Diários Gráficos em Almada

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Museu da Cidade 29 Janeiro / 16 Abril 2011

DIÁRIOS GRÁFICOS EM ALMADA “Não somos desenhadores perfeitos.”


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Museu da Cidade 29 Janeiro / 16 Abril 2011

DIÁRIOS GRÁFICOS EM ALMADA “Não somos desenhadores perfeitos.” Sketchbooks in Almada: “We are not perfect artists.” Clara Marta Eduardo Salavisa Enrique Flores Filipe Franco Filipe Leal de Faria Francisco Vidal Guida Casella Hugo Nazareth Fernandes Isabel Fiadeiro Javier de Blas João Catarino José Louro José Miguel Ribeiro Lapin Luis Ançã

Manuel João Ramos Manuel San Payo Mário Bismarck Mário Linhares Mónica Cid Paolo Casella Pedro Cabral Pedro Fernandes Pedro Salgado Ricardo Cabral Richard Câmara Rita Cortez Pinto Ruth Rosengarten Sara Simões Simonetta Capecchi

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Ilustração: Mário Linhares

ALMADA, CIDADE ABERTA ALMADA, OPEN CITY

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m 2011 Almada prossegue a sua Visão Estratégica consubstanciada no enunciado Almada “Mais” Sustentável, Solidária e Eco-eficiente, continuando o rumo de desenvolvimento que caracterizou as últimas décadas de Poder Local Democrático no nosso Concelho. Temos consciência de que será o investimento continuado na melhoria das condições de acesso aos bens e serviços, na rede de equipamentos municipais e na sua oferta, a melhor forma de atenuar e combater o contexto de crise aguda, para a qual não contribuímos. Num concelho com uma forte identidade cultural e territorial com uma história singular marcada pela amálgama cultural das populações que aqui se foram fixando, por uma forte industrialização e um associativismo popular dinâmico e contemporâneo responsável pela organização de milhares de almadenses em torno de projectos de intervenção social, de resistência e criação cultural, o Museu da Cidade apresenta a exposição Diários Gráficos Em Almada.

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n 2011 Almada will pursue its Strategic Vision under the banner of a “More” Sustainable, Supportive and Eco-efficient Almada, continuing on the path of development that has characterised the last decades of Local Democratic Power in our Municipality. We are aware that the best way to attenuate and counter the acute crisis we find ourselves in, but which we did nothing to deserve, is to continue to invest in improving the quality and range of goods and services in the network of municipal equipment and improving people’s access to them. In a municipality with a strong cultural and territorial identity with a singular history marked by the cultural mix of the people who have settled here, by major industrialization and popular dynamic and contemporary associativism responsible for organising thousands of Almada’s residents to participate in projects of social intervention, resistance and cultural creativity, the City Museum presents the exhibition Sketchbooks In Almada.


Não se trata de uma exposição de arte, embora os autores reunidos possam ser artistas, nem de uma exposição centrada em Almada, ainda que apresente também registos gráficos de espaços da cidade. Trata-se antes de uma abordagem diferente, que alia ao desenho em cadernos, múltiplas visões e olhares de formações e percursos profissionais muito diferenciados, que têm em comum uma pratica individual de observação e registo rápido e sistemático de quotidianos, espaços, vivências.

This is not an art exhibition, although its authors may be artists, and neither is it an exhibition on Almada, although it does also present images of the city. It is rather a different approach that combines sketchbook drawings with multiple visions and perspectives from very different professional backgrounds and experiences, which have in common an individual practice of observation and the swift and systematic recording of everyday life, places and things.

Por isso, esta exposição cumpre também o desígnio do Museu da Cidade de encontrar Almada no Mundo, promovendo o conceito de Cidade Aberta, em que o espaço público, de escala humana, da rua, do bairro, se assume como símbolo espacial da democracia e da igualdade, num processo intimista em que a experiência individual encontra e afirma a colectiva.

This exhibition therefore also fulfils the City Museum’s objective of finding Almada in the World, promoting the concept of an Open City, in which the public space of the street and neighbourhood, on a human scale, becomes the spatial symbol of democracy and equality, in an intimate process in which individual experience encounters and affirms the collective.

Em Almada, o projecto de desenvolvimento que prosseguimos é também isto, a construção de uma Cidade que contribua para a auto-estima e a felicidade de todos, que fomenta a imaginação dos cidadãos, como centro de oportunidades para a educação, a formação, a diversidade cultural, potenciando através da rede de equipamentos de serviço público uma oferta diversificada e de qualidade, potenciando um território da cultura e da criatividade, dinâmico e competitivo.

In Almada, the development project we are pursuing is also that, the construction of a City that contributes towards everyone’s self-esteem and happiness, that foments its citizens’ imagination, acting as a centre of opportunities for education, training, cultural diversity, providing a network of diversified and quality public facilities, fomenting a dynamic and competitive area of culture and creativity.

Espero que esta exposição e o programa educativo e de animação que a integram, sejam mais um desafio para o reforço da nossa capacidade de ao olhar, ver a Cidade, vivê-la, usufruí-la, imaginá-la enquanto construção colectiva e espaço de liberdade, responsabilidade de todos.

I hope that this exhibition and its education and entertainment program will be another opportunity to enhance our capacity, upon looking at our City, to experience it, enjoy it, and imagine it as a collective construction and space of liberty, a place we are all responsible for.

A Presidente da Câmara Municipal de Almada The Mayor of the City Hall of Almada

Maria Emília Guerreiro Neto de Sousa 05


Ilustração: Pedro Cabral

DIÁRIOS GRÁFICOS EM ALMADA SKETCHBOOKS IN ALMADA por / by Ângela Luzia - Divisão de Museus e Património Cultural

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Museu da Cidade de Almada constitui uma aposta da autarquia na qualificação da rede museológica municipal, como equipamento especializado de memória e recurso educativo considerando a pluralidade de públicos.

Disto mesmo tem dado conta a sua programação, abordando a história e dinâmicas de transformação de Almada

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lmada’s City Museum represents a challenge for the local authority to improve its municipal museum network by providing equipment specialised in recalling the past and as an educational resource considering its different target publics.

This is exactly how its programme has been geared, approaching the history and dynamics of change in Almada


como centro urbano, apresentando a relação entre o desenvolvimento territorial e os processos de gestão local democrática, permitindo uma leitura geral da cidade.

as an urban centre, presenting the relationship between territorial development and the processes of local democratic management, giving us a broad overview of the city.

A exposição Diários Gráficos em Almada, de que a presente publicação permanece como memória associada, é uma nova proposta de olhar, ver e organizar os quotidianos a partir de um registo íntimo de observação quase obsessiva, que o desenho rápido permite reduzir aos elementos mais essenciais e estruturantes, criando imagens de espaços e vivências mobilizadores de diferentes representações e significados. Nesta perspectiva é irrelevante a localização do objecto desenhado, uma vez que o maior desafio reside no convite à observação e à sua sistematização imediata, descobrindo nos diferentes olhares quotidianos e experiências que identificamos como comuns. Nos objectos expostos é evidente o lado artesanal e de experimentação do gesto que organiza o olhar, do caderno manuseado, da ferramenta escolhida para o registo gráfico rápido.

The Sketchbooks In Almada exhibition, of which this publication is a souvenir, is a new way of looking at, seeing and organising everyday life based on an intimate and almost obsessive observation. Speed drawing helps to reduce something to its most essential, structural elements, creating images of places and situations replete with different representations and significance. From this perspective the location of the drawn object is irrelevant as the main challenge lies in the invitation to observe the object and its immediate systematization, discovering different perspectives of everyday objects and experiences that we identify as commonplace. The objects on display clearly reveal the craft and experimentation of the sleight of hand that organises the visual arena, of the used sketchbook, of the tool chosen for this quick graphic record.

Acresce a esta proposta de leitura da contemporaneidade o crescente interesse e visibilidade que os Diários Gráficos registam, a miscelânea de autores que a eles recorrem, independentemente da formação e qualidade artística do desenho, sendo muitos deles artistas reconhecidos, bem como a crescente adesão a este processo como recurso educativo.

Added to this proposed interpretation of contemporary life is the growing interest and visibility that Sketchbooks record, the variety of authors who use them, many of whom are acknowledged artists, irrespective of their academic and professional background and the artistic quality of the drawing, as well as the growing use of this process as an educational resource.

Esperamos que esta iniciativa seja mais um contributo para compreender a pluralidade e diversidade intrínsecas da urbanidade, convidando, a partir dos cadernos e dos autores participantes, a sucessivas reconstruções do nosso imaginário.

We hope that this initiative will help to lead to a better understanding of the intrinsic plurality and diversity of urban life, encouraging us to successively reformulate our imagination based on the sketchbooks and authors presented here.

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Ilustração: Eduardo Salavisa

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NÃO SOMOS DESENHADORES PERFEITOS WE ARE NOT PERFECT ARTISTS por / by Eduardo Salavisa

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s autores dos desenhos dos cadernos expostos não pretendem ser artistas. Se o são, e alguns serão, não foi por isso que participam nesta exposição. O serem muito bons desenhadores, que o são, não foi também por isso que estão aqui. Participam porque têm um hábito: desenharem em cadernos de uma maneira sistemática, diariamente, diria mesmo, obsessivamente. Não é só quando viajam ou quando têm disponibilidade. Não é só quando vêem algo interessante, nem quando querem reter para a posteridade aqueles momentos. Não é só porque simplesmente lhes pode dar prazer, ou porque lhes vem uma ideia à cabeça e precisam de a visualizar, ou porque é necessário “treinar a mão” para desenharem melhor, ou precisam de analisar um objecto, uma situação, uma tarefa e pelo desenho conseguem-no melhor, ou para, simplesmente, passar o tempo. Ou seja, pode ser por todas as situações descritas anteriormente, mas também pode ser por nenhuma delas, nem por nada de especial. Pode ser por, simplesmente, estarem habituados a serem observadores e, mentalmente, imaginarem que desenho poderiam fazer. E, como têm o hábito de transportarem o caderno, têm a oportunidade de registarem essa ideia. A maneira de expor os cadernos é em armários com gavetas. Nada melhor a fim de realçar o lado pessoal e íntimo desse objecto que foi concebido, pela sua forma e estrutura, para ser visto só pelo próprio e a quem ele queira mostrar.

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he authors of the drawings in the sketchbooks on display do not claim to be artists. If they are, and some will be, this was not why they took part in this exhibition. The fact that they are good drawers, which they are, was also not why they are here. They are participating because they have a habit: they systematically draw in books every day, I would even say obsessively. And not only when they travel or when they have the time. It is not just when they see something interesting, nor when they want to keep those moments for posterity. It is not only because it simply brings them pleasure, or because they get an idea in their head and need to visualize it, or because one needs to “keep one’s hand in” to draw better, or they need to analyse an object, situation or task and can achieve this better by drawing it, or just, simply, to pass the time. Or rather, it might be for all of the above, but it might also be for none of them, nor for anything in particular. It might simply be because they are used to being observers and, mentally, they imagine what drawing they could make. And, as they usually have a note book with them they have the opportunity to record this idea. The way of displaying sketchbooks is in cupboards with drawers. Nothing better to emphasise the personal and intimate side of this object that was conceived, due to its form and structure, to be seen by the author alone and by those he or she wants to show it to.

