Exposição Patrimônio Imaterial do Brasil

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SALVADOR TERÇA-FEIRA 16/12/2014

MÚSICA Registro que une as duas vozes nordestinas foi feito em julho, no Theatro Net, no Rio de Janeiro

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Harmonias vocais e o potencial das canções são destaque

Fagner e Zé Ramalho lançam CD/DVD de show que fizeram juntos, em palco carioca Sony Music / Divulgação

CLAUDIA LESSA

Enquanto o discurso de ódio e preconceito contra os nordestinos invadia as redes sociais, duas vozes inconfundíveis se casavam no palco, reafirmando o orgulho pela cultura de suas origens musicais. Autores e intérpretes consagrados, o cearense Raimundo Fagner e o paraibano Zé Ramalho se juntaram no Theatro Net Rio (ex-Tereza Rachel), no Rio de Janeiro, entre 28 e 30 de julho, para a gravação do CD/DVD Fagner & Zé Ramalho Ao Vivo (Sony Music). Experiência e sucessos celebram esse encontro musical, que acaba de ser lançado no mercado em formato duplo. Raimundo Fagner Cândido Lopes trouxe a marca de sua voz personalística em interpretações contundentes. José Ramalho Neto, igualmente dono de uma singular performance vocal, de tom grave e quase falada, imprimiu a sua personalidade musical marcada por composições de mensagens proféticas. Além de trazerem 17 canções emblemáticas de suas carreiras, os registros fonográficos selam uma sintonia pessoal e musical iniciada nos 70. Naqueles anos, Fagner gravava o seu primeiro LP (Manera Fru Fru Manera/1973), pela CBS, de onde se tornou diretor artístico, convidando Zé Ramalho para gravar o seu também disco de estreia, que leva o seu nome. Quatro décadas depois, eles se sentem merecedores desse projeto que, embora não tenha músicas novas, tem como ineditismo ouvir Fagner emprestando a sua voz às músicas de Zé Ramalho e vice-versa. “Eu escolhi as canções de que mais gosto do Zé e ele selecionou as que mais gosta do meu repertório. Aconteceu essa troca, com a ajuda do (produtor) Robertinho do Recife. O resultado foi uma releitura das nossas trajetórias, da nossa bagagem musical, desses 40 anos de estrada fazendo música brasileira com o pé no Nordeste, procurando imprimir o máximo de identidade das nossas carreiras e do nosso som. Zé é meu vizinho, somos compadres, foi ele

Fagner e Zé Ramalho, no Theatro Net Rio, gravando ao vivo

FAGNER & ZÉ RAMALHO AO VIVO / FAGNER E ZÉ RAMALHO

SONY MUSIC / R$ 19 (CD) E R$ 29 (DVD) / WWW.SONYMUSIC.COM.BR

quem veio com a ideia de refletirmos sobre o que tínhamos feito”, contou Fagner, em entrevista ao Caderno 2+. O trabalho rendeu novas leituras para sucessos como Mucuripe, Chão de Giz, Revelação, Garoto de Aluguel, Noturno, A Terceira Lâmina e Fanatismo. Também no repertório, canções mais inusitadas, como Dois Querer, Pelo Vinho e Pelo Pão, Kamikase e Canção da Floresta. Com produção musical de Robertinho de Recife (produtor de vários discos de RF e de todos os de ZR, a partir de 1997), o CD/DVD têm arranjos assinados por Fagner e Zé Ramalho.

No elevador

Gravar juntos um show inteiro já era um projeto antigo dos dois artistas. Fagner e Zé Ramalho, moradores do mesmo prédio,

no bairro carioca do Leblon, viviam a combinar entre um encontro e outro no elevador. Entretanto, cada um cuidando de suas carreiras, o plano foi sempre sendo adiado. Ao longo de suas trajetórias, chegaram até a registrar algumas faixas em dupla, como Garrote Ferido (Zé Ramalho) e Filhos do Câncer (Zé Ramalho/Fagner). Mas o fato é que Fagner & Zé Ramalho Ao Vivo só aconteceu agora, com a permissão da agenda dos dois e com o incentivo da Sony, gravadora de ambos. “Os ensaios aqui, em casa, foram muito produtivos, o que, aliás, acontecia muito no passado, quando o Zé vinha pra cá e ficávamos tocando por horas. Acho que foi ali que este projeto nasceu. Dessa vez, aprendi muitas canções do Zé que sempre

