Dr. Timothy Paul Jones
Dos manuscritos até as versões em português
Com: Garrick Bailey, Derek Brown, Samuel Emadi, Elijah Hixson, John David Morrison, Marcelo Miranda, Marcos Simas e Adriel BarbosaA história da Bíblia Dos manuscritos até as versões em português
Dr. Timothy Paul Jones
com
Garrick Bailey, Derek Brown, Samuel Emadi, Elijah Hixson, John David Morrison, Marcelo Miranda, Marcos Simas e Adriel Barbosa
A história da Bíblia Dos manuscritos até as versões em português
Dr. Timothy Paul Jones com
Garrick Bailey, Derek Brown, Samuel Emadi, Elijah Hixson, John David Morrison, Marcelo Miranda, Marcos Simas e Adriel Barbosa
1 a Edição - 2023
Santo André — SP
Originally published in English under the title: How We Got the Bible
Author © Dr. Timothy Paul Jones
Published by Rose Publishing LLC.
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Diretora editorial
Maria Fernanda Vigon
Editor chefe
Marcos Simas
Editor assistente
Adriel Barbosa
Tradução
José Fernando Cristófalo
Preparação de texto
Lilian Condeixa
Adaptação de arte e diagramação
Let Design Brasil
Revisão
João Rodrigues
Marcelo Miranda
Nívea Soares
Capa
Rick Szuecs
Brenda Viana
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J79h Jones, Timothy Paul
A história da Bíblia: dos manuscritos até as versões em português / Timothy Paul Jones. – Santo André : Geográfica, 2022.
192p. ; 16x23cm
ISBN 978-65-5655-346-7
1. Bíblia – História. I. Título.
CDU 22.015
Capítulo 1: O que há de tão especial na Bíblia?
Como o Antigo Testamento chegou até nós
Capítulo 2: Como o Antigo Testamento passou de Deus para você? . .33
Capítulo 3: Quais livros pertencem ao Antigo Testamento?
Como o Novo Testamento chegou até nós
Capítulo 4: Podemos confiar no Novo Testamento?
Capítulo 5: Quem criou o cânon do Novo Testamento?
Como a Bíblia foi compilada a partir de manuscritos
Capítulo 6: Como o Novo Testamento foi copiado?
Capítulo 7: De onde veio a Bíblia em português?
Apêndices
O
que há de tão especial na Bíblia?
Inspiração
Infalibilidade e inerrância
Suficiência
“Onde está Jesus?” —, perguntou a garotinha, expressando claramente seu desapontamento por meio dos olhos lacrimejantes.1
Era o último dia da escola bíblica de férias, em uma pequena igreja, situada na zona rural do Missouri. A distribuição final dos biscoitos caseiros e do suco de frutas tinha sido providenciada. Os trabalhos artesanais já estavam devidamente coloridos e finalizados. Agora, cerca de vinte crianças reuniam-se no centro de adoração, para o encerramento.
Após liderar o louvor com alguns cânticos, transmiti às crianças o que considerava ser a mais importante mensagem da semana. Falei a elas sobre a justa ira de Deus contra o pecado e sobre a provisão de paz do Senhor por intermédio da morte e ressurreição de Jesus Cristo.
Antes que a atenção das crianças se dissipasse totalmente, eu disse-lhes: — Se quiserem conhecer Jesus, podem vir comigo a uma sala separada para falarmos a respeito disso. Ficarei muito contente em apresentá-lo a vocês.
Depois que todas as demais crianças tinham corrido para fora, Amy Jo, uma aluna do ensino fundamental, permaneceu na sala de adoração. Ela sempre fazia muitos questionamentos a respeito de Deus, e eu estava orando para que, naquela semana, Amy Jo conhecesse Jesus. Ela nos acompanhou pelo corredor até chegarmos a uma sala de escola dominical que havia sido separada para aconselhamentos.
Enquanto nos dirigíamos a outra sala, Amy Jo me pareceu um pouco inquieta, mas presumi que a causa de sua perturbação fosse resultante da ação do Espírito Santo. Alguns segundos mais tarde, tornou-se evidente que o motivo de sua inquietação não tinha nenhuma relação com o Espírito, e sim com tudo o que esperava encontrar na sala —, ou, mais precisamente, quem ela tinha expectativa de encontrar.
— Onde está Jesus? — perguntou ela. — Você disse que ficaria contente em me apresentar Jesus. Quero que ele fale comigo.
— Bem — comecei a responder, um pouco titubeante. — Eu não quis dizer que você falaria com Jesus pessoalmente, mas que poderia conhecê-lo sendo seguidora dele.
— Mas, como posso seguir Jesus sem que eu o encontre? Como posso seguir Jesus sem que ele fale comigo? — contestou Amy Jo.
A minha tentativa de compartilhar a verdade sobre Jesus não terminou bem naquele dia, e nenhum argumento pareceu ajudar. Ela exigiu nada menos do que uma visita pessoal de Cristo. A não ser que Jesus aparecesse naquela sala de escola dominical, Amy Jo não estava disposta a acreditar em nenhuma palavra que eu tinha dito acerca dele.
Por que uma visita pessoal de Jesus não tornaria mais fácil segui-lo
Três anos depois daquele melancólico desfecho da escola bíblica de férias, Jesus ainda não tinha se revelado em carne e osso à Amy Jo. Apesar disso, Deus abriu o coração dela para algumas verdades bíblicas que ela tinha ouvido e finalmente creu em Jesus Cristo. Agora, quase duas décadas mais tarde, Amy Jo e eu rimos juntos sempre que recordamos como ela estava convencida de que Jesus morava naquela sala de escola dominical, na zona rural do Missouri. E, no entanto, mesmo enquanto sorrio, lembrando desse fato, me identifico com o desejo de Amy Jo por ouvir uma palavra de Jesus, em pessoa.
Afinal, em algum momento da vida, você nunca desejou que Jesus falasse pessoalmente contigo?
Pode ser que uma conversa difícil com um amigo incrédulo tenha levantado algumas dúvidas sobre a existência de Deus. Ou, talvez, você esteja lutando para compreender uma tragédia recente e está convencido de que uma sessão de perguntas e respostas com o próprio Filho de Deus poderia trazer a clareza necessária. É possível que esse anseio não seja o eco de um distante desejo do seu passado. Tudo o que gostaria é: Deus falando com você aqui e agora.
Se for assim, saiba que você não está sozinho.
Desejamos ouvir a voz do Senhor porque nossa alma foi moldada para responder a ela. Ainda que não reconheçamos isso, fomos criados com o desejo pela revelação divina. E, todavia, desde que os primeiros seres humanos escolheram desafiar as ordens de Deus, nenhuma palavra divina, nem mesmo uma mensagem audível do céu, tem sido suficiente para nos impedir de viver em contínua rebeldia contra o Reino de Deus (Gênesis 3.1-35).
' Deus falou pessoalmente com Noé e deu-lhe o plano acerca da construção de uma embarcação para a salvação da humanidade. Mesmo assim,
essa história de salvação termina com Noé acordando nu na tenda dele, sofrendo com uma ressaca e amaldiçoando seu filho (Gn 7.1; 9.20-27).
