Sempre preciso ter algo pra me destacar. Acho que sou benevolente por pagar a conta. Essas são as premissas, quando tenho dinheiro posso cobrar e não fazer. Quando não tenho dinheiro, traço faço algo parar ter como reclamar. O outro sempre está na desvantagem, é desonroso, deve a mim, então, todos os agradecimentos, Os outros precisam fazer aquilo que acho que devem, justamente porque sou superior, logo, sou o melor para decidir.
Lista de elogios: estupida imbecil desreipetosa dissimulada egoísta egocentrica intriguera não é nem um pouco inocente folgada imatura muito muito ruim arrogante mimada maldosa bicho horrivel falsa
Gente, desculpa. Hoj e tá tensa a Gorroba Gigoronda.
Antropomorfo. Nunca liguei para essa quase obsessão ou culto à forma humana. Pra mim era até um saco, parece coisa de quem precisa se reafirmar demais; que precisa afirmar que existe para que de uma certa forma exista. (irônico dizer isso e desde muito tempo fazer monstrinhos que não fogem por completo da figura humana. Cara, braços, pernas…) Queria saber falar mais sobre a importância da figura humana na representação e quais as potências e todas as brisas contemporâneas em geral sobre isso. Nossa, deve ser incrivel, deve ser algo que tira o sono. Ainda mais no contemporâneo, selfies selfies selfies free selfies pra geral! Mas falarei o que falarei. Quando estudamos história da arte, ela tá lá, firme e forte: A figura do ser humano! Antes mesmo do antropocentrismo, tinha lá uma forma que lembra tronco, pernas braços e cabeça. E nas visitas, o que escutamos é: oh lá tia! É uma mulher fazendo alguma coisa… ou, é uma pessoa voando… ou aquilo ali são pessoas. No menor sinal de um corpo humano. Até quando a representação tenta fugir. Ela volta. Mas o que mais me interessa agora é a dúvida. Do que é então essa forma que lembra gente? Ela é tão forte que conecta quase de imediato os espectadores. É o semelhante. É quase que uma própria pessoa. Quem a vê se afeiçoa, se identifica, já narra um percurso. Se é então, tão forte essa ligação figura e pessoa real, como alguém tem a coragem de esburacar um alvo antropomorfo? “hum! Legal! Na cabeça, vale mais pontos!” Nesse momento perdese a afeição? A mística relação da figura como a própria encarnação não acontece? Quando atiro num alvo não sinto que estou virtualmente atirando em alguém? Hoje perdi o fôlego. Somou a representação, com a própria ação e todas as teorias que existem e ainda desconheço sobre o meio do caminho: pessoa, representação, personificado. Vai além da crua figura humana, é pior, é um manequim! Manequim é pior que representação só. Carrega o peso do ideal, é onde espelhamos nossas expectativas conosco. Então, MANEQUIM! Um manequim de criança tão esburacado que quase não se sustenta. Ainda não consegui lidar com essa imagem.
em relação a família que não tem condições de desfrutar dos fascínios; ela se incomoda com a presença invasiva e reclama por alguma atitude de seu acompanhante. Daí se encerra o romance do casal que foi separado, como diz Berman, não apenas por “uma falha de comunicação, mas uma radical oposição ideológica e política”6. Interessante pensar que se sucederam e sucedem até hoje situações muito semelhantes, se não idênticas, à descrita por Baudelaire. Contemporaneamente temos estes espaços de respiro urbano que concedem um “espaço privado, em público”7 nas próprias calçadas das ruas, com as mesas de bares invadindo o espaço de passagem; em algumas cidades, em praças ou calçadões. E o encontro com essa “família de olhos”8 é uma constante já esperada. Outro espaço contemporâneo que relaciono diretamente com a história baudelairiana são os shopping centers. Muitas vezes batizados (o que se torna irônico neste caso) de bulevares, estes locais mais privados do que públicos mantém ainda um discurso democrático (liberal?) de livre circulação. Entretanto, a “família de olhos” não é permitida entrar porque pode incomodar a tranquilidade e
A persistente Bulevarização
bem estar de pessoas como a moça da prosa poética. No conto O colar da rainha de Italo Calvino9 a situação de uma família me
Quando leio em Marshall Berman reflexões sobre a cidade, contextos e conflitos parece uma certa continuação ou até aprofundamento da história daqueles pobres de Baudelaire, imediatamente me vem como ilustração os apólogos e contos de Italo de Baudelaire. Um colar de pérolas perdido é o motivo para que a história aconteça Calvino, escritos entre 1942584. O primeiro em Paris de 186465, o segundo na Itália e a vida dos personagens se conecte. Umberta perde o colar num terreno baldio, mais
de
um
século
depois. Apesar
disto,
a
modernidade
que
surgia
tão nos arredores da fábrica do seu marido, Gigi Starna. E é encontrado por dois velhos
empolgadamente no final do século XIX e bem compreendida por Baudelaire, se mostra funcionários que decidem devolvêlo depois de seus turnos. Ao notar a ausência de consolidada e reafirmada na obra de Calvino, como que uma consequência histórica. O seu objeto valioso, Umberta pede ao suposto amante, Enrico Pré, que o procure. espanto e entendimento por este contexto mantêm tais obras conectadas, por isso, Atendendo ao pedido, Enrico retorna ao local onde provavelmente ficou o colar. E lá acredito que a distância temporal não as afasta.
