HABITABIS

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HABITABIS HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL

CÂNHAMO

E

NA CIDADE DE RIBEIRÃO PRETO

GRASIELLE DE OLIVEIRA CURYLOFO BATISTA | 2021


UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ

GRASIELLE DE OLIVEIRA CURYLOFO BATISTA

HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL

CÂNHAMO

E

NA CIDADE DE RIBEIRÃO PRETO

Trabalho final apresentado no curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Estácio de Ribeirão Preto. Orientadora: Profª

Catherine D’ Andrea

Ribeirão Preto/SP 2021


RESUMO O trabalho a seguir tem como objetivo apresentar o uso do Cânhamo como material construtivo a ser aplicado em um conjunto de habitação de interesse popular, localizado em uma área considerada assentamento irregular no município de Ribeirão Preto. A utilização do novo material construtivo aplicado em prol da população, através de pesquisas realizadas, deixa evidente a diminuição do déficit habitacional e um aumento da economia do município através da mão de obra, economia que deve ser levada em consideração após os efeitos da pandemia do COVID-19.

ABSTRACT


Figura [1] Moradia localizada dentro da área de intervenção. Fonte: Arquivo autoral. 30 de março de 2021

“PENSO QUE QUE

NÃO HÁ

NADA MAIS

ARTÍSTICO

AMAR VERDADEIRAMENTE

AS

DO

PESSOAS”

Vincent Van Gogh


1

2

INTRODUÇÃO

[TEMA/JUSTIFICATIVA/OBJETIVOS]

QUESTÕES HABITACIONAIS

11

3 REFERÊNCIAS PROJETUAIS

[DESIGUALDADE SOCIAL NO BRASIL] 13

[FLAT HOUSE] 33

[FAVELIZAÇÃO E O DÉFICIT HABITACIONAL] 20

[GUILLEMIN] 43

[A ORIGEM DA HABITAÇÃO POPULAR NO BRASIL] 25

[SOBRADOS NOVO JARDIM] 47

4

5

ANÁLISE DA ÁREA DE INTERVENÇÃO

[CONDIÇÕES NATURAIS] 62

DIRETRIZES PROJETUAIS

[ANÁLISE SENSORIAL- CHEIRO] [SITUAÇÃO ATUAL DO ASSENTAMENTO] [USO DO SOLO]

56

[FIGURA FUNDO] 57 [EQUIPAMENTOS]

58

[HIERARQUIA FÍSICA] 59 [HIERARQUIA FUNCIONAL] 60 [MOBILIDADE] 61

54

[ANÁLISE SENSORIAL- RUÍDO]

63

64

[LEGISLAÇÃO DA ÁREA] 68 [PROGRAMA DE NECESSIDADES] 69 [CONCEITO E PARTIDO] 69

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [72]


O trabalho a seguir aborda como TEMA principal a o principal benefício deveria ser: Sustentável Sustentável. habitação de interesse social e a aplicação do Cânhamo como O uso do cânhamo como método construtivo tem método construtivo. A JUSTI JUSTIFICA FICATIVA TIVA se apresenta através do déficit habitacional no Brasil que se aproxima de 7.223 milhões, de acordo com o Ministério das Cidades (apud MEDEIROS, 2007) O cenário atual do país vem carecendo ainda mais de atenção, principalmente a população menos favorecida, que até no ano de 2018 cerca de 13,5 milhões de pessoas no Brasil viviam com até R$145 por mês. (EXAME, 2019).

como impacto não só ecológico, mas econômico no Brasil. O Hemp Business Journal estimou que a receita total gerada por produtos de hemp nos EUA em 2016 alcançou pelo menos 688 milhões de dólares (SMOKE BUDDIES, 2017). Os produtos derivados do Hemp além de beneficiarem a área da saúde, alimentícia e estética ainda consegue atender de forma sustentável a área de construção civil, no qual fornece um material natural não tóxico, nenhuma emissão de gases venenosos, não utiliza solventes, resistente ao mofo, resistente a pragas, respirável, excelente controle de umidade, durável, sustentável, resistente ao fogo, ótimo isolante, forte, leve e com carbono negativo (HEMPMEDS, 2018). Após o levantamento de informações e análise do tema em questão o OBJETIVO GERAL do trabalho consiste em projetar um conjunto de habitação social no município de Ribeirão Preto utilizando como parte da materialidade o cânhamo afim de alavancar a economia da cidade e diminuir o déficit habitacional. De forma mais direta os OBJETIVOS ESPECÍFICOS são constituídos por:

O pobre, trabalhador eventual e destituído, é o usuário dessas políticas pelas quais é visto como “indivíduo necessitado”, e muitas vezes como pessoa acomodada, passiva em relação à sua própria condição, dependente de ajuda, enfim, não cidadão. Sua figura continua desenhada em negativo. (YASBEK, 2005, p.298)

1.[INTRODUÇÃO]

De acordo com Bonduki (1998), o problema da habitação está intimamente ligado a economia popular, com base nessa informação é possível dizer que a desigualdade social é um dos principais fatores que afetam as condições de moradia para todos, principalmente no Brasil. Notando-se a degradação que os métodos construtivos convencionais deixavam após cada obra, vários profissionais foram em busca de materiais que pudessem ser utilizados em uma construção, fosse barato mas

• Apresentar novas formas construtivas • Desenvolver um projeto de habitação econômico, resistente e que atenda às necessidades populacionais • Fomentar o desenvolvimento da economia do município com a implantação de um novo método construtivo

11


DESIGUALDADE SOCIAL NO BRASIL

de uma família pobre tem menos probabilidade de ter uma excelente educação e instrução; assim, com

Residir em um país onde a desigualdade social fica em evidência é carregar consigo uma herança de injustiça social que exclui parte significativa de sua população do acesso a condições mínimas de dignidade e cidadania. (RICARDO BARROS, 2000) Segundo Paloma Guitarrara (2021) a pobreza no Brasil tem origem estrutural, derivada de um processo de colonização pautado pela sociedade escravagista, a escassez de recursos e sua má distribuição são questões antigas e que conforme os anos acaba se agravando cada vez mais, apesar de no ano atual existir programas sociais que atendam a população menos favorecida Paloma Guitarrara (2021) afirma que após a crise de 2014, tem cada vez mais ampliado o número de indivíduos vivendo abaixo da linha de pobreza, que corresponde a R$ 154 ao mês. Quando falamos sobre a desigualdade social abrangemos outros pontos importantes como o preconceito para com a população em questão, ausência de serviços essenciais como saneamento básico, educação e outros determinantes que afetam a forma de morar de cada indivíduo.

baixo nível de escolaridade, terão destinados a si certos empregos sem grande prestígio social e com uma remuneração modesta, mantendo seu status social intacto. (MERELES, 2019)

Ricardo Barros (2000) afirma que o Brasil não é um país pobre, mas um país com muitos pobres, essa definição de pobre é determinada através de um indicador denominado como linha de pobreza e é considerado extremamente pobre o indivíduo que vive com menos de US$ 1,90 ao dia ou R$ 10,80. (GUITARRARA, 2021). De acordo com Paloma Guitarrara (2021) podemos definir a pobreza sendo ela absoluta ou relativa, onde a pobreza absoluta é definida pela escassez de recursos e calculada a partir de parâmetros objetivos, como a linha de pobreza e a pobreza relativa, em contrapartida, está relacionada ao comparativo entre indivíduos, famílias ou grupos (o que inclui países), diretamente atrelada à forma como se dá a distribuição de renda na sociedade. (GUITARRARA, 2021).

As pessoas que são marginalizadas sofrem os maus efeitos da existência dessas bolhas sociais e econômicas, sem lhes ser concedidas

2.[QUESTÕES HABITACIONAIS]

oportunidades de vida, de estudo e de crescimento profissional da mesma maneira que às outras pessoas. Nesse sentido quem é

Figura [2] Sheraton Grand Hotel e Resort.Fonte: CNN Brasil. Disponível em:< https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/2020/12/16/fotografo-sul-africanoretrata-em-imagens-do-alto-a-desigualdade-brasileira> Acessado em 30 de 30 de março de 2021

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Na década de 1880 o Brasil começa a receber uma grande quantidade de estrangeiros que tinham como objetivo trabalhar nas indústrias e viver uma vida melhor fora de seu país de origem. De acordo com Bonduki (1998) o crescimento da cidade deveu-se não só à sua à sua consolidação como grande mercado distribuidor, mas também ao influxo da massa de imigrantes.

