Dadazine

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Edição 1 - Ano 2013 EDITORA Personnalité DIRETOR GERAL Paulo Gustavo Caldas DIRETOR DE REDAÇÃO André Victor Veronez DIRETOR DE ARTE Darlan Machado DIRETORA DE CRIAÇÃO Gleica Guzzo Bortolini PRODUTOR GRÁFICO Brenno Mello EDITORES Brenno Mello Paulo Gustavo Caldas REPÓRTER Brenno Mello DESIGNERES André Victor Veronez Brenno Mello Darlan Machado Gleica Guzzo Bortolini Paulo Gustavo Caldas




No Brasil o Dadaísmo abrangeu as artes plásticas e principalmente a literatura, sendo representada por escritores e artistas dos primeiros anos do modernismo no Brasil, nesse início do movimento modernista buscavam o arrojado e o polêmico,

Dadaísmo

se onde o encaixava perfeitamente, sendo assim as idéias absorvidas do Dadaísmo Europeu que se enquadravam nesse estilo serviram de grande influência para os artistas do modernismo. O maior exemplo de referências Dadaístas na literatura foi Mario de Andrade um dos precursores do Modernismo no Brasil. Em seus poemas apresentava críticas e principalmente o “Non Sense” característica básica do Dadaísmo.

Mario de Andrade

No livro de

“Paulicéia Desvairada” existe chamado

Trecho:

• matéria

“Ode ao burguês”

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indícios claros de Dadaísmo, nesse mesmo livro onde já no prefácio autor recomenda que leia esse poema só quem soubesse urrar.

Eu insulto o burguês! O burguês-níquel, o burwguês-burguês! A digestão bem-feita de São Paulo! O homem-curva! o homem-nádegas! O homem que sendo francês, brasileiro, italiano, é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!


PERFIL O que se pode esperar de um surfista e ex-professor do ensino fundamental e

o design gráfico? Oras, nada mais justo do que ele ser um dos mais ativos e eficientes designers que abordam a desconstrução em seu trabalho, e ainda, ser a pessoa responsável pela a popularização da tendência desconstrucionista no

design gráfico do início de 1990. E de quem eu estou

falando? Do David Carson, é claro!

O trabalho de Carson descarta o padrão como regra: chega de grids, da

hierarquia de informação tanto no layout quanto na tipografia. Para ele, esse racionalismo do grid e outras regras tipográficas não cabem como resposta a complexidade do mundo pós-moderno. Alguns caracterizam sua criações como uma forma de neo-dadaísmo, pelo tratamento que ele dá à tipografia sendo semelhante a dos dadaístas na década de 1910 (como a despreocupação com a clareza e lógica da informação).

David Carson desenvolveu e trabalhos como designers em diversas revistas que abordavam o estilo surf/rock music, mas nenhuma estava nem próxima de um de seus maiores feitos: durante 1992-1995, Carson foi o diretor de artede uma das revistas que marcaram a história do design gráfico, a revista Ray Gun.

Valendo muito mais

a atitude do

• perfil

que o conteúdo 7

da leitura.


Na verdade, um dos motivos de a Ray Gun ter uma essência tão inovadora, era para poder competir com as outras mídias que estavam ganhando terreno lá pelos anos 90 (aka Internet e TV). Segundo Carson, a partir da criação de materiais complexos seria necessário um esforço maior do leitor para o entendimento, e assim, essas informações seriam melhores absorvidas e lembradas. O leitor não lê puro e simplesmente o design de David Carson, ele tem a necessidade de traduzir e interpretar… Ou também, apenas abstrair e olhar

