Dossiê Internet | Guia do Estudante Atualidades

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GLOBAL disseminação da internet mexe com A SOCIEDADE, a economia E a política, mas o avanço da rede TAMBÉM facilita a vigilância estatal E COMERCIAL por Giovana Moraes Suzin | Infográficos Bruno Santos

onipresente Usuária do Facebook na Alemanha: as redes sociais ganharam popularidade e a adesão de milhões de pessoas Michael Dalder/REUTERS

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SOB VIGILÂNCIA Dilma (à esq.), com manifestantes a favor do asilo no Brasil a Snowden, e a alemã Angela Merkel (à dir.): ambas protestaram contra a espionagem que sofreram dos EUA

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Fabrizio Bensch/REUTERS

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m nome da segurança, o Estado se torna onipresente e passa a vigiar a todos. Nada acontece sem que se saiba, ninguém consegue escapar da vigilância constante. Para obter mais poder, a estratégia das autoridades é fazer guerras e usar a paz como propaganda. O cenário descrito é o tema do livro 1984, de George Orwell, publicado em 1949. Mas, desde que a imprensa internacional denunciou o governo dos Estados Unidos (EUA) pela coleta indiscriminada de dados telefônicos e das atividades individuais em sites populares e serviços da internet, a linha entre a realidade e a ficção tornou-se mais tênue. Na vida real, uma lei aprovada em 2001, a Lei Patriótica (Patriot Act), abriu uma brecha para que o governo norte-americano pudesse espionar não só o que acontece no seu território mas também no resto do mundo. A descoberta acirrou uma discussão sobre privacidade, neutralidade

Paulo Whitaker/REUTERS

Desafios e riscos da rede mundial de computadores

e segurança na rede mundial de computadores que já vinha ganhando terreno em vários países. Mas, ainda que existam questões a serem debatidas, não há dúvida de que a internet se firmou como ferramenta fundamental de comunicação para organizações, governos e pessoas. Desde sua abertura comercial, em 1988, até hoje, a internet provocou uma verdadeira revolução: exerceu enorme impacto sobre como lidamos com informações, ampliou os recursos educativos, transformou a economia e os modos de produção, além de ter trazido uma nova dimensão à vida social, modificando-a. A Organização das Nações Unidas (ONU), percebendo o enorme poder e potencial presente na rede, declarou, em maio de 2011, o acesso à internet como direito fundamental do ser humano, por promover a liberdade de expressão e o acesso de direitos civis como a cultura e a educação. Mas há outro lado: a conexão mundial em rede abre caminho para novas formas de guerra comercial, espionagem e monitoramento de adversários políticos e violação de privacidade.

Espionagem pós-moderna

Documentos secretos revelados pelo jornal norte-americano The Washington Post e pelo britânico The Guardian, em junho de 2013, mostraram que o governo dos Estados Unidos espiona na rede a vida dos cidadãos comuns desde 2007. Por meio de um programa secreto chamado Prism, ele monitora sistematicamente os computadores servidores de nove companhias gigantes da tecnologia: Microsoft (Hotmail), Yahoo!, Google (Gmail), Facebook, Skype, YouTube, America Online (AOL), Apple e PalTalk. A justificativa é a segurança nacional dos Estados Unidos. O governo alega que o esquema é necessário para rastrear indivíduos suspeitos de terrorismo e evitar ataques. De acordo com os documentos, o Prism permite que dois órgãos do governo, a Agência Nacional de Segurança (NSA) e a Polícia Federal (FBI) tenham acesso a e-mails, conversas em chats, tráfego de voz, arquivos baixados, comentários, fotos e vídeos em redes sociais, entre outros dados, de todas as pessoas que usam algum dos produtos dessas com-

panhias. Segundo o The Washington Post, 98% dos conteúdos do Prism são extraídos do Yahoo, do Google (Gmail) e da Microsoft (Hotmail). Um dos pontos mais preocupantes em relação ao esquema de espionagem on-line é que ninguém saberia da existência do Prism não fosse por um cidadão: o norte-americano Edward Snowden, 30 anos, um ex-técnico da Agência Central de Inteligência (CIA) e colaborador terceirizado da NSA. Responsável pelo vazamento dos documentos secretos para a imprensa internacional, tornando-os públicos, afirmou que esperava que a ação levasse os governos a uma maior transparência. Ele está sendo acusado de espionagem e roubo de propriedades do governo. Quando sua identidade foi revelada, em junho de 2013, ele estava em Hong Kong, território chinês no Extremo Oriente. Nas semanas seguintes, tornou-se um apátrida fugitivo em busca de um lugar seguro. Em setembro de 2013, conseguiu um asilo temporário na Rússia, porém, sua situação é ainda precária diante das ameaças do governo

NOS eua, snowden pode ser acusado de traição e condenado à pena de morte norte-americano. Chegou-se a falar que pode pedir asilo ao governo brasileiro. Ao vazar os documentos secretos para a imprensa, Edward Snowden colocou-se em sério risco. Promotores norte-americanos acusaram-o de “roubo”, “comunicação não autorizada de informação de defesa nacional” e “comunicação voluntária de informação sigilosa de inteligência para pessoa não autorizada” – que podem levá-lo a uma pena de prisão de até 30 anos. Caso ele seja preso em algum lugar do mundo e repatriado para os EUA, ainda corre o risco de ser acusado de crimes mais graves, como o de “traição” e o de “entrega de informação de defesa para governo estrangeiro”: ambos são passíveis de pena de morte.

Democracia e privacidade

A privacidade é um direito civil fundamental para qualquer pessoa. É um pressuposto para a liberdade de expressão, para a liberdade de reunião e para a liberdade de organização política. É preciso estar livre do monitoramento do Estado para falar com liberdade, se reunir com liberdade e se organizar politicamente com liberdade. É por esse motivo que as primeiras leis de direitos civis criadas na Inglaterra no século XVII para limitar os poderes do governo absolutista proibiram o Estado de interceptar correspondência e invadir domicílios. É nessa longa tradição de proteção aos fundamentos das liberdades que as revelações de Snowden se inserem. Não é por acaso que, para justificar suas atitudes, Snowden recorreu aos princípios do tribunal de Nuremberg, que julgou os crimes do nazismo em 1945, logo após a 2ª Guerra Mundial. Um desses princípios estabelece que indivíduos têm o dever de violar as leis de um país quando se trata de prevenir crimes contra a humanidade. GE atualidades 2014 | 1º semestre

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VEJA COMO FUNCIONA A INTERNET Os Estados Unidos tiveram facilidades para espionar a atividade de pessoas de todos os lugares do globo porque os servidores das maiores empresas da internet, como Microsoft, Yahoo!, Google e Facebook, ficam no território do país.

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5%

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Cabos desse tipo operam no fundo dos oceanos

porcentagem aproximada da internet coberta por satélite

número de backbones existentes atualmente no Brasil

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América do Norte

Ásia

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Seu computador Para um computador se comunicar com outro é preciso que os dois utilizem a mesma linguagem. Essa linguagem é chamada de Protocolo da Internet, ou IP (Internet Protocol). Para que o seu computador se conecte com outros por meio da Internet precisa ter um número que o torne único, chamado Endereço de IP. Esse número é dado pela sua conexão, feita por meio de modem ou de linha telefônica.

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> Provedor de acesso, que conecta um computador à internet, permitindo a navegação na World Wide Web e o acesso a serviços como e-mail. > Provedor de serviço de telecomunicações, que fornece a conexão entre a residência e os servidores do provedor de acesso. Fornecido pelas operadoras de telefonia fixa ou por operadoras de Serviço de Comunicação Multimídia.

