Apresentação Este livro foi organizado com o objetivo de reunir textos de Darcy Ribeiro relacionados à educação, publicados em suportes diversos, entre livros, re‑ vistas e jornais. Além de A universidade necessária e Nossa escola é uma calamidade, o autor não publicou de forma sistemática sobre educação, como fez sobre antropologia. Sua relação com o tema é bastante diferente daquela que encontramos na antropologia, em que há uma discussão teórica de fôlego. Acerca da educação, Darcy Ribeiro foi instado a escrever, ao longo dos seus “fazimentos”, configurando o texto como um instrumento de luta política, seja para argumentar em defesa dos Centros Integrados de Educação Pública (CIEP), para angariar adesão ao projeto de LDB, para reconstituir o sentido da UnB, desmontada pela ditadura militar, enfim, para enfrentar desafios em busca de uma educação pública adequada e necessária à nação brasileira. Por outro lado, a seleção de textos teve em vista que na base da pro‑ posta de educação de Darcy Ribeiro estava sua riquíssima experiência vivida entre os índios e uma inserção profunda na área das ciências sociais, com um compromisso de intervenção política, que caracterizou os intelectuais de sua geração, como registra Helena Bomeny (2009) a seu respeito. Assim temos textos específicos sobre educação, sobre universidade, sobre legislação, mas também somos convidados a perceber a relação entre suas propostas e o tri‑ buto que faz aos seus mestres brasileiros – Marechal Rondon e Anísio Teixeira. E o modo como cultivava seus pupilos, entre eles esta organizadora.1 O livro está distribuído em seis seções. A primeira, introdutória, com tex‑ tos gerais sobre as preocupações do autor, como em “Fala aos moços”, em que convoca os jovens brasileiros a assumirem a responsabilidade pelo Brasil que a geração dele deixou como herança. Apresenta o diagnóstico sobre a educação no Brasil, em dois momentos – no início do I Programa Especial de
1 Carta escrita por Darcy Ribeiro a mim, em retorno ao projeto de doutorado que lhe enviei: “Desde que nos vimos, há uns quantos anos, nos apegamos. Você a mim numa atitude de colaboradora e aprendiz. Eu a você com a alegria enorme de ver uma educadora nascente. Sábia e bela. Você é para mim, Lúcia, o que eu fui para Anísio. O discípulo questionador, mas fiel, o sucessor que levanta as bandeiras das ideias dele como suas próprias, na guerra contra tantos deseducadores vadios de que esse país sofre. Vejo você, Lúcia, como minha sucessora, defendendo as mesmas ideias e lutando pelas mesmas causas. Lerei com todo carinho e enorme respeito e admiração o texto que mandou. Queria muito vê‑lo pronto e impresso como livro. Quero. Darcy Ribeiro. Brasília, 31 de agosto de 1995.” Educação como prioridade • 9
Educacao como prioridade_miolo 16x23.indd 9
3/2/18 12:20 PM