Revista Você + | Edição 009 - Especial Roberto Carlos

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editorial

EXPEDIENTE Diretor-Executivo: Renato Ramos Magalhães

QUANDO EU ESTOU AQUI...

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Tiragem: 2500 exemplares Endereço: Rua Mario Romanelli, 25 Bairro Gilberto Machado CEP 29.303-260 Cachoeiro de Itapemirim-ES Assinaturas: Roseane Quitiba Tel: 28 99975 7579

(Corretora autônoma)

Grande parte das fotografias publicadas nesta edição compõe acervo de Raul Sampaio e foram reproduzidas por Jônathan Lessa

É da natureza humana, como também de todos os processos que permeiam as relações - sejam elas naturais, empresariais, científicas ou de qualquer outra natureza -, submeter-se a princípios, regras e ordenamentos. E um desses princípios mais consagrados é aquele que defende teses desenvolvimentistas: ou as pessoas, as empresas e as teses científicas, por exemplo, se atualizam permanentemente ou serão tragadas, rapidinho, pelo obsoletismo, pela decadência, pelo definhamento. Ainda mais nessa velocidade alucinante dos tempos modernos. Vejam o exemplo do camarão na maré: dormiu, a onda levou! É assim que é, faz parte da vida, é a regra do jogo. Essas decorrências podem ter origem natural ou divina, não importa, mas figurativamente digo que yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay... E a Revista Você+ não poderia ficar fora dessa inexorável e imensa força gravitacional que traga para dentro dela tudo e todos, a cada fração do tempo, como um imenso buraco negro (*). É nosso objetivo permanente, para nos mantermos na superfície, reciclarmo-nos a cada edição. E aí um questionamento natural: para merecer o destaque dos dois primeiros parágrafos do Editorial - local nobre e próprio para o veículo manifestar suas opiniões e pontos de vista - seria esta uma edição dedicada a tratar de princípios filosóficos, transcendentais ou de alguma outra ordem subjetiva? Apressamo-nos a responder: não! A razão é mais prosaica, romântica até... Explico nas linhas abaixo. Direto na veia. Coerentes com princípios defendidos acima, destacamos que um dos pilares da Revista Você+ é a publicação de fatos e versões das coisas de Cachoeiro, da região e do mundo. Com um detalhe: a coisa deverá ser caseira, feita por gente daqui. E o que mais poderia representar as coisas daqui do que Roberto Carlos, o Rei, agora batendo às portas dos seus 75 anos e com uma carreira artística sem paralelo no Brasil, em todos os tempos? E, em alto estilo, comemorando aqui na terrinha. Portanto, para Ele, com os cumprimentos da valorosa equipe da Revista Você+ e de toda a população da sua terra, esta edição especial, exclusiva, que, permitam-nos a falta de modéstia, desejamos que seja também histórica, assim como ele, o cara! Na mão de vocês, para guardarem com carinho para a sua descendência, flashes da vida de Roberto Carlos durante a infância e adolescência em Cachoeiro, revelações exclusivas de antes da sua partida para o Rio de Janeiro. Sim, porque a sua vida adulta, de consagração, todos já conhecem nos mínimos detalhes. A nossa equipe “garimpou”, essa é a palavra, rico acervo sobre o cantor que se acha espalhado por essa Cachoeiro inteira: depoimentos, entrevistas (inclusive a dele), fotografias, curiosidades, revelações de fãs incondicionais e um tanto de outros “tesouros” que preferimos não revelar aqui no Editorial. Saboreie, cada um de vocês, página por página, texto por texto, foto por foto, encantos do Roberto Carlos-menino que ele também já foi um dia. E todo esse esforço jornalístico, dizemos em letras maiúsculas, NÃO TERIA SE TORNADO POSSÍVEL SEM A INESTIMÁVEL COLABORAÇÃO DE PRECIOSOS ANUNCIANTES, CARÍSSIMOS COLABORADORES E VOCÊ, QUERIDO LEITOR! Boa leitura. (*) O buraco negro é resultado de uma deformação no espaço-tempo, gerada por um colapso gravitacional de uma estrela, a que nada consegue escapar.

A Revista Você+ é uma publicação mensal. Seu objetivo é divulgar fatos e versões relacionados ao interesse de Cachoeiro de Itapemirim e região, privilegiando pessoas, acontecimentos, perspectivas e outras temáticas indispensáveis. Praticamos um jornalismo ético, apartidário, atualizado com o seu tempo e, acima de tudo, independente. A Revista Você+ não se responsabiliza pelos artigos assinados, que são de inteira responsabilidade de seus autores. foto: Jonathan Lessa




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Rua BarĂŁo de Itapemirim, 27 - Centro Cachoeiro de Itapemirim


ÍNDICE Histórias da casa simples onde tudo começou

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pag. 40

20 Show histórico em 1971

Lembranças da infância e adolescência

24 Amigo do Liceu

Banda “Terríveis”: revival dos tempos rock and roll do ídolo página 50

26 Professoras queridas

RC inspira Rudson Costa e Augusto Herkenhoff página 53

30 Fãs de carteirinha

Filmografia: ele também reinou no cinema

34 O vizinho

página 60

Grandes sucessos página 62

38 O poeta

40 E muito

confira...

Caranga “máquina quente” 7


Fotos: Alessandro de Paula

entrevista

“Vou levar meu carinho e meu amor, que é muito grande por Cachoeiro”

Robert Carlos atendeu à imprensa em alto estilo, como de costume, no mar, a bordo de um transatlântico 8


“Escolhi festejar meus ‘57 anos’ em Cachoeiro” Foi dessa forma, com o clima descontraído pelas brincadeiras de Roberto Carlos, o início da entrevistaa coletiva que o cultuado artista concedeu no fim de janeiro. O local não poderia ter mais a ver com o rei, o mar do Rio de Janeiro, em um suntuoso navio de cruzeiro, onde costuma realizar shows e atender à imprensa. Além do aguardado espetáculo em sua cidade natal - no próximo dia 19 de abril, data em que comemora 75 anos de idade -, Roberto falou, entre outros assuntos, sobre como lida com a era da internet, revelou que pretende lançar este ano um álbum com canções inéditas e ainda deu uma palinha sobre o repertório do show em Cachoeiro de Itapemirim. Confira: Vai lançar um disco com músicas inéditas ainda neste ano?

(risos). Mais que uma alegria, é uma emoção muito grande.

Vou fazer um disco de inéditas, espero fazer em um ano. Já tenho quatro músicas, tenho que fazer pelo menos mais quatro. Porque, com certeza, ‘Esse Cara Sou Eu’ e ‘Furdúncio’, provavelmente, vão entrar nesse disco.

Se no início de sua carreira existisse um programa do tipo The Voice, participaria? Acha que ganharia?

Essas quatro músicas são com Erasmo Carlos? Uma ou duas estão com Erasmo, dessas que vou fazer. As que vou apresentar já estão prontas e foram feitas por mim. Tenho certeza que vou compor as quatro próximas, duas ou três, com Erasmo, que é meu parceiro, meu irmão. Qual a emoção de cantar “em casa” mais uma vez? É uma emoção realmente muito grande. Eu escolhi festejar meus “57 anos” em Cachoeiro

No início de minha carreira fui em todas as gravadoras do Brasil e nenhuma me quis. Faltava só uma. E, por intermédio do Carlos Imperial e do Chacrinha, eu fui para a CBS na época. Então, lá, conheci Roberto Corte Real (diretor artístico). E, lá, gravei meu primeiro e segundo disco. Quero dizer, foi a última gravadora que me aceitou e se eu fosse ao The Voice a última cadeira viraria para mim. O que os moradores de Cachoeiro podem esperar do seu show? Sempre penso no que as pessoas gostariam de ouvir, cantar as músicas principais do meu repertório ou as novidades que quero mostrar. Enfim, alguma

coisa do disco novo também. Acho que é isso que vou levar, e também vou levar o meu carinho e meu amor, que é muito grande por Cachoeiro. Sempre foi defensor dor mar, bem além do horizonte... Como vê a degradação da natureza? O que acha do mar e do problema da corrupção no Brasil? São muitos problemas. O primeiro é esse, tóxico (desastre ambiental envolvendo a Samarco em Mariana), é uma coisa inadmissível. E o pior ainda é que vai se chegar à conclusão que isso aí tem a ver com uma certa negligência, que não se sabe ainda... A situação do país, em geral... Existe uma situação generalizada no mundo e o Brasil está sofrendo com isso. Mas tenho esperança que daqui a pouco vamos resolver isso de alguma forma. Mas, realmente, as coisas no Brasil têm que mudar, coisas fundamentais. Não podem continuar do jeito que

estão, e como estão acontecendo. A corrupção em nosso país não é uma coisa simples e tem que ser punida. Tem que mudar. Não é fácil te paquerar ou você paquerar alguém. Como que conhece alguém? Primeiro, temos que saber muito bem, analisar que tipo de mulher que a gente tá paquerando. Cada mulher tem seu jeito, cada mulher tem sua forma, e acho que isso é fundamental para saber como você vai lidar com essa pessoa. Como foi a parceria com a Ludmilla? Curte funk? Com a Ludmilla foi uma coisa muito agradável. Ela realmente é uma mulher de muito talento e foi muito bom trabalhar com ela. Nos ensaios ela demonstrou uma simplicidade, uma humildade, conquistou todo mundo lá no nosso estúdio. A Ludmilla é uma graci-

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entrevista nha de pessoa e, como ela conquistou o Brasil, me conquistou também. Ela canta bem música romântica. Qual a emoção de ser homenageado e ouvir histórias sobre a sua vida?

“Vou fazer um disco de inéditas, espero fazer em um ano”.

É uma coisa muito gostosa. É muito bom ouvir essas coisas todas, demonstrações de carinho e amor. Sou agradecido por tudo isso. Obrigado! Segundo Candinha (funcionária antiga de sua residência), em Cachoeiro vai anunciar o nome de sua nova rainha. Candinha bebeu. No fim do ano, fez uma foto com mulheres celebres e disse que o menino de Cachoeiro nem podia imaginar que isso ia acontecer. 2015 foi um ano de carreira internacional. Em 2016 vai continuar a grande investida na carreira internacional? E o menino de Cachoeiro, que vai a Cachoeiro comemorar “57 anos”, se sente realizado diante do mundo? Obrigado. Você acreditou! Logicamente, tenho uma alegria muito grande por tudo que tem acontecido. Estou muito contente com todo o resultado de minha carreira, mas eu não paro não. Vou mudando e tratando de seguir a minha carreira do mesmo jeito. Tenho projeto, sim. De discos para fora. Vou fazer um disco em espanhol. Enfim, continuo tocando a coisa com a mesma velocidade, trabalhando do mesmo jeito e gosto muito. O que está achando do público jovem estar admirando cada vez mais o seu trabalho? Fico contente. É um motivo de alegria para qualquer artista.

