tenho flexibilidade no horário e o movimento hoje está meio fraco. Acho que poderia me ausentar pela tarde. O que está aprontando, Zeus? – Mais tarde, linda. Nos vemos daqui a pouco, então? – Ok. Passei a manhã toda me perguntando o que ele estaria aprontando para esta tarde e, sem perceber, quando olhei para o relógio já era meio dia. Saí do escritório e passei pela frente da loja, deixando instruções para as funcionárias. – Patrícia, fique à frente de tudo e qualquer problema me ligue. Estarei fora esta tarde. – Pode deixar, chefa. Divirta-se! – Ela respondeu, com atrevimento. Eu ainda cortaria a língua dessa criatura. – Até amanhã, Patrícia. Saí da loja e caminhei pela calçada. Do outro lado avistei um homem lindo encostado no carro, com seus cabelos presos em um curto rabo de cavalo e vestido em calça jeans e camiseta que mostrava parte de suas tatuagens. Completamente comestível. Ele me fitou enquanto ia ao seu encontro, me olhando como a única mulher viva na face da terra. Era assim que me sentia ao seu lado: única. – Não faça mais isso comigo, Zeus, você mexeu com o meu ponto fraco. Sou muito curiosa. – Falei, lhe roubando um beijo rápido.
– Hum... eu gosto de saber que passou a manhã toda pensando em mim, então. Se ficou curiosa, deve ter passado um bom tempo se perguntando qual seria a surpresa. – Convencido. Vamos logo, estou morrendo de fome. – Vamos lá. Entramos no carro e fomos em direção à saída da cidade. Chegamos a uma cidade vizinha de Salvador, seguindo rumo a um bairro onde eu já estive poucas vezes, mas era bastante conhecido por residirem grandes artistas da música baiana e grandes empresários lá. O local se chamava Vilas do Atlântico. Logo na entrada eu já estava maravilhada com os detalhes artísticos milimetricamente pensados para dar um belíssimo aspecto a cada residência. Não havia casebres ou residências de porte médio naquele lugar. Parecia que eu estava em outro país, pois ali nada lembrava as imagens que eu estava acostumada a ver cotidianamente. – O que estamos fazendo aqui, Zeus? Tudo isso está tão distante da minha realidade. Não poderia ter me levado a um local um pouco mais simples? – Calma, Jéssica, você precisa aprender a confiar em mim. Posso te garantir que vai gostar muito do lugar para onde estou te levando. Respirei fundo e continuei admirando a paisagem. Era linda. Em algum momento, chegamos a uma casa enorme, tão grande quanto a mansão que ele havia me levado outro dia. Ele apertou um controle e o portão abriu nos apresentando um grande jardim muito bem cuidado que precedia o acesso à porta de entrada. Zeus parou o carro na frente, sem se preocupar onde estava estacionando e nós descemos, enquanto eu tentava encontrar um motivo plausível para estarmos ali. Olhei para os lados a fim de avistar alguém que fosse o responsável ou o dono da mansão, mas não encontrei qualquer ser vivo. Meu deus grego apenas me olhava, rindo dos gestos que eu fazia. – Venha, Jel, vamos entrar. – Jel? Só quem me chama desse jeito é Clara. Ela vai arrancar suas bolas se te vir me chamando assim. – Deixe que com Clara eu me entendo. Seu nome é lindo, mas eu gosto também de Jel. Se necessário, eu compro os direitos autorais dela. Caí na gargalhada.
– Direitos autorais? Não é para tanto. Ele tomou a minha mão e abriu a porta, me conduzindo para dentro. A casa era simplesmente magnifica. Todos os mobiliários e a decoração eram de excelente gosto em tons que combinavam uns com os outros, trazendo harmonia e uma imagem de lugar tranquilo. Paz, era isso que eu estava sentindo ali. Havia uma mesa posta com um banquete completo que daria para alimentar um batalhão. Será que os donos da casa chegariam logo? – Que linda casa. Seu proprietário soube escolher muito bem cada peça do mobiliário. Além de transmitir uma sensação de paz, parece um... lar. Os moradores dela devem ser muito felizes aqui. De quem é? O sorriso dele estava de orelha a orelha. – Paz. Foi justamente essa sensação que tive quando entrei aqui pela primeira vez. Posso te garantir que o proprietário está muito feliz com a aquisição dessa casa. Ele tem grandes planos para ela. – Posso imaginar. A que horas eles chegam? Estou com muita fome. – Não precisamos esperar por mais ninguém, Jéssica. Vamos comer enquanto o almoço ainda está quente. Almoçamos devagar, rindo e conversando. Ele não me dava nomes nem respondia diretamente a nenhuma das minhas perguntas. – Eu brinquei sobre comprar os direitos autorais e me lembrei de um dos motivos pelo qual estamos aqui. Eu quero comemorar, linda. Consegui a autorização para gravar a música “Jéssica” do compositor Bebeto. Meus olhos se arregalaram. Tudo isso parecia um sonho. – Sério? A música ficou linda. Tenho certeza de que será um grande sucesso. – Tenho certeza que sim. Levantamos nossas taças de champanhe e brindamos a esse novo projeto. Uma música com meu nome. A banda No Return gravaria uma música em minha homenagem. Eu não poderia estar mais feliz.
Depois do almoço, comemos uma sobremesa que eu sempre amei. Não sabia se ele havia adivinhado ou se é uma sobremesa do tipo que todos amam, só sei que petit gateau estava no topo da minha lista de doces favoritos. Comemos, bebemos e continuamos conversando e rindo por bastante tempo. Em algum momento, Zeus me convidou para conhecer a casa e me levantei da mesa, o acompanhando. Subimos as escadas e passamos por um corredor onde havia muitos quartos. Ele abriu a porta de um deles e me deparei com um ambiente bastante parecido com a suíte presidencial do Copacabana Pallace, com apenas uma diferença: a cama era com dossel, coberta por uma espécie de cortina de tule transparente. Per-fei-to! – Porra, o dono dessa casa deve confiar muito em você para deixá-lo dispor à vontade deste lugar mágico. Parece que estou em um filme ou em uma novela, Zeus. Esta casa é uma obra de arte. Ele me agarrou pela cintura, diminuindo nossa distância e puxou meu rosto para possuir a minha boca em um beijo ardente e cheio de desejo. Ficamos nos beijando por algum tempo, até que ele me soltou e foi em direção à janela, parecendo pensativo. – Essa era a minha segunda surpresa, Jéssica. Esta casa é minha. Eu acabei de comprá-la e quero que seja nosso refúgio quando eu estiver aqui em Salvador. Estou muito satisfeito em saber que fiz uma boa escolha. As surpresas daquela tarde não acabavam. Estava cada vez mais assustada. – Sua? Você está querendo me dizer que tudo isso aqui é seu? Ela é apenas... maravilhosa! Eu vou amar ficar alguns dias aqui quando você vier à Bahia. Percebi que ele ficou um pouco mais sério com a menção da distância entre nós. – Eu quero falar com você sobre isso, Jel. Eu sei que não tem interesse em namorar e qualquer tipo de compromisso, mas acho que está rolando uma química legal entre a gente e acho que deveríamos pagar pra ver. Não estou a pedindo em namoro, apenas sugerindo que poderíamos nos encontrar de vez em quando, você poderia ir ao Rio e eu poderia vir à Bahia sempre que possível. Seria bom demais continuar me relacionando com Zeus, mas eu sabia que toda essa alegria teria um final trágico depois. Eu poderia achar forças para superar esse medo? – Mas isso que você está sugerindo é um relacionamento, Zeus. – Para que colocar rótulos? Vamos apenas nos divertir, linda. Eu a quero, você me quer,
vamos aproveitar essa faísca que sai quando estamos juntos. – Talvez você tenha razão... Talvez eu devesse... tentar. – Porra, garota, acho que cheguei a suar pelo trabalho que tive para arrancar esse sim da sua boca. Nunca foi tão difícil. – Não é um sim, Zeus. Estou apenas considerando levar esse lance entre nós adiante, sem expectativas, sem cobranças... – E sem outros caras. Eu quero exclusividade, Jéssica. Você será minha pelo tempo que nosso desejo durar e eu serei apenas seu. Tenha cuidado também com as fofocas da mídia. Sempre converse comigo antes de tirar suas próprias conclusões. Eu me perguntava até que ponto ele seria capaz de cumprir essa promessa. – Não pretende mais compartilhar? – Se for o que nós quisermos, sim, podemos compartilhar. Caso você não esteja à vontade, não faremos. Tudo será em comum acordo e quando estivermos juntos. – Tudo bem, concordo. Só mais outra coisa, Zeus: eu quero total sinceridade. A partir do momento que um de nós perceber que não dá mais, deve abrir o jogo. Não tente me poupar porque eu não o pouparei se for eu a dar o primeiro passo. – Eu a quero tanto, linda, que acho difícil esse desejo acabar, mas tudo bem, eu prometo ser sincero. Agora, venha aqui. Zeus me levou para a cama, afastando a cortina para nos dar acesso ao colchão macio. Nos deitamos suavemente, trocando beijos e carícias, enquanto ele se ajoelhava entre as minhas pernas, calmamente nos deixando nus, prontos para nos pertencermos. Naquele momento, decidi silenciar a voz do medo que tentava me convencer que havia feito a escolha errada. Decidi me despir em todos os sentidos e me entregar de corpo e alma ao que estávamos vivendo. Decidi me permitir. Naquela tarde, transamos durante horas uma e outra vez com a ferocidade de lobos famintos, mas com a suavidade de dois amantes que não tinham pressa, que não se importavam com o depois, que não se preocupavam com o amanhã. Estávamos deitados, abraçados e ofegantes pelo melhor sexo da minha vida, quando decidi
que já era hora de compartilhar meus receios com Zeus. Aquele dia estava se tornando um divisor de água e era importante que ele compreendesse o que me tornou a mulher que sou hoje. – Eu não consigo entender como uma história de amor tão linda pode acabar de forma tão trágica. Sabe, não me conformo até hoje. Zeus estava fitando os meus olhos de forma confusa. – Do que você está falando? Está tentando me contar alguma coisa, linda? – Sim. Eu quero que saiba um pouco do meu passado. Quase ninguém o conhece, apenas Clara e Maurício. Talvez você entenda porque eu não quero me abrir para o amor. Ele sentou na cama, me puxando para sentar também de frente para ele. – Obrigado por confiar em mim. Eu quero muito te conhecer melhor. – Eu nunca vi até hoje um casal que se amasse tanto quanto os meus pais, Zeus. Meu pai era General do Exército e tinha que ficar ausente por longos períodos, mas quando ele estava em casa, eu não sei explicar... aquilo era um lar de verdade, entende? Ele tinha um brilho nos olhos quando olhava para ela e minha mãe... – as lágrimas já estavam rolando livremente pelo meu rosto... – minha mãe transbordava amor. O meu pai era o ar que ela respirava, era o fôlego de vida dela, era dono do seu coração. Zeus passou um dedo em minha bochecha, enxugando uma lágrima que caia. – E o que aconteceu com ele? – Foi convocado para liderar uma batalha e nunca mais voltou. Eu pedi tanto para que não fosse. Ele ainda ficou relutante, pois amava muito a mim e Maurício, mas nunca voltou atrás em suas obrigações. Lembro nitidamente do seu último adeus e, dentro de mim, quando o vi sair pela porta naquele dia, eu sabia. Sabia que não o veria mais. – Que triste, linda. Como sua mãe ficou? – Naquele dia... eu perdi meus dois pais. Quando minha mãe soube da morte dele, só não tirou a sua própria vida porque meu irmão a deteve. A partir daí, ela não vivia mais, apenas vegetava. Passou a beber, a se drogar, se envolver em jogos, fazer dívidas. Eu havia virado a mãe e ela era a filha adolescente que dava trabalho. – Oh, querida, você teve que ser tão forte. Te admiro ainda mais agora que conheço um pouco do seu passado. Você poderia ter transformado tudo o que passou em revolta e ter entrado para um submundo, assim como ela, mas em vez disso, preferiu lutar e hoje é uma grande mulher.
– Eu não tive opção, Zeus, e nem acho que a minha mãe teve. Eu e Maurício não fomos razão suficiente para ela viver, pois já não tinha mais um coração. Ele havia sido enterrado junto com meu pai. – Ela morreu por causa do álcool ou foi por conta da depressão? Baixei a cabeça para deixar as lágrimas rolarem. Eu não tinha forças para continuar contando a história para ele naquele momento. Era muito doloroso, mas ao mesmo tempo era libertador. Ele era a primeira pessoa para quem eu contava o meu passado e que não estava comigo na época. Juntei forças para encontrar minha voz novamente e, depois de alguns minutos, consegui continuar. – Você sabe o que é chegar em casa e encontrar um homem com o revolver apontado para a cabeça da sua mãe? Ela foi assassinada... Ela morreu em minha frente e eu não pude fazer nada. Nada! Eu faria qualquer coisa para mantê-la viva, mas não consegui. Não tive chance. Zeus me tomou nos braços, se mantendo abraçado comigo por um longo tempo e depois me deitou em seu colo, passando a alisar meus cabelos. – Onde está esse assassino, Jel? Ele não tentou matá-la também? – Não, eu consegui fugir. Depois do episódio, vendemos a casa e compramos o apartamento. O cara não sabe onde nos encontrar e ele já conseguiu o que queria que era o pagamento de uma dívida. Ela foi paga com a vida da minha mãe. – Por que você acha que pode ter o mesmo destino que ela? – Por que eu já amei uma vez. Eu daria a minha vida por meu ex-namorado e, no momento que eu mais precisei dele, o encontrei com o pau enfiado em outra mulher. No dia da morte de minha mãe, o cara a quem confiei o meu coração enfiou um punhal nele. Nunca mais consegui ser a mesma. Olhei para meu amante, seu rosto estava endurecido e seus olhos vagando, parecendo furioso. – Ainda tem contato com o seu ex, Jéssica? – Nunca mais o vi depois daquele dia. Soube que tentou entrar em contato comigo, mas não obteve sucesso. Ele também havia morrido para mim. – Eu entendo agora porque tenta vender essa imagem de garota fria, sem coração, mas você mesma disse que sua mãe não teve escolha. Você acha que se ela pudesse escolher, ela não ia preferir anestesiar seus sentimentos em prol de seus filhos? O amor não deixa escolhas, linda. É como uma droga altamente viciante que você não terá forças para lutar contra. A única opção que ele
deixa é a entrega, a rendição. As lembranças de Maurício falando sobre amor encheram a minha cabeça e consegui abrir um sorriso, apesar de tudo. – Você está parecendo o meu irmão. Quando ele discursa sobre o amor, parece que encarna um poeta dentro de si, apesar de nunca ter amado. Ele diz que acredita que um dia irá encontrar a mulher que fará seu coração bater mais forte, pode? Ele sorriu e percebi que estava contente em me ver mais animada. – Se você me perguntasse até outro dia, te garanto que não daria esse sermão sobre o amor. Eu nem ao menos pensava sobre isso, mas ultimamente eu sou obrigado a concordar com seu irmão. Acho que a culpa é sua de eu andar mais emotivo nos últimos tempos. Puxei ele para cima de mim e nos embolamos sorrindo sobre a cama. – Minha? Não me venha com essa história, Sr. roqueiro fodão. Você só está comigo porque encontrou uma garota tão fria quanto você. Se eu estivesse apaixonada e toda melosa em cima de você, já teria me dado um pé na bunda. Repentinamente, ele ficou sério. – Em outras épocas, sim. Atualmente, tenho lá minhas dúvidas. – Hum hum. Ele nada respondeu e ficamos apenas juntinhos, abraçados, nos sentindo, compartilhando calor e o carinho que eu tanto precisava naquela hora. Depois de um tempo, Zeus quebrou o silêncio. – Deixa eu te perguntar uma coisa, linda. – Fale. – Você... está tomando a pílula? Que diabos de pergunta era aquela? Me soltei do seu abraço e sentei na cama, olhando para ele assustada. – Claro que não. Nunca transei sem preservativo, então não havia necessidades de tomar anticoncepcional. Ele levantou também, sentando. – Droga! Eu... esqueci de usar em nossa primeira vez hoje.
– O quê? Você está louco? Acabamos de assumir um caso que não conseguimos sequer dar um nome e você vem me dizer que esqueceu a porra do preservativo? – Calma, Jel, foi apenas uma vez, não vai acontecer nada. Quantos casais tentam engravidar por anos e não conseguem? Você acha que por eu ter esquecido apenas uma vez, vai acabar engravidando? Seja um pouco mais otimista. Não, eu não poderia me tornar mãe. Eu tinha sonhos, planos de crescer profissionalmente e só depois de muito tempo, talvez, poderia pensar em adotar uma criança. Eu seria otimista. Eu não ficaria grávida. – Está certo, vou ficar confiante. Tenha mais cuidado a partir de agora. – Eu gostaria que começasse a tomar a pílula, já que estamos entrando em um lance exclusivo. Fiz exames recentemente e mandarei cópia para o seu e-mail. Confio em você e sei que também está limpa. – Pode ser, mas só posso começar quando a minha regra descer. Enquanto isso, devemos estar protegidos. Ele cruzou os dedos sobre a boca, antes de brincar: – Palavra de escoteiro.
Capítulo 13
Ela
Música desse capítulo: Cartório interpretada por Claudia Leite
– Esse cara não tem mais shows para fazer não? Quando eu terei minha pequena irmã de volta só para mim? – Maurício me provocou. – Está com ciúme, Mau? Como meu irmão é ciumento! – falei apertando sua bochecha. – Seu voo sai esta noite. Vamos almoçar juntos mais tarde e depois você terá sua irmã inteirinha para encher seu saco. – Que bom que a paz voltará a reinar... Estou apenas brincando. Até gostei de ganhar um cunhado. Pensei que não viveria para ver esse dia chegar. – Ele não é seu cunhado e não pretendo te dar um. Sabe bem disso. – Hum... quando você vai ao Rio? Acho que quando for, eu irei com você. Estou louco para conhecer a guitarrista gostosa da banda. Se aquela mulher me desse bola, eu juro que me tornaria um padre de tão comportado que seria. – Você um padre? Só quando cair neve na Bahia. – Joya Miller. – ele falou o nome dela como se estivesse estampado em um letreiro. – Um lindo nome para uma linda mulher. Porra, eu preciso conhecê-la. – Você e todos os fãs masculinos da banda No Return. Se brincar, até algumas mulheres gostariam de conhecê-la mais de perto, se é que me entende. Mas... está bem. Vou pensar no seu caso, talvez a apresente a você. – Você faria isso por seu irmão preferido? – Eu talvez faça isso por meu único irmão, porém tem uma condição... – Já sei, chantagem. Macarronada com almôndegas, estou certo? – Ah, é tão bom saber que me conhece muito bem.
– Combinado, farei uma grande panela de macarronada, mas quando estiver com a bunda enorme, não reclame comigo. Ele saiu correndo e eu fui atrás dele, tentando lhe dar uma merecida surra. É claro que não o alcancei e quando já estávamos cansados, paramos de correr, caindo na gargalhada. – Deixe eu te falar, Jess. Amanhã vou trazer minha namorada para te apresentar. Ela vai jantar conosco. Rolei os olhos. – Outra? Onde a última foi parar? – Não deu certo, ela me pegou com uma amiga e aí você já sabe, não é? Juro que com essa as coisas serão diferentes. – Certo, sei. – Hum, senti fome agora. Vou ver o que tem na cozinha, quer alguma coisa? – Mau perguntou, já caminhando para a geladeira. – Não, obrigada. Sentei no sofá, liguei a televisão e logo Plutão pulou em meu colo, se deitando e ronronando. Naquele dia, eu só ia trabalhar pela tarde, depois de almoçar com Zeus, então aproveitei para relaxar. Depois de um tempo, ouvi passos firmes vindo em minha direção e me virei para ver o que poderia estar acontecendo. Maurício estava parado, com fúria nos olhos, me encarando como se fosse explodir a qualquer momento. – Mau, o que foi? Está sentindo alguma coisa? – Por que não me contou, Jéssica? – Do que você está falando? Contar sobre o quê? Ele estendeu um bilhete que não reconheci à primeira vista, mas quando começou a ler o conteúdo em voz alta, entendi o motivo de tanto ódio. – Meu irmão, onde você achou esse bilhete? – Estava no chão da cozinha. Provavelmente caiu do bolso de alguma roupa quando colocou para lavar.
– Mau, não ligue para isso. Deve ser uma brincadeira. Ele me olhou como se eu fosse louca e começou a andar na sala de um lado para o outro. – Você está maluca ou o quê, Jéssica? Essa merda aqui é uma ameaça, entendeu? É a porra de uma ameaça daquele psicopata que matou a nossa mãe. Ele nos encontrou, Jess, e você está correndo perigo. – Calma, Mau, não exagere. Ele não pode fazer nada contra mim, eu não devo nada a ninguém. – Você não está entendendo a gravidade da coisa. Ele acha que você deve e quer se aproveitar porque já está sabendo de sua relação com Zeus. Droga! Que porra eu devo fazer agora? Você precisa ir à delegacia dar uma queixa. Eles têm que encontrar esse marginal. – Mau, espera, não vamos nos precipitar. Eu prometo que se voltar a receber um bilhete, procuro a polícia, ok? Zeus já emitiu uma nota para a imprensa afirmando que não estamos namorando. Se o filho da puta é tão informado assim, já deve estar sabendo que era tudo invenção e que eu não estou com um homem rico. Ele quer nos chantagear por dinheiro e não podemos ceder na primeira provocação. Fique calmo. – Não sei como, mas vou tentar. – ele veio até mim e agarrou meu rosto com suas duas mãos. – Você me prometeu, Jess. Se voltar a acontecer, não pode pensar duas vezes e deve ir à polícia, entendeu? – Entendi, querido, confie em mim. – Eu confio. Tenho tanto medo de te perder, você é tudo o que me restou. – Eu também, meu amor. Eu também. Meu iphone vibrou no sofá e me afastei de Maurício para ver quem era. Zeus havia mandado uma mensagem, marcando a hora e me passando o endereço do local. Disse que não daria para me buscar e me perguntou se teria problema de encontrá-lo lá. Respondi que estaria lá e fui para o quarto me arrumar. Eu não queria me atrasar, pois tinha muito trabalho pela tarde. Me despedi de Maurício, que estava de folga naquele dia, e saí uma hora mais cedo para encontrar Zeus. O lugar que ele escolheu era muito movimentado e poderia me deparar com um engarrafamento no caminho.
Depois de ficar um tempo presa no tráfego, consegui chegar ao quarteirão, mas não havia vaga para estacionar próximo ao restaurante. Acabei deixando o carro em um lugar mais distante, tendo que caminhar até meu destino. Andei pela calçada olhando as vitrines e admirando a arquitetura dos prédios históricos existentes naquela avenida. Passei pela frente de um restaurante e o lustre pendurado no grande salão me chamou a atenção. Sempre fui fissurada por tudo que envolve arte: decoração, arquitetura, quadros e, sobretudo, desenho. Dentre todas, moda sempre foi a minha praia. Analisei os traços daquele lustre que era uma verdadeira obra-prima e decidi seguir em frente. Em outra oportunidade poderia entrar e observar por mais tempo. Quando estava saindo, meu olhar rapidamente pousou em um casal sentado sob o objeto de decoração. Estava dando alguns passos adiante quando a curiosidade me tomou e decidi voltar para ter certeza de que meus olhos não estavam me pregando uma peça. Antes tivessem. Zeus estava lá sentado de frente a tal roqueira famosa, Lya Jhones, sorrindo como um casal apaixonado. Então ela tinha dito a verdade. Ele estava interessado na vocalista da banda The Lionesses e estava enrolando nós duas ou, talvez, até mais garotas. E aquela história de exclusivo? – sorri comigo mesma sarcasticamente. – Só você mesma para acreditar nisso, idiota. Continuei dando passos determinados, pois eu não fugiria dessa vez. O nosso acordo não envolvia cobranças, mas eu precisava entender por qual motivo ele estava brincando comigo daquele jeito. Você sempre esteve certa, Jéssica. Quanto mais mantivesse o coração longe dessa história, menos você se machucaria. O problema era que eu já estava perdendo o controle do meu coração. Ele já estava mais envolvido do que eu imaginava. Droga! Cheguei ao restaurante e o atendente logo me conduziu à mesa reservada. Sentei-me e peguei meu celular para verificar as mensagens. Nenhuma de Zeus. – Deseja tomar alguma coisa, senhorita? – O garçom perguntou.
– Sim. Traga um copo de água com gás e uma rodela de limão, por favor. Adorava tomar água com gás quando estava nervosa. Ela sempre me ajudava a ficar mais calma. O garçom logo trouxe o meu pedido e tentei me acalmar, usando algumas técnicas de respiração que aprendi no pilates, o qual eu havia abandonado nos últimos meses. Alguns minutos se passaram e um pouco antes do horário marcado, Zeus chegou, abrindo seu sorriso estonteante que acabava com minhas forças. O que eu tinha que dizer a ele mesmo? Era preciso apenas um olhar para que eu esquecesse da fúria que estava sentindo? – Hum... pontual, hein? Faz tempo que chegou? – Ele perguntou, me dando um beijo rápido. – Faz algum tempo. Eu preferi vir mais cedo, pois não posso me atrasar hoje, tenho trabalho à tarde. – Sei, e posso saber qual o motivo dessa cara emburrada? Eu a acho linda de qualquer jeito, mas prefiro quando está mais à vontade. Aconteceu alguma coisa? – Sim, aconteceu. Eu não sou de enrolar, Zeus, então vou logo direto ao ponto. Por que está brincando comigo? Eu sou um desafio para você? Talvez esteja testando seu nível de sedução e verificando até que ponto consegue quebrar barreiras. Saiba que hoje eu coloquei mais uma fileira de blocos na minha parede. Ele parecia confuso. Claro, ele não sabia que eu o tinha visto com aquela mulher. – Do que está falando, Jel? Afirmou que seria direta e não está sendo. O que te faz achar que estou brincando com você? – Eu vi, Zeus, ninguém me contou. Eu vi você e aquela roqueira petulante na maior intimidade há alguns minutos atrás. Ela comprou algumas peças no ateliê outro dia e já havia me alertado do seu interesse, porém decidi não dar crédito. Hoje eu tive a prova de que ela disse a verdade. Eu percebi como olhava para ela. Você a quer. Ele levantou do lugar e sentou ao meu lado, segurando a minha mão. – Porra, eu nunca fiquei mais confuso em minha vida. Você veio para mim cheia de regrinhas que não estava em um relacionamento, que não teria cobranças, que não iria se apaixonar e a cada dia te entendo menos. O que exatamente você viu, Jéssica? – O fato de eu não ter visto você a beijando não quer dizer que eu não percebi a intimidade entre vocês. Nós temos um acordo de exclusividade, ou você esqueceu? Quem o propôs foi você se
bem me lembro. Por que está voltando atrás em sua palavra? Acho que devemos deixar pra lá essa coisa entre nós e nos tornarmos amigos, talvez. Nós sempre estivemos fadados a não dar certo. Ele passou as mãos pelo rosto, parecendo angustiado. – Eu quero saber de que porra está falando. Caralho, eu não estou acreditando que estou diante de outra crise de ciúmes, mais uma vez infundada. De fato, eu tenho intimidade com Lya e qual o problema? A sensação que eu estava tendo naquela hora era a de que ele havia me dado um soco na cara. – Como... como tem coragem de me dizer isso assim como se fosse a coisa mais simples do mundo? Está finalmente admitindo que brincou comigo esse tempo todo? Com licença, eu preciso ir embora. Eu estava me levantando quando ele segurou o meu braço. – Fique aqui, porra. Você falou, falou e agora é a minha vez. Lya Jhones na verdade não é nada mais que... Ele foi interrompido por uma fã histérica. – Zeus Melino? Ah, meu Deus! Ah, meu Deus! Ah, meu Deus! Eu te amo tanto. Tire uma foto comigo, por favor. Zeus juntou todo o resto de paciência que havia economizado e esboçou um sorriso para tirar uma selfie. Tratou a menina com carinho, deu autógrafo e um beijo em seu rosto. Ela parecia que havia acabado de ganhar na Mega Sena. Eu o admirei ainda mais como artista. Não entendia como uma celebridade poderia tratar mal um fã que era o responsável pelo sucesso que tinha. Zeus se despediu da garota, pedindo para que ela não espalhasse que ele estava lá e ela se foi, feliz da vida. – Achei linda a forma como a tratou. Nem todo o mundo consegue separar as coisas e você se saiu muito bem. Ela terá história para contar a semana toda na escola. – Eu nunca destrato uma fã, meu trabalho depende delas. Mas, voltando ao assunto, eu estava falando sobra a minha intimidade com Lya. Ela é apenas uma amiga que conheci através da música, linda. Eu admiro o seu trabalho e ela o meu, apenas isso. Ela soube que eu estava em Salvador e como também estava, me convidou para um lanche só para falarmos de assuntos profissionais. Decidimos gravar uma música juntos. Já estou sentindo cheiro de sucesso.
– Mas... ela me disse que vocês... – Pode parar por aqui. Não existe eu e Lya. Não temos nada além de uma relação profissional. Eu vou apresentá-la a você na primeira oportunidade e verá que foi tudo um malentendido. – Então... o que eu vi foi apenas uma conversa entre amigos? Ah, meu Deus, o que está acontecendo comigo? Estou tão envergonhada. Ele se aproximou ainda mais do meu rosto, olhando no fundo dos meus olhos. – Eu acho que sei o que está acontecendo, linda. É o mesmo que está acontecendo comigo. Você está apaixonada, Jéssica, e não adianta negar, pois estou sentindo o mesmo. Estou a cada dia mais rendido a você. Apaixonada? Eu apaixonada? Não, isso não pode ser verdade. Eu não posso. Ele continuou: – Você não é sua mãe e eu não sou seu pai. Cada pessoa constrói sua própria história e não concordo com você quando disse que estamos fadados a dar errado. Eu acho exatamente o contrário. Somo muito bons juntos e, pela primeira vez em minha vida, tenho pensado em ter algo mais profundo com alguém. Relacionamento. Não! – Alto lá, marujo! Eu posso concordar que nos damos muito bem e que o sexo entre nós é alucinante, mas só. Sempre deixei claro que eu não estava em busca de um relacionamento, e isso continua sendo o que quero. – Tudo bem, querida, não vou começar uma batalha com você novamente. Essa você já venceu, mas estou pronto para entrar em uma guerra e não aceito nada menos que a vitória. Revirei os olhos e dei de ombros. Já estava na hora de colocar um ponto final nessa conversa. – Vamos falar sobre algo mais interessante. Onde será o show dessa semana? – Perguntei. Continuamos a conversar durante todo o almoço, alternando a conversa com beijos e carinhos, e logo tive que me despedir dele para ir ao trabalho. Mais tarde eu o levaria até o aeroporto e sabe-se lá quando o veria novamente.
