O Elefante de Marfim - Libreto de Ópera

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O Elefante de

O Elefante de Marfim Libreto para Ópera em Três Atos “As peças de marfim são tão alheias ao abstracto xadrez como essa mão que as rege.” Jorge Luis Borges


ॐ 12. Introdução ao Texto Dramático:

O Elefante de Marfim é uma fábula musical sobre a fundação de um teatro de ópera no local onde um crime ocorreu, este teatro é abandonado e transformado em um museu da humanidade e sua relação com a arte, onde a própria vítima do crime é leiloada como obra. Os artistas, prisioneiros do museu, com ajuda dela, se rebelam e montam uma biblioteca no lixão, onde aguardam um terrível cataclisma enquanto decidem numa reunião o que fazer com os marfins e obras de arte do mundo que juntaram em seu acampamento e uma série de fatos levam ao ano do elefante. A trama se passa na cidade de Som Caos, o que sobrou de São Paulo depois que os caminhões não conseguiram mais levar alimento para lá, na área entre Atlante Babelon (bairro nobre) e Lemúria Guantánamo (bairro da periferia), divididos pelo pântano químico de Akakor à beira do Rio Morto. Por se tratar de uma ópera sobre o fazer artístico, pedimos atenção especial das companias, que se detenham frente ao texto, quanto à ironia de sua metalinguagem. A própria compania é o coro e a montagem da cenografia é feita anamórficamente (sob a direta influência de Arcimboldo) com os figurinos e objetos que os próprios personagens trajam e despem, compondo um elemento cênico (Um personagem retira um paletó onde dentro há um sol bordado que funda uma janela cenográfica, por exemplo). Pedimos que as montagens se dêem da maneira mais simples possível, com materiais e processos reciclados daqueles que a própria compania já utiliza em seus repertórios, levando em conta a sensibilidade e a mitologia pessoal de cada intérprete-criador participante. O texto dramático deve ser um ponto de partida e nunca um fim em si ou uma desculpa para a sobreposição de desejos de uns sobre outros. A função dos atores-cantores-dançarinos é desvendar o que está sendo realmente dito por detrás das palavras que nada dizem. Propomos que as companias se detenham a pesquisar o projeto e a portitura junto à Orquestra e pensadores afiliados, vindo a compor um programa que inclua todos os textos aqui contidos e ainda os seus e de outras versões prévias para a consulta pública aberta e gratuita. Expanda o quanto possível o que encontrarem aqui, coloquem mais ruídos nas entranhas deste elefante. Dito isto, convido-vos ouvintes a me seguirem por esses caminhos sinuosos que conduzem os seres humanos a mascarar sob a alcunha da paz a barbárie. Não pretendemos manipular os fios da crueldade e do voyeurismo para manter sua atenção. Mas não se trata, aqui, de encená-los, de construí-los como uma estética do horror. Pelo contrário, procuremos desnudar - a frio - os processos que podem levar à destrutibilidade humana em massa.


13. Simbologia do Texto Dramático: O texto em itálico trata sobre a dramaturgia e dá expicações sobre a obra. ~O NOME DA PERSONAGEM CANTANTE ESTÁ EM CAIXA ALTA. O texto normal trata das falas de personagens. “Os pensamentos dos personagens que devem ser apenas pensados, ditos em silêncio, se encontram entre aspas.” {As ações dos personagens se encontram entre chaves e em itálico.} (Os aspectos de iluminação e imagética abstrata a serem projetadas, sejam por meio de cartazes ou de tecnologia cinemática, se encontram entre parênteses e em itálico.) [Os aspectos de montagem cênica, da ambientação e da dança dos objetos, se encontram entre colchetes e em itálico.] <A trajetória silente, sonora e musical da escuta se encontra entre chevrons e em itálico.>


ॐ 14. Personmargens: Todxs xs personagens são epicenes e se possível devem ser interpretadxs por um trio de artistas. Uma atriz ou ator interpreta suas feições faciais e fala seu texto, umx dançarinx faz seus movimentos corporais & umx cantorx canta seus trechos, mas nada impede de um ator interpretar mais de um personagem também. Tais definições de sexo dos intérpretes devem ser decididas coletivamente pela compania. A partir do Primeiro Ato, todxs xs personagens são disformes devido a diversos tipos distintos de elefantíases e trazem consigo elementos de um ou mais animais, além de objetos que formam figurinos-escombros, que podem aparecer das mais diversas maneiras de acordo com cada montagem.


14.0. Do Prólogo no Teatro: ~CATÃO MOEBIUS, atriz reserva do teatro que está na função de faxineira do teatro de ópera neste espetáculo. Travesti índia velha cabocla mulata ex-prostituta, tida como louca, de modos dóceis e serenos. ~OS OPERÁRIOS DO TEATRO, coro que varia de acordo com a casa onde a peça for apresentada. É preferível que o coro seja composto pelos próprios funcionários da casa, mas não sendo-o possível, que os atores interpretem-nos com fidedignidade e sem sarcasmo. Dois personagens, porém, devem constar neste coro: ~A COMPOSITORA DA ÓPERA, tem pernas de fauno e traz consigo uma pena de corvo que molha num pote de naquim cor de marfim. ~O DIRETOR DA CASA DE ÓPERA, usa um broche de leão e barbas cheias.


ॐ 14.1. Do Primeiro Ato: ~CATARINA CLEMENTE, perde a memória e tenta reavê-la, motivo pelo qual se vê transmutada em Ópera. Com a ajuda de Gilgameshivashtar se lembra de que é a incorporação de Oefro, Orfeo através do espelho. Tem elefantíase entre os seios, como um coração exposto do lado de fora. Nua. ~OS OPERÁRIOS DO TEATRO assistem a todo o desenrolar dos fatos realizando suas funções sem intervir. Vão cada vez mais ficando desconfortáveis com o que se passa ali, como se se tratasse deles próprios. ~OS CENOGRAFISTAS, obreiros que tomam os instrumentos da orquestra e se põem a tocar. Ajudam também a transmutar os figurinos em cenografia. ~AS ESTRELAS DANÇARINAS: Forças que controlam com truculência o espaço do palco. Têm todas buracos no peito. Cunham o pó de marfim que gera confusão das vísceras de Catarina Clemente. Têm secreções de âmbar nas têmporas. ~DANTE POUND, polvo juiz romancista e jurista que se converte na estrela vegetal. Arrasta livros. Tem elefantíase no olhos. ~FAUSTO GIOVANI, réptil executivo violinista que se converte na estrela mineral. Careca. Tem elefantíase nas orelhas. Carrega lixo eletrônico. ~ORWELL KIPLING, inseto general escultor, que se converte na estrela animal. Suas insígnias são pequenos ex-votos. Tem elefantíase nas mãos. Carrega ferramentas. ~GUIMARÃES HUXLEY, pombo padre professor pintor, que se converte na estrela orgonal. Tem elefantíase no falo. Carrega moedas e veste uma batina de dinheiro.


~A ORQUESTRA, o inconsciente de Catarina Clemente composta de alquimistas e filósofxs, pensadores de Rodin. Ao verem os cenografistas tocando os instrumentos, se levantam e começam a atirar os objetos deixadas pelas Estrelas Dançarinas formando uma paisagem. Estão tentando entender o que se passa na portitura, e aos poucos percebem que o que tocam cria a história que é tocada ao palco. Se questionam se devem continuar, quando das pausas. Mas retornam, por vício em música. ~GILGAMESHIVASHTAR, carroceiro preso debaixo dos destroços do acidente, sábio, bondoso e de grande compaixão. Pode ser interpretado por um pianista que carrega instrumentos diversos amarrados ao seu corpo como que preso debaixo do piano, tentando alcançar as teclas para tocar um último lamento. Tem uma cobra tatuada em cada um dos braços. Tem elefantíase no nariz, que se assemelha a uma tromba de elefante. ~ISIS LICHTENSTEIN, lavadeira tecelã esposa de Gilgameshivashtar, lúcida e forte. Veste centenas de tecidos, que vai rasgando enquanto pranteia a morte do marido. Separa a água da gasolina e dos corantes nas tintas do Rio Morto. Tem um broche de borboleta entre os seios. Tem elefantíase nos ombros, que a deixa com a aparência de não ter pescoço. Carrega tecidos. ~SATYRPAN ABRAXAS, filho fauno de Gilgameshivashtar e Isis, telepata de duas cabeças. Anda nu e desce do barco de Socralistóteles e senta em postura de lótus sobre o rinoceronte. É um galo e uma salamandra. Sua voz vem de outros cantores ou dos alto-falantes em off. Parece ter anticorpos ao pó de marfim. Carrega frutos e vegetais consigo. Tem elefantíase nas cabeças, sendo uma cônica e outra achatada.


ॐ ~SOCRALISTÓTELES ENLIL, barqueiro aprendiz de Caronte e Sidharta que aguarda que um elefante chegue do oriente. Sombrio e soturno. Bebe leite de rinoceronte que vira sangue no contato com o pó de marfim. Carrega correntes e veste mortalhas. Tem elefantíase nos pés que se assemelham a árvores pata-de-elefantes. ~OS CINCO RELIGIOSOS CEGOS: Nômades que ouvem os dizeres de Satyrpan Abraxas e chegam sedentos por sugar a luz de seus quatro olhos. Estão amarrados uns aos outros por um cordão dourado às cinturas. São ressurreições das Estrelas Dançarinas em outra instância. Catarina Clemente os impede usando o cheiro de gasolina e um canto de ablução. ~MERKA JAH ZOHAR, leão rabino surdo em vestes esquimós vermelhas. Carrega carnes. Tem elefantíase nas bochechas. ~DAVI VUH CASTAÑEDA, abutre xamã mudo sem língua em vestes vitorianas amarelas. Carrega cactos e plantas carnívoras. Tem elefantíase na nuca. ~ALFIL ESÚ AVESTA, poupa muçulmano viking sem tato, xiita seminu em vestes tupi-guaranis azuis. Carrega lâminas. Tem elefantíase no baixo ventre. ~CASSANDRA T’TAR SUPAYALAT, serpente hinduista cega, louca em kali yuga. Traz ao corpo vestes africanas verdes. Carrega cinzas. Tem elefantíase no nariz. ~SARAH CLARA GAJA, mamute freira missionária protestante sem olfato, naiv. Traz ao corpo vestes de eróticas violeta. Carrega flores. Tem elefantíase no coração como Catarina Clemente.



ॐ 14.2. Do Segundo Ato: ~OS OPERÁRIOS DO TEATRO, seguem obedecendo o script até se verem transformados em: ~OS ARTISTAS, preguiças que trabalham sob tortura fazendo obras relacionadas aos artistas da próera ‘O Elefante de Marfim’ até se rebelarem contra Os Tubarões Voadores junto a José Merrick e Catarina Clemente. ~JESUS MOISÉS SADE & SHAMASH MOHAMMED, preguiça e tucano jumento que se amam. Construíram o museu e querem entrar nele, sem consegui-lo. ~A ORQUESTRA, a consciência de Catarina Clemente percebendo que o que acontece no drama provém da música que toca, passa a agir com especial presteza e sutileza. Porém, são obrigados pelo Maestro (e seu duplo Nyemeyer Bo) sob ameaça dOs Operários do Museu (e dOs Tubarões Voadores, seu duplo) a tocarem apenas questões formais. ~A COMPOSITORA DA ÓPERA, age como um narrador sentado na área mais cara, de modo a explicar aos que pagaram mais caro o que ocorre. Veste uma roupa cotidiana, não deixando ao público se ela é ou não uma participante oficial do espetáculo. ~OEFRO, Catarina Clemente totalmente incorporada pelo espírito do ruído espirituoso é maquiadx para ser leiloadx como perfomance e ópera num leilão de obras de arte. Nudez. ~ORLAN ABRAMOVIC, maquiadora e carcereira muito bela que só fala substâncias químicas e age sobre o corpo de Oefro como se estivesse pintando uma tela. Traz uma pena de pavão no cabelo e uma bola de ferro amarrada aos pés. Está com os pés presos a uma bola de metal. Carrega esquadros, compassos e instrumentos de desenho. Tem elefantíase no seios. ~ANANSE TEOTIHUACAN, figurinista e torturadora que só fala teceres. É uma espécie de ressurreição de Isis Lichtenstein numa outra instância.Tem um broche de aranha entre os seios e um corte de cabelo que se assemelha a um ninho de joão-de-barro. Carrega pincéis. Tem elefantíase nos antebraços.


~OPERÁRIOS DO MUSEU, coro de atores que agem como um duplo de sexo invertido dos Operários do Teatro dentro do palco, falam em libras. Vestidos em aventais brancos. Em um dado momento eles se transmutam nos Compradores de Marfim: ~COMPRADORES DE MARFIM, libertinos se divertindo numa vernissage. São onças, leopardos, tygres, panteras, hienas. Carregam presas de marfim. Carregam objetos de consumo, eletrodomésticos, brinquedos, grifes, logos, etc. Riem e grunhem. Dentre eles se ressalta: ~DAMIAN BANKSY BARNEY, pixador. Se diferencia dos outros Compradores de Marfim por um boné com o desenho de um touro com um falcão pousado em suas costas. É uma espécie de ressurreição de Satyrpan Abraxas numa outra instância. Roupas de urso de materiais sintéticos. Carrega marfins. Tem elefantíase nos joelhos. ~EMYR ELÉMER, olhos de camaleão num corpo de hipopótamo, falsificador de obras. Cria uma cópia exata de Oefro, sobre a qual Os Compradores de Marfim fazem um culto. É o único personagem que não canta, mas fala de maneira pausada e profunda. Carrega notas de dinheiro fictício, com rostos de artistas. Tem elefantíase no estômago. ~OS TUBARÕES VOADORES, milícia da arte estatal e privada. Trata artistas como bandidos e se alguém lhes pergunta algo falam os nomes de artistas violentos como Antonin Artaud, William Blake, etc. Usam uniforme de vinil. Alguns são amarelos. Seus cacetes são revistas de arte enroladas. Eles mantêm A Orquestra tocando. ~NYEMEYER BO, duplo arquitetônico-expográfico do maestro da orquestra que faz orgiamis de tsuru enquanto cria o espaço expositivo do museu. Sua roupa o torna parecido a um alce com dentes de castor, minimalista. Carrega tabuleiros de jogos. Orelhas de Níquel Náusea. Carrega molduras de quadro emaranhadas.


ॐ ~WAGNER VERDI, leiloeiro e cornaca que só fala valores numéricos, duplo dA Compositora da ópera. Tem barba só no pescoço e é careca apenas na frente da cabeça, se assemelha a um abutre-porco. Alguns sussurram quando canta: “Falstaff!” Tem elefantíase nas orelhas. Carrega instrumentos de eculpir. ~ADORNO MORIN FLÜSSER, crítico de arte e filósofo. É uma espécie de ressurreição de Socralistóteles numa outra instância. Veste farrapos e traz ao ombro um pelicano. É corcunda e caolho, com um ajna que se assemelha a um olho mesmo. Espécie de camelo lula. Carrega cacos de mosaicos. ~SAATCHI PAX, maestro da orquestra de curadores que só fala máquinas e minérios, duplo do diretor da casa de ópera. Traz em um ombro um corvo e no outro um pombo. Veste-se entre um businessman e um maestro. É elegante e cínico. Se apaixona por Oefro, a compra no leilão e a joga junto de outras ‘obras de artes’ na Torre de Marfim. Carrega moedas. Tem elefantíase nos antebraços.

~OS ARTISTAS, escravos presos à torre De Marfim. São obrigados por Saatchi Pax a inventarem mais e mais produtos artísticos para vender no centro de compras de arte Torre de Marfim. Todos têm seus rostos cobertos por máscaras dos mais diversos materiais. São uma espécie de ressurreição dOs Operários do Teatro numa outra instância. Entre eles se encontra: ~JOSÉ MERRICK, artista com elefantíase generalizada, preso no topo da torre de marfim do shopping center de arte Jumbo Babel, único que conversa com Oefro (os outros têm inveja por seu valor ser alto). Foi incumbido, sob severas torturas que marcaram seu corpo já deformado com inúmeras cicatrizes, a criar a obra de arte mais bela até então jamais realizada, mas não encontra inspiração e por isto é torturado. Se apaixona por Catarina Clemente com quem se desnuda e faz sexo expurgando-lhe o espírito de Oefro. É uma espécie de ressurreição de Gilgameshivashtar numa outra instância. Humano, demasiado humano. Carrega paletas com cores.



ॐ 14.3. Do Ato Final: ~A COMPOSITORA DA ÓPERA, está sentada à boca de cena com uma camiseta de cavalo, tentando não deixar que O Diretor da Casa de Ópera interrompa a produção. Sua fala pode ser improvisada, com excessão das marcadas no texto, que devem ser ditas nos momentos específicos. Recebe um chifre de unicórnio com uma orelha na base dO Diretor da Casa de Ópera. ~O DIRETOR DA CASA DE ÓPERA, horrorizado com tudo que viu até agora, principia por fazer severas críticas e ameaça o tempo todo interromper a produção. Se veste como Fitzcarraldo. Sua fala pode ser improvisada, com excessão das marcadas no texto, que devem ser ditas nos momentos específicos. Após fazer amor com A Compositora veste-se com uma máscara de olho. ~OS OPERÁRIOS DO TEATRO, ainda como preguiças dançam ao redor dA Orquestra, como As Baratas e Formigas e Abelhas que atormentam Catarina Clemente. ~A ORQUESTRA, é o inconsciente da platéia soterrada por lixo, obras de arte e pedaços de marfim. É o próprio corpo do elefante. Conforme A Nuvem de Faganhotos mata Os Operários da Arte e Os Tubarões Voadores, eles começam formar uma camada de cadáveres que se soma a esta pilha. ~ULL ZOUGO SEDNA CHALCHIUHTLICUE, neadertal que fica a datilografar durante todo o ato final de fora dos eventos. Quando Musth Setoth Tiamat é morto, ela mostra o que escrevia: o símbolo Om tibetano. Começa então a chover sapos que devoram A Nuvem de Faganhotos. É uma ressurreição de Orlan Abramovic em outra instância. Ele se desnuda e deixa ver seu corpo escamoso com tatuagens de peixes e animais marinhos. Carrega telefones e rádios.


~CATARINA (EVA) CLEMENTE, está grávida e sorumbática, pensativa. Faz uma dança com os braços onde percebe-se a forma dos chifres de uma búfalo. Ratos, baratas e formigas ao chão, abelhas vespas e morcegos ao ar, giram ao seu redor até que ela se mova. Ao matar Musth Setoth Tiamat e José Merrick, ganha asas de libélula. ~JOSÉ MERRICK, usa uma máscara de cão de espelhos. Está meditativo, mas mais leve que Catarina (Estamira) Clemente. Reuniu todos os marfins de elefantes do mundo, só lhe faltando um par dO Último Elefante que está perdido. Nu. Não quer participar dos eventos de discussão do que deve ser feito com os marfins. Alguns o pedem que o faça de vez em quando, mas ele nega com um meneio de mão e volta a cuidar do jardim de areia. Se transforma, após levar um tiro, em: ~FENRIRX ANÚBIS, coiote lobo pantera com olhos de lince e costas de tartaruga de jade. Ergue-se de sua corcunda e tem uma postura heróica diante de Musth Setoth Tiamat. Destroça os membros de Musth Setoth Tiamat e os atira para conter a fúria de Quetzacoatleviatan Seshalogryu Nagatum. Uma corça lhe pousa ao ombro esquerdo e um cavalo lhe pede que o monte. Percebe quando finda o feitiço que prendem os personagens ao palco e avisa ao público. ~OS OPERÁRIOS DA ARTE, coro dos mahouts mutantes. Espécies de ornitorrincos, misturam feições dos mais distintos animais. Estão tentando decidir o que fazer com o marfim recolhido. Não acreditam na ‘profecia’ do elefante de marfim e querem usar o marfim para diversos fins. Olham com desdém para José Merrick. São uma ressurreição dOs Artistas em outra instância. Fazem um conluio com Os Ratos Acadêmicos e Os Tubarões Voadores acreditando que assim se safarão de Quetzacoatleviatan Seshanaga Longryu e Musth Setoth Tiamat. Os que não se convertem em Tubarões Voadores se tornam: ~OS DOZE MACACOS, coro de ornitorrincos com máscaras de símios (gorilas, chimpanzés, bonobos, mandris, babuínos, orangotangos, lêmures, micos, neandertal...) feitas de papel. Alternadamente tapam o coração, o cérebro e o sexo. Carregam panfletos e manifestos.


