CAPÍTULO 1
Meditação: por que se dar ao trabalho?
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editar não é fácil. Requer tempo e energia. Também requer garra, de‑ terminação e disciplina. Exige um conjunto de qualidades pessoais que normalmente consideramos desagradáveis e tentamos evitar sempre que pos‑ sível. Podemos resumir todas elas com a palavra iniciativa. Meditação requer iniciativa. Com certeza, é bem mais fácil reclinar‑se no sofá e assistir à televi‑ são. Então por que se dar ao trabalho? Por que desperdiçar todo esse tempo e energia quando você poderia estar se divertindo? Por quê? Simples: porque você é humano. Por esse motivo, você se vê herdeiro de uma insatisfação ine‑ rente com a vida que simplesmente não passa. Você pode afastá‑la de sua cons‑ ciência por um tempo; pode se distrair por horas a fio, mas ela sempre volta, e normalmente quando você menos espera. De repente, aparentemente do nada, você para, faz um balanço e se dá conta de sua real situação na vida. Lá está você e, de repente, percebe que está passando sua vida inteira apenas sobrevivendo. Você conserva uma boa fachada. Consegue fazer as coisas darem certo, e por fora parece bem. Mas aqueles períodos de desespero, aqueles momentos em que sente tudo desabando – isso você guarda para si. Você está um desastre e sabe disso. Mas esconde muito bem. Enquanto isso, bem lá no fundo, você sabe que deve haver outra maneira de viver, um jeito melhor de olhar o mundo, uma forma de tocar a vida mais plenamente. De vez em quando, você tem uns estalos por acaso, mas então você arranja um bom emprego. Você se apaixona. Você vence o jogo. As coisas ficam diferentes por um tempo. A vida adquire uma clareza e uma riqueza que fazem todos os maus momentos e a monotonia desaparecerem. Toda a trama de sua experiência muda, e você diz a si mesmo: “Certo, agora consegui, agora serei feliz”. Mas então isso também de‑ saparece, como fumaça ao vento. Você fica apenas com uma lembrança – o que disse a si mesmo e uma vaga percepção de que há alguma coisa errada. Você sente que realmente há outro reino de profundidade e sensibili‑ dade disponível na vida; de algum modo, você simplesmente não está vendo. Você acaba se sentindo desligado. Sente‑se isolado da doçura da experiência
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por alguma espécie de algodão sensorial. Você não está tocando a vida real‑ mente. Não está “conseguindo se dar bem” de novo. Então até mesmo aquela percepção vaga se desvanece, e você volta à antiga realidade de sempre. O mundo parece o lugar turvo habitual. É uma montanha‑russa emocional, e você passa muito tempo na parte mais baixa, ansiando pelas alturas. O que há de errado com você? Você é uma aberração? Não. Você é apenas humano. E sofre da mesma enfermidade que acomete todos os seres humanos. É um monstro dentro de todos nós e tem muitos braços: tensão crônica, falta de compaixão genuína pelos outros, inclusive as pessoas mais próximas, bloqueio dos sentimentos e entorpecimento emocional – muitos, muitos braços. Nenhum de nós está inteiramente livre disso. Podemos negar. Tentamos suprimir. Construímos toda uma cultura em volta para nos esconder dele, fingindo que não está ali e nos distraindo com metas, projetos e preo‑ cupações sobre status. Mas ele nunca vai embora. É uma corrente subterrânea constante em cada pensamento e cada percepção, uma voz no fundo da mente dizendo: “Ainda não está bom o bastante. É preciso mais. Tem de fazer melhor. Tem de ser melhor”. É como um monstro, que se manifesta por toda a parte de maneira sutil. Vá a uma festa. Ouça as risadas, aquelas vozes esganiçadas que expres‑ sam alegria na superfície e medo abaixo dela. Sinta a tensão, a pressão. Nin‑ guém relaxa realmente. As pessoas estão fingindo. Vá a uma partida de fute‑ bol. Observe os torcedores na arquibancada, os acessos de raiva irracionais. Perceba a frustração descontrolada que borbulha nas pessoas, mascarada sob o disfarce de entusiasmo ou espírito de equipe. Vaias, assobios e egotismo