METRONOME
Random Access Memories O aguardado álbum do Daft Punk
Sinto como se eu tivesse 17 anos
Kraftwerk
O mundo da música eletrônica
Prestes a completar 50 anos, Fatboy Slim traz ao Brasil sua consagrada festa Big Beach Boutique
A lendária banda percussora da música eletrônica mundial que influencia artistas• até hoje Metronome Maio 2013
Especial conta toda a história do gênero, desde os primeiros sintetizadores até os dias atuais.
1
Metronome • Maio 2013 2
Metronome • Maio 2013 3
ÍNDICE//
18 ESPE/ CIAL
06 ENTRE/ VISTA
10 HISTÓ/ RIA
06
Sinto como se eu tivesse 17 anos
10
Kraftwerk
14
Random Access Memories
18
O mundo da música eletrônica
14
24
24
Crystal Castles III
CAPA
Metronome • Maio 2013 4
RESE/ NHA
Metronome • Maio 2013 5
ENTREVISTA//
Sinto como se eu tivesse 17 anos Prestes a completar 50 anos, DJ britânico traz ao Brasil sua consagrada festa Big Beach Boutique, em Balneário Camboriú, no dia 3 de janeiro
Norman Cook não é mais um garoto. O DJ britânico, mais conhecido como Fatboy Slim , que deixou sua marca na cultura pop com hits como “ Praise You ” e “ Weapon of Choice ”, vai completar 50 anos em 2013. Seu espírito festeiro, no entanto, continua intacto. “Sempre que subo ao palco, sinto como se eu tivesse 17 anos de novo”, garante ele em entrevista ao iG por telefone, de sua casa em Londres. O segredo para a juventude eterna, Norman explica, é a energia do público, que se renova todos os anos e parece nunca envelhecer. “Não me enjoo de tocar”, diz. No dia 3 de janeiro o Brasil recebe pela primeira vez, em Balneário Camboriú (SC), a Big Beach Boutique , consagrada festa organizada por Norman desde 2001 em Brighton, no Reino Unido. Ele ainda fará outros seis sets, incluindo um no Réveillon em Arraial D’Ajuda (BA). “[O Brasil] é meu lugar favorito para tocar depois da Inglaterra. E eles continuam a me convidar, não entendo porque”, brinca. Norman já perdeu as contas de quantas vezes se apresentou no País, mas guarda ótimas lembranças de suas festas, em especial a apresentação que fez na praia do Flamengo, em 2005. “A maior da minha carreira”, se recorda. Metronome • Maio 2013 6
Afastado dos estúdios desde 2008, quando lançou um álbum com o ex-Talking Head David Byrne e o rapper Dizzee Rascal , Norman conta que não pretende voltar a gravar algo tão cedo. “Vou esperar até o momento em que eu me sentir inspirado. Enquanto isso, vou continuar me divertindo com os shows”, diz. Mas mesmo sem músicas inéditas em seu repertório, o britânico sempre consegue se manter na elite da eletrônica. A maior prova disso é que, em junho passado, Norman foi eleito o 12º DJ mais bem pago do mundo , com faturamento de R$ 45 milhões, segundo a revista “Forbes”. Ele também foi o único de sua categoria escolhido para representar o Reino Unido durante o encerramento dos Jogos Olímpicos de Londres . Diante de uma nova leva de artistas da música eletrônica comercial, que cresceram ouvindo Fatboy Slim, como Calvin Harris e David Guetta , Norman comemora a explosão do gênero nas paradas musicais. “Fico contente porque a música eletrônica se tornou tão grande que acabou abrindo portas para artistas alternativos.” Leia a entrevista na íntegra.
Metronome • Maio 2013 7
Como se sente em trazer a “Big Beach Boutique” ao Brasil pela primeira vez? Sinto como se a festa já tivesse
acontecido. A maior festa de praia da minha carreira foi no Rio em 2005, na praia do Flamengo. E foi muito maior que a de Brighton, com 360 mil pessoas. Então eu acho que já fiz essa festa aí, já toquei em muitas praias. O que aconteceu agora é que, como estamos fazendo a Big Beach Boutique no mundo inteiro, as pessoas querem transformá-la em um festival. Está animado para o Ano Novo na Bahia? Sim! Eu
já fiz o Carnaval e já fiz festivais, mas nunca fiz o Ano Novo. Estou ansioso. A família vem junto? Não, infelizmente não. Minha
filha é muito pequena e meu filho está na escola. É um pouco longe, então eles vão ficar em casa.