Fundada por Marvin Scott Jarrett, em 1992, a Ray Gun foi a revista “cool” do momento lá nos anos 90, adorada pelos alternativos da “geração X”, tendo como assuntos independente/pop do momento. Tinha como caracterísabordados música e os ícones da cultura tica marcante o uso da ilegibilidade tipográfica como uma forma de liberdade, permitindo que, a partir das criações de David Carson, houvesse a interação do designer-leitor-matéria. Com um público predisposto ao novo e ao não convencional, Carson conE seguiu criar uma nova linguagem estética que rompia com todos é lógico os princípios existentes na grande mídia até então. que as grandes corporações não demoraram muito para também quererem aliar seus produtos e serviços a esse novo grande nome no design gráfico. Assim, David Carson desenvolveu diversas campanhas para empresas como Pepsi, Nike e Microsoft. tinha perdido toda 8 E como resultado fatídico, lá no final de 1990, o grunge já aquela sua carga transgressora inicial e a desconstrução já havia virado pop. Era o uso dos elementos gráficos característicos da desconstrução tendo como único objetivo ser decorativo.


A Ray Gun foi a mai or divulgadora dess e design gr David Carson, e não demorou muito para unge tão característico de deixar de ser underg e conquistar o mains round tream, dando uma ba ita visibilidade a Carson, e fazendo-o alcançar sua fama in ternacional. Quando ocorreu esse boom, Carson cheg ou a até ser rotulado pela m ídia como o “herói da desconstrução” pela s suas criações com impulso transg ressor, que trazia a estética punk com a desconstrução.

O design desconstrucionista nunca teve como objetivo criar um novo estilo gráfico, como acabou acontecendo com o grunge. Na real, desde seu início, a intenção era de analisar e incentivar novas formas de participação do observador nas criações de design, possibilitando a interpretação e construção de diversos significados, e, apesar dos pesares, isso aconteceu! E o maior exemplo disso foi o sucesso de público da Ray Gun, que a partir da abertura e liberdade de interpretação criou um novo público com uma nova visão de design!

t s

Mas aí você, querido leitor, para e pensa: “se eles tinham a tecnologia a seu favor e podiam produzir coisas com um melhor acabamento, por que eles não a utilizavam?” Bom, simplesmente porque o grunge procurava uma individualidade agressivamente artística. Com o advento do computador, eles poderiam, sim, produzir coisas com melhor perfeição, mas se fizessem isso, cairiam no comum. O diferencial do grunge era o de não realizar/permitir que suas criações fossem feitas por modelos pré-determinados encontrados com facilidade nos computadores. Essa era uma maneira deles delimitarem sua “identidade” perante a sociedade.

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OS

FILHOS

DE DUCHAMP

“A arte não

está aí para ser compreen-

dida”, disse Marcel Duchamp, em

• matéria

uma

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entrevista

de

1968 que foi ao ar na BBC pouco antes de sua morte. Isso levou o artista inglês Grayson Perry a proclamar: “Somos todos filhos de Duchamp agora”. O artista japonês Nobutaka Aozaki criou uma série intitulada “Filhos de Duchamp”. Uma interpretação contemporânea da filosofia dadaísta. Aozaki criou variações da famosa Roda de Bicicleta de Duchamp, usando uma série de produtos pré-fabricados, como móveis da IKEA, brinquedos, embalagens Playmobil e bonecas Barbie.


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Um dos objetivos do

dadaísmo era

conseguir

fazer

com que as pessoas refletissem sobre o

cotidiano, olhassem as coisas de sempre com novos olhos. Por isso, objetos comumente utilizados no dia a dia são apresentados novamente ao expectador, mas sob uma nova perspectiva, mas sempre fazendo parte de um contexto artístico. A irreverência na arte era a forma de combater as velhas escolas artísticas européias, engessadas e pouco inovadoras. O termo readymade foi criado por Duchamp para designar esses objetos banais, escolhidos aleatoriamente, transformados em manifestações artísticas e alçados em um pedestal. O artista demonstrava desprezo total pelo tradicional ou a estética da arte. Irônico, atingia tudo que desejasse contestar. Em “Filhos de Duchamp”, Aozaki procurou prestar aten-

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ção aos aspectos técnicos do readymade, como o trabalho artístico versus o trabalho produtivo, a arte instrucional educacional, e o deslocamento da identidade do artista.