Semanas e semanas se passaram e não conseguimos ficar muitos dias sem nos ver. Ele fazia shows aos fins de semana e, quando eu podia, ia assistir e ficar com ele. Às vezes, eu era surpreendida com a sua chegada repentina em meu apartamento depois de um dia de trabalho e ficávamos lá ou íamos para a sua casa em Vilas do Atlântico. O nosso lance estava de aprofundando e, quando não nos víamos, nos falávamos pelo menos três vezes ao dia por telefone, fora as mensagens de Whatsapp. Eu já estava viciada nelas e olhava o meu celular a todo o momento. Eu ia fazer isso exatamente agora, quando o meu aparelho vibrou. Olhei rápido achando que era mais uma ligação de Zeus, mas me enganei. O número era desconhecido. Atendi curiosa. – Alô! – Bom dia, estou falando com a Srta. Rios? – Sim, sou eu mesma. Do que se trata? – Eu faço parte da produção da Sra. Lya Jhones que nos passou seu contato. Ela gostaria de contratá-la como personal stylist para sua próxima turnê. Teria interesse? Eu teria? Depois de descobrir que agiu de má fé quando falou sobre Zeus e depois de tratar as minhas funcionárias com arrogância, será que valeria a pena me envolver com esse tipo de gente apenas para ganhar nome no mercado? – Por favor, informe a Srta. Jhones que estou muito lisonjeada com a oferta, porém devo recusá-la. Estou muito envolvida com o meu trabalho e não tenho mais disponibilidade de tempo. Agradeça a ela por mim. – A senhora está recusando uma oferta feita por uma das maiores artistas nacionais da atualidade? Está avaliando o peso da sua decisão? – Sim, eu não costumo tomar decisões sem pensar nelas. Novamente agradeço pela oportunidade, contudo terei que recusá-la. – Tudo bem. Tenha um bom dia. Eu acho que fiz a coisa certa em não aceitar. Uma vez Zeus a apresentou como minha acompanhante e ela desdenhou de mim depois de me reconhecer. ‘Você não é a costureira da lojinha em Salvador? Como conseguiu chegar até aqui?’ –
Lembro dela ter perguntado e, claro, lhe dei uma resposta à altura. Eu nunca permitiria que qualquer um me humilhasse. Esse final de semana eu iria para o Rio, pois os shows seriam lá. Maurício iria comigo dessa vez e marcamos para nos encontrar no aeroporto, já que eu iria direto do trabalho. Deixamos Plutão na casa de minha tia. Eu tinha combinado com Clara que faria uma surpresa para ele, chegando sem ser avisada. Ele achava que eu não poderia ir para o Rio, pois ia ter que trabalhar no final de semana. Chegou a dizer que viria a Salvador passar o dia comigo e voltar apenas na hora do show, mas eu consegui convencê-lo de que não morreríamos caso ficássemos uma semana sem nos ver. Ele acabou cedendo. Meu voo estava marcado para a noite e marquei com Clara para ficar no apartamento dela enquanto não encontrasse Zeus. Ela fez o sacrifício de perder o show para me buscar no aeroporto. Quando chegamos ao Rio, ela foi a primeira que vi, acenando com as mãos. – Jel, Maurício, como foi o voo? – Ela perguntou. – Tranquilo como sempre. Obrigada por ter vindo me buscar. – Sem problemas. Ben quase teve um troço quando soube que eu não estaria com ele, mas eu não me importei. Aquele homem não quer mais desgrudar de mim. Acho que só ficará mais tranquilo depois do nosso casamento. – Já está bem perto, não é? Mau se intrometeu. – Poxa, Clara, você está acabando com meus sentimentos. Pensei que você se casaria comigo. Ela gargalhou alto. – Deixe de besteira, Mau, nós nunca teríamos nada um com outro. Você sempre foi meu amigo e nunca houve segundas intenções. – Fale por você. – Ele deu de ombros. – Nem te conto, garota. Zeus está a ponto de ter um custipio porque você não estaria aqui neste fim de semana? – Sério? Ficou tão nervoso assim?
– O quê? Está todo o mundo evitando ficar ao lado dele e alguns dos caras até me imploraram para pedir que você viesse para acalmá-lo. Eu os tranquilizei que você viria, mas pedi para que não dissessem nada. Estou louca para ver a cara dele de surpresa. – Eu também. – Disse, já entrando no carro que nos levaria ao nosso destino. Nós não pegaríamos o show daquela noite, mas iriamos para a after party programada em uma boate em uma zona badalada do Rio. Cheguei ao apartamento de Clara e, depois de um banho, fui para o quarto de hóspedes me arrumar. Coloquei minha melhor roupa enquanto ouvia Cartório na voz de Claudia Leite tocando no rádio. Eu rebolava e cantava enquanto vestia cada peça, animada para encontrar meu deus grego esta noite. “Meu coração é seu, tome Ele é todo seu, tome Vamos lá no cartório Passar ele pro seu nome” Clara entrou no quarto e se acabou na risada quando viu o que eu estava fazendo. Ela já estava pronta e mais linda do que nunca. O amor estava lhe fazendo muito bem. Acabou entrando na dança comigo enquanto me ajudava a colocar o fecho do vestido que parecia mais apertado do que quando o comprei. Acho que preciso parar com a macarronada, pois estou ficando gorda. – Sinto saudades de ter um dia de garotas com você, Clarinha, vamos marcar? – Falei enquanto ela fazia a minha maquiagem. – Claro. Que tal no próximo fim de semana? Vou ver a agenda e te informo. Estou realmente precisando de companhia para comprar alguns itens que faltam para o casamento. A maquiagem está pronta. Vamos que os rapazes já devem estar na boate. Pegamos um táxi, pois voltaríamos com os nossos homens, então não havia necessidade de ir com o carro de Clara. Chegamos ao nosso destino e o segurança conferiu nossos nomes na entrada, nos dando acesso imediato ao local. O lugar era muito bonito e com pouca iluminação, dificultando que encontrássemos o caminho até o camarote. Havia muitas pessoas dançando, bebendo e namorando.
Tivemos que nos esbarrar em algumas até conseguir alcançar as escadas que levavam ao primeiro andar da boate. Novamente tivemos que nos identificar e logo estávamos na parte superior procurando pelos rapazes. Havia muitas mulheres lá em cima, a maioria como um protótipo da boneca Barbie e percebi que Maurício logo se animou com o que via. Benito nos avistou e veio em busca de Clara, já demarcando território, a puxando para um beijo que deixaria qualquer um constrangido. Decidi deixá-los a sós e saí com Mau para continuar a nossa busca. Encontrei Rick bebendo sentado com uma ruiva no colo. – Você viu Zeus, Rick? – Perguntei aumentando o meu tom de voz por causa do barulho. – Ainda bem que você chegou, garota. Já não aguentava mais o mau humor daquele idiota. Ele veio conosco e deve estar em algum lugar bêbado jogado. Aquele cara não vive mais sem você. Rick estava visivelmente bêbado assim como todos eles deveriam estar. Resolvi continuar procurando. – Onde está Joya, Jess? – Maurício perguntou, já ansioso com a possibilidade de conhecê-la. – Vamos ver se a encontramos no caminho. Continuamos caminhando e todos os conhecidos que eu encontrava me diziam a mesma coisa, que Zeus deveria estar bêbado em algum lugar se lamentando por minha ausência. Algo dentro de mim ficava feliz em saber que era tão importante para ele, mas por outro lado, eu estava preocupada com o seu sumiço e a quantidade de álcool que poderia estar consumindo. Avistei Joya sentada em um canto do bar, dedilhando um violão. Alguns caras que eu não conhecia estavam em volta dela como urubus na carniça, contudo não conseguiram o mínimo de atenção. Ela estava entretida, tentando tirar alguma nota musical. – Joya, como vai? – A interrompi. Ela levantou a cabeça, me reconhecendo e abrindo um largo sorriso. Seus olhos foram em direção a Maurício e ela parecia tão fascinada quanto todas as meninas que o viam pela primeira vez. – Estou bem, Jéssica. Apenas tentando achar o tom certo de uma música em meio a esse caos. Acho que só uma pessoa tão apaixonada pela guitarra como eu poderia estar fazendo isso aqui, não é mesmo?
– Sem dúvidas. Você e Zeus. Ele também não tem hora nem lugar para dedilhar sua guitarra. Por falar nele, você o viu por aí? – Vi agora há pouco, mas não sei para onde foi. – Ah, está certo. Deixe-me apresentá-la a meu irmão. Este é Maurício e é um grande admirador de seu trabalho. Ela estendeu a mão, mostrando todos os seus dentes perfeitos em um sorriso mais que caloroso. Ele lhe deu dois beijos no seu rosto devagar, deixando claro que seu interesse por ela ia além da música. – É um prazer, Joya. De fato, admiro muito o seu trabalho, mas me pergunto quem não admira. Você foi uma grande descoberta para a banda. Ainda não li qualquer coisa negativa a seu respeito. Percebi que a conversa ia fluir bem, pois, depois que se conheceram, nem lembraram mais que eu estava ali. – Vou continuar procurando por Zeus. Joya, você poderia fazer companhia ao meu irmão? – Resolvi dar uma ajudinha. – Claro, Jéssica. Ele precisa me contar o que leu sobre mim. Ponto para Mau. Com o jeitinho que ele tinha, ela logo seria fisgada. Saí sozinha desta vez, em busca do meu deus grego que deveria estar por ali em algum lugar. Peguei uma bebida e entornei em um só gole, sentindo a queimação descer por minha garganta. Peguei outro copo e passei a tomar moderadamente, pois o primeiro não tinha me feito bem e meu estômago já estava começando a reclamar. Enquanto caminhava, alguns homens mexeram comigo, mas consegui me soltar das garras deles. Eu tinha que encontrar logo Zeus ou alguém acabaria me agarrando à força. Havia muitos homens bêbados. Procurei por todo o camarote e não encontrei. Meu estômago agora estava começando a doer de verdade e eu decidi lavar o rosto no banheiro para esperar a dor diminuir e voltar em busca de meu amante desaparecido. O banheiro estava vazio e respirei fundo na tentativa de diminuir aquele embrulho que sentia em minha barriga. Lavei o rosto e me olhei no espelho, percebendo que a maquiagem não havia conseguido esconder algumas olheiras que eu ainda não havia percebido que tinham surgido.
A dor não passava e uma sensação de tontura invadiu a minha cabeça rapidamente, me dando a sensação de que iria desmaiar. Peguei o meu iphone na intenção de ligar para Zeus e tentar localizá-lo mais facilmente. Eu estava com medo das dores que só aumentavam e de desmaiar antes de conseguir falar com ele. Quando estava discando o seu número, ouvi um sussurro vindo de uma das cabines do banheiro. Me aproximei para saber se era alguém passando mal e os sussurros se transformaram em gemido. Havia alguém transando no banheiro. Droga! Era só o que faltava. Eu precisava encontrar logo Zeus ou pediria a Clara para me levar embora. Voltei ao celular, completando os números para ligar. O telefone tocou, tocou e ele não atendia. Porra, eu teria que ir embora ou ia acabar desmaiando naquele banheiro. Quando estava caminhando em direção à saída, ouvi um gemido que me fez parar. – Assim, Zeus, vai. Assim está gostoso. Não me poupe, eu o quero todo dentro de mim. Mais forte! Puta que pariu! Quantos Zeus deveriam ter nesta cidade e, melhor perguntando, quantos deveriam ter neste lugar? Eu fiquei parada por um tempo, apenas ouvindo os gemidos que agora haviam se transformado em gritos sem qualquer pudor. Forcei minhas pernas a saírem do lugar, mas elas não queriam me obedecer. Depois de um tempo parada, apenas ouvindo o sexo selvagem que estava acontecendo lá, um detalhe me fez ter certeza de que eu precisava agir. Eu ouvi a voz dele. Era ele. Era o meu Zeus quem estava fodendo outra mulher. Dei passos largos e determinados em direção à cabine e abri a porta, empurrando com toda força. E lá estava a cena que eu mais temia presenciar. Zeus estava com seu pau enfiado por trás de uma mulher. E adivinhe que ela era? Ela mesma. Lya-fodida-Jhones. Ela olhou para mim, enquanto Zeus a fodia por trás e abriu um sorriso provocante, fechando os olhos para mostrar o prazer que sentia. Ele me olhou sem parecer me reconhecer e o que falou em seguida me trouxe ânsia de vômito instantaneamente.
– Vamos lá, putinha, ou você entra em nossa pequena farra ou fecha a porra da porta e para de atrapalhar. Não está vendo que essa cabine está ocupada? Você é bem-vinda a brincar com o meu pau, se quiser. Não! Isso só podia ser um pesadelo. O homem que estava conseguindo quebrar a redoma que eu havia construído em volta de mim me traiu com uma vadia na primeira oportunidade que teve. E talvez essa nem fosse a primeira vez que isso acontecia. Saí da frente deles correndo, só achando tempo para enterrar minha cabeça na pia e vomitar todo o alimento que restava em meu estômago. A dor agora estava mais forte e veio acompanhada de outra dor que parecia querer explodir minha cabeça. A dor mais forte de todas era a que eu estava sentindo em outro lugar. Meu coração. Pela segunda vez, eu havia me abrido para um homem que não merecia o meu amor, que não merecia estar na minha vida, que não me merecia. Eu estava apaixonada. Sim, já estava mais que disposta a reconhecer meus sentimentos e calar a voz dos meus medos e anseios. Mais uma vez estava enganada. Eu deveria ter escutado aquele fio de voz que me dizia que essa relação não daria certo, que o amor não é para mim. No fundo eu sabia que isso poderia acontecer a qualquer momento. E aconteceu. Saí correndo do banheiro depois de ter vomitado até a bile, passando por uma multidão que enchia o camarote. Consegui avistar Maurício rapidamente conversando com Joya e decidi não incomodá-lo. Passei por Clara e ela percebeu o meu estado, pois veio atrás de mim, chamando o meu nome. Eu não parei. Eu não tinha forças nem vontade de parar. Eu precisava seguir em frente, precisava sair daquele inferno. Eu precisava sair da vida de Zeus. Consegui passar pela porta, depois de empurrar e me bater com um monte de pessoas reclamando da minha falta de educação, e parei, enchendo os meus pulmões com um pouco de ar puro. Só quando fiz isso foi que percebi que havia parado de respirar.
Ouvi novamente a voz de Clara e decidi continuar a minha caminhada com o objetivo de me afastar o máximo possível daquela boate, se possível do Rio de janeiro também. Avistei um táxi passando pelo outro lado da rua e se eu fosse rápida, conseguiria pegá-lo e sair dali. Comecei a correr para atravessar a pista e, como se eu estivesse em câmera lenta, uma sequência de cenas se passou diante dos meus olhos. – Jéssica, cuidado! Foi o último grito que consegui ouvir antes de olhar para o lado lentamente e perceber que um farol alto estava em cima de mim. Eu ainda tentei esboçar uma negação, mas não houve tempo. Algo como uma pancada me alcançou e uma neblina tomou o lugar da luminosidade do farol. Tudo se tornou apenas escuridão.
Capítulo 14
Ele
Música desse capítulo: Amo até o céu – Gabriel Gava
– O que está fazendo aqui, porra? Você não é bem-vindo, saia agora! O irmão de Jéssica gritava no corredor do hospital e só não tinha conseguido voar em cima de mim porque estava sendo mantido por Benito e Rick. – Eu não vou sair daqui, Maurício, eu preciso saber como ela está. Já havia dois dias que Jéssica estava internada no hospital e apenas um que eu descobri que havia feito a maior merda da minha vida. Alguém deve ter colocado alguma droga em minha bebida, pois eu não lembro de nada que aconteceu naquela boate. No outro dia acordei ao lado de Lya Jhones sem saber o que tinha acontecido e ela fez questão de me contar cada detalhe daquela noite. Eu me odiei por saber que eu tinha quebrado o acordo com Jéssica e me odiava ainda mais por ter ido para a cama com uma mulher que eu não amava. A única que eu desejava em minha cama era ela, a minha garota, minha Jel. Naquela manhã, eu peguei meu celular e vi que tinha mais de uma centena de ligações e mensagens. Imediatamente sabia que algo havia acontecido e retornei a ligação para Ben que me contou tudo. Eu simplesmente havia fodido com a minha vida. Fiquei em casa pensando o que eu poderia fazer ou dizer para mudar aquela situação, mas eu sabia que nada do que fizesse ou dissesse traria o passado de volta, então resolvi recuar. Passei um dia inteiro tendo o uísque como companheiro e, quando acordei no outro dia, decidi que não ia fugir, eu precisava ao menos saber como ela estava e se eu poderia ajudar de alguma forma.
E ali estava eu com um leão chamado Maurício tentando acabar com os destroços que a minha vida havia se tornado. – Você quer ver minha irmã? Desde quando? Desde o momento que estava com o seu pau enfiado na boceta de uma vadia ou desde a hora que a deixou ir embora como uma louca desesperada? – Eu não estava consciente naquela noite. Acredite em mim, eu não lembro de nada. Alguém deve ter colocado droga em minha bebida. – Olha, filho da puta, não me venha com desculpas esfarrapadas. Suma da vida de Jéssica, esqueça que ela existe. Você já fez danos suficientes. Por misericórdia divina ela está viva, mas o seu bebê que ela carregava não teve a mesma sorte. Bebê? Que bebê? Ela estava... grávida? Uma sensação de que o chão havia sido tirado dos meus pés me invadiu e eu tive que buscar a parede mais próxima para me sustentar ou cairia ali mesmo. Uma lágrima desceu do meu olho enquanto eu encarava o olhar furioso do irmão de Jéssica. – Você está me dizendo... que nós teríamos um... bebê? – Sim, vocês teriam se você conseguisse manter o seu pau dentro das calças, mas não foi o caso, não é mesmo? Pensando bem, talvez tenha sido melhor, pois agora Jéssica pode viver a vida dela sem ter qualquer vínculo com um canalha como você. Sabe aquela expressão ‘ver sangue no olho’? Então, era justamente o que eu estava vendo naquele momento. Fui tomado por um instinto de defesa e, quando percebi, eu havia dado um murro no rosto de Maurício. Ele não deixou por menos e avançou para cima de mim com tanto ódio que ninguém teve forças para segurá-lo. O caos estava armado e eu não quis mais me defender. Eu deixei que ele acabasse comigo. Deixei que ele me espancasse e, se eu tivesse sorte, eu provaria do beijo da morte naquele dia. Era o mínimo que eu merecia. Eu era um assassino. Eu havia matado o meu bebê. O nosso bebê. Um bebê meu e de Jéssica. Murros e murros estavam sendo deferidos em meu rosto e senti um gosto de sangue em minha
boca. Era isso. Havia chegado o dia de me despedir desse mundo e, quem sabe, eu poderia encontrar meu anjinho em outro plano e lhe pedir desculpas. Os seguranças do hospital chegaram correndo e conseguiram detê-lo, enquanto enfermeiros vinham ao meu socorro, prestando atendimento. Naquela hora eu era uma criança inofensiva, que não tinha forças para sequer me mover e deixei que fizessem o que quisessem comigo. Eu já não tinha mais vida. Tinha acabado de me tornar um homem oco, vazio e sem coração a partir de agora. Adormeci e quando acordei estava em um quarto de hospital, com parte do corpo imobilizado e uma agulha injetada em meu pulso, recebendo soro. Olhei para o lado e lá estava Clara sentada em uma cadeira me olhando. Olhei para o teto e de lá não desviei os olhos. Eu estava envergonhado do que fiz e do monstro que havia me tornado. – Sabe, quando eu era criança eu ficava torcendo para adoecer e ficar internada assim, mesmo que tivesse que tomar uma agulhada. Na verdade, o que eu queria era perder aula e ter a atenção de todos voltada para mim. Às vezes ficava enjoada de ir para a escola. – Clara divagou. Balancei a cabeça assentindo sem ainda conseguir olhar para ela. Clara continuou. – A maioria das crianças tinha medo de hospital. Eu, não. Eu sempre vi o hospital como um lugar de descanso, onde as pessoas podiam parar um pouco as suas vidas e dar atenção umas às outras. Eu gostava desse cuidado. – Há quanto tempo estou aqui, Clara? – Por cerca de cinco horas, Zeus. As enfermeiras te deram um sedativo para que se acalmasse e dormisse um pouco. Vou te dizer, viu, achei que fosse mais forte. Já te vi em melhor forma quando precisou me defender. Hoje você perdeu feio para Maurício. Ela tentou brincar, contudo não estava adiantando. – Como ela está? Me diga pelo menos isso, já que ninguém quer me dar porra de informação nenhuma. Não me negue isso, Clara, como ela está? – Ela vai ficar bem, Zeus. Ela teve algumas escoriações, mas nada muito grave. Deve ficar alguns dias se recuperando, mas logo terá alta. Seu irmão ligou de Salvador e disse que estará aqui o mais rápido possível para te ver. – E o filho da puta que a atropelou? Ele está preso? E os custos do hospital, eu preciso saber
se posso minimizar a situação. – O motorista vai responder inquérito em liberdade, mas, de antemão, a polícia já afirmou que as testemunhas o defenderam dizendo que foi ela quem se jogou na frente do carro. Eu também vi e, de fato, ele não teve culpa alguma. Além de tudo, foi muito gentil e prestou socorro. – E quanto ao hospital? – Ela tem convênio médico que está cobrindo todas as despesas. Não temos mais o que fazer, somente dar apoio e impedir que a imprensa chegue até ela. – Provavelmente Ben já está cuidando disso, não? Nem que eu viva mil anos, não vou me perdoar pelo que provoquei. Eu poderia tê-la matado também, como aconteceu com o meu bebê. Meu Deus, que loucura! Eu seria pai, Clara, já imaginou isso? Eu seria pai. – E seria um pai maravilhoso. Não se culpe, querido, há fatalidades que não dependem de nós. A vida às vezes precisa de uma desculpa para o que já estava predestinado a acontecer. Não há culpados. – Obrigado por ser tão amiga nessa hora, mas nada do que diga vai mudar o vazio que estou sentindo no peito. Me diga outra coisa: ela perguntou por mim, falou meu nome em algum momento ou pelo menos me xingou? – Não. Infelizmente não. A única coisa que me pediu foi para que não deixasse qualquer pessoa entrar no quarto além de mim e de Maurício. E quando perguntei sobre você, ela frisou na palavra ‘principalmente’. Precisa dar um tempo a ela, Zeus. Imagine o quanto está sendo difícil todos os conflitos internos que está vivendo? – Eu não me conformo. Parece que estou vivendo um pesadelo. O pior é que não lembro de nada daquela noite. Tenho certeza que alguém tentou me prejudicar. Que porra eu faço da minha vida agora? Me diga, Clara, que porra eu devo fazer com os pedaços que sobraram? – Juntá-los e seguir em frente. É a única opção que te resta. Será fácil? Não. Existe outra saída? Também não. Quero que saiba que eu, Ben e os caras da banda acreditamos em você e estaremos te apoiando, independente de qualquer coisa. Sei que é difícil ouvir isso, mas a vida precisa seguir seu curso e o amanhã pode nos reservar dias melhores. Eu estava cheio de ouvir frases prontas. Estava cheio de ouvir alguém falar e estava cheio daquela conversa fiada toda. Era apenas eu e Jéssica quem sabia a dor que estávamos sentindo e nada do que fosse dito a faria passar. Eu também não queria que passasse.
Queria senti-la com toda a intensidade que ela viesse, que machucasse, que me dominasse e que acabasse com o meu ar. Eu não era digno sequer de respirar, já que o meu bebê também não teve esse direito. Fechei os olhos e tentei limpar a minha mente de qualquer pensamento, mas a imagem de um pequeno anjo de olhos cor de mel se formou em minha cabeça e eu estendi as minhas mãos tentando pegá-lo, porém não conseguia o alcançar. Caí em um sono profundo e tive um dos sonhos mais agonizantes de minha vida. Sempre que eu me aproximava do anjo, ele escorregava de minhas mãos ou sumia como um passe de mágicas. Eu tinha certeza de que aquela seria apenas a primeira vez que sonharia com o meu pequeno anjo. Sabia que minhas noites seriam assombradas por visões de um anjinho que eu nunca conseguiria alcançar e não me importava. Ainda que fosse daquela forma, eu queria senti-lo perto de mim. Eu nunca deixaria que a lembrança de que ele existiu me deixasse. Nunca!
Capítulo 15
Ela
Música do capítulo: Gostava tanto de você interpretada pelos Titãs
Quase dois anos depois... – Jéssica, dona Helena ligou e mandou te avisar que está vindo ao ateliê. Pediu para que você não saísse, pois tinha um assunto sério para discutir e não poderia ser em outro momento. O que deve ser tão importante para que a toda poderosa Helena saia de seu trono e venha falar com você pessoalmente? – Arguiu Patrícia. – Não faço a menor ideia, Pati. Geralmente conversamos por telefone, Skype ou e-mail. Ela só vem aqui uma vez por ano quando fazemos a nossa confraternização. Nunca precisou se preocupar, pois eu sempre cuidei de tudo. Espero que não venha com más notícias. – Olha, quando ela sair eu quero saber de tudo. Não me poupe dos detalhes. Agora estou precisando de você aqui na loja. Sabe aquela cliente chata que só gosta do seu atendimento? Ela está aqui e pediu para que te chamassem. – Ah, Sra. Hilda, sei. Ela é esposa de um deputado desses e sempre participa de eventos beneficentes, portanto precisa estar usando as melhores peças. Pode deixar comigo que ela é muito seletiva, sempre prefere os meus desenhos e faz grandes encomendas. Eu passei horas mostrando a nova coleção de roupas e sapatos disponíveis na loja e os novos modelos que eu havia desenhado. Ela se encantou por quase tudo e faz uma grande compra e encomenda naquele dia. Quando eu já estava terminando o atendimento, dona Helena chegou, me convidando para ir ao escritório. Me despedi da Sra. Hilda e deixei que as meninas concluíssem a venda. – Até a próxima, Sra. Hilda, manteremos contato quando a próxima coleção chegar. – Obrigada, gracinha, você realmente tem muito talento no mundo da moda. Aguardo o seu contato.
Fui para o escritório com a curiosidade me corroendo. Eu já havia dito que esse era o meu ponto fraco, não? Pois é, sempre detestei quando alguém dizia ‘preciso falar com você depois’, pronto! Aquilo ativava o meu pessimismo e eu sempre achava que lá vinha bomba. Dona Helena já estava lá, sentada em minha cadeira, com um sorriso aberto de orelha a orelha e olhos brilhando em minha direção. – Pois não? O que tinha de tão importante para falar comigo? É difícil vê-la no ateliê, então deve ser algo realmente considerável para que precisasse vir pessoalmente. Ela olhou em volta do escritório parecendo saudosista. Respirou fundo e voltou a estampar um grande sorriso, mirando o meu rosto. – Feche a porta e sente-se. Eu preciso te comunicar que houve mudanças na empresa. Você sabe que esse não é o meu único ateliê, tenho outros pelo país, porém esse, em especial, chamou a atenção de alguém que já está no mercado da moda por algum tempo e essa pessoa me fez uma oferta irrecusável pela compra da loja. – Bem, se a oferta foi irrecusável... isso é um sinal de que a senhora não recusou? – Exatamente. Eu tentei argumentar e mostrar as outras lojas que traziam até mais lucro do que essa, mas a pessoa queria apenas este ateliê. Não lhe serviria outro, então o que quero dizer e esse é o motivo pelo qual estou aqui, é que a loja possui outro dono agora. A transação já foi realizada e ela foi vendida. – Mas... como assim, dona Helena? Como vai ficar a minha situação e a das meninas? Nós sempre nos dedicamos tanto a esse ateliê e não é justo que outras pessoas ocupem o nosso lugar sem mais nem menos. – Calma, querida, foi exigência do comprador que a equipe permanecesse a mesma. Eu nem negociaria se esse não fosse um termo do acordo de venda, mas fiquei tranquila quando a proposta veio dos próprios compradores. Tem só um pequeno problema: você. – Eu? Eles querem outro administrador em meu lugar? Eu serei demitida, é isso? Olha, eu não me importo, de certa forma, já fiz um nome no mercado e posso partir em busca de outro trabalho, mas só em saber que as meninas manterão seus empregos, já me dou por satisfeita. – Não é isso, garota agoniada. Você ainda permanecerá como administradora por algum tempo, mas a pessoa a quer como sua personal stylist. Ela disse que você poderá permanecer no ateliê, porém terá que passar um tempo a acompanhando nos eventos.
Personal stylist? Já tive alguns convites, mas quem poderia conhecer o meu trabalho a ponto de me querer por perto? – Dona Helena, até o momento a senhora só usou o termo ‘essa pessoa’. Não teria como dar nomes? Quem é o novo proprietário, eu não devo conhecê-lo? A quem devo prestar contas a partir de agora? – Realmente são muitas perguntas e eu entendo que você tem o direito de saber, contudo a nova proprietária pediu para que seu nome se mantivesse em sigilo. A única informação que posso te dar é que se trata de uma grande mulher. Vou te deixar um e-mail e seu contato com ela será exclusivamente por esse canal. Vou deixar também uma nova conta bancária que será onde os depósitos deverão ser feitos a partir de agora. Não se preocupe, querida, você está em boas mãos. Uma mulher. Poderia ser a vadia da Lya Jhones? Talvez, mas ela não foi a única endinheirada que mostrou interesse pelo ateliê. É, desta vez a minha curiosidade teria que esperar. – Eu preciso ir, Jéssica, mas antes não posso deixar de destacar suas qualidades como administradora do meu empreendimento. Foi um enorme prazer tê-la como minha funcionária e peço que nunca duvide do seu talento. Você vai longe, filha. Meus olhos se encheram de lágrimas. Eu estava emocionada por ouvir palavras tão belas dirigidas a mim de alguém que está neste mercado por muito tempo. – Eu não sei como te agradecer, dona Helena. Obrigada pela oportunidade de trabalhar com a senhora e de fazer o que amo. Acho que poucos conseguem essa realização. Agradeço em nome de toda a equipe. – Então, até qualquer dia. Nos veremos por aí pelas passarelas da vida. Levantei minha mão para dar um aceno de despedida e limpei uma lágrima que teimou em cair de meu olho. Fechei a loja e fiz uma reunião com as funcionárias, explicando tudo o que foi me passado. Dei-lhes o dia de folga, pois tanto eu quanto elas precisávamos digerir tantas informações. No outro dia, abriríamos como contratadas de uma nova empresa e decidi lhes dar um tempo para pensar um pouco sobre tantas mudanças. Eu estava pegando a minha bolsa para ir para casa, quando o e-mail apitou. Voltei para a frente da mesa e li a caixa de entrada. Havia uma mensagem do e-mail que dona Helena tinha me dado.
