Jornal Mural - Inferno

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INFERNO

INFERNO Florianópolis, 20 de junho de 2013

Edição 1 Ano 1

Curso de Jornalismo da UFSC Atividade da disciplina Edição Professor: Ricardo Barreto Edição, textos, editoração: Guilherme Longo Serviços Editoriais: Anistia Internacional, Repórteres sem Fronteiras Impressão: Post Mix Junho de 2013

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Crônicas de uma população em conflito

Dias de inferno na Síria conta sobre a prisão de Klester Cavalcanti e as histórias que conheceu na prisão tos de terror que passou nas delegacias de Homs, ou quando achava que seria assassinado pelo governo da Síria. O livro é uma crônica de um país em estado de guerra, da dificuldade e dos maus tratos que jornalistas sofrem em áreas de conflito. Um bom exemplo é a passagem na qual o repórter é obrigado a assinar um papel escrito em árabe, sem saber seu conteúdo, sob ameaças de morte, ou mesmo o fato dele ter sido preso sem saber o motivo do encarceramento. Mas principalmente, do sofrimento de uma população que muitas vezes sucumbe à situação por falta de opção. Com uma escrita bem fluida, a experiência de leitura é bastante positiva. A leitura prende o leitor, que fica querendo saber mais sobre o que irá acontecer com Klester dentro da prisão ou ler mais uma história sobre seus companheiros de cela. Os relatos de pessoas como Ammar Ali, que escrevia no bloco de anotações do jornalista poemas para sua esposa ou Jawad Merah, que foi convocado à luta pelo exército sírio após ver seu pai sendo as-

sassinado em seu local de trabalho, fizeram toda a diferença na história, trazendo um lado mais humano à guerra da Síria. Na prisão, a figura do sahafi brazili (jornalista brasileiro em árabe), foi fundamental para que seus companheiros compartilhassem suas histórias, que para mim, foi o ponto alto do livro. Um dos fatores mais importantes do livro é que através do relato de como sofreu em sua ida à Síria,

As revoltas populares contra o governo de Bashar al-Assad começaram em 26 de janeiro de 2011, como parte do movimento conhecido como Primavera Árabe. Mas a Guerra Civil começou a tomar forma somente em 15 de março, com o primeiro conflito armado na capital Damasco. Desde então, foram 2 anos de violentos conflitos que segundo relatório da ONG Observatório Sírio para os Direitos Humanos já mataram quase 95 mil pessoas. Lakhdar Brahimi, enviado especial da ONU ao país, afirma que a guerra chegou a um nível de horror sem precedentes e até o momento não houve nenhuma evolução concreta para que se obtenha paz no país. Além dos mortos, a guerra já contabiliza um total de mais de 130.000 prisões e 1 milhão de sírios refugiados no exterior, principalmente na Turquia e no Líbano, países que fazem fronteira com a Síria. O levante é liderado pelo Exército Livre Sírio, que exige a renúncia imediata de

Amel Pain / Epa

Dois anos, milhões de pessoas afetadas e uma guerra longe do fim

Em protesto, manifestantes pedem renúncia de al-Assad, após 13 anos Assad e a realização de eleições democráticas no país. Até o momento o presidente se mantem no poder, mas é acusado pela ONU de crimes de guerra e crimes contra a humanidade. Há registros de massacres com centenas de mortos em cidades como Homs, a mais afetada pela guerra, e Alepo. Moradores afirmam que o exército não poupa nem crianças A população síria exige liberdade de imprensa, direitos humanos e uma nova legislação, pois o país se encontra em Estado de

Emergência, onde direitos constitucionais ficam suspensos, desde 1962. O presidente, que está no poder desde 2000, iniciou seu mandato prometendo mudanças políticas e a introdução da democracia na Síria, o que não foi cumprido. Atualmente, o governo avança contra os rebeldes após a conquista da cidade de Al-Quasayr, em 05 de junho. Essa vitória tem sido considerada a mais importante das forças de Assad, que agora tem total controle da fronteira sírio-libanesa.