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Da-dao quê? Entenda o dadaísmo! (OU NÃO)

Pelo menos saiba como tudo começou... ção que não conseguiria evitar a guerra. Ready-Made significa confeccionado, pronto. Expressão criada em 1913 pelo artista francês Marcel Duchamp para designar qualquer objeto manufaturado de consumo popular, tratado como objeto de arte por opção do artista. O Dadaísmo é a total falta de perspectiva diante da guerra; daí ser contra as teorias, as ordenações lógicas. Aliás, também é contra os manifestos, como afirma um dos seus iniciadores, Tristan Tzara, em seu manifesto Dada, 1918: “Eu escrevo um manifesto e não quero nada, eu digo portanto certas coisas e sou por princípio contra os manifestos, como sou também contra os princípios.” São também palavras dele: “Que cada homem grite: há um grande trabalho destrutivo, negativo, a executar. Varrer, limpar, A propriedade do indivíduo se afirma após o estado de loucura, de loucura agressiva, completa, de um mundo abandonado entre as mãos dos bandidos que rasgam e destroem os séculos.” “Liberdade: DADÁ DADÁ DADÁ, uivos das dores crispadas, entrelaçamentos dos contrários e de todas as contradições, dos grotescos, das inconsequencias: A VIDA.” O fim do Dadá como atividade de grupo ocorreu por volta de 1921.

“Eu escrevo um manifesto e não quero nada”

• matéria

F

ormado em 1916 em Zurique por jovens franceses e alemães que, se tivessem permanecido em seus respectivos países, teriam sido convocados para o serviço militar, o Dada foi um movimento de negação. Durante a Primeira Guerra Mundial, artistas de várias nacionalidades, exilados na Suíça, eram contrários ao envolvimento dos seus próprios países na guerra. Fundaram um movimento literário para expressar suas decepções em relação a incapacidade da ciências, religião, filosofia que se revelaram pouco eficazes em evitar a destruição da Europa. A palavra Dada foi descoberta acidentalmente por Hugo Ball e por Tristan Tzara num dicionário alemão-francês. Dada é uma palavra francesa que significa na linguagem infantil “cavalo de pau”. Esse nome escolhido não fazia sentido, assim como a arte que perdera todo o sentido diante da irracionalidade da guerra. Sua proposta é que a arte ficasse solta das amarras racionalistas e fosse apenas o resultado do automatismo psíquico, selecionado e combinando elementos por acaso. Sendo a negação total da cultura, o Dadaísmo defende o absurdo, a incoerência, a desordem, o caos. Politicamente , firma-se como um protesto contra uma civiliza-

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(1879-1953), pintor e escritor francês. Envolveu-se sucessivamente com os principais movimentos estéticos do início do século XX, como cubismo, surrealismo e dadaísmo. Colaborou com Tristan Tzara na revista Dada. Suas primeiras pinturas cubistas, eram mais próximas de Léger do que de Picasso, são exuberantes nas cores e sugerem formas metálicas que se encaixam umas nas outras. Formas e cores tornaram-se a seguir mais discretas, até que por volta de 1916 o artista se concentrou nos engenhos mecânicos do dadaísmo, de índole satírica. Depois de 1927, abandonou a abstração pura que praticara por anos e criou pinturas baseadas na figura humana, com a superposição de formas lineares e transparentes.

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Picabia

François

daDAÍStAs:

Max

Ernest

(1891-1976), pintor alemão, adepto do irracional e do onírico e do inconsciente, esteve envolvido em outros movimentos artísticos, criando técnicas em pintura e escultura. No Dadaímo contribuiu com colagens e fotomontagens, composições que sugerem a múltipla identidade dos objetos por ele escolhidos para tema. Inventou técnicas como a decalcomania e o frottage, que consiste em aplicar uma folha de papel sobre uma superfície rugosa, como a madeira de veios salientes, e esfregar um lápis de cor ou grafita, de modo que o papel adquira o aspecto da superfície posta debaixo dele. Como o artista não tinha controle sobre o quadro que estava criando, o frottage também era considerado um método que dava acesso ao inconsciente.


