O outro lado do paraíso - Press Book

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O OUTRO LADO DO PARAÍSO APRESENTAÇÃO “O outro lado do paraíso” é o segundo longa-metragem de André Ristum e, assim como seu primeiro filme, “Meu País”, é um filme sobre afeto e relação pai e filho, agora em um contexto social e político dramático: o final do governo de João Goulart, em 1964, a derrocada de seu programa de reformas – as reformas de base, que permitiriam ao país se desenvolver – e a destruição dos sonhos de muitos brasileiros. O filme é baseado em livro autobiográfico do escritor Luiz Fernando Emediato, que tinha 12 anos quando seu pai Antonio Trindade – um brasileiro sonhador – decide ir com toda a família – a mulher Nancy Emediato e os filhos – para Brasília, no início de 1963, quando a agitação social e a ameaça de golpe civil e militar deixavam todo o país tenso. O golpe transforma em pesadelo as expectativas de Antonio e sua família. As expectativas de Antonio fluem enquanto se agrava a crise política e Nando – o préadolescente que Emediato era na época – sofre com a ausência de sua quase namorada Alice, deixada no interior rural de Minas, e logo se enamora da filha de sua professora, Iara, uma menina moderna e avançada para a época. Ao mesmo tempo ele se envolve com livros de literatura e política e tenta escrever poesia. Produzido pela Mercado Filmes, de Nilson Rodrigues – uma produtora de Brasília – e pelo próprio Emediato, por intermédio da Geração Entretenimento, subsidiária de sua editora de livros, Geração Editorial – “O outro lado do paraíso” passou mais de um ano no circuito de festivais nacionais e internacionais, nos quais ganhou mais de 10 prêmios. A distribuição é da Europa Filmes. A adaptação passou pelos roteiristas Ricardo Tiezzi, José Rezende e André Ristum, com colaboração de Lusa Silvestre e Paulo Halm, e foi finalizada por Marcelo Muller, com consultoria do cubano Senel Paz, conhecido por um filme indicado ao Oscar “Morango com Chocolate”. No elenco estão o galã global Eduardo Moscovis – aqui num papel bem diferente dos que estava acostumado a fazer – a atriz de cinema e teatro Simone Iliescu (como Nancy Emediato) e ainda Jonas Bloch (o avô Simeão Emediato), Flávio Bauraqui (Jorjão, um sindicalista), Murilo Grossi (Padre Alberto, inspirado em Frei Betto) , Stephanie De Jongh (Marina, alfabetizadora de adultos pelo método Paulo Freire), Camila Márdila (Sueli, irmã de Nando, em seu primeiro longa-metragem, antes de despontar em “Que horas ela volta”), Iuri Saraiva (Ricardo, um soldado golpista em conflito com seu namoro com Sueli) e Adriana Lodi (como a professora Iolanda, que estimula as leituras do futuro escritor) além de quase dois mil figurantes.


O filme revelou quatro brilhantes atores infantis – Davi Galdeano, o protagonista, Maju Souza, no papel de Iara, Taís Bizerril, como Alice e Henrique Bernardes, como Tuniquinho, de apenas 5 anos. André Ristum começou a rodar “O outro lado do paraíso” em dois sets na Distrito Federal. O maior foi numa cidade cenográfica construída, com mais de 15 mil m2, no Polo Cinematográfico de Brasília, que estava abandonado e foi restaurado para receber esta produção. A cidade cenográfica, criada pelo diretor de Arte Beto Grimaldi e pelo cenógrafo Andrey Hermuche, com a coordenação de Rita Andrade, reconstituiu o que era parte de Taguatinga em 1963: ruas empoeiradas e casas basicamente de madeira, onde moravam então aqueles que chegaram de várias partes do país para construir a Nova Capital. Casas, hotel, cinema, escola, armazéns, agência dos Correios, postes de eletricidade, tudo foi surgindo a partir de pesquisas feitas em documentos e fotografias históricas e em filmes da época, como “Brasília – contradições de uma cidade nova”, de Joaquim Pedro de Andrade, que teve várias de suas cenas agregadas ao filme, de tal forma que é praticamente impossível saber o que é documento histórico e imagens de ficção. A primeira parte do filme – transcorrida numa pequena cidade do Norte de Minas, Bocaiúva, no paupérrimo Vale do Jequitinhonha – foi filmada no vilarejo de Olhos D’Água, distrito de Alexânia, no Distrito Federal, um pequeno povoado cujas ruas e casas foram preservados nos últimos 50 anos. O filme foi gravado em sete semanas, em 2013 e finalizado entre 2013 e 2014. Passou o final de 2014, 2015, e parte de 2016, no circuito de Festivais. Ganhou os prêmios de Melhor Roteiro, Ator, Atriz, Edição de Som, Direção de Arte, Som Direto, além de Melhor filme pelo Júri Popular no Festival de Brasília (Prêmios da Câmara Legislativa) e foi escolhido como Melhor Filme pelo Júri Popular do Festival de Gramado. Em Trieste, na Itália, ganhou o prêmio principal, do Júri Oficial, e também o concedido pelo Júri Popular de Jovens. Neste mesmo festival Maju Souza ganhou o prêmio de Melhor Atriz. Em Lleida, na Catalunha (Espanha), ganhou o Prêmio Radio Exterior de Espanha, ao longa metragem que melhor reflete a realidade latino americana e foi o segundo melhor filme, pelo Júri Popular. Foi exibido também nos Festivais do Rio, Mostra de Cinema de São Paulo e em festivais e mostras em Guadalajara, Havana, Lima, São Domingos, Santander, Montevidéu, Buenos Aires, Punta del Este, Chicago, Moscou e Luxemburgo.

SINOPSES CURTAS Opção 1 Anos 60. O Brasil vivia um período turbulento, com o governo em crise, o Congresso em chamas, denúncias de corrupção na imprensa e um golpe a caminho. Neste país dividido, Nando, um menino de 12 anos, narra as aventuras do pai, Antonio Trindade, um idealista sonhador que sai do interior de Minas para Brasília. O desejo de ascensão social, de participar da construção da nova capital e de apoiar as reformas prometidas pelo presidente João Goulart é frustrado pelo golpe militar. O golpe chega quando Nando começa a viver uma história de amor com Iara, uma pré-adolescente avançada


para aqueles tempos. Os sonhos se tornam pesadelos. Um capítulo efervescente da história do Brasil baseado em livro autobiográfico de Luiz Fernando Emediato. Opção 2 Anos 60. O Brasil vivia um período turbulento, o governo em crise e um golpe a caminho. Neste país dividido, Nando, de 12 anos, narra as aventuras do pai, Antonio, um sonhador que sai do interior de Minas para Brasília. Nando começa a viver uma história de amor com Iara. O desejo de ascensão social no governo de João Goulart é frustrado pelo golpe militar. Os sonhos se tornam pesadelos. Um capítulo efervescente da história do Brasil baseado em livro autobiográfico de Luiz Fernando Emediato. Opção 3 Através do olhar de Nando, um pré-adolescente que se apaixona por Iara, acompanhamos a trajetória de seu pai Antonio, que tem os sonhos destruídos pelo golpe militar de 1964.

SINOPSE LONGA Brasil, 1963. O País vivia um período turbulento, com o governo em crise, o Congresso em chamas, denúncias de corrupção na imprensa e um golpe a caminho. Neste país dividido, um brasileiro anônimo, Antonio Trindade, entusiasmado com as propostas de reformas do presidente João Goulart, sai de Minas Gerais com mulher Nancy Emediato e três filhos para tentar realizar em Brasília, cidade ainda em construção, o maior sonho de sua vida: achar o paraíso na terra. A história, real e baseada em livro autobiográfico de Luiz Fernando Emediato, é contada em off por Nando, o filho de Antonio, que tinha então 12 anos. Sua mãe, Nancy, que sofria com as ausências do marido, um aventureiro que vivia viajando por garimpos, encontra em Taguatinga, cidade satélite de Brasília, uma certa estabilidade, apesar da pobreza, e sonha – assim como o marido – com um futuro melhor. Ali eles convivem com Jorjão, um sindicalista, padre Alberto (inspirado em Frei Betto), Marina, que alfabetiza adultos pelo método de Paulo Freire, Ricardo, um soldado golpista que namorada Sueli, também filha de Antonio e a professora Iolanda, que vê em Nando um futuro escritor e estimula suas leituras. Enquanto transcorre a trama que vai levar ao golpe, Nando se apaixona por Iara, filha da professora. É Nando quem apresenta os personagens e vai narrando a história com um misto de admiração, amor, dor, orgulho e tristeza, num crescendo que culmina com o golpe militar e a destruição dos sonhos de Antonio. Mas o que parecia ser uma tragédia continua com uma nostálgica e amarga, mas também esperançosa conclusão sobre o sentido da vida.

DIREÇÃO – ANDRÉ RISTUM André Ristum, brasileiro nascido em Londres e criado em Roma, começou a carreira trabalhando como assistente de produção em Milão, na Itália. Foi assistente de direção em produções internacionais, como “Beleza Roubada”, de Bernardo Bertolucci e “Daylight”, de Rob Cohen. Em 1997 foi para Nova York estudar cinema na School of Continuing Education da New York University.


A partir de 1998 dirigiu vários curtas entre os quais “De Glauber para Jirges”, baseado em cartas de Glauber Rocha para seu pai Jirges Ristum (Seleção oficial no Festival de Veneza), e “14 Bis”, curta que conta a história do primeiro voo de avião por Alberto Santos Dumont, além do documentário de longa metragem “Tempo de Resistência”, sobre os movimentos de resistência à ditadura militar no Brasil. Em 2011, escreveu e dirigiu seu primeiro longa-metragem de ficção, “Meu País”. O filme, protagonizado por Rodrigo Santoro, Cauã Reymond, Débora Falabella e Paulo José, ganhou os prêmios de melhor direção, melhor montagem, melhor trilha sonora, de melhor ator além do de Melhor filme pelo Júri Popular no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. “O Outro Lado do Paraíso” é seu segundo longa-metragem de ficção como diretor.

