Um grande problema CARLIE FERRER
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Capa Arte: Carlie Ferrer Imagens: ©CanStock
— Por que está me olhando assim? — ele perguntou não parecendo muito contente com meu olhar fixo em seu corpo. — E-eu... — pigarreei e criei coragem — Há muitos músculos à mostra, talvez você devesse vestir uma camisa. Apanhei sua camisa jogada no chão e a estendi a ele. Ele não a pegou e quando ousei olhar seu rosto, ele estava rindo. Um risinho de lado, que o deixava ainda mais irresistível do que já era. — Você tem problemas com músculos, senhorita Lince? — perguntou dando um passo certo em minha direção e me senti tremer do dedão do pé até o frizz do cabelo. — Na-não. Eu não tenho problemas, exatamente. — Então, por que quer tanto que eu me cubra? Não gosta de olhar? Seu peito duro e suado roçou em meu braço e em um pulo me afastei dele. Deixando oxigênio subir de volta ao meu cérebro antes de cortar esse joguinho cruel que ele fazia comigo. — Eu gosto de tocar, e como não posso tocá-lo, peço por favor que não me tente. Ele sorriu mais ainda. — Gosta de tocar? Quem diria! De santinha só tem esse rosto lindo. Por que não vem aqui e experimenta? Quem sabe eu não a deixe tocar o que você quer? Tenho muitos outros músculos além destes que está vendo. Escondi o rosto nas mãos. O que deu em mim? Eu pretendia cortar esse joguinho e ao invés disso me tornei ainda mais motivo de piada para ele. — Você podia ser cavalheiro ao menos uma vez, ao ver que estou envergonhada, vestir a bosta da camisa e voltar para o seu treino? Estou aqui para gravá-lo levantando peso, não para ser alvo de suas piadas! — Sinto muito, boneca. Mas se tem uma coisa que eu não sou, é cavalheiro. O olhar que ele fixou em mim teria me feito desmanchar ali mesmo, se eu não tivesse me apoiado na prancha de abdominal. Eu não podia mais recuar e ele
percebeu isso, então, aproximou-se de novo, bem devagar, um passo pequeno por vez. Aquele olhar negro cravado em mim repleto de promessas que me faziam gemer só de imaginar. — Quando eu quero uma coisa, Carolina, eu vou lá e a pego. Eu não espero, não peço e não tento. Eu pego. — Entendi — mas eu não entendia nada. O que eu tinha a ver com aquilo? — E agora eu quero você. — Ah! — Minha respiração mais falhava do que trabalhava. — E vou pegar você. Pisquei os olhos sentindo-me tonta de repente. — Bem aqui, agora. Ele parou à minha frente, não me tocou, mas não precisava. Eu estava pegando fogo. — E não vai sobrar nada de você depois que eu comê-la todinha. Eu não teria palavras para responder, mas não foram precisas. Suas mãos grandes se enfiaram em meus cabelos e sua boca grande tomou a minha, cumprindo sua promessa, devorando-me inteira. Meu centro estava úmido e inchado, e eu achei que podia morrer ali mesmo. Quando ele me puxou de encontro ao seu peitoral duro, e o suor de seu corpo molhou minha camisa, pensei que não aguentaria mais um minuto de pé. Ele percebeu isso, pois no segundo seguinte suas mãos desceram possessivas por meus braços e se cravaram abaixo da minha bunda, levantando-me até que eu passasse as pernas em volta dele. Manteve-me no nível de sua ereção, e eu só podia imaginar como seria duro e grande aquele músculo em particular. Ele me empurrou contra uma parede, tirando uma de suas mãos de baixo da minha bunda para beliscar um seio por cima da blusa colada. — Então nenhum homem fez você gozar até desfalecer, Carolina? Neguei rapidamente com a cabeça. Eu não conseguia pronunciar qualquer coisa diferente de gemidos desesperados. — Nesse caso, vou ter que fazer mais forte. Para marcar você, para você lembrar de mim.
Ah, eu nunca vou esquecer de você, não mesmo! Não precisa ir com força. — Você quer ser marcada por mim, Carolina? — Por favor — implorei em um sussurro. Ele me carregou até o supino que ficava no centro de seu galpão e me depositou sobre a colchonete sem nem um pingo de gentileza. Seu corpo enorme pesou sobre o meu quando ele atacou minha boca, logo, a desceu por meu pescoço enquanto subia minha blusa e abria minha calça. Ajudei a tirar a blusa e ele desceu a calça com pressa por minhas pernas. Parou diante de minha calcinha vermelha e lambeu os lábios. Se ajoelhou ali, desviou os olhos da minha calcinha para o meu rosto, pousando os dedos nas laterais da calcinha, e disse: — Bem-vinda ao meu mundo, Big. Você nunca mais será a mesma depois dele. Então ele rasgou minha calcinha e esperei acordar do sonho antes que ele me penetrasse. Mas não era um sonho. Era real. E num segundo lembrei-me como fomos parar ali.
Capítulo 1 ______________________
CAROLINA Ali estava eu, de boca aberta, olhos arregalados e com um pequeno incômodo no meio das pernas. Vendo um após o outro, desfilar à minha frente. Lilian, ao meu lado, fez um movimento tentando fechar a minha boca, mas eu duvidava que a dela também não estivesse totalmente aberta. Quando eu recebi o trabalho de acompanhar por uma semana um muso fitness, chorei, fiz beicinho e tentei comprar meu professor. Mas, não adiantou. Curso jornalismo e esse pequeno trabalho valeria metade da média do semestre, então eu, uma reles mortal acima do peso, tive que enfrentar esses homens enormes e esculpidos por uma causa maior. Não que eu achasse de todo ruim escolher um homem delicioso para segui-lo como um cachorrinho implorando atenção. Mas eu tinha um problema, e me colocar no meio de mulheres saradas e homens viciados por exercícios seria no mínimo, constrangedor. Já entrei no local do desfile fitness imaginando as piadas que ouviria por conta do meu peso, e não estava nem um pouco animada. Por isso, arrastei Lilian comigo. Ela era boa em julgar as pessoas, era um dom dela. Se ela dizia que tal pessoa não prestava, pronto, ele não prestava. Se dizia que era falsa, era. Se dizia que era parado demais, como meu ex namorado, era. E ela iria me dizer qual daqueles sacos ambulantes de músculos era o menos irritante para eu escolhê-lo. — Será que ele consegue contar quantos gominhos tem? — perguntei no segundo em que consegui fechar a boca. — Eu acho que ele não consegue nem mesmo ver o pau dele. Olha o tamanho desses peitos! Assim já é exagero. — É fitness, eles não têm que ser só gostosos, tem que ser exagerados. — Podiam ter um pau tamanho avantajado também. Ela fez um gesto com a mão e a música parou bem nesse momento, fazendo-a ser ouvida por pelo menos três fileiras de expectadores. Todos a olhavam, e ela deu de ombros, corando violentamente. — O que é? Até parece que vocês não ficam observando os volumes nas sungas
deles. Eu não estava observando, mas depois que ela falou, resolvi observar. A música recomeçou e o próximo que entrou olhei primeiro sua sunga azul, procurando uma protuberância, mas ela não existia. — Veja aquele, Lil, ou ele está com frio, ou os anabolizantes encolheram a arma dele. Ela riu alto e me foquei na sunga branca que entrava logo atrás dele. — Uau! Apertei a mão de Lilian até quase quebrar seus dedos. Aquela sunga era recheada, era bem recheada. — Esse cara deve malhar o pinto, que tipo de peso será que ele levanta? — Hum, Big, acho melhor você levantar o rosto. Ele está vindo até você. Ah meu Deus, Carol! Me assustei com seu berro, mas antes que desviasse meus olhos do volume que me manteve hipnotizada, uma mão enorme tocou meu queixo levantando minha cabeça, até um par de olhos negros estar focado nos meus pequenos olhos assustados. — Olhe para cima! Ordenou parecendo irritado e se afastou voltando ao desfile. — Que merda foi essa? — Lilian perguntou ao meu lado. Eu não fazia ideia. Mas acho que fiquei tão focada no volume do modelo que ele se estressou e me fez olhar seu corpo. E que corpo! Ele não era forte demais, mas era deliciosamente forte. Uma tatuagem pequena, parecida com uma frase morava na lateral de seu abdome e se perdia entre os músculos. A boca dele era composta por lábios grossos e uma barba rala que cobria boa parte do seu rosto. Bem aparada, moldava sua boca e deixava seus lábios tentadores. Ele era muito alto, moreno e muito, muito lindo. — Ele deve ser o cara mais lindo e arrogante desse desfile todo! — comentei. — Claro que é, ele é o Jake Dustin, o muso fitness da temporada. — O americano?
— Ele mesmo. — Bom, ele fala bem português. Pelo menos para chamar atenção e humilhar os outros. — Querida, qualquer mulher aqui gostaria de ter estado no seu lugar quando ele a tocou. Além do mais, olhe para ele, ele pode ser mal-educado, seu excesso de gostosura permite isso. Dei de ombros, eu não escolheria ele para ser meu projeto, não mesmo!
Entrar no “camarim” dos modelos depois foi ainda mais humilhante do que pensei. Todos os olhares se voltaram para mim, eu não era a única intrusa ali, mas era a única acima do peso. Fingi que não me importava e puxei Lilian para perto. — Então, Lil? Qual deles? — Ah não, não funciona assim. Temos que conversar com alguns deles primeiro. Aproximei-me do musculoso monstruoso, que provavelmente não conseguia ver o próprio pau que Lil citou, e comecei as perguntas. Ele me contou um pouco de sua história, do porque se tornou fitness, e eu confesso que esperava mais do que apenas querer aparecer, como era o caso dele. Ele era entediante e não precisei de Lilian me dizer isso para saber. Passei para o próximo, um japonês que tinha tantos músculos que parecia que suas veias esticadas se romperiam a qualquer instante. Ele parecia legal, mas falava português muito mal e eu não falava japonês, então, fui procurar outro. As modelos femininas estavam em um canto, eram um número bem menor do que os masculinos e fiz uma anotação mental de não me aproximar delas de jeito nenhum. Mas, antes que tivesse a chance de falar sobre isso com Lilian, a ouvi gritar. — Dustin, poderia nos conceder um momento? E Dustin, o grosso, estava justamente rodeado pelas modelos fitness femininas. Bufei irritada e segui Lilian, não tinha outra escolha. — Olha o que temos aqui. A observadora. Gostou do que viu, boneca? Acha que consegue falar comigo olhando meu rosto? — provocou ele assim que me viu, com um enorme sorriso arrogante no rosto.
Senti meu rosto quente e soube que estava corando. Eu detestava ser tão branca. Coloquei a franja enorme que caía sobre meu olho atrás da orelha e fingi indiferença. — Você está vestido, então não vejo problema. Ele riu, e uma mulher musculosa (que eu particularmente não acho bonita), que estava pendurada nele fez uma careta de desdém medindo-me com os olhos. Sua cara de reprovação ao meu corpo logo ficou estampada, mas para deixar evidente, ela ainda balançou a cabeça. — O que uma garota como você faz por aqui? Veio nos tomar como exemplo para entrar em uma academia? Querida, você está precisando. Acredite, academia faz milagres. — Na verdade, eu vim ver se o cérebro de vocês sobrevive apesar dos anabolizantes, mas pelo visto não — retruquei tentando manter a calma. Dustin riu alto, irritando ainda mais a miss músculos. — Ou, a bonequinha é esquentadinha. E bem bonitinha — comentou ele. — Ah, essa coisinha redonda? É, ela é fofa! — falou uma outra miss músculos pendurada nele. Pelo menos eu tenho peitos de menina! Pensei em gritar, porém, apenas dei meia volta para escolher logo algum saco de músculos e ir embora, mas meu braço foi agarrado por uma mão enorme e quente. Virei-me para trás para encontrar aquele par de olhos negros cravados em mim. — O que você quer aqui, boneca? Bem nessa hora, a vaca da Lilian, que havia se afastado conversando com um dos deuses musculosos, apareceu empolgada gritando: — Big, venha! Achei seu cara! Enfiei o rosto nas mãos, por que ela tinha que usar meu apelido justo ali? — Big? — O grosso perguntou com um risinho, e a mulher feia pendurada nele acompanhou a gargalhadas. Saí o mais rápido que pude e jurei matar Lilian quando chegássemos em casa. — Esse cara aqui se tornou fitness porque era obeso. Ele teve um princípio de
derrame por excesso de gordura e decidiu que deveria malhar para sobreviver, e agora é essa coisa toda que você está vendo. — Douglas, prazer. O musculoso a nossa frente estendeu a mão em minha direção e a peguei. — Carolina, o prazer é meu. A Lilian te explicou do que preciso? — Claro, você quer me seguir por uma semana e fazer um documentário com minha vida fitness, sem problemas. Isso de você postar em um canal conhecido do YouTube é verdade, não é? — Assenti e ele suspirou aliviado e feliz. — Ótimo, preciso de um patrocinador então essa propaganda será muito bem-vinda. — Que bom! Vou deixar com você meu telefone, precisamos começar na segunda, então me ligue assim que for treinar para que eu possa acompanhá-lo. Combinamos assim, e nos despedimos. Lilian deu também seu telefone a ele, e quando perguntei porque ela estava fazendo isso, disse que era porque ela estava bastante disponível para ele, que apenas riu da tentativa dela. Quando estávamos saindo, um pé enorme surgiu do nada a minha frente fazendo-me tropeçar, mas duas mãos enormes me seguraram e aqueles olhos negros estavam acompanhados de pequenas rugas de expressão. — Cuidado onde anda, Big, nos vemos por aí. — Espero que não — respondi saindo finalmente daquele lugar. — Adorei o Douglas gatinho, mas sendo bem sincera... — ela mordeu o lábio e calou-se. — O que foi, Lil? Acha que escolhi o cara errado? — Ah, qual é, Big, nós duas sabemos que o Dustin era o cara certo. Ele pode ser estranho, mas é o mais famoso, veio de fora, sem falar que o passado dele é um mistério. Sinto muito, mas ele teria garantido sua nota máxima nisso. — Para onde vamos agora, Lil? — perguntei mudando de assunto. Passar uma semana seguindo Dustin como um cachorrinho estava fora de cogitação. — Uma lanchonete. Pelo amor de Deus, tantos músculos me deram fome. De uma maneira geral, até que foi mais fácil do que eu imaginava.
Capítulo 2 ______________________
CAROLINA Na segunda às seis da madrugada, o barulho do meu celular me despertou. Havia uma mensagem.
“Meu treino começa às sete. Segue o endereço. Até lá.”
Quem é que acorda às seis da manhã de uma segunda-feira para treinar? Enfiei a cabeça no travesseiro tentada a ficar ali mais dez minutinhos, mas sabia que dormiria eternamente se fizesse isso, então me forcei a tomar um banho frio para acordar de vez. Não tomei café porque não havia nada pronto e apesar do banho frio, ainda não estava acordada o suficiente para mexer no fogão. Abri o guarda-roupa escasso pensando em algo que pudesse usar. Nada chamativo demais, a estrela seria o muso. Nada sexy, porque bem, eu não sou sexy. Nada fechado demais porque também não sou nenhuma freira. Por fim, achei que era queimar miolos demais em uma segunda de madrugada e peguei uma blusa de lã pouco decotada e uma calça jeans. Peguei o carro velho de Lilian em direção ao endereço. Não era longe da minha casa, na verdade, eu nem teria precisado de um carro. O hotel ficava a quatro quarteirões do meu prédio. Estacionei o carro em uma vaga do hotel e dei o nome na recepção: — Bom dia, estou procurando por Douglas Sampaio, ele está esperando por mim. A recepcionista digitou furiosamente em seu teclado e fez uma careta confusa. — Não tem nenhum hóspede com esse nome aqui. — Não? Tem certeza? Ela virou a tela para mim e na letra D de seu cadastro não havia nenhum Douglas.
Merda! Ele deu o endereço errado, peguei meu celular e liguei para o número da mensagem. — Pronto! — Onde é que você está? Por que me deu o endereço errado? — Oh, deve ser a jornalista. Bom dia, boneca. Um pequeno alarme soou em meu cérebro, mas não parei para analisar o que queria dizer. — Estou no endereço que você me passou e a recepcionista acabou de me confirmar que não tem nenhum Douglas hospedado aqui. Se você não queria dar a entrevista era só dizer, havia um milhão de vocês lá no sábado, eu poderia ter escolhido qualquer outro. Você me disse que precisava da divulgação, por isso escolhi você, e agora você me passa o endereço errado só para que eu não o encontre? Você queria me irritar em uma segunda de madrugada? Parabéns! Você conseguiu, não faz ideia do quanto estou irritada neste momento! Uma risada alta do outro lado da linha me fez calar a boca, eu já estava ficando sem ar. — Uau! Ela sabe fazer monólogos às segundas de madrugada. Não te dei o endereço errado, boneca, você que procurou pelo nome errado. — Não estou entendendo. Então, uma voz atrás de mim me fez dar um pulo para trás e bater em algo duro. — Você está procurando o nome errado. Tenho certeza que estou hospedado aqui. A recepcionista abriu um enorme sorriso e nem foi preciso ouvir seu meloso “Bom dia, Dustin” para saber quem estava ali. Virei-me para ele com um sorrisinho afetado, tentando não me impressionar com seu cabelo molhado e as olheiras abaixo dos olhos. Nem com a calça colada demais às suas coxas grossas e a camiseta que destacava seus braços fortes. — Deve estar havendo algum engano. O meu documentário não é sobre você, é sobre Douglas Sampaio. Você sabe, aquele de barba loira, careca, baixinho. Ele abriu um sorrisinho de lado que o fazia parecer-se a um cafajeste e disse
calmamente. — Não é mais, ele foi embora e agora você só tem a mim. Eu treino a duas quadras daqui. Sugiro que me siga em silêncio, não gosto de conversar antes de tomar café. Ele saiu andando e demorei cerca de um minuto para conseguir segui-lo. Aquilo não daria certo, não daria mesmo! Ele andou apressado, me fazendo praticamente correr atrás dele, o local que ele treinava ficava realmente bem perto do hotel, e do meu apartamento. Era uma construção de madeira. A loja embaixo estava fechada, e entramos por um pequeno portão na lateral, subimos uma escada e chegamos. O galpão era enorme e boa parte dele estava ocupada pelos aparelhos de ginástica. Era todo de madeira, me perguntei por um momento se ele aguentava bem tanto peso, bati o pé na madeira e Dustin riu. — Isso aqui aguenta o seu peso, boneca — falou tentando me irritar. Mas, eu já estava irritada. Ele havia me acordado às seis da manhã de uma segunda! — Estou testando se aguenta seu ego, babaca. Ele abriu aquele sorriso de lado e procurou algo na mochila, enquanto eu observava tudo ali, cada aparelho estranho, as enormes janelas, a pequena mesa bem ao fundo. O lugar era, no mínimo, estranho. — Então, que tipo de respostas você precisa? — perguntou fingindo interesse, pois, nem olhou para mim. — Coisas como por que você se tornou um muso fitness, e por favor não diga que queria ser o mais bonito do colégio, porque isso é broxante. Um sorriso de lado surgiu em seu rosto. — Então, você quer coisas interessantes. Como histórias tristes, mortes e drama? Você quer um garoto ferido que ficou forte para se defender? — Essa é sua história? Ele riu debochado e jogou a mochila no chão com um pouco de força desnecessária.
— Não. Você não vai encontrar uma história triste aqui. Ele tirou a camisa e esqueci completamente o que ia perguntar em seguida. A luz do sol que entrava pelas janelas banhou cada músculo de seu abdome, fazendo-os brilhar diante de mim. Me perdi tentando contar os gomos daquela barriga escandalosamente gostosa, quando ele parou bem na minha frente. A expressão fechada e impaciente. — Você é retardada? Pensei que estava se referindo ao fato de eu o estar olhando como se ele fosse um frango girando no assador. — Como? — Perguntei se tem algum problema mental, visto que parece não saber falar e vestiu a blusa do lado avesso. Olhei imediatamente para minha blusa rosa bebê e a costura grotesca da minha mãe estava para o lado de fora. — Ah, merda! Não sou retardada, só não acordei ainda. Tirei rapidamente a camisa, completamente alheia a sua presença ali, quando ele tocou minhas costas, me fazendo dar um pulo e me esconder atrás da blusa em minhas mãos. — O que é essa coisa preta que está usando? — Uma cinta. Meu Deus, isso podia ser mais constrangedor? — Para que serve? Revirei os olhos e percebi que ele tentava conter um sorriso. Vesti a blusa de qualquer jeito e cruzei os baços irritada. — Você sabe muito bem para o que serve. — Não, nunca vi uma dessas, você poderia me explicar? Ele poderia ser mais irritante? — Serve para apertar e esconder as banhas. Satisfeito? Ele continuou segurando o riso e observou meu corpo, então disse:
— Tenho absoluta certeza de que a etiqueta da blusa deveria estar do lado de trás. Olhei de novo e havia vestido a blusa de trás para a frente. — Ah, já pareço uma retardada mesmo, deixa assim. Ele resgatou a mochila do chão e a depositou em um banco, depois aproximouse de um pequeno frigobar. Tirou de lá uma garrafa com um liquido branco, que pensei ser leite, e pegou umas barrinhas de cereais. Ao invés de mastigá-las como uma pessoa normal, ele as assassinou. — Uh! Pelo visto não sou a única anormal aqui — comentei satisfeita. — Não julgue o café da manhã de um campeão. Ele amassou as barrinhas em uma tigela e jogou o leite. Sentou-se e me olhou entediado. — Quer se sentar? Água? Café? Alguma coisa? Se quiser apenas faça, não me espere oferecer nada a você ou vai ficar o dia todo parada aí. — Não obrigada, estou bem. Continuei de pé onde estava, vendo-o mastigar aquela gosma e senti meu estômago revirar. Mas embora enjoado, ele fez um barulho estrondoso. Dustin parou no ar o movimento de levar a colher à boca e me encarou. — Ou tem um Alien escondido dentro de você, ou alguém não tomou café hoje. Ele enfiou a colher na boca, mastigou e cuspiu de volta na tigela, então a estendeu a mim. — Pegue, está quentinho e mastigado, você só precisa engolir. Ele colocou a tigela na minha mão e se afastou. Sem dizer nada, virei minha mão para baixo, espatifando a tigela e a gororoba mastigada no chão. Voltei a cruzar os braços e ele olhou da bagunça no chão para minha cara parecendo em choque. Arqueei minhas sobrancelhas deixando claro que não sentia medo dele e ele sorriu. Um sorriso enorme. — Uau! Você é uma Big atrevida. — Chega! — irritei-me com o trocadilho de mal gosto — Desisto. Não preciso passar nesse semestre, estou indo embora, fique bem com seu ego e sua
arrogância e sua chatice. Desci as escadas apressada, mas ainda pude ouvi-lo gritando: — Vire a blusa para o lado certo ou vão chamar uma camisa de forças para você na rua! — Não ligo! Mas parei no meio da escada e tirei a blusa, analisando-a cuidadosamente antes de vesti-la pelo lado certo. Ao que um assobio atrás de mim me fez ficar paralisada. — Bem melhor assim. — Você estava me espionando? Ah meu Deus! Até nunca, idiota! Eu falaria com o professor Roberto, não podia fazer aquele trabalho com aquele homem idiota. Não mesmo! Ele tinha que me dar outra coisa para fazer.
Capítulo 3 ______________________
DUSTIN Ela saiu batendo os pés e com um bico enorme e por mais de meia hora fiquei como um retardado rindo de seu jeito estressadinho. Acho que tenho um problema. Tenho um grande problema. Já viajei por vários países em concursos como este, aqui no Brasil, estou habituado às mulheres de diversas culturas. Meus pais, embora morassem em Nova York quando nasci, eram brasileiros. E eu estava ansioso por minha turnê por aqui. Lembrando de meus antepassados, de tudo o que aconteceu, eu esperava que aqui fosse diferente. Que algo fosse despertar de novo em mim ao pisar nessas terras quentes, mas isso não aconteceu. Então, eu estava ansioso pelas mulheres brasileiras. Sei bem como elas podem ser quentes, as mais quentes do mundo! Assim que cheguei ao local do desfile e vi as saradas e gostosas que desfilariam, meu pau ficou bem animado. Uma semana aqui seria mais do que o suficiente para eu me esbaldar entre essas loiras e morenas deliciosas. E então, na minha vez de desfilar, a bonequinha safada estava olhando fixamente para a minha sunga. Enquanto todos os olhares estavam concentrados na minha barriga, ela sequer piscava. Eu quis rir do atrevimento dela, mas envergonhá-la seria uma forma mais justa de dar-lhe uma pequena lição. Porém, no momento em que aqueles olhos verdes pousaram nos meus, tudo o que eu quis foi que ela se concentrasse totalmente no meu pau. Ela corou violentamente com minha repreensão, tingindo aquele rosto branco como porcelana de rosa. E, para piorar o frisson que essa atrevida causou em mim, ela entrou no camarim. Parecendo totalmente deslocada ali, andando de cabeça baixa e conversando com alguns dos modelos. Quando Vanessa e Samara, as modelos que eu conheci ali, foram estúpidas com ela, ela soube responder à altura e mostrou não ter se abalado nem um pouco. Depois de tudo o que presenciei, uma mulher forte, que não abaixa a cabeça realmente me atrai. A observei enquanto conversava com outros modelos. Ela era branquinha, o cabelo negro, as maçãs do rosto proeminentes, o lábio bem vermelho e em formato de coração, e aqueles enormes olhos verdes, parecia-se
com uma boneca. Uma bonequinha deliciosa, repleta de curvas, quadril largo, bunda grande e seios que me fizeram ansiar por pesá-los nas mãos. Ela era uma tentação! E tive que provocá-la o quanto pude. Delicada, gostosa e geniosa, eu soube ali que tinha um problema nas mãos. As coisas me haviam sido negadas por anos, e desde que me tornei responsável pela direção que meu pau apontasse, nunca mais passei falta de nada. Quando quero uma coisa, eu pego. Não tinha nenhum costume de pesar se valeria a pena, o quanto custaria, como conseguiria, eu batia o olho, desejava e conseguia. Simples assim. Eu merecia essa porra depois de tudo. Com ela não foi diferente. Aqueles lábios em forma de coração precisavam estar em volta do meu pau, e estariam. Convencer Douglas Sampaio a me deixar ficar no lugar dele no projetinho de escola dela foi muito fácil. E ver a cara dela quando percebeu que eu seria o seu parceiro e não ele, compensou ter de ajudar um babaca como ele. Ela ficou vermelha e decidi que adorava vê-la assim. Eu a faria ficar vermelha muitas vezes antes de me enterrar nela. Terminei meu treino do dia e compareci a uma sessão de fotos obrigatória do concurso. Dei uma entrevista a um canal sobre saúde do YouTube e quando a noite chegou, Vanessa estava de alguma forma ao meu lado no carro. Ela tagarelava sem parar e eu nem me esforcei para prestar atenção. Quando estava me aproximando do hotel, parado em um sinal, quem eu vejo? Minha bonequinha atrevida. Ela estava saindo de um dos prédios e assim descobri que ela morava bem perto do hotel onde eu estava. Usava um vestido soltinho, uma jaqueta e botas. E consegui visualizá-la apenas com aquelas botas sendo cravadas na minha bunda enquanto a comia com força. Foi o suficiente para o meu pau acordar. Tentei puxar pela memória a que horas eu havia convidado a Vanessa para se juntar a mim e então recordei-me que não tinha. Ela pulou em meu carro me pedindo uma carona, mas não me disse para onde ia e sinceramente, eu não me importava. Deixei o carro alugado com o manobrista do hotel e saltei sem esperar por ela. Ela veio imediatamente atrás de mim, e, para não deixá-la totalmente na mão, a puxei pela cintura e suguei seus lábios. Mas me veio à mente aqueles lábios em forma de coação e a soltei. — Foi bom te ver, boa noite, Vanessa. Apertei o botão do elevador, e ela puxou meu braço, seu rosto branco ficando
vermelho. Mas ela não ficava adorável tingida como a Carolina. — Que merda é essa? Boa noite? Não vou subir com você? Sorri. — Não, e não sei de onde tirou que iria. Eu a convidei em algum momento? Porque realmente não me lembro. Ela pareceu chocada, seus olhos se arregalaram e ela demorou cerca de trinta segundos para conseguir pronunciar alguma coisa, controlando o máximo que pôde sua ira. — Mas você me trouxe até aqui! — Você me pediu uma carona e se atirou no meu carro, teve todo o tempo para me dizer para onde ia, mas não disse. Eu estou hospedado aqui, e ficarei aqui. Como não a convidei, consiga outra carona para sua casa. As portas do elevador se abriram e entrei, mas ela colocou a mão impedido que se fechassem. Se cismasse de entrar comigo, eu teria que ser grosso, e não queria realmente ser grosso. Meu estado de espírito estava leve naquele dia, graças a uma visita matinal. — Mas, você não me perguntou para onde eu ia. Não disse nada! Você até me beijou. — Querida, tenho certeza que muitos caras já a beijaram antes. Duvido até que saiba a conta de quantos foram. Sugiro que tome o rumo de sua casa porque eu realmente não quero ser grosso. — Você já está sendo! Idiota! Ela saiu batendo os pés e dessa vez eu segurei a porta, colocando a cabeça para o lado de fora do elevador. — Ei, Vanessa. Ela se virou para mim ainda irritada. — O que é? — Quer transar amanhã? Depois do meu treino? Ela olhou para os lados, se fazendo de tímida diante das pessoas que ali estavam, mas aproximou-se do elevador e perguntou baixinho.
— Onde o encontro? — Vou te mandar uma mensagem com o endereço. Dei mais um beijo em sua boca e apertei o botão fechando as portas do elevador.
Joguei-me na cama enorme do hotel realmente cansado e ao mesmo tempo entediado. Eu não tinha nada para fazer, odeio televisão e fiquei me perguntando porque caralho não deixei Vanessa subir. Eu não tinha sequer alguém para telefonar e contar que estava ali, no Brasil. Na terra dela... Depois do que me pareceram horas eu já havia tirado todas as roupas da mala e as colocado no armário. Repassado todos os compromissos que teria durante a semana. Tentado assistir uma luta, mas nem sei porque ainda tentava fazer isso, eu realmente odiava assistir lutas quando não fazia parte delas. Achei que morreria de tédio quando meu celular tocou. Peguei irritado pensando ser Vanessa, mas era Carolina. Instantaneamente um sorriso surgiu em meu rosto. — Boa noite, boneca. — Hum, será que eu posso falar com você? — Ela parecia totalmente sem jeito. — Claro, querida, diga. — Será que podemos nos falar pessoalmente? — Está ficando exigente. Ela bufou e foi logo falando irritada: — Se não pode falar é só dizer, não estou aqui por sua conta. — Ok, não posso. Tchau. Desliguei o telefone e esperei. Nem dois minutos depois, ela ligou de novo. — Boa noite outra vez, boneca. Acho que alguém aqui gostou da minha voz. — Dustin, querido, será que você poderia por favor vir até o saguão para que eu possa falar com você? Ri da maneira irônica com que ela sequer tentou fingir ser educada, mas, ela
estava salvando a minha noite, então não iria perder essa oportunidade. — É claro, meu bem. Um segundo, estou descendo. Esperei por seu agradecimento, mas ela apenas desligou o telefone. Olhei no relógio de cabeceira e eram oito e meia da noite. Então, fui tomar um banho. Saí do banheiro e joguei-me na cama, estava com o celular na mão, mas ele não chamou em momento algum. Ou ela havia ido embora, e eu iria até a casa dela se fosse o caso. Ou ela estava se esforçando muito para não me ligar e me mandar à merda, eu suspeitava que fosse a segunda opção. Quando o relógio marcou onze e meia da noite, vesti uma calça de moletom e desci ao saguão. — Boa noite, querida. Disse para uma Carolina praticamente deitada no sofá da recepção, com um bico enorme e descabelada. Provavelmente ela havia passado bastante as mãos no cabelo enquanto se controlava para não me xingar. — Onde é que você estava? — perguntou levantando-se irritada. — Apenas tomei um banho antes de vir recebê-la, meu bem. — Um banho de três horas? — ela praticamente gritou. — Ah não, não mesmo. Eu tenho o hábito de tirar um cochilo depois de tomar banho. Ela abriu a boca e não consegui conter a gargalhada. Totalmente cor de rosa, ela pegou sua bolsa, passou por mim como um touro, me empurrando e rumou em direção a porta do hotel. Passou por ela, gritou do lado de fora, e entrou por ela de novo. Pegou minha mão e me arrastou para dentro do elevador. — Qual a merda do seu andar? — Está nervosa, meu bem? Precisa que eu a acalme? — Não estou nervosa e não preciso de você para nada! — Ela cobriu o rosto com as mãos e respirou fundo, estava ainda mais cor de rosa quando voltou o olhar para mim. — Na verdade, eu vim te pedir por favor que me deixe terminar o documentário. — Claro, seu pedido é uma ordem.
— Sério? — Ela respirou aliviada. — Seríssimo, boneca. Vamos ao meu quarto, você pode perguntar o que quiser. Faço questão de te mostrar tudo. — Você quis dizer responder tudo. Sorri. — Você faria um trabalho mais convincente se soubesse sobre o que está falando, certo? Ela ficou me olhando, como que tentando entender do que eu estava falando. Ela sabia bem, mas, por algum motivo estranho não queria admitir do que se tratava. Chegamos ao meu andar e dessa vez eu peguei sua mão e a guiei até meu quarto. Ela assoviou ao observar bem o lugar. — Isso aqui é maior do que o meu apartamento! — Sério? Possuo algumas coisas bem grandes que você provavelmente vai gostar de ver. Imediatamente ela mirou o meio das minhas pernas, fazendo-me rir. — Ah, claro. Esqueci-me que você é fissurada pelo meu pau. — Eu não.... — Terei que repreendê-la de novo, Carolina? Achei que seu documentário fosse sobre meu corpo como um todo, não somente sobre o meu pau. Ela gaguejou, mas respirou fundo e tentou de novo. — Eu não estava... — Mas se fizer questão de vê-lo... Peguei o cós da calça de moletom e a abaixei. Eu estava de cueca, mas sabia que ela viraria a cara. Ela deu um berro ao fazer isso e ri alto, até ela perceber que eu estava de cueca. Uma cueca que ela chamava de samba canção, que não mostrava absolutamente nada sobre o meu pau. — Isso vai ser pior do que eu imaginei! Disse quase desesperada jogando-se sobre a cama e batendo a cabeça no travesseiro, fingindo chorar.
— Não fique assim, Carolina. Vai ser bom para você, muito bom mesmo, eu juro. Ela fingiu chorar ainda mais alto. Minha noite acabou de ganhar um novo tom.
Capítulo 4 ______________________
CAROLINA Minha vida estava uma enorme bosta! Cheguei à faculdade animada e contente, e procurei o insuportável do professor Roberto. Lhe pedi um minuto para perguntar algo e ele disse que só falaria comigo quando a aula dele acabasse, nos dez minutos que ele reservava ao final de cada aula para alunos tirarem suas dúvidas. Velho rabugento! Durante a aula, ele perguntou sobre os documentários e os alunos falavam animados sobre seus projetos, desde empresários a farmacêuticos, e eu tinha que ter ficado com o muso fitness. Claro! Olhei mais uma vez minha barriga grande demais para meu corpo e aqueles seios enormes, e inventei dez palavrões mentalmente. Por que eu não podia ter ficado com o farmacêutico? Talvez ele manipulasse um remédio que me fizesse emagrecer. Mas não, eu tinha que ficar com a pior profissão possível para uma garota acima do peso, os musos fitness. Sorri. Se o professor Roberto fez isso de propósito para incentivar-me a fazer academia, ia quebrar a cara. Ele não conhecia minha mãe, a supermodelo Carmen Lince. Se ela não foi capaz de me fazer ser a garota de aparência perfeita, não seria um professor mal-humorado e menos ainda um modelo fitness insuportável que o fariam. Quando a aula finalmente acabou, corri até o professor antes que outro aluno ousasse gastar os dez minutos dele de tirar dúvidas. Se a pessoa perguntasse as horas, ele conseguia ficar mais de dez minutos dissertando sobre a passagem do tempo. Eu ficaria uns vinte ouvindo sobre a importância da profissão que peguei em meu documentário, mas desde que saísse da sala com um açougueiro para entrevistar, não me importava. — Diga, Carolina. O que você quer perguntar? — Professor, estava pensando sobre a importância deste trabalho e acho que o senhor poderia me dar uma profissão mais interessante, não acha? Ele folheou seus papéis até achar meu nome. — Você pegou o mundo fitness. Esta é uma profissão importante, trata-se da
saúde. Faça o seu melhor. — Não, professor! É que eu fui a um evento com esses modelos e realmente não achei grande coisa. Sabe, é difícil apresentar um documentário decente com uma profissão tão rasa, que consta em malhar, comer e desfilar. Ele arredou os óculos redondos para a ponte do nariz e me encarou. Quando voltou a falar, o fez em um tom tão alto, que até quem já havia saído da sala retornou para ouvi-lo. — Não pode ser tão difícil, senhorita Lince! Um monte de homens musculosos, suados, seminus. Isso é difícil demais para você? A sala inteira riu e senti-me corar imediatamente. — Não estou falando nesse sentido, e sim no sentido de que não há muito o que mostrar além de músculos. — Então mostre os músculos de uma maneira bem convincente, ou será reprovada na minha matéria, Carolina. Não vou trocar sua profissão, é uma das mais fáceis e que todas as alunas daqui queriam. Se não é capaz de conduzir este documentário, desista! A Marina ali, ficou com um cirurgião plástico que já achou mais de dez defeitos no rosto dela e não me pediu para mudar hora nenhuma! — Eu tentei — contestou ela. — Quero o trabalho entregue na segunda-feira, sem choro e muito bem feito. Estamos entendidos? Eu bem queria dizer como tinha entendido, mas optei por não ser expulsa e tive que fazer a pior coisa que tive que fazer nos últimos meses: pedir ajuda de Dustin. No caminho até o hotel, meu celular tocou cinco vezes, era minha mãe. Mas eu já estava enfrentando uma fera naquele dia, lidaria com ela no dia seguinte. Aguentar minha mãe e o imbecil do Dustin no mesmo dia, era demais para minha sanidade mental. Respirei fundo antes de entrar no hotel e rezei para encontrar aquela educação e doçura que um dia fizeram parte de mim, porque para aturar ser vencida em uma luta por Dustin, eu iria precisar. O idiota me fez esperar três horas! Desceu com um sorriso mais idiota do que ele no rosto e agora está tentando me constranger. — Tudo bem, vou colocar meu celular para gravar, comece a me contar da sua
vida — pedi tirando a cabeça do travesseiro. Ajeitei o celular e olhei para ele. Ele sentou-se em uma poltrona de frente para a cama, cruzou os braços atrás da cabeça e sorriu. — Quer que eu conte sobre a minha vida? Ok, você pediu. Eu acordo, malho, cumpro algum compromisso, malho mais um pouco, trepo com uma gostosa qualquer e durmo. Fiz uma careta, mas tentei ter paciência. — Uh! Que vida chata a sua. Se você consegue resumi-la em apenas uma frase, sinto dizer que está precisando sair mais. Um sorriso de lado surgiu em seu rosto e ele ficou ereto na cadeira, apoiando os braços sobre as coxas e olhou diretamente em meus olhos. — Vou dizer como foi o meu dia hoje, então, boneca. — Vá em frente. — Eu acordei, e pensei em você. Recebi uma visita extremamente irritante, respondi perguntas mais irritantes ainda, e nem preciso dizer que durante esse tempo, estava falando com você. Malhei um pouco, pensando que você deveria estar vendo aquilo. Tirei algumas fotos, pensei em mandar as que eu estou nu para você guardar de lembrança. Dei uma entrevista, onde citei seu nome. Me livrei de uma mulher chata que queria transar hoje, porque a boca dela não é atrevida e excitante como a sua e bati uma durante o banho porque sabia que você estava lá embaixo esperando por mim. Eu não consegui dizer nada, queria fazer alguma piada e cortar aquilo, mas ele se levantou e subiu na cama, apoiando-se nos braços, seu rosto pairando a centímetros do meu. — Agora, estou pensando em um jeito de mostrar a você o que tanto deseja ver. — Não quero ver seu pau! — falei arrependendo-me imediatamente. Ele riu alto. — Que pena, Carolina. — Pronunciou meu nome tão devagar que senti algo pulsar no meio das minhas pernas. — Eu estou ansioso para ver sua boceta.
Consigo até imaginá-la. Bem carnuda, bem apertada, branquinha, coberta de fios negros e vou adorar puxá-los com os dentes quando eu... — Pare! Levantei-me em um pulo e fui até o banheiro. Eu sentia um fogo me consumindo que tenho certeza de que se tocasse a cortina, incendiaria o quarto todo, quiçá o prédio todo. Quase me afoguei na pia, mas senti-me acalmar aos poucos. Quando voltei ao quarto, ele estava zapeando os canais da televisão. Como se não tivesse acabado de falar da minha vagina como se fosse um doce que ele quer de sobremesa. — Tá legal, vamos ser francos aqui! Tirei o controle de sua mão e desliguei a tevê, arrastei a poltrona para a lateral da cama e sentei-me de forma que meu rosto estava a centímetros do dele. Ele me olhava tão calmamente, como se não fosse nada demais estarmos ali sozinhos naquele quarto de hotel, ele com aquela barriga à mostra e me dizendo obscenidades. Enquanto eu estava ligada no 220, louca para ir embora e sair de seu campo de força erótico que me sufocava. — Dustin, quero que isso dê certo, eu preciso que dê. Sendo muito sincera, não suporto você, acho que é arrogante, falador e convencido. Além de achar sua profissão uma merda. Não vejo como malhar e exibir músculos pode mudar a vida de alguém, a não ser de meninas que os usam como inspiração para uns orgasmos solitários. Eu cheguei a pedir ao meu professor que me desse algo mais interessante para fazer, mas infelizmente, ele é tão arrogante e insuportável quanto você. Ou quase. Ele riu e não disse nada. — Mas eu realmente preciso da sua ajuda. Isso vale o meu semestre nessa matéria. Então preciso saber se você pode por favor, fazer isso sem me ofender, irritar ou humilhar de alguma maneira. Ele sentou-se na mesma hora, olhando-me assustado. — Quando foi que eu ofendi ou humilhei você? Se está falando sobre perguntar se você era retardada, foi uma brincadeira, não tive a intenção de insinuar que você realmente é. Eu sei que te irrito, sou assim e não vou mudar isso. Mas jamais a humilharia. — Ah, qual é Dustin. Vir com conotações sexuais para cima de mim!?
Ele apareceu ainda mais confuso. — Qual o problema? Você é freira por acaso? — Sou gorda! Caras como você... — Abaixei a cabeça e deixei para lá. Eu não ia me humilhar mais ainda. — Você pode simplesmente responder o que eu perguntar, me provar que sua profissão é mais do que consigo ver e me ajudar sem me deixar acabada no processo? Ele saiu da cama e abriu o frigobar, pegou uma garrafa de água e perguntou: — Quer uma água? — Aceito, obrigada. Ele virou a garrafa na boca e jogou-se de novo na cama. — Pegue, está ali. Não perdi meu tempo brigando, fui até o frigobar e peguei uma garrafa. — Eu posso fazer isso, se faz tanta questão. Só queria deixar sua semana mais divertida. — Não está deixando. Está me deixando estressada. — Você é estressada, a culpa disso não é minha. Aliás, acho que você realmente precisa ouvir o que tenho a dizer com minhas conotações sexuais para melhorar esse humor, mas, se faz questão de continuar assim, vamos ser profissionais. — Obrigada. Comece a falar. Quando decidiu começar a malhar? Ele ficou olhando o nada, parecendo totalmente perdido. Era uma pergunta tão simples, mas para ele parecia tão complicada! Esperei pacientemente, até que ele disse, ainda olhando o nada. — Você já precisou fugir das pessoas que deveriam estar com você todos os dias? — É, eu já. O que isso tem a ver com você? — Escreva aí que foi uma fuga. Eu não planejei me tornar um muso fitness, como você diz. Nem um modelo famoso, nem ter blog e canais, nem nada disso. Não pensei em ganhar o dinheiro que ganho e menos ainda em viajar o mundo por causa do meu corpo. Me tornei um modelo fitness porque a outra coisa que
tentei ser não deu certo. Ele finalmente me olhou, ainda tinha aquele sorrisinho, mas ele era triste. — E o que você queria ser? Ele olhou em meus olhos por um bom tempo antes de responder. — Lutador. De luta livre. — Você tem porte para isso, por que não deu certo? Em um segundo eu pude imaginá-lo perfeitamente em um ringue arrancando sangue de alguém. Pude ver a ira em seus olhos e então sorri. Talvez ele realmente combinasse mais em desfilar como um boneco de músculos e receber muito para ser convencido. Sim, isso era bem a cara dele. Vendo que ele não pretendia responder, dei um empurrão. — Você apanhou demais e desistiu? — Ou talvez tenha batido demais. Não está tarde para você ir pra casa? — Ok — falei percebendo que ele não queria mais conversar. — Carolina sentindo a dispensa. Boa noite, Dustin. Peguei o celular e pausei a gravação, joguei na minha mochila e caminhei até a porta. — Não prometo ser legal, porque eu teria que fingir. Não serei gentil, nem me preocuparei com você, nem serei amigável. Se eu estiver de mau humor, azar o seu! Não ficarei cheio de dedos só porque é uma menina. Você terá que me aguentar exatamente como eu sou. — Não esperei que você fosse de repente ser um cara legal, mas já estou me acostumando com isso. Metido, chato, grosso, mal-educado, convencido. Ok, eu posso lidar com isso. Bons sonhos, Dustin. Aquele sorriso surgiu em seu rosto e ele me olhou de cima a baixo. — Terei.
Cheguei exausta ao apartamento e joguei minha mochila no chão. Lilian estava estirada no sofá vendo televisão e eu sabia que já havia passado de sua hora de
dormir. — Acordada a essa hora, Lil? Aconteceu alguma coisa? — Como foi com o professor? Pela hora que chegou imagino que ele não a tenha deixado trocar de profissão. Notei que ela mudou de assunto, mas conhecendo-a bem, sabia que era só uma questão de minutos para ela colocar para fora. — Ele não deixou, foi chato como sempre. Estava com o Dustin, ele me deixou esperando por três horas no saguão do hotel e depois foi o mais idiota possível comigo. Mas, depois que explodi com ele, acho que vamos ficar bem. Ele até respondeu algumas coisas, e Lil, acho que ele tem algo de sombrio. Não sei explicar... — Você gravou? Eu gostaria de ouvir. Joguei o celular para ela e cruzei os braços, esperando que me dissesse o que a manteve acordada até aquela hora. — Sua mãe ligou — ela disse depois do que me pareceram horas. — Hum, e o que ela queria? Ela me lançou aquele olhar de sinto muito e soube que já ia me aborrecer. — Um minuto — pedi. Corri à cozinha e me preparei um chocolate quente. Eu o estava evitando há semanas, porque era um vício meu e eu precisava controlar meu peso. Mas, quando o assunto era minha mãe, eu realmente precisava de algo que me adoçasse antes de discutir. Voltei à sala e a vi revirar os olhos em desaprovação. Sentei-me de frente para ela e fiz um gesto com a mão para que ela prosseguisse, enquanto matava a saudade do meu amigo delicioso, o chocolate quente. — Ela queria lembrá-la que o desfile da Carine é na quarta. — Continuei olhando meu chocolate e ela completou — É o primeiro desfile dela, e ela espera que você vá. Quase cuspi meu chocolate maravilhosamente quente. — Eu? Para quê? Para ela poder me usar como exemplo de fracasso da família
e exaltar como a Carine deu certo? Para ela poder dizer que apesar de ter minha influência, a caçula conseguiu ser o que ela sempre esperou que eu fosse? Não, obrigada. Fico feliz pela minha irmã, mandarei uma mensagem de parabéns para ela, mas de jeito nenhum vou colocar os pés naquele lugar. Ela sentou-se no sofá e esperei por seu sermão. Lilian geralmente era dócil, mas quando eu fazia algo que ela considerava errado, enchia meu saco até me fazer mudar de ideia. Ela passaria a noite acordada se fosse preciso para me fazer ir à porcaria do desfile da minha irmã. — Olha Big, eu sei que é difícil lidar com sua mãe e toda essa pressão dela pelas filhas perfeitas, mas é sua irmã. Ela não tem culpa. Ela estava ali quando você passou no vestibular, estava ali quando perdeu sua virgindade, até mesmo quando conseguiu sua habilitação, lembra? Ela sempre esteve ali por você. Maldita amiga dramática! Deixei cuidadosamente minha caneca de chocolate de lado, e então, furiosamente, atirei a primeira almofada em Lilian. — Eu te odeio, Lilian Esmeralda! Te odeio! — Não grite meu segundo nome, sua vaca! — retrucou irritada. Ela pulou sobre mim e por alguns minutos doloridos e divertidos, esqueci-me de que teria que ser mais uma vez, o patinho feio para a família.
Quando saí do banho, ouvi apenas o grito de Lilian. Corri para a sala e ela estava com meu celular na mão, um fone de ouvido e se abanando desesperadamente. — O que houve? Lilian? Ela tirou o fone e andou até mim, parecendo sentir alguma dor no pé da barriga. — Caralho! Ele disse para você! Ele disse, ele bateu uma pensando em você e consegue imaginar como é a sua... Caralho! Como você aguentou isso? Eu juraria que você pulou em cima dele e por isso demorou tanto, mas a gravação continuou com seu grito e seus passos para longe! — Ele é assim, Lilian. Estava apenas me irritando.
— Essa voz era de um homem repleto de tesão e não de deboche. — Ah, você também não! Ele é um muso fitness que tem uma mulher linda disponível a cada noite em sua cama. Eu sou apenas eu, acima do peso, desleixada e que não consegue fazer um homem gozar. Ele não estava com tesão, estava tirando uma com a minha cara. Mas conversamos sobre isso e ele não fará mais. Ela começou a rir. — Ah Big, ainda vamos ter longas conversas na madrugada sobre Jake Dustin. Esteja preparada, amiga, porque ele é o cara. — Que cara? — Que vai tirar essas teias de aranha. — Rá, rá, rá. Ridícula! — Estou com inveja de você, estou mesmo. Tirei o celular de sua mão e fui para o quarto. Tranquei a porta, voltei a gravação para o início e esperei seu tom de voz mudar e ele começar a falar aquelas obscenidades para usá-lo como inspiração para um orgasmo solitário. Pelo menos eu tinha uma voz gostosa e algumas frases sujas para ajudar na imaginação e foi mais rápido do que nas outras noites. — Para alguma coisa sua idiotice serve, Jake Dustin.
Capítulo 5 ______________________
CAROLINA Revirei meu guarda-roupa pela manhã, mas eu não tinha absolutamente nada que minha mãe consideraria decente para o desfile da Carine. Não que fosse fazer muita diferença, qualquer roupa que eu usasse, ela diria que engordei, que não combina com meu corpo e por fim, que eu deveria me esconder em uma caverna por um ano e não comer nesse período para voltar à sociedade magra e decente. — Por que mesmo eu tenho que vê-la de novo? — questionei derrotada querendo muito deixar de ser eu até o final da semana. — Porque ela te pariu — Lilian respondeu enquanto ouvia a gravação da noite passada no meu celular. Ela estava viciada nessa gravação. — Está dizendo que só porque ela me deu a vida sou obrigada a aturá-la? — Exatamente. Injusto, não? Parei em frente a maior academia do centro da cidade, havia uma confusão de gente aglomerada, alguns repórteres e alguém pousava para algumas fotos. — Uh! Nunca mais vou olhar Jake Dustin com os mesmos olhos. Agora só consigo imaginá-lo visualizando a minha boceta! — Lilian basicamente gritou ao reconhecer Dustin como o alvo de toda aquela muvuca. — Quer falar mais baixo? Acho que o Dustin ainda não ouviu que você quer dar para ele. — Então vou falar mais alto para ver se ele escuta. Tentamos passar direto, mas ele me viu. Nossos olhos se encontraram e acenei um tchau, ao que ele correspondeu seguido de uma piscadela. Seguimos nosso caminho até a sorveteria mais próxima. Fiquei remexendo meu sorvete, com muita vontade de colocá-lo na boca, mas pensando que eu não acharia nada que me servisse para a porcaria do desfile. Eu só queria ver a minha mãe no ano de 2018. Eu comeria tudo o que pudesse em
2016, então viveria em dieta e exercícios no ano de 2017 e a veria em 2018, linda e gostosa, com um namorado delicioso a tiracolo, e a deixaria sem palavras. Mas claro, a vida não te permite realizar noventa e oito por cento dos seus sonhos, então estou aqui, quase me desculpando com o sorvete por tomá-lo, e já prevendo que irei odiar a roupa que vou usar, independente de qual seja ela. Um chute por baixo da mesa me fez voltar a realidade e Lilian me encarava de olhos arregalados. — O que foi? Mas não foi preciso ouvir sua resposta, uma cadeira foi arrastada e Dustin sentou-se ao meu lado, pedindo uma agua à atendente. — Você vem à sorveteria e pede água? Sério? — reclamei. — Bom dia para você também, Carolina. Melhor do que pedir um sorvete e esperar ele virar liquido para tomá-lo. Por que não pediu uma água? — falou apontando para o liquido gelado colorido na minha taça. — Derreteu! — resmunguei já querendo chorar. — Acontece quando você fica mais de meia hora namorando com ele ao invés de ingeri-lo — Lilian fez questão de explicar. Peguei a taça nas mãos e olhei a última vez para minha crise de consciência gelada. — Adeus, amigo. Desculpe-me por tomá-lo. É mais forte do que eu. Virei a taça na boca e tomei o liquido doce deixando que ele congelasse meu cérebro. — O que ela tem? — Dustin perguntou a Lilian. — Vai ver a mãe dela amanhã. Vou explicar melhor, a mãe dela era uma modelo famosa e esperava que as filhas fossem a mesma coisa. A caçula é, mas a Carolina... — ela fez um gesto negativo com a cabeça e olhei para Dustin com a língua pendurada de tão gelada. — Sou gorda e por isso não considerada da família. A menos que ela precise de mim para mostrar o big fracasso que sou. Como amanhã. Ele riu da piada com meu apelido e virou-se para mim em sua cadeira, tirando a taça da minha mão e tomando o resto do liquido gelado.
