Prática Expandida - Experimentação Conceptiva

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prática expandida experimentação conceptiva

rodrigo arraes gianoni trabalho final de graduação faculdade de arquitetura e urbanismo - usp



prática expandida experimentação conceptiva

orientação: carlos roberto zibel da costa são paulo, dezembro 2011

rodrigo arraes gianoni trabalho final de graduação faculdade de arquitetura e urbanismo - usp



Agradecimentos Jamais teria alcançado meu objetivo, e muito menos ainda um produto que me satisfizesse sem a ajuda de pessoas queridas e importantes nesta trajetória. Agradeço principalmente ao professor Carlos Zibel por sua orientação precisa, acolhe doura e dedicada; ao professor Paulo da Fonseca, pelo interesse e conselhos preciosos. Aos meus pais, fundamentais e cujo apoio incondicional durante todos estes anos de faculdade (e foram muitos!) me possibilitaram estar aqui. Aos trabalhadores do LAME, por seu auxilio na execução das maquetes; ao Bolinha, que conseguiu para mim um projeto de temática semelhante; aos meus amigos e a minha namorada, Fabiola Diniz.



SUMÁRIO 06

INTRODUÇÃO

46

PROGRAMA E DIRETRIZES

10

NOVOS PENSAMENTOS

51

A FUNÇÃO ESPACIAL

11

AS VERDADES ABSOLUTAS

58

REFLEXÃO INTERMEDIÁRIA

12

MODERNIDADE LÍQUIDA

62

PROPRIEDADE: GAIOLA

13

INTERDISCIPLINARIDADE

72

CIRCUNSTÂNCIA: ANÔMALO

14

METODOLOGIA A PRIORI?

86

IDENTIDADE: ENTUBADO

15

DESMONTAGEM E REMONTAGEM

100

CASUALIDADE: ôCO

16

O METAPROJETO

114

DESENCADEANDO

18

INPUT E OUTPUT

118

GAIOLA

19

TOP-DOWN x BOTTOM-UP

124

ANÔMALO

20

PRODUÇÃO INTEGRADA

134

ENTUBADO

22

METODOLOGIAS E PROCESSOS

142

ôCO

24

ALÉM DO PROGRAMA

150

REVISÃO POTENCIALIDADES

25

MÉTODOS EXPERIMENTAIS

152

REFLEXÃO FINAL

30

PROPOSTA INICIAL

156

REFERÊNCIAS

32

OBSERVAÇÃO


8

prática expandida - experimentação conceptiva


INTRODUÇÃO Este trabalho tem por princípio o estudo metodológico das etapas de composição do espaço e da interdisciplinaridade por meio da experimentação de formas, linguagens e funções. O principal objeto de estudo não é o produto final, mas sim os processos de desenvolvimento e construção projetual, narrando o caminho trilhado conforme ele aconteceu, com todas as suas indefinições, dúvidas e reflexões. Colocar a metodologia no papel principal neste ponto permite compreender as etapas de projeto de uma forma não linear. As soluções, pesquisas, desenhos, visitas, protótipos, referências devem estar em constante revisão e aprimoramento. Dar margem para a reflexão dos processos projetuais é fundamental para a sua compreensão, por isto o resultado final não deve ser abordado como um projeto sólido e apresentado com soluções definitivas, mas sim uma narrativa complexa e fielmente organizada conforme a trajetória do trabalho. Para que esta metodologia pudesse ser estuda com propriedade, foi necessário primeiramente compreender todo o novo cenário contemporâneo pela qual a sociedade atravessa. O ato projetual atual ainda está demasiadamente atrelado as necessidades do século XX, quando as relações e troca de informações eram estáticas, pouco dinâmicas. Porém, com o avanço das novas tecnologias, a revolução na disseminação das informações e os formatos das comunidades de consumo criaram um cenário mais liquido, e é neste cenário que se insere o trabalho, da modernidade líquida (Bauman). A modernidade liquida permite que esta troca de valores aconteça constantemente, ao passo que define os processos projetuais de forma absolutamente liquida e instável, sempre sujeita a transformações originadas de circunstâncias muitas vezes imprevisíveis. A condição de fazer parte de uma realidade líquida pressupõe que a metodologia adotada também não deva ser estática e rígida. Estes processos devem, portanto, extrapolar os limites convencionais do projeto, absorvendo etapas prévias e posteriores do mesmo. Acredita-se que somente com este olhar abrangente sobre o projeto é possível entender e conectar todo o seu processo de concepção dentro da nova modernidade. E mais, começar a expandir esta atividade visa uma nova perspectiva para o universo projetual, em especial para a arquitetura, em que se entenda que o edifício não deve ser definido tão somente como uma “obra de arte” intocável e congelada na cidade; mas sim um instrumento que corresponde às expectativas e os anseios de seus usuários.

Cloud Cities, Tomas Saraceno Instalação de volumes geométricos inflados, alterando noções de lugar, espaço, futuro e gravidade, possível através de uma arquitetura de interação entre sujeito e objeto.

introdução

9


No inicio deste trabalho, nunca se imaginou o percurso a se seguir até o momento em que ele começou a ser construído. Os caminhos pré-estabelecidos, dados a priori, induzem soluções pouco pensadas e contemplativas, onde a produção linear e direta acontece sem que haja nenhum tipo de reflexão. Isto é preocupante para o desenvolvimento de um projeto, uma vez que uma série de possibilidades ficam pelo caminho, ao passo que a reavaliação do programa ou das diretrizes inicias não faz parte do trabalho. Novamente colocando a modernidade liquida em questão, observa-se que o espaço existe diretamente conectado as necessidades dos sujeitos que o usam. Portanto, a inconstância de tais necessidades gera o anseio pela mudança para se adaptar a estas transformações, gerando valores e programas que sempre devem ser revisados. Como isto reflete no universo projetual e na concepção do espaço? É importante entender que um projeto, mesmo que na prancheta tenham todas as suas mais possíveis variáveis, possibilidades e problemas levantados, a execução real de tal consigo novos enfrentamentos antes obscuros. Não apenas durante sua execução, mas também durante toda a sua vida útil. A inserção de tal projeto na realidade líquida exige uma reaproximação do criador para com a criatura, na intenção de controlar e entender quais escolhas foram acertadas e quais foram erradas. O projetista apenas insere os valores de “input” (conceito que será explicado no capítulo “Novos pensamentos”) dentro do sistema, o que acontece a partir dai foge completamente do seu controle, ainda mais se considerado que agentes externos podem mudar a percepção de tal projeto. A não ser que o mesmo esteja disposto a acompanhar toda a sua vida após o nascimento, e não abandoná-la como “obra pronta”. O trabalho sempre esta em desenvolvimento (work in progress). Ainda neste cenário, outras duas vertentes serão exploradas como participantes desta metodologia “experimental”: a vivência espacial e a interdisciplinaridade. No primeiro caso sabe-se que não necessariamente um espaço permite uma interação instantânea entre sujeito e objeto, homem e espaço. Ela só acontece quando os sujeitos passam a se relacionar entre si, e esta relação aconteça também com o espaço. Assim, o espaço vazio e sem vida torna-se lugar. É usual, em circunstâncias cotidianas, encontrar situações inusitadas para tais; espaços projetados de forma pomposa, acolhedora e abertos ao público, mas que, por fatores diversos, jamais conseguem aproximação com as pessoas. Por outro lado, o contrário também acontece, com espaços absolutamente impróprios que se “lugarizam” por ali estabelecerem condições para isto ocorra. Estabelecer condições e entender o perfil das pessoas e da tipologia de projeto é fundamental. A interdisciplinaridade, por sua vez, tende a combinar as diversas ciências pertinentes a um projeto, sem que haja a sobreposição de valores. Aqui, todas as etapas de projeto devem se comunicar mutuamente, uma dependente da outra, para que o resultado final seja condizente com um todo. O que se observa é uma clara influencia do conceito de “sistemas complexos”, onde o todo será sempre maior que a somatória das partes, pois se entende que a parte comunica-se entre si gerando novos produtos específicos. Aqui, a hierarquização acontece, porém menos autoritária. É comum o uso do sistema onde a hierarquia e a linearidade de projeto são predominantes. O que aqui se propõe é o uso de um outro sistema para que todas as disciplinas consigam trabalhar em conjunto, no mesmo tempo e espaço, objetivando um resultado em comum e com uma integração muito mais forte.

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prática expandida - experimentação conceptiva


Todos estes conceitos serão retomados no momento oportuno, onde cada uma delas será devidamente explorada e sua importância indicada dentro do trabalho geral. O nome deste trabalho, “Prática Expandida”, é um termo muito recorrente em outras disciplinas, em especial no ensino. Na área da arquitetura, ele surge pela primeira vez nas instalações experimentativas do MyStudio, dos arquitetos Hôweler e Yoon, que diante da pouca versatilidade projetual, tiveram a coragem para propor novas aproximações, novas idéias, novos processos. Este nome será emprestado neste trabalho pois exemplifica perfeitamente o que será feito: uma extensão da prática, indo além daquilo que se condiciona e tentando romper as complicadas barreiras do tradicionalismo conceptivo e projetual.

introdução

11


NOVOS PENSAMENTOS Presente em grande parte do século XX, as teorias hoje usadas dentro do universo projetual (ou cultura projetual, como alguns afirmam) carecem de uma releitura para se adequarem a um novo cenário, a uma nova realidade surgida após sensíveis transformações da sociedade e dos seus desejos e necessidades. Com isto, não somente os projetos, mas a prática e a metodologia também necessitam de alterações e reavaliações. O fato é que, imerso nessas novas necessidades,

foram os motivos destas transformações, em qual

que exigem novas posturas dos profissionais

momento ocorreu à abertura dos processos e da

envolvidos no projeto, as tradicionais e batidas

realidade passa a ser de extrema importância para

fórmulas de projeto tornam-se obsoletas, ineficientes

um posicionamento sobre o assunto, estimulando

ao tentarem responder os novos anseios. Não que

assim uma criatividade de acordo com a nossa

devam ser abandonadas por completo; muitas

contemporaneidade. A idéia é mostrar como

delas ainda desempenham um papel fundamental

diversos conceitos podem contribuir decisivamente

em boa parte da sociedade, ainda respondendo

para a metodologia projetual, tanto quando se

positivamente as suas necessidades. Sem contar

dispõe a avaliar os novos conceitos emergidos ou já

que já está consolidado e absorvido pela grande

se posicionam sobre estes especulando propostas e

maioria dos profissionais. Entretanto, a releitura de

refletindo.

seus aspectos e abertura de suas atividades, que cada vez mais passam a ser menos especificas e

Estes conceitos serão apresentados aqui

mais gerais, invocam a mudança e a adaptação.

brevemente, com a profundidade necessária para

Mas, por que isto é relevante dentro desta pesquisa

deixar clara a sua contribuição neste trabalho.

e experimentação?

Evitou-se uma discussão maior em alguns temas (apesar de serem questionáveis o suficiente para

É importante, pois como proposta de uma

isto), pois geraria uma discussão infindável e que

exploração experimental e investigativa, procurou-

se distanciaria da proposta inicial do trabalho.

se a liberação das amarras tradicionais que os

Entretanto, em alguns pontos se fez necessário

modelos de projetar modernistas concretizaram

ampliar a discussão, pois era impossível passar em

e engessaram durante todo o século passado.

branco por estas sem uma reflexão ou reavaliação

Compreender como estas relações ocorre, quais

das questões.

12

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As verdades absolutas

interagem e reagem a algumas novas variáveis

O cenário estático e previsível, característico de

surgidas nas últimas décadas.

boa parte do século XX, influenciou diretamente os ideais do projeto moderno. Com a maioria destes

O modernismo sempre olhou para frente,dificilmente

conceitos originados da lógica e razão iluministas

para trás, sempre caminhando para o futuro, para o

e das éticas e estéticas industriais (pelo menos

“progresso”. O que é batizado como “modernismo”

em sua primeira fase), fórmulas pré-estabelecidas

desconsiderou parte das complexidades que a

surgiram com o objetivo de determinar uma nova

cultura possui, negando sistemas que romperiam

ordem social, da integração e da razão construtiva.

com a estática modernista. De certa forma,

A idéia de “salvação”, caminho para a felicidade

o modernismo (não todo ele, mas uma parte

e organização sempre subsidiaram o movimento

considerável) rompeu com elos do passado

nessas escolhas, pois se acreditava que o projeto

com um estilo vanguardista e internacional,

modernista era a “arca de Noé”(Koolhaas, 1976)

condicionando o homem a se relacionar com

da sociedade. O projeto modernista previa o

o espaço e não o contrário. Muitas vezes, este

controle sobre o futuro da sociedade, no sonho de

pensamento a não flexibilidade destes pensamentos

que o mundo seguiria uma lógica clara e objetiva.

resultou em verdades absolutas, inegáveis, barrando

Existiram uma série de outros movimentos paralelos

quaisquer outros tipos de pensamento ou código

ao modernismo, muitos deles compartilhando alguns

que poderiam contribuir significativamente para a

de seus conceitos, mas o próprio se adaptou e

produção, privilegiando uma solução pré-definida

readaptou durante o século XX, originando diversas

independente do enfrentamento.

fases ou faces. Aparentemente, as cidades contemporâneas O modernismo (ou a crítica dele) deu origem a

se afastaram deste cenário imaginado pelos

outro movimento, o Pós-modernismo. Este termo

modernistas; ao invés da ordem industrial e lógica

já foi muito combatido por diversos pensadores e

temos um cenário complexo e diversificado.

historiadores, como Benevolo, que afirmou que o

Segundo Moraes (Moraes, 2010) esta complexidade

uso do prefixo “pós” é inadequado, pois sugere

acontece por diversos fatores, como o nivelamento

uma idéia de “superação de algo”, neste caso

da capacidade produtiva entre os países, livre

do modernismo, o que não é verdade. O próprio

circulação das matérias-primas no mercado global

se predispõe a indicar outros prefixos cabíveis,

e a fácil disseminação tecnológica; juntos, eles

como “neo”, “pro” ou “anti” modernismo. De fato,

permitiram a produção de bens de consumo

este movimento apresenta uma série de conflitos

massificados, compostos de estéticas hibridas,

de idéias, alguns acreditando ser o reflexo de

colocando em cheque os conceitos de estilo e

uma contemporaneidade plural e diversificada.

estética adotados até aquele momento. Além disso,

Independente da postura perante cada movimento

as formas de interações sofreriam uma drástica

(o que não é pertinente dentro desta discussão),

transformação: deixariam de ser estáticas para

é fundamental entender como estes movimentos

serem dinâmicas.

novos pensamentos

13


Modernidade líquida

liberdade de escolha, na qual as pessoas podem

A melhor forma de introduzir está liquidez presente

escolher suas identificações e seus objetos de

na contemporaneidade e que resultará em

consumo. Portanto, a dissolução de estados fortes e

mudanças nas etapas de projeto é citar as palavras

regionais e o crescimento de um estilo internacional

de um dos pioneiros desta observação, Bauman,

forte e disseminado privilegiaram o crescimento das

que nomeou este fenômeno como “Modernidade

“comunidades de destino”, criando relações mais

Líquida”. A citação a baixo (do seu livro de mesmo

dinâmicas. Apenas como ilustração, uma relação

nome, extraída de Bicudo, 2008) exemplifica

direta pode ser feita destas comunidades com os

perfeitamente este pensamento:

movimentos projetuais. As “comunidades de vida”, tradicionalmente estáticas e representantes dos

“(...) “fluem”, “escorrem”, “esvaem-se”, “respingam”,

estados-nação, se relacionariam diretamente com

“transbordam”, “vazam”, “inundam”, “borrifam”,

o primeiro movimento modernista (que foi, inclusive,

“pingam”; são “filtrados, “ destilados”; diferente dos

um movimento muito admirado pelos regimes

sólidos, não são facilmente contidos - contornam

totalitários). Já as de “destino” necessitaram de

certos obstáculos, dissolvem outros e invadem ou

movimentos mais abertos, devido a sua flexibilidade

inundam seu caminho. Do encontro com sólidos,

e fluidez de valores. Este último torna-se mutável

emergem intactos, enquanto os sólidos que

ao passo que as pessoas estão ansiosas por

encontram, se permanecem sólidos, são alterados

identidade(s) e dispostas a consumir valores pouco

- ficam molhados ou encharcados. A extraordinária

claros, gerando uma constante incerteza de valores

mobilidade dos fluídos é o que associa a idéia de

que se modificam conforme interesses diversos.

“leveza”. (...) Associamos “leveza”ou “ausência de peso” à mobilidade e inconstância: sabemos pela

Neste cenário, o ato de projetar pode ser

prática que quanto mais leve viajamos, com maior

compreendido como um momento de solidificação

facilidade e rapidez nos movemos.” ( Bauman, 2011,

desta fluidez, com a intenção de compor um

pg. 8)

sistema de códigos que se encaixe neste fluxo constante. Existe uma contradição aqui, uma vez

As revoluções nas comunicações, a velocidade

que este sistema dinâmico deve estar sempre

na troca de informação e, por conseqüência,

aberto a transformações para um balizamento do

a redução na validade destes valores podem

projeto com a realidade, não podendo assim ser

ser apontadas como causas deste fenômeno.

tão “sólido”. Projetar, dentro desta fluidez, passa a

Esta modernidade é um sintoma da mudança

ser lidar com um universo de possibilidades e não

comportamental das comunidades, que

mais o encarar de maneira diacrônica, casual e

deixaram de ser de “vida” e passaram a ser de

definitiva,

“destino”(Bauman, 2011). As “comunidades de vida” são caracterizadas pelos estados fortes (estados-

Além disso, as novas dinâmicas e o fluido da

nação), que ditavam os estilos de vida. Já as

contemporaneidade valorizaram aspectos

“comunidades de destino” são representadas pela

antes considerados secundários na produção,

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prática expandida - experimentação conceptiva


como as afetivas, emocionais e psicológicas,

a capacidade de explorar a competência de cada

multidisciplinares, que agora também fazem parte

uma das áreas e especialidades (Bicudo, 2008).

do produto. Muitos dos cenários, antes estáticos, passam a ter que lidar com este fluido e com

A ansiedade pela busca de identidade, de

a interdisciplinaridade, como o marketing, a

algo para se identificar, em uma sociedade

arquitetura, o design e a comunicação, entrando

em que é possível “negociar” esta identidade,

portanto em conflito com esta realidade mutável.

resultado da liberdade de escolha da sociedade contemporânea, segundo os conceitos do próprio

É compreensível, portanto, que neste cenário

Bauman. Um dos motivos da necessidade do

instável, os profissionais mais atentos as

trabalho interdisciplinar está na fragmentação das

necessidades demandadas pelas pessoas e,

formas de se expor uma linguagem, resultando uma

principalmente, aqueles que se anteciparem a

grande confusão de informações que prejudicam

elas estão sujeitas a um maior sucesso. Eles devem

a totalidade da informação. Portanto o trabalho

estar sempre preparados para atuar em campos

deve ser realizado por equipes multidisciplinares que

que vão além da sua formação inicial, adentrando

devem articular conjuntamente suas especialidades

as demais e sempre estando disposto a convergir

para um produto final mais adequado. Intercambiar

para outras áreas do conhecimento. Além disso,

linguagens passa ser indispensável para um novo

devem estar sempre preparado para mudanças,

pensamento projetual, explorando intersecções

interpretando, antecipando ou prospectando estas

entre as diversas disciplinas.

novas realidades. Interdisciplinaridade A criação é um campo cada vez mais vasto. O desenvolvimento e a presença de inúmeras novas mídias e a velocidade da informação fazem com que as disciplinas tenham a obrigatoriedade de interagir entre si. Evidentemente, cada uma das disciplinas tem que ter os seus limites bem definidos e suas especialidades respeitas. A música cabe aos músicos; o texto aos escritores; a fotografia ao fotografo; a arquitetura ao arquiteto. Quando todos estes passam a operar juntos, passa a ser

Museu do futebol - SP, 2008 Projeto multdisciplinar que envolveu filósofos, historicistas, psicólogos, museólogos, arquitetos e designers

responsabilidade do designer/projetista operar

O conceito de rizoma aqui se faz extremamente

este sistema para que ele seja o mais harmônico e

importante. Para lidar com toda a complexidade

eficiente o possível. Uma visão geral do processo,

de um sistema interdisciplinar, em que existe a

muitas vezes confundida com a centralização da

intersecção entre as suas partes, incluindo o próprio

produção (“o faz tudo”), mas que exige do designer

tempo, que passa a ser um fator de importante

novos pensamentos

15


na reavaliação e redefinição deste sistema. Parte

uma relação mútua. Apesar das complicações

do que nos ano 90 ficou conhecido como design

em se trabalhar neste cenário experimentativo

experimental (Bicudo, 2008) influenciou muito o

(mais comum no design gráfico, por exemplo), a

pensamento de trabalhar o processo para permitir

arquitetura já deu seus primeiros passos em direção

uma melhor integração entre as partes, devida

a experimentação e ao exercício da espacialidade,

especialmente a complexidade que estes sistemas

escapando da típica visão física (construída) para

interdisciplinares carregam consigo. Possibilitam

a puramente espacial, da vivência. Basta observar

também um novo tipo de comunicação entre as

a quantidade de sites que funcionam como museus

partes e um dialogo mais rico entre enunciador e

virtuais, além de games que criam/recriam um

enunciatário.

espaço virtual.

Metodologia a priori?

Esta metodologia deve ser compreendida como

Os modernistas (e também muitos ditos “pós-

uma organização dentro de um sistema liquido

modernistas”) fizeram crer que o método a priori,

que se constrói mediante um contexto. Em outras

estático e indiscutível de construção projetual era

palavras, as condições estilísticas dadas por estes

a mais adequada e respondia com mais eficiência.

movimentos e apontados por diversos teóricos

Este formato metodológico pressupunha elementos

(como Benevolo) são mutáveis e redefinas

de “fácil decodificação, por não serem híbridos, e

conforme o processo se desenvolve. O projeto

quase sempre construídos por conteúdos previsíveis”

é o desenvolvimento de um padrão inicial,

(Moraes, 2010). Como citado, a referência ao

sendo constantemente acompanhado do seu

método modernista projetual percorreu todo o

desenvolvedor durante um espaço de tempo, por

século XX em um cenário estático, propondo uma

intermédio de processo de feeedback/ reavaliação

metodologia objetiva e linear, quase seqüencial.