Ma

n

Ray

(1890-1976, americano, nome real Emmanuel Radnitzky) – A pintura, seu primeiro quadro (1913) é cubista, assim como o cinema, quatro curta-metragens produzidos na década de 40, sempre andaram a reboque da grande paixão que Man Ray tinha pela fotografia. Era um experimentalista por excelência. Trancava-se horas a fio no laboratório fotográfico para pesquisar, reconstruir e testar métodos em busca de aperfeiçoamento. Mesmo sem deixar a sua paixão de lado, funda, em 1915, a primeira revista dadaísta dos Estados Unidos, The Ridgefield Gazook, e, em 1921, participa da primeira Exposição Surrealista de Fotos, em Paris. E, tentando enquadrar a fotografia na categoria de arte, escreve, em 1937, o livro Fotografia não é Arte? Fazia, assim, uma provocação tipicamente dadaísta à sociedade da época. Man Ray trabalhou, a exemplo da arte pictórica do século IX, em três gêneros: natureza morta, paisagem e retrato. Lidando com os princípios básicos da fotografia, ele inova, busca relevo, a terceira dimensão e, para alcançar isso, começa a usar a raiografia, uma

técnica em que objetos são colocados sobre o papel fotográfico em um quarto escuro e expostos à luz sem utilização da câmera. Man Ray foi, na verdade, o grande defensor da fotografia como arte, uma espécie de artesão conceitual, sempre brincando com uma consciência por trás das coisas em busca da metáfora e não simplesmente jogando elementos. Com ligações que passam pelo Cubismo, Dadaísmo e Surrealismo, é o artífice da foto criativa, elaborada, construída ou improvisada, tentando sempre uma aproximação entre fotografia e pintura e é o pioneiro da desconstrução da fotografia com a transformação de fotos tradicionais em criações de laboratório, usando muitas vezes distorções de corpos e formas. Mas, artísticas ou não, o fato é que as suas fotos mais ousadas não foram bem-aceitas pelo público e, em 1940, foi para Hollywood trabalhar como fotógrafo das estrelas de cinema como Ava Gardner, Marylin Monroe e Catherine Deneuve. O tão esperado reconhecimento internacional por seus experimentos só veio em 1961 com a Medalha de Ouro na Bienal de Fotografia de Veneza. E, nos anos 70, quando surge o Pós-Modernismo, Andy Warhol começa a fundir ainda mais os elementos pesquisados por Man Ray e a fotografia passa a ganhar, a partir daí, o status de obra de arte. 19


Quadrinhos, Noir e Dadaísmo

• matéria

Escrito por “Linck”

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O dadaísmo é, de longe, o movimento modernista que mais gosto – principalmente no que se refere a questões conceituais da arte e da vida. Por esse motivo adquiri, sem muito pesquisar a respeito, o quadrinho germano-suíço “Vallat – Uma Investigação Dadaísta”, de 2004. Prontamente os desenhos de Massimo Milano são o que chama mais atenção. Estruturado em painéis, cada página tem uma relação particular com os quadros, balões e eventuais onomatopeias. A linha nervosa e o contraste preto e branco tornam tudo mais instável e sujo, mas com cuidadosa harmonia. Contudo é pela estória de Reto Gloor e Bruno Moser que maiores inquietações surgem. O que uma trama policial, repleta de conspirações e reviravoltas conjuga com o dadaísmo? Obviamente há o vínculo histórico. A estória de Vallat se passa em Zurique de 1916, uma relativa ilha de paz no meio de uma Europa em guerra. A cidade suíça era povoada de desertores, apátridas, pequenos burgueses, artistas, anarquistas, revolucionários, gente de todo tipo.