Klester vai pouco a pouco ensinando, explicando ao leitor sobre a guerra que ele pretendia cobrir. Conta sobre o governo de Bashar al-Assad, o Movimento de libertação da Síria e a realidade das prisões no país. Esse último chega até a causar estranhamento. Como os gastos do governo com o conflito são altos, os presos são obrigados a bancar sua própria alimentação, uma realidade totalmente diferente da brasileira. Mas há também aproximações com o país, como o fato do jornalista ter divido a cela com mais de 20 pessoas, algo muito comum nas penitenciárias do Brasil. Assim como os livros reportagens, o jornalista é bem sucedido na intenção de trazer a realidade em seu texto, mas ao misturar seus pensamentos e emoções, o resultado acaba sendo bem mais proveitoso. O anexo de fotos tiradas por Klester ajudam o leitor a visualizar melhor os locais por onde o repórter passou, as recordações que trouxe da viagem, como as masbahas (terços islâmicos), o anel de ônix que ganhou de seu compa-

nheiro de cela Adnan e as cartas de baralho feitas a partir das caixas de cigarro e chá usadas pelos presos. No meio das fotografias também se encontram reproduções dos poemas feitos por Ammar à Fatin, sua esposa, algo que o repórter destaca no livro, por representar a saudade que o sírio sentida de sua amada. Após a sua libertação, um dia depois de seu visto expirar, Klester não havia conseguido produzir a matéria que havia inicialmente planejado. Mas a experiência que teve, os contatos que fez e as histórias que foram compartilhadas nos seis dias de prisão, que resultaram nesse ótimo relato, compensou. Conseguiu mostrar além do que tinha intenção e trouxe ao leitor o que poucos conheciam da guerra da Síria. Depois de uma extensa carreira denunciando violações aos Direitos Humanos no país, dessa vez Klester é bem sucedido em não apenas denunciar violações na Síria, como também mostrar o cotidiano de um país severamente afetado por uma guerra. Não acho que deve ser considerado uma frustração.

França confirma uso de sarin por forças de Assad No dia 27 de maio, um artigo publicado no Le Monde pelo repórter Jean-Phillippe Rémy, acusou o governo de Bashar al-Assad de utilizar o gás sarin em investidas contra os rebeldes em cidades próximas a Damasco. Rémy passou dois meses ao lado dos insurgentes e começou a suspeitar do uso da arma química devido aos sintomas das pessoas: dor de cabeça, tosse, convulsões, sufocamento e em alguns casos, morte por asfixia Essa era a afirmação mais concreta de que o governo sírio estaria usando gases tóxicos, desde um relatório divulgado pela ONU no final de 2012, onde os representantes levantavam a possibilidade de utilização de bombas contendo pequenas quantidades de substâncias tóxicas. De acordo com relatos do jornalista francês, desde março mais de 100 pacientes foram internados com suspeita de intoxicação pelo sarin A confirmação veio no último dia 04, em coletiva cedida pelo chanceler francês Laurent

Laurent Van der Stockt / Le Monde

“Uma grande frustração jornalística”. É com essa expressão que Caco Barcellos define a experiência de Klester Cavalcanti na Síria, em maio de 2012, no prefácio de Dias de inferno na Síria (Benvirá, 2012). O jornalista, que saiu do país para produzir uma matéria sobre os rebeldes, que exigem a renúncia de Bashar al-Assad, acabou sendo preso e torturado por oficiais do exército pró-governo. Durante seis dias, Klester conviveu com cerca de 20 prisioneiros em uma mesma cela, conheceu suas histórias, fez amizades e teve acesso a uma realidade totalmente diferente da guerra que vinha sendo apresentada para o mundo. Mas será que é possível definir o que é retratado no livro como “frustração”? Diferentemente de seus livros anteriores, como Viúvas da terra (Planeta, 2004) e O nome da morte (Planeta, 2006), Dias de inferno na Síria não é uma reportagem em seu modo clássico. Klester decide relatar passo a passo sua experiência, desde as dificuldades que teve em obter um visto sírio até os momen-

Rebeldes usam máscaras de gás Fabius. Segundo Fabius, foram realizados testes de sangue e urina nos repórteres do Le Monde e em amostras trazidas clandestinamente da Síria. O chanceler pediu ao governo sírio para que parasse com a utilização do sarin, pedindo punição aos responsáveis, mas também não descartou uma intervenção armada caso a situação não fosse resolvida. Para o governo americano, são necessárias mais provas antes de proceder com a intervenção. Representantes de Assad repudiaram o relatório francês, afirmando que nunca utilizaram armas químicas contra os rebeldes.