(Johnson, 2003). A questão estilística se esvai,

Realmente, em certo instante, esta metodologia

uma vez que busca uma constante operação de

correspondeu às expectativas impostas pelos

leitura e releitura dos códigos, sendo “muito mais

“consumidores” (a sociedade em geral), entretanto

dado pelo contexto do que por uma imposição

as complexidades do novo cenário colocaram a

do projeto”(Bicudo, 2008, pg. 26). Esta operação

sua validade em cheque.

constante leva crer que os processos não devem ser dados a priori, mas sim construídos conforme

Promover, portanto, uma prática projetual que crie

o ato de projetar, em uma resposta constante a

padrões de desenvolvimento ao mesmo tempo que

reorganização destes códigos. A modernidade,

absorve os próprios padrões obtidos (Bicudo, 2008).

através de um programa e um planejamento

E a fluidez desta prática projetual deve permitir uma

estático, tende a engessar esta versatilidade

nova aproximação entre sujeito e objeto através da

da metodologia, ignorando outros fatores e

identificação e contatos comunicativos, afastando-

possibilidades. Possibilidades estas que superam

se conceito inicial modernista da adaptação

de forma singular a metodologia inicial, ao passo

do homem ao espaço que o cerca e criando

permitem a abertura do campo projetual para

16

prática expandida - experimentação conceptiva


a descoberta e reprogramação. Segundo Mauri

etapas para este novo desenvolvimento projetual:

(Morais, 2010) o “ sonho de um desenvolvimento

o problem finding, o problem setting e o problem

contínuo e linear se fragmentou diante as

solving (Moraes, 2010). O primeiro, é encontrar o

emergências que não foram previstas, e que se

problema, depois configurar as suas necessidades

demonstraram imprescindíveis.”

e por final resolve-lo. Dentro deste universo de projeto, a metodologia desempenha o papel de intervenção flexível e dinâmica, abandonado a especificidade e o pontual. Esta metodologia deve lidar com questões muito mais complexas que as anteriores, em especial quando aborda questões que extrapolam as unidades projetuais tradicionais e tangem aspectos não materiais e valores que articulam outros sentidos. Entende-se portanto, que a metodologia deve dar suporte a este cenário liquido, participando e interagindo diretamente com os componentes de um sistema fluido. Isto dificulta o trabalho com uma metodologia dada a priori, onde os caminhos a se percorrer são conhecidos desde o inicio. Somado a isto esta a ampliação do campo de responsabilidades do projetista, extrapolando os limites do projeto ao exercer influencia sobre

Galeria Melissa- SP, 2007 Projeto de uma loja de calçados, que tem a proposta de uma fachada dinâmica, “mutante”, que se recria de tempos em tempos com artistas convidados.

os indivíduos, promovendo reações e repostas constantes dos envolvidos. Ao contrário do engessamento moderno, em que o cenário gerava os parâmetros de trabalho, o caminho aqui deve ser

A crise na metodologia imposta pelos movimentos

trilhado conforme o avanço no projeto e, em alguns

predominantes do século XX é o resultado

casos, redefinida durante o percurso. Isto indica,

da não adequação de suas diretrizes dentro

segundo Moraes, uma habilidade muito maior dos

da complexidade aqui descrita. As novas

designer/projetistas/arquitetos em lidar com as

circunstâncias pelas quais o universo projetual

informações disponíveis.

esta submetido coloca uma nova metodologia como protagonista, uma vez que discutir a

Desmontagem e remontagem

organização e as condicionantes projetuais passam

Um dos princípios mais importantes quando

a ser indispensáveis. Pensando em um sistema

estudamos a metodologia é compreender que esta

previamente estruturado, podemos identificar três

nada mais é do que uma constante operação entre

novos pensamentos

17


desmontagem e remontagem de códigos. Isto se

programa quanto do projeto mesmo quando ele

justifica na própria falência da metodologia dada

ainda esta processo de execução, produção e

a priori. Deleuze leva este conceito ao extremo,

pensamento. Portanto, o papel do designer pode

quando afirma: “O artista clássico é como Deus, ao

ser compreendido como algo muito maior do

organizar as formas e as substâncias, os códigos e

que o simples ato de projetar, mas sim como um

os meios, e os ritmos, ele cria o mundo”(Deleuze,

verdadeiro descobridor de essências. Deve-se

1997, vol. 5. pg. 216). Também nesta mesma linha

aprofundar em um cenário mutante e complexo e

de raciocínio, Villém Flusser em seu livro “O mundo

o papel do designer / arquiteto deixa de ser apenas

codificado” aproxima a atuação do projetista a de

técnico e linear.

um profeta, pois não é somente um técnico, mas sim um ser que possui um “olha-sentinela”(Flusser,

O Metaprojeto

2007), dotado da consciência de responder pelos

As novas exigências aqui descritas obrigam os

outros homens, transformando objetos cotidianos

projetistas a buscarem alternativas para se adaptarem

em veículos de comunicação (Bicudo, 2008).

a elas; o universo projetual passa a cobrar uma maior gama de conhecimentos do que antes, fazendo

Decodificar estes códigos e recodificá-los passa

o projetista ter que se aventurar por campos antes

a ser um importante fator para o sucesso de um

pouco explorados, como o psicológico, semiótico

projeto. Uma das teorias mais exemplares de como

entre outros. Amplia-se o campo de atuação, ao

este funcionamento procede é a semiótica, que

mesmo passo que se torna muito mais complexo,

“aparece como apoio fundamental neste ato

exigindo uma ótica mais aberta e de poucos vícios.

contínuo de projetar, a partir de sua capacidade

As metodologias tradicionais, moldadas a priori,

de desmontagem e remontagem dos objetos

já não correspondiam de forma positiva a estas

analisados e de si própria” (Bicudo 2008). Portanto,

necessidades, em especial por pouco lidar com

o projeto é uma associação entre dados iniciais e

as dinâmicas e contextos que envolvem o objeto

de padrões que surgem conforme a profundidade

projetual; portanto, uma metodologia mais aberta e

do projetista dentro deste e da interação deste

dinâmica era uma alternativa a ser buscada. Assim,

projeto com os agentes participativos. Em um

surge o método conhecido como o Metaprojeto.

sistema tradicional de desenvolvimento projetual

Originado do termo italiano “Metaprojecto” e

tem etapas bem definidas de trabalho (programa

trabalhado

e projeto), adicionando a estes uma terceira etapa

por Mario Oliveri, esta metodologia propõe uma

que corresponderia a de reavaliação do sistema

nova aproximação com as etapas de projeto,

depois de pronto. Entretanto, este pensamento já

desmembrando as diversas partes que a compõe

pressupõe uma reorganização estruturada do ato

e as analisando individualmente. Este trabalho é

de projetar, estabelecendo um padrão pré-suposto.

focado em reconhecer as partes dinâmicas e inter

Por exemplo, a etapa de reavaliação poderia

relacionadas,

ser uma etapa intermediaria, como instrumento

elas podem se reorganizar dentro do projeto. O

de investigação e aperfeiçoamento tanto do

metaprojeto pode ser entendido como uma fase que

18

prática expandida - experimentação conceptiva

pelo

arquiteto

estudá-las

e

Giuseppe

Ciribini

identificando

e

como


ponto de partida e não o fim do projeto.” (Moraes, 2010).

Aqui,

não

necessariamente

resolvem-se

todos os problemas projetuais ou responde-se a um programa previamente estipulado (como na metodologia estática modernista), mas sim se estudam as possibilidades e potencialidades de um cenário abordado. Analisa-se um cenário atual e especula-se um cenário próximo, obrigando o projetista a lidar com as etapas já superadas em uma atividade de reavaliação constante. Importante colocar que o terreno de trabalho que o projetista encontra aqui é a potencialidade como sua produção. Considerando um sistema input e output (que será abordado adiante), o metaprojeto se dispõe a estudar profundamente todos os campos Siberian Airlines - Landor Disciplinas interagem-se na composição de um sistema visual

e as potencialidades dos dados de inserção (input) deste sistema, sem necessariamente definir os de saída (output). No universo de projeto, isto significa não prever um modelo de projeto único e definitivo,

antecede a do projeto em si, pois existe uma abertura

mas sim “um articulado e complexo sistema de

muito maior de análise, cenários e possibilidades

conhecimentos prévios que erve de guia durante

do que quando o projeto é executado. O termo

o processo projetual.” (Moraes, 2010). Portanto ele

“concept” (muito usado nas academias italianas)

é um suporte importante para o projeto, dando

aqui é recorrente, uma vez que o trabalho com a

perspectivas de reflexão na sua elaboração e

concepção é a grande força desta metodologia.

pesquisa. Em outras palavras, o termo que vem

Esta concepção atua como uma especulação de

sendo usado para exemplificar esta metodologia é

um ou mais cenários, tanto na etapa inicial de um

bem sintetizadora: “ o projeto do projeto”. Não se

novo projeto quanto como uma análise corretiva ou

deve encarar o metaprojeto como prescritivo, mas

de balizamento de um projeto já existente.

sim uma ferramenta de reflexão teórica, que induz a decodificação do projetável.

A grande singularidade deste sistema projetual esta em não promover uma produção definida ou

Para que este “input” resulte em um ou diversos

definitiva, mas sim propor um alargamento “do seu

“concepts”, é necessário estudar uma infinidade

raio de ação próximo ao complexo conjunto de

de interações e condições, mapeando o cenário

atividades compreendidas em sua concepção. A

de projeto e contextos. O resultado disso é uma

forma e a função contidas no projeto tornam-se o

etapa “pré-projeto” mais importante que a própria

novos pensamentos

19


etapa projetual, uma vez o sucesso deste pode

conceitos

estar condicionado à compreensão correta deste

criticamente) o existente, explicam-se escopos,

contexto. Portanto, o metaprojeto é um “pack of

objetivos e meios projetuais. Configura-se, portanto,

tools”, responsável pela sustentação e orientação da

um cenário existente e previsto, que verifica uma

atividade projetual dentro da contemporaneidade

série de parâmetros como ciclo de vida, fatores

líquida, Ela não deve ser considerada uma substituta

sociais, mercadológicos, que levará “a obtenção

a velha metodologia modernista, mas sim uma

de um mapa projetual que nos levará a uma visão

paralela que se dispõe a estudar e criar os cenários

conceitual e, por fim, a um concept mais definitivo

de atividade para esta metodologia, sendo uma

antes da fase projetual” (Moraes, 2010).

possíveis.

Observa-se

(analítica

e

alternativa mais ampla e adaptável a diferentes contextos do universo de projeto. Um importante

Input e Output

mediador da leitura da realidade e do ato projetual,

Este conceito esta muito presente no texto de

auxiliando este último a fornecer as repostas mais

Johnson (Johnson, 2003). Estes dois valores são

adequadas ás complexas relações atuais. Esta leitura

originados na linguagem de computação e na

da realidade possibilita não somente uma solução ou

elétrica. Através de experimentos juntamente com

resposta para uma problemática, mas sim abre um

programadores de softwares, Johnson chegou a

campo de possibilidades e situações distintas, antes

conclusão que só é possível controlar os dados de

não percebidas ou levadas em conta pela prática

inserção dentro de um sistema, os inputs. Em outras

projetual tradicional.

palavras, por intermédio de uma seleção de dados associados a alguns algoritmos (regras), o sistema

Conceitualmente, lida inteiramente com os dados

se desenvolve continuamente, e o seu idealizador

que compõe o “input”, atuando predominantemente

perde o controle sobre o resultado, sobre o output.

nas etapas iniciais de projeto. Esta afirmação, defendida pelos seus idealizadores, pode não

Conforme já citado, o metaprojeto pode ser

verdade por completo. O metaprojeto pode e deve

compreendido como o “projeto do projeto”,

atuar durante todo processo de desenvolvimento

o projetar mais especialmente estes dados de

e até mesmo durante a vida útil do mesmo, uma

“input” dentro de um sistema especulativo. Afasta-

vez que a realidade liquida criam necessidades

se, portanto, a metodologia meramente como

diferentes freqüentemente. Poder se adaptar e

uma produção linear e técnica, mas sim a da

readaptar pode fazer parte todo o processo e não

produção e reflexão de uma realidade. Com isto, o

apenas no inicio de sua composição ou definição

metaprojeto pode ser não apenas um definidor dos

do “concept”, dando os subsídios de reconstrução

dados de “input”, mas também um componente

projetual. ,

importante de definição de possibilidades e regras do sistema no qual estes “inputs” e “outputs” estarão

O

metaprojeto

é

um

percurso

projetual

de

inseridos. Provavelmente, a única etapa pela qual o

observação da realidade e da não definição de

metaprojeto não atua é o “output”. Considerando

uma solução, mas sim da exposição de diversos

ainda que o metaprojeto possa ser mais dinâmico

20

prática expandida - experimentação conceptiva


do que os autores propõe, pode-se imaginar que estes “inputs” e sistemas sejam dinâmicos, a partir de uma reavaliação constante dos resultados (“outputs”) deste conjunto combinados com a fluidez da modernidade. Operar este conjunto constantemente pode ser uma resposta interessante a modernidade liquida. Pressupõe-se, portanto, que o sucesso de um projeto está diretamente ligado a capacidade de operar os “inputs” e o sistema e avaliar constantemente os “outputs”. Top Down (discurso) x Bottom Up (diálogo) Os sistemas Top-Down são tipicamente hierárquicos, onde uma significativa parte do processo é desenvolvida linearmente, de cima para baixo. Já o sistema Bottom-Up se difere por esta relação não ser vertical, mas horizontal, onde o coletivo é a prioridade ante o individual. Em um cenário multidisciplinar fica clara a relevância deste sistema. Steven Johnson, em seu livro “Emergência” (2003) exemplifica isso neste trecho: “múltiplos agentes interagindo dinamicamente de diversas formas, seguindo regras locais e não percebendo qualquer instrução de nível mais alto” (Johnson, 2005, pg. 15) Estes sistemas emergentes, segundo a visão de Johnson, são observações da interação entre sistemas diversos que geram padrões aplicáveis. Processos emergentes, complexos e autoorganizaveis (Johnson 2003) tornam-se fundamentais para caracterizar sistemas operados “top-down”,

Cenpes Petrobras, Zanettini Arquitetura, RJ - 2010 Projeto pioneiro na integração entre espaço de trabalho, lazer e meio ambiente. O processo de projeto também seguiu esta visão de conjunto, uma vez que diversas disciplinas (arquitetura, programação visual...) trabalharam juntas em um sistema bottom-up

ante operados “bottom-up”(Johnnson 2003). A simbiose entre as disciplinas é importante, pois somente com uma organização neste sentido que as partes conseguirão se compor de uma

novos pensamentos

21


reconhece isto, e busca uma terceira alternativa a estes sistemas, onde a escolha pelo “top-down” e “bottom-up” é o resultado de regras inicialmente estipuladas em um projeto, que serão submetidos a alguma análise para se definir qual dos dois caminhos seguir. Produção integrada Para entrar melhor no assunto, observa-se o artigo de Márcio Fabrício para a revista PÓS. Neste artigo, o autor explora o conceito de reaproximação entre as partes, remetendo a valores há muito tempo perdidos, quando o artesão ainda tinha o completo controle sobre todas as etapas do processo. Conforme as profissões foram surgindo, e a atividade manual passou a ser mecânica; e muito mais do que mecânica, passou a ser em série, ficou complicado para o profissional ter ampla Digital Water Pavillion, Zaragoza, 2008 Espaço, gráfico e interatividade proporcionam uma nova relação do sujeito com o espaço dinâmico.

visão do projeto como unidade. Os trabalhadores começaram apenas a lidar com a especialidade com a qual eram designados.

forma mais harmônica, pensada conjuntamente e não hierarquicamente. É importante colocar

A profissão de arquiteto pode ser entendida desta

que este sistema de organização proposto pro

forma. O autor usa como exemplo grandes projetos

Johnson é interessante, porém não é totalmente

de empreiteiras, mas este exemplo é plenamente

funcional e aplicável, ao passo que um sistema

aplicável nas demais áreas. O projeto, como um

não necessariamente exclui o outro; o ideal seria

todo, demanda muito mais do que simplesmente

um sistema integrado entre top-down e bottom-up,

a arquitetura. Demanda projetos complementares

aproveitando-se das principais virtudes de cada

a este que são especializados nas suas respectivas

um deles. São compreensíveis as dificuldades em se

funções (exemplos: iluminação, elétrica,

propor um sistema “bottom-up”, pois estes exigem

paisagismo...). Considerando que cada uma destas

uma recombinação projetual que escapa do

disciplinas corresponde a profissionais diferentes,

convencional, obrigando a mudança drástica de

muitas vezes contratados como terceirizados,

visão sobre os processos. Por outro lado, o “top-

costurar todas estas partes pode ser maçante.

down” propõe uma homogeneização produtiva

E realmente é, uma vez que é comum encontrar

de pouco dinamismo, porém mais receptível

projetos com uma infinidade de incompatibilidades

dentro do campo profissional. O próprio Johnson

entre as partes, como uma iluminação que não

22

prática expandida - experimentação conceptiva


se adequa ao paisagismo, ou a arquitetura com

a troca de informações entre as partes. O que

a elétrica. O motivo disto é a falta de visão de

este trabalho propõe é um pouco diferente, mas

conjunto. As trocas de informações ocorrem

valido. Enquanto Fabrício acredita que as trocas

unilateralmente; se por um lado esta troca é mais

devam acontecer tão somente por intermédio

rápida, por outro ela não integra as suas soluções

deste coordenador, aqui a proposta é que as trocas

ao todo, resultando nas incompatibilidades

também ocorram entre as partes, mas que elas

discutidas. Então, o autor propõe um novo sistema

sejam validadas, documentadas e consultadas pelo

de organização do trabalho, no qual o arquiteto (ou

coordenador geral. Para um olhar mais claro sobre

um coordenador geral) se encarregaria de efetuar

as propostas, olhar os gráficos que se seguem.

arquitetura arquitetura arquitetura

elétrica

elétrica elétrica elétrica arquitetura

Márcio M. Fabrício Modelo de organização de equipes arquitetura arquitetura sem coordenação arquitetura

elétrica

elétrica elétrica elétrica

Márcio M. Fabrício Modelo de organização de equipes com coordenação

arquitetura

estrutura estrutura estrutura

estrutura

estrutura estrutura estrutura

hidráulica hidráulica hidráulica

arquiteto arquiteto arquiteto coordernador coordernador coordernador

paisagismo paisagismo paisagismo

hidráulica paisagismo paisagismo paisagismo

paisagismo

paisagismo

comunicação

Sistema de organização projetual top-down

arquitetura arquitetura arquitetura

produto produto produto

arquiteto coordernador

hidráulica hidráulica hidráulica hidráulica

comunicação comunicação comunicação

estrutura

produto produto produto

gráfico gráfico gráfico

reflexão metaprojeto?

arquitetura

produto

urbanismo urbanismo urbanismo

sistema de sistema sistema dede regulação e regulação regulação e e reflexão reflexão reflexão metaprojeto? metaprojeto? metaprojeto?

Sistema de organização sistema de projetual regulação e bottom-up

urbanismo produto urbanismo urbanismo

gráfico urbanismo arquitetura gráfico comunicação arquitetura gráfico arquitetura gráfico arquiteturacomunicação comunicação

gráfico

urbanismo

novos pensamentos

23

comu


24

prática expandida - experimentação conceptiva


METODOLOGIAS E PROCESSOS Como visto, a metodologia não deve ser dada a priori; ela deve ser construida conforme o desenvolvimento, conforme o projetista se aprofunda no universo de trabalho. É compreensível que permitir a abertura dentro de uma proposta é uma tarefa dificil de ser visualizada, ainda mais quando métodos muito consolidados e estabelecidos são o ponto de partida. Propor uma nova forma de se projetar passa

outros, é verdade, porém inovações sempre estão

a ser um desafio para aqueles que já estão ou

sendo debatidas e propostas, sejam por projetos,

foram iniciados no universo do projeto. Como

instalações, métodos pessoais ou simplesmente

conseguir criar e recriar processos em um cenário

pelas idéias. Experiências que refletem em diversos

já consolidado? Ainda mais na arquitetura, onde

pontos do universo do projeto sejam na concepção,

sua lentidão em reconhecer e absorver novos

na execução ou na observação de uma

pensamentos afasta muito dos interessados na

oportunidade de trabalho.

investigação. Mais assustador é como esta atividade de experimentar metodologias pode ser absorvida

Neste ponto do trabalho haverá uma

por um mercado cada vez mais intransigente

exemplificação de como estes corajosos novos

e pouco receptivo ao novo, ao diferente. O

produtores tem se esforçado no objetivo de ampliar

próprio arquiteto Mies van der Hoe afirmava

os horizontes projetuais. E muitos outros poderiam ser

constantemente, quando questionado sobre a

citados, entretanto os aqui colocados não foram

semelhança muito grande entre seus projetos,

selecionados por acaso; cada uma delas terá uma

justificava que era impossível criar um projeto novo

contribuição importante para o desenvolvimento

toda a segunda-feira. De fato, o arquiteto estava

do trabalho e das idéias que se seguirão. Portanto,

correto, mas vale lembrar que o cenário no qual

antes de avançar para fase propositiva e o inicio

projetava era o estático modernista, e hoje as

das etapas produtivas, explorar um pouco a estes

novas metodologias e processos são obrigados

processos e metodologias pode ser edificante, pois

a investigarem e celebrarem as diversidades

quando aliadas aos novos pensamentos, ajudarão

Mesmo assim, iniciativas experimentativas existem,

na compreensão da seqüência do trabalho.

e não são poucas; alguns se arriscam mais que

Projeto concurso La Villete - OMA Representação marca época ao dispensar dados técnicos e investir no didático e no estudo das sensações

metodologias e processos

25


Além do programa

seus olhares sobre problemas reais e propuseram

Em “novos pensamentos”, guiados na busca de

soluções por eles mesmos, independente de outros.

novas respostas para novos programas, alguns arquitetos/designers se propuseram a rastrear

Danish Superharbor - BIG

necessidades bem contemporâneas, antecipando-

Esta proposta tem origem a partir de uma

se a possíveis clientes que as solicitassem. Esta

interessante observação do grupo BIG (Bjarke Ingels

atitude passa a ser determinante na compreensão

Group sediado em Copenhagen, Dinamarca) sobre

metodológica e profissional atual, segundo os

o território e os portos da Dinamarca. Eles notaram

fatores já mencionados. O posicionamento perante

que a Dinamarca possui muito mais área de mar do

os problemas e as propostas para os mesmos pode

que de terra (aproximadamente o dobro) e a sua

ser algo novo e enriquecedor, porém muitas vezes é

costa possui dimensões muito significantes, sendo

ignorado por boa parte dos projetistas, em especial

que 2/3 da população reside nas suas proximidades.

arquitetos. Estes ainda preferem abordar a sua

Entretanto, boa parte desta costa esta ocupada

profissão como uma resposta direta a um programa

por atividades portuárias, que representam apenas

estabelecido e não como um possível exercício na

uma pequena fração na economia do país (ainda

construção do mesmo. O design, auxiliado pelo

mais comparada ao turismo, por exemplo). Eles

“design thinking” (TIm Brown, 2010), conseguiu

acreditam que usam seus melhores lugares com

avanços notórios neste sentido. Existe, portanto,

o objetivo errado. Então, baseado em uma nova

uma quebra tradicional do programa, agora não

demanda naval européia, que se expande para

mais fornecido ou solicitado por terceiros; o próprio

o leste, e a necessidade de um novo porto que a

projetista pode ser o construidor de seu programa,

comporte, o escritório propôs um zona portuária

observador e desenvolvedor das necessidades.

localizada no meio do mar báltico, entre a

Possivelmente, não existe melhor articulador que

Dinamarca, a Holanda e a Alemanha. Este novo

este, uma vez que está imerso em universo de

porto, além de ter uma localização estratégica,

projeto ao qual domina amplamente. Aqui serão

libera parte da costa dinamarquesa para outras

mostrados dois exemplos de como profissionais (no

atividades que são mais lucrativas para o país

caso da arquitetura, mais especificamente) teceram

(como o turismo). O projeto foi de absoluta iniciativa

Danish Superharbor-BIG Projeto proposto pelos arquitetos ao governo dinamarques e alemão, a partir da observação de se liberar território na costa dinamarquesa para o turismo e adequar o suporte naval nacional as demandas européias.

26

prática expandida - experimentação conceptiva


do escritório e de seus profissionais, sem um

espaço. Pode parecer conflituoso, mas é a grande

intermediador ou cliente que a solicitou. Quando

virtude dessa prática. Fora a questão libertária,

levado e apresentado às autoridades responsáveis

que leva a pensar na arquitetura como um meio

e possíveis clientes, certa resistência aconteceu,

não como um fim em si mesmo, e a desenvolver

entretanto, para a surpresa do próprio grupo, a

projetos sem as amarras do programa, do partido,

proposta foi aceita e hoje se encontra em fase de

do conceito. É a arquitetura insurgente da própria

construção.

dinâmica do espaço – uma operação de vazios. Os projetos deste grupo instigam pela diversidade

Studio for Unsolicited Architecture - NAI

e criatividade de produção, indo desde festas

Esta atividade é uma proposta inovadora do

construídas com guarda-chuvas até pintar faixas de

escritório holandês, que propõe uma forma liberal

pedestres no chão.

de produzir arquitetura sem estar atrelado a clientes, orçamentos ou programa definidos. O projeto surge

Métodos experimentais

através da observação, especulação, análise

Indo em outra direção da produção inovadora, ao

e digressão de aspectos da dinâmica social do

invés de lidar com o encontro de um programa e de

ambiente urbano, observando a interação entre

uma proposta, será abordada a experimentação

as pessoas e cidade, propondo uma intervenção

como desenvolvimento projetual. Em alguns

arquitetônica que propicie isto. Este estúdio é

casos, são apenas respostas diferentes ou ousadas

itinerante, promovendo diversos workshops pelo

das mesmas solicitações de projeto, apenas

mundo, inclusive no Brasil. A proposta surge através

experimentando alguns aspectos do projeto,

do estudo especifico das relações das pessoas com

como forma e linguagem. Uma experimentação

os locais e propõe intervenções que intensifiquem

pontual. Já em outros casos, esta experimentação

essas relações. Muito antes de se propor a resolver

é mais profunda; a experimentação torna-se uma

problemas ‘sociais’, onde a arquitetura é um ator

ferramenta importante de validação de escolhas

coadjuvante comportando um programa, coloca a

e até mesmo de construção de programas e

arquitetura como protagonista do espaço urbano,

definição de processos. Seguem alguns casos de

sendo ela a mediadora entre as relações e o

destaque.

