REVISTA BRASIL-PORTUGAL NO CEARÁ ABR-MAI-JUN-2010

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nesta edição

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Negócios Com uma trajetória de duas décadas de avanços e austeridade fiscal, o Ceará se consolida como um eldorado para investidores nacionais e estrangeiros

breves editorial Navegar sempre é preciso entrevista Portas abertas, países unidos, com Pedro Brito, Ministro dos Portos do Governo Federal

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informecial Aquiraz Riviera negócios Da infraestrutura ao incentivo fiscal

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Administração Nova diretoria da Câmara Brasil-Portugal no Ceará toma posse para o quadriênio 2010-2014 com projetos voltados para ampliar o raio de atuação da entidade

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administração Renovação na busca por oportunidades

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Câmara se prepara para comemorar dez anos de atividades

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Câmara de Comércio aproxima Ceará e Angola

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espaço ibef

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negócios Nordeste Invest 2010

economia A força dos BRICs

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Rumo ao turismo qualificado

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informecial Vivo

informecial Banco do Nordeste

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diplomacia A língua portuguesa

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Gastronomia O português José Carlos Santanita, escolhido sommelier do ano pela Revista de Vinhos, desvenda alguns segredos da harmonização do vinho com a comida

perde um de seus maiores amantes

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página jurídica Estatuto da Igualdade e o novo desafio diplomático

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lusofonia Dia de Portugal em terras alencarinas

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gastronomia Vinho e gastronomia

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cultura Dicas de livros

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página econômica A competitividade do agronegócio cearensee

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agenda Abr-Mai-Jun 2010 3


novos sócios

breves | notícias

Café da manhã celebra chegada de novos sócios O crescimento da Câmara Brasil-Portugal no Ceará é notório e o reconhecimento pode ser medido pelo cada vez mais crescente número de sócios. A entidade está prestes a atingir a marca de 150 associados e, quem acompanha seus diversos veículos de comunicação (site, boletim semanal, Twitter e esta revista), observa a frequente chegada de novas empresas, instituições e pessoas físicas que buscam ampliar suas redes de relacionamentos e fomentar novos negócios. Para celebrar a entrada dos novos sócios deste trimestre, a Câmara Brasil-Portugal no Ceará realizou um café da manhã no dia 29 de maio, no Hotel Luzeiros, em Fortaleza. A ocasião foi oportuna para que os dirigentes recém-chegados ao time, além de outros que já fazem parte do grupo, pudessem se conhecer melhor e interagir com os novos sócios. As áreas de Comunicação, Contabilidade, Indústria Farmacêutica, Tecnologia da Informação, Turismo, Comércio Exterior, Advocacia, Alimentação, Artes e Consultoria são algumas das contempladas. Que sejam bem-vindos os novos sócios.

Catavento Viagens e Turismo Ltda. Climene Porto Soluções em Contabilidade e Negócios Ltda. Empresa Jornalistica O Povo S/A Hersan Comércio de Importação e Exportação Ltda. Industria Químico Farmacêutica Cearense Ltda. - Farmace Instituto da Excelência Liderança e Criatividade (Marô) Instituto Infobrasil LGA - Gerenciamento de Negócios Internacionais Ltda. Lingüiça Mineira Comércio e Indústria de Alimentos Ltda. Ozório e Ribeiro Advogados Associados S/S Prática Eventos Ltda.

esporte

Torneios de Golfe movimentam o Aquiraz Riviera O mês de maio foi agitado para os amantes do golfe em Fortaleza. O Ocean Golf Course, primeiro campo para a prática deste esporte no Ceará, situado no empreendimento turístico-imobiliário Aquiraz Riviera, foi palco de duas grandes competições reunindo golfistas cearenses e de outras regiões do Brasil. A primeira delas foi a Copa Manuel Dias Branco – torneio interestadual realizado entre os dias 22 e 23 do mês e que teve como campeã a equipe pernambucana. Já no dia 29, foi a vez do 2º Torneio da Copa Aquiraz Riviera – este, de caráter amador, mais voltado para os membros do Clube de Golfe e também para o público que gosta e pratica o esporte. Desta vez, o campeão geral foi Geraldo Monteiro – superando Max Lima, que tinha levantado a taça no torneio anterior. Aristarco Sobreira, presidente do Clube de Golfe Aquiraz Riviera, ficou com a terceira posição na categoria “Iniciantes B”. Um total de 28 golfistas foram a campo sob o forte sol cearense e na bela paisagem do primeiro campo do estado. A próxima etapa será realizada em julho.

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mídias sociais

Câmara Brasil-Portugal no Twitter Depois de reformular o site e fazer deste uma referência de informação tanto para associados quanto para a imprensa, a Câmara Brasil-Portugal no Ceará aderiu a mais uma ferramenta de mídia digital. Foi criado o perfil da entidade na rede de microblogs Twitter e, agora, o público poderá se atualizar acerca dos negócios das empresas que constituem a Câmara e também das relações luso-brasileiras seguindo o perfil da entidade. O Twitter vem ganhando um espaço cada vez maior no cenário da comunicação e já é visto como uma das mais importantes mídias sociais. Atualmente, há 105 milhões de usuários do Twitter espalhados pelo mundo. Todos os dias, 600 milhões de buscas e 65 milhões de mensagens movimentam a rede. Por mês, são 190 milhões de visitas únicas. Esses nú-

meros fazem do Twitter a segunda maior rede social do planeta, atrás do Facebook, com mais de 400 milhões de pessoas (a rede Qzone tem 310 milhões de usuários, mas só na China, em mandarim). No Brasil, a ferramenta é vice-campeã em número de acessos, ao lado do Facebook, com 10,7 milhões de visitantes únicos ao mês, atrás do Orkut, com 26,9 milhões. Aproveite para conhecer o mundo do Twitter e seguir a Câmara Brasil-Portugal no Ceará. Acesse: www.twitter.com/cbpceara

premiação

Pirata Brasil recebe o Selo de Responsabilidade Cultural

reconhecimento

Câmara Municipal de Fortaleza homenageia Martim Soares Moreno A Câmara Municipal de Fortaleza realizou no dia 14 de junho uma sessão solene celebrando os 391 anos da nomeação do primeiro capitãomor da Capitania do Ceará, Martim Soares Moreno. O evento fez parte das comemorações cearenses referentes ao Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, celebrado em 10 de junho (ver matéria na página 45). A mesa formada contou com o vereador propositor da sessão solene, Marcus Teixeira; do chefe do Estado Maior da 10ª Região Militar do Exército, Coronel Antônio de Araújo

O Pirata Bar Turismo e Promoções, associado da Câmara Brasil-Portugal no Ceará, celebra sua mais recente conquista. Uma de suas empresas, a Pirata Brasil – que atua na produção de eventos – conquistou o Selo de Responsabilidade Cultural 2009 na categoria “Empresarial Privada Pequeno Porte”. O prêmio, cuja entrega aconteceu no dia 31 de março, é uma iniciativa da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult) e se destina às empresas que apostam na cultura como vértice do desenvolvimento da sua marca e do Estado do Ceará. As ações de destaque e que colaboraram para a conquista do Selo pelo Pirata foram a promoção do Festival Marítimo Brest 2008, do Movimento Pé de Serra e Quadrilhas, do patrocínio e produção do CD Jotta Amaral e ainda a realização da “Segunda-feira Mais Animada do Mundo”, no Pirata Bar. Para Júlio Trindade, produtor cultural e sócio-diretor do Pirata, o prêmio é um reconhecimento aos 24 anos de trabalho em prol da cultura nordestina. “Nosso permanente desafio é a viabilização das atividades culturais economicamente sustentáveis e sem concessões mercadológicas. Estamos orgulhosos de valorizar uma cultura viva, genuína e popular”, afirmou.

Feitosa Filho; do vice-Cônsul de Portugal em Fortaleza, Francisco Brandão Neto; e do historiador Adauto Leitão Jr. O vereador Marcus Teixeira e o professor Adauto entregaram formalmente ao Exército o arquivo histórico ultramarino que atesta os fatos acerca do personagem homenageado. “Martim Soares Moreno deve ser reconhecido como construtor da História, um ator que transcendeu o personagem militar e edificou o Marco Zero de Fortaleza na Barra do Ceará, onde tudo começou em nosso Estado”, afirmou o professor Adauto Leitão.

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comunicação

breves | notícias

CCA-Portugal Digital e Conselho das Câmaras Portuguesas firmam acordo A CCA – Consultores de Comunicação Associados, empresa editora dos portais Portugal Digital e África 21 Digital, e o Conselho das Câmaras Portuguesas de Comércio no Brasil firmaram um acordo de prestação de serviços e parceria, visando o desenvolvimento da comunicação institucional da entidade. Com isso, os leitores do Portugal Digital passam a ter acesso a informações regulares e atualizadas sobre as atividades desenvolvidas pelas câmaras portuguesas e luso-brasilei-

ras, o fornecimento de conteúdos informativos para o portal das Câmaras (www.brasilportugal.org.br) e a edição de um Boletim noticioso, com periodicidade quinzenal, de responsabilidade do Conselho. Criado formalmente em 2001, o Conselho das Câmaras Portuguesas de Comércio no Brasil vem contribuindo para a coordenação de atividades conjuntas das 13 câmaras portuguesas de comércio atuantes no Brasil. O fomento de negócios, a promoção de oportunidades comer-

ciais e empresariais, o estreitamento das relações econômicas entre os dois países, e, numa perspectiva mais ampla, entre os oito representantes lusófonos que integram a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), bem como a participação na definição de políticas públicas, constituem o foco do trabalho desenvolvido pelo Conselho das Câmaras, presidido atualmente por Rômulo Alexandre Soares, e por cada uma das câmaras que o integram.

vinhos

Domaine Montes Claros representa Ceará em evento nacional Importadora com origem 100% cearense, a Domaine Montes Claros vem gradativamente ampliando seu raio de atuação, levando a um público cada vez maior – inclusive em outros Estados brasileiros – sua ampla carta de produtos representados, em especial os vinhos portugueses. Em 22 de abril, a empresa esteve presente em um evento realizado no Hotel Unique, em São Paulo (SP), com organização do Instituto do Vinho do Douro e do Porto (IVDP). Na ocasião, a Domaine expôs entre os principais produtos, os famosos vinhos do porto Rosé.

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O encontro reuniu cerca de mil convidados, entre enófilos, compradores de grandes redes, jornalistas e formadores de opinião. A Domaine Montes Claros foi a única re-

presentante cearense e demonstrou a força crescente da região Nordeste, que representa hoje 13% do mercado nacional. “Se tomarmos como base apenas vinhos im-

portados, os vinhos portugueses estão neste momento em terceiro lugar no gosto dos brasileiros, perdendo apenas para Chile e Argentina, que gozam de incentivos fiscais”, diz Adalberto Benevides Araújo, diretor da Domaine, empresa sócia da Câmara Brasil-Portugal. A Domaine Montes Claros também esteve em outras duas edições do mesmo evento, que também foi levado ao Rio de Janeiro (dia 19 de maio, no Hotel Pestana) e a Brasília (24 de maio, Hotel Naoum Plaza), onde obteve o mesmo sucesso de público.


arte e negócios posse

Cid Marconi é nomeado juiz do TRE Ceará O advogado Cid Marconi Gurgel de Souza foi empossado como juiz do Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE), no dia 11 de junho, tendo como um dos seus principais compromissos a defesa de uma maior agilidade no julgamento processual. Cid Marconi, cujo escritório de advocacia é sócio da Câmara Brasil-Portugal, já foi vereador por oito anos e diretor da Secretaria de Transportes e Serviços Urbanos do Governo Estadual, no governo de Ciro Gomes, em 1989. Segundo ele, essas experiências irão ajudá-lo na hora de julgar os casos eleitorais. O advogado ocupará o cargo por dois anos, tendo direito a recondução do cargo por igual período.

As marcas ecológicas de Marô Sócio da Câmara BrasilPortugal no Ceará, o Instituto de Excelência, Liderança e Criatividade é representado pelo multiprofissional Mauro Garcia. Natural de Fortaleza, Marô, como é conhecido, carrega histórias e experiências que nos permitem defini-lo como um ser “sobre-humano”. Já atuou como consultor motivacional, articulista e palestrante. É também escritor, artista plástico, inventor, designer e pintor. Hoje seu

singulares para cada observador. Une, como ninguém, sentimento e necessidade. “Enquanto você lê este texto, uma montanha de dinheiro continua circulando e a desigualdade, a disparidade entre as classes sociais de certa forma se agravam. Precisamos e podemos fazer com que essa situação seja minimizada. A arte colabora com isso”, reitera. Marô já realizou exposições de suas marcas ecológicas em São Paulo. Deu

foco está no desenvolvimento de “marcas ecológicas”. Mas o que vem a ser este conceito? Como se define uma marca ecológica? Para o artista, marca ecológica é a definição de algo muito mais abrangente. “Você cria o conceito, mas por trás dele há uma busca, uma necessidade de transformar para melhor a forma de sentir, pensar e agir”. Marô transpõe, com a genialidade que lhe foi dada, o que uma empresa precisa mostrar ao seu público por meio da pintura abstrata. Alia arte e negócio com maestria. Mistura os tons de uma marca de forma que as interpretações sejam únicas e

seu toque a empresas como Diário do Nordeste, Sebrae, Vasp, Transbrasil, entre outras. “Empresas que tiverem o interesse de mostrar a importância de seus produtos e serviços, além de reforçar sua marca por meio do incentivo cultural, da responsabilidade social e fazer estas ações por meio das marcas ecológicas podem entrar em contato que terei o prazer de trabalhar em seus projetos”, finaliza.

turismo

Viajantes ganham nova opção com filial da Liberal Tur Não importa se você vem ao Ceará a negócios, por necessidade ou aventura.O Estado tem se tornado cada vez mais referência para o turismo nacional e internacional. Dados da Secretaria do Turismo do Ceará mostram que, em 2009, houve um aumento de 13,2% no número de turistas, com destaque para os meses de janeiro, julho e dezembro – quando mais de 250 mil pessoas por aqui passaram. Para atender essa demanda, faz-se necessária a existência de boas empresas com atendimento bilíngue e outros serviços. Há 21 anos no mercado, a Liberal Turismo - empresa associada da Câmara Brasil-Portugal no Ceará - inaugurou, recentemente, uma nova loja no bairro Messejana. Os clientes tanto da filial como da sede, localizada no

bairro da Aldeota, podem contar com reservas de hotéis e vendas de passagens aéreas nacionais e internacionais, pacotes de viagem e cruzeiros marítimos, seguro de viagem, locação de carros etc. Segundo Ana Luiza, agente de turismo na nova unidade, Portugal e Espanha são destinos bem procurados pelos cearenses. “Mas também vendemos muito para Buenos Aires e Santiago, na América do Sul, e para as Serras Gaúchas, Rio de Janeiro e Campos do Jordão. O circuito do ouro com suas cidades históricas, em Minas Gerais, é outro destino bem procurado”, finaliza. SERVIÇO: Liberal Turismo Rua Pe. Pedro de Alencar, 71 Messejana - Fortaleza-CE Fone: (85) 3274 2535 www.liberal.tur.br

SERVIÇO: Mais informações: Instituto de Excelência, Liderança e Criatividade - www.ielc.com.br Contato: Marô Fones: (85) 3094 4026 / 3094 4026 / 8705 1944 Abr-Mai-Jun 2010 7


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editorial A Câmara Brasil-Portugal no Ceará - Indústria, Comércio e Turismo (CBP-CE) surgiu em junho de 2001. Atualmente, a entidade conta com cerca de 130 associados entre sócios pessoa física e pessoa jurídica. O objetivo principal da entidade é apoiar as atividades empresarias e influir nas políticas públicas vinculadas às relações luso-cearenses no âmbito das áreas de atuação da Câmara. DIRETORIA Presidente

Jorge Duarte Chaskelmann 1º Vice-Presidente

José Maria Mccall Zanocchi 2º Vice-Presidente

Antonio Roberto Alves Marinho 3º Vice-Presidente

José Augusto Pinto Wahnon Diretora Tesoureira

Huga Mendes de Oliveira Diretor de Energias Renováveis

Armando Leite Mendes de Abreu Diretor de Agronegócios

Carlos Manuel Subtil Duarte Diretor de Comunicação

Cliff Freire Villar da Silva Diretora de Assuntos Jurídicos

Fernanda Cabral de Almeida Gonçalves Diretor de Construção Civil

Francisco Eugênio Montenegro Diretor de Meio Ambiente

José Euber de Vasconcelos Araújo Diretora de Tecnologia da Informação (Brasil) Marluce B. Aires de Pina Diretor de Tecnologia da Informação (Portugal) Miguel Costa Manso Av. Barão de Studart, 1980 - 2º Andar Ed. Casa da Indústria (FIEC) Fortaleza-CE - CEP: 60120-901 Fone e Fax: + 55 85 3261 7423 E-mail: secretariace@brasilportugal.org.br

BRASILPORTUGAL NO CEARÁ

A Revista Brasil-Portugal no Ceará é uma publicação trimestral da Câmara Brasil-Portugal no Ceará Ano 1 - # 3 - Abril-Maio-Junho de 2010 Conselho Editorial

Clivânia Teixeira, José Maria McCall Zanocchi, José Wahnon e Cliff Freire Villar da Silva Jornalistas Responsáveis

Mauro Costa (CE01035JP) e Rafaela Britto (PE 3672 JP) Redação

Aloísio Menescal, Denise Mustafa, Gabriela Alves, Juliana Lousada, Larissa Viegas, Rodrigo Coimbra e Samira de Castro Concepção Gráfica / Design Editorial

GMS Studio - Glaymerson Moises Produção

Navegar sempre é preciso

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mar que separa é o mesmo que une. Essa máxima vale de maneira cada vez mais forte quando se fala das relações comerciais entre o Brasil e, não somente Portugal, mas todos os países de Língua Portuguesa. Em seus nove anos de existência recém-completados, a Câmara Brasil-Portugal no Ceará estimulou diretamente e acompanhou de perto as idas e vindas de investidores de nosso Estado para o país irmão em plena Europa e vice-versa. Agora, a visão de mundo se ampliou e o foco também se volta para os países africanos, em um caminho de retorno histórico. O crescimento dos negócios gerados a partir do Ceará com destino a Portugal, e mais recentemente ao arquipélago de Cabo Verde, é a silhueta de uma nova realidade que já se delineia no horizonte. Angola é a bola da vez, mas outros países africanos, lusófonos ou não, surgem como mercados receptores para produtos e serviços made in Ceará. E as relações comerciais tendem a ser uma via de mão dupla, com boas perspectivas da vinda de investidores destes países, assim como já é comum no caso de empresários portugueses. Em todas estas relações, o mar aparece como figura simbólica, relembrando a época do desbravamento e da descoberta de novas terras. Como indutora deste processo, a Câmara Brasil-Portugal está atenta a esta tendência e procura sempre refleti-la em seu trabalho cotidiano e nos veículos de comunicação produzidos pela entidade. Nesta edição, entre outras matérias que mostram o papel da navegação no desenvolvimento do Brasil e do Ceará, a revista BrasilPortugal no Ceará traz uma entrevista exclusiva com o Secretário dos Portos do Governo Federal, Pedro Brito, mostrando o papel do transporte marítimo para a solidificação das relações comerciais do Ceará com as terras situadas além-mar. Aos leitores, boa navegação! A Diretoria

(85) 3258 1001 - www.ad2m.com.br Os artigos assinados da revista não necessariamente refletem a opinião da entidade e são de exclusiva responsabilidade dos autores.

