UMA NOVA TIPOLOGIA PROJETUAL DE HABITAÇÃO E CONVIVÊNCIA PARA IDOSOS:
O Ancianato Acalanto
Gilliane Alves Corrêa Bravim
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO
GILLIANE ALVES CORRÊA BRAVIM
UMA NOVA TIPOLOGIA PROJETUAL DE HABITAÇÃO E CONVIVÊNCIA PARA IDOSOS: O ANCIANATO ACALANTO
VITÓRIA 2021
GILLIANE ALVES CORRÊA BRAVIM
UMA NOVA TIPOLOGIA PROJETUAL DE HABITAÇÃO E CONVIVÊNCIA PARA IDOSOS: O ANCIANATO ACALANTO
Trabalho de Conclusão de Curso apresentada como requisito parcial à conclusão da disciplina Projeto de Graduação II e obtenção do título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Federal do Espírito Santo. Orientador: Prof. Kleber Frizzera.
VITÓRIA 2021
Espaço destinado a elaboração da ficha catalográfica.
PÁGINA DE TERMO DE APROVAÇÃO
Ao meu pai, maior fonte de incentivo. Aquele que me encorajou a seguir meus sonhos e foi, desde o início, a inspiração para este projeto. Meu principal objetivo sempre será ser o motivo do seu orgulho.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, devo graças à Deus por ter me guiado até aqui. Sem Ele nada é possível, e com Ele tudo é alcançável. Se não fosse pela minha fé e minha crença de que o meu Senhor estaria ao meu lado, acompanhando todos os meus passos durante essa jornada, eu jamais teria dado o primeiro passo rumo aos meus sonhos. Em segundo lugar, eu agradeço ao meu pai, Joaquim, e especialmente à minha mãe, Solange, que sempre foi meu porto seguro, me dando todo o suporte necessário e sendo parte de todas as minhas conquistas. Eu jamais conseguirei expressar em palavras o quanto vocês são importantes na minha vida e como eu sou feliz por ser filha de vocês. Sou grata também às minhas avós, Hilda e Neusa, minhas madrinhas Maria Helena, Maristela e Fabíola, meu padrinho Beto, minha afilhada Carol, meu primo Matheus e a todos os meus familiares que me ofereceram apoio durante este período e ao decorrer de tantos outros momentos turbulentos: dizem que não podemos escolher nossa família, mas se eu tivesse opção, daria um jeito de escolher vocês. Eu amo demais todos vocês. Gostaria de expressar também minha gratidão a todos os professores que impactaram minha vida positivamente, independente do momento em que nossos caminhos se cruzaram. Seja na infância, durante meus estudos no IFES ou até agora na faculdade, tenho certeza que todos vocês contribuíram, de alguma forma, nesta vitória. Evidentemente, destaco meus agradecimentos ao professor Kleber Frizzera, o orientador deste projeto, que desde o início acreditou na minha proposta e no meu potencial, e me auxiliou a encontrar meu verdadeiro propósito como futura arquiteta. Muito obrigada por tudo. Por último, mas não menos importante, agradeço também à Giovana, Iany, Thacila e Camila e a todos os amigos que foram fundamentais para manter minha sanidade intacta e aos que me ajudaram a perseverar através de críticas, elogios, sugestões, e acima de tudo, todo o carinho e amparo do mundo. Todos aqui citados foram essenciais para que eu desse o melhor de mim. Todos me ajudaram a ser uma pessoa melhor. E, quando o momento chegar, todos nós iremos celebrar esta conquista, que não é só minha, e sim nossa. Obrigada!
É o ciclo da vida E ele move todos nós Através do desespero e da esperança Através da fé e do amor Até encontrarmos nosso lugar No caminho que se desdobra No ciclo No ciclo da vida (The Lion King, 1994)
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 10 1.1 OBJETIVO GERAL .......................................................................................... 11 1.1.1 Objetivos específicos ..................................................................................... 11 1.2 JUSTIFICATIVA DO TEMA.............................................................................. 12 1.2.1 Perspectiva Pessoal Sobre o Tema ............................................................... 14 1.3 METODOLOGIA E ESTRUTURA DO TRABALHO .......................................... 15 2 A SITUAÇÃO DO IDOSO NA SOCIEDADE BRASILEIRA ATUAL .................... 17 2.1 O IMPACTO DA COVID-19 NA TERCEIRA IDADE ......................................... 19 2.2 OS DIFERENTES TIPOS DE PROJETO DE APOIO À PESSOA IDOSA ........ 22 2.2.1 O Modelo de Atendimento Integral Institucional ............................................. 23 2.2.2 O Modelo de Centro de Convivência ............................................................. 25 2.2.3 Uma nova tipologia: o Ancianato ................................................................... 26 3 ESTUDOS DE CASO .......................................................................................... 28 3.1 DR. GEORGE W. DAVIS SENIOR CENTER AND RESIDENCE ..................... 28 3.2 VILA DOS IDOSOS ......................................................................................... 31 4 PROCESSO DE ESCOLHA DA ÁREA DE INTERVENÇÃO .............................. 34 4.1 ANÁLISE DEMOGRÁFICA E SOCIOECONÔMICA DE VILA VELHA .............. 37 4.2 CONTEXTO URBANO ..................................................................................... 41 4.3 DEFINIÇÃO DO TERRENO............................................................................. 45 4.3.1 Legislação Referente ao Local de Implantação ............................................. 46 5 DESENVOLVIMENTO PROJETUAL .................................................................. 49 5.1 CONCEITO E PROGRAMA DE NECESSIDADES .......................................... 50 5.2 SETORIZAÇÃO ............................................................................................... 53 5.2.1 Setor de Uso Coletivo .................................................................................... 53 5.2.2 Setor de Acompanhamento ........................................................................... 56 5.2.3 Setor de Apoio ............................................................................................... 56 5.2.4 Dormitórios .................................................................................................... 58 5.2.5 Circulação...................................................................................................... 59 5.3 DESCRIÇÃO DOS AMBIENTES ..................................................................... 60 5.4 PAISAGISMO .................................................................................................. 77 5.5 REPRESENTAÇÃO GRÁFICA ........................................................................ 79 5.5.1 Primeiro Pavimento ....................................................................................... 80 5.5.2 Segundo Pavimento ..................................................................................... 82 5.5.3 Terceiro Pavimento ....................................................................................... 84 5.5.4 Quarto Pavimento ......................................................................................... 86 5.5.5 Quinto Pavimento ......................................................................................... 88 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 90 7 REFERÊNCIAS ................................................................................................... 92
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1 INTRODUÇÃO
O processo de envelhecimento é um seguimento natural, inerente ao ser humano e que faz parte do ciclo da vida. Ainda assim, velhice é um fenômeno social carregado de estigmas e preconcepções negativas que negligenciam e marginalizam a pessoa de idade avançada, muitas vezes, a partir de motivações que não condizem com a realidade. No Brasil, o perfil dos idosos de hoje, por mais heterogêneo que seja, em muito se difere do perfil dos idosos do passado. Há uma maior expectativa de vida, e com isso, a priorização do bem-estar físico, social e psicológico, em conjunto com a busca pelo envelhecimento ativo. Mesmo assim, a sociedade em geral e até mesmo as próprias instituições voltadas para o cuidado deste público, parecem ignorar a mudança de realidade das pessoas de terceira idade, ao acreditar ainda no pensamento preconceituoso de que a senescência é sinônimo de ociosidade, tristeza e abandono. Embora os avanços da idade possam ser seguidos de certas limitações físicas e psicológicas, a fragilidade do indivíduo idoso não deve ser confundida com incapacidade total. Atualmente é cada vez mais comum observar pessoas mais velhas aproveitando suas vidas, participando ativamente das mais diversas atividades, de novas experiências e, acima de tudo, continuando a viver em pleno vigor. Diante do constante crescimento dos índices de qualidade e expectativa de vida, é pertinente dizer que o número de idosos continuará aumentando e o período da terceira idade também deve se estender cada vez mais. Como consequência, fazse ainda mais necessário uma imediata reavaliação das condições sócio espaciais, visando projetar cidades e espaços mais adequados e que levem em conta o novo estilo de vida dos idosos da atualidade. Com a finalidade de oferecer um local que seja uma alternativa coerente com a nova vivência dos idosos brasileiros, propõe-se a elaboração de um espaço que sirva como moradia e centro de convivência para idosos, que vá além dos serviços básicos de habitação e interação social, e que tenha como princípio a oferta de assistência no processo de envelhecimento saudável e constante busca pelo fortalecimento das percepções de acolhimento, autonomia e apoio comunitário. Portanto, um espaço que promova, de fato, uma melhor qualidade de vida.
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1.1 OBJETIVO GERAL
Pretende-se desenvolver, a partir de estudos teóricos e aprendizagem prática, um Projeto Arquitetônico para um ambiente de caráter habitacional e de convivência voltado para a terceira idade, que fuja dos padrões tradicionais, insuficientes em relação às demandas atuais do próprio público. Tem-se como principal finalidade a criação de um espaço acolhedor, que proporcione uma rotina saudável promotora da independência e do bem-estar físico, mental e social, de forma a contribuir positivamente no processo de envelhecimento ativo, na criação de vínculos pessoais e no estabelecimento de um senso comunitário, cumprindo, simultaneamente, as demandas por acessibilidade, segurança e conforto.
1.1.1 Objetivos específicos
Aspira-se a elaboração de um modelo de entidade de apoio para idosos com foco mútuo no processo de moradia e socialização, se estabelecendo como uma nova tipologia que incorpore ambas as funções de habitação e espaço convivência, assegurando a interação e a formação de relacionamentos benéficos entre os usuários. De forma a se aproveitar ao máximo os recursos naturais, exercitar a autonomia e fomentar a atividade social, apresenta-se como conceito principal a potencialização da utilização dos espaços coletivos, distribuídos por toda a edificação. Sendo internos ou externos, abertos ou fechados, o objetivo prevalecente é a contínua exploração das possibilidades de variação de uso de acordo com os desejos e as necessidades dos idosos. Tendo em mente, sempre, a criação de um ambiente fortalecedor do senso comunitário. Para se reforçar as percepções de comunidade, busca-se também o estreitamento das relações diretas entre edifício e área urbana, de forma a se aproveitar do contexto positivo existente na região de inserção, aproveitando a ligação com o entorno próximo e qualificar o ambiente para que este se enquadre na paisagem urbana de forma atrativa.
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1.2 JUSTIFICATIVA DO TEMA
Embora o mundo esteja passando recentemente por um período caótico e alarmante, considerando a pandemia mundial consequente da doença causada pelo coronavírus (COVID-19), é impossível negar que nas últimas décadas, um fenômeno que vem causando grande impacto na sociedade é o processo de envelhecimento populacional. Nos últimos tempos foi possível perceber tanto no Brasil, quanto no resto do mundo, que a proporção de crescimento da quantidade de pessoas com 60 anos ou mais, é a mais alta em comparação com todas as outras faixas etárias, enquanto, entre as crianças, esta taxa vem regredindo. Conforme os anos se passam, o número de nascidos diminui e o de pessoas idosas aumenta, fazendo com que a pirâmide etária passe por uma mudança gradativa (Gráfico 1), até atingir a inversão: o esperado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), era de que até 2050, o Brasil, que atualmente é considerado um país ‘adulto’, se torne um país de maioria idosa. Um dos motivos que justificam o constante “agrisalhamento” da população é o aumento da expectativa de vida, que por sua vez tem como explicação generalizada a melhoria nas condições de vida da população.
Gráfico 1 – Comparação entre as pirâmides etárias dos anos 1970, 2000 e 1970, considerando o número de homens e mulheres. Dados: IBGE / Censo Demográfico dos anos 1970, 2000 e 2010. Elaboração gráfica pela autora.
Entre os anos de 1970 e 2010, houve um aumento significativo na expectativa de vida dos brasileiros, que passou de 58,91 para 73,62, ou seja: quase 15 anos a mais (Gráfico 2). Passar de um estágio onde a maior parte da população sequer chegava à velhice, para uma fase na qual é esperado, para daqui algumas décadas, que a maioria dos habitantes do país sejam idosos, é uma transformação que exige estudo, adequação e cuidado.
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Gráfico 2 – Expectativa de vida no Brasil entre as décadas de 1970 e 2010. Dados: Banco Mundial. Elaboração gráfica pela autora.
Embora o ideal seria que a sociedade se estabelecesse como meio integrador, justo e amigável à todas as pessoas, independente de idade, gênero, raça, sexualidade, situação financeira, condição social ou tantas outras características que diferenciam os indivíduos, a realidade é que, infelizmente, o mundo ainda permanece sendo um espaço de desigualdades, que privilegia apenas uma pequena parcela da população, enquanto a maioria das pessoas é negligenciada e excluída das pautas principais de interesse público. Os idosos são um dos exemplos das várias classes cujas necessidades são colocadas em segundo plano. Um dos maiores indicadores deste descaso são as cidades, os espaços coletivos e privados, que raramente consideram as carências deste grupo, o que gera um impacto negativo e contribui para a sensação de desvalorização da pessoa de idade avançada, pela sociedade. Mesmo que a negligência com os idosos seja um problema a ser encarado e as soluções para tal devam ser cobradas por todos, os arquitetos e urbanistas, como responsáveis pela criação dos espaços, podem contribuir para constituição de ambientes mais inclusivos. É preciso perceber que permanecer criando mais do mesmo não é mais viável quando se trata de um edifício voltado aos idosos: o perfil da terceira idade mudou e continuará em constante mudança, assim como tantos outros aspectos da vida contemporânea. Sendo assim, porque a arquitetura foi capaz de se adaptar de tantas formas, em tantas circunstâncias e em tantos tipos de projetos, mas quando se trata do ato de se projetar visando um público mais velho, os arquitetos parecem ter parado no tempo e, pior: sem ter interesse algum de sair da inércia? Desta forma, é tempo de encarar a arquitetura como arte capaz de transformar a realidade, de forma positiva, e utilizá-la para criar espaços mais democráticos, abrangentes e amistosos para todas as camadas da sociedade.
