Ano Ano I,I, N Noo 02 02 Dezembro Dezembro de de 2009 2009
BUGEI ARMAS ARMAS
A Arte dos Samurais
Sai, Nunte e Jitte
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CINEMA
O Kiai
Os 25 Anos de “Karatê Kid” ESPECIAL
PERFIL PERFIL
Mestre Yang Luchan Tributo a Noriyuki “Pat” Morita
A Influência do Budismo Mahayana Sobre o Wushu
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Editorial
Novos Companheiros do Caminho
Estamos de volta, embora um pouco distantes de nossa periodicidade desejada. Gostaríamos que BUDÔ fosse mensal, mas teremos que nos contentar com a bimestralidade, ao menos por enquanto. Vários motivos nos levaram a isso, tanto técnicos quanto financeiros. Afinal, esta é uma revista com qualidade profissional. Gostaria também de contar com a SUA colaboração, divulgando nossa revista para seus amigos e colocando-a em blogs e sites para download. Lembre-se de gratuita. Também queremos saber sua opinião, coque é gratuita mentários e sugestões de matérias matérias, pois estamos sempre abertos aos nossos leitores. Nesta edição inauguramos a seção de cartas e ficaremos esperando a sua para o próximo número. Esta edição está muito especial. Contamos com uma matéria muito interessante da Sociedade Brasileira de Bugei Bugei, organização dedicada à artes marciais tradicionais do Japão e com sede em Goiânia. Tivemos uma calorosa Jordan, atualmente desenvolvendo o recepção de Shidoshi Jordan Finotti, responsável pelo Bugei na Espanha, e do Sensei Finotti Bugei no Brasil. Temos certeza de que será uma longa e frutífera colaboração. Mais duas estréias, desta vez, internacionais. O ony e TTony Mestr ony, que nos concedeu uma entrevista publicada Mestre no último número, estréia como colaborador regular de nossa revista. Para os que perderam a última edição, Mestre en uW e Huang Y en, do Kung Wen Yu Grão-Mestre Tony é herdeiro do Grão-Mestr Fu Nam Pai e desenvolve seu trabalho atualmente na Áustria. Nesta edição temos uma matéria especial dele sobre Budismo Mahayana e Artes Marciais. Excepcional e imperdível! Montamos uma formatação diferente do restante da revista para que as citações originais em chinês não causassem confusão. Tudo em benefício de você, leitor.
Megía, da Espanha, apareO Sensei Víctor López Megía ce pela primeira vez em nossa revista cedendo a foto de Nunte-Bo que abre a matéria sobre o Sai. Sensei Megía é especialista em história do Karatê e Kobudô e já enviou sua primeira matéria, que será publicada na próxima edição. É um prazer tê-lo conosco. Trazemos nesta edição outros assuntos de interesse, Kiai, Curiosidades e Pensacomo o Sai e suas variantes, o Kiai mentos Kid”. Tenho um mentos, e os 25 anos do filme “Karatê Kid” carinho especial com este filme pois na época de seu lançayu e os treinamentos do Goju-Ryu mento eu estudava Karatê Goju-R filme retratam com grande acuidade várias técnicas deste estilo de Okinawa. A filosofia transmitida também marcou toda uma geração de artistas marciais. Temos também uma notícia, a última de 2009, sobre a refilmagem (“remake” para os aficcionados) de… “The Karate Kid”! Mostramos algumas fotos e o link para o trailer oficial do novo filme. Como regra geral, ABOMINO refilmagens. Elas, em geral, são uma mistura de absoluta falta de capacidade criativa com ânsia de lucros fáceis. Neste caso, o problema é ainda pior pois trata-se de simples pirataria de título, acredite. Leia a nota e vai saber do que estou falando. Para encerrar, gostaria de estender o convite a todos ciais para que comtes mar es de ar ofessor es e pr os mestr marciais artes ofessores professor mestres partilhem seu conhecimento com todos nós. Enviem matérias para análise e, se forem aprovadas, serão publicadas SEM CUSTO ALGUM. Verifiquem nossas normas de envio na página 27. Boa Leitura. Gilberto Antônio Silva Editor
ARTES MARCIAIS, FILOSOFIA, CULTURA ORIENTAL, COZINHA, TRADIÇÕES, CINEMA E UM POUCO DE TUDO DO ORIENTE
Visite: http://vidaoriental.blogspot.com
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Nesta Edição: 06 BUGEI - A Arte dos Samurais 10 O Kiai 15 Tributo a Noriyuki “Pat” Morita 20 ESPECIAL: A Influência do Budismo Mahayana Sobre o Wushu
Seções 05 CARTAS / ÚLTIMAS 08 NEWS: Jiu-Jitsu Perde o Grande Mestre Pedro Hemetério 09 CURIOSIDADES 09 PENSAMENTOS 12 CINEMA: Os 25 Anos de “Karatê Kid” 16 ARMAS: Sai, Nunte e Jitte 28 PERFIL: Yang Luchan
ESPECIAL
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Revista digital do Caminho Marcial e da Cultura Oriental
ISSN 1516-3903
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Esta revista é uma publicação de Longevidade www.longevidade.net
Editor: Gilberto A. Silva (Mtb 37.814) Produção e Diagramação: Studio 88 participe: ticipe: Comente, opine, par budo@longevidade.net
Cartas
Agradecemos Parabenizo pelo trabalho realizado com a revista Budo, espero que haja continuidade. Estou a disposição para receber os futuros números, bem como para divulgá-los. Conheça o blog do ICSDA Brasil: http://icsdabrasil.blogspot.com Rodrigo Müller South America Director Brasil Director ICSDA Cuiabá - MT
Muito boa a revista. Precisávamos de uma publicação séria assim no Brasil. Só tragam mais matérias sobre técnicas marciais e armas. Gustavo Correia Fortaleza - CE
Karatê e Mestres Gostei da revista e queria sugerir que viesse um texto sobre a história do karatê-do e a vida de grande mestres. Obrigado. Sérgio Kreytz São Paulo - SP
Tai Chi Chuan Queria sugerir uma matéria sobre Tai Chi Chuan. Cláudia Lisboa São Paulo - SP
Olá, Sérgio. Suas sugestões foram anotadas e serão disponibilizadas aos poucos, pois é muito material. As biografias de Mestres começam a ser publicadas nesta edição.
Adorei a entrevista com o Mestre Tony e a matéria no templo budista. Espero que continuem com essa qualidade. Aldine Carrasco Gonçalves São Caetano do Sul - SP
Poderiam falar sobre Tai Chi Chuan na revista. André P. de Souza Curitiba - PR
O Tai Chi Chuan está na pauta para as próximas edições.
Participe você também! Envie sugestões e comentários para budo@longevidade.net. As cartas poderão ser resumidas para melhor uso deste espaço.
