Vinhos, gastronomia e enoturismo na belíssima região italiana da
Puglia pOR edUardo VIottI
Nofinal doano passado, ogrupode vitivinicultoresPuglia Best Winepromoveu oevento“ApuliaWine Identity”, como objetivodetornar mais conhecidososvinhosde qualidadedaregião v i n h o
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Vinhedo plano e extenso da Tenuta Rubino, sob o céu limpo
foto eduardo viotti
o final do ano passado, o consórcio “Puglia Best Wine” realizou a primeira edição do seu Apulia Wine Identity, um evento para jornalistas dedicados ao vinho e à gastronomia de todo o mundo. O evento aconteceu em quatro cidades da Apúlia (nós adotaremos doravante a grafia italiana Puglia, mais corrente e adotada no meio enológico): Brindisi, Lecce, Trani e Barletta. A Puglia é o salto fino da península italiana, que tem a forma de uma bota. É a segunda região em volume de produção da Itália, perdendo apenas para o Vêneto, seguida de perto pela Emilia-Romagna e pela ilha da Sicilia. A associação “Puglia Best Wine” congrega 20 produtores locais de alta qualidade, oriundos de cinco regiões diferentes. Além de viagens pelas regiões vinícolas – para as quais os jornalistas foram divididos em grupos – houve apresentações técnicas e degustações en primeur de vinhos da safra de 2010, a última a ser liberada ao mercado. Foram três fantásticas jornadas de provas, com painéis das principais cepas tintas locais, Negroa-
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Luigi Rubino preside associação local v i n h o
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Grãos em perfeito estado de sanidade na Tenuta Rubino
À esq., mapa situa a Puglia (em bom português Apúlia): o salto da bota italiana; à dir., vinhedo da Tenuta Mater Domini, em solo permeável, pedregulhoso
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maro, Primitivo e Nero di Troia. Toda degustação era inicialmente às cegas e precedida de uma preleção de especialistas sobre cada uva e suas características vegetativas e organolépticas. À Vinho Magazine coube a excursão “Vinhos da Puglia: do mar às colinas”. Visitamos as cidades históricas de Brindisi, Alberobello (patrimônio da humanidade por seus trulli, casas de pedra laminada centenárias – e, pasme, ainda hoje ocupadas) e Trani. A gastronomia italiana regional da Puglia foi também fartamente celebrada em almoços e jantares absolutamente fantásticos – inesquecíveis. A chegada ocorreu no Palazzo Virgilio, um hotel correto, moderno e agradável em Brindisi. O jantar de apresentação dos jornalistas recémchegados à associação foi no Penny Restaurant, apesar do nome, supertradicional de cozinha regional, à base de peixes, mariscos e frutos do mar.
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Vista por baixo, a videira mostra condução e tubo de gotejamento
RUBINO
foto eduardo viotti
A primeira visita foi às Tenute Rubino, da família de sobrenome igual, cujo primogênito Luigi lidera também a associação dos melhores produtores regionais. A propriedade inclui área construída de 8 mil metros quadrados no centro da cidade e quatro vinhedos mais afastados. A família está na 7ª geração no negócio agrícola, mas apenas em 1991 lançou-se à produção de vinhos. Fazendo jus à tradição,
À direita, Piero Girolamo, e diretor v i n h o
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Uvas brancas plenamente maduras na Giuliani
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ainda produzem alcachofras, óleo de oliva, trigo e outros alimentos. Seus vinhedos abrigam 75% de Negroamaro, a tinta local, e Susumaniello, também escura (rara: há apenas 80 ha desta variedade em toda a Itália), além de Malvasia Bianca e Nera. O norte da Puglia é a área da Nero di Troia e o sul da região serve de refúgio para a tinta Primitivo. A Rubino produz 1,2 milhão de garrafas e o enólogo Luca Petrelli assegura que tem uma das menores produções por hectare da região, graças à manutenção de vinhas velhas. Todas as uvas brancas e tintas são de agricultura orgânica, facilitada na região, de verões secos e quentes. Provamos ali uma larga série de vinhos brancos e tintos de qualidade.