ENTREVISTA COM ANDRÉ RISTUM Como você chegou a este projeto? Como foi escolhido para dirigir este filme? Na verdade esse projeto chegou em mim, foi uma sorte grande. Eu apresentei meu primeiro filme, “Meu País”, no Festival de Brasília em 2011. Os dois produtores do “O outro lado do paraíso” assistiram no festival, e como estavam buscando um diretor para o filme, acharam que tinha a ver com o que queriam para o filme deles. A partir daí começamos a conversar, adorei o conto e encontrei grandes afinidades com o mesmo, pois continha assuntos que gosto de tratar em filmes, como a relação pai e filho e o período da ditadura militar. Alguns meses depois fechamos um acordo e comecei a trabalhar no desenvolvimento. Como foi o processo de escolha do elenco, tendo em vista que a maior parte dos personagens é real? Buscou-se alguma semelhança física? Em princípio existia um desejo que o ator que iria fazer o Antônio tivesse alguma semelhança física com o personagem, mas logo optamos por um caminho mais ligado a encontrar a melhor opção para o personagem da forma que tinha sido desenvolvido no roteiro e principalmente que fosse um ator de muito talento. Quanto aos outros personagens reais, buscamos mais encontrar atores que tivessem potencial para entregar características de comportamento do que propriamente semelhança física, como o caso de Davi em relação ao Nando, ou da Simone em relação à Nancy, que tem uma personalidade mais introspectiva. Como foi o relacionamento com o autor (e personagem) da história, o escritor Luiz Fernando Emediato, que também é produtor do filme? Ele interferiu muito em seu trabalho? Ele frequentou o set? O relacionamento com o Emediato foi ótimo e ainda é. Como autor ele foi muito desprendido da história original, uma vez que no roteiro para o filme criamos e modificamos muitas coisas. Entendo também que por ser autor de um conto que é sim baseado em fatos reais, mas que também já tinha modificado a realidade ao ser escrito, ele acabou não se incomodando com as mudanças propostas, mas até gostou. A


participação dele foi constante, mas isso não significa que tenha interferido de maneira negativa. Participou bastante na fase de desenvolvimento de roteiro e escolha de elenco e frequentou quase que diariamente o set de filmagem, mas neste caso ficando sempre observando e sem interferir em nada. Na fase de pós produção voltou a ter uma participação mais ativa, opinando em todas as etapas e até, em alguns momento, exercendo sua posição de produtor que tinha a palavra final, mas sempre em benefício do filme, para que se chegasse a um resultado mais satisfatório. O elenco infantil é admirável. Foi difícil encontrar essas crianças e treiná-las? A seleção e preparação das crianças foi um filme a parte. Começamos com bastante antecedência a busca pelas crianças para os 4 personagens infantis mais importantes (Nando, Alice, Iara e Tuniquinho), além do grupo de alunos de escola que integraria o grupo. Fizemos uma primeira seleção com mais de 400 crianças, e em seguida reduzimos este primeiro grupo para um segundo de 35 crianças, com quem fizemos um laboratório de 1 mês de duração com o preparador de atores Luiz Mario Vicente. Ao longo do processo fomos enxergando o potencial dos atores, até chegarmos ao núcleo final. Este primeiro laboratório foi muito importante pois foi aonde encontramos as duas meninas, Maju Souza e Tais Bizerril, e o irmão mais novo, Henrique Bernardes, todos de Brasília. Quanto ao Nando ainda continuamos procurando, fizemos testes em Belo Horizonte e São Paulo, fechamos um pequeno grupo de 3 meninos, de onde, após um outro laboratório, escolhemos o Davi Galdeano para o papel do Nando. Depois disto ainda tivemos um longo tempo de ensaio focado nos quatro atores mirins, para chegarmos no tom necessário para um filme de época. Foi um trabalho intenso mais muito recompensador. Davi Galdeano, o protagonista, tem que carregar todo o filme. Ganhou prêmio no Festival de Brasília. Nunca havia feito um filme assim antes. Como foi dirigi-lo? O Davi nos ganhou por sua característica mais introspectiva, que era algo que buscávamos para o personagem, por ser uma referencia importante do personagem real. Como todo ator sem experiência ele se mostrou bastante moldável, por outro lado tivemos mais dificuldade com questões mais técnicas da atuação. Mas quando chegamos no set para filmar o Davi foi muito disciplinado e aplicado, conseguiu entregar tudo que foi solicitado e, apesar de ser muito novo e às vezes um pouco disperso como qualquer criança, contracenou de igual pra igual com tantos atores experientes, alcançando um resultado de altíssimo nível. Maju Souza, também inexperiente, teve um desempenho surpreendente e inclusive ganhou prêmio em festival internacional. Em relação à Maju foi amor à primeira vista. Nos primeiros dias de laboratório logo identifiquei que nela tinha uma força e uma concentração difícil de encontrar, ficamos todos encantados. Ao longo do processo ela foi crescendo e no set nos brindou com momentos de grande atuação. Além de muito disciplinada e dedicada, Maju tem grande talento natural, consegue atuar em silêncio, só com o olhar. Isto deu grande riqueza à personagem da Iara. Seu pai foi um conhecido exilado e por causa disso você acabou nascendo em Londres e sendo criado na Itália. Já o pai de Emediato foi um cidadão anônimo


que é preso injustamente no dia do golpe militar de 64. O que os une ou diferencia? Acho que entre eles existem mais pontos de união do que de diferenciação. Ambos sonharam com um Brasil melhor para todos, e se empenharam para que isso se concretizasse, mesmo que atuando em ambientes distintos. Os dois também tiveram problemas logo após o golpe, no caso do meu pai, diferentemente do Antônio, ele fugiu de Ribeirão Preto, cidade de onde era, e se escondeu durante um mês. Já era militante estudantil e soube dos riscos de prisão. Após um mês voltou e foi preso, ficando um período preso. Quando solto, assim como Antônio, percebeu que não seria possível construir seus sonhos naquele país debaixo de uma ditadura, assim resolveu se exilar. Como Antônio viajou na busca de seus sonhos. Tendo nascido fora do país e trabalhado na Itália com Bertolucci e em filmes americanos, como foi voltar para o Brasil e filmar aqui, em outras condições? Você acha que é um cineasta brasileiro ou carrega a herança do cinema italiano e da técnica norte-americana? Em relação às diferenças entre fazer filmes de grande orçamento e filmes menores, em qualquer lugar existe sem dúvida grande diferença; as dificuldades e as limitações são outras, mas elas existem em todo tipo de filme. Quando cheguei no Brasil estava começando a retomada do cinema brasileiro, em meados dos anos noventa. Mas apesar destes anos todos de cinema parado, os profissionais se mantiveram ativos na publicidade, assim do ponto de vista técnico encontrei pessoas de altíssimo nível, que não deviam nada pra nenhum técnico de fora. Cheguei a trabalhar como assistente em produções estrangeiras aqui no Brasil e a impressão de todos os profissionais de fora era sempre a mesma, impressionados com a qualidade dos técnicos locais. Quanto a esta questão da nacionalidade, esta sempre foi uma pergunta que me fizeram ao longo da vida, se era mais brasileiro ou mais italiano. Sempre fui considerado o brasileiro na Itália e o italiano no Brasil. Assim, acho que tenho um pouco dos dois e claro que na minha formação de base, já que vivi os primeiros 15 anos da minha vida na Itália, existe sim um forte influência da cultura italiana e consequentemente do cinema italiano, mas é algo que não consigo identificar claramente, é alguma coisa que está inserido no meu DNA. Por aqui ouvi algumas vezes que meus filmes não parecem brasileiros, mas acho que agora, com “O outro lado do paraíso”, realizei o meu filme mais genuinamente brasileiro. Para você, “O outro lado do paraíso” trata de quê? Sonhos, metáforas? É um filme romântico, de amor adolescente? Um romance de “formação”? Um filme político? Acho que é um pouco de tudo isto. Um filme que fala de sonhos, pois a história começa com Antônio arrastando sua família atrás de mais um sonho. O que move toda a história é a busca do sonho que se revela quase utópico. É também um romance de formação, pois ao longo da trajetória do filme o protagonista amadurece, saindo da infância e dando os primeiros passos na adolescência, aprendendo muitas coisas, tendo as primeiras perdas da vida e descobrindo os primeiros amores. E sem dúvida é um filme político, pois o pano de fundo dos acontecimentos de 64 influencia de forma importante o rumo dos personagens e a trajetória da narrativa.


O filme tem uma trilha musical imponente, uma fotografia de cores vivas e uma montagem delicada e eficiente. Todos estes elementos ajudam a trazer mais emoção ao espectador? Acredito na importância de todos os elementos para atingir os objetivos de um filme. No caso deste, através da trilha quisemos trazer algo muito conectado à cultura brasileira e às raízes da região aonde o filme se passa, por isso a participação do Milton Nascimento e o uso de acordeão e muito violão; através da fotografia, valorizar as cores do cerrado e o forte sol, trazendo luminosidade para os momentos mais felizes do filme; e através da montagem valorizar os melhores momentos de atuação e intercalar momentos reais com momento ficcionais pra trazer mais verdade a tudo. Acho que estes três elementos combinados ajudam o espectador a mergulhar mais profundamente na história, permitindo-se assim de entrar em forte conexão com os personagens, emocionando-se com as conquistas e perdas de todos. Como foi ter o músico Milton Nascimento como colaborador na trilha? O trabalho com o Milton foi dos momentos mais emocionantes da realização do filme. Vê-lo criar notas tão fortes e emocionantes enquanto assistia às cenas do filme foi sem dúvida um privilégio. Acredito que ele tenha contribuído muito ao trabalho do Patrick de Jongh, trazendo uma presença de coração e alma à trilha. Alguns dos personagens reais do filme o assistiram? Qual foi a reação? Tive a sorte de poder assistir ao filme recém finalizado com a Dona. Nancy e com a Sueli, além de outros familiares do Emediato. Foi muito emocionante ver como se identificaram com tudo aquilo que foi o passado delas e que respeitaram todas as escolhas e mudanças necessárias quando se faz um filme. O que era importante, a essência, foi mantida, e ter esse retorno pra mim foi o maior prêmio que recebi. AUTOR – LUIZ FERNANDO EMEDIATO Nasceu em 1951 em Belo Vale, MG, e passou toda a infância e parte da adolescência numa vida errante pelo interior do estado com o pai aventureiro, antes de ele levar toda a família para Brasília. Com o fracasso do projeto do pai, voltou para Bocaiúva, onde a família viveu até 1967, quando o patriarca Simeão Emediato morreu e Antonio saiu de novo pelo mundo. Em 1971, aos 19 anos de idade, Emediato ganhou um importante prêmio literário, no IV Concurso Nacional de Contos do Estado do Paraná e em seguida mudou-se para Belo Horizonte, onde foi viver sozinho e estudar jornalismo. Emediato formou-se em Comunicação Social pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG e teve uma carreira brilhante no jornalismo: ingressou na profissão em 1973, como repórter no extinto "Jornal do Brasil"; foi para o jornal "O Estado de S. Paulo" em 1978 e lá ficou 10 anos, como repórter especial, editor, criador do Caderno 2 e correspondente de guerra, até transferir-se em 1988 para o SBT, onde foi diretorexecutivo de Jornalismo e de onde saiu em 1990, quando abandonou a profissão. Ganhou os principais prêmios do jornalismo: o Esso, o Rei de Espanha de Jornalismo Internacional e o Premio da Sociedade Interamericana de Imprensa – SIP, entre outros. No SBT, Emediato pôde inaugurar no Brasil o telejornalismo feito e apresentado por


