A Neuroarquitetura em tempos de pandemia: uma relação entre a casa e o indivíduo

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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PETRÓPOLIS CENTRO DE ENGENHARIA E COMPUTAÇÃO CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

Giulia Maduro Quintella Gama

A NEUROARQUITETURA EM TEMPOS DE PANDEMIA: UMA RELAÇÃO ENTRE A CASA E O INDIVÍDUO

Petrópolis 2020


Giulia Maduro Quintella Gama

A NEUROARQUITETURA EM TEMPOS DE PANDEMIA: UMA RELAÇÃO ENTRE A CASA E O INDIVÍDUO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curdo de Arquitetura e Urbanismo do Centro de Engenharia e Computação da Universidade Católica de Petrópolis (UCP), como requisito para obtenção do título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo.

Orientadora: Prof (a). Erika Pereira Machado Coorientadora: Prof (a). Layla Christine Alves Talin

Petrópolis 2020


Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.

CIP – Catalogação na Publicação

G184n

Gama, Giulia Maduro Quintella. A neuroarquitetura em tempos de pandemia: uma relação entre a casa e o indivíduo / Giulia Maduro Quintella Gama. – 2020. 73 f. : il. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade Católica de Petrópolis, 2020. Orientação: Profa. Erika Pereira Machado. Coorientação: Layla Christine Alves Talin. 1. Neuroarquitetura. 2. Isolamento social. 3. Ansiedade. 4. Depressão. I. Machado, Erika Pereira (Orient.). II. Talin, Layla Christine Alves (Coorient.). III. Título. CDD: 728

Universidade Católica de Petrópolis (UCP) Bibliotecária responsável: Marlena H. Pereira – CRB7: 5075


GIULIA MADURO QUINTELLA GAMA

“A neuroarquitetura em tempos de pandemia: uma relação entre a casa e o indivíduo”

Monografia Arquitetura Engenharia Católica de parcial para Arquitetura.

apresentada ao Curso de e Urbanismos do Centro de e Computação da Universidade Petrópolis (UCP), como requisito obtenção do título de Bacharel em

----------------------------------------------------------------------Prof.ª Erika Pereira Machado Orientadora e coordenadora

Nota: 9,7 Aprovada em: 02/12/2020

BANCA EXAMINADORA:

-----------------------------------------------------------------------------------------------Prof.ª Erika Pereira Machado, Ma. UCP ----------------------------------------------------------------------------------------------Prof.ª Layla Christine Alves Talin, Ma. UCP ---------------------------------------------------------------------------------------------Prof. Jaime Massaguer Hidalgo Junior, Me. UCP

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Assinaturas (3) Jaime Massaguer Hidalgo Junior (Participante) Assinou em 03/12/2020 às 21:05:52 (GMT -3:00)

Erika Pereira Machado (Participante) Assinou em 03/12/2020 às 23:00:43 (GMT -3:00)

Layla Christine Alves Talin (Participante) Assinou em 03/12/2020 às 21:04:58 (GMT -3:00)

Histórico completo Data e hora

Evento

03/12/2020 às 21:04:58 (GMT -3:00)

Layla Christine Alves Talin E-mail layla.talin@ucp.br, IP: 177.36.110.76 assinou.

03/12/2020 às 23:00:43 (GMT -3:00)

Erika Pereira Machado E-mail erika.pereira@ucp.br, IP: 168.205.101.37 assinou.

03/12/2020 às 20:50:18 (GMT -3:00)

Tatiane Correia solicitou as assinaturas.

03/12/2020 às 21:05:52 (GMT -3:00)

Jaime Massaguer Hidalgo Junior E-mail jaime.hidalgo@ucp.br, IP: 201.76.211.36 assinou.

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RESUMO A Neurociência aplicada à arquitetura - também chamada de neuroarquitetura – é o estudo e a utilização estratégica do impacto do ambiente no comportamento das pessoas. O acesso público e gratuito sobre o assunto no Brasil ainda é incipiente, deixando a pesquisa técnico científica com alguns questionamentos em aberto. O objetivo central do trabalho é abordar e analisar sobre o tema da neuroarquitetura relacionando-o a espaços residenciais e a pessoas que sofrem de ansiedade e depressão, casos que vem aumentando potencialmente pelas condições de vida em meio ao isolamento social devido à pandemia do COVID-19. Propõe-se reflexões sobre corporeidade diante do espaço residencial e a readaptação deste, tornando-o multiuso de maneira mais adequada – uma vez que passou a abrigar de forma mais intensa atividades de estudo, trabalho, lazer. A partir destas análises torna-se possível entender melhor as necessidades objetivas e subjetivas do ser humano e como a casa pode se tornar um lugar de proteção e bem-estar principalmente durante períodos críticos como o vivido.

Palavras chaves: neuroarquitetura; isolamento social; ansiedade; depressão.

ABSTRACT

Neuroscience applied to architecture - also called neuroarchitecture - is the study and strategic use of the impact of the environment on people's behavior. Public and free access on the subject in Brazil is still incipient, leaving technical scientific research with some open questions. The main objective of the work is to approach and analyze the theme of neuroarchitecture, relating it to residential spaces and people suffering from anxiety and depression, cases that have been potentially increasing due to living conditions in the midst of social isolation due to the COVID- pandemic. 19. It proposes reflections on corporeality in the face of the residential space and the readaptation of it, making it multiuse in a more appropriate way - since it started to house more intensely study, work and leisure activities. From these analyzes it becomes possible to better understand the objective and subjective needs of the human being and how the home can become a place of protection and well-being, especially during critical periods such as the one experienced.

Key words: neuroarchitecture; social isolation; anxiety; depression.


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Imagem 1: De onde a ansiedade vem ........................................................................................27 Imagem 2: Dados Ansiedade, estresse e depressão....................................................................28 Imagem 3: Representação da ansiedade na arquitetura .............................................................29 Imagem 4: Representação da depressão na arquitetura .............................................................30 Imagem 5: Projeto do Walnut Street Café..................................................................................36 Imagem 6: Detalhe de projeto do Walnut Street Café................................................................36 Imagem 7: Magic Kingdom – Disney World.............................................................................38 Imagem 8: Magic Kingdom – Disney World.............................................................................38 Imagem 9: Pesquisa pela palavra paraíso no Google .................................................................39 Imagem 10: Pesquisa pela palavra paraíso no Google ...............................................................39 Imagem 11: Campo de Lavanda................................................................................................40 Imagem 12: Vista de arvoredo pela janela.................................................................................41 Imagem 13: Pulseira Sensitiva Google......................................................................................43 Imagem 14: Primeira sala do Google A Space for Being............................................................44 Imagem 15: Segunda sala do Google A Space for Being ...........................................................44 Imagem 16: Detalhe da segunda sala do Google A Space for Being..........................................45 Imagem 17: Terceira sala do Google A Space for Being ...........................................................45 Imagem 18: Detalhe da terceira sala do Google A Space for Being...........................................46 Imagem 19: Recolhimento das informações captadas pelas pulseiras.......................................46 Imagem 20: Resultado da experiência de visita à exposição do Google A Space for Being.........................................................................................................................................47 Imagem 21: Touca de eletrodos para análise das respostas corporais em um ambiente..............49 Imagem 22: Representação da realidade virtual em arquitetura.................................................50 Imagem 23: Biofilia na arquitetura............................................................................................52 Imagem 24: Nuvem de palavras sobre o sentimento em relação à casa......................................56 Imagem 25: Nuvem de palavras sobre as emoções sentidas no isolamento................................56 Imagem 26: Separação do ambiente através das cores...............................................................60 Imagem 27: Separação do ambiente através de cortinas............................................................60 Imagem 28: Iluminação direta home office...............................................................................61 Imagem 29: Iluminação difusa quarto.......................................................................................61 Imagem 30: Óleo essencial de lavanda......................................................................................61 Imagem 31: Difusor de ambientes.............................................................................................61


Imagem 32: Plantas naturais dentro de casa...............................................................................62 Imagem 33: Espada de São Jorge...............................................................................................62 Imagem 34: Decoração com plantas artificiais..........................................................................62 Imagem 35: Papel de parede folhagens......................................................................................62 Imagem 36: Fonte de água.........................................................................................................63 Imagem 37: Sino dos ventos......................................................................................................63


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AIA – The Academy Institute of Architects ANFA – The Academy of Neuroscience for Architecture COVID-19 – Coronavírus - 2019 IBNArq – Instituto Brasileiro de Neurociência para Arquitetura LEED – Leadership in Energy and Enviromental Design OMS – Organização Mundial da Saúde EE - Environmental enrichment


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................... 11 2 PROBLEMAS ...................................................................................................................... 12 3 JUSTIFICATIVA ................................................................................................................ 13 4 OBJETIVOS ........................................................................................................................ 15 4.1 OBJETIVO GERAL ....................................................................................................... 15 4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ......................................................................................... 15 5 A RELAÇÃO DO INDIVÍDUO COM O ESPAÇO ......................................................... 16 6 CONCEITUAÇÃO DOS MODOS DE PERCEPÇÃO E ANÁLISE DO ESPAÇO ...... 17 6.1 A PSICOLOGIA AMBIENTAL .................................................................................... 17 6.2 A NEUROARQUITETURA .......................................................................................... 18 6.3 PERCEPÇÃO AMBIENTAL ........................................................................................ 19 6.4 GEOGRAFIA DAS EMOÇÕES .................................................................................... 19 7 O RECONHECIMENTO DA NEUROARQUITETURA ............................................... 21 7.1PELA ÁREA DA ARQUITETURA ............................................................................... 21 7.2 PELA ÁREA DA NEUROCIÊNCIA ............................................................................. 22 7.3 AS ASSOCIAÇÕES DE NEUROARQUITETURA PELO MUNDO .......................... 22 7.3.1 The Academy of Neuroscience for Architecture (ANFA) ................................................ 22 7.3.2 Neuroarq Academy (Academia Brasileira de Neurociência e Arquitetura) ..................... 23 7.3.3 Instituto Brasileiro de Neurociência para Arquitetura (IBNArq) .................................... 24

7.4 OS EVENTOS RELACIONADOS ................................................................................ 24 8 TRANSTORNOS MENTAIS ............................................................................................. 26 8.1 O TRANSTORNO DE ANSIEDADE ........................................................................... 26 8.2 A DEPRESSÃO.............................................................................................................. 29 8.3 A CERTIFICAÇÃO WELL E OS TRANSTORNOS MENTAIS ................................. 31


9 ESTUDOS DE CASO SOBRE OS IMPACTOS DOS ESPAÇOS CONSTRUIDOS NAS PESSOAS.................................................................................................................................33 9.1 O REFLEXO DA ARQUITETURA NA SAÚDE MENTAL ....................................... 33 9.2 A PSICOLOGIA APLICADA A PROJETOS DE ESPAÇOS ACOLHEDORES ........ 35 9.3 OS ESPAÇOS DE CURA .............................................................................................. 37 9.4 UM ESPAÇO PARA O SER .......................................................................................... 42 9.5 CONSTRUINDO PARA A EMOÇÃO .......................................................................... 47 10 AS APLICAÇÕES PROJETUAIS DA NEUROARQUITETURA .............................. 50 11 A RELAÇÃO DA NEUROAQUITETURA COM A EXPERIÊNCIA DO ISOLAMENTO SOCIAL DURANTE A PANDEMIA DO COVID-19 ............................ 54 12 CONCLUSÃO .................................................................................................................... 59 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 65


11 1 INTRODUÇÃO

A neuroarquitetura propõe estudos sobre como os ambientes construídos podem impactar o cérebro humano, e como este reage a diferentes estímulos de maneira negativa ou positiva. Os estudos neste campo se iniciaram no início dos anos 2000, dada necessidade de pesquisar sobre os espaços, com a finalidade de melhorar a qualidade de vida de quem ali habita. Diante da crise pandêmica do COVID-19, no ano de 2020, compreende-se a importância de avaliar as condições de habitabilidade residencial no ser humano, e como as modificações espaciais impostas pela situação atual impactaram na vida das pessoas, individual e coletivamente. Ademais, devido ao isolamento social, “os casos de depressão aumentaram 90% e o número de pessoas com sintomas de ansiedade e estresse mais que dobrou”. (FIOCRUZ, 2020) Este trabalho tem como objetivo relacionar os transtornos de ansiedade e depressão com estudos propostos pela neurociência aplicada à arquitetura e conceituações afins. Visa buscar a compreensão de como o espaço residencial construído influencia o ser humano, tanto como potencializador de transtornos psicológicos, como também suporte destes. Este presente trabalho teórico aborda: o surgimento da neuroarquitetura, sua área de abrangência, institutos e academias que realizam pesquisas sobre o assunto; conceituações relacionadas à neurociência aplicada à arquitetura; os transtornos de ansiedade e depressão, e observar; estudos de caso relativos à neuroarquitetura, relacionando com pequenas intervenções no espaço residencial, além da crítica a respeito da incipiência de conteúdo ofertada sobre a neuroarquitetura no Brasil.