The Bucky Bar - Studio for Unsolicited Architecture - NAI Projeto construído em uma tarde, em uma praça central de Amsterdã. É uma estrutura simples de guarda-chuvas que abrigam DJs, formando uma balada espontânea e momentânea, fechada com a chegada da polícia.

metodologias e processos

27


Expanded Pratice : Höweler + Yoon - MyStudio

atividade interdisciplinar notável. A combinação

Como mencionado, a experimentação

(ou mescla) da arquitetura com instalações criam

metodológica da dupla de arquitetos foi

valores combinados e recombinados dentro de

fundamental para a idealização deste trabalho;

contexto. Mais que isto, permite uma reavaliação

não por menos, o batismo de suas atividades

e trabalham constantemente com as resposta dos

nomeia este trabalho. A prática consiste no uso

usuários, resultando em uma importante análise

da tecnologia como a ferramenta protagonista

do sistema, permitindo o reajuste e a adaptação

na composição projetual, ao passo que permite

do mesmo conforme os dados obtidos. Em alguns

novas interações dos espaços com os sujeitos

pontos, os experimentos ultrapassam a mera

que os usam. Além disso, eles usam e abusam

intenção de promover a interação, passando a ser

de sensações diferentes, como luzes e sons para

um poderoso coletor e denunciador das atividades

produzir novas percepções espaciais, em uma

e comportamentos humanos. Portanto, a dupla se

White noise white light - Atenas, 2004 Instalação interativa mesclando luzes e sons que respondem ao movimento das pessoas conforme estas o percorrem, conturbando um ambiente inicialmente estático.

LoRezHiFi - Washington, 2005 Instalação interativa, onde luzes captam o movimento das pessoas e reproduzem em um telão de LED, descriminando uma série de comportamentos naquele espaço.

Light Drift - Intersect - Philadelphia, 2010 Instalação de órbitas luminosas que interagem uma com as outras estimuladas pelas ondas e distúrbios do rio.

28

prática expandida - experimentação conceptiva


aproxima de uma inovadora forma experimentativa de contribuição indispensável para a composição de um programa, podendo ser considerada uma prática inserida no metaprojeto, apesar de em nenhum momento clamarem por tal definição em suas pesquisas. Stephan Henrich - Robotic architecture No sentido das novas experiências originadas pela tecnologia, este arquiteto propõe um novo caminho para se pensar às formas e a linguagem. Usando programas paramétricos, ele cria composições lúdicas partindo de algoritmos gerados segundo alguns critérios pré-estabelecidos. O resultado são formas únicas, ousadas e singulares, apesar da linguagem se aproximar bastante das possíveis pelos programas paramétricos. Existe uma aproximação muito forte da produção de Henrich com a máquina; o próprio nomeia suas criações como máquinas que devem cumprir determinadas função perfeitamente. Se por um lado, temos uma metodologia tradicional no sentido de respeitar um programa previamente pensado, a intenção de procurar novos caminhos para se compor formas e linguagens associadas com funções é uma atitude de destaque. Maquetes - OMA O escritório de Rem Koolhaas é um dos grandes incentivadores das novas produções e pensamentos. É de seu grupo de profissionais uma das mais simbólicas mudanças na forma de pensar e apresentar o projeto, através da proposta para o parque La Villete, em Paris. Mas o escritório não se resume apenas a esta investida; é recorrente encontrar entre seus trabalhos experimentações volumétricas com maquetes, em especial de

Stephan Henrich Produção digital permite uma combinação de funções convencionais com estilo, forma, e linguagem robótica.

metodologias e processos

29


Estudo maquetes - OMA Estudo de maquetes, aliada a um programa pré-estabelecido, define as formas e linguagens das construções.

caráter lingüístico. Apesar de seguir a tradicional

ciada. Assim como o OMA, o EMBT não se dispõe a

composição programática da metodologia, ele

reavaliar o programa ou abrir as portas para novas

deixa que as formas e as funções fiquem abertas

percepções e articulações, entretanto o caminho

e, a partir de interações com diversos materiais

projetual que utiliza para definir as linguagens de seu

durante a composição física, recria novas

trabalho é particular. Aqui, ao invés de maquetes

disposições e relações. As maquetes, portanto,

físicas, encontram-se outras composições tendo as

contribuem significativamente para definição da

texturas como ponto de partida, por meio de “ima-

linguagem do projeto e para as composições

gens referenciais” que possuem algum tipo de liga-

formais e funcionais nela presentes, apesar de não

ção com o objeto de projeto. A construção e união

se aprofundarem no questionamento de nenhuma

destas imagens geram gráficos de intensidade

delas.

forte, quase como colagens de referências, que ao se comporem abrem espaço para definições de

Colagens - EMBT

linguagens e formas. Neste sentido, a metodologia

Este é um outro escritório que investe na diversidade

afasta-se da modernista, pois desconsidera a téc-

produtiva e na metodologia de projeto diferen-

nologia como parte indispensável da linguagem (a

Colagens - EMBT Montagem de imagens associativas ajudam a criar um sistema de referências que será importante na definição da linguagem e da forma projetual.

30

prática expandida - experimentação conceptiva


honestidade dos materiais), indo em direção a uma nova construção lingüística avaliadora do cenário de inserção projetual. As sombras - Antony Vescardi Para finalizar, após serem citados processos de diversas naturezas, algumas que se aproximam muito do cenário dinâmico e fluido da modernidade, enquanto outros que propõe apenas enfrentamentos diferentes do desenvolver projetual, mais um caso desta última situação serão estudados. A produção de Vescardi extrapola por completo as referências anteriores de desenvolvimento projetual (maquete e colagem) indo em direção a uma nova apropriação e composição. O processo de trabalho é complexo: ao se observar estrutura pré-existente sobre a incidência de uma fonte de luz, uma série de sombras projetadas sobre um plano são obtidas. A interação entre as estruturas e as sombras obtidas da projeção gera uma metodologia particular, de cheios e vazios, que passam a enriquecer o universo do projeto. Este conceito, batizado de “mapeamento das sombras” pressupõe o ato de projetar através da construção das sombras, imaginando como formas e linguagem podem se combinar no sentido de nova possibilidade e desdobramentos. Isto gera uma reação em cadeia, onde a construção inicial gera uma sombra, que depois passa a ser construída, para depois gerar uma outra sombra a ser construída novamente. Uma relação cicilica, porém sempre descobridora e nova. Mapeando as sombras - Antony Vescardi Em uma atividade educacional, metodológica e investigativa Vescardi propõe obter novas formas a partir da sombra de estruturas existentes. Em um ato continuo de leitura e releitura, ele incentiva a constante descoberta e os possíveis desencadeamentos que esta prática pode atingir, ao repetir o processo exaustivamente com um mesmo objeto origem.

metodologias e processos

31


PROPOSTA INICIAL As abordagens previamente descritas criaram o escopo de trabalho que deverá ser seguido. Os mecanismos que serão usados são bem próximos aos do metaprojeto, onde o objeto de trabalho não é o projeto em si, mas sim todas as variáveis que orbitam a esfera deste projeto e possibilitam que tal exista dentro da liquidez da contemporânea. Portanto, o que será feito aqui são estudos completamente abertos, sem nenhuma indicação definitiva, mas todos embasados na realidade, onde o campo das possibilidades e potencialidade de um sistema é a grande chave. Assim como visto, o primeiro passo a ser dado é a observação, ou o “problem finding”. A partir de um olhar crítico, uma necessidade urbana e cotidiana será encontrada. Esta necessidade deve permitir o trabalho interdisciplinar, que aqui ficará restrito apenas as tradicionais disciplinas de projeto (arquitetura, urbanismo, design), pois um verdadeiro trabalho entre disciplinas exigiria uma interrelação profissional que aqui não será possível. Não será uma observação pura por completa, uma vez que o “objetotema” deve corresponder a algumas expectativas de trabalho, como a integração entre arquitetura e programação visual.

Portanto, dentro desta possibilidade, a necessidade será encontrada e desmontada, para que seus problemas, relações, adversidades possam ser explorados. Como o ato de projetar trilha o constante caminho da desmontagem e remontagem, a etapa de observação se estenderá até o ponto em que praticamente todas as fontes de averiguação estejam bem estudas, possibilitando assim remontagem deste sistema com base nestes dados. É importante reafirmar como esta observação será indispensável para uma reconstrução dos sentidos. Nesta remontagem, serão propostas diretrizes e programas alternativos e multidisciplinares, que visão a solução do conjunto e não a desfragmentada.

Dentro do metaprojeto, estaria sendo explorando todo o conjunto compreendido pelos inputs e o sistema, no qual os primeiros seriam as análises obtidas pela desmontagem do objeto tema e o sistema as propostas de construção deste sistema conforme um programa e diretrizes. Por outro lado, para não cair em um senso de estranhamento e subjetividade, algumas possibilidades de outputs serão desenvolvidas, apenas em caráter expositivo/indicativo, mas que servirá como ilustração dos objetivos alcançados pelo processo. Assim, o produto final serão todas as condicionantes para a execução de um ou mais projetos, diferentes ou iguais em essência. O resultado será apresentado na forma de concepts de desenvolvimento, ilustrações conceptivas de comportamentos e intenções sem a necessidade de se preocupar com as questões técnicas e construtivas.

Levando em consideração a próxima etapa, a de observação, será mais detalhado como será feita esta seleção, quais 32

prática expandida - experimentação conceptiva


serão os critérios usados. Em um primeiro momento, ocorrerá a observação; a observação acontece no momento em que a crítica se da conta de um problema presente e que se faz necessário a algum tipo de usuário/consumidor . Esta observação abrange diversas frentes de pesquisa e pensamento, indo desde observações de sintomas urbanos característicos de certo recorte, até comportamentos pontuais da sociedade. A seleção deveria ser feita crua, simplesmente como uma resposta a um problema; em um cenário ideal, isto é possível, mas para conseguir abranger todas as possibilidades projetuais imaginadas, ela deve corresponder a algumas expectativas preliminares. Elas são diversas, mas as principais e que serão determinantes são as disciplinas e o dinamismo. O objetivo é conseguir trabalhar com uma tipologia que permita a transição pelas diversas disciplinas do universo projetual (aqui considerado espaço, urbano, gráfico e produto) além dos subjetivos., que não serão explorados por exigirem maior comunicação com outros profissionais. Além deste, o grande motivador desta seleção é o dinamismo, por ser um forte sinalizador das mudanças estudadas pela modernidade líquida, de valores pouco duráveis e constantemente mutáveis. Encontrar uma possibilidade projetual que induzisse a esta última abre possibilidades que se fazem tão importantes quanto o próprio trabalho multidisciplinar. Portanto, encontrar uma tipologia, um “objeto-tema”, que corresponda a todas estas virtudes e que articule estas possibilidades para um estudo aprofundado e experimentativo é o próximo passo deste trabalho. cotidiano necessidades comportamentos

investigação viabilidade

OBSERVAÇÃO

dinamismo

aplicação ANÁLISE ciclo de vida estratégias disciplinas desmontagem

remontagem

SELEÇÃO espaço urbano gráfico produto outros

proposta inicial

33


34

prática expandida - experimentação conceptiva


OBSERVAÇÃO Necessidades cotidianas. Usos corriqueiros. Serviços esporádicos. Através de um olhar constante de análise e crítica, foi feita uma pré-seleção de algumas possibilidades de projeto. Os critérios fundamentais de seleção eram que esta necessidade oferecesse a possibilidade de trabalhar o espaço (físico ou virtual) interdisciplinarmente e com certa dinâmica. As possibilidades foram abrangentes, indo desde lojas, redes sociais e até sex shops. Inicialmente, estes critérios de seleção não deveriam ter um olhar viciado, sendo que as propostas e diretrizes surgiriam conforme a investigação do mesmo e de um estudo de elementos cabíveis de inserção em um programa multidisciplinar. E, como já esperado, ao invés de uma seleção restritamente oriunda da observação, houve uma constante análise das possibilidades e potencialidades antes da escolha do mesmo. Por exemplo, a escolha de determinada tipologia de projeto poderia desviar praticamente todo o foco do trabalho, distanciando as soluções propostas das pensadas em um primeiro momento. Isto expõe um problema dentro da seleção: nem todas as tipologias permitem um trabalho de linguagem aberto o suficiente que possibilitassem a experimentação. Diversos fatores podem reduzir estas possibilidades, como excessiva importância de um valor regional (como um conjunto habitacional) ou um estilo de vida próprio, muito especifica. Portanto, a escolha deveria ser criteriosa o suficiente para compreender os limites de cada uma das propostas levantadas. Dentre estas propostas, basta lembrar que o fator “multidisciplinar” foi muito presente; foi, na verdade, a circunstância principal de escolha, pois com ela as articulações em diversos níveis de comunicação ficariam muito mais evidentes, seja na definição de um mobiliário, escolha de texturas em uma parede ou composição de materiais gráficos.

Night Club em Berlim, Alemenha Casamento entre arquitetura e design visual, música e interatividade.

observação

35


Com base nestes critérios, a tipologia selecionada

e oferecem não somente riscos aos usuários, como

foram os centros noturnos de entretenimento

também falta de conforto e adaptação aos usos.

e

conhecidos

como

Existe também pouca interatividade do usuário

“baladas”. Diversos fatores pesaram para

sua

com o espaço em si; alguns ainda propõem uma

escolha,

socialização,

popularmente

aos

interação entre a musica e painéis animados

critérios postos como excenssiais. Em princípio,

digitais, mas esta relação poderia acontecer em

o que foi mais notório é como este tipo de

outras esferas também, em espacial naquela em

construção

a

que o sujeito não se dá conta que esta imerso

paisagem urbana. Normalmente são construções

no espaço. Por fim, outro ponto importante é a

para

noturno,

liquidez que este tipo de entretenimento possui.

dispondo fachadas pensadas para este propósito.

É comum que diversos destes espaços tenham um

Com isto, é normal a presença destas “manchas”

ciclo de vida reduzido, é a própria proposta do

dentro da paisagem, que ganham outra dimensão

formato. Desta forma, sempre existe renovação de

à noite, mas que de dia são apenas grandes

conteúdo e público, para que sempre exista um

vazios. Outro ponto favorável a sua escolha foi

frescor de novidade e o empreendimento renove-

à concepção deste espaço. A grande maioria deles

se no primeiro sinal de desgaste. Esta dinamica

são adaptações de armazéns, galpões e edifícios

acaba sendo decisiva na escolha de um sistema

em desuso. Nenhum problema quanto a isto; porém

projetual

estas adaptações muitas vezes não são adequadas

expectivas de determinados usuários.

36

uso

sendo

o

principal

contribui quase

que

corresponder

negativamente exclusivamente

para

prática expandida - experimentação conceptiva

flutuante,

respondendo

sempre

as


Peccato Night Club - SP Casa noturna paulista de simples fachada e difícil identificação durante o dia

observação

37


Investigação Nesse ponto, com a tipologia devidamente selecionada, é importante que a mesma seja desvendada para deixar mais claro o leque de possibilidades que permite. E não existe nada mais apropriado neste caso do que um profundo estudo de caso, com o objetivo de evidenciar necessidades e valores em cada um dos projetos relacionados. A posse deste estudo dará condição para o desenvolvimento de um programa mais consciente e próximo de uma necessidade ideal. A primeira observação é a mais objetiva possível: uma rápida análise destes estabelecimentos na cidade de São Paulo. Neste mapeamento, grande parte dos projetos estão alojados em edifícios adaptados ou reformados para o seu uso, em especial grandes galpões industriais em desuso. Por tanto, é muito comum encontrar estas tipologias em locais da cidade que já abrigaram edifícios com tal finalidade, como por exemplo, a Vila Leopoldina e o Brás, resultando em trechos das cidades canalizadores destes serviços. Outro lugar que concentra uma quantidade relativamente alta é a Vila Olímpia, cuja urbanização recente associada às dimensões dos lotes propiciaram um centro noturno interessante. Entretanto, este formato carrega consigo uma vantagem: a adaptação destes logradouros não esta apenas limitada a estes grandes galpões e antigos moinhos, mas também a outras construções de menor porte, como residências, facilmente encontradas no bairro da Vila Madalena (SP), por exemplo. Ainda em outros casos, são encontradas situações extremas, tanto para pequenos espaços quanto para grandes. Para pequenos, podemos citar a

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prática expandida - experimentação conceptiva

Skol Sensation 2010 Ambientação no Anhembi com instalações infláveis para aproximadamente 40 mil pessoas

Casa 92 Casa adaptada para baladas, sendo cada um dos ambientes projetos para sumularem um festa em casa


adaptação de terraços e de porões; para os grandes, o Anhembi (que recebe festivais e shows com certa freqüência) e até mesmo grandes campos abertos, como chácaras, que recebem tanto shows quanto “raves”. Esta variedade de instalações indica uma propriedade importante: o espaço incorporado por uso não necessita obrigatoriamente transformar o mesmo, mas podendo se adaptar, inclusive em alguns casos incorporando a própria construção como parte das suas características. É o caso do Moinho Santo Antônio, em que o edifício original, suas texturas e materiais, compõem o espaço juntamente com os elementos específicos inseridos posteriormente para o projeto. Outros espaços optam exatamente pelo oposto. Em alguns casos, como a Casa 92, uma casa foi inteiramente reformada, cada um dos ambientes projetados por artistas, arquitetos e designer diferentes, com o objetivo de simular uma festa em casa,

sendo as ambientações importantes nesta função. O Sub - Astor também é outro exemplo desta característica, onde um porão foi ocupado com a intenção de criar um ambiente intimo e restrito. Talvez o exemplo mais importante deste isolamento da intervenção em relação ao espaço que o suporta sejam os eventos esporádicos, como os festivais eletrônicos e as “raves”. Nestes casos, grandes espaços abertos (chácaras) ou fechados (como grandes salões de exposições) são usados eventualmente, recebendo instalações que não devem alterar suas construções, adotando soluções temporárias. Esta diversidade de instalações permite possibilidades interessantes, reconhecendo o fato

Moinho Santo Antônio Grande moinho adaptado para as funções de uma balada, ainda assim presevando as características originais do espaço

Sub- Astor Porão é o suporte de um ambiente intimo

que qualquer lugar pode de fato abrigar este uso, contanto que se aparelhe dos instrumentos específicos(que serão tratados mais adiante).

observação

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A variação na ocupação trás consigo alguns problemas, especialmente espaços mal preparados para receber tais eventos; claramente “nãoprojetados”, muitos sofrem com diversos problemas, como ineficiência acústica, ausência de um número suficiente de sanitários, péssima adequação as leis de segurança, péssimas condições de conforto, entre outros. Muitos ainda se adaptam Fumódromos Espaços inadequados tentam se adaptar as novas leis anti-fumo

corriqueiramente e despreparadamente às novas leis, como a da proibição de fumar em ambientes fechados regulamentada pelo governo do estado de São Paulo, muitas vezes ocupando áreas externas e não propícias (como calçadas), tornando-as “fumódromos”.

The Edge (primeira) e Studio SP (segunda)- São Paulo, SP Fachadas pouco expressivas escondem interiores e não sinalizam uso

Outro fator importante para se observar são as fachadas de tais ocupações. Muitas vezes, os rearranjos internos dos espaços pouco influenciam na estética externa destas construções. Ao contrário, a maioria destes espaços acabam por possuir fachadas absolutamente inexpressivas durante o dia, mas que a noite, com o auxilio das luzes de, ganham vida, É até mesmo complicado definir o seu uso durante o dia, o tornando em um absoluto “fantasma” e irreconhecível para quem o vê em outras horas do dia. Interessante como este fenômeno se assemelha muito com uma famosa cidade: Las Vegas. Robert Venturi explora muito isto em seu livro, Aprendendo com Las Vegas (Venturi, Brown, Izenour 2003), desvendando como a cidade

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prática expandida - experimentação conceptiva


é transformada durante a passagem do dia para a noite, criando novas profundidades e relações muitas vezes bastante persuasivas. Este fenômeno acontece, pois existe uma necessidade evidente de criar uma vida noturna chamativa, de destaque, fazendo com que os visitantes da cidade sintam-se atraídos e dispostos a freqüentar tais lugares, sendo cassinos e hotéis em sua maioria.

Las Vegas - dia e noite Diferença de profundidade e persuasão.

Enquanto algumas “baladas” e night clubs optam

a formulação de diretrizes. A primeira é a Roxy/

por soluções fáceis e quase provisórias, que na

Josefine, do arquiteto Fred Mafra, na cidade de

maioria das vezes são desagradáveis para os

Belo Horizonte, mesclando de forma contundente

freqüentadores, outras vão contra a maré e se

o espaço com o grafismo e a iluminação; na

propõe a seguir soluções não tão simples, mas muito

seqüência a D-edge, do artista Muti Randolph e dos

mais eficazes e interessantes. E exemplos não faltam,

arquitetos da Triptyque, na cidade de São Paulo,

em diversas partes do mundo e também no Brasil,

que compreenderam a comunhão entre arquitetura

algumas delas inclusive servindo como referência

e design visual desde as etapas preliminares de

em diversas publicações especializadas. Aqui

projeto; e o Lab Club, do grupo multidisciplinar

serão expostos três destes projetos, escolhidos por

RISCO, também na cidade de São Paulo, resultando

apresentarem singularidades importante de serem

em um interessante trabalho que abrange diversas

ressaltadas e que contribuirão decisivamente para

disciplinas, até mesmo a gastronomia molecular.

observação

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Roxy/Josefine Arquiteto: Fred Mafra Ano: 2007/2011 (reforma) Belo Horizonte - MG Área construida: 955m2 Capacidade: 1500 pessoas Espaços (áreas aproximadas) Área fumantes - 55m2 DJ - 72m2 Pista - 420m2 Lounge Lounge vip Bar Cozinha Depósito Copa Escritório

Camarim Entrada Check-In Chapelaria Palco Área técnica Check-out Banheiro masc - 8 cab. Banheiro fam. - 6 cab. Banheiro acessi. - 2 cab.

