GILBERTO FERREIRA
AGRADECIMENTOS
Á Santa Casa da Misericórdia de Ribeira Grande
INTRODUÇÃO
Este documento serve de relatório final e técnico dos trabalhos de conservação e restauro efectuado no retábulo – mor na Igreja de Nossa Senhora de Guadalupe (Frades) da Cidade de Ribeira Grande. Foi elaborado conforme considerado em proposta de intervenção.
1. IDENTIFICAÇÃO HISTORICA, AMBIENTAL ARTÍSTICA E TÉCNICA
IDENTIFICAÇÃO HISTORICA E ARTISTICA
Descrição da composição volumétrica: Conjunto retabular em talha dourada e policromada Materiais: madeira, preparação, bolus, folha de ouro de lei, tempera Técnica de douragem: douragem a folha de ouro de lei com a técnica da douragem aquosa, em que a superfície dourada apresenta zonas de ouro brunido e zonas de ouro mate Dimensões: 9,60 x 5,70 m
_____________________________________________________________________________ Oficina de Conservação e Restauro - 1
GILBERTO FERREIRA
SISTEMA CONSTRUTIVO
Entende-se por retábulo, uma estrutura ornamental que se eleva na parte posterior do altar e é basicamente conhecida por este nome. Dada a complexidade natural de algumas peças que compõem a sua estrutura podemos considerar que esta é constituída por um conjunto de componentes interligados entre si a trama, que, constitui a armação estrutural, e os ornamentos entalhados. Os retábulos caracterizam-se por harmoniosa integração na arquitectura religiosa, com a função estética e didáctica e cuja origem da palavra é derivada da língua latina. Camarim e trono referente ao retábulo-mor Camarim constituído por nove painéis interligados e que constituem um polígono eneágono (9 lados) O tecto deste camarim é formado em cone e é constituído por doze painéis policromados com cor azul sem motivos decorativos, que por sua vez se juntam no centro a polígono decágono (12 lados com uma pintura com representação eucarística). Este tecto é constituído por painéis, sendo que três painéis são agregados ao tardoz do retábulo-mor
ANALISE PRELIMINAR CLIMÁTICA - AMBIENTAL
Para uma melhor aplicação dos materiais e previsão do comportamento dos mesmos, nomeadamente os orgânicos, fomos registando ao longo do decorrer dos trabalhos dois factores: a temperatura e a humidade.
IDENTIFICAÇÃO TÉCNICA DOS ELEMENTOS INTERVENCIONADOS
Retábulo mor dourado e policromado, com grandes alterações e graves lacunas a nível estrutural e de elementos decorativos.
2. QUADRO SUMARIO DOS TRABALHOS DESENVOLVIDOS
Trabalhos realizados:
_____________________________________________________________________________ Oficina de Conservação e Restauro - 2
GILBERTO FERREIRA
IDENTIFICAÇÃO PRELIMINAR DAS OBRAS INTERVENCIONADAS
1ª FASE – REFORÇO E DESMONTAGEM O conjunto retabular é montado em pé direito com carga sobre a base e ao solo, sendo o equilíbrio criado por via de travamentos laterais às paredes com aplicações de sistemas de barrotagem e com ligações e fixações utilizando cunhas de madeira de várias dimensões, conforme o caso e necessidades particulares. É composto por três zonas, base, zona central, e coroamento; nestas três divisões, cada secção é constituída por vários elementos ligados entre si com recurso a elementos metálicos, encaixes de madeira e cola adesiva usada na época, compondo assim os vários módulos constituintes do conjunto. Depois da montagem dos andaimes para dar início aos trabalhos de restauro, verificou-se, que o conjunto de talhas (nomeadamente ao nível do coroamento) se encontrava em quase total colapso. Na zona central do retábulo encontrámos também módulos (colunas e demais elementos) das diferentes secções quase sem coesão estrutural. Numa primeira fase executou-se o escoramento do conjunto coroamento, zona central e base utilizando barrotes com as pontas devidamente protegidas com tecidos e espumas para não danificar as talhas, e manter o conjunto coeso, estes suportes foram apoiados sobre os andaimes de tubos galvanizados sem rodas o que prometia uma segurança máxima para esta operação. Utilizou-se também extensor de ferro para suportar o pavimento da tribuna (camarim) e zonas em risco de derrocada. Depois destes trabalhos de reforço estrutural do retábulo, foi feita uma limpeza superficial a que foi possível retirando vários quilos de terra, pedras. Cimento e outros.