“âncoras” e não por locutores, como era comum. Em 1990 ele deixou a profissão de jornalista e criou sua editora, a Geração Editorial, que passou a produzir também filmes. Como escritor, Emediato ganhou mais de 30 prêmios literários, entre eles o "revelação de Autor" no lendário Concurso de Contos do Estado do Paraná, em 1971, quando tinha apenas 19 anos. Este concurso revelou, entre outros, Dalton Trevisan, Rubem Fonseca e Roberto Drummond. Emediato publicou nove livros, o primeiro deles “Não passarás o Jordão”, escrito aos 25 anos e publicado em 1977, quando ainda morava em Minas. Logo depois vieram “O outro lado do paraíso”, “Verdes anos” (também adaptado para cinema, por Giba Assis Brasil e Carlos Gerbase, em 1983), “Os lábios úmidos de Marilyn Monroe”, “A rebelião dos mortos”, “Eu vi mamãe nascer”, “Geração Abandonada” (reportagem) e “Ekhart, o Cruel” (peça teatral”. Seus contos foram organizados pelo escritor Luiz Ruffato e reunidos em 2004 num único volume intitulado “Trevas no Paraíso”. Hoje, depois de ficar exatamente 30 anos sem escrever, Emediato está escrevendo um longo romance intitulado “Perdição”, que pretende abarcar, com personagens reais e fictícios, 50 anos da história do Brasil. Atualmente, Emediato é publisher da editora Geração. Tem também intensa participação na vida política do país. Exatamente 15 anos depois da derrota de seu pai em Brasília, ele voltou à capital, como jornalista, e para lá passou a viajar quase toda semana, dividindo sua vida entre São Paulo e a capital da República. Participou e participa de variados conselhos privados e governamentais e num curto período trabalhou com o ministro do Trabalho Brizola Neto, neto de Leonel Brizola, um dos ídolos de seu pai.

ENTREVISTA COM LUIZ FERNANDO EMEDIATO Como nasceu o livro “O outro lado do paraíso”? Eu tinha 30 anos, era jornalista e escritor, tinha publicado já uns cinco livros e vivia em São Paulo, com mulher, dois filhos e uma filha a caminho. Eu saí de casa aos 19 anos, casei-me muito novo, minha carreira jornalística deslanchara e eu estava praticamente abandonando a literatura quando me dei conta de que havia me afastado da família em Minas, uma família que era anônima, mas tinha uma história muito peculiar. Eu comecei a me perguntar por que razão havia me afastado daquela família e daquela história fantástica que havíamos vivido juntos e que afinal havia me forjado e traçado o meu destino. Então escrevi em quatro ou seis dias (escrevo muito rápido) uma pequena história – um conto largo, quase uma novela – e quando terminei, muito emocionado, me dei conta de que meu pai era, afinal, um grande herói, e eu um filho ingrato. Dediquei o livro a ele e foi imediatamente publicado. Qual foi a reação de seus pais? Meu pai, de quem me tornei próximo de novo, ficou muito grato, embora sempre reclamasse que não conseguia convencer os amigos dele de que eu era de fato filho dele, pois uso o sobrenome de minha mãe, Emediato, e não o dele, Alves de Souza. E minha mãe me repreendeu porque neste livro o herói é o pai, e o papel dela ficou bastante reduzido. Consertamos isso no filme (risos).


O livro foi bem recebido pelo público? Inicialmente não, vivíamos ainda na ditadura militar, e o livro tinha como pano de fundo exatamente o golpe militar de 1964. Mas em meados dos anos 80, com a ditadura chegando ao fim, o governo de São Paulo, então liderado por Franco Montoro, adotou o livro nas escolas públicas e aí foi um sucesso instantâneo. O livro é muito lido em todo o Brasil, principalmente nas escolas, e durante o governo de Fernando Henrique Cardoso também foi recomendado pelo MEC e distribuído para bibliotecas escolares. Creio que já foram impressos uns 300 mil exemplares, em várias edições de três editoras. Hoje ele é publicado por minha própria editora, a Geração Editorial. De quem foi a ideia de filmar? De Nilson Rodrigues, que é mineiro como eu e logo depois que o livro saiu, creio que em 1982, pediu autorização para fazer uma adaptação teatral. Nilson era muito jovem, ator, vivia em Taguatinga onde minha família havia morado em 1963. Fiquei comovido e autorizei, mas ele não conseguiu montar. Ele me procurou mais de 25 anos depois com a ideia do filme, mas aí eu não quis mais autorizar, eu tinha um preconceito enorme contra o cinema brasileiro, desconfiava que iam destruir a história, que afinal é a minha história, a história de meu pai. Mas ele tanto insistiu que aceitei, desde que fosse também produtor e tivesse controle das filmagens e do corte final. Você teve esse controle? Não. Fui enganado (risos). Bom, na verdade conseguimos um diretor extraordinário, acho que o fato de ele ser meio inglês e meio italiano, um gentleman, e também muito competente, afinal trabalhou com nada menos que Bernardo Bertolucci, creio que tudo isso ajudou no filme e em nosso relacionamento. Eu me atormentei um pouco com o roteiro, tivemos meia dúzia de roteiristas, e nunca ficávamos satisfeitos, mas no final das contas chegamos a uma história bastante satisfatória, com uma estrutura bem feita iniciada por Ricardo Tiezzi e finalizada com muita técnica e sensibilidade por Marcello Muller, cujo trabalho para o filme argentino “Infância Clandestina” eu havia admirado. O roteiro e o filme são fiéis ao livro? São fiéis à essência da história e aos personagens reais. Minha mãe e minha irmã Sueli viram o filme antes de minha mãe morrer e elas se emocionaram, reconheceram-se no filme, apesar das liberdades tomadas, isso deixou o André muito feliz. Tivemos que inventar personagens e situações para dar maior dramaticidade à história, a figura de meu pai ficou também mais idealizada, mas o que importa é que o sentido do que eu pretendia passar no livro está inteiro e muito emocionante no filme. Tenho dito, aliás, que considero o filme não melhor, porque são linguagens diferentes, mas sem dúvida mais completo que o livro. Afinal era um livro para crianças e adolescentes e dele nasceu um filme para todas as idades. Inclusive rola uma história de amor no filme. Isso não tem no livro.


Sim, o que tem no livro é uma amiga quase namorada que o Nando deixa em Minas, numa cena da qual gosto muito, mas no filme incluímos um namoro com Iara, filha da professora, com dois beijos muito intensos. Esses beijos desencadearam uma polêmica com o produtor Nilson Rodrigues, que teve formação evangélica e argumentava que não podiam estar no filme, porque naquela época, anos 60, pré-adolescentes não se beijavam. Até pode ser, mas de fato eu beijei umas meninas, eu era muito tímido, mas elas me beijavam e eu, digamos, aceitava com muito gosto. Acho que o Nilson tem inveja disso. A história de amor entre os dois dá uma dimensão diferente ao filme. Em todos os festivais e sessões para estudantes que fizemos a moçada adora a história da menina avançadinha que faz o tímido e introspectivo Nando andar para a frente. É muito comovente isso. O que são o livro e o filme para você? O livro é o que sempre foi: uma homenagem ao pai que me fez do jeito que sou hoje e que num momento eu havia injustamente abandonado. O filme leva essa história ampliada, para um público mais amplo, com uma mensagem que traz a denúncia do autoritarismo, do golpe militar, e expõe como os sonhos de milhares de brasileiros foram destruídos. O governo liberal – não tinha nada de comunista – de João Goulart estava preparando o Brasil para um grande salto de modernização, com as tais “reformas de base”, e o golpe interrompeu isso. Para se ter uma ideia do que isso representou, do que foi essa tragédia: nos anos 60 Brasil e Coreia eram países pobres, rurais, sendo que a Coreia era ainda mais pobre. Cinquenta anos depois nós continuamos em “processo de desenvolvimento”, enquanto a Coreia (que bem ou mal fez as reformas de base) fabrica e vende para nós automóveis, televisores, computadores, celulares, e tem uma população rica, enquanto nós, com muito mais recursos naturais, energéticos e populacionais, continuamos exportando commodities e com dramática desigualdade social. Livro e filme também contêm uma fábula: tratamos ali do sentido da vida, que para mim consiste em buscar sempre um sonho, e nisso persistir mesmo quando desconfiamos que é um sonho impossível. Sonhar e não necessariamente vencer é que nos dá sentido. Claro que se conseguirmos algo esse sentido fica melhor, não é? O filme trata do golpe militar de 64 e está sendo lançando num momento em que o país está de novo dividido. Sim, é uma infeliz coincidência. Desgraçadamente as mesmas elites egoístas que tentaram derrubar Getúlio Vargas em 1954, que apoiaram o golpe militar de 1964, que mandaram e desmandaram no governo de José Sarney, que se associaram com o governo de Fernando Henrique e perderam espaço – um espaço pequeno, mas perderam – nos governos de Lula e Dilma agora se aproveitam do mau desempenho de Dilma para de novo estimularem um golpe, que agora não é militar, mas parlamentar, com apoio de parte do Judiciário e mais uma vez com a manipulação dos sentimentos mesquinhos de uma classe média igualmente egoísta, assustada e mal informada. Essa elite não quer mais compartilhar democraticamente o desenvolvimento do país, como se tentou, ingenuamente, no governos de Lula. Temos uma crise econômica mundial e, diante disso, e, repito, da falta de capacidade da presidente Dilma, eles querem o poder inteiro, para garantir suas rendas, o que implica, mais uma vez, em marginalizar os mais pobres. Uma tragédia.


