Introdução Africana de nascimento, italiana de origem e brasileira por escolha, Marina Colasanti reflete, em cada palavra deste seu livro, a complexidade de uma formação intelectual quase ab‑ surda – viagens forçadas em meio a uma guerra que ela ainda nem entendia, estudos em duas línguas e duas pátrias, moradia em palácios e apartamentos mesquinhos, o contraste profundo do ambiente quase sinistro de um atelier de gravura com as luzes brilhantes e levianas de uma passarela de modas, uma vida introspectiva e solitária misturada à euforia gregária dos verões juvenis do Arpoador. Sua visão do mundo é dela só, mais desesperada e aflita do que jamais foi posto em livro, numa personificação assustadora do isolamento definitivo do ser humano. Através destas páginas, que se afastam da auto‑ biografia apenas no sentido de que não pretendem contar a história de uma vida, mas somente transmitir a marca de uma solidão, há uma mulher jovem que caminha só, que viaja só, que trabalha só, mesmo quando há ao lado a ilusão dolorosa de outras proximidades, a sensação pérfida do afago fugidio. Em tudo a frustração constante do que fica enquanto vamos ou do que morre enquanto teimamos em existir. Insensivel‑ mente, o carinho e atenção maiores da escritora se voltam para coisas materiais e seres irracionais, como quem busca 11
Eu sozinha_miolo.indd 11
1/16/18 9:46 AM