INFORMATIVO TÉCNICO DO PROJETO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DA CADEIA PRODUTIVA DA CULTURA DA CARNAÚBA NOS SERTÕES DE CANINDÉ - CEARÁ | OUTUBRO DE 2011
Desenvolvimento sustentável da cadeia produtiva da cultura da carnaúba nos sertões de Canindé O projeto“Desenvolvimento Sustentável da Cadeia Produtiva da Cultura da Carnaúba nos Sertões de Canindé - Ceará” (Projeto Carnaúba) é um convênio de cooperação técnica e financeira entre o Centro de Estudos, Pesquisa e Assessoria Comunitária (Cepac) e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Ceará (Sebrae/CE), em parceria com o Sindicato dos Trabalhadores na Agricultura Familiar de Canindé (Sintraf/Canindé) e teve início em março de 2009. O público-alvo beneficiado são os produtores, artesãos e trabalhadores sazonais envolvidos com a cadeia produtiva da carnaúba. A iniciativa tem por objetivo tornar a exploração dessa matéria-prima economicamente viável, através da transferência de tecnologias e organização do pessoal envolvido nessa atividade, contribuindo para o aumento de renda das famílias rurais e a preservação de seus recursos naturais.
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As ações desenvolvidas no projeto O Projeto Carnaúba teve início em março de 2009 com atividades desenvolvidas nas comunidades do território dos sertões de Canindé (CE), com as seguintes ações:
1 - Identificação e mapeamento no município das áreas com carnaubais que estão sendo explorados e/ou com potencial, bem como a situação dos recursos naturais da região. Além da realização de um diagnóstico do nível de organização dos produtores, artesãos e agricultores envolvidos na cadeia produtiva da carnaúba e levantamento de mercado, visando a identificação dos seus principais consumidores através de mapas e relatórios.
2 - Capacitação do público-alvo em educação ambiental e técnicas de manejo e conservação do solo e dos recursos naturais.
3 - Implantação de viveiro para produção de mudas, objetivando a recomposição de áreas degradadas, com a produção de 2 mil unidades.
4 - Acompanhamento técnico dos grupos de produtores, artesãos e demais trabalhadores envolvidos no projeto.
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Expectativas do projeto O projeto foi desenvolvido buscando os seguintes resultados: • Aperfeiçoar a tecnologia de produção e possibilitar novas alternativas de trabalho e renda para os produtores/artesãos envolvidos na cadeia produtiva da carnaúba na região dos sertões de Canindé. • Alertar a população local para o desmatamento do carnaubal, que vem ocorrendo sistematicamente na região, sem nenhum critério e cuidados ambientais. • Contribuir para a conservação e recuperação dos recursos naturais na área de domínio da micro bacia hidrográfica do Rio Curu. • Viabilizar a capacitação dos produtores, comunidades e as organizações sociais envolvidos no processo da cadeia produtiva da carnaúba, nos temas relacionados à educação ambiental e ao uso e aplicação de técnicas de conservação do solo e da água.
Abordagem pedagógica A metodologia utilizada no projeto fundamentou-se numa abordagem pedagógica que se baseia nos seguintes pressupostos: • Planejamento participativo; • Educação libertadora; • Empoderamento; • Integração; • Sensibilidade e paciência; • Respeito à cultura local; • Conservação e preservação ecológica; • Socialização de informações; • Sustentabilidade econômica; e • Adequação tecnológica. Em síntese, a metodologia utilizada serviu de alicerce e suporte na execução, monitoramento e avaliação do projeto.
Processo metodológico do projeto A metodologia aplicada ao projeto foi calcada nas seguintes ações: • Visitas aos grupos de produtores, artesãos e demais agricultores, bem como às organizações e entidades sociais e representativas envolvidas na cadeia produtiva da carnaúba nos sertões de Canindé. • Realização de diagnóstico sobre a organização dos produtores, identificação e mapeamento no município das áreas que estão sendo exploradas e/ou com potencial de exploração, bem como diagnosticar o mercado da cadeia produtiva da carnaúba a nível local e regional. • Capacitação do público-alvo e dos diversos segmentos da cadeia produtiva da carnaúba, estimulando e conscientizando sobre a importância da preservação e conservação dos recursos naturais, bem como da convivência com o semiárido e implementação de viveiro de produção de mudas nativas.
