Lusofonia - Africanidade

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AFRICANIDADE LUSOFONIA. PROFESSORA ENVOLVIDAS LESLIE VASCONCELOS - HISTÓRIA E GEOGRAFIA LUCIENE SAAD - GLACE MOTTA E OUTROS PROFESSORES DA U.E.



Raiz Afro-Brasileira O temo Afro-Brasileiro designa tanto pessoas quanto objetos e cultura oriundos da vinda de negros escravos africanos para o Brasil. O Brasil tem a maior população de origem africana fora da África. Segundo o IBGE, os auto-declarados pretos representam 6,3% e os pardos 43,2% da população brasileira, ou seja, oitenta milhões de brasileiros. Tais números são ainda maiores quando se toma por base estudos genéticos: 86% dos brasileiros têm algum grau de ascendência africana. Os genes africanos no povo brasileiro variam de 1 0 a 1 00% da ancestralidade. Portanto, devido ao alto grau de miscigenação, brasileiros com ascendência africana podem ou não apresentar traços de fisionomia negra. A maior concentração de afrobrasileiros dá-se no Estado da Bahia, onde 80% da população é de ascendência africana. HISTÓRIA O Brasil recebeu 37% de todos os escravos africanos que foram trazidos para as Américas, totalizando mais de três milhões de pessoas. O tráfico de negros da África começou por volta de 1 550. Durante o período colonial, a escravidão era a base da economia do Brasil, principalmente na exploração de minas de ouro e cana-de-açúcar. A escravidão foi abolida gradualmente no decorrer do Século XIX, sobretudo por interesses da Inglaterra. Embra desde 1 850 o tráfico de escravos fosse proibido no Brasil, através da Lei Eusébio de Queirós, só em 1 888 a escravidão foi definitivamente abolida, através da Lei Áurea, assinada pela Princesa Isabel.

ORIGENS Os africanos mandados para o Brasil pertenciam principalmente a dois grandes grupos: os oeste-africanos (antigamente chamados de Sudaneses) e os Bantu. Os Bantus, nativos de Angola, Congo e Moçambique foram mandados em larga escala para o Rio de Janeiro, Minas Gerais e para a zona da mata do Nordeste. Os sudaneses, nativos da Costa do Marfim e de influência mulçumana foram mandados em grande número para a Bahia. Outros grupos étnicos menores vindos da África são o Yoruba, Fon, Ashanti, Ewe e outros grupos nativos de Gana, Benim e Nigéria. Há hoje no Brasil um número expressivo de africanos, na maioria proveniente dos países lusófonos, fazendo cursos de graduação, pós-graduação, mestrado e doutorado nas universidades brasileiras, muito usufruindo de bolsas concedidas pelos próprios órgãos financiadores do nosso governo (CAPES, CNPq e outros). RELIGIÃO Embora a maioria dos escravos trazidos da África tenha sido convertida ao Catolicismo, algumas religiões de origem africana conseguiram sobreviver, seja através de prática secreta como é o caso do Candomblé, Xangô do Nordeste e outros, ou através do sincretismo religioso como Batuque, Xambá e Umbanda (por exemplo). A prática do sincretismo foi conveniente, particularmente pelo fato de que os escravos ganharam o direito a reunirem-se em irmandades. Além da participação nas irmandades, o sincretismo manifestou-se igualmente pela tradição de batizar os filhos e casar-se na Igreja Católica. Segundo o IBGE, 0,3% dos brasileiros declaram seguir religiões de origem africana, embora um número maior de pessoas sigam essas religiões de forma reservada.


COZINHA A cozinha brasileira deriva em grande parte da cozinha africana, mesclada com elementos da cozinha indígena e portuguesa. Na Bahia, principalmente, pratos como vatapá e moqueca são típicos da culinária afro-brasileira. A feijoada é o prato nacional do Brasil. É basicamente a mistura de feijões pretos, carne de porco e farofa. Começou como um prato português que os escravos negros modificaram: os donos de escravos davam as partes pobres do porco aos escravos e estes misturavam estas partes com feijão e farinha. MÚSICA A música criada pelos afro-brasileiros é uma mistura da música portuguesa, indígena e africana, produzindo uma grande variedade de estilos. A música brasileira foi fortemente influenciada pelos ritmos africanos, como é o caso do samba, maracatu, ijexá, coco, jongo, carimbó, lambada e o maxixe. Embora se tenha mantido por muitos anos na marginalidade, a música afro-brasileira ganou notoriedade em meados do Século XX, até se tornar o estilo musical mais difundido no Brasil.


O mundo conheceu a África sob a ótica do cinema, as crianças conheceram a África pelo filme Rei Leão. A música que todos cantam que encantou tantas gerações e continua a encantar.


