TGI II - Os sentidos da memória: centro gastronômico em São Carlos

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OS SENTIDOS DA MEMÓRIA: COMPLEXO GASTRONOMICO NA FERROVIARIA DE SÃO CARLOS

OS SENTIDOS DA MEMÓRIA: GIULIA LANCINI



“ É preciso se libertar das “amarras”, não jogar fora simplesmente o passado e toda a sua história; o que é preciso, é considerar o passado como presente histórico. O passado, visto como presente histórico é ainda vivo, é um presente que ajuda a evitar as várias arapucas. Diante do presente histórico, nossa tarefa é forjar um outro presente, “verdadeiro”, e para isso é necessário não um conhecimento profundo de especialista, mas uma capacidade de entender historicamente o passado, saber distinguir o que irá servir para as novas situações de hoje que se apresentam a vocês, e tudo isto não se aprende somente nos livros. Portanto, se a gente acreditar que tudo o que é velho deve ser conservado, a cidade vira um museu de cacarecos. Em um trabalho de restauração arquitetônica é preciso criar e fazer uma seleção rigorosa do passado. O resultado é o que chamamos de presente histórico” LINA BO BARDI


OS SENTIDOS DA MEMÓRIA: COMPLEXO GASTRONÔMICO NA FERROVIÁRIA DE SÃO CARLOS

TGI -II TRABALHO DE GRADUAÇÃO INTEGRADO – II INSTITUTO DE ARQUITETURA E URBANISMO – IAU-USP

GRUPO CAP: DAVID SPERLING JOUBERT LANCHA LUCIA SHIMBO LUCIANA SCHENK ORIENTADORES GT: ALINE CORATO TELMA DE BARROS CORREIA

GIULIA CARVALHO LANCINI NOVEMBRO DE 2016



"Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio, convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte."


BANCA EXAMINADORA

Profº Dr. Joubert José Lancha IAU-USP

Profª Dra. Aline Coelho Sanches Corato IAU – USP

Profª Dra. Telma de Barros Correia IAU-USP

Conceito final:

Data:


RESUMO Palavras chave: Arquitetura ferroviária; gastronomia; patrimônio, requalificação, pré-existência.

Esse trabalho final de graduação trata do patrimônio ferroviário brasileiro, e seu sucateamento com a decadência das ferrovias no Brasil, tendo como seu objeto de estudo a estação ferroviária de São Carlos, buscando reintegrar o espaço do galpão de cargas da estação ferroviária de São Carlos ao restante da cidade a partir da criação de um centro gastronômico na área. Levantando as principais características arquitetônicas do edifício em questão, e com isso buscando reforçar sua identidade na cidade, sem descaracteriza-lo, busquei desenvolver uma situação que remetesse a diferentes temporalidades pela união de diferentes memórias, trazendo um novo uso ao galpão, o de um complexo gastronômico) ao mesmo tempo que sua identidade original é preservada pelos diversos elementos mantidos no processo e na manutenção de seu uso como galpão de trens.


AGRADECIMENTOS

Aos professores Aline, Telma e Joubert que me acompanharam ao longo desse processo, me orientando e guiando com muita paciência e dedicação. Aos professores David, Luciana e Lúcia pelas orientações e aulas. Ao professor Manoel pela paciência e por sempre me ajudar e me direcionar no melhor caminho.. A minha família pelo apoio, especialmente aos meus pais, Berenice e Ivan e meu avô Giulio, que nunca me deixaram deixar de acreditar que os sonhos eram possíveis.. E as minhas irmãs, Sophia e Isabella, eternas companheiras. Aos meus amigos pelas alegrias, tristezas e dores compartilhas.. Principalmente a aqueles que sempre me apoiaram e ajudaram, fazendo os últimos anos mais alegres e especiais e tornando tudo isso possível, especialmente a Willian, Victor, Gabriel, Paul e Giulia. A Anna Laura e Natasha por toda a paciência, apoio e ajuda ao longo desse processo.

Ao meu melhor amigo, companheiro e corretor de textos, Pedro, por sempre me apoiar, ajudar e ouvir nos momentos mais necessários. E a todos aqueles que de forma direta ou indireta ajudaram com a minha formação.



SUMÁRIO

Inquietações _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 13 A Cidade de São Carlos _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 21 A estação de São Carlos _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 27 Análise da área _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 41 O Projeto _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 61 Diretrizes _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 95 Referências _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 113



INQUIETAÇÕES


Esse trabalho de graduação integrado está localizado na cidade de São Carlos, cidade protagonista nas memórias de minha vida, e com a qual criei um grande apego ao longo dos últimos cinco anos que aqui passei. As cidades modernas são o resultado de intensas transformações ao longo dos anos, crescendo e se urbanizando de forma inconstante e hibrida. Sendo, assim, uma conjunção eterna entre presente e passado, ao mesmo tempo que prometem em seu tecido urbano um elo com o futuro. Tendo em vista isso busquei em meu trabalho retomar questões dessa história da cidade, e ao mesmo tempo tentar integra-la a essa cidade em crescimento e expansão, que muda a cada dia e onde sempre surgem novas demandas e situações. Procurei ao longo da disciplina de pré-TGI explorar a dimensão e as questões reunidas em edifícios antigos restaurados e requalificados; suas novas relações com o lugar em que se inserem e com os anexos que os são comuns, levando em consideração sua relação histórica e fatos marcantes a seu respeito. Buscando desse modo compreender a importância do restauro, conservação para arquitetura atual, e patrimônio, entendendo como ele se inserem na cidade por meio da ideia de revitalização de antigos edifícios e áreas, sendo verdadeiros pontos de destaque para a criação de uma identidade do lugar. Entendemos por patrimônio as obras que possuem um valor significativo para uma sociedade, podendo esse valor ser de natureza estética, artística, documental, científica, social, ou histórica. Desse modo podemos observar a importância que a ideia de patrimônio tem para uma sociedade, agindo como um elo entre presente e passado e transmitindo de geração em geração uma questão de identidade local, e assim aprendendo por meio dos erros e sucessos do passado a

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construir uma boa arquitetura. O restauro tem por finalidade preservar e restaurar (regenerar) os recursos naturais e culturais existentes em um edifício, identificando os conhecimentos e habilidades que constituem e o diversificam dos demais, buscando dessa forma - por meio do respeito as preexistências ambientais do localconstruir cidades duradouras e sustentáveis, em coerência e continuidade a sua malha urbana, respeitando dessa forma aquilo que o espaço arquitetônico e urbano tem de mais único – sua HISTÓRIA. Assim, buscando entender o significado dessa história contida em determinados edifícios, no caso deste TGI do complexo ferroviário da estação de São Carlos, especialmente do galpão de cargas da estação, escolhi como palavras-chave desse processo e que resumiam bem a minha questão tratada as palavras: MEMÓRIA, PRÉ-EXISTENCIA AMBIENTAL e MATERIALIDADE. Tendo em vista essas palavras chave, busquei desenvolver uma situação que remetesse a diferentes temporalidades pela união de diferentes memórias, trazendo um novo uso ao galpão, o de um complexo gastronômico) ao mesmo tempo que sua identidade original é preservada pelos diversos elementos mantidos no processo e na manutenção de seu uso como galpão de trens. Foram usados vagões abandonados como passarelas e estares do projeto, fazendo hora a função de passagens de um lado ao outro da linha férrea que corta o galpão, hora a assumindo a função de estares (funcionando como café ou uma espécie de vagão restaurante e podendo funcionar dentro ou fora do edifício). Além disso busca-se nesse projeto uma integração do novo complexo gastronômico com toda a ferroviária, pela criação de espaços expositivos ou de estares e um parque linear ao longo do percurso, assim como que seja criada uma relação do