“Seja bem-vinda à nossa empresa. Nós estamos depositando muita expectativa em você e posso te garantir que será muito feliz conosco. Manteremos contato.” É, eles pareciam bastante amistosos. Se o clima permanecer assim, acho que não teremos problemas no futuro. Mandei um e-mail de volta. “Eu agradeço em nome de todos os funcionários. Estamos à disposição para oferecer o melhor de nós.” Apertei em enviar e esperei por uma resposta. Alguns minutos se passaram, mas ela chegou e me deixou um pouco confusa, porém decidi não responder mais. “Está à disposição, hein? Vamos ver em breve.” O que eles quiseram dizer com isso? Não faço a menor ideia, contudo alguma coisa me dizia que em breve eu ia descobrir. Fui para casa e quando abri a porta, tudo estava em silêncio. Maurício estava de férias e, provavelmente, não deveria estar em casa. Ultimamente, ele quase não parava aqui. Plutão me recepcionou, ronronando e passando seu rabo entre minhas pernas. O peguei no colo e comecei a caminhar para o meu quarto, mas antes fiquei curiosa e decidi verificar se meu irmão estava em casa. Fui até o quarto dele, do outro lado do corredor, e a porta estava aberta. Coloquei a cabeça para dentro e tomei um susto com o que vi. Maurício estava transando com sua namorada Joya Miller. – Jess, o que você está fazendo aqui? Não é hora de estar no trabalho ainda? Eu saí correndo da porta e me encostei na parede, dando risada. – De-desculpa, eu cheguei mais cedo. Vi a porta aberta e resolvi ver se estava em casa. Não sabia que Joya estava na Bahia. – Porra, você acabou com o nosso clima. Um homem não pode ter sua privacidade? Eu coloquei a mão na boca e continuei rindo. A cena era hilária. – Droga, Mau, não podia fechar a porta? Você não mora sozinho. Agora minha mente está manchada com essa visão de vocês dois fazendo... ah, vocês sabem o quê. Joya também estava se acabando de rir. – Não esquenta, Jéssica, quem nunca flagrou seus pais ou seu irmão transando? Eu não me
importo de você ter visto. Qualquer dia nós a pegaremos fazendo o mesmo no sofá da sala ou em outro lugar. Isso acontece. – Minha cunhada falou. – Para de falar isso, Joya, agora vou ficar imaginando a minha irmã transando com um cara. Porra, vocês não têm freio na língua. Gargalhei alto agora e voltei a caminhar para o meu quarto, dando passos firmes para que eles escutassem. – Olha, estão ouvindo? Irmã bisbilhoteira indo para o quarto. Vamos, Plutão. – Falei gritando. Tomei um banho e deitei um pouco na cama. Fiquei pensando sobre as novidades no trabalho e tentando imaginar quem poderia ser a nova proprietária do ateliê. Dona Helena disse que era uma ‘grande mulher’. O que isso poderia significar? Esse grande teria o sentido de bem-sucedida ou de famosa? Pelo visto teria que ficar apenas nos questionamentos, por enquanto. Fui para a sala e sentei ao lado de Maurício e Joya, que não desgrudavam por um só minuto. O namoro deles iniciou no dia que os apresentei e estão juntos e apaixonados até hoje. Ela ainda mora no Rio, mas está planejando vir para cá e nunca vi Maurício tão comportado. Ele finalmente encontrou o grande amor de sua vida como sempre disse que encontraria. – E aí, qual é a programação do dia? – Perguntei. – Eu só quero ficar em casa com meu namorado. Não aguento mais essa vida de ponte aérea, indo de cidade em cidade. É o que amo, mas às vezes cansa. Sempre que tenho oportunidade, prefiro desacelerar e ficar quieta em um canto. – Concordo plenamente com meu amor. Nossos planos hoje são ficar trancados no quarto sem uma irmã intrometida para atrapalhar. – Argh! Vocês são dois chatos! Eu gostaria de pegar um cineminha hoje, que tal? – Onde está Bruno, Jess? Você não tem seu próprio companheiro de diversão? Ligue para ele que o cara estará aqui em cinco minutos contados. Aquele homem vive para o dia que você vai resolver se estabelecer. – Meu irmão ironizou. – Não quero vê-lo hoje. Amanhã o encontrarei, pois vamos almoçar juntos. – Pare de enrolar o rapaz. Ele quer algo sério e acho que você deveria lhe dar uma chance.
– Estou começando a pensar nessa possibilidade. Eu gosto dele e estou tentada a levar isso adiante. Vamos ver, não é? Bruno é um engenheiro com quem eu estou me relacionando nos últimos meses. Nos vemos com uma certa frequência e tem se mostrado uma pessoa muito agradável. Ele e Maurício ficaram muito amigos e meu irmão vê nele a possibilidade de eu construir uma vida ao lado de alguém. Eu já estou com vinte e seis anos e acho que algo dentro de mim tem me despertado para sossegar ao lado de alguém. Sei que sempre preguei que não me relacionaria, nem queria namoro e tal, mas com Bruno o meu coração estava seguro. E sabia que ele tinha sentimentos fortes por mim e talvez isso fosse o suficiente para se estabelecer em um relacionamento. Além de ser lindo, eu sinto uma grande atração física por ele. Não é o suficiente? – Por que não liga para o cara, Jess? Convide-o para ir ao cinema, tenho certeza de que fará o dia dele. – Hoje não, Mau. Vou para o meu quarto. Deitei em minha cama, enquanto Plutão se enrolava, deitando em minha barriga. Olhei para o teto e fiquei pensando no rumo que minha vida poderia tomar a partir de agora. Inevitavelmente, meus pensamentos me conduziram para um passado que ainda me machucava e que eu não gostava de lembrar. Zeus. Durante tanto tempo me procurou, mandou cartas e fez pedidos de desculpas públicos. Eu nunca lhe dei qualquer resposta, pois o que eu tinha a dizer, ele não ia querer escutar. Eu não havia o perdoado. Eu não queria perdoar. O perdão muitas vezes abre brechas para o outro achar que pode se aproximar novamente e, quem sabe, fazer tudo de novo. Eu gostava da mágoa, do rancor, ainda que ela me fizesse sentir dor, pois essa dor me lembrava que o meu coração estava protegido, que não havia espaço para ninguém. Sofri muito com a perda de um bebê que eu nem sabia que carregava. Um instinto materno me tomou quando tive a notícia e lamentei o fato de sequer poder olhar para o seu pequeno rosto e ter uma imagem gravada em minha memória. A música ‘Jéssica’ ficou em primeiro lugar nas paradas de sucesso e a imprensa ficou louca atrás de mim, tentando marcar uma entrevista com a musa inspiradora para a escolha da banda. Até convite para pousar em revista masculina surgiu.
Recusei todos. A vida seguiu em frente e Zeus já está namorando fixo uma dessas novas atrizes de uma grande emissora de TV. Eu tive um outro cara antes de Bruno, mas não durou muito e agora estou alimentando a possibilidade de partir para algo mais sério. Continuei pensando com os meus botões quando o meu Whatsapp apitou, mostrando que havia chegado mensagem. Era Clara. C: Imagem. J: Essa é Luiza? Como ela está linda! Você é uma madrinha muito babona, Clara. E minha princesinha, está mexendo muito em sua barriga? Clara estava gravidíssima e seu universo agora estava voltado para os bebês. Não falava em outro assunto. C: Minha menina está fazendo a minha barriga de parque de diversões. Essa criança não fica quieta um minuto e quando ouve a voz do pai, então, fica louca. J: kkkkk. Deve ser uma delícia sentir um bebê mexer. Vou organizar a minha agenda para visitá-la assim que minha sobrinha nascer. C: E você que não venha. Eu quero todos que amo perto de mim quando a minha menina estrear neste mundo. J: Combinado. Então, a vejo em breve. Bjs! C: Bjks! Eu estava muito feliz por minha amiga estar finalmente realizando o seu sonho de ser mãe. Era lindo de se ver o carinho e cuidado que Benito tinha com ela nesse período. Pode-se dizer que ele ficou grávido também. A noite chegou e eu decidi assistir a uma comédia romântica em casa e depois ler um pouco antes de dormir. No outro dia, eu estaria iniciando uma nova fase em minha vida profissional e queria acordar cedo e disposta. Talvez as novidades amanhã não fossem apenas no meu trabalho. Possivelmente eu estaria iniciando um novo ciclo na minha vida sentimental.
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– Oi, amor, estava com saudades. Bruno já estava no restaurante me esperando e, quando me viu, seus lindos olhos castanhos brilharam acompanhados por um grande sorriso de felicidade. Eu via amor no olhar dele e isso era tudo o que eu precisava: ser amada. – Eu também, querido. – Respondi, com sinceridade, lhe dando um beijo na boca. Sentei-me à mesa, ficando de frente para ele, que logo pediu uma taça de vinho, insistindo que tomasse apenas uma para comemorar as novidades. – Então, me conte. O fato do ateliê ter uma nova dona vai mudar algo na sua vida? – Bem, não sei exatamente, mas dona Helena disse que ela tinha interesse em meus serviços de personal stylist. Talvez eu tenha que viajar um pouco ou acompanhá-la em alguns eventos, mas não deve mudar tanto as coisas. Minha casa continuará sendo aqui. – Sei, torço muito por seu sucesso, linda. Vejo o quanto trabalha e merece crescer profissionalmente, porém devo reconhecer que morrerei de saudades quando você tiver que ficar um tempo distante. – Sempre tem o Skype e as redes sociais, não é? Hoje em dia as pessoas estão tão distantes, mas ao mesmo tempo, tão próximas. – Verdade, mas não é a mesma coisa que estar ao lado de alguém e poder tocar, sentir a pele, trocar carinhos. Isso é insubstituível. O garçom chegou com a bebida e encheu duas taças até o meio para nós dois. Brindamos a dias melhores e, repentinamente, minha visão foi atraída para a TV que estava ligada em um programa de celebridades. Adivinha quem estava na tela? Ele mesmo. Zeus e sua estonteante namorada, atraindo todos flashes e câmeras para eles em uma premiação de música. A garota parou na entrada do evento e agarrou seu rosto, dando um beijo caloroso em cadeia nacional. Afastei a minha visão da TV e tentei me concentrar no homem à minha frente. Bruno segurou a minha mão e ficou me olhando, parecendo nervoso. – Amor, eu a chamei para esse almoço não só para celebramos as novidades. Eu a convidei também para falarmos sobre nós. Você não acha que já está na hora de dar um nome a nossa relação? Não tem algo que eu queira mais na vida, Jéssica, do que poder dizer ao mundo que você é minha
namorada. Eu a quero para mim, querida, diga que aceita. Engoli em seco e olhei novamente para a TV. O casal agora estava olhando um para o outro, sorrindo como dois pombinhos apaixonados. Senti algo familiar doer em meu peito e, novamente, voltei a olhar para Bruno. Esse sim merecia a minha atenção. – Eu... estive pensando sobre isso nos últimos dias, querido, e acho que nada me deixaria mais feliz do que me tornar sua namorada. É claro que aceito ser sua, meu amor. Bruno se levantou, vindo até mim, tomou o meu rosto em suas mãos e mirou o fundo dos meus olhos. Ele parecia não acreditar que eu havia aceitado o seu pedido. Ele sussurrou um ‘obrigado’ e seus lábios encontraram os meus, derramando ali todo o sentimento que ele tinha por mim. Eu estava feliz por ter dito sim. Era como se eu tivesse conseguido me desprender de algo que me aprisionava. Eu já não tinha mais medo. Nada de ruim poderia nos acontecer, pois o meu coração estava trancado a sete chaves. Algum tempo mais tarde, Bruno me deixou no trabalho e, depois de resolver algumas pendências, fui checar meu e-mail. Havia uma mensagem da nova proprietária. “Você será procurada ainda hoje por uma pessoa de minha confiança. Ela terá algumas instruções a te dar, as quais você deve seguir. Espero que se sinta entusiasmada depois da conversa. Até breve.” Espera? O que poderia me deixar tão entusiasmada? Eu já estava me corroendo de tanta curiosidade. A tarde transcorreu sem maiores problemas e a loja estava bastante movimentada. No final da tarde, uma linda mulher, na faixa dos trinta anos e com porte bastante profissional, entrou no ateliê carregando uma mala e procurou por mim. – Gostaria de falar com Jéssica Katherine Rios. Eu sou representante da empresa e ela foi informada que eu viria. – A mulher disse, se dirigindo a uma de nossas funcionárias. Aproximei-me para me apresentar. – Sou eu mesma. Como vai? – Muito bem, obrigada. Meu nome é Bridget Naif e tenho algumas instruções para te passar. Poderíamos ir até o escritório?
– Claro, me acompanhe, por favor. Abri a porta para que ela entrasse e a fechei atrás de mim. – Confesso que estou curiosa. Recebi um e-mail mais cedo, informando que eu receberia instruções e poderia ficar entusiasmada com as novidades. Do que se trata? – Bem, você deve ter sido informada que a pessoa que comprou o ateliê a quer como sua personal stylist. Eu trouxe comigo um contrato informando quais serão seus deveres profissionais a partir de agora e os ganhos que você terá nesse novo trabalho. Posso te garantir que a pessoa foi muito generosa e você será muito bem compensada por seus serviços. Ela me estendeu um papel e fiquei admirada com a quantidade de benefícios que eu teria caso assinasse aquele contrato. O salário era avultante e eu teria um carro e um apartamento à minha disposição, além de um valor altíssimo mensal para que eu gastasse apenas com roupas e sapatos, uma vez que precisava passar a melhor imagem possível. Aquilo tudo parecia um sonho. Que mulher não fantasiava com um emprego assim? – Eu... eu não estou entendendo o motivo de tantas vantagens, Sra. Naif. – A pessoa que está te contratando é muito rica e ela sempre trata seus funcionários muito bem. Não se preocupe. Esses valores não são nada para ela. – Certo, parece tudo muito atraente. Tem algum outro detalhe que preciso saber? – Tem sim, querida. Você terá que morar no Rio de Janeiro enquanto estiver trabalhando para ela. Essa é a principal exigência. Você terá um apartamento muito bem localizado no Rio e um carro na garagem. Tem algum problema em se mudar? Problema? Oh, meu Deus! Eu tinha acabado de iniciar um namoro com Bruno, acreditando que continuaria morando aqui em Salvador. Sim, eu tenho um grande problema agora. – Não, senhora, problema nenhum. Só preciso de alguns dias para deixar tudo em ordem aqui para a minha partida e depois disso, voilá rumo ao Rio de Janeiro. – Ótimo, então, porque a pessoa pede que se apresente daqui a três dias. Acha que dá conta de se ajustar neste curto tempo? – Três dias? É pouquíssimo tempo. Eu não sei se consigo. – Você consegue. Tenho certeza que sim. Ainda hoje estarei mandando a passagem para o seu e-mail e preciso que fique até mais tarde para me passar alguns detalhes da loja. A partir de amanhã,
eu estarei administrando o ateliê. – Você será a nova administradora? – Sim, já tenho experiência e não acredito que terei grandes problemas. Soube que sua equipe é muito competente e isso me deixou mais despreocupada, porém não ficarei aqui por muito tempo. Preciso que me indique o nome de uma funcionária que poderia assumir esse posto no futuro. Pretendo treiná-la e deixar que alguém da própria loja assuma a administração. Eu estava emocionada. As meninas teriam chance de crescer em suas funções e eu deixaria o ateliê em mãos conhecidas. Eu só poderia estar sonhando. Ficamos até mais tarde, como previsto, e eu passei o máximo de informações possíveis. Indiquei Patrícia para ser treinada. Ela deu pulos de alegria quando soube e ficou conosco até mais tarde. Antes de sair, olhei a caixa de e-mail e havia mais uma mensagem da proprietária. “Ansiedade para rever você.” Rever? Então é alguém que eu conheço ou uma cliente da loja. Fiquei ainda mais curiosa. No outro dia eu não teria que ir para o trabalho, mas as meninas pediram para que eu fosse, dizendo que um imprevisto urgente havia acontecido. Quando eu cheguei lá, fui surpreendida por uma linda festa de despedida. Derramei rios de lágrimas enquanto agradecia a cada uma delas pelo convívio e amizade e um filme se passou por minha cabeça depois de tantos anos de dedicação àquela loja. Duas pessoas não gostaram muito da história: Bruno e Maurício. Meu namorado chegou a cogitar a possibilidade de pedir remoção da empresa dele ou se demitir para me acompanhar e tentar a sorte no Rio. Eu pedi para que ele tivesse calma, pois ainda estávamos iniciando o namoro e as coisas não podiam ser do dia para a noite. Ele disse que respeitaria a minha decisão, mas que já ia mexer seus pauzinhos para um possível deslocamento do trabalho. Combinamos de nos ver sempre que possível. Já meu irmão... esse eu sabia que não deixaria barato. Começou um sermão como se fosse o meu pai, dizendo que eu poderia encontrar Zeus em algum evento e que eu deveria evitar esse reencontro.
– Prometa para mim, Jess, que você só vai se encontrar com Clara em seu apartamento ou em um lugar aberto. Evite situações que a faça reencontrar aquele cafajeste, minha irmã. Me prometa. – Está bem, Mau, não precisa ficar tão preocupado. Eu estou com Bruno agora e não estou indo para o Rio em busca de reviver o meu passado. Estou indo abraçar uma grande oportunidade de ganhar um pouco mais e poder voltar e abrir o meu próprio ateliê. Você sabe que é o meu sonho. – Ok, querida, me preocupo com você e não poderia ficar com isso engasgado em minha garganta. Tenho tanto medo que se machuque de novo e Bruno é um cara legal, merece que você invista todas as cartas nele. – Eu também acho. Preciso ir agora. Vamos, Plutão? – chamei meu gato e ele obedeceu, entrando na gaiola de viagem. – Você vai nos levar ao aeroporto, Mau? Bruno já deve estar vindo e gostaria de ter meus dois homens lá comigo. Chegamos ao aeroporto e precisava me despedir deles. Bruno estava com a mão presa à minha e parecia que não ia largá-la. Ele conhecia um pouco sobre o meu passado com Zeus e eu não sabia se era isso que o amedrontava, mas percebi que havia medo em seus olhos. Medo de me perder. – Assim que eu chegar lá, dou notícias, ok? Se cuidem, queridos. Nos vemos em breve. A empresa tinha reservado um voo na primeira classe e pude levar Plutão ao meu lado na viagem. O voo foi tranquilo e consegui até dormir um pouco durante percurso. Cheguei ao Rio e fui recebido por um motorista que estava segurando uma placa com meu nome na mão. Ele me levou para um enorme condomínio, parando em frente a um prédio e me entregou um punhado de chaves com o número do apartamento. Me registrei na entrada, autorizando as pessoas que poderiam subir para o meu apartamento e peguei a gaiola de Plutão para ir até o elevador. A recepção levaria as minhas malas. Estava ansiosa para conhecer meu novo lar. Entrei no apartamento e fiquei vislumbrada com o que vi. Era lindo, decorado e com mobiliários modernos e sofisticados. Havia algumas peças de arte que quebravam a predominância do preto e branco no ambiente. Tudo simplesmente lindo. Havia três quartos, mas só um deles estava equipado para que alguém passasse as noites. Nos demais, só havia camas de solteiro. Tudo foi detalhadamente pensado para receber uma pessoa
apaixonada por arte como eu. A sensação que eu tinha era de lar. Mandei uma mensagem para Clara, Maurício e Bruno dizendo que eu havia chegado. Os três logo responderam e fiquei conversando por um tempo com eles, enquanto inaugurava a minha cama confortável. A casa toda cheirava a novo. Ninguém havia morado naquele apartamento ainda. Olhei a minha caixa de mensagens e lá havia um e-mail. “Quero encontrá-la em minha sala amanhã às nove. Fica no endereço abaixo. A chave do seu carro está sobre a mesa, espero goste dele. Até mais.” Olhei o endereço e percebi que não teria muita dificuldade para encontrar, já tinha ido por aqueles lados algumas vezes. Tomei um banho e decidi descansar, pois não sabia o que me esperava para o outro dia. Apesar de curiosa para ver o carro, não tinha disposição para ir até a garagem, pois o cansaço estava me vencendo. As malas chegaram e peguei uma roupa confortável e vesti. A única coisa que fiz questão de tirar da mala foi um porta-retratos com uma foto dos meus pais juntos. Fiquei olhando para ela por um tempo e depois me joguei na cama. Não demorou muito e fui tomada por um sono profundo e tranquilo. Setes horas? Ah, graças a Deus, pensei que estava atrasada. Acordei assustada, procurando o relógio. Me arrumei o mais depressa possível e fui até a cozinha verificar se havia alguma coisa para comer. A geladeira e os armários estavam carregados de mantimentos e agradeci mentalmente por terem pensado em todos os detalhes para a minha estadia. Fiz um café solúvel, comi uma banda de pão e saí mordendo uma maçã. Eu tinha que chegar cedo, pois queria passar uma boa primeira impressão. Desci para a garagem conforme as recomendações que estavam presas às chaves do carro. Me assustei com o que vi. Quando apertei o alarme uma linda Land Rover Evoque branca destravou, piscando os faróis. Eu sempre admirei esse carro e sempre o achei lindo. Estava tudo tão perfeito que às vezes tinha vontade de me beliscar. Só podia ser um sonho.
– Vamos dar um passeio, belezinha? – Falei com o carro. Saí com o veículo rumo ao meu novo local de trabalho. Parecia que eu estava flutuando e não dirigindo de tão confortável que era. Em cerca de uma hora consegui chegar a um enorme prédio espelhado que era exatamente o endereço que haviam me passado. Fui até a portaria me apresentar. – Bom dia, senhor, estou sendo aguardada no vigésimo quarto andar. A recepção conferiu minha identificação e confirmou o meu acesso. – Fica no último andar do edifício. O andar todo é reservado para a produtora e lá tem outra recepção. Peça maiores informações lá. – Obrigada. Entrei no elevador e pedi para que parassem no último andar do prédio. Logo cheguei e, facilmente encontrei a recepção. Havia uma senhora muito simpática que me identificou e me conduziu à sala onde eu estava sendo esperada. Sentei-me e olhei para o relógio que marcava oito e meia. Eu estava adiantada, então peguei uma revista e comecei a folhear ao mesmo tempo que pausava esporadicamente para admirar o espaço luxuoso. Tudo a minha volta cheirava a dinheiro. Eu estava maravilhada com tanto bom gosto em cada detalhe. Uma mulher saiu da sala e eu achei seu rosto familiar. Ela abriu um largo sorriso para mim e levantei para cumprimentá-la. – Jéssica, querida, que bom que está aqui. Eu realmente precisava de ajuda e não estava dando conta de tanto trabalho sozinha. Fico feliz que aceitou a proposta. Oh, Deus, de onde eu conhecia essa mulher mesmo? – Eu também estou muito feliz por ter vindo. É com você que vou trabalhar? – Ah, sim, vai trabalhar comigo, mas não para mim. Pediram para te avisar que assim que o relógio marcar nove horas, você pode abrir a porta e entrar. A pessoa lá dentro só estará disponível nesse horário. – Tudo bem, então, vou aguardar. – Ok, nos falamos daqui a pouco. Tenho muito o que fazer ainda hoje. Até mais. – Até logo.
Continuei lendo a revista e olhando para o relógio de cinco em cinco minutos. Quando o ponteiro marcou nove horas, bati na porta e como não obtive resposta, entrei na sala. Havia uma pessoa sentada na cadeira, virada de costas com o cabelo preso em um curto rabo de cavalo. – Bom dia, eu sou Jéssica Katherine Rios e você marcou comigo aqui para que eu conhecesse melhor o trabalho. Quero agradecer desde já o convite e dizer que estou com muita expectativa e energia para dar o melhor de mim, Sra.... como poderia chamá-la? A cadeira virou e eu quase caio para trás, pois havia perdido o equilíbrio das minhas pernas. Procurei algum objeto em que eu pudesse me segurar e encontrei o encosto de uma cadeira a tempo de me estabilizar. – Bom dia, Jéssica Katherine, seja bem-vinda à sua nova empresa. Fico feliz em saber que dará o melhor de si, pois é tudo o que preciso. Quero o seu melhor. Sente-se e vou te explicar como pode me deixar bastante satisfeito. Era ele. A pessoa que havia me contratado não era uma mulher. Quem havia me contratado era Zeus Melino. O meu passado estava batendo à minha porta novamente e colocando um dedo na ferida que teimava em nunca cicatrizar. Ele era o meu chefe, a pessoa de quem mais fugi, seria o meu algoz agora. Eu não podia aceitar isso.
Capítulo 16
Ele
Música deste capítulo: Eu nunca disse adeus interpretada por Capital Inicial
Jéssica estava parada diante de mim mais linda do que nunca, esbanjando um ar de maturidade adquirida nestes quase dois anos que ficamos distantes. Ela tinha deixado de ser uma menina em fase de mudanças para se tornar de fato uma... mulher. Senti meu pau enrijecer em reconhecimento e meu coração pulsar mais forte, reagindo à dor da saudade que eu tanto amargava. Eu tinha planos mais honestos quando decidi trazê-la ao Rio, porém bastou um olhar para o seu rosto e me questionei se conseguiria levá-los adiante. – Não, deve haver algum engano. Me disseram que a nova proprietária era uma mulher e não me falaram nada sobre você. Eu tenho que ir. – Falou furiosa. Ela deu as costas para sair do escritório quando a minha próxima pergunta a parou. – Você leu bem o contrato? Se não me engano, dizia que se acaso recusasse trabalhar como minha personal stylist, teria que pagar o dobro do valor acordado para você receber. Tem esse dinheiro, Jéssica? Vi como ela puxou o máximo de ar possível para os seus pulmões e voltou para responder. – No contrato não dizia que eu teria que trabalhar para você. Levantei meu dedo indicador, fazendo gesto de negação. – É, eu acho que alguém não leu o documento direito antes de assinar. Tome uma cópia e acompanhe comigo. Cláusula vigésima: “a contratada deverá prestar serviços pessoais e profissionais para o responsável pela empresa” . Vê? Eu não sou o dono do ateliê, de fato, mas sou o responsável. Eu o comprei e dei de presente a uma mulher, portanto você me deve serviços pessoais e profissionais. Não tenha dúvidas de que vou cobrar um por um. Lágrimas desceram pelos seus olhos, enquanto fitava o meu rosto. Eu sabia que o desejo dela
era sair correndo daquele lugar, contudo tinha um grande sonho que a impulsionava a ficar. Precisava do dinheiro para abrir o seu próprio negócio. Ah, se ela soubesse! – Por que está fazendo isso comigo, Zeus? Você acha pouco o que já me fez sofrer? Saí de trás da mesa e caminhei rapidamente em sua direção, parando diante dela. – Essa foi a única forma que encontrei de falar com você, Jel. Te procurei de todas as formas possíveis e nunca obtive qualquer resposta. Eu precisava que me ouvisse, precisava te explicar como as coisas aconteceram, precisava do seu perdão. – Precisava do meu perdão? Você só pode estar brincando. Tem ideia de tudo o que passei? Do sofrimento que me causou? Nunca, entendeu bem? Você nunca terá o meu perdão. – Está vendo como eu precisava fazer isso? Só assim você me ouviria. Só assim eu tinha como saber de que forma estava se sentindo. Você não me deu alternativas, linda, eu tive que jogar sujo para ter essa oportunidade. – Agora que me ouviu e que eu o ouvi, poderia cancelar o contrato? Eu só quero viver em paz em Salvador, no ateliê ou em outro trabalho, por favor, me deixe retomar à minha vida. – Eu não posso. Eu não quero. Entendo que não me perdoe, pois nem eu mesmo me perdoo, mas você ainda não me ouviu. Eu ainda não disse uma palavra do que gostaria e não posso falar tudo de uma hora pra outra. Eu preciso de você ao meu lado, Jéssica. – Olha, por que não deixamos as coisas como estão? Eu estou namorando, sabia? Acredite. Eu decidi dar uma oportunidade aos meus sentimentos e sei que você também está. Não vejo motivos para trazer à tona um passado que não deu certo. – Deu certo, sim, Jéssica. Estava dando muito certo. Meu Deus, nós teríamos um bebê, lembra? Nosso filho já teria mais de um ano se tivesse nascido e nunca vou esquecer que fui o responsável por ele não estar entre nós, eu sonho com ele quase todas as noites. Um anjinho de olhos cor de mel que nunca consigo alcançar. Tão lindo. Eu tenho uma explicação para aquela noite, mas você nunca me deu oportunidade de falar. As lágrimas agora já rolavam livremente pelo seu rosto. Os meus olhos também já estavam lacrimejantes, mas tentei disfarçar. – Para quê, Zeus? Para quê ficar lembrando de acontecimentos que não podemos mudar? Não vê que eu vou sofrer se ficar ao seu lado? Me deixe ir, por favor.
– Não se trata apenas da nossa vida pessoal. Eu a quero na equipe de figurino. Você é uma das melhores do mercado e Alicia já havia me pedido para te contratar há algum tempo. Acho que a oportunidade será boa para a sua carreira também. Vamos tentar ser profissionais. – Você não vai me liberar desse contrato mesmo, não é? Então quero que saiba que qualquer tentativa de aproximação, eu vou considerar como assédio e vou processá-lo. Se me contratou para trabalhar, é o que farei. Você não terá mais de mim. – Acho que o contrato fala sobre serviços pessoais, mas vou me contentar somente com os profissionais, por enquanto. Agora pode ir. A minha namorada deve chegar a qualquer momento e preciso estar pronto para sair com ela. Pergunte na recepção onde Alícia está. Ela te aguarda para falar sobre a turnê e você está inclusa nela. Bem-vinda à No Return. Minha namorada, Mary Monteiro, entrou porta adentro do escritório quando eu estava terminando de falar a última frase. Ela fitou Jéssica de cima a baixo e parece que não gostou do que viu, especialmente quando percebeu que seus olhos estavam inchados das lágrimas derramadas e que o clima estava pesado. Jéssica sequer olhou para ela. Saiu batendo os pés, deixando uma ameaça subliminar de que buscaria meios para sair dessa situação. – Quem era essa mulher, baby? – Mary perguntou. – Não já disse para não entrar em minha sala desse jeito? Se aguardasse apenas um pouco, eu a encontraria lá fora, pois já estava de saída. Essa garota é Jéssica Katherine Rios, a mais nova personal stylist da banda. – Bonita, não? Ela... ela vai ter que sair em turnê com você? – Comigo sozinha, não, Mary. Ela vai apoiar Alicia e trabalhar para a banda e não apenas para mim. – Ah, entendi, mas de qualquer jeito vai estar por perto, não? Foi impressão minha ou ela estava chorando? – Katherine estava apenas agradecida pela grande oportunidade de trabalhar conosco e acabou se emocionando. Não foi nada demais. – Não foi essa a impressão que tive, mas deixa pra lá. E então, pode sair agora? – Claro. Vamos lá! – Dei um beijo em Mary e peguei em sua mão para sairmos juntos do prédio.