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Conforme a urbanização dos centros e o valor agregado as moradias na região devido os privilégios de localidade,

A desigualdade social teve um grande impacto nos de R$ 499 ao mês) e 9 milhões a menos na pobreza extrema órgãos governamentais que a partir do ano de 1970 teve uma (renda de até R$ 178 por mês). (REDE BRASIL ATUAL, 2020).

algumas pessoas precisavam recorrer as áreas periféricas da cidade onde além de sua distância em relação ao centro comercial é carente dos serviços essenciais como hospitais e escolas, coleta de lixo e saneamento básico.

redução no índice de pobreza de 68,3% para 24,7%, contudo essa redução foi ainda maior a partir do ano de 2003 e entre os motivos estão os programas de inclusão social e transferência de renda que tiveram início no final da década de 1990 e foram unificados a partir de 2003 com a criação do Bolsa Família, o índice que era de 24,6% no ano de 2003 caiu para 8,8% 10 anos mais tarde. (GUITARRARA, 2021). No início do ano de 2003 iniciou-se o governo do expresidente Luiz Inácio Lula da Silva que terminou seu mandato no ano de 2011, passando o cargo para a ex-presidente Dilma Rousseff. Durante os 13 anos tendo o PT como partido político entre 2003 e 2014, o Brasil viveu uma fase de avanço econômico e social, com cerca de 25 milhões de pessoas deixando a pobreza e um aumento significativo da renda dos mais pobres. (REDE BRASIL ATUAL, 2020). Com a formulação de benefícios voltados a população menos favorecida, de acordo com Rogério J. Barbosa (2020) entre 2001 e 2011, a renda média das famílias cresceu mais de 30%, a desigualdade medida pelo coeficiente de Gini caiu mais de 10%, e as taxas de extrema pobreza e de pobreza recuaram, respectivamente 4 e 12 pontos percentuais. Em 2014 a economia geral começa a entrar em defasagem e afeta sobretudo a população mais pobre, chegando a diminuir em 40%, cerca de 1,4% ao ano, se os ganhos tivessem sido distribuídos igualmente entre a população, este ano teríamos 13 milhões de brasileiros a menos vivendo em pobreza (renda

Figura [3] Moradores do Complexo da Maré. Fonte: Agência Brasil. Disponível em:<https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2014-04/moradores-damare-pedem-moradia-digna-e-condicoes-de-trabalho> Acessado em 30 de março de 2021

No ano de 2015 o país enfrenta a pior crise econômica desde os anos de 1990, o PIB chegou a diminuir cerca de 3,1%, segundo Rogério J. Barbosa (2020) nos últimos 12 meses, pelo menos 825 mil pessoas perderam seus postos de trabalho. Ruth Costas (2015) cita os 5 principais fatores que influenciaram para o retrocesso do país, o primeiro deles foi a Lava Jato e o preço do petróleo, onde a operação Lava Jato teve um impacto -2,5% no PIB devido a paralisação nas atividades da Petrobras, o segundo fator foi a crise política onde perdeu-se uma grande quantidade de investimentos, logo em seguida foi realizado o aperto monetário e ajuste fiscal que demorou para acontecer e abrangeu dados além do que era esperado, a questão é que a recessão levou a uma queda da arrecadação – e com isso o déficit fiscal em vez de cair, cresceu. (COSTAS, 2015). Sem aquela demanda que vinha sendo inflada artificialmente, a indústria e outros setores estão sentindo a necessidade de reajustar sua estrutura, o que muitas vezes representa um aumento das demissões. Além disso, o enxugamento dos gastos públicos também teve um efeito significativo na demanda, já que o governo é o segundo maior ‘consumidor’ da economia, depois das famílias, respondendo por 22% dos gastos totais. (COSTAS, 2015)

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O último fator apontado por Ruth Costas (2015) responsável pela crise no país foi o cenário externo, visto que o Brasil é um dos grandes exportadores de produtos como a soja, minério de ferro e petróleo.

Figura [4] Pessoas em pobreza e extrema pobreza no Brasil 1992 a 2016. Fonte: Teoria e Debate. Disponível em: <https://teoriaedebate.org.br/2018/03/07/ com-o-aumento-da-extrema-pobreza-brasil-retrocede-dez-anos-em-dois/> Acessado em 30 de março de 2021

No ano de 2016 os primeiros indícios da crise econômica no país são apontados através do índice de desemprego Entre os fatores externos mais relevantes para a da população, afetando em sua maior parte as regiões mais economia brasileira estariam a queda nos preços desenvolvidas, como a região Sudeste. nas commodities e a desaceleração chinesa. Como resultado desses dois fenômenos, o valor negociado

O cenário só não foi pior porque o aumento da extrema

das exportações brasileiras caiu e, mesmo com o

pobreza nas duas áreas de forte concentração de

real desvalorizado, as exportações para a China

pobres – Nordeste e Norte – não seguiu o mesmo

tiveram baixa de quase 20% no primeiro semestre na

ritmo, o que mostra a importância da ampliação do

comparação com 2014. (COSTAS, 2015).

escopo e escala dos programas sociais desde 2003. Não fosse a criação do Programa Bolsa Família e a ampliação da cobertura do Benefício de Prestação Continuada e da Aposentadoria Rural, o quadro seria certamente diferente. Na realidade, o efeito protetor dessas políticas pode rapidamente se exaurir pela falta de correção do valor real dos benefícios assistenciais, pelo descredenciamento de beneficiários e pelas mudanças nos critérios de acesso a esses programas, como indicado na presente proposta de Reforma da Previdência. (TEORIA E DEBATE, 2018)

Em 2020 o Brasil sofre um grande impacto econômico devido a pandemia do COVID-19 aumentando o índice de pobreza e extrema pobreza que foi para 33,7% e 12,5%.

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O total de pessoas pobres chegou a 209 milhões no fim do ano passado, 22 milhões a mais do que em 2019. Desse total, 78 milhões de pessoas estavam em situação de extrema pobreza, 8 milhões a mais do que no ano anterior. Os números são os piores registrados nos últimos 12 e 20 anos, respectivamente, e também estão associados a uma piora dos índices de desigualdade na região e nas taxas de ocupação e participação no mercado de trabalho, sobretudo das mulheres. (NASCIMENTO, 2021)

Com a crise na área da saúde afetando diretamente a economia brasileira foi preciso a criação de um auxílio emergencial com o propósito de auxiliar as pessoas menos favorecidas e amparar as necessidades dessas famílias. O valor de R$600 e R$1.200 para mães solteiras teve impacto direto no índice de pobreza e extrema pobreza, Paloma Guitarrara (2021) afirma que a queda foi de quase 2 milhões de pessoas: de 8,8 milhões vivendo na extrema pobreza em maio de 2020, o valor foi para 6,9 milhões no mês seguinte. De acordo com a Caixa Econômica tem direito ao auxílio emergencial o cidadão maior de 18 anos, ou mãe com menos de 18, esteja desempregado ou exerça atividades como microempreendedor individual (MEI), contribua individualmente com a Previdência Social, seja um trabalhador informal e pertença a uma família cuja renda mensal por pessoa não ultrapasse meio salário mínimo (R$522,50) ou ainda possua uma renda familiar total de até 3 salários mínimos. Apesar de parte da população ser beneficiada com a ação

social do governo, uma porcentagem dos habitantes nomeada como invisíveis acaba ficando sem nenhum auxílio, são assim chamados por não estarem cadastrados nas nas bases do governo federal nos programas de transferência, como o Cadastro Único. (GUITARRARA, 2021). De acordo com Fiocruz (2020) uma das maiores preocupações do CNS (Conselho Nacional de Saúde) é a desigualdade nas condições de saneamento e moradia frente à pandemia. A população menos favorecida, no cenário atual não consegue e não pode ficar sem sua forma de sustento, para esses cidadãos ficar em casa e manter o distanciamento físico torna-se algo quase impossível, tanto por conta de seus salários quanto pela forma de morar, através de um panorama geral quem não tem acesso a condições dignas de moradia e vida e aos mínimos direitos fundamentais ou está sem trabalho e renda nunca esteve tão vulnerável. (FIOCRUZ, 2020). Os moradores que possuem uma renda na linha da pobreza e/ou abaixo dela, que residem consequentemente nas áreas afastadas e consideradas insalubres para viver, para garantir o mínimo de isolamento domiciliar, estão com famílias inteiras — e, em alguns casos, com muita gente — restritas a um mesmo espaço, inclusive sem saber que alguma já pode estar infectada. (FIOCRUZ, 2020). A distância destes cidadãos e a forma de viver entram em grande conflito perante as orientações da OMS (Organização Mundial da Saúde), pois Dificultam o acesso a saneamento básico, água encanada e esgoto domiciliar, em regiões de difícil

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Os moradores de rua, que estão em situação de vulnerabilidade, em abril de 2020 podem ser atendidos pela

acesso ou nas periferias, são fatores que dificultam o controle da epidemia. A isso se soma o fato

organização Médicos Sem Fronteiras (MSF), organização humanitária de âmbito internacional, a ação uniu esforços em uma igreja franciscana em São Paulo, transformando o espaço em um abrigo e centro de atendimento médico que durante a crise sanitária alimenta, examina e testa mais de 700 pessoas por dia. (IDOR, 2021)

de que a população negra geralmente é a mais afetada pela desigualdade, com menos condições socioeconômicas de enfrentamento a esse tipo de situação. (FIOCRUZ, 2020)

Não somente a população que reside nas áreas periféricas é afetada, mas também indivíduos em situação de rua, que de acordo com a Fiocruz (2020) não vão “sofrer apenas com o vírus”, mas também com a fome, a ausência de higiene e a escassez de água.

