A PRIMEIRA FUGA
Santo André 2014Dopplegangers # 1 First Escape, Portuguese Copyright@ 2008 by G. P. Taylor Portuguese edition@ 2012 by Geográfi ca Editora with permission of Tyndale House Publishers, Inc. All rights reserved.
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Supervisão Editorial: Marcos Simas e Maria Fernanda Vigon Tradução: Maurício Zagari Revisão: Nataniel Gomes e Angela Baptista Diagramação e Adaptação gráfi ca: Rick Szues
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1a Edição • maio de 2014
Esta obra foi impressa no Brasil com a qualidade de impressão e acabamento da Geográfi ca
Printed in Brazil
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Taylor, G. P.
A primeira fuga : Dopple Ganger / G. P. Taylor. -Santo André, SP : Geográfica Editora, 2014. -(As crônicas Doppler Ganger)
Título original: The first escape. ISBN 978-85-8064-061-8
1. Ficção - Literatura infantojuvenil I. Título. II. Série.
14-00299
CDD-028.5 Índices para catálogo sistemático:
1. Ficção : Literatura infantojuvenil 028.5 2. Ficção : Literatura juvenil 028.5
PARA GRACE E RACHEL, JOHN E PAUL,
E TODOS OS GÊMEOS QUE JÁ CONHECI.
Os cães do Campo de Hampstead 130
Madame Petrusa 144
NEM TUDO ESTAVA BEM na sala de jantar do Orfanato Isambard Dunstan para crianças rebeldes. De manhã, relâmpagos irrompiam no céu escuro, apesar do calor que estava fazendo lá fora. A chuva batia com força nas janelas, que se estendiam verticalmente no formato de grandes arcos de pedra. Olhando de cima para baixo, com olhos voltados para as crianças que ali se abrigavam, estava o rosto pontiagudo do próprio Isambard Dunstan. As feições do famoso explorador, registradas há mais de duzentos anos em vitrais, agora estavam manchadas pelo tempo e emprestavam a ele um olhar que inspirava medo, acrescido de uma carranca estampada em seus lábios que denotava severidade. Dunstan havia doado a casa para que se tornasse um lar de crianças abandonadas pelos pais, mas ninguém que vivia a infelicidade de morar ali tinha certeza se isso era uma bênção ou uma maldição. nas ja nela , gran pa c vi emp acre s deno que se to mas ni n ertez a a bê
Uma grande porta de madeira se abriu e uma cozinheira gorda irrompeu no recinto.
Em suas mãos de dedos grossos ela carregava um enorme pote de mingau marrom, que borbulhava, soltava fumaça e fazia barulho como se fosse o ronco da barriga de uma vaca. A cozinheira olhou para a imagem de Isambard Dunstan, que fez uma careta enquanto ela começava a passar a gororoba daquela panela suja para as 166 tigelas.
Todos os olhos se voltaram com avidez. Narizes escorrendo cheiravam cada tigela, na medida em que eram passadas de uma ponta a outra. Dedos mergulhavam rapidamente no mingau e depois levavam aquele grude à boca de cada criança que esperava para começar o café da manhã.
gritou a cozinheira, cuspindo as palavras de sua boca desdentada. – Vocês começam depois que eu comer, e nem um segundo antes. – O olhar feroz em seu rosto desafiava qualquer um a comer um bocado sem a permissão dela.
Só havia uma coisa que a senhora Omeron odiava mais do que as crianças: crianças que comiam antes dela.
Do lado oposto da sala, bem junto à lareira, estavam duas meninas. Uma era a imagem espelhada da outra. Elas olhavam pelo grande cômodo, enquanto esperavam para comer. Em torno delas, nas fi leiras de mesas, havia meninas que esperavam silenciosamente sentadas, bem vestidas
em uniformes com golas engomadas, casacos cinzentos e botas de cano alto. As gêmeas se remexiam, já que eram incapazes de ficar paradas, ainda que fosse por um momento.
Moviam-se juntas, como duas bonecas ligadas por fios invisíveis.