gostei, mas não sabia cantar. A coisa dos dois tocando violão gerou uma química musical muito bacana”, fala Fagner sobre a parceria com o amigo Zé Ramalho, que não concedeu entrevista por motivos pessoais, segundo a assessoria da Sony. Cair na estrada carregando o projeto Fagner & Zé Ramalho está nos planos dos dois, segundo Fagner. “É óbvio que o público quer ver os artistas no palco, apresentando o que foi gravado. Mas a ideia é que o trabalhochegueprimeiroàspessoas. Minha previsão mercadológica é que este pode ser um CD que vai fluir nos ambientes de barzinhos. Depois, iremos atrás para ampliar a divulgação com um show acústico”, diz Fagner, revelando que o seu anunciado projeto de gravar um CD de música libanesa sai em 2015. Divulgação

Mostra sobre o Patrimônio Imaterial Brasileiro na Caixa Cultural Salvador Toda a diversidade cultural brasileira registrada em um único espaço. Essa é a proposta da exposição Patrimônio Imaterial Brasileiro – A Celebração Viva da Cultura dos Povos, que terá abertura amanhã, às 19 horas, na Caixa Cultural Salvador. Para compor a exposição, os idealizadores Fernanda Pereira, Mirna Brasil Portella e Luiz Prado tiveram peças cedidas por vários museus do país, outras compradas, além dos registros

A força das canções dos compositores e a harmonização das músicas e das vozes dão a tônica do CD/DVD Fagner & Zé Ramalho Ao vivo. O show começa em clima acústico, cada um com o seu violão: Godin nylon (Fagner) e Takamine de aço (Zé). Depois da quarta canção, os artistas recebem a banda, formada pelos craques Chico Guedes (baixo), Manassés (viola 12), Mingo Araújo (percussão) e Marcos Farias (teclado/sanfona). O acompanhamento dos músicos tem início em Dois Querer (Fagner/Brandão), do LP Raimundo Fagner (1980). Emendam com Asa Partida (Abel Silva/Fagner), do disco que, embora tenha o nome do cantor, ficou conhecido como Eternas Ondas (1976). Canteiros (Fagner/Cecília Meireles) foi entregue à emoção de Zé Ramalho, que trouxe uma roupagem peculiar à canção, com aboios típicos do sertão. Ainda do baú de Fagner, a dupla pinçou Romance no Deserto (versão de Fausto Nilo para a música de Bob Dylan/Jacques Levy), que batizou o disco de 1987 do cearense. Escolheram, também, Pedras que Cantam (Dominguinhos/Fausto Nilo), do álbum de Fagner (1991), e Canção da Floresta (Sebastião Dias), do seu CD Donos do Brasil (2004).

Eu canto

EXPOSIÇÃO

GISLENE RAMOS

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feitos ao longo de 12 anos pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Interativo, visual e com o acesso para pessoas com deficiência, a mostra tem 31 bens imateriais distribuídos entre objetos, fotografias, músicas e sons que representam as diversas manifestações e saberes culturais do Oiapoque ao Chuí.

Diversidade à mostra

Uma das idealizadoras, Fernanda Pereira conta sobre a exposição: “É uma forma das pessoas

conhecerem o Brasil pelo viés cultural”, explica. Com a proposta de evidenciar a comunhão cultural, os bens da exposição estão dispostos em círculo. “A gente quis fazer uma grande roda de saberes das nossas manifestações culturais”, conta Fernanda. São imagens, conhecimentos e manifestações culturais que representam toda a identidade brasileira. O visitante baiano irá ver os ingredientes do acarajé ou o barro usado para fazer a panela

Fagner e Zé dividem os vocais, ainda, em Noturno (Caio Silvio/Graco), do LP Beleza, do artista cearense, além de outras três do disco Eu Canto (1978): Jura Secreta (Abel Silva/Sueli Costa) e Revelação (Clésio e Clodô) e Pelo Vinho e Pelo Pão (Zé Ramalho), gravada, em 1980, pelo próprio autor, no seu álbum A Peleja do Diabo com o Dono do Céu.

