Educomunicação e Meio Ambiente

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Educomunicação e Meio Ambiente

Nós também podemos fazer jornal, rádio, vídeo... Vamos conversar sobre Educomunicação, com Grácia Lopes Lima, assessora em Educomunicação das duas edições da CNIJMA - Conferência Nacional Infanto-Juvenil pelo Meio Ambiente. Grácia é também co-autora do Passo-a-Passo desta Conferência e Coordenadora dos Programas de Educomunicação do GENS e do Projeto Cala-boca já morreu.

Moderador: Boa tarde a todos! Estamos iniciando mais um bate-papo promovido pelo EducaRede. A nossa convidada de hoje é Grácia Lopes Lima, coordenadora dos Programas de Educomunicação do GENS e do Projeto Cala-boca já morreu. Participe! Fred diz: Boa tarde! Bem-vinda, Grácia! Ntepelotas diz: Boa tarde! Marcos, CJ-SE diz: Boa tarde pessoal! Grácia: Olá! É uma alegria participar deste encontro! Moderador: Lembramos a todos que as perguntas são enviadas primeiramente ao moderador, que as encaminha por ordem de chegada à entrevistada. Por isso, demora um tempo até que cada pergunta seja respondida. Geovany diz: Boa Tarde a todos. Falo de Fortaleza. João, CJ - SP diz: Que tipo de atividades você sugere para realizar em escolas públicas com recursos simplórios (materiais de papelaria) e ainda colocando a questão ambiental (consumo x produção x necessidade) minimizando o impacto ambiental? Pat Mousinho diz: Boa tarde! Grácia: Oi, João! Educomunicação não tem a ver com sofisticação de material. Tem a ver com convicção, com intencionalidade. Tem a ver com professores comprometidos com uma educação para formar gente que sabe que as palavras e os meios são, por excelência, ferramentas poderosas para nos transformar em autores, criadores, e não reprodutores de idéias e palavras dos outros. Por isso que a gente diz que em Educomunicação o processo é mais importante do que o produto. Assim, João, dá para produzir jornal até com mimeógrafo (ou papel carbono!), por exemplo. O importante é que esse produto estreite a relação entre as pessoas que o produzem; que sirva para elas observarem mais o que acontece no meio em que vivem, que seja um exercício de escuta do que o outro tem a dizer, uma oportunidade de se colocar sem ser por exibicionismo, mas por ter o que dizer. Geovany diz: Essa é uma questão interessante, João. Muitas vezes as escolas não recursos nem pra usar uma televisão e videocassete. Grácia: Pois é, João, por isso que Educomunicação é uma proposta de intervenção social. Cada lugar pode produzir comunicação do seu jeito, com os recursos de que dispõe. Quando se tem o que dizer, quando se quer, de fato, contribuir para mudança, os recursos aparecem, sejam eles quais forem. Basta lembrar, por exemplo, do que fazíamos no tempo de escola, passando bilhetinho de mão em mão, durante a aula. Era o jeito que a gente tinha de dizer que o professor era chato, ou de marcar encontro na saída. A gente fazia circular o que pensávamos, sem sofisticação de recursos, lembra? E corríamos risco por essa opção... Precisamos sair da queixa e potencializar o que temos para realizar o que queremos. Se não tem papel, tem parede para escrever, até com tijolo ou carvão, ora! É possível Aqui no Jardim Bonfiglioli, zona oeste de São Paulo, quase que semanalmente, a gente lê uma espécie de revista, grafitada numa parede. Uma beleza de ousadia! Pat Mousinho diz: Que tipos de parcerias com o poder público podem ser estimuladas de modo a criar estrutura para continuidade das ações de Educomunicação de forma permanente nas escolas? Há registros de experiências que possamos consultar? Rosimeire diz: Boa Tarde. Grácia: Pois é, Giovany. Se não tomarmos cuidado, voltamos nossa atenção às dificuldades e desfocamos do principal, que é achar caminhos para que os meninos e meninas se manifestem através dos meios de comunicação possíveis. Esse tipo de discussão me faz lembrar de alguns homens inteligentes que, sabendo da pobreza da maioria do povo, enche seus baús e cofres de igrejas com o que é possível tirar da população, sejam centavos ou poucos reais...Eles não ficaram esperando a população melhorar de vida, primeiro...Por que essa mesma estratégia não pode valer quando o assunto é educação? Por que a gente não sonda e valoriza o que já existe na escola e com esses recursos realiza com a comunidade o que ela quer e precisa?!