complexo gastronômico com os edifícios do SENAC e SENAI localizados próximos a ele, sendo essa área destinada a acolher cursos promovidos por essas instituições e aproveitando assim o grande potencial cultural que a área tem. Desse modo ainda concluo que para mim o contexto de patrimônio antes de tudo ENVOLVE as pessoas; são as lembranças que cada um tem de um lugar, os sentimentos envolvidos, as relações entre indivíduos. Patrimônio também é as conversas em um domingo à noite com minha avó na qual ela me contava as histórias da sua época. Para mim memória é aquilo que retoma tudo isso; como quando depois de muitos anos em uma reforma nas tulhas de nossa fazenda em Minas Gerais encontramos um antigo quadro negro, uma pequena recordação de que ali havia sido uma escola para meninos um dia, uma lembrança que se fez presente em nossas vidas e que trouxe à tona em nossos imaginários de como aquele lugar havia sido um dia. Penso que minha principal ideia presente nesse trabalho seja essa, a de unir vários tempos, não descaracterizando o antigo, mas unindo-o com o novo. Criando desse modo um objeto hibrido, uma conjunção de tempos, de sonhos e de possibilidades. Entendendo essa união entre o vernacular e histórico e as tecnologias, assim como para Jacinto (personagem de a Cidade e as Serras, de Eça de Queiroz que no livro questiona a importância das novas tecnologias e facilidades quando apresentado ao passado de sua família) como uma fuga da tradicional padronização presente na arquitetura e nas casas por meio de uma mecanização, e sendo essa volta as raízes uma forma de retomar peculiaridades e buscar por meio da história entender aquilo que nos firmaria como pertencentes ao local.

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PRÉ-EXISTENCIA: adjetivo de dois gêneros que existe ou existiu antes de (outra coisa).

MATERIALIDADE: 1.

caráter, qualidade daquilo que é material. "a m. do universo, do homem"

2.

Tendência para valorizar apenas aquilo que é de ordem material.

3.

Figurativo: incapacidade para perceber coisas cuja compreensão exige sensibilidade, finura de espírito.

4.

jur conjunto de elementos e circunstâncias que evidenciam a criminalidade de um ato.

Origem: etimologia material + i +dade


MEMÓRIA:

1. faculdade de conservar e lembrar estados de consciência passados e tudo quanto se ache associado aos mesmos. 2. . aquilo que ocorre ao espírito como resultado de experiências já vividas; lembrança, reminiscência.

3. monumento erigido para celebrar feito ou pessoa memorável. 4. exposição escrita ou oral de um acontecimento ou de uma série de acontecimentos mais ou menos sequenciados; relato, narração. 5. Fisl psic: faculdade de conservar as modificações sofridas pelo organismo com possibilidade de reproduzir a ação que as provocou. 6. inf dispositivo que pode receber, conservar e restituir dados.. 7. 8.

litur.cat oração em comemoração a um santo, no ofício diário.

psic função geral que consiste em reviver ou restabelecer experiências passadas com maior ou menor consciência de que a experiência do momento presente é um ato de revivescimento.

9. psic termo geral e global que designa as possibilidades, as condições e os limites da fixação da experiência, retenção, reconhecimento e evocação. 10. substantivo feminino plural, relato que alguém faz, freq. na forma de obra literária, a partir de acontecimentos históricos dos quais participou ou foi testemunha, ou que estão fundamentados em sua vida particular; memorial. Origem: Etimologia do latim memorĭa,ae 'memória', de mĕmor,ōris 'aquele que se lembra, que se recorda'


MEMÓRIA GUSTATIVA A gastronomia é um ramo que abrange a culinária, bebidas, materiais usados na alimentação e todos os aspectos culturais a ela associados. Um gastrônomo pode ser um cozinheiro, assim como alguém que se preocupa com o refinamento da alimentação, incluindo não só a forma como os alimentos são preparados, mas também como são apresentados, por exemplo, o vestuário e a música ou dança que acompanham as refeições. Como seres humanos, somos uma espécie, para a qual a alimentação não é somente o cumprimento de um instinto basico de sobrevivência, ao longo de séculos de evolução descobrimos que a comida pode ser também fonte de prazer. A gastronomia nasceu desse prazer e constituiu-se como a arte de cozinhar e associar alimentos para deles retirar o máximo benefício. Estando presente ao longo da história e fazendo parte de muitas transformações sociais e políticas, a alimentação passou por várias etapas ao longo do desenvolvimento humano, evoluindo do nômade caçador ao homem sedentário, quando este desenvolveu a agricultura e a domesticação de animais, chegando a atualidade com um toque gourmet e adquirindo uma certa sofisticação ao mesmo tempo que mantem suas raízes na tradição. Em relação a essa memória gustativa podemos observar vários estudos da neurociência, como o desenvolvido pela psicóloga Rachel Herz, da Universidade de Brown (EUA), o qual mostrou que os sentidos do olfato e do paladar são exclusivamente sentimentais, uma vez que são os únicos que se conectam diretamente com o hipocampo - o centro da memória de longo prazo do cérebro. Dessa forma a visão, o tato e a audição são processados primeiro pelo tálamo – a fonte da linguagem e

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porta de entrada para a consciência. É por isso que esses são bem menos eficientes em trazer à tona o passado. Proponho desse modo a criação de uma escola de gastronomia e a implantação de um restaurante no local do galpão de cargas da ferroviária, de forma que vejo a comida como uma possibilidade de memória, afeto e de identidade com o local. Sendo dessa forma ideal para o velho galpão da ferrovia, dando a ele uma nova vida e um novo uso, trazendo pessoas da cidade e de outras regiões, e criando uma nova situação urbana naquele local de “terrain vague”.

IMAGEM:http://www.gazetadopovo.com.br/vida-ecidadania/memorias-gustativas-alimentos-que-fazema-historia-de-cada-um4z5z31kane0dzyu8pzh55rvp6


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A CIDADE DE SÃO CARLOS


A CIDADE DE SÃO CARLOS O município de São Carlos está localizado no

interior

do

estado

de

São

Paulo,

a

230 quilômetros da capital paulista. Tem uma população recenseada de 241.389 habitantes (IBGE/2015),

distribuídos

ao

longo

de

uma área total de 1.137.332 km². A história da cidade teve início em 1831, com a demarcação da Sesmaria do Pinhal. São Carlos foi fundada em 1857, pela iniciativa do Conde do Pinhal Antônio Carlos de Arruda Botelho e Jesuíno José Soares de Arruda, com a abertura de uma trilha que levava às minas de ouro de Cuiabá e

Goiás. Em 1865, o povoado tornou-se vila, com o nome de São Carlos do Pinhal, e em 1880 foi elevada ao status de cidade, desmembrando-se de Araraquara.