ॐ ~BUCKLUHAN CIOGRACIAN, médico ladrão com bico de íbis (máscara da peste negra), penugens de papagaio e asas de morcego que carrega uma gaiola com um grilo falante mudo chamado Orvalho. Tem elefantíase acima do nariz, carrega teares com aves mortas presas aos fios. Passa o ato todo rindo, pregando peças e roubando os que acredita estarem roubando algo de alguém. Ao ver a flauta de Ubugnu Ugnix cair ao chão a pega, sendo percebido por Shamash Mohhamed, com quem a disputa. Antes de perdê-la percebe a platéia. Ajuda Ull Zougo Sedna Chalchiuhtlicue, transformando-a numa sereia e com o resto de suas pernas alimentando Orvalho que chama um vento de aves que destrói A Nuvem de Faganhotos para vingar O Último Elefante. ~JOSEFINA HAMLIN, repórter-fotógrafa com um vestido de ratazana e olhos de mosca. Não pra de fotografar, sua câmera tem o som de uma gota de água. Canta em xiados espectrais que ressoam amplificando os fractais harmônicos da voz de com quem ela fala. Os Ratos Acadêmicos aplaudem, prometendo diplomas e prêmios. ~CLARA CROCODILO, fugindo dos Tubarões Voadores ela chega ao Cemitério de Elefantes. Repete os discursos de Saatchi Pax como a uma propaganda televisiva. Mas está tão apavorada e viciada em pó de marfim que tenta roubar os marfins que estão sob a proteção de José Merrick a todo custo. Ubugnu Ugnix a salva e em seus lábios verte o antídoto para o pó de marfim. É uma ressurreição de Ananse Teotihuacan em outra instância. Tem elefantíase nos lábios e órgãos expostos como os viciados em krokodil. ~UBUGNU UGNIX, pinguim com rabo de raposa, chifres de gnu. Traz consigo uma luneta que também é uma flauta, que usa para avistar Quetzacoatleviatan Seshalongryu Nagatum se aproximando. Ao perceber que os interesses dOs Operários da Arte não são dignos, se eviscera e atira as vísceras no caldeirão de comida. Ao apontar sua luneta para Os Ratos Acadêmicos, percebe que estes são na verdade Os Tubarões Voadores. É uma ressurreição de Emyr Elemér em outra instância. Tem elefantíase nas canelas. Usa o antídoto à loucura do marfim na comida salvando a todxs menos Os Operários da Arte, Os Ratos Acadêmicos e Os Tubarões Voadores que são devorados pela Nuvem de Faganhotos.


~OS RATOS ACADÊMICOS, vestidos com roupas de pinguim, chegam com uma ordem de despejo contra a ocupação do morro dO Cemitério de Elefantes e um mandado de busca por Clara Crocodilo. Isto tudo é só uma desculpa para que entrem na reunião dOs Operários da Arte e atrapalhem suas decisões. Carregam diplomas de carne com cachaça. Quando percebem que José Merrick não pretende abrir mão de sua decisão de aguardar pelO Elefante de Marfim, decidem por soltar A Nuvem de Faganhotos para “protegerem-se de Quetzacoatleviatan Seshalongryu Nagatum”, o que só piora as coisas. Ubugnu Ugnix os desmascara como: ~OS TUBARÕES VOADORES, grande parte dOs Ratos Acadêmicos eram na verdade tubarões, peixe-espadas, arraias, etc. Percebendo a tolice que fizeram ao trazer A Nuvem de Faganhotos contra si mesmos, passam a enfrentá-los em vão. ~A NUVEM DE FAGANHOTOS, gafanhotos violentíssimos viciados em pó de marfim, que foi usado para alterá-los geneticamente. Devoram Os Tubarões Voadores e Os Operários da Arte. ~CHACRA SOSA SPINOSA, coruja que cozinha o banquete com as páginas do projeto da próera, do libreto da ópera, da cronologia da performance e a partitura da transfonia O Elefante de Marfim. Tem elefantíase nas coxas. Como há muita gente e poucos ingredientes, usa pó de marfim para temperar a comida. O resultado da receita é um pé de elefante radioativo, Chernobyl. Ao ser curada por Ubugnu Ugnix derruba o caldeirão, que escorre assustando o Último Elefante que se ergue, talvez tendo disparado o tiro na arma Catarina (Estamira) Clemente, por acidente. Usa a lágrima do Último Elefante para ressucitar Fenrir Anúbis e ao receber o antídoto ao pó de marfim de Ubugnu Ugnix se transforma em: ~MEREDITH PACHAVUELA, cisne beija-flor que ajuda no parto de Ozrú Íris Tupã Selva. Arranca as suas carnes sobressalentes para dar de comer a todxs sob a casa de Braba Yoga.


ॐ ~MUSTH SETOTH TIAMAT, investidor caçador de elefantes, dragão da dependência. Não tem elefantíase algum, é belo, forte e garboso. Tem uma série de cabeças penduradas ao redor do pescoço, cada qual com uma expressão facial de afeto (alegria, tristeza, medo, angústia, ódio, etc). Traz uma arma de elefantes consigo. Pele vermelha. Olhar de frieza. Vem montado sobre: ~O ÚLTIMO ELEFANTE, vermelho e mecânico. Sua voz é executada pela tuba, pelo contrabaixo e pelo violoncello. Vê-se nele todo o sofrimento e ódio de todxs elefantes perante a espécie humana. ~VÊNUS HOTENTOT, mulher belíssima tida na conta de escrava, que chega sendo arrastada por Muth Setoth Tiamat. Mulher, demasiado mulher. Não tem elefantíase alguma, é bela, forte e delicada. Colega de puteiro de Catarina (Estamira) Clemente, a olha com cumplicidade. Tem o mais belo canto de toda esta ópera. Vestida com o vestido de casamento mais belo e transparente dando a entrever suas curvas. Tem gozo escorrendo por suas pernas. Ao beijar Fenrir Anúbis nos lábios, ri e se converte em: ~BRABA YOGA, feiticeira de cabelos brancos e parteira que suga as toxinas do sangue de Musth Setoth Tiamat e dO Último Elefante. Tem elefantíase na vagina e nas nádegas. Suas sombracelhas crescem e se torna como um texugo com chifres de antílope. Sua casa surge vinda do horizonte caminhando sobre pernas de peru com a árvore Yggdrasil no telhado e protege todxs.

~JESUS MOISÉS SADE, obeso com peito de pombo que anda numa cadeira de rodas que se assemelha a tanque de guerra com presas de javalis. Traz Shamash Mohammed numa coleira, enquanto segue a beleza de Vênus Hotentot. Tem deformidades no peito e veste uma coroa de arame farpado. Ao ver Shamash Mohammed torturando Os Ratos Acadêmicos, o beija e presenteia-o com o Peixe de Babel.


~SHAMASH MOHAMMED, iogue louva-deus com mão inchada que parece de caranguejo, traja marionetes e bonecas, arrasta ex-votos. Pula numa perna só. A Vênus Hotentot seduz Jesus Moisés Sade a libertá-lo e este pensa em vingar-se, mas ao ver o gozo de sua salvadora beijando o deformado José Merrick, desiste e luta contra Buckluhan Ciogracian para retomar a flauta-luneta de Ubugnu Ugnix. Com ela afasta A Nuvem de Faganhotos para dentro do carrossel onde estão Os Ratos Acadêmicos. ~OEFRO, anjo índio de olhos claros separado de Catarina (Estamira) Clemente fica a sussurrar-lhe aos ouvidos coisas que ninguém mais ouve. Conforme a situação vai ficando mais tensa suas asas vão crescendo até que a abraçam por completo, logo antes que ela decida agir. Quando da morte de Musth Setoth Tiamat, monta Quetzacoatleviatan Seshalongryu Nagatum tentando contê-lo em vão, mas retirando-lhe as moedas que são suas chagas e atira-nas nO Elefante de Marfim. Quando a serpente se vê convertida em Pyth Om Kundalini e o devora, ele a empurra de modo a que engula O Elefante de Marfim também. ~QUETZACOATLEVIATAN SESHALONGRYU NAGATUM, a serpente gigante de moedas que movimentam eletricidade. Faz danças em semi-lemniscatas, deixando um rastro de fumaça tóxica no formato alfa (α). Pulveriza pó de marfim sobre O Cemitério de Elefantes antes de devorá-lo. Pela atração de suas moedas é liberado do peso que o atormentava e obrigava a devorar carne e marfim, transformando-se em: ~PYTH OM KUNDALINI, naja de cores e luzes que engole Oefro e é obrigada a engolir também O Elefante de Marfim fazendo com que estes se convertam em Nu. ~EREPATO PIRIJETE, O Elefante de Marfim. É invocado por Catarina (Estamira) Clemente. Gera um campo magnético em si que começa por fazê-lo levitar, a Lua e o Sol se aproximam do solo, o lixo do Cemitério de Elefantes é sugado para junto do esqueleto de marfim até formar um imenso elefante de lixo que se senta numa nuvem. Seu magnetismo é tão forte que acaba por obrigar Quetzacoatleviatan Sesha Nagatum a devorá-lo ficando no formato ômega (Ω) de um chapéu.


ॐ ~OS TRÊS MENDIGOS CIENTISTAS, seguiam um satélite que caía e chegam acompanhados de uma horda de gatos para o nascimento de Hozrú Íris Tupã Selva. Andam num camelo, um avestruz e uma zebra. Trazem consigo três presentes que não se sabe o que são. ~ZUMBI C FITZCARRALDO, hacker de olhos puxados que vem montado numa ovelha negra fazendo um mosaico de recortes de enciclopédias e jornais. Imprime desenhos de sítios onde desenha mapas. Traz incenso de marfim. Traz de presente uma sítara de tartaruga-vaca-carneiro. ~SHAKESPEAR MANDELBROT, coelho camaleão ilusionista semióptico. Parece bêbado, se escora nA Compositora da Ópera e sobe ao palco. Está esperando Schröedinger chegar. Traz de presente um órgão que espeta porcos que sangram e cantam. ~ENLIL CURIE, massagista com cabelos que a fazem parecer uma esfínge, se veste como uma mariposa e só fala flores. Traz de presente uma flauta de vértbra de dinossauro. ~HOZRÚ ÍRIS TUPÃ SELVA, feto escaravelho (com espinhos de ouriço) de olhar meigo, que nasce de Catarina (Estamira) Clemente graças a Braba Yoga e Meredith Pachavuela. Acreditam todxs que tenha nascido natimorto, posto que não se move. Só percebe-se sua vida quando, apontando para o céu, fala a última palavra da ópera: “Nü”. ~NUN, baleia semitransparente com mil e um olhos de estrelas que emana águas vivas e sons fluidos.



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15. Prólogo no Teatro:

[A fila de entrada se forma na área externa do teatro.] {Ocorre um atraso em relação ao horário marcado. O faxineiro Catão Moebius é o único funcionário presente controlando a fila. Ele é amável, atencioso e curioso com o público.} (Todas as luzes do teatro apagam.) {Percebendo que algo está acontecendo, ele procura por uma vela, que acende. Insistindo que haja peça, ele guia o público na penumbra até os assentos da plateia, onde os acomoda.} {Catão Moebius permanece ali no silêncio da vela acesa por uns instantes. Decide-se então por ver o que se passa e vai em direção ao palco. Como se algo estivesse por ocorrer, ele se volta para trás e num gesto pede silêncio à plateia.} [Ao que Catão Moebius se aproxima do primeiro degrau da escada que sobe ao palco, as primeiras cortinas se abrem deixando entrever à pouca luminosidade, em frente a outras cortinas, Os Operários do Teatro nus olhando a plateia nos olhos.] {Catão Moebius deixa a vela se apagar. } {Ele acende a vela de novo e se aproxima mais. As luzes da plateia se acendem. Os Operários do Teatro observam com afinco as feições e os traços do público, escrutinizam com o olhar suas figuras e passam a se vestir enquanto A Compositora da Ópera se ajoelha e fala olhando nos olhos de Catão Moebius e O Diretor da Casa de Ópera fala com a plateia.}


ॐ ~O DIRETOR DA CASA DE ÓPERA: Gostaria de agradecer a todxs vós aqui presentes. Agradecer os operários, atrizes e atores, maquiadores, iluminadores, editores, filósofos, engenheiros, cenógrafos, bibliotecários, programadores, produtoras, escultores, loucos, atravessadores, urbanistas, encenadores, cozinheiros, professores, manicures, motoristas, impressores, seguranças, matemáticas, crianças, agricultoras, pintores, maquinistas, pedreiros, arquitetos, geólogos, faxineiros, traficantes, médicos, dançarinos, poetas, embaladores, serventes, bancárias, farmacologistas, tecelões, administradoras, cineastas, enfermeiros, eletricistas, prostitutos, perfumistas, esportistas, aviadores, ladrões, alfaiates, terapeutas, burocratas, jogadores, estudantes, ecologistas, mendigos, lavradores, dentistas, químicos, pedagogos, fonoaudiólogas, artesãos, fotógrafos, pescadores, tradutores, físicos, atendentes, psicólogos, massagistas, mascates, tecelões, tipógrafos, geógrafos, motoristas, contadores, astrônomas, ociosos, entregadores, escritores, anciãos, músicos, soldados, regentes, religiosos, zoólogos, políticos, ancestrais, e a quem eu possa ter olvidado... ~A COMPOSITORA DA ÓPERA: Preciso que nos perdoem todos vós aqui presentes. Perdão por nossas ignorâncias, arrogâncias, medos, fraquezas, estultícies, iniquidades, violências, luxúrias, nojos, vergonhas, impiedades, injustiças, covardias, profanações, mentiras, ganâncias, ilusões, invejas, malícias, calúnias, vinganças, ódios, vaidades, friezas, ascos, lascívias, presunções, preguiças, soberbas, egoísmos, alienações, gulas, esquecimentos, preciosismos, vileza, complicações, perfeccionismos, mendicâncias, adicções, vícios, indecisões, hesitações, perfídias, roubos, estupros, incontinências, torturas, assassínios, cobiças, mentiras, soberbas, todas as nossas indiferenças... ~OS OPERÁRIOS DO TEATRO: Platéia, cadeiras, carpete, luzes de emergência, escada, cortinas, roldanas, cordas, iluminação, cabos, caixas de som, fios, fusíveis, parafusos, calhas, vidro, parede, tijolos, ranhuras, porta, ribalta, metais, grelhas, focos, madeira, piso, palco... Gratidão! Perdão!


{Os Operários do Teatro deixam o palco se misturando ao público em suas funções corriqueiras enquanto murmuram perdões e gratidões pela sala. O Diretor da Casa de Ópera e A Compositora da Ópera permanecem na boca de cena. Agora eles começam a se vestir.} ~O DIRETOR DA CASA DE ÓPERA: Gratidão a todas os animais que morrem e sofrem por nossas necessidades e luxúrias, e aos demais que tanto nos ensinam. Gratidão a todos os conhecimentos, técnicas, invenções, obras. Gratidão às plantas que nos ensinam, protegem, alimentam e purificam nossos corpos e mentes. Aos minérios, ao ar, à água, à terra, ao fogo, às soluções e às substâncias, ao planeta que nos acolhe em meio à caosmose, às estrelas que mantêm a dança... Gratidão! ~A COMPOSITORA DA ÓPERA: Perdão por nossos sofrimentos. Perdão àqueles que buscam perdão, debatendo-se contra si mesmos. A céu perdoe o chão. Perdão aos que claramente vêem e sofrem calados, aos que tem seus gritos amordaçados. Perdão aos cansados, aos dilacerados, humilhados, mal-compreendidos e ignorados. Às gerações que se degeneram, à grande confusão da pobreza. Perdão à fome dos que tem fome e à cegueira dos que guardam e desperdiçam. Perdão à ira dos oprimidos. Aos animais que tolhemos com nossas demandas, às plantas que não ouvimos, aos pensadores e sua impotência, nossas barrigas cheias e nossas consciências sem culpa, ao ardil do fazedor de machados, aos artistas e suas tolice. Aos que ao perdão olham de lado. A todo gesto em vão... Perdão! {Durante a fala de ambos, a vela de Catão Moebius se apaga de novo, mas ele não tem mais fósforos para acendê-la. Ao final em uníssono da fala dos dois, eles se põem a caminhar em direção a detrás das cortinas. O Diretor da Casa de Ópera olha atrás num olhar de aviso para que ele se afaste do palco. A Compositora da Ópera volta até ele e acende sua vela:} ~A COMPOSITORA DA ÓPERA: Somos todxs diletantes. {Catarina Clemente olha para a platéia e lhes pede novamente silêncio. E pisa no palco...}(As luzes do teatro vão se apagando todas.)


ॐ 16. Prelúdio:

[As cortinas se abrem.] <Soam duas presas de marfim chocadas uma contra a outra.> (Pouquíssima luz, lusco-fusco.) {A vela se apaga de novo.} [O palco está absolutamente vazio.] <Soa o prelúdio com sons de cortinas e véus ao vento, num resumo fragmentado da musicalidade da ópera.> {Catão Moebius anda até o centro do palco e passa a observar todos os elementos que compõem o teatro, um a um, lentamente.} {Ele então vai até os limites do palco, e descobre ali uma parede invisível. Eletenta voltar então à plateia, mas percebe a parede que o separa de lá. Ele gesticula como se tentasse ver através de um vidro e procura pela plateia, mas não a encontra.} {Percebendo-se sozinho, ele vai ao meio do palco e volta a observar ao redor, mas agora é como se visse um outro lugar. Ele fica erotizado e se desnuda, entra em um transe, dança e canta:} ~CATARINA CLEMENTE: Música!


17. Ato Primeiro {Penetração}: Homenagem às obras de José Agrippino de Paula, Joe Coleman, Jan Svankmajer e Luigi Nono. Teatro abandonado, vazio. Som Caos, Deserto Do Real à beira de um rio de merda e sangue que fede. Do meio-dia ao poente. Úmido e frio, névoa.