EyePress/The Guardian

O governo dos Estados Unidos tenta justificar a caça a Snowden e a legalidade da espionagem através da Lei Patriótica (USA Patriotic Act), aprovada em 2001, depois dos ataques terroristas de 11 de setembro às Torres Gêmeas, em Nova York, e ao Pentágono, em Washington. Com objetivo oficial de “unir e fortalecer a América, fornecendo instrumentos apropriados requeridos para interceptar e obstruir o terrorismo”, a lei permite que o governo tenha acesso à comunicação eletrônica dos seus cidadãos. Ocorre que o esquema permite vasculhar a vida e violar direitos de pessoas nos Estados Unidos e em todo o mundo. Isso porque a maioria dos serviços de redes sociais e de correios eletrônicos norte-americanos usados mundialmente tem seus servidores no território norte-americano (veja o infográfico acima) e estão submetidos às leis nacionais. Portanto, qualquer um que tenha um perfil no Facebook, em qualquer país, pode ter seus dados vasculhados pelo governo dos EUA. Snowden também revelou que uma das maiores empresas de telecomuni-

Provedor de internet Existem dois tipos de provedores:

encurralado Edward Snowden, em uma rara fotografia: após denunciar a espionagem dos EUA, ainda busca asilo político definitivo em algum lugar do mundo

Europa

África

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Conexão global O provedor de acesso à internet pega as informações que saíram do seu computador e as “despeja” em uma rede de conexões que interligam o mundo todo. Grande parte dessa ligação é feita por cabos transoceânicos, chamados de backbones. Eles funcionam como uma grande avenida de fibra óptica, levando os dados até novas redes.

cações dos Estados Unidos, a Verizon, tem entregado à NSA dados telefônicos, como os números discados e a duração das chamadas, de dezenas de milhares de norte-americanos. A justificativa é a mesma: proteger o país contra ataques terroristas. O presidente Barack Obama admitiu o monitoramento, dizendo: “Você não pode ter cem por cento de segurança, cem por cento de privacidade e zero de inconveniência”. Várias empresas de tecnologia se defenderam dizendo que foram forçadas a entregar as informações à NSA. Algumas se juntaram à coalizão Digital Due Process, encabeçada pelo Centro para a Democracia e Tecnologia (CDT), para instituir a exigência de um mandato para obtenção de e-mails e conteúdo da internet, até então desnecessária. Até mesmo um órgão de estado dos EUA, o autônomo Conselho de Supervisão de Liberdades Civis e Privacidade, divulgou relatório no qual considera ilegal o monitoramento em massa de ligações de norte-americanos: o documento levanta indícios de violação à Constituição e aos direitos civis e recomenda

América do Sul Oceania

cabos transoceânicos

o término imediato da coleta diária e do armazenamento dos dados telefônicos. O conselho afirma que, após revisar 12 casos, não encontrou evidências de que o programa Prism tenha abortado ameaças terroristas ou contribuído de forma eficiente para a conclusão de investigações na última década.

Crise diplomática

As revelações de Snowden deixaram governos indignados em diversos países. Na Alemanha, que teve a primeira-ministra Angela Merkel espionada, a ministra da Justiça, Sabine Leutheusser-Schnarrenberger, disse que “quanto mais uma sociedade monitora, controla e observa seus cidadãos, menos livre ela é”. Os documentos revelam também que milhões de chamadas telefônicas e e-mails de brasileiros foram monitorados pelo programa de vigilância norte-americano. A denúncia causou um sério mal-estar entre os governos do Brasil e dos Estados Unidos, pois a violação fere os princípios de não intervenção e respeito à soberania nacional brasileira.

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Servidores Tudo o que acessamos na internet está arquivado em um servidor. Todas as máquinas na internet são ou servidores ou clientes deles. As máquinas que fornecem serviços para outras máquinas são servidores. As máquinas usadas para se conectar a esses serviços são os clientes – nós, nos nossos computadores, somos clientes.

as revelações de espionagem levaram dilma a cancelar a visita de estado aos EUA Em seguida, estourou uma grave crise diplomática, quando se revelou que a espionagem norte-americana teve como alvo as comunicações privadas da própria presidente Dilma Rousseff, além do Ministério da Cultura. Em resposta, o governo brasileiro cancelou a viagem que a presidente faria a Barack Obama em outubro de 2013. Seria uma visita de Estado, o mais importante contato diplomático entre duas nações, quando um país recebe seus parceiros estratégicos para assinar acordos políticos e econômicos. A ida de Dilma era a única visita de Estado prevista nos EUA em 2013, e a primeira de um brasileiro desde a realizada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em 1995.

Quando você se conecta à página do Guia do Estudante, é um usuário sentado em uma máquina de cliente. Você está acessando o servidor de web do Guia. A máquina do servidor encontra a página que você requisitou e a envia para você. Os clientes direcionam suas solicitações para um software específico. Se você está rodando um navegador de internet, ele vai falar com o servidor de web, não com o servidor de e-mail.

A relação entre os dois governos ainda piorou quando se soube que as comunicações da Petrobras e do Ministério das Minas e Energia também tinham sido vasculhadas, o que configura uma espionagem econômica. As informações foram interceptadas no período anterior ao leilão do Campo de Libra, no pré-sal (veja na pág. 122), levantando a suspeita de que as informações coletadas visavam a beneficiar empresas norte-americanas na disputa acirrada e de interesse mundial pelas reservas de petróleo do Brasil. Como parte de sua resposta diplomática, a presidente Dilma, em seu discurso na Assembleia Geral anual da ONU, defendeu que a organização passasse a “desempenhar um papel de liderança no esforço de regular o comportamento dos Estados frente a essas tecnologias”, e o governo brasileiro cobrou do governo norte-americano explicações sobre as denúncias, por escrito e formais, além de um pedido de desculpas e o compromisso de que os fatos não se repetirão. O governo dos EUA deu explicações vagas, mas não atendeu aos pedidos. • GE atualidades 2014 | 1º semestre

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O início da internet

O poder na web está nas mãos de poucos

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ascida há 26 anos, a internet encurtou distâncias e facilitou globalmente o acesso à informação. Isso vem provocando grandes mudanças. Mas, não por acaso, sua estrutura expressa uma das características do mundo contemporâneo: o domínio dos Estados Unidos no cenário internacional como uma potência hegemônica. As denúncias de espionagem mostraram o enorme poder que o Estado norteamericano possui na rede mundial de computadores, e isso é uma marca sua desde o berço. O surgimento da internet, nos anos 1960, está relacionada ao contexto da Guerra Fria, período do pós-guerra, entre 1945 e 1991, em que os Estados Unidos (EUA) e a União Soviética (URSS), liderando blocos ideológicos antagônicos, disputavam a hegemonia econômica e a influência política, militar, ideológica e até esportiva em todos os continentes.

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No ambiente de tensão da época, crescia no Departamento de Defesa dos EUA a preocupação com o fato de que toda a comunicação das Forças Armadas norte-americanas estava centralizada em um único computador, no complexo do Pentágono, em Washington. Para evitar que o sistema militar pudesse entrar em colapso na hipótese de um ataque soviético, um órgão ligado ao Departamento de Defesa, a Agência de Projetos em Pesquisas Avançadas (Arpa, na sigla em inglês), desenvolveu um projeto de interligação de computadores de várias universidades norteamericanas. Essa rede, sem um centro definido, foi batizada de Arpanet, e entrou em operação em 1969. No decorrer da década seguinte, seu alcance se expandiu para outras universidades, com uma capacidade de transmissão e troca de informações ainda pequena, baseada no uso de telefones analógicos. A partir dos anos 1980, com o desenvolvimento da fibra óptica, as possibilidades de conexão melhoram muito, abrindo espaço para a viabilização de uma rede de uso civil mais ampla. Paralelamente, crescia o número de computadores pessoais. Entre 1987 e 1997, o número de PCs conectados no planeta saltou de 10 mil para 10 milhões. Além dos avanços na transmissão de informações, a padronização da forma de troca de dados foi fundamental para expandir a rede. Em 1989, o engenheiro inglês Tim Berners-Lee, do Centro Europeu de Pesquisa Nuclear (Cern), criou um padrão para organizar informações em texto e imagem: o formato de hipertexto (textos conectados através de links) foi responsável por manter as informações interligadas e permitir a consulta de dados em outros documentos sobre o mesmo assunto. É a origem do http, abreviação em inglês para “protocolo de transferência de hipertexto”.