Ciclo Da Vida O Rei Leão Nants ingonyama bagithi Baba [Aqui surge um leão, pai] Sithi uhm ingonyama [Oh sim, é um leão] Nants ingonyama bagithi baba Sithi uhhmm ingonyama Ingonyama Siyo Nqoba [estamos indo para conquistar] Ingonyama Ingonyama nengw' enamabala [Um leão e um leopardo estão vindo para esse lugar aberto] Desde o dia em que ao mundo chegamos Caminhamos ao rumo do sol Há mais coisas para ver, mais que a imaginação Muito mais pro tempo permitir E são tantos caminhos pra se seguir E lugares pra se descobrir O sol a girar sob o azul desse céu Nos mantém, esse rio a fluir É o Ciclo sem fim Que nos guiará A dor e a emoção Pela fé e o amor Até encontrar o nosso caminho Nesse ciclo Nesse ciclo sem fim É o ciclo sem fim Que nos guiará A dor e a emoção Pela fé e o amor Até encontrar o nosso caminho Nesse ciclo Nesse ciclo sem fim


Viagem Virtual - Pela Poesia da África Lusófona – Por: Katharina Aulls Estudante do Mineur en Langue Portugaise et Cultures Lusophones O encontro com as literaturas dos países lusófonos foi uma oportunidade, para mim de provar e saborear a riqueza das culturas lusófonas. Literaturas escritas na mesma língua, mas de cores variadas, consoante o país, a sua cultura e as suas tradições, desenham-se no horizonte literário um arco-íris na língua da Lusofonia: o Português. As antigas colónias portuguesas de África e da Ásia que alcançaram a liberdade há mais ou menos 25 anos provocaram a emergência de escritores e poetas de expressão portuguesa, autores de todos os países lusófonos que publicam obras na língua de Saramago, Jorge Amado, Pepetela, Mia Couto, Craveirinha, Eugénia Neto. Estes autores são representantes da cultura específica do país que habitam e de onde escrevem. Alguns são autores de importância maior para as literaturas de expressão portuguesa: a lusografia. Todos os autores que seleccionámos são escritores contemporâneos. Alda Espírito Santo (1 926), é a primeira poetisa publicada de São Tomé, autora de uma poesia, que expressa o protesto e a luta, intimamente associados às aspirações do seu povo e à liberdade, é a escritora mais antiga. Germano Almeida (1 945) advogado, jornalista e romancista premiado de Cabo Verde, desmascara a hipocrisia na sociedade cabo-verdiana com as armas do humor, que, pela lupa satírica, se transforma num paradigma de qualquer sociedade. Luís Cardoso (1 955?) de Timor-Leste é considerado o primeiro romancista timorense. Abdulai Sila(1 958) escreveu o primeiro romance guineense. O seu romance Eterna Paixão descreve a transformação pós-colonial da sociedade guineense. Pepetela (1 941 ) angolano, fez uma opção política que viria a mudar o rumo da sua vida e a marcar toda a sua numerosa obra (uma dezena de romances), tornando-se no narrador por excelência da História de Angola. José Eduardo Agualusa (1 960), angolano também, é o exemplo, por excelência, da escrita em crioulo português. O seu mais recente romance, Nação Crioula (1 997), debruça-se sobre a história e a sociedade crioula e constitui uma afirmação de raízes que, contém em si, um projecto de futuro e de valores culturais angolanos e das culturas africanas. A sua escrita está tão enraizada na inovação semântica e estilística que as literaturas africanas têm imprimido à língua portuguesa. Mia Couto (1 955), a voz mais destacada na literatura moçambicana, é o autor de língua portuguesa que maior novidade e frescura imprimiu à linguagem na última década. Mia Couto faz prova da sua capacidade imagética na recriação da semântica das palavras, através de um jogo neológico que irmana significados e dilata-os para criar uma atmosfera plena, de sonho e prenhe de possibilidades de leitura. Depois desta panorâmica pelos autores que se expressam pela prosa, chegamos à poesia. A poesia é caracterizada por ser uma expressão íntima e pessoal, escrita, no entanto, numa estrutura artística que estiliza as experiências pessoais, para as levar a um nível mais elevado e alcançar valores universais da humanidade. A experiência única torna-se numa verdade geral, numa metáfora de vida ou mesmo num mito. Existe um Sítio de poemas na Rede, posto à nossa disposição pelo Senhor Joaquim Falé, que começou a mandar de Maputo em 1 996 artigos e poemas de autores africanos para a lista pt-net@inesc.pt. Este apreciador de poesia e os seus amigos mandaram pelo menos duzentos e cinquenta poemas escolhidos por entre obras de poetas ou de colecções de poesia, muitas delas recentemente publicadas. Embora os poemas sejam só uma selecção de poesia africana, o mandador Falé escolheu obras de uma grande variedade de poetas e de temas muito diversos. Esta colecção compreende cerca 1 00 poetas (mas somente 8 são femininos) dos países africanos, antigas colónias portuguesas. A maioria dos poetas desta colecção de poemas são angolanos (36) e moçambicanos (36). Bem representado está Cabo Verde com 1 8 poetas, Guiné-Bissau com 3, e São Tomé e Príncipe com 4. Incluídos estão também alguns poetas portugueses com ligações a África ou, aí radicados.