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entrevista Pedro Brito, Ministro dos Portos do Governo Federal

PORTOS ABERTOS, PAÍSES UNIDOS MODERNIZAÇÃO, GESTÃO PROFISSIONAL, REDUÇÃO DA BUROCRACIA, AUMENTO DA PRODUTIVIDADE E ELEVAÇÃO DO PADRÃO INTERNACIONAL ESTÃO ENTRE AS METAS DO SEGMENTO PORTUÁRIO NACIONAL

O

Brasil experimenta um raro e rico momento portuário só comparável em nível de importância e significado histórico à Abertura dos Portos, de janeiro de 1888, quando D. João VI assinou o decreto abrindo nossos portos para as “nações amigas”. Esse segundo momento portuário brasileiro tem início com a criação, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, da Secretaria de Portos (SEP), em 2007, para recuperar o tempo perdido em que o setor esteve exposto. Nesses três anos de atividades, a Secretaria de Portos tem sobrados motivos para comemorar, na medida em que o segmento portuário nacional recuperou a sua autoestima e está vendo ações firmes e decisivas em condições de competitividade com os mais organizados e produtivos portos do mundo. À frente da pasta, trazendo consigo um extenso currículo de cargos públicos, está o cearense Pedro Brito, economista, graduado pela Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal do Ceará (UFC) e Mestre em Administração Financeira pela Coordenação dos Programas de Pós-Graduação de Engenharia (COPPE) da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Brito assumiu o desafio de gerir o novo órgão com a experiência de quem já foi Ministro de Estado da Integração Nacional, Secretário da Fazenda do Governo do Estado do Ceará e Superintendente Financeiro do Banco do Nordeste (BNB). Em entrevista para a Revista Brasil-Portugal no Ceará, o ministro Pedro Brito explica que os famosos “gargalos” estão sendo enfrentados de

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frente e que a Secretaria de Portos, assim como qualquer órgão público ou privado, não depende apenas dos seus esforços. Apesar de parecer somente um problema, na verdade trata-se de uma nova mentalidade que perpassa governo e empresariado: a noção de que todo o plano de obras de transportes deve ser necessariamente articulado com os outros modais. Modernização, gestão profissional, redução da burocracia, aumento da produtividade e elevação do padrão internacional foram algumas das metas programadas pela SEP para este ano. A dragagem do porto de Santos (SP) e de 18 outros espalhados pelo litoral brasileiro vai proporcionar, por exemplo, um aumento de cerca de 30% na movimentação de cargas no país. Enxergando a longo prazo, o panorama portuário brasileiro se depara com demandas expressivas: exploração do pré-sal, a Copa Mundo de 2014, as Olimpíadas de 2016 e a manutenção do crescimento sem pressões inflacionárias. O Governo Federal, segundo Pedro Brito, dedica uma especial atenção para o mercado africano, especialmente para os países que formam a Comunidade de Países da Língua Portuguesa (CPLP). Tanto que o presidente Lula visitou, no início de julho, pela 14ª vez, o continente africano, na perspectiva de aumentar o comércio exterior nessa direção. Leia nas próximas páginas o que o Ministro Pedro Brito fala sobre as perspectivas dos portos brasileiros e especialmente do Ceará ao longo desta entrevista exclusiva.


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entrevista | Pedro Brito

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Quais os principais projetos desenvolvidos atualmente pela Secretaria de Portos da Presidência da República? O Brasil, como País continental, com um litoral de 8.500 quilômetros tem 40 portos públicos e 128 terminais privativos, com destaque pela importância econômica e estratégica para os portos de Santos, o maior e o mais movimentado da América Latina, os portos de Rio Grande (Rio Grande do Sul), no extremo sul do país, do Rio de Janeiro, Itaguaí (também no Estado do Rio de Janeiro), Paranaguá (Paraná), Suape (Pernambuco), Pecém (Ceará), Itaqui (Maranhão) e Vila do Conde (Pará), no Norte do País. Entre os terminais privativos, o destaque fica para os terminais de granéis líquidos da Petrobras, de granéis da Companhia Vale do Rio Doce, de Ponta Madeira, no Maranhão, e de Tubarão, no Espírito Santo, que em volume de carga movimentada, é o maior terminal portuário brasileiro. Para supervisionar a atividade de tantos portos e dar ênfase à gestão portuária brasileira, pela importância da equação logística e pela necessidade crescente da expansão de instalações e serviços, o Governo Federal, através da iniciativa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, decidiu criar, em maio de 2007, a Secretaria Especial de Portos com dois grandes objetivos institucio-

Perseguimos dois objetivos: oferecer melhores serviços, a preços sempre mais competitivos, buscando maior eficiência da logística de transportes e introduzir uma nova modelagem tarifária que permita a auto-sustentabilidade dos nossos portos.” 12 Brasil-Portugal no Ceará

nais bem definidos: desenvolver e implantar políticas de diretrizes para o sistema portuário brasileiro e promover e implantar melhorias na infraestrutura portuária nacional. Para isso, a SEP estabeleceu diretrizes a serem implantadas com prioridade e urgência. A mais importante delas foi a de estabelecer uma política portuária nacional e um plano estratégico de logística portuária na perspectiva de dar sentindo e uma orientação segura às decisões quanto aos investimentos de infratestrutura portuária, tarifas públicas, outorgas, gestão ambiental, segurança nas operações e dos trabalhadores; aprimorar o marco regulatório do sistema de forma a promover investimentos na melhoria das atividades portuárias, permitindo a convivência harmônica entre os atores públicos e privados; introduzir um novo sistema de gestão nos portos brasileiros. Perseguimos dois objetivos: oferecer melhores serviços, a preços sem-

pre mais competitivos, buscando maior eficiência da logística de transportes e introduzir uma nova modelagem tarifária que permita a autossustentabilidade dos nossos portos. Para este ano de 2010, com recursos assegurados pelo Programa de Aceleração ao Crescimento – PAC – estão previstos um total de R$ 3,6 bilhões, assim distribuídos: R$ 1,6 bilhão para o Programa Nacional de Dragagem e o restante para melhorias da infraestrutura e acessos terrestres alocados no PAC 1. Estão previstos mais R$ 5,2 bilhões, dos quais R$ 740,7 milhões serão destinados para os terminais portuários com vistas à Copa de 2014. Através da lei 11.610/2007, que criou o PND, ficou definido o conceito de dragagem por resultados, com estabelecimento de normas contratuais para aprofundamento e manutenção e fixação das competências da SEP para a gestão do Programa. Até o final do primeiro semestre de 2011 deverão estar dragados 18 dos principais portos


brasileiros. Só a dragagem do porto de Santos vai permitir um aumento de cerca de 30% na movimentação de cargas no Brasil. Já concluímos a dragagem do porto de Recife e em breve iniciaremos a do porto do Mucuripe, em Fortaleza. O fato é que nada tinha sido feito nesse setor nos últimos 10 anos!

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Como o Senhor avalia a situação logístico-portuária do Brasil atualmente? Quais são os principais gargalos e em que áreas está se avançando? A organização portuária hoje no Brasil não difere muito da maioria dos países em qualquer dos continentes que seja. O sistema é administrado pelo Governo Federal, diretamente ou por delegações aos Estados e Municípios, tendo a Secretaria de Portos como o principal responsável pelas políticas e diretrizes. E mais: as autoridades portuá-

rias brasileiras, que desde 1993 assumiram o status de “landlord ports”, são responsáveis pela gestão portuária, sob a coordenação da SEP. Elas administram a zona portuária e cedem, sob a forma de arrendamentos e termos de permissão de uso, glebas de áreas destinadas à operação portuária. Já a Agência Nacional de Transportes Aquaviários – ANTAQ -, criada em 2001, é a entidade responsável pela regulação, supervisão e fiscalização das atividades de prestação de serviços de transporte aquaviário e de exploração da insfraestrutura portuária, além de ser, no que couber à área portuária, responsável pela implantação de políticas governamentais. A ANTAQ atua diretamente sobre as autoridades e os operadores portuários. Aqui merece outra explicação: até antes da criação da SEP, ocupávamos a 61ª colocação no ranking em termos de logística no mundo; hoje, passados três anos de trabalho, avançamos muito e já estamos na 41ª posição. Mas pretendemos figurar entre os 20 maiores sistemas portuários do mundo nos próximos cinco anos e ficar entre os 10 primeiros nos próximos 10 anos. Tudo isso porque o Governo Federal e o presidente Lula têm a consciência de que os portos são, pois, equipamentos fundamentais para o desenvolvimento e a ampliação do nosso comércio exterior, da aproximação dos povos e da dinamização do turismo em nosso País. Daí a necessidade da modernização dos nossos portos para acompanharmos as novas gerações de navios que surgem cada vez maiores e mais sofisticados, exigindo boa infraestrutura, segurança e rapidez nas operações de embarque e desembarque de mercadorias e passageiros.

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Atualmente, 70% da carga geral transportada por meio marítimo utilizam contêineres. O consequente aumento da capacidade dos na-

Pretendemos figurar entre os 20 maiores sistemas portuários do mundo nos próximos cinco anos e ficar entre os 10 primeiros nos próximos 10 anos. T udo isso Tudo por que o Governo F ederal porque Federal tem a consciência de que os portos são equipamentos fundamentais para o desenvolvimento e a ampliação do nosso comér cio e xterior comércio exterior xterior,, da aproximação dos povos e da dinamização do turismo em nosso P aís.” País.” vios exige que os portos públicos se adequem a essa realidade, tendo maior profundidade, berços maiores e mais retroárea. O que o governo Lula está fazendo para minimizar essa questão e que projetos estão em andamento? Hoje, passam pelos portos brasileiros cerca de 90% das mercadorias que entram e saem do País. Só esta informação já transmite a importância do sistema portuário nacional como um todo. Pelos portos passam desde a farinha de trigo que garante o nosso pãozinho do café, ao arroz e o feijão do nosso almoço, a gasolina que garante o nosso deslocamento de um lado para o outro das cidades e do País. Na última década, somente a título de informação, o comércio exterior brasileiro cresceu em média 20% ao ano, exigindo, consequentemente, a adoção de medidas e providências que permitissem aumentar a rapidez e a capacidade operacional dos nossos portos. Como falei anteriormente, o Governo Federal, através do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), destinou CR$ 3,6 bilhões única e exclusivamente para investimentos, com o objetivo de melhorar o desempenho das exportações brasileiras e a navegação de cabotagem pela costa. O governo do presidente Lula, repito, tem dedicado uma especial atenção ao setor Abr-Mai-Jun 2010 13


entrevista | Pedro Brito

No ano passado, no auge da crise que atingiu as principais economias do mundo, em nenhum momento houve retração nos investimentos previstos para o setor portuário no Brasil, na medida em que os investimentos públicos e privados estavam garantidos. A iniciativa privada promete por sua vez investir cerca de U$ 18 bilhões nos nossos principais portos, nos próximos cinco anos.” portuário brasileiro, na medida em que reconhece ser este setor prioritário para o desenvolvimento do País, com destaque para o Plano Nacional de Dragagem (PND), a construção e ampliação de berços e retroáreas. Os resultados até aqui obtidos pela Secretaria de Portos demonstram por si só uma mudança geral no sistema. O fato é que as transformações estão acontecendo e aparecendo, apagando um estado de inércia tão marcante no passado!

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Qual o papel dos portos brasileiros no aumento da balança comercial brasileira? Como está o Nordeste neste ranking e o Ceará em particular? Os portos são equipamentos que exercem em qualquer parte do mundo um papel muito importante para o desenvolvimento de uma Nação ou de um Estado, porque são por eles que entram e saem as mercadorias. E passageiros também, se nos fixarmos no segmento turístico, por exemplo. No Brasil, os portos são, pois, equipamentos funda14 Brasil-Portugal no Ceará

mentais para o escoamento das produções agrícolas e industriais, bem como para o recebimento de máquinas e equipamentos procedentes de diferentes origens. São, portanto, equipamentos fundamentais para o giro econômico, na medida em que, no nosso caso, estamos promovendo uma verdadeira revolução no setor em busca de encontrar um melhor nível de competitividade com redução de custos. No caso específico do Nordeste existem três grandes portos, a começar pelo de Itaqui, no Maranhão, do Pecém, no Ceará, e o de Suape, em Pernambuco. São portos modernos, com capacidade para receber navios de grande porte, com um grande e promissor futuro. No Ceará, em Fortaleza, onde se destaca o Porto do Mucuripe, sua história é recheada de sucesso. Ao longo dos seus mais de 70 anos de existência, foi por ele que entraram as máquinas e equipamentos responsáveis pela formação de um dos mais importantes polos industriais da região. No momento, seguindo a forte tendência de crescimento que vem sendo registrada desde o ano passado, a movimentação do Porto do Mucuripe mais uma vez apresentou um balanço positivo. No mês de março, passaram pelo terminal 324.378 toneladas de mercadorias, cerca de 21% a mais em relação ao mesmo período do ano passado. Já no acumulado do ano, o Porto movimentou 971.377 mil toneladas, um aumento de 27,51%. O crescimento foi observado nos três grupos de mercadorias que o Porto movimenta: granéis sólidos (33%), granéis líquidos (20,71%) e a carga geral (20%). Do total movimentado no trimestre, os granéis sólidos (trigo e outros) participaram com 27%, os granéis líquidos (derivados de petróleo) com 55% e a carga geral com 18%. Entre os produtos, destacaram-se o trigo, o diesel, a gasolina, o cimento asfáltico e trilhos para a ferrovia Transnordestina. O Mucuripe deverá ganhar ainda mais competitividade com os investimentos previstos para este ano,

como a derrocagem, que já está em andamento, e a dragagem que vai aumentar a profundidade do Porto para 14 metros, permitindo que Fortaleza receba navios do tipo Post Panamax, com até 300 metros de comprimento. São obras que vão diminuir custos com frete e atrair mais cargas do mercado internacional.

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Segundo estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) divulgado em junho de 2010, com a retomada da economia, aumentou a demanda de exportadores e importadores pelos serviços portuários, mas há reclamações de atrasos crescentes nos embarques e desembarques, o que afeta a indústria, tradings e transportadores, além de reduzir a competitividade dos produtos brasileiros. O que está sendo previsto no sentido de sanar essa deficiência? Eu gostaria de explicar o seguinte: no ano passado, no auge da crise que atingiu as principais economias do mundo, em nenhum momento houve retração nos investimentos previstos para o setor portuário no Brasil, na medida em que os investimentos públicos e privados estavam garantidos. A iniciativa privada promete por sua vez investir cerca de U$ 18 milhões nos nossos principais portos, nos próximos cinco anos. Com o avanço das obras previstas pelo PND na maioria dos portos do Brasil, os armadores terão condições de escalar os seus navios de grande porte em nossos portos, o que até então não era possível a nenhum porto latino-americano. Hoje o quadro é outro, uma vez que as obras de aprofundamento e alargamento do porto de Santos, por exemplo, proporcionarão um aumento em 30% da sua capacidade operacional. Os investimentos do Programa de Aceleração ao Desenvolvimento (PAC) nos portos brasileiros são suficientes, na medida em que o País está atraindo cada


vez mais investimentos nessa área. E mais: do ponto de vista dos investimentos na melhoria da infraestrutura portuária, os recursos alocados são absolutamente suficientes e a maior prova disso é que estamos atraindo investimentos privados para os nossos portos, tanto por parte de investidores brasileiros como de estrangeiros. Aliás, seria bom aqui explicarmos que, nós, da SEP, já tínhamos feito diagnóstico semelhante para mapear os investimentos necessários para melhorar os nossos portos. Reconhecemos que um dos problemas em nossos portos diz respeito à demora na liberação das cargas. Estamos demorando uma média de cinco dias para liberar uma carga, enquanto os países mais eficientes do ponto de vista portuário demoram cerca de um ou dois dias. Sabemos o que mais atrasa e onera a movimentação de cargas, que é a burocracia, o excesso de formalismo e isso têm ônus. Para resolvermos esse problema, trabalhamos em um projeto para que todos os agentes envolvidos na questão portuária tenham um sistema único de dados, por meio do

qual terão acesso às informações sobre as cargas e os navios, entre outras. Trata-se do Projeto Porto Sem Papel, cujo sistema proporcionará uma maior dinamicidade nas operações de embarque e desembarque de mercadorias com uma evidente redução de custos. (Mapa) O Projeto Porto Sem Papel estabelecerá em um documento virtual único informações para processar e distribuir dados em tempo real, para garantir o melhor funcionamento do setor. Com isso, a grande quantidade dos papéis que tramita hoje pelos terminais será eliminada, oferecendo maior transparência na troca das informações a partir de um padrão internacional.