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1.2.1 Perspectiva Pessoal Sobre o Tema
Escolher fazer um projeto voltado ao público idoso, neste caso em especial, teve uma motivação muito além da simples necessidade de se atender uma demanda social que carece de atenção. Este trabalho, aliás, tem raízes em experiências pessoais vividas antes mesmo do meu ingresso na faculdade de Arquitetura e Urbanismo, e que exerceram, inclusive, influência na minha forma de encarar o papel do arquiteto na sociedade, ao longo de todo o curso. Em junho de 2015, dois meses antes do início das aulas na Universidade, meu pai, Joaquim, idoso extremamente ativo, no auge dos seus 60 anos, ao realizar uma tarefa cotidiana, sofreu um acidente dentro de casa. Como consequência, ele teve um traumatismo craniano e uma fratura no pé, o que exigiu que ele fizesse uso de cadeira de rodas e muletas, durante seis meses, na tentativa de se conseguir bons resultados no processo de recuperação. Acompanhar diariamente uma pessoa em cadeira de rodas gera uma mudança drástica e permanente no modo de se enxergar a cidade. Justamente no momento em que se encara na prática as dificuldades ocasionadas pela falta de acessibilidade, é que se pode compreender, de fato, o quanto a sociedade falha em prestar suporte para os grupos vulneráveis. E o ato de se projetar sem considerar as necessidades das pessoas com deficiência, idosos, mulheres grávidas e crianças, não é um problema manifestado apenas em casos de mobilidade urbana. Existem também barreiras a serem superadas, em diferentes aspectos da vida cotidiana: transporte, moradia, espaços públicos e privados, comunicação, acesso a serviços e provavelmente, acima de tudo, a escassez da inclusão e participação social. A percepção sobre a falta de igualdade para com as pessoas pertencentes aos grupos menos privilegiados da nossa sociedade foi elemento norteador para a decisão do tema deste trabalho: a única certeza inicial é que o projeto a ser realizado deveria incorporar características que influenciassem positivamente na promoção de uma comunidade mais justa e igualitária, a partir de um espaço de uso equitativo e universal. A definição do idoso como usuário do programa também foi uma decisão inspirada no meu pai, que mesmo sofrendo com as sequelas permanentes de seu acidente, persiste até hoje num processo de envelhecimento saudável, não impedindo que as limitações impostas pela idade o impeçam de viver em pleno vigor. Assim como
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ele, inúmeros idosos atualmente encaram a velhice de forma positiva e buscam aproveitar a vida ao máximo, desfrutando de fato da melhor idade. Contudo, embora este fenômeno esteja cada vez mais presente entre nós, e é estimado que se intensifique ainda mais com o aumento do envelhecimento populacional, a sociedade permanece enxergando as pessoas de idade avançada de forma estigmatizada e negativa, fator que se reflete na criação de espaços de apoio aos idosos. As moradias para a terceira idade no Brasil seguem um padrão institucional que se assemelham a unidades hospitalares, com falta de personalidade e coletividade. A maioria dos espaços se mostram excessivamente inóspitos e muitas vezes inclusive deprimentes, ao ignorar a simples prerrogativa de se colocar a qualidade de vida do usuário em primeiro lugar. Desta maneira, surgiu o interesse de se trabalhar com este tema e propor um novo modelo de projeto que valorizasse mais o idoso e levasse em conta a profundidade das experiências que a arquitetura pode proporcionar a uma pessoa, especialmente no que se trata na promoção do bem-estar individual e social. Seja através de um projeto paisagístico, urbanístico, arquitetônico, de interiores, ou até mesmo pela junção de todos eles, o fato é: a arquitetura é capaz de contribuir para a sociabilidade, a acessibilidade, a individualidade, a liberdade e, é claro, para a felicidade consequente de uma vida de qualidade.
1.3 METODOLOGIA E ESTRUTURA DO TRABALHO
Por mais que o método de elaboração de um projeto arquitetônico se dê a partir de várias etapas concomitantes e não lineares, este trabalho será aqui apresentado seguindo a estrutura de desenvolvimento surgida de acordo com a demanda inicial, mesmo que algumas etapas tenham sido retomadas e revisadas ao decorrer do processo. A primeira questão a ser considerada para a elaboração deste trabalho, foi a escolha do público-alvo a ser atendido pela edificação aqui proposta. Ao se decidir que se trataria de um projeto voltado para a terceira idade, o passo seguinte, detalhado no segundo capítulo deste texto, foi o levantamento de dados históricos, demográficos e contextuais relacionados à realidade vivida pelos idosos na sociedade brasileira, com destaque para os pontos positivos que devem ser explorados, e os
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negativos que são carentes de mudança. Em sequência, foram pesquisados os diferentes modelos de instituições voltadas para o público de idade avançada, juntamente com suas normas reguladoras, a fim de se estabelecer qual seria a modalidade adotada neste projeto em questão. Após profunda análise, foi deliberado que a opção mais interessante para um ambiente capaz de promover uma melhor qualidade de vida para os idosos seria, na verdade, a criação de uma nova tipologia arquitetônica de apoio à terceira idade. Já estabelecido o tipo de projeto a ser elaborado, foi necessário pesquisar os estabelecimentos já existentes e escolher quais possuíam as características mais emblemáticas e quais qualidades poderiam ser exploradas na criação deste novo modelo, de modo a atender as demandas levantadas. Desta forma, no capítulo três são expostos os dois projetos que mais se destacaram e serviram como norteadores durante a produção arquitetônica. No quarto capítulo foram explanados o processo e a escolha da área de intervenção, que possui grande peso no funcionamento do partido deste projeto. Houve, nesta etapa, a intenção de se elaborar uma edificação urbana que incorpora o contexto onde está inserida como elemento complementar para a sua proposta. A relação com o entorno pode ser dada apenas como forma de contemplação da paisagem urbana, mas também como meio de inserção da vida comunitária, onde o idoso se sente livre para conhecer os arredores, aproveitando sua autonomia para descobrir atividades e serviços ofertados pela vizinhança e explorá-los conforme a sua vontade, reafirmando sua posição ativa na sociedade. Finalmente, no quinto capítulo, é detalhado o projeto arquitetônico, a partir do conceito e programa de necessidades, passando pelo desenvolvimento da setorização até a descrição final dos ambientes. Por último, foram citadas as considerações finais, onde se explica as conclusões tomadas a partir deste trabalho, bem como a importância da discussão deste tema e como ele pode se tornar também um estudo de orientação para novas propostas de programas voltados para a manutenção da qualidade de vida dos idosos na sociedade brasileira atual.
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2 A SITUAÇÃO DO IDOSO NA SOCIEDADE BRASILEIRA ATUAL
O envelhecimento populacional pode ser considerado resultado do desenvolvimento de uma nação, uma vez que demonstra que os habitantes de uma região estão vivendo mais, seja por avanços nas áreas de urbanização, saúde, tecnologia, saneamento, segurança, economia ou até mesmo pela combinação de todos estes fatores. Ainda assim, mesmo sendo um fenômeno positivo, muitos países encaram a situação como algo inconveniente, devido aos diversos desafios sociais e econômicos associados ao processo de senescência (UNFPA, 2015). Na sociedade brasileira, fica claro que parte do preconceito sofrido pelos idosos é consequência do modelo capitalista vivido no país que “fez com que a velhice passasse a ocupar um lugar marginalizado na existência humana [...] e perderia então o seu valor social. Desse modo, não tendo mais a possibilidade de produção de riqueza, a velhice perderia seu valor simbólico” (MENDES et al, 2005). Ou seja: num meio onde são valorizados apenas os indivíduos capazes de garantir a produção máxima de riquezas, aquele que já não é capaz de dar cem por cento de si para o sistema, não tem voz nem vez. Sendo assim, o Brasil continua sendo um dos países onde ainda é possível observar uma certa relutância na aplicação prática das políticas públicas de apoio ao idoso, uma vez que, aos olhos da sociedade, o envolvimento com projetos para a terceira idade é visto como gasto e não como investimento. Há, portanto, uma falha na execução dos programas de acessibilidade, acesso a informações, prestação de serviços, adequação da mobilidade urbana e de moradias sociais, entre outros, por mais que existam leis e normas voltadas para o público de idade avançada. Pode-se dizer até, que a inclusão dos direitos dos idosos na legislação brasileira se deu tardiamente, tendo início apenas na Constituição Federal de 1988, ao afirmar que “A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida”. Anos mais tarde, em 1993, foi criada a Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), para garantir a “proteção social, que visa à garantia da vida, à redução de danos e à prevenção da incidência de riscos” de grupos em situação de vulnerabilidade, incluindo idosos. Já no ano seguinte, foi sancionada a Lei n° 8.842, criando o Conselho Nacional do Idoso e dispondo que:
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Art. 3° A política nacional do idoso reger-se-á pelos seguintes princípios: I - a família, a sociedade e o estado têm o dever de assegurar ao idoso todos os direitos da cidadania, garantindo sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade, bem-estar e o direito à vida; II - o processo de envelhecimento diz respeito à sociedade em geral, devendo ser objeto de conhecimento e informação para todos; III - o idoso não deve sofrer discriminação de qualquer natureza; IV - o idoso deve ser o principal agente e o destinatário das transformações a serem efetivadas através desta política; V - as diferenças econômicas, sociais, regionais e, particularmente, as contradições entre o meio rural e o urbano do Brasil deverão ser observadas pelos poderes públicos e pela sociedade em geral, na aplicação desta lei. (BRASIL, 1994).
Quase uma década depois, “é instituído o Estatuto do Idoso destinado a regular os direitos assegurados às pessoas com idade igual ou superior a sessenta anos” (BRASIL, 2003), que como seres sociais, são dignos de respeito e devem ter garantias de acesso aos direitos fundamentais:
I – Do Direito à Vida; II – Do Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade; III – Dos Alimentos; IV – Do Direito à Saúde; V – Da Educação, Cultura, Esporte e Lazer; VI – Da Profissionalização e do Trabalho; VII – Da Previdência Social; VII – Da Assistência Social; IX – Da Habitação; X – Do Transporte. (BRASIL, 2003).
Estes, então, foram os principais decretos, leis e resoluções voltadas à questão do envelhecimento. Com o tempo alguns destes sofreram algumas poucas alterações, contudo permanecem sendo a referência nacional para o cuidado com os idosos.
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2.1 O IMPACTO DA COVID-19 NA TERCEIRA IDADE
Em dezembro de 2019, incontáveis casos de uma doença respiratória que ainda não havia sido detectada em seres humanos foram identificados na cidade de Wuhan, na China. Em pouco tempo, estudiosos perceberam que se tratava de uma patologia causada por um novo tipo de coronavírus, que recebeu o nome de SARSCoV-2, causador de uma síndrome respiratória aguda grave denominada COVID-19 (OPAS, 2021). A situação se tornou grave rapidamente e em janeiro de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) foi obrigada a declarar o surto como um caso de Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII), ou seja, um evento tão grave que poderia oferecer risco para outros países, requerendo, portanto, uma resposta internacional imediata (RSI/IHR, 2005). Mesmo assim, a doença conseguiu se espalhar por várias regiões do mundo, e em março daquele ano foi caracterizada pela OMS como uma pandemia mundial. No Brasil, o primeiro caso registrado se deu em 25 de fevereiro de 2020 e, dias depois, em 12 de março, ocorreu a primeira morte causada pela doença. Pouco tempo após o caso, os brasileiros se viram em estado de quarentena e isolamento social, no qual, durante um determinado período de tempo, apenas os estabelecimentos de serviços essenciais para a população tinham permissão para continuarem abertos. Além disso, foi determinado pelas autoridades que os hábitos relativos à higiene e a vigilância sanitária fossem reforçados, e que todos os habitantes do país passassem a fazer uso de máscaras faciais e álcool em gel, na tentativa de evitar que o coronavírus se espalhasse ainda mais. Muitos foram os esforços e os cuidados diários para evitar uma maior contaminação. Contudo, atualmente, mais de um ano após a detecção da doença, mais de 113 milhões de pessoas foram contaminadas no mundo inteiro, e destas, mais de 2 milhões e 500 mil pessoas vieram a falecer devido à COVID-19, segundo a OMS. O Brasil se encontra em estado grave, sendo o terceiro país com o maior número de infectados, estando atrás somente dos Estados Unidos e da Índia, e quanto ao número de mortos, os brasileiros ocupam a segunda posição no ranking mundial (Quadro 1).
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Quadro 1 – Análise do impacto da doença causada pelo coronavírus no mundo. Ranking com o número de casos de contaminações e mortes dos 3 países mais afetados no momento. Fonte: OMS. < https://covid19.who.int/table >. Acesso em: 01 de mar de 2021. Edição pela autora.
Das mais de 10 milhões de pessoas que contraíram a doença no Brasil, cerca de 254 mil vieram à óbito, sendo a maioria delas idosas, segundo análise dos boletins feitos semanalmente pelo Ministério da Saúde. O 49° boletim especial, publicação mais recente sobre o assunto, referente a Semana Epidemiológica 5 (SE5), relatou os casos ocorridos durante os dias 31 de janeiro e 06 de fevereiro deste ano de 2021, apontando que, naquela semana, dos 12 mil mortos por COVID-19, 77% tinham idade acima dos 60 anos (Gráfico 3), ainda que o maior número de contágio seja entre pessoas mais jovens. Tal fenômeno vem sendo observado desde o início da pandemia e muitos especulam que as taxas de letalidade sejam tão mais altas entre as pessoas de idade mais avançada, devido à grande ocorrência de comorbidades entre elas, característica muito comum que acompanha o envelhecimento. Este dado considerado alarmante se mostra ainda pior nas instituições de cuidado com os idosos: nos Estados Unidos, por exemplo, cerca de 34% de todos os falecimentos causados pelo coronavírus, se deram entre residentes e funcionários das casas de repouso, segundo o jornal americano The New York Times.
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Gráfico 3 – Óbitos por COVID-19 no Brasil, segundo faixa etária, durante a Semana Epidemiológica 5 (31/01/2021 – 06/02/2021). Fonte: Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica da Gripe. Dados atualizados em 8 de fevereiro de 2021. Elaboração gráfica pela autora.
No Brasil não se tem contabilizado todos os casos ocorridos nas Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI’s), contudo devido à gravidade da situação, a Secretaria de Atenção Primária à Saúde (SAPS) chegou a elaborar o ‘Plano Nacional de Contingência para o Cuidado à Pessoa Idosa Institucionalizada na Pandemia da COVID-19’. Além disso, desde que começou o período de vacinação contra a doença, no dia 19 de janeiro de 2021, este grupo recebeu prioridade máxima, sendo a primeira categoria de pessoas a serem atendidas. Em meio à esta situação, reforça-se a ideia de que é necessário planejar com cautela os locais de apoio à terceira idade. A construção de espaços que valorizam o aproveitamento de recursos naturais como a ventilação cruzada e a iluminação natural, que façam bom uso de áreas abertas e ao ar livre, ao mesmo tempo que ofereçam verdadeiro conforto, não se contentando a proporcionar apenas o mínimo, deve ser considerada condição fundamental para a criação de espaços de qualidade para os idosos. Não se trata de um simples requinte construtivo, mas sim de uma proposta que atenda aos requisitos de sanitariedade, visando melhorar uma questão de saúde pública, e acima de tudo, garantir o bem-estar da população de idade mais avançada.