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mais próxima com seus fãs? Tem WhatsApp?

sem roupa pela internet)? Você já recebeu?

Sobre o medalhão do Sagrado Coração de Jesus que ganhou em Cachoeiro... As pessoas estão reparando que não o usa mais. Há algum motivo especial?

Tenho. Tenho Facebook também. Mas o meu tempo às vezes não é suficiente para bater papo. Procuro, na medida do possível, ouvir tudo que me mandam.

Não mandei, não. Já recebi alguma coisa, sim. Não tenho nada contra, desde que não seja nada ofensivo.

Eu uso, só que ele diminuiu um pouquinho. Eu ganhei da irmã

Ao longo de tantos anos de majestade, tem alguma emoção

Então, depois de tantos anos de carreira, ainda agradar à juventude, é muito bom.

“A corrupção em nosso país não é uma coisa simples e tem que ser punida. Tem que mudar” Fausta, que foi minha professora no Colégio Jesus Cristo Rei. Ela me deu quando fui a Cachoeiro, já depois de grande. Um dia, falei com ela que estava pensando em fazer uma réplica daquele medalhão, ela mesma mandou fazer esse medalhão, igualzinho àquele e também me deu. Como faz para ter uma relação

que não viveu e tem vontade? Sempre tem. Sempre temos. Talvez a gente não saiba dizer que emoções. Com certeza, emoções boas, gostosas. Todo mundo tem e eu tenho também. E vou vivê-las intensamente, sempre. O que acha dessa era em que as pessoas mandam nudes (fotos

Mesmo com a crise toda, dólar alto, seus shows estão sempre lotados... Sempre digo que existe um caso de amor com meu público. No fim do ano, vamos ter você cantando 99% anjo e 1% vagabundo? Não sei. É sempre um caso para se pensar com muito carinho. Mas no decorrer do ano vamos pensando nos artistas. É difícil antecipar. Não tenho nada contra trazer o (Wesley) Safadão para o Especial. Não discuto sucesso.


“No início de minha carreira, fui a todas as gravadoras e nenhuma me quis. Por intermédio do Carlos Imperial e do Chacrinha, fui para a CBS”

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Foto: Romulo Felippe

“Cachoeiro, Cachoeiro...” Em 1971, a revista Cartaz, da Rio Gráfica e Editora, lançou uma edição especial com o rei Roberto Carlos. Entre tantas reportagens, ele recordou de sua cidade natal através do hino “Meu Pequeno Cachoeiro”, de autoria de Raul Sampaio. O compositor, inclusive, possui um raro exemplar desta edição especial da revista. Nela, o rei conta o que a emblemática música guarda de suas lembranças da Capital Secreta.

Eu passo a vida recordando de tudo quanto aí deixei... Roberto Carlos Braga nasceu no dia 19 de abril de 1941. Filho do relojoeiro Robertino e da costureira Laura Braga, ele tem três irmãos: Lauro Roberto, Carlos Roberto e Norma. Em 1949, com apenas seis anos, iniciou a carreira artística na Rádio Cachoeiro.

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“Ganhei seiscentos cruzeiros velhos, que naquele tempo eram novos e representavam muito na minha vida. Já sonhava com a música, antes mesmo de aprender o bê-a-bá. Mas, perto de minha mãe só sabia repetir o que ela tinha me ensinado: vou ser doutor”.

Recordo a casa onde eu morava o muro alto, o laranjal / meu flamboyant na primavera que bonito que ele era dando sombra no quintal...

Roberto Carlos morava numa casa simples na Rua João de Deus Madureira, no bairro Recanto. A casa fica em um plano elevado da rua, tinha três quartos, uma sala e um quintal com plantas e árvores. O quarto de Roberto era azul e tinha três camas. A dele era a menor e ficava perto da janela que dava para a rua. Sobre a cabeceira de sua cama havia um crucifixo. Muito religioso desde pequeno, não dormia sem rezar. Por causa da ladeira, uma das maiores preocupações de seu pai era evitar que ‘Zunguinha’, como era carinhosamente chamado pelos familiares e amigos, usasse a bicicleta do irmão mais velho para descer em disparada. “O quintal da minha casa era para mim o paraíso. Mil brincadeiras, mil amiguinhos. Lembro-me que a primeira coisa que fazia depois de acordar era dar uma voltinha, visitar meu cachorrinho, sentar perto daquela árvore que dava fruta engraçada, que soltava um leite pegajoso. Mas a festa não durava muito: dali a pouco, mamãe chamava para escovar os dentes e tomar café com leite”.


A minha escola, a minha rua / os meus primeiros madrigais / ai, como o pensamento voa ao lembrar a terra boa coisas que não voltam mais... Em 1950, aos nove anos, Roberto começou a estudar no Colégio Jesus Cristo Rei. Mas a música não ficou de lado: ao mesmo tempo entrou para o Conservatório de Música de Cachoeiro de Itapemirim, no curso de piano. Desde o princípio, a música estava em primeiro lugar: enquanto progredia rapidamente no Conservatório, os bilhetinhos de irmã Fausta de Jesus, primeira professora de Roberto, iam aumentando. Em Matemática e História do Brasil, era péssimo aluno. A única matéria que conseguia prender um pouco a sua atenção era Português. Aos poucos, irmã Fausta foi percebendo que Roberto tinha

uma sensibilidade maior do que a dos outros meninos. As histórias da Bíblia que contava despertaram-no para a religião. Em 1951, com 11 anos, transferiu-se para o colégio Liceu Muniz Freire. “Nunca pensei em faltar à escola nos dias de aula de religião. Eu não sabia, mas estava aprendendo muito para a vida com irmã Fausta. Doces lembranças... Hora do recreio. As meninas brincavam de roda, os meninos jogavam futebol. Mas eu nunca tinha tempo para brincadeiras, além de puxar os cabelos das meninas. Era muito guloso e passava o tempo todo tentando dar conta da minha merenda”.

Cachoeiro, Cachoeiro, vim ao Rio de Janeiro, pra voltar e não voltei... Em 1955, parte da família se mudou para Niterói, no Rio de Janeiro, mas Robertino ficou com Norma em Cachoeiro por mais dois anos. Roberto foi matriculado no Colégio Brasil para fazer o curso ginasial. Porém, ficou pouco tempo, seguiu para a Escola Ultra para fazer curso de datilografia. “Se em Cachoeiro eu era um mau aluno, em Niterói me tornei péssimo. Prova disso eram as anotações, cada vez mais constantes em mi-

nha caderneta, que não tinha mais espaço para notas vermelhas. A situação da família não era boa. Papai e mamãe trabalhavam duro dia e noite, e eu tinha que trabalhar, mas a música não saia da minha cabeça. Um dia falei com minha mãe que não estava dando conta de trabalhar e estudar, e ela me mandou escolher. Escolhi e comecei a cantar. Conheci o Erasmo Carlos e a música tomou conta de mim definitivamente”.

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Mas te confesso na saudade as dores que arranjei pra mim pois todo pranto destas mágoas inda irei juntar às águas do teu Itapemirim. Meu pequeno Cachoeiro, vivo só pensando em ti ai que saudade dessas terras entre as serras, doce terra onde nasci... “Sabe, meu Cachoeiro, eu trouxe muita coisa de você. E todas estas coisas me fizeram saber crescer. E, hoje, eu me lembro de você. Me lembro e me sinto criança outras vez...”.

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Edição Especial Roberto Carlos

Fotos: Arquivo pessoal/ Raul Sampaio/ Jornal fato

Curiosidades: • Roberto Carlos Braga nasceu em 19 de abril de 1941, às 5h, pesando 2,25 kg e medindo 42 cm. Filho de seu Robertino Braga, relojoeiro, e de dona Laura, costureira, Roberto nasceu em sua própria casa, na Rua João de Deus Madureira (antiga Índios Crenaques), no bairro Recanto, em Cachoeiro de Itapemirim. • A residência de Roberto Carlos foi comprada por Gil de Mattos após a famiia do rei se mudar para o Rio de Janeiro. A Prefeitura adquiriu o imóvel no fim da década de 90, durante o mandato de Theodorico de Assis Ferraço. No dia 13 de novembro do ano 2000 foi inaugurada no local a Casa de Cultura Roberto Carlos, que abriga acervo do cantor, desde fotografias, documentos e discos até instrumentos musicais. Em 2001, o imóvel foi tombado como Patrimônio Municipal de Cachoeiro. E, em 2010, virou Patrimônio Estadual do Espírito Santo. • Na infância, Roberto Carlos era conhecido como ‘Zunga’. Era um menino levado, que adorava brincar e jogar bola (sempre atuou como goleiro), e ir à missa e ao cinema aos domingos. • Roberto Carlos aprendeu a ler e escrever no Grupo Escolar Graça Guardia. Matriculado no Colégio Jesus Cristo Rei, foi aluno de irmã Fausta, no segundo ano primário, em 1949. • Quando criança, Roberto Carlos era fã de Bob Nelson, um artista brasileiro que cantava músicas country em português.

A primeira professora de piano: Helena Mignone e o marido, Gino, com o rei em baile de gala em Cachoeiro na década de 60

A cidade parou para assistir a show na Praça Jerônimo Monteiro na década de 60

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• Roberto Carlos não foi batizado na infância, mas aos 23 anos de idade, quando já fazia certo sucesso. • Usou chupeta até os oito anos.


• Em 1950, ele se apresentou pela primeira vez na Rádio Cachoeiro. Roberto Carlos estreou cantando o bolero “Amor y Más Amor”, de Fernando Borel. • Em 1952, Roberto Carlos estreou seu próprio programa, virando radialista aos 11 anos. O programa era veiculado duas vezes por semana, e tinha 15 minutos de duração. • Ainda em 1952, Roberto foi estudar no colégio Liceu Muniz Freire. • Frequentou o curso de piano no Conservatório de Música de Cachoeiro de Itapemirim, onde foi aluno de Maria Helena Gonçalves Mignone e Elaine Manhães, no início da década de 50. • Em meados dos anos 50, Roberto foi passar as férias em Niterói (RJ), na casa de uma tia. Foi quando decidiu deixar Cachoeiro, em busca de mais oportunidades. • O título de “rei” foi dado a Roberto Carlos pelo lendário apresentador de TV Chacrinha. A coroação ocorreu em 1966, durante um programa do “Velho Guerreiro”.

Roberto Carlos, Cachoeirense Ausente Nº 1 de 1967

• Em 1968 Roberto Carlos fez um show beneficente em Cachoeiro, a convite do Lions Clube, no Estádio Mário Monteiro (Sumaré). • Em 27 de junho de 1967, já conhecido nacionalmente, o cantor recebeu a principal honraria concedida pelo poder público no município: o título de Cachoeirense Ausente Nº 1. A festa, na Praça Jerônimo Monteiro, ainda contou com um show seu.