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Última de 2009
Quando uma refilmagem não é uma refilmagem? Resposta: quando é um golpe de marketing! Estamos falando do lançamento, em julho de 2010, do “novo” The Karate Kid. Como a história é diferente, a filmagem foi feita na China, com um garoto com outro nome e um mestre chinês que luta Kung Fu, fica-se a pergunta sobre o “karate” do título. A intenção era fazer o “The Kung Fu Kid”, mas na última hora o nome do clássico com Pat Morita foi mantido, mesmo sem ter NENHUMA relação com o filme. Certo, tem Jackie Chan como o mestre, então a coisa não está perdida. Mas o título, se for realmente mantido, é um golpe baixo de Hollywood como não se via há muito tempo. O protagonista é um iniciante de sangue nobre: Jaden AItrocinador, Smith, filho de Will Smith (que também é o PAI digo, Produtor do filme). Vamos ver. Assista o trailer aqui: http://www.youtube.com/watch?v=jy3TwgpOfr0&feature=player_embedded
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BUGEI A Arte dos Samurais Sensei Thiago Finotti de Moraes
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ugei é a Arte da Guerra. Presente em todas as civili zações e considerada por muitos como parte da na tureza humana, a guerra sempre movimentou a história e a mente dos grandes estrategistas. A Arte da Guerra... O entendimento sobre uma expressão tão abrangente pode se iniciar pela terminologia. Bu é um kanji relacionado com o militarismo e a marcialidade. Gei significa arte, performance. Assim, a junção de ambos – BuGei – pode ser interpretada como a arte da guerra ou desempenho militar e engloba estudos que se relacionam com o combate armado, desarmado e estratégia, suas sub-especializações e também as artes ligadas ao desenvolvimento mental e espiritual do guerreiro. Compondo parte do Bugei, o Bujutsu denota a funcionalidade dessas artes e suas estratégias, ligando a prática à efetividade em se cumprir os objetivos relacionados. O Bugei tem suas raízes no Japão antigo e sua origem existia com fins puramente bélicos. Hoje, os objetivos da perpetuação da arte estão voltados ao estudo e à manutenção de uma tradição. Estudado em formato de disciplinas ou matérias, o fator comum que une todas é a busca
pela realidade e eficácia – a distinção das ilusões dentro do guerreiro e ao seu redor. Historicamente tratando, o apogeu militar do Japão se deu na Era Tokugawa – também conhecida como Período Edo (1603–1868), enquanto socialmente a nação estava divida em quatro classes: comerciantes, artesãos, camponeses e samurai - a estes últimos cabia a função de garantir a ordem nas terras de seu senhor. Era a eles atribuído o direito de decisão sobre a vida e morte de outras pessoas, usualmente sem necessidade de justificativas. Eram simbolizados pela honra de seu nome e de seu Senhor, e pela espada. Preferiam a morte honrada a uma vida manchada por algo que os tornasse indignos ou que lhes causasse vergonha e embaraço diante de seu senhor, ao passo que regia em suas relações o Bushido , um código de honra transmitido de geração a geração. O Japão sempre foi um país recheado de guerras e instabilidades, tentativas sucessivas de se alcançar o poder e destruir os clãs inimigos. Relatos mostram que a atividade da guerra e disputas civis eram algo tão presente naquele povo que impressionavam mesmo aqueles que chegavam da Europa, que por sua vez nunca foi reconhecidamente uma terra pacífica. Ainda assim essa natureza bélica era algo normal e natural para eles e enquanto observações históricas descreviam os antigos japoneses como “um povo viciado em guerras”, o Japão também era referido por eles mesmos como “a terra da Grande Paz”. Ironicamente, era comum se encontrar nomes de ruas e passarelas do tipo ‘Armadura’, ‘Elmo’, ‘Flecha’, etc. Essa paixão pelo poder e pelo letal era acompanhada pela admiração pela graça das finas expressões da natureza, pela vida delicada das cerejeiras, pela relação com os templos energéticos naturais, pela busca da perfeição na caligrafia e na pintura. Toda essa combinação forjou uma forma muito peculiar de se encarar a existência e suas transições. Sob essa ótica, a arte marcial – faço aqui referência ao termo marcial no sentido original da palavra, remontando o Deus romano da Guerra, Marte, e não apenas auto-defesa – abrem portas para experimentações e um conjunto de vias que despertam para a formação e retidão do caráter. Enquanto Bugei pode ser entendido como qualquer atividade militar, diversas escolas/linhagens (Bujutsu Ryu) ensinavam suas artes por todo o Japão, não sendo possível precisar um número e cada uma dessas linhagens se caracterizava por suas particularidades, sendo assim a cada estilo atribuído um senso de unicidade ou identidade. O Kaze no Ryu Bugei chegou ao Brasil com a família Ogawa, que segundo histórico interno da escola desembarcou no Porto de Santos em uma data imprecisa em torno de 1935, estabelecendo-se no estado do Paraná. Sendo considerado um grande gênio em seu raciocínio e marcialidade, existem indícios históricos que fazem referência ao desenvolvimento das técnicas do Kaze no Ryu
por Ogawa Sensei . Por isso, é possível encontrar diferenças no que tange ao Kakuto no Bujutsu, ou seja, as formas reais de guerra praticadas pelos alunos de Ogawa Sensei em relação às do Kaze no Ryu. Assim se diz que desde a década de 70 nossa linhagem também se denomina Ogawa Ryu. Shidoshi Jordan Augusto foi um dos poucos que recebeu das mãos de Ogawa Hiroshi a graduação de Shidoshi e a permissão para ensinar a tradição da linhagem, dando início a anos de ensino até mudar-se para a Espanha e fundar a EBS – European Bugei Society. Thiago Moraes estuda sob a orientação de Shidoshi Jordan Augusto e junto ao seu direcionamento é responsável pela continuidade do trabalho da SBB – Sociedade Brasileira de Bugei, hoje presente em Escolas de Bugei e Universidades. Os estudos de Bugei na linhagem Ogawa estão compreendidos no Kobujutsu e no Taijutsu. Kobujutsu, traduzido literalmente como “Arte Velha da Guerra” freqüentemente faz referência ao uso e prática de armas. Considerando o aspecto mais geral de Kobujutsu são nele encontradas várias artes: Kenjutsu – Arte da Espa-
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da, Iaijutsu e Battojutsu – Arte do Saque e Corte, Tantojutsu – Arte da Faca, Yarijutsu (Sojutsu) – Arte da Lança, Bojutsu – Arte do Bastão Longo, Naginatajutsu – Arte da Naginata, antiga arma no formato de alabarda ou lança com lâmina no formato de espada, Tanbojutsu – Arte do Bastão Curto, Nawa no Gikkou – Artes com Cordas e outras. No currículo da escola, o estudo desarmado se dá no Taijutsu, termo usado para designar as artes corporais – Tai significa corpo, Jutsu significa arte. Trata-se de uma forma de luta bastante antiga, cujo cerne consiste em preparar os praticantes para que o corpo se tornasse uma arma extremamente perigosa e aperfeiçoar a tal ponto que per-
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mitiria enfrentar qualquer situação sem proteção além do próprio corpo. Naturalmente, tudo isso dentro das realidades da época e no limiar da realidade prática. Analisando a imensa quantidade de possibilidades de conflitos que temos a partir desses conceitos, o Taijutsu se expandiu e evoluiu em uma miríade de formas, com o intuito de abranger consistentemente as mais diversas vantagens em combates, contando inclusive com sub-especializações contra adversários armados. A eficácia das artes corporais no Japão antigo se tornou tão marcante que o estudo chegou ao ponto de interagir com ângulos, projeções, imobilizações, chaves, impactos, traumas, trações e alavancagens que lhes davam condições de colocarem-se supostamente contra qualquer adversário. Em termos das classificações das artes no Taijutsu e suas naturezas, este é dividido sumariamente em três grandes artes: o Jujutsu, o Aikijujutsu e o Kenpo. O Jujutsu, arte que teve origens no Kumi Uchi (ou Yoroi Kumi Uchi , no caso de usarem armadura) que por sua vez procurava levar os adversários ao solo e explorar as vantagens rápidas dessa situação. Já no Jujutsu, podemos encontrar uma grande quantidade de técnicas e imobilizações, com maior enfoque no agarramento e o uso do chão como arma. O Aikijujutsu se baseia na utilização da energia interior Ki e na harmonia ou interação entre os oponentes e o guerreiro. Ainda que belo, o Aikijujutsu possui faces de grande periculosidade. Trabalha com o princípio do vazio, ou Sukima, que em essência consiste em não permitir que a intenção do inimigo atinja seus objetivos e conta-se que fundamental-
mente esse desenvolvimento surgiu quando o bushi (guerreiro) perdia a Katana (espada) em campo de batalha e dificilmente encontraria outro recurso para se defender além do Sukima. Os movimentos circulares são facilmente observáveis durante a execução de Aikijujutsu representando o redirecionamento, o não conflito e a junção com a energia Ki do inimigo. Porém nos estudos voltados para a realidade da guerra as práticas se tornam rígidas e destrutivas, com atuações retilíneas que, compostas com o movimento circular atuam por meio de espirais e adquire uma violenta característica. Sua complexidade a consagrou como uma arte de nobres costumes. A dificuldade se encontra exatamente na harmonia interior do praticante, não se deixando levar por qualquer sentimento ou emoção que afetasse a sua técnica. Por outro lado, o Kenpo é uma arte que trabalha com a agressividade e o fortalecimento corporal. A boa preparação do corpo visava tornar suas partes em armas, por conseguinte capazes de absorver impactos. Sua filosofia consiste em encontrar harmonia entre a naturalidade do corpo e sua agressividade. Torna-se interessante entender que existem estudos específicos dentro de Taijutsu que surgem como especializações dentro de uma arte. É o caso, por exemplo, do Koppojutsu, arte que estuda o ataque aos ossos do corpo e estabelece uma ligação entre o Jujutsu e o Aikijujutsu, uma vez que algumas de suas seqüências clássicas – Seiteigata – são usadas tanto em uma arte quanto em outra.
Sensei Thiago Finotti de Moraes é formado em Engenharia Eletrônica pela Universidade Federal de Uberlândia. Iniciou seus estudos em artes marciais ainda criança e estuda sob a orientação de Shidoshi Jordan Augusto. Foi diretor do Centro Integrado de Artes Marciais (CIAM), escola de artes marciais, em 2002. Participou de vários cursos de formação com Shidoshi Jordan Augusto, estando ao seu lado em cursos internos, acompanhando-o em eventos e viagens e estado nas principais revistas e mídias do mundo sobre artes marciais. É o responsável técnico da SBB no Brasil.
