1 GERALDO SOARES RAMOS JÚNIOR
PARADA GLBT – AS TEORIAS DO JORNALISMO: CONSTRUÇÃO DA REALIDADE VERSUS TEORIA DO ESPELHO
CENTRO UNIVERSITÁRIO NOVE DE JULHO (UNINOVE)
2 GERALDO SOARES RAMOS JÚNIOR
PARADA GLBT – AS TEORIAS DO JORNALISMO: CONSTRUÇÃO DA REALIDADE VERSUS TEORIA DO ESPELHO
CENTRO UNIVERSITÁRIO NOVE DE JULHO (UNINOVE)
3 Agradecimentos
Agradeço primeiramente a Deus por me dar saúde, força e concentração na realização deste trabalho e que juntamente com os estudos realizados eu possa ter adquiridos ainda mais informações sobre o mundo em que vivo. Agradeço também aos meus pais Geraldo e Ana Tereza, que deram a oportunidade fazer este curso. Agradeço também às minhas irmãs Cristiane e Márcia, aos meus cunhados Silvio e Dema, às amigas Maria dos Remédios, Ivone, Marivânia e Andressa pela força durante estes quatro anos de batalha. E principalmente a minha orientadora Marcela Mattos, que sem sua ajuda e orientação eu não teria realizado este Trabalho de Conclusão de Curso. Obrigado a todos.
4 "Há homens que lutam um dia E são bons Há outros que lutam um ano E são melhores Há aqueles que lutam muitos anos E são muito melhores Porém, aqueles que lutam por toda a vida Esses são imprescindíveis"
Bertold BRECHT
5 SUMÁRIO
1. Introdução
06
2. Parada do Orgulho GLBT, histórico
07
3. Homossexual
12
3. 2. Sodomita, gay, veado, bicha: preconceitos e estereótipos
13
3. 3. A aceitação e auto-aceitação do homossexual
14
3. 4. Bissexualidade humana
17
4 . Notícia
18
4. 2. Jornalismo
20
4. 3. O dever e as obrigações do jornalismo
21
4. 4. Lead
22
4. 5. Ética
22
5. Revista Caros Amigos
24
6. Teoria do Espelho
26
7. Teoria do gatekeeper
27
8. A construção da realidade: análise sobre a Parada Gay
28
9. Bibliografia
31
6 Introdução
Até que ponto o jornalismo pode ‘classificar’ um evento social, como no caso da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo que leva milhões de pessoas a uma das principais Avenidas da cidade de São Paulo. Este é o ponto principal desse trabalho, o qual o leitor está prestes a conhecer. Com o objetivo de mostrar o processo ético e fundamental para um bom jornalismo, através dos capítulos o leitor se informará do processo da reportagem, da notícia, da relação com as fontes e principalmente as obrigações que o jornalismo detém perante a sociedade, a de informá-la. Estudar as formas de construção da notícia, foi um ponto importante para a realização deste material. A cada capítulo a apresentação de vários autores como Fernando Costa NETTO, Isadora Lins FRANÇA e Regina FACCHINI, do livro “Parada, 10 anos de Orgulho GLBT” que traz um breve histórico da “Parada do Orgulho GLBT de São Paulo”. Em seguida o histórico sobre o homossexualismo em civilizações como Grécia Antiga e Império Romano até os dias atuais, traz uma reflexão sobre o tema. Juarez BAHIA e Nilson LAGE que classificam o jornalismo como responsáveis pela formação e informação da sociedade, explicam o que é notícias e a importância do jornalismo para a sociedade. Com a leitura deste trabalho, observaremos como a imprensa consegue transformar um evento até então social em um evento de bobagens, que ao se utilizar apenas de fontes que querem diversão transformou a “Parada Gay” em um evento carnavalesco e cheio de estereótipos capazes de denegrir a imagem original do movimento GLBT no país. Por fim, desejo ao caro leitor uma boa leitura e uma ótima reflexão.
7 Parada Gay: histórico
A primeira manifestação de rua do movimento homossexual que se tem notícia ocorreu na cidade de São Paulo, em 13 de junho de 1980, era um protesto contra o delegado Richetti que liderou um movimento de ‘limpeza social’ quase que exclusivamente nas ruas de ‘guetos’ gay. Liderada pelos movimentos homossexual, negro e feminista reuniu cerca de mil pessoas, que percorreram algumas ruas do centro, as paradas começaram a surgir nos anos 1990, década do boom do movimento GLBT no Brasil. Idealizada inicialmente para chamar a atenção para a comunidade Gay, a primeira “Parada do Orgulho de Gays, Lésbicas e Travestis”, como era denominada na época, reuniu cerca de 2 mil participantes, no dia 28/06/1997, com o slogan Somos muitos, estamos em todas as profissões saiu da Avenida Paulista e foi organizada pelos grupos CORSA, Núcleo de Gays e Lésbicas do PT de São Paulo, Caheusp, Etc e Tal, APTA (Associação para Prevenção e Tratamento da Aids), AnarcoPunkls e Núcleo GLTT do PSTU. Ao som de MPB, com músicas gravadas, por uma das organizadoras do evento, em três fitas K-7, o som estava em uma perua Kombi, até o término da “Parada” na Praça Roosevelt, vários militantes se revezavam com discursos. A segunda Parada, realizada no dia 28/06/1998 com 7 mil pessoas, teve um desfalque de organizadores, resumindo-se apenas ao grupo CORSA, ao NGL-PT, a Ativistas Independentes e aos AnarcoPunks. A antecipação na organização do evento e o estímulo do sucesso da primeira Parada, resultaram em uma maior estrutura física e logística, a segunda Parada é uma espécie de transição entre a 1ª e a 3ª, com uma mudança significativa no processo de organização, com o apoio da Associação do Orgulho GLBT de São Paulo, o slogan era Os direitos de Gays, Lésbicas e Travesitis são Direitos Humanos.
