Almas Peregrinas
Ficha Técnica Gênero: Drama Elenco: Anderson Borges – Camila Rafael – Dora Nunes Edson Guilherme – Jhony Uriel – Marco Senna Patty Nascimento – Priscila Klesse Dramaturgia: Camila Rafael Direção: Ailton Ferreira Assistência de Direção: Priscila Klesse Cenografia: Marco Senna e Grupo Criação de Figurino: Pâmella Carmo e Grupo Assessoria de Figurino: Maria C. S. de Oliveira – Vilma Oxando Costureiras: Carmen Miguel – Leonice Klesse Maquiagem: Priscila Klesse e Grupo Direção Musical: Fílipi Lima Músicos: Fílipi Lima – Kelvin Lucas Músicas: Alexandre Guilherme – Camila Rafael – Fílipi Lima – Silas Xavier Coreografias: Isabela Lanute Fotografia e Projeto Gráfico: Giulia Martins Captação e Edição de Vídeo: Giulia Martins – Taciano Holanda Iluminação e Som: Taciano Holanda Produção: Marco Senna Assessoria de Imprensa: Delcimar Ferreira – Núcleo de Mídia Opereta Duração: Aproximadamente 75 minutos Classificação Indicativa: 12 anos Agradecimentos Aline Martha – Alessandra D. Modenese – Andreia Borges Cláudio D. Fernandes – Dilson Rufino – Erick Malccon – Fernanda Freitas Giselly Oxando – Geraldo Garippo – Gil Oliveira – Jeanne Souza Jhony Dutra – Lidiane Santos – Luciene de Azevedo Patrícia Albuquerque – Wanderson Peixoto... e a todxs, não menos especiais, que passaram por este grupo/lugar e deixaram suas marcas e incríveis contribuições em cada trabalho desenvolvido pelo Núcleo Teatral Opereta ao longo dos seus 26 anos de insistência. Gratidão! Fotos do Programa Ana Luísa Ferreira – Carlos Magno – Giulia Martins – Joyce Gomes Matt Lizardo – Wanderley Costa – William Ferro
Núcleo Teatral Opereta O Núcleo Teatral Opereta foi formado por um grupo de jovens com vontade e ânsia em se expressar além dos caminhos convencionais, que viram no teatro uma forma de dar voz aos anseios de uma vida pulsante e confrontar uma sociedade carente de oportunidades. Apesar de surgido no bojo de uma instituição secular – a Igreja Católica, não faz dele um instrumento de massificação ou alijamento intelectual, pelo contrário, jovens eufóricos e motivados ante a possibilidade de transformar o mundo – ou pelo menos os seus – fazem e utilizam o teatro e as artes como um instrumento de transformação, engajamento e oposição ante o feroz mundo que tudo promete e pouco realiza. O tempo passa; uns saem, poucos ficam, outros entram, e saem também. Mas o grupo, como um coletivo forte, atuante, organizado e ciente de suas capacidades e desafios, resiste e persiste. O coletivo suplanta o individualismo, mas não o desmerece: como um organismo único, e como tal, um complexo formado por distintos e essenciais fazeres – saberes – quereres. O NTO tem, como base, os potenciais dos integrantes, que contribuem no processo criativo de seus trabalhos. Cada um com sua formação acadêmica, ou com sua experiência de vida, mantém viva essa troca de saberes em busca de contribuir com o processo artístico. Mas, também, o grupo se coloca aberto para novas formações que contribuam com o aperfeiçoamento técnico, intelectual ou humano de cada um de seus integrantes. Essas trocas, essa busca pelo aperfeiçoamento, tem levado o NTO ao crescimento como um coletivo teatral: experimentando, arriscando, provocando – a arte é assim mesmo. O grupo, não se faz tão somente de peças e experimentos, o coletivo – que originou a Associação Cultural Opereta – participa de fóruns, debates, mostras de teatro, discussões, em suma, compreende a sua função social e se une a outros tantos coletivos que lutam pela cultura na região do Alto Tietê e no estado. Apesar da longa estrada, o grupo ainda precisa ser (re)conhecido. Sair dos limites geográficos e alcançar novos horizontes é um dos atuais desafios do coletivo. Levar adiante a proposta de provocar reflexão nas pessoas através da cultura e da arte é o papel do NTO. Aparentemente utópico e ingênuo, mas não o é! Falta aos tempos atuais amor, respeito, o bem querer do outro e o valorizar a si mesmo: matérias-primas para um novo tempo.