ELENCO E PERSONAGENS – BIOGRAFIAS E ENTREVISTAS

EDUARDO MOSCOVIS (ANTONIO TRINDADE) Carioca, estudou teatro no Tablado e na CAL - Casa das Artes de Laranjeiras. Um dos mais conhecidos atores da televisão brasileira, atuou em mais de uma dezena de novelas, desde sua estreia em 1990, em “Top Model”, até “Alma Gêmea”, de 2005. Também esteve em seriados como “Os Normais”, “Pastores da Noite”, “Alice” e “As Cariocas”. Recentemente, protagonizou o seriado “Louco por Elas”. Tem larga carreira no cinema, iniciada em 1997, com “O Que é Isso, Companheiro?”, de Bruno Barreto, “Bella Donna”, de Fábio Barreto, “Bendito Fruto” (Sérgio Goldemberg), até “Cabeça a Prêmio” (Marco Ricca), “Corações Sujos” (Vicente Amorim) e, recentemente, “Amor em Sampa”, de Carlos Alberto Riccelli, que acaba de ser rodado. Em teatro, já trabalhou em espetáculos como a remontagem de “Eles Não Usam Black Tie”, dirigida por Marcus Vinícius Faustini, produziu e atuou em “Norma”, de Dora Castellar e Tonio Carvalho, “Por uma vida um pouco menos ordinária”, sob direção de Gilberto Gawronski e “Corte Seco”, de Christiane Jatahy. ENTREVISTA COM EDUARDO MOSCOVIS (Antonio Trindade) Por que você aceitou esse papel e como foi fazer esse personagem que realmente existiu? Tenho critérios muito curiosos quando analiso um convite de trabalho. Nesse caso específico, me pareceu uma história importante de ser contada e a possibilidade de realizar um exercício interessante de aproximação a esse personagem, principalmente porque ele de fato existiu! Mas o que realmente contou foi a forma como o diretor André Ristum me fez o convite: ele me ligou e a maneira como me apresentou o projeto me fez aceitar sem qualquer dúvida que valeria a pena me juntar a ele. O autor da história, Luiz Fernando Emediato, só revelou depois de sua escolha que seu personagem, o pai dele, gostava de seu personagem Petruchio, numa novela, e chegou a dizer que se um dia fossem filmar a história dele, gostaria que o ator fosse você. Petruchio é realmente um personagem cativante! Acho que o Emediato foi sábio em me revelar essa informação só mais tarde! Como foram as filmagens? Difíceis, mas saborosas! Difíceis do ponto de vista de produção e realização, muito saborosa do ponto de vista artístico e criador!


Você teve que cavalgar a galope e não usou dublê, dirigiu caminhão, lutou com militares... Como foi essa preparação? Sempre quis dirigir um caminhão, foi minha chance apesar de ele ser bem antigo! Fiz algumas aulas de equitação para aprimorar e me familiarizar com o cavalo. As lutas foram muito bem assessoradas e, particularmente, gosto de cenas de lutas. Na cena de sua prisão pelos militares, na noite do golpe, houve um incidente e você se machucou. Como foi isso? Acidente de percurso (risos). Uma cena difícil em que o personagem resistia à prisão com uma casa em chamas muito próxima da cena. Num dos takes um dos militares me acertou com o rifle no rosto e machucou bastante! Qual é sua visão desse personagem sonhador, Antonio, que não consegue nunca realizar seus sonhos? Antonio é um sonhador, um romântico por natureza. Um personagem belo na sua inocência... Foi muito bom dar corpo e vida a esse cara! O que mais te atrai nessa história? A busca e a crença nesse sonho e o amor que une a família. O Antonio é um sujeito aventureiro, generoso, carinhoso com a família, leal com os amigos, mas também bastante ingênuo. Ele se deixa levar pelo apoio ao presidente João Goulart, mas não chega a ser um militante político engajado. Como você vê esse personagem? Um personagem riquíssimo! Cada vez mais difícil de acharmos pessoas como ele. Infelizmente.

SIMONE ILIESCU (NANCY EMEDIATO, MULHER DE ANTONIO) Atriz paulista, teve sua formação no Centro de Pesquisa Teatral e Teatro Escola Célia Helena. Integrou o Teatro Vento Forte. Participou de espetáculos como “Quem come quem”, dirigido por Stephan Strouks, Medeia, do Centro de Pesquisa Teatral do SESC, sob direção de Antunes Filho, “A Pedra do Reino” (no qual atuou também como assistente de direção), e “Prêt-à-Porter 9”, todos dirigidos por Antunes Filho. Em cinema, sua carreira começou em 2009, com “O Homem Mal Dorme Bem”, de Geraldo Moraes. Seguiram-se “Um Supermercado que Vende Palavras”, de Marcelo Masagão, Homens com “Cheiro de Flor”, de Joe Pimentel, “Bruna Surfistinha”, de Marcos Baldini, Cores, de Francisco Garcia, e mais recentemente “Riocorrente”, de Paulo Sacramento. Na televisão, participou da novela “O Profeta” e das minisséries “Maysa” e “Mad Maria”. ENTREVISTA COM SIMONE ILIESCU (Nancy Emediato)


Como você se preparou para interpretar Nancy Emediato, sabendo que era uma personagem real? Chegou a falar com ela antes de rodar o filme? Não cheguei a falar com a verdadeira Nancy antes de rodar o filme mas tive um forte contato com Emediato antes de começarmos o processo de filmagem. Ele me trouxe um pouco dela através de fotos e histórias que me ajudaram a compor a personagem. O nosso processo de preparação para o filme se deu de forma extremamente significativa para mim pois fizemos durante algum tempo uma série de ensaios e vivências pra o filme. Quando vi o filme pela primeira vez, na casa do Emediato, dona Nancy estava lá, pudemos nos conhecer e ficamos muito emocionadas. Como foram esses ensaios? Passamos alguns dias em uma casa de campo onde pudemos criar uma situação de convívio no dia a dia da família e intimidade com as crianças que seriam meus filhos. Isso ajudou a criar, através da condução do preparador de elenco Luiz Mario Vicente, uma unidade entre os atores. Brincamos, fizemos comida juntos e recriamos algumas cenas do filme de forma natural. Me ajudou a entender um pouco mais do universo da Nancy. Nancy não gostava muito do livro de seu filho Luiz Fernando Emediato, que focava a ação basicamente na admiração extrema pelo pai, o que a deixava com um papel bastante secundário. Isso foi parcialmente compensado no filme. Como você vê o papel desta mulher? Nancy ao meu modo de ver era um alicerce fundamental para que Antonio pudesse concretizar seu sonho e sua aventura dentro de um desejo de mudança. Ele sonhava com uma vida melhor para os filhos. Lembrando que o sonho dele era o sonho de muitos brasileiros que acreditavam na construção de Brasília e nas reformas que o governo da época anunciava. Um mundo novo cheio de possibilidades e de uma vida melhor. Nancy morreu logo depois de ver o filme. Você assistiu junto com ela? Como foi isso? Em verdade tive o grande privilégio de assistir ao filme pela primeira vez ao lado da Nancy, na casa do Emediato, o que me causou um misto de grande emoção e apreensão. A apreensão se dissipou com o retorno emocionado dela. A emoção só aumentou... Almoçamos juntas, conversamos... E soube tempos depois, numa exibição do filme para a Mostra de São Paulo, que ela havia partido. Foi um choque. Uma das cenas mais dolorosas do filme é quando, depois de Antonio ser preso, a família deixa Brasília, num caminhão dirigido pelo avô das crianças. Nancy jamais voltou a Brasília depois do episódio, que para ela foi traumático. Como você vê isso no filme e na personagem?


Nancy comprou o sonho de Antonio de que aquele seria um lugar de oportunidades onde todos poderiam construir um novo começo. Ao invés disso se depara com um golpe militar e o marido acaba preso e torturado. O que seria um sonho torna-se um pesadelo. Isso é realmente muito doloroso no filme. Você é de uma geração mais jovem, não tinha nascido ainda em 1964. Como vê o golpe militar, suas consequências e a situação do Brasil hoje? Sou de uma geração mais jovem. Não presenciei o golpe militar, mas nasci no meio de uma ditadura. Ela terminou um dia antes do meu aniversário de oito anos. Minha mãe me levou à porta do hospital em que Tancredo Neves estava internado onde uma multidão fazia vigília por sua saúde e pela saúde da democracia. Essa imagem eu guardo até hoje na memória. Cresci com a sombra dessa ditadura. Ouvi músicas, histórias de amigos e familiares que passaram por ela. Apesar de não ter vivenciado sinto até hoje os resquícios dessa ditadura em meu país. E hoje presencio tristemente o Brasil prestes a perder esta democracia conquistada com tanta luta. ENTREVISTA COM DAVI GALDEANO (Nando) Este foi seu primeiro grande papel e logo de início um papel que te obriga a carregar o filme inteiro, pois é a partir de Nando que se conta a história, você está em praticamente todas as cenas. Como foi se preparar para este papel? A preparação para o personagem foi com o mestre Luiz Mario, junto com o José de Campos, que também é excelente. Me dediquei muito à composição do Nando, me entreguei de verdade. É um personagem muito introspectivo, ele precisa dizer mais com os olhares, com os gestos, e menos com os diálogos. Você leu o livro de Emediato antes de se preparar? O que achou? Li sim e gostei muito, tanto pela história como pela poesia que tem no texto. O filme é muito fiel ao livro, tem apenas algumas adaptações. Luiz Fernando Emediato participou de praticamente toda a filmagem, no set. Como foi conviver com ele, ver ali, presente, o cara que tinha sido como você, meio século antes? Foi um enorme prazer ter a presença do "Nando" da vida real, o que me dava mais inspiração para interpretar. Ele é muito discreto, chegava perto, olhava, mas falava muito pouco. E no filme eu o mostro assim, um futuro escritor, muito observador. O golpe militar de 1964 está muito distante de você, por causa de sua idade e este não é um tema muito presente na escola. Você leu alguma coisa a respeito antes das filmagens?


Realmente ainda não estudei sobre o golpe na escola, mas pesquisei bastante e contei demais com a ajuda da minha mãe, que é muito estudiosa e do meu avô, que viveu naquela época. Você tem apenas 12 anos, mas o filme tem também uma história de amor interrompida com uma personagem, Alice, que fica em Minas, e outra engatada com Iara, que você conhece em Brasília. Isso é incomum em filmes políticos. Como foi viver uma história de amor, inclusive com beijos, numa idade dessas? Foi uma experiência nova, mas eu tinha que pensar que aquela história era do Nando e não do Davi. Esses beijos inclusive abriram uma polêmica entre os produtores, pois um deles era contra as cenas, por considerá-las pouco plausíveis para os anos 60, entre crianças. Mas o autor da história, que também é produtor, insistiu em mantê-las, com o depoimento de que “realmente havia acontecido”. Como foi fazer estas cenas? Fiz todas elas com muito respeito à minha colega de cena, Maju Souza. Não foi algo assim tão fáci,l mas acho que conseguimos (risos).