O que você mais gosta na música atualmente?
Estou realmente contente com essa explosão que está acontecendo da música eletrônica comercial, como o Swedish House Mafia e o David Guetta . Fico contente que isso se tornou tão comercial que acabou abrindo portas para artistas alternativos. O que o David Guetta conquistou é muito legal. Mas é a parte ”underground” disso tudo é o que mais me excita. Mas você gosta de artistas como o LMFAO, Pitbull e Flo Rida? Como eu disse eles são muito mais comerciais
do que o que eu faço. Mas ao mesmo tempo eles abrem portas para outros artistas e outros DJs “underground” de techno. Esse efeito de causa e consequência do sucesso significa que globalmente as pessoas estão ouvindo o nosso tipo de música e acaba sendo positivo para todos. O que você acha que falta na música atualmente?
Depois de tanto tempo tocando, como você mantém seu set atual? Acho que o público faz isso por mim.
Todos os anos eu fico um ano mais velho, mas o público parece que não, está sempre se renovando. Eu tento sentir a energia da galera. Sempre que subo ao palco, sinto como se tivesse 17 anos de novo. Isso é demais! É o segredo da juventude eterna.
Discos. E a excitação que as pessoas têm por discos, pelo encarte, pelo toque. Hoje em dia escutar música ficou fácil. Talvez eu seja antiquado, mas acho que hoje as crianças ficam mais animadas com jogos de computadores que com a música. É muito fácil apertar “download” e simplesmente ouvir, não existe mais a sensação de descoberta.
Metronome • Maio 2013 8
Você sempre usou música pop nos seus sets e inclusive já foi muito criticado por isso. Como se sente em relação a isso hoje? Minha música sempre foi mais
sóbria, comparada a do Calvin Harris, por exemplo. Mas ao mesmo tempo tem que ser acessível e é por isso que eu misturo faixas pop. Gosto de tocar músicas que são muito fáceis de se reconhecer e outras difíceis. Mas eu não tocaria One Direction , por exemplo (risos). Se eles fizessem uma música falando sobre praias e o Brasil talvez eu tocaria.
“Não me enjoo de tocar. Mas odeio aeroportos e ficar longe de casa.” Você acha que os jovens ouvem sua música?
Os jovens que me ouvem como DJ talvez não conheçam minha história como produtor. Mas eu não ligo porque hoje em dia eu sou mais um DJ que um artista. Estou feliz que ainda tenho um lugar na indústria musical como DJ.
Você às vezes fica entediado com seu trabalho?
Não me enjoo de tocar. Mas odeio aeroportos e ficar longe de casa. Ainda assim, as duas horas que fico no palco compensam tudo isso. Ultimamente eu não sou muito da festa, eu não bebo mais, por exemplo. Mas mesmo assim me divirto muito todas as vezes que estou no palco. Você gosta da Rihanna? Porque todo mundo só fala dela hoje em dia. Pra dizer a verdade o hit do momento
nos meus sets é tocar Adele . Ela minha vizinha de porta e é o máximo de pop que eu toco agora. Pretende voltar para o estúdio em algum momento?
Esses shows ao redor do mundo tomam todo meu tempo, e eu viajo o ano inteiro. Eu estou me divertindo muito apenas tocando e não estou animado em fazer um álbum agora. Quando eu ouço o David Guetta e o Calvin Harris, penso que não quero fazer um disco como aqueles. Então vou esperar até o momento em que eu me sentir inspirado. Enquanto isso, vou continuar me divertindo com os shows. Tem uma música que nunca envelhece pra você?
Acho que “Right Here Right Now”. Eu tenho que tocar em todos os sets e eu nunca enjoo dela.
