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Paisagens Encarceradas As criações da

PAISAGENS ENCARCERADAS

Manifesto acerca da destruição planetária traz lixões e aterros como protagonistas de uma realidade que carece de horizonte frutífero nas mãos humanas

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Por Paula Santana

Um cemitério de pneus visto em imagens de satélites. Desconforto que provoca a reflexão, e a ação. Mas para onde vão os que não têm mais uso, bem como todo o lixo que a humanidade produz? Foi a partir da descoberta de um cemitério no Kuwait que a jovem artista plástica paulistana Marina Hachem se encorajou a criar a exposição Ensaio Sobre o Fim do Mundo, na Galeria Lume, de São Paulo, sob a curadoria de Agnaldo Farias.

Estaria o homem, de fato, ensaiando o fim do seu mundo? A indignação é a tônica dessa série que engloba técnicas mistas, bem como as emoções provocadas em quem as observa com mais atenção. Daí a opção pelo preto e por variações do branco e do cinza que se tonificam em paisagens medonhas, fumegantes e fedorentas. A partir dessa representação, a artista reconstitui em imagens um cenário singular e assustador.

“O que mais me interessa nessa série é a quantidade de pneus e o sombreamento entre um e outro. Cria-se uma ideia de movimento e fluidez, de permanente correnteza. Se você fica olhando por muito tempo, parece que a imagem está se mexendo”, explica. “Eu queria, a partir de então, reinterpretar essas imagens e relacioná-las na materialidade, de alguma forma, com a natureza", finaliza.

Marina apropriou-se e transferiu as fotografias para as telas, recortando-as, alterando seus enquadramentos, ampliando ou reduzindo alguns de seus detalhes e reais dimensões. À base de pastel oleoso de cor preta, as produções da artista foram parcialmente encobertas por camadas de cimento branco e cinza, finalizadas com uma crosta de telas de galinheiro. O resultado das obras é áspero, crispado, convulso.

A prova da destruição não está apenas no Pantanal, na Floresta Amazônica, no degelo do Círculo Ártico, como demonstra a artista: “A prova de tudo isso está aqui, colada a nós, moradores das grandes cidades, personificada nos lixões e aterros sanitários, pontuados pelas chamas permanentes da queima do metano, formando um imenso fogão com bocas escancaradas ao céu aberto”, completa o curador, Agnaldo Farias.

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