Hilda Hilst pede contato_ release livro

SESI-SP Editora lança “Hilda Hilst pede contato”

Livro de Gabriela Greeb faz um registro do documentário homônimo sobre a escritora e sua busca de contato com outras dimensões

Autora homenageada na Flip (Festa Internacional de Literatura de Paraty) deste ano, Hilda Hilst teve seu lado místico explorado no filme da cineasta Gabriela Greeb “Hilda Hilst pede contato”, um híbrido de documentário, ficção e literatura. A obra mostra a escritora em sua persistente busca para se comunicar com os mortos

ou “povo cósmico”, como ela aclamava

empunhando um gravador em meio às árvores do seu sítio – a Casa do Sol –localizado na região de Campinas. A realização desse filme deu origem a um livro homônimo, um registro que documenta passagens que a linguagem do cinema não consegue perpetuar

O livro, que será lançado pela SESI-SP Editora durante a Flip, traz farta documentação que permite observar não apenas o processo criativo do longa, como conhecer algumas características da escritora reveladas por entrevistas completas dos amigos que participaram da obra. “Era lindo chegar quando ela tinha recém-composto um poema; ela chamava a gente aqui pro quarto dela, para o escritório, e falava assim, me deixa ler. Ela lia a poesia, com sotaque lusitano, e era maravilhoso”, comenta num dos depoimentos Gutemberg Medeiros, que conheceu Hilda na década de 80.

O conteúdo da obra inclui imagens do story board do francês Bertrand Guillou, com desenhos coloridos do roteiro. Esses desenhos, por si, já concedem à obra um grande valor artístico. Num deles, por exemplo, Hilda Hilst é retratada carregando seu gravador em meio às árvores. O livro traz também diálogos, narrações e leituras de trechos da autora, que fazem parte de intervenções poéticas do documentário, além da transcrição completa de fitas gravadas por Hilda Hilst no capítulo intitulado Vozes do Além.

Na fita 5A há um exemplo de como Hilda procurava conduzir seu diálogo com o outro mundo: “Hilda pedindo contato com povo cósmico, hoje dia 16 de novembro de 1974, e eu estou sozinha no quarto; são 7 e meia, peço contato com povo cósmico, hoje está ventando muito e o céu aqui na terra está muito bonito, mas venta Eu gostaria de ouvir a voz de um de vocês. Como é que vocês estão, alguém pode falar comigo? Hilda pedindo contato com povo cósmico.”

As sondagens de Hilda por vezes envolviam amigos. Uma de suas companheiras foi a também escritora Lygia Fagundes Telles e na fita 52A há o registro de um curioso diálogo:

- Hilda: “Boa noite povo cósmico, contato. 19 de setembro de 1977, mais ou menos 9 e meia da noite, 10 horas. Hilda pede contato. Eu queria notícias de Paulo Emílio Sales Gomes, Paulo Emílio Salles Gomes como vai, Paulo Emílio? É Hilda, mande algum recado pra Lygia [Fagundes Telles].”

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- Lygia: “Será que exige um esforço muito grande, Hilda, para que essas vozes cheguem a ser captadas por um aparelho como esse? Naturalmente que, apesar de toda a força dele, deve ser um aparelho assim grosseiro para trabalhos mais delicados como esse, né?”

- Hilda: “Acho que deve ser difícil. Parece que é um esforço deles também.”

LYGIA: É interessante, Hilda, eu notei que todas as falas acontecidas foram enquanto se falava.

HILDA: Parece que eles aproveitam o som. LYGIA: Aproveitam o som. Talvez usem a nossa própria voz como instrumento para eles, porque no silêncio não houve a menor manifestação. Nós, de um certo modo, talvez sejamos os próprios instrumentos.”

O ultimo capítulo do livro é escrito pela cineasta Gabriela Greeb , que organiza de forma intimista, a partir de “contatos”(primeiro contato, segundo contato), sua imersão na obra de Hilda Hilst e o processo de pesquisa, produçã o e criação do filme, iniciado em 2008 e finalizado em 2018.

Gabriela Greeb participará da mesa de abertura da Flip, na manhã do dia 26 de julho, ao lado do diretor de som Vasco Pimentel, de Portugal. No encontro serão apresentadas algumas das gravações de Hilda Hilst feitas na Casa do Sol no final dos anos 1970.