8 Orgulho gay no Brasil, rumo ao ano 2000 foi o slogan da terceira Parada Gay, visando a ampliação de público, a criação do APOGLBT (Associação da Parada do Orgulho GLBT) de São Paulo dedicou maior estrutura e atenção ao evento, conquistando grande sucesso com 35 mil pessoas. Foi o primeiro ano que Bissexuais (B), Travestis e Transexuais (T) foram inseridos ao projeto, usando pela primeira vez a sigla GLBT, dando-lhes maior visibilidade social e política. Pela primeira vez casas noturnas GLS colocaram seus trios elétricos, caravanas de mais de 50 cidades de todo o país ‘marcharam’ na Avenida Paulista, Rua da Consolação e Praça da República, no dia 27/06/1999 e ganhou o título de maior manifestação pública do movimento no Brasil. Com a temática diferenciada chamando a atenção para a Diversidade, a 4ª Parada Gay, deu um salto no número de pessoas, visibilidade e estrutura, marcando a Parada de São Paulo, como a Máxima do ativismo atual. Pela primeira vez o evento teve o apoio de uma grande empresa, o Portal IG, apoiou a parada, com um discurso forte sobre a diversidade. A prefeitura de São Paulo deu apoio ao evento cedendo grande parte da infra-estrutura para a sua realização, foi o primeiro ano também do primeiro financiamento estatal que a APOGLBT conseguiu, advindo do Ministério da Saúde. O cantor Edson Cordeiro abriu a Parada cantando o Hino Nacional de cima do trio elétrico. Durante todo mês de junho foram realizados diversos atividades diversificadas. Com 120 mil pessoas, o slogan era: Celebrando o Orgulho de Viver a Diversidade, no dia 25/06/2000. O diferencial da 5ª Parada Gay, ficou por conta de uma série de eventos ligados ao Movimento Gay em São Paulo, fixando no domingo do feriado de Corpus- Christi, no dia 17/06/2001, possibilitando o fluxo de pessoas de outros Estados, com slogan Abraçando a Diversidade. É realizado pela primeira vez o “Gay-Day” no parque de diversões Playcenter e a “Feira Cultural do Arouche”, reunindo expositores e a apresentação de drag queens e transformistas.
9 Com a proposta para ter maior visibilidade como contribuição para o Respeito pelas Diferenças, a 6ª Parada Gay, teve o número de trios elétricos ampliado para 25 e o público mais uma vez não decepcionou os organizadores, batendo um recorde de meio Milhão de pessoas, transformando a Parada de São Paulo, como das maiores do mundo. A iniciativa de destacar um seguimento com a pretensão de maior visibilidade, em 2002, o primeito tema escolhido foi o de Lésbicas. Com 50 mulheres, formando um grupo de percussão, a apresentação de uma banda e duas cantoras no encerramento, marcaram além de várias motociclistas a Parada que tinha o slogan Educando para a Diversidade, no dia 02/06/2002. Uma nova fase é iniciada com a 7ª Parada Gay, realizada no dia 22/06/2003. Com a proposta de valorizar a comunidade GLBT a sociedade de um modo geral. A partir daí a Associação levanta um debate: a necessidade de Políticas Específicas a comunidade GLBT. Travestis e transexuais estavam presentes na Parada com um trio próprio, atraindo a atenção com enormes cartazes com suas reivindicações. A Parada de São Paulo, se iguala com as de São Francisco (EUA) e Toronto (Canadá), como as três maiores do mundo, com 1 milhão de pessoas. Construindo Políticas Homossexuais era o slogan. O jornal Folha de S. Paulo, em seu editorial, ressalta o sucesso e a qualificava como uma “forma de ampliar a democracia”. Parte do evento é patrocinado pela agência de propaganda Almap BBDO e a cantora Elza Soares fecha a Parada na Praça da República com um mega-show. O maior evento de São Paulo a Parada tomou os dois sentidos da Avenida Paulista e grande parte da Rua da Consolação, com o slogan Temos Família e Orgulho e com problemas financeiros que atrapalharam os eventos do “Mês do Orgulho”, a 8ª Parada Gay ficou atrás apenas do Reveillon. Com o grande número de pessoas, 1200 policiais militares, 500 guardas municipais e 300 seguranças particulares garantiram a segurança do evento que contou com 1,8 milhão de pessoas. Realizada no dia 13/06/2004, o tema já anunciava a
10 disposição para a 9ª Parada, a exigência de mais reconhecimentos para os GLBT, dentro da estrutura familiar. Parceria Civil, Já! Direitos iguais: nem mais, nem menos era o slogan da 9ª Parada Gay, realizada no dia 29/05/2005, firmando-se como a maior do mundo com 2,5 milhões de pessoas. Nesse ano com o apoio financeiro do Ministério da Cultura e maior apoio logístico da Prefeitura de São Paulo, contando também como um projeto de prevenção às DST/AIDS financiado pelo Ministério da Saúde. Neste ano os jovens tiveram maior visibilidade com um trio elétrico próprio. A reivindicação para a aprovação do Projeto de Parceria Civil entre pessoas do mesmo sexo, parado no Congresso há 10 anos, visava maior atenção para a construção de uma legislação que garantisse igualdades aos GLBT. As obras do metrô na Praça da