Pensamentos “A filosofia de nosso estilo pode ser resumida no nosso lema: amar a pátria, não recuar um só passo na luta, ajudar os fracos e obter a confraternização mútua” – Mestre Ranulfo Amorim, Hapkidô “ Ao estudar o Caminho, é difícil percebê-lo; ao percebê-lo, é difícil preservá-lo. Quando se pode preservá-lo, é difícil colocá-lo em prática” - Pensamento Ch’an “Quando o professor é rigoroso, o caminho estudado é honrado” - Pensamento Ch’an “Nenhum homem confia em alguém que se mostre agressivo. E aquele em quem ninguém confia permanecerá solitário e sem amparo” – Lieh Tzu, Sábio Taoísta “A filosofia aparece no caráter do praticante à medida em que este evolui na técnica” – Shihan Makoto Nishida, Aikidô “…tudo o que tive foram aulas de técnicas e filosofia de vida: nunca agredir ninguém, não freqüentar lugares onde haja encrencas e viver sempre na serenidade” – Mestre Tomeji Ito, Karatê
“É mais útil acender uma vela do que amaldiçoar a escuridão” – Chuang Tzu, Filósofo Chinês “É difícil ter uma vida longa com um nome famoso” – Pensamento Ch’an “O homem que alcançou o domínio de uma arte revela-o em cada um de seus atos” – Provérbio Samurai “Para alimentar o coração não há nada melhor do que ter poucos desejos” – Mencius, Filósofo Chinês “Se você perseguir o conhecimento por milhares de dias, não vai lhe valer mais do que um único dia de estudo apropriado do funcionamento da mente. Se você não a estudar, você não será capaz de entender um simples pingo d’água” – Huang Po, Sábio Chinês “Tzu-Kung perguntou em que consistia o Homem Superior. O Mestre disse:’Ele age antes de falar, e em seguida fala de acordo com suas ações” – Confúcio “O Home Superior tem uma calma dignidade sem orgulho. O homem comum tem orgulho sem calma dignidade” - Confúcio 9
Curiosidades Shiro Saigo, famoso lutador do Kodokan que venceu vários Mestres de Jujitsu na aurora do Judô, era Mestre em Daito-Ryu Aikijujutsu e o primeiro na linha sucessória do Grande Mestre Tanomo Saigo, seu pai. Ele desistiu de chefiar o Daito-Ryu para se dedicar ao Judô, sendo substituído por Sokaku Takeda na direção do Aikijujutsu. Posteriormente Mestre Saigo abandonou também o Judô para se dedicar apenas ao Kyudô, a Arte Zen do Arco e Flecha. Seu golpe principal, Yama-Arashi (“Vento da Montanha”), era tido como invencível quando usado por Saigo. O sexto patriarca do Zen Budismo, Hui Neng, era um cozinheiro analfabeto do mosteiro quando foi reconhecido como Patriarca pela sua profunda compreensão do Zen.
Os seis pontos brancos alinhados que se vêem na cabeça raspada dos monges de Shaolin representam os seis votos que eles tem que manter. Esses pontos são feitos com a brasa de um incenso e reforçados pelo menos duas vezes ao ano. Ao lado vemos o personagem “Kulilin”, da série Dragon Ball. Note os seis pontos, que ele perdeu quando se casou em “Dragon Ball Z” (também deixou crescer o cabelo) Entre as centenas de artes marciais diferentes existentes na China, uma chama a atenção: trata-se do PAN QUAN BI. Esta é uma arte marcial que utiliza como arma – acreditem – os pincéis usados para escrever! Realmente, lá na China a pena é mais forte do que a espada…
O KIAI Gilberto Antônio Silva
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Kiai é a técnica mais conhecida das artes marci ais por ser a mais aparente, na forma de um grito característico. Qualquer pessoa que tenha assistido a um filme qualquer sobre artes marciais sabe do que estamos falando. Mas pro trás do grito existe toda uma arte muito complexa, mas que iremos abordar de forma bem simplificada. KIAI é uma palavra japonesa composta por dois ideogramas (veja a figura). O primeiro, KI, pode ser traduzido por espírito, sopro ou mais comumente, energia. Seria a energia universal que permeia e toma parte em todas as coisas. O segundo, AI, significa harmonia ou mais precisamente, ficar junto. É uma contração do verbo “awasu”, que significa “unir”. Seu ideograma é formado por um telhado ou tampa sobre um receptáculo, mostrando a condição de se ficar “fechado” com alguma coisa ou ficar junto. Como podemos perceber, Kiai significa “unir a energia”. Trocando em miúdos, Kiai pode ser entendido como a liberação da energia (Ki) que estava armazenada, em harmonia com o praticante (Ai). O Ki deve ser aumentado e conservado no Hara, o centro de energia do ser humano, como se estivesse dentro de um pote tampado. Isso demonstra que seu significado é muito mais profundo e cheio de nuances do que se imagina. Aspectos Energéticos A base do Kiai está no Hara e na concentração total do praticante nessa área, chamado de Haragei. Discutiremos o Hara e o Haragei em outra ocasião. O Grito Mas então onde fica o grito? O grito que se escuta constantemente nas artes marciais japonesas e coreanas é uma forma de se liberar o KI para formar o “receptáculo” com o oponente e ao mesmo tempo funcionar como arma. Vamos por partes. A respiração é de suma importância nas artes marciais, como é de conhecimento comum. É através dela que tiramos o KI do ar e controlamos o fluxo de energia em nossos movimentos, como por exemplo, quando expiramos ao mesmo tempo em que desferimos um golpe. Sempre que
fazemos um esforço muito grande nós soltamos naturalmente um Kiai, sendo que na maioria das vezes isso não passa de um grunhido, como quando levantamos um grande peso ou quando os lenhadores cortam uma árvore. Esse som gutural não é produzido completamente na garganta mas parece vir de dentro, da barriga. Essa é a essência do Kiai! O som que emitimos deve vir da região abdominal, do HARA, e não da garganta e deve ser simultâneo com o golpe! O que assistimos em muitos campeonatos de Karatê não passa de encenação para a platéia ou para dar a entender ao juiz que o golpe teve força. Vemos até praticantes soltarem o grito depois de darem as costas para o oponente, retornando à sua marca. Bobagem! Não basta gritar, mas deve haver certas qualidades presentes, como veremos a seguir. O Kiai como Arma Alguns autores consideram que todas as artes marciais japonesas que se utilizam do Kiai (e TODAS utilizam de uma ou outra maneira) deveriam ser enquadradas como KIAI JUTSU (A Arte do Kiai), dada a sua importância. Mas o Kiai não é apenas algo “esotérico” como a influência do KI de um oponente a outro, mas possui também poder de
produzir síncopes, estas comprovadas cientificamente. Sua força é tão grande que a arte do Kiai também é chamada de TOATE-NO-JUTSU (A Arte de Golpear à Distância). Uma síncope é um estado clínico em que há perda mais ou menos completa da consciência e do movimento, com uma parada ou pelo menos diminuição das batidas cardíacas, da circulação e dos movimentos respiratórios. Tal estado pode ser induzido pelo Kiai, desde que executado da maneira devida. Os nervos vegetativos do ouvido médio condensam-se em um plexo que se relaciona diretamente com os nervos pneumogástrico e simpático. O sistema simpático estimula os órgãos a ele associados enquanto o parassimpático atenua. O Pneumogástrico é um dos mais importantes nervos parassimpáticos, agindo sobre o coração, pulmões, estômago, intestinos, fígado, e outros órgãos. O nervo auditivo que parte do ouvido interno está em conexão direta com o sistema simpático. Qualquer estimulação do sistema parassimpático (como o pneumogástrico) causa uma queda da atividade dos órgãos, enquanto uma estimulação do sistema simpático acarreta uma estimulação física. Como podemos perceber, esses dois sistemas agem antagonicamente. Um estímulo muito intenso do ouvido médio pode provocar uma queda da pressão arterial, efeito que pode ser agravado com o mesmo fenômeno ocorrendo no ouvido interno. Assim, um som intenso e repentino incidindo sobre esses dois aparelhos delicados pode provocar uma síncope por diminuição da pressão arterial e dos batimentos cardíacos. Contam-se várias histórias de Mestres que podiam paralisar seus oponentes ou mesmo matá-los apenas com o poder de seu Kiai! Mas para que o Kiai seja eficiente são necessários alguns fatores: - Grito grave e gutural - Utilização da sílaba correta
- O som deve nascer do HARA - A postura da voz deve ser observada. Um tom autoritário, firme, é mais importante do que um grito muito alto - É preciso que o grito seja carregado de emoção - Deve ser súbito e intenso - A distância deve ser entre 0,80 e 1,50 metro do oponente (para maior eficácia) Psicologia e Medicina Chinesa Claro que também existe um efeito psicológico muito grande. Somos programados para evitar e temer ruídos altos e repentinos. Várias criaturas fazem uso de sons para atemorizar seus inimigos, parecendo maiores e mais temíveis. Essa técnica é utilizada pelas tropas de choque da polícia, especializadas em dissolver tumultos. Eles se aproximam gritando ou batendo o cassetete no escudo, criando um ruído que, mesclado à marcha ritmada, parece muito ameaçador. A síncope física mencionada anteriormente pode ter sua eficiência ampliada pelos fatores psicológicos da intensidade e modulação do grito do Kiai, que nos despertam reações primitivas de fuga. Na medicina chinesa a emoção atribuída ao Rim é “medo” e a abertura do Rim se dá nos ouvidos. Logo, um som determinado pode alterar o equilíbrio energético do Rim, causando um princípio de pânico. O Kiai Medicinal O Kiai também pode ser utilizado como agente estimulador na recuperação de praticantes que sofreram síncopes. O grito emitido nestes casos é mais agudo, agindo sobre o sistema nervoso simpático que estimula o sistema cardíaco, acelerando os batimentos, e sobre o circulatório, dilatando os vasos sangüineos. O Kiai pode ser emitido sozinho ou acompanhado de percussões no corpo do paciente. Tais técnicas são cuidadosamente estudadas e aplicadas numa arte denominada KUATSU. Conclusão Como pudemos ver, o Kiai está muito longe de ser apenas um grito. Muitas vezes, aliás, ele é silencioso (quando então é chamado de KENSEI). Grande parte das artes marciais chinesas são silenciosas mas possuem o Kiai. Já as coreanas o conhecem por KIHAP e as vietnamitas por HET, utilizando-o muito. Espero que você não se engane mais com a aparente superficialidade do Kiai e estude e treine, treine, treine muito nesta que é uma das artes maravilhosas do Oriente e que está em processo de esquecimento.