12 2 PROBLEMAS “A falta de humanismo da arquitetura e das cidades contemporâneas podem ser entendidas como consequência da negligência com o corpo e os sentidos e um desequilíbrio de nosso sistema sensorial.” (PALASMAA, 2011, p.17). Priorizando apenas a estética e a funcionalidade da arquitetura, as experiencias proporcionadas pelos espaços estão sendo desvinculadas aos impactos que as construções podem provocar na saúde. De acordo com a Joie Arquitetura de Savoring (2017), a experiência humana está intimamente ligada à experiência espacial, e, portanto, os espaços devem ser projetados para proporcionar emoções positivas. Há diversos projetos arquitetônicos que são desprovidos da importância da arquitetura na saúde, tanto em sua prevenção como consequências devido às construções inadequadas. Em meio a pandemia do COVID-19, vivenciada no ano de 2020, tornou-se necessário o isolamento social. Com a população mundial fechada em suas casas, a residência necessitou de mudanças para adaptação desse momento, no qual o mesmo ambiente utilizado para lazer e descanso passou a servir também de local para o trabalho e para o estudo. Além das mudanças tornou-se perceptivo o crescimento dos transtornos de ansiedade e depressão durante este período, expondo ainda mais a necessidade de modificação nos espaços em prol da saúde mental. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (2019), a população brasileira é a mais ansiosa do mundo, com cerca de 18,6 milhões de brasileiros – 9,3% da população. Se ao projetar e executar da forma incorreta, a arquitetura pode interferir na saúde humana, como associar os conceitos da neurociência aplicada à arquitetura para qualificar a experiência das pessoas e minimizar os impactos dos transtornos de ansiedade e depressão?


13 3 JUSTIFICATIVA

De acordo com o Instituto Brasileiro de Neurociência para arquitetura com os estudos a associados à Neuroarquitetura, “permitiu-nos conhecer como as estruturas cerebrais são ativadas e consequentemente como as emoções e sentimentos decorrentes dela são fundidos com os significados da mesma metáfora” (IBNARQ, 2020). É possível notar uma ausência de conteúdo público e gratuito nos estudos a respeito da neurociência aplicada a arquitetura e sua relação direta com a saúde mental dos usuários do espaço. Com base nos dados publicados pela Organização Mundial da Saúde - OMS (2019), a população brasileira é a mais ansiosa do mundo, englobando sintomas como fobia, transtorno obsessivo-compulsivo, estresse pós traumático e ataques de pânico. Os elementos arquitetônicos, as conformações espaciais e suas relações neurológicas e sensoriais com o usuário ansioso e deprimido precisa ser analisado com maior aprofundamento. Deste modo os arquitetos conseguirão identificar, juntamente com os neurocientistas e psicólogos, como os ambientes podem interferir e agravar os transtornos de ansiedade e depressão. Segundo palavras do arquiteto finlandês Juhani Palasmaa,

Se desejamos que a arquitetura tenha um papel emancipador ou curador, em vez de apenas reforçar a erosão do significado existencial, devemos refletir sobre a diversidade de meios secretos pelos quais a arte da arquitetura está vinculada à realidade cultural e mental de nossa época (PALASMAA, 2011, p.33).

Espaços dominantemente funcionais, surgidos com o movimento massivo da industrialização da arquitetura, são desprovidos da característica de lugar individual, ou seja, que foi projetado para atender as necessidades específicas de determinada pessoa, e estão se tornando hostis e insensíveis. Contrastantemente, existem projetos impactantes que afastam o indivíduo de um espaço para a sua escala, visando apenas um monumentalismo urbano, sem qualquer relação topofílica. De acordo com Nikos Salingaros “as fachadas de edifícios tradicionais são atraentes, as contemporâneas, não”. Sua critica a arquitetura moderna é uma opinião envolta de estudos científicos das áreas da física, matemática e psicologia. Durante seus estudos ele percebeu que as fachadas de edifícios tradicionais atraem a atenção permanecendo a visualização dentro do contorno do edifício. As fachadas contemporâneas por sua vez repelem o olhar, cujo a visualização permanece em sua maioria por fora do contorno do edifício (ARCHDAILY, 2020).


14 “Com a perda da tatilidade, das medidas e dos detalhes elaborados para o corpo humano – e particularmente para as mãos – as edificações se tornaram repulsivamente planas, agressivas, imateriais e irreais” (PALASMAA, 2011, p.30). Da mesma maneira como um ambiente pode ter um impacto positivo, este também pode proporcionar um sentimento negativo, variando de pessoa para pessoa. Torna-se necessário o entendimento das sensações provocadas e qual sua relação os transtornos mentais, de modo a desenvolver projetos que sejam mais eficientes à saúde.


15 4 OBJETIVOS

4.1 OBJETIVO GERAL

O objetivo geral é compreender a abordagem da multissensorialidade na neurociência aplicada à arquitetura relacionando com os processos de projeto arquitetônico a fim de adequar espaços a pessoas com transtorno de ansiedade e depressão.

4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 

Buscar literatura sobre o conceito de neuroarquitetura;

Abordar os 5 sentidos e seus estímulos através da neurologia e da arquitetura;

Entender como o projeto de arquitetura pode influenciar na saúde mental do indivíduo;

Estudar e aprender sobre os transtornos de ansiedade e depressão e seus impactos na

vida humana; 

Compreender como espaços projetados utilizando dos estudos da neuroarquitetura

ajudam na assistência ao tratamento e prevenção do transtorno de ansiedade; 

Buscar por pesquisas que comprovem o efeito da neuroarquitetura nos espaços;

Relacionar o momento da pandemia mundial da COVID-19 e do isolamento social

dentro das residências e sua influência na saúde mental com as aplicações projetuais da neuroarquitetura.


16 5

A RELAÇÃO DO INDIVÍDUO COM O ESPAÇO

O conceito de espaço carrega em si definições e interpretações múltiplas em suas diversas aplicações. Espaço pode ser entendido como o intervalo entre duas superfícies, ou mesmo o todo ocupado por tais superfícies, ou também um intervalo temporal entre eventos (SOUZA, 2017). David Harvey (2015), em seu artigo “O espaço como palavra-chave”, analisa criteriosamente a palavra espaço e a divide em três formas de entendimento. A primeira é definida como o espaço absoluto, que o representa como algo em si, sendo ele o espaço das medidas, da geometria e dos cálculos. A segunda definição é o espaço relativo, no qual apresenta variantes que vão além do espaço físico, como por exemplo o tempo e as ações que atuam sobre ele. E por último o espaço relacional, que compreende fatores individuais em sua configuração, ou seja, é o espaço que é percebido e vivenciado de forma distinta em cada indivíduo (HARVEY, 2015). Dentre as explicações sobre o espaço citadas por Harvey, não se esgotam as possibilidades de definições, e nem a indicação de qual o uso correto da palavra. Sua utilização possui variantes conforme a decisão das conceituações apresentadas e o resultado que se deseja obter. “Se um lugar pode ser definido como identitário, relacional e histórico, um espaço que não pode se definir nem como identitário, nem como relacional, nem como histórico definirá em um não-lugar” (AUGÉ, 1994 apud SOUZA, 2017, p.10). Qualquer que seja a definição escolhida, o espaço é onde a vida se assenta e ganha corpo. Sendo o espaço base para tais ações, pode-se considerar que de fato este interfere na vida e na forma como é vivida. O Sentido do espaço está no ser, no corpo do ser, e na forma como ele enxerga o espaço. O espaço não se dá em uma pura autonomia, para que ele ganhe sentido é necessário a percepção das pessoas, para que o seu estado bruto seja diluído em diversas possibilidades. Essas possibilidades variam de acordo com a forma que cada ser vivencia o espaço, o que consequentemente irá variar nas formas de representação: o pintor, o arquiteto, o fotógrafo, o estranho, o nativo, cada um possui uma imagem representativa do espaço, e a somatória dessas representações não configurará um significado concreto para o espaço, apenas evidenciará inúmeros pontos de vista, possibilitando diferentes sentidos (SOUZA, 2017, p.10).

A relação do indivíduo com o espaço, portanto, pode ser estabelecida através de diversas metodologias e definições e conceituações representativas de acordo com o que se quer mostrar. O homem sempre irá modificar seu espaço de convívio para que este o faça bem, assim como o espaço modificado transformará os sentimentos do homem que o modificou.


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CONCEITUAÇÃO DOS MODOS DE PERCEPÇÃO E ANÁLISE DO ESPAÇO

A percepção espacial é o primeiro contato do homem com o mundo. O ser humano sente o mundo através do seu aparato psicobiológico, antes mesmo de ter qualquer elaboração intelectual (SOUZA, 2017). A percepção de um ambiente está diretamente ligada com a forma que aquele ambiente conversa com o ser. Pesquisas evidenciam uma relação entre os estudos da neuroarquitetura, da psicologia ambiental, da percepção ambiental e da geografia das emoções. Estas convergem em muitas definições, como a forma em que o espaço afeta o ser humano e divergindo em definições conceituais específicas de cada estudo.

6.1 A PSICOLOGIA AMBIENTAL

A psicologia ambiental teve seu início após a II Guerra Mundial, com o processo de reconstrução das cidades. Inicialmente, no fim dos anos 50, possuindo o nome de “Psicologia da Arquitetura” (Architectural Psychology). Seu surgimento se deu a partir da necessidade de os arquitetos compreenderem o essencial em termos ocupacionais na reconstrução das cidades pós guerra (MELO, 1991). Segundo Craik (1973), apud Melo (1991), é interessante notar que, enquanto os planejadores e arquitetos se interessavam pelo estudo homem-meio ambiente, visando a uma análise sistemática e direta do comportamento humano em resposta ao ambiente construído e criado por ele, os psicólogos, por outro lado, buscam um entendimento do contexto ambiental, na qual o comportamento humano ocorre. Em meados dos anos 70 a psicologia ambiental começou a ser oferecida como disciplina em algumas universidades. Seu surgimento foi em 1967 com a fundação do programa de doutorado na área na City University of New York, e hoje já faz parte de diversas instituições pelo mundo (MELO, 1991). Melo (1991), ressalta que a psicologia ambiental possui um caráter multidisciplinar, recebendo contribuição de disciplinas como a psicologia, sociologia, antropologia, arquitetura, entre outras. Seu estudo é classificado como uma interrelação entre o ambiente físico e o comportamento humano, ou seja, “de forma cíclica, [...] o homem modifica o meio, esse modifica o homem e o homem volta a modificá-lo” (MILANEZE, 2013, p.59) A modificação do espaço feita pelo homem pode ser dita simplesmente por um colocar cama em uma sala, transformando-a em um quarto, ou outra mudança qualquer de acordo com


18 a necessidade do indivíduo. “A simples presença de um indivíduo num quarto que antes estava vazio já modifica o ambiente” (MELO, 1991, p 87). A psicologia ambiental pode ser resumida, portanto, como o estudo interrelacionado entre o comportamento e o ambiente físico, tanto construído como natural (FISCHER; BELL E BAUM, 1984), assim como a neuroarquitetura. Estudando fatores do ambiente como o clima, a superlotação, a falta de privacidade, o excesso de informação e a cor da parede que podem gerar estresse ambiental e afetar a saúde física e mental do indivíduo. Estes por sua vez geram sintomas como fadiga, irritabilidade, ansiedade, depressão e entre outros.

6.2 A NEUROARQUITETURA

Emergente nos Estados Unidos da América, em meados dos anos 2000, a neurociência aplicada à arquitetura, também chamada de neuroarquitetura, está em pleno desenvolvimento. No Brasil já existem muitos arquitetos que vêm se especializando no assunto diante da necessidade de projetar para o bem-estar. (MILANEZE, 2013). A partir desta, o país já possui alguns institutos e associações que oferecem estudos e pesquisas sobre o tema. Porém, infelizmente muito desses estudos são aplicados através de cursos pagos, comercializando uma área de conhecimento que toda a sociedade deveria ter acesso. A neuroarquitetura é reconhecida como o estudo e a utilização estratégica do impacto do ambiente no comportamento das pessoas. A arquitetura estudada sob análise da influência do ambiente na saúde mental dos indivíduos revela que o espaço físico afeta diretamente o comportamento dos usuários, analisando o bem-estar deles (MILANEZE, 2013). A disciplina de neurociência refere-se ao estudo do cérebro, enquanto a arquitetura está relacionada ao espaço construído, ambientes e outros. Quando combinadas trazem explicações biológicas e racionais de como o impacto do espaço físico ocorre no cérebro e comportamento humano (MILANEZE, 2013). Sugerindo, portanto, uma necessidade humana de conexão com a natureza, não sendo um simples gosto ou preferência estética, mas sim uma exigência do corpo equivalente a necessidade em meio ao ar, água e alimento. O arquiteto voltado para a aplicação da neurociência deve buscar soluções para os problemas por meio de intervenções no espaço físico, podendo atuar de maneira sutil no inconsciente das pessoas, por intermédio de soluções visíveis e invisíveis. É imprescindível que se entenda a necessidades ambientais dos usuários e seus comportamentos assim como a percepção ambiental entendida pelo indivíduo, tornando claro quais valores serão prioritários na concepção projetual (GOULART; ESPINDULA & PAPA, 2019).