República, levaram a dispersão para a Praça Roosevelt. O décimo ano de Parada em São Paulo, levantou o debate sobre homofobia, propondo um amplo debate social sobre o preconceito e discriminação contras os GLBT. Assim a Parada ajudou a iompulsionar uma série de ações pela aprovação de legislação contra a homofobia no Brasil, especialmente o projeto 2003/2001, de autoria da deputada federal Iara Bernardi, e por políticas públicas que visassem o controle e a erradicação da homofobia no Brasil. Procurando marcar a qualidade fundamental dos direitos sexuais como direitos humanos o slogan era: Homofobia é Crime! Direitos Sexuais são Direitos Humanos, fazendo coro com o movimento feminista. Cerca de 200 agentes distribuíram 1 milhão de preservativos e colocou nas ruas a maior ação por prevenção feita na história das Paradas, em parceria com programas de prevenção municipais, estaduais e federal às DST/AIDS. A Parada enfrenta dificuldades envolvendo autorização para a definição de local e data para a sua realização, se adequando a restrições impostas por um “Termo de ajuste de conduta”, limitando horário e impedindo a montagem de palco, assim como a exigência de limpeza das vias públicas e impunha penalidades. Trios elétricos de casas noturnas e sites destinados a
11 comunidade GLS mais uma vez animaram os participantes ao som de música eletrônica e techno. Mais uma vez a organização da Parada teve dificuldades para a realização do evento, e após se comprometer com o horário a ser encerrado, às 22hs, o evento foi mantido na Avenida Paulista ao lado do Reveillon na Paulista e Corrida de São Silvestre. A 11ª parada Gay, realizada no dia 10/06/2007 com o slogan Por um mundo sem Racismo, Machismo e Homofobia reuniu 3,5 milhões de pessoas, batendo mais uma vez recorde de público. Pela primeira vez o evento totalmente patrocinado pela Petrobras e Caixa. Cada tema teve um trio elétrico especial, fora os trios de casas noturnas GLS e de sites de relacionamento. Um milhão de preservativos foi distribuído ao público pelo Programa de Saúde da Prefeitura e do Estado. Mas afinal quem são as pessoas que compõem a Parada Gay de São Paulo? Seriam apenas gays, lésbicas e transexuais? Na pesquisa realizada com973 entrevistados na 9ª Parada GLBT de São Paulo, em 2005, o homem homossexual era predominante com 38,7%, seguido da mulher homossexual (17,8%), da mulher heterossexual (17,1%), do homem heterossexual (8,5%) e do transexual (8,3%). (NETTO; FRANÇA; FACCHINI, 2006. Pág.76). De modo geral os respondentes já expuseram sua sexualidade em círculos sociais, com os amigos em 95% e com familiares em 75,9% e apenas 2,2% não são assumidos.
12 Homossexual
A homossexualidade se refere a comportamentos sexuais entre indivíduos do mesmo sexo. Este tipo de relação é aceita, proibida ou criticada conforme a época em que é vivida. Em algumas sociedades como na Grécia Antiga, estes costumes eram aceitos pela sociedade.
“(...) os gregos formavam casais constituídos por um homem adulto e um adolescente, frequentemente com a concordância dos pais do adolescente. Mas o adulto não devia se aproveitar do corpo do amante como um objeto sexual, era seu dever contribuir para a sua formação cultural e moral, incentivando nele a coragem e a honra.” (PINSKY, 2003. Pág.31).
Ao chegar na idade adulta, essa relação deveria cessar e o novo adulto podia manter relação com outro adolescente, continuando então o costume local. Este tipo de comportamento era o aprovado e aceito por todos, mas isso não significa que era levado em prática em totalidade, já naquela época havia prostituição masculina em prostíbulos e a relação entre adulto e adolescente era codificada.
“(...) o adulto não devia ser penetrado pelo rapaz. Os adultos que tinham um comportamento sexual chamado de passivo era desprezados e havia uma expressão pejorativa para designá-los: bunda larga (...) Relações sexuais entre dois adultos eram condenadas. E tais relações tampouco entre dois jovens. Essas práticas sexuais existiam, mas eram malvistas.” (PINSKY, 2003. Pág. 32).
13 Estes adultos eram em sua totalidade casados e chefes de famílias, este tipo de relação não prejudicava sua vida familiar, pois as mulheres gregas eram confinadas em suas casas, dedicando-se única e exclusivamente a tarefas domésticas e à procriação. No Império Romano, a homossexualidade também era comum, não como na Grécia Antiga, os romanos foram permissivos com este tipo de relação sexual, era comum em todas as épocas da história romana, e que o bissexualismo, não só foi tolerado como a relação entre jovens bonitos eram freqüentes em todos os estratos sociais.
“(...) o grande imperador Adriano, cuja paixão pelo belo Antínoo de=cidiu0se a mandar esculpir estátuas do jovem e render-lhes honras divinas depois de sua morte, chegando a fundar uma cidade, Antinópolis, no lugar onde ocorrera sua morte”. (Cuatrecasas, 1997. Pág.: 112).