O Grupo No ano de 1991, um grupo diversificado de artistas amadores poaenses, uniu-se com a finalidade de difundir a arte como modo de expressão e cultura que são instrumentos fundamentais na formação de um indivíduo. Então, formou-se o Grupo Opereta que produziu e apresentou diversas montagens até 1995 quando encerrou as atividades temporariamente. Em 1997, ao final de uma oficina de teatro oferecida pela Associação Cultural Opereta, fundada em 1994, alguns alunos sentiram-se atraídos pela arte de representar e decidiram reativar o Grupo de Teatro Opereta junto com alguns atores remanescentes da época da fundação, em 1991. Desde então, o grupo passou a se chamar Núcleo Teatral Opereta (NTO) e reúne-se com o objetivo de estudar, pesquisar e montar textos teatrais, além de realizar outros projetos em nome da instituição. Espetáculos como “Opereta de São Francisco”, “O Auto da Luz”, “Francisco, Canções de um Miserável”, “Santa Joana: Título Provisório”, “Almas de Pedra”, “Palhaços”, “Opereta Canta Zumbi”, “O Papagaiato” e “Almas Peregrinas”, são os principais trabalhos do grupo. O NTO busca parcerias com outros grupos, coletivos e espaços, viabilizando a circulação de projetos artísticos além de promover e participar de discussões e debates sobre política pública para as artes, opinando e buscando apoio na legislação vigente mas, independente do setor público, principalmente, acreditando nas iniciativas comunitárias. Dentro das ações do NTO está a busca constante de se aproximar de questões recorrentes, que inquietam seus integrantes e contribuem interferindo na transformação do espaço em que vivem e no olhar sobre a sociedade: as instâncias de poder e as relações entre essas diferentes instâncias, os conflitos entre Estado e indivíduo e o crescente empoderamento de grupos marginalizados. Nesse sentido, o coletivo torna-se um painel para expor a visão dos artistas que o compõem, debatendo esses temas, elevando o processo criativo e gerando uma expressão própria do grupo.
Principais Trabalhos Opereta de Pai Francisco e Irmã Clara O musical narra a vida de Francisco, um jovem boêmio e rico da cidade de Assis (Itália). Da guerra, volta um outro homem, cai doente e tem pesadelos, revelações espirituais entre céu e terra. Inicia seu processo de desapego pelo luxo e a riqueza contradizendo seu pai. Francisco faz adesão à simplicidade, à pobreza, ao próximo. Assume e vive o Amor na sua plenitude a todas as criaturas as quais nomeia de irmão e irmã. Nasce assim O Pobre de Deus e por onde passa leva outros que o seguem, como Clara a quem fazia serenatas... Toda a história é uma pequena Opereta representada por mais de 20 atores amadores, encantados pela vida de Francisco de Assis e que deu nome ao grupo de teatro.
O Auto da Luz A criação do homem pela ótica dos folguedos populares. O homem é simples e livre, mas isso não basta; as dúvidas o consomem, então conhece a Inveja e a Ganância, que o transformam no Mal. Baseado na Obra de Flávio Campos e Bráulio Tavares.
Francisco, Canções de um Miserável O tema acerca de Francisco de Assis retornou à pauta do grupo que escreveu coletivamente o musical Francisco, Canções de Um Miserável. A pesquisa girou em torno do livro ‘O Pobre de Deus’, do autor grego Nikos Kazantzakis e do filme ‘Irmão Sol, Irmã Lua’, do cineasta italiano Franco Zefirelli. A narrativa contou com frei Leão, seguidor de Francisco sempre atormentado pelo caminho de privações que escolheu e, ao mesmo tempo, seu mais leal companheiro. Ele questiona o santo radicalismo de Francisco na ´pobreza perfeita´ e se comove com a história que conta - ´mais verdadeira do que a verdade´. Maltrapilho, com os pés ensanguentados pelas peregrinações e cego no fim da vida, Francisco ao mesmo tempo conquistava novos seguidores na sua pregação contagiante e causava espanto e incompreensão por parte de autoridades eclesiásticas. A busca do irmão Leão começa pela curiosidade a respeito de Deus e se torna uma angústia - repleta, porém, de passagens recompensadoras. Um mergulho para desvendar os princípios mais belos do amor e do desprendimento.