19

6.3 PERCEPÇÃO AMBIENTAL

A Percepção Ambiental deve ser entendida enquanto um processo participativo, envolvendo uma série de fatores sensoriais, subjetivos e valores sociais, culturais e atitudes ambientais das comunidades residentes nas cidades em relação ao espaço natural e transformado (MELAZO, 2005, resumo)

No que se refere à questão ambiental, a sensação é uma reação física do corpo frente a uma ação de estímulos ambientais (luz, calor, frio, som, além de outros) ativando áreas específicas do córtex cerebral. (SOUZA, 2015). Através da captação da energia das células nervosas sensoriais, é possível identificar seis sensações principais do corpo humano: visão, audição, olfato, paladar, tato e o sentido espacial, cujo este é relacionado com o equilíbrio (SOUZA, 2015). De acordo com Kuhnen (2011) apud Souza (2015), são estudadas três dimensões que são fundamentais para o entendimento da psicologia ambiental. São estas: a cognição, no qual o ambiente é reconhecido; o afeto, onde há sentimento de apropriação do espaço; as preferências, que estão relacionadas ao ambiente. Ao atribuir qualidades ao ambiente, as características físicas se sobrepõem às simbólicas, fazendo com que as operações fisiológicas, as condições ambientais e a estrutura configurativa do espaço sejam captadas e organizadas pela percepção (SOUZA, 2015). Os estudos da Percepção Ambiental, portanto, lidam diretamente com o homem, sua cultura, suas manifestações e suas raízes (CUNHA; LEITE, 2009), destacando como principal objetivo a sua relação com o meio ambiente e como este tem percepção, ou até mesmo emoção, como estudado na geografia das emoções, o quanto se é conhecido e o que é esperado do meio vivido.

6.4 GEOGRAFIA DAS EMOÇÕES

Por outro lado, a geografia das emoções trouxe novas formas de análise do espaço, não apenas como é, nem só suas formas, mas sim as emoções que ali estão marcadas. De acordo com Silva (2016), a geografia das emoções tem como base a discussão das emoções através de uma perspectiva espacial e, recentemente vem ganhando espaço em conceituações geográficas. Este conceito defende que as emoções são fenômenos espaciais. “Na visão da geografia das emoções podemos pensar o objeto enquanto espaço/lugar, em que a pessoa, ao estar diante de determinados lugares, estes lhe despertam diferentes emoções” (SILVA, 2016, p.101).


20 Buscando articular sua perspectiva voltada para questões sociais e culturais, a geografia das emoções analisa a relação do indivíduo com o espaço a partir dos sentimentos emotivos. “A geografia emocional é uma geografia humanística inspirada [...] em diferentes doutrinas filosóficas, em especial a fenomenologia, o existencialismo, o espiritualismo e o pósmodernismo” (ANDREOTII, 2013, citado por SILVA, 2016, p.107)

Comumente se preocupa com as emoções que as pessoas sentem uma pelas outras e, mais amplamente, por lugares, por paisagens, por objetos nas paisagens e em situações específicas. [...] Então, comumente, o espaço entre as pessoas é uma experiência direta e baseada na transmissão/recepção de sentimentos implícitos ou explícitos (seja de pessoas ou de objetos, como paisagens [..] (PILE, 2010, citado por SILVA, 2016, P.106)

Diante do aprofundamento da conceituação dos modos de percepção e análise do espaço é notável que os nichos apresentados possuem uma relação direta entre o comportamento humano e o ambiente. Cada conceito possui uma forma distinta de análise desta relação, como por exemplo, a psicologia ambiental e a neuroarquitetura interpretam igualmente a interrelação entre o ambiente e o espaço por meio de estudos científicos como a psicologia e a neurociência, respectivamente. Por outro lado, a percepção ambiental analisa a relação que o corpo tem frente aos estímulos que o ambiente apresenta, relacionando-se diretamente com os cinco sentidos (visão, audição, olfato, paladar e tato). A geografia das emoções, por sua vez, analisa as emoções dos indivíduos frente à uma percepção espacial mais ampliada, remetendo a sentimentos de memórias positivas, negativas ou saudosas. Torna-se importante a o estudo aprofundado da neuroarquietura, e o entendimento das demais conceituações e a fim de entender a relação do espaço com os indivíduos e como que este interfere nas sensações e auxiliam ou atrapalham pessoas portadoras de transtornos de ansiedade e ou depressão. É necessário também entender se os estudos da neuroarquitetura se apropriaram dos conceitos já existentes da percepção ambiental, gerando a comercialização de um novo produto, com o intuito de lucrar para se passar adiante o conhecimento.


21 7 O RECONHECIMENTO DA NEUROARQUITETURA

Indivíduos tendem a evitar a ida em determinado lugar por não se sentirem bem e confortáveis nele, assim como é agradável frequentar sempre um mesmo lugar ou lugares por sentir boas sensações. Isso ocorre devido ao ambiente físico construído influenciar diretamente no comportamento do indivíduo e ser responsável por impactos positivos e negativos na motivação, bem estar e saúde dos usuários (BENCKE, 2020).

7.1 PELA ÁREA DA ARQUITETURA

Após a compreensão do termo neurociência aplicada a arquitetura, e qual a sua representatividade como ferramenta de projeto, como por exemplo a biofilia, luz natural, cores, aromas, formas, texturas e principalmente a sua influência da qualidade de vida dos usuários, percebe-se o crescimento na área dentro dos estudos pelo tema (BENCKE, 2020). As ferramentas projetuais apresentadas se encontra de forma interdisciplinar com as já aplicadas na percepção ambiental, porém a neuroarquitetura as aplica e comercializa como técnicas de projeto inéditas. Já é possível encontrar no país diversos cursos que auxiliam no estudo e aprendizado e cada vez mais os arquitetos estão aderindo à ideia do projetar pensando para o bem-estar, e aplicando os conceitos propostos pela neuroaquitetura (BENCKE, 2020).Encontram-se também algumas academias brasileiras e estrangeiras que estão ajudando a disseminar essa nova área de estudo, porém em sua maioria são cursos com um alto custo de investimento, no qual grande parte dos estudantes não têm acesso. A arquiteta pioneira no assunto no Brasil, Priscilla Bencke, criou um programa de especialização em neuroarquitetura, ensinando os principais métodos para ser aplicado em qualquer tipo de ambiente. Este programa possui oito módulos cujo em cada um deles é gerado um certificado de conclusão para os alunos (BENCKE, 2020). O assunto de neuroarquitetura nas universidades ainda se encontra incipiente, porém devido ao crescimento na área pela urgente demanda contemporânea, em pouco tempo se apresentará como tema de disciplinas curriculares obrigatórias. A abordagem deste tema desde o início da graduação ajudará a formar arquitetos mais humanos e reflexivos na relação da influência do espaço no indivíduo (BENCKE, 2020). Além da análise arquitetônica é inegável entender como este tema é tratado pela área da neurociência e como seu reconhecimento vem sendo desenvolvido.


22 7.2 PELA ÁREA DA NEUROCIÊNCIA

Através da área da neurociência, tem-se como referência o Salk Institute. Seus cientistas exploram fundamentos da vida, em busca de novos conhecimentos em neurociência, genética, imunologia, e outras áreas. Dentre seus cientistas, destaca-se Thomas Albright, diretor do Laboratório do Centro de visão e do Centro de Neurobiologia da Visão do Salk Institute (SALK INSTITUTE, 2020). Thomas Albright também é um dos líderes da Academia de Neurociências para a Arquitetura (ANFA, 2020), atuou como presidente em 2013-2014. Bons arquitetos têm muitas intuições, e é por isso que a boa arquitetura funciona” aponta Albright ao explicar a relação entre a neurociência e a arquitetura. Ele complementa: “Nossa esperança é que possamos identificar princípios que sustentam essas instituições mais profundamente enraizadas no conhecimento sobre como o cérebro funciona. Gostaríamos de poder identificar, por exemplo, quais elementos específicos dariam a você um espaço melhor. (SALK INSTITUTE, 2020).

Entende-se portando que a neurarquitetura vem se desenvolvendo em conjunto entre arquitetos e neurocientistas de forma similar. Seu estudo se encontra em desenvolvimento, e ambas as áreas estão evoluindo igualmente a fim de proporcionar mais clareza para o assunto com a ajuda principalmente de associações e eventos que ocorrem no mundo todo.

7.3 AS ASSOCIAÇÕES DE NEUROARQUITETURA PELO MUNDO

Com o crescimento da área tornou-se necessário a fundação de associações e instituto com o intuito de disseminar o conhecimento e abranger os estudos dentro da neurociência aplicada a arquitetura, porém alguns destes estudos estão sendo vendidos, a fim de gerar lucros.

7.3.1 The Academy of Neuroscience for Architecture (ANFA)

A Academy of Neuroscience for Architecture foi criada em San Diego, em 2003, pelo The American Institute of Architects (AIA). O anúncio foi realizado pelo Dr. Fred Gage, neurocientista sênior do Salk Institute e ex-presidente da Sociedade de Neurociência americana, com um discurso sobre arquitetura e neurociência, e se tornou o segundo Presidente da ANFA (ANFA, 2020).


23 O College of Fellow da AIA anunciou em sua convenção o prêmio Fellowship à Academia. Esse prêmio forneceu 100.000 dólares em apoio às pesquisas e desenvolvimentos na área (ANFA, 2020). A Academia apresenta como missão promover e aprimorar o conhecimento que vincula a pesquisa em neurociência a uma crescente compreensão das respostas humanas ao ambiente construído. Se beneficiando do crescente corpo de pesquisa que evoluiu na comunidade de neurociências nas últimas duas décadas e da promessa de ainda mais no próximo século (ANFA, 2020). Alguns observadores caracterizam o que está acontecendo na neurociência como a fronteira mais emocionante do conhecimento humano desde o Renascimento. Toda a humanidade deve se beneficiar dessa pesquisa de inúmeras maneiras ainda a serem determinadas. A profissão da arquitetura tornou-se parceira no desenvolvimento da aplicação dessa base de conhecimento, a fim de aumentar sua capacidade de servir a sociedade (ANFA, 2020). De acordo com Thomas Albright, diretor do Laboratório do Centro de visão e do Centro de Neurobiologia da Visão do Salk Institute e ex-presidente da ANFA, cita que a Academia de Neurociência para Arquitetura pretende, através de uma arquitetura baseada em evidências, criar uma certificação que garanta que um edifício siga os princípios de design baseados no cérebro. Da mesma maneira que os edifícios que possuem a certificação LEED estão em conformidade com as melhores práticas ambientais (SALK INSTITUTE, 2020). No site da ANFA é possível encontrar pesquisas e estudos apresentados durante as conferências anuais anteriores, assim como indicações de Universidades que promovem cursos de mestrado e ou pós graduação. Além disso encontra-se uma extensa bibliografia para leituras.

7.3.2 Neuroarq Academy (Academia Brasileira de Neurociência e Arquitetura)

A Academia Brasileira de Neurociência e Arquitetura foi fundada em 2019 pelas arquitetas Gabriela Sartori e Priscilla Bencke certificadas em Neuroscience and Architecture, Design and Urbanism (Newschool, EUA). Esta parceria se iniciou através de viagens e cursos de aperfeiçoamento na área, além do interesse em comum pelo tema (NEUROARQ ACADEMY, 2019). Nós somos seres sensoriais. Temos receptores em nosso corpo que interpretam as informações do meio externo e enviam para o cérebro. Consequentemente, a maneira como um ambiente é projetado vai gerar uma emoção em cada pessoa, estimulando um determinado comportamento. E, claro, isso depende das experiências de vida e das


24 necessidades de cada um, explica Priscilla Bencke, arquiteta brasileira que estuda a aplicação da neurociência na arquitetura (NEUROARQ ACADEMY, 2019).