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polo de atividade industrial e agropecuária, possui uma ampla rede de comercio e serviços, duas grandes universidades de destaque nacional (USP e UFSCAR) e dois centros de desenvolvimento técnico da Embrapa, sendo dessa forma considerada a

capital da tecnologia, motivo do titulo informal "Atenas Paulista" e atraindo pessoas de todo o pais em busca de emprego e oportunidades.

IMAGEM: CAMINHO PARA O PICADÃO DE CUIABA E CAMINHO DE GOIAS E FORMAÇÃO DE SÃO CARLOS Fonte: LIMA, Renata Priore 2007 em reses.usp pag 22

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Observa-se ao lado o mapa da expansão urbana da cidade de São Carlos, por ele é possível observar que a área de projeto escolhida, apresentada no capitulo seguinte, é caracterizada como uma área onde um tecido urbano antigo (resultante dos primeiros anos de expansão da cidade de São Carlos), encontra um tecido urbano mais recente (o da Vila Prado (área essa que rompe com a ortogonalidade da quadricula urbana aplicada na cidade ate esse momento. Vemos dessa forma que o primeiro vetor de expansão da cidade de São Carlos foi na área central, margeando a avenida São Carlos e tendo a ferrovia como seu limite, essa situação se manteve ate a década de 40, quando a Vila Prado (um dos primeiros loteamentos da cidade, que surgiu juntamente com a ferrovia em 1893) se concretizou como a região mais populosa da cidade, abrigando operários que trabalhavam nas fabricas próximas. Devido a essa mudança na situação urbana e a divisão que a ferrovia criava entre essas duas áreas da cidade, surge a necessidade da criação de uma passagem entre as duas áreas, sendo construído desse modo o pontilhão da rua Candido Padim. IMAGEM: EXPANSÃO URBANA DE SÃO CARLOS, Plano diretor de 2005 em: Fonte: LIMA, Renata Priore 2007 em reses.usp p 25

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IMAGEM: EIXOS DA EXPANSÃO URBANA DE SÃO CARLOS ENTRE 1857 E 1929, Fonte: LIMA, Renata Priore 2007 em reses.usp pag 42

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A ESTAÇÃO DE SÃO CARLOS


AS FERROVIAS NO ESTADO DE SÃO PAULO A implantação das primeiras ferrovias no país foi

expansão do plantio do café, passando por cidades

estimulada pelo capital privado tanto nacional como

produtoras como Campinas (1872), Itu (1873), Mogi

estrangeiro (principalmente inglês) que almejavam um

Mirim e Amparo (1875), Rio Claro (1876 – a qual foi a

sistema de transporte capaz de levar de maneira segura

responsável pela criação da estação de São Carlos),

e econômica aos centros urbanos e portos do país toda

Casa Branca (1878) e Ribeirão Preto (1883). Nesse

a produção agrícola e das minas, vinda principalmente

período, foram criadas outras empresas, destacando-se

no interior brasileiro.

Ituana

e

Sorocabana

(1870),

Mogiana

(1872),

A primeira estrada de ferro no Brasil data de

Melhoramentos de São Simão (1890), posteriormente

1854 e ligava o Porto de Mauá (interior da Bahia da

chamada São Paulo e Minas (1906), e Araraquara

Guanabara) a Raiz da Serra (Petrópolis), foi construída

(1895).

e financiada pelo Barão de Mauá, que posteriormente

No entanto, devido crise de 1929 o café perdeu espaço devido à queda nas exportações, a partir da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a Companhia Paulista entrou em declínio, em 1961, o Estado de São Paulo tornou-se seu maior acionista.

seria o responsável pelo nascimento da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí, e pela criação da São Paulo

Railway Company Limited, conhecida como "A Inglesa” até 1947, quando foi nacionalizada. "A Inglesa" não se interessou em explorar novos ramais além de Jundiaí, dessa forma cafeicultores e comerciantes

paulistas,

fundaram,

em

1868,

a

Companhia Paulista de Estradas de Ferro. As ferrovias construídas pela Companhia Paulista acompanharam a

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Em

1971,

a

Companhia

Paulista de Estradas de Ferro incorporou as demais ferrovias do Estado para formar a Fepasa (Ferrovia Paulista S/A). Dessa forma observamos que a industrialização do País não foi acompanhada pelo desenvolvimento das ferrovias, que perdeu espaço para o transporte rodoviário, mais fácil de se construir e de menor

São Carlos

custo. Assim as décadas de 40 a 60 marcaram Campos do Jordão

o abandono quase total das ferrovias de São Paulo, as quais no início do século eram essenciais. No Brasil vemos que a precariedade das estradas de ferro pertencentes à União levou à criação da RFFSA (Rede Ferroviária Federal), a qual unia 18 estradas de ferro. Já em 1992 com as privatizações promovidas pelo governo federal, ela foi incluída no Plano Nacional de Desestatização, englobando a Fepasa, a qual passou ao controle da Ferroban (Ferrovias Bandeirantes S/A), a partir disso foi desativado o serviço de transporte de passageiros.

Aguas de São Pedro Santo Amaro/ São Paulo

IMAGEM: Mapa das ferrovias do estado de São Paulo e em vermelho as escolas de gastronomia do SENAC pelo estado http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=1691207

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A ESTAÇÃO DE SÃO CARLOS A estação de São Carlos surgiu em 1884 como uma

direção a Água Vermelha, de São Carlos à Santa Eudóxia, e

das estações da linha da Rio – Clarense, e propriedade (de

outro, em direção a Ribeirão Bonito, de São Carlos à Novo

1882 a 1889) da família Arruda Botelho, donos da Fazenda

Horizonte. Estes ramais foram completados e entregues em

do Pinhal e fundadores da cidade de São Carlos. Foi

1892, sendo abertos em 1893 e 1895, respectivamente, e

vendida em 1889 à Cia Paulista como continuação do

desativados entre 1965 e 1969. Por volta de 1912, o velho

trecho Jundiaí-Campinas; construída em 1872, também como

prédio da estação foi totalmente reformado, tomando já as

continuação da linha da São Paulo Railway Company -

feições atuais, sendo uma das maiores estações da

primeira ferrovia do estado de São Paulo - que ligava o

Companhia Paulista.

planalto paulista ao litoral. A partir daí, foi prolongada até Rio Claro, em 1876, e depois continuou com a aquisição da E. F. Rio-Clarense, em 1892. Prosseguiu por sua linha, depois de expandi-la para bitola larga, até São Carlos (1916) e Rincão (1928). Com a compra da seção leste da São PauloGoiás (1927), expandiu a bitola larga por suas linhas, atravessando o rio Mogi-Guaçu até Passagem, e cruzando-o de volta até Bebedouro (1929), chegando finalmente a Colômbia, no rio Grande (1930), onde estacionou. Em 1971, a FEPASA passou a controlar a linha. Trens de passageiros

trafegaram pela linha até março de 2001, nos últimos anos apenas no trecho Campinas-Araraquara. Saiam da estação de São Carlos dois ramais, um em

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IMAGEM: Estação ferroviária na década de 30 ao lado e na década de 70. Fonte: www.lugardotrem.com.br/2010/09/estacao-18-estacaoferroviaria-de-sao.html


amais, São

reção

zonte.

es em

1895,

1969.