Metronome • Maio 2013 9
HISTÓRIA//
A história do Kraftwerk (usina de energia, em alemão) teve início em em meados de 1970 na cidade de Düsseldorf - Alemanha, embora sua origem remonte ao ano de 1968 e o pouco conhecido Organisation (banda erudito-experimental alemã), antecessor direto do Kraftwerk. Em 1970, Ralf Hütter e Florian Schneider-Esleben membros fundadores do Organisation fundaram então o Kraftwerk, incluindo em 1971 em sua formação os multi-instrumentistas Klaus Dinger e Michael Rother. A origem do nome Kraftwerk (Usina de Energia/Força, Complexo Elétrico) vem do local onde eram feitos os ensaios e experimentos do grupo, uma Refinaria (Complexo) em Düsseldorf. Com influências do rock-progressivo (leia-se Pink Floyd e toda sua “psicodelia”) o Kraftwerk tornou-se o percursor da música eletrônica.
Metronome • Maio 2013 Metronome10 • Maio 2013 10
Metronome • Maio 2013 11
bahn o Kraftwerk consegue antecipar vinte anos de música eletrônica, criando a beleza glacial da música cibernética. Os integrantes embrarcam num Volkswagen para uma viagem em uma auto-estrada alemã. Com paradas obrigatórias nas faixas Autobahn e Kometenmelodie 2. O álbum teve uma vendagem significativa, provocando uma grande empatia tanto nos apreciadores de música séria quanto nos frequentadores de pistas de dança, causando assim o rompimento com a atual gravadora e assinando com a Capitol. O ano de 1975 marcou o Kraftwerk com “um passo” (ou vários se preferir) na frente em termos de direção artística e musical, sem dúvidas é um álbum conceitual, no que se diz respeito a “música eletrônica”. Após a saída de Klaus Roader e a chegada de Karl Bartos, o Kraftwerk lança o primeiro álbum a dispensar formalmente o uso da guitarra, tornando-se o primeiro LP totalmente eletrônico da história. Nomeado Radio-Activity (1975, título em alemão RadioAktivität), um trabalho além de conceitual, minimalista. Após essa fantástica viagem pela auto-estrada é hora de embarcarmos em um trem expresso: Trans-Europe Express (1977, título em alemão Trans Europa Express), que tem escalas em Showroom Dumies (Schaufensterpuppen) e nas letras profundas da pérola tecno-existêncial de 7’50” The Hall of Mirrors (Spiegelsaal). O Kraftwerk possui uma “trilogia evolutória” iniciada com Trans-Europe Express, fase essa em que a banda soava como “homens normais” com sentimentos e emoções humanas. É neste clima industrial tendo ao fundo a ruminação mecânica das fábricas que o Kraftwerk grava seus primeiros trabalhos, fundindo ruído, sonoridade, poesia e folclore industrial. Nestes primeiros momentos gravados em LP’s no estúdio privado, o Kling Klang Studio, o Kraftwerk inaugura o Technopop com o álbum Kraftwerk 1 (1971), Kraftwerk 2 (1972), Kraftwerk (1972 - 2LP - Compilação UK) e Ralf und Florian (1973, apenas os dois músicos).