7ªA SALA DO ACESSA PROFª GLACE


Viajando pela poesia da África lusófona, vêem-se os mesmos temas em cada país. Organizei os poemas segundo categorias de sete temas gerais, tais como: 1 ) Sofrimento 2) Esperança 3) Ser Africano 4) Vida Política (Patriotismo, Guerra Civil) 5) Família e Natureza 6) Amor e Saudade 7) Cultura (Lendas, Arte Poética, Filosofia) É claro que muitos poemas tratam mais do que um tema. Combinam, por exemplo, o sofrimento com a esperança "num amanhã melhor", ou fazem interagir o amor da mulher negra com o seu amor por África. Chegamos ao fim da nossa viagem pela poesia lusófona da África e perguntamo-nos em que medida esta poesia é uma contribuição para a definição da Lusofonia. A poesia africana enriquece a língua e a cultura portuguesas com o encanto de África: Por exemplo nas descrições de variadas manifestações culturais, de paisagens tropicais com animais como zebras, tigres, aves exóticas; com os retratos de vida familiar e da natureza que participa nesta vida e que é o lugar dos espíritos pagãos, com retratos dos poentes em cores sensuais e sedutoras, e sobretudo na interpretação de África enfeitiçada, do universo mágico da metáfora e do símbolo. A poesia africana enriquece a língua portuguesa com um vocabulário específico. Os poetas recriam e manifestam nesta língua os ritmos das danças africanas, como a batuque, a massemba, a rebita, e os requebros das mulheres negras. Os poetas encantam a língua portuguesa com o estilo e ritmos africanos e com nomes e palavras não-traduziveis e não-traduzidos. Esta poesia de África, enquanto enriquecedora e participante na experiência da língua da lusofonia, não mostra nenhuns laços culturais com Portugal. Pelo contrário. A poesia africana cria uma cultura de identidade que é só africana. O paradoxo é que precisa da língua portuguesa, a língua do opressor, para se libertar desta influência e da identificação com ele. A poesia de África manifesta a sua própria identidade na dignidade do seu sofrimento, e na sua paciência e perseverança. Diz-se que os poetas compõem e tecem verdades de fibras de essência humana, além da história, além da vida diária. Ou, talvez, digamos (com João Maimona) que os poetas revelam e libertam estas verdades. A poesia medita sobre os valores humanos, a poesia é o sonho (Alda Espírito Santo) com a "mais bela de todos as lições humanidade." A Lusofonia, na poesia de expressão portuguesa, participa e compartilha esse sonho.


7ª B SALA DO ACESSA PROFª GLACE


SOFRIMENTO

Este é o tema de muitos poemas de variadíssimas formas que exprimem provocado pela colonização. A colonização dos países africanos resulta nas mesmas experiências de degradação humana e económica, e provoca a mesma miséria em todos os países. Dois exemplos de poesia que exprimem este sofrimento em formas diferentes, são poemas da Guiné-Bissau. No primeiro, Sofrimentos, de Carlos-Edmilson Vieira, o poeta sente a dor de séculos de escravidão que ainda estrangula o povo africano. Não acusa. O choque emocional que provoca este poema é na sua simplicidade, começando com uma explicação lógica que cada homem, na sua vida, passa pelas dores, e que esta dor não o inquieta. Em meia estrofe passa à outra dor de injustiça, que alcança o ponto culminante, na terceira estrofe, na enumeração de acontecimentos da história da escravidão. Em Cantos do meu País, de Julião Soares Sousa, cada estrofe começa com a palavra pesada "canto", como se fosse acompanhado por um rufar de tambor. É um clamor de sentimentos muito forte. Sente-se o efeito dos "grilhões" que perduraram até agora, mas onde não falta a esperança. Sente-se o sofrimento e a degradação no seguinte exemplo comovente: Choro de África. Escrito por um poeta de Angola, este poema é um clamor de dor, mágoa, sofrimento e protesto muito poderoso que evoca sentimentos fortes. A força deste poema é no ritmo acelerado da enumeração de condições de servidão que percorrem todos os aspectos da e vida e da natureza. É a repetição que dá uma urgência às frases repetidas até ao auge do verso choro de África é um sintoma. (A ausência de pontuação aumenta esta urgência). O poeta não desespera, antes visa um futuro em liberdade.

Sofrimentos de : Carlos-Edmilson Vieira A dor que em mim mora não é o mal no meu corpo carne destinada à terra húmida última guardiã do sofrimento pois esse já fiz oferenda ao mais Homem de todos os Homens mumificado pela injustiça humana que estrangula o nosso ser a dor que em mim mora é a que vi em Bissau é a que viveram na travessia para Dakar é a que viveram na travessia para Cabo Verde é a que vejo no corpo dos outros Cantos do meu País de : Julião Soares Sousa Canto as mãos que foram escravas nas galés corpos acorrentados a chicote nas AméricasCanto cantos tristes do meu país cansado de esperar a chuva que tarde a chegarCanto a Pátria moribunda que abandonou a luta calou seus gritos mas não domou suas esperançasCanto as horas amargas de silêncio profundo cantos que vêm da raiz de outro mundo estes grilhões que ainda detém a marcha do meu País.


Choro de África (Poeta Angolano) Choro durante séculos nos seus olhos traidores pela servidão dos homens no desejo alimentado entre ambições de lufadas românticos no batuques choro de África nos sorrismos choro de África nos sarcasmos no trabalho choro de África Sempre o choro mesmo na vossa alegria imortal meu irmão Nguxi e amigo Mussunda no círculo das violências mesmo na magia poderosa da terra e da vida jorrante das fontes e de toda a parte e de todas as almas e das hemorragias dos ritmos das feridas de África e mesmo na morte do sangue o contacto com o chão mesmo no florir aromatizado da floresta mesmo na folha no fruto na agilidade da zebra na secura do deserto na harmonia das correntes ou no sossego dos lagos mesmo na beleza do trabalho construtivo dos homens

Choro de séculos inventado na servidão em histórias de dramas negros almas brancas preguiças e espíritos infantis de África as mentiras choros verdadeiros nas suas bocas Choro de séculos onde a verdade violentada se estiola no círculo de ferro da desonesta força sacrificadora dos corpos cadaverizados inimiga da vida fechada em estreitos cérebros de máquinas de contar na violência na violência na violência Choro de África é um sintoma nós temos em nossas mãos outras vidas e alegrias desmentidos nos lamentos falsos de suas bocas - por nós! E amor e os olhos secos.