O objetivo da Academia é a capacitação de profissionais, a disseminação do conhecimento, o desenvolvimento de estudos, a integração em múltiplas áreas em uma visão sistêmica de espaço, o comportamento e bem estar (NEUROARQ ACADEMY, 2019). A Neuroarq Academy apresenta poucos conteúdos de pesquisa gratuitos, e oferece a compra do seu curso de especialização para o entendimento do método projetual da neuroarquitetura.

7.3.3 Instituto Brasileiro de Neurociência para Arquitetura (IBNArq)

O IBNArq cita que a neuroarquitetura é um tema muito recente no Brasil e no mundo, estando presente por apenas aproximadamente 20 anos, com a criação da ANFA em 2003. O instituto possui 3 fundadoras, sendo elas a arquiteta Ana Paula Guedes, a fisioterapeuta e design de interiores Cristina Atheniense e a também arquiteta Renata Ferreira (IBNARQ,2019). Fundada em 2019, a instituição oferece diversos cursos, palestras e workshops a fim de disseminar este novo método de projetar, e abranger cada vez mais a arquitetura neurológica na construção (IBNARQ,2019). A IBNArq também dissemina este novo método de estudo através de cursos pagos.

7.4 OS EVENTOS RELACIONADOS

Além das associações e institutos que foram fundados a partir da evolução dos estudos da neuroarquitetura também foram criados diversos eventos com o intuito de reunir profissionais e estudantes que possuem foco na área. A Conference ANFA (Academia de Neurociência para Arquitetura), iniciado em 2012, e realizada a cada dois anos, organiza conferências mundiais para juntar os profissionais da área da arquitetura e da neurociência (ANFA, 2020). Estes apresentam novos métodos de estudo e pesquisas, além de suas evoluções. De acordo com seu site última conferência ocorreu nos dias 14 a 25 de setembro de 2020, através de plataforma virtual (ANFA, 2020). Outro evento é o Neuroarq Day é conhecido como Conferência Internacional de Neurociência e Arquitetura. A primeira conferência ocorreu no dia 12 de agosto de 2019, em São Paulo. A segunda conferência ocorreu neste ano de 2020, no dia 14 de março de 2020, e a terceira conferência está marcada para o dia 1 de maio de 2021, porém devido à pandemia


25 mundial do COVID-19, ainda se tem incertezas sobre o evento ser ou não presencial (NEUROARQ ACADEMY, 2019). O evento iria contar com uma imersão de 12 horas de experiências sensoriais e dinâmicas práticas. Além de palestras de níveis nacional e internacional. Talks com autoridades em neurociência e psicologia, ambientes, inovação e tecnologia também fariam parte da conferência. No fim os participantes receberiam um certificado de presença do evento ademais o aprofundamento na neurociência aplicada a arquitetura (NEUROARQ ACADEMY, 2019). Além destes eventos em destaque, é possível encontrar também diversos cursos de especialização no exterior, como por exemplo o Neuroscience and Architecture Design and Urbanism em Newschool, EUA. Dentre outros eventos como palestras e workshops patrocinados e realizados por institutos e academias de neuroarquitetura (NEW SCHOOL OF ARCHITECTURE & DESIGN, 2020). Estes eventos ajudam a disseminar e aprofundar os estudos na área da neurociência aplicada a arquitetura, a fim de melhorar projetos de arquitetura em prol da saúde do indivíduo. Para a participação nestes eventos é necessário um investir financeiramente, fato este que mais uma vez invalida a democratização do acesso ao conhecimento para todos.


26 8 TRANSTORNOS MENTAIS

O campo da saúde está trazendo a concepção de que esta não é apenas ofertada em hospitais, tratamentos, remédios e exames, mas sim está diretamente relacionada à qualidade de vida do indivíduo. Já na área da psicologia e psiquiatria, foi apontada a importância da extinção do modelo manicomial: macro hospitais psiquiátricos, insalubres e violentos, cujos pacientes eram abandonados nestes locais. Atualmente estes locais começaram a ser substituídos por uma rede aberta de serviços, chamada de Centros de Atenção Psicossocial CAPS (FIOCRUZ, 2011). Definido pelo Caderno de Monitoramento Epidemiológico e Ambiental (FIOCRUZ, 2011), redigido pela Fundação Oswaldo Cruz, a palavra transtorno pode ser definida como anormalidade, significando que parte do seu corpo, no caso, da sua mente, não funciona corretamente. Sendo assim, os transtornos mentais afetam diretamente o pensamento, os sentimentos, as percepções, as sensações e o modo como o indivíduo se relaciona com o outro e com o mundo. O transtorno pode surgir devido a vários fatores, dentre estes se encaixam a hereditariedade, problemas familiares (violência doméstica ou a falta de afeto), experiências traumáticas (abuso sexual na infância, situações de desastres ou tragédias coletivas), e uso de substâncias que agridem o cérebro, como álcool e drogas. A manifestação do transtorno pode ocorrer em qualquer pessoa, de qualquer idade, classe social, etnia, ademais. (FIOCRUZ, 2011).

8.1 O TRANSTORNO DE ANSIEDADE

O transtorno de ansiedade é uma doença relacionada ao funcionamento do corpo e às experiências de vida. A ansiedade é um sentimento vago e desagradável de medo e apreensão, caracterizado por tensão ou desconforto derivado da antecipação de perigo. Os transtornos ansiosos são quadros clínicos em que estes sintomas são primários, ou seja, não são derivados de outras condições psiquiátricas como depressões, psicoses, transtornos do desenvolvimento, e assim por diante (CASTILLO, 2000). De acordo com o Manual MSD (1899), também conhecido como Manual Merk - livro médico mais antigo e vendido no mundo - um transtorno de ansiedade pode ser iniciado por diversos tipos de estresse, como por exemplo o fim de um relacionamento, exposição a um desastre ou risco de vida. Dentre os sintomas os mais comuns são a falta de ar, tontura, aumento da frequência cardíaca e agitações como tremores (MANUAL MSD, 1899).


27 A ansiedade pode surgir subitamente, como se fosse uma crise de pânico, ou gradualmente no decorrer de minutos, horas ou dias. Sua duração varia de pessoa para pessoa e de situação para situação. E sua intensidade pode ir desde uma angústia quase imperceptível até um ataque de pânico grave (MANUAL MSD, 1899). A imagem 1 apresenta de onde essa ansiedade vem, relacionando com a economia, questão social e violência. IMAGEM 1: De onde a ansiedade vem

Fonte: Superinteressante, 2019

Uma pessoa que já possui o transtorno de ansiedade é duas vezes mais propensa a ter depressão do que uma pessoa normal. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2019), o Brasil sofre com uma epidemia de ansiedade. O país conta com maior número de pessoas ansiosas do mundo, cerca de 18,6 milhões de brasileiros, 9,3% de sua população como indicado na imagem 2.


28

IMAGEM 2: Dados Ansiedade, Estresse e Depressão

Fonte: OMS, 2019

O arquiteto Federico Babina representou alguns transtornos psiquiátricos como a ansiedade e a depressão em uma visão arquitetônica, através de desenhos cujo estes representam casas. Essas casas necessitam de consertos, cada um deles relativo ao transtorno que está sendo exposto. Sobre a ansiedade o arquiteto descreve: “A vida de uma pessoa com ansiedade parece como se estivesse presa ao sentimento”. Para Babina, seria como uma casa repleta de correntes e arames que mostram a contradição entre proteção e isolamento, como mostra a imagem 3 (BABINA, 2017).


29 IMAGEM 3: Representação da ansiedade na arquitetura

Fonte: Babina, 2017

A ansiedade, portanto, pode afetar o modo com as pessoas lidam com as situações cotidianas e, muitas vezes, podem associá-las a lugares específicos. Da mesma forma que ambientes provocam sentimentos aflitivos, podendo gerar o agravamento da ansiedade, transformando-a em depressão, estes também podem ser projetados para contribuir com a amenização dos sintomas e processos de cura de transtornos psicológicos.

8.2 A DEPRESSÃO

Estima-se que mais de 300 milhões de pessoas sofram com a depressão, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (2019), sendo um transtorno comum em todo o mundo. E cerca de 12 milhões de brasileiros sofrem da doença, 5,8% de sua população. Sendo a maior taxa da América Latina e a segunda maior das américas, perdendo apenas para os Estados Unidos (OMS, 2019). A condição é diferente das flutuações usuais de humor e das respostas emocionais de curta duração aos desafios da vida cotidiana. Especialmente quando de longa duração e com intensidade moderada ou grave, a depressão pode se tornar uma crítica condição de saúde. Esta pode causar à pessoa afetada um grande sofrimento e disfunção no trabalho, na escola ou no meio familiar. Na pior das hipóteses, a depressão pode levar ao suicídio. Cerca de 800 mil


30 pessoas morrem por suicídio a cada ano - sendo essa a segunda principal causa de morte entre pessoas com idade entre 15 e 29 anos (OMS, 2020). Embora existam tratamentos eficazes conhecidos para depressão, menos da metade das pessoas afetadas no mundo (em muitos países, menos de 10%) os recebe. Os obstáculos a um tratamento eficaz incluem a falta de recursos, a falta de profissionais treinados e o estigma social relacionado aos transtornos mentais (OMS, 2020). Outra barreira ao atendimento é a avaliação imprecisa. Em países de todos os níveis de renda, pessoas com depressão frequentemente não são diagnosticadas corretamente e outras que não têm o transtorno são muitas vezes diagnosticadas de forma inadequada, com intervenções desnecessárias (OMS, 2020). A depressão atualmente é incompreendida pela sociedade. A OMS (2020) estima que que até 2030 o quadro seja mais comum do que o câncer e/ou problemas cardíacos. Para Federico Babina (2017), a depressão representa uma desconstrução melancólica e incompreendida, como representada na imagem 4. IMAGEM 4: Representação da depressão na arquitetura

Fonte: Babina, 2017

Assim como a ansiedade, a depressão também está diretamente relacionada ao ambiente, seja este de moradia, convívio ou trabalho (OMS, 2020), porém estes transtornos podem surgir também através de múltiplas outras causas, e estes se tornaram mais frequentes durante o período de isolamento devido a pandemia do COVID-19. Esses transtornos necessitam de acompanhamento médico e algumas vezes também de uso de medicamentos. Porém de forma


31 auxiliar e amenizar os sintomas a arquitetura pode ser utilizada com ferramenta de apoio ao tratamento. Recentemente ocorreu a criação de um certificado que avalia as condições mentais proporcionadas pelo ambiente. Essa certificação chama-se WELL e avalia diversos aspectos espaciais que impactam na saúde humana, da mesma forma avaliativa do selo LEED para edificações sustentáveis.

8.3 A CERTIFICAÇÃO WELL E OS TRANSTORNOS MENTAIS A certificação WELL foi criada pelo International Well Building Institute – IWMI no ano de 2015. Esta é a primeira certificação que foca na saúde e no bem-estar dos indivíduos e sua atuação é similar a outros processos de certificação ambiental, como o LEED ou o Living Buildin Challenge. (SUSTENTARQUI, 2016). Esse selo WELL se divide em diversos fatores considerando conceitos importantes em relação à saúde como o ar, a água, o alimento, a luz, o movimento, o conforto térmico, o som, os materiais, a comunidade, as inovações e a mente. Sobre a mente, existe o conceito WELL Mind – versão Q3 de 2020 -, no qual tem o intuito de promover a saúde mental através de políticas, programas e estratégias de design, abordando os fatores que influenciam o bem estar cognitivo e emocional (WELL, 2020 – Tradução Livre). A saúde mental é uma preocupação global. De acordo com o WELL Mind (2020), a depressão está em primeiro lugar dentre as principais causas de doenças do mundo, enquanto a ansiedade ocupa o sexto lugar. Correspondendo a 4% da carga global de doenças, a depressão é a maior causadora de incapacidade em todo o mundo (WELL, 2020 – Tradução Livre). A WELL (2020) mostra alguns dados no qual estimam que 18% dos adultos do mundo terão algum problema de saúde mental como a ansiedade, depressão ou o abuso de substâncias durante um período de 12 meses em algum momento de sua vida. Mais de 30% dos adultos terão algum problema de saúde mental durante algum período de sua vida (WELL, 2020 – Tradução Livre). A saúde mental causa um impacto na economia global, custando cerca de 1 trilhão de dólares devido à perda de produtividade gerada por alguma dessas doenças. Apesar deste grande custo, os gastos mundiais com o tratamento desta são inferiores a 2 dólares por pessoa. Existem diversos tratamentos com técnicas convencionais e alternativas para estas condições, porém apenas uma pequena parte da população tem acesso, isso ocorre devido ao alto custo dos tratamentos e também pelo preconceito que o acoberta. A WELL (2020) expõe que em países