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Como liderar empresários, trabalhadores, investidores e transportadores com realidades e necessidades tão distantes em um país continental como é o Brasil, onde muitas vezes aspectos regionais influenciam até mesmo na operação portuária? Como administrar esse

conceito de cultura e de diferentes interesses em prol do desenvolvimento nacional? De pronto, vamos partir de uma premissa: não existe no mundo nenhum porto igual ao outro. Cada porto tem as suas próprias características, as suas virtudes, os seus defeitos, as suas necessidades, a sua verdadeira vocação. Daí a nossa preocupação de, como gestores do sistema portuário nacional, tentarmos encontrar as soluções para as diferentes situações, afinal, uma necessidade do porto do Rio Grande, no Rio Grande do Sul, no extremo sul do País é, com toda a certeza, bem diferente da do porto de Cabedelo, na Paraíba, ou com o de Areia Branca, no Rio Grande do Norte. A partir de quadro geral é que priorizamos as necessidades. O porto de Santos, por ser o maior de toda a América Latina, localizado em São Paulo, movimentou no ano passado algo em torno de 83 milhões de toneladas de mercadorias. Suas exigências, portanto, são proporcionais à sua movimentação, isto é, bem maiores e bem mais complexas que os outros portos brasiAbr-Mai-Jun 2010 15


entrevista | Pedro Brito

Os nossos portos de grande porte no Nordeste, com destaque para os de P ecém Pecém e de Suape, localizados em posições estratégicas em relação aos principais mercados consumidores (Estados Unidos e Europa) levam seguramente vantagens sobre aqueles que estão localizados mais ao sul.” leiros. O porto de Itajaí, em Santa Catarina, por sua vez, é quem mais movimenta carnes de frangos, suínos e bovinos do Brasil, enquanto o porto do Pecém, no Ceará, é o campeão brasileiro na exportação de frutas tropicais.

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No Ceará, temos dois portos com características comerciais distintas, o do Mucuripe, com forte operação de cabotagem e utilização para o transporte de passageiros; e o terminal do Pecém, com força nas rotas de longa distância e com papel estratégico de suprir as demandas do Complexo Industrial e Portuário do Pecém. Como o senhor analisa com maior amplitude o papel de cada um desses portos? Eles são suficientes para atender a demanda crescente? Há necessidade de um novo projeto portuário para o Ceará? Os dois portos cearenses – Mucuripe e Pecém – se complementam na medida em que cada um deles tem uma destinação específica. O Mucuripe é um dos principais polos trigueiros do Brasil, enquanto o porto do Pecém consolida a sua posição de campeão brasileiro no embarque de frutas para o exterior. O porto do Mucuripe no alto dos 16 Brasil-Portugal no Ceará

seus 70 anos de atividades está apoiado numa infraestrutura versátil que permite a movimentação de diferentes tipos de mercadorias, divididas em granéis sólidos (grãos, cereais etc) e granéis líquidos (derivados de petróleo etc), carga geral solta e conteneirizada. Já o porto do Pecém, localizado a 60 quilômetros de Fortaleza, é líder nacional também na exportação de calçados, o segundo lugar nacional na importação de ferro fundido, ferro e aço e o terceiro também na importação de algodão do Brasil. Dentro do atual quadro econômico do estado, acredito que esses dois portos estejam em condições de atender a demanda não apenas do Ceará, cada vez mais crescente, como também de Estados vizinhos, especialmente aqueles produtores de frutas.

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A posição geográfica do Pecém, como menor tempo de trânsito para navios em rota entre o Brasil, os EUA e Europa, numa média de sete dias para chegar aos seus destinos, funciona como um dos atrativos para conquistar os armadores e impulsionar as exportações brasileiras. Essa vantagem geográfica tem sido levada em conta em negociações com esses mercados? Claro, pois sabemos que quanto mais rápido colocarmos as nossas mercadorias nas prateleiras dos seus consumidores finais, sejam nos Estados Unidos ou na Europa, melhor. Os nossos portos de grande porte no Nordeste, com destaque para os de Pecem e de Suape, localizados em posições estratégicas em relação aos principais mercados consumidores (Estados Unidos e Europa) levam seguramente vantagens sobre aqueles que estão localizados mais ao sul. Os dirigentes desses dois portos desenvolvem campanhas sistemáticas para mostrar essa vantagem, na perspectiva de atrair mais cargas.

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O cenário econômico brasileiro aponta para um reforço nos contratos comerciais com novos mercados, como é o caso da África. A Câmara Brasil – Portugal e outras entidades vêm trabalhando forte para ampliar esses contatos com países da língua portuguesa, em especial com os africanos. Mas todas as entidades são unânimes em apontar a falta de rotas marítimas como empecilho para a concretização dos negócios entre os países. O que o Governo Federal pensa sobre o tema e o que vem fazendo para minimizar o problema? Aqui é preciso uma explicação: o Governo Federal não tem competência e nem interfere na programação das rotas dos navios, na perspectiva de programá-las para este ou aquele porto. A definição dessas rotas é de absoluta exclusividade dos armadores que as definem em função do potencial de carga deste ou daquele porto. O Governo Federal por sua vez tem promovido nos últimos anos eventos para animar uma maior aproximação entre o Brasil com diferentes países da África. Aliás, no ano passado, nós, da Secretaria de Portos, promovemos aqui em Fortaleza um Seminário, reunindo representantes dos principais países da Comunidade de Países da Língua Portuguesa – CPLP – com o objetivo de estreitar as nossas relações comerciais, sociais e culturais. Foi um encontro que deixou um saldo bastante positivo, na medida em que muitos negócios continuam sendo realizados até hoje. E mais: o próprio presidente Lula já demonstrou inúmeras vezes o seu interesse em dinamizar as relações comerciais com os países africanos, não apenas visitando-os, como recebendo em Brasília comitivas de empresários e governantes. No início do mês de julho, aliás, ele comandou uma nova rodada de negócios em diferentes países da CPLP, na direção de estreitar ainda mais esse relacionamento, como até hoje nenhum outro presidente tinha feito.


informe publicitário

Aquiraz Riviera Crescimento do número de adeptos faz empreendimento investir no Clube de Golfe

O

golfe vem marcando gols de placa no Ceará. O Aquiraz Riviera, maior empreendimento turístico em construção no Estado, está investindo cerca de US$ 50 mil (em torno de R$ 100 mil) na aquisição de quatro novos carros elétricos para uso dos associados e esportistas. Criado há três meses, o Clube de Golfe já conta com 42 membros e, nos fins de semana, registra média de 15 a 20 golfistas em campo. Segundo Jorge Chaskelmann, diretor de Projetos do Aquiraz Riviera, os números são surpresas agradáveis. “Não esperávamos uma aceitação como esta em tão pouco tempo. Os cearenses estão gostando de jogar golfe e pessoas de outros Estados vêm para praticar e conhecer e isso é muito positivo”, explica. Hoje, o Clube de Golfe conta com cinco carros elétricos e, com os novos, os esportistas poderão jogar com ainda mais conforto. Até o momento, o Aquiraz Riviera investiu cerca de R$ 9 milhões no golfe, tanto para criação do seu Clube House, quanto para execução dos nove primeiros buracos, do driving range (área de treino para tacadas de longa distância), do putting green (espaço destinado às tacadas de curta distância) e de equipamentos de manutenção. Outros R$ 4 milhões serão demandados para os próximos nove buracos, com previsão para 2012. “Acreditamos que tudo que vem sendo feito será benéfico para o Ceará, uma vez que oferecemos uma atividade nova, que atrai turistas do mundo inteiro e proporciona conforto e qualidade de vida”, ressalta Chaskelmann. “O Ocean Golf Course, nosso campo, encontra-se hoje numa área de 45 hectares. Desse espaço, 11 são de área de jogo gramada. Para dar uma volta completa nos nove buracos, o golfista gasta até quatro horas. Os carros elétricos facilitam a locomoção e diminuem o tempo na par-

tida. Mas há aqueles que preferem caminhar pelo campo. O contato com a natureza paradisíaca do local faz do jogo uma verdadeira terapia”, reforça o diretor.

AULAS PARA INICIANTES Para quem tem vontade de praticar, o Aquiraz Riviera oferece aulas. “O golfe é bom para a saúde. O golfista precisa estar sempre concentrado e desenvolvendo estratégias, tendo como maior adversário o campo”, explica o instrutor Max Lima. O pacote com 10 aulas custa R$ 450,00, e inclui todo o material para a prática do esporte. “Estou com 15 alunos no momento, mas já formei cerca de 50 jogadores. São aulas de 60 minutos previamente agendadas”, ressalta Lima. De acordo com o instrutor, até esportistas que praticam há mais tempo, às vezes requerem aulas para aprimoramento.

NOVOS SÓCIOS Para se filiar ao Clube de Golfe Aquiraz Riviera, os interessados devem pagar uma taxa anual (chamada “joia”) e as mensalidades. Porém, neste primeiro ano de atividade, a entidade não cobrará a taxa anual. O valor das mensalidades variam de acordo com a categoria do associado. Por exemplo, para os residentes (proprietários de um lote no empreendimento), o valor é R$ 150,00. Foi criada uma tabela especial de promoção para o primeiro ano de atividade do Clube. Os sócios terão várias regalias no Golfe e nas dependências do Club House, como isenção do pagamento de green-fee (taxa de utilização do campo de golfe), descontos no bar e restaurante etc. SERVIÇO: Golf Club Aquiraz Riviera Inf.: (55 85) 4118 0160 ou 3244 4164 - E-mail: golfe@aquiraz.com

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neg贸cios | oportunidade

18 Brasil-Portugal no Cear谩

por Samira de Castro


DA INFRAESTRUTURA AO INCENTIVO FISCAL C

CEARÁ SE CONSOLIDA COMO NOVO ELDORADO DOS INVESTIMENTOS

onsiderado por muito tempo uma das áreas mais atrasadas do Brasil, o Ceará começou a mudar este perfil no fim dos anos 80, ainda nas décadas finais do século XX. O choque fiscal de 1987 – e a continuidade da austeridade fiscal em cinco gestões consecutivas de governo – converteram o Estado em um modelo para entes subnacionais no Brasil e noutros países em desenvolvimento. “O Ceará reúne hoje todas as condições necessárias para receber os empreendimentos estrangeiros que aqui pretendem se instalar. Destaca-se por sua localização geográfica privilegiada e por ser o menor ‘transit-time’ do Brasil para a Europa, para a África e para os demais Estados da Federação”, resume Eduardo Diogo, diretor de Desenvolvimento Setorial da Agência de Desenvolvimento Econômico do Ceará (Adece). O sucesso alcançado pela reforma fiscal do Ceará levou a uma sólida credibilidade financeira e a um fluxo contínuo de captação de empréstimos externos em organismos financeiros internacionais, como o Banco Mundial e Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), além de agências bilaterais da Alemanha (KfW) e do Japão (JBIC) para financiar projetos de investimento em infraestrutura física e social. De 1989 a 2009, o Estado contratou diretamente (com aval da União) 25 operações Abr-Mai-Jun 2010 19


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de crédito externo no valor total de US$ 1,97 bilhão, aportando pelo menos mais um terço disso em contrapartida local e consolidando uma das maiores carteiras de empréstimo internacional dentre os estados brasileiros. Não à toa, projetos gestados em pelo menos quatro décadas começaram a virar realidade, o que fazem do Ceará um novo eldorado de oportunidades para os investidores nacionais e estrangeiros. “Podemos citar a Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP), empresa-âncora da Zona de Processamento de Exportação do Pecém (ZPE), que conta com a parceria da brasileira Vale e da coreana DongKuk. A refinaria Premium II da Petrobras e o Projeto Santa Quitéria (exploração de urânio e fosfato da mina de Itataia) contarão possivelmente com a participação de investimentos estrangeiros”, enumera Diogo. Com uma área de 146 mil km², 573 quilômetros de praia e temperatura média anual de 28° C, o Ceará tem a localização ideal para os mais diversos tipos de investimentos. Sua localização é estratégica para o turismo, para investidores ou para as empresas que desejam instalarse, privilegiadamente, perto dos principais mercados mundiais. O Ceará está apenas a 6h30 de voo da Europa e dos Estados Unidos e é 20 Brasil-Portugal no Ceará

uma das principais portas de entrada para o Brasil e para o Mercosul. Assim, já oferece às empresas exportadoras condições ideais como baixos custos de logística, tempo de entrega e segurança para as transações comerciais.

PORTOS E AEROPORTOS O Ceará oferece facilidades para o investimento, em termos de infraestrutura. Conta com o Aeroporto Internacional Pinto Martins, em Fortaleza, e oito aeroportos regionais. A Empresa Brasileira de InfraEstrutura Aeroportuária (Infraero) investirá cerca de R$ 500 milhões na construção de um novo terminal de passageiros para o Pinto Martins e na reforma da atual estrutura. Já o Governo do Estado está aportando recursos nos aeroportos de Aracati e Jericoacoara, dois polos de reconhecida importância turística. Projetos como o Complexo Industrial e Portuário do Pecém, o Metrô de Fortaleza (Metrofor), e o açude Castanhão demonstram, efetivamente, o investimento que o Ceará tem realizado na implantação de empreendimentos de grande impacto para a economia local e na busca de seu desenvolvimento. “Temos rodovias modernas, um aeroporto de nível internacional, dois portos de grande porte (Mucuripe e Pecém), além de mão-de-

Acima, o Porto do Pecém, que tem seus berços de atracação em ampliação para atender às demandas futuras, e o Aeroporto Internacional Pinto Martins, que receberá investimento da ordem de R$ 500 milhões para a reforma da estrutura e construção de um novo terminal de passageiros

obra qualificada, que conta com grande número de cursos superiores de graduação, seja na capital ou interior, somado à ampla variedade de cursos técnicos”, comenta Diogo. O Porto do Pecém, a 56 km da capital, possui um terminal de cargas com câmaras de refrigeração, com custos operacionais competitivos e berços de atracação em ampliação para atender às demandas futuras. A oferta de água do Estado está garantida para os próximos 30 anos com a Barragem Castanhão, que através do Canal da Integração leva água ao Porto do Pecém e à Capital. “O cinturão digital, com três mil quilômetros de fibra ótica, em instalação no Estado, beneficiará 82% da população”, frisa o diretor de Desenvolvimento Setorial da Adece, que é responsável pela articulação e interlocução institucionais entre os diversos setores da atividade produtiva do Estado e o governo, além


de analisar propostas de viabilidade econômica de projetos de instalação e viabilização de novos empreendimentos.

Eduardo Diogo, diretor de Desenvolvimento Setorial da Adece: “O Ceará reúne hoje todas as condições necessárias para receber os empreendimentos estrangeiros que aqui pretendem se instalar. Destaca-se por sua localização geográfica privilegiada e por ser o menor ‘transit-time’ do Brasil para a Europa, para a África e para os demais Estados da Federação”

SETORES PROMISSORES Os investimentos em energias renováveis conquistaram importante papel na economia do Ceará, principalmente as fontes eólicas e térmicas. “São mais de 15 usinas eólicas em construção e em operação, que garantem sua autossuficiência energética”, lembra o diretor da Adece. O Estado tem uma das maiores potencialidades do país para geração de energia fotovoltaica devido à sua irradiação solar. Por essa razão, está sendo instalada a primeira usina de energia solar, no município de Tauá, com capacidade de 50 MW em sua fase final. “A Adece possui projeto de iluminação pública baseada em paineis solares, no intuito de estimular o uso dessa modalidade de energia e criar uma ambiência favorável a novos investidores”, revela Diogo. Além disso, o FIES – Fundo de Incentivo à Energia Solar, criado pelo Governo do Estado, garante recursos financeiros para fomentar o desenvolvimento e a implantação de usinas de geração desta modalidade de energia no Ceará. Na área do agronegócio, foram atraídas, no começo dos anos 90, várias empresas que transformaram o estado no 3º maior exportador de frutas e no 2º maior exportador de flores do Brasil. Destaca-se também por ser o primeiro produtor e exportador de castanha de caju e o 3º maior produtor de mel do país. “As três mil horas de sol por ano favorecem o agronegócio e o turismo”, acrescenta.

PUJANÇA ECONÔMICA A economia do Ceará cresceu, no ano passado, 3,1%, o que gerou um valor de R$ 60,79 bilhões. Enquanto isso, o Brasil decresceu 0,2% com PIB no valor de R$ 3,143 trilhões. O bom desempenho econômico do Estado transbordou para o mercado de trabalho, o qual registrou um saldo de 64,4 mil em-

pregos com carteira assinada, acumulando de 2007 a 2009, saldo de 145,6 vagas. “O resultado de 2009 é considerado muito positivo para um período de crise”, avalia Diogo. O setor de Serviços foi o que mais se destacou, com crescimento de 5,6% (valor adicionado a preços básicos), em 2009, comparado a 2008, sendo novamente o sustentáculo da economia cearense. Destaque para o Comércio e Alojamento e Alimentação, com crescimento de 10,9% e 3,4%, respectivamente, segundo o Instituto de Pesquisa e Estratégia

Os investimentos em energias renováveis conquistaram importante papel na economia do Ceará, principalmente as fontes eólicas e térmicas

Econômica do Ceará (Ipece). Neste caso, há um forte impacto das atividades ligadas ao turismo. A indústria cearense, por sua vez, registrou taxa positiva de 1,1%, sobre 2008. Dos quatro segmentos que compõem a Indústria (indústria da transformação, extrativa mineral, construção civil e eletricidades, gás, água e esgoto), o de Transformação foi uma das atividades que mais gerou emprego formal em 2009, criando 21.130 postos de trabalho. Calçados, Alimentos e Bebidas, Vestuário e Têxtil são os principais setores de destaque deste segmento industrial. Parte desses resultados, de produção e emprego formal, é fruto dos investimentos que o governo estadual vem incentivando e que estão distribuídos pelas diversas atividades. A agropecuária registrou queda de 9,0%, em 2009, e a brasileira caiu -5,2%. Nos dois casos, houve retração nas produções das principais culturas agrícolas. O desempenho negativo da agricultura cearense deveu-se, principalmente, à quadra invernosa com excesso de chuvas. Na produção animal foram destaques: a produção de leite (com crescimento de 22,3%) - esta foi beneficiada pelo melhoramento das técnicas de produção, genética, além de instalação e implantação de tanques de resfriamento para os pequenos e médios produtores -, e produção de ovos, em função, sobretudo, do aumento do rebanho de poedeiras. Na avaliação de Eloísa Bezerra, economista do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), o impacto dos projetos e investimentos em implantação deve vir a longo prazo, assim como aconteceu com as economias baiana e pernambucana – as mais fortes do Nordeste, pela ordem. A performance da Bahia é marcada pela entrada da indústria automobilística. Já Pernambuco cresceu a reboque de sua indústria sucroalcooleira. “Quanto ao andamento dos projetos no Ceará, em minha opinião, um dos maiores limitantes são as leis que regem os setores a serem Abr-Mai-Jun 2010 21


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Na produção animal, de leite foi destaque, beneficiada pelo melhoramento das técnicas de produção e genética, alémde instalação e implantação de tanques de resfriamento para os pequenos e médios produtores

impactados pelos projetos, como por exemplo, as leis ambientais. Mas isso é ruim? Talvez não, pois mostra a preocupação com o crescimento sustentável”, frisa.