ESPERANÇA Além do desespero - como foi já mostrado em dois poemas que exprimem o sofrimento - os poemas seguintes não deixam a esperança para um "amanhã melhor". A consciência e percepção de ser vítima é o início do caminho para a libertação. Muitos poemas atravessam o lugar de vítima para alcançar um futuro com liberdade e autodeterminação, e até mesmo com patriotismo. O poema Chagas de Salitre, escrito em 1 972 por Ruy Duarte de Carvalho, um português radicado em Angola, retrata, em imagens escuras e muito realista, as chagas e feridas do efeito da colonização. E vê os indícios que anunciam transformações políticas. Vislumbra um futuro novo construído sobre a história da colonização "esboroada". O ritmo do poema exprime-se na repetição da mesma frase que começa cada estrofe. No poema Húmus de Amanhã, Juvenal Bucuane de Moçambique aceita o seu tormento, para que o seu filho tenha um futuro sem lágrimas. Em vez de rebelião contra a injustiça política, aceita-a como sacrifício pessoal para o seu filho. Uma vez mais, sentimos o ritmo específico na repetição das frases ("não quero que", "deixa") que acrescentam tormento sobre tormento em imagens fortes.

Humus de Amanhã de Juvenal Bucuane Não quero que vejas nem sintas a dor que me amargura; Não quero que vejas nem vertas as lágrimas do meu pranto. Deixa que eu chore as mágoas e as desilusões; deixa que eu deambule; deixa que eu pise a calidez do chão desta terra e o regue até com o meu suor; deixa que me toste sob este sol inóspito que me dardeja o lombo sempre arqueado... Este penar é o resgate da esperança que em ti alço! Este penar é a certeza do amanhã que vislumbro na tua ainda incipiente idade! Não quero que vejas nem sintas meu tormento ele é o húmus do Homem Novo.


Chagas de Salitre de Ruy Duarte de Carvalho Olha-me este país a esboroar-se em chagas de salitre e os muros, negros, dos fortes roídos pelo vegetar da urina e do suor a carne virgem mandada cavar glórias a grandeza do outro lado do mar. Olha-me a história de um país perdido: marés vazantes de gente amordaçada, a ingénua tolerância aproveitada em carne. Pergunta ao mar, que é manso e afaga ainda a mesma velha costa erosionada. Olha-me as brutas construções quadradas: embarcadouros, depósitos de gente. Olha-me os rios renovados de cadáveres, os rios turvos de espesso deslizar dos braços e das mãos do meu país. Olha-me as igrejas restauradas sobre ruínas de propalada fé: paredes brancas de um urgente brio escondendo ferros de educar gentio. Olha-me noite herdada, nestes olhos de um povo condenado a amassar-te o pão. Olha-me amor, atenta podes ver uma história de pedra a construir-se sobre uma história morta a esboroar-se em chagas de salitre.



O SER AFRICANO África, o continente preto, já uma metáfora que significa a exploração, o sofrimento e a escravidão, mas também o universo mágico e encantatório. É o continente das saudades e do mistério. Quem representa esta África? E o que é o ser africano? Muitos poemas descrevem a mulher negra como símbolo de África: exótica, sedutora, e violada. O amor para a mulher africana significa o amor e as saudades para este continente feiticeiro e sedutor. Nunca os poetas dos cinco países africanos se identificaram com o seu país natal, mas sentem-se africanos, mesmo que alguns sejam luso-descendentes ou tenham um pai português. Eles sentem-se parte da toda a África, pertencem ao continente mágico e não a um país com fronteiras nacionais. Geraldo Bessa Victor de Angola exprime o seu sentimento pela África na elegia Poema para a Negra. Tem uma forma tradicional, com cinco estrofes de quatro versos, e mantém os versos dois e quatro. Podemos aperceber-nos uma vez de mais da repetição da frase, com a qual cada estrofe começa. Descreve as qualidades do corpo e da graça da mulher negra que cantem "os outros", enquanto o poeta senta o "ser africano" nestas qualidades. Alda Lara, em Presença Africana, descreve a essência africana, a Mãe-África, que se vê em imagens pitorescas de natureza e no potencial do povo. Ela tem laços fortes com sua terra e o seu povo. Armando Artur, de Moçambique, no seu poema Pelo Dever, descreve qualidades africanas, a perseverança e paciência, que fazem parte desta essência africana. Por necessidade, os africanos, cujas existência, cujas utopias foram destruídas repetidamente, aprenderam uma perseverança indestrutível como a erva daninha. E para o poeta e pintor Neves e Sousa no poema Angola, ser africano é um sentimento forte de identificação, que transgrida fronteiras de países e da cor de pele. Em todos os poemas, ser africano é ter amor por esta terra.


Poema para a Negra de Geraldo Bessa Victor Poema para a Negra Deixa que os outros cantem o teu corpo que dizem feiticeiro e sedutor, e, na volúpia vã do pitoresco, entoem madrigais à tua dor. Deixa que os outros cantem teus requebros nos passos de massemba e quilapanga, e teus olhos onde há noites de luar, e teus beiços que têm sabor de manga. Deixa que os outros cantem os teus usos como aspectos formais da tua graça, nessa conquista fácil do exotismo que dizem descobrir na nossa raça. Deixa que os outros cantem o teu corpo, na captação atónita do viço e fiquem sempre, toda a vida, a olhar um muro de mistério e de feitiço... Deixa que os outros cantem o teu corpo - que eu canto do mais fundo do teu ser, ó minha amada, eu canto a própria África, que se fez carne e alma em ti, mulher!