conhece Fiorenzo, um homem pobre que sobrevive da venda de sobras de objetos
Na prosa poética Os olhos dos pobres5, Baudelaire nos traz uma situação não recolhidos pela cidade. Há um embate na conversa entre eles, porque os dois tão inusitada para o contexto atual. Ele ao sair com uma dama resolve ir ao café de um desejam achar o colar, mas sem fornecer pistas ao outro. Por fim, os dois vão à recéminaugurado bulevar. O casal é surpreendido pelo olhar atento de uma família casa improvisada de Fiorenzo. pobre que está do lado de fora tão encantada com os fascínios modernos quanto eles
Calvino neste conto consegue manter a tensão necessária para prender o
leitor, constrói uma narrativa densa e simbólica. Brevemente nos apresenta complexos personagens que não só se caracterizam individualmente como
sofridos tanto na estrutura da casa quanto da família que ganhou tal status. Berman no capítulo Baudelaire: O Modernismo nas Ruas informa como foi o
representam metaforicamente certos grupos. Fiorenzo e sua família que ganham processo de construção dos bulevares franceses. O centro de Paris era ocupado destaque no final é o personagem que dá continuidade histórica a Olhos dos por velhos prédios cheios de família pobres; construções medievais entre estreitas pobres de Baudelaire. Há um trecho que belamente nos mostra as condições de ruas ocupavam os bairros da antiga cidade. Com a campanha de modernização vida desta família. “Onde os primeiros e esparsos prédios da periferia dão as costas para os campos nevoentos, ali era o limite dos pastos de Fiorenzo. E próximo dessa fronteira, como em geral se situam as capitais dos reinos mais distantes, ficava sua casa. Muitos episódios e cataclismos históricos haviam contribuído para a sua construção: as paredes baixas de pedras meio desmoronadas eram de uma antiga cavalariça militar, fechada mais tarde pelo declínio da arma eqüestre; o banheiro à turca e uma indelével pichação mural provinham de sua constante utilização como depósito de armas para a instrução dos cadetes; uma janela de grades derivava do uso sinistro como prisão a que fora destinada na época da guerra civil; e para desentocar dali o último pelotão de armíferos ocorrera aquele incêndio que quase a destruíra; o soalho e os encanamentos eram da época em que tinha sido acampamento, primeiro de sinistrados, e depois de refugiados; em seguida, uma prolongada pilhagem invernal de lenha para queimar, telhas e tijolos a desmantelara de novo; até que lá chegou, com os colchões e os móveis, despeja do último alojamento, a família de Fiorenzo. Metade do telhado, enfim, fora substituído por uma velha metálica, entortada numa explosão, encontrada ali nas redondezas. Assim, Fiorenzo, sua mulher, Ines, e os quatro filhos vivos recuperaram uma casa onde pendurar nas paredes os retratos dos parentes e os recibos da taxa familiar, e esperaram o nascimento do quinto filho com alguma esperança da que sobrevivesse.”10
instaurada por volta de 1850 até uma década depois, os bairros apertados deram lugar a amplos bulevares, praças, vias, novos centros comerciais... Entretanto, ao fazer esta manobra centenas de famílias perderam suas casas e tiveram de realojaremse onde havia lugar, às margens da cidade já urbanizada. Tais manobras de modernização não foram medidas políticas apenas adotadas na França, “logo passou a ser reproduzida em cidades de crescimento emergente, em todas as partes do mundo, de Santiago a Saigon”11. No Brasil, a modernização da cidade do Rio de Janeiro* se aproxima do período histórico que houve a expansão destes ideais. (* poderia iniciar aqui outra livre interpretação com relação as consequências no Rio de Janeiro e a criação do funk, mas o desenvolvimento deste capítulo poderia ficar prejudicado e perderse em meio à tantas referencias. Como bibliografia para este tema há o livro “Funkse quem quiser: No batidão negro da cidade carioca” de Adriana Carvalho Lopes). Brasília também é outro exemplo, só que este é um caso particular. Não foi preciso reconstruir a cidade e adaptála às tendências modernas. Ela nasceu de um projeto já estruturado com esses ideais. Conseguindo, talvez, aliar todas as preocupações de modernização, desde a estrutura das ruas à inclusão de arte nos espaços