32 de alta renda de 35% a 50% das pessoas que possuem algum problema mental não recebem tratamento. Já em países de baixa renda, essa porcentagem chega a 76% a 85% (WELL, 2020 – Tradução Livre). A falta de cuidado ou tratamento pode trazer riscos para o paciente, pois podem surgir pensamentos suicidas, tentativas de suicídio e até mesmo o suicídio consumado, principalmente por conta da depressão. O suicídio é responsável por mais de 800.000 mortes por ano no mundo todo, a segunda causa de morte mais frequente entre adolescentes de jovens adultos (WELL, 2020 – Tradução Livre). É verídico que a saúde mental afeta a saúde física das pessoas. Indivíduos que possuem algum transtorno metal apresentam uma taxa de mortalidade 2,2 vezes maior do que a população sem este problema. E 14,3% das mortes mundiais estão atreladas à alguma condição de saúde mental (WELL, 2020 – Tradução Livre). “O ambiente construído serve como uma ferramenta poderosa para ajudar a mitigar esses resultados adversos para a saúde mental por meio de políticas, programas e projetos” (WELL, 2020 – Tradução Livre). O WELL Mind (2020) define algumas estratégias para ajudar na prevenção e tratamento para os problemas de saúde mental como as melhorias da educação sobre a saúde mental, melhoria das condições de vida e trabalho para todos, melhorias organizacionais para promover ambientes de trabalho mais positivos, programas de gerenciamento de estresse, estratégias que abordem as lacunas no acesso e uso de cuidados, acesso à serviços de saúde mental e tratamentos (WELL, 2020 – Tradução Livre). Algumas sugestões de melhorias são feitas pela Certificação como, as oportunidades de restauração por meio da programação da atenção plena, espaços restauradores, suporte para um sono ideal impactando positivamente no bem-estar metal e físico, alivio dos sintomas da ansiedade e depressão, e melhoria na saúde como um todo (WELL, 2020 – Tradução Livre). A exposição de dados feito pelo certificado WELL (2020) mostra a devida importância para um novo começo na forma de projetar. Um novo design, políticas e estratégias são algumas das ações do Selo que apoiam a saúde cognitiva e emocional, através de esforços para a prevenção e tratamento, no qual em combinação, essas intervenções podem impactar positivamente na saúde mental e no bem estar dos indivíduos em todo o mundo (WELL, 2020 – Tradução Livre). Neste capítulo entendeu-se sobre os transtornos de ansiedade e depressão, e como a WELL pode ajudar na saúde do indivíduo. A partir deste entendimento, o capítulo seguinte buscou alguns estudos de caso que possam exemplificar toda a teoria que este trabalho foi embasado.


33 9 ESTUDOS DE CASO SOBRE OS IMPACTOS DOS ESPAÇOS CONSTRUIDOS NAS PESSOAS

A busca por estudos de caso, análises teóricas e práticas sobre as influências do espaço no comportamento humano torna-se fundamental para o embasamento do estudo da neuroarquitetura, auxiliando na comprovação dos efeitos que o ambiente gera no indivíduo, tornando possível o entendimento das necessidades que o homem precisa para o seu bem estar, principalmente para aqueles que apresentam transtornos de ansiedade e ou depressão. Neste capítulo será apresentado 5 estudos de caso que se relacionam com os estudos da neurociência aplicada à arquitetura e da percepção ambiental, sendo estes: o reflexo da arquitetura na saúde mental; a psicologia aplicada a projetos de espaços acolhedores; os espaços de cura; um espaço para o ser e construindo para a emoção, respectivamente.

9.1 O REFLEXO DA ARQUITETURA NA SAÚDE MENTAL

As relações que o ser humano estabelece com o espaço são devidos às experiências que nestes ficam marcadas. A saúde mental e sua relação com o ambiente construído são de grande impacto na vida do indivíduo. Citado por Fontes (2003), apud Sanoff (1990, p.1) expõe a evidência que o ambiente construído influencia na experiência humana, através das mudanças de humor, sentimentos, estresse e/ou tensão. Fontes (2003) também cita Jodelet, em “a Cidade e a Memória” (2002, p.31), contribuindo para a análise e relação do espaço e o psicológico, expondo a relação identitária dos lugares e da memória que o ocupa.

O meio ambiente seria material, pois o espaço construído define, para o sujeito, oportunidades e imposições, limitações para a sua ação e para a realização de seus objetivos. Ele é artefato porque é produzido pelo homem e materializa nos objetos, lugares e práticas sociais as relações e os modelos culturais de uma época e de um tempo determinado. É também matriz porque engendrar, por suas transformações novos modos de vida e relações. Transforma-se, assim, em um elemento socio físico, ao qual o indivíduo se relacionará por meio de um filtro de ideias, crenças, valores e sentimentos, cujo caráter social está vinculado, naturalmente, às ideias de pertencimento e à sua participação social, Nessa perspectiva, o ambiente construído terá um papel na constituição da identidade pessoal e social, sob a forma, em particular, do que Harold Proshanky chamou de ‘identidade dos lugares. (Jodelet, 2020, p.37) apud (FONTES, 2003).

A

pesquisa de campo feita por Fontes (2003), realizada nas Instalações da Casa do Sol,

Hospital Psiquiátrico, tinha como objetivo avaliar junto dos usuários seu ponto de vista a


34 respeito da edificação. Como resultado, Fontes verificou algumas necessidades dos pacientes, sendo a primeira delas o convívio com outros pacientes, em vez de locais de isolamento. Percebeu também a necessidade da abertura da edificação para o exterior, com maior integração para os pátios e jardins (FONTES, 2003). Outro aspecto que foi notório para Fontes durante a pesquisa foi a frequência com o que os pacientes citavam a palavra privacidade, com a necessidade da reforma de alguns banheiros cujo estes não apresentam portas, aquisição de armário para que os pertences do pacientes fiquem guardados com segurança, pois apenas os clientes que moram em quartos privativos possuem estas condições. Ademais, muitos entrevistados expuseram seu desejo de intervir no seu espaço de moradia, na escolha das cores das paredes, móveis e até na sua decoração, e expuseram o interesse de até mesmo ajudar na obra de reforma (FONTES, 2003). Com base nos resultados da pesquisa, Fontes propôs em seu projeto a abertura de maiores vãos para iluminação, trazendo maior visão do exterior para o pátio interno, criação de salas para descanso com o objetivo de ajudar os clientes externos durante os efeitos provocados pelos medicamentos, criação de áreas de convívio. Foi pensado também em apartamentos tipo, com copa para que os pacientes possuam a liberdade de prepararem seu próprio alimento. Além disso foi pensado em um espaço para uma área de serviço coletiva com o intuito dos pacientes cuidarem da sua própria roupa (FONTES, 2003). Fontes (2003) ainda afirma que em sua pesquisa existem diversas possibilidades para a arquitetura ter autoridade ao se tratar da questão mental. Como se pode achar a individualidade do ser em ambientes monótonos e padronizados? O incentivo para que o usuário tenha liberdade e criatividade para a personalização dos espaços, de forma que a pessoa possa ter o mínimo de liberdade para caracterizar espaços, principalmente sua moradia, ajudará neste processo de “identidade dos lugares” citada por Jodelet (apud FONTES, 2003). A partir da pesquisa feita por Fontes (2003), chega-se à conclusão da importância da personalização dos espaços, conforme a necessidade e vontade do indivíduo que o pertence. A forma massiva das construções padronizadas determina uma uniformização da maneira de habitar, e a partir disso pode-se questionar como tal replicação dos espaços podem influenciar na forma com que o usuário se relaciona, já que este não possui, muito das vezes, sua essência refletida.


35 9.2 A PSICOLOGIA APLICADA A PROJETOS DE ESPAÇOS ACOLHEDORES

Audrey Gray, jornalista multimídia e especializada em arquitetura e design social realizou uma pesquisa chamada: “Can Psychology Help Combat Anxiety In Crafting Welcoming Hospitality Spaces?” (A psicologia pode ajudar a combater a ansiedade na criação de espaços acolhedores e de hospitalidade? – tradução livre) publicada pelo Metropolis Magazine (2019). A pesquisa foi inspirada no estudo “Scenes from a Restaurant: Privacy Regulation in Stressful Situation” (Cenas de um restaurante: regulamentação da privacidade em situações estressantes – tradução livre) de Stephani Robson (2008), psicóloga ambiental cujo trabalho é focado em como a criação de espaços com hospitalidade podem contribuir ou ajudar no alívio da ansiedade. Em seu estudo “cenas de um restaurante: regulamento de privacidade em situações estressantes” foi descoberto que as pessoas mais ansiosas optam por sentar próximo as paredes, cantos ou divisórias, dando uma sensação de controle do ambiente (GRAY, Audrey, 2019). Audrey (2019) ainda cita que Stephani (2008) notou que “agora há uma sensação de que tudo está desmoronando” por isso “estamos desejando conforto”. Houve uma recente proliferação de espaços mais íntimos, seguros, aconchegantes e silenciosos em restaurantes e hall de hotéis, percebe Robson (2008 apud GRAY, Audrey, 2019). A pesquisa de Gray (2019) foi iniciada com a escolha de observar uma cafeteria em Nova York, o Walnut Street Café, que foi desenvolvido pela Parts and Labor Desing, empresa conhecida por seus restaurantes e hotéis em estilo residencial. Este restaurante ficou conhecido como um local aconchegante, desde sua inauguração em 2017 (GRAY, Audrey, 2019). Audrey (2019) estudou a pesquisa realizada por Robson (2008) e listou elementos para serem analisados na cafeteria. Dentre estes estão: A luz natural, grandes vãos de janelas, espaços íntimos, formas curvas, salas divididas por painéis ou telas, utilização da madeira, utilização de ladrilhos e banquetas ovais, conforme mostrado nas imagens 5 e 6. Para Robson, esses elementos “abraçam os clientes como abraços amorosos”. (ROBSON, 2008 apud GRAY, 2019)


36 IMAGEM 5: Projeto do Walnut Street Café

Fonte: Hospitality Design, 2017 IMAGEM 6: Detalhe de projeto do Walnut Street Café

Fonte: Hospitality Design, 2017


37 Outro estudo citado por Gray (2019) foi publicado pelo Journal of Enviromental Psychology, que aborda os efeitos calmantes dos espaços. Os pesquisadores realizaram diversos testes em lugares, estressantes ou não, e descobriram que a exposição a luz do dia, proximidade de jardins, ou apenas uma vista bonita da natureza leva a resultados mais significativos na percepção do comportamento do indivíduo. Quando as técnicas calmantes desenvolvidas por designs e arquitetos estavam presentes, os pacientes do teste eram menos agressivos e os níveis de ansiedade eram menores. Após a análise do espaço, Gray (2019) chegou à conclusão de que “O Walnut Street Café é um ótimo exemplo de restaurante de alto design, que deve ser acessível, reduzindo o nível de estresse.” e também cita “eu poderia dizer que nós projetamos com essa motivação em mente, para saciar a ansiedade do mundo, mas acho que não estamos fazendo isso conscientemente. Estamos fazendo isso porque fica bonito e parece certo” (GRAY, Audrey. 2019 - Tradução livre). A pesquisa de Audrey (2019) reflete muito do que é estudado na neuroaquitetura e a forma de como espaços projetados com o intuito de auxiliar o bem estar podem sim alterar positivamente o humor e diminuir o estresse e a ansiedade do indivíduo. Diante da pandemia do COVID-19 que está em curso no ano de 2020, e o alto índice de ansiedade e depressão em todo o mundo (WELL, 2020) a população necessita ainda mais de mudanças na vida, e com isso arquitetos passaram a ter o desafio de modificar os ambientes, principalmente residenciais.