' Abraão vislumbrou a gloriosa presença de Deus e ouviu a promessa divina de que teria um filho. Todavia, duvidou do Senhor, mentiu sobre a esposa e tentou ter um herdeiro com a serva da própria mulher (Gn 12.1–18.21).
' Deus trovejou do alto de uma montanha, de modo que os descendentes de Abraão o obedecessem para sempre (Êx 19.9). No entanto, poucas semanas depois, esses receptores da revelação divina estavam dançando à sombra de um ídolo (Êx 32.1-35).
Aquela garotinha na Escola Bíblica de Férias, muitos anos atrás, estava convencida de que seria muito mais fácil seguir Deus se ele falasse pessoalmente com ela. Porém, essas experiências do povo de Deus demonstram claramente que as epifanias divinas não tornam a obediência mais fácil. O efeito positivo dessa revelação, na melhor das hipóteses, é fugaz.
Portanto, não causa surpresa que, milhares de anos atrás, Deus tenha escolhido certo povo para registrar suas palavras de uma forma estável e acessível, mesmo depois de as memórias desses miraculosos feitos terem se dissipado. O Senhor começou a inspirar um livro.
Esse livro divinamente inspirado não foi uma reflexão tardia ou um acidente! Muitas eras antes da criação das trevas e da luz, Deus decidiu revelar seu reino não apenas por meio de palavras faladas, mas também mediante palavras escritas. A Bíblia que você tem em mãos atualmente é o produto perfeito desse plano eterno (Sl 119.89). O propósito desta obra, que você está lendo agora, é aprofundar sua confiança nas Sagradas Escrituras. É auxiliá-lo na compreensão de como a revelação escrita de Deus realizou a jornada, desde a mente do Criador até os 66 textos presentes em sua Bíblia hoje.
De onde veio a Bíblia?
Deus está revelando a verdade a todas as pessoas e a todo instante por meio de sua criação (Rm 1.18-20). Mas o Senhor também escolhe revelar-se de formas particulares a pessoas específicas. Começando, pelo menos, tão cedo quanto Moisés, Deus passa a revelar a verdade por intermédio de proposições
escritas. Essas palavras escritas eram tão preciosas que ninguém jamais as mudaria (Dt 4.2; 12.32).
Nos séculos seguintes à revelação escrita inicial de Deus, homens e mulheres inspirados continuaram a escrever “impelidos pelo Espírito Santo” (2Pe 1.21).
Alguns registraram eventos históricos. Outros transcreveram poemas, provérbios e cânticos. Ainda outros registraram profecias que conclamavam o povo do Senhor a retornar ao governo de Deus sobre sua vida.
Todavia, esses livros possuíam um propósito bem maior do que meramente registrar a obra do Senhor na vida de um povo antigo!
Ao longo dos séculos de revelação, Deus estava inspirando as palavras das Escrituras de tal modo que os escritores revelaram uma mensagem muito mais grandiosa do que eles mesmos podiam ver.2 Cada palavra escrita do Antigo Testamento enfatiza a necessidade da humanidade por uma Palavra Viva que ainda estava por vir (Jo 5.39). Consideradas em conjunto, todas as profecias do Antigo Testamento testificam, em perfeita harmonia, que apenas pela fé no futuro Messias é que os pecados de qualquer pessoa podiam ser perdoados (At 10.43). Esse Messias seria a maior revelação de Deus, a Palavra Viva de Deus enviada a este mundo, em carne e osso (Jo 1.1-18).
A Palavra tornou-se carne
Quando chegou o tempo de enviar essa Palavra a este mundo, Deus anunciou sua chegada por meio de sacerdotes e profetas, anjos e sinais estelares, espalhados no céu do Oriente (Mt 1.20-21; 2.2; Lc 1.11-18, 26-38, 67-80; 2.8-15, 25-38; 7.24-28).
A Palavra Viva do Senhor cresceu, tornou-se adulto e sacrificou a vida em uma cruz, recebendo a ira de Deus em lugar de todos os que confiariam nele. Após ressuscitar dentre os mortos, no terceiro dia, essa mesma Palavra encheu o coração de seu povo com seu Espírito e o capacitou a proclamar seu reino em todo o mundo (Mt 28.18-20; Jo 14.16-26; At 1.8).
Mas a revelação de Deus não cessou com a Palavra Viva ou mesmo com a sua presença na vida de seu povo.
À medida que a mensagem de Jesus se espalhava por todos os recantos do mundo, Deus inspirava novos textos que preservavam a verdade sobre Cristo e revelavam como viver em seu reino. Durante as primeiras décadas
que se seguiram à ressurreição de Jesus, os cristãos memorizaram relatos de testemunhas oculares a respeito dele e seus feitos, e escreveram cartas que aplicavam os ensinamentos de Cristo na vida de seus seguidores. Logo, esses testemunhos verbais acerca de Jesus foram reunidos aos seus ensinos, resultando nos quatro “Evangelhos” escritos por Mateus, Marcos, Lucas e João.
Cristãos de todas as regiões, espalhados entre as igrejas do século 1, trataram os textos ligados aos apóstolos e testemunhas oculares de Jesus como guias inspirados para seu viver. Uma vez que, para ter autoridade nas igrejas, cada texto tinha de estar ligado de alguma forma a uma testemunha ocular, as revelações escritas cessaram quando as testemunhas oculares e seus associados do século 1 faleceram.
Quase dois mil anos mais tarde, essas revelações, divinamente inspiradas por meio de antigos israelitas e testemunhas oculares de Cristo, permanecem como os principais meios de Deus manifestar sua verdade às pessoas. Jesus é a Palavra de Deus, mas também é correto referir-se a esses escritos — agora reunidos em um livro que conhecemos como “Bíblia” — como “Palavra de Deus”. Nós nos referimos às Escrituras como a Palavra de Deus porque esse livro, e somente ele, presta um testemunho perfeito a Jesus Cristo, a Palavra Viva de Deus.
Qual a origem da palavra “Bíblia”?
O termo “Bíblia” deriva do grego βιβλίον (biblíon), que significa pergaminho, papiro ou livro, e da expressão grega τὰ βιβλία τὰ ἅγια (ta bible ta hágia), que significa livros sagrados 3 Os povos antigos costuravam ou colavam pedaços de papiros e os enrolavam, criando os chamados pergaminhos
Não muito tempo depois do século 1, papiros e outros materiais de escrita passaram a ser dobrados e empilhados . O objetivo disso era formar os códices, que antecederam os livros atuais . À medida que crescia a popularidade dos códices, o significado de bíblia foi amplificado de modo a abranger tanto pergaminhos quanto códices 4 O povo judeu já usava a palavra bíblia para descrever seus textos sagrados
Os primeiros cristãos rapidamente passaram a usar a mesma palavra em referência às Escrituras hebraicas e cristãs, em conjunto . 5 Desde então, o termo “Bíblia” significa a coletânea de textos que compreendem os escritos sagrados tanto da fé judaica quanto da fé cristã . No começo do século 3, um autor cristão chamado Tertuliano cunhou os termos “Antigo Testamento” e “Novo Testamento” . Seu intuito era distinguir as Escrituras hebraicas das Escrituras cristãs 6
O que a Bíblia é
A Bíblia é constituída de 66 textos inspirados pelo Espírito. Ela foi escrita por inúmeros autores “muitas vezes e de várias maneiras”, ao longo de muitos séculos (Hb 1.1). Essas palavras de Deus foram dadas com o propósito de revelar Jesus Cristo, o Rei crucificado e ressurreto, à humanidade caída. Contudo, para obtermos uma compreensão adequada da Bíblia, devemos ir além de meramente saber do que ela é feita. Numa obra de fantasia, escrita por C.S. Lewis, um personagem chamado Eustáquio olha para uma estrela e argumenta:
— Em nosso mundo... uma estrela é uma enorme bola de gás inflamável.