Cancioneiro dos artistas nordestinos ganha releituras acompanhadas de banda formada por craques Ofício dos mestres de capoeira, bem imaterial do país, com o grupo Senzala do mestre Toni Vargas, do Rio de Janeiro

da moqueca, mas também conhecer o Rtixòkò, expressão artística do Povo Karajá, das regiões de Goiás e Tocantins. Na abertura para convidados, amanhã, haverá apresentação de um grupo de samba de roda de Cachoeira. EXPOSIÇÃO PATRIMÔNIO IMATERIAL – A CELEBRAÇÃO VIVA DA CULTURA DOS POVOS / ABERTURA PARA CONVIDADOS: AMANHÃ, 19H / VISITAÇÃO: TER A DOM, 9H ÀS 18H DE QUINTA-FEIRA A 8 DE FEVEREIRO DE 2015 / CAIXA CULTURAL SALVADOR - RUA CARLOS GOMES, 57, CENTRO / ENTRADA GRATUITA

CURTAS Debate no Cineclube Glauber Rocha Na última sessão de 2014, o Cineclube Glauber Rocha exibe hoje, às 20h, em cópia restaurada, o filme O Grande Momento (1958), de Roberto Santos. A sessão será seguida de um debate mediado pelo crítico de cinema Adolfo Gomes. No clássico, Zeca (Gianfrancesco Guarnieri) se vê com pouco dinheiro às vésperas de seu casamento e fará de tudo para honrar o grande evento. Idealizado pelos cineastas e curadores Cláudio Marques e Marília Hughes, o projeto continua em 2015 com clássicos do cinema mundial.

Baiano Antonio Nahud lança 11º livro Nahud lança o seu mais novo livro, Confissões, com sessão de autógrafos hoje, às 19h, no Espaço Cultural Casa da Mãe, Rio Vermelho. Com 51 poemas inéditos, o escritor baiano conta de forma poética os bastidores de seu íntimo, como a busca por significados na vida, entre outras reflexões existenciais. Além de Salvador, o livro ainda será lançado dia 18 em Itabuna e dia 20, em Ilhéus. A obra de Antonio Nahud tem contos, poemas, crônicas, ensaios e artigos publicados em jornais e revistas de vários países. Ano Passado recebeu o Troféu Cul-

tura RN de Melhor Livro do Ano e este ano o prêmio Destaque Poético 2013 da Academia de Letras do Ceará.

Com 51 poemas inéditos, Confissões apresenta o mundo íntimo do escritor grapiúna

Aventuras na Antártica em livro

Palestra sobre Filosofia Política

Edil Pacheco em show paulista

O livro O Veleiro Escola Fraternidade na Antártida, escrito por Aleixo Belov, será lançado hoje, às 18h, no Yatch Clube da Bahia. A publicação de 176 páginas traz narrativas de Belov sobre uma expedição, em 2013, de 150 dias de navegação a bordo do veleiro-escola Fraternidade em direção à Antártica, considerada o grande oásis polar. No livro, o autor relata momentos como a travessia pelo Cabo Horn e a Passagem de Drake. A obra é ilustrada por fotografias dos locais por onde Belov e sua tripulação passaram.

Acontece hoje, às 16h30, o último encontro do Ciclo de Palestras sobre Filosofia Política do ano, no Gabinete Português de Leitura. O professor Germano Machado apresenta o tema O Pensamento de Tobias Barreto. Além das obras sobre seu apego à literatura e filosofia da Alemanha, Barreto foi fundador do Condoreirismo brasileiro. O ciclo sobre política do ponto de vista da investigação filosófica retoma conceitos abordados pelos pensadores da antiguidade grega, modernos e contemporâneos.

O cantor e compositor baiano Edil Pacheco é uma das atrações da série de shows em homenagem ao Dia do Samba que está acontecendo na Praça da República, em São Paulo. Ele se apresenta às 21 horas, após o show do grupo Sambossa, que começa às 19 horas. No repertório, Edil apresenta sucessos próprios e de compositores baianos e novas canções autorais. Amanhã, o evento, realizado pela Secretaria de Cultura de São Paulo, tem como atrações Osvaldinho da Cuíca e a banda Quesito Melodia.


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