“Tive certeza de que seria assassinado ali. Fechei os olhos, entreguei a alma a Deus e continuei descendo com a cabeça baixa”


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Klester critica cobertura que mídia brasileira faz da guerra Para jornalista, imprensa está sendo omissa com o conflito

Inferno: Quando surgiu a ideia de fazer a matéria em Homs? Klester Cavalcanti: Surgiu porque é a cidade da Síria onde a guerra é mais intensa e quando eu me propus a cobrir a guerra, eu achei que o lugar que eu tinha de ir era onde a guerra estava acontecendo de verdade. Eu precisava ir onde os conflitos eram mais intensos. INF: Como foi o contato com as pessoas, em especial seus companheiros de cela? KC: As pessoas falavam comigo porque eu me colocava em pé de igualdade com eles. Não me colocava como superior, vítima. Fazia isso naturalmente, sem intenções. Isso fez com que as pessoas conversassem comigo. Depois do inferno do dia anterior, seria natural que uma pessoa entrasse numa cela com medo, fechada. Eu fiz diferente: me sentia um deles. Eu senti que eles perceberam isso e me tratavam como igual.

Divulgação / Editoria Benvirá

Em mais de 18 anos de profissão, Klester já trabalhou em alguns dos maiores veículos de comunicação do país, entre eles Vip, Estadão e IstoÉ. Nascido em Recife, PE, é formado em jornalismo pela Universidade Católica de Pernambuco. Atualmente, é editor -executivo da IstoÉ Gente online. Dias de inferno na Síria é seu quarto livro. É também autor de Viúvas da terra e O nome da morte, vencedores do Prêmio Jabuti de literatura. O jornalista conversou com Inferno por telefone

KC: Isso é muito difícil. Por exemplo, o Ammar, melhor amigo que eu fiz na prisão, é um cara muito bom. Ele foi preso porque estava contrabandeando cigarro, é um crime. Ele não conseguia dinheiro para sobreviver desde que sua loja havia falido. Mas acho que não cabe a eu julgar se é justificável ou não o cara cometer um crime para sobreviver.

INF: No título do nono capítulo, você faz uma pergunta: “Criminosos ou Vítimas de guerra?” e nas páginas seguintes conta as histórias de alguns de seus companheiros de cela. Como que você os considera?

INF: Como você avalia a cobertura que a mídia brasileira faz da guerra na Síria? KC: A mídia brasileira é amadora. É lamentável a cobertura. Aliás, a imprensa brasileira não está cobrindo a guerra. Nenhum outro brasileiro, além de mim, foi a Homs desde o início da guerra. O Brasil tem uma imprensa, grande rica, forte e não tem nenhum argumento que explique essa omissão. Já morreram 100 mil pessoas, mais de 2 milhões de refugiados. E a grande imprensa não manda ninguém para lá. O repórter que cobre a guerra da Síria para a Globo está em Israel. Mostram imagens que compraram de agências e a passagem é feita em Jerusalém. Se tivesse algum jornalista brasileiro cobrindo direito a guerra da síria, eu nem teria ido.

“Eu acho que o chanceler francês está blefando”

INF: Você consegue ver o governo de Bashar al-Assad como próximo do fim? KC: É realmente difícil prever um final. Quando voltei da Síria, achei que a guerra não ia demorar muito para acabar. Voltei em junho de 2012, e achava que havia a possibilidade de que acabasse até o final de 2012. Estamos quase em julho e não há sinais de que ela esteja próxima do fim. Acho que infelizmente as previsões para a Síria são as piores possíveis. E tem algo que venho dizendo bastante: se o Bashar cair, a situação lá vai ficar ainda pior. Porque a oposição a ele é muito mais radical. Mas diferente do que havia pensado, a força de Bashar não diminuiu.

“Eu me sentia um animal preso, sem direito a nada”

INF: No livro, você se refere diversas vezes à sua cela como jaula. Algum motivo especial? KC: Porque era assim que eu me sentia. Como um animal. Preso em um lugar, sem poder sair, sem direito a nada. É muito humilhante estar em uma situação daquelas. Eu me sentia um animal preso, sem direito a nada.

gum relato que apontava uma possível utilização da arma? KC: Eu acho que o chanceler francês está blefando. Se alguém tivesse qualquer prova contra Bashar já teria mostrado.

