CANETA E O ANZOL

Page 5

A primeira

D

ez anos de idade, cinco da manhã. Mãe me acorda, me dá um inesquecível sanduíche de ovo, e o vô me dá a mão porque vou ainda tonto de sono a caminho da ferroviária de Assis. Foi uma tão curta quanto inesquecível viagem: o dia amanhecia nos janelões, o trem de bitola estreita chacoalhava e cheirava a diesel e aventura, e eu ia menino entre homens silenciosos e graves como estátuas, talvez porque ainda sonolentos, ou levando o peso da rotina a caminho do trabalho, mas me faziam sentir também adulto, apesar das calças curtas.

Descemos antes da cidadezinha vizinha, Tatuí, numa estação de carga com plataforma vazia, e dali batemos uma trilha cortando um capinzal que virou capoeira, onde uma cascavel chacoalhou o guizo, o vô desviou rápido me puxando pelo braço. Meu vô tinha lutado na Revolução Paulista

A caneta e o anzol.indd 9

9

9/28/12 10:34 AM


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.