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DESENHAR O OLHAR SOBRE O MUNDO TO DRAW THE LOOK AT THE WORLD por / by Teresa Carneiro

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esenhar é olhar, examinando a estrutura das aparências. Um desenho de uma árvore mostra, não uma árvore, mas uma árvore-a-ser-olhada. Enquanto uma imagem de uma árvore é registada quase de forma instantânea, examinar um olhar sobre uma árvore (uma-árvore-a-ser-olhada) não só leva minutos ou horas em vez de uma fracção de segundos, mas também envolve, deriva de, e refere-se a diversas experiências passadas do olhar. Contido no instante de um olhar sobre uma árvore é estabelecido uma experiência-de-vida. Esta é a forma como o acto de desenhar recusa o processo de desaparecimento e propõe uma simultaneidade de múltiplos momentos.” John Berger (1) Segundo Eduardo Salavisa, o critério de selecção de diários gráficos para esta exposição foi identificado numa necessidade de registar o mundo através do desenho com uma regularidade muitas vezes quotidiana, por vezes de modo ‘sistemático’, talvez até ‘obsessivo’ por parte dos seus mais variados autores. E enquanto estes diversos registos revelam sem dúvida diferentes experiências e modos de olhar o mundo, é quase tão evidente (ou coincidente) que revelam também diversas experiências de modos e maneiras de desenhar. Portanto, tomando como base a proposta de John Berger que, ao contrário de uma experiência do instante, propõe o desenho como expressão ou evidência de qualquer coisa a ser olhada, numa primeira leitura destes cadernos poderíamos identificar a articulação de duas questões importantes. Em primeiro lugar, uma resistência ao instante, à passagem do tempo que nos escapa a todo o momento, através do registo desenhado como qualquer coisa deten-

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tora de uma experiência temporal de uma multiplicidade de momentos constituídos ao longo de uma experiência que examina não só um olhar mas que também expõe e constrói um determinado modo de olhar através de maneiras específicas de desenhar. A segunda questão liga-se a esta recusa do instantâneo, pois esta recusa aponta para uma resistência à aparência e ao reconhecimento mais imediato das coisas através da projecção das nossas memórias, conhecimentos e experiências prévias do mundo. Esta resistência ao ‘nomeado’ e ao conhecido, ou seja, a um regime discursivo de classificação de ‘coisas como coisas’ põe em causa um certo regime de reconhecimento da configuração das coisas que potencia desta forma uma abertura para uma reconfiguração do sensível. Por outras palavras, esta resistência é indicadora de uma abertura ou ‘predisposição’ para uma espécie de investigação que, sendo mais ou menos assumida, opera como auto-examinação do próprio olhar e das diversas possibilidades ou maneiras de olhar para qualquer coisa, e estabelece uma certa relação de ambiguidade e distanciamento que permite àquele que desenha (re) examinar ou olhar qualquer coisa como pela primeira vez. Esta predisposição para uma ‘auto’-examinação do olhar através do desenho, ou melhor, para uma ‘auto’-examinação da mediação do olhar através de determinadas maneiras de fazer desenho, é exposta como ‘atitude’ primordial nestes diários gráficos. Embora o intuito deste texto não seja o de entrar em análises sobre as diferentes maneiras de fazer dos diversos autores – já que cada uma delas aponta desde logo uma intenção, uma maneira de fazer que ‘escolhe’ ou determina uma maneira específica de olhar e, por vezes, dar a conhecer as coisas – importa no entanto referir que, de uma maneira geral, este conjunto de trabalhos diz muito explicitamente respeito a modos de olhar


Ilustração: Pedro Fernandes (PeF)

que na sua maioria se interessam por uma observação directa do mundo, sendo que no entanto nalguns casos nos deparemos com desenhos de análise de imagens, actuais ou históricas, desenhos que jogam mais conscientemente com explorações ou reinvenções de memórias, desenhos diagramáticos, etc. De certa forma, estamos aqui a falar de um acto de desenhar que compreende um processo paradoxal que implica por um lado, uma recusa do desaparecimento (de uma situação particular, da singularidade e irrepetibilidade de um momento, do tempo que nos escapa a cada instante que passa); e por outro lado, uma aceitação da inevitabilidade do desaparecimento (do instante, de uma experiência irrepetível, de um tempo que a cada momento torna-se imediatamente passado). Mas regressando à tal predisposição ou atitude primordial que os desenhos nestes diários evidenciam, pode-se dizer que a recusa do instantâneo assume-se aqui através de um acto deliberado de envolvimento numa experiência que se exprime não só num olhar mais atento para qualquer coisa, mas também numa investigação sistemática sobre uma consciência da própria experiência de ver. Ainda que o desenhador declare que desenha sem propósitos específicos, ou que desenha apenas pelo ‘gosto de desenhar’, o acto de desenhar sistematicamente, essa necessidade, aponta para uma consciência ou pelo menos para uma intenção (mesmo que ‘inconsciente’) de colocar permanentemente em questão a experiência do olhar e da mediação do olhar. Pois essa acção ‘repetitiva’ e inesgotável que, página após página, exprime uma atitude de interrogar e redescobrir as mediações e modos de ver o mundo, materializa simulta-

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neamente uma tomada de consciência dessas experiências e modos de olhar o real através de um modo operativo que se traduz no registo de uma multiplicidade de instantes do olhar e que em certa medida ‘tem como intenção’ reter e talvez até ‘verificar’ essa nova temporalidade de ver e de (re)encontrar o mundo pelo desenho.

E numa actualidade caracterizada por uma imensa proliferação de imagens, de acesso rápido e imediato, em que tanto se critica a banalização e homogeneização dos modos de ver as coisas, importa reconhecer nestes diários uma diversidade de relatos sobre diferentes modos de olhar o mundo que se constituem e diferenciam através das maneiras específicas escolhidas por cada autor para ‘reter’ e ‘verificar’ o seu olhar sobre o mundo. E assim sendo, estes relatos visuais são também evidência de uma predisposição para um envolvimento com uma ambiguidade do olhar que parte de um acto de resistência ao reconhecimento da ‘aparência’ das coisas e que procura participar numa (re)construção sensível e singular do modo de ‘olhar para’ e ver as coisas. Desta forma, a especificidade com que nos deparamos em cada maneira de desenhar nas diversas páginas destes diários, ou ainda nas diversas maneiras de desenhar de alguns autores, revela qualquer coisa de autobiográfico sobre aquele que desenha e sobre as condições de produtividade e operatividade da circunstância específica em que cada desenho foi realizado. De certa forma, esta acção de storytelling (que relata uma história sobre um modo de ver e sobre a singularidade dessa temporalidade particular), traduz também uma postura ou experiência de testemunho, não só de uma situação particular, mas também de um acto de olhar e de se tornar parte daquilo que se vê – o momento no qual quem desenha reconfigura o seu olhar e o seu posicionamento no mundo através daquilo que reconstitui no papel. Neste caso, talvez se possa propor que quem desenha, desenha-se simultaneamente a desenhar, ou pelo menos desenha-se a desenhar o seu olhar sobre o mundo... e neste caso... já não a coisa desenhada...

(1) Berger, John (2005) “Drawn to that moment” em Berger on Drawing, Aghabullogue, Co.Cork, Ireland: Occasional Press

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o draw is to look, examining the structures of appearances. A drawing of a tree shows, not a tree, but a treebeing-looked-at. Whereas the sight of a tree is registered almost instantaneously, the examination of the sight of a tree (a tree-beinglooked-at) not only takes minutes or hours instead of a fraction of a second, it also involves, derives from, and refers back to, much previous experiences of looking. Within the instant of the sight of a tree is established a life-experience. This is how the act of drawing refuses the process of disappearances and proposes the simultaneity of a multitude of moments.” John Berger (2) According to Eduardo Salavisa, the criteria for the selection of graphic diaries for this exhibition was based on authors who had an everyday, systematic, or at times obsessive necessity to register the world through the act of drawing. And while these various registers undoubtedly reveal different experiences and ways of seeing the world, it is almost as evident (or coincident) that they also reveal several experiences of ways of drawing. Therefore and taking on John Berger’s proposal of drawing as expression or evidence of something being looked at – opposing the experience of the instant – while going through these diaries for the first time we are able to identify the articulation between two important aspects. Firstly, a resistance to the instant, to the elusive passage of time, in the form of the drawn register as something holding a temporal experience of a multiplicity of moments formed throughout an experience that not only examines a look, but also exposes and develops a certain way of looking through specific ways of drawing. Secondly, the rejection of what is instantaneous, involving a resistance to appearance and to the most immediate recognition of things through the projection of our prior memories, knowledge and experiences of the world. This resistance to the ‘named‘ and known world, that is to say, to a discourse that classifies ‘things as things’, challenges a certain regime of recognizing the configuration of things,


thus giving way to a reconfiguration of the world. In other words, this resistance identifies an openness or ‘predisposition’ to a type of investigation that is more or less assumed and works as self-examination of one’s own look and of the diverse possibilities or ways of looking at something, and establishes an ambiguity and distance that allows the drawer to (re)examine or to ‘look at’ something as if for the first time. This predisposition for ‘self’-examining one’s own look through drawing, or even more so, for ‘self’-examining the mediation of one’s look through certain ways of making drawing, is revealed in these graphic diaries as a primordial ‘attitude’. Even though the aim of this text is not to analyze the authors’ different ways of doing – given that each drawing identifies an intention, a way of doing that ‘chooses’ or determines a specific way of looking and, sometimes, of making things known – reference should be made to the fact that, in general, these works explicitly and greatly concern ways of looking that, in their majority, take an interest on a direct observation of the world; however, in some cases, we are faced with drawings that analyze current or past images, drawings that more consciously explore or reinvent memories, diagrammatic drawings, etc. In a way, we are dealing with an act of drawing that encompasses a paradoxical process: on one hand rejecting disappearance (of a particular situation, of the singularity and unrepeatability of a moment, of time that constantly eludes us), and on the other hand accepting the inevitability of disappearance (of the instant, of an unrepeatable experience, of a present time immediately becoming past). Coming back to the predisposition or primordial attitude present in these graphic diaries, it can be suggested that the rejection of the instantaneous is assumed through a deliberate act of involvement in an experience entailing both a more alert look at something and a systematic investigation on a conscience about the experience of looking. Even when the drawer claims to be drawing without a specific purpose or simply for the ‘pleasure of drawing’, the act of drawing systematically, that need, points to a conscience, or at least an intention (even if ‘unconscious’), of permanently questioning the experience of looking and the mediation of looking. This ‘repeated’ and inexhaustible action, in each page expressing an attitude that questions and rediscovers mediations and ways of seeing the world, simultaneously materializes an awareness of those experiences and ways of seeing reality through the registration of a multiplicity of instants of looking which, in

a way, ‘aims’ at retaining and perhaps even verifying this new found temporality of looking and (re)encountering the world through drawing. And at a time where images proliferate, with quick and immediate access, and where so much criticism has been raised against the impoverished and homogeneous ways of seeing things, it is important to emphasize from these diaries a diversity of accounts on different ways of looking at the world which expose the singular way of each author of ‘retaining’ and ‘verifying’ their look at the world. As such, these visual accounts also become evidence of a predisposition for an involvement with an ambiguity of looking that emerges from a resistance to recognizing the ‘appearance’ of things and seeks to participate in a careful and unique (re)construction of the way of ‘looking at’ and seeing things. Thus, the specificity of each way of drawing found throughout the different pages of these diaries, or even on the different ways of drawing of some of their authors, exposes also a certain autobiographic element from those who draw and from the specific conditions of productivity and operability in which each drawing was developed. In a way, this act of storytelling (that reveals a way of seeing and the singularity of that particular temporality) also translates an attitude or experience of witnessing not only a particular situation but also an act of looking and of becoming part of what is being seen – the moment in which the drawer reconfigures his/her look and position in the world through what he/she reconstructs on the paper. In this case, it can perhaps be proposed that the drawer is simultaneously drawing him/herself drawing or at least him/herself drawing his/her look at the world… and in this case…no longer the drawn object... (2) Berger, John (2005) “Drawn to that moment” in Berger on Drawing, Aghabullogue, Co.Cork, Ireland: Occasional Press.