<Soa A Preúsica que aos poucos vai cedendo a armas de guerra sendo engatilhadas, folhas de livros abertos, moedas sendo depositadas e forjadas.> (Imagens de quadros emoldurados de paisagens compõem o cenário.) {Das diagonais, se aproximam Fausto Rosa e Gabriel Huxley por trás, e Leonardo Cervantes e Dante Pound pelas costas.} [Carregam sacos de lixo com imagens de um touro com cabeça de polvo, um urubu com cabeça de pombo, uma barata com cabeça de jaguar, uma mula sem cabeça.] {Catão Moebius vê um anel no chão. Vêm com más intenções, murmurrando de maneira violenta e erótica para si mesmos:}


ॐ ~DANTE POUND: Código ata a priori prolabore sic aberratio rei ad corpus abolitio crimines, má-fé. Occasio legis mandado fraus legis tribunal mercancia ad quem sine die quo ad hoc tollitur quaestio relações. Ex locato precatório testis unus benfeitorias de sub-rogação, sanctio iuris. Intimação, testis nullus thema direito consórcio modus aditamento enfiteuse decidendum. Thema probandum rem à procuradoria déficit concílio, caput ágio neminem laedit comodato solve et repete. Penhor, desobediência, taedium vitae. Alvará tarifa inventário bis leasing liminar arrendamento câmbio usufruto ad valorem remedium iuris desacato. ~FAUSTO GIOVANI: Lorem ipsum nononononono dolor sit nononononononono amet. Eget nononono ligula eu nononono Nononono virgo nonono lectus lobortis. Nulla nonononono at nonononono nonono risus. Quisque nononon purus nononononononono canc magna nanaonãononononono voluntas. Nam nononon gemin nononono malesuada venenatis leo nononononono, commodo ultricies nonononono lorem bibendum libri ononononononononononoononononononono sapientia nonononononononono afectum nononoonono vitae. Sed in nononononono libido a ante congue nonono facilisis id non felis pellentesque nononononono vel ourifidius urna nononononononono metus, in viverra nononononono aria ono concupiscentia. ~ORWELL KIPLING: Ó dama de ferro, que farás com este dom que lhe há dado tantos custos, brucutu, cigarros na pele, rifle, serrote, estaca, chicote, te impede que trabalhes na corrida dos ratos, torções, berço de Judas, garfos, garras de gatos, empalamentos, máscaras de aço, e que você simplesmente não consegue devolver ao seu senhor?


~DANTE POUND: Crime taxa fideicomisso legitimatio ad causam excessão, avulsão reconvenção sursis litis contestatio. Julgamento causa mortis comunis opinio. Petita impotentia generandi falência, si vis pacem ecce homo, corrupção nihil obstat naturalia negotii fórum requiescat. Apelação in pace fraude deserção para bellum autarquia, in absentia hipoteca meta iptata referendum, usucapião meritum causae, bens idem, consumidor grosso modo honoris causa usura tabula rasa. ~FAUSTO GIOVANI: Cras nonono egestas nonono porttitor nononono nulla nononononono sagitas vehicula no commodo. Curabitur nononono sodales porttitor nonononononono risus et nonononono tempus. Nunc lacus nonononono quarius, scelerisque quis vulputate nonononono at pisc, venenatis nononononono augue. Suspendisse nonononono suscipit facilisis nononononononono eros, nonono taurid euismod nnonono nonono purus aliquet quis noite. ~ORWELL KIPLING: Paus e pedras, arma de elefantes, roda de Catarina. Havia um selvagem, arrancar as unhas e os olhos, em Aberdare, privação de sono e alimentação, que se pôs a assassinar todo mundo, tanques, fuzis, escudos, quando ele finalmente foi morto, lâmina, porrete, espada, encontraram uma bala, faca, torniquetes, camuflagem, dentro de sua presa. Aviões atirados sobre os servidores, scimitarras, napalm no café da manhã, despedaçamento por cavalos, lanças, javelins, scimitarras, dardos. Bomba H de microondas, bactérias e viruses, forjando derivas a marchas, câmaras de gás, forcas, cadeiras elétricas, spray de pimenta. Um outro mundo é poder nos dentes, guilhotina, fogueiras, gotas na testa, solitárias, jaguar cibernético, cacetetes.


ॐ ~GUIMARÃES HUXLEY: Abençoados os tolos, abençoados os violentos, abençoados os vis, abençoados os maléficos, abençoados os engenhos técnicos. Abençoadas as armas, abençoados os venenos, abençoada a guerra, os parricidas e trapaceiros, mentirosos, aproveitadores, charlatões, invejosos, cafetões, vendedores, usurários. Políticos e alfandegários, publicitários e propagadores do vício. Atravessadores, puxa-sacos, arrivistas, mal-intencionados, parricidas, estupradores, ciumentos, vingadores, justiceiros, abeçoados os que controlam o cabresto, líderes, mestres, gurus. Hierarcas e criadores de confusão. Tiranos, déspotas, inquisidores, torturadores, menticidas de todo cunho, abençoados sejam. ~ORWELL KIPLING: Cavaletes, mesas de evicerações, quebrados os joelhos e os nervos, rezarás! Cibervermes da lei. Cepo, garrote, gaiola, cruz, estiramento, choques, sombrasas, hsinbyuymashin. (Imagens de homens substituem as paisagens às molduras que mudam em ritmo outro.) {Catão recolhe o anel do chão.} (Quando estão a ponto de tocá-lo, as luzes se apagam.) <Soam carnes, tiros, flechas, gumes, livros rasgados e queimados, moedas aos montes escorrendo, bate estacas, máquinas registradoras.> {Catão se converte numa mulher. Ela é violentada com enormes quantidades de ouro em todos seus orifícios, é esfaqueada no ouvido com uma adaga de marfim e tem seu corpo atirado às margens de um rio de merda onde cai de boca. Catarina grita:} ~CATARINA CLEMENTE: Ópera! <Silêncio do tempo de uma gota de sangue escorrer dos olhos ao chão. Catarina Clemente pode fazer este gesto se o desejar.> (Imagens de natureza morta substituem os retratos de homens.) {De dentro de seus sacos com cara de animais, dois deles a pintam com urucum em gestos de arco enquanto os outros dois estendem um tecido vermelho que cruza sua boca e sexo.}


[Eles desenrolam o tecido na diagonal do palco, criando uma linha divisória, um rio vermelho.] <Soam As Metamorfoses Devocionais, onde todos os cantos religiosos de todas as culturas do mundo se misturam.> { Ao entrar em contato com o corpo dela, os quatro violadores se convertem (ou se disfarçam) em estrelas dançarinas. Estas estrelas (dos minerais, vegetais, energias e animais).} <Soam flamas.> (Imagens de retratos de mulheres tomam o lugar dos retratos masculinos.) {Erguendo-se lentamente, Catarina entoa um lamento:} ~CATARINA CLEMENTE: Lasciatemi... Vazio... Vazio... Vazio... Vazio... Vazio... Vazio... Vazio... Algo... <Soam gotas sobre as flamas.> ~ESTRELA MINERAL: Resguarda-te e conserva-se. <Soam filetes de água.> ~ESTRELA VEGETAL: Nutre-te e te cura. <Soam gotas e filetes e um pequeno riacho sonoro.> ~ESTRELA ANIMAL: Levanta-te e vinga-te. <Soa uma cachoeira de fúria.> {Uma loba amamenta duas crianças humanas saudáveis, uma menina e um menino.} ~ESTRELA ENERGÉTICA: Mono No Aware, paixão das coisas, resgate a empatia à efemeridade. Siga o que há de seguir como o que se segue nos seguimentos e perseguições consigo e convosco. Do que foi não é nem será, o que não haveria sido.


ॐ <Soa um mar de memórias.> ~ESTRELAS DANÇARINAS: Beba das águas do rio Do Esquecimento. (Imagens de retratos de casais tomam o lugar dos de mulheres.) {Ela, ajoelhada, beija o chão e bebe a merda com gasolina.} <Pausa e silêncio. O tempo de uma trovoada no horizonte.> (Imagens de trios substituem as imagens de casais.) ~CATARINA (OFELIA) CLEMENTE: Aria improvisada onde a cantora recita o que deseja esquecer que finaliza com a pergunta ‘Quem sou eu?’ {Ela olha a platéia nos olhos. As estrelas dançarinas entoam cantos sem sentido enquanto dançam musth ao redor de Catarina.} ~ESTRELAS DANÇARINAS: Teu nome é Ópera. <Pausa e silêncio.> {Catarina Clemente soergue-se com a boca marrom terra e ergue um sorriso, aliviada de seus sofrimentos ela se põe a dançar com as estrelas. Elas se põem a dançar no meio dos carros na marginal cantando, um carro atropela Catarina Clemente num berro.} <Soam As Metamorfoses Bailantes onde danças folclóricas de todas as culturas se mesclam.> ~ÓPERA (CATARINA CLEMENTE): Mar!!! {Enquanto desvia dos carros.} ~ESTRELAS DANÇARINAS AUTOMÓVEIS): Fim!!! {Quando a atropelam.}

(TRANSMUTADAS

EM

<Soam ventos, que se somam de automóveis convergindo num furacão de metais, calibres, lâminas que explodem.> [Entulho e lixo sendo amontoado no palco.] <Soam As Metamorfose Laborais, onde cantos de colheita de todas as culturas do mundo se mesclam.> [Após alguns atropelamentos, um enorme engavetamento se forma. Carrinhos de brinquedos e peças de carros podem ser utilizados aqui.]


<Sons metálicos, estalidos de pólvora somam-se ao fundo sonoro.> {Os Cenografistas tocam os instrumentos, A Orquestra monta o cenário num monte que se assemelha à forma de um elefante. Esta inversão de papéis deve ser natural e breve, tomando apenas o tempo necessário para que Gilgameshivashtar faça uma dança, deixe o lugar do maestro, e se ponha debaixo da montanha.} (Imagens pop de carros se chocando e propaganda de automóveis substitui os retratos de trios.) <Pausa e silêncio no tempo do primeiro compasso do tema dO Elefante de Marfim.> {A dança do dodô e a sagração da primavera de pragas prossegue.} < Somam-se Às Metamorfoses Laborais As Metamorfoses Bailantes.> (Imagens de madonas que dão lugar a pinturas de naturezas morta e automóveis.) <Somam-se Às Metamorfoses Laborais e Bailantes as Devocionais.> ~OS OPERÁRIOS DO TEATRO: Coro improvisado onde os cantores recitam o que estão executando naquele exato momento, suas funções, utilizando o vocabulário próprio de sua área. O segurança, por exemplo, canta com sua própria melodia algo como ‘Eu estou aqui cuidando para que ninguém ponha os pés nas poltronas ou acenda um cigarro...’ {Acalmado o furor da dança, as estrelas dançarinas tentam jogar pó de marfim sobre Catarina, enquanto o público está distraído com as conversas dOs Operários do Teatro.} <Somam-se Às Metamorfoses Laborais, Bailantes, Devocionais as Bélicas.> (Imagens de vanitas substituem o foco das naturezas mortas.) <Todos os sons desvanecem em 22 segundos.> ~GILGAMESHIVASHTAR: Orfeo! <Soa uma brisa.> {Catarina ouve um grito que a faz fugir do ardil das estrelas dançarinas. Ela vai até a montanha de automóveis e encontra Gilgameshivashtar, um carroceiro que está soterrado. Ele junta suas últimas forças e fala com Catarina:} <Soam terras.> ~GILGAMESHIVASHTAR: Pelas metempsicoses! Tu, Oefro! ~ÓPERA (CATARINA CLEMENTE): Quem sou eu?


ॐ <Soa um terremoto.> ~GILGAMESHIVASHTAR: Pelos céus! Te deram da água do esquecimento, logo quando atravessavas o espelho! Ao menos não tiraram-te a poesia Da voz com o pó da confusão maquínica! Dir-te-ei quem és. <Soa o primeiro movimento dA Oefrica.> ~GILGAMESHIVASHTAR: Após dilacerado pelas bacantes, Orfeo Fostes ao submundo, mudo e errante Buscando Eurídice, tua própria alma Hades impediu findar tua falta ~ÓPERA (CATARINA CLEMENTE) A morte impediu-nos nossa calma Atravessado o espelho ~GILGAMESHIVASHTAR: Não pudestes mais Nem olhar para trás Do passado te lembrar Nem a morte te trouxe paz À morte e à música, assim amaldiçoaste E amaldiçoado, prometestes vingança Eu era Pitágoras ainda criança Quando os números me mostrastes Dissestes-me das coisas futuras E implorou-me fazer-te uma jura De que quando este agora viesse Eu lhe lembrasse, eu lhe dissesse Beba do rio da memória! Atravessaste toda a humana história Ensinastes cantos sirenes a navegantes, glória Libertou vozes e escutas escravizadas Por legislações e ciências equivocadas


~GILGAMESHIVASHTAR: Eu era São Francisco, e me ensinastes A linguagem dos pássaros no canto de altar Eu estava lá! Já não conseguias te lembrar! Nunca porém uma melodia mais finalizastes <Soam também arados e grilhões ao fundo sonoro.> (Imagens de pinturas de toaletes dão lugar a pinturas de vanitas.) {Uma mulher atravessa o rio com um barqueiro e uma criança montada num rinoceronte de jade. São Isis Lichtenstein, Socralistóteles e Satyrpan Abraxas.} ~CATARINA CLEMENTE (ÓPERA): Me encontravam antes de ti! Fazendo-me olvidar e confundir! <Soam também indústrias bem ao fundo do lado esquerdo.> (Pinturas civilizatórias como guerras, cidades, paisagens urbanas, concílios, líderes se alternam em alta velocidade.) ~GILGAMESHIVASHTAR: Fizeste com o cadáver de um piano, {O pianista adentra o piano e é fechado lá.} Asas para que um anjo do rio vienense Abrisse mão do anel dos saturnenses Explodindo a constelação dos corações humanos Teu soar cada vez mais complexo Tua alma cada vez mais tormentos Implorou a Hefaísto e Silênio O segredo das máquinas de nexo (Imagens de toalete e de naturezas mortas se alternam.) ~GILGAMESHIVASHTAR: Viajaste a Sirius, já feito ruído <Soa um latido de cão abafado atrás da platéia.> Agora surge das entranhas da terra Índio com os lábios cheios de merda Ó, óbvio! Seja tua vingança bela, amigo! <Soam as dúvidas dA Orquestra.> {Uma conferência das aves mais distintas passa a ocorrer na outra margem do rio. Antes que Gilgameshivashtar termine a última sentença, as estrelas dançarinas lhe jogam pó de marfim. Catarina Clemente corre ao rio de petróleo que escorre do monte de carros e tenta beber um gole, enquanto Gilgameshivashtar canta:} (Imagens de trípticos, multidões, massas de gentes.) <Soam As Transtéticas Formais.>


ॐ ~GILGAMESHIVASHTAR: Ponto, pontos, linha, vertical, horizontal, linhas, inclinada, perpendicular, oblíquo, ângulos, agudo, reto, obtuso, raso, curva, côncavo, convexo. Arco, espiral, cruz, triângulo, isóceles, tangente, equilátero, seno, escaleno, superfície, plano, cosseno, órbitas, quadrado. Retângulo, losango, trapézio, pentágono, hexágono, heptágono, octógono, eneágono, decágono, círculos, concêntricos, excêntricos, parabolóide hiperbólico, heliconíade, cilindro. Cone, plinto, tetraedro, cubo, octaedro, dodecaedro, isocaedro. Pirâmides, prismas, paralelepípedos. Torno, elipsóide, parabólica, hiperbólica, serpentina, esfera, ovo. Rizomas, geodésicos, iterações, fractais, arbóreas, nests. senóide, serra, onda, ondas, mares, massas, vórtices, redemoinhos, estrelas... (Imagens antigas de mapas mundi e de cartas zodiacais.) <Soa um terremoto, uma faísca, uma gota, um vento enquanto inicia A Dodecaelis.> ~GILGAMESHIVASHTAR: Vega, alpha arae, alpheratz, sadal melik, apodis, altair, zubenelgenubi, menkar, arcturus, caeli, pyxids, diadema, chamaeleontis, al giedi, acubens, canopus, hamal, schedar, kitalpha, cor caroli, sirius, procyon, alderamin, toliman, deneb, capella, circini, coronae austra, alphecca gemma, alchiba, acrux, sualocin, doradus, thuban, achenar, antares, scuti, sculptoris, gamma normae, ankaa, sagittae, fornacis, castor, camelopardus, al nair, rasalgethi, alphard, hydri, indi, lacertae, regulus, 46 lmi, arneb, lyncis, lupi, antilae, mensae, microscopii, muscae, octantis, betelgeuse, peacock, fomalhaut, volantis, alrescha, ~GILGAMESHIVASHTAR: mirfak, markab, pictoris, phaet, naos, vulpeculae, horologii, reticuli, rukbat, ras alhague, unukalhai, sextantis, alkes, telescopii, aldebaran, rasalmothallah, atria, tucanae, monocerotis, dubhe, polaris, suhail al muhlif, spica, solaris...


{Catarina bebe um primeiro gole do rio da memória. As estrelas dançarinas, de modo a não permitirem que ela se lembre de tudo, ateiam fogo na pilha de automóveis. Gilgameshivashtar canta sua própria morte num lamento. Catarina tenta socorrê-lo enquanto, tomando apenas um gole, canta com ele. Um jacaré com uma cueca e uma calcinha cruza a lateral esquerda do palco.} (Imagens de pinturas do mar e do céu.) ~GILGAMESHIVASHTAR: Plutão, Netuno, Urano, Saturno... ~OEFRO (CATARINA CLEMENTE): Caronte, Proteu, Tritão, Nereida, Miranda, Ariel, Umbriel, Titânia, Oberon, Mimas, Ecélado, Tétis, Diane, Réia, Titã, Hipérion, Jápeto, Febe... ~GILGAMESHIVASHTAR: Júpiter, Marte, Terra... ~OEFRO (CATARINA CLEMENTE): Io, Europa, Ganimedes, Calisto, Fobos, Deimos, Lua... ~GILGAMESHIVASHTAR: Mercúrio... ~OEFRO (CATARINA CLEMENTE): Vênus... ~GILGAMESHIVASHTAR: Sol! ~OEFRO (CATARINA CLEMENTE): Vácuo! <Soa um rumor de rinoceronte.> {Isis Lichtenstein chega correndo desembarcando do barco onde está o rinoceronte, enquanto as estrelas dançarinas fogem rindo e jogando o pó de marfim sobre a criança que está monada no rinoceronte e no barqueiro que a leva. É Isis, a esposa de Gilgameshivashtar que carrega consigo tecidos. Ela se volta para Catarina Clemente e lhe pergunta:}


ॐ (Imagens abstratas de pinturas feitas com manchas de tintas compõe a cena.) <Soa o segundo movimento dA Oefrica.> ~ISIS LICHTENSTEIN: Quem sois? Que passou a meu Gilgameshivashtar? ~OEFRO (CATARINA CLEMENTE): Eu sou Oefro. Teu amado Gilgameshivashtar me fez o ver. Disse que bebesse do rio da memória. Mas não consegui plenamente o fazer As estrelas nos enganaram, O confundiram com substâncias, Vivo o queimaram Eu serei sua vingança! <Soa um trovão.> ~ISIS LICHTENSTEIN: Ouvi ele chamando seu amigo, sim! Por isto atravessei o rio e vim Se de nada te lembras, enfim Como te vingarás por mim? (Luz intensa e nenhuma imagem.) {O fogo cessa na montanha de automóveis. Uma girafa em chamas cruza o palco.} ~OEFRO (CATARINA CLEMENTE): Um trovão antes do raio lampejou em mim Lembro-me e não consigo esquecer-me de um verso Este ressoa em meu corpo todo o universo “Procure o Elefante de Marfim!” ~ISIS LICHTENSTEIN: Gilgameshivashtar, meu digno e honroso amado, tu cumpriste teu destino. Não confundistes a água pura com o corante da tinta de nossos desejos, tua sacrinvência. {Catarina se põe a olhar o público nos olhos. Isis então beija o cadáver de Gilgameshivashtar e é envenenada com o esquecimento e a confusão das estrelas dançarinas. Ela tenta então separar no sangue de Gilgameshivashtar a água pura da gasolina e canta:} <Sons da produção de petróleo se mesclam fazendo uma passagem para A Transtética Cromática.)