Gilberto Antônio Silva é Parapsicólogo e Terapeuta Oriental, estudioso de filosofia e cultura oriental desde 1977. Como jornalista e pesquisador, estudou e teve contato nos anos 80 e 90 com os principais introdutores das artes marciais no Brasil. Praticou Karatê Okinawa Goju-Ryu, Aikidô e Tai Chi Chuan.
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Cinema
Karatê Kid 25 Anos
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filme “Karatê Kid – A Hora da Verdade” foi um estrondoso sucesso de bilheteria no cinema e um fenômeno de aluguel no recém criado mercado de videocassete. Produzido em 1983 e lançado em 1984, trazia a história de um garoto, Daniel Larusso (protagonizado por Ralph Macchio), que se muda com a mãe para a Califórnia e se torna alvo de uma turma de baderneiros que treinam artes marciais. Casualmente, o zelador do condomínio onde mora é um Mestre em Karatê, o Sr. Kesuke Miyagi (protagonizado por Pat Morita). Sr. Miyagi resolve treinar o garoto na antiga arte marcial de sua família para que Daniel possa se defender de seus oponentes. Sucesso de público e de crítica (foi indicado ao Oscar e ao Globo de Ouro), o filme é memorável até os dias atuais, tendo tido três coninuações: duas com os mesmos protagonistas e uma quarta fita, desta vez com o Sr. Miyagi treinando uma garota, interpretada pela excelente Hilary Swank – ganhadora de dois Oscars de Melhor Atriz por “Meninos não Choram” e “Menina de Ouro”. Muitas pessoas, especialmente praticantes de artes marciais, criticam duramente o filme por não ser “realista”. Mas muitas vezes isso é injusto. Em 1984 não assistíamos ao festival de sangue e ossos quebrados que invadem os filmes de hoje. Era uma época em que as pessoas tentavam se firmar depois das mudanças de 60 e 70, ainda com o perigo do holocausto nuclear sobre nossas cabeças. O filme “O Dia Seguinte” (The Day After), lançado em 1983, causava grande impacto mostrando o que seria a devastação de uma guerra nuclear. Isso era mais assustador ainda por ser uma realidade pronta a se fazer presente a qualquer momento, e se necessitava de esperança. Nessa época, os filmes de aventura eram a grande sensação, com mocinhos combatendo inimigos cruéis como em O Império Contra-ataca e O Retorno de Jedi (fechando a trilogia origi-
nal de Star Wars), Batman, Caçadores da Arca Perdida, Indiana Jones no Templo da Perdição, Indiana Jones e a Última Cruzada ou filmes mais familiares e com lições de moral como E.T. O Extraterrestre, Os Caça-Fantasmas, De Volta para o Futuro I e II e Um Tira da Pesada I e II. Para entender um filme dessa época devemos ver as entrelinhas. “Karatê Kid” mostra basicamente que arte marcial não é pancadaria e nem deve ser utilizado para coagir os mais fracos. Que existe um código de honra dentro das artes marciais e que ter grande eficiência marcial não significa sair por aí batendo em todo mundo. Que arte marcial possui um significado espiritual, profundo, que deve ser puxado de dentro de nós (como na cena em que Daniel tem que podar um bonsai). Também chama a atenção para o fato de que as técnicas marciais estão integradas em nosso dia-a-dia e que o artista marcial deve VIVENCIAR a sua arte em tudo o que faz. Este é o significado das hilárias “tarefas” que Daniel tem que se submeter, como lixar o chão, pintar cercas e polir carros. No final, ele aprendeu técnicas marciais sem perceber. Ed Parker, o grande divulgador das artes marciais na década de 60 e descobridor artístico de Bruce Lee, expõe isso claramente em sua coleção “Infinite
Insights Into Kenpo”. Ele mostra que muitos gestos do dia-adia podem se transformar em técnicas marciais, como o levantar de um joelho para subir um lance de degraus. Se levantar mais alto o joelho e com mais velocidade, terá um golpe marcial. Pense nisso na próxima vez que for subir uma escada… O filme “Karatê Kid” também foi pioneiro em levar as artes marciais para dentro do ambiente familiar. Até então os filmes marciais eram muito violentos para a época. Muitos deles se pareciam com os filmes pornográficos: muito ação e pouca história. “Karatê Kid” mostrou que existia CONTEÙDO nas artes marciais, um porquê de se fazer as coisas daquele jeito, uma forma de disciplina e desenvolvimento ideal para os mais jovens. Seu ritmo um tanto lento dá tempo ao espectador, não acostumado na época, para entender a filosofia por trás das técnicas marciais. Acredito que é nisso que reside a grande vitória desse filme – mostrar que existe mais do que chutes e socos em uma arte marcial. É oportuno ressaltar que esta obra começou com uma simples observação do Produtor Jerry Weintraub, veterano com mais de 30 anos de Hollywood e produtor de “Rocky, Um Lutador”, com Sylvester Stallone. Ele assistiu a uma reportagem de TV que mostrava um garoto que havia aprendido Karatê para lidar com as perseguições que sofria na escola (o hoje conhecido “bullying”). Ele procurou depois o garoto e perguntou se ele era tão bom em lutas reais quanto em torneios. O garoto respondeu: “Eu não luto. Não há razão para isso”. O produtor ficou impressionado com a filosofia do menino. E nascia o embrião de um clássico do cinema.
CURIOSIDADES DA PRODUÇÃO > O árbitro na luta final é Pat E. Johnson, especialista em artes marciais e parceiro de Chuck Norris no Tang Soo Do. Teve uma pequena participação em “Operação Dragão”, com Bruce Lee, mas preferiu ficar por trás das câmeras. Foi instrutor de vários astros de cinema e creditado como “instrutor de lutas/coreógrafo” para o filme. ·> “Miyagi” é o nome real do fundado do estilo Goju-Ryu de Karatê, Chojun Miyagi. Este é um dos estilos mais tradicionais de Okinawa e que serviu como inspiração para as técnicas marciais do filme. ·> Os exercícios que Mr. Miyagi passa para Daniel são retirados de técnicas reais do estilo Goju-Ryu. vildsen, foi o ·> O diretor de “Karatê Kid”, John G. A Avildsen, ganhador do Oscar de Melhor Diretor por “Rocky – Um Lutador”, com Sylvester Stallone. ·> O dublê de Pat Morita nas cenas de ação de “Karate Kid” e da série de TV “Ohara” foi o lendário Fumio Demura, Instrutor-Chefe da Japan Karate Federation Itosu-Kai in América e presente em muitos filmes de ação. Sensei Fumio Demura é um dos mais importantes instrutores de karate dos EUA desde os anos 60. ·> Ouve rumores de que o papel de “mestre-vilão” da Cobra-Kai, brilhantemente interpretado por Martin Kove, havia sido oferecido à Chuck Norris mas ele havia recusado, pois mostraria o Karatê sendo mal utilizado e ensinado. Tempos depois ele desmentiu esse convite em uma entrevista, mas afirmou que caso tivesse sido convidado, recusaria pelos mesmos motivos. Mas ele ajudou a produção a encontrar artistas marciais para o filme. ·> “The Karate Kid” era o nome de um personagem de quadrinhos da DC Comic’s que aparecia na “Legião dos SuperHeróis”. A DC, dona dos direitos autorais do personagem, deu
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uma permissão especial para utilização do nome no título do filme. Existe um agradecimento a eles nos créditos finais. ·> Elisabeth Shue, que fez a namorada de Daniel, interrompeu seus estudos em Harvard para estrelar o filme. ·> Pat Morita inicialmente foi desconsiderado para o papel principal por ser um comediante. Acabou ganhando “Mr. Miyagi” por ser o melhor de todos que fizeram o teste. ·> A cena na praia foi a primeira filmada. ·> William Zabka (Johnny) não tinha experiência em artes marciais antes de ser escolhido para o filme. ·> A famosa cena na qual o senhor Miyagi tenta pegar uma mosca com pauzinhos (hashi) é uma referência ao filme “Miyamoto Musashi kanketsuhen: kettô Ganryûjima”, de 1956, na qual uma cena similar aparece. Este filme é o final de uma trilogia sobre o grande samurai Miyamoto Musashi, estrelado pelo astro japonês Toshiro Mifune ·> O mesmo Toshiro Mifune foi cogitado para o papel de Miyagi, mas se mostrou muito sério nos testes para o personagem, apesar de seu brilhantismo. Os produtores e o diretor queriam alguém mais descontraído e menos “samurai” por ser um filme familiar e não um épico de Kurosawa. ·> O estúdio quis cortar a cena de embriaguez de Miyagi, por ser indiferente ao desenrolar da história. O diretor Avildsen discordou e lutou para manter a cena na edição final. Ela foi responsável pela indicação de Pat Morita ao Oscar. ·> Durante as filmagens, em 1983, Ralph Macchio tinha 22 anos. Todos no elenco se surpreendiam com sua idade real. Quando fez sua última participação, em Karate Kid III, estava com quase 30 anos. ·> A canção que Miyagi entoa na celebração de seu aniversário é uma canção folclórica japonesa real que Pat Morita ouvia quando criança. ·> O Chevrolet Conversível 1950 amarelo que Daniel poliu durante o treinamento e que recebeu de presente de aniversário de Miyagi foi dado realmente a Ralph Macchio pelo produtor após as gravações, e ele ainda o mantêm. > Os outros carros da coleção de Miyagi eram um DeSoto 1948, um Stuebaker 1952 e um Nash Rambler 1956. > Durante a cena em que Miyagi fica bêbado, ele revela que atuou na Segunda Guerra Mundial no 442º Regimento de Combate do exército americano. Esta unidade existiu mesmo e era constituída de nipo-americanos que lutaram na Europa duran-