Pelo Dever de : Armando Artur de resistir e caminhar pelos destroços da nossa utopia, eis-nos aqui de novo, acocorados, aqui onde o tempo pára e as coisas mudam. E para que o nosso sonho renasça com a levitação do vento e do grão, eis-nos aqui de novo, passivos como os espelhos, no tear da nossa existência. Este sempre será O nosso amanhecer. E a nossa perseverança é como a da erva daninha que lentamente desponta na pedra nua. de :

Angolano Neves e Sousa

Ser angolano é meu fado, é meu castigo branco eu sou e pois já não consigo mudar jamais de cor ou condição... Mas, será que tem cor ou coração? Ser africano não é questão de cor é sentimento, vocação, talvez amor. Não é questão nem mesmo de bandeiras de língua, de costumes ou maneiras... A questão é de dentro, é sentimento e nas parecenças de outras terras longe das disputas e das guerras encontro na distância esquecimento!


5ツェ A SALA DE Vテ好EO PROFツェ GLACE


Presença Africana de : Al d a La ra Presença Africana E apesar de todo, ainda sou a mesma! Livre esguia, filha eterna de quanta rebeldia me sagrou, Mãe-África! Mãe forte da floresta e do deserto, ainda sou, a Irmã-Mulher de tudo o que em ti vibra puro e incerto... A dos coqueiros, de cabeleiras verdes e corpos arrojados sobre o azul... A do dendêm nascendo dos abraços das palmeiras... A do sol bom, mordendo chão das Ingombotas... A das acácias rubras, salpicando de sangue as avenidas, longas e floridas... Sim!, ainda sou a mesma. A do amor transbordando pelos carregadores do cais suados e confusos, pelos bairros imundos e dormentes (Rua 11 ! ... Rua 11 ...) pelos meninos de barriga inchada e olhos fundos...

Sem dores nem alegrias, de tronco nu e musculoso, a raça escreve a prumo, a força deste dia... E eu revendo ainda, e sempre, nela, aquela longa história inconsequente... Minha terra... Minha, eternamente ... Terra das acácias, dos dongos, dos colios baloiçando, mansamente... Terra! Ainda sou a mesma. Ainda sou a que num canto novo pura e livre me levanto, ao aceno do teu povo!


Vida Política (Patriotismo, Guerra Civil) Os poemas anteriores já demonstraram que a poesia transcende fronteiras de países, mas na medida em que um povo inteiro aguenta acontecimentos que despertam emoções fortes, ou enfrenta temas que o ocupam e lhe dão impressões profundas, exprimidas em poesia, talvez neste caso possamos falar de poesia nacional. Isto é o caso de Angola e de Moçambique. A descrição e reflexão sobre os horrores da guerra civil fazem parte das suas poesias nacionais, também poemas que são elegias à cidade de Luanda. Como falar dos horrores duma guerra civil? Como descrever o que é indescritível? Carlos Zimba de Moçambique, no poema Sorrisos Mutilados, mostra o impacto da guerra civil. Com poucas palavras, faz uma reflexão sobre um problema central nesta guerra. Incluindo-se no grupo "nós", o poeta torna as observações abstractas numa experiência pessoal e urgente. De mesma maneira no poema sem esperança, Ensaio de Lágrimas, de Hélder Muteia de Moçambique. O poeta percebe que é o ódio que não permite o fim da guerra, o fim das lágrimas. O "ensaio", normalmente um texto abstracto, é apresentado como uma conversação banal do poeta com a mãe. É evidente que é esta simplicidade que produz um impacto emocional maior. José Craverinha, de Moçambique, nos seus poemas também precisa de formas específicas de falar da guerra civil. Em Eles Foram Lá, o poeta utiliza uma voz ingénua, a de criança. Ela avisa a sua vovó dos acontecimentos no hospital, sem emoções, porque já é uma coisa tão comum e não compreende as consequências. No outro poema, Torresmos à Machimbombo Queimado, o poeta apresenta o poema como uma notícia de jornalista, que só escreve factos observados sem envolvimento ou reflexão. É justamente por esta ausência de emoção que o poema dera o choque intencionado.



Sorrisos Mutilados de : Carlos Zimba

Ensaio de Lágrimas de: Hélder Muteia

No meu país a (in)competência doentia mutila-nos o sorriso e nós teimosamente arranjamos muletas e sorrimos deitados à sombra da esperança esculpida pela nossa paciência coragem, gente pois galopa celere o instante em que sorriremos sem muletas!

Se as nossas lágrimas apagassem o ódio que nos cerca e apagassem também o fogo que nos mata mãe eu perdiria as lágrimas de todos sangrando as pupilas. Mas temo, mãe que nos afoguemos um dia dentro das nossas lágrimas

Pelo Dever de : José Craverinha Vovó amanhã não precisa ir ao hospital. Ontem eles foram lá deram manigue tiros partiram tudo, tudo mataram doentes mutilaram o senhor enfermeiro e violaram a senhora parteira. Outros doentes privilegiados foram carregar na cabeça farinha açúcar e arroz da cooperativa ...foram.

Torresmos em Machimbombo Queimado de: José Craverinha À partida o machimbombo parecia um ónibus lotado de gente em viagem. Lá para o quilómetro 20 a ou este da Gorongosa chaparia e respectivo tejadilho ficaram fuliginoso similar de frigideira fritando várias doses de torresmos derivantes fósseis de passageiros interrompidos antes do terminal. Sobra este prosáico odor da sintomática machimbombesca fotocópia de esquife. O impaciente estardalhaço dos tiros ainda por cima esfrangalhou o original.