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CLARA MARTA Nascida em Saragoça (Espanha) em 1966. Licenciada em Belas Artes pela Universidad Complutense de Madrid (Espanha). Actualmente Professora na Escola Superior de Design em Aragão, Saragoça (Espanha); Organizadora dos encontros “DeVuelta con el Cuaderno” em Jaca (Espanha) 2009 y em Saragoça (Espanha) 2010.

Born in Zaragoza (Spain) in 1966. Graduated in Fine Arts from the Universidad Complutense de Madrid (Spain). She is currently a teacher in the Higher School of Design in Aragon, Zaragoza (Spain); Organiser of the encounters “De Vuelta con el Cuaderno” in Jaca (Spain) 2009 in Zaragoza (Spain) 2010.

Colabora nos blogues: devueltaconelcuaderno.blogspot.com urbansketchers-spain.blogspot.com

Collaborates in the blogs: devueltaconelcuaderno.blogspot.com urbansketchers-spain.blogspot.com

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osto dos cadernos: vê-los, tocar-lhes, preenchê-los, possui-los. Gosto sobretudo de divertir-me olhando-os. Não me canso ainda que os veja mil vezes. Gosto mais dos outros do que dos meus. Observo-os discretamente e devolvo-os com todo o respeito para que continuem a ser preenchidos. Apreendo tudo o que vejo neles. Gosto de ocupar os meus porque são os únicos que posso desfrutar sem nenhum pudor. Ocupo-os com entusiasmo, concentrada, sem pretensões e assim surpreendo-me com o meu trabalho. Custa-me reconhecê-los como próprios, acabo por assumi-los e também aprendo com isso. São as minhas chaves para entender os meus pensamentos. São os meus pensamentos para perceber, na medida do possível, as chaves do que acontece. O que me acontece. Não acabo por dominar o seu breve espaço, e isso gosto, obriga-me a praticar e a superar-me. Cada página encontra-se com a sua distinta variável. Não chego a decidir o que faço. Muitas vezes penso que os cadernos têm pequenos duendes que me manejam como bem lhes apetece. Isto é meu? Eu desenhei isto? No dia em que anteveja, ante a folha em branco, o que vou desenhar, deixarei de o fazer sistematicamente nos cadernos. Vão-me aborrecer. Entretanto vou-me deixar seduzir por esse diálogo fresco, sincero entre o papel e eu. Seguiremos nesse jogo e diálogo que desde há muito tempo levamos entre mãos.

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I

like sketchbooks: seeing them, touching them, filling them up, owning them. I especially like having fun looking at them. I still don’t get tired of seeing them, even if I’ve seen them a thousand times. I like other people’s drawings more than my own. I observe them discretely and return them with total respect so that they can continue to be filled in. I learn everything that I see in them. I like to take care of mine because they are the only ones that I can enjoy without feeling embarrassed at all. I draw with enthusiasm, concentrated, without pretension and so I am surprised with my work. I find it hard to recognise them as mine, but I end up by assuming them and I also learn from this. They are the keys to understanding my thoughts. They are my thoughts to understand, as far as possible, the keys to what is going on. What happens to me. In the end I don’t get to control their brief space, and I like that, it forces me to practise and to surpass myself. Each page has its own variables. I don’t get to the point where I can decide what to do. I often think that my sketchbooks have little goblins that do what they want with me. Is this mine? Did I draw this? The day that, looking at a blank sheet of paper, I can foresee what I am going to draw, I will stop systematically drawing in sketchbooks. They’ll bore me. Meanwhile I will let myself be seduced by this fresh and sincere dialogue between the paper and me. We will continue playing this game and having this dialogue that exists for so long between us.


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CLARA MARTA

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EDUARDO SALAVISA

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Nasce em Lisboa, em 1950, onde vive e trabalha. Licenciado em Design de Equipamento pela FBAUL. Desenha. Organiza e participa em exposições, conferências, workshops e encontros sob o tema do “Diário Gráfico”. Autor do livro “Diários de Viagem. Desenhos do quotidiano”, Quimera, Lisboa 2008.

Born in Lisbon, in 1950, where he lives and works. Graduate in Equipment Design from FBAUL. He draws. He organises and participates in exhibitions, conferences, workshops and encounters on the topic of the “Sketchbook”. Author of the book “Diários de Viagem. Desenhos do quotidiano” (Travel Diaries. Everyday Drawings), Quimera, Lisbon 2008.

Dinamiza o site e o blogue: www.diariografico.com diario-grafico.blogspot.com

Hosts the site and blog: www.diariografico.com diario-grafico.blogspot.com

Colabora nos blogues: www.urbansketchers.com urbansketchers-portugal.blogspot.com devueltaconelcuaderno.blogspot.com

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P

or ser transportável e estar sempre disponível para ser riscado, o Diário Gráfico tornou-se, para mim, num objecto inseparável e imprescindível. É um objecto de uma utilidade extrema e simultaneamente o mais inútil dos objectos.

Uma pergunta frequente e pertinente: “porque não a fotografia em vez do desenho?”. É tudo uma questão de tempo, de ritmo, de usufruir as coisas de maneira diferente, de interiorizar as experiências com outra intensidade. Na verdade, muitos viajantes conjugam as duas maneiras de registo, o desenho e a fotografia (como também usam a escrita, quando concluem que só a imagem não chega), mas não se trata de fotografar para depois desenhar em melhores condições, porque não é importante o resultado, o desenho final, mas sim toda a experiência que o acto de desenhar nos proporciona.

A

s it is transportable and always ready for use, the Sketchbook, for me, has become an essential object from which I am inseparable. It is an extremely useful object and, at the same time, the most useless of objects.

A frequent and pertinent question: “why not photography instead of drawing?”. It is all a question of time, of pace, of enjoying things in a different way, of interiorising experiences with a different intensity. In fact, many travellers use both forms of recording, drawing and photography (as they also write when they conclude that image alone is not enough), but it is not a case of photographing in order to draw later in better conditions, because the result, the final drawing, is not important but rather the whole experience that the act of drawing gives us.

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EDUARDO SALAVISA

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ENRIQUE FLORES Vive e trabalha em Madrid. Estudou em Londres. Ilustrador do jornal “El País” além de outros jornais, revistas e livros. Tem viajado e editado os desenhos feitos em viagem. Dinamiza o blogue: www.4ojos.com/blog

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Lives and works in Madrid. Studied in London. Illustrator of the newspaper “El País” besides other newspapers, magazines and books. He has travelled and published the drawings he made on his travels. Hosts the blog: www.4ojos.com/blog


S

empre que tenho ocasião pego na mochila, (pequena), na caixa de aguarelas, (também pequena), e num livro, (de preferência um A4 da Winsor&Newton de capa dura), e parto em viagem, porque nada me dá mais prazer do que sentar-me nalgum bar ou rua e desenhar o que me rodeia. Como nunca consigo fazer justiça às pessoas, prefiro desenhá-las pequenas e entreter-me com os edifícios (melhor ainda se forem antigos, desabitados e de ladrilho aparente), carros (os americanos que ainda circulam em Cuba nunca me cansam), barcos e árvores (embora com estas ainda tenha muito que aprender).

W

henever I can, I grab my backpack, (small), my box of watercolours, (also small), and a book, (preferably a Winsor&Newton hardback A4), and set off, because nothing gives me more pleasure than to sit in a bar or street and draw my surroundings. As I can never do justice to the people, I prefer to draw them small and entertain myself with the buildings (better still if they are old, uninhabited and bare brick), cars (I never get tired of the American ones that still drive around in Cuba), ships and trees (although I still have a lot to learn about these).

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ENRIQUE FLORES

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FILIPE FRANCO

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Nasceu em Lisboa em 1968. Docente do Curso de Mestrado em Ilustração no Instituto Superior de Educação e Ciências / Universidade de Évora. Pós-graduação em Ilustração Científica, University of California, Santa Cruz, EUA, 2008, como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian em colaboração com a Fundação Luso-Americana para o desenvolvimento. Actualmente estuda possibilidades de aplicação do desenho e escultura em áreas de investigação dedicadas à identificação humana.

Born in Lisbon in 1968. Teacher of the Masters Course in Illustration in the Higher Institute of Education and Sciences / University of Évora. Post-graduate in Scientific Illustration, University of California, Santa Cruz, USA, 2008, as a scholarship holder of the Calouste Gulbenkian Foundation in collaboration with the Luso-American Foundation for Development. He is currently studying the possibilities of applying design and sculpture in areas of research dedicated to human identification.

Coordena o site e o blogue: www.filipefranco.com scientificillustration.wordpress.com

Coordinates the site and the blog: www.filipefranco.com scientificillustration.wordpress.com


A

importância que o caderno de esboços tem vindo a adquirir na minha vida resume-se ao facto de possuir a extraordinária capacidade de encerrar versões muito particulares da realidade que me rodeia. Registos que se iniciam numa tentativa mais ou menos fiel aos locais, pessoas, coisas e momentos que observo mas que acabam transportados para um universo gráfico e pictórico no qual passam a ser, também, um espelho da minha própria essência. Um espaço composto de pequenos tesouros, suspensos no tempo, que revisito para resgatar quem fui e não esquecer o que sou.

T

he importance that the sketchbook has been acquiring in my life comes down to the fact that it has the extraordinary capacity to capture very particular versions of the reality that surrounds me. Records that start in an attempt that is more or less faithful to the places, people, things and moments that I observe but which end up by being transported into a graphic and pictorial universe in which they also become a mirror of my very essence. A space made up from small treasures, suspended in time, that I revisit to reclaim who I was and not forget who I am.