As equipes do MSF têm visitado albergues e locais onde há distribuição de comida, para conseguir atender tantos os que usam os abrigos públicos,

De acordo com a Catraca Livre (2020), na cidade de A população em situação de rua aparece com um São Paulo já são 22 pessoas em situação de rua mortas pela dos grupos sociais mais vulneráveis diante da covid-19. pandemia de Covid-19, o que evidencia um cenário de desigualdade e injustiça social. A atenção especial a essa população é necessária por diversos aspectos. Pelas condições sociais, por ela estar nas ruas, pela ausência de higiene e água potável, pela ausência de segurança alimentar. (FIOCRUZ, 2020)

No

Brasil,

como

em

muitos

outros

países

quanto aqueles que dormem exclusivamente nas ruas. Os profissionais de saúde oferecem orientações e buscam identificar gente que tenha sintomas da doença. Os casos mais graves são encaminhados aos serviços de saúde. (AGÊNCIA BRASIL, 2020).

subdesenvolvidos, a situação da população de rua é ainda mais grave. Com a deficiência de vagas em abrigos e as condições precárias de muitos destes, não é possível acolher grande parcela dessas pessoas. Além disso, a falta de dados e estudos sobre o assunto compromete a busca de soluções mais efetivas. Na capital paulista, primeiro epicentro da pandemia no Brasil, no ano passado havia 24 mil

Figura [5] Moradores de rua alojados em baixo de um pontilhão na cidade de São Paulo. Fonte: Catraca Livre. Disponível em: <https://catracalivre.com.br/ cidadania/sp-tem-22-moradores-de-rua-mortos-por-covid-19-diz-prefeitura/> Acessado em 30 de março de 2021

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moradores de rua, número que já era questionado por uma margem considerável de subnotificação. (IDOR, 2021)

Figura [6] Médicos Sem Fronteiras atuando contra o coronavírus em São Paulo. Fonte: Folha de São Paulo. Disponível em: <https://fotografia.folha.uol.com.br/ galerias/1667616761814014-medicos-sem-fronteira> Acessado em 30 de março de 2021

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FAVELIZAÇÃO E O DÉFICIT HABITACIONAL

Os habitantes de uma região (geralmente pequenas e

No início do século XIX, devido o processo acelerado da urbanização, falta de planejamento e uma má gestão política, surgem as primeiras favelas no Brasil. O termo utilizado para designação de moradias insalubres e condições precárias surgiu após a Guerra de Canudos que ocorreu de 1896 a 1897 e estava relacionada ao Arraial de Belo Monte, existente no Morro da Favela. O resultado da ação de “favelizar” corresponde

médias

cidades)

não

encontram

meios

denomina como tal, Ricardo Ojima (2007, p. 346) informa que

de

Com tamanho almejo em transformar o Rio de Janeiro em uma cidade semelhante a Paris, a partir dos anos 20 o preconceito

subsistência no espaço urbano e acabam tendo de

Para ser considerada habitação em favela, o

habitar os territórios que rodeiam a cidade, posto

domicílio deve se enquadrar em pelo menos uma das

que fiquem mais próximos aos locais de trabalho.

seguintes privações: 1) durabilidade da habitação; 2)

Isto ocorre por que aqueles meios de subsistência

densidade domiciliar máxima de três pessoas por

(principalmente alimentação e moradia) são muito

cômodo; 3) acesso suficiente a água potável; 4)

mediante as favelas era tão grande, visto que eram apenas um problema sanitário, onde não existiam redes de esgoto ou de água encanada, não haviam problemas sociais ou criminais (LEITE.L, 2009). Para que esse molde internacional fosse implantado

mais caros nos centros urbanos do que em suas

acesso a instalações sanitárias; e 5) posse legal da

O arquiteto francês Alfred Agache (1875 – 1959), um

periferias. (TODA MATÉRIA, 2020)

terra ou alguma forma de proteção legal. (OJIMA,

dos responsáveis pela consolidação do urbanismo no

2007).

mundo, propôs um projeto urbanístico para a cidade

As áreas favelizadas são tratadas pela grande maioria da população como zonas de risco, onde segundo Rodolfo A. Pena (2021) é vista por gestores públicos como zonas de violência, e não como áreas para a realização de investimentos em infraestrutura ou remanejamento habitacional.

Construções improvisadas, ausência de saneamento 33% da população dos países em desenvolvimento básico e distância de centros de apoio, os barracos instalados vive em favelas, 11% da população de São Paulo em áreas de risco evidenciam o descaso governamental frente vivem em favelas, enquanto 22% da população do a essa população que em grande maioria vive com menos de Rio de Janeiro habitam tais moradias e a cidade com um salário mínimo por mês. maior número de pessoas que vivem em favelas no A favelização apesar de aparentar ligação direta com Brasil é o Rio de Janeiro com 1.393.314 habitantes. o excesso populacional é originada da Macrocefalia Urbana, (TODA MATÉRIA, 2020) onde de acordo com a Toda Matéria (2020) não são capazes de absorver a população e fornecer-lhe abrigo e renda. Para que um conjunto de habitação seja considerado favela não necessariamente apenas a falta de regularização a

A cidade do Rio de Janeiro, na qual possui uma das do Rio de Janeiro onde considerava as favelas um 7 maravilhas do mundo é berço da maior favela do Brasil, problema “sob o ponto de vista da ordem, social, nomeada como Favela da Rocinha que abriga cerca de 25.742 da segurança, da higiene, sem falar da estética. domicílios, mas o Rio de Janeiro teve seu primeiro aglomerado (LEITE.L, 2009) de residências em 1888, um dos motivos que deu origem a este A população que residia nas favelas era removida de suas tipo de moradia, de acordo com Lucas de Souza Leite (2009, residências, assim, no ano de 1937 no Código de Obras da Cidade p. 02) do Rio de Janeiro, as favelas eram tidas como “aberrações Pereira Passos, prefeito da cidade do Rio de Janeiro urbanas”, e através deste Código ficou homologado a política durante os anos (1902 – 1906), promoveu grandes de eliminação de favelas e proibição de construções de outros reformas urbanísticas na cidade, seu objetivo era barracos. (LEITE.L, 2009) transformar o Rio de Janeiro numa capital aos moldes Getúlio Vargas, com a intenção de diminuir a de Paris, para uma posterior recepção de evento problemática desses moradores criou na década de 40 os internacional. Para que grandes avenidas fossem parques-proletários que semelhante a um albergue, abrigava traçadas, Pereira Passos utilizou-se da política do os cidadãos que residiam nos morros, afim de implantar “bota-abaixo” gerando uma onda de demolições dos melhorias na infraestrutura das casas, apesar de Getúlio Vargas cortiços localizados no centro da cidade, fato este aparentemente ter o objetivo de diminuir essa problemática, que impulsionou o crescimento das favelas. (LEITE. os moradores que eram retirados dos morros não eram mais L, 2009) autorizados a voltar para suas casas.

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21

ao aumento do número de moradias precárias (barracos) em uma determinada região, formando um conjunto habitacional conhecido como “favela”. Ela surge em áreas de ocupação irregular (públicas ou privadas) e formam núcleos populacionais densamente povoados. (TODA MATÉRIA, 2020)

Cerca de 44% da população latino-americana vive em favelas ou subúrbios com infraestrutura precária,


Com as favelas e o preconceito girando entorno delas, em 1948 foi realizado o primeiro Censo destinado a este tipo de habitação, onde ditado em documentos oficiais afirmava que: “Os pretos e pardos prevaleciam nas favelas por serem hereditariamente atrasados, desprovidos de ambição e mal ajustados às exigências sociais modernas” (LEITE.L, 2009). As décadas de 60 e 70 foram responsáveis não só pela criação da Coordenação de Habitação de Interesse Social da Área Metropolitana do Grande Rio, mas também pelo início do narcotráfico, onde estima-se um movimento financeiro aproximado de R$ 3 bilhões por ano, só na cidade do Rio de Janeiro. (LEITE.L, 2009) No início da década de 90 foram criados projetos sociais como Favela-bairro e obras advindas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) com objetivo de diminuir as problemáticas relacionadas a favelização e seus moradores.