OBSERVE O GRITO DE NOSSA JUVENTUDE Em nosso país surgem vários tipos de músicas, entre eles o funk (Pancadão) que versa com a realidade de uma poesia da periferia, um tipo de grito de alerta que ecoa, mas muitos não percebem. Por traz de letras que provocam os ouvintes, entre versos que podemos chamar de sujos os jovens mostram uma forma de rebeldia que agride a moral e a integridade, mas que mostram que ambas estão caminhando contra mão. Nos versos que às vezes enojam aparecem os gritos de uma juventude que corre desenfreada, mas que percebe a violência e a falência de uma sociedade que não se sustenta mais nas regras impostas a milhares de anos. Podemos não gostar, podemos não querer ouvir, mas quando analisamos percebemos que as letras pobres de rimas fáceis debochadas, muito vulgares que são pronunciadas de forma banal, trazem o contato direto com o que aquele que escreveu convive. As rimas brincão com a vulgaridade, a banalidade, a ostentação, e esfregam na cara da sociedade o que rola de verdade atrás das cortinas da hipocrisia mas dentro dessas letras a muito mais a ser analisados é a música dos nossos jovens, e se nossa juventude canta esse tipo de verso, precisamos rever nossos conceitos e perceber que a sociedade está doente e precisa de socorro.

MC TN Realidade Eu sou pião, sou funcionário Trabalho ali na escola Eu falo pras meninas 3:20 Eu vou embora Não sou Carteiro e nem lixeiro Meu estilo de vida te incomoda Só cato papelão e latinha Toda hora Moro no Jaguaribe Na beira de um rio Que pena eu gritei socorro E ninguém me ouviu

Moro nas quebradas Os moleques é desse jeito Quando passo de carroça Os moleques tem respeito Não ando de Hornet E nem de Capitiva Só ando de Mobilete e de fusquinha No pé não calço NIKE nem Puma disc Só ando de chinelo e bota de pedreiro Por favor ai gente me ajuda De vez em quando eu não recebo na escola vou lá na esquina ver se descolo uma esmola

Michel Douglas 7ªA


FAMÍLIA E NATUREZA Os poemas seleccionados nesta página retratam temas gerais da vida em família tradicional, a vida na natureza de um povo agrícola, que se ocupa com o tempo, a chuva ou a sua falta, a seca que significa fome, o mar, e os animais. O poema Rapariga, de Ana Paula Tavares de Angola, dá um retrato bonito da vida familiar de uma rapariga nas tradições da sua tribo. Onésimo Silveiro de Cabo Verde, no poema As Águas, descreve em cores e movimentos sensuais a chegada violenta da chuva que provoca um ressurgimento da natureza e do homem. Ruy Duarte de Carvalho, no poema A Seca, descreve numa forma dialógica - perguntas e respostas - a miséria e fome numa aldeia sem chuva. No poema Aí, o Mar, de Hélder Muteia de Moçambique, o mar é o lugar de lembranças dos segredos da sua mocidade, dos contos dos seus avós e do seu amor. Neste poema as quadras têm rimas alternadas (abba), provavelmente com a intenção de acentuar a regularidade das marés que levam e trazem os segredos do poeta.

de :

Aí, o Mar Hélder Muteia

As palavras que desenhei na areia O mar as levou em lembrança Os meus segredos de criança O mar os contou à sereia.As conchas do mar também ficaram Com os meus segredos do anoitecer Tudo o que os meus avós me sussurraram Ainda estava por tecer.Os estilhaços da minha infância Ficaram emulsionados na força da água Os versos feitos em minhas mágoas Também ficaram em turbulência.O mar levou o meu amor A filha do gra-marinheiro Pois ela partiu primeiro Sem escutar o meu clamor.

Aí, o Mar de: Hélder Muteia As palavras que desenhei na areia O mar as levou em lembrança Os meus segredos de criança O mar os contou à sereia.As conchas do mar também ficaram Com os meus segredos do anoitecer Tudo o que os meus avós me sussurraram Ainda estava por tecer.Os estilhaços da minha infância Ficaram emulsionados na força da água Os versos feitos em minhas mágoas Também ficaram em turbulência.O mar levou o meu amor A filha do gra-marinheiro Pois ela partiu primeiro


de :

A Seca Ruy Duarte de Carvalho

Novembrina Solene Seu Zuzé. As tuas vacas, como estão? Longe daqui subimos os morrosFomos procurar a água que resta do ano que passa.Senhora Luna a farinha?Tarda a chuva seco o milhoA lavra não vai medrar.Chimutengue, meu vizinho então por cá?Pois que vim te visitar te avisar que o meu gado vai passar aqui por pertoTarda a chuva e é preciso procurar o que lhe dar de comer o que lhe dar de beberO capim está ficar negro está na hora de mudar.Imigrante Silva, a tua mulher?Está mal. Que é do leite pra lhe dar a carne pra lhe engordar?E os filhos?Estão magrinhos doentados vão ficar igual com o paiQue é da escola pra lhes dar sapatos pra lhes calçar ofício pra lhe ensinar?Dunduma amigo companheiro Chipa Zeca, Ernesto, Calembera. Olhai pelo gado. Protegei os pastos. Olhai pela vida das fêmeas e pela saúde dos machos.