Reforma e ampliação de uma casa noturna já

desenvolvimento foram à comodidade, o escapismo,

existente, com uma proposta de união entre

a flexibilidade e a tecnologia. O principal elemento

sensações

ambientes,

de linguagem são os hexágonos, que são explorados

alguns compostos de materiais reluzentes e grafismos

em diversos tamanhos e proporções. Estes hexágonos

e outros somente por luzes e formas geométricas.

se espalham por todas as paredes internas e

Possui três bares (localizados próximo as pistas de

também pelo forro e, com o auxilio de luzes de LED,

dança), quatro camarotes vips (podendo serem

proporcionam outra forma de tridimensionalidade,

recombinados e transformados em apenas um),

além de dinâmicas luminosas singulares.

estimuladas

por

diversos

dois lounges e área para fumantes com teto retrátil. Segundo o autor do projeto, os pilares de

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prática expandida - experimentação conceptiva


D-Edge Arquiteto: Muti Randolph / triptyque arch. Ano: 2003/2011(reforma) São Paulo - SP Área construida: 648 m2 Capacidade: 900 pessoas Espaços Acesso Caixas Administração Pistas Lounge

Casa de música eletrônica, trazendo uma proposta

ambiente dinâmico, fluido, que se altera como se

de interiores que utiliza um software que sincroniza

o ambiente estivesse tremendo, interagindo. Este

o jogo de luzes com as musicas e as animações

aspecto só é compartilhado pelas pistas, enquanto

projetadas nas paredes, pisos e tetos. É uma outra

os demais espaços, como os lounges e bares (o

experiência de vivência espacial, através das

afastado sãs pistas), são mais tranqüilos e menos

ondas sonoras que alteram a arquitetura do espaço

agitados.

conforme os ritmos das músicas. O conjunto e sobreposição de luzes se entrelaçam, criando um

observação

43


Lab Club Arquiteto: Risco São Paulo - SP Área Construida: ? Capacidade: 226 pessoas O antigo galpão da rua Augusta foi parcialmente reformado, mantendo suas características principais, recebendo um anexo funcional com escadas, banheiros e administração. A ligação entre o antigo e o novo é feita através de uma estrutura de metal e vidro, que, desde a fachada, percorre todo o galpão – um dispositivo transitável que abriga bares, caixas e passagens, ao tempo em que serve de suporte cenográfico para projeções que iluminam o ambiente. Descendo a meio nível, ao ar livre, há um quintal com jardim, banco e deque de madeira, onde se pode fumar. No piso inferior fica uma pista intimista, envelopada de borracha, com projeção widescreen atrás do DJ e um dinâmico sistema de iluminação em leds. O projeto de arquitetura e identidade visual do LAB é assinado pelo estúdio RISCO, que participou da concepção e implementação do clube, de maneira coordenada, no sentido de um design total: auxiliou os proprietários na escolha do imóvel, desenhou a reforma do espaço, equipamentos funcionais (bancadas,

balcões,

sofás,

apoios),

displays

promocionais, logomarca, sinalização, cardápios e site. O

bar

transcende

a

proposta

multidisciplinar

com a coquetelaria molecular, tendência da mixologia contemporânea que aplica técnicas e equipamentos da vanguarda gastronômica mundial na elaboração de drinks, alterando a estrutura física e química de ingredientes para a criação de novas texturas e formas.

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prática expandida - experimentação conceptiva


Além destes projetos, alguns outros exemplos mais pontuais contém interessantes características. Ainda na cidade de São Paulo, encontra-se a Disco Club, do arquiteto Isay Weinfeld. Aqui, um antigo galpão foi reformado, propondo uma série de alterações de materiais, revestimento e linguagens conforme o tempo, resultado em um frescor constante ao espaço. Um exemplo mais singular é balada Sonique, localizada em São Paulo, onde eventualmente ocorre a chamada balada silenciosa; com fones de ouvido ao invés de caixas de som, o público interage de outra forma, resultando em novas percepções e vivências. Outro exemplo, já previamente citado, é o festival eletrônico Skol Sensation, que desenvolve uma linguagem particular com balões infláveis e muitas luzes, criando o espaço de uma forma diferente e propicia, escapando da tradicional solução construtiva.

Balada silenciosa Sonique Interações acontecem conforme a música, aqui por meio de fones de ouvido

Disco Club Ambiente mutável, sempre com novidades visuais

Skol Sensation Associação entre balões infláveis e luzes compõe o ambiente

observação

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Já no cenário internacional, encontramos outras características pertinentes. A Berghain Berlin é possivelmente uma das mais interessantes. Aqui, o espaço é composto em um antigo edifício claramente identificado com a linguagem da arquitetura alemã, com sua rigidez formal, simetria e peso. Existe um respeito muito grande pelo edifício original, já que todo ele foi completamente preservado, tornando a única intervenção o jogo de luzes na fachada e alguns dos revestimentos existentes internamente.

Berghain Berlin Jogo de luzes respeita o edifício e é a principal linguagem da balada

Berghain Berlin Material gráfico de divulgação (flayer)

Outra curiosidade nesta balada são as diversas campanhas desenvolvidas periodicamente, buscando atrair públicos diversos. Neste caso, uma série de artistas são convidados para fazerem as artes do material gráfico de divulgação e produtos de venda (como suvenirs). Estes produtos não apenas atraem o público, mas dão um frescor de novidade e renovação constante ao empreendimento. Entretanto, uma linguagem central sempre é mantida, aproximando-se todas as linguagens esporádicas a um tom sublime, destinado a um público mais jovem e urbano da cidade de Berlim.

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prática expandida - experimentação conceptiva


Berghain Berlin Material gráfico de divulgação

Além destes, outros também se destacam por partidos singulares em sua concepção. Em alguns, a cidade e o “skyline” fazem parte do pano de fundo, aproveitando vistas inspiradoras. Em outros casos, uma interação ousada é proposta. Um grande painel de luzes de LED programadas por um computador respondem a estímulos tanto musicais quanto dos usuários que estão na pista, excedendo a tradicional relação entre sujeito, espaço e o acontecimento.

Interatividade Paineis LED interagem público, espaço e som

Vistas exóticas Horizontes e cidade tornamse plano de fundo

observação

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PROGRAMA E DIRETRIZES O fim das etapas de observação e investigação dá largada ao início da elaboração do programa e das diretrizes, que serão parte importante na composição do complexo sistema nos moldes do metaprojetual. Não serão colocadas como regras rígidas e absolutas, mas sim possibilidades amplas e passíveis de futuras revisões, em especial por apenas considerarem uma fração das possibilidades. Antes da elaboração, foi proposto um estudo sobre a interdisciplinaridade, afinal ela é dos pontos fundamentais aqui apresentados. Para que o programa seja desenvolvido, antes de tudo é imprescindível entender como as diversas partes deste sistema se integrarão e, principalmente, como se adequarão ao sistema de linguagem proposto. Estas partes em comunicação e conexão resultam em um programa específico para cada atividade e um total, que deve somar as partes integrando-as sensivelmente. Em outras palavras, a interdisciplinaridade reinvidica uma comunhão entre as partes e ampliação do campo de abrangência. Aqui, apenas foram citados exemplos originais das artes, como arquitetos, designers, artistas plásticos, músicos...Porém o campo pode ser muito mais vasto e incluir profissões como psicologia e economia. Portanto, este hibridismo de soluções e profissionais específicos só tende a engrandecer a qualidade dos projetos. Tomando por base a interdisciplinaridade estudada, definiram-se quatro disciplinas de projeto que deveriam se integrar da forma explicita. Todas elas teriam uma conexão estreita entre cada, de forma direta, porém com o auxílio de algum tipo de regulador, coordenador, que fizessem com que estas partes se articulassem em prol de um produto final melhor. Antes que estas disciplinas fossem escolhidas e especificadas, algumas diretrizes gerais, que serviriam como base para cada um dos trabalhos foram pensadas. Estas diretrizes devem ter presença marcante em cada uma das disciplinas, como condição essencial.

• identidade mutável e adaptável - a idéia por trás disso é não criar um espaço(s) rígido, intransponível,

mas sim que possa acontecer e reacontecer de diversas maneiras dentro do seu universo. Para isto, todas as disciplinas devem trabalhar com a idéia que estão produzindo um ciclo de vida projetual real; ele deve ter começo, meio e fim. O fato de já projetar sabendo que um dia o objeto fatalmente deixará de existir é complicado, mas abre ótimos precedentes para requalificação do trabalho e renega a idéia de se trabalhar com uma arte estabelecida e intocável.

• explorar ganho e perda de valores - neste tipo de empreendimento isto é importante. Na verdade,

a realidade é que muitos dos “donos” de tais “baladas” já inauguram seus estabelecimentos imaginando que

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prática expandida - experimentação conceptiva


ele terá uma vida útil determinada. Isto já faz parte do processo de confecção destes espaços. Entretanto, o que aqui se propõe é uma organização de tal processo, na tentativa de brecar com a idéia de “mudar para renovar” e sim “mudar para mudar”, atingindo os diversos públicos pelos seus interesses particulares e não para oferecer uma sensação superficial de “novidade”.

• espaço físico indeterminado - a mais importante das diretrizes. Como visto durante a observação

das referências de trabalho, esta tipologia tem uma curiosa adaptação ao espaço que reside; ora ocupa pequenas casas, ora grandes galpões. Esta variedade acabou por se tornar o principal elemento definidor deste sistema, pois não haverá nenhum lugar, terreno, abrigo, ou outro espaço físico para se empregar o sistema; aqui se considera que o uso é livre, adaptável a qualquer situação, como um sistema viral que se espalha sendo por composições de fachada, mobiliário ou até mesmo um drink. Estas diretrizes, portanto, ajudarão na composição de cada uma das disciplinas, que devem segui-las como método de validação do trabalho. Partindo disto, temos as primeiras escolhas de cada uma delas, além de qual produto de projeto seria mais cabível em cada caso, em uma primeira análise. A seguir estão às disciplinas a serem trabalhadas e os produtos propostos que cada um gerará. Espaço Principal disciplina de estudo deste trabalho. Como conceber um espaço que esteja de acordo com as demais disciplinas e as diretrizes? Inicialmente, entende-se que o espaço não deva ser algo fixo, e sim maleável as novas necessidade impostas não apenas por esta tipologia de projeto, mas também pela realidade líquida. O espaço, portanto, deve fazer parte do ciclo de vida do restante. Este ciclo de vida deve vir deste a etapa mais primordial de projeto, desde a sua composição, execução, nascimento, uso e desuso. É importante considerar todas estas fases no inicio do projeto, pois elas serão decisivas para os desenhos, escolhas de materiais, etc. A seguir estão algumas das preocupações que serão levadas em conta durante o processo de desenho do espaço.

• interatividade - para uma melhor relação entre o usuário e o espaço, será proposta uma interatividade

entre ambos. Tanto do usuário para com o espaço, quando o inverso, seja por estímulos sonoros, táteis, entre outros. Evidentemente, tal interatividade por si só não é suficiente para criar o espaço comunicante, porém já possibilita uma interação interessante entre as partes.

•dinâmica e versatilidade - é complicado propor algo neste sentido nos dias atuais. Com a tecnologia

fulminante e em constante transformação, criar um espaço que esteja sempre receptível a novas funções é complicado. O mais comum é que as novas funções sejam “encaixadas”, sobrepostas. O uso de materiais de fácil manutenção e de sistemas de construção que possam ser desmontados podem ajudar nesta adaptação.

programa e diretrizes

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• construção e desconstrução - o uso de novas técnicas construtivas mais flexíveis, como estruturas

de aço, painéis, sistemas pré-fabricados, ajudam não apenas na construção, mas também na desconstrução do espaço. A idéia é que nenhum dos espaços seja plenamente rígido; porém, tal liberdade de construção deve ter algumas regras para um melhor controle. Pensando em uma “base mínima” e uma “base máxima”, ou seja, dependendo das condições de inserção urbana. Um projeto em uma cobertura de edifício terá limitações que não estarão presente em um projeto em um terreno aberto, por exemplo. Compreender como estes sistemas construtivos se comportarão em diversas aplicações faz parte do processo.

• uso e reuso - segue muito do colocado no ponto anterior. Com a construção mediante a

necessidade de uso, a desconstrução gerará uma série de materiais sem um uso aparente, mas que poderão ser reconstruídas em outras partes, em outras unidades do projeto, como um sistema “nômade”, que sempre busca a área de maior demanda para se aplicar. Evidentemente, perdas pode haver no caminho, portanto novamente as técnicas construtivas devem ser exploradas a exaustão.

• reciclagem - com o uso e o reuso e as inevitáveis perdas materiais, será importante fazer uma

escolha destes que ofereçam a possibilidade de reciclagem.

Gráfico O projeto gráfico será aquilo que conterá a maior parte da linguagem, estando também presente espacialmente. Existem planos de trabalhos variados neste quesito; pode-se pensar em painéis digitais, produtos impressos, virtuais (luzes, vídeos, projeções). A linguagem é fundamental, e não necessariamente deve estar condicionada a uma solução técnica apenas, mas se construindo por si própria.

• marca - apesar da liberdade da identidade, é necessário que exista uma identidade única para

o conjunto, que demonstre e especifique o tipo de serviço fornecido. Um nome, logo, papelaria, entre outras peças. Identificar é uma peça chave, que deve fazer parte de todos os demais campos, como a arquitetura.

• divulgação - ferramenta de disseminação, conhecimento e aproximação dos usuários com

o empreendimento. Deve haver sempre uma atualização entre todas as suas peças, resultando em uma divulgação clara, objetiva e única. Existem três caminhos passiveis de exploração: sites, viral e impresso. Os sites são tradicionais, sempre carregando informações de acontecimentos, serviços, datas, entre outros. Portanto é o principal informativo sobre o que se passa. O viral é uma novidade no ramo da divulgação. Com sites falsos, e-mails e usando redes sociais, este é um meio mais pontual e menos informativo geral, como o site. Neste caso, apenas um acontecimento é destacado. Por fim o impresso, no formato de cartazes e flayers que também participam de uma divulgação mais pontual e em destaque.

50

prática expandida - experimentação conceptiva


• painéis interativos - podem ser digitais ou não. Interagir com os usuários e o ambiente ou não.

Eles são importantes, pois elevam o grau de entretenimento e vivência a um outro patamar, mais amplo e envolvente, podendo ser de alta-tenologia (visores de LED, painéis interativos) ou até mesmo de baixa, como paredes de gelo ou de lousas para giz de cera.

• produtos e souvenires - sacolas, cartões, ingressos, cds, camisetas, chaveiros, livros de arte, tudo

deve englobar as duas identidades, mas especialmente a da campanha. Aqui se entende que este possa vir a se tornar uma ótima proliferação da arte, na qual ela é aplicada na identidade da balada, geram produtos comerciais e livros e cds que façam parte da divulgação dos autores e artistas envolvidos.

• sinalização - sinalização interna dos espaços, usando somente a linguagem geral do projeto.

Produto Esta disciplina será pouco explorada neste trabalho. Apenas algumas diretrizes serão postas devido ao tempo de execução, quase nenhum produto será aprofundado. O produto é simplesmente traduzir aquilo que foi proposto nas demais disciplinas na confecção de materiais como louças, mobiliário, equipamentos, etc. A escolha dela como disciplina participativa e diferenciada é a possibilidade de um trabalho mais específico, e com isso obter resultados mais satisfatórios do que os de costume. Ainda é necessário se explorar um pouco mais o território de projeto para uma melhor definição do que esta disciplina conseguirá contribuir efetivamente para a produção final. Urbanismo A quarta disciplina. Fazer a concepção do espaço não se deve jamais desconsiderar a inserção urbana. O que mais importa no urbanismo é como inserir o espaço no contexto urbano sem que este resulte em um impacto negativo para a vizinhança, para o tráfego, entre outros. Como a idéia (inicial, ao menos) é tornar este espaço como sendo um grande atrativo diurno também, de lazer e ócio; e se isto não possível, pelo menos que permita uma fachada mais agradável de ser vista a luz do sol. Não haverá, entretanto, nenhuma seleção de terreno (s) para verificar os impactos. Possivelmente isto fragilizará um pouco as escolhas, porém a complexidade das questões pertinentes a implantação são todas reconhecíveis O que se propõe, portanto, é apenas uma análise subjetiva de como esta inserção acontecerá, sem maior profundidade. Como pode ser visto, as disciplinas de espaço e gráfico estão mais detalhadas, e não por acaso; elas serão o grande foco deste trabalho, pois se entende que com o tempo e os recursos disponíveis os resultados serão melhores. Na seqüência, existe um gráfico para fácil visualização das disciplinas e produtos de trabalho. Após uma proposta especulativa espacial, onde por intermédio das análises feitas em etapas anteriores foi possível extrair uma resposta ao programa.

programa e diretrizes

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poltronas sofas

sacolas

puffs

desconstrução

estar

cartões

luzes

bancos

pulseiras

bancada bar

distribuídos

copos

construção

utensílios

reciclagem

dinâmica

prateleira

mobiliário

interatividade

ESPAÇO

outros versatilidade equipamentos

souvenirs

indicações banheiros

PRODUTO

regulador

em

individual

ling

uag

massa

l de

acesso

cipa

localização

eixo

prin

entorno

entorno

paisagem

fachada

site

URBANO

rede social

fake site e-mail viral

divulgação

impacto

impresso

fluxos financeiro comércio

cartaz visual

GRÁFICO

OUTROS

marca

flayer logo

comunicação papelaria

paineis

sinalização

estudos

acabamentos

nome

comportamentos interesses gastronomia molecular música

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disciplinas

saída

guias

não int.

interativos

indicativas acessos identidade logo

prática expandida - experimentação conceptiva

caixas

banh.

simbolo

outros interno externo

estático dinâmico

virtual

físico


A Função espacial Um dos pontos mais importantes de desenvolvimento é o de um sistema funcional aberto, que permita o emprego em diversas tipologias diferentes e adaptação a situações especificas. Pode ser sim considerado uma “receita de bolo”, na qual os espaços são estipulados para determinada capacidade de frequentadores baseando-se em leis do estado e projetos existentes. A grosso modo, o objetivo é dar a possibilidade de se estudar o depois disso; cruzar um sistema funcional a um sistema de linguagem e observar o resultado. É comum ( em especial em uma arquitetura modernista que levanta a bandeira da lógica e da razão) considerar este sistema funcional já o projeto definitivo; sua forma é o resultado da combinação de seus espaços e sua linguagem os materiais aparentes, a construção “nua”. Entretanto, com uma rápida observação , é possivel notar que a linguagem cria uma reviravolta nas necessidades de cada lugar. Portanto, como será visto a termino deste tabalho, função e linguagem se compõe e criam dinãmicas próprias entre si. Para conceber este espaço, optou-se pela neutralidade; nenhum dos espaços terão um peso maior sobre o outro. A base para isto foram os projetos aqui previamente mostrados, alguns outros de experiências profissionais pessoais e o Código de Obra e Construção, além de algumas normas (ABNT e NBR) de segurança. Plano de ocupação Para um planejamento embasado, que leva em conta fatores reais durante a sua construção, deve-se estipular como acontecerá à ocupação e qual será a sua capacidade. Com base em levantamentos, ficou estipulado que a combinação destes espaços seria o suficiente para comportar 1000 freqüentadores (não considerando funcionários), um número razoável levando em canta os outros empreendimentos do gênero. Lembrando que esta é apenas uma especulação espacial, não uma definição, onde a prioridade é o equilíbrio entre o espaço e o senso comum que está presente na grande maioria dos exemplos desta tipologia. O resultado é desvendar as funções espaciais, suas conexões físicas e visuais, quanto comporta cada um dos espaços, quais têm acesso restrito e quais não. Por conseqüência, tem-se um projeto preliminar, idealizado, que poderá ter uma parcela de maior ou menor importância na seqüência do trabalho, dependo do tipo de apropriação que será feita.

+ Ocupação especulada = 1000 pessoas

Área total prevista= 1062 m2 (+ 20 % circulação)

Distribuição do programa pela área estipulada (ver detalhes)

programa e diretrizes

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Bilheteria Composição: Controle de acesso, recepção, distribuição de cartões, caixas, check-out Lotação: 8 funcionários (acomodados em computadores) Equipamentos: mesa, cadeira, computadores, organizadores. Acesso: restrito funcionários - atende público - conexão visual média Conexão espacial: entrada-saída (alta), chapelaria (alta), loja (alta), banheiros (média), pista (baixa), bar (baixa) Dimensionamento preliminar: 15 m2

1,80 m2 x 8 = 14,40 m2

Mesa + circul. 1,20m = 1,80 m2

Chapelaria Composição: balcão de recebimento, guarda-volumes Lotação: 2 funcionários (recebimento e devolução) Equipamentos: balcão de recebimento, escaninhos e araras Acesso: restrito funcionários - atende público - conexão visual média (balcão) e baixa (guarda-volumes) Conexão espacial: entrada-saída (alta), bilheteria (alta), loja (alta), banheiros (média), pista (baixa), bar (baixa) Dimensionamento preliminar: 15 m2

Loja Composição: vendas, espera, recepção, área de trabalho Lotação: 3 funcionários (2 atendentes + 1 caixa) Equipamentos: caixa, expositores, estoque Acesso: restrito funcionários - atende público - conexão visual média Conexão espacial: entrada-saída (alta), chapelaria (alta), bilheteria (alta), banheiros (média), pista (baixa), bar (baixa) Dimensionamento preliminar: 20 m2

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prática expandida - experimentação conceptiva


Pista dança Composição: Pista(s) de dança Lotação: 700 pessoas em pé Equipamentos: nenhum especifico Acesso: aberto - conexão visual alta Conexão espacial: entrada (baixa), bar (alta), lounge (média), lounge privado (baixa), banheiros (médio) , espaço artista - palco (alta) Dimensionamento preliminar: 280 m2

Bar + lounge bar Composição: balcão bar, área de trabalho bar, espaço para mesas, espaço em pé Lotação: 200 pessoas (120 acomodadas) + 5 funcionários bar Equipamentos: balcão (servir e preparado), estande de bebidas, depósito acesso rápido, banquetas balcão, mesas 2/4/6 pessoas, sofas (alternativa) Acesso: aberto - conexão visual alta Conexão espacial: entrada (baixa), pista (alta), lounge (alta), lounge privado (alta), banheiros (médio) , espaço artista - palco (baixa), serviços - cozinha/dep. (alta) Dimensionamento preliminar: 160 m2

circulação = 1,10m

área de trabalho = 0,75m

área aprox. conjunto (banquetas, balcão e circ.) = 30m2 a = 1,30m2 unid. = 10

a = 3,60m2 unid. = 20

a = 5,75m2 unid. = 3

programa e diretrizes

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Lounge privado Composição: espaço intimista, privado, semi-isolado, unido ou separado Lotação: 50 pessoas Equipamentos: sofas, puffs, mesas, conjunto mobiliários Acesso: restrito público - conexão visual baixa Conexão espacial: entrada-saída (média), chapelaria (média), loja (média), banheiros (alta), pista (média), bar (média) Dimensionamento preliminar: 90 m2

5-6 conjuntos previstos 18,5 m2 cada

Lounge Composição: espaço aberto, de descanso, pouco definido Lotação: por volta de 50 pessoas Equipamentos: sofas, puffs, mesas, conjunto mobiliários Acesso: aberto público - conexão visual alta Conexão espacial: entrada-saída (média), chapelaria (média), loja (média), banheiros (alta), pista (alta), bar (alta) Dimensionamento preliminar: 50 m2

Banheiros Composição: banheiro feminino, masculino e de deficiente em todos os pavimentos Lotação: 1 bacia e 1 vazo para cada 20 pessoas do sexo (COE São Paulo) Equipamentos: lavatórios, vasos e mictórios em cabines; cabines deficientes junto ou separados dos demais. Idem lavatórios. Acesso: aberto público - conexão visual alta (sinalização) Conexão espacial: entrada-saída (média), chapelaria (média), loja (média), lounge(alta), lounge privado (média), pista (alta), bar (alta). Proporção usada para cálculo de área = 60% homem + 40% mulher (dados obtidos em locais específicos, médios para a cidade de São Paulo) Dimensionamento preliminar: 120 m2

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prática expandida - experimentação conceptiva


área = 0,60m2

área = 1,15 m2 área = 0,80m2 área = 2,75 m2

Espaço artísta Composição: palco (variável, indo de apresentações maiores até somente para DJs), camarins com banheiro, sala de instrumentos. Lotação: 1 a 5 pessoas Equipamentos: diversos, alguns pode ser muito específicos Acesso: restrito artistas - conexão visual alta (palco) e nenhuma (camarins/instrumentos) Conexão espacial: entrada alternativa (alta), bar (baixa), lounge (baixa), admistração(alta) Dimensionamento preliminar: 125 m (60 palco/15 instrumentos/60 camarins) 2

Serviços Composição: cozinha, depósitos, administração e funcionários (vestiário e copa) Cozinha Lotação: 5 funcionários Equipamentos: específicos conforme oferta Acesso: restrito funcionários - conexão visual nula Conexão espacial: entrada alternativa (alta), bar (alta), adm. (alta), depósitos(alta), funcionários (alta) Dimensionamento preliminar: 25 m2 Depósitos Composição: alimentício, bebidas, equipamentos, mobiliário Equipamentos: especificos/câmaras frias Acesso: restrito funcionários - conexão visual nula Conexão espacial: entrada alternativa (alta), bar (alta), adm. (alta), cozinha(alta), funcionários (alta) Dimensionamento preliminar: 40 m2

programa e diretrizes

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Administração Lotação: 3 funcionários + segurança Equipamentos: específicos escritório Acesso: restrito funcionários - conexão visual nula Conexão espacial: entrada alternativa (alta), depósitos (alta), cozinha(alta), funcionários (alta), bilheteria (média) Dimensionamento preliminar: 20 m2 Funcionários Composição: espaço para troca, banho, alimentação e descanso Lotação: 10 a 15 funcionários Equipamentos: específicos Acesso: restrito funcionários - conexão visual nula Conexão espacial: entrada alternativa (alta), bar (alta), depósitos (alta), cozinha(alta), administração (alta) Dimensionamento preliminar: 50 m2

Técnicos Composição: cabine primária, cabine de som e luz, caixa de retardo, câmara de lixo e carga e descarga. Equipamentos: específicos Acesso: restrito funcionários - conexão visual nula Conexão espacial: entrada alternativa (alta), serviços (média) Dimensionamento preliminar: não estipulado

Legenda hierarquias

acesso aberto

Externos Entrada Área para fumantes Terraço Varandas Próximo da pista e do bar, preferencialmente

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Circulação vertical Escadas Rampas Elevadores Escalada???

prática expandida - experimentação conceptiva

Saída emergência Segue padrões de segurança conforme solicitação da legislação e bombeiros

acesso restrito conexões espaciais visual direta visual semi - direta


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espaço artista

pista de dança

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bilheteria + chapelaria loja

serviços

técnicos

programa e diretrizes

59

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REFLEXÃO INTERMEDIÁRIA Ao chegar a este ponto, algumas complicações surgiram. Em um primeiro momento, após o desenvolvimento do programa e das diretrizes, algumas idéias surgiram de como seria possível adequar estes dentro da produção. De fato, a construção destas “regras” induzia a uma preocupante composição de “fórmulas de projeto”, criando regras rígidas a serem seguidas e pouco discutíveis. Não exista muito espaço para a experimentação programática, apesar da própria desmontagem da tipologia abrir um leque de possibilidades muito diferentes uma das outras. O receio era cair na vala comum, do convencional e usual, da metodologia estática e dada a priori, o que contraria toda a pesquisa e proposta que aqui se fez tão importante. O programa e as diretrizes respondiam apenas a um sistema intacto, maleável no que diz respeito à produção, mas pouco abrangente quando o foco é promover novas interações, novos pensamentos e aproximações, sendo parâmetros rígidos demais para um sistema intitulado aberto. Estes parâmetros apenas respondiam a uma determinada fração das diversas possibilidades levantadas, desconsiderando outras que também seriam cabíveis, que ao serem deixadas de lado provocam o enrijecimento da construção metodológica e a falta de versatilidade. Neste sentido, o que até aqui foi desenvolvido é apenas um aprofundamento da metodologia estática modernista, ao passo que o universo das possibilidades é demasiadamente restrito. Sendo mais pontual, o programa e as diretrizes se encaixam em um contexto pré-estabelido e ideal, onde todos os espaços contribuem igualitariamente. Apesar disto já ter sido previsto anteriormente, é fundamental entender que esta é apenas uma das infinitas possibilidades, obrigando a exposição das diversidades permitidas pelo sistema por meio da exemplificação conceptiva.