Ao vivo
A progressão da sonoridade do grupo veio gradualmente assimilada a tecnologia e seus elementos. É importante ressaltar que a maioria dos “instrumentos” usados por eles são máquinas criadas por Wolfgang Flür em parceria com os demais, utilizando reciclagem tecnológica da época pré-informatizada em que viviam, tais como samples, computadores, calculadoras, ritimos pré-programados, sintetizadores, gravações aleatórias, microprocessadores arquitetados eletrônicamente por eles mesmos. Essa dedicação mesclada com “genialidade” deu origem a obra-prima Autobahn (1974), álbum que já conta com a presença de Wolfgang Flür e Klaus Roader. Com o AutoMetronome • Maio 2013 12
Na sequência dessa “trilogia evolutória” temos o álbum The Man-Machine (1978, título em alemão Die MenschMaschine), este álbum contém quatro sigles oficiais (The Robots, Spacelab, The Model e Neon Lights). O álbum conta com grandes influências no filme Metropolis (1927) de Fritz Lang e mostra uma fase de transição “homemmáquina” dos integrantes. Fase essa em que se percebe como Kraftwerk influenciou toda uma geração (leia-se synthpop, ectro, EBM e muitos outros) com faixas como o hino The Robots (título em alemão Die Roboter), a incrivelmente “atual” Spacelab, Metropolis e suas batidas mostram porque lapidaram o conceito de EBM. The Model(título em alemão Das Modell) foi o single nº 1 no Reino Unido em 1982 e um dos sucessos mais “comerciais” do banda sendo regravada por vários artistas, assim como Neon Lights (título em alemão Neonlicht) que por ser uma das melhores e mais “experimentais” faixas foi regravada por artistas como OMD e Simple Minds. Fechando com “chave de ouro” o álbum, temos a faixa-título The Man-Machine (título em alemão Die Mensch-Maschine) mostrando que a transição para “máquinas” está completa, solidificando o estilo “robótico” (porém com sentimentos) e impulsionando o próximo álbum.
Metronome • Maio 2013 13
CAPA//
Random Access Memories “Nós queríamos fazer o que estáv mos acostumados a fazer com máquinas e samplers, mas com pessoas” Disse Thomas, intergante da dupla Daft Punk sobre seu novo álbum.
Metronome • Maio 2013 14
Metronome • Maio 2013 15
“A música eletrônica no momento está em uma zona de conforto e não move uma polegada.”
Random Access Memories começou a ser feito em 2008 sem um plano claro. Thomas disse que, depois de três álbuns, ele e Guy-Manuel tinham uma vontade de procurar por um disco que eles ainda não haviam feito. “Nós queríamos fazer o que estávamos acostumados a fazer com máquinas e samplers, mas com pessoas”, explicou ao dizer que o duo estava se sentindo no piloto automático com seus equipamentos.
reconhecido: você ouve uma música dubstep e, mesmo que não seja dele, você acha que é.
Thomas revelou que, tirando um trecho no início da última canção do álbum, “Contact”, o Daft Punk deixou de lado os samples, limitou o uso de caixa de ritmos para duas das 13 faixas do disco e os únicos eletrônicos utilizados são um sintetizador que a dupla tocou ao vivo na gravação e alguns aparelhos vintage que manipulam a voz.
Sobre turnê, Bangalter disse que não há planos. “Nós não vemos uma turnê como um acessório de um álbum”, disse e revelou também que, quando eles foram fazer shows, o set virá com os hits da carreira da dupla e não só com o material novo.
Sobre o título do novo trabalho, Thomas explicou: “Nós estávamos desenhando um paralelo entre o cérebro e o HD – a forma aleatória com que as memórias são armazenadas”. Em relação à participação de Pharrel Williams, que canta em “Get Lucky” e “Lose Yourself to Dance”, a matéria revela como isso aconteceu com palavras do próprio músico: Nós estávamos em uma festa do último álbum da Madonna e eu disse algo como: “Vocês deveriam produzir isso! Porque não fazer isso acontecer? Madonna com os robôs seria inacreditável!”. E eles disseram: “Nós estamos trabalhando em algo”, e eu disse: “Qualquer que seja a coisa que vocês estejam fazendo, me chamem – eu tocarei tamborim”. Eles se olharam e disseram: “Você vai ser chamado”. Bangalter também comentou sobre a cena da EDM (eletronic dance music) que o próprio Daft Punk ajudou a inspirar e como esse disco tenta se afastar da sonoridade computadorizada em que a cena se encontra: A música eletrônica no momento está em uma zona de conforto e não move uma polegada. Isso não é o que os artistas devem fazer. Há uma crise de identidade: você ouve uma música e se pergunta de quem é. Não há uma assinatura. Skrillex teve sucesso pois ele tem um som Metronome • Maio 2013 16
Além do estúdio da dupla em Paris, as músicas do Random Access Memories foram trabalhadas em estúdios em Los Angeles e Nova York. Segundo Thomas, algumas faixas do disco passaram por cinco estúdios durante dois anos e meio.