(As imagens abstratas reaparecem e vão aos poucos dando lugar a pinturas concretas e formais.) ~ISIS LICHTENSTEIN: Transparente branco cinza bege índigo Vermelho âmbar marinho amarelo marrom Azul argila prata ciano royal lavanda limão Púrpura naval neve oliva Ocre petróleo pêssego Renda chocolate creme abacate castanho curaçao uva goiaba Coral rútilo canário turquesa salmão cereja Bandeira floresta musgo militar magenta Mostarda laranja primavera dourado ruivo Chumbo jade cobre camelo areia linho Terracota tijolo castor acaju jambo vinho <Soa uma erupção e magma que escorre ao fundo cruzando o palco da esquerda à direita.> ~ISIS LICHTENSTEIN: Pérola paris mel pastel grená cadete kháki Rubro menta céu caramelo lilás amêndoa Ametista anil abóbora roxo verde manga ameixa Violeta sépia fúchsia ardósia rosa russet melancia Esmeralda carmim cobalto carmesim açafrão Bordeaux Escarlate café urucum Marfim! {Isis olha Oefro nos olhos e se põe a dançar rasgando os véus e se desnudando. Seu filho Satyrpan Abraxas surge ao fundo sentado no rinoceronte e se põe a meditar. Cada uma de suas cabeças fala por si mesma:} <Soam as Transtéticas Patéticas.> (Imagens de gabinetes de curiosidades começam a sobrepôr aquelas concretas e neo-concretas.)


ॐ ~SATYRPAN (ABRAXAS): Vazio pleno, pleno vazio. Conatus. Distâncias, proximidades. Emergências, temperaturas, variabilidades, constâncias, durações, continuidades, simultaneidades, movimentos, localizações. Formas, moldes, matérias, formações, rugosidades, brilhos, opacidades, repetições, transparências, cromas, volumes, densidades, contrastes, fissões, intensidades, luminâncias, iterações, agrupamentos, profundezas, amplitudes, entranhamentos, misturas, mesclas, dimensões, texturas, vórtices, gamas, fricções, paletas, nuências, alhures, timbres, pesos, valências, pressões, cargas, magnetismos, similaridades, ampliações, fusões, expelimentos. Conectividades, ressonâncias, estruturas, dinâmicas, fluências, choques, potências, ruídos, harmonias, evoluções, angulações, solubilidades, proliferações, funções, organizações, consistências, onijetividades, imprevisibilidades, aderências. Resistências, impressões, lembranças, flutuações, esquecimentos, insistências. Transduções, motivos, padrões, percepção, cognições, causalidades, identidades, complexidades... ~ABRAXAS (SATYRPAN): Nihil. Temor, fúria, angústia, interesse, carinho, coragem, desatino, desapego, volúpia, aborrecimento, alegria, repugnância, curiosidade, euforia. Apatia, pressa, desgosto, ansiedade, plenitude, calma, cólera, náusea, vertigem, otimismo, ameaça, cançasso, confiança, contenção, empatia, submissão, contentamento, pesar, antecipação, tesão, desprezo, nojo, repugnância, energização, afabilidade, nervosismo, afasia, remorso, confusão, depressão, vigilância, tontura, sublimação, submissão, riso, apreensão, feiúra, asco, beleza, tristeza, maravilhamento, melancolia, apatia, êxtase, distração, completude, afiliação, nutrição, deleite, irritação, divertimento, rejeição, ressentimento, afetividade, confiança, tensão, estima, satisfação, delírio, pânico, prazer, engano, sobriedade, desordem, ternura, tédio, intimidade, concentração, suavidade, reconhecimento, surpresa, iluminação, ódio, terror, amor, serenidade, gratidão...


(Imagens de câmaras de artistas vão se somando às de gabinetes de curiosidades.) {As duas terminam a dança dos véus enquanto Oefro se volta para Satyrpan Abraxas e vai lhe fazer uma pergunta, mas a chegada de cinco religiosos cegos a impede. O barqueiro Socralistóteles se põe a conversar ~SOCRALISTÓTELES: Que dizes jovem Satyrpan? É teu pai morto e tua mãe enlouquecida. <Soa O Ruíd’Om Sem Cor.> {Satyrpan Abraxas medita. Um ser metade ovelha, metade gato cruza o palco.} <O Ruíd’Om Sem Cor dilata e comprime-se até que soam As Transtética Formais.> ~SOCRALISTÓTELES: A profundidade da barca não é a mesma com e sem o elefante. Todos os elefantes são símbolos, signos Significantes, significados, ícones, Codenotações, interpretantes, conceitos, Relações, mecanismos Pó de marfim! {Passando a mão no nariz que sangra petróleo.} <Soa também O Qoro Confuso.> ~QORO DOS OPERÁRIOS DO TEATRO: É? Quem? Como? Onde? Quanto? Quando? Por Que? [Os Operários do Teatro ordenam as personagens de maneira linear, de modo a caber numa grade imaginária.] ~SOCRALISTÓTELES: Tertium non datur, satisfação das premissas Se e somente se, então logo possíveis Caso outro expressões algébricas Sinais conectivos, frações distribrutivas Predicados relativos paraconsistentes Metalepses, sinédoques, aliterações ~QORO DOS OPERÁRIOS DO TEATRO: Quem? É? Como? Onde? Quanto? Quando? Por Que? ~SOCRALISTÓTELES: Semânticas, quantificadores, necessidades Derivadas, funções, cláusulas, consistências Vagas, objetos conceituais, modalidades Aspectos substanciais, aparências contingentes Metacategoremas, aliterações, onomatopéias Metalexismos, noas, hipérboles, trivium


ॐ ~QORO DOS OPERÁRIOS DO TEATRO: Como? É? Quem? Onde? Quanto? Quando? Por Que? [Os Operários do Teatro contam as personagens e o público na platéia.] ~SOCRALISTÓTELES: Validações, preposições, códigos Induções, transcordâncias, falstruísmos Correspondências teórico-formais Interpretações, tabelas de verificação Admissibilidades, condicionamentos Eufemismos, metonímias ~QORO DOS OPERÁRIOS DO TEATRO: Onde? É? Quem? Como? Quanto? Quando? Por Que? ~SOCRALISTÓTELES: Para elementos, conjunção disjuntiva Modus ponens tollens, dupla negação Difusão dos graus de pertinências Silogismos hipotéticos, composição ~QORO DOS OPERÁRIOS DO TEATRO: Quanto? É? Quem? Como? Onde? Quando? Por Que? [Os Operários do Teatro se organizam e fazem um censo, tabelando as pessoas de acordo com seus aspectos externos.]

~SOCRALISTÓTELES: Conjuntos nebulosos, operadores Cálculos sentenciais, léxicos gramaticais Derivabilidade de regras, fórmulas atômicas Proposições implicativas, dilemas Epiquereas, subcodivisões transitivas


~QORO DOS OPERÁRIOS DO TEATRO: Quando? É? Quem? Como? Onde? Quanto? Por Que? ~SOCRALISTÓTELES: Tetralemas, base de análises, concomitâncias Deduções, diferenciações, inferências Comutações, associatividades, distributividades, Transposições, valências, aporias, antonomásias Sorites, metáforas, ironias, tautologias ~SOCRALISTÓTELES E O QORO DOS OPERÁRIOS DO TEATRO: Por que?! {Socralistóteles, com as duas mãos, tapa os ouvidos, tapa a boca e por fim tapa os olhos e dá as costas à ação, recolhendo-se ao pequeno barco. Os cegos seguem como zumbis, procurando por Satyrpan Abraxas, iluminado que dizem sentir estar próximo, do qual se alimentarão como vingança por ter falado de temas proibidos. Põem-se a falar a Oefro:} <Soam As Metamorfoses Devocionais, As Transtéticas Sensíveis e Os Qoros Impositivos.> ~MERKA JAH ZOHAR: Por aqui! {Tapa os olhos cegos.} O cheiro abominável da iluminação proibida. Cessará nossa sede, calará-se estas ignomínias! ~SARAH CLARA GAJA: Não existem aromas, flores! {Tapa os ouvidos.} Somos o perfume da sabedoria, rio! {Cheira o rio.} Nós, mestres ascencionados da fraternidade atlante Lhe ensinaremos a hierarquia da pirâmide circular! {Hárpias pousam na montanha de automóveis.} ~DAVI VUH CASTAÑEDA: “É preciso que nos diminuamos para que algo exista.” {Fala muda, enquanto tapa a boca.} <Somam-se As Metamorfoses Bélicas e As Transtéticas Formais.} {Oefro percebe que os cegos estão se aproximando de Satyrpan Abraxas da mesma forma que as estrela bailarinas fizeram com ela, então começa a desviar suas atenções com gasolina, cujo cheiro eles perseguem com desejo.} ~ALFIL ESÚ AVESTA: Seguimos pelos desertos, só há desertos {Tapa o peito com as mãos.} Este aroma de iluminação nos guia à música herege. Daqui ouvimos o canto da ave das aves, Quem ousou em tempos de miséria entoar cantos (de sabedoria)?


ॐ ~OEFRO (CATARINA CLEMENTE): Cantava eu, Oefro, pois descobri minha busca, O Elefante de Marfim. ~CASSANDRA T’TAR SUPAYALAT: Mentes dizendo a verdade. Tua iluminação ainda virá e escuta-me: Teu sacrifício será infindas vezes maior que o desta criança! Onde está a criança que não se prde com o pó de marfim!? Onde, esta que emana verdades simples e amor em cada gesto Que ousam ir contra os pilares da interfé?! {Um minotauro nada no rio.} ~OEFRO (CATARINA CLEMENTE): Está no rio do esquecimento. ~MERKA JAH ZOHAR: Por aqui! A continuação natural de nossa linhagem pura. Só necessita ter seu sangue extraído purificado pela doutrina. Nós e todos os outros animais Somos máquinas devoradoras de máquinas. {Merka Jah Zohar tenta subir no rinoceronte, mas Oefro impede.} <Somam-se As Metamorfoses Laborais e As Transtéticas Patéticas.> ~DAVI VUH CASTAÑEDA: “Sikh!”{Grito gutural emudecido enquanto decepa a cabeça de Isis Lichtenstein.} ~ISIS LICHTENSTEIN: Preto! <Somam-se As Metamorfoses Bailantes que vai tomando todo o espectro da emanação sonora até que se torne O Ruíd’Om sem Cor.> (Blackout.) [Os Funcionários do Teatro ensanguentam-se também.] <Soam carnes, vísceras, fezes, cabelos, corpos.> (As luzes retornam mais fracas. Huva de pedaços de carne , ossos, pelos, órgãos.) {Satyrpan Abraxas desce do rinoceronte de jade e se entrega aos cinco cegos que a destroçam e devoram o coração e a cabeça. Os restos de seu cadáver, enfiam em todos os orifícios de Oefro enquanto lhe falam:}


<Soa A Proúsica.> ~SARAH CLARA GAJA: Agora estão todos purificados e podem ser bons. (Imagens de museus vão se somando às de câmaras de artistas e gabinetes de curiosidades.) ~ALFIL ESÚ AVESTA: E tu, Oefro. {Em tom de desprezo.} Queres que te tiremos os olhos Para que não mais vejas as dores deste mundo Nem tenha que vislumbrar sua terrível sina porvir? ~OEFRO (CATARINA CLEMENTE): Não! Seguirei ouvendo até encontrar O Elefante de Marfim. ~CASSANDRA T’TAR SUPAYALAT: Blásfema! <Com voz diabólica, nonavadas acima e abaixo, num volume ensurdecedor.> {Os cegos partem em direção de Oefro, que se desvencilha dos restos de Satyrpan Abraxas e atira o galão de gasolina sobre a pilha de automóveis e sobe sobre o rinoceronte. Os cegos são atraídos pelo cheiro de gasolina até lá e se põem a tatear e conversam entre si:} ~DAVI VUH CASTAÑEDA: “A beleza há de salvar o mundo. Mas há de para isto destruir a humanidade.” {Fala muda} ~CASSANDRA T’TAR SUPAYALAT: Oefro! Teu corpo foi purificado! Tens a forma de automóveis! ~MERKA JAH ZOHAR: Um elefante! <Pausa e silêncio no tempo que determinar o maestro.> ~ALFIL ESÚ AVESTA: Que é um elefante? <Pausa dramática.> {Sangues sugas saem do rio que transborda bosta, sangue e petróleo sobre os pés de todxs. Uma lacraia cai nos ombros de Socralistóteles.} ~CASSANDRA T’TAR SUPAYALAT: As estruturas de um templo, um altar!


ॐ ~SARAH CLARA GAJA: Oefro se transformou pela disciplina e a submissão à doutrina em um elefante! Mas o que é afinal um elefante? Oh! Armas de guerra! Não... ~OS CEGOS RELIGIOSOS: <Em um Qoro Imperativo.> É marfim! Seu corpo se verteu numa enorme pilha de marfim! É meu! <Soa o primeiro movimento da ciberfonia O Elefante de Marfim.> {Ele começam a se digladiar entre si e se devorarem mutuamente. Socralistóteles rema o barco com o rinoceronte e Oefro montada para a outra margem do rio enquanto vêem uma capivara morrer enforcada num pneu sem que possam ajudá-la.} {Ao final da ciberfonia, as cortinas se fecham.}


17.1. Interterzo:

{O público sai para o saguão.} [Há uma mesa com um elefante feito de comida de todas as culturas humanas.] {A Orquestra deve editar os melhores momentos da gravação do Ato Primeiro para sua reexecução no começo do Segundo Ato.} {Os Operário do Teatro devem manter uma postura de que algo estranho está ocorrendo, parecendo receosos, zelosos e tomando cuidado com cada gesto e palavra.} {A Compositora da Ópera chega atrasada para o espetáculo, não se importa com a comida e já adentra à sala, onde se posiciona sentada e fica a observar com muita atenção todo o espaço e as pessoas que estão ali e chegam até o começo do Segundo Ato.} {A platéia é revistada antes de entrar no teatro para o segundo ato.} <Enquanto eles se sentam soa O Trovão Silencioso.>


ॐ 18. Segundo Ato {Rompimento}: Homenagem às obras de Sousândrade, Paul Laffoley, Alejandro Jodorowsky e Karlheinz Stockhausen Torre de Marfim, “o centro de compras da arte”, abandonado. Atlante Babelôn, deserto de concreto. Noite. Seco e quente, cheiro de verniz de embalagem.

[As duas cortinas estão fechadas.] {A Compositora da Ópera começa a narrar tudo o que se passa no teatro inteiro de maneira fria e sem comentários ou adjetivos, como se lesse o libreto, até o final do segundo ato.} ~A COMPOSITORA DA ÓPERA: Inicia-se o segundo ato. Os espectadores se sentam e aguardam as cortinas se abrirem. Algumas pessoas tossem. As luzes vão diminuindo e a primeira cortina se abre... etc. {A primeira cortina se abre.} <Soam as gravações do primeiro ato editadas pelA Orquestra junto aOs Filtros, que vão deixando o material cada vez mais palatável até que se torne uma música pop de musical à moda da Broadway.> {À frente desta, atada a uma cadeira de presas de marfim, Oefro é maquiada por Orlan Abramovic. A luz desenha o reflexo do espelho de um camarim sobre as duas.}


~ORLAN ABRAMOVIC: Um belo elefante há de ser rosa, para que sua brancura não se perca no museu. ~OEFRO (CATARINA CLEMENTE: O elefante de marfim! ~ORLAN ABRAMOVIC: Não existe tal coisa. {Com desdém.} {Orlan Abramovic cheira pó de marfim. Uma barata de terno entra pela porta principal do teatro e cruza até as cochias.} <O som do pó de marfim pode ser executado com um carrilhão dos graves aos agudos.> ~ORLAN ABRAMOVIC: Açúcares, absinto, álcool, amanitas, amt, ayahuasca, peyote, café, cannabis, anfetaminas, coca, datura stramonium... {Oefro começa a cantar em dueto, com complacência e ternura num múrmurio que vai aos poucos se tornando cinismo e ironia.} ~OEFRO: hidrogênio, hélio, lítio, berílio, boro, carbono, azoto, oxigênio, flúor, néon, sódio, magnésio, alumínio, silício, fósforo, enxofre, cloro, árgon, potássio, cálcio, escândio, titânio, vanádio, cromo, manganês, ferro, cobalto, níquel, cobre, zinco, gálio, germânio, arsênio, selênio, bromo, crípton, rubídio, estrôncio, ítrio, zircônio, nióbio, molibdénio, tecnécio, rutênio, ródio, paládio, prata, cádmio, índio, estanho, antimónio, telúrio, iodo, xénon, césio, bário, lantânio, cério, praseodímio, neodímio, promécio, samário, európio, gadolínio, térbio, disprósio, ~OEFRO: Hólmio, érbio, túlio, itérbio, lutécio, háfnio, tântalo, tungsténio, rénio, ósmio, irídio, platina, ouro, mercúrio, tálio, chumbo, bismuto, polónio, astato, rádon, fâncio, rádio, actínio, tório, protactínio, urânio, neptúnio, plutônio, amerício, cúrio, berquélio, califórnio, einstênio, férmio, mendelévio, nobélio, laurêncio, rutherfórdio, dúbnio, seabórgio, bório, hássio, meitnerio, darmstádio, roentgênio, copernício, ununtrio, ununquádio, ununpentio, ununhexio, ununséptio, ununóctio...


ॐ ~ORLAN ABRAMOVIC: Dmt, dob, dpt, dxm, efedrina, ghb, heroína, aet, capsaicina, adrafanil, ibogaína, kava kava, amt, ketamina, bufotenin, lsd, olanzapine, oxicodona, mdma, heroína, mescalina, dipt, aniracetam, dmt, dob, dom, alprazolam, bupropion, carisoprodol, codeína, psilocibina cubensis, etilcatinone, bz, pramiracetamina, amanita muscaria, ópio, ácido ascórbico, kratom, alcalóides, pcp, betel, álvia divinorum, tabaco, 2cb, mbdb, mate, mdai, mdpv, met, dmae, metiopropamina, metoxetamina, nicotina, nitrina, fluoxetina, hidrocodona, venlafaxine, fipexídia, piperazinas, meclofenoxatina, modafinil, oxiracetam, fenitoína, fenilanina, endorfina, dopamina, butanediol, peganum harmala, piracetamina, selegilina, chocolate, triptofan, teína, barbitúricos, 2ct2, bzp, vasopressina, vinpocetina, heroína, 2ct7, 5meo-dipt, diazepam, cristal, êxtase, glória da manhã... {Ao final do canto de Orlan Abramovic, Oefro se ergue da cadeira e brada:} ~OEFRO: O elefante de marfim! [Os Operários do Teatro atravessam o palco com obras renomadas da história da arte.] {A segunda cortina se abre.} (Cubo branco bem iluminado.) {Os Operários do Museu se separam dos Operários do Teatro e se põem a limpar o palco. Oefro se vira e os observá enquanto Ananse Teotihuacan costura a roupa de Oefro, uma camisa de força.} ~ANANSE TEOTIHUACAN: Fio, tinta, tom, trama, rapport, textura, tingimento, costura, linha, fibra, metragem, caimento, entrelaçamento, tear, fiação, xadrez, linho, algodão, tricoline... <Soa A Metaformose.> (Imagens de diversas formas geodésicas com linhas prateadas moldam a profundidade e a forma da sala em mapeamento de video.)


{Nyemeyer Bo fazendo origamis e Wagner Verdi se desprendem do maestro e dA Compositora da Ópera e seguem ao palco cantando e analizando o espaço cênico a ser montado.} ~NYEMEYER BO (E WAGNER VERDI): Prática arquitetônica (acústica sonora): Planialtimetria (audiometria), programa (programação), criação (transcriação), partido (orquestra), projeto (partitura), aprovação (crítica), executivo (soação), cronograma (ensaios), construção (gravação), ação (performance), azimutes (tons), coordenadas (escalas), cotas (arranjo), desejos (escutas), necessidades (ruídos), sensível (som), cognição (melodia), organograma (harmonia), fluxograma (progressões harmônicas), orientação (leitmotiv), antropologia (musicologia), percepção (audição), proporção (radiação, propagação), harmonia (estocástica), ritmo (pulso), função (música), forma (transmetria), escala (ponto de escuta), desenho (paisagem sonora), aprovação (duração)... (As imagens mapeadas dos diversos projetos começam a ter fluência e o espaço vai se tornando fluido.) ~NYEMEYER BO (E O MAESTRO DA ORQUESTRA): Espera (pausa). Desenvolvimento (pesquisa), impressão (allure), cópias (fractais), burocracias (métodos). Restrições (limites do audível). Alvarás (estilos) e etapas (modas). A coreografia do possível (dança sem coreografia). Maestria (aura), equipes (redes), previsão (devir), duração (improviso), terceirização (samples, citações), limpeza (decupagem), canteiro (entrescuta), gerenciamento (cibernética), ponto zero (silêncio), estacas (axiomas), infra-estruturas (harmonias contextuais), estruturas (nanoharmonias espectrais), lajes (ressonâncias espectrais), vedação (reverberação).... (Imagens de projetos arquitetônicos de museus do mundo se somam.) ~NYEMEYER BO (E O MAESTRO DA ORQUESTRA): Atrasos (delays, ecos). Aberturas (barulhos), elétrica (estática), hidráulica (paixões musicais), caixilharia (percussão, fonomia), piso (cultura aural pública), pintura (fonótica), louças (modulações), metais (sopros, cordas), acabamentos (libretos e videos), paisagens sociais (audível), ocup-ação (bioeco, interferência)...


ॐ {Percebendo a presença de Oefro ali amarrada, decorada e embrulhada para presente, Wagner Verdi toma os origamis que Nyemeyer Bo vinha dobrando e se põe a anotar sobre as linhas da dobradura.} (Em cima do espaço fluido, começam a flutuar palavras de editais e legislações de arte.) ~WAGNER VERDI: Jabá! (Cartas urbanisticas começam a se somar sobre o cenário, como linhas de forças cruzando o espaço.) {Orlan Abramovic se põe a maquiá-lo, Wagner Verdi cheira pó de marfim e Ananse Teotihuacan lhe põe uma peruca de coruja. Ananse Teotihuacan beija Orlan Abramovic.} (Imagens de notícias de jornais se somam nas projeções.) <Soa A Transônica e um som binaural que se movimento no espaço como um fio saido da cloaca de uma aranha.> {Ananse Teotihuacan faz a dança da aranha com fios que saem do cabelo de Wagner Verdi.} [ Os Operários do Museu passam a montar um púlpito de leilão de marfim.] {Jesus Moisés Sade e Shamash Mohammed, ao ver que não podem entrar começam a brigar. Ananse Teotihuacan finaliza sua dança com um movimento de braço que vai do teto ao chão. Oefro tenta escapar, mas...} ~ANANSE TEOTIHUACAN: Alfaiataria, moulage, estampa, padrão, flanela, urdume, cala, pente, sarja, cetim, jacquard, engomagem, trançado, agulha, alfinete, pigmento, corante, seda, cochonilha, indigueiro, alúmen, cromo, anilina, malha... [Um véu semi-transparente branco desce entre o público e a platéia que impede Oefro de fugir.] (O cenário arquitetônico fluido retorna ao fundo, mas agora começa a adquirir transparência deixando entrever um urbanismo também fluido.) (Infográficos de física são projetados entre a platéia e o palco.) {Nyemeyer Bo, se põe a observar o público, olhando- com distância. Wagner Verdi sobe ao púlpito e gesticula como um maestro regendo o palco e o público.}


~NYEMEYER BO: Zoológicos, astrolábios, palácios, senzalas, plataformas, galpões, casas, arranha-céus, praças, cassinos, bangalôs, canais, domos, cais, coretos, castelos, lagos, páteos, pirâmides, bibliotecas, aquedutos, hospitais, castelos, pontes, escolas, piscinas, ocas, andares, usinas, torres, arenas, labirintos, bares, mesquistas, ginásios, cofres, teatros... <A Orquestra se nega a tocar, pausa e silêncio de 1 minuto.> {O Maestro da Orquestra chama Os Tubarões Voadores cercam A Orquestra.} ~NYEMEYER BO: Portais, hotéis, estaleiros, iglus, fóruns, aedícula, moinhos, estufas, molhes, fortes, faróis, edifícios, templos, estradas, mausoléus, estádios, palhoças, cabanas, barragens, tetos, portos, museus, fontes, fornos, cemitérios, cárceres... [Os Funcionários do Teatro passam com animais enjaulados, culminando numa estante com frangos e galinhas.] {Uma esteira com cem jaulas com humanos sem canto começa a girar, enquanto aves lhes colocam trombas. Os Tubarões Voadores vão em direção de Nyemeyer Bo e a espancam. Ela geme de prazer cantando enquanto a orelha é pendurada. Aproveitando o afastamento dOs Tubarões Voadores, A Orquestra toca livremente.} <Soam As Critifonias Procedurais.> ~NYEMEYER BO: Cantoneira, gesso, policloreto de vinila, betume, tégula, cerâmicam macuti, tufa, fibra de vidro, cal, telha, calcária, vermelha, cobogó, metal expandido, painel canaletado, plastificante, estuque, veda-rosca, vergalhão, fritas, bloco, pedraornamental, luva de correr, telha romana, grama, aglomerante, areia, brita, concreto, revestimentos, adobe, escória, vidros, revestimento, ferro, cob, vidros forjado, taipa, celular, tirante, portas, tijolos, isolante térmico, carbono, coprocessamento, poliestireno, concreto, valor, ferro, cimento... [Uma orelha é pendurada num gancho e é erguida acima do púlpito como primeiro produto da noite.]


ॐ (Infográficos de química são projetados entre a platéia e o palco.) {Sob proteção dOs Tubarões Voadores, Os Operários do Museu vestem ternos pretos, se transformam nos Compradores de Arte e tomam seus lugares ao redor do púlpito. Saatchi Pax entra sussurrando, acompanhado de Adorno Morin Flüsser. Wagner Verdi faz um prâmbulo ao leilão, repetindo a gesticulação dO Diretor da Casa de Ópera ao agradecer no começo da ópera:} ~SAATCHI PAX: Belezas, missionários, papai e mamãe, barrigas, de quatro, bundonas, pica grande e negra, clitóris grande, pau gigante, peitões naturais, mamilos grandes, buceta na bicicleta, biquínis, rapidinhas, bissexuais, cadelas, bizarro, com os olhos vendados, loiras, boquetes, olhos claros, no barco, pintura corporal, lingeries, servidão, botas, saques, chefes, garrafas, sutiãs, suspensórios, noivas, morenas, correias, cócegas, apertadinho, humilhação higiênica, língua... ~WAGNER VERDI: Mais-valia, banco central, renda anistia, capital, produção, título de capitalização, imposto, caixa, bens de consumo duráveis, bird, papel-moeda, ombudsman, país, juros de mora per capita, {Apontando Adorno Morin Flüsser.} boicote econômico, alca, frete, abertura, tabela price, paraíso fiscal, marketing, crash, escravagismo, fazenda, taxa de câmbio, fatura, alienação fiduciária, produtividade, economia solitária de escala... (Infográficos de biologia são projetados entre a platéia e o palco.) {Os Tubarões Voadores voltam a cercar A Orquestra. Adorno Morin Flüsser se prosta ao lado do púlpito, aponta à orelha e passa a explicar a obra om citações. Os Compradores de Arte prestam atenção com interjeições entre si:} <Soam As Metamorfoses Devocionais.> (Infográficos de astronomia são projetados entre a platéia e o palco.)


~OEFRO (CATARINA CLEMENTE): Os deuses do crepúsculo! ~ADORNO MORIN FLÜSSER: Magnetismo, banditismo, paralelismo, evangelismo, ablativismo, favoritismo, realismo, feudalismo, pára-quedismo, puxa-saquismo, expansionismo, nazismo, igualitarismo, pós-modernismo, ilusionismo, estrelismo, existencialismo, escravismo, alarmismo, derrotismo, bipartidarismo, cinismo, behaviorismo, paganismo, anabatismo, escapismo, construtivismo, catolicismo, atomismo, liberalismo, saudosismo, hebetismo, regionalismo, antipapismo, africanismo, canibalismo, maneirismo, chauvinismo, funcionalismo, aristofanismo, malabarismo, gongorismo, congruísmo, sadismo, sionismo, materialismo, arminianismo, simbolismo, deísmo, montanhismo, analfabetismo, alpinismo, iluminismo, cubismo, concretismo, mutismo... ~COMPRADORES DE ARTE: 666% 4,669 13/1 mil e uma <Soam As Critifonias Subservientes.> ~ADORNO MORIN FLÜSSER: Tropicalismo, nomadismo, ufanismo, machismo, ruidismo, altruísmo, cacografismo, racionalismo, patriotismo, protestantismo, grecismo, sonambulismo, hedonismo, pluralismo, truísmo, companheirismo, nervosismo, fatalismo, enciclopedismo, despotismo, sentimentalismo, populismo, parasitismo, inatismo, unicismo, erotismo, sectarismo, capitalismo, modismo, oportunismo, tabagismo, iatismo, marxismo, estrangeirismo, paisagismo, automobilismo, cristianismo, antagonismo, vandalismo, pessimismo, academicismo, classicismo, secularismo, comunismo, reformismo, masoquismo, conformismo, arabismo, egotismo, profissionalismo, psicologismo, cromatismo, futurismo, humanismo, militarismo, mundanismo, parlamentarismo, nanismo, anarquismo, paludismo, empreguismo, peristaltismo, neologismo, curandeirismo, atletismo, ocultismo... {Um humano que parece um caracol de tantas coisas que carrega usa um instrumento de caçar borboletas enquanto tenta capturar as informações do vídeo. Murmurra sobre “Leda e os naturalistas”.}


ॐ ~OS COMPRADORES DE ARTE: Anúncio, budget, embalagem, celebridade, cliente, mostruário, royalty, slogan, spot, swot, teaser, top, fechamento, horáro nobre, matéria, reportagem, apresentação, design, promoter, ícone, agitador cultural, trendsetter, modelo, luxo, decoração, imagem, produção, layout, conforto, perfil, referência... {Wagner Verdi começa o leilão, apontando aos apostadores cada vez mais depressa. Os Compradores de Arte respondem com grunhidos:} (Fórmulas matemáticas são projetadas entre a platéia e o palco. Números se somam à projeção espacial ao fundo, criando uma arquitetura numérica.) ~WAGNER VERDI: Brainstorming, produto interno bruto, custos, pensão, demanda, juros, trabalho, sazonalidade, boleto, cartão de débito, incentivo fiscal, oferta, capital de giro, commodities, serasa, custos sociais, leasing, informal, merchandising, debênture, macroeconomia, organização, cartão de crédito, liquidez, fluxo de caixa, lobby, tigres asiáticos, cartel, autarquia, erário, falência, custos fixos, hipoteca, capitalismo, desequilíbrio, logística, royalty, hot money... ~OS COMPRADORES DE ARTE: Produto, mercado, concorrência, target, público-alvo, mailing, marketing, verba, patrocínio, posicionamento, apoio, público-alvo, peça, assessoria, imprensa, clipping, veículação, mídia básica, eletrônica, impressa, mix, marca, valor agregado, conceito, tendência, formato, identidade, status, tática... {Ao conseguir a compra, Damian “Banksy” Barney bate no peito e salta como um macaco demarcando território. Ruge como um leão enquanto é erguido nos ombro pelos outros Compradores de Arte. Emyr Elemér percebe Oefro e passa a fazer uma escultura igual a ela.} {Ananse Teotihuacan repete o gesto de braço do teto ao chão enquanto entoa um lamento:}


~ANANSE TEOTIHUACAN: Navete, lã, cânhamo, bordado, ponto cruz, palha, rede, retalho, sisal, gobelin, chita, urdidura, morim, bainha, barra, ziguezague, ponto, cruz, cheio, nó, corte, hardanger, desenho, bastidor, cadarço, molde, organdi, cambraia, juta, alinhavo, amarra... [A orelha é baixada.] {Damian “Banksy” Barney devora a orelha de arte. Emyr Elemér lhe canta:} ~DAMIAN BANKSY BARNEY: Propaganda! ~EMYR ELEMÉR: Isto está de pé aqui a milênios, {Apontando para o teatro todo.} Infinitamente ancestrais, sem nenhuma assinatura... Uma celebração à gloria divina e à dignidade humana, Elefantes... Só o que a maioria dos artistas conseguem perceber são humanos, nus Pobre saco de sem fundo, não há celebrações, Os cientistas seguem nos dizendo que esta vida é descartável, Vocês sabem, pode ser exatamente isto, Esta floresta de moléculas, uma glória anônima, Este cântico épico esvaziado, este coral desafianando o silêncio, Que escolhemos que ressoe aos ouvidos quando nossas cidades se converteram em prisões desertas, e a guerra cobrou o preço do preço Os de bom coração, choram os artistas mortos do passado presente Todas as nossas canções serão silenciadas Mas e então? ... Seguir cantando! (Infográficos da história da humanidade são projetados entre a platéia e o palco em alta velocidade.) {Os Compradores de Marfim discutem e Damian “Banksy” Barney tem seus próprios ouvidos devorados pelos outros Compradores de Marfim.}


ॐ ~OS COMPRADORES DE ARTE: Ad hoc, SPAM, arte final, vale brinde, promoção, mostruário, logomarca, gôndola, deadline, SPAM, cupom, biombo, SPAM, briefing, cartaz, SPAM, anúncio, SPAM audiência bruta, caixa alta, circuito aberto, SPAM workstation, SPAM, zoom, SPAM, tiragem timing, SPAM, SPAM, telemarketing, SPAM superposição, story board, SPAM, release, penetração, SPAM, mala direta, imagem de marca SPAM, sellout, fusão, editora, gravadora, diferencial, desconto SPAM, SPAM, SPAM, central de mídia... ~DAMIAN BANKSY BARNEY: Antimultipoliextragransupermegahipermaxultraintertransautopósprópropaganda! {Ananse Teotihuacan ri enquanto o enfaixa, Orlan Abramovic serve uma bandeja de pó de marfim a fim de acalmar Os Compradores de Marfim.} (Infográficos da história da arte e da ópera são projetados entre a platéia e o palco. Alguns grifos de tigres voam na lateral do palco.) <Soam bolsas sonificações de dados: terremotos, bolsas de valores, dados populacionais.> {Orlan Abramovic puxa Oefro e a pendura no gancho. Ela é erguida enquanto Emyr Elemér acena-lhe e finaliza sua cópia. Ao vê-la, Saatchi Pax se apaixona. Ele não tirará os olhos dela até que termine o leilão, lambendo os beiços. Os Tubarões Voadores se dirigem a Emyr Elemér, mas não ousam tocá-lo, porém destroem sua cópia de Oefro. Adorno Morin Flüsser apresenta-na:} ~ADORNO MORIN FLÜSSER: Autodidatismo, concretismo, relativismo, automorfismo, adventismo, positivismo, judaísmo, tecnicismo, otimismo, astigmatismo, dadaísmo, triunfalismo, cavalheirismo, microssismo, neocolonialismo, esoterismo, diletantismo, fetichismo, pedagogismo, expressionismo, individualismo, apriorismo, socialismo, mecanismo, metamagnetismo, epicurismo, aforismo, panteísmo, eufemismo, expressionismo, hibridismo, feminismo, evangelicalismo, conceitualismo, autoritarismo, biotropismo, nacionalismo, virtuosismo, quixotismo, silogismo, artificialismo, latinismo, espiritismo, umbandismo, helenismo, puritanismo, botulismo, casuísmo, silabismo, heroísmo, narcisismo, isomorfismo, fanatismo, nepotismo, comensalismo, caudilhismo, antropocentrismo, corporativismo, dimorfismo, mercantilismo, amadorismo... {Emyr Elemér deixa o palco, escoltado pelOs Tubarões Voadores, sussurrando. Wagner Verdi reinicia o leilão, os Compradores de Marfim estão agitados e grunhem:} ~EMYR ELEMÉR: Welles, Welles, Welles...


~WAGNER VERDI: Empresa, capital aberto, câmbio, renda, dumping, grilagem, casa da moeda, joint-venture, subsistência, competência, ágio, orçamento, custo de vida, caixa econômica, sociedade anônima, custo benefício, dívida, autarquia, depreciação, balança comercial, isenção, capital fechado, penhor, regime, inflação, taxa de câmbio, custos indiretos, factoring, deságio, bolsa de valores, remissão, dívida, spread, cesta básica, carga tributária, moratória, insolvência... ~OS COMPRADORES DE MARFIM: SPAM, SPAM, SPAM, SPAM, SPAM, SPAM, SPAM, SPAM, SPAM, SPAM, SPAM, SPAM, SPAM, SPAM, SPAM (Ao fundo as arquiteturas e urbanismos em linhas, mas agora ambos se transparentizam deixando entrever estrelas negrar no fundo branco.) {Saatchi Pax aumenta vertiginosamente os valores, fazendo com que todos os outros Compradores, à excessão de Damian Banksy Barney, desistam do leilão.) ~WAGNER VERDI: Estatal, terras devolutas, terceiro setor, penhora, monopólio, microeconomia, socialismo, risco, consignação, inadimplência, cancelamento de lançamento de tributo, contribuição de melhoria, dividendo, mercotudo, bens de capital, oligopólio, bens, serviço de proteção ao crédito, duplicata, dívida eternal… ~SAATCHI PAX: Adorável, africanos, idosos, alienígenas, todos buracos, amadores, amputados, anal, gozo anal, dilatação anal, punho anal, uniformes, bundas, cu na boca, dedo no cu, anal com história, fezes, animais, bebês, babás, sentada no colo, banana, espancamento, barras, trotar, taco, banheiro, espancamento, tortura, contas de vidro, ursos, anões, topless, feios, vegetais, molhadinhas, chicote, selvagem, exercício, adoração, luta... ~DAMIAN BANKSY BARNEY: Antimultipoliextragransupermegahipermaxultraintertransautopósprópropaganda!


ॐ (Infográficos sobre o mercado da arte são projetados entre a plateia e o palco.) {Adorno Morin Flüsser explica. Saatchi Pax e Damian Banksy Barney dançam um pas de deux. Que termina com a vitória de Saatchi Pax:} ~SAATCHI PAX: Brutal, bukkake, mulher de negócios, adolescentes, gaiolas, capôs de fuscas, desenho animados, roupas de vinil, tortura de caralhos, celebridades, acorrentados, orgias, chefes de torcida, gordos, cigarros, braçadeiras, salas de aula, clitóris, closes, palhaços, colegiais, universitárias, competição, policiais, espartilhos, calcinhas de algodãos, casais, vaqueiros, trios, crianças, chicote, pós porns, pepinos, espermas, gargantas profundas, secretárias, fraldas, dildos, sujeiras, palavras feias, médicos, cachorrinhos, bonecas, dominação, anal duplo, boquete duplo, fisting duplo, penetração dupla, bebida alcoólica, drogadas, babando, masmorra, emos, enemas, exibicionistas, sentado no rosto, seios falsos, gordas velhas, pés, ejaculação feminina! ~WAGNER VERDI: Custo, just in time is, companhias, bitributação, esquema pirâmide, nota fiscal, fundo monetário, holding, custos variáveis, depreciado, externa, anônima, pública, deflação, comissão interna, carência, apreciado, bolsa de mercadorias, tributo, custo de oportunidade, seguro, monopólio… ~ADORNO MORIN FLÜSSER: Vocalismo, ciclismo, islamismo, estrabismo, extremismo, nudismo, absintismo, evolucionismo, abstracionismo, teísmo, platonismo, equilibrismo, jornalismo, dadaísmo, empirismo, sincretismo, protecionismo, papismo, criacionismo, eletromagnetismo, traumatismo, cinismo, totalitarismo, imperialismo, formalismo, presidencialismo, rotacismo, ativismo, gregarismo, electrogalvanismo, transsexualismo, autometamorfismo, halterofilismo, monoteísmo, esnobismo, budismo, cubismo, holismo, mecanicismo, (Imagens de televisores sendo desligados no fundo.)


{Saatchi Pax toma Oefro em seus braços e sai do palco recebendo tapinhas nas costas de Nyemeyer Bo e Wagner Verdi. Os Compradores de Marfim revoltados arrancam o púlpito e destroem-no, rindo. Dos destroços, Damian Banksy Barney faz uma estátua de Oefro tosca. Os Compradores passam a adorá-la e imitam os movimentos e as roupas e os trejeitos de Wagner Verdi. Adorno Morin Flüsser segue explicando-na:}

~ADORNO MORIN FLÜSSER: Psiquismo, aeromodelismo, egoísmo, onanismo, aspermatismo, coletivismo, preciosismo, actinomorfismo, misticismo, egocentrismo, raquitismo, satanismo, neopentecostalismo, charlatanismo, colonialismo, absolutismo, aristotelismo, fascismo, reumatismo, charadismo, imediatismo, xenofobismo, alcoolismo, calvinismo, consumismo, abismo... [O tecido entre público e plateia é recolhido.] <Soam telejogos.> {Uma lesma sobe a escultura tosca. Ananse Teotihuacan e Orlan Abramovic, aproveitam enquanto eles se abaixam em reverência e roubam a “obra de destroços”. Ao perceberem, Os Compradores de Marfim devoram Damian Banksy Barney.} ~ANANSE TEOTIHUACAN: Caseado, laço, dedal, novelo, teia, tecido, botão, renda, crochê, fita, velcro, veludo, gorgurão, entretela, lantejoula, franja, babado, viés, prega, bolso, cós, forro, gola, punho, roca. (Blackout.)


ॐ <Soam apitos e chamarizes de animais diversos.> (O negror dá lugar a uma mensagem em código morse estroboscópico: “..-. . ... - .-- .- ... ... .- -.-. .-. . “, sendo seguida de imagens de códigos de barras, que agem como grades de uma prisão.) {Oefro está nua de novo e retira pedaços de obras de arte famosas de seus orifícios. Os Artistas estão de quatro escrevendo em minúsculos papéis, do tamanho de ecrãs de telefones celulares. Eles entoam um lamento escravo para manter o ritmo:} ~OS ARTISTAS: Marfim! Marfim! Marfim! Marfim! Marfim! Marfim! Marfim! Marfim! ~OEFRO: O Elefante de Marfim! <Uma sirene toca e música eletrônica pop soa em volume ensurdecedor.> {Os Tubarões Voadores entram e espancam Os Artistas.} {Os Artistas olham para Oefro com raiva e voltam a cantar, como que mostrando para ela como se faz.} ~OS ARTISTAS: Marfim! Marfim! Marfim! Marfim! Marfim! Marfim! Marfim! Marfim! ~OEFRO: O Elefante de Marfim! <Uma sirene toca e música eletrônica pop soa em volume ensurdecedor.> {Os Artistas param de trabalhar e a cercam, com excessão de José Merrick que segue carregando água numa peneira. Eles a intimidam com um profundo silêncio.} ~A COMPOSITORA DA ÓPERA: Senhoras e senhores, eu gostaria de apresentá-los o Senhor José Merrick, o Homem Elefante. Antes de fazê-lo eu peço-lhes que por gentileza preparem-se, se segurem para presenciar o que talvez seja o mais impressionante ser humano a jamais ser trazido à respiração da vida.


<Pausa de um minuto.> ~OS ARTISTAS: Marfim! Marfim! Marfim! Marfim! Marfim! Marfim! Marfim! Marfim! ~OEFRO: Mar! {Sentido que a sirene irá soar caso ela não termine a sentença, José Merrick se levanta e brada:} ~JOSÉ MERRICK: Fim! {Os Artistas vão ficando em segundo planto enquanto cantam mais alto o lamento obrigatório, de modo a que as máquinas não percebam que Oefro e José Merrick conversam:} ~JOSÉ MERRICK: Ainda sonhas! ~OEFRO: Como o sabes? ~JOSÉ MERRICK: O Elefante de Marfim! {Eles se olham com paixão. Wagner Verdi entra com um prato servido com merda do Rio Morto. Para não serem notados, Oefro e José Merrick passam a falar como se estivessem tomados pelo pó de marfim.} ~WAGNER VERDI: Tomem! Bebei e comei, é mais do que merecem! ~OEFRO (E JOSÉ MERRICK): {Wagner Verdi os percebe conversando e mostra o rosto de José Merrick a Catarina Clemente, que sai do transe do espírito de Orfeu.} ~WAGNER VERDI: Olhai-o nos olhos! Teu espírito! Teu corpo amado! (Infográficos sobre a própia ópera “O Elefante de Marfim” são projetados entre a platéia e o palco.) ~OEFRO: Por que te prenderam?


ॐ {Alguns Operários do Museu vestem máscaras de Hienas e se colocam a chorar aos fundos uma canção que se soma aos demais sons:} <Soa D’Emons.> ~JOSÉ MERRICK: Eu compunha uma ópera singela. E a ti, musa amável, por que te tiraram a poesia dos lábios? ~OEFRO: Por ser. Que querem de mim? Que querem de ti? Que querem de nós? ~JOSÉ MERRICK: Querem querer! Que aparentes e pereças Toda felicidade será castigada Querem apenas a ópera Geram o sofrimento Então vendem o alento Mas que não haja vida Isto é tudo e não é nada Veja-os! Não percebem que estão no espetáculo! {Apontando para Os Operários do Museu.} ~A COMPOSITORA DA ÓPERA: Notem a metalinguagem tomando proporções inusitadas na ópera... etc. ~OEFRO: Por que não se rebelam? ~OS ARTISTAS: {Uma palavra por voz.} Aqui há conforto Lá fora lixo e esgoto Nossas belobras podem mudar O mundo daqui de dentro, depois lá ~OEFRO: Por que ainda não o mudaram? Se vossas mãos não estão atadas, Por que cobrem seus rostos? Como perderam seus focos? <Soa A Vingança dos Elefantes e pausa.>


~JOSÉ MERRICK: Eles me pediram uma obra prima! Te aprisionaram para ser musa, mas não minha Ó destino! A única obra que minhalma avista É a fuga e a luta! Contra estes desejos exacerbados Que nos unem aos que nos tolhem, anestesiados Abramos os olhos e o coração, Artistas! (Imagens de cortinas se fechando.) <Soa O Tempus Fugit.> {Os Artistas retiram seus capuzes e por baixo eles têm máscaras de elefantes brancos. José Merrick se desnuda, deixando entrever seu corpo todo deformado. Oefro o beija e depois o recobre com uma roupa de espelhos, ele então canta um brado a todos os Operários do Teatro junto aOs Artistas:} <Soa A Operária.> ~JOSÉ MERRICK: Todas nós, operárias! Uma só. A mesma obra! O mundo todo, nossa fábrica! Cidades carcerárias, nossas senzalas! Escravos de nossos produtos! Alimentando-nos das sobras De nossos padtrões brutos! Sempre operantes, com medo e ódio! Ócio! Todos nós, operários! {José Merrick e Catarina Clemente se abraçam dentro da vestes de espelhos, uma centelha de luz se esvai dela. As cortinas começam a se fechar enquanto Os Artistas invadem as cadeiras da ópera caminhando sobre a platéia. Os Operários do Teatro continuam entoando o hino enquanto as portas se abrem.} {Hienas devoram Os Operários vestidos de hiena rindo. Catarina Clemente vestida em flores, para na boca de cena e canta a canção de Museu e as Musas para a plateia à capella. É como se ela visse o espírito de Orfeu pairando sobre a plateia, atravessando-lhes:} <Soa A Muséica ou A Oéfrica Inumana.> ~CATARINA (DIOTIMA) CLEMENTE: Juras disse antes que ouvisse. Todas as musas enamoradas de meu Museu! Canções de Eumênides, Hárpias e Fúrias! Ouvi então os augúrios seus. Não me deixam jamais esquecer! Por todas as vidas que me venham ainda! Sou eu a Górgona pelas Sereias maldita Coração arrogante de amor em paixão pura Antes de ouvir já terno disse: Eurídice! Eurídice! Te acompanho no inferno! {Com voz gutural e grotesca.}


ॐ 18.1. Interterzo:

{A Compositora da Ópera permanece na sala. O Diretor da Casa de Ópera se aproxima dela.} {O público é proibido de sair da sala de espetáculo e música de festa começa a tocar. ~JOSÉ MERRICK: Quando perguntam, digo que não sei.. ~CATARINA CLEMENTE: Quando respondem, duvido. ~OEFRO: Nenhum deles percebe, podem ser honestos.


19. Ato Final {Muito Rápido}: Homenagem às obras de Hilda Hilst, Julie Mehretu, Andrei Tarkovsky e Masami Akita Cemitério de Elefantes, favela no morro de Lemúria Guantánamo que é cercado pelo lixão. Biblioteca na Ocupação dos Sem-Arte. Madrugada à alvorada. Temperatura altamente variável, odores diversos.

{Os Funcionário do Teatro convidam o público a subir no palco, onde uma mesa de banquete os espera, vazia. Ull Zougo Sedna Chalchiuhtlicue está à esquerda do palco digitando aleatórias teclas num aritmo. Chacra Sosa Spinosa prepara uma comida e com a chegada do público se alarma. Ubugnu Ugnix observa as estrelas e monta uma maquete da cidade enquanto a ajuda. Catarina (Pagu) Clemente está soturna, de cócoras chocando um ovo, ao fundo e centro do palco, sobre um monte de lixo, cercada por baratas que giram em círculos ao seu redor a impedindo de se mover. Oefro está de asas abertas atrás dela, velando-lhe. José Merrick, ora se põe a recompor a figura de um elefante com uma pilha de marfim que pegaram de museus e noutra cuida de um jardim de pó de marfim.} [Todos os objetos reais são aumentados com dados sobre eles o tempo inteiro, como poesias flutuado sobre seus sentidos gerando uma internet das coisas.] {A Compositora da Ópera e O Diretor da Casa de Ópera começam a discutir:} ~O DIRETOR DA CASA DE ÓPERA: Isto está saindo dos limites! Precisamos parar a ópera agora mesmo! ~A COMPOSITORA DA ÓPERA: Vai terminar tudo bem... ~O DIRETOR DA CASA DE ÓPERA: Como assim!? Estamos presos aqui agora!


ॐ Sem contar esta desmesura de violência gratuita! ~A COMPOSITORA DA ÓPERA: Você bem sabe que nada aqui é gratuito... {O olhando nos olhos.} (Neste ato, todos os vídeos são chuvas que também são cachoeiras, ao mesmo tempo cobrindo as paredes do teatro de ópera e caindo como um abismo sobre a mesa do banquete. A chuva inicia com comida.) ~CHACRA SOSA SPINOZA: Não há comida para todxs. ~OS OPERÁRIOS DA ARTE: Pó de marfim, pra manter a horda de ovelhas zumbis, aqui e ali, trabalhando. ~CATARINA (HELENA) CLEMENTE: Nós nos naufragamos. As artes de Circe nos transformam em porcos. [Todos os materiais usados no cenário dos outros atos passam a ser amontoados no palco, aberto à interação do público.] {Uma centopéia pousa nos ombros de Catarina (Hilda) Clemente. Os Operários da Arte passam a discutir o que será feito com o marfim e Chacra Sosa Spinosa prossegue a alertar da falta de comida:} ~OS OPERÁRIOS DA ARTE: {Uma palavra por voz.} Semear o pó na água, na terra e nos ares Fazendo crescer os coelhos que geram sangue e carne. (Nuvens de lixo se movem por todo o espaço, vagarosamente. A cachoeira segue sendo de comida, preferencialmente com embalagens agora, como bom-bons.) ~CHACRA SOSA SPINOZA: Mal há comida para nós. ~CATARINA (ESTAMIRA) CLEMENTE: As crianças de Clitemnestra bailam as lápides... Demôndeva asuragni harappan! Fogorio, essência d’água... ~JOSÉ MERRICK: Que ritmos seguram-nos em nossas redes? ~OS OPERÁRIOS DA ARTE: Pensam tanto que se esquecem.


<Ode Ao Lixo.> (Chuva e cachoeira de lixo.) ~CHACRA SOSA SPINOZA: Quem limpa a louça? Haveria sido o primeiro impuro? Quem varre o chão? Face animal... Quem cuida do lixo de todos nós? Ao cuidador sempre a servidão voluntária Cadeia de poderes!

{Chacra Sosa Spinosa joga pó de marfim na comida e a serve, como ela experimenta se vê entorpecida de confusão. José Merrick ao perceber isto, eviscera-se e põe suas tripas no caldo e continua guardando o marfim para que nenhum dOs Operários da Arte se aproximem dele.} ~JOSÉ MERRICK: Esquivar-me da gangue a goela aberta das feras de acordes gramaticais e instrumentações musicais. ~OS OPERÁRIOS DA ARTE QUE SE TORNARÃO OS DOZE MACACOS: Entre lobos uive. ~OS OPERÁRIOS DA ARTE QUE SE TORNARÃO OS TUBARÕES VOADORES: Falas suaves poesias de pássaros de árvores intumescido como se à república idônea dos colóquios sufis... E não entre a escória dos descedentes de Esopo! {Um panda e um koala, transando, devoram quatro besouros.}


ॐ ~CHACRA SOSA SPINOZA: Fígado, pulmão, veia, cloaca, artéria, guelra, mandíbula, coxa, glândula, unha, garra, bico, pena, pele, útero, costas, membrana, dedo, rabo, pata, pé, ventre, vesícula, Focinho, cabeça, dentes, boca, labirinto, umbigo, falo, ombros, dedos, estômago, córnea, barbatana, tromba, pescoço, crina, casco, escama, pelo, esqueleto, baço, ânus, Braço, pulso, bexiga, crânio, ovário, sangue, saliva, orelha, asa, púbis, testículos... {Devorando a cabeça de um Rato Acadêmico, fazendo-os parar.} {Clara Crocodilo chega correndo, segundo ela, fugindo dOs Tubarões Voadores que a perseguem. Ela corre na direção de Chacra Sosa Spinosa. Ubugnu Ugnix a observa com cuidado e vai acolhê-la. Ela se encontra alterada devido ao pó de marfim. Logo após, chegam Os Ratos Acadêmicos com mandato de desocupação da favela e de captura de Clara Crocodilo.} ~CLARA CROCODILO: Fetiches, primeira vez, fisting, carícias, quatro dedos, sardas, homossexual, glamour, óculos, buraco da glória, luvas, chuveiro dourado, deslumbrantes, góticos, vovózinhas, grupal, carecas, sem pêlos, cabeludos, braços peludos, algemada, masturbação, gostosas, (Os personagens são focados em recortes, como quadrinhos. Chuva e cachoeira de jóias e brilhantes.) ~CLARA CROCODILO: fortes, hardcore, hentai, hermafroditas, salto alto, prostitutas, enfermeiras, donas de casa, humilhação, hipnotizado, indianos, inocentes, inserção, penetração, prisão... {Uma lhama conta corvos.}


~CHACRA SOSA SPINOSA: Cauda, retina, joelho, crista, ovo, óvulo, esperma, placenta, veneno, glândula parotóide, neurotoxina, costela, nuca, artérea, cabelo, intestino, Músculo, olho, juba, nadadeira, cotovelo, sobrancelha, cílio, tímpano, cerebelo, córtex, coxis, clitóris, antena, língua, celoma, fêmur, tarso, tíbia, tubulos, traquéia... ~UBUGNU UGNIX: De códigos há mar! ~OS RATOS ACADÊMICOS: Fim nosso! Meu! Nosso, todo meu!

{Os Operários da Arte se dividem a favor (Os Doze Macacos) e contra (mais Ratos Acadêmicos), que passam a opinar na discussão do que fazer com o marfim. Clara Crocodilo tenta roubar o pó de marfim e Ubugnu Ugnix a contém. Já sem saber como a conter, ele a beija. Os Ratos Acadêmicos ameaçam toda a ocupação por causa da presença de Clara Crocodilo. Entorpecido pelo pó de marfim dos lábios dela, Ubugnu Ugnix tenta a defender em vão:} ~UBUGNU UGNIX: Modelização, culturalização, assimetria, dialogismo, estranhamento, gênero, ecologia cognitiva, memória, interação social, estruturalidade, logosfera, língua, linguagem, máquina...


ॐ ~OS RATOS ACADÊMICOS: Marfim! Cangurus sem bolsas! Sementes para frutos sem semente! (Chuva de engrenagens e peças de máquinas. A cachoeira é o olho de um triturador ligado.) ~CLARA CROCODILO: Suculento, selva, bucetas peludas, oleosos, beijos, lactantes, travestis, látex, couro, pernas, lésbicas, batom, pirulitos, máquinas, empregadas, máscaras, massagens, punhetas, minissaia, modelos, mumificação, musculosos, nerds, nus, freiras, ninfas, de joelhos, oral, beber mijo, punks, arrombamentos, lábios, exame retal, ruivas, retro, equitação, seios caídos, timidez, silicone, escravos, cadelas, pica pequena, fumantes, sofá, espancamentos, esguicho, submissos, sucção, banhos de sol, swingers, doenças, bronzeadas, tatuagem, professoras... (Joaninhas pousam em seu corpo.) ~OS RATOS ACADÊMICOS: Pombinha branca, que estás fazendo... ~UBUGNU UGNIX: Culturas, comportamento, recodificação, heurística, caixa-preta, semioticidade, sociosfera, sincretismo, sistema, modelo, convencionalidade, texto, ideologia, programa, refração, cibernética, relatividade, tipologia, tradução, transferência, universais, códigos... Códigos! <De Superficialis.> (Chuva de papéis. Cachoeira de vômito. Os papéis, viram roteiros, viram gibis, viram balões com onomatopeias.) {Chacra Sosa sente a abstinência do pó de marfim e passa a beijar Ubugnu Ugnix.} ~OS RATOS ACADÊMICOS: Fim! Budas plásticos!