Ainda no início da década de 1990, Berners-Lee lança a “world wide web, ou www” – a rede mundial de computadores –, que logo se transforma no sistema pelo qual circulam as informações organizadas em hipertexto em todo o planeta. O impulso que faltava para a disseminação da internet vem com o surgimento de programas específicos de navegação pela rede para computadores pessoais, como o Netscape (1994) e o Explorer (1995). Entre o fim dos anos 1990 e o início do século XXI, a expansão da internet é marcada principalmente pelo crescimento dos sites de busca, que vasculham a rede por meio de seus algoritmos (veja box na página ao lado) atrás de assuntos de interesse do internauta e os apresentam por ordem de relevância, segundo critérios nem sempre claros. O Google, criado por Sergey Brin e Larry Page em 1998, em poucos anos passou a dominar o segmento de ferramentas de buscas. À medida que a internet se expande, amplia-se sua estrutura física, com cabos transoceânicos, servidores e provedores, boa parte deles mantidos em território norte-americano (veja o infográfico na pág. 78). A partir de meados da década de 2000, um novo tipo de site começa a conquistar espaço com o lançamento do MySpace (2003), do Orkut (2004), do Facebook (2004) e do Twitter (2007). É o início da expansão das redes sociais, sites em que os internautas cadastram amigos e formam teias de relacionamento. Lançado por Mark Zuckerberg, um estudante da Universidade Harvard, o Facebook disputa atualmente com o Google o título de site mais acessado do planeta. Outro tipo de sites são os chamados colaborativos, em que o conteúdo é construído pelos próprios usuários da rede de forma pública e gratuita, como a Wikipedia, criada em 2001. Foi por meio do site colaborativo WikiLeaks,

Jason Lee/REUTERS

olHO ViVO A sede do Google em Pequim, capital chinesa, em frente a uma câmera de vigilância: na China, o estado faz uma forte censura à internet

criado e dirigido pelo australiano Julian Assange, que foram divulgados documentos secretos dos EUA com interesse político global: dezenas de milhares de documentos sigilosos da diplomacia do país enviados para o site revelaram segredos sobre guerras, negociações secretas e avaliações sobre outros países, entre muitos assuntos. A divulgação causou crises não só no governo norteamericano, mas, pela gravidade das questões tratadas, em muitos outros, incluindo o brasileiro. Perseguido por vários governos, Assange acabou se refugiando na embaixada do Equador em Londres desde junho de 2012, e, assim como Snowden, pode ser julgado por espionagem, fraude e abuso de informação, caso seja extraditado para os Estados Unidos. Paradoxalmente, as autoridades norte-americanas teriam retirado informações privadas sobre internautas do mundo todo nas grandes empresas de tecnologia, como Google, Facebook, Microsoft, Yahoo!, America Online (AOL) e Apple, sob o pano da defesa da segurança nacional.

Terra sem lei

Cerca de um terço da humanidade atualmente usa a internet: são mais de 2 bilhões de pessoas. Com tanta gente conectada em uma rede que existe há poucos anos e cresce numa velocidade espantosa, abriu-se um grande terreno para o lazer, os negócios, a educação e a cultura, mas também para atividades ilegais e criminosas. Ainda não houve tempo para que as leis deem conta dessa nova realidade. Não houve tempo nem para um consenso amplo sobre tudo o que é ou não lícito, moral ou ilegal em termos virtuais. De certa forma, todos ainda estão aprendendo a se relacionar com esse novo ambiente. O comércio ilegal de armas ou a pedofilia é crime na internet ou fora dela. Violar a privacidade alheia era ilegal há 30 anos, e continua sendo agora. As leis existem, mas têm de ser aprimoradas para se adequarem à nova realidade. A preocupação com esse problema é internacional. Vários países apresentaram, recentemente, a ideia de avançar em uma regulamentação global para o uso da rede de computadores, temero-

Como funciona um algoritmo? 010011010110 Como o computa010101001011 dor faz as tarefas como 010011010110 exatamente você quer? A res010001001101 posta para esta 011001010100 pergunta é mais

simples do que parece: ele segue as instruções. Para que consiga entender o que o usuário quer, ele precisa de uma linguagem específica. Para fazer essa interação entre homem e máquina, foram desenvolvidas as linguagens de programação, que usam uma ferramenta lógica: os algoritmos. Um algoritmo nada mais é do que uma receita passo a passo dos procedimentos necessários para a resolução de uma tarefa. Em termos mais técnicos, é uma sequência lógica e definida de instruções a serem seguidas para resolver um problema ou executar uma tarefa. GE atualidades 2014 | 1º semestre

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AS COMUNICAÇÕES, DAS LETRAS À INTERNET O planeta Terra possui o mesmo tamanho desde que a humanidade surgiu, mas a capacidade inventiva dos seres humanos fez com que as distâncias pareçam menores. Essa mudança perceptiva evoluiu com o avanço do conhecimento e transformou a vida em sociedade. 3.200 a.C. Primeiras letras Os sumérios criam a primeira forma de escrita, baseada em figuras. O alfabeto silábico seria inventado depois pelos fenícios, tornando a escrita mais fácil de ser aprendida.

sos com a violação da privacidade de internautas, a facilidade para articulação de ações criminosas e a possibilidade de espionagem em larga escala. A União Europeia enviou a governos de todo o mundo, em fevereiro de 2014, uma proposta para a restruturação da internet visando a reduzir o poder dos EUA na rede. O intuito é descentralizar a organização responsável pela distribuição de domínios na rede, a Corporação para Atribuição de Nomes e Números na Internet (Icann), com sede nos EUA, e transformá-la num órgão internacional. A Icann é uma entidade sem fins lucrativos, subordinada ao governo norte-americano, e segue as leis do país. Para administrar a internet, os europeus querem o fortalecimento de entidades globais e a criação de novos organismos multilaterais. No Brasil, o debate sobre as regras da internet ganhou força em 2013, com a tentativa de aprovação na Câmara dos Deputados do chamado Marco Civil da Internet, uma espécie de Constituição do setor. Após iniciativa do Ministério da Justiça, o Projeto de

1417 Além-mar É criada a Escola de Sagres, em Portugal, centro de estudos sobre o mar e construção naval. Aperfeiçoadas no século XV, as caravelas abriram caminho para as Grandes Navegações, ligando os continentes.

CARL COURT/afp

550 a.C. No lombo A rede mais antiga de correio nasceu com Ciro II, rei da Pérsia, que desenvolveu um sistema de entrepostos de parada para os homens que levavam cartas a cavalo com segurança e rapidez.

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1455 Textos impressos Johannes Gutenberg foi o responsável por desenvolver prensas que permitiram aos europeus iniciar a impressão de textos em série, superando a época dos copistas.

2.900 a.C. Pombo-correio A troca de mensagens por meio dessas aves resistiu ao tempo. Os registros mais antigos datam do Egito de Ramsés II, e até hoje há quem as utilize.

perseguido Julian Assange, na embaixada do Equador em Londres: com seu site, WikiLeaks, divulgou documentos secretos do governo dos EUA

1826 Imagens de longe O francês Joseph Nicéphore Niépce registra a primeira imagem fotográfica. Com a foto, pode-se ver imagens realistas de lugares distantes, de pessoas de outras culturas e de situações desconhecidas.

1876 Fala que eu escuto O escocês Alexander Graham Bell (1847-1922) patenteou o telefone nos Estados Unidos. Com a invenção, passou a ser possível conversar com quem estava a grande distância.

1837 Contatos imediatos O norte-americano Samuel Morse (1791-1872) criou o telégrafo, primeiro aparelho que permitiu a comunicação à distância por meio de fios e da eletricidade. Em 1835, ele tinha inventado o Código Morse.

1895 Imagens em movimento Os irmãos Lumière fazem em Paris uma exibição do cinematógrafo, que mostrava imagens de operários saindo de uma fábrica. É o nascimento do cinema, com forte impacto na cultura do século XX.

Lei nº 2.126 foi apresentado à Câmara dos Deputados em agosto de 2011. Sua aprovação virou prioridade para o governo federal a partir de junho de 2013, quando estourou a denúncia de espionagem dos Estados Unidos: nesse momento, a aprovação do Marco Civil virou uma forma de o governo brasileiro reagir à situação. No final de 2013, foram incluídos no projeto artigos que obrigam grandes sites e provedores de acesso à internet a manter centros de dados em território nacional para armazenar por aqui as informações sobre a navegação dos brasileiros. A ideia é dificultar o monitoramento de outros países, principalmente dos EUA. Logo, a proposta foi criticada por sua eficácia duvidosa, pois mesmo empresas internacionais que já armazenam dados em nosso país replicam essas informações em servidores no exterior. De fato, acabar com atos de espionagem seria difícil, mas a simples obrigatoriedade de armazenar dados no Brasil poderia levar as empresas que atuam no país a responder à Justiça brasileira, caso aconteçam vazamentos de informações.

WWW

14 bis

Neutralidade na rede

1906 Quando ganhamos asas Secretamente, os irmãos Wright teriam feito o primeiro voo com um avião em 1903. Mas foi em 1906, em Paris, que o brasileiro Alberto Santos Dumont voou publicamente em seu 14-Bis.

1900 Ondas sonoras Por volta da virada do século XX, acontecem as primeiras transmissões radiofônicas. As transmissões de rádio alcançaram locais longínquos e atingiram um público amplo.

Se o armazenamento de dados entrou no debate do Marco Civil de última hora, outro ponto causou polêmica desde o início da elaboração da lei. Trata-se da definição sobre a neutralidade na rede, questão que envolve as formas de cobrança que podem fazer as empresas que oferecem acesso à internet – principalmente as telefônicas. Pressionadas a investir em melhorias na infraestrutura e vendo usuários consumirem dados cada vez mais pesados – como vídeos e serviços de voz –, as teles passaram a estudar cobranças pelo tipo de conteúdo que o usuário utiliza, e não só de acordo com a velocidade de conexão, como ocorre hoje. Elas planejam desenhar pacotes que poderiam, nos modelos mais simples, oferecer acesso só a e-mails e redes sociais, restringindo a navegação. “Quem usa mais deve pagar mais, como ocorre com a água e com a luz”, afirmou Eduardo Levy, do Sindicato Nacional das Empresas de Telefonia, em debate na Câmara dos Deputados em novembro de 2013. Principal ponto defendido pelo governo no

1929 Da sala de jantar O cientista russo Vladimir Zworykin (1889-1982) apresentava o kinoscópio, o precursor da televisão. Com ele, foi possível ver o que se passava em outros lugares.

1991 Rede global O norte-americano Berners-Lee divulga o projeto da World Wide Web e marca o nascimento da rede como um serviço público da internet.

1957 Voo espacial Foi lançado pela União Soviética o primeiro satélite artificial, o Sputnik 1. Com os satélites, passou a ser possível investigar o universo, fazer previsões meteorológicas, além de aprimorar transmissões.

2013 Conectados Com a popularização dos smartphones, há hoje mais de 85 milhões de conexões de internet por meio de celulares no Brasil.

projeto de lei, a neutralidade serviria para impedir esse tipo de cobrança, garantindo que todos os conteúdos e usuários da internet sejam tratados da mesma maneira – em outras palavras, de forma neutra. Para os defensores da neutralidade – incluindo órgãos de defesa do consumidor –, a cobrança por tipo de conteúdo provocaria exclusões no ambiente da web, impedindo que a população de baixa renda tenha acesso aberto à rede. Também abriria a possibilidade para um controle do conteúdo disponível para os internautas: portais e sites maiores poderiam fechar acordos comerciais com as teles para obter prioridade na circulação de seus

no brasil, está em debate o marco civil da internet, nova lei para regular o setor

serviços dentro dos pacotes oferecidos. Em defesa do conceito de neutralidade da rede, também no debate na Câmara dos Deputados, Demi Getschko, membro do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), usou uma analogia: “Não há nada de anormal na neutralidade. Os elevadores de um prédio são neutros. Os moradores do local pagam a mesma taxa de condomínio, independentemente do número de vezes que utilizam o serviço”. A neutralidade da rede e o armazenamento de dados são os temas que mais geraram polêmicas nas discussões do Marco Civil – que prosseguiam no Congresso no começo de março de 2014. Mas a nova legislação não se resume a isso. Ela servirá também para tornar mais claros conceitos envolvendo a liberdade de expressão na internet – podendo isentar sites e portais por conteúdos postados por terceiros, como comentários de internautas – e o direito à privacidade – garantindo a inviolabilidade e o sigilo sobre as informações dos usuários, que só poderiam ser quebrados por ordem judicial. • GE atualidades 2014 | 1º semestre

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dossiê internet dinheiro virtual Café em Vancouver, no Canadá, aceita bitcoins: a moeda virtual deixa o ambiente da rede e se transforma em mercadoria palpável

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Muitas empresas estão atentas ao que acontece na rede, já que é possível saber muito sobre os usuários com informações fornecidas espontaneamente. A Target, uma rede de lojas norte-americana, desenvolveu um algoritmo que descobre quais clientes estão grávidas e então oferece a elas produtos para gestantes e bebês. O algoritmo cruza dados sobre o consumo feminino e, se uma mulher de 23 anos comprou uma loção de manteiga de coco, suplementos alimentares, uma bolsa grande e um tapete azul, há 87% de chances de ela estar grávida. Como o volume de pessoas que usa a internet cresce continuamente, casos como o da Target devem se tornar mais frequentes. O número de pessoas que compram por meio das redes sociais, ou por sua influência, assumirá um papel de destaque nos próximos anos, diz um estudo do banco Barclays, realizado no Reino Unido. Em 2021, o levantamento prevê que 41% dos consumidores serão influenciados pelas redes sociais ou deverão usá-las para pesquisar e realizar suas compras.

Globalização

No mundo informatizado, boa parte dos hábitos de consumo são tendências mundiais. Isso acontece pois vivemos em um mundo globalizado. O próprio processo de globalização está intimamente ligado ao nascimento da internet. Sua característica central é a interdependência entre os atores econômicos globais – governos, empresas e movimentos sociais. O início da globalização é marcado simbolicamente pela queda do Muro de Berlim, em 1989, e pela derrocada da União Soviética e dos demais regimes comunistas, cuja maioria das economias desses países foram, nos anos seguintes, integrando-se ao mercado global. A revolução tecnológica dos anos 1990, especialmente nas telecomunicações, potencializou as possibilidades de integração econômica à distância. Nesse cenário, houve uma circulação mais veloz de capital pelo globo, facilitando os investimentos diretos e os movimentos especulativos. As cadeias produtivas se espalharam, com fábricas sendo transferidas (relocalizadas) para países com menor custo de produção,

Ralph D. Freso/REUTERS

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episódio de espionagem em rede mostra que qualquer usuário pode ser negativamente afetado pela falta de segurança e de regulamentação na internet, tendo violado seu direito à privacidade. Quando você utiliza a web, invariavelmente deixa informações na rede a respeito de suas atividades, suas preferências e seus interesses. Isso pode ser utilizado sem que você saiba. Ao mesmo tempo que o governo dos Estados Unidos espiona dados sobre milhões de pessoas, em busca de eventuais inimigos e alvos perigosos, muitas organizações ou empresas traçam perfis de usuários para desenvolver suas atividades e direcionar suas ações virtuais. Até onde essa atividade é ética? A partir de qual ponto deixa de ser ética e passa a ser um abuso, passível de ser proibido por lei? Essa é uma questão para os que discutem a legislação do setor.

Andy Clark/REUTERS

Informação e mercadoria no mundo globalizado

como salários mais baixos, menos impostos, incentivos governamentais e legislação mais flexível. Mas a riqueza continua fortemente concentrada no grupo de países ricos, onde estão as matrizes das grandes multinacionais, e isso reforça a desigualdade entre as nações (veja infográfico na pág. 86).

E-commerce e trabalho

No final da década de 1990, o papel da internet na economia mundial já havia crescido tanto que muita gente acreditou que a internet, por si só, seria um bom negócio. Surgiram empresas pontocom – que operam só pela rede de computadores – e os investidores compraram suas ações, esperando um retorno irreal. O fenômeno conhecido como a “bolha da internet” estourou em março de 2000, levando à derrocada de inúmeras empresas, e a bolsa eletrônica Nasdaq – criada para registrar as cotações das empresas pontocom – passou por uma crise de grandes proporções. Companhias que valiam fortunas sumiram do dia para a noite. Entre os motivos que causaram o desastre finan-

labirinto Depósito da Amazon, no Arizona (EUA): empresas de comércio on-line estão em crescimento no mundo todo, incluindo o Brasil

ceiro, um era técnico: muitos serviços lançados na época dependiam de uma infraestrutura que ainda não havia chegado aos clientes em potencial, como a banda larga atual, que permite conexão mais rápida e estável. Esse cenário mudou nos últimos anos e transformou os hábitos de produção e de consumo. Estima-se que a Economia da Internet (EI), que inclui empresas ligadas à internet e às tecnologias de informação e de comunicação, tenha sido responsável em 2010 por 4,1% do PIB do G-20 (grupo com os países mais ricos do mundo e os principais emergentes). No Brasil, cresce o volume de vendas efetuadas pela internet (o chamado e-commerce, expressão vinda do inglês),

paralelamente ao aumento do número de pessoas com acesso à rede (veja infográfico na pág. 90). Em 2010, mais de 3% das transações no varejo brasileiro foram feitas eletronicamente, e outros 4% das vendas foram resultado de pesquisas dos consumidores pelo computador, com compra depois na loja. No total, foram movimentados cerca de 34 bilhões de dólares. O número de cartões de crédito e débito emitidos no país também está crescendo, o que reforça a possibilidade de compras on-line. A internet afeta também o mundo do trabalho. Ao facilitar o acesso à informação, o uso da internet aumenta em muito a produtividade nas empresas, sobretudo as dos setores bancário e de comunicações. A rede de computadores também facilita que as empresas tenham parte de seus funcionários alocados à distância, às vezes até em outros países. Um dos desafios presentes é evitar que isso aumente a precarização das relações de trabalho, com mais indivíduos trabalhando sem os direitos legais, como garantia de salários, de jornada de trabalho e de férias. GE atualidades 2014 | 1º semestre

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dossiê internet

A INTERNET E A GLOBALIZAÇÃO

A Economia da Internet no Brasil Contribuição ao PIB (em US$ Bilhões)

A internet teve importante papel no processo de globalização. Com ela, foi possível interligar o mercado mundial e aumentar as exportações, tornando as transações econômicas mais rápidas, e os movimentos de capitais, instantâneos.

46

O impacto da internet no comércio no Brasil Do total de vendas do varejo, em %

Comparação da Economia da Internet com outros setores da economia (participação no PIB, em %)

total Empresas na Economia da Internet As empresas ligadas à internet e à tecnologia da informação e comunicação compõem o que se chama de Economia da Internet (EI).

Evolução das exportações, por grupos selecionados (em US$ Bilhões)

Tamanho da EI

10.000

em 2000

Receita em 2011

250 maiores empresas de EI do mundo EUA (82 das maiores EI)

Brasil (7 das maiores EI)

Empregados

(em US$ milhões)

Lucro Líquido

8.000

2.209.822 4.602.598

6.659.195 14.227.275

156.763 335.106

Consumo

20.286 68.477

2.451.885 4.084.060 28.448 80.488

Investimento Saldo das transações internacionais

4.000

Em dez anos, as 250 maiores empresas de EI mais do que dobraram de número de empregados, receita e lucro líquido.

As 82 maiores da EI dos EUA tiveram mais da metade do lucro líquido das 250 maiores empresas de EI.

86 GE atualidades 2014 | 1º semestre

0

em relação ao PIB Brasil

4,3

Eletricidade

2,7

Serviços de informação

2,7

Extração Mineral

2,5

Internet

2,2

0 1953

1963

1973

1983

1993

2003

2010

92,9% realizadas sem auxílio da internet

2012

Pirataria digital

Enquanto o e-commerce cresce, outra prática realizada na internet movimenta a rede e dissemina produtos, mas de forma bem diferente: a pirataria. Na atualidade, pirataria passou a significar principalmente o desrespeito aos direitos sobre propriedade intelectual, seja pela produção para a venda, seja pelo uso indevido de obras – como livros, músicas e marcas – e de seu conteúdo, visando a lucrar com isso. Os exemplos típicos são as cópias pirateadas de filmes ou roupas de marcas conhecidas vendidas pelas ruas. Em sentido mais polêmico, há os que estendem o termo pirataria para as cópias de músicas, softwares, textos ou fotos compartilhadas em rede de forma gratuita. Gravadoras, estúdios de cinema e outras empresas que arrecadam com pagamento de propriedade intelectual trabalham para inibir a distribuição indevida de obras sobre as quais têm direitos. A MPAA, associação norte-americana de produtores de filmes, estima que a pirataria digital custe à economia dos EUA o equivalente a 58 bilhões

-6

2,2% Economia da Internet

2.000

No Brasil, a receita das maiores empresas triplicou em dez anos e foram criados 52 mil postos de trabalho.

14

4% realizadas nas lojas a partir de pesquisas na internet: 19 bilhões de dólares

3,1% realizadas on-line: 15 bilhões de dólares

4,8

Transporte

78.138 175.764 2.830 7.973

5,7

Agropecuária

34

Construção

6.000

691.482 1.637.517

10,7

Comércio

América do Norte e Europa Ásia Oriente Médio America do Sul e Caribe África

(em US$ milhões)

13,4

Logística

4 Gastos governamentais

O que é deep web? Muitas páginas da web foram desenhadas de modo a não liberar o acesso vindo de uma conexão comum nem se deixar encontrar pelos algoritmos indexadores do Google ou por outros mecanismos de busca. Esse conjunto de páginas e documentos foi batizado de deep web, ou rede profunda. Isso não significa atividade ilegal. Há várias organizações que usam a estrutura da deep web de forma lícita. Universidades, por exemplo, podem usar a rede não indexada para limitar o acesso a artigos acadêmicos. Existem redes secretas disponíveis só para as agências governamentais. A organização WikiLeaks depende da deep web para que seus colaboradores fiquem anônimos. O ciberativismo contra ditaduras também utiliza essa rede. Mas existe também o lado ilegal da deep web, representado por fóruns ligados a terrorismo, pedofilia, sexo, além de mercados de droga, em sites como o Silk Road e o Atlantis. Uma peça fundamental nessa estrutura é o browser Tor (The Onion Router), porta de entrada para muitas dessas páginas. O sistema faz a conexão com os sites escondidos usando uma rede intrincada de servidores, arquitetada para impedir tentativas de rastreamento. Identificar a origem do acesso é muito difícil, o que facilita o anonimato dos usuários. As transações nos sites de venda da deep web utilizam moedas criptográficas, como a bitcoin e a litecoin, que não têm uma entidade central, como um banco, para controlar sua origem e destino. Há agências nas quais se pode comprar bitcoins com dinheiro real ou resgatá-las. Os portadores das moedas criptográficas fazem compras anonimamente, viabilizando as transações mesmo que ilegais.

Fontes: IBGE, OCDE; OCM; Relatório do The Boston Consulting Group 2012;

de dólares por ano. As crescentes perdas de receita da indústria fonográfica e audiovisual estimularam, nos Estados Unidos, um contra-ataque legal. Em 1997, o então presidente dos EUA, Bill Clinton, assinou a Net Act, que torna crime distribuir conteúdo protegido sem autorização. Mais tarde, a lei seria usada para incriminar os sites Napster, de troca de música, e Megaupload. Sob o argumento de “defender a criatividade, o empreendedorismo e a inovação e combater o furto de propriedade intelectual norte-americana”, dois projetos foram apresentados no Congresso dos EUA em 2012: a SoPA (a chamada lei para barrar a pirataria on-line) e a PiPa (Lei de Proteção do IP). No final, as propostas foram derrubadas por pressão de empresas e organizações da sociedade civil, sob o argumento de que atentavam contra a liberdade de expressão na internet. A discussão no Brasil sobre o Marco Civil da Internet também objetiva estabelecer regras sobre direitos autorais e uso de conteúdo digital. Em 2013, o governo aprovou uma lei que modifica

Em 1997, os EUA Torrents Nos debates sobre a difusão de conadotaram uma lei teúdos na internet, nos últimos tempos, que torna crime falou-se muito do torrents. O torrent nada mais é do que uma forma de comdistribuir obras partilhamento de arquivos. Torrent é sem autorização a extensão de arquivos utilizados por a gestão de direitos autorais e define as condições de cobrança e distribuição de recursos pagos por direitos sobre obras. Com a expansão da internet, que facilita e barateia a reprodução e a distribuição de obras, a própria noção de propriedade intelectual voltou a ser questionada. Milhões de pessoas disponibilizam expressões de sua atividade intelectual em posts, blogs, podcasts e tantos outros meios on-line. Lawrence Lessig, escritor e professor de direito norte-americano, criou a organização Creative Commons, em 2001, que estimula as pessoas a abrir mão de uma parte dos direitos sobre sua propriedade intelectual, escolhendo outros tipo de licença para que a sua produção circule mais ampla e livremente.

um protocolo de transferência do tipo P2P (peer to peer, ou seja, de igual para igual, em inglês). A transferência acontece da seguinte forma: os arquivos são divididos em partes e cada pessoa que tem o arquivo ajuda a fazer o upload a outros usuários. Isso reduz significativamente o consumo de banda do distribuidor original do arquivo, e não é necessário que o arquivo inteiro fique armazenado em um servidor. Por causa da popularização de sites de compartilhamento, como o The Pirate Bay, muitas pessoas associam o torrent à pirataria. Porém, existem organizações que usam esse tipo de arquivo para compartilhamento de arquivos de forma totalmente legal, como os arquivos criados pelo sistema de software livre Ubuntu, utilizado no sistema operacional chamado Linux. • GE atualidades 2014 | 1º semestre

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dossiê internet ao vivo da praça Manifestantes contra o governo de Hosni Mubarak, na Praça Tahir, em 2011: via Internet, o palco dos acontecimentos ficou plugado ao mundo

A vida em rede a partir da Internet e seu impacto

ou com um grupo fechado. Na internet, crescem as ferramentas disponíveis para se comunicar com muitas pessoas simultaneamente, com serviços como o GTalk, do Google, o Twitter ou o Skype. Na década passada, as redes sociais passaram a ter um papel político na convocação de mobilizações em vários países. Desde então, cresceram as situações nas quais foram utilizadas como ferramentas importantes de comunicação e organização de movimentos coletivos.

Interatividade

88 GE atualidades 2014 | 1º semestre

PATRICK BAZ/AFP

C

om pouco mais de duas décadas de existência, a rede mundial de computadores se entranhou profundamente no tecido da sociedade contemporânea. Nesse período, deixou de ser uma invenção tecnológica conhecida por poucos para se transformar em uma ferramenta presente de maneira marcante no dia a dia de bilhões de pessoas. A cada dia, a web se transforma e se dinamiza, conforme novas formas de interação são inventadas e outras caem em desuso. Atualmente, a atenção se volta para as redes sociais on-line, que se tornaram mais populares do que o uso de e-mail, as mensagens de texto por meio de celular e as ligações telefônicas. Esse processo causa impacto em como as pessoas se relacionam, pois multiplicam as possibilidades de comunicação. O telefone já permitia comunicar-se à distância de forma fácil, mas com uma pessoa por vez,

Em seu nascimento, a web ainda não era interativa. Quando surgiu a interface gráfica da internet, em 1991, seu conteúdo era meramente expositivo, ou seja, combinava texto e imagem por meio de páginas interligadas. Em pouco tempo, começou o desenvolvimento de novos recursos, e o início da troca de informações em rede era feito por meio de fóruns, nos quais os interessados postavam informações. Nessa época, ainda não existia o conceito de blog. Eles surgiram como uma evolução de diários on-line, nos quais as pessoas mantinham informações constantes sobre suas vidas pessoais. No início de 2000, o formato que conhecemos hoje começa a ganhar popularidade e são acrescentadas ferramentas, como os comentários, modificando para sempre a maneira como as pessoas interagem on-line. A primeira rede social, a SixDegrees. com, foi criada em 1997. Desde então, houve uma verdadeira avalanche. Algumas comunidades não vingaram ou duraram pouco, outras caíram no gosto do público e gozam de sucesso. Com o surgimento do Facebook, em 2004, as redes sociais transformaram-se em um fenômeno global. A princípio, esses sites permitem que as pessoas construam um perfil público e mantenham uma lista de relações que também usam o GE atualidades 2014 | 1º semestre

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dossiê internet

WEB INDEX

A PRESENÇA DA INTERNET NO MUNDO Os usuários por continente Divisão percentual dos usuários de internet pelas regiões do mundo, 2012

Importância da internet em cada região População com acesso a internet por região, em %, 2012 América do Norte

América América do Norte Latina e Caribe 21,5 11,4 África 10,6 Oriente Médio 7 Oceania 3,7 1

Europa Ásia 44,8

78,6

Oceania

67,6

Europa

63,2

Am. Latina e Caribe

42,9

Oriente Médio

40,2

Ásia África

27,5 15,6

COMPARANDO DADOS Comparando o gráfico e a tabela, vemos o seguinte dado: no primeiro, os asiáticos respondem por 44% dos usuários de internet no mundo. Mas, na própria Ásia (salvo o Oriente Médio), apenas 27,5% das pessoas usam a internet. Parece contraditório, mas a explicação é que o continente asiático é, de longe, o que possui a maior população mundial.