ão foi

atuais,

panhia

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Sofrendo mais algumas pequenas reformas ao

Galpão esse que despertou meu interesse, tanto pela

longo dos anos como a substituição das janelas de

planta livre cortada ao meio por um trilho de trem, quanto

madeira por de metal e algumas ampliações. Em 1916,

pela forma e pelos aspectos tradicionais da arquitetura

chegou a bitola larga de 1,60m, que conviveu, até 1922,

ferroviária brasileira.

com uma linha paralela a ela, métrica, última herança da Rioclarense. O último trem de passageiros passou por ali em 16/03/2001, vindo de São José do Rio Preto.

O prédio encontra-se em bom estado de conservação, mas o pátio que outrora muito movimentado, apresenta-se bastante deteriorado. Muito mato, lixo e vagões abandonados tomam conta do espaço; observa-se também a estrutura elétrica destruída e torres de iluminação sem holofote, criando dessa forma uma área inóspita e escura e sempre vazia no período da noite. Um apito ao longe nos traz a memória dos antigos tempos de gloria da estação, sempre cheia com os muitos passageiros que diariamente desembarcavam ao longo de seus 250 metros de plataforma. A lembrança da ferrovia também se faz presente na antiga locomotiva Dash 9, parada no pátio (talvez uma das últimas que ainda circulam por nossas decrepitas ferrovias), nos dormentes dos trilhos e no antigo galpão de cargas e materiais de construção ao fundo, hoje totalmente fechado e sem uso. 32

IMAGEM: galpão da ferrovia, vista frontal e aérea, imagens do final da década de 90.

Fonte: www.lugardotrem.com.br/2010/09/estacao-18-estacaoferroviaria-de-sao.html


IMAGEM: Estação ferroviária de São Carlos , fotografia de Março de 2016.

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IMAGEM: Estação ferroviária antes e depois da construção do pontilhão para a vila Prado, na década de 30 e na década de 70. Fonte: www.lugardotrem.com.br/2010/09/estacao-18estacao-ferroviaria-de-sao.html


IMAGEM: Vista atual da estação e do galpão de cargas

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A ÁREA Meu projeto nasce naquilo que podemos chamar de área residual e desocupada, que ao longo dos anos perdeu sua função primordial, e com isso seu uso. Desta maneira, o principal objetivo desse trabalho é dar um novo uso à área da estação de trens de São Carlos, e em especial ao antigo galpão de cargas. Levando em conta as mudanças e demandas desse território; uma área em expansão e onde se concentram importantes equipamentos da cidade. Devemos desse modo compreender o patrimônio da estação ferroviária de São Carlos como uma situação na qual se relacionam a inserção dos bens no espaço, levando em conta ao longo do tempo suas relações com a estruturação da cidade e do território, sua articulação com aspectos sociais, econômicos, culturais e políticos, devendo em um projeto arquitetônico serem explorados na mesma medida e de forma concomitante. Assim compreendo que foi importante o estudo geral da área e do edifício e de suas peculiaridades arquitetônicas,

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história, e usos, de forma a tornar possível uma compreensão mais efetiva dos vários aspectos vinculados ao processo de industrialização, e de suas características principais que deveriam ser mantidas e que consequentemente se tornaram uma diretriz para o desenvolvimento desse projeto. Tendo em vista o conceito de patrimônio, e as atividades que são consideradas patrimônios culturais e imateriais, como as atividades sociais em si, escolhi a gastronomia, peça chave e segundo o chef Alex Atala: “a principal rede social do mundo”. Assim, busco por meio de um novo uso, reativar e dar vida a região, criando elementos ao longo da área que aludam ao tema, como a horta vertical, arvores frutíferas, marcação do eixo do trem por elementos como a escada, plano de piso da praça e o deck (como referência as grandes plataformas de embarque da estação ferroviária em frente ao galpão). Algumas atitudes projetuais foram de extrema importância no desenvolvimento do projeto, como a decisão por manter sempre o caráter


cultural da área buscando dessa forma criar um uso complementar aos equipamentos que existem na região, e mantendo o caráter cultural e público do local, marcado hoje pela presença da estação cultura (no edifício da ferroviária), e a proximidade com edifícios educacionais como o SENAI e SENAC (ambas as escolas oferecem cursos na área de gastronomia, e não conseguem conter a demanda por vagas na cidade e região, dessa forma existe a real necessidade da construção de uma escola no local. Ao longo do meu projeto foi de crucial importância a discussão sobre as formas de intervir no edifício, de maneira que fosse realmente preservado, respeitando aquilo que o caracteriza.

IMAGENS: PERSPECTIVA DA COBERTURA EM MADEIRA DO GALPÃO, USO DE TELHAS FRANCESAS NO TELHADO E PEDRAS NACANTARIA DO EDIFICIO E TRELIÇAS DA COBERTURA APOIADAS EM MÃO FRANCESA

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ELEMENTOS IMPORTANTES NO EDIFÍCIO Observamos no livro de Beatriz

embasamentos e cercaduras do edifício.

Mugayar Kuhl, “Arquitetura do Ferro e Arquitetura Ferroviária em São Paulo”, alguns aspectos citados por ela como tradicionais dessa “arquitetura das ferrovias” e que

aparecem tanto na estação de São Carlos, quanto em seus edifícios anexos (como o galpão de cargas e materiais de construção) como as mãos-francesas das plataformas (acopladas aos edifícios de alvenaria ou em estruturas independentes), sustentando a

estrutura

de

madeira

das

coberturas

(elemento muito importante no galpão de cargas), colunas de sustentação em ferro fundido (como as

presentes na área de

desembarque de passageiros da estação), a alvenaria

aparente

como

o

tijolo

autoportante nas paredes, as estruturas de

Já em relação aos acabamentos, a autora

ressalta

o

fato

deles

não

apresentarem muita sofisticação, tendo sido muito utilizado nos pisos, o ladrilho hidráulico (muito presente na estação ferroviária), a pedra (dos embasamentos), o cimento e a madeira (no caso do galpão em toda a cobertura, nas janelas e portas; nas paredes era feita a caiação e nas esquadrias de madeira, a pintura a óleo ou o verniz. Dessa forma acredito que meu trabalho se apoie muito em memorias, segundo Jaques Le Goff: “O tempo histórico encontra, num nível muito sofisticado, o velho tempo da memória, que atravessa a história e a alimenta. ”

LE GOFF, Jacques 1924 em História e Memória (pagina 9)

madeira nas coberturas, as telhas de barro do tipo francesa nos telhados, a madeira nas esquadrias e a cantaria de pedra nos

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Segundo Beatriz Kuhl no artigo “Patrimônio


industrial: algumas questões em aberto” arquitetura do ferro é difícil ser preservada uma vez que pelo fato de ser composta por “elementos pré-fabricados (sendo sua montagem e desmontagem relativamente fáceis), não tem sentido falar em sua preservação no contexto, pois esses bens foram concebidos para ser deslocados". (KUHL, Beatriz 2010) Oque segundo a autora não faria sentido, uma vez que: “ qualquer obra arquitetônica, não importa a técnica utilizada em sua feitura, relaciona-se com o espaço (e com a sociedade) em que está inserida, é elemento participante das transformações ali ocorridas ao longo do tempo, por vezes provocando mudanças profundas, e é parte integrante da percepção de uma dada realidade. ” (KUHL, Beatriz 2010) Ainda seguindo esse raciocino ela assume que qualquer intervenção arquitetônica, deve ser justificada do ponto de vista das razões por que se preserva.