A descrição da moradia nos revela todo um contexto histórico e suas públicos. consequências. A modernidade, de vitrines, luzes, ruas, velocidade, moda e toda
E atualmente vejo os casos de desocupação e demolição de cortiços e
uma beleza fútil de Baudelaire, se mostra ao longo do tempo marcada por guerras prédios velhos para a abertura de grandes vias ou espaços livres no centro de na obra de Calvino. A casa de Fiorenzo participou das várias reviravoltas políticas Osasco e no Largo da Batata em São Paulo. Este último, junto com uma grande italianas, cada uma delas se consolidou como característica arquitetônica. Porém, a reforma inaugurou uma estação de metrô da Linha Amarela. Além destes casos há a maior delas não está numa mudança física do local, e sim na mudança funcional. A “Revitalização do Centro” de São Paulo, manobra que envolve muitas ações em moradia não foi construída para ser um lar, somente depois de todos os conflitos várias instâncias. Desocupação de prédios abandonados que servem de moradia,
demolição de edifícios, expulsão de viciados em crack, shows e eventos
viver fora do que seriam os padrões é realidade para além dos personagens
públicos, construção de centros culturais. Essas medidas, assim como Berman de Calvino. Na rua de casa existe o comércio que arrecada materiais trazidos por comenta sobre Paris, acredito que tem a preocupação de ocupar tais locais com catadores, eles são pagos por quilo. Em frente, existem duas lojas grandes que tem transeuntes, pessoas com poder aquisitivo e que movimentariam o comércio.
como fornecimento carga “caída do caminhão”. Não há controle do que está para
Como consequência desta desocupação em massa e ainda abertura de ser vendido, nem garantia de que os produtos funcionam. Alguns já usados, outros grandes
áreas
planificadas,
aparecem
os
moradores
pobres
das
antigas dentro das embalagens e até os que estão amassados mesmo na embalagem. No
construções. Há o encontro de realidades distantes narrado por Baudelaire em caminho do trem há trechos que evidenciam favelinhas em lugares inimagináveis Olhos dos Pobres, essas famílias também são atraídas para conviver nestes de se acessar. E nos arredores da casa de minha avó na Luz, há várias ocupações espaços amplos, porém não são benvindas. Elas foram encaminhadas a viver nas de prédios, alguns com bandeiras da causa, todos com “porteiro” e muita periferias, à margem de todo esse novo brilho de viver. Deslocados e cada vez mais improvisação para conseguir viver. desencaixados da sociedade que se renova veloz e diariamente, deixam de
Fiorenzo e sua família tem seus corpos não mais adaptados para o que se
compreender as regras de convivência impostas através de morais e bons espera deles. Já não são mais os corpos dóceis denominados por Michel Foucault costumes ou por dispositivos comportamentais. A família pobre do conto de no livro Vigiar e Punir14. Foucault diz que há um sistema microfísico envolvendo a Calvino também sofreu a mesma situação. Já fora da cidade, Fiorenzo mora além busca e manutenção de poder. Uma das preocupações desse sistema é o controle dos limites dos bairros periféricos. Ele já não é apto a trabalhar, não conseguiu das pessoas para que as coisas se mantenham sob controle. Os corpos antes de renovar suas qualificações, perdeu a habilidade técnica e desconhece o domínio de tudo devem ser eficientes nas funções que lhes são dirigidas, portanto, para as outros ofícios. Seus filhos “tendo crescido naquela vida, não imaginavam outras sociedades modernocontemporâneas devem ser despreparados para lutar, fortes possíveis, e corriam pela periferia, selvagens e vorazes, irmãos dos ratos com para resistir a jornada de trabalho, especializados em sua função e submissos às quem repartiam comida e jogos”12. Sua esposa Ines, largou os afazeres domésticos, regras sociais. Assim, potencializase a produtividade individual, retirase a passa as tardes deitada cantando. Cuida de seus filhos ou ajuda Fiorenzo em preocupação coletiva e despreparase de possíveis revoltas. alguma atividade.