INF: No início do mês, o chanceler francês disse que possuía provas de utilização do gás sarin pelas forças de Assad. Você chegou a ouvir al-

INF: Em entrevista à página da IstoÉ no YouTube, você afirma que a experiência poderia ter sido mais rica. Em que sentido? KC: Meu roteiro era de três dias fotografando a cidade, conversando com moradores, estudantes, comerciantes, para ver como é viver em uma cidade em guerra, que era a principal razão da minha viagem. E nos outros três dias, iria acompanhar o exército rebelde em combate. Mostrar sua rotina, o campo de guerra. A parte humana acabou ganhando uma maior riqueza de detalhes. Porque na prisão, eu ficava o dia inteiro com mais de 20 homens dentro da cela. Assim consegui grandes histórias de todo o tipo de gente. Ficávamos conversando horas e horas. Se tivesse ficado solto, não teria conseguido ficar conversando 2, 3 horas com uma pessoa em Homs. Conversar com um jornalista estrangeiro é um risco muito grande para eles. Pode-se dizer que ter ficado preso foi algo até bom, para a minha apuração das histórias. Mas poderia ter sido mais rica se tivesse tido contato com os confrontos.

Situação dos jornalistas na guerra em números No dia em que se comemora o Dia mundial da liberdade de imprensa, 03 de maio, a Anistia Internacional divulgou um relatório sobre a situação dos jornalistas na Síria desde o início do conflito, em 2011. O documento, chamado Shooting the messenger: journalists targeted by all sides in Syria (Atirando no mensageiro: jornalistas atacados por todos os lados na Síria), descreve os principais casos de mortes, sequestros e prisões de profissionais no país, além de fazer diversos pedidos ao governo e às forças rebeldes na tentativa de garantir melhores condições de segurança aos repórteres. Segundo o relatório, nos dois anos de conflito, um total de 46 jornalistas foram mortos nos conflitos, porém, dados da Unesco apontam que pelo menos 36 dos ataques que resultaram em morte foram intencionais, tanto do lado do governo quanto dos rebeldes. O primeiro caso de um repórter morto na Síria foi de um profissional local: em novembro de 2011, Farzat Yerban foi assassinado por forças de segurança. Seu corpo foi encontrado mutilado em Homs dias após seu desaparecimento. Já em 2012, 3 mortes ganharam destaque na imprensa internacional. Em 11 de janeiro, o repórter do canal de televisão France 2, Gilles Jacquier foi morto por um projétil durante uma viagem organizada pelas autoridades sírias. No mês seguinte, um bombardeio a uma sede da imprensa internacional em Homs matou a repórter do Sunday Times Marie Colvin e o fotógrafo da agência IP3, Rémy Ochlik. Quanto às prisões, a Anistia diz que é difícil determinar um número exato, já que vários jornalistas são presos por entrarem clandestinamente no país. Mas

afirma que a maioria dos repórteres são detidos para impedir que a realidade do país seja divulgada. E nessa lista consta o nome de outro brasileiro: Germano Assad. Germano, que atualmente trabalha para o site G1, foi preso em novembro de 2011, quando estava ilegalmente no país. O jornalista passou cinco dias em uma solitária na capital, Damasco. Durante os dias de cárcere, foi interrogado sobre seus motivos para estar no país e principalmente seus

Em dois anos de conflito, 46 jornalistas já foram mortos em ataques contatos na Síria. Em um artigo feito para a Folha de São Paulo (“Bem vindo à Síria, desculpe por prendê-lo, de 20/11/2011), o repórter afirma que foi preso durante uma tentativa de fuga, após ter sido avisado de que agentes do governo rondavam sua casa e que a intervenção diplomática do embaixador Edgar Casciano foi fundamental para sua libertação. E no início do mês, o repórter da rádio francesa Europe 1, Didier François e o fotógrafo Edouard Elias foram sequestrados por milícias próximos à cidade de Alepo. O presidente François Hollande fez um apelo pela libertação dos jornalistas: “Exijo a libertação imediata destes dois jornalistas, já que eles não representam o nosso país. São pessoas que trabalham para que o mundo possa ter informação do que está a acontecer na Síria”. EPA

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Câmera usada por equipe síria após assassinato da repórter Yara Abbas

“Se eles tratam um jornalista brasileiro daquele jeito, devem praticar todo tipo de atrocidades com os presos comuns”


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Daniel Pearl: 1963-2002

ABC News

zada em 2007, foi descoberto que Khalid Sheikh é o responsável. Sua morte causou grande comoção ao redor do mundo. Várias autoridades condenaram o ocorrido, e prometeram intensificar a proteção aos jornalistas, para minimizar ocorrências como essa, mas isso não impediu que o número de profissionais assassinados em zonas de conflito aumentasse nos anos seguintes.