Amor e Saudade Não falta o tema mais universal do homem, o Amor e a Saudade. Em muitos poemas, os temas de amor e das saudades - como já vimos - não se separam do amor para África, a terra natal. Porém, o poema de Conceição Lima (São Tomé e Príncipe) Quando o Luar Caiu descreve a angústia da mulher (do eu) quando não encontra o seu namorado. Em imagens da natureza muito bonitas e poéticas, a poeta evoca a presença do namorado, e enfatiza a angústia do amor no apelido ao "tu" (tu não eras). Em As Raízes de Nosso Amor do poeta Geraldo Bessa Victor (Angola) , a mulher é o símbolo para África. Ela exprime a terra, a paisagem, os poentes tropicais que encantam como um ópio, a música dolente, os frutos acres, e a voluptuosidade do ritmo das danças africanas. O poeta utiliza palavras sensuais para receber uma reacção emocional muito forte. Ao contrário, Tomaz Viera da Cruz (Angola) trata a questão da Mulata numa maneira ligeira. Escrito na forma de canção folclórica (8 estrofes de 4 versos com rimos cruzados), este poema exprime a paixão do poeta por uma mulata, cujos "defeitos" - por ser de duas raças - ele vê agora como um mistério de duas raças que se encontraram.

Quando o Luar Caíu de: Conceição Lima Quando o luar caiu Quando o luar caiu e tingiu de escuro os verdes da ilha cheguei, mas tu já não eras. Cheguei quando as sombras revelavam os murmúrios do teu corpo e não eras. Cheguei para despojar de limites o teu nome. Não eras. As nuvens estão densas de ti sustentam a tua ausência recusam o ocaso do teu corpo mas não eras.


Eduardo Hengle Xeregum 7ªA

RAP

Seu chá tá quente Tó Liguei o DVD Preparei pra gente ó Deita no Sofá Vem cá Não se sente só Isso é ruim de encontrar Vai querer pra sempre... ó 2X Ela diz amor...

o poema das ruas

Ai que mais eu vou querer da Vida Além da paz de olhar Adormecida em quanto só traz O novo dia nos primeiros sinais, Ou só olhando e confirmando que eu te amo Demais, Demais belo Então pra mim isso é verdadeiro A prova e a sensação com você Cada beijo é o primeiro Desligo o celular hoje nem vou colar com os parceiros Vou ficar aqui quietinho com você. Dividindo um travesseiro só ...só Por isso eu gosto de quando esta esse friozinho Melhor desculpa pra ficar la agarradinho Controle remoto, a caneca com meu chazinho Teu rosto falando que isso nunca vai ter fim No comecinho do dia enquanto eu bocejo, Na mesa pãozinho, biscoito, faca, manteiga, queijo Bem sonolento ainda, levando a cabeça vejo você sorrir Com a minha camisa Chega perto e diz me da um beijo ´É isso ai que me ganha, teu riso

o poema de amor de Eduardo 7ªA Quando observamos as culturas que nascem entre os jovens, podemos ter um olhar sob nossa juventude. Não só os históriadores e artistas, mas a comunidade e a escola e principalmente a família. É na cultura juvenil que encontramos tudo que nossa juventude esta passando, virar o olhar, menosprezar por que ha um linguajar que não concordamos é feixar o caminho, é desconectar-se e assim virar o olhar para problemas que estão nascendo.Temos que aprender a ouvir e ver, para não precisarmos buscar cura, mas intervir quando for necessário. Temos que estearmos atentos, pois o melhor remédio sempre foi e sempre será a prevenção em todos os setores da sociedade.

Me faz bem, te faço carinhos Nas manhas se assanha, me arranha Fazendo a flor brotar no inverno. Por isso cada olhar que eu te der é uma jura de amor eterno, tem várias paisagens belas mais a único passeio que me encanta é o que minha mão faz pelo corpo dela Eu fico puto do meu tempo indo embora Mulher me diz onde você estava até agora Ela diz amor... Seu chá tá quente...


M u l a ta de: Tomaz Viera da Cruz Os teus defeitos são graça que mais me prendem, querida... Mistério de duas raças que se encontram na vida. E, no mato, em nostalgia, num exílio carinhoso, fizeram essa alegria do teu olhar misterioso. E deram forma de sonho, em seu viver magoado, a essa estilo risonho do teu corpo bronzeado... Que é bem e grácil maneira em que a volúpia se anima, - bailando duma fogueira queimando quem se aproxima! A tua boca dolente, cicatriz de algum desgosto é um vermelho poente no lindo sol do teu rosto. E os beijos que pronuncias são palavras dolorosas Teus beijos são tiranias são como espinhos de rosas... Que me embriagam, amantes, no éter do seu perfume... Teus beijos são navegantes sobre as ondas do ciúme. Os teus defeitos são graças desse mistério profundo... Saudade de duas raças que se abraçaram no mundo!

