A primeira
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ez anos de idade, cinco da manhã. Mãe me acorda, me dá um inesquecível sanduíche de ovo, e o vô me dá a mão porque vou ainda tonto de sono a caminho da ferroviária de Assis. Foi uma tão curta quanto inesquecível viagem: o dia amanhecia nos janelões, o trem de bitola estreita chacoalhava e cheirava a diesel e aventura, e eu ia menino entre homens silenciosos e graves como estátuas, talvez porque ainda sonolentos, ou levando o peso da rotina a caminho do trabalho, mas me faziam sentir também adulto, apesar das calças curtas.
Descemos antes da cidadezinha vizinha, Tatuí, numa estação de carga com plataforma vazia, e dali batemos uma trilha cortando um capinzal que virou capoeira, onde uma cascavel chacoalhou o guizo, o vô desviou rápido me puxando pelo braço. Meu vô tinha lutado na Revolução Paulista
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