Conversando com a garça
E
u estava no pesqueiro deserto, sabendo que no frio pesca-se pouco, mas a esperança é uma boba que se alimenta de ilusão.
Aí me senti observado, o sexto sentido alertando. Me virei e uma garça, branca como chapéu de freira, olhava imóvel. Oi, garça, falei, e ela balançou a cabeça. Está me entendendo, pensei, e perguntei o que ela fazia ali. Continuou me olhando, como se não tivesse entendido. Depois, com aquele seu passo delicado e cauteloso, foi para a beirada da lagoa e ficou olhando a água muito atentamente. De repente, o pescoço curvou como vara com peixe grande, e a cabeça baixou tão depressa que, quando vi, já voltava para a posição altaneira, com um peixinho na ponta da longa tesoura do bico.
A caneta e o anzol.indd 27
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