É nessa mesma cidade heterogênea, no mesmo ano, que surge o Cabaret Voltaire de Hugo Ball e Emmy Hennings, berço do movimento dadaísta. Mas isso não tem nada a ver diretamente com Charles Vallat, investigador da polícia política, responsável por coibir conspiradores que querem ameaçar o estado de neutralidade do país. Quero dizer, não tinha nada a ver. Pois depois de perseguir um anarquista,

causando involuntariamente sua morte, Vallat, a pedido do seu chefe de polícia, se disfarça e se infiltra nesse mundo louco de Zurique como Armand Desbordes, um reles negociante de Genebra. A partir desse ponto a trama tem duas frentes. A primeira, mais evidente, é a retomada histórica. Existe um certo prazer “onde está Wally?” em encontrar pessoas, lugares e referências historicamen-


te notórias. Inclusive a HQ brinca com alguns eventos que são metáforas do futuro europeu, como as limitações das vanguardas artísticas, a leitura eugenista do super-homem de Nietzsche (no caso feita por satanistas, mas discursivamente nazista), e as revoluções comunistas que no ano seguinte atingiria a Rússia (Lenin inclusive estava em Zurique na época). Porém é na segunda frente da estória, mais discreta, que a HQ mostra sua maior força. A aproximação da trama policial, tipicamente noir, com o dadaísmo se revela algo curiosamente bem embasado e pertinente. Pra isso precisamos lembrar da tônica noir, seu determinismo pessimista, sua fatalidade, onde o homem não sabe mais seu lugar, as instituições falham, os valores são dúbios, as mulheres ameaçadoras e o fracasso inevitável (nos quadrinhos temos o eterno exemplo de Sin City, de Frank Miller). O que isso teria de próximo com o dadaísmo? Por um lado o própriodadaísmo ajuda a abarcar de tudo, pois os escorregadios conceitos que tentam dar conta do nonsense, da inquietação, do arbitrário e do fortuito Dadá pouco determinam uma característica maior – podendo com isso cair no vale tudo. Contudo Tristan Tzara, no manifesto dadaísta “Proclamação sem

pretensão”, de 1919, diz a contundente frase: “se cada um diz o contrário é porque tem razão”. O que isso pode dizer? Ainda sob as muitas dificuldades, ao menos podemos presumir que o determinismo noir está ligeiramente afastado do dadaísmo na medida em que a razão está longe de ser algo totalitário, pois se cada um demonstra uma razão diferente da do outro, é porque de fato a tem, e não a reproduz a partir de um ‘ismo’, de um vício coletivo de pensamento ou consenso qualquer. Em outro manifesto, de 1918, Tzara também diz “Eu sou contra os sistemas, o mais aceitável dos sistemas é aquele que tem por princípio não ter princípio nenhum...” Porém um pergunta se insinua: essa falta de sentido não acaba por ser um determinismo às avessas? Um tipo de identidade que é aquela da falta de uma? Vallat, ao se passar pelo negociante Desbordes, precisa subverter sua identidade, algo antes mesmo problemático, pois Vallat era um imigrante sem grandes vínculos com Zurique. Porém é pela vivência enquanto Desbordes que sua identidade se afirma por tudo aquilo que ela não é. Isso atravessa sua difícil adaptação em se passar por um novo homem, a descoberta da morte cívica de sua identidade original, o estranhamento

de velhos amigos e envolvimento com pessoas, para ele antes, completas estranhas. Nessa direção, o dadaísmo se aproxima do noir, embora de forma muito mais aberta, fazendo de Vallat o mais vertiginoso detetive que já conhecemos – aquele que levou sua investigação aos limites de sua própria identidade e por ela se refez no meio de um mundo diverso de valores, vontades e escolhas. A única conspiração que podemos investigar com propriedade é aquela que nos fez, a conspiração que deu forma àquilo que somos. Para isso, somente nos cabe uma investigação dadaísta. “Vallat – Uma Investigação Dadaísta” foi publicado no Brasil pela editora Conrad, em 2006, numa edição bacana para livrarias. Não é raro de encontrá-lo, nada que uma investigação por aí não resolva...

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ENTREVISTA,

o dadaísmo na visão de dois respeitados acadêmicos do cenário capixaba e brasileiro expondo suas visões e conhecimentos sobre o movimento. Alexandre

Waldir de Mello

Emerick Neves

Barreto Filho

Doutor em Artes Visuais pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais - EBA/UFRJ. Mestre em História da Arte pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais - EBA/UFRJ. Graduado em Pintura pela EBA/UFRJ. Professor de História e Teoria da Arte da UFES. Professor do Programa de Pós-Graduação em Artes da UFES. Experiência na área de Artes, com ênfase em História e Teoria da Arte, exposições como artista plástico e atuação como restaurador de obras de arte.