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2.2 OS DIFERENTES TIPOS DE PROJETO DE APOIO À PESSOA IDOSA
Através da Portaria MPAS/SEAS 73/2001, do Ministério de Previdência e Assistência Social, foram estabelecidas as ‘Normas de Funcionamento de Serviços de Atenção ao Idoso no Brasil’, documento que se mostra como mais uma etapa de regulamentação da Lei 8.842/1994, a Política Nacional do Idoso. A Secretaria de Estado de Assistência Social, juntamente com Organizações Governamentais (OG’s) e Não-Governamentais (ONG’s) propuseram nove novas modalidades de atendimento à população mais velha, sendo elas: Família Natural, Família Acolhedora, Residência Temporária, Centro Dia, Centro de Convivência, Casa Lar, República, Atendimento Integral Institucional e Assistência Domiciliar. As modalidades possuem características distintas e o documento apresenta as justificativas, objetivos, metodologia, público-alvo, meta, forma de gestão e financiamento, recursos humanos envolvidos, custos financeiros, cronogramas de atividades, monitoramentos e resultados esperados para cada uma delas. Embora se trate de uma declaração bastante extensa, as informações mais relevantes e completas estão relacionadas a indicação e levantamento de quantitativos de diversos fatores: serviços, funcionários, gastos gerais, mobiliário e material de uso terapêutico, entre outros (MPAS/SEAS 73/2001). As informações qualitativas, contudo, se mostram bastante rasas, deixando brechas para muitas dúvidas. A maior importância do documento, considerando um ponto de vista pessoal, é de fato a explicação de cada uma das modalidades de projeto existentes, que ajuda a compreender em quais aspectos elas se diferem e qual opção se torna a mais viável, em decorrência do público que se pretende atender e o objetivo a se atingir. O documento também conta com alguns dados básicos para a elaboração do projeto arquitetônico de cada tipo de edificação a ser construída, não sendo fornecidos, entretanto, dados para situações de reformas ou adaptações de espaços já existentes. As indicações oferecidas para os elementos gerais das edificações se mostram coerentes e oferecem uma excelente base de entendimento para os itens descritos. Contudo, algumas de outras informações fornecidas, especialmente as que tratam dos programas de necessidades e dimensionamento mínimo dos espaços é carente de revisão: a mesma legislação que cobra acessibilidade e conforto fornece dados de ambientes incapazes de cumprir com as diretrizes previstas na própria lei.
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Outro problema encontrado nas normas é a falta de informações oficiais para instituições que tenham interesse de combinar mais de uma modalidade em seu programa, embora sejam casos comuns. Em suma, é provável que a inconveniência e escassez de dados seja resultado da desatualização da lei em questão, que foi aprovada a cerca de 20 anos e ainda não sofreu correções. Os anos se passaram e a realidade do país e do estilo de vida dos idosos já passou por diversas mudanças, que devem ser consideradas e analisadas para reformular as normas, os critérios básicos de construção e inclusive as modalidades de projeto existentes, para que sejam mais condizentes com a conjuntura atual. A seguir, serão descritas as características de duas das mais populares tipologias de projeto de apoio para idosos: a de Atendimento Integral Institucional e o Centro de Convivência. Posteriormente, no item 2.3.3, será conceituado a nova tipologia projetual estipulada neste trabalho: o Ancianato, que combina as premissas de habitação e convivência, e traz propostas mais adequadas para suprir as necessidades da terceira idade na atualidade.
2.2.1 O Modelo de Atendimento Integral Institucional
O Atendimento Integral Institucional é o modelo mais comum de prestação de apoio aos idosos no Brasil. Podendo ser ofertado tanto pela iniciativa pública, quanto privada, este tipo de auxílio é previsto por um período de tempo indeterminado em Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI’s). Este tipo de estabelecimento possui
caráter
residencial
coletivo,
e
apresentam
diversas
nomenclaturas
correspondentes, sendo algumas das mais populares: casa de repouso, asilo, lar de idosos e residência geriátrica (MPAS/SEAS 73/2001). Estas instituições podem ser classificadas em 3 diferentes modalidades, que variam de acordo com o grau de dependência dos idosos residentes. É considerado dependente todo aquele que apresenta algum tipo de necessidade de auxílio, seja de pessoas ou equipamentos especiais, para realizar suas Atividades de Vida Diária (AVD), tais como alimentação, higiene pessoal, mobilidade, etc. O uso de equipamentos de autoajuda, no entanto, não classifica o indivíduo como dependente, uma vez que são utilizados apenas para oferecer assistência a habilidades funcionais. Desta forma, a Modalidade I trata dos idosos independentes, a Modalidade II, por sua
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vez, lida com idosos com dependência em até 3 AVD’s, e a Modalidade III trabalha com os idosos que possuam algum comprometimento cognitivo ou que requeiram assistência em todas as atividades diárias (ANVISA, 2005). Independente da classificação da ILPI, todas têm como função atender, em regime integral, pessoas com idade acima de 60 anos e garantir serviços de apoio social, mental e físico, além de atender as necessidades básicas de alimentação, saúde, higiene, repouso e lazer, respeitando as demandas e limitações pessoais de cada um, a fim de promover o desenvolvimento do bem-estar e a melhoria da qualidade de vida do usuário, contribuindo sempre que possível para a integração comunitária e sócio familiar (MPAS/SEAS 73/2001). A Norma prevê que o Atendimento Integral Institucional deve ser instalado em espaços localizados dentro da malha urbana, com facilidade de acesso, próximos à uma rede de comércio, serviços e lazer. Ao que se trata do ambiente físico para esta modalidade de instituição, afirma-se que os serviços podem ser implantados tanto em edificações novas, quanto em já existentes, desde que sejam adaptadas. Em ambos os casos, é preciso:
Atender as necessidades físico-espaciais mínimas indicadas nesta Norma, em conformidade com o programa necessário para o desenvolvimento das atividades próprias a cada instituição e de acordo com as disposições da NBR 9050 da Associação Brasileira de Normas Técnicas e da Portaria 810 do Ministério da Saúde. Além disto, o projeto dessas edificações deve atender à legislação municipal vigente [...]. (OMS, 2008, p. 64).
Além disso, é exigido que as imposições de conforto e acessibilidade sejam entendidas como indispensáveis para garantir a segurança e autonomia dos idosos. A Norma também cobra uma análise rigorosa das propostas para os ambientes e elementos construtivos, tanto nos momentos de escolha quanto na hora da execução, de forma a atender as necessidades físico-espaciais dos residentes, levando em conta as possíveis limitações da idade. Inclusive, são descritas, de forma resumida, as preferências, características simples e dimensionamento mínimo dos itens indicados pelo plano de necessidades básico proposto para cada modalidade. A qualificação dos espaços, segundo a lei, deve contar com a participação dos idosos, principalmente nos ambientes privativos, de forma a impedir a despersonalização da vida dos usuários. Sendo assim, é estimulado o uso
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complementar de elementos que fomentem a memória física e efetivados moradores, desde que atuem de forma positiva em suas relações com o local, resgatando antigos hábitos e experiências (MPAS/SEAS 73/2001). 2.2.2 O Modelo de Centro de Convivência
O Centro de Convivência é uma tipologia que, assim como o próprio nome sugere, consiste no espaço cujo atendimento, que se dá somente em período diurno, é voltado à socialização, com o objetivo de “promover o encontro de idosos e de seus familiares, através do desenvolvimento de atividades planejadas e sistematizadas, que possibilitem a melhoria de seu convívio com a família e a comunidade” (MPAS/SEAS 73/2001), sem a necessidade de internação. Este tipo de modalidade de projeto é previsto para funcionar a partir de organizações governamentais, tais como o próprio Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS) e suas parcerias, podendo ainda fazer uso dos ambientes físicos da rede pública ou privada, nas áreas de saúde, educação, esportes e cultura. É previsto, no programa de necessidades deste modelo de projeto, a inclusão de um mínimo de duas salas para atividades coletivas, uma sala para atividade individual, um espaço para convivência e um salão de festas para 150 pessoas, além das dependências voltadas ao funcionamento geral da instituição e áreas descobertas destinadas as atividades ao ar livre, totalizando assim, cerca de 9 m² de área construída por usuário, valor considerado baixo para se atender os padrões de qualidade deste tipo de construção. A norma sugere que sejam ofertadas atividades diversas relacionadas às práticas artísticas, culturais, sociais, físicas, produtivas, de políticas públicas, passeios, jardinagem e horticultura. Além disso, é estimulado que sejam feitos projetos de capacitação visando a autogestão dos Centros de Convivência. As exigências acerca do local de implantação, dos ambientes físicos e da qualificação dos espaços são, em suma, as mesmas cobradas nos locais de Atendimento Integral Institucional (MPAS/SEAS 73/2001).
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2.2.3 Uma nova tipologia: o Ancianato
Encontrar o termo ideal para caracterizar a exata modalidade do projeto descrito nesta monografia provou-se ser uma tarefa mais complexa do que o esperado. Elaborar um modelo de lar de idosos usualmente implica projetar uma edificação encaixável nos moldes há tanto tempo consolidados. Essa proposta, contudo, tenta fugir dos padrões já existentes, por julgá-los insuficientes na tentativa de suprir as necessidades físicas, mentais e sociais da população idosa na conjuntura atual da sociedade brasileira. Conforme exposto, as modalidades de projetos de atenção voltados para a terceira idade em vigor na atualidade possuem definições muito rasas e objetivos superficiais para um assunto primordial que, no Brasil, não é levado a sério suficientemente. Contudo, este projeto pretende considerar de forma mais aprofundada os aspectos positivos e negativos do envelhecimento, as necessidades, limitações e fatores promotores do bem-estar, fazendo as mudanças primordiais para a criação de um espaço qualificado adaptado para a nova realidade do perfil dos idosos brasileiros. Considerando o histórico das Instituições de Longa Permanência para Idosos no Brasil, é pertinente frisar o impacto positivo gerado ao se adotar esta nova nomenclatura, que embora não tenha caído no senso comum por ser demasiado técnico, foi responsável pelo abandono, ao menos em documentos oficiais, do tão famigerado termo ‘Asilo’, o qual detém uma conotação amplamente negativa. Concomitantemente, mesmo o nome ‘Casa de Repouso’ não tendo significado pejorativo, também segue não sendo a melhor das opções para caracterizar esta nova perspectiva, uma vez que deixa em aberto para interpretação a ideia de que o local é um espaço voltado para inércia, situação completamente oposta ao conceito da proposta para o novo estilo de projeto aqui apresentado. Sendo assim, considerando que, assim como não há ainda uma modalidade que aborda inteiramente as ideias desta proposta, também não existe uma nomenclatura condizente com ela. Portanto, assim como será feita a ressignificação de um modelo de espaço de apoio para a terceira idade, foi decidido ressignificar também a própria terminologia. Desta forma, surge o termo ‘Ancianato’, que embora seja uma nomenclatura que não existe oficialmente nos dicionários brasileiros, já é incluída por algumas organizações como uma das designações dadas para institutos que prestam
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atendimento integral à população de idade avançada. Cabe dizer também que, mesmo não sendo uma expressão popular, se trata de um nome conhecido por ser difundido nos países de língua espanhola para denominar os lares de idosos. Contudo, o verdadeiro interesse por exato título para designar este tipo de projeto, é a sua origem a partir da simples aglutinação das palavras ‘ancião’, que por definição do dicionário, é sinônimo de pessoa idosa, mas que também pode ser considerado um adjetivo usado para descrever uma pessoa digna de respeito por sua idade avançada; e ‘pensionato’ que se trata de uma modalidade de habitação coletiva que, embora tenha uma administração para estabelecer regras de convívio e lidar com questões
burocráticas,
consiste
em
espaço
democrático,
que
respeita
a
individualidade de cada um dos moradores, mas que exige a colaboração de todos para que sejam consolidados o senso comunitário e a harmonia geral. Sendo assim, a adoção do termo Ancianato é fruto de uma tentativa de se estabelecer uma nova denominação, despida de preconcepções e estigmas, para se caracterizar uma nova tipologia de ambientes voltados para o atendimento de idosos, que assim como o próprio nome sugere, tem como objetivo promover a convivência e interação harmoniosa entre os residentes e frequentadores, tendo como base pilares de respeito, comunidade e igualdade.
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3 ESTUDOS DE CASO
Embora tenha-se a compreensão de que a maioria dos projetos arquitetônicos voltados para a terceira idade na atualidade não sejam satisfatórios às necessidades físicas e sociais dos idosos, e como provado recentemente, não se adequam suficientemente também aos padrões de sanitariedade existentes, nem todos os casos são negativos. Existem ainda inúmeras instituições que prezam pela qualidade de vida das pessoas de idade avançada e utilizam os mais diversos recursos disponíveis pela arquitetura para garantir que o próprio ambiente de vivência influencie positivamente no aumento do bem-estar. Desta forma, serão analisadas neste capítulo, algumas construções de destaque já existentes voltadas para o público idoso e as características consideradas de maior importância e notoriedade para serem incorporadas na formulação de um espaço ilustre de assistência à terceira idade.
3.1 DR. GEORGE W. DAVIS SENIOR CENTER AND RESIDENCE
Figura 1 – Pátio central do Residencial e Centro Geriátrico Dr. George W. Davis. Fotografia: Bruce Damonde. Disponível em: <www.dbarchitect.com/DrGeorgeDavis>. Acesso em: 14 abri. 2020.
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O Residencial e Centro Geriátrico Dr. George W. Davis é um edifício localizado em São Francisco, na Califórnia, Estados Unidos da América construído em 2016, cujo projeto foi elaborado pelo escritório de arquitetura David Baker Architects. A edificação se trata de uma unidade habitacional, que conta com um centro comunitário em parte do piso térreo, com o objetivo de oferecer, além da moradia, um espaço de encontro com serviços e programas diversos para os idosos da comunidade geral (Figura 1).