Este controle se dá através de dispositivos disciplinadores que estão
Seria possível concluir então que esta família está livre de qualquer vínculo presentes nas construções públicas e privadas sob diversas formas. Um exemplo é com a sociedade, mas seria uma conclusão enganosa. Além de pendurar nas a Linha Amarela do Metrô de São Paulo. Tem microfones e câmeras visíveis que paredes dos “recibos da taxa familiar”13, a relação deles é de desdobrar o sistema. sempre relembram a vigilância de um órgão de segurança. O fluxo é regulado pela Viviam do que a cidade não queria mais, o que foi descartado, porém, até mesmo na velocidade das esteiras e escadas rolantes, barreiras físicas que direcionam a ponta de todo esse circuito existe um mercado consolidado. E somente por essa circulação, placas que indicam o caminho a ser feito. Os funcionários são homens delicada relação de comércio que não se desvinculam definitivamente da fortes, sem exceção, para coagir qualquer manifestação contrária a que é permitida. civilização.
As portas para entrar e sair das estações, assim como, dos vagões condicionam o
Morar onde não deveria, vender o que não seria a princípio comercializável, ritmo de caminhada. A sinalização visual evita o diálogo. Todos esses pequenos
fatores presentes no percurso diário ao longo de um tempo, somados a outros tantos da rotina, moldam um corpo que se regulariza como dócil. A morada nas cidades se torna essencial como manutenção dos “corpos dóceis”, porque é nela que se concentram os dispositivos disciplinadores** que permeiam a sociedade em geral. ( ** Existem outros dispositivos estudados por Foucault que estão fora deste convívio direto. Os conventos, exército e prisões. Porém, estes mecanismos aparecem dissolvidos nas práticas cotidianas) Viver fora destes meios e padrões, portanto, gera a possibilidade de outros corpos existirem. Como os da família de Fiorenzo e os casos das pessoas citadas anteriormente, observadas por mim no percurso pela Grande São Paulo. Vale lembrar que a construção e consolidação deste sistema, segundo os estudos de Foucault, vem da segunda metade do século XVIII com mudanças de posturas
políticosociais,
ligadas
ao
surgimento
de
outras
correntes
de
pensamento. Ao meu ver, as situações vividas por mim e descritas por Baudelaire e Calvino já observadas aqui, tem interligações com o estudo de Foucault. As transformações concretas nas cidades reforçaram esse sistema, nas praças que todos vigiam, nas vias para diminuir percurso, no ponto para bater, exército para marchar. Citei a construção da Linha Amarela nos dois pontos do texto, porque ela foi construída no mesmo período das reformas de “revitalização” dos espaços urbanos e tem características exemplares de dispositivos disciplinadores.
Heterofobia:
"Se me pagassem..."
Serve pro Brasil, nĂŠ?
Pausa para a preparação psicológica de mudança abrupta ( não mais) de temas tensos para algo " leve e descontraído" que nem os telej ornais fazem antes de acabar pra ninguém ficar tão deprimido, apenas com medo das ruas e com a certeza que a humanidade é ruim e o consumismo é a saida já tá de bom tamanho.
Sobre a espera e a impaciência
Imagem fora do contexto que n達o faz sentido, mas quero colocar porque sim.