Sadie e Saskia Dopple eram conhecidas por todos os que trabalhavam no Orfanato Isambard Dunstan para Crianças Rebeldes. Elas eram incrivelmente semelhantes em quase tudo. Tinham orelhas idênticas, narizes idênticos, lábios idênticos e até mesmo sinais idênticos em seus queixos. A única marca externa que as diferenciava é que Sadie tinha o olho direito castanho e
o esquerdo azul, e em Saskia as cores se invertiam. No interior, a única diferença entre elas é que Sadie pensava antes de agir ou falar. Ela era a mais silenciosa das duas e, em muitos aspectos, mais perigosa. Juntas, elas eram como duas gatas selvagens que tinham tomado forma humana, enviadas por um anjo vingador para causar destruição à humanidade.
As crianças estavam sentadas aguardando o desjejum desde as seis e meia. Já passava das sete horas e elas ainda esperavam. O mingau de aveia que comiam a cada manhã tinha esfriado e virado uma nhaca congelada. Em desespero, Sadie cutucou Saskia, que zombou baixinho: – Cara de verruga velha, quem ela acha que é?
– Creio que sou a cozinheira! – gritou a senhora Omeron, cujos velhos ouvidos tinham criado sintonia com os sarcásticos murmúrios das crianças.
Depois de falar, ela pegou uma colher da mesa e a atirou em Sadie, atingindo-a no alto da cabeça antes que a menina pudesse dizer outra palavra.
Sadie parecia atordoada, mas se recuperou rapidamente.
Quando se voltou para olhar na direção da cozinheira, outro rosto presunçoso captou seu olhar. Lá, sorrindo para Sadie do outro lado da mesa, estava a repugnante Charlotte Grimdyke.
– Algo errado? – Grimdyke perguntou com o sorriso torto como de um babuíno. – Acertaram você com uma colher?
– Você vai pagar por isso... – Sadie disse por entre os dentes, olhando primeiro para Grimdyke e depois para a cozinheira.
– Tô nem aí – Grimdyke murmurou novamente, segurando a palma de sua mão em direção a Sadie como se fosse para fazê-la parar de falar.
Sadie sabia que aquela não era a hora certa ou o lugar para se vingar. Mas quando chegasse o momento, iria atormentar a vida de Grimdyke. Enquanto isso, não havia mal nenhum em se divertir um pouco. Tranquila e cuidadosamente, Sadie colocou a mão na sua tigela, enquanto olhava inocentemente para o teto do refeitório. Pendurada nas vigas grossas de carvalho balançava a única lâmpada de toda a sala. Ela oscilava como uma forca, de um lado a outro, lançando sombras frias em um ambiente ainda mais gelado.
Todos os olhos estavam voltados para o grande relógio de mogno que rangia e emitia um estranho canto enquanto marcava os
segundos. As crianças esperavam ansiosamente enquanto o ponteiro maior se dirigia lentamente em direção à meia-hora. Ninguém falava, ninguém se movia. Cada mão estava a postos, segurando uma colher comprida. Acima de suas cabeças, o relógio começou a chiar. De repente, ouviu-se o estalo de uma mola e, em seguida, o primeiro bater do martelo. Mas antes que o relógio pudesse fazer outro som, o silêncio da sala tinha desaparecido.
Em um movimento rápido, Sadie escavou uma grande quantidade do pegajoso mingau marrom com a mão e colocou em sua testa.
A porta do refeitório se abriu e por ela entrou a diretora, senhorita Rimmer, carrancuda, grunhindo com a respiração forte como de um touro furioso. Estava vestida com um casaco grosso e tinha um coque agarrado à parte de trás de sua cabeça, como uma enorme verruga.
Senhorita Rimmer tornou-se a implacável governante do Orfanato Isambard Dunstan para Crianças Rebeldes desde que a diretora anterior, Olívia Dart-Winston, desaparecera, um ano antes, sem aviso ou explicação.
A senhorita Rimmer precisou assumir imediatamente, transformando a casa que antes era um lugar agradável em um local onde o descontentamento e a rebelião reinavam.
Agora, a senhorita Rimmer estava parada junto à porta, tremendo de raiva. Ao seu lado resmungava sua única amiga, Darcy, uma cadela baixa e gorda que parecia um porco atrofiado coberto de pelos, babando por entre um conjunto de dentes afiados e muito serrilhados.