te a Guerra e se tornaram a unidade militar mais condecorada na história dos EUA. Esta citação e o fato da família de Miyagi ficar em um campo de concentração americano durante a Segunda Guerra foram homenagens do elenco e dos produtores aos nipoamericanos. > O troféu original da competição “All Valley” é agora parte da decoração do restaurante “Hollywood” na Euro Disney, em Paris. > A cena de abertura em “Karate Kid II” foi realizada no término do primeiro filme. Apesar de não ter sido aproveitada na montagem final, ela foi guardada para uma eventual seqüência. > As filmagens de “Karatê Kid” começaram em 14 de outubro de 1983 e duraram apenas 42 dias. Foi um filme de baixo orçamento que levantou mais de 100 milhões de dólares apenas nos EUA. ·> A banda de rock “Broken Edge” que fez a performance de algumas das músicas da trilha sonora aparece no filme tocando na cena do baile de Halloween. ·> Ralph Macchio deu o nome de “Daniel” ao seu primeiro filho. ·> Karate Kid foi o vídeo mais alugado em 1985. ·> Praticamente todas as locações utilizadas no filme existem realmente. ·> Um dos alunos da Cobra-Kai no filme foi interpretado por Chad McQueen, filho do grande astro Steve McQueen. ·> Karate Kid foi o 500º filme produzido em som Dolby e o primeiro a ser produzido em massa em Hi-Fi stereo quando lançado em VHS. Está listado entre os 100 filmes mais inspiradores do cinema.
PRÊMIOS (1985) Indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante – Pat Morita Indicado ao Golden Globe por Melhor Ator Coadjuvante – Pat Morita Indicado ao Young Artist Awards por Melhor Ator Coadjuvante em Filme Musical, Comédia, Aventura ou Drama – William Zabka ·Vencedor do Young Artist Awards por Melhor Atriz Coadjuvante em Filme Musical, Comédia, Aventura ou Drama – Elisabeth Shue ·Vencedor do Young Artist Awards por Melhor Filme - Drama
Tributo
Noriyuki “Pat” Morita
P
at Morita foi um dos mais carismáticos astros de Hollywood. Come diante capaz e ator versátil, teve mais de 160 trabalhos em sua filmografia, entre filmes, dublagens e séries de TV. Participou de vários clássicos da TV como “Columbo”, “Havaí 5-0”, “M*A*S*H”, “Police Woman”, “Cannon”, “Kung Fu”, “Starsky & Hutch”, “O Homem do Fundo do Mar”, “O Incrível Hulk”, “Magnum” e outros. Noriyuki Morita nasceu em Sacramento, Califórnia, em 28 de Junho de 1932. Filho de imigrantes japoneses que tinham uma pequena loja de presentes em Chinatown, Morita desenvolveu tuberculose espinhal aos 2 anos e passou a infância em hospitais até que um médico efetuou uma cirurgia de ligamento de vértebras, nove anos depois. Ele aprendeu a andar com 11 anos de idade. Durante a Segunda Guerra Mundial Noriyuki Morita esteve com os pais em um campo de concentração americano (sim, eles também tinham campos de concentração) junto com outros imigrantes orientais e suas famílias, por serem considerados um “risco à segurança americana”. Como outras famílias, tudo o que possuíam foi confiscado pelo governo e muitos ainda lutam até hoje para reaver suas posses. Pat Morita era grande defensor da causa destes americanos injustiçados pelo próprio governo. Durante a estada no campo de concentração conheceu um padre católico de nome “Pat”, adotando depois como nome artístico “Pat Morita”. Depois da guerra a família gerenciou um restaurante chinês e ele entretinha os convidados contando piadas e sendo mestre de cerimônias para jantares. Depois de formado na Armijo High School arrumou emprego como programador de computadores em uma empresa aero-espacial que projetava motores de foguetes. Aos 30 anos desistiu da programação de computadores e assumiu uma carreira solo de comediante “stand-up”. No início dos anos 60 fez uma série de turnês pelo país e começou a aparecer em programas de TV. Começou a ganhar fama e se consagrou no papel de “Arnold” na prestigiada série de TV “Happy Days”. Depois de dezenas de participações em séries e filmes durante os anos 70 e 80, estrelou em 1984 o filme “The Karate Kid”, que o elevou à categoria de astro de Hollywood e lhe valeu uma indicação ao Oscar e outra ao Golden Globe. Apesar de usar o nome de “Pat Morita” há muitos anos, o produtor de “Karate Kid”, Jerry Weintraub, sugeriu que ele fosse creditado com seu nome real para soar mais nipônico. Adorado e lembrado por todos como divertido e espirituoso, dizia sempre que havia tido uma vida muito alegre e feliz. Alegria era seu modo de fazer as coisas. Em 1994 ele recebeu uma merecida estrela na Calçada da Fama, no número 6633 da Hollywood Boulevard. Noriyuki “Pat” Morita faleceu em Las Vegas em 24 de novembro de 2005, de causas naturais. Deixou a esposa Evelyn e três filhas de um casamento anterior.
“The Match Game”, game show da TV 1976
“O Barco do Amor”, série de TV 1977
“M*A*S*H*”, série de TV 1974
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Armas
Sai, Nunte e Jitte 16
Foto: cortesia do Sensei Víctor López Megía
Uma das armas mais interessantes do arsenal de Okinawa, o Sai e suas variações deve ser conhecido por todos que estudam artes marciais seriamente. Incluímos também o Jitte, que apesar de não ser exatamente uma variação do Sai, é muito similar em aparência e utilização.
Sai Uma das poucas armas de metal do arsenal do Kobudô de Okinawa, o Sai é uma arma vistosa e muito bonita, bem como extremamente eficiente em várias situações. Suas origens estão cobertas de lendas, afirmandose inclusive que teria sido uma espécie de grampo de cabelo para os elevados penteados em moda em Okinawa. Pesquisas mais recentes indicam que o Sai nasceu como arma, propriamente dita, provavelmente com base em armas chinesas ou indonésias. Seus prolongamentos laterias prendiam a lâmina da espada, chegando a quebrá-la num giro de pulso.
te à cruz suástica (chamada em japonês de “manji”). A suástica é um desenho muito antigo, proveniente da Índia, e adotado como um dos símbolos do budismo. O Manji Sai em geral não possui empunhadura coberta, tendo pontas aguçadas nas duas extremidades o que lhe permite desenvolver uma série de técnicas rápidas. Também se pode chamar de “Matayoshi Sai”, por ter sido divulgado pelo clã Matayoshi, lendários cultuadores do Kobudô em Okinawa. Foi inspirado pela forma do Nunte-Bo, arpão de Okinawa, do qual Sensei Taira extraiu a ponta para utilizar como um Sai..
Formado em síntese como um tridente com seu dente central alongado, o Sai também é uma arma extremamente pessoal, com dimensões similares à Tonfa (do cotovelo à palma da mão). Confeccionado todo em metal, possui uma alargamento ou bolinha na empunhadura, utilizada para golpear o oponente como um “tsuki” (golpe de percussão). O Sai pode ser utilizado em bloqueios, estocadas (“tsuki”), apresamentos e chaves ou como arma de arremesso utilizando sua ponta afilada. Normalmente essa arma era levada aos pares, utilizando-se uma em cada mão. Consta que os praticantes que gostavam de arremessá-lo costumavam andar com três armas destas, uma no cinto, de reserva, para o caso de arremessar uma ou duas. O arremesso preferido era no pé do oponente, pregando-o ao chão.