INCENTIVOS FISCAIS A cada ano, aperfeiçoam-se as condições, do ponto de vista tributário, para atrair as empresas para o Estado. Em 2009, foram aprovados 94 projetos que, juntos, somam R$ 3,5 bilhões em investimentos oriundos da iniciativa privada e que podem gerar 9.258 empregos de forma direta no Estado. “O Ceará ope-

ra, desde 1980, com o Fundo de Desenvolvimento Industrial (FDI), oferecendo incentivos fiscais para indústrias e Centros de Distribuição. Sua credibilidade e segurança jurídica são diferenciais que garantem a competitividade”, diz Diogo. A política de atração de investimentos tem como princípio básico a concessão de incentivos fiscais, por meio do diferimento do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), gerado pela atividade industrial. O percentual desse incentivo, o índice de retorno e o prazo de fruição dos benefícios

Parâmetros para a análise do FDI A política do governo do foram R$ 379,4 milhões. Ceará para atrair novos Eusébio, Trairi, Juazeiro do projetos empresariais e inNorte, Cariré, Jaguaribe, vestimentos produtivos vem São Gonçalo do Amarante, apresentando resultados. O Fortaleza, Acarape, Iguatu, primeiro semestre de 2010 Maracanaú, Barbalha e já contabiliza a implantação Palhano foram as cidades de 19 novos empreendimenque receberam os novos tos, enquanto ao longo de empreendimentos. 2009 foram 20 empresas E a pauta deliberativa instaladas com incentivos do Conselho dispõe de 13 fiscais. “Isso aponta que, empreendimentos aguaraté o fim deste ano, teremos dando apreciação dos conuma superação incomparáselheiros e do governador Ivan Bezerra, presidente vel daquilo que realizamos para viabilizar a instalação do Conselho Estadual em 2009”, reforça o preside empresas. As solicitade Desenvolvimento dente do Conselho EstaduEconômico do Ceará ções representam mais de al de Desenvolvimento EcoR$ 102 milhões e a geranômico do Ceará (Cede-CE), Ivan Bezerra. ção de 1.798 postos de trabalho. Dentre os protoOs 19 novos projetos já implantados este ano colos observa-se que Juazeiro do Norte consolidaabriram, inicialmente, 1.734 vagas de trabalho. se como polo calçadista. Três novas empresas inEm termos de investimentos, o primeiro semestre teressadas em usufruir da política de incentivos do de 2010 contabiliza R$ 137,8 milhões. Em 2009, governo do Ceará e da mão-de-obra ali existente. 22 Brasil-Portugal no Ceará

são variáveis. A base para o cálculo percentual é feita após a análise de cinco parâmetros básicos, cada um deles com uma escala de pontuação (veja quadro). O Ceará possui vários distritos industriais (DIs) em diferentes regiões. Destacam-se na Região Metropolitana os DIs de Maracanaú, de Pacatuba, do Eusébio, de Aquiraz, e o Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP), em Caucaia e São Gonçalo do Amarante. “Está sendo criado o Polo Industrial e Tecnológico da Saúde, no Eusébio, que terá a Fiocruz como empresaâncora, atuando tanto na área de pesquisa e desenvolvimento quanto na fabricação de vacinas (unidade de Bio-Manguinhos) e sendo fundamental para a indução do crescimento do referido Polo”, completa o diretor da Adece. No Sul do Estado, encontra-se em implantação o Distrito Industrial da Região do Cariri. Em instalação também naquela área, encontra-se o Polo Cetrens, parque industrial formado por indústrias do setor metro-ferroviário. Na Região Norte destaca-se o Distrito Industrial de Sobral. “Todos oferecem condições favoráveis de receber investimentos”, destaca. A Zona de Processamento de Exportação do Pecém (ZPE), autorizada recentemente pelo Governo Federal, é instrumento para tornar os produtos processados competitivos em nível mundial. Os novos investimentos atraídos inicialmente obedecerão à vocação regional de processar matérias-primas locais e posteriormente serão atraídas empresas internacionais de médio e grande portes, cujos objetivos sejam a concorrência no mercado internacional. No município de Caucaia serão implantadas a Cidade do Atacado, maior espaço de negociação por atacado da América Latina, que gerará 3,2 mil empregos diretos e 11,4 mil indiretos e, posicionado em frente, a Cidade da Confecção, que abrigará 8.000 boxes de comercialização para pequenos confeccionistas, criando mais de 24.000 empregos.


Parâmetros para a análise do FDI • P1 - Geração de empregos; • P2 - Custo de transação (operação); • P3 - Localização geográfica do empreendimento; • P4 - Projetos de responsabilidade social; • P5 - Programa de pesquisa e desenvolvimento; Pode-se atribuir um Bônus – PE – para empresas que consolidem ou representem setores econômicos estratégicos para a base de desenvolvimento estadual. O valor do incentivo tem limite máximo de 75% (setenta inteiros por cento) do ICMS a ser recolhido. O prazo de carência é de 36 (trinta e seis) meses. O empréstimo tem um retorno variável de acordo com a pontuação atribuída ao projeto. O limite mínimo é de 5% e o máximo de 25%, corrigidos pela taxa de juros de longo prazo – TJLP. O prazo global do benefício será concedido de acordo com a pontuação atribuída ao projeto, sendo no mínimo 05 (cinco) anos e máximo 10 (dez) anos, renovável por igual período de acordo com a evolução do projeto.

Outros incentivos Outros incentivos fiscais no âmbito do ICMS, que poderão ser concedidos pelo estado:

Obras como o Acquario Ceará e o Centro de Eventos (abaixo), garantirão um turismo menos sazonal ao Ceará, defende a Setur

Rumo ao turismo qualificado

U

m cenário de belas praias, dunas e falésias, sol praticamente o ano inteiro, clima com boa umidade relativa do ar, gastronomia que une o regional ao internacional e gente muito hospitaleira. Disso, praticamente todo turista já sabe ou pelo menos ouviu falar do Estado. Um dos principais destinos dos brasileiros nas férias - chegando a receber em média dois milhões de visitantes por ano -, o Ceará agora se prepara para ser também referência internacional, concorrendo diretamente com lugares paradisíacos como Cancun, no México. Cenário não só de lazer, mas de porto seguro para investimentos nacionais e estrangeiros. A mudança nos rumos da atividade turística no Estado se deu há cerca de três anos. O governo entendeu que não bastava investir na divulgação do destino de sol e praia. Era preciso qualificálo, a partir de três pontos, como explica o titular da Secretaria de Turismo (Setur), Bismarck Maia: intensificar a promoção, melhorar a infraestrutura e

melhorar os serviços. “A promoção estava batendo no teto, divulgando atrativos que todos já conheciam. Nós tínhamos que melhorar todo o ambiente para que esses atrativos pudessem ser potencializados”, diz. Assim, o Ceará hoje é o estado brasileiro que mais investe em promoção turística – aproximadamente de R$ 30 a R$ 35 milhões por ano. Mas não parou por aí. As diretrizes do governo englobam uma verdadeira reconstrução do Estado, olhando para um horizonte de 20 a 30 anos, e tendo o turismo como vetor de transformação social e econômica. “A ampliação e melhoria da infraestrutura levam em conta três pontos: a preservação dos nossos atrativos turísticos; a reforma de edificações do patrimônio histórico e arquitetônico e a construção de novas estruturas/edificações”, resume Maia. O secretário vibra ao falar de obras, projetos, licitações. E são tantas as iniciativas que falta espaço para enumerálas e descrevê-las como Bismarck Maia faz. Ao todo, o Estado receberá inves-

• Diferimento de ICMS incidente nas aquisições de máquinas, equipamentos, partes e peças e estruturas metálicas para compor o ativo permanente da sociedade empresária, adquiridas no exterior ou em outros estados. • Diferimento do ICMS incidente nas aquisições no exterior do país de matéria-prima e insumos para utilização no processo industrial. Abr-Mai-Jun 2010 23


negócios | oportunidade timentos da ordem de R$ 1,3 bilhão – desde o Centro de Eventos e Acquario, até o saneamento básico nas praias dos principais cartões-postais do Ceará, como Jericoacoara e Cumbuco, passando pela duplicação de estradas e recuperação do patrimônio histórico na Capital e interior. “Nossos atrativos naturais, cantados em prosa e verso, precisam ser preservados. Estamos lançando edital para contratação de projeto de preservação de dunas, falésias, lagoas e mananciais”, adianta Maia. Ainda na parte de preservação ambiental, serão lançados editais para saneamento nas praias do Porto das Dunas (Aquiraz) e Flecheiras (Trairi). Já no segundo ponto da infraestrutura, o patrimônio histórico, o Estado vem investindo em reformas como a do Centro Histórico de Aquiraz, o Teatro Carlos Câmara e o prédio da Emcetur, o Seminário da Prainha e o Palácio da Abolição. Com a visão de que não adianta promover o interior sem qualificá-lo, o secretário destaca também os projetos de acessibilidade, como a duplicação, em 53 km da CE-085, que liga Fortaleza a Paracuru, no Litoral Oeste. Nas praias ao leste, ele cita a já concluída duplicação da estrada de Fortaleza a Beberibe e a licitação a ser lançada, ampliando a faixa de Beberibe até Aracati. Maia destaca, também, a acessibilidade aérea, reforçada pela construção dos aeroportos de Aracati (cuja pista já está pronta) e de Jericoacoara, de níveis nacional e internacional, respectivamente. “Em 60 dias, o novo termi-

24 Brasil-Portugal no Ceará

Para o secretário Bismarck Maia, estradas, aeroportos e equipamentos turísticos, junto com as belezas naturais, ajudarão a valorizar ainda mais o destino Ceará

nal de Aracati fica pronto. Reforço que não existe viabilidade para um destino turístico com aeroporto a menos de 100 km de distância. Por isso, resolvemos fazer dois aeroportos, sendo um para garantir acesso às praias do Litoral Oeste, como Jericoacoara e Camocim”, explica.

PROJETO MACRO No terceiro ponto do eixo estratégico de atuação do Estado no turismo, o secretário chama atenção para a construção de dois grandes equipamentos: o Centro de Eventos (CEC) e o Acquario. “São projetos que vão garantir um turismo mais perene ao Ceará, menos dependente de alta estação”. Ele lembra que, nos dois casos, o perfil dos visitantes é bem mais elitizado do que o do público que hoje conhece o Ceará. Com 30% das obras concluídas, a previsão é de que o CEC comece a operar em junho de 2011. Orçado em R$ 307 milhões, o equipamento é o segundo maior da América Latina, com

capacidade para abrigar até 30 mil pessoas em um único evento e possui projeto arquitetônico inspirado em aspectos típicos da paisagem e do artesanato cearense. A fachada terá as cores e as formas das falésias do litoral leste e sua estrutura lembra o bordado das rendeiras. Ao todo, o novo espaço para eventos contará com 176 mil m² de área construída em terreno de 17 hectares, 21 mil m² de jardins e 3,5 mil vagas de estacionamento. Além disso, terá doca, vestiários, refeitórios, ambulatórios, banheiro família e fraldário, salas para produção de eventos, administração, segurança, brigada de incêndio, juizado de menores, vigilância sanitária e ouvidoria. “É um equipamento que coloca o Ceará definitivamente no mapa dos grandes congressos, feiras e exposições”, garante Maia. O Acquario Ceará, obra de U$ 150 milhões e um dos maiores projetos estruturantes em curso no Ceará, deve estar pronto até o fim de 2012, segundo o secretário Bismarck Maia. A primeira etapa da obra, orçada em R$ 17 milhões, uma espécie de esqueleto de concreto de quatro pavimentos, chamada de caixa básica, foi licitada. Para Maia, além do marco arquitetônico e educacional para a cidade e o Estado, as implicações positivas para a cadeia do turismo cearense são ainda maiores, pois o Acquario configura-se como “um equipamento ícone, uma referência em destino qualificado e em sintonia com a política de ampliação do fluxo turístico”. Com 21,5 mil metros quadrados de área construída e tanques com capacidade para 15 milhões de litros, o Acquario terá em seus quatro pavimentos áreas de lazer, dois cinemas 4D, simuladores de submarino, equipamentos que proporcionam interação entre público e aquário e túneis submersos que levarão os visitantes ao interior do tanque de animais marinhos. A previsão é que o equipamento receba, anualmente, 1,2 milhão de visitantes, gerando receita de R$ 21,5 milhões. Para a economia local, o impacto no mercado de trabalho será de 150 empregos diretos, 1.600 indiretos e 18 mil empregos na cadeia produtiva.


informe publicitário

Mais de 2.800 cidades conectadas até 2011 Vivo anuncia maior plano de acesso móvel à internet 3G no Brasil

O

ferecer acesso móvel à Internet em Terceira Geração para mais de 85% da população brasileira até o final de 2011. Este é o compromisso que a Vivo assume ao anunciar o Plano Vivo Internet Brasil. Trata-se do maior programa de expansão de cobertura 3G do País, que ampliará sua rede dos atuais 600 para 2.832 municípios até dezembro do próximo ano. Para se ter uma ideia da dimensão do projeto, a assinatura dos contratos de Terceira Geração das operadoras de telefonia móvel com a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) ocorreu em abril de 2008. Nos últimos dois anos (de abril/08 a abril/10), o setor conectou 732 cidades - 600 delas com presença da Vivo - equivalendo a uma nova localidade por dia no período. Já o plano anunciado pela Vivo conectará 2.232 cidades em 18 meses, o que significa conectar 4 municípios/dia, mais que triplicando sua cobertura 3G. “O plano é ambicioso e será cumprido. Nosso objetivo é ampliar rapidamente a cobertura de Terceira Geração”, explicou Roberto Lima, presidente da Vivo. Segundo ele, o anúncio representa um compromisso com a inovação e a liderança e reforça o

elo de confiança com a rede de mais de 54 milhões de clientes. E prosseguiu Roberto: “Foi isso que fez a Vivo conquistar a posição em que se encontra hoje. E o dever da empresa é colocar foco com ainda mais ênfase na qualidade. Fazendo isso, estabelecemos relações de confiança com todos os nossos stakeholders e cumprimos a nossa missão”. O investimento do Plano Vivo Internet Brasil está contemplado na previsão já anunciada de R$ 2,49 bilhões para este ano e prevê atingir 1.461 cidades com cobertura de Terceira Geração até dezembro. Nesta fase 75% da população estará coberta. Hoje, a Vivo é líder em Terceira Geração com 600 municípios, cobertura 33% maior do que a segunda colocada. Segundo os indicadores da Anatel, a Vivo apresenta o melhor desempenho em qualidade de rede, com média acumulada de 99,9% em 2010. A rede atual da operadora cobre 3.600 cidades, com tecnologia GSM/EDGE e Terceira Geração.

LÓGICA INVERTIDA Para que a meta de ampliação da rede seja abrangente e reflita a crença da Vivo de conectar cada vez mais pessoas, em qualquer momento e

qualquer lugar, a empresa não irá concentrar somente os investimentos nas áreas que proporcionam melhor e mais rapidamente retorno financeiro. Em outras palavras, a lógica está sendo invertida. “A Vivo estenderá a cobertura de Internet móvel a municípios pequenos, alguns isolados, acreditando que a essência dos seus serviços cria desenvolvimento social e econômico nessas localidades e faz com que o retorno ocorra de forma equilibrada e consistente com o desenvolvimento nacional”, afirmou Roberto Lima.

CARGA FISCAL O preço do serviço de Internet móvel 3G, ofertado pelo Plano Vivo Internet Brasil, será promocional no primeiro mês: R$ 29,95 para quantidade de dados trafegados equivalente a 250 MB, passando para R$ 59,00 a partir do segundo mês, sendo válido para todo o País. Abr-Mai-Jun 2010 25


administração | gestão

por Rodrigo Coimbra

NOVA DIRETORIA DA CÂMARA BRASILPORTUGAL ASSUME COM O OBJETIVO MAIOR DE AMPLIAR A FORÇA DA ENTIDADE

RENOVAÇÃO NA BUSCA POR

OPORTUNIDA O

desafio posto pode não ser aparentemente tão grande, mas foi encarado como uma verdadeira batalha por todos os sócios que decidiram participar da nova diretoria da Câmara Brasil-Portugal no Ceará (CBP-CE). Afinal, se em seu início a entidade era uma ilustre desconhecida e tinha dificuldades para conquistar sócios em prol da causa lusobrasileira, atualmente, a CPB-CE já tem sua imagem consolidada, sendo reconhecida como uma das mais atuantes do país e despertando o interesse natural de investidores nacionais e estrangeiros, interessados em buscar no-

26 Brasil-Portugal no Ceará

vas oportunidades de negócios. Como fazer para manter este ritmo de crescimento e cada vez mais ampliar a força e a imagem da entidade? O semblante de confiança era a resposta de cada um dos diretores ao serem chamados a se postar de pé tão logo seus nomes eram declinados durante a solenidade de posse, realizada no último dia 19 de maio, no auditório Waldyr Diogo, da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), em Fortaleza. O espaço estava lotado, com a solenidade tendo sido prestigiada por empresários de diversos setores, autoridades, associados e convi-

dados. Além da nova diretoria da CBPCE, o evento efetivou também a posse dos novos diretores da recém-criada Câmara Brasil-Angola. Além dos dois presidentes empossados, a mesa de cerimônia foi composta pelo vice-Governador do Estado do Ceará, professor Francisco José Pinheiro; do Procurador-Adjunto de Fortaleza, Marcelo Arruda Bezerra, no ato representando a Prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins; do empresário Roberto Macedo, presidente da Fiec; do Reitor da Universidade Federal do Ceará (UFC), Jesualdo Pereira Farias; do Vice-Cônsul de Portugal em Fortaleza, Francisco


Cerimônia de posse das duas câmaras de comércio aconteceu no dia 20 de maio na Casa da Indústria

DES Brandão; do presidente do Conselho das Câmaras Portuguesas de Comércio no Brasil, Rômulo Alexandre Soares; do diretor de Infraestrutura da Agência de Desenvolvimento do Ceará (Adece), Eduardo Henrique Cunha Neves; e do vice-presidente do Grupo O Povo de Comunicação, João Dummar Neto. O cenário estava completo: um palco digno de aplausos, convidados ilustres e profissionais ansiosos em demonstrar sua vontade de trabalhar conjuntamente para o bem das duas entidades. Em todos, a certeza e a confiança de que bons ventos continuarão a soprar para os negócios no céu cearense.