— Porra! Isso é muito gelado! Ele bateu a mão na cabeça algumas vezes e perguntou: — O que tem amanhã? — A irmã dela vai estrear como modelo — explicou Lil. — Que merda! Se a vida fosse justa ela seria baixinha e jamais poderia ser modelo — ele declarou. — Quer saber, Dustin? Você acabou de me provar que a minha vida é injusta. Vejo você mais tarde, preciso comprar algo que esconda ao menos trinta por cento de mim. Até mais tarde, Lil. Ela se despediu de mim e saí a passos largos olhando vitrines. Avistei um vestido laranja em uma loja Plus Size, ele era adornado de rosas azuis, parecia meio senhora, mas era acinturado, o que com a cinta certa, me deixaria com o quadril menor. — Você não precisa comprar roupas em uma loja Plus Size — uma voz atrás de mim me fez dar um pulo. — Que susto! E diga isso às lojas comuns que só fabricam até o tamanho 42. Dustin riu. — Este vestido parece coisa de uma senhora casada, que teve mais de três filhos e quer esconder a pochete. Vamos a um shopping. Não sei porque o segui, mas acabei indo com ele, no carro dele, até o shopping mais próximo. Estranhamente ele não foi idiota durante o percurso, mas foi ao descermos do carro. Ele estacionou, abriu sua porta e se dirigiu ao elevador, e quando eu fui sair, minha bolsa caiu, de boca para baixo derrubando tudo no chão do estacionamento e debaixo do carro. Olhei para ele esperando ajuda, mas tudo o que ele fez foi me pedir para fechar a porta para que ele pudesse acionar o alarme. Ficou me olhando ao longe enquanto eu juntava tudo, e ainda teve coragem de me fotografar no chão do estacionamento de quatro, tentando alcançar o que caiu debaixo do carro. — Quer deixar de ser imbecil? — reclamei. — O que caiu aí embaixo que é tão importante para você ficar de quatro e me
dar essa visão privilegiada? — Meu batom! E minha dignidade. Desisti do batom e levantei-me desanimada. — Por favor, apague essa foto. Você disse nada de humilhações, lembra? — pedi. — Não vou mostrá-la a ninguém. Vou usá-la de inspiração para orgasmos solitários. Não dei uma resposta porque não fui capaz. Joguei a bolsa no ombro e me encaminhei ao elevador. De fato, consegui achar peças que me serviam em lojas de departamento comuns. E só o fato de não ser Plus Size me fazia sentir dois quilos mais magra. Mas nada ficava bom. Vesti uma blusa peplum e desfilei para Dustin que disse que estava bom, mas quando me olhei no espelho, me achei um botijãozinho de gás com capinha. Ele riu alto da minha análise e me mandou trocar de roupa. Coloquei um macacão, ele disse que o decote era impressionante, mas quando me olhei no espelho, parecia que eu estava grávida. Ele disse que isso era ridículo e que não estava vendo barriga nenhuma, mas eu a via. Seriam trigêmeos e eu já precisava parir naquele momento. Na quarta loja, enquanto meu estômago roncava e Dustin insistia que eu comesse alguma coisa, peguei um vestido rodado. — Nem pensar, já consigo imaginar os defeitos que você vai colocar, isso é igual aos outros seis vestidos que você experimentou antes. Pegue algo diferente. — Ele entrou na loja e me apareceu com um vestido preto, rendado, tubinho. Olhei para ele, olhei para o vestido e caí na gargalhada. — Você só pode estar louco se acha que isso vai entrar em mim. — Esta é uma loja Plus Size, eles devem ter o seu tamanho. — Não! — Coloquei as mãos no cabelo e fingi chorar. No fim das contas, amiga loja Plus Size, nos encontramos de novo. Peguei o vestido, que realmente era lindo e tive uma conversa mental com ele, para que pelo menos me servisse. Porque seria muito constrangedor entrar em uma loja Plus Size e não achar nada. Dustin me zombaria o resto da semana e eu até que
estava gostando dele no modo não tão idiota. — Quantos quilos você está acima do peso? Cinco? — Dustin perguntou dez minutos depois de eu ficar olhando o vestido com medo de colocá-lo. — No mínimo quinze — confessei sem graça. — Não é muita coisa — disse convicto, fazendo-me olhá-lo. — Vindo de um modelo fitness, acho que vou acreditar. Ele colocou uma mão em cada lado dos meus ombros e me virou de frente para ele. — Carolina, esses quinze quilos estão deliciosamente distribuídos em um par de seios enlouquecedores e uma bunda que não vou comentar porque estarei entrando nas conotações sexuais que você não quer que eu entre. Coloque logo esse vestido e me dê mais uma visão para um orgasmo solitário. Vá. Ele me empurrou até o provador, e me deu um tapa na bunda antes de eu entrar, arrancando um olhar invejoso da segurança parada ali. É! Ele está comigo, sua magrela! Só que não! O vestido era a coisa mais linda que eu já havia visto. A parte de cima era de renda, com um decote grande, mas nada exagerado. Ele apertou minha cintura e havia uma fenda na perna esquerda. Era perfeito. Senti-me realmente linda com ele. O tirei rapidamente, Dustin poderia achar algum defeito e me tirar de minha bolha ilusória, então decidi levá-lo sem a aprovação dele. — Não gostou do vestido? — ele perguntou ao me ver sair do provador com a minha roupa. — Adorei. Vou levá-lo. Ele não estava realmente interessado em me ver com mais uma roupa então nem reclamou. Paguei o vestido chorando pelo arrombo na minha minúscula conta e fomos almoçar.
— Você vem para o treino à tarde ou estará desmaiada por conta dessas folhas? — perguntou com uma careta para a salada no meu prato. — Por que você pode comer tanta carne? — perguntei invejosa.
— Porque eu malho para isso. Você devia experimentar. Fiz uma careta e comemos em silêncio. E saí do shopping morrendo de fome. Fiz questão de não voltar com Dustin, porque precisava buscar o garotinho de quem sou babá na escola e levá-lo para sua aula de karatê. Mas combinei de encontrá-lo à tarde no galpão para filmar um pouco de seu treino.
Depois de deixar Alan na academia de karatê, fui ao encontro de Dustin. Estava atravessando um sinal, quando vi alguém que não deveria estar aqui. — Ei, Douglas! O modelo fitness parou e acenou ao me reconhecer, então retrocedi e fui até ele. — Ei, você não tinha ido embora? Ele pareceu confuso. — Eu? Não, quem disse isso? — O Dustin. Ele disse que teve que ficar no seu lugar porque você precisou ir embora. Ele riu. — Desculpe, Carolina. Ele me apadrinhou em troca de ser o seu projeto. Você sabe. Ser afilhado de Jake Dustin é uma divulgação muito melhor do que canais do YouTube. Fiquei cerca de dois minutos com cara de boba tentando processar aquela informação. — Não entendi. Por que ele fez isso? — perguntei mais para mim mesma, mas claro que ele fez questão de responder. — Você ainda não sacou? Ele está a fim de você. Eu ri alto. Dei um tapa nele pela brincadeira sem graça, mas ele continuou sério. — Não, não está não. Isso é impossível — garanti. Ele deu dois tapas leves no meu ombro, devolvendo meu gesto.
— Menina, você precisa acordar. Jake Dustin jamais aceitaria ser o projeto de uma mulher que ele não estivesse tentando levar para a cama. Engasguei com o ar e me despedi dele. Eu precisava falar com Dustin. Independente de Douglas estar viajando nas razões que achava que Dustin teve, ele não devia ter mentido para mim. Cada vez que ele parecia ser um pouco mais legal, algo me mostrava que ele não era.
Ele já estava no galpão, socando um saco de pancada e não parou quando entrei. Peguei uma água na geladeira e tirei o celular da bolsa. Teria que gravar com ele. — Você tem algo para me contar? — perguntei ao Dustin, mas ele apenas negou com a cabeça e continuou com sua contagem de socos. Guardei o celular e parei bem perto dele. — Sabe quem eu encontrei hoje no centro? Ele demorou a responder e pareceu irritado que eu estivesse esperando que ele chutasse. — Um namorado? — disse com um sorriso. — Você diz isso, mas não suportaria me ver com um namorado. — Ele deu de ombros. — E eu encontrei Douglas Sampaio. Você sabia que ele ainda está por aqui? Ele sorriu, ajeitou a borracha em volta da mão e voltou a socar o saco de pancada. — Provavelmente você sabia, já que é padrinho dele. Ele deu de ombros novamente, tentando conter o sorriso, mas falhando. Perdi a paciência e abracei o saco de pancada, obrigando-o a frear o punho a centímetros do meu rosto. — Você é maluca? Quer ter seus dentes todos quebrados? — Você não ia me acertar, cada movimento seu é calculado, concentrado e executado com maestria de forma que você pode parar a hora em que não quiser acertar algo.
— O que você quer, Carolina? Está atrapalhando meu treino. — Ele disse que você ofereceu ser o padrinho dele em troca de ser o meu projeto. — E vou desapadrinhar por ele ser linguarudo. — Por que você fez isso? Ele colocou as duas mãos nos meus ombros e me afastou do saco de pancada, acertando-o com muita força em seguida. Ali, seus movimentos não eram mais calculados e me afastei antes que o saco, que voava sem direção a cada soco dele, me acertasse. — Dustin, por que você quis fazer isso? — Ele não disse a você o porquê? — Ele acha que você quer me levar pra cama. Disse que não faria isso por uma mulher a menos que tivesse interesse nela. Mais uma vez ele deu de ombros e voltou a socar. Mas eu sabia que não estava concentrado porque o saco continuava voando sem rumo pelos ares. — Dustin! Me responda! Ele deixou o saco e olhou para mim irritado. — O que mais você quer ouvir, Carolina? Ele veio em minha direção e recuei até estar presa à parede, e ele não se afastou. Seu corpo enorme e suado tocava o meu e suas mãos foram plantadas ao lado do meu rosto. Sua boca estava tão perto da minha, que eu poderia beijá-lo e ele não conseguiria evitar. — A verdade — sussurrei tentando não focar meus olhos em seus lábios grossos, mas era impossível e percebi que ele tinha uma pequena cicatriz no canto direito da boca. De alguma forma torta, isso o tornava ainda mais sexy. — Ele disse a verdade. Por que você não para de encher minha paciência, e me dá logo o que eu quero? Antes que eu pudesse processar o que ele havia me dito, sua boca tomou a minha. Devagar, seus lábios foram se movendo sobre os meus, sua língua timidamente pediu passagem. Suas mãos deixaram o lado do meu rosto e me
puxaram pela cintura. Elas passearam por toda extensão das minhas costas e pousaram pouco acima da minha bunda, puxando-me mais de encontro a ele. Sua língua tocou levemente a minha, e sua delicadeza acabou ali. Logo ele subiu uma das mãos pelo meu cabelo, enfiando-a ali e puxando minha cabeça sem nenhuma gentileza para trás, sua boca deixou a minha e sugou meu pescoço, me arrancando um gemido desesperado. Ele voltou os lábios para os meus, me prendendo em seus braços fortes, beijando-me com voracidade. Mordi seu lábio inferior e ele soltou um gemido delicioso na minha boca. Minhas pernas começaram a ceder e meu centro a pulsar violentamente, eu precisava dele. De repente, ele me empurrou olhando-me como se eu fosse um erro. E pude ouvir a voz debochada de uma mulher. — Ora, o que temos aqui? Achei que eu fosse a garota da noite, Dustin. Olhei para trás e a miss músculos fez uma careta horrenda ao me reconhecer. — Você realmente não podia esperar? Tinha que pegar qualquer coisa que visse pela frente? Dustin, sinceramente, sinto-me decepcionada. E ela parecia realmente decepcionada, o que me fez rir diante de toda aquela loucura que se encontrava meu cérebro. — É melhor você ir agora, Carolina. Vanessa e eu temos algumas coisas para acertar — Dustin ordenou sem olhar para mim. Nem questionei, nem me importei em lançar lhe um olhar questionador. Ele era um idiota e eu fui mais ainda por permitir aquele contato. Peguei minhas coisas e disse antes de sair: — Cuidado com o lábio dele, eu mordi. Desci as escadas devagar, eu mal enxergava os degraus e não queria cair e dar à mister monstro mais motivos para rir de mim. Eu não era a merda da caridade de ninguém, não precisava disso! — Carolina? — Não olhei para trás para vê-lo, apenas fiquei parada na escada esperando que ele falasse. — Nos vemos amanhã, certo? Era impressão minha ou ele parecia ansioso por uma resposta? Finalmente olhei para ele, e sim, ele estava ansioso. Tentando fingir que não se importava, quando na verdade se importava sim. Uma lágrima correu por meu
rosto. — Acho que não. Já tenho todo material que preciso. Envio para você a matéria antes da escola publicá-la. Obrigada, Dustin. Desci o resto das escadas e fui correndo até minha casa. Eu nunca mais queria ver Jake Dustin na minha vida.
Capítulo 6 ______________________
DUSTIN Fingi que Vanessa não estava ali e voltei ao saco de pancadas. Eu não precisava de mais exercícios naquele dia, mas naquele momento preferi isso do que ter que encarar que pela primeira vez eu não estava muito a fim de transar. Chamei a Vanessa aqui para isso, mas de repente, um par de olhos verdes claros, os seios cheios pressionados contra meu peito, e aquela língua atrevida eram tudo o que eu pensava. Merda! Eu conhecia aquela fixação por uma garota. Eu já havia visto isso antes e não ia cair nessa, de jeito nenhum! — Vem aqui, Vanessa. A puxei para junto do meu corpo, sentindo a firmeza de seus músculos pressionados em mim. Era mais gostoso a pele macia que se moldava ao meu corpo, da Carolina. Maldita Carolina! Fui beijar a Vanessa, mas ela recuou. — Eu não acredito que você estava mesmo com aquela baleia, Dustin! O que deu em você? — Eu pego um monte de mulheres, Vanessa. Não sei porque a surpresa. — A puxei novamente, mas mais uma vez ela desviou, levando embora minha paciência. — Porra, Vanessa! Você veio aqui para transar comigo ou para me encher o saco? — Eu não me importo com as mulheres com quem você transa! Mas a Carolina? Já foi um absurdo você aceitar esse documentário ridículo, mas querer transar com essa balofa sem sal? Você perdeu o juízo, Dustin? — Não estou entendendo, Vanessa. Qual o problema se a mulher da noite for a Carolina? Ela é uma mulher como qualquer outra!
— Ela não é como nós, olhe para ela! É feia, sem sal e gorda! — Chega! Quer saber? Perdi totalmente o tesão, vá embora. Voltei a socar o saco de pancadas, e não a vi sair. Ela tocou meu braço, forçando-me a parar. — Está falando sério? Está me expulsando? — Chamei você aqui para transar, você ficou enchendo meu saco e agora não quero mais. Tchau, Vanessa. Ela me olhava como se estivesse ultrajada com minha dispensa e eu não entendia realmente porque ela achava que eu tinha obrigação de ficar aguentando ciuminho sem sentido. — Isso não vai ficar assim! Essa Carolina me paga! Ela deu três passos em direção a saída e segurei seu braço, forçando-a a olhar para mim. Tomei o cuidado de não apertar o braço dela para machucar, apenas para mantê-la focada em mim para que entendesse bem o que eu diria. — Se você se aproximar da Carolina, vai ter que se ver comigo! Entendeu? — Eu não acredito que você... — Entendeu Vanessa? Fique longe dela! A soltei e ela desceu correndo as escadas e resolvi dar a noite por encerrada. Eu precisava de um banho e uma boa noite de sono.
Após um banho gelado no hotel, alguns filmes bobos na tevê a cabo dali e umas bebidas, eu não conseguia dormir. O sono queria me roubar, mas meu cérebro parecia não querer desligar. Cada vez que eu fechava os olhos eu via, o brilho de raiva nos olhos dela quando me questionou sobre minha mentira. A maneira como se rendeu com apenas um toque meu. O cheiro de sua excitação que eu pude sentir no ar. Os gemidos na minha boca. Seu corpo macio e curvilíneo que se adaptava perfeitamente ao meu. E então eu lembrei, seus olhos quando olhou para mim na escada. Ela estava chorando. Por minha causa.
Mas eu não fiz nada demais, fiz? Ela não queria nem mesmo continuar o documentário e eu não havia dito nada ainda, nada da minha verdadeira história, nada que ela pudesse usar para tornar seu documentário algo válido. Ela não tinha material e estava sacrificando sua nota para não ter que me ver mais. Peguei um travesseiro e tentei me sufocar, irritado pelo rumo dos meus pensamentos, mas sabia que seria inútil. Eu precisava falar com ela, saber o que eu havia feito, por que ela estava chorando. O telefone chamou uma vez, duas, cinco vezes e caiu na caixa de mensagem. — De jeito nenhum, Carolina, você vai ter que me atender. Liguei de novo e mais uma vez, e na quarta ligação, ela me atendeu. — Você já viu que horas são? — perguntou irritada. — Não, e não me importo. Não consigo dormir. — E eu com isso? Vá dar uma volta, tome um remédio, uma bebida e me deixe em paz! — Não desligue! — ordenei — Por favor. Pude ouvir seu sorriso debochado do outro lado por eu ter dito por favor. — Tá legal, o que você quer, Dustin? — Por que você chorou? Ela ficou em total silêncio e eu só sabia que ela não havia desligado, porque podia ouvir sua respiração. — Carolina, eu te fiz uma pergunta. Por que você saiu do galpão chorando? O que eu te fiz? — Jura? Não quero falar com você, se não sabe o que fez, não teve importância. São três horas da manhã e eu quero dormir, então por favor, não me ligue mais! Ela desligou na minha cara. Ninguém nunca desligou na minha cara. Quando eu visse essa atrevida ia dar umas boas palmadas na bunda dela para descontar isso. Liguei de novo e ela atendeu no primeiro toque. — Estava esperando minha ligação, boneca? Vou ser bem direto com você, Carol. Ou me diz por telefone por que você chorou, ou eu vou aí na sua casa
perguntar pessoalmente. — Você não faria isso. — Não pague pra ver. Eu quero saber o que aconteceu agora e vou saber isso agora. É melhor que comece a falar. Ela soltou um suspiro profundo e quando voltou a falar, sua voz estava muito mais calma. — Ok, Dustin. Sinceramente, estou cansada, não foi um dia fácil e eu não suporto mais a montanha russa de emoções que é estar perto de você. Chorei por culpa sua, e se você não sabe o que fez, então vá à merda. Não sou seu grilo falante. Ela desligou de novo e quando retornei, seu celular estava desligado. Levantei-me já vestindo a calça, se não foi por bem, ela me falaria por mal.
Eu sabia qual era o seu prédio, mas não sabia o número do seu apartamento. De qualquer forma, ela não ia abrir a porta para mim de todo jeito. Toquei um número qualquer e imediatamente, uma voz masculina respondeu. — Ah, desculpe incomodar a essa hora. Meu nome é Jake Dustin e eu preciso de ajuda para entrar nesse prédio e falar com uma mulher irritante e teimosa que não me deixa dormir. — Você é Jake Dustin, o modelo fitness? — Sim, este sou eu. Olha, se você me deixar entrar, posso te recompensar muito bem por isso. O barulho do portão sendo aberto me fez abrir o primeiro sorriso da noite. — Venha até o meu apartamento, Dustin, vamos conversar. Júlio era um homem solteiro, divertido e tinha duas mulheres nuas dormindo em sua cama. — Você é dos meus — comentei cumprimentando-o. — As únicas mulheres jovens que vivem aqui são as meninas do 204, aí na frente. Lilian, uma loira baixinha e angelical, e Carolina, uma morena deliciosa. Qual delas é a sua garota?
— Carolina. — Imaginei, ela tem cara de problema. — Um problema dos grandes, é o que ela é. Preciso falar com ela, mas ela desligou o celular, eu só precisava entrar no prédio. — Vá em frente, se precisar de um lugar para dormir caso ela te coloque para fora, tem um quarto sobrando. Só não divido as garotas na minha cama. Agradeci e bati na porta do apartamento dela. Nenhum som veio de lá de dentro e comecei a esmurrar a porta. Ela ia acordar de um jeito ou de outro. Finalmente, uma luz foi acesa e a porta foi destrancada aos poucos, Lilian puxou apenas uma fresta e verificou quem era, ao me reconhecer abriu a porta. — Porra, Dustin! Isso são horas? — Desculpe Lilian, a culpa é da sua amiga idiota que desligou o celular. — Quer saber, vocês precisam transar. Precisam fazer isso logo porque essa tensão e guerra idiota de vocês está me custando a segunda noite de sono. O quarto dela é o do final do corredor, por favor, não façam barulho. Tenho prova pela manhã. — Obrigado Lilian, e boa sorte. Caminhei decidido na direção de seu quarto, mas ela veio sonolenta ver o que estava acontecendo. Usava uma camisola rosa muito curta e quase transparente. Eu pude ver perfeitamente o contorno de seus mamilos rosados e cada centímetro de suas coxas deliciosamente grossas. Ela estacou quando me viu e esfregou os olhos. Andei até ela decidido e segurei seu rosto em minhas mãos, obrigando-a a olhar para mim. Ela não fugiria dessa resposta de novo. — Carolina, por que você chorou? — perguntei vagarosamente. — Inacreditável. — Por favor, fala comigo, Carolina. Eu preciso saber, só me responda. Ela tentou se afastar, mas não permiti, acabei puxando-a pelo braço para dentro dos meus braços, obrigando-a a ficar perto de mim. — Só vou deixá-la se afastar quando me disser.
— Por que se importa tanto com isso? Eu chorei, já passou, pronto! — Porque eu sei ser um idiota às vezes e não tive a intenção de ser com você. Você não tem material o suficiente, Carolina, não está nem perto disso. Eu quero ajudar você, me comprometi a isso e não quero que se prejudique porque fui um babaca em algum momento. — Oh! Um suspiro exagerado atrás de mim me fez soltar Carolina e encarar Lilian. — Ah, desculpem-me, quebrei o clima. É só que isso... — Ela andou até Carolina e segurou suas mãos. — Vai para a cama com ele, Carol, agora! Tchau, Dustin. — Soprou um beijo para mim entrando na primeira porta do corredor e a trancando. Carolina seguiu irritada até o sofá e a segui, sentando ao lado dela, de frente para ela, obrigando-a a olhar para mim. — Você não sabe dar espaço, não é? — reclamou. — Não quero te dar espaço, quero que me responda. Por que, Carolina? — Porque não sou a merda de uma caridade! Eu não preciso que um idiota arrogante que se acha a última bolacha do pacote, pense que pode me fazer o favor de me beijar porque nenhum outro cara vai fazer isso. Quer saber, Dustin? — Ela se levantou e seus olhos estavam cheios de novo — Foda-se você e sua beleza e seu dinheiro! Foda-se essas mulheres perfeitas que vivem penduradas em você, pode viver cercado por elas, mas nunca tem ninguém de verdade! Você não tem que me tocar para fazer sua boa ação, eu tenho repulsa do seu toque! Então eu entendi tudo. A coisa toda estava na cabeça dela. Ela se achava inferior às outras mulheres, se achava feia. Sorri com essa ideia ridícula. Eu não estava realmente interessado nela, apenas em levá-la para a cama. E estava porque ela era linda, era realmente muito linda! O corpo que ela tentava esconder, por achar estar fora dos padrões de beleza era o que mais me havia deixado duro nos últimos meses. Suas curvas macias, seus seios fartos, a bunda grande, as coxas grossas. Isso não era um defeito, ela era deliciosa! Qual era o problema dela? Levantei-me para dizer a ela como estava sendo burra e dizer o quanto ela era gostosa, quando me dei conta. Ela era sensível, extremamente sensível. Se eu dissesse a ela o que pensei desde a primeira vez que a vi e a forma como tenho
masturbado meu pau pensando naquele par de seios enormes dela, ela iria esperar mais. Ia querer mais. Começar a me cobrar e reclamar, como a Vanessa. Carolina era muito mais feminina e sensível do que a Vanessa. Eu não tinha mais do que meu pau para oferecer a ela, então era melhor cortar logo isso. — Eu não beijei você por caridade, jamais tocaria em uma mulher que não desejo. A beijei para irritá-la, porque você estava toda nervosinha perguntando se eu a desejava e fui apenas brincar com você. Não foi nenhum sacrifício, na verdade, se a Vanessa não tivesse interrompido, eu provavelmente teria comido você bem ali e teria feito você gozar o suficiente para deixar de ser ranzinza. Ela perdeu a fala por dois segundos e então pareceu irritada. — Não teria! Eu nunca me deitaria com você! — Nós dois sabemos que sim, você deitaria, estava prestes a me implorar por isso quando a Vanessa atrapalhou. Não foi caridade Carolina, não tenho culpa se seus lábios tão vermelhos estavam perto demais no momento em que você me fez querer irritá-la. Mas não se preocupe, para que não haja mais esse tipo de malentendido, nunca mais tocarei você. Satisfeita? Não vai acontecer novamente. Aja como uma adulta e me encontre amanhã ao meio-dia para terminarmos esse documentário. — Não precisa, eu não quero mais... — Até amanhã, Carolina. — A deixei falando sozinha e saí de sua casa. Os pingos estavam nos is e tudo estava bem explicado entre a gente. Era melhor assim.
Capítulo 7 ______________________
CAROLINA Um barulho de algo caindo na cozinha me despertou de repente de meus sonhos. E eu estava sonhando com fogo, muito fogo. Um verdadeiro incêndio de quase dois metros de altura, composto por músculos, tatuagem e uma boca de outro mundo. Bati a cabeça no travesseiro desorientada. Eu não podia começar a pensar demais em Jake Dustin, não podia de jeito nenhum! Ele era pervertido por natureza e gostava de me irritar falando sobre sexo, ainda que a intenção dele não fosse me humilhar, com certeza também não era me comer. Então, eu tinha que tirar da cabeça o beijo delicioso, e o fato de ele ter vindo na madrugada apenas para saber porque eu havia chorado. Ok, isso foi realmente fofo. Jamais o imaginaria fazendo algo do tipo. Mas, voltando ao mundo real, ele ficou curioso, foi um pouco fofo e prometeu nunca mais me beijar, então, tive que voltar a terra das encalhadas feliz da vida por ter tido um momento com Jake Dustin. Que momento! Espreguicei-me na cama quando minha mão tocou algo que não deveria estar ali. Era uma fotografia. Abri a boca e senti o incêndio do sonho queimar meu quarto. Dustin estava nu. De lado, com a mão mal cobrindo seu membro. — Não pode ser tão grosso! Virei a foto na direção da luz fraca que entrava pela janela, tentando ver melhor a imagem. Havia seus braços musculosos, um sorriso safado no rosto enquanto ele olhava para baixo, aquela barriga esculpida milimetricamente e a mão em frente ao seu pau, porém não encostada a ele, de forma que uma parte dele dava para ser vista. — Isso é photoshop! Não podia ser tão grosso. Me inclinei um pouco mais em direção a luz e bum! Caí da cama de cara na foto. A porta do meu quarto foi aberta e pensei ser Lil, sentei-me com a foto dele pregada na testa já soltando:
— Lilian, já acordei com um pré orgasmo após essa foto, olha isso. Levantei-me e dei de cara com ele. Dustin cruzou os braços com um sorriso divertido e eu não sabia onde enfiava a cara, então fingi que não estava ali. Fechei os olhos e esperei ele sumir, eu sumir e não ter acontecido nada daquilo. — Você não está no meu quarto. Você não está no meu quarto — comecei a repetir como um mantra, mas ele foi assassinado por duas mãos fortes, que me levantaram pelos ombros. — Bom dia, boneca. Eu sabia que você ia gostar dessa foto, mas não achei que fosse te causar um pré orgasmo. Nem consegui me irritar com ele porque de repente tudo o que eu conseguia olhar era o meio de suas pernas e o volume que havia ali mesmo quando ele não estava duro. — Se você continuar me olhando assim vai ficar duro em menos de um minuto. Desviei meus olhos de seu volume para seu rosto, que não continha mais um sorriso presunçoso, e sim um brilho perverso. — Eu falei em voz alta? — O suficiente. — Merda! Passei por ele e corri para o banheiro. Normalmente eu teria ficado debaixo da água quente por mais de dez minutos, mas, não queria que ele pensasse que eu o estava usando de inspiração, então saí antes dos cinco. Vesti-me com um blusão e um short curtinho e caminhei até a cozinha, meu cabelo pingando pelo chão. Eu sabia que a Lilian me mataria quando visse o piso respingado. — O que você está fazendo aqui? — perguntei a um Dustin que ocupava quase toda a minha cozinha, servindo algo na mesa. — Seu café da manhã. Mas não se acostume. — Como chegou aqui tão cedo? — Dormi na casa do meu mais novo amigo. Júlio, seu vizinho.
Fiz uma careta. — Já te deixo avisado que ele não bate bem da cabeça. — Ele disse o mesmo sobre você. — Justo. Mas eu não como três mulheres por noite e não grito o nome dele quando gozo em um sonho à noite. Ele me olhou com um sorriso enorme. — Ele grita seu nome à noite? — É assustador. O que você fez? Sentei-me sentindo um cheiro delicioso invadir o pequeno apartamento e ele depositou um prato que quase me fez desmaiar de contentamento. — Ovos mexidos. Duvido que já tenha comido algum tão bom quanto o meu. Peguei o garfo de sua mão e provei um pouco da gororoba cheirosa à minha frente. — Hum! — gemi profundamente fechando os olhos. — Isso está divino. — Meu pau acordou com esse gemido, se quiser vê-lo, não me importarei. Abaixei a cabeça por baixo da mesa e realmente a barraca dele estava armada. Senti-me corar, eu tinha certeza que era uma brincadeira, mais uma delas, e ele ficou rindo. — Você precisou afirmar que eu estava duro por você? Engasguei com os ovos e imediatamente ele estava ao meu lado, batendo nas minhas costas. — Tudo bem? — Vou ficar, mas por favor, controle sua língua. Ainda não estou suficientemente acordada. — Você acordou com um pré orgasmo, não está achando ruim minha língua. Corei de novo e ele riu, tocando gentilmente meu rosto. — Adoro quando você fica cor de rosa. Parece uma boneca. Porém, uma boneca atrevida e sexy pra caralho. Um grande problema, é isso o que você é.
Ele parecia estar divagando em suas sentenças e peguei sua mão por cima da mesa, admirando os calos de sua mão enorme. — Por que você insiste em me chamar de boneca? — Porque você se parece com uma. As maçãs do rosto, os lábios em forma de coração, os grandes olhos verdes. A pele de porcelana e esse cabelo macio. Você é a mulher mais bonequinha que eu já vi na vida. Sorri, voltei a comer porque era estranho de repente receber um elogio fofo dele. — Não faz ideia do quanto é linda — murmurou mais para ele mesmo, mas consegui ouvir. Porém, fingi que não escutei, porque eu não queria ter que lidar com as coisas que ele me dizia e ter que me convencer a não levá-las à sério. Era cansativo. Eu estava com sono, ele estava excitado e faltava um sorriso fofo dele em minha direção para eu agarrá-lo. — Meu Deus! O que estou pensando? Mais do que depressa peguei um copo de água que ele havia colocado na mesa e joguei em meu rosto. — Foco, Carolina. Foco. Ele ficou sorrindo, sabendo que ele era o culpado do meu estado de nervo em chamas. Mas não fez nenhuma piada, o que agradeci internamente. — Você tem namorado, Carolina? — perguntou de repente e apenas neguei com a cabeça. — Já teve? — Claro! Tenho vinte e um anos, sou gorda, não um Alien. Ele sorriu. — O quão idiota ele foi? — Numa escala de zero a dez? Mil. — Estou para te contar algumas coisas para seu documentário, coisas meio complicadas para mim. Ajudaria se você começasse falando. Por que vocês terminaram? — Se eu for falar sobre isso com você a essa hora da manhã, terei direito a
perguntar qualquer coisa depois. — Combinado. Terminei de comer os deliciosos ovos mexidos e me debrucei sobre a mesa. Ele ainda comia, mas não tirava os olhos de mim. — O nome dele era André. Eu o conheci na faculdade. Éramos calouros e eu era virgem. Achava que ia morrer virgem porque era a única virgem na faculdade. — Isso é inconcebível — ele zombou. — Eu sabia disso. Por isso, o primeiro imbecil que demonstrou interesse eu achei que fosse mais do que eu merecia, que nenhum outro cara ia me olhar daquele jeito. Então eu relevei as coisas que ele dizia e perdi a virgindade com ele. — Que tipo de coisas ele dizia? Olhei bem para ele vergonhosa em dizer. Eu havia me humilhado e não queria que mais ninguém soubesse disso. Ele me olhou de volta, insistindo que eu continuasse. — Seu passado tem algo vergonhoso? — perguntei. — Há coisas muito piores do que vergonha no meu passado. Peguei sua mão novamente e fiquei brincando com seus dedos, decidindo se eu teria coragem de contar o que fiz. — E você vai me contar? — Olhei para ele buscando uma direção e ele sorriu. — Se você me olhar desse jeito de novo eu vou fazer qualquer coisa que você quiser. — Então não faça isso. — Soltei sua mão — Não me desconcentre assim. Bom, se você vai ser honesto comigo eu vou te contar minha história mais vergonhosa. — Mais vergonhosa do que vestir a blusa do lado avesso, e ser pega com um pré orgasmo por causa da minha foto? Fiz uma careta que o fez rir alto. — Bem mais vergonhoso. — Estou ansioso, boneca. — Ele não queria me assumir publicamente, quando íamos a festas, ele fingia
que não me conhecia. Eu aceitava isso porque entendia que ele não queria ser visto com a gorda do campus. Eu não me sentia bem com ele, não o amava, sequer estava apaixonada. Mas eu queria perder a virgindade e achei que não teria outra oportunidade. Um lampejo de raiva passou por seus olhos. — Continue — sibilou com a mandíbula travada. — Eu fiz do jeito e quando ele decidiu. Foi horrível. Ele não gozou e me disse que eu não era capaz de fazer um homem gozar. Nós terminamos e duas semanas depois ele me procurou. Havia bebido um pouco, queria tentar de novo. Foi horrível de novo e mais uma vez ele não chegou lá e me culpou. Eu acho que um homem não se sente realmente atraído por um corpo feio, não é o mesmo tesão. Ele transou de olhos fechados, mas creio que não conseguiu imaginar outra pessoa, quando passava as mãos, você sabe... nisso tudo — fiz um gesto indicando o tamanho do meu corpo. Dustin não disse nada por um tempo, parecia tão irritado que acabei sentandome direito na cadeira, afastando-me dele. — E depois? Como foi quando você sentiu prazer pela primeira vez? — Ah, bom... foi legal, eu acho. Eu estava num daqueles momentos de inspiração com orgasmos solitários. Ele se debruçou sobre a mesa aproximando seu rosto do meu. — Esse seu ex era um completo idiota! Não devia tê-la culpado por ser incapaz, eu mal a toquei e você já me fez gozar umas quatro vezes essa semana. Quando eu beijei você, e achei que fosse te comer ali, temi que fosse gozar no momento em que a penetrasse, porque eu estava excitado pra caralho. Se eu fosse foder você, iria querer vê-la. Ver cada detalhe do seu corpo, porque eu adoraria chupar você todinha. E não foram poucas as vezes em que me imaginei fazendo isso. Você é bonita demais para ter apenas momentos solitários de inspiração, e acho que eu preciso ir embora, antes que a pegue agora e te foda do jeito que você merece, porque tenho certeza que irei machucá-la. A gente se fala mais tarde. Ele se levantou e saiu, deixando o café inacabado na xícara e eu precisei tomar um longo banho inspirador. Muito inspirador.
Capítulo 8 ______________________
CAROLINA Quando saí da casa dos Monteiro, havia uma mensagem de Dustin no meu celular. Eu estava uma pilha de nervos apesar dos orgasmos no banheiro. Estava chegando a hora de rever minha mãe e eu me sentia horrível por achar isso tão difícil. Porém, sorri ao ler sua mensagem.
“Bonequinha atrevida, quero que me prometa que nunca mais irá se rebaixar assim. Caso outro André apareça na sua vida e vc seja demais pra ele, me chame, faço questão de colocá-lo no lugar dele.”
Sorri. Achei aquilo fofo. Eu precisava me policiar porque estava achando coisas demais fofas em Dustin. Respondi:
“Sim, sr. Segurança.”
Logo, recebi outra mensagem dele:
“É sério. Não deixe nenhum outro idiota tocá-la novamente. Se não for para ser adorada do jeito que vc merece, então nem se dê ao trabalho de tentar.”
“Parece que alguém está superprotetor hoje.”
“Parece que alguém tem uma ereção de seis horas e está quase ficando
maluco.”
“Vc não precisava ter me dito isso.”
“Tenho esperança que venha aqui resolver meu problema.”
“Estou indo aí para trabalharmos. Sinto muito pelo seu pau. Caso ele venha a falecer, te mando uma coroa de camisinhas para guardar de lembrança.”
“Ingênua.”
O quê? Como assim? Esperei que dissesse mais alguma coisa, mas ele não disse. Então mandei outra mensagem:
“Por que disse isso?”
“Se pisar aqui hoje, Carolina, eu vou foder vc.”
Fiquei totalmente parada, pensando se deveria subir correndo a escadas, já que estava na porta do galpão. Ou se deveria correr de volta ao meu apartamento e me prender com uma algema na cama para não fazer isso. Mas aí recebi outra mensagem, que decidiu por mim.
“EU VOU FODER MUITO VC. Só para que fique claro. Ansioso esperando que chegue.”
“Ops! Acho que vou dar meia volta e salvar minha virtude.”
“Está aqui na porta?”
“Estava.”
“Fique onde está, bonequinha. Nós dois sabemos que vc precisa disso.”
Ia mandá-lo à merda e dizer que estava certo mesmo sendo babaca, mas recebi outra mensagem:
“Tanto quanto eu.”
“Estou subindo. Comporte-se.”
“Vou me comportar, eu juro. Do jeitinho que vc merece.”
E lá estava eu, pegando fogo na calçada. Olhei o quarteirão diante de mim chegando à conclusão que o certo seria eu sair correndo para deixar claro o que eu achava dessa atitude dele. Mas, eu teria que fazer o trabalho com ele e precisava que ele parasse de me iludir e me excitar com essas conversas. Eu já me sentia em um livro erótico e já estava começando a pensar que era obrigada a dar o gosto dos leitores verem do que ele era capaz. Dei um passo para longe, mas eu não conseguiria fugir muito tempo. Precisava dar um basta naquilo. O que para ele era só uma brincadeira para animar meu dia (e realmente, definitivamente animava) para mim estava se tornando uma necessidade. E eu precisava cortar isso. Então, subi bem devagar as escadas. Ele estava pulando corda, uma borracha presa a cada mão, sem camisa e muito suado. Não disse nada quando me viu entrar, mas não tirou os olhos de mim. Acompanhando cada movimento meu. Liguei a câmera que havia pegado
emprestado com a Lilian, já que meu celular tinha uma câmera muito ruim, e o filmei se exercitando. A maneira como ele me olhava através da lente da câmera já fazia minhas pernas tremerem, não me atrevi a olhar diretamente em seus olhos. — Chegou tarde — disse. — Estava trabalhando. — Posso te perguntar uma coisa? Ele sabia que eu estava gravando e continuou pulando corda. Então não pensei que seria nada demais. — Claro. — Você quer ser comida agora ou vai dar pra trás? Abaixei a câmera de uma vez, completamente chocada. — Isso está sendo gravado! — lembrei-o. — E daí? Estou com uma maldita ereção há horas por culpa sua! Se você vai me atiçar e fugir, então nem vamos começar com isso. — Não vou atiçá-lo e fugir, simplesmente não vamos fazer nada. Foi legal essa brincadeira, excitante na verdade, mas chega! Há algo maior em risco aqui, preciso mesmo entregar este trabalho bem feito e não podemos nos distrair. — Ok. Foi tudo o que ele disse, então largou as cordas e foi fazer abdominais. Peguei a câmera e voltei a filmá-lo, mas ele virou para o outro lado. Dei a volta e ele trocou de aparelho. Estava me pirraçando. Revirei os olhos irritada, o quão criança ele era? Cansei de ficar insistindo que ele me deixasse filmá-lo e decidi que não precisava de muitas imagens, eu não precisava exaltá-lo mais do que todo mundo já fazia, então comecei a fazer perguntas. Eu ainda não sabia quase nada sobre ele. — Você me deve umas respostas. Ele não disse nada, mas eu perguntaria assim mesmo. — Quantos anos tinha quando lutou a primeira vez?
Ele virou-se de frente para mim com uma garrafa de água na mão. A jogou na boca de qualquer jeito e boa parte dela escorreu por seu peito e barriga. Minha boca secou e senti uma vontade súbita de me abaixar e lamber o liquido de sua barriga para matar minha sede. Comecei a contar os gomos de sua barriga, e até mesmo os pelos pequenos de seu caminho da felicidade. Quando foquei meu olhar em sua calça de moletom, ali estava, o volume. Ele estava realmente excitado. — Por que está me olhando assim? — ele perguntou não parecendo muito contente com meu olhar fixo em seu corpo. — E-eu... — não sabia se babava mais por seu corpo delicioso ou aquela ereção imensa na sua calça. Pigarreei e voltei a mim antes que fizesse exatamente o que ele disse que eu faria, atiçá-lo para fugir depois. — Há muitos músculos à mostra, talvez você devesse vestir uma camisa. Apanhei sua camisa jogada no chão e a estendi a ele. Ele não a pegou e quando ousei olhar seu rosto, ele estava rindo. Um risinho de lado, que o deixava ainda mais irresistível do que já era. — Você tem problemas com músculos, senhorita Lince? — perguntou dando um passo certo em minha direção e me senti tremer do dedão do pé até o frizz do cabelo. — Na-não. Eu não tenho problemas, exatamente. — Então, por que quer tanto que eu me cubra? Não gosta de olhar? Seu peito duro e suado roçou em meu braço e em um pulo me afastei dele. Deixando oxigênio subir de volta ao meu cérebro antes de cortar esse joguinho cruel que ele fazia comigo. — Eu gosto de tocar, e como não posso tocá-lo, peço por favor que não me tente. Ele sorriu mais ainda. — Gosta de tocar? Quem diria! De santinha só tem esse rosto lindo. Por que não vem aqui e experimenta? Quem sabe eu não a deixe tocar o que você quer? Tenho muitos outros músculos além destes que está vendo.
Escondi o rosto nas mãos. O que deu em mim? Eu pretendia cortar esse joguinho e ao invés disso me tornei ainda mais motivo de piada para ele. — Você podia ser cavalheiro ao menos uma vez, ao ver que estou envergonhada, vestir a bosta da camisa e voltar para o seu treino? Estou aqui para gravá-lo levantando peso, não para ser alvo de suas piadas! — Sinto muito, boneca. Mas se tem uma coisa que eu não sou, é cavalheiro. O olhar que ele fixou em mim teria me feito desmanchar ali mesmo, se eu não tivesse me apoiado na prancha de abdominal. Eu não podia mais recuar e ele percebeu isso, então, aproximou-se de novo, bem devagar, um passo pequeno por vez. Aquele olhar negro cravado em mim repleto de promessas que me faziam gemer só de imaginar. — Quando eu quero uma coisa, Carolina, eu vou lá e a pego. Eu não espero, não peço e não tento. Eu pego. — Entendi — mas eu não entendia nada. O que eu tinha a ver com aquilo? — E agora eu quero você. — Ah! — Minha respiração mais falhava do que trabalhava. — E vou pegar você. Pisquei os olhos sentindo-me tonta de repente. — Bem aqui, agora. Ele parou à minha frente, não me tocou, mas não precisava. Eu estava pegando fogo. — E não vai sobrar nada de você depois que eu comê-la todinha. Eu não teria palavras para responder, mas não foram precisas. Suas mãos grandes se enfiaram em meus cabelos e sua boca grande tomou a minha, cumprindo sua promessa, devorando-me inteira. Meu centro estava úmido e inchado, e eu achei que podia morrer ali mesmo. Quando ele me puxou de encontro ao seu peitoral duro, e o suor de seu corpo molhou minha camisa, pensei que não aguentaria mais um minuto de pé. Ele percebeu isso, pois no segundo seguinte suas mãos desceram possessivas por meus braços e se cravaram abaixo da minha bunda, levantando-me até que eu passasse as pernas em volta dele. Manteve-me no nível de sua ereção, e eu só podia imaginar como seria duro
e grande aquele músculo em particular. Ele me empurrou contra uma parede, tirando uma de suas mãos de baixo da minha bunda para beliscar um seio por cima da blusa colada. — Então nenhum homem fez você gozar até desfalecer, Carolina? Neguei rapidamente com a cabeça. Eu não conseguia pronunciar qualquer coisa diferente de gemidos desesperados. — Nesse caso, vou ter que fazer mais forte. Para marcar você, para você lembrar de mim. Ah, eu nunca vou esquecer de você, não mesmo! Não precisa ir com força. — Você quer ser marcada por mim, Carolina? — Por favor — implorei em um sussurro. Ele me carregou até o supino que ficava no centro de seu galpão e me depositou sobre a colchonete sem nem um pingo de gentileza. Seu corpo enorme pesou sobre o meu quando ele atacou minha boca, logo, a desceu por meu pescoço enquanto subia minha blusa e abria minha calça. Ajudei a tirar a blusa e ele desceu a calça com pressa por minhas pernas. Parou diante de minha calcinha vermelha e lambeu os lábios. Se ajoelhou ali, desviou os olhos da minha calcinha para o meu rosto, pousando os dedos nas laterais da calcinha, e disse: — Bem-vinda ao meu mundo, Big. Você nunca mais será a mesma depois dele. Então ele rasgou minha calcinha e esperei acordar do sonho antes que ele me penetrasse. Mas não era um sonho. Era real. Sua língua faminta tocou meu clitóris e me senti tremer. Precisei me agarrar ao suporte do aparelho para não me espatifar no chão. Ele chupava com força, não me dando tempo de respirar. Quando um dedo entrou dentro de mim, ele diminuiu a sucção no meu clitóris, girando o grande dedo, me levando à loucura. Eu não aguentava mais. Nunca havia experimentado nada parecido com aquilo. Era como se houvesse outra Carolina dentro de mim, uma Carolina feliz e sensível demais, que estava no seu limite e ao mesmo tempo implorando por mais. — Eu vou... — não consegui concluir a frase antes e explodir em um orgasmo
avassalador. Ele manteve a boca pressionada ali, prolongando a explosão e sugando tudo de mim. Passou os braços por baixo de minhas pernas e me levantou, sua cabeça pressionada em meu clitóris. Ele me guiou até o aparelho de abdominal invertido e me depositou no chão ao lado dele. — Sinto muito, Carolina. Me senti sem chão por um momento, ele ia me dizer que não podia fazer aquilo. — Não posso ir devagar. Está difícil demais me controlar, seu gosto está em tudo em mim. Quero que se ajoelhe nesse aparelho, como se fosse fazer o exercício. Você vai ficar de quatro para mim, e vou comer você por trás. Assenti e apoiei o joelho trêmulo no aparelho, e ele segurou meu rosto, forçando-me a olhar em seus olhos. — Provavelmente eu irei machucá-la, Carolina. Tinha planejado fazer com calma na primeira vez, mas não posso mais. Você quer isso assim mesmo? — Quero! Por favor Dustin, faça como quiser, mas eu preciso! Ele assentiu e depositou um beijo casto em meus lábios antes de se afastar. Lentamente, com medo de cair por conta da minha falta momentânea de equilíbrio, curvei-me sobre o aparelho e esperei ansiosa. Sua mão tocou minha nádega, abrindo passagem e seu dedo percorreu toda a extensão no meio da minha bunda. Fez uma pressão maior ali trás e quase caí do aparelho. — Segure-se, meu bem. Segure com força, ou irei derrubá-la. Assenti e gemi ao mesmo tempo, emitindo um som confuso. Sua mão alcançou meu clitóris por trás e sem cerimônia ele enfiou dois dedos em mim. — Perfeitamente molhada — sussurrou em aprovação. Ele apoiou o joelho atrás do meu, passou os braços pela minha cintura e a cabeça do seu pau brincou com meu clitóris. Eu queria vê-lo, queria senti-lo, queria tê-lo em mim. Não tinha sequer ouvido o barulho de quando ele colocou a camisinha, embora a sentisse em minha entrada agora.
— Dustin... — implorei. Ele não respondeu, mas investiu contra mim. Seu pau entrou alargando minha boceta, a ardência me fez gritar de dor, mas ele não me deu tempo de lamentar, saiu e entrou de novo. Seu dedo alcançou meu clitóris, e ele gemeu. Comecei a balançar minha bunda forçando o encontro com seu pau, sem me importar com a ardência, ela se tornou deliciosa depois de alguns minutos. Ele ia fundo dentro de mim, forte. Suas bolas batiam em minha bunda e seu pau tocava algo mágico dentro de mim e então ele saía. Segurei a barra com força, o aparelho mexia, mas não parávamos o ritmo. Quando sua mão deixou minha cintura para tocar meu clitóris, beliscando-o sem piedade, explodi. Gritei o nome dele enquanto desfalecia sobre o aparelho e ele gritou em seguida, gozando dentro de mim, deixando seu corpo cair sobre o meu. Eu estava no paraíso. Se eu era um caso de caridade então era a carente mais feliz e satisfeita da terra. Ainda com a visão embaçada, avistei o relógio na parede e quase caí do aparelho. Estava atrasada para o desfile.
Capítulo 9 ______________________
DUSTIN Senti Carolina enrijecer embaixo de mim e contra minha vontade, saí de dentro dela, bem devagar. Sorri com minha estupidez. De que adiantava sair devagar se o maior estrago já estava feito? Eu a havia comido como um louco. E na verdade era assim que me sentia, um louco esfomeado por ela. — Está tudo bem? Perguntei ao jogar o preservativo na lixeira e ver a expressão de tristeza em seu rosto. — Eu machuquei você? Fui grosso demais? Jurei a mim mesmo que a teria novamente, mais uma vez que fosse, para fazer amor com ela bem lentamente, como devia ter feito na primeira vez. — Não. Quer dizer, sim, machucou, mas foi uma dor bem-vinda. Eu gostei. Ela abriu um sorriso doce e tive vontade de beijá-la e ver esse sorriso desmanchar nos meus lábios. — Estou atrasada para o desfile, preciso ir — ela parecia tão desanimada, tão perdida, que não pensei realmente antes de tomar aquela decisão. — Vou levá-la. Vesti minha roupa sentindo-a grudar em meu corpo suado. Então a ajudei com a dela. Ela era tão linda, que por um momento esqueci-me de onde estava e o que tinha que fazer. Ela precisou me sacudir para me trazer de volta ao mundo real e ganhar sua carona. Enquanto dirigia os poucos quarteirões até seu apartamento, fiquei tentando entender o que havia acontecido. Você transou com ela, babaca. Foi mais do que isso. Merda.