Título de “rei” foi dado pelo lendário Chacrinha

Certidão de nascimento de Roberto Carlos e certidão de casamento de Robertino Braga e Laura de Souza Moreira

Onde tudo começou

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• No dia 19 de abril de 2009, Roberto comemorou 50 anos de carreira e 68 de idade com um espetáculo em Cachoeiro de Itapemirim. A apresentação foi no Estádio do Sumaré, com direito e bolo de aniversário e parabéns. • Em 2011, Roberto Carlos foi homenageado com samba-enredo pela escola Beija-Flor, que sagrou-se campeã naquele ano. O cantor, inclusive, participou do desfile num carro alegórico. Com a vitória da escola de Nilópolis, Roberto fez questão de ‘cair’ novamente na avenida no desfile das campeãs do carnaval carioca. • Diz que gosta de futebol e é vascaíno, mas nunca foi a uma partida de seu clube, nem da seleção. • Foi uma criança vira-casaca. Antes de ser Vasco, torceu por Botafogo e Flamengo. • Manias do rei: obsessão pelas cores branco e azul; paixão por flores; conversar com as plantas; tomar banho só com sabonete de glicerina; não usar perfume; não pronunciar as palavras mal e azar; esquecer o número 13; odiar as cores preta e roxa. Boletim de notas do Conservatório de Música

Ficha de inscrição

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ROBERTO CARLOS no Conservatório de Música de Cachoeiro

Maria do Carmo Braga, fundadora do Conservatório de Música de Cachoeiro


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Edição Especial Roberto Carlos

Meus bons fantasmas

“Caí num choro de balançar, de tremer, de balançar inteiro” por Roberto Carlos

Foto: Arquivo Pessoal

Artigo publicado no jornal/revista D1, em 1º de agosto de 1971

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O

carro atravessava as ruas de Cachoeiro, eu ia com a cabeça de fora procurando os lugares onde tinha passado minha infância. Falei pro pessoal que me acompanhava: - Olha lá, hein, pessoal. Isso aqui me dá um prazer danado. Mas acho que para vocês não significa nada. Se eu estiver chateando é só avisar. Então, o José Carlos Romeu me pegou pelo braço: - Que nada. Nós estamos na tua. Continue. Até parece que eu também nasci em Cachoeiro. Chegamos ao morro onde a gente costumava descer com carrinho de pau, tanta velocidade que atravessava a rua e ia parar na metade do outro morro em frente. Subi sozinho e fiquei lá em cima, curtindo a cidade lá embaixo, tranquila como sempre. Quando percebi, havia uma porção de gente me olhando. Mas o gozado é que todos estavam em silêncio, ninguém fez barulho para me atrapalhar. Comecei a sentir aquele familiar nó na garganta. Não deu para continuar o passeio. Voltei para a casa do meu primo, o Vandinho, onde fico hospedado quando vou a Cachoeiro, esperando a hora do show. (Antes eu tinha encontrado um cara que chegou e me disse: “Você não me conhece, mas eu sou o cara que mora na sua casa”. Eu respondi: “Puxa. Você estragou a minha casa”. Ele riu. “Não. Só estraguei na frente. Por dentro continua a mesma coisa”. Essa sucessão de carinhos foi me enfraquecendo). Tanto que na hora do show eu estava com um pouco de medo de não conseguir cantar. Era o dia 28 de junho, no dia seguinte a cidade fazia aniversário. Não deu outra, chegou a minha vez e a voz começou a sair meio tremida. Dei uma olhada e vi muitos rostos conhecidos no ginásio lotado. Nessa altura, já dava para chorar de leve. De repente o


Cachoeiro de Itapemirim - 1971 Roberto Carlos chora ao cantar “Meu Pequeno Cachoeiro” e é consolado por raul sampaio

Sampaio, o rei e Humberto Fontenelli no clube Caçadores RC-7 deu a introdução para ‘Meu Pequeno Cachoeiro’. Todo mundo começou a cantar. Eu percebi que não ia chegar até o fim. Resolvi pensar em futebol, em pescaria, para desviar as ideias. E aquele passeio da tarde na minha cabeça. Aí chorei solto. Quando chegou aquela parte: ‘meu flamboyant na primavera’, engoli a última palavra e passei à estrofe seguinte. Então

caí em choro, mas num choro de soluçar, de tremer, de me balançar inteiro – e o povo chorando e cantando comigo. Escondi o rosto com as mãos, larguei o microfone e virei-me de costas. Raul Sampaio, o autor da música, subiu ao palco e terminou de cantá-la. Eu ainda consegui cantar o finalzinho com ele. Rapaz! Eu nem chorava mais. As lágrimas saíam em esguicho. Foi

“O RC-7 deu a introdução... percebi que não ia chegar até o fim...” a maior emoção de minha vida. Sabe o que aconteceu naquela hora? Eu tive uma enorme vontade de morar em Cachoeiro. Pensei: “Vou comprar uma casa e venho morar em Cachoeiro”. Enquanto eu chorava, também pensei: “Eu nunca deveria ter saído de Cachoeiro. Nunca deveria ter deixado isso aqui”. Mas, depois, a gente pensa: “Se eu tivesse continuado lá, talvez

não fosse a mesma coisa”. Mas é fogo cantar para pessoas que são tão importantes para a gente (o Joaquim Moringueiro, os amigos da infância), que estão afastadas e de repente ressuscitam à nossa frente, revivendo aquilo que estava escondido e que a gente nunca imaginava encontrar. Os meus bons fantasmas.

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Edição Especial Roberto Carlos

Como é grande o meu amor por você

Prestes a completar 94 anos e completamente lúcida, freira que foi professora de Roberto Carlos no primário concede entrevista à Revista VOCÊ+

Foto: Gil Velasco / Arquivo Pessoal

por Renato Magalhães

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A

freira Fausta de Jesus Hóstia é natural de Japaratuba, no Ceará. Prestes a completar 94 anos, está completamente lúcida, não se esquece de nenhum detalhe de sua especial relação com Roberto Carlos. Irmã Fausta, como é conhecida, chegou a Cachoeiro de Itapemirim em março de l941, pouco antes do nascimento de Roberto - no dia 19 do mês seguinte. A denominação da entidade religiosa a qual pertence era Congregação das “Irmãs de Cristo Rei”. Posteriormente, foi mudada para “Jesus na Eucaristia”. Fausta foi professora de Roberto Carlos no Colégio Jesus Cristo Rei, em Cachoeiro, no 2º ano primário, durante o ano de 1949, quando ele tinha apenas oito anos de idade. Começou ali uma relação especial, lúdica, duradoura, que se consolidou ao longo do tempo e se estende até os dias de hoje, muito carinhosamente, de parte a parte. A Revista VOCÊ+ foi a Vila Velha - ao bairro Prainha, nas imediações do Convento da Penha -, onde a freira está radicada, e produziu a seguinte entrevista:

Como era Roberto Carlos criança? Um menino jovial, alegre, sempre com muitos amigos. Era uma pessoa comum, como os demais colegas mesmo. E a escola naquele tempo? Naquele tempo não era como

hoje, as turmas eram mistas e os professores não davam aulas de matérias específicas. Assumia-se uma turma e todo o currículo daquele ano ficava sob sua responsabilidade. Quando se deu o reencontro com Roberto Carlos?

Quando ele já estava famoso, com mais de 20 anos de idade, em um dos seus shows em Cachoeiro. Conte-nos a história do medalhão? Dar o medalhão com a imagem de Jesus Cristo Rei de


Irmã Fausta foi quem presenteou o cantor com o medalhão que ele era sempre visto

presente a Roberto Carlos era uma questão de honra minha, pois desejava ardentemente que o medalhão o acompanhasse e o abençoasse pela vida inteira. Primeiro, tive que, com muita argumentação, convencer a madre superiora e obter o con-

sentimento dela para dar a lembrança a Roberto Carlos, porque aquele era um objeto de uso interno da congregação, exclusivo das religiosas. Obtida a autorização, antes do show, levei o medalhão e o entreguei pessoalmente a Wanderley Braga, primo de-

le residente em Cachoeiro, recomendando que não era para Roberto usá-lo, mas para guardá-lo de lembrança, para sua proteção. No show, no entanto, Roberto Carlos já o usou: foi um momento de glória, uma vez que ele o tornou célebre, usando-o per-

manentemente por muitos e muitos anos, contrariando (risos) a minha recomendação original. Ele não mais o tirou? Na semana seguinte, num show em Vitória, Roberto usou novamente o medalhão e chorou muito. Eu estava presente. Fui ao seu camarim - oportunidade em que o apresentei ao meu irmão, Antonio - e passei longo tempo com ele. Conversamos muito... Roberto viu então que eu usava uma réplica do medalhão original, mas em tamanho pequeno. Então, quis porque quis um igual. E acabou mandando fazer uma réplica, em ouro, que usa até hoje (Roberto Carlos, certa vez, declarou a uma revista que o medalhão foi um dos presentes que mais gostou). A senhora já assistiu a muitos shows dele? Além de Cachoeiro e Vitória já o vi cantar em Salvador e outras cidades. Sempre que podia, ia... Quais foram os outros momentos marcantes? Certa vez, estava em Belo Horizonte, com o joelho operado, e não pude ir ao show que Roberto Carlos faria lá. Ele soube e foi me visitar, na casa central da Congregação das Irmãs de Jesus na Eucaristia. Uma alegria que não acabava mais...

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Edição Especial Roberto Carlos

Nos tempos da brilhantina por Renato Magalhães

Cachoeiro de Itapemirim já está se tornando uma cidade grande mesmo. Pessoas que a gente esbarrava diariamente com elas pelas calçadas, agora só de quando em quando. Foi o que acabou de acontecer com o Romário Vianna, fotógrafo de mão cheia. Fui procurá-lo e o encontrei na barbearia do Batista, lugar que ele frequenta há mais de 40 anos para cortar o cabelo e “jogar conversa fora”, como ele mesmo diz. Motivo? Roberto Carlos e a edição histórica da Revista Você+, que tem foco na infância e adolescência do cantor em Cachoeiro.

Foto: Arquivo Pessoal / Internet

Contemporâneos Roberto Carlos e Romário Vianna nasceram no mesmo ano, em 1941: o primeiro, em abril; e o segundo, em outubro.

Amigos de infância: Roberto Carlos e Romário Vianna nasceram no mesmo ano

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Colégio Pelo que Romário se lembra, Roberto Carlos estudou nos colégios “Bernardino Monteiro, Escola Americana (que ficava ali, na descida do Mercado Velho), Colégio das Irmãs e Liceu”. Isso com a garantia do que a memória de Romário o autoriza a falar. Romário e Roberto Carlos eram colegas na Escola Americana. Ele lembra que, com frequência, emprestava a sua bicicleta a Roberto. Naquela época - “não sei hoje”, enfatiza Romário -, as crianças deixavam de lado seus próprios brinquedos e viviam de olho nos dos seus colegas. Um dos “points” era o pátio da Catedral de São Pedro. As partidas de futebol ali rolavam soltas. Além delas, aquele espaço acolhia todo tipo de brincadeiras. As molecagens imperavam, porque ali era o “território livre” das turmas de amigos e cada um se sentia “dono do pedaço”. Nessa época, ambos tinham aproximadamente 10 anos e Romário se lembra perfeitamente de que Roberto Carlos “era um garoto bonito, fortinho, brincalhão, e já era paquerado pelas meninas. Ele adorava e cuidava muito bem do topete que tinha no cabelo, era vaidoso...”