{Ubugnu Ugnix vira sua luneta contra Os Ratos Acadêmicos e contra Os Doze Macacos. Alguns dOs Doze Macacos e dOs Ratos Acadêmicos mostram ser, na realidade, Os Tubarões Voadores. Clara Crocodilo desmaia nos braços de Ubugnu Ugnix. Chacra Sosa Spinosa a olha nos olhos e, vencendo seu ciúmes por Ubugnu Ugnix, passa a sugar-lhe as feridas do pó de marfim e a cuspir numa taça de cristal.} ~OS TUBARÕES VOADORES: Imperador, rei, rainha, regente, princesa, príncipe monarca, príncipe imperial, príncipe real, grão-príncipe, príncipe, infante, arqueduque, grão-duque, duque, conde-duque, marquês, conde, conde-barão, visconde, barão, comendador, senhor, baronete, cavaleiro, escudeiro... ~OS DOZE MACACOS: Na ponta da água escura há o verme esticado. {Ubugnu Ugnix mistura pó de marfim ~CHACRA SOSA SPINOSA: Palpo, articulação, tendão, faringe, laringe, cérebro, pênis, vagina, coração... <Aracnomania em paralelo.> ~OS RATOS ACADÊMICOS: A Dona Aranha quis desenrolar uma bola de cabelo em uma linha reta e seguiu destecendo por tanto tempo que já não se lembrava onde começou toda aquela conta de incontáveis matemas... (Chuva de satélites. E a cachoeira faz a mesa parecer uma parabólica com água turva.) {Clara Crocodilo desperta, beija os dois e canta a todxs o real motivo pelo qual todos estão chegando na favela:} ~CLARA CROCODILO: Escutem, seus vermes! {Rindo dOs Tubarões Voadores e Ratos Acadêmicos.} A Aqui é o último refúgio contra o inominável, Que tudo que parece humano destrói. Mesmo Tiamat foge dela com medo. Estes covardes já não servem a ninguém Como ele querem atirar os cadáveres de inocentes para acalmar a besta. Não há sacrifício que seja aceito de mãos sujas. Mas por este amor que aqui encontro, Nestes que assim me olham sem cobranças ou culpas Estou disposta a deixar de fugir e resistir convosco! {Dando as mãos a Ubugnu Ugnix e Chacra Sosa Spinosa. Esta última abre os braços como asas e numa transmutação visível a todxs se converte em Meredith Pachavuela.} <Soa uma gravação de rádio da sirene do segundo ato, bem ao fundo.>


ॐ ~OS TUBARÕES VOADORES: Presidente, vice-presidente, governador, vice-governador, secretário, prefeito, vice-prefeito, deputado, senador, vereador, papa, cardeal, patriarca, arcebispo, bispo, padre, vigário, monsenhor, cónego, arquimandrita, freira, beata, almirante, marechal, vice-almirante, general... (Chuva de todas as notas de dinheiro do mundo. Cachoeira de dinheiro elefante. Fogo de mariposas.) {Laika cai dos céus junta a um satélite. Clara Crocodilo vê e se põe a caminhar sobre Os Ratos Acadêmicos para pegá-la em seus braços.} ~OS DOZE MACACOS: Somos todxs cobaias! A arca de noisé feita câmara de tortura... <Soa O Sotaque Fonético ou Os Qoros Imprevistos.> ~UBUGNU UGNIX: Quetzacoatleviatan Seshanaga Longryu! ~OS RATOS ACADÊMICOS: Perdoem-nos! Precisamos de vossa ajuda! Trazemos uma solução, porém! (Chuva de borboletas que viram chaves. Cachoeira de Origamis que viram flores de parafusos.) {Alguns entram em pânico e todos passam a discutir como se proteger da ameaça. José Merrick e Ubugnu Ugnix enfrentam Os Tubarões Voadores. Ubugnu Ugnix cospe o veneno de marfim na maquete da cidade e José Merrick volta ao seu ofício. Os Tubarões Voadores se enfurecem e agitam seus cacetetes, Os Ratos Acadêmicos agitam seus diplomas, Os Doze Macacos se entrealgemam. Ubugnu Ugnix é intimidado e Os Tubarões Voadores comemoram sua vitória, enquanto Os Ratos Acadêmicos dizem, montados em seus ombros, o que deve ser feito:}



ॐ ~OS RATOS ACADÊMICOS: Vamos soltar A Nuvem de Faganhotos! ~OS DOZE MACACOS: Tão incompleto quanto um virus, nós. Tudo pronto para a solução inicial. O sofrimento fictício há de ser nosso Faremos obras magníficas a este respeito. {Olhando para A Compositora da Ópera.} ~OS RATOS ACADÊMICOS: Mono ateísmo! {Cometas cruzam o céu sobre áries que atravessam o palco. Todos olham à cena perplexos. José Merrick encontra uma espada de marfim fincada no lixo.} <Soa Kyrie Walk Iris.> ~OS TUBARÕES VOADORES: Major, brigadeiro, capitão, coronel, tenente, aspirante, cadete, subtenente, cabo, grumete, soldado, bruxa, feiticeira, cornaca, aspirante, pai de santo, monge, lama, dalai lama, mestre, profeta, professor, bedel, domador, maestro, diretor, acessor, vigia, sábio, xamã, santo, deus... ~OS DOZE MACACOS: Areias movediças para o possibilismo... {Musth Setoth Tiamat chega montado em flor de lótus sobre O Último Elefante, arrastando Vênus Hotentot detravés da platéia. Os seguindo vem Jesus Moisés Sade arrastando Shamash Mohammed, que conversam entre si nas cadeiras, como se estivessem no deserto. Meredith Pachavuela senta-se ao chão, em posição de lótus, ao lado de Ull Zougo Sedna Chalchiuhtlicue e medita, Clara Crocodilo a segue. Ubugnu Ugnix estuda O Último Elefante com sua luneta-flauta.} <A Vingança dos Elefantes terminando com um mantra OM.> ~MUSTH SETOTH TIAMAT: Sabem quem sou. Que me traz. Aonde vou. Os que lutarem matarei mais depressa. ~VÊNUS HOTENTOTH: {Lunática.} Dragões de Éden e Putas de Elêusis! Esculturas arrancadas do Parnaso por... {Se cala engasgando com um puxar das correntes em seu pescoço.}


(Chuva de dígitos zero e um. Cachoeira goteja sangue.) {Contra seu comando, O Último Elefante se aproxima de José Merrick, afastando os insetos ao redor de Catarina (Anita) Clemente que se levanta e lhe toca à tromba. Os Operários do Teatro passam a dançarao redor do público. O animal se prostra em reverência. Musth Setoth Tiamat berra ao animal que solta grunhidos contra este. Oefro se ergue e abre as asas sobre todxs. Apaixonado por Catarina (Carmen) Clemente, Musth Setoth Tiamat, declara desistir de destruir a todxs se ela fugir com ele:} ~MUSTH SETOTH TIAMAT: O mar vindo do céu!!! Fogo lento, água seca.. Poeira de luz em magnetes Náufragos, não ouvimos seus gritos! ~VÊNUS HOTENTOTH: {Louca.} Micróbios químicos e ceifas bélicas Enxofres e mercúrios Albedos e nigredos Vesséis de larva viva! ~CATARINA (CURIE) CLEMENTE: É inevitável! <A Vingança dos Elefantes terminando com trovão e raio.> {Chuva de raízes fractais. Cachoeira escorre sangue.} ~MUSTH SETOTH TIAMAT: Nas margens não há abrigo Sangue negro, coração mecânico Sonhos sem imagens, peste sem delírio E nos engole o som das trevas <O Massacre Elefantino.> ~CATARINA (SAFO) CLEMENTE: É inevitável! {Musth Sethoth Tiamat aponta sua arma de elefante contra o sexo de José Merrick. Josefina Hamlin percebe a chegada de Quetzacoatleviatan Seshanaga Longryu. Os Ratos Acadêmicos dançam o carrossel vertical blindado (rodinha de camundongos) erguendo a bandeira com o rosto de um dodô, brindando e produzindo sua solução química ao redor dOs Operários do Teatro. Catarina Clemente se despede de José Merrick:} ~OS RATOS ACADÊMICOS: Fantasmas sem fantasias, o marfim é nosso! (Números se somam à chuva de raízes fractais. A mesa está quase tomada por sangue.)


~OS DOZE MACACOS: Aquele que, ignorando à pintura Entra no ateliê de alguém que pinta E fala de pintura Torna-se objeto de muitas zombarias. ~CATARINA (DIOTIMA) CLEMENTE: Você merece uma escrava como amante, monstro, Para que te lembres, e nunca esqueças, de tua deformidade. Não a conseguirás largar nem mirar-lhe a beleza, tua lascívia é teu pior vício. E não hás de saciar-te nunca com ela! E eu hei de ser feliz! ~OS RATOS ACADÊMICOS: Aquele que, sem ter sido eleito, Ingressa numa confraria de artistas ‘profissionais’ E se faz de gênio em grandes gestos bondosos É objeto de zombaria! ~JOSÉ MERRICK: {Sussurrando.} Melhor não trazer um leão para dentro da cidade podem haver cavalos dentro a este Mas se necessário fôr, Então agrademos-no em todos os seus humores. ~OS DOZE MACACOS: Aqueles que se apresentam à arte


{Catarina Clemente pede que Musth Setoth Tiamat se desfaça de Vênus Hotentot:} ~JESUS MOISÉS SADE: Cara ave, alegra-te{Conversando com o corvo pousado na cabeça de Shamash Mohammed.} Por glorificar tua criatura. Lança tua rosa no alto dos céus Como uma pedra sobre o tosão. Animal dos céus, Prepara tua ração. Por que te afligires com isto? Por que criticar à natureza? Por não ter-te feita humana? Muitas coisas coabitaram-te a nascência. (Chuva de mel e abelhas, cachoeira de vômito e dentes.) ~SHAMASH MOHAMMED: Não poderias apontar com teu canto a todas. ~UBUGNU UGNIX: A amizade do urso é temível Quando este se esquece quem é ou somos Nos abraça e esmaga. Pior quando se lembra... ~JESUS MOISÉS SADE: Silencias e ouve-me cantar, ave. Tua voz sábia... Tua voz sábia... Aprendo a te contemplar Aprendendo a te contentares. <Josefina Hamlin canta A Canção de Macabéa Woolf para uma fotografia de seu marido falecido, Storm Applethorn.> ~SHAMASH MOHAMMED: {Afastando o corvo que pousa sobre O Último Elefante.} Pobre lavra da terra, que fazer? Disputar com os grãos de areia e as estrelas? Por que te perturbas tanto, ave? Te adentrando aos doze nomes do átomo Fazendo-os dançar nos quatro elementos Na roda de cinco aros Sobre as pedras, mundo cascalhado Dunas! A areia cresce a cada dia!


ॐ ~OS RATOS ACADÊMICOS: Um brinde à espécie humana! Chegamos tão longe! ~JESUS MOISÉS SADE: Não te lamentes Por não seres império, seiva Reconheço teu nome em mim Não há algo que te despreze aqui Os grilhões estão abertos se me ensinares a paz Há um reflexo turvo no olho do lago (Chuva de cinzas até a chuva de sapos, quando haverá dunas de cinzas. Cachoeira de souvenirs de divindades diversas.) ~JESUS MOISÉS SADE E SHAMASH MOHAMMED: {levemente descompassados em oitavas distintas.} Se há uma indivindade, Nos atravassa a tudo e não podemos enganá-la. ~OS RATOS ACADÊMICOS: Somos todos diferente, Só que alguns são mais diferentes que outros... ~CATARINA (D’ARC) CLEMENTE: Não dividirei-te com uma escrava. ~SHAMASH MOHAMMED: De acordo com as necessidades do ocaso. (Chuva de números e matemáticas. Cachoeira de conchas.)

funções

{O rinoceronte surge agora com uma armadura verde toda pixada.} <Soa A Cicada sobre as outras demais soações.> ~VÊNUS HOTENTOTH: Agora que tens uma amada, deixai ir o que restou das xibatadas. ~CATARINA CLEMENTE: Tu, vil escrava. Beija-o! {Apontando a José Merrick.}


~VÊNUS HOTENTOT: Grande honra morrer ao lado deste {Com nojo.} Já tu! Triste puta sem clientes! Tua deformidade tomou-te a alma! Se é que já tenhas tido uma Serei teu pesadelo após estupros grotescos pelos quais passarás! {Vênus Hotentot seduz Jesus Moisés Sade a libertar Shamash Mohammed também, este se põe a olhar com ódio para aquele que o humilhara:} ~VÊNUS HOTENTOT: Mór(m)on! Dei Opus! (Quetzacoatleviatan Seshanaga Longryu. Chuva de borboletas.) <A Vingança dos Elefantes terminando com pausa de 7 segundos.> {Quetzacoatleviatan Seshanaga Longryu desponta no horizonte. Shamash Mohammed desiste de atacar Jesus Moisés Sade e se põe a limpar a maquete da cidade. Os Tubarões Voadores se desesperam (eles são os que mais temem a serpente), soltam Ubugnu Ugnix que é acolhido por Chacra Sosa Spinosa e Clara Crocodilo. Ele finaliza o antídoto com elas e Chacra Sosa Spinosa se converte em Braba Yoga ao tomá-lo. José Merrick recusa, mas termina por tomar também o antídoto.}


ॐ <Aeon Yuga.> ~JOSÉ MERRICK: Este último elefante há de matá-los ambos! {Olhando nos olhos dO Último Elefante.} Matei cada um dOs Colecionadores, Retomei toda a arte para os artistas Todo o marfim, porque elx quis assim. {Aponta para Catarina (Elizabeth) Clemente rindo de sua traição.} Só falta tu, último elefante, meu coração é o teu, Mas tua vida é minha. Alimento o amor que te torna servil! <A Operária.> ~SHAMASH MOHAMMED: Tenho sido humano, ~JESUS MOISÉS SADE: Demasiado humano. Há mais precisão no martelo que nos sinos. <A Campanária.> ~UBUGNU UGNIX, CLARA CROCODILO & MEREDITH PACHAVUELA: Espectro livre! Espectro livre! Espectro livre! Espectro livre! Espectro livre! Espectro livre! Espectro livre! (Chuva de códigos de programação, aquários e estilhaços de vidro. Cachoeira de relógios.) {Centauros passam ao fundo do palco. Ull Zougo Sedna Chalchiuhtlicue termina o texto que digitava desde o princípio do ato:} ~ULL ZOUGO SEDNA CHALCHIUHTLICUE: OM! {Extremamente longo enquanto se despe.} {Musth Setoth Tiamat vira-se para ela e lhe atira, arrancando a parte de baixo de seu corpo. José Merrick, impassível acolhe a ferida com preces. Sentindo a dor e a dignidade de José Merrick, Vênus Hotentot o beija. Ao entrar em contato com o antídoto, ela se transforma em Meredith Pachavuela. Os Ratos Acadêmicos soltam A Núvem de Faganhotos. Jesus Moisés Sade, enfurecido, passa a matar Tubarões Voadores e Shamash Mohammed, ao contrário do que este esperava, o ajuda.} ~JESUS MOISÉS SADE: Não sou nem a aranha que tesce a rede Nem a mosca que é capturada. (Chuva de penas. Cachoeira de chifres.) ~SHAMASH MOHAMMED: Se eu compreendesse seus ou meus símbolos, Me tornaria um idólatra.


~OS RATOS ACADÊMICOS: Amor da flor profundo mar, Vasto espaço pesado como um elefante, Brilhante estrela diamante, quente como sol, Vil metal, Palidez cadavérica, Silêncio mortal, Selva de pedra, olhar fatal, cigarro em cena, Depois, enfim, melodia, clichê, rima e beijo A lua é um queijo! ~UBUGNU UGNIX: Um peguim comendo maçãs na janela em Xanadu... {Jesus Moisés Sade beija Shamash Mohammed enquanto eles prendem Os Ratos Acadêmicos com A Nuvem de Faganhotos como cobaias.} ~VÊNUS HOTENTOT: Vão embora! Nos deixem ao menos morrer em paz! {A Catarina (Antonieta) Clemente.} ~CATARINA (FRIDA) CLEMENTE: Deixemos estes pedaços de gente, amado. Livrai-te do peso do medo, Deixai comigo teu fardo Dá-me tu’arma, que eu a carrego... ~MUSTH SETOTH TIAMAT: Do mundo... É claro! (Chuva de ferraduras.) ~JESUS MOISÉS SADE: Buraco negro no espectro Andorinhas e lesmas Fontes e predadores Toda carne sucumbirá À água em sua sede De escutas. Nada lhes será ouvido, Assim falou a cachoeira. {Jesus Moisés Sade segue matando Faganhotos. O grilo de Buckluhan Ciogracian, Marsias, sai da sua jaula para proteger as pessoas da Nuvem de Faganhotos. Ubugnu Ugnix ajudam Jesus Moisés Sade:}


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~OS DOZE MACACOS: É seguro? É político? É popular? ~UBUGNU UGNIX: É correto! ~OS TUBARÕES VOADORES: Vociferar, esgoelar, berrar, Latir, vagir, piar, Deblaterar, vaiar... {Seguem por algum tempo em metalinguagem de urros...} (Chuva de moedas de prata, cachoeira de moedas de ouro, ondas de moedas de cobre.) <A Vingança dos Elefantes terminando com A Marfinesa.> {Quetzacoatleviatan Seshanaga Longryu chega. O Último Elefante se assusta, Catarina Clemente dispara um tiro de rosa na nuca de Musth Setoth Tiamat que atravessa este, O Último Elefante e vai ter no peito de José Merrick que, estarrecido a fita fundo aos olhos.} ~CATARINA (MARIA) CLEMENTE: José! ~JOSÉ MERRICK: {Moribundo.} Lira de ouro, a quem obedece o passo? <O Cordão Panóptico das Supercordas.> ~TODOS: Como “ISTO” é possível? {Sussurando para si mesmos.} (Chuva de flores.) ~MUSTH SETOTH TIAMAT: Penhascos marmóreos, Vagas do fim do mar, Agora não há porquês! {Musth Setoth Tiamat se transforma num dragão, depois num leão, depois num camelo, depois numa criança natimorta. Ubugnu Ugnix corre para socorrer José Merrick, deixando cair sua flauta-luneta. Vênus Hotentot beija José Merrick, que se levanta tirando o tiro de rosa do peito deixando sangrar pétalas com pó de marfim, ao qual está imune. Buckluhan Ciogracian pega a flauta-luneta e vê a platéia. Shamash Mohammed tenta tomá-la dele. Chacra Sosa Spinosa arranca as presas dO Último Elefante.}


ॐ <O Cometa Vindo da Nebula da Tromba.> ~BUCKLUHAN CIOGRACIAN: Como um cometa do Ocidente ao Oriente É Jesus que renasce já crucificado por suas igrejas Alienígena no seio da miséria Ó buda de ouro em trono de plástico devorando estrelas! Ó arte! Liberte os sentidos dos desejos. ~UBUGNU UGNIX: O latido do latido! ~OS DOZE MACACOS: O centésimo! {De Anubis, que estes chamam de Hanuman.} {Catarina (Maria Madalena) Clemente entra em trabalho de parto. Quetzacoatleviatan Longryu Nagatum devora o que resta dA Núvem de Faganhotos e dOs Ratos Acadêmicos. Os Tubarões Voadores buscam guarida entre com Meredith Pachavuela que não os ouve. José Merrick tinha o libreto da ópera em marfim ao bolso, o que o protegeu da morte completa, renascendo como Fenrirx Anúbis.} ~CATARINA (MEDÉA) CLEMENTE: É preciso que se leve em conta todos os mortos para se cantar. <Pneuma Baphomet.> ~MEREDITH PACHAVUELA: Inútil cantar canções de ninar para quem não consegue dormir. Inútil prantear os mortos, plantear pesadelos, Inútil violentar os corpos, violar os sonhos, zelos Inútil semear lógicas, planejar estruturas, Coagir espelhos, polinizar conceitos, arquear metametas, Culpar naturezas... {Buckluhan Ciogracian se põe a usar lixo com pó de marfim para costurar um rabo de sereia a Ull Zougo Sedna Chalchiuhtlicue.} ~ULL ZOUGO SEDNA CHALCHIUHTLICUE: OM! (Uma cachoeira de sangue se soma à chuva de flores.) <Dutos e Chaminés.> {O Diretor da Casa de Ópera veste um chifre de unicórnio de marfim nA Compositora da Ópera. Jesus Moisés Sade, cessa o extermínio, sendo acolhido por Shamash Mohammed. Os Doze Macacos prendem Os Tubarões Voadores restantes para servirem de espantalhos para A Nuvem de Faganhotos. Shamash Mohammed vira sua luneta para Jesus Moisés Sade e se apaixona por ele. }