ENTREVISTA COM MAJU SOUZA (Iara) Seu personagem tem grande destaque na trama, por ter muita importância na formação de Nando. Isso sempre esteve assim no roteiro ou o resultado é diferente do que você imaginava no começo? O roteiro foi o guia de como a minha personagem deveria ser na trama, porém, depois do trabalho pronto, é natural que haja uma certa surpresa no resultado final ao ver as cenas de que a Iara participa, contextualizadas no filme. Sua atuação foi premiada no Festival Latinoamericano de Trieste na Itália, Como você recebeu a notícia deste prêmio? Ao receber a notícia fiquei muito emocionada, afinal foi meu primeiro trabalho no cinema, me senti feliz e surpresa, pois é muito importante para mim o fato de o meu trabalho ter sido reconhecido, me dando mais vontade de crescer profissionalmente. E com certeza essa premiação não esquecerei jamais. Você tinha 13 anos durante as filmagens e acabou tendo que fazer cenas de beijos incomuns para personagens com esta idade. Como foi isso? As cenas que envolviam beijo se tornaram um desafio para mim, pois eu estava no inicio da minha adolescência, conhecia pouco sobre esse universo, me considerava tímida e insegura, mas tive muito apoio tanto da equipe quanto da família, que me fizeram ter a segurança necessária para vencer esse desafio.


Iara é uma menina avançada para sua época e é ela quem encoraja Nando, um menino tímido que veio “da roça”, a se mexer, buscar livros em bibliotecas, tornar-se o que tornou. Como foi esse processo de construção da personagem? O processo da construção da Iara foi um processo longo. No início eu sabia muito pouco sobre a minha personagem, com o passar do tempo e dos ensaios fui entendendo melhor a personalidade dela, e desenvolvendo, juntamente com o preparador de elenco, quem a Iara realmente é. Além de tudo me inspirei em uma das suas cantoras preferidas da época, a Rita Pavone, uma mulher que, assim como a Iara, também foi bem à frente do seu tempo. O filme tem como pano de fundo o golpe militar de 1964. Ou seja: os militares não são os “mocinhos” dessa história. Como foi isso para você, cujo pai é militar da ativa, um capitão do Exército? Para mim, assim como para meu pai, o fato de o filme retratar o golpe militar não interferiu em absolutamente nada. Meu pai, se não estou enganada, iniciou sua carreira militar em 1985, ou seja, muitos anos depois de ter ocorrido o episódio, com isto acredito que é um fato histórico relevante e verdadeiro, porém na atualidade o contexto é outro. O autor e personagem da história, Luiz Fernando Emediato, que também é produtor do filme, participou de quase toda a filmagem, no set. Como foi conviver com essa figura tão presente, no filme e na vida real? Foi uma oportunidade incomum, saber que o autor do filme (e que era também personagem!) estava presente. Para mim foi muito especial ter a oportunidade de interpretar uma personagem dentro da obra que conta a história de sua vida, principalmente sabendo que o mesmo estava acompanhando tudo ali, bem perto, isso só me enche de emoção e orgulho. Conhecê-lo pessoalmente foi muito gratificante por se tratar de um grande escritor e uma pessoa muito agradável. O que significou este filme para a sua carreira? Este filme foi o meu primeiro trabalho no cinema, considero o começo de tudo, aprendi muito durante os ensaios e gravações, que me mostraram com o tempo que esta é realmente a carreira que eu quero seguir.

FLAVIO BAURAQUI (JORJÃO) Ator gaúcho, começou a fazer teatro em sua cidade, Santa Maria, depois em Porto Alegre até mudar-se para o Rio de Janeiro. Fartamente premiado por seu trabalho em cinema: por “Ninjas”, de Dennison Ramalho, recebeu o Prêmio de Melhor ator no 8º Festival de Cinema de Gramado; por “Jardim do Beleléu”, foi escolhido melhor ator no 20º Festival Ibero-americano Cine Ceará e no New York Short Film Festival; premiado como melhor ator coadjuvante do 11º do Cine PE e IV Prêmio FIESP, por


Os 12 trabalhos; e melhor ator coadjuvante no Festival do Rio por “Quase Dois Irmãos”. Participou ainda dos longas-metragens “Quincas Berro d’água”, de Sérgio Machado, “O Senhor do Labirinto”, de Geraldo Motta, “Meu nome não é Johnny”, de Mauro Lima, “Noel, o Poeta da Vila”, de Ricardo Van Steen, “Cheiro do Ralo”, de Heitor Dhalia, “O Céu de Suely”, de Karin Aïnouz, “Cafundó”, de Paulo Betti, “Madama Satã”, de Karin Aïnouz. Atua também em televisão - em novelas como “Malhação”, “Caras e Bocas”, “Paraíso Tropical”, além de seriados – e teatro. Também desenvolve carreira como intérprete musical. ENTREVISTA COM FLAVIO BAURAQUI (Jorjão) Você vive neste filme um sindicalista negro, que luta pelas condições de trabalho dos peões de obra, na construção de Brasília. Como construiu este personagem? Todo trabalho que faço, procuro a personagem perto de mim, no meio que me cerca, e, claro, viver a causa daquele personagem, com unhas e dentes, porém isso é um trabalho de várias cabeças pensantes, que juntas chegam a um resultado. O fazer cinema é coletivo. Qual sua visão deste filme, à luz da situação política do Brasil hoje? Resposta: Um filme para refrescar a memória de um período triste da nossa história. Que infelizmente, revela nosso retrocesso atual. Um belo filme, de uma triste lembrança! Jorjão é um operário duro, forjado na construção civil, mas ele tem leves momentos de ternura quando trata, por exemplo, com o menino Nando, que tenta criar uma biblioteca para os moradores da pobre Taguatinga. Como surgiu essa sutil nuance no personagem? Acredito que temos várias camadas, mesmo no rústico tem nuance, gosto de personagens que têm um coração batendo. Jorjão é líder por natureza, ele percebe a importância da amizade e tem consciência política.

MURILO GROSSI (PADRE ALBERTO) Ator com larga experiência em cinema, teatro e televisão. Em cinema, atua desde 1995, tendo participado de filmes como “A Guerra dos Canudos” e “Mauá – o imperador e o rei” (de Sérgio Rezende), “O veneno da madrugada” (Ruy Guerra), “A Concepção”, “Se nada mais der certo” e “Subterrâneos” (José Eduardo Belmonte), “Os Normais 2 – a noite mais maluca de todas” (José Alvarenga Jr), “Linha de Passe” (Walter Salles e Daniela Thomas), “Batismo de Sangue” (Helvécio Ratton), “Antes que o mundo acabe” (Ana Azevedo) e mais recentemente “Capitães da Areia” (Cecília Amado) e “Billi Pig” (José Eduardo Belmonte). Em televisão, integrou o elenco de mais de uma dezena de novelas – “Salve Jorge”, “Amor eterno amor”, “Escrito nas Estrelas”, “Caminho das Índias”, “Paraíso”, dentre várias outras. Também participou


de várias minisséries, como “A Grande Família”, “Toma lá dá cá”, “Maysa”, “JK”, “Malhação”, “Carga Pesada” e “A Diarista”. ENTREVISTA COM MURILO GROSSI (Padre Alberto) Seu personagem, padre Alberto, foi baseado em Frei Betto, um padre progressista que teve papel importante na resistência ao golpe de 1964, e quase 50 anos depois teve papel importante no primeiro governo de Lula, com o qual, no entanto, se desentendeu. Como você construiu esse personagem? Eu nasci em 1964 quando meus pais vieram de Minas para Brasília. Portanto vivi minha infância e adolescência sob o regime militar. Meu pai era promotor do Ministério Público e professor da UnB e minha mãe professora da Fundação Educacional de Brasília. Não convivi com frei Beto, que vim a conhecer quando fiz o filme "Batismo de sangue", mas durante toda minha infância convivi muito com Frei Matheus, dominicano que veio pra Brasília a pedido de Darcy Ribeiro para a UnB, e foi talvez um dos grandes formadores daquele grupo de dominicanos progressistas ao qual Frei Beto pertenceu, junto com Frei Ivo, Frei Fernando e Frei Tito, entre outros. Frei Matheus era muito amigo de meus pais e quando meu pai, José Gerardo Grossi foi expulso da UnB e aposentado do MP pelo AI 5, continuaram muito ligados, inclusive na resistência possível daqueles tempos tão sombrios. Você se inspirou num desses frades, portanto? Não há como negar que me inspirei sobretudo em Frei Matheus, mas também em todos aqueles padres da Igreja da Libertação e dos movimentos progressistas da igreja católica que foram fundamentais naquele momento para a formação da resistência à ditadura. Cinquenta anos depois do golpe militar de 64 o Brasil continua em crise política, com um governo que se diz de esquerda sendo destituído pelos parlamentares. Como você avalia isso? É estarrecedor que meus filhos estejam passando por isso hoje, depois de tudo que passamos para chegar até aqui na ilusão de que havíamos conquistado um mínimo de garantia democrática. O que de fato vejo é que nunca tivemos uma democracia plena ou um estado democrático de direito verdadeiro. As populações periféricas, os negros, as mulheres, os índios, os homossexuais, os pobres em geral nunca souberam o que é democracia verdadeiramente a não ser pelo direito de votar, o que é muito pouco. Agora que nos últimos governos houve um mínimo de transferência de renda e um mínimo de avanço social, nos estão usurpando inclusive o voto. O Brasil nunca será uma democracia enquanto não democratizar a mídia, a economia, e não fizer uma profunda reforma política no sentido de melhorar a representatividade. O que estamos vivendo é mais um golpe para perpetuar a mesma elite de sempre, retrógrada, ignorante, mesquinha e corrupta. Temo que viveremos tempos muito ruins. Você é um ator que tem posições políticas muito definidas. Como você avalia a posição de Frei Alberto, naquela época?


Ele era coerente com o sacerdócio e buscava conscientizar uma comunidade extremamente carente e explorada. Essa tendência dentro da igreja era tida como de esquerda, mas não vejo nada mais católico e cristão do que proteger os humildes dando-lhes condições para lutarem por si. Que importância você vê num filme como este, nos dias de hoje? Este filme é extremamente atual. Só mostra que a luta por um país mais justo e democrático sempre existiu e continua existindo. A elite brasileira continua a mesma, e infelizmente estamos longe de superar esta condição. Tenho muito orgulho de ter participado deste filme não só por recuperar um olhar para a nossa história ainda pouco exibido no cinema, o olhar da periferia para o centro do poder, como também para trazer toda esta discussão sobre o que é o nosso país e qual país de fato queremos.