Figura [8] Complexo do Alemão, Rio de Janeiro/RJ. Fonte: PAC Urbanização de Favelas. Disponível em: <https://antigo.mdr.gov.br/images/stories/ ArquivosSNH/ArquivosPDF/PAC_Urbanizacao_de_Favelas_Web.pdf> Acessado em 30 de março de 2021

A favela da Rocinha mesmo com baixa qualidade em sua infraestrutura busca, quebrando o preconceito, aumentando

seu desenvolvimento social e econômico, através de visitas De acordo com o El País (2019) só na cidade do Rio guiadas, levar o conhecimento da comunidade e da cidade do de Janeiro existem 1.018 favelas que concentram 22% da Rio de Janeiro para turistas que visitam o Brasil e optam por população e somente na comunidade da Rocinha a densidade uma das cidades mais bonitas do país. De acordo com a Isto é populacional é de 48.258 habitantes por quilômetro quadrado. (2017) os anos de 2010 e 2013 foram marcos na área de turismo A distância das áreas comerciais, ausência de serviços básicos onde os estrangeiros interessados em conhecer os pontos como escolas e alto índice de desemprego fazem com que as turísticos dos morros cariocas chegou a 1,1 mil pessoas ao mês. crianças transitem por entre as ruas e por sua vez trabalhem em pequenos comércios da região. Apesar da grade massa populacional, na Rocinha convivem 70.557 pessoas que são atendidas por dois centros de saúde de atenção básica e dois centros com algumas especialidades. Isso significa que, para doenças graves, a população precisa buscar atendimento fora da favela. (EL PAÍS, 2019). O Rio de Janeiro nos anos 2000 possuía aproximadamente 19% de moradores nas áreas favelizadas e em 2019 a cidade era responsável por corresponde a grande parte do índice de desempregados do país. Com mais de 18.000 habitantes com menos de 14 anos, a favela da Rocinha conta com 16 creches, sete centros de educação pré-escolar e três escolas primárias. Para frequentar escolas de ensino médio é preciso sair da favela, onde outros bairros também

Figura [7] Parque Proletário da Gávea. Fonte: Cronologia do Urbanismo. Disponível em: <http://www.cronologiadourbanismo.ufba.br/apresentacao. php?idVerbete=1596> Acessado em 30 de março de 2021

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oferecem cursos superiores. (EL PAÍS, 2019)

Figura [9] Turistas poloneses em visita guiada no morro do Rio de Janeiro. Fonte: Isto É. Disponível em: <https://istoe.com.br/turismo-questionavel/> Acessado em 30 de março de 2021

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Com vielas que se conectam criando verdadeiros labirintos como passagem e grandes prédios em seu entorno, a

A ORIGEM DA HABITAÇÃO POPULAR NO BRASIL

maior parte da população tem acesso à eletricidade sem pagar, criando uma decoração única que se estende por todas vielas (EL PAÍS, 2019). O grande processo de favelização e o alto índice de desemprego em 2019 faz com que o Brasil alcance a marca de 5,876 milhões em seu registro de déficit habitacional, segundo a pesquisa, essas quase 6 milhões de moradias representam 8% dos domicílios do país. O alto valor do aluguel urbano responde por mais de metade do déficit habitacional total – um total de 3.035.739 de moradias. (G1, 2021). Segundo Inca (2020) o déficit habitacional diz respeito a um índice que representa as famílias que residem em condições precárias de moradia ou até que não possuem nenhum tipo de moradia. Para que seja considerada uma residência em déficit habitacional a mesma precisa apresentar um risco para o morador e entorno, fazendo o uso de materiais inadequados ou excedendo o limite de moradores.

Para compreender o termo de habitação popular é necessário retroceder aproximadamente 141 anos, mais A ocupação desses terrenos baratos, abaixo do nível precisamente na década de 80, quando a cidade de São Paulo de arruamento, revela a urgência e o descuido com inicia um processo de urbanização advindo principalmente da que se executavam as construções numa época de indústria cafeeira. grande demanda por novas moradias de aluguel. O processo de crescimento urbano da cidade de São Esse descuido era ainda maior quando se tratava Paulo recebeu boa parte da mão de obra de estrangeiros, isso de habitações para trabalhadores pobres, nas quais por volta de 1886. Os indivíduos que saiam de seus países toda redução de custo era buscada com avidez. ingressavam no Brasil com o objetivo de obter trabalho e (BONDUKI, 1998, p. 30) uma vida com condições melhores do que de suas origens, o As condições precárias nas quais os moradores residiam excesso de estrangeiros na cidade acarretou entre 1886 e 1900 era afetada principalmente pela ausência da rede de esgotos. uma grande massa populacional que, de acordo com Bonduki (1998) ocasionou a primeira crise habitacional. Em mais de um ponto a drenagem é mesmo Com a expansão da cidade e o crescimento do centro impossível por se achar o encanamento do resto urbano os lotes que eram criados em sua maioria, eram em nível superior. Em outros sítios, a carga adicional voltados a chácaras e criação de bairros novos. Tais ocupações de água, no tempo de chuva, faz refluir à rede de localizadas próximo as indústrias e região central da cidade não esgotos materiais aí contidos ou retardados, o que atendia a quantidade equivalente da população, principalmente demonstra as condições desfavoráveis em que devido ao custo em relação ao valor pago aos operários. essa rede funciona. Em consequência, a umidade A população menos favorecida precisava optar entre residir copiosa do terreno, não raro, forma nesses terrenos em residências melhores e passar necessidade principalmente deprimidos pequenas lagoas que as águas pluviais a fome ou habitar um local completamente insalubre, mas alimentam e que só desaparece pela ação do calor com um valor bem abaixo dos demais e conseguir pagar todas solar [...]. No fundo de quase todos os quintais dessa as despesas domésticas. Era previsto que em sua maioria os zona, o solo ainda que um tanto poroso e absorvente operários optavam por não passar fome e começaram a morar a princípio, perdeu já essas qualidades. A água da em locais com a qualidade de vida extremamente reduzida, chuva aí acumulada desaparece mais por evaporação além do mais as residências que eram ocupadas mesmo com

Figura [10] Fiação exposta dentro da comunidade. Fonte: El País. Disponível em: <https://brasil.elpais.com/brasil/2019/02/05/album/1549387456_663322. html#foto_gal_1> Acessado em 30 de março de 2021

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condições quase que desumanas particulares ou seja, eram alugadas.

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não

eram

aquisições


do que por infiltração. As construções, já muito

e a mesma capacidade. Entre nós esses cortiços se

condensadas [e] retalhando o terreno com muros

caracterizam: 1) pela má qualidade e impropriedade

O governo, portanto, autoriza o grupo de higienistas a área exígua, mal-ladrilhada ou cimentada com um intervir nestas questões, tornando-se o fator prioritário para

e paredes diversas, tornam ainda mais precárias

das construções; 2) pela falta de capacidade e má

ralo para esgoto e uma latrina ordinária sem abrigo.

as condições de escoamento e enxugo do solo.

distribuição dos aposentos, quase sempre sem

melhoria da população visto que, o país sofria ano após ano A cozinha, quando não é ao lado da latrina, está com as epidemias.

(BONDUKI, 1998, p. 30)

luz e sem a necessária ventilação; 3) pela carência

assentada junto do aposento de dormir e então as

de prévio saneamento do terreno onde se acham

condições de asseio são as mais precárias possíveis.

As medidas governamentais para controlar as

construídos; 4) finalmente, pelo desprezo das mais

(BONDUKI, 1998, p. 33)

condições sanitárias e impedir a propagação de

Grande massa populacional, aumento na procura de um local para passar noite e crescimento acelerado de indústrias foram responsáveis para a construção de residências voltadas para a população pobre e operária, dando início na formação dos cortiços e estalagens que por sua vez tinham dimensões mínimas e eram ocupados por mais de uma família. Casos particulares como indivíduos únicos que vendiam a mão de obra em troca de uma hospedagem ocupavam locais separados, nomeado como hotel-cortiço. De acordo com Bonduki (1998) esse tipo de habitação possuía aposentos pequenos, 2,5m de frente por 3m de fundo e eram utilizados somente no período noturno. Não só indivíduos únicos se formava a densidade da cidade, mas também famílias com 6, 8 ou mais integrantes, portanto criava-se o cortiço-pátio na qual ocupava cerca de uma quadra e edificado em terrenos integrados a outro tipo de construção.

perceber a má qualidade da alvenaria. No fundo uma

comezinhas regras de higiene doméstica. (BONDUKI, 1998, p. 32)

Por se tratar de residências pequenas, replicadas e edificadas em um terreno compartilhado o custo para produzilas era vantajoso visto que o aluguel pago pelos moradores compensava o valor gasto nas obras. Com o aumento dessa população foram construídas no geral quatro tipos de moradia: Cortiços improvisados, cortiço-pátio, casa de cômodos e o hotel-cortiço, mas além dessas tipologias existiam as habitações nomeadas de casinha e esta era uma das principais ameaças para o setor higienista da época.

epidemias foram de três tipos: 1) criação da Diretoria

Essa grande precariedade acontece na mesma época em que se enfrenta uma epidemia de cólera, resultando em uma intervenção urgente do governo para que a população não fosse completamente dizimada. As ações governamentais viram então a necessidade de colocar em ação os higienistas, pessoas responsáveis por analisar e intervir nos locais que eram considerados risco para a população, como os cortiços. Responsáveis por diminuir a possibilidade de contágio entre os indivíduos os higienistas possuíam um preconceito em relação aos imigrantes que povoavam o país:

sanitária, isto é, podia entrar nos domicílios para controlar a vida, as regras de asseio, higiene e saúde de seus habitantes; 2) promulgação de vasta legislação de controle sanitário e de produção das habitações, com destaque para o Código Sanitário de 1894; e 3) participação do Estado na gestão de obras de saneamento e de abastecimento de água e de coleta de esgotos, sobretudo pela encampação da Companhia Cantareira de Águas e Esgotos e pela criação da Comissão de Saneamento das Várzeas.