Segundo Cuatrecasas o homossexualismo aumentou de forma notável durante o império, suas práticas já não eram mais sigilosas, Nerva e Trajano tiveram que proibir que um oficial superior fosse sodomizado por um subalterno e um grupo de jovens organizou uma festa que se transformou em uma verdadeira orgia sexual, talvez pela influência da depravação de alguns imperadores, como Tibério, Calígula, Nero, Vitélio, Adriano e etc.
Sodomita, gay, veado, bicha: preconceitos e estereótipos
Na Grécia Antiga o jovem homossexual era chamado de eromenos e o adulto de erastes, os samurais japoneses os chamados de shudo, épocas depois a palavra sodomita teve muito sucesso.
14 “Em certas épocas e lugares, aplicava-se a qualquer forma de atividade sexual que não fosse a tradicional (...) apenas a relação anal entre homens. Não teria o menor
sentido
chamar
o
dramaturgo
Christofer
Marlowe, do Renascimento inglês, de eraste ou homossexual, ele era considerado sodomita, assim como Shakespeare, Michelangelo ou Leonardo da Vinci” (PINSKY, 2003. Pág.: 33).
Na sociedade em que vivemos o homossexual sobrevive, mas outro termo que se popularizou no final do século XX foi o gay. Este termo vem dos Estados Unidos, quando um grupo de homossexuais invadiram um bar chamado Stonewall, Nova York, este combate foi a guinada que os gays estadunidenses deram ao movimento de libertação, com repercussão em todo o mundo, como modelo de organização, afirmação e comportamento. Ainda hoje com tanta informação e uma sociedade livre de censura, os homossexuais ainda sofrem muitas discriminações, seja em casa, no ambiente de trabalho, na escola, enfim, na sociedade de um modo geral. A escola é um dos lugares onde este tipo de preconceito é mais evidente, seja aquele menino que não gosta de jogar futebol, ou aquela, menina que está sempre ao meio de meninos.
A aceitação e auto-aceitação do homossexual
A auto-aceitação é o fator mais importante ao homossexual antes de se assumir para a família, ele precisa ter muita firmeza, clareza e coragem, para se firmar, se fazer aceitar e ser respeitado. Mas isso não é fácil ao jovem, pois a sociedade dita modelos de comportamentos. Os meninos namoram meninas e vice-versa, os pais fizeram assim, os avôs fizeram assim, e assim é o certo.
15
Tudo isso leva a conclusão de que a heterossexualidade leva a felicidade, é o que a sociedade, os veículos de comunicação, os filmes, os romances e telenovelas ditam. As telenovelas demoraram muito para acertarem ‘o tom’ dos personagens gays, em seus núcleos. O autor Silvio de Abreu na novela “A próxima vítima” em 1995, conseguiu conquistar o público com os personagens Sandro e Jefferson, interpretados por André Gonçalves e Lui Mendes respectivamente. Mas estes não foram os primeiros homossexuais em novelas no Brasil, na novela “Brilhante”, em 1981, o autor Gilberto Braga colocou o personagem gay Inácio, interpretado pro Denis Carvalho, com a censura que dominava o país na época, o termo homossexual foi proibido. No ano de 1998, Silvio de Abreu teve um susto quando as personagens Rafaella Katz e Leila Sampaio, interpretadas por Christiane Torloni e Silvia Pfeifer, não foram aceitas pelo público, cenas de demonstração de carinho e ‘falas’ que deixaram claro a relação lésbica entre as duas, assustaram o público e Abreu teve de tirá-las da novela antes do previsto. Nos últimos quatros anos, seis das sete novelas do horário nobre da Rede Globo, a emissora de maior audiência no Brasil, teve pelo menos um casal gay, em cena. Na novela “Mulheres Apaixonadas”, 2003, Manoel Carlos ganhou confiança do público com a sutileza das personagens Clara e Rafaela, interpretadas por Alinne Moraes e Paula Picarelli. Com direito a uma encenação de Romeo e Julieta no último capítulo, a cena mostrava um “selinho” entre as duas. Manoel Carlos já tinha este feito na novela “Por Amor” em 1997, o personagem Rafael, interpretado por Odilon Wagner, se descobria bissexual e largava a esposa e dois filhos para ir morar com um amigo. A novela “Senhora do destino” de Aguinaldo Silva, em 2004, trouxe as lésbicas Eleonora e Jenifer, interpretadas por Myla Christie e Bárbara Borges. No final elas conseguiram adotar uma criança e foram aceitas por suas famílias.