LIMPEZA
A limpeza superficial e a estabilização dos processos de alteração foram realizadas na igreja recorrendo posteriormente a uma pré-fixação da superfície dourada e policromada e eliminação de sujidades.
ESTABILIZAÇÃO
A intervenção de conservação está a ter como acção prioritária a estabilização dos processos de alteração identificados no retábulo: acentuada falta de adesão da policromia ao nível da primeira camada preparatória; deposição de poeiras, camadas de tinta e purpurinas provenientes de intervenções anteriores sobre superfícies policromadas; falta de fixação estrutural pelo afastamento entre vários elementos constituintes; vestígios localizados de ataque insectos xilófagos. De acordo com o quadro diagnosticado foi preconizada a metodologia de intervenção que a seguir se descreve, sistematizada por conteúdos, não tendo sido necessariamente efectuada de acordo com a sequência apresentada, salvo indicação contrária.
_____________________________________________________________________________ Oficina de Conservação e Restauro - 3
GILBERTO FERREIRA
TRATAMENTO DA SUPERFICIE DOURADA E POLICROMADA Efectuada antes de qualquer outra operação, constitui na aplicação de cola animal dissolvida a 10% em água destilada, aquecida abaixo da temperatura de desnaturação das proteínas (60ºC) aplicação foi feita com pincel fino nas zonas que não apresentava coberturas com tintas metálicas (purpurinas) as quais cobrem 10% as talhas. Esta operação foi antecedida com a introdução prévia de etanol na madeira e aplicada com pincel, de forma a diminuir a tensão superficial da água.
LIMPEZA DAS SUPERFICIES A remoção de poeiras e das reintegrações cromáticas, bem como das acumulações de ceras de velas e de toda e qualquer sujidade superficial, foi efectuada no decorrer das várias fases do trabalho com a utilização de etanol da mistura de 50:50 de xileno-etanol.
TRATAMENTO DE CONSOLIDAÇÃO E FIXAÇÃO ESTRUTURAL
Os elementos de madeira que se encontravam com falta de fixação foram fixos com cola de madeira (acetato de polivinilo) antecedida da limpeza das superfícies de colagem com água destilada e etanol. Este processo consistiu em pequenos e grandes desmontes das talhas constituintes, não foi feita a desmontagem total do retábulo. No tardoz do coroamento, procedeu-se a um reforço estrutural a partir da colocação de duas pernas (asnas) interligadas a partir das paredes laterais, com uma formação de vertente do telhado, e a uma distância entre as vigas metálicas e as pernas de madeira. Este processo, serviu para amarrar, verticalmente o conjunto utilizando tábuas de madeira devidamente estabilizadas Foi também usado para o mesmo reforço estrutural, cabos de aço fixos a partir da primeira cambota do arco no coroamento do retábulo. Utilizou-se esta amarração com cabos de aço para que o conjunto dos elementos constituintes (cambotas) não ficassem demasiado fixos, e assim poderiam oscilar livremente obedecendo às movimentações do edificado. Entre a estrutura metálica e o arco do retábulo não existe espaço para usar mais uma perna de madeira
TRATAMENTO PREVENTIVO DO SUPORTE
Detectada fraca actividade de insectos xilófagos, foi preventivamente aplicado várias demãos de produto insecticida (xilofone 40 anti-caruncho incolor) Todos os elementos constituintes encontram-se ensamblados com a possibilidade de serem autonomizados.