JONAS BLOCH (SIMEÃO, PAI DE NANCY) Com 50 anos de carreira, formado também em Artes Visuais e em vários cursos de Teatro, foi professor de interpretação em Universidades, é ator, diretor, autor. Trabalhou em cinema, teatro e televisão. Em seu curriculum, há uma enorme variedade de experiências, indo de Shakespeare a comédias de costumes, de filmes ambiciosos a novelas leves e musicais. Entre seus trabalhos de teatro incluem-se “Hamlet”, “Sonhos de uma noite de Verão” (Shakespeare), “Peer Gynt” (Ibsen), “Franck V” (Durrematt), a participação na Mostra Internacional de Teatro de Montevidéu com “Besame Mucho”, em Portugal no Festival do Porto e de Vianna do Castelo com “Senhor das Flores”, em dezenas de peças como ator, às vezes como diretor e autor. Atuou em filmes internacionais, como “Sigilo Absoluto” (Discretion Assured), ao lado de Michael York, “Woman on top”; o italiano “Butterfly”, além dos nacionais como “Caso Claudia”, "Avaeté”, “O homem da Capa Preta”, “A Terceira Morte de Joaquim Bolívar”, “O dia da caça”, “Amarelo Manga”, “Cabra Cega” (prêmio Fiesp, de melhor coadjuvante), entre muitos outros. Foi homenageado no 28º. Festival de Cinema Guarnicê, Maranhão e no de Canoa Quebrada, por sua trajetória. Com uma constante presença na televisão, vem participando de novelas e mini- series, como “Corpo Santo”, “Mulheres de areia”, “A Viagem”, “Bicho do Mato”, entre outras. ENTREVISTA COM JONAS BLOCH (Simeão Emediato) Seu papel é bem pontual, mas muito significativo e impactante. O verdadeiro Simeão Emediato era um fazendeiro de Minas Gerais, filho de italiana, uma espécie de patriarca protetor, que via no genro Antonio um aventureiro irresponsável e sonhador. Como você preparou seu personagem? Não é difícil compreender os sentimentos de um pai, que dá uma casa para a filha e os netos, abrigo em sua fazenda, para que tenham uma vida confortável, e vê os delírios do genro, que resolve arriscar tudo, vender a casa, em uma jornada aventureira, sem qualquer fundamento. A minha perspectiva principal foi a de um homem com princípios rígidos, de temperamento, mas com um grande afeto pela família, protetor, participante.


Você também é mineiro. Onde estava quando do golpe de 1964? Morei dez anos em Belo Horizonte, e estava lá quando veio o golpe militar, fazendo uma peça, que foi censurada um tempo depois de estrear. Fazíamos um paralelo entre a história do passado, com o que acontecia na época, o que continha semelhanças, uma forma de denunciar a falta de Liberdade, a repressão, e as barbaridades daqueles anos. O teatro, assim como a música, eram os porta vozes do sentimento de indignação do brasileiro. Montamos espetáculo de Brecht, de Cervantes que retratavam o momento que vivíamos. Este filme, que tem o golpe militar de 1964 como pano de fundo, está sendo lançado num momento conturbado da vida do país. Você faz alguma analogia entre aquela época e esta? Claro que sim. Depuseram João Goulart, legalmente eleito, porque ele reivindicava melhor tratamento para as camadas mais pobres, com as reformas de base. Havia um avanço nas reivindicações populares. Como era uma época da guerra fria, a desculpa foi de que queriam tornar o Brasil em uma ditadura comunista. Havia interesse americano no golpe. Os americanos prepararam a Operação Tio Sam, mandando os navios para nossa costa, preparando uma invasão. Isto está documentado na Biblioteca Lindon Johnson, nos Estados Unidos, com livre acesso a qualquer pessoa. O que mais gostaria de falar de seu personagem e do filme em si? O outro lado do Paraíso" foi feito com paixão, com uma bela interpretação de Du Moscovis, uma competente direção de André Ristun, é filme de quem conhece cinema, importante, porque mostra um momento de nossa história, que precisa ser lembrado sempre, para que não se repitam os horrores daqueles tempos escuros.

CAMILA MÁRDILA (SUELY, IRMÃ DE NANDO) Jovem atriz formada em Brasília em Comunicação Social pela UnB e premiada com o Prêmio Questão de Crítica 2012, como integrante do Melhor elenco pelo espetáculo Nada, dirigido por Adriano e Fernando Guimarães e Miwa Yanagizawa. Atuou ainda nos trabalhos “Teatro Visual: o que ainda não tínhamos visto?” e “Resta Pouco a Dizer”, com peças curtas de Samuel Becket, dirigidas por Adriano e Fernando Guimarães. Também sob direção dos brasilienses Adriano e Fernando, esteve em “A Comédia dos Erros”, de William Shakespeare, e “A Casa”, inspirado em “A Casa de Bernarda Alba”, de Garcia Lorca. Em cinema, fez preparação de elenco dos curtas “Virilhas”, de Mariana Amaral e Ana Maria Ultra, e “Procedimento Hassali ao Alcance do seu Bolso”, de Saulo Tomé. Atuou nos curtas “Pelo Caminho”, de Vinicius Fernandes, “32 Mastigadas”, de Maria Vitória Canesin, e “Ainda somos os mesmos”, de Filipe Vianna. É protagonista do novo longa metragem de Anna Muylaert, “Que horas ela volta?” e recebeu o prêmio de melhor atriz no Festival de Sundance 2015.


ENTREVISTA COM CAMILA MÁRDILA (Suely Emediato) Como você foi selecionada para este filme, que foi seu primeiro longa metragem e está sendo lançado depois de seu sucesso como a filha da empregada em “Que horas ela volta”? Eu fiz teste em Brasília, ainda sem saber exatamente para qual personagem. Tempos depois me ligaram me chamando para fazer Sueli, personagem quase 10 anos mais jovem que eu. Suely é muito jovem, ainda adolescente, tem um pai sonhador que admira Jango e namora um soldado do Exército que logo vai ter um papel impactante na história, na noite do golpe militar. Como foi isso? A Sueli tem a ingenuidade da menina que sai do interior com o sonho de ver, na promessa de nova capital, o que apenas ouve nas rádios. Ver o primeiro namorado fazer parte do lado responsável pelo pai ser preso e torturado é uma maneira muito bruta e dolorosa de prepará-la para a vida adulta. Algumas camadas de sua pureza certamente caem por terra. Quero acreditar que, com o tempo, essa profunda frustração e sofrimento a tenham tornado uma mulher forte e, quem sabe, companheira na luta de seu pai. Como você vê, à luz de hoje, os sonhos de Antonio no Brasil daquela época e os sonhos de sua geração num Brasil, 50 anos depois, ainda politicamente conturbado? Acredito que o sonho permanece. Às vezes travestido pelas demandas de novos tempos, mas as raízes são as mesmas. Antonio luta pelo direito dos trabalhadores, por melhores condições para aqueles que estavam construindo uma cidade que não servia a eles mesmos. Vivemos num país basicamente construído por pobres, negros, índios e usufruído pelo homem branco, rico, empresário em sua grande maioria. A democracia é um exercício coletivo constante, é sempre um sonho, algo que nunca está totalmente garantido: há sempre um grupo, sedento por poder, querendo a supremacia de seus privilégios. E o que mais quer falar? Sempre gostei muito de filmes que retratassem o período da ditadura militar no Brasil. Não só por, de fato, termos belíssimas obras na cinematografia brasileira que abraçam esse tema, mas principalmente pelo teor informativo e de alerta que carregam. O direito ao voto foi conquistado a duras penas e é ainda muito recente na história do nosso país. E ainda convivemos com a omissão de muitas barbáries cometidas nesse período que muita gente não faz ideia. Por isso, fico muito feliz de fazer parte de mais um filme que joga uma luz nesse assunto, e nos lembra que a democracia, em nosso país, é um estado de resistência. Precisamos ser atentos, fortes e informados.


SUELY EMEDIATO (a verdadeira) Suely Emediato Barcelos tinha apenas 9 anos de idade quando Antonio Trindade foi para Brasília com a família, mas ela tem uma memória extraordinária do que viveu lá. Na entrevista abaixo, ela relembra como foi a história real. Hoje ela vive em Sete Lagoas, Minas Gerais e trabalha como decoradora de casamentos. ENTREVISTA COM SUELY EMEDIATO (Ela mesma) Você tinha apenas 9 anos quando foi com sua família para Brasília, em 1963 (no filme sua idade foi aumentada pra 16 anos), mas seu irmão Luiz Fernando diz que você é a que mais tem memórias daquela época. Como foi viver em Brasília naqueles dois anos difíceis e como eles te marcaram? Viver em Brasília naquela época, para nós, crianças, era uma aventura, os adultos construindo aquelas pequenas casas de madeira em meio a poeira ,minha mãe cantando apesar das dificuldades e a gente cuidando uns dos outros como uma família unida e cheia de esperanças. Como era viver em Taguatinga naquela época? O que vocês faziam no dia-adia, enquanto seu pai trabalhava nas obras da cidade, de dia, e saía para fazer agitação política e discursos, à noite? Tinha uma escola, os maiores iam, quando voltávamos disparados, para almoçar, trombando nos homens no meio das obras, era divertido, depois eu cuidava dos pequenos Renato e Geraldo, passeava com Geraldo num carrinho de madeira. Meu irmão Luiz Fernando, ao escrever o livro, nos reduziu a apenas três irmãos, mas éramos sete, acredita? Ele, Nando, eu e Tuniquinho (que se chamava Antonio Carlos, Cacaio, ele tinha 11 anos mas no livro e no filme a idade dele diminuiu, enquanto a minha aumentou). Então tinha também a Silvana, de oito anos, a Solange com sete, o Renato com quatro e o Geraldo com três, era uma escadinha. Como era seu pai Antonio Trindade, para você? Ele era aquilo mesmo, ou seu irmão escritor idealizou o personagem, tornando-o melhor? Meu pai sempre foi aquele homem retratado no livro e no filme, forte, bonito e sonhador, só que mais bravo e brigão! Meu pai entrava e saía de casa feito doido. Quando seus sonhos e planos ruíram, foi a única vez em que o vi chorar! Ele pensava que ali estava o futuro da nossa pobre família, sempre lutou pela igualdade, dava a metade da comida para vizinhos, sua cabeça fervilhava de sonhos... Veio o golpe e tudo acabou, foi triste ver levarem aquele homem que não tinha cometido nenhum crime e na frente dos filhos, nunca esqueci. Camila Márdila interpreta uma Suely mais velha e namoradeira, mas a Suely real tinha apenas 9 anos de idade. Como foi se ver na tela com mais idade? Achei lindo me ver moça, sonhando com o amor, mas, vendo o filme, minha mente só lembrava da realidade que vivemos lá, uma época feliz e depois triste, nós


sozinhos, minha mãe grávida, meu avô nos levando embora e meu pai ficando preso. Antonio passou a velhice em sua casa, onde morreu, aos 80 anos. Nancy também passou o final da velhice em sua casa e morreu com os mesmos 80 anos. Como foi cuidar deles até o fim? Cuidar do Sô Antonio foi gratificante, ele sempre com ilusões e alegre. Foi um idoso valente, venceu um câncer, não faleceu disso! Fazíamos caminhada todas as manhãs, ele tinha vários amigos para falar de política, contava o passado e elogiava o presente, principalmente os avanços sociais da era do Lula, que foi um dos seus ídolos, brigava por ele! Se via nele! Tinha um ditado que sempre repetia: Sou sadio, sou feliz, sou rico!!! Ele não conseguiu levar seus sonhos adiante, mas nunca perdeu a esperança, me vejo nele às vezes... E sua mãe? Minha mãe era alegre, mas não uma idealista como ele. Cuidei dela com o mesmo carinho, fiz por eles o que fizeram por mim, a vida é assim, poder olhar nos olhos dos nossos pais e ver o amor, o agradecimento e poder falar para eles que estou apenas retribuindo! O que você planta, você colhe!