O programa gerou as condições, produtos e itens que deveriam ser produzidos, independente de outras possibilidades. O material gráfico, urbano e espacial seria uma produção rígida, certeira e pouco experimentativa. As primeiras tentativas na continuidade deste trabalho indicam esta situação, onde a produção era uma mera resposta ao programa e não a revisão do mesmo. Em um primeiro momento, na tentativa de codificar o programa em uma linguagem interdisciplinar, algumas texturas foram selecionadas, dentro de um leque de texturas que se avaliaram pertinentes. Esta seleção não teve nenhum outro critério a não ser o estético. O resultado foi uma grande dificuldade em se trabalhar com este sistema de texturas, uma vez que a falta de aproximação delas com o 60

prática expandida - experimentação conceptiva


objeto de projeto resultavam em códigos muito distantes dos observados. Outra alternativa foi à produção de um sistema de linguagem e códigos mais rígido, quase como um manual corporativo, um “manual de branding”. Parte do levantamento gerado na etapa anterior abria precedente a isto; poder trabalhar materiais e produtos dentro deste método. Portanto, uma segunda hipótese de trabalho seria a construção de um sistema nestes moldes, onde as possibilidades seriam levantadas mediante a construção de todas os produtos propostos pelo programa. Porém, esta idéia tornou-se inviável principalmente por dois motivos. Ao tentar desenvolver este sistema de identidade integrado, uma estruturação tradicional da metodologia projetual seria o resultado; deixaria de lado novamente o caráter instintivo e aberto para se produzir apenas a um sistema aplicável, carimbo. O inicio da produção, onde foi proposta um nome e um logotipo, já se afastaram das possibilidades interessantes que o sistema permitia, obtendo definições. Além disso, iniciar um trabalho por este caminho (nome e logotipo) seria equivocado, pois eles são ferramentas de síntese máxima de um sistema de identidade. Portanto, o resultado poderia ser desconexo, sem uma linguagem clara e sem integração entre as partes, estruturada em um sistema hierárquico onde o ponto de partida era um nome, logo, ou imagem de referência.

O outro motivo determinante pela não continuidade da proposta usando os sistemas de manuais corporativos esta na própria inadequação deste sistema em se adaptar a nova realidade, sendo extremamente rígido e autoritário. Dentro destes manuais, é comum encontrar infinitas “regras” a serem seguidas, que vão desde o comportamento da identidade até todas as dimensões, unidades e linguagens dos produtos relacionados a si. Não se pressupõe uma linguagem aberta, integradora, vislumbrante de possibilidades sempre novas, mas sim uma rigidez formal, funcional e lingüística pouco edificante. De certa forma, um pouco da preocupação após o término da etapa de programa e diretrizes era neste sentido, de restringir todas as possibilidades para uma solução estabelecida. Deve-se botar em questionamento a real necessidade destes sistemas, uma vez que são completamente estanques, criando entraves para um desenvolvimento coletivo. Desenvolve-se uma complexidade tão definitiva que praticamente qualquer interação externa ao sistema passa a ser renegada, o que ainda por cima, minimiza a intervenção e participação de terceiros e suas possíveis contribuições e leituras do sistema. Como são sistemas rígidos e pouco maleáveis, obrigam os demais reflexão intermediária

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profissionais (ou equipes multidisciplinares) a seguirem a risca a cartilha estipulada por ela, com o risco de terem seus trabalhos negados. A não abertura destes sistemas limita ao máximo as possibilidades interpretativas e propositivas, quase que descartando a potencialidade intelectual de outros profissionais, que possivelmente poderia contribuir de forma operante e instigante no sistema. Aqui, os inputs e outputs são previstos, definitivos e inalterados.

O desenvolvimento inicial parecia muito distante do proposto. Fazer a seleção arbitrária de imagens e depois tentar desenvolver um sistema de identidade não parecia corresponder às expectativas propostas inicialmente, Nos dois casos (particularmente no último) havia um cenário fechado, de poucas alternativas, que seriam a apenas um cumprimento as definições obtidas no programa desenvolvido. A palavra chave é alternativa; havia a necessidade de se buscar alternativas a produção, que não apenas fossem capazes de permitir a abertura da linguagem, formas e funções, mas também que pudessem questionar o programa desenvolvido, possibilitar a releitura deste programa e apontar outras diretrizes não exploradas até o momento. Paralelo a isto, criar mecanismos de avaliação que deixariam mais claros, mas não definidos, possíveis caminhos de direcionamento e redirecionamento, em especial a partir da possibilidade interação, um elemento fundamental para construção de um projeto. A simplificação destas interações (que deixaram de ser rígidas para serem maleáveis) permitem maior facilidade no momento de readaptar o projeto segundo novos conceitos, ao invés de usar fórmulas e metodologias projetuias que limitem esta visão.

A grande dúvida era como fazer isto. Como promover uma abertura projetual, na tentativa de explorar as diversas possibilidades dentro do cenário do projeto e, além disso, permitir que a integração e a interatividade deste sistema possa ser determinante na sua concepção? Retornando um pouco ao conceito de metaprojeto, onde o que se produz são os inputs do sistema, como seria possível promover inputs e regras abertas, direcionando a produção para outputs mais adaptáveis, livres de verdades inquestionáveis? A resposta encontrada para isto era a experimentação.

62

prática expandida - experimentação conceptiva


Experimentar, neste sentido, em diversos níveis da atividade projetual. Anteriormente foram explorados como se deram algumas destas experimentações; pontuais, como na composição de fachadas, sistemas de linguagem, formas arquitetônicas. Já em outros casos promoveram transformações mais profundas, quando estava diretamente ligadas a composição de um projeto, a proposição de um programa; neste, experimentar é uma importante ferramenta ao coletar dados que serão operados futuramente. Faz-se necessário entender qual seria o tipo de experimentação aqui pertinente e como ela contribuiria para a formatação do sistema. Para isto, será parcialmente deixado de lado os dados e soluções obtidas na etapa anterior; o motivo é que estes parâmetros estavam viciando o olhar, conduzindo a produção e dificultando a abertura projetual. Não que eles devam ser descartados, ao contrário, são características fundamentais para a composição dos inputs deste sistema, pois avaliam aspectos e possibilidades reais, apesar de restritas. Este programa será recuperado somente mais adiante, próximo ao fim do trabalho. A idéia é deixar o pensamento livre para a experimentação, depois unindo as duas e estudando como elas podem ser operadas em conjunto. Uma intenção bastante próxima da proposta pelo metaprojeto, onde a metodologia livre e aberta ajuda na operação da fechada e estática. Serão somente mantidas dentro da experimentação as características essenciais da tipologia, para que a produção não se distancie do objeto que esta sendo explorado.

A experimentação que será feita será a do processo, da construção, do levantamento de imagens e da sua reconstrução. Das formas, das possíveis interações e, principalmente, da linguagem. Pode-se a chamar de “metodologia da experimentação”, e provavelmente ela corresponda a isto. O formato usado será muito simples, em especial pelas diversas limitações (técnicas, logísticas e financeiras) na concepção dos experimentos; como a idéia é fazer diversos experimentos para o sistema, e não apenas um, para que assim fosse obtido um universo maior de possibilidades, experimentos muitos complexos foram descartados. O conceito é simples: partindo de algumas situações corriqueiras, uma série de montagens tridimensionais são construídas, quase como um jogo de imagens sobrepostas e referências (como as colagens do EMBT), porém que aqui criam profundidade de ralações em virtude de ocuparem determinado espaço. Invés de pressupor apenas um material gráfico como ponto de partida do desenvolvimento da linguagem e das formas, estas construções passam a compor espaços e, em alguns casos, a lidar com fatores construtivos e multidimensionais. Serão propostos quatro experimentos, com objetos selecionados conforme indicado, gerando relações de imagens intertextuais (que extrapolam o perímetro da referencia inserida da tipologia estudada). Ao termino delas, serão avaliados estes processos para depois, na etapa chamada de desencadeando, ver como estes experimentos podem interagir com o programa e recriá-lo, em um estudo de potencialidades.

reflexão intermediária

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64

prática expandida - experimentação conceptiva


PROPRIEDADE: GAIOLA Os novos meio de produção e reprodução afastaram o projetista do contato direto com os elementos com o qual trabalha. A internet, os computadores, os softwares, são ferramentas que contribuíram para um melhor dialogo entre partes . Este contribuição jamais deveria ser uma substituição, mas uma soma as demais. O que se vê não é bem isso, e o profissional se distância cada vez mais dos objetos e etapas do processo de execução. Pegar um material em mãos, sentir seu peso, sua textura, sua cor, é fundamental. Portanto, como um primeiro experimento, partiremos de uma propriedade material, somente compreendida através do seu manuseio. E, foi a partir do manuseio de um objeto cotidiano, que surgiram as primeiras idéias de desenvolvimento para o primeiro experimento. Ao observar um simples “protetor de fruta”, facilmente encontrado em mercados, encontrou-se uma propriedade que seria impossível ao se estudar texturas na tela de um computador: a elasticidade. Com o manuseio, brincadeira e articulação, este simples material respondia a uma identidade notável e correspondia a intenção inicial para um sistema de linguagem. Esta apropriação de um objeto qualquer não é uma novidade, já que artistas de grande renome como Miró já se apropriaram deste “objeto encontrado” para composição de obras. Aqui, entretanto, o objeto encontrado não consegue por si só compor uma linguagem singular, fazendo com que se busquem outros destes objetos. Pedaços restantes de papel. Restos de acrílico. Pequenos pedaços de MDF. Um gancho de cabide velho e enferrujado. Objetos separados, combinações pensadas, imagens associadas, linguagem pronta. Mais instigante e provocador que o velho caminho da escolha programada e unilateral.

Experimento gaiola Arranjo de objetos finalizado

Gaiola Estudo de luzes

propriedade: gaiola

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A propriedades Antes, a atividade de manuseio do material é a prioridade, explorando o seu volume, o seu peso e a sua deformação. Ele possui uma propriedade muito sutil de elasticidade, pois quando muito exigido, sua deformidade torna-se permanente. Ele não apenas é um elemento elástico, como sua trama ainda possibilita a transparência entre os lados e, quando exposta sobre um ponto de luz, desenha uma trama sobre a parede sobre outras coisas.

Elasticidade como propriedade Estudo das possibilidades de deformações do objeto encontrado

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prática expandida - experimentação conceptiva


Deft Punk Música e palco, identidade particular e agressiva. World of Goo Jogo eletrônico com visual que lembra estruturas

Imagens referênciais Antes de dar inicio a construção da composição de linguagem, é possível atentar um pouco para algumas referências visuais que se associam a este material escolhido. Em primeiro plano, observase uma forte semelhança com alguns palcos de shows do Deft Punk, em especial pela sua forma.

Fachadas Toyo Ito Fachadas lembram muito películas de envolvimento

Outra associação pode ser feita com a produção gráfica do jogo World of Goo, onde animais juntamse para erguerem estruturas bem próximas do campo da edificação. E, na área arquitetônica, as fachadas de Toyo Ito lembram bastante películas que revestem funções de um determinado edifício. Lembrando que as referências aqui são todas intertextuais, ou seja, não necessariamente devem se remeter a tipologia (“baladas”), propondo assim uma maior abertura lingüística.

propriedade: gaiola

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Compondo o objeto Este é o inicio da composição do primeiro experimento que servirá de referência para o desenvolvimento que se seguirá. Inicialmente, separou-se o protetor da fruta (evidentemente, não se desperdiçando o alimento). Este objetivo tem, como já bastante citado anteriormente, como principal propriedade a elasticidade. Então, após o estudo desta propriedade, decidiu-se que ela serviria muito bem como um invólucro para alguma coisa ainda não muito definida. Como uma das referências visuais mostrava uma arquitetura modernista envolvida por uma

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prática expandida - experimentação conceptiva


película, então esta se tornou a solução: envolvela em uma forma tipicamente modernista, tendo como base materiais que representassem muito bem o seu estilo. Considerando que os elementos formais mais claros do modernismo arquitetônico são a laje e as aberturas piso-laje; um papel com certa gramatura incorporava as lajes, enquanto o acrílico eram estas grandes aberturas. O estilo da arquitetura modernista faria parte da composição e só precisava ser revestida com o objeto elástico.

O resultado foi bem parecido com as imagens

a melhor forma encontrada era tirá-lo do chão, mas

de referência, estando ainda demasiadamente

ao invés dos tradicionais pilotis do estilo moderno,

arquitetônico, construtivo. Era preciso ainda de

a idéia era pendurá-lo, como uma estrutura

certo tom lúdico ao objeto, tornando-o mais aberto

dificilmente executável pela engenharia civil atual,

a interpretações e apropriações. Fazendo alguns

gerando outras possibilidades de linguagem e

croquis que pudesse iluminar a seqüência do objeto,

formas.

propriedade: gaiola

69


Com um gancho de cabide comum, facilmente encontrado em qualquer lugar, somado a um anel fixo ao volume obtido antes, a estruturação estava feita, somente faltando aquilo que servirá de suporte para erguer o este conjunto. Entretanto, deixou-se um pouco de lado esta preocupação para se aproveitar o momento de composição para investigar outro aspecto: o conjunto não estava

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prática expandida - experimentação conceptiva


fechado e ainda havia a possibilidade de testar alguma coisa a mais. A primeira é o uso das luzes, afinal elas são componentes importantes nesta tipologia, conforme colocado antes. Mas nada de simuladores muito elaborados; foram usadas luzes de árvore de natal, que com o jogo de troca de luzes resultaram em uma surpreendente combinação de cores, transparência dos materiais e das sombras da película. Além das luzes, entrando mais a fundo no universo arquitetônico, povoou-se cada um dos “pavimentos” como simulações de escalas humanas, que tomam forma com o uso de canudos coloridos cortados com um tamanho que gerassem uma determinada relação deles com o espaço. Isto só reforça ainda mais a característica arquitetônica que este conjunto parcialmente composto pelo estilo arquitetônico modernista.

propriedade: gaiola

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Ainda restava um elemento para o experimento estar completo, exatamente o suporte que prenderia o gancho. Após algumas tentativas, com 12 x 2,5 cm h = 0,5cm

composições que mais pareciam grandes arcos, grandes construções, verdadeiras estruturas de grande porte que provavelmente desvirtuariam a idéia inicial de uma linguagem e formas abertas. O receio era o resultado seguir uma direção excessivamente arquitetônica e construtiva, o

18 x 2,5 cm h = 0,5cm

25 x 2,5 cm h = 0,5cm

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prática expandida - experimentação conceptiva


que não será algo ruim (afinal, a mesma pode ser um grande disseminador lingüístico), mas como era um conceito aberto, o mais apropriado era estimular a variação de referências. Portanto, o suporte deveria agregar mais valores ao conjunto, na medida do possível explorando outras possibilidades e potencialidades. Deveria cumprir bem o seu papel e, se possível, tornar-se também um importante elemento de apropriação e de construção de linguagem. A solução encontrada foi um suporte de pequenos pedaços de MDF com aproximadamente 0,5 cm, que ao mesmo criavam esta linguagem própria, mas de forma tênue, pouco pesada. Uma base maior foi colocada para que o apoio permitisse o equilíbrio do conjunto; o suporte vertical prende o volume, lhe dando uma altura apropriada; e, por fim, o pedaço superior que se junta no topo e encaixa o gancho, dando forma final a experimentação.

A Gaiola parte da propriedade de um material encontrado; sua elasticidade, composta juntamente com um volume muito próximo a de uma arquitetura modernista e solta no espaço pela combinação entre um suporte de madeira e um gancho. Entretanto, o grande elemento ainda parecer ser o objeto inicial, dotado da propriedade mais instigante. Não esquecendo a evidente presença das demais peças de construção deste experimento, que também abre outros precedentes que serão estudados no momento oportuno.

propriedade: gaiola

73


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prática expandida - experimentação conceptiva


CIRCUNSTÂNCIA: ANÔMALO Recomeçar um mesmo trabalho é complicado. Em geral, as decisões já estão viciadas e o trabalho encaminhado. Não é verdade. O reinicio de um trabalho trás consigo dificuldades sim, mas também é trajeto rico de conhecimento do trabalho, reavaliação de processo e crítica produtiva. Esta é a primeira etapa neste novo processo: reavaliar a anterior para propor algo não apenas diferente, mas possivelmente complementar. A característica mais importante da “Gaiola” era a apropriação de objetos cotidianos. Estes objetos, recombinados e guiados por imagens intertextuais formaram o primeiro objeto de linguagem e experimentação. Para rever esta origem, existem dois caminhos: o primeiro, uma readaptação do processo anterior, ou seja, procurar novos objetos, novas composição, repetindo o processo com novos objetos. O segundo caminho, mais complicado e mais atraente, seria partir de nova idéia, uma nova proposta, uma outra origem. E, como não interessava repetir todo um processo já explorado novamente, o segundo caminho foi o escolhido. Entretanto, recomeçar continuava complicado, até o momento em que o inusitado apareceu; um erro em um programa durante uma das últimas tarefas da “Gaiola” resultou em uma seqüência de eventos que foram se encaixando e se somando até a formação deste novo experimento de linguagem e forma.

Anômalo Volume final obtido após a combinação de técnicas, imagens referências e materiais

circunstância: anômalo

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A circunstância O gatilho de desenvolvimento para esta tipologia foi, coincidentemente, o final do primeiro experimento, durante o trabalho com a fachada paramétrica (que será abordado na etapa seguinte, a “desencadeando”). Durante uma das pesquisas de desenvolvimento, mais especificamente em um tutorial sobre o programa Grasshopper (um plug-in para outro programa, o Rhinoceros), a idéia era gerar um parâmetro para que uma forma específica respondesse a um estimulo externo. Dentro desta oportunidade levantada, foi considerado um ponto de referência que deveria interagir uma série de blocos dispostos em uma malha. Um algoritmo simples foi desenvolvido, em que, conforme a distância entre o ponto e algumas das intersecções da malha aumentasse ou diminuísse, a altura dos blocos responderia de forma aleatória a este estimulo. Portanto, conforme este ponto mudava sua posição no eixo XYZ e se afastava ou se aproximava da malha de blocos, a altura de cada um destes variava conforme esta distância. Dentro do universo projetual, este estimulo poderia deixar de ser simplesmente aleatório e tornar-se um algoritmo com função técnica que contribuiria para decisões de projeto (dimensionamento de aberturas em uma fachada conforme a incidência de luz direta, por exemplo). Mas este não o caso aqui, e ele acabou tendo outra finalidade.

Rhino + Grasshopper Aprendizado do desenvolvimento de um algoritmo voltado para a transformação de um volume.

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prática expandida - experimentação conceptiva


Neste caso, a apropriação acontece por um fator que vem agregado com a produção digital, e não um resultado dela, de certa forma sendo inusitada. Durante todo o trabalho com o programa, especialmente na tentava de

Rhino + Grasshopper Algoritmo para a forma de um sistema de blocos, estimulados conforme a distância destes para um ponto de referência

produzir este algoritmo que gerasse a construção descrita a pouco, sempre houve erros durante as tentativas. Os volumes estavam satisfatórios, porém ainda faltava algum componente a mais, alguma coisa a ele. Então, ao invés de encarar os erros de processo como descartáveis não aproveitáveis, optou-se por exatamente fazer o contrário: assumir de uma vez este erro, esta deformação, esta não aceitação. Neste momento surge pela primeira vez a palavra “anômalo” neste experimento.

Grasshopper Mensagem de erro. Primeiro sinal do “sintoma anômalo” neste experimento.

circunstância: anômalo

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Imagens referenciais Anômalo. Eis a palavra que será o ponto de partida para a pesquisa de imagens que contribuirão para ao desenvolvimento do objeto. A idéia basicamente é a mesma da “Gaiola”: uma pesquisa rápida usando a ferramenta mais eficiente de seleção de imagens disponível nos dias de hoje, o Google Images. Com certeza não existe instrumento mais direto e acessível do que este. Com uma pesquisa bem básica de imagens, foi feita a seleção de algumas possíveis referências que tenham aproximação com a idéia proposta. Algumas referências foram encontradas, indo desde cover-arts de bandas, esculturas de artistas, até arquitetura e pintura. As imagens selecionadas tinham algumas

RadioHead - The King of Limbs (2011) Disco da banda inova pelo seu estilo musical experimental

características próximas uma das outras. Dentre elas, pode-se citar o disco do RadioHead lançado em 2011, The King of Limbs, que apresenta uma música instrumental singular e pouco convencional, que reflete na escolha da arte para a capa do álbum. Outros ainda, como os grandes robôs de Star Wars, a pintura de “A tentação de Santo Antônio” de Salvador Dali e as aranhas da artista Louise Bourgeois acrescentam criaturas de pernas esguias e corpos compactos, lembrando muito deformações visuais que seriam pertinentes dentro do nome “anômalo”. Somada a isto outras referências, como o Atomium (construção feita para a Grande Exposição Internacional de 1958 em Bruxelas, Bélgica) e as peças gráficas de divulgação do nightclub londrino Nuke Them All reforçam esta face “sublime” e alternativa alcançada.