“Era um garoto bonito, fortinho, brincalhão, e já era paquerado pelas meninas. Ele adorava e cuidava muito bem do topete que tinha no cabelo, era vaidoso...” Rádio Cachoeiro Roberto, já naquela época, tinha uma atração natural pela comunicação. E, desinibido, fazia um programa na Rádio Cachoeiro, talvez próximo das 16h. No programa lidava com o lúdico e protagonizava histórias para crianças. Nessa época, deveria ter uns 11 anos. Roberto Carlos chegou a chamar Romário e um dos irmãos, Jorginho ou Carlos Marão, para participar do programa de contação de histórias infantis, aquelas “do tempo em que os bichos falavam”... Caminhos divididos No início da década de 1950, Romário e Roberto Carlos se separaram, porque o pai do primeiro, “seu” Mário Vianna, veio a falecer e ele foi colocado no tradicional colégio interno de Muqui, na época já administrado por padres e que havia sido do Dr. Dirceu Cardoso. Reaproximação e identidade Voltaram a ter contato poucos anos depois, agora já no Liceu, em Cachoeiro. Nessa época de Liceu, Romário já tinha grande admiração por Roberto Carlos. “O cara inventava e liderava as brincadeiras, sempre muito alegre e curtindo a vida”, lembra o entrevistado. Romário tinha certeza de que Roberto Carlos nascera para ser ídolo. Tudo que ele fazia, Romário tentava copiar – na maioria das vezes sem muito êxito. Romário é enfático: “o meu amigo era uma pessoa boa, do bem”. Hábito frequente de Roberto era imitar o zurrar de um asno, em que com trejeito próprio segurava os lábios e emitia um som muito semelhante ao do animal. Fazia isso com perfeição. “Tirou isso de onde?”, indaga-se Romário, para em seguida arrematar: “vai saber...”

Alguns dos desenhos de autoria do rei, feitos na década de 50, que Romário guarda até hoje. “Se Roberto Carlos não fosse cantor, seria pintor”

Exercício de Futurologia Romário acha até hoje que se Roberto Carlos não fosse cantor seria pintor, porque gostava muito de desenhar, vivia desenhando nos cadernos e blocos de notas. Uma de suas preferências eram aviões e naves espaciais (que ilustram esta reportagem). “E não é que ele levava jeito para o negócio”, emenda. Romário guarda até hoje, com muito carinho e orgulho, um bloco de notas em que o amigo desenhava a lápis seus aviões e naves espaciais, sempre a lápis. No Liceu, desenhava também muito “caçadores em safári na África, com aquelas roupas de cor cáqui e cachimbo curvo na boca. Isso era recorrente”, diz Romário, enquanto viaja no tempo. E com um ar de profunda tristeza, conclui: “pena que muitos desses desenhos eu perdi, não sei onde foram parar. Mas acredito que, algum dia, no fundo de alguma gaveta, eu ainda haverei de achá-los, se Deus quiser!”

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Edição Especial Roberto Carlos

A “fã número um” de Roberto Carlos Gercy Volpato abriu mão do casamento para acompanhar shows do rei e garante que nunca se arrependeu da decisão por Alissandra Mendes

Crédito foto: Alissandra Mendes

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cantor Roberto Carlos está em todos os lugares da casa de Gercy Volpato. Paredes, estantes, cristaleiras, guarda-roupas, armários... Por onde se anda e para onde se olha, lá está ele, com aparência mais jovem, menino, homem... Um rei! A fã número um não recebeu o título à toa. Ela é realmente a primeira tiete do artista cachoeirense. Aos 86 anos, os bons momentos perto do ídolo estão guardados na memória e no coração. A paixão por Roberto Carlos fez com que transformasse a própria casa em um verdadeiro museu do cantor. Além de tudo isso, Gercy e a irmã Maria Leonor, falecida há oito anos, abriram mão do casamento para acompanhar shows do rei. “Comecei a gostar de Roberto Carlos quando o ouvi pela primeira vez na Rádio Cachoeiro. Em sua segunda apresentação, eu e minha irmã fomos acompanhar dos estúdios da rádio. A voz dele me conquistou”, conta. Mas não foi fácil convencer uma das nove irmãs a acom-

Aos 86 anos, os bons momentos perto do ídolo estão guardados na memória e no coração

panhá-la à rádio. “Chamei todas, mas elas não quiseram ir. A Maria Leonor também não queria, mas foi e gostou. Todos os domingos íamos à Rádio Cachoeiro. O trem de passageiros não descia nessa época, então tínhamos que caminhar duas horas pelos trilhos até chegar à cidade”, relembra. Gercy continua morando no mesmo lugar. Sua residência fica na localidade de Cobiça, zona rural, a cerca de sete quilômetros da sede do município. Quando Roberto Carlos passou a apresentar seu próprio

programa na rádio, foi Gercy quem escreveu a primeira carta. “Não me lembro mais o que escrevi. Mas quando ele leu, fiquei muito feliz e emocionada. Na primeira vez que fomos à apresentação, já tivemos contato com ele. Sempre conversávamos e elogiávamos as apresentações”, diz a fã.

Não demorou muito e a alegria virou tristeza na vida das irmãs Volpato. Adolescente, Roberto Carlos se mudou com a família para o Rio de Janeiro. “Depois de dois meses que ele tinha

ido embora, pedimos ao papai se poderíamos ir para o Rio de Janeiro. Até minha tia escreveu um bilhete pedindo para ele nos deixar ir. Ele deixou e eu e Maria Leonor fomos. A viagem demorou, pois tinha um cargueiro tombado nos trilhos. Mas, no dia seguinte, nos arrumamos e fomos para a Rádio Globo, onde ele se apresentaria no programa do Chacrinha. Quando ele chegou e nos viu, foi logo aonde estávamos e nos abraçou”, relata.


Ela já tietava o cantor desde quando ele se apresentava na Rádio Cachoeiro

“Sempre foi amor de fã” Gercy e a irmã participaram de muitos programas de auditório nas rádios do Rio de Janeiro e ficaram, naquela época, tão famosas quanto Roberto Carlos. “Pegávamos os endereços das rádios e íamos, sem medo. Fomos em todos os lugares que ele foi. Teve uma vez que encontramos com o Luiz Vanderley, um apresentador da TV Continental que estava no Chacrinha. Ele começou a conversar conosco e nos disse que Roberto iria em seu programa. Ele nos convidou e fomos. Quando acabou o programa e saímos

do estúdio, o Luiz Vanderlei nos chamou para irmos de táxi com ele e Roberto. Hesitei, mas ele insistiu, e aceitamos. Quando chegou na Avenida Presidente Vargas, ele saltou e disse para pagarmos a corrida. Nós e Roberto íamos para São Cristovão. Saltamos no mesmo ponto. Mas, antes de saltar, o Roberto nos olhou e falou: ‘e agora? Eu não tenho dinheiro para pagar o táxi!’. Falamos que íamos pagar. Quando desceu, ele agradeceu e ficamos ainda conversando um pouquinho na rua antes de tomarmos nosso

rumo”, diverte-se. Elas participaram de um programa que reuniu Carlos Imperial, Raul Sampaio e Roberto Carlos. “Eles até falaram que era coincidência reunir todos os cachoeirenses em um só lugar”, ressalta. As irmãs Volpato retornaram para Cachoeiro de Itapemirim após dois meses e foram recebidas com festa. “A rua estava cheia de gente quando chegamos. Todos queriam saber como tinha sido no Rio e o que tínhamos conversado com Roberto Carlos”. Gercy nunca parou para con-

tar quantos shows assistiu, mas garante que abriu mão do casamento pelo rei. “As pessoas perguntam e pensam que não nos casamos achando que íamos namorar com o Roberto. Isso nunca passou pela nossa cabeça. Era paixão de fã. Queríamos ter tempo para ir atrás dele. Tivemos namorados, mas quando falávamos do Roberto Carlos eles não aceitavam o fato de irmos atrás dele. Então, terminamos. Não tenho um tiquinho de arrependimento. Viveria tudo de novo”.


Mesmo em Cachoeiro, Gercy e Maria Leonor não deixaram de acompanhar Roberto. E, dois anos depois, pediram autorização ao pai para retornar ao Rio de Janeiro. “Perturbamos muito o papai e ele nos deixou ir. Durante essa visita, estávamos passando pela Praça Mauá e encontramos com um rapaz da gravadora de Roberto Carlos. Por acaso, naquele momento, ele estava ao telefone com a dona Laura e nos deixou falar com ela. Falamos com ela e com o sr. Robertino, que nos convidaram para ir à casa deles. Mas, no dia seguinte, acordei com uma enxaqueca que não me permitiu sair da cama. Minha irmã me pedia para tentar levá-la, tomei muito comprimidos, mas não passava a dor. No fim do dia a dona Laura ligou para saber porque não fomos e nos disse para fazer uma forcinha porque Roberto iria se apresentar na TV Rio, no programa do José Messias. E depois viajaria para o exterior. Nesse momento, pulei da cama, tomei um banho e partimos”, continua. Na saída do pro28

Enxaqueca não permitiu encontro com rei

grama, elas compraram uma revista e Roberto a autografou. A antiga publicação com reportagens sobre o rei foi emoldurada e está pendurada na parede da sala da casa de Gercy. Roberto Carlos disse a elas que não iria demorar para fazer um show

em Cachoeiro. “E não demorou. Ele veio cantar no (Cine Teatro) Broadway e estivemos em seu camarim. Ele nos disse para ir com seus pais para a Rádio Cachoeiro, pois iria despistar os fãs e estaria lá em seguida. Em 1987, ele veio fazer um

show no Ginásio Municipal. Foi a última vez que tivemos contato com ele e entramos no camarim”, frisa. Em 2009, ela assistiu ao show nas primeiras fileiras. Agora, não será diferente. Gercy já comprou o vesti

do azul que usará para ver ao vivo mais uma vez o ídolo. “Por tudo que vivi e passei, não posso deixar de ir a um show do RobertoCarlos aqui em Cachoeiro”.


Gercy tem orgulho de mostrar seu rico acervo

Irmãs Volpato ladeando o astro

Na casa dela, por onde se anda e para onde se olha, lá está ele, com aparência mais jovem, menino, homem... Um rei!