desen‑ freado em nome da lealdade ao time, bebedeira, brigas nas arquibancadas – são pessoas tentando desesperadamente liberar a tensão interior; e que não têm paz consigo mesmas. Assista aos noticiários na TV. Ouça as letras das canções populares. Você encontra o mesmo tema repetido muitas e muitas vezes com variações: ciúme, sofrimento, descontentamento e estresse. A vida parece uma luta constante, um enorme esforço contra conflitos assombrosos. E qual é a nossa solução para toda essa insatisfação? Ficamos empacados na síndrome do “se”. Se tivesse mais dinheiro, então eu seria feliz. Se conseguisse encontrar alguém que realmente me amasse; se conseguisse emagrecer dez quilos; se tivesse uma TV, uma banheira e cabelos cacheados; e assim por diante, sem parar. De onde vem toda essa tralha, e o mais impor‑ tante: o que podemos fazer a respeito? Ela vem da situação de nossa mente. É um conjunto de hábitos mentais profundos, sutis e difundidos, um nó que amarramos, um pedacinho de cada vez, e que só podemos desembaraçar da mesma forma, um pedacinho de cada vez. Podemos refinar nossa consciência,
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desenterrar cada pedaço separado e trazê‑lo à luz. Podemos tornar o incons‑ ciente consciente, aos poucos, um pedaço de cada vez. A essência de nossa experiência é a mudança. A mudança é incessante. A vida flui de momento a momento, e nunca é igual. Flutuação perpétua é a essência do universo perceptivo. Um pensamento brota em sua mente e um segundo depois se vai. Chega outro, e então se vai também. Um som chega a seus ouvidos, e depois silêncio. Abra os olhos e o mundo jorra para dentro de você; pisque, e ele se foi. As pessoas entram em sua vida e se vão. Os amigos partem, os parentes morrem. Sua sorte aumenta, e então diminui. Às vezes você ganha, e com a mesma frequência perde. É incessante: mudança, mudan‑ ça, mudança; nunca há dois momentos iguais. Não há absolutamente nada de errado nisso. É a natureza do universo. Mas a cultura humana nos ensinou como reagir a esse ciclo sem‑fim. Catego‑ rizamos as experiências. Tentamos encaixar cada percepção, cada mudança mental desse fluxo infinito em um dos três compartimentos mentais: bom, ruim ou neutro. Ou então, de acordo com a caixa em que guardamos, passamos a observar de acordo com um conjunto de reações mentais fixas habituais. Se determinada percepção foi rotulada como “boa”, tentamos congelar o tempo bem ali. Nós nos agarramos àquele pensamento específico, o acariciamos, se‑ guramos e tentamos impedir que escape. Quando isso não funciona, fazemos de tudo para tentar repetir a experiência que causou o pensamento. Vamos chamar esse hábito mental de “agarrar”. Do outro lado da mente, fica a caixa rotulada de “ruim”. Quando perce‑ bemos algo “ruim”, tentamos rechaçar. Tentamos negar, rejeitar e nos livrarmos do jeito que der. Lutamos contra a nossa experiência. Fugimos de pedaços de nós mesmos. Vamos chamar esse hábito mental de “rejeitar”. Entre essas duas reações, há a caixa “neutra”. Ali colocamos experiências que não são boas nem ruins. São mornas, neutras, desinteressantes. Guardamos a experiência na cai‑ xa neutra de modo a poder ignorá‑la e assim voltar nossa atenção para onde está a ação, isto é, nosso círculo sem‑fim de desejo e aversão. Desse modo, a categoria de experiências “neutras” é roubada de sua cota justa de nossa aten‑ ção. Vamos chamar esse hábito mental de “ignorar”. O resultado direto de toda essa loucura é uma eterna corrida na esteira para lugar nenhum, sofrendo incessantemente atrás do prazer, fugindo incessantemente da dor e ignorando incessantemente 90% de nossa experiência. E aí nos perguntamos por que a vida é tão sem graça. Em última análise, esse sistema não funciona. Não importa o quanto você se empenha em busca de prazer e suces‑ so, há vezes em que fracassa. Não importa o quão rápido você fuja, há vezes em que a dor o alcança. E, nesse meio‑tempo, a vida é tão entediante que dá