DINAMISMO E VONTADE À frente da Câmara Brasil-Portugal no Ceará para o quadriênio 2010-2014, continuará o executivo Jorge Chaskelmann, diretor de Projetos do Aquiraz Riviera, que havia assumido provisoriamente a Presidência em maio do ano passado, após o falecimento do ex-presidente Armando Ferreira. Os bons resultados obtidos em tão pouco tempo estimularam o executivo português, de sangue alemão e alegria tipicamente cearense a decidir seguir no projeto. Para seguir no caminho do sucesso, o presidente da Câmara se cerca da competência de outros executivos já com experiência na Câmara. Na mesma solenidade, foram empossados como vice-presidentes o advogado José Maria Mccall Zanocchi (MZG Advogados), o empresário Roberto Marinho (Ceará Trade Brasil) e o executivo José Wahnon (do Aquiraz Riviera), além dos

demais diretores que, juntos, ditarão os rumos da entidade para os próximos quatro anos. “É, de fato, uma grande responsabilidade, principalmente porque precisamos dar respostas a nossos associados que procuram na Câmara de Comércio uma instituição dinâmica e empreendedora, e manter o ritmo de crescimento e a tradição de bem servir desta quase uma década de história”, comenta Chaskelmann. Neste novo momento, a entidade mudou o formato de suas diretorias. A CBP-CE passa a contar com representantes de sete áreas distintas de atuação. Além da tesoureira Huga Mendes de Oliveira, a nova divisão contempla as áreas de Energias Alternativas, Agronegócios, Comunicação, Assuntos Jurídicos, Construção Civil, Meio Ambiente e Tecnologia da Informação. “Vamos organizar eventos em cada uma destas áreas para o debate de asAbr-Mai-Jun 2010 27


administração | gestão

Diretoria da Câmara BrasilPortugal no Ceará 2010/2014 Presidente Jorge Duarte Chaskelmann 1º Vice Presidente José Maria Mccall Zanocchi 2º Vice-Presidente Antonio Roberto Alves Marinho 3º Vice-Presidente José Augusto Pinto Wahnon Diretora Tesoureira Huga Mendes de Oliveira Diretor de Energias Renováveis Armando Leite Mendes de Abreu Diretor de Agronegócios Carlos Manuel Subtil Duarte Diretor de Comunicação Cliff Freire Villar da Silva Diretora de Assuntos Jurídicos Fernanda Cabral de Almeida Gonçalves Diretor de Construção Civil Francisco Eugênio Montenegro Diretor de Meio Ambiente José Euber de Vasconcelos Araújo Diretora de Tecnologia da Informação (Brasil) Marluce B.Aires de Pina Diretora de Tecnologia da Informação (Portugal) Miguel Costa Manso

Nova diretoria da Câmara Brasil-Portugal no Ceará 2010/2014

suntos que estejam de acordo com o interesse dos empresários e isso representa um nível mais avançado de profissionalização do trabalho que já vínhamos apresentando”, reforça o presidente. Em seu discurso de posse, Chaskelmann ressaltou que foram convidados empresários e executivos experientes “para que possam abranger um variado espectro de atividades e dar, assim, uma contribuição mais eficaz àqueles que desejam se associar e demandar o nosso apoio para criar laços eficazes no Ceará”. Nas palavras do presidente eleito e na mente dos diretores, um discurso otimista e convicto de que ainda há muitas terras e mares a serem desbravados. Conforme Jorge Chaskelmann frisou, “a crise internacioJorge Chaskelmann, presidente da Câmara BrasilPortugal no Ceará para o quadriênio 2010-2014

Roberto Marinho, presidente da Câmara BrasilAngola no Ceará e 2º vice-presidente da Câmara BrasilPortugal no Ceará 28 Brasil-Portugal no Ceará

nal econômica continua. Atravessamos um momento em que é preciso idealizar novos horizontes e crescer internacionalmente. Temos que buscar, como um dever, e alcançaremos, por meio de nossa capacidade e de nossa competência, resultados que reflitam de forma positiva em nossos negócios e, consequentemente, na economia em geral”.

OLHOS PARA A ÁFRICA Para Roberto Marinho, que também assumiu a presidência da Câmara Brasil-Angola no Ceará, a oficialização da nova câmara de comércio unindo o Ceará e o Brasil a um dos mais ativos países africanos foi apenas o início de uma longa jornada. “Demos hoje o primeiro passo, escrevemos a primeira linha.


É extremamente importante para o Estado esta renovação da Câmara Brasil-Portugal e a criação da Câmara Brasil-Angola. Reforça os laços com os países de língua portuguesa. Tive a oportunidade de conversar com ministros da Educação, Meio Ambiente e da área de Negócios de Moçambique, e percebo a importância do Brasil no estabelecimento da relação Sul-Sul. Temos condições institucionais, de atratividade de investimentos por essa região. Temos posição estratégica também. O Ceará tem o grande privilégio de sua posição geográfica, por estarmos mais próximos da África que todos os estados brasileiros e as Câmaras de Comércio contribuirão com o desenvolvimento destas relações.”

Francisco Pinheiro, vice-Governador do Ceará

Esta história com Angola será tão fabulosa quanto for nossa disposição para perseguir ideais, erguer parcerias, colaborar com seu povo, entender suas dificuldades, seus problemas, suas características, sua cultura. Existe um País inteiro para ser reerguido, porém não há espaço para egoísmo, para vantagens unilaterais, para oportunismos. O que há é uma grande oportunidade de participar como protagonista de uma história de sucesso e de vitórias, através da cooperação, da transferência de tecnologia, do ensino, do treinamento profissional, da geração de emprego e renda”, ressaltou Marinho em seu discurso. A importância das Câmaras de Comércio como molas propulsoras para o processo de desenvolvimento

econômico do Ceará, reforçando seu papel estratégico nacional e internacionalmente, foi ratificado pelo presidente da Fiec, Roberto Macedo. “Os bons serviços prestados pela Câmara Brasil-Portugal mostram que o brasileiro não deve apenas focar no mercado interno. Fazer esta abertura que as Câmaras de Comércio realizam tem sido um pavimento asfaltado pela experiência internacional com multinacionais. Passamos a conhecer, absorver e usufruir destas oportunidades que constantemente nos chegam por meio da Câmara no Ceará”, disse Macedo. Mas, em seu discurso, o presidente da Fiec fez também um desafio ao empresariado local, convicto de que o Ceará pode e deve oferecer mais ao mundo em suas relações comerciais. “Estamos hoje, junto à Confederação Nacional da Indústria (CNI), representando o Brasil na Confederação Empresarial da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) que se instalará em Angola para o biênio 2010-2011. Sentimo-nos em casa quando dialogamos com países desta Comunidade, mas observo que nós, empresários cearenses, ainda somos muito tímidos. Precisamos não temer e sairmos da fronteira estadual, começar negócios em países separados pelo

A presidência de Jorge Chaskelmann vai trazer algo diferente para este quadriênio. A área de Tecnologia da Informação não existia dentro da Câmara e existem muitas oportunidades de empresas europeias que possam se interessar em vir ao Ceará e se estabelecerem. Nossa intenção é conseguir divulgar a entidade em Portugal e mostrar o sucesso dos negócios nesta área realizados pelos associados. A Câmara tem uma imagem muito boa em Portugal, recebemos todo apoio da presidência para a implementação do nosso projeto e temos certeza de que os próximos anos serão de mais sucesso.”

Roberto Macedo, presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará

Miguel Costa Manso, diretor da Additive

Saúdo os novos presidentes. Tivemos o pioneirismo de sediar o encontro dos países de língua portuguesa e estabelecemos como meta uma maior aproximação, principalmente das pequenas empresas cearenses, com empresas de língua portuguesa, seja da África, seja da Europa. Isso por si só já trouxe excelentes resultados, porque implementamos em Cabo Verde um núcleo avançado de atuação do Sebrae. Acabou a distância da África com o Ceará. Portugal sempre sinalizou um resgate da aproximação de nossa cultura de origem com os negócios, e o Ceará reflete isso com mais de 700 empresas cearenses e portuguesas entrelaçadas.”

Alci Porto, diretor técnico do Sebrae/Ceará

Abr-Mai-Jun 2010 29


administração | gestão

Rômulo Alexandre Soares, presidente do Conselho das Câmaras Portuguesas no Brasil, discursa sobre o esforço junto ao Governo Federal para que novas rotas de voos internacionais sejam direcionadas para o Nordeste

Nova diretoria da Câmara Brasil-Angola no Ceará 2010/2014

Atlântico”, instigou o empresário, ressaltando os bons exemplos que já existem negócios cearenses instalados no continente africano. “Com as facilidades que estão sendo colocadas à nossa disposição para novos investimentos, temos empresas cearenses iniciando investimento no setor de castanha em países africanos. Estamos começando apenas, e digo que a Fiec está absolutamente integrada neste processo colocando à disposição todos os seus instrumentos para o que precisarem”, reforçou. Já o presidente do Conselho das Câmaras Portuguesas no Brasil, Rômulo Alexandre Soares, reiterou o esforço que tem sido feito junto ao Governo Federal para que novas rotas de voos internacionais sejam

Durante a cerimônia, a nova diretoria da Câmara BrasilPortugal no Ceará fez homenagem ao Grupo de Comunicação O Povo, representado pelo empresário Dummar Neto 30 Brasil-Portugal no Ceará

direcionadas para o Nordeste, colaborando diretamente para o desenvolvimento de novas relações entre os países da CPLP. “A TAP, que completou seus 10 anos de mercado cearense em 2009, foi revolucionária e teve papel fundamental para o crescimento das relações entre o Ceará e Portugal. Existem mais de 700 empresas com participações portuguesas com investimentos no Estado”, destacou Soares. “E estamos mostrando ao Governo que deve-se olhar para o Nordeste com a relevância que esta região merece. Buscaremos sempre novas oportunidades e, quem sabe, fazer com que seja possível até mesmo o estabelecimento de novas rotas aéreas entre os países da CPLP”, afirmou.

Câma para dez ano

E

m junho, a Câmara Brasil-Portugal no Ceará (CBP-CE) celebrou seus nove anos de existência, o que pode parecer pouco quando se pensa este número comparado à história de uma cidade, de uma empresa ou de um ser humano. Mas quando o assunto é comércio exterior e o tempo se refere à vida de uma Câmara de Comércio, negócios e relações comerciais nascem quase que diariamente, entre almoços e encontros empresarias. Assim, esses nove anos atestam a longevidade da instituição e refletem o objetivo maior da entidade: o desenvolvimento. Prestes a comemorar dez anos, alguns números confirmam o bom desempenho da Câmara. Até o fechamento desta edição, a CBP-CE já contava com 145 associados. Além disso, a entidade mantém um boletim semanal de notícias que envolvem investidores e empresários cearenses e portugueses. Segundo Eduardo Bezerra, superintendende do Centro Internacio-


Foi uma honra receber o convite para atuar na diretoria de TI da Câmara Brasil-Portugal junto ao Miguel Costa Manso. O presidente Jorge Chaskelmann percebeu que poderíamos facilitar o acesso das empresas tanto no Brasil quanto em Portugal e estamos com este espírito de facilitar negócios e entrada nos dois mercados.”

Marluce Aires, diretora do Instituto InfoBrasil

ra se prepara comemorar s de atividades nal de Negócios do Ceará (CIN-CE) e que conhece de perto toda a trajetória da entidade desde seu surgimento, “quando se registra o número de 700 empresas com capital português no Estado e o fato de ser o Ceará a segunda preferência nacional para investimentos portugueses, logicamente fica evidenciado o fato de que a Câmara Brasil-Portugal do Estado vem cumprindo as finalidades que a fizeram existir”. Eduardo Bezerra reforça ainda que não se deve levar em conta apenas o lado econômico, mas é preciso olhar sempre para os laços culturais entre as duas nações. “A criação da Praça Portugal e sua respectiva afirmação por meio de uma publicação que a homenageia, o livro Praça Portugal, sem dúvida são outros marcos que mostram quão ligados estão este Estado e a nação portuguesa”, reitera. O presidente da CBP-CE, Jorge Chaskelmann, salienta o que representa a entidade para o Ceará. “Chegar aos nove anos é muito mais que

uma vitória, pois mostra que nossos propósitos são sinceros e verdadeiros. Por isso, alcançamos a cada dia uma credibilidade maior junto à sociedade, ao Governo e, principalmente, aos nossos associados – que depositam em nós sua confiança acreditando que trabalhamos em prol de melhorias positivas para todos”, conclui.

Eduardo Bezerra, Superintendente do Centro Internacional de Negócios do Ceará

O sucesso do evento só ratifica um trabalho excelente que a atual diretoria da CBP-CE vem fazendo. A eleição do Jorge Chaskelmann com sua diretoria é reconhecimento do que já foi feito e a certeza da continuidade de bons resultados. No caso da Câmara Brasil–Angola, é um selo de uma necessidade que é muito presente na cabeça de todos nós. Nossas economias são complementares, Angola tem uma grande carência de serviços e sabemos que o Ceará pode contribuir com um país irmão.”

Wandocyr Romero, diretor do Aquiraz Riviera

É o corolário de um trabalho de integração que vem sendo feito e se intensificou com o V Encontro Internacional de Negócios na Língua Portuguesa. Na promoção das relações Brasil-Portugal, que sempre se refletem nas relações do Ceará com a África, devido à grande experiência que Portugal acumulou, muitos dos empresários que aqui estão têm também relacionamento com o continente africano. Recomendamos aos empresários que, através do associativismo, cruzem informações, se encontrem, e produzam bons negócios.”

Francisco Brandão, vice-Cônsul de Portugal em Fortaleza

Toda ação no sentido de aproximar nações que historicamente já se manifestam de diferentes formas é sempre muito bem-vinda. O Brasil tem relação muito grande com Portugal e agora intensifica esses laços com países africanos de língua portuguesa. O Ceará está próximo destes países em um mundo de oportunidade que precisamos aproveitar. As Câmaras têm como objetivo intensificar estas relações que não são apenas de comércio, mas também nos setores industrial, comercial e cultural.”

Jesualdo Farias, reitor da Universidade Federal do Ceará (UFC) Abr-Mai-Jun 2010 31


negócios | logística administração | gestão

Câmara de Comércio aproxima Ceará e Angola

O

bom momento pelo qual passa o continente africano pode trazer resultados positivos para os associados das Câmaras de Comércio do Ceará. Após viagem a Angola, o empresário Roberto Marinho, vice-presidente da Câmara Brasil-Portugal no Estado e recém-empossado presidente da Câmara BrasilAngola, trouxe não só boas impressões, mas também perspectivas de negócios. Marinho observa que a capital Luanda não é a mesma de anos atrás. “Percebi mudanças significativas e para melhor no país. O nível profissional das autoridades de imigração, da polícia e das equipes do aeroporto, logo na chegada, já demonstram um outro nível de organização. Novos restaurantes, pequenos hotéis e outros negócios surgindo mostram a capacidade local e a velocidade com a qual o progresso está chegando. Tive a nítida certeza de que é hora de se construir uma história”. Uma excelente oportunidade de aproximação mútua entre os dois mercados – Ceará e Angola – se dará com a presença de uma comitiva cearense no país africano por ocasião da Feira Internacional de Luanda (Filda 2010), a ser realizada entre os dias 20 a 25 de julho. Formada por representantes do Centro Internacional de Negócios do Ceará (CIN/CE), Federação das Indús-

Feira de Artesanato em Luanda, capital de Angola

trias do Estado do Ceará (Fiec), Sebrae/ Ceará, das Câmaras de Comércio Brasil-Portugal e Brasil-Angola, além do Conselho das Câmaras de Comércio Portuguesas no Brasil e da Ceará Trade Brasil, coordenadora da equipe na forma de assessoria internacional, a comitiva irá conhecer o mercado africano e prospectar oportunidades de novas parcerias que possam surgir, uma vez que as portas já estão abertas pelos angolanos. Recentemente, vários empresários e representantes de entidades de Angola estiveram presentes ao Ceará, participando de reuniões e visitando

Roberto Marinho, presidente da Câmara Brasil-Angola no Ceará em reunião com o Ministro Conselheiro de Angola, Mateus Barros José 32 Brasil-Portugal no Ceará

instituições e empresas. Do outro lado do oceano, as expectativas são grandes em relação à Feira. “Em todas as visitas que fizemos percebemos que é grande a expectativa dos angolanos. Primeiro, pelo excelente relacionamento com os brasileiros e pela história de amizade existente entre as duas nações. Segundo, pelas possibilidades reais de negócios e de parcerias entre empresas e governos, associações de empresários, e outras entidades”, explica Roberto Marinho. De acordo com o presidente da Câmara de Comércio Brasil-Angola no Ceará, a necessidade de cooperação é evidente e a presença brasileira neste processo está cada vez mais forte. “Estamos nos comprometendo a acompanhar esta evolução dos acordos de cooperação, dos negócios e das parcerias, apoiando no sentido de fornecer informações e buscar soluções”, afirma Marinho. O dirigente ainda explicou que acordos de cooperação entre a Câmara de Comércio e Indústria de Angola e a câmara de comércio cearense devem ser formalizados com o objetivo de garantir mais segurança às informações no sentido bilateral.


