FURY
Universo dos Livros Editora Ltda. Rua do Bosque, 1589 – Bloco 2 – Conj. 603/606 CEP 01136-001 – Barra Funda – São Paulo/SP Telefone/Fax: (11) 3392-3336 www.universodoslivros.com.br e-mail: editor@universodoslivros.com.br Siga-nos no Twitter: @univdoslivros LAURANN DOHNER NOVAS ESPÉCIES
FURY Fury / New Species Copyright © 2011 by Laurann Dohner © 2014 by Universo dos Livros Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/1998. Nenhuma parte deste livro, sem autorização prévia por escrito da editora, poderá ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravação ou quaisquer outros. Diretor editorial: Luis Matos Editora-chefe: Marcia Batista Assistentes editoriais: Aline Graça, Letícia Nakamura e Rodolfo Santana Tradução: Flora Manzione Preparação: Cecília Berlim Revisão: Geisa Oliveira e Viviane Zeppelini Arte: Francine C. Silva e Valdinei Gomes Capa: Rebecca Barboza Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Angélica Ilacqua CRB-8/7057 D677f Dohner, Laurann Fury / Laurann Dohner ; tradução de Flora Manzione. – São Paulo : Universo dos Livros, 2015. 368 p. (Novas espécies, v. 1) ISBN: 978-85-7930-778-2 Título original: Fury 1. Literatura americana 2. Romance Erótico I. Título II. Manzione, Flora 15-0106 CDD 813.6 Este livro contém cenas de sexo, violência e linguagem adulta.
PRÓLOGO – Merda – murmurou Ellie, observando o homem preso contra a parede na sala ao lado. Aquilo a deprimia toda vez que ela se esgueirava para dentro da sala de observação, mas não conseguia se manter longe. Ela sabia que o homem não podia vê-la através do espelho falso, mas ainda assim ele parecia estar olhando-a diretamente. O olhar de Ellie deslizava por seu peito nu e pelos músculos tensionados de seu físico bem construído. Seus grandes bíceps inchavam quando ele puxava as correntes, a raiva evidente em suas feições ao lutar contra elas. Piedade e compaixão faziam-na lamentar por ele, cuja determinação se mostrava mesmo que sua liberdade e dignidade lhe tivessem sido tiradas. O preso sabia da inutilidade de suas ações, mas ainda assim lutava. A mão dela se moveu para tocar a moldura de madeira abaixo do espelho. Ela desejava poder acalmá-lo, mostrando a ele que havia alguém que se importava. Acima de tudo, queria tirá-lo daquela prisão infernal que o continha. Ele merecia ser livre. Um movimento no canto da sala desviou sua atenção para longe do homem que assombrava seus pensamentos dia e noite. O medo acelerou seu coração quando um técnico adentrou a sala. Jacob Alter certamente era um dos monstros mais frios e insensíveis que trabalhava para as Indústrias Mercile. Na verdade, aquele filho da mãe sentia prazer em infligir dor nas cobaias, e ele se dirigia àquela com especial crueldade. Um mês antes, o grande homem acorrentado contra a parede havia quebrado o nariz de Jacob quando este chegara demasiadamente perto de seu cotovelo. Ellie sabia que aquilo havia sido merecido. O hematoma ainda sombreava o rosto de Jacob quando ele deu um sorriso maléfico para sua vítima. Ele pretendia aplicar mais testes dolorosos nela. – Olá, 416 – Jacob deu uma risadinha, um som desagradável – Soube que você irritou o doutor Trent. Você sabe o que isso significa, não sabe? – Jacob colocou uma mala marrom, do tamanho de uma sacola de boliche, em cima da mesa de exames que havia no canto, provocando um baque alto – Significa que eu vou poder fazer uma coisa que quero há muito tempo. Hoje você vai sofrer. – ele olhou para a câmera de segurança no canto e, com a mão, fez um gesto de quem cortava o pescoço. – Merda, merda, merda – entoava Ellie suavemente, enquanto o pânico
tomava conta. Ela havia ouvido falar sobre detentos que eram torturados quando deixavam um dos médicos bravo. Jacob obviamente não queria registrar o que quer que fosse de horrível que havia planejado para o 416. Certamente era algo muito ruim. Jacob inclinou a cabeça, continuou olhando para o canto e, então, sorriu antes de se virar e encarar o 416. – Agora a câmera está desligada, nada disso está sendo registrado. O que o doutor Trent não sabe é que você vai sofrer um terrível acidente, sua aberração. Você não devia ter me sacaneado. Avisei que ia acabar com você. – ele pegou a mala que havia levado para a sala – Ninguém quebra meu nariz e continua vivo. Eu sabia que era só uma questão de tempo até você ser castigado. Só estava esperando por uma oportunidade. – ele pegou uma seringa dentro da mala – Você vai morrer, seu desgraçado! Isso não pode estar acontecendo, pensou Ellie. Ela não havia passado por todo aquele pesadelo que sua vida se tornara nos últimos dois meses para perder o 416 agora. Vivera com medo constante de descobrirem que era uma espiã, mas testemunhar a contínua resistência de 416 lhe dera forças para continuar. Por ele, Ellie correra riscos para coletar evidências suficientes para libertar a ele e a outros prisioneiros. Na verdade, ela esperava que os seguranças fossem atrás dela a qualquer momento. Ellie havia entrado em um estado tão frenético para colher provas do que acontecera no local de pesquisa, que chegou a fazer uma artimanha insana meia hora antes: roubara um dos distintivos de médico para conseguir entrar em seