PAISAGEM FOTOGRAFADA - uma análise perceptiva do Convento da Penha

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PAISAGEM FOTOGRAFADA

uma analise perceptiva do convento da penha

giovani bonadiman goltara

Giovani Bonadiman Goltara

PAISAGEM FOTOGRAFADA

Uma análise perceptiva do Convento da Penha

Trabalho final de graduação apresentado ao corpo docente do departamento de Arquitetura e Urbanismo do Centro de Artes da Universidade Federal do Espírito Santo, como requisito para obtenção de título de Arquiteto e Urbanista.

Orientadora: Dra. Eneida Maria Souza Mendonça

Co-orientador: Me. José Otávio Lobo Name VITÓRIA

2013

...a Edna, que do céu contibui com suas orações.

Folha de aprovação

Projeto de Graduação aprovado em:

Ata de avaliação da banca:

Avaliação da banca examinadora:

Nota: Data: Dra. Eneida Maria Souza Mendonça

Nota: Data: Me. José Otávio Lobo Name

Nota: Data: Dr. Milton Esteves Junior

Aprovado com nota final:

Agradecimentos

À Heliomar e Rosângela pelo apoio incondicional em minhas escolhas e pelo incentivo; e aos irmãos Diogo, Carolina, Ronni e Ana Célia pelo carinho e inspirações;

À Eneida Mendonça pelas oportunidades, pelo fortalecimento do senso crítico e o interesse pelo mundo acadêmico;

À Jô Name que prontamente se dispôs a enriquecer este trabalho com as discussões do universo encantador da fotografia;

À Rafael pelo carinho e apoio diários, assim como o alento nos conturbados períodos de produção deste trabalho;

À Taís, inseparável companheira na vida e no caminho do conhecimento;

Aos amigos Gustavo, Marcelo, Cíntia, Larissa, Giovanna, e outros, que me acolheram e fizeram da minha vida universitária mais divertida e prazerosa;

Muito obrigado.

Lista de ilustrações

• Fotografia de capa: Ronni Goltara

• Fotografias expositivas (páginas: 1, 4, 5, 6, 14, 19, 57, 69, 148, 154, 174) Giovani Goltara

• Figura 1 - Fotografia pictórica de Félix Nadar. Fonte: Blog Piúma fotografia 1 in <http:// piumafotografia1.blogspot.com.br /2010/10/pictorialismo.html> (acessado em 18 de fevereiro de 2013).

• Figura 2 - “Brownie Camera” da Kodak. Fonte: Trafor comunicação in <http://www.trafor.com.br/wp-content/uploads/2012/09/ KodakBrownie_advert.jpg> (acessado em 21 de agosto de 2013).

• Figura 3 - Peça publicitária da Kodak para as “Brownie Cameras”. Fonte: Wikipédia. com in <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/8/8e/You_ press_the button,_we_do_the_rest_(Kodak).jpg> (acessado em 12 de agosto de 2013).

• Figura 4 - Fotografia de Jonas Bendiksen em Dharavi, periferia de Mumbai, Índia. Fonte: Arkitera.com in < http://v3.arkitera.com/news.php?action=displayNewsItem& ID=26560> (acessado em 18 de fevereiro de 2013).

• Figura 5 - Fotografia de Edeard Burtynsky. Nickel Tailings No. 34, Sudbury. Ontario, Canada 1996. Fonte: Tailgrab.orgy in < https://tailgrab.org/2009/03/edward-burtynsky/>

• Figura 6 - Fotografia de Roger Merrifield. Fonte: Cafédasquatro.com.br in < http://www. cafedasquatro.com.br/materia/?cM=352225> (acessado em 18 de fevereiro de 2013).

• Figura 7 - Fotografia lomográfica por Giovani Goltara. Fonte: acervo pessoal.

• Figura 8 - Fotografia de página pessoal do Instagram de Giovani Goltara. Fonte: acervo pessoal.

• Figura 9 - Fotografia de Evgen Bavcar. Fonte: Metamorfose Digital in < http://www. mdig.com.br/index.php?itemid=22729> (acessado em 18 de fevereiro de 2013).

• Figura 10 - Fotografias sequenciais em Ipswich (cidade britânica).Fonte: CULLEN, Gordon. Paisagem urbana. São Paulo: Martins Fontes, 1983.

• Figura 11 - Níveis de percepção do Morro do Guajuru. Fonte: MENDONÇA, Eneida M. Souza. Instrumentos para ocupação urbana em favor dos referenciais da paisagem. In:

XI Encontro Nacional da Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional – ANPUR, 2005, Salvador.

• Figura 12 - Vistas da Avenida Nossa Senhora da Penha em 1974. Fonte: MENDONÇA, Eneida M. Souza et al. Cidade prospectiva: o projeto de Saturnino de Brito para Vitória. Vitória: Edufes, 2009.

• Figura 13 - Vistas do Convento da Penha a partir da Avenida Carlos Lindemberg. Fonte: Vitruvius in < http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/11.122/3578> (acessado em 18 de fevereiro de 2013).

• Figura 14 - (a) Vista do Convento da Penha a partir da Avenida Nossa Senhora da Penha. (b) Vista da Avenida Nossa Senhora da Penha a partir do Convento. Nota-se a abertura do cone visual e inclusive o formato de um edifício piramidal respeitando os limites. Fonte: skyscrapercity.com in <http://www.skyscrapercity.com/showthrea d.php?p=9804 444 4 > (acessado em 26 de fevereiro de 2013).

• Figura 15 - Sea Fog, Caspar David Friedrich. Fonte: Cargocollective.com in <http:// cargocollective.com/moquecadecidade/Contemplar-olhar-ver-sentir-Por-Giovani-Goltara-1> (acessado em 21 de agosto de 2013).

• Figura 16 - Foto do Convento do ano de 2008 por Ronni Goltara. Fonte: acervo pessoal.

• Figura 17 - Tela “A visão dos holandeses” pintada por Benedito Calixto, exposta na galeria do Convento da Penha. Fonte: novomilenio.inf.br in < http://www.novomilenio.inf. br/santos/calixt94.htm> (acessado em 20 de agosto de 2013).

• Figura 18 - Tela “O Milagre da Seca” pintada por Benedito Calixto, exposta na galeria do Convento da Penha. Fonte: novomilenio.inf.br in <http://www.novomilenio.inf.br/santos/calixt94.htm> (acessado em 20 de agosto de 2013).

Sumário

1 - Introdução

2 - Paisagem: Origem e conceito

3 - Percepção da paisagem

3.1 - Indivíduo e coletividade

3.2 - A percepção do turista

3.3 - A transgressão dos níveis de percepção

4 - Fotografia, cartões-postais e as cidades

5 - O processo criativo da fotografia, sua modernização e popularização

6 - Desconstrução do signo fotográfico

6.1 - O ser e o estar da fotografia

6.2 - Dualidade: verdade e ficção na fotografia

7 - O ato fotográfico

8 - A fotografia como instrumento

CONVENTO DA PENHA: HISTÓRIA E REFERENTE

9 - A escolha do referente

10 - Convento de Nossa Senhora da Penha: história e imagem PERCEPÇÃO FOTOGRAFADA: PESQUISA E ANÁLISE

11 - Foto-percepção: hipóteses

12 - Esboço da investigação: metodologia

12.1 - Localizando fotógrafos

12.2 - Interpretando...

12.2.1 - a expressão textual

12.2.2 - a expressão fotográfica

13 - A busca pelo invisível: análises

13.1 - Primeira etapa da pesquisa: a diversidade...

PAISAGEM E FOTOGRAFIA: VISÃO COMPARTILHADA
15 21 25 26 26 28 30 35 42 42 43 45 51 59 62 71 74 74 75 75 78 84 84
13.1.1 - da memória descritiva 13.1.2 - das imagens narrativas 13.1.3 - das analogias na percepção da paisagem 13.2 - Segunda etapa da pesquisa: o foco... 13.2.1 - da memória descritiva 13.2.2 - das imagens narrativas 13.2.3 - das analogias na percepção da paisagem 14 - Considerações finais Referências bibliográficas Anexos 84 90 100 112 112 118 129 149 155 158

1 - Introdução

Este trabalho busca investigar a relação entre a fotografia e a percepção da paisagem de modo a compreender em que medidas o ato de fotografar expressa a experiência sensorial do ambiente – percepção – através da análise de um referente paisagístico.

O termo paisagem não é conhecido desde sempre, segundo Roger (1999) a distinção léxica País/Paisagem é recente, e parte do princípio de que País é o que antecede a denominação de paisagem, ou seja, a Paisagem é a modificação do País. O autor denomina ação de modificação de “artialização” da Paisagem, seja fisicamente (in situ) através de manifestações artísticas como o paisagismo e a Land Art, seja na proposição de visualização do País através das artes de representação gráfica como a pintura. Também há de se atribuir a origem da Paisagem à experiência sensorial do território, que segundo Besse (2006), tem berço na a carta de Petrarca, poeta italiano, que descreve sua ascensão ao Monte Ventoux relatando a experiência de contemplação da paisagem do alto.

Com a invenção da fotografia no final do século XIX, o papel de retratação da paisagem, antes atribuído principalmente à pintura, alcançou novas possibilidades à medida que a técnica fotográfica se desenvolvia. Dentre outras características do registro fotográfico, destacam-se a instantaneidade da representação, a possibilidade de reprodução facilitada e a diminuição da possibilidade de interferências autorais. A fotografia abriu um novo leque de opções de criação artística. Porém no que se refere ao aparelho técnico e à produção de fotografias pela massa que não necessariamente compreende seu processo de criação, há que se ponderar que a mecânica de gravar a luz em um anteparo é um processo padrão, ou seja, é algo que independe do autor.

A percepção ambiental depende da soma de estímulos sensoriais, não sendo somente função da visão. Porém o conceito moderno de paisagem indica que sua existência se dá principalmente mediante a demarcação do espaço pelo campo visual, ato que se repete na fotografia, onde o campo visual é dependente da lente objetiva e seu ângulo de abertura. Há que se considerar porém ressalvas a esses preceitos, uma vez que tanto na fotografia quanto na paisagem existem casos que fogem a tais. Como exemplos: o fotógrafo Man Ray que dispensava câmera em alguns trabalhos, e pessoas portadoras de deficiências visuais que usam dos outros sentidos para acionar a percepção. Dadas as observações, pode-se considerar que há entre a fotografia e a paisagem, além da relação de representação imagética, uma relação física de existência.

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Nas últimas décadas, principalmente, a fotografia tomou proporções grandiosas. Ainda no século XIX a popularização da técnica fotográfica através da criação de câmeras compactas e de fácil manuseio abriu o caminho para um mercado que desde então cresceu imponentemente. Transformações como o filme colorido, a automação da câmeras e as técnicas de manipulação da imagem, ao longo do século XX, aprimoraram cada vez mais a técnica fotográfica. Porém nas últimas décadas uma mudança importante conduziu a fotografia a outro patamar: a digitalização do processo fotográfico, que, de certa forma, vem modificando a lógica da ação de fotografar, manipular e compartilhar.

Nesse contexto, com o avanço constante das tecnologias de produção de imagem, a fotografia assumiu presença quase que invariável no cotidiano. Aliada à internet e às redes sociais, as imagens tem papel de descrever momentos e chegam a ser visualizadas por diversas pessoas em questão de minutos. Convém, portanto, ao estudo da percepção da paisagem compreender como se estabelece a integração do fotógrafo com meio ambiente que fotografa. A isso se coliga um grande número de fotografias que é exposto diariamente nas redes sociais da internet. Essas fotografias com acesso irrestrito, em alguns casos com direitos autorais salvaguardados, compõem um acervo importante para o estudo das cidades.

Convém, portanto, averiguar em que medida a fotografia presta o papel de expressar a percepção de quem fotografa. Para tanto este trabalho é composto de uma revisão bibliográfica sobre os tópicos principais: paisagem, percepção e fotografia. O estudo desses temas busca apurar suas relações mútuas, para uma aproximação da constatação da questão central do trabalho.

Com o intuito de investigar de forma prática a competência da fotografia de exprimir a experiência da percepção ambiental, foi escolhido o Convento de Nossa Senhora da Penha, localizado em Vila Velha-ES, como um objeto para um estudo empírico. A escolha é justificada pela presença irrevogável do Convento no cotidiano e na história capixabas, bem como relacionando com Lynch (1997) no que diz respeito à configuração do referente como marco na paisagem, principalmente da cidade de Vitória. Além disso a visita ao Convento oferece, afora do caráter religioso, um momento de deleite da paisagem urbana das cidades da Grande Vitória, sendo um ponto de vista não usual no cotidiano das pessoas em geral. Contudo este trabalho se foca na análise da percepção de um elemento específico, o qual, neste estudo de caso, corresponde também a um espaço de visitação. Desse modo as vistas alcançadas na visita ao Convento são tratadas como um dos elementos que compõem aquela

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ambiência.

A metodologia abordada segue principalmente as referências no campo da percepção de Yi-Fu Tuan (1980), que em seu livro “Topofilia” pormenoriza a experiência da percepção ambiental. No domínio da fotografia o estudo volta-se para o trabalho de Michele Monteiro Prado (2004), onde pesquisa o papel da fotografia na modernização de Vitória-ES no final do século XIX. A autora tece análises específicas sobre os registros buscando compreender a lógica representativa principalmente da fotografia institucional. A relação entre a percepção da paisagem e a fotografia é alcançada através da apreensão da “Teoria dos Universos Circundantes” elaborada por Mário Bitt-Monteiro (2000), onde são caracterizados estágios da percepção através da movimentação do indivíduo em relação ao referente estudado.

Considerada a metodologia, a pesquisa busca participantes para a criação de uma amostragem de relatos e fotografias sobre o Convento da Penha. Dessa forma, aplicando os conceitos estudados, busca-se criar uma análise sobretudo subjetiva, mas que objetivamente atenda à questão central do trabalho: a fotografia tem força de expressão no que tange à percepção da paisagem? É possível compreender a experiência da observação da paisagem através dela?

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PAISAGEM E FOTOGRAFIA VISÃO COMPARTILHADA

2 - Paisagem - origem e conceito

Para compreender o termo paisagem há que se considerá-lo como um conceito não presente no cotidiano do ser humano desde sempre, nem somente um substantivo para nomear imagens campestres ou fantasiosas. Para estudar o que se compreende por paisagem é necessário buscar seu surgimento, visto que em algum momento da história o homem passou a perceber e classificar o ambiente como paisagens.

O autor Alain Roger (1999) em seu discurso sobre o “Nascimento da Paisagem no Ocidente” explora a hipótese de que “não há beleza natural”, e que “toda [...] experiência, visual ou não, é modelada por modelos artísticos” (ROGER, 1999, p. 1), sendo a paisagem uma aquisição cultural. Roger (1999) retoma o termo “artialização” de Montaigne para denominar o processo de percepção, histórica e cultural das paisagens. Ou seja, a transformação do País em Paisagem se dá através das artes, de duas maneiras:

“A primeira consiste em inscrever diretamente o código artístico na materialidade do lugar, sobre o terreno, a base natural. Artializa-se in situ. É a arte milenar dos jardins, o landscape gardening a partir do século XVII, e, mais próxima de nós, a Land art. A outra maneira é indireta. Não se artializa in situ , mas in visu , operando sobre olhar coletivo, fornecendo-lhe modelos de visão, esquemas de percepção e de deleite.” (ROGER, 1999, p. 1)

Segundo Roger (1999) a diferenciação entre os termos “País” e “Paisagem” é recente e é “encontrada na maior parte das línguas ocidentais” (p. 1). Nesse contexto o autor infere que “o país é, de algum modo, o grau zero da paisagem, aquilo que precede sua artialização” (p. 1).

“No entanto, nossas paisagens se tornaram tão familiares para nós, tão ‘naturais’, que tendemos a crer que sua beleza é natural; e são os artistas que nos evocam esta verdade primeira, mas esquecida: um país não é, de imediato, uma paisagem; há, entre um e outro, toda a elaboração da arte.” (ROGER, 1999, p.1)

A arte ensina o código visual da paisagem, ou seja, a forma de percepção dos elementos da natureza justapostos em tempo e espaço. Entretanto a conscientização de ver a paisagem depende da compreensão de suas relações internas, sejam essas de caráter estético, histórico ou referente às relações humanas nela estabelecidas. Segundo Simmel

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(1988) ao presenciar a natureza, pode-se distinguir diferentes elementos com diferentes graus de atenção, mas isso ainda não caracteriza a compreensão da paisagem. Sobre a questão existencial da paisagem Simmel (1988) afirma que: “Para que haja paisagem, a consciência deve apreender, além dos elementos, um novo conjunto, uma nova unidade, não ligados aos significados particulares dos primeiros, nem compostos mecanicamente de sua soma” (SIMMEL, 1988, p. 1). Portanto pode-se dizer que a paisagem é cultural - não um dado ou uma classificação – e é compreendida por cada indivíduo segundo suas experiências pessoais, seu meio cultural.

Separar pedaços da natureza parece impossível, já que considera-se natureza “a cadeia sem fim das coisas, a criação e a aniquilação ininterruptas das formas, a unidade fluida do movimento de transformação, que se exprimem pela continuidade da existência espacial e temporal” (SIMMEL, 1988, p. 1). Desse modo, quando se separa um pedaço da natureza, este já não é mais inteiramente natureza.

“Quanto à paisagem, é justamente sua delimitação, sua captura num raio visual momentâneo ou duradouro que a definem essencialmente; sua base material ou pedaços isolados podem sempre passar por natureza – a parte, representada como paisagem, reivindica um ser-por-si eventualmente ótico, eventualmente estético, eventualmente atmosférico, em suma, uma singularidade, um caráter que a separa da unidade indivisível da natureza...” (SIMMEL, 1988, p. 1).

Ver a paisagem nem sempre foi uma ação empreendida e compreendida pelo ser humano. Porém uma das premissas para que se haja paisagem é a observação de determinada ambiência, e a compreensão de suas características. Jean-Marc Besse (2006) relata a importância que o estudo paisagístico presta à carta do poeta italiano Petrarca, que ao decidir subir um monte para desfrutar da vista de lá alcançada, consagra a acepção da contemplação descompromissada da paisagem, ainda no século XIV. Segundo Besse (2006):

“Os historiadores da paisagem há tempos atribuem à carta na qual Petrarca faz o relato de sua ascensão ao monte Ventoux um valor inaugural. Com efeito, Petrarca, decidindo escalar a montanha para simplesmente fruir da vista que pode ser desfrutada de seu cimo, teria sido o primeiro a encontrar a fórmula da experiência paisagística no sentido próprio do termo, a da contemplação desinteressada, do alto, do mundo natural aberto ao olhar.”

(BESSE, 2006, p. 2).

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Desse modo, Petrarca ao usar de uma forma de expressão - a literatura - para narrar todo o processo de ascensão ao monte, consegue exprimir em palavras sua experiência perceptiva, e dessa forma aclama a consciência de ver a paisagem. Segundo Besse (2006) a atividade de Petrarca pode ser compreendida - haja vista às dificuldades da escalada descritas em sua carta - como uma transgressão pessoal, bem como uma metáfora ao deserto, “onde a meditação cristã colocou, há tempo, a dramaturgia da saúde da alma e das tentações contra as quais ela decide lutar, voltando as costas ao mundo e à sua urbanidade” (BESSE, 2006, p. 3). Portanto, o desejo de Petrarca de ascender fisicamente ao monte reflete um anseio de ascensão espiritual. Consequentemente a paisagem é inserida num patamar de destinação, ou seja, ao chegar ao cume ter-se-ia uma panorama do espaço abarcado pelo olhar: o horizonte. A paisagem aqui sugere a reflexão pessoal da vontade. Ver de cima implica na saída do ambiente de convivência e na ascensão ao ambiente de contemplação. Do mesmo modo há uma troca de escala ao deixar de ser o sujeito que age diretamente na natureza, passando a ser, de certa forma, um contemplador de fora dela.

Por conseguinte, à existência da paisagem pode-se coligir que a demarcação do espaço é essencial, seja pela arte que modifica a natureza e que sugere visualizações da mesma, seja pela experiência da observação. No que se refere à estruturação da paisagem, Milton Santos (2004) indica que sendo ela rural ou urbana, “o seu traço comum é a combinação de objetos naturais e de objetos fabricados, isto é, objetos sociais, e ser o resultado da acumulação da atividade de muitas gerações” (SANTOS, 2004:53). De acordo com Santos (2004) a paisagem não é fixa, ela se adapta às necessidades humanas surgidas de processos de mudanças da sociedade. Por outro lado as alterações da paisagem são parciais, ou seja, alguns elementos não mudam, tornando-as testemunhas do passado.

“Considerada em um ponto determinado no tempo, uma paisagem representa diferentes momentos do desenvolvimento de uma sociedade. A paisagem é o resultado de uma acumulação de tempos. Para cada lugar, cada porção do espaço, essa acumulação é diferente: os objetos não mudam no mesmo lapso de tempo, na mesma velocidade ou na mesma direção.” (SANTOS, 2004:54).

Sobre as dimensões da paisagem Correa e Rosendahl (1998) comentam que existe a dimensão morfológica, onde se incluem os elementos físicos, tanto os naturais como aqueles construídos pelo homem; e a dimensão funcional que representa as relações entre as partes. De acordo com os autores: “Produto da ação humana ao longo do tempo, a paisagem apresenta uma dimensão histórica. Na medida em que uma mesma paisagem ocorre em

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certa área da superfície terrestre, apresenta uma dimensão espacial.” (CORREA e ROSENDHAL, 1998, p. 8). A paisagem cultural, portanto é o estudo das relações destas dimensões ao longo da história, tratando a paisagem como uma marca representativa da história da humanidade.

A paisagem tratada aqui vai além da demarcação de um espaço e das suas relações, ela se distingue pela percepção individual e coletiva e compreende aspectos sociais dessa percepção. Para compreendê-la há que se considerar quem a percebe, bem como suas informações pessoais de vivência, cultura, de um modo geral, seus aspectos antrópicos. Afirmar que a paisagem de determinado lugar se destaca por certos elementos, pressupõe uma análise prévia nas dimensões no campo da morfologia e da história por exemplo, que ali se enquadram. Tal análise é caracterizada por um indivíduo dentro de seus parâmetros, ou dentro da coletividade em que está inserido.

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3 - Percepção da paisagem

O estudo da paisagem sugere uma afirmação de caráter existencial: a paisagem existe para os sentidos. É através dos sentidos que se tem o primeiro contato com a paisagem; os estímulos sensoriais são recebidos pelo cérebro e então se dá o momento de compreensão, também essencial para a experiência perceptiva. Segundo Tuan (1980) a percepção de uma mesma ambiência difere de indivíduo para indivíduo:

“A superfície da Terra é extremamente variada... Mas são mais variadas as maneiras como as pessoas percebem e avaliam essa superfície. Duas pessoas não veem a mesma realidade. Nem dois grupos sociais fazem exatamente a mesma avaliação do meio ambiente.” (TUAN, 1980, p. 6).

A visão é o sentido ao qual o homem tem maior dependência, porém é através dos outros quatro sentidos tradicionais que a interpretação dos dados recebidos pela visão se diferem. A distinção entre VER e OLHAR se dá justamente na superposição dos sentidos com a memória e o saber.

“...ver é ‘objetivo’; ver – como diz o ditado – é crer, mas tendemos a desconfiar da informação obtida através dos ouvidos; é um ‘boato’ ou um ‘rumor’. Ver não envolve profundamente nossas emoções. Podemos ver, através da janela de um ônibus com ar condicionado, que a favela é feia e indesejável, mas o quão ela é indesejável atinge-nos com pungente força somente quando abrimos a janela e recebemos uma lufada dos esgotos pestilentos.”

(TUAN, 1980, p. 12).

Tuan (1980) chama atenção ainda para o fato de que a percepção requer atividade, ou seja, não basta ter sentidos plenamente em funcionamento, há que se movimentar sobre o ambiente para que se ative a percepção. Quando criança o ser humano aprende sobre o mundo através das atividades que exerce; desenvolve a coordenação do corpo; aprende a realidade dos objetos e a estruturação do espaço; e sobretudo é influenciado pelo contexto cultural ao qual está submetido. Aí reside a maior diferenciação da percepção entre indivíduos, ou entre grupos de indivíduos, “embora todos os seres humanos tenham órgãos dos sentidos similares, o modo como as suas capacidades são usadas e desenvolvidas começa a divergir numa idade bem precoce” (TUAN, 1980, p.14). Consequentemente não se nota diferença somente nas atitudes para com o meio ambiente, mas também se difere a capacidade

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dos sentidos, ou seja, uma pessoa de determinada cultura pode perceber mais os cheiros, outra de cultura diferente pode ter a visão mais aguçada e profunda. “Ambos os mundos são predominantemente visuais: um será enriquecido por fragrâncias, o outro pela agudeza tridimensional dos objetos e espaços.” (TUAN, 1980, p. 14).

3.1 - Indivíduo e coletividade

O ser humano tende a classificar o mundo segundo esquemas de percepção simplificados. Tuan (1980) destaca o sistema binário como principal esquema cosmológico de percepção do mundo:

“A mente humana parece estar adaptada para organizar os fenômenos não só em segmentos, como para arranjá-los em pares opostos. Fragmentamos o espectro das cores em faixas discretas e então vemos ‘vermelho’, como o oposto de ‘verde’”. (TUAN, 1980, p. 18).

Através dos esquemas perceptivos o ser humano cria símbolos para compreender e representar o mundo. O símbolo simplifica o todo. De certa forma a paisagem é uma simplificação da natureza, e segundo Rosendahl e Corrêa (2001) “em cada época o imaginário coletivo define a concepção social de natureza e a traduz, transformando-a em artefatos materiais e simbólicos, ou seja em cultura” (p. 11).

A forma com que o homem percebe uma ambiência geralmente é centralizada em seu corpo e mente. De acordo com Tuan (1980) o ser humano possui uma natureza fortemente egocêntrica, porém por ter a necessidade de estabelecer relações com outros indivíduos o egocentrismo só pode ser plenamente alcançado em alguns casos. Ao estabelecer relações sociais e criar coletividades torna-se possível que exista um “egocentrismo coletivo”, ou seja: etnocentrismo.

De um modo geral a percepção da paisagem por ser cultural, sofre diferenciações de acordo com aquele que a vê. O indivíduo carrega suas experiências pessoais ao longo de sua vida e enxerga o mundo de acordo com seus valores, porém dentro de uma coletividade entende-se que o comportamento ambiental se dá segundo de forma aparentemente automática, ou seja, dentro de um grupo o indivíduo é levado a praticar hábitos de acordo com o contexto em que essa coletividade está inserida.

3.2 - A percepção do turista

Existe uma clara diferença entre a percepção de um visitante e do habitante/nativo de um espaço. Se por um lado o habitante está acostumado aos signos do lugar, podendo

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às vezes não perceber estranhezas e excentricidades; por outro lado o visitante possui uma percepção tendente à superficialidade. O visitante mesmo podendo reconhecer as diferenças do espaço, de acordo com sua experiência de vida, pode não compreender a experiência cotidiana naquele lugar. Nesse sentido Tuan (1980) sugere que:

“Em geral, podemos dizer que somente o visitante (e especialmente o turista) tem um ponto de vista; sua percepção frequentemente se reduz a usar os seus olhos para compor quadros. Ao contrário, o nativo tem uma atitude complexa derivada da sua imersão na totalidade de seu meio ambiente. O ponto de vista do visitante, por ser simples, é facilmente enunciado. A confrontação com a novidade, também pode leva-lo a manifestar-se. Por outro lado, a atitude complexa do nativo somente pode ser expressa com dificuldade e indiretamente através do comportamento, da tradição local, conhecimento e mito.” (TUAN, 1980, p. 73).

O visitante, ao avaliar o meio ambiente, tende a se orientar principalmente pela estética, enquanto o habitante reconhece naquele meio sua vivência cotidiana. Tomando como exemplo uma construção marcante na paisagem, é possível inferir duas realidades perceptivas: para o visitante aquela arquitetura pode ser encantadora ou não, sendo observada nas diferenças em relação à sua região de origem; para o habitante pode conter significados culturais intrínsecos, ou mesmo representar um problema à sua vida cotidiana. Tuan (1980) defende que essa avaliação puramente estética do meio ambiente pelo visitante é formalizada por julgamentos sob seus critérios de beleza. O recente interesse de turistas estrangeiros pelas favelas cariocas representa, de algum modo, essa lógica perceptiva. Para os visitantes as favelas simbolizam um modo de vida diferenciado daquele ao qual estão habituados em seu lugar de origem. Eles enxergam ali um ambiente pacífico, sem saber que a pacificação é um processo doloroso para aquela comunidade. Ou mesmo não sabem da dificuldade que os habitantes daquele espaço têm em dispor de um mínimo de qualidade de vida. Desse modo criam-se nas cidades espaço dedicados ao turismo que pouco atraem ou favorecem o próprio habitante.

Por outro lado, Tuan (1980) reconhece que o julgamento do visitante é muitas vezes válido e tem como principal contribuição a nova perspectiva, visto que o ser humano é extremamente adaptável, podendo deixar de perceber a diferença entre a beleza e a feiura à medida em que vivencia o ambiente.

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3.3 - A transgressão dos níveis de percepção

A percepção individual está diretamente ligada à memória. Primeiramente os sentidos captam as informações e em seguida a memória trabalha para criar uma ambiência baseada em experiências. Bitt-Monteiro (2000) classifica esse conjunto de experiências como o “universo referencial”, que diz respeito ao universo diário, a territorialidade pessoal. Segundo o autor, o que cria essa referência é o movimento natural dos seres humanos.

“... a nossa tendência para os deslocamentos é natural. Poder-se-ia mesmo dizer que se trata de um processo comportamental fisiológico de procura e alcance; sempre na busca de algo, em função de alguma coisa, com níveis de importância variáveis, indo permanentemente de um ponto a outro, de forma quase incessante.” (BITT-MONTEIRO, 2000, p. 3).

Dentro do “universo referencial” estão contidas as sensações básicas, os cheiros, os sons, e as relações interpessoais construídas dentro de um território formando uma espécie de “matriz sensorial”. Quando deparada com um ambiente diferente daquele universo de referência, a mente automaticamente trabalha buscando diferenciá-los para que então seja criado um juízo sensorial.

Segundo Ferrara (1993), a percepção semiótica, enquanto capacidade de apreender e gerar informação a partir da experiência, divide-se em duas dimensões: o percepto e o juízo perceptivo . “O percepto não agride nem estimula a percepção [...] é uma imagem que se apresenta imediatamente na sensação de sua materialidade” (FERRARA, 1993, p. 108). O percepto é uma protopercepção, onde não cabe a consciência, mas apenas o registro do receptor, uma percepção passiva, espontânea e incontrolável.

“O juízo perceptivo, ao contrário, é uma percepção ativa que depende, integralmente da consciência do receptor. Opera ativamente sobre o percepto, na medida em que lhe impõe uma diversificação de aspectos que se valorizam no conhecimento [...]. No percepto registra-se o índice do objeto, uma cor, por exemplo, no juízo perceptivo, a qualidade do objeto passa a ser o elemento que o distingue de outros da mesma espécie e pelo qual ele assume um valor distinto para quem percebe.” (FERRARA, 1993, p. 108).

As informações contidas na experiência perceptiva do indivíduo são colocadas a prova quando este se encontra em uma realidade diferente da habitual. O juízo perceptivo trabalha distinguindo os elementos novos daqueles já conhecidos, o que pode gerar certo interesse

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- ou não - na novidade. O interesse na percepção se exprime em movimento, ou seja, ao perceber algo novo e interessante o indivíduo tende a se movimentar para alcançar detalhes do objeto em questão. Essa relação é elucidada por Bitt-Monteiro (2000) na forma de “universos circundantes”. Estes universos são classificados pelo autor segundo o distanciamento entre o objeto percebido e o indivíduo posto como epicentro da ambiência.

A transgressão dos níveis de percepção em relação a paisagem exprime a experiência de se movimentar no ambiente a fim de apreendê-lo. Dessa forma ao estar distante de um referente paisagístico, o indivíduo tem uma visão e um sentimento por ela causado. A aproximação indica vontade e interesse de perceber com outros sentidos, podendo chegar tão próximo ao objeto que a visão passa a não ser o sentido mais importante, preponderando sobre esta os outros sentidos, principalmente o tato.

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4 - Fotografia, cartões-postais e as cidades

A fotografia nasceu de uma aspiração conjunta e contemporânea de alguns estudiosos e artistas que buscavam fixar a imagem produzida pela câmera escura, conhecida anteriormente e utilizada por pintores para reproduzir imagens em sua busca pela perfeição pictórica. Segundo Scharf (1974), destaca-se William Henry Fox Talbot, um artista amador que representava a paisagem em seus desenhos, e foi um dos responsáveis pela primeira produção de fotografias de paisagem, bem como a descoberta de um dos processos fotográficos: o Calótipo.

De acordo com Scharf (1974) alguns dos calótipos de Talbot são anteriores à metade do século XIX, e são considerados umas das primeiras fotografias de paisagem registradas e publicadas em livros. Nota-se que a produção de fotografias de paisagem foi um dos primeiros interesses dos fotógrafos, fato que pode ser atribuído ao próprio interesse da pintura em representar a natureza. O processo químico/mecânico das primeiras fotografias também influenciaram a escolha pela representação da natureza. As primeiras fotografias levavam horas para serem fixadas no anteparo sensível, desse modo a paisagem, por sua característica quase que inerte e dotada de iluminação favorável, era um tema facilitador do processo.

Sontag (2004) afirma que desde então praticamente tudo foi fotografado. A fotografia ensinava um novo código visual, uma nova forma de olhar para o mundo, modificando e ampliando a ideia do que era possível olhar. Nesse sentido Goveia (2011) sugere que:

“Ainda que a pintura desse conta de produzir alguma imagem para o compartilhamento, a fotografia deu um novo status de magia à técnica de produzir imagens” (p. 25). A característica de carregar as imagens do mundo em pedaços de papel conferiu à fotografia a função de relatar experiências, levando ao observador uma cópia, de certa forma, fidedigna, do referente fotografado.

“Ainda que o surgimento da fotografia possa ser compreendido como uma vitória do cartesianismo como viés científico para entender o mundo, em meados do século XIX era a pintura que buscava se aproximar da realidade, como se pudesse ser a afirmação da verdade. Contudo, quando a primeira imagem foi impressa em um suporte sem a intervenção da mão do homem, a pintura recebeu a alforria do realismo, ficando para a fotografia a missão de representar a verdade por meio de imagens” (GOVEIA, 2011, p. 27).

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Se por um lado a pintura teve sua libertação da realidade, por outro lado alguns fotógrafos almejavam tornar a fotografia um objeto de arte; porém esbarravam na ideia mecânica que se teorizava sobre a mesma. Segundo Dubois (1994) tanto as declarações contrárias quanto as a favor da fotografia tinham em comum o fato de aceita-la como a representação mais perfeita da realidade, uma mimese impecável que somente a química e a ótica permitiam, deixando a parte a intervenção do artista. De fato o momento fotográfico é marcado por uma “mágica” que se dá dentro da caixa preta, onde o autor não tem interferência, porém o processo de escolhas na manipulação do aparelho era de responsabilidade total de um ser humano.

A visão, sobretudo técnica, da fotografia começou a ser dissolvida quando, no final do século XIX, alguns fotógrafos decidiram por contrariar tal tradição, pretendendo tornar a fotografia um objeto artístico. De acordo com Dubois (1994) foi então que surgiu o “pictorialismo”, o movimento que consistia em usar a fotografia na criação das pinturas, trabalhando com manipulações tanto na imagem diretamente quanto na cena a ser retratada (figura 1). Porém ao longo dos anos a discussão entre arte e fotografia não interferiu no interesse popular pelas imagens que o “mistério da caixa preta” produzia. Deixando de ser simplesmente uma invenção curiosa, a fotografia encontrou numa sociedade que buscava se modernizar, o lar perfeito para se transformar em objeto de desejo e de coleção.

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Figura 1 – Fotografia pictórica de Félix Nadar Fonte: piumafotografia1.blogspot.com.

“Fica evidente que a fotografia serviu para satisfazer uma demanda por imagens que tomava conta daquela sociedade. Sendo assim, a discussão sobre o estatuto da fotografia como arte estaria em segundo plano para os que desejavam ter suas imagens impressas para a posteridade. Importante mesmo era ter a imagem registrada, não importando a forma.” (GOVEIA, 2011, p. 31).

Goveia (2011) atribui a D. Pedro II grande importância no que diz respeito a entrada da fotografia no Brasil. Segundo o autor D. Pedro II foi o primeiro brasileiro a usar uma câmera fotográfica já nos anos de 1840, e grande incentivador da técnica.

“Se o uso da fotografia ingressa no cenário brasileiro com certa facilidade, ao contrário do maiores centros mundiais, o formato de uso dessa imagem técnica segue as normas vigentes daquele momento no mundo. Tanto a vertente que primava pela fotografia para registro pessoal - como os retratos - quanto a linha da fotografia de paisagem ganharam impulso importante na metade do século XIX.” (GOVEIA, 2011, p. 31).

Segundo Kossoy (2002) com o início do novo século inicia-se também um novo pensamento de consumo de imagens com origens no século anterior, principalmente devido à invenção da fotografia. Nesse contexto a publicidade institucional começou a ter nessa nova técnica um importante meio de difusão de imagem. Kossoy (2002) atribui à intenção da Monarquia de “civilizar” o Brasil, a essência da questão da utilização da fotografia com interesses publicitários. Nesse sentido Goveia (2011) infere que Kossoy investigou principalmente o que denomina de “última peça publicitária acerca do Brasil elaborada pelo governo imperial, a obra: ‘ Le Brésil: álbum de vues du Brésil ’”. E “desse compêndio surge um ideário da memória coletiva nacional ancorada principalmente na paisagem” (GOVEIA, 2011, p. 32). Goveia (2011) afirma ainda que “as vistas capturadas pelos fotógrafos da segunda metade do século XIX acabaram por elaborar uma identidade visual que em alguns lugares permanece até hoje.” (p. 33).

Um dos grandes meios de divulgação de imagens ainda no século XIX foi o cartão-postal. Além de portarem imagens que divulgavam determinados lugares, era um objeto colecionável e também uma espécie de suvenir. Segundo a definição de Kossoy (2002) o cartão-postal representava, no início do século XX, “um mundo portátil, fartamente ilustrado, passível de ser colecionável, constituído de uma sucessão infindável de temas” (p. 63), que finalmente saciava o imaginário popular.

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Goveia (2011) evidencia a relação entre a fotografia e a criação de uma memória coletiva das cidades, através de uma memória visual atribuída às vistas contidas em álbuns e cartões-postais. Consequentemente a fotografia de paisagem se tornou uma das principais ferramentas para construção de um “imaginário social do fim do século XIX” (p. 34).

“Não por coincidência é nessa mesma época que surge um meio de comunicação que iria revolucionar as relações sociais e encurtar as distâncias. São os cartões-postais, que logo se apropriaram do formato de produção de imagens paisagísticas e passaram a difundir vistas de cidades, entre outros temas, para qualquer região do mundo.” (GOVEIA, 2011, p. 34).

Kossoy (2002) indica que o “modismo” dos cartões-postais, após produções em altos números em países europeus, não tardou a chegar ao Brasil, modificando a maneira de se fotografar também aqui. Sobre o tema o autor afirma que:

“As [...] edições sofisticadas estrangeiras passaram a ser importadas e colecionadas. Ao mesmo tempo, um novo mercado de trabalho, gráfico, editorial e fotográfico passou a existir no Brasil. Fotógrafos conhecidos como retratistas, além de editores locais, voltaram-se também para a produção e veiculação de fotos para postais, predominando as vistas de logradouros e panoramas de cidades, temas esses de interesse comercial mais imediato. Imagens do Brasil multiplicadas pela via impressa foram, a partir de então, incorporadas à iconografia e à ‘cartofilia’ internacional.” (KOSSOY, 2002, p. 65).

A principal função do cartão-postal - de correspondência - aos poucos foi dando lugar ao ato de colecionar. As fotografias presentes nos cartões-postais tinham o caráter de representar lugares geralmente através de seus pontos mais marcantes, lugares esses que, por consequência, a tradição fez com que fossem nomeados de “cartões-postais”. Segundo Goveia (2011) o tipo de enquadramento escolhido pelos fotógrafos de cartão-postal criou um padrão imutável para se fotografar paisagem. O autor afirma que: “Em pouco tempo, a fotografia feita pelos especialistas serviria para transmitir uma informação visual para quem não estava no local em que ela foi capturada.” (GOVEIA, 2011, p. 34).

“A utilização das imagens em postais teve um caráter meramente estético no princípio. Entretanto, as ilustrações não tinham qualquer vinculação com a região da qual partia a mensagem. [...] mas aquilo que era apenas uma forma de dar maior beleza ao postal rapidamente ganhou importância e passou

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para o verso do cartão, tornando-se objeto de coleções e ilustrando os textos daqueles que estavam distantes. Desde então, mandar um postal significa relacionar a imagem com o lugar de onde a pequena carta é enviada.” (GOVEIA, 2011, p. 36).

Através dos postais pessoas que nunca saíram de suas cidades tiveram acesso a grandes centros turísticos através de imagens dos mesmos. O envio de um postal servia de afirmação da presença em determinado lugar. Nesse sentido Goveia (2001) afirma que “a modernidade representa uma transformação social da qual a produção, a circulação e o consumo de imagens são fundamentais” (p. 39). Kossoy (2002) confirma a ideia de que o cartão-postal dava acesso a lugares sem que fossem visitados fisicamente:

“Os cartões-postais, independentemente da fúria colecionista de que foram objeto, particularmente no período 1900-1925, considerado sua ‘idade de ouro’, sempre propiciaram a possibilidade imaginária de viajar para qualquer parte do mundo sem sair de casa, além de terem prestado, obviamente, aos mais elaborados sonhos e fantasias sexuais.” (KOSSOY, 2002, p. 65).

Desse modo a popularização da fotografia era algo iminente. Os retratos, os cartões-postais, os álbuns de família, toda essa produção fotográfica encantava o homem moderno. A ideia de estar eternizado em imagem, o que já encantava a burguesia há muito tempo através da pintura, agora era facilitada pelo processo rápido e considerado fidedigno. Ao decorrer do século XIX a fotografia passou por momentos de intensa modificação, e chega ao século XXI como uma atividade profundamente presente no cotidiano do ser humano, e aparentemente fundamental para a manutenção das relações sociais.

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5 - O processo criativo da fotografia, sua modernização e popularização

De acordo com Kossoy (2002) a imagem fotográfica depende de elementos que possibilitam sua existência material no mundo: o assunto que é o objeto de registro; a tecnologia que possibilita sua execução; e o fotógrafo que, motivado por razões pessoais ou profissionais, idealiza, elabora, através de um complexo processo cultural/estético/técnico que se configura na expressão fotográfica. Ao fazer fotográfico estão intrínsecos o espaço e o tempo que subentendem o contexto histórico específico e seus desdobramentos sociais. Sobre o processo criativo do fotógrafo Kossoy (2002) teoriza que este é uma sucessão de alternativas estéticas, culturais e tecnológicas que dá origem à representação fotográfica, que capturam a imagem momentânea do mundo persistente no tempo como um documento dos acontecimentos de determinada época. Naquela imagem estão inerentes “componentes de ordem material, que são os recursos técnicos, ópticos, químicos ou eletrônicos, [...] e, os de ordem imaterial, que são os mentais e os culturais.” (KOSSOY, 2002, p. 27).

A gênese da fotografia foi marcada por opiniões de teóricos interessados em discutir, em sua maioria, a arte industrial que lhes parecia representada pela câmera fotográfica, sem que fosse levado em consideração o processo de criação do fotógrafo, tratando-o como apenas um agente do aparelho químico/mecânico. Sobre as ideias daqueles autores Dubois (1994) infere que:

“Embora comportasse declarações muitas vezes contraditórias e até polêmicas - ora de um pessimismo obscuro, ora francamente entusiastas -, o conjunto de todas essas discussões, de toda essa metalinguagem nem por isso deixava de compartilhar uma concepção geral bastante comum: quer seja contra, quer a favor, a fotografia nelas é considerada como a imitação mais perfeita da realidade. E, de acordo com os discursos da época, essa capacidade mimética procede de sua própria natureza técnica, de seu procedimento mecânico, que permite fazer aparecer uma imagem de maneira ‘automática’, ‘objetiva’, quase ‘natural’ (segundo tão-somente as leis da ótica e da química), sem que a mão do artista intervenha diretamente.” (DUBOIS, 1994, p. 27).

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A fim de contrariar essa tendência a classificar a fotografia como técnica e produto químico, alguns artistas buscaram criar uma relação próxima da fotografia com a pintura, como mostrado anteriormente, e disso surgiu o pictorialismo. Sobre a produção artística do pictorialismo Tacca (2007) diz que:

“Nas relações com a estética, é importante lembrar que no pictorialismo temos um primeiro estilo no qual se encontra mais fortemente a noção de autor, marcado pela presença da manipulação artesanal das imagens, considerada parte da criação artística, conforme colocou Charles Baudelaire, observando e respeitando as “noções da época”. Assim, a marca desse estilo estava em alterar uma imagem realística e dar a ela uma aura, ou um clima de algo esmaecido por técnicas de viragens para escapar do realismo duro e direto.” (TACCA, 2007, p. 117).

Em meio às discussões sobre a criação dos direitos autorais, fotógrafos tentavam classificar sua produção como autoral intencionando a inclusão no pleito. Segundo relato de Fabris (2003) a corte francesa ao se deparar com processo de requerimento de direitos autorais em fotografia em meados do século XIX, se declina a declarar a fotografia como produto mecânico e não uma “produção do espírito humano” (TAGG, 1988, apud FABRIS, 2003). Sobre o mesmo caso de estudo, Scharf (1974) transcreve a defesa do advogado M. Marie, para que fosse considerada artística a produção fotográfica, e, por conseguinte, ser pleiteada nas leis de direitos autorais:

“Arte, dizem, é beleza, e beleza é verdade em sua realidade material. Se vemos verdade na fotografia e se verdade em sua forma exterior encanta os olhos, como pode, então deixar de ser beleza! E se todas as características da arte são encontradas aí, como pode deixar de ser arte! Pois bem! Protesto em nome da filosofia!” (SCHARF, 1974, p. 151, tradução nossa).

Dessa forma o processo criativo do fotógrafo foi defendido como semelhante ao do artista plástico. Scharf (1974) afirma que o fotógrafo não pode ser considerado somente um manipulador do aparato mecânico; ele é tão inventor quanto o artista, já que antes de apertar acionar o dispositivo ele imagina como a fotografia se compõe, e então com a câmera, fotografa o que sua inteligência lhe dispôs.

O fotógrafo ao acionar a câmera toma certas decisões relevantes para a imagem que disso resultará. Sua primeira opção para a criação de uma fotografia é a motivação interior

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ou exterior; pessoal ou profissional; a seleção do assunto, seja em função de desejo individual de expressão, seja de encargos específicos que visam uma determinada aplicação. A finalidade/intencionalidade influirá decisivamente na concepção e construção da imagem final. O assunto retratado carrega consigo uma série de seleções de diversas naturezas, que concomitantemente interagem entre si determinando o caráter da representação fotográfica.

Kossoy (2002) sugere que dessas escolhas resulta uma série de etapas inerentes ao fazer fotográfico que, em geral, se confundem com a própria prática. Essas etapas podem ser elencadas da seguinte forma: a seleção do assunto; a seleção dos equipamentos e materiais fotossensíveis; seleção do enquadramento do assunto, ou seja, organização visual dos elementos do assunto presentes no visor da câmera com o propósito de se alcançar certo efeito na imagem final; seleção do momento, a decisão de apertar o obturador num determinado instante levando em consideração os cálculos de velocidade e abertura do obturador para obtenção do resultado desejado; processamento do filme; pós-produção, ou seja, a seleção de possibilidades de interferência na imagem final com o objetivo de atenuarem ou dramatizarem a representação.

“A imagem fotográfica contém em si o registro de um dado fragmento selecionado do real: o assunto (recorte espacial) congelado num determinado momento de sua ocorrência (interrupção temporal) . Em toda fotografia há o recorte espacial e uma interrupção temporal , fato que ocorre no instante (ato) do registro.” (KOSSOY, 2002, p. 29).

Segundo Dubois (1994) a imagem fotográfica detém, fixa, imobiliza, destaca, capta do referente um único instante naturalmente nunca repetido; da mesma maneira ela fraciona, isola, capta, recorta uma porção, uma porção única e singular de espaço-tempo. Nesse sentido Kossoy (2002) acrescenta que ao realizar o recorte de tempo e espaço, o fotógrafo consciente ou inconscientemente faz essa seleção sob a ótica de um tema através do qual pretende realizar a imagem. Tais escolhas passam pelo repertório pessoal e pelos filtros individuais do autor do registro. Portanto, de acordo com Ferrara (1993) “é indispensável admitir uma liberdade e uma opção do fotógrafo ao mover a câmera na cena da realidade ambiental, liberdade e opção que representam sua ideologia, sua escala de valores” (p. 267).

O processo de criação da fotografia, num primeiro momento, era algo meticuloso, uma vez que de todas as escolhas que o fotógrafo dispunha, e a combinação delas poderia

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gerar resultados diversos. Levando em consideração esse processo de escolhas, ainda no final do século XIX já se poderia considerar que a imagem final era o resultado da interpretação pessoal de um determinado referente, e, pode-se dizer que, diferentes pessoas poderiam fotografar o mesmo referente em diversas abordagens. Essa lógica ainda permanece na atualidade, porém com a modernização dos equipamentos fotográficos, as escolhas, são principalmente de ordem interpretativa do referente, e não tanto técnicas.

Os anos que seguiram a descoberta da fotografia foram marcados por uma produção fotográfica sobretudo profissional. O aparato tecnológico, nesse caso a câmera, não era algo acessível. Por mais que o produto final, ou seja, a imagem fotográfica, fosse algo já popular, a produção ainda era uma atividade dominada por poucos. Porém em 1888, George Eastman, fundador do grupo Kodak, criou a primeira câmera popular. As chamadas “ Brownie Cameras ” (figura 2) consistiam em uma caixa com filme de papel para 100 fotos. Com o slogan “você aperta o botão, nós fazemos o resto” (figura 3) a promessa de Eastman era levar a fotografia a percorrer novas camadas da sociedade, e de fato popularizar a produção fotográfica. As fotos tomadas pela “ Brownie Camera ” eram reveladas e entregues para o fotógrafo, bem como a câmera com um novo rolo de filme, sem que o usuário precisasse de se preocupar em manipular a tecnologia, e somente apertar o botão (KODAK, 2013).

Tendo sido bem sucedida a empreitada de Eastman, outros fabricantes se lançaram no mercado gerando uma competitividade que acelerou o processo de descobertas de novas técnicas e aprimoramento das câmeras. Segundo Burmester:

“A inserção da fotografia em um contexto comercial criou uma dinâmica de renovação contínua de todo o aparato fotográfico ao longo do tempo e de sua história. Concomitantemente ao movimento dinâmico da linguagem fotográfica, o aprimoramento tecnológico se sucedeu em igual ou maior velocidade, criando novas possibilidades de expressão ou renovando as suas capacidades operacionais em reação aos anseios de fotógrafos profissionais e amadores.” (BURMESTER, 2006, p. 19).

A fotografia, quando ganhou maior popularidade a partir do final do século XIX, começou a deixar de ser exclusivamente um privilégio dos artistas e profissionais, passando a ser um objeto de consumo para as massas. Segundo Burmester (2006) na sua evolução, a técnica fotográfica foi constantemente modernizada, passando dos enormes aparelhos munidos de chapas metálicas onde a foto era fixada, a pequenas câmeras portáteis com rolos de filmes. Em 1947 a fotografia ganhou cor, uma vez que até então a fotografia em preto e

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Figura 2 (à direita) - “Brownie Camera” da Kodak.

Fonte: Trafor.com.

Figura 3 (a baixo) - Peça publicitária da Kodak para as “Brownie Cameras”.

Fonte: Wikipédia.com.

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branco representava o padrão, podendo ser colorida somente por processos manuais na pós-produção.

Assim como no cinema e na televisão, a passagem do preto e branco para o colorido significou para a fotografia um grande avanço. O período em que se criou o filme fotográfico colorido não é por coincidência um período entre a Segunda Guerra Mundial e o início da Guerra Fria. Paul Virilio (1993) em sua obra “Guerra e Cinema” analisa o processo de utilização dos meios de produção de imagem pelos militares, atribuindo sua principal causa à necessidade de tecer uma guerra fora das trincheiras. Segundo o autor:

A guerra não pode ser jamais separada deste espetáculo mágico porque sua principal finalidade é justamente a produção deste espetáculo: abater o adversário é menos captura-lo do que cativá-lo, é infligir, antes da morte, o pânico da morte. Para cada episódio decisivo da histórica das batalhas existe um homem para lembrar, de Maquiavel a Vauban, de von Molkte a Curchil: ‘ a força das armas não é uma força brutal, mas uma força espiritual ’ (VIRILIO, 1993, p. 12).

Virilio (1993) caracteriza a guerra acima de tudo como uma guerra de aparências. Assim como indústria bélica se modernizava e buscava sempre criar armas mais poderosas que as do inimigo, também a indústria da imagem buscava a superação para dar base à propaganda militar. Nesse contexto Oliveira (2006) sugere que a imprensa mundial aumentava também sua exigência por profissionais do setor de fotojornalismo, o que, consequentemente, aumentava a cobrança por aparelhos mais leves e ágeis, estimulando o interesse da constante renovação do setor industrial fotográfico.

Concomitantemente à revolução da fotografia, na segunda metade do século XX se deu a união das telecomunicações com a informática. Segundo Costa (2002) como consequência teve início a “tradução de qualquer linguagem visual ou sonora, produzida por qualquer veículo ou técnica, para linguagem numérica através de código binário. Instalava-se a era da comunicação digital” (p. 75). O surgimento da informática e da internet mudou radicalmente os processos produtivos, bem como a relação entra as partes nele envolvidas e a comunicação. De acordo com a autora Nesse momento surgem as primeiras imagens digitais, primeiramente no campo da astronomia, se expandindo para outras áreas como a medicina, até chegarem ao uso público em geral.

A internet possibilitou a criação de redes de comunicação e compartilhamento de informações que se dão em tempo real: o ciberespaço. O vínculo entre a produção de ima -

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gens digitais e seu compartilhamento na rede, de certa forma, modificou o processo de criação das fotografias. O ato fotográfico é empreendido em processo similar na fotografia analógica e na digital, para os fotógrafos que não necessariamente possuem a expertise da fotografia (consideram-se aqui pessoas em geral munidas de câmeras). Entretanto o ato de clicar, ver, guardar ou apagar as fotografias e compartilhá-las, passou a se dar de forma instantânea. Aquela preocupação com a tomada da foto, existente numa época em que o número de fotografias era determinado pela quantidade de poses do filme, parece ter desaparecido, tornando o processo de criação da fotografia um ato de tentativas e erros em tempo real, e a internet passou a ser o destino final da maioria dessas imagens. O compartilhamento de fotografias na rede, principalmente na era das redes sociais da web , de certa maneira é o mote da fotografia, podendo até acontecer instantaneamente no caso dos aparelhos portáteis munidos de câmera e acesso à internet .

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6 - Desconstrução do signo fotográfico

6.1 - O ser e o estar da fotografia

Segundo Santaella e Nöth (2005) o que sustenta a tradição de veracidade da imagem fotográfica é que a mesma funciona ao mesmo tempo como índice (a prova de que o objeto existe ou existiu), e ícone (comprovação da aparência do assunto).

A fotografia é, inegavelmente, aceita como espelho do real, ela fornece provas de que o que está representado de fato ocorreu. Sempre há naquela imagem um referente, imóvel, aderido, um fato que jamais ocorrerá novamente e segundo Barthes (1984), “a fotografia repete mecanicamente o que nunca mais poderá repetir-se existencialmente” (p. 13). Essa espécie de regra da representação fotográfica ao longo dos anos fez com que a mesma tomasse espaço de documento real para as massas. De acordo com Dubois (1994) essa virtude irredutível de testemunho baseia-se principalmente na consciência que se tem do processo mecânico de produção da imagem fotográfica.

Ao observar uma fotografia tem-se duas constatações: a certeza de que o objeto foi fotografado, ou seja, a presença do referente é inegável, ele ESTÁ na foto; e a aparência do referente, como ele É, suas características físicas e suas expressões. Em termos da semiótica isso se traduz no índice iconográfico presente em toda fotografia. Kossoy (2002) teoriza sobre o índice iconográfico da seguinte forma:

“- índice: prova, constatação documental que o objeto, o assunto representado , tangível ou intangível, de fato existiu/ocorreu; qualquer que seja o conteúdo de uma fotografia nele teremos sempre o rastro indicial (marca luminosa deixada pelo referente na chapa fotográfica) mesmo que esse referente tenha sido artificialmente produzido ;

- ícone: comprovação documental da aparência do assunto e da semelhança que o mesmo tem com a imagem fixada na chapa; isto em função da característica peculiar do registro fotográfico cuja tecnologia possibilita a obtenção de um produto iconográfico com elevado grau de semelhança com o referente que lhe deu origem.” (KOSSOY, 2002, p. 33).

Dubois (1994), ao analisar textos de teóricos da imagem e da fotografia como André Bazin e Roland Barthes, aproxima-se da constatação de que antes de se tornar um ícone a fotografia é essencialmente um índice, um testemunho irredutível da existência do referen -

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te, o que, não necessariamente faz com que o registro se pareça com ele; “o peso real que a caracteriza vem do fato de ela ser um traço, e não de ser mimese” (DUBOIS, 1994, p. 35)

Porém não se pode compreender o índice iconográfico separadamente do processo de criação do fotógrafo, segundo suas intenções, escolhas. Esta é a comprovação da ocorrência/aparência do referente que o fotógrafo “pretendeu perpetuar” (KOSSOY, 2002, p. 34), e em muitos casos há na representação uma intencionalidade; o índice prova sua presença na fotografia, porém o corte do espaço/tempo pode tornar sua iconografia um produto da mente do fotógrafo.

6.2 – Dualidade: verdade e ficção na fotografia

Ainda que carregue o rastro de realidade, a fotografia não é perfeita, ou pelo menos não era no final do século XIX e início do século XX, quando o debate sobre realidade fotográfica tomou grandes proporções. Segundo Dubois (1994), enquanto no final daquele século o debate consistia na semelhança da fotografia com o real, no início do século XX os discursos insistiam na transformação do real pela foto. De fato a fotografia, mesmo na atualidade, não oferece total fidelidade, não traduz em seu espectro a mesma experiência que se tem ao presenciar tal paisagem/acontecimento, e pode conter manipulações, mesmo que minuciosas e não intencionais, devido ao seu processo mecânico de emulação do olhar.

De acordo Kossoy (2002) a natureza químico mecânica da fotografia de registrar seleções de determinadas realidades é o que a eleva a um status de credibilidade. Porem há de se ressalvar que mesmo que a fotografa tenha um valor incontestável de documentação de fatos, lugares e pessoas, “ela sempre se prestou e sempre se prestará aos mais diferentes e interesseiros usos dirigidos” (KOSSOY, 2002, p. 19). Segundo o autor:

“As diferentes ideologias, onde quer que atuem, sempre tiveram na imagem fotográfica um poderoso instrumento para veiculação das ideias e da consequente formação e manipulação da opinião pública [...], e tal manipulação tem sido possível justamente em função da [...] credibilidade que as imagens têm junto à massa, para quem, seus conteúdos são aceitos e assimilados como expressão da verdade.” (KOSSOY, 2002, p. 20).

Kossoy (2002), em seu livro “Realidades e ficções na trama fotográfica”, traça um panorama acerca do estudo histórico segundo documentos fotográficos, partindo do princípio de que grande parte dos referentes fotografados pode ser manipulada segundo a intenção do fotógrafo. O mercado publicitário soube utilizar dessa manipulação de forma a criar

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mini-histórias que promovessem imagens de produtos associados ao bem estar e ao prazer, como por exemplo, o cigarro, levando às massas mensagens codificadas pela retórica da propaganda de um estilo de vida a ser imitado. Com os avanços tecnológicos, principalmente na área da manipulação de imagens, a modificação do índice iconográfico está cada vez mais potencializada atingindo a produção de imagens completamente traiçoeiras, criadas digitalmente, que carregam uma “falsa realidade”.

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7 - O ato fotográfico

Em suas inúmeras possibilidades de usos, a fotografia é uma forma de captação de realidades, de documentação de acontecimentos, assim como o ato de dispor-se detrás de uma câmera ajuda as pessoas a “tomar posse de um espaço em que se acham inseguras” (SONTAG, 2004 p. 19). Alguns mitos sobre imagem - desde a pintura rupestre, onde a imagem participava da realidade do objeto, até o momento em que se acreditava que uma fotografia roubaria a alma do ser fotografado - parecem permanecer vivos ainda hoje. Ver não basta, faz-se necessário capturar, e não somente para rememorações como para reafirmação da presença naquele lugar. Sontag (2004) confirma essa ideia ao afirmar que “a humanidade permanece, de forma impenitente, na caverna de Platão, ainda se regozijando, segundo seu costume ancestral, com meras imagens da verdade.” (p. 13).

Desde a criação da fotografia em meados do século XIX praticamente tudo foi fotografado, ou pelo menos parece. De acordo com Sontag (2004): “Ao nos ensinar um novo código visual, as fotos modificam e ampliam nossas ideias sobre o que vale a pena olhar e sobre o que temos direito de observar” (p. 13). De certa forma a fotografia nos dá a impressão de que podemos colecionar o mundo, de que podemos retê-lo como numa antologia de imagens.

“Fotos, que enfeixam o mundo, parecem solicitar que as enfeixemos também. São afixadas em álbuns, emolduradas e expostas em mesas, pregadas em paredes, projetadas como dispositivos. Jornais e revistas as publicam; a polícia as dispõe em ordem alfabética; os museus as expõem; os editores as compilam.” (SONTAG, 2004, p. 15).

Um dos maiores exemplos da utilização da fotografia é o turismo. De acordo com Sontag (2004): “Parece decididamente anormal viajar por prazer sem levar uma câmera.” (p. 19). A fotografia ajuda as pessoas a tomar posse do local que estão visitando, assim como oferecem provas incontestáveis que a viagem se realizou. Segundo a autora os turistas sentem na fotografia a realização de fato do momento que estão vivendo, ou seja, de que estão viajando. O fato de a fotografia trazer certa segurança para o viajante faz com que coloquem a câmera entre si e tudo de notável que encontram, dando forma à experiência de parar, tirar uma foto e seguir.

Para prosseguir com o pensamento sobre o ato de fotografar é necessário que se faça

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uma diferenciação entre o fotógrafo profissional, o amador, e o fotógrafo casual. O fotógrafo profissional é aquele que faz da fotografia sua forma de rentabilidade, geralmente possui uma intenção clara para realização do registro e uma finalidade comercial para tal foto. Por exemplo, os fotógrafos ligados ao fotojornalismo, à publicidade, e à produção artística.

O amadorismo diz respeito àqueles que não têm na fotografia sua principal fonte de renda, esses podem conhecer ou não a técnica fotográfica, podem ser livres pesquisadores da fotografia ou mesmo a pessoa com uma câmera registrando os momentos familiares. Algumas vezes os fotógrafos amadores podem produzir fotografias até melhores do que os profissionais, porém a finalidade do registro é o que implica a denominação. A designação de fotógrafo casual apresentada aqui diz respeito às pessoas que carregam consigo câmeras e utilizam delas para retratar o cotidiano, mesmo aqueles que não possuem a câmera propriamente, fazem suas fotografias através de aparelhos celulares e outros dispositivos móveis que possuem função de câmera, das menores às melhores qualidades. Esses fotógrafos, na maioria dos casos, não se importam com a qualidade do registro, e sim com o referente captado.

Para cada um desses fotógrafos o momento fotográfico tem um sentido particular. Os fotógrafos profissionais, em sua maioria, detêm o conhecimento técnico do processo fotográfico e, portanto conseguem expor em seu registro uma intenção específica, como é o caso dos fotógrafos jornalistas. Segundo o diretor de fotografia da revista National Geographic , David Griffin (2008), cada um de nós possui pelo menos uma ou duas grandes fotografias, mas para ser um grande fotojornalista tem que se ter mais do que isso, tem que produzir grandes fotografias sempre, fotografias que acima de tudo teçam uma narrativa visual (figura 4). Assim também o fotógrafo artista cria algo que chame a atenção, algo que se diferencie do comum, como por exemplo, o fotógrafo Edward Burtynsky, que ao perceber que suas fotografias de paisagens imaculadas não teriam grande apelo ao público, decidiu contrariar-se e fotografar paisagens modificadas pelo homem (figura 5).

Sobre o fotógrafo amador faz-se aqui uma diferenciação do que comumente se designa para amadorismo - contrário do profissional - admitindo esse conceito para a fotografia como passionalidade, ou uma atividade prazerosa sem finalidade comercial. Esses fotógrafos necessitam somente uma câmera que não essencialmente são câmeras grandes, de alta qualidade e portadoras de grandes recursos. A câmera do fotógrafo amador pode ser comum ou mesmo as que permitem maiores manipulações, já que por prazer, esses fotógrafos buscam algum conhecimento sobre a técnica e possuem um repertório de observação que lhes

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Figura 4 – Fotografia de Jonas Bendiksen em Dharavi, periferia de Mumbai, Índia. Fonte: Arkitera.com. Figura 5 – Fotografia de Edeard Burtynsky. Nickel Tailings No. 34, Sudbury. Ontario, Canada 1996. Fonte: Tailgrab.org

permite a cognição da estética fotográfica. Um expoente da fotografia amadora é o fotógrafo Roger Merrifield que retratou uma série de paisagens da Grã-Bretanha refletidas em lagos, produzindo em suas fotos efeitos que impressionam, chegando a parecer artificialmente produzidos (figura 6).

Na última década vem crescendo substancialmente no círculo fotográfico o culto pela fotografia analógica. São principalmente os fotógrafos amadores que buscam na antiga técnica fotográfica parâmetros estéticos ditos “retrô”. Assim vê-se nascendo um saudosismo e uma busca por qualidade, que, bem como no mundo da música onde há a tendência do retorno do vinil, traz a sensação do apalpar o material, a eventual presença de imperfeições, e a imprevisibilidade. Em 2009 estaria sendo anunciada a extinção da fotografia analógica com o anuncio pela empresa Kodak de encerramento da produção do filme Kodachrome, que fora sinônimo de fotografia nas décadas anteriores. Porém uma nova indústria já surgia, a da Lomografia , que produz câmeras inspiradas nos modelos antigos, assim como rolos de filmes com novos efeitos (figura 7), e permite acesso à fotografia analógica tanto aos mais dedicados que produzem fotos surpreendentes, quanto àqueles que querem “se manter na moda” e se divertir.

O movimento fotográfico que mais cresce nos últimos anos é aquele ligado aos fotógrafos casuais. Desde o final dos anos de 1990, quando a empresa Sony lançou a primeira câmera digital comercializável o número da produção fotográfica foi elevado consideravelmente. Porém o que veio a causar maior impacto no crescimento da fotografia foi à junção da câmera digital com outros elementos, como o aparelho celular, a internet móvel e as redes sociais da web . Nesse sentido, o Facebook , atualmente, é o site de maior relevância chegando a conter fotografias na casa das centenas de milhão, e sua recente aquisição de outra rede voltada somente para fotografias, o Instagram , faz com que esses números cresçam a cada dia. O Instagram , além de carregar na rede as fotografias de modo instantâneo, ainda oferece filtros que remetem àquelas fotografias ditas anteriormente como “retrôs” tornando sua estética única e de rápida compreensão de origem. A portabilidade da fotografia aliada à possibilidade de publicação instantânea confere a essas fotos a característica de representação do cotidiano: os lugares por onde se passa, o que se come, o encontro com amigos, acontecimentos incomuns, etc. (figura 8).

As fotografias produzidas por profissionais carregam uma intencionalidade especifica, não necessariamente imaculadas, já que se considera que estes tenham consciência da potencialidade que as fotos tem de criar ou modificar realidades no imaginário da massa

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Figura 7 – Fotografia lomográfica. Giovani Goltara. Fonte: acervo pessoal. Figura 8 – Fotografia de página pessoal do Instagram de Giovani Goltara. Fonte: acervo pessoal.

receptora. Por outro lado as fotografias amadoras são mais interessadas em expressar uma paixão pelo próprio ato de fotografar, contendo sim, signos da representação individual, porém geralmente não intencionados como da foto profissional. Essas fotografias e, principalmente, as produzidas instantaneamente, devido ao seu processo de criação despretensioso, se mostram relevantes no âmbito da percepção urbana, visto que, segundo Ferrara (1993), existe uma liberdade e uma opção do fotógrafo ao escolher o objeto do registro, escolha essa que representa sua ideologia, sua escala de valores.

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8 - A fotografia como instrumento

A fotografia, dentro de todas suas formas de utilização, presta serviço também a estudos técnicos e pesquisas específicas, agindo não só como uma ilustração, mas como casos de estudo. Também há quem use a fotografia como suporte para percepção. De certa forma a câmera em alguns casos se torna o próprio olho humano. Um exemplo desta propriedade da fotografia é o do fotógrafo cego. Neste caso a câmera se torna o meio de expressão da visão que o sujeito cria em sua mente através dos sentidos que lhe são oferecidos. Peixoto (2009) relata a experiência de Evgen Bavcar, um fotógrafo cego que fotografa contra o vento. Para ele o vento delineia o contorno e a posição das coisas, confere sentido ao seu olhar, faz surgir em sua memória paisagens de outros tempos (figura 9).

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Figura 9 – Fotografia de Evgen Bavcar. Fonte: Metamorfose Digital

Mesmo na falta das atuais tecnologias, ainda no princípio do século XX, muitos fotógrafos lograram utilizar de sua arte/técnica para criar imagens com falsas realidades, ou realidades fragmentadas. Como elucidado anteriormente, o advento do cartão-postal e das revistas ilustradas, entre outras formas de difusão da imagem impressa, representou uma verdadeira revolução na história da cultura, tornando as imagens acessíveis às massas. Segundo Kossoy (2002), com o nascimento do novo século, foi inaugurada, também, a era da imagem multiplicada para o consumo, consolidando-se então o que se convencionou chamar de “civilização da imagem”. Ainda no final do século XIX os países europeus produziram cartões-postais na casa dos milhões, sendo a França seu líder em quantidade.

“Refletindo sobre tais números, é de se imaginar em que medida a notável proliferação deste meio de expressão e correspondência e, também, objeto de coleção, não teria influído no comportamento e mentalidade dos homens em todas as latitudes. Refiro-me, por um lado, à possibilidade de conhecimento visual do mundo...” (KOSSOY, 2002, p. 64).

Chegando ao Brasil, no início do século XX, principalmente em São Paulo, o cartãopostal foi uma importante forma de propaganda da modernização das cidades. A arquitetura, os costumes, a moda, eram importados da Europa, e o que era retratado nas fotografias geralmente destinava-se a à criação de um imaginário urbano dentro e fora daquela ambiência. De acordo com Prado (2004) o traço marcante da modernização brasileira foi seu caráter imagético, onde o ideal de modernidade, muitas vezes, resumia-se a um cenário que criasse tal atmosfera. A autora estudou a forma como a fotografia prestou serviço na criação de atmosfera visual no momento de modernização da cidade de Vitória entre os anos de 1890 e 1950. Em seu estudo Prado (2004) concluiu que, entre outras coisas, as fotografias contribuíram para concretização da ação física sobre o espaço urbano, não somente por documentarem as modificações da cidade, mas também por haverem atuado na difusão do ideal de modernidade. Para tanto foram introduzidas no cotidiano capixaba imagens de outros centros, com seus desenhos urbanos já modernizados, sua arquitetura, seus costumes, contribuindo para formar nas mentes o que seria o ideal de cidade moderna. Os postais examinados pela autora indicavam o foco dos fotógrafos nos palacetes públicos, posicionando-os sobre eixos centrais e ocultando o que ainda não havia sido renovado. Desta forma tentou-se criar uma imagem da cidade de Vitória que não correspondia totalmente à realidade, e destacar as intervenções pontuais no tecido urbano, obras arquitetônicas e costumes relativos a uma classe social minoritária.

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Enquanto a fotografia é levada a percorrer caminhos de representação não completamente idôneos, por outro lado alguns estudos sobre a cidade e a paisagem são capazes de empregá-las com sucesso tanto em ilustrações como em métodos de análises. Se por um lado é inegável que as fotografias são portadoras de ambiguidades, por outro seu potencial não só ilustrativo, como metodológico, foi bem abarcado por Gordon Cullen (1983) por exemplo. Cullen (1983) em seu trabalho sobre a percepção urbana tratou a visão como principal forma de apreensão da paisagem urbana. Dentre os aspectos da experiência visual da paisagem destacados pelo autor em “Paisagem Urbana” está a ótica, que, no percurso do transeunte pela cidade, se desenvolve em uma sucessão de pontos de vista. Cullen (1983) afirma que: “A paisagem urbana surge na maioria das vezes como uma sucessão de surpresas ou revelações súbitas. É o que se entende por VISÃO SERIAL” (p. 11). Para exemplificar a experiência da Visão Serial, o autor utilizou fotos em série que emulam o olhar do transeunte (figura 10).

Fonte: CULLEN, 1983.

No campo da pesquisa relacionada à análise de construção da paisagem, Mendonça (2005) utiliza a fotografia tanto na reconstituição histórica da paisagem, através de relatos de viajantes que percorreram a costa do Espírito Santo ou visitaram Vitória na segunda metade do século XIX, quanto para mapeamento de percurso em torno do elemento referencial da paisagem em estudo (figura 11).

Para trabalhos com finalidades semelhantes aos de Cullen (1983) e Mendonça (2005), o documento fotográfico tem o caráter de ilustrar, de representar, sendo assim as “armadilhas” da fotografia não interferem diretamente no resultado da análise. Se for con -

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Figura 10 – Fotografias sequenciais em Ipswich (cidade britânica).

Fonte: MENDONÇA, 2005.Fotografia e produção gráfica de Gabriela Leandro Pereira.

siderada a intenção do fotógrafo no instante do registro em fotografar o que avalia relevante para seu estudo, a fotografia mostra-se como uma extensão do olhar, uma forma de apreensão rápida e eficaz do referente em questão.

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Figura 11 – Níveis de percepção do Morro do Guajuru.

CONVENTO DA PENHA HISTÓRIA E REFERENTE

9 – A escolha do referente

A escolha pelo Convento da Penha como elemento de estudo para este trabalho pauta-se, primeiramente, na ideia de marcos da paisagem proposta por Kevin Lynch (1997). Segundo o autor a caracterização de um elemento como “marco” parte de uma análise de referência no contexto da cidade. Um marco é, antes de tudo, um ponto de referência que se destaca pelo contraste aos demais elementos contidos no mesmo espaço. Devido à sua altura de implantação, o Convento se enquadra nas possibilidades de reconhecimento de marcos propostas por Lynch (1997):

“O predomínio espacial pode fixar os elementos como marcos de duas maneiras distintas: torando o elemento visível a partir de muitos outros lugares[...], ou criando um contraste local com os elementos vizinhos, isto é, uma variação em recuo e altura.” (Lynch, 1997 p.89).

Sua imponência em altura confere ao Convento e ao outeiro onde se posiciona, certa facilidade de visualização no contexto urbano. Porém em alguns pontos da cidade essa vista pode ficar comprometida pelas construções que impedem o ângulo visual. Nesse sentido, e considerando-se sua significativa importância histórica e cultural, nota-se que há um interesse em manter essa visibilidade através de interferências na lógica construtiva da cidade, como por exemplo, a perspectiva visual voltada para o Convento proposta por Saturnino de Brito na abertura da Avenida Nossa Senhora da Penha, e os recentes estudos para sua manutenção.

De acordo com Lynch (1997) a história e o significado ligados ao objeto fazem aumentar sua qualidade de marco. No contexto do Convento essas características são inegáveis, já que, além de seu significado religioso, possui um forte caráter de memória, estando presente no território capixaba desde os princípios da colonização.

Aprofundando-se no contexto deste trabalho, que tem na fotografia seu objeto de análise perceptiva, vale considerar a produção fotográfica relacionada ao Convento da Penha como justificativa de sua escolha. Para tanto foi feita uma pesquisa sobre a quantidade de fotografias de elementos considerados de interesse turístico na cidade de Vitória, para que se criasse uma espécie de ranking .

Tratando-se este trabalho de uma análise contemporânea, foi estabelecido uma fonte de pesquisa para a criação de um ranking , que demonstrasse a produção de fotografias

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da atualidade. Como exposto anteriormente, a fotografia no século XXI tomou proporções extraordinárias, estando presente no cotidiano da sociedade como elemento de sociabilização. Um dos expoentes dessa produção e do compartilhamento de fotografias mais atual é a rede social da internet Instagram .

O Instagram é uma plataforma de compartilhamento de fotos online criada por Kevin Systrom e Mike Krieger (WIKIPÉDIA english ). Seu funcionamento é simples e acessível, de forma que o usuário portador de um smartphone adquire o aplicativo gratuitamente, cria uma conta, encontra amigos, tira fotos, aplica um filtro à foto e a compartilha. Através de uma linha do tempo é possível visualizar fotos dos contatos, comentá-las e curti-las (o ato de apetar um botão que diz que gostou da foto). Além de compartilhar fotos no próprio aplicativo, também é permitido integrar e publicar fotos em outras redes sociais: Facebook , Twitter , Flickr , Tumblr e Forsquare . Seu formato de fotografias é semelhante ao das câmeras Polaroid , um formato clássico 1:1, diferente do formato normal das câmeras de celular 3:2. Os filtros variam em torno de 20 diferentes e com molduras que remetem à estética das antigas câmeras analógicas.

Além do compartilhamento de fotos, o Instagram dispõe da opção de marcações representadas pelo símbolo de sustenido (#), mais o nome da marcação, como por exemplo: #conventodapenha . A esse conjunto dá-se o nome de hashtag . Dessa forma o usuário tem a opção de colocar sua foto em uma rede de fotografias sobre o mesmo assunto. Ao buscar uma hashtag tem-se um elenco de todas a as fotografias com a marcação idêntica. Isso possibilita a visualização de um panorama de fotos sobre o mesmo assunto, além da indicação de quantidade de resultados.

No dia 22 de abril de 2013 foi feita uma busca de fotografias, da forma exposta acima, sobre pontos considerados de interesse turístico nas cidades de Vitória e Vila Velha. Dentre os pontos buscados, além do Convento da Penha, o Shopping Vitória, a Ilha das Caieiras, o Palácio Anchieta, o Museu Ferroviário da Vale e o Píer de Iemanjá, foram os que apresentaram maior número de fotografias. Na tabela 1 esses pontos foram organizados em forma decrescente de acordo com o número de fotografias, e após a identificação do local foi colocada a hashtag utilizada na busca.

Comparando os resultados, nota-se que em vista dos outros pontos, o Convento é indubitavelmente o local mais fotografado, contendo cerca de três vezes mais fotos do que o Shopping Vitória colocado na segunda posição do ranking.

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Referente/ponto turístico Número de fotos

Convento da Penha (#conventodapenha)

Shopping Vitória (#shoppingvitória)

Ilha das Caieiras (#ilhadascaieiras)

Palácio Anchieta (#palácioanchieta)

Museu Ferroviário da Vale (#museuvale)

Píer de Iemanjá (#pieriemanja)

1758 fotos

570 fotos

203 fotos

104 fotos

77 fotos

19 fotos

Deve-se levar em consideração porém, que o fato de nomear as fotografias com as marcações ( hashtags #), por exemplo “#conventodapenha”, é uma atividade opcional do usuário. Dessa forma é possível que existam outras fotografias daqueles mesmo assuntos sem marcações. Como a busca pelas fotografias é feita através das hashtags , o aplicativo mostra apenas as fotografias nas quais o usuário escreveu exatamente o que se busca. Por exemplo, se é feita uma busca por “#conventodapenha”, somente serão mostradas fotos que foram marcadas com esse nome exato. Dessa forma exclui-se possíveis fotografias do Convento que foram marcadas com nome diferente, como por exemplo “#convento”. Para a busca nesse trabalho a escolha foi feita de acordo com as marcações mais usuais e que representassem maior quantidade de fotografias.

É possível também que em meio aos resultados da busca de determinada hashtag existam fotografias que não sejam exatamente referentes ao assunto procurado. Contudo a grande diferença que há no número de fotos do Convento para os outros pontos confirma que o Convento da Penha pode ser considerado o referente paisagístico de Vitória mais fotografado, e assim contribuir em quantidade e diversidade para a pesquisa.

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Tabela 1 – Números de fotografias no Instagram de diversos pontos de Vitória. (Dados coletados em 22 de abril de 2013)

10 - Convento de Nossa Senhora da Penha: história e imagem

“Uma verdadeira fortaleza religiosa, o convento de Nossa Senhora da Penha, é a expressão mais legítima da determinação dos homens que o ergueram.”

(ESPÍRITO SANTO, 2009, p. 368).

Em 1558 o frei franciscano Pedro Palácio aportou na “pequena aldeia” às margens da Baía de Vitória e ainda naquele ano fundou o convento franciscano (ESPÍRITO SANTO, 2009, p. 366). O lugar escolhido pelo frei foi um outeiro na entrada da Baía, o qual possuía topografia adequada, com um campo aberto a cerca de 150 metros acima do mar, o que lhe dava visão privilegiada dos arredores e lhe punha em posição de destaque no cenário da capitania. Sobre o local da construção, uma lenda flutua sobre o imaginário capixaba:

“Segundo Frei Basílio Rower, historiador franciscano, não consta precisamente quando Frei Palácios deu começo à construção de uma ermida de Nossa Senhora no cume do rochedo. A lenda, que consta do livro de Memórias históricas do Rio de Janeiro, 10 volumes, de José de Souza Azevedo Pizarro e Araújo, atribui a resolução de edificá-la ao fato seguinte. Certo dia desapareceu o painel da Virgem da capela de São Francisco. O devoto franciscano encheu-se com isto de profunda tristeza e imediatamente andou à procura de seu tesouro nas matas espessas da montanha. Depois de longa procura, encontrou no alto da penha entre as duas palmeiras. Feliz ele recolocou o painel na capela de São Francisco, mas o desaparecimento repetiu-se mais duas vezes, sendo o painel sempre encontrado no mesmo lugar. Frei Palácios reconheceu nestes sinais a vontade de Nossa Senhora em querer que se construísse uma capela no local indicado. E a execução não demorou muito” (CONVENTO DA PENHA).

Concluído em sua primeira fase o convento teve sua maior ampliação em 1750, quando foi construído mais um corredor com celas. Outras intervenções promoveram significativa interferência na configuração externa e na ambientação interna do edifício, como por exemplo, o acréscimo do pórtico fechado na fachada da igreja. O acesso às instalações do convento, no início, se dava apenas pela ladeira da Penitência, calçada por pedras e em meio à mata densa reflorestada no século XX. Esse percurso exige dos fiéis e residentes penosa obstinação, podendo ainda hoje ser uma opção ao acesso de automóveis (ESPÍRITO SANTO, 2009).

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“Um objeto arquitetônico de longa duração histórica e rara expressão artística, a obra concebida para abrigar a valiosa bagagem de Pedro Palácio estava em origem, predestinada a ser o mais importante recinto de manifestação religiosa no Espírito Santo. Comprovada pelo tempo, a ideia de erguer um templo que, eternizando a palavra uniria o diverso, aplacaria as dores, animaria os desamparados, se concretizou. Incorporada e transmitida pela memória de incontáveis fiéis e devotos, ela é cotidianamente reafirmada, anualmente comemorada.” (ESPÍRITO SANTO, 2009, p. 371).

O destaque do Convento da Penha na imagem da cidade de Vitória depende em grande parte de sua localização na entrada da Baía. Segundo Mendonça (2006), já no princípio da colonização capixaba, os relatos dos viajantes que passaram pelo Espírito Santo confirmam a proeminência do morro da Penha e a construção sobre este. De acordo com a autora, até o início do século XX o acesso a Vitória se dava principalmente por vias marítimas sendo a entrada principal aquela margeada pelo Morro do Moreno e o Morro da Penha, através da qual se acedia ao porto e ao núcleo primitivo da cidade. Eram muito comuns nos relatos dos viajantes menções ao morro da Penha, Mestre Álvaro, Penedo e a Pedra dos Olhos, e nos relatos de D. Pedro II todos esses aparecem com a inclusão de croquis do morro e convento da Penha e do Mestre Álvaro, assim como nos desenhos de Hartt, outro viajante que em seus desenhos destacou o convento da Penha com riqueza de detalhes (MENDONÇA, 2006). Em 1610 Jácome Monteiro descrevia o convento da seguinte forma:

“Junto à barra desta Capitania está um monte, que pode competir com o Olimpo, o alto do qual se remata com um penedo, que terá de circuito trezentas e mais braças, aonde está edificada uma ermida da invocação da N. S. da Penha, a melhor e de mais devoção que há em todo o Brasil...” (OLIVEIRA, 1995, apud MENDONÇA, 2006, p. 9).

A fé e devoção a Nossa Senhora da Penha, imagem à qual se dedica o convento e que desde 1912 é a padroeira do estado do Espírito Santo (CONVENTO DA PENHA), é o principal motor da reafirmação da importância desta construção para o estado. Todo ano fiéis rumam à Vila Velha para homenagear a padroeira nas festividades e, segundo a igreja, a Festa da Penha é considerada por muitos uma das maiores festas religiosas do Brasil. É notório que neste período das festividades o movimento turístico tem ampliação considerável, trazendo a Vitória e Vila Velha visitantes não só do estado como do Brasil.

A relação do morro e convento da Penha com as cidades de Vitória e Vila Velha pode

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ser considerada segundo duas vertentes. A localização e acessos do convento se encontram em Vila Velha, próximo à Prainha. Aquele foi o núcleo original de aporto dos colonizadores em 1535, que em seguida, foi transferido para a ilha de Vitória por questões de segurança e segundo Serafim Derenzi (1965): “É muito controvertida a data da mudança da sede do governo da Capitania, mas nenhuma dúvida existe quanto à ocupação dela pelos colonos antes de 1550.” (p. 33). Porém é comum imaginar-se o referente paisagístico como pertencente a Vitória, o que ocorre por conta da maior visualização que se tem a partir do norte. O projeto do Novo Arrabalde, de autoria do sanitarista Saturnino de Brito propiciou uma relação de Vitória com o convento da Penha ao criar na Avenida Nossa Senhora da Penha o foco de perspectiva voltado para o referente. Segundo suas palavras:

“... a avenida da Penha, orientada no rumo da extraordinária Capela, é uma justa homenagem à história religiosa desta terra, onde o catolicismo, impondo-se ao fetichismo indígena, ergueu o monumento que tanto impressiona pela imponência com que se apresenta à imaginação: - aquelas muralhas brancas, assentadas sobre um tronco de cone de rude e escuro penhasco, alçando aos céus a flecha aguda do lanternim, despertam as narrativas quase lendárias sobre a ousada construção jesuítica para o culto da Virgem da Penha.” (BRITO, 1943, apud MENDONÇA et al, 2009 p. 68).

De acordo com Mendonça et al (2009), o positivismo no ideário filosófico/político da época apresenta-se inscrito no projeto do Novo Arrabalde, representado pela “racionalidade estruturada em ordenações hierarquizadas objetivamente”, onde atuavam não só o positivismo de Muniz Freire, como a “formação acadêmica de Brito em um dos berços da doutrina positivista do Brasil, a Escola Politécnica do Rio de Janeiro” (p.52). No contexto do convento da Penha, na descrição da avenida homônima observa-se a orientação positivista, no sentido de que a experiência da observação da estética traria sentimento à experiência urbana, uma forma de humanizar a cidade. Ao criar o campo visual que focaliza a arquitetura histórica como objeto pinturesco da paisagem, a orientação voltada para o Convento da Penha “toma-o como objeto capaz de provocar uma fruição estética diferenciada e evocar narrativas de cunho histórico e lendário.” (MENDONÇA et al, 2009, p. 69) (figura 12).

Silva (2010) considera que a cidade de Vila Velha, à qual pertence, em localização, o Convento da Penha, possui uma relação com o aspecto visual da igreja, aparentemente, de desatenção. Assim como a Avenida Nossa Senhora da Penha, um trecho da Avenida Carlos Lindenberg aponta uma perspectiva para o outeiro da Penha. Porém, segundo o autor, o

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Figura 12 – Vistas da Avenida Nossa Senhora da Penha em 1974. Fonte: MENDONÇA et al, 2009.

crescimento urbano acelerado de Vila Velha e seu aspecto arquitetônico verticalizado não respeitou, na maior parte do território, a relação visual com esse referente histórico-cultural-religioso, que poderia fazer parte do cotidiano da cidade. A visualização do convento na Avenida Carlos Lindenberg parece acontecer ao acaso. Em alguns pontos é possível identificar o referente, em outros as construções e o próprio traçado da Avenida não favorecem a visualização, ou mesmo obstruem a paisagem (figura 13).

Em Vitória, mesmo tendo sido reconhecida por Brito em 1896 a importância da relação cotidiana com o Convento da Penha e a cidade, o desenvolvimento urbano, principalmente no contexto da região projetada no Novo Arrabalde, se deu de forma não condizente com a ideia inicial. De acordo com Mendonça et al (2009) no projeto de Brito e até a década de 1950 o bairro Praia do Canto possuía uma característica residencial de balneário quase bucólico, o que não se vê atualmente. A partir das décadas de 1950 e 1960 começaram a aparecer na região os edifícios verticais, processo que ganha impulso maior na década de 1970. Desde então diversos fatores característicos da metropolização de Vitória conferiram à região a qualidade de uma das áreas mais valorizadas no contexto imobiliário regional (MENDONÇA e SCHAEFFER, 2007). Com isso a ocupação deste e outros bairros que margeiam a Avenida Nossa Senhora da Penha foi fortemente intensificada e, sobretudo verticalizada. Este processo aliado à falta de especificidade da legislação no que diz respeito à manutenção da visibilidade dos referentes paisagísticos, fez com que o projeto de um edifício que obstruiria em parte a vista do convento chamasse a atenção para a criação de diretrizes no Plano Diretor Urbano que levassem em consideração a manutenção do cone visual (figura 14).

Deste modo o Convento da Penha afirma-se como importante, ou pode-se dizer principal, elemento referente paisagístico de Vitória e, aliado ao apelo religioso e turístico, o “cartão-postal” do Espírito Santo. Através dessas confirmações de relevante autoridade na imagem da cidade, pode-se inferir que praticamente todos os cidadãos sabem o que é o Convento da Penha, muitos o veem ou já o viram, tantos já visitaram e fotografaram, tornando-o um considerável objeto de estudo e experimentação empírica para este trabalho.

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do

da

(à esquerda) Vista da Avenida Nossa Senhora da Penha a partir do Convento. Nota-se a abertura do cone visual e inclusive o formato de um edifício piramidal respeitando os limites.

da Avenida Nossa Senhora da

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Figura 13 – Vistas do Convento da Penha a partir da Avenida Carlos Lindemberg. Fonte: Juliano M. Silva, in Vitruvius. Figura 14 – (a cima) Vista Convento Penha a partir Penha. Fonte: skyscrapercity.com

PERCEPÇÃO FOTOGRAFADA PESQUISA E ANÁLISE

11 - Foto-percepção: hipóteses

Segundo Sunsan Sontag desde a criação da fotografia “praticamente tudo foi fotografado, ou pelo menos assim parece” (SONTAG, 2004, p. 13). A produção de fotografias desde o final do século XIX praticamente não teve momentos de decadência, sendo sempre uma atividade ascendente e abrangente, passou pelos campos da medicina, astronomia, arte, e pelo turismo, atividade na qual a fotografia se destaca pelo papel de tornar as viagens concretas através das imagens. Atualmente a fotografia desempenha o papel de registrar aspectos do cotidiano através das câmeras cada vez mais portáteis e também presentes em componentes eletrônicos de uso habitual como os celulares. Como mencionado anteriormente, os telefones celulares além de fotografarem possibilitam o compartilhamento das fotografias nas redes sociais da internet para que seja visualizada por uma rede de contatos que podem tecer comentários sobre as fotografias, dentre outros recursos. Portanto a imensa produção fotográfica registrada nos últimos anos chama a atenção para o papel fundamental que a câmera tem no dia-a-dia, interferindo em aspectos perceptivos da paisagem urbana.

Analisar a percepção da paisagem urbana através de fotografias permite compreender a experiência pessoal e individual do ser humano. Para tanto admite-se que a “imagem urbana não é estanque ou rígida, mas é flagrada num processo fluido, dinâmico e seletivo: apreende-se, capta-se essa representação a partir do repertório cultural e individual”

(FERRARA, 1993, p. 72), e ainda, que “a percepção urbana não é um dado, não se manifesta como certeza, mas é um processo e uma possibilidade. Altera-se conforme as características socioculturais e informativas (repertório)” (FERRARA, 1993, p. 107). Para relacionar a percepção ambiental no campo da paisagem urbana com a fotografia é necessário assumir que a mesma compreende questões de objetividade e fidelidade, e que devem ser consideradas na utilização das fotografias como documentação e instrumento de pesquisa. Nesse sentido Ferrara (1993) aponta três afirmações de autores de relevante contribuição para o estudo da linguagem fotográfica:

Susan Sontag : “A fotografia tem poderes que nenhum outro sistema de imagens jamais possuiu, pois, ao contrário dos anteriores, ela não depende do fotógrafo. Por mais cuidadoso que seja o fotógrafo ao intervir na organização e orientação do processo fotográfico, o processo em si mesmo permanecerá sempre óptico-mecânico (ou eletrônico), com funcionamento automático, com uma maquinaria que será indubitavelmente adaptada para fornecer

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mapas da realidade cada vez mais detalhados e, em conseqüência, mais úteis. A gênese mecânica de tais imagens e a exatidão da força que conferem configuram nova relação entre imagem e realidade.” (SONTAG, 1981, apud FERRARA, 1993, p. 266).

Roland Barthes : “[...] perguntar se a fotografia é analógica ou codificada não é um bom caminho para análise. O importante é que a foto possui uma força constatativa, e que o constatativo da fotografia incide, não sobre o objeto, mas sobre o tempo. Na fotografia, de um ponto de vista fenomenológico, o poder de identificação sobrepõe-se ao poder de representação.” (BARTHES, 1984, apud FERRARA, 1993, p. 266).

Susan Sontag, citada por Ferrara (1993) expõe um ponto de vista que trata o fotógrafo como um autor que age somente até determinado momento, ou seja, não tem controle total sobre sua obra. Devido ao processo químico/mecânico de produção da fotografia, após clicada a câmera, de certa forma acaba o trabalho do fotógrafo. Em alguns casos o fotógrafo trabalha como suporte físico do aparelho, tendo, portanto, a responsabilidade de mantê-lo estável, ou mesmo movimentá-lo segundo seu desejo de criação estética. Porém segundo a bibliografia estudada na primeira parte deste trabalho, não é possível destacar da fotografia os aspetos autorais que passam por um processo de escolhas na mente do fotógrafo. Por mais automatizado que seja o processo fotográfico, a escolha do que fotografar; de ângulo enquadrar; e as opções de luz, cor, contraste, etc.; pode revelar aspectos da percepção ambiental que geralmente são buscados em trabalhos acadêmicos através de entrevistas diretas com usuários do espaço, ou pesquisas quantitativas.

Para Barthes (apud Ferrara, 1993) o que se constata na fotografia está acima de um questionamento de realidade. A fotografia tem o poder de fortalecer ou até mesmo criar ideias que nem sempre condizem com o real. O que a fotografia representa ao observador é uma questão temporal, ou seja, a foto foi tomada e agora é um documento de um acontecimento ou um objeto. O autor em sua citação, idealiza que o maior poder da fotografia não é o de captar as a imagens, mas sim o que o signo fotográfico é capaz de representar no ato da observação do mesmo.

O principal interesse dessa pesquisa é de compreender como o ato de fotografar opera sobre a percepção ambiental, nesse caso voltada para a paisagem urbana. Desse modo busca-se qualificar o registro fotográfico do ponto de vista da individualidade do autor tecendo eventuais comparações com suas descrições sobre o local pesquisado. Admite-se

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que esta é uma busca sobretudo subjetiva, não devendo ser quantificada. Nesse contexto relaciona-se com Tuan (1980) no sentido de que a percepção ambiental é individual, podendo haver padrões coletivos, porém sempre se voltando para o indivíduo e sua relação com o espaço. Segundo Tuan (1980) o ser humano percebe o mundo de acordo com suas experiências, e pode-se dizer que cada pessoa possui uma experiência de vida diferente. A coletividade por sua vez pode ser analisada segundo padrões culturais, guardadas as proporções de cada grupo; assim também esta se relaciona com aspectos sociais, instrutivos, entre outros.

Considerada a fotografia uma forma de expressão autoral que é capaz de influenciar a observação cognitiva, fundamenta-se a hipótese de que o indivíduo, seja fotógrafo profissional, amador ou ocasional, é capaz de se expressar mesmo que inconscientemente através das imagens que cria do mundo onde vive. A expressão da percepção individual é o que se busca identificar na pesquisa subjetiva através de amostragens diversificadas sobre um elemento que marca o cotidiano de uma determinada ambiência.

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12 - Esboço da investigação: metodologia

Para alcançar os objetivos desse trabalho, a pesquisa foi desenvolvida em dois campos: uma abordagem descritiva pessoal através de um roteiro de perguntas; e uma busca de imagens fotográficas produzidas pelos mesmos participantes. Após coletados os dados, foi feita uma análise baseada na bibliografia eleita e apresentada na primeira parte desse trabalho, seguida de uma intersecção das informações, a fim de captar lugares comuns da percepção individual.

A pesquisa foi desenvolvida em duas etapas nas quais foi aplicada metodologia similar de análise, guardadas suas características individuais. A primeira etapa foi elaborada como um teste da metodologia, abrangendo um público alvo diversificado. A partir de então foi possível ajustar algumas ações para que o desenvolvimento da etapa seguinte pudesse ser aperfeiçoado. A segunda fase de análise foi voltada a uma produção de fotografias feita por um grupo específico. O grupo de fotógrafos eleito foi o de fotógrafos amadores. A escolha desse grupo específico é justificada, pelo fato de que a fotografia amadora se configura com certo hibridismo entre a produção do profissional e do fotógrafo do cotidiano. Se por um lado o fotógrafo amador se assemelha ao profissional por compreender a técnica da fotografia, por outro, não necessariamente tem o dever de atender a demandas específicas tornando seu registro, de certa forma, libertado de ações exteriores à mente do fotógrafo. Portanto essas fotografias representam a possibilidade de enxergar tanto intenções de registro - nesse caso, principalmente, de ordem de expressão artística -, como a percepção individual do referente.

12.1 - Localizando fotógrafos

A forma de coleta de dados eleita para a amostragem inicial foi um levantamento de fotografias no site Foursquare . Essa é uma rede social para aparelhos móveis que permite que o usuário faça “check-in” nos locais de visita. O check-in é uma forma de localização compartilhada que, através de programas baseados em tecnologia GPS (G lobal Positioning System ), comunica a posição geográfica do usuário para seus contatos. A partir dessas localizações o usuário pode nomear os lugares que visita, encontrar pessoas próximas, votar na qualidade do local, e enviar uma fotografia que é geo-referenciada. Isso, aliado à facilidade de pesquisar locais, torna possível uma busca de fotografias de locais específicos registradas pelos próprios usuários da rede.

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A partir da coleta de fotos, os autores dos registros foram contatados e convidados a responder um questionário (anexo 1) que visava identificar suas características socioeconômicas e culturais, seu nível de conhecimento da cidade e do objeto de estudo, sua relação com a produção fotográfica, e sua relação com o referente paisagístico. Ao final do questionário o participante tinha a opção de enviar uma fotografia que “melhor represente sua visão sobre o Convento” e esta foto foi então utilizada para análise no lugar da fotografia recolhida no Foursquare .

Na segunda fase um grupo específico de fotógrafos foi escolhido. Como justificado anteriormente, foi escolhida a categoria de fotógrafos amadores para compor a análise. Através da professora de fotografia Dahlen Bucher foi feito o convite (anexo 2) a seus alunos para que participassem da pesquisa por meio do questionário on-line (anexo 3). Ao final do questionário foi pedido que os participantes enviassem uma fotografia que representasse “sua visão pessoal do Convento” para compor a análise. Tanto na primeira quanto nessa etapa de análise o questionário é desenvolvido através de uma plataforma on-line própria para criação de formulários dessa natureza.

12.2 - Interpretação

As análises foram empreendidas levando em consideração a bibliografia estudada na primeira parte desse trabalho, com a finalidade de identificar aspectos da experiência perceptiva do participante tanto em suas respostas como em suas imagens fotográficas.

12.2.1 - Expressão textual

A percepção é uma grandeza subjetiva e individual, e segundo Tuan (1980) diferentes pessoas percebem determinado ambiente de diferentes maneiras. Isso ocorre devido a suas características pessoais, dentre elas a cultura como um fator importante que interfere na percepção, já que a memória do indivíduo trabalha juntamente com os sentidos na diferenciação e classificação dos ambientes. A memória é uma importante faculdade da mente humana, e nessa pesquisa tem papel fundamental, já que é através dela que o participante resgata as informações sobre sua experiência perceptiva para criar as respostas. O trabalho da memória no ato de descrever a experiência perceptiva é tão importante quanto o próprio ato da percepção, pois é através dela que o ser humano ordena suas experiências vividas no passado. Nesse sentido Ostrower (1993) infere que:

“Nota-se uma seletividade que organiza os processos em que a própria memória se vai estruturando. À semelhança do que sucede no sensório, onde

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a percepção ordena certos dados que chegam a ser percebidos por nós, a memória também ordena as vivências do passado. Em nossa experiência vivencial estruturam-se configurações de vida interior, formas psíquicas, que surgem em determinados momentos e sob determinadas condições, e são lembradas, ‘percebidas’ em configurações. De modo similar ao da percepção, pelos processos ordenadores da memória, articulam-se limites entre o que lembramos, pensamos, imaginamos, e a infinidade de incidentes que se passaram em nossa vida.” (OSTROWER, 1993, p. 19).

Portanto, as respostas ao questionário carregam a característica de terem sido organizadas através da memória, e assim se configuram como uma ordenação da experiência perceptiva. Desse modo, as análises foram organizadas de forma que referências marcantes fossem agrupadas por similaridade, ressalvando as eventuais respostas distintas segundo sua individualidade.

As características da percepção destacadas para as análises foram desenvolvidas da seguinte forma:

• Sentidos da percepção : diz respeito à percepção trabalhada nos cinco sentidos clássicos do ser humano, apontados por Tuan (1980) como responsáveis pelos estímulos perceptivos gerados pelo ambiente. Nesse sentido, buscou-se analisar nas respostas, referências à aspectos da ambiência do Convento que podem ser percebidos por cada sentido: visão, olfato, paladar, audição e tato. Através da detecção da ação dos sentidos é possível identificar um primeiro rastro da percepção ambiental, já que é através deles que o indivíduo tem o primeiro contato com o ambiente, para que posteriormente sua memória identifique e diferencie cada sensação.

• Signos, símbolos, emoções e julgamento perceptivo : essa análise propõe a detecção do reconhecimento dos signos e símbolos e as emoções geradas através deles. O julgamento perceptivo diz respeito à ação do “percepto” e do “juízo perceptivo” propostos por Ferrara (1993) como etapas inerentes à experiência perceptiva. Signos são entidades que substituem e representam determinado elemento, apresentando ao observador uma ligação com objeto, sem que o mesmo se faça presente. Símbolos por sua vez são representações de elementos imateriais geralmente apresentadas por objetos materiais. No contexto do reconhecimento dos símbolos e signos não há padrões universais, se não uma atividade que varia de acordo com cada indivíduo ou grupo de indivíduos que dividem a mesma cultura. Pode-se dizer que os significados e simbologias apreendidos

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em determinado ambiente são capazes que mover sentimentos específicos nos indivíduos que os reconhecem, gerando portanto estados emotivos. As emoções são importantes variações da experiência perceptiva, pois determinam os julgamentos estéticos e psíquicos do indivíduo em relação aos ambientes. Essas grandezas da percepção são apreendidas e dois momentos, que Ferrara (1993) denomina “percepto” onde a memória grava apenas um índice do elemento; e “juízo perceptivo” onde a mente do indivíduo é capaz de aprender qualidades dos objetos e classifica-los.

• A percepção do turista : esse campo de análise, exclusivo da primeira etapa da pesquisa, surgiu como necessidade de se compreender como os turistas percebem o Convento. Esse campo é exclusivo da primeira etapa pois a coleta de dados da mesma, por não prever público específico, abrangeu também os visitantes e não só habitantes da Grande Vitória. Segundo Tuan (1980) o turista possui um olhar principalmente estético que não está habituado com a realidade do espaço visitado. Se por um lado esse olhar estético tende à superficialidade, por outro pode suscitar questionamentos inovadores que a habitualidade pode fazer ocultar aos habitantes.

• Elementos marcantes e preferências individuais : a identificação dos elementos do ambiente que ficam marcados na memória do participante tem o papel de indicar num primeiro momento a percepção do referente analisado em relação à cidade. No caso do Convento pode-se inferir, previamente, que o mesmo se configura como um marco da paisagem urbana das cidades que o cercam, fundamentado nos conceitos de Kevin Lynch (1997) sobre a construção da imagem da cidade. Segundo o autor o que define um elemento como marco é a possibilidade do mesmo ser visualizado de diversas partes do tecido urbano tornando-o um referente para a movimentação do usuário na cidade. Esse aspecto pode ser reforçado por uma história e significados atribuídos ao elemento, que o destacam no contexto cultural do ambiente. Através das respostas ao campo onde o participante é solicitado a citar pontos das cidades que oferecem vistas do Convento, é possível identificar como o indivíduo se relaciona com o referente no seu cotidiano. De modo relacional é possível apreender a relação da cidade com o patrimônio histórico-cultural representado pelo Convento. Em um segundo momento analisa-se os elementos que marcam a percepção do participante no momento da visita ao Convento, possibilitando distinguir suas preferências individuais. Desse modo é praticável um exame da percepção do indivíduo de modo a compreender o que lhe chama a atenção naquele ambiente.

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12.2.4 – Expressão fotográfica

As fotografias coletadas, tanto na primeira etapa da pesquisa, quanto na segunda, foram submetidas à uma análise onde buscou-se distinguir aspectos perceptivos para que posteriormente fosse possível uma qualificação das imagens como instrumento de pesquisa.

Como base para essa análise, além da bibliografia estudada na primeira parte do trabalho, foram utilizados algum preceitos metodológicos abordados por Prado (2002) em seu trabalho sobre a modernização da cidade de Vitória. Sendo seu trabalho uma análise de fotos antigas, contribuiu com essa pesquisa no sentido da abordagem metodológica sobre a classificação das imagens. A construção da metodologia de Prado (2002) é pautada principalmente na técnica de leitura histórico-semiótica de imagens, elaborada por Ana Maria Mauad de Souza Andrade (1990 apud PRADO, 2002).

“Nesse procedimento a historiadora parte de um eixo de análise que compreende a codificação da noção de espaço, palco onde se estruturam a maioria das linguagens não-verbais: figurativas, gestuais, comportamentais. A fotografia ao registrá-lo, aborda-o através de dois planos, que são aqueles existentes em qualquer sistema semiótico:

1. Plano da expressão : compreende as opções técnicas na construção da imagem fotográfica: tamanho, formato, suporte, enquadramento, sentido e direção da foto, arranjo e equilíbrio, foco, iluminação, textura, etc.

2. Plano do conteúdo : compreende as opções temáticas: agência, local, retratado, atributos das pessoas, da paisagem, a medida do tempo, etc.” (PRADO, 2002, p. 50).

A partir dessa classificação, Prado (2002) lista as categorias espaciais de análise nas quais se baseia Andrade (1990) no estudo das unidades culturais: “A primeira compreende os itens contidos no plano da expressão, já as demais, os itens contidos no plano do conteúdo” (ANDRADE, 1990, apud PRADO, 2002 p. 50):

1. Espaço fotográfico: investiga as técnicas e os controles da composição fotográfica no ato da tomada da foto.

2. Espaço Geográfico: identifica o espaço físico contido na foto, lendo-o somente como fundo para a representação do homem. Procura identificar somente o tipo de espaço, sem examinar qualidade.

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3. Espaço do objeto: identifica as relações entre os objetos, a experiência vivida e o espaço construído.

4. Espaço da figuração: diz respeito às pessoas retratadas.

5. Espaço da vivência: investiga as atividades sociais retratadas.

Essas categorias abordadas por Andrade e utilizadas por Prado na construção de sua metodologia dizem respeito ao estudo do homem, tendo menor importância a busca pelo espaço no qual se vive. Para tanto Prado segue em seu estudo buscando caracterizar a fotografia na modernização de Vitória, portanto se detém em analisar principalmente o espaço urbano, sem dispensar a relação do homem com aquele espaço. Visto que o plano da expressão diz respeito à técnica e se afasta do objetivo principal do estudo historiográfico por imagens, a autora se concentra em especificar o plano do conteúdo “uma vez que este permite a leitura dos signos da cidade” (PRADO, 2002, p. 51), criando fichas de análise a partir de “elementos morfológicos constantes de onde, através de sua estruturação e organização, proviria a comunicação estética da arquitetura” (LAMAS, 2000, apud PRADO, 2002, p. 52). Além de analisar morfologicamente os registros fotográficos do espaço urbano Prado (2002) compara imagens para identificar permanências e alterações no tecido urbano. No espaço da vivência a pesquisadora ainda elabora uma série de apontamentos com “intuito de compreender os signos dos usuários (comportamentos, gestos, hábitos da população, formas de apropriação do ambiente, eventos, manifestações em locais públicos), suas transformações e permanências ao longo dos tempos” (PRADO, 2002, p. 54).

O trabalho de Prado (2002) trouxe grandes contribuições para a criação desta metodologia no sentido de que, ao elaborar categorias de análise do espaço, permite visualizar uma forma de apreensão dos dados que a fotografia disponibiliza. Os itens referentes ao plano do conteúdo tem o papel de informar como são os signos da cidade e como são retratados, e os referentes ao plano da expressão , tais como tamanho, enquadramento, foco, formato, nitidez, são interpretados em fichas, principalmente o foco/nitidez, que tem o papel salientar ou disfarçar algo, até esconder, e o enquadramento que segundo Andrade (1990, apud PRADO, 2002) tem uma série de implicações para cada posição, como nivelamento, movimento, ordenação, imprecisão, harmonia, etc.

O desenvolvimento da análise se deu de acordo com as seguintes características:

• A direção do olhar : esse campo visa distinguir na fotografia a escolha do autor sobre o assunto fotografado. Tendo o Convento como um assunto geral, as fotos podem ser feitas

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de diversas maneiras, considerando-se que além da imagem onde aparece a construção em si, a visita ao Convento oferece inúmeros pontos de vista das cidades. É possível nesta análise também destacar preferências pessoais na experiência perceptiva, e comparando com as respostas ao questionário pode-se inferir se a fotografia representa de fato a individualidade do autor.

• Significados e simbologias : relacionado ao campo da pesquisa descritiva onde se buscam os signos e símbolos nos relatos dos participantes, essa análise visa reconhecer os mesmos elementos representados nas fotografias. Através da identificação desses elementos foi possível inferir sobre a experiência perceptiva do participante e da sua relação com o espaço estudado.

• Turistas : Assim como observado na análise das respostas dos participantes na primeira etapa da pesquisa, as fotografias dos visitantes tem o papel de demonstrar a relação específica dos turistas com a paisagem. Nesse sentido buscou-se captar nas fotografias rastros da percepção de pessoas que não estão habituadas com a presença do Convento em seu cotidiano, podendo contribuir para a análise com novas perspectivas e direcionamentos da atividade turística que se desenvolve fortemente naquele espaço. Essa análise foi empreendida somente na primeira etapa da pesquisa devido a seu caráter abrangente da busca de participantes.

• Universos de percepção : a classificação dos espaços da percepção em universos de percepção é proposta por Bitt-Monteiro (2000) como uma análise da aproximação do observador em relação ao objeto estudado. Segundo o autor:

“Os níveis de percepção estão intimamente ligados ao interesse e a atenção que damos a algo. Assim, não podem ser medidos ou quantificados, mas estimulados e dirigidos para qualquer finalidade. Na medida em que o interesse por algo evidencia-se ou é estimulado, a percepção torna-se automaticamente mais viva e aguçada, emocionalmente e cognitivamente dirigida aos universos e seus elementos que nos cercam, de modo mais detalhista, com atenção mais refinada” (BITT-MONTEIRO, 2000 p. 5).

Para estudar os níveis de percepção Bitt-Monteiro (2000) estuda o ser humano como epicentro do ambiente, traçando portanto um paralelo com Tuan (1980), que ao classificar a natureza humana como egocêntrica sugere que a percepção ambiental do indivíduo se estabelece através de níveis concêntricos. Dessa maneira o ser humano tende a ordenar o ambiente segundo a proximidade, tendo como mais importante o

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que se está mais próximo de si. Bitt-Monteiro (2000) ao analisar essa lógica perceptiva sugere que:

“Ao se tomar como referência o sentido do indivíduo enquanto epicentro do seu universo circundante, e ao se utilizar como parâmetros os seus estados comportamentais e psicológicos de mobilidade e contemplação, podem ser estabelecidas as seguintes hipóteses:

1. Existem no mínimo quatro tipos de universos circundantes distintos que interessam ao olhar do fotógrafo, delimitados a partir dos estágios de acuidade visual do sujeito;

2. As denominações e dimensões dos universos circundantes são definidas a partir e de acordo com a perspectiva de identificação do indivíduo enquanto epicentro dos universos circundantes.” (MONTEIRO, 2000, p. 7).

A partir dessas hipóteses, Bitt-Monteiro (2000) classifica as aproximações em quatro níveis de percepção:

1. O Micro Universo ou Universo Íntimo: Diz repeito ao universo do foco mínimo, normalmente a 12 cm de distância do olho do observador e se estende até o nível molecular do assunto. Característica principal: Universo corpóreo. Utilização: integridade física, afetividade, troca (toque), leitura/estudo da superfície, morfologia e limite do microcosmos;

2. O Universo Detalhista: Se estende a partir do foco mínimo de observação do olho (12 cm) até o alcance do toque da mão, não necessitando de se afastar do objeto mais que um passo. Normalmente se dá a 1,5 metros entre o observador e o objeto. Características principais: universo de contemplação e do detalhismo. Utilização: leitura, memorização do pormenor e interatividade;

3. O Universo intermediário: é aquele que se estende desde 1,5 metros de distância do objeto até o nível onde o ser humano é capaz de reconhecer uma pessoa ou fisionomia conhecida. Normalmente se dá a 30 metros de distância e serve de orientação referencial para as movimentações e deslocamentos do indivíduo, é também o universo da escolha dos assuntos para (ou não) posteriores aproximações. Característica principal: universo de movimentação. Utilização: sociabilização, referencial do cotidiano e averiguação;

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4. O Universo Geográfico: Tem início na distância do reconhecimento (30 metros) e se estende ao infinito ou “onde a vista alcança”. Característica principal: universo de contemplação. Utilização: referencial geográfico e tipificação ambiental.

O indivíduo, parado ou em movimento leva consigo, de forma virtual, esses universos de percepção, sendo o epicentro destes. Ao percorrer o ambiente, o indivíduo leva em consideração principalmente os dois últimos universos: o intermediário e o geográfico. Tendo como referencial o universo geográfico, o intermediário se torna o da averiguação, sociabilização e movimentação. No caso da fotografia da paisagem urbana pode-se dizer que no universo geográfico o fotógrafo registra determinado referente paisagístico dento do contexto da cidade, e no intermediário o registro se dá de forma a captar o todo do referente, uma aproximação que indica o interesse em captá-lo e observá-lo como um todo. Desse modo os referentes parecem mover-se em relação ao observador enquanto o mesmo se desloca, e em algum momento ele percebe algo que chama sua atenção. A partir dessa aproximação, o momento seguinte é o de chegar mais perto, ou não, do referente, adentrando no universo do detalhe, e podendo até chegar a tocar, ou sentir o cheiro e perceber nuances do objeto, estabelecendo uma conexão direta com seu universo íntimo (BITT-MONTEIRO, 2000).

A ocorrência dessas aproximações pode se dar de forma prática quando o indivíduo tem um objetivo específico de visualização, assim já se sabe onde precisa chegar para a obtenção dos resultados desejados. Ou simplesmente pode ser a experiência cotidiana de observação, o caminhar atento, a atividade turística, etc. Desse modo a identificação dos universos de percepção nas fotografias tem o papel de analisar a acuidade que o participante tem em cada espaço, e assim buscar reconhecer os lugares que mais estimulam os sentidos na ambiência.

Consideradas as proposições de Bitt-Monteiro (2000) é possível traçar aproximações ao tema deste trabalho no sentido de adaptar a “Teoria dos Universos Circundantes” à realidade do objeto de estudo. As teorias propostas pelo autor visam qualificar a experiência da percepção de um elemento específico no contexto do ambiente que o circunda. O Convento da Penha além de ser um elemento visível e destacado em seu contexto urbano, se configura como um local de visitação. Na concepção do universo geográfico observa-se o Convento e o outeiro onde este se encontra como um elemento único. Nesse argumento tem-se a compreensão da totalidade do elemento em relação à cidade tendo-se assim noção de localização geográfica do mesmo.

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O universo intermediário é trazido para a pesquisa como um espaço da percepção onde se percebe o elemento com unicidade e como objetivo de observação. Contudo as fotografias deste universo podem criar ambiguidades em relação ao contexto ambiental em que se localiza o elemento No caso do Convento já não se vê o outeiro em sua totalidade, mas vê-se a construção como elemento principal. A câmera fotográfica oferece a possibilidade de passear entre o universo geográfico e o intermediário com o recurso de zoom. Neste é possível que se faça uma fotografia que seja tomada a partir do espaço do universo geográfico com uma aproximação do aparelho fotográfico criando uma imagem do universo intermediário. A emulação da proximidade neste caso não reflete de fato uma aproximação física, porém a intenção de aproximar o elemento de si revela a intenção do fotógrafo de captá-lo em sua totalidade e unicidade, levando sua percepção ao universo intermediário.

Uma aproximação maior, ou seja, a entrada de fato na ambiência da construção do santuário revela-se como a entrada ao universo do detalhe, onde a contemplação dos pormenores e a concentração estão presentes. O Convento, por se tratar de um local religioso incide nessas características levando o observador a se silenciar e observar o ambiente. A curiosidade leva o observador a se aproximar ainda mais chegando a tocar em elementos do ambiente, sentir as texturas, os cheiros e ver detalhes minuciosos.

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13 – A busca pelo invisível: análises

13.1 – Primeira etapa da pesquisa: a diversidade

Essa etapa de pesquisa compreende um levantamento de fotografias do Convento da Penha através do site Foursquare . Durante uma semana (de 03 a 10 de abril de 2013) foram escolhidas aleatoriamente 70 fotografias, seus autores foram identificados e contatados através de mensagens via Facebook . A mensagem continha um convite para participação na pesquisa através da resposta do questionário on-line (anexo 1). Dizia a mensagem:

“Olá (nome do participante), meu nome é Giovani. Sou estudante de Arquitetura e Urbanismo da UFES e estou desenvolvendo um estudo sobre fotografias do Convento da Penha (Vitória-ES). Entro em contato pois encontrei foto do Convento de sua autoria no Foursquare. Gostaria de convidar-lhe a participar da minha pesquisa respondendo um questionário on-line. Segue

link: http://giogoltara.wuffo.com/forms/m7x3z9/ “

Dentro do prazo estabelecido, dezessete dessas pessoas responderam de forma considerada válida, ou seja, tendo respondido a maior parte do formulário e autorizado a utilização de suas fotografias. Alguns desses enviaram a fotografia que “representasse melhor o Convento segundo sua visão” que passou a integrar o banco de dados para ser utilizada para análise. Em contrapartida, aos que não enviaram essas fotografias foi estabelecido o uso daquelas encontradas previamente no site Foursquare .

13.1.1 – Memória descrita

As respostas do questionário permitem algumas constatações importantes no que diz respeito à experiência da percepção da paisagem focada no Convento da Penha. Um dos interesses desse trabalho é identificar a experiência pessoal do indivíduo de percepção da paisagem, já que segundo Tuan (1980) há uma variação entre pessoas, ou entre grupos de pessoas distintos. As respostas ao questionário estão integralmente apresentadas no anexo 4.

• Sentidos da percepção

As respostas ao questionário variam um pouco em idade, religião, profissão, porém são quase uma unanimidade os relatos sobre a vista proporcionada do alto do Convento. Tanto no campo de preferência de lugar quanto naquele onde o participante descreveu sua

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experiência, a relação com a apreciação da vista aparece na grande maioria das respostas. Sobre o local preferido há exemplos de respostas como:

“A janela que tem os assentos laterais, porque proporciona uma bela vista de Vitória” G.L.

“A parte da igreja, por ser em um local mais alto, dá pra ver mais as paisagens” I.M.

Esses relatos se repetem sempre destacando o potencial de visualização do alto representado pelo Convento. Em Vitória poucos são os pontos onde se tem acesso a esse tipo de experiência visual, e certamente o Convento é seu maior representante. Ainda é possível destacar nos lugares preferidos a eleição da janela ao final do corredor principal da construção e a praça do estacionamento. Essa janela, citada algumas vezes nas respostas, possui bancos nas suas laterais que permitem que o visitante se sente, e se aconchegue junto à vista que se tem dali em direção à entrada da Baía de Vitória e selada ao norte com o a formação rochosa do Mestre Álvaro. A partir do “Campinho”, ou seja, a praça que antecede a subida até o santuário, pode-se ter vários pontos de visualização das paisagens que circundam a localidade. Nota-se nas respostas a preferência pela parte ao norte, onde há uma abertura na vegetação voltada para Vitória e Serra. Como exemplos:

“Parte do lado do estacionamento, onde é possível ver a ilha de Vitória” G.C.P.

“A praça do convento, pois me proporciona uma visão incrível de Vitória...”

L.R.

Ao descrever o Convento sob sua visão pessoal, uma parte relevante dos participantes também cita a vista como principal característica do local:

“A visão de lá de cima é indescritível, muito linda. Não tem defeitos.” I.M.

“Melhor vista da Grande Vitória” G.C.P.

Essas respostas permitem inferir que o sentido que ativa a percepção dessas pessoas no Convento é primordialmente a visão, constatação essa não inesperada, já que, segundo Tuan (1980), é a visão que inicia todo o processo de percepção. O que se nota é que não é citado nenhum outro elemento que represente uma participação de outros sentidos na experiência da percepção ambiental no Convento. Percebe-se que as vistas alcançadas nas visitas são memorizadas como imagens, e portanto, provavelmente também guardadas em fotografias.

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• Signos, símbolos, emoções e julgamento perceptivo

A classificação do ambiente em signos, que segundo Tuan (1980) é uma atividade natural do ser humano, aparece nas respostas do questionário em alguns pontos importantes. O próprio fato da importância da vista alcançada desde o alto no Convento pode ser classificada como um signo, ou até um símbolo. De certa forma o Convento é lembrado como um local de onde se vê a cidade.

Por se tratar de uma construção de caráter religioso é natural que apareçam também relatos que tratem o Convento como um símbolo religioso do Espírito Santo, talvez o maior, já que contém a imagem da “padroeira” do estado. Essas referências aparecem em algumas respostas. No campo “local preferido no Convento” o único lugar que remete à prática da fé católica que aparece é a “sala dos milagres” (A.M.), e somente em uma resposta. Ou seja, no que diz respeito à espacialidade, o símbolo de templo de fé se ofusca quando confrontado com os lugares que remetem à vista da cidade.

Ainda tratando da simbologia cristã, nas respostas onde o participante descreveu o Convento segundo suas palavras, essas referências aparecem em maior quantidade, principalmente dentre os participante católicos. Por exemplo:

“Paz, tranquilidade e fé.” R.G.

“... muitas histórias de fé e milagres.” G.L.

Estas respostas aludem ao fato de que, antes de tudo, o Convento é um templo cristão, um símbolo da fé católica para o estado do Espírito Santo; um lugar de peregrinação e devoção à “Nossa Senhora da Penha”.

Outra simbologia comentada pelos participantes é o tempo. Por ser uma construção histórica o Convento se torna um símbolo de passagem do tempo, algo que resiste às transformações da sociedade e da cidade. Como exemplos:

“Um templo religioso antigo que guarda traços da tradição e costumes de nossa terra” A.E.P.

“Um lugar que remete ao passado, mesclando o misticismo que a religião representa com a história contada através de gerações” J.L.P.

“Fé, adoração e compromisso.” O.T.

Nota-se que a tradição é lembrada nesses relatos. De certa forma há um reconhe -

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cimento do Convento como um símbolo da transmissão dos valores espirituais de geração a geração; um conservadorismo que se renova a cada ano nas costumeiras romarias e nos pedidos e agradecimentos de milagres. Essa tradição reafirma a importância da construção não só para a fé católica, como para grande parte da sociedade capixaba. A primeira resposta citada a cima (A.E.P.) afirma essa abrangência, somado ao fato de que seu autor se diz não seguidor de religião.

Apesar desse reconhecimento por um participante não seguidor de religião, percebe-se que outros dois participantes declarados de religião protestante, ao descreverem o Convento deixam clara sua posição de apenas interesse turístico pelo lugar. Por exemplo, um participante que ao responder sobre seu lugar preferido no Convento diz:

“A praça do convento, pois me proporciona uma visão incrível da ilha de Vitória, tendo em vista que meu interesse no convento é totalmente turístico.”

L.R.

Quando analisados os motivos da visita ao Convento, observa-se que de dez participantes que se definem como católicos, somente metade tem como motivos das visitas a religiosidade. Pode-se coligir que, sendo o Convento uma igreja de acesso dificultado pelo posicionamento geográfico, muitos seguidores da religião católica, que já tem suas raízes da prática da fé em outras comunidades, vão ao Convento para realmente passear. Desse modo a função religiosa daquele lugar, pode não ser imêmore, porém posta em um segundo plano, como uma consequência da visita.

O reconhecimento de signos e símbolos afeta diretamente a memória e se expressam em emoções. O encantamento ao se deparar com a vista abrangente de 360º por exemplo, onde se incluem duas cidades, mar, rios, montanhas. Porém além dessas emoções causadas pela vista do alto, algo não cotidiano para muitos, somam-se os sentimentos motivados pela religiosidade do local. As seguintes respostas ao campo de descrição do Convento representam algumas dessas sensações:

“Paz, tranquilidade e fé” R.G.

“Ampla, pacífica e serena” T.V.

Outro sentimento destacado é o de pertencimento, ou seja, do reconhecimento do Convento como um pertence capixaba. Por exemplo:

“...guarda traços da tradição e costumes da nossa terra.” A.E.P.

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“...magnífico, e acho que deveria ser obrigatório todo capixaba conhecer ele e sua história”

“Um orgulho capixaba” D.D.

“... valorizando ainda mais as belezas da Grande Vitória.” L.R.

De acordo com Tuan (1980) o ser humano tende a classificar a natureza em esquemas cosmológicos de percepção, e segundo um sistema binário de rotulação. O julgamento estético feito sobre o convento da Penha é unânime nessa pesquisa. Não há participante que o classifique negativamente. Palavras como “magnífico”, “fantástico”, “maravilhosa”, “impressionante”, aparecem nas respostas exaltando as belezas tanto da construção em si como da vista proporcionada pela sua localização.

Levando em consideração a proposta de “percepto” e “juízo perceptivo” abordada por Ferrara (1993), nota-se que os participantes, ao descreverem o Convento, inconscientemente fazem a distinção dos dois momentos da percepção. O índice, apreendido no “percepto”, manifesta-se nos relatos como a localização do elemento e a vista que o mesmo proporciona da cidade. É notável - assim como exposto por Ferrara (1993) sobre a espontaneidade do “percepto” - que a chegada ao Convento, e a percepção de que se está no alto com domínio de uma vista panorâmica da cidade, é o que mais chama a atenção segundo as respostas. O segundo momento, onde o indivíduo distingue aquilo que vê daquilo que conhece previamente, se mostra no reconhecimento da excentricidade da construção do Convento no topo de um morro. É na instancia do juízo perceptivo que o visitante declara que o lugar “remete ao passado” (J.L.P.); que o Convento é um “monumento histórico, construído num lugar belíssimo” (L.R.), e isso é o que o diferencia dos outros lugares que se conhece.

Um outro exemplo marcante nas respostas é a distinção que se faz da “janela com assentos laterais”. Além da vista alcançada através dela, o fato de possuir assentos nas laterais chama a atenção, sendo essa a característica que alguns usuários memorizam e usam para individualiza-la.

• A percepção do turista

Dentro da conceituação de Tuan (1980) sobre percepção ambiental, há de se diferenciar as perspectivas de percepção do turista em comparação ao habitante. Segundo o autor há uma tendência na prática do turismo de se observar o espaço principalmente com um ponto de vista estético, e, em contrapartida, pode haver nessa experiência novos pontos de vista não notados pelos habitantes. Isso se mostra nas respostas do questionário, que

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compreende um total de seis turistas, incluindo aqueles que não vivem na Grande Vitória, mas em outras localidades do Espírito Santo, ou seja, que não vivenciam o Convento no seu cotidiano.

Partindo de uma análise que abrange o contexto da cidade em relação ao referente em questão, percebe-se que há um certo padrão na visualização do Convento dentro do espaço urbano. Com poucas ressalvas, a Terceira Ponte é citada pelos turistas como um local de onde se vê o Convento. Esse não é um resultado inesperado, visto que ao atravessar a Terceira Ponte tem-se uma imagem muito próxima da construção, e sendo esse um caminho quase que fundamental para acessá-la, é de praxe que se perceba. Outros pontos de visualização são citados, como o Morro do Moreno e as praias, ambos destinos também turísticos.

Em uma perspectiva da percepção na visita, nota-se que o visitante, assim como teorizado por Tuan (1980), tende realmente a classificar o local primordialmente segundo julgamentos estéticos. Como exemplo:

“Um lugar bonito, com excelente vista da cidade” B.B. (Brasília-DF)

“No alto do convento. Pela visão panorâmica da cidade.” J.L.P. (Porto Alegre-RS)

A preferência mais uma vez se mostra pela vista da cidade. Porém, confirmando a ressalva de Tuan (1980), no que diz respeito à percepção do turista trazendo uma nova perspectiva, encontra-se uma resposta de um visitante de Divinópolis-MG ao visitar pela primeira vez. O participante ao dizer: “Impressionante... como fizeram tudo aquilo!” (F.D.), traz um questionamento sobre a construção do Convento, notando que pela sua localização e tamanho, certamente houve dificuldades, principalmente pela época de sua construção. O morador da Grande Vitória, ou até mesmo do Espírito Santo, por estar acostumado à história e mitos sobre o assunto, pode ter adormecido esses questionamentos. Porém um visitante, ao ver pela primeira vez, espanta-se, pondo a priori um questionamento de ordem prática: “como foi feito?”.

• Elementos marcantes e preferências individuais

No contexto das cidades de Vitória e Vila Velha é inegável a presença do Convento como um ícone marcante na paisagem. Tal afirmação se confirma nas respostas dos participantes ao campo “locais de visualização do Convento”, onde todos citam pelo menos um. Porém há uma hierarquia entre as cidades no que diz respeito à memória visual do referente. A partir de Vitória vê-se com mais frequência e em mais lugares o Convento da Penha. Tal fato rati -

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fica a ideia explanada na segunda parte deste trabalho, que trata da história do Convento, de que a cidade de Vitória tem uma relação maior com o referente do que a cidade de Vila Velha, a qual pertence a construção em termos geográficos. Por exemplo, além da Terceira Ponte que tem uma proximidade amplificada e de certa forma não pertence a uma ou a outra cidade, aparecem lugares de Vitória como: Reta da Penha, Enseada do Suá, Praça do Papa, Joana D’arc e Shopping Vitória. Em Vila Velha aparecem o Morro do Moreno e a Praia da Costa.

Ao analisar a visita ao Convento, nota-se que o elemento que marca em superioridade é a vista. E novamente percebe-se uma preferência entre as duas cidades, sendo Vitória lembrada com mais frequência. É possível compreender esse fato mesmo quando não citado diretamente o nome das cidades, através da localização geográfica do local apontado, como por exemplo as seguintes respostas:

“Chegada no campinho... Pq (porque) dá pra ver os pontos mais bonitos” (R.G.)

“Uma janelinha com um banco que tem uma vista incrível.”

Em ambas as respostas à pergunta sobre o local preferido no Convento estão implícitas referências à vista da cidade de Vitória, e isso se repete na maioria das respostas. Nesse contexto, a janela citada na segunda resposta acima se configura também em um elemento que marca a memória de grande parte dos participantes. Porém nota-se que a janela em si não é o principal foco dessa memória, mas o fato de que há uma vista emoldurada por ela, e que, segundo os relatos, é dotada de uma beleza superior às demais.

A preponderância da vista sobre a própria construção do Convento está marcada em quase todos os relatos. Há, contudo, um relato que destaca o interior da igreja: “A igreja, Pois ela é muito bonita a decoração é perfeita”. Pode-se dizer que de fato a ornamentação da igreja em seu interior é relevante no contexto do circuito de monumentos do gênero no Espírito Santo. Porém no conjunto desta pesquisa percebe-se que essa proeminência não é apreendida pela maioria dos usuários, ou pelo menos não chama tanto a sua atenção se comparada às vistas das cidades ao redor.

13.1.2 - Imagens narrativas

Nesta etapa do trabalho as fotografias foram coletadas aleatoriamente, porém seguindo uma ordenação do site Foursquere . Essa ordenação é feita segundo a popularidade das fotografias na rede. Ao coletar os registros seguiu-se esta classificação, porém nem todos os

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autores das fotografias coletadas responderam ao convite para participar da pesquisa. Por fim, o que observa-se é que os participantes podem publicar mais de uma foto, e que sua foto mais popular não necessariamente condiz com sua principal visão sobre o Convento. Ao final do questionário o participante foi solicitado a enviar uma fotografia “que melhor representasse sua visão sobre o Convento”. Alguns enviaram tal fotografia, e para esses a mesma substituiu a foto coletada no Foursquare anteriormente.

Autor: Amanda Magalhães

Foto: Foursquare

Fotógrafo: cotidiano

Direção do olhar: Convento

Signos e Símbolos: o Convento em meio a mata que o cerca, como elemento naturalizado.

Universo de percepção: Intermediário

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Autor: Aubrey E. Paixão

Foto: Foursquare

Fotógrafo: cotidiano

Direção do olhar: misto Signos e Símbolos: a representação da ação de contemplar a paisagem; a presença do participante na foto como marca.

Universo de percepção: Detalhe

Autor: Bruno Barbosa

Foto: enviada

Fotógrafo: cotidiano

Direção do olhar: cidade Signos e Símbolos: a chegada ao Convento; a primeira impressão.

Universo de percepção: Intermediário

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Autor: Daniel Deamorim

Foto: Foursquare

Fotógrafo: cotidiano

Direção do olhar: Convento

Signos e Símbolos: o Convento presente no contexto da cidade; imponência da iluminação noturna.

Universo de percepção: Geográfico

Autor: Frederico Diniz

Foto: enviada

Fotógrafo: cotidiano

Direção do olhar: Convento

Signos e Símbolos: o Convento presente no contexto da cidade; a intenção do registro do destino; o caminho percorrido.

Universo de percepção: Geográfico

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Autor: Gabriel Costa Pereira

Foto: Foursquare

Fotógrafo: cotidiano

Direção do olhar: cidade Signos e Símbolos: a representa -

ção da contemplação da paisagem; a presença do participante na foto como confirmação da visita.

Universo de percepção: Detalhe

Autor: Gabriel Lordêllo

Foto: enviada

Fotógrafo: profissional

Direção do olhar: misto Signos e Símbolos: a paisagem vista da janela como uma pintura.

Universo de percepção: Detalhe

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Autor: Isabella Mattos

Foto: enviada

Fotógrafo: cotidiano

Direção do olhar: Convento

Signos e Símbolos: Convento símbolo arquitetônico de fortaleza sobre a pedra.

Universo de percepção: Intermediário

Autor: Jairo Leandro Pattias

Foto: enviada

Fotógrafo: cotidiano

Direção do olhar: cidade

Signos e Símbolos: a presença do participante como confirmação de sua presença no local.

Universo de percepção: Intermediário

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Autor: Léo ribeiro

Foto: enviada

Fotógrafo: cotidiano

Direção do olhar: Convento

Signos e Símbolos: Convento em meio à vegetação que o cerca, tomando aspecto de naturalidade.

Universo de percepção: Intermediário

Autor: Otávio Tonini

Foto: Foursquare

Fotógrafo: amador

Direção do olhar: cidade

Signos e Símbolos: presença do participante na foto como sinal de sua presença; estabelecimento de relações interpessoais.

Universo de percepção: Intermediário

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Autor: Rachel Gomes

Foto: enviada

Fotógrafo: cotidiano

Direção do olhar: Convento

Signos e Símbolos: o Convento e sua arquitetura rígida em meio à vegetação local.

Universo de percepção: Intermediário

Autor: Thiago Veronez

Foto: Foursquare

Fotógrafo: amador

Direção do olhar: cidade

Signos e Símbolos: bandeira nacional simbolizando a cidade como solo brasileiro.

Universo de percepção: Intermediário

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Autor: Vinicius Ventorim

Foto: enviada

Fotógrafo: amador

Direção do olhar: Convento

Signos e Símbolos: o Convento e a Ponte simbolizam a construção da paisagem; passagem do tempo; separação das cidades.

Universo de percepção: Gográfico

Autor: Anônimo

Foto: enviada

Fotógrafo: cotidiano

Direção do olhar: Convento

Signos e Símbolos: o Terço do Rosário, um elemento efêmero no Convento que simboliza a fé; a marca de uma época do ano.

Universo de percepção: Intermediário

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Autor: Wenderson Castro

Foto: enviada

Fotógrafo: cotidiano

Direção do olhar: cidade

Signos e Símbolos: a junção de duas cidades em uma paisagem.

Universo de percepção: Intermediário

Autor: Anônimo

Foto: enviada

Fotógrafo: cotidiano

Direção do olhar: misto

Signos e Símbolos: a cidade vista do Convento; parte do telhado e Campinho que confirmam a tomada no local.

Universo de percepção: Detalhe

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13.1.3 – Memória e fotografia: analogias na percepção da paisagem

Segundo o objetivo deste trabalho, é necessário que se analise as fotografias buscando identificar elementos da percepção e confrontá-los com as respostas ao questionário, para então analisar a relação entre o ato da percepção e a fotografia. A análise a seguir busca identificar aspectos gerais da representação da percepção. Portanto não se desenvolve como uma análise caso a caso, mas um apanhado dos pontos principais observados na pesquisa. Tendo sido a maioria das fotografias enviadas pelos participantes, essa análise tem capacidade de comparação de forma idônea já que tanto a foto como o relato correspondem à escolha do fotógrafo.

• A direção do olhar

Nota-se nas resposta dos participantes uma primazia pela observação das vistas que se alcançam a partir do Convento. De um modo geral, esta é, de fato, a preferência destes visitantes; o direcionamento de sua experiência perceptiva, que a memória no momento da composição das respostas, entende como mais importante de recordar.

Nas fotografias esta preferência também se destaca, não com tanta intensidade, estando presente em cerca de metade dos registros. Em alguns casos a vista aparece relacionada ou a algum elemento da própria localidade, como por exemplo as vistas das janelas, ou como cenário para fotos pessoais. A outra metade dos registros são aqueles que mostram, de alguma forma, o Convento em si.

No contexto da direção do olhar as fotos são separadas em três categorias: foto do Convento, foto da cidade e foto mista que diz respeito àquelas fotografias que mostram a cidade juntamente com algum elemento próprio da localidade do Convento.

Em alguns casos a fotografia e o relato são similares ao apontar uma direção. Por exemplo, o autor da foto 1, ao descrever seu local favorito no Convento diz: “A janela que tem os assentos laterais, porque proporciona uma bela vista de Vitória”. Portanto, fotografia e relato da percepção se mostram idênticos. O mesmo acontece com outros participantes, ainda que alguns não apontem objetivamente o local como este, nota-se uma preferência que condiz com sua fotografia.

• Significados e simbologias

A fotografia se mostra como importante meio de reconhecimento de signos e símbolos. Por um lado o registro fotográfico é capaz de apreender essas grandezas da percepção cognitiva, e por outro o próprio objeto-fotografia se torna um signo com grande capacidade

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de verossimilhança.

O ato de fotografar a si mesmo de frente a determinado elemento pode ser uma forma de comunicar e arquivar a presença naquele local. Com as novas formas de compartilhamento de imagem, uma fotografia de uma pessoa de frente a um objeto significativo tem o papel de dizer ao mundo, às vezes mesmo sem palavras, que a visita a tal lugar aconteceu. Nesta etapa da pesquisa isso aparece algumas vezes, já que a fonte de obtenção de imagens cumpre o papel de compartilhar esse tipo de linguagem imagética. Por exemplo, na foto 2 onde o participante Jairo L. Pattias, usa da paisagem de Vitória como um plano de fundo para registrar sua visita ao Convento. O registro fotográfico concorda com seu relato da experiência perceptiva já que responde sobre seu local preferido da seguinte forma: “No alto do Convento. Pela visão panorâmica da cidade.”. Desse modo ele diz com seu registro fotográfico que está diante de um elemento que lhe chamou atenção, e portanto considerou importante registrar naquele momento. Uma característica importante deste tipo de fotografia é que o fotógrafo em si não corresponde ao participante, que por sua vez está contido na imagem fotográfica. Porém entende-se que a escolha do enquadramento é feita pelo participante, quando coloca-se diante daquilo que lhe convém usar como plano de fundo.

É possível notar em uma fotografia (foto 3) a intenção do participante de simbolizar o ato da contemplação da paisagem. Ao montar o contexto da fotografia, onde o próprio

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Foto 1 - Gabriel Lordêllo

participante se coloca na janela de costas para a câmera e de frente para a paisagem urbana de Vila Velha, o autor reforça a ideia de que a paisagem é algo que fascina. Do mesmo modo a contemplação da paisagem se relaciona com a introspecção, um momento silencioso que leva o observador a refletir, por pelo menos um momento, sobre si mesmo. Essa fotografia pode ser comparada com o quadro “Sea Fog” de Caspar David Friedrich (figura 15), onde o pintor expressa o ato da contemplação no silencio de um observador a sós com a paisagem, transmitindo uma aura pacificadora.

É notável que, ao descrever sua experiência perceptiva do Convento, alguns participantes demonstram o reconhecimento da simbologia religiosa do mesmo; entretanto nos registros fotográficos é raro alguma referência nesse sentido. Diz-se nesse caso da falta de referências diretas a símbolos da religiosidade, exceto por um caso (foto 4) onde o autor capta um momento efêmero do Convento. O terço do rosário suspenso entre as palmeiras é uma marca de épocas festivas; é símbolo da fé católica, e no caso do Convento, é um signo que representa um momento importante onde se louva a padroeira do Espírito Santo. Pondera-se que o autor da fotografia ao responder às perguntas não fez menção alguma à religiosidade se não às vistas alcançadas do alto, porém enviou esta fotografia como o registro que melhor representa sua visão do Convento. Desse modo compreende-se que de alguma forma a religião é importante para o participante, ou pelo menos, o símbolo da religião.

A sobreposição de ícones pode ser compreendida como uma marca histórica de tais elementos na construção da paisagem. Há um registro fotográfico enviado por um participante onde o mesmo planifica em sua fotografia o Convento da Penha enquadrado em um

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Foto 2 - Jairo Leandro Pattias

Fonte: Cargocollective.com

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Foto 3 - Aubrey Effgen Paixão Foto 4 - (Anônimo) Figura 15 - Sea Fog. Kaspar David Friedrich

vão da Terceira Ponte (foto 5). Apesar de não haver respondido às perguntas descritivas, essa fotografia representa uma possibilidade que a câmera representa de gravar em uma mesma cena elementos com funções, formas e escalas completamente distintas. Esse diálogo, previamente apreendido pelo olhar do autor, é captado num instante único que ficará guardado para posteridade. Por exemplo, uma fotografia tomada do mesmo ângulo quando não existia ainda a ponte documentaria um outro momento desta paisagem. É através das diversas formas de linguagem cognitiva que o ser humano se faz apto a expor essa leitura da paisagem com sua sobreposição temporal. Do mesmo modo essa fotografia é capaz de, em um clique, contar centenas de anos da história do Espírito Santo relacionando diversos momentos de conquistas da sociedade capixaba.

• Turistas

Como exposto anteriormente, a percepção do turista se difere da do habitante em ter um ponto de vista sobretudo estético e ao mesmo tempo encontrar novas perspectivas de percepção. No que diz respeito à observação do Convento no contexto da cidade é notável que a Terceira Ponte tem grande valor de proporcionar uma vista do mesmo ao turista, já que é o principal meio de acesso ao Convento para um visitante que está em Vitória. Na foto 6 enviada pelo autor, essa conclusão é indicada. Além do enquadramento abarcar o Convento e o outeiro em relação à cidade, apresentam-se no registro elementos próximos ao autor que indicam que a fotografia foi tomada em movimento. Infere-se que ao reconhecer ao longe o destino de seu caminho, o fotógrafo tem o impulso de registrar o momento como uma forma de minutar sua experiência turística.

Do mesmo participante tem-se a seguinte resposta, quando solicitado a descrever sua experiência pessoal com a visita: “Impressionante... como fizeram tudo aquilo!”. O arrebatamento demonstrado na réplica pode ser também um fator de escolha do registro. Desse modo pode-se entender que ao ver a excentricidade da construção, o autor tenha decidido armazenar tal informação como relato de sua admiração.

• Universos de percepção

Os registros coletados trazem importantes verificações do ponto de vista da aproximação e composição da imagem do Convento ou das cidades de Vitória e Vila Velha. A categorização elaborada por Bitt-Monteiro (2000) foi proposta como análise do reconhecimento espacial do autor e como um importante meio de sinalizar a relação do usuário com o Convento.

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Seguindo a orientação de Bitt-Monteiro (2000), parte-se do Universo Geográfico, onde se dá a constatação do elemento no contexto da cidade. Relacionando com Lynch (1997), é no Universo Geográfico que o observador caracteriza determinado elemento como um marco, podendo se referenciar por este ao movimentar-se na cidade. Nesse contexto as fotografias da paisagem urbana das cidades de Vitória e Vila Velha, tomadas a partir do Convento, enquadram-se numa percepção geográfica, porém nesta análise não são classificadas como pertencentes ao Universo Geográfico. Isso se explica pela escolha de um elemento referente para as aproximações em relação ao usuário, no caso das fotografias da cidade, além de não conter o elemento em questão, não há um referente específico, mas o conjunto deles. Por outro lado, sabe-se do local de onde a foto foi tomada, podendo-se inferir que o sujeito encontra-se em um nível de percepção aproximado do elemento em foco, o Convento. Portanto estas fotografias se encontram na categoria de Universo Intermediário, explicado posteriormente.

As fotografias relacionadas ao Universo Geográfico são aquelas onde o Convento aparece num enquadramento que o relaciona com outros elementos da paisagem urbana, podendo-se compreender aspectos geográficos de tal. Por exemplo, a foto 7, permite uma visualização do referente em relação às construções de uma rua de Vila Velha. Apesar da falta de luz da fotografia noturna, é possível reconhecer que o Convento está em um nível

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Foto 6- Frederico Diniz

elevado, e que sua posição geográfica se encontra no sentido do percurso da rua.

Nota-se nas respostas ao questionário do autor dessa fotografia, que sendo capixaba e apesar de ter visitado uma vez, ele reconhece o Convento como “Orgulho capixaba”.

A imponência que a construção no topo do morro com sua iluminação noturna tem nessa fotografia, sugere uma tradução deste sentimento de orgulho. É a constatação da presença do Convento na vida cotidiana do capixaba.

A foto 8 também condiz com a categoria de Universo Geográfico. Pode-se inferir que, uma vez tomada de cima da ponte e com claras expressões de movimento, o autor fotografou o momento em que se deparou com o Convento no contexto da cidade. A isso pode ser somado o fato de o fotógrafo ser um turista, e que nesta ocasião visitava o Convento pela primeira vez. Portanto a foto 8 é passível de ser analisada como uma primeira impressão do visitante, ao ser informado que aquele é seu destino.

As fotografias do Universo Geográfico apresentam uma questão importante no contexto do estudo da paisagem sobre os referentes específicos. Não se pode separar do Convento o morro que lhe dá sustento. Segundo Lynch (1997) um dos aspectos que podem fazer destacar um marco é a altura do elemento. Nesse sentido observa-se que a construção em si tem sua representatividade no cotidiano da cidade, porém a sua localização, a mata que

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Foto 7 - Daniel Deamorim

o cerca são não menos importantes na construção da paisagem.

O próximo nível de percepção é o Universo Intermediário, onde o observador se aproxima do elemento, deixando de ter a noção de posicionamento geográfico, porém compreendendo o referencial na sua totalidade, e destacado de seu entorno. Algumas fotografias coletadas, mesmo enquadradas na categoria de Universo Intermediário, não tem uma proximidade suficiente para que se reconheça bem os aspectos da construção, porém seu enquadramento exclui o entorno urbano. Considera-se que o outeiro faz parte do conjunto referente na paisagem que se denomina Convento da Penha. As fotos 9 e 10 são exemplos desta dualidade, já que ao enquadrarem o Convento e o outeiro não os localizam geograficamente, perdendo a sua característica de referente.

A escolha dessa composição pode ser explicada na pretensão do autor de documentar a implantação da construção em meio à vegetação que o circunda. O autor da foto 10 ao descrever o Convento diz: “Monumento histórico, construído num lugar belíssimo, valorizando ainda mais as belezas da Grande Vitória.”. Portanto é possível estabelecer uma relação entre a percepção descrita pelo autor com sua fotografia, destacando o detalhe no entorno da implantação, que, juntamente com a construção, compõe a monumentalidade do Convento.

Uma das características importantes deste tipo de registro é a de representar uma realidade partida. Ou seja, da forma com que se compõe as fotos 9 e 10 tem-se uma visão infinita da mata do outeiro, desse modo poderiam ser compreendidas de forma não correspondente com a realidade. Para uma pessoa que não conhece a realidade dessa paisagem, essas imagens poderiam criar diversas interpretações quanto à morfologia do espaço. Do

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Foto 8- Frederico Diniz
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Foto 9 - Amanda Magalhães Foto 10 - Léo Ribeiro

mesmo modo, juntamente com um texto indutivo, seria possível criar uma falsa realidade.

As outras fotografias contidas na categoria de Universo Intermediário são tomadas na praça da chegada ao Convento, denominada Campinho. As fotos 11 e 12 são exemplos deste enquadramento, e portam a característica de representar o Convento como uma construção implantada no topo de uma pedra, porém sem expor noção de localização no contexto urbano. Uma das propriedades do Universo Intermediário aborda por Bitt-Monteiro (2000) é referente à escolha de possíveis aproximações, ou seja, é neste nível que o observador tem um panorama do elemento detectando seus desejos de aprofundamento (ou não). Sendo o Campinho a chegada oficial do Convento, é ali que o visitante tem sua primeira visão geral da ambiência, podendo escolher entre subir a escadaria para a igreja, visitar as dependências de serviços, observar a vista de Vitória que se tem ao final da praça, entre outras opções. Dessas alternativas de movimento, é possível que se exponha que a igreja é um destino certeiro, pois é esta a finalidade da existência do Convento como um todo, ou seja, antes de tudo, foi a religiosidade que demandou sua construção.

As fotografias da cidade de Vitória tomadas a partir do Campinho, como por exemplo a foto 13, podem ser consideradas pertencentes ao Universo Intermediário. O que explica essa afirmação é o fato de que a vista se configura como um componente daquela ambiência,

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Foto 11 - Rachel Gomes Foto 12 - (Anônimo)

e dessa forma, se faz necessário a presença naquele local para que se consiga tal registro. Considerando a análise dessas fotografias por uma pessoa que desconhece a geografia local, pode-se inferir que também esses registros não oferecem o entendimento integral de posicionamento do Convento no contexto daquela urbanidade que se avista. Em contra partida, uma fotografia do Universo Geográfico permite relacionar o elemento em questão a outros elementos da paisagem.

A foto 13 não tem um foco em algum elemento específico da paisagem urbana de Vitória. No primeiro plano está o próprio participante, portanto o foco está nele e nas outras pessoas que o acompanham. Segundo Bitt-Monteiro (2000) o Universo Intermediário é onde se estabelecem as relações interpessoais. Isso se aplica no Convento se considerado o fato de que o Campinho possa ser um ponto de encontro; um local de sociabilização antes da subida final à igreja, onde se supõe que haja uma tendência à introspecção. Desse modo a subida à igreja representa a chegada ao Universo do Detalhe, onde se dá a interação entre o ser humano e o objeto; onde há a contemplação dos detalhes, que aqui pode ser sugerida como um olhar para si, relacionado ao ato da prática da fé.

Dentro do Universo do Detalhe estão elencadas fotografias que não necessariamente obedecem a relação com aspectos construtivos em si, mas também aquelas retratam as vistas ofertadas pela arquitetura do Convento da Penha. Por exemplo, as fotos 14 e 15

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Foto 13 - Otávio Tonini

representam a paisagem vista das janelas, que nos relatos descritivos aparecem como um importante elemento marcante na experiência cognitiva dos participantes.

As fotos 14 e 15 são consideravelmente fiéis representantes da percepção de seus autores. O participante que fotografou a foto 14 diz que seu lugar preferido no Convento é “A janela que tem os assentos laterais, porque proporciona uma bela vista de Vitória”. Apesar de sua atenção estar voltada para a vista da cidade, o participante tanto em sua resposta como em sua fotografia destaca a importância da janela nessa experiência contemplativa. Assim também acontece com a foto 15, onde o participante diz que seu local preferido condiz com aquele de onde a foto foi tomada. Esta última fotografia carrega a característica de provavelmente não ter sido tomada pelo participante, já que aparentemente o mesmo se encontra enquadrado na fotografia. Entretanto é notável que a foto 15, além de conter a imagem da janela e a vista enquadrada por ela, o participante se coloca como um personagem que representa a tradução do ato de contemplar a paisagem. A fotografia retrata a experiência proporcionada pelo Convento a esse participante.

Assim como observado nas respostas ao questionário, nesta fase da pesquisa há uma preponderância da percepção ligada às vistas alcançadas do alto do Convento. Isso se mostra nos relatos fotográficos da mesma maneira, portanto não se notam fotografias relativas ao Universo Íntimo, no qual se compreendem as relações corporais e afetivas com o objeto.

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Foto 14 - Gabriel Lordêllo Foto 15 - Aubrey Effgen Paixão

13.2 – Segunda etapa de análises: o foco

Nesta etapa foi escolhido um grupo específico de fotógrafos para participar da pesquisa. Este grupo foi classificado como amador, já que foram contatados e convidados a participar alunos do curso de fotografia da professora Dahlen Bucher, como justificado anteriormente. Após enviado o convite (anexo 2) foi estabelecido um prazo de um mês (julho de 2013) para que fossem recebidas as respostas ao questionário (anexo 3). Foram considerados válidos os questionários completamente preenchidos juntamente do envio da fotografia, que totalizaram quinze entradas.

13.2.1 – Memória descritiva

Os participantes desta etapa de pesquisa tem idades que variam de 30 a 60 anos, sendo sua maioria acima dos 50. São, principalmente, moradores do Espírito Santo, e a maior parte deles possui escolaridade acima do nível superior. Apesar de a pesquisa ter sido voltada para um grupo de fotógrafos considerados previamente amadores, alguns dos participantes são fotógrafos profissionais, ou seja, tem na fotografia sua principal fonte de renda. Portanto há que se levar em consideração, no momento da análise, essa característica específica dessas pessoas. As respostas estão organizadas integralmente no anexo 5.

• Sentidos da percepção

As respostas desses participantes foram variadas no que diz respeito à experiência da percepção. Diferentemente da primeira etapa, aqui a visão tem uma importância notável, porém não com tamanha força. Percebe-se que a maioria desses participantes tem uma relação profunda com o Convento, e, portanto, o aspecto visual daquele ambiente não toma as mesmas proporções da primeira etapa da pesquisa, sendo mostradas, portanto, outras perspectivas. Contudo no que diz respeito aos sentidos que atuam na percepção desse espaço, a visão é a mais notável. Como exemplo as seguintes respostas ao campo “local preferido no Convento”:

“As janelas que se abrem para Vitória e a parte de traz, de onde avistamos a orla de Vila Velha” A.B.D.P.

“A vista para Vitória”

“O que avista a Praia da Costa e a Terceira ponto [sic.]”

Esse resultado demonstra que para essas pessoas o sentido da visão é o que marca a memória da percepção. Não há uma resposta que indique, por exemplo, sons e cheiros

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característicos do Convento da Penha. Dessa forma, fica confirmada a supremacia da visão na experiência perceptiva para essas pessoas, acordado com o que Tuan (1980) caracteriza como parte da natureza humana. É importante considerar que o momento de responder ao questionário é uma ocasião de rememoração, e, portanto, não fica excluída a possibilidade de que essas pessoas tenham tido no ato da percepção a influência de outros sentidos. Entretanto entende-se que essa rememoração não muito aprofundada traga à tona aspectos que mais marcaram a experiência perceptiva.

Em contrapartida, e de modo sobretudo subjetivo, algumas respostas podem ser interpretadas a fim de que se encontre alguma alusão à percepção com os outros sentidos. Como por exemplo:

“Quando estou lá esqueço todos os problemas. É como eu estivesse mais próxima do céu.” M.S.

“Lugar para estar tranquilo, sereno.” J.M.A.

“...um lugar de paz total”

“... particularmente me transmite muita paz.” C.M.

Mesmo que não abertamente, essas respostas apontam uma certa tranquilidade do local. Longe das ruas movimentadas, das indústrias, das construções, o Convento no alto do morro é um local silencioso se comparado às cidades ao redor. Os sons ali são principalmente os das orações, dos murmúrios respeitosos, das músicas sacras, da mata que abraça o topo do morro, e etc. Percebe-se que se tem uma sensação de retiro, também contribuída pelo próprio caráter espiritual do Convento.

• Signos, símbolos, emoções e julgamento perceptivo

A rememoração da percepção do Convento é marcada, nas respostas, pelo reconhecimento de signos e símbolos e os sentimentos que são gerados através desses. As janelas do Convento, por exemplo, significam para alguns a possibilidade da visualização das paisagens que o cercam, como visto nas seguintes respostas ao campo de preferência de local:

“As janelas que se abrem para Vitória...” A.B.D.P.

“Janela com vista para a terceira ponte e praia de camburi.” J.M.A.

A descrição de elementos arquitetônico específicos como esse, nesse caso, não expõe uma concepção formal do mesmo, mas sim seu posicionamento. De certa forma, com -

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preende-se que a importância dada a tais janelas é primordialmente conferida pela vista que as mesmas proporcionam. Nas duas respostas acima nota-se que a referência para localização das janelas não são qualidades físicas das mesmas, mas sim o direcionamento da visão que se alcança a partir delas.

Alguns participantes, ao descreverem o Convento, o expõem como um signo de rememoração, ou seja, um elemento que lhes remete a seu passado. Por exemplo:

“O Convento pra mim é um lugar especial pois lembra muito a minha infância, sempre visitávamos o convento em família...” C.M.

“Ele é muito importante na minha vida, pois tenho lembranças maravilhosas.... desde a minha infância...”

Há um relato que descreve o Convento como um elemento de conexão das cidades de Vitória e Vila Velha. Ao dizer: “Acho também que ele integra as cidades de Vitória e Vila Velha” (A.B.D.P.) a participante narra sua percepção da conexão visual que o elemento representa, o caracterizando como um signo articulador da paisagem. Como exposto no primeiro capítulo desse trabalho, a paisagem é um elemento da geografia que não necessariamente é fiel à fisicalidade do espaço. Ou seja, a paisagem, dependendo de seu ponto de vista, tece relações no campo da visualidade que podem não existir de fato fisicamente, como o Convento se sobrepondo às construções de Vitória que por sua vez escondem a faixa de água que separa as duas cidades.

Os símbolos reconhecidos pelos participantes são principalmente a religiosidade, a monumentalidade e a história. Os exemplos a seguir de respostas à pergunta sobre o local preferido no Convento demonstram essas simbologias:

“[...] um símbolo da fé cristã.” L.P.P.

“Local de fé dos capixabas.” J.A.L.

“A convicção da minha fé, pois sou Católico e como tal o Convento representa Nsa Senhora.” V.L.M.

Esses relatos referentes à religiosidade são muito presentes nessa etapa da pesquisa. Pode-se dizer que devido à faixa etária dos participantes, há uma relação de tradicionalidade com a questão religiosa.

O reconhecimento da simbologia histórica do Convento aparece constantemente nos relatos. A arquitetura jesuítica quinhentista é reconhecida pelos participantes, poden -

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do-se inferir que ocorre em parte devido ao nível de instrução dos participantes, em sua maioria com nível superior, alguns com mestrado e uma parcela significativa de professores. A seguir apresentam-se alguns exemplos de respostas ao campo de descrição do Convento:

“É um monumento histórico, cultural e religioso do Espírito Santo, que por sua localização e arquitetura tornou-se parte indissociável da paisagem.”

A.B.D.P.

“Uma fortalece[sic.] arquitetônica representativa da fé católica.” A.C.T.

“Um marco da história de Vila Velha e do solo espírito-santense[...]” L.P.P.

“Uma arquitetura maravilhosa, que me leva a pensar no passado.” M.Z.

Nota-se, além do reconhecimento histórico-arquitetônico, referência à construção da paisagem. É conveniente observar que a carta-convite (anexo 2) enviada a esses participantes abordava questões conceituais sobre arquitetura e paisagem, e, portanto, a leitura de tal pode ter suscitado o pensamento crítico sobre o tema deste trabalho, e interferido nas respostas. Contudo, mesmo direcionado a pensar sobre o assunto, os participantes abordam suas visões pessoais nas respostas, não desqualificando a representação da percepção individual.

A importância do Convento como representante da história e cultura capixabas é demonstrado de forma objetiva por alguns participantes, como por exemplo no relato acima (L.P.P.) que o considera como um marco histórico tanto da cidade onde a construção está inserida, como do estado do Espírito Santo. Nesse sentido há um outro relato que, além de colocar o Convento como símbolo não só religioso, mas cultural de uma forma geral, propõe uma interpretação de fortalecimento da cultura:

“Símbolo da terra capixaba, demonstrando um alicerce para o povo do Espírito Santo.” F.I.

Pode-se dizer que a expressão “demonstrando um alicerce” sugere que o Convento simboliza a força da cultura capixaba, ou seja, ele relembra ao povo do Espírito Santo suas raízes. Sob um ponto de vista etnológico, entende-se que o autor da resposta indica o Convento como um dos pilares da construção da cultura capixaba, dissociado a questões de diversidade étnica.

As emoções provocadas pela percepção dos signos e símbolos do Convento podem ser reconhecidas direta ou indiretamente nos relatos. O ato da rememoração de outros

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tempos vividos naquele espaço chama a atenção, aparecendo objetivamente em algumas respostas, como mostrado anteriormente. O sentimento de paz também é descrito por alguns participantes, como nos seguintes exemplos:

“[...] particularmente me transmite muita paz.” C.M.

“[...] um lugar de paz total.”

Relacionado ao sentimento de paz, encontra-se também nas respostas referências ao ato de meditação, primordialmente relacionado à questão religiosa:

“Local de beleza e reflexão.”

“Um lugar de contemplação.”

“[...] local onde consigo ficar comigo mesmo durante algum tempo.” V.L.M.

Essas três respostas são de pessoas de seguimentos religiosos distintos: Espiritismo, Catolicismo e Luteranismo. Contudo observa-se uma unidade emocional indicando que o espaço, além de transmitir diretamente ao católico o sentido de espiritualidade, conduz o visitante ao pensamento reflexivo. Pode-se dizer que alguns dos fatores que contribuem para essa percepção estão ligados, além do caráter religioso do local, à relação da contemplação da paisagem como contemplação interior. Nesse sentido recorda-se o estudo sobre o relato da subida ao Monte Ventoux do poeta Petrarca, sugerido por Besse (2006) como uma metáfora à meditação no deserto, consagrada pelo cristianismo como um ato de contrição.

As respostas ao questionário são unânimes no que diz respeito ao julgamento estético do Convento da Penha. Afora as respostas objetivas, as demais, apesar de não louvarem diretamente a beleza do local, deixam implícito seu julgamento estético positivista. Assim como na primeira etapa da pesquisa, nesta não se encontram relatos negativos quanto à beleza do conjunto monumental.

• Elementos marcantes e preferências individuais

Considerado o Convento como um elemento marcante na paisagem das cidades de Vitória e Vila Velha, foi feito o questionamento aos participantes dos três primeiros pontos que lhes vinham à mente de onde se enxerga o Convento. A Terceira Ponte é vista como um dos principais segundo os participantes. Devido à sua proximidade ao Convento, a ponte se configura como um local evidente para tal percepção, podendo-se avaliar praticamente infactível atravessá-la sem notar ao menos uma vez a aparição do Convento. A Reta da Penha também é apresentada por parte expressiva dos participantes nas respostas. Esse ponto de

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percepção está contido em um universo geográfico, ou seja, o Convento aparece em relação à cidade, e há uma sensação de pertencimento do mesmo à cidade de Vitória. Por outro lado, também citado por muitos participantes, a Enseada do Suá promove uma visibilidade próxima, porém com o reconhecimento de posição do Convento em Vila Velha. Tem-se de grande parte da Enseada do Suá a visibilidade da faixa de água que separa as duas cidades.

Assim como observado na primeira etapa de pesquisa, nesta também há preponderância de visualização a partir da cidade de Vitória, aparecendo somente a Praia da Costa e o Morro do Moreno localizados em Vila Velha. A vista a partir do Morro do Moreno detém certa peculiaridade, já que seu cume se encontra acima da altitude do Convento. O acesso a tal ponto não é algo comum, trata-se de uma subida com característica esportiva, portanto se configura como um ponto de vista, de certa forma, privilegiado.

Na experiência perceptiva em imersão na localidade do Convento da Penha aparecem alguns elementos que marcam expressivamente a memória dos participantes. A vista panorâmica alcançada dali outra vez é apresentada com primazia por grande parte dos participantes. Nas respostas sobre seu local preferido no Convento, algumas pessoas citam diretamente a vista das cidades:

“As janelas que se abrem para Vitória e a parte de trás, de onde avistamos a orla de Vila Velha” A.B.D.P.

“A vista para Vitória”

“A vista do campinho.” F.I.

Diferente da primeira etapa, nesta não há grande preponderância de preferência de algumas vistas sob outras. São citadas nos relatos tanto Vitória quanto Vila Velha, e há um caso em que o mesmo participante cita ambas, como visto no relato acima (A.B.D.P.). Há também os participantes que dizem apreciar a “paisagem como um todo” ou simplesmente não demonstram preferências.

Nesta pesquisa a construção em si do Convento é apresentada como um elemento marcante. Alguns participantes citam seu local preferido da seguinte forma:

“ Santuário” A.C.T.

“o corredor” J.A.S.C.

“Altar Mor principalmente depois de restaurado” V.L.M.

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Como observado anteriormente, a religiosidade é muito presente nas respostas dos participantes desta etapa de pesquisa. Não distintamente, nas preferências há uma proeminente parcela de participantes que destaca o caráter religioso do Convento, mesmo que indiretamente.

Há um relato no qual o autor ressalta o acesso à igreja: “a subida da escadaria”. Tanto para a primeira etapa quanto para esta, tal resposta assume um caráter singular. Não há, além deste, outro relato que faça alguma menção, direta ou indireta, aos acessos ao Convento. Pode-se entender, por um lado, que há a possibilidade de que a pergunta “Qual o seu ponto preferido ao visitar o Convento?” induza tal resultado, já que muitos participantes possam entender “Convento” somente como o topo do morro e sua construção. Por outro lado, há a possibilidade de que realmente os acessos ao topo possam não passar de meros ingressos segundo esses participantes. Mesmo a resposta citada acima, que destaca um acesso, se refere a parte da construção em si. Dessa forma tanto a estrada para carros quanto a subida de pedestres não são apresentadas em nenhum dos relatos.

13.2.2 – Imagens narrativas

Nesta etapa da pesquisa foi solicitado aos participantes que, ao final do questionário, enviassem uma fotografia que representasse sua visão pessoal sobre o Convento da Penha. A seguir são elencadas as fotos juntamente de uma análise em tópicos que compreendidos pela metodologia a fim de qualificar a experiência perceptiva do Convento.

Foto 1

Autor: Ana Beatriz Dalla Passos

Fotógrafo: amador

Direção do olhar: Convento

Signos e Símbolos: Convento presente na paisagem noturna de Vitória; Iluminação.

Universo de percepção: Intermediário

Foto 2

Participante: Antonio Carlos Thomasi

Autor: Desconhecido

Fotógrafo: amador

Direção do olhar: Convento

Signos e Símbolos: A foto é um artefato icônico da marcação do tempo.

Universo de percepção: Intermediário

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122 Foto 1
Foto
2
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3
Foto
4
Foto

Foto 3

Autor: Anônimo

Fotógrafo: profissional

Direção do olhar: Convento

Signos e Símbolos: o Convento em meio à vegetação.

Universo de percepção: Intermediário

Foto 5

Foto 4

Autor: Anônimo

Fotógrafo: amador

Direção do olhar: Convento

Signos e Símbolos: o Convento e sua implantação na vegetação nativa.

Universo de percepção: Intermediário

Foto 5

Autor: Cirstine Modenese

Fotógrafo: profissional

Direção do olhar: Cidade

Signos e Símbolos: a cidade vista pela janela; a preocupação em iluminar o interior.

Universo de percepção: Detalhe

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125 Foto 6
7
Foto

Foto 6

Autor: Anônimo

Fotógrafo: profissional

Direção do olhar: Convento

Signos e Símbolos: o Convento em meio à vegetação.

Universo de percepção: Intermediário

Foto 8

Autor: Fernando Lahud

Fotógrafo: amador

Direção do olhar: Convento

Signos e Símbolos: o convento se impondo à cidade. Iluminação que destaca.

Universo de percepção: Geográfico

Foto 7

Autor: Jazan Mageski Alves

Fotógrafo: amador

Direção do olhar: Convento

Signos e Símbolos: Informações; data da construção; cruzes, símbolos de fé.

Universo de percepção: Detalhe

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Foto 8
127 Foto 9
10
Foto

Foto

Foto 9

Autor: João Manoel Rossoni

Fotógrafo: amador

Direção do olhar: Cidade

Signos e Símbolos: afetividade; vista.

Universo de percepção: Detalhe

Foto 10

Autor: José Alberto Laurindo

Fotógrafo: amador

Direção do olhar: Convento

Signos e Símbolos: fé; devoção; popularidade do Convento.

Universo de percepção: Detalhe

Foto 11

Autor: José Américo Silvares Costa

Fotógrafo: amador

Direção do olhar: Convento

Signos e Símbolos: composição da paisagem;

Universo de percepção: Geográfico

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11
129 Foto 12
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Foto

Foto 12

Autor: Luiz Paulo Pretti

Fotógrafo: amador

Direção do olhar: Convento

Signos e Símbolos: Convento e sua implantação.

Universo de percepção: Intermediário

Foto 14

Autor: Monica Zamprogno

Fotógrafo: profissional

Direção do olhar: Convento

Signos e Símbolos: mistério; fé.

Universo de percepção: Íntimo

Foto 13

Autor: Magna Santos

Fotógrafo: amador

Direção do olhar: cidade

Signos e Símbolos: a vista como uma descoberta em meio

Universo de percepção: Intermediário

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Foto 14

Foto

Foto 15

Autor: Valter de Lima Monteiro

Fotógrafo: profissional

Direção do olhar: Convento

Signos e Símbolos: fé; devoção; patrimônio; história.

Universo de percepção: Detalhe

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15

13.2.3 – Memória e fotografia: analogias na percepção da paisagem

Nesta etapa da pesquisa as fotografias forma enviadas pelos participante juntamente com suas respostas ao questionário. Há que se ressalvar que neste caso, sabendo de antecipadamente qual foto será analisada, o participante possa ser induzido a falar sobre sua fotografia. Entretanto, os aspectos perceptivos que se busca reconhecer neste trabalho são de ordem subjetiva, os quais muitas vezes o próprio participante não nota em sua experiência perceptiva.

• A direção do olhar

A direção do olhar do fotógrafo indica aspectos importantes da percepção, como o reconhecimento de elemento integrante da paisagem urbana numa perspectiva mais ampla; como a importância que se tem no próprio elemento construído e sua implantação; a ambiência do local e suas características; entre outros. A seguir busca-se identificar esses aspectos nas fotografias relacionando com as respostas dos participantes a perguntas sobre seu local preferido no Convento, e da descrição da visão individual do mesmo.

Como exposto neste trabalho, e de acordo com as teorias de Lynch (1997), o Convento da Penha se configura como um marco da paisagem urbana das cidades de Vitória e Vila Velha. Isso é reconhecido por alguns participantes tanto em suas fotografias, como nos relatos descritivos. As fotografias que apresentam o Convento visto a partir da cidade podem ser classificadas nesse sentido da percepção. Por exemplo, a foto 1 tomada à noite mostra como o Convento se impõe na paisagem até mesmo num horário onde se faz necessária iluminação artificial para que o mesmo mantenha sua imponência. Assim como outros grandes marcos urbanos, como o Cristo Redentor no Rio de Janeiro e a Torre Eiffel em Paris, a manutenção da grandiosidade dos elementos marcantes no período noturno depende da iluminação. Nesse contexto vale lembrar que a paisagem é modificada também por aspectos naturais como por exemplo, dia e noite, e nascer e pôr do sol. Em cada momento destes a experiência perceptiva se modifica, e muitas vezes leva o observador a dar atenção à aspectos distintos, ou até mesmo julgar “bela” uma paisagem em apenas alguns desses momentos.

A autora da foto 1, ao descrever o Convento, diz que: “É um monumento histórico, cultural e religioso do Espírito Santo, que por sua localização e arquitetura tornou-se parte indissociável da paisagem...”. O uso da palavra “indissociável” nesse contexto pode ser compreendido, juntamente com a fotografia, como um reconhecimento da importância do Convento na paisagem de Vitória independente da ocasião.

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Outra forma de representação do Convento quanto elemento marcante da paisagem é seu enquadramento em relação a outros elementos também marcantes, como na foto 2, onde o Convento é enquadrado em vão da Terceira Ponte.

Esse tipo de enquadramento, também mostrado na primeira etapa de análises, tem o papel de demonstrar como a fotografia atua na percepção da composição da paisagem, tanto em seus aspectos formais – formato, escala, cor, etc. –, como naqueles invisíveis –história, cultura, relações sociais. A foto 2, além de representar a composição da paisagem, ao centralizar o Convento em seu enquadramento demonstra que sua relação com os outros elementos representados é de imponência. Segundo Prado (2002), uma das funções da composição formal da fotografia é de criar uma escala de valores, e na foto 2, mesmo que a

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Foto 1 - Ana Beatriz Dalla Passos Foto 2 - José Amério Silvares Costa

Ponte esteja num plano anterior ao Convento, o mesmo está centralizado tanto no sentido horizontal quanto no vertical, o que confere ao mesmo o papel de foco da atenção da fotografia.

A combinação dos pontos de vista, referentes à presença incontestável do Convento na paisagem no decorrer do cotidiano, é demonstrada em uma fotografia que expressa a relação de imponência do Convento em meio à uma cidade que ultrapassa horizontes visíveis (foto 3).

Na foto 3, o fotógrafo enquadrou o Convento a partir de um ponto de vista privilegiado, provavelmente de cima do Morro do Moreno, com sua iluminação noturna e a cidade de Vila Velha que se estende ao fundo infinitamente. Ao tecer as escolhas compositivas para a fotografia, como o momento, o enquadramento e a técnica, o autor expõe a cidade em sua imensidão como um céu iluminado que se faz de cenário para a imponência do Convento. Desse modo esta fotografia compõe os dois elementos, Convento e cidade, em uma proporção causada pela perspectiva que estabelece uma relação de protetorado, concebida pela fé e a tradição representadas pelo Convento. A descrição do autor da foto 3 de sua visão pessoal sobre o Convento, condiz com as interpretações acima sobre sua fotografia. Ao responder “símbolo da terra capixaba, demonstrando um alicerce para o povo do Espírito Santo”, o participante descreve a implicação do Convento como uma marca que permeia o imaginário capixaba e lhe concebe orgulho e regionalismo.

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Foto 3 - Fernando Lahud

Um dos papéis da fotografia, talvez o mais encantador perante as massas, é o de documentar a história em imagem, e ao mesmo tempo se configurar em uma imagem verossímil. Um dos participantes, ao escolher a foto que mais representava o Convento segundo sua visão, escolheu uma fotografia que, mesmo não tomada por si, representa um aspecto importante na percepção: a história. A foto 4, de autor desconhecido, pertencente a acervo do participante, ainda que não tenha a informação da data da produção, representa uma relação pessoal com o Convento no sentido de valorizar o passado. Ao comparar com uma fotografia tomada recentemente (figura 16), é possível notar as modificações promovidas ao longo da história.

Foto 4 - Autor desconhecido (enviada por Antônio C. Thomasini)

Fonte: acervo

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Figura 16 - Fotografia do Convento no ano de 2008. Ronni Goltara. pessoal

Entende-se que ao escolher esta fotografia, o participante propõe implicitamente que sua experiência perceptiva no Convento da Penha está ligada ao passado. Pode-se inferir que em sua memória faz essas comparações, visto que devido à sua faixa etária, é possível que o participante tenha visitado o Convento em diferentes momentos, e presenciado algumas das modificações.

Com o olhar voltado para o Convento, há uma fotografia que demonstra a apreciação pessoal do autor pelo interior da nave da igreja. Em seu relato o participante diz que seu local preferido no Convento é o “Altar Mor, principalmente depois de restaurado”, desse modo, além de seu relato e sua fotografia (foto 5) demonstrarem sua preferência, o fotógrafo indica um conhecimento relevante da situação arquitetônica da construção.

A foto 5, tanto representa fielmente a preferência do participante, como indica sua visão pessoal do Convento, visto que ao descrevê-lo diz: “a convicção da minha fé, pois sou católico e como tal o Convento representa Nsa Senhora...”. A representação da fé católica, de fato, tem maior força no interior da igreja, pois ali se encontra a imagem de Nossa Senhora da Penha, padroeira do Espírito Santo, e motivo principal da existência do Convento. Além disso, é na nave principal do Convento onde são realizadas as missas e onde a espiritualidade tem sua ratificação diária.

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Foto 5 - Velter de Lima Monteiro

A quantidade de fotografias que representam as vistas alcançadas a partir do Convento, nesta etapa da pesquisa, é consideravelmente reduzida, se comparado à primeira etapa. Pode-se coligir que a especificação no pedido das fotografias: “Anexar fotografia que represente sua visão PESSOAL do Convento da Penha”, tenha impelido os participantes à enviar fotografias aonde de fato o Convento fosse registrado. Porém alguns participantes enviaram fotografias da vista. As fotos 6 e 7, são exemplos da visão voltada para a vista da paisagem urbana de Vitória.

A autora da foto 7 ao compor sua imagem tem o cuidado de equilibrar a iluminação de forma que se reconheça tanto o interior do Convento, como a paisagem vista através da janela. Desse modo a participante equilibra as forças representativas, e põe a janela como um elemento de transgressão de escalas, não apenas como uma abertura eventual que emoldura determinada paisagem. Desse modo, a paisagem pode ser entendida como um quadro que compõe o ambiente, reforçado nesse pelo caráter expositivo deste corredor, onde são expostos quadros relativos à construção e aos mitos que envolvem o Convento, como por exemplo as telas de Benedito Calixto (figuras 17 e 18).

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Foto 7 - Cristine Modenese Foto 6 - Magna Santos

Figura 17 - Tela “A visão dos holandeses” pintada por Benedito Calixto, exposta na galeria do Convento da Penha.

Fonte: Novomilenio.inf.br

Figura 18 - Tela “O Milagre da Seca” pintada por Benedito Calixto, exposta na galeria do Convento da Penha.

Fonte: novomilenio.inf.br

• Significados e simbologias

Uma das simbologias mais marcantes nos relatos descritivos dos participante é aquela ligada à fé. Algumas fotografias representam essa simbologia, umas de forma explícita, outras nem tanto. A foto 8 cumpre o papel de destacar a fé através do símbolo da cruz, desse modo o fotógrafo utiliza de um dos principais estandartes do cristianismo católico para evocar um conjunto de significados que compõe a simbologia de fé do Convento. Além disso, a placa que sinaliza a entrada do Convento contém a data de fundação, portanto carrega o significado da temporalidade, lembrando ao visitante que se adentra em outro tempo.

A composição da foto 9 se comporta como um signo de religiosidade e peregrinação. Ao captar o momento onde as pessoas se apinham para ascender ao santuário, o autor demonstra a importância do Convento para a prática da fé católica. A fotografia como um

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signo do Convento o representa como símbolo do catolicismo para os capixabas, e isso é apreendido pelo participante ao dizer que esse é o “local de fé dos capixabas” (J.A.L.).

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Foto 8 - Jazan Mageski Alves Foto 9 - José Alberto Laurindo

A foto 10 é composta de forma a tratar do Convento como uma construção austera, construída sobre a rocha. A ideia bíblica de “edificar a casa sobre a rocha”, como um sinal de fortaleza humana, é evocada nesta fotografia, do modo a representar o Convento como a edificação da força da fé e do catolicismo. O local da tomada da foto condiz com a descrição do local preferido do participante, “subida da escadaria”, e portanto demonstra uma afeição especial por esse espaço.

A característica de fortaleza representada pelo Convento é mostrada em outras fotografias, que o enquadram em meio à floresta que o cerca. Como exemplos, as fotos 11 e 12, que respectivamente registram as fachadas oeste e leste, demonstram a dificuldade de acesso ao santuário, o que em outras épocas foi sinônimo de segurança contra os sucessivos ataques sofridos pelas terras da colônia portuguesa.

A arquitetura do Convento inspira certos sentimentos, como o de segurança citado acima, causado pela rigidez de seu desenho. Além disso, há o mistério suscitado por portas que nunca se abrem pois encerram o claustro, situação onde os religiosos não são permitidos a estabelecer contato com o exterior. A foto 13 representa esse mistério ao enquadrar o detalhe da porta do claustro, uma rosácea com símbolos esculpidos que marcam a atividade que se desenvolve no interior daquele espaço.

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Foto 10 - (anônimo)
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Foto 11 - (anônimo) Foto 12 - Luiz Paulo Pretti Foto 13 - Monica Zamprogno

A autora da foto 13, ao descrever o Convento diz: “Uma arquitetura maravilhosa, que me leva pensar no passado”. Sua escolha de enquadramento na fotografia representa essa arquitetura histórica, já que registra uma porta que provavelmente é um elemento presente no Convento por muitos anos. Assim também, sua escolha por fotografar em preto e branco faz com que a fotografia ganhe um atributo de envelhecimento, remetendo a uma outra época.

• Universos de percepção

A análise dos universos de percepção das fotografias em relação aos relatos descritivos, permite buscar aspectos da experiência perceptiva no que diz respeito à aproximação e movimentos dentro do ambiente.

O Universo Geográfico apresenta-se nas fotos 14 e 15 de formas distintas. A foto 14 representa o Convento em relação a outros elementos que constituem a paisagem de Vitória. Essa representação permite reconhecer a geografia do local, bem como a localização do referente no tecido urbano. Também é mostrado na foto 14 a característica de separação física que o Convento tem com a cidade de Vitória, representada pela faixa de água da entrada da baía, que por sua vez é vencida pela conexão representada pela Terceira Ponte.

A foto 15, por sua vez, não oferece informação sobre o posicionamento no contexto urbano, nem uma relação com o entorno imediato do Convento. Entretanto apresenta uma perspectiva que a classifica como pertencente ao Universo Geográfico por registrar ao fundo a cidade de Vila Velha, à qual pertence de fato o Convento. Embora não seja possível reconhecer facilmente qual parte da cidade é fotografada, sabe-se que há um entorno urbano, diferente das fotografias que apresentam o Convento em meio à mata que o cerca tendo acima somente o céu. O autor da foto 15 em sua descrição do Convento aponta que o mesmo é um “símbolo da terra capixaba”, portanto pode-se inferir que ao participante, não apetece localizar geograficamente, se não representar o Convento como um símbolo capixaba como um todo. O mesmo é percebido na foto 14, onde o fotógrafo inclui em seu enquadramento outro ícone espírito-santense: a “Terceira Ponte”, fincando o Convento no cenário da territorialidade capixaba.

O Universo Intermediário é proposto por Bitt-Monteiro (2000) como o espaço da sociabilização; o universo da movimentação e escolha de possíveis aproximações posteriores. No Convento esse espaço é representado pela praça chamada de Campinho que antecede a subida final para o santuário, onde também se encontra o estacionamento, o que o torna um espaço de transição do movimento. As fotos 16 e 17 foram tomadas nesse espaço,

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Foto 14 - José Américo Silvares Costa Foto 15 - Fernando Lahud

e representam a composição desse ambiente. A foto 16, como dito anteriormente, é uma foto antiga, tomada em um momento onde o Campinho, como se conhece atualmente, não existia. Além das claras diferenças na construção do Convento, nota-se nesta fotografia as diferenças do espaço em geral, tanto nos aspectos construtivos como na natureza, visto que grande parte da floresta que cerca o Convento atualmente provém de um reflorestamento (ESPÍRITO SANTO, 2009).

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Foto 16 - Autor desconhecido (enviada por Antônio Carlos Thomasini) Foto 17 - Magna Santos

A foto 17, tomada da pedra ao final do Campinho, enquadra-se no Universo Intermediário em um ponto de vista onde a paisagem vista daquele espaço se torna um elemento que o compõe. Nesse caso considera-se a localização da fotógrafa como fator de desígnio de seu nível de percepção, ou seja, entende-se que para obter essa fotografia a autora passa por uma experiência perceptiva que lhe indica a vista como um elemento importante de ser registrado. Considerando o Universo Intermediário como o espaço da observação dos elementos e avaliação de possíveis movimentos subsequentes, a autora da foto 17, ao perceber a cidade vista dali faz uma escolha representativa que a leva a se aproximar para fotografá-la. Contudo dentro da realidade do espaço, esta é uma escolha que não lhe permite acesso imediato, a não ser o caminho até o ponto de vista particular para tomada da fotografia. O participante responsável pelo envio da foto 16 assinala o “santuário” (A.C.T.) como seu local preferido no Convento. Portanto pode-se deduzir que a escolha dessa fotografia representa a vista de seu destino preferido, como se a foto fosse um documento de sua movimentação, tendo no Universo Intermediário uma parada para apreender a totalidade do Convento antes da subida final que o leva para o interior da construção.

As fotos 18 e 19 portam a característica da dualidade entre universos de percepção. A localização do fotógrafo indica que seu espaço é pertencente ao Universo Geográfico, porém ao utilizar da aproximação oferecida pelos recursos das lentes das câmeras, seu registro passa a representar o Universo Intermediário. Essas fotografias apresentam o Convento como um elemento separado da urbanidade, não oferecendo alguma capacidade de localização. Se for considerado a análise do registro por alguém que desconhece a realidade da localização do Convento, essas fotografias podem apresentar interpretações fictícias, assim como observado por Prado (2002) em seu estudo sobre a modernização de Vitória. Em tal ocasião os fotógrafos utilizavam desses recursos de exclusão do entorno como método para criar uma realidade infiel ao contexto da cidade como um todo. Considerando que as fotos 18 e 19 são registros pessoais e não voltados para comercialização, pode se coligir que não há essa intenção de vender ficções, porém a experiência perceptiva dos autores indica a segregação do Convento do tecido urbano, o colocando como um elemento singular e dissociado da cidade. Entretanto há uma preocupação em não representar apenas a construção do Convento, como seu entorno imediato: a mata. A representação da natureza que cerca a construção pode indicar a intenção de representar o Convento como um elemento sólido que surge naturalmente do interior de uma Mata Atlântica fechada que o protege do fácil acesso. A naturalidade com que a construção jesuítica é mostrada nesses relatos, a representa como um elemento também natural, como se não houvesse ocorrido alguma interven -

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Foto 18 - Luiz Paulo Pretti Foto 19 - (anônimo)

ção humana, e o Convento, assim como a natureza que o cerca, fosse uma obra divina.

Em contrapartida à essa compreensão, o autor da foto 18, ao descrever o Convento diz: “Um marco da história de Vila Velha e do solo espírito-santense, e um símbolo de fé cristã.” (L.P.P.). Desse modo, ao mencionar a história da cidade, o autor, de certa forma, indica a humanidade do Convento, já que o relaciona com a colonização ao mencionar o solo espírito-santense, o que indica uma atividade empreendida pelo homem. Portanto esse tipo de enquadramento mostra-se duvidoso, até mesmo para compreensão da experiência pessoal do autor. Contudo, ao representar dessa forma o elemento, o autor confere ao mesmo toda a importância e superioridade, oferecendo variadas interpretações de sua experiência perceptiva.

O Universo do Detalhe refere-se ao espaço onde são reconhecidos e apreendidos os pormenores do elemento em questão; é também dedicado à contemplação, que no contexto do Convento, pode ser traduzida também como um olhar interior, visto que adentrar ao Universo do Detalhe o observador está presente em um espaço de espiritualidade e individualidade. As fotos 20 e 21 apresentam como detalhes a subida final para o Convento. A foto 20 enquadra partes da construção que se sobrepõem, e ao mostrar a rocha sobre a qual é construído, confere ao Convento um aspecto de fortaleza. Segundo o participante autor da foto 20 seu local preferido no Convento é “a subida da escadaria”, assim também a fotografia demonstra essa preferência, já que é tomada a partir da subida. Mesmo não representando a imagem da subida da escadaria em sua fotografia, o fotógrafo escolhe representar uma

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Foto 20 - (anônimo)

imagem que se vê daquele local, portanto pode-se inferir que a escadaria em si não é o foco, mas sim o ato de subir e o deleite da percepção naquela ambiência.

A foto 21 por sua vez representa de fato o ato de ascender ao santuário como um ato de romagem de uma grande quantidade de pessoas. O participante ao dizer que o Convento, segundo sua visão, é “local de fé dos capixabas” traça a relação com sua fotografia demonstrando a prática da fé católica daquelas pessoas que ali estão. Segundo Bitt-Monteiro (2000) o Universo do Detalhe é um espaço de interatividade, porém não em relação às outras pessoas ali presentes, mas em relação ao objeto, nesse caso, o Convento e sua função de religiosidade. Se por um lado no Universo Intermediário (Campinho) as pessoas se encontram, trocam informações e dialogam; por outro, quando ascendem ao Universo do Detalhe a individualidade passa a ser o principal movimentador da percepção. Essa pro -

priedade é representada também pela foto 22, que demonstra uma relação de interioridade ainda maior ao documentar o altar da igreja. O participante e autor da foto 22 esclarece sua preferência tanto na fotografia quanto em seu relato, onde diz que sua preferência é o “Altar Mor” (V.L.M.).