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FILIPE FRANCO

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FILIPE LEAL DE FARIA

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Nasce em Lisboa em 1976. Licenciado em Arquitectura pela FAUTL. Arquitecto praticante, estudou o papel do desenho do quotidiano na prática arquitectónica. Participa em exposições, workshops e encontros sob o tema do “Diário Gráfico”.

Born in Lisbon in 1976. Graduated in Architecture at FAUTL. Practising architect, studied the role of everyday drawing in architectonic practice. He participates in exhibitions, workshops and encounters on the topic of the “Sketchbook”.

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T

odos os dias desenho. Ao princípio só registava o que me parecia nobre ou importante, com o passar dos anos comecei a ser menos exigente nos temas, hoje em dia dou por mim a desenhar a repartição de finanças onde aguardo a minha vez ou a paisagem dum terminal ferroviário, a sala de espera de qualquer consultório, enfim, o olhar tornou-se perscrutar e o registo dos estímulos visuais um sistema.

I

draw every day. In the beginning I only drew what seemed noble or important to me, but as the years went by I started to become less demanding about the topic, these days I can find myself drawing the Inland Revenue office where I’m waiting for my turn or the landscape of a rail terminal, any waiting room, in fact, my gaze has become a scanner and the recorder of visual stimuli, a system.

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FILIPE LEAL DE FARIA

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FRANCISCO VIDAL Nasceu em Lisboa, em 1978. Sempre desenhou. Frequentou o Ar.Co e a Sociedade Nacional de Belas Artes e licenciou-se em Pintura nas Caldas da Rainha. É artista plástico e expõe regularmente.

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Born in Lisbon, in 1978. Has always done drawings. He attended Ar.Co and the National Society of Fine Arts and graduated in Painting in Caldas da Rainha. He is a plastic artist and exhibits regularly.


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meu primeiro diário gráfico foi o princípio, o despoletar. São desenhos que me ajudaram a descobrir o que se estava a passar comigo, o que eu queria realmente fazer, que tipo de pintor queria ser. Comecei pelo auto-retrato, depois passei para o mimar tudo o que estivesse à volta. Começaram as experiências de materiais, de largar o desenho e passar à pintura. Foi uma autêntica descoberta. Pela primeira vez usei a cor. Até ali fazia tudo a preto e branco. Estava a delirar com a cor, ela fascinava-me. Descobria como se podiam conjugar umas com as outras. Como podia, a partir delas, exteriorizar as minhas paranóias, as minhas paixões.

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y first one, was the start, the awakening. They are drawings that helped me to discover what was going on with me, what I really wanted to do, what kind of painter I wanted to be. I started with self-portraits, then I went on to imitate everything around me. Then I started to experiment with materials, giving up drawing and moving on to painting. It was a genuine discovery. I used colour for the first time. Until then I had done everything in black and white. I was going wild with colour, it fascinated me. I discovered how you could mix some colours with others. How, using them, I could externalise my paranoias, my passions.

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FRANCISCO VIDAL

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GUIDA CASELLA Nasceu em Lisboa em 1974. MA in Archaeological Illustration (Swindon College of Art, Universidade de Bath, Inglaterra, 2005). Licenciada em Pintura pela Faculdade de Belas Artes de Lisboa (2000). Ilustradora Científica trabalhando em Equipas de Arqueologia. Tem ilustrações publicadas em diferentes revistas de Arqueologia e História e em Artigos Científicos. Dá cursos e palestras na área da Ilustração Arqueológica e Museográfica.

Born in Lisbon in 1974. MA in Archaeological Illustration (Swindon College of Art, University of Bath, England, 2005). Graduated in Painting from the Faculty of Fine Arts of Lisbon (2000). Scientific Illustrator working in archaeological teams. Her illustrations have been published in different Archaeology and History magazines and in scientific articles. She gives courses and talks on the area of Archaeological and Museographic Illustration.

Dinamiza o site: www.guidacasella.com

Hosts the site: www.guidacasella.com

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esenho artefactos, algo que já foi a criação artística de alguém. Desenho objectos inanimados, mas que ganham aos meus olhos, ou à minha sensação de os desenhar, uma dimensão intemporal. Gosto especialmente de desenhar o Património Cultural, que é muito ‘desenhável’. Há um lado de misterioso, de curioso nestes objectos, porque vêm de há muitos anos. Por vezes encontram-se coisas tão estranhas, tão poderosas, ou simplesmente tão belas, que produzem em nós grande satisfação em desenhá-las, como que podendo assim roubá-las do museu e transportá-las sempre connosco. Outras parece que soam a arquétipos ou produzem um certo ‘acorde estético’ que nos dá vontade de criar novamente algo com base na experiência estética que tivemos. Como trabalho em Desenho Arqueológico para fins Científicos e Educativos, estes diários gráficos permitem-me uma experimentação permanente de técnicas ou soluções visuais que posteriormente podem ser utilizadas em publicações.

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draw artefacts, things that have already been someone else’s artistic creation. I draw inanimate objects, but which, in my eyes or to my sensation of drawing, take on a timeless dimension. I especially like drawing things from our Cultural Heritage etc, which are highly ‘drawable’. There is a mysterious side, something curious in these objects, because they are from many years ago. At times one can find such strange and powerful things, or simply such beautiful things, that give us great satisfaction to draw them, as if by drawing them we could steal them from the museum and keep them with us always. Others seem like they could be archetypes or produce a certain ‘aesthetic chord’ that make us want to create something again based on the aesthetic experience we had. As I work in Archaeological Drawing for Scientific and Educational purposes, these sketchbooks allow me to permanently try out visual techniques or solutions that can later be used in publications.


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GUIDA CASELLA

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HUGO NAZARETH FERNANDES Arquitecto, nasceu em Paris em 1972. Cedo veio para Lisboa. Licenciou-se em 1996 e doutorou-se em 2009. Tem alguns artigos da especialidade e aguarda a publicação do seu primeiro livro. Trabalha em regime liberal e é docente do ensino superior. É casado e tem um filho. Vive em Lisboa, Campo de Ourique, e dedica-se à música e ao desenho, quando pode.

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esenhos “a café” e outros imaginários de bolso

Para mim estes registos são uma possibilidade de continuar o desenho livre, fora do âmbito profissional, que no meu caso é o da arquitectura. Mas aqui é muito fácil “desligar” e voltar a “ligar”. Têm uma escala de tempo deliciosamente oposta à da arquitectura, o que me agrada bastante. Procuro adaptar o meu traço ao tipo de caneta que tenho à mão, o que também condiciona a velocidade do desenho. Os mais rápidos serão sempre os mais espontâneos, e há um “factor de honestidade” nisto tudo que “obriga” o acto a ser mais interessante, sobretudo quando não há uma ideia pré-consciente e o conjunto por fim se equilibra – ou não. E depois há a questão da batota, do traço ou da mancha que “resolve” – ou então estraga! e transforma tudo numa paródia de nós próprios. No fim, encaro estes registos gráficos como pequenas liberdades do dia-a-dia. Marcam uma interpretação do real com reflexos do imaginário. E têm, no geral, a beleza de não servir absolutamente para nada.

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Architect, born in Paris in 1972. Moved to Lisbon very young. Graduated in 1996 and got his Doctorate in 2009. He has some articles on the subject and awaits publication of his first book. Works free-lance since 1996 and is a teacher of higher education since 1999. Is married and has one child. Lives in Lisbon, Campo de Ourique, and dedicates his time to music and drawing, when he can.

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café” drawings and other pocketbook creations

For me these records are a possibility of continuing free drawing, outside of the professional realm, which in my case is that of architecture. But here it is very easy to “switch off” and “switch on” again. They have a time scale that is deliciously contrary to that of architecture, which I like a lot. I try to adapt my stroke to the type of pen I have in my hand, which also conditions the speed of the drawing. The quicker ones will always be the most spontaneous, and there is an “honesty factor” in all of this that “obliges” the act to be more interesting, especially when there is no pre-conceived idea and the whole thing comes together in the end – or not. And then there is the question of cheating, of the line or of the blob that “sorts it all out” – or maybe ruins it! And transforms everything into a parody of ourselves. In the end, I look on these graphic records like small every-day liberties. They provide an interpretation of reality with touches of the imagination. And, in general, they have the beauty of being absolutely useless.


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HUGO NAZARETH FERNANDES

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ISABEL FIADEIRO Portuguesa a viver e trabalhar em Nouakchott, Mauritânia. Estudou na Falmouth School of Arts, Cornualha e completou Belas Artes no Wimbledom School of Arts em Londres. Além de pintora e ilustradora, promove o trabalho de artistas e artesãos locais através da Galeria Sinaa, galeria de arte da qual faz parte desde Setembro 2009. Instalada na Mauritania desde 2004, ela tem viajado e desenhado a vida das populações locais com quem ela divide o quotidiano durante algumas semanas cada ano. Em Janeiro 2008 passou 5 semanas nos campos de refugiados Saharawis em Tindouf, Algeria, desenhando a vida das mulheres nos campos.

Portuguese living and working in Nouakchott, Mauritania. Studied in the Falmouth School of Arts, Cornwall and completed Fine Arts in the Wimbledon School of Arts in London. Besides being a painter and illustrator, she promotes the work of local artists and craftsmen and women through the Sinaa Gallery, an art gallery that she has been part of since September 2009. Living in Mauritania since 2004, she has travelled and drawn the life of the local populations with whom she shares her everyday life for some weeks each year. In January 2008 she spent 5 weeks in the Saharawis refugee camps in Tindouf, Algeria, drawing the life of the women in the camps.

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uando descobri o deserto fiquei com água na boca e vontade de entrar pelo areal que se estendia à minha frente. A oportunidade veio e, de repente, comecei de novo a desenhar. Tudo o que via tinha vontade de apontar no caderno, nunca antes tinha sentido esta compulsão e se tinha desenhado de observação foi sempre como parte de um exercício imposto.

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hen I discovered the desert my mouth just watered and I wanted to dive into the sand that stretched out before me. The opportunity came and, suddenly, I started drawing again. I wanted to draw everything I saw in my pad, I had never felt this compulsion before and if I had drawn from observation before it was always as part of an imposed exercise.


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ISABEL FIADEIRO

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JAVIER DE BLAS Licenciado em Belas Artes. Professor de Desenho na Escola Superior de Design de La Rioja, Espanha.

Degree in Fine Arts. Teacher of Design in the Higher School of Design of La Rioja, Spain.

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S

ou uma daquelas pessoas que é difícil sair de viagem, ou simplesmente à rua, sem um caderno para desenhar. Não tenho especial interesse na retórica do suporte. Simplesmente necessito de um espaço vazio para poder garatujar em qualquer lugar onde me encontre. Do caderno gosto da inevitável relação entre as suas páginas, esse espaço de tempo entre as coisas que discorrem entre elas. Não é o mesmo desenhar que fazer um desenho. Eu prefiro desenhar, viver essa experiência e, se for necessário, fracassar com ela, que fazer um desenho, isto é, fazer algo cujo resultado já conheço de antemão. Assim, verão altos e baixos nos meus cadernos. Nunca, antes, pensei que estas pequenas memórias visuais pudessem interessar outros. Pessoalmente, sempre gostei mais da magia que aparece nos esboços que no grande espectáculo da obra terminada. É como a diferença de falar entre uma tertúlia de amigos e fazer um discurso.