Figura 2 – Pavimento térreo do Residencial e Centro Geriátrico Dr. George W. Davis. Projeto: David Baker Architects. Disponível em: <www.dbarchitect.com/DrGeorgeDavis>. Acesso em: 14 abri. 2020.
O primeiro pavimento (Figura 2) constitui um espaço voltado para as atividades coletivas, onde se oferecem serviços sociais e programas extensivos. Desde aulas de exercícios, até noites de jogos e experiências culinárias, o Residencial e Centro Geriátrico se propõe como um ambiente onde os idosos locais possam relaxar, se encontrar e se divertir. A parte residencial conta com uma sala comunal privada, uma cozinha para eventos, um espaço fitness e um salão de beleza, além de funcionários à disposição. Nos pavimentos superiores (Figura 3) se encontram as
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unidades habitacionais, e cada andar é servido por salas informais e lavanderias compartilhadas. O edifício conta com apartamentos de um e dois quartos para aluguel, ofertados com preços acessíveis para idosos de baixa-renda. No total, são 121 unidades e destas, 2 são reservadas como moradia de apoio para idosos recémsaídos do cárcere privado e outras 23 para aqueles que não possuíam residência. Sendo assim, atende uma crítica demanda local por espaços adequados para o envelhecimento saudável em comunidade para os menos afortunados.
Figura 3 – Segundo pavimento do Residencial e Centro Geriátrico Dr. George W. Davis. Projeto: David Baker Architects. Disponível em: <www.dbarchitect.com/DrGeorgeDavis>. Acesso em: 14 abri. 2020.
A edificação, que também se destaca por numerosos certificados de sustentabilidade, é um ótimo exemplo de um local agradável e adequado aos idosos. E, ao trazer como proposta principal a junção das funções de centro de convivência (Figura 4) e espaço habitacional, priorizando a sociabilidade dos usuários, tornou-se um dos estudos de caso mais significativos para a elaboração deste projeto.
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Figura 4 – Salão com mesa de sinuca do Residencial e Centro Geriátrico Dr. George W. Davis. Fotografia: Bruce Damonde. Disponível em: <www.dbarchitect.com/DrGeorgeDavis>. Acesso em: 14 abri. 2020.
3.2 VILA DOS IDOSOS
Figura 5 – A Vila de Idosos de Pari. Fotografia: Azul Serra. Disponível em: <http://www.vigliecca.com.br/pt-BR/projects/elderly-housing>. Acesso em: 27 jan. 2021. Serra. Disponível em: <http://www.vigliecca.com.br/pt-BR/projects/elderly-housing>. Acesso em: 27 jan. 2021.
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A Vila dos Idosos se trata de um projeto de habitação social voltada à terceira idade, que faz parte do programa ‘Morar no Centro’, desenvolvido pela Companhia Metropolitana de Habitação de São Paulo (COHAB). O conjunto, localizado ao lado da Biblioteca Pública Adelpha Figueiredo, no bairro Pari, é de excelente acesso às diversas linhas do transporte público. Projetada pelo escritório ‘Vigliecca & Associados’, a edificação teve sua construção iniciada no ano de 2003 e em 2007, o projeto, que totaliza 8.290 m² de área construída, foi concluído (Figura 5).
Figura 6 – Planta baixa geral da Vila de Idosos. Projeto: Vigliecca & Associados. Disponível em: <http://www.vigliecca.com.br/pt-BR/projects/elderly-housing>. Acesso em: 27 jan. 2021.
O edifício conta com 145 unidades habitacionais, sendo elas 57 apartamentos de 42 m² com um dormitório e 88 monoambientes de 30 m² (Figura 7). Cerca de 25% destes ambientes são previamente adaptados a portadores de necessidades especiais, e os restantes são facilmente adaptáveis, caso preciso. Além dos espaços privativos, a Vila oferece também 3 salas para entretenimento com televisão e jogos, 4 salas de uso múltiplo, salão comunitário com cozinha e sanitários, quadra de bocha, horta comunitária, além das áreas externas e um espelho d’água (Figura 6). O conjunto, organizado em 4 pavimentos, faz uso de grandes zonas de circulação horizontal para promover a interação coletiva, uma vez que estes espaços são concebidos como áreas de encontro (Figura 8). Da mesma forma, os salões comuns também são pensados para estimular os diferentes tipos de contatos comerciais, culturais, sociais e comunitários.
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Figura 7 – Planta baixa das unidades habitacionais da Vila de Idosos. Projeto: Vigliecca & Associados. Disponível em: <http://www.vigliecca.com.br/pt-BR/projects/elderlyhousing>. Acesso em: 27 jan. 2021.
É possível observar, então, o impacto que o local de inserção do projeto arquitetônico exerce nas relações interpessoais e na vida cotidiana dos idosos. Ao mesmo tempo, a proposta de se explorar os ambientes de passagem como zonas de encontro também se mostra como ponto interessante de ser trabalhado, visando a promoção do convívio e a interação entre os moradores.
Figura 8 – Perspectiva a partir dos corredores da Vila de Idosos. Fotografia: Azul Serra. Disponível em: <http://www.vigliecca.com.br/pt-BR/projects/elderly-housing>. Acesso em: 27 jan. 2021.
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4 PROCESSO DE ESCOLHA DA ÁREA DE INTERVENÇÃO
A partir do momento em que se compreende que a socialização entre todas e quaisquer gerações é essencial para difundir a percepção de pertencimento e de inserção dos idosos na sociedade, nota-se ser necessário colaborar para que tais relações intergeracionais ocorram efetivamente. A adoção de um partido com um cenário urbano propício à comunicação torna-se, então, o próximo passo a ser dado. Em conjunturas como esta, é pertinente concluir que um bom projeto arquitetônico não se limita apenas ao próprio edifício. É necessário ir além dos muros e encontrar a conexão existente entre construção e contexto, privado e público, de forma a se encontrar o verdadeiro propósito da iniciativa: derrubar as barreiras invisíveis que isolam o indivíduo, a fim de lembrá-lo que ele faz parte, ao mesmo tempo, de seu lar e da comunidade onde habita. De uma maneira poética e pragmática, esta é uma das formas de se caracterizar a proposta para o Ancianato Acalanto: se trata de uma construção contextual urbana, cuja relação com os arredores influencia diretamente na elaboração e, consequentemente, no funcionamento da proposta arquitetônica. O entorno é pensado previamente como suplemento para a edificação, de forma a fomentar no residente a sensação de que a vizinhança é uma extensão de sua morada. Do mesmo modo, o edifício é feito para se encaixar no contexto em que se insere, de forma que mesmo que este viesse a se destacar, continuaria sendo percebido como um elemento de composição da paisagem, e não uma mera construção à parte. A integração cidade-obra contribui para o aprofundamento das relações sociais, tornando-se condição exímia para a construção de um ambiente saudável para o idoso, assim como expõe a Organização Mundial de Saúde (OMS), que declara:
A moradia deve ser analisada em relação aos espaços abertos e às edificações existentes, de tal maneira que as residências dos idosos se localizem em áreas livres de risco de desastres naturais e perto de serviços; que estejam situadas perto de onde pessoas de diferentes faixas etárias morem; que permitam a participação cívica de forma a mantê-los integrados à comunidade, em atividade e com boa disposição. (OMS, 2008, p. 64).
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Coincidentemente, é relevante analisar que o vínculo físico entre entorno e edificação não deve ser o único ponto levado em conta no momento de escolha da área de intervenção mais compatível com o propósito do projeto. O histórico demográfico, social, econômico e urbanístico da região, também exerce grande peso na decisão e deve ser examinado de forma cautelosa. Ao reunir dados acerca da população local, é possível compreender se o perfil dos moradores de uma região corresponde às propostas pensadas para o projeto. No caso desta iniciativa em específico, o usuário de referência é a pessoa acima de 60 anos, independente, que faça ou não uso de equipamentos de autoajuda e que não tenha condições financeiras de bancar, por si só, uma assistência particular. Sendo assim, é oportuno encontrar estas características entre uma significante parcela dos residentes da região de inserção. É preciso também, ao se estabelecer uma nova moradia, haver o entendimento de que é ideal o estímulo positivo da memória afetiva do idoso, de forma a criar conexões entre os antigos hábitos e experiências e o seu cotidiano atual (MPAS/SEAS, 2001). É natural que a pessoa de idade avançada se sinta desconfortável com variações bruscas em sua vida cotidiana, uma vez que a velhice é um processo de constante transformação e poucas garantias, e a mudança do ambiente onde se vive, para muitos, pode ser considerada abrupta. Portanto, é elementar considerar o apego a um lugar. E a afeição que os idosos, assim como todas as outras pessoas, sentem pelo espaço onde habitam deve ser levada em conta na hora de se traçar um projeto (HAZIN, 2012). Sendo assim, é interessante considerar que o usuário ideal para o projeto do Ancianato seja exatamente aquele que já vive na região de intervenção e que já enxerga aquele espaço como sua verdadeira comunidade. Urbanisticamente falando, especialmente em casos como este, nos quais o usuário em observação é mais propício a possuir certas limitações no processo de ir e vir, como o idoso, é preciso também se preocupar com a escala da área de inserção do projeto. Em “Cidades para pessoas”, Jan Gehl já dizia que “a maior parte das pessoas está disposta a percorrer cerca de 500 metros”, mas que tal distância varia de acordo com a qualidade do percurso. Quanto melhor a caminhabilidade, a presença de elementos amigáveis e a variedade de elementos atrativos, mais agradável se torna um trajeto e, por conseguinte, a sensação de conforto durante o caminhar.
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Sendo assim, a boa infraestrutura local também deve ser considerada no momento de escolha do local de implantação para uma construção como o Ancianato Acalanto. Torna-se objetivo encontrar uma vizinhança convidativa, que ofereça atividades diversas, goze de espaços verdes, estimule a permanência, proporcione a percepção de segurança, com calçamento adequado e acessível, ruas bem sinalizadas, sem tráfego caótico e ruídos excessivos (OMS, 2008). Da mesma forma, sabe-se que na maioria dos centros das cidades, “uma caminhada de um quilômetro ou menos levará os pedestres à maior parte dos serviços” (GEHL, 2010). Sendo assim, outro fator a ser levado em conta é a disposição de estabelecimentos e atividades essenciais à população, conforme é exemplificado pelas ‘Normas de Funcionamento de Serviços de Atenção ao Idoso no Brasil’:
As instituições de atendimento integral institucional devem estar localizadas dentro da malha urbana, com facilidade de acesso por transporte coletivo, e preferencialmente, próxima à rede de saúde, comércio e demais serviços da vida da cidade (posto médico, hospitais, supermercado, farmácia, padaria, centros culturais, cinemas, etc.), favorecendo a integração do idoso, independente e mesmo dependente, à comunidade do entorno. (MPAS/SEAS, 2001, p. 99).
Evidentemente, nem sempre todas as características apontadas como essenciais para a implantação de uma construção voltada para a habitação e socialização do público idoso, vão ser encontradas simultaneamente. Nessas situações, é preciso classificar quais atributos possuem maior importância no projeto em específico e, enfim selecionar o local ideal. Partindo desse pressuposto, foi feita uma análise de duas etapas acerca da cidade de Vila Velha, município escolhido para ser o local de implantação do Ancianato, devido ao seu grande potencial de crescimento e de urbanização. O primeiro fator analisado foi o perfil populacional, com o objetivo de se reduzir a área de abrangência e selecionar uma zona mais condizente com o perfil do usuário a ser recebido e o segundo estágio tratou de observar, de fato, as características urbanísticas da região escolhida, para garantir que esta atenda as necessidades de serviços e estabelecimentos essenciais, acessibilidade, atividades atrativas e a possibilidade de explorar a interação comunitária dos idosos.
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4.1 ANÁLISE DEMOGRÁFICA E SOCIOECONÔMICA DE VILA VELHA
O município de Vila Velha é a cidade mais antiga do estado do Espírito Santo e faz parte da Região Metropolitana da Grande Vitória (RMGV). Segundo o último censo demográfico feito pelo IBGE, em 2010 a população total de Vila Velha era de quase 415 mil habitantes, maior número de cidadãos dentre todos os 78 municípios do estado. Destes, aproximadamente 44 mil eram idosos acima de 60 anos de idade. Embora não se tenha dados oficiais confirmados, o IBGE estima que em 2020 o número total de residentes vilavelhenses tenha subido para cerca de 501 mil, aproximadamente 86 mil ou 20,7% a mais que a década anterior, valor que ultrapassa as médias globais tanto do Espírito Santo, que obteve um crescimento populacional de 15,6%, quanto do Brasil, cuja população cresceu cerca de 11% (Gráfico 4).
Gráfico 4 - Evolução do número de habitantes e da taxa de crescimento populacional de Vila Velha, Espírito Santo e Brasil nos anos selecionados. Fonte: IBGE / Censo Demográfico dos anos 2000, 2010 e 2020. Elaboração gráfica pela autora. Nota: A população do ano de 2020 é apenas uma estimativa, uma vez que o censo demográfico não pode ser concluído devido à pandemia causada pela COVID-19.
O censo demográfico de 2010 apontou ainda que 98,24% da população canela verde reside nas áreas urbanizadas da cidade, caracterizando Vila Velha como um município majoritariamente urbano em termos de ocupação. Já ao que se trata do território vilavelhense, a situação se inverte, uma vez que a maior parte, cerca de 68%, dos 210,225 km² das áreas totais é classificada como ‘Área Rural’ ou de ‘Extensão Urbana’. A maioria da população, entretanto, reside nas regiões que ocupam os restantes 32% do município, que são divididas em 92 bairros, dispostos em 5 regiões administrativas (Mapa 1): Centro, Grande Ibes, Grande Aribiri, Grande Cobilândia e Grande Jucu.
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Mapa 1 - Divisão do município de Vila Velha por Região Administrativa. Fonte: IBGE e PMVV/SEMPLA. Edição e legenda pela autora.
A fim de selecionar o local mais adequado para a implantação do projeto, foi observado o perfil socioeconômico de cada uma das regiões, em especial os indicadores de habitantes com 60 anos ou mais (Quadro 2Mapa 1) e os de renda per capita (Quadro 3). Tais características tiveram bastante influência na decisão, uma vez que
aponta,
de forma geral,
a situação
dos
consequentemente, dos potenciais usuários do Ancianato.
moradores locais e,
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Quadro 2 - Total de habitantes de Vila Velha por região administrativa e classificação etária. Fonte: IBGE / Censo Demográfico 2010. Elaboração gráfica pela autora.