Outro indivíduo, que se trata de uma estrela aposentada, o corrige, dizendo:
— Isso é de que uma estrela é feita, não o que ela é.7
Porque cada palavra das
Escrituras foi soprada por Deus, a Bíblia se apresenta como a plena e suprema autoridade para o povo do Senhor .
Para compreender as estrelas no mundo de Nárnia, Eustáquio precisava conhecer não somente do que elas eram constituídas, mas também o que eram. Igualmente, para compreender a natureza das Escrituras, necessitamos explorar não apenas do que a Bíblia é feita. É importante sabermos o que a Bíblia é.
Segundo o testemunho das Escrituras e as declarações de fé professadas no transcurso da história da Igreja, a Bíblia é:
' i nspirada,
' i nerrante e infalível,
' suficiente.
Então, vamos considerar cada uma dessas características vitais das Escrituras.
Inspiração: A Bíblia é soprada por Deus
O apóstolo Paulo escreveu ao seu pupilo Timóteo: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, para que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra” (2Tm 3.16-17). Uma descrição mais precisa da expressão “inspirada por Deus” pode ser “soprada por Deus”.8 Se as Escrituras são “sopradas por Deus”, isso significa que as palavras da Bíblia chegaram até nós vindas da mais íntima essência do próprio Deus. Moisés e os profetas sabiam disso e declararam que eles estavam escrevendo as próprias palavras do Senhor (veja, por exemplo, em: Êx 17.14; Jr 1.9; Ez 1.3; Os 1.1). Jesus concordou com a afirmação deles e descreveu as palavras das Escrituras como as palavras do próprio Deus (Mt 19.4-5; Mc 12.36).9
Perceba que Deus não apenas inspirou os autores das Escrituras! Deus inspirou o próprio texto. Caso Paulo imaginasse que apenas os autores fossem inspirados e não o texto, ele poderia ter escrito a Timóteo algo como: “Todos os que escreveram as Escrituras foram inspirados por Deus.” Mas não é isso que Paulo falou ou pensou! Ele escreveu que “toda a Escritura é inspirada por Deus” (2Tm 3.16), porque acreditava que as próprias palavras registradas nas Escrituras haviam sido originadas em Deus.
Então, que documentos específicos Paulo tinha em mente quando ditou a palavra “Escritura” e descreveu esses textos como “soprados por Deus”?
As palavras de Paulo, primariamente, apontavam para o Antigo Testamento. Afinal, quando o apóstolo escreveu a segunda carta a
Inspiração verbal-plenária
Os cristãos que creem na Bíblia têm, durante séculos, aceitado duas importantes verdades sobre a inspiração das Escrituras:
• Inspiração verbal (do latim verbum, “palavra”) — a inspiração de Deus estende-se às próprias palavras da Bíblia .
• Inspiração plenária (do latim plenus, “total”)
— todas as partes das Escrituras são plenamente inspiradas, não apenas as partes relativas à salvação e à nossa vida espiritual .
A inspiração verbal-plenária não significa que Deus transformou os escritores em autômatos, controlados a partir das regiões celestiais por meio de um teclado cósmico Os autores bíblicos usaram suas próprias expressões .
E Deus, providencialmente, guiou a vida deles de maneira que eles escolhessem as palavras que pudessem transmitir a verdade divina .
Timóteo, alguns textos do Novo Testamento ainda não haviam sido sequer escritos. No entanto, mesmo quando Paulo elaborou essa carta, os cristãos já tinham ciência de que o termo “Escritura” incluía mais do que o Antigo Testamento. Mas também as palavras de cristãos que eram testemunhas oculares do Cristo ressurreto, além de cooperadores íntimos. Dois textos bíblicos deixam claro que, por volta da metade do século 1, os cristãos já consideravam textos do Novo Testamento como Escritura:
' Na primeira carta de Paulo a Timóteo, o apóstolo identificou palavras ditas por Jesus que se tornaram parte do Evangelho de Lucas como “Escrituras” (compare Lc 10.7 com 1Tm 5.18).
' L ogo após Paulo escrever a segunda carta a Timóteo, Simão Pedro referiu-se às epístolas de Paulo como “Escritura” (2Pe 3.16).
Enquanto os textos no Novo Testamento estavam sendo escritos e reunidos, os cristãos primitivos sabiam que os textos ligados a cristãos chamados pelo Senhor Jesus ressurreto carregavam a mesma autoridade que os livros do Antigo Testamento.
Pelo fato de cada palavra das Escrituras ter sido soprada por Deus, a Bíblia constitui a autoridade completa e final para o povo do Senhor. A Bíblia, na íntegra, é a mensagem do Criador às suas criaturas, o édito do Rei aos seus súditos e a ferramenta do Espírito para transformar o seu povo. As tradições eclesiásticas, os credos e as confissões de fé podem ser úteis, mas esses elementos jamais podem reivindicar uma autoridade igual à Palavra inspirada de Deus.
Infalibilidade e inerrância: A Bíblia é isenta de erros
Tito era um jovem pastor em uma ilha cujos habitantes eram conhecidos pela desonestidade (Tt 1.12). Talvez seja por esse motivo que Paulo abre a carta a Tito com o comentário “o Deus que não mente” (Tt 1.2). Eu minto, você mente — mas Deus não (Rm 3.4).
A palavra “infalibilidade” deriva de um vocábulo em latim que significa “incapaz de enganar” ou “não sujeito a errar” . Quando afirmamos que a Bíblia é “infalível”, queremos dizer que ela sempre nos conta a verdade e jamais nos ilude .