Eu havia planejado trazer Jéssica para o Rio a fim de lutar por seu perdão. Eu não tinha a intenção de reatar a quase relação que tivemos, nem de seduzi-la. Eu apenas queria que ela me ouvisse e, quem sabe, caso me perdoasse eu também conseguisse perdoar a mim mesmo. Precisava desse desfecho para seguir em frente. Além disso, eu queria ajudá-la a alavancar a sua carreira. Talvez fosse uma forma de compensar um pouco tanto sofrimento pelo qual ela passou. Quando a vi em minha frente, foi como se eu tivesse rasgado todo meu minucioso projeto no meio. O que eu sentia por ela ainda era muito forte, mais do que eu supunha quando tive essa ideia. Não seria fácil conviver com ela e não tocá-la, não sentir seu corpo e seu perfume de perto. Seria uma tortura para mim também. – Baby, você parece que está com a cabeça em outro mundo. O que está te preocupando tanto? Não ouviu uma só palavra do que eu disse. O sinal fechou, enquanto eu dirigia e parei, olhando para a minha namorada. – O quê? Me perguntou alguma coisa? – Eu estava justamente falando sobre o quanto está aéreo hoje. A banda está passando por algum problema? Droga! Aqueles olhos cor de mel não saiam da minha mente e eu não estava conseguindo disfarçar. Precisava ser mais cuidadoso. – É um pequeno problema com o próximo show, mas logo tudo estará resolvido. – Ah, tudo bem. Eu achava que os problemas relativos ao show eram resolvidos por Benito ou pelo roadie. – Nós somos um grupo e sempre que posso, dou uma mãozinha. Já te disse o quanto está linda hoje? Ela corou e se derreteu em um sorriso. Essa era uma saída estratégica para mudar de assunto. Chegamos ao restaurante e pedimos um drink como aperitivo. Escolhemos nossos pratos e passamos um tempo bebendo e conversando como fazíamos com certa frequência. O meu corpo estava ali, porém minha mente estava em outro lugar. Melhor dizendo, ela estava a alguns quarteirões daquele restaurante. O furacão chamado Jéssica tinha voltado para me atormentar com força total. – ... e o diretor me disse que eu tenho muito talento. Acho que o papel de protagonista dessa próxima novela pode ser meu. Estou com tantas expectativas.
– Hum? Ah, sim... parabéns, querida, eu tenho certeza de que você vai conseguir. – Zeus, eu estava pensando... até que as próximas gravações iniciem, terei um tempo de férias. Que tal se eu o acompanhasse nessa próxima turnê? Acho que a azeitona da bebida entrou no lugar errado da minha garganta, pois comecei a tossir, me sentindo engasgado e sufocado. Ela permaneceu onde estava, olhando de forma assustada sem saber o que fazer para me ajudar. Depois de um tempo tossindo, respirei fundo e consegui controlar a minha voz. Mary não disse mais uma palavra, apenas aguardando a minha resposta. – Baby, eu adoraria ter você em minha turnê, porém não vai dar. Ficaremos na rotina de fazer shows, compor músicas novas e a atenção de todos da banda será exclusivamente voltada ao nosso trabalho. Além disso, você não iria se adaptar fácil. Às vezes passamos por cidades que não têm bons hotéis para a hospedagem. Imagine você em um hotel com menos de quatro estrelas? Acha que suportaria? Ela sacudiu a cabeça como se estivesse horrorizada com a possibilidade. – Argh! Claro que não! Você está certo. Essa coisa de ficar como ciganos não é para mim. E talvez seja bom ficarmos um tempo sem nos ver, pois a saudade aumenta e quando estivermos juntos, pegaremos fogo. – É o que penso, também. Às vezes a saudade se torna tão forte que ao reencontrar a pessoa que amamos, a vontade é de tomá-la para si e não deixar sair nunca mais. Eu estava mais uma vez divagando sobre o desejo que tive há poucas horas com apenas uma mulher e ela não era a que estava do meu lado agora. – Ai, que lindo, baby. É disso mesmo que estou falando: de amor. Você está querendo dizer que me ama, querido? O garçom chegou com os nossos pedidos e respirei aliviado por não ter que responder àquela pergunta. – Hum... a comida daqui é muito boa, não? – Saindo pela tangente! – Para mim, não há igual. É o meu restaurante preferido. O que vai fazer quando sair daqui? Poderíamos dar uma passadinha em meu apartamento. Em qualquer outro dia, aceitaria o convite sem pensar duas vezes, porém hoje... hoje eu não encontrava em mim o menor desejo de transar com ela e nem com qualquer outra mulher. Quer dizer,
apenas uma poderia atiçar a minha luxúria. – Eu tenho muito trabalho a fazer nesta tarde, querida. Você é uma tentação, mas não vai dar. – Tudo bem, eu sei o quanto está mergulhado em seu novo projeto. E você não faz ideia o quanto! – Preciso deixar tudo em ordem para a turnê. Espero que não fique chateada. – Imagina, podemos nos ver à noite. Acho que vou aproveitar para ir ao salão e ficar perfeita para quando você chegar. – Infelizmente, esta noite também será difícil para mim. Não sei até que horas vou ficar no escritório e provavelmente estarei muito cansado para sair. Vamos deixar para outro dia. Porra, só fazia um dia que Jéssica tinha chegado e eu já estava enrolando a minha namorada desse jeito. Que merda eu faria agora? – Oh, que peninha. Tinha feitos tantos planos para nós dois hoje. – Ela murmurou, fazendo beicinho. Mary me acompanhou até a produtora, pois seu carro estava lá e me despedi dela com um beijo e uma promessa de ligação mais tarde. Fiquei algumas horas no escritório tentando trabalhar, mas a minha concentração estava péssima. Andei de um lado para o outro na sala e, quando percebi que nada que eu fizesse traria minha sanidade mental de volta, saí em busca de Jéssica. Empurrei a porta do closet com tudo, onde ficava o figurino, na esperança de encontrar o que tanto buscava lá. Nem sinal dela. Apenas a auxiliar de serviços gerais estava no local, fazendo a limpeza. – Você viu duas mulheres que estavam aqui trabalhando? – Perguntei nervoso. A funcionária me olhou com desdém, sem perceber com quem falava, mas quando reconheceu que era eu quem estava perguntando se mostrou mais atenciosa. – Elas já foram Sr. Melino. Disseram que estavam cansadas e que amanhã continuariam de onde pararam. – Obrigado. Saí do closet desolado. Eu precisava vê-la nem que fosse apenas mais uma vez naquele dia. Eu precisava olhar o seu rosto e memorizar cada traço para que sua visão inundasse os meus sonhos
esta noite. Porra, eu precisava dela. Decidi tomar uma budwiser em um bar que gostava de frequentar. Era discreto e eu já tinha uma certa intimidade com o bartender, que sabia o tipo de bebida que eu gostava. Entrei no local e tudo estava calmo como sempre. Sentei junto ao balcão e pedi uma bebida. – Vai de Bud ou uísque hoje, Zeus? – o atendente ofereceu. – Me vê a cerveja mais gelada que tiver aí. Ele trouxe rapidamente uma garrafa long neck e quando viu que eu tomei quase toda em um só gole, não resistiu e me perguntou: – Problemas no paraíso? – Mais do que eu gostaria. Eu estou fodido, cara. – Tem alguma coisa a ver com mulher? – Sempre tem, não? – Se ela valer a pena, corra atrás, porra. É melhor se arrepender do que fez do que de algo que deixou de fazer. O máximo que você pode ouvir é um não e vai ter a mente tranquila, pois pelo menos tentou. Eu olhei para o cara e me perguntei se eu havia bebido algo mais cedo, pois eu tinha ido a um bar ou a um psicólogo? O pior era que suas palavras estavam me dando motivo para pensar. Ele poderia ter razão? Me levantei e deixei três notas de cem no balcão. – Acho que esse valor dá para pagar a cerveja e a consulta. Valeu, cara, você devia estudar psicologia. Entrei no carro e me apressei para correr em direção ao lugar onde eu mais queria estar desde que o sol nasceu sobre a minha cabeça. Eu tinha acesso irrestrito ao apartamento de Jéssica, uma vez que eu era o proprietário do prédio. Cheguei ao condomínio e nem precisei me identificar, pois logo fui reconhecido. Entrei no elevador e fiquei olhando para o teto, batendo o pé no chão em um tique nervoso e ansioso para olhar mais uma vez aquele lindo rosto.
Os andares pareciam passar lentamente e me odiei por ter escolhido o seu apartamento no último. Depois do que pareceu horas, finalmente cheguei ao piso onde só havia dois apartamentos: um de Jéssica e o outro ainda vazio. Fiz uma nota mental de avisar ao corretor que tirasse aquele apartamento vizinho ao dela do mercado. Eu não queria que ela corresse o risco de conhecer um desses caras que se acham no direito de ter intimidades com a vizinha. Bati na porta e ouvi sua voz distante, pedindo para que eu esperasse. Eu esperei. Esperei pelo que pareceu uma eternidade. Ela destrancou a porta e abriu sem olhar quem era, falando com alguém no celular. Deu as costas e continuou conversando. Oh, merda, Jéssica estava linda vestida apenas em um short curto que deixava à mostra suas pernas grossas e delineadas e uma blusa que destacava seus deliciosos seios. Meu corpo reagiu ao que via instantaneamente. – Deixe a comida sobre a mesa. Vou buscar o dinheiro. – Disse, provavelmente esperando algum serviço de entrega. Eu também já estou com saudades, Bruno. Claro que vou avisar assim que eu tiver uma folga. Não se preocupe, nada de ruim vai acontecer aqui... – Ela dizia ao telefone. Entrou no quarto e voltou com uma carteira na mão, tirando algumas cédulas de dentro. Parou para me olhar e quando ia entregar o dinheiro, percebeu que não era o serviço de entrega. Era eu quem estava dentro do seu apartamento com cara de cachorro mendigando o osso. Ela arregalou os olhos assustada e, tremendo, deixou o celular cair. – Zeus, o que você está fazendo aqui?
Capítulo 17
Ela
Música do capítulo: Diz pra mim - interpretado por Malta
Eu não podia acreditar que o fantasma que havia assombrado a minha mente durante todo o dia estava plantado na sala do meu novo apartamento. – Você não tem medo de ser assaltada? Está certo que escolhi o condomínio mais seguro desta cidade, mas, ainda assim, ninguém está cem porcento seguro em uma metrópole. – Eu estava esperando o meu jantar. Não estava com disposição para cozinhar hoje e ainda tenho que desarrumar minhas malas. – Assim como fui eu, poderia ter sido um psicopata. Já pensou nisso? Um psicopata? Será que eu realmente correria riscos aqui ou era tudo exagero dele? – Bem, talvez você esteja certo e talvez eu esteja olhando para um deles neste exato momento. Ainda não me respondeu o que veio fazer aqui, Zeus. – Eu... eu... então Bruno é seu namorado? Está apaixonada por ele, Jel? Logo você que não queria saber de amor, relacionamento e todo aquele lenga, lenga que era repetido a todo o momento. Porra, eu não daria o gostinho a ele de dizer que eu não amava Bruno, mesmo porque Zeus não tinha nada a ver com aquilo. Era minha vida e ele já não fazia mais parte dela. – Embora não seja da sua conta, sim. Tenho fortes sentimentos por Bruno e estamos em um namoro fixo, como eu nunca achei que teria. Sabe, Zeus, às vezes fazemos planos sem olhar adiante, sem saber o que o futuro nos reserva. Eu mudei. Estou mais madura e sei o que quero em minha vida, por isso resolvi dar uma chance ao amor. Ele se aproximou ainda mais de mim de tal forma que podia sentir a sua respiração. – Estou vendo o quanto amadureceu. Está linda, Jéssica. Ainda mais do que no passado. – Ele falou, chegando cada vez mais perto de mim com seus lábios quase tocando os meus.
Se ele chegasse mais perto, eu não ia resistir. Sentir seu perfume e sua proximidade fez com que todo o meu corpo se arrepiasse e implorasse ser tomado. Eu nunca tinha sentido esse efeito com nenhum outro homem. Apenas Zeus tinha esse poder. Repentinamente, ele aumentou a distância entre nós, dando as costas para olhar em volta do apartamento. Caminhou pela sala, com um sorriso petulante no rosto de quem sabia que ainda mexia comigo. – Eu não acredito que o ame, Jel. Tenho certeza de que nunca teve um sentimento tão intenso quanto o que tivemos um pelo outro. A única pessoa que amou fui eu, linda, mais ninguém. – Como você é convencido, não? Pensa que sabe tudo sobre mim e sobre o que sinto. Me diga uma coisa: sua namorada sabe que está em minha casa? A relação de vocês é tão aberta assim a ponto de que esteja com uma pela tarde e com outra à noite? Novamente um sorriso sarcástico estava estampado em sua face. Eu queria arrancá-lo à força de seu rosto. – Se eu não a conhecesse bem, diria que está com ciúmes. Aliás, ciúmes foi uma marca da nossa relação no passado, não foi? – Zeus, olha, estou cansada e preciso me organizar para um dia de trabalho pesado amanhã. Se não tem um assunto profissional para falar comigo, gostaria de convidá-lo a se retirar. A sirene tocou no exato momento que eu estava terminando de falar. Ele foi atender a porta e pagou ao entregador que deixou a encomenda e saiu. – Vejamos o que tem aqui. Hum... Yakissoba e rolinhos primavera. Adoro comida chinesa. De repente me deu uma fome e acho que o que tem aqui é mais do que suficiente para dois. Vamos lá, mulher, prepare a mesa que quero jantar. Fiquei parada, olhando ele se movimentar, colocar o alimento sobre a mesa e ir até a cozinha, voltando com uma garrafa de vinho e duas taças. Aonde ele queria chegar? Será que estava em seus planos me deixar louca? – Sente-se, Jéssica. O cheiro está muito bom. Senti minha barriga roncar e o cheiro do alimento penetrar em minhas narinas. Não ficaria com fome por conta das provocações de Zeus. Ele queria jogar, então jogaremos juntos. Ele colocou uma garfada do macarrão oriental na boca e passou a língua nos lábios para limpar o resto do alimento. Eu fiquei olhando, por um instante sentindo o desejo incontrolável de eu
mesma limpar seus lábios com a minha língua. Você quer brincar? Então, vamos lá! – Pensei comigo mesma. Peguei um rolinho primavera, mergulhei no molho agridoce e, em vez de tirar um pedaço, lambi o molho que o cobria. Percebi quando ele engoliu em seco, com os olhos fixos no gesto que eu fazia. Tinha certeza de que estava ostentando uma enorme ereção neste exato momento. Ele limpou a garganta e resolveu puxar conversa. – Gostou do apartamento, Jéssica? – Muito bonito e bem localizado. Obrigado por ter pensado em meu bem estar. – Sempre. O melhor para a melhor. Não preciso ver vidente para perceber que fará um grande nome no mundo da moda. Seu sonho era ter seu próprio ateliê, sem bem me recordo, não? – Sim, e continua sendo. Esse é o único motivo que ainda me prende no Rio. Seu eu não tivesse esse sonho, já teria mandado esse contrato às favas. – Fico feliz então por saber que não voltaremos ao assunto de cancelar o contrato. No final das contas, te garanto que irá agradecer por ter trabalhado comigo. – Eu sempre tive a teoria de que é melhor se arrepender do que fez do que se arrepender de não ter feito. Vamos ver no que vai dar. Ele me olhou pensativo, parecendo que havia se lembrado de algo. – Sabe, ainda hoje eu ouvi alguma coisa parecida com isso. – Sei. – falei ironicamente. – Zeus, pela manhã, você comentou que tinha explicações sobre o que aconteceu naquele dia. Eu concordo que precisamos acabar com as pontas soltas que restaram e gostaria de te ouvir agora. Do que se tratava? – Ainda não, linda. No momento certo, você saberá de tudo que aconteceu. – Ainda tem contato com Lya Jhones? – Raramente nos encontramos em turnês, mas falamos apenas o necessário. Não quis mais aproximações depois daquele dia. Jantamos ainda jogando conversa fora, sem voltar a falar no nosso passado ou sobre relacionamentos. Ele levantou se despedindo e caminhou em direção à porta.
– Nos veremos na produtora amanhã e espero que não se atrase. Quero saber que já está lá quando eu chegar. Ele deu dois passos para a frente e eu o parei. – Me diga, o que exatamente você quer de mim? De verdade, por que está aqui em meu apartamento? Ele olhou no fundo dos meus olhos e, de forma carinhosa, passou seu polegar em minha face. Seu gesto parecia carregado de sentimentos guardados, uma mistura de negação e... amor. Sim. Era amor que eu estava vendo em duas esferas brilhantes e cristalinas. – Senti saudades, Jel. – Minha pele ardeu com o fogo que vi em seu olhar. Ele inclinou seu rosto, se aproximando do meu e senti o calor da sua respiração. Seus lábios estavam quase encostados em minha boca quando ele levou um tempo me olhando como se estivesse memorizando cada detalhe meu. Finalmente nossas línguas se encontraram e fui tomada por um beijo avassalador e feroz, carregado de desejo e luxúria, a ponto de ter consciência que não teria forças para negar qualquer coisa que me fosse pedido naquele instante. Eu não sabia quem era nem onde estava. Todas as reservas foram quebradas e eu estava totalmente entregue à sedução daquele beijo e às promessas que vinham junto com ele. Para minha surpresa, Zeus abandonou os meus lábios, tomando distância. Eu olhei para ele confusa e envergonhada por ter me deixado levar tão facilmente. Ele me deu um sorriso que li como um pedido de desculpas e caminhou para a porta. Antes de sair, falou as palavras que martelaram em minha mente durante toda a noite. – Eu vou lutar por seu perdão, Jéssica, e, quem sabe um dia, podemos nos tornar grandes amigos. Fui tomada por um sentimento de decepção enquanto eu via o meu passado e o meu presente atravessando aquela porta. Não! Eu precisava resguardar o meu coração, pois Zeus não faria parte do meu futuro. Eu não ia permitir. Mais um dia se iniciava e assim que cheguei à produtora ouvi um alerta de mensagem em meu celular. Fui verificar de quem era. Alícia estava pedindo para que eu fosse até o closet logo que
chegasse. Caminhei a passos largos até meu destino quando me deparei com Bob e Led no corredor parados conversando. Assim que seus olhos me encontraram, vieram me cumprimentar. – Jéssica, há quanto tempo. Fiquei sabendo que é a mais nova contratada e estamos felizes pela novidade. Seja bem-vinda. – Led falou, me dando um beijo no rosto. – Eu sabia que ia acabar trabalhando conosco. Alicia não parava de falar que havia gostado de você e que tinha bom gosto. Sentimos sua falta. Zeus quase morre na época que o deixou, mas isso é passado. O importante é que todos ficaram bem. – Bob continuou. – Obrigada rapazes. Também senti falta de vocês. – Vamos pegar uma balada qualquer dia desses. Sua amiga Clara está fora de circulação, pois nos dará um sobrinho a qualquer hora e não está frequentando eventos. Acho que você irá precisar de companhia se quiser sair. – Claro, vamos marcar. Dei dois beijos no rosto de cada um e me apressei para chegar ao closet. Alicia estava bastante ocupada e quando me viu fechar, respirou fundo, pedindo para que a ajudasse. A manhã passou sem maiores problemas e eu estava amando o meu trabalho de separar peças, analisar e montar looks. Mais tarde entraríamos na parte dos desenhos, pois tínhamos que lançar algo diferente das roupas já vistas no mercado musical. Estávamos com o projeto de lançar a marca de roupas e acessórios da banda e paramos na fase de criação do logotipo. Eu estava muito animada. – Jess, leve essas roupas para que Zeus experimente em seu escritório. Eu estou muito ocupada e não posso parar agora. Ele precisa me dar a resposta ainda hoje do que vai usar no casamento. – Casamento? Quem vai casar? – São alguns amigos dele. O cara é espanhol e a garota baiana. Talvez até você a conheça, pois ela trabalhava na empresa da amiga de Clara, Brisa. O nome dela é Tatiana e seu noivo convidou a banda para tocar no dia do casamento. – Sei, eu a conheço de vista, mas já faz um tempo que não a vejo. Alícia, eu não posso continuar o que você está fazendo para que você leve as roupas para Zeus?
Ela parou de desenhar e olhou para mim com ar cansado. – Porra, lindinha, eu pedi tanto para que te contratassem, pois realmente precisava da ajuda de alguém competente. Aprenda a separar o pessoal do profissional e você vai longe. Vá lá, ajude o cara a experimentar e volte para fazer alterações, se preciso. Facilite minha vida, por favor. Levantei as mãos em sinal de rendição e comecei a recolher as peças. – Tudo bem, não está mais aqui quem falou. Respirei fundo para ganhar forças e continuar fazendo o meu trabalho. E lá vou eu reencontrar o homem que já havia voltado a mexer com minha vida. E pior, voltou a mexer com meus sentimentos. Bati na porta e aguardei. Ouvi sua voz pedindo para que eu entrasse e, lentamente, dei alguns passos para dentro, parando na entrada. Meu Deus, o que era aquilo? O homem estava simplesmente lindo em uma camisa de gola ‘V’ preta, marcando os seus músculos e mostrando o começo de uma linha fina de pelos que se iniciavam em seu peitoral. Uma calça apertada de napa fazia contraste com a blusa, marcando deliciosamente sua virilha, dando muitos motivos para que minha imaginação fluísse. Senti uma pulsação na minha vagina e engoli em seco, me pegando atraída como um imã pelo seu corpo. Fui interrompida de meus devaneios. – Está gostando do que vê, linda? Fico feliz em saber que não sou o único a ser tentado aqui. Seus olhos são tão transparentes. Eles falam tanto. Consigo saber o que está pensando apenas ao mirar o fundo deles. Droga, isso era verdade. Nunca consegui esconder minhas emoções, pois elas sempre ficavam claras pelo meu modo de olhar. – É... Alícia pediu para que experimentasse algumas peças para o casamento. – Deixe em cima da cadeira. Daqui a pouco você me ajuda a vesti-las. – falou me olhando maliciosamente. – O que os caras queriam com você? – Quem? De quem está falando? – Bob e Led. Eles pareciam animados com o seu retorno. Olha, Jéssica, não a trouxe aqui para ficar de paquera com o pessoal da banda. Eu a trouxe para trabalhar, entenda isso.
– Paquera? Não seja ridículo. Estava falando com dois amigos que não via há tempos. A paquera a que se refere se estende a você também? Até onde eu sei, você também faz parte da banda. – Não mude de assunto, garota, eu estou falando dos músicos e não estou incluso nessa conversa. – Toda vez que o encontrar teremos conversa desse tipo, é? Eu acho isso tudo tão cansativo. Por que você não veste essas roupas de uma vez e me poupa o trabalho de ficar me defendendo tempo todo? Ele tirou a camisa, me olhando de forma provocadora, e ficou apenas de calça, expondo sua silhueta dividida e bem definida. A minha boca se encheu de água e lambi os lábios em uma reação instintiva. Ele abriu um sorriso de lado e mexeu no cós da calça, sondando minhas reações. Eu tinha certeza de que minha calcinha já havia virado lama de tão molhada que estava. Estava juntando todo o meu controle para que minhas mãos não tivessem vida própria e se movessem para tocar aquele corpo. Arregalei os olhos quando ele abriu o botão e desceu a calça em suas pernas, ficando apenas de boxer, a única peça que cobria toda a sua glória. O meu olhar caminhou desde os seus pés, parando em sua ereção saliente, medindo cada pedaço dele até chegar ao seu rosto. Quando olhei em seus olhos, senti vergonha e, ao mesmo tempo, desejo. Seu sorriso sarcástico estava lá estampado, me mostrando que eu não havia conseguido disfarçar o quanto o queria. – Venha, linda, me ajude a experimentar a roupa. – Ele pediu. Me aproximei, pegando uma peça da cadeira e, nervosamente, toquei nele, tentando lembrar o que deveria fazer em seguida. Ele não deixou que eu fizesse mais nada. Tomou o meu rosto em suas mãos selvagemente e me empurrou em direção à mesa, me esmagando contra ela, e enfiou sua mão por debaixo do meu vestido, rasgando a pequena peça de seda que impedia um contato mais profundo. Ouvi um gemido que só depois percebi que havia saído de mim e, no calor do momento, Zeus limpou tudo sobre a mesa e me levantou, abrindo minhas pernas para que se encaixassem em seus quadris. Senti seu pau, ainda dentro da cueca, roçar em minha entrada e arqueei em um convite
silencioso. Esperei pelo próximo passo, enquanto o meu corpo implorava e os meus lábios já não lutavam contra a desesperada invasão. Seu beijo era de um modo tão possessivo que parecia querer me marcar como sua posse. Apenas Zeus sabia que botões apertar para que eu me rendesse. Segurei sobre a sua boxer e apertei o seu conteúdo. Ele estava teso e completamente pronto para me marcar definitivamente. Ele parou de me beijar e levantou o meu vestido para admirar minha boceta, mordendo os seus lábios como se fosse feri-los. – Linda, Jel. Você é linda da cabeça aos pés. Sua bocetinha é uma verdadeira obra de arte. Ah, como estava com saudades! Fez menção de se abaixar e eu fechei os olhos, esperando que a umidade de seu a língua se juntasse à umidade entre minhas pernas, porém o momento foi interrompido por batidas na porta. – Ah, inferno. – Zeus amaldiçoou. Eu estava com a respiração pesada e tentei encontrar meu controle de volta. Precisava lembrar de que estava em um local de trabalho e tinha que ser profissional. Merda! Achava difícil disfarçar o que estava para acontecer de qualquer pessoa que entrasse naquela sala. – Me ajude a arrumar essa mesa enquanto me visto. Jesus, quem pode estar batendo na porra da porta? – Ele parecia muito nervoso. Fiz o que pediu, enquanto ele vestia a calça e a blusa. Depois pegou a calcinha rasgada do chão, levou às suas narinas e cheirou, me dando um sorriso malicioso, e a colocou no bolso. Caminhou até a porta e a abriu, dando acesso à sua pegajosa namorada, que o cumprimentou com um beijo. Eca! A boca que eu tinha acabado de beijar. Ele olhou para mim como se nada tivesse acontecido e, com ares profissionais, falou: – Katherine, leve as roupas e peça a alguém para deixar em meu apartamento. Vou experimentá-las com calma. Entrei no jogo, respondendo com voz irônica: – Claro, Sr. Melino. Não vou te incomodar ainda mais. Com licença, preciso continuar com o meu trabalho. A namorada dele apenas acompanhou a curta conversa com um olhar desconfiado e em seguida aproveitou para comentar:
– Oh, Zeus, eu poderia levar as roupas em seu apartamento mais tarde, querido. Já temos um tempo juntos e você nunca me levou para conhecer. Era sério aquilo que eu estava ouvindo? Será que até hoje eu havia sido a única namorada a entrar em sua casa? Olhei para ele com uma interrogação no olhar e ele percebeu, me dando um sorriso fraco em resposta. Por que ele faria aquilo? Por que não compartilhava seu espaço pessoal com alguém tão íntimo? Zeus voltou sua atenção para a garota à sua frente, descartando a ideia dela levar as roupas. – Deixe os serviços profissionais para os funcionários, Mary. Eles são pagos para isso. Saí da sala sem querer ouvir mais da intimidade entre eles. Eu sabia que a minha chegada ao Rio havia bagunçado a minha vida e a de Zeus em pouquíssimo tempo. Ele não planejava se envolver e eu sequer imaginava reencontrá-lo. A atração entre nós era muito forte e não estávamos conseguindo controlar quando estávamos juntos. Éramos uma bomba-relógio prestes a explodir. Voltei para o closet e meu celular apitou antes que eu entrasse. Porra, eu tinha esquecido de ligar para Maurício, havia passado apenas uma mensagem. M: Jess, está tudo bem? Como está o seu dia? J: Oi, tudo bem. Estou muito animada com o trabalho. M: E então? A proprietária é conhecida? J: Bem, não é exatamente uma proprietária. Estou trabalhando em uma produtora. M: Ah, certo. E o que é produzido aí? J: Música. Maurício, fique com a mente aberta para o que vou te dizer. É que... eu estou trabalhando para a banda No Return. Agradeci naquele momento por estar dando essa informação ao meu irmão há quilômetros de distância, pois eu teria que ouvir muito se estivesse mais próxima. Ele ligou para mim imediatamente depois da última mensagem e me encheu com todo aquele sermão de que eu precisava me valorizar e de que Zeus não me merecia. Disse que estaria no próximo voo assim que tivesse uma folga e que iria buscar um jeito de anular o contrato. Eu entendia o lado dele. Só Maurício sabe o quanto eu sofri com a decepção de ser traída
mais uma vez e a perda de um bebê no pacote. Entrei no closet e voltei ao trabalho. O dia passou rapidamente e tentei me concentrar o máximo possível, alternando o meu trabalho com pensamentos impertinentes que não deixavam de me perseguir. Estava me preparando para sair no final da tarde, peguei minha bolsa e me despedi de Alicia. Saí pelo corredor e cumprimentei alguns funcionários que passavam, desejando um bom descanso. Entrei no elevador e lá havia poucas pessoas que também estavam finalizando mais um dia cansativo. O elevador já estava fechando as portas quando uma mão o parou, fazendo com que as portas se abrissem novamente. Zeus. O que ele queria dessa vez? – Jel, vim aqui apenas para avisar que deve comprar uma roupa nova de grife. Você vai me acompanhar no casamento de alguns amigos em poucos dias. Tire a manhã para fazer isso. Use o cartão que a empresa te deu, pois a quero linda no evento. Saiu, deixando que a porta se fechasse atrás dele e sem esperar qualquer resposta. As pessoas no elevador estavam me olhando, talvez julgando que eu era uma mulher de sorte. Eu só conseguia pensar que a minha vida estava se complicando cada vez mais. Eu estava completamente fodida.