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am one of those people who can’t go on a trip, or just out into the street, without a pad to draw on. I have no special interest in the rhetoric about the medium. I just need an empty space where I can scribble away anywhere that I happen to be. What I like about a sketchpad is the inevitable relationship between its pages, this space of time between the things that go on between them. Drawing is not the same as doing a design. I prefer drawing, living this experience and, if necessary, failing with it, than making a design, or rather, doing something the result of which you already know beforehand. So, you will see highs and lows in my books. I never imagined that these little visual memories could interest anyone else. Personally, I always preferred the magic that appears in sketches than in the great spectacle of the finished work. It is like the difference between chatting in a group of friends and making a speech.


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JAVIER DE BLAS

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JOÃO CATARINO Nasce em Lisboa em 1965. Licenciado em Design de Comunicação pela FBAUL. Professor no Ar.co de Desenho e de Design e professor de Ilustração no CIEAM na FBAUL. Participa em exposições, conferências, workshops e encontros sob o tema do “Diário Gráfico”.

Born in Lisbon in 1965. Graduated in Communication Design at FBAUL. Teacher of Drawing and Design in Ar.co and teacher of Illustration in the CIEAM in the FBAUL. He participates in exhibitions, conferences, workshops and encounters on the topic of the “Sketchbook”.

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F

oi há 20 anos que apanhei o “vício” e, como grande parte dos vícios se apanham com as companhias e nas escolas, fui também eu contaminado pelos meus amigos da Escola de Belas Artes de Lisboa do ano anterior ao meu, que já andavam armados com os tais livrinhos de encadernação reforçada. Todos tinham passado ainda pelas mãos de Mestre Lagoa e, ao que parece, com a lição bem estudada. Foram discípulos perfeitos e contagiaram-me essa vontade permanente de fixar as coisas, as pessoas e os lugares, naquele formato de bolso que de início, me pareceu de dimensões ridículas. Em breve, porém vi que o mundo parecia caber ali. De facto qualquer trajecto por mais curto que seja, ganha “sabor a viagem” quando se vai “armado” com o tal livrinho, paramos para roubar um tempo à correria da rotina, quando fixo no papel um pouco dessa mesma rotina, deixa de ser rotina.

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caught the “habit” 20 years ago and, like most bad habits you get them from friends and in school, I was also contaminated by my friends from the year below mine in the School of Fine Arts of Lisbon, who already used to go around with those reinforced pads. They had all been through the mill with Master Lagoa and, it seems, had got it all down. They were perfect disciples and infected me with this permanent desire to draw things, people and places in that pocket format that, in the beginning, seemed a ridiculous size to me. Very soon though, I saw that it seemed that the whole world could fit into them. In fact no matter how short the trajectory, it can feel like a “journey” when we’ve “packed” this little book; we stop to steal a moment from the hustle and bustle of our routine, and when I draw a little of this very routine on paper, it ceases to be routine.


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JOテグ CATARINO

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JOSÉ LOURO Nasce em Lisboa em 1964. Licenciado em Design de Equipamento pelo IADE. Mestre em Desenho pela FBAUL. Professor e formador. Participa em exposições, conferências, workshops e encontros sob o tema do “Diário Gráfico”. Coordenador da pós-graduação «Diários Gráficos Sketchbooks», IADE.

Born in Lisbon in 1964. Bachelor’s Degree in Equipment Design from IADE. Masters Degree in Design from FBAUL. Teacher and trainer. Participates in exhibitions, conferences, workshops and encounters on the topic of the “Sketchbook”. Coordinator of the post-graduate course «Sketchbooks», IADE.

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O

que me interessa não é a totalidade mas sim o fragmento. Acho que nunca desenhei um edifício integralmente. Janelas, portas com pessoas a espreitar, balcões de hipermercados, cafés, esquinas, parques de crianças, barcos, automóveis. É aí a minha busca. O trânsito, por exemplo, fascina-me. Há qualquer coisa no seu movimento incessante que me prende a atenção. Este é um aspecto importante: existem assuntos imediatamente “desenháveis”. Estão lá parecendo obedecer a uma imagem prévia. Mental.

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hat interests me isn’t the whole but rather the fragment. I think I have never drawn a whole building. Windows, doors with people peeping out, hypermarket checkouts, cafés, corners, kiddie’s parks, boats, cars. That is where I’m looking. Traffic, for example, fascinates me. There is something in its incessant movement that captures my attention. This is an important aspect: there are immediately “drawable” things. They seem to correspond to a prior image. Mental.


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JOSÉ LOURO

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JOSÉ MIGUEL RIBEIRO Nasceu na Amadora em 1966. Licenciou-se na ESBAL em Artes Plásticas-Pintura. Trabalhou como ilustrador. Estudou cinema de animação na Lazennec-Bretagne, Rennes e na Filmografo, Porto. Realizou varias curtas-metragens, entre as quais a “A Suspeita”, com a qual receberia o Cartoon d’Or, e a última “Viagem a Cabo-Verde”. Funda, em conjunto, a produtora Sardinha em Lata.

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Born in Amadora in 1966. Graduated in ESBAL in Plastic Arts-Painting. Has worked as an illustrator. Studied the cinema of animation in Lazennec-Bretagne, Rennes and in the Filmografo, Porto. He has made a number of short films, among which “A Suspeita”, with which he would receive the Cartoon d’Or, and his latest “Viagem a CaboVerde”. He co-founded the production company Sardinha em Lata.


O

s cadernos brancos começaram a entrar na minha vida nos últimos anos do secundário (anos 80) e desde aí nunca mais pararam. São sempre de viagem porque têm as minhas pernas que os levam para onde vou. Uma sala de espera, uma cadeira do comboio, uma encosta ou uma mesa de amigos. Nos últimos anos, com o início do meu trabalho de produtor os cadernos começaram a ter mais letras e números do que era habitual. Agora tenho de viajar mais longe para encontrar o tempo do desenho. A próxima viagem.

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lank sketchbooks started to come into my life in the last years of my secondary school (80’s) and since then they haven’t stopped. They are always travel pads because they have my legs to take them wherever I go. A waiting room, sitting on a train, a slope or a table of friends. In recent years, with the start of my work as a producer, my sketchpads have started to have more letters and numbers than used to be the case. Now I have to travel further afield to find the time to draw. The next journey.

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JOSÉ MIGUEL RIBEIRO

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LAPIN

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Francês, a viver em Barcelona, ilustrador de moda, revistas e publicidade. Ele desenha, todos os dias, no seu diário gráfico, usando cadernos de arquivo como elementos das suas ilustrações.

French, living in Barcelona, fashion illustrator, magazines and advertising. He draws, every day, in his sketchbook, using archive pads as elements of his illustrations.

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D

sde há 6 anos que ando sempre com um caderno na algibeira. Comecei por utilizá-lo timidamente no metro, depois, cada vez mais sistematicamente, na esplanada, à noite, todos os dias. Os primeiros cadernos são colecções de retratos “roubados”, de passageiros absorvidos na leitura de jornais no trajecto para o trabalho. Pouco a pouco os assuntos diversificaram-se para fixar no meu caderno cenas fugazes, galerias de rostos, acumulações de objectos, paisagens... Hoje vivo em Barcelona e tenho uma centena de cadernos na minha estante: 6 anos do meu quotidiano, com escalas em Paris. Berlim. Londres ou Nova Iorque. O conteúdo dos meus cadernos pode ser visto no meu blog e o resto das ilustrações no meu sítio.

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or the last 6 years I always have a sketchpad in my pocket. I started by using it timidly in the metro, and then increasingly systematically, on the esplanade, at night, every day. My first sketchpads are collections of portraits “stolen”, from passengers absorbed in reading their newspapers on the way to work. Little by little the topics diversified, filling my pad with fleeting scenes, galleries of faces, accumulations of objects, landscapes... Today I live in Barcelona and I have about a hundred sketchbooks on my shelf: 6 years of my day-to-day life, with stop-offs in Paris. Berlin. London and New York. The content of my sketchpads can be viewed in my blog and the rest of my illustrations on my site.

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LAPIN

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LUIS ANÇÃ Lisboa, 1955. Licenciatura em Artes Plásticas/ Pintura na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, em 1980. Professor de Educação Visual/ Artes Visuais desde 1978. Professor de desenho no Ar.Co, de 1987 a 1991. Exposições de desenho e pintura desde 1975.

Lisbon, 1955. Degree in Plastic Arts / Painting in the Higher School of Fine Arts of Lisbon, in 1980. Teacher of Visual Education / Visual Arts since 1978. Teacher of drawing in Ar.Co, from 1987 to 1991. Exhibitions of drawings and painting since 1975.

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esenho e pinto em qualquer suporte, com os mais diversificados materiais, mesmo improvisados ou inventados. Em cadernos, os desenhos ficam guardados com algum sentido cronológico, porque são registos do dia a dia, são memórias gráficas, pegadas. Os diários gráficos deixam-nos uma colecção de momentos, notícias dos sítios por onde passamos. Um caderno completo é um objecto com a sabedoria dos momentos que encerra, é um pequeno capítulo das vivências quotidianas. Mas o que me move acima de tudo é o prazer de desenhar. Reparto esta actividade de desenho com o trabalho de laboratório, no atelier, onde o trabalho não é uma transcrição dos registos gráficos, mas outra história completamente diferente. Parecendo ser um antagonismo, acaba por se revelar um complemento necessário.

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draw and paint on any medium, with the most diverse materials, even improvised or invented. In sketchbooks, the drawings are kept with a degree of chronology, because they are everyday records, they are graphic memories, altogether. Sketchbooks offer us a collection of moments, news of the places we have been to. A full sketchbook is an object with the wisdom of the moments it contains, it is a short chapter of our everyday experiences. But what gets me more than anything else is the pleasure of drawing. As well as this activity of drawing I also do laboratory work, in the studio, where my work is not a transcription of the graphic records, but something completely different. Although it seems antagonistic, it ends up by being a necessary complement.


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LUIS ANÇÃ

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MANUEL JOÃO RAMOS Vive e trabalha em Lisboa. É antropólogo, investigador do Centro de Estudos Africanos do ISCTE-IUL e professor associado do Departamento de Antropologia do ISCTE-IUL. Tem editado os seus cadernos de viagens em livro. Publicou recentemente Traços de Viagens (Bertrand, 2009) e Histórias Etíopes (Tinta da China, 2010).

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uando desenho não me interessa especialmente o produto acabado do que faço. Desenhar é um impulso espontâneo e sinto que o papel de má qualidade, que utilizo frequentemente, reflecte essa espontaneidade. Não me preocupo com necessidades de criação original nem com intenções de perpetuação da obra, e por isso não me importo de desenhar sobre materiais efémeros e com tintas que desbotam ou que queimam o papel.