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Conhecendo mais a carnaúba O nome carnaúba (copernicia prunifera) é derivado do tupi e significa árvore que arranha, em razão da camada espinhosa que cobre a parte mais baixa do tronco. É uma árvore da família Arecaceae endêmica no semiárido do Nordeste brasileiro, árvore símbolo dos estados do Ceará, Piaui e Rio Grande do Norte conhecida como árvore da vida, pois oferece uma infinidade de usos. As plantas, de uma maneira geral, produzem cera para evitar, entre outros aspectos, a perda de umidade que, no seu caso, funciona como uma proteção das folhas. O pó cerífero retirado das folhas está presente em uma película protetora existente em suas superfícies, protegendo a planta da transpiração excessiva que ocorre em ambientes com longos períodos de estiagem e com baixa umidade relativa. A carnaubeira predomina nos ambientes
com solos argilosos, aluviões, em margens de rios, suportando lugares alagados e com elevados teores de salinidade, o que é comum na região da caatinga. Seu emprego industrial abrange diversas áreas, devido às características da cera, a qual após ser refinada, conforme as variadas classificações, são utilizadas na fabricação de produtos farmacêuticos, cosméticos, filmes plásticos e fotográficos. Participa ainda, da composição de revestimentos, impermeabilizantes, lubrificantes, vernizes, na confecção de chips, tonners, códigos de barras e da indústria alimentícia. As folhas secas são utilizadas como cobertura de cascas, para confecção de chapéus, bolsas, esteiras, cordas, cestos e colchões. Portanto, a cultura da carnaúba é um perfeito exemplo da utilização sustentável dos recursos naturais. Não agredindo o meio ambiente em nenhuma etapas do seu processo, que vai do cor-
te e extração do pó cerífero à produção da cera. O baixo nível de desenvolvimento tecnológico é um problema verificado em todo o processo produtivo da carnaúba: o corte, o transporte e a secagem das palhas continuam utilizando as mesmas técnicas há mais de um século. São atividades que requerem considerável emprego de mão de obra e apresentam graves riscos de acidentes e problemas de saúde para os trabalhadores. O corte dos carnaubais ocorre em uma época em que a mão de obra agrícola encontra-se, em grande parte, ociosa com referência aos plantios de feijão e milho. Sendo esta palmeira resistente à falta de chuvas, a sua exploração nas propriedades assegura emprego e renda para a população rural no período seco, sendo um fator de fixação do homem ao campo. Assis Faustino Geógrafo
Produtos oriundos da carnaúba • Retirada do pó de cera da carnaúba • Vassouras • Surrão • Chapéus e cestos
Recursos para o financiamento Devido à sua importância econômica para o Nordeste, principalmente para os estados do Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte, o senador Freitas Neto sugeriu a criação de um Fundo de Apoio à Cultura da Carnaúba, no qual enfatiza: “Defendemos que a carnaúba receba por meio de fundo específico, o respaldo financeiro indispensável para realizar pesquisas, adotar novas tecnologias, ampliar a produção, elevar o retorno econômico para a região e garantir emprego a uma população que dela necessita, em especial no momento em que a agricultura tradicional libera mão de obra”.