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Edição Especial Roberto

“O importante é que emoções eu vivi” Luiz Gonzaga Dias, mais conhecido como Banguê, transformou a própria casa em um museu do ídolo

Crédito foto: Alissandra Mendes

por Alissandra Mendes

Fã incondicional: Banguê exalta sua paixão e carinho pelo cantor

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s detalhes da vida do rei - histórias que ele mesmo contou, ou contadas por terceiros - estão guardados no Cantinho Cultural Roberto Carlos, de Luiz Gonzaga Dias, idealizador e coordenador do projeto, montado em sua própria residência. Talvez, pelo “apelido” - como gosta de dizer, brincando -, seja difícil saber quem

é esse fã tão apaixonado por Roberto Carlos. Então, vamos deixar o apelido de lado e chamá-lo pelo “nome”: Banguê. Fã incontentável de Roberto Carlos, Banguê já viveu muitas emoções e garante que ainda viverá muitas que estão por vir, aos 68 anos de idade, 52 deles dedicados ao rei. “Comecei a ouvir Roberto Carlos com 16 anos. Na épo-

“Dividi a minha casa com Roberto Carlos”, diz

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ca, ele estava na Jovem Guarda e era um cantor diferente de todos os outros. Conseguiu fazer uma verdadeira explosão musical no país”, conta. Banguê lembra que as roupas coloridas e as músicas de Roberto Carlos embalavam e contagiavam a juventude. “Ele não foi um artista da moda, que faz sucesso e desaparece. Ele faz muito sucesso até os dias de hoje. Acredito que o sucesso dele é fruto da humildade e simplicidade. As músicas dele nos tocam, mesmo as letras mais tristes. As canções revelam quem ele é”, continua. Como nos tempos de escola, Banguê diz que passa os dias “estudando” sobre a vida de Roberto Carlos. “Sei 3% de

Roberto Carlos, mas é como se soubesse 100%. Eu estudo Roberto Carlos dia e noite. Ele veio predestinado para Cachoeiro de Itapemirim. Admiro-o por sua perseverança. Chegou aonde está por mérito próprio. Tenho revista aqui que ele não tem, tenho certeza”, garante o fã. O Cantinho Cultural funciona há três anos e é aberto ao público. Mas Banguê começou a coleção de revistas, discos, fotografias e outros objetos do rei há muito mais tempo. “Ficava tudo guardado na garagem. Depois, dividi minha casa, que é duplex, com o Roberto Carlos. Fiquei com a parte de cima e ele, com a parte de baixo”, explica.


“EMOÇÕES” Banguê assistiu a quatro shows do rei até hoje, mas a emoção maior de sua vida foi conhecer pessoalmente Roberto Carlos, em 2009. Durante 10 anos, ele trabalhou na Casa de Cultura que leva o nome do cantor, onde Roberto passou a infância e hoje é o seu museu oficial na cidade. Em seu último show em Cachoeiro, Roberto Carlos visitou a residência. Foi a primeira vez que ele esteve no local depois que se mudou para o Rio de Janeiro, segundo o fã. “Foi muito emocionante. Eu ainda não tenho palavras para descrever aquele momento. Fiquei sem reação e sem fala. Quando ele chegou, se aproximou de mim e me deu um abraço. Abraçou cada funcionário da casa e agradeceu pelos cuidados. Ele tem uma energia do bem e passou isso no abraço. Eu estava no dia certo e na hora certa. As pessoas falam que ele vem de madrugada visitar a casa, mas ele nunca tinha vindo. Foi a primeira vez. Ele ficou muito emocionado e nos emocionou também”, relata. Banguê frisa que aprendeu muito trabalhan-

do na Casa de Cultura e revela algumas curiosidades do local. “Na casa do Roberto Carlos não tem nada dele. O piano que está lá não é dele. O contrabaixo foi doado por Zé Nogueira e Ruy Guedes (músicos cachoeirenses; o primeiro, já falecido). Está tudo muito diferente da época que Roberto Carlos morou lá. O fogão não era onde está hoje. O flamboyant não ficava no quintal e sim na frente da casa, na rua.

Aprendi muito trabalhando lá”. Banguê também guarda histórias do famoso calhambeque de Roberto Carlos. “Brinquei muito no calhambeque. Quando era novo, eu trabalhava na ótica do meu irmão, e antes do Wanderley Braga (primo do cantor) dar o carro para o Roberto, ele ficava estacionado perto do prédio onde funcionava o laboratório da ótica. Eu aproveitava para brincar nele na hora de almoço. Naquela época nem

imaginava que o carro ia ser do Roberto Carlos”, conta. Banguê também é músico e

durante anos fez a “Caravana Roberto Carlos” e o “Palco Popular”, na Praça Pedro Cuevas Júnior, situada nas imediações da Casa de Cultura. Durante as apresentações, uma das exigências era cantar pelo menos uma música do rei para “preencher o seu vazio”.

Fotografias, discos, publicações raras, instrumentos musicais, seu acervo chama a atenção

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Edição Especial Roberto

O local, batizado de Cantinho Cultural Roberto Carlos, é aberto ao público

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Edição Especial Roberto Carlos

“Amigo de fé, irmão camarada” por Renato Magalhães

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Crédito foto: Arquivo Pessoal

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ascido em 1935, o médico cachoeirense Paulo Ney Vianna mudou-se ainda criança para a Rua João de Deus Madureira, em 1945, quando ela – rua típica de cidade do interior, com extensão não superior a 200 metros - ainda se chamava Rua Índios Crenaques. Além da família do sr. Sylvestre Vianna (pai do entrevistado), residiam por lá também as famílias Solino (do saudoso Orlando Solino, gerente do Banco Nacional), do sr. Almir Mello e do sr. Robertino Braga (pai de Roberto Carlos), entre outras. Após mudar-se para o Rio de Janeiro na adolescência, em meados da década de 1950, sempre que vinha a Cachoeiro, Roberto Carlos visitava os pais de Paulo Ney – seu Sylvestre e dona Iracy Augusta Vianna. Paulo Ney e a esposa, Maria Thereza Falce Vianna, cultivam amizade cordial com o cantor, merecendo dele permanente e simpática atenção, tudo sem “frescura”, como assevera Paulo Ney. Continuam até hoje se falando por telefone ou pessoalmente. Sempre que podem, se encontram: em shows, cruzeiro marítimo em que Roberto se apresenta e outras oportunidades. Inclusive no espetáculo em Nova York no dia em que o rei soube do falecimento de sua mãe. A seguir, Paulo Ney compartilha com os leitores algumas lembranças da época dourada na Rua Índios Crenaques, envolvendo a família do artista:

O casal Paulo Ney Vianna/Maria Thereza, com a filha Danielle. Sempre que podem, Paulo Ney e Maria Thereza se encontram com o rei em seus shows, pelo Brasil e mundo

Dona Laura “A mãe de Roberto Carlos, dona Laura, que mais tarde viria a se consagrar pelo filho famoso como Lady Laura em composição memorável, era exímia costureira, costureira ‘de mão cheia’, como se dizia. Seu pai, Robertino Braga, era relojoeiro” Picolé e Willys “Funcionavam ali também a fábrica de picolés do Maurinho (encanto da garotada) e a oficina autorizada Willys, de Mario Casotti Filho”.

Irmãos do rei “Por ser seis anos mais velho do que Roberto Carlos, convivia e brincava mais com os irmãos dele, Carlinhos e Laurinho”.


Biquinha “Naquela época, e desde sempre, já existia ali a famosa Biquinha, fonte de água potável muito falada na cidade. Fonte perene, era muito conhecida porque, quando faltava água em Cachoeiro, muitas pessoas iam lá pegar sua água para abastecer as necessidades da família”.

Morro Farias “Nas redondezas, o Morro Farias já era famoso: por lá, moravam outros muitos amigos, como a família Alcântara, Willian Aone, os Canuto... E, como grande atrativo, havia um campinho de futebol que era o ‘oficial’ da época”.

Brincadeiras “Roberto Carlos era um menino comum, como os outros: muito brincalhão, expansivo, sempre muito animado. O que a criançada fazia na época? Nada das modernices que se faz hoje, como iPhone, laptop, TV... A salvação eram as ‘disputadas’ peladas com bolinhas de meia, que a turma praticava com afinco, religiosamente, todos os dias. Um gol, marcado com pequenas pedras, ficava na porta da Willys. E o outro, na porta da casa dos meus pais. O ‘gramado’ era de terra batida e buracos, mesmo! Havia um calendário anual permanente, ‘não escrito’, mas que valia para toda a garotada, de qualquer lugar: temporada para jogar ‘porco’ (os mais antigos sabem do que falo, da ‘modalidade da brincadeira’), bola de gude, pião, empinar pipa... Ninguém até hoje sabe quando começava, nem quando acabava, cada temporada. Mas elas começavam, acabavam e todos seguiam o ‘calendário’”.

“Embora mais novo e pequeno, Roberto Carlos jogava pelada no meio da turma mais velha. Era assíduo e guerreiro: não ‘pipocava’, não!”

Paizão: Robertino Braga

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Veia artística “Na família de Roberto Carlos todos os três filhos homens sempre tocaram violão. Daí a veia artística que nunca mais o abandonou...”

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Molecada se divertindo na década de 1940

Rádio Cachoeiro “Embora mais novo e pequeno, Roberto Carlos jogava suas peladas no meio da turma mais velha. Era frequentador assíduo e guerreiro: não ‘pipocava’, não! Éramos companheiros e vizinhos de rua: eu e meus irmãos, Herdy, Vera e Vilma; Orlando Solino Filho e sua irmã, Fifinha. Na casa de Roberto Carlos, o próprio, Carlinhos, Laurinho e Norma. Na sequência do tempo, os hábitos foram mudando. Roberto Carlos (com seus colegas de música, Otamar Rogério, Mozart Cerqueira e Zé Nogueira) passou a frequentar a antiga Rádio Cachoeiro, a famosa ZYL-9, nos programas musicais aos domingos. Com direito à platéia, torcida organizada e tudo. Esses programas eram muito concorridos e os lugares nas poltronas, muito disputados. Os programas de auditório eram comandados por José Américo Mignone e também César Misse. Em minha opinião, ali nascia o astro, que se tornaria famoso no mundo todo!”



Foto: Internet/ Raul Sampaio

Edição Especial Roberto Carlos

A canção que se tornou o hino oficial da cidade por Alissandra Mendes e Renato Magalhães O grande compositor Raul Sampaio

Composição de Raul Sampaio Cocco, “Meu Pequeno Cachoeiro” ficou nacionalmente conhecida na voz de Roberto Carlos. Em 28 de julho de 1966, a canção foi declarada ofi38

cialmente como o hino de Cachoeiro de Itapemirim, pela Lei nº 1.072/66. Não há na cidade quem não se emocione nas aberturas de solenidades. O orgulho pela música e o re-

conhecimento do hino é notado no semblante dos cachoeirenses. A composição original passou por uma pequena mudança, feita por Roberto Carlos. Na letra de Raul Sampaio,

“O meu bom jenipapeiro/ bem no centro do terreiro” deu lugar à lembrança de infância do rei: “Meu flamboyant na primavera/que bonito que ele era” (confira no quadro).