Daniel passou 9 dias no cativeiro

Retratos do Apartheid Clube do Bang Bang foi a denominação dada a Kevin Carter, Greg Marinovich, Ken Oosterbroek e João Silva, quatro fotojornalistas que cobriram conflitos na África do Sul entre 90 e 94. O período foi marcado por instabilidade política, durante a transição do Apartheid para o primeiro governo democrático, além da forte violência entre diferentes grupos negros do país. O trabalho rendeu dois Pulit-

zers ao grupo: um para Marinovich e outro para Carter. Ken Oosterbroek morreu em abril de 94 durante um tiroteio na cidade de Thokoza, enquanto Carter se suicidou em julho do mesmo ano. O Clube é referência até hoje, tendo sido tema de livros, filmes e documentários. Confira na galeria abaixo 3 das fotos mais famosas do grupo: a segunda deu a Carter o Pulitzer enquanto Marinovich ganhou pela que está mais abaixo. Kevin Carter

Greg Marinovich Greg Marinovich

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Ataque à reporter da CBS questiona a presença de mulheres na guerra Lara Logan sofreu abusos sexuais em 2011 após queda de Mubarak Praça Tahir, 11 de fevereiro de 2011. O povo egípcio comemorava em um dos principais cartões postais da cidade a queda do ditador Hosni Mubarak, após 30 anos de governo. No meio da multidão, a repórter e chefe dos correspondentes internacionais do canal americano CBS, Lara Logan gravava uma matéria sobre a celebração quando foi afastada de sua equipe por cerca de 200 pessoas. Durante cerca de 30 minutos, a jornalista foi abusada sexualmente por vários homens até ser socorrida por soldados. Ela foi uma entre os quase 150 jornalistas agredidos no Egito. O caso de Logan, que na época do ataque tinha 39 anos, ganhou destaque em toda a mídia. A repórter foi criticada por políticos e até mesmo jornalistas, que afirmavam que ela era a própria culpada pelo abuso. Entre os motivos apontados estavam a sua beleza, exposta pelo uso de colares e maquiagem, o fato de ser uma mulher em uma zona de conflito, onde a população é conhecida por reprimir a exibição feminina e sua falta de experiência em situações de risco. Mas essa não

Alexandra Boulat / Condé Nast

Em janeiro de 2002, o mundo conheceu a história do jornalista do Wall Street Journal, Daniel Pearl, que foi sequestrado e assassinado por militantes paquistaneses. Ele estava no país com sua esposa Mariane, em busca de ligações entre Richard Reid, que em 2001 tentou explodir um voo da American Airlines com explosivos escondidos em seu sapato, e a Al Qaeda. Segundo os terroristas, membros do Movimento nacional pela restauração da soberania do Paquistão, Daniel seria um membro da CIA disfarçado, o que foi negado pela própria agência. O sequestro durou nove dias, culminando com a morte do jornalista no dia 1º de fevereiro, que se tornou conhecida através de um vídeo enviado às autoridades do Paquistão, que mostra Pearl sendo decapitado. Seu corpo, porém, só foi encontrado em 16 de maio, desmembrado em 10 partes. Em uma audiência reali-

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Logan sofreu abuso sexual no Egito era a primeira experiência de Logan na cobertura de guerras: desde 1994 ela era correspondente internacional da CBS e esteve presente nas invasões americanas ao Afeganistão e ao Iraque. Atualmente ela trabalha no programa 60 minutes. O argumento da presença de uma mulher nas coberturas de guerras foi duramente criticado por organizações feministas. Logan não é o primeiro caso de uma repórter em zonas de conflito. O primeiro registro de uma correspondente de guerra