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A proposta do senador Freitas Neto está pautada nos seguintes pontos: • Por iniciativa do Banco do Nordeste, o governo do Piauí firmou protocolo de intenções com diversas instituições para desenvolver programa de estudos sobre a carnaúba; • A Finep, o Banco do Nordeste e a Universidade Federal do Piauí implantaram duas unidades de secadores solar nos municípios de Campo Maior e Nazaré do Piauí, pioneiros na cultura da carnaúba; • Utilização de recursos do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), que poderá apoiar na indução de
novas tecnologias, no que se refere ao corte das folhas, secagem e retirada do pó, como também na instalação de agroindústria de produção da cera de origem, atendendo a agricultura familiar; • Rever a utilização do mecanismo de financiamento do governo federal em parceria com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) com o Empréstimo do Governo Federal (EGF) e a Aquisição do Governo Federal (AGF) para a entidade integradora, beneficiando o produtor do pó e da cera de origem. Freitas Neto Senador
ARTIGO
A carnaúba e sua importância ecológica e econômica para as comunidades rurais da região dos sertões de Canindé Francisco de Assis Faustino de SOUSA Geógrafo, Especialista em Gestão de Recursos Hídricos e Mestre em Ciências da Educação assisfaustino@yahoo.com.br
RESUMO O presente artigo visa apresentar os resultados do estudo referente ao Projeto“Desenvolvimento Sustentável da Cadeia Produtiva da Cultura da Carnaúba nos Sertões de Canindé”, desenvolvido no período de 2009/2011 pela entidade Centro de Estudos, Pesquisa e Assessoria Comunitária – CEPAC, através de convênio com o SEBRAE/CE. Na região dos Sertões de Canindé, a presença dos carnaubais é mais intensa na região de Targinos e ao longo dos principais rios do município, que formam a nascente da Bacia Hidrográfica do Rio Curu, e nas comunidades que englobam São Domingos, em Caridade, onde existe grande produção de artesanatos de palha. O estudo foi fundamentado em uma metodologia participativa, onde o público-alvo foi protagonista do processo de desenvolvimento do projeto.
PALAVRAS-CHAVE:Cadeia Produtiva, Carnaúba, Organização. DESENVOLVIMENTO A carnaúba é um exemplo da rica ecologia do Nordeste brasileiro. Palmeira nativa admiravelmente adaptada às condições climáticas do trópico semiárido, é extraordinária a sua resistência, tanto às estiagens mais severas, quanto às inundações, duas constantes determinadas pelo regime de chuvas da região. Em seu processo de adaptação ao clima, a carnaúba desenvolveu uma característica particular: a secreção de cera em grande quantidade como forma de reduzir a transpiração foliar. De acordo com Carvalho (1982), na região semiárida, a alta temperatura do ambiente aumenta a transpiração da planta, enquanto a salinidade dos solos eleva a concentração do suco celular da folha, dois fatores que, conjugados, estimulam a produção de cera pela carnaúba como meio de defesa contra a perda de água. As maiores concentrações de carnaúba ocorrem atualmente em populações praticamente monoespecíficas nas margens e várzeas de alguns rios da região semiárida, cumprindo, como população remanescente da mata ciliar original, o importante papel ecológico de proteção dos cursos d´água. Na região dos Sertões de Canindé, os carnaubais se desenvolvem nos grandes vales, aluviões e tabuleiros. Sua presença é mais intensa na região de Targinos e ao longo dos principais rios do município que formam a nascente da Bacia Hidrográfica do Rio Curu. O período do corte dos carnaubais ocorre em uma época em que a mão de obra agrícola encontra-se, em grande parte, ociosa com referência aos plantios de feijão e milho, especificamente a partir do mês de setembro. O processo produtivo se dá através do arrendamento (ou, na linguagem da atividade,“arrenda”) do proprietário de determinada extensão de terra com carnaubais, de onde se tira as palhas e o pó nelas contidos.