ESPAÇO IBEF

A economia do Estado do Ceará nos primeiros cinco meses do ano

A

Economia do Estado do Ceará nos primeiros cinco meses de 2010, tem apresentado comportamento ascendente, conforme demonstram os indicadores publicados pelo IPECE, IBGE e INDI/FIEC. No que diz respeito ao PIB, o IPECE divulgou que o Ceará cresceu 8,92% no primeiro trimestre deste ano. Mas não só essa taxa é importante. A expectativa é que no segundo trimestre, esse comportamento positivo se repita até com maior força. Analisando-se, por outro lado, os Indicadores IBGE (PIM_PFR- maio de 2010) sobre o comportamento da indústria cearense, constata-se um crescimento (aqui para os cinco primeiros meses do ano), para a produção industrial, da ordem de 16,3%. A análise efetuada pelo INDI/FIEC, a qual cobre as seguintes variáveis: Vendas Totais da Indústria; Pessoal Total Empregado; Horas Trabalhadas na Produção; Massa Salarial Real e Utilização da Capacidade Instalada, mostra um comportamento extremamente positivo para a indústria de transformação cearense. De fato, quando se compara o período explicitado com igual período de 2009, todas as variáveis pesquisas apresentam crescimento expressivo, com destaque para a elevação de 16,95% das Vendas Totais e 15,55% para a Massa Salarial Real. O comportamento da variável Vendas Totais, nos cinco primeiros meses de 2010, demonstra de forma clara a elevação da demanda por produtos industrializados cearenses, tanto pelo mercado interno quanto externo. Desta

forma, todos os setores pesquisados apresentaram variações positivas, constribuindo para que o crescimento das vendas atingisse 16,95%. Por outro lado, corroborando os dados do IPECE e do IBGE, a indústria de transformação cearense apresentou nas variáveis diretamente relacionadas com a produção, crescimento de 12,85% no contingente de mão-deobra empregada e 11,91% no total de Horas Trabalhadas na Produção. Isto em comparação entre os cinco primeiros meses do ano corrente e igual período de 2009. Por fim, vale registrar que as Exportações de Produtos Industrializados (dados fornecidos pelo MDIC) são de US$ 64.20 milhões, crescendo 31,93% em relação ao total registrado em maio do ano imediatamente anterior. Em resumo, nos primeiros cinco meses de 2010 a economia cearense apresentou crescimento significativo. INDICADORES

JAN-MAI/2009 JAN-MAI/2010

Vendas Totais da Indústria

16,95

Pessoal Total Empregado

12,85

Horas Trabalhadas

11,91

Massa Salarial Real

15,55

Exportações Produtos Industrializados

18,65

Utilização da Capacidade Instalada (nível %)

86,42 (c)

Abr-Mai-Jun 2010 33


economia | mercado

por Samira de Castro

A FORÇA DOS

BRICs PAÍSES GANHAM POSIÇÃO CONFORTÁVEL NO JOGO DE PODER MUNDIAL

D

epois da última grande crise do capitalismo, em 2008, que varreu as economias desenvolvidas, sobretudo nos Estados Unidos – onde tudo começou, com a bolha imobiliária – e na Europa, o mundo assiste a uma recuperação lenta dos negócios globalizados. Sob o comando de um governo de esquerda, mas com pressupostos econômicos herdados de uma trajetória de estabilidade neoliberal, o Brasil passou pela sua maior prova de fogo, assim como alguns países considerados emergentes, como a China e a Índia. Hoje, o que deve-se esperar do cenário econômico internacional? Com a palavra, o economista José Nelson Bessa, ex-assessor internacional do Governo do Ceará, doutorando em Relações Internacionais na Universidade de Brasília (UnB)

34 Brasil-Portugal no Ceará


José Nelson Bessa, doutorando em Relações Internacionais na Universidade de Brasília (UnB) e membro do Corecon-DF

e membro do Corecon-DF: “Os quatro países BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) ganham musculatura no jogo de poder mundial, podendo fortalecer suas posições relativas no processo decisório internacional desde que consigam dirimir suas diferenças e coordenar-se entre si, sem desconfianças mútuas, na busca de posições negociadoras comuns e de atuação em bloco na defesa de seus interesses de potências emergentes em face dos países avançados”, resume. No último trimestre de 2009, a maioria das economias avançadas já dava sinais de recuperação. “No entanto, a retomada ainda está lenta e muito dependente das medidas de estímulo fiscal e monetário. A recuperação não está garantida, de modo que qualquer retirada súbita das medidas anticíclicas pelos governos e bancos centrais pode abortar o processo e levar muitas

economias da Zona do Euro de volta à recessão”, avalia Bessa. O problema – continua ele – é que muitas dessas economias estão com grandes déficits fiscais e altos níveis de endividamento, perdendo, assim, o fôlego para continuar a estimular o consumo e os investimentos em seus mercados internos. “É uma situação complexa e arriscada para a plena retomada da economia

mundial. Ainda bem que os EUA estão demonstrando uma capacidade relativamente mais rápida de sair da crise”, diz. Globalmente, o volume de crédito internacional caiu em US$ 5 trilhões desde meados de 2008 – uma retração de 15%, segundo o Banco de Compensações Internacionais (BIS). “Alguns analistas chegaram a sugerir que, como consequência da crise, o processo de integração financeira estaria se revertendo, ou seja, se desglobalizando, o que me parece um pouco de exagero”, comenta Bessa. Mesmo assim, acrescenta o economista, observase no mundo “uma lenta recuperação do crédito para o setor privado, uma vez que os bancos estão preferindo emprestar para os governos, em especial dos países avançados que, com altos déficits fiscais, precisam se financiar nos mercados de capitais”. “Muitos países em desen-

MADE IN BRAZIL

Abr-Mai-Jun 2010 35


economia | mercado volvimento e mesmo avançados (vide o caso da Grécia e da Islândia) estão tendo dificuldade de se financiar no exterior”, completa. O Brasil, porém, está indo no sentido contrário à tendência mundial e recebe o maior volume de crédito de bancos internacionais, entre os países emergentes. “O País aproveita bem o bom momento no cenário internacional para as economias emergentes, a ponto de, segundo o BIS, se tornar, no fim de 2009, o maior emissor de títulos no mercado financeiro entre o bloco de países em ascensão e garantir com facilidade a captação de recursos. Sem dúvida, estamos num bom momento”, avalia Bessa. Ele acrescenta que muitos países da África estão se saindo relativamente bem na atual crise global, graças a pesados investimentos internos em infraestrutura e fortes laços com países emergentes como a China e a Índia. “Angola, por exemplo, após um pequeno recuo de 0,4% no PIB em 2009, está crescendo fortemente”. Segundo projeção do Fundo Monetário Internacional (FMI), Angola deverá crescer 7,1%, em 2010, e 8,3%, em 2011. “A Instituição também projeta aceleração no crescimento das economias dos outros países africanos de língua portuguesa, alguns dos quais tiveram crescimentos nas suas economias mesmo no ano de crise in-

36 Brasil-Portugal no Ceará

ternacional, a exemplo de Moçambique, que cresceu 6,3% em plena crise, e deverá crescer 6,5% este ano”, relata. Para Cabo Verde, o FMI projeta um crescimento de 5%, este ano, e 5,5%, em 2011, depois de ter crescido 4,1% no ano passado. Quanto aos BRICs, o economista chama atenção que, à exceção da Rússia (cuja economia recuou em 7,9% em 2009), as medidas anticíclicas que adotaram foram fundamentais não apenas para se protegerem da recessão mundial, mas para atuar no sentido de motores do crescimento econômico internacional, substituindo os países avançados como polo de dinamismo. “A forte expansão chinesa (8,7% em 2009) e da Índia (7,2%), assim como a pequena retração do Brasil (-0,2%) funcionaram como um anteparo à recessão mundial, fato que só veio a reforçar a importância crescente que tais economias emergentes exibem nos últimos dez anos”, argumenta. A Rússia, continua Bessa, teve desempenho muito negativo em função da fragilidade de seu sistema bancário – muito dependente de financiamento externo – e da reversão súbita nos preços e volumes de suas exportações de produtos energéticos para os seus grandes mercados de destino: EUA e União Europeia. “Os países BRIC saem da crise, em geral, for-

talecidos pelo melhor desempenho que tiveram em termos de pouca perda de produto (Brasil) e mesmo forte crescimento da economia (China e Índia), preservação de sua base fiscal e de endividamento e resiliência ao declínio nas exportações. Em que pese à queda acentuada da Rússia em termos de produto, o país sai da crise em situação bem melhor do que a anterior crise de 1998, sem a desestruturação financeira e os elevados níveis de desemprego do passado”. Quanto aos EUA, que foram o epicentro da crise global, sofreram forte impacto. “Sua economia teve queda de 2,4% em 2009. No entanto, suas importações totais de bens e serviços – que representam uma parcela importante da demanda externa para muitos países do mundo, inclusive o Brasil – caiu 13,9%. Só nosso país perdeu cerca de US$ 11,8 bilhões de vendas para os EUA no ano passado, uma queda de 43,1% nas exportações para aquele mercado”, lembra Bessa. Para ele, em que pesem os compromissos da administração Barack Obama de conter pressões protecionistas, o que se observa são medidas de restrição às importações. “Num cenário de recessão e perda de empregos, fica difícil para qualquer governo justificar internamente abertura de mercado a produtos estrangeiros”, observa o economista.


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negócios | turismo

por Gabriela Alves

CEARÁ NA ROTA INTERNACIONAL DOS

NORDESTE INVEST 2010

EVENTO REUNIU EXPERIÊNCIAS E OPORTUNIDADES DE NEGÓCIOS

E

ntre os dias 10 e 12 de maio, a cidade de Natal, capital do Rio Grande do Norte recebeu os mais importantes nomes dos setores imobiliário e turístico de 16 países durante o Nordeste Invest 2010. O evento, organizado pela Associação de Desenvolvimento Imobiliário e Turístico do Brasil (ADIT Brasil), chegou à quinta edição consolidado como o maior encontro de investimentos imobiliários e turísticos do País. Segundo a ADIT Brasil, o evento tem objetivo de atrair investimentos, divulgar o Brasil como um destino de investimentos seguro, reunir os principais players da indústria do mercado imobiliário e turístico mundial para discutir as novi-

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dades do setor, além de buscar soluções para os gargalos enfrentados pelos empresários e que dificultam a atração de investimentos. Os números desta edição surpreenderam a organização. Estiveram presentes no Centro de Convenções de Natal, cerca de 1.450 participantes, com o envolvimento de 108 empresas na rodada de negócios, resultando um total de R$ 1,8 bilhão em negócios gerados. “O balanço de negócios superou em quase três vezes a expectativa”, destaca Felipe Cavalcante, presidente da ADIT Brasil. Foram registrados ainda 120 investidores nacionais e internacionais que focaram os investimentos na rede hoteleira, em shoppings e

em empreendimentos residenciais. Comprovando a relevância do encontro, a imprensa nacional e internacional fez a cobertura de todos os dias do evento. Entre os principais veículos de comunicação internacionais, estavam o The Times, Financial Times, New York Times e The Herald Tribune.

PARTICIPAÇÃO DA CBP-CE O Nordeste Invest 2010 foi contemplado com a apresentação de 91 painelistas em 29 painéis, 50 empresas expositoras no salão imobiliário e turístico. A Câmara Brasil-Portugal no Ceará (CBP-CE), por meio de representantes de 12 empresas associadas e parte de sua diretoria acompanhou


de perto os debates, as rodadas de negócio e as conferências que fizeram parte da programação. O presidente da CBP-CE e diretor de Projetos do Aquiraz Riviera, Jorge Chaskelmann, foi um dos painelistas. Para o empresário, a participação no evento traz muitas experiências positivas sobre negócios internacionais. “A feira é uma das mais importantes para o desenvolvimento imobiliário-turístico com um aumento importante de visitantes estrangeiros, fundos internacionais, hoteleiros e investidores que procuram no Brasil oportunidades de negócios”, ressalta. O Conselho das Câmaras BrasilPortugal participou como expositor no estande da CBP-CE representado pelo presidente Rômulo Alexandre Soares. Também estiveram entre os painelistas deste ano: Jorge Rebelo de Almeida, da Rede Vila Galé e presidente do Conselho de

Administração da Câmara; José Maria Zanocchi, um dos vice-presidentes da Câmara e sócio da MZG Advogados; e Antônio Eugênio Gadelha, sócio da Alburquerque Pinto Advogados. Para Karina Saraiva Leão Gaya, sócia da Trigueiro Fontes Advogados, também associada da CBP-CE e presente nas últimas edições do Nordeste Invest, um destaque é o speed networking, quando é possível estabelecer diversos contatos visando à formação de parcerias. “É de suma importância o contato direto com os investidores, que já perceberam o potencial do mercado interno brasileiro”, complementa a advogada. A diretoria da CBP-CE já garantiu a presença de seus associados na próxima edição.

NEGÓCIOS AMPLIADOS A partir da próxima edição, o Nordeste Invest passará a se cha-

mar ADIT Invest, pois a Associação agora é nacionalizada. De acordo com a ADIT Brasil, o evento continuará com o mesmo propósito do Nordeste Invest, mas ampliando as suas discussões e apresentação de projetos que passará a abordar temas residenciais, comerciais, logísticos e hoteleiros, além da discussão de temas que enfoquem o setor imobiliário-turístico.

Números da feira • Expectativa de geração de R$ 1,8 bilhão em negócios; • 1.450 participantes; • 120 investidores nacionais e internacionais; • 108 empresas nas Rodadas de Negócios; • 50 empresas expositoras no Salão Imobiliário e Turístico; • 91 painelistas em 29 paineis; • 12 empresas associadas à CBP-CE participantes.

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informe publicitário

Banco do Nordeste BNB consolida posição como oitava instituição financeira do País

O

Banco do Nordeste do Brasil S.A. (BNB), presidido pelo economista Roberto Smith desde 2003, é o maior banco de desenvolvimento regional da América Latina. Possui uma rede de 182 agências, atua em 1.989 municípios do Nordeste e do norte dos Estados de Minas Gerais e do Espírito Santo e conta com unidades extrarregionais em Belo Horizonte, Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro. O objetivo principal da Instituição consiste em reduzir disparidades entre a Região e regiões desenvolvidas do País. Nesse sentido, o Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE), responsável por cerca de 75% das aplicações do BNB, constitui, hoje, a principal fonte de apoio ao desenvolvimento regional. Nos últimos 20 anos, investiu R$ 56,3 bilhões. O FNE, desse modo, representa foco permanente de atenção entre as prioridades da empresa, na medida

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em que sua crescente capacidade de investir em diversos segmentos da economia nordestina exige uma mobilização por aportes cada vez mais elevados de recursos. Para 2010, por exemplo, prevê-se investimento no valor aproximado de R$ 8 bilhões. Outro aspecto fundamental reside na prioridade do Banco conferida ao semiárido, área em que o BNB aplicou R$ 6,7 bilhões, no biênio 20072008, e para a qual serão disponibilizados, em 2010, R$ 4 bilhões. A própria Lei n.º 7.827, de 27 de setembro de 1989, que criou o Fundo Constitucional no contexto de redemocratização do País, determina que metade dos recursos do FNE deve ser investida em áreas do semiárido. O BNB possui ainda o maior programa de microcrédito produtivo orientado da América do Sul, o Crediamigo, e é o principal financiador do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) na sua área de atuação. Seu desempenho econômico e financeiro cresce a cada ano e apresenta indicadores expressivos em termos de produtividade, carteira de crédito, alocação de capital e estrutura de atiRoberto Smith, presidente do Banco do Nordeste

vos. Em 2009, por exemplo, o Banco registrou o melhor desempenho operacional de sua história, ao aplicar R$ 20,8 bilhões, valor 50,9% superior ao contratado em 2008. Esse resultado consolidou a empresa como a oitava instituição financeira do País. O BNB, por fim, entende que o crédito é necessário, mas não deve ser o único serviço oferecido. A preocupação básica é executar políticas de desenvolvimento ágeis e seletivas, capazes de contribuir de forma decisiva para superar desafios, assim como para construir uma qualidade de vida compatível com os recursos, potencialidades e oportunidades da Região.


diplomacia | homenagem ARQUIVO PESSOAL

por Aloísio Menescal

COMUNIDADE PORTUGUESA SE DESPEDE DO EX-EMBAIXADOR DO BRASIL EM PORTUGAL, DÁRIO MOREIRA DE CASTRO ALVES

A LÍNGUA PORTUGUESA PERDE UM DE SEUS MAIORES AMANTES

H

á homens que seguem modelos e há homens que os são. O ex-embaixador Dário Moreira de Castro Alves, fortalezense nascido em 14 de dezembro de 1927 e falecido em 06 de junho último, não deixa dúvidas quanto à sua categoria. Alvo da admiração e do carinho de cada pessoa tocada por sua gentileza e seu trabalho, Dário era um expoente nas letras e na língua, na vida pessoal e na diplomacia. Licenciado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito da Pontifícia Universidade Católica (PUC)

do Rio de Janeiro em 1950 e formado pelo Curso de Preparação à Carreira Diplomática no Instituto Rio Branco (do Ministério das Relações Exteriores) em 1951, Dário de Castro Alves ascendeu rapidamente na diplomacia brasileira e ocupou todos os cargos que procurou ao longo de sua prolífica carreira, tendo atuado no exterior em Buenos Aires, Nova Iorque, Moscou, Roma e Lisboa. Em seus 59 anos de ofício, acumulou um impecável histórico de realizações, denunciado pelo sem número de cartas de agradecimento – mantidas discretamente guardadas e às

quais, humilde, jamais fazia menção. Mas Dário era muito mais que um competente diplomata. De acordo com Francisco Brandão Neto, vice-cônsul de Portugal em Fortaleza e amigo pessoal de Dário, “desde minha adolescência (em Portugal) os ecos do prestígio do Embaixador do Brasil em Portugal me chegavam com a admiração incutida pelo meu pai, emigrante no Ceará e amigo do irmão de Dário, Ivan Castro Alves”. O vice-cônsul, que desde 2003 teve a oportunidade de conviver diretamente com o ex-embaixador, considera que não podia ser mais oportuno o regresAbr-Mai-Jun 2010 41