Talvez por ela ter a boceta mais apertadinha em que já estive, ou a mais quente. Ou a pele mais macia. Ou os gemidos mais gostosos. Ou a boquinha mais deliciosa. Eu queria aquela boquinha linda em volta do meu pau e a teria exatamente assim. Eu tinha mais quatro dias com ela e precisava comê-la o máximo que pudesse nesse tempo. Eu queria comê-la de novo naquele momento, dentro do carro, e se não fosse o maldito desfile da irmã dela, teria feito isso. Ela mal olhou para mim ao descer do carro, apenas agradeceu a carona e se mandou. Dirigi como um louco de volta ao hotel e sorri aliviado ao confirmar que eu havia levado um terno na mala. De jeito nenhum, minha bonequinha iria passar por um momento ruim sozinha. E se tudo desse certo, ela terminaria a noite no meu quarto, debaixo de mim de novo. E algo me dizia que mais uma vez eu não conseguiria ser gentil com ela, mais uma vez a comeria como um louco, mas eu tinha que tê-la de novo!
Lilian abriu um sorriso de orelha a orelha, que expressava emoção e alívio ao abrir a porta e ver como eu estava vestido. — Você vai levá-la, não é? — perguntou baixinho. — Com certeza. — Obrigada — sussurrou e me deixou passar, gritando por Carolina. — Big, sua carona chegou. — Que carona? Ela entrou na sala apressada e meu mundo parou pela segunda vez no mesmo dia por causa dela. Ela usava o vestido preto que eu havia escolhido. Seus seios fartos estavam pressionados com perfeição ao decote dele, aparecendo através da renda, nada exagerado, mas o suficiente para me deixar duro. Ele se apegava a cada curva de seu corpo, e a fenda na lateral deixava à mostra sua coxa grossa. Algo pulsou dentro de mim quando vi seus lindos olhos verdes contornados de preto, destacando ainda mais a cor clara. Seus longos cílios estavam ainda maiores e mais cheios, pintados de preto. Seu cabelo corria solto em suas costas, ela dificilmente o usava solto. As ondas negras batiam em sua pele branca e tive vontade de enfiar minha mão neles imediatamente. — Está tão ruim assim? Perguntou desanimada quando eu não fui capaz de dizer absolutamente nada.
— Não! De jeito nenhum, você está linda! — Não é o que parece pela cara que você fez. Acha que devo por outra coisa? Ela se virou em direção ao quarto, mas a puxei. Naquele momento compreendi a expressão literalmente babando por uma mulher. — Carolina, você está maravilhosa. Desculpe meu silêncio ridículo, eu só não encontrei palavras para expressar o quanto você está linda. Toquei levemente a renda acima de seu decote e ela corou, tingindo seu rosto lindo de rosa. — Merda! Pegue um casaco ou então.... Cubra-se um pouco. Não me faça tomar você e comê-la de novo agora mesmo — soltei sem pensar. — De novo? — Lilian gritou apontando o dedo para Carolina. — Quer dizer que vocês... — Seus olhos se arregalaram e ela deu um grito horrendo, rindo em seguida. — Por isso você está toda brilhando, sua vaca! Carolina corou ainda mais e sua mão pequena estava suada dentro da minha. — Lilian! Dá para me constranger mais? Você vai me dar carona? — perguntou olhando para mim. — Sim. — Um minuto, eu já volto. Ela voltou calçada em um salto preto que me deu um milhão de ideias indecentes e um casaco na mão. Despediu-se de Lilian e pareceu pedir forças antes de sair comigo.
— Onde é que você vai elegante desse jeito? — perguntou quando liguei o carro. — Gosta do que vê? — Você é impressionante e sabe disso, onde vai? — A um desfile. Ela olhou para mim esperando que eu confirmasse o que havia dito. — Conhecer a mãe da minha namorada. — Pisquei para ela que abriu um
sorriso enorme. — Ah, meu Deus! Dustin! Ela pulou sobre mim cobrindo-me de beijos no rosto. — Você não precisa realmente fazer isso, mas eu nem sei o que dizer... A ideia de aparecer com você lá... — Não se preocupe, não será nenhum sacrifício. Parei o carro no sinal e levantei seu queixo, obrigando-a a olhar para mim. — Não será mesmo, Carolina. Não estou brincando. Vai ser um prazer enorme passar essa noite com você. Ela entendeu o duplo sentido da minha frase, pois corou e se ajeitou no banco. — Como você fez para não aparecer a marca da calcinha nesse tubinho? Ela demorou um pouco a responder, mas quando sorriu, imaginei logo o que tinha feito. — Não escondi. Não dá para usar calcinha com esse vestido. Freei o carro e o levei até o acostamento. Ela imediatamente começou a rir e a gritar: — Não! Não vai borrar minha maquiagem! Ligue o carro, Dustin! Ligue o carro! — Eu vou ficar duro a noite toda e pode ter certeza que você terá que compensar isso depois, boneca. — Com todo prazer, babaca.
Eu conhecia algumas pessoas que estavam desfilando naquela noite. Quando apareci de mãos dadas com a Carolina, todos os olhares se voltaram para nós e senti que ela ficou incomodada com tanta atenção. — Acho que não pensamos direito, Dustin. Há muitos fotógrafos aqui, todos vão achar que sou sua namorada. — O que é que tem? — Não sei. Não deve ser bom para você.
— Não me faça te dar um sermão aqui, boneca. Eu juro que sou capaz de deitála sobre meu joelho, suspender seu vestido e te dar umas palmadas. Ela sorriu corando violentamente. — Mas, se você for visto com outra amanhã e eu sair como a chifruda, juro que processo você. Ri alto, chamando novamente a atenção de várias pessoas presentes, incluindo fotógrafos, que não paravam de pipocar seus flashes sobre nós. — Me mantenha entretido o resto da semana e não precisarei de mais nada, boneca. Dei um tapa leve na sua bunda e pipocaram ainda mais flashes. — Dustin! — repreendeu-me tentando segurar o riso. — Carolina? A descrença na voz da linda mulher atrás de mim me confirmou que se tratava da mãe de Carolina. Elas eram parecidas. Os mesmos olhos verdes e cor de pele, mas as semelhanças paravam aí. A mãe dela era alta, magra e loira. — Oi, mãe. Onde está a Carine? — La atrás sendo maquiada. Olhe para você. Ela olhou com reprovação o corpo de Carolina e me segurei para não abrir a boca. Carolina estava maravilhosa! — Você está absolutamente linda, minha filha! Uma voz masculina surgiu atrás da mãe dela e Carolina sorriu largamente ao abraçar o pai. — Não vai apresentar seu amigo? — O pai dela perguntou me inspecionando. — Ah, por favor Roger, ele não precisa de apresentações. Todo mundo sabe quem você é, querido. Ela apertou minha mão. — Prazer, Dustin, sou Carmem, a mãe da Carolina. Onde vocês se conheceram? Carolina me apresentou ao seu pai, dizendo apenas meu nome, então fiz questão de corrigir isso.
— Nos conhecemos nas eliminatórias de um concurso. Não consegui tirar sua filha da cabeça desde então. Carmem ficou tão surpresa que não disse nada, mantendo a boca aberta em choque. Apertei levemente a mão da Carolina, confirmando que eu estava ali, até que a mãe dela disse: — Ela deu sorte. — Na verdade, eu dei. Foi muito difícil convencê-la a ficar comigo, mas prometo que não irei deixá-la ir nunca mais. Estou completamente apaixonado pela sua filha e me sinto honrado em ser o namorado da mulher mais linda que já vi na vida. A mãe dela pareceu sentir falta de ar, e Carolina apertou minha mão. Quando olhei em seus olhos, havia algo ali, um brilho diferente. Ela balbuciou uma “muito obrigada”, mas não era preciso. Eu faria qualquer coisa para ver aquele brilho em seu olhar de novo. Carine, a modelo da família era realmente muito bonita, mas não tanto quanto a Carolina. Ela não tinha os olhos verdes da minha boneca e era loira como a mãe. — Ela não é linda? — Carolina perguntou emocionada quando a irmã subiu na passarela. — Sim, mas não é uma boneca. Ela sorriu para mim e encostou seus lábios aos meus. Foi por dois segundos, mas imediatamente eu quis dizer algo para que ela me beijasse de novo. — O que mais tenho que dizer para ganhar outro beijo desses? Ela se aconchegou em meu peito e disse baixinho: — Nem precisa dizer nada, só de estar aqui e sendo tão bom para mim já quero beijar você todinho. Nesse momento, você é a pessoa que mais amo no mundo, Dustin. Ela estava brincando, mas algo em meu peito deu um salto e quis ouvi-la dizer aquilo novamente. Quis ser a pessoa que ela mais amava não só naquele momento. — Ah, merda! Estou muito, muito ferrado.
Capítulo 10 ______________________
CAROLINA Eu estava sonhando. E não era um incêndio. Era um céu estrelado, onde eu era linda e era guiada pela multidão pelas mãos do homem mais lindo que existia. E ele me queria de verdade. E minha mãe pela primeira vez na vida, não me insultou uma vez sequer ao me ver. A música começou a tocar e Dustin me guiou até a pista de dança. — Eu não faço isso muito bem, Dustin — avisei antes que o fizesse passar vergonha na pista de dança. — Eu irei guiá-la. — Estou me sentindo uma adolescente em seu baile de formatura. Como se tivéssemos transado escondido no seu quarto e então viemos para a parte romântica da coisa toda. Ele sorriu, mas um sorriso carregado por algo mais pesado. — Não dizendo que isso aqui é romântico. Quer dizer, não querendo dizer que há algum romance entre a gente... eu não quis insinuar... Ele riu de verdade e respirei fundo, falando de uma vez o que estava na minha cabeça. — Não sou tão boba de achar que o que houve entre nós vai acontecer de novo ou que você está aqui porque sente algo a mais por mim. Eu não quis dizer isso. Ele pareceu surpreso, e irritado. Puxou-me de encontro ao seu corpo quando Wind of change começou a tocar. — Pode ter certeza que o que aconteceu entre a gente hoje, foi só o começo, Carolina. E vai acontecer de novo. Em duas horas no máximo, para ser mais exato. Senti um formigamento subir do meu ventre até os bicos dos seios e me aconcheguei mais a ele. — Você me entendeu — acusei.
— Falamos sobre isso depois. Agora dance comigo. Seu braço contornou minha cintura e ele afundou seu rosto em meu pescoço, puxou uma respiração profunda ali e me senti estremecer. Ele me apertou tão junto ao seu corpo, que ao fechar os olhos, era como se meus pés nem estivessem tocando o chão. Depositou beijos suaves na minha orelha, guiando-me com tamanha delicadeza, que antes eu teria dito que alguém com o porte dele jamais teria. Seus dedos passearam por meu cabelo e se enfiaram ali. E quando ele se afastou para olhar em meus olhos, o brilho neles me entregou o que ele estava pensando. — Hoje você é o príncipe, não pode me olhar desse jeito. Ele sorriu e me girou na pista. — Todos os dias perto de você sou apenas o homem que quer comê-la de todas as maneiras possíveis. — Isso não foi principesco — repreendi. — Não mesmo. Mas não sou um príncipe, Carol. Sou mais carnal do que fofo e você sabe bem disso. Assenti. Eu não me importava. Depois do que ele estava fazendo por mim, eu não me importaria com nada de ruim que viesse dele por um bom tempo. — Você ainda me deve umas respostas. — As darei amanhã de manhã depois de acordá-la com a minha língua. — Uau! Você tem uma resposta erótica para tudo! — Não, só tenho desejos demais por você. E você está falando demais, e se esfregando em mim de menos. Venha aqui. Ele me puxou novamente para junto de seu corpo e sua boca dominou a minha, em um beijo intenso e faminto. Suas mãos se apossaram do meu corpo, não me deixando afastar, eu não faria isso de qualquer forma. Estava me sentindo nas nuvens ali, nos braços dele, nos lábios dele, sendo por uma noite, o centro de sua atenção. E decidi que nunca mais aceitaria menos do que isso de homem nenhum.
Eu sentia algo enorme querendo sair do meu peito, reconheci aquele sentimento como gratidão. Eu seria eternamente grata ao Dustin pelo que ele fez por mim, não só no desfile, mas no galpão, quando me fez sentir realmente desejada e capaz de dar prazer a um homem. — Que sorrisinho é esse? — ele perguntou ao ligar o carro. — Eu não sei como agradecer a você. Sério, você pode ser idiota o resto da semana comigo, você tem crédito. — Não me dê ideias, bonequinha. Você sabe que eu sei ser babaca. — Não me importo. Não sei outra maneira de dizer obrigada, então eu aturo você. Ele sorriu. — Eu sei uma maneira de você me dizer obrigada. Esperei que ele dissesse alguma gracinha, ou viesse com uma de suas cantadas sexuais, mas o que ele disse me deixou sem palavras. — Durma comigo essa noite. Só preciso disso como agradecimento por ter sido o seu namorado. Ele tomou meu silêncio como uma resposta afirmativa e nos levou até seu hotel. Subimos em um clima no mínimo estranho, confesso que a culpa desse afastamento súbito, foi minha. Eu estava meio perdida com as atitudes dele. Sempre achei que suas cantadas e obscenidades fossem algo dele, e que ele tratasse todas as mulheres do mesmo jeito. Nunca acreditei que ele queria a mim. E então ele me possuiu naquele galpão, e por um momento, saciada e exausta sob seu corpo suado, me deixei acreditar em algo mais. Porque ele me deu algo mais. Algo em que eu poderei pensar sempre, algo que talvez quase ninguém tenha experimentado. Não com tamanha intensidade pelo menos. Assim que entrei debaixo do chuveiro preparando-me para enfrentar minha mãe, aceitei que fora algo de uma vez só, uma experiência maravilhosa e na tarde seguinte quando o visse, ele provavelmente estaria com outra mulher. E aceitei que era assim que deveria ser. Por isso, fiquei em choque quando ele me disse que me acompanharia. E todo o cuidado que teve comigo a noite toda fugiu totalmente do Dustin real, ele se tornou um papel, o papel do homem com quem
eu deveria ter me deitado a primeira vez, e ele o cumpriu com maestria por toda noite. Então, quando achei que esse encanto todo acabaria no momento em que ele me deixasse em casa, ele me pediu para dormir com ele. Não estou fantasiando que haja algo mais nesse pedido, apenas estou confusa por ele ainda querer transar comigo. Ele me disse algumas vezes que não gostava de repetir a companhia, nós havíamos transado naquele mesmo dia e depois de passarmos tantas horas juntos, ele querer mais tantas horas comigo era algo fora do comum para mim. Nunca acreditei em contos de fadas, e por este motivo, concentrei-me no elevador, deixando claro para o meu coração que era apenas mais uma aventura. Isso se tratava de sexo. Por algum motivo estranho ele o queria comigo, e eu não ia contestar um presente daqueles, então aceitei mais uma vez que transaríamos de novo e depois ele me levaria em casa e na tarde seguinte estaria com outra mulher no galpão. Me apeguei a isso com unhas e dentes, pois se eu cedesse por um segundo que fosse, o veria com outros olhos. Olhos que ele fez questão de deixar claro que não queria ser visto nunca. Ele não se aproximou de mim quando me afastei, mexeu em alguma coisa em seu celular e eu fiquei fingindo roer as unhas e concentrada no meu reflexo no espelho. A maquiagem havia saído quase toda, apenas meus olhos continuavam contornados de negro. Nada de blush ou batom. Meu rosto era o mesmo pálido e sem graça de sempre. Embora apertada em um vestido lindo, ele sabia bem o que encontraria quando o tirasse, e mais uma vez me perguntei por que ele havia me pedido uma noite. Todo mundo diz que sua beleza deve partir de você. É você quem tem que se amar e se achar linda e isso se refletiria, mas eu não me achava linda. Eu podia melhorar e sabia disso e algo não me deixava tentar ser como eu gostaria de ser. Sendo assim, era de alguma forma, errado que ele enxergasse em mim coisas que eu não era. Que me aceitasse daquele jeito quando eu não me aceitava. Vivia prometendo fazer dietas. Vivia me culpando pelas besteiras que comia. Por que ele não me via como eu era? Ele não disse nada quando saiu do elevador e o segui até o quarto. Pensei se o efeito do álcool ingerido na festa já estava passando e ele estava começando a se arrepender do convite. Ele entrou sem olhar para trás e parei na porta, tentando manter um sorriso comum no rosto.
— Dustin, se você quiser que eu vá agora, não me importo. É tão perto que posso até ir sozinha e nos vemos amanhã. Ele me olhou finalmente, a testa franzida, confuso. — Não entendo. Eu a trouxe aqui. Por que faria isso se não a quisesse aqui? — Você bebeu um pouco demais — ressaltei. — E você de menos pelo que estou vendo. Entre, boneca. Relaxe. Fechei a porta atrás de mim e dei passos vacilantes em sua direção. Ele riu. — O que é isso, Carolina? Você não estava nada tímida quando estava de quatro me implorando para ser comida mais cedo. Por que isso agora? Dei de ombros tentando não parecer tão ridícula, ou desesperada. — Foda-se! Eu sou ridícula mesmo! — O quê? — O que você quer comigo, Dustin? Ele demorou um pouco a responder. Imaginei que tentando encontrar um meio de me dispensar, mas ele perguntou: — Do que exatamente você está falando? O que eu quero agora ou para sempre? — Não! O que você quer agora? Por que me trouxe aqui? — Deixei isso bem claro a noite toda. Quero foder você. Comer sua bocetinha bem forte, para você não me esquecer quando eu for embora na segunda de manhã. — Por que você quer isso? Ele riu. Um sorriso debochado e impaciente. Caminhou até o frigobar e retirou de lá uma garrafa de alguma bebida, estendendo-a a mim, mas recusei. — Porque você me excita. Porque é linda, atrevida, apertadinha e muito gostosa. Porque gosto de transar toda noite e hoje quero que seja com você. Posso querer isso amanhã também, aliás, sei que vou querer e não quero que encare minhas investidas como a merda de um favor. Deixa eu te falar uma coisa, Carolina — Ele caminhou até mim, olhando bem em meus olhos e me prendendo
a cada palavra que dizia. — Há muitas mulheres no mundo, eu já comi um bocado delas e provavelmente comerei mais um tanto. É apenas sexo, são só mulheres, desde que eu sinta tesão, estou pouco me lixando para o resto. Assenti e ia me afastando, mas ele me puxou de volta. — Eu não acabei — sibilou irritado. — Há apenas uma de você. Atrevida, sexy, quente, apertadinha e linda assim, só há você. Só temos quatro dias, Carolina. Não vou perder meu tempo tentando te convencer do quanto a desejo. Prefiro mostrar isso gozando em você muitas vezes até lá. Entendeu? Eu não disse nada, ele jogou a garrafa no chão e nem mesmo o barulho do vidro se estilhaçando conseguiu me fazer desviar o olhar do dele. — Vou ser mais claro. Ele se abaixou a minha frente, puxando-me com as mãos atrás dos meus joelhos. Respirou fundo embaixo do meu vestido e gemi em antecipação. — Amo esse cheiro. Não preciso tocar você para saber o quanto está molhadinha para mim, minha boneca. Posso sentir seu cheiro. Ele roçou a barba na parte interna da minha coxa e cambaleei, então ele me amparou, sorrindo, mordiscando minha coxa. Foi subindo lentamente meu vestido, e sua língua acompanhava cada centímetro de pele exposta, percorrendo minha coxa e me deixando molhada em todos os lugares possíveis. — Tire isso para mim, boneca. Estou ansioso em vê-la sem ele desde o momento em que o vi nele. Puxei o zíper do vestido levando-o até embaixo, na lateral do meu corpo. — Isso foi um elogio? — perguntei fazendo-o rir alto. — Sim. Foi apenas minha maneira de te dizer que quis comer você no instante em que saí de dentro de você. — Soa melhor com você falando assim. O vestido deslizou pelo meu corpo e ele avaliou cada centímetro meu, com verdadeira adoração no olhar. Eu não queria me preocupar com o que ele via, queria me concentrar na maneira como seus olhos me tocavam e me faziam sentir gostosa naquele momento. Ele se sentou no chão e estendeu a mão para mim. Comecei a me abaixar, mas ele me impediu. Me fez aproximar dele ainda de pé,
entre suas pernas. Ele tirou minha calcinha vagarosamente e o ajudei a passa-la pelos meus pés. — Perfeita. Venha aqui, passei a noite esperando minha sobremesa. Sem me dar tempo de raciocinar onde ele me queria, ele plantou as mãos em minha bunda, puxando-me de encontro ao seu rosto. Sua boca tomou sem dó os lábios da minha boceta, me fazendo arquejar e tremer. — Abre mais para mim. Obedeci. Sua língua atacava meu clitóris com força, batia nele e então, como que para compensar, ele lambia docemente e chupava forte, cravando seus dentes ali. Eu gritava tanto, que não conseguia ouvir mais nada além do som rouco da minha voz. Apoiei meus braços em seu cabelo, correndo meus dedos por seu rosto e me apoiando em seus ombros, curvada sobre ele. Sua língua me penetrou e minhas pernas cederam. Ele me segurou e continuou chupando, eu estava praticamente sentada em seu rosto e ele não parava. Quando a mão que me amparava pela bunda, me acertou um tapa, quase gozei, mas ele diminuiu o ritmo de sua língua e acariciou o local onde havia batido, passeou com o dedo por toda extensão dela, alcançando o meio, pressionando devagar ali atrás. Foi apenas um toque leve, e explodi em um orgasmo avassalador, caindo sobre ele. Ele me deitou no chão, e deitou-se sobre mim. — Você gostou disso? — perguntou carinhosamente. Consegui apenas assentir. Minha visão começando a voltar ao normal. Duas batidas na parede me fizeram cair na gargalhada. — Acho que estamos incomodando os vizinhos. — Acho que estamos causando inveja neles — respondeu rindo. Ele se levantou e me colocou de pé. Fiquei me perguntando o que faria a seguir, ansiosa por qualquer coisa que ele quisesse. Ele me beijou, sua língua dominando a minha, nada parecido com os beijos do desfile, que eram quase doces de tão lentos. Me apertou contra seu corpo e soltou-me apenas para tirar sua roupa. Sua ereção apontou em minha direção e tudo o que eu queria era
chupá-lo. Mas eu nunca havia feito isso. Bom, para quase tudo há uma primeira vez. Ajoelhei-me diante dele e olhando em seus olhos em busca de permissão, toquei seu pau colocando-o em minhas mãos. Ele gemeu e com um pequeno aceno, concedeu a permissão que eu queria. — Eu não sei fazer. Me avise se eu machucá-lo — pedi. — É melhor que não me machuque, boneca. Não aí. Eu fui carinhoso com você. Lembrei-me da força com que sua língua batia e mordia meu clitóris e algo pulsou no meio das minhas pernas de novo. — Eu não chamaria aquilo de carinho. — Então, caso vá ser selvagem com a boca no meu pau, apenas lembre-se que sou vingativo. — Ok, nada de selvagem então. Passeei minha mão por toda a extensão de seu pau, sentindo minha boca salivar em expectativa. Com medo de ir com sede demais e machucá-lo, toquei levemente minha língua em sua cabeça, sentindo seu gosto e espalhando-o em torno de toda cabeça. Ele gemeu e agarrou meus cabelos, então prossegui. Fechei meus lábios em volta de sua cabeça e brinquei com a língua ali, tomei coragem e o empurrei para dentro, pressionando meus lábios em seu pau, sentindo-o pulsar em minha língua. Chupei com mais força, acho que com força demais. Ele me puxou pelos cabelos, afastando minha cabeça um pouco. — Porra, Carolina! Se você continuar assim vou gozar na terceira chupada. Faça devagar, meu bem, quero permanecer duro por muitas horas para vê-la gozando mais vezes essa noite. Assenti ansiosa com meus prometidos orgasmos e voltei a chupá-lo, levando seu pau o máximo que aguentava, sentindo-o tocando minha garganta. Ele gemia cada vez mais alto, segurou meus cabelos e começou a penetrar minha boca com o pau, em seu próprio rimo. Eu alternava o aperto dos meus lábios entre forte e mais suave, e cada vez que pressionava mais, ele gritava mais alto. — Venha aqui, minha boneca. Deixe-me comer você. Dei uma última chupada em seu pau e ele me ergueu, tomando meus lábios
nos dele com ferocidade. — Você não cansa de me surpreender, Carolina. Está me quebrando um pouco mais a cada minuto. Não entendi o que ele queria dizer, mas ele me virou de costas para ele e me guiou até um espelho enorme, que ia do chão ao teto. Imediatamente, tentei me afastar. Eu não queria me ver nua. Ainda mais, perto dele. Mas ele não permitiu, posicionou-se atrás de mim, seus braços à minha volta, me protegendo. — Olhe, Carolina. Abra os olhos, quero que veja o que eu vejo. Abri os olhos, sentindo-me uma medrosa. Eu não queria me humilhar daquele jeito, tendo que observar minhas imperfeições perante ele, enquanto estávamos nus. Seus braços me deixaram e ele passeou suas mãos por meu corpo, tocou meus seios, desceu vagarosamente por minha barriga. Pousou seu queixo por cima do meu ombro, seu rosto ao lado do meu, seus olhos brilhando de desejo. — Vê como ficamos bem juntos? Estranhamente, nós ficávamos. Éramos o extremo oposto, mas quando seu rosto estava perto do meu, de alguma forma, eu também me tornava bela. E seu braço em minha cintura possessivo, a mão grande que acariciava meu corpo, tudo se encaixava tão perfeitamente! Ali, olhando-nos nus no reflexo do enorme espelho, éramos iguais. Extremamente excitados, corados e suados. E iguais. — Quando eu olho para você, eu vejo uma mulher deliciosa. Eu vejo sua pele tão branca, perfeita. Seus seios que eu amo. — Ele os levantou com as mãos, brincando com os mamilos. — Vejo essas coxas que me deixam louco, essa boca maravilhosa, seu sorriso é tão lindo, Carol! O mais lindo que eu já vi. Eu vejo como é inteligente, forte, como enfrenta tudo e todos sem medo do que vão pensar. Vejo como é generosa e esperta. Como é tão doce e frágil em alguns momentos, que dá vontade de te carregar no colo. E no momento seguinte, você é tão irritante que quero matá-la. Sorri, pousando minha mão sobre a sua. Mas ele inverteu as posições e tomou minha mão na dele, fazendo-me passeá-la por meu corpo. — Vê como sua pele é macia? Vê como seus seios são tão pesados e deliciosos de apertar?
Ele pressionou minha mão por cima do meu mamilo intumescido, era uma sensação deliciosa. — Sabe o que eu vejo em você que mais me fascina quando está nua? Neguei com a cabeça e ele guiou minha mão, passando por minha barriga e pairando sobre minha boceta. — Isso. Ele pressionou minha mão ali, em movimentos circulares, fazendo-me estimular meu clitóris. — Vejo sua boceta deliciosa. Apertadinha, molhada, quentinha. Eu amo isso. E a maneira como você se entrega, como sente prazer sem medo, ou encenação. Como exige o que você quer de mim quando eu entro em você, como me enlouquece. Eu sempre preciso me controlar ao máximo com você, para não gozar em cinco minutos e acabar com a brincadeira, e eu nunca me senti assim. Ele tirou minha mão e seus dedos fortes pressionaram meu clitóris. — Abra os olhos, olhe para você. Veja como é linda quando sente prazer. Você precisa se ver, Carolina. Eu espero muito que um dia a veja como a mulher maravilhosa que é, mas até lá, eu estou pouco me lixando para o que pensa de si mesma. Eu a acho linda, viciante, deliciosa e perfeita exatamente como você é. Ele beliscou meu clitóris e gritei. Então ele arrastou uma cadeira para perto de nós. — Coloque essa perna sobre a cadeira, meu bem. Obedeci, um misto de sensações dentro de mim que eu nem queria começar a entender. Minha perna por cima da cadeira alta deixou minha boceta completamente aberta. Ele voltou a se posicionar atrás de mim, e vi seu pau coberto pela camisinha beirando minha entrada. — Agora, mantenha os olhos abertos, e veja como somos perfeitos juntos, quando eu penetro você. Ele me puxou mais de encontro ao seu corpo, e deixei meu corpo descansar sobre seu peitoral, com o pé, afastou um pouco a minha perna que estava no chão e empurrou vagarosamente o pau para dentro de mim. Centímetro por centímetro. E eu vi tudo através do reflexo no espelho. Gemi alto, o encaixe era tão perfeito que eu nem saberia começar a explicar. Ele saiu e entrou de novo, um
pouco mais forte. — Abra os olhos. Lutei para manter meus olhos focados na nossa imagem refletida. No movimento delicioso de invasão de seu pau em mim, na forma como eu o recebia prontamente, pedindo por mais a cada investida. — Merda, vem comigo. Ele saiu de dentro de mim e se jogou sobre a cama. — Monte em mim, Carolina. Quero que você me cavalgue enquanto eu como seus seios. Subi sobre ele meio temerosa, segurei seu pau duro e latejante e abaixei aos poucos, sentindo-o me invadir por completo, indo ainda mais fundo do que antes. No começo, eu subia e descia bem devagar, aproveitando a sensação de tê-lo tão fundo, mas ele começou a ditar o ritmo, pedindo que eu fosse mais rápido, e quando comecei realmente a cavalgar sobre ele, apoiando meus braços em seu peito, ele sugou meus mamilos com os dentes, mordiscando e chupando, suas mãos em minha bunda, levantando-me, acelerando minhas galopadas. Ele ia tão fundo em mim que chegava a me queimar, e isso me deixou ainda mais molhada sobre ele. — Dustin... — gritei sem conseguir falar, mas precisando dizer alguma coisa. — Dustin, mais forte, eu vou... — Goza, amor. Goza pra mim, eu vou com você. Joguei a cabeça para trás, apoiando meus braços em suas pernas e o orgasmo me tomou com força, fazendo-me gritar ainda mais alto, e eu não conseguia parar de cavalgar, nem quando Dustin gozou, gritando meu nome com adoração, forçando meu quadril para baixo, enterrando-se fundo em mim. De repente todas as minhas forças me deixaram e só consegui sentar-me ereta sobre ele, antes de cair, ele me puxou para os seus braços, seu pau ainda enterrado em mim. Eu sentia uma ardência no meio das pernas, mas de alguma forma, era deliciosa a sensação da dor. Ele me abraçou forte, e só depois de um tempo saiu de dentro de mim para jogar a camisinha fora. — Fique quietinha aí, eu já volto. Ele jogou o cobertor sobre mim e lutei para manter os olhos abertos. Eu estava
exausta, mas não queria dormir ainda, queria tê-lo a noite toda, o máximo que conseguisse, porque com ele eu me sentia perfeita.
Capítulo 11 ______________________
DUSTIN Carolina estava sonolenta, mas por algum motivo, não queria deixar o sono vencê-la. Perguntou-me receosa se eu estava com sono, mas o que eu menos sentia naquele momento era vontade de dormir. Eu queria vê-la, fazê-la- sorrir de novo, entrar nela mais uma vez. Ela começou a me fazer perguntas, e olhando sua imagem ali, saciada, sonolenta e sorridente, tive uma vontade ridícula de puxá-la para meus braços e enterrar meu nariz em seu pescoço. Me afastei um pouco mais na cama tirando isso da cabeça. Eu já não tinha o costume de repetir a transa, isso sempre dava problemas. Também não era habitual para mim manter a mulher na cama se não estávamos em movimento. Mas dormir agarradinho já era demais! Carolina estava me fazendo quebrar muitas regras, mas eu estava me deliciando com cada regra quebrada. Dormir com ela em meus braços não me daria prazer nenhum, então eu não tinha que fazê-lo. Ela queria respostas. Precisava concluir o trabalho. E eu já havia prometido respostas a ela, não voltaria atrás com minha promessa. Esperei que começasse as perguntas, ela lutava para manter os olhos abertos, focados em mim, e eu responderia o quanto aguentasse, sem mentir para ela, mas sem revelar demais, havia coisas sobre mim que somente eu deveria saber. — Como foi sua primeira vez? Sorri alto com a primeira pergunta. De tantas coisas que imaginei que ela fosse querer saber, essa com certeza não era uma delas. — Isso não vai ajudá-la no seu trabalho. — Vai sim. Quero desvendar você. Nem tente! Segurei as palavras na minha boca, estava curioso para ver até onde ela iria com essa tentativa de me conhecer. — Num consultório, depois do horário de funcionamento, com a minha psicóloga da época. Seus olhos se arregalaram imediatamente e ela quase se sentou na cama.
— Sua psicóloga? Quantos anos você tinha? Quantos anos ela tinha? Não acredito! Estava me divertindo com a reação dela. — Eu tinha dezesseis e ela eu não faço ideia. — Dezesseis? — ela praticamente berrou — Mas isso é pedofilia! — Não quando fui eu quem enfiou a mão debaixo da saia dela primeiro. Não se assuste assim, meu bem, homens começam a vida sexual muito mais cedo do que as mulheres. — Eu imaginava isso, mas eles não o fazem com uma médica formada e velha. — Ela não era velha. — Era bem experiente. — Isso não é uma coisa ruim. Ela revirou os olhos e se ajeitou no travesseiro, focando novamente seu olhar em mim. — Acho que esse seu documentário será bem divertido. Próxima pergunta — provoquei. — Você já teve um relacionamento longo? — Não. Ela esperou que eu dissesse mais, mas eu não faria isso. Então ela passou para a próxima pergunta. — Por que você decidiu se mostrar ao mundo nesses desfiles? Além do dinheiro. — Eu não decidi. Um dia fui a um desses concursos por curiosidade, para pegar algumas dicas e comprar produtos. Havia um garoto sentado ao meu lado, ele não se movia da cintura para baixo depois de um trágico acidente. Ele disse que odiava não ter forças para empurrar a própria cadeira. Que se tivesse malhado antes do acidente, talvez fosse menos infeliz então. Conversamos por horas, eu peguei o contato dele, e acabei convencendo-o a entrar em uma academia, seguir uma dieta e comprar alguns aparelhos que ele poderia ter em casa. Ele virou outra pessoa. Não só pelo corpo em si, mas pela maneira como se sentia forte. Depois
dele, achei que talvez eu pudesse fazer a diferença para alguém mais, em algum lugar. Seus olhos se tornaram tão doces e profundos, que precisei segurar forte o travesseiro para não tocá-la. A admiração que eu vi ali me agradou. Era gostosa a sensação de ter alguém que aprovava quem eu era, ou algo que fiz. Timidamente, ela estendeu a mão até a minha e a segurou de leve, com a ponta dos dedos, esperando que eu a afastasse. — Isso foi lindo, Dustin! Com certeza colocarei isso no meu trabalho. Você faz mais diferença na vida das pessoas do que pode imaginar. — Fiz alguma diferença na sua? — Dessa vez, eu apertei levemente seus dedos macios. — Toda. — Ela afastou a mão da minha e remexeu na cama, enfiando a mão debaixo do travesseiro, passou para a próxima pergunta. — Você ganha muito dinheiro com isso? — Muito. Bem mais do que eu preciso, na verdade. Mas mesmo assim tenho que me policiar, guardá-lo bem, investi-lo bem, para não ficar sem nada. — Que sensato — ela zombou. — Quem sabe até quando esse corpo aqui vai me sustentar, não é mesmo? — Com seus talentos, você poderia viver dele por muitos anos, mesmo que deixasse as passarelas. — Você quer me comprar, senhorita Lince? Estou tentado a dizer que para você eu saio quase de graça. Ela riu. — Geralmente esse quase significa a alma da pessoa. — Não nesse caso. Para você o preço é ótimo. Sempre. Ela começou a fechar os olhos, mas eu não queria que ela dormisse ainda. Ouvir sua voz e sua risada na madrugada estava me fazendo bem, me mantendo em paz, me fazendo rir de volta. Queria aquilo um pouco mais, já que provavelmente não teria de novo tão cedo. — Me conte uma coisa sobre você que ninguém mais saiba — desafiei.
Ela abriu os olhos e corou. Deitou-se de costas na cama, desviando seu rosto da direção do meu, e me controlei para não começar a rir imediatamente. Isso ia ser divertido. — Ok, não vá zombar de mim. — Jamais, boneca. — Eu tenho um mini vibrador. O nome dele é Andrezão. Sentei-me na cama encarando seu rosto cor de rosa. — Não me olhe assim! Eu nunca disse isso a ninguém, nem a Lil sabe disso. Ela cobriu o rosto com o travesseiro e caí na gargalhada. — Colocar o nome do seu ex idiota no seu vibrador é meio doentio. — Bom, foi o que me ocorreu quando o comprei e constatei que o meu mini vibrador era maior do que o pau dele. Ri alto dessa vez. Gargalhei como não fazia há muito tempo. Carolina era tão diferente! Tão linda e atrevida, surpreendente e divertida. Ela trazia de volta um garoto que eu não era há muito tempo, e me peguei querendo mais dela em mim. Ela ficou tão quietinha após sua própria crise de riso, que achei que tivesse adormecido. Mas então, ela perguntou: — Agora me conte uma coisa sobre você que ninguém mais saiba. Não pensei antes de responder. Não queria me esconder dela. — Meu verdadeiro nome não é Jake. Ela girou a cabeça em minha direção tão rápido, que me perguntei se não teria machucado seu pescoço. — E qual é o seu nome? — Phillip. Ela pensou por um momento, e sorriu. Enterrando a cabeça no travesseiro sem conseguir abrir os olhos. — Um lindo nome. Combina com você. Então ela adormeceu, e eu vi o dia nascer, olhando para ela antes de meus
olhos fecharem de vez.
Acordei com o sol forte na minha cara. Isso nunca acontecia, eu sempre acordava com o sol. Já devia ser de tarde pela intensidade da luz. Recordei-me que havia ido dormir com o sol nascendo, então com certeza já era de tarde. Tateei a cama em busca da minha boneca, mas a cama estava vazia. — Carolina? — chamei, mas não obtive resposta. Fui até o banheiro e ela não estava. Nem suas roupas espalhadas pelo chão. Ela saiu sorrateiramente pela manhã. Normalmente eu ficaria aliviado com isso, mas eu estava puto! Quem ela pensava que era para se esgueirar pelas ruas de manhã, sem me dar ao menos um bom dia, ou um tchau? Achei que teríamos outra rodada de manhã e ela simplesmente sumiu? Me dispensou assim? No fundo da mente, eu sabia que ela estava certa, não éramos namorados, era uma transa de um dia e ela deveria sim ir embora logo pela manhã, mas estava tão bravo com ela, que comecei a mandar mensagens.
“Bom dia, Carolina. Sonhei que vc passou a noite aqui.”
Ela respondeu apenas:
*_-
— Que merda é essa, dona Carolina? Uma piscadela? Isso é tudo que você tem a dizer? Comecei a mandar uma mensagem atrás da outra.
“Estou me sentindo usado.”
“Dormi com seu sorriso e acordei completamente sozinho.”
“Agora não vai nem me responder?”
Ela respondeu, pouco depois.
“Não sabia que era pra levar todo esse drama a sério.”
“Olha só quem está sendo cruel agora. *_-”
“Vc não está falando sério, não é? Pq se queria café da manhã na cama e um buquê de rosas aos seus pés, saiu com o homem errado. -_*”
“Antirromântica. Estou de coração partido.”
“Já, já seu pau te empresta uma supercola. Preciso ir, bom dia, Dustin. :@”
Confirmei o horário da sessão de fotos e ignorei cinco chamadas da Vanessa. Ela faria parte daquela sessão e eu não estava muito animado em revê-la. Depois das coisas que ela disse sobre a Carolina, havia perdido totalmente minha paciência com ela. A sexta vez que meu telefone tocou, não era ela. Era um número local. Achei que pudesse ser a Carolina, ligando do trabalho, e por isso atendi. — Pronto. Silêncio do outro lado da linha. — Alô? Quem fala? — Filho? Sou eu.
O ar sumiu de meus pulmões e por um momento fechei os olhos e esperei acordar. Só podia ser um pesadelo. Dez anos depois. Tinha que ser um. Desliguei o telefone e fui para o galpão me exercitar. Precisava pegar pesado para não me concentrar na voz do outro lado da linha e nem no fato de que ele ainda estava vivo. Liguei para Janet, minha assistente em Nova York e pedi a ela que me conseguisse com o patrocinador um novo número no Brasil. Também pedi que me trocasse de hotel, queria ter certeza que ele não se aproximaria de jeito nenhum de mim.
Após esgotar toda minha energia malhando, estava perto da hora da sessão de fotos. Tomei um banho e ainda enrolado na toalha, peguei meu novo número e mandei uma mensagem para a Carolina.
“Estou com este número agora.”
“Fugindo da polícia?”
“Não. Eles não sabem o que fiz. Não sabem nem meu verdadeiro nome.”
“#Medo”
De repente imagens dela começaram a preencher minha mente. Imagens dela cavalgando sobre mim, a maneira como percorreu seus dentes pelo meu peito. Como puxou meu cabelo enquanto eu a comia com a boca. O volume na toalha me indicou que chegaria atrasado à sessão de fotos, mas eu precisava me aliviar. Só que não consegui. Não teve graça alguma fazer isso sozinho. Vesti minha roupa decidido. Mandei uma mensagem para ela.
“4 horas.”
“O quê?”
“Que acordei e não a vejo. Tenho uma sessão de fotos, estou indo buscá-la.”
“Não posso. Estou no trabalho, nos vemos mais tarde.”
Pro inferno com isso de mais tarde! Eu queria vê-la naquele momento ou minhas fotos seriam no mínimo, constrangedoras.
“Me dê o endereço do seu trabalho.”
“Nem pensar!”
“Não me faça descobrir. Perco essa sessão de fotos, mas vou vê-la em menos de dez minutos de qualquer jeito.”
“Vc está duro?”
Sorri com sua ousadia. Ela estava cada dia mais aberta a mim.
“Totalmente. Não posso ser fotografado assim, vc precisa dar um jeito nisso, boneca.”
Cinco minutos depois ela me mandou o endereço do trabalho dela. Mandei uma mensagem quando estacionei em frente à casa enorme e logo ela apareceu. Usava um vestido colado na cintura e rodado abaixo dela. Ele ia até
metade de sua coxa e facilitava muito o que eu tinha em mente para tirar fotos decentes. Ela entrou no carro já olhando o volume na minha calça. — Uau! Você nunca brinca quando diz essas coisas. — Tenho me mantido ereto. Culpa sua. Ela sorriu e colocou o cinto de segurança. — Carolina, eu quero me desculpar. — Por quê? Que merda você fez? Sorri. — Fui um selvagem com você ontem à noite. — Por qual das horas em que foi selvagem está se desculpando? — Com certeza não pela hora em que você quase desmaiou na minha boca. Ela ficou pensativa por alguns segundos, e perguntou baixinho: — Está se desculpando por ter transado comigo? — Não! — gritei imediatamente. — Não mesmo! Mas, pela maneira como fiz isso. Eu a machuquei em nossa primeira vez, estava excitado demais, e não me controlei. Jurei a mim mesmo que seria mais carinhoso do que bruto quando a tivesse de novo. Que te comeria bem devagar, apreciando cada pedaço seu, deixando você sentir tudo. Mas claro, assim que você gozou na minha boca, meu controle foi pra porra. E agi como um cavalo fazendo você cavalgar em mim com força, te penetrando com força de novo, como um desesperado. Ela sorriu e deu um tapa no meu ombro, indicando que não se importava. — Estou satisfeita por ter sido a égua. Além do mais, você não é assim. — Não sou assim? O que quer dizer com isso? — Você não é do tipo que transa devagar, saboreando, testando. É como você disse, você chega e possui. Você é uma força arrasadora e bruta. Não o imagino amando alguém na cama, você foi feito para comer. Pela segunda vez no dia, eu estava puto com ela por jogar na minha cara como eu era. Minha vontade era parar o carro e fazê-la calar a boca. Fiquei tão irritado
com a visão que ela tinha de mim, como se eu fosse apenas carne, que meu pau cedeu seu descanso. Apontei para o meio das pernas irritado: — Essa não foi uma maneira legal de resolver meu problema. Ela pareceu em choque. — O que foi que eu fiz? — Foi idiota. Bastante idiota, está aprendendo comigo? Minha vontade é parar essa merda de carro e comer você, segundo a segundo, torturá-la até que implore para eu ir mais rápido, só para calar sua boca! Feito para comer! Você vai engolir essas palavras, sua desalmada! Não agora porque estamos atrasados, mas espere e verá. Ela ficou rindo e realmente precisei me conter para não puxá-la pelos cabelos e abafar aquele risinho debochado dela.
Entrei na academia onde seriam as fotos de mãos dados com a Carolina, rindo de uma gracinha dela ao passar pelos alunos dali, e então reparei que todos os olhares se voltaram pra gente de novo. Eu já havia trabalhado com essa equipe antes, há pouco tempo, em Buenos Aires. Exceto com as duas modelos brasileiras. Mas o fotógrafo, o maquiador e eu, demos algumas voltas por Buenos Aires à noite, e eles pareciam assombrados ao me ver entrar de mãos dadas com uma mulher, e ainda por cima, feliz com isso. — Boa tarde, meus caros. Carolina soltou-se de minha mão, pegou sua câmera e sentou-se a certa distância. Se preparando para filmar coisas para seu documentário. Não gostei de sua reação, como se não tivesse o direito de estar ali entre aquelas pessoas. Tirei a camisa e peguei o short de corrida do patrocinador que precisava usar. Troquei-me ali mesmo, não havia nada a esconder e ir até o vestiário só nos faria perder tempo. E eu queria meu tempo, pois estava planejando uma maneira de calar a boca da minha bonequinha atrevida. Vanessa me comeu com os olhos, mas isso não despertou absolutamente nada em mim. Ela se pendurou em mim, desejando-me boa tarde e se esfregando como uma gatinha. Olhei para Carolina e ela olhava para outro lado, fingindo não se importar. Mas eu havia chegado de mãos dadas com ela, não a obrigaria a
presenciar tal coisa, mesmo se ela realmente não se importasse. Afastei-me de Vanessa e avisei alto o suficiente para que a outra modelo e claro, Carolina, ouvissem. — Por favor, Vanessa, peço que seja profissional. Cheguei acompanhado caso não tenha notado. Ela deu de ombros com uma expressão de deboche e olhei para minha boneca, surpresa do outro lado do salão. Pisquei para ela que sorriu. Geralmente, quando eu tirava fotos tão provocantes com modelos seminuas, meu pau dava o ar da graça. Os fotógrafos que me acompanhavam eram tão acostumados, que faziam a pausa nesses momentos, para que eu comesse uma delas ou desse outo jeito de acalmá-lo e voltarmos às fotos. Uma vez, na Espanha, comi uma modelo no vestiário e quando acabamos, seu short do patrocinador havia sumido. Foi uma tremenda confusão e levei a maior bronca. Mas valeu a pena na época. Dessa vez, as fotos foram tiradas tranquilamente, sem interrupções de coadjuvantes animadas. Eu queria que acabasse logo para poder sair com minha boneca. Quando Jason fez menção de fazer uma pausa, quase parti para clima dele, implorando que acabasse logo com aquilo. Eles estavam estranhando meu jeito “comportado”, mas eu não. Depois de provar a Carolina, não seria qualquer mulher que me deixaria no ponto mais. Essa maldita atrevida estava mesmo fodendo a minha vida e me quebrando aos poucos. Quando finalmente acabamos e acenei para que ela viesse até mim. Ela desligou a câmera e veio cabisbaixa. Não se sentia bem ali, ou então não gostou das fotos que tirei. De um jeito ou de outro, estava prestes a acabar. Despedi-me dos caras, só nos veríamos de novo no dia do concurso, Jason me mostrou algumas das fotos, como sempre fazia, e quando olhei por cima do ombro para Carolina, estava de braços cruzados, dizendo algo a Vanessa que a fez mostrar uma careta. Fui em sua direção e nem me dei ao trabalho de perguntar o que a Vanessa estava fazendo perto dela. Apenas puxei Carolina para meus braços e a beijei. Um beijo faminto, eu não a havia beijado o dia todo, estava com saudade de seus lábios pequenos. Quando a deixei se afastar, precisando de ar, falei com tanta verdade que eu mesmo quase acreditei naquilo: — Vamos, amor. Preparei um jantar romântico para minha namorada. Dei mais um selinho apenas para me despedir momentaneamente de seus
lábios e notei quando ela virou para trás com um sorriso enorme na direção da Vanessa. — Amo esse seu sorriso de quem acabou de destruir uma inimiga — disse baixinho no ouvido dela. — Cuidado, Dustin. Você tem amado coisas demais em mim — disse e piscou, indicando que estava brincando. Mas ela estava certa. Deixei-a em sua casa sem falar mais nada porque estava pensando se devia mesmo levá-la àquele jantar e fazer amor com ela. De repente, havia demais a palavra amor envolvida quando se tratava dela, e eu não queria de jeito nenhum uma merda daquela para mim. — Eu não vou quebrar, não vou! — prometi a mim mesmo.
Capítulo 12 ______________________
CAROLINA Subi pensativa no elevador, tentando entender Dustin. Em um momento ele era fofo e quase dócil e no segundo seguinte me deixava em casa sem sequer se despedir, como o Dustin que eu conhecia. Minha cabeça dava nós e eu não chegava a lugar nenhum. Decidi parar de tentar entendê-lo e deixar as coisas rolarem. Se ele se interessasse por mais umas sessões de sexo selvagem eu não me oporia. Fora isso, era melhor manter nosso contato estritamente profissional. Às vezes a gente só tem que curtir as coisas sem ficarmos colocando porém demais nelas, ou ela se vai sem que tenhamos realmente curtido algo. Lilian estava sentada no sofá, aliás, largada seria a palavra mais correta. Tomando sorvete direto do pote, de Maria Chiquinha e uma cara horrível. Ela só fazia isso quando estava depressiva. Deixei minhas coisas sobre a mesa e senteime ao lado dela. — Dia difícil? Ela assentiu. — Não quer me contar o que aconteceu? — insisti. — Você não vai gostar de saber — respondeu baixinho, segurando-se para não chorar. — Experimenta. Vai, coloca para fora, divide comigo. — Ok. Recebi um telefonema hoje. Era o Marcelo. Para me dizer que ele voltou para casa. Para nossa casa, em Jundiaí. — Ah, merda! Ela me abraçou e voltou a chorar. Lilian tinha vinte e cinco anos, cursava pós-graduação e era casada desde os dezenove. Ela se casou com o primeiro amor da vida dela. Mas ele queria uma vida melhor, foi ilegalmente para os Estados Unidos e depois de um tempo desapareceu. Ele sequer ligava para ela. Agora simplesmente havia voltado para casa, na certa esperando que a Lilian estivesse lá por todos esses anos, sozinha e
ansiosa esperando por ele — O que você vai fazer? — perguntei sondando se ela ainda o amava. Ela dizia que não, mas nunca havia dado uma chance ao Júlio, nosso vizinho, mesmo ele sendo o tipo dela, então eu tinha minhas dúvidas. — Eu não sei. Mas sei o que não vou fazer. Não vou voltar correndo atrás dele depois de cinco anos! Não mesmo! Se ele quer realmente falar comigo, ele que venha até aqui! — Isso mesmo, você está certa. — A abracei mais apertado e disse: — Mas você sabe, caso seu coração peça o contrário, o que você decidir fazer, eu apoiarei. Só quero que seja feliz, como era ontem à noite. — Eu serei, Big. Ele não vai me tirar isso. Ficamos jogando conversa fora, a noite chegou, e decidimos pedir uma pizza. Estávamos emboladas no sofá assistindo pela milésima vez Cartas para Julieta e suspirando como duas leitoas com falta de ar, quando alguém esmurrou a porta. Achei que fosse a pizza e abri a porta como estava: descabelada, com um blusão velho, e suja de sorvete. — Dustin? Que merda! Bati a porta na cara dele e corri para o banheiro. Pretendia tomar um banho rápido e me enrolar num roupão limpo antes de ir para a sala, onde sabia que ele estaria esperando por mim, mas me surpreendi quando a porta do banheiro foi aberta, e ele entrou. Como se fosse normal ele me ver tomando banho. — Ei, saia daqui! Preciso de privacidade! — reclamei. — Nem comece, Carolina. O que não quer que eu veja? Caso não se lembre, você estava toda aberta na minha boca na noite passada, ver você tomar banho não é nada mais grave. — Grosso! — Gostosa! Só então reparei que ele estava usando uma blusa social colada aos seus músculos, o cabelo curto brilhava de algum gel e sua barba estava mais aparada. Apesar do jeans, que acompanhava a blusa social, ele estava com um visual formal. E de tirar o fôlego.
