O conto

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Dedicamos este projeto aos que lutam por um Brasil que tenha mais respeito e valorização pela arte, cultura e educação!


Entre o céu e o chão “Há um contraste neste texto Da doçura que há no mel Com amargo profundo E intragável do fel Que se debruça nas linhas Sedutoras do cordel.” Um casal de retirantes Unido e apaixonado Caminham pela caatinga Tristonho e desenganado Temendo ser pela cobra E o carcará atacado. Sob o calor escaldante Daquela terra esquecida E sentido a ameaça Da dupla vil e atrevida, Assustado o casal pensa Em tirar a própria vida. “- Zé, esse nordeste é sangrento que tanto nos faz sofrer nos faz seguir pra tão longe mas na esperança de viver! - Maria, pra essa morte a gente num entrega nossa vida e nossa vida vai vencer essa morte.” 1


O carcará sorrateiro Espera o momento exato, Mas percebe que sozinho Seu ataque é insensato E com a velha cascavel Decide fazer um trato. Disse, então, pra cascavel: - Tu vai picar o casal Depois disso eu dou o bote O ataque será fatal Em recompensa eu jamais Te causarei qualquer mal. Quando o carcará e a cobra Decidem enfim atacar, Eis que surge a asa branca E consegue evitar Afugentando a tal dupla Que resolve se ausentar. Depois disso a asa branca Disse à moça e o rapaz: - Sigam firme com esperança, Não percam a fé jamais E acreditem nos seus sonhos Pois quem crê sempre é capaz.

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O casal ouvindo aquilo Decidiu seguir em frente Descortinando a caatinga Sob o sol incandescente Carregando a esperança De um futuro diferente. Após horas de viagem Nas veredas escaldantes Depararam com uma família De sofridos retirantes Que ao vê-los acreditam Ser pessoas importantes. A matriarca lhes diz: - Saibam que agradecemos O auxílio dos sulistas Nessa seca, mas queremos É ter a dignidade que infelizmente perdemos. Seu doutor uma esmola A um homem que é são Ou lhe mata de vergonha Ou vicia o cidadão… O casal escuta atento, Mas não entende a expressão.

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Um grupo de cangaceiros Em um local Reservado Comemoravam conquistas Num tal “baile perfumado”, Sem discórdia ou violência Só alegria e xaxado. O tal “baile perfumado” Era uma antiga tradição, Usavam essência de hibisco Uma flôr da região Que perfumava o ambiente Com o cheiro da sedução. Mas as Marias Bonitas Se recusavam dançar Por achar que estavam feias, Não conseguiam enxergar A beleza interior Que é sublime e salutar… Nisso a noiva e a matriarca Da família de retirantes, Dizem para as cangaceiras: - Auto estima é importante, Dentro de vocês existe Uma beleza constante.

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Porém, sorrateiramente Carcará e cascavel Retomam pra executar Um plano vil e cruel… A cascavel pelo chão E o Carcará pelo céu. Quando a cobra e o carcará Se aproximam do local Os cangaceiros mergulham Numa hipnose surreal Como se fossem guiados Pelo sobrenatural. “O carcará simboliza O tal desejo carnal Que vem em busca da carne Num desejo visceral, É a face da tentação, O rosto oculto do mal.” Eis que Surge a asa branca Com seu brilho encantado E o carcará surpreso Bate as asas assustado E em seguida numa gaiola É enfim aprisionado.

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Finalmente o bom senso Vence o desejo carnal, Com a prisão do carcará O bem elimina o mal Reacendendo as esperanças Daquele jovem casal. O casal disse: - Queremos Encontrar novos caminhos Mesmo que seja preciso Suportar os desalinhos Seguiremos confiantes As regras dos pergaminhos. Lampião e Maria Bonita Naquele mesmo instante Uniram-se ao casal E a família de retirantes E disseram: Vamos juntos Nessa saga itinerante. Após caminharem léguas Sob o calor do sertão Ouviram um aboio triste Ecoar na imensidão Era a voz de um vaqueiro Que aboiava em aflição.