IMAGENS: FACHADAS DO GALPÃO em ALVENARIA APARENTE; USO DE CANTARIAS EM PEDRA; MADEIRA NAS PORTAS, JANELAS E COBERTURA,MÃO FRANCESA APOIANDO A ESTRUTURA DE COBERTURA EXTRERNA.

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Isso se aplica ao patrimônio ferroviário brasileiro, se levarmos em conta um pouco de sua historia e o sucateamento que esse vem passando ao longo dos anos. Tendo em mente que a partir da década de 1920, o transporte ferroviário no Brasil entrou em declínio, processo que se intensificou nos anos 1940 com a retirada dos investimentos ingleses no setor e a sua posterior e gradual estatização, uma tentativa de contenção da crise gerada pelo declínio da economia do café e dos problemas relacionados com a Segunda Guerra Mundial e a queda no consumo. Já na era JK o transporte ferroviário foi sendo abandonado em prol do modal rodoviário, o que implicou priorizar a indústria automobilística e expandir as rodovias. Assim os investimentos públicos em ferrovias cessaram, sendo que a partir de então, as linhas ferroviárias no Brasil passaram por um longo período de sucateamento tanto em sua frota quanto em seus equipamentos,

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resultando dessa forma em um abandono ao patrimônio ferroviário, como vemos hoje na estação ferroviária de São Carlos. No entanto ao longo dos últimos anos e com a intensificação das políticas de preservação, esse patrimônio vem sendo lentamente revitalizado, tendo uma transformação desses grandes edifícios de serviços em equipamentos culturais. Fato esse podemos observar na antiga estação da Luz em São Paulo que abriga museus e atividades culturais, assim como na estação de São Carlos, que hoje sedia a fundação Pró-Memória da cidade. Tendo em vista isso, creio eu que seja importante que o edifício do antigo galpão de cargas abrigue funções mais públicas e culturais, fazendo com que a população, por meio de seu uso e apropriação daquele espaço, garanta uma preservação.


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IMPLANTAÇÃO



IMPLANTAÇÃO - COM VEGETAÇÃO EXISTENTE NA ÁREA

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IMAGEM: PLANTA ATUAL DO GALPÃO

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IMAGEM: FACHADAS DO GALPÃO

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IMAGEM: CORTE TRANSVERSAL DA ESTAÇÃO E GALPÃO

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ANÁLISE DA ÁREA


RELAÇÃO DA ÁREA ESCOLHIDA COM A CIDADE DE SÃO CARLOS

Podemos assim observar que além da importância histórica desse local como patrimônio e parte fundamental do desenvolvimento da cidade de

São Carlos, esses edifícios podem ser considerados importantes

do

ponto

de

vista

da

tradição

arquitetônica. Desse modo é real a importância de se rearticular essa área ao resto da cidade, que ao longo dos anos com a perda de sua função primordial e pelo declínio das ferrovias, adquiriu o status daquilo que

Solà-Morales¹ chama de “terrain vague”. Essas áreas segundo o autor se caracterizam por:

“Espaços

expectantes,

mais

ou

menos

abandonados, mais ou menos delimitados no coração de uma cidade tradicional, ou mais ou menos indefinidos nas periferias difusas. São manchas de “não-cidade”, espaços ausentes, ignorados ou caídos em desuso, alheios ou sobreviventes a quaisquer sistemas estruturantes do território. ” - Solà-Morales IMAGEM: MAPA DAS PRINCIPAIS VIAS DA CIDADE

50


Dessa forma é possível observar a existência

No caso desses vazios urbanos criados nesses

de diferentes tipos de vazios urbanos. Diferentes entre

antigos edifícios temos a questão da memória muito

si uma vez que a urbanização da cidade aconteceu de

presente, tanto a individual, resultado da experiência

forma heterogênea e cheia de especificidades, são

particular de um indivíduo, quanto aquela coletiva, de

eles os vazios urbanos criados pela não-ocupação do

importância para a cidade, que une o presente ao

território, marcas de uma ruralidade ainda existente em

passado, sendo assim considerada uma memória mais

alguns pontos da cidade, e os vazios urbanos criados

perene, uma vez que não seria resultado de uma

pelo declínio da cidade industrial e presentes nas

experiência particular. Situação essa na qual se encaixa

ruinas ou edifícios desocupados de antigas unidades

o conjunto de edifícios da ferroviária de São Carlos.

fabris ou produtoras, reflexos de uma cidade industrial que aos poucos vai se transformando em uma cidade

pós moderna, onde os serviços vem assumindo aos poucos o papel que outrora pertencia indústria.

Vemos também a importância dessa área como local de articulação da vila Prado com o centro da cidade, tendo seu principal acesso pelo pontilhão construído na década de 60 que transpõe a área da ferroviária, fazendo a ligação dessas duas partes da cidade e sendo vital ao transito uma vez que trens de carga ainda passam pela estação em seis horários diferentes por dia.

¹ - Ignasi de SOLÀ-MORALES – “Terrain Vague” in Territórios.Barcelona: Editorial Gustavo Gili, 2002.

51


IMAGEM : Levantamento das principais vias da cidade e sua proximidade com a área de intervenção

IMAGEM : Levantamento das áreas verdes e sistema hídrico de São Carlos

52


Percebe-se também a questão da Vila Prado abrigar muitos edifícios de serviço importantes para a cidade, como a sede dos correios, Poupa-tempo, SENAI e a fábrica da Electrolux. Já em relação a articulação da área de projeto com o restante da cidade vemos a importância do sistema viário e do fácil acesso ao local em relação a cidade e as cidades da região, uma vez que se localiza próxima as principais vias de acesso e rodovias, e a presença de um terminal rodoviário que serve a toda a cidade em frente ao edifício da estação. .

IMAGENS: ESCOLA DO SENAI EM FRENTE AO GALPÃO DE INTERVENÇÃO

53


PRINCIPAIS EQUIPAMENTOS DA CIDADE DE SÃO CARLOS 1)

Biblioteca municipal Alfredo Americo Hamar

2)

Estação cultura

3)

Oficina regional Sergio Buarque de Holanda

4)

Pinacoteca (municipal)

5)

Biblioteca municipal Alfredo Amaral

6)

Centro Municipal da cultura Afro Brasileira

7)

Cine São Carlos

8)

São Carlos Clube

9)

Museu da ciência (municipal)

10) Teatro Municipal

54


USP


: Vemos o predomínio de um gabarito baixo, resultante da antiga urbanização do centro. No caso da vila prado é resultante dessa área do recorte ser uma área principalmente

residencial, com exceção a algumas torres de apartamento (em azul escuro) e de edifícios de serviço, (como o edifício do SENAI, Poupatempo e correios) e o pontilhão que une as duas áreas os quais se destacam em altura,

LEGENDA DE 1 A 2 ANDARES DE 3 A 4 ANDARES DE 5 A MAIS ANDARES

56

IMAGENS: ESTUDO DE GABARITOS E CHEIOS E VAZIOS NA AREA


Percebe-se

também

a

grande

concentração de edifícios culturais e que podem ser considerados marcos próximo a essa área da cidade, pelo fato do centro ser uma área antiga e de grande fluxo. Desse modo, próximo a área de intervenção temos duas grandes unidades estudantis, uma do SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) e outra do SENAC (Serviço nacional de aprendizagem comercial).