Dessa forma, consideremos uma questão crucial: Se toda a Bíblia é inspirada por Deus e se Deus jamais mente, o que isso nos revela sobre a confiabilidade dela?10
Ao longo da história, cristãos têm concordado que, se Deus não pode mentir, sua revelação escrita também não. Nossa confiança de que as Escrituras são verdadeira possui raízes em nossa crença no caráter de Deus, de que o Senhor é digno de fé. Uma ampla gama de palavras e expressões tem sido usada em diferentes eras para apresentar a veracidade das Escrituras. Um dos termos mais relevantes é “infalibilidade”. Ela deriva de um vocábulo em latim que significa “incapaz de enganar” ou “não sujeito a errar”. Quando afirmamos que a Bíblia é “infalível”, queremos dizer que ela sempre nos conta a verdade e jamais nos ilude. Outro termo mais recente para descrever a sua veracidade é “inerrante”, que simplesmente significa “sem erros”.11
Seres humanos falíveis e propensos ao erro reuniram as Escrituras. No entanto, Deus estava em ação entre esses inspirados autores e editores, impedindo-os de introduzirem qualquer erro à revelação divina escrita. Eis o motivo de podermos confiar que “quando todos os fatos são conhecidos, as Escrituras [...] adequadamente interpretadas, mostrar-se-ão totalmente verdadeiras em tudo o que afirmam.”12
A inerrância não demanda que as Escrituras sejam cientificamente precisas, e certamente ela não se aplica à linguagem figurada ou às estimativas numéricas presentes na Bíblia. “As Escrituras são inerrante, não no sentido de ser absolutamente precisa segundo os padrões modernos, mas no sentido de fazer valer suas reivindicações e alcançar aquela medida de verdade focada, almejada pelos autores.”13 Por exemplo:
' Em 1Reis 7.23, um tanque circular no templo é descrito como “medindo quatro metros e meio de diâmetro” e “um fio de treze metros e meio para medir a sua circunferência”. Na verdade, um tanque circular com quatro metros e meio de diâmetro teria uma circunferência um pouco maior do que quatorze metros. No entanto, o autor bíblico não cometeu um erro, pois a precisão matemática não era seu propósito. O objetivo do texto era simplesmente caracterizar um objeto que os trabalhadores de Salomão tinham confeccionado, e o autor usou números redondos em seu relato.
' Quando um antigo cronista da história de Israel registrou a morte de dezoito mil edomitas (2Sm 8.13), o autor, provavelmente, não realizou um censo exato de quantos edomitas tinham morrido. Ele estava fornecendo um número redondo com base na informação que possuía. E, assim, mesmo se o número exato de mortos fosse alguns milhares acima ou abaixo da quantidade registrada, não constitui um erro, porque é apenas uma estimativa.
' Quando as Escrituras dizem “ao nascer do sol”, os autores bíblicos estavam descrevendo a aurora da perspectiva de um habitante da Terra (Gn 32.31; Jn 4.8). Esses autores não erraram mais do que os repórteres meteorológicos de hoje, quando mencionam o “nascer do sol” ou o “pôr do sol” nos noticiários matutinos.14
Deus revelou sua mensagem por meio de autores humanos que registraram um testemunho fiel em diferentes gêneros e estilos literários. Seja qual for a medida de exatidão necessária para expressar a verdade de Deus, as Escrituras revelam a verdade com precisão.15
Os líderes da igreja primitiva acreditavam na inerrância das Escrituras?
Os cristãos mais antigos jamais usaram as palavras “inerrância” e “infalibilidade” . No entanto, desde os primórdios da história cristã, os fiéis líderes da Igreja tratavam as Escrituras como a revelação inerrante e infalível de Deus
• “Vós vos aprofundastes nas verdadeiras Escrituras Sagradas, que nos vêm do Espírito Santo . Sabeis que elas não são injustas, nem contêm falsificação . ”16 (Clemente de Roma, século 1)
• “Toda a Escritura, que nos foi dada por Deus, [é] perfeitamente consistente . As parábolas harmonizam com as passagens que são simples, e as declarações com um significado mais claro servem para explicar as parábolas . ”17 (Irineu de Lião, século 2)
• “Estou inteiramente convencido de que nenhuma Escritura contradiz outra . ”18 (Justino Mártir, século 2)
• “As declarações das Escrituras Sagrada jamais irão contradizer a verdade . ”19 (Tertuliano de Cartago, século 3)
• “É a opinião de alguns que as Escrituras não concordam ou que o Deus que as deu é falso . Mas, não há discordância alguma . Longe disso! O Pai, que é a verdade, não pode mentir . ”20 (Atanásio de Alexandria, século 4)
• “Aprendi a render esse respeito e honra apenas aos livros canônicos das Escrituras . Com relação somente a esses livros, acredito firmemente que os autores estavam completamente livres de erros Se nesses escritos fico confuso por algo que me parece oposto à verdade, não hesito em supor que o manuscrito é falho, ou o tradutor não capturou o significado do que foi dito, ou eu mesmo falhei em compreender . ”21 (Agostinho de Hipona, século 5)
Suficiente: A Bíblia e nada mais
Até aqui, aprendemos que a Bíblia é inspirada ou soprada por Deus e é isenta de erros — porém, ela é suficiente?
Eis um aspecto do desafio que a garotinha estava enfrentando naquela sala de escola dominical, muitos anos atrás. Antes de ela se dispor a confiar em Jesus, Amy Jo queria algo mais do que a Palavra que ouviu nas Escrituras. Em seu caso, ela queria bater um papo com Jesus. Com o tempo, Amy Jo reconheceu que aquilo que a Bíblia fornecia era suficiente para confiar em Deus. Em termos teológicos, o que ela reconheceu foi a suficiência das Escrituras.
Ao longo da história, os cristãos têm tratado as Escrituras como suficientes em dois sentidos. Primeiro e mais importante: ela nos dá informação o bastante para descobrirmos a verdade de Deus e vivermos em comunhão com ele. Ainda, as Escrituras foram copiadas com precisão suficiente para preservar a verdade divina.
O significado de inerrância
Em 1978, mais de trezentos líderes cristãos — incluindo John MacArthur, R . C . Sproul, Francis Schaeffer, J I Parker e Carl F H Henry — reuniram-se em Chicago Ali, eles desenvolveram uma declaração que esclarecia o significado e as implicações da inerrância bíblica .
Aqui estão as três afirmações e negações mais importantes da Declaração de Chicago sobre Inerrância Bíblica:
• “Afirmamos que as Sagradas Escrituras devem ser recebidas como a Palavra oficial de Deus . Negamos que a autoridade das Escrituras provenha da Igreja, da tradição ou de qualquer outra fonte humana . ”
• “Afirmamos que, em sua totalidade, as Escrituras são inerrantes, estando isentas de toda falsidade, toda fraude ou todo engano . Negamos que a infalibilidade e a inerrância da Bíblia estejam limitadas a assuntos espirituais, religiosos ou redentores, não alcançando informações de natureza histórica e científica . ”
• “Afirmamos que as Escrituras, tendo sido dadas por inspiração divina, são infalíveis, de modo que, longe de nos desorientar, são verdadeiras e confiáveis em todas as questões de que tratam . Negamos que seja possível a Bíblia ser, ao mesmo tempo, infalível e errônea em suas afirmações Infalibilidade e inerrância podem ser distinguidas, mas não separadas . ”22
(1) As Escrituras nos fornecem conhecimento com capacidade o suficiente para descobrirmos a verdade de Deus e vivermos em comunhão com ele. Os textos bíblicos, como foram originalmente escritos, contêm toda a verdade necessária para sermos salvos e seguirmos o Salvador. “Jamais na história da Igreja, Deus acrescentou aos ensinamentos e ordens das Escrituras [...] as Escrituras são suficientes para nos equipar plenamente ‘para toda boa obra’” 23 (2Tm 3.15-17).