— Onde você vai? — Jantar, com minha namorada. Ou você já se esqueceu? — Você tem uma namorada? — berrei fazendo-o rir. — Ah Carolina, não sei porque pensei que me sentiria melhor longe de você. Você é minha namorada hoje e vai a um jantar romântico comigo. Desliguei o chuveiro e fui me secar na frente dele. Ele estava certo, já havia me visto aberta sobre sua boca, nada podia ser mais íntimo do que isso. — Por que isso? — perguntei desconfiada. — Porque vou provar para você que sei ser romântico. Olhei bem para ele esperando que me desse uma piscadela e dissesse o real motivo, algum evento, fotos ou algo assim, mas ele permaneceu sério. Estava mesmo falando sério. Não me contive, caí na gargalhada. Imaginar Dustin, o sexo ambulante, sendo romântico era quase impossível. Ele pareceu irritadíssimo com meu ataque de riso, arrastou-me para fora do banheiro e me empurrou para meu quarto. — Você tem dez minutos para se vestir. Nem um minuto a mais. Vista algo bonito para nossa noite especial. Entendeu? — Sim, senhor. Ele bateu a porta e saiu pisando duro. Se ele queria tentar ser romântico por uma noite eu é que não ia me opor. Abri o guarda-roupa e comecei a bater papo com minhas queridas roupas questionando qual delas não ficaria tão feia em mim naquela noite. Optei por uma calça Skinny preta, uma blusa de seda branca, um pouco decotada e um blazer azul claro, para o caso de esfriar. Calcei uma sandália de salto e passei uma maquiagem leve. Penteei os cabelos molhados e os prendi em um rabo de cavalo. Coloquei um brinco de argola e pronto, não parei para analisar minuciosamente meu visual ou perderíamos o jantar romântico do Dustin. Assim que pisei na sala, decidi que não ia. Lilian estava recebendo a pizza, olhou-me com um sorriso fraco, encorajando-me a ir, mas eu não podia fazer isso com ela. Puxei Dustin de volta ao meu quarto. — Você está linda — ele disse soltando meu cabelo. — Deixe-o assim. Amo o
seu cabelo solto. Adverti-o com o olhar sobre essa coisa de amar coisas em mim e ele apenas deu de ombros com um sorrisinho de lado no rosto. — Lilian está péssima. Não posso deixá-la sozinha. — Percebi isso. Os olhos dela estão vermelhos e inchados. Por isso tomei a liberdade de chamar alguém para fazer companhia a ela. — Quem? — Júlio, meu amigo, seu vizinho. Sorri. Se ele soubesse o rolo que já teve entre Júlio e Lilian e que ele gritava meu nome nas madrugadas fingindo orgasmos para irritá-la, jamais o teria chamado. Mas talvez fosse disso que Lilian precisava, um pouco de irritação e diversão para esquecer seu marido babaca. — Carolina, meu bem. Não há a menor chance de você escapar desse jantar e do que preparei depois, hoje. Despeça-se de sua amiga e vamos. Temos reservas. Confirmei com Lilian se ela não se importaria e optei por não adverti-la de que ela teria companhia, ou ela era bem capaz de querer seguir a gente, ou no mínimo, conseguir uma arma carregada para esperá-lo. A fiz prometer que me contaria em detalhes sobre sua noite na manhã seguinte, e ela prometeu sem entender porque eu queria aquilo. Seria interessante nosso papo matinal no dia seguinte.
Não avistei o seu estimado Peugeot RCZ, ao invés dele, havia um Veloster vermelho maravilhoso estacionado em frente ao prédio. Olhei para Dustin de boca aberta e ele desativou o alarme, com um sorriso de orelha a orelha. No dia em que ele foi fazer compras comigo, estávamos em seu carro alugado exclusivo quando vi um Veloster no centro e comentei que era louca para andar em uma máquina dessas. Ele desfez do meu sonho de consumo exaltando o quanto o carro dele era melhor, mas, ali estava ele com um carro que não gostava, apenas para me agradar. Passei meus braços por seu pescoço depositando um beijo em sua boca linda. — Obrigada.
— Se você se recostar mais um pouco em mim, não sairemos desse carro, meu bem. Sorri e entrei no carro sentindo-me quase emocionada por estar dentro de um daqueles.
Paramos em frente a um restaurante lindo, que eu nunca havia sequer visto. Antes que eu soltasse completamente o cinto de segurança, minha porta foi aberta e Dustin estava ali, a mão estendida para mim. Ajudou-me a sair do carro e fechou a porta, entregando a chave ao manobrista. Custei a acreditar que ele, o cara mais grosso que eu já tinha visto, havia mesmo aberto a porta do carro para mim. — Meu Deus! Não acredito! Você acabou de abrir a porta do carro para mim? — zombei. — Não se acostume, eu realmente não vou fazer isso de novo — ele respondeu com um sorriso. — Você começou bem, senhor romântico. — Você ainda não viu nada, baby. Ri alto de sua forma de falar e ele me acompanhou, guiando-me para dentro do restaurante. Esperei que todos os olhares fossem cair sobre nós, afinal, Dustin era um homem que chamava atenção, chamaria mesmo se não fosse famoso, e estava ali comigo, uma garota normal. Mas isso não aconteceu, as pessoas que tiraram um tempo para nos observar, estavam olhando a nós dois. E não houve a confusão que estava estampada em minha cara cada vez que eu saía publicamente com ele, elas realmente não se importavam. Comecei a me perguntar se essa diferença assombrosa que eu via entre a beleza dele e a minha, não estava enraizada em minha mente. Tirei isso da cabeça quando ele puxou a cadeira para eu me sentar, sentandose à minha frente. Estávamos na cobertura do restaurante, as estrelas brilhavam sobre nossas cabeças, o ventinho soprava meus cabelos, não estava frio, mas fresco na medida certa. A mesa redonda estava enfeitada com velas e um vaso de rosas ao centro.
Três músicos tocavam violino em um palco perto de onde estávamos e havia apenas mais três mesas na cobertura. Uma em cada extremidade do ambiente, de forma que nos sentíamos quase sozinhos ali. A vista ali de cima da cidade era de tirar o folego! Luzes, prédios e árvores estavam abaixo de nós, me obrigando a admirá-los por um certo tempo, encantada por sua beleza. — Isso é lindo! — exclamei encantada. — Você é linda — ele respondeu sério, como se fosse algo habitual a ele dizer isso. — Você está mesmo no clima, senhor romântico. O que vamos comer? — Vai me deixar escolher para você? — Com toda certeza! Surpreenda-me. — E não vai ficar conversando com a comida e se desculpando antes de saboreá-la? — Juro que não. — Nesse caso, eu escolho. Ele ficou olhando o menu e me perdi olhando para ele. Ele era tão lindo! O rosto forte, anguloso. Os olhos negros, os lábios grossos rodeados pela barba bem-feita. A pequena cicatriz em seu lábio superior. Eu ainda não a havia chupado como queria, mas faria isso naquela noite. Seus ombros largos sob a camisa branca. Ele era uma visão e tanto! Ele levantou os olhos do menu e sorriu ao me flagrar olhando para ele como uma esfomeada em frente a um banquete. — Sinto-me satisfeito que não esteja mais fissurada só no meu pau, Carol. Fiz uma careta. — Achei que fosse uma noite romântica, mas o Dustin safado já deu as caras. Ele sorriu, não se irritando com meu comentário. — Você não estava reclamando do quão safado sou, enquanto gritava meu nome embaixo de mim implorando por mais do meu pau. Alguém pigarreou e só então me dei conta da presença do garçom ao nosso lado, com o bloquinho em mãos esperado o pedido.
— Merda! — sussurrei envergonhada. — Olá Carolina, como está a sua mãe? — Olá senhor José, ela está bem, e sua esposa? Ele me olhou com uma expressão horrível e enfiou a mão no bolso procurando algo. — Está bem. Se cuida, menina — disse olhando feio para Dustin, após anotar o pedido e se retirar. Percebi ele tirar o celular do bolso enquanto se afastava. — Ele vai ligar para minha mãe — constatei derrotada escondendo o rosto nas mãos. A gargalhada de Dustin me fez levantar a cabeça e quase me levantar da mesa para matá-lo. — Sabe, isso não foi nem um pouco legal da sua parte — acusei. — Boneca, tenho sido bonzinho com você o tempo todo. Acredite, nunca cedi tanto para uma mulher antes. — Jura? Se isso é o seu bonzinho, nem quero imaginar você sendo mau. Um sorriso de canto surgiu em seu rosto e um brilho perverso cobriu seus olhos. — Você vai ver, Carol, logo, logo. Seu olhar era uma promessa e eu já estava molhada apenas com a proximidade dele dentro do carro pequeno, vê-lo me olhar daquele jeito era para me fazer gozar ali mesmo, na cadeira de um restaurante. — Já que estamos aqui, enquanto a comida não chega, que tal perguntas? — Tudo bem, mas só porque estou no meu dia de ser bonzinho com a Carolina. — Vou me lembrar disso no momento certo. — Não vai, não — prometeu de novo me lançando aquele olhar repleto de promessas e ameaças e precisei beber um pouco de água para me acalmar. — Onde estão seus pais? Você nunca menciona sobre eles.
— Porque eu não tenho pais. — O brilho divertido de seu olhar sumiu e ele não sorria mais, fingia estar procurando algo dentro da taça de vinho. — Hum, pobre menino órfão? Ele voltou a sorrir. — Não, meu bem. Rico menino órfão. Muito rico. Atirei um guardanapo nele, e ele começou a falar. Mal acreditei quando ele disse a primeira frase. — Minha mãe morreu quando eu tinha quinze anos. Fiquei sozinho desde então. Eu era bem nervoso, muito mesmo. Arrumava briga todo dia no colégio e vivia na detenção. — Por que você brigava? Você era apenas nervoso e por isso partia para cima das pessoas? Ele negou com a cabeça. Não parecia à vontade de falar sobre certas coisas, mas continuou: — Eu não suportava injustiça. Ainda odeio, mas naquela época, eu simplesmente não lidava com essas coisas. E quando eu via alguém sendo injusto, eu o corrigia da minha maneira. Essa raiva toda começou a ser canalizada quando eu fiz dezesseis anos e comecei a lutar. Luta clandestina. Meu irmão postiço me apresentou a isso. Me fazia bem. — Aos dezesseis? Uau! Sua vida começou aos dezesseis anos, não é? Ele deu um sorriso triste, enquanto seus olhos se perderam de mim, focando o nada. — Acho que sim. Acho que eu apenas sobrevivia até então. — Se isso te fazia bem, e tenho certeza de que era muito bom lutando, por que parou de lutar? Ele finalmente voltou a olhar para mim, e pude ver com clareza a tristeza ali quando respondeu: — Porque eu ultrapassei limites, até mesmo para lutas clandestinas. Estava me tornando muito violento, acharam que eu estava incontrolável, que precisava me afastar de qualquer coisa relacionada a violência. Acharam que eu era perigoso demais para lutar.
— E você era? Ele demorou um pouco para responder, analisando a pergunta. — Talvez. Eu não mataria ninguém, se é o que está perguntando. Mas eu me achava quase um deus por minha força, e achava que tinha o direito de punir pessoas más. Mas não acho que me tirar da luta ajudou em algo, podiam apenas ter me advertido, eu teria me controlado. De repente, eu queria saber mais sobre ele, saber tudo. Quanto mais conhecia sobre Phillip Dustin mais fascinada por ele eu ficava. Não parei para analisar a pontada em meu peito ao imaginá-lo sozinho no mundo, sendo acusado por ser um monstro que ele não queria ser. — E quem decidiu que você era perigoso demais para lutar? Sua face despencou. Não haveria outra maneira para explicar o que vi em seu rosto. Toda a confiança, força e presença dele sumiram. Ele se tornou uma sombra pálida diante de mim. Temi ter ido longe demais e mudei de assunto, falando sobre meu celular tocando desesperadamente na bolsa e o sermão que minha mãe devia estar doida para despejar em mim após a ligação do nosso garçom linguarudo. Ele sorriu e pareceu voltar a ser um pouco ele. Eu queria que ele voltasse ao normal, até que falasse suas putarias de novo. Que voltasse a ser ele, para que aquela noite não acabasse tão cedo.
Capítulo 13 ______________________
DUSTIN Ela estava vendo o meu pior lado, aquele que eu escondia de todo mundo. Não pareceu assustada ao saber o que eu fazia, ou que fui banido da luta nos Estados Unidos. Ao invés disso, sorriu docemente, me encorajando a falar, e quando viu que era demais para mim, mudou de assunto, fazendo-me rir, tocando minha mão. Me distraindo. De alguma forma, apesar de todo peso por trazer aquele assunto à tona, estava me sentindo mais leve a cada coisa que contava a ela, e me sentia uma pessoa melhor a cada vez que ela sorria e não me julgava nem acusava, apenas me admirava com seus lindos olhos verdes. Ela estava rapidamente se tornando viciante, tomando minha mente e acalmando minha alma. Estava se tornando um enorme problema, pois eu iria embora em pouco tempo, nada me prenderia aqui e nada a faria abandonar o emprego, a faculdade e a amiga por mim, um desconhecido da qual ela viu mais coisas ruins do que boas. Não. Eu precisava urgentemente parar de pensar nela como uma coisa boa, e sim pensar nela como uma transa boa. — Estou curiosa. — Ela me tirou de minha batalha interna — Quando você me disse que seu nome não era Dustin, quase tive certeza de que me diria um nome brasileiro. — Porque falo muito bem português? — perguntei sorrindo e ela assentiu. — E também quase não tem sotaque. — Meus pais eram brasileiros. Imigrantes nos Estados Unidos. Eu nasci lá. — Ah. — Ela abaixou a cabeça e mexeu no macarrão em seu prato, quando olhou para mim de novo, havia tanta admiração e preocupação ali, que eu faria qualquer coisa para vê-la sorrindo de novo e não com aquele vinco fofo na testa por mim. — Quer me falar mais sobre eles? Apenas se sentir-se confortável, se isso o fizer sentir-se bem. — Não há muito o que falar. Não é assunto para um jantar romântico, de qualquer forma.
Ela riu alto, engasgando-se com o vinho. — Nunca imaginei que ouviria as palavras jantar romântico da sua boca. — Você realmente não me conhece, Carol. Eu também não me conhecia. Mas quanto mais ela parecia surpresa com minha ideia de jantar romântico, mais eu tinha vontade de ser romântico com ela. Apenas para calar sua linda boca e cortar essas gargalhadas debochadas. As substituiria por gemidos insanos em poucas horas. — Alguma vez na vida você já foi romântico, Dustin? — desafiou-me a atrevida. — Sim, agora. A trouxe para jantar, à luz de velas, com música ao vivo e serei de novo daqui a pouco. — O que vai fazer daqui a pouco? — Seus olhos brilharam em curiosidade. — Se for me pedir em casamento me avise para que eu possa correr agora e nos poupar de uma cena. Ri alto. Carolina era esperta, ela sabia como mudar de assunto e me distrair tempo o suficiente para me acalmar, para poder voltar a falar sobre coisas difíceis depois. — Estou sendo romântico, não louco. Serei ainda mais romântico quando fizer amor com você mais tarde. Bem devagar. Muito amor. Ela engoliu com dificuldade e seu olhar se perdeu em meus lábios. Eu quis tanto beijá-la, que cheguei a me mover para fazer exatamente isso, quando ela soltou: — Para de falar amor. Isso não combina com você. Voltei a minha posição sobre o banco e a encarei, prendendo as mãos embaixo da mesa, para não levantar e tomá-la ali mesmo. Ela me irritava, e me excitava loucamente. — Às vezes, você diz coisas sobre mim, que me fazem querer dar-lhe umas boas palmadas, Carolina. Ela piscou os olhos aturdida e bebeu mais um gole de seu vinho. — Às vezes, você faz promessas demais, Dustin. Abri a boca para responder à altura seu atrevimento, já sentindo meu pau se
mexer pelo tom de voz rouco dela, quando avistei algo no andar de baixo do restaurante. Fechei a boca e me levantei olhando de novo para ter certeza de que não estava ficando louco. Não estava. Ele estava ali. — Dustin, está tudo bem? Carolina estava em pé atrás de mim, segurando minha mão e dizendo algo, que eu não entendia. De repente, toda a mágoa, dor, raiva e ódio guardados há dez anos queriam saltar. E eu não podia me transformar perto dela. Ela não tinha que ver esse lado meu, seja qual for o que surgiria por vê-lo. Se ele ousasse se aproximar de mim, eu me tornaria o monstro, seria capaz de quebrar a cara dele ali mesmo, na frente dela, e isso a afastaria para sempre de mim. E se ele não se aproximasse, o que de fato eu esperava que acontecesse, já era tarde demais. As lembranças me assaltavam sem permissão e eu não conseguia controlá-las. Os sentimentos ruins começaram a querer me dominar, dançando na borda do meu autocontrole. Eu não demoraria a ruir. E seria de novo o menino de quinze anos quando encontrou a mãe morta na cozinha de casa. Eu não queria ser ele. Nunca mais seria perdido e sozinho como ele. — Vamos embora. Ordenei pegando a bolsa dela e jogando em seu ombro. Deixei duas notas sobre a mesa e acenei para o garçom conhecido da Carolina, arrastando-a pelo fundo do restaurante, para que ele não me visse. De alguma forma ele sabia que eu estaria ali, estava me cercando. Eu precisava ir embora o quanto antes. Carolina tentou falar comigo, me perguntou o que havia acontecido, e se eu estava bem, mas não me atrevi a responder. Não me atrevi a dizer nada, não queria explodir perto dela, e menos ainda com ela. Ela não tinha culpa de nada. Ficaria com raiva de mim até a manhã seguinte por deixá-la na mão, mas não para sempre, como aconteceria caso ela visse qualquer um desses meus lados, que apenas ele poderia despertar em mim depois de tantos anos. De tantos tratamentos. Parei em frente ao seu prédio e ela não desceu imediatamente do carro.
— O que está havendo? — Desça. Boa noite, Carolina. Ela nem havia acabado seu prato, devia estar com fome, e isso me deixava ainda mais irritado comigo mesmo. — Não quer que eu vá com você? — perguntou tão baixinho que quase cedi e a beijei, implorando para que ficasse comigo, mas resisti e não ousei olhar para ela. — Não. Boa noite. Até amanhã, talvez. Eu não sabia quanto tempo aquilo duraria. Se uma noite de bebedeira e surto seria o suficiente. Era melhor que ela não ficasse esperando um contato meu no dia seguinte, caso eu não pudesse fazê-lo. — Ok então. Fica bem. Ela desceu do carro sem olhar para trás, caminhou de cabeça erguida até seu prédio. De repente, eu precisava que ela olhasse para trás para saber que ela não estava desistindo dos nossos últimos dias juntos apesar de tudo, mas ela não o fez. Passou pela porta e a fechou. E a sensação de que era a última vez que a via me fez começar a desmoronar ali mesmo, no carro. Eu precisava ficar sozinho. E ao mesmo tempo, tinha medo disso.
Capítulo 14 ______________________
CAROLINA Tentei segurar as lágrimas, mas elas rolaram sem pedir permissão enquanto eu aguardava o elevador. Alguma coisa estava errada, e mais uma vez, ali estava eu, sozinha ao fim de uma noite que era para ter sido romântica, sem ter certeza se o veria novamente já que ele disse aquele “talvez”. Odiando a mim mesma por pedir tão desesperadamente a Deus que aquele talvez acontecesse e ele ainda me ligasse no dia seguinte. Me senti deixada, abandonada, descartada. Eu ainda estava com fome, e estava tão chateada que subi os dois andares de escada, sem paciência para esperar o velho elevador. Abri a porta e quase desmaiei. A casa estava um caos. Como se um furacão tivesse passado ali. Quase tudo estava no chão, cadeiras viradas, a tevê não estava mais sintonizada a uma antena, com um chiado ensurdecedor. Lilian estava empoleirada na cintura de Júlio, mas nem um pouco contente com isso. Ela arregalou os olhos ao me ver, segurava um jarro de suco em cima de sua cabeça, ele estava vazio, mas Júlio não estava molhado e respirei aliviada por ter chegado antes que a minha melhor amiga cometesse um homicídio. Ela desceu de sua cintura e estava tão vermelha, que nem me atrevi a perguntar nada. Saiu marchando até seu quarto e bateu a porta. A abriu e tornou a bater, deixando bem claro sua irritação — Uau, o que foi que aconteceu aqui? — Nós transamos, finalmente. Depois de dois anos eu... — ele pareceu desconsertado e mudou o rumo de sua conversa. — Você não quer ouvir detalhes. Nós transamos, foi maravilhoso, e ela surtou depois, me acusando de tê-la seduzido. — E você a seduziu? — Claro que não! Você já viu a sua amiga? Ela foi a única culpada. Ele sorriu abertamente e piscou, estava extremamente feliz. — Ah não, tive uma noite de merda e essa sua felicidade está me irritando.
— Desculpe. Está com fome? — Morrendo de fome. — Quer ir ao cachorro quente? Fui até o quarto de Lilian e bati na porta. — Lil, quer cachorro quente? — Me traga dois! Não vou sair aqui. — Tudo bem. — Voltei para a sala e passei direto por Júlio. — Vamos.
Ele era apaixonado pela Lilian. Eu já desconfiava disso, mas ele levava tantas mulheres para seu apartamento, que não tinha como ter certeza. Homens tinham um jeito estranho de reagir a um fora, talvez, mais eficaz que o das mulheres, que é ficar se lamentando, se colocando para baixo e chorando, como eu estava fazendo. Júlio bem tentou me arrancar alguma coisa sobre a noite com seu novo amigo, mas eu não disse nada. Nem mesmo que não queria ver o idiota do amigo dele nunca mais. Deixei ele perguntar, resisti bravamente à necessidade de contar a alguém o que o imbecil havia feito, e comi três cachorros quentes de tanta raiva. Sem ao menos conversar com eles antes. Não me desculpei antes de devorá-los como uma esfomeada. — Então, o que vai fazer com a Lil? — perguntei a Júlio quando entramos no elevador. — Como assim? — Você realmente gosta dela? — Muito, muito mesmo. Mais até do que eu imaginava. — A cada mulher que você leva ao se apartamento, é uma semana a mais longe dela. Mulher nenhuma vai acreditar nos sentimentos de um homem que a esquece toda noite para comer outras. Ele fez uma careta que teria me feito rir se estivesse de melhor humor — Vocês mulheres são muito dramáticas. Eu a amo, enquanto ela não me amar de volta, eu posso dar meu corpo a outra. Meu coração permanece sendo
propriedade dela até que ela me queira. — Não funciona assim. — Não custava tentar. Senti que ele ia ficar na mesma e aguardar outra ajudinha de seu amigo para ter Lilian em seus braços sem realmente assumir um compromisso e deixar sua vida agitada. — O marido dela voltou. Virá encontrá-la. Ela te disse? — falei subitamente quando ele ia entrar em seu apartamento. Ele ficou totalmente imóvel, e torci para que se importasse o suficiente para tomar alguma atitude em relação a ela. Ele tremeu um pouco a mão na maçaneta e olhou para mim desnorteado. Funcionou. — O merdinha americanizado? Voltou? Para ela? Assenti. — Ele está forçando a barra para que ela fique com ele. — Ah não, ela não faria isso. — Não sei, os dois têm uma história juntos, primeiro amor dela, marido, quem sabe como o coração fica nessas condições? — Não fica. Ela não precisa dele. — Ela está sozinha há muito tempo. Talvez ela precise... — Não! — ele gritou me interrompendo — Não. Você precisa me ajudar, Big. Não o deixe se aproximar dela, nem falar com ela, jogue o celular dela no vaso sanitário. Eu mesmo faço isso. Eu vou cercá-la todos dos dias e estarei aqui para ela sempre que ela precisar. — E suas mulheres? — Que mulheres? A partir de agora esse meninão aqui só vai entrar em uma casinha. Fiz uma careta pela alusão ridícula dele, mas acabei sorrindo e isso acabou me relaxando.
Entreguei os cachorros quentes a uma Lilian possessa que nem quis falar comigo e fui tomar um banho para dormir.
Fiquei o banho todo pensando no que fazer em relação a Dustin. Eu sabia a resposta certa, mas ela não era a que eu queria me agarrar. Esquecê-lo e cortar isso enquanto não me machucava mais, manter a participação dele em minha vida como uma coisa boa. Mas, imaginar não vê-lo mais me fazia sentir uma coisa ruim, não gostava nem de pensar nisso. Tentei entender suas atitudes estranhas, sei que algo aconteceu no restaurante, ele estava ali, todo fofo comigo e de repente não estava mais ali. Seu olhar estava perdido, ele parecia ter dificuldade em respirar e ficou tão desesperado para sair do restaurante, que acabei ficando também. Depois, ele apenas me dispensou. Sem um beijo, sem dizer o que havia acontecido. E o que mais me chateava nisso tudo era que eu queria ajudá-lo. Queria estar com ele e dividir o que quer que o tenha atingido daquele jeito, para ele não ter que suportar sozinho. Mesmo sabendo que ele podia me achar uma grudenta e chata por isso, resolvi mandar um sms. E torci que ele me respondesse ao menos que sim, estava bem.
"Ei, quero apenas saber como vc está. Assim que vir essa mensagem me responda."
Achei que ficou meio fria, então mandei outra:
"Ei, eu de novo. Estou preocupada com vc, por favor, me dê qualquer notícia, nem que seja o desenho de um dedo do meio entrando em uma bunda. Sei que vc é capaz de fazer isso no teclado do celular. Ficarei feliz com qualquer resposta."
Aí achei que estava idiota demais, ele estava mal de verdade e eu não ajudaria em nada mandando mensagens bobas e irritantes como aquela. Então mandei a última, o tiro de misericórdia que levaria minha vida. Já estava toda errada
mesmo.
"Última mensagem, prometo! Se houver algo que eu possa fazer para fazê-lo se sentir melhor, é só me pedir, ok? Qualquer coisa. Estou aqui. Bons sonhos."
Esperei mais de vinte minutos e não houve resposta, então me dei por vencida e fui dormir. Assim que fechei os olhos, tentando rumar meus pensamentos para outras coisas que não fossem ele, meu celular apitou uma mensagem. Peguei o aparelho como uma desesperada e era uma mensagem dele. Uma única frase, mas que me fez meu coração se agitar ao ponto de me tirar o ar.
"Preciso de vc. Desce e vem ficar comigo?"
Não respondi. Joguei um roupão por cima da camisola, enviei uma mensagem à Lilian, peguei minha chave e desci. Se ele precisava de mim com ele, então eu ficaria com ele.
Capítulo 15 ______________________
DUSTIN Voltei ao novo hotel sentindo-me vazio. Era para ter sido tudo diferente. Olhar as velas espalhadas pelo cômodo, as pétalas de rosas sobre a cama, fezme sentir falta de Carolina. Essa noite não deveria ter sido assim. Nós deveríamos ter jantado, depois eu a levaria ao mirante, onde poderíamos ter uma vista privilegiada da cidade e eu a faria gozar com os dedos, sob a luz das estrelas, em um momento totalmente cafajeste antes de incorporar novamente o romântico. Depois ela viria para esse hotel comigo e faríamos amor até o sol nascer. Eu a amaria direito. Daria a ela cada detalhe, cada sensação prolongada, como ela merecia. Ao invés disso, ela provavelmente estava me odiando naquele momento. E eu estava ali, preso em lembranças ruins, em uma sensação que eu tentava não deixar me dominar, mas que como sempre, era mais forte do que eu. Tentei pensar em Carolina, no concurso, em qualquer coisa que bloqueasse aquelas imagens, mas elas ressurgiram das cinzas, onde estiveram escondidas por tantos anos. Caí na cama, sobre as pétalas espalhadas, e levei as mãos à cabeça. Deixando as lágrimas rolarem enquanto me lembrava. De cada detalhe daquele dia. — Meu pai bate na minha mãe. A diretora me olhou com pena, mandou chamar a psicóloga infantil da escola e tentaram me convencer que eu estava entendendo errado. Ao fim do dia, minha mãe foi chamada até a escola e quando saiu, pegou-me no colo me dizendo que meu pai jamais a machucaria. Mas eu sabia que não era verdade. Presenciei isso por anos, os gritos e agressões. Eu tentava detê-lo, e bater nele, mas era pequeno demais, ele me prendia facilmente e voltava sua atenção para ela. Mamãe sempre me dizia para não me importar, que ela não se importava. Isso se tornou tão constante, que chegou um momento em que pedi a ela que fôssemos embora, mas ela repudiou essa ideia dizendo que não podia fazer aquilo.
Naquele dia, eu tinha quinze anos e lutava Karatê. Era alto, porém franzino. Meu pai era do meu tamanho e muito mais forte do que eu. Nunca tivemos uma relação de pai e filho, não depois que eu presenciei a primeira surra e não tive mais qualquer respeito por ele. Ele aceitou meu afastamento e era como se um não visse o outro dentro de casa. Exceto pelas vezes em que ele agredia minha mãe e eu interferia. Eles tiveram uma briga feia de manhã, mamãe queria viajar ao Texas para ver sua irmã que estava doente. Todos achavam que a tia Elisa não sobreviveria, mas meu pai não permitiu. Foi a primeira vez em que ela levantou a voz avisando que iria de qualquer jeito. A discussão foi feia, ele bateu nela. E quando eu estava indo para a escola, ela me acompanhou até a porta e me disse que a esperasse no aeroporto após a escola, dando-me o dinheiro do táxi. Pela primeira vez em anos eu estava feliz, achando que ela finalmente se protegeria dele. Que começaríamos uma vida nova. Na escola, Brad, um mauricinho capitão do time da escola, com que eu não tinha o menor contato, procurou por mim. Ele parecia constrangido ao me contar o que havia descoberto. — Sua mãe está tendo um caso com meu pai. Fiquei olhando para ele, esperando que me dissesse que era uma piada de mau gosto, mas ele continuou insistindo: — Meu pai é Robert Johnson, policial. Sua mãe esteve na delegacia há poucos meses e deu queixa de agressão contra seu pai, mas dois dias depois ela retirou a queixa. Meu pai e eu começamos a segui-la. Ele conseguiu se aproximar dela e depois disso passaram a se ver todo dia. Até onde eu sabia, ele queria apenas que ela desse a queixa e saísse de casa com você. Cruzei os braços totalmente atento. Se minha mão havia tentado dar queixa, ele podia não estar mentindo de tudo. — Na noite passada eu peguei os dois se beijando na garagem da minha casa. — Seu pai é casado? Ele negou com a cabeça. — Viúvo. — Você tem algo contra minha mãe? — De jeito nenhum! Só queria que você soubesse, porque se ela se separar do
seu pai e der a queixa, seremos meio que irmãos. Ele me estendeu uma foto onde minha mãe estava em um abraço íntimo com seu pai. Um sorriso em seu rosto que eu não via ali há anos, e um brilho nos olhos, como se ela estivesse inteira, como se tivesse recuperado algo que faltava nela em tantos dias em que eu a achava tão distante de si mesma. Peguei a foto para mim e agradeci a informação. Num primeiro momento eu não soube o que sentir sobre aquilo. Ela estava traindo o meu pai. Mas ela merecia uma chance de ser feliz, e ele com certeza não era capaz disso. Olhei novamente a foto, a felicidade estampada nela, então eu torci realmente para que viajássemos, ela desse a queixa, e fosse morar com o tal policial depois. Queria que ela fosse feliz. Saí da escola direto para o aeroporto e esperei por minha mãe. Os voos para o Texas saíam um após o outro e nem sinal dela. Tentei ligar para minha casa, mas a ligação não completava. Foi quando tive um pressentimento. Liguei diretamente para a polícia e pedi para falar com o policial Johnson. — Johnson falando. — Policial Jonhson, meu nome é Phillip Dustin, eu sou... — Eu sei quem você é, filho. Você está bem? Aconteceu alguma coisa? Contei a ele a briga da manhã e que minha mãe havia marcado comigo no aeroporto depois da escola e não havia aparecido, nem atendia ao celular. Ele disse que também não tinha conseguido contato com ela e estava indo imediatamente para a nossa casa. — Estou mandando uma viatura para te buscar. — Obrigado. O caminho todo do aeroporto até minha casa eu não estava realmente ali. Eu sabia. Podia sentir, alguma coisa tinha acontecido. Alguma coisa realmente ruim. Quando a viatura virou a esquina e avistei a quantidade de carros de polícia, e uma ambulância, tive certeza. Não esperei o carro parar para correr para minha casa, saltei ali mesmo, correndo o quarteirão até a última casa da rua. Passei pelo aglomerado de pessoas e pela faixa de proteção da polícia. Aquela faixa não deveria estar ali. Entrei em casa e um policial tentou se aproximar de mim, mas desviei dele, indo
até a cozinha. Onde ela estava, caída no chão, rodeada de sangue. Os olhos abertos sem vida. E ele estava sentado em um canto do chão, algemado. Fui para cima dele. Tentei acertá-lo de todas as formas, mas o policial Robert me segurou, ele chorava e me disse que eu podia fazer o mesmo. Mas eu não chorei. Nem naquele dia, nem no enterro dela. Eu sentia raiva, ódio. Queria me vingar, eu ia me vingar.
Deixei que os gritos escapassem e atirei tudo o que estava ao meu alcance nas paredes. Aquilo não passava, sempre que eu começava a me lembrar, precisava voltar para casa, para o tratamento, para a porra da psicóloga. Levantei-me desnorteado sem saber o que fazer, foi quando meu celular apitou. Minha visão embaçada dificultou um pouco que eu entendesse as palavras, era uma mensagem da Carolina.
"Ei, quero apenas saber como vc está. Assim que vir essa mensagem me responda."
Ela não me odiava, ainda estava preocupada comigo. Sentei-me na cama enterrando o rosto nas mãos, tentando me acalmar. Pelo menos o suficiente para ligar para ela e falar como uma pessoa controlada. Não como um perdido, como eu me sentia. Então, outra mensagem dela chegou.
"Ei, eu de novo. Estou preocupada com vc, por favor, me dê qualquer notícia, nem que seja o desenho de um dedo do meio entrando em uma bunda. Sei que vc é capaz de fazer isso no teclado do celular. Ficarei feliz com qualquer resposta."
Sorri. Só mesmo a Carolina, minha boneca linda para me fazer rir em um momento daquele. A dor estava ali, me dominando, mas eu já não sentia tanta raiva. Comecei a digitar uma resposta para ela, quando meu celular apitou de
novo.
"Última mensagem, prometo! Se houver algo que eu possa fazer para fazê-lo se sentir melhor, é só me pedir, ok? Qualquer coisa. Estou aqui. Bons sonhos."
Para eu me sentir melhor. Sim, ela podia fazer. Apenas ela podia. Apaguei a mensagem que estava digitando e fui à casa dela, eu sabia exatamente o que precisava para me sentir melhor, eu precisava dela.
Ela desceu com um roupão e sem nenhuma bolsa. Pensei em pedir que pegasse algo, pois ela passaria a noite comigo, mas me dei conta de que tudo o que ela precisaria, eu tinha no hotel. Ela entrou no carro e passou o cinto antes de olhar para mim. Agradeci por isso, assim que tirei o carro do estacionamento, a rua ficou escura, e ela não conseguiria ver meu rosto. Ela não me fez perguntas. Não falou nada comigo. Estava esperando que eu desse o primeiro passo, mas eu não queria fazer aquilo ali, ao volante. Queria chegar ao hotel primeiro, onde eu poderia me esconder caso outra crise viesse ao tocar no assunto. Passei direto pelo antigo hotel e ela falou comigo. — Onde você está indo? — Não estou mais hospedado ali. Estou um pouco mais longe agora. — Ah. Ela não questionou, mas me senti na obrigação de explicar. — Alguém me encontrou e eu não queria que ele chegasse até mim, então achei melhor ir para outro lugar. Ela assentiu apenas e não disse mais nada. Começou a cantarolar desafinada uma música da Adele, me fazendo rir e expulsando cinquenta por cento de toda tensão do meu corpo — Você canta muito mal e seu inglês é péssimo — observei divertido. — Você é meu fã e suas alfinetadas não me atingem mais. Tudo para você é
péssimo. — Não é verdade, você nua é maravilhosa. Ela sorriu e parou de cantar. Quando estacionei o carro em frente ao novo hotel onde estava, ela abriu a porta antes que eu tivesse a chance de fazer isso, assim que a alcancei ela pegou a minha mão e a apertou. — Eu sinto muito — disse baixinho. — Pelo quê? — Ele o encontrou assim mesmo. No restaurante. A pessoa de quem você fugiu ao se hospedar aqui. Acenei uma vez com a cabeça e a guiei para dentro do hotel. Não quis ouvir o gerente, sabia que ele falaria sobre as coisas quebradas no quarto, eu pagaria por elas depois, o dobro do valor se fosse preciso. Entramos no elevador e Carolina finalmente viu meu rosto. Ela se aproximou de mim e me abraçou. Enfiando o rosto em meu pescoço. Não disse nada, não perguntou nada, apenas ficou ali comigo. A abracei de volta, sabendo que a estava apertando demais, mas sem conseguir me afastar. Só a deixei sair de perto de mim quando o elevador parou no meu andar. Peguei sua mão guiando-a até o quarto. Ela arregalou os olhos ao ver as coisas quebradas e pegou minhas mãos, avaliando se estavam machucadas. Olhou-me com tanta preocupação e carinho, que me senti um pouco melhor. Me senti faminto por ela. Eu precisava de mais, mais do que aquele cuidado e aquele olhar. Precisava do seu amor. Pelo menos por aquela noite. — Dustin — chamou baixinho. — O que você precisa que eu faça? Eu faço qualquer coisa para você se sentir bem. Toquei seu rosto delicado, focado em seus olhos verdes e depois nos seus lábios deliciosos. — Eu quero algo de você, Carol. Algo que vai me fazer sentir melhor. — Eu faço qualquer coisa — prometeu. — Faça amor comigo.
Capítulo 16 ______________________
CAROLINA Não disse nada em resposta, assenti e segurei seu rosto, tocando meus lábios nos dele. Ele me beijou levemente, suas mãos lentamente desceram por meu corpo, pousando em minha cintura, firme, com a pressão de cada toque seu. Ele aproximou mais seu corpo do meu, prendendo-me em um abraço, sua boca dominando a minha, sem pressa, sem exigir nada, apenas acariciando meus lábios com os seus, minha língua com a sua. Foi algo tão intenso que me senti flutuar, tão doce que mal podia acreditar em tal sentimento. Ele tirou meu roupão sem separar os lábios dos meus, deixou-o cair aos meus pés, então afastou-se e olhou minha camisola. Um sorrisinho surgiu em seu rosto, mas ele não disse nada. A tirou por cima da minha cabeça, sem pressa, como se apreciasse cada pedaço de pele descoberta. Soltou meu sutiã com a mesma lentidão. Beijou-me carinhosamente na testa e no queixo, enquanto enganchava os dedos na minha calcinha. Ele se ajoelhou à minha frente e a tirou bem devagar. Um pé, depois o outro. A colocou sobre a camisola no chão e ficou um tempo observando-me. Embora aquilo estivesse me deixando ansiosa por seu toque bruto, era algo diferente, tão leve que eu não queria que acabasse, queria que demorasse a ter o meu prazer, mas pudesse ser o alvo de todo seu carinho, como naquele momento. Ele passeou as mãos por minhas pernas, acariciando de leve, depositou um beijo no meu centro, se levantou e depositou um beijo leve em cada mamilo. Quando olhou nos meus olhos, o seus pareciam pegar fogo. Esperei que fosse me puxar e me jogar na cama, como faria normalmente, mas ele deu um passo atrás e abriu os braços. — Dispa-me, Carol. Meio tremendo, obedeci. Eu nunca o havia tocado daquele jeito. Enquanto abria os botões de sua camisa, deixei que meus dedos se demorassem por seu peitoral e por sua barriga. A tirei vagarosamente, como ele havia feito comigo, passando por seus braços e tocando toda a extensão deles. Admirei seu corpo bem de perto. Era incrível que tivéssemos transado duas vezes e eu ainda não o
tivesse visto realmente. Eu sempre me concentrava tanto no seu pau, e no prazer de cada toque dele, que aquele foi de verdade o primeiro momento em que me permiti admirar cada pedaço de seu corpo másculo. Plantei minha mão em seu peito, a desci por todo seu abdome, tocando, sentindo a firmeza, os gomos, toquei sua tatuagem, era uma frase em inglês que não consegui identificar. — Life is to short, so alive and appreciate. A frase — ele disse, a voz rouca, olhando em meus olhos. — A vida é tão curta, apenas viva e aprecie. — É uma linda frase. Ele sorriu. — Agora tire minha calça, Carol. Esperei por este momento a noite inteira. Aproximei-me dele depositando beijos em seu peito, ouvindo-o rir. Abri o cinto e o tirei. Enquanto abria o zíper, pude sentir o volume que pressionava o jeans. Eu estava tão excitada e ao mesmo tempo tão encantada, que não me apressei em tocá-lo, era diferente tê-lo assim, tão entregue a mim pela primeira vez. Deixei que sua calça escorregasse por suas pernas grossas, e toquei seu membro por sobre a cueca. Ele gemeu baixinho, e me pediu que a tirasse para que ele pudesse sentir meu toque. Mais do que depressa obedeci. Como ele fez comigo, ajoelhei-me à sua frente, desci sua cueca um pouco desajeitada. Não esperei que ele a tirasse por completo antes de tocar seu membro intumescido. Corri minha mão por sua extensão e o levei à boca. Depositando um beijo em sua cabeça, seguindo de outros beijos por sua extensão. Ele chamou meu nome e tentou me erguer, mas não permiti. Não sabia o que faríamos naquela noite, se ele já ia perder o controle e me comer com força, como sempre fazia, mas eu queria amá-lo. Queria prová-lo sem o medo da primeira vez em que fiz aquilo. Sem a urgência de nós dois pelo prazer de chegar ao clímax. Queria tê-lo em minha boca apenas pelo prazer de senti-lo em mim. Apoiei-me em sua perna e guiei seu pau para dentro da minha boca. Lentamente. O chupei assim, sem desespero, sentindo seu gosto, sua extensão, a maneira como era tão firme e tão macio! O levei até o limite da minha garganta e depois de volta para fora devagar, fiz isso algumas vezes, e quando sua mão tocou meu cabelo, e ele gemeu mais alto, fiz um pouco mais rápido. O tempo todo, meus
lábios pressionavam com força seu pau, eu queria sentir seu gosto, senti-lo por inteiro. — Carol, venha aqui minha boneca, eu quero amar você — pediu com dificuldade. Deixei que ele me levantasse e me guiasse até a cama. Deitei-me com seu olhar faminto sobre mim. Ele pegou meus pés, beijando-os rapidamente, descendo os beijos pela minha perna. Então subiu direto até os meus seios. Depositou beijos rápidos por toda a extensão deles, os juntou com as mãos e abocanhou os mamilos de uma vez, alternando rapidamente de um para o outro. Ele não usou os dentes daquela vez, mas me sugava tão forte, que comecei a estremecer sob seu corpo. Ele deixou meus mamilos marcados por seus lábios, sorrindo com o resultado. Desceu a língua por minha barriga e parou a centímetros da minha boceta. Beijou calmamente a parte interna da minha coxa, então beijou ali, onde eu mais pulsava por ele. Achei que fossem ser beijos leves, mas ele não decepcionou, usou a mesma força que havia usado nos mamilos, ali embaixo. Sugando-me como se estivesse faminto por mim. Quando sua língua me penetrou lentamente e seu dedo beliscou meu clitóris, quase gozei. Ele deitou seu corpo sobre o meu. Eu estava no limite. Aquilo tudo era demais, cada toque, cada beijo, cada segundo. Eu não fazia ideia de há quanto tempo estávamos fazendo amor, mas não queria que acabasse nunca. Ele olhou meus olhos, beijando meu rosto, meu nariz e minha boca. Meu gosto em seus lábios, em um beijo tão calmo, contradizendo com seu membro que latejava pressionado em meu clitóris, quase me empurrou do abismo mais uma vez. Ele prendeu as mãos nas minhas, e me penetrou. Senti cada centímetro do seu pau, me preenchendo e dominando. Ele fez amor de um jeito que me deixava à beira do abismo, então diminuía o ritmo e eu recuava. Seu corpo colado ao meu, não havia uma parte minha que não estivesse em contato com ele, sua boca passeando onde alcançava, sugava a minha em um beijo terno e faminto, enterrou o rosto entre meus seios, erguendo-se um pouco para ir mais fundo. Eu não aguentava mais. Segurei seu rosto entre as mãos, fazendo-o olhar em meus olhos, e pedi: — Vem comigo, vem comigo agora. Ele me penetrou mais forte, atingindo algo em mim que me fez estilhaçar em mil pedaços, ele gritou junto comigo, continuando a se mover dentro de mim,
enterrando-se em minha boceta, esfregando seu peito sobre meus seios. Conforme fomos nos acalmando, ele deitou-se sobre mim, sem sair de dentro do meu corpo. Soltou minhas mãos e imediatamente passei os dedos por toda extensão de suas costas. Ele estava dentro de mim, no meio de minhas pernas, em cima do meu corpo e eu nunca havia me sentindo tão completa. — Meu pai — disse de repente. — O quê? — Ele decidiu que eu não podia mais lutar. Ele apareceu no restaurante hoje e eu não queria de jeito nenhum que ele se aproximasse, me desculpe se agi como um louco. Beijei seus lábios para que ele soubesse que não me importava. Ele saiu de dentro de mim e protestei, o que levou um sorriso ao seu rosto. Deitou-se ao meu lado, descartou a camisinha e me puxou para seu peito. Cobrindo-nos com o cobertor e me apertando em seus braços. Com a cabeça deitada em seu peito suado e firme, eu ouvia seu coração batendo acelerado, o calor de seus braços à minha volta me aquecendo, me senti em casa. — Achei que o tivesse perdido — comentei lembrando-me que ele disse que não tinha pais. — E perdi, de certa forma. É difícil. Ele era violento e agredia minha mãe. E eu era pequeno demais, e fraco demais para protegê-la. — Essa não era sua obrigação, Dustin. — Era sim. E eu nunca fui capaz. Levantei meu rosto olhando em seus olhos, tentando resgatá-lo de onde ele estivesse. — O que aconteceu? — Um dia, ela conheceu outra pessoa, um policial. Ela deu queixa contra meu pai, mas pouco depois retirou a denúncia. Esse policial se aproximou dela para ajudá-la e eles acabaram se envolvendo. Minha mãe era como uma casca, Carolina. Uma linda casca. Ela não sorria, não havia alma ali, ele tirou tudo dela. Então um dia, de repente, ela quis ir embora. Me orientou a encontrá-la no aeroporto após a escola. Ele engoliu em seco e depositei beijos por seu peito. Pouco depois, ele
continuou. — Naquele dia eu descobri que ela estava tendo um caso com o policial, eu vi fotos dela, onde ela sorria, seus olhos brilhavam, ela estava tão feliz! — Estava apaixonada. — Sim, completamente. Ela não apareceu no aeroporto e desconfiei que houvesse algo errado. Liguei para o tal policial e ele mandou uma viatura me buscar. Parecia que eu sabia, Carol, eu estava pressentindo. Eu sabia que algo estava errado. Quando eu vi as sirenes na frente da nossa casa, saltei da viatura e entrei. Ela estava morta. — Oh! Eu sinto muito, muito mesmo, Dustin. Meus olhos se encheram imediatamente e senti um aperto terrível no peito. Ele me apertou mais forte e comecei a acariciá-lo no rosto. — Achei que ele fosse o culpado, eu quis matá-lo, Carol. Mas ela deu um tiro na cabeça, foi o que eles disseram. As digitais dele não estavam na arma, a perícia constatou que foi suicídio, mas eu sei que não foi. Ela estava apaixonada, ia fugir dele, dar queixa, não tiraria sua vida quando finalmente estava feliz. — Você acha que ele descobriu sobre o caso dela? — Tenho certeza. Ele a matou antes que ela tivesse a chance de ser feliz. Eu já não gostava dele, mas depois desse dia, eu o odiei. Robert, o policial que estava com ela me levou para morar com ele, levou-me a vários psicólogos, eu comecei um tratamento porque não conseguia superar. Ele parou um pouco e permaneci ali, acariciando-o. Ele fechou os olhos e deitou a cabeça em minha mão, antes de prosseguir: — Aos dezesseis anos descobri uma forma de extravasar toda minha raiva. A luta. Eu malhei, me dediquei, criei massa e músculos, e então eu lutava. Eu imaginava em cada adversário o rosto do meu pai, e os deixava desmaiados. Eu nunca perdi uma luta, Carolina. Nunca. — Você devia ser incrível. — Eu era. Fui contratado por um clube de luta clandestina, o Luck. Eu adorava aquele lugar, tinha amigos lá. Era onde conseguia me distrair. Mas então, meu pai de repente me quis de volta, achei que fosse por causa do dinheiro que as lutas estavam rendendo. Foi um inferno de novo. Era perto do natal, sabe, eu não me
lembro de um natal bom, um que tenha sido um dia feliz, ou pelo menos um dia de paz. Era algo que tínhamos em comum. Meus natais com minha mãe eram terríveis, assim que fiz dezoito anos, não comemorei essa data em casa mais. — Eu também não — comentei e ele deu um beijo em minha testa. — Por que você não voltou a lutar depois que saiu de sua casa? — Porque eu tinha medo de ele estar certo, de ser realmente perigoso. Quando isso ataca, quando a raiva me toma, eu não tenho controle sobre mim, Carol. Eu fico louco. Eu temia o dia em que machucaria irreversivelmente alguém, e achei que mesmo que tivesse me destruído aquele momento, ter sido obrigado a parar foi um sinal de que eu deveria realmente parar. — E você não sente falta? — Pra caralho! Sinto falta da adrenalina, dos gritos, dos movimentos. Sinto falta de ter o braço erguido ao final de cada luta. De ter algo para descarregar toda frustração e raiva. Sem poder lutar, eu me dediquei mais ainda a malhar. Fo aí que comecei a frequentar os concursos, e acabei entrando nesse meio. Você pode usar isso no seu trabalho, para mim, foi uma forma de me reencontrar, algum meio de me fazer ser útil em alguma coisa. Os exercícios, eles me levam a raiva. E a admiração das pessoas, me diz que não estou aqui por nada. — Você é incrível, Dustin. A pessoa mais incrível que conheço! Ele sorriu e beijou minha mão. — Quero te mostrar algo — disse virando-me na cama e saindo dela. Pude ter uma visão de seu bumbum durinho e suas costas largas. Ele era milimetricamente perfeito. Voltou com um livro velho na mão, um livro de um autor brasileiro. Soneto de fidelidade e outros poemas, de Vinicius de Moraes. Ele sentou-se na cama e começou a recitar, enquanto eu folheava o livro: “De tudo, ao meu amor serei atento Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto Que mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento.”
Localizei o poema que ele recitara. Soneto de Fidelidade, sorri ao terminar de lê-lo. Dustin me acompanhou, recitando-o todo. Ele o sabia de cor. — Está vendo esse pequeno envelope colado aí? Havia ao lado da folha do poema, um envelope amarelado. Assenti e o peguei. — Era isso que eu queria que você visse. Abri com cuidado o papel velho, e uma letra linda em uma folha de caderno gasta pelo tempo, havia uma mensagem escrita à caneta.
Meu filho, viva por inteiro, e seja inteiro a cada dia. Jamais permita que o amor quebre você. Ele precisa ser uma coisa boa, algo que te completa e não algo que te rompe. Com amor, mamãe.
Entendi muito mais daquela mensagem naquele momento. E entendi algo que Dustin disse sobre não ser quebrado. Ela havia se partido por um amor que não era real, e queria que Dustin nunca passasse pelo mesmo, que amasse apenas alguém que o completasse e fizesse bem. Jamais alguém que o diminuísse. Lágrimas desciam por meus olhos e pelos dele. Guardei o bilhete de volta no envelope e coloquei o livro sobre a cabeceira da cama. Estendi os braços para ele, que se aconchegou a mim, beijando-me com sofreguidão, colocando todo sentimento, toda dor naquele beijo. Tentei ser seu refúgio, algo que o fortalecesse, o apertei em meus braços e ficamos assim, nos beijando intensamente e sentindo um ao outro por muito tempo.
Quando estava quase adormecendo, Dustin beliscou levemente minha bunda, me despertando. Disse com a voz sonolenta: — Se você não estiver embalada em mim quando eu acordar, Carol, juro que vou atrás de você e lhe dou umas palmadas. Sorri, aconchegando-me mais ainda a ele. — Tentador. Até de manhã eu decido qual ideia me agrada mais.
Adormeci em seus braรงos e senti que quando o dia nascesse, ele estaria bem.