IMAGEM: SOBREPOSIÇÃO DE ESTUDOS DE VEGETAÇÃO, EDIFICIOS CULTURAIS E DE SERVIÇO E PRINCIPAIS VIAS DA CIDADE DE SÃO CARLOS.

57


Essa relação com as escolas, e a possibilidade de integração da área a elas motivou a escolha do equipamento a ser implantado na área da estação ferroviária, um complexo gastronômico que abrigaria uma

escola

de

gastronomia

e

um

restaurante pedagógico. Além disso o fato de existir uma demanda grande por cursos de gastronomia na cidade, oferecidos pelo SENAC, e que no caso tem apenas uma única cozinha disponível para aulas em seu edifício. A qual abriga no máximo 35 alunos por turma) e é usada apenas para cursos de curta duração (até 60 horas/aula). Temse também o fato de que a escola do SENAC

não

poderia

ser

expandida

naquele local, por não existir mais espaços livres no lote do SENAC, e nem próxima a ele.

IMAGENS: VISTA DA RUA MARCOLINO PELICANO COM ESCOLA DO SENAI EM FRENTE AO GALPÃO DE INTERVENÇÃO E ESQUEMA DA AREA COM PRINCIPAIS EQUIPAMENTOS (EM ROSA CULTURAIS E EM ROXO SERVIÇOS, COMO O SENAI E SENAC)

58


59



O PROJETO


PROGRAMA O programa do edifício se baseia no programa padrão das escolas de gastronomia do SENAC no estado de São Paulo, especificamente da escola de Aguas de São Pedro, projeto do escritório M/PA Pedreira de Freitas Arquitetos no projeto da escola de gastronomia Culinary Art School do escritório Gracia Studio em Tijuana, New México, Estados Unidos. Foi pensado tendo em vista um número de 100 alunos, número de vagas esse determinado pelos diretores da escola de gastronomia do SENAC de São Carlos como o número ideal. O SENAC de São Carlos oferece cursos para no máximo 40 alunos, sendo esses de curto período, havendo uma vontade por parte da administração e do corpo docente da expansão do curso para um curso técnico (que duraria dois anos), no entanto eles não teriam espaço físico para comportar isso, havendo dessa forma a demanda por um novo local onde essa escola pudesse ser instalada. Desse modo surgiu a ideia de um restaurante escola juntamente a escola de gastronomia, onde os alunos poderiam aprender e trabalhar, criando assim um atrativo ao público

62

naquela região. Assim a escola foi setorizada em dois grandes blocos, um mais privado e relativo a escola, e um mais público referente ao uso da cidade, com o auditório e restaurante. O mais privado referente a escola, englobando as salas de aula (laboratório de enologia e bar e duas salas para aulas teóricas), dois laboratórios de cozinha, um laboratório de panificação, biblioteca, recepção, sala dos professores, secretaria, estoque e vestiários.

Tudo isso cortado pelo grande eixo marcado pela linha do trem, onde se da a circulação de uma parte a outra por meio de passarelas moveis, paralelas a ele se concentram as circulações principais do edifício. Assim era requerida a criação de espaços livres dedicados a atividades da cidade que se relacionassem com a escola, de forma que era importante interligar a área de projeto a estação existente e ao resto da cidade, isso foi feito pela criação de espaços públicos, como a praça embaixo do viaduto, que se tornou área de exposições e praça para food trucks.


Escola de gastronomia -

Salas de professores

-

Salas de aulas teóricas (2)

-

Diretoria/ administração

-

Biblioteca e sala de estudos

-

Cozinha pedagógica (2) e laboratório de padaria/ confeitaria

-

Sanitários

-

Câmaras Frias e área para congeladores

-

Local de Apoio

-

laboratório de enologia e restaurante/bar,

-

Estoque seco

-

Área para reunião de alunos

-

Área para reunir trabalhos e exposições

-

Lanchonete

Restaurante pedagógico -

Área de apoio

-

Área de higienização

-

Deposito

-

Sanitários

-

Estar e vestiários para os funcionários

Empório -

Área de estoque de mantimentos

-

Sala de apoio para administração

-

1 sanitário

Estacionamentos

63


O PROJETO O projeto desenvolvido buscou evidenciar a relação entre o novo e o existente, preservando o galpão e suas fachadas, consolidando-o como ele é, e intervindo somente no interno, mantendo uma separação do edifício original com a parte construída, não encostando as paredes novas nas antigas (mantendo sempre um vidro a uma distância de 1,20 m), e mantendo sempre as características principais do edifício. Levando sempre em conta a principal característica desse galpão de cargas: o trilho central que divide o edifício em duas sessões. Dessa forma houve uma tentativa de manter as principais características do edifício, citadas anteriormente, e não fazendo grandes modificações em suas fachadas, foi aberta uma porta na fachada principal com entrada por baixo do viaduto (onde propõe-se uma praça e área de exposição), o piso do edifício em cimento queimado também foi mantido (sendo necessária uma impermeabilização), sendo escavado em alguns pontos como a biblioteca e auditório como forma de dar lugar a novos espaços. As janelas foram mantidas nas laterais do edifício, sendo acrescidas de uma esquadria de vidro temperado por trás (uma vez que contam somente com os gradis, e no caso das janelas da fachada principal e posterior do edifício, elas foram substituídas por uma esquadria metálica de alumínio e vidro, ganhando assim

64

mais funcionalidade e iluminando melhor o edifício. Em relação a passagem entre as duas “plataformas” do edifício, divididas pelo trilho do trem, foram pensadas plataformas tipo vagões moveis, sendo eles funcionais ou apenas uma passagem, como forma de usar o espaço sem caracteriza-lo, sendo o edifício dessa forma um pouco móvel e sazonal, dependendo as necessidades. Dessa forma o edifício foi pensado em eixos de circulação que se organizam a partir da linha do trem, um paralelo a linha do trem, marcado por dois largos corredores, e o segundo ligando a praça criada a estação, e ordenado por meio de decks, reforçando assim a relação do edifico com a linha do trem e o restante da cidade. Reforçando esse eixo por meio das escadas de entrada, marcada por spots de luz a noite, e pela troca das telhas por vidro na parte superior aos trilhos, iluminando o edificio pela cobertura. Os espaços do edifício foram pensados a partir de um zoneamento, como os espaços referentes a área da escola atrás e espaço público (com restaurante, bar e auditório na frente). As salas referentes aos laboratórios de cozinha e de panificação, assim como a cozinha do restaurante ganharam paredes de vidro, tornando-se verdadeiras vitrines para aqueles