Brasileiros usam muito as redes sociais Serviços utilizados, em % sobre o total de usuários, 2012/2013 redes sociais

73

e-mails

70 59

mensagens serviços de voz

23

usam microblogs

15

listas de discussões

12

blogs e sites

11

não utilizam a internet para se comunicar

11

Hábitos na internet Note que, neste gráfico, a soma das porcentagens ultrapassa os 100%. Isso acontece porque boa parte dos entrevistados utiliza mais de um serviço. Apenas 27% deles não estão presentes em nenhuma rede social. A pesquisa não indica a consulta a sites noticiosos ou pesquisas.

O ranking da Web O Web Index, um ranking feito pela Fundação World Wide Web, avalia 81 países, menos da metade dos existentes. Segundo os critérios do índice, as nações em que a internet mais contribui para o desenvolvimento social e para o respeito aos direitos humanos recebem o índice 100, e as em que menos contribui, recebem zero. Os indicadores avaliam o acesso à rede, a liberdade de utilização, o tipo de conteúdo que circula e é assistido, e a capacitação realizada por governos para que seus cidadãos saibam utilizar bem a internet. Abrange também indicadores de impactos econômicos, sociais e políticos da Web.

Suécia Lidera o ranking, com a pontuação 100. Em 2009, o país criou uma lei para que todos tenham acesso a banda larga e deu incentivo fiscal para que as empresas ampliassem esse serviço.

90 a 99,9 80 a 89,9 70 a 79,9 60 a 69,9 50 a 59,9 40 a 49,9 30 a 39,9 20 a 29,9 10 a 19,9 0 a 9,9 sem informação

Fontes: Internet World Stats; Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação;Fundação World Wide Web

sistema. Possibilitam também ao usuário utilizar diferentes recursos tecnológicos, como conectividade móvel, mensagens instantâneas de texto, fotos, áudios e vídeos, capazes de alimentar uma gama de interesses e práticas. A partir dessas conexões, as pessoas passaram, a todo momento, a agir em rede para compartilhar novidades de suas vidas cotidianas, trocar opiniões, informações, interesses e sentimentos, namorar, fazer amizades, renovar velhos laços afetivos, estabelecer contato com parentes distantes, acessar notícias nacionais e internacionais, indicar vídeos, livros, exposições e filmes, anunciar seus trabalhos, estabelecer contatos profissionais e realizar parcerias de negócios. Passaram também a utilizar as plataformas sociais para promover ações políticas, ambientais, culturais e sociais. A nova geração de serviços na internet, que valoriza o conteúdo colaborativo gerado entre internautas em sites e redes sociais, faz parte de um movimento conhecido por web 2.0, que levou a rede mundial de computadores à atual expansão, sem precedentes.

90 GE atualidades 2014 | 1º semestre

Conectados e politizados

Memória e Tecnologia Antes da invenção da escrita, o processo de transferência de informação era basicamente oral. Para isso, usavam-se métodos de memorização, chamados de técnicas mnemônicas, com o objetivo de assegurar a unidade política, social e religiosa do grupo e repassar o conhecimento de uma determinada cultura para seus descendentes. Há alguns séculos, antes da facilidade de se deslocar com documentos impressos, essas técnicas foram muito desenvolvidas por funcionários, religiosos e diplomatas. As necessidades de memorização do ser humano mudam segundo suas condições de acesso a informações. Como a internet trouxe possibilidades novas de amplo acesso a todo tipo de documentos e arquivos, muitas coisas que era preciso guardar de memória hoje podem ser acessadas por smartphones ou laptops. Há cientistas que já investigam o impacto da chegada da internet sobre o uso da memória humana. Há um estudo da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, indicando que as pessoas estão cada vez mais dependentes das informações armazenadas no mundo on-line, usado como uma memória externa auxiliar. O chamado “Efeito Google” não estaria, no entanto, nos tornando mais limitados intelectualmente. Para o estudo, por não precisar mais decorar datas, nomes e locais, podemos usar nossa capacidade cerebral de forma a compreender melhor os processos, reorganizando a maneira como guardamos informações no cérebro. Os cientistas acreditam que, com a evolução tecnológica, o cérebro passa a ser usado para atividades mais nobres, como raciocinar sobre os fatos, em vez de simplesmente ter de trabalhar para armazená-los.

O primeiro movimento político que se notabilizou por contar com a ajuda da internet para ganhar visibilidade aconteceu no México, há cerca de 20 anos. Em janeiro de 1994, o México adere ao Nafta (Acordo de Livre Comércio da América do Norte) ao lado de Canadá e EUA. Explode em Chiapas, estado mais pobre do país, uma rebelião na qual índios camponeses se unem através do Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) e exigem mudanças sociais e econômicas. O EZLN começa então a criar uma rede de solidariedade virtual, que auxiliou na comunicação entre os insurgentes e a imprensa, a sociedade civil, organizações internacionais e até com o governo mexicano. A internet ocupou um papel central para a articulação dos zapatistas e de seus apoiadores, que buscavam uma estratégia de ação para enfrentar a violência dos agentes do governo mexicano nas terras indígenas. Com o surgimento e a expansão das redes sociais, a internet se tornou uma ferramenta política na organização de movimentos de massas. Uma das

Brasil Está em 33º no ranking. No relatório, é elogiado pela lei de transparência em dados relacionados com o governo e pelas iniciativas de mídia independente.

primeiras evidências marcantes desse fenômeno ocorreu em 2009, logo após a confirmação da reeleição de Mahmoud Ahmadinejad à Presidência do Irã, oficialmente com 63% dos votos. As ruas de Teerã, capital do país, foram ocupadas por manifestantes que acusavam o governo de ter fraudado a eleição, para derrotar o oposicionista Hossein Mousavi, que contava com amplo apoio. As manifestações foram as maiores em 30 anos contra o regime dos aiatolás (leia sobre o Irã na pág. 26). A contestação nas ruas do resultado do pleito levou o governo a impor um blecaute informativo, tentando conter os protestos. Mensagens de texto por celulares foram bloqueadas, assim como

as redes sociais se tornaram uma ferramenta política de organização

Iêmen É o país com pior pontuação no ranking, por apresentar índices muito baixos de acesso da população à internet e de impacto da internet na política e economia.

diversos sites. Após o bloqueio do sistema de mensagens de celular e a censura de sites como o Facebook e o Orkut, o microblog Twitter passou a ser a principal ferramenta de comunicação de iranianos para mostrar ao mundo a repressão às manifestações de contestação da fraude eleitoral. Tags como “iranians” (iranianos), “#iranelection” (eleições no Irã) e “Tehran” (Teerã) estavam entre os mais comentados do Twitter. Cerca de um ano depois, o mundo testemunhou uma onda de revoltas populares em países árabes. Tudo começou na Tunísia, no movimento conhecido como Revolução de Jasmim, e o uso da rede foi protagonista. Em dezembro de 2010, um jovem que, apesar de ter nível superior, ganhava a vida como vendedor ambulante de frutas e legumes ateou fogo ao corpo depois que policiais confiscaram sua banca de forma arbitrária. A foto do suicídio espalhou-se pela internet e causou revolta. Utilizando sites de redes sociais, jovens indignados organizaram passeatas em protesto contra a inflação, o desemprego e a GE atualidades 2014 | 1º semestre