Nuke them all! Festa londrina underground famosa por reunir estilos alternativos

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prática expandida - experimentação conceptiva

Star Wars - The Empire Strikes Back Robôs de grandes alturas sobre grandes pernas


A tentação de Santo Antônio Salvador Dali Deformação aproxima o belo do feio, o sublime

Importante aqui que, ao contrário do que aconteceu com a gaiola, onde as referências mais fortes estavam na arquitetura, às imagens foram selecionadas propositalmente para serem mais intertextuais. Ou seja, diversas técnicas, produções artísticas, indo desde músicas, esculturas, arquitetura, pintura... A comunhão inter artística ajudará a compor o objeto que se juntará a forma previamente pensada dos blocos, avaliando o que cada uma destas imagens aqui postas tem em comum: o sublime. Aranha Louise Bourgeois Escultura Atomium Bruxelas Construção para a Grande Exposição Internacional de 1958 sediada na Bélgica

circunstância: anômalo

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3,5x3,5 cm 3 peças

4,0x4,0 cm 7 peças

4,5x4,5 cm 2 peças

5,0x5,0 cm 6 peças

5,5x5,5 cm 2 peças

Para fazer a montagem do cubo, foi importante observar que as quantidades de peças obtidas não resultariam em um cubo, pois este necessitaria de mais peças para que fosse completamente fechado. Portanto, haveria algumas peças faltantes, base

meio

topo

que deveriam ser tratadas como possíveis fendas, aberturas, abrindo outras possibilidades não pensadas

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prática expandida - experimentação conceptiva


Composição maquete Inicialmente, procurou-se resolver os blocos de diferentes alturas conforme obtido no estudo paramétrico. Para isto, um pedaço de 1 metro de caibro foi cortado em pedaços irregulares, porém mantendo um determinado padrão para que, combinados, pudessem formar um volume próximo a de um cubo. O tamanho intermediário é de 4,5 por 4,5 centímetros; os demais possuem uma progressão crescente ou decrescente de 0,5 centímetros (portanto, o maior tem 5,5 cm e o menor 3,5). No tatal, foram obtidas 20 peças.

antes. Três fases foram pensadas: uma base, um meio e um de topo. A junção destas formou o volume final do cubo, que além de apresentar sua superfície irregular (resultado da combinação de tamanhos diferentes dos blocos com o cuidado de não estarem alinhados) também tinham vazios não preenchidos. Com o volume pronto, outra possibilidade foi notada: o que antes era uma base e um topo, ao serem rotacionados

tridimensionalmente,

criam

outras

possibilidades, outros vazios sequer antes imaginadas. Possibilidades estas somente compreendidas com o manuseio do objeto final construído.

circunstância: anômalo

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Os vazios no cubo resultado da falta de peças que o completassem instigavam possibilidades de utilização. Era necessário pensar em algum tipo de ocupação para este espaço, adicionando mais um elemento de linguagem e forma.

imã

Pensando que o fundamento de tudo é uma linguagem aberta, foi proposta uma solução: imãs foram colados nestes vazios, para que pudessem tanto ser mantidos os vazios quanto acoplados diversos

objetos

nestes.

Observou-se

aqui

a

possibilidade de troca; o imã permitia não apenas uma solução, mas diversas, sendo não apenas um material encaixado, como nenhum ou diversos com características diferentes. Em outras palavras, ela não precisaria ser definitiva, mas uma em constante transformação e mudança.

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prática expandida - experimentação conceptiva


Como

exemplificação

deste

sistema

em

transformação, uma identidade foi criada para servir de encaixe no objeto. Apenas uma foi criada, mas poderiam ser uma infinidade, portanto ela é de fato apenas um exemplo. Com varas de bambu cortadas e combinadas para formarem um wireframe de blocos que se encaixariam no vazio por intermédio dos imãs. Além disso, um fio de lã encobriu toda a superfície deste volume aleatoriamente, sem uma regra, apenas tomando o devido cuidado para que se obtivesse uma textura harmônica e caótica ao mesmo tempo. Quando encaixadas nos espaços vazios do cubo revelam uma nova linguagem, completando a anterior e criando uma nova estética e outras potencialidades imã

A título de trabalho, será considerada daqui por diante este conjunto de bambu com lã como parte da linguagem. Porém é importe retomar que ela não é definitiva, sendo outros desdobramentos possíveis.

circunstância: anômalo

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O volume esta acabado, mas

ainda

alguma

faltava

coisa

que

completasse o conjunto. Faltava de

o

elemento

contradição,

que

ajudaria a justificar o nome

de

anômalo.

Neste

momento

as

imagens de referência foram em

fundamentais,

especial

comparadas uma

quando e

semelhança

encontrada.

45°

30°

30°

45°

45°

30°

15°

45°

A semelhança estava na composição formal de

fixados na base deste cubo. Eles seriam constituídos

cada. Todas tinham uma forma em comum: corpo

por pequenas pequenos pedaços de madeira

pequeno, compacto e convencional, suportados e

com secção circular com junções de diversos

erguidos por longos pés finos que contribuíam para

ângulos e dimensões variadas dando um caráter

sua construção e contradição de sua proporção.

de desencontro e descontinuidade do conjunto.

Portanto este era o elemento faltante: longos pés,

Evidentemente, tiveram que ser pensadas com um

que dessem suporte a um volume rígido, neste caso

pouco mais de cuidado para que tivessem o mesmo

o cubo executado anteriormente. Para isto, foram

tamanho total para cada um servisse de suporte ao

projetados alguns “pés” de suporte, que seriam

cubo.

84

prática expandida - experimentação conceptiva


Com o desenho pronto, faltava escolher o material,

pensado. Depois cada uma das partes foi colocada

que foram as varas de marfim, devido a sua boa

sobre este desenho e estariam prontas para a junção

resistência que facilmente suportaria o alto peso

definitiva. Para a junção, inicialmente pensou-se em

do cubo. O tamanho máximo da altura das partes

colas, para depois se chegar à conclusão que seria

combinadas deveria ser de 40 cm, uma boa altura

muito mais eficiente o uso de resina epóxi para a

considerando o volume já criado e a junção dos

fixação, principalmente pela segurança na junção

pés com ele. Desenhou-se o projeto em folhas para

que futuramente suportaria o peso do volume acima

que servissem de molde para o posicionamento

dele.

das varas, respeitando assim os ângulos entre as partes e por conseqüência respeitando o trançado

Quando finalizado, uma outra questão pairou sobre o resultado. As resinas de epóxi deveriam ser consideradas parte do sistema de linguagem ou apenas um instrumento de construção do experimento? Esta questão ficará em aberto, mas é interesse compreender que qualquer relação pode sim ser um elemento lingüístico.

circunstância: anômalo

85


Com os pés prontos, faltava apenas junta-la ao volume inicial. Entretanto não foi tão fácil quanto parecia

a

princípio,

principalmente

porque

a

principal formação visual era muito difícil de ser seguida, pois não sustentaria o conjunto. O resultado foi procurar manter a deformidade na construção e permitir o equilíbrio necessário para que tudo ficasse de pé. Para juntar os pés ao cubo, uma peça que sobrou do caibro foi usada, usando a mesma fixação que as partes da vara de marfim e sobre ela encaixando o cubo. Este encaixe, por sinal, não é fixo, permitindo que descoberta sobre a posição das aberturas permanecesse validas e o jogo de volumes ficasse enriquecido.

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prática expandida - experimentação conceptiva


Anômalo é a mistura entre uma forma tradicional,

encaixáveis aqui exemplificados pelas varas de

o cubo, associada a uma completamente irreal

bambu entrelaçados com linhas de lã. Somado a

e subjetiva, os pés que suportam e dão altura

isto, os pés compostos de varas de marfim unidos

ao experimento. O cubo tem faces irregulares,

com resina de epóxi, criando uma linguagem

motivado por tamanhos diferentes de cada um

confusa, caótica, associada diretamente com a

dos blocos; blocos estes que não completavam

característica mais básica desde experimento: a

um

deformação, o erro, a anômalia.

cubo

por

inteiro,

deixando

aberturas

interessantes para os testes de diversos materiais

circunstância: anômalo

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88

prática expandida - experimentação conceptiva


IDENTIDADE: ENTUBADO Olhando as experimentações anteriores, sentiu-se a necessidade de uma aproximação mais significativa entre a produção destes e a tipologia selecionada. Colocar objetos de referência direta no centro de desenvolvimento da linguagem provavelmente redirecionaria a novas e instigantes possibilidades. Observando atentamente o desenvolvimento tanto da “Gaiola” quanto do “Anômalo”, boa parte do processo de produção desconsiderou a relação direta com a tipologia das “baladas”. No caso da “Gaiola”, o objeto encontrado e no do “Anômalo”, uma oportunidade de referências. Este afastamento não deve ser entendido como uma desvalorização destes dois experimentos, mas sim uma fuga da esfera tradicional da referência selecionada quando esta é estreita ao tema abordado. Apesar desta fuga, é pertinente explorar mais o território que o próprio conjunto de linguagens já possui, através da recombinação de elementos, em um processo de construção e desconstrução recorrente nesta investigação. A principio, algumas referências de linguagem já foram levantadas durante a observação e exploração da tipologia; entretanto, é interessante ir adiante destas possibilidades e conduzir o caminho por uma trilha que ainda não foi muito trabalhada.

Entubado Objeto final da experimentação

identidade: entubado

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A identidade Algumas referências já haviam sido exploradas, sendo que qualquer uma delas tem potencial para servir como base para este experimento. Entretanto, olhando mais atentamente a elas, uma certa preocupação surgiu: praticamente todas tinham como referência estilos musicais ou eram muito especificas e singulares, dificilmente configurando a identidade de uma balada ou festa. Portanto, nenhuma delas se encaixava perfeitamente no objetivo aqui proposto, pois desenvolver um experimento com base neles significaria usar a identidade daquela balada especificamente, e não de uma identidade total da tipologia. A solução foi procurar novamente um ponto de referência. A melhor possibilidade dentre as encontradas era compor elementos diretamente relacionados com imagens de referência de um determinado evento ou balada. Ao observar algumas possibilidades, selecionou-se a que parecia mais interessante: as raves. Estas são festas que acontecem normalmente durante um período de 2 ou 3 dias ininterruptamente, onde a interação acontece tanto de dia quanto de noite. Famosa por acontecer em grandes campos e reunir grande quantidade de pessoas, as raves usualmente abusam do uso de iluminação e de simulação de um espaço que funcione bem tanto de dia quanto a noite.

Rave Festas acontecem em grandes campos , tanto de dia quanto de noite

90

prática expandida - experimentação conceptiva


Quando vemos este mesmo espaço a noite, a

tornam-se jogos visuais interessantes. Importante

percepção passa a ser outra, bem distinta. As luzes

ressaltar a participação do público neste processo,

criam e recriam o espaço, transformando-o em uma

que munidos de luzes, pequenas lâmpadas de LED,

nova composição. O dinamismo, a associação com

auxiliam na construção deste espaço somente

as músicas e, em especial, a interação do público

luminoso, virtual.

Como primeiro passo no desenvolvimento deste experimento, será usado o mesmo artifício de composição usado pelo público deste evento: as luzes. Portanto, o primeiro trabalho a ser realizado será um estudo da volumetria alcançada, brincando com este sistema de construção de luzes.

Imagens topo Jogos de luzes dinâmicos que criam um espaço fluído, continuo e dinâmico Imagens abaixo Munidos de iluminação, público contrinbui com a composição do espaço

Durante a pesquisa de como seria possível este estudo, uma interessante alternativa apareceu: o uso do lightpaiting.

identidade: entubado

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O lightpaiting é uma pratica já muito explorada, inclusive por artistas consagrados como Pablo Picasso. Esta técnica é relativamente simples: em um ambiente totalmente escuro ou com pouca iluminação, perto da escuridão, e usando uma câmera (que possua o modo de longa exposição) fixa em um tripé, o fotógrafo usa diferentes fontes de luz como se fossem pincéis. A única coisa necessária é uma fonte luminosa e um ambiente com pouca iluminação para investigar a interação desta iluminação com o ambiente. As imagens nesta página mostram um pouco desta interação. Em alguns casos, a simulação da luz é uma pintura sobre corpos, ambientações espaciais entre outros. Logicamente, com muita modéstia em relação aos resultados obtidos por estes, experimentasse a técnica para estudar o resultado.

Lightpainting- experimentos Uso da técnica para a valorização dos corpos Lightpainting- experimentos Uso da técnica para a valorização do espaço

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prática expandida - experimentação conceptiva

Lightpainting- Pablo Picasso Artista se aventurou com a técnica em algumas de suas obras


identidade: entubado

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Carretel de barbante

Infelizmente o resultado do estudo do lightpainting foi modesto demais, mas algumas coisas podem ser aproveitadas: neste caso as formas geométricas, em espacial o circulo. Olhando as referências das raves, dois elementos pareceram em destaque: a iluminação e o gramado. A iluminação em si era um pouco complicada de inserir dentro do experimento volumétrico, apesar de ser importante considerar que a investigação do lightpainting faz parte da experimentação. Entretanto, como solução para a maquete, até mesmo para enriquecer a produção, será proposta algumas das volumetrias como já feito anteriormente. O principal volume foi o cilindro, obtido durante o lightpainting. Para representálo, usou-se um tubo hidráulico com bitola de 10 centímetros e aproximadamente 40 centímetros de profundidade.

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prática expandida - experimentação conceptiva

Tubo hidráulico bitola = 10 cm

Tubos de cola plástica


Papel verde com fuligem simulando grama

Juntamente com o cilindro, a grama foi pensada, para que o volume cilíndrico abrigasse esta característica e elas se somassem para a criação da linguagem. Como partido para este trabalho foi pensado em enrolar a grama e torná-la algo como um “revestimento” interno do volume cilíndrico. Para isto, um papel na cor verde foi cortado nas dimensões internas do cilindro e depois colado um tipo de fuligem pintada de verde, usada costumeiramente na confecção de maquetes arquitetônicas. O resultado foi adicionado internamente ao cilindro e, com isto, a combinação entre ambos os elementos aconteceu.

identidade: entubado

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O resultado pode ser observado na imagem acima. Além deste volume, alguns outros eram importantes dentro deste objeto, portanto deveriam ainda ser explorados. Observado atentamente o jogo de luzes presente à noite, quanto os canhões de luz jogam luzes de diversas cores sobre a multidão, um novo panorama é observado. A confusão e o caos das

Jogo de luzes Combinação de canhões de luz contribuem com confusão e caos espacial

luzes podem gerar um importe paradigma para a recriação destes elementos, mas agora como um volume físico. Para isto, foi pensada a utilização de uma série de objetos, sendo selecionado um em especifico que correspondia perfeitamente às necessidades pensadas: os tubos de cola plástica, que além de possuírem um diâmetro de secção compatível com o volume do cilindro, eram fáceis de serem cortados e apresentavam uma transparência oportuna. Cortados em partes pequenas, de aproximadamente 10 centímetros (e assim encaixando perfeitamente dentro do tubo) foram dispostos irregularmente, nos eixos XYZ. Ao lado pode-se ver a combinação entre todos os elementos.

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prática expandida - experimentação conceptiva

Tubos de cola plástica Diamêtro, manuseio e transparência adequados


identidade: entubado

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O resultado da composição do tubo era interessante, porém ainda faltavam algumas coisas. Olhando para as experimentações anteriores, foi comum no final do processo se desenvolver um elemento de suporte a composição inicial, possivelmente aqui isto também seria interessante.

O primeiro passo era a escolha do material de suporte. Alguns estudos formais foram propostos, a maioria deles usando do barbante (que até agora era apenas uma idéia não aproveitada) para a suspensão. Como material, foi escolhida a espuma de poliuretano, pela sua facilidade de manuseio e corte, apesar de soltar muitos resíduos e de não apresentar uma cara verdadeiramente simbólica.

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prática expandida - experimentação conceptiva


As formas obtidas durante os estudos volumétricos para o suporte não estavam dando certo, em especial devido ao grande peso do tubo e a dificuldade em entrelaçar o barbante de uma forma que o conjunto ficasse equilibrado. Como alternativa, para a construção deste objeto, foi proposto algo mais simples: uma sobreposição não

linear das peças de poliuretano, como um elemento de suporte continuo e repleto de eixos, confusão, sobreposição e continuísmo, Como se fosse uma construção pré-existente, onde o tubo se encaixaria como uma das peças dos blocos, mas aqui diferenciada completamente pelo seu formato, estética e, possivelmente, função. Um recorte até mesmo próximo e representativo do conceito e organização de uma cidade.

identidade: entubado

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O resultado final já era satisfatório, entretanto ainda caberia o uso de um dos objetos pensados inicialmente, mas que esta sendo deixado de lado: o barbante. No inicio, a idéia era usar da mesma origem proposta para os tubos de cola, da desorganização presente no jogo de luzes, para fazer dele este elemento caótico. Em um segundo momento, ele passou a servir quase como

uma estrutura de suporte ao conjunto, quando combinado com os blocos de construção. No final, quando aparentemente estava passando batido, sem uso mais, ele surgiu como um bom componente final do arranjo, apesar de parecer uma insistência em seu uso. Um componente de entrelaçamento entre todas as partes do conjunto, como um agregador das partes, unificando em um só objeto volumes tão diferentes quanto os blocos desorganizados e o tubo. O resultado final é para ser observado não apenas no ângulo em que foi composto, mas também dos diversos outros, ficando assim mais fácil compreender a sua profundidade e potencialidade

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prática expandida - experimentação conceptiva


Um dos princípios imediatos da formação do Entubado foi a estreitar a relação entre a seleção de objetos com a identidade da tipologia. Porém, isto foi adiante, influenciando inclusive no processo de criação, ao passo que as luzes foram importantes formadores de soluções para esta experimentação. O objeto final é importante, mas o processo é tão importante quanto, como é foi bastante observado. As luzes trazem características complementares não vistas nos outros experimentos: o rígido do lugar ao dinâmico; o certo e concreto ao incerto e abstrato; a forma pura e simples pela forma virtual e idealizada, momentânea, de passagem. Associado isto ao objeto resultante, possibilidades abrem-se dentro deste universo.

identidade: entubado

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prática expandida - experimentação conceptiva


CASUALIDADE: ôCO Quando as possibilidades levantadas pelas experimentações anteriores pareciam suficientes para um trabalho de rico desenvolvimento e revisão do programa, surgi uma nova possibilidade de trabalho, desta fez originada em outra situação e em outras combinações. Tal situação não seria pertinente caso as possibilidades de desdobramento não fossem tão interessantes quando a dos demais experimentos. As experimentações anteriores investiram em outras possibilidades de trabalho que permearam outras esferas de possibilidades. Entretanto, foi evidente que em cada uma delas algo já pensado e construído para que o resultado gerasse muitas possibilidades e desencadeassem interessantes instrumentos de trabalho dentro de um projeto aberto. Entretanto, todos eles tiveram como ponto de partida a composição de objetos como o processo chave de formação, apesar de que o Entubado com o Lightpainting fugiu um pouco deste cenário comum. Portanto, todos os experimentos tiveram como centro de desenvolvimento um processo em comum aqui desenvolvido, de apropriação de materiais, associação de imagens e composição de um experimento emblemático e referencial. Porém, e se a fonte de apropriação não fosse nenhuma das anteriormente citadas, mas sim um processo de construção propriamente dito? Em outras palavras, a apropriação não do resultado, não da situação pronta, mas sim das etapas e estudo de desenvolvimento já consagrado por algum artista ou investigador do processo. Esta possibilidade abriu a necessidade para mais um experimento.

ôCO Rearranjo e recombinação de elementos e processos diferentes

casualidade: Ôco

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A casualidade É compreensível que o acaso é complicado de ser estudado. A partir do momento em que existe alguma seleção, este acaso deixa de ser um mero deslumbramento e passa a enfrentar situações reais e deve lidar com as questões mais técnicas e necessárias. A casualidade aqui apresentada tem outra abordagem, mais próxima das circunstâncias na construção de projeto do que da teoria do acaso. Neste experimento será feita uma combinação entre um processo de desenvolvimento de um famoso artista para uma de suas obras e uma produção já finalizada de outros

Criaturas Combinação entre elementos arquitetônicos, tribais e rústicos

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prática expandida - experimentação conceptiva


artistas. Como processo de desenvolvimento de um projeto, que envolve diretamente um método causal, foi selecionado o projeto da banqueta dos Irmãos Campana. Segundo os próprios autores do projeto, um processo que segue a espontaneidade, o momento e a construção de um objeto por intermédio da construção livre. O processo é simples: de posse de algumas varas metálicas, elas são soltas e, conforme a distribuição alcançada dentro desta aleatoriedade, à banqueta vai tomando forma até o momento em que se transforma em objeto utilizável. Se este desenvolvimento é ou não verdadeiro não é passível de averiguação; o que importa aqui é incorporar este processo dentro da produção deste experimento. Portanto, a aleatoriedade de objetos submetidos a estímulos específicos e transformações não planejadas. Irmãos Campana Processo criativo de desenvolvimento de uma baqueta

Para ajudar a composição do processo escolhido, foram selecionados os trabalhos artísticos “Criaturas” do escritório franco-brasileiro Triptyque Arquitetura. O interessante nestas ambientes nestas criaturas é a combinação de diversos elementos criando um ambiente lúdico, que se aproxima sensivelmente da arquitetura e espacialização incorporando equipamentos específicos arquitetônicos (escadas, janelas...) como elementos definidores de um sistema de linguagem. O ponto mais notório neste trabalho é a comunicação, a linguagem tribal, rústica e natural.

casualidade: Ôco

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Conforme o conjunto de imagens selecionadas acima, era fundamental a seleção de um objeto que remetesse ao caráter tribal e rústico, assim como a apropriação da linguagem proposta. Dentre todas as opções, a mais interessante pareceu ser a do coco, pois sua forma e a texturas pareciam adequados o suficiente para um trabalho interessante. Além do mais, não é um objeto engessado e esperado, como o protetor de frutas da gaiola ou o tubo. Cada coco tem características

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prática expandida - experimentação conceptiva


especificas, singulares, nunca sendo um igual a outro, seja na cor, no peso ou na forma. Estas são qualidades importantes deste elemento e a sua diversidade será explorada mais adiante durante o desenvolvimento deste experimento. Como processo, será usado um processo parecido ao da banqueta dos Campanas: ele será submetido a transformações aleatórias através da sua quebra. Entretanto, o primeiro passo a se fazer com o objeto é, cuidadosamente, abri-lo com o auxilio de um abridor de garrafas, e seu liquido consumido. É um líquido rico em sais mineriais e vitaminas, muito importante à saúde para ser descartado em uma composição experimental como esta.

casualidade: Ôco

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O próximo passo é a quebra. Jogado de uma altura significativa, ao chão, com uma força razoável para que fosse possível a sua quebra. A quebra do coco estimulou uma nova observação sobre o próprio objeto. Ele é divido em duas “fases”: uma externa, visível, e outra interna, apenas percebida após a sua quebra. Esta parte interna carrega consigo o “branco” comestível, porém possui uma capa de proteção deste interessante. Serão fases assim tratadas, como o interno e o externo.

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prática expandida - experimentação conceptiva


O resultado externo foi à casca do coco totalmente

Já a camada interna não pareceu tão estimulante

despedaçada. Observam-se algumas das partes,

quanto o objeto anterior. Sua textura é peculiar,

abertura e fendas obtidas após a quebra. Ele

bem diferente e mais homogênea do que a

quebrado não interessava muito como composição

camada externa. Por ter mantido a forma original,

final, então ele foi reconstruído com suas maiores

alguma relação de abrigo poderia ser adotada,

peças e as menores foram postas em “espera”

como uma forma dentro de outra. A dificuldade

para um uso futuro. Ainda nesta parte, olhando

em se trabalhar com a quebra e a junção entre

outros cocos e comparando as texturas de suas

as partes, além de ser um produto perecível

faces, percebe-se a diferença que um mesmo

desestimularam a continuidade do trabalho com

elemento pode ter e isto cria uma característica a

este elemento, apesar de ser significativo notar sua

ser trabalhada mais tarde.

existência.

casualidade: Ôco

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Com texturas tão diversificadas, uma nova quebra foi proposta, agora em mais três outros cocos, sendo escolhidos conforme a maior diversidade de sua aparência, em especial na textura e na forma. O processo se repete deste o consumo do líquido até a separação da camada interna. Conforme observado anteriormente, as complicações no trabalho da parte interna levaram a outro uso dela, um pouco afastado do

experimento, conforme é possível ver nas fotos ao lado, possivelmente aproveitando de fato a sua maior potencialidade. Já a parte externa continua com a mesma característica. A resposta aqui é a mesma, propondo uma reconstrução de cada um deles partindo dos maiores pedaços e deixando os demais menores em espera para uma possível utilização futura.