Capítulo 17 ______________________
CAROLINA Eu estava tão distraída, que nem me importei quando o Alan derramou suco de uva na minha blusa branca. Disse tudo bem com um sorriso enorme, e ele ficou me olhando como se eu fosse um ET, antes de perguntar desconfiado: — Você está bem, tia Carolina? — Não poderia estar melhor. Deixei que ele comesse o que bem entendesse, que fosse feliz aquela criança. Não o obriguei a fazer o dever de casa, como fazia toda sexta, mas o fiz prometer que faria no domingo antes que os pais dele percebessem. Acordar nos braços fortes e quentes de Dustin foi uma das melhores coisas que já experimentei na vida. Tomamos café juntos, ele me beijou o tempo todo, não tirava as mãos de mim. Conversamos sobre diversas coisas e ele me falou muitas coisas que ajudariam no trabalho. Eu já tinha uma boa ideia do que fazer nele. Ele me levou em casa e fiquei meia hora no banheiro, olhando-me no espelho e divagando sobre como eu devia realmente ser linda, para um homem como ele ter tanto carinho e desejo por mim. Pela primeira vez desde que eu me lembrava, ao olhar-me com a roupa do dia, não me senti uma coisa horrenda que não deveria ser vista. Eu estava acima do peso, sim, mas e daí? Ia começar a me exercitar mais, até ficar como eu me acharia bonita, como eu me sentiria bem em minhas roupas, levaria em conta o que eu sentisse. E as pessoas com seus padrões de beleza que fossem para o inferno! A vida é curta, viva e aprecie. Esse era meu novo lema. O interfone soou e Alan correu para atender. Continuei tentando tirar a mancha de uva da minha blusa enquanto preparava um sanduíche para o menino, quando ele entrou correndo em casa, os olhinhos brilhando e gritando como uma criança animada. — Tia Carol, ele está aqui! Aquele homem forte do desfile!
— Que homem, Alan? — Dustin. O americano. O que eu disse para você que vai ganhar e você disse que... Cobri a boca dele ao ver a figura de Dustin encostada ao batente da porta, com um sorriso lindo no rosto. — Olá, Carolina. Estou curioso para saber o que você disse a ele sobre eu vencer o concurso. — Oi, Dustin. Eu não disse nada demais. Soltei Alan e me arrependi assim que ele abriu a boca. — Ela disse que você ia ganhar só porque seu ego é maior do que o de todo mundo. Dustin riu alto e Alan pareceu confuso. — Tia, o que mesmo é ego? Ele havia me feito essa mesma pergunta no dia em que vimos Dustin na televisão, mas respondi de novo, apenas para ver o sorriso no rosto de Dustin. — É o excesso de confiança em alguém que não é tão bom assim. Dustin ficou me olhando, me devorando com os olhos, concentrando-se na mancha acima dos meus seios. — Eu não estava mentindo — defendi-me. — De fato — ele reconheceu. — O que houve com sua blusa? Ele se aproximou de mim como um predador, roçando o dedo por dentro do decote da blusa. — Dustin! — repreendi-o me afastando, Alan não estava nos olhando, mas podia fazê-lo a qualquer momento. — Estou com saudade. Te mandei um mundo de mensagens e você não me respondeu. — Eu saí tão distraída que esqueci o celular em casa. — Distraída? Algo a deixou nas nuvens, senhorita Lince?
— Cuidado com esse ego — avisei quando ele me abraçou e depositou um beijo longo em meu pescoço. Aproveitei seu calor só um pouquinho e me afastei, apontando para Alan. Fui até a cozinha para tentar lavar a blusa, e ele me seguiu. Fechou a porta e antes que eu dissesse que não íamos fazer nada ali, ele me agarrou. Pegou-me pela cintura e me depositou sobre o balcão, sua boca devorando a minha, sua língua dominando a minha sem piedade. Sua ereção se arrastava no meio de minhas pernas por cima da calça e me peguei gemendo baixinho, morrendo de saudade dele. — Não podemos, Dustin, pare! — falei assim que ele se afastou para mordiscar meus seios por cima da blusa. — Isso está com um gosto bom — brincou sobre o suco derramado ali. — Eu sei. Só queria beijá-la. — E precisava me colocar em cima do balcão para isso? — Sim, meu pau queria cumprimentá-la. — Fale baixo — repreendi sorrindo e passeando as mãos por seu cabelo e seu rosto. — O que diziam suas mensagens? — O quanto pensei na sua boceta apertadinha a manhã toda. — Típico. — Uma outra dizia que acordar com você na cama me deixou com um puta bom humor. As últimas eu já estava bravo, brigando com você por me deixar tanto tempo sem notícia. — Alguém sentiu minha falta — provoquei. — Alguém não para de pensar em você, bruxinha. Nem consegui malhar hoje, alguns aparelhos falaram comigo. — Falaram? Você bebeu? Que aparelhos? Ele sorriu. — Aqueles em que você esteve nua. Eles ficaram me lembrando como foi bom comer você ali. Acho que estou viciado em outro tipo de exercício agora. — Esse tipo de exercício não vai encher sua conta bancária.
— Não, mas vai encher meu pau de felicidade. — Que romântico! Ele me beijou de novo, dessa vez mais lentamente, sentindo meu gosto e me dando o dele. — A que horas você sai? — perguntou colando a testa na minha, beijando a ponta do meu nariz. — Em duas horas. Mas ainda vou para a faculdade e preciso terminar aquele trabalho. — Faça isso amanhã, trouxe algo para você, por falar no trabalho. Vim aqui para isso. — Poxa, achei que tivesse vindo porque estava morrendo de saudade. Desci do balcão e o segui para fora de casa. Ele se despediu de Alan e pegou um envelope no carro. — Minha saudade não vai ser saciada com apenas uns beijos, quero foder você. E depois fazer amor com você, a noite toda. Pisquei os olhos presa em suas palavras sem conseguir respirar, e ele me estendeu o envelope. — Algumas matérias de fisiculturistas e musos fitness, que tiveram suas vidas mudadas por isso. Achei que podia ajudar. — Jura? Obrigada, Dustin! — Não vai dizer que nesse momento você me ama? De repente eu fiquei totalmente sem graça diante daquele pedido. Eu havia dito isso no dia do desfile, era brincadeira, mas falar levianamente algo que eu achava que estava mesmo sentindo me pareceu errado. — Ah meu Deus! Senti-me congelar e Dustin me puxou em seus braços, chamando meu nome. — O que houve? O que foi Carolina? — Nada. Obrigada pelas matérias e pela visita. Te vejo amanhã? Ele beijou minha testa e me manteve em seus braços.
— Nem fodendo. Você me vê em duas horas. Comporte-se até lá. Ele me beijou mais uma vez e entrou no carro, buzinou acenando um tchau e gritei: — Sinta minha falta! — Já estou sentindo. Voltei para dentro da casa e demorei mais do que devia para terminar o lanche do Alan, fiquei pensando sobre aquele sentimento estranho e louco que surgia dentro de mim. Ele não tinha futuro algum, Dustin iria embora em três dias e eu nunca mais o veria. Provavelmente ele me esqueceria assim que chegasse ao próximo país de sua turnê e encontrasse outras mulheres por lá. Mas eu me lembrava das palavras de sua mãe, sobre o amor que te completa, te faz inteiro quando está quebrado. Na semana passada eu me sentia quebrada, e de repente, estava inteira. Dustin me fazia inteira. Ele me aceitava como eu era, me via como ninguém jamais me viu, me amava em cada beijo e toque, e em cada provocação, como nenhum outro homem seria capaz de me amar. Sorri com a triste constatação. Eu tinha mais três dias para viver aquilo, não diria a ele de jeito nenhum, não seria tão patética. Mas não ficaria me lamentando por algo tão grande durar tão pouco. Ao menos eu estava sentindo algo assim. Era um grande problema e uma grande felicidade.
Dei uma lida nas matérias enquanto a mãe do Alan não chegava, ele havia levado cinco delas. Uma falava sobre Mary Sheepard, uma inglesa de sessenta e três anos, que se separou do marido aos quarenta e sete. Ela vivia um relacionamento doentio e abusivo, ficou em depressão e encontrou nos exercícios uma forma de extravasar. Logo, se tornou uma musa, exemplo para outras mulheres, linda e segura de si. A outra falava de uma espanhola, Melina Sanchez, ela havia sido gordinha a vida toda e trocada pelo noivo nas vésperas do casamento pela irmã mais nova, que era magra. Se tornar uma musa fitness a fez sentir-se linda, ela está casada e tem filhos, e o ex se separou da irmã menos de um ano depois do casamento. A terceira matéria era sobre um homem, que havia entrado para o mundo das drogas, ele conheceu um “padrinho” em uma clínica de reabilitação, que o apresentou ao mundo fitness, ele conseguiu superar o vício e tinha vários afilhados, retirados das favelas, que viviam muito bem, como ele.
Li todas as matérias com um sorriso enorme no rosto. Eu já conseguia pensar perfeitamente como seria o meu trabalho e entendia a importância desses deuses musculosos e até mesmo aquelas chatas. Talvez eu até as usasse como exemplo para melhorar o que não gostava em mim. Mas só talvez. Muito provavelmente eu faria isso pensando no dia em que veria Dustin de novo e queria que ele me visse deslumbrante e me comesse no local onde estivéssemos, de tanto tesão. Comecei a digitar meu trabalho, focando primeiro nas matérias que Dustin me deu e em algumas coisas que havia visto no desfile e no dia da sessão de fotos do Dustin. Quando entrei no assunto, do profissional a quem segui, deixei para depois. Eu precisaria de muitas horas para conseguir definir Dustin em poucas páginas. Ele era incrível!
Dustin estava me esperando na porta da casa de Alan, demos uns bons amassos no carro antes dele me deixar em casa, porque eu precisava ir para a faculdade. Até fiquei tentada a faltar um dia e ficar com ele, mas infelizmente eu tinha uma prova. Maldita prova. Como se eu fosse ter cabeça para pensar em qualquer coisa que não fosse ele, de qualquer forma. Assim que entrei em casa, Júlio estava lá, sentado na mesa de centro, de frente para Lilian e ela não tinha uma expressão muito boa no rosto. — Ei, está tudo bem por aqui? Júlio deu de ombros e Lil se levantou, pedindo a ele um minuto e arrastandome até o meu quarto. — O que houve, Lil? — Big, o Júlio apareceu aqui e disse que está desistindo de todas as mulheres. Me mostrou o celular dele com a agenda vazia de nomes femininos e me deu uma cópia da chave do apartamento dele. Cobri a boca com a mão surpresa com a atitude dele. — E o que você sente sobre isso? — Não faço ideia. Eu gosto de ele estar tentando, e acho que não vai dar certo, que vou quebrar a cara. Talvez, seja mais fácil se ele for o garanhão de sempre e eu souber que é apenas sexo, assim não me apegarei e não vou acabar em uma fossa como da outra vez.
— Lil, pare já com isso. Você sabe que nunca seria só sexo, se fosse assim você dois já teriam rodado por esse prédio todo há muito tempo. Você sente algo por ele desde sempre, e se agora ele está mesmo se dedicando a você, seria muita burrice sua desperdiçar isso. — Eu sei que seria, mas não sei o que fazer. — Vá com calma. Você falou de novo com o Marcelo? Ela fez uma careta. — Nem quero. — Bom, nesse caso, aproveite. O que está esperando? Só não se apegue a ele como uma tábua de salvação do seu ex-marido. Seja apenas você e ele. Deixe o resto de fora. — Você está certa. Onde está o Dustin? — Acho que malhando. Ela pegou minhas mãos e disse com um sorriso de contentamento no rosto: — Eu sinto que ele foi a melhor coisa que aconteceu na sua vida, Carol, pode ter certeza que esse encontro não foi por acaso, e não vai acabar tão cedo. Eu não respondi, apenas sorri e a deixei ir. Mas por dentro eu concordava plenamente com a primeira parte e torcia que ela estivesse certa sobre a segunda.
Capítulo 18 ______________________
CAROLINA Durante a primeira aula, estava lendo as mensagens que o Dustin havia me mandado, rindo como uma boba de seu jeito todo fofo, arrogante, mandão e desesperado. A primeira, mandada meia hora depois que ele me deixou em casa, dizia:
“Acordar com vc em meus braços me deixou com um puta bom humor. O que vamos fazer sobre isso?”
Sorri como uma boba e segui para as outras mensagens.
“Não paro de pensar em vc. Nem na sua bocetinha linda e tão apertadinha. Te quero muito, minha bonequinha.”
“Pq não está me respondendo? Preciso ir até aí e mostrar pra vc o que está ignorando, Carolina?”
“Ok, pode parar com esse jogo, já nem estou pensando tanto em vc, só qdo olho pra cada aparelho desse galpão.”
“Estou sozinho, suado, entediado no galpão. Adoraria receber uma visita atrevida agora.”
“Carolina! Se não me responder em dois minutos, estarei na sua casa em três!”
“Chega com essa porra! Estou indo até vc, vou puni-la por me deixar com saudade.”
Pensei nele o tempo todo, rascunhei algumas coisas sobre ele que poderia usar no meu trabalho. Eu teria que tomar cuidado para não deixar transparecer demais o quanto estava apaixonada por ele em tão pouco tempo. Era hora de mostrar a mim mesma, se eu tinha meu lado jornalista imparcial, teria que ser bem profissional. Um murmurinho pelos corredores da faculdade atraiu minha atenção, mas logo me distraí lembrando da visita surpresa de Dustin mais cedo. Esbarei no professor Roberto, que com sua carranca habitual perguntou: — Como está seu trabalho, Carolina? Ainda tendo dificuldade com seu musculoso? Mal abri a boca para falar, ele resmungou algo revirando os olhos. — Pelo visto, seu trabalho vai muito bem. Estou ansioso para ver como vai ficar o seu documentário, na segunda, Lince. Até lá. Olhei para onde ele havia olhando ao resmungar e, cercado por um monte de garotas oferecidas e caras invejosos, estava Jake Dustin, maravilhoso com uma jaqueta preta e calças de moletom. Ele sorria paciente para a quantidade de pessoas que o cercavam e dava alguns autógrafos. Estaquei esfregando os olhos para ter certeza de que não estava imaginando aquilo. Ele não podia ter ido a faculdade me buscar. Era algo romântico demais para quem só estava me comendo até o final de semana. Mas, assim que seus olhos pousaram em mim, ele abriu um imenso sorriso. Devolveu o caderno onde assinava ao dono e passou pela aglomeração de pessoas vindo até mim. Abri a boca para cumprimentá-lo, mas ele me puxou pela mão, cobrindo minha boca com a sua com certo desespero. Eu não era particularmente fã de demonstrações exageradas de afeto em público, mas com ele eu não me importava nem um pouco. Deixei que me prendesse em seus braços e matei minha própria saudade de seus beijos. Quando se afastou, ele enterrou o rosto em meu pescoço e o mordiscou. — Cinco horas, eu não aguentava mais — justificou estar ali.
— Também estava morrendo de saudade. Que bom que você veio! Ele me levou até o carro e foi estranho ver a inveja nos rostos de algumas meninas ali. Eu nunca fui a garota que todas queriam ser, mas naquele momento, como objeto de afeto de Jake Dustin, eu era. Todas ali queriam ser eu. Sorri. Sempre me perguntei como seria ser aquela que todas querem ser, e quando finalmente fui, percebi que não era nada demais. O mais importante era o homem lindo que dirigia com a mão na minha e a beijava a cada vez que parava no sinal. Eu estava perdidamente fodida. Devo ter feito uma careta, porque ele perguntou preocupado: — O que foi? Algum problema? — Um grande, forte e delicioso problema — respondi fazendo-o rir alto.
Dustin entrou comigo em casa e achei que me arrastaria para o quarto para me foder, como estava prometendo durante todo o dia, mas ao invés isso, ao me arrastar até meu quarto, ele abriu meu guarda-roupa. — Vamos sair hoje. Dançar. Que tal? — Você sabe que não sei dançar, mas se quer pagar mico tentando, eu topo. Peguei a primeira blusa de usar à noite e o primeiro short jeans que encontrei e fui tomar um banho, quando sai já vestida, Dustin tinha um sorriso bobo no rosto. — O que foi? — Você não ficou vestindo mil roupas e colocando defeito em cada uma delas. Estou orgulhoso de você, minha boneca. — Estou estranhamente me sentindo bem hoje, acredita? — Acredito. Passei o dia todo nas nuvens. Ele me puxou para seus braços e me beijou, e depois de um tempo, fomos a tal boate que ele tanto queria conhecer. O local havia estreado há pouco tempo, e conseguir entradas para aquele mês era quase impossível. Mas não para Jake Dustin, sequer tivemos que pegar fila. Felizmente, nenhum flash foi disparado em nossa cara ali. A boate por dentro
parecia coisa de outro mundo. Globos de luz brilhavam no alto, jogando luzes coloridas nos corpos dançantes na pista. Ali, onde havia dança, não havia outra iluminação além dos globos. Se via os rostos e movimentos dos corpos, e nada mais. Achei aquilo excitante. Fomos para o segundo andar, onde várias mesas eram rodeadas de sofás confortáveis. A decoração toda era futurística, até mesmo os uniformes dos barmen e garçons. Ali em cima, ainda era possível ouvir a bagunça que vinha de baixo, e dava para ver as luzes brilhando nos corpos dançantes, a luz ali era baixa, havia pequenos globos sobre as mesas. Ou eu estava mesmo muito apaixonada, ou tudo aquilo era muito romântico. Parei para observar a pista lá embaixo, as pessoas se entrelaçando e sorrindo enquanto dançavam, o clima sensual e divertido que reinava ali. Quando me virei para encontrar Dustin, esbarrei em alguém, que derramou uma bebida gelada em sua blusa com meu empurrão. — Me desculpe. Eu não o vi, desculpa. O homem era um loiro alto, na casa dos vinte, de olhos azuis. Ele não era magro, mas nada musculoso como Dustin. Esperei que fosse gritar comigo e agradeci pelo som alto demais que não me permitiria escutá-lo bem, mas ao invés disso, ele sorriu. Como uma estabanada, tentei limpar o líquido que corria por sua blusa, com as mãos, acertando-o com tapas e esfregando em desespero, o que o fez rir ainda mais. — Você já molhou a minha blusa, não precisa rasgá-la também— observou divertido. — Ah, eu sinto muito. Achei que estivesse ajudando. — Sou Gabriel, você é? — Carolina. Toquei sua mão e rapidamente a tirei, procurando por Dustin. — Você é muito bonita, Carolina. — O que? — Olhei para os lados para ter certeza de que não havia uma garota parada atrás de mim, que coincidentemente também se chamava Carolina, mas
não havia. Ele estava falando comigo. Senti-me corar com o elogio, mas de uma forma estranha, além do fato de alguém além do Dustin me achar bonita, não teve em mim o efeito que pensei que teria se um dia recebesse um elogio de um homem bonito. — Obrigada. Eu preciso ir. Dei um passo para longe dele, que segurou meu braço, puxando-me para perto demais de seu corpo. — Você está acompanhada? — Sim, ela está — Dustin respondeu por mim, puxando-me do aperto dele. O cara, Gabriel, soltou-me com um sorriso sem graça, e ainda piscou para min antes de se afastar. Dustin me guiou até nossa mesa sem dizer nada. Praticamente me joguei sobre o pequeno sofá fofo, e ao invés de sentar-se à minha frente, ele sentou-se ao meu lado. Seu semblante sério me fez pensar que estava bravo. Ele pegou minha mão e a levou até seus lábios, dando pequenas mordidas nas pontas dos meus dedos. — Não sou só eu que a acho linda, viu? Dei de ombros, como se não tivesse sido nada demais. — E você não precisava ter esfregado o corpo dele. — Eu esfreguei a blusa, estava tentando limpar. Há quanto tempo você estava vendo? — O tempo todo. No segundo em que você parou para olhar para baixo, eu parei também, esperando por você. Eu vi todo o desenrolar e devo admitir que foi bem ruim não ter interferido no momento em que você o tocou. Eu não estava entendendo nada. Ele queria me testar? Saber se eu teria dado mole para outro cara com ele ali, esperando por mim? Comecei a sentir raiva e sabia que estava ficando vermelha, porque senti meu rosto esquentar. Mas, antes de ter um ataque com ele, perguntei pausadamente: — E por que você não interferiu? — Porque eu não sinto ciúmes. Não vou me permitir sentir agora.
Ele olhou para frente, parecendo meio perdido. — E também — continuou — foi bom para você, para sua autoconfiança, saber que realmente é linda e não sou só eu que acho isso. Eu estava tão confusa, que não disse nada, apenas o puxei para junto de mim e o beijei, ao que ele correspondeu de boa vontade, puxando-me para dentro de seus braços. Bebemos coquetéis sem álcool, ele porque ia dirigir, e eu para acompanhá-lo. Depois fomos para a pista de dança. Pulei como uma louca, sentindo o suor escorrer entre meus seios, Dustin dançava à minha frente, mas me puxava de encontro ao seu corpo o tempo todo, depositando beijos e mordidas em meu pescoço, quando depositou uma dessas mordidas em meu seio, afastei-me dele assustada, olhando em volta para me certificar que ninguém havia visto, mas ninguém parecia se importar com a gente. Ele sorriu do meu medo, e me beijou, sua língua dominando a minha, sua ereção pressionada em minha barriga, quando sua mão tocou minha bunda, me apertando contra ele, soltei-me e virei de costas, dançando de forma que minha bunda passava por sua ereção, pressionando-a. Ele me agarrou pela cintura, fazendo com que esses movimentos fossem mais fortes, e mordeu minha orelha. — Ah Carolina, se você me fizer gozar na calça, como um adolescente bobo, juro que te farei abaixar-se aqui, no meio de todas essas pessoas para lamber tudo. Sorri e continuei a provocá-lo. Eu nunca havia sido tão ousada. Nunca havia pensando que era capaz de seduzir alguém, mas com Dustin era tão fácil! Ele me olhava como se quisesse me devorar, respondia a cada uma das minhas investidas e me falava as coisas mais deliciosas, me dando confiança para provocá-lo ainda mais. Algo nele, em como ele me via, me fazia ver-me de maneira diferente também. Eu me sentia bem, me sentia bonita, e me sentia assim para ele. E não me importava que mais ninguém no mundo gostasse do que via em mim, além de nós dois. — Estou amando essa sua confiança e esse jeitinho atrevido. Estou louco para levá-la ao meu quarto, colocá-la de joelhos e testar toda essa sua ousadia. Ele me pegou pela mão e me levou de volta ao sofá, no andar de cima. — Cansou, querido? — provoquei.
— Não, estou apenas evitando uma cena. Venha aqui. Ele pairou sobre mim, forçando-me a abaixar no sofá macio, seu corpo pesando sobre o meu, suas mãos em todos os lugares onde ele conseguia alcançar. Sua boca tomou meu seio por cima da blusa, chupando com força, me fazendo gritar. Eu sabia que meus gritos não seriam ouvidos com o som da música tão alto, sabia que ninguém estaria preocupado com o que estávamos fazendo. Pelo menos pensei que soubesse. Dustin voltou sua boca para a minha e conseguiu rapidamente abrir o zíper do meu short. Me senti enrijecer em alerta, pensando que aquilo já era ir longe demais, ele percebeu meu medo, e me garantiu: — Não vou fazer nada demais, amor. Quero apenas tocar você. Ficou olhando para meu rosto, esperando minha aprovação, e quando a dei, seus dedos percorreram por cima da minha calcinha, fazendo-me contorcer em prazer sob seu corpo. Ele pressionou ali forte. Logo, seus dedos abriram espaço no tecido, tocando minha carne nua. Mordi seu ombro para conter outro grito, e ele começou a trabalhar ali intensamente. Fechei meus olhos e apenas senti. Seus dentes em mim, seus dedos me levando à loucura, e quando achei que fosse explodir no orgasmo mais forte da minha vida, um pigarrear me fez congelar totalmente. Dustin agiu como se não estivesse fazendo nada demais. Se demorou fechando o zíper do meu short e sentou-se, olhando tranquilamente o garçom que nos encarava. — Senhor, sinto incomodar, mas esse tipo de movimento não é permitido aqui. Pedimos que mãos fiquem por cima das roupas, não por baixo. Para isso, há um motel logo aqui à frente. — Obrigado pelo incômodo, vou me retirar para lá. O garçom assentiu e se afastou, e eu não sabia onde enfiar minha cara. Mas Dustin riu tanto, que acabei rindo também. Quem saberia de nossa pequena aventura, de qualquer forma? Me certifiquei de olhar à nossa volta e não havia ninguém próximo a nós. Quem olhasse de longe pensaria que havíamos apenas exagerado no amasso. — Vamos embora? — supliquei fazendo-o rir ainda mais. — Vou pagar a conta.
Agradeci e peguei minha bolsa, esperando por ele lá embaixo, perto da porta de saída. Um copo de algo vermelho surgiu à minha frente e sorri ao reconhecer Rodrigo, um colega de faculdade. — Está bonita, Carolina. Dançando muito? — Oi Rodrigo, estou me divertindo. O que é isso no seu rosto? Ele tinha um roxo no canto esquerdo da boca e seu olho parecia meio inchado. Ele costumava aparecer assim em várias segundas, mas nunca havia parado para pensar no que acontecia com ele. Ele olhou para os lados e se aproximou do meu ouvido, gritando por cima da música: — Eu luto. Hoje foi dia. De repente, algo me veio à mente. O puxei para perto novamente, para confirmar minha suspeita. — Você luta em um clube? Luta clandestina? Ele assentiu. — Eu tenho um amigo que luta, como faço para que ele lute lá? Ele abriu um sorriso enorme. — Gata, ele teria que me desafiar, sou o filho da casa. — Ele não se importaria — garanti. Ele pegou o celular e peguei o meu na minha bolsa, me passou o número do responsável pelo agendamento de lutas no tal clube. Sorri satisfeita, eu faria uma surpresa para o Dustin. Mal terminei de gravar o número no celular, a mão de Dustin pegou meu braço, arrastando-me para fora da boate, apertando forte meu pulso. — Dustin! Pare! O que está fazendo? Ele não disse nada, tampouco afrouxou o aperto em meu pulso. Levou-me irritado até seu carro. Empurrou-me em direção a porta, e me beijou. Seus lábios tomando o meu com violência, exigindo de mim mais do que eu podia dar. Tentei recuar de seu beijo punitivo e ele percebeu. Abriu a porta e esperou que eu entrasse, a bateu e deu a volta, jogando-se no assento ao meu lado, arrancando o
carro enquanto colocava o cinto. — O que houve? — Não fale comigo agora, Carolina! — Jura? Ele não respondeu e reclamei irritada com sua criancice. Quando ele parou o carro na porta do meu prédio, não fez qualquer sinal de que ia descer comigo. — Não achei que fosse me trazer para cá — admiti. — Você mora aqui. — Que merda aconteceu com você? Por que está me tratando assim de repente? — Então me dei conta do que poderia ter sido — Ah, meu Deus, seu pai estava lá? Ele o encontrou? Ele me olhou com uma expressão confusa e negou com a cabeça, puxando uma respiração profunda, explicou rapidamente o motivo de sua ira. — Não tem a ver com ele, tem a ver com você e seu excesso de confiança. — Não entendi. Você disse que gostava da minha ousadia. — Gosto quando é direcionada a mim! — Agora entendo menos ainda! — Não era para você ficar flertando com outro cara no segundo em que eu dei as costas. E ainda pegar o telefone dele, Carolina? Você não percebeu que eu não tiro os olhos de você? Sei que disse que não sinto ciúmes, e não vou admitir por porra nenhuma o que senti, mas estou puto pra caralho com você! Eu não sabia se o matava, o beijava ou ria dele. Acabei ficando com a terceira opção. Dei uma crise de riso, o que pareceu irritá-lo ainda mais. — Eu não estava flertando com ninguém, seu babaca! Ele é um colega de escola! Nós só conversamos, ele também estava acompanhado. — Então por que você pegou o telefone dele? — Não é da sua conta! Não sou obrigada a explicar cada passo meu para você. Estou dizendo que não foi nada demais e você tem que confiar em mim.
— Por que eu faria isso? — Por que não faria? — Porque não confio em ninguém que faz comigo o que você está fazendo! Você está tentando me quebrar, Carolina, mas não vou deixar. — O quê? — É melhor que você saia agora. Demorei uns dois minutos para reagir, completamente chocada e depois possessa com ele. — Quer saber? É melhor mesmo! Adeus, Dustin. Tomara que arranhe esse carro daqui até o hotel! Bati com toda força a porta ao sair e tive a dignidade de chegar ao elevador antes de cair no choro. Por que será que quando algo tão bom acontece na nossa vida, algo tão ruim vem em seguida para estragar tudo? Lil não estava em casa e havia um bilhete dela pregado na geladeira, por baixo de nossa vaquinha obesa, dizendo que estava fazendo um tour nos apartamentos vizinhos, e sorri contente que pelo menos ela tivesse um fim de noite feliz. Tomei um banho e me joguei na cama. Estava exausta e irritada. A irritação não passava. Peguei meu celular pela décima vez, mas não havia nenhuma mensagem dele. — Seu idiota! Me peça desculpas! Vamos, me ligue! Babaca! — gritei como uma louca para o celular, sacudindo-o. Então disquei o número que havia salvo há poucas horas, se era um clube, alguém me atenderia, de preferência, Henrique, o dono. — Henrique falando. Era ele, mesmo que Dustin não merecesse, pelo menos naquele momento, eu o daria de volta o prazer de lutar.
Uma chuva forte caía lá fora, e o tempo havia esfriado. Me enrolei no cobertor e fui até a cozinha, peguei um copo de leite e olhei para ele: — Desculpe, querido. Você foi tudo o que sobrou. Eu deveria ter algo diferente na boca agora, mas a vida, — suspirei ainda mais irritada — a vida é uma grande
merda! Virei o copo de leite na boca e estava caminhando de volta ao meu quarto, quando minha porta quase veio abaixo. Esperei um momento, com medo de ver quem era. Mas então uma voz, a que eu mais queria ouvir no mundo, gritou: — Carolina, eu sei que está aí, estou sentindo seu cheiro. Vamos, abra a porta! — O que você quer, Dustin? — perguntei com o coração aos pulos, já com a mão na maçaneta. — Pedir desculpas, e fazer amor com você. Por favor, boneca, abre essa porta. Girei a chave e a abri, eu era mesmo uma fraca quando se tratava dele. Mas era uma fraca completamente feliz.
Capítulo 19 ______________________
DUSTIN Ela me olhou com mágoa e eu daria qualquer coisa para que não tivesse causado tal sentimento nela. Não sei o que deu em mim para agir como um completo idiota com ela, e nem sei o que deu em mim para estar ali, na sua porta, disposto a implorar que ela me deixasse amá-la de novo. Eu nunca havia sentido tanto medo de perder alguém, como quando a vi flertando com outro cara, e isso era completamente irracional, ela não era minha. E eu não ia parar para pensar nos sentimentos malucos que rondavam minha mente naqueles últimos dias. Eu só queria tê-la, o resto eu veria depois. Ela prostrou seu corpo no batente da porta, segurando-a junto a si para que eu não entrasse. Eu poderia facilmente empurrar a porta e passar por ela, mas eu queria seu convite. — Me desculpe, Carol. Eu gostaria de poder te dizer por que agi como um idiota ciumento, mas eu não sei o motivo. Eu não sei nem mesmo o que estou fazendo aqui agora. — Talvez você devesse ir embora, Dustin. E devesse tentar descobrir realmente o que você quer. — Não tenho dúvidas quanto a isso, eu quero você, e quero agora. Acho que vou enlouquecer se não estiver dentro de você nos próximos minutos. — E aí amanhã você vai agir como um ogro de novo, e na hora em que estiver excitado vai se lembrar do que você quer? Gaguejei e não disse nada. — Não quero ser chata, Dustin, nem cobrar nada. Só quero entender. — Eu estava louco de ciúmes de você! Era muito mais fácil quando estávamos em nosso mundo, apenas nós dois e todo o desejo que sentimos, mas, quando eu vejo outro homem comendo-a em pensamento, do jeito que eu como, eu perco o controle. Desculpa se sou um idiota, você sempre soube disso, mas eu não consigo esquecer que estou indo embora na segunda e qualquer um desses babacas pode estar na sua cama na semana que vem!
Dei um murro na parede ao lado da porta, sem coragem de olhar para ela. — Quer saber, Carol? Foda-se! Eu devia ir embora e deixar você em paz, mas não vou. Eu preciso de você e sei que você também precisa de mim, então por favor, esqueça essas últimas horas e me beija. Ela se afastou da porta e achei que iria fechá-la, mas ela terminou de abri-la e deu um passo para fora, no corredor, muito perto de mim. Sem nada que me impedisse de puxá-la para meus braços. E eu estava tentado a fazer exatamente aquilo. Tentei ser menos idiota daquela vez e esperar que ela dissesse o que estava sentindo, ou que colocasse para fora seus palavrões e sua ira. Mas ela não o fez. Ficou ali, observando-me, pensativa. — Estou tentando ser legal e deixar você falar, mas se você continuar me olhando assim, juro que vou agarrá-la aqui mesmo. Ela deu mais um passo em minha direção, encostando seus braços cruzados em meu peito. Foi o suficiente, a puxei pela cintura e afundei o rosto em seu pescoço, sentindo o cheiro de sua pele e de seu cabelo, aquele cheiro delicioso que me fazia acalmar instantaneamente. A apertei contra meu corpo e a senti se aconchegar em meu abraço, toquei seu rosto sentindo algo que eu nem sabia explicar, ela não me odiava. Mais uma vez, ela simplesmente me desculpou. — Sabe, você gosta de mim pra caralho — observei antes de descer meus lábios sobre os dela, sentindo-a corresponder com a mesma paixão, passando os braços sobre o meu pescoço e me puxando mais para cima dela. A guiei para dentro do apartamento e fechei a porta com o pé, sem tirar os lábios dos dela, fui guindo-a até a porta do seu quarto. Atropelamos algumas coisas no caminho, batemos uma vez na parede, mas, somente quando batemos em uma lata em cima de sua cômoda, e ela se espatifou com um estrondo, Carol interrompeu o beijo vermelha como um tomate, tentando me tirar do quarto. — Ei, o que foi? O que houve? Ela me empurrava para fora, dizendo que faríamos de tudo no sofá, mas, eu fiquei curioso. Ela estava me escondendo algo, então fingi que aceitava sua tentativa de me esconder o que quer que fosse, e no momento em que ela deu um passo para longe da porta, passei por ela como um raio e vi. Caí na gargalhada. Ainda mais vermelha, ela abaixou-se sem graça e pegou o mini vibrador, que realmente era muito pequeno. Jogando-o de volta na lata e a colocando com raiva
sobre a cômoda. — Não faço a menor ideia do motivo de eu gostar de você pra caralho, se você é intrometido, insuportável e mau! — esbravejou sem olhar no meu rosto. — Amor, para de bobeira. Você já me disse sobre ele, além do mais, você devia jogar essa coisa fora. Vai por mim, depois disso aqui — toquei minha ereção por cima da calça — isso aí nunca mais vai te satisfazer. Finalmente ela me olhou, segurando o riso. — Acontece que eu só terei isso aí — ela se aproximou e passou a mão pressionando as pontas dos dedos sobre meu pau — até segunda. Depois, o Andrezão vai ter que servir. — Depois, eu vou te dar um vibrador de verdade. Posso mandar fazer uma réplica do meu pau para você, o que acha? Ela riu alto e levantou minha blusa pela barra, a ajudei a tirá-la pela minha cabeça e ela depositou beijos suaves pelo meu peitoral e abdome. — Acho que também tenho medo de me quebrar — disse abraçando-me de repente. Eu não estava preparado para uma confissão como aquela, mas não deixaria que ela temesse meus beijos, nunca permitiria isso. — Eu nunca a quebraria, minha bonequinha. Você é a coisa mais preciosa que eu já tive na vida. Ela assentiu em meu peito e voltou a beijar-me ali. — Então faz amor comigo? — pediu manhosa. — Faço tudo o que você quiser. A empurrei para a cama e caí sobre ela, jurando a mim mesmo que mostraria em cada toque que eu jamais a machucaria.
Carolina dormia profundamente quando acordei, então tomei um café rápido com Lilian, que havia acabado de chegar e parecia não ter dormido nada, e apenas troquei de roupa no hotel antes de ir me exercitar. Eu havia ido até o Brasil para vencer um concurso, para pisar na terra onde
meus pais nasceram e ver como eu me sentiria. Talvez eu até procurasse outros parentes dela que ainda viviam aqui, mas eu não quis realmente fazer nada daquilo. No momento em que ele entrou em contato comigo, me dei conta de que era melhor seguir adiante e não mexer mais no que passou. Eu deixaria aqueles parentes sem que os conhecesse, era meu jeito de dizer adeus a tudo o que pressionava meus neurônios há tantos anos. O concurso seria no domingo, e eu já pouco me importava em vencê-lo. Pouco me importava com a grana que essa vitória renderia, com os contratos que possivelmente eu conseguiria, eu me importava mais em ir embora na segunda e deixar a Carolina para trás. Me veio à mente uma ideia maluca de pedir a ela que fosse comigo, mas a apaguei antes de começar a moldá-la melhor, ela nunca aceitaria. Eu era inconstante, e embora sentisse que jamais a machucaria, não podia dar essa certeza. Não se eu a levasse comigo, se tornasse esse nosso caso algo sério. Tentei me concentrar nos exercícios, mas tudo estava chato. Eu olhava para o supino e me lembrava dela ali, seu corpo macio sob o meu, seus gemidos. Peguei o celular para acordá-la, quando ouvi seus passos na escada. Ela cantarolava e seu perfume me atingiu antes que eu a visse. Tinha um fone enorme na cabeça e seus cabelos estavam soltos, voando com o vento que entrava pelas enormes janelas. — Bom dia, Carolina. Parece que alguém acordou muito feliz hoje. — Hoje é sábado, alguém não estuda hoje, e não trabalha hoje. Não tem como ser um dia triste. Ela depositou a pequena câmera sobre uma mesa e aproximou-se de mim. Observando meu torso nu. — Você não está suado — observou. — Acho que preciso de ajuda com isso — eu disse puxando-a para junto de mim. Enfiei a mão em seus cabelos e mordisquei sua orelha, ouvindo seu pequeno gemido abafado em meu peito. Puxei seu cabelo forçando-a a levantar a cabeça e tomei sua boca. Eu sentia uma fome por ela que nunca aplacava, nunca era saciada. Quando mais a tinha, mais a queria. Cada vez que a via, esse desejo crescia ainda mais. Eu poderia viver dentro dela e não precisaria de mais nada. Quando toquei sua bunda, colando-a à minha ereção que começava a
despontar, ela se afastou. — Não senhor! Ainda não estou recuperada de ontem à noite, além do mais, seu concurso é amanhã, você precisa malhar. — Isso também é exercício. Ela ligou a câmera e a posicionou virada para mim. — Eu já disse que esse tipo de exercício não enche seu bolso. — Enche meu peito — respondi sem pensar. Ela me olhou por sobre a câmera e sorriu, voltando sua atenção para a maquininha. — Que romântico, Jake Dustin! Acho que alguém trocou você. Apenas sorri. Não faria nenhuma promessa que eu não sabia se seria capaz de cumprir, então deixei que aquele assunto morresse ali. — Quero que você diga alguma coisa bonita para eu deixar registrado aqui. Vou usar sua mensagem no final do vídeo do trabalho. Depois eu preciso ir para casa, não vou poder parecer hoje, preciso terminar esse trabalho para poder ir ao seu concurso amanhã. Não tenho quase nada pronto. — Eu posso ajudá-la — ofereci e ela sorriu. — Nem pensar! Você me distrairia no primeiro minuto e eu nunca acabaria esse trabalho. — Não vou insistir porque você está certa. — Você terá algumas horas para morrer de saudade de mim hoje. — Nem pensar! Você vai dormir comigo hoje. Carolina, nem começa com essa coisa... Calei a boca quando ela começou a rir. Deu a volta pela câmera e se jogou em meus braços, beijando todo meu rosto. — Não disse que não dormiríamos juntos, só não vou aparecer à tarde. Aliás, quero levar você a um lugar hoje. Você pode me pegar às dez? — Claro, aonde vamos? — É uma surpresa. Mas tenha em mente que quando voltarmos, eu estarei
louca para ser fodida. Do jeito bruto. Sorri sentindo meu pau pulsar em antecipação — Estou cada dia mais amando seu jeito ousado e confiante. — Você me ama, Dustin, ama tudo em mim. Mas vou fingir que não sei disso, tudo bem? Ela piscou para mim e sorri, e tentei a todo custo nem começar a pensar naquilo. Ela fez uma careta horrível olhando a câmera. A pegou em um gesto rápido e soltou um palavrão. — Algum problema? — Ah merda! — Ela riu olhando fixamente a pequena tela da câmera, e depois voltou a ficar séria. — Você sabia? No dia em que transamos, na nossa primeira vez, você se lembrou de que a câmera estava gravando? — Você está brincando! — Abri o maior sorriso aproximando-me da câmera. — Deixe-me ver isso. — De jeito nenhum! — ela disse correndo com a câmera para longe, mas claro que a segui. — Carolina, se há alguma chance de eu ver você enquanto te comia por trás, de ver as caras que você fazia e seu corpo sob o meu, eu quero ver. Não me lembrava disso, estava concentrado demais em você, mas se tivesse lembrado, não teria desligado. Deixe-me ver isso. — Já apaguei. De jeito nenhum que você vai me ver enquanto eu sou empurrada pelo seu pau, você pode se esquecer que estou acima do peso, mas eu me lembro que minha pele é flácida. Quase como se tivesse vida própria. — Não acredito que apagou isso! — Lógico! Você é conhecido, acha que vou correr o risco de ter um vídeo nosso fazendo sexo espalhado por aí? — Eu nunca faria isso! Estou me sentindo ofendido e agora terei que pegar você e te dar... — Adeus! Grave o vídeo com seu celular e me mande. Não desconfio de você,
mas não conheço a equipe que trabalha com você, nem as pessoas que o cercam. — Onde você vai? — perguntei ainda andando atrás dela, tentando alcançá-la. — Para casa, depois desse vídeo, preciso de um momento de inspiração. — Sua atrevida! Dei um pulo para cima dela, mas ela correu escada baixo aos risos. E tudo o que pensei nas próximas duas horas, foi nela em seu momento de inspiração lembrando como estava enquanto eu a comia. Eu daria tudo para ter visto aquele vídeo!
Capítulo 20 ______________________
DUSTIN Acabei o treino antes do que tinha planejado, eu realmente não conseguia mais me concentrar, então mandei uma mensagem a Carolina.
“Sozinho e sem nada pra fazer, onde está minha garota?”
“Vc tem uma garota? Não me apresente a ela, não posso imaginar uma mulher que suporte vc.”
“Ela me suporta muito bem, sem sacrifício algum, dentro dela a noite a toda. Enquanto entro e saio com força, e ela nunca reclama.””
“Ok, desligando o celular pq estou fazendo o trabalho e você está me desconcentrando.”
“Nada de momento de inspiração agora, então?”
“Embora essas imagens suas deixem minha calcinha encharcada...”
“E aí? O que fazer com esse problema?”
Mandei ansioso esperando que ela me dissesse para ir resolver. Eu seria capaz de me tele transportar se ela pedisse.
“Nada. Estou fazendo o trabalho. Até às dez.”
“É por isso que não namoro, vc dá confiança e a mulher já começa a dominar a vc.”
“Nós dois sabemos que não é por isso, baby. Mas vamos fingir que vc não é medroso.”
“NÃO SOU MEDROSO! QUE PORRA É ESSA, CAROLINA?”
“Ui! Pude ouvi-lo gritando e acho que acabei de encharcar o lençol da cama.”
Maldita provocadora, eu estava a ponto de ir comê-la com ou sem trabalho, apenas para mostrar a ela quem dominava de verdade entre a gente.
“Vai gritar muito mais quando eu puser as mãos em vc, Carolina, vc vai gritar muito. Guarde sua voz pq vou querer ouvi-la.”
“Amo suas promessas, meu adorável covarde. Me faça urrar mais tarde.”
“De novo isso? Qdo foi que amarelei, hein?”
Digitei já imaginando uma resposta espertinha ou tirada dela, ou algo que me faria ignorar seus avisos de estar fazendo trabalho para ir dar uns tapas naquela bunda gostosa, mas o que ela me enviou em seguida, deixou-me sem reação.
“Ontem, na minha porta. Mas amei o fato de vc ter tentado. Até mais tarde, baby.”
Ontem, na porta dela. Sim, eu fui um covarde. E ela leu o que eu sentia muito melhor do que eu. Com a cabeça à mil, voltei para o hotel, lendo e relendo a última frase da Carolina. Como um bobo, repassei todas as nossas mensagens, rindo com a facilidade com que ela me divertia e me excitava e me irritava de uma mensagem para outra. De repente, cheguei novamente a última. E pensar que ela poderia ser realmente a última. Tínhamos tão pouco tempo juntos! — Merda! Peguei meu celular e liguei para Colin, meu amigo do clube Luck, em Nova York. — Fala, bundão. Quem morreu para você me ligar? — atendeu no segundo toque. — Qual é, babaca? Só quero notícias da minha linda Caitlin, ela ainda está gostosa como eu me lembro dela? Caitlin era a melhor amiga dele, ele a protegia como se fosse um irmão mais velho, mas todo mundo sabia que não era esse sentimento que ele tinha por ela. Todo mundo, menos ele. — Ela é uma menina e você devia ter vergonha nessa sua cara de pau! Onde você está? No Brasil ainda? — Pois é. — Achou alguma gatinha por aí? — Pois é. — Ah merda, você está me ligando por isso. Abra a boca agora mesmo! Dustin Babaca apaixonado, essa eu pago pra ver. — Não estou apaixonado, seu bundão. Ela é só... diferente. Não sei. Eu gosto de ficar com ela, mais do que o normal, mais do que gosto de qualquer outra coisa. — Mas? — Mas eu estou indo embora e provavelmente não a verei mais. — Isso é uma merda.
— Na verdade, você ainda não tem noção da merda. Eu pensei em levá-la comigo. Ele ficou em silêncio por tanto tempo, que achei que houvesse desligado. Mas enfim, apareceu. — Levá-la com você para onde? — perguntou desconfiado. — Nova York. Para casa. — A porra é séria. Se você chegou a cogitar essa hipótese, cara, você a ama. Pegue essa gostosa e a traga para cá, estou ansioso para conhecê-la. — Há um problema. Tenho medo de levá-la e o encanto de repente acabar. E ela estará aí, longe da família e dos amigos, por minha causa. Como eu a mandaria embora depois? Agora, pensar em mandá-la embora me parece ridículo, poderia jurar que nunca o faria. Mas você me conhece. Ela é muito especial, frágil e eu não posso arriscar. Mais uma vez o silêncio, e logo, uma gargalhada. — Caralho, você está muito fodido, seu gay! Nunca te vi apaixonado, é engraçado. Minha psicóloga diria que você não deve arriscar os sentimentos de outra pessoa, se não tem certeza absoluta de que pode arcar com a responsabilidade de conquistá-la. — Você ainda frequenta essa merda? — É minha punição, amigo, sou obrigado a frequentar. — Não quero a opinião de uma psicóloga velha que é paga para isso. Quero sua opinião. Ele riu, mas um sorriso triste. — Você conhece minha situação, então por experiência própria, foda-se essa merda. A garota é sua, faça o que for te fazer mais feliz. Se você acha que no momento ela é sua felicidade, então a pegue. Ela pode não estar disponível quando você tiver a certeza que está esperando. Uma voz feminina ao lado dele soou no telefone, e logo a voz doce de Caitlin surgiu na linha. — Olá, Dustin, eu ouvi isso tudo e estou muito feliz que você tenha tomado jeito e amarrado as bolas.
Sorri. Só mesmo a Caitlin para dizer algo assim e ainda soar doce. — Qual o seu conselho, senhorita Ross? — Não prometa nada a ela. Diga como se sente e a convide para ir com você. Se ela aceitar, saberá os riscos que estará assumindo, não será responsabilidade só sua. — Caitlin, fala para esse bundão do seu amigo que eu ainda vou roubar você dele. Pude ouvir Colin gritar um palavrão, Caitlin se despediu e eu sabia exatamente o que fazer. Eu levaria minha linda boneca comigo. E me esforçaria ao máximo para ser tudo o que ela merecia.
Ainda faltavam três horas para o horário em que eu deveria pegar a Carolina e eu não aguentava mais ficar dentro do hotel. Vesti uma roupa e fui beber um pouco. Andei até o bar mais próximo, era um ambiente legal. Escuro, com luvas de boxe penduradas em um canto, uma Harley Davidson era como a atração principal do lugar, e obviamente ninguém podia tocá-la. Contive o impulso de virar-me e ir embora. Meu pai tinha uma moto daquela, e eu não gostava de nada que me lembrasse ele. Mas, era só um bar, só uma moto, eu precisava realmente superar isso. Pedi uma Caipirinha, para finalmente experimentar a especialidade brasileira. Deliciosa. Pedi o segundo copo quando uma mão puxou meu braço. Era o amigo da Carolina, da outra noite. — Ora, o que temos aqui? — falei levantando-me e o encarando de frente. — Você é o babaca que arrastou a Carolina para fora da boate ontem, Dustin, não é? O modelinho? — Atleta fitness pra você. O que você quer? — Cadê a Carol? — Ela está bem. Eu não a machuquei, nunca o faria. Ele pareceu desconfiado e eu não o culpava. A maneira como a arrastei da boate ontem foi coisa de homem das cavernas.
— Eu apenas não me senti muito bem com a proximidade entre vocês, mas fiz o melhor que pude para me controlar. — Eu não chamaria a cena que você fez de controle. — Eu não ligo para como você chamaria. Só estou tendo o trabalho de te responder, quando tenho coisa melhor para fazer, porque é amigo dela. Se já teve a resposta que queria, saia. Ele sorriu e um outro cara se aproximou dele, encarando-me. Virei o resto da caipirinha e saí de perto do balcão, parando a centímetros deles. Se eles queriam briga, eles teriam. — Foi para você que ela pediu o telefone, não foi? — ele perguntou. — Que telefone? Antes de ele responder, uma voz que eu odiava com toda força me chamou, e o tempo pareceu congelar quando eu não consegui me mover, nem para encará-lo e dar um soco nele. Nem para sair andando sem olhar para trás. A figura alta e forte do meu pai parou diante de mim, um sorriso falso no rosto, fingindo estar feliz por me ver. — Não acredito que você veio me procurar, filho. — Eu com certeza, nunca faria isso. — Esse bar é meu. — Então estou de saída. Consegui finalmente dar um passo em direção a porta, mas ele me segurou. — Espere, filho. Vamos conversar. — O que você quer? — Quero falar com você. Mas te conheço o suficiente para saber que não vai me ouvir, não é? Tudo bem, eu me arrependo muito por tê-lo tirado das lutas. Você tinha um grande futuro, filho. Ainda pode ter. Revirei os olhos diante daquela balela, mas ele não calava a boca e como era a última vez que eu falaria com ele, esperei que ele dissesse o que queria dizer. Talvez, se ele assumisse que matou minha mãe, eu teria por ele pelo menos algum respeito pela decência de finalmente assumir seu erro. Além do fato de ele tê-la
matado, eu odiava sua covardia em nunca assumir o que fez. Deixando minha mãe como uma fraca diante de todos. — Se juntarmos seu dinheiro e o clube que possuo, nós poderíamos... Tirei sua mão do meu braço, voltando a ouvi-lo no momento oportuno. — Dinheiro? Você está atrás de mim por dinheiro? — Não me ofenda, moleque! Sou dono deste bar, tenho um clube de lutas e não preciso de um centavo seu! — Então o que você quer? — Não é por necessidade, é uma oportunidade de termos algo. De fazermos algo juntos. Sempre foi seu sonho lutar, filho, você pode fazer isso. — Usando o meu dinheiro no seu clube? Sabe por que eu sempre quis lutar? Para quebrar sua cara, seu filho da mãe covarde! Parti para cima dele, mas o amigo da Carolina e o outro cara me seguraram. — É uma pena que ainda pense que eu a matei, Phillip, mas eu não fiz isso. Ela foi fraca, aceite. Você não se parece com ela, se parece comigo. — Não sou nada parecido com você, eu me mataria se fosse! Ele fez uma careta de desgosto e ainda tentou mais uma vez. — Soltem-no — ordenou aos idiotas que me seguravam. — Filho, você vai ficar aqui até segunda, você sabe onde me encontrar. Se mudar de ideia e quiser aparecer... — Não conte com isso, Henrique. Disse virando as costas e dando adeus àquele homem a quem eu ainda chamava de pai. A partir dali me referiria a ele, caso fosse obrigado a isso, como Henrique. Ele não era meu pai, nunca havia sido. A dor estava ali, e as lembranças começaram a voltar. Mas daquela vez, eu sabia o que fazer para me sentir melhor. Eu precisava ver a Carolina. Eu nunca mais lutaria, nunca mais sentiria prazer fazendo algo que me assemelhava a ele. Não me importei com quanto tempo faltava para o horário marcado, eu precisava vê-la, fui direto até ela.