Capítulo 18
Ele
Música do capítulo: Aí já era - interpretada por Jorge e Mateus
Ben tinha agendado o show deste fim de semana no casamento de um amigo em Salvador. Já era a segunda vez que estávamos agendados para eles, pois o primeiro casamento acabou não se realizando. Parece que dessa vez eles não terão motivos para remarcar a cerimônia. Eu não gostava muito de fazer eventos pessoais, mas a situação era especial. Trata-se de pessoas muito queridas de Brisa, a melhor amiga de Clara, então eu estava disposto a fazer um grande show. Além desse motivo, tinha outro que estava aumentando a minha adrenalina, que era o fato de Jéssica estar na plateia. Nas melhores apresentações que eu já fiz em minha carreira, ela estava lá, e eu estava satisfeito em saber que hoje seria mais um dia desses. Mandei um Whatsapp, avisando a hora que a pegaria em sua casa, em Salvador, e às sete da noite, ela já estava na entrada do condomínio, aguardando a minha chegada. Desci da limusine e abri a porta para ela, admirando a perfeição de sua beleza. – Como você consegue? – Perguntei. Ela me olhou desconcertada. – Como eu consigo o quê? – Ficar mais bonita a cada dia? – Ah! Seu dinheiro ajudou muito. – Não. A roupa e maquiagem apenas ajudaram a ressaltar sua beleza. Se você não fosse naturalmente linda, elas não teriam brilho algum. – Obrigada. Zeus... até agora não entendi por que você me trouxe em vez de sua namorada. Não acha que Mary vai ficar chateada quando souber que levou outra em seu lugar?
– Eu só faço o que eu quero, Jéssica, e não o que as pessoas querem que eu faça. Eu queria que fosse você a minha acompanhante desta noite e estou pouco me importando com o que Mary ou qualquer outra pessoa vai pensar. – E com a minha opinião, você se importa? Sequer questionou se eu gostaria de ir a esse casamento. Apenas comunicou que eu deveria comprar um vestido e eu tive que atender como se fizesse parte das minhas obrigações profissionais. – E faz. “Serviços pessoais”, esqueceu? – Passei o dedo indicador em seu rosto e ela fechou os olhos, aproveitando a carícia. – Eu quero que hoje seja um dia especial para nós. Não quero discutir com você e nem provocações. Quero que aproveite o show e o evento. Vamos tentar uma relação amistosa, combinado? Ela deu de ombros. – E o seu namorado? Já sabe que está na Bahia? – Eu disse que chegaria amanhã. Não estava a fim de inventar desculpas para sair sem ele esta noite. Amanhã entro em contato. Fui surpreendido por um aperto no peito ao ouvir que sairia com outro. Ela não é sua, Zeus, é claro que vai sair com o namorado. – Disse para mim mesmo. Ainda. A cerimônia teve início e foi simples, em uma pequena capela, porém bastante emocionante, pois o casal transbordava amor. A festa foi na área verde de um suntuoso hotel onde a banda realizou sua apresentação para cerca de duzentos convidados. Sem dúvidas o menor show que já fizemos nos últimos tempos, contudo tinha tudo para ser um dos melhores. A apresentação foi dividida em duas partes, tendo um intervalo no meio para que houvesse discursos, a dança dos noivos e toda aquela coisa que rola em casamentos. Os convidados ficaram loucos com a banda, cantaram e dançaram a seleção exclusiva que fizemos para o evento. Algumas canções mais pesadas foram retiradas e, quando cantei a música Jéssica, percebi que alguns dos convidados chegaram a se emocionar. Eu a cantei com alma, apenas levando no violão, em um som acústico, sem tirar os olhos da minha musa inspiradora. Naquele momento, ali naquele palco, eu havia tomado uma decisão. Eu não queria apenas o perdão de Jéssica. Eu a queria totalmente. Acabou o estado de negação. Eu precisava reconhecer que desde o momento que a vi pela
primeira vez, já não tinha mais coração. Eu era dela e ela seria minha novamente. – Obrigado a todos. Vamos fazer um intervalo e depois retornaremos. Aproveitem o evento e, mais uma vez, parabéns aos noivos. Deixei o palco e encontrei Ben nos bastidores. – O que foi, man, por que está com essa cara? – Perguntei. – Porra, Clara insistiu para que eu viesse para representar a família, mas estou muito preocupado. Está certo que ela está aqui na casa da mãe, porém não gosto de imaginar que ela pode sentir as dores a qualquer momento e eu não estarei lá para ajudá-la. – Irmão, ainda não vi um homem mais apaixonado que você. Se ela está com a mãe, está em boas mãos. Tenho certeza que você será o primeiro a saber caso aconteça alguma coisa. – Eu sei disso, mas é que... Clara e minha filha se tornaram minha vida. Me sinto sem uma parte de mim quando vou a um evento sem ela. – Esfria a cabeça. Tudo vai dar certo. Você viu Jéssica por ai? – Pelo visto não sou o único apaixonado por aqui. Você a quer novamente não é, Zeus? – Como nunca quis tanto algo em minha vida. Ela ainda não sabe, mas será minha novamente e, dessa vez, não a deixarei ir mais. – Vá a luta. Eu a vi mais cedo conversando com Brisa, mas não voltei a ver. Saí em busca da minha mulher. Sim, ela será minha mulher muito em breve. Encontrei-a tomando um drink ao lado de sua cunhada, Joya. Me aproximei e abracei sua cintura, mostrando a todos ali presentes que ela estava acompanhada. Ela me olhou aturdida, mas relaxou e eu aproveitei para fazer movimentos leves com o meu polegar, deixando-a nitidamente arrepiada. – Maurício não quis vir, Joya? – Argui. – Não. Ele preferiu ficar em casa. – Isso teria alguma coisa a ver com o fato de eu estar aqui? – Talvez. Ele ainda não digeriu bem essa história de Jéssica estar trabalhando para a banda. – Entendo. Não há nada que o tempo não resolva. Concorda, Jéssica? – Não. Às vezes, nem o tempo é capaz de curar algumas feridas.
Joya percebeu que a conversa estava ganhando ritmo e deu uma desculpa qualquer, saindo de fininho. – Venha aqui, Jéssica, preciso te mostrar um lugar. Ela caminhou ao meu lado, mantendo silêncio. Chegamos a um local mais discreto e com pouca luz. Eu precisava falar com ela. – Quando me viu naquele escritório sentiu alguma coisa? Quer dizer, sentiu aquele gosto de nostalgia, de que havia perdido algo no tempo e que, se pudesse, voltaria para buscar? – Eu... eu... por que está me fazendo esse tipo de pergunta? – Não precisa responder. Eu decidi que vou parar de brigar contra mim mesmo e eu quero que você faça o mesmo. Eu já reconheci e preciso que você reconheça que a nossa história não acabou. E nem vai acabar. – É tudo sobre você, não? Eu quero! Eu preciso! Eu não tenho que reconhecer qualquer coisa só porque é o que você quer ouvir. Passei a mão pelo meu rosto. Isso seria mais difícil do que eu imaginava. – Eu não estou falando de mim. Estou falando de nós. Você me quer, querida, e já está na hora de parar de fugir. – Está pensando o quê? Que vou ficar correndo atrás de você? Está muito enganado. Pode ser um astro pop, pode ser o presidente dos Estados Unidos ou até o Papa. Eu não vou abanar o meu rabo em sua direção a cada vez que estalar os dedos. – Você está entendendo tudo errado, Jéssica. Eu preciso que dê um tempo de toda essa merda que está pensando e me ouça. – Por que está tentando me explicar qualquer coisa, Zeus? Não temos nada um com o outro, temos vidas diferentes, moramos em cidades opostas e nunca houve promessas. Não estou entendendo aonde quer chegar. – Merda, garota. Estou vendo que não vai facilitar as coisas para mim. – tomei o seu rosto e olhei no fundo de seus olhos. – Eu quero você, porra. Será que consegue entender? Vou soletrar: Eu – quero - você. Para minha surpresa, foi ela quem tomou a iniciativa sem pensar duas vezes. Colocou as mãos em meu pescoço e me puxou para um beijo intenso, angustiado, que me mostrava que eu tinha razão quanto à saudade que sentíamos um do outro.
– Eu também te quero, Zeus, leve-me daqui. Fui inundado por uma sensação de felicidade. Eu sempre achava patético quando uma pessoa dependia de outra para se sentir feliz. Hoje eu entendo. Eu dependo de Jéssica. Ela é a única pessoa que detém a minha felicidade em suas mãos. A empurrei para uma espécie de depósito e fechei a porta atrás de mim. Estava escuro, mas reflexos da luz do luar batiam em seu rosto, mostrando o desejo que ela estava sentindo. Ali não havia Jéssica e Zeus. Naquele momento, nós éramos apenas um. Nos beijamos com voracidade, tentando explorar um do outro o máximo que conseguíssemos. Minhas mãos passaram por cima do seu vestido, se encaixando em seus seios que eram exatamente o tamanho delas. Continuei trilhando o caminho do seu corpo, rumo a encontrar meu esconderijo perfeito, o lugar que me traria a paz de saber que ela me pertencia. Passei minhas mãos por suas pernas, levantando seu longo vestido, e alcancei sua lingerie de renda, colocando-a de lado para sentir sua umidade. – Hum... estava com saudades de ser sua. Saudades de te pertencer. Aaaaahhhhhh, delícia. Seus gemidos estavam me deixando louco e eu não poderia me controlar por muito tempo. Estávamos em um evento e eu teria que ser rápido. Mais tarde a teria no lugar onde pertencia: minha cama. Baixei as alças do seu vestido e chupei os seus mamilos. Eles estavam duros, arrepiados e a cada toque meu, sentia que ela curvava o corpo oferecendo e pedindo mais. Ela pegou no cós da minha calça e tirou o meu sinto rapidamente, baixando a calça e a boxer como num passe de mágica. Parou para olhar um pouco o meu pau e, quando estava prestes a se abaixar para tomar em sua boca, eu a freei. Não havia tempo. Eu precisava estar dentro dela. – Se abra pra mim, linda. Eu preciso te sentir. A encostei ainda mais na parede e puxei suas pernas para abraçar os meus quadris. Aproximei meu pau de sua apertada boceta e, em apenas uma estocada, penetrei com toda a força, fazendo com que soltasse um gemido alto. Tomei seus gemidos em minha boca, enquanto continuava a bombear no centro da minha perdição. Sexo com Jéssica era subliminar, mas pela primeira vez não estávamos fazendo sexo. Estávamos fazendo amor. Fiz pequenos círculos em seu clitóris enquanto continuava a deliciosa missão de possuí-la.
Seus olhos estavam semicerrados, mostrando que estava sentindo tanto prazer quanto eu. Permanecemos nesse vai e vem por algum tempo, dando estocadas cada vez mais fortes do jeito que ela gostava. Ela estava tão faminta quanto eu, pois ainda pedia mais. O gosto que eu sentia em minha boca era o sabor de lar. Jéssica era a minha casa e se eu pudesse pararia o tempo para nunca mais sair dela. Percebi que estava perto, pois podia sentir a pulsação de sua boceta abraçando o meu pau cada vez mais forte. Eu só estava esperando por ela, pois já estava a ponto de explodir a qualquer momento. – Linda, venha comigo. Ela sequer respondeu. Sua resposta veio em forma de um clímax poderoso, que fez o seu corpo todo estremecer e retesar em volta do meu pau, e eu não consegui me controlar, me derramando dentro dela em um nirvana extraordinário. Permaneci naquele lugar perfeito, apenas olhando em seus olhos, sem falar qualquer palavra. Estávamos suados e ofegantes, arquejando fundo na tentativa de regular nossas respirações. Saí devagar de dentro dela e uma sensação de abandono me acompanhou. Dei um beijo em sua testa e outro em seus lábios, puxando o seu rosto para o meu peito em um abraço carinhoso. Jéssica estava nos braços ao qual pertence. Ficamos abraçados por um tempo e logo depois ela se afastou de mim, olhando nos meus olhos. Abriu um sorriso capaz de iluminar a terra, que era uma mistura de acanhamento com satisfação. Retribui o seu sorriso e saímos de mãos dadas para a área externa da festa. Em alguns minutos a banda retornaria ao palco e o meu desejo era de pegar o microfone e falar a todo o mundo que Jéssica era minha. Mas não o fiz. Não, por enquanto. – Minha! – Disse olhando para ela. – Sua! – respondeu cheia de convicção.
Capítulo 19
Ela
Música do capítulo: The only exception – Paramore
– Está na hora de acordar, dorminhoca. Venha ver como o dia está lindo lá fora. Vamos aproveitar. – Não... me deixe dormir. Você me deixou muito cansada esta noite. Não tem pena de mim? – Já passa de meio-dia, Jéssica. Seu telefone tocou a manhã inteira e seu irmão já deve estar preocupado. Acorde, linda, eu preciso conversar com você. Levantei muito a contragosto, me sentindo sonolenta. Fui para o banheiro tomar um banho enquanto Zeus preparava algo para comermos. Rememorei a noite passada e lembranças deliciosas vieram à minha mente. Era isso. Eu estava disposta a chutar o pau da barraca e recomeçar. Eu estava disposta a abrir espaço para Zeus em minha vida novamente sem ter que manter uma batalha contra meus sentimentos. Estava pronta para quebrar todos os blocos da parede que havia levantado em meu coração, passando por cima de todos os meus medos e anseios. Felicidade era o meu segundo nome e dessa vez eu lutaria para que ela fosse minha companheira eterna. Comecei a cantar e a dançar no chuveiro, fazendo o chuveirinho de microfone, quando fui flagrada por Zeus me olhando e se acabando na gargalhada. Joguei um pouco de água nele e continuei dançando. – O que é? Nunca viu uma mulher nua cantando no chuveiro? Em meio aos risos, ele respondeu: – Nunca vi, mas estou adorando. Continue, não quero te atrapalhar. E eu continuei. Ele saiu, balançando a cabeça, eu fui para o quarto me enxugar e vesti uma camisa dele. Ah, o dia estava realmente perfeito. O sol estava sorridente parecendo anunciar que uma nova etapa de nossa vida estava iniciando. E estava. Sentei à mesa e um café da manhã completo me aguardava, embora já fosse de tarde. Eu
estava faminta e comi mais do que comia normalmente. Zeus havia acabado com todas as minhas energias. Mandei uma mensagem para Maurício, dizendo que eu estava bem e outra para Bruno, marcando para encontrá-lo mais tarde. Precisávamos conversar. Depois do café, decidimos tomar um ar e fomos para a beira da piscina de sua casa, em Vilas do Atlântico. Ele parecia pensativo, mas tomou fôlego, dando o pontapé inicial da nossa conversa. – Jel, eu não estava brincando quando disse que a queria em minha vida ontem. Você estaria disposta a recomeçar a nossa história? Tenho vivido um inferno esses dias em vê-la e não poder te tocar, estar ao seu lado diante de todos, sem receios, sem me esconder. – Eu sei que ainda temos pontas soltas do passado para resolver e você me magoou muito quando me traiu. Eu não sei o que está diferente desta vez, mas algo em mim diz que não vai repetir os mesmos erros. Eu quero voltar a confiar em você, Zeus. – É tudo o que eu mais quero nessa vida, linda. Eu logo terei revelações a fazer que vai ajudá-la a entender o que aconteceu naquele dia. Não estou me eximindo da culpa, mas não sou o monstro que pintou em sua mente. – Eu acho que devemos satisfações a outras pessoas, não acha? Eu marquei para conversar com Bruno esta tarde e terminar o namoro que mal havia iniciado. Eu não quero enganar ninguém. – Claro, eu vou conversar com Mary na primeira oportunidade que eu tiver. Sabia que eu não consegui tocar nela desde que vi você novamente? Simplesmente não dava, meu corpo não respondia a mais ninguém. – Me diz que isso tudo não é um sonho, Zeus, que eu não estou tomando a decisão errada. – Chega de pessimismo, Jel, esse tempo já passou. Nós merecemos ser felizes. Você merece ser feliz. Eu te amo. Te amo mais do que amo a música, mais que minha própria vida, te amo mais do que qualquer outra coisa neste mundo. Me joguei sobre ele, o derrubando e ficamos deitados, nos beijando, demonstrando o nosso sentimento um pelo outro sem palavras desta vez. Eu virei de lado o puxando e juntos desbamos na piscina. Caímos na gargalhada e nos abraçamos, continuando de onde havíamos parado. Aumentei a distancia entre nós e saí da piscina começando e correr e ele veio atrás de mim, conseguindo me alcançar e me derrubar no chão. Fizemos amor ali mesmo, a céu aberto, tendo apenas o sol e a natureza como testemunhas. O único desejo que eu tinha naquela hora era de ter o poder de parar o tempo e eternizar aquele momento.
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– Você transou com ele, não foi? Porra, eu sabia que isso ia acabar acontecendo. Quando foi que começou a se tornar uma tola, Jéssica? Ele vai acabar com você como um trem descarrilhado e nem vai saber de onde veio. Droga! Meu irmão estava furioso apenas em imaginar que Zeus estava por perto. Imagine quando ele souber que meu deus grego está de volta à minha vida? Eu não o deixaria falar assim comigo. Já não sou mais nenhuma criança. – Mau, não fale assim com sua irmã. Tente conversar com calma. Eles parecem estar se entendendo muito bem. – Joya interviu. – Ela só pode ter perdido a cabeça, amor. Não sabe o que está fazendo. Ele a traiu, a fez perder um bebê e em menos de uma semana está jurando amor eterno? Cadê a porra da namorada com quem estava desfilando na TV o tempo todo? Já deixou de amá-la assim tão rápido? – Ele nunca a amou. Qualquer um percebia isso. Mary Monteiro era apenas uma conveniência para um homem solteiro como ele. Eu nunca vi o brilho nos olhos que vi quando ele olhou para Jéssica. Meu irmão passou as mãos pelos cabelos. – Ah, caralho, é demais para minha cabeça. E Bruno, Jéssica? Vai dar um pé na bunda do cara depois dele acreditar que poderia ter um futuro com você? – Eu não planejei nada disso, meu irmão. Nenhum de nós planejou. Aconteceu apenas e é isso que vou tentar explicar a ele. Eu quero acreditar que dessa vez será diferente. Zeus vai conversar com Mary e colocar um ponto final no namoro. Nós estamos felizes. Eu estou feliz e ficaria ainda mais se soubesse que meu irmão está torcendo por mim. Instantaneamente toda a sua raiva se transformou em carinho e ele caminhou até onde eu estava, me dando um abraço. – Você sabe como me chantagear, não é Jess? Sabe que a coisa que mais desejo no mundo é ver você feliz. É claro que torço por você. Sempre. Mesmo que eu ache que pode estar cometendo um erro, eu estou ao seu lado. Nunca deixarei de estar. – Oh, Mau, eu te amo tanto. Abracei fortemente o meu irmão, enquanto lágrimas desabavam dos meus olhos. Olhei para minha cunhada e percebi que ela enxugava uma gota de lágrima que descia por seu rosto também.
– Eu tenho que ir, gente. Vou encontrar com Bruno agora. Eu preciso abrir o jogo com ele. Joguei uma água no rosto e passei um pouco de maquiagem para disfarçar meu rosto vermelho. Peguei minha bolsa e estava saindo quando Maurício me chamou. – Jess. Virei para ver o que queria. – Oi? – Eu também te amo. Abri um sorriso de orelha a orelha para aquele que era o meu melhor amigo, meu companheiro e meu porto seguro. Soltei um beijo no ar para ele e saí para encontrar com Bruno. Cheguei a um bar de frente à praia onde costumávamos vir de vez em quando. Ele já estava lá e abriu um largo sorriso ao me ver. Eu não consegui retribuir e logo percebeu que havia algo estranho. Fizemos o pedido e enquanto Bruno pediu uma dose de uísque, eu pedi água com gás e gelo. Estava muito nervosa. – Amor, estava com tantas saudades. Como foi o voo? – Perguntou, me dando um beijo terno. – Bem. Foi tão rápido que mal percebi a viagem. Como estão as coisas por aqui? – Tudo na mesma. Ainda bem que não demorou a vir me ver. Acho que não aguentaria ficar tanto tempo longe. Aconteceu alguma coisa, querida? Estou achando você fechada hoje. – É... eu preciso conversar com você... – Você não vai me dizer que vai precisar ficar mais tempo sem vir a Bahia ou que vai viajar para o exterior. Seria isso? – Não. Na verdade, não tem nada a ver com o meu trabalho. – Não? Então fale logo. Você está me deixando preocupado. – Bruno, você já tinha ouvido falar que eu tive um lance com Zeus, o vocalista da No Return, não? – Ah, Deus, não sei por que, mas acho que não vou gostar do que vou ouvir. Sei um pouco da história, Jéssica, e sei também que ele te fez sofrer. – Então, acontece que acabamos nos reencontrando no Rio e percebemos que o sentimento que um dia tivemos, não havia morrido. Eu juro pra você que não foi premeditado. Nós dois já tínhamos outros relacionamentos e não planejávamos relembrar o passado, contudo foi mais forte do que nós.
– Está querendo me dizer que estava me traindo no Rio de Janeiro com o roqueiro que quase fodeu a sua vida? – Por favor, não olhe as coisas por esse prisma. Eu nunca quis enganar ninguém e ele também não, é por isso que estou aqui falando com você. Eu te respeito muito, Bruno e sei que a mulher que estiver ao seu lado será muito feliz, mas eu preciso terminar nosso namoro. – Que papo é esse de que a mulher que estiver ao meu lado será feliz. Eu quero você, Jéssica. Eu sabia que algo ia acontecer quando me disse que ia para o Rio. Eu estava sentindo. Por isso fiz tanta questão de te acompanhar, porém você não deixou e agora está dizendo que não planejou nada. No fundo, acho que você tinha um fio de esperança de recomeçar o que ficou pra trás. – Eu juro que não, por tudo quanto é sagrado. Eu sempre tive medo de amar justamente por isso, Bruno. Eu não queria essa dor que o amor nos traz quando há um rompimento e eu jamais gostaria que alguém a sentisse por minha causa. – Eu não consigo acreditar no que estou ouvindo. Parece um pesadelo e que eu vou acordar depois, percebendo que nada disso aqui aconteceu. Jéssica, pense bem, eu a quero tanto. Eu te amo. Me levantei da mesa e dei a volta para dar um beijo no rosto de Bruno. Percebi que uma lágrima descia em sua bochecha e passei o polegar para limpá-la. – Me desculpe. Você sempre será lembrado como alguém especial que tive, mas eu preciso ir. Espero ter notícias suas em breve e saber que encontrou alguém que merece o seu amor. Infelizmente essa pessoa não sou eu. Peguei minha bolsa e me afastei da mesa. Deis dois passos e o ouvi me chamar. – Jessica! – Me virei para olhar em seus olhos. – Estarei te esperando se não der certo. Sempre estarei aqui para você e não quero deixar de te amar. Respirei fundo e saí sem lhe dar qualquer resposta. Isso não era o que eu queria ouvir. Eu queria dormir em paz, sabendo que ele ia tentar me esquecer e refazer a sua vida. Me odiava por fazer alguém sofrer. Liguei para Zeus e marcamos de nos encontrar à noite em um bar próximo à casa dele. Disse que vinha me buscar, mas decidi ir em meu carro. Os caras da banda iam se encontrar em Vilas e se divertir um pouco, pois não havia shows marcados esse fim de semana e todos permaneceram na Bahia. Usei um vestido um pouco mais leve e saltos tamanho médio. Depois de uma hora dirigindo cheguei ao local que havíamos marcado e ele já me esperava impaciente na frente do bar. Estacionei e desci para encontrá-lo. Mal consegui cumprimentá-lo e já fui bombardeada de
perguntas. – Jel, me conte, conversou com Bruno? Vocês terminaram? – Ei, calma, eu não disse que faria esta tarde? Ele não merece ser enganado e eu tinha que por um fim ao relacionamento. – E ele, como reagiu? Aceitou facilmente o fim do namoro? – Não. Foi difícil como qualquer relação onde as pessoas pretendem ter um futuro juntas, mas ele acabou aceitando. Não havia outra escolha. Zeus me arrastou do chão, me levantamento em um abraço mais que caloroso. Ele não se importava com quem estava olhando. Só queria extravasar sua felicidade. – Querido, não chame tanta atenção para nós ainda. Você sabe que é uma pessoa pública e isso aqui ia virar um inferno se as pessoas te reconhecessem, sem falar que você ainda não terminou seu namoro com Mary. Seria um prato cheio para a imprensa. – Você tem razão. Vou ter mais cuidado. Por enquanto. Fomos para a mesa e cumprimentei os rapazes que lá estavam. Senti falta de Led e Joya estava lá em casa com Maurício. Nada separaria aqueles dois hoje. Rick me apresentou uma garota com quem vi conversando no casamento ontem. Ele estava mais animado do que ficava normalmente. Acho que estava rolando algo ali. – Jéssica, esta é Lana, irmã de Tatiana, a noiva de ontem. – Ah, sei. Muito prazer, Lana. – Falei, estendendo a mão. – O prazer é todo meu. – Me cumprimentou também. Conversamos, bebemos e namoramos à vontade. Rick, de vez em quando, beijava a garota, reversando entre falar baixinho em seu ouvido. Ela sempre corava e percebi que não demoraria muito a se entregar. Já estava completamente na dele. Em algum momento, o celular de Zeus tocou e ele atendeu, pedindo licença para continuar a conversa distante de nós. Eu fiquei desconfiada e, a princípio, pensei que era Mary Monteiro do outro lado da linha, mas quando o vi chamar Rick e Bob, percebi que tinha algo a ver com a banda. Depois de um tempo, eles voltaram e, sentando ao meu lado, Zeus falou: – Linda, infelizmente eu vou precisar sair. Depois eu te explico o que está acontecendo, agora não dá. Fique aqui com Rick e Lana que eu vou com Bob. Não sei a que horas volto, então se não estiver em condições de dirigir de volta para Salvador, vá lá pra casa que o caseiro está autorizado a deixá-la entrar. – Eu não posso ir com vocês?
– Melhor não. Depois você vai entender. Ele saiu, me deixando na mesa com o casal. Eu estava preocupada e não queria ficar esperando por notícias. Parecia que algo sério havia acontecido e minha curiosidade e ansiedade eram grandes demais para que eu ficasse ali plantada. – Rick, vou até o banheiro e já volto, ok? – Tudo bem, Jéssica. Olha, não fique preocupada. Zeus vai conseguir resolver esse problema e voltar para os seus braços. – Eu sei. Seja o que for, ele vai dar um jeito de resolver. Saí, caminhando em direção ao banheiro e quando estava chegando lá, avistei Zeus no celular, discutindo com alguém e completamente furioso. Ele foi em direção ao carro e entrou, tendo Bob como seu carona. Eu saí sem ser percebida e fui até o estacionamento, peguei o meu carro e comecei a seguilos. Eles estavam andando muito depressa, mas fiz o possível para não os perder de vista. Eles entraram em um bairro periférico de Salvador e, um por um instante me arrependi de ter tomado essa decisão, porém já era tarde demais. Ali estava eu intrigada com o que teria levado Zeus e Bob até aquele lugar. Parei o carro um pouco afastado do deles e percebi quando entraram em um local escuro. Desci e continuei os seguindo, rezando para nada acontecesse comigo. Que diabos eu tinha que vir atrás deles? Estava colocando minha vida em risco desnecessariamente, mas sabia que eles também corriam riscos, e por que estariam ali ainda assim? O lugar fedia a esgoto e estava nublado por uma fumaça escura, fazendo com que eu perdesse a visão dos dois em alguns momentos. Vi quando Zeus cumprimentou um cara e parou para conversar um pouco. Ele apontou em uma direção e Bob lhe deu um dinheiro, se afastando em seguida. Passei por esse cara e ele me parou, perguntando o que eu queria. Eu fingi que estava em busca de drogas e que logo depois iria embora dali e ele me deixou seguir viagem. Um homem gordo e velho, com olhar familiar, conversou com Zeus e quando ele disse algo o cara avançou em meu namorado, lhe dando um murro. Bob tentou ajudar, porém outros caras apareceram, o impedindo de reagir. Quando percebi que os seguraram para levá-los para dentro de um barraco, não resisti ficar apenas observando a cena e acabei dando um grito. Todos olharam em minha direção e Zeus arregalou os olhos, sem acreditar que eu estava ali. Caminhei rapidamente em direção a eles e um dos caras me segurou, colocando minhas mãos
para trás. – A deixe ir, filho da puta. Eu estou aqui para resolver. Ela não tem nada a ver com isso. O homem gordo deu um último trago no cigarro e o jogou no chão, pisando e fazendo uma mistura de lama e cinzas em seu pé. Me olhou e abriu um sorriso de dentes podres, dando passos lentos em direção a mim. Parou em minha frente e quando a luminosidade bateu em seu rosto, eu pensei que ia desmaiar. – Olha quem está aqui? A princesinha da mamãe veio me visitar. Como eu estava com saudades. Então você voltou para o namoradinho rico, hein? Acho que hoje é o meu dia de sorte. Vou resolver alguns problemas de uma só vez. – virou para os capangas e sinalizou para mim. – Levemna pra dentro. Eu tenho um assunto pendente com a princesinha. Zeus lutou, Bob também, mas ninguém conseguiu impedi-los de me levar. Naquela noite, todos os meus medos estavam de volta e eu era novamente apenas uma garota inofensiva de dezoito anos que não sabia e não podia se defender.