Conforme observado no Quadro 2, percebe-se que as regiões administrativas com a maior participação percentual de idosos é a Centro e a Grande Ibes, sendo que ambas possuem uma porcentagem mais alta do que a média municipal. Sendo o Ancianato um projeto voltado justamente para um público com a idade mais avançada, estas foram, então, apontadas como as regiões mais propícias à implantação a instituição.
Quadro 3 - Comparativo do rendimento mais alto, mais baixo e médio mensal per capita dos domicílios particulares permanentes por região administrativa de Vila Velha. Fonte: IBGE / Censo Demográfico 2010. Elaboração gráfica pela autora.
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O Quadro 3, por sua vez, indica que, em 2010, os moradores da região 01 recebiam mensalmente, uma média de 3,3 salários mínimos, valor bastante diferente das demais médias. Além disso, levando em conta que se pretende que o Ancianato seja uma instituição pública ou filantrópica, ficou fora de questão implantar o projeto em uma área cuja renda per capita dos habitantes fosse tão elevada. Desta forma, percebeu-se que em termos de aspectos socioeconômicos e demográficos, a região da Grande Ibes (Mapa 2) seria a mais apropriada para implantação do projeto.
Mapa 2 - Divisão dos bairros da Região Administrativa 02 – Grande Ibes. Fonte: IBGE e PMVV/SEMPLA. Edição e legenda pela autora.
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4.2 CONTEXTO URBANO
Dentre todos os aspectos urbanísticos avaliados no processo de escolha do sítio de inserção do Ancianato Acalanto, um dos primeiros fatores a serem observados foi a identificação dos elementos físicos estratégicos presentes na cidade, em especial os pontos nodais, espaços de grande foco e convergência de pessoas (LYNCH, 2011). Foi feito, então, um exame da região na busca de ambientes públicos de qualidade, priorizando os locais de permanência que fossem atrativos não somente para os idosos, mas para toda a população, tendo em vista uma maior amplitude de interação social. O espaço que se mostrou mais condizente com a busca foi o Parque Urbano de Cocal (Figura 9), uma construção relativamente nova, tendo sido finalizada no ano de 2016, que se localiza no bairro Cocal, fazendo parte, justamente, da região administrativa 02 – Grande Ibes. Considerado por muitos o equipamento público de lazer de maior excelência do município de Vila Velha na atualidade, o parque foi projetado para dar palco a atividades esportivas, recreativas e culturais em uma área de 23 mil m².
Figura 9 – Projeto do Parque Urbano de Cocal. Fonte: Lindgren Arquitetos, 2017. Disponível em: < https://lindgrenarquitetos.myportfolio.com/2016-parque-urbanode-cocal>. Acesso em: 27 jan. 2021.
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Contando atualmente com playground infantil, academia ao ar livre (Figura 10), pista de skate, pista de corrida, espaço de ginástica e arena poliesportiva com capacidade para 3 mil pessoas, o parque mostra-se como o lugar perfeito para reunião de pessoas de diferentes idades e com diferentes propósitos, atraindo desde pequenas famílias procurando apenas um local confortável para aproveitar o dia, quanto grupos grandes que se reúnem em torno de alguma atividade especial.
Figura 10 – Academia ao Ar Livre do Parque Urbano de Cocal. Fonte: Lindgren Arquitetos, 2017. Disponível em: < https://lindgrenarquitetos.myportfolio.com/2016parque-urbano-de-cocal>. Acesso em: 27 jan. 2021.
Outro fator de destaque do local, é que este também conta com um Centro de Vivência do Idoso (Figura 11), que oferece
Cursos complementares, atividades culturais e socioeducativas gratuitas como: aulas de teatro, música, inclusão digital, estudo de línguas, teologia, artes plásticas, ginastica, dança e atendimento psicológico para a terceira idade. (LINDGREN, 2017, Painel 1/2).
Desta forma, o Parque Urbano de Cocal mostrou-se como o local ideal para se ter nas proximidades do sítio de implantação do projeto, devido a pluralidade de atividades ofertadas, a qualidade do espaço, a quantidade de espaços verdes, a alta variedade de formas de lazer, sua popularidade entre as diversas gerações que fazem usufruto de seus equipamentos diariamente e, acima de tudo, a atenção oferecida aos idosos.
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Figura 11 – Centro de Vivência do Idoso. Fonte: Lindgren Arquitetos, 2017. Disponível em: < https://lindgrenarquitetos.myportfolio.com/2016-parque-urbano-de-cocal>. Acesso em: 27 jan. 2021.
Coincidentemente, na rua da fachada principal do parque, do lado oposto da via, com vista plena para o local, havia um terreno vazio (Figura 12) com área total condizente com o esperado para a implantação do projeto, apresentando grande potencial para ser o local escolhido para construção do Ancianato. Evidentemente, outras opções de sítio também foram analisadas, contudo, após uma crítica avaliação da área para averiguar as condições do entorno, foi constatado que este sítio seria, de fato, o mais apropriado para este tipo de programa.
Figura 12 - Vista do Terreno a partir do Parque Urbano de Cocal. Foto autoral, 28 de mai de 2020.
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Conforme a discussão acerca da importância da proximidade do Ancianato com equipamentos públicos de relevância, serviços básicos e comércios essenciais, foi feito o levantamento dos elementos de destaque no entorno do terreno analisado (Mapa 3). Foram eles: pontos de ônibus, espaços públicos de lazer (praças, parque e ginásio), escolas, centros religiosos, bancos, hospitais e unidades básicas de saúde, farmácias, padarias, supermercados e as unidades habitacionais populares de maior evidencia da região. Cabe reforçar que estas são as instalações apontadas como as de maior interesse para o público idoso, mas que, além destes, outros tipos de estabelecimentos são encontrados nos arredores do local, que embora seja predominantemente residencial, também apresenta uma gama variada de edifícios mistos, comerciais e institucionais.
Mapa 3 – Localização de comércio e serviços. Fonte: Google Maps. Disponível em: <https://www.google.com.br/maps/@-20.35994,-40.30472,17z>. Acesso em: 13 de jan de 2021. Edição e adaptação pela autora.
A topografia da área é predominantemente plana, salvo pela região de divisa com o bairro Boa Vista, onde se tem um morro relativamente íngreme. Contudo, o terreno e os locais de maior concentração de comércio e serviços se encontram entre curvas de níveis bem espaçadas, o que exige menor esforço do idoso em termos de passeio, tornando mais confortável o caminhar no local. Ao que se trata da hierarquia viária local (Mapa 4), o terreno se encontra no cruzamento entre duas vias locais e uma coletora, estando a uma quadra da via arterial mais próxima. Desta forma, é possível compreender que existe uma determinada facilidade de acesso à região, mas que, ao mesmo tempo, por não se
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tratar de um espaço localizado nos eixos principais do município, o trafego é mais leve, a poluição sonora causada pelos automóveis é bem menor e inclusive até os passeios são mais caminháveis, uma vez que as calçadas não estão constantemente tumultuadas pela alta circulação de pessoas.
Mapa 4 – Hierarquia Viária. Fonte: Google Maps. Disponível em: <https://www.google.com.br/maps/@-20.35994,-40.30472,17z>. Acesso em: 13 de jan de 2021. Edição e adaptação pela autora.
Sendo assim, é perceptível que o terreno cumpre com os requisitos estabelecidos para a escolha do espaço de implantação do Ancianato, tanto em relação ao que é apontado nas normas para o atendimento aos idosos, quanto às conclusões obtidas através dos estudos teóricos sobre a qualidade dos espaços urbanos e seus impactos no cotidiano da terceira idade.
4.3 DEFINIÇÃO DO TERRENO
O sítio escolhido, conforme dito anteriormente, localiza-se no bairro Cocal, em Vila Velha, Espírito Santo. Trata-se de um terreno de 1.789 m², em formato de um trapézio retângulo, com testada para três diferentes vias: a fachada sudeste, medindo 52 m, é voltada para a Rua Dr. Annor da Silva, a fachada nordeste, de 47 m, para a Travessa dos Artistas e, por fim, a fachada noroeste, que mede 24 m, voltada para a Rua dos Artistas, tendo ampla vista para o Parque Urbano de Cocal, localizado do lado oposto da via (Mapa 5).
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Mapa 5 – Localização do terreno escolhido. Fonte: Google Maps. Disponível em: <https://www.google.com.br/maps/@-20.35994,-40.30472,17z>. Acesso em: 13 de jan de 2021. Edição e adaptação pela autora.
A partir da visita ao local, pode-se confirmar que se trata de uma área plana, com baixa poluição sonora e tráfego leve. As ruas possuem bom estado de conservação e a área é bem servida de sinalização para pedestres. As calçadas de duas das três vias adjacentes ao terreno já são regulares e acessíveis, seguindo o padrão proposto pelas leis municipais 5477/13 e 5566/14, embora a arborização tenha se apresentado como obstáculo, tornando o percurso instável. Levando em conta o caráter urbano do Ancianato Acalanto, torna-se necessário fazer, além do projeto, mudanças necessárias para tornar as áreas de passeio seguras para os idosos e para o resto da população, através da adaptação para as calçadas legais e na revisão do tipo, tamanho e posição mobiliário urbano.
4.3.1 Legislação Referente ao Local de Implantação
O Plano Diretor Municipal (PDM) de Vila Velha, estabelecido pela lei no 4.575/07, embora esteja passando por um processo de revisão para a elaboração de um novo modelo, permanece sendo a legislação vigente no território canela verde para nortear as questões relacionadas ao planejamento urbano e gestão territorial do município.
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Os principais parâmetros urbanísticos instituídos como regras para a ocupação do solo e construção de edifícios são apontados pelo PDM e variam de acordo com as Zonas Urbanas. Conforme o Mapa 6, percebe-se que o sítio de intervenção do Ancianato localiza-se em uma Zona de Ocupação Prioritária (ZOP), que se destaca por ser a mais bem infra estruturada, e que tem como entre seus principais objetivos incentivar a renovação urbana predominantemente residencial, intensificar a implantação de equipamentos urbanos e qualificar os bairros e localidades já consolidados.
Mapa 6 – Zoneamento Urbano (Ampliação: Detalhe 07 – Mapa 06 da Lei 4.575/07). Fonte: PMVV. Edição pela autora.
O terreno se encontra na região da subdivisão ZOP5, caracterizada pelo “coeficiente de aproveitamento compatível com a infraestrutura instalada [...] e implantação de novos parcelamentos que sejam necessários a integração da malha viária” (PMVV, 2007). Para determinar o potencial construtivo, a projeção máxima e a permeabilidade mínima da edificação, são necessários os dados oferecidos pelos parâmetros urbanísticos desta zona em questão, conforme o Quadro 4.
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Quadro 4 – Parâmetros Urbanísticos para as Zonas de Ocupação Prioritária. Fonte: PMVV. Edição pela autora.
Desta forma, a partir dos dados obtidos na tabela interior e já se tendo a informação sobre a área total do terreno, foram calculadas e estipuladas as áreas mínimas e máximas necessárias para o cumprimento desta Lei (Quadro 5).
Quadro 5 – Aplicação dos parâmetros urbanísticos para o terreno da proposta. Elaboração gráfica pela autora.
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5 DESENVOLVIMENTO PROJETUAL
Para a elaboração do projeto arquitetônico do Ancianato Acalanto, foram tomadas decisões projetuais a partir de um pensamento que considerasse o conhecimento teórico adquirido, a vivência sobre o tema em questão, juntamente com a análise dos estudos de caso, as normas vigentes para a execução deste tipo de projeto, e acima de tudo, a perspectiva pessoal sobre como se deve ser o ambiente ideal para a vivência dos idosos na sociedade atual. Nesta seção será descrito o processo de criação do projeto, considerando desde a conceituação do partido e do programa de necessidades, o desenvolvimento e separação dos setores, a elaboração da proposta paisagística, até a definição e descrição final dos ambientes presentes no Ancianato Acalanto.
Figura 13 – Planta baixa de Implantação do Ancianato Acalanto. Projeto autoral.
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5.1 CONCEITO E PROGRAMA DE NECESSIDADES
Ao se estabelecer o programa de necessidades para o projeto do Ancianato Acalanto, o primeiro item analisado foram os usuários que, como dito anteriormente, se tratam de pessoas independentes, com idade a partir de 60 anos. De forma a garantir a qualidade da prestação de serviços, o melhor uso do espaço e a expansão da rede de interação social dos habitantes, foi decidido que a quantidade diária de pessoas atendidas no espaço seria de 80 idosos. Destes, 40 seriam acolhidos de forma integral, em condição habitacional e os outros frequentariam assiduamente o estabelecimento, durante determinado período do dia, fazendo uso dos mesmos recursos que os próprios moradores. Levando em conta as condições gerais impostas pela RDC 283/2005 para a infraestrutura física do local, foi optado por dividir o grupo dos 40 frequentadores em dois turnos, matutino e vespertino, para se garantir o cumprimento das exigências e, consequentemente, ofertar uma assistência de melhor qualidade para todos os idosos do Ancianato. Foi decidido também que, de forma a se fomentar as relações de convívio e o senso comunitário, o espaço contaria com uma política de portas abertas (mesmo que de forma controlada), para visitantes de qualquer idade e origem.
Figura 14 – Fachada nordeste do Ancianato Acalanto: destaque para o pátio em ‘U’ e o terraço escalonado em dois níveis, ambos espaços promotores da interação social. Projeto autoral.
Tendo em mente o próprio edifício, pode-se dizer que o elemento de maior destaque é, sem dúvida, o grande pátio em formato de ‘U’, onde se localiza o jardim e área de convivência externa principal, com abertura para o lado exterior do terreno (Figura 14). A adoção deste tipo de partido surgiu a partir da união de duas premissas
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norteadoras para este projeto: a exploração do paisagismo como criador de ambientes participativos e da interação e comunicação visual dos usuários com eles mesmos, com as pessoas de fora e com o ambiente urbano onde o prédio está inserido, e viceversa (Figura 17, Figura 16 e Figura 15).
Figura 17 – Vista do Ancianato Acalanto inserido no contexto urbano, a partir da fachada nordeste. Projeto autoral.
Figura 16 – Vista do Ancianato Acalanto inserido no contexto urbano, a partir da fachada noroeste. Projeto autoral.
Figura 15 – Vista do Ancianato Acalanto inserido no contexto urbano, a partir da fachada sudeste. Projeto autoral.