Capítulo 21 ______________________
CAROLINA Consegui terminar mais da metade do trabalho, mas isso não era nem perto do fim. Eu tinha tanta coisa para falar sobre o Dustin que acabava me desviando do assunto principal, a profissão dele. E eu que pensei que jamais conseguiria preencher todas as páginas solicitadas falando sobre ele. Peguei-me rindo como uma boba diante as frases apaixonadas que fui obrigada a rabiscar daquelas folhas. Lilian entrou no meu quarto ao telefone. Não dizia nada, apenas ouvia. Mas, pela cara que estava fazendo imaginei se tratar de Marcelo, seu marido. Ela ouviu por alguns minutos, e quando finalmente falou, perguntou com uma voz doce demais, completamente o oposto da amargura em sua face: — Acabou querido? Ótimo. Adeus. Ela jogou o celular sobre a cama e pegou um travesseiro, acertando-o repetidas vezes no rosto. — Mil vezes merda! — reclamou. — Achei que isso já estivesse encaminhado. Que você e o Júlio estavam se dando bem e você iria dar um pé na bunda do Marcelo. — Ele esteve aqui hoje. — Você precisa ser mais especifica, dona Flor. Ela revirou os olhos e atirou o travesseiro em mim. — O Marcelo, veio aqui hoje. Sei que não deveria estar nem mesmo prestando atenção a esse detalhe, mas Big, ele está mais lindo do que eu podia me lembrar. Se tornou um homem. Um suspiro escapou de seus lábios e coloquei meu notebook sobre a cama, encarando-a confusa. — Está legal, o que eu perdi? — Nada. Ele veio aqui, ouvi as desculpas dele, disse que não fazia diferença e
pedi que ele saísse. Ela estava me escondendo alguma coisa. — Ele a beijou? — Não, né Carol! Eu estava dormindo com o nosso vizinho na noite passada, acha que vou sair por aí beijando... Ela se calou e completei para ela com um sorriso enorme de zombaria. — Seu marido? Imagina! Depois de dormir com o vizinho, mulher nenhuma pode beijar o marido. Ela fez uma careta e correu os olhos pelas linhas escritas no meu notebook. — Você sabe que terá que refazer isso, não sabe? — O quê? — berrei quase aos prantos — Por quê? — Porque isso soa apaixonado demais. Onde está seu profissionalismo, jornalista? — Na cama do Dustin — respondi sendo eu a bater a cabeça no travesseiro incontáveis vezes. Se eu continuasse naquele ritmo, zeraria minha nota do semestre. Lilian foi dar uma volta, o que entendi como ir à casa do vizinho, e parei um pouco para comer algo e olhar para outra coisa que não fosse a tela do meu note. Estava perdida em lembranças, mais precisamente nas imagens gravadas na minha câmera, quando alguém bateu na porta. Eu soube quem era pela força com que ele bateu, quase arrombando a porta, e por não ter usado a campainha, ele nunca a usava. Sequer parei para analisar como estava, corri em direção a porta e a abri, sorrindo abertamente para ele. — Você está umas duas horas adiantado — falei sorrindo. — Uma hora e quarenta minutos para ser mais exato. Vem aqui. Ele me puxou para seus braços e colou sua boca na minha. Beijou-me com sofreguidão, como se necessitasse do meu beijo para respirar. Seus braços rodearam meu corpo e me apertavam tanto a ele, que quase fiquei sem ar. Quando se afastou para respirar, ele descansou a cabeça em meu ombro, me
mantendo presa em seus braços. — Ei, o que houve? — Encontrei meu pai. Mas não quero falar disso agora. Na verdade, eu vim mais cedo porque preciso conversar uma coisa com você, pode ser? A expressão em seu rosto me assustou. Independente de qual fosse o assunto eu sentia que não seria uma coisa boa. Principalmente pela forma como ele me beijou e abraçou, senti que fez isso com tanta necessidade porque era uma despedida. Deixei que ele entrasse e esperei que se sentasse em um sofá, então sentei-me no outro, o mais distante possível dele. Queria poder arremessar algo da mesa de centro nele caso ele me magoasse mais uma vez. — Por que você está tão longe? Venha aqui, sente-se comigo. No meu colo, de preferência, estou com saudade do seu cheiro. — O que você quer falar comigo, Dustin? Ele avaliou meu rosto por um tempo e um sorriso discreto surgiu em seu rosto lindo, aliviando a tensão que estava instalada ali desde que chegara. — Você está com medo. Mas eu não vou machucá-la, Carolina. — Não veio me dizer que não virá mais? Dessa vez ele riu alto. — Pelo contrário. Caralho, acho que na verdade irei assustar bastante você, se está seguindo essa linha de pensamento de que estou querendo me afastar. — Ele estendeu a mão para mim, meio incerto sobre o que fazer e foi a primeira vez em que o vi vacilar sobre algo. Refleti seu momento de incerteza, caminhando até ele meio desconfiada, mas ele beijou minha mão assim que a pousei sobre a sua, e puxou-me prendendo-me em seus braços e beijando o topo da minha cabeça. — Você vai me achar um maluco — disse baixinho. — De tudo o que penso sobre você, essa não é a pior coisa delas. Ele riu, aliviando novamente a tensão que havia retornado. — Não se assuste, ok? Você não é obrigada a nada. Vou te fazer um pedido, apenas. Gostaria muito que aceitasse, mas sei que é cedo e louco demais, então,
não tenho muitas esperanças. Apenas não se assuste. Você pode dizer não e estarei dentro de você em dez minutos do mesmo jeito. — Se você está dando essa volta toda na tentativa de não me assustar, sinto dizer que está fazendo exatamente o contrário. Ele riu e beijou-me novamente, mantendo seu rosto enfiado no meu pescoço, sussurrando no meu ouvido o pedido. — Não sei o que há entre a gente, ou se já deu tempo de termos algo de verdade. Mas sei que não suporto a ideia de ir embora em dois dias e não vê-la mais. Eu quero te pedir que venha comigo, Carol. Quero que venha comigo para Nova York. Afastei-me dele em um pulo, olhando-o como se ele estivesse brincando. Esperei que desse uma gargalhada, dissesse um palavrão e zombasse por eu cair nessa por um segundo que fosse. Mas o olhar que ele fixou em mim não era de zombaria, e sim de esperança e de ansiedade. — Você está me pedindo... Parei de falar sem conseguir formular as coisas na minha mente. Levantei-me, precisava me afastar um pouco dele, pois ideias demais tomavam minha mente ao mesmo tempo. A maior pergunta que eu me fazia e não conseguia fazê-la em voz alta, era o que significava esse ir embora com ele. Se eu iria como uma amiga colorida, ou se ele estava me oferecendo algo mais. Meu rosto não devia estar dos melhores enquanto pensava, porque ele se levantou também, preocupado em explicar algo que nem tinha passado pela minha cabeça ainda. — Para deixar seus amigos, sua família e a faculdade. Eu sei. Você tem direito de me achar egoísta e maluco, eu sei de tudo isso. Estou pedindo que mude toda sua vida por um quase desconhecido, mas não sei o que fazer. Sei que eu tenho que ir e não posso deixá-la, se você tiver alguma ideia melhor, sou todo ouvidos. Ele parecia angustiado, e eu faria qualquer coisa para acabar com aquela dor em seu rosto. Andei até ele e o abracei, sentindo-o relaxar sob meus braços. — Eu nem havia chegado nessa parte ainda, para falar a verdade. — No que estava pensando então? Não respondi. Estava procurando um meio menos desesperado de expressar
minha dúvida. Não queria que ele achasse que eu estava cobrando alguma coisa. — Carolina, — ele levantou meu rosto, focando seus olhos negros nos meus — pode me falar. Estou te pedindo para dar um passo grande demais, e você sequer poderá cogitar essa hipótese se não se sentir à vontade para falar qualquer coisa comigo. Se você for, e eu espero muito que vá, eu serei sua única companhia por um tempo, você precisa aprender a falar comigo o que está na sua mente. Puxei uma respiração profunda e soltei de uma vez: — Você está me convidando para ir como uma amiga colorida, ou como sua namorada? — O quê? Ele piscou os olhos aturdido e tratei de explicar, afastando-me dele. — Está me convidando para ser sua transa certa, embora vá transar com outras também, ou para ser a única na sua cama? Ele revirou os olhos e pegou meu rosto entre suas mãos, parecia irritado com minha pergunta. — Estou te pedindo para ser a única na minha cama, na minha boca, no meu pau. Você já é a única na minha mente, e no meu peito. Precisa de mais do que isso? Senti-me derreter com o calor de suas palavras e ele passou os braços pela minha cintura, prendendo-me a ele. — Obrigado por não repudiar totalmente a ideia de cara, nem me achar um louco egoísta. — Estou achando você a coisa mais fofa que já vi na vida. Acha que sou louca? Ele riu, beijando o alto da minha cabeça. — Definitivamente. Eu posso ser tudo o que você quiser que eu seja, mas não fofo, boneca. Isso, nunca. Então achei que estava realmente muito louca. Eu o conhecia há apenas uma semana. O que sabia sobre ele não era de todo coisas positivas, e, no entanto, estava considerando seriamente aceitar sua proposta maluca. Seria um passo só de ida, se não déssemos certo, eu não teria para quem voltar. Meus pais jamais me perdoariam por algo assim.
— Agora você está pensando em deixar tudo para trás, não é? — perguntou com certo medo na voz. — Você tem certeza de que quer que eu vá? Não acha que isso vai passar amanhã? — Eu tenho certeza que não estou pronto para dizer adeus a você, Carolina. Eu acho que não suportaria isso agora. Mas não tenho certeza do que sentirei na semana que vem. Quero ser sincero com você, não estou dizendo que a amo, estou dizendo que não sei ficar sem você. E não tenho certeza se isso é amor, ou vício. De repente as coisas ficaram claras como água cristalina em minha mente. Eu arriscaria sim, deixaria tudo e todos, daria a cara a tapa e mil passos no escuro por esse homem, se ele me dissesse que me amava. Eu conhecia sua história, seu medo de ser quebrado, como sua mãe foi. E se ele chegasse um dia a admitir que me amava, então não haveria qualquer risco de que esse sentimento deixasse de existir na semana, no ano, ou no século seguinte. Mas, se ele não tinha essa garantia a me dar, eu não podia me arriscar assim por ele. — Posso pensar sobre isso? Você realmente me pegou desprevenida. Ele sorriu carinhosamente, guiando-me até meu quarto. — Claro que pode, amor. Estou mesmo muito feliz de você estar ao menos cogitando essa hipótese. — O que acha que está indo fazer no meu quarto? Eu ainda tinha um trabalho para refazer. — Estou indo convencê-la a ir comigo. Ele acariciou o meio das minhas pernas, pressionando em seguida com força seus dedos ali, fazendo com que minhas pernas falhassem por alguns segundos. — Não é pela boca de baixo que você vai me convencer, baby — alertei e ele riu. — Vamos ver se não. Não há boca melhor do que essa, baby. Ele me jogou na cama e caiu sobre mim, descendo seus lábios famintos até o meio das minhas pernas, já desabotoando minha calça. Iríamos testar qual de nós dois era mais forte, afinal de contas.
Após tomarmos banho juntos, vesti-me com a roupa mais sexy que eu tinha, o que queria dizer uma blusa decotada, uma jaqueta e uma calça jeans colada. Eu não tinha roupas sexy, não era sexy e não precisava fingir que era. Embora me sentisse bem melhor comigo mesma, eu sabia que precisava melhorar para me sentir realmente bem. Aí sim eu usaria as roupas sexys que tanto criticava nas mulheres que podiam usá-las. — Você parece uma criança indo receber seu presente de natal — Dustin observou enquanto ligava o carro. Meu sorriso não queria sumir do meu rosto, eu me sentia eufórica. Só podia imaginar a cara dele quando visse aonde eu o estava levando. E podia imaginá-lo sem camisa, todo suado, concentrado e com cara de mau, acertando um soco após o outro em seu adversário. Depois, iríamos para o hotel e transaríamos como dois loucos alucinados, gastando toda a adrenalina que estaria nos consumindo. Seria uma noite perfeita. Joguei o endereço do clube no GPS do meu celular e fui dando as coordenadas a Dustin. Ele fazia um milhão de perguntas, mas eu me esquivava de todas. Queria que fosse uma surpresa. Quando paramos em frente ao tal clube, uma placa enorme, pendurada torta brilhava em neon azul acima da porta de entrada. “O quebrador” era o nome do local. Desci do carro e Dustin logo estava ao meu lado, olhando desconfiado os homens enormes que adentravam o local. Peguei sua mão para que ele não resistisse e o guiei para dentro. O clube era pequeno, havia um ringue enorme no centro e arquibancadas de cimento em volta. E estava cheio. Era sábado à noite, eu já esperava que estivesse daquele jeito. As pessoas falavam alto demais, animadas e fazendo apostas. Um homem me perguntou em quem eu apostaria, mas pedi que me procurasse depois. Eu apostaria em Dustin, mas ele ainda não podia saber que ia lutar. Com a mão presa pela minha, senti que ele estava completamente tenso. Uma reação oposta à que eu esperava. Pensei que era por estar em um ambiente com algo que ele amava e não podia mais fazer, e que passaria assim que ele subisse no ringue. Procurei pela multidão o Rodrigo e o avistei falando com um homem mais velho, muito alto e forte, o braço coberto por tatuagens, e uma atitude de
comando. Ele devia ser o Henrique, o dono do lugar. Acenei para ele, que pareceu surpreso ao me ver, respondendo o aceno. Virei-me para Dustin, ele estava olhando para trás, para os lados, tentando entender o que estava acontecendo. Sorri feliz e o puxei para perto de mim, para finalmente explicar. — Este é um clube de luta, Dustin. Você vai lutar hoje. Ele me olhou em choque, parecendo irritado. Soltou a mão da minha, e então seu olhar irritado se tornou mortal, mirando a pessoa atrás de mim. Virei-me para encontrar Henrique, o chefão. — Olá, Phillip — disse com cara de poucos amigos. De tudo o que imaginei que Dustin faria ao descobrir que ele iria lutar novamente, jamais pensei que fosse o que ele fez. Eu não estava preparada para a ira de Dustin por estar ali. Não estava preparada para tudo o que aconteceu a seguir.
Capítulo 22 ______________________
CAROLINA Dustin saiu pisando duro, quase correndo porta afora do clube. Corri atrás dele completamente confusa. Praticamente pulei sobre ele para alcançá-lo, segurando seu braço com toda força que tinha. — Dustin! Dustin! O que está havendo? Quando ele me olhou para tirar minha mão de seu braço, havia tanta raiva ali, que instintivamente dei um passo para trás, e ele foi gritando: — Eu não quero lutar! Não quero ser como ele, você só pode estar maluca! — Ser como ele quem? — Não interessa. Eu não quero lutar, não quero nem passar perto dessa merda novamente, nunca mais me force a isso, Carolina. Ele saiu andando e entrou em seu carro, sem sequer responder meus chamados, e tive que me jogar pela porta com o carro já em movimento. Eu precisava de mais explicações, meu coração batia acelerado como um louco, eu tentei falar com ele, chegar até o problema de alguma forma. — Foi alguém que você viu lá? O dono? Você não gosta dele? É isso? Ele não respondeu, dirigia em alta velocidade, me ignorando como se eu nem estivesse ali. — Dustin, eu preciso entender o que aconteceu. Até ontem seu sonho era voltar a lutar, você amava isso! Por que você... Tive que me calar porque ele ligou o som muito alto, precisei cobrir os ouvidos com as mãos para não terminar aquela viagem completamente surda. Quando a música parou, antes de começar outra, tentei desligar o som, mas Dustin foi mais rápido e me impediu, segurando minha mão. — Não toque no som do meu carro! — ordenou jogando minha mão sobre minhas pernas, sem nenhum cuidado. Não tentei falar mais nada. Cobri novamente as orelhas e ele parou o carro na
esquina do meu prédio. Nem ao menos levou-me até a portaria. — Estou cansada dessa merda — falei, mesmo sabendo que ele não podia me ouvir por conta da música alta. — Se eu sair desse carro agora, não me venha com sinto muito e quero te comer amanhã. Ele não disse nem fez nada. Mas, como não me mandou sair do carro, achei que estivesse me ouvindo, afinal. — Pode ter certeza que não farei isso. Você ultrapassou um limite aqui, nunca irei esquecer isso. — O que foi que eu fiz? Perdi a paciência e desliguei o som do carro, lançando a ele um olhar mortal, quando ele fez menção de ligá-lo de novo. Ele se recostou no assento e esperou que eu falasse, mas não olhava para mim. — Você me disse que amava isso, eu apenas tentei te devolver algo que não deveria ter sido tirado de você. Juro que não estou entendendo porque reagiu assim, e porque nem consegue mais olhar na minha cara. Você nem quer tentar me explicar, Dustin? Ele bateu as mãos no volante, soltando um palavrão, abriu a porta e totalmente enfurecido, abriu a minha, tirando meu cinto e me arrastado para fora do carro. Duas mãos apertaram meu braço o suficiente para que eu não conseguisse me soltar, mas não me machucavam de fato. — Você não tem culpa do que aconteceu essa noite, Carolina. Sei que tentou fazer algo bom, mas é esse o problema. Você não tem que fazer porra nenhuma para mim. Eu digo quando você deve fazer algo que me agrada. Você ir comigo para Nova York teria sido algo bom, me arrastar para um maldito clube de luta, definitivamente não é uma coisa boa. — Mas eu não tinha ideia que você... — Esse é o problema! — gritou. — Se eu não tivesse comido você mais do que uma vez, se não tivesse tentado bancar um cara que não sou, só para te garantir na minha cama por toda semana, você não estaria aí toda preocupada em me fazer feliz e não teria me levado ao pior lugar do mundo hoje! Recuei um passo, ferida por suas palavras duras. Buscando em seus olhos quanto do que ele dizia era verdade, e quanto era a raiva falando. Eu queria
muito mesmo, não odiá-lo, mas já estava tentando com todas as forças fazer isso. Ele se aproximou de mim, seu tom de voz exaltado, seus olhos faiscavam e ele estava vermelho, dizendo pausadamente, como se eu fosse alguma espécie de idiota. — A gente baixa um pouco a guarda, e o que acontece? É arrastado para expectativas e planos. Não espere nada de mim, não faça nada por mim que eu não tenha pedido. Você me fez quebrar uma promessa essa noite, e eu me odeio tanto quanto a odeio por isso agora. Você pode não saber o que estava fazendo, mas a vida tem um jeito cruel de me mostrar quando estou me permitindo ser atingido. Você só entrou no meu caminho para me quebrar, Carolina. Mas eu não vou cair nessa, não serei como ele. Não vou pegar você com suas tentativas tolas de me prender e levá-la comigo para outro país, sendo obrigado a ficar com você porque eu a tirei de casa. E aí quando eu criar coragem de mandá-la embora, você estará esperando um filho meu, e eu a farei eternamente infeliz, descontando em você a ira por não ter a vida que eu queria. Por ter que viver com alguém que não amo. Ele passou as mãos pela cabeça, transtornado e ferido. Achei que ele precisava de um abraço, mas não me atrevi a dar um passo em sua direção. Eu não conseguia fazer nada, processando tudo aquilo, começando a juntar as coisas que ele gritava, com o que tinha visto naquela noite. — A vida quer que eu seja assim, mas eu vou contra isso, vou contra você se for preciso, mas não serei como ele. Eu não me pareço com ele, porra! Ele deu mais um passo em minha direção quando me dei conta do que havia acontecido. Assenti e ajeitei minha bolsa no ombro, virando-me na direção do meu prédio e indo embora sem dizer mais nada. Eu queria tomar um banho quente e morrer até a tarde seguinte. Tentei bloquear meus pensamentos e não começar a sentir pena dele, nem começar a tentar entender sua atitude. Também não queria simplesmente acusá-lo e odiá-lo por aquilo tudo. Eu sabia que haveria um momento em que teria que parar, repassar tudo e avaliar o que fazer. Mas não seria naquela noite. Entrei no prédio no automático, sem ao menos ver o que estava fazendo. Apenas quando entrei no elevador, e as portas se fecharam, eu não tinha mais para onde ir, não tinha que me concentrar em dar o próximo passo, então a constatação me veio à mente. — Henrique é o pai do Dustin.
Abaixei a cabeça nas mãos, me encolhendo no elevador, sentindo-me lesada pela vida, mais uma vez. Eu nunca poderia adivinhar uma coisa dessas, mas por que eu tinha que levá-lo justo ao clube dele? Dustin havia aparecido na minha casa, destruído mais cedo, por ter reencontrado o pai, jurou nunca mais vê-lo de novo. E eu o levei justamente para o clube dele. Não importava. Eu não tinha como saber. Ele podia apenas ter saído de lá, me deixado em casa como uma pessoa educada e pedido seu tempo. Ou até rompido tudo, como fez, mas sem gritar comigo e me fazer sentir uma idiota. Ele podia ter tido a consideração de pensar que eu não era uma maldita adivinha, e não tinha culpa se ele era um covarde que não queria enfrentar seu passado. E então eu sentia de novo aquele aperto no peito ao lembrar de seu olhar, a dor ali. A forma como ficou transtornado e perdido enquanto criava todo um futuro doloroso para nós, caso me deixasse entrar, caso seguisse comigo. Futuro esse, que ele já havia vivido, com seu pai, sua mãe e o final trágico que tudo teve. Eu entendia porque ele havia entrado em parafuso, mas não justificava a maneira como ele me tratou. Como se eu fosse a culpada pelo pai dele ser um monstro. Como se eu fosse aquela que o destruiria e arruinaria sua vida. Entrei sem responder a pergunta que Lil me fez, eu sequer a ouvi. Fui para o banheiro e me enfiei embaixo da água quente. De roupa e tudo, eu simplesmente não tinha forças. Quando consegui sair do banheiro, Lilian me esperava na minha cama. Fez uma cara assustada ao me ver pingando pela casa. Esperei por sua reprimenda por eu estar pingando em seu carpete, mas ela se levantou até meu guarda-roupa e pegou de lá uma toalha, secando meus cabelos como uma mãe faria. — Tire essa roupa, querida. Vai pegar um resfriado assim. Comecei a tirar lentamente a roupa, e ela achou que eu não estava fazendo aquilo rápido o suficiente para me livrar de um resfriado, então ela mesma tirou minha roupa, enrolando a toalha em mim em seguida. Me fez sentar na cama e pegou seu secador, secando os fios que pingavam por meu corpo. Comecei a tremer de frio e, após secar meu cabelo, ela pegou um roupão, jogando-o para mim. Pelo menos consegui vesti-lo. Ela me levou até a sala, e sentou-se de frente para mim no sofá pequeno, segurando minhas mãos e me cobrando com os olhos que abrisse a boca. — Eu tenho um grande problema — consegui dizer. — Eu me apaixonei por Jake Dustin.
— O quê? Quando isso aconteceu? — Não sei! Talvez quando ele me deu o primeiro, quarto ou décimo orgasmo. Ou quando ele me defendeu e me fez enxergar coisas em mim que eu nunca havia visto. Ou quando ele disse a minha mãe que era completamente apaixonado por mim, ou com as besteiras que sussurrou no meu ouvido sobre o quanto adora cada pedaço do meu corpo. Não sei! — Não, Carol. Eu soube que havia algo mais entre vocês, uma conexão forte, mas pensei que fosse mais esperta. Que soubesse que ele está ido embora, que tem uma vida muito diferente da sua. Foi ótimo que ele tenha sido o cara dos sonhos por uma semana, mas pensei que você dentre todas as pessoas, soubesse discernir que ele não passa disso! Um cara de sonhos! Que não pode ser real. Não era para você criar sentimentos por ele. — Eu não queria isso, está legal? Sabe o que mais? Eu acabei de forçá-lo a enfrentar um passado doloroso, sem saber, mas fiz. E agora ele me odeia! Ele vai embora na segunda de manhã, e eu nunca mais vou sentir como é estar em seus braços de novo! Comecei a chorar, sentindo-me sozinha e ferida. Sentindo-me pela metade. — Estou quebrando, ele está me quebrando. Não acredito que deixei isso acontecer — comecei a murmurar entre as lágrimas. Eu sabia que Lilian não entendia do que eu estava falando, mas eu precisava colocar para fora. — Se é tão importante assim, vai falar com ele. — Falar o quê? — Que você o ama. Ele pode não se importar o suficiente para ficar aqui, ou levar você. Ou pode te surpreender. Ela não fazia ideia da proposta que ele havia me feito, e que ele já a havia retirado na mesma noite. — Não vai adiantar, Lil. — Você não vai saber se não tentar. Eu amava o Marcelo quando ele foi embora, eu não queria que ele fosse, mas nós brigamos, uma briga feia e eu pedi o divórcio. Eu não queria realmente isso, queria chamar atenção dele, para que ele desistisse dessa ideia maluca de atravessar a fronteira e ir para outro país como um imigrante. Mas ele ficou com tanta raiva que antecipou a viagem. Eu
fiquei dois dias me perguntando se devia ou não ir falar com ele. E enquanto não conseguia me decidir, ele me mandou uma mensagem, já de perto da fronteira dizendo que estava ali e era tarde para voltar atrás e que gostaria que eu tivesse dito que não queria me separar e que queria que ele ficasse comigo, e ele teria ficado. Você não faz ideia do quanto me arrependo por não ter dito o que eu sentia, Carol. — Eu sinto muito, Lil — peguei sua mão em forma de poio e ela segurou a minha. — Vá procurá-lo, diga o que sente e venha para casa. Se ele não se importar, você vai saber que não se importou. Mas, se ele for embora sem você ter essa certeza, não irá se perdoar nunca, Big. —Ele me pediu para não procurá-lo nunca mais. Ela soltou minha mão com um desânimo no rosto que rapidamente se refletiu no meu. — Merda. Você tem um grande problema.
Só tinha uma maneira de tentar resolver meu grande problema. Dustin podia não me receber, ou, na pior das hipóteses, me mandar embora aos gritos e me fazer passar por uma cena, mas Lil estava certa. Eu tinha que tentar. Cheguei a recepção com o coração aos pulos, eu devia estar horrorosa pela cara de pena que a recepcionista me fez. Pedi para chamarem Jake Dustin e após um telefonema, ela disse que ele não estava disponível, então a fiz ligar de novo e arranquei o telefone da mão dela, como uma maluca. Achei que ela estava mesmo me considerando uma, mas não me importava. — Você vai me receber ou terei que invadir seu quarto? Ele não disse nada, devolvi o telefone a ela, pronta para ir lá para fora e me prostrar lá até que ele saísse, mas ele falou algo com ela, e ela me mandou subir. Orientando-me sobre o andar e o elevador. Mas eu já sabia de tudo isso. Enquanto o elevador passava pelos andares, me perguntei se teria mesmo coragem de dizer tudo o que estava entalado. Se ele me acharia uma idiota por fazê-lo. Se me arrependeria por ter implorado por sua atenção. Então entendi que no amor não havia passo certo, a gente seguia sempre o coração, mesmo que não
fosse o que deveríamos fazer, mesmo que fosse o que mais nos machucaria, o coração mandava e a gente simplesmente obedecia, questionando, sim, sabendo que não deveria, mas obedecia. A porta dele estava aberta quando saí do elevador. Mas ele não estava em nenhum lugar à vista. A fechei atrás de mim, fiquei imaginando se ele sairia da suíte com uma mulher nua atrás dele, ou se sequer sairia de lá, me fazendo esperar por ele a noite toda se fosse preciso. Preparei-me para a segunda opção, eu não tinha como me preparar para a primeira. Mas, pouco depois ele sai do banheiro sozinho, secando o cabelo. Estava tomando banho. Olhou para mim, sentada em sua cama, encolhida, na verdade, com medo dos sentimentos que entravam em conflito dentro de mim. Com medo até mesmo de sentir medo e não conseguir expressar o que eu precisava que ele entendesse. — Eu não sei o que estou fazendo aqui — falei, olhei para o chão, respirei fundo e decidi soltar tudo de uma vez. — Não sei nem mesmo se o perdoei pela maneira como me tratou. Ou se me perdoei por tê-lo feito reviver tudo isso, mas eu precisava te falar. Não ousei olhá-lo e ele não disse nada. Tampouco se moveu de onde estava. Ele estava ouvindo. — Eu não quero ver você agora, e nem falar com você agora. Mas você vai embora e eu sei que minha mágoa não terá passado até segunda, então eu só queria te dizer, por desencargo de consciência, para não ficar me repreendendo por não ter dito, depois. Calei-me. Era mais difícil do que eu teria imaginado. A mágoa dentro de mim, vê-lo ali tão perto e tão distante. O fato de ele não ter sequer tentado se aproximar de mim, ou dito qualquer coisa, isso me bloqueava. Levantei-me, tentando ser corajosa uma vez na vida. Olhei bem para ele. Ele me olhava. Estava me analisando o tempo todo. — Tudo bem, eu posso quebrar a cara por isso, e me machucar feio, mas eu... eu estou apaixonada por você, Dustin. Não tive a intenção de feri-lo, nem mesmo de agradá-lo por vaidade de saber que eu fiz algo para você, eu só queria te ver bem, porque me importo muito. Eu não tenho muita coisa a te oferecer, enquanto você me dá tanto. Então eu só pensei... eu não devia ter levado você lá assim, sem nem dar uma dica do que estava prestes a fazer, não achei que seu passado ainda o afetasse em todos os pontos dele.
Ele abriu a boca para dizer algo, mas desistiu e se calou, os olhos ainda cravados em mim. Esperei que dissesse alguma coisa, qualquer coisa, mas ele não disse nada. — Dustin — parei o que ia dizer e arrisquei mais. — Phillip, estou dizendo que eu o amo. — Eu ouvi essa parte — foi tudo o que ele disse. — E não tem nada a dizer? — Estou pensando em uma maneira de não soar grosseiro, mas você me conhece. Assenti, me preparando para receber as pedras. — Eu só precisava de paz, por um momento achei mesmo que você fosse isso. Que me fizesse bem, que me entendesse. Achei tanto, que estava disposto a levála comigo. — O sacrífico maior não seria seu — observei encolhendo-me no casaco. — Eu sei que não, mas você não faz ideia de como meus sentimentos são fodidos, e do quanto me custaria erguê-los de novo para você. No fim das contas, não foi culpa sua. A vida só não é assim. Aprecio seu sentimento, mas você não me ama, Carolina. Ama a imagem que eu tenho de você, ama que eu aceite o que você não aceita em você. Você se ama, e não quer ver isso, então transfere isso para mim. — Se vai usar isso de escapatória eu não esperava que você dissesse o mesmo. Só esperava que pensasse em como você agiu e em como eu agi, e entendesse que por mais que a vida seja traiçoeira às vezes, eu sou a menos culpada por essa merda toda. Não sou adivinha, não leio mentes. Faço o que posso. Mas sou grandinha o suficiente para saber quando me apaixono por alguém. Mesmo que ele não mereça. Fui em direção a porta para sair dali, mas minha bolsa ficou em sua cama, então retornei e a peguei, jogando-a de qualquer jeito sobre os ombros. Quando passei por ele de novo, arrisquei olhá-lo, ele estava de cabeça baixa, mas no instante em que o olhei, ele segurou minha mão, puxando-me para perto dele. Meu rosto a centímetros do seu. Seus olhos pareciam perdidos, confusos.
— Acredito em você. Acredito no que você sente. Mas não quero o seu amor. Quero que volte para sua casa, viva sua vida da melhor maneira que puder, e não me procure nunca mais. Assenti e tentei tirar minha mão da dele, mas ele apertou o os dedos em volta dela. — Está decepcionada? — perguntou. Eu não entendia onde ele queria chegar com aquela pergunta. Se queria me humilhar, ou apenas saber o que eu sentia, então fui sincera, eu já estava me sentindo destruída mesmo. — Sim. Eu sempre acho que você não agirá como um covarde. Ele soltou minha mão como se de repente minha pele o queimasse. Eu sentia que era o fim ali, a última vez que nos falaríamos, e eu iria embora com uma sensação estranha de algo engasgado. Como se não tivesse dito tudo, mas eu já tinha dito muito mais do que planejava. Andei até a porta e então a força me deixou. Virei-me para ele, que continuava de costas, no meu primeiro soluço ele olhou para mim. Tentei segurar as lágrimas, não permitir que elas rolassem na frente dele. — Eu odeio que você tenha me machucado mais uma vez e eu ainda tenha vindo aqui, atrás de você — falei, tentando achar o que causava aquele bolo na minha garganta, e que sumiria quando eu dissesse. — E odeio que esteja me machucando mais do que nunca agora, e eu ainda continue aqui, como uma idiota mendigando o homem que eu achei que você fosse — gritei, as lágrimas correndo soltas por meu rosto. O bolo finalmente sumindo. Então eu entendi do que se tratava. — Eu odeio que você não seja quem fingiu ser para mim. Odeio a imagem que você criou e mais ainda quem você é de verdade! Eu te odeio! Finalmente saí dali, correndo até o elevador que me esperava amistoso. Desci aos prantos e chamei um táxi. Eu havia andado até ali, pesando cada coisa que diria a ele. No fim das contas não disse nada como havia planejado. Mas disse tudo o que poderia ter dito. Eu fiz minha parte, assim que entregasse a merda do trabalho, Phillip Dustin seria apenas uma página virada da minha vida.
Capítulo 23 ______________________
CAROLINA Na noite passada eu consegui chegar em casa, tirar a roupa e dormir. Realmente dormir, descansar, sem pensamentos desnecessários e sem sonhos conturbados. Como se não houvesse acontecido nada na noite anterior. Tomei café pensando no trabalho, aquele que eu precisava refazer, pois naquele momento eu sabia que minhas palavras sobre Jake Dustin não seriam mais aos olhos de uma iludida apaixonada. Eu sabia exatamente o que falar sobre ele. Peguei o notebook repetindo a xícara de café e comecei a digitar como uma alucinada, eu entregaria aquela merda a tempo. Não parei para almoçar, não respondi quando Lil falou comigo. Vi o sol em seu auge refletindo na sala e meus dedos já não aguentavam mais se movimentar furiosamente pelo teclado, mas eu não queria parar. Iria encerrar aquilo ali mesmo, não pensaria em Jake Dustin nunca mais depois de concluir aquele trabalho. Eu já havia editado as imagens, faltava apenas... Soltei um palavrão quando verifiquei a hora, e só então percebi Lil sentada à minha frente, jogando em seu celular. — Ah, olá Carolina, que bom ver você de volta. Eu tentei te chamar, mas acho que você não me ouviu. Eu não disse nada, esperei que dissesse o que ela queria. — Você está aí, tão dedicada digitando furiosamente esse trabalho, mas sinto te dizer, se não se apressar e filmar aquele concurso, não conseguirá completá-lo. — Lil, por favor, pela pena que eu sei que você está sentindo de mim nesse momento. Filme o concurso para mim. Ela se levantou negando com a cabeça. E me levantei também, tirando o celular de sua mão. — Lil, por favor! Não me faça ir até lá e ter que vê-lo outra vez. Não me faça passar pelo ridículo de ele achar que depois de tudo, eu ainda o procurei. — Ele sabe que você precisa filmar o concurso, Big. Já me mandou umas quinze
mensagens perguntando se você ia zerar o trabalho e desistir. Não me deixei abalar e sequer pensar uma segunda vez no que ela me disse. — Lilian, eu estou acabada. Amei pela primeira vez e quebrei feio a cara, você não faz ideia do quanto foi humilhante. — Dizer o que sente quando se ama alguém nunca é humilhante, Big. — Você não conhece Jake Dustin, ele saber tornar tudo humilhante. Lil, não me obrigue a aguentar aquelas misses músculos penduradas nele, gritando na minha cara o quanto sabiam que eu ia cair do cavalo. Por favor. Você não tem pena de mim? Ela assentiu e segurou minha mão, e eu soube que a vaca da minha melhor amiga não me ajudaria. — Eu posso ir com você e te ajudar a dar na cara de qualquer uma delas que ouse te olhar torto. Posso até arranjar um saradão lá para fingir estar com você e esfregar na cara do Dustin que você cagou para a rejeição dele. Mas, o que eu não posso fazer, é assumir suas dores e lutar suas lutas. Você deve enfrentar seus demônios, Big. Você precisa crescer. — Odeio que você seja mais velha. — Não odeia, não. Vá tomar um banho, eu me visto em dez minutos.
Uma hora depois, lá estava eu, me espremendo entre a multidão, querendo parar o mais distante possível do palco onde aconteceria o desfile. O local estava lotado de gente, algumas pessoas tinham cartazes com os nomes de seus concorrentes preferidos, o de Dustin, claro, era o mais visto entre eles. Me posicionei o mais distante que consegui, mas, quando se tem uma amiga vaca, que tirou o dia para cagar sua vida, ela o faz o dia todo. Lilian me arrastou do meu cantinho escondido, até a frente do palco, onde ele passaria e me veria. Onde eu o veria claramente, e teria que desviar meu rosto, e fingir mexer na câmera, deixando assim evidente o quanto eu sofria por ele. Eu realmente odiava minha amiga naquele momento. — Não me olhe com essa cara, Big. De lá de trás você não conseguiria imagens boas o suficiente. Você já tem um conteúdo ótimo. Esqueça esse imbecil, é da sua nota que estamos falando. Seja profissional.
— Odeio esse seja profissional — resmunguei imitando a voz dela, mas ela apenas deu de ombros. — Sua insensível! O evento começou animado e coloquei a câmera para gravar, sem estar realmente prestando atenção em nada do que acontecia. Eu me sentia quase sem ar, e meu coração doía ao bater, de tanta ansiedade pelo momento em que ele surgiria. Eu me perguntava se seria forte o suficiente para olhar para outro lado, ou, mais forte ainda, para olhar para ele, como um candidato qualquer. E achava que na verdade eu olharia para ele sem conseguir desviar meus olhos, com olhos tristes e apaixonados e daria a ele mais uma prova da minha fraqueza. Quando o segundo candidato entrou, Lilian me cutucou exageradamente, admirando o torso do homem. — Olha aquela tatuagem de dragão, que enorme! A cauda dele acaba bem... uau! La é enorme também! — Lilian! Tudo o que você diz está sendo gravado. Qual a necessidade de eu ficar aqui na frente tão exposta para ter boas imagens, se você vai estragá-las com seus comentários pornográficos? — Ih, mal-humorada. Vou assistir calada e será o concurso mais chato da sua vida! Ele era o quarto candidato. A plateia gritou mais alto quando ele entrou, mas ele não parecia muito bem. Depois de rever o pai duas vezes no mesmo dia, eu imaginava que ele estivesse um caco. Olhei para ele através da câmera, em nenhum momento desviando meus olhos para vê-lo de frente. Fui covarde. Mas ele também era, por que eu não podia ser? Pela lente da câmera, vi quando ele olhou para mim e deu um sorriso fraco, mas que guardava muito mais do que um simples cumprimento. Não correspondi, continuei ali, focada da telinha da câmera, como se ele fosse um candidato qualquer. Chamaram mais dois candidatos homens e em seguida as mulheres. Lilian saiu quando elas começaram a entrar, para comer algo. Embora estivesse faminta, eu não quis ir com ela. Ela melhor ficar onde ele sabia que eu estava, assim, não corria o risco de nos esbarrarmos em qualquer lugar do evento. Ela retornou com um copo de suco pela metade e um pacote de bala de goma para mim. — Sério isso? Você quer transformar minhas lombrigas em monstros
gigantescos? — reclamei faminta. — Foi o que consegui não comer. Não reclama. Se estiver achando ruim vá e compre sua própria comida. — Lilia, às vezes acho que você me odeia. — Eu te amo. É somente por isso que acho que há mais coisas nessa história de vocês do que uma rejeição. — Obrigada por ficar me lembrando disso. Me dá essas balas para que eu possa cuspi-las na sua cara. Eu realmente não prestei atenção no desfile feminino. Nem nas bruxas amigas dele, nem no fato de que ele provavelmente passaria a noite com a vencedora do dia. Não prestei atenção em nada. Eles desfilaram mais algumas vezes e finalmente chegou a hora de anunciar o vencedor. Eu estava contando os segundos para desligar a câmera e ir embora, me proteger de mim mesma na minha linda casa. Segura. Sem vê-lo. Anunciaram o terceiro lugar. Depois deixaram Dustin e um cara realmente lindo, o da tatuagem de dragão. Mais uma vez, me peguei viajando meu olhar para o volume dos participantes. O cara da tatuagem de dragão tinha um volume e tanto sob a sunga. Sorri encantada e cutuquei Lilian sem dizer nada, ela também estava reparando justamente nisso. Não olhei para Dustin, porque bem, eu sabia bem em detalhes como ele era. Não precisava ficar me lembrando de cada detalhe. Pronto. Já estava me lembrando de cada detalhe. Dustin foi anunciado como o vencedor, como era de se esperar. E eu realmente me senti orgulhosa dele, como a tola apaixonada que era, mas era algo que só eu sabia, então me permiti sorrir atrás da câmera, orgulhosa, mantendo esse segredo para mim. Em seguida foram anunciadas as vencedoras femininas e sorri como uma boba, até bati palma, quando Vanessa, a miss músculos, ficou em terceiro lugar, totalmente desgostosa. — Se mata, minha filha! — gritou Lil e tive que beliscá-la, mas aquele áudio, eu deixaria “vazar” no meu documentário. Dustin e a vencedora feminina deram as mãos e desfilaram com suas faixas.
Garoto e garota fitness Brasil 2016. Ela tinha um buquê de rosas vermelhas na mão, e o exibia como se fosse uma miss exibindo a coroa. Devia ser mesmo maravilhosa a sensação de vencer. Quando o casal passou por mim, mantive meus olhos fixos na tela da câmera, e vi por ela, Dustin retirar uma rosa vermelha do buquê da garota e levá-la aos lábios, estendendo-a para a câmera em seguida. Para mim. Subi meus olhos da tela da câmera pela primeira vez na presença dele e me deparei com seus olhos negros cravados em mim. Ele insistiu que eu pegasse a rosa, mas eu não queria mais uma lembrança dele. Não queria que ele fingisse ser um fofo, quando era um ogro. Não queria fingir que estava tudo bem quando na verdade, eu o odiava. Bom, pelo menos ele achava isso. Agradeci com um sorriso fraco e fiz um gesto negativo com a cabeça, negando a rosa. Desliguei a câmera e me retirei dali. Pouco me importava se ele deu a rosa para outra pessoa ou ficou lá com cara de taxo. Torci muito para que fosse a segunda opção.
Terminei de digitar a parte escrita do trabalho, e anexei no e-mail para o meu professor e para ele. Era parte do nosso acordo que ele visse como havia ficado antes do meu professor publicar a matéria e exibir o documentário na feira de profissões da cidade, que aconteceria no próximo final de semana. Editei as imagens do concurso e as montei ao final do filme quase pronto que eu já tinha, passei para o notebook e enviei tudo aos dois. Em seguida, apaguei tudo do meu notebook. As fotos, vídeos, os textos. Apaguei tudo que se referisse a Dustin, não pensaria mais nele. Ao jogar meu notebook na escrivaninha, sentindo-me livre, avistei o pequeno pen drive. Nossa primeira vez, as imagens do galpão. Eu deveria jogar aquilo fora e era o que faria. No dia seguinte, quando criasse coragem de sair da cama, naquele momento eu só queria dormir. E foi o que fiz.
Capítulo 24 ______________________
DUSTIN “Ela irá ao concurso, Dustin. Assim que eu conseguir tirá-la de seu mundo furioso da digitação. Sério, ela parece uma máquina digitando.”
“Achei que ela tivesse terminado esse trabalho ontem.”
“Ela tinha, mas precisou reescrevê-lo. Parece que fez isso do começo.”
“Pq? Ela não gostou do resultado?”
“Nem eu gostei. Soava apaixonado demais.”
“Ah.”
Reli as mensagens que troquei com Lilian pouco antes do concurso. Eu só queria saber se a Carolina iria e terminaria o seu trabalho. Não queria que ela perdesse média e ficasse de recuperação na matéria por minha causa. Por causa dela. Por causa de tudo o que aconteceu. Pela primeira vez, não me senti bem ao vencer um concurso. Não senti nada. Eu estava mais concentrado na garota escondida atrás da pequena câmera, ali na plateia. E em nenhum momento ela olhou para mim. Tive que forçá-la a sair de seu esconderijo, para que pudesse vê-la, ver seus olhos e memorizar o verde deles. Peguei a rosa rejeitada, pensando que estávamos quase na mesma situação, mas eu sabia que não era verdade. A culpa por eu não estar comemorando a vitória dentro dela naquele momento, era minha. Porque ela estava certa, eu era um covarde.
Um barulho no celular me avisou o recebimento de um e-mail. Era dela. Mais do que depressa o abri e não havia nenhuma mensagem, um cumprimento, nada. O corpo do e-mail dizia apenas ao seu professor que ela estava encaminhando todo o trabalho, a parte escrita e em vídeo, ainda dentro do prazo que ele dera. Ela apenas havia copiado o e-mail para mim. Peguei o notebook e abri por lá, seria mais fácil de ler. Confesso que esperei por alguma mensagem pessoal para mim, qualquer coisa, mas não havia nada. Apenas seu trabalho. Sem nada para fazer, mesmo vendo aquelas sete enormes páginas na minha frente, peguei uma bebida e comecei a ler. Nas duas primeiras páginas, ela falou sobre o mundo fitness como um todo. Sua importância, necessidades, resultados. O dinheiro que girava em torno disso. As histórias. Ela citou as que dei a ela e pesquisou mais algumas. Os benefícios e riscos à saúde. Seu trabalho estava imparcial e completo até onde eu havia lido. A terceira página era uma opinião própria dela sobre o mundo fitness. Sorri assim que comecei a ler:
Quando eu, garota acima do peso, soube que teria que me enfiar num mundo de sarados e viciados em academia, sinceramente quis me matar. Achei que fosse o destino me pregando uma peça por cada cachorro quente que comi na vida. Eu cheguei lá, vi homens e mulheres exibindo seus corpos lindos, musculosos, perfeitos, e fiquei me perguntando o que músculos poderiam trazer de benefícios para outras pessoas. O que um muso fitness tinha a oferecer, além de uma bela visão? Eu pedi desesperadamente ao meu professor que me desse uma profissão mais útil. E por este pedido, quero me desculpar com o mundo fitness. Nesses dias acompanhando histórias, rotina, trajetórias, aprendi que ser fitness vai muito além de ser musculoso ou gostosa. Vai muito além das fotos na academia e concursos superficiais. É uma qualidade de vida. É você amar e cuidar do seu corpo, e da sua mente. É algo em que você se dedica e que faz bem a você, em todos os sentidos, e bem a quem o rodeia. Eu vi histórias de pessoas perdidas, deixadas, passando pela vida sem nada que o mantivesse realmente vivo, e aí essas pessoas se descobriram, se amaram, se cuidaram. Viraram fitness, sim, isso vai muito além de um título. Se tornaram pessoas que se amam, que despertam a vontade em outras pessoas de se amarem também. Imagino que nada é melhor do que você se olhar no espelho e gostar do que vê. Nada é como sair na rua sendo como você é, saudável, e não se importar para o que
os outros pensam, não ter esse medo, porque dentro de você, você sabe que se cuida como deve se cuidar. Às vezes lemos um livro para distrair a mente de problemas, vemos um filme, vamos dar uma volta. Coisas banais. Às vezes, os problemas são tão grandes, que essas coisas não bastam, e você se sente tão inferior a tudo, que seus passatempos para passar por esses momentos apenas o ferem ainda mais. No mundo fitness há tantas pessoas, tantas histórias, que se apegaram a isso como seu passatempo, como sua salvação, abandonando muitos vícios destrutivos, convertendo suas dores em amor próprio. Não estou prometendo entrar numa academia, Deus me livre! Mas estou me comprometendo a ser fitness sim. A cuidar de mim, me amar, e fazer aquilo que eu sei que me fará bem. Amanhã, estarei andando com a cabeça erguida, sabendo que sou linda como sou, mesmo sem músculos e coroas, posso ser miss fitness. Sugiro que sejam também. Cada um que está lendo esta matéria. Se ame, se cuide, pense em você. Acima de tudo, se aceite, para que possa melhorar apenas o que precisa ser melhorado na sua opinião, na de mais ninguém. (Ok, na do médico também, se sua saúde estiver em risco.) Vamos usar a hashtag #EuMeAmo, e mostrar ao mundo que a beleza não tem que seguir um padrão, ela tem que seguir uma escolha de vida. Eu escolho me amar. Obrigada, musos e musas fitness, por seu exemplo, sua determinação e disciplina.
Ao passar para a quarta página, havia o título: Profissional entrevistado: muso fitness Brasil 2016, Jake Dustin. Então me dei conta de que as quatro últimas páginas seriam sobre mim. Troquei a bebida por algo mais forte e comecei a ler. Ela contou pouco sobre a minha vida, não deixou explícito o que passei, apenas como me senti, e como me fortaleci, usando a academia como uma válvula de escape. Escreveu sobre o meu amor à luta, e em como ajudei a primeira pessoa, sentindo assim que poderia ser mais do que músculos e força bruta. Suas palavras me exaltaram, de uma forma que não deixaria um ego avantajado, mas, um atleta completamente satisfeito
com seu desempenho. Havia fotos dos meus treinos, fotos de mim sorrindo, distraído, dando autógrafos, sendo admirado por pessoas que seguiam os meus passos. Ela encontrou até mesmo um depoimento de uma pessoa que ajudei, há muitos anos. Ele postou isso em seu perfil pessoal e de alguma forma, ela o encontrou e o usou em sua matéria, mostrando que o meu trabalho vai muito além de ser belo. E então, veio sua opinião pessoal sobre mim.
Minha experiência com Jake Dustin, sendo sincera, começou de uma maneira horrível. O cara ao meu ver, era um convencido, grosso e mais bonito do que alguém deveria ter permissão para ser. Ele sabia disso, e abusava. Achei que este trabalho seria um fracasso quando eu tivesse que falar sobre ele, e então eu teria que encher a página, divagando sobre cada músculo de seu corpo, apenas para não ter que citar sua personalidade. E então, em uma semana convivendo diariamente com ele, quebrei feio minha cara. Jake Dustin vai muito além de um saco de músculos, é uma muralha, capaz de erguer você do poço mais baixo. Ele vai além de um exemplo de disciplina e saúde, é um exemplo de vida. Um guerreiro real, que pegou suas dores e as transformou em exemplo a ser seguido. Ele me inspira. Me faz sentir alguém que nunca pensei que seria, me faz olhar-me no espelho, e ao invés de enxergar algo sem salvação, enxergar algo belo, que ainda pode melhorar. Me faz ter ideias de como fazer isso. Ele era um garoto destinado a uma vida fácil, num mundo feio. Mas, usou sua força para se erguer e se tornar algo belo, extremamente belo, no mundo feio de outras pessoas, como o meu. Ele é alguém que tem tudo, tem fama, dinheiro, juventude, beleza. E mesmo assim se importa em fazer a diferença. Convivi com ele por poucos dias, e já comecei a me questionar o que já fiz de bom para alguém, se já fiz diferença para alguém, de uma forma positiva. Por trás do atleta, do modelo, do ogro, há alguém com um coração tão grande quanto seus músculos. Que sente intensamente, vive intensamente e sabe que não está aqui só de passagem. Ele é atencioso e amável na medida certa, irritante mais do que deveria, mas a gente releva essa parte. Ele é a prova viva de que não existe vitória impossível, existem vitórias que exigem que você se dedique mais. Ele me ensinou que ser forte não é fazer sempre o certo, mas fazer além do que achou que seria capaz. Parabenizo Jake Dustin por sua dedicação, seu profissionalismo e seu exemplo,
que deve ser seguido. Você é um atleta completo.