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vontade de gritar. Nossa mente está repleta de opiniões e críticas. Erguemos muralhas ao nosso redor e estamos trancafiados na prisão de nossos gostos e desgostos. Nós sofremos. “Sofrimento” é uma palavra importante no pensamento budista. É um termo‑chave e deve ser completamente entendido. A palavra em páli é dukkha, e não significa apenas a agonia do corpo. Significa o senso de insatisfação profunda e sutil que faz parte de cada momento e é resultado direto da es‑ teira mental. A essência da vida é sofrimento, disse o Buda. À primeira vista essa afirmação parece excessivamente mórbida e pessimista. Parece até mesmo falsa. Afinal, há muitos momentos em que somos felizes. Não é? Não, não é. Apenas parece. Escolha um momento em que se sentiu realmente satisfeito e o examine de perto. Por baixo da alegria, você vai encontrar aquela corren‑ te subterrânea sutil e penetrante de tensão de que, não importa o quanto o momento seja maravilhoso, ele vai acabar. Não importa o quanto você tenha acabado de ganhar, inevitavelmente vai perder uma parte ou passar o resto da vida cuidando do que possui e maquinando sobre como conseguir mais. No fim, você vai morrer; no fim, você perde tudo. É tudo transitório. Soa bastante desanimador, não? Por sorte não é – nem um pouco. Soa desolador apenas quando você observa a partir da perspectiva mental comum, pela qual opera o mecanismo da esteira. Por baixo disso, jaz outra perspec‑ tiva, um jeito completamente diferente de olhar o universo. É um nível de funcionamento no qual a mente não tenta congelar o tempo, não se agarra à experiência quando esta passa e não tenta bloqueá‑la e ignorá‑la. É um nível de experiência além do bom e do ruim, além do prazer e da dor. É um jeito adorável de perceber o mundo, e é uma habilidade que se pode aprender. Não é fácil, mas é possível. Felicidade e paz realmente são as principais questões da existência hu‑ mana. É o que todos nós buscamos. Às vezes, é um pouco difícil de perceber isso porque cobrimos as metas básicas com camadas de objetivos superficiais. Queremos comida, riqueza, sexo, entretenimento e respeito. Chegamos a di‑ zer para nós mesmos que a ideia de “felicidade” é abstrata demais: “Veja, sou uma pessoa prática. Basta me dar dinheiro suficiente e vou comprar toda a fe‑ licidade de que necessito”. Infelizmente, essa é uma atitude que não funciona. Examine cada uma dessas metas e verá que são superficiais. Você quer comida. Por quê? Porque está com fome. Então você está com fome – e daí? Bem, se comer, não terá fome, e então se sentirá bem. Arrá! “Sentir‑se bem”: aí está a verdadeira questão. O que realmente buscamos não são as metas superficiais; estas são meios para uma finalidade. Na verdade estamos em busca da sensação
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de alívio que vem com a satisfação do impulso. Alívio, relaxamento e o fim da tensão. Paz, felicidade – sem mais anseio. Então o que é essa felicidade? Para a maioria de nós, a ideia de felicidade perfeita seria ter tudo o que quiséssemos e estar no controle de tudo, bancando o César, fazendo o mundo dançar conforme nossos caprichos. Mais uma vez, não é assim que funciona. Dê uma olhada nos personagens históricos que de fato tiveram esse tipo de poder. Não foram pessoas felizes. Com certeza não estavam em paz com elas mesmas. Por quê? Porque ambicionavam controlar o mundo total e absolutamente, mas não podiam. Queriam controlar todas as pessoas, to‑ davia restavam aquelas que se recusavam a ser controladas. Esses poderosos não podiam controlar as estrelas. E ainda adoeciam. E ainda morriam. Você jamais conseguirá tudo o que quer. É impossível. Felizmente existe outra opção. Você pode aprender a controlar sua mente, a sair desse ciclo sem ‑fim de desejo e aversão. Pode aprender a não querer o que quer, a reconhecer os desejos, mas não ser controlado por eles. Isso não significa ficar deitado no chão e convidar todo mundo a passar por cima de você. Significa que você continua a viver uma vida aparentemente muito normal, mas a partir