vem do século XIX, com a canadense Kit Coleman, durante a Guerra Hispano-Americana. Outras jornalistas reconhecidas são as francesas Alexandra Boulat e Catherine Leroy, a americana Margareth Bourke -White e mais recentemente, a britânica Catherine Philp. Mas a mais importante mulher a cobrir uma guerra foi Martha Gellhorn. Ex-mulher de Ernest Hemingway, Gellhorn cobriu praticamente todos os conflitos que aconteceram entre 1930 e 1990, destacando seu trabalho na Guerra civil espanhola, a 2ª Guerra mundial e a Guerra do Vietnã. Após o episódio com a jornalista da CBS, o Instituto Internacional da Segurança Noticiosa (Insi), lançou o livro No woman’s land: on the frontlines with female reporters (A terra que não é para mulheres: nos frontes com mulheres repórteres), que traz diversos artigos sobre profissionais que relatam suas dificuldades em zonas de conflito. Para Chris Cramer, presidente do Insi, casos como o de Logan são comuns, porém as repórteres tem medo de relatar para não serem retiradas das áreas de guerra.

Um Brasil perigoso para os jornalistas Com 7 mortes em 2012, o Brasil assumiu a quarta colocação no ranking da ONU entre os países mais perigosos para jornalistas, saltando do 18º lugar em 2011. Atualmente, o Brasil se encontra atrás apenas da Síria, Somália e México. No total, mais de 600 profissionais foram assassinados ao redor do mundo somente na última década, segundo a UNESCO. De acordo com o relatório produzido pela ONG “Campanha por um emblema da imprensa” (PEC) e o Comitê de proteção aos jornalistas (CPJ), a maior parte dos assassinatos ocorrem em cidades de interior, com jornalistas de veículos de abrangência local. Mas isso não impede que os criminosos sejam punidos: a cada 10 homicídios, apenas um é preso e julgado. Para diminuir o número de assassinatos no país, a ONU lançou no ano passado o “Plano de ação das Nações Unidas sobre a segurança de jornalistas e a questão da impunidade”. O relatório não é feito somente para as empresas de comunicação, mas também para o governo e a polícia, que muitas vezes não sabem

como lidar com situações como essa. Mas isso não impediu que até o momento já fossem registradas quatro mortes de repórteres no Brasil em 2013. Isso coloca o país no terceiro lugar do ranking por enquanto. Entre 2000 e 2013, já foram assassinados 38 jornalistas no país, sendo que 46% do total trabalhava em mídia impressa. O relatório aponta exposição de esquemas de corrupção, crimes e questões políticas como principais motivos para os crimes. Um dos casos de maior repercussão no país foi a morte do jornalista Tim Lopes, em junho de 2002. Tim era produtor e repórter na Rede Globo e estava em um baile funk promovido por traficantes da favela Vila Cruzeiro, no Rio de Janeiro. Ele estava com uma micro câmera escondida fazendo imagens da exploração sexual de adolescentes que acontecia nas festas. Seu assassinato foi considerado vingança, depois da reportagem veicula em 2001 sobre o tráfico de drogas no morro. Outro caso que ganhou espaço foi a de José Rubem Pontes de Souza, diretor de redação do jornal EntreRios, de Paraíba do Sul, Rio de Ja-

neiro. Souza foi morto com um tiro na nuca em 30 de outubro de 2010 quando saia de uma festa em um bar. O autor dos disparos foi reconhecido como Renato Demétrio de Souza, ex-PM. O motivo apontado foi o envolvimento do jornalista em um esquema de máquinas caça-níquel e jukebox em bares da cidade. Em novembro de 2011, o assassinato do cinegrafista da Band Gelson Domingos com um tiro perdido em tiroteio na Favela de Antares, zona Oeste do Rio trouxe à tona a discussão sobre a segurança dos jornalistas em áreas de conflito. Gelson usava um colete a prova de balas recomendado pela Polícia Militar, mas não foi suficiente para conter o tiro de fuzil que o atingiu. Em nota publicada, a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), exigiu maiores esforços do governo para garantir a segurança. Um dos casos mais recentes foi a morte de Renato Machado Gonçales, repórter da Rádio Barra FM. Ele foi baleado na porta de sua casa, no dia 08 de janeiro. Por enquanto não foram apontados motivos para sua morte e nenhum suspeito foi detido.

“As previsões são as piores possíveis. Se Assad cair, a situação lá vai ficar ainda pior. A oposição a ele é muito mais radical.”


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