ARQUIVO PESSOAL

Dario Castro Alves e sua segunda esposa Rina ladeando o casal Reagan em evento da embaixada em Nova Iorque

so de Dário a Fortaleza – no momento de maior intensidade do relacionamento entre Portugal e o Ceará. Francisco Brandão revela que se sentia “um ser humano melhor depois de estar com Dário, amigo que tratava a todos com respeito, olhando nos olhos, transmitindo sempre mensagens de incentivo e alento”. Amante inconteste da língua e da literatura portuguesas, especialmente da obra de Eça de Queiroz (a quem chamava ironicamente de “minha doença”), Dário trabalhou incansavelmente pelos povos lusófonos, deixando profundas marcas na integração dos mesmos. Homenageando seu autor preferido e atendendo a outros admiradores do mesmo, publicou uma trilogia literária de “guias” pelos lugares, comidas e bebidas dos textos Ecianos (“Era Lisboa e Chovia”, “Era Tormes e Amanhecia” e “Era Porto e Entardecia”). Em homenagem a quem mais o estimulou na investida às letras, sua primeira esposa (falecida) Dinah Silveira de Queiroz, organizou “Dinah, caríssima Dinah”, volume de críticas literárias. Em seu último trabalho literário, a tradução de Eugênio Oneguin, obra de Alexandr Pushkin, do russo para o português, Dário Castro Alves colocou à disposição dos lusófonos, pela primeira vez, um dos mais marcantes e complexos textos da literatura russa – de acordo com Dostoiévski, tal obra era o máximo da arte literária russa criada até então, e certamente não seria igualada após. Segundo sua sobrinha, a também escritora Angela Barros Leal, era “um desafio inédito”, pois essa obra nunca 42 Brasil-Portugal no Ceará

havia sido traduzida em Portugal ou no Brasil. “Uma tarefa gigantesca e desafiadora que durou oito longos anos – passando para nossa língua os versos de oito sílabas e rimando nomes de pessoas, localidades, plantas típicas, danças e costumes”, complementa Angela. A dedicação de Dário sempre esteve evidente, tanto quanto nos livros e no ofício diplomático, em cada gesto humano dirigido ao próximo. Ainda de acordo com Angela, o ex-embaixador também exercia a diplomacia e a gentileza como anfitrião, fosse encontro social ou de trabalho. “Era um diplomata, no sentido geral da palavra, dedicado a evitar conflitos ou solucionar situações desagradáveis, o que muitas vezes conseguia sem dar uma palavra”, explica. “Quando dava recepções formais em casa, por exemplo, vinham os convidados todos de paletó e ele não – isso porque podia chegar algum desavisado só de camisa e, para não constrangê-lo, o próprio anfitrião se mostrava igualmente à vontade”, complementa Angela. Além dos humanos, também os animais eram alvo de suas cuidadosas atenções. Afetuoso criador de cães, Dário era capaz de, ao ver um cãozinho na calçada, interromper uma importante conversa para pedir ao motorista que reduzisse a velocidade do carro, dizendo ‘cuidado, ele pode querer atravessar’. Segundo Márcia Vecchio Machado Silva, secretária de Dário por 21 anos, “seus companheiros (os cães Ming II e Passarela) eram sempre levados ao escritório, quando o embaixador ia tra-

balhar aos sábados, e ficavam em cima de seu birô – rosnando para quem chegava perto de seu ‘deus’”. “Em viagens ao exterior, o voo era escolhido com base no tratamento aos entes caninos – eles precisavam ir com ele na primeira classe”, conta Márcia. “Numa destas ocasiões ele fez amizade com Jacques Lacour, então dirigente do Hotel Meridien (Porto), que permitiu que os cães ficassem no quarto com o embaixador Dário”, acrescenta. Sempre aberto a ouvir, fato refletido nas sempre escancaradas portas de seu escritório, Dário cedia a mesma importância a todos que o procurassem: atenção digna de um chefe de Estado. “E não se furtava a atender o telefone quando este tocava. Tocasse duas vezes sem que alguma secretária pudesse atender, ele já estava lá dizendo com a mais delicada entonação – Bom dia, Consulado Geral do Brasil no Porto...”, relata Márcia, sobrinha de Rina Bonadies (segunda esposa de Dário) e a filha que o embaixador não teve. A mesma abertura ele só não tinha com a tecnologia. “Nunca fez questão de aprender a manusear computador, que achava a coisa mais difícil do mundo”, conta Márcia Vecchio. “Conservou durante muito tempo uma maquinazinha de escrever, da mais antiga que se possa imaginar – nem era elétrica”, lembra a fiel secretária de Dário. Entre suas muitas manias, Dário, já no início do dia, amassava um dente ou dois de alho, que tomava misturado ao leite com aveia. “Atribuía a isso o fato de nunca ter sofrido de males no coração”, explica Márcia. “Ele também escrevia diariamente em seus cadernos, mantidos e transformados em encadernações de luxo com 100 páginas por ano, em média – pelo menos desde 1979 a 2006”. Eles são “uma verdadeira relíquia, que futuramente será entregue à sobrinha do Embaixador, Angela Barros Leal, escritora e jornalista, que pretende fazer sua biografia”, conclui. Em todos os círculos que frequentou, em cada campo que atuou na vida, Dário Castro Alves demonstrou esforço e conquistou sucesso em garantir o bem estar do próximo. Sua figura discreta, suas palavras – escritas e faladas – e seus gestos de gentileza sempre serão lembrados por todos que o conheceram.


Nordeste. Você nem imagina quantas oportunidades existem por aqui.

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página jurídica | imigração

por Arthur Ferraz, formado em Direito e Comunicação Social, e coordenador do setor de imigração do escritório Albuquerque Pinto Soares Vieira Advogados. E-mail: arthur.ferraz@albuquerquepinto.com.br

Estatuto da Igualdade e o novo desafio diplomático

O

mais amplo acordo internacional sobre cidadania firmado entre países de língua portuguesa está completando dez anos de existência. O Tratado de Amizade, Cooperação e Consulta, assinado pelos Governos de Portugal e Brasil simbolicamente em Porto Seguro, no dia 22 de abril de 2000, representou um avanço de cooperação internacional ao fortalecer o conceito de igualdade de tratamento aos cidadãos dos dois países em ambos os territórios e ampliar o rol de direitos civis e políticos compartilhados entre brasileiros e portugueses.

nos internacionais, as cooperações entre instituições acadêmicas e as missões de empresários e políticos comprovam essa aproximação.

Os avanços decorrentes do Tratado são inquestionáveis e serviram de inspiração para o projeto de Estatuto do Cidadão da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, discutido pela primeira vez em 2002, em Brasília, durante a V Conferência de Chefes de Estado e Governo da CPLP, e ainda hoje objeto de estudo do Grupo de Trabalho sobre Cidadania e Circulação no Espaço da CPLP. O aniversário de dez anos da promulgação do Tratado serve como marco para um novo desafio. A conjuntura internacional do terceiro milênio e a dinâmica econômica da globalização abriram novos mercados, estreitaram laços entre nações e deram nova dimensão à circulação de pessoas e mercadorias. No nosso caso específico, os países de língua portuguesa despertaram o olhar para as oportunidades dentro de sua própria comunidade, desenvolvendo um novo patamar de relações externas.

A resposta está na amplitude de novos acordos bilaterais. A legislação brasileira sempre concedeu privilégios políticos e jurídicos aos imigrantes portugueses em comparação com cidadãos de outras nacionalidades, em caráter recíproco como nos termos do próprio Tratado. Por que não ampliar estes termos em acordos com Cabo Verde, Angola, Moçambique, Guiné Bissau, Timor Leste e São Tomé e Príncipe? Os cidadãos desses países gozam apenas da prerrogativa de poder requisitar a nacionalidade brasileira após um ano de residência permanente e comprovação de idoneidade moral, enquanto para os cidadãos de outros países o prazo mínimo de residência exigido é de 15 anos, conforme o artigo 12 da Constituição Brasileira.

O Brasil, e em particular o Ceará, são exemplos disso. Hoje já existe toda uma estrutura comercial e de logística para dar suporte a estas relações entre o Ceará, Portugal e mais recentemente países como Cabo Verde e Angola. O surgimento de novas Câmaras de Comércio, a abertura de voos ligando Fortaleza a desti-

44 Brasil-Portugal no Ceará

Como consequência desses fatores, é cada vez maior o fluxo de cidadãos que deixam seus países de origem na África para fixar residência no Brasil, ou brasileiros que seguem para o novo continente em razão das oportunidades. É neste ponto que se impõe o desafio da próxima década: como garantir direitos e segurança jurídica a esta nova leva de imigrantes? Como incentivar e fortalecer a cidadania entre esses países?

Por que não estender a angolanos, cabo-verdianos e demais integrantes de nossa comunidade direitos semelhantes aos ofertados aos portugueses? As Constituições dos países integrantes da CPLP seguem os mesmos princípios democráticos, e a igualdade cidadã entre os povos deve ser estimulada. Cabe ao Brasil estar na vanguarda diplomática e agir com o propósito de estabelecer acordos bilaterais com seus países irmãos em nome da ampla cidadania e seus benefícios diretos e indiretos.


lusofonia | comemoração

por Denise Mustafá

DIA DE PORTUGAL EM TERRAS ALENCARINAS LONGE DE CASA, PORTUGUESES SE UNEM PARA COMPARTILHAR HISTÓRIAS E SAUDADES

“Tu, só tu, puro Amor, com força crua, Que os corações humanos tanto obriga, Deste causa à molesta morte sua, Como se fora pérfida inimiga. Se dizem, fero Amor, que a sede tua Nem com lágrimas tristes se mitiga, É porque queres, áspero e tirano, Tuas aras banhar em sangue humano”.

A

ssim disse Luís Vaz de Camões no poema Episódio de Inês de Castro, em sua obraprima “Os Lusíadas”, tida como uma das maiores obras da literatura europeia e como um renovador da língua portuguesa. Por causa da sua importância para a cultura de Portugal e para o mundo, o dia de sua morte é celebrado como o Dia de Portugal na pátria lusa e em todos os outros países onde vivem cidadãos portugueses. No Ceará, não poderia ser diferente. Com uma ampla comunidade de famílias portuguesas que, mesmo morando há bastante tempo no calor brasileiro, não esquecem suas tradições, o 10 de junho é cele-

brado com fervor e espírito de cidadania, louvando a figura do poeta Camões e celebrando as origens lusas de todos os envolvidos. Este ano, o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas contou com a já tradicional cerimônia promovida pelo Vice-Consulado de Portugal em Fortaleza, pela Sociedade Dous de Fevereiro, pelo Conselho das Câmaras Portuguesas de Comércio no Brasil, pela Câmara Brasil-Portugal no Ceará e pela Academia do Bacalhau. As entidades reuniram seus sócios e amigos da comunidade luso-cearense na sede social da Beneficência Portuguesa para a entrega do Troféu Martim Soares Abr-Mai-Jun 2010 45


dia de portugal | comemoração

Conheça os homenageados com a Armando da Comenda Soares Moreno Silva Martins João de Pinho Neto Brandão Natural de Aveiro (Portugal), chegou ao Brasil em 1936. Trabalhou na padaria industrial de seu tio Pelágio Oliveira, foi empresário das indústrias cerâmica, de biscoito e bolachas; do ramo imobiliário e também de hotelaria. Como autor, escreveu dois livros: “O alvorecer da Indústria de panificação e das Correlatas no mundo e no Ceará” e “Raízes de uma família portuguesa e Luso-Brasileira”. Foi presidente da Sociedade Beneficente Portuguesa Dous de Fevereiro durante três mandatos e, dentre as condecorações recebidas, destacam-se: Medalha Boticário Ferreira e título de Cidadão de Fortaleza, outorgados pela Câmara Municipal de Fortaleza.

Moreno a duas personalidades, em reconhecimento à trajetória de vida. A premiação é uma forma de aprofundar e valorizar o relacionamento entre Portugal e o Ceará, enquanto promotores dos valores democráticos e de liberdade. A comenda entregue anualmente leva esse nome como uma forma de registro histórico da figura de Martim Soares Moreno, consi46 Brasil-Portugal no Ceará

Natural de Sacavém (Portugal), chegou a Fortaleza em 1947. Foi técnico de registro do comércio da Junta Comercial do Ceará, assessor para Assuntos Empresariais no Gabinete do Governador do Ceará (1970/1974), presidente da Empresa Cearense de Turismo (Emcetur) (1979/1983), coordenador de Relações Públicas da Secretaria de Governo (1987/1991) e assessor de Comunicação da Secretaria do Governo (1991/1995). No âmbito comunitário, atuou como presidente da Fenix Caixeiral, da Sociedade Beneficente Portuguesa Dous de Fevereiro, foi mordomo da Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza, vice-presidente da União das Classes Produtoras do Ceará, diretor da Associação Comercial do Ceará, presidente-fundador do Comitê Ceará/New Hampshire, presidente do Conselho da Comunidade Portuguesa do Ceará (1984) e delegado da Federação dos Conselhos das Comunidades Portuguesas no Brasil (1983). Atuou de forma efetiva no Lions Clube. Recebeu o diploma de Honra ao Mérito da Beneficente Portuguesa e a Comenda da Ordem Infante Dom Henrique, no grau de Comendador.

derado o fundador do Estado do Ceará, e expressa ainda o reconhecimento por ações e vidas dedicadas ao estreito relacionamento entre Portugal e Ceará. O Troféu foi entregue em 2010 aos portugueses João de Pinho Neto Brandão e o Comendador Armando da Silva Martins, em uma noite de festa e alegria, onde os costumes d´além mar foram relembrados e saudados.

Para o vice-cônsul de Portugal em Fortaleza, Francisco Brandão, a data é a oportunidade para que todos os portugueses possam se encontrar, além de ser um momento de gratidão e um registro de memória a todos os que contribuíram para o engrandecimento do nome da nação portuguesa. “É fora do território português que a saudade aperta e a vontade de dar vi-


DENISE MUSTAFA

Foz do rio Ceará, bairro Barra do Ceará, na capital cearense

Quem foi Martim Soares Moreno Na margem direita da foz do rio Ceará, com a ajuda de índios Potyguaras e seus soldados, construiu o Fortim de São Sebastião, em 1613, onde atualmente é o bairro Barra do Ceará, na capital cearense, Fortaleza. Em 1637, houve a tomada holandesa do forte de São Sebastião e, após 12 anos, em 1649, uma nova expedição, também vinda da Holanda, erigiu o Forte Schoonenborch, às margens do Riacho Pajeú, iniciando, então, a história oficial da cidade de Fortaleza.

Reza a lenda e a história do Ceará, que Martim Soares Moreno voltou a Portugal enamorado pela virgem dos lábios de mel, que depois transformou-se na índia Iracema, da obra homônima do escritor José de Alencar. Após combates com os franceses no Maranhão e tentativas rechaçadas de invasão dos holandeses, foi a Portugal e obteve em 1619 a carta régia do Rei Felipe II, de Espanha e Portugal, que o nomeava o primeiro Capitão-Mor da Capitania do Ceará. DENISE MUSTAFA

O militar português Martim Soares Moreno foi um dos mais reconhecidos defensores dos interesses da coroa lusitana no Brasil, tendo, durante décadas, combatido piratas franceses e invasores holandeses. Destacou-se pela estreita amizade que manteve com os índios, chegando a imitar seus costumes. É considerado historicamente como o fundador do Ceará, tendo participado da expedição de Pero Coelho em 1603 e acabado por se tornar, anos mais tarde, em 1612, o virtual fundador daquela capitania.

sibilidade ao nosso ímpeto universal e humanista ganha mais sentido. Os portugueses gostam de mostrar a quem os acolheu o que são, o que fizeram como nação e o que contribuíram para o contato entre os povos”, afirma Brandão. O vice-cônsul ressalta, ainda, que esse ano foi celebrado, pela primeira vez, o Dia da Consciência do Cônsul Aristides Sousa Mendes

que, indo contra a ditadura, emitiu vistos que salvaram dezenas de milhares de refugiados durante a Segunda Guerra Mundial. A sede da Beneficência Portuguesa em Fortaleza se vestiu de várias cores, com a predominância do verde e vermelho português reforçada pelo verde e amarelo brasileiro. Um momento de união e de cidadania. Abr-Mai-Jun 2010 47


gastronomia | cozinha portuguesa

por José Carlos Santanita

O CASAMENTO PERFEITO OU DIVÓRCIO CERTO!