_____________________________________________________________________________ Oficina de Conservação e Restauro - 4
GILBERTO FERREIRA
TRATAMENTO DOS ELEMENTOS METÁLICOS
Remoção de óxidos através de minicraft e aplicação de reconversor de metais marca (cin)
NIVELAMENTO DAS SUPERFICIES
Preenchimento de orifícios dos pregos incluindo lacunas de pequena dimensão com massa de pó de madeira de cedro, seguindo-se acabamento polido com a aplicação de gesso-cré .
REINTEGRAÇÁO CROMÁTICA
A reintegração cromática com aguarelas (Schminckel) PROTECÇÃO
Para finalizar a operação de conservação e restauro aplicou-se uma protecção usando verniz mate e white spirit a 3% Nas zonas douradas aplicou-se uma camada muito fina de paraloid B72 a 3% e etanol
3. LISTA DE MATERIAIS USADOS
3.1 TABELA DE MATERIAL DE SEGURANÇA
3 Área Químicos
Designação Luvas de latex Luvas de Borracha
_____________________________________________________________________________ Oficina de Conservação e Restauro - 5
GILBERTO FERREIRA
Mascaras de Filtro Óculos Segurança física
Botas de segurança Capacete de protecção Mascaras de pó
. LISTA DE MATERIAIS USADOS 3.2 MAQUINARIA
Designação
Actividade
Pistola de jacto quente
Limpeza
Universal
Carpintaria
Serra de fita
Carpintaria
Plaina
Carpintaria
Tico-tico
Carpintaria
Lixadeira
Polimento
Pistola de pregos
Fixação
Aparafusadora
Fixação
Rebarbadora
Metais/construção civil
Serra eléctrica
Carpintaria
3. 3 TABELA DE TINTAS E VERVIZES
_____________________________________________________________________________ Oficina de Conservação e Restauro - 6
GILBERTO FERREIRA
Área de utilização
Designação
Solvente/reversível %
Pintura
Tintas acrílicas
Acetona 100%
Verniz de protecção
Verniz/white spirit
Acetona 100%
Pintura
Gesso-cré
Água morna 100%
Colagens
PVA
Acetona
Acabamentos
Solução cera
Calor/white spirit 100%
3.4 TABELA DE PRODUTOS QUIMICOS UTILIZADOS
Área de utilização
Designação White spirit Acetona Tolueno
Limpeza
Álcool Amoníaco Detergente neutro Decapante
3.5 TABELA DE MATERIAL DE ENCHIMENTO
Área de intervenção
Fendas
Designação
Balsa Madeira de cedro
Preenchimento de lacunas de preparação
Gesso-cré
_____________________________________________________________________________ Oficina de Conservação e Restauro - 7
GILBERTO FERREIRA
4 GARANTIA
Gilberto Ferreira Lda. garante os seus trabalhos se foram cumpridos as recomendações e consideradas pela Direcção Regional da Cultura. Para a conservação preventiva e garantir a qualidade do trabalho efectuado, apontamos alguns pontos importantes, tal como refere a PROPOSTA DE DECRETO REGULAMENTAR REGIONAL, (Luís Casanovas – Paula Romão), publicado no Caderno Nº1 do INSTITUTO PORTUGUES DE CONSERVAÇÃO E RESTAURO, orientações para Museus e como se refere o artigo 2.º Âmbito.
4 GARANTIA 4 GARANTIA
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após vários meses de trabalho e olhando para trás tendo em conta os contratempos, os problemas inerentes à obra; foi pois possível devolver a dignidade ao RETÁBULO-MOR que se encontra inserido no templo; ao contexto artístico e patrimonial achamos ter conseguido levar esta obra a bom fim, conseguindo restituir alguma estética à igreja, devolvendo estes magníficos retábulos ao conjunto de mais seis retábulos.
O relatório, aqui desenvolvido foi enviado á Santa Casa da Misericórdia de Ribeira Grande que por sua vez deverá enviar uma cópia para a Direcção Regional da Cultura.
_____________________________________________________________________________ Oficina de Conservação e Restauro - 8
GILBERTO FERREIRA
Altar mor depois de beneficiar dos trabalhos de conservação e restauro
_____________________________________________________________________________ Oficina de Conservação e Restauro - 9