Contando a arte de Di Caribé

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DI CARIBÉ

Acervo do artista

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A vitória, em qualquer atividade humana, é resultado de muita perseverança e treino. Em poucos casos isso se torna tão verdadeiro como na trajetória do artista plástico Di Caribé. Nascido na Bahia, migrou para São

Paulo e, embora gostasse de desenhar desde criança, somente aos 54 anos retomou a arte, com uma técnica em que se tornou mestre: a pintura com os dedos.

Di Caribé e o autor do livro, Oscar D’Ambrosio, na Bienal do Livro, em 2006.

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Assim, em seus últimos anos, ganhou destaque com diversas premiações e aparições em programas de televisão, usando a sua técnica em chapas de eucatex, azulejos e outras superfícies. Com seus dedos, conse-

guiu efeitos próximos aos da arte acadêmica, mostrando que o talento, unido à perseverança, abre numerosos caminhos.

CASA DO SERTÃO, óleo sobre eucatex, 50 x 35 cm.

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Infância Oldaque Coelho Caribé é o nome completo do artista conhecido como Di Caribé. Ele nasceu em uma pequena cidade do interior do estado da Bahia chamada Morro do Chapéu. As origens de seus pais trazem uma mistura indígena e portuguesa, como boa parte dos nordestinos.

Morro do Chapéu Fundada em 1864 e localizada a 1.011 m de altitude, na Chapada Diamantina, Bahia, Morro do Chapéu tem aproximadamente 36 mil habitantes numa área de 5.513,4 km². Primeiramente habitada pelos índios Paiaiás, no início do século XVI, a cidade ganhou esse nome devido a uma elevação, chamada de Morrão, com mais de 1.200 m em forma de chapéu. A história local remonta ao coronelismo e ao ciclo do diamante na Bahia. Envolta por uma infinidade de cachoeiras, como a do Ferro Doido, com seus 118 m de queda d’água, além de grandes paredões, desfiladeiros e grutas, a região abriga umas das maiores concentrações de orquídeas da Bahia, além de ser hábitat do colibri-dourado, uma espécie rara de beija-flor presente na região. A cidade é também o paraíso para os fãs de esportes radicais, como rapel, mountain bike, trekking e cavernismo. No perímetro urbano, destacam-se belas edificações, como a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Graça, de 1834, a capela de Nossa Senhora da Soledade, de 1911 (construída por Dias Coelho, o mais ilustre dos coronéis de Morro do Chapéu), o prédio da Prefeitura Municipal e a casa do padre Magalhães, do século XIX.

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Di Caribé quando criança.

Casa de Di Caribé, óleo sobre eucatex, 75 x 70 cm.

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BAHIA, óleo sobre eucatex, 40 x 35 cm.

Seu pai, Eurípides Caribé dos Santos, trabalhou na roça e no garimpo. Exerceu, entre outras profissões, a de pedreiro, fazendo túmulos em cemitérios para conseguir criar, com muita dificuldade, ao lado da esposa Olga, quatro filhos: Enaide, Gutemberg, Oberlaque e o futuro pintor Oldaque, num universo em que a seca predominava.

A vida no Nordeste não era fácil. Havia muita pobreza e falta d’água. Mesmo assim, o menino Oldaque já mostrava vocação para a arte. Com cinco anos, sem recursos financeiros, utilizava gravetos queimados para riscar o papel, e, para obter efeitos de cor, usava terra vermelha e preta e folhas de plantas.

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Começava assim, sem saber, a realizar pesquisas com novas técnicas para explorar e desenvolver o seu talento inato. Já existia nele o desejo de estudar arte, mas não tinha condições de transformar esse sonho em realidade. Ainda criança, via os pais trabalharem muito para conseguir a subsistência, em meio à seca e à vegetação árida.

MANDACARU, óleo sobre eucatex, 90 x 60 cm.

A situação levou a família a migrar para São Paulo. A jornada ocorreu quando Oldaque tinha aproximadamente seis anos. O casal e quatro filhos – Zenaide nasceu em São Paulo – viajaram num pau de arara, nome como é conhecido o caminhão que tem a parte de trás aberta. O trajeto em busca de novas oportunidades durou sete dias.

A SECA, óleo sobre eucatex, 70 x 50 cm.

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Oldaque estava doente, com um mal conhecido como “doença de macaco”, e corria até risco de morrer. Estava apenas pele e osso. A mãe, desesperada, rezava o tempo todo e, no caminhão, durante a viagem, carregava uma vela acesa. Toda essa fé deu resultado e Oldaque sobreviveu à jornada. Como a família não tinha dinheiro para comer em restaurantes de beira de estrada, dona Olga colocava em uma lata de banha alguns alimentos. Era uma espécie de geladeira, que evitava que eles estragassem. Essa comida, misturada com farinha, foi o que sustentou a família durante a viagem. Afinal, como já dizia o escritor Euclides da Cunha, “o sertanejo é um forte”. E um vitorioso em sua luta na arte de viver.

O GAÚCHO, óleo sobre eucatex, 80 x 60 cm.

JESUS CRISTO, óleo sobre eucatex, 80 x 60 cm.

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São Paulo

CABAÇA, óleo sobre eucatex, 50 x 20 cm.

Eurípides, Olga e os filhos passaram a morar na casa de Torquato Caribé e Dazinha, tios de Oldaque. Era apenas um quarto e cozinha, no bairro de São Judas, para abrigar todo mundo. A vida continuava muito dura, e o pai do futuro pintor trabalhava junto com Torquato como pedreiro, tentando encontrar outras formas de ganhar o sustento. Pouco a pouco, Eurípides, trabalhando no ramo da construção civil, começou a melhorar de vida. Comprou um terreno e teve a felicidade de assistir ao nascimento de Zenaide, a filha caçula. Oldaque, com treze anos, já ajudava o pai e o tio em alguns trabalhos. Com lápis de cor, alguns pincéis e papel, o menino voltou a pensar em pintar, mas não havia condições para que ele se dedicasse a essa atividade. Com dificuldade, Oldaque fez curso primário e curso técnico de propaganda. Desenhou, inclusive, letras para divulgar nomes de empresas nas listas dos catálogos das chamadas Páginas Amarelas. Também continuou ajudando a família como servente de pedreiro e, depois, trabalhou com os irmãos e a mãe em um bar. Por serem os primeiros moradores da rua, ela passou a ser conhecida como Rua dos Caribés.

Eurípides, pai de Di Caribé.

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O CAVALEIRO, óleo sobre eucatex, 70 x 50 cm.

Di Caribé, segundo da direita para a esquerda, e os irmãos.

Di Caribé, aos nove anos, na escola.

Di Caribé, aos treze anos.

Di Caribé, aos quinze anos.

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