Indivíduos que vivem na miséria e abrigados aos Apenas considerada cortiço pelo seu destino e

pares, em cubículos escuros e respirando gases

espécie de construção. Pequena e insuficiente,

mefíticos, que exalam de seus próprios corpos não

Um portão lateral da entrada por estreito e comprido

para a população que abriga, não oferece garantia

asseados, perdem de uma vez os princípios da moral

corredor para um pátio com 3 a 4 metros de largo

alguma pelo que respeita a higiene. O assoalho

e atiram-se cegos ao crime e ao roubo de forma a

nos casos mais favorecidos. Para esse pátio, ou

sem ventilação e assentado sobre o solo, o forro

perderem sua liberdade ou a ganharem, por essa

área livre, se abrem as portas e janelas de pequenas

sem ventilador, os cômodos pequenos e ainda

forma, meios de se alimentarem ou dormirem melhor.

casas enfileiradas, com o mesmo aspecto, a mesma

subdivididos por biombos, que os torna ainda mais

(BONDUKI, 1998, p.34)

construção, as mesmas divisões internas e a mesma

escuros, as paredes sujas e ferido o reboco que deixa

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de Higiene, com poderes de polícia e inspeção

(BONDUKI, 1998, p.38)

Em 1893 o Brasil, que já estava ameaçado pela febre amarela, registrava seu primeiro caso de cólera. Perante esta situação os higienistas eram autorizados a interferir nos locais que considerassem suspeitos de proliferar as doenças, invadiam residências, ateavam fogo e até mesmo prendiam cidadãos que se submetiam nestas condições. Nos casos em que um único indivíduo encontrava-se doente em uma construção, todos os

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demais eram afetados e por sua vez, ficavam sem onde morar. Frente a crise na área da saúde e o grande receio de afetar

se chamaram as casas, construções acanhadas, insalubres, repulsivas algumas, onde as forças vivas

além do mais as residências que eram ocupadas mesmo com condições quase que desumanas não eram aquisições

uma grande quantidade de pessoas, no mesmo ano o governo criava três agentes de intervenção para conter o avanço epidemiológico: legislação urbanística, planos de saneamento básico e estratégia de controle sanitário. (BONDUKI, 1998) Um dos fatores que mais facilitava a propagação das doenças era a poluição nas águas, o estado, portanto toma a iniciativa para atender uma quantidade maior de moradias que chega a 85% no ano de 1920. Era preciso bem mais que uma melhoria nas redes de água e esgotos, diante disso o governo entra em ação através da criação da legislação do controle do uso do solo.

do trabalho se ajuntam em desmedida fustigadas

particulares ou seja, eram alugadas.

Não bastava, com efeito, melhorar as condições de abastecimento de água e do serviço de esgoto, encetar a drenagem profunda e superficial do solo, proceder a regularização e limpeza dos terrenos baldios, retificar o curso dos rios urbanos, efetuar o asseio e a limpeza das ruas e dos quintais, regularizar ou regulamentar as construções novas, arborizar as pragas e logradouros públicos, calçar as ruas, tomar enfim todas as medidas para manter em nível elevado a higiene de uma cidade que cresce rapidamente e cuja população triplicou em dez anos;

pela dificuldade de viver numa quase promiscuidade a que a economia lhes impõe mas que a higiene

A ocupação desses terrenos baratos, abaixo do nível

repele. (BONDUKI, 1998, p. 46)

de arruamento, revela a urgência e o descuido com que se executavam as construções numa época de

O processo de crescimento urbano da cidade de São Paulo recebeu boa parte da mão de obra de estrangeiros, isso por volta de 1886. Os indivíduos que saiam de seus países ingressavam no Brasil com o objetivo de obter trabalho e uma vida com condições melhores do que de suas origens, o excesso de estrangeiros na cidade acarretou entre 1886 e 1900 uma grande massa populacional que, de acordo com Bonduki (1998) ocasionou a primeira crise habitacional. Com a expansão da cidade e o crescimento do centro urbano os lotes que eram criados em sua maioria, eram voltados a chácaras e criação de bairros novos. Tais ocupações localizadas próximo as indústrias e região central da cidade não atendia a quantidade equivalente da população, principalmente devido ao custo em relação ao valor pago aos operários. A população menos favorecida precisava optar entre residir em residências melhores e passar necessidade principalmente a fome ou habitar um local completamente insalubre, mas

com um valor bem abaixo dos demais e conseguir pagar todas não já da habitação privada, mas daquela onde se as despesas domésticas. Era previsto que em sua maioria os acumula a classe pobre, a estalagem onde [se aloja] operários optavam por não passar fome e começaram a morar em locais com a qualidade de vida extremamente reduzida, a população operária- o cortiço como vulgarmente é preciso cuidar da unidade urbana da habitação,

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grande demanda por novas moradias de aluguel. Esse descuido era ainda maior quando se tratava de habitações para trabalhadores pobres, nas quais toda redução de custo era buscada com avidez. (BONDUKI, 1998, p. 30)

Com a área da saúde afetada e a necessidade de se tomar iniciativas afim de conter as epidemias, o problema foi sendo reduzido conforme as redes de água e esgoto foram sendo ampliadas, visto que já era algo que melhorava as condições de vida dos moradores no geral. No final do século XIX, o setor industrial em grande expansão e a quantidade de indivíduos de classe social baixa, a maioria das residências eram alugadas e a produção dessas moradias eram exclusivamente de iniciativa privada e tinha como objetivo arrecadar o valor mensal advindo do aluguel, tais moradias eram nomeadas como vila operária de empresa e vila operária particular onde representavam respectivamente moradias com investimento de empresas e destinados aos seus funcionários e moradias com investidores que visavam apenas o mercado imobiliário.

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3.[REFERÊNCIAS PROJETUAIS]


Figura [11] Flat House. Fonte: Practice Architecture. Disponível em: <https:// practicearchitecture.co.uk/project/flat-house/> Acessado em 25 de março de 2021 - Modificado pela autora.

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FLAT HOUSE

Arquitetos responsáveis: Culturas materiais e escritório Practice Architecture Ano de construção: 2019 Área total: 100m Localização: Cambridgeshire, Reino Unido.


FLAT HOUSE Com 100m a Flat House foi projetada pelo escritório Culturas Materiais em colaboração com o escritório Practice Architecture no ano de 2019. Localizada em Cambridgeshire no Reino Unido a Flat House situa-se em uma área rural, mais precisamente no interior da Margent Farm, uma fazenda responsável por desenvolver bio-plásticos com cânhamo e linho.

Figura [12] Área social interna do projeto. Fonte: Practice Architecture. Disponível em: <https://practicearchitecture.co.uk/project/flat-house/> Acessado em 25 de março de 2021 - Modificado pela autora.

Como CONCEITO principal o escritório buscou utilizar a sustentabilidade de forma ampla ou seja, aplicada no projeto mas que pudesse ser replicada em demais construções. Para que isso fosse possível o PARTIDO que mais influenciou o projeto foi o fato de estarem situados no interior de uma fazenda responsável por desenvolver bio-plásticos, o que facilitou a concretização da ideia. A partir de consultorias com especialistas em construções sustentáveis foi possível criar um painél pré-fabricado cujo seu preenchimento é feito através de fibras de cânhamo, flor derivada da Cannabis Sativa e cultivada na região. A VOLUMETRIA é composta por formas construtivas simples e possui apenas um pavimento, cujo acesso é realizado através de uma escada sútil. Sua cobertura aparenta ter um beiral para proteção das esquadrias e todo o peso da construção é distribuido em 6 pilares direto para a fundação.

COBERTURA

PAVIMENTO

FUNDAÇÃO

O PROGRAMA é distribuido de forma sútil no interior da residência que, apesar de possuir apenas uma caixa volumétrica, tem um pé direito duplo que proporciona maior amplitude nos ambientes. O programa adotado abrange suas áreas íntimas, sociais e de serviço onde, devido ao uso de vidro na materialidade cria corredores que interligam os dormitórios até os banheiros com uma iluminação natural.

Figura [13] Volumetria da residência - Arquivo autoral.