As Ra íze s d e N osso Am or de: Geraldo Bessa Victor Amo-te porque tudo em ti me fala de África, duma forma completa e envolvente. Negra, tão negramente bela e moça, todo o teu ser me exprime a terra nossa. Nos teu olhos eu vejo, como em caleidoscópio, madrugadas e noites e poentes tropicais, visão que me inebria como um ópio, em magia de místicos duendes, e me torna encantado. (Perguntaram-me: onde vais? E não sei onde vou, só sei que tu me prendes...) A tua voz é, tão perturbadoramente, a música dolente dos quissanges tangidos em noite escura e calma, que vibra nos meus sentidos e ressoa no fundo da minh'alma. Quando me beijas sinto que provo ao mesmo tempo gosto do caju, da manga e da goiaba, - sabor que vai da boca até às vísceras e nunca mais acaba... O teu corpo, formoso sem disfarce, com teu andar desgoso, parece que se agita tal como se estivesse a requebrar-se nos ritmos da massemba e da rebita. E sinto que teu corpo, em lírico alvoroço, me desperta e me convida para um batuque só nosso, batuque da nossa vida. Assim, onde te encontres (seja onde estivesses, por toda a parte onde o teu vulto for), eu te descubro e elejo entre as mulheres, ó minha negra belamente preta, ó minha irmã na cor,

e, de braços abertos para o total amplexo, sem sombra de complexo, eu grito do mais fundo de minh'alma de poeta: - Meu amor! Meu amor!


Cultura (Lendas, Arte poética, Filosofia) Temas culturais incluem lendas dos animais e da selva, pensamento sobre a Vida Filosófica e a Arte Poética. A lenda é a poesia de história. Cada país tem lendas de animais que exprimem verdades humanas. Aqui estão duas lendas humorísticas, A Lagartixa Frustrada de João Melo (Angola) e Cerimónia de Passagem de Paula Tavares (Angola). Dois poetas exprimem o alvo da poesia. João Maimona (Angola) descreve no poema Arte Poética, por meio de comparação da palavra com o efeito de erosão, como a poesia liberta verdades universais. Alda do Espírito Santo (São T. P.) descreve no poema Em Torno da Minha Baia, como as observações na praia, onde está sentada a poeta, tornam-se em sonhos de uma poesia humana. O último alvo da poesia: a humanidade.

A Lagartixa Frustrada de: João Melo Um dia a lagartixa quis ser dinossauro Convencida saltou pra rua montada em blindados pra disfarçar a sua insignificância Tentou mobilizar as formigas que seguiam atarefadas pro trabalho "Ó pobre e reles lagartixa condenada à fria solidão das paredes enormes e nuas tu não sabes que os dinossauros são fósseis pre-históricos?"


6ª A PROFESSORA

LE S LI E


Arte Poética de: João Maimona Que erosão no choque genésico das marés de encontro às pedras habitadas. Cai areia na areia. Assim o gasto da palavra limando os duros conformismos libertando as verdades mais remotas tão necessárias ao fruir dos gestos. Cerimónia de Passagem de: Paula Tavares A zebra feriu-se na pedra a pedra produziu lume A rapariga provou o sangue o sangue deu fruto A mulher semeou o campo o campo amadureceu o vinho O homem bebeu o vinho o vinho cresceu o canto O velho começou o círculo círculo fechou o princípio A zebra feriu-se na pedra a pedra produziu lume.

Em Torno da minha Baia de: Alda do Espírito Santo Aqui, na areia, Sentada à beira do cais da minha baía do cais simbólico, dos fardos, das malas e da chuva caindo em torrente sobre o cais desmantelado, caindo em ruínas eu queria ver à volta de mim, nesta hora morna do entardecer no mormaço tropical desta terra de África à beira do cais a desfazer-se em ruínas, abrigados por um toldo movediço uma legião de cabecinhas pequenas, à roda de mim, num voo magistral em torno do mundo desenhando na areia a senda de todos os destinos pintando na grande tela da vida uma história bela para os homens de todas as terras ciciando em coro, canções melodiosas numa toada universal num cortejo gigante de humana poesia na mais bela de todas as lições.


As Águas de: Onésimo Silveiro

Rapariga de: Ana Paula Tavares

A chuva regressou pela boca de noite Da sua grande caminhada Qual virgem prostituída Lançou-se desesperada Nos braços femintos Das árvores ressequidas! (Nos braços famintos das árvores Que eram os braços famintos dos homens...) Derramou-se sobre as chagas da terra E pingou das frestas Do chapéu roto dos desalmados casebres das ilhas E escorreu do dorso descarnado dos montes! Desceu pela noite a serenar A louca, a vagabunda, a pérfida estrela do céu Até que o olhar brando e calmo da manhã Num aceno farto de promessas Ressurgiu a terra sarada Reassumando a fartura e a vida! Nos braços das árvores... Nos braços dos homens...

Cresce comigo o boi com que me vão trocar Amarram-me já às costas, a tábua Eylekessa Filha de Tembo organizo o milho Trago nas pernas as pulseiras pesadas Dos dias que passaram... Sou do clã do boi Dos meus ancestrais ficou-me a paciência O sono profundo do deserto a falta de limite... Da mistura do boi e da árvore a efervescência o desejo a intranquilidade a proximidade do mar Filha de Huco Com a sua primeira esposa Uma vaca sagrada concedeu-me favor das suas tetas úberes.





BIBLIOGRAFIA http://www.teiaportuguesa.com/poesiaafricalusofona/ Viagem Virtual - Pela Poesia da África Lusófona – Por: Katharina Aulls Estudante do Mineur en Langue Portugaise et Cultures Lusophones BRASIL. Orientações e Ações para a Educação das Relações Étnico-Raciais. Ministério da Educação e Cultura/ Secretaria da educação Continuada, Alfabetização e Diversidade Brasília: MEC/SECAD, 2006. BRASIL (2005). Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Pedagogia. Ministério da Educação e Cultura/ Conselho Nacional de Educação. Brasília, 2005. BRASIL. Diretrizes Curriculares para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Brasília:DF, Outubro, 2004.


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