A inclusão de um bom projeto paisagístico no Ancianato não se deu apenas por motivos estéticos, sustentáveis ou de conforto ambiental, embora sabe-se que o uso da arborização fará com que o espaço se torne mais agradável, de forma natural. O interesse real era criar áreas verdes externas interativas, que possibilitassem o idoso explorar atividades junto a natureza: fazendo uso dela através de hortas e pomares, criando espaços contemplativos como jardins sensoriais, ou simplesmente configurando agradáveis áreas de interação, como o próprio pátio. A criação ou transformação dos espaços de convívio é uma peça-chave para a compreensão do projeto do Ancianato Acalanto. Entender a influência da coletividade na vida dos idosos foi fator principal para se decidir que todos os espaços da edificação deveriam ser pontos de convivência em potencial. Juntando a este pensamento a ideia da exploração de visuais e a maximização da agradabilidade proporcionada pela iluminação e ventilação naturais, foi tomada a decisão pela
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adoção de outros elementos que se tornaram destaque: o terraço escalonado em dois níveis que permite uma ampla apreciação visual, as grandes varandas que atuam simultaneamente como espaços de circulação e permanência, além do uso de portas e janelas de vidro nas principais áreas de acesso, de forma a conjugar os espaços, permitir a visualização das atividades dentro dos ambientes e proporcionar uma conexão ainda maior entre os mesmos.
Figura 18 – Fachada sudeste do Ancianato Acalanto: destaque para os dormitórios e as varandas que garantem o acesso aos quartos e também são utilizadas como espaço de convivência. Projeto autoral.
Considerando as necessidades físicas e cognitivas dos idosos, foram também projetados ambientes que explorassem práticas consideradas saudáveis e colaboradoras para o envelhecimento ativo. Desta forma, foram incluídos no projeto do edifício espaços para atividades coletivas como: biblioteca, ateliê, salas para exercícios e tratamentos, espaço para entretenimento e até mesmo um jardim terapêutico, de forma a se fornecer os meios para o alcance de uma vida de qualidade. Coroando, por fim, as premissas principais do projeto do Ancianato Acalanto, houve a busca pela inserção da edificação em um contexto urbano atrativo e de qualidade, que permitisse que os usuários do espaço pudessem explorar, sem dificuldades, as atividades e serviços oferecidos no entorno mais próximo. Além disto, através da criação de um espaço instigante, pretendeu-se também fazer com que o próprio edifício se torne um elemento convidativo na vizinhança, trazendo visibilidade para os idosos e reestabelecendo sua posição como pessoas de importante papel na sociedade.
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5.2 SETORIZAÇÃO
A fim de proporcionar uma maior facilidade de circulação e situação para os usuários do Ancianato, a edificação foi projetada com seus setores bem definidos e unificados. Foram estabelecidos cinco setores principais: o de uso coletivo, de assistência, de apoio, os dormitórios e, por fim, as áreas de circulação.
Gráfico 5 – Quantitativo de áreas a partir da setorização dos ambientes. Elaboração gráfica pela autora. Projeto autoral.
5.2.1 Setor de Uso Coletivo
Os espaços de uso coletivo formam o setor mais importante do edifício e, consequentemente, constituem a maior parte do Ancianato, se estendendo por todos os pavimentos e fachadas. Sua concentração maior, contudo, se dá ao redor do pátio principal, na porção central do prédio e na parte noroeste do terreno, onde se tem a maior proximidade com o Parque Urbano de Cocal, uma vez que um dos objetivos do projeto é a exploração dos elementos visuais agradáveis.
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O setor é composto tanto pelas salas de atividades conjuntas, onde os idosos exercitam o corpo e a mente em busca de uma vida saudável, quanto pelos espaços de convivência que permitem o desenvolvimento das relações sociais e também por todos os outros ambientes de uso compartilhado pelos usuários do centro. No primeiro pavimento, tem-se: a varanda de entrada (17,94 m²), a recepção (31,27 m²) e o banheiro (3,00 m²), o espaço de estar (63,36 m²) e os banheiros centrais feminino e masculino (3,40 m² cada), depósito de materiais de jardinagem (7,26 m²), o refeitório (172,07 m²) juntamente com o lavatório (3,15 m²) e o banheiro (3,50 m²) e o deck coberto (45,05 m²). Já no segundo pavimento, existe a biblioteca (76,44 m²) com sua varanda particular (16,66 m²), o ateliê (68,36 m²), os banheiros feminino e masculino (3,15 m² cada), o espaço ecumênico (21,15 m²) e seu acervo (2,48 m²), a área de convivência dos moradores (81,44 m²) e as varandas ao redor dos dormitórios (166,46 m²). No terceiro pavimento, encontram-se a sala multiuso (76,44 m²) e sua varanda (17,70 m²), os vestiários acessíveis (5,92 m² cada), os vestiários coletivos feminino (32,58 m²) e masculino (24,46 m²). Também conta com a área de convivência dos moradores (81,44 m²) e as varandas ao redor dos dormitórios (172,80 m²). O quarto pavimento, por sua vez é onde se localiza o primeiro nível do terraço descoberto (210,43 m²), a área de apoio (22,66 m²), o espaço de lazer (113,48 m²) com os banheiros feminino (3,14 m²) e masculino (3,12 m²), além das mesmas áreas de convivência dos moradores (81,44 m²) e as varandas ao redor dos dormitórios (172,49 m²) dos pavimentos anteriores. Por fim, no quinto e último pavimento, é onde fica nível superior do terraço (554,05 m²), juntamente com um banheiro (3,65 m²) e um depósito de materiais de apoio (2,72 m²).
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Quadro 6 – Setor Coletivo separado por áreas e localização em pavimentos. Elaboração gráfica pela autora.
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5.2.2 Setor de Acompanhamento
O setor de acompanhamento é composto pelos ambientes onde ocorre atendimento individual ou familiar, prestado por profissionais da área da saúde, que irão acompanhar e monitorar os idosos residentes do Ancianato. Fazem parte deste setor: o consultório médico (13,89 m²), a sala de atendimento psicológico (12,58 m²), o ambulatório (19,46 m²) e o banheiro (2,96 m²) anexo a ele, bem como a sala de tratamento físico (35,11 m²). A maioria dos espaços que formam esta divisão se encontram no andar térreo, próxima ao acesso principal do edifício, uma vez que caso ocorra alguma emergência, torna-se mais ágil o percurso do ambulatório até a saída. Os outros ambientes ficaram próximos, por questões de semelhança de função e pela comodidade de se manter por perto os materiais e funcionários do setor. O espaço dedicado ao tratamento especializado dos usuários é a única exceção, pois se encontra no segundo pavimento, junto à sala de atividades físicas e aos vestiários.
Quadro 7 – Setor de Acompanhamento separado por áreas e localização em pavimentos. Elaboração gráfica pela autora.
5.2.3 Setor de Apoio
Fazem parte do setor de apoio os ambientes que tem como finalidade prestar auxílio, de alguma forma, na realização das atividades cotidianas do Ancianato, seja por meio da prestação de serviços essenciais para o funcionamento do espaço ou apenas pelo armazenamento de materiais e equipamentos. Os espaços constituintes deste setor são: a sala de administração (9,02 m²), os vestiários feminino (20,81 m²), masculino (17,20 m²) e acessível (5,00 m²), a
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lavanderia (76,43 m²), o almoxarifado (10,20 m²), a cozinha (71,89 m²) e a lixeira externa (9,42 m²), localizados no pavimento térreo. Além destes ambientes, o segundo, terceiro e quarto pavimentos contam também com o depósito de material de limpeza e roupa de cama (13,11 m² cada), de forma a facilitar a manutenção de cada andar. A zona de serviço do primeiro pavimento foi posicionada de forma estratégica na fachada sudeste, próxima a divisão com o lote vizinho, onde se forma um ângulo agudo que dificulta a criação dos espaços acessíveis mais importantes. Juntamente a isto, sabendo que a Rua Dr. Annor da Silva é uma via mais movimentada do que as demais e já se encontra na rota de carga e descarga de outros estabelecimentos, foi pensado que seria interessante a instalação do acesso de serviço nesta via. Porém, acima de tudo, o maior condicionante para a posição deste setor foi justamente o fato de que a vista a partir deste ponto é a menos atrativa de todo o terreno: do outro lado da rua, se encontra um grande conjunto habitacional, cujo muro se apresenta como uma fachada cega e sem nenhum interesse. Portanto, sendo uma área de acesso restrito apenas aos funcionários, decidiu-se que esta seria a melhor colocação, deixando as outras regiões do lote, mais agradáveis, para o uso dos idosos.
Quadro 8 – Setor de Apoio separado por áreas e localização em pavimentos. Elaboração gráfica pela autora.
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5.2.4 Dormitórios
Os dormitórios constituem um setor próprio, uma vez que são os únicos recintos do edifício pensados unicamente com o propósito de habitação, sendo então os espaços mais íntimos do Ancianato. Os quartos são modulares e foram projetados para acomodar dois moradores, em estilo de demi-suítes, ou seja: dois dormitórios, de quatro pessoas, compartilhando um mesmo banheiro. Desta forma, as dependências dos aposentos utilizadas por cada um dos habitantes são: o hall de entrada do quarto (10,18 m²), o quarto (12,13 m²), o lavatório (5,04 m²) e o banheiro (5,11 m²) da demi-suíte. São dispostos 4 módulos segundo pavimento, 4 módulos no terceiro e 2 no quarto, totalizando 10 módulos de 20 dormitórios para 40 pessoas na edificação. Os aposentos se encontram também na fachada sudeste, uma vez que embora os quartos tenham grande importância na vida diária e o aprimoramento da questão da individualidade e manifestação pessoal, o foco principal do Ancianato Acalanto está no estímulo da vida coletiva. Sendo assim, os quartos foram pensados para ser ambientes agradáveis, de forma atender todos os critérios de acessibilidade e conforto, sem ser, contudo, mais atrativos que o restante da edificação. De outras maneiras, os dormitórios também se conectam com o proposto pelo edifício, através da criação de singelas relações de convívio entre os moradores que dividem os quartos e banheiros e também por terem acesso através dos dois lados da grande varanda, que se dispõe como espaço qualificado de convivência e apreciação da paisagem urbana.
Quadro 9 – Setor de Dormitórios separado por áreas e localização em pavimentos. Elaboração gráfica pela autora.
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5.2.5 Circulação
Embora o próprio nome sugira que se trata de locais de passagem, os ambientes que compõe a circulação do edifício também oferecem a possibilidade de serem explorados como pontos de encontro, de convivência e, em alguns casos, até mesmo de permanência e contemplação. Contudo, uma vez que a proposta principal destes ambientes é servir como espaço de idas e vindas, foi denominado setor de circulação. No primeiro pavimento, encontra-se a circulação da área de acompanhamento (12,87 m²), da área de serviço (21,42 m²), a varanda de recebimento de carga (6,60 m²), assim como o espaço de circulação geral (152,35 m²) e vertical (26,47m²), caracterizada pelo espaço onde se encontram a escada e os elevadores, sendo, portanto, um elemento constante existente em todos os pavimentos. Tem-se também uma área de circulação geral no segundo (115,33 m²), terceiro (110,04 m²) e quarto (71,28 m²) pavimentos, enquanto no quinto, essa área se limita apenas a um corredor coberto (6,98 m²). A maioria dos ambientes que compõe a circulação do edifício, em especial aqueles utilizados pelos usuários idosos, se mostram como espaços abertos, transparentes e livres, que permitem circular, também, a comunicação e os olhares dentro e fora do prédio.
Quadro 10 – Setor de Circulação separado por áreas e localização em pavimentos. Elaboração gráfica pela autora.
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5.3 DESCRIÇÃO DOS AMBIENTES
Pode-se dizer que uma das primeiras impressões que pode se passar pela mente de quem avista pela primeira vez o Ancianato Acalanto é a de visibilidade. Mesmo sem adentrar o espaço, é possível enxergar o interior da edificação, uma vez que ao invés de adotar um muro segregador e pouco atrativo, o local conta com um cercado de madeira que permite, através de sua permeabilidade, a interação entre o universo interior e exterior (Figura 19). Quem está do lado de fora é convidado a enxergar os idosos que ali vivem, de forma literal e metafórica: o estreitamento das barreiras visuais tem como propósito incluir a imagem dos idosos no cotidiano dos transeuntes, permitindo que estes descubram a realidade da vivência deste público mais velho, convidando-os a fazer parte desta experiência coletiva, criando novas relações. Da mesma forma, quem está do lado de dentro é levado a estender seu olhar para o entorno, relembrando que seu lar não é e nem deve ser pensado como um lugar isolado, e reafirmando sua posição como membros da sociedade.
Figura 19 – Perspectiva Externa: Vista do lado de fora do prédio. Elaboração gráfica pela autora. Projeto autoral.
Ao adentrar os portões do acesso primário, pela fachada nordeste, na Travessa dos Artistas, o observador se vê no jardim frontal, espaço que precede a entrada do edifício e de onde é possível contemplar o Parque Urbano de Cocal e o pátio principal (Figura 20). Contando com bancos, bicicletário e canteiros com vegetação tropical colorida, pretende-se estimular uma percepção positiva e atraente antes mesmo do
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usuário entrar na edificação. Junto a ele, tem-se o primeiro ambiente que faz parte do prédio: a varanda de entrada, que se trata de um espaço coberto de transição, decorado com algumas poltronas de balanço, peça de mobiliário que foi tão popular entre os idosos, que recebeu o apelido de ‘cadeira da vovó’.
Figura 20 – Perspectiva: Entrada da edificação. Elaboração gráfica pela autora. Projeto autoral.
Passando pela porta de entrada, chega-se no interior do prédio, através da recepção, lugar onde é feito o cadastro de todas as pessoas que pretendem adentrar o Ancianato, independentemente de serem moradores, frequentadores, funcionários ou visitantes. Com fins de conveniência, há um banheiro de uso coletivo na própria recepção, que assim como todos os outros, é adaptado para portadores de necessidades especiais. O local necessita apenas de mobiliário simples: balcão de atendimento, poltronas e mesas de apoio para uso de quem espera e catracas de segurança, que monitoram a entrada e saída de pessoas. Ao passar por elas, chegase ao corredor geral, amplo e bem servido de janelas e portas de vidro, que permitem apreciar bem a vista do jardim (Figura 21). Este corredor oferece a possibilidade de levar o usuário até ao pátio principal, que se encontra à esquerda, até o espaço de estar, ao seguir adiante em linha reta, ou por fim, ao corredor do setor de assistência, à direita, onde se encontram os armários para uso dos frequentadores e visitantes.