De Saint Laurent Hedi Slimane tem um amor pela música que o levou a colaborar com nomes como Marilyn Manson, Kim Gordon, Ariel Pink e Courtney Love. Para o seu mais recente empreendimento na sua sérieSainr Laurent Music Project, recrutando e fotografando o Daft Punk para uma série de anúncios em preto-e-branco, mostrando o estilo das suas novas roupas que serão usadas durante a divulgação e apresentações do seu novo álbum “Random Access Memories”. O duo electro francês pela primeira vez com volta Slimane em outubro de 2012, proporcionando uma trilha sonora de 15 minutos para sua Laurent desfile de estréia santo. Agora, o designer está retornando o favor, dando Punk uma reforma lançando suas linhas de assinatura para icônica lantejoulasmergulhado Le Smoking terno smoking de Saint Laurent. Originalmente concebido como uma alternativa para um vestido de noite, o smoking é um item de moda andrógina que borra sexo com seu brilho. Desenhado por Hedi Slimane, os ternos brilhantes são dadas uma vantagem adicional emparelhado com marcas brilhantes capacetes de estilo robô do punk contra um pano de fundo branco gráfico. As modas espumantes podem ser cena em movimento no anúncio de seu novo “Get Lucky” só com Pharrell Williams, que estreou na TV durante o “Saturday Night Live”.
Metronome • Maio 2013 17
ESPECIAL//
Especial:
O mundo da música eletrônica Hoje, a música eletrônica é um dos mais importantes pilares da indústria fonográfica. Desde seus gigantescos festivais até a influência na composição da música contemporânea, a EDM (Electronic Dance Music) é a vertente musical que mais cresceu nos últimos anos. O alinhamento com as tendências de mercado e a evolução da tecnologia trazem cada vez mais sucesso econômico, reconhecimento crítico e uma popularização comparada ao rock nos anos 60 e 70. Esse especial mostrará a história, explicará os termos e dissecará os estilos mais conhecidos deste mundo cada vez mais presente no nosso cotidiano. Nesta primeira parte, mostraremos onde tudo começou, de onde vieram as principais influências e quais músicos começaram a história deste som que, mais do que um estilo musical se tornou um estilo de vida.
Metronome • Maio 2013 18
Metronome • Maio 2013 19
Um início erudito
Antes de ser sinônimo de balada e tecnologia, a música eletrônica foi algo rústico e até erudito. Os primórdios deste estilo são conectados à Thomas Edison, renomado inventor estadunidense, que entre inúmeras criações, fez o fonógrafo, primeiro aparelho a conseguir reproduzir eletricamente sons previamente gravados - algo que ainda é o cerne da EDM atual.
Pierre Schaeffer
Tal inveção mudou a música como um todo. A partir dali, iniciou uma fase de reprodução e disseminação das inúmeras obras artísticas envolvidas com o som. Já no final da década de 1940, com essa possibilidade de gravar e reproduzir sons cada vez mais expandida, o francês Pierre Schaeffer começou a unir diferentes instrumentos e gravações em uma só música. Os ruídos gerados pelos toca-discos de vinil, unidos a manipulação da velocidade ou do sentido da leitura feita nas gravações, deu origem as primeiras mixagens. Naquele mesmo período, a e-music começava a tomar forma também na Alemanha. Werner Meyer-Eppler, Herbert Eimert e Robert Beyer se uniram para criar o primeiro estúdio totalmente dedicado ao estilo. Enquanto na França os experimentos eram feitos com objetos sonoros e instrumentos musicais, as técnicas alemãs eram aplicadas a sons gerados por osciladores elétricos. Ambas vertentes traziam um caráter experimental e ainda clássico, para um tipo de música que dali a alguns anos se tornaria tão popular quanto o rock’n’roll.