Manji Sai Uma forma particular de Sai, desenvolvido pelo Sensei Shinken Taira com base em um ideograma visto em um templo budista, onde um dos ganchos laterais se projeta em direção contrária, criando uma forma semelhan-
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Nunte-Bo Quando o Manji Sai é preso na ponta de um bastão (Bo) temos o Nunte-Bo ou “arpão”. Utilizado originariamente em pesca, acredita-se que sua origem seja chinesa. Sua movimentação é similar à de uma lança, mas o fato de que um dos ganchos laterais está em uma direção
oposta amplia sua versatilidade, podendo aparar, estocar ou enganchar o oponente.
Jitte (Jutte)
News
Arma similar ao Sai, mas com apenas um gancho lateral achatado, e utilizado em uma só peça. Seu nome significa “Dez Mãos” e simboliza a força que pode ser criada através da alavanca. De origem japonesa, era muito utilizado por forças policiais para desarmar um oponente sem machucá-lo e pelos Samurais para enfrentar a Katana. Possui cerca de 45 cm de comprimento em média e seu cabo metálico é encordoado.
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Demonstração de Jitte (Ikkaku Ryu) na comemoração do dia do Samurai, em São Paulo, pelo Sensei Jorge Kishikawa.
Jiu-Jitsu perde o Grande Mestre Pedro Hemetério
Faleceu em 11 de outubro deste ano, aos 86 anos, o Grande Mestre Pedro Hemetério, uma das lendas do Jiu-Jitsu brasileiro. Formado por Carlos e Hélio Gracie, Pedro Hemetério representava a primeira geração da modalidade em São Paulo e era Faixa Vermelha 9o Grau. Ele sofria de problemas cardíacos e chegou a ficar dois meses internado. Conhecido como “homem-quiabo” pela facilidade com que escorregava pela guarda do oponente para chegar em suas costas, Mestre Hemetério se estabeleceu em São Paulo na década de 60 e ficou famoso pelos desafios no estilo vale-tudo que celebrizaram o Jiu-Jitsu. Nossas condolências à sua família e a toda a “família” do Jiu-Jitsu brasileiro. Pedro Hemetério em pé (primeiro à esquerda) junto de Hélio Gracie, Carlos Gracie, alguns de seus filhos e outros lendários pioneros do Jiu-Jitsu Brasileiro
Quem usa Droga não é vítima.
É um idiota.
Artes Marciais não combinam com drogas.
NENHUMA.
NÃO USE DROGAS Campanha BUDÔ
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Especial
A INFLUÊNCIA DO BUDISMO MAHÂYANA SOBRE O WUSHU Tony Garcia
A
arte marcial tradicional chinesa teve momentos de esplendor e decadência. O taoísmo nutriu desde tempos imemoriais a prática do Wushu, principalmente nos estilos de tendência interna, com suas concepções filosóficas emanadas da doutrina elaborada por Laozi (老子) y Zhuangzi (莊子),1 nas quais são patentes as noções
expostas no Yi Jing (易經),2 com alguns ingredientes da religião tradicional. O período no qual nasce o fundador do budismo, Sidhârtha Gautama,3 foi marcado pelos fortes conflitos de uma sociedade de classes, onde a diferença de castas4 e a opressão de um estado encravado sobre os privilégios da minoria se abatiam sobre a ultrajada massa de seres em um mundo físico depauperado, dividido entre os laços de sangue e a posição social. Em sua origem o budismo não foi cimentado sobre as bases religiosas de interpretação do mundo que havia na época, sua visão negava a autoridade dos Vedas e expulsava o barroco ritualismo dos deuses tradicionais, com a política de portas abertas onde não era necessário nascer sob o teto de uma família brahmânica para acessar as amplas margens do despertar. Sua estrutura ideológica estava sustentada pela compreensão das Quatro Nobres Verdades e o Nobre Caminho
Łctuplo:
As Quatro Nobres Verdades (Cattâri(Cattâri-ariyaariya-saccâni) (四圣谛 - Si Shen Shen Di) A VERDADE DO SOFRIMENTO (Dukkha-sacca) (苦谛 - Ku Di)
O nascimento, a enfermidade, a morte, a conexão que se estabelece com o que se ama, a separação do que se ama, a não obtenção do que se deseja e tudo o que constitui uma causa de ligação, está circunscrito ao sofrimento e à dor.
A CAUSA DO SOFRIMENTO (Samudaya-sacca) (集谛 - Ji Di)
A busca do prazer, da novidade, as ânsias de satisfazer o deleite dos sentidos e o apetite, amarram o homem à roda eterna da existência. 1
Zhuangzi (aproximadamente de 369-286 a.C.). Filósofo taoísta, seu foco é uma elaboração posterior das teorias expostas por Laozi. A essência do seu pensamento se fundamenta sobre a doutrina do Wu-wei (無為) ou “não ação”. 2
Yijing, (Livro das Mutações), originalmente titulado Zhouyi (周易 – As Mudanças de Zhou). Texto que condensa as bases fundamentais da filosofia chinesa, assim como os conceitos das ciências naturais e médicas. Sua origem situa-se entre a Dinastia Yin (1765-1122 a.C.) e a Dinastia Zhou (1122-256 a.C.). 3 Nascido no século VI a.C., Sidhârtha Gautama foi o filho maior do rei Suddhódana de Kapilavatthu, cidade situada atualmente no Nepal. Sidhârtha é o nome de nascimento e Gautama o sobrenome familiar. Como pertenceu ao clã dos Sâkya, o povo o chamava de Sâkyamuni (o sábio de Sâkya). 4 O sistema de castas foi criado pelos ários na Índia. Em sânscrito a palavra varna, utilizada para designar a casta, significa “cor”. Os ários acreditavam-se superiores aos escuros dravidianos e às outras raças aborígenes. O sistema de castas foi estabelecido para delimitar o acesso dos não ários através de uma estrita divisão de ocupações e obrigações.
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Especial
EXTINGUIR O SOFRIMENTO (Nirodhasacca) (灭谛 - Mie Di)
Mediante a extinção do desejo o homem se liberta da dor e do sofrimento.
O CAMINHO PARA CESSAR O SOFRIMENTO (Magga-sacca) (道谛 - Dao Di)
A via para alcançar a emancipação da dor passa pela prática impecável do „Caminho Łctuplo‰
Caminho Łctuplo Łctuplo (Magga) (八正道 - Ba Zheng Dao)
VIS‹O CORRETA (Sammâ-ditthi) (正见 - Zheng Jian) PENSAMENTO CORRETO (Sammâ sankapa) (正思维 - Zheng Si Wei) PALAVRA CORRETA (Sammâ vâcâ) (正语 - Zheng Yu) AÇ‹O CORRETA (Sammâ kammanta) (正业 - Zheng Ye) MEIO DE VIDA CORRETO (Sammâ âjiva) (正命 - Zheng Ming) ESFORÇO CORRETO (Sammâ vâyâna) (正精进 - Zheng Jing Jin) ATENÇ‹O CORRETA (Sammâ sati) (正念 - Zheng Nian) CONCENTRAÇ‹O CORRETA (Sammâ samâdhi) (正定 - Zheng Ding)
É evidente que o budismo original proposto por Sidharta foi uma corrente inédita para a época. Buddha aceitou a ideia do ciclo das reencarnações e a retribuição das boas e más ações cármicas que já existiam antes dele, mas com uma interpretação diferente. A ideia predominante de que os membros de uma casta reencarnam no mesmo nível foi abolida. Ele acreditava que nada podia salvar o homem da penúria que lhe impõem a causa e o efeito, nem mesmo os sacrifícios consequentes nem os rituais habituais que a caterva de deuses convencionais exigia, se o homem não cuidava para que suas atitudes e ações fossem boas. O budismo proclamou uma moral baseada na consciência plena do sofrimento de todos os seres vivos e na compaixão universal. Buddha não alimentou a crença em um Deus pessoal que castiga as individualidades e exonera os pecados mediante obediência cega, mostrou-se resistente a aceitar a eficiência da doutrina Védica, entretanto ensinou que o homem pode construir seu próprio carma5 em um ato de completa responsabilidade sobre si mesmo. Esta revolucionária concepção foi aceita rapidamente pela faminta massa de desesperados que, perseguidos pela dureza das crenças tradicionais, viram nesta luz o caminho da liberdade incomensurável.
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Carma (sânsc. Karma – ação). O termo é utilizado para denotar causa e efeito de uma atividade mental ou física, seja a consequência desencadeada nesta vida ou em uma vida anterior.
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Especial
A evolução histórica do budismo pode ser estabelecida em quatro períodos: •
Proclamação da doutrina de Sidharta Gautama (séculos VI-V a.C.).
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O budismo sofre interpretações, surgem Concílios e nasce o Budismo Hinayana (século
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O budismo Mahayana6 já está elaborado, acoplado a duas derivações fundamentais: o Madhyamaka e o Yogakara (século I d.C.).
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Surgimento do budismo Tântrico, do Lamaísmo e do Vajrayana (depois do século VII).
IV
a.C. ).