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Figura 21 – Perspectiva: Entrada lateral para o pátio. Elaboração gráfica pela autora. Projeto autoral.
O espaço de atendimento é uma forma de se garantir o monitoramento da saúde física e psicológica dos moradores e frequentadores do Ancianato, e conta com três ambientes de cuidados especializados. O ambulatório, no fim do corredor, tem capacidade para atender simultaneamente até quatro pessoas: duas em macas hospitalares reguláveis, e outras duas em poltronas reclináveis que também podem ser utilizadas para acomodar acompanhantes em caso de não haver outros usuários necessitando dos serviços ambulatoriais. É previsto ali espaço para um balcão de higienização
de
mãos
e
ferramentas,
juntamente
com
armários
para
o
armazenamento de medicações, materiais e aparelhos de monitoramento médicohospitalares para que casos sem gravidade (como pequenos cortes, mal-estares, entre outros) possam ser acompanhados no próprio Ancianato. Para maior comodidade dos usuários, o espaço também conta com um banheiro acessível anexo a ele. Para consultas de rotina e acompanhamento periódico o edifício também conta com um consultório médico, e ao que se trata da saúde mental dos usuários, o local também conta com uma sala de acompanhamento psicológico, para que sejam feitas consultas individuais e sócio familiares. Voltando à circulação principal, chega-se à sala de estar, que é o primeiro local que o usuário tem contato cuja função é completamente voltada para a socialização e o lazer. Com grandes janelas que proporcionam a contemplação do Parque de Cocal, o espaço conta com televisão como fonte principal de entretenimento, além de
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poltronas e mesas modulares que dão aos usuários a liberdade de modificarem o layout conforme a própria vontade, possibilitando maior funcionalidade. A sala não possui paredes internas com o objetivo de se promover a interação entre os ambientes e, consequentemente, facilitar a interação entre as pessoas. Além disso, ao se optar pela menor quantidade de paredes, e se fazer maior uso de janelas, portas e outras esquadrias de vidro fica mais fácil e agradável a circulação de ar, bem como a passagem de iluminação natural. Próximo à sala, se encontram dois banheiros de uso coletivo, que por sua vez, se encontram ao lado da passagem para o jardim terapêutico, que fica nos fundos do terreno.
Figura 22 – Perspectiva: Vista do jardim a partir da sala de estar. Elaboração gráfica pela autora. Projeto autoral.
O jardim terapêutico é um espaço que tem como pretensão explorar os cinco sentidos como forma de terapia alternativa para o corpo e a mente, auxiliando na sensação do bem-estar e contribuindo para uma melhoria na qualidade de vida. Para tal, o ambiente conta com um pequeno jardim zen, notável pela sua ligação com o alívio do estresse, que contém um campo raso com uma mistura de areia e cascalho, para criação de ondulações com o auxílio de um ancinho, pedras achatadas para a prática promotora do equilíbrio do empilhamento de rochas, uma lanterna de pedra para simbolizar a luz do conhecimento que limpa a aura de quem repousa no jardim, uma fonte esférica que jorra água, responsável por aguçar a audição e relaxar a mente, além de uma plantação de bambus que carregam grande simbologia na cultura oriental, incluindo a atração de energias positivas. Além disso, o espaço também conta
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com um baixo deck circular de madeira, com algumas poltronas, perfeito para repousar ou praticar algumas atividades estimuladoras, como yoga e meditação, localizado sob uma Acácia Imperial, árvore de grande porte com flores amarelas que exalam um ótimo perfume e são atrativas para as aves. Ao seu redor, foram plantadas ervas medicinais, com a intenção de propiciar aos moradores a oportunidade de trabalharem com as próprias mãos no jardim, que além de agradável ao olfato, também é capaz de estimular o paladar, por meio da inclusão dos vegetais colhidos na produção culinária, ou na utilização dos mesmos para fazer chás, sucos ou infusões. O ambiente é marcado, portanto, por uma grande variedade de cores e texturas, tornando-o extremamente confortável e agradável aos olhos (Figura 23).
Figura 23 – Perspectiva: O Jardim Terapêutico. Elaboração gráfica pela autora. Projeto autoral.
Saindo do jardim e retomando o eixo de circulação, chega-se à região central do edifício, que de certa maneira, se torna o ponto de convergência do Ancianato. A partir dele, chega-se à escada e aos elevadores que levarão aos pisos superiores, além do setor de apoio do térreo e ao refeitório. Ademais, é para este ambiente que se abrem as grandes portas de correr que dão acesso principal para o pátio, criando uma conexão ainda mais ampla entre o prédio e o exterior. Desta forma, o local tornase também, de um espaço de qualidade para a permanência, especialmente ao se fazer uso de móveis modulares, que possibilitam os usuários escolherem para onde voltar o olhar, considerando a ampla variedade de escolhas.
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Ao lado dos elevadores, se encontra a sala da administração, local onde o responsável técnico do local se instalará. Próximo a ela, tem-se a entrada para o setor de serviço do primeiro pavimento, onde se concentram os ambientes para a realização das atividades essenciais para o funcionamento da vida cotidiana dentro do Ancianato, como a cozinha e a lavanderia. Além disso, conta também com o almoxarifado para o armazenamento de suprimentos e os vestiários e banheiros coletivos, femininos e masculinos, para uso dos funcionários. Por fim, o último ambiente interno do primeiro pavimento é o refeitório, que possui capacidade para noventa pessoas em quinze mesas, que também pode ser utilizado como salão de eventos e atividades, graças ao seu mobiliário móvel que permite a diversidade de usos. O espaço é ligado diretamente à cozinha, por uma porta de uso restrito para os funcionários e pela janela passa-pratos onde são distribuídos os alimentos. O ambiente também conta com um lavatório interno, para que seja feita a higienização apropriada antes e depois das refeições, e com um banheiro próprio, para que os idosos não precisem se deslocar longas distâncias em caso de necessidade. O refeitório tem vista para a Rua Dr. Annor da Silva, através das janelas de correr, que garantem a ventilação cruzada com as portas de vidro do outro lado do cômodo que, por sua vez, permitem a contemplação do pátio principal e que ao serem abertas totalmente, ocasionam na integração do local com o deck coberto da edificação.
Figura 24 – Perspectiva: Vista do pátio principal, a partir do deck. Elaboração gráfica pela autora. Projeto autoral.
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O pátio é um dos elementos de destaque do edifício, sem sombras de dúvidas. Elaborado com várias espécies de plantas tropicais, dispostas em quatro grandes divisões com formatos orgânicos, a ideia por traz da concepção deste jardim foi estabelecê-lo como o ponto de evidência e convergência da edificação. As formas curvas estabelecidas pelos canteiros, além de ser uma maneira de fugir de uma padronização excessiva, conferindo maior personalidade para o jardim, formam também caminhos mais espontâneos e prazerosos de serem explorados, além de criar zonas de diferentes graus de intimidade a partir das concavidades estabelecidas. Sendo assim, torna-se o local perfeito para as mais variadas formas de permanência: seja para a imersão pessoal, a interação social, a contemplação da natureza ou qualquer outra forma de a apreciação da vida. Desta maneira, o pátio principal, que combina árvores, arbustos, flores e forrações de diferentes formatos, texturas, cores e odores, proporcionando os mais diferentes estímulos de sentidos e emoções, se firma como um dos locais mais agradáveis e importantes do Ancianato Acalanto.
Figura 25 – Perspectiva: Vista do prédio, a partir do pátio. Elaboração gráfica pela autora. Projeto autoral.
Como dito anteriormente, o pátio foi pensado como um ambiente para ser visto de todos os cantos do edifício, fazendo parte, inclusive, da experiência do deslocamento entre os pavimentos. Por meio de uma escada não enclausurada, de largos degraus e com dois patamares intermediários que facilitam a locomoção dos idosos, é possível observá-lo em diferentes níveis de altura. Da mesma maneira, também pode-se observar o jardim terapêutico através dos cobogós cerâmicos de
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estilo rústico dispostos junto à escada de forma a aprimorar a ventilação e iluminação naturais. Desta forma, ao tornar a circulação vertical aberta atrativa, gera-se um estímulo para que os idosos incorporem o simples processo de subir e descer as escadas nas suas atividades cotidianas, em vez de simplesmente fazerem o uso constante dos elevadores. Para destacar a verticalidade e criar um contraste estético com o resto do edifício, a torre dos elevadores foi revestida com ladrilhos hidráulicos de design orgânico nas cores branco e amarelo, inspirados na tendência tão popularizada na década de 1950, pelo artista Athos Bulcão, como forma de alimentar a busca pelo lúdico e a memória afetiva (Figura 26).
Figura 26 – Perspectiva: Vista a partir da escada, voltada para o pátio e com destaque para os ladrilhos hidráulicos na parede lateral. Elaboração gráfica pela autora. Projeto autoral.
Independente da forma utilizada para se chegar ao segundo pavimento, a primeira cena capturada pelo olhar do usuário é justamente a varanda central com vista para o jardim. Mesmo sendo a área de passagem geral do andar, o ambiente aberto também conta com mobiliário leve para a permanência dos idosos. Fazendo divisa com as escadas, se encontra o espaço ecumênico, local onde os moradores e residentes podem se sentir livres para manifestar suas crenças religiosas, levando em conta o conhecimento sobre a necessidade da maioria dos idosos de se apegar a alguma entidade mística ou divina (FREITAS e NORONHA, 2010, p. 366). Por respeito à grande variedade de religiões, o ambiente não faz alusão a nenhuma delas, e se contenta apenas em se prestar como um ambiente para
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recolhimento e conforto. Anexo ao espaço ecumênico, encontra-se um acervo para o armazenamento de itens relacionados às atividades ali expressas. Mais adiante encontram-se os dois banheiros acessíveis de uso coletivo do pavimento, próximos aos bebedouros. Ao lado destes, tem-se o ateliê, uma das salas de
atividades
coletivas.
Este
espaço,
que
tem
capacidade
de
atender,
simultaneamente, até quinze usuários, visa trabalhar a coordenação motora e a habilidade cognitiva dos idosos, por meio de aulas e práticas que envolvam exercícios manuais relacionados aos diversos tipos de artes e artesanatos, como: pintura, escultura, desenho, colagem, corte, costura, crochê, tricô e quaisquer outras modalidades que o público do local expresse interesse e os responsáveis técnicos julguem seguras para serem realizadas. O ambiente é composto, então, por grandes mesas de uso compartilhado, para facilitar a produção artesanal, armários e carrinhos para o armazenamento dos materiais e ferramentas utilizadas na manufatura, bancada com tanques para limpeza, além de estantes abertas para a secagem e exposição temporária dos itens produzidos em aula, que podem vir a ser exibidos em eventos abertos ao público, como forma de estimular ainda mais o empenho dos idosos na execução das atividades. Do lado de fora, o espaço de circulação é amplo para garantir a acessibilidade e permitir a interação dos idosos durante os percursos. Neste andar, além de observar a vegetação do pátio, o usuário também tem vista para as floreiras que delimitam o perímetro externo das varandas, complementando a relação do edifício com os espaços verdes (Figura 27).
Figura 27 – Perspectiva: Vista do pátio, a partir da varanda do segundo andar. Elaboração gráfica pela autora. Projeto autoral.
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Em seguida, localiza-se a biblioteca, espaço dedicado para a leitura de livros e periódicos e prática da inclusão digital, uma vez que a tecnologia está cada vez mais presente nas vidas das pessoas, e contribuindo, muitas vezes para a manutenção dos vínculos pessoais entre os usuários das redes sociais, o que se torna um facilitador do contato entre os idosos residentes do Ancianato e seus familiares e amigos que vivem fora dele. Com o intuito de dar maior liberdade para os habitantes, é possível pegar emprestado os exemplares para lê-los em diferentes locais. Mesmo assim, para quem desejar permanecer na biblioteca, o ambiente conta com poltronas confortáveis, próximas à ampla estante de livros, além dos seis computadores com acesso à internet. De forma a se garantir um ambiente ainda mais agradável, a área, que possui aberturas em todas as paredes, busca captar o máximo da iluminação natural para viabilizar um processo de leitura mais leve aos olhos. Para os que preferem um contato maior com o externo, o espaço também conta com uma pequena varanda particular integrada. Como tanto a biblioteca, quanto o ateliê possuem grandes janelas voltadas para a fachada noroeste, esta foi equipada com brises-soleils verticais móveis, cujas lâminas são dadas por um quadro de perfis metálicos, acompanhados de trilhos horizontais de madeira, de forma a oferecer concomitantemente, a proteção adequada para os raios alfa, beta e gama. Permitindo vislumbrar o Parque Urbano de Cocal quando as lâminas estiverem posicionadas de forma perpendicular à parede, os quebra-sóis ofertam também a passagem da luz solar de maneira mais controlada, impedindo o calor excessivo dentro das salas (Figura 28).
Figura 28 – Fachada noroeste: destaque para a proteção solar nas janelas, que permitem controlar a iluminação, sem comprometer a vista para o parque. Elaboração gráfica pela autora. Projeto autoral.
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De volta à região central do pavimento, atrás dos elevadores se encontra o depósito de material de limpeza e roupa de cama, de acesso exclusivo aos funcionários. Trata-se de uma posição estratégica, pois busca manter similares as distâncias percorridas para se chegar em cada uma das extremidades do prédio. Este ambiente se repete nos dois pavimentos acima, assim como os espaços presente na ala sudeste. A porção próxima à fachada sudeste do edifício é onde se concentram os dormitórios, a área gastronômica e as varandas de acesso e permanência próximas aos quartos. Esta região segue um padrão que se repete também no terceiro e no quarto andar, mesmo que neste último a quantidade de dormitórios seja menor. O espaço gastronômico foi pensado como um local de uso coletivo para a exploração da culinária como arte terapêutica. O ambiente, que conta com eletrodomésticos comuns em cozinha, tais como geladeira, forno, cooktop, microondas, é de livre uso pelos moradores que tiverem desejo de cozinhar, por aqueles que sentirem vontade de se alimentar de algo diferente do oferecido pelo cardápio do Ancianato ou até mesmo pelos que sentirem fome em horários diferentes dos que são oferecidos as refeições, desde que passem sempre por uma supervisão nutricional. Além disso, o espaço também se dispõe como mais um local de convivência e permanência para habitantes e frequentadores. A parte habitacional é dividida em módulos, responsáveis por traçar a malha estrutural da edificação. Cada unidade modular é composta por dois dormitórios com capacidade para duas pessoas cada, e um banheiro com lavatório para ser compartilhado entre os quatro moradores. Optou-se por tomar este tipo de partido, tendo em mente que quanto mais pessoas em um quarto, menor seria a privacidade e a manifestação da individualidade dos residentes, mas que ao mesmo tempo, dispor os idosos em quartos individuais seria uma má escolha, pois isso poderia colaborar para a sensação de solidão e abandono. Desta maneira, duas pessoas dividindo um mesmo aposento mantém a proposta do projeto de contribuir para a criação de relações pessoais entre os usuários, sem comprometer a liberdade dos mesmos. De forma a proporcionar maior sensação de aconchego e considerando a opção mais adequada ao público de idade avançada, faz-se uso de um revestimento vinílico, que imita a textura da madeira, com paginação em formato de ‘espinha de peixe’ e padrão semelhante aos pisos de taco e, extremamente populares entre os anos de 1950 e 1960 (Figura 29).