16 A novela “América” em 2004, a autora Glória Perez, mostra as incertezas e as amarguras de Junior, interpretado por Bruno Gagliasso, que com o tempo descobre sua sexualidade e mantém um amor platônico por Zeca, interpretado por Eron Cordeiro. No último capítulo o tão esperado primeiro ‘beijo gay’ de novelas no Brasil foi vetado pela direção da emissora. Na novela “Belíssima”, em 2005, o autor Silvio de Abreu, coloca no personagem Gigi, interpretado por Pedro Paulo Rangel, características gays, no último capítulo ele encontra seu par na encenação de uma peça de teatro. Ainda em 2005 o jornalista e professor universitário Jean Willys assumiu-se homossexual ao vivo durante o programa “Big Brother Brasil”, da Rede Globo. Sua sinceridade e simpatia conquistaram o telespectador e ele ganhou o premio máximo do programa, 1 milhão de reais. A cada “Paredão” que Willys participava a comunidade gay fazia uma espécie de corrente para votar a seu favor, garantindo então sua vitória. (VEJA, Ed.: 1899. 06/04/2005)
O autor Manoel Carlos inova com os personagens Otávio e Marcelo, interpretados por Fernando Eiras e Thiago Picchi, na novela “Páginas da vida” em 2006, conquistou o público, cenas de afeto e carinho explícitos não chocaram o público. Gilberto Braga e Ricardo Linhares exageraram quando os personagens Tiago e Rodrigo, interpretado por Sergio Abreu e Carlos Casagrande, na novela “Paraíso tropical”, em 2007, entraram em cena. A aceitação de todos os personagens ao casal gay, não reflete a sociedade e o autor recebeu inúmeras críticas. Na atual novela do horário nobre, “Duas caras” o autor Aguinaldo Silva inova ao abordar um relacionamento mais que de amizade entre Bernardinho, interpretado por Tiago Souza, e Amália, Leona Cavalli. Até então o personagem sofre com a discriminação dentro e fora do ambiente familiar.
17 As pessoas têm comportamentos que se diferenciam em vários momentos da vida, por isso não se pode concluir que uma pessoa seja exclusivamente homossexual ou heterossexual, a condição de homossexual não pode ser ligada apenas a uma pessoa e sim ao comportamento desta pessoa.
“(...) quem transa com os dois sexos é bissexual, o que satisfaz o dicionário. Este é um preconceito, o medo de não ciontrolar as pessoas e seus comportamento pelas palavras, o medo de que a fluidez dios comportamentos possa escapar ao policiamento lingüístico, e portanto moral, psicológico e médico.” (PINSK, 2003. Pág. 35)
Bissexualidade humana
É chamado de bissexual aquele indivíduo que transa com pessoas do mesmo sexo e do sexo oposto. Isto significa que até o terceiro mês de gestação, não temos sexo definidos, a nossa sexualidade é indiferente.
“(...) no entanto, cientificamente, a partir dos primeiros trabalhos sobre o assunto, a bissexualidade aparece, antes de tudo, como um fato biológico e não erótico (...) Essa é a bissexualidade original: todos possuímos em nosso corpo características sexuais masculinas e femininas, umas desenvolvidas plenamente, conforme o sexo a que pertencemos, e outras atrofiadas, visto que não-desenvolvidas,
pertencentes
ao
(VASCONCELLOS, 1995. Pág.: 61).
outro
sexo.”
18 Notícia
A notícia nada mais é que o relato das informações de um acontecimento de interesse do público capaz de ser compreendida por qualquer pessoa que seja, sem exceção. No jornalismo a notícia é essencial, pois a partir de várias notícias se constrói um jornal e consequentemente informa a sociedade. Na Idade Média as informações que chegava a população “vinham embutidas em decretos, proclamações, exortações e nos sermões das igrejas” (LAGE, 1985. Pág. 8), isto começou a mudar com a expansão comercial a partir do século XIII. Nesta época, a notícia demorava meses para atravessar toda a Europa. Levando em consideração que o público quer novidades e deseja fatos novos, sejam eles os que aconteceram no dia anterior ou recentemente.
“Mas para que, toda a técnica jornalística se produza uma boa notícia, é essencial que o fato reúna determinados atributos, como: atualidade, veracidade, oportunidade, interesse humano, raridade, curiosidade, importância e conseqüências para a comunidade, proximidade, etc.” (RABAÇA e BARBOSA. Pág. 514.)
No mundo moderno em que vivemos, as notícias chegam ao leitor mais rapidamente. Com o surgimento das agências de notícias, que produzem notícias rapidamente e ‘por atacado’ proporcionando às redações um grande número de notícias e comunicados de tamanhos variados, sem deixar passar qualquer fato que mereça ser registrado. As matérias jornalísticas podem ser compostas por informações fornecidas por vários tipos de fontes (pessoais ou organizacionais).
19 No jornalismo a fonte é indispensável para a construção de uma notícia, afinal sempre haverá uma pessoa que possa testemunhar um acontecimento, mas o jornalista precisa saber se o seu ‘informante’ é confiável, leva-se em consideração então, que o jornalista acima de tudo deve ouvir todas as versões possíveis do mesmo acontecimento, pois só assim ele estará certo de que a informações que possui são realmente confiáveis.
“(...) sempre que possível, mencione no texto a fonte da informação. Ela poderá ser omitida se gozar de absoluta confiança do repórter e, por alguma razão, convier que não apareça no noticiário. Recomenda-se, no entanto, que o leitor tenha alguma idéia da procedência da informação (...)” (MARTINS, 1997. PÁG. 19)
O ocultismo da fonte só pode ser realizado quando é para resguardá-lo e não quando é utilizado para suprimir responsabilidades. Segundo Juarez Bahia as fontes de informação são de um modo geral organizadas em três tipos: diretas, indiretas e complementares. São fontes diretas os informantes do acontecimento – seus autores e testemunhas. As fontes indiretas são os chamados terceiras pessoas – documentos, relatos parciais e pessoas envolvidas circunstancialmente nos fatos. As fontes complementares são aquelas que contribuem para o enriquecimento da história – como depoimentos, trechos de livros, pesquisas, recortes e etc. As pessoas que buscam notícias para tomarem decisões e que lêem jornais, revistas, assistem aos telejornais, escutam as notícias pelo rádio de forma passiva querem notícias verdadeiras, autênticas, honestas e confiáveis. A credibilidade do jornalismo repousa no uso que eles faz das suas fontes, quanto mais responsável e transparente for o profissional, e consequentemente a fonte, mais próximo da verdade estará o leitor.