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Lives and works in Lisbon. He is an anthropologist, researcher at the Centre of African Studies of ISCTE-IUL and associate professor of the Department of Anthropology of ISCTE-IUL. He has published a book of his travel sketchbooks. He recently published Traços de Viagens (Bertrand, 2009) and Histórias Etíopes (Tinta da China, 2010).

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hen I draw, the end product of what I do does not especially interest me. Drawing is a spontaneous impulse and I feel that the bad quality paper that I often use reflects this spontaneity. I am not bothered with the need for original creation, nor the intention of perpetuation of the work, and so I don’t mind drawing on ephemeral materials and with paints that fade or that burn the paper.


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MANUEL JOテグ RAMOS

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MANUEL SAN PAYO Nasceu em Lisboa, onde vive e trabalha. Licenciado em Pintura na Escola de Belas Artes de Lisboa. Desde o 1ºano que faz Diários Gráficos e, passados poucos anos, já tinha mais de cem feitos. Integrou-os naturalmente no seu processo de trabalho sendo, neste momento, o seu principal objecto de estudo. Pinta e expõe regularmente. É professor na Faculdade de Belas Artes de Lisboa onde lecciona a disciplina de Desenho.

Born in Lisbon, where he lives and works. Graduate in painting at Lisbon’s School of Fine Arts. Since his 1st year is doing Graphic Diaries and only in a few years, had made more than a hundred. These graphic diaries were naturally integrated in his work process and in this moment, is the main subject of his study. He paints and exhibits regularly. He is a professor in the Faculty of Fine Arts in Lisbon where he teaches the discipline of drawing.

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equeno, compacto e discreto, o diário gráfico não é um livro que se ande a exibir facilmente. O espaço de liberdade que proporciona está precisamente relacionado com esta característica. Os desenhos que se fazem são normalmente esboços rápidos, ensaios, experiências com um carácter apenas provisório. As ideias passam rapidamente, as circunstâncias não permitem um maior índice de acabamento ou ainda o primeiro ensaio não satisfaz, ficando em aberto, dando origem a processos mais ou menos longos de modelação. O diário gráfico é um espaço de libertação e de experiência e a experiência implica a tentativa, o erro, (o disparate mesmo) e finalmente todas as fraquezas que só revelamos a quem muito bem entendermos.

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mall, compact and discrete, the sketchbook is not a book that you can easily show to everyone. The space of freedom that it provides is precisely related to this feature. The drawings that are done are usually quick sketches, essays, experiments with an interim nature only. The ideas fade away quickly, the circumstances do not permit a higher rate of completion or the first test does not satisfy, leaving open, giving rise to more or less long modeling processes. The sketchbook is a space of self release and experience and the experience involves the attempt, the error (truly, the nonsense) and finally all of the weaknesses that we can only reveal to those who we choose to.


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MANUEL SAN PAYO

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MÁRIO BISMARCK Nasceu em 1959 no Porto. Licenciado em Artes Plásticas pela Escola Superior de Belas Artes do Porto. É Professor de Desenho na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. Tem participado em diversas conferências, seminários e mesas-redondas relacionadas com o Desenho. Expõem individual e colectivamente.

Born in 1959 in Porto. Degree in Plastic Arts from the Higher School of Fine Arts of Porto. He is a Teacher of Design in the Faculty of Fine Arts of Porto University. He has participated in a number of conferences, seminars and round tables related with Design. He has individual and collective exhibitions.

Dinamiza o site: www.mariobismarck.com

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A

maioria dos desenhos que se fazem nos cadernos de viagens não necessitavam de serem feitos. São feitos para quê? Não há função nenhuma para eles, não respondem a nenhum problema concreto e identificável, não há nenhuma urgência em os fazer. A não ser a esta: estou aqui e vou desenhar (um pouco como dizem os alpinistas quando lhes perguntam porque sobem às montanhas: porque elas estão ali!). Enquanto os nossos companheiros de viagem se afastam pois já “viram”, nós ficamos, pois não vimos o suficiente. Vou “perder” tempo a desenhar, pois para desenhar é preciso tempo. Pode ser o tempo breve de um esquisso, ou o tempo mais longo do desafio da complexidade de uma “vista”. Se, como dizem os que sabem, “tempo é dinheiro”, desenhar é um acto de puro desperdício, um acto perdulário! Um acto anacrónico de um outro tempo.

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ost drawings done in sketchpads did not need to be drawn. Why are they drawn? They serve no purpose whatsoever, they do not address any concrete and identifiable problem, there is no urgency in drawing them. Other than this: I am here and I am going to draw (a bit like mountain climbers when you ask them why they climb mountains: because they’re there!). While our travel companions move on as they have already “seen it”, we stay, as we haven’t seen enough. I’m going to “waste” time drawing, as you need time to draw. It might be the short time needed for a sketch, or much more time for the challenge of the complexity of a “view”. If, as those who know say, “time is money”, drawing is a pure waste of time, a wasteful act! An anachronistic act of another time.

Perder tempo, entrar noutro tempo, perdermo-nos no tempo. Há maior luxo?

To waste time, to change pace and lose track of time. Is there nothing better than that?

Perder ou ganhar?

Waste or gain?


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MÁRIO BISMARCK

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MÁRIO LINHARES

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Nasceu em Oeiras em 1980, vive em Sintra e trabalha em Lisboa. Estudou na António Arroio. Bacharel em Design Paisagístico, licenciado em Design de Equipamento e mestre em Ensino das Artes Visuais. Desenha, projecta e idealiza projectos artísticos e humanitários.

Born in Oeiras in 1980, lives in Sintra and works in Lisbon. Studied in the António Arroio School. Baccalaureate in Landscape Design, graduated in Equipment Design and has a Masters in Visual Arts Education. He draws, designs and idealises artistic and humanitarian projects.

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senha-me... Consome-me... Gasta-me... Eterniza-me...

O diário gráfico não me deixa em paz. Persegue-me com ânsia de ser usado, aguarelado, escrito... É um acto quotidiano, regular. Tudo pode ser motivo de registo. A noite é penosa por se assemelhar à prateleira final da sua existência... é a redução à sua insignificância, à sua inutilidade. É esse o seu momento maior... o de catarse. Pelo inútil espaço que ocupa na prateleira, pelos inúteis desenhos página a página... O diário gráfico não é consumido. Ele devora-me pela sua pequenez. Transforma-me. Treina a linha preta da minha caneta, dá-lhe segurança e sentido de observação. Eterniza o meu olhar...

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raw me... Consume me... Use me... Eternalise me... My sketchbook doesn’t leave me alone. It hounds me to be used, painted on,

written on... It is an everyday, normal act. Everything can be a reason to draw. The night is tough because it seems like the last shelf of existence... it is its own reduction to insignificance, to uselessness. This is its greatest moment... that of catharsis. For the useless space it occupies on the shelf, for the page after page of useless drawings... A sketchbook is not consumed. It devours me with its smallness. It transforms me. It helps to train the black line of my pen, giving it confidence and a sense of observation. It eternalises my gaze...

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MÁRIO LINHARES

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MÓNICA CID Licenciada em Arquitectura, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa. Mestrado em Belas Artes, Newcastle University, em Inglaterra. Dedica-se às Artes Plásticas, bem como à ilustração para livros e ensina Desenho na Sociedade Nacional de Belas Artes, NextArt e Newcastle University.

Graduate in Architecture from the Faculty of Architecture of the Universidade Técnica de Lisboa. Masters degree in Fine Arts from Newcastle University in England. She works in the Plastic Arts, as well as illustration for books and teaches Drawing in the Sociedade Nacional de Belas Artes, NextArt and Newcastle University.

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ou fascinada pela peculiaridade de feições e gestos pertencentes a cada indivíduo, e pela possibilidade que o desenho oferece de captar algumas dessas características e perpetuá-las. Uma vez anotada determinada coisa, pessoa ou situação que me cativou, é delicioso mergulhar na fantasia e num imenso mundo de possibilidades e imaginar novas histórias, situações ou coisas provenientes desse primeiro registo. Os meus diários gráficos são também espaços para reflectir, desenvolver e criar trabalhos que depois se podem vir a transformar em peças tridimensionais, quadros e ilustrações para histórias entre outros. Adoro criar e para o fazer necessito, na maior parte das vezes, de privacidade e de entrar num espaço onde tudo é possível. O diário gráfico tem sido o palco para muitos desses momentos de inspiração.

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am fascinated by the peculiarity of each individual’s visual traits and gestures, and by the possibility that drawing offers to capture some of these characteristics and perpetuate them. Once a thing, person or situation that captivated me, is jotted down, it is delicious to revel in fantasy and an immense world of possibilities and imagine new stories, situations or things based on the first drawing. My sketchpads are also spaces for reflection, to develop and create works that can later be transformed into three dimensional items, pictures and illustrations for stories, among other things. I love to create and so, most of the time, I need privacy and to enter a space where everything is possible. My sketchbook has been the stage for many of these moments of inspiration.


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MÓNICA CID

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PAOLO CASELLA Nasceu em Verbania (Itália) - Lisboa (1953–por enquanto…). Cirurgião Pediátrico Cirugião: Kheir – Ergon : kheir = mão, ergon= trabalho; cirurgião = o que trabalha com as mãos - Pediatra : Pedios –Yatroi : pedios = criança, yatroi = médico; pediatra = o médico das crianças.

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esde muito cedo que fui incentivado a registar graficamente por meio do desenho e a partir da observação do real” (Hugo Pratt). Foi precisamente o que me sucedeu a propósito do que na Cirurgia observava e interpretava, numa fase da minha vida profissional em que a fotografia operatória era quase um “ luxo académico” (os diapositivos em Ecktacrome® eram caríssimos…). Um dos meus Mestres, Dr. José Augusto Borges d’Almeida proferiu assim a sua lição de agregação à Academia Francesa de Cirurgia socorrendo-se de um desenho meu (simples e mau) explicando de modo esquemático como eu realizara a primeira resecção parcial de um baço fracturado por um traumatismo, contribuindo modestamente para inaugurar o que hoje é um standard: a cirurgia conservadora do baço.

O uso do caderno gráfico tornou-se uma forma de manter sequencialmente um fio condutor da minha experiência pessoal e profissional, um registo histórico em continuidade onde, além dos desenhos (posteriormente coloridos quando a disposição e o tempo o permitem) também registo opiniões, elaboro algumas ideias e documento o que acontece em inúmeras reuniões onde participo. Aliás o “mau habito” de desenhar durante as reuniões clínicas ou organizacionais tem contribuído para melhorar a minha tolerância a chatices, e por vezes induzido o estabelecimento de novas empatias.

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Born in Verbania (Italy) - Lisbon (1953 - for now…). Paediatric Surgeon Surgeon: Kheir – Ergon: kheir = hand, ergon = work; surgeon = one who works with one’s hands - Paediatrician: Pedios –Yatroi: pedios = child, yatroi = doctor; paediatrics = a doctor of children.