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Figura [14] Cozinha. Fonte: Dwell. Disponível em: < https://www.dwell.com/ article/flat-house-practice-architecture-92fb2afe> Acessado em 04 de maio de 2021

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ÁREA ÍNTIMA

ÁREA ÍNTIMA

ÁREA SOCIAL

ÁREA SOCIAL

ÁREA DE SERVIÇO

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Figura [15] Planta baixa sem escala. Fonte: Practice Architecture. Disponível em: <https://practicearchitecture.co.uk/project/flat-house/> Acessado em 25 de março de 2021 - Modificado pela autora.

ÁREA DE SERVIÇO

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Figura [16] Planta do pavimento superior sem escala. Fonte: Practice Architecture. Disponível em: <https://practicearchitecture.co.uk/ project/flat-house/> Acessado em 25 de março de 2021 - Modificado


O sistema ESTRUTURAL buscou utilizar materiais mais naturais e que fossem adquiridos próximo ao local de intervenção. O uso do cânhamo para o projeto fez com que a residência se tornasse a primeira construção a utilizar este tipo de material, além do cânhamo é possível encontrar madeira, vidro e alumínio.

Figura [17] Corte AA sem escala. Fonte: Practice Architecture. Disponível em: <https://practicearchitecture.co.uk/project/flat-house/> Acessado em 25 de março de 2021 - Modificado pela autora. Figura [18] Corte BB sem escala. Fonte: Practice Architecture. Disponível em: <https://practicearchitecture.co.uk/project/flat-house/> Acessado em 25 de março de 2021 - Modificado pela autora.

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As ETAPAS CONSTRUTIVAS partem a partir dos pilares que hoje sustentam a edificação que na verdade trata-se da fundação antiga de um celeiro, portanto houve a necessidade de um estudo minucioso para estruturar o restante da construção. Os painéis criados para a construção são compostos da fibra do cânhamo não tecida junto de resinas produzidas de resíduos biológicos da própria fazenda, como sobras de cana-de-açúcar e espigas de milho. Abaixo do painel de cânhamo existe também um revestimento que utiliza do mesmo material como composto, proporcionando ambientes mais quentes e agradáveis, além de representar uma textura sobre a superfície.

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Figura [21] Amplitude do ambiente. Fonte: Dwell. Disponível em:<https://www.dwell.com/article/flathouse-practice-architecture-92fb2afe>Acessado em 04 de maio de 2021 Figura [22] Jardim de inverno. Fonte: Dwell. Disponível em:<https://www.dwell.com/article/flat-house-practicearchitecture-92fb2afe>Acessado em 04 de maio de 2021

Através do uso de materiais sustentáveis, o exterior da residência levou apenas dois dias para ficar pronto e aponta a possibilidade de replicar a técnica em demais construções, agilizando o tempo de obra. Os painéis proporcionam do lado interno ambientes que levam a sensação de tranquilidade além de possuir sua própria textura e finalizam o acabamento com molduras de madeira. A escada que da acesso ao pavimento superior trabalha com a mesma materialidade do piso, passando a sensação de amplitude no ambiente, por fim existe o jardim de inverno que, devido sua construção total em vidros é responsável pela área mais quente e aconchegante do projeto.

RELEVÂNCIA PARA O PROJETO O estudo da residência em questão demonstra a possibilidade do uso de materiais alternativos dentro da arquitetura, material este que possui inúmeros benefícios desde conforto térmico a durabilidade, beleza e inibição nula de gases para o meio ambiente. Como dito pelo escritório, este método construtivo pode ser replicado em outras residências e consequentemente permite um tempo de obra menor se comparado aos métodos convencionais.

Figura [19] Revestimento interno na área da cozinha. Fonte: Dwell. Disponível em: <https://www.dwell.com/article/flat-house-practice-architecture-92fb2afe> Acessado em 04 de maio de 2021 Figura [20] Destaque para textura do revestimento interno. Fonte: Dwell. Disponível em: <https://www.dwell.com/article/flat-house-practice-architecture92fb2afe>Acessado em 04 de maio de 2021 - Modificado pela autora

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Figura [23] Guillemin. Fonte: Inhabitat. Disponível em: <https://inhabitat. com/hemp-based-insulation-makes-a-comeback-in-belgium/martens-vancaimere-architecten-hemp-based-insulation10/> Acessado em 07 de maio de 2021 - Modificado pela autora.

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GUILLEMIN

Arquitetos responsáveis: Escritório Martens Van Caimere Architecten Ano de construção: 2016 Localização: Geraardsbergen, Bélgica.


GUILLEMIN A residência Guillemin, projetada pelo escritório MVC se diferencia das demais leituras projetuais devido sua finalidade pois, o projeto em questão aborda o restauro de um bangalô já existente feito em concreto cujo escritório buscou restaura-lo afim de torná-lo mais sustentável e com uma longa duração. SITUADA na Bélgica, a construção original é coberta pelas sombras do Muur van Geraardsbergen, uma grande colina da região, tendo como divisória um muro que serve de buffer entre a casa e o restante da vizinhança. Seu CONCEITO assim como os projetos mostrados anteriormente, buscou utilizar não só a sustentabilidade, mas também a redução de custos na construção. O projeto em questão trata-se de uma reforma que fora realizada em um bangalô, transformando-o em uma casa compacta. PARTINDO do conceito base de sustentabilidade e redução de custo, os arquitetos fizeram diversas análises do tijolo de Cânhamo (Hempcrete) e após estudos verificouse que havia uma grande semelhança estrutural ao concreto convencional. Os benefícios encontrados no Hempcrete além da sustentabilidade e durabilidade abordam a emissão nula de carbono, isolamento térmico, acústico e diferente da extração de madeiras a colheita de uma safra de cânhamo pode ser feita a cada 4 meses.

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Figura [24] Acesso principal da residência. Fonte: Martens Van Caimere. Disponível em: <https://www.mvc-architecten.be/guillemin> Acessado em 07 de maio de 2021 Figura [25] Garagem. Fonte: Inhabitat. Disponível em: <https://inhabitat. com/hemp-based-insulation-makes-a-comeback-in-belgium/martens-vancaimere-architecten-hemp-based-insulation7/> Acessado em 07 de maio de 2021

Apesar de não possuir informações técnicas ilustradas, a residência tem seus ambientes setorizados nos 4 quadrantes e seu PROGRAMA básico por dedução atendem banheiro, lavabo, uma área de estar voltada para o sul, cujo projeto fora pensado devido a vista proporcionada no local e replicado também nos dormitórios. A residência tem sua ESTRUTURA realçada principalmente devido a materialidade utilizada no restauro, seu exterior contempla um revestimento de madeira recuperada e em seu interior azulejos brancos que transmitem sensação de leveza. A fachada é revestida com a mistura do concreto de cânhamo, terras e argila o que a torna isolante, a aplicação de vidros permite uma maior luminosidade natural.

A SUSTENTABILIDADE é visível não só através do uso do cânhamo, mas a residência é considerada autossuficiente devido seu aquecimento ser realizado através de painéis solares que ficam ao sul da cobertura e ao seu sistema de filtragem da água da chuva para o consumo. RELEVÂNCIA PARA O PROJETO Até o presente momento fora possível analisar apenas projetos que se iniciaram do 0, contudo a Guillemin trata-se de um restauro de um antigo bangalô em concreto, permitindo analisar com clareza a possibilidade de fazer o uso do cânhamo em residências já existentes, diminuindo o valor da obra e de repasse ao morador. Figura [26] Detalhe do revestimento no exterior da residência. Fonte: Inhabitat. Disponível em: <https://inhabitat.com/hemp-based-insulation-makes-acomeback-in-belgium/martens-van-caimere-architecten-hemp-basedinsulation7/> Acessado em 07 de maio de 2021 Figura [27] Cozinha com estrutura aparente. Fonte: Inhabitat. Disponível em: <https://inhabitat.com/hemp-based-insulation-makes-a-comebackin-belgium/martens-van-caimere-architecten-hemp-based-insulation7/> Acessado em 07 de maio de 2021

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Figura [28] Sobrados Novo Jardim. Fonte: Archello. Disponível em: <https:// archello.com/project/sobrados-novo-jardim> Acessado em 07 de maio de 2021 - Modificado pela autora.

SOBRADOS NOVO JARDIM Arquitetos responsáveis: Jirau Arquitetura Ano de construção: 2016 Localização: Jardim Boa Vista, Caruaru Área total: 1275m

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SOBRADOS NOVO JARDIM

cozinhas e área de serviço, logo no pavimento superior os quartos, banheiros sociais e suítes.