20 “Em todas as notícias as fontes desempenham um papel fundamental.
E
estão
protegidas
pela
legislação
democrática que reconhece o sigilo, resguardando-as de qualquer violação. Gozam assim, na teoria e na prática, da mesma inviolabilidade de que deve gozar a notícia, no interesse da sociedade.” (BAHIA, 1990. Pág.: 38)
Para ser fiel ao que se relata o jornalista deve antes de escrevê-la, apurá-la. A averiguação da notícia o fato mais importante, assim como a notícia é importante para o jornalismo. O que se deve predominar é a exatidão dos fatos, juntamente com a idoneidade e qualificação das fontes. Nenhum tipo de informação, segundo Juarez Bahia “é mais importante que o da observação pessoal, direta, que envolve física e mentalmente o repórter com os fatos do momento e no local em que ocorreram.” Para Ricardo Noblat (2003. Pág.:62) “(...) a melhor fonte é também a que tem jeito de jornalista. Sabe observar, valoriza o detalhe e guarda tudo na memória.”
Jornalismo
Anos atrás o jornalismo era tido como “jornalismo declaratório”, resumia-se apenas na cobertura de informações rotineiras e primárias, tendo aí uma reportagem passiva. Para Doty (1995, Pág. 12) “Hoje, porém, chegamos a um momento em que nossa mídia está permanentemente em busca da lingüiça por baixo do arroz: alguma falcatrua que possa ser denunciada (...) Não é raro ouvir e ler jornalistas que se queixam que ‘não há notícias’, quando não conseguem encontrar algo para denunciar”.
21 Este crescimento da atitude crítica do jornalismo no Brasil, tem origem aos anos de ditadura militar, pois na época com a censura e a falta de transparências das atividades governamentais e empresariais. “(...) o fato é que, hoje, depois de ter conseguido expulsar um presidente da República, ajudado a vigorosamente a eleger outro, colocado em xeque o Legislativo e o Judiciário (...) denunciando até mesmo jornalistas e dirigentes de um sindicato de jornalistas, a mídia brasileira deixou de ser, para efeitos institucionais, o quarto poder de sempre. Chegou muito perto de assumir a dimensão de primeiro poder.” (Doty, 1995. Pág. 14)
O dever e as obrigações do jornalismo
O jornalismo não tem como única obrigação informar as pessoas. Para que o jornalismo seja completo ele deve ser independente, verdadeiro, objetivo, honesto, imparcial e exato, com todas estas características ganha credibilidade e assim conquista o público e cada vez mais leitores, ouvintes ou telespectadores. Ainda segundo Juarez Bahia, o jornalismo tem como objetivo informar, interpretar, orientar e divertir, seja ele falado, escrito, impresso ou visual. “As técnicas do jornal são as técnicas do jornalismo, digam respeito a um diário, a uma revista, a um radiojornal ou telejornal...” é acima de tudo “(...) um dos instrumentos de participação do público na vida social”. A liberdade rege a arte da profissão é tão importante para o profissional, quanto para a pessoa. O jornalismo rege na arte de opinar, entreter, informar e orientar a sociedade, nenhum veículo de informação é mais importante perante a sociedade do que o outro, eles exercem o
22 mesmo papel, de informar sem manipular a sociedade, nem sempre a teoria é levada em prática e o uso leviano do jornalismo leva à sociedade malfeitos imperdoáveis.
Lead
O lead é o primeiro parágrafo da notícia, ali o leitor encontra todas as informações necessárias para entender do que se trata a notícia, os demais parágrafos são complementos.
“(...)o lead é o relato do fato principal de uma série, o que é mais importante ou mais interessante. Em sua forma clássica, e impressa, é a proposição completa no sentido aristotélico.” (LAGE. 1995. Pág. 27).
O lead é formado por seis perguntas básicas: O que; Quem; Quando; Onde; Como e Por quê. Quando não for possível esclarecer alguma perguntar no primeiro parágrafo, deve ser esclarecida no máximo no segundo. A notícia deve ser redigida na norma direta, para que possa ser lida mais facilmente pelo leitor, dispensando fatos irrelevantes e indo direto ao o que interessa. A simplicidade é condição essencial, pois o jornalista deve escrever para todos, sem exceção, mas esta simplicidade não quer dizer que o texto deve ser fraco, com pobreza vocabular, utilizando sempre palavras conhecidas, fugindo sempre de termos técnicos e palavras eruditas.
Ética
ÉTICA, s.f. Ciência da moral. (FERNANDES, 1997).
23 O primeiro código que foi criado na França, em 1918, chama-se Código de ética do sindicato dos jornalistas franceses e foi reformulado em 1938 (KARAM, 1997). Outro documento importante foi a Declaração da UNESCO sobre os Meios de Comunicação, em 1978, reunindo os principais internacionais para o setor dos meios de comunicação, deixando subjacentes comportamentos morais e éticos sobre a atividade jornalística.