Da mistura à popularização Pink Floyd
Kraftwerk
Foi na década de 60 que o gênero entrou na cultura mundial, ao ganhar o cenário da música estadunidense. O uso de vertentes da música eletrônica teve grande influência nos trabalhos de bandas como The Beatles e Beach Boys, que deixavam de lado o uso de instrumentos acústicos, para usar sintetizadores e outros equipamentos eletrônicos. No entanto, nenhuma outra banda, integrou tal vertente com tanta maestria quanto a inglesa Pink Floyd. Seu rock psicodélico e progressivo, principalmente dos discos iniciais, como The Piper at The Gates of Dawn, mostrava uma mistura coesa dos elementos eletrônicos, edições assimétricas e efeitos de teclado que, mais tarde, virariam sua marca registrada. Até ali, a e-music era vista como um sub-gênero, algo que se aproveitava em estilos mais consagrados como o rock ou o jazz. Em meados dos anos 70, o Kraftwerk inverteu este cenário. O grupo alemão começou com trabalhos experimentais, onde unia instrumentos comuns, como baixo, guitarra e violinos, a sintetizadores e osciladores; formando, àquela época, um som único. Metronome • Maio 2013 20
A popularidade veio com os discos lançados entre 1975 e 1978, cujos conceitos influenciaram a música contemporânea dali em diante. Com a rápida popularização do estilo, mas ainda com um estigma de vanguarda atrelado a si, a música eletrônica começou a ter no ambiente undergound seu refúgio. As criações independentes começaram a surgir com maior frequência, principalmente pelo aparecimento dos computadores. Com eles, os primeiros aparelhos de armazenamento e mistura de músicas, os samplers, surgiram - assim como a possibilidade de alterar e emular as funcionalidades de instrumentos por meio da manipulação virtual. Com essa liberdade, era natural a aparição de novos estilos musicais, tendo em vista as possibilidades oferecidas pela evolução tecnológica.
Depeche Mode
O ressurgimento em âmbito mundial veio novamente com uma mistura atrelada a outros estilos. O synthpop, exemplificado por obras de bandas como Depeche Mode, Pet Shop Boys e New Order, usava os sintetizadores eletrônicos e tendências dance music, totalmente influenciadas pelos conceitos criados pelo Kraftwerk. E, assim como toda moda que se preze, bastou a música eletrônica chegar a uma grande mídia, neste caso o cinema, para que a popularização se concretizasse de uma vez. Os Embalos de Sábado À Noite, com John Travolta, firmou a ascensão das discotecas e da dança misturada ao estilo eletrônico, na chamada Era do Disco. Dessa junção, surgem os sub-gêneros mais conhecidos como o house, o techno e o trance. A partir desse momento, estes sub-gêneros ganharam força na cena mundial, cada um com sua história e seus representantes. Eles cresceram de forma rápida e disseminaram pelo mundo uma sonoridade que marcaria o estilo de boa parte dos músicos contemporâneos. A próxima parte do especial mostrará um pouco mais destes inúmeros gêneros, além do histórico dos artistas que influenciaram a atual geração da música eletrônica.
Frankie Knuckles
Músicas da Casa, a House Music
Muitos confundem a disco e a house music, principalmente por terem uma ligação histórica muito próxima. Em 1979, após acompanhar o crescimento de movimentos contrários à disco music, a cidade de Chicago, nos EUA, foi palco do nascimento de uma das casas noturnas mais importantes da história da EDM, a The Warehouse. Nela, residia Frankie Knuckles, que ao lado de Larry Levan - um dos precurssores da disco -, era considerado o pai da house music. Enquanto Levan tinha como sua marca registrada as batidas repetidas - as famosas 4x4 - Knuckles acrescentava a isso o R&B, o jazz e o soul, popularizando ainda mais o estilo. Metronome • Maio 2013 21
Ron Hardy
Gerald Simpson
David Guetta
Goldie
Jamie Principle
Larry Levan
Derrick May