Esta atividade geralmente é realizada pelo arrendatário, já que muitos proprietários consideram esta atividade não lucrativa. É um processo sem muita tecnologia. Faz-se o corte da folha de carnaúba com varas de bambu com uma foice presa na extremidade. Essas varas são de acordo com a altura da planta, sendo conhecida como “vara de corta olho”. Esse corte é feito uma vez ao ano e serve como manejo, pois a derrubada das palhas não prejudica a carnaúba e ainda retarda o seu envelhecimento. O processo produtivo do pó não teve grandes mudanças no padrão tecnológico ao longo da história. Do corte à secagem, mantém-se ainda a mesma estrutura do início da atividade. Os equipamentos e/ou instrumentos de trabalho são de baixo custo: foice com vara de bambu, facão e faca. Utiliza-se para o transporte animais como os jumentos. A quantidade ofertada de pó de carnaúba no mercado em determinado período depende, essencialmente, da quantidade de carnaubais explorados, do preço da cera no cenário internacional, custo de produção de pó e interesse dos proprietários do carnaubal em arrendá-lo ou explorá-lo. A produção do pó tem um mercado com bastantes entraves no padrão tecnológico. Não há uma estrutura produtiva formalizada. O negócio é montando no período da safra com uso de mão de obra informal. Não se verifica no Ceará o desenvolvimento de um setor industrial de base local que agregue valor à cera de carnaúba. A indústria existente está direcionada para o processamento e a exportação da matéria-prima ou commodity. Nesse sentido, a lucratividade do exportador ficou dependente de sua habilidade de lidar com oscilações de preço e câmbio, ou seja, por meio da especulação comercial, financeira e cambial. O Ceará é o principal exportador de cera de carnaúba do Brasil, responde por 45,5% do volume total exportado, seguido pelo Piauí, com 36%, e do Rio Grande do Norte, com 19%. Nos últimos anos, observa-se a diminuição da participação do Ceará nas exportações nacionais. A queda nas exportações de cera do estado pode ser atribuída ao declínio dos preços do produto, o que implica na redução relativa do valor exportado e ao crescimento recente de novos setores econômicos, como o cultivo de camarão e a fruticultura irrigada, cuja intensificação ocasiona desmatamento de carnaubais. Em vista da sua perfeita adaptação ao ambiente semiárido e dos benefícios sociais que proporciona o plantio de carnaubais, em consórcio com outras espécies, este apresenta-se como uma alternativa importante para a recuperação de áreas degradadas no semiárido. Os carnaubais podem ser consorciados com outras espécies nativas, culturas agrícolas e/ou animais e constituir sistemas produtivos com geração de renda e benefícios ambientais para as populações das áreas susceptíveis à desertificação. Por outro lado, a carnaubeira pode ser CEPAC | OUTUBRO DE 2011
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ARTIGO aproveitada para fins agrícolas em compostagem ou como cobertura morta para ajudar a umidade do solo. As palhas servem para a produção de cordas, chapéus, vassouras, cestos e outros tipos de artesanatos comuns na região, com destaque para as comunidades que compõem São Domingos, em Caridade, e Requenque e Madeira Cortada, em Canindé. Portanto, a cultura da carnaúba é um perfeito exemplo da utilização sustentável dos recursos naturais. Não agredindo o meio ambiente em nenhuma das etapas do seu processo: corte, secagem, extração do pó cerífero, produção da cera, etc. Por outro lado, sendo esta palmeira resistente à falta de chuvas, a sua exploração nas propriedades assegura emprego e renda para a população rural no período seco, sendo um fator de fixação do homem ao campo.
cestos. No entanto, o principal problema está na questão da comercialização, haja visto o baixo preço ofertado no mercado. Mesmo assim, os trabalhadores rurais de Canindé continuam tendo na carnaúba uma importante fonte de renda sazonal, principalmente na época em que a mão de obra agrícola se encontra, em grande parte, ociosa, com referência aos plantios de feijão e milho.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
CEARÁ. Governo do Estado. Secretaria de Desenvolvimento Econômico. Cadeia produtiva da cera de carnaúba. Fortaleza, 2003.