Quadros-Vivos Experimentos de rua, baseados em estatuísmo e reprodução de imagens. A busca da rua como espaço de representação. Intervenção urbana, protesto. Questionar a necessidade de espaços públicos para a arte.
Palhaços Careta é um velho palhaço de um circo decadente, a lona esburacada do circo reflete o estado da sua alma rude. Benvindo é o solícito vendedor de sapatos que invade o camarim de Careta, esperando encontrar um mundo menos cinza que o seu. O primeiro reage a invasão do segundo mostrando uma face nada amigável, resultando numa disputa. São dois palhaços fazendo sombra sob uma lona esburacada. O texto “Palhaços” foi montado pela primeira vez pelo NTO em 2001, e em 2017 voltou aos estudos do grupo e está em processo de montagem para reestreia.
Santa Joana: Título Provisório Um ícone da Idade Média (Joana D’Arc) perde sua memória e todas as suas referências ideológicas e pessoais e é manipulada a enfrentar problemas que aparentam ser cotidianos numa árdua luta de transformar as pessoas de uma sociedade atemporal. Sofre reveses e desse processo irá descobrir uma nova possibilidade de existência: a anulação de sua própria imagem partindo de si mesma.
O Papagaiato O Papagaiato é uma leve e divertida historia sobre a busca da sorte e suas consequências. Numa praça pública, Tico Só, vendedor de bilhetes de loteria, nos conta a historia das figuras que frequentam o lugar e entre elas: Tião Curió - seu patrão, o Falcão - falsário, Soldado Patinho e Pepe, o “Incrível” Papagaio Adivinho.
Almas de Pedra
O experimento cênico Almas de Pedra foi inspirado na obra ‘Pedreira das Almas’, de Jorge Andrade, autor que dedica sua obra, entre outros aspectos, à uma profunda revisão da nossa história, muitas vezes com olhar de dimensões quase trágicas, material que dialoga profundamente com as inquietações do grupo. O trabalho culminou numa reflexão sobre nossa passagem pelo mundo, a efemeridade da vida, o legado da morte... Dimensões metafísicas, são contrastadas com um olhar materialista calcado na observação dos agentes sociais. Nesse contexto, os conflitos entre os indivíduos e instituições seculares como a igreja e o estado servem de material para a atualização de nossos questionamentos. Esse instigante exercício foi o ponto de partida que apontou o olhar do grupo para a América Latina e resultou na atual montagem do espetáculo Almas Peregrinas.
Opereta Canta Zumbi Inspirada na peça “Arena Conta Zumbi” de Gianfrancesco Guarnieri e Augusto Boal, o NTO canta essa que foi e, ainda é, uma das grandes homenagens da dramaturgia nacional ao líder Zumbi dos Palmares. Ao enaltecer Zumbi, fala-se também da resistência dos vários povos dizimados quer seja por suas condições financeiras, de raça, cor, etnia, sexo, religião e/ou ideologia política. Ao cantar Zumbi, as vozes ecoam tentando alcançar os ouvidos daqueles(as) que com seu preconceito velado e hipócrita, continuam a estimular cada vez mais o ódio e rancor dentre tantas pessoas.