Capítulo 20
Ele
Música do capítulo: Pedindo perdão - interpretada por Fresno
Que porra Jéssica estava fazendo nesse lugar fétido? E de onde ela conhece o filho da puta do traficante? Eu havia recebido um telefonema de Rick, dizendo que seu dinheiro tinha acabado, que precisava pagar uma dívida de drogas e que o traficante estava o mantendo no local. Há alguns anos, ele está envolvido nesse submundo, porém nunca foi como ultimamente. Eu e os caras da banda andávamos com medo dele não comparecer aos shows e já tivemos que tirá-los de diversas situações arriscadas. Sugerimos que procurasse um centro de recuperação, mas sempre dizia que poderia se controlar e que não era viciado. Esse era o nosso maior problema, porque ele não admitia que estava doente, desse modo não buscava ajuda. A ideia hoje seria livrá-lo de mais uma situação embaraçosa, pagando a dívida e dando um dinheiro extra para que o pessoal ficasse de boca fechada. Todos tinham um preço e até agora havíamos conseguido com sucesso. Hoje seria mais um dia que passaríamos por essa situação ilesos, caso Jéssica não tivesse nos seguido. Agora eu não sabia a que fim chegaríamos. A única coisa que eu sabia era que faria o que estivesse ao meu alcance para que nada de ruim lhe aconteça. O amor da minha vida estava neste momento nas mãos de bandidos e eu estava de mãos atadas. A única carta na manga era o diálogo. Eu tinha que tentar persuadi-los a deixá-la livre e resolver o que fosse apenas entre eu e os caras. Nos levaram e fui jogado em um quarto sujo e escuro, junto com Bob, Rick e Jéssica. Minha cabeça estava a mil tentando armar um plano que pudesse nos tirar dali. Normalmente dinheiro funcionava, mas o cara tinha uma questão pessoal com minha namorada e eu precisava descobrir primeiro antes de agir. – Quanto você quer para nos deixar em paz? Eu tenho dinheiro no carro e juro que nunca mais vocês serão perturbados. Não é a primeira vez que tiramos Rick desta situação e nunca
denunciamos os traficantes. O mesmo acontecerá aqui. O traficante tirou um cigarro do bolso e acendeu, soltando uma fumaça que deixou o ambiente ainda com aspecto pior. Olhou para ela e depois para mim, antes de responder: – Vocês playboys são um bando de filho da puta que acham que podem transitar aonde quiserem que nada vai acontecer, não é? Vocês têm ideia do risco que corro caso deixe vocês livres? – Eu posso te dar minha palavra de que esse endereço será esquecido por nós e que não denunciaremos. Sei que você só está fazendo o seu trabalho e errado está quem veio à sua procura. Se algo acontecer conosco, será pior para vocês porque somos conhecidos e a mídia vai tentar descobrir quem é o responsável. – Respondi. – Pensando por sua ótica, acho que você está certo. Não temos a intenção de chamar a atenção de ninguém. Eu quero dinheiro. E quero mais do que o que esse viciadozinho me deve. Quero dinheiro para que meu pessoal fique de boca fechada, entendeu? – Claro. Entendi perfeitamente. Estamos na mesma página. Vamos começar a transação? Qual deles vai me acompanhar até o carro? Dois caras me conduziram até o lugar que o veículo estava estacionado e peguei todo o dinheiro que tinha lá. Eu só queria acabar com aquele inferno e levar minha garota dali. As coisas estavam caminhando melhor do que eu previa. Voltamos ao barraco e o traficante tomou o dinheiro da minha mão, contando cédula por cédula. Quando terminou a contagem, me olhou e abriu um sorriso nojento, parecendo satisfeito com o valor. – Está tudo certo. Vocês podem ir embora e nunca mais voltem aqui, mas... a princesinha fica. Ela tem uma dívida antiga comigo e dinheiro nenhum no mundo pode pagar. A puta da mãe dela me devia e pagou com sua própria vida. Agora eu vou cobrar os juros com essa putinha. Levem-na para o outro quarto. Eu vou comer essa pequena vadia. Então era ele o assassino da mãe dela? Jéssica só chorava, sem conseguir ter qualquer outra reação. Ela parecia um animal acuado, sem forças, sem conseguir lutar. Se não estivéssemos aqui, ele provavelmente conseguiria fazer o que quisesse e ela não ia reagir. Mas eu não deixaria que isso acontecesse ainda que custasse a minha vida. – Não, você não vai levá-la a lugar algum. Eu não vou permitir. Ela é minha mulher e eu acabo com sua raça se tocar um dedo nela. Ele gargalhou em minha cara, enquanto tragava o seu cigarro. Cuspiu no chão e deu as costas,
desdenhando das minhas palavras. – Você é tão nocivo quanto uma mosca nesse momento. Se falar demais, eu vou fodê-la aqui na sua frente, como eu ia fazer há anos na frente da mãe dela. – Seu... filho da puta! Eu vou te matar. – Gritei, tentando soltar minhas mãos. Ele voltou a sorrir e a dar ordens aos seus jagunços. Eles olharam confusos para o chefe deles e não saíram do lugar, como se não tivessem entendido a ordem dada. – Não estão ouvindo, seus inúteis. Levem essa putinha para o outro quarto. Um deles se pronunciou. – Chefe, o senhor sabe que estamos nessa só por dinheiro. Se quisermos sexo, tem um monte de vadia por aí. Nós não entramos em onda de estupro. A nossa é só o tráfico mesmo. – Vocês estão me contrariando, seus animais? Eu estou mandando levá-la agora. Se não me obedecerem, não terá dinheiro para nenhum para vocês, entendeu? Essa vadia me deve. Levem-na agora, porra. Ele já estava ficando nervoso e eu estava contando com aquilo a nosso favor, pois os capangas estavam começando a se virar contra ele. Outro deles continuou falando. – Olha, até agora aguentamos seus mandos e desmandos porque entrava dinheiro nessa porra aqui, mas estupro, não. Você deveria ser o primeiro a saber que a favela também tem suas próprias regras e a nossa é essa. Se quiser mexer com garotas indefesas, procure outra boca de fumo. Nesta aqui você não vai tocar em ninguém. Ele arregalou os olhos sem acreditar que estava sendo contrariado. Deu dois passos batendo os pés e respondeu aos seus funcionários: – Vocês é que estão fora da minha boca. Nessa porra quem manda sou eu. Sumam daqui que do meu dinheiro vocês não vão ver a cor de mais um real. Saiam, desgraçados. Em vez de obedecer, os caras vieram em nossa direção, desatando as cordas que nos prendiam. Soltou os quatro e mandou que saíssemos, nos dando orientações: – Esqueçam esse caminho e tudo o que aconteceu aqui. Se pegarmos algum de vocês na área ou formos denunciados, cabeças vão rolar. Lembrem-se de que não temos nada a perder. Todos nós assentimos, sem responder mais nada. Ouvi o traficante resmungar e xingá-los. Peguei na mão de Jéssica e apressamos nossos passos para sair dali. Antes de chegarmos ao carro paramos por conta de um estrondo. Ouvi um grito de dor que vinha do chefe deles e ficou claro que ele havia pagado sua audácia com o preço mais caro que existe: sua própria vida. Jéssica chorou como um bebê e eu não sabia se
seu choro era de alívio porque estava livre daquele criminoso ou por ter conseguido sair daquele inferno. Fomos todos para a minha casa em Vilas e Rick já estava lá, morrendo de preocupação porque ela havia sumido. Sentamos todos na sala e puxei minha garota para sentar no meu colo e confortá-la. – Gente, eu reconheço que dessa vez passei dos limites. – Led começou a falar. – Porra, eu não consegui me controlar. Prometo que nunca mais usarei essas merdas. Vocês sabem que eu consigo me controlar, não é? – Led, você não está em condições de conversar hoje. Vá tomar um banho e descansar um pouco. Amanhã a gente conversa. – Bob falou. Ele levantou para fazer exatamente o que foi aconselhado, mas antes se virou para Jéssica e segurou sua mão. – Me desculpe, linda, eu jamais ia imaginar que as coisas iam chegar a esse ponto. Nunca imaginaria que você poderia aparecer naquele lugar. Desta vez vou me cuidar para não colocar a vida das pessoas que amo em risco. Ele subiu as escadas e foi para o quarto, nos deixando reunidos na sala. Jéssica não dizia uma só palavra e eu respeitei o tempo dela, apenas lhe acariciando. – Nós temos que convencer Led a se tratar. A gente pode ameaçá-lo com a banda para pressionar, o que acham? – Rick perguntou. – Pode ser uma saída, porém acho que temos que fazê-lo entender que está doente e que precisa de ajuda. Enquanto ele não reconhecer, nada que fizermos vai adiantar. – Agora foi a vez de Bob. Lana estava calada até agora, mas pediu permissão para dar uma sugestão. Todo conselho que nos dessem agora seria bem-vindo. – Eu acho que vocês deveriam procurar um profissional e pedir a opinião dele. Um psicólogo ou o responsável por esses centros de recuperação poderiam dar uma ideia do que os amigos poderiam fazer para ajudar. – Claro, você tem razão. Eu acho que esse deve ser o nosso próximo passo, pessoal. Tenho certeza que ninguém tem uma fórmula mágica para lidar com um viciado, mas pelo menos eles têm mais experiência que nós e podem nos dar uma luz. Todos concordaram e, cansados, decidimos dar a noite por encerrada. Jéssica dormiu comigo e eu apenas a abracei, dando-lhe o conforto que precisava. No outro
dia, se ela estivesse em condições, eu ia querer saber dessa história melhor. Ela já havia me contado algo sobre sua mãe, mas não entrou em detalhes. Acordei cedo e fui até a sacada do meu quarto cumprimentar a paisagem. Olhei para área da piscina e Led estava lá sozinho, parecendo pensativo. Decidi descer e conversar com ele. Fiz um pouco de barulho proposital e ele olhou para trás, voltando a fixar seu olhar na piscina em seguida. Estava perdido em pensamentos. – Led, como está se sentindo? – Fisicamente estou bem, mas minha cabeça está a mil, cara. Eu só tenho feito merda ultimamente, reconheço, porém ontem... todos nós poderíamos estar mortos agora. Jéssica quase foi vítima de estupro. Eu não me perdoaria se isso tivesse acontecido. – Por que não procura ajuda? A gente tem feito o que pode até o momento, mas você também precisa se ajudar. Será necessário que aconteça algo com um de nós para que você repense sua vida? Eu sou seu amigo, Led, é por isso que estou falando essas coisas. – Você acha mesmo que eu já estou totalmente na merda, Zeus? Permaneci calado, apenas lhe fitando. – Já sei a resposta. Porra! Como eu acabei chegando a esse ponto? Eu não sei como ainda está ao meu lado depois de eu quase ter estragado a sua vida anos atrás. Estou tão feliz que vocês estão juntos novamente. É menos um peso em minha consciência. Jéssica já sabe como tudo aconteceu naquela época? Nesse momento, fomos surpreendidos por uma ela, com uma cara bastante sonolenta, esfregando os olhos, vindo em nossa direção. – Ouvi meu nome? O que eu deveria saber, Led? Ele olhou para mim, fazendo uma pergunta silenciosa e eu assenti, lhe dando permissão para falar. – Sente-se, Jéssica, eu preciso te contar sobre aquela noite que você surpreendeu Zeus com... Lya Jhones. – É muito importante, Led, pois eu não gosto de lembrar daquele dia. – Por favor, me deixe falar, é muito importante sim. Eu estava justamente agora dizendo a Zeus que não sabia como ele ainda estava ao meu lado. Fui eu que fodeu com tudo naquela noite. Eu estava começando a entrar na onda de experimentar drogas e sempre usava entorpecentes com Lya... Ela fechou os olhos e respirou fundo como se estivesse juntando forças para terminar de ouvir a história.
– Eu já tinha usado mais do que o comum antes, durante e depois do show, e ainda queria mais. Estava fissurado na sensação que nunca havia experimentado. Pedi que ela fosse comigo comprar mais drogas, pois a minha havia acabado e só ela sabia onde encontrar. Lya acabou se aproveitando da situação e eu fui um fraco. Jéssica estava inquieta, alternando entre mexer com as mãos, roer unhas, tamborilar os dedos no cimento frio próximo à piscina. Led prosseguiu: – Disse que se eu colocasse drogas na bebida de Zeus, ela conseguiria mais para mim, pois tinha uma quantidade guardada. Com a cabeça feita, eu não pensei duas vezes. Fiz Zeus beber várias doses de uísque batizado até que alcançamos o efeito esperado: ele ficou completamente louco e não dizia coisa com coisa. Lya cumpriu sua promessa, me dando o pagamento que eu tanto precisava e os deixei a sós. Somente no outro dia fiquei sabendo o estrago que fiz. As lágrimas já caiam no rosto de Jéssica a esta altura. Ela mirou Led e balançou a cabeça como se não acreditasse em tudo o que ouvia. – Oh, Led, como você pode fazer isso conosco? Como pode fazer isso com seu amigo? Nós perdemos um bebê naquele dia, eu fiquei tão atônita que não olhei para onde andava. Só pensava em sair dali. Foi quando aconteceu o acidente. – Eu sei, Jéssica, você tem todos os motivos para me odiar. Eu mesmo me odeio por causa disso. O pior é que a lição não foi suficiente. Eu continuei na merda até agora e quase acabo com a vida de vocês novamente. Eu não mereço que me perdoem, sou um desgraçado. – O que é isso, Led? O que você precisa é de ajuda e nós estamos aqui para isso. A descoberta é muito recente para Jéssica e ela ainda precisa digerir tudo isso, mas esse passado um dia será apenas uma poeira distante em nossas lembranças. Eu não esperava o que aconteceu em seguida, mas ela se levantou e puxou Led para um abraço. Não foi um abraço de consolo ou de piedade. Foi um abraço de perdão. Ela estava deliberadamente aberta a perdoar contra todos os motivos que teria para não fazê-lo. Uma vez, ouvi alguém dizer que o perdão era uma questão de decisão. Hoje eu estava vendo a materialização desta frase. Jéssica havia decidido perdoar, e eu estava implorando a tudo o que é mais sagrado que ela me envolvesse nesse pacote. Eu recebi o maior presente da minha vida e a absolvição que a minha alma tanto implorava, quando ela se soltou dos braços de Led e, me olhando com um lindo sorriso no rosto, abriu os braços em um convite silencioso. Como em um filme, todos os nossos momentos juntos encheram a minha mente em câmera lenta e, em poucos passos, eu estava abraçado com a mulher que havia se tornado minha vida, que
havia me seduzido, pela qual eu já estava totalmente rendido. Depois de minutos abraçados, ela me afastou um pouco e, olhando no fundo dos meus olhos, disse as palavras mais doces e inesquecíveis que já ouvi. Meu desejo era de eternizar esse momento. – Eu te perdoo. Eu quero recomeçar uma vida ao seu lado e para que um novo capítulo se inicie, é necessário que o anterior tenha um ponto final. Este é o nosso ponto final, eu quero, eu preciso te perdoar, não só por você, mas por mim também. Não desejo continuar carregando o peso do rancor comigo. Eu perdoo Led, perdoo você e também perdoo Lya. Vamos trancar nosso passado a sete chaves e começar com o pé direito. Eu te amo, Zeus, sempre te amei e sempre te amarei. Eu não resistiria ouvir tais palavras e permanecer ali parado. Eu tinha que levar minha garota para o quarto e mostrar o quanto estava grato por seu enorme coração, por sua decisão de perdoar, enfim, estava grato por tê-la em minha vida. Passamos a manhã nos sentindo, explorando nossos corpos, fazendo amor sensualmente, porém sem pressa, sem preocupações, sem depois. Só havia eu e Jéssica no mundo e a paz que eu sentia de que ninguém poderia nos impedir de ser felizes desta vez. Compartilhamos o resto do dia ao lado de nossos amigos, tomando banho de piscina, bebendo e jogando conversa fora como não fazia há algum tempo. Eu sabia que ainda tinha alguns desafios pela frente, mas se ela estivesse ao meu lado, eu estava disposto a enfrentar todos. Precisava conversar com o irmão dela, tinha que rever meu irmão e minha sobrinha antes de voltar para o Rio e, quando chegasse lá, tinha que procurar Mary para conversar. Depois disso, eu seria um homem livre para viver a minha vida como bem me conviesse e estava disposto a dar um grande passo no futuro. Eu já não tinha mais dúvidas do que eu queria daqui pra frente.
Capítulo 21
Ela
Música do capítulo: Amor pra recomeçar - interpretada por Frejat
– Zeus, me deixe entrar sozinha. Eu preciso conversar com Maurício e explicar tudo o que aconteceu. Será muita informação para ele engolir o que até eu tive dificuldade de entender. Ainda teve a situação que aconteceu ontem e sei que ele vai ficar puto quando souber que estive em risco. Deixe-o esfriar a cabeça e depois vocês conversam. – Está bem, Jel, se você insiste. Eu estava disposto a enfrentar ele ou qualquer pessoa, porém se acha que será melhor assim, vou respeitar. Aguardo sua ligação. – Ok. Me despedi dele, dando-lhe um beijo e entrei em meu prédio para enfrentar a fera. Eu havia contado todos os detalhes que vivenciei com minha mãe e Zeus se sentiu aliviado por não ter que cometer um assassinato, pois ele mataria o criminoso se soubesse de toda história antes. – Mau, está em casa? – Perguntei depois de entrar e achar a casa silenciosa. Da sala, o ouvi gritar: – Estou no quarto, venha aqui. Eu fui e me deparei com ele e Joya assistindo a um filme e tomando sorvete. – Hum... programinha bom, hein? Posso participar da sessão de cinema? – Claro, cunhada. Coloque uma taça de sorvete para você e sente-se conosco. Enchi uma taça com um pouco de sorvete de chocolate e fiquei buscando palavras para iniciar essa conversa. – Mau, é... eu preciso falar com você. – Ah, inferno, quando você começa assim, já sei que lá vem bomba. – De fato, é uma bomba. Estamos livres, querido. Estamos livres daquele pesadelo. O filho da puta que matou a nossa mãe está morto. Ele se levantou com os olhos arregalados e parou diante de mim. – Como... como você ficou sabendo disso?
Contei tudo o que aconteceu ontem a noite, sem lhe poupar dos detalhes. Ele deu um soco na parede que fez com que sua mão manchasse de sangue instantaneamente. – Que porra você tinha que fazer lá, Jéssica? Caralho, só pensa em si mesma? Como eu ficaria se você tivesse morrido? É a única pessoa que posso chamar de família na face da terra, entende? Falou, segurando o meu rosto com as duas mãos. – Eu jamais imaginei que ia acabar naquela situação, mas o fato é que ele está morto, meu irmão. O nosso pesadelo acabou. – Em que outra situação Zeus vai colocá-la daqui pra frente? Sua vida estava indo tão bem com Bruno. Não entendo porque tinha que voltar para aquele assassino. – Isso é outro assunto que preciso falar com você. Me doeu reviver aquela noite fatídica mais uma vez, acontece que eu precisava ouvir a versão de Zeus. Até o pior dos criminosos tem direito à defesa, não? Eu peguei uma conversa dele com Led e pedi para que me explicassem direito. O baixista da banda havia colocado droga na bebida de Zeus a pedido de Lya que estava o chantageando com os entorpecentes. Foi isso. Ele não estava em sã consciência quando aconteceu toda aquela merda. Ele não tinha ideia do que estava fazendo, pois estava completamente drogado. Joya tapou a boca com a mão, parecendo assustada com a informação. – Foi por isso que eles ficaram sem se falar por um tempo. Eu lembro que houve um estranhamento entre os dois e até rumores de que a banda mudaria de baixista saiu na mídia, mas eles acabaram se acertando depois e tudo ficou bem. – Droga, por que ele não tentou te explicar isso ao longo desse tempo? – Ele tentou, mas eu bloqueei todas as suas tentativas de aproximação. Eu não queria lhe dar o direito de se explicar porque não queria me abrir para o perdão. Eu queria cultivar o rancor de ter perdido o meu filho, eu precisava de um culpado. Graças aos céus, hoje já não penso mais assim. Estou mais madura e disposta a recomeçar. Mau passou as mãos pelos cabelos e ficou andando de um lado para o outro. – Deus, isso tudo parece tão louco. É muita informação de uma só vez. Eu preciso tomar uma dose de uísque. Foi até o bar da sala e colocou uma dose pura, entornando em um só gole. Nós o acompanhamos até lá, em silêncio, esperando que ele desse o próximo passo. – Ele já terminou o namoro com a tal atriz, Jéssica? – Não teve chance ainda, mas me garantiu que seria a primeira coisa que fará quando
voltarmos para o Rio. – Certo. Então quando a situação estiver legalizada e puder te assumir como namorada, eu não vou me opor a conviver um pouco mais com ele como cunhado. Ah, Deus, existe irmão melhor que o meu? Pulei no colo de Mau, quase o derrubando e ele me agarrou, rindo da minha reação, enlaçando o meu corpo em um abraço quase sufocante. Enchi seu rosto de beijos e senti o braço macio de minha cunhada também nos abraçando e comemorando conosco. Éramos uma família. Eu, Maurício, Joya e, agora, Zeus. Voltamos para o quarto e continuamos assistindo ao filme. Mau de um lado, Joya do outro e eu no meio. Sim, fiquei no meio, pois não os deixaria namorar enquanto eu estivesse ali, não é mesmo? Mandei uma mensagem para o homem da minha vida, informando que estava tudo bem, e ele mandou outra, dizendo que teríamos um jantar na casa de seu irmão esta noite. Depois do filme, fui me arrumar, vestindo uma roupa mais discreta, só que valorizava meus atributos naturais. Zeus me pegou na frente do condomínio às oito e fomos em direção a um bairro um pouco distante do meu. – Você já tinha me falado do seu irmão. Me disse que ele pretendia adotar uma criança junto com seu marido. Eles conseguiram? – Eu ainda não te falei da minha sobrinha? Você vai adorar Sofia. Ela está com quatro anos e tinha quase três quando eles adotaram. Ela é a alegria da família. Passei a tarde inteira comprando uma loja de brinquedos para ela que estão na mala do carro. Quero aproveitar muito esta noite com a minha princesinha. Eu sorri em ver tanto amor ofertado a uma criança que não tinha qualquer elo sanguíneo com ele, mas que tem um elo maior que é o do coração. Reconheço que senti uma ponta de inveja, pois adoção sempre esteve nos meus planos futuros e imaginei como Zeus seria como pai. Nós poderíamos estar com um bebê de um ano agora e Sofia teria um priminho para brincar. Chega, Jéssica, aproveite esse dia e deixe o passado no passado. Chegamos a uma casa linda, de porte médio, com um jardim bem cuidado na porta. Já na entrada, percebi que era o lar de uma família feliz. Aquele lugar cheirava a amor. Logo fomos recepcionados pelo irmão de Zeus e seu marido, Felipe. – Finalmente conheço a famosa Jéssica. É realmente linda como já ouvi falar. – O irmão dele
disse, me puxando para um abraço. Ele era um pouco parecido com Zeus. Tinha olhos azuis como os dele, apenas era um pouco mais baixo. – Obrigada, Mateus. Também ouvi falar muito sobre você. Onde está sua filha? Gostaria muito de conhecê-la. Um movimento me chamou atenção e uma linda criança de cabelos trançados vinha correndo em nossa direção. – Titio, titio, você está aqui? Eu tava com taaaaanta saudades! Zeus a pegou no colo e lhe falou: – Titio também estava morreeeendo de saudades de minha Sof. Você não sabe o que eu trouxe: um montão de brinquedos para você. – Eu quero, tio, vá buscar, eu quero. Mateus balançou a cabeça, sorrindo. – Zeus estraga essa menina. Toda vez que vem aqui eu fico sem saber onde colocar tantos brinquedos. Ela pergunta por esse tio todo santo dia e eu sempre tenho que colocá-la ao telefone para falar com ele. – Se amam tanto que às vezes até fico com ciúmes. – Felipe falou. Eu sorri, adorando conhecer esse lado paternal de Zeus. Sofia entrou carregando uma enorme caixa de brinquedos com a ajuda do tio e todos sentamos um pouco no tapete da sala para ajudá-la a abrir cada embalagem. A cada brinquedo, era uma festa. Fiquei observando extasiada com o quanto uma criança alegrava uma casa e o quanto era inocente. Bastava um brinquedo para que se sentisse feliz. Nós, adultos, é que complicamos a vida demais. Jantamos e conversamos trivialidades. Zeus foi para o quarto com Sofia e fiquei conversando com o casal na sala depois do jantar. – E então, Mateus, como foi o processo de adoção? – Eu posso te garantir que não foi nada fácil, Jéssica. Ficamos anos aguardando em uma fila de espera, devido a burocracia do governo, os assistentes sociais nos visitavam com frequência para ter certeza de que tínhamos uma relação estável e que tínhamos condições de proporcionar um lar saudável a uma criança. Até que conseguíssemos trazer Sof para casa, lutamos por mais de dois anos. – Ela é linda, parabéns. Uma criança é sempre um grande presente, não é? – Sim, nos apaixonamos por Sofia assim que a vimos. Sabe, ela estava fora da estatística de
crianças mais procuradas para adoção, por ser negra e já ter dois anos de idade. A maioria dos casais procuravam bebês brancos, mas Sof não nos deu qualquer chance. Posso dizer que ela nos adotou antes de nós. Seus lindos olhos transmitiram um amor tão grande que não tivemos dúvidas de que já havíamos encontrado a nossa filhinha. Lágrimas vieram aos meus olhos. O sentimento que havia naquela casa uns pelos outros era contagiante. Eles eram uma família linda. – Desculpem pelas lágrimas. Estou emocionada em ouvi-los falar. Eu não sei por que há tanta burocracia com casais que têm tanto amor pra dar como vocês. Eu confesso que tenho planos de adotar uma criança no futuro também. Eu só preciso ter um pouco mais de estabilidade financeira primeiro. – Tenho certeza de que será uma grande mãe, Jéssica, e de que meu irmão será o pai mais bobo já visto na face da terra. Todos rimos e Zeus entrou na sala, ouvindo a última frase. – Me tornar pai? É uma ideia que já não descarto hoje em dia. Vamos fazer um bebê, querida? Joguei uma almofada nele e todos ficamos nesse clima descontraído até irmos embora. – Jéssica, volte sempre que quiser à nossa casa. Será sempre bem-vinda. – Felipe falou. – Obrigada. Agora sou mais uma fã de Sofia, qualquer dia apareço. Depois de muita discussão, Zeus acabou concordando em me deixar em casa para arrumar minha mala. Eu queria passar mais uma noite com Maurício, pois no outro dia, voltaríamos para o Rio eu estava com saudades da minha cama. – Boa noite, lindo. – Falei, me despedindo dele por hoje. Ele me puxou de volta e tomou meus lábios em um beijo cheio de saudades e promessas. Depois de deixar minha boca inchada com seu delicioso rompante, abriu a porta para que eu saísse do carro. – Só hoje, linda. Apenas hoje você vai dormir fora da minha cama. A partir de amanhã eu a quero lá todas as noites e isso é inegociável. Sonhe comigo. Saiu, acelerando o carro, me deixando parada na calçada perdida em pensamentos. Sim, Zeus, eu estarei sempre em sua cama e em seu coração. Não há outros lugares no mundo onde eu mais queira estar. ****************************
– Jess, você pode levar esses desenhos para Zeus no escritório? Eu dependo da aprovação dele para preparar outras peças para a turnê. Já está em cima da hora e ainda temos muito serviço. – Claro, vou levar lá agora. – dei uma olhada nos desenhos e simplesmente me apaixonei. – Nossa, estão lindos, Alicia. Tenho certeza de que todos serão aprovados. – Espero que você esteja certa. Nos pouparia o trabalho de ter que fazer outros. Caminhei para o escritório, assoviando uma música da No Return. Cheguei à porta e ouvi vozes. Bati, mas ninguém atendeu, então resolvi entrar. Mary Monteiro estava lá dentro com cara de poucos amigos e os olhos vermelhos de tanto chorar. Quando ela me viu, apontou um dedo para mim, vindo furiosamente em minha direção. – Você, a culpa disso tudo é sua. Ninguém precisou me contar, eu vi como se olhavam das vezes que os peguei juntos. Zeus me trata diferente desde o momento que chegou na produtora e minha curiosidade foi tanta que pesquisei sobre você. Ele a chama de Katherine o tempo todo, mas você é a garota que o inspirou a cantar a música Jéssica, não é? Filha da puta! Eu espero que ele faça com você o mesmo que está fazendo comigo. Saiu batendo os pés, me deixando atônita com sua reação. Eu acho que acabei saindo no lucro porque ela não deu uma de louca varrida e me atacou. Ao menos isso. – Porra, eu acho que não tinha hora pior para você entrar aqui. Acabou presenciando esse espetáculo. – A reação dela até que foi civilizada. É difícil terminar um relacionamento que parecia estar caminhando bem. Ainda mais quando se desconfia que havia traição envolvida. Eu a entendo perfeitamente. – Não a culpo também. Vem cá, Jéssica. – disse, me puxando para perto. – Você tem ideia do que acabou de presenciar? Não temos mais impedimento algum. Somos duas pessoas livres para viver o nosso amor. – Verdade. Eu não tenho compromisso nenhum no momento. Sou uma mulher completamente solteira. – Falei sarcasticamente. – De jeito nenhum! – respondeu sorrindo e, em seguida, se ajoelhou. – Jéssica Katherine Rios você quer ser minha namorada? Ri do seu gesto e fingi que estava pensativa, com o dedo indicador no queixo. – Deixa eu pensar... quais são as vantagens e desvantagens de me tornar sua namorada, Sr.