VINHO e

GASTRONOMIA C

asar vinho e comida é dos exercícios mais fascinantes do mundo do vinho! Normalmente, quando se quer ouvir um poema, devemos colocar um bom orador para o fazer, caso contrário corremos sérios riscos de não ouvir um poema, mas sim palavras ditas sem sentido. Colocar um vinho na comida errada é como ouvir um grande poema dito pelo pior orador. No passado, as ligações gastronômicas eram preparadas de uma forma muito rústica! Ligávamos peixe com vinhos brancos e carne com vinho tinto. Ligavam-se as comidas típicas de cada região com os vinhos dessas mesmas regiões! Mas o mundo evolui e os homens também … Portugal cresceu muito na área gastronômica, começaram a aparecer restaurantes com outras vertentes. Aparecem todos os anos novos talentos na cozinha. Com isto, queremos dizer que a gastronomia evoluiu e, ao evoluir, trouxe-nos o privilégio de poder saborear outras tex-

48 Brasil-Portugal no Ceará

turas, outros sabores e outra criatividade. Sem dúvida, ligar vinho à gastronomia é hoje um jogo misterioso e mágico, mas não se pode inventar. A todos os que desejam ligar estas duas sinfonias de sabores, aconselhamos a fazer um trabalho de estudo, prato a prato. Da experiência obtida nesta área conseguimos perceber que o vinho inicialmente previsto para determinada comida, acaba por ser o pior vinho. Para um cherne (*) grelhado acompanhado com cenoura e batatas cozidas, aconselhamos o seguinte: devemos colocar vários vinhos (5 ou 6) em prova cega. Depois de provar os vinhos e a iguaria, sabendo quais são os seis vinhos, mas sem tomar nota de qual ordem estão! No fim, vai ficar surpreendido com as escolhas feitas! Muitas vezes essas escolhas fogem ao que os nossos olhos veem, se olhássemos os rótulos dos vinhos. Neste prato específico, teremos de ter algumas bases de ligações gastronômicas para saber escolher os seis vinhos,


não podemos colocar um vinho tinto Garrafeira nesta prova à partida. Iria ficar mal! Teremos de saber quais as características do Cherne (peixe gordo e delicado), qual a influência de ser grelhado, assado ou salteado, e ao fim, a influência dos acompanhamentos. Neste caso específico, sugiro que se escolham os seguintes vinhos: • Branco sem estágio em madeira. • Branco com estágio em madeira. • Vinho rosé. • Tinto Jovem sem contato com madeira. • Tinto jovem com algum contato em madeira. • Um vinho espumante. Podemos encontrar mais de uma opção vínica para o mesmo prato e é esse o objetivo. Quando fizer este tipo de prova irá reparar que tintos, brancos, rosés, espumantes ou até vinhos especiais podem equilibrar com determinada iguaria, não se assuste. O objetivo é esse, alargar as opções, permitindo que os clientes possam escolher o vinho em função dos seus gostos pessoais. São bases para iniciação às ligações gastronômicas combi-

nar estruturas e pesoas. A primeira regra para se combinar bem iguarias com vinhos é casar pesos semelhantes, ou seja: se vamos servir uma iguaria cheia de corpo, com sabores muito marcantes, o vinho também deve acompanhar esse peso, para que um sabor não se sobreponha ao do outro, da mesma forma que para iguarias leves indicamos os vinhos igualmente leves. Outra regra importante é respeitar sempre a ordem gastronômica. Numa refeição, devemos respeitar a ordem com que os vinhos são colocados na mesa. Ou seja, a ordem de serviço, por exemplo: servir um vinho branco com um queijo é possível e esta combinação fantástica com alguns deles. No entanto, se estiver a terminar a refeição saboreando um grande tinto, ficará muito mal a essa altura servir o queijo com um vinho branco. Temos que respeitar o seguimento gastronômico. A melhor atitude a tomar nessa situação é continuar com o mesmo vinho tinto da refeição, adaptando um queijo a esse vinho, ou então propor um licoroso ou um bom colheita tardia para terminar a refeição com queijo. No entanto, há regras que podem ser quebradas e um dos grandes exemplos disso é a combinação de um fígado de pato com os famosos vinhos doces franceses, antes do prato principal. Nesta situação, devemos ter muita atenção. Começar a refeição com um vinho doce é arriscado, e o menu deve respeitar um conjunto de sabores muito preciso e de grande elegância. Servir um vinho de mesa, seja branco ou tinto, depois de servir um vinho doce não é tarefa fácil, pois os doces de um vinho não ligarão com os ácidos do outro. Se servir um vinho doce no início da refeição, o vinho seguinte deve conter algum estágio em madeira e até algum tempo de estágio em garrafa. Assim, o tanino do vinho fará elegante parceria ao doce do primeiro. Em suma: 1. Não esquecer de respeitar o gosto individual de cada um, adaptando a preferência aos diferentes estilos de vinho. 2. Dentro do possível, servir os brancos antes dos tintos. 3. Servir os vinhos mais leves antes dos mais encorpados. 4. Servir os vinhos secos antes dos mais doces. 5. Servir os vinhos mais jovens antes dos mais estagiados. 6. Quando na confecção de uma iguaria entrar na sua confecção determinado vinho, não duvidas: acompanha essa iguaria com o vinho que entrou na confecção. 7. Quando a refeição é acompanhada por um só vinho, escolha um adaptável; normalmente, sugerir grandes reservas com uma variedade grande de gastronomia não é a melhor opção. 8. Quando a refeição é acompanhada por um só espumante, devemos optar por um do estilo mais seco. 9. Devemos evitar servir uma grande gama de bebidas numa mesma refeição. (*) Peixe comum no Mediterrâneo e no Atlântico, de coloração chocolate, com até 2m de comprimento e peso de até 400kg.

José Carlos Santanita foi considerado o melhor sommelier do ano pela Revista de Vinhos, a mais antiga de Portugal, e é diretor geral do projeto de Educação Vínica "Wine Experiences" no Brasil, onde já formou mais de 2 mil pessoas Abr-Mai-Jun 2010 49


cultura | literatura

por Larissa Viegas

O universo russo em português A obra-prima de Alexandr Sergeuivich Pushkin, Eugênio Oneguin, gerou tanto fascínio ao cearense Dário Castro Alves, que o escritor dedicou 10 anos de sua vida à tradução do russo para o português. Escrito em versos, o romance foi passado para a língua portuguesa mantendo a fidelidade estrutural: estrofes em estilo de sonetos corridos, cada um com cerca de 40 a 50 estrofes, e cada verso com oito sílabas, sendo as tônicas presentes em cada quarta sílaba do versículo, seguindo o modelo tetrâmetro jâmbico. Em 5.523 versos, Dário e, claro, Pushkin apresentam ao mundo uma Rússia em desenvolvimento, tendo como representantes da nação as personagens Oneguin, Tatiana e Lenski. Em um contex-

50 Brasil-Portugal no Ceará

to de simbolismos, ideais e paixões elas vivem a alma e os costumes russos. Concluída em julho de 2006 em Fortaleza, a tradução de Dário é uma verdadeira prova de amor à literatura e às suas obras históricas que, de acordo com o próprio tradutor, “merece estar na prateleira de uma centena de obras-primas da literatura universal”. Dário Moreira de Castro Alves nasceu em Fortaleza, no Ceará, em 1927. Foi formado

em Ciências Jurídicas e Sociais pela PUC do Rio de Janeiro e exerceu funções de Embaixador do Brasil nos Estados Unidos, na Rússia e em Portugal, encerrando sua carreira como Cônsul-Geral do Brasil no Porto, em Portugal. Retornou à sua cidade natal em 2003 e faleceu em junho de 2006. SERVIÇO: Autor: Alexandr Pushkin Editora: Record Preço médio: R$ 47,90

Uma nova Angola Um país reinventado. É assim que Angola é apresentada na obra “Predadores”, de autoria do escritor Pepetela e lançada em 2005. O retrato da nova burguesia, formada na pós-guerra colonial – Angola conquistou sua independência em 1975 –, é representado pela personagem Vladimiro Caposso,

que personifica a ascensão e a queda social. A história inicia-se em 1974, contextualizando o leitor com a sociedade do período. Desencanto é a palavra-chave do momento, que divide as expressões com palavras como “decepção” e “inconformismo”. Ao se filiar como guerrilheiro do Movimento Popular de Libertação da Angola (MPLA), José inventa um passado e torna-se Vladimiro, experimentando a ascensão na vida política e financeira, utilizando meios lícitos e ilícitos para proteger o patrimônio e a família.

Na obra, Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos, que utiliza o pseudônimo Pepetela, retrata com uma linguagem simples e direta uma história ainda recente nos pensamentos angolanos e registra para as próximas gerações um momento de transição. O autor, nascido em Benguela, Angola, conquistou o Prêmio Camões em 1997. É escritor, guerrilheiro, político e representante do MPLA, além de ter licenciatura em Sociologia. SERVIÇO: Predadores Editora: Publicações D. Quixote Coleção: Autores Língua Portuguesa


Cem anos de histórias Há cem anos o Ceará teve a honra de ser a terra natal de uma das escritoras mais importantes do País. Rachel de Queiroz, pioneira do Regionalismo de 1930, deixou em 2003 uma herança à literatura brasileira composta por obras que deram origem a romances, crônicas, peças de teatro e livros infanto-juvenis. Economia, futebol, política, artes plásticas e música de câmara são alguns dos mais variados temas abordados pela escritora. Com o objetivo de homenagear o centenário de Rachel de Queiroz, a Edições Demócrito Rocha lançou uma trilogia que revela aos

leitores a alma brasileira da escritora, tornando-se indispensável na biblioteca de qualquer apreciador da literatura regional e nacional. No título “Do Nordeste ao Infinito”, a jornalista Regina Ribeiro reúne cerca de 50 crônicas publicadas entre 1940 e 2002. O sertão é retratado como um mundo real e encantador e os temas estão relacionados ao Ceará e ao Nordeste, apresentando ao leitor o mundo de memórias de Rachel. A segunda obra é uma seleção feita pela escritora Ana Miranda. Na coletânea de crônicas “A Lua de Londres” estão textos inéditos em livro,

Em defesa de Deus Textos bíblicos originais e as suas diversas traduções. Foram essas as bases de 40 anos de estudo do escritor Eduardo Bezerra Neto, que lançou recentemente o livro “Inferno e Céu: Desafio à Inteligência – Refletindo sobre o Cristianismo no Século XXI”. Na obra, o autor apresenta as diversas interpretações do cristianismo, feitas por católicos e evangélicos sobre a Justiça e o Amor divinos. A obra é um convite para a reflexão e o diálogo sobre as teses pregadas nos primórdios do cristianismo, em contrapartida com o que é apresentado atualmente. Ao invés de criticar as diversas propostas apresentadas pelas variadas vertentes da Religião, Eduardo propõe um

entendimento racional e ao mesmo tempo emocional, cabendo ao leitor concordar com o que para ele é verdadeiro e discordar do que não parece original, criando sua própria interpretação. No fim, o que mais importa para o autor é a mensagem cristã e suas perspectivas, vistas a partir de textos originais, sem as considerações e alterações consequentes do tempo e das línguas. Em “Inferno e Céu“, a continuidade do Céu é apresentada em contraste com o limite do Inferno, assim como o conflito entre as questões de tempo e eternidade. Como o pró-

prio autor defende, as conclusões ficam em aberto, para um aprofundamento posterior do leitor. Eduardo Bezerra Neto é Bacharel em Direito e Ciências Econômicas, com Master of Science na Universidade do Arizona (EUA). Foi professor universitário, exerceu diversos cargos públicos e foi Superintendente do Sistema FIEC (Federação das Indústrias do Estado do Ceará) e um dos fundadores e primeiro Presidente da Câmara Brasil-Portugal no Ceará. Em 1999, assumiu a Superintendência do Centro Internacional de Negócios do Ceará (CIN/CE).

escritos entre 1928 e 1988. Mesmo com pouca idade, Rachel faz uso de uma linguagem adequada aos temas de sua juventude, usando palavras literárias, vocabulário rico e conteúdos marcantes, referentes à sociedade. A história de Rachel e de suas obras estão relatadas em ensaios publicados no terceiro livro, “Uma Escrita no Tempo”. A organização fica por conta da professora e pesquisadora Fernanda Coutinho, que reuniu textos de Nélida Piñon, Heloisa Buarque de Hollanda, Luís Bueno, Ítalo Gurgel e Socorro Acioli, entre outros. Para a organizadora, as criações de Rachel nos ajudam a compreender nosso papel na história como brasileiros. SERVIÇO: As publicações estão à venda na loja da Fundação Demócrito Rocha (Av. Aguanambi, 282 Joaquim Távora - Fortaleza-CE) e principais livrarias de Fortaleza. Cada livro da trilogia custa R$ 49,90. Na compra da caixa com os três livros, o kit sai por R$ 135,00

SERVIÇO: Inferno e Céu: Desafio à Inteligência – Refletindo sobre o Cristianismo no Século XXI Editora: Premius - Valor: R$ 25,00 Abr-Mai-Jun 2010 51


página econômica | exportações

por Carlos Duarte é Sociólogo, diretor da Terra Quente Agropecuária, diretor de Agronegócios da Câmara Brasil-Portugal no Ceará e vice-presidente da Câmara Brasil-Angola no Ceará

A competitividade do agronegócio cearense

O

agronegócio cearense caracteriza-se por uma situação de dualidade que, simultaneamente, revela uma carência e manifesta uma oportunidade: o Ceará detém tecnologia de ponta em diversas produções agrícolas e pecuárias, mas ainda não se estenderam, suficientemente, tais conhecimentos e práticas ao grosso do tecido produtivo. Esta dicotomia revela o interesse que o agronegócio cearense pode exercer no sentido da atração de empreendedores nacionais e estrangeiros. Aqui se encontram acesso facilitado à tecnologia, vantagens geográficas e de infraestrutura e, sublinhe-se, inúmeras oportunidades em espaços com aptidão para a produção agrícola e pecuária. Sem prejuízo de outros esforços, o empreendimento em agronegócio no Ceará requer um estudo prévio dos mercados e a definição de padrões e custos de produção otimizados. Aconselha-se postular como alvos diversos públicos consumidores: locais, regionais, nacionais e internacionais, como forma de incrementar a rentabilidade e padrão da produção e salvaguardar a continuidade do êxito na atividade. Em síntese, os fatores que determinam a competitividade do agronegócio cearense revelam-se, essencialmente, a três níveis: 1) localização geográfica; 2) infraestrutura de produção e suporte à comercialização; 3) tecnologia de produção agrícola e pecuária.

Geografia Dentre as vantagens geográficas, destacamos, primeiramente, que o Ceará se encontra próximo da linha do Equador, apresentando temperatura média estável oscilando entre os 22ºC das serras e os 27ºC do sertão, originando a possibilidade de maximizar a quantidade de safras anuais em diversas produções agrícolas e pecuárias, de onde destacamos as frutas irrigadas e a piscicultura. Ainda neste âmbito, sublinhe-se que o Ceará possui o menor “transit-time” do Brasil para a Europa, Estados Unidos e África. 52 Brasil-Portugal no Ceará

Infraestrutura No que diz respeito às vantagens em infraestrutura de produção no agronegócio, assumem especial destaque as 11 bacias hidrográficas, a capacidade de armazenamento de 17,8 bilhões de m3 de água, estimando-se que a área irrigada atual preencha 80 mil hectares, com potencial para utilização de 200 mil hectares, num total de oito perímetros públicos irrigados. Por outro lado, a comercialização do produto do agronegócio cearense é assistida pelos Portos do Mucuripe e do Pecém, com destaque para este último ao consolidar, em 2009, sua posição como maior porto exportador de frutas do país: 261.228 toneladas exportadas, representando 37% do total exportado em 2009, numa tendência de liderança que se manteve no primeiro quadrimestre de 2010, com 60.385 toneladas exportadas. O Aeroporto Internacional de Fortaleza, por sua vez, possui infraestrutura moderna, câmaras refrigeradas para pescado, flores e frutas, voando diretamente para Europa e Estados Unidos. Como uma das últimas conquistas da Adece (Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará), merece nota de destaque a implantação de uma Zona de Processamento de Exportações (ZPE) no Complexo Industrial e Portuário do Pecém, permitindo antever a possibilidade de virmos a ter, num futuro que se deseja próximo, aviões cargueiros para efetuar o escoamento do agronegócio cearense e de outras regiões do Norte e Nordeste. Dentre as limitações em infraestrutura, cita-se a necessidade de melhoria das vias rodoviárias e ferrovias, se bem que se reconheça o esforço feito nos últimos anos na recuperação e ampliação da malha rodoviária, totalizando mais de 7.500 quilômetros, e com uma distância média inferior a 300 quilômetros das áreas de produção aos portos. Aguarda-se com elevada expectativa a efetivação da Ferrovia Transnordestina, com terminação no Porto do Pecém e permitindo interligar o Ceará às regiões de Salgueiro e Petrolina, em Pernambuco. Ao todo, serão 2,278 quilômetros de extensão com capacidade de trans-


portar 30 milhões de toneladas de carga por ano, sendo cerca de 595 quilômetros no Ceará.

Tecnologia de Produção Agrícola e Pecuária Na produção agrícola e pecuária, destaca-se a tecnologia moderna e competitiva que o Ceará dispõe nos seguintes setores: a) fruticultura irrigada, floricultura e apicultura. Sendo este o estado brasileiro que mais exporta castanha de caju, melão, melancia e abacaxi. Banana é outra fruta onde o Ceará se destaca. As flores constituem importante cluster, com relevo para a produção de rosas. A apicultura é praticada sobretudo a nível familiar, cabendo destaque ao programa de Melhoramento Genético de Abelhas. Perspectiva-se uma maior utilização da apicultura em complementaridade com a fruticultura, no sentido da maximização da polinização e subsequente produção. Os principais mercados de exportação do mel cearense são os Estados Unidos e a Alemanha. Refira-se o trabalho científico da Embrapa Agroindústria Tropical, também expresso nos experimentos com cajueiro no seu Campo Experimental de Pacajus. b) pecuária, expressa em caprinos, ovinos e bovinos. Em Sobral, região Norte do Ceará, encontramos a Embrapa Caprinos e Ovinos, centro de referência tecnoló-

gica, sendo igualmente possível encontrar explorações empresariais que praticam tecnologias modernas como a inseminação artificial e a transferência de embriões. Ao nível da bovinocultura, perspectivam-se significativos avanços por recurso à utilização dos perímetros públicos irrigados, tendo em atenção que, atualmente, apenas 75% do consumo regional de leite é atendido pela produção estadual. c) piscicultura e carcinicultura. A criação de Tilápia assume a relevância neste setor, com produção estadual de 20 mil toneladas mas que, com o potencial hídrico cearense, poderia atingir 240 mil toneladas. O Ceará é o maior consumidor deste peixe no Brasil, com 20% do consumo nacional. Após amargar alguns anos de dificuldades, a criação de camarão volta a experimentar bons resultados, agora com mais ênfase no mercado interno, contando-se cerca de 180 fazendas no Estado distribuídas em 5.546 hectares e perspectivando-se que, até o fim de 2010, o Ceará se afirme como o maior estado brasileiro produtor de camarão. No setor agropecuário, bem como noutras áreas de negócio, reforça-se a necessidade de empreender com inovação e qualidade, agregando valor à produção, preservando o meio ambiente e contribuindo para o desenvolvimento sócio-econômico sustentável da sociedade em que nos inserimos.

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agenda | Câmara

Programação de eventos da Câmara Brasil-Portugal no Ceará, Sebrae/CE e FIEC/CIN

Julho

Agosto

Setembro

De 4 a 10 III Feira Cearense da Agricultura Familiar

Dias 4 a 7 Feira do Empreendedor do Ceará 2010

De 3 a 5 II Festival das Flores de São Benedito

De 11 a 18 ExpoCrato 2010

Dia 12 Café da Manhã com candidato a governador

Dia 7 Dia da Independência do Brasil

De 20 a 25 FILDA 2010 - Feira Internacional de Angola De 22 e 23 V Fórum Empresarial da CPLP - Negócios na Língua Portuguesa

De 16 a 20 II Conferência Internacional sobre Clima, Sustentabilidade e Desenvolvimento Sustentável em Regiões Semiáridas (ICID 2010) Dia 18 Palestra Sulamérica Apimec De 24 a 26 Cearapão 2010 - Feira da Indústria de Panificação De 31/08 a 02/09 Brazil WindPower 2010 De 31/08 a 02/09 Eco Business 2010

54 Brasil-Portugal no Ceará

De 7 a 9 Alimentária Mercosul De 12 a 17 Missão FIEC/CBP-CE a Portugal (Lisboa e Aveiro) De 19 a 26 Expoece 2010 De 19 a 26 Missão Empresarial a Angola (Luanda e Huila) De 23 a 26 Alimentícia Angola


Abr-Mai-Jun 2010 55


56 Brasil-Portugal no Cearรก


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