Núcleo Teatral Opereta na 2ª Mostra de Teatro no Ônibus Organização: Trupe Sinhá Zózima
Um ônibus um tanto diferente estaciona, descem os atores, todos vestidos de branco e o público, misturado com eles. (...) Assim, Opereta Canta Zumbi chega na praça no Centro de uma noite paulistana fria. (...) Mas, o que vamos ver é um acolhimento diferente do que se esperava. O Centro da cidade, lugar inóspito, vai ser palco de um ritual compartilhado. Na Opereta, que para, simbolicamente, em frente a uma igreja, outros atores são evocados, além daqueles do espetáculo. (...) Estamos no Largo do Paissandu, onde fica a Igreja de N. Sª do Rosário dos Homens Pretos. Erguida por trabalhadores negros, ela foi ponto de encontro para aqueles que eram proibidos de frequentar os locais religiosos dos brancos. A Opereta Canta Zumbi fala sobre negros, escravidão que nunca acaba, descaso. Fala sobre um outro olhar para a própria historia: o reconhecimento das feridas e o processo de cura. Impossível não estar falando também sobre aqueles que fazem da rua sua morada (...) Mas, antes de tudo isso, vem o ônibus. e eu penso ser impossível que este espaço (...) não modifique intensamente a relação do público com este espetáculo. O ritual proposto pela Opereta, que é majoritariamente cantado, ganha um tom surreal enquanto nos movimentamos pelo Centro de São Paulo. Impressões sobre “Opereta Canta Zumbi” por Ramilla Souza
Mostra de Artes Cênicas Opereta Criada em 2007, visando mapear a produção cênica na região do Alto Tietê, a iniciativa, pioneira na cidade de Poá, nasceu do desejo de proporcionar à população poaense e da região um contato com sua diversificada produção artística. A Mostra é bienal e já foram realizadas 6 edições, sendo que as 3 últimas tiveram o apoio do ProAc Festivais de Artes II e tem como principais eixos: - Despertar o interesse da população promovendo a aproximação desta com a arte, por meio do acesso aos espetáculos sem a necessidade de deslocamento às cidades onde existem equipamentos específicos (teatros, auditórios ou centros culturais); contribuir para aumentar as produções artísticas locais; aproximar o artista e o público por meio de temas que reflitam o fazer artístico; diminuir a distância ator-público permitindo que ‘aquele que assiste’, tenha contato com o lado ‘daquele que faz’; oferecer espetáculos com diversidade de estilos/linguagens mostrando um teatro plural para um público também plural (teatro de rua, circo, teatro para crianças e adultos, dança e cultura popular) e proporcionar debates e discussões sobre assuntos do fazer teatral, buscando a exposição de procedimentos e pesquisas dos artistas participantes e outros convidados.
AFroá No cerne da resistência negra em território brasileiro, temos um povo que mantém suas tradições; comunidades quilombolas, os vários coletivos e movimentos negros que lutam pelo espaço e respeito aos ancestrais e suas condições humanas, sem maquiagem, difundindo toda a riqueza cultural da arte negra. O festival Afroá, criado em 2016 e já com duas edições realizadas, tem a intenção de demonstrar e difundir temas: gênero, feminismo negro, religiosidade, arte negra, entre outros, no intuito de unir forças, ideias de grupos e artistas da região e extremos, e é um festival independente, que conta com parceiros que resistem e persistem na sua luta negra de cada dia. Afroá vem mostrar o negro protagonista de sua própria história.
Passos da Paixão O espetáculo artístico “Passos da Paixão” é inspirado nos antigos Mistérios Medievais e nos Passos da Paixão – capelas com esculturas do mestre Aleijadinho expostas em Congonhas do Campo, MG, representando a Via-Crucis. Para resgatar a manifestação teatral popular e itinerante, a Cia. Teatro Roda Mundo, responsável pela coordenação geral e direção artística do projeto, confia os personagens a atores amadores ou não integrantes de grupos artísticos da região do Alto Tietê e Grande São Paulo e membros das comunidades atendidas pela Associação Cultural Opereta, pertencentes aos diferentes credos, etnias, orientações sexuais e classes sociais. Dentro desta montagem, o NTO participa da criação e execução do espetáculo, com seus integrantes atuando junto a outros artistas nas áreas de produção, direção, dramaturgia, figurino, maquiagem, fotografia, captação e edição de áudio, design gráfico e mídia.
Festival Internacional de Teatro de Grupo - Knots.Nudos.Nós Knots.Nudos.Nós é um festival internacional de Artes Cênicas, itinerante, que se realiza a cada dois anos por meio de um encontro de grupos. Fundado em 2011, o festival conta com 03 edições anteriores realizadas nos diferentes países: Alemanha (2011), Argentina (2013) e Bolívia (2015), tendo sido o Brasil convidado para abrigar em 2017 sua IV edição. Participando junto a antigos e novos parceiros na produção e vivência coletiva única proposta pelo festival - o intenso intercâmbio de experiências e procedimentos teatrais entre aqueles que fazem do teatro de grupo sua caminhada artística - o Núcleo Teatral Opereta fez-se parte de um lindo processo oferecendo sua melhor contribuição: seu material humano e suas referências culturais seus saberes artísticos da cultura popular e da matriz afro-brasileira, artistas fazendo arte juntos sem as fronteiras físicas ou linguísticas, experiências que refletem até hoje em nossos trabalhos, construções e desconstruções.