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R e su m o

dossiê internet

Saiu na imprensa A cultura do mundo virtual Rosely Sayão

corrupção política na região em que a morte aconteceu. Esse acontecimento foi o estopim da revolução no país. O movimento espalhou-se pela Tunísia e centenas de pessoas tomaram as ruas da capital, Túnis, exigindo mudanças políticas. Após semanas de protestos, em 14 de janeiro de 2011 o ditador Zine al-Abidine Ben Ali deixou o poder após 23 anos. Com ferramentas de comunicação pela internet, os jovens ampliavam a convocação para as manifestações que deram fim ao governo. O movimento tunisiano serviu de inspiração para outros países da região. O primeiro foi o Egito, onde um movimento que também utilizou amplamente as redes sociais levou à renúncia do presidente Hosni Mubarak, no poder havia 29 anos. O uso da internet pelos jovens egípcios foi ainda mais marcante do que na Tunísia: via sites como Facebook e Twitter, ativistas tunisianos e egípcios evitavam os censores e as mídias controladas pelas ditaduras de seus países não só para protestar contra os regimes, como para trocar experiências sobre como escapar da vigilância por meio da

92 GE atualidades 2014 | 1º semestre

Fotoarena/Flávio Japa

tempo real Grupo Mídia Ninja acompanha reunião no Recife, em 2013: meio alternativo de informação faz transmissão on-line para os seguidores

a utilização da internet foi marcante nas revoltas na tunísia e egito tecnologia digital, divulgar informações sobre torturas e mortes de militantes e compartilhar dicas práticas sobre como enfrentar balas de borracha, organizar barricadas e levar adiante táticas de resistência não violentas. Uma série de vídeos, blogs e mensagens instantâneas também foi usada para divulgar informações sobre os acontecimentos para fora das fronteiras nacionais. No caso do Egito, foram marcantes as imagens dos ativistas transformando a Praça Tahir, centro dos protestos, no Cairo, capital do país, em uma verdadeira feira de computação, com centenas de laptops e smartphones registrando e divulgando imagens dos protestos e das ações de repressão do governo.

Em muitos outros países, jovens usaram da internet em seus movimentos. O Ocupe Wall Street, nos Estados Unidos, surgiu em 2011 para protestar contra a desigualdade econômica e social e a influência das corporações – sobretudo as do setor financeiro – na definição das políticas de governo. Na Espanha, os protestos dos Indignados foram inicialmente organizados pelas redes sociais e pela plataforma civil e digital ¡Democracia Real Ya! (Democracia Real Já!). Os manifestantes reivindicavam mudanças na política espanhola e diziam não se sentir representados pelos partidos políticos. O mesmo desejo de mudança causou protestos também no Brasil. Em junho de 2013, as ruas do país foram tomadas por milhões de pessoas. As passeatas foram inicialmente convocadas on-line pelo Movimento Passe Livre, em defesa da diminuição das tarifas de transporte público em diversas cidades, mas, como no caso espanhol, depois surgiram novas reivindicações. As redes sociais foram fundamentais para convocar os protestos em todo o país.

O chamado mundo virtual – esse no qual entramos e passamos um tempo quando acessamos a internet – é demasiadamente real. (...) É urgente que aceitemos o fato de que, na internet, não há privacidade. Basta lermos as notícias que as mídias nos apresentam para constatar que nem mesmo dados sigilosos de Estado estão a salvo atualmente. Ora, e por que nossas bobas conversas e/ou comentários virtuais estariam? Sim, há quem só se interesse por informações confidenciais que podem ser publicadas (..). Mas há também quem tenha como único motivo expor nossas falhas, nossos preconceitos, nossas fragilidades. E há também quem goste de atacar tudo o que é diferente do que pensa. (...)

Exclusão digital

Todas essas manifestações articuladas via web só foram possíveis porque o acesso à rede mundial de computadores cresce. Segundo dados de 2012 da Internet World Stats, o total de pessoas com acesso subiu numa velocidade vertiginosa: passou de 360 milhões de pessoas em 2000 para 2,4 bilhões. Cerca de 1/3 da humanidade já está hoje conectada à rede de computadores. Entretanto, como a internet se tornou fundamental no mundo dos negócios e no próprio ambiente de trabalho, há um outro lado da moeda: a exclusão do mundo digital passa a ser um fator de redução das chances de ascensão econômica, educacional e social. Como ocorre com a renda, o acesso das populações à internet é bastante desigual no globo. A maioria dos excluídos está na África (84% da população não têm conexão). Na Ásia, há nações como Bangladesh, Camboja e Timor Leste, em que a exclusão digital chega a 98%. O Brasil lidera a América do Sul em volume de internautas, com 88,4 milhões de usuários, mas está ape-

Internet

Precisamos também considerar o fato de que os mais novos são impulsivos: eles primeiro agem, depois é que pensam. Na internet, isso é um grande problema porque, depois de algo publicado, é difícil, muito difícil, apagar. Até é possível deletar alguma bobagem que falamos ou fizemos, mas se alguém já registrou, já pode estar eternizado. (...) No caso da internet, estamos criando uma cultura para os mais novos. E, atualmente, essa cultura afirma que na internet vale quase tudo e que só quem eu quero tem acesso ao que eu publico; temos construído a ideia de que ela é um parêntesis de nossas vidas. Não podemos permitir que as crianças e os jovens acreditem nisso. Por isso é importante que sejamos mais críticos, controlados e comedidos em nossas ações na internet, não é verdade?

REDE MUNDIAL No final dos anos 1980, surge a internet com fins comerciais: a rede mundial de computadores envolve hoje 1/3 da humanidade, cerca de 2,4 bilhões de pessoas. Presente no cotidiano das pessoas e na economia, a web está profundamente entranhada na sociedade contemporânea.

Folha de S.Paulo, 18/2/2013

MARCO REGULATÓRIO Faltam leis que tratem exclusivamente da internet. No Brasil, o principal projeto nesse sentido é o Marco Civil da Internet, em debate no Congresso Nacional.

nas na quinta posição na porcentagem da população conectada à rede, com 46%, atrás da Argentina (66%), Colômbia (60%), Chile, (59%) e Uruguai (56%). De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2012, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 46% dos domicílios brasileiros tinham microcomputador (29 milhões) e 40% das casas possuíam acesso à internet. Os jovens são os internautas mais assíduos no Brasil. Entre a população de 15 a 17 anos, 77% têm o costume de acessar a internet. Entre as pessoas com 50 anos ou mais, só 21% usam a rede. Cerca de 88% dos internautas brasileiros diz usar a rede para se comunicar com outras pessoas, o que representa uma mudança. Em 2005, a principal razão de acesso era o estudo, com quase 66%. O brasileiro está entre os que mais tempo passam on-line: 26 horas por mês, contra 25 dos britânicos e 24 dos franceses e alemães, segundo o Ibope. Também está entre os que mais acessam as redes sociais: 73% dos internautas brasileiros fazem uso desses sites. •

ESPIONAGEM ON-LINE Agências de segurança do governo dos Estados Unidos mantêm, desde 2007, um programa de vigilância e espionagem de comunicações, incluindo a internet. O governo dos EUA se ampara numa lei de exceção contra o terrorismo, aprovada em 2001. A revelação da espionagem foi feita por Edward Snowden, ex-técnico da Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA).

GLOBALIZAÇÃO A internet causou profundas mudanças no mundo dos negócios e do trabalho. Aumentou a quantidade de transações comerciais e permitiu às multinacionais transferirem o processo produtivo para países nos quais o custo de produção é menor. POLÍTICA Manifestações em países como Irã, Tunísia, Egito, EUA, Espanha e Brasil mostraram o poder da internet na formação de grupos sociais e suas possibilidades para a ação política. REDES SOCIAIS Tornaram-se um fenômeno mundial os portais como Facebook, que permitem ao usuário criar um perfil público e montar uma lista articulada de relacionamentos. Os principais já reúnem mais de 1 bilhão de usuários. DESIGUALDADE A maior parte das populações com pouco acesso à internet se situa na África e na Ásia. Cerca de 88 milhões de brasileiros acessavam a rede em junho de 2012.

GE atualidades 2014 | 1º semestre

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