Clipping Fernanda Emediato

Page 1

De uma geração de escritores que começou a fazer literatura em Belo Horizonte no início da década de 1970, à qual pertenciam, entre outros, Antônio Barreto, Jeferson de Andrade e Paulinho Assunção, Luiz Fernando Emediato, ao contrário dos seus colegas, parou de escrever aos 30 anos. Achava que não valia a pena continuar na luta. A partir daí, sempre vivendo em São Paulo, trabalhou em jornais, foi diretor de televisão, coordenou campanhas políticas e, em 1990, resolveu mudar mais uma vez: deixou o jornalismo e criou uma editora, a Geração Editorial, que está no mercado desde então, e atualmente tem seu foco voltado para a literatura de ficção, livros de reportagens e literatura infantojuvenil. Só agora, aos 62 anos, Luiz Fernando Emediato resolveu voltar à ativa como escritor. Mas não veio sozinho. Chega acompanhado dos filhos Fernanda, de 30 anos, e Antônio Anselmo, de 8. Recentemente, eles lançaram em dose tripla, durante festa realizada em São Paulo, os livros 'Não passarás o Jordão – Tortura e morte na ditadura militar', que sai em nova edição revisada, e os infantis 'A menina perdida' e 'Minha família', de autoria dos filhos. “Foi uma alegria grande.


A Fernanda começou a escrever para se aproximar de mim e o Antônio vive no meio de livros desde que nasceu. O livro da Fernanda foi escrito quando ela era ainda adolescente e estava desaparecido. O do Antônio, ditado para mim quando ele tinha 6 anos , é um primor de bom humor e ironia. Esse menino vai longe”, brinca Emediato. Se a família escreve unida, também trabalha unida. Na Geração Editorial desde os 14 anos, quando começou atuando como recepcionista, atualmente Fernanda Emediato é a diretora da empresa, em que ainda coordena o departamento voltado para a literatura infantojuvenil. “Quase tudo o que aprendi na editora foi com meu pai. Fui passando por quase todos os setores, o que me deu um grande know-how de como as coisas funcionam num universo como este. Sou muito grata a meu pai quando ele viu que eu estava preparada me deu parte da sociedade. Hoje, a Geração faz parte da minha vida”, diz. Com a experiência adquirida ao longo dos anos, Fernanda diz que o lado mais difícil de trabalhar com livros não é tanto a parte editorial, mas a distribuição, principalmente em um país das dimensões do Brasil. No caso dos infantis e infantojuvenis, é mais problemático ainda. “Os espaços nas livrarias destinados ao segmento é muito pequeno. E o que possuímos temos que dividir e vamos perdendo feio para os livros de brinquedo, que têm pelúcia, bonecas, imagens 3D, todos impressos na China ou na Índia, o que permite que sejam vendidos aqui a preços mais baixos que os nossos. Se não fossem as compras feitas pelo governo, seria muito difícil continuar nesta área”, conta Fernanda. Quanto ao fato de trabalhar com o pai, o que nem sempre é tarefa das mais fáceis, ela diz que, em certos assuntos, ele lhe dá bastante autonomia. Em outros, nem tanto. “Como somos de gerações diferentes, às vezes temos ideias opostas e nos confrontamos em alguns casos. Acabamos discutindo o assunto e, se eu não conseguir convencê-lo de que estou certa, a palavra final é dele. Mas nem por isso deixo de respeitá-lo, pois ele tem uma experiência muito grande”, diz Fernanda. Não passarás o Jordão De Luiz Fernando Emediato, contos, 224 páginas, R$ 34 A menina perdida De Fernanda Emediato, infantil, 24 páginas, R$ 29,90 Minha família De Antônio Anselmo Emediato, infantil, 64 páginas, R$ 39,90

• Todos da Geração Editorial. Informações: www.geracaoeditorial.com.br


LANÇAMENTOS EM SÃO PAULO E RIO DE JANEIRO


Livros

Das bancas ás livrarias Cresce no mercado o nicho editorial que abriga jornalistas e, em menor número, publicitários Juliana Kunc Dantas

Não são muitos jornalistas que atingem altas marcas de vendas, mas a maior parte deles preenche as prateleiras das livrarias com qualidade. Seja com grandes reportagens, produções técnicas de comunicação ou ficção. Há casos de profissionais que se dedicam paralelamente aos livros, como Eliane Brum, Carlos Heitor Cony, Carlos Moraes e Caco Barcellos, por exemplo. Outros, como Ruy Castro, dedicam-se exclusivamente à literatura. Ele, em particular, ao rentável nicho das biografias. E há quem tenha optado por abandonar a correria dos fechamentos. O escritor Paulo Coelho, que na juventude foi repórter de jornal no Rio de Janeiro, já vendeu mais de 100 milhões de exemplares de suas publicações, com livros na lista dos dez mais, no Brasil e em diversos cantos do mundo. Autor da biografia de Paulo Coelho - "O Mago" (Planeta) - de "Olga" e "Chatô" (ambos pela Companhia das Letras), Fernando Morais já foi traduzido em 21 países e já passou dos 3 milhões de exemplares vendidos. Laurentino Gomes, com um único livro, já está perto de alcançar a marca dos 600 mil exemplares vendidos. Diante da aceitação maciça do público, as editoras reconhecem a importância desse segmento. Cada vez mais, o fato de jornalistas se aventurarem no mundo dos livros se consolida fundamental para a sociedade. Em 2001, a Geração Editorial publicou o livro "Memória das trevas - uma devassa na vida de Antonio Carlos Magalhães", do jornalista baiano João Carlos Teixeira Gomes. A aposta virou best-seller e serviu de alerta ao país sobre a figura de ACM. Para a diretora editorial da Geração, Fernanda Emediato, a proposta de dar espaço para assuntos polêmicos foi essencial para a editora se tornar conhecida no mercado.