9.3 OS ESPAÇOS DE CURA

Durante um TEDx em Tucson, Arizona, Esther Sternberg, professora de Medicina na Faculdade de Tucson, Diretora de pesquisa do Centro Andrew Weil de Medicina Integrativa e Diretora do Instituto Arizona sobre Lugar, Bem-estar e Performance, discursou sobre seu livro Healing Spaces: The Science of Place and Well-Being (Espaços de cura: a ciência do lugar e do bem-estar – tradução livre). Esther Sternberg (2013) inicia dizendo: “Quantos de vocês acreditam que esse lugar pode te fazer feliz?” (STERNBERG, 2013 – Tradução livre). Sternberg (2013) conta que quando estava escrevendo seu livro, sentou-se ao lado de um homem durante um jantar em Washington, DC, capital dos EUA, e ele perguntou o que ela fazia. Prontamente ela respondeu que estava escrevendo um livro sobre como o espaço ao seu redor pode te fazer bem ou mal, feliz ou estressado e como que este espaço pode afetar a sua saúde. O homem respondeu a ela que ele também costumava fazer isso em seus projetos. Esther


38 se surpreendeu e perguntou quem era esse homem, e o que ele fazia (STERNBERG, 2013 – Tradução livre). O homem que com ela conversava respondeu: “Eu era vice-presidente da Disney Imagineering” (Imaginadores da Disney – Tradução livre). Ele explicou detalhadamente a Esther (2013) como os Disney Imagineers originais projetaram cada elemento dos parques temáticos a fim de levar as pessoas de um lugar de ansiedade e medo para um lugar de esperança e felicidade, vide imagem 7 e imagem 8 (STERNBERG, 2013 – Tradução livre). IMAGEM 7: Magic Kingdom – Disney World

Fonte: Blog Mickey, 2019 IMAGEM 8: Magic Kingdom – Disney World

Fonte: Wow News Today, 2019


39 “Através de tempos imemoriais as pessoas sonharam com um lugar de cura e felicidade, e chamamos isso de paraíso” (STERNBERG, 2013 – Tradução livre). Esther (2013) explica que se você procurar no Google a palavra paraíso você terá 211 milhões de imagens em 0.1 segundos e a maioria delas são vistas da natureza, como representado pelas imagens 9 e 10. IMAGEM 9: Pesquisa pela palavra paraíso no Google

Fonte: Google, 2020. IMAGEM 10: Pesquisa pela palavra paraíso no Google

Fonte: Google, 2020.

Como comprovado cientificamente, as vistas para a natureza são capazes de trazer um bem estar maior ao ser humano, como exemplificado por Esther (2013): No estudo de referências nos projetos do centro da cidade de Chicago, QO & Sullivan mostraram que as pessoas que foram aleatoriamente designadas a apartamentos com vista para um bosque têm interações mais positivas com seus vizinhos, comportamentos menos violentos e agressivos do que aqueles com apartamentos com vista de um asfalto (STERNBERG, 2013 – Tradução livre).

Em relação às cores, os seres humanos associam tons verdes e azuis como calmantes, enquanto vermelho e amarelo se relacionam com atenção, empolgação e dependendo da sua


40 quantidade e intensidade pode até mesmo gerar estresse. Alguns biólogos evolucionistas acreditam que essa relação é genética, isso por que os genes para receptores da cor vermelha se tornaram ativos no mesmo momento em que os primatas começaram a comer frutas, então possivelmente existia uma vantagem de sobrevivência para os que conseguiam distinguir a cor vermelha em meio a floresta (STERNBERG, 2013 – Tradução livre). Sternberg (2013) também cita a questão dos odores, representado pela imagem 11, e conta que uma amiga se mudou de residência e começou a sentir falta do cheiro doce dos arbustos de creosoto após a chuva. Quando ela visitou a antiga cidade em que morava, retornou com um ramo deste arbusto e pendurou em seu chuveiro, então, o cheiro trazia uma saudade da casa em que nasceu. (STERNBERG, 2013 – Tradução livre). IMAGEM 11: Campo de Lavanda

Fonte: Google, 2020.

Existem alguns estudos feitos por Roger Ulrich em 1984 em que mostram pacientes de um hospital internados em quartos que possuíam uma visão para um bosque, como representado na imagem 12, enquanto se recuperavam de cirurgias. Estes pacientes recebiam em média a alta um dia antes, precisavam de menos medicação para dor e tiveram menos notas negativas para a equipe médica e de enfermagem do que aqueles que não havia visão da natureza. Outros aspectos a serem considerados também é a aglomeração, ruídos, quantidade de luz, odor, podendo ser encontrado em qualquer tipo de edifício. (STERNBERG, 2013 – Tradução livre).


IMAGEM 12: Vista de arvoredo pela janela

41

Fonte: Google, 2020.

O objetivo de Sternberg (2013) no Instituto da Universidade do Arizona é “chegar a um ponto em que eu possa fazer essa pergunta em uma audiência e que eu não obtenha risos” (STERNBERG, 2013 – Tradução livre). O estresse pode ser crônico e aumentar infecções, retardar cicatrização, acelerar o crescimento de um câncer e o envelhecimento cromossômico. “Então não faz sentido pegar uma pessoa que já está ansiosa e estressada e colocá-la em um lugar onde ela estará mais” (STERNBERG, 2013 – Tradução livre). Portanto há a necessidade de projetar elementos, formas, texturas, em todas as escalas, para todo o tipo de edifício a fim de reduzir o estresse e aumentar o bem estar. Esther (2013) cita que os principais órgãos americanos de padrões e licenciamentos de edifícios como as certificações do LEED, o US Green Building Council, o Amercian Institute of Architects, entre outros, estão incluindo recentemente em seus quesitos analíticos resultados de testes para saúde e bem estar. “Queremos saber se o lugar ao nosso redor nos ajuda a nos curar e nos manter bem, além de ajudar o planeta” (STERNBERG, 2013 – Tradução livre). O maior desafio é a obtenção quantitativa dos dados de como o ambiente afeta a saúde, diz Sternberg (2013), e o modo de fazer sem medidas invasivas. Para isso é necessária a utilização das tecnologias contemporâneas para mensurar quais atividades correspondem ao estresse, assim como para o relaxamento. Necessário também aferir a pressão arterial, calor corporal, nível de suor, entre outros, e mensurar as características locais como quantidade de luz natural, sons, ventos, odores e outras. Por fim é possível rastrear em tempo e lugar real e mostrar exatamente o que cada elemento do espaço representa para cada indivíduo (STERNBERG, 2013 – Tradução livre). Os modos de mensurar as atividades corporais no qual Esther (2013) cita em sua pesquisa já começaram a ser testados através de pulseiras medidoras de dados corporais e por


42 meio de eletroencefalograma. Os efeitos que os ambientes produzem ao corpo já estão sendo revelados através de estudos científicos como o “A Space for Being” realizado pelo Google (2019) e o “Building for emotion”, da Isabella Bower (2019), e cada vez mais novos testes práticos poderão comprovar esta teoria

9.4 UM ESPAÇO PARA O SER

Durante a semana de Design de Milão (Itália) de 2019, a Google apresentou um projeto inédito de três salas com projetos distintos entre si, chamado “A Space for Being” (Um espaço para o ser – tradução livre). “A maneira que este projeto se faz incomum, é que está de fato buscando um princípio” (GOOGLE, 2019 – Tradução livre) reflete Suchi Reddy, Arquiteta e Fundadora da Redyymade, é uma das parceiras neste projeto. Ela acredita que “A forma segue o sentimento, e o sentimento é o tudo aquilo que espaço e arquitetura significam. O espaço realmente afeta as pessoas” (GOOGLE, 2019 – Tradução livre). Esta exposição teve como objetivo principal de mostrar os impactos do design e arquitetura em nosso corpo. Susan Magsamen, do Laboratório Internacional de Artes, Mente na Universidade Johns Hopkins e parceira da Google, explica que é necessário entender sobre neuroestética para que seja possível compreender este projeto. Magsamen explica como ela vê a neuroestética, “é basicamente como o seu cérebro muda em relação à arte” (GOOGLE, 2019 – Tradução livre), ou seja, o que você vê quando observa uma arte e o que de fato seu corpo sente. “Quando você tem uma experiência estética elevada, como uma música, o pôr-do-sol, coisas que realmente elevam sua experiência do diaa-dia, elas mudam você, mudam sua biologia, seu humor e mudam suas emoções” (GOOGLE, 2019 – Tradução livre). Se forem tomados os princípios neuroestéticos em algum projeto é possível criar diversos ambientes que evoquem respostas distintas. De acordo com Susan, este estudo propõe avaliar “como as pessoas se relacionam com o espaço e realmente descobrir se aquilo que elas acham que gostam, é o que o corpo realmente gosta” (GOOGLE, 2019 – Tradução livre). Por meio da utilização de uma pulseira, conforme imagem 13, com sensores corporais que medem a experiência artística, respiração, temperatura corporal, condutância da pele1 é

1

Condutância da pele, também chamada de atividade eletrodérmica ou resposta galvânica da pele (GSR), mensura os estados de alta relevância emocional, através de eletrodos que passam uma pequena quantidade de corrente elétrica entre dois pontos das mãos.


43 possível descobrir pelos dados gerados em qual espaço o indivíduo se sentiu mais tranquilo ou mais agitado (GOOGLE, 2019). IMAGEM 13: Pulseira sensitiva Google.

Fonte: Frame, 2019

Rab Messina (2019), da revista Frame, participou deste experimento e contou sobre a sua vivência nele. Ela primeiramente detalha a respeito de cada sala e explica que para que a medição da pulseira seja igualitária para todos os três espaços disponíveis, os visitantes têm um tempo de permanência de cinco minutos em cada ambiente (MESSINA, 2019 – Tradução livre). O primeiro ambiente “pertence a um sonho de novo México chique”, como Rab (2019) mesmo descreve. O ambiente possui tons castanhos quentes, suas paredes são rústicas e a sala possui formas arredondadas, como mostra a imagem 14 (MESSINA, 2019 – Tradução livre).


44 IMAGEM 14: Primeira sala do Google A Space for Being

Fonte: Frame, 2019

O segundo ambiente “é um mar espirrado de azul e rosa desde os móveis até os papeis de parede”, conforme diz Rab (2019), e como mostrado nas imagens 15 e 16. Além disso, há livros infantis expostos na mesa, feixos de luz cruzando os planos do ambiente e um aroma cítrico presente (MESSINA, 2019 – Tradução livre).

IMAGEM 15: Segunda sala do Google A Space for Being

Fonte: Frame, 2019


45 IMAGEM 16: Detalhe da segunda sala do Google A Space for Being

Fonte: Frame, 2019

Para o terceiro ambiente foi proposto um local com decoração em tons neutros como branco e preto, espelhos em formas orgânicas, paredes revestidas por material texturizado (um composto de micro papel, produzido pela Paper Factory) conforme imagens 17 e 18 (MESSINA, 2019 – Tradução livre). IMAGEM 17: Terceira sala do Google A Space for Being

Fonte: Frame, 2019


46 IMAGEM 18: Detalhe da terceira sala do Google A Space for Being

Fonte: Frame, 2019

“Eu fiquei hipnotizada pelo primeiro e pelo último; já o segundo eu não podia sair de perto rápido o suficiente” relata Rab sobre a sua experiência. Ao sair dos ambientes, os resultados mensurados pelas pulseiras são captados por meio de um pequeno aparelho redondo branco, como mostra a imagem 19 e exibidos em uma cartilha individual. “Minha visualização circular, uma versão azul e rosa [...] apontou picos pesados de agitação na primeira e última sala, e um breve momento inicial de surpresa seguido de calma vaga no segundo” como mostra a imagem 20 (MESSINA, 2019 – Tradução livre). IMAGEM 19: Recolhimento das informações captadas pelas pulseiras

Fonte: Frame, 2019


IMAGEM 20: Resultado da experiência

47

de visita à exposição do Google A Space for Being

Fonte: Frame, 2019

Logo, mensurar sentimentos e sensações torna-se importante para que esses dados sejam utilizados como base para novos estudos e escolhas projetuais que auxiliem no bem estar pessoal e possam aliviar sintomas da ansiedade e ou de depressão.

9.5 CONSTRUINDO PARA A EMOÇÃO

Isabella Bower, doutoranda na Escola de Arquitetura e Ambiente Construído e na Unidade de Neurociência Cognitiva da Universidade de Deakin, Vitória – Austrália, participou um evento local em que apresentou sua pesquisa, chamada Building for Emotion (Construindo para a emoção – tradução livre) (BOWER, 2019). Bower (2019) propõe “Eu quero saber se os prédios dos designers mudam nossas emoções e se o fazem, como podemos medir isso” (tradução livre). Ela explica que há tempos os neurocientistas investigam o conceito de ambiente de enriquecimento (Environmental enrichment – EE) (BOWER; TUCKER; ENTICOTT, 2019 – Tradução livre) Nestes experimentos de EE, animas são expostos a alojamentos com condições que auxiliam no aprimoramento sensorial, cognitivo e estimulação motora e social. A condição do


48 ambiente de enriquecimento, em comparação com habitação neutra, resultou em alterações comportamentais, celulares e moleculares significativas. Através destes estudos foi possível observar mudanças no tecido cerebral, melhora da performance em atividades de memória e atraso no início de doenças cerebrais (Nithianantharajah & Hannan, 2006; Praag Kempermann & Gage, 2000 apud BOWER; TUCKER; ENTICOTT, 2019 – Tradução livre). Bower explica que isso ocorre pois os ambientes enriquecidos causam níveis mais elevados de ativação no cérebro. Há estudos em evolução que exploram se o ambiente construído impacta na saúde psicológica humana. Entretanto, estudos com a utilização do conceito de ambiente de enriquecimento em humanos não foi amplamente examinado e não obteve ainda respostas concretas como as testadas em animais (BOWER; TUCKER; ENTICOTT, 2019 – Tradução livre). Ademais, arquiteta e cientista se diz insatisfeita com a quantidade de tempo que o ser humano passa dentro de um edifício, cerca de 80% da vida do homem, o que representa um número muito alto. Até hoje a população não tem ideia de como esse tempo trancado dentro de um espaço pode afetar o cérebro e os pesquisadores estão em desenvolvimento de diversas pesquisas que comprovem este fato. Logo a proposta é usar algumas técnicas da neurociência a fim de mensurar as respostas que o corpo apresenta em meio a um ambiente repleto de sentimentos e emoções. (BOWER, 2019).