Ao terminar de ler a última página, meus olhos pinicavam. Precisei de uns minutos para me recuperar da visão que ela tinha de mim. Não era algo apaixonado, mas, tendo em vista a forma como eu a havia tratado, foi muito mais do que eu merecia. Me peguei sorrindo ao constatar que ela via coisas em mim que eu não enxergava. Exatamente como ela. E então minha mente foi tomada por lembranças. Seus olhos marejados e seu semblante triste na noite anterior. A forma como ela disse que me amava, e me cobrou uma posição. Como se fosse necessário alguém tão maravilhosa quanto ela, dizer algo de tamanha magnitude e ter que implorar por um retorno. Lembreime da firmeza com que ela me respondeu quando aleguei que ela não me amava de verdade, da certeza que havia em seu rosto, sobre seu sentimento. Carolina realmente me amava. Eu estava tão magoado, tão quebrado. Eu soube desde que comecei a desejá-la mais do que qualquer outra coisa no mundo, que ela teria o poder de me quebrar. Soube que era um risco grande demais que eu não deveria assumir, mas me deixei levar pela necessidade de tê-la por perto. Agora eu conhecia a sensação de estar apaixonado. Sabia como era amar alguém, podia entender minha mãe ter deixado sua vida e sua família por meu pai. E depois planejar deixar tudo de novo pelo Robert. Agora eu via o risco que correria se a levasse comigo, como estaria em suas mãos. Me sentiria ainda mais responsável por ela, me tornaria paranoico por medo de que nosso destino fosse como o dos meus pais. E por conta desse medo, acabei por impossibilitar qualquer destino que poderíamos ter juntos. E então algo que ela me disse, seu medo de se arrepender, me atingiu: eu nunca saberia se teríamos repetido os erros de meus pais, ou se ela seria aquela que me manteria inteiro, porque eu não me dei a chance de descobrir. Não adiantava ficar ali me lamentando e me culpando, era tarde demais. Ela sequer suportava olhar para minha cara, e no momento em que a forcei a isso, não havia nada ali. Nenhum amor, calor, desejo, nada. Me perguntei como eu me sentiria se dissesse a ela que a amava e ela respondesse que não queria o meu amor e que eu não deveria procurá-la mais. Merda! Eu fui mais cruel do que pretendia com ela, e tudo porque saber que ela
me amava me tirou da minha zona de segurança. Porque eu sabia que corresponderia, se parasse para analisar e sentir, eu diria isso de volta, e não podia. Eu havia sido um grande imbecil, mas foi melhor assim para nós dois. Era tudo parecido demais. Nosso começo. O começo deles. Teríamos inevitavelmente o mesmo fim. E se eu achei que me sentiria perdido quando ficasse sozinho de novo, por conta das lembranças do passado, que eu sabia que me atormentariam após os encontros com meu pai, estava totalmente enganado. Pois, quando me vi sozinho ali, sem sono e sem nada em que me concentrar, tudo o que vi foram imagens de um futuro, que eu nunca teria ao lado dela, me atormentando muito mais do que qualquer passado poderia fazer. Por um momento, desejei ser alguém mais forte um dia, e me aproximar dela de novo, mas sabia que não podia fazer isso com ela. Eu nunca seria esse alguém, e sempre ia feri-la. Como ela mesma disse, ela se odiava por aceitar que eu a ferisse, e eu me odiava mais ainda por isso.
Já passava das três e eu não havia pregado os olhos. Peguei meu celular girando-o entre os dedos, prometendo a mim mesmo que não faria aquilo. Eu havia dado a facada, deveria deixá-la cicatrizar em paz. Mas, foi mais forte do que eu. Eu queria apenas um “vai se foder”, ou qualquer resposta indiferente. Até mesmo um “eu te odeio” mas precisava de alguma coisa. Qualquer resposta dela. Mandei uma mensagem, sem saber como puxar assunto com ela, depois da forma como ela saiu daqui destruída, vinte e duas horas atrás.
“Obrigado por ter ido ao concurso hoje. Significou muito pra mim.”
O que eu estava fazendo? Tentando dizer que me importava depois de gritar na cara dela que não a queria? Eu não podia ser realmente tão cafajeste.
“Não estou tentando dar em cima de você, nem anular o que disse ontem.”
“Não estou tentando te dar um fora de novo.”
“Não que eu tenha te dado um, ontem.”
Merda. Cadê a tecnologia em se cancelar mensagens enviadas quando se precisava dela? Eu só estava piorando as coisas, feriando-a mais, então mandei a última mensagem para Carolina Lince, a maior e mais sincera mensagem para meu doce e intenso problema.
“Sei que não tenho direito algum de tentar falar com vc agora, e nem sei o que dizer, como vc percebeu, não tive a intensão de feri-la. Nem antes e menos ainda agora. Só queria que soubesse que, apesar do grande covarde que sou e sempre serei, não fui uma farsa com vc. Tudo o que senti, tudo o que te dei durante essa semana, foi verdadeiro. Sinto mais do que vc que eu não seja capaz de manter isso e dar a vc tudo o que merece, vc não faz ideia! Sinto sua falta, sinto a dor que te causei e sinto minha própria dor por tê-la perdido. Espero que algum dia pense nesses nossos dias com carinho e não com ódio, pq eu penso em vc como a melhor coisa que já me aconteceu. Daqui a pouco, quando eu for embora, este número não existirá mais, e me pergunto se vc quer algum outro contato meu, apenas para o caso de um dia querer falar comigo, sobre qualquer coisa, sobre sua nota no trabalho. Não sei. Obrigado por cada palavra que usou nele, vc me vê como eu nunca me veria. Espero que fique bem, que eu não a tenha quebrado, e obrigado pela melhor semana da minha vida.”
Esperei alguma resposta, algo como “você me quebrou e sabe disso”, ou “eu disse que você era um covarde”, mas não obtive nenhuma resposta. Cochilei com o celular na mão e despertei com o frio da manhã nascendo. Sonolento e meio confuso, mandei mais uma mensagem, apenas um pedido. Eu sabia que não tinha a menor chance de ser atendido, mas eu tinha que enviá-la.
“Há alguma chance de vc ir se despedir de mim hoje? Meu voo sai às onze. Eu só preciso beijá-la e tocá-la uma última vez.”
Me enfiei embaixo da coberta pedindo silenciosamente que ela respondesse um sim, mas sabia que seria pedir demais. TrĂŞs horas depois, quando acordei para ir embora e olhei meu celular, nĂŁo havia nada. Nenhuma mensagem dela. Eu jĂĄ havia tido meu adeus.
Capítulo 25 ______________________
CAROLINA Pressionei o celular no peito e tentei regularizar minha respiração enlouquecida. Depois que enviei o trabalho e me livrei de tudo referente a Jake Dustin, achei que não teria qualquer contato com ele de novo, mas então, ao acordar esta manhã, me deparei com uma ligação perdida da noite anterior e algumas mensagens enviadas durante a madrugada e a manhã. Li e reli cada uma delas, no começo, querendo muito estar perto dele apenas para acertar seu pau com os meus pés pela estupidez toda, mas então, na última mensagem que mais parecia uma carta, ele se abriu. Se mostrou de verdade. E isso me fez sentir de novo que ele era o homem por quem eu havia me apaixonado. Fui tomar um banho e tentar tirar as palavras dele da cabeça, mas falhei miseravelmente. Eu não conseguia. Duas frases, especialmente, ficaram martelando em minha mente, me dizendo o quanto ele estava perdido com o que sentia por mim. Eu havia encontrado a coragem de assumir o que sentia, mas se tinha uma coisa que Dustin com certeza era, era covarde. E o medo dele de tudo o que envolve sentimentos, o fazia ficar daquele jeito. Me mandando mensagens desconexas e com medo do que sentia. Lilian parecia em outro mundo quando cheguei à cozinha, girando o sachê de chá como se ele fosse formar um pequeno redemoinho dentro da xícara. — Bom dia, o que houve? — fui logo perguntando. Ela deu de ombros e respondeu um muito baixo: — Nada. — Você não toma chá, Lil. Ou alguém possuiu seu corpo, ou você está em outro mundo. Porque que eu me lembre você realmente odeia isso. — Apontei para a xícara e ela soltou a colher como se a tivesse machucado, com uma careta de nojo. — Meu Deus! Não acredito que quase coloquei isso na boca! Não deve estar nem mesmo adoçado!
— Pela cara dele eu acho que você jogou sal. Nunca vi um chá de erva cidreira com essa cor. Ela bateu a testa na mesa e começou a falar. — O Marcelo foi embora. — Para onde? — Nossa casa, em Jundiaí. — Não era o que você queria? — Claro que era! Eu não o amo, e não é porque ele reapareceu do nada agindo como o homem fofo e lindo que eu conheci na adolescência que vou voltar a ter qualquer sentimento por ele — sentenciou com a cabeça ainda enterrada na mesa. — Que bom que você é tão forte, Lil. Eu juro que não saberia o que fazer no seu lugar. Ela levantou a cabeça rapidamente olhando para mim, um pequeno brilho de esperança tomando a carranca em seu rosto. — Como assim? Você não acha que isso é a coisa certa a se fazer? — Acho que no seu caso não há coisa certa, ou errada, Lil. Há o que te faz ou não bem. Sei lá. Vocês tiveram uma história, você não deve esquecer que ele a abandonou por cinco anos, mas e se ele for capaz de ainda fazê-la feliz como antes? — E se não for? Todo relacionamento tem riscos. Mas um que já deu errado, não tem riscos, tem certezas de que não dará certo. — Não estou dizendo que você deve pagar para ver se ele mudou. Apenas que eu no seu lugar, não teria essa convicção de deixá-lo ir embora assim. Você sabe tudo o que tenho passado com o Dustin, ele me mandou uma mensagem com um maldito eu penso em você como a melhor coisa que já me aconteceu, e já estou aqui, procurando motivos para não correr até o aeroporto para me despedir dele. Ela olhou imediatamente para o relógio. — Que horas o voo dele sai mesmo? — Às onze.
— Você tem meia hora, Carol, corre! Joguei a xícara de café para o lado e vesti a primeira roupa que encontrei, peguei minha bolsa e então parei, diante da pequena coisa sobre a cômoda. Não acreditava que eu ia mesmo fazer aquilo, mas já estava ali, eu não queria aquelas lembranças comigo, que ficassem com ele. Joguei o pen drive na bolsa e corri porta afora. O caminho curto até o aeroporto se tornou gigante. Ônibus quebraram, sinais deram defeito, como se eu estivesse no final de um filme correndo até o amor da minha vida para impedi-lo de ir embora e aí tudo começa a acontecer para me impedir de ter aquela grande cena. Exceto, que e não teria cena nenhuma. Apenas diria adeus a ele. Mas o que tínhamos não tinha volta. Porque não era nada além de coisas da minha cabeça iludida. Essa é a triste diferença das histórias para a vida real, você pode sentir por um cara daqueles de cinema uma paixão avassaladora como nas histórias, mas, não será correspondida. Vida real. Saco. Estacionei meio torto e acionei o alarme já entrando no aeroporto enorme. Procurei no painel o voo dele, eu tinha quinze minutos. Corri até o andar de desembarque torcendo para que ele não tivesse entrado ainda. Ele estava na fila. A chamada de embarque do voo dele estava sendo anunciada no alto-falante, mas ele estava parado, com a passagem na mão, olhando para todos os lados. Meu coração deu um salto no peito, e eu já me sentia quente só de vê-lo ali, coberto de jeans e uma jaqueta de couro, a barba perfeita sendo puxada por seus dentes cravados nos lábios grossos. Parei onde estava sem conseguir dar mais um passo. Então, ele me viu. Seus olhos negros cravaram-se nos meus e ele sorriu. Um pequeno e tímido sorriso, algo que eu nunca tinha visto em seu rosto. Colocou a passagem sobre a mala enorme que estava ao seu lado e andou até mim. Deixando suas coisas ali, sem supervisão, mas ele não se importou. Passou pelas pessoas causando comoção, seu olhar fixo no meu, e eu ainda não conseguia me mover. Ele parou à minha frente, seus olhos percorreram todo meu corpo e aquele sorriso tão doce continuava lá. — Você recebeu minhas mensagens. Assenti. — Desculpe por te pedir isso. Eu não queria ir embora sabendo que você me
odeia. — Tudo bem, mas na verdade, eu ainda odeio você. Ele riu e pegou minha mão, fazendo meu coração voltar aos seus saltos malucos e descompassados. — Você me odeia e veio até aqui, imagino o que faria por mim se me amasse. — Muito menos do que isso, com certeza. Ele tomou minha outra mão na sua, os olhos cravados nos meus, tão perto de mim que eu sentia seu perfume. — Obrigado por ter vindo — sussurrou. — De nada. Faça uma boa viagem, tomara que seja tranquila, eu tenho pavor de avião e do fato de que ninguém sobrevive se ele cair. Não estou dizendo isso para assustá-lo. — Soltei minha mão da dele e cobri a boca, fazendo-o rir alto. — Por que você veio aqui, Carolina? — Porque você pediu — respondi confusa. Ele negou com a cabeça, seu sorriso doce transformando-se naquele sorriso safado que eu conhecia tão bem. Que era morador assíduo de seu rosto. — Por que, Carolina? — Ah não! — Dei um passo para atrás. — Nem me olhe assim, não vamos fazer nada aqui, nem vem, você não é louco, Dustin! Ele segurou meu dedo apontado para ele, puxando-me para seus braços, enterrando o rosto em meu pescoço e mordiscando ali, causando-me arrepios deliciosos. Seu voo teve a última chamada anunciada no alto-falante e me afastei, indicando que ele deveria ir. Ele assentiu e foi até sua mala, então lembrei-me do pen drive em minha bolsa. Corri até ele e o coloquei no bolso de sua jaqueta. — O que é isso? — Nada demais. Apenas uma lembrança. — Não preciso de nada para me lembrar de você, Carol. Seria mais prático se me desse algo para eu esquecê-la.
— Não, você precisa se lembrar de mim e espero que sofra bastante com isso. Além do mais, acho que você vai gostar particularmente dessa lembrança. A maneira como ele me olhou e abriu a boca, tornando a fechá-la sem dizer nada. Como se quisesse me dizer algo e não pudesse, só me confirmou que ele nunca se abriria assim, nunca baixaria a guarda e assumiria riscos por qualquer sentimento. Dei um sorriso fraco e um aceno e virei-me de costas. Não dei três passos antes dele apertar meu braço ao passar por mim, arrastando sua mala com a gente, levando-me até o banheiro masculino. — Dustin, o que pensa que está fazendo? Ele não respondeu, entrou comigo mesmo sob os olhares confusos dos outros homens ali, me jogou em uma cabine e a trancou atrás de si. Antes que eu pudesse falar, sua boca estava na minha. Suas mãos me apertaram com força e ele nos girou, encostando-me à porta do banheiro. Sua mão passou por baixo do meu vestido e tocou minha calcinha, fazendo-me soltar um suspiro de prazer. — Dustin, não! — Tentei impedir no segundo em que sua boca desceu para meu seio, sugando-o por cima do vestido. Mas ele voltou sua boca para a minha, beijando com voracidade, com fome. Tomando tudo de mim, mais uma vez. Seus dedos alcançaram meu clitóris e o golpearam sem pena. Meus gemidos abafados por seus lábios, eu mal conseguia corresponder ao seu beijo, com a pressão no meio das minhas pernas. Quando ele enfiou os dois dedos em mim, girando-os ali dentro e alcançado um ponto quase insuportável, explodi em sua mão, gritando em seus lábios, me apoiando a ele para não cair no chão. Ele permaneceu com os dedos dentro de mim, movendo-os bem devagar, apenas prolongando a sensação. Seus lábios não deixaram os meus, mas seus beijos se tornaram suaves, doces. Intensos. Sua língua brincou com a minha até que eu tivesse me acalmado, e então ele aprofundou o beijo, sem velocidade, sem força, apenas me provando, e dando-me mais dele do que os beijos famintos poderiam dar. Quando consegui firmar minhas pernas, ele se afastou, beijando meu rosto e pescoço. Tirou os dedos de dentro de mim e os levou à boca. Chupando vagarosamente, sentindo meu gosto. — Era disso que eu precisava, para nunca mais me esquecer de você — disse
com a voz rouca. A ereção pressionava sua calça, mas eu não podia mais brincar daquilo. Abri a porta e saí da cabine, sendo seguida por ele. Meu cabelo bagunçado e os lábios inchados entregavam que eu estava aprontando e tentei me recompor. No altofalante, a mulher anunciou irritada: — Senhor Phillip Jacob Dustin, última chamada para o voo 1238 com destino a Nova York. Compareça ao portão de embarque 3, imediatamente. Senhor Phillip, última chamada. — É melhor você ir — falei. Ele segurou minha mão, fazendo-me olhar para ele uma última vez. — Carolina... — engoliu em seco e não disse nada. — Dessa vez não estou te cobrando que me diga nada, Dustin. Você precisa ir. — Será que não há a menor possibilidade de você vir comigo? Eu adio o voo para amanhã se você vier. Por favor. Neguei com a cabeça desvencilhando minha mão. — Não, Dustin. Você me tem quando consegue controlar meu prazer, mas não me tem mais quando posso raciocinar direito. Você sabe que isso nunca daria certo. Ele assentiu, mirando o chão, pegou sua mala e pigarreou, fazendo-me olhar para seu rosto de novo. Nossa pequena cena do lado de fora da cabine sendo observada por mais três homens no banheiro. — Adeus, Carolina. — Adeus, Phillip. Então ele virou as costas e se foi. Fim. Eu nunca mais veria Phillip Dustin.
Capítulo 26 ______________________
DUSTIN O frio da cidade me recebeu, causando-me incômodo. Nunca antes eu havia me sentido fora do lugar na minha casa, mas naquele momento eu me sentia. Robert foi me buscar no aeroporto, e fui contando a ele no caminho o que havia acontecido no Brasil. Ele me repreendeu por minha atitude perante meu pai, Robert acreditava que do assassinato de minha mãe, ele era inocente, mesmo que também o odiasse por todo o resto. Ao invés de ir para minha casa, fui para a dele. Ele queria que eu assistisse uma luta de MMA com ele, e Brad estava viajando a trabalho. Bebemos cervejas e eu não via realmente o que acontecia na tela à minha frente. — Você está mesmo destruído, Phillip. Dei de ombros. — Por que não liga para ela? Não tenta se acertar? — Não há mais nada a ser feito. — Enquanto estiverem vivos, algo sempre pode ser feito. Lembrei-me do gosto dela, de seus gemidos no banheiro. Seus lábios. Eu os marquei, com toda força que pude, para que ela pensasse em mim o dia todo. E eu não precisava de nenhuma marca dela para me lembrar dela. De repente lembrei-me da “lembrança” que ela havia colocado em meu bolso. Despedi-me de Robert e segui para o meu quarto, que ele sempre deixava reservado a mim, não importava em que prédio morasse. Era um pen drive. Deixei o notebook ligando e fui tomar um banho rápido, estava exausto das quatorze horas de viagem, contando com a escala, mais o caminho do aeroporto até a casa de Robert. Eu tinha uma sensação horrível de que havia deixado algo para trás. Fiquei pensando como seria se ela tivesse vindo comigo. Se ela gostaria da minha casa, eu precisaria mudá-la, era masculina demais. Se sentiria muito frio. Eu teria que demitir Janet, minha assistente, tinha quase certeza de que Carolina não gostaria
dela, principalmente quando soubesse que eu já havia transado algumas vezes com ela. Sorri diante o pensamento de vê-la com ciúmes de mim. Pensei na forma como seu corpo correspondia ao meu, mesmo que ela não quisesse corresponder, como ele me pertencia, seu prazer, seus gemidos, eram meus. E na forma como ela me olhou com mágoa, como se tivesse se arrependido por se deixar levar no aeroporto, como se tivesse se arrependido de ter ido até lá. Fiquei pensando quanto tempo ela demoraria para se erguer, para amar alguém de novo. Eu deveria torcer que ele fosse o oposto de mim e não a ferisse nunca, mas, se ele fosse meu completo oposto, não teria por ela o sentimento tão grande e assustador que eu tinha. Saí do banheiro e mandei uma mensagem do meu número torcendo para que ela recebesse. Carolina não gostava de redes sociais, e não adiantaria mandar por outro meio que não fosse sms.
“Não se arrependa por ter ido se despedir, boneca. Não se arrependa de nada do que vivemos. Apesar do fim, foi algo muito bom.”
Não recebi confirmação de recebimento por parte dela, joguei-me na cama fria e fui ver o que tinha no pen drive. Assim que me vi na imagem, e ouvi a voz dela dizendo: “há muitos músculos à mostra. Talvez você devesse vestir uma camisa.” Fiquei totalmente concentrado no vídeo, no momento em que larguei a corda e me aproximei dela, encurralando-a à prancha de adnominal. Pude ver uma parte de seu rosto, seus olhos desejosos e assustados. — Quando eu quero uma coisa, Carolina, eu vou lá e a pego. Eu não espero, não peço e não tento. Eu pego — eu disse a ela no vídeo. E ela engoliu em seco, principalmente quando eu disse que a queria e não sobraria nada dela quando eu a comesse inteira. Por que caralho eu não a tomei para mim por completo? Em que momento me tornei um babaca que quer algo e não o pega por medo? Quando eu quero alguma coisa, eu vou lá e pego. Eu a queria ao meu lado, na minha cama, na minha casa, em nova York ou qualquer outro lugar em que eu precisasse estar, e estive tão perto de ter isso! Por que recuei? Na imagem da câmera eu a arrastava até o supino, como um desesperado,
tomando sua boca e sentindo-a se contorcer sob meu corpo. Vi o momento em que rasguei sua calcinha e a chupei, provando pela primeira vez seu gosto viciante. Eu podia sentir seu gosto ali, na minha boca, vendo aquelas imagens, lembrandome dela no aeroporto, podia sentir seu calor na minha boca, saboreá-la, como se ela estivesse ali. Meu pau despertou com as lembranças vívidas e as imagens quentes de nós dois que ela havia me dado. Uma prova de confiança enorme em mim. Uma prova de autocontrole enorme para mim. E então eu pude ver, seu primeiro orgasmo em minha boca pude ver o momento exato em que seu rosto se perdeu, e seu olhar se tornou fora de foco enquanto ela gritava, derramando-se na minha língua. Eu a levei até o abdominal invertido, colocando-a de quatro, nas imagens, eu cobria sua bunda perfeita e sua entrada molhadinha por mim. Vi o momento em que minha mão passeou por seu corpo, em que toquei sua traseira, testando seus limites, sentindo-a se contrair sob meu toque, pude ver o momento em que a toquei, em que experimentei se estava molhada como deveria para me caber ali em sua entrada tão apertada. Lembrei-me de como eu queria me controlar para não machucá-la e não fui capaz. Então me vi penetrando-a, eu não via seu rosto no vídeo, apenas seus gritos e gemidos, os meus gritos e os movimentos bruscos enquanto eu entrava e saía dela, num ritmo louco. Comendo-a toda, tomando-a para mim. Eu soube ali que estava perdido por ela. Me vi tocando seu clitóris, e ouvi seu grito quando ela gozou no meu pau, convulsionado embaixo do meu corpo, seguido por meu grito primitivo quando fui totalmente atingido por ela. Meu corpo caiu sobre o dela, não porque eu não conseguia me manter de pé, mas porque eu não queria que aquele contato gostoso acabasse. Porque eu queria apenas trocar a camisinha e comê-la outra vez. Eu teria feito aquilo a tarde toda se ela não tivesse um compromisso naquela noite. Voltei o vídeo e tirei a cueca, meu pau já pulsava de saudade dela. Juntando as imagens dela nua, seus sons e movimentos me pedindo por mais, com o desejo desenfreado que qualquer lembrança dela me trazia, comecei a bombear meu pau, apertando com os dedos, tentando chegar o mais próximo da boceta apertada dela, sentindo-a em cima de mim, me cavalgando, me levando a um nível de prazer que apenas ela era capaz. Pude ver seus olhos cravados em mim, totalmente fora de foco, quando ficavam quando eu a possuía. O orgasmo foi tomando conta de mim, meus olhos lutando para manterem-se abertos, concentrados no vídeo, e então eu gritei o nome dela quando um orgasmo avassalador me tomou.
Fiquei repetindo seu nome como uma prece, com desespero, saudade e sofreguidão. Eu precisava dela. Não sabia como faria aquilo, mas tinha que fazer. Ela era minha, não podia permitir que mais ninguém a visse tão entregue, tão gostosa, como quando gozava. Ela não podia gozar daquele jeito na boca e no pau de mais ninguém. Ela era minha!
Após comer algo e tentar dormir, desisti, sentei-me na cama, e mandei outra mensagem a ela.
“Obrigado pelo vídeo. Vc não faz ideia do qto o amei. Eu sei como vc reagiu agora, revirou os olhos e disse que já me avisou sobre a quantidade de coisas que eu amo em vc, e que devo me policiar. Adivinha só, Carolina? Eu não me policiei.”
Não obtive qualquer resposta, mas mandei outra.
“Gozei como um louco com esse vídeo. Um momento perfeito de inspiração. Mas não é o suficiente. Quero vc comigo. Quero vc embaixo de mim, montada em mim, eu preciso de vc.”
O dia nascia lá fora e eu como um louco, mandando uma mensagem atrás da outra, torcendo para que ela recebesse, que sentisse minha falta, que me pedisse para buscá-la, porque naquele momento eu iria. Juro que não pensaria em nada que impedisse, largaria tudo e iria até ela.
“Sinto tanto a sua falta, que chega a me sufocar, Carolina. Porra, o que vc fez comigo?”
Usei o celular para desabafar tudo o que passava pela minha mente confusa e quebrada, não importava se ela receberia tudo, ou se meus sentimentos ficariam
perdidos em algum lugar sem nunca serem lidos, eu me sentia melhor pensando que estava dizendo a ela tudo o que deveria ter dito antes, quando ela estava ali na minha frente dizendo que me amava, quando tive a oportunidade.
“Vc queria um eu te amo? Isso não é suficiente, Carol. Eu te vivo. Preciso de vc como um louco. Estou mesmo ficando louco.”
“Vou voltar aí e te buscar, vou te arrastar comigo até corrigir toda a merda que fiz, até vc ser minha de novo, sem medo. Até ver aquele sorriso delicioso no seu rosto. Eu quero fazê-lo constante em vc. Quero fazer-me constante em vc.”
“Só me dê uma resposta, o dia aí já vai nascer daqui a pouco, acorde e me diga para ir dormir. Me mande parar de mandar mensagens desesperadas. Brigue comigo. Mas me dê algum sinal, meu amor.”
Mandei mais tantas mensagens, que acabei perdendo a conta. Mal tinha pegado no sono, quando acordei com o toque do meu celular. Um número do Brasil. Além dos organizadores e patrocinadores de lá, só quem tinha meu número pessoal era Júlio. E eu o dei a ele para que me falasse sobre a Carolina, caso ela precisasse de algo, ele me ligaria constantemente para me dar notícias dela. E era o que estava fazendo. — Cara, sinto muito ligar à essa hora, mas você precisa ver algo. — O que foi? É a Carol? Ela está bem? — A julgar pelos gritos que estão vindo do apartamento dela, não. Mas acho melhor você ver com seus próprios olhos. — Que porra está acontecendo? Ver o que com meus próprios olhos? — Pega um computador, entre em qualquer site de notícias do Brasil, ou digite seu nome num campo de busca e a palavra Brasil. Levantei-me meio zonzo já jogando o notebook na cama, tentando ligá-lo na velocidade da luz.
— O que vou ver? O que aconteceu? Enquanto ele falava e falava sem me dizer nada, eu digitei meu nome e o dela e não foi preciso mais nada. Havia várias fotos nossas, da boate. Ela dançando sensualmente se esfregando em mim, a gente se beijando, eu a comendo com os dedos na mesa do andar de cima, o garçom perto da gente. — Merda! — Não sei o que você vai fazer, mas acho que devia ligar para ela. Estou indo para lá agora, a mãe dela está descontrolada. Ele desligou antes que eu pudesse agradecer ou expressar minha raiva. A manchete da matéria que eu estava lendo, dizia: Jake Dustin e garota de programa brasileira em caso tórrido. Garota de programa? De onde tiraram isso? A roupa dela não a caracterizava assim. Então me dei conta, eles nunca me colocariam como o errado. Se estamos quase transando em público a culpa cairia nela. — Merda! Liguei para ela desesperadamente. O telefone chamava e caía na caixa postal. Comecei a deixar recados, um atrás do outro. Robert entrou no meu quarto preocupado, meus gritos o haviam acordado. Apenas virei para ele a tela do notebook e ele já começou a gritar seus próprios palavrões. — Pobrezinha. Deve estar enfrentando um inferno lá agora — observou com pesar. Ela estava, a culpa era minha e eu não podia estar lá com ela. Mas faria o que eu pudesse para ajudá-la. — Robert, por favor ligue para o seu advogado, quero essas matérias fora da internet ainda hoje. Ele saiu do meu quarto me pedindo para ter calma, mas eu não podia ter calma. Eu havia estragado tudo para ela, a havia quebrado muito mais do que no coração. E precisava remediar isso. Não adiantava voltar correndo para o Brasil ainda sendo a merda de um covarde, eu só queria ouvir sua voz e dizer que eu já estava cuidando de tudo, mas ela não me atendia. Mandei mais uma mensagem:
“Amor, estou cuidando de tudo. Sinto muito por isso, não sei como te pedir desculpas, vc não faz ideia do qto isso também me quebrou. Só quero te dizer que estou resolvendo tudo, Carolina, essas matérias vão sumir hoje mesmo. Por favor, me desculpe.”
“Preciso saber como vc está, me atenda!”
Após a sexta ligação caindo na caixa postal, liguei para Colin, nem dando tempo de ele dizer nada antes de ir soltando: — Me dê o número da porra da sua psicóloga! Preciso vê-la hoje mesmo! Carolina precisava de alguém corajoso que a amasse ao seu lado. Só me faltava a coragem, mas eu enfrentaria esse passado que tentei tanto apagar, eu o venceria e voltaria para ela como um homem completo.
Capítulo 27 ______________________
CAROLINA Tudo estava um caos. Minha mãe gritava sem parar, termia que ela fosse ter um ataque cardíaco, e em determinado momento, parei de prestar atenção ao que ela falava, foi no momento em que recebi uma mensagem do Dustin.
“Amor, estou cuidando de tudo. Sinto muito por isso, não sei como te pedir desculpas, vc não faz ideia do qto isso também me quebrou. Só quero te dizer que estou resolvendo tudo, Carolina, essas matérias vão sumir hoje mesmo. Por favor, me desculpe.”
Ele iria cuidar de tudo. Iria tirar as imagens da internet, ótimo! Mas quem as tiraria da cabeça da minha mãe? E da minha ex chefe? Do meu pai? De tudo isso meu pesar maior era por ele. Ele que nunca havia me julgado, agora me veria como algo que eu não era, eu o havia decepcionado muito. Sabia que a culpa não era só do Dustin, não adiantava tentar ocultar minha parcelo nisso tudo. Ele foi além do limite, sim, mas seu permiti. Entrei em seu jogo, fui na dele. A folha impressa na mão da minha mãe, era de uma matéria que eu ainda não havia visto. E Lilian e eu passamos a noite em busca dessas matérias, tirando print de todas. O título desta dizia: Muso fitness e mais uma de suas conquistas quase são presos por atentado ao pudor. As imagens eram duas, uma em que ele estava por cima de mim no sofá e outra em que ele me arrastava para fora da boate pelo braço, claramente irritado. Agi como se não fosse nada demais, eu já havia me descabelado no dia anterior quando vi a primeira dessas matérias, naquele momento eu já estava escaldada, ligando o foda-se para o mundo e tentando achar um culpado que não fosse eu. Lembrei-me do dia anterior, como se fosse um borrão, um dia que ocorrera há anos atrás. Eu cheguei do aeroporto aquele dia achando que minha vida estava desandando, porque eu não tinha ideia do que aconteceria a seguir.
Cheguei do aeroporto sentindo-me exausta, emocionalmente. Como se um caminhão houvesse me atropelado diversas vezes, com resquícios de crueldade, esmagando todos os meus ossos por prazer. Lilian estava ao telefone, mas desligou assim que viu meu estado. — Deixe-me adivinhar. Vocês deram uns pegas e ele foi idiota como sempre. — Demos uns pegas e ele foi apenas ele. Nem mais, nem menos idiota do que o normal. Na verdade, ele ainda me convidou para ir com ele. Mas eu preferia não ter ido até lá, sabe Lil. Acho que estou me sentindo pior agora do que estava hoje de manhã. — Ah, Big. Eu sinto muito. — Ela me abraçou e disse, tentando me fazer sentir melhor. — Vai por mim, se você não tivesse ido, ficaria relendo aquela mensagem do eu penso em você como a melhor coisa que já me aconteceu e se perguntado o que teria acontecido. — Mas talvez isso doesse menos do que as lembranças que tenho agora. — Não doeria. A dúvida estaria aí junto com a dor. Eu sinto muito mesmo, desde que os vi juntos pela primeira vez com toda aquela provocação no desfile, juro que achei que ele seria uma coisa boa para você. — Pela primeira vez, você errou em seu julgamento, Lil. Ela se afastou libertando-me de seus braços e secou minhas lágrimas, dizendo com convicção: — Eu nunca erro nessas coisas, Carol. Parece bem ruim agora, mas o resto, o tempo dirá. Eu não precisava de tempo algum para saber o que estava sentindo naquele momento. E eu me sentia quebrada.
Tomei um banho com o que me restou de força, ergui a cabeça e peguei meu celular, disposta a apagar todas as mensagens dele. Mas claro que não consegui. Então resolvi abandonar o celular por uns dias, apenas até eu voltar a pensar com a razão e esquecer um pouco todo aquele sentimentalismo bobo de vida real. Fui trabalhar mais cedo, não iria para a faculdade, porque não queria perguntas das meninas sobre Dustin quando o professor falasse sobre o meu trabalho.
Quando cheguei à mansão dos Monteiro, Alan ainda estava na escola, e pela primeira vez desde que eu começara a trabalhar ali, Rebeca Monteiro, minha chefe, estava lá. — Olá, dona Rebeca, está de folga hoje? Torci para que não estivesse, eu precisava jogar algum jogo violento do Alan a tarde toda para manter minha mente ocupada e descarregar minha raiva. — Na verdade, eu fiquei para falar com você. Eu vi algumas cosias sobre você hoje na internet alarmantes. Sinceramente, Carolina, eu nunca imaginei que você tivesse esse tipo de comportamento, estou realmente em choque. Eu não fazia ideia do que ela estava falando, mas, antes que perguntasse, ela me entregou seu celular, e ali, na página de um site de fofoca sobre celebridades, havia uma matéria com o nome de Dustin: Jake Dustin em caso amoroso e tórrido com garota de programa. Rolei a página e senti-me congelar. Havia algumas fotos abaixo do título. Fotos minhas e de Dustin. Da boate. Alguém fotografou tudo o que fizemos lá. Com a roupa que eu estava e, principalmente, a atitude, quase sendo comida em público por ele, estavam se referindo a mim como uma garota de programa. Meus olhos encheram e eu não soube o que falar, queria me explicar, mas o que poderia dizer? — Não sou uma garota de programa. Eu não fazia ideia que alguém estava nos vendo, eu... Solucei, deixando as lágrimas descerem. Rebeca pegou o celular da minha mão e me mandou sentar, servindo-me um copo de água para me acalmar. — Eu sei que não é, Carol. Mas achei que fosse mais esperta do que isso. Sair assim com uma figura como Jake Dustin? Você não viu tudo o que esses sites falaram sobre ele quando chegou aqui, na semana passada? Neguei com a cabeça. Eu não tinha costume de ver esses sites e saber sobre a vida de mais ninguém. Mal sabia da minha vida. — Eles disseram o número de casos que esse cara já teve, não foram poucos. Quantas garotas ele deixou para trás arrasadas, em quantos escândalos ele já se meteu. Você sabia que ele já agrediu o próprio pai? Que era tão violento na
adolescência que precisou de acompanhamento psicológico? — Sim, eu sabia de tudo isso, mas não é como você está falando. Houve uma tragédia no passado dele, Dustin não é um cara mau. — Não é? E o que ele fez com você? E essas fotos, Carol? Como você, uma garota tão ajuizada foi se deixar seduzir a ponto de quase transar com ele em púbico? — Nós não íamos... — não adiantava explicar O olhar de pesar dela ao deixar o celular sobre a mesa foi meu alerta para o que viria a seguir. — Sinto muito, Carolina. Mas não posso mais permitir que continue trabalhando perto do meu filho. Não tenho nada contra você, mas não quero sua imagem sobre ele, não quero coleguinhas ou pais desses coleguinhas virando a cara quando você for buscá-lo na escola. Você me entende? Se eu entendia? Eu não entendia mais merda nenhuma! Ela não queria uma garota de programa dentro da sua casa, era o que estava dizendo. Assenti e me levantei, saindo dali, ouvindo-a dizer que depositaria tudo na minha conta, todos os meus direitos, os dias trabalhados no mês, mas eu nem queria me preocupar com isso naquele momento. Corri de volta para casa, Lilian estava indo para a faculdade quando passei por ela como um furacão. — Ei, quem morreu? Liguei meu notebook ouvindo seu salto atrás de mim. Digitei o nome de Dustin na busca e garota de programa e várias fotos de nós dois apareceram. Lilian jogouse na cama ao meu lado, boquiaberta e irritada. — Mas que merda é essa? — Tenho uma história para te contar. Contei a ela tudo sobre o dia da boate, o que fizemos, não fizemos, a crise dele por causa de Rodrigo e a forma com que me tirou de lá como um homem das cavernas. Contei tudo e enquanto eu me sentia um lixo, sem saber o que fazer da vida no minuto seguinte, Lilian começou furiosamente a mandar e-mails para vários desses sites. Ela ligou para uma amiga dela advogada, Alice Boaventura, pedindo conselhos sobre o que fazer, estava ameaçando processar todo mundo.
Mas achei que aquilo tudo não serviria de nada. Dustin era uma figura pública, estávamos em um local cheio de gente, e fomos nós mesmos quem vacilamos feio daquela vez. Lilian também não foi à faculdade e passamos o resto da tarde e noite procurando essas matérias, tirando prints de tudo e mandando para a advogada. E Dustin foi embora bem a tempo de se livrar de tudo. Custei a dormir, rolando na cama, sentindo-me mais perdida do que já havia me sentido na vida. Foi então que ouvi meu celular apitando. Eram mensagens de Dustin. Muitas mensagens. De alguma forma, elas me acalmaram e me fizeram rir. Ele estava lá, a horas de distância de mim, sem saber de nada, livre de toda aquela merda, e eu teria que arcar com tudo sozinha. Pedi que o dia seguinte fosse menos terrível, mas não foi. Acordei com Júlio e Lilian expulsando paparazzi que queriam fotos minhas. Meu celular não parava de tocar, e eram apenas números que eu não conhecia. Eu não atendia com medo de ser algum repórter querendo informações sobre Dustin. Pensei se não deveria atender um deles e explicar o que realmente havia acontecido, mas me dei conta que não adiantaria de nada. As fotos não eram falsas, apenas as legendas delas. Eu não era uma garota de programa, mas de fato estávamos ali em um tórrido momento numa boate. Quando a voz da minha mãe me chamou do lado de fora, implorei a Lil com o olhar que não abrisse a porta, mas claro, minha amiga sempre correta a abriu. E minha mãe já entrou aqui gritando, com a folha impressa estendida em minha direção, vermelha como um pimentão, acusando-me se tudo. Gritou por tanto tempo, que apenas esperei, sem dizer nada. Quando ela se acalmou, Lilian a fez sentar-se e ela ficou reparando nossa sala com uma careta de reprovação. — O que você está fazendo da sua vida, Carolina? Quando saiu de casa e recusou qualquer ajuda financeira, eu soube que ia acabar em algo assim. Precisei segurar Lilian que tentou pular em cima dela com as mãos em punhos. — Lil, deixe-nos sozinhas, por favor. Ela saiu pisando duro e lançou um olhar mortal à minha mãe. Lá se foi a Lilian certinha, era só mexer comigo que ela se transformava.
Sentei-me sobre a mesinha de centro, de frente para minha mãe e tentei manter a calma. — Não sou uma garota de programa, eu recusei sua ajuda porque sou maior de idade, morando longe de casa e vocês não têm mais qualquer obrigação financeira sobre mim. Eu tinha um trabalho digno e não ganhava tão mal, me mantia com ele. Não me aproximei do Dustin como uma acompanhante, pelo amor de Deus! — Eu bem achei muito estranho aquele amor todo dele por você no dia do desfile da sua irmã. Um cara como ele, tão rico e viajado, jamais se prenderia aqui por sua causa. Respirei fundo e tentei não levar a sério as coisas que ela dizia, eu havia saído de casa exatamente por causa dessas coisas. — Carolina, você envergonhou o nome da família, você manchou a carreira da Carine. Ela será sempre a modelo irmã da prostituta do Dustin. Você tem alguma ideia do que você fez? — Não. Eu só estava curtindo com o cara com quem estava saindo, posso ter exagerado, mas isso não me torna uma puta! E acho que você como minha mãe, deveria se preocupar comigo também, e não com a imagem que você vai ter agora! — Acha que não me preocupo? — Ela se levantou irritada — Você me ofende, Carolina. Você deveria estar me pedindo perdão pelo que fez, eu não sei nem por onde começar a falar o tamanho da minha decepção e mágoa agora, você sempre tem que ser a errada, a do contra, a esquisita. Mas isso? Ela sacudiu a folha. — Você passou dos limites! Você vai morar com sua avó em Bariloche, onde espero que esta notícia não tenha tido tamanha proporção e nunca mais ouse colocar os pés nesse país de novo! — Eu não vou a lugar nenhum — disse calmamente. — Você vai! Não vou permitir que fique por aqui manchando o nome da sua irmã e o meu nome. Eu trabalhei muito para construir a imagem que tenho hoje, você não pensa nisso? — Por que deveria se ela é uma farsa? Será que seus fãs sabem a pessoa fria e egoísta que há por trás dessa pele bonita? Eu não vou a lugar nenhum, não estou pedindo sua ajuda financeira, nem para nada. Você não me quer na sua vida tanto
quanto eu não te quero na minha. Ela me olhou em choque e me levantei, enfrentando-a. — Vai embora, mãe. Não vou manchar o nome de ninguém, porque não faço mais parte da família. Ela parecia tão irritada que achei que fosse explodir de tão vermelha. — Você nunca fez mesmo, Carolina. Sempre foi a mancha. Eu não me conformo, você tinha tudo para ser tão linda e seguir meus passos e olha o que se tornou. Dei de ombros. Ela pegou a bolsa e deixou a folha impressa sobre a mesa de centro, andando com sua pose até a porta. — Fique longe da sua irmã — avisou. — Ficarei. Então ela deu as costas e sumiu escada abaixo. Bati a porta e deixei que as lágrimas rolassem. Era o terceiro rompimento em poucas horas. Meu celular não parava de tocar e acabei desligando-o para ter alguma paz. Chorei o resto do dia e quando a noite chegou, prometi a mim mesma que eu tinha que passar por aquilo. Não iria pensar nos comentários na faculdade no dia seguinte, não iria pensar no fato de estar desempregada e de que qualquer pessoa com acesso à internet não me contrataria por aqueles dias. Não queria pensar na pobre garota que Dustin estaria iludindo naquele momento, para depois deixá-la totalmente quebrada. Não pensaria em mais nada, daquela bagunça toda, eu só tentaria resolver as coisas com meu pai.
Mandei um e-mail para ele assim que acordei na manhã seguinte. Falei que estava apaixonada por Dustin, que eu havia bebido um pouco e me deixei levar. Pedi desculpas por tê-lo envergonhado, e confirmei que não era o que estavam dizendo de mim, jamais seria assim. Ele me surpreendeu com uma resposta quase imediata: Filha, não se preocupe tanto. Estou aqui para o que precisar. Soube que perdeu o emprego, sei que não gosta de receber minha ajuda, mas tomei a liberdade de falar com um amigo do meu sócio. Ele vai conseguir para você um emprego na sua área, você vai ganhar um pouco menos por se tratar de um estágio, mas eu te ajudarei
com o resto. E não aceito não como resposta. Todo mundo erra, quando se é jovem então, erramos todos os dias. Sinto muito que não tenha tido em sua mãe uma amiga, que falasse sobre essas coisas com você, que te aconselhasse, embora saiba que a Lilian cuida bem de você. Não se culpe, minha filha. Carine e eu não acreditamos em nada do que sua mãe nos disse, infelizmente, a conhecemos bem. Você é nossa família, sinta-se à vontade para vir a sua casa sempre que desejar. E caso não queira ver a sua mãe, pode nos dizer onde encontrá-la e nós iremos. Amo você, minha filha, sempre irei amar. Um pouco abaixo, havia um ps que só podia ser coisa da Carine. ps: Sua vaca sortuda! Jake Dustin!!!! Inveja máster de você! Espero que ele tenha mesmo aquelas pegadas todas que vi nas fotos, você arrasou! Sua fã, Carine.
Chorei e sorri com o e-mail da minha família. E isso me fez de alguma forma, mais forte.
A noite havia chegado e parecia que as coisas começariam a se acalmar. Eu havia saído mais cedo da faculdade, após o professor Roberto me informar que eu havia tirado nota máxima no trabalho e ter me parabenizado, dizendo que já o havia disponibilizado na internet. Em um site sobre saúde e em canais do YouTube. Como se ele não soubesse sobre o que aconteceu, o que agradeci muito internamente. Os colegas de turma eram todos idiotas, que ficaram fazendo piadas e tentando a todo custo me envergonhar. No final da terceira aula, Rodrigo socou alguns deles e me levou para casa. A única coisa legal disso tudo, foi quando decidi olhar minha matéria publicada, achei que ela serviria para deixar claro que eu não era uma garota de programa. Que estava com Dustin para um documentário. Eu ficaria como apenas mais uma seduzida por ele, mas preferia esse título ao que tinha no momento. Quando busquei por minha matéria em redes sociais, me surpreendi com a quantidade de hashtags espalhadas. #EuMeAmo já havia sido twittada mais de mil vezes em poucas horas. Sorri, sentindo que, de alguma forma, eu fiz a diferença na mente de alguém naquele dia.
Lilian entrou em casa correndo, falando ao celular, só entendi as palavras acidente e Marcelo. Desliguei o fogo e esperei que ela contasse. Ele havia sofrido um acidente no dia anterior chegando a Jundiaí e seu estado era grave. Lilian me pediu que fosse com ela à sua cidade para vê-lo, o que aceitei imediatamente. Jamais deixaria minha amiga sozinha num momento daqueles. Marcelo era um cara muito bonito e aparentemente, legal. Ficamos lá por duas semanas, enquanto ele estava hospitalizado, foi aí que a confirmação de nossas suspeitas veio, senti que Lilian ficou sem chão, e eu também, pois a consequência desse acidente foi desastrosa para mim também. Marcelo perdeu os movimentos nas pernas. Os médicos não detectaram nenhuma lesão definitiva, mas ele não conseguia mais movê-las. Após alguns dias em casa, Lilian decidiu que não poderia deixá-lo, e eu sabia que ela estava certa. Foi o pior rompimento daquele mês, voltar para casa sem ela. Ela me abraçou forte, chorando copiosamente no meu ombro. — Eu sinto muito, minha Big, como vou sobreviver sem você? Me perdoa por deixá-la justo agora. Por que não vem ficar com a gente? Big, não quero deixar você. Tentei tranquilizá-la e fazê-la se sentir melhor bancando a forte. Mas no fundo eu não sabia como seria a minha vida sem ela. De repente senti como se eu não tivesse mais ninguém. Ao chegar em casa, Júlio estava sentado na escada. Olhou ansioso atrás de mim, procurando pela Lil, e quando não a viu, soube que havia entendido. — Ela ficou mesmo, não é? Assenti, segurando o choro. — Ele perdeu os movimentos da perna logo após levar um fora dela, muito conveniente — murmurou irritado. — O que quer dizer? — Que os médicos não acharam qualquer lesão. — Você acha que ele está fingindo? — perguntei espantada. — Eu fingiria no lugar dele. Para o bem dele, eu esperava que não estivesse fingindo, ou a Lilian faria com
que ele perdesse as pernas de verdade, e todos os órgãos que estivessem perto delas. — Quer ir beber um pouco? — ofereceu. — Acho que farei uma viagem a Jundiaí amanhã. Me surpreendi com sua decisão. — Você vai atrás dela? — Só quero me certificar de que ele não está mentindo. Porque se ele estiver, acabou de iniciar uma guerra. — Dez minutos e estarei pronta. Eu precisava mesmo me distrair, e dar conselhos a ele sobre a Lilian.
Capítulo 28 ______________________
CAROLINA 8 meses depois... Deixei o estágio sentindo a chuva fina cair em meu rosto. Todas as lojas no centro tinham seus enfeites de natal, luzes coloridas e muitos papais noéis espalhados pelas ruas. As pessoas andavam com suas sacolas repletas de presentes, menos eu. Além de não ter dinheiro para comprar presentes, eu ainda estava no estágio e não ganhava muito lá, também não tinha exatamente para quem dar. Até olhei nas vitrines algo que pudesse dar ao meu pai, ou Carine, ou que pudesse mandar para Lilian, mas minha família não precisava de nada. E o presente que Lil queria era que eu fosse passar o natal com ela em Jundiaí. Eu estava morrendo de saudade da minha melhor amiga, a última vez que a havia visto, havia sido em julho, nas minhas férias, há cinco meses. Mas natal era um dia meio traumático para mim, e eu preferia mesmo passá-lo acompanhada de um bom livro, um vinho barato e alguma música. Mesmo assim, depois que o natal passasse e os preços absurdos abaixassem, eu compraria algo para Lil e algo para mim. Estava pensando em ir vê-la em Janeiro, teria uma semana de folga no estágio, seria a chance perfeita. Finalmente terminei a faculdade, formei-me com louvor. Tudo bem, não chegou a tanto, mas não fiquei de recuperação em nenhuma matéria. O resto do semestre passou lento e doloroso como todos os dias da minha vida. Rodrigo e eu ficamos mais próximos, ele chegou a me beijar algumas vezes, mas eu realmente não consegui ir adiante. Fiquei feliz que mais alguém tenha reparado em mim, independente dos meus quilos extras, principalmente um gato como ele, mas o beijo dele não tinha aquela coisa, como alguns outros beijos. Por fim, ele desistiu e nos tornamos bons amigos. Eu cheguei a tentar fazer academia, mas, aquilo não era para mim. Nada contra quem faz, só não consigo entender vocês que passam o dia fazendo isso, é cansativo, doloroso e entediante. Como malhar não era para mim, mas eu não
queria morrer enfartada por excesso de gordura no coração, comecei a correr. Havia pistas próprias para corrida ao redor do centro, e eu as usava, finalmente. Não corria muito, nem todos os dias, mas já era alguma coisa. Eu havia perdido uns quilinhos, poucos, mas estava me sentindo uma miss. Coloquei o fone nas orelhas, liguei meu foda-se para o mundo e fui correr. Sempre que ia, o fazia ao sair do estágio. A chuva fina não me impedia, pelo contrário, eu adorava a sensação do frio em minha pele, e isso me motivava a correr um pouco mais. Cheguei em casa exausta, resisti ao cachorro quente de frente ao meu prédio ao passar por ele, e tomei quase uma garrafinha de água. Tirei os fones e a blusa molhada, e foi aí que vi. Embaixo da minha porta havia um envelope. Ele não estava ali quando cheguei ou eu o teria molhado. Peguei o papel e senti meu ar falhar e meu coração bater naquele ritmo louco há tanto esquecido. Era um convite para uma luta. No dia seguinte à noite, no Clube O quebrador, a grande luta do no. Jake Dustin X O quebrador. Minhas pernas tremeram, meu queixo caiu e fiquei por alguns minutos apenas encarando o papel, como se algo mágico fosse saltar dele a qualquer momento. Dustin estava de volta. E ia lutar. Lutar contra seu próprio pai. Ele estava enfrentando seu passado. Imediatamente peguei meu celular na bolsa e procurei suas últimas mensagens de meses atrás. Eu as havia arquivado em uma pasta chamada: não leia nunca. Mas naquele momento eu precisei desobedecer meu aviso. Pressionei o número enorme da qual ele havia me enviado as mensagens e esperei chamar. Mas, deu erro e a ligação não completou. Como se adivinhando que eu estava tentando ligar para ele, meu celular apitou uma mensagem. E não era do número enorme, e sim do número dele, de quando estava aqui. Perdi algumas batidas do coração ao ver o nome na tela: Dustin Babaca. Abri meio tremendo e a mensagem dizia:
“Olá, minha adorável boneca. Tenho um segredo para te contar, mas, vc terá que me encontrar primeiro.”
Em seguida, chegou outra:
“Será que vc sabe onde me encontrar? Vou te dar duas pistas, mas tenho certeza que vc consegue imaginar sem precisar delas.”