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rom a very young age I was encouraged to record graphically through drawing and from observing real life” (Hugo Pratt). This is precisely what happened to me in relation to what I observed and interpreted in Surgery, in a stage of my professional life when surgical photography was almost an “academic luxury” (Ecktacrome® slides were very expensive…). One of my teachers, Dr. José Augusto Borges d’Almeida gave his first lesson of association to the French Academy of Surgery using one of my drawings (simple and bad) schematically explaining how I had performed my first partial resection of a spleen fractured by a trauma, modestly helping to inaugurate what today is a standard procedure: conservative surgery of the spleen.

The use of the sketchbook became a way of sequentially joining the dots of my personal and professional experience, a historical record in continuity where, besides the drawings (later coloured in when my mood and time allowed) also record opinions, I elaborate some ideas and document what goes on in countless meetings that I attend. In fact the “bad habit” of drawing during clinical or organizational meetings has helped to improve my tolerance of nuisances, and at times has led to establishing empathy.


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PAOLO CASELLA

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PEDRO CABRAL Nasceu, vive e trabalha em Lisboa. Licenciado em Arquitectura (1978) na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, ESBAL. Casado e com dois filhos. Desenha, faz vela e viagens a pé. Exerce arquitectura.

Born in 1954, lives and works in Lisbon. Graduated in Architecture (1978) in the Higher School of Fine Arts of Lisbon, ESBAL. He is married and father of two children. He draws, sails and walk.

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onecos de Bolso Para além de uns momentos bem passados, os bonecos de bolso permitem uma quase apropriação do “modelo”, sem roubar nem prejudicar ninguém.

Mais tarde, o regresso a um desenho recorda-me o local com uma intensidade impossível caso nunca o tivesse desenhado e aproxima-me de tantos artistas maiores ou menores que, noutros cadernos, foram registando as suas sensibilidades. Maior parte dos BB são, exactamente, de bolso. O suporte são os cadernos que, pela dimensão e simplicidade permitem o registo quase imediato e em quase todas as circunstâncias. É isto que lhes dá a liberdade, a irresponsabilidade e o gosto de existir.

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ocket dolls Besides moments well spent, pocket dolls almost allow the appropriation of the “model”, without stealing from or harming anyone.

When I return to a drawing later on I recall the place with an intensity that would be impossible if I had never drawn it and it brings me closer to so many greater or lesser artists who recorded their own feelings in other sketchbooks. Most of the pocket dolls are, exactly that, pocket-sized. The medium is the sketchpad which, owing to its size and simplicity, allows something to be almost immediately recorded and in almost all circumstances. This is what grants them freedom, irresponsibility and the joy of existing.


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PEDRO CABRAL

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PEDRO FERNANDES (PeF) Nasceu em Lisboa em 1978. Licenciatura em Geologia. Pós-graduação em Science Illustration. Tem desenvolvido a sua actividade recente em torno da ilustração científica, abordando pontualmente outros campos como a banda desenhada ou ilustração juvenil. Observa aves e interessa-se particularmente por desenho de campo. Diariamente desenha qualquer coisa ou pelo menos uma coisa qualquer no seu diário gráfico. Colabora no blogue: urbansketchers-portugal.blogspot.com

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diário tem muitas facetas. Frequentemente é campo intimista e privado, algumas vezes é ponte de sociabilização. Ora se presta a laboratório pessoal para todo o tipo de experimentações mais ou menos desabridas, ora se converte em experimentada ferramenta de trabalho onde flúem abordagens bem rotinadas. Permite por vezes limpar a cabeça, outras tantas expressa de modo cruel o reboliço interior – ou o nada a que alguns dias se resumem. Serve de mapa pessoal, geográfico e cronológico. E muitas vezes é, apenas e só, um local bonito que é bom visitar.

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Born in Lisbon in 1978. Has a degree in Geology. And is a Post-Graduate in Science Illustration. His recent activity has to do with scientific illustration, occasionally touching on other fields such as cartoons or children’s illustration. He watches birds and is particularly interested in field drawing. He draws something every day or at least something in his sketchbook. Collaborates on the blog: urbansketchers-portugal.blogspot.com

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he sketchbook has many facets. It is often something intimate and private, at times it is a point of contact with others. At times it serves as a personal laboratory for all kinds of more or less crude experimentation, at others it turns into a trusted tool where routine approaches flow with ease. At times it helps to clear one’s head, and on so many other occasions it cruelly expresses one’s inner turmoil – or the nothingness that sums up other days. It acts as a personal map, geographical and chronological. And very often it is, merely, somewhere nice that we like to visit.


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PEDRO FERNANDES (PeF)

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PEDRO SALGADO Nasceu em Lisboa em 1960. Biólogo pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e Ilustrador Científico pela Universidade da Califórnia. Professor no Mestrado de Desenho da Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa e do curso de Ilustração Científica do Instituto de Artes e Ofícios da Universidade Autónoma de Lisboa. Além de exercer a profissão como freelancer. Criou o Grupo do Risco.

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Born in Lisbon in 1960. Biologist from the Faculty of Science of the University of Lisbon and Scientific Illustrator from the University of California. Teacher of the Masters Degree course on Design at the Faculty of Fine Arts of the University of Lisbon and of the course of Scientific Illustration of the Instituto de Artes e Ofícios of the Universidade Autónoma of Lisbon. Besides working professionally as a freelancer. His the creator of Grupo do Risco.


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s esboços de campo, para além do seu aspecto lúdico incontestável, ensinam-nos continuadamente a observar melhor, servem-nos de aquecimento antes do trabalho rigoroso, eliminam a tensão física e psicológica da arte-final no estirador, e deixam-nos memórias fortes no papel. Nunca se esquece o que se desenhou.

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ield sketches, besides their undeniably fun factor, continually teach us to observe better, they serve as a warm-up before the tough work, they help to eliminate the physical and psychological tension of the final job on the drawing board, and leave us with marked memories on the paper. One never forgets what one draws.

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PEDRO SALGADO

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RICARDO CABRAL

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Nasce em Lisboa em 1979. Licenciado em Pintura pela Faculdade de Belas Artes de Lisboa. Publicou o álbum de bd “Evereste”, e o livro “Israel Sketchbook” e “NewBorn- 10 dias no Kosovo”. Trabalha actualmente como ilustrador freelancer.

Born in Lisbon in 1979. Graduated in Painting from the Faculty of Fine Arts of Lisbon. He published the album of cartoons “Evereste”, and the book “Israel Sketchbook” and “NewBorn- 10 days in Kosovo”. He currently works as a freelance illustrator.

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S

empre preferi fazer coisas nos diário gráficos do que em qualquer outro lado. Os desenhos, pinturas, colagens e tudo mais com que fui preenchendo as páginas dos cadernos que comecei a comprar quando tinha 18 ou 19 anos sempre me pareceram muito mais autênticos, mais espontâneos e graficamente mais interessantes do que aquilo que eu fazia fora deles. Ter encontrado uma maneira de trazer o diário gráfico para o palco principal do que é o meu trabalho mais visível, em vez de ser apenas uma ferramenta de pesquisa ou de apoio, é das coisas que me dá mais satisfação.

I

always preferred doing things in sketchbooks than anywhere else. The drawings, paintings, collages and everything else that I used to fill the pages of the sketchbooks that I started to buy when I was 18 or 19 years old always seemed more authentic to me, more spontaneous and graphically more interesting than what I was doing elsewhere. Having found a way of bringing the sketchbook onto the main stage of what my more visible work is, instead of being merely a research or support tool, is one of the things that gives me most satisfaction.

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RICARDO CABRAL

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RICHARD CÂMARA Nasceu em Bruxelas, em1973, arquitecto de formação, desenha, ilustra e faz BD profissionalmente. Participa em exposições, conferências, workshops e encontros subordinados ao tema do “Diário Gráfico”.

Born in Brussels in 1973, architect by education, he draws, illustrates and makes cartoons professionally. He participates in exhibitions, conferences, workshops and encounters on the topic of the “Sketchbook”.

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A

minha relação com os diários gráficos e o acto de desenhar neles tem vindo a mudar. Deixei de os venerar como objectos alvos e acabados e comecei a aceitá-los com todas as imperfeições próprias de coisa em construção num misto de depósito de vivências residuais e arquivo de referências pessoais. Tornaram-se assim mais verdadeiros, acompanhando e transformando a minha maneira de ver, entender e sentir o desenho. Já não rasgo folhas caprichosamente, não procuro a mais correcta composição, não discrimino entre a letra e a linha e não hierarquizo o que podem conter. Nas suas páginas cabe tudo o que eu conseguir absorver, sem ordem ou regra aparente, desde a lista do supermercado à ilustração editorial que me foi encomendada nessa mesma semana. Hoje, estão repletos de memórias, pensamentos e desejos que podem tomar forma textual ou linear, em espaços outrora em branco onde convergem livremente o passado, o presente e o futuro. Nas minhas mãos fazem-me sentir mais livre, porque cada vez mais eu sou o Diário Gráfico.

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y relationship with sketchbooks and the act of drawing in them has been changing. I stopped venerating them as completed objects and started to accept them with all the imperfections inherent in something under construction in a mixture of a dump of residual experiences and archive of personal references. This way they became more real, accompanying and transforming my way of seeing, understanding and feeling drawing. I no longer tear out pages capriciously, I am not looking for the most correct composition, I do not discriminate between the letter and the line and I do not stratify what they might contain. Its pages contain everything that I can absorb, without order or apparent rule, from the supermarket shopping list to the editorial illustration that I received a commission for this week. Today, they are full of memories, thoughts and desires that can be in textual or linear form, in spaces that were once blank where the past, the present and the future freely converge. In my hands they make me feel freer, because I am increasingly the Sketchbook.


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RICHARD CÂMARA

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RITA CORTEZ PINTO Nasceu em Lisboa em 1977, onde vive e trabalha. Curso de Arquitectura do Design, na Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa, Curso de Desenho e Curso avançado de artes plásticas do Ar.Co. Estágio na Hochschule für Bildende Kunst de Hamburgo com uma Bolsa Leonardo Da Vinci, Expõe individual e colectivamente. Colaboradora como monitora de vários Museus e Instituições.

Born in Lisbon in 1977, where she lives and works. She took an Architecture of Design Course at the Faculty of Architecture of the Universidade Técnica de Lisboa, Course in Design and Advanced Plastic Arts Course at Ar.Co. Intern in the Hochschule für Bildende Kunst of Hamburg with a Leonardo da Vinci scholarship. She displays in individual and collective exhibitions. Works as a monitor of various Museums and Institutions.

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N

este momento debruço-me nos princípios do Museu, nas primeiras colecções e gabinetes de curiosidades, os primeiros museus de história natural – o que mostram, como se organizam e o que documentam. Transpondo estas classificações e preocupações para o presente, interessa-me debruçar-me sobre os novos corpos, bichos, paisagens e máquinas como acrescento de formas orgânicas e agrupá-los, pensando assim em novas famílias. Nestes cadernos colecciono. Reúno desenhos, imagens e palavras e agrupo-os. É uma primeira forma de organizar o meu trabalho de Desenho e Escultura que se desenvolve ao mesmo tempo. Prepara-me e disciplina-me.