24 Caros amigos
A revista “Caros amigos” é o carro-chefe da editora Casa Amarela (dados retirados do site www.carosamigos.com.br acessado no dia 01/11/2007)
que edita também outras revistas, fascículos e
livros. Lançada em Abril de 1997 a revista traz em cada edição uma entrevista com uma personalidade de destaque, seja na área economia, cultural, filosófica, esportiva e etc., sempre alguém que tenha opinião independente pronto para criticar o próprio meio em que atua. Outro ponto forte da revista são os colaboradores/amigos: Ana Miranda, José Arbex Jr., Frei Betto, Emir Sader, Gershon Knispel, Renato Pompeu, Claudius, Guto Lacaz, Georges Bourdoukan, Gilberto Felisberto Vasconcellos, Marilene Felinto, Mylton Severiano e muitos outros. Além de reportagens, um ensaio fotográfico e a opinião dos leitores são editorias indispensáveis da revista.
Os leitores da “Caros amigos”
Em uma pesquisa realizada em agosto de 2001, indica o perfil dos leitores: 72% são homens com idade entre 20 e 49 anos, sendo que 91% têm superior completo e 19% pós-graduados, esses níveis de escolaridade se refletem nas classes A (17%), B (49%) e C (30%), 55% são solteiros e 67% trabalham. 75% têm acesso à internet e 22% recebem o “Correio Caros amigos” semanalmente, sendo que 32% visitam o site com certa regularidade. “Correio Caros amigos” é divido em seções principais: Pense nisso – que contem um artigo semanal, que será sempre escrito por algum ou colaboradores da revista e do site “Caros amigos”; Fórum – onde o leitor participa do debate sobre o tema tratado, que é aberto sempre ao final de cada artigo; Agenda – o leitor recebe um calendário de eventos artísticos e atividades das mais importantes entidades
25 sindicais e sociais do Brasil, dando a oportunidade ao leitor em incluir um evento que julgue importe de sua cidade, região, escola ou categoria profissional; Edição do mês – com um clique o leitor fica por dentro de tudo o que rola na edição do mês, dando acesso a edições anteriores e outras seções do site, e, Novidades – onde o leitor encontra todas as novidades da editora Casa Amarela, que publica a “Caros amigos”. A pesquisa revelou também a forma como a revista é encarada pelos leitores: 32% consideram uma publicação ‘objetiva’, 87% a avaliam como ‘independente’, 86% como ‘verdadeira’ e 79% como ‘indispensável’. Outro ponto a destacar é que 16% dos respondentes declaram passar a revista para que outras pessoas possam lê-la, evidenciando a importância que ela tem. Os leitores da “Caros amigos” são mais que formadores de opinião, são cidadãos que têm participação ativa nas comunidades em que trabalham e vivem, como governantes, professores, profissionais liberais, lideranças estudantis e sindicais, enfim, pessoas preocupadas em buscar um Brasil melhor, mais justo e bem informado.
Dados técnicos
Com tiragem média de 48 mil exemplares com periodicidade mensal e com circulação nacional. Em um formato de 27 X 33 cm (fechada) e 54 X 33 (aberta), em papel Off set 90grs, é lançada sempre na segunda quinzena do mês e sua venda média em banca é de 20 mil exemplares.
26 Teoria do espelho
Inspirada no Positivismo de Comte, traduz a idéia de a notícia publicada é o espelho do acontecimento, acreditando e defendendo a objetividade do trabalho jornalístico. Para esta teoria o jornalista é simplesmente o interlocutor, desinteressado, entre o fato e o receptor. Para o senso comum é até hoje a concepção dominante do jornalismo ocidental. Tem em seus histórico, dois momentos cruciais: Em meados do século XIX, com o nascimento do jornalismo informativo. Que separa a opinião de informação (reprodução). E no início do século XX, quando o jornalismo aparece associado à objetividade. Aqui entendida como método criterioso de pesquisa e de checagem dos fatos. A teoria do espelho pressupõe que as notícias são como são porque a realidade assim as determina, que a sociedade em si é quem faz a notícia, o jornalista tem ‘apenas’ o dever de transmitir esta realidade através da notícia, informando e sendo objetivo com o seu texto.
27 Teoria do gatekeeper – o jornalismo como construção da realidade
Surge nos Estados Unidos nos anos 1950, como uma forma de deferência ao jornalismo e ao seu poder, acreditando que o processo de produção da informação é um processo de escolhas no qual o fluxo de notícias tem que passar por diversos portões, até a sua publicação. Defendendo que no jornalismo há intencionalidade, pois o processo é subjetivo e arbitrário. Analisando a notícia, apenas, a partir de quem a produz, esquecendo que as normas jornalísticas, interferem no processo, sem interferir no conteúdo, desconsiderando então a estrutura burocrática e a organização. A teoria do gatekeeper pressupõem que as notícias são como são, porque os jornalistas assim as determinam, que o jornalismo produz a notícia do seu jeito e que a veracidade das informações são colocadas de lado.