NĂşcleo Teatral Opereta apresenta
Almas Peregrinas
Secos.... Ríspidos e Rústicos. Terra aterrorizada... em pó! Almas Peregrinas... almas em nó. Terra de ecos... um povo só. Água? Seca... Porque a alma seca de um Seca a alma de muitos. Por quê? Então... Aprendi que o ódio é seco... Vi que a opressão é seca... Senti que a obsessão é rústica... dura... seca! E as peles rachadas neste chão rachado O rosto desfigurado e seco. Sem ao menos, lágrima... olho seco! E tristeza sem lágrimas é revolta Nem uma gota pra molhar o rosto Abrir a Porta... do coração. Banhar um pedaço desse chão... Esse chão aqui de dentro Porque água é sinal de sentimento... E sentimento é a alma que ainda está úmida E alma úmida chora E chorando molha a terra E terra molhada brota E broto é vida. Terra sem água Terra sem humanidade Terra sem amor É terra seca, esturricada, ar seco e calor E dá medo! Dá medo da água um dia acabar A água do coração... a chuva fina do acariciar O orvalho dos afetos... o mar do ato de amar. E não haverá mais verde e outras cores... Só dores da alma seca a peregrinar. Alex Domingues
Buen corazón Acerca de Almas Peregrinas de Núcleo Teatral Opereta No queremos hacer nada “intelectual”, no lo somos ni lo queremos ser. Muchas cosas necesitamos saber, sin embargo. Muchas cosas despiertan nuestra curiosidad y asombro. (...) NTO, Núcleo Tetral Opereta es un grupo de teatro con mucho encanto y fuerza arrolladora. Se trata de trabajadores de la cultura y de oficiantes de verdadera ceremonia teatral. Verdad, eso es lo que abunda en ellos. Instantes vivos. (...) Con Almas Peregrinas se han inspirado en Pedro Páramo de Juan Rulfo, una maravilla literaria tan latinoamericana, y han bebido también de un texto francés del siglo XVI: Discurso sobre la Servidumbre voluntaria de La Boetie, que gira en torno a la pregunta ¿Por qué uno solo puede gobernar a un millón, cuando le bastaría a ese millón decir «no»para que el gobierno desaparezca? Todos estamos en casa. Estamos en casa, es decir en una granja brasilera con esclavos negros, es decir en la Comala de Pedro Páramo, pero también puede ser en la estancia de algún terrateniente de la pampa argentina, llena de peones gauchos y sirvientas “morochas”. La estética es original y delicada. Increíbles vestuario y maquillaje. Amalgama íntima entre la escenografía/objetos y el coro de muertos y vivos que evolucionan en el espacio, pueblan el aire escénico de cantos y danzas. Acerca del “cuento”, tal vez sea oscura la dramaturgia, confusa la línea de la narración. O tal vez sea que nos perdimos algo en el camino, o que no entendemos bien del todo el portugués, o que los caminos de la narración en Juan Rulfo son difíciles de seguir. O tal vez identifiquemos en el NTO ese anhelo que tenemos los actores de serlo todo, de funcionar como un artista total: músico, bailarín, actor, iluminador, escenógrafo, vestuarista, director, dramaturgo, dramaturgista, …. Anhelo que muchas veces cumplimos con entusiasmo y otras veces nos damos cuenta de que hay que caminar más o pedir ayuda a otro caminante. (...) Abrazos fuertes de buen corazón. Hasta pronto! Camino Teatro – Argentina/Itália Giorgio Zamboni y Laura D’Anna
Sinopse Quando Juan promete a sua mãe, que está à beira da morte, que voltará a cidade que ela deixou para trás quando ainda estava grávida dele, não imaginava que iria de encontro com o seu próprio fim. O principal motivo que o estimula a ir para Campo Lunar é o de conhecer seu pai, Rubão Barros, que foi um rico e poderoso fazendeiro daquela região. Juan não encontra seu pai, pois descobre antes mesmo de entrar na cidade que ele está morto, mas encontra um de seus meio-irmãos, que o conduzirá até a entrada da cidade. Para grande desespero de Juan, ele descobre que a cidade está abandonada e que seus moradores têm aparência e jeito estranhos: todos estão mortos e seus espíritos vagam pela cidade, sem descanso, esperando pelo perdão para os seus pecados. O limite entre tempo e espaço se rompe e os habitantes da cidade revivem seus tormentos e suas vidas num movimento cíclico que nunca termina. É a maldição de Rubão Barros, que nunca teve o seu amor pela triste e solitária Suzana correspondido.