de um ponto de vista completamente novo. Você faz as coisas que uma pessoa deve fazer, mas é livre da incitação obsessiva e compulsiva de seus desejos. Quer uma coisa, mas não precisa ir ao encalço dela. Tem medo de algo, mas não precisa ficar ali tremendo. Esse tipo de controle mental é muito difícil. Leva anos. Mas tentar controlar tudo é impossível, e o melhor é escolher o difícil ao impossível. Mas, espere um pouco. Paz e felicidade! Não é disso que se trata a civi‑ lização? Construímos arranha‑céus e autoestradas. Temos férias remuneradas, aparelhos de TV; hospitais de graça e licenças de saúde, assistência médica e benefícios previdenciários. Tudo isso tem por objetivo proporcionar alguma medida de paz e felicidade. Todavia, a taxa de enfermidades emocionais sobe constantemente, e a taxa de criminalidade aumenta ainda mais rápido. As ruas fervilham de indivíduos agressivos e instáveis. Ponha o braço para fora da se‑ gurança de sua porta e é bem possível que alguém roube seu relógio! Alguma coisa não está funcionando. Uma pessoa feliz não rouba. Alguém que esteja em paz consigo mesmo não sente o ímpeto de matar. Gostamos de pensar que nossa sociedade está empregando cada aspecto do conhecimento humano para alcançar a paz e a felicidade, mas não é verdade. Estamos apenas começando a nos dar conta de que superdesenvolvemos os aspectos materiais da existência à custa de aspectos emocionais e espirituais mais profundos e estamos pagando o preço desse erro. Uma coisa é falar sobre a degeneração dos valores morais e espirituais na América atual, e outra é de
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fato fazer algo a respeito. O lugar para começar é dentro de nós mesmos. Ao olhar para nosso interior com cuidado, de forma sincera e objetiva, cada um de nós verá momentos de “eu sou o delinquente” e “eu sou a pessoa maluca”. Aprenderemos a enxergar esses momentos com clareza, limpidez e sem recri‑ minação, e estaremos no caminho de deixar de sermos assim. Você não consegue fazer mudanças radicais em seu padrão de vida até começar a se ver exatamente como é agora. Assim que fizer isso, as mudanças fluirão naturalmente. Você não tem de forçar nada, nem lutar ou obedecer a ordens ditadas por alguma autoridade. É automático; você simplesmente muda. Mas chegar a esse insight inicial é uma tarefa e tanto. Você precisa enxergar quem e como você é sem qualquer tipo de ilusão, julgamento ou resistência. Tem de refletir sobre seu lugar na sociedade e sua função como ser social. Tem de rever seus deveres e suas obrigações para com os de‑ mais seres humanos e, acima de tudo, sua responsabilidade consigo mesmo, como um indivíduo convivendo com outros indivíduos. Por fim, tem de ver tudo isso claramente como uma unidade, um conjunto irredutível de inter ‑relacionamento. Soa complexo, mas pode ocorrer em um instante. O culti‑ vo mental por meio da meditação é único em ajudar a se obter esse tipo de entendimento e de felicidade serena. O Dhammapada, antigo texto budista (que precedeu Freud em milhares de anos), diz: “O que você é agora é resultado do que você foi. O que você será amanhã será resultado do que você é agora. As consequências de uma mente maligna vão segui‑lo como a carroça que segue o boi. As consequências de uma mente purificada vão segui‑lo como a própria sombra. Ninguém pode fazer mais por você do que sua mente purificada – nem seus pais, parentes, amigos, ninguém. Uma mente bem disciplinada traz felicidade.” A meditação pretende purificar a mente. Ela limpa o processo do pensa‑ mento do que pode ser chamado de irritantes psíquicos, coisas como ganância, ódio e ciúme, que o mantêm enredado em escravidão emocional. A meditação leva a mente a um estado de tranquilidade e consciência, de concentração e insight. Em nossa sociedade, acreditamos muito na educação. Acreditamos que o conhecimento torna uma pessoa civilizada. A civilização, entretanto, pro‑ porciona um polimento apenas superficial. Submeta uma nobre e sofisticada pessoa aos estresses da guerra ou do colapso econômico e veja o que acontece. Uma coisa é obedecer à lei porque você conhece as penalidades e teme as consequências; outra inteiramente diferente é obedecer à lei porque você se limpou da ganância que o faria roubar e do ódio que o faria matar. Jogue uma pedra em um riacho. A água corrente alisaria a superfície da pedra, mas o in‑ terior permaneceria inalterado. Pegue a mesma pedra e coloque‑a no fogo in‑ tenso de uma fornalha, e ela derrete toda; a pedra muda por dentro e por fora. 18