No município de Canindé a maioria dos donos das carnaúbas faz arrendar os carnaubais, utilizando-se, para tanto, o baixo nível de tecnologia no processo produtivo do corte, transporte e secagem das palhas e empregando uma considerável quantidade de mão-de-obra na atividade. As técnicas de produção, em especial nas etapas do extrativismo e beneficiamento, carecem de melhoramentos tecnológicos, não só em relação à produtividade, mas, sobretudo, da saúde do trabalhador. A produção de artesanato da palha da carnaúba é mais intensa nas comunidades de São Domingos, principalmente de vassouras, mas em quantidades menores também produzem chapéus, surrões, esteiras e
BIBLIOGRAFIA ALVES, Maria Odete; COELHO, Jackson Dantas. Extrativismo da carnaúba: relações de produção, tecnologia e mercados. Fortaleza: Banco do Nordeste, 2008. 214p. CARVALHO, J. B. de M. Ensaios sobre a carnaubeira. 2ª Ed. Natal: EMPARN, 1982.
D´ALVA, O. A. O extrativismo da carnaúba no Ceará. Fortaleza: Banco do Nordeste do Brasil, 2007. (série BNB teses e dissertações, 4). DUQUE, J. G. Solo e água no polígono das secas. 6ª Ed. Fortaleza: banco do Nordeste do Brasil, 2004. GOMES, J. M. A. (coord.); SANTOS, K. B dos e ARAÚJO, J. L. de. Projeto cadeia produtiva da carnaúba no estado do Piauí: diagnósticos e cenários- FINEP, MTC Fundo Verde Amarelo. Teresina: Universidade Federal do Piauí/ TROPEN, entre 2003 e 2005.
Educação Ambiental no Assentamento Tiracanga em Canindé - Ceará Elane Maria de Castro COUTINHO Engª Agrônoma e Mestre em Economia Rural elaneccoutinho@bol.com.br
RESUMO Este artigo visa apresentar as ações desenvolvidas na Oficina de Educação Ambiental do Projeto“Educação Ambiental: preservando a vida e a natureza na região semiárida cearense”, do PROGRAMA NACIONAL DE COMBATE À DESERTIFICAÇÃO E MITIGAÇÃO DOS EFEITOS DE SECA – PAN-Brasil, convênio MMA/IICA/CEPAC, realizado em 2009 no assentamento Tiracanga, em Canindé, com ações de capacitação dos atores locais, visando o conhecimento e o desenvolvimento de atitudes para soluções dos problemas relacionados às questões ambientais das áreas vulneráveis à degradação/desertificação dos recursos naturais no semiárido cearense. Esse projeto teve a intenção de incorporar às práticas cotidianas dos assentados a preocupação com a sustentabilidade dos recursos ambientais expressa pela harmonia entre a produção agrícola e o respeito à natureza, visando a garantia da segurança alimentar, geração de renda, o cuidado com o outro e com o espaço natural e social.
A METODOLOGIA Esse projeto foi desenvolvido pelos educadores do Centro de Estudos, Pesquisa e Assessoria Comunitária (CEPAC) e teve como referencial metodológico os fundamentos da Pedagogia de Paulo Freire e da Edu-
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cação do Campo, onde valorizou os conhecimentos locais dos assentados e teve como norte de todo o processo educativo a formação de sujeitos históricos capazes de efetuarem o processo de transformação de sua realidade social. A metodologia utilizada nesse trabalho teve a marca das seguintes etapas: Levantamento de dados sobre a área - fase onde se busca junto às instituições informações preliminares de conhecimento do assentamento; Sensibilização - etapa permanente em todo o processo de formação e que exige o desenvolvimento de habilidades, como a conquista, a escuta, a fala, enfim, a consciência de si e do mundo em que se está inserido. As técnicas usadas foram a de apresentação, visitas às casas, reunião de descobertas e construção da linha histórica do assentamento (lutas e conquistas). É nesse momento que todos os sujeitos vão aparecendo, vão se mostrando. E lentamente esses sujeitos vão se unindo em uma cumplicidade necessária para a realização do trabalho. Levantamento de sonhos, problemas, potencialidades, oportunidades e ameaças - fase em que se busca com o assentado o que eles consideram como sonhos de vida, os problemas e as ameaças que dificultam a organização em geral do assentamento, mas também as potencialidades e as oportunidades que são possíveis para melhor organizar o trabalho e
vida comunitária; Problematização - fase em que se constitui no aprofundamento da realidade apresentada pelos assentados por meio de exaustivos debates entre os comunitários. Ação de conquista - momento em que o assentamento assume coletivamente o encaminhamento prático das ações desejadas e possíveis e envolve o ”que”, o “como”, o “quando” e o “quem”. Na perspectiva de encontrar caminhos viáveis na solução de problemas, na realização de sonhos, busca-se nesse momento determinar claramente as ações no âmbito do coletivo.
A PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO Nas oficinas, por meio dos círculos de cultura, os assentados desenvolveram o conhecimento em torno da palavra-chave desertificação. Para ilustrar a riqueza desse momento, numa fala de um jovem agricultor, observou-se a seguinte compreensão sobre o conceito de desertificação: “É a destruição. É a terra ficar deserta. Ficando deserta desaparece a planta, o animal e o próprio homem. Sem a terra o homem vai embora do campo”. Nessa fala representativa, pode-se observar o nível de visão sistêmica que o grupo alcança quando consegue interligar os componentes: terra, planta, animais e o homem no mesmo sistema. Na problematização em torno do tema desertificação, os assentados fizeram uma reflexão sobre a realidade a partir de intenso debate entre os comunitários, que teve como resultado o desvelamento das causas e das conseqüências geradas pelo problema focado. Essas causas foram assim relacionadas: contaminação do solo com o uso de venenos, queimadas, secas, manejo inadequado de animais, manejo inadequado no uso do trator e desmatamento. Já as consequências da desertificação foram as seguintes: extinção das caças, acúmulo de gás na atmosfera, diminuição da produção agrícola, terra improdutiva, êxodo rural, mudanças climáticas, seca e extinção de plantas. Numa etapa final e tomando como base todas as discussões anteriores foi construído o plano de ação do assentamento em relação ao tema desertificação, sob noção da necessidade de um desenvolvimento sustentável como caminho para a sobrevivência no campo. A seguir, são apresentadas algumas ações práticas do grupo de assentados com vista à solução dos problemas relativos à desertificação: 1. Curso de estudo e aprofundamento sobre a temática desertificação; 2. Plantio na área brocada com algaroba, leucena e cajueiro; 3. Prevenção da poluição das águas e do solo do assentamento através do recolhimento e da queima de lixo; 4. Construção de unidade demonstrativa de produção agrícola do uso da terra em curva de nível.
IMPRESSÃO FINAL A oficina realizada no assentamento Tiracanga foi considerada de bom êxito, pois ocorreu num clima de muita interação com a disposição dos assentados para a discussão do tema. O nível de maturidade envolvendo a compreensão dos problemas ambientais por parte dos assentados foi essencial para atingir o objetivo da oficina. Percebe-se que ao longo da história da construção da comunidade, pautada na luta dos agricultores, foi-se adquirindo o entendimento e a prática da vida no campo de forma consciente. Isso torna possível a discussão e a elaboração de práticas que definam um desenvolvimento sustentável. Pelas discussões realizadas na oficina, percebe-se o conflito entre o saber da necessidade de preservação ambiental e a real necessidade de sobrevivência no campo, ou seja, o como produzir e o como preservar. Acredita-se que o desafio da vida no campo é uma problemática que envolve agricultores, políticas agrárias e merece maior discussão e amplas propostas de soluções práticas. Essa problemática está no âmbito das políticas da reforma agrária no país. O resultado possível como ação de conquista no contexto vivenciado na oficina foi o proposto.