W

Possui graduação em Bacharelato e Licenciatura em Ciências Biológicas pela Fundação Técnico Educacional Souza Marques (1984), graduação em Bacharelato em Arqueologia pela Universidade Estácio de Sá (1992) e mestrado em História Social da Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1996). Atualmente é professor assistente da Universidade Federal do Espírito Santo e Doutorando pela Universidad de Granada, Espanha. Tem experiência na área de Artes, com ênfase em Crítica da Arte, Curadoria, atuando principalmente nos seguintes temas: Estética, Arte Contemporânea, curadoria, crítica de arte, História da Arte, Filosofia da Arte, museu e galeria de arte.

Qual a influência do dadaísmo no Brasil?

Eu digo que o dadaísmo nem entrou no Brasil, fazendo um panorama dadaísmo aparece em uma cidade chamada Zurique, de Zurique ele migra para Alemanha especificamente Berlin, depois ele vai a Paris, cada vez que esse movimento ressurge ele muda de cara e ganha novos nomes, novas feições novos direcionamentos, especificamente em paris que é quando ele vai sair da Europa e vai migrar para os Estados Unidos, especificamente em Paris é um momento em que ele tem um namoro, uma proximidade com pessoas do construtivismo e surrealismo. Talvez ai quando o Surrealismo bate no Brasil quando reverbera, sobretudo na poesia concreta paulista, talvez alguma coisa ali na poesia construtiva com as palavras soltas, talvez um eco dadaísta visse entrada do surrealismo no Brasil, não é um trajeto impossível, mas é extremamente complicado. O que se pode chamar de reverberação dadaísta nos Estados Unidos pode ser considerado uma reação a 1ª guerra, no Estados Unidos vai ganhar uma cara mais artística uma reação ao cubismo. Esse surgimento nos Estados Unidos com 22 uma exposição famosa nos Estados Unidos chamada Armory Show de 1913 Amostras em continente americano da cultura europeia moderna, essa amostra é um tsunami vai reverberar no mundo inteiro até no brasil. E em 1920 aproximadamente tem a new York dada, mas o que disso chegou ao Brasil é ainda mais de design e difícil dizer.

” Brasil o dadaísmo

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nem entrou no

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É um caos feito, produzido, não há nem o acaso nem o achado, o que há tomar a proposta do acaso como uma proposta de construção, mas quando você tem um ponto de Brasil não sei como entra. Para radicalizar como o Waldir faz, nos não tivemos surrealismo, cubismo, expressionismo, mas tivemos um concretismo e um neoconcretismo, então nos tivemos alguns artistas influenciados pelos movimentos anteriores, mas sobre movimento nos tivemos um que é o construtivismo que é o movimento em paralelo com o internacional, então quando o dadaísmo entra no Brasil não tenho como te falar, mas o construtivismo posso te dar uma data.


Qual sua visão sobre a importância do dadaísmo?

W

Deixa-me refazer isso para você entender, o dadaísmo surge na suíça Zurique em 1916, com a fundação de um cabaré (o cabaré Voltaire), então ali tem um grupo, surge como uma não linguagem contra um tipo de projeção histórica nega o passado e não projeta o futuro, na Alemanha ele ganha uma projeção politica, ganha uma reverberação ideológica, quando chegam à Paris eles abrem mão dessa politização momentânea e volta a ser uma contestação do status quo, o problema é que em paris, por exemplo, se aproxima dos dadaístas um cara como Doesburg um cara que vai ser professor da Bauhaus. O Doesburg quando ele volta para Alemanha e se envolve com a Bauhaus, ele praticamente abandona a relação com o dadaísmo como se não houvesse o máximo que o Doesburg vai colocar de dadaísmo ant-formalismo na revista De Stijl é a diagonal, mas compara a diagonal com o acaso absoluto dos dadaístas onde nada tem sentido tem uma distancia violenta. E falando da Bauhaus o design não consegue se desligar da Bauhaus. Mas assim como homens como Doesburg foram tão próximos do dadaísmo se muda para Alemanha e esquecem o movimento do dadaísmo, parece como um abandono do dadaísmo no design, eu mesmo não consigo pensar num ligamento dadaísta fora do ambiente artístico.