– Quem é responsável por toda essa confusão? – indagou a senhorita Rimmer quando entrou no recinto, brandindo sua bengala.
Darcy ficou esparramada no chão polido. Senhorita Rimmer, vendo que seu adorado animal de estimação estava atordoado e babando, largou Saskia no chão e voltou sua atenção para a cadela.
– Darcy, querida, o que aconteceu com você? – perguntou com uma voz que deixou as irmãs Dopple enojadas.
– Minha Darcy se machucou?
– Foi... Sa... Sa... Sa... – começou Grimdyke, que foi emudecida quando misteriosamente um ovo cozido atingiu a parte de trás de sua cabeça. Rimmer colocou-se de pé sobre a sola de suas grossas botas de couro e olhou para Grimdyke, que pôs a cabeça entre as mãos e desabou em lágrimas.
Como um leão faminto, Rimmer olhou pela sala, procurando em cada rosto um sinal de fraqueza e algum indício a respeito do culpado.
– Não pensem que não sei quem faria uma coisa dessas –gritou, enquanto olhava para Sadie. – Algumas pessoas aqui têm se esquecido do que é ser agradecido. Pensem, minhas caras e frágeis crianças. Onde vocês estariam sem Isambard Dunstan? Na rua, em uma caixa de papelão? Vivendo debaixo da ponte? Catando lixo no parque?
Pensem nisso, crianças. Sem mim, como seriam suas vidas?
–
Nenhuma de vocês merece estar aqui
...
nenhuma. – Rimmer fez uma pausa, enquanto levantava sua desorientada cadela do chão e olhava em seus olhos atordoados. – Algumas de vocês... algumas de vocês desdenham desse privilégio, e se pudesse me livrar de todas, eu o faria. Esperem até o dia em que farão 16 anos. Verei vocês pela última vez deslizarem pelo corrimão... para a rua.
– Então... então ... vocês irão lamentar o dia em que trataram tão mal a mim e a este pobre e infeliz animal.
Senhorita Rimmer fungou e segurou Darcy para todos verem, enquanto jogava a cabeça como uma grande atriz faz no fi nal de um belo monólogo.
Charlotte Grimdyke começou a aplaudir tranquilamente, arrulhando como um pombo. Senhorita Rimmer deu-lhe um sorriso de aprovação. Atrás dela, Saskia cruzou os braços, levantou uma sobrancelha escura e fina e revirou os olhos.
– Não pense que já acabei com você – disse Rimmer enquanto se voltava novamente, quase lançando Darcy ao outro lado da sala e conseguindo segurá-la apenas pela cauda. – Verei você e sua irmã problemática no meu escritório às oito horas. Não se atrasem nem um minuto – senão...
Saskia olhou para o chão e engoliu o riso em sua garganta como a um sapo. As lágrimas começaram a rolar lentamente por suas bochechas brancas e seus lábios passaram a tremer, enquanto lutava para segurar o riso. Pensando que Saskia estava prestes a chorar, senhorita Rimmer lançou-lhe um olhar de desdém enquanto saía da sala, resmungando baixinho.
O escritor que fez grande sucesso com Shadowmancer volta com uma nova e cativante série de aventuras.
A primeira fuga é o primeiro livro de As aventuras dos Dopple Ganger, uma série de seis livros que segue as vidas de três crianças – Sadie e Saskia Dopple e Erik Morrissey Ganger. Sadie e Saskia são gêmeas idênticas, adoram confusões e moram num orfanato. Erik também vive lá, e é o único amigo delas. Os três são separados quando Saskia é adotada por Muzz Elliott, mulher rica que está à procura de um tesouro de família há muito tempo perdido. Enquanto Saskia se vê no meio de um crime que só ela tem como impedir, Sadie e Erik embarcam em uma jornada para reencontrá-la. Este livro foi escrito em um formato novo e empolgante, chamado de “aventura ilustrada”, no qual a história é contada alternadamente em duas estruturas: romance gráfico e texto normal, com ilustrações.
ELOGIOS FEITOS A G. P. TAYLOR:
“O novo C.
S.
Lewis.” — heaven and earth show, bbc
“Mais emocionante que Potter.”
—london times