28 A construção da realidade: análise sobre a Parada do Orgulho GLBT
O texto de Paulo Nascimento (ano XI, número 124, julho 2007) sobre a Parada do Orgulho GLBT, é cheio de pejorativos, a começar pelo título “A viadagem encampando a pobrefobia”, Nascimento faz da “Parada Gay”, um evento de militância pelos direitos dos homossexuais, comparando-o ao nazismo “(...) A Parada Gay é um evento nazista, segregacionista e vulgar, cria de uma sociedade fetichista e mesquinha. Basta ir até lá e conferir: homens infantilizados, sem a menor percepção do ridículo que é ser um moleque de 50 anos(...)” Nascimento utiliza de diversas fontes, todas elas de forma desqualificada: No segundo parágrafo ele descreve a fala da fonte “(...) ninguém quer nada com ninguém, apenas exibir o corpo esculpido, caçar quem tem droga e, aí sim, beijar vários”, no sexto parágrafo através da fala de um engenheiro ele descreve “(...) Eles ficam com vários aqui na boate porque está tudo escuro e o som é muito alto e não é preciso ouvir a voz (fina) de ninguém (...)”, desqualificando os gays afeminado, como se fosse uma aberração. Parágrafos à frente, Nascimento descreve o evento de forma subjetiva, não dando a importância que o evento merece: “(...) Pode-se concluir que, mais do que qualquer outra coisa, é o dinheiro que os viados têm o que realmente importa (...) a Parada Gay não passa de um evento turístico, pra inglês ver, se esbaldar e, claro, torrar seu rico dinheirinho”. Em uma única frase a ofensa aos participantes da Parada Gay, é nítida, “viado” é uma palavra pejorativa, de ofensa moral e que desqualifica o indivíduo. As classificações subjetivas não param por aí, Nascimento, denomina os participantes como “militontos”, descreve ainda “(...) pseudo-revolucionários que se pretendem militantes políticos, e se esforçam em convencer sabe lá quem de que a Parada Gay é uma manifestação de cunho político (...)”
29 Nascimento com certeza desconhece a origem da Parada do Orgulho GLBT, popularmente chamada de “Parada Gay”, no primeiro capítulo deste projeto vimos que a “Parada do Orgulho de Gays, Lésbicas e Travestis” como foi chamada na sua primeira edição, em 28/16/1997, tinha como objetivo chamara a atenção para a comunidade gay, nos anos seguintes este objetivo não mudou, mas apenas o jeito com que eles abordaram o movimento. A busca por um mundo sem preconceitos, abordando não só contra os próprios homossexuais, mas também contra negros e mulheres. Lideranças políticas importantes participam do evento desde a sua primeira edição, chamar a Parada Gay de evento nazista e classificar os participantes de “militontos” é no mínimo preocupante. Vimos no histórico da “Revista Caros Amigos”, descrito em um dos capítulos anteriores, que a revista traz mensalmente “uma entrevista com uma personalidade de destaque, seja na área economia, cultural, filosófica, esportiva e etc., sempre alguém que tenha opinião independente pronto para criticar o próprio meio em que atua”, deixando claro que antes de informar e fazer o leitor refletir a revista quer simplesmente que o entrevista critique a sociedade. Cadê o dever do jornalismo dito por Bahia (1990), “(...) Para que o jornalismo seja completo ele deve ser independente, verdadeiro, objetivo, honesto, imparcial e exato, com todas estas características ganha credibilidade e assim conquista o público e cada vez mais leitores, ouvintes ou telespectadores(...)” Ainda segundo Bahia (1990), o jornalismo tem como objetivo informar, interpretar, orientar e divertir, seja ele falado, escrito, impresso ou visual. “As técnicas do jornal são as técnicas do jornalismo, digam respeito a um diário, a uma revista, a um radiojornal ou telejornal...” é acima de tudo “(...) um dos instrumentos de participação do público na vida social”.
30 Sabemos que a liberdade é antes de tudo o maior bem em que temos, que após os duros anos de Chumbo, que assolou o país entre 1964 e 1985, é o que mais queremos e lutamos. Mas não podemos deixar de ter responsabilidade no que falamos e escrevemos, esta respionsabilidade é ainda mais exigida quando somos pessoas públicas, quando temos o poder do jornalismo em mãos e podemos formar opiniões, afinal as pessoas lêem jornais e revistas, assistem aos telejornais, escutam os noticiários pelas rádios, afim de buscar informações e quem sabe absorve-las, como idéia e parâmetros para suas vidas.
31 Bibliografia
BAHIA, Juarez. Jornal, história e técnica – as técnicas do jornalismo. São Paulo: Ática, 1990. CUATREACASAS, Alfonso. Erostimo no império romano. Rio de Janeiro: Record: Rosa dos tempos, 1997. GAUQUELIN, Michel; GAUQUELIN, Françoise (organizadores). Dicionário de psicologia, as idéias, as obras, os homens. São Paulo, Lisboa: Verbo, 1978. VASCONCELOS, Naumi de. Sexo: questão de método. São Paulo: Moderna, 1994. LAGE, Nilson. Estrutura da notícia. São Paulo: Ática, 1985. MARTINS, Eduardo. Manual de Redação e estilo de O Estado de S. Paulo. 3ª edição, revista e ampliada. São Paulo: O Estado de S. Paulo, 1997. PINSK, Jayme (organizador). 12 faces do preconceito. 6ª edição. São Paulo: Contexto, 2003. ALCÂNTARA, Norma; CHAPARRO, Manuel; GARCIA, Wilson. A imprensa na berlinda – a fonte pergunta. São Paulo; Celebris, 2005. www.carosamigos.com.br