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t the moment I am looking into the early days of Museums, into the first collections and halls of curiosities, the first museums of natural history – what they exhibit, how they are organised and what they document. Transposing these classifications and concerns into the present, I am interested in looking into new bodies, insects, landscapes and machines as an extension to organic forms and grouping them, looking on them as new families. In these sketchbooks I collect. I collect drawings, images and words and group them together. It is a first attempt at organising my Design and Sculpture work that I am doing at the same time. It prepares me and disciplines me.


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RITA CORTEZ PINTO

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RUTH ROSENGARTEN Artista e historiadora. Nascida em Israel, mudei-me em criança com os meus pais para a Africa do Sul. Licenciada pela University of Witwatersrand na Africa do Sul. Fiz o mestrado de História de Arte no Courtauld Institute of Art, em Londres. Vivi em Lisboa cerca de 20 anos desde o início dos anos oitenta, onde efectuei várias exposições, escrevi e leccionei em diversas faculdades, comissariei várias exposições e publiquei bastante. Mudei-me para uma zona rural de Inglaterra em 2001, onde presentemente vivo e trabalho. Em 2006 doutorei-me em História de Arte no Courtauld Institute of Art, em Londres. O meu tempo é dividido entre o desenho e a escrita. Desde Março de 2010 publico diariamente desenhos num blog.

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oucos objectos são tão ambivalentes e sedutores como o diário gráfico. Frequentemente semelhantes a um diário, enunciam o seu estatuto privado, enquanto simultaneamente - e em virtude da sua declarada intimidade – convidam-nos a manuseá-los e a abri-los. Essencialmente visual, um diário gráfico algumas vezes, ou mesmo geralmente, contém elementos verbais que catalogam os desenhos e os situam num determinado contexto. Esta particularidade é, sem dúvida, a essência do diário gráfico. Simultaneamente obra de arte e um livro, um diário gráfico destaca-se de outros trabalhos artísticos e de outros livros pela sua natureza contingente, cumulativa, espontânea e intimista. Para mim, também me aporta à realidade e ao presente, enquanto me transporta para o exterior de mim própria.

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Artist and art historian. Born in Israel, I moved with my parents to South Africa as a child. Graduated at the University of Witwatersrand, South Africa. Did a Masters degree in history of Art at the Courtauld Institute of Art in London. Lived in Lisbon from the early 1980s for 20 years, where I exhibited work, wrote and taught at various faculties, curated several exhibitions, and published widely. Moved to rural England in 2001, where I now live and work. PhD in history of art at the Courtauld Institute of Art, London, in 2006. My time is divided between drawing and writing. Since March 2010, publish drawings on a daily blog.

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ew artefacts are as ambivalent and as seductive as an artist’s sketchbook. Often resembling a diary, it announces its private status, while at the same time – and by virtue of this declared intimacy – inviting us to open it and peek in. Flagrantly visual, a sketchbook also often, or even usually, contains verbal elements that tag the drawings and anchor them in a particular context. This particularity is arguably of the essence of the sketchbook. Simultaneously work of art and book, a sketchbook differs both from other works of art and from other books by its contingent, cumulative, unplanned and intimate nature. For me, it also anchors me in the real and in the present, while taking me outside of myself.


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RUTH ROSENGARTEN

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SARA SIMÕES Designer e ilustradora. Tem formação em Design Industrial e em Ilustração Científica. Já criou mobiliário e stands para feiras, personagens, ambientes e storyboards para animação 3D, e interfaces gráficos para aplicações informáticas. É autora do livro “Uma mão cheia de amoras”. Coordena o site e o blogue: www.sarasimoes.pt.vu www.velhadaldeia.blogspot.com Colabora no site: www.grupo-do-risco.pt

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m criança, eu já gostava de ficar sossegada num cantinho a desenhar. Hoje ando sempre com o meu diário-gráfico (“kit anti-secas”) e aproveito as viagens de comboio para praticar o desenho de figura humana, ou um tempo de espera para registar o aspecto de uma rua ou de uma árvore. Na verdade sinto-me um pouco nua se sair de casa sem um caderno e qualquer coisa que risque. Em 2005 iniciei-me na Ilustração Científica com o professor Pedro Salgado. Pus-me a desenhar musgos e a partir de então nunca mais quis largar a ilustração de temas da natureza. Faço desenho de campo com o Grupo do Risco, associação de defesa do ambiente criada por Pedro Salgado, que realiza expedições com o objectivo ulterior de divulgar o património ambiental e a biodiversidade através da arte. Participei nas expedições às Berlengas, Douro Internacional e Amazónia.

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Designer and illustrator. Educated in Industrial Design and in Scientific Illustration. She has already designed furniture and stands for trade fairs, characters, environments and storyboards for 3D animation, and graphic interfaces for computer applications. She is the author of the book “Uma mão cheia de amoras” (A Handful of Blackberries). Coordinates the site and the blog: www.sarasimoes.pt.vu www.velhadaldeia.blogspot.com Collaborates on the site: www.grupo-do-risco.pt

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y relationship with sketchbooks and the act of drawing in them has been changing. I stopped venerating them as completed objects and started to accept them with all the imperfections inherent in something under construction in a mixture of a dump of residual experiences and archive of personal references. This way they became more real, accompanying and transforming my way of seeing, understanding and feeling drawing. I no longer tear out pages capriciously, I am not looking for the most correct composition, I do not discriminate between the letter and the line and I do not stratify what they might contain. Its pages contain everything that I can absorb, without order or apparent rule, from the supermarket shopping list to the editorial illustration that I received a commission for this week. Today, they are full of memories, thoughts and desires that can be in textual or linear form, in spaces that were once blank where the past, the present and the future freely converge. In my hands they make me feel freer, because I am increasingly the Sketchbook.


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SARA SIMÕES

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SIMONETTA CAPECCHI

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Nasceu em Milão em 1964. Arquitecta e vive em Nápoles onde trabalha também como ilustradora. Tem exposto os seus cadernos em mostras colectivas. Tem comissariado uma exposição sobre cadernos de viagem na Galassia Gutenberg, feira do livro e multimédia, em Nápoles.

Born in Milan in 1964. An architect who lives in Naples where she also works as an illustrator. She has displayed her sketchbooks in collective exhibitions. She has been the curator of an exhibition on travel sketchpads in the Galassia Gutenberg, book and multimedia fair, in Naples.

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om o tempo criei hábitos: prefiro o papel de aguarela, os cadernos de formato horizontal e tenho sempre dois pincéis de pelo de marta, um grosso e um fino. Desenho a caneta se tenho pouco tempo, a aguarela se tenho pelo menos meia hora. Ultimamente estou a ficar mais lenta, sobretudo com o novo formato panorâmico, onde entram demasiadas coisas e sou tentada a enchê-los de detalhes. Por vezes não consigo terminar o desenho no local e tento acabá-lo no atelier, de memória. Mas é uma experiência completamente diferente. Prefiro desenhar ao ar livre, e desenhar o que vejo, enquanto as coisas estão a acontecer.

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ver time I created habits: I prefer watercolour paper, horizontal sketchbooks and I always have sable hair paintbrushes, one broad and one thin. I use a pen to draw if I don’t have much time, I use watercolour if I have at least half an hour. Lately I’m getting slower, especially with the new panoramic format, where there are too many things involved and I am tempted to put in lots of detail. Sometimes I can’t finish the drawing when I’m there and I try to finish it in the studio, by memory. But it is a completely different experience. I prefer drawing in the open air, and drawing what I see, while the things are happening.

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SIMONETTA CAPECCHI

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FICHA TÉCNICA DIÁRIOS GRÁFICOS EM ALMADA Sketchbooks in Almada Coordenação / Coordination: Eduardo Salavisa Textos / Text: Teresa Carneiro Eduardo Salavisa Design gráfico / Graphic design: www.goma.pt Tradução / Translation: CAT, Consultadoria, Administração Tradução, Lda. ISBN: 978-972-9134-93-7 Depósito Legal:

Nº de exemplares: 1.000 Exposição temporária / Temporary exhibition Janeiro - Abril / January - April Museu da Cidade - Câmara Municipal de Almada / City Museum of Almada - City Council of Almada Coordenação / Coordination: Ângela Luzia Comissariado / Commissioner: Eduardo Salavisa Design gráfico / Graphic design: www.goma.pt Tradução / Translation: CAT, Consultadoria, Administração Tradução, Lda.

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Audiovisuais / Audiovisuals

Serviços educativos / Educational services: Eurídice Santos Guilhermina Silva João Valente Execução e montagem / Exhibition execution: DMPC-Museu da Cidade Divisão de Manutenção e Logística

Museu da Cidade Praça João Raimundo, 2805-336 Tel.: 212 734 030 museu.cidade@cma.m-almada.pt www.m-almada.pt/museus Terça a domingo das 10h às 18h, encerra aos domingos, segundas e feriados. Tuesday to saturday from 10h to 18h, closed on sundays, mondays and holidays.

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Diário Gráfico serve para o que quisermos que sirva. As mais variadas profissões/actividades usam-no como suporte: ou para memorizar algo, ou para reflectir e visualizar uma ideia, ou para “aquecer” a mão, ou para recolher informação, ou para compreender um determinado objecto ou situação, ou, simplesmente, por prazer de desenhar ou para passar o tempo. No entanto, entendemo-lo como um suporte com algumas particularidades. É um caderno de dimensões transportáveis o que pressupõe que seja o resultado de um percurso ou de um conjunto de experiências ou de situações que aconteceram ao longo de um tempo determinado – de uma viagem, mesmo esta sendo entendida unicamente como tempo de disponibilidade. O que faz com que a importância de cada desenho dependa da série em que está integrado. A ideia de Diário também influi no tipo de registo. É uma intervenção regular, dia após dia, mas, por ser um caderno, permite voltar atrás, refazer alguma página, acrescentar-lhe alguma informação, colar algo. É um produto sempre inacabado. Os registos feitos nos cadernos podem ser desenhos, anotações escritas, esquemas, colagens (de fotografias ou outro tipo de imagem impressa) e qualquer outro tipo de técnica; pode ter vários fins ou funções; pode ser de observação ou não; pode ser realizado na via pública ou não.

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he Sketchbook it’s for what we want it to. The most varied professions / activities use it as a support: or to memorize something, or to reflect and visualize an idea, or to “warm up” the hand, or to collect information, or to understand a given subject, object or situation, or simply, for the pleasure of drawing or to spend time. However, we understand it as a support with some singularities. It is a notebook of a transportable size which means that it is the result of a path or of a set of experiences or situations that have happened over a given time – from a journey, even if this is viewed solely as uptime. That makes the importance of each drawing depending on which series it’s integrated. The idea of Journal also influences the type of registering. It is a regular intervention, day after day, but by being a notebook, lets us backtrack and redo any page, adding some information, paste something more. This is always an unfinished product. The entries done in the diaries can be drawings, handwritten notes, sketches, collages (from photographs or other printed image) and any other type of technique, can have several purposes or functions; it can be made for registering observations, or not; can be done thoroughfare or not.


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