A predominância da afinidade religiosa com o Convento, demonstrada pelos participantes nas respostas ao questionário, se confirma nessas fotografias que priorizam motivos ligados à religião. Pode-se dizer que o Universo do Detalhe está diretamente ligado ao sentido espiritual do Convento, pois ao percorrer esse nível da percepção, o observador é levado a participar, de certa forma, do sentido de reflexão que é exalado pela utilização do

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Foto 21 - José Alberto Laurindo

espaço. Iniciando na Sala dos Milagres, passando pelo Museu, na antessala da nave principal, na escada onde se encontram os agradecimentos por graças alcançadas, o corredor com os quadros que exaltam a fé; todos esses lugares remetem diretamente à religiosidade, e são pontos de prática das crenças. Contudo a percepção se mantem individualizada, como observado por Tuan (1980), e nesta pesquisa isso se apresenta por uma fotografia (foto 23)

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Foto 22 - Valter de Lima Monteiro Foto 23 - João Manoel Rossoni

onde o autor utiliza da composição arquitetônica do espaço para retratar outros motivos. A fotografia é composta por um casal que demonstra seu afeto, e o ambiente é o cenário. Pode-se dizer que o fotógrafo intenciona relatar que essa demonstração de carinho, de certa forma, é provocado pela beleza do lugar, mesmo que os modelos pareçam estar posando para a fotografia. Nesse caso a escolha do ambiente para retratar a situação é o que o leva a representar o Universo do Detalhe, movido por sua percepção e julgamento de beleza. O Universo Íntimo em toda a pesquisa é demonstrado em apenas uma fotografia. A foto 24 representa uma proximidade máxima que normalmente as câmeras fotográficas conseguem atingir mantendo o foco. Assim também acontece com o olho humano, que trabalha com uma distância mínima para focar os elementos. Esta forma de aproximação busca apreender os detalhes quase ínfimos do objeto em questão, permitindo a ação dos outros sentidos na experiência perceptiva para que se conheça profundamente o elemento. A ascensão ao Universo Íntimo também pode ser compreendida como um interesse afetivo pelo elemento, e assim podendo memorizar seus pormenores. No caso da foto 24, percebe-se a intenção da fotógrafa de representar uma escultura de metal que marca a entrada a uma parte do Convento que não é acessível ao público. De certa forma, tal escultura é um selo de integridade do claustro, que comunica ao visitante que a partir daquele ponto a espiritualidade é a principal atividade que se desenvolve por quem ali se encontra.

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Foto 24 - Monica Zamprogno

14 - Considerações finais

Levando em conceito a bibliografia estudada, foi possível classificar previamente a fotografia como uma forma de representação da paisagem, tanto por seu aspecto formal de enquadramento, quanto pela questão histórica da representação. A pesquisa permitiu utilizar desta relação mútua como elemento para compreensão de outra representação: a representação da percepção. A percepção não apareceu de forma óbvia, foi necessária uma análise da construção do signo fotográfico, tendo em mente as teorias abordadas.

Estudar a paisagem através das fotografias requer a compreensão das imagens como signos dos espaços ou objetos fotografados. Como mostrado na primeira parte do trabalho, a fotografia cumpre o papel de documentar o mundo com verossimilhança e assim é aceita pela massa receptora. Ao mesmo tempo em que uma foto se configura como signo, ou seja, um artefato que remete diretamente ao objeto ao qual faz menção; a fotografia também carrega o índice iconográfico que representa a indubitável presença do objeto diante da câmera e sua aparência. Portanto, mesmo que se considerem as possíveis manipulações do índice iconográfico, a fotografia se apresenta como um poderoso documento de estudo sobre o espaço e sobre a relação do indivíduo com o mesmo.

Os tópicos estudados na conceituação do trabalho referentes ao registro fotográfico permitiram a criação de uma análise que vai além da observação das imagens como ilustrações. A questão autoral da fotografia permitiu a caracterização dos fotógrafos em três grupos, dentro dos quais a produção fotográfica se distingue. É importante ressaltar que neste trabalho a diferenciação entre fotógrafos profissionais e amadores foge em algumas medidas ao conceito presente no senso comum. Aqui o fotógrafo profissional é caracterizado como um autor que tem o encargo de suprir uma demanda do mercado, seja jornalístico, publicitário ou artístico. O fotógrafo amador por sua vez é colocado como um sujeito que mantém uma relação passional com a produção fotográfica, e, portanto busca informações acerca da técnica e da produção existente como referência. A terceira categoria foi criada para denominar um movimento que nas últimas décadas cresce imponentemente: a fotografia cotidiana. Neste grupo estão compreendidas as pessoas que usam da fotografia para representar seu cotidiano, sendo umas das características que o distingue o compartilhamento em redes sociais da internet, criando tipos de fotografias com determinadas particularidades. Portanto é possível concluir que pesquisas que intencionam caracterizar a paisagem ou outros elementos através da fotografia devem levar em consideração o autor de tais

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registros, para que a análise seja empreendida de acordo com as características específicas de cada grupo.

A pesquisa desenvolvida neste trabalho teve o intuito de, ao aplicar a metodologia abordada em um estudo de caso, trazer questionamentos a respeito da utilização da fotografia como instrumento de estudo voltado à apreensão da paisagem. Em um primeiro momento pode-se dizer que a pesquisa teve sucesso na tarefa que empreendia. A amostragem recebida não foi grande, porém a intenção da pesquisa não era de quantificar determinados elementos, mas buscar na individualidade de cada participante sua experiência perceptiva a respeito do Convento, o que acima de tudo é uma grandeza subjetiva.

Duas primeiras constatações chamam a atenção no resultado final: o reconhecimento da presença inegável do Convento no cotidiano da cidade; e a indelével marca das vistas alcançadas do alto do Convento. A primeira delas se poderia imaginar, já que o referente estudado é previamente afamado como marco da paisagem, principalmente da cidade de Vitória. A segunda constatação é, de certa forma, uma novidade. Apesar de ser imaginável que as vistas das cidades alcançadas a partir do Convento chamam a atenção pelo ponto de vista inusitado, essas, muitas vezes na pesquisa, estão colocadas com importância até maior do que a própria construção do santuário.

No decorrer do trabalho foi colocado que a análise não se refere à construção do Convento somente, mas a todo o conjunto que lhe confere o aspecto de referente paisagístico. É importante ter em mente esse detalhe para que se compreenda que, apesar de as vistas alcançadas de lá serem referentes à paisagem urbana das cidades ao redor, elas são componentes daquela espacialidade. É somente a partir do Convento que se pode enxergar Vitória e Vila Velha daqueles ângulos, tornando aquelas imagens espécies de impressões digitais do lugar.

A ideia que se tem sobre o pertencimento do Convento à Vila Velha ou à Vitória é mostrada na pesquisa. Embora as duas cidades pertençam ao mesmo contexto urbano, é inegável que existem diferenças entre as mesmas, e sobre a paisagem não é distinto. Durante toda a pesquisa poucas são as fotografias que de alguma forma representam a cidade de Vila Velha, tanto no olhar de cima, quanto na localização urbana para tomar foto do Convento. Além dessas constatações, um elenco de elementos relevantes ao estudo da paisagem foi alcançado, compondo portanto uma análise proeminentemente aplicável em outros estudos de caso.

A percepção ambiental estudada na primeira parte do trabalho como percepção da

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paisagem, foi claramente compreendida na pesquisa. Tanto nos relatos descritivos quanto nas fotografias foi possível detectar aspectos perceptivos destacados como tópicos para compreensão da relação individual com o ambiente. A comparação entre as duas formas de expressão utilizadas na pesquisa – escrita e fotografia – mostrou pontos de convergência que se aproximam do objetivo deste trabalho. É possível reconhecer, em ambas as formas de representação, elementos tais como: preferências individuais, símbolos e signos, a lógica perceptiva do turista, os padrões de movimentação no espaço e elementos que marcam a memória. O confronto entre a escrita e a fotografia na busca desses elementos mostrou uma importante correlação entre os meios de expressão. A fotografia de fato foi capaz de traduzir em imagem muitos desses marcos perceptivos ao serem comparadas com as escritas do mesmo participante.

Sabe-se que a análise da fotografia pressupõe uma subjetividade maior do que os relatos descritivos, pois na construção da imagem, o autor passa por um processo de escolhas que na maioria das vezes é feito pelo seu subconsciente. Como visto na primeira parte do trabalho, o ato de movimentar a câmera na realidade do espaço é um ato de escolha que é julgada segundo complexos esquemas perceptivos. Desse modo, sabendo que a percepção individual depende da vivência da pessoa, de suas experiências pessoais e sua cultura, o momento de escolha da fotografia passa por todas essas distinções até chegar a uma imagem que reflete em diversas medidas a percepção individual.

As duas fases da pesquisa mostraram diferenças importantes para a compreensão do espaço. A primeira fase - “a diversidade” - foi caracterizada por uma heterogeneidade dos participantes em todos os sentidos. Nesse contexto o resultado não se mostrou diferente, mesmo que encontrados alguns “lugares comuns” nos relatos, as experiências individuais carregaram a personalidade de cada participante. Desse modo foi possível caracterizar diversos pontos de vista em relação à percepção ambiental, tanto do Convento como presença na cidade, como no próprio ambiente de visitação. A principal constatação foi a imponência das vistas que se alcançam a partir do Convento relatada pelos participantes desta etapa, seja em suas respostas ou seja em suas fotografias. Outro ponto que requereu atenção especial foi aquele relacionado aos turistas, que devido à falta de relação cotidiana com o elemento estudado, eventualmente podem trazer novas perspectivas ao estudo.

A segunda fase - “o foco” -, por ter sido concentrada em um grupo específico de fotógrafos, se caracterizou pela homogeneidade nos resultados. A faixa etária dos participantes e sua vivência histórica com o Convento demonstrou uma relação profunda com o

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mesmo. Nessa etapa as respostas e as fotografias indicaram uma proximidade maior com o elemento, e diferentemente da primeira etapa, as vistas alcançadas de lá ocasionalmente foram lembradas, porém não com a força com que apareceu anteriormente. A religiosidade dos participantes chamou a atenção neste caso reforçando ainda mais o caráter afetivo com o Convento. Em linhas gerais a percepção ambiental se diferenciou nos dois casos no que tange as aproximações e a respeito da própria construção do santuário, ou seja, os participantes da primeira etapa mostraram uma relação sobretudo estética com o Convento enquanto aqueles da segunda etapa manifestaram uma relação profunda e enraizada tanto na sua própria história quanto no conhecimento da história do ambiente.

Tendo classificado a fotografia como bem sucedida em alcançar o objetivo desde trabalho, pode-se inferir que o estudo da paisagem das cidades através das fotografias de seus usuários, muito tem a contribuir nas pesquisas sobre o tema. É importante para esses estudos que se conheça o ponto de vista do usuário, já que a cidade se constrói para a massa que a povoa, não podendo somente ser levado em consideração o julgamento do pesquisador, ou de uma minoria. Nesse contexto sabe-se que um grande acervo de fotografias se renova a cada dia no universo cibernético, e com as possibilidades de pesquisa de locais específicos e outras facilidades, é possível elencar registros sobre determinados elementos focados em estudos específicos das cidades. Desse modo, esse tipo de análise proposto por esse trabalho se torna facilitado, se comparado à pesquisas descritivas que encontram diversas dificuldades, como a aceitação do público, os custos elevados, o tempo necessário para aplicação, entre outras.

A tecnologia oferece recursos que muitas vezes não são usados em todos os aspectos. É necessário que se compreenda as possibilidades que são oferecidas pela modernidade, e que se faça o uso das mesmas engrandecendo as pesquisas e se aproximando cada vez mais à complexa relação entre o ser humano e seu habitat. A fotografia tem seu encanto, e como mostra a história, desde sua criação nunca esteve fora do círculo de interesse do ser humano, pelo contrário, a tendência que se nota é um crescimento contínuo até a atualidade. A convergência cada vez maior da sociedade à consagração da imagem como forma de expressão e estabelecimento de relações interpessoais, mostra que o futuro da fotografia é de consequentes renovações tecnológicas, e presença irrefragável no cotidiano do indivíduo, principalmente aqueles mais cosmopolitas.

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Anexos

• Anexo 1 - Formulário com roteiro de perguntas para a primeira etapa da pesquisa.

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163

• Anexo 2 - Convite aos participantes da segunda etapa da pesquisa.

CONVITE PARA PARTICIPAÇÃO DE PESQUISA FOTOGRÁFICA DO CONVENTO DA PENHA.

Esse estudo é parte integrante do Trabalho de Conclusão de Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFES, do aluno Giovani Bonadiman Goltara. Seu objetivo é traçar uma relação entre a utilização da fotografia na experiência perceptiva da paisagem.

A paisagem não é um dado, ou uma informação conhecida desde sempre ao ser humano. A paisagem é cultural, ou seja, a partir de determinadas experiências de percepção ambiental ao longo da história, começou-se a classificar o conjunto de informações alcançadas pelo campo visual humano como uma relação temporal/espacial. As artes gráficas, sobretudo a pintura renascentista, tiveram o papel de representar a paisagem não necessariamente de forma realista mas captando essas relações, às vezes não óbvias ao olhar. A partir do descobrimento da fotografia, esta então passou a tomar o papel de principal representante gráfico da paisagem, e ao longo dos anos foi se configurando em uma atividade amplamente utilizada por diversas esferas sociais, chegando à atualidade com o status de ser um dos principais meios de comunicação e troca de experiências.

Ao fotografar desenvolve-se um processo de escolhas perceptivas importantes para a narração da experiência visual de uma determinada paisagem. De modo relacional sabe-se que a percepção ambiental, em determinados níveis de análise, é individual, podendo haver padrões para grupos de pessoas específicos, como por exemplo, os turistas e os habitantes.

Neste trabalho o objeto de estudo escolhido foi o Convento da Penha, por, entre outras razões, ser um dos maiores ícones paisagísticos das cidades de Vitória e Vila Velha, até mesmo do Espírito Santo como um todo. Assim sendo intenciona-se conhecer as diversas formas de percepção do Convento através da fotografia, e desse modo buscar reconhecer em que medidas a fotografia presta o papel de realmente retratar uma paisagem segundo as interpretações do autor do registro.

Para compor a pesquisa, faço aqui um convite aos interessados em participar da mesma respondendo a um questionário, e em seguida enviando uma fotografia que represente a sua visão PESSOAL do Convento da Penha. Lembra-se que as fotografias não serão analisadas sobre um ponto de vista técnico, nem serão colocadas a concurso, o que se busca é captar a SUA interpretação pessoal da imagem do Convento da Penha.

Reitero que será devidamente referenciado o autor de cada registro, e que a finalidade do documento é unicamente acadêmica.

Gratos pela sua atenção,

Giovani Bonadiman Goltara – Aluno de graduação do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFES.

Profª. Dra. Eneida Maria Souza Mendonça – Professora do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFES.

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Anexo 3 - Formulário com roteiro de perguntas para segunda etapa da pesquisa
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• Anexo 4 - Respostas dos participantes da primeira etapa da pesquisa.

NOME IDADE CIDADE PROFISSÃO/ATUAÇÃO

Otávio Tonini 19 anos Cariacica-ES Estudante/ jornalismo

Vinicius Ventorim 35 anos Vila Velha-ES Mestrado/ comerciante

RELIGIÃO P. TURÍSTICOS VISITADOS FREQUÊNCIA/ ULTIMA VISITA

Católico Palácio Anchieta, Pedra da Cebola, Praça dos Namorados, Orla de Camburi

Católico Fonte Grande, Catedral, Palácio Anchieta, Museu da Vale, Morro do Moreno

Gabriel Lordêllo 35 anos Vitória - ES Fotojornalista Católico Museu Vale, Catedral M. de Vitória, Palácio Anchieta, Ilha das Caieiras

Anualmente/ Festa da Penha 2013

Anualmente/ Festa da Penha 2012

Esporádicamente/Abril de 2013

Isabella Mattos 27 anos Belo Horizonte-MG - Não seguidor Fábrica da Garoto Esporádicamente/Março 2013

Rachel Gomes 32 anos Vila Velha-ES Empresária Católico Catedral M. de Vitória Semanalmente

Aubrey Effgen Paixão 31 anos Vila Velha Estudante/ Publicidade-mídias sociais

Não Seguidor Igreja do Rosário, Palácio Anchieta, Teatro Carlos Gomes

Esporadicamente/Fevereiro 2013

Amanda Magalhães 28 anos Belo Horizonte-MG Publicitária Católico Ilha das Caieiras, Pedra da Cebola, Museu Ferroviário, Morro do Moreno

Thiago Veronez 27 anos Vitória-ES Estudante/Tec. de Apoio a Usuário

Católico Ilha do Boi, Camburi, Morro do Moreno, Penedo, Catedral M. de Vitória

Gabriel Costa Pereira 20 anos Vitória-ES Estudante Agnóstico Museu Vale, Palácio Anchieta, Catedral M. de Vitória

Esporadicamente

Semanalmente/ Março 2013

Uma vez/2012

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MOTIVOS LOCAIS DE VISUALIZAÇÃO/ preferência

LOCAL PREFERIDO NO CONVENTO POUCAS PALAVRAS CÂMERA FREQUÊNCIA/ FINALIDADE

Turismo/trabalho Praça do Papa “Fé, adoração e compromisso”

Reflex Diariamente/ web

Religiosos/ passeio Reta da Penha, Calçadão do shopping, Morro do Moreno, etc.

Religiosos/ trabalho enseada do suá, Praia da Costa, Terceira Ponte

Celular Diariamente/ web

“A janela que tem os assentos laterais, porque proporciona uma bela vista de Vitória.”

“É um monumento que me atrai muito por sua posição no alto do morro, pela mata que o cerca, as muitas histórias de fé e milagres”

“A visão lá de cima é indescritível, muito linda. Não tem defeitos.”

Celular Diariamente/ para guardar

Reflex Diariamente/comercial Turismo Algumas ruas de Vila Velha “A parte da igreja, por ser em um local mais alto, dá pra ver mais as paisagens.”

- “Minha casa”(Rua Dom Jorge Menezes)

Turismo/ Passeio T erceira ponTe/“Quase todos”

Religiosos/ turismo

Morro do Moreno/ Curva do Saldanha, Terceira Ponte

Religiosos/ Passeio Joana d’arc, Camburi, Shop. Vitória, S. Cristovão, Ilha do Boi

Turismo/ Passeio praia de caMburi/ Shopping Vitória

“Chegada no campinho... Pq da p ver os pontos mais bonitos”

“A janela de vidros coloridos com vista para a baía de Vitória.”

“Paz, tranquilidade e fé” Celular Diariamente/ Hobby-arte

“Um templo religioso antigo que guarda traços da tradição e costumes da nossa terra.”

Celular Finais de semana/web

Sala dos Milagres - Celular Diariamente/ Para guardar

“Toda a parte externa. por ter sempre uma ótima composição.”

“Parte ao lado do estacionamento, onde é possível ver a ilha de Vitória.”

“Ampla, pacifica e serena.” Reflex Finais de semana/para guardar

“Melhor vista da Grande Vitória.”

Celular Viagens/ “comercial”

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NOME IDADE CIDADE PROFISSÃO/ATUAÇÃO

RELIGIÃO P. TURÍSTICOS VISITADOS FREQUÊNCIA/ ULTIMA VISITA

Anônimo (entrada nº10) 20 anos Itaguaçu-ES Estudante Não seguidor Fábrica Garoto, Praias Uma vez/Janeiro 2013

Jairo Leandro Pattias 34 anos Porto Alegre-RS Administrador Católico Morro do Moreno, Praia da Costa Esporadicamente/Janeiro 2013

Anônimo (entrada nº 12) 32 anos Cariacica-ES Técnico esportivo Católico Parque da Fonte Grande, Ilha das Caieiras, Praça do Papa, Pedra da Cebola

Daniel Deamorim 31 anos Serra-ES Mestrado/ Publicitário Protestante Shopping Vitória, Penedo, Pedra da Cebola, Basílica de S. Antônio

Esporadicamente/Fevereiro 2013

Uma vez/Abril 2012

Wenderson Castro 22 anos - Segundo Grau Não seguidor Praias Esporadicamente/Janeiro 2013

Léo Ribeiro 29 anos Vila Velha Estudante/ administração

Protestante Morro do Moreno, Praia da Costa, Museu Vale Esporádicamente/Novembro 2012

Bruno Barbosa 23 anos Brasília-DF Analista de Sistemas Católico (somente Convento) Uma vez/Janeiro 2013

Frederico Diniz 33 anos Divinópolis-MG Estudante/ Publicidade Católico (Somente o Convento) Uma vez/Janeiro de 2013

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MOTIVOS LOCAIS DE VISUALIZAÇÃO/ preferência

LOCAL PREFERIDO NO CONVENTO

Turismo/ Passeio Terceira Ponte “Um janelinha com um banco que tem uma vista incrível”

POUCAS PALAVRAS CÂMERA FREQUÊNCIA/ FINALIDADE

“Eu sou capixaba porem somente esse ano fui conhecer ..., achei magnifico, e acho que deveria ser obrigatório todo capixaba conhecer ele e sua historia “

Celular Diariamente/ Hobby-arte

Turismo/ Passeio Terceira Ponte “No alto do convento. Pela visão panorâmica da cidade.”

“Um lugar que remete ao passado, mesclando o misticismo que a religião representa com a história contada através de gerações.”

Celular Diariamente/ web

Religiosos/ Turismo/ Passeio

“baia de viTória”/ Praça do Papa “Na janela do Convento, umas das melhores vistas...”

Turismo/ Passeio praça do papa, Reta da Penha, Shopping Vitória

Turismo “bahia de viTória”/????

Turismo/ Passeio praça do papa, Terceira Ponte, Morro do Moreno

“Tudo.”

“A igreja. Pois ela é muito bonita a decoração é perfeita!”

“A praça do convento, pois me proporciona uma visão incrível da ilha de Vitória, tendo em vista que meu interesse no convento é totalmente turístico.”

“Fantástico”

“Um orgulho capixaba”

“Um lugar muito bonito com uma vista maravilhosa.”

“Monumento histórico, construido num lugar belíssimo, valorizando ainda mais as belezas da Grande Vitória.”

Celular Diariamente/ Hobby-arte

Celular Diariamente/ Hobby-arte

Celular “Sempre com os amigos”/web

Celular Diariamente/ web

Turismo “ponTe em proxima ao convento”

Passeio T erceira ponTe/”Praia”

“Todo local com vista panorâmica da cidade”

“A vista da sacada princiapl, em frente a entrada da igreja”

“Um lugar bonito, com excelente vista da cidade.”

“Impressionante... como fizeram tudo aquilo!”

Celular Somente em viagens/web

Celular Diariamente/ Para guardar

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• Anexo 5 - Respostas dos participantes da segunda etapa da pesquisa.

NOME IDADE CIDADE

PROFISSÃO/ ATUAÇÃO

RELIGIÃO FREQUÊNCIA/ ULTIMA VISITA MOTIVOS

Ana Beatriz Dalla Passos 54 anos Colatina-ES Mestrado/Bióloga Católico Esporadicamente Passeio

Anônimo 57 anos Vila Velha-ES Superior/Aposentado Luterano Anualmente/ Fevereiro Turismo/ levar amigos

Anônimo 48 anos Cícero Dantas-BA Segundo Grau/ fotógrafo

Fernando Lahud - Vitória-ES Superior/bancário

Antonio Carlos Thomasi 58 anos Santa Tereza-ES Superior/especialista de projetos

Espírita Esporádicamente Turismo

Católico Anualmente/Janeiro 2012 Religiosos; Turismo; Passeio

Católico Esporadicamente/Março 2013 Religiosos

José Américo Silvares Costa 58 anos Vitória Mestrado/Professor Católico Esporadicamente “ligação emocional”

Cristine Modenese 40 anos Nova Iguaçu-RJ Superior/Fotógrafa Espírita Esporadicamente/ 2012 -

Luiz Paulo Pretti 63 anos Vitória-ES Superior/Aposentado Católico Esporadicamente Turismo

José A. Laurindo 52 anos Vitória-ES Superior/Professor

Católico Esporadicamente/ Dezembro 2012

Religiosos/Passeio

João Manoel Rossoni 55 anos Linhares-ES Superior/Professor

Católico Esporadicamente/Maio 2013 Religiosos

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LOCAIS DE VISUALIZAÇÃO LOCAL PREFERIDO NO CONVENTO

Reta da Penha; Terceira Ponte; Enseada do Suá

As janelas que se abrem para Vitória e a parte de trás, de onde avistamos a orla de Vila Velha.

POUCAS PALAVRAS CÂMERA FREQUÊNCIA/ FINALIDADE

É um monumento histórico, cultural e religioso do Espírito Santo, que por sua localização e arquitetura tornou-se parte indissociável da paisagem. Acho também que ele integra as cidades de Vitória e Vila Velha.

Reflex Finais de semana/ Hobby-arte

Terceira Ponte O que avista a Praia da Costa e a Terceira ponto.

Da minha casa; Reta da Penha; Em cima da Ponte

Reta da Penha; Terceira Ponte; Enseada do Suá

Pedra da Barra do Jucu, Mestre Alvaro Serra, Baia de Vitória

Shopping Vitória; Píer da Enseada; Bobs

Local de beleza e reflexão. Reflex Diariamente/ Hobby-arte

A vista para Vitória Um lugar de contemplação. Reflex Diariamente/comercial

Vista do campinho. símbolo da terra capixaba, demonstrando um alicerce para o povo do Espirito Santo.

Santuário Uma fortalece arquitetônica representativa da fé catalótica

o corredor na infancia era religião e recreação. eu queria achar por onde os padres escaparam da invasão.

Enseada do Suá; Praia de Camburi; Terceira Ponte Aprecio muito a paisagem e a arquitetura do convento como um todo

O Convento pra mim é um lugar especial pois lembra muito a minha infância, sempre visitávamos o convento em família e particularmente me transmite muita paz.

Praça do Papa; Terceira Ponte; Morro do Moreno Varanda externa Um marco da história de Vila Velha e do solo espírito-santense, e um símbolo de fé cristã.

Reta da Penha, Praia de Camburi e Enseada do Suá; Coqueiral de Itaparica, Prainha e Av. Carlos Lindemberg

Reta da Penha; Terceira Ponte; Praia da Costa

Reflex Finais de semana/ Hobby-arte

Compacta Finais de semana/Hobby-arte

Analógica Finais de semana/Hobby-arte

Refelx Diariamente/Comercial

Reflex Ocasiões especiais/Hobby-arte

Todos os pontos... Local de fé dos capixabas, Reflex Diariamente/Comercial

Todos mistério fé beleza Reflex Diariamente/ Hobby-arte

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NOME IDADE CIDADE PROFISSÃO/ ATUAÇÃO RELIGIÃO FREQUÊNCIA/ ULTIMA VISITA MOTIVOS

Valter de Lima Monteiro 59 anos São Paulo-SP Superior/Jornalista

Católico Mensalmente/ Maio 2013 Religiosos; Trabalho

Magna Santos 33 anos Serra-ES Segundo Grau/ Administração

Monica Zamprogno 51 anos Vila Velha-ES Superior/Fotógrafa

Jazan Mageski Alves 44 anos Afonso Cláudio-ES Mestrado/Professor de contábeis

Anônimo 36 anos Vitória-ES Superior Incompleto/Empresária

Católico Anualmente Religiosos; Turismo; Passeio

Católico Esporadicamente Turismo

Católico Esporádicamente/Maio 2013 Passeio

Católico Semanalmente/ Início de 2013 Religiosos; Turismo; Passeio

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LOCAIS DE VISUALIZAÇÃO LOCAL PREFERIDO NO CONVENTO

Terceira Ponte; Ilha do Boi; Praia do Canto Altar Mor principalmente depois de restaurado

POUCAS PALAVRAS CÂMERA FREQUÊNCIA/ FINALIDADE

a convicção da minha Fé ,pois sou Católico e como tal o Convento representa Nsa Senhora. local onde consigo ficar comigo mesmo durante algum tempo

Terceira Ponte; Morro do Moreno; Reta da Penha Prainha Quando estou lá esqueço todos os problemas. É como eu estivesse mais próxima do céu.

Terceira Ponte; Ilha do Frade; Meu apto antigo

Terceira Ponte Uma arquitetura maravilhosa,que me leva pensar no passado.

Jardim da Penha; Ponte da Passagem; Mestre Álvaro Janela com vista para a terceira ponte e praia de camburi

Reflex Diariamente/Comercial

Compacta Raramente/Hobby-arte

Digital Diariamente/Comercial

Lugar para estar tranquilo, sereno. Celular Diariamente/ Hobby-arte

Ilha do Boi; Praça do Papa; Praia da Costa a subida da escadaria Ele é muito importante na minha vida, pois tenho lembranças maravilhosas....desde a minha infância... um lugar de paz total....

Reflex Diariamente/ Hobby-arte

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