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A civilização muda uma pessoa por fora. A meditação abranda uma pessoa por dentro, em todos os aspectos. A meditação é chamada de Grande Professora. É o fogo purificador do cadinho, que atua lenta mas seguramente, por meio do entendimento. Quanto maior for o seu entendimento, mais flexível, tolerante, e mais compassivo você pode ser. Você se torna alguém como o pai perfeito ou o professor ideal. Está pronto para perdoar e esquecer. Sente amor pelos outros porque os entende, e entende os outros porque entendeu a si mesmo. Você olhou para dentro de si e viu a autoilusão e todas as falhas humanas; viu a própria humanidade e aprendeu a perdoar e amar. Quando aprende a ter compaixão por si mesmo, a compaixão pelos outros é automática. Um meditador consumado atinge um entendimento profundo da vida e, inevitavelmente, relaciona‑se com o mundo com um amor profundo e acrítico. Meditar é bem parecido com cultivar um novo terreno. Para fazer de uma floresta um campo, primeiro é preciso cortar as árvores e arrancar os to‑ cos. Depois, arar o solo e adubá‑lo, semear e colher a safra. Para cultivar a mente, primeiro é necessário remover os vários fatores irritantes que estão no caminho – arrancá‑los pela raiz, para que não cresçam outra vez. Depois, adubar: você injeta energia e disciplina no solo mental. Em seguida, semeia e colhe as safras de fé, moralidade, atenção plena e sabedoria. A propósito, fé e moralidade têm um significado especial nesse contexto. Os budistas não defendem a fé no sentido de acreditar em alguma coisa por‑ que está escrita em um livro, atribuída a um profeta ou ensinada por alguma figura de autoridade. O significado de fé aqui é mais próximo de confiança. É saber que algo é verdade porque você viu que funciona, vivenciou dentro de si mesmo. Da mesma forma, a moralidade não é uma obediência ritualística a um código de comportamento imposto por uma autoridade externa. É na verdade um padrão de hábito saudável que você escolheu impor a si mesmo de modo consciente e voluntário porque reconhece sua superioridade em relação a seu comportamento atual. O propósito da meditação é a transformação pessoal. O “você” que ini‑ cia a experiência de meditação não é o mesmo que a finaliza. A meditação muda seu caráter por meio de um processo de sensibilização, tornando‑o pro‑ fundamente consciente de seus pensamentos, suas palavras e suas ações. A arrogância evapora e o antagonismo seca. A mente fica quieta e calma. E a vida suaviza‑se. Assim, a meditação executada de modo adequado o prepara para enfrentar os altos e baixos da existência. Reduz a tensão, o medo e a preocupa‑ ção. A inquietação recua, e a paixão abranda. As coisas começam a ir para seus
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devidos lugares, e a vida torna‑se um deslizar em vez de uma luta. Tudo isso acontece por meio do entendimento. A meditação aguça a concentração e o poder do pensamento. Assim, pou‑ co a pouco, suas motivações e seus mecanismos subconscientes tornam‑se claros para você. A intuição é aguçada. A exatidão de seu pensamento aprimora‑se, e você gradualmente chega a um conhecimento direto das coisas como elas real‑ mente são, sem preconceito e sem ilusão. Esses motivos são suficientes para se dar ao trabalho de meditar? Di‑ ficilmente. São apenas promessas no papel. Só existe um jeito de saber se a meditação vale o esforço: aprender a fazer direito, e fazer. Ver por si mesmo.
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