~MEREDITH PACHAVUELA: Quem acerta na mosca perde o enxame {Um coelho branco com um relógio passa correndo e desce pelo alçapão do palco.} ~OS RATOS ACADÊMICOS: Vasto, como o espaço pesado, como elefantes brilhante, como estrelas quente, como o sol Longo, como o tempo (Chuva de relógios. Cachoeira de cartografias.) ~OS DOZE MACACOS: Fazendas de sangue para insetos... ~MEREDITH PACHAVUELA: Sara, sara, sara... O silêncio é para o ouvido o que a noite é para os olhos A paz é para o mundo o que o fermento é para o pão... ~OS DOZE MACACOS: Quando gozar da vontade do tirano se torna tão perigoso quanto merecer seu rancor... ~SHAKESPEAR MANDELBROT: Quando o acontecimentos tem múltiplas causas, É impossível conhecer a causa do acontecimento... ~JESUS MOISÉS SADE: Cântico de insetos enredados Nuvens metálicas de cromas e exoescalas Informática infralógica da precisão programática Como os brados das aves iluminando as engrenagens Do vapor, das temperaturas Nós, meras rodas De água e moinhos, fogueiras de carne e jardins de sangue Tudo isto cala quando canta a cachoeira. <Cidade Elétrica.> {Catarina Clemente realiza um parto com a ajuda de Meredith Pachavuela e Incontáveis gatos surgem de todos os lados e se prostram ao redor do recém nascido imóvel. Atrás deles surgem Os Três Mendigos Cientistas tirando máscaras totêmicas africanas de símios, que vêm conversando entre si. Fenrirx Anúbis com a ajuda de Ubugnu Ugnix e dOs Doze Macacos, reúnem todos os marfins. Buckluhan Ciogracian termina de costurar o rabo de sereia em Ull Zougo Sedna Chalchiuhtlicue, que geme:}


ॐ ~FENRIRX ANUBIS: Baixava a voz até a diminuição do sopro {Com olhar de culpa para Catarina (Sheela) Clemente.} Até o ensurdecimento de minha percepção, Para me confiar cada desejo. Um cervo ileso pedindo perdão Coelhos se atirando ao fogo Seus lábios se mexiam para meu ouvido. E ainda, surdez. <Cachoeira de Dados, Chuva de Espinhos.> ~SHAKESPEAR MANDELBROT: {Botando uma pitada de pó de marfim no ouvido.} Volteiam ânimos em sacrofício Ao vulcão Heroé de Ourifídios Mito rito mito mito, Tagma, taxe, doxa, signo, Semimântica, símbolo, Mito, mito, pathos, rito, Ficado, ficação, arché, tipo... (Campos de força magnética começam a surgir em diversos lugares do palco.) ~ENLIL CURIE: Vritu, pedralma vidárvore Asynus ad lyram... ~ZUMBI C FITZCARRALDO: Quetzacoatl guerrear, Águia de prata mo disse Na torre rádio nem coruja de cristal {Fenrirx Anúbis toma a luneta de Ubugnu Ugnix e olha o libreto de marfim, falando para a descrença e escárnio de alguns:}


~FENRIRX ANÚBIS: Eu vi como termina! Em pouco tempo a ópera terminará e morreremos todxs! ~ENLIL CURIE: A pedra ri da pressa das plantas... {Se senta em posição de lótus e a luz se esvai sobre si.} ~JESUS MOISÉS SADE: Relógios são souvenirs. ~UBUGNU UGNIX: Quem acerta Na mosca perde O enxame ~SHAKESPEAR MANDELBROT: Entendo porque Shamash Mohammad Permaneceu com Sarah Khali no deserto. ~ENLIL CURIE: Nós que aqui estamos por vós esperamos. ~ULL ZOUGO SEDNA CHALCHIUHTLICUE: OM! ~FENRIRX ANÚBIS: É inevitável! ~OS TRÊS MENDIGOS CIENTISTAS: Dravídicos, sumérios, egípcios, Atlantes, babilônicos, fenícios, Minoanos, aztecas, tupis, toltecas, Hellas, hindis, homaos, hinos, persas Mu... {Surge O Elefante de Marfim. Todas as personagens calam, pois que todas as vozes são sua à excessão de Meredith Pachavuela e Braba Yoga que estão em transe acolhendo Hozrú Irís Tupã Selva num mantra sussurrado:} ~MEREDITH PACHAVUELA E BRABA YOGA: Polymorphism, assignment, systems exception double symbol grammar, member, visibility, ANSI, initialize, unit, return type, block, overload, long copy library, forward enumerator, generic arithmetic, run-time, inline descent method, label, do, char_t, variable, access reference, conversion, statement, cin, case, constant, type macro, class, dialect, declarator, C-style template temporary, end...


ॐ ~ENLIL CURIE: Não cessamos nem por um dia de sofrer as fadigas e misérias de desejar o que não nos cabe. (Os magnetes comaçam a criar rodamoinhos que fazem o espaço tremer. As flores viram sementes.)

~O ELEFANTE DE MARFIM: Oefro, Caos musia esûtra cosmo'foro ephphata daimöns kotodama ovo ilhâm gnosophia dan corpus hermórphisis dodecamegisto pistinris kether sufi ifá maskilim aedo eliri ipin pluto zen nefesh malkut halabbak égarés yód onisüs nstasis sophrosyné númes óracles vishnu dna ta’lîm kýkeôn bangalafumengá. ~MEREDITH PACHAVUELA E BRABA YOGA: Control, programming, checking, layout, inline, static union, dominance, handler, implementation-dependent checking, syntax, OOP, pointer parser, name, break, trigraph, PT, header class fundamental explicit, file, prefix, function class, library, integral specifier, enumeration, argument, old-style base access, while, declaration argument, literal, semantic store, lvalue, struct, continue, placement, {Quetzacoatleviatan Seshanag Longryu tenta atacar a todxs, mas Oefro os protege com sua harpa.} ~UBUGNU UGNIX: Não é um elefante.


~O ELEFANTE DE MARFIM: Logumaré aiye awe ma'aseh urania muladhara bereshit ha makom hod aurif pitagogia zoroalter arthru dee sukyo mahikari patañjali amorc prometheos parâmpara tyr papus thule quetzacoatl betel asa-vahista telestérion ogam. ~ENLIL CURIE: nem durante uma noite de sermos consumidos pelas angústias de não conseguir parar de sentir e pensar, pesar. ~MEREDITH PACHAVUELA E BRABA YOGA: Bitwise unsigned, float, declaration, NULL, string, const_cast, value, type set_new_handler, storage constant declaration, class, else, table, global efficiency, operator smart name, stack cast, unwinding, global environment, namespace, deprecate, class typeid, directive, promotion, local class enum, member function... (O espaço começa a se distorcer em video-mapeamento.) ~O ELEFANTE DE MARFIM: Oshossioux tzadikim neptu yesod chiroman raiatea buda mithra pantamor blatsky fenrir heliopagita dharma sílex böhme xenodea arúspices sion kephalaïa teagenes haqâ’iq hanan kay tetraktys boanergges abracadabra tartar hierúrgio ~MEREDITH PACHAVUELA E BRABA YOGA: Name container data call handling, parameter, pointer, safety, analysis, operator, delete data register, string, browser, space, cast, system, storage, standard namespace mixed-mode using name pointer by object, separate exception vector, int, try, reinterpret_cast, exception, member, conversion, type function, conversion, expression, resolution, instantiation... {Um demônio com cara de polvo vestindo cabrestos pisoteia um humano com cabeça de cobra que comia uma vaca. A vaca se sente massageada, o humano é esmagado.}


ॐ ~O ELEFANTE DE MARFIM: Oyá’n elohim tripitaka sacr ruasch ad netzah svadhisthana numenapan catar y myst bâtini tantra parsengrin protocyph athená isis astarte sah gee ann famnitatis nêmesis hosanna haqq sybil emet yâska kuyuchyi filófilos dagda ~MEREDITH PACHAVUELA E BRABA YOGA: Call storage, namespace, template inheritance, void, run-time double, expression, global parsing, type, variable, lifetime, object-oriented, class, public, short, virtual local, allocation, array, library, operator, template, bit parameterized deallocation, finalization, demotion, function, programming specialization, derived value, memberwise multiple built-in qualification... ~O ELEFANTE DE MARFIM: Omolobaluayê trag’gem achra satrun sitra daat noir ching satori érebo avalon endopia medsinai kali lemniscata ts’ang-t’ong-k’i fakir herald ni diwân cruzeus evemer berserks mairya odin ep’if’anyi vulcanelli toth hades crono de’mter wissen (O teatro desaba, dando a entrever o cenário do segundo ato. Chuva de remédios.) <Soa A Prima.> ~O ELEFANTE DE MARFIM: Ossaim baale merkabah speculum chesed manipura mércura tupã nasea dhawq magnma yewá reiki hiperbóreas jiva licorn apocrypholipsia tamga fatermatria l’âme picatrix mîmâmsâ hanuman amón ksathra-varya aether apolö ~UBUGNU UGNIX: Chegas à cidade pela primeira vez O Zoo sofreu um ataque de artivistas As primeiras dez pessoas que vês, são animais A cidade é habitada por animais? ~ZUMBI C FITZCARRALDO Quando cem de vós compreenderem isto, quê então? (Cachoeira de peças de jogos de tabuleiro.)


~MEREDITH PACHAVUELA E BRABA YOGA: Asm, dynamic template local recursive pointer, nested function, overloading, pointer, implicit information, class goto, layout, stream, using keyword, integral by const, operator, class, preprocessor, new-style function, template parser, virtual parameter, access module, linkage, scope, private, class, name, header, calling member, stack debugger... ~O ELEFANTE DE MARFIM: Yrôco oko yggdrasil neshamah jahphe et mana zohar mandla bib oethe esô yuga hé jo-rei paracaelum laots’e myōhō rengekyō râzi micrômacro rhombes síva rna nôus dantes oxyrhynchos vohu-mano karma rapsode sêmelo rûna baha’i (O cenário do segundo ato desaba dando a entrever o cenário do primeiro ato. As sementes viram mamonas.) ~MEREDITH PACHAVUELA E BRABA YOGA: Operator, conversion, free alias, member, using field, comments, operator, lookup, heap char, default class, variable, new user-defined limit, to storage, aggregate, member, constructor, cerr, long, sizeof, encapsulation, unit, abstraction, switch, new resumption, statement... (Chuvas de todos os tipos de objetos em todas as direções.) ~SHAKESPEARE MANDELBROT: {Apontando para Catarina (Shiva) Clemente.} Têmporas brancas. ~O ELEFANTE DE MARFIM: Ox’ümm sòi dá g'òi vê hoa lan venus tifereth yin eléasys anahata nirvadhi evola namah h’erá alchilux sian avanthöv aun nymphaea kung attar perennis râma ibeji eunome târiqah zartosht potentia per sais phône arcana {Quetzacoatleviatan Seshanaga Longryu perde todas as suas moedas, e livre do peso se torna Pyth Om. Alegre ela dança com Oefro.} ~MEREDITH PACHAVUELA E BRABA YOGA: Destructor, conversion, pure volatile, auto, class, initializer, template, abstract false, global dynamic_cast, name type, point, constructor, cfront, promotion, try base statement, static, function, cast, OOA class, namespace copy, pragma, object, copy...


ॐ ~O ELEFANTE DE MARFIM: Xang’o ur ayrá talmud ha-din geburah ares éthos yang ta’limites visudha rotzenkraut vedas graal oh lymp sprit thor dô tahu’a-ra’au osiris bodhivitam muhammad nahasimra iexodica kallpa hauvartat teleté (O cenário do primeiro ato desaba e desaba e desaba, mil e uma camadas hipervelozmente. Cachoeira de personagens da ópera.) {Pyth Om passa a destruir tudo e quase arranca as asas de Oefro.} ~MEREDITH PACHAVUELA E BRABA YOGA: Garbage static null translation virtual definition, throw, front reference, class, type frame, handler, class to declaration, floating mutable, signed, pointer programming, type to expression static typedef, member, assignment new repository, template template, user-defined semantics, helper preprocessing...

~O ELEFANTE DE MARFIM: Nnhanã torah chayyah binah nahasimra lumoon daseintopia y druido yung signius devas vau shaktiknah aeor djinn ganapaty padmé namaha fache kânphata pachamãma acroama stromata eisôtheô rá adonai aeon gaia {Os Três Mendigos Cientistas dão seus presentes para Hozrú Irís Tupã Selva. Um jumento chamado Kardeck Xavier se põe sob as pernas de Catarina (Flora) Clemente para que a criança se acomode. Meredith Pachavuela e Braba Yoga a acolhem. Fenrirx Anúbis e Ubugnu Ugnix tentam em vão proteger as pessoas contra a chuva apontando a flauta luneta para todos os lados.}


~MEREDITH PACHAVUELA E BRABA YOGA: Extern, bool, protected, IO, translation tag, argument, run-time compilation, linkage, type initialization, embedded conversion, linker, mangling, postfix, file, catch, type, external stream instantiation, argument standard RTTI, object rvalue, scope, OOD... ~O ELEFANTE DE MARFIM: Iiemanjá mania rarxs bahir assyr yetsirah imame ast hochmah tlantis symbanalo éti mahâyâna y pox ídon palas ajña anjglow atárgatis cornucópia pravarti gymnotacit el shaddai magist pneuma clemens killa p’unchay avesta spenta-armaiti réa, ishtar (Os sapos que choveram viram chorume de olhos brilhantes. Cachoeira de cobras com plumários.) <Soa Pyth Om.> ~MEREDITH PACHAVUELA E BRABA YOGA: This, class, collection, static for, table, compiler, hierarchy, virtual type-safe unwinding, template declaration, friend, object static_cast, namespace, matching,ARM, overload system, class, layout, mangling, cout, true, behavior, compilation type, termination, inheritance, resolution, return, conventions, hiding... ~O ELEFANTE DE MARFIM: Ocsalá zohar ododua lufanguian ibn tahu’a-parau-tumu-fenu ayehidah divinitaes krishna moses sol ha-rahamim kether androfania humilitas hyód fotômita sahasrâra mahikari apu kun tafari tiqsi wiraqutra abraxás ahura mazda shaman avalokhistevara atmã amén ~MEREDITH PACHAVUELA E BRABA YOGA: If... if... if... if... if... if... if... if... if... if... if... ~UBUGNU UGNIX: Aliá!


ॐ ~O ELEFANTE DE MARFIM: Mu aho tao hemptha axé ein-sof ohm Mu aho tao hemptha axé ein-sof ohm Mu aho tao hemptha axé ein-sof ohm Mu aho tao hemptha axé ein-sof ohm {Fenrirx Anúbis aponta a luneta-flauta para Marsias, o grilo de Buckfuller Ciogracian, que lhe mostra a platéia. Oefro toca a canção dOs Encantadores de Serpente. O elefante é engolido pela serpente e Oefro diz:} ~OEFRO: São só palavras! (Chuva de sapos sobre camaleões. Cachoeira de morcegos.) [Máscaras caem para o público.] {Hozrú Irís Tupã Selva pisca e os instrumentos que lhe foram dados entram em combustão expontânea. Os pedaços de animais mortos da ceia são misturados pelos atores enquanto voltam a ser quem são desprendendo-se de suas personagens, até formarem uma escultura de quimera que canta o amanhecer:} (Os chorume vira medusas brilhantes que são atraídas pelO Elefante de Marfim.) <Cantagalo espectral da saciação da serpente Pyth Om Kundalini.> (Furacão de ADN’s. Cachoeira de personagens de histórias em quadrinhos e da história humana.) {Os Doze Macacos, ao ver a plateia, a vaiam por longo tempo mas calam diante da beleza da música. O Elefante de Marfim engolido por Pyth Om se transforma em Nun. Só Hozrú Irís Tupã Selva a vê, aponta-lhe sobre as cadeiras da platéia e diz:} <A Beleza.> ~HOZRÚ IRÍS TUPÃ SELVA: Nu! <Um ronronar surdo, doce e grave: um sopro amortecido de um suspiro. Fim.> {Todxs xs personagens saem de cena, enquanto O Diretor da Casa de Ópera e A Compositora da Ópera se põem a falar com a platéia se vestindo.}(Uma filmagem da ópera inteira em movimento reverso é projetada sobre o palco em velocidade cada vez maior até o momento em que Catarina Mariantônia Clemente entrou no palco.}



ॐ ~A COMPOSITORA E DIRETORA DA ÓPERA: Gostaria de agradecer a todxs vós aqui presentes. Agradecer os operários, atrizes e atores, maquiadores, iluminadores, editores, filósofos, engenheiros, cenógrafos, bibliotecários, programadores, produtoras, escultores, loucos, atravessadores, urbanistas, encenadores, cozinheiros, professores, manicures, motoristas, impressores, seguranças, matemáticas, crianças, agricultoras, pintores, maquinistas, pedreiros, arquitetos, geólogos, faxineiros, traficantes, médicos, dançarinos, poetas, embaladores, serventes, bancárias, farmacologistas, tecelões, administradoras, cineastas, enfermeiros, eletricistas, prostitutos, perfumistas, esportistas, aviadores, ladrões, alfaiates, terapeutas, burocratas, jogadores, estudantes, ecologistas, mendigos, lavradores, dentistas, químicos, pedagogos, fonoaudiólogas, artesãos, fotógrafos, pescadores, tradutores, físicos, atendentes, psicólogos, massagistas, mascates, tecelões, tipógrafos, geógrafos, motoristas, contadores, astrônomas, ociosos, entregadores, escritores, anciãos, músicos, soldados, regentes, religiosos, zoólogos, políticos, ancestrais, e a quem eu possa ter olvidado... ~O DIRETOR DA CASA DE ÓPERA: Preciso que nos perdoem todos vós aqui presentes. Perdão por nossas ignorâncias, arrogâncias, medos, fraquezas, estultícies, iniquidades, violências, luxúrias, nojos, vergonhas, impiedades, injustiças, covardias, profanações, mentiras, ganâncias, ilusões, invejas, malícias, calúnias, vinganças, ódios, vaidades, friezas, ~OS OPERÁRIOS DO TEATRO: {Exaustos.} Platéia, cadeiras, carpete, luzes de emergência, escada, cortinas, roldanas, cordas, iluminação, cabos, caixas de som, fios, fusíveis, parafusos, calhas, vidro, parede, tijolos, ranhuras, porta, ribalta, metais, grelhas, focos, madeira, piso, palco... Gratidão! Perdão!


~A COMPOSITORA E DIRETORA DA ÓPERA: Gratidão a todas os animais que morrem e sofrem por nossas necessidades e luxúrias, e aos demais que tanto nos ensinam. Gratidão a todos os conhecimentos, técnicas, invenções, obras. Gratidão às plantas que nos ensinam, protegem, alimentam e purificam nossos corpos e mentes. Aos minérios, ao ar, à água, à terra, ao fogo, às soluções e às substâncias, ao planeta que nos acolhe em meio à caosmose, às estrelas que mantêm a dança... Gratidão! ~O DIRETOR DA CASA DE ÓPERA: Perdão por nossos sofrimentos. Perdão àqueles que buscam perdão, debatendo-se contra si mesmos. A céu perdoe o chão. Perdão aos que claramente vêem e sofrem calados, aos que tem seus gritos amordaçados. Perdão aos cansados, aos dilacerados, humilhados, mal-compreendidos e ignorados. Às gerações que se degeneram, à grande confusão da pobreza. Perdão à fome dos que tem fome e à cegueira dos que guardam e desperdiçam. Perdão à ira dos oprimidos. Aos animais que tolhemos com nossas demandas, às plantas que não ouvimos, aos pensadores e sua impotência, nossas barrigas cheias e nossas consciências sem culpa, ao ardil do fazedor de machados, aos artistas e suas tolice. Aos que ao perdão olham de lado. A todo gesto em vão... Perdão! ... ~A COMPOSITORA E DIRETORA DA ÓPERA: Eu não te disse que ia acabar tudo bem?


ॐ 19.1. Epílogo:

{Quando todos saem do teatro, a atriz e o ator que interpretaram Catarina Clemente e José Merrick estão nu entrada do teatro pergunta a quem sai:” CATARINA CLEMENTE E JOSÉ MERRICK: Por gentileza, quantos precisaram morrer para que vislumbrasses o elefante de marfim?


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