HISTÓRIA NATURAL DO GNOMO-LUSITÂNICO Uma referência para desenvolvimento de conteúdos para o projecto “Salvem o Gnomo-lusitânico”
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Turrei debes homunculus magicalis quod vivit sub arbore. Quercus hoc vitalis nobis.
Excerto do tratado de manutenção de sobreiros “De arbores magnas”, obra datada do séc. XIII, de autor anónimo. Este livro, inteiramente feito de cortiça e de diminuto tamanho, foi encontrado no interior de um sobreiro perto do Cromeleque dos Almendres, no Sul de Portugal. A inscrição significa: “Deves proteger o homenzinho mágico que vive debaixo das árvores. Os carvalhos são vitais para nós.” Curiosamente, a dimensão da caligrafia só permitia que fosse legível ao microscópio. A tecnologia que permitiu trabalhar a cortiça e escrever textos desta dimensão era desconhecida à data da sua escrita, pelo que os historiadores e cientistas julgam tratar-se de indícios de uma civilização de criaturas muito pequeninas.
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Taxonomia Nome científico: Gnomius radicularis ssp. lusitanicus (Merlin, 1113) Sinónimos: Gnomius lusitanicus ssp. lusitanicus, Gnomius ibericus ssp. lusitanicus, Gnomius radicularis ssp. subericola Etimologia do nome científico Gnomius: derivado do grego Genomus, significa que vive debaixo da terra ou em alternativa da palavra homófona que significa inteligente; radicularis: que vive nas raízes; lusitanicus: da Lusitânia, região do oeste da Península Ibérica. Nome comum: gnomo-lusitânico Outros nomes e regionalismos: gunomo , gunome, ,maruxinho, piquenito, picnite, homúnculo das bolotas, bufinha.
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Distribuição geográfica A família dos Gnomos (Gnomioidae) tem diversos representantes, entre os quais os Gnomos-comuns Gnomius radicularis. Esta é uma espécie globalmente bem distribuída, ocorrendo nos cinco continentes. Alguns autores consideram que os gnomos-marinhos Gnomius marinus são aparentados com o gnomo-comum (nesse caso são considerados G. r. marinus). Esses vivem em alguns mares, onde dependem de formações de algas castanhas conhecidas como kelp, cujo habitat apresenta uma estrutura tridimensional semelhante às florestas terrestres.
Variação geográfica
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Reconhecem-se diversas subpopulações do Gnomo-comum no mundo, e alguns autores consideram subespécies ou raças. Na Europa: G. r. robur - distribuição no centro e norte da Europa, coincidindo com os carvalhais de Quercus robur; são os maiores gnomos do velho mundo e reconhecem-se facilmente pelos seus barretes vermelhos; G. r. ibericus - dá-se este nome genérico às populações da Península Ibérica, onde os gnomos subsistem principalmente em montados de sobro e mais raramente de azinho; a sua diferenciação dos gnomos-lusitânicos é evolutivamente recente e no campo é difícil distingui-los excepto pela cor verde do gorro dessa outra subespécie; G. r. lusitanicus - grupo derivado dos gnomos-ibéricos, que subsiste principalmente nos sobreirais do sudoeste da Península Ibérica; utilizam um gorro verde, com uma borla na ponta e uma risca vermelha na base; muitos usam uma faixa vermelha à cintura;
Em África: Foram já observados dois grupos principais de gnomos, G. r. okan - na África ocidental, associado a florestas tropicais - e hakunamatatensis, na África Oriental, muitas vezes encontrado na vizinhança de zonas mais áridas, cuja pele púrpura é bastante distintiva e tida como adaptação à forte radiação solar. Na Ásia: Reconhecem-se vários grupos, caracterizados pelas suas pequenas dimensões. A título de exemplo, mencionamos G. r. hymalayensis - dos Himalaias, associados a vários tipos de florestas de altitude e a pequenos arbustos que resistem nos picos mais elevados- e G. r. wasabi, raça endémica das ilhas do Japão. Nas Américas: A seclusão das extensas florestas tropicais da bacia do rio Amazonas permitiu que durante muito tempo, não fossem descobertos gnomos nesta região. No entanto, existem alguns indícios de gnomos de pequenas dimensões, provavelmente
Legenda: Em cima, da esquerda para a direita: lusitanicus, ibericus, robur, sequoiensis; em baixo, da esquerda para a direita: hakunamatatensis, okan, wasabi, himalayensis, aimiri
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descendentes de gnomos asiáticos, conhecidos como G. r. aimiri ("formiguinha" em idioma tupi-guarani). Na América do Norte, existe a maior espécie de gnomo do mundo, Gnomius sequoiensis, altamente ameaçada e que vive associada às florestas de sequóias Sequoia sempervirens, justamente as maiores árvores do mundo. Populações aquáticas: A maioria destas populações, conhecidas como G. r. marinus por alguns autores, são costeiras, ocorrendo em águias temperadas e frias. Existem dois grupos conhecidos, os que vivem em florestas de kelp (algas castanhas), e os que vivem no "Mar de Sargaços", em comunidades dependentes de algas flutuantes.