Maritania, NTEPelotas diz: Boa tarde a todos. Gabriela, Rejuma diz: Boa tarde! Grácia: Oi, Patrícia, querida. Boa pergunta. Trabalhar com o conceito de Educomunicação como intervenção social pressupõe conceber uma escola sempre aberta, como forma fortalecer a si e se comprometer com a sua comunidade. Nesse sentido, o pequeno comércio local, em troca de anúncio, pode custear um produto de comunicação feito na escola. Se os moradores lerem as matérias produzidas por seus filhos vão ficar orgulhosos de suas criar e, certamente, passarão a valorizar e apoiar mais os professores. Seguindo essa lógica, se os alunos entrevistarem autoridades do município, por exemplo, será mais fácil cobrar da Prefeitura o apoio para a continuidade de seus projetos de Educomunicação. Um exemplo de começo de formação para entender a força do rádio como ferramenta de promoção de Educação Ambiental você encontra em www.portalgens.com.br/atibaia . O site traz o trabalho inicialmente realizado com professores do município de Atibaia – SP, que, por iniciativa da Secretaria de Educação, receberam formação em Educomunicação. Paralelamente à formação, os participantes começaram a produzir comunicação com alunos de 1º ao 4º ano Fundamental, tratando das questões ambientais da comunidade escolar. Marcos, CJ-SE diz: Eu tenho um ensaio de Conferência, amanhã no PPJA-SE e gostaria de fazer algo, mas, assim: como vai ocorrer em diversas escolas, o tempo é muito curto. Dá pra fazer algo que fique exposto, mesmo com apenas um turno? Grácia: Marcos, quanto tempo você terá? Só podemos opinar, dar idéias a partir da realidade que você for vivenciar, de fato. Nossas experiências têm mostrado que 3 horas são suficientes para produzir – em grupo – pequenos programas de rádio, folhetos e vídeos. Luís, Pará diz: Grácia, me perdoe a ignorância, mas você pode explicar o que é educomunicação? Moderador: O número de perguntas enviadas é grande. Peço paciência a todos, pois vamos tentar enviar a maior parte delas, ok? Grácia: Oi, Luís, não se trata de ignorância, não. O termo é novo e há vários conceitos circulando por aí. Educomunicação é um tipo de educação que se vale dos meios de comunicação para atingir seus objetivos. E quais são eles? A intenção maior dessa Educação é formar gente altiva que, exercitando a comunicação (produção coletiva de rádio, vídeo, mídia impressa ou eletrônica), vá perdendo a vergonha de conversar sobre qualquer assunto, com todo tipo de pessoas, desde as mais simples até aquelas que nos representam no poder público. Esse exercício, se constante, forma gente altiva, que não se sente menor (nem maior) que os outros, mas em pé de igualdade para entender, a partir do diálogo, como funciona, de verdade, a vida em sociedade. Por isso, é que afirmamos que Educomunicação é sinônimo de intervenção social, posto que esse procedimento contribui para mudar as relações entre as pessoas. Pat Mousinho diz: Comentário sobre a pergunta do Luís: Luís, não se acanhe. É um campo novo e é preciso mesmo sabermos do que se trata. Não podemos deixar que`Educomunicação` vire um rótulo vazio, utilizado de forma irresponsável (como infelizmente temos visto acontecer). Ana Júlia diz: Boa tarde. Rosimeire diz: Montei um blog com meus alunos para divulgar as nossas atividades, mas queria idéias para torná-lo mais atrativo. Grácia: A melhor forma de saber se o blog está atrativo ou não, Rosi, é criando espaço para que os seus alunos avaliem o que estão fazendo sob sua mediação. Ninguém melhor que eles, num primeiro momento, para avaliar o processo e o produto que juntos idealizam. Depois deles, a participação (ou não) dos internautas vai servir de “termômetro” do blog. Grácia: Pois é, Pat. Educomuncação virou um termo “da moda” e, como tal, vem sendo usado para os mais variados fins. Precisamos recuperar o que fez e o como fez aquele que criou o termo Educomunicação: Mário Kaplún, em plenos anos 70. As ações educomunicativas que ele propôs e realizou em vários países não eram bandeiras auto-promocionais, não se traduziam em discursos demagógicos, muito menos faziam jogo “marqueteiro”, em benefício de si mesmo. Simbolizavam um compromisso político com a construção de uma América latina que nega a dominação. Nesse sentido, não cabe chamar de Educomunicação as propostas que se colocam a serviço de “dois senhores”. Educomunicação só pode estar associada ao fortalecimento da comunicação comunitária, à democratização dos meios de comunicação. Geovany diz: Grácia, com relação às parcerias com o Poder Público, nós da Universidade Federal do Ceará desenvolvemos com o CJ-CE um projeto de EA que está na fase final, na qual vamos ensinar os alunos a usarem ferramentas educomunicativas. Para concretizá-la estamos buscando novas entidades, por exemplo o PARC (Programa de Apoio à Radios Comunitárias) da UFC. Grácia: Que bom, Geovany. E o que vocês estão planejando como prática educomunicativa para os alunos? Boa sorte para vocês. Aproveito para enviar através de você um abraço para todos os CJs – coletivos Jovens do Brasil. Marcos CJ-SE diz: Grácia, que tipo de Educomunicação você acha mais apropriada para comunidades indígenas e quilombolas: algo mais voltado à cultura que eles preservam ou algo mais moderno? Lógico que sempre limitando aos recursos do local Grácia: Marcos, querido, em se tratando de Educomunicação, o princípio básico que deve nortear a ação dos mediadores é sempre o mesmo: ouvir a comunidade e saber dela o que ela quer tornar público através dos meios de comunicação. Não somos nós, gente de