"O livro 'A república na lama', de José Nêumanne Pinto, tratava do impeachment do presidente Fernando Collor e foi um dos primeiros instant books produzidos no Brasil, ainda durante o calor dos fatos", explica Fernanda. "Logo em seguida, a Geração publicou o explosivo "Mil dias de solidão", do ex-porta-voz de Collor, Cláudio Humberto Rosa e Silva." O livro "Sem vestígios - revelações de um agente secreto da ditadura militar", da jornalista Taís Morais, teve a primeira edição com 30 mil exemplares. Seu outro título "Operação Araguaia" ganhou o Prêmio Jabuti. "Livros-reportagem são o nosso carrochefe", pontua. O jornalista e tradutor de grandes escritores - como o colombiano Gabriel García Márquez - Eric Nepomuceno atribui esse fluxo migratório à diminuição do espaço das grandes reportagens nos veículos de comunicação. "Algum jornal brasileiro toparia bancar - e publicar, em série de reportagens - "Corações sujos", de Fernando Morais, ou "O massacre", que eu escrevi sobre o que aconteceu em abril de 1996 em Eldorado do Carajás?", questiona. "Fernando e eu publicamos essas reportagens em livro. Sequer procuramos algum jornal ou revista, porque evidentemente seria inútil." Nepomuceno observa uma vantagem para os jornalistas que transformam o dia a dia da reportagem em literatura. "Livros de não ficção (reportagens, ensaios jornalísticos, perfis, biografias) costumam vender mais que de ficção. Das vezes em que apareci em listas de best sellers, foi com esse tipo de livro", aponta. Reportagens literárias Livros que contam a História sob um viés de grande reportagem têm conquistado o público. "1808" (até a 16ª edição pela editora Planeta), escrito por Laurentino Gomes na ocasião dos 200 anos da vinda da corte portuguesa ao Brasil, é um fenômeno editorial. Já bateu a marca das 500 mil cópias vendidas e segue bem cotado nos rankings. Para a divulgação do livro, Laurentino viajou por mais de 50 cidades e deu cerca de 200 palestras. Ele considera que a participação do escritor no processo de vendas do produto é fundamental. "O mais importante garoto propaganda de um livro é o próprio autor. É com o autor que o leitor quer conversar. Não é com o distribuidor, não é com o agente literário, não é com o assessor de imprensa", expõe. "A repercussão do livro é proporcional ao envolvimento que o autor tem com a sua divulgação", completa. Mas, para se dedicar de corpo e alma ao primeiro livro, Laurentino arriscou. Abandonou o cargo de diretor superintendente da editora Abril, quando faltavam dois anos para se aposentar. Ele afirma que não sente falta da rotina de redação, ambiente


em que trabalhou durante os 32 anos de carreira. O escritor se diz incomodado pela pressão do fechamento e assegura que os livros lhe dão mais tempo para o aprofundamento na pesquisa. No momento, ele se dedica à continuação de "1808". A nova produção tratará da Independência do Brasil. Deve chegar às livrarias em setembro de 2010, às vésperas da eleição presidencial. O jornalista e ex-padre Carlos Moraes, que largou a batina e foi à luta nas redações (da revista Realidade, por exemplo) na década de 1970, pondera que viver só de livros é para poucos. Suas duas últimas produções "Agora Deus vai te pegar lá fora" e "Desculpem, sou novo aqui", ambas da editora Record, são livres memórias do tempo em que esteve preso em sua terra natal, Rio Grande do Sul, na época da ditadura brasileira. Para conseguir tempo para escrever um livro, precisa conciliar com a rotina do jornalismo. "Quando me perguntam pelas minhas influências literárias, eu digo: Barão, Madrugada e Saphira." O escritor se refere, na verdade, às três marcas de erva de chimarrão que saboreia enquanto escreve. "Descobri que a Barão resulta num estilo mais clássico, machadiano; a Madrugada num texto assim mais matinal, vivaldiano; e a?Saphira num pique assim?mais?vaporoso", brinca. Histórias reais como aquelas contadas sob o olhar atento e minucioso de Eliane Brum. No final do ano passado foi lançado "O olho da rua - uma repórter em busca da literatura da vida real" (Globo). É a compilação de dez reportagens publicadas na revista Época, seguidas de reflexões da jornalista sobre erros e acertos diante de cada cenário retratado. São 420 páginas de intensa produção jornalística, que traz à superfície questões desconfortáveis para a sociedade, que acostumou o olhar a não se indignar. "A realidade supera em muito a ficção na capacidade de nos surpreender.

















Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.