No século XIII as chamas do budismo começam a extinguir-se na ¸ndia, mas o calor do seu conteúdo doutrinal havia alcançado os cantos mais longínquos da ˘sia. Na China os vestígios do contato com missionários budistas estabeleceram-se ao longo da Rota da Seda, um longo trecho onde o intercâmbio comercial se fundia com as ideias, os costumes, as tradições e os fundamentos filosóficos e religiosos das antigas culturas. Muitos monges hindus penetraram por esta via e difundiram entre a população o budismo Mahâyana, nutrindo-se por sua vez com os primeiros rudimentos conceituais do taoísmo. A afiliação do budismo com o lugar onde se cultivariam os aspectos mais destacados da arte marcial chinesa remonta a 386-534 d.C., quando o imperador Xiao Wen Di (孝文帝) da dinastia Wei do Norte ordenou a construção de um templo budista no condado de Deng Feng Xian (登封縣), provincia de Henan, ao norte do monte Shao Shi (少室), para um monge indiano chamado Bhadra. Ao construir o monastério com a ajuda dos camponeses, plantaram nos arredores jovens pinheiros que protegiam o monastério dos ventos. Por isso o lugar foi batizado com o nome Shaolin (少林 - bosque jovem).
No ano 426 d.C., o imperador visitou Shaolin decretando que fosse ampliado ainda mais com novas construções e proporcionou-lhe uma guarnição permanente para a proteção contra assaltos de bandidos. Os monges já não tinham que exaurir-se montando guarda dia e noite, e se concentraram exclusivamente no autocultivo espiritual do dogma religioso, em um sistema monárquico onde a meditação e a austeridade de cerimônias e rituais eram privilegiadas. Nesta situação pouco favorável para o cultivo físico, as artes de combate foram caindo no esquecimento e não foi até a chegada de Damo que os conceitos do Wushu se revolucionaram.
Antiga sala de treinamento no monastério de Shaolin 6
Mahâyana (大乘 - Grande Veículo). Corrente do budismo indiano do século I a.C., elaborada a partir dos conceitos
expostos pelo seu criador Sidhârtha Gáutama. Junto ao Hinayâna (小乘 - Pequeno Veículo), formam as duas escolas fundamentais do budismo.
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Especial
Pútidamo ou Damo (達摩), conhecido no Ocidente como Bodhidarma, e no Japão como Bodaidaruma ou Daruma, nasceu aproximadamente no ano 470 d.C. na ¸ndia. Reconhecido como o vigésimo oitavo patriarca desde Sakyamuni, o Buda, na linha de transmissão do budismo indiano e o primeiro patriarca do budismo Chan (禅),7 Damo foi discípulo e sucessor de Prajñadhara China.
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e mestre de Hui Ke (慧可), quem o sucedeu como segundo patriarca do budismo Chan na
Convidado pelo imperador Liang Wu (梁武帝) para predicar sua doutrina, Damo chegou à China no ano 527 d.C., no reinado do imperador Wei Xiao Ming (魏孝明帝). Após uma infrutífera prédica com o monarca, cruzou o rio Huang He (黃河) em direção ao norte, dirigindo seus passos ao monastério de Shaolin. Sua chegada não agradou ao monge principal que, intuindo os pontos de vista não convencionais do visitante, temia que fossem introduzidas reformas religiosas em um sistema doutrinal que durante mais de cem anos havia permanecido fiel à tradição do Mahâyana. Por estes motivos recusou a entrada de um monge indiano com ideias novas neste ambiente conservador. Segundo conta a lenda, Damo retirou-se a meditar sob a cúpula de uma caverna próxima e, contemplando a parede de pedra, submergiu-se no processo de autoconhecimento, vivendo neste recinto natural durante nove anos.9 Espantado pela silenciosa demonstração de perseverança e austeridade, o monge principal permitiu sua entrada no templo. Damo comoveu-se pelo aspecto doente e o estado de fragilidade física dos devotos. Dedicou-se, então, à tarefa de desenvolver vários sistemas de treinamento para corpo, mente e espírito, escrevendo dois clássicos: o Yi Jin Jing, transformação dos músculos e tendões e o Xi Siu Jing, limpeza de medula e cérebro. Pela ordem da história poder-se-ia pensar que Damo elaborou seu trabalho somente pela longa hibernação à que se submeteu durante nove anos frente ao muro de pedra, mas a verdade é que o budismo, depois da morte do seu fundador Sidharta Gautama, havia sofrido uma forte mudança em conteúdo e forma. A assimilação abrangeu todas as teorias e práticas que os devotos importavam de outras escolas, desde o brahmanismo até as sofisticadas práticas do Yoga, inclusive os sistemas religiosos construídos posteriormente e a herança das artes guerreiras dos Ksatriyas. Era de se esperar que a mensagem que Sidharta proclamara, após alcançar a iluminação em sua essência das „quatro nobres verdades‰, tivesse se fragmentado em um complicado sistema de rituais, visualizações, mantras, posturas físicas, oferendas e obrigações religiosas em um extenso panteão de deuses e divindades.
Pórtico de entrada à caverna de Damo
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Corrente budista surgida na China desde os séculos VI -VII d.C. mediante a fusão do budismo Mahâyana com o taoísmo autóctone. Conhecida no Ocidente como budismo Zen. 8 Patriarca número vinte e sete do budismo hindu. 9 Esta passagem mostra a relevância que obteria nesta corrente do budismo a prática do Da Zuo (打坐 - combate sentado), término que representa o esforço que demanda focar a mente para aquietar o discurso interno e compreender a verdadeira natureza das coisas (Dhammas), obtendo a entrada à sabedoria (Paññâ) e a iluminação espontânea (Citta). Este método condensar-se-ia no monastério de Shaolin com alguns treinos tradicionais de Qigong, para despertar gradualmente o Dantian e fazer circular o Qi pela órbita celestial menor (小周天).
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Especial
Já na célebre conversa que Damo manteve com o imperador delimitaram-se claramente os aspectos da sua teoria. O imperador era um crente fervoroso e acreditava ser merecedor de certos méritos celestiais pelo seu apoio brindado à construção de alguns templos e sua política de amparo ao budismo. Influenciado por essa tendência da classe dominante a persuadir o clero para obter a aprovação divina, disse ao monge:
·Quais méritos obtive para minha próxima vida com a minha atitude de aprovação do budismo? ·Nenhum·respondeu Damo com voz cortante.. Contrariado, o imperador insistiu:: ·Qual é o sentido da verdade suprema? ·Um vazio interminável, um esquecimento de si mesmo. O imperador, obviamente não contando com semelhante resposta, engendrou outra estratégia de penetração na obtusa natureza do seu hóspede. ·Quem está à minha frente? ·Não sei·disse Damo com indiferença.
Neste diálogo Damo mostra com clareza as bases de uma visão que rompe com os cânones do budismo hindu. Ele não queria uma prática ritualista repleta de obrigações e rotinas onde o homem se esquece da própria responsabilidade e de seu verdadeiro crescimento interior. Sabia que o ser humano busca a glória, ainda que ajoelhando-se frente a uma imagem divina. O caminho do autêntico conhecimento baseia-se na sinceridade de dirigir um esforço adequado sobre si mesmo. Nem carma, nem vida futura, rezas, pedidos, sacrifícios nem votos, podiam elevar o ser humano sobre a atração permanente que o barro das paixões exerce. O autodomínio e a meditação constante são as vias para descobrir que o pedaço de carvão de uma montanha pode-se transformar em um precioso diamante quando polido com humildade e perseverança. Com este substrato de conhecimento, Damo dispôs de uma ampla gama de informação para elaborar as bases de um novo enfoque à prática do budismo. Só necessitava combinar corretamente a experiência da ¸ndia com os fundamentos que o taoísmo lhe oferecia para ter em suas mãos um excelente material com o qual purificar o budismo indiano da roupagem desnecessária e criar um método de crescimento físico, mental e espiritual de acordo com as leis universais. Bodhidarma, além disso, não era partidário de um ascetismo passivo onde somente se cultiva a mente e o espírito, pelo qual propôs um novo enfoque do budismo através de uma filosofia de vida desligada de todo ritualismo efêmero, em um concentrado esforço para transformar a passividade ascética-religiosa em um exercício tenaz do corpo e do espírito. O budismo Chan havia nascido com a tendência à busca da iluminação espontânea e sua carência de apego por cerimônias e rituais. Se analisarmos cuidadosamente o conteúdo do diálogo entre Damo e o imperador descobriremos os conceitos fundamentais da filosofia do Wushu:
·Quais méritos obtive para minha próxima vida com a minha atitude de aprovação do budismo? ·Nenhum·respondeu Damo com voz cortante..
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Especial
O imperador representa o homem cotidiano que é incapaz de realizar uma ação sem esperar um resultado. Este estado universal de apego não é somente uma pintura histórica com mistura literária, é a imagem permanente do homem amarrado ao poder: „é mais fácil passar um camelo pelo furo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus‰. Cristo não disse isso em vão. O rico queria atingir os confins celestiais com tudo o que não estava disposto a renunciar. O homem sem vontade sempre tenta um pacto com deus e com o demônio, não pode – nem quer – compreender que a verdade se mostra quando não temos nada a opor. No Wushu não há iniciação possível ao domínio de si mesmo se antes não se está disposto a renunciar a tudo. Não há mérito algum com sua prática. Não há prêmios nem troféus. O destino não é uma competição, é uma passagem pela vida e nestes confins não há espaço para satisfações pessoais. Praticar Wushu da perspectiva de Damo é entrar pelo olho de uma agulha completamente nu.