Em 2016 o escritório Jirau inaugurou o conjunto de habitação social Sobrados Novo Jardim, situado em um bairro predominantemente residencial no Jardim Boa Vista em Caramuru-PE. A primeiro momento o objetivo do arquiteto era de instruir o construtor do projeto, visando o local como um meio de criar habitações que fugissem do padrão de casa popular que é repetido em grande maioria dos projetos, seu CONCEITO a priori fora o de fugir do padrão já criado, principalmente em relação aos ambientes setorizados na área interna. O PARTIDO inicialmente resultou na união dos terrenos e tinha como objetivo aumentar o número de unidades habitacionais, utilizando a construção de sobrados geminados, contudo contudo para que fosse possível dar andamento no projeto era preciso criar áreas de uso comum, como uma praça de uso público que permitisse o lazer dos moradores, mas a ideia não fora aprovada e permaneceu-se no projeto inicial. O PROGRAMA das habitações fogem dos padrões através da setorização principalmente dos dormitórios que se voltam para o quintal e deixam as salas conectadas a parte externa, em contato com a rua. Com a setorização das salas próxima a área externa permite com que o ambiente seja mais iluminado de forma natural e permite também um ambiente mais arejado, visto que existe a possibilidade de adequar jardins ou áreas de lazer individuais. As áreas de serviço e banheiro se dividem nos dois pavimentos onde no térreo é possível encontrar as salas

Figura [29] Croqui do projeto. Fonte: Archdaily. Disponível em: <https://www. archdaily.com.br/br/918663/sobrados-novo-jardim-jirau-arquitetura> Acessado em 07 de maio de 2021 Figura [30] Planta baixa. Fonte: Archdaily. Disponível em: <https://www. archdaily.com.br/br/918663/sobrados-novo-jardim-jirau-arquitetura> Acessado em 07 de maio de 2021 - Modificado pela autora Figura [31] Planta do primeiro pavimento. Fonte: Archdaily. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/918663/sobrados-novo-jardim-jirauarquitetura> Acessado em 07 de maio de 2021 - Modificado pela autora Figura [32] Planta de sugestão de setorização do pavimento superior. Fonte: Archdaily. Disponível em:<https://www.archdaily.com.br/br/918663/sobradosnovo-jardim-jirau-arquitetura> Acessado em 07 de maio de 2021 - Modificado pela autora

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Sua ESTRUTURA busca aproveitar ao máximo a iluminação e ventilação natural, portanto em suas

MATERIALIDADE Além do uso de cobogós na estrutura e estética dos sobrados, o projeto ainda utiliza do gesso e da cerâmica,

fachadas é possível notar a presença de cobogós que fazem um jogo de luz e sombra na escada de ligação dos pavimentos. Os sobrados são de cores diversas e através disso conseguem quebrar a monotonia que geralmente se é vista em bairros residenciais.

proporcionando um custo reduzido na execução da obra.

Figura [33] Corte AA. Fonte: Archdaily. Disponível em:<https://www. archdaily.com.br/br/918663/sobrados-novo-jardim-jirau-arquitetura> Acessado em 07 de maio de 2021 - Modificado pela autora Figura [34] Corte BB. Fonte: Archdaily. Disponível em:<https://www. archdaily.com.br/br/918663/sobrados-novo-jardim-jirau-arquitetura> Acessado em 07 de maio de 2021 - Modificado pela autora

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RELEVÂNCIA PARA O PROJETO O projeto de habitação social Sobrados Novo Jardim destaca a possibilidade de se replicar unidades habitacionais com custo reduzido, atendendo uma quantidade de famílias sem a necessidade de um possível endividamento. Conforme análise do projeto é possível entender que as unidades habitacionais não precisam seguir sempre a mesma linha de raciocínio, principalmente na distribuição dos ambientes que, como mostra nas plantas do projeto em questão e em comentários do próprio escritório, foi possível concluir as edificações com um programa mais distribuído e melhorar a qualidade de vida das famílias que foram atendidas.

Figura [35] Fachada norte. Fonte: Archdaily. Disponível em:<https://www.archdaily.com.br/ br/918663/sobrados-novo-jardim-jirau-arquitetura> Acessado em 07 de maio de 2021

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4.[ANÁLISE DA ÁREA DE INTERVENÇÃO]


SITUAÇÃO ATUAL DO ASSENTAMENTO

para eles tempo é dinheiro, poucas vezes existe a oportunidade de melhorias no local. Hoje a Favela dos Trilhos possui mais de

A área escolhida está localizada na zona Oeste da cidade de Ribeirão Preto, setorizada dentro do assentamento irregular nomeado “Favela dos trilhos” no bairro Ipiranga. Para a elaboração do trabalho presente fora adotado parte do assentamento devido sua proximidade da autora e fácil acesso para levantamento de dados. Atualmente o assentamento por completo abrange cerca de 3km de residências insalubres, acessos através de vielas e ruas não pavimentadas e esgoto a céu aberto. O assentamento possui uma distância equivalente a 4km do quadrilátero central e a área escolhida para remanejamento de famílias e execução do trabalho contempla uma metragem de 12.134,45m, equivalente a duas quadras. O assentamento irregular surgiu por volta de 2004 e teve sua expansão após o ano de 2006, quando a linha férrea que atende o local fora desativada pela companhia. Os trilhos cuja função era de transportar cargas teve uma proposta para ser reativado no ano de 2009, mas o assentamento já abrangia cerca de 3km de extensão e o plano acabou se tornando inviável. O assentamento irregular por dedução existe desde a desativação das linhas ferroviárias, então, as quadras assim como os lotes foram se adaptando de acordo com as necessidades dos moradores, em sua maioria leigos que acabam por si só construindo as residências, isso significa que para esse tipo de estudo e análise não existem normas legislativas em vigor na região e como seria para o governo uma “perca de tempo” e

3km de extensão, com vielas de espaço mínimo do previsto na Legislação (0,80cm), o que leva uma porta de entrada de uma casa colidir com a porta de entrada da outra residência, quando as duas se abrem, automaticamente a viela se fecha, impossibilitando o acesso por ali e obrigando o pedestre a descer sentido Av. Rio Pardo para, através de outro acesso informal chegar em sua moradia.

2010

2020 2013

2004

Figura [36] Evolução do assentamento irregular conforme o passar dos anos. Fonte: Google Earth. Acesso em 07 de maio de 2021 - Modificado pela autora

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USO DO SOLO

A ÁREA adotada para intervir possui 12.134,45m e seu entorno é

FIGURA FUNDO

Com um GABARITO predominantemente composto por residências térreas, o entorno e a área adotada possuem um grande adensamento populacional, o que fica visível devido a baixa presença de lotes vazios.

predominantemente composto por lotes residenciais. Os pequenos comércios ao redor atendem serviços como de mercearia e pet shop, permitindo com que os moradores tenham acesso a serviços que em maioria estão localizados na região central do município. Como indicado na imagem ao lado, a área correspondente a metragem mencionada acima possui apenas um comércio informal e os acessos para essa região são realizados através de vias não pavimentadas e vielas. Próximo ao local existe a presença de área verde e um centro de ensino fundamental

USO RESIDENCIAL

LOTES OCUPADOS

USO COMERCIAL

VAZIOS

PRESTAÇÃO DE SERVIÇO

ÁREA DE INTERVENÇÃO

INSTITUCIONAL

ÁREA VERDE

ÁREA VERDE

DELIMITAÇÃO DO ASSENTAMENTO

ÁREA DE INTERVENÇÃO DELIMITAÇÃO DO ASSENTAMENTO

Figura [37] Mapa de uso do solo- Arquivo autoral

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Figura [38] Mapa de figura fundo- Arquivo autoral

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EQUIPAMENTOS

Os EQUIPAMENTOS mais próximos a área correspondem a centro de ensino

HIERARQUIA FÍSICA

A HIERARQUIA FÍSICA da região contempla a Av. Rio Pardo, avenida

fundamental, corpo de bombeiros e a uma igreja que também funciona como centro educacional.

já implantada que abrange todo o assentamento.

INSTITUCIONAL

ÁREA DE INTERVENÇÃO

RELIGIOSO

ÁREA VERDE CORPO DE BOMBEIRO

AVENIDA IMPLANTADA

ÁREA DE INTERVENÇÃO

DELIMITAÇÃO DO ASSENTAMENTO

DELIMITAÇÃO DO ASSENTAMENTO Figura [39] Mapa de equipamentos- Arquivo autoral

Figura [40] Mapa de hierarquia física- Arquivo autoral

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HIERARQUIA FUNCIONAL

Já a HIERARQUIA FUNCIONAL contempla a Avenida Rio Pardo e como

A MOBILIDADE na área é bem precária, tendo em vista que apenas

MOBILIDADE

via de distrbuição a Rua Javari, via responsável pelos acessos principais ao assentamento. A rua Javari tratase de uma via de fluxo moderado e é interrompida próxima a rua Maranhão.

o entorno é asfaltado. A parte interna do assentamento é composto de vielas e em sua maioria por vias de terra que dificultam a passagem dos pedestres e veículos. Devido a precariedade do solo, parte do esgoto acaba ficando visível, tornando o ambiente insalubre e de difícil convivência.