Proposta de Encenação O espetáculo “Almas Peregrinas” nasceu da necessidade do Núcleo Teatral Opereta de aprofundar seu contato com o universo literário latino-americano. Partindo desta necessidade, encontra-se em Juan Rulfo e sua obra “Pedro Páramo”, o desafio almejado: um autor não tão conhecido por estas terras, que escreve e cria uma atmosfera rica e provocadora e que se localiza na América Latina, especificamente no México, mas é uma história tão particular e tão familiar que facilmente nos identificamos: poderia ser uma história brasileira, ou colombiana, ou paraguaia; não importa – é uma obra universal e regional ao mesmo tempo e que nos faz refletir sobre a existência humana em terras ameríndias colonizadas por europeus e convertidas pelo catolicismo.
Objetivando aproximar-nos da cultura latino-americana, e também ao nosso público, o NTO mergulhou na obra e passou a debater o que entendemos por nossa América Latina: a colonização, seus irresolúveis problemas sociais e estratificação de classes, a formação heterogênea partindo de culturas tão díspares como a europeia e a nativa. Dessa antropofagia cultural surgem as questões que norteiam o trabalho concebido sob o título de “Almas Peregrinas” (almas que não descansam, peregrinam em busca de redenção e absolvição): a fé, a questão da terra, a imposição do pecado católico, a opressão dos poderosos, a subserviência dos fracos e simplórios, a mulher relegada a segundo e terceiro planos no contexto social e político. Quando desses estudos, surge uma obra que joga certa luz sobre os debates e nos faz entender melhor certos aspectos da condição humana: “O Discurso Sobre a Servidão Voluntária”, de Étienne de La Boétie; entende-se que nem sempre se é servil por obrigação ou necessidade, muitas vezes é por gosto e opção. E dessa constatação transforma o projeto e o grupo, e também as pessoas que dele fazem parte: até que ponto somos vítimas e somos algozes? Outro ponto é a forma da narrativa escrita por Rulfo em sua obra e que a dramaturgia e a direção se esforçam em manter no texto: uma narrativa fantástica, em que os mortos rememoram e revivenciam passagens de suas vidas e de toda a cidade, mas eles não sabem que estão mortos. Fragmentos de imagens e diversos narradores que flutuam entre o passado e o presente transformam a história numa colcha de retalhos que se vai costurando aos poucos e mesmo assim permanece cheia de buracos.
A partir da proposta estética da montagem, a produção foi trabalhada coletivamente nesse sentido. A música, concebida pela construção de paisagens sonoras, distingue o clima, os espaços e os personagens com bases na musicalidade hispânica e tribal sul-americana. O cenário e elementos cênicos traduzem a atmosfera de uma cidade esquecida, perdida no tempo da memória, reflete suas cores e texturas ajudando a contar os sofrimentos e paixões de pessoas/almas que também encontram-se perdidas. A maquiagem representa pessoas mortas numa cidade quente e árida, na fronteira entre países, que pode ser também a fronteira entre o fantástico e o real. Uma dicotomia inerente ao ser humano – social e cultural, metafísico – físico; não importa... O limite foi rompido e a discussão está posta: toda ação exige uma reação, qualquer culpa se leva e nem sempre haverá alguém para perdoar. O elemento terra surge com o barro e a poeira que
cobrem essas pessoas, como sua conexão com a terra, tanto do ponto de vista místico, quanto da terra que fornece o alimento e o quanto essas pessoas são exploradas por causa dela. Como se tivessem sido enterradas... corpos que se desmancham e deixam suas histórias para trás... para o esquecimento. Assim como todos, as mulheres são oprimidas e objetificadas, marcando o machismo de uma época que pode parecer distante, mas se mantém atual, machismo marcado e vivido pelas próprias personagens, não apenas como vítimas, mas também como opressoras, nos mostrando que a própria mulher é usada como multiplicador do patriarcado, exemplo é a figura de Clariana que mostra a submissão da mulher ao sistema, quando reproduz os mandos e desmandos de seu patrão e age de forma a prejudicar as outras mulheres que se relacionam com ele, como uma concorrência. Todas vivem relações abusivas em algum nível, até mesmo Dodema, que mesmo numa posição mais mítica, e atravessando a história de forma mais livre e mais próxima das tradições femininas antigas, serve ao patriarcado, quando negocia as menininhas para o patrão e depende desse negócio com Rubão para sobreviver.