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Perguntaram ao tal vaqueiro: - Meu amigo, o que é que há? - É a minha vaca estrela Que eu não sei aonde está, E se eu for em busca dela Talvez levem o boi fubá. Lampião disse: - Vaqueiro, Tire a lágrima do “oi” As “muié”ficam aqui Para pastorar o boi Enquanto a gente vai ver Onde é que a vaca foi. Os homens, então saíram Procurando atentamente Atravessando a caatinga Embaixo do sol ardente, Quando encontraram a vaca O vaqueiro riu contente. Disse o vaqueiro: - Foi Deus Que resolveu me ajudar… Eu e minha esposa vamos Embora desse lugar Vamos com vocês, levando Vaca estrela e boi fubá.

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Seguiram todos unidos Procurando uma solução Algo para amenizar Toda aquela sequidão Que dia a dia ardia Nas quebradas do sertão. Após andarem bastante Chegaram no litoral Um cenário exuberante De beleza natural, Palmeiras, velas e ondas, Ornamentando o local. De repente ouviram um eco De um sino a badalar, Enquanto um padre assustado Gritava, triste a implorar: - Senhor meu Deus, eu suplico, Venha aqui nos ajudar! Em seguida encontraram Um rendeira a lamentar, Indagaram: - O que houve, Por que não estás a rendar? - É porque meu grande amor Perdeu-se dentro do mar.

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Vendo que a jovem rendeira Chorava seu desengano, Construíram uma jangada E articularam um plano Para encontrar o jangadeiro Dentro do velho oceano. Porém, após algum tempo Dentro do mar procurando Finalmente o encontraram À deriva, ainda nadando E o Levaram para rendeira Que chorava lamentando. Quando a rendeira viu Seu grande amor retornar Ela agradeceu a todos Que vieram lhe salvar De um naufrágio inesperado Nas águas fundas do mar. Com um sorriso no rosto Dança, canta e ri feliz Com seu vestido rendado, E a jovem noiva diz: - Casar com um vestido desse É tudo que eu sempre quis!

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Disse a rendeira: - Minha jovem, Não se preocupe não, Que eu te farei um vestido Todos rendado à mão Com a almofada dos sonhos E os bilros da gratidão. Eis que naquele momento Surge a imagem do inimigo, É a cascavel dizendo: - Prenderam meu velho amigo, Quem mexe com amigo meu Está mexendo comigo… Rastejando sorrateira Ela invadiu o local Carregando no olhar A gana insana do mal Picando todos presentes Com seu veneno letal. Somente a jovem noiva Conseguiu sobreviver, Pois a nobre asa branca Surgiu para lhe defender Parecia que sabia O que iria acontecer.

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Vendo os amigos ali Tombados mortos no chão A jovem noiva chorava A dor da desolação Por achar que era culpada indagava com aflição. - Doce e meiga asa branca Me responda por favor, O que preciso fazer? Faço o que preciso for Para reverter as coisas E aliviar minha dor. A asa branca respondeu: - Só há uma solução Para que os seu amigos Tenham a ressurreição É morrer no lugar deles Por amor ao seu irmão. - Por amor aos meus amigos Eu enfrentarei a morte, Talvez minha atitude Me acalme e me conforte, Entrego nas mãos de Deus Meu destino e minha sorte.

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Porém, no mesmo momento Ela se santificou Seus amigos reviveram Como a asa branca falou E o noivo entristecido Em lágrimas se afogou. Todos ficaram chocados Com seu gesto de altruísmo Demonstrou amor ao próximo Numa aula de humanismo Resistindo ao chicote Perverso do egoísmo. “A asa branca era um anjo Enviado do senhor A procura de alguém Que transbordasse amor Encontrou no sertão Um coração sonhador.”

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Roteiro

Gleison Oliveira Versos

PiĂşdo Serrazul


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