O crescimento e o aumento da aceitação do estilo fez com que as pessoas começassem a procurar a fonte para as novas montagens de ritmo. Àquela época, uma loja em especial ficou na história, a Imports Etc. Os fãs - ou mesmo os curiosos- iam até o estabelecimento para procurar as faixas que Knuckles e outros DJs tocavam na The Warehouse. A demanda cresceu tanto que mais tarde foi criada uma sessão especial para estas músicas, com o nome de “As Heard At The Warehouse” - aos poucos os consumidores foram modificando a nomenclatura da sessão até se tornar o nome oficial do estilo conhecido até hoje, House Music. Levados principalmente pelo sucesso de Knuckles e Levan, inúmeras rádios (a WBMX e seu “The Hotmix”) e outras boates surgiram em Chicago, fazendo desta cidade um dos símbolos para o crescimento da EDM. Uma casa de shows em especial, chamada Muzic Box, foi o berço de outro grande nome do house, Ron Hardy - um dos primeiros a imprimir o funk em suas mixagens e dar uma pegada ainda mais pesada àquela vertente da e-music. Mesmo com uma popularização cada vez maior, ainda faltava um sucesso arrebatador para que o estilo se tor-
nasse, de uma vez por todas, algo tão importante quanto um single de rock. E o marco zero da house music veio com a música “Your Love”, criada a partir de uma parceria entre Frankie Knuckles e Jamie Principle, outro grande DJ da época. Junto deles, Jesse Saunders e Vince Lawrence emplacaram “On and On” e fixaram a música eletrônica para sempre no conceito de música pop. Além do forte apelo rítmico e da batida contagiante, estas faixas tinham aspectos técnicos que se tornariam padrão em muitos sucessos de outros DJs. “On and On” e “Your Love” eram produções próprias, com letras e melodias feitas pelos músicos da época - o que os levou a não mais somente tocar e selecionar músicas de outros, mas também criá-las. O advento da bateria eletrônica foi outro fator preponderante para a disseminação da house music; pois não era preciso ser erudito ou ter estudios e pick-ups específicas, bastava agora um surto de criação e a posse daquele instrumento traria a possibilidade de fazer música eletrônica. Após Chicago, no começo da década de 80, era chegado o momento daquela cena tomar conta de outra grande cidade dos EUA: Nova York. Lá, Marshall Jefferson foi responsável pela criação de um dos hinos daquela época, “Move Your Body”. Além dele, outros grandes produ-
Metronome • Maio 2013 22
Bob Sinclar
Prodigy
tores tiveram relevância como Steve “Silk” Hurley, Scott “Smokin” Sill, Farley Jack Master Funk e DJ Pierre - este, dono de uma série de inovações na música, incluindo a adição de instrumentos novos na mixagem.
A chegada à Europa e os subgêneros
A segunda metade da década de 1980 marcou a ida da house music para o continente europeu. Primeiro ela chegou à Inglaterra e posteriormente à Ibiza, que viria a ser um dos destinos mais procurados pelos apreciadores da e-music. Um dos maiores produtores e DJs de todos os tempos, Paul Oakenfold, foi um dos responsáveis pela disseminação do estilo estadunidense - principalmente de Chicago - à Europa. Oakenfold e mais alguns amigos elegeram Ibiza como ponto de partida para uma nova etapa da EDM. A cidade turística das classes mais ricas do Velho Continente tinha uma “vibe” inusitada e, até então, inédita - com uma infalível mistura entre natureza, música eletrônica e drogas. A segunda fase foi levar este novo sentimento para a Inglaterra, que se tornou a cidade disseminadora da cultura pop da música eletrônica. Com presença maciça nos EUA e em grande parte da Europa, o domínio da e-music se tornava global. A evidente popularização do estilo fez com que novas leituras da música eletrônica surgissem dentro dos próprios
gêneros criados até ali. Durante o fim dos anos 80 e toda a década de 90, novas tendências musicais foram criadas a partir da house music. Entre eles existem o techno e o drum and bass, por exemplo. Outros subgêneros tão populares quanto estes são o acid, o deep e o tech house, produções comparadas com as composições mais antigas, e que consequentemente têm um apelo maior ao público underground; além dos “hitmakers” do progressive e electro house, onde estão concentrados a maioria dos artistas do mainstream da EDM como David Guetta, Swedish House Mafia, Bob Sinclair e deadmau5.