A suficiência das Escrituras não significa, claro, que a Bíblia inclui toda a verdade da qual necessitaremos para completar cada tarefa em nossa vida! Ela não nos fornece informações no que tange à instalação de azulejos de cerâmica ou sobre a conjugação de verbos em alemão, por exemplo. A realização de cirurgias no cérebro com base apenas na informação encontrada na Bíblia decerto terá um final ruim para todos os envolvidos. Assim, as Escrituras não revelam todas as coisas. Em vez disso, ela é suficiente para nos mostrar como fazer todas as coisas para a glória de Deus, com a mente de Cristo, por meio do poder do Espírito Santo (Rm 15.13; 1Co 10.31; Fp 2.5).
(2) As Escrituras sobrevivem em textos que foram copiados com precisão o bastante para preservar a verdade de Deus. Durante quase um milênio e meio, os textos bíblicos foram copiados à mão. Não havia impressoras, copiadoras, dispositivos de ditado nem processadores de palavras com recursos de autocorreção, somente escribas comuns copiando textos frase por frase, com base em pilhas de pergaminhos e de papiros. Ao longo dos séculos, alguns escribas cometeram erros. Na maioria das vezes, eles simplesmente esqueceram ou grafaram incorretamente uma palavra ou duas. Em outras, quando um escriba lia o texto em voz alta e outros escreviam o que ele dizia, a audição de alguns falhou na compreensão das palavras. Ocasionalmente, eles trocaram vocábulos ou adicionaram expressões para enfatizar verdades relativas a tópicos polêmicos em seus dias. Desse modo, variações podem ser encontradas entre os manuscritos bíblicos antigos.
Todavia, esse fato não significa que a Bíblia, de alguma forma, deixa de ser infalível ou inerrante. A inerrância e a infalibilidade referem-se a cada texto bíblico como ele foi originariamente composto; não a cada cópia feita posteriormente.24 E, verdade seja dita, a quantidade de cópias que sobreviveram ao tempo — muito mais do que qualquer outro documento antigo! — é tão significativa que quase sempre é
possível reconstruir as palavras exatas dos textos originais. Nos raros casos em que as questões a respeito das palavras originais ainda persistem, não há diferença textual alguma que afete o que cremos sobre Deus e sua obra neste mundo. As cópias existentes das Escrituras preservam, de forma eficiente e suficiente, o texto primário que transmite a mensagem original que Deus inspirou.25 Esse vasto tesouro de textos confiáveis não deveria ser motivo de surpresa. O próprio Deus prometeu que protegeria e preservaria sua mensagem (Sl 119.89; Is 40.8; Mt 5.18; Mc 13.31). Milhares de manuscritos e fragmentos de textos testificam que essa promessa tem sido cumprida. Eis por que é totalmente apropriado considerarmos a Bíblia que temos atualmente como um registro fidedigno da revelação escrita de Deus.
Por que Deus preservou sua Palavra?
O objetivo de Deus ao preservar sua Palavra era bem maior do que simplesmente multiplicar o conhecimento das pessoas ou melhorar a condição moral delas. A Bíblia “não é um livro de moralismos inspirado ou um livro de virtudes. Entretanto é, de capa a capa, um livro sobre a glória de Deus em Jesus Cristo, por meio da redenção de seu povo que habitará no reino de Cristo para todo o sempre.”26 O ponto central das Escrituras é o próprio Jesus Cristo, e o alvo da narrativa dela é seu reino.
As Escrituras são inerrantes em sua inspiração, suficiente em sua preservação e dependente de interpretação e iluminação para sua aplicação
Então, como podemos ter certeza de que as Escrituras nos transformam e nos direcionam a Cristo? Isso requer tanto interpretação quanto iluminação.
Buscando a interpretação correta
Desde o século 1, os cristãos já consideravam as Escrituras como uma palavra de Jesus Cristo. E eles também colocavam prioridade elevada na correta interpretação dos textos bíblicos. O Novo Testamento ainda estava sendo escrito quando Paulo advertiu Timóteo a observar cuidadosamente a justa interpretação das Escrituras (1Tm 4.11-16). Em uma carta posterior, Paulo retornou ao mesmo ponto e instruiu o pupilo: “maneja corretamente a palavra da verdade” (2Tm 2.15).
Portanto, como interpretamos corretamente as Escrituras hoje? Começamos estudando
Como podemos saber se nossa aplicação do texto é resultante da iluminação do Espírito?
O Espírito Santo é o Espírito da verdade . Dessa forma, qualquer verdade que venha do Espírito tem origem no Pai e exalta o Filho (Jo 15 26; 16 12-13) O Espírito da verdade jamais iluminará uma aplicação das palavras bíblicas que contrarie qualquer interpretação sólida do texto .
cada texto em seu contexto histórico. Se estivermos lendo o livro de Daniel, por exemplo, precisamos descobrir como os israelitas no exílio (os quais primeiro receberam esse texto) compreenderam os sonhos, que foram inspirados pelo Espírito Santo a Daniel. Ao estudar Isaías, é importante perguntar: “Como os primeiros leitores de Isaías teriam interpretado esse texto?” No entanto, não devemos parar aí, uma vez que Jesus e os apóstolos não pararam! Eles compreenderam que o próprio Cristo “é o foco de toda palavra da Bíblia. Cada versículo das Escrituras encontra seu cumprimento nele, e cada história bíblica termina com ele.”27 Eis por que devemos olhar para qualquer passagem bíblica no contexto da Bíblia inteira, crendo que cada uma dessas passagens se relaciona com as outras partes das Escrituras para revelar Jesus Cristo e seu reino (Lc 24.44; At 10.43).
Recebendo a iluminação do Espírito
Mesmo quando pensamos estar interpretando corretamente as Escrituras, é plenamente possível perder de vista a mensagem de Jesus. Lembra dos teólogos judeus do século 1, que encontraram Jesus pessoalmente? Eles eram especialistas de primeira grandeza na interpretação da Bíblia, mas não conseguiam ver o ponto testemunhado pelas Escrituras (Jo 5.39). E assim acontecerá conosco, até que o Espírito Santo nos mostre como reagir à Palavra de Deus (Jo 14.26; 16.12-15; 1Co 2.10-13; 2Co 3.14-18). Ainda que ouçamos as palavras das Escrituras, jamais as compreenderemos ou as aplicaremos corretamente na vida, a não ser que o Espírito esteja em ação em nosso interior (Tg 1.22–2.26).
A obra reveladora da Palavra de Deus é conhecida como iluminação. João Calvino, comentou: “De nenhum efeito é a Palavra sem a iluminação do Espírito Santo.”28 Ler a Bíblia sem o Espírito é como tentar ler um mapa no interior de uma caverna; sem alguma fonte de luz, o mapa pode estar bem na frente, porém você jamais descobrirá o caminho certo a seguir. À medida que lemos e interpretamos as Escrituras, o Espírito nos mostra como a Palavra deveria remodelar nossa vida. Respondemos a essa iluminação do Espírito com um amor mais pleno por Deus e um descanso mais profundo na graça que ele nos propiciou em Jesus.