Então, como conseguimos fazer isso? Se imagine em uma sala rodeado de telas de projetores. Isso é uma forma de realidade virtual que nós chamamos de caverna, permitindo que nós controlemos o seu ambiente. Para entender o que está acontecendo no seu cérebro, usamos uma técnica chamada de eletroencefalograma. Isso é, quando colocamos eletrodos na sua cabeça para medirmos ondas cerebrais ao mesmo tempo em que monitoramos seu corpo, através de respostas do suor e da frequência cardíaca. [...] para entender o que os seus sentidos estão dizendo para o seu cérebro, nós dividimos o design em elementos simples, como cor, textura, formato e escala. Nós mostramos um desses elementos em isolamento, para entender como é processado pelo seu cérebro. E, para garantir que esse é o resultado do elemento de design sozinho, nós controlamos todas as variáveis responsáveis pelo conforto do seu corpo. A iluminação, temperatura, umidade e qualidade do ar. Algo que nunca foi feito antes (BOWER, 2019 – Tradução livre).


49 IMAGEM 21: Touca de eletrodos para análise das respostas corporais em um ambiente

Fonte: Frame, 2019

O estudo de Bower demonstra como a Neurociência e Arquitetura podem mensurar os efeitos dos ambientes construídos para o corpo e mente do ser vivo. Enquanto os estudos dessas áreas estão se desenvolvendo e evoluindo, já é possível reavaliar o modo de projetar. “Uma nova estratégia para combater as taxas de doenças mentais em constate crescente, e uma maneira de reduzir sua ansiedade, de forma que você esteja sempre no seu melhor estado emocional” (BOWER, 2019 – Tradução livre). É notório que todos os estudos de caso se preocupam com os efeitos dos ambientes provocados no homem. Com a evolução dos estudos da neurociência aplicada à arquitetura, torna-se possível utilizar das técnicas apresentadas para mensurar as respostas corporais e propor novas formas de projetar. No capítulo seguinte serão exibidas algumas das aplicações projetuais que foram desenvolvidas através dos estudos da neuroarquitetura, como o aprofundamento do briefing realizado com o cliente, a aplicação da biofilia, os aromas, as cores, o som e por fim as formas.


50 10 AS APLICAÇÕES PROJETUAIS DA NEUROARQUITETURA

A neurociência é um campo de pesquisa multidisciplinar, envolvida com a biologia, psicologia, farmacologia, entre outros, que estuda funcionamento do sistema nervoso. Já os arquitetos são responsáveis por projetar desde pequenos cômodos, até urbanizar cidades inteiras. A arquitetura também é multidisciplinar, estando envolvida com a arte, design, engenharia, paisagismo. Esses campos da ciência pré-existentes se unem e, com a neuroarquitetura torna-se possível uma ligação, ou seja, não está sendo criada uma ciência, e sim interdisciplinaridade entre os temas. Mas será que essa interdisciplinaridade realmente vem ocorrendo ou ela está se apropriando dos métodos de outras conceituações? A arquiteta Priscilla Bencke, realizou uma live pela plataforma Instagram no qual foi explicado como aplicar os conceitos da neuroarquitetura em projetos arquitetônicos (BENCKE, 2020).A Neuroarq Academy, instituição de pesquisa e ensino coordenada pelas arquitetas Priscilla Bencke e Gabriela Sartori, desenvolveu alguns métodos baseados em pesquisas e estudos neurocientíficos para viabilizar a aplicação na arquitetura. De acordo com Bencke, existem duas maneiras de seguir com a aplicação projetual (BENCKE, 2020). A primeira maneira é ao final do projeto, e antes da execução, o arquiteto junto com neurocientistas executarem alguns testes em laboratório, através da utilização da tecnologia da realidade virtual – como representado na imagem 22 - e simular tudo o que se deseja experenciar por aquele espaço. Também é necessário mensurar os efeitos corporais, respostas neurológicas e psicológicas dos indivíduos pesquisados (BENCKE, 2020), assim como foi realizado nos estudos de caso Um Espaço Para o Ser e Construindo Para a Emoção (subcapítulo 9.4 e 9.5 presentes neste trabalho, respectivamente). IMAGEM 22: representação da realidade virtual em arquitetura

Fonte: GMAD, 2020


51 Este caminho exige grande investimento de tempo e recursos, o que acaba não sendo possível realizar pela maioria dos arquitetos. Porém, algumas empresas nos Estados Unidos da América ou Academias – como a ANFA, por exemplo – financiam tais testes a fim colaborar com o crescimento do estudo da neuroarquitetura (BENCKE, 2020). O outro modo, e o mais viável, é se basear em pesquisas já existentes, a fim de projetar fundamentos neurocientíficos mais sólidos para o projeto. Este método é dividido em 6 formas de aplicação: o briefing2, a biofilia, os aromas, as cores, os sons e as formas (BENCKE, 2020). A necessidade de aprofundamento do briefing está relacionada com a melhoria da metodologia de criação do projeto. Priscilla Bencke (2020) explica que é preciso entender os 3 tipos de memória presentes no ser humano para realizar um briefing mais completo. A primeira memória é a cultural, está relacionada com o local que a pessoa vive, ou seja, o país ou região. A segunda memória é a genética, as associações que o indivíduo faz que estão relacionadas à evolução humana. A terceira memória é a pessoal, a mais difícil de ser entendida, pois é única de cada indivíduo (BENCKE, 2020). Além disso, torna-se necessário para o briefing estudar técnicas utilizadas pelos psicólogos para análise do perfil comportamental do indivíduo. Por exemplo expressões faciais indicam, subconscientemente, o que agrada ou não àquela pessoa. Por fim é de e grande importância entender sobre a saúde física e psicológica daqueles usuários (BENCKE, 2020). A segunda metodologia é chamada de Biofilia. A palavra vem do grego: o prefixo bios significa vida e philia significa amor, isto é, amor pela vida (SUSTENTARQUI, 2018). Bencke (2020) explica que a biofilia faz parte da memória genética do indivíduo, já que estas são ligadas à natureza. Para um projeto biofílico é necessário levar a natureza para o ambiente, e isso pode ser feito através de várias soluções, a exemplo: colocação de plantas na decoração, utilização de materiais naturais (madeira, pedra, terra) ou revestimento que os representam, como mostrado na imagem 23. Ademais torna-se necessário a utilização de iluminação e ventilação natural, a fim de maior conexão com o meio natural (BENCKE, 2020). Da mesma maneira que a biofilia tem o intuito de levar natureza para dento do projeto a bioarquitetura tem como intuito promover a interação entre os espaços construídos e os ecossistemas, de modo a utilizar materiais locais evitando a necessidade de transportes e promovendo uma economia na construção (AMARAL, 2020).

2

Resumo, em português. Conjunto de informações, coleta de dados do cliente para o desenvolvimento de um trabalho.


52 IMAGEM 23: Biofilia na arquitetura

Fonte: Silva e Marcílio, 2020

A palestrante segue se referindo aos aromas, e explica que o olfato é o sentido que mais remete à memória. Isso ocorre pois o local no cérebro onde se encontra a parte de reconhecimento de aromas fica ao lado do hipocampo - àrea de registro das memórias. O aroma pode trazer sentimentos de permanência em algum local, se for um cheiro agradável, ou também seu oposto, expelindo as pessoas de um ambiente (BENCKE, 2020). O terceiro item são as cores, através das quais se torna possível a provocação de respostas distintas do corpo ao espaço. É necessário o estudo da psicologia das cores para a aplicação devida nos projetos. Além disso, é preciso entender a relação psicológica do cliente com cada cor, devido as experiências vividas. Como exemplo a cor de um time de futebol: se o arquiteto utilizar cores de um time adversário no projeto, o indivíduo pode não achar agradável (BENCKE, 2020). A próxima metodologia é a do som. Bencke (2020) explica existirem diversas reações químicas no cérebro durante a escuta de um som agradável, estimulando a produção de endorfina, substância denominada vulgarmente de “hormônio da felicidade”. O indivíduo precisa se sentir protegido, e sons presentes na natureza como dos pássaros, cachoeira ou da chuva tem esse poder calmante e curador (BENCKE, 2020). Como sexta e última metodologia encontram-se as formas, sendo essenciais principalmente pela questão da proporção, simetria, dimensões do ambiente e forma dos


53 mobiliários. Através deste método é possível entender a relação da estética espacial com o comportamento humano. Priscilla Bencke (2020) explica que alguns estudos apontam a influência positiva de formas orgânicas nos indivíduos. Através destas, é possível equilibrar o belo e o bem estar (BENCKE, 2020). Com a aplicação destes métodos e a realização de testes laboratoriais torna-se mais viável projetar para o bem estar do indivíduo. No próximo capítulo são relacionados todos os itens de orientação da neuroarquitetura supracitados com as necessidades desenvolvidas pelos indivíduos durante a pandemia do COVID-19 no ano de 2020. Esta necessidade ficou clara conforme a residência necessitou ser readaptada e os espaços que antes apresentavam uma tarefa específica hoje possuem distintas formas de utilização. Como a neuroarquitetura pode auxiliar na nova residência – que cada vez mais é o espaço de trabalho e estudo -, amenizando os sintomas da ansiedade e ou depressão?


54 11 A

RELAÇÃO

DA

NEUROAQUITETURA

COM

A

EXPERIÊNCIA

DO

ISOLAMENTO SOCIAL DURANTE A PANDEMIA DO COVID-19 A pesquisa “Espaços e Emoções: reflexões para entender a experiência do isolamento social na pandemia da COVID-19,” de Silva e Marcílio (2020), trata da experiência emocional que está sendo vivida durante o ano de 2020 em todo o mundo, e ainda sem cura3. Esta pesquisa buscou a interdisciplinaridade entre a neuroarquitetura e a geografia das emoções - ambas com seus conceitos anteriormente explicados neste trabalho -, sua relação com os espaços residenciais e as emoções vivenciadas pelos indivíduos no contexto da referida situação (SILVA; MARCÍLIO, 2020). Silva e Marcílio (2020) citam que além da crise pandêmica, outras questões afetam a maneira como o ser humano está experienciando este momento: “Crise do capitalismo, desigualdade socioespacial, globalização perversa, compressão espaço-tempo, meio técnicocientífico-informacional, necropolítica, [...]” e outras questões da sociedade contemporânea. Para as pesquisadoras esta é muito mais do que uma crise da saúde, mas engloba também a uma “crise política, ambiental, econômica, cultural, social e do trabalho” (SILVA; MARCÍLIO, 2020). As experiências vividas durante o isolamento social fizeram com que fosse necessário pensar na “[...] escala do corpo e da casa num momento em que fomos condicionadas e condicionados a nos adaptarmos nos espaços íntimos.” (SILVA; MARCÍLIO, 2020). Medir emocionalmente o que vem sendo sentido durante este período constrói uma corporeidade, experiência do “fazer, sentir, pensar e querer” (SILVA; MARCÍLIO, 2020). A partir disto, as pessoas passam a se apropriar do espaço e do tempo que lhes cercam, transformando e agregando a estes valores emocionais (SILVA; MARCÍLIO, 2020). A partir do início do isolamento social, voltou-se a atenção para as experiências emocionais, físicas e descoberta de novas necessidades e formas de habitar a residência. Silva e Marcílio (2020) explicitam uma pesquisa realizada pela Observattional Practices Lab, chamada The Atlas of Everyday Objects – In the age of global social isolation, em uma prática de observação foi pedido que as pessoas olhassem em volta dos seus espaços de isolamento e

3

Nesse momento do trabalho, em outubro de 2020, pesquisa de vacinas em teste e prognóstico de imunização para o fim deste ano ou em 2021 (GZH SAÚDE, 2020). No momento, a flexibilização do isolamento social causou na Europa, na 1º semana de outubro, mais de 700 mil novos casos da doença com alguns países declarando novamente estado de calamidade (G1, 2020).