IURI SARAIVA (RICARDO) Iniciou a carreira em 1998, trabalhando com teatro infantil. Profissionalizou-se em 2002 e desde então atua na cena do DF e outros estados. Como ator de teatro, esteve em trabalhos como “Medeia-Gaia em fúria”, dirigido por Luciana Martuchelli, “Romeu Imaginário”, com direção de Glória Teixeira, “Ritos de Passagem” e “Vereda da Salvação”, sob direção de Túlio Guimarães, “O Terceiro Lar”, dirigido por João Antonio, Dois de Paus, de Arthur Tadeu Curado, e “Legionários da Capital”, de Luana Proença. Dirigiu “A Despedida”. Em cinema, atuou no longa “Uma Vida em Segredo”, de Suzana Amaral, e nos curtas “Deus-Arma”, de Johil Carvalho e Sergio Lacerda, “A Noite por Testemunha”, de Bruno Torres (pelo qual recebeu os prêmios de melhor ator no 42° Festival de Brasília do Cinema Brasileiro e no 4° Festival Curta Cabo Frio), e “A menor distância entre dois pontos”, de Breno Figueiredo. ENTREVISTA COM IURI SARAIVA (Ricardo) Você faz um papel inicialmente simpático, o soldado que se aproxima de Nando para namorar a irmã dele, Suely, mas logo depois tem que se comportar como o que de fato é, um soldado que cumpre ordens. É um inimigo do comunismo, que na época era execrado pelos militares e pelos políticos dominantes. Como foi construir esse personagem? Sempre gostei de processos imersivos. Fiz algumas imersões em ambiente militares para absorver essa energia de ação, força e retidão da vida militar. O Ricardo é um rapaz cheio de contradições, como qualquer um na sua idade. Acaba encarando o


dilema entre o dever e a vontade. Algo que, com certeza, deve ter sido demasiado comum na época. Você leu o livro de Emediato? O que achou? Sim. Acho que é uma leitura essencial para a politização de um jovem indivíduo. É poético e não perde em contundência. O livro trata dos sonhos de um pai de família e seu fracasso depois do golpe militar. Como você vê esta situação à luz do que está acontecendo hoje, com o impeachment de uma presidente eleita por voto direto? Irônico e necessário. As evocações do livro, feitas através do filme, chegam em um momento repleto de contradições de um sistema político que, mesmo falho, é reflexo do voto direto, da palavra votada pelo povo. Falar sobre a derrubada da democracia em 1964 no momento em que a mesma democracia sofre uma nova derrubada é crucial para o amadurecimento da população. O que mais quer dizer? Quando rodei esse filme, não via no horizonte o que acontece hoje em nosso país. Estava muito feliz por fazer parte de um filme que traria consciência histórica e valores humanos para nosso público. Hoje me sinto ainda mais feliz por fazer parte de um filme que pode ser um dos instrumentos de esclarecimento, não apenas histórico, mas também uma ferramenta de combate a um movimento turvo que para uns pode parecer a vereda, mas, na verdade, é apenas a manutenção de um sistema ardil e corrupto.

STEPHANIE DE JONGH (MARINA) Atriz e cantora. Atuou nos longas-metragens “Meu País” (André Ristum) e “Um Assalto de Fé” (Cibele Amaral). Em TV, participou do especial “Nascemos para cantar”, da TV Record. Vive em São Paulo desde 2006, onde já se apresentou no teatro com o musical “Lado B – Mudaram as Estações”. ENTREVISTA COM STEPHANIE DE JONGH (Marina) Seu personagem não existia no livro de Emediato. Como alguns outros, foi criado pelo diretor André Ristum e é bastante representativo da época, quando muitos militantes de esquerda – como a Marina – alfabetizavam adultos com o método de Paulo Freire. Como foi construir este personagem que é curtinho no filme, mas presente ao longo de boa parte do filme e muito emblemático? Foi muito rico e prazeroso mergulhar no universo dos personagens do filme através da Marina. A preparação de elenco foi feita com muita dedicação, e foi crucial para a inserção total e orgânica da personagem.


Seu personagem presencia um dos momento mais dolorosos do filme, a prisão de Antônio, ao lado de Nando. Como foi a preparação e a realização desta cena? Muito intensa! Durante a preparação ensaiávamos a cena, porém coisas inesperadas aconteciam. A intenção era manter todos em alerta e provocar a sensação de vulnerabilidade e impotência. Com o aquecimento antes da cena toda a carga dramática vivida nos ensaios pôde ser capturada pelas câmeras. Você na época era casada com o diretor André Ristum. Como é ser dirigida pelo próprio marido? Um privilégio. Acredito que o André desempenha com maestria seu papel no cinema nacional. Durante quase 10 anos de casamento desenvolvemos diversos projetos juntos, sempre com muita afinidade.

ADRIANA LODI (PROFESSORA IOLANDA) Atriz de teatro e cinema, é professora e desenvolve projeto de formação de atores. É coordenadora das atividades formativas do Festival Internacional de Teatro de Brasília – Cena Contemporânea desde 2007. Atuou em vários espetáculos como” Bagatelas e Inventários” (Guilherme Reis), “Depois da Chuva” (Daniela Diniz), “Cabaré das Donzelas Inocentes” (Murilo Grossi e William Ferreira), “Os Demônios” (Hugo Rodas e Antônio Abujamra), “Aquilo que Serve de Lembrança” (de Adriano e Fernando Guimarães); “Projekt Ophélia” (Fernando Villar); “Fuck you Baby” (Hugo Rodas); “Cartas de um Sedutor” (Genilson Pulcineli e Willian Ferreira), entre outros. Fez preparação de elenco no curta “Suicídio Cidadão”, de Iberê Carvalho. Atuou nos curtas “Uma Questão de Tempo”, de Catarina Accioly e Gustavo Galvão; “Cidade Vazia”, de Cássio Pereira; “A Menina que Pescava Estrelas”, de Ítalo Cajueiro; “A Noite por Testemunha”, de Bruno Torres, e “Verdadeiro ou Falso”, de Jimi Figueiredo. Prêmio de melhor atriz pelo curta “Entre Cores e Navalhas”, de Catarina Accioly, nos festivais de cinema de Guarnicê, no Maranhão, e em “Triunfo”, em Pernambuco. Atuou nos longas “Um Assalto de Fé”, de Cibele Amaral, e “Se nada Mais der Certo”, de José Eduardo Belmonte. ENTREVISTA COM ADRIANA LODI (Professora Iolanda) Seu personagem não confere muito com a professora Iolanda do livro, que é uma anticomunista caricata. Ela foi humanizada e, embora conservadora, Iolanda tem carinho por Nando, cujas leituras quer orientar. Você leu o livro de Emediato? Como construiu sua personagem? Infelizmente não tive a oportunidade de ler o livro. Mas quando começamos o trabalho de preparação a primeira coisa que foi colocada é que seria muito valioso a humanização da professora Yolanda, que apesar de ser uma pessoa muito agarrada aos seus princípios conservadores, é uma professora responsável e envolvida com seus alunos, a tal ponto que se relaciona com eles de maneira carinhosa e individualizada. A


construção se deu no processo de ensaios e levando em conta também a minha própria pedagogia efetiva. Na verdade a professora fundamental para a vida do escritor Emediato foi outra, Maria Antonieta Antunes da Cunha, que ele conheceu aos 14 anos de idade quando estava concluindo a oitava série no interior de Minas Gerais. O que acha desse papel de professoras na vida das pessoas? O encontro entre professores e alunos, quando se dá numa atmosfera responsável, afetiva e provocadora pode promover transformações estruturais na vida de ambos. Ser afetado nos processos de ensino aprendizagem, nos encontros para o compreender e o inventar dos mundos possíveis é uma experiência insubstituível, acredito eu, na vida de todos nós. Uma das frases mais duras da professora Iolanda é quando ela diz a Nando que “livros não são apenas livros”, mas são produtos eventualmente perigosos. Acredita nisso? Livros podem alterar o curso da História? Ao ler temos a possibilidade de mergulhar em outros universos, atravessamos pontes de saberes, nos reinventamos com os mundos criados nos livros. E acredito que eles são deliciosamente perigosos pois podem ser capazes de desestabilizar nossas certezas e convicções. O que mais quer dizer? Que foi um grande prazer assumir a professora Yolanda, uma personagem complexa que agrega austeridade e afeto na crença da responsabilidade do seu ofício.

O PRODUTOR NILSON RODRIGUES Empresário, produtor cultural, diretor e roteirista de televisão, teatro e cinema, nasceu em Abadia de Dourados, Minas Gerais. Produziu os documentários “Bernardo Sayão e o Caminho das Onças”, dirigido por Sérgio Sanz; “Josué de Castro – Por um mundo sem fome”, “Paulo Freire – Educar para transformar”, dirigidos por Tânia Quaresma; a série de TV “Impressões do Brasil”, dirigida por Ronaldo Duque. Produziu e dirigiu o espetáculo e a série de TV “Brasil Clássico Caipira”. Em teatro, produziu e dirigiu “Duas ou Três Coisas que Eu Sei Sobre o Amor”’ de Martha Medeiros; e produziu “Uma Professora Muito Maluquinha”, de Ziraldo, e “Tudo Por um Fio”, ambas dirigidas por Marcelo Souza. É produtor associado do filme infantil “Tainá 3 – A Origem” e consultor de” Qualquer Gato Vira-Lata”, ambos de Pedro Rovai. Idealizou e produziu o Festival de Inverno de Bonito e o BIFF – Festival Internacional de Cinema de Brasília, do qual também é diretor geral. É diretor do CineCultura Liberty Mall e Coordenador Geral da Bienal Brasil do Livro e da Leitura, Brasília – DF. ENTREVISTA COM NILSON RODRIGUES (Produtor da Mercado Cultural) Como você teve a ideia de filmar esta história?