que transitam pelo espaço, e dessa forma mostrando os processos desenvolvidos ali, sendo dessa forma uma espécie de espaço de aprendizado do lado de dentro e de fora. As portas de correr com puxador escavado ficam praticamente invisíveis na parede, revelando o volume como único e inteiro (ver detalhe 1). As salas de aula também receberam uma estante de ferro, vidro e madeira que serve como divisória, que serve para guardar equipamentos de cozinha, ao mesmo tempo que por ser fechada por vidro na parte posterior, possibilita a vista da cozinha por outro ângulo, ao mesmo tempo que também guarda equipamentos, como as geladeiras e os fornos (ver detalhe 3). Nos laboratórios de panificação e cozinha foram projetadas bancadas com 85 cm de altura e comprimentos variáveis, à medida que as aulas exigem mais espaço para as atividades. Esses módulos contém uma pia, fogão de quatro bocas, e um gabinete, onde ficam os equipamentos individuais usados na aula, como panelas, colheres e pequenos ingredientes, tendo uma coifa acima para coletar gordura (ver detalhe 2). Tudo o que foi incluído dentro do edifício foi pensado como móvel, podendo ser retirado sem danificar o edifício ou descaracteriza-lo. Tendo em vista isso foi pensada a estrutura em Steel framming, por ser mais leve e de fácil montagem e desmontagem. Em relação aos espaços públicos dentro do edifício, temos duas situações: na primeira tem-

se a entrada da área comum do edifício, com o foyer do auditório e bar, já na segunda situação tem-se a recepção da escola e no mesmo lado que as cozinhas uma lareira, referenciando o fogo como elemento primário da culinária e funcionando como uma área de estar e descanso. A biblioteca e o auditório constituem-se em rebaixos no próprio terreno, mantendo neles o mesmo piso do restante do edifício, e rodeados por guarda-corpos de ferro e vidro. Já o bloco referente aos vestiários foi revestido de lockers de madeira. Já a sala dos professores foi pensada como um volume de vidro, com caixilhos de correr, podendo ser totalmente aberta, a parede em frente a sala dos professores funciona como lousa e parede de recados. As salas de aula por sua vez foram pensadas como blocos fechados, com a sua iluminação pelas portas laterais do edifício, que agora fazem a função de janelas.

65


IMPLANTAÇÃO

66


67


PLANTA

68


69


PLANTA SETORIZADA

19 6

5

9

10

12

4

13 18

7

1

2

8 11

15

14

16

3 20

1- Depósito 2- Diretoria 3- Administração 4- Recepção 5-Sala Enologia 6- Sala aulas 7- Laboratório de Panificação 8- Laboratório de cozinha 9- Sala dos professores 10- Vestiário

70

8

17

11- Câmara fria 12- Biblioteca 13- Auditório 14- Restaurante pedagógico 15- Sanitários 16- Lareira/pátio 17- Deck para a estação ferroviaria 18- Entrada principal por baixo do viaduro 19- Deck para a praça 20- Saída de lixo

Setorização: ADMINISTRAÇÃO APOIO AULAS/ ESTUDOS ESTAR PÚBLICO ENTRADAS


PLANTA LABORATÓRIO DE COZINHA

Porta invisível Ver det. 1

fornos

Bancada Ver det. 2

geladeiras

Estante ver det. 3

fornos

freezer

71


ELEVAÇÕES

Elevação frontal

Elevação esquerda 72


Elevação posterior

Elevação direita 73 61


FF

GG

74

AA

BB

CC

DD

EE

CORTES


CORTES

CORTE AA

CORTE BB 75


CORTE CC

CORTE DD 76


CORTE EE

CORTE LONGITUDINAL FF 77


CORTE LONGITUDINAL GG

CORTE LONGITUDINAL HH 78



PRAÇA DE ENTRADA E VIADUTO

80


PRAÇA DE ENTRADA E VIADUTO

81


SITUAÇÃO PROPOSTA

82


SITUAÇÃO ATUAL

83


HORTA URBANA E PRAÇA

84


DETALHAMENTOS 85


DETALHE 01

PORTA “INVISIVÉL” DE CORRER

DETALHE TRILHO SUPERIOR

PLANTA

86

DETALHE TRILHO INFERIOR


ESTRUTURA

ELEVAÇÃO

87


DETALHE 02

MÓDULO DAS BANCADAS DAS SALAS DE AULA

PLANTA SUPERIOR COM COIFA

PLANTA DA BANCADA

88

CORTE


ELEVAÇÃO FRONTAL

ELEVAÇÃO ESQUERDA

89 ELEVAÇÃO POSTERIOR

ELEVAÇÃO DIREITA


DETALHE 03

ESTANTE DAS SALAS DE CULINÁRIA E PANIFICAÇÃO

90

BB

AA

PLANTA


CORTE AA

CORTE BB 91


ELEVAÇÃO FRONTAL

ELEVAÇÃO POSTERIOR 92


ELEVAÇÃO DIREITA

ELEVAÇÃO ESQUERDA 93



DIRETRIZES


1.

Apropriação e integração da área abaixo do viaduto:

Propõe-se a principal entrada do edifício voltada ao viaduto, área hoje inóspita e não utilizada, criando “estares” e propondo a apropriação do viaduto por grafites, como área de exposição, pela continuidade do parque da ferroviária (sendo ele dessa forma um local de estar) e também pela possibilidade da área ser utilizada para diferentes atividades tanto da escola de gastronomia (como festivais de food truck) e da estação cultura, quanto da cidade.

2 . Praça e área para eventos no terreno da rua General Osório Praça com entrada pela rua General Osório para acesso a entrada principal e área para eventos (como festivais de food truck, feiras e atividades diversas) 96


3 .Criação de parque linear

Propõe-se a criação de um parque linear ao longo da ferrovia, interligando assim diversas áreas da cidade e dando um uso a ferrovia hoje marginalizada e integrando a área ao restante da cidade.

4 .Continuidade dos trilhos do galpão, ligando o galpão as linhas férreas já existentes

Para que os vagões restaurante possam entrar no edifício, assim como para que eles possam ser estacionados no pátio em frente ao armazém, funcionando em alguns momentos como praça de alimentação e eventos.

97


5 .Restaurante Restaurante aberto para a praça e com vista para a ferroviária .

6 .Decks

Uso de plataforma de decks, na parte da frente do edifício, criando uma extensão do mesmo sobre a praça, e ressaltando a ferrovia como um marco visual . 98


7. ACESSO DE PEDESTRES: Pela rua Marcolino Pelicano cruzamento com a Rua Candido Padim (rua do viaduto e que se extende da frente da estação até o final do viaduto) em frente ao SENAI. Buscando assim criar relação entre essa entrada, o SENAI e as praças em frente.

99


8. ESTACIONAMENTO E PRAÇA DE ENTRADA: Estacionamento na parte do talude voltado a rua Marcolino Pelicano, com entrada para carros por rampa na rua Marcolino Pelicano, na altura da rua Antônio de Almeida Leite e praça que faz a ligação entre essa área e a área abaixo do viaduto.