ÁREA DE INTERVENÇÃO ÁREA VERDE

ÁREA DE INTERVENÇÃO

ASFALTO

ÁREA VERDE

LEITO CARROÇÁVEL AVENIDA RIO PARDO VIELA

VIA DE DISTRIBUIÇÃO E COLETORA

VIA CONSTRUIDA EM CONCRETO DELIMITAÇÃO DO ASSENTAMENTO DELIMITAÇÃO DO ASSENTAMENTO

Figura [41] Mapa de hierarquia funcional- Arquivo autoral

Figura [42] Mapa de mobilidade- Arquivo autoral

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CONDIÇÕES NATURAIS

Com o sol nascendo a Leste e se pondo a Oeste, a região tem seus

Devido a exposição do esgoto, a maior parte do assentamento possui

ANÁLISE SENSORIAL- CHEIROS

ventos predominantes do Sudeste, sua localização e declividade diminuem as chances de alagamento, contudo devido a precariedade do assentamento em dias chuvosos o acesso as residências se dificulta e acaba se tornando escorregadia.

mal cheiro e a condição tende a piorar conforme condições climáticas, quando o clima esquenta o cheiro tende a ser pior. A proximidade de uma residência a outra permite com que em horários específicos o cheiro de comida seja predominante, geralmente o horário oscila entre 12:00hrs e 19:00hrs. As áreas verdes não possuem vegetação frutífera, portanto exalam perfumes naturais de frescor.

ÁREA DE INTERVENÇÃO ÁREA VERDE 5 % DE DECLIVIDADE ÁREA DE INTERVENÇÃO

6 % DE DECLIVIDADE

ÁREA VERDE 7 % DE DECLIVIDADE MAL CHEIRO DELIMITAÇÃO DO ASSENTAMENTO CHEIRO DE COMIDA SENTIDO DE ESCOAMENTO DA ÁGUA DA CHUVA

CHEIRO DE VEGETAÇÃO DELIMITAÇÃO DO ASSENTAMENTO

Figura [43] Mapa de condições naturais- Arquivo autoral

Figura [44] Mapa de análise sensorial cheiros- Arquivo autoral

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ANÁLISE SENSORIAL- RUÍDOS

Os ruídos assim como os odores também variam conforme dia e horário. Na maior parte do tempo é possível ouvir barulho do tráfego de veículos constante, diminuindo aos finais de semana, por outro lado a proximidade das habitações resulta no som constante dos moradores e seus animais de estimação, junto de rádio com músicas altas. Devido a pandemia não é possível ouvir os alunos que frequentam a escola próxima.

ÁREA DE INTERVENÇÃO ÁREA VERDE TRÁFEGO DE VEÍCULOS PEDESTRES E ANIMAIS DELIMITAÇÃO DO ASSENTAMENTO

Figura [45] Mapa de análise sensorial ruídos- Arquivo autoral

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5.[DIRETRIZES PROJETUAIS]


LEGISLAÇÃO DA ÁREA

4. COEFICIENTE DE APROXEITAMENTO_ O artigo 41 determina um coeficiente de aproxeitamento de até 5x a área do terreno,

PROGRAMA DE NECESSIDADES

CONCEITO

De acordo com a Prefeitura de Ribeirão Preto na lei 2157-2007 a área de intervenção encontra-se situada em uma região ZUP (Zona de Urbanização Preferencial) e para que seja possível realizar o projeto é necessário seguir as leis de parcelamento, uso e ocupação do solo presentes no plano diretor do município.

exceto em áreas de urbanização restrita e quadrilátero central onde o coeficiente é de até 3x a área do terreno.

Após estudo da área e dados levantados através das referências projetuais e informação de média populacional disposto para cálculo de DPL (Densidade Populacional Líquida) definiu-se para o projeto de Habitação de Interesse Social o seguinte programa: 2 quartos, sala de estar integrada, cozinha, área de serviço e 1 banheiro

O conceito utilizado para o projeto em questão buscou a DESCRIMINALIZAÇÃO, pois a Cannabis, responsável pela origem do Cânhamo ainda é considerada um crime em diversos países inclusive no Brasil, contudo ao ser descriminalizada a planta deixa de ser considerada um crime com punição penal. Vários estudos científicos evidenciam a possibilidade do uso da planta na área da medicina, cosméticos, produção de papéis e também dentro da construção civil. O propósito do trabalho presente e principalmente do conceito adotado visa apontar os benefícios do Cânhamo em prol de um conjunto de habitação popular, localizado em um assentamento irregular na cidade de Ribeirão Preto, projeto que beneficiará o ramo da construção civil, reduzindo o déficit habitacional e alavancando a economia do município, fortemente afetada devido a pandemia do COVID-19.

1. GABARITO_ Conforme o artigo 35 da Seção I da lei 21572007 de Ribeirão Preto, dentro da área ZUP o gabarito básico de 10m (Específicado na Seção I artigo 34) poderá ser ultrapassado desde que obedeça as demais restrições como recuos, coeficiente de aproveitamento e taxa de ocupação. 2. DENSIDADE POPULACIONAL LÍQUIDA BÁSICA_ Fica determinado dentro da Seção III, no artigo 42 uma Densidade Líquida Básica de 850hab/ha, adotando-se no parágrafo 1º um número médio de 3,4 pessoas para cálculo de residência unifamiliar e no parágrafo 2º define-se a Densidade Populacional Líquida Máxima de 2.000hab/ha nas áreas consideradas ZUP (Zona de Urbanização Preferencial)

5. QUADRAS E LOTES_ Na Subseção I artigo 62 inciso I encontra-se as medidas mínimas para quadras e lotes dispostos dentro da ZUP, sendo eles: ÁREA: 125m FRENTE DO LOTE: 6m LOTES DE ESQUINA: Área mínima de 180m com frente de 9m 6. ÁREA VERDE_ O artigo 64 alínea C disposto na Subseção II determina que as áreas verdes que admite-se como Sistema de Lazer Recreativo é de 25% dentro da ZUP e 15% para ZUR (Zona de Urbanização Restritra) 7. RECUOS_ Por fim na Seção V parágrafo 3º é determinado um recuo lateral e posterior de 2m e o frontal de 5m contanto que o gabarito seja de até 4 metros.

3. TAXA DE OCUPAÇÃO_ Dentro da Seção II no artigo 39 determina-se que a Taxa de ocupação máxima para área residencial deve ser de 70% e não residenciais 80%

PARTIDO Partindo do conceito principal sobre a descriminalização da planta, as residências unifamiliares farão o USO DO TIJOLO A BASE DE CÂNHAMO, material considerado sustentável não só pelos benefícios como melhoria acústica e térmica mas também pela emissão nula de gás carbônico e período da colheita de safra que, se comparado as madeiras que levam anos para estarem aptas a extração o cânhamo leva cerca de 04 meses para produzir uma única safra. Figura [46] Fluxograma- Arquivo autoral

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6.[REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS]


1 em cada 4 brasileiros vive com menos de R$420,00 por mês. Exame, 2019. Disponível em: <https://exame.com/economia/1-em-cada4-brasileiros-vive-com-menos-de-r-420-por-mes- diz-ibge/> Acesso em: 22 de Março de 2021 Archdaily. Experiência pioneira de moradias econômicas na área central: Edifício Japurá. Archdaily, 2019. Disponível em: < https://www. archdaily.com.br/br/922408/edificio-japura- cadernos-de-habitacao-coletiva> Acesso em: 25 de Março de 2021 BONDUKI, N. Origens da Habitação de Interesse Social no Brasil: Arquitetura moderna, Lei do Inquilinato e Difusão da Casa Própria. 7° ed. São Paulo, Estação Liberdade. FAPESP, 2017. CUNHA, Eglaísa; ARRUDA, Ângelo; MEDEIROS, Yara. Experiências em habitação de interesse social no Brasil. Brasília, Ministério das Cidades, Secretaria Nacional de Habitação, 2007. Casa feita como tijolos de Cannabis é sustentável e muito charmosa. Casa Vogue, 2017. Disponível em: < https://casavogue.globo. com/Arquitetura/Casas/noticia/2017/12/casa-feita-como-tijolos-de-cannabis-e-sustentavel-e-muito-charmosa.html> Acesso em 06 de Março de 2021 Hempmeds. Hempcrete: o Cânhamo na Construção Civil. Hempmeds, 2018. Disponível em: > https://hempmedsbr.com/hempcrete-ocanhamo-na-construcao-civil/< Acesso em: 06 de Março de 2021 Smoke Buddies. Cânhamo: Um fator econômico maior que a maconha. Smoke Buddies, 2017. Disponível em: > https://www.smokebuddies. com.br/canhamo-um-fator-economico- maior-que-a-maconha/< Acesso em: 06 de Março de 2021 YAZBEK, Maria. Pobreza no Brasil contemporâneo e formas de seu enfrentamento. Scielo, 2012. Disponível em: > https://www.scielo.br/ scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101- 66282012000200005&lng=pt&tlng=pt< Acesso em: 22 de Março de 2021 ZÜRCHER, Patrícia. Pobreza, desigualdades sociais e a questão da moradia: Desfiando a teia. Libertas, 2019. Disponível em: >https:// periodicos.ufjf.br/index.php/libertas/article/view/27780/18978< Acesso em: 22 de Março de 2021

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