Aonde ir primeiro caso você queira ouvir uma
Palavra de Jesus?
— Onde está Jesus? — perguntou a garotinha, enquanto corria os olhos pela sala vazia. — Quero ouvir Jesus falar comigo.
Apesar das expectativas sinceras dessa criança, a localização atual de Deus Filho não é no interior de uma sala de escola dominical, na zona rural do Missouri. Ele está com o Pai em uma posição de honra celestial (Lc 22.69; At 2.33; 5.31; 7.55-56). E, no entanto, o fato de Jesus não estar fisicamente presente entre nós não significa que não podemos ouvi-lo!
Os profetas e apóstolos escreveram nas Escrituras porque “o Espírito de Cristo” lhes declarou (1Pe 1.11). Nas palavras do papa Jerônimo, do século 5: “Ignorar a Escritura é ignorar Cristo.”29
O que isso significa para nossa vida diária é: caso ansiemos por ouvir uma palavra de Jesus, a solução não está em uma viagem pessoal aos céus ou uma visão sublime sobre a terra.
A resposta nem mesmo reside em esperar por Cristo numa sala de escola dominical!
Se você tem grande expectativa de ouvir a voz de Jesus falando ao seu coração, abra sua Bíblia.
Beba profundamente das verdades que encontrar nela.
Leia esses textos no contexto de cristãos fiéis reunidos na comunidade.
Medite nessas palavras, em sua multifacetada beleza, e receba-as como as próprias palavras de Deus. Porque é isso que elas são.
A Palavra de Deus se fez carne por nós, em Jesus Cristo. Ela foi escrita para nós nas Escrituras Sagrada. E é proclamada entre nós sempre que as Escrituras são fidedignamente ensinadas. Não precisamos questionar se o que Deus diz é verdade se ele aparecer no centro de tudo o que está ao nosso redor. O Senhor já abraçou as circunstâncias deste mundo, de uma vez por todas, na encarnação de Jesus Cristo, e ele tornou a sua verdade acessível a você no texto das Escrituras.
“A Bíblia é o meio dado por Deus pelo qual conhecemos quem Jesus é . Retire a Bíblia, desconsidere-a ou diminua a sua importância e você estará livre para inventar um Jesus diferente daquele que está inserido no Antigo Testamento e é revelado no Novo . Vivemos sob a autoridade das Escrituras, pois é assim que nos submetemos à autoridade de Deus, que está investida em Jesus, o Messias, o Senhor .” (N . T . Wright)30
A unidade das Escrituras
A Bíblia é constituída de, pelo menos, quarenta autores humanos ao longo de mil anos, mas isso não significa que ela seja fragmentada ou irregular Os 66 livros que compõem as Escrituras se entrelaçam para contar uma história singularmente gloriosa: a da criação de Deus, do pecado da humanidade e da provisão divina para a redenção de seu povo por meio de Jesus Cristo . As alianças do Senhor com a humanidade ao longo das Escrituras são a espinha dorsal que une essa história 31
Notas
1. O rascunho inicial deste capítulo foi pesquisado e escrito por Derek Brown.
2. Na Bíblia, há evidência de que Deus pode, às vezes, guiar alguém para proferir uma mensagem maior do que ele ou ela pretende dizer. Por exemplo, em João 11.47-52, Caifás declarou que Jesus deveria morrer no lugar do povo, significando que a morte de Jesus evitaria que os romanos destruíssem o templo e o povo. Porém, o que Deus revelou por meio das palavras de Caifás é que Jesus uniria judeus e gentios ao morrer pelos pecados tanto de judeus quanto de gentios. Veja JOHNSON, S. Lewis. The Old Testament in the New [O Antigo Testamento no Novo]. Grand Rapids: Zondervan, 1980. p. 94.
3. Veja WEGNER, Paul D. The Journey from Texts to Translation: The Origin and Development of the Bible [A jornada dos textos à tradução: A origem e o desenvolvimento da Bíblia]. Grand Rapids: Baker Academic, 1999. p. 30-31. Veja também: GEISLER, Norman L. e NIX, William E. A General Introduction to the Bible, Revised and Expanded (Uma introdução geral à Bíblia, revisada e expandida). Chicago: Moody, 1986. p. 21-22.
4. W EGNER. The Journey from Texts to Translation (Uma jornada dos textos para a tradução). p. 30.
5. I bidem. p. 30. Wegner observa que a Septuaginta — uma tradução grega do Antigo Testamento realizada entre 250 e 100 a.C. — usa a palavra bíblia , em Daniel 9.2, “com referência às palavras de Jeremias, que podem ter sido na forma de cartas ou uma coleção dos profetas”.
6. TERTULIANO. Against Praxeas [Contra Práxeas]. p. 15; TERTULIANO. Against Marcion [Contra Marcião], 3.14; 4.6.
7. LEWIS, C.S. A viagem do Peregrino da Alvorada. São Paulo: Martins Fontes, 1997. p. 198.
8. B. B. Warfield escreveu extensivamente, defendendo a ideia de que theopneustos significa “soprado por Deus”. Veja A inspiração e autoridade da Bíblia . São Paulo: Cultura Cristã, 2010.
9. Para ler mais sobre a visão de Jesus quanto ao Antigo Testamento, veja WENHAM, John. Christ and the Bible [Cristo e a Bíblia]. Downers Grove, IL: InterVarsity, 1973. p. 11-37.
10. Embora o uso da palavra “inerrância” para descrever a natureza das Escrituras seja recente, o conceito de uma Bíblia isenta de erros tem sido afirmado ao longo da história da Igreja. Para obter uma pesquisa histórica útil a partir da igreja primitiva, veja GARRET, Duanne e MELIK, Richard, ed. “Innerancy in History” [Inerrância na História], em Authority and Interpretation [Autoridade e intepretação]. Grande Rapids: Baker, 1987. p. 127-54.
11. O termo “inerrância” passou a ser mais comum a partir da metade do século 19. Os usos anteriores da palavra parecem ter surgido em descrições críticas dos poderes atribuídos ao papa da Igreja Católica Romana. Próximo ao fim do século 19, um opositor da plena veracidade das Escrituras — o pastor presbiteriano Charles Augustus Briggs — valeu-se do termo para descrever a visão das Escrituras que ele rejeitava. Veja BRIGGS, C.A. Inspiration and Inerrancy [Inspiração e inerrância]. Londres: Clarke, 1891. Durante todo o século 20, o termo inerrância cresceu em popularidade entre cristãos fundamentalistas e evangélicos conservadores. Por causa, em parte, de distorções e diluições da expressão “infalibilidade”, nas décadas finais do século 20, tornou-se necessário elevar a importância do conceito de inerrância e formular mais claramente o significado do termo. Em 1978, mais de trezentos líderes evangélicos se reuniram para formar o International Council on Biblical Inerrancy (Concílio Internacional sobre a Inerrância Bíblica). No período de oito anos, esse concílio desenvolveu três documentos que articulavam o significado e as implicações da inerrância bíblica: “The Chicago Statement on Biblical Inerrancy” [A Declaração de Chicago sobre inerrância bíblica], 1978; “The Chicago Statement on Biblical Hermeneutics” [A Declaração de Chicago sobre hermenêutica bíblica], 1982; e “The Chicago Statement on Biblical Application” [A Declaração de Chicago sobre aplicação bíblica], 1986.