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Figura 29 – Planta baixa dos dormitórios: ambiente com hall de entrada e demi-suíte para duas pessoas. Elaboração gráfica pela autora. Projeto autoral.
Sendo assim, cada dormitório seria dividido em dois espaços: um hall de entrada onde se encontrariam os armários e o mobiliário complementar, além do acesso para o banheiro compartilhado, e o quarto em si, espaço para repouso com as camas, mesas de cabeceira, escrivaninha e televisão (Figura 30 e Figura 31).
Figura 30 – Perspectiva: Interior do quarto. Elaboração gráfica pela autora. Projeto autoral.
Assim como todos os outros ambientes, o lavatório também é acessível para pessoas com necessidades especiais, recebendo, portanto, apenas um pequeno armário móvel para o armazenamento de produtos de higiene pessoal, de forma a não
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atrapalhar a locomoção, além de uma bancada com duas pias. Já o banheiro, também contaria com um pequeno lavatório de canto, além dos itens essenciais como chuveiro, bacia sanitária, entre outros.
Figura 31 – Corte: Interior do quarto. Elaboração gráfica pela autora. Projeto autoral.
Para garantir a iluminação e a ventilação dos quartos, são utilizadas portas de vidro com venezianas na parte inferior, além de janelas de clerestório voltadas para a fachada sudeste, para situações nas quais os habitantes não desejarem deixar as portas abertas (Figura 32).
Figura 32 – Perspectiva: Varanda íntima. Elaboração gráfica pela autora. Projeto autoral.
Subindo para o terceiro pavimento, é possível encontrar na parte noroeste do edifício a sala multiuso e a de tratamento, junto aos vestiários. O salão multiuso tem como função principal prestar acompanhamento em exercícios físicos coletivos, visto
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que é extremamente importante para os idosos a busca pela prática de atividades que promovam um estilo de vida saudável, e que contribuam para um processo de envelhecimento vigoroso. É previsto que sejam ofertadas aulas para até quinze pessoas, de diversas modalidades, que possam atender os mais variados gostos, como: ginástica, dança, yoga, alongamento, aeróbica e até mesmo treinamento funcional e de resistência para aqueles que se sentirem mais dispostos. Para isso, o local se apresenta livre de mobiliário, contando apenas com os armários e prateleiras para o depósito dos materiais de auxílio para as atividades. Assim como a biblioteca, a sala multiuso também se abre para uma varanda, melhorando a circulação de ar e tornando o espaço mais agradável. Ao lado do salão, existe a sala de tratamento, onde também são realizadas atividades físicas, porém estas são modalidades individuais e com foco no acompanhamento fisioterapêutico dos idosos, seja de forma preventiva ou corretiva. Assim, a terapia é ofertada por profissionais qualificados, por meio de exercícios e uso de equipamentos auxiliares próprios para este tipo de reabilitação. Para atender as necessidades físicas dos frequentadores depois das atividades físicas, o espaço também oferece, dentro dos banheiros, vestiários coletivos, feminino e masculino, com cabines de chuveiro individuais equipadas com barras e bancos de apoio, para evitar a ocorrência de quedas. Para os portadores de necessidades especiais, existem também duas unidades acessíveis de banheiros com chuveiro. Assim como no segundo pavimento, o terceiro conta com oito dormitórios duplos, além das varandas e espaço gastronômico.
Figura 33 – Perspectiva: Vista do terceiro pavimento. Elaboração gráfica pela autora. Projeto autoral.
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No quarto e penúltimo andar, tem-se o primeiro nível do terraço, caracterizado por ser um grande espaço aberto, descoberto e próximo ao Parque Urbano de Cocal. Neste espaço, que conta com uma área de apoio equipada com armários e uma bancada com lavatórios, são esperados dois usos principais: o primeiro, é a utilização do mesmo como extensão do ateliê, para se praticar atividades manuais ao ar livre, especialmente aquelas que oferecem maior liberdade de expressão e utilizam materiais que sujam mais facilmente, como argilas e tintas. O outro uso, seria explorálo também como espaço de permanência. Mesmo aberto, o local conta com longas mesas para até oito pessoas cada, protegidas das intempéries por ombrelones. Para criar um ambiente mais lúdico e interativo, foram dispostas também poltronas e redes móveis para descanso. O mobiliário do terraço também é móvel, conferindo maior autonomia para os idosos mudarem o layout do jeito que desejarem (Figura 34).
Figura 34 – Perspectiva: Terraço. Elaboração gráfica pela autora. Projeto autoral.
A única diferença da ala sudeste deste pavimento para a dos dois anteriores é que em vez de apresentar oito quartos, esta conta com apenas quatro e no espaço que seria ocupado pelos outros, encontra-se a área de lazer do Ancianato. Este ambiente, que também é de livre circulação, sem a presença de paredes internas, e possui dois banheiros anexos, é praticamente um grande salão de jogos, contando com mesa de sinuca, de tênis de mesa, de pebolim (totó), de xadrez e de carteado, bem como um sofá modulado e uma televisão. O foco aqui é o entretenimento dos idosos, através de atividades lúdicas que afetam positivamente sua saúde, através do exercício da coordenação motora, da memória e das funções cognitivas. Além, é claro, de ser mais uma maneira de influenciar o convívio entre os usuários do espaço (Figura 35).
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Figura 35 – Perspectiva: Espaço de lazer. Elaboração gráfica pela autora. Projeto autoral.
Ao chegar no quinto e último andar, alcança-se o local de permanência mais alto do edifício, o terraço. Parte do ambiente se encontra coberta por um pergolado, delimitando uma área social que preza mais o conforto, o repouso e o relaxamento, por meio de sofás e balanços. Na parte mais próxima ao fundo do terreno, se encontra a horta orgânica, disposta em canteiros elevados com rodízios, que permitem que as atividades de jardinagem sejam executadas sem dificuldades por pessoas em cadeiras de rodas e idosos com limitações físicas, além de proporcionar a locomoção das plantas de acordo com as necessidades de cada espécie (Figura 36).
Figura 36 – Perspectiva: Horta no terraço superior. Elaboração gráfica pela autora. Projeto autoral.
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Já na região perto da Travessa dos Artistas, são dispostos bancos de madeira junto à dois canteiros para árvores frutíferas de pequeno porte, como uma laranjeira e um limoeiro. Também são distribuídas mesas cadeiras, bancos acolchoados, poltronas e sofás pelo espaço, a fim de se criar um ambiente de qualidade que promova a convivência dos idosos de diferentes formas e que possa ser utilizado, ocasionalmente durante eventos e festividades abertas ao público.
Figura 37 – Perspectiva: Área de convivência do quinto pavimento. Elaboração gráfica pela autora. Projeto autoral.
Por estar em uma altura mais elevada que os todos os elementos físicos ao seu entorno, é garantida uma ampla e privilegiada vista da paisagem urbana. É possível apreciar tanto o pátio principal, quanto o jardim terapêutico, o terraço do pavimento inferior, as outras dependências do prédio e até mesmo ter um leve vislumbre do morro de Boa Vista e das demais edificações presentes no entorno, provocando a sensação de total liberdade e visibilidade tão almejadas pela proposta do projeto.
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Figura 38 – Perspectiva externa do Ancianato Acalanto, mostrando o entorno. Elaboração gráfica pela autora. Projeto autoral.
5.4 PAISAGISMO
O projeto paisagístico, como já explicado, tem importante peso no funcionamento do programa do Ancianato Acalanto. Para proporcionar uma maior variedade de experiências, foram dispostos diferentes jardins pelo terreno, criando ambientes distintos para contemplação, relaxamento e convivência.
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Ao todo, foram designados cinco espaços: o Pátio Central (Figura 39), o Jardim Terapêutico (Figura 40), o Jardim Noroeste, o Sudeste e o dos Fundos (Quadro 11), onde foram utilizados 42 diferentes tipos de plantas. Em todas as zonas, foi dada prioridade para o uso de espécies tropicais nativas do Brasil, que apresentassem diversas texturas, cores e florações em diferentes épocas do ano. Quanto às árvores, deu-se preferência também para aquelas já presentes no entorno, para criar uma composição de unidade com o contexto.
Figura 39 – Perspectiva: Pátio Central. Elaboração gráfica pela autora. Projeto autoral.
Figura 40 – Perspectiva: Jardim Terapêutico. Elaboração gráfica pela autora. Projeto autoral.
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Quadro 11 – Espécies usadas no projeto paisagístico do Ancianato Acalanto. Elaboração gráfica pela autora.
5.5 REPRESENTAÇÃO GRÁFICA
São apresentadas aqui as plantas de setorização e dos ambientes de cada pavimento, bem como a relação dos espaços e suas respectivas áreas.
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5.5.1 Primeiro Pavimento
Figura 41 – Planta de Setorização do Primeiro Pavimento. Elaboração gráfica pela autora. Projeto autoral.
Figura 42 – Planta Baixa do Primeiro Pavimento. Elaboração gráfica pela autora. Projeto autoral.
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Quadro 12 – Áreas e ambientes do Primeiro Pavimento. Elaboração gráfica pela autora.
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5.5.2 Segundo Pavimento
Figura 43 – Planta de Setorização do Segundo Pavimento. Elaboração gráfica pela autora. Projeto autoral.
Figura 44 – Planta Baixa do Segundo Pavimento. Elaboração gráfica pela autora. Projeto autoral.
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Quadro 13 – Áreas e ambientes do Segundo Pavimento. Elaboração gráfica pela autora.
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5.5.3 Terceiro Pavimento
Figura 45 – Planta de Setorização do Terceiro Pavimento. Elaboração gráfica pela autora. Projeto autoral.
Figura 46 – Planta Baixa do Terceiro Pavimento. Elaboração gráfica pela autora. Projeto autoral.
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Quadro 14 – Áreas e ambientes do Terceiro Pavimento. Elaboração gráfica pela autora.
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5.5.4 Quarto Pavimento
Figura 47 – Planta de Setorização do Quarto Pavimento. Elaboração gráfica pela autora. Projeto autoral.
Figura 48 – Planta Baixa do Quarto Pavimento. Elaboração gráfica pela autora. Projeto autoral.
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Quadro 15 – Áreas e ambientes do Quarto Pavimento. Elaboração gráfica pela autora.
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5.5.5 Quinto Pavimento
Figura 49 – Planta de Setorização do Quinto Pavimento. Elaboração gráfica pela autora. Projeto autoral.
Figura 50 – Planta Baixa do Quinto Pavimento. Elaboração gráfica pela autora. Projeto autoral.
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Quadro 16 – Áreas e ambientes do Quinto Pavimento. Elaboração gráfica pela autora.
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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo deste trabalho, foram analisadas, explicadas e apontadas as questões de maior importância, no momento atual, sobre o papel da sociedade na vida do idoso brasileiro. Partindo das prerrogativas sociais, econômicas, históricas, culturais e urbanísticas relacionadas a este tema, foi possível compreender a realidade, demasiada negativa, vivida pelas pessoas de idade avançada neste país e constatar as melhores alternativas para a melhoria do bem-estar deste grupo, visando a vida em comunidade. Constatando o crescimento habitacional do público alvo e relacionando-o com a constante demanda por uma assistência de qualidade, especialmente nos âmbitos de habitação e convivência, foram levantados os dados acerca da legislação regulamentadora e dos padrões dos edifícios existentes atualmente e, posteriormente, foi concluído que as próprias normas são insuficientes e superficiais, o que contribui para ocorrência massiva de espaços medíocres para apoio aos idosos, que parecem sempre colocar a satisfação dos usuários em segundo plano. Desta forma, foi elaborada uma nova tipologia de projeto voltada à moradia e interação social para a terceira idade, na tentativa de criar um ambiente mais qualificado, com foco na promoção do envelhecimento ativo, execução de atividades benéficas para a mente e o corpo, reintegração comunitária e estímulo à uma vida de excelência. Ao perceber o impacto que o ambiente de vivência exerce no idosos, ficou claro que o edifício deveria ser projetado considerando o local de intervenção, para que o contexto urbano atuasse como extensão da edificação e oferecesse oportunidades para maiores experiências sociais. Além disso, o próprio prédio teria que dispor de elementos que valorizassem o conforto, a presença e o cotidiano dos moradores e residentes. Sendo assim, foi proposto o Ancianato Acalanto: um espaço livre, acolhedor e completo que tem como objetivo oferecer moradia e convívio social para a terceira idade, sempre levando em conta a necessidade de se viabilizar uma vida mais vigorosa, saudável e feliz para seus usuários. Fazendo uso de recursos como o conforto ambiental, a contextualização urbana, o paisagismo e o aproveitamento máximo das áreas coletivas, o projeto alcança os objetivos e diretrizes propostas, ao que se refere à criação de um ambiente ressignificado e qualificado, que atenda as demandas atuais dos idosos brasileiros.
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Por fim, vale ressaltar que a arquitetura tem poder de criar ambientes que promovam o bem-estar físico, psicológico e social para todos os cidadãos, além transformar, de fato, a vida de todas as pessoas que vivem em um determinado lugar. Todos, sem exceção perante à lei, têm direito à vida, à dignidade e à habitação. Desta forma, é obrigação moral e social do arquiteto buscar valorização de todos os seres humanos, independente de origem, classe social, situação financeira, crença, nacionalidade, raça, gênero, sexualidade ou, como neste caso, idade. Portanto, ao que se trata da dedicação à busca de uma vida de mais qualidade e uma sociedade mais agradável para os idosos, este trabalho cumpre o seu papel.
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