Drum and Bass, a junção da bateria com o baixo
A disseminação da house music criou gêneros e subgêneros que até hoje perduram nas pistas. Duas destas crias - o jungle e o UK garage - deram origem a um dos estilos mais populares da atualidade, o drum and bass. A cena rave britânica foi o local que gerou o ponta pé inicial para este gênero se desenvolver. Bandas como The Prodigy, Altern8 e Gerald Simpson foram aglumas das responsáveis pela popularização dele ao redor do mundo. A aceleração das faixas e a velocidade com que as músicas são mixadas é a principal característica do “DnB”. O ritmo dos sons gira em torno de 170 batidas por minuto
Metronome • Maio 2013 23
RESENHA//
CRYSTAL CASTLES III
Desde o primeiro disco o Crystal Castles parecia uma banda fadada à redundância e a absorção constante da mesma proposta instrumental. A trama de ruídos computadorizados, as vozes sempre maquiadas de Alice Glass, as batidas minimalistas e esquizofrênicas de Ethan Kath, tudo parecia construído dentro de um período curto de validade, como se o suposto castelo de cristais que dá título aos trabalhos da dupla estivesse prestes a desabar. Contudo, quase dez anos depois do surgimento do casal canadense, a banda parece inclinada a tudo, menos a se repetir. Prova clara disso está no lançamento do autointitulado terceiro disco – também definido como III -, registro que perverte a proposta sintética dos anteriores lançamentos, apresentando novos percursos ao trabalho do sempre obscuro casal. Com uma proposta naturalmente íntima do que o duo vinha desenvolvendo desde o primeiro álbum, em III Kath tira o pé do acelerador, evitando a construção de uma massa eletrônica similar ao composto pulsante que definiu a execução do último disco. Partindo dessa premissa, a dupla incorpora uma tonalidade muito mais densa e consequentemente experimental do que define a sonoridade do casal, rompendo de forma decisiva (e necessária) com o que parecia ser uma maior aproximação com a música pop. Resultado nítido logo na faixa de abertura do trabalho, a atmosférica Plague, quanto mais os canadenses mergulham no cenário sombrio da obra, mais hermética ela se torna, como se as faixas fossem se fechando em meio a volumosas ondas de ruídos.
Metronome • Maio 2013 24
Tocando de leve no Drone em alguns instantes – imagine uma versão dark dos primeiros lançamentos da dupla Fuck Buttons -, faixa após faixa o álbum segue mergulhando em uma solução fechada de sintetizadores que acabam por decidir de forma definitiva os rumos (quase sempre instáveis) do trabalho. Esqueça os pequenos pontos de distinção que se definiam no decorrer do trabalho anterior, mesmo nos momentos mais “comerciais” da obra, como no decorrer de Violent Youth ou no R&B Affection, há sempre a necessidade da dupla em se enclausurar em um cenário obscuro de vozes remodeladas, batidas não óbvias e teclados que cobrem o álbum como um imenso e abafado cobertor sintético.
Oposto do que o casal propunha até pouco tempo, em III é nítido o esforço em não produzir um registro dançante ou que se prenda aos comandos rítmicos de outrora. A proposta tende ao crescimento de um trabalho muito mais centrado, partidário de uma mesma arquitetura sonora, bem como de uma força instrumental que hipnotiza e mantém o ouvinte atento até o último segundo. A cada nova criação todo detalhe faz a diferença. Enquanto Kerosene faz das batidas matemáticas uma cama para os vocais reformulados que escorrem em doses ao fundo, Child I Will Hurt You, no fecho do álbum, quebra a estrutura natural que acompanha a dupla, arrastando Alice para um mundo de sonhos eletrônicos que contribuiriam e muito para um próximo álbum da também dupla Beach House. Sem nunca parecer como uma continuação do último disco da dupla – que de uma forma ou outra se estendia como uma sequência do primeiro -, ao pisar no terreno do recente álbum temos de fato novidade. Antes combustível para boa parte das canções, os vocais de Glass assumem uma temática menos orgânica, se misturando aos sons eletrônicos em Pale Flesh ou sendo completamente engolida.
Metronome • Maio 2013 25
Metronome • Maio 2013 26
Metronome • Maio 2013 27
Metronome • Maio 2013 28