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prática expandida - experimentação conceptiva


Com as quatro unidades desconstruídas e reconstruídas, faltava compreender o que

Coco rústico

poderia ser feita com elas. Decidiu-se unir as duas referências (o processo e a linguagem) colocadas no inicio e, com isto, propor uma composição Antena tecnológica

não apenas entre os processos, mas também na linguagem. O resultado foi à junção de um elemento metálico, representativo de um elemento tecnológico, em contradição ao teor rústico e bruto do coco. O elemento metálico é uma antena de televisão, rádio, que além de corresponder as

+

expectativas da linguagem, ainda permitia certa flexibilidade de tamanho quando desdobrado. Para fixar, uma combinação de cola e resina epóxi, além da adesão das sobras das quebras sobre o volume, sobrepondo formas e texturas.

casualidade: Ôco

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O resultado pode ser visto nas páginas seguintes, onde é possível observar como a composição acontece conforme as formas, texturas, alturas e a adesão das sobras sobre o coco reconstruído. O resultado é uma complexidade de alternativas, pontos de vista e composição. Estas alternativas devem ser observadas não apenas com o objeto isolado, mas principalmente com a junção e comunicação entre cada uma das partes, e mais adiante entre estes experimentos e um possível usuário.

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prática expandida - experimentação conceptiva


casualidade: Ôco

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Coletivamente, existem outras possibilidades mais profundas. É complicado ressaltar um caráter claro para este experimento. Seria ela uma forma arquitetônica? Um simples objeto ou uma instalação? Estas possibilidades serão abordadas no momento oportuno, aqui ainda deve-se dar seqüência a produção. Inseridos em conjunto, respeitando as alturas compostas separadamente, o resultado e a disposição entre as partes pareciam um pouco desconexas. Alguns problemas de altura, inter relação e sobreposição eram nítidas. Por sorte, a escolha do material que da suporte a cada um dos cocos, as antenas, permitem uma variação bastante oportuna de altura que poderia ser

trabalhada de modo livre. Primeiro alguns testes de altura foram feitos, para que fosse possível compreender a altura mínima e a máxima que cada uma poderia chegar mantendo o equilíbrio. Em seguida, todas foram colocadas em seu menor tamanho e depois, uma de cada vez passava se reconstruir apenas pela diferença de altura de cada um. O resultado final é uma outra composição, nem pior nem melhor que da inicial ou da intermediária, mas diferente, possibilitando uma nova relação entre si e para fora do experimento.

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prática expandida - experimentação conceptiva


Ôco é a mescla entre um processo e uma linguagem. Um encontro programado, mas casual pelas possibilidades encontradas durante o processo, mesmo que com algumas coisas descartadas. Uma linguagem que mescla o rústico com a tecnologia, o natural com o artificial, que se dispõe a ser uma forma itinerante, de composições infinitas e relações abertas, ressaltadas por texturas e formas que remetem a natureza e ao homem.

casualidade: Ôco

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DESENCADEANDO As experimentações geraram possibilidades conforme previsto inicialmente. Ao se afastarem da proposta programática inicial, elas abriram precedentes para uma releitura de todo o contexto, explorando alguns territórios antes pouco claros quando levado em conta um campo de trabalho pouco flexível. Os experimentos têm um apelo mais forte no sentido da forma e da linguagem, explorando pontualmente outros aspectos, como a concepção, a construção e até mesmo o próprio programa. São junções, composições de imagens e materiais na forma de objetos de referência, mas que podem adquirir um comportamento mais profundo, ao passo que o processo de sua composição pode ser levado em conta para a sua construção projetual. Além disso, algumas destas composições trazem consigo contextos espaciais que, quando devidamente analisados, permitem alguns interessantes desdobramentos para um determinado projeto.

Portanto, a grande força dos experimentos está na composição dos processos associadas ao objeto final, não somente o resultado obtido pela sua construção. Um exemplo é o “entubado”, onde a descoberta do uso das luzes como componente do sistema é tão importante quanto o objeto final em si. Os objetos finais são construções que adiantam algumas tendências lingüísticas e formais, auxiliando na composição de uma nova espacialidade, de novas possibilidades de interação e de novas perspectivas para o projeto. Existem características semelhantes entre os quatro, como a busca por referências que escapem da tradicional seleção de referências baseadas nas disciplinas referências; em outras palavras, não são necessárias as auto-referênciais. Na arquitetura, por exemplo, esta atividade é muito recorrente, em especial no movimento moderno, onde se procura as soluções para as suas problemáticas dentro dela mesma. Alias, é interessante observar como outras formas artísticas, como as artes plásticas, cinema e música, conseguem transitar com muito mais facilidade pelos diversos campos da arte, enquanto a arquitetura tende a se manter fechada. Isto pode ser o resultado de uma necessidade constante da arquitetura em ter que responder a usos constantes, devendo ser funcional e operacional, uma ferramenta em função do espaço e das pessoas que estão nele. Este dialogo, entretanto, pode ser posto de lado, uma vez que esta função e operação podem estar sujeitas a uma infinidade de possibilidades, não apenas as tradicionais pautadas pela lógica industrial e razões iluministas. Talvez, os experimentos aqui desenvolvidos tornem a arquitetura o elemento principal de disseminação de uma linguagem, ao que passo que todos eles trabalham substancialmente com o espaço; afastando a arquitetura como uma absorvedora de uma linguagem puramente construtiva e industrial. Ao passo que existem fisicamente, interagem no espaço e entre seus componentes, pode-se afirmar que as experimentações nada mais são do que colocar uma arquitetura de linguagem no centro da produção multidisciplinar.

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prática expandida - experimentação conceptiva


Outro ponto de intersecção entre as experimentações foi à opção pela escolha de objetos baratos, do cotidiano, para a composição. Devido à velocidade que estas experimentações deveriam ser realizadas, optou-se por uma seleção menos criteriosa e mais rápida destes objetos. Estes objetos foram encontrados e compostos segundo os parâmetros expostos em cada caso, não necessariamente respondendo diretamente ao objeto-tema de estudo (o que de fato só acontece no entubado). Estes objetos são recombinações tridimensionais de imagens, de composições espaciais e de produção artística. Uma interessante colocação sobre estas composições está no fato de que tais experimentos são composições intermediárias de projeto, como uma busca não por uma referência pronta, mastigada, direta; mas sim a recombinação destas para uma nova referência. Em outros cenários, por exemplo, seria como se um designer ou arquiteto, ao se envolver em um projeto, tem como seu primeiro passo uma pesquisa visual das possibilidades de seu trabalho, mas após isso ele não mergulha diretamente neste universo, não trás estas imagens instantaneamente para o projeto. Ele as explora em outro sentido, em outra produção, que aqui são os experimentos, mas que poderia ser pinturas, esculturas, cenário, animações, movimentos, instalações...Uma reprodução destas imagens em um outro sentido, como um estudo aprimorado das possíveis relações entre as imagens e determinadas formas e linguagens, para só depois cair no território mais rígido projetual, mas neste agora municiado destas produções. Passar do território experimentativo para o projetual pode ser uma transição complicada, cabendo ao idealizador compreender os limites permitidos entre cada uma das partes.

Este processo de “reconstrução da referencia” pode colocar em cheque o mito da “página em branco”, os velhos medos e anseios do inicio projetual, aqui já aparado de uma construção referencial que de fato contribuirá para todas as etapas do projeto. Entretanto, no que isto atinge e se reflete neste trabalho? Em um primeiro momento, é significativo traçar um paralelo entre ele e os manuais corporativos, que em certa altura foram o objeto de criação deste trabalho. Ao se colocar um do lado do outro, claramente se observa uma situação adversa, quase, oposta: enquanto um estanca leis e regras para o desenvolvimento de um trabalho, como um manual de referência exata, o outro permite uma abertura mais abrangente, de poucas definições, mas com alguns estudos substanciais de composição formal e lingüística. Recuperando a imagem do projetista que experimenta antes de começar a projetar, podemos atualizar a atividade do manual corporativo como uma experimentação exata e definitiva, inquestionável, uma referência imutável e autoritária. O experimento aqui exposto já não, pois sua abertura, falta de definições, falta de regras e hierarquias resultam apenas em algumas potencialidades, que podem ser identificadas de forma diferente por diferentes tipos de projetistas. Em um cenário idealizado, o manual corporativo daria lugar à experimentação, que devolveria a criatividade, a inventividade aos envolvidos. Além disso, as desencadeando

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aberturas que os experimentos carregam ainda adicionam parâmetros interessantes no input de um sistema metaprojetual, como referências passiveis de transformações, readaptações, interferências e interação, esta última sendo a situação chave para o desenvolvimento. Quando se fala em experimentos, não se tem em mente apenas a imagem das aqui produzidas, mas também todo campo experimentativo.

Com estas definições bem claras de como a experimentação pode contribuir para o cenário de projeto, acontecerá à seqüência da proposta de desenvolvimento. Como decidido anteriormente, a produção dos experimentos e do programa em separado precisariam ser novamente conectados para se entender melhor como podem operam juntos. Portanto, nesta etapa final, a desencadeando, será promovida a interação entre ambos, fazendo uma releitura de como a experimentação e o programa podem se comportar juntamente, não apenas em uma leitura direta das formas e linguagens, mas também em novas possibilidades de interpretação do programa. Isto será feito apenas no campo propositivo, sem levar conta problemáticas projetuais, construtivas ou de materiais; a intenção e buscar algo, além disso, anterior ao ato projetual convencional, através da exploração de novas interações entre o sujeito e o espaço, novas disposições e argumentações sobre tecnologia, percepções, incentivos e como estes podem compor o espaço por si só. A linguagem é um instrumento de trabalho forte e necessário, ainda mais se levarmos em conta as condições pela qual a tipologia e seus usuários necessitam.

Em se tratando dos experimentos, todos os seus parâmetros serão considerados, desde os objetos quanto o próprio processo de desenvolvimento, que em alguns casos se mostraram mais importante. Em outros, entretanto, este aspecto será posto em segundo plano, mas está é uma visão pessoal das experimentações, que não impede que uma segunda opinião faça outra leitura dos potenciais. Do programa, alguns aspectos serão deixados de lado, pois exigiram uma complicação de desenvolvimento que fugira das propostas abertas, como por exemplo o material gráfico (flayers, papelaria, site...) pois se pressupõe que desenvolvimentos destes produtos seriam fáceis mediante a definição de um sistema maior de linguagem. O grande foco é o espaço e as dinâmicas nele inserida, como pontos de referência, interconexão entre espaços e interatividade de sujeito e objetos com uma profundidade mais significativa. Portanto, a organização espacial (e por conseqüente, a arquitetura) torna-se instrumentos protagonistas na disseminação de uma linguagem. Apenas alguns objetos e produções pontuais serão abordados, uma vez que podem contribuir no contexto de formação, em um cenário onde estes limites disciplinares começam a se esvaziar e mesclar arquitetura, grafismo, objetos e, por que não, urbanismo.

Os materiais que serão apresentados têm por finalidade expor algumas destas possibilidades e potencialidades, não sendo 118

prática expandida - experimentação conceptiva


definitivas ou absolutamente corretas. São apenas alguns exemplos aplicativos deste sistema, procurando estudar algumas das relações e comportamentos desta metodologia experimentativa. Na verdade, tudo é um grande conjunto de idéias, um “brainstorm” em que gráficos e simulações virtuais serão mostradas como exemplificação de uma possível aplicação segundo uma lógica e apropriação pessoal.

desencadeando

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Gaiola O primeiro experimento tem três elementos de trabalho, que devem se auxiliar dentro do suporte desta linguagem. O primeiro deles é o conjunto laje e abertura piso-teto, muito característica da arquitetura modernista. Como este foi um elemento escolhido propositalmente durante a construção do experimento, ele mantém suas característica originais de trabalho: é um símbolo da arquitetura funcional, reducionista, reservada apenas ao fato de cumprir com sua função mais primaria e não planejar o exagero, o excesso. Portanto, o extremo funcionalismo que marca a edificação modernista aqui ficará responsável por abrigar todas as funcionalidades tradicionais da balada; muito provavelmente, a continuação tradicional do desenvolvimento do projeto a partir do programa rígido e absoluto resultaria neste aglomerado de funções que ditam praticamente toda a forma

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prática expandida - experimentação conceptiva


e a linguagem da arquitetura. O outro elemento que contribuirá para a formação desta linguagem é o suporte de MDF com o gancho preso, que dava suporte ao experimento. Neste caso, a melhor solução é de fato usá-lo para este princípio, mas logicamente não para a suposta sustentação de um edifício em questão, mas sim de outros componentes dentro do universo do projeto, como mesas, cadeiras, balcões. Destaca-se o uso do gancho como um elemento forte e marcador, podendo ter um peso lingüístico mais forte. A última peça de linguagem e, provavelmente, a mais importante de todas é o objeto que originou toda a experimentação: o “protetor de frutas”, conforme ficou aqui conhecido. Sua propriedade aliada a sua forma serão o principal foco de trabalho no desencadeamento deste experimento.

Para o desenvolvimento desta “malha” ou película, pensou-se em como ela poderia interagir e compor um conjunto quando esta diretamente relacionada a uma volume. Para isto, uma simulação desta película foi feita no programa Grasshopper, onde os volumes do experimento foram reproduzidos digitalmente, representando a película que envolve um determinado volume, como um edifício.

desencadeando

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volumes geométricos

Para que esta simulação acontecesse como previsto, cada um dos volumes componentes desta película foram modelados em separado, para que cada um tivesse uma interação própria, respondendo cada uma de forma diferente segundo um estimulo. Este estimulo seria um ponto de referência inserido nos eixos XYZ; este ponto se relacionaria diretamente com o ponto central de cada um dos volumes geométricos em separado. Esta relação seria mediante a distância entre os dois; quanto mais perto o ponto de referência do volume, menor abertura ele teria. Por outro lado,

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ponto referência


quanto maior à distância ente os dois, mais abertos estará esta forma geométrica. Aparentemente, esta relação é apenas estética, mas poderia também ter um caráter funcional. Imaginado que o ponto possa ser um ponto de vista do observador, sendo as aberturas janelas do edifício. Outro ponto é a transparência de uma fachada ou divisória, sendo que cada um dos seus volumes pode estar fechada conforme um maior ou menor interesse em se manter a visão dos lados em que esta película esta posicionada. Falou-se muito sobre a película como um “revestimento” do edifício, entanto é fundamental entender que está é apenas uma das possibilidades, sendo possível pensar em outras aplicações, como tendas, divisórias, mobiliários (sofás e balcões), além de a área multidisciplinar, usado como um forte marcador de linguagem e identidade.

Além disso, pensando em um valor estético para a composição destas películas, a relação entre suas aberturas pode ser diversa. Em um primeiro momento (como feito no estudo paramétrico), a película responderia de uma forma uniforme e progressiva ao estimulo (as duas imagens acima). Mas também pode ter uma resposta diferente, mais caótica e menos linear, mais espontânea, como se fosse um ser orgânico da natureza, como a imagem ao lado.

desencadeando

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prática expandida - experimentação conceptiva


A Gaiola é um trabalho misto entre três elementos: a forma da arquitetura modernista, que se encarrega neste estudo de abrigar todas as necessidades do projeto; o volume suporte, que aqui está apenas dedicado a certo uso; e o principal, a película, que é o grande elemento deste experimento, sendo propostas uma série de atividades com ela, desde deformações paramétricas de sua geometria até outras formas de aplicação, como nas fachadas de edifícios e divisórias.

desencadeando

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Anômalo O segundo experimento tem aproximações mais nítidas com processos de marcenaria. Basta olhar os elementos usados (caibro, varas de marfim...). São elementos construtivos usados como ornamentação e linguagem. Existem dois elementos fortes aqui: os “pés” e a “cabeça”. Os pés, esguios e estruturados com a função de suporte a cabeça, foram pensados exatamente com este principio. Mas isto não significa necessariamente que, em uma apropriação destes elementos, ele deva ter uma função estrutural, assim como a forma da cabeça sugere uma função de abrigo, mas não necessariamente assim possa ser adotada. Portanto, como induz estas formas e linguagens, o aspecto arquitetônico tradicional será o norte: o abrigo, a estrutura, as divisórias, as funções. Para um trabalho mais especifico, é importante retomar alguns conceitos já apresentados outrora neste texto: desconstruir as partes e estudá-las em separado para entender como articular melhor o conjunto.

A lã que abraça os volumes soltos reapresentam bem o caráter caótico e desorganizado que acompanha todos os elementos. Esta é a característica que deve seguir até o final: caos, desordem, desencontro, tudo seguindo um curto caminho ao sublime, ao estranho e ao não familiar. Este experimento clama por esta solução formal, uma vez que a origem de sua composição foi exatamente esta. Portanto, ser fiel a esta desordem e a anomalias é um partido interessante a ser seguido daqui por diante.

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Desorganizados como os blocos. Tradicionalmente da concepção formal modernista, os volumes sempre buscaram uma harmonia total: ou esbeltos e sutis, ou grandes e chamativos. Aqui se observa o meio termo, que se constrói sem estar necessariamente condenada a exercer uma função, mas que constrói um outro escopo de linguagem. Associada a ela, uma iluminação entre as partes também é proposta: com os blocos em diferentes tamanhos e posições, a luz comporta-se como um valorizador das frestas e, portanto, ressaltando os encontros e desencontros entre elas.

Os pés tendem a uma característica de fixação e apoio, podendo ou não ser funcionais. As varas de madeira e as junções são materiais aparentes. Pode-se pensar em muitas alternativas neste caso; como será visto adiante, as peças podem possuir tamanhos, formas e junções de diversos tamanhos e formas, além da própria função, que pode fazer parte do programa construtivo do espaço (pilares, divisórias), ser um marco espacial (espaço artista, bar) ou estar apenas de acordo com um contexto ornamental e lingüístico. junções

desencadeando

127


Estudando o conjunto externamente, parte-se da

próximos a um formato arquitetônico leva a crer

forma obtida do experimento. O volume cúbico

que este experimento será o que mais se manterá

construído originalmente indica uma sensação de

fiel a proposta programática inicial. Entretanto,

abrigo, estar, que pode ser diretamente associada

as formas obtidas pelo experimento físico geram

ao conjunto proposto pelo programa da balada.

complicações técnicas reais, como as estruturas

As fendas de iluminação dão uma outra dimensão

e os próprios blocos. O que vemos ao lado é uma

ao visual externo; dependendo do angulo de

brincadeira de como ele pode ser desconstruído e

visão, podem ficar evidentes ou encobertas,

reconstruído, adaptando-se a circunstâncias bem

apenas iluminado os blocos difusos. Os recortes

mais reais. Primeiro, o volume é simplificado ao

deste cubo (no experimento, envolvidos pala lã)

máximo, reduzido a primeira idéia do experimento;

possuem um potencial de abertura e isolamento,

depois, ele se liquefaz, como se cada um dos

quase que um escape do interior turbulento da

blocos fossem se encaixando em um cenário,

balada. Portanto, talvez sejam os postos mais

sendo as grandes aberturas propostas conforme as

propícios para abrigarem os lounges. Os elementos

oportunidades do entorno.

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prática expandida - experimentação conceptiva


Especulação de reorganização externa com base em uma forma arquitetônica executável

desencadeando

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prática expandida - experimentação conceptiva


Imaginando uma situação ideal, apenas na construção de uma imagem para o uso interno deste experimento, imagina-se que este está povoado internamente por usuários da “balada”. Como observado já durante o trabalho externo, internamente observa-se com uma potencia de conter toda a parte envolvida com a produção sonora e luminosa, que exige aberturas menores. As partes abertas podem ser os lounges, ou até mesmo parte do bar, sendo espaços mais calmos, de escapismo.

desencadeando

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Internamente, o panorama é um pouco diferente.

fachada e as pés estruturas (simplesmente como

Os desenhos investigativos esbanjam um outro tipo

um funcionamento de linguagem). Ao lado, um

de função dentro do conjunto final; evidentemente,

esquema foi pensado do possível desenvolvimento

a forma cúbica dificulta muito a ocupação

destas linguagens. Partiu-se de um espaço vazio que

deste tipo de espaço, em especial pelos pés

abrigaria perfeitamente os 280 m2 da pista. Em uma

direitos muito altos. Por outro lado, não se podem

tentativa de desenhos, este espaço é segmentado

excluir possibilidades; em algum local que possua

e suas paredes são redesenhas conforme os

área suficiente, ele pode funcionar. Apesar das

desenhos dos blocos e as frestas de luz. Os blocos

mãos atadas, algumas possibilidades devem

vão tomando forma e cada vez mais reduzindo a

ser levantadas, para que a linguagem interna

superfície coerente e harmônica das paredes. Por

corresponda às expectativas da linguagem. Os

sua vez, os pés são adicionados de formas distintas;

três elementos chaves são pensados de forma

por um lado, são espalhados aleatoriamente pelo

parecida de quando trabalhadas externamente: os

espaço e de outro, já concentrados, podendo ser

blocos caóticos, as tiras divisórias ou aberturas na

um grande marco interno.

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prática expandida - experimentação conceptiva


desencadeando

133


O anômalo possui características muito próximas da construção arquitetônica tradicional, onde o espaço e suas divisões podem acontecer segundo o programa estipulado anteriormente. Outras possibilidades podem ser levantadas, ou melhor, ainda, revistas por outras pessoas que tenham uma interpretação diferente. Neste estudo de potencialidade, entretanto, a face explorada foi esta, ao se entender que estes conjuntos de sistemas lingüísticos e formais seriam facilmente aplicados no desenvolvimento de um projeto tradicional de uma casa noturna.

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prática expandida - experimentação conceptiva


desencadeando

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Entubado Cilindros e luzes. O terceiro experimento apontou

recupera um valor arquitetônico importante: ao

desde o principio para estas duas possibilidades,

indicar desordem, eixos desalinhados, formar

basta observar com atenção as imagens usadas

sobrepostas, caminhos e visuais, pressupõe

como referência e os testes com o lightpainting.

uma inserção urbana como nenhuma outra

O grande desafio neste caso era transformar estes

composição possibilitou. Acrescenta-se a isto

dois componentes em espacialidade, e como

ainda o entrelaçamento das formas, como um

de praxe, estimular a interação e a vivência do

componente simbiótico ou parasita, que se

sujeito presente. Como representantes destes,

apropria das condições urbanas para se estruturar

foram apontados dois materiais: o tubo, grande

e acontecer. Portanto, têm-se dois potenciais

forma simbólica deste experimento, internamente

aqui: o arquitetônico, da forma, do uso, da

revestida de grama e os tubos transparentes que

função em relação à espacialidade; e urbana, de

se encontram no seu interior. Juntamente a estes

presença, criação de referência (um “landmark”

dois, ainda outros dois que podem alterar seu

possivelmente). Estas possibilidades serão melhor

sentido mais básico: o entrelaçamento do tubo

exploradas adiante. Por hora, é importante separar

(representados no experimento pelo barbante)

cada um dos elementos/componentes e depois

e os próprios blocos desconexos em que está

repensar o conjunto, como feito no “anômalo”.

entrelaçado. Por sua vez, a força deste último

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prática expandida - experimentação conceptiva


O tubo, como já dito, é o principal elemento,

isto como uma possível forma arquitetônica, estas

portanto será o norte aqui. Apesar de alguma

aberturas deveriam respeitar a cobertura e o piso

incerteza dentro do conjunto final, a grama interna

(devendo receber uma planificação, aqui sendo

será mantida, mas ela será apenas uma simulação,

mostrado curvo por se tratar apenas como uma

evidentemente. Avançando um pouco no estudo, o

exemplificação). Já as aberturas serviriam como

tubo foi segmentado e decomposto, sendo algumas

janelas para a cidade. A idéia não consiste em

de suas peças retiradas, resultando em uma série de

trabalhar com luzes ao compor o espaço? Portanto,

aberturas em sua superfície. Tomando como partido

nada mais justo que as luzes da cidade participem.

