ambiente esterilizado se apresente. O desconforto causado pelo cheiro de substâncias químicas inquieta o novo visitante, que segue o rumo do destino. Ao som do destravar das largas portas conforme avança pelos corredores, seus batimentos cardíacos aceleram. Ao entrar, é recepcionado por uma senhora grisalha, que, sem levantar os olhos da prancheta, o cumprimenta. — Boa tarde, senhor Daniel! — ela diz enquanto ergue a cabeça, acenando para a jovem enfermeira e a dispensando. Um grande monitor na parede chama a atenção de Daniel. Ele se aproxima da tela colorida e encara os diversos quadrados. São pequenas imagens dos pacientes, num enquadramento fixo, exibindo seus rostos entubados. Daniel examina a tela, com os olhos cada vez mais apertados, vasculhando, da esquerda para a direita, à procura de Alana. Um nó se forma em sua garganta quando, finalmente, no sexto quadrado, reconhece as sobrancelhas perfeitas destacando-se na pele pálida de sua mulher. A senhora, como experiente assistente, o aguarda em silêncio, para uma incursão ao espaço de luta pela vida. — Por favor, me acompanhe. Enquanto ela diz isso, Daniel imagina que esta frase deva ser a mais dita dentro de um hospital. Outra porta é liberada por meio de uma fechadura mecânica. Assim que entram, Daniel sente a temperatura cair de maneira drástica. Seus passos são bem mais lentos que os da senhora; logo atrás dela, ele se concentra no perfeito coque grisalho, como uma forma de evitar olhar em volta. Respirações mecânicas os cercam durante todo o trajeto. Seres, ainda vivos, ligados a máquinas de luta. Cada segundo, cada compasso elétrico, dá nota à sinfonia do existir. Daniel repara que a senhora freia seus passos, e diante da cortina que envolve o último cubículo, acena para que ele se aproxime. Ao seu lado, ele observa o movimento das mãos quando ela afasta lentamente o tecido. A imagem descoberta paralisa Daniel.