55 que percebessem quais ambientes e objetos mudaram de significado desde então (SILVA; MARCÍLIO, 2020). De acordo com estudos na área “a experiência do ambiente pode influir em nossos estados emocionais e comportamentais, na saúde mental e física, numa intrínseca relação entre o cérebro e o ambiente” (SILVA; MARCÍLIO, 2020). Logo, o projetar da residência deve ser pensado e executado visando o pleno bem-estar do indivíduo, tanto físico quanto mental, mas, a partir de agora, com a percepção mais sensível que se desdobra do isolamento social. As pesquisadoras Silva e Marcílio (2020) desenvolveram um questionário de aferição de dados pessoais, formatado como um formulário digital, iniciado em Abril de 2020. Sua divulgação ocorreu através de redes sociais e foi totalizado um número de 635 respostas, com participantes entre 12 e 73 anos de idade. Foi alcançado experiências de diversas regiões brasileiras e outros 7 países: Portugal, Alemanha, Colômbia, Estados Unidos, Bélgica, Filipinas e Argentina (SILVA; MARCÍLIO, 2020). As perguntas iniciais visavam compreender o perfil de cada participante: idade, gênero, localização da moradia e possíveis problemas na residência ou no entorno. Foi perguntado também quais atividades estavam sendo realizadas pelo indivíduo durante o período de pandemia, ou seja, trabalho, estudo, cuidados com a casa, hobbies, entre outros. As questões finais objetivavam identificar relações interpessoais com o local da residência e as emoções que foram experienciadas durante este momento (SILVA; MARCÍLIO, 2020). Dentre as perguntas, duas se destacaram. A partir destas foi possível formar a visualização do resultado a partir da elaboração de nuvens de palavras: quanto maior a fonte da palavra mais vezes apareceu como resposta durante a pesquisa. O primeiro questionamento foi: “Como você se sente na relação com a sua casa nesse momento?” (SILVA; MARCÍLIO, 2020), As respostas estão em conformidade como mostrado na nuvem de palavras da imagem 24. O segundo questionamento foi: “Se pudesse descrever uma emoção que está sentindo nesse contexto de isolamento social, qual seria?” (SILVA; MARCÍLIO, 2020), as respostas obtidas estão mostradas na imagem 25.


56 IMAGEM 24: “Nuvem de palavras sobre o sentimento em relação à casa”

Fonte: Silva e Marcílio, 2020

IMAGEM 25: “Nuvem de palavras sobre as emoções sentidas no isolamento”

Fonte: Silva e Marcílio, 2020


57 De acordo com os dados apresentados na imagem 24 é notório que a maioria da população pesquisada apresenta residências em que “sentem-se bem, confortáveis, seguras, felizes, privilegiadas, tranquilas, dentre outras experiências positivas” (SILVA; MARCÍLIO, 2020). Já em relação aos sentimentos vivenciados a maioria das pessoas disse estar “ansiosas, angustiadas, desesperadas, preocupadas, com medo e com incertezas” (SILVA; MARCÍLIO, 2020). A comparação entre os quadros de palavras deixa claro que mesmo as casas identificadas como lugar de abrigo e proteção, há controvérsias a respeito dos sentimentos apresentados. As boas condições apresentadas nas residências do público pesquisado, em sua maioria, não é a realidade da maioria dos brasileiros. Foi questionado aos participantes “Você considera sua moradia confortável para viver esse momento?” (SILVA; MARCÍLIO, 2020). As pesquisadoras obtiveram um resultado positivo com 541 pessoas, enquanto um total de 94 pessoas respondeu negativamente. Destas ultimas foram citados problemas como “ambiente apertado (27 vezes), falta de privacidade (27), falta de ambientes internos e/ou externos (26), entorno barulhento (22), iluminação ruim (17), muito quente/frio (17), falta de luz ou água (7), outros (12)” (SILVA; MARCÍLIO, 2020). Esses problemas apresentados podem gerar maior estresse e ansiedade, principalmente na vivência intensa deste espaço pelo isolamento social e na convivência ininterrupta (ou ausência desta) com outros indivíduos confinados. Independente da infraestrutura apresentada, a maioria dos pesquisados necessitou de readaptar os ambientes da residência para atender novas necessidades. Em sua maioria, um ambiente que antes era utilizado para lazer e descanso, com a pandemia teve que abrigar trabalho, estudo, atividades físicas, entre outros. “A percepção desses problemas na moradia é aumentada pela permanência mais longa em nossas residências” (SILVA; MARCÍLIO, 2020). Ademais, o medo e a incerteza causados pela pandemia do COVID-19, acentuaram as emoções negativas experienciadas durante este período (SILVA; MARCÍLIO, 2020). Nesta pesquisa, portanto, foi perceptível a importância da análise do espaço de moradia em relação às emoções vivenciadas neste período pandêmico. Torna-se necessário refletir que a dinâmica de viver se transformou, desde a relação com a residência e as pessoas que ali residem, até a interação com a cidade. “Fiquemos atentas e atentos às nossas emoções e pesemos o momento como um convite para questionar nossas relações na vida cotidiana e imaginar outras formas de (con)viver.” (SILVA; MARCÍLIO, 2020).


58 O capítulo seguinte traz a conclusão deste trabalho, relacionando todos os estudos, conceitos e pesquisa abordados até então. São apresentadas algumas soluções projetuais simples que possam ajudar o indivíduo a melhorar o espaço residencial, trazendo associação psicológica mais clara do ambiente como um todo.


59 12 CONCLUSÃO

Durante os estudos preliminares em 2019, este trabalho seria desenvolvido a fim de analisar técnicas da neuroarquitetura passíveis de serem aplicadas a ambientes universitários, nos quais seus alunos passam em média cinco anos. A vida acadêmica, atrelada também ao trabalho e à rotina doméstica, leva ao aluno uma carga horária e conteudista semanal considerável. O estresse e o cansaço devido a tantas tarefas simultâneas podem fazer com que se desenvolva um quadro de ansiedade, e se esta não tiver tratamento, pode gerar uma possível depressão. Com a pandemia do COVID-19, no ano de 2020 em todo o mundo – atingindo o estado do Rio de Janeiro mais diretamente no mês de março4 - este estudo foi redirecionado para análise dos espaços residenciais. O motivo da mudança de foco foram as forçosas adaptações provocadas pelo isolamento social, que acarretou compatibilizar dentro dos lares atividades de trabalho, estudo e lazer de modo mais intenso e permanente – dados os meses transcorridos da pandemia e em andamento5 ainda sem prognósticos de vacinação em massa no Brasil6. Conforme apresentado neste trabalho, pode ser entendido a respeito da neuroaquitetura, e áreas afins – como a percepção ambiental, psicologia ambiental e geografia das emoções. Ademais foi notório através dos estudos de caso apresentados como as pesquisas em evolução e já comprovam resultados importantes. Estes estudos de caso aqui selecionados, assim com a pesquisa “Espaços e Emoções: reflexões para entender a experiência do isolamento social na pandemia da COVID-19” apontaram a necessidade de modificação dos ambientes durante o isolamento social, a fim de melhorar a saúde mental e física dos indivíduos que ali habitam. Em casas onde não há espaços exclusivamente dedicados para cada tarefa - estudo, trabalho, lazer e descanso -, um dos modos mais indicados com a finalidade de organizar as atividades e auxiliar na saúde mental de seus habitantes é através da setorização do ambiente multiuso.

Governo do RJ autoriza isolamento e quarentena contra coronavírus” (CNN Brasil, 2020). “O balanço divulgado hoje (28) pelo Ministério da Saúde (MS) mostra 28.629 novos casos de covid-19 em 24 horas, desde o boletim divulgado ontem. Agora são 5.468.270 de casos desde o começo da pandemia. Além disso, foram registradas 510 novas mortes, totalizando 158.456 óbitos” (Agência Brasil, 2020). 6 “Planejamento para vacinação em massa contra covid-19 no Brasil é incógnita” (Sobrinho, in portal UOL, 24/10/2020) 4 5


60 Existem soluções de baixo custo e complexidade, através de mínimas intervenções que viabilizam a separação espacial sem ali colocar uma parede. Em um quarto que divide as funções de trabalho e descanso através de uma mesa e a cama respectivamente, como desvincular psicologicamente estes espaços dentro de um mesmo ambiente? Uma das mais simples é a pintura das paredes e teto no trecho do local designado ao trabalho, como indica a imagem 26. Outra solução é a colocação de cortinas que subdividam temporariamente o ambiente, como representado na imagem 27.

IMAGEM 26: Separação do ambiente através das cores

IMAGEM 27: Separação do ambiente através de cortinas

Fonte: Pinterest, 2020

Fonte: Pinterest, 2020

Outros modos de setorização podem ser feitos, através da utilização de feixes luminosos mais fortes na área de trabalho - como na imagem 28, utilizando-se de luminária de mesa articulada, facilitando a mudança de foco conforme necessidade, e também fitas de led com o foco para as prateleiras. Ademais é importante a iluminação mais difusa nos locais de relaxamento como apresenta na imagem 29, com a utilização de sanca de gesso com iluminação em todo o contorno do ambiente.


61 IMAGEM 28: Iluminação direta home office

Fonte: Pinterest, 2020

IMAGEM 29: Iluminação difusa quarto

Fonte: Pinterest, 2020

O estímulo olfativo – explorado pela neuroarquitetura e pela percepção ambiental – também é fácil recurso para harmonização do ambiente construído. Existem diversos óleos essenciais, vide imagem 30, que podem ser utilizados em difusores - como na imagem 31 -, banhos terapêuticos, massagens, compressas, escalda-pés, saunas e outros. Despertam assim maior atenção ou calma para o ser humano, tornando-se possível a setorização através do olfato. IMAGEM 30: Óleo essencial de lavanda

Fonte: Pinterest, 2020

IMAGEM 31: Difusor de ambientes

Fonte: Pinterest, 2020

Outro item importante para maior bem estar dentro do ambiente, principalmente durante o isolamento social é a proximidade com a natureza, através da aplicação do conceito de biofilia – que compões a memória genética do indivíduo ligado à natureza. A utilização de plantas


62 naturais dentro de casa, como na imagem 32 pode trazer diversos benefícios não só visuais, mas como para a saúde, já que algumas plantas purificam o ar – como a Espada de São Jorge7 mostrada na imagem 33. IMAGEM 32: Plantas naturais dentro de casa

Fonte: Pinterest, 2020

IMAGEM 33: Espada de São Jorge

Fonte: Pinterest, 2020

Para aqueles que não gostam de plantas naturais ou não sabem cuidar, existem outras maneiras de trazer o estímulo causado pela vegetação para o ambiente. Uma das maneiras mais comuns é a utilização das plantas artificiais como na imagem 34. Outra forma é a instalação de revestimentos ou papeis de parede com estampa de folhagem ou floral, como na imagem 35. IMAGEM 34: Decoração com plantas artificiais

Fonte: Pinterest, 2020

IMAGEM 35: Papel de parede folhagens

Fonte: Pinterest, 2020

Além das soluções projetuais apresentadas, há também o estímulo à audição, através de sons ligados à natureza que promovem sensação de bem estar. Como exemplo, podem ser

7

A Nasa recomenda o uso da planta Espada de São Jorge para purificar o ar das residências (BBC, 2015).


63 adicionados ao ambiente uma fonte de água - como representa a imagem 36 - ou um sino dos ventos, conforme imagem 37. IMAGEM 36: Fonte de água

IMAGEM 37: Sino dos ventos

Fonte: Pinterest, 2020

Fonte: Pinterest, 2020

Os aspectos apresentados pela neurociência aplicada à arquitetura estão diretamente ligados aos estudos da percepção e psicologia ambiental, e geografia das emoções, e possuem, portanto, grande relevância projetual dado o comprovado impacto positivo na saúde mental dos indivíduos. Através desta presente pesquisa, conclui-se que o isolamento social por conta da pandemia do COVID-19 impactou negativamente na saúde mental e física dos indivíduos. No sentido de contribuir para amenizar a situação imposta, a neuroarquitetura se tornou alternativa também para o momento, por aplicar soluções projetuais a fim de melhorar o bem estar e diminuir os níveis de estresse, ansiedade e depressão. A neuroarquitetura tem grande potencial de evolução, através da ampliação de pesquisas neste campo. De modo geral e percebido mais fortemente no Brasil, há grande interdisciplinaridade com as técnicas já utilizadas pela percepção ambiental, psicologia ambiental e geografia das emoções. Porém o uso destes estudos pré estabelecidos está sendo proposto pela neuroarquitetura como inéditas e havendo indícios de que haja a finalidade de comercialização de um novo produto, uma vez que a maior parte do conhecimento trazido para o Brasil nesta área só pode ser adquirido através de fontes pagas, havendo poucas pesquisas disponibilizadas gratuitamente sobre o assunto.


64 Pelos motivos expostos, será que para a neuroarquitetura crescer como uma nova ciência não se torna necessário o incentivo ao estudo público e gratuito sobre o tema?


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em:


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