Meu Pequeno Cachoeiro

Meu Pequeno Cachoeiro

Composição original de Raul Sampaio

Composição com alterações de Roberto Carlos

Eu passo a vida recordando De tudo quanto aí deixei. Cachoeiro, Cachoeiro Vim ao Rio de Janeiro Pra voltar e não voltei.

Eu passo a vida recordando De tudo quanto aí deixei. Cachoeiro, Cachoeiro Vim ao Rio de Janeiro Pra voltar e não voltei.

Mas te confesso, na saudade As dores que arranjei pra mim Pois todo pranto destas mágoas Inda irei juntar às águas do teu Itapemirim

Mas te confesso, na saudade As dores que arranjei pra mim Pois todo pranto destas mágoas Inda irei juntar às águas do teu Itapemirim

Meu pequeno Cachoeiro Vivo só pensando em ti Ai que saudade dessas terras Entre as serras Doce terra onde eu nasci Recordo a casa onde eu morava O muro alto, o laranjal O meu bom jenipapeiro Bem no centro do terreiro Dando sombra no quintal A minha escola, a minha rua Os meus primeiros madrigais Ai como o pensamento voa Ao lembrar da terra boa Coisas que não voltam mais.

Meu pequeno Cachoeiro Vivo só pensando em ti Ai que saudade dessas terras Entre as serras Doce terra onde eu nasci

“A única que Roberto gravou três vezes de forma distinta” Raul Sampaio destaca que “Meu Pequeno Cachoeiro” foi a única música que Roberto Carlos gravou três vezes de forma distinta: com orquestra de violinos; voz e violão; e com viola sertaneja. Sampaio reconhece que, sem a interpretação de Roberto, a canção não teria tanta notoriedade. “Ele a transformou. Porque, geralmente, músicas que falam sobre cidades ficam restritas às próprias cidades mesmo. ‘Meu Pequeno Cachoeiro’ ganhou o Brasil e acabou se transformando em hino oficial da cidade”. Mas o compositor se recorda de um elogio especial: “Chiquinho do Acordeon me disse uma vez: ‘você fez uma música linda com apenas três acordes. Um feito!”. Uma legião de ícones gravou inspiradas músicas do cachoeirense Raul Sampaio Cocco, da qual fazem parte - além de Roberto Carlos - Vinicius de Moraes, Toquinho, João Bosco, Elizeth Cardoso, Maria Bethânia, Martinho da Vila, Paulinho da Viola, Clara Nunes, Maysa, Nelson Gonçalves, Cauby Peixoto, Fafá de Belém, Orlando Silva, Elza Soares, Maria Bethânia, Erasmo Carlos, Carlos Galhardo, entre outros.

Recordo a casa onde eu morava O muro alto, o laranjal Meu flamboyant na primavera Que bonito que ele era Dando sombra no quintal A minha escola, a minha rua Os meus primeiros madrigais Ai como o pensamento voa Ao lembrar da terra boa Coisas que não voltam mais.

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Crédito foto: Arquivo Pessoal

Edição Especial Roberto Carlos

A casa que virou museu por Renato Magalhães Cachoeiro de Itapemirim é uma cidade de muitas peculiaridades. Alguma coisa por aqui tem fator determinante para que tantas personalidades tenham nascido e se projetado no cenário nacional das mais variadas formas. Tanto sucesso junto num pequeno espaço de metro quadrado só acontece em Cachoeiro, assim como a história daquela fruta, a jabuticaba: só dá no Brasil. Mas, no mérito da matéria, queremos fazer uma pe-

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quena abordagem que sob o ponto de vista do jornalista também é peculiar. Acompanhem. “Seu” Gil de Mattos - marido de dona Maria Alina e pai de Maria Inez, Maria Bernadete e Maria Elisa -, 92 anos bem vividos, nasceu na Fazenda das Palmeiras, propriedade de seu avô, que ficava entre Aracuí e Conduru, aqui no Sul do Estado. Por conta dos estudos, em 1940, foi morar em Castelo, passando depois por Muqui e Rio de Janeiro.

Mais tarde, veio para Cachoeiro de Itapemirim, para exercer o ofício de contador e comerciante de joias e relógios. Profissão esta que o levou a conhecer o sr. Robertino Braga, também comerciante, proprietário da “Relojoaria Braga”, localizada nas imediações da Praça Dr. Luiz Tinoco da Fonseca, em área anexa à casa do tradicional professor Ganhoto, que dava aulas de francês no Liceu. Com a família já morando no Rio de Janeiro, “seu” Rober-

tino Braga, pai de Roberto Carlos, entendeu de vender a casa. E, para o seu interesse coincidir com o do “seu” Gil, foi um pulo. O imóvel ficava em ótima localização, como procurava a família Mattos: logo ali, à Rua João de Deus Madureira, continuação do prédio onde funcionavam as instalações gráficas da tradicional, e hoje extinta, Tipografia Vieira. O interesse mútuo de compra e venda se estabeleceu de pronto, mas as negocia-


ções... Ah, essas se estenderam por longo e arrastado tempo! Até que o “martelo foi batido”, numa boa. Em 1961 “seu” Gil e família mudaram-se para a “casa de Roberto Carlos” - que, de tão importante, virou museu quatro décadas depois, a Casa de Cultura Roberto Carlos. Era casa simples, própria dos padrões da época, e não era grande: tinha 48 m² apenas. Antes de se mudar, porém, o novo proprietário cuidou de fazer algumas ampliações e melhorias no imóvel, que cresceu para os lados e para trás. Mas, contra todas as demandas da família, preservou as estruturas originais da antiga casa. “Não queria quebrar a memória da família do Robertino”, repete orgulhosamente “seu” Gil. Enquanto isso, Roberto Carlos continuava a fazer cada vez mais sucesso no rádio, na televisão... E, com a eclosão da Jovem Guarda, rapidamente veio o reconhecimento nacional. Conta “seu” Gil, com um misto de orgulho e emoção, que Roberto Carlos, durante esses anos todos, o procurou para adquirir a casa de volta, era o seu sonho e, principalmente, o de dona Laura. Ela mesma chegou a telefonar várias vezes, interessada em saber como estava o imóvel. Conversava com “seu “Gil cheia de saudosismo, relembrando cada detalhe da casa. A negociação ficou por conta do primo de Roberto, Wanderley Braga. Estava difícil de concretizá-la, pois ofereciam outros imóveis em troca e nenhum era de interesse. Chegou-se até perto de uma solução comum: a casa vizi-

nha, do fazendeiro Gerson Moura, passou a ser cogitada para compor a transação de compra, venda ou troca, porém... a conta não fechava entre comprador e vendedor. Continuava então tudo como estava. Mas não tinha jeito, a conversa não avançava nada... Muitas tentativas e poucas acabativas, como diria o saudoso Roberto Vivacqua... A casa permaneceu com a família do “seu” Gil, até que... a Prefeitura Municipal, ora com Theodorico Ferraço, ora com Roberto Valadão, fez várias investidas amigáveis para desapropriar o imóvel e transformá-lo em um museu, como diziam na época, em homenagem ao rei. Novamente, as negociações não prosperavam e o fator dinheiro permanecia na pauta. Enquanto isso, à medida que o tempo passava, a casa passou a receber com frequência muitos visitantes, fãs do astro, que vinham de ônibus, carros, a pé... As pessoas queriam ver a casa “por dentro”, saber onde Roberto Carlos havia morado, onde dormia e brincava... Difícil era responder às “enxurradas” de perguntas, que viraram uma constante. Mas, no fundo, um orgulho muito grande de estar morando na casa do rei! Visitas ilustres - como a do padre Antônio Maria, da atriz Myrian Rios (ex-mulher de Roberto), vários outros artistas e repórteres da Rede Globo - também se tornaram comuns. Finalmente, no fim da década de 1990, o imóvel foi adquirido pela Prefeitura de Cachoeiro de Itapemirim. A

Gil de Mattos, 92 anos, adquiriu em 1961 o imóvel para residir com a família, após o pai de Roberto Carlos se mudar para o Rio de Janeiro

administração do prefeito Theodorico Ferraço obteve êxito nas tratativas amigáveis com a família Mattos. E a residência onde o cantor passou a infância hoje está ali, com o nome midiático de Casa de Cultura Roberto Carlos.

Mas vamos combinar uma coisa: sucessivas administrações municipais “se empenham” em não fazer nada que dignifique e honre o nome “Casa de Cultura Roberto Carlos”. No mínimo, uma curadoria de nível, entregue a profissional de reconhecida capacidade, deveria desenvolver ações programáticas per-

manentes, para conferir àquele patrimônio histórico e artístico a honra e a dignidade que está a merecer. E posso falar uma coisa? Uma joia da coroa, como a casa em que Roberto Carlos morou na infância e parte da adolescência, deveria sair imediatamente do controle da administração pública e ser dignamente entregue nas mãos de profissionais gabaritados, de alguma instituição respeitável especializada nesse tipo de mister. Roberto Carlos e Cachoeiro de Itapemirim merecem isso. Já passou do tempo! É o que penso.

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Casa de Roberto Carlos atrai fãs de todas as partes do país Aberto ao público no ano 2000, centro cultural que abriga pequeno museu do rei ganhou status de Patrimônio Histórico e Artístico Estadual em 2009 por Alissandra Mendes

Uma casa simples no final da Rua João de Deus Madureira, bairro Recanto, guarda as memórias do menino “Zunguinha” (como Roberto Carlos era chamado pelos pais), que deixou Cachoeiro de Itapemirim adolescente para se

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tornar “o rei da música brasileira”. Lembranças e histórias sobre a sua vida e carreira são divididas com os muitos fãs que visitam diariamente a Casa de Cultura Roberto Carlos. A antiga residência onde o

cantor passou a infância e parte da adolescência foi adquirida pela Prefeitura de Cachoeiro de Itapemirim e restaurada. Transformada em centro cultural, foi aberta ao público no dia 13 de novembro de 2000.

O imóvel possui seis pequenos cômodos, varanda, porão e jardim, que conta com dois flamboyants. Em 2009, tombado pelo Conselho de Cultura do Governo do Espírito Santo, ganhou status de Patrimônio Histórico e Artístico


“É emocionante entrar aqui. Fiquei arrepiada quando comecei a caminhar pela rua em direção a ela”, declarou turista paulista

Estadual. Está sob a guarda permanente do poder público (Prefeitura Municipal e governo capixaba). No local há discos, documentos, quadros, instrumentos musicais e outros equipamentos que destacam a trajetória do rei. “Por ser a casa de um ícone internacional, é de grande importância a cidade conservá-la como atração turística e cultural. Me recordo quando fui pela primeira vez a Santo Amaro da Purificação, onde nasceram Caetano Veloso e Maria Bethânia, dos quais sou fã também. Fiquei muito emocionada ao entrar na casa que eles moraram. Entrar na casa de Roberto Carlos é a mesma emoção. Manter esse legado para os fãs é preservar a história”, diz a secretária municipal de Cultura, Joana D’Arck Caetano. Quando morava no local com a família, a residência de Roberto Carlos era dividida assim: um quarto para seu Robertino e dona Laura, seus pais; um quarto para a irmã, Norma; um quarto para Roberto e os irmãos Lauro e Carlos Alberto; sala; cozinha; e banheiro.