Melino? Ele levantou e me puxou forte, para falar bem de pertinho. – As desvantagens? Bem, Você teria um dia bastante cansativo, pois além de trabalhar com o figurino, teria que fazer hora extra em minha cama e, às vezes, aqui no escritório. Você se tornaria bastante conhecida e a mídia não te deixaria em paz, teria um namorado muito ciumento que te ligaria toda hora e teria que juntar toda paciência do mundo para lidar com as fãs que gostariam de estar em seu lugar. Dei um tapa em seu braço. – Convencido! – Agora vamos às vantagens. Você teria um namorado carinhoso e com muito amor pra dar. Suas noites seriam muito divertidas, porque ele ia te dar muito prazer e te mostrar muita coisa que ainda não conhece. Ele faria de tudo para ajudá-la a ser reconhecida por seu talento profissional e você teria mais que um simples namorado. Teria um amigo para conversar, rir e chorar juntos. E aí? Fui convincente? – Bem... Avaliando os prós e contras... É, acho que não seria tão ruim me tornar sua namorada. Sim, Zeus Melino, eu aceito o desafio. – Falei com ares profissionais. Ele riu muito e me arrastou para a borda da mesa, enchendo o meu rosto de beijos, parando apenas para tomar a minha boca em um beijo ardente. – Você é como uma droga circulando em minhas veias, Jéssica. Nunca tenho o suficiente de você. Zeus passou a mão em meus cabelos e permaneceu reclamando os meus lábios, acabando com qualquer resistência e raciocínio coerente que minha mente pudesse ter. Eu estava escravizada por aquela força que me dominava, que suscitava em mim o desejo de ser dele o tempo todo. Meu coração falhou uma batida quando suas mãos alcançaram meios seios e passaram a brincar ali, levando flashes de desejo diretamente ao meu clitóris. Meu corpo já arqueava pedindo a sua doce invasão e a sua lentidão parecia tortura. A paixão com que me tocava era quase primitiva e ondas de calor revestiam o centro do meu prazer. Zeus era o homem que eu amava e tudo o que eu mais queria era senti-lo dentro de mim. Ele tirou sua camisa e o afastei para admirar seu torso definido como o pecado. Eu nem conseguia acreditar que aquele homem era só meu agora. Ele afastou alguns papéis do centro da mesa
e me deitou sobre ela, cobrindo o meu corpo com o seu. Rapidamente, puxou minha blusa e minha calça e se inclinou para tomar um seio, depois outro em sua boca. Enquanto me chupava, suas mãos passeavam por dentro de minhas pernas, abrindo-as ainda mais, chegando a alcançar a minha úmida boceta. Seus dedos hábeis começaram sua exploração, liberando ondas de prazer pelo meu corpo, me levando a arquejar, pedindo mais e mais. Só Zeus conseguia me deixar febril de modo que implorasse para ser possuída. Percebi quando suas mãos deixaram o meu corpo para alcançar o zíper de sua calça, levandoa ao chão. Eu não resisti apenas olhar aquele pau lindo, cheio de veias me convidando e tive que provar um pouco dele. Me abaixei e chupei com todo gosto, sentindo um gosto salgado misturado ao perfume natural que sua pele exalava. Enchi minha boca com aquele membro grande, em uma doce tortura de vai e vem, que só aumentava a minha libido ainda mais. Zeus não suportou muito tempo e me colocou de pé, em seguida levantou minha bunda para que seu pau se posicionasse em minha boceta molhada e ansiosa. Penetrou pouco a pouco, me levando a arder em necessidade e quando já me possuía por completo, passou a aumentar o ritmo, movido pela urgência de saciar sua fome. Agarrou os meus quadris para que as estocadas se aprofundassem e depois de algum tempo, meu corpo começou a reagir, se contraindo, fechando minhas paredes internas ao redor dele. Sabia que não conseguiria me segurar mais e enfincando minhas unhas nas costas dele, gritei seu nome quando fui tomada por um gozo fenomenal, fazendo com que todo o meu corpo convulsionasse. Transformando dor em prazer, Zeus investiu uma e outra vez até o fundo da minha boceta. Em pouco tempo, senti que seu corpo estava tenso, o levando a perder todo o controle, então deu apenas mais uma estocada e tremeu, derramando todo o seu leite dentro de mim. Levamos um tempo tentando acalmar a respiração e as batidas aceleradas dos nossos corações. – Você está bem, linda? Ainda sem fôlego, respondi: – melhor do que bem. Estou... ótima. – Que bom. Vamos tomar uma ducha e voltarmos ao trabalho. Se preferir uma segunda
rodada... – Por enquanto uma ducha está perfeita, insaciável. Ele sorriu. Sexta-feira chegou, e com ela, uma agenda de shows lotada. Hoje estaríamos aqui mesmo no Rio, mas amanhã e depois os shows seriam em São Paulo. Estávamos todos nos bastidores do Olimpo e a banda de abertura estava terminando sua apresentação. A próxima seria a No Return e Zeus já estava começando a se preparar para entrar no palco. Bob estava bebendo e já escolhendo com que mulher transaria esta noite. Várias estavam dispostas a diverti-lo. Rick e Joya estavam comigo bebendo uma cerveja e Zeus estava no camarim, terminando de se arrumar. Led? Não sei onde ele estava. Talvez estivesse em um desses camarins, também. A banda Asas do Rock estava deixando o palco neste exato momento e já era hora dos rapazes e de Joya começarem a se posicionar. O roadie começou a cronometrar o tempo deles assumirem o palco e todos começaram a se movimentar para pegar seus instrumentos. Meu namorado chegou lindo como o pecado em uma calça azul desgastada e um colete de napa aberto que eu mesma tinha desenhado e escolhido. Estava simplesmente lindo e minha vontade era de levá-lo de volta para o camarim e fazer amor alucinadamente. – Eu já conheço esse olhar. Agora não, querida, eu tenho um público me esperando. Mais tarde... – Não vejo a hora desse ‘mais tarde’ chegar. – Disse depositando um beijo rápido em sua boca. – Todos já estão posicionados? – Zeus perguntou ao roadie. – Quase todos. Eu não vi Led caminhando para o palco. Deixe-me conferir. – Ele respondeu. Ele foi e logo voltou todo esbaforido, com os olhos arregalados. – Zeus, cara, Led não está no palco. O público já está gritando pela banda e querem você lá. O apresentador vai te chamar daqui a dois minutos. Onde Led se enfiou? – Porra! Eu vou mata-lo se não chegar a tempo. Ele já está passando dos limites, eu vou procurá-lo.
– Não demore, você precisa estar no palco em pouco tempo. Ele saiu apressado e o roadie foi para o lado oposto para aumentar o território de busca. Eu fiquei parada sem saber o que fazer e decidi me aproximar do palco, para verificar a comoção da plateia. Os fãs agora já tinham percebido que Led não estava posicionado e começaram a chamar por seu nome. Acho que alguém esqueceu de avisar ao apresentador que deveria esperar um pouco para anunciar a banda, pois foi exatamente o que ele fez naquele momento. Eu comecei a ficar nervosa, olhando para trás a fim de encontrar algum sinal de Zeus e Led. Nenhum dos dois apareceu. O apresentador chamou mais uma vez e o público já estava em tempo de derrubar a casa de show. Eu tinha que fazer alguma coisa. Não sei de onde tirei essa coragem. Só sei que de repente me peguei no palco com um microfone na mão e centenas de olhos parados esperando alguma reação minha. Botei pra fora a atriz que nem eu sabia que morava dentro de mim. – Uhuuuuuu! Quanta gente linda! Quem quer assistir ao show da No Return faz barulho! – A plateia foi à loucura e isso me empolgou. Continuei. – Daqui a pouco o gostosão do Zeus estará aqui no palco, meninas. Nossa, sinto até calor quando vejo aquele cara. Percebi que o público estava rindo e isso me deu uma ideia. Olhei para a banda atrás de mim e eles pareciam não entender o que estava acontecendo. – Vocês gostam de piada? Vou contar uma muito engraçada. A mulher pergunta para o marido: “Querido, o que você prefere? Uma mulher bonita ou uma mulher inteligente?” O marido respondeu sem nem olhar para ela: “Nem uma, nem outra, querida. Você sabe que eu só gosto de você”. Observei todos aqueles olhos atenciosos me mirando e senti vontade de sair correndo daquele palco. Quando minhas pernas tentavam ganhar movimento, ouvi algumas palmas que começaram lentamente, tomando proporção e quando percebi, toda a plateia estava me aplaudindo e pedindo bis. Porra, tinha dado certo. Eles tinham gostado.
– Fico feliz que gostaram. Vou contar mais uma, então. Novamente fizeram silêncio para me ouvir contar e neste momento me senti em um Stand up, já me movimentando de um lado para o outro, dominando o palco como se todos estivessem ali para assistir ao meu show. – Essa é boa. Coitadinha da mulher, imaginem. Dois amigos conversam sobre as maravilhas do Oriente. Um deles diz: “quando completei 25 anos de casado, levei minha mulher para o Japão”. Então o amigo ficou admirado e perguntou: “não diga. E o que pensa fazer quando completarem 50 anos de casados?” O homem respondeu: “volto lá para buscá-la”. A gargalhada foi geral. Todos estavam rindo, inclusive o pessoal da banda. Quando olhei para trás, vi Led correndo para o palco e pegando seu baixo. Ufa! Tudo foi resolvido a tempo. Olhei para o roadie e ele me deu um Ok para anunciar o início do show. – Bem, galera, eu estava adorando passar um tempo com vocês, mas com certeza não vieram aqui para me ouvir contar piadas. Tenho a honra de chamar ao palco, Zeus Melino e a banda No Return! Saí correndo do palco e encontrei Zeus ainda nos bastidores. Ele me deu um beijo rápido e agradeceu, se apressando para saudar seu público ansioso. Eu estava suada, mas com a sensação de que fiz a minha parte. Estava muito feliz por ter ajudado a banda de alguma forma. O show foi perfeito como todos que eles faziam e aproveitei para curtir a festa como uma fã apaixonada que era. Quando terminou, todos vieram falar comigo e me agradecer por ter a coragem de dar a cara para bater. Led, envergonhado, mais uma vez me pediu desculpas e finalmente disse o que todos da banda queriam tanto ouvir: que ia procurar ajuda de um profissional. Estávamos indo para casa, quando o celular de Zeus tocou: – Ben, o que foi? Por que está me ligando agora? Ele respondeu algo que fez com que meu namorado abrisse o seu melhor sorriso derretedor de calcinhas. – Nasceu? Sério? Está em que hospital? Estamos indo pra lá agora. Desligou o telefone e me deu um forte abraço. – O bebê de Ben e Clara acabou de nascer. Vamos até lá.
É, parece que as emoções do dia não acabariam por aqui.
Capítulo 22
Ele
Música do capítulo: It will rain - interpretada por Bruno Mars
– Ela é simplesmente linda, Clara. Como vai se chamar? Ouvi Jéssica perguntar à minha amiga, carregando o pequeno presente dela no colo. – Eu e Ben escolhemos Lauren Luiza. O último nome é em homenagem à minha afilhada. – Bonito nome. Lauren, você é tão linda. Seja bem-vinda a esse mundo, pequena princesa. Jéssica estava babando pelo bebê e eu estava babando em vê-la com espírito tão maternal. Era inevitável. Eu tinha certeza que, assim como eu, ela estava pensando como poderia ter sido caso tivéssemos nosso filho. Eu queria ter outro com ela. Vê-la segurar Lauren em seu colo fazia surgir em mim um desejo intenso de ser pai. Ainda tínhamos que ter paciência, pois tudo estava muito recente entre nós, porém seria um assunto que eu não deixaria passar no futuro. Uma princesa com o rostinho de Jéssica ou um príncipe parecido comigo. Eu nunca estive tão determinado a ter minha própria família como agora. – Parabéns, Benito. Sua filha é perfeita. Ela tem muita sorte de parecer com a mãe, pois se parecesse com o pai... – Brinquei, deixando a última parte da frase para interpretações. – Você é o primeiro a dizer isso. Todos dizem que ela é a cara do papai aqui, não é minha pequena rainha? Só um bebê para transformar um cara durão em uma criança. O cara sério e cheio de responsabilidades se tornou um molenga diante de sua filha. Eu tenho certeza que Lauren vai fazê-lo de gato e sapato. Sorri com a imagem mental que construí. – E vocês, quando terão um bebê? – Clara perguntou. – Não temos planos para isso agora. Eu ainda tenho sonhos a realizar e só quero ter filhos quando tiver o meu próprio ateliê. Uma coisa de cada vez. – Mas Zeus não comprou o ateliê para...
– Clara! – a repreendi. – Depois nós continuamos essa conversa de trabalho. Agora o foco é a pequena Lauren. – Ah, está certo, entendi. – Ela respondeu aos risos. – Do que vocês estão rindo? O que você entendeu que eu não entendi, Clara? – Jéssica estava confusa. – Apenas que Zeus vai esperar a realização dos seus sonhos para começarem uma família. Eu não esperava menos dele. – Cara, eu amo ser casado e já amo minha pequena. Tenho certeza de que vai adorar dormir e acordar ao lado da mulher de sua vida e ter certeza todos os dias que ela é sua. – Benito se derreteu. – Porra, desse jeito você até me convence. Quando se tornou um poeta? Acho que vou passar a missão de compor músicas para você. – Não xingue na frente da minha filha. Todos riram no quarto e o clima daquele lugar cheirava a amor e felicidade. Eu estava feliz, meu amigo estava feliz e tudo estava certo no mundo. Nada poderia estragar a nossa paz. Ben nos acompanhou até a porta do quarto de hospital e comentou sobre algo que eu ainda não tinha me atentado. – Você sabe que Jéssica está em todos os jornais do Rio, não? A crítica adorou a participação dela e o meu telefone não para de tocar. Vários programas querem entrevistá-la e já teve até convite de um programa de Stand up. – Não foi nada demais e gostei muito da participação do público. – Jéssica disse. – Pelo visto, não sou o único famoso aqui. Ela salvou o show, Ben, e por falar nisso, temos que tomar uma decisão em relação a Led. Ele quase nos deixou na mão ontem. – Vou conversar com ele pessoalmente. Depois de nos despedir, saímos para dar acesso a outros amigos que queriam conhecer a pequena Lauren. Fomos para casa descansar, pois passamos a noite no hospital. Meu corpo só pedia cama. Dormimos durante todo o dia e no final da tarde, partimos para São Pulo, pois o nosso próximo show seria lá. Semanas se passaram e o meu namoro com Jéssica só se intensificava. Ela dormia em meu apartamento e, às vezes, eu dormia no dela. Não ficávamos sequer uma noite separados. Compus novas músicas e escolhi outras para regravar de compositores renomados. Minha namorada era minha inspiração e nunca tinha criado canções tão lindas quanto agora. Todos da banda
estavam animados e diziam que seriam sucessos. Nesta manhã, tínhamos um compromisso em uma agência de publicidade. Eu ia gravar um comercial e Jéssica seria minha figurinista. Não abri mão de incluí-la no contrato. Chegamos ao local, fomos muito bem recepcionados e pediram para que eu aguardasse no camarim, pois o proprietário da agência fez questão de me receber pessoalmente. Eu e Jéssica aguardamos, batendo papo de forma descontraída. – O Sr. Vasconcelos pediu cinco minutos da paciência de vocês. Ele logo irá recebê-los. – A secretária dele falou. – Peça para que não se atrase. Tenho o dia cheio hoje. – Respondi. Em menos de cinco minutos, nos chamaram para o estúdio onde seria a gravação. Eu ia fazer um comercial em solidariedade às crianças com câncer que teria a presença de outras celebridades também. Fui direcionado a um closet para trocar de roupas e me preparar para a gravação, enquanto o tal publicitário não chegava para falar comigo. Por mim, faria meu trabalho ali e iria embora sem precisar falar com qualquer pessoa que se achasse o dono do mundo, mas os executivos sempre faziam questão de vir falar comigo, talvez na intenção de dar um tratamento diferenciado. Tirei algumas fotos, escolhi as melhores e me preparei para as filmagens. Antes de iniciar, um homem alto, de boa aparência, veio em minha direção com a mão estendida para me cumprimentar. – Zeus Melino, é um prazer conhecê-lo. Eu sou Gabriel Vasconcelos, publicitário e dono desta agência. Já providenciei para que tenha o melhor tratamento possível e gostaria de te desejar as boas vindas. – Obrigado. Seus funcionários são muito competentes e já estão agilizando tudo. – Fico feliz em saber. Estarei observando as gravações, caso não se incomode. – Não, sem problemas. Fique à vontade. Ele virou para caminhar em busca de um assento, quando percebi que parou. Ficou imóvel diante de minha namorada como se tivesse visto um fantasma. – Jéssica? – Ele perguntou. De onde ele a conhecia? E por que ela ficou branca como um papel? – Oi... oi, Gabriel. Há quanto tempo, hein? Como vai? Ah, droga, eles realmente se conheciam e não era de hoje.
– Você... é a figurinista de Zeus Melino? Que coincidência! Eu sou o dono da agência. Faz pouco tempo que transferi a empresa para o Rio, pois o campo era maior. Estou aqui há menos de um ano. – Ah, interessante. – Jéssica parecia tensa e nervosa. Seus olhos não encontravam os meus, mas eu não deixava de fita-la. Queria ler suas reações. – Eu tive tanta vontade de te procurar. Senti tantas saudades. Nunca consegui esquecê-la e, por um tempo esperei que me perdoasse, porém quando vi que isso não ia acontecer, acabei desistindo. Será que esse cara... esse cara já teve alguma coisa com ela? Que porra era aquela que estava acontecendo debaixo do meu nariz? – Acho que não é o momento de ficar relembrando o passado, Gabriel. Ele aproveitou a deixa. – Poderíamos sair mais tarde, então? Que horas sai do trabalho? Eu gostaria muito de conversar com você, Jess. Não! Aquilo já era demais para a minha cabeça. Dei passos largos em direção a eles e parei ao lado dela, dando-lhe um abraço. – Gabriel, estou vendo que conheceu minha namorada. Olha como sou um cara sortudo: além de namorada, é minha figurinista, então estamos juntos o tempo todo. Queria falar com ela? Não me diga que vai querer roubar a melhor profissional da minha produtora. – Na-namorada? Você namora Zeus Melino, Jéssica? – ele parecia bastante surpreso e ela respondeu apenas balançando a cabeça. – Ela é só uma amiga que reencontrei, Zeus, não precisa ter medo de perder sua funcionária. Eu não ia lhe fazer uma oferta de emprego. – Ótimo, melhor assim porque não tenho nenhuma intenção de perdê-la. – Falei em uma conotação de sentido duplo. Espero que ele seja bom entendedor. – Claro, você está certo. Seria um idiota se a deixasse escapar de suas mãos. Foi um prazer revê-la, Jéssica. Pronto! Aquelas palavras foram toda a confirmação que eu precisava de que eles já tiveram um lance no passado. Ela teria que me explicar essa história mais tarde. Ele saiu do estúdio e nem ficou para ver a gravação. Talvez o choque de reencontrá-la tenha sido muito grande. Mais tarde fomos almoçar e até o momento eu não tinha tocado no assunto do tal Gabriel. Ela estava pensativa, provavelmente esperando que a enchesse de perguntas. Foi o que fiz em seguida.
– De onde conhece esse cara? – Estava demorando para você começar a me colocar contra a parede. Eu apenas o conheço de Salvador. – Apenas o conhece? Ele pareceu ter muita intimidade com você. Já tiveram algum lance no passado. – Olha, vou te responder apenas para que essa conversa morra aqui. Eu não saio te perguntando sobre todas as garotas com quem se relacionou. Sim, Zeus, Gabriel foi o meu primeiro namorado, o cara que me traiu e que me fez desacreditar no amor. Pronto, satisfeito? – Aquele filho da puta foi o cara que a tornou uma mulher fria, que não queria saber de relacionamentos? Ele é muito cara de pau de ainda falar com você. – Também acho, mas ele não foi o único responsável pela pessoa que eu era. Foi uma série de acontecimentos que endureceram o meu coração, como a morte da minha mãe, por exemplo. – Ele a quer, Jéssica. Eu vi em seus olhos. Ele a quer. – Impressão sua, Zeus, só foi o susto de me rever depois de muitos anos. – Caso ele a procure, você precisa me dizer imediatamente. Você é minha, entendeu? Quero que mantenha distância dele. – Eu não preciso de você para lutar as minhas batalhas. Gabriel percebeu que estou comprometida e não vai me procurar novamente. – Ah, se ele tiver amor aos dentes, com certeza não vai. E eu me certificaria disso. Eu iria procurá-lo para ter uma conversa particular. Dias se passaram e nada havia quebrado a nossa deliciosa rotina. Eu fazia shows, ia para a produtora e dormia com minha namorada. Tudo estava na mais perfeita ordem. Apenas uma coisa me incomodava: o tal ex-namorado de Jéssica. Eu estava com o dia livre hoje e tinha decidido procurá-lo. Marquei uma hora com sua secretária e agora eu estava aqui para falar com ele. Precisava deixar tudo às claras. – Pode entrar. O Sr. Vasconcelos irá recebê-lo. Entrei em seu escritório imponente, onde havia diversos cartazes de propagandas nacionalmente conhecidas e alguns quadros com premiações pendurados na parede. Ele observou o meu escrutínio e abriu um sorriso irônico, estendendo sua mão para me cumprimentar. – Zeus Melino. A que devo a honra?
– Precisava falar com você. – Então sente-se, por favor. – Não. Estou muito bem de pé. A conversa não vai demorar. Vim apenas te perguntar por que convidou Jéssica para sair naquele dia? O que estava planejando? Ele sorriu, tentando demonstrar que não estava com medo de mim e me respondeu à queimaroupa. – Eu não sei se Jéssica te contou que já tivemos uma história juntos. Uma história muito bonita, por sinal, até eu fazer merda. Fui o primeiro homem dela, Zeus, e antes de terminarmos, eu havia prometido que não desistiria dela. Quando a vi aqui, mais linda do que nunca, não resisti, a queria de volta naquele momento. Deis dois passos em direção a ele e agarrei a gola de sua camisa. – Você ao menos perguntou o que ela queria? Como tem coragem de dizer essas coisas na minha cara, filho da puta? – Você não sabe nada sobre Jéssica. O que sentíamos um pelo outro era maior do que qualquer namorico que ela venha a ter. Jess nunca vai amar alguém como me amou. Como ele podia medir o sentimento que ela tinha por mim depois de anos sem se verem? Agi impulsivamente e acabei dando um murro em sua boca. Esperei que revidasse, mas ele não saiu do lugar. Limpou sua boca suja de sangue e, novamente, sorriu para mim. Eu tinha que sair dali ou acabaria matando esse desgraçado. – Seu amor por ela era tão grande que a traiu na primeira oportunidade. – Falei, já caminhando em direção à porta. – Eu não vou desistir dela, Zeus, eu a quero em minha vida novamente e vou lutar para isso. Me virei para mirar dentro dos seus olhos, antes de dizer: – Isso é o que veremos. – Saí, rezando para que ele não atravessasse o meu caminho novamente ou eu não sabia do que seria capaz. À noite, eu tinha marcado com minha namorada para jantarmos fora. Cheguei ao seu apartamento e ela estava lindíssima. Eu achava incrível como o meu corpo reagia todas as vezes que a encontrava como se fosse a primeira vez. Acho que nunca me acostumaria a admirar tamanha beleza. Tentei persuadi-la a ficar e fazermos amor, mas ela disse que estava com fome e que me queria sem pressa, calma e lentamente. Com um argumento desses, quem não cederia? Entramos no elevador e apertei o botão para o estacionamento. Aproveitei que estávamos
sozinhos e comecei a provocá-la, enchendo seu pescoço de beijos, passeando minhas mãos por seu corpo. Quando já estávamos próximos do nosso destino, o elevador parou em outro andar. Minhas mãos abandonaram seu passeio e mantive apenas uma, agarrada à sua cintura. As portas do elevador se abriram e não havia ninguém o aguardando. Já estava fechando quando uma pessoa gritou, pedindo para que segurasse. Coloquei minha mão entre as portas, fazendo com que se abrisse novamente. O cara entrou no elevador e agradeceu. Eu olhei para o seu rosto e não consegui acreditar no que meus olhos estavam vendo. O homem que havia entrado era o tal de Gabriel, ex-namorado de Jéssica. Ah, inferno, o mundo só poderia estar de sacanagem comigo. Não era possível encontrar aquele cafajeste duas vezes em um só dia. – Que diabos você está fazendo aqui? – Perguntei com sangue no olho. – Eu poderia te fazer a mesma pergunta. Faz um mês que moro aqui. E você? Está me seguindo? – Respondeu tranquilamente. – Eu sou a porra do dono desse prédio e vou fazer contato amanhã mesmo para que você saia daqui. – Bem, acho um pouco difícil você fazer isso, pois eu tenho um contrato de dois anos registrado em cartório e, ao menos que eu seja uma ameaça para o condomínio, não há motivos para que seja cancelado. – Filho da puta! Você sabia que Jéssica morava aqui, não é? Por isso veio para cá? – Você mora aqui, linda? Eu não fazia a menor ideia. Pura coincidência da vida. – Olha, não vejo motivo para vocês continuarem essa discussão. Eu não sou propriamente vizinha de Gabriel, pois moramos em andares diferentes e tenho o dia cheio, assim como ele deve ter, então acredito que não voltaremos a nos ver, não é mesmo? – Jéssica tentou esfriar os ânimos. A vontade de quebrar a cara dele voltou com força, quando ouvi sua resposta: – No que depender de mim, ficaria honrado em encontrá-la de vez em quando no elevador. Seria um bom começo. A única coisa que me impediu que fazer com que aquele idiota parasse no hospital, foi a ideia que estava começando a surgir em minha mente. Dirigi em silêncio e Jéssica até tentou puxar conversa, mas eu estava com a mente longe. O que eu ia fazer era a melhor solução para o meu namoro. Não queria que ela esbarrasse nunca mais
com aquele cretino. Assim que chegamos ao restaurante, fomos até a nossa mesa e eu a deixei lá por um tempo para fazer uma ligação. Depois do telefonema, voltei para o nosso jantar mais aliviado e não voltei a tocar no assunto, tentando conversar sobre temas descontraídos, aproveitando a noite. Terminamos de jantar e decidimos ir para casa. Dirigi em direção ao meu apartamento e ela estranhou, pois achou que íamos dormir no dela esta noite. – Tenho uma surpresa para você, linda. – Surpresa? Ah, Zeus, você sabe o quanto sou curiosa. Conta logo, vai. – Se eu contar, deixa de ser surpresa. Já estamos chegando, segure sua ansiedade. Chegamos ao meu prédio e parei para perguntar na portaria se estava tudo ok. Eles me deram a confirmação que eu precisava e levei Jéssica para o meu apartamento, fazendo um pouco de suspense antes dela entrar. – Jel, eu preciso que mantenha a mente aberta. Eu te amo e você me ama, já é hora de darmos um passo à frente na nossa relação. – abri a porta e a convidei para entrar. Ela assim fez e quando reconheceu tudo que estava ali, arregalou os olhos e me encarou assustada. – Seja bem-vinda ao seu novo lar, meu amor. A partir de agora você vai dormir no lugar onde pertence: na nossa cama. Todas as suas coisas estão aqui, Jéssica, e até Plutão já está bem acomodado. Ela olhou para todos os lados, como se estivesse conhecendo o apartamento pela primeira vez. Pegou seu gato no colo e deu passos largos em minha direção. – Por que você fez isso, Zeus? Por que tirou todas as minhas coisas do apartamento sem me consultar?