Agora, os barbantes que unem o tubo aos blocos desconexos. Existem duas possibilidades aqui: ou admiti-lo como estrutura de suporte e esconde-lo, realizando assim o volume cilíndrico que abraça; ou o contrário, evidenciá-lo com o uso de luzes. Esta escolha pressupõe tratamento diferenciando para cada caso, alterando a composição inicialmente pensada. No caso de ser apenas estrutura invisível, não assiste a necessidade de abraçar o existente, podendo ser simplificado. No outro caso pode-se respeitar mais a composição inicial, pois a evidencia luminosa apontaria para um tratamento de fachada e destaque no meio do caos visual urbano.

desencadeando

137


Os cilindros internos eram transparentes e, quando

de tubos com líqüidos no seu interior, que além

a luz passava por eles, refletiam e espalhavam tal

de possibilitarem uma dinâmica diferente, ainda

iluminação pelo ambiente. Neste caso, a forma e

refletem a luz de forma espontânea e natural. No

a distribuição irregular podem ser mantidas, mas

exemplo acima, é possível observar um exemplo

o material poderá ser trocado, ainda sendo um

deste sistema, que possuem bombas que mantém o

irradiador de luz. Umas das possibilidades é o uso

movimento do líquido e iluminação em suas bordas.

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prática expandida - experimentação conceptiva


De

todos

os

elementos

que

compõe

este

para este componente, esta função acaba por

experimento, este é mais complicado. De fato,

sendo indispensável para sua idealização. Portanto,

durante a construção dele, houve mudanças

ele é aberto por completo, pode ser qualquer

importantes na sua forma: inicialmente seria algo

coisa que possa dar suporte ao tubo, não apenas

como um “pórtico”, depois tirantes e por fim uma

estruturalmente como funcionalmente. Um exemplo

forma desconexa de blocos. Mas, em todos eles,

(e aqui, devida a forma obtida, bem nítida) é usar as

existia uma característica semelhante: sustentar

construções em coberturas como um meio possível

ao tubo. E, com a falta de uma linguagem própria

para abrigá-lo.

Restaurante instalado na cobertura de museu em Paris

Quanto ao conjunto, primeiro estuda-se o quesito formal da fachada. Mantém-se os blocos desconexos como suporte apenas como simbólico, pois propor uma aplicação real disto necessitaria uma avaliação criteriosa e técnica que destoa deste estudo. Portanto, o volume cilíndrico continua sendo o grande símbolo, aliado as aberturas nos seus extremos, além das laterais que servem como escape para a cidade. O elemento conflitante continua sendo as “tiras” que envolvem o cilindro e abraçam o suporte. Como salientado anteriormente, caso não sejam iluminadas, o grande destaque no cenário urbano noturno passa a ser o interior da balada, que deverá ser muito iluminado. Por outro lado, com estas tiras iluminadas, o volume tem um grande destaque, sendo uma solução singular e criando um “landmark” para a vida noturna. Esta dúvida pode ser resolvida pelo entorno: se está em um vazio, pode ser iluminada; porém se estiver adjacente a demais tipologias semelhantes, a iluminação só causará confusão visual e pouco ajudará em destacá-lo.

desencadeando

139


Apesar do trabalho externo ter um trabalho especifico, o interno será o grande expoente desta linguagem. Mas para a criação e concepção do espaço interno, não serão usada as tradicionais formas e soluções espaciais; aqui, o que dita à espacialidade são as luzes, que advêm de diversas fontes. As tracionais, emitidas por canhões de luz. Depois, os tubos com as bolhas de água, que resultam no reflexo da água quando banhadas pelos canhões de luz. Isto gera uma outra ambientação e uma outra forma

A primeira está na participação direta. Ou seja, além de estar presente, ele pode interagir na formação do espaço, com distribuição de itens luminosos, que vão desde colares e pulseiras até aos copos dos drinks. Cada um, portanto, passa a contribuir com a iluminação local, formando e deformando o espaço com movimentos, associações e integração. Fazer parte torna-se divertido e instigante. Por fim, uma condição externa, mas muito bem vinda: as luzes da cidade, que com as aberturas permitem

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prática expandida - experimentação conceptiva


de exploração da iluminação nestes ambientes. Entretanto, isto deve ser trabalhado de forma sutil para que a iluminação se integre harmoniosamente. Outra exploração está na presença de telões de projeção, que além de iluminar, projetam imagens e outros tipos de interações. Além disto, é importante que cada sujeito participe da composição deste espaço e não seja apenas um agente passivo no cenário. Para isto, algumas alternativas foram pensadas.

não apenas a vista para as pessoas que estão em seu interior, mas também com a adesão das luzes da noite que de forma muito especifica contribuem. Portanto, o espaço se constitui além do físico; passa a ser também virtual, liquido modificável, interativo. Apaguem as luzes e teremos a cidade; ascendam somente os tubos e termos marcações firmes; liguem as projeções e tem-se um grande dinamismo da imagem em movimento; liguem tudo e termos um caos luminoso.

desencadeando

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prática expandida - experimentação conceptiva


Mais que um espaço arquitetônico, que

envolve

física,

a

forma

parte

do

e

função

ambiente

pode

ser composto por elementos mais dinâmicos, fluidos, que acima de tudo

permitisse

condições em

uma

a

interação

internas

e

constante

das

externas,

transformação

espacial. A resposta para isto foi o uso das luzes, que além de serem mutáveis, permitem a participação de agentes externos (como as músicas) e que

principalmente de

posse

transformação,

das

deste são

pessoas,

elemento

de

participantes

do cenário e do espaço.

desencadeando

143


Ôco Finalmente a última experimentação. Após a

o rústico e o polido, o natural e o artificial devem

exploração das anteriores, ficou complicado

permanecer como principal direção da linguagem.

encontrar um direcionamento singular para este

Pode-se imaginar como esta composição

último, pois as possibilidades mais nítidas durante

acontece, criando um padrão de desdobramento

o desenvolvimento já foram bem exploradas.

destas formas e texturas. As antenas (portanto,

Mas, justamente pela casualidade que deu lhe

a tecnologia) podem ser representadas como

origem, ela viria a ser a mais diferente de todas.

elementos estruturais reais, de alta tecnologia, que

Olhando com atenção, existem dois pontos

conforme os cálculos específicos devem sustentar

fortes nele: a oposição dos elementos que o

e estruturar todo o conjunto. Independente da

compõe e a abertura em relação a sua forma

técnica, o importante é manter o código da

e a sua relação entre as partes. Esta última será

estrutura como o símbolo do avanço tecnológico.

devidamente trabalhada adiante. No outro caso,

Do outro lado, o elemento de contradição, o rústico

os componentes constituem linguagem opostas: o

do coco, que pode ser pensado com diversas

coco é um elemento rústico, da natureza, portanto

técnicas representativas. Ao lado, é possível ver

espontâneo, ainda mais quando submetido ao

um diagrama esquemático das formas, partindo

processo de quebra e reconstrução. Do outro lado

da simulação da forma dos cocos usados até a

temos a antena, que trás consigo todo um potencial

sobreposição de algumas peças como se fossem os

tecnológico, de inovação. A combinação entre

pedaços dos mesmos. Apesar de ser um diagrama simplificado, apresenta bem a idéia.

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prática expandida - experimentação conceptiva


Formas básicas obtidas dos cocos usados no experimento

Simplificação em estrutura reticulada simples

Inserção aleatória da primeira camada de revestimento

Inserção aleatória da segunda camada de revestimento

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A construção destas formas está diretamente ligada às formas originais dos cocos do experimento. Porém, no momento de compor o revestimento a estrutura formal, houve muitos problemas para encontrar uma linguagem parecida, pois as circunstâncias encontradas durante a quebra dos mesmos dificilmente seriam as mesmas de quando simuladas pelo computador. Portanto, somente como uma simulação, usando um formato de peça que se repetiu bastante durante a quebra, uma forma padrão de blocos foi pensada e ela distribuída pela superfície do volume. Apesar de ainda estar longe do ideal, o resultado mostra um pouco a cara do que deveria ser volume final. Os volumes paramétricos poderiam ajudar neste quesito, porém será deixada apenas em aberto esta possibilidade para estudar melhor a principal força deste experimento, a forma e a relação entre as partes. E, se a principio pode parecer um tanto estranho que os elementos não se desconstruam para um estudo individual e coletivo (como aconteceu nos demais) isto não é apenas uma coincidência. De fato, as formas aqui obtidas são as que mais se aproximam de um resultado final. Como? A necessidade de explorar uma abordagem diferente para este experimento resultou em uma revisão inusitada de todo o programa, das diretrizes, da tipologia e até mesmo da própria construção da arquitetura. E neste momento se atinge ponto máximo da experimentação: nada de programa, nada de diretrizes e muito menos de espaços construídos; o objetivo inicial atingirá sua plenitude simplesmente por agregar pessoas, promover a socialização e a vivência e comunicar objeto e Desenvolvimento da forma básica a ser aplicada nas faces volumétricas que simulam os cocos

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sujeito. Todas estas condições essenciais, mas aqui incorporada de uma outra forma: como objetos de aglomeração e afinidades.

prática expandida - experimentação conceptiva


Golden Fish Barcelona - Frank Gehry Exemplo de associação entre estrutura metálica tecnólógica e revestimento rústico

Pavilhão espanhol expo Xangai 2010 - EMBT Exemplo de associação entre estrutura metálica tecnológica e revestimento rústico

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A expressão “objetos de aglomeração” pode

Fogueira Simbolo de união e aglomeração

parecer muito vasta e imprecisa, porém ela pode sintetizar a relação. Para entender melhor o que esta acontecendo, retornam-se as primeiras manifestações históricas de encontro, acolhimento e reunião entre as pessoas. Observamos, por exemplo, a fogueira, um objeto simples, mas que consigo trás conforto, união e socialização. Não é por nada que este simples elemento tornase tradicionalmente presente em diversas festa populares, como as festas juninas brasileiras. Retomando ainda princípios básicos da arquitetura, de promover a abertura social, dialogo entre partes e tantas outras ficam claro que a fogueira consegue com muita eficiente ao reunir todos os atributos para compor um espaço sem o edifício, “nãoedificado”. Quando se começa a entender isto, fica claro que não existe mais a simples necessidade da construção tradicional, mas sim a da construção do sentido, da aproximação do sujeito com o objeto (como é especialmente observado no exemplo dado). Portanto, abandona-se a idéia da construção e se dá um passo adiante: o lugar (espaço humanizado) acontece diretamente pela relação do ser com o objeto em questão, que no caso especifico é o experimento.

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“Feijão” - Anish Kapoor, Chicago Novas possibilidades de vivências urbanas além da edificação


Entretanto, admitir o experimento como “esculturas” pode não resultar no efeito desejado. Elas podem simbolizar uma situação, mas não necessária aproximar as partes. Usando novamente o exemplo

? ? ?? ?? ?

da fogueira, ela trás consigo benéficos que extrapolem suas formas: o calor, a luminosidade... Portanto, adiciona-se mais atributos em cada um deles para que, assim, cada sujeito una-se com ele. Simplificando e reduzindo o programa para os itens mais indispensáveis para o acontecimento

!

!!

da balada: som, bebidas e pessoas. Banheiros?

! !!

São importantes, mas existem alternativas; o ideal é reduzir apenas ao absolutamente necessário para a existência da “balada”. Estes selecionados são suficientes, apesar de ser possível pensar em outras interações, como estímulos a celulares conforme a aproximação do objeto. Cada um deles (ou conjunto deles) passa ser um polarizador

:)

:) :P

;)

:)

:P

:D :)

:D

de encontros de pessoas, permitindo inclusive unir diversas tribos de gostos distintos em um mesmo local, mas cada em seu próprio “objeto de aglomeração”.

desencadeando

149


Ôco resultou uma capacidade não explorada pelos outros: recompreender o espaço como uma outra solução, não necessariamente focada no “espaço construído”, mas sim naquela que acontece conforme as relações sociais de dão ao seu redor, lugarizando o espaço. Para que isto ocorra, uma simples expectativa pode não suportá-la, necessitando assim de algum suporte para que ocorra. Neste caso em especifico, cada uma das instalações seriam munidas de música e bebida, itens básicos para compor esta tipologia. Esta interação não acontece apenas entre a instalação e seus usuários, mas também entre instalações, propiciando vivências diferentes conforme sua posição, altura (mais baixos ao redor, médios em baixo e altos referenciais), direcionamento, entre outros, juntando afinidades parecidas e experiências sensoriais singulares.

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desencadeando

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REVISÃO POTENCIALIDADES A interação entre programa e experimentação apresentada são principalmente propostas formais e lingüísticas, apesar de lidarem também com a reconstrução do programa. Cada um possui seus respectivos materiais, volumes, estruturas e construções, sendo que para o estudo de potencialidades cada uma destas peças foi isolada, pois separadas poderiam render outras possibilidades além do conjunto. As formas encontradas são um sistema aberto a especulação e apropriação, podendo ser alteradas conforme outras leituras feitas da mesma. Estes experimentos de linguagem e formas têm como ponto central o desenvolvimento espacial, sendo esta a principal disciplina desenvolvida, deixando de lado outras disciplinas pensadas inicialmente, como as peças gráficas ou os produtos. A arquitetura e o espaço, mediante a uma linguagem especulada para elas, podem-se tornar um fortíssimo elemento disseminador de linguagem, agregador de valor e construtor de um sentido. Imaginando a multidisciplinaridade das mídias, conhecidas como crossmedia, onde uma série de formatos midiáticos é desenvolvida ao mesmo tempo conforme uma mesma identidade seja em pequenos portáteis como aplicativos para celulares ou até grandes cartazes. A arquitetura e o espaço podem participar também como uma forte mídia, na escala da cidade. O caminho oposto pode ser observado, partindo-se da linguagem arquitetônica até as menores e simples formas de difusão de mensagem. Isto seria impossível caso se use os tradicionais processos modernistas, onde a tecnologia é a linguagem indispensável; ela pode fazer parte, juntamente com outros elementos que se justifiquem e que criem as circunstâncias para isto.

Em se tratando de uma revisão programática, de diretrizes e de função, cada um dos experimentos foi estudado propositalmente com diferentes abordagens para que obtivesse resultados diversos. No caso do Anômalo, por exemplo, a aproximação entre experimento e programa é mais sensível, a experimentação pouco propondo para a revisão do programa. Os espaços estavam bem definidos, construídos e seguiam parte das disposições e espaços previstos pelo programa. A única singularidade estava no ponto de referencia dentro do espaço, neste caso as formas caóticas originadas dos pés do experimento; além disso, as aberturas permitiam um outro trabalho funcional, recebendo áreas que exigem mais tranqüilidade (como os lounges). A Gaiola é outro exemplo de como o programa pode se encaixar de forma perfeita, usando os volumes da arquitetura modernista para resolverem o programa e deixando o valor experimental para o trabalho com o material. No caso no entubado, houve um hibridismo destas funções, pois existe tanto a possibilidade de concretizar um espaço físico quanto um virtual. Neste caso, o componente espacial deve promover a vivência, um fator contemporâneo indispensável, que vai muito além do que a típica formatação de vivências propostas pela organização espacial do edifício. Quando uma situação de programa é proposta, sem serem levadas em conta valores de cada um dos freqüentadores do 152

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espaço, geralmente criam-se regras a serem seguidas sem que haja outros valores conjuntos para que sejam validados. Por exemplo, se propõe exatamente onde as pessoas se reunirão, por onde elas circularão, sem haver um trabalho mais profundo do estudo das relações destas pessoas com o espaço e entre elas mesmas. Quando o homem passa a ser repensado como um agente participante e modificador do que está ao seu redor, a estrutura tradicional de projeto pode ser deixada de lado para se focar especialmente nestes agentes espaciais.

Após todas estas análises, fica um estranhamento de como uma montagem tipicamente volumétrica e materiais em pequena escala poderiam servir como participantes na rearticulação de um programa. De fato, um experimento que permitisse uma interação entre a sua construção e os usuários da tipologia resultaria em alternativas, possivelmente mais instigantes no campo do programa. Neste trabalho esta releitura e abertura do programa acontecem através da interpretação de cada um dos experimentos, de seus materiais, formas e também da nova observação de parte das referências das “baladas” expostas em um momento anterior. Em outras palavras, pode-se considerar perfeitamente que se partiu de formas para se chegar a alguma função, e não o inverso, a já consagrada “a forma segue a função”.

Para finalizar, estes experimentos podem interagir entre eles, em matérias, formas e funções. Um exemplo é uma mistura entre o elemento base da Gaiola e as formas geométricas do ôCO; ou a forma externa do entubado associada ao interior do anômalo. Pode-se juntar cada umas das potencias, cada um dos valores mais significativos em cada para a composição de um só experimento lingüístico, criando um caos formal e lingüístico singular, mas que precisaria ser devidamente estudado.

revisão potencialidades

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REFLEXÃO FINAL O resultado deste trabalho não é de caráter definitivo, indicando que todo ele não passou de uma grande experimentação metodológica, experimental e conceitual com base nas novas exigências que emergiram na sociedade nas últimas décadas. O imediatismo, a fluidez e liquidez das relações fizeram com os métodos de projeto estáticos e pré-estabelecidos não mais respondessem adequadamente a estas problemáticas. Além disso, o excesso das informações e o bombardeio das comunicações exigiram cada vez mais uma interação mais próxima entre as diversas disciplinas projetuais, além de outras antes desconsideradas neste meio. O resultado é o surgimento de novas alternativas metodológicas aliadas às antigas, procurando uma readequação a este novo cenário.

O que se propôs neste trabalho foi encontrar uma metodologia que lidassem com estas variáveis. Não definir uma metodologia fechada e rígida de principio, mas sim encontrar aspectos interessantes e pertinentes conforme o caminho de trabalho é percorrido. Construir a metodologia e os processos passa o ser o grande protagonista, em uma investigação continua de aprofundamento no contexto do projeto e dos comportamentos da sociedade. Os dois, metodologia e processo, se fazem ao longo de um trajeto não linear e repleto de alternativas, não apenas um caminho único e certeiro. Este ideal se aproxima bastante do conceito de metaprojeto, onde o que interessa de fato não é projeto em si, mas sim criar as condições para que o projeto aconteça através da formatação de possibilidades, programas e potenciais de um determinado contexto. Com isto, o que se pode dizer é o que a produção desenvolvida foi um metaprojeto livre, onde o importante foi compreender os parâmetros inicialmente dados através de uma análise profunda da tipologia de projeto (as casas noturnas, baladas...) e alteradas significativamente com as experimentações compositivas. Estas experimentações, que inicialmente tinham apenas intenção de responder a novas idéias lingüísticas e formais, foram decisivas para a reorganização e revisão do programa e das diretrizes especuladas, uma vez que colocaram a arquitetura e o espaço como tema central de uma trama multidisciplinar, abrindo possibilidades não imaginadas antes.

Entretanto, este sistema tem os seus limites. As escolhas das experimentações, dos seus processos e materiais foram absolutamente pessoal, sem haver qualquer outro tipo de interação com outras pessoas durante o processo, sejam elas usuárias ou designers/arquitetos/projetistas/curiosos que quisessem se aventurar nesta experimentação. Isto esvazia um pouco o resultado obtido, pois a impressão que se tem é que jornada das experimentações foi quase um processo de descoberta pessoal do que de equipe, de um conjunto de pessoas envolvidas no ato de projetar. Imaginando um cenário ideal, onde as experimentações possam ser originadas não apenas por uma pessoa, mas sim a partir de interações em 154

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diversos níveis (projeto colaborativo e participativo) de trabalho e processos, atribuindo especialidades de cada um dos participantes, mesmo que eles estejam dentro da mesma disciplina. Isto enriqueceria substancialmente as experimentações, pois diferentes agentes contribuíram na confecção de experimentos que poderiam ser recombinados, discutidos, debatidos até o ponto no qual o objeto de referência torna-se coletivo; uma arte de todos. No terreno acadêmico isto poderia ser muito proveitoso, uma vez que grupos de alunos podem ser incentivados a criar seus próprios experimentos como parte da definição de um partido projetual, para somente depois partirem para o desenvolvimento projetual segundo os resultados obtidos por este.

Outra atividade que contribuiria para um melhor aproveitamento das experimentações seria a interação destas com possíveis usuários e sujeitos presentes no espaço da “balada”. Neste sentido, experimentos iniciais poderiam ser propostos, gerando diversas possibilidades de interação aos usuários e pessoas de fora para que contribuíssem na sua construção. Tomando como exemplo as experimentações aqui realizadas, as pessoas poderiam interagir tanto na seleção de materiais quanto na de referencias e até mesmo no processo de combinação e construção destas composições. A participação direta também pode ter em um sentido mais subjetivo, próximo do que o Höweler e Yoon propõe no “expanded pratice”, onde a experimentação (simbolizada pelas suas instalações) é desenvolvida com a intenção de coletar dados dos usuários que ajudarão na definição de um futuro programa e projeto arquitetônico. A complexidade desta proposta parece mais interessante, ao passo que uma série de comportamentos podem ser analisados em separado e encaminhados para uma produção. Outra possibilidade vai até mesmo além do que o grupo pretende; ao invés de um programa definido por uma observação tendenciosa (como foi feita aqui) e experimentações que ajudam a balizar e abrir perspectivas para o universo projetual, por que não experimentar para observar?

Sendo mais especifico: desde o inicio deste trabalho, onde o uso das experimentações ainda não era claro, a idéia foi primeiro observar necessidades e comportamentos que correspondessem às expectativas que seriam trabalhadas. Isto não se questionou em nenhum momento, nem mesmo após a confecção dos experimentos. Se, ao invés de propor uma observação para encontrar uma necessidade, por que não experimentar para encontrar esta necessidade? Portanto, criamse experimentações interativas lançadas ao alcance de determinado público, coletando dados e comportamentos destes, obtendo assim uma necessidade singular, real e muito mais próxima da sociedade. As experimentações aqui realizadas não se dispõem a tal coisa, até porque tais instalações exigiriam uma complexidade de sistemas operando juntamente que reflexão final

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estariam muito além das possibilidades aqui apresentadas. Dentro do que foram obtidas, as experimentações são apenas revisões internas de trabalho, de uma metodologia mais flexível e aberta a novas interpretações, escapando do senso comum e tradicional de composições formais, funcionais e lingüísticas. Não que isto este que seja equivocado ou extremamente limitado no campo experimental. O que se esperava destas experimentações é exatamente o que foi obtido: investigar um cenário, uma circunstâncias, explorar possibilidades pouco claras em determinado momento.

Assim sendo, a metodologia apresentada propõe soluções para alguns problemas e vícios típicos dos processos dados a priori, deixando portas abertas para a reinvenção, para a abertura das mentes mais engessadas no conteúdo estático do século que se passou. Lembrando que todos os processos são dados em estado work in progress. Nada é definitivo, tudo muda tudo se transforma inclusive a própria metodologia, que deve acompanhar as mudanças dando respostas pouco imaginadas em circunstâncias diversas, estimulando constantemente a inventividade, a inovação e a inquietação. Nada é para sempre, tudo flui em uma velocidade impressionante na nova modernidade; tanto que, ao término deste trabalho, o sentimento mais evidente é do anseio pela continuidade, pelas novas experimentações e pela inquietação produtiva e investigativa.

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reflex達o final

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prática expandida - experimentação conceptiva


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Revistas Projeto design, edição 378, agosto de 2011 Sites Archdaily Endereço: <www.archdaily.com>. Acessado em: 12/11/2011. Arcoweb Endereço: <www.arcoweb.com.br>. Acessado em 30/10/2011. BIG (escritório) Endereço: <www.big.dk>. Acessado em 20/10/2011. Designboom Endereço: <www.designboom.com>. Acessado em: 12/11/2011. EMBT (escritório) Endereço: <www.morallestagliabue.com>. Acessado em 20/10/2011

referências

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