Acervo Compõe o acervo abrigado no imóvel o contrabaixo acústico, fabricado na antiga Tchecoslováquia, que fez parte do Conjunto Regional de Mozart Cerqueira e José Nogueira. O instrumento foi restaurado e doado à Casa de Cultura Roberto Carlos por Ruy Guedes e José Nogueira, instrumentistas que acompanharam o cantor na ZYL-9 (Rádio Cachoeiro). O fogão a lenha que dona Laura usava para preparar as refeições da família também permanece no local, preservando a história da infância de Roberto Carlos.

Emoção “É emocionante entrar aqui. Fiquei arrepiada quando comecei a caminhar pela rua em direção à casa. Sou muito fã de Roberto Carlos, e saber que foi aqui que tudo começou nos faz ter um nó na garganta”, declarou, emocionada, a professora aposentada Carmen Lúcia Tavares, de Taubaté (São Paulo), que visitou o centro cultural pela primeira vez.

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Edição Especial Roberto Carlos

“O calhambeque, bip, bip, quero conservar o calhambeque” Foto: Arquivo Pessoal / Internet/ Aroldo Sampaio

A paixão por carros e a história com Cachoeiro: foi em sua cidade natal que o calhambeque de Roberto Carlos, o mais famoso do Brasil, foi reconstruído por Alissandra Mendes

O cantor e compositor Roberto Carlos nunca escondeu sua paixão por carros, e em especial por seu calhambeque, um modelo Ford A Roadster, de 1929, restaurado em 1970 em Cachoeiro de Itapemirim, pelo mecânico Geraldo Gariolli, o lanterneiro Aroldo Sampaio e o pintor Adir. A reforma durou quatro anos. Roberto esteve algumas vezes em Cachoeiro, durante a madrugada, para

acompanhar de perto a reconstrução do veículo raro. “O carro veio desmontado. Quem trouxe para meu pai foi o Wanderley Braga, primo do Roberto Carlos. Ele aumentou o capô para colocar outro motor, um V8 de Cadillac, aumentou o chassi. O calhambeque saiu daqui azul marinho”, comenta Mário Gariolli, filho do mecânico. Mário herdou a oficina do pai e trabalha no local com o

irmão Henrique. Eles contam que eram crianças quando o pai trabalhou no carro de Roberto Carlos. “Nos anos em que o carro ficou aqui, o Roberto vinha até a oficina, mas vinha durante a madrugada, sem ninguém saber. Ele acompanhou todo o trabalho de restauração do calhambeque”, revela Mário. O mecânico diz que, dois anos após ter sido enviado ao Rio de Janeiro, o calhambeque voltou para um ‘re-

call’. “Roberto pediu ao papai para trocar o freio, que era hidrovácuo e duro. Depois disso, meu pai não viu mais o veículo”. Já o filho de Aroldo Sampaio, que tem o mesmo nome do pai, teve a oportunidade de dar um passeio no calhambeque. “Lembro que estávamos em Marataízes na casa da minha avó, e o Wanderley Braga apareceu no carro, foi até lá levá-lo para meu pai

Célebre lanterneiro construiu o próprio calhambeque

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olhar, e saímos para dar uma volta”, conta Aroldo. Em 2008, o calhambeque do rei precisou de uma nova reforma. Porém, desta vez, não veio para Cachoeiro de Itapemirim. A missão foi dada a Emerson Fittipaldi.

Mais uma “obra”

Depois da reconstrução do calhambeque de Roberto Carlos, Aroldo Sampaio começou a trabalhar em outro veículo do tipo, para seu uso pessoal. Mas desistiu logo no início. Em 1983, iniciou a montagem do famoso ‘Amarelinho’, um Fordeco, com mecânica de Opala de 1974. Foram mais de 20 anos até que o calhambeque do habilidoso lanterneiro ficasse pronto. “Fez o carro para mim, mas não me deixava dirigir. Ele o construiu peça por peça, o carro ficou pronto no verão de 2005. Papai aproveitou sua obra por seis anos. Em 2011, ele nos deixou”, diz Aroldo, que não seguiu a carreira do pai. É músico e produtor. Assim como o saudoso lanterneiro, também é fã de

Potência: o motor é V8 Roberto Carlos. “Gosto das composições mais antigas dele, musicalmente falando. Tenho uma banda, a The Black Cats. Fazemos releituras de Roberto em sua fase mais soul e rock”, conclui. Além de Aroldo (guitarra), a banda é composta por Douglas Lopes (voz), Marcos Tadeu (baixo) e Ronie Silveira (bateria).

O lanterneiro Aroldo Sampaio, um dos “artistas” responsáveis pela empreitada


Esporte

Sampaio trabalhando no carro do rei na dĂŠcada de 70 e, muitos anos depois, no seu

ES - Cachoeiro de Itapemirim

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Edição Especial Roberto Carlos

Na cidade de Roberto Carlos

não há souvenires do rei Foto: Alissandra Mendes

Fãs se queixam que não encontram lembranças do cantor em Cachoeiro para guardar de recordação por Alissandra Mendes

E

m muitas cidades famosas, como Rio de Janeiro, Aparecida do Norte, Salvador, entre tantas outras, é impossível ir embora sem carregar uma lembrancinha para se recordar do passeio. Hábito comum de turistas, principalmente quando visitam importantes pontos, como a Casa de Cultura Roberto Carlos, onde viveu o “rei da música popular brasileira” até seus 12 anos. Podemos citar exemplos de ícones mundiais da música, como Michael Jackson, que se enquadram no quesito explorar a imagem. Em Los Angeles, na Califórnia, é possível encontrar canecas, camisas, entre tantos outros itens que façam que os fãs se recordem do saudoso cantor e visitem com frequência a cidade americana. O mesmo acontece em Liverpool (Inglaterra), cidade dos Beatles. É impossível voltar de lá sem uma caneca, camisa, chaveiro, qualquer coisa que lembre a banda mais famosa da década de 60 e que continua encantando gerações. As lojas de souvenires estão por todos os lados e as vendas movimentam a economia local.

Em Cachoeiro de Itapemirim, a falta de lembrancinhas de Roberto Carlos é questionada pelos fãs que visitam diariamente o centro cultural que o homenageia. Aos 52, a pedagoga Martha Cavour, do Rio de Janeiro, realizou um sonho de muitos anos: conhecer a casa do cantor. Porém, se frustrou com o tão aguardado passeio. “Consegui dois dias de folga no meu trabalho. E, ao invés de ir para a praia, resolvi realizar um antigo sonho: conhecer Cachoeiro de Itapemirim e entrar na casa de Roberto Carlos. Só vim para isso. Mas estou triste por ter que ir embora sem levar nada, nem mesmo um copo ou chaveiro do rei”, lamentou. Fã de carteirinha, Martha disse que já foi a vários shows de Roberto Carlos e gosta de guardar recordações. “Nunca consegui pegar uma flor. O dia que eu pegar, vou fazer um quadro e colocar na parede de minha casa. Sempre que posso vou aos shows. Gosto muito de Roberto Carlos. Quem não gosta?”, indagou. “Quando entrei na rua, já fui procurando lembranças para levar para meus parentes, mas não vi nada. Nem mesmo

uma lojinha. Nem na casa dele tem alguma coisa para que os turistas levem para casa. A cidade podia repensar isso. Não é uma questão de explorar a imagem do cantor, e sim

oferecer aos fãs lembranças da visita à cidade”, completou o militar aposentado José Augusto Chrisostomo de Almeida, também do Rio de Janeiro.



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Roberto Carlos em ”ritmo de rock and roll” Cantor e compositor inspira banda em sua cidade natal, que toca versões de antigos sucessos seus por Alissandra Mendes Foto: Arquivo Pessoal / Internet

Os “Terríveis” apostam na irreverência

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“rei da música popular brasileira” é uma forte inspiração para muitas bandas e artistas no país. Em sua cidade natal não poderia ser diferente, Roberto Carlos motivou o surgimento da banda Terríveis. Formada por Vander Manhoni (baixo), Paulo César Paraizo (vocal), Villinevy Koppe (bateria) e Niumar Santiago (guitarra), toca versões de sucessos antigos do rei com muito humor e irreverência. “A banda existe desde 2001

e surgiu da ideia de Vander, que sempre gostou de Roberto Carlos. Todos nós gostamos, mas ele gosta mais. Em uma conversa descontraída, decidimos montá-la. Começamos a ensaiar no porão da casa do Vander, como uma banda de garagem. Esse é mais um hobby que levamos a sério. Niumar Santiago, o guitarrista, deu uma cara mais profissional ao grupo”, diz o vocalista Paulo César. Eles não vivem exclusivamente para a música. Por isso, não ensaiam com tanta

frequência. Tocam as canções de Roberto que foram sucesso nos anos 60, 70 e 80. “Gostamos dessas músicas mais antigas dele. Pegamos as músicas que são mais rock and roll, colocamos um pouco mais de peso. Fazer cover nunca foi nossa praia, tocamos versões”, define Niumar Santiago. “Tentamos levar humor para os shows, ser divertidos. Não temos um critério para escolher nosso repertório. Pegamos as que curtimos e ensaiamos. Até queríamos

tocar mais músicas, mas - como trabalhamos - não temos muito tempo para nos encontrar para ensaios”, continua o guitarrista.

Niumar revela que o grupo curte as canções mais irreverentes de Roberto Carlos. “Gosto de ‘Ilegal, Imoral ou Engorda’ e ‘Sete Cabeludos’, por exemplo, que marcaram momentos de minha vida. Tentamos passar isso para o público, as músicas que gostamos e que nos marcaram”, completa.




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Parabéns, Roberto Carlos! Augusto Herkenhoff e amigos homenageiam rei por Paulo Marcelo Sampaio Editor da Globo News

Sérgio Pugliese Diretor da Approach – RJ DF SP

As obras de Roberto Carlos e Augusto Herkenhoff têm em comum a relação com o amor. Nas telas de Augusto acontecem tempestades de flores, temporais de corações. Só love, só love! O rei Roberto Carlos não podia ficar de fora dessa avalanche de afeto.