Quem é o CEPAC? O Centro de Estudos, Pesquisa e Assessoria Comunitária – Cepac, fundado em 6 de setembro de 1997, é uma sociedade jurídica de direito privado sem fins lucrativos e retrata a experiência de um grupo com atuação nos movimentos comunitário, social, estudantil e pastorais sociais. Tendo como missão“fortalecer a organização social das comunidades, incentivando a participação dos sujeitos na construção de uma sociedade justa e igualitária”, seus principais objetivos são: • Estimular novas modalidades de organização social visando à promoção do desenvolvimento socioeconômico e combate à pobreza; • Incentivar a implantação de sistemas de produção agroecológicos no âmbito das micro bacias, com o uso de tecnologias adaptadas ao semiárido, que visem fomentar o desenvolvimento local e regional, garantindo a sustentabilidade das atuais e futuras gerações; • Elaborar planos, programas e projetos comunitários através de metodologias participativas; • Contribuir na viabilidade da reforma agrária e agricultura familiar através de consultoria e assessoria técnica, administrativa e pedagógica; • Promover o desenvolvimento na perspectiva de gênero, geração e etnia, especialmente às crianças e adolescentes em situação de risco, contribuindo para sua formação enquanto cidadãos; • Realizar estudos e pesquisas com vista à defesa, preservação e conservação do meio ambiente e promoção do desenvolvimento sustentável. A experiência do Cepac se baseia tanto no meio urbano quanto no rural, havendo maior experiência nesse último, devido suas atividades serem desenvolvidas em comunidades rurais. Sua equipe técnica possui um perfil multidisciplinar, que possibilita uma compreensão mais ampla acerca da realidade social posta em análise. Isso contribui positivamente na elaboração de propostas de intervenções sustentáveis. A equipe se distribui da seguinte forma, levando em consideração as áreas de conhecimento e formação acadêmica: Agronomia, Agropecuária, Engenharia de Pesca, Geografia, Pedagogia e Serviço Social. Apresenta corpo técnico em nível de especialização, mestrado e doutorado. CEPAC | OUTUBRO DE 2011
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ENTREVISTA
Foco na tecnologia social O Informativo Técnico do Projeto Carnaúba conversa com o articulador do Escritório Regional Metropolitano do Sebrae/CE, Germano Parente Bluhm, que analisa os resultados da parceira com o Cepac no Projeto Carnaúba e fala sobre as ações da instituição no campo da tecnologia social Como o Sr. avalia o projeto de cooperação entre o Cepac e o Sebrae/CE em parceria com o Sinfrat/Canindé e qual a participação do Sebrae/CE nessas parcerias? Mesmo sem elementos suficientes para avaliar o impacto do projeto junto ao seu públicoalvo, pela análise das ações realizadas, acreditamos que o seu objetivo vem sendo cumprido e que logo os resultados aparecerão. Por ser uma entidade que apoia os pequenos empreendimentos, o Sebrae/CE coloca à disposição em suas parcerias todos os seus produtos e serviços, tais como cursos, consultorias, feiras, missões, etc, no sentido de oportunizar melhorias constantes ao desenvolvimento dos negócios e, consequentemente, sua sustentabilidade. Qual o objetivo dessas iniciativas? Primeiro, é que as ações do Sebrae/CE possam chegar às diversas comunidades existentes em nosso estado. Segundo, que as boas práticas sejam difundidas e conhecidas pela sociedade, ou seja, que possamos dar visibilidade a essas importantes tecnologias sociais. Que tipos de projetos e qual o perfil de entidades o Sebrae/CE apoia no âmbito da tecnologia social? Atualmente, a principal tecnologia social apoiada pelo Sistema Sebrae/CE no país é o Projeto PAIS – Produção Agroecológica Integrada e Sustentável. No Ceará, essa tecnologia foi aplicada nos municípios de Jaguaretama, Alto Santo e Pedra Branca. Hoje, estamos atuando em Quixeramobim e Amontada.