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Anatomia Os gnomos são criaturas mágicas semelhantes a pequenos homens, rechonchudos e de braços e pernas curtos. Possuem glúteos e nádegas bem desenvolvidas que auxiliam o seu modo de locomoção saltitante. Existem machos e fêmeas.
Reprodução Os gnomos reproduzem-se como os mamíferos. Vivem frequentemente em casais.
Desenvolvimento O estágio final de desenvolvimento do gnominhos (fetos de gnomo) depende de bolotas de sobreiro. Os pais depositam o gnominho dentro de uma bolota, que se desenvolve em simultâneo com o gnomo. O sobreiro que nasce dessa bolota será a casa do futuro gnomo-lusitânico. Algumas populações (como o Gnomo-da-laurissilva, com populações nos arquipélagos da Madeira e dos Açores) usam espécie alternativas como o Til Ocotea foetens (uma laurácea endémica da Macaronésia) para depositar os gnominhos, usando os seus frutos de igual forma à das bolotas. De igual forma, os gnomos-marinhos usam estruturas como o bolbo de algumas espécies de laminárias para o desenvolvimento dos seus gnominhos.
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Locomoção Os gnomos deslocam-se normalmente saltitando, o que provoca um som elástico característico: "póing póing póing". Em algumas situações podem caminhar e trepar árvores e arbustos.
Seleção de Habitat Os gnomos vivem em zonas arborizadas com Quercíneas, nomeadamente sobreiros, dos quais dependem para quase tudo. Preferem bosques bem desenvolvidos, onde vivem discretamente. A sua dependência reprodutiva e alimentar das bolotas condiciona a sua existência fora destes bosques. Podem ser vistos por vezes em galerias ripícolas (bosques das ribeiras). São raros em zonas agrícolas sempre que estão ausentes sobreiros, outros carvalhos ou outras árvores de grande tamanho. Evitam claramente zonas urbanas e até florestas de produção (monoculturas de eucaliptais e pinhais intensivos), onde não conseguem encontrar alimento (porque não existe diversidade de plantas nem bolotas) nem refúgio (porque as árvores são demasiado pequenas).
Alimentação
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Os gnomos comem bolotas e fungos subterrâneos, que vivem nas raízes dos sobreiros. Também consomem bagas de arbustos silvestres (medronho Arbutus unedo, murta Myrtus communis, aroeira Pistacia lentisca, etc.), pétalas de flores de esteva Cistus ladanifer e pútegas Cytinus hypocystis (pequenas plantas parasitas), entre outras plantas típicas do bosque mediterrânico. Em zonas de pinheiro-manso Pinus pinea, é habitual o consumo de pinhões. Alguns gnomos tentam comer cogumelos, se bem que estes
podem ser venenosos, deixando-os doentes e provocando alterações na sua aparência.
Refúgio Esta espécie vive principalmente entre as raízes dos sobreiros, embora possam ter túneis de circulação em toda a árvore. As suas tocas são mágicas e por isso são invisíveis para nós. Alguns gnomos vivem nas raízes de outras árvores de grandes dimensões (castanheiros Castanea sativa e em casos muito raros de eucaliptos Eucalyptus spp. muito grandes, até nestas árvores introduzidas), mas dependem sempre de bolotas para subsistir e para se reproduzir. Por isso, sem carvalhos, a espécie fica muito ameaçada.
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Vestuário e construção de utensílios Todo o vestuário dos gnomos-lusitânicos é feito de fibras vegetais (roupa de Verão) que procuram na Primavera, e pêlo de animais (por exemplo, lã de ovelha para fazer a roupa quente de Inverno e a borla dos seus gorros), que recolhem no solo da floresta. Os gnomos usam a cortiça dos sobreiros para construir quase todos os seus utensílios, mesmo os mais improváveis (máquinas ou computadores).
Comportamento Os gnomos-lusitânicos são criaturas de disposição afável e muito brincalhões entre si., embora sejam muito discretos face às pessoas. Devido aos seus hábitos discretos, a melhor probabilidade de observar um gnomo em estado selvagem é quando este busca alimento nos bosques e florestas.
Relações Interespecíficas A dominância da espécie humana nos habitats que usam fez com que os gnomos-lusitânicos evitem as pessoas. Nas suas relações com os restantes seres vivos, são comunicativos.
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