12. FEINBERG, Paul D., “O significado da inerrância”, em A inerrância da Bíblia
GEISLER, Norman (org.). São Paulo: Editora Vida, 2003. p. 313. Em décadas recentes, argumenta-se que Deus jamais pretendeu fornecer informações precisas sobre as áreas de história, geografia ou ciência nas Escrituras. Ele apenas intentou providenciar a verdade ao seu povo sobre o caminho da salvação, além de questões pertinentes ao viver cristão. Esse argumento é falho por duas razões: (1) É impossível separar tais declarações bíblicas das questões relativas à salvação e à vida cristã. O que cremos sobre Deus e Jesus Cristo é tão alicerçado e entretecido com a história e com a confiabilidade de outras afirmações bíblicas que diminuir uma é o mesmo que remover os fundamentos de confiança em outra. (2) Essa posição desconsidera o que a Igreja sempre acreditou sobre a Bíblia: que ela é totalmente verdadeira e isenta de erros em tudo o que afirma. Para ler mais a respeito da posição histórica da igreja na confiabilidade das Escrituras, veja WOODBRIDGE, John. Biblical Authority [Autoridade bíblica]. Grand Rapids: Zondervan, 1982; e HANNAH, John (ed.). Innerancy and the Church [Inerrância e a Igreja]. Chicago: Moody, 1984.
13. D eclaração de Chicago sobre inerrância bíblica, Exposição: Infalibilidade, inerrância e interpretação.
14. O artigo 13 da Declaração de Chicago sobre Inerrância Bíblica esclarece o significado de inerrância em relação a questões como números redondos, linguagens figuradas e características similares do texto bíblico. “Afirmamos a propriedade do uso da inerrância como termo teológico referente à total veracidade das Escrituras. Negamos que seja correto avaliar as Escrituras de acordo com os padrões de verdade e erro estranhos ao uso ou propósito da Bíblia. Negamos ainda mais que a inerrância seja contestada por fenômenos
bíblicos, tais como uma falta de precisão técnica contemporânea, irregularidades de gramática ou de ortografia, descrições da natureza feitas com base em observação, referência a falsidades, uso de hipérbole e números arredondados, disposição do material por assuntos, diferentes seleções de material em relatos paralelos ou uso de citações livres.”
15. FRAME, John. A doutrina da Palavra de Deus, vol. 4 da Teologia do senhorio. São Paulo: Cultura Cristã, 2013. p. 97.
16. CLEMENTE de Roma. Letter to the Corinthians (Carta aos coríntios). p. 29.
17. I RINEU de Lião. Against Heresies [Contra as heresias], 2:28:3.
18. J USTINO Mártir. Dialogue With Trypho [Diálogo com Trifão]. p. 65.
19. T ERTULIANO de Cartago. Treatise on the Soul [Tratado sobre a alma]. p. 21.
20. ATANÁSIO de Alexandria. Easter Letter [Carta pascoal]. 19:3.
21. AGOSTINHO de Hipona. Letters [Cartas]. p. 82
22. Declaração de Chicago sobre inerrância bíblica, artigos 1, 11 e 12.
23. G RUDEM, Wayne. Teologia sistemática. 2 ed. São Paulo: Vida Nova, 2011.
24. BAHNSEN, Greg L. “A inerrância dos autógrafos”, em A inerrância da Bíblia GEISLER, Norman (org.). São Paulo: Editora Vida, 2003. p. 181.
25. P ara obter mais informações sobre a prática da Crítica Textual e da confiabilidade dos textos bíblicos, veja: WALLACE, Daniel. “The Reliability of the New Testament Manuscripts” [A confiabilidade dos manuscritos do Novo Testamento], em Understanding Scripture [Compreendendo a Escritura]. ed. GRUDEM, Wayne, COLLINS, C. John e SCHREINER, Thomas R. Wheaton, IL: Crossway, 2012, bem como, JONES, Timothy Paul. Misquoting Truth [Distorcendo a verdade]. Downer’s Grove, IL: IVP, 2007.
26. PRINCE, David. “The necessity of a Christocentric Kingdom-Focused Model of Expository Preaching” [A necessidade de um modelo centrado no reino cristocêntrico na exposição da pregação] (Tese de doutorado, Southern Baptist Theological Seminary, 2011). p. 29.
27. MOHLER, R. Albert. Deus não está em silêncio. São J. dos Campos, SP: Editora FIEL, 2011. p. 75.
28. CALVINO, João. As Institutas, III.2.33.
29. J ERÔNIMO. Preface to Eustochium, Commentarii in Isaiam. [Prefácio a Eustóqquio. Comentário em Isaías].
30. W RIGHT, N.T. Surpreendido pelas Escrituras. Viçosa, MG: Ultimato, 2015. p. 26.
31. WARD, Timothy. Teologia da Revelação. São Paulo, SP: Vida Nova, 2017. p. 60-64.
Como o Antigo Testamento chegou até nós
O Antigo Testamento
Já passou pela sua mente que o Novo e o Antigo Testamento não encaixam muito bem?
A impressão é que o Antigo Testamento pegou Deus numa segunda-feira de manhã, de mau-humor e estressado, enquanto o Novo Testamento foi inspirado durante um fim de semana ensolarado, após algumas xícaras de café e uma boa conversa. Pode ser que os dois testamentos lhe pareçam tão diferentes que é difícil imaginá-los inspirados pelo mesmo Deus.
Era exatamente assim que a Bíblia parecia ao filho de um certo pastor. Com o tempo, a tensão que esse homem sentia entre os testamentos emergiu em um novo movimento religioso.
Uma Bíblia mutilada e múltiplos deuses
Desde a sua mais tenra infância, o filho desse pastor ouviu as palavras do Antigo e do Novo Testamentos e leu ambos, lado a lado. Como um jovem empreendedor, enriqueceu construindo barcos e doando milhões a uma grande igreja da qual havia se tornado membro. Então, em algum momento durante a meia-idade, ele passou a questionar a fé que tinha recebido quando criança.
O filho do pastor tornou-se obsessivo em relação às diferenças entre os dois textos, e concluiu que o Antigo Testamento descrevia uma divindade totalmente distinta da divindade do Novo Testamento. O Deus que criara o cosmo não era, de acordo com esse novo ponto de vista, o mesmo Deus que enviou Jesus à Terra.
Tão logo o filho do pastor chegou a essa conclusão, começou a condensar as Escrituras de modo a adaptá-la às novas crenças. Primeiro, cortou todo o Antigo Testamento, por considerá-lo como a revelação errante de um deus inferior. Depois, removeu textos do Novo Testamento, exceto o Evangelho de Lucas e dez das cartas de Paulo. Com apenas onze textos remanescentes, aprender os livros da Bíblia em sua escola dominical, repentinamente, passou a ser uma tarefa mais simples!