Além dessa parceria com Germano Parente Bluhm, o Cepac, o Sebrae/CE, articulador do Escritório através da aprovação do Regional Metropolitano do Sebrae/CE edital de Difusão de Tecnologias Sociais pelo Sebrae Nacional também firmou parceria com Quantos projetos do perfil desse desenas seguintes entidades: Embrapa Caprinos, volvido com o Cepac e o Sintraf/Canindé NIC, Associação Caatinga e Cetra. O perfil dos têm a participação do Sebrae/CE hoje no Ceará? projetos foram estabelecidos no próprio No estado do Ceará temos hoje mais quatro edital. No entanto, o fundamental é que teprojetos através do edital do Sebrae Nacional nha caráter produtivo e social. As entidades precisam demonstrar expertise na aplicação e ainda o Projeto PAIS, nos municípios de e desenvolvimento das tecnologias sociais, Quixeramobim e Amontada. bem como estarem preparadas para receber Quais os resultados já apresentados recursos, aplicarem adequadamente e atenpelos projetos já implementados? derem às especificações para a prestação de O que podemos afirmar é que os projetos escontas dos recursos. tão em andamento e alguns em fase de conHá outras iniciativas e programas do clusão e estão cumprindo os seus objetivos, Sebrae/CE voltados ao agronegócio que é a difusão de tecnologias sociais que estão dando certo. e o desenvolvimento das zonas rurais? O Sebrae/CE, por atuar desde a década de 90 Finalizando, fale sobre o papel social e no meio rural, desenvolveu uma série de proeconômico do Sebrae/CE em nosso país. dutos voltados ao produtor rural, os quais citamos: Treinamento Gerencial Básico Rural, O Sistema Sebrae atua junto às micro e peQualidade Total Rural, Curso de Capacitação quenas empresas e empreendimentos rurais. Por serem estes os grandes geradores de riRural, SebraeTec (consultoria tecnológica), quezas e empregos no país, temos uma resapoio às feiras, exposições, leilões e missões ponsabilidade muito grande, pois temos que para participação em eventos como o levar aos mesmos conhecimentos que traduPecnordeste, Feira do Empreendedor, Frutal, Expoece, Feceaf, etc. Atualmente, em uma zam na sustentabilidade e competitividade parceria com o Sistema Feac/Senar, desenvolde seus negócios, fazendo com que a nossa economia tenha um processo de crescimenvemos dois novos produtos: Negócio Certo to e desenvolvimento sustentável, garantinRural e Empreendedor Rural. Também foram do, assim, uma melhoria da qualidade de vida desenvolvidos os seguintes programas: PAS dos brasileiros. Mel e PAS Leite (Programa Alimento Seguro).
PROJETO “DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DA CADEIA PRODUTIVA DA CULTURA DA CARNAÚBA NOS SERTÕES DE CANINDÉ – CEARÁ” Convênio de cooperação técnica e financeira entre o Centro de Estudos, Pesquisa e Assessoria Comunitária (Cepac) e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae/CE), em parceria com o Sindicato dos Trabalhadores na Agricultura Familiar de Canindé (Sintraf/Canindé)
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CEPAC - Rua Dr. Pedro Borges, 75 - Conj. de Salas 701 - Centro - Fortaleza - CE - CEP: 60.055-110 Fones: (85) 3254 3577 / 8859 6971 / 9648 9180 Site: www.cepacceara.webnode.com.br E-mail: cepacceara@gmail.com DIRETORIA Diretor Presidente Francisco de Assis Faustino Tesoureira Elane Maria de Castro Coutinho Secretária Nancy Macêdo Suarez
INFORMATIVO TÉCNICO DO PROJETO Produção Editorial GMS Studio Comunicação e Design Jornalista Responsável / Editor Glaymerson Moises (MTE CE01638JP) Redação Equipe Cepac Edição de Arte Glaymerson Moises Fotos Arquivo Cepac Impressão Pouchain Ramos / 2.000 exemplares