A vida do maior cantor do Brasil, desde Cachoeiro para o mundo, em fotos e histórias para você ler e guardar! O acaso me levou a Augusto. Melhor dizendo, amigos me levaram a Augusto. Corrijo. Cachoeiro me levou a Augusto. Pelas mãos de Roberto, filho mais genial dos nossos cronistas. Figura prá lá do metro e noventa, Augusto Herkenhoff organizava uma exposição sobre figuras ilustres do Espírito Santo. Estavam todos lá, retratados em tela. Cada uma ocupava boa parte de uma parede: Nara Leão, Augusto Ruschi, Carlos Imperial, José Carlos Oliveira, Luz del Fuego. Foi fácil para mim, um assessor de imprensa iniciante, começar a carreira assim. Quem não se interessaria por um artista de traços nervosos, cores vibrantes e pinceladas irregulares que, juntas, eram pura harmonia? De lá prá cá, Augusto, de cliente, foi alçado à condição de amigo. Inspirador, inspirador, Augusto Herkenhoff carrega no seu corpanzil desengonçado o lirismo das linhas de Rubem Braga e a rebeldia de Roberto Carlos em tempos de Jovem Guarda. Cachoeiro de Itapemirim é a cidade com mais gênio por metro quadrado. E Augusto, à sua maneira, na sua área, com toda sua modéstia, está nesse time.

Perfil do artista: Augusto Herkenhoff é artista plástico cachoeirense

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informe publicitário

Encontro

com o Rei

Há quase 20 anos a CDL Cachoeiro pôde encontrar-se com o Roberto Carlos e homenageá-lo com o microfone da antiga Rádio Cachoeiro Foi na convenção da Confederação Nacional das Câmaras de Dirigentes Lojistas, realizada em Belo Horizonte, nos idos de 1997, que a diretoria da CDL Cachoeiro encontrou-se com o rei Roberto Carlos. Na época, o cantor recebeu das mãos do presidente da entidade, João Kleber de Massena, o microfone da Rádio Cachoeiro, aonde ele deu os primeiros passos como cantor. “Quando soubemos que Roberto Carlos faria o show de encerramento da convenção, a diretoria resolveu fazer uma homenagem a ele. Na época, a agência de publicidade que atendia a CDL Cachoeiro era a Massad Cola. Eles elaboraram para nós duas molduras de um troféu: uma com microfone e outra de uma réplica do calhambeque. Optamos pelo microfone devido ao simbolismo e a história que ele representava”, conta o atual vice- presidente da CDL Cachoeiro, João Kleber de Massena. A diretoria buscou a ajuda da direção da Rádio Cachoeiro, que conseguiu, com a colaboração de Ricardo Carone, sucessor da emissora, o microfone original usado na época que Roberto Carlos fazia testes de voz no estúdio da rádio. Homenagem pronta, agora era preciso viabilizar a entrega. Para isso, a diretoria da CDL Cachoeiro procurou Joacir Pinto, cuja esposa, Tereza Braga, é prima de Roberto Carlos. Ela pode ver o esboço do troféu e se entusiasmou com a ideia. Quem também participou da negociação foi outro primo do cantor: Wanderlei Braga. “Tereza, Joacir e ele entraram em contato diretamente com o cantor e acertou os detalhes da entrega do troféu”, explica Mario Luiz de Souza.

Grande homenagem O atual presidente da CDL Cachoeiro, Celso Luiz Costa, fala a respeito do grande encontro. “O show estava marcado no Mineirinho. A comitiva da CDL, formada por João Kleber, eu, Ison Sandrini, Marcos Carvalho, Mario Luiz de Souza e Ronaldo Noé foi recepcionada no camarim dele antes do show. Na hora da entrega do troféu ele ficou muito feliz por termos lembrado-o da época que morava em Cachoeiro”. Celso continua. “Quando viu o troféu, ele disse que aquele era um dos melhores microfones que existiam na época, pois era valvulado. Visivelmente emocionado, agradeceu muito e nos disse que colocaria ‘a verdadeira relíquia’, segundo suas palavras, em sua sala de troféus ao lado de outras grandes homenagens que já havia recebido”, conclui.


Jaraguá Tênis Clube inaugura nova academia de ginástica. O amplo e sofisticado espaço fitness é mais uma realização da atual diretoria.


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Seis anos de trabalho para homenagear rei com escultura Obra, da artista plástica Angella Borelli, ganhou lugar de destaque na praça que dá acesso à casa de Roberto Carlos por Alissandra Mendes Estátua foi esculpida em mármore branco

Artista é fã de Roberto Carlos desde os tempos da Jovem Guarda

Os fãs de Roberto Carlos estão sempre demonstrando o carinho que têm pelo ídolo de alguma forma. A artista plástica paulista Angella Borelli é um exemplo. Durante seis anos trabalhou duro para esculpir uma estátua do rei em mármore branco. Em 2011, já pronta, ela a doou à Prefeitura de Cachoeiro de Itapemirim. E em abril de 2015 a obra foi instalada na Praça Pedro Cuevas Júnior, que integra o Corredor Cultural Roberto Carlos, na área central da cidade. “Foi muita emoção ver a estátua sendo instalada. É como se fosse uma recompensa por tantos anos de trabalho. Estou orgulhosa e muito emocionada em ver a obra exposta para os fãs de Roberto Carlos”, disse a artista plástica. Com 1,75 metro de altura e peso aproximado de 1.500 kg, a escultura é protegida com vidros ao redor. “Está totalmente protegida e a limpeza é feita constantemente. Foram seis anos de trabalho com mais de seis mil horas dedicadas a essa escultura”, explica Angella. A artista plástica revela que tem um gosto igual ao do seu ídolo. “Tenho mania de usar azul. Adoro azul”. Por causa do trabalho com a estátua, Angella foi proibida pelos médicos de trabalhar com esculturas em mármore. “Esse foi meu último trabalho em mármore. Por isso, fiquei tão orgulhosa”, ressalta. No período em que trabalhou na escultura, Ângella morava em Cachoeiro de Itapemirim. Depois, retornou a São Paulo. “Nesse tempo em que eu estava lá, meu grande amigo Valdieri Martin trabalhou para que o local para a ex-

posição fosse providenciado. Venho a Cachoeiro duas vezes por ano”, explica. Trabalho árduo Angella começou a trabalhar na escultura em 2003 e a finalizou em 2009. “Primeiro, fiz uma maquete do Roberto, em tamanho menor, com argila. E depois outra, em gesso. A maquete, que antes media 40 cm, se transformou em uma de gesso com tamanho idêntico ao que é hoje”, relembra. Depois que a escultura em gesso ficou pronta, Angella começou a trabalhar com mármore. “Quando era criança, com seis anos mais ou menos, e morava em São João da Boa Vista, aproveitava quando minha avó assava bolo, fazia minhas esculturas e colocava junto, no forno. Algumas davam certo e outras quebravam”, conta, rindo da “arte”. A ideia de fazer a escultura do rei surgiu por gostar do cantor cachoeirense. “Quanta mentira contei para poder assistir ao Roberto. Eu pedia minha mãe para ficar com meus filhos pequenos e falava com meu marido que estava fazendo um curso na igreja todo domingo, mas ia assistir ao programa da Jovem Guarda. Um dia, o programa demorou e tive que dizer que estava aguardando o padre”, diverte-se a artista. Amigos há mais de 30 anos, ela e Valdieri Martin fizeram várias obras juntos. “Ele é um grande amigo e incentivador. Me ajudou muito nesse projeto e na realização da obra na praça, próximo à casa de Roberto Carlos. Essa é uma parceria de sucesso”, comemora Angella.



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FILMOGRAFIA Roberto Carlos estrelou filmes inspirados no modelo lançado pelos Beatles na década de 1960. O primeiro longa-metragem foi ‘Roberto Carlos em Ritmo de Aventura’, dirigido pelo cineasta Roberto Farias e lançado em 1967. Um ano antes, havia sido iniciada a produção de ‘SSS Contra A Jovem Guarda’, mas o filme jamais foi concluído.

1968 - Roberto Carlos em Ritmo de Aventura (Roberto Farias) 1970 - Roberto Carlos e o Diamante Cor-de-Rosa (Roberto Farias) 1971 - Som Alucinante (Carlos Augusto de Oliveira) 1971 - Roberto Carlos a 300 Quilômetros Por Hora (Roberto Farias)

Participações: 1974 - Saravá, Brasil dos Mil Espíritos (Miguel Schneider) 2007 - Person (Marina Person) 2008 - Alô, Alô, Terezinha! (Nelson Hoineff) 2015 - Tim Maia - Vale o Que Vier (Mauro Lima)

Figuração: 1958 - Aguenta O Rojão (Watson Macedo) 1958 - Alegria de Viver (Watson Macedo) 1958 - Minha Sogra é da Policia (Aloísio de Carvalho) 1961 - Esse Rio que Eu Amo (Carlos Hugo Christensen)



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DISCOGRAFIA Roberto Carlos, em quase 60 anos de carreira, lançou mais de 40 discos só com músicas inéditas, com vendas superiores a 120 milhões de cópias. Alguns dos principais álbuns do rei:

Roberto Carlos (1966) Destaques: “Eu te Darei o Céu”, “Nossa Canção”, “Querem Acabar Comigo”, “Namoradinha de um Amigo Meu”, “Negro Gato”.

Splish Splash (1963) Destaques: “Parei na Contramão”,

É proibido fumar (1964) Destaques: “É Proibido Fumar”,

“Splish Splash”.

“O Calhambeque”, “Broto do Jacaré”.

Roberto Carlos (1971) Destaques: “Debaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos”, “Detalhes”, “Como Dois e Dois”, “Amada Amante”. Roberto Carlos (1977) Destaques: “Amigo”, “Outra Vez”, “Falando Sério”, “Cavalgada”, “Jovens Tardes de Domingo”. Roberto Carlos (1978) Destaques: “Lady Laura”, “Fé”,“Café da Manhã”.

Roberto Carlos (1993) Destaques: “Nossa Senhora”, “Coisa Bonita (Gordinha)”, “O Velho Caminhoneiro”.

Roberto Carlos (1980) Destaques: “Amante à Moda Antiga”, “Não se Afaste de Mim”.

Roberto Carlos em ritmo de aventura (1967) Destaques: “Eu Sou Terrível”, “Como é Grande o Meu Amor Por Você”, “Quando”, “Por Isso Eu Corro Demais”.

Roberto Carlos e Caetano Veloso e a música de Tom Jobim (2008) Destaques: “Samba do Avião”, “Por Causa de Você”, “CorAcústico MTV (2001) Destaques: “Além do Horizonte”, “Detalhes”.

covado”, “Chega de Saudade”.



TODO MOTOCICLISTA CARREGA UM BEM MUITO VALIOSO: SUA PRÓPRIA VIDA.

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NO TRÂNSITO É PRECISO TER CUIDADO REDOBRADO. Existe uma verdade que todo motociclista precisa aceitar: mesmo quando você faz tudo certo no trânsito e acha que nada de errado vai acontecer, a imprudência do outro pode te surpreender. Faça a sua parte e tenha atenção redobrada, tanto com a sua moto quanto com os outros veículos. Para funcionar bem, o trânsito precisa de harmonia. A sua vida depende disso.


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