Não obstante, as mutilações não foram suficientes para acomodar as novas crenças desse homem. Para concluir suas revisões, ele retirou cada indício da revelação de Deus a Israel do Evangelho de Lucas e das cartas paulinas. Ao terminar, nem mesmo o menor fragmento ou sombra do Antigo Testamento restou em sua Bíblia.
Apesar dos apelos de proeminentes líderes cristãos, o filho do pregador recusou-se a parar de proclamar os dois deuses separados e sua desfigurada Bíblia. Sua igreja o desfiliou. No entanto, nem esse ato o demoveu de sua ação. Logo, ele começou a viajar para outras partes do mundo, na tentativa de convencer outros cristãos a mutilar suas Bíblias e modificar suas crenças para acomodar a dupla dinâmica de divindades. Por fim, essas visões foram condenadas e seus seguidores reduziram-se. Mas não antes de milhares de pessoas abraçarem o distorcido pensamento sobre a Palavra de Deus.
E quando esse filho de pastor proclamou essas crenças problemáticas?
Teria ocorrido no início do século 19, na mesma época em que Joseph Smith declarou que seu Livro de mórmon representava uma nova revelação de Deus? Teria acontecido entre o fim do século 19 e o começo do século 20, quando movimentos como o dos Cientistas Cristãos reivindicaram que a aflição física era uma mera ilusão? Ou teria sido no início do século 21, quando determinados livros, como O código da Vinci, encabeçaram a lista dos mais vendidos e renovaram o interesse em heresias antigas?
Todas essas possibilidades passaram longe do alvo.
O nome do filho do pregador era Marcião de Ponto, que declarou suas ideias na primeira metade do século 2 d.C., menos de uma geração após a morte do último apóstolo! Quando Marcião nasceu, no norte da Ásia Menor, o apóstolo João provavelmente ainda estava vivo e pregando no lado oeste da mesma Ásia Menor.
Por um curto período, no século 2, o “Marcionismo” tornou-se amplamente popular em certas regiões do Império Romano. No entanto, não demorou muito até que líderes cristãos reconhecessem esse movimento como heresia e rejeitassem as alegações de Marcião sobre Deus e a Bíblia. Ainda assim, esse construtor de barcos, da província do Ponto, levantou algumas questões pertinentes a respeito da Bíblia — questões que as pessoas ainda fazem hoje.
Os cristãos precisam do Antigo Testamento?
Embora a reivindicação de Marcião quanto a autoria de deuses distintos para o Antigo e o Novo Testamentos seja corretamente rejeitada por nós, é fácil questionar se os cristãos, de fato, precisam do Antigo Testamento. Seria possível desconsiderar o Antigo Testamento sem diminuir a fé em Jesus Cristo? Expressando de outra forma, a história de Israel é realmente necessária para a compreensão da história de Jesus Cristo?
A melhor maneira de descobrir a resposta é apenas ouvir os ensinamentos de Jesus. Um século antes de Marcião começar a apregoar suas heresias na Ásia Menor e em Roma, Jesus tratou todo o Antigo Testamento como “a Palavra de Deus” (Mc 7.13; veja também Mt 22.31-32; Jo 10.35). Jesus criticou o uso nocivo que os líderes religiosos faziam das palavras de seu Pai, no entanto, jamais corrigiu ou contradisse as leis e as profecias do Antigo Testamento. Ao contrário, ele as cumpriu, tratando-as como a revelação inequívoca da vontade de seu Pai. Os primeiros cristãos reverenciaram o Antigo Testamento como a Palavra de Deus, pois o Salvador tinha reconhecido o Antigo Testamento como tal. Eis o motivo pelo qual as igrejas, no século 2, correta e prontamente, rejeitaram a exclusão do Antigo Testamento por parte de Marcião.
Certamente há descontinuidades entre o Antigo Testamento e o Novo Testamento. Isso ocorre porque o cumprimento das promessas de Deus em Jesus Cristo inaugurou o reino que o Antigo Testamento meramente prenunciou. No entanto, há também uma inconfundível continuidade entre os dois testamentos, pois o mesmo Deus estava cumprindo as mesmas promessas em ambos.1 O Deus Criador, que inspirou o Antigo Testamento, era também o Pai celestial que enviou o seu Filho para ser o Salvador do mundo.
“Marcião [ . . .] é mais nebuloso que a neblina [ ] mais quebradiço que gelo, mais traiçoeiro que o rio
Danúbio, mais íngreme que as montanhas do Cáucaso [ . . .] Poderia algum roedor consumir mais do que este homem que agora corrói os Evangelhos? [ . . .] Seus seguidores não podem negar que a sua fé, outrora, concordava com a nossa . Sua própria carta comprova isso! [ ] Agora, esse homem do Ponto vem a nós com divindades duplas, duas rochas em colisão nas quais ele mesmo naufraga . [ . . .] Mas, uma única lâmpada somente parece dupla a alguém com olhos turvos [ . . .] Se Deus não for um Deus, ele não é Deus nenhum . ”2 (Tertuliano de Cartago, fim do século 2)
Você já se perguntou quem escreveu os livros da Bíblia e como estes livros foram reunidos? Sabia que alguns textos foram retirados da Bíblia? Já foi questionado sobre a confiabilidade das histórias de Jesus nos Evangelhos?
Em A história da Bíblia você encontrará as respostas para suas dúvidas, mergulhando no impressionante relato do texto mais maravilhoso e mais bem preservado que o mundo já viu. O Dr. Timothy Paul Jones e seus colaboradores respondem perguntas comuns sobre a confiabilidade e precisão da Bíblia de uma maneira fácil de compreender. Aqui estão alguns dos assuntos tratados neste livro:
• Como o Antigo Testamento e o Novo Testamento chegaram até nós?
• Quais as defi nições de termos como “inspirado”, “inerrante” e “infalível”?
• Quais motivos levaram os livros da Bíblia a serem escolhidos?
• Quais histórias convincentes há por trás de Policarpo, Serapião, João Ferreira de Almeida e outros personagens?
• Fatos interessantes e fascinantes sobre a Bíblia - por exemplo: há mais de 5.700 manuscritos conservados do Novo Testamento em comparação com 210 cópias sobreviventes das obras de Platão.
Descubra como Deus se comunica conosco por meio de sua Palavra escrita e como ela surgiu. Entenda facilmente por que o processo de impressão da Bíblia não é apenas mais um sistema gigante da indústria. Tenha uma visão geral e rica da história das Escrituras em um piscar de olhos.
Encontre neste livro muito conhecimento para si mesmo ou para fazer um estudo com grupos de estudo bíblico de sua igreja e saiba que este livro é perfeito para jovens e adultos aprenderem mais.
Esta leitura vai enriquecer o seu conhecimento!
A história da Bíblia CNPJ 44.197.044/0001-29 • SAC 0800-7736511
ISBN 978-65-5655-346-7 Conhecimento Bíblico