Capítulo 23
Ela
Música do capítulo: Cê topa? – interpretada por Luan Santana
– Me trouxe para morar com você apenas por ciúmes? Não se deu ao trabalho sequer de me consultar? – Continuei perguntando. É claro que vir morar com ele era tudo o que eu mais queria em minha vida, mas pelos motivos certos e não por causa de um ciúme infantil por um namorado da minha adolescência, pelo amor de Deus. – Você não sabe o que eu ouvi daquele idiota hoje. Ele disse na minha cara, mais cedo, que ainda a queria e que ia lutar por você, Jéssica. Queria que eu ficasse de braços cruzados pagando pra ver? – Como... Que horas você o encontrou mais cedo? – Eu fui até o escritório dele deixar bem claro que você é uma mulher comprometida. – Ah, eu não posso acreditar nisso. Não confia em mim, Zeus? Ainda que ele me quisesse, são necessários dois para que algo aconteça. Será que não entende que o único homem que quero é você? Ele caminhou até mim, me puxando pela cintura. – Linda, eu enfrentaria os leões por você se fosse preciso. Eu te amo tanto e fiquei louco quando me senti ameaçado. Eu não a trouxe aqui apenas por ciúmes. Eu só fiz o que já deveria ter feito há algum tempo. Não tem sentido ficarmos nos dividindo entre apartamentos, se não dormimos sequer uma noite separados. Eu te amo e aqui é o seu lugar. Como não se derreter com uma declaração dessas? – Bem, as coisas não foram exatamente como eu gostaria, mas o fato é que estou aqui, não é? Vem, me ajuda a encontrar um lugar para guardar as minhas coisas. As feições de Zeus se transformaram e ele me carregou, girando o meu corpo ao mesmo tempo que tomava os meus lábios em um beijo apaixonado. Me colocou no colo e caminhou rumo a encontrar o seu quarto, aliás, o nosso quarto agora e me jogou na cama, cobrindo o meu corpo com o
seu. Naquela noite, fizemos amor calma, lentamente e suave a princípio, se intensificando em uma mistura úmida e ardente aos poucos. Nos perdemos em sensações, desejo e sentimentos, sem poupar um ao outro, tentando extrair o máximo do que cada um tinha a oferecer. E eu, depois de um longo tempo, descobri que eu tinha e podia oferecer amor. Era como se eu tivesse conseguido me libertar de uma corrente que me aprisionava. Sim, eu podia afirmar que me sentia livre. Dormimos pouco esta noite, pois tínhamos urgência em nos ligarmos com nossos corpos, em nos comunicarmos, ainda que não usássemos palavras para isso. Só saímos do apartamento depois do almoço, já que tínhamos que organizar os meus pertences. – Vamos tirar o dia de folga? Pensei em irmos até a praia. O que acha? – Ele convidou. – Eu adoraria. Ainda não tive a oportunidade de vir à praia desde que voltei ao Rio. Fomos para o Leblon e procuramos um local menos movimentado, onde ele não tivesse que parar o tempo todo para tirar fotos e dar autógrafos. Estendi a esteira e ele abriu o sombreiro para nos proteger do sol. Ambos deitamos sobre a esteira e conversamos trivialidades. Ele me chamou para tomar um banho, mas eu estava com um pouco de frio e fiquei com medo da água. Decidiu ir sozinho então. Já fazia um tempo que estava lá, quando o meu iphone tocou. Não reconheci o número, mas resolvi atender assim mesmo. – Alô! – Jéssica, é você? Oi, aqui é Gabriel. Pode falar agora? – O que você quer, Gabriel? Eu posso falar, diga! – Aquele convite ainda está de pé. Eu preciso tanto conversar com você. Acho que ficaram pontas soltas do nosso passado e que eu tenho direito pelo menos a uma oportunidade de conversar. – Olha, embora não concorde que você tenha direito a alguma coisa, sim, eu vou conversar com você. Pode ser amanhã à tarde. Eu dou uma justificativa qualquer e saio para te encontrar. Também preciso muito falar com você. – Amanhã a tarde está ótimo para mim. Marcamos o local de encontro e desliguei o telefone, apagando a última ligação. Eu tinha que encontrar esse cara e colocar um ponto final nessa história. Não estou mais disposta a aceitar qualquer um entre eu e Zeus. Chega! Já passamos por dificuldades demais. O dia e a hora marcada chegaram e lá estava eu esperando por Gabriel. Justifiquei na
produtora que eu tinha que ir ao banco, pois não queria fazer mais alarde do que já tivemos nos últimos tempos. Eu não estava fazendo nada de errado, então minha consciência estava limpa. – Chegou cedo, hein? Continua pontual como sempre. Vai beber alguma coisa? – Gabriel sentou-se à mesa, falando. – Não. Só vim aqui para conversar. Não pretendo demorar. – Olha, Jéssica, sei que fiz a maior besteira da minha vida em me envolver com outra mulher enquanto namorávamos, mas éramos tão jovens e eu tão imaturo que acabei cedendo à luxúria. Eu sou outra pessoa agora e nunca consegui te esquecer. Tenho certeza que se me der só uma chance, eu reavivo aquele amor que você sentia por mim. – Já que você foi direto ao assunto, eu também não farei rodeios. É o seguinte: eu – amo – Zeus. Se não entendeu, vou repetir: EU – AMO – ZEUS, deu para entender agora? Já fez estragos demais, Gabriel, mas não posso dizer que sinto raiva de você, na verdade, não sinto nada. N-A-D-A! Vou falar apenas uma vez e fiz questão de dizer olhando em seus olhos: ME DEIXE EM PAZ! Se continuar me ligando ou andando atrás de mim, vou dar uma queixa sua na polícia. Espero que tenha entendido agora. – Por que está falando assim comigo? O que aconteceu com você? – Do mesmo modo que acabou de dizer que se tornou outra pessoa, assim foi comigo. Eu já não sou a menina ingênua que se deixava iludir por qualquer conversa fiada. Sou uma mulher adulta que precisa de muito mais do que palavras vazias. – Você está muito diferente mesmo. Não é mais a minha Jéssica. – Eu não posso acreditar nessa sua conversinha de que nunca conseguiu me esquecer. Não casou ou teve relacionamentos estáveis durante todo esse tempo? – Na verdade... eu acabei de terminar uma relação. Eu era casado e tenho dois filhos. – Então, Gabriel, aproveite para refletir se vale a penas abandonar sua família por causa de uma aventura no Rio. Pense na possibilidade de voltar para a sua esposa e seus filhos devem estar sentindo sua falta. Vamos deixar de ser pedra de tropeço um para o outro e deixar claro que nunca mais teremos qualquer tipo de relação. Nem mesmo sua amiga eu quero ser. Me levantei para sair e ele puxou meu braço, parecendo confuso. – Jéssica, será que você está certa? Eu e minha esposa temos discutido muito e minha vida tem sido um inferno. Será que ainda há chance para nós? – Converse com ela e tente resolver a situação civilizadamente. Tenha um bom dia! Voltei para a produtora e fui direto para o escritório. Zeus estava lá, andando de um lado
para o outro e quando cheguei, levantou-se da cadeira, vindo ao meu encontro. – Onde você estava? Alícia me disse que tinha ido ao banco, mas até onde eu saiba, você sempre resolve as transações bancárias pela internet. – Eu fui me encontrar com Gabriel. Ele passou as mãos pelo rosto e olhou para cima como se estivesse pedindo paciência aos céus. – O quê? Você se encontrou com aquele filho da puta? Que merda está acontecendo aqui, Jéssica? O que você tinha para falar com ele? – Eu não te falei antes porque sabia que ia reagir assim. Você confia em mim, Zeus? Eu preciso saber já que estamos iniciando uma vida a dois e confiança tem que ser a base de uma relação. – Claro que confio. Não confio nele. – Gabriel me ligou dizendo que queria uma chance de falar comigo. Eu aceitei porque já estava na hora de acabar com essa palhaçada dele ficar tentando recuperar um passado distante. – O que disse a ele? – Disse que te amo e que se ele não me deixasse em paz, eu ia procurar a polícia. Ele me contou que estava em uma fase confusa, pois havia saído de um casamento recentemente e o aconselhei a procurar sua mulher novamente e conversar. Talvez ele siga o meu conselho, mas acho que nossa conversa deixou motivos para ele pensar. – Não sei. Ele pareceu insistente. – Zeus, entenda uma coisa: nada nem ninguém irá nos separar agora. Somos apenas eu e você, querido. Chega de pedras em nosso caminho. Mais do que ninguém, merecemos ser felizes. Ninguém pode atrapalhar nossa felicidade. Ele tomou meu rosto em sua mão e roçou seu nariz por minha bochecha, orelha e pescoço. A outra mão iniciou sua viagem por um trajeto que já conhecia, fazendo com que minha pele ficasse totalmente arrepiada. – Você é minha, Jéssica. Somente minha. Diga-me, eu preciso ouvir. – Sim, sua. Eu sou completamente sua. ****************************
– O que você está aprontando, Zeus? O show em Salvador só vai acontecer no fim de semana e por que viemos antes pra cá? – Você não tem jeito, linda. Sempre quer estragar minhas surpresas. Zeus havia me convencido a ir para Salvador no meio da semana quando o show da banda nesta cidade só aconteceria no final de semana. Disse que tinha uma surpresa e, depois da última, estava receosa com o que estaria me esperando desta vez. Plutão veio comigo, já que eu passaria quase uma semana na Bahia. Não ia deixar meu bichano sozinho por muito tempo, não é? – Me dá uma pista, Zeus. Tem alguma coisa a ver com meu irmão? – Negativo. Não tem nada a ver com seu irmão. Não é possível que não consiga manter sua curiosidade pra si pelo menos uma vez. – Não quero manter. Diz pelo menos se está quente ou se está frio. Está relacionado com o show que a banda fará neste fim de semana? – Mais uma vez, não. Você é muito ruim de tiro ao alvo, querida. – Ah, poderia ter algo a ver com o ateliê? Por falar nisso, ainda não te perguntei quem é a atual proprietária. Você me disse que deu de presente a uma mulher, mas até agora não me deu nomes. Quem é ela? – Agora você começou a esquentar. Não vai me deixar fazer surpresa mesmo, não? Estou te levando para conhecer a nova proprietária agora, linda. – Ah, então é isso. Ótimo. Eu quero realmente ver se aquela loja está em boas mãos. Dediquei tantos anos de minha vida aquele lugar e não quero ver desmoronar por uma má administração. – Não vai acontecer. Ela é muito competente. – Como ela é, Zeus? Quero dizer... fisicamente? É velha, jovem? – Linda, talentosa, jovem e muito inteligente. Não se preocupe, a loja está em boas mãos. – Porra, tem tantos atributos assim? Ela é sua ex? – Hum... não era você que estava me recriminando por ciúmes outro dia? Não vou te responder essa pergunta e já chega. Daqui a pouco irá conhecê-la. Em menos de uma hora chegamos ao ateliê e fui tomada por um sentimento saudosista por
tantos anos trabalhando aqui. Já ri e já me entristeci neste lugar, cresci como profissional aqui, foi uma verdadeira escola. Entramos na loja e Patrícia logo veio nos recepcionar. – A boa filha à casa torna. Seja bem-vinda, Jéssica, ficamos tão felizes quando soubemos que você viria nos visitar. – Obrigada, Pati. Como estão as coisas por aqui? – Indo de vento em popa. O ateliê aumentou sua procura e muitas celebridades locais têm vindo conhecer. Acho que pelo andar da carruagem, teremos que expandir a loja. Dei um abraço em minha amiga e lágrimas de felicidade vieram aos meus olhos. A loja que eu vi nascer estava pronta para dar frutos. Aquilo era parte de mim, e ainda que eu não seja a dona, me sentia muito satisfeita. Cumprimentei as outras meninas e vi que havia novas vendedoras e estilistas também. Era um sinal claro da novidade que Patrícia tinha me contado. – Obrigada, Zeus, por me dar o presente de saber que o lugar onde vivi grande parte da minha vida está crescendo cada vez mais. – Não quer mais conhecer a nova proprietária? Ele olhou para Patrícia e piscou o olho. O que esses dois estavam aprontando? – Claro, é verdade. Foi para isso que viemos, não? – me virei para minha amiga. – Ela é legal, Pati? É uma boa administradora? – A melhor que já tivemos por aqui. Ela nasceu para administrar um ateliê. Confesso que me entristeci um pouco. Minha própria amiga dizendo que outra foi melhor que eu que dei o sangue por essa loja? A curiosidade só aumentava. Eu precisava conhecer essa celebridade da alta costura. Quem sabe ainda teria muito o que aprender com ela. – Vamos, Zeus, me apresente. Nunca quis tanto conhecê-la. Ele e Patrícia me levaram até o escritório, abrindo a porta para que eu entrasse. Não havia ninguém na sala e achei aquilo tudo muito estranho. – Onde ela está? Não disse que a conheceria? – E vai conhecer, basta ter um pouco de paciência.
Patrícia abriu a gaveta de uma estante e puxou alguns papéis de dentro, entregando a Zeus. Ele conferiu de um por um e olhou para mim, abrindo um sorriso. – O que está acontecendo? Por que tanto suspense e que papéis são esses, Zeus? Ele estendeu sua mão, apontando os papéis para mim que mais pareciam uma espécie de contrato. Será que minha situação como funcionária do ateliê ia mudar? – Leia. Aí tem todas as informações que tanto buscava. Acabou o mistério, linda, você agora vai conhecer quem é a nova proprietária. Peguei os documentos da mão dele e passei a ler minunciosamente. Tratava-se de um contrato de compra e venda e documentos legais de transferência de propriedade. Eu quase dou um troço quando vi um nome conhecido escrito em caixa alta e negrito, determinando quem era a nova dona da empresa. JÉSSICA KATHERINE RIOS Meu corpo desabou. Eu não consegui mais permanecer de pé e acabei caindo de joelhos, sem acreditar que meus olhos enxergavam meu nome naquele papel. Eu era a nova proprietária do ateliê esse tempo todo. O meu sonho agora era real, a loja era minha. Lembrei das palavras de dona Helena quando disse que a nova proprietária era uma grande mulher. Essa grande mulher era eu. Euzinha aqui. Chorei, chorei e chorei. As lágrimas foram minha companheira nos últimos anos, mas o meu choro geralmente era de tristeza. Hoje as lágrimas representam uma conquista. O meu choro é de alegria. Patrícia e Zeus se abaixaram e me abraçaram também, permanecendo os três dessa forma por um bom tempo. Ela também chorava e ele não tirava o sorriso do seu rosto, depositando pequenos beijos em minha cabeça esporadicamente. Me levantei e abracei Patrícia, que afirmou não saber até esse dia, mas que ficou felicíssima quando soube. Abandonei seus braços e caminhei em direção àqueles que eu jamais gostaria de abandonar. Meu Zeus. Meu deus grego. – Obrigada, querido. Obrigada, obrigada. Você me fez a mulher mais feliz deste mundo.
– Você teria conseguido sozinha, Jéssica, não tenho dúvidas disso. Esse ateliê nasceu para ser seu, amor, não poderia ser de qualquer outra pessoa. Sempre acompanhei o quanto o amava e se dedicava a ele. Só o deixei nas mãos certas. – Meu Deus, parece tudo um sonho. Meus pais teriam tanto orgulho de mim, mesmo que não tenha conseguido por esforço próprio, mas por estar fazendo o que eu amo. – Você conseguiu por esforço próprio. Jamais empregaria meu dinheiro se eu não percebesse que havia nascido para isso. Patrícia chegou com uma garrafa de champanhe e três taças. Eu decidi abrir a garrafa fora do escritório, pois gostaria que todos comemorassem minha grande conquista. Um pouco de espumante não atrapalharia o dia de trabalho delas. Depois dos brindes e discursos que as meninas fizeram para mim, nos despedimos, com promessa de voltar com alguma frequência para ver o andamento da empresa e começar a pensar na expansão. Eu não parava de olhar para os papéis em minha mão. – Eu preciso mostrar isso a Maurício. Ele vai ter um custipio quando souber. – Ele já sabe. Essa era outra surpresa que você acabou estragando. Seu irmão está nos esperando agora. – Você e... meu irmão se entenderam? – Não exatamente. Conversamos por telefone e ficamos de nos encontrar para ter uma conversa cara a cara. Acho que ele está aceitando mais o fato de que não pretendo tirá-la da minha vida. – Você quer me matar do coração? É muita felicidade para um dia só. Deus, será que morri e fui para o céu? – Se você está no céu, eu também estou, pois nada vai me afastar do seu lado. Dei um beijo em Zeus e me aconcheguei em seu ombro enquanto ele dirigia. Chegamos a um restaurante e lá estava meu irmão sentado ao lado de Joya. Quando me viu, levantou-se e veio ao meu encontro de braços abertos, sem se importar com quem estivesse olhando. – Jess, já estou sabendo. Parabéns, mana, você merece. – Felicidade não cabe em mim, Mau. É muita alegria para um dia só. Eu sou a nova dona do
ateliê, você tem noção disso? Ele sorriu e olhou para meu namorado, estendendo sua mão para cumprimentá-lo. – Obrigado por ter feito minha irmã feliz. Este era o sonho dela e eu mesmo teria realizado se pudesse. Sabe, estou começando a gostar de você. Não a decepcione de novo ou dessa vez não deixarei barato. Eu ri com aqueles dois homens grandes e lindos medindo forças de forma ‘amigável’. – Te dou minha palavra de que farei o possível para que Jéssica seja a mulher mais feliz deste mundo. Ver esse sorriso estampado no rosto dela será minha missão. Eu a amo muito, Maurício. – Que bom saber que está provando o seu amor com ações e não apenas com palavras. E não me refiro apenas ao presente que deu a ela. Falo do dia a dia. A felicidade de Jéssica é tudo o que importa para mim. Zeus assentiu com um sorriso e fomos todos para a mesa almoçar, inclusive Plutão, mas meu gatinho estava na gaiola de viagem. A tarde foi bastante proveitosa, comemos, conversamos e demos muita risada. Ele e Maurício estavam se dando muito bem e perceberam que tinham muito em comum, como o amor pelo mesmo time, por exemplo. Ambos eram apaixonados pelo Flamengo e meu namorado prometeu que conseguiria apresentar os jogadores a meu irmão. Ele ficou extasiado. Homens! Passamos os outros dias da semana em meu apartamento e todos os dias Zeus inventava uma programação diferente. Maurício trabalhava durante o dia e à noite sempre saíamos para algum lugar. Ele estava de segredinho com meu irmão e já pareciam amigos de infância. Sempre que eu questionava, desconversavam dizendo que era assunto de homens. Machistas! O dia do show chegou e Zeus saiu durante o dia para ensaiar. Eu fiquei em casa, pois queria fazer unhas, arrumar cabelos, me depilar e todas aquelas coisas de meninas. A noite caiu e meu irmão parecia estranho. Me falava coisas do tipo ‘você sempre será minha pequena irmã’ e ‘vou sentir saudades’. Eu pedia para que ele fosse direto ao assunto, mas nunca respondia. Apenas me encarava com um brilho no olhar. Fomos para o show e, como sempre, tivemos acesso aos bastidores e à área VIP de frente ao palco. Além de eu e Maurício, o irmão e cunhado de Zeus também estavam lá.
Os cumprimentei e assistimos à apresentação da primeira banda, em seguida, sendo substituída pela No Return, que levou o público à loucura. Uma canção após a outra era cantada e a cada uma eu sentia uma emoção diferente. Todas pareciam falar ao meu coração. Zeus parecia mais explosivo esta noite e não parava de olhar para mim, como se me dedicasse todas as músicas. Em um momento do show ele me chamou ao palco. Quem? Eu? Me perguntei. Ele novamente falou meu nome e arregalei os olhos assustada com o que viria a seguir. Maurício me deu um sorriso e naquele momento eu sabia que ia descobrir o que eles tanto fofocavam dentro de casa. Uma melodia começou a tocar em plano de fundo a qual reconheci depois como a música de Luan Santana “Cê topa?”. – Gente, hoje é um dia muito especial para mim, pois, se tudo der certo, será um divisor de águas em minha vida. Estão vendo esta linda garota à minha frente, acho que vocês já a conhecem, não? Sim, esta é Jéssica, a mulher que me inspira todos os dias a compor as mais belas canções. Eu a chamei ao palco para perguntar a ela se me daria a honra de chamá-la de minha esposa. O cunhado foi difícil, mas já consegui convencer – todos riram. – Agora eu só preciso ouvir um sim para que eu seja considerado o homem mais feliz deste mundo. Jéssica, o que você acha de sermos eu, você, dois filhos e um gato? Ah, meu Deus! Ah, meu Deus! Ah, meu Deus! Ele estava me pedindo em casamento? Filha da puta sortuda que eu sou. Será que ele ainda tem dúvidas. Tomei o microfone da mão dele e falei, olhando em seus olhos. – Sim, sim, sim. Um sonoro sim. Eu queria ter o poder de gritar essa simples palavra para o mundo inteiro ouvir, Zeus. Eu topo. Topo ser sua esposa, topo ter uma ninhada de crianças e topo te deixar ser pai de Plutão. Sim, não há nada neste mundo que eu queira mais do que ser sua esposa. O público delirou. Ouvimos gritos, aplausos, desejos de felicidades e até algumas fãs me xingando por ter conseguido fisgar o ídolo delas. Não me importava. Sabia que fazia parte da fama e estava muito feliz para dar crédito a isso. Meu destino estava selado. A partir de agora a felicidade seria minha melhor amiga e nunca a deixaria sair do nosso lado. Éramos eu e Zeus contra o mundo agora. Se alguém me dissesse há alguns anos que me casaria e pensaria sequer em ter filhos eu diria que estava louco. Hoje eu sou a mulher mais feliz do mundo em saber que isso irá acontecer.
Zeus é meu e eu sou dele. Para sempre.
Epílogo
Ele
Música do capítulo: A Thousand Years – interpretada por Christina Perri
3 anos depois...
Nos casamos cerca de seis meses depois do pedido e, em um ano, tivemos nosso pequeno presente Christian. Meu filho é uma mistura minha e de Jéssica, com os cabelos loiro escuro dela e os meus olhos azuis. Pense naquela criança que todos querem pegar no colo e onde passa todos admiram sua beleza. Este é o meu filho Cris. Depois de alguns meses que ele havia sido registrado, descobri a razão de Jéssica ter escolhido esse nome. Quando ela sugeriu, achei bonito e concordei, mas depois acabei sabendo que a escolha foi em homenagem a um personagem de um livro que ela amava. Só Jéssica para inventar essas coisas. Christian foi convidado para estrear diversos comerciais de bebê, mas recusei todas as propostas. Se ele um dia quiser se tornar uma celebridade será por escolha própria. Não quero que ele tenha sua intimidade exposta e sofra com a invasão de privacidade mais do que já sofrerá por conta de ser meu filho. – Jéssica Rios Melino! – Chamei minha esposa. – Sim, Sr. Melino. – Respondeu, fechando seus braços em meu pescoço. – Até hoje não me conformo de você ter deixado o seu primeiro sobrenome. Eu gostaria que fosse apenas o meu em seu registro. – Eu quero ter uma lembrança palpável dos meus pais. É o sobrenome deles e sempre que o vejo junto do seu me faz lembrar do imenso amor que tiveram um pelo outro. Eu quero que sejamos como eles, Zeus. Nunca vi amor maior.
– Papa. O pequeno Cris veio correndo em suas pequenas pernas e se agarrou a mim, olhando para seus dois pais. – Papa. Quando ele falava assim já sabíamos que queria colo. – Está vendo que só eu tenho moral com meu filho? Ele não chamou por você sequer uma vez. – Isso mesmo, Cris. Chame papai sempre. É ele quem tem que te carregar e dar seu gagau. Já que só você tem moral, leve-o para tomar um banho. Tem alguma coisa fedendo nessa fralda e você é quem vai descobrir. Saiu, me deixando a sós com meu bebê que nitidamente fez cocô na fralda. Argh! Deixe-me cuidar disso. Nesses quase três anos muita coisa aconteceu. Quando Christian estava para nascer, o mundo da música perdeu um ídolo. Como tantos artistas antes dela, Lya Jhones foi encontrada morta em seu apartamento por overdose. A TV falou sobre isso durante uma semana e todos se questionavam como uma garota tão jovem e de carreira promissora tinha se jogado nesse submundo. E por falar em drogas, as novidades não são só ruins. Tenho boas também. Led fez um tratamento acompanhado por uma psicóloga e devido ao convívio, acabaram se apaixonando. Ele já está limpo há um ano e está noivo de Dra. Daniela. O casamento já está marcado e em breve teremos mais um componente do grupo casado. Já Rick, este se casou um ano depois de mim com sua namorada Lana e já tem um casal de gêmeos. Foram mais acelerados que todos nós juntos. Bob é o único que não toma juízo e continua solteiro, fazendo a alegria das groupies nos bastidores. Maurício e Joya estão morando juntos, vivendo mais no Rio do que em Salvador. Eles não quiseram um casamento formal e já vivem juntos há algum tempo. Como o ateliê de Jéssica começou a expandir, ela precisou de um responsável pela parte financeira. Meu cunhado se tornou o homem de confiança dela, lidando com os lucros e investimentos como ninguém. Jéssica estava muito satisfeita. O celular dela tocou e, quando identificou quem era, atendeu entusiasmada.
– E então? Fale logo! O quê? Positivo? Uhuuuuu! Me aproximei dela curioso. – O que aconteceu? Me conte. – Joya está grávida. Eu vou ser tia, Zeus, entendeu? Eu serei tiaaaaa! Jéssica estava exultante com a notícia. Eu achava lindo o amor que ela tinha por seu irmão e, como era uma grande mãe, com certeza seria uma boa tia. – Minha cunhada, eu te amo tanto por nos dar esse presente. Eu vou ser a melhor tia do mundo, você vai ver. Vou encher essa criança de brinquedos e de doces. Meu filho vai ganhar outro priminho. Eu nem acredito. Ela desligou comemorando como gostava. Colocou uma música e começou a rebolar na sala. Cris a viu dançar e tentou acompanhar seus passos, fazendo com que caíssemos em gargalhadas. Ficamos de ver Maurício mais tarde no escritório das lojas para parabenizá-lo pessoalmente. Ah, esqueci de comentar. Ela mudou o nome do ateliê para Jess Rios e já tinha uma loja em quase todas as metrópoles do país, fazendo dela um ícone reconhecido no mundo da alta costura. Você deve estar se perguntando por que ela não usou meu sobrenome, não é? Eu juro que insisti para que usasse, mas teimosa como é disse que não queria ser reconhecida por estar casada comigo. Queria que a reconhecessem por seu trabalho. E não é que a danada conseguiu? Certo dia, chegou em casa com um sorriso sapeca, tentando me esconder algo. Percebi que estava em suas mãos, pois ela a escondeu nas costas. – O que tem ai? Deixe-me ver. – Não sei se vai gostar. Já estava pensando em fazer isso há algum tempo, mas só agora tomei coragem. – Só vai saber se me mostrar. Para de mistério, Jel, deixe-me olhar. Ela abriu as mãos e fechou os olhos, esperando minha reação. Procurei por algo na palma de sua mão, porém não havia nada. Procurei pelos dedos e nada novamente. Onde poderia estar? – Não consigo ver. É transparente? Ela gargalhou e abriu os olhos para me mostrar. Eu tapei a boca surpreso, sem acreditar que ela teve coragem de fazer isso. Fui tomado pela emoção e confesso que fiquei com os olhos cheios
de lágrimas. Era linda, com traços finos e muito bem feita. Uma tatuagem em seu pulso direito com meu nome escrito de forma delicada e o desenho de um microfone embaixo. Será que havia no mundo homem mais feliz que eu? – Eu te amo tanto, linda. De tamanha forma que às vezes tenho a sensação que vou explodir de tanto amor. – Então você tem ideia do que sinto, Zeus. É claro que tanto sentimento só poderia nos levar para a cama, não? E por falar em sexo, essa área do casamento estava cada vez mais intensa. Já tinha ouvido falar que o casamento leva as pessoas ao comodismo. Não poderia dizer que era o nosso caso, talvez porque nunca deixamos cair na rotina. Em casa, apenas nós dois, a coisa pegava fogo, mas não nos limitávamos a esse espaço. Eu levei Jéssica para conhecer alguns clubes discretos e em algumas festas particulares com pessoas extremamente selecionadas. Eu a compartilhava apenas com outro homem, em um lugar íntimo e ela ia à loucura em cada experiência. Eu nunca a levei para o meio de prostitutas. Sempre nos relacionávamos com pessoas que gostavam da mesma coisa que a gente apenas como forma de dar e receber prazer, sem qualquer relação com dinheiro. Na verdade, a maioria já era bem sucedida financeiramente e tinha muito a perder se procurassem a mídia para se promover. Clara e Benito também passaram a frequentar alguns destes lugares, o que deixava Jéssica mais à vontade por ter outro casal conhecido. Lauren estava cada dia mais linda e Jéssica pulou de alegria quando nos convidaram para ser padrinhos dela juntamente com Brisa e Alfonso, amigos de Clara. Nós aceitamos na hora e nos tornamos oficialmente padrinhos três meses depois de seu nascimento. Alguns dias depois, também fiz outra tatuagem em retribuição à dela, mas a minha não foi tão delicada. Mandei que desenhassem a foto dela no lado esquerdo do meu peito com o seu apelido embaixo. Sempre que eu tirasse a camisa, ficaria visível para todos quem era a dona do meu coração. Eu tinha recebido uma ligação esta manhã que tirou o meu chão e me levou às nuvens. Era felicidade demais para ser real. O céu só podia estar conspirando a nosso favor para que um sonho se realizasse tão rápido.
Não estávamos esperando por agora, pois achávamos que poderia demorar. Mas veio. O nosso presente estaria conosco a qualquer momento. O encontro foi marcado para dali a três dias e eu decidi que faria surpresa para Jéssica. Nessas alturas, você já deve saber que adoro surpreender a minha esposa e brincar com a curiosidade dela, não é? Mas posso garantir que talvez essa seja a maior de todas que já fiz para ela. Os dias voaram e a data chegou. – Preciso que se arrume logo, linda, não podemos nos atrasar. – Você não vai me contar mesmo para onde vamos? – Não. Só posso te adiantar que vai gostar muito da surpresa. Já tínhamos quase um ano nesse processo e cumprimos todas as etapas satisfatoriamente. Estávamos chegamos na etapa final que era muito decisiva. O sonho de Jéssica, que também se tornou meu, estava perto de ser realizado. – Já está chegando, Zeus? – Chegou, querida. Antes mesmo de descer do carro, ela reconheceu o local, voltando a olhar para mim com os olhos arregalados, sem acreditar no que estava prestes a acontecer. – Nós... nós vamos... eles te ligaram? – Sim. Faz três dias que recebi a ligação. – E conseguiu manter segredo até agora? Talvez tenha sido melhor ou eu não teria dormido essas duas noites. – Eu sei o quanto é ansiosa e queria que fosse surpresa. Vamos entrar? Ela me acompanhou para dentro do orfanato e fomos recepcionados por uma assistente social que já nos aguardava. – As notícias são ótimas, Sr. e Sra. Melino. Vocês conseguiram o direito à guarda provisória do seu filho. Parabéns! Vocês agora são pais novamente. Se tudo ocorrer bem, terão a adoção definitiva dentro de um ano, quando poderão registrar a criança em nome de vocês. Venham encontrar seu filho. Meu coração estava palpitando forte, semelhante ao dia que vi o rosto de Christian pela primeira vez. Peguei a mão de Jéssica e cruzei na minha, sentindo o que a sua estava suada. Ela
estava tão nervosa quanto eu. A adoção havia se tornado como o nascimento de um novo bebê para nós. Eu já amava o nosso segundo filho como se ele fosse sangue do meu sangue. Na verdade, ele também era parte de mim, pois tinha nascido do meu coração. Chegamos a uma sala cheia de crianças e o meu príncipe estava brincando e não percebeu a nossa chegada. Ele já tinha quatro anos e foi abandonado pela mãe há dois. Era negro, de cabelos cacheados e bastante magro. Como não exigimos um perfil nem sexo, nos mostraram algumas opções disponíveis. Bastou um olhar para o nosso pequeno Pedro e não existia mais outra criança naquele local. Seu olhar pedia por amor e era justamente o que tínhamos a oferecer. A decisão estava tomada. Tínhamos que lutar por ele e, a partir de hoje, Pedro será uma realidade em nossas vidas. Jéssica já estava em lágrimas, quando chamou a atenção de nosso filho. – Pedro. Ele nos reconheceu e ampliou seu olhar, se levantando para correr ao nosso encontro com um brilho de esperança nos olhos. Eu e Jéssica abrimos os braços para recebê-lo, protagonizando uma cena digna dos mais emocionantes filmes. Antes de alcançar os nossos braços, ele parou, parecendo confuso. – Vocês serão meu papai e minha mamãe? – Perguntou, olhando para nós com duas esferas negras ansiosas. Jéssica se abaixou, ficando na altura dele. – Sim, meu amorzinho. Nós somos seu papai e sua mamãe agora. Você quer ir para a nossa casa conhecer seu irmão? Ele se jogou nos braços de Jéssica e eu me juntei a eles formando um abraço em família. – Papai, mamãe, eu amo vocês, sabia? – Meu pequeno falou com a voz carregada de carinho. Percebi ali que ele estava aberto a amar, só buscava uma oportunidade. Nós estávamos aptos a dar amor a ele. Era o bem mais precioso da nossa família. – Nós também te amamos, querido. Fomos para casa e Christian logo se enturmou com seu irmão em uma ligação instantânea
como se ele sempre fizesse parte da casa. Plutão também se apresentou, pedindo para receber um cafuné e Pedro o tomou no colo, atendendo a seu pedido. Deixamos ambos brincando no tapete da sala e começamos a planejar uma festa para apresentá-lo à nossa família. Agarrei Jéssica pela cintura e a puxei para mais perto a ponto de sentir sua respiração. – Quando eu olho para trás e lembro de tudo que já passamos, vem um filme em minha cabeça. Você, aquela garota marrenta que não queria saber de relacionamentos. Eu, um cara que nunca pensou em ter a própria família, pois não tive um bom modelo e achava que nãos seria capaz de mantê-la. Todas as minhas convicções caíram por terra a partir do momento que coloquei meus olhos em você, Jel. Naquela hora eu sabia que não seria mais o mesmo, que você já estava em minha pele. Ela começou a soluçar e eu prossegui. – Quando olho para nós dois hoje, aproveitando o presente que a vida nos deu de ter dois lindos filhos, me sinto o homem mais realizado do mundo. Obrigado, linda. Obrigado por ter cruzado o meu caminho, obrigado por ter aceitado ser minha esposa, obrigado por ter meus bebês e, acima de tudo, obrigado por seu amor. Você me seduziu, Jéssica e posso dizer, com todas as letras, que estou completamente rendido a você. Em meio aos soluços, ela respondeu: – Eu te amo, Zeus, mais que minha própria vida. Se eu tivesse o poder de voltar atrás e ter que tomar decisões, não mudaria uma vírgula do que vivemos porque até as coisas ruins serviram para nos dar maturidade e nos tornarmos as pessoas que somos hoje. Tenho uma sugestão: que tal ficarmos juntos até beeeeem velhinhos? – Hum... acho que gostei dessa ideia. Estou disposto a ficar com você até beeeeem velhinhos. Eu te amo, linda.
FIM