Almas Peregrinas é um trabalho colaborativo de todos do grupo, em que cada um deixou uma marca indelével nas almas uns dos outros. Um trabalho que instiga a quem entra em contato, pela sua forma pouco usual de ser contada e pelas questões que levanta, não que sejam novidades (o que é uma pena ainda resvalarmos nos mesmos e recorrentes problemas), mas porque é sempre bom reforçarmos as lutas diárias de uma minoria/maioria oprimida.
A peça nos leva para as lonjuras do sertão e de tantas culturas dentro de uma só, que é a riqueza da linguagem brasileira. Em um ambiente de mistério e indignação com as injustiças desse mundo, que parece distante, mas na verdade, está bem ao lado, Almas Peregrinas nos traz reflexões tanto do mundo dos sonhos, quanto da dura realidade da história de cada um de nós. Simone Puertas - Educadora
“Almas Peregrinas” me ajudou a pensar no encarceramento da mulher. Um Cárcere Interno que a faz se submeter a prisões exteriores. Me fez querer trilhar em mim mesma, um caminho de libertação. A peça se passa quase que numa outra dimensão, espiritual ao meu ver, o que a torna intrigante e fúnebre. Aplaudi de Pé! Jéssica Paula - Eco Artesã
(...)A dramaturgia surpreende ao conciliar o clássico “Discurso da Servidão Voluntária”, de Étienne de La Boétie (...) e com músicas do cancioneiro popular. Mescla ainda elementos do catolicismo popular e referências do candomblé, tecendo um texto envolvente e fértil às muitas possibilidades criativas do elenco e direção. Foi um momento de instigantes provocações, por sua incontestável atualidade. Campo Lunar, cidade de ecos áridos, secos que a tudo e a todos torna pó, fruto do mando e desmando de um certo Rubão Barros, espelha o Brasil atual em que nossas instituições se esboroam e seus principais dirigentes chafurdam em denúncias de corrupção e conluios entre os poderes. Excelente trabalho! Cláudio Domingos Fernandes - Filósofo e Educador
Espaços Culturais - Circulação ProAc 2018
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Associação Cultural Opereta A partir da junção de dois grupos preocupados com a formação artística de seus integrantes, Grupo de Arte “Terra Nova” e Grupo de Teatro “Opereta”, atuantes na cidade de Poá e região desde a década de 80, foi concebida em 30 de julho de 1994 a Associação Cultural Opereta (ACO), instituição privada, sem fins lucrativos e de utilidade pública, cujo objetivo primordial é auxiliar na recuperação do ensino através da arte e cultura. A ACO desenvolve na cidade de Poá diversas atividades e eventos educacionais e culturais com o intuito de estimular a população em geral a interessar-se por tais assuntos que são instrumentos fundamentais para o desenvolvimento humano. Ao longo de quase vinte e quatro anos de existência, a entidade tem recebido o apoio de artistas, entidades simpatizantes, imprensa, comerciantes e colaboradores em geral e conseguiu colocar em prática diversos trabalhos e projetos que foram efetivamente desenvolvidos. A ACO é mantenedora do Espaço Cultural Opereta, que abriga grupos artísticos como o Núcleo Teatral Opereta, Cia Siso Teatral e a Cia. Teatro Roda Mundo e recebe atividades culturais durante todo o ano. Dentre elas, o processo de produção do espetáculo “Passos da Paixão”, o maior espetáculo ao ar livre do Alto Tietê, a bienal “Mostra de Artes Cênicas Opereta”, o festival de arte e cultura negra “Afroá” e o projeto anual de formação artística “Mãos à Obra”.
Núcleo Teatral Opereta /nucleoteatralopereta (11) 99318-8001 www.opereta.org
@operetaoficial ntopereta@gmail.com
nucleoteatralopereta.blogspot.com.br
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Produção Paraibuna
Apoio
Realização Ribeirão Preto