Joguei o celular sobre a cama e tomei um banho quente, tirando o gelo da chuva da minha pele. Vesti algo confortável e nada sexy, peguei uma capa de chuva, meu celular e a chave. Eu não tinha mais carro desde que Lil havia ido embora. O carro era dela. Ela até insistiu que eu ficasse com ele, mas ela precisaria dele mais do que eu, eu morava muito perto do centro, não custava ir aos lugares à pé. De qualquer forma, para o lugar onde eu ia, não precisaria ir de carro. Era apenas há alguns quarteirões da minha casa. Assim que pisei na rua, a chuva fina voltou a cair, e recebi mais uma mensagem:
“Não vejo a hora de ver vc, vou beijá-la como se minha vida dependesse disso, e não me importa se esta não é sua vontade, a terei assim mesmo, e vc sabe disso. Venha até mim apenas se assumir os riscos que correrá no momento em que eu puser os olhos em vc. Já te dei um aviso parecido antes. Espero vc.”
Sorri como uma boba e apressei o passo, quase correndo. Ele havia me dado um aviso parecido uma vez, mas dizendo que iria me foder e não me beijar. E eu tinha certeza que ele estava no mesmo lugar que estava da outra vez. Era como o nosso lugar. Meu coração batia acelerado e esfreguei o peito por cima da capa de chuva molhada, com medo de ter mesmo um ataque. Eu não havia tido qualquer notícia sobre ele desde que ele tirou todas as fotos sobre nós da internet ou de qualquer meio. Nunca mais pesquisei sobre ele, eu realmente preferi não saber. Não queria ver quando o próximo escândalo dele, com sua nova boneca estourasse. Tentei não ficar me lembrando de seus toques, seus beijos, da forma como sabia ser bruto e tão delicado quando estávamos juntos. Tentei não ler suas mensagens mais, eu realmente segui a vida. Só não havia ainda conseguido me envolver com outra pessoa. Mas achei que chegaria o dia em que superaria isso também. E de repente, em uma noite chuvosa, saber que ele esperava por mim, imaginar
rever toda sua beleza e intensidade, aquela paixão avassaladora e seu sorriso safado, me fazia querer correr até onde ele estava, só para ter certeza de que ele era real. Sequer tentei não criar expectativas quanto a revê-lo, eu estava em êxtase, esperando de tudo, esperando tê-lo dentro de mim de novo. Parei em frente ao galpão, que foi sua academia naquela semana, e estava tudo escuro. Como havia estado todas as outras noites em que eu passei por ele. Não que eu fizesse isso de propósito, às vezes era meu caminho. Pensei por um momento se havia errado, eu tinha tanta certeza de que ele estaria ali! Então recebi mais uma mensagem, sua segunda pista:
“Vejo imagens de nós dois neste lugar todos os dias. As vejo em uma lembrança que vc deixou para mim, a melhor lembrança que já recebi. As vejo quando durmo e sonho com vc. Estou ansioso por imagens novas deste lugar, principalmente de nós dois, para povoar meus sonhos. Suba, meu amor. Venha até mim.”
Eu não estava errada. Empurrei o pequeno portão e subi quase correndo, sabendo que ele ouviria meu desespero, mas não me importando. Tudo estava escuro. Tateei a madeira em busca do acendedor e quando a luz surgiu, eu o vi. Ele usava uma calça de moletom azul escura, estava pulando corda, o corpo suado, seus olhos se cravaram em mim e ele terminou de contar seus pulos. Jogou a corda de lado e veio decidido em minha direção. Parou a centímetros de mim, tocou meu rosto molhado e sorriu. — Oi, meu amor. Não consegui responder. Eu mal conseguia pensar. Ele abaixou o capuz da capa e a desabotoou vagarosamente. Tirou o celular da minha mão e o depositou por cima de algum aparelho. Então tirou a minha capa, roçando os dedos pela minha pele, fazendo-me gemer de saudade. — Você está toda molhada, vou pegar algo para trocar essa roupa, não quero você doente. Ele estava exagerando. Eu quis dizer que só havia molhado a barra da calça e as mangas da blusa, que estava protegida por uma capa, mas ele pegou minha
mão e guiou-me para o fundo do galpão. E então eu vi, uma mesa posta para duas pessoas, velas no meio, um radinho pequeno sobre ela em um canto, pratos e talheres dispostos. Ele mexeu em uma mala e tirou de lá uma camisa de manga comprida enorme dele. — Vai tirar essa roupa molhada ou eu faço isso? Eu posso fazer, mas perderíamos o jantar. — Eu... Comecei a tirar a blusa tentando organizar meus pensamentos para que pudesse dizer algo ao menos coerente, ao invés de ficar ali, soando como uma retardada. Sorri, lembrando-me da primeira vez em que estivera ali, como me perdi olhando para ele e ele me acusou exatamente disso, apenas para me irritar. Seus olhos acompanharam cada movimento meu, enquanto tirei a blusa e a calça. Quando olhei para ele novamente, para pegar sua blusa de frio, seus olhos pareciam estar pegando fogo. — Você está ainda mais gostosa do que eu me lembrava, Carolina. Está fazendo algum exercício? Dei de ombros. — Você acentuou algumas curvas. — Faz diferença para você? — perguntei baixinho e ele sorriu. — Não, de verdade não faz. A quero de qualquer jeito. Quase não estou me aguentando ao vê-la seminua tão perto de mim. Mas fico feliz que esteja se cuidando por você mesma. Vesti seu blusão sentindo-me aquecer quase que instantaneamente. Então andei até a mesa, observando a rosa no centro dela, a forma como tudo parecia tão milimetricamente planejado. — Que segredo você quer me contar? Perguntei esbarrando com ele ao virar-me para trás. Um sorriso enorme surgiu em seu rosto. — Carolina, sempre fazendo perguntas. Seu lado jornalista falou mais alto, amor. Preparei um jantar para nós dois.
— Você cozinhou? Isso vai ser interessante. — Para você ver como sou romântico e fofo. Sorri, segurando a língua para não lembrá-lo de quantas vezes ele negou isso veementemente. — Sei o que está pensando, sua atrevida. Mas as pessoas mudam, certo? Dizem que mudam principalmente quando perdem quem mais amam. — É, eles dizem. Pronto! Meu coração voltou a martelar e eu me sentia quase sem forças nas pernas, precisei apoiar-me na cadeira mais próxima para não cair. Ele olhou em meus olhos, prendendo aqueles olhos negros que eu amava nos meus, me transmitindo uma mensagem apenas com a intensidade daquele olhar, então de repente, ele falou. — Eu amo você. Mas este não é o meu segredo, você sabia disso, todo mundo sabia disso. O segredo é que eu não sou mais um covarde. Eu me esforcei, Carol, eu fiz tudo o que pude para enfrentar aquele passado e ser o homem que você precisa. Eu só não voltei antes, porque não queria voltar para você quebrado, mas agora, eu só preciso de você para me tornar inteiro de novo. Ele pegou minha mão e uma lágrima correu por meus olhos. Eu tinha tantas perguntas, tantas dúvidas! E elas simplesmente não importavam quando ele estava ali, tão perto de mim. Eu não sabia como seria no dia seguinte, se ele iria ficar, se teríamos mais uma semana ou um mês juntos. Eu sabia que eu sentia tanto a falta dele, que quase me sufocava o alívio por tê-lo finalmente tão perto. Ele pousou a mão em minha cintura e me joguei nele. Seus lábios encontraram os meus no meio do caminho, pressionando-os com força, apenas sentindo-os. Abri um pouco minha boca e ele a invadiu, seu beijo lento, mas profundo. Sua língua invadindo minha boca, seus lábios sugando os meus com delicadeza, enquanto ele me apertava em seu corpo. Passeei meus dedos por seus músculos suados e pousei em sua ereção. Ele mordeu meu lábio e se afastou, segurando minha mão, a respiração pesada e ofegante. — Não. Vamos comer primeiro. Se você me tocar aí, farei de você a janta e eu realmente me esforcei muito para te agradar. — Você me agradou só por estar aqui.
Ele me ajudou a sentar e sentou-se ao meu lado. Serviu um ensopado de frango divino, que custei a acreditar que ele havia feito. O vinho em nossas taças não era daqueles baratos que eu estava acostumada, mas nada me inebriava mais do que ele. Seu perfume, seu sorriso, sua voz no meu ouvido. Ele me contou algumas coisas sobre o que estava fazendo nos últimos meses. Enquanto ele falava, percebi como seus braços estavam mais fortes do que antes, ele parecia ainda maior. A barba estava rala, ressaltando um cavanhaque que rodeava perfeitamente seus lábios carnudos, me fazendo querer largar o ensopado de lado para devorá-los. Me perdi matando a saudade de cada detalhe dele que eu tinha em meu campo de visão, quando percebi que ele puxou meus dedos, apertando minha mão entre as suas. — Vamos amor, diga. — O quê? — Não seja vingativa. Eu fui um idiota quando você disse que me amava, embora eu quisesse muito gritar isso de volta e tomá-la ali mesmo, criei todo um futuro fodido para a gente, por medo. Mas não sou mais aquele cara, eu sou um homem, Carol. Assumo meus riscos e não tenho mais medo dos meus sentimentos, mesmo que os que tenho por você sejam tão mais fortes do que eu. Por favor, tenho esperado por este momento por oito meses! Diga de novo que me ama. Que ainda me ama. A primeira vez que eu disse aquilo, assumi um risco e ele me partiu em mil pedaços, rejeitando o meu amor e me mandando embora. Mas ele tinha os fantasmas dele, e estava superando-os, estava buscando a mim, mesmo após tantos meses, olhando-me como me olhava na última vez em que nos vimos no aeroporto e ele me pediu que fosse com ele. Como se isso tivesse sido ontem e não há meses atrás. O sentimento ali era o mesmo, mas sem o medo, sem a desconfiança. Era puro e quase palpável. — Eu te amo, Dustin. Eu juro que tentei esquecer de você e seguir em frente, mas sem você parecia que eu só andava para trás. Ainda amo você, e acho que vou amar sempre. — Farei com que seja assim. Seus lábios tomaram os meus de novo e nada mais importava no mundo, apenas ele ali, seus lábios e mãos em mim, e todo amor que eu sentia naquele
momento.
Capítulo 29 ______________________
DUSTIN Eu mal podia acreditar que ela estava ali, em meus braços, dizendo que me amava. Eu sempre soube que no memento em que voltasse para ela, ela me pertenceria, sabia que corria o risco de encontrá-la com outro, com sua vida programada e seguindo sem mim, pensando estar apaixonada por alguém que não a havia partido. Mas isso não me assustou, eu estava disposto a enfrentar quem quer que estivesse com ela, e convencê-la de que ela era minha, ela me pertencia, nada podia mudar isso. Também sabia que corria o risco de ela me odiar depois de tudo o que causei a ela. Sabia que ela poderia não querer me ver, não ir assistir a luta, não ter qualquer contato comigo. Mas eu não lutaria sem ela, então a teria arrastado para aquele clube, para aquele jantar, eu a teria em meus braços de qualquer jeito. Esperava que, se fosse o caso de sua mágoa falar mais alto, o meu desespero em tê-la pudesse amaciá-la. Mas aqui estava ela, linda e receptiva, dando-me de volta tudo o que fui burro o bastante para recusar uma vez. Ela esperou por mim, mesmo sem ter a certeza de que eu voltaria, ela guardou esse amor por tantos meses. Eu me casaria com ela naquele momento mesmo, se pudesse. Eu queria muito levá-la comigo, mas, se ela não quisesse deixar sua vida no Brasil, eu mudaria toda a minha vida por ela. Havia me esforçado demais por ela, crescido, mudado, enfrentado tudo por ela. Nada me impediria de fazê-la minha todos os dias. Ajudei-a a se levantar da cadeira e a guiei, minha boca ainda presa a dela, até o supino que ela já conhecia. Ela sorriu quando suas pernas pressionaram o aparelho frio e adorei ver como ela ainda se sentia quente e segura comigo. A apertei mais junto ao meu corpo e a arrastei dali, notando a hesitação que durou apenas um segundo. A levai mais à frente, onde havia preparado tudo. Ela se afastou para olhar o colchão estendido ali, coberto por forros e travesseiros. Eu a queria bem confortável. Abriu um sorriso arqueando as sobrancelhas.
— Você preparou isso antes mesmo de saber se eu viria? — Eu sabia que você viria. — Mas é muito prepotente e convencido... A puxei novamente para mim, mordendo seu lábio inferior para calar sua boca. — Um minuto, amor. Corri de volta à mesa e liguei o som, deixei que o ritmo calmo de Wind of change preenchesse o ambiente e ela sorriu ao reconhecer a música que dançamos juntos. Já me aproximei dela tirando a calça e libertando meu pau duro de ansiedade por entrar nela. — Você vai me foder ou vamos fazer amor? — provocou. — Depende do quão selvagem eu me tornarei quando tocar sua bocetinha doce. Levando em conta nosso histórico, acho que você vai sair daqui sem conseguir andar, amor. — Estou contando com isso. Tirei minha blusa de seu corpo macio, já desabotoando o sutiã vermelho que reluzia em sua pele branca, puxei seus seios grandes unindo os dois em minhas mãos, saboreando-os, fazendo com que os bicos se exibissem para mim, em busca de serem sugados, e assim o fiz. Cada gemido que saía de sua boca me fazia sugar mais forte, eu queria marcá-la, faria isso todos os dias para que ela se lembrasse sempre de mim dentro dela. A empurrei sobre o colchão e seu grito, acompanhado de uma risada deliciosa, quase me fizeram perder o controle. Deitei-me sobre ela, me encaixando no meio de suas pernas, meu lugar preferido no mundo todo. Desci meus dentes por seu corpo, sua barriga, chegando ao local que tanto me fez falta. Soprei de leve ali e ela se contorceu. Eu sentia o cheiro de sua excitação, podia ver o brilho de sua boceta gostosa para mim. Passeei meus dedos por seus lábios, e contornei sua entrada quente e apertadinha. — Alguém mais provou você aqui, Carolina? Fiquei tenso por uns segundos aguardando sua resposta. Eu sabia que ela tinha o direito de dormir com outro cara enquanto não tinha notícias minhas. Mas eu
não toquei em ninguém desde que fui embora, eu pertenci somente a ela desde o instante em que a toquei, e torci para que ela também fosse só minha. Ou eu teria que apagar qualquer lembrança de qualquer outro toque dali. — Não. Eu mal consegui beijar outra pessoa sem comparar com o seu beijo e me sentir desamparada, me entregar assim? De jeito nenhum. Meu medo de tudo só some quando estou com você. Era tudo o que eu queria ouvir. Na verdade, muito mais do que queria ouvir. Ataquei seus lábios com a língua, sentindo-a gemer em antecipação. Seu clitóris implorando por meu toque, deixei meu polegar escorregar um pouco para dentro dela e ela gritou. O girei ali, adorando a sensação de ele ser apertado por ela, sugado por seu calor. Não consegui mais torturá-la e a chupei com força. Ela gritou alto, puxou meu cabelo e isso me incentivou a ir mais fundo. Enfiei dois dedos nela enquanto chupava seu clitóris, sentindo o líquido quente dela nos meus dedos, querendo-o todo na minha boca. Raspei o dente em seu botão e girei meu dedo dentro dela, voltando a sugá-la em seguida e ela gritou convulsionando em um orgasmo delicioso. A penetrei com a minha língua, sugando todo seu sabor, prolongando o orgasmo que a tomava. Ela sussurrou meu nome em desespero, tentando me dizer algo, mas sem conseguir falar. Subi os beijos por sua barriga e a olhei, vendo-a com aquela cara apaixonada e perdida com que costumava me olhar sempre que eu a fodia. E só depois que não a tive mais nua embaixo de mim, foi que percebi o quanto eu amava aquele olhar. Coloquei suas pernas sobre meus ombros, para que pudesse ter tudo dentro dela. Ela ainda mantinha seus olhos verdes perdidos em mim. Pedindo por mais, me dizendo o quanto amava meus toques nela. — Eu não tive outra mulher desde que toquei você a primeira vez aqui, Carol. Ela abriu a boca em surpresa e me irritou que ela sequer cogitasse que eu conseguiria ter outra em minha cama que não fosse ela. — Não estava brincando quando disse que se você fosse comigo seria a única na minha cama e no meu pau. Você é a única que desperta meu desejo, minha excitação. Estou há oito meses sem sexo, imagina o quanto vou te prender aqui até compensar tudo isso? Ela riu, mas parecia emocionada.
— Você toma remédio? Perguntei brincado com os pelos ralos de sua boceta, pressionando meu dedo vez ou outra em seu botão inchado. Esperando que ela me desse permissão para penetrá-la sem camisinha. Eu queria sentir seu líquido em volta do meu pau como havia sentido nos meus dedos. — Eu tomo. Só quero você dentro de mim, não me importa como estará. Sorri. O desespero em sua voz era algo em que eu pensava sempre, que havia me feito gozar em muitos momentos de inspiração. — Você não sabe como essa sua voz safada, me implorando para te comer me inspirou nesses últimos meses. Ela sorriu. — Além do vídeo? — Ah, aquele vídeo. Meu filme preferido. Deveríamos nos filmar mais vezes. — Quem sabe? — prometeu deixando-me ansioso. Entrei nela bem devagar, aproveitando cada centímetro de seu centro quente cobrindo meu pau. Sem nada entre a gente, seu calor quase me queimava, sua boceta me apertou tanto, que pensei que fosse gozar ali mesmo. Fui o mais fundo que consegui, sentindo-a se contorcer sob meu corpo, sua boceta se abrindo e me acomodando ali. Saí bem devagar também, e perdi totalmente o controle. Comecei a bombeá-la com a fome que eu tinha dela, fazendo com que seu corpo subisse e descesse depressa pelo colchão. Ela se agarrou às paredes e gritava, fazendo-me meter ainda mais forte. Seus seios balançavam com os movimentos bruscos, e me deixavam louco, e então tive que meter ainda mais forte. Sem pudor algum esmaguei seu clitóris em meus dedos e ela gozou tão forte, que seu líquido escorreu por boa parte do colchão e das minhas coxas. Continuei bombeando nela, até que ela choramingou, me pedindo por favor que fizesse algo. Eu não sabia se ela queria que eu parasse ou a fizesse gozar mais uma vez, por isso voltei a pressionar seu clitóris e ela chorou alto, gritando meu nome em frases desconexas, entrou em combustão novamente, apertando meus braços com força, cravando as unhas neles e gritando meu nome, e eu fui junto com ela, derramando-me dentro dela, sentindo-a apertar meu pau em convulsão, derramei
meu corpo sobre o dela completamente sem forças. Sua respiração demorou a se acalmar, e ela começou a acariciar meu cabelo. — Você considerou isso como uma foda, ou fazer amor? — brinquei. — Inacreditavelmente, as duas coisas. Você me fodeu forte, como nunca tinha feito antes. — Eu estava louco de saudade de você, não consegui manter o controle, embora quisesse torturá-la bastante. Ela sorriu. — Mas você me fodeu com tanto amor, Dustin. Beijei sua barriga e a olhei nos olhos. Aqueles olhos verdes que eu amava, sonolentos e apaixonados. — Você pode me chamar de Phillip. Ou Phill se preferir. Ela mordeu o lábio e seus olhos ficaram marejados, sorriu docemente para mim, acenando com a cabeça. — Desde que eu pisei em Nova York, decidi ter você de volta. Eu não queria voltar aqui quebrado como estava querendo assumir com você algo que eu não era capaz de assumir nem para mim mesmo. O primeiro passo foi assumir para mim mesmo, e para algumas pessoas, o quanto eu a amava, e o inferno que estava sendo ficar sem você. Não foram poucas as vezes em que eu quis deixar tudo de lado, tudo o que planejei e apenas vir atrás de você e dizer que eu te amava, que já era capaz de gritar isso. Mas eu sabia que era muito pouco. — Eu teria amado se você tivesse voltado a qualquer hora, e gritado que me amava. Teria me jogado em você sem pensar duas vezes. — Você merece mais do que um passo de cada vez, Carolina. Merece um caminho pronto carregada no colo. Eu procurei uma psicóloga assim que cheguei lá. Foi bem difícil no começo, mas aquele vídeo, me manteve forte. Ela sorriu alto, e uma lágrima escapuliu de seus olhos. A beijei imediatamente. — Eu amo tanto você! Estou bem longe de ser o homem perfeito, mas posso dizer com toda convicção que nunca mais vou machucar você de propósito. Nunca mesmo. E posso jurar que vou amar você mais do que minha vida sempre. Eu nunca amei ninguém assim, e sabe por quê?
Ela negou com a cabeça, mais lágrimas escapando de seus olhos. — Porque tudo estava guardado esperando por você. — Ah, Dustin — ela sussurrou antes de chorar. Eu a abracei forte, entendendo que aquelas lágrimas não eram de tristeza, mas de emoção e felicidade. Eu sentia algo retumbando loucamente em meu peito, uma ansiedade enorme no estômago e a sensação de que tudo estava como deveria estar desde sempre. — Nunca mais se afaste de mim — sussurrou agarrada a mim. — Foi um inferno sem você. Não me deixe de novo. Eu te amo. Ela nem precisava me pedir isso, eu nunca mais a deixaria.
O clube estava cheio, como achei que estaria e havia briga na porta de gente querendo entrar. Eu fiz questão de divulgar bastante aquela luta, fazer um verdadeiro alarde, queria uma plateia enorme quando eu usasse o esporte, uma paixão, para por toda a ira que eu guardava do meu pai nele. Era uma forma justa de vingança. Eu venceria perante todos os seus seguidores e depois nunca mais o veria. — Dustin, seu pai quer falar com você — uma garota ruiva, seminua, apareceu no quartinho em que eu estava, comendo-me com os olhos. — Diga a ele que não temos nada para falar. Quero que ele lute. Ela assentiu e saiu rebolando, mas eu me concentrei na plateia aquela noite. Ali estava ela, minha boneca. Seus cabelos negros estavam soltos em ondas enormes, ela estava bem perto do ringue, olhando ansiosa para as pessoas que se acomodavam. Ela se preocupava comigo, mas eu sabia que com ela ali, não havia a menor chance de eu perder. Ela seria minha força. O juiz da noite veio até mim me mandar que subisse no ringue que ele já faria as apresentações. Passei por Carolina e lhe dei um beijo rápido, sendo ovacionado pela plateia, fazendo-a corar de um jeito adorável. Avistei Henrique do outro lado do ringue, com um papel na mão. Ele veio em minha direção e me preparei para pular de uma vez lá em cima, mas ele me segurou. — Eu quis falar com você antes, porque queria te dar isso.
Me estendeu um papel amarelado. Peguei e não disse nada a ele. Virei-me para entregar o papel à Carolina, para que ela guardasse para mim. Independentemente do que fosse, eu só me preocuparia com ele depois que tivesse acabado com Henrique. Mas então, no segundo em que meus olhos pousaram sobre o papel, eu reconheci a letra dela. A letra da minha mãe. Os gritos da plateia sumiram, o ringue atrás de mim sumiu, e tudo o que vi, foram as frases dela.
Capítulo 30 ______________________
CAROLINA Toda cor sumiu de seu rosto. Dustin parecia completamente paralisado. Ele segurava com força o papel que seu pai o havia entregado, e parecia que iria desmaiar a qualquer momento. Saí da minha cadeira e fui até ele, alarmada. — Ei, está tudo bem? Ele apenas negou com a cabeça. Estendeu-me o papel, seus olhos na direção dos meus, mas sem me ver realmente. Ele parecia perdido, como nunca o havia visto antes. Nem em seus piores dias. Peguei o papel de sua mão e ele se virou e subiu no ringue. Um fantasma. Sentei-me preocupada, observando suas atitudes. Ele parecia em qualquer lugar, menos ali. O que quer que tivesse acontecido, o derrotaria naquela noite. Peguei o papel amarelado em minha mão e o abri. Uma letra arredondada, feminina preenchia a folha.
Querido Phill, Queria poder explicar a você essa força tão grande, que é o que nos move, essa força chamada amor. Ela não é o que você vê todo dia em nossa casa, não entre mim e seu pai. Você acha que suporto tantas coisas por amor, mas eu as suporto por medo. Por você, para nos proteger. Eu já havia sentido essa chama uma vez, quando larguei tudo e vim com ele para cá, mas ela foi breve, e tão logo se extinguiu, com a mesma rapidez com que veio. Da parte de ambos. O melhor que me restou disso, meu filho, foi você. Você é o amor que me move, que me mantém viva, apenas você, até bem pouco tempo. Quero muito que, apesar de tudo, você não pense mal de mim. Que não pense que eu sou alguma traidora, inconsequente e mentirosa. Eu apenas me queimei novamente. Filho, eu estive tão quebrada por anos, daquele jeito que sempre pedi a você que nunca se permitisse ficar. E então algo me trouxe de volta, me completou de novo. Eu não o fiz por vingança ou afronta, apenas aconteceu, um dia, você vai se sentir assim, e vai perceber que apenas acontece. Não há como forçar, nem evitar.
Eu o amo, a outro homem. Se você está lendo isso, é porque nossa fuga não deu certo. Filho, quando você ama alguém e tem esse mesmo nível de amor de volta, você realmente vive, seu coração bate de verdade, você enxerga tudo de verdade. Eu me vi assim nessas últimas semanas. E percebi que não suportaria mais um dia sobrevivendo, como tenho feito. Espero que nunca precise te entregar isso, que estejamos tranquilos e em paz, como uma verdadeira família, eu, você, Robert e o filho dele. Que vocês tenham se dado bem e que Robert seja um bom pai para você. Mas, caso seu pai descubra, caso algo dê errado e eu não possa ter a vida que agora quero mais do que tudo, prefiro não continuar vivendo. Peço que me perdoe, filho, seja qual for a dor que causarei a você fazendo isso, e que um dia encontre alguém que o complete por inteiro, e que não deixe nunca que você passe um dia sequer sem realmente viver. Deixo aqui o meu amor, a minha despedida. A você, ao meu Rob. Não pense que tirei a minha vida e simplesmente deixei de existir. Eu a vivi cada vez que tive você em meus braços, cada vez que o ouvi me chamar de mãe. A vivi nessas últimas semanas, nos braços dele. Amo vocês, fiquem bem e se cuidem. Com amor, mamãe.
Lágrimas pingaram na página velha e olhei novamente para o ringue. Ela não havia sido assassinada. Toda a raiva de Dustin, o motivo dessa luta era a vingança pelo que o pai havia feito, mas ele não havia feito nada. Ela tirou a própria vida. Eu sequer conseguia imaginar como estava a mente de Dustin naquele momento, vendo seu maior exemplo desmoronar, sabendo que sua mãe, que sua morte, o acontecimento que quase acabou com a vida dele, foi planejado e executado por ela. Tentei me perguntar se ele estaria achando-a uma fraca, uma traidora, ou se ele apenas entendia. Mas nem eu entendia, ela deixou o filho, um adolescente nas mãos do pai. Quando meus olhos se focaram realmente em Dustin, eu vi exatamente o que aconteceria. Ele estava perdido, não estava ali. Henrique acabaria com ele. O filho da puta havia entregado essa carta antes da luta de propósito, para desestabilizálo. Me perguntei se havia alguma chance de essa carta não ser mesmo de sua mãe, mas pela reação dele eu sabia que não, ela a havia escrito. E a letra nela me era
familiar. Então rezei para que ele canalizasse aquela dor em raiva, e lutasse, mas ele não o fez. Assim que o juiz deu início à luta, as pessoas gritavam e Henrique partiu para cima dele, um soco após o outro. Dustin sequer tentava se defender, recebia os golpes como se fosse um boneco inanimado. Corri desesperada até a beira do ringue e implorei aos berros para que o juiz parasse a luta. Mas ele não me ouvia. Com dificuldade, subi no ringue e sacudi o homem de branco, pedindo que interferisse, mas ele, com um gesto de cabeça, disse que não o faria. Comecei a chorar ao ver Dustin tombar no chão, como um fraco, coisa que ele nunca havia sido. Gritei seu nome, implorei que reagisse, mas ele sequer me via. O juiz pousou a mão no meu ombro e disse por cima dos gritos e dos sons dos golpes. — Ele me proibiu de parar a luta, não posso fazer nada. Senti tanta raiva, tanta ira contra aquele monstro, que pulei sobre ele, impedindo que acertasse o próximo golpe em Dustin, no momento em que ele o levantou apenas para derrubá-lo de novo. Ele deixou Dustin e me tirou com facilidade de suas costas, gritando para que eu saísse dali, e me empurrou. Caí longe com a força de seus braços, mas me levantei ainda desesperada. Como um circo, ele colocou Dustin no centro do ringue e chamando todos a olharem o fim iminente dele, se preparou para seu golpe final. Imediatamente corri, lancei-me sobre Dustin no segundo exato que o punho de Henrique desceu, ele tentou frear, mas não conseguiu, acertando-me em cheio no baço. Apenas neste momento Dustin pareceu voltar a si. Ele olhou para mim, caída no chão, e as pessoas gritando, e caiu ao meu lado, chorando alto, tentando me puxar para seus braços e gritando como um garotinho mortalmente ferido. Deixei que ele me pegasse, seu sangue se misturando ao meu, nossas lágrimas se unindo e tudo ficou escuro.
Levantei-me percebendo o gesso em meu braço, coberto por uma tipoia. Eu sentia uma dor horrível, mas precisava saber de Dustin. Perguntei a primeira
enfermeira que apareceu, sua careta deixou claro que a situação dele não era nada melhor do que a minha. Ela me disse onde ele estava e que assim que eu recebesse alta, me levaria até ele. Mas de jeito nenhum eu poderia esperar. Levantei-me com dificuldade, tirando o soro, e não me importei por estar com essas camisolas de hospital que deixa o traseiro descoberto. Olhei-me no espelho ao passar por ele, eu tinha um hematoma no rosto, provavelmente da queda, e alguns pontos na testa e no queixo. Além do braço quebrado. Me apoiei com a mão boa nas paredes e desci as escadas até o terceiro andar, eu estava no quinto. Entrei em seu quarto e quase chorei quando o vi. Seu rosto estava irreconhecível. Seus lábios enormes e repleto de cortes, seus olhos continham bolas roxas em volta, um deles mal abria. Sua testa estava quase toda costurada. Estava tão inchado, que parecia ter algo redondo dentro da boca, encoberto atrás das bochechas. Tinha uma faixa na mão. Aproximei-me tentando segurar as lágrimas, sentei-me em sua cama e ele abriu os olhos. — Oi, amor. Como você está? — falou quase sem mover os lábios. — Psiu! Não tente falar! Vai doer. Ele parecia agitado, o aparelho ligado em seu peito começou a fazer um barulho ritmado. Tentei acalmá-lo, talvez vê-lo não tivesse sido uma boa ideia. — Acalme-se, Phill. Você quer que uma enfermeira venha aqui e me expulse? Estou com a bunda de fora, não posso voltar agora, veja. Levantei-me e mostrei a ele, na tentativa de distraí-lo e fazê-lo se acalmar, funcionou. Mas assim que peguei sua mão de novo, ele começou a tentar falar, parecendo desesperado. — Me perdoa, ele machucou você. Me perdoa. — Não foi culpa sua. Ele assentiu e amparei seu rosto com a mão boa, tomando cuidado para não pressionar demais e machucá-lo. — Eu amo você, e amo sua coragem e sei que por causa dela você vai se reerguer.
— Vou me reerguer por você. Sorri. — Você está horrível, parece um monstro todo remendado. — Você também não está muito bela. — Ei, eu acabei de te mostrar a minha bunda — brinquei! — Ela continua bela. Olhei bem os vários hematomas e machucados em seu rosto. Henrique havia sido desumano. — Há alguma chance de aquela carta... — comecei, mas ele me interrompeu. — Foi ela, era a letra dela. Eu falei com Robert, ela deixou uma para ele também, mas pediu que ele não me mostrasse a dele. Ela se matou, Carolina. Ela escolheu isso. — Não acho que tenha sido uma escolha, acho que foi mais por desespero. Ele não disse nada e seus olhos pequenos se encheram, então tratei de mudar de assunto, para distraí-lo novamente. — Obrigado por me salvar. Mais de uma vez, por me salvar sempre. Você entrou em um ringue de luta por mim, você me ama muito mesmo — ele disse. — Você nem faz ideia. — Então acho que devo dar de volta todo esse amor para você. — Tenho certeza disso. — Eu te amo, minha boneca. Minha heroína, minha atrevida. Te amo, minha vida. Senti uma necessidade urgente de encostar meus lábios aos dele. — Acho que ainda consigo achar sua boca aí. Seus lábios machucados se moveram em um sorriso. — Então ache, preciso de você aqui. Depositei meus lábios sobre os seus por poucos segundos, bem suavemente, antes da enfermeira que havia me atendido entrar no quarto até vermelha de
irritação. — Acho que estou encrencada — falei para Dustin que me prendeu em seus braços, dizendo a enfermeira que eu pertencia a ele.
Eu recebi alta primeiro do que Dustin, mas apenas fui em casa tomar um banho, comprei um buquê de rosas e voltei para ficar com ele. Ele sorriu ao me ver parada em sua porta, com uma pequena mala, o gesso em um braço e as rosas todas bagunçadas no outro. — Que romântica, você é. — Percebi que eu nunca fiz nada romântico para você, então, estou me redimindo. — Está de mudança? — Para este quarto. Acha mesmo que vou deixar essas enfermeiras safadas continuarem a te dar banho? Ele sorriu de verdade, sem aquela culpa e aquela dor. E senti que as coisas começariam a melhorar.
Dustin recebeu alta algumas semanas depois, seu braço já estava bom, apenas o meu ainda não. Ele me preparou um jantar delicioso em sua primeira noite na minha casa e confirmou que deveríamos ir ver a Lilian, ele também estava com saudade dela e precisávamos nos distrair um pouco. Combinamos a viagem. Ligamos para ela que surtou quando soube que ele também iria. Uma noite antes da viagem, peguei Dustin concentrado na tela do notebook, na matéria sobre o massacre que ele teria sofrido se o juiz não tivesse cancelado a luta. Se eu não tivesse interrompido. — Está tudo bem? — perguntei temerosa que ele estivesse remoendo a covardia de seu pai e de sua mãe. — Se eu ganhar dele, se eu massacrá-lo, você se casa comigo? — perguntou de repente, olhando-me como um menino esperançoso. — O quê?
— Você ouviu. Eu vou lutar contra ele de novo. Se eu vencer você se casa comigo? — Por que vai lutar contra ele de novo se sabe que não foi ele? — Porque ele machucou você. E ninguém machuca minha garota. Vou desafiálo, chamar ainda mais gente do que dessa última vez. E vou vencê-lo. Quando eu derrotá-lo e estender o anel para você, ainda no ringue, você vai me dizer sim? Sorri, feliz por vê-lo motivado com algo, por ele não estar destruído, como achei que ficaria. — Bom, se você está fazendo isso para lavar minha honra, então sim, eu me caso com você. Sentei-me em seu colo e o beijei. — Mas você sabe que não precisa fazer isso, não é? — Preciso sim. O ódio que sinto dele por ter machucado você não vai passar sozinho, nós dois sabemos como posso remoer isso. E além do mais, vou marcar essa luta para daqui há três meses. No dia 13 de abril. No dia... — Em que nos conhecemos — lembrei-me emocionada. — Sim, e você se tornará minha esposa nessa mesma semana, na nossa semana. — Se você diz. Quando você quer algo, você não pede. — Não mesmo, eu vou lá e pego. — Então vença e me pegue. — Pode apostar!
Epílogo ______________________
DUSTIN Havia chegado o grande dia. Certifiquei-me de que o anel estava bem guardado, dentro do meu calção de luta. Eu o daria a Carolina esta noite. Olhei pela porta a plateia lá fora. Avistei de longe o cinegrafista que estaria filmando e transmitindo a luta ao vivo no meu site. Nada daria errado dessa vez. Quando enviei ao Henrique um desafio, ele tentou recuar. Todo lutador sabe que não se deve negar um desafio, por isso, ele fugiu de falar comigo por dias. Foi preciso que eu aparecesse em seu bar e o desafiasse publicamente. A partir da data confirmada, comecei meus preparativos. O cinegrafista, a divulgação, os treinos. Minha mão se recuperou rapidamente da lesão sofrida durante aquela noite, quando deixei o hospital, já não precisava mais da faixa. Ao contrário da Carol, que ficou com o gesso por dois meses. Eu já não tinha qualquer marca daquela noite no rosto. Carol achou um milagre que não ficasse nenhuma cicatriz. Mas, a cicatriz que eu precisava para derrotá-lo aquela noite, estava nela. Em seu braço. Uma pequena marca que nunca apagaria e eu precisava derrotá-lo honestamente, movido apenas pelo desejo de me vingar pelo que fez com a mulher da minha vida, para mostrar a ele que o seu golpe baixo pode ter me ferido, mas jamais me derrubado. Carol estava na primeira fila, dessa vez ela não olhava ansiosa para todos os lados, preocupada, ela sorria. Conversava com algumas pessoas animadamente, sabia que eu venceria. A confiança dela em mim me deu ainda mais confiança de que eu sairia dali noivo. Este era mais um grande incentivo para vencer aquela luta. Não permiti que Henrique tivesse qualquer contato comigo antes da luta, nada de surpresinhas dessa vez. Quando o juiz fez o sinal para que subisse ao ringue, já me senti um campeão. Henrique subiu do outro lado, a expressão fechada, ameaçadora, mas eu não tinha medo dele. — Senhoras e senhores, esta noite, a maior luta do ano, a revanche! De um
lado, o muso fitness mais desejado de toda história, ainda maior, ainda mais forte, Jake Dustin! A plateia rugiu em coro e gritou meu nome, mas o grito dela, que me renovou de forças. — Do outro lado, a lenda, o cara que sempre vence, Henrique, O quebrador! Mais gritos, dessa vez com o nome dele e muitos aplausos. Seria uma batalha interessante. Quando a luta estava para começar, Henrique se aproximou de mim e disse: — Você não tem mais nada contra mim, filho. Eu já provei que não fui o responsável pela morte dela, que a culpa de tudo o que houve com você depois, foi dela. Por que insiste nisso? Levantei um dedo na cara dele, contando: — Primeiro, você me escondeu essa carta por anos, quando ela não era destinada a você. — Levantei outro dedo — Segundo, você fez coisas com ela sim, não me esqueço de que a agrediu e ameaçou, foi por sua causa que ela quis se libertar. — Você ainda me culpa? — Você teve sua parcela, uma grande parcela e sabe disso. — Ela era uma fraca. Você era só um menino e ela acabou com você. O quão perdido você ficou, Phillip? — Não importa, tudo o que ela fez me trouxe onde estou hoje e estou imensamente feliz aqui. Eu já a perdoei. Ela foi fraca sim, foi falha. Mas quem é que não falha, não é mesmo? — Então desista dessa luta maluca e vamos resolver as coisas como pai e filho! Eu ri na cara dele, tornei a levantar os dedos, iria acrescentar o terceiro motivo para que aquela luta acontecesse. — Você só diz isso porque sabe que lutando honestamente não tem como me vencer. O terceiro e mais importante motivo que está me levando a derrotar você, é ela. Você a machucou, a deixou marcada, e ninguém machuca minha mulher. Ele abriu a boca para protestar, mas o juiz nos mandou ficar em nossas
posições e deu início a luta. Olhei uma última vez minha linda garota na plateia, gritando meu nome animada e acertei o primeiro soco. A luta foi mais fácil do que eu havia imaginado. Eu treinei feito um louco, porque sabia que ele era um exímio lutador, não teria feito o nome que fez se não fosse. Mas, no decorrer da luta me dei conta de que todas as suas lutas eram roubadas. Ele sempre dava um jeito de desestabilizar o oponente, e lutando limpo, sem trapaças, era um lutador mediano. Enquanto eu, era um excelente lutador, sempre fui. Venci a luta fácil, e ao contrário dele, não precisei usá-lo em um golpe final como espetáculo. O espetáculo da noite seria outro. No momento em que o juiz terminou de contar e ele não conseguiu se lentar, a plateia foi à loucura gritando meu nome. Andei até a frente do ringue, os braços erguidos pelo juiz, e apontei para ela, chamando-a ao ringue. Ela subiu já vermelha e com um sorriso enorme. Era nosso acordo, sua promessa, nossa noite. Ela foi colocada no ringue por alguns lutadores e caminhou timidamente até mim. Ajoelhei-me à sua frente e a plateia gritou ainda mais alto, em aplausos furiosos enchendo o lugar. — Carolina, desde a primeira vez em que te vi, eu soube que você era um grande problema. Ouvi a risada coletiva e até mesmo ela sorriu. — Um problema quente, delicioso, atrevido e lindo. O melhor problema que um cara babaca como eu, poderia ter. Muito mais do que eu merecia. Hoje eu sou um homem, você me fez ser um, mas não serei um homem completo se não tiver você, como minha mulher ao meu lado, para sempre. Case-se comigo. Seja meu eterno grande problema. As lágrimas correram por seus olhos, e ela assentiu. Coloquei o anel em seu dedo, as pessoas gritando e aplaudindo freneticamente, mas eu só ouvia a respiração dela, olhando em seus olhos verdes. Ela me levantou e acomodou meu rosto entre suas mãos delicadas, sorrindo, emocionada. — Eu aceito ser sua, não que eu tenha escolha, você me disse uma vez que pegava o que queria e que me queria e me pegaria. E você me pegou, desde aquele momento, me pegou para sempre. Ainda bem que foi você o maior
problema que eu já tive na vida, porque também foi a solução mais perfeita para ela. — Eu te amo, senhora Dustin. — Eu te amo, Phillip Dustin, meu noivo, meu marido, meu grande problema. A prendi em meus braços esmagando sua boca com a minha, selando meu pedido e sua resposta, fazendo com que a plateia gritasse ainda mais e soube ali, que eu jamais poderia considerar viver um dia sequer sem me sentir completo assim. Alguém estourou um champanhe e logo uma taça estava na minha mão e outra na dela. Nós cruzamos nossos braços e encostamos as taças, dizendo juntos: — Aos grandes e deliciosos problemas.
FIM
BÔNUS — Senhoras e senhores, com vocês, a Musa Fitness 2017, Carolina Lince! Os aplausos irromperam e meu nome foi gritado pelo público. A faixa que eu ostentava parecia seda sobre meus seios. A coroa incomodava uma pouco, puxava meu cabelo, mas nada que ser uma musa fitness não compensasse. A primeira fileira de espectadores era apenas de musos fitness. Homens maravilhosos e sarados, todos babando por mim. Sorri emocionada e contei minha história de como já fui gordinha, para depois me tornar um exemplo, assim como... Opa! 2017, certo? Por que meu sobrenome ainda era Lince? Reparei cada peitoral na primeira fileira e nenhum era dele. Saí meio aturdida do palco, e, assim que entrei no camarim, Lilian entrou logo atrás com um tablet na mão. Ela tinha o cabelo mal preso em um ensaio de um rabo de cavalo, o rosto mais branco do que o normal, exceto, pelas bolas roxas abaixo dos olhos, e parecia mais magra do que já a vi em anos. — Lil, o que houve? Ela pareceu confusa, sorriu timidamente e passou uma lista em seu tablet. — Há meses você não me chama assim, senhorita. Aqui está a lista dos garotos de hoje. — Garotos? — Vou mandá-los entrar. Rapidamente meu camarim foi inundado por homens musculosos. Os musos fitness da primeira fileira. — O que esses musos estão fazendo aqui? — perguntei temendo que Dustin aparecesse e rolasse uma verdadeira guerra ali dentro. — Não são musos, senhorita. São os garotos de programa que a senhorita sempre escolhe após cada desfile. — Os o quê? Que merda é essa, Lil? E para de me chamar de senhorita! Onde está o Dustin?
Ela pareceu ferida quando citei o nome dele, levando a mão exageradamente ao peito. — A senhorita quer vê-lo? — Claro que quero! E tire esses homens lindos daqui antes que ele tenha um troço! Ela pediu que os garotos saíssem, e me estendeu um casaco para me levar até Dustin. Enquanto tentava acompanhá-la, já que ela andava rapidamente e eu usava um salto quase do tamanho da canela dela, passei por um espelho e parei para me admirar. Eu estava magra. Maravilhosa. Sem seios, é verdade, mas com uma silhueta de violão que eu sempre invejei nas outras. Girei em frente ao grande espelho me sentindo uma miss. Mas Lil acabou com minha felicidade arrastando-me para fora do teatro onde estávamos, até um bar ao lado. Ali, rodeado de garotas, com um charuto na boca, sem camisa, e com luvas de boxe penduradas no pescoço, estava Dustin. Aquele que deveria ser o meu marido. — Phillip Dustin! Que merda é essa? Ele levantou os olhos para mim como se eu não fosse ninguém. Tirou uma mulher seminua horrorosa de seu colo e aproximou-se, olhando-me dos pés à cabeça com desdém. — Olha quem está aqui. A musa. Já deu para o seu escolhido de hoje? O que aconteceu, Carolina? Ele não a fez gozar como eu fazia? Sinto muito, baby, esse garoto aqui, não te pertence mais — falou tocando o pau por cima da bermuda. — O quê? Como assim? Desde quando? — Desde quando você venceu aquela merda de concurso nas vésperas do nosso casamento e cancelou tudo, me pedindo um ano de liberdade para ter seus próprios escândalos e garotos de programa! — O quê? Eu nunca faria isso! — Mas você fez. Seu ano está acabando, mas eu não estarei aqui quando você vier para o meu lado com essa boceta gasta. — Não chame minha boceta assim! — É o que ela é!
— Idiota! — Chega! Não vou ficar aqui discutindo com você. Tenho uma luta agora e vou imaginar seu rostinho lindo no meu adversário só para poder acabar com ele. — Ele virou-se para o amontoado de garotas horrorosas e chamou, como se estivesse chamando a um cachorrinho. — Amor, vamos. Então a miss músculos, Vanessa Vaca, saiu do meio das horrorosas e se pendurou nele, saindo os dois dali. — Não! Dustin, volta! Eu não fiz isso! Dustin! Acordei assustada e rindo, Dustin se levantou em um pulo, berrando descontroladamente e acendeu a luz, já com as mãos em punho, olhando para todos os lados. — O que foi? O que você viu? Eu ria tanto, que custei a conseguir pronunciar a palavra pesadelo. — Está rindo por que teve um pesadelo? — Eu era magra, musa fitness, e te dei um fora para viver um ano com garotos de programa. Ele abriu um sorriso de lado, parecendo aliviado. — Ah bom, foi só um sonho, boneca. Você nunca trocaria isso aqui, por mil outros desconhecidos. — Nem um pouco convencido, senhor Dustin. Achei que se chatearia pelo fora que te dei em sonhos. — Até me chatearia, mas foi melhor do que o que achei que houvesse causado seu pesadelo. — O que você achou que era? Ele arregalou os olhos e cruzei os braços, exigindo uma resposta. — Acho que alguém aqui acordou com sua risada e precisa de carinho — falou fugindo da minha pergunta. Ele subiu na cama por cima de mim, e toquei seu pau, acariciando-o, sentindoo ganhar vida em minha mão.
— Acho que alguém aqui vai ser torcido se você não me falar o que achou que eu tinha sonhado. — Não gosto do seu lado violento — reclamou. — Nem eu do seu enrolado. Ele olhou minha mão ao redor de seu pau, segurando firme, e acariciou meu rosto, sempre que ele fazia isso, alguma coisa ruim vinha em seguida. — Sua mãe vai no nosso casamento. Por favor, tire a mão do meu pau. — O quê? Não! De jeito nenhum! Não mesmo! Acabei realmente apertando o pau dele um pouco demais em meu desespero e o soltei quando ele urrou. — Amor, — disse massageando o membro já duro — nós estamos indo embora, não vou levá-la para Nova York deixando algo pendente aqui. Vocês precisam se resolver antes da gente viajar. Não é nada demais, só uma conversa, depois dificilmente você irá vê-la. — Não — choraminguei. — Por que eu tenho que passar por isso? — Porque ela te pariu. — Vocês só sabem dizer isso. Afundei meu rosto em seu peito, e ele caiu para trás na cama, levando-me com ele. Seu pau recuperado roçando minha barriga. — Você machucou meu pau, acho que precisa cuidar dele. — Mas você acabou de falar da minha mãe. Meu bom humor se foi. — Então faça de mal humor, não me importo, apenas coloque essa boquinha linda em volta dele, eu cuido do resto. — Mandão. Peguei meu presente mais precioso nas mãos, antes de levá-lo à boca e agradeci internamente por ainda ser a garota acima do peso, às vésperas de seu casamento com o amor da sua vida. Nada me tiraria a felicidade de estar alcançando isso na tarde seguinte, nenhum problema no mundo, poderia ser maior do que a felicidade que sentíamos a cada dia. O resto, a gente dava um jeito.
AGRADECIMENTOS Mais um bebê que completo e já sinto tanto amor por ele! Então só posso agradecer a você, que tirou algumas horinhas dos seus dias, e escolheu entre tantas obras maravilhosas disponíveis, este livro para acompanhar. Muito obrigada por tornar possível esse meu grande sonho. Agradeço a Deus imensamente por cada vitória, por cada passo, por cada vez que consigo fazer coisas que não achei que conseguiria. Sei que não há nada irreversível para o Senhor. Obrigada, Pai. A minha família sempre, meu maior apoio e incentivo. Mesmo não gostando dos meus livros mais quentes... rs Obrigada mamis e papis. Aninha, Lukas e Greg. Daniele, sempre, obrigada por existir! Quel e Sheila, fiquei tão feliz por vocês me acompanharem nisso! Stephanny, por sempre ler meus livros. Quero agradecer especialmente a uma turminha que me incentivou muito, desde que comecei a postar sobre este livro nas redes sociais, que curtiu e comentou, compartilhando minha ansiedade. Obrigada, Tati MV, Grazielle de Oliveira, Ana Cristina Trindade, Regiane Valim, Joseania Santos, Danny Lobo, Carla Carvalho, Nadia Nnsmach, Rosa Alexandrina, Tai Araujo, Rozzy Lima, Eunice Ely, Antonya Sousa, Simone Camargo, Jacke Renata, Ana Paula BD, Nêssah Cândido, Marcella Medina, Deisiane Xavier, Josi Espindolla, Edna Leite, Suely Silva, Paula Livramento, Simone Vieira, Daiane Fonseca, Noemi Cardoso, Fernanda Faria, Renata Carreira, Ana Paula Leguli, Joice Gums e Maria Augusta Farias. Obrigada minhas meninas do grupo do Whats, que abandonei essas últimas semanas para escrever, e as livrei das minhas lindas canções, mas juro que vou repor os dias de barulho perdidos. A Ellen, amiga e irmã, meu pequeno porto seguro, amo você. Às minhas Marias, por não me deixarem viver nada sozinha, meu eterno amor e gratidão, Maria Rosa e Maria Fernanda. A Míddian Meireles, diva e BFF dramática, você sabe que amo você, sua vaquinha. A Sara (revisora linda) e Kamila, meus anjinhos, muito obrigada por tudo! A Cleidi Alcântara, por cada dia em que você demonstra o quanto está aqui
comigo. Obrigada sempre! A Aline Mendes, por ter o dom de me emocionar, por cada palavra de incentivo e minuto de carinho. Sua amizade é um lindo presente! Às meninas que amo de paixão: Tatiane Silva, Shirley Nonato, Carol Cappia, Thais Martins, Thais Lima, Lais Pereira, Larissa Lorrane, Emanuela Dias, Amanda Pessoa, Mariazinha Franco, Ellah Castro, Camila Lima, Jessica Souza, Alinne Leite, Jaine Gonçalves, Leila Rios, Erika Will, Manu Moura, Jessica Laine, Isnathyelly Pereira, Nathalia Mattos, Michelle Souza, Amanda Souza, Gleice Souza, Tati Pinheiro, Ana Rita Cunha, Martinha (meu anjinho) e Maik (diva). A Amanda Lopes (você é a tradição nos agradecimentos) rsrsrs. As minhas parceiras, que me apoiam sempre, Blog Livros do coração, minhas queridas Bianca, Vanessa e Aline Silva. Blog Meu Vício em Livros, minha linda Diana Medeiros, e Blog Morgana das Fadas, Vick, minha amiga linda, muito obrigada! E Gracielle Rodrigues, obrigada por tudo! A Cristina Melo, Bia Tomaz e Arícia Aguiar, divas lindas. A Elaine Mendes, Mayara Cardoso, Lyssa Camargo, Danielle Oliveira, Adriana Dutra, Rayssa Medeiros, Sandrinha Mascena, Mony Freire, Alexandra e Aysha, Debora Gomes, Juliana Dias, Jenniffer Cristine, Lilian (você está neste livro), Su Xavier e Juliana Cardoso. Obrigada, sempre! A cada um que me acompanha pelo Wattpad, e pelo face, mesmo que eu não tenha citado nomes, graças a Deus são muitas pessoas que estão sempre comigo. Obrigada imensamente. Podem vir puxar a minha orelha porque em duas semanas tem a Nathalia Vaughn, pra eu agradecer mais.
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