100


8. Manutenção do piso original de cimento queimado em todo o edifício: Piso original dando continuidade ao edifício, e ressaltando suas características originais

9. Biblioteca e Auditório abertos: Abertos e escavados no piso, como forma de criar uma grande área sem interferência de volumes, de forma a se ressaltar o grande espaço do galpão e proporcionar o entendimento dele enquanto unidade.

101


10. Iluminação do edifício pela cobertura em vidro: Troca de telhas por vidro na parte acima do eixo do trilho, marcando-o com a luz durante o dia, e

iluminado o interior do edifício. . Tendo o SESC POMPEIA de Lina Bo Bardi como referencia, escolhi essa forma de iluminação para não descaracterizar as fachadas. Dessa forma a iluminação de todos os blocos que não tem janelas (como cozinha, banheiros e auditório) sera feita pelo teto e pelas laterais, através das portas originais do edifício, que se tornaram uma espécie de janela, ao receberem uma folha de vidro para fechamento interno.

102


11. Recepção da escola de gastronomia: Balcão de recepção, com 1,10 m de altura, revestida em chapa de aço corrugado e madeira.

12. Lareira como centro da área de estar: Funcionando como uma área de estar, ao mesmo tempo que se destaca e trás a memoria do passado industrial do edifício, ao mesmo tempo que faz alusão ao fogo como elemento primordial da culinária.

13. Paredes novas nao tocam as paredes do edifício: Separadas por uma faixa de 1,20 de vidro temperado, mantendo assim a posição de separação entre novo e antido

103


104


14. Laboratório de Panificação

105


15. Salas de aula e cozinha com vidro: De forma a permitir que os transeuntes pelo edifício vejam e entendam oque acontece dentro desses locais, funcionando como uma espécie de vitrine das atividades desenvolvidas dentro desses locais.

16. Lockers em madeira ao redor de todo o bloco de vestiários: Buscando assim servir aos alunos como área de apoio.

106


107


17. Estantes de vidro, madeira e ferro fazendo a divisão das salas com a área comum: E funcionando como uma espécie de expositor dos utensílios usados nas aulas e atividades. (Ver detalhe 3)

18. Portas invisíveis: Na cor da parede, de correr com puxador escavado, de forma a não serem realçadas na parede, tornando o bloco único e sem rupturas. (Ver detalhe 1)

108


19. Horta urbana ao longo da rampa de acesso ao edifĂ­cio e escada de acesso:

109


20. PASSARELAS MÓVEIS Uso de antigos vagões como plataforma ligando os dois lados do edifício separados pelos trilhos, alguns dos vagões podem ser usados como são usados os “food truck”, podendo funcionar dentro ou fora do edifício. Tendo em vista um projeto da estação cultura de um passeio turístico de trem a vapor saindo da estação e passando pelas principais fazendas da região, eles poderiam funcionar como uma espécie de vagão restaurante, levando a escola de gastronomia a outros lugares, e ampliando assim sua atuação na cidade e região. Eles também poderiam ser usados na área do pátio em eventos e aos finais de semana, quando o fluxo de pessoas na região seria maior.

PASSARELA TIPO 2: funcional, como café ou bar

PASSARELA TIPO 1: apenas como elemento de ligação

110


PASSARELA TIPO 2: funcional

111



REFERÊNCIAS


SESC POMPÉIA Lina Bo Bardi São Paulo, Brasil Referencia: telhado de vidro, piso original, manutenção das fachadas e lareira como área de estar.

RESTAURO DA CASERMA SANTA MARTA Massimo Carmassi Verona, Itália Referencia: iluminação pelo teto.

1114

BASQUE CULINARY CENTER VAUMM San Sebastián, Spain Referencia: Uso de madeira na escola,, bancadas de trabalho e vestiários.


Arbory Bar and Eatery Jackson Clements Burrows Architects. Melborne, Australia Referencia: decks como área de sociabilidade.

THE IMPERIAL BUILDINGS Fearon Hay Architects Auckland, Nova Zelândia Referencia: intervenção com vigas de concreto aparente.

FONDAZIONE ARNALDO POMODORO Studio Cerri Associati Engineering Milano, Itália. Referencia: teatro rebaixado com guarda-corpo de vidro

115


Fonte: revista projeto, Outubro/ 2013, edição 284, pagina 40

116


SENAC – Aguas de São Pedro Mônica e Paulo Augusto Pedreira de Freitas A necessidade de um espaço adequado para sediar o curso de gastronomia (parte do sistema da escola de gastronomia e hotelaria) levou o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) a construir o edifício, que também é utilizado para cursos de curta duração (de 20 a 40 horas).

Fonte: revista projeto, Outubro/ 2013, edição 284, pagina 40

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BIBLIOGRAFIA GIOVANNONI , GUSTAVO. Gustavo Giovannoni : textos escolhidos / organização de Beatriz Mugayar Kühl; tradução Renata Campello Cabral, Carlos Roberto M. de Andrade e Beatriz Mugayar Kuhl. Cotia: Ateliê Editorial, 2013 KUHL, BEATRIZ MUGAYAR. O legado da expansão ferroviária no interior de São Paulo e questões de preservação. São Paulo : Annablume, 2013. KUHL, BEATRIZ MUGAYAR. Preservação do patrimônio arquitetônico da industrialização : Problemas teóricos do restauro. Cotia : Ateliê Editorial, c2009. PANE, ROBERTO. Roberto Pane tra storia e restauro : architettura, città, paesaggio / a cura di Stella Casiello, AndreaPane, Valentina Russo. Venezia, Marsilio, 2010. CASIELLO, STELLA. La cultura del restauro : teorie e fondatori / a cura di Stella Casiello. Venezia, Marsilio, 2009. CARBONARA,, GIOVANNI. Avvicinamento al restauro : teoria, storia, monumenti / Giovanni Carbonara. Napoli, Liguoiri, 1997. LE GOFF, JACQUES. História e memória; tradução Bernardo Leitão ... [et al.] -- Campinas, SP Editora da UNICAMP, 1990. (Coleção Repertórios)

118


BIBLIOGRAFIA

http://www.saocarlos.sp.gov.br/index.php/historia-da-cidade/115269-historia-de-saocarlos.html http://www.fbssan.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=420:comida%C3%A9-mem%C3%B3ria,-afeto-e-identidade&catid=79&Itemid=672&lang=pt-br http://www.guiatrabalhista.com.br/legislacao/nr/nr24.htm http://www.lugardotrem.com.br/2010/09/estacao-18-estacao-ferroviaria-de-sao.htm http://www.archdaily.com/257150/the-imperial-buildings-fearon-hay-architects http://www.archdaily.com/196035/basque-culinary-center-vaumm http://www.premiersdesignawards.com.au/entry/arbory-bar-eatery/ http://www.ediliziaeterritorio.ilsole24ore.com/art/progettazione-e-architettura/2015-1211/medaglia-d-oro-l-architettura-2015-massimo-carmassi-la-prima-volta-triennale-premiariuso--131950.php?uuid=ACyEAMrB http://www.archdaily.com/257150/the-imperial-buildings-fearon-hay-architects http://www.sp.senac.br/jsp/default.jsp?newsID=a2030.htm&testeira=726&unit=CAP&sub=0 http://www.ufjf.br/lapa/files/2008/08/kuhl2.pdf

119




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