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do AdadaísmoMinhada visão impor-

tância é que ele foi necessário. A complexidade é o seguinte na década de 60 a quase uma imposição de um posicionamento entre dois extremos, vão ser os formalistas e ant-formalistas a figura norteadora do formalismo é o Duchamp a figura norteadora do formalismo é o critico de arte Clement Greenberg. O design de um modo arriscando um equivoca por não ser um, está na vertente modernista que é a do formalismo que é a linha oposta à figura do Duchamp e do anti formalista. O dadaísmo esta numa vertente que liga a uma proposta mais radical que liga ao Surrealismo, ou a uma vertente mais radical do futurismo. De um modo geral o construtivismo coincide mais com o design.

A

Vendo os trabalhos do Carson hoje você vê quase uma soltura, mas me parece vendo dadaísmo, ele pode entrar no design as obras de influencia dadaísta essa vontade de com um limite, o limite é o compromisso que subversão de libertação, isso pode ser entendido o design tem com a comunicação, esse é um limite como dadaísta, mas você vendo esse design do que o dadaísmo vai até ai, então o que acontece aqui é Carson você já vê que já se exime dessa acidez e um núcleo comunicativo ordenado e logico diagramado interferência ética da realidade do mundo que o dentro de um suposto caos, o caos entra como decorativo. dadaísmo tem algo que o design já esta fora disso, então essa carga forte agressiva forte e irônica do dadaísmo eu não vejo, mas talvez na subversão do desse esquema construtivo voltando a Bauhaus usando só a forma dos tipos como o alltype. Para meio que concluir o que surge de herança do dadaís- 23 mo no design é uma herança formal, é de forma aparência os textos recortados postos de uma maneira construtiva.


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• matéria


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FLUXUS: O GRITO DA ANTIARTE As performances e a história do grupo que foi responsável por cunhar o termo ‘arte conceito’, que tiveram sua importância histórica na batalha entre modernismo da burguesia x arte conceito e liberdade para todos na criação da arte

• ARTIGO

Após a grande revolução provocada por Marcel Duchamp, estava plantada a semente do dadaísmo e da então chamada ‘antiarte’, com isso nos anos 60 surgiu o Fluxus. Fluxus foi um grupo que reuniu vários artistas ao redor do mundo que se opunham a comercialização da arte, fazendo com que a linha que delimitava o conceito da arte produzida na época fosse apagada, confundindo e misturando todos os conceitos de movimentos artísticos (incluindo dadaísmo). O grupo teve suas origens em Nova York mas abrangia artistas da Alemanha, Japão, Coréia, Inglaterra, entre outros países. George Maciunas, o criador do Fluxus, dizia que todas as pessoas deveriam compreender a arte. Em 1963 Maciunas reuniu suas ideias e escreveu o que seria o Manifesto do grupo, feito com colagens e significados retirados do dicionário:

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‘’Livrem o mundo da doença burguesa, da cultura ‘intelectual’, profissional e comercializada. Livrem o mundo da arte morta, da imitação, da arte artificial, da arte abstrata... Promovam uma arte viva, uma antiarte, uma realidade não artística, para ser compreendida por todos, não apenas pelos críticos, diletantes e profissionais… Aproximem e amalgamem os revolucionários culturais, sociais e políticos em uma frente unida de ação.’’

Baseado nessa ideia, o Fluxus pregava a arte centrada no poder da criatividade e não em somente um artista em si, incentivando o chamado ‘Do it yoursel’(faça você mesmo) e mantendo diversas mentes em forma de unidade. Criavam suas obras em conjunto, a fim de se distanciar da arte moderna que era de poder da burguesia, utilizavam de qualquer tipo de material que encontravam, desde um frasco de remédios até um rolo de filmes.




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