Conheci essa obra ainda nos anos oitenta e fui amadurecendo a ideia. Já havia visto outra a adaptação de uma obra do Emediato, Verdes Anos, feita pelo Giba Assis Brasil. Isso me estimulou. Contar um pouco da história dos anônimos que construíram a capital me impulsionou. E achei que a obra literária merecia uma adaptação para o cinema. Por que o autor do livro que você quis filmar acabou sendo também produtor do filme? Quando fui visitá-lo para adquirir os direitos autorais ele se negou a vender os direitos, mas tanto insisti que ele se interessou em ser coprodutor. Deu certo! Como foi essa parceria? O trabalho foi intenso e o resultado nos deu muita alegria. O filme tem atualidade e agrada o público. Este é o primeiro grande filme, na verdade o primeiro filme de sua produtora, que é de Brasília. Considerando-se que o filme pode ser considerado uma produção de grande porte para os padrões do cinema brasileiro, que dificuldades vocês tiveram? A Mercado tem vinte anos de atividade e já realizou projetos de grande porte, como Festival de inverno de Bonito, a Bienal do Livro de Brasília e também as séries de TV "Impressões do Brasil" e "Brasil Clássico Caipira." Sabíamos que tínhamos porte pra realizar uma grande produção cinematográfica. Realizar este filme foi um processo demorado. Era para ter estreado no cinquentenário de Brasília, em 2011, foi adiado para o cinquentenário do golpe militar, em 2014 e acabou sendo lançado agora, com o país tão dividido social e politicamente quanto em 1964. O filme foi de difícil realização. Mas estrear agora é muito oportuno. O Brasil vive mais um momento de ruptura democrática, um novo golpe. O filme vai ajudar na reflexão sobre o Brasil e sua trajetória de golpes. Que mais quer responder? O livro é incrível, muito bonito. Tenho certeza que público vai gostar muito do filme, que mostra como os trabalhadores candangos que viviam na periferia vivenciaram o golpe militar de 1964. Um filme sobre sonhos e esperança.

FICHA TÉCNICA Direção: André Ristum Baseado no livro de Luiz Fernando Emediato Uma produção de: Nilson Rodrigues e Luiz Fernando Emediato


Com Eduardo Moscovis, Simone Iliescu, Jonas Bloch, Flávio Bauraqui, Murilo Grossi, Adriana Lodi, Stephanie de Jongh, Camila Márdila, Iuri Saraiva, Mariana Nunes Apresentando Davi Galdeano como Nando, Maju Souza como Iara, Tais Bizerril como Alice, Henrique Bernardes como Tuniquinho Narração: Luís Melo Roteiro final: Marcelo Müller Roteiro: Ricardo Tiezzi, José Rezende, André Ristum Colaboração no roteiro: Lusa Silvestre Consultoria e supervisão de roteiro: Senel Paz Direção de fotografia e câmera: Hélcio Alemão Nagamine, ABC Direção de arte: Beto Grimaldi Montagem: Gustavo Giani Trilha sonora original: Patrick de Jongh Participação especial na trilha e voz: Milton Nascimento Efeitos visuais: Gui Ramalho Desenho de som e mixagem : Alessandro Laroca , Eduardo Virmond Lima, Armando Torres Jr. Produtor associado: Pedro Rovai Coprodutor: André Ristum Produção executiva: Marcio Curi, Beth Curi, Carmen Flora Som direto: Toninho Muricy Figurino: Kika Lopes Maquiagem: Rosemary Paiva Cenografia: Andrey Hermuche, Daniela Vilela Direção de elenco: Patrícia Faria Preparação de elenco: Luiz Mario Vicente 1a. Assistente de Direção: Suzy Milstein Coordenação de pós-produção: Duda Izique Produtora: Mercado Filmes e Geração Entretenimento Distribuidora: Europa Filmes EUROPA FILMES A Europa Filmes é uma empresa brasileira que atua no mercado de distribuição de filmes, em cinema, vídeo, televisão e internet (VOD), desde 1990. Tem como diretor geral Wilson Feitosa, fundador da empresa. Possui um amplo repertório de filmes, que vai de blockbusters americanos aos filmes de arte europeus. Em seu catálogo, estão muitos indicados e ganhadores do Oscar, tanto estrangeiros como brasileiros. A Europa Filmes é uma distribuidora preocupada em oferecer o que há de melhor em conteúdos e serviços a seus parceiros e consumidores.

RELEASE PARA IMPRENSA


“O Outro Lado do Paraíso”, ganhador do prêmio do júri popular em Gramado, estreia em junho falando de utopias, amor adolescente, política e golpe num país dividido Eduardo Moscovis e Davi Galdeano estrelam segundo longa de André Ristum

O ano era 1963. O Brasil vivia um período turbulento, com o governo em crise, o Congresso em chamas, denúncias de corrupção na imprensa e um golpe a caminho. Neste país dividido, um brasileiro anônimo, Antonio Trindade, entusiasmado com as propostas de reformas do presidente João Goulart, sai de Minas Gerais com mulher Nancy Emediato e três filhos para tentar realizar em Brasília, cidade ainda em construção, o maior sonho de sua vida: achar o paraíso na terra.

Esta história real – baseada em livro autobiográfico de Luiz Fernando Emediato – serviu de tema para “O Outro Lado do Paraíso”, segundo longa-metragem de André Ristum, que estreia nacionalmente em junho, depois de ganhar 12 prêmios em vários festivais no Brasil e no exterior.

Naquele turbulento início dos anos 60, tendo renunciado o presidente Jânio Quadros, Antônio Trindade (Eduardo Moscovis) viajava incessantemente pelo interior de Minas Gerais obcecado com o sonho de achar a terra bíblica de “Evilath”, onde tudo seria perfeito, e ao mesmo tempo lutar para melhorar a vida de sua gente.

A história se desenvolve a partir da narração de Nando (Davi Galdeano), o filho de 12 anos. É ele – numa mistura de admiração, amor, dor, orgulho e tristeza – quem conta a história do pai, encantado com sua “loucura”. Também este menino tem seu sonho: ser escritor. E é através desses olhos e desta voz sensível que a ação transcorre, com o pai buscando seu futuro na oferta de trabalho em Brasília e nas reformas de base propostas pelo presidente Jango.


A mulher Nancy (Simone Iliescu), antes tão solitária por causa das andanças do marido, parece encontrar um porto seguro. A filha adolescente Suely (Camila Márdila, de “Que horas ela volta”), apaixona-se por um jovem soldado, Ricardo (Iuri Saraiva). Nando divide-se entre a saudade da menina que deixou em Minas, para quem escreve incessantes cartas, e a independente e atrevida Iara (Maju Souza), filha da professora Iolanda (Adriana Lodi), que encoraja o estudante tímido do interior a buscar conhecimento nos livros, o que ele faz estimulado também pela alfabetizadora de adultos Marina (Stephanie de Jongh), discípula do educador Paulo Freire.

Mas o sucesso de Antonio no trabalho, os amores de seus filhos Suely e Nando e as esperanças da mãe Nancy são interrompidos dramaticamente em 1964, com o Golpe Militar. A paradisíaca “Evilath” do brasileiro Antonio arruína-se com a chegada dos generais. Antonio e seus principais companheiros (padre Alberto, interpretado por Murilo Grossi, e o sindicalista Jorjão, por Flavio Bauraqui) são presos. O avô Simeão Emediato (Jonas Bloch) vai buscá-los. Fim de linha?

– Depende – diz Luiz Fernando Emediato. – Contado assim, parece um romance de formação, um menino candidato a escritor descobrindo o amor e a vida enquanto o pai inquieto divide-se entre a obsessão bíblica de achar a terra prometida e a luta política pela libertação, ainda que não fosse comunista. Para mim, é algo maior. É preciso ver o filme para entender, no final, a metáfora do sonho. E perceber com algum espanto que, assim como em 1964, o Brasil está hoje diante do mesmo abismo. O paraíso existe ou é possível de ser construído? Como? Existe saída para nosso impasse secular? É disso que esse filme trata. De possibilidades e impossibilidades. Da maneira mais simples possível, encontrada magicamente pelo diretor André Ristum.

Para contar a saga de Antonio pelos olhos do filho, a produção do filme – dividida entre a Mercado Filmes, de Nilson Rodrigues, e a Geração Entretenimento, do próprio Emediato – teve de construir uma cidade cenográfica de quase 20 mil m² nos arredores de Brasília, além de usar bastante computação gráfica para reconstituir parte de Brasília como ela era – em plena construção – há 50 anos. Foram usadas


também imagens históricas do documentário “Brasília – Contradições de uma cidade nova” de Joaquim Pedro de Andrade e outras, jornalísticas, de Jean Manzon, até então jamais exibidas – imagens dramáticas dos tanques de guerra e dos soldados nas ruas de Brasília, São Paulo e Rio, logo após o golpe militar ter sido deflagrado, no madrugada do dia 1º de abril de 1964.

– As imagens de “Brasília – Contradições de uma cidade nova” integram-se às do filme, dando ainda mais consistência e verdade às imagens ficcionais e recriadas na filmagem e pós produção” – diz o diretor André Ristum. – A isso se somou a descoberta das imagens dramáticas de Jean Manzon, que cobriu o dia do golpe com suas câmeras de cinema em Brasília, no Rio de Janeiro e em Brasília e jamais as exibiu, possivelmente por temor de represálias. Elas revelam cenas de grande dramaticidade e violência.

A cidade cenográfica reconstitui parte de Taguatinga, na época um aglomerado de barracos de madeira em ruas empoeiradas na periferia do Distrito Federal e hoje uma cidade de porte médio. Foi lá que viveu, em 1963, a família de Emediato.

O filme tem uma trilha sonora impactante, composta especialmente por Patrick De Jongh, e a ela se somou a participação especial de Milton Nascimento, que toca sanfona, violão e cavaquinho e pontua algumas cenas com seus famosos vocalizes, além de interpretar uma canção original, composta também por De Jongh.

“O Outro Lado do Paraíso” ganhou o prêmio de melhor filme do júri popular no Festival de Gramado e outros sete prêmios no Troféu Câmara Legislativa, incluindo melhor filme na escolha do público, melhor ator (Davi Galdeano) e melhor atriz (Simone Iliescu). Ainda recebeu os prêmios de Melhor Filme, Melhor Atriz (Maju Souza) e Melhor Filme pelo Júri Popular Jovem no Festival Latino-americano de Trieste, na Itália.

Com distribuição da Europa Filmes, o longa tem patrocínio da Petrobras, dos Correios, do FAC – Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal –, do Banco Original


(do Grupo JBS) do Banco BMG, da BB DTVM (subsidiária do Banco do Brasil), do Banco PAN, da AMBEV, da Usina São Domingos, da MRV Engenharia e da Tabocas. Contou também com recursos do FSA – Fundo Setorial do Audiovisual, via BRDE.

PARCEIROS

Informações para a Imprensa ProCultura 11 3263.0197 Flávia – flavia@procultura.com.br Cláudia – claudia@procultura.com.br


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