fora, que devemos definir o que a comunidade deve ou precisa, ou o modo como devem apresentar as suas palavras. Indígenas e quilombolas devem ser ouvidos e respeitados, tanto quanto qualquer outro público. Pat Mousinho diz: Como integrante da equipe do DEA-MMA, e portanto do Órgão Gestor, da PNEA, gostaria de parabenizar a CGEA-MEC pelas efetivas ações de Educomunicação efetuadas ao longo desses anos, nos processos de Conferência. Sugiro que a equipe da CGEA dialogue com a nova gestão do DEA de modo a ampliar para todo o OG-PNEA esta concepção de Educomunicação, que vem sendo trabalhada com êxito. Luís, Pará diz: E como eu posso fazer rádio com os meus alunos? Sou professor de 7ª e 8ª série, tenho 40 alunos por sala. Grácia: Luís, fazer programa de rádio é uma ação possível dentro da própria sala de aula, com um simples gravador de mão e uma fita K7. Mais importante que isso é garantir que o programa seja inteiramente feito pelos alunos. Convém apresentar a proposta começando, por exemplo, de uma pergunta simples, do tipo: quem de vocês gostaria de se apresentar num programa, cantando suas próprias composições, contando algo de importante que aconteceu na sua rua e que não saiu em rádio nenhuma? A resposta, certamente, Luís, vai mostrar que muitos gostariam, mas nunca conseguiram. Em seguida, você apresenta a proposta: que tal uusarmos este gravador para exercitar, então, o que queremos e não podemos? Os 40 devem ser divididos em grupos de 5 pessoas e eles vão montar o programa desejado. Maritania, NTEPelotas diz: O que vem a ser o Projeto Cala-boca? Grácia: Oi, Maritânia, o Projeto Cala-boca já morreu é uma ONG, com 13 anos de história voltada para o exercício da produção coletiva de comunicação. Quem entra para o projeto aprende, desde pequeno, a dizer o que sente e pensa, através dos programas de rádio, vídeo e jornal que faz. Além disso, desenvolvemos cursos de formação para a Educomunicação para gente de todo território nacional. Moderador: Estamos chegando ao final da entrevista. Se houver mais alguma pergunta, favor encaminhá-la agora. Moderador: A íntegra deste bate-papo estará disponível na Comunidade Vamos Cuidar do Brasil Marcos, CJ-SE diz: Grácia, eu fui delegado da II CNIJMA, e lá foram elaborados diversos materiais de Educomunicação, posso utilizá-los em Conferências? (Certamente os que têm algo a ver com as temáticas desta...) Grácia: Lógico, Marcos. Todas as produções dos delegados, criadas nas duas primeiras conferências devem servir de mostra do que é possível fazer para divulgar a preparação da Conferência da Escola. Bom será, se depois de exercitarem e entenderem o efeito da comunicação realizada, os meninos e meninas documentarem o que acontecer durante a Conferência e, principalmente, continuarem divulgando os compromissos assumidos, depois de sua realização. Eliane diz: Como fazer Rádio, Jornal e Vídeo com o nosso aluno para divulgarmos melhor nosso projeto de Educação Ambiental? Grácia: Eliane, o como fazer é uma pergunta que deve ser respondida por quem quer fazer. Certamente, você tem idéias. Se dialogar com mais alguém com tenha afinidade, você terá encontrado o seu par de diálogo, tão necessário. Sugiro que você leia o que preparamos sobre Educomunicação no Passo a Passo, disponível na home da comunidade. Lá está descrita, inclusive, a Metodologia Cala-boca já morreu para produções coletivas de comunicação. Moderador: O papo está muito bom, mas precisamos terminar. Chegou a hora de encerrar. Grácia, você pode se despedir? Grácia: Foi bom o encontro. Obrigada a todos! Moderador: Agradecemos a participação de todos neste chat! Vamos Cuidar do Brasil!!!!!!! Moderador: Este chat é promovido pelo site Educarede http://www.educared.org/educa/index.cfm?pg=comunidade_virtual.publicacao&&id_comunidade=144&ID_PUBLICA=6437


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