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Fermentação em cubas de carvalho com controle de temperatura na Girolamo
girolamo
foto eduardo viotti
A casa visitada a seguir foi a Girolamo, recebidos pelo herdeiro – e quem de fato gerencia a vinícola, na qual trabalha desde os 16 anos – Piero Girolamo, de 27 anos. A vinícola vendeu sua primeira garrafa de vinho em 2004, mas começou como vinícola independente apenas em 2009. Sua produção é atualmente de cerca de 1 milhão de garrafas por ano, 65% das quais são dire-
Donato Giuliani, da Tenuta Giuliani v i n h o
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Acima, barricas de carvalho de grande capacidade, usadas para maturação (a madeira influi muito pouco aromaticamente) e micro-oxigenação na Torrevento e à dir. colheita manual de uvas supermaduras (quase passas) na Giuliani v i n h o
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cionadas à exportação – seus maiores mercados são países europeus, mas também vende para China, Estados Unidos e Canadá. Piero aplica colheita manual em vinhedos a 300/400 de altitude sobre o nível do mar, em plantio de alta densidade, técnica agrícola empregada para prover maior concentração às uvas. Suas vinhas são ocupadas majoritariamente por cepas tintas (70%, contra 30% de uvas brancas). Curiosamente, e provavelmente devido à pouca idade do empreendimento, a Girolamo produz 60% de uvas autóctones da Puglia, mas significativos 40% de variedades internacionais. Seus vinhedos ocupam 50 ha sobre solo calcáreo. A cantina tem 12,5 mil metros quadrados de área construída. Usa 800 barricas de carvalho de 225 litros cada, das quais entre 25% e 30% são renovadas a cada ano.
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Vinhedo dos Feudi San Marzano, fileiras bem afastadas
Giuliani
foto eduardo viotti
A Tenuta (propriedade) Giuliani fica em Turi, no centro da Puglia, a 350 metros sobre o nível do mar. Segundo Donato Giuliani, diretor da empresa da família, a região é de elevada amplitude térmica (a diferença entre a tem-
Filippo Cassano, da Polvanera: “bio” v i n h o
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foto eduardo viotti
Acima, colheita manual em cestas de vime e bambu nos Feudi San Marzano; à esq. Luca Petrelli, enólogo da Rubino, e à direita, corte no solo para uma obra perto dos vinhedos da Polvanera permite observar o subsolo pedregoso, permeável, sob uma rasa camada superficial argilosa
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peratura máxima e a mínima em um mesmo dia). A casa privilegia a Primitivo (o nome deriva da ideia de que essa tinta é precoce, pois seu amadurecimento precede o da maioria das demais cepas escuras) em seus vinhos. Segundo ele, a Giuliani fez o primeiro vinho varietal de Primitivo em 1812. A Giuliani adota a denominação de origem Gioia del Colle, dominada pela Primitivo. Provamos uma série de vinhos de excelente qualidade, entre os quais se destacou um painel vertical do Primitivo Riserva, que começou com a edição 1999, 2000, 2001, 2002 e 2003. O vinho de nome comercial 1922 (de Primitivo também, homenagendo o ano de nascimento do pai de Donato, Rafaelle) tem incríveis 16% de álcool, absolutamente naturais. A degustação se encerrou com um Aleatico (Malvasia Nera) 2010 de colheita tardia.
POLVANERA
foto eduardo viotti
A Polvanera tem um nome de origem engraçada. Na área hoje ocupada por vinhedos havia uma família de carvoeiros e o nome é uma alusão à poeira ou pó negro que cobria a região. O proprietário e vinhateiro Filippo Cassano adoa integralmente os conceitos biodinâmicos de agricultura naturalista e integrada ao “cosmos”.
Barricas ao lado de uma parede de rocha nua na San Marzano Os trulli, casas de pedra centenárias v i n h o
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Acima, uvas tintas íntegras e em perfeito estado de sanidade na Tenuta Rubino, com a parreira desfolhado sobre elas para expor os cachos à luz e calor solares; à direira, vinhedo de muitas décadas com a típica condução em arbusto (em italiano, alberello, sem arames) sendo retrabalhado para voltar à produção v i n h o
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Eduardo Viotti em triciclo Piaggio Ape v i n h o
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Na vinícola Paolo Leo, cacho solitário posa em contraluz
foto gianluca notariani
A produção de vinhos começou em 2000, e atinge atualmente um máximo de 15 mil garrafas anuais. Os 40 hectares de vinhedos naturais da Polvanera ficam a 400 metros sobre o nível do mar na região de Murgia. São plantados com 4 mil plantas por hectare: a produção média é de cerca de 2 mil a 3 mil garrafas por ha. A maior parte da propriedade, 25 ha, são de vinhedos muito recentes, plantados sempre em cordão esporonado simples, sistema de condução que, segundo Cassano, é o que mais se aproxima do tradicional regional sistema arbustivo alberello, que não usa fios – e permite mecanização, que o alberello impede. A rasa camada de solo é arada à profundidade de 20 cm para aerar-se – aos 30 cm de profundidade aflora a rocha calcárea que forma a estrutura do subsolo. Em 2011, a Polvanera colheu pela primeira vez à máquina. O sistema orgânico pregado por Cassano também é adotado em suas plantações de cereja e oliva. Na vinificação, nada de carvalho, mas muito recurso ao frio, e às leveduras selecionadas. Seus vinhos são todos filtrados. A produção, de 200 mil garrafas/ano, inclui 20 mil garrafas de espumantes.
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Adega de estágio e maturação subterrânea da Schola Sarmenti
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