·Qual é o sentido da verdade suprema? ·Um vazio interminável, um esquecimento de si mesmo.
Aqui se expõe claramente a visão do budismo Zen: „sentar-se sem espírito de aproveitar.‰ Quando há abandono e controle, a consciência atinge o sentido das coisas. O movimento do Wushu deve ser expresso desde o vazio. Não se pode gerar uma reação verdadeira tentando elaborar a resposta desde o monólogo interno da mente. Somente quando o guerreiro se esquece de si mesmo pode realizar a ação justa sem satisfação nem arrependimento. Wushu é a porta que acessa o inefável. O mesmo estado de iluminação atingido no budismo é transferido à execução de um gesto marcial. No Nanhua zhenjing 10 incentiva-se a „acostumar-se ao vazio para conservar a vida‰. Toda a filosofia oriental nasce da concepção do vazio.
·Quem está à minha frente? ·Não sei. Assumir a vida sem ego é uma proeza dificilmente realizável. O homem busca identificar-se com todas as coisas e não admite uma vida impessoal. A verdadeira dimensão do ser humano não pode ser escrita e guardada em um arquivo. Somos muito mais que essa ridícula sombra que projetamos. O segredo da sabedoria consiste em reconhecer a própria ignorância. Esta humildade é uma qualidade fóssil em estado de extinção. O homem não se pode entender com a lógica formal. Esta divide o antes e o depois e não pode entender que seja ao mesmo tempo as duas coisas.
O autor com o monge Shi De Chao, no Bosque das Pagodas (Shaolin), junto à lápide de pedra do reverendo monge Shi Suxi, falecido no ano 2002.
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Nanhua zhengjing (Livro canônico do país das flores do sul). Texto clássico da filosofia taoísta conhecido como Zhuang Zi (莊子), que remonta ao século IV a.C.
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Especial
„Não sei‰, é uma excelente alternativa para começar no caminho. O Wushu tradicional é a arte de enraizar-se, o que significa: „viver integrado ao universo sem divisão nem fronteiras‰. Damo não somente expôs este pragmático sistema de vida, mas também ensinou aos monges, com o Yi Jin Jing (sistema de transformação de músculos e tendões), a construir um corpo físico e mental saudável e harmonioso, além de aumentar a força, pela aplicação de uma teoria energética onde se combina a quietude com o movimento, a tensão com o relaxamento e a concentração com a respiração. Enquanto que, com o Xi Sui Jing (limpeza de medula e cérebro), transmitiu os métodos para elevar a capacidade de defesa do sistema imunológico contra os agentes patógenos exógenos em um treinamento destinado ao fortalecimento da medula e dos ossos. Pela sua grande complexidade o Xi Sui Jing permaneceu como um segredo dentro de seletos círculos do templo de Shaolin. Damo também desenvolveu um sistema para o cultivo da força vital denominado Shi Ba Luo Han Quan (as dezoito mãos do iluminado), o qual assentaria as bases para a criação de muitos estilos de Wushu, incluindo o famoso Wu Xin Quan (boxe dos cinco animais), o San Shi Qi Shi (三十七式 – boxe das trinta e sete formas), o Hou Tian Fa (後天法 técnicas do céu posterior) e o Xiao Jiu Tian (小九天 - técnicas dos nove pequenos céus). Os três últimos desenvolveram a tendência suave de Shaolin, onde os movimentos rápidos e vigorosos estavam combinados com intervalos de fluidez e lentidão, em uma cadência concentrada de espírito, mente, corpo e respiração. Com o passar do tempo os monges descobriram que não somente fortaleciam sua saúde senão que também o poder e a força aumentavam consideravelmente a níveis nunca antes suspeitados. Os artistas marciais assimilaram esse novo enfoque, criando novos sistemas na medida em que se aperfeiçoava a teoria de Damo. Podemos ver como a união do budismo Mahâyana com o taoísmo filosófico e religioso deu lugar ao budismo Chan. Este sistema de atingir a claridade da mente e a iluminação penetrou para sempre no caminho das artes marciais, disseminando-se como uma onda expansiva pelo resto da ˘sia. Como era possível integrar uma filosofia nascida da não-violência com um sistema corporal de ataque e defesa? Por acaso o budismo podia conciliar o desenvolvimento da paz interna com o ardor de um treinamento bélico? Este é o enigma que Damo relegou à posteridade.
O autor junto ao monge Shi De Chao, da trigésima primeira geração do monastério de Shaolin.
Mestre José Antonio Reys Garcia (Tony) é praticante de artes marciais desde os 11 anos de idade e desde 1981 pratica os estilos de Kung Fu Shaolin do Sul. Neste momento tem a mais alta graduação e é o Vice-Presidente da Academia Huang Yu Wen Nam Pai Kung Fu, com sede em Tai Shang, província de Guang Tong (China). Em 2007 foi nomeado pelo Grão-Mestre Huang Yu Wen como seu sucessor direto.
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Perfil
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Yang Luchan
O
Tai Chi Chuan muito deve a essa lendá ria figura: Yang Luchan, fundador do Estilo Yang. Nascido em 1789 na província de Hebei, Yang começou a prática das artes marciais ainda criança, como é costume na China, aprendendo o estilo de sua aldeia com o Mestre Liu. Após a morte de seu pai serviu como soldado na milícia da aldeia até que seu Mestre lhe recomendou que estudasse artes marciais com o Mestre Chen Changxin, expoente do Estilo Chen de Tai Chi Chuan (NOTA: nessa época, o Tai Chi era uma técnica de combate, voltada para lutas reais. Apenas no início do século XX houve a nova conotação terapêutica). O problema era que o velho Mestre Chen só ensinava a arte aos membros de sua família. Yang, então, se empregou como criado da família e assistia o treinamento escondido, como ocorreu com diversos Grandes Mestres de Kung Fu. Após muitos anos de práticas escondidas em seu quarto, ele foi descoberto e afinal convidado a aprender o estilo Chen oficialmente, o que fez por vários outros anos. Voltou finalmente à sua aldeia para ensinar o Tai Chi Chuan, mas após um período indefinido, partiu para Pequim (Beijing) para abrir uma escola, desenvolvendo seu próprio estilo. O estilo Yang fez grande sucesso e acabou por ser ensinado aos oficiais manchus e membros da nobreza. Com seus três filhos o assessorando (Yang Banhou, Yang Jianhou e Yang Fenghou), Mestre Yang Luchan propagou o Tai Chi Chuan na capital do império, abrindo caminho para que outros Mestres de Tai Chi Chuan deixassem as aldeias e fossem para as cidades divulgar sua arte. Este ainda é o estilo mais ensinado em todo o mundo. Sua fama em combate lhe rendeu vários desafios. Conta-se que podia arremessar seus oponentes a até 9 metros de distância. Durante sua peregrinação à Pequim
andava com uma trouxa onde iam seus pertences e uma lança curta, desafiando os Mestres que encontrava pela frente. O mais extraordinário é que afirmam que nunca machucou alguém durante seus combates. Conta-se que certa vez lutou com um Grande Mestre de Kung Fu em cima de um muro e, depois de acertá-lo, segurou-o rapidamente pelo pé para que não caísse 4 ou 5 metros até o chão. Outra história conta que foi desafiado pelo segurança de um mandarim. Ele disse que podia atacá-lo a qualquer momento e soltou uma gargalhada demorada. O segurança atacou e foi projetado longe antes que a gargalhada de Mestre Yang acabasse… Outra história interessante é a de Chang, um riquíssimo negociante do oeste de Pequim. Ouvindo histórias sobre as proezas de Mestre Yang Luchan, mandou que o convidassem à sua casa. Mas quando Mestre Yang se apresentou o que se viu foi um homem franzino, baixo e vestido com roupas simples. Dessa forma, foi tratado com indiferença e descortezia por Chang, que lhe serviu um pouco de comida. Consciente do que acontecia, Mestre Yang pegou seu vinho e foi beber em um canto isolado, o que enfureceu Chang. Ele perguntou se Yang era tão bom assim e ele retrucou que haviam apenas 3 tipos de homens que não podiam sentir seus goles: homens de ferro, homens de bronze e homens de madeira. Chang então trouxe um homem gigantesco, forte como um touro, professor de seus guardacostas, para “experimentar” o poder de Yang Luchan. Este se levantou de má-vontade e foi atacado com a ferocidade de um tigre. Mestre Yang apenas girou seu tronco, se esquivando do golpe, e deu um “tapa” que jogou o grande homem a várias dezenas de metros, caindo inconsciente. Percebendo o erro, Chang tratou-o com toda gentileza, servindo-lhe um verdadeiro Banquete Manchu completo! Em 1872 Mestre Yang Luchan chamou seus filhos e discípulos e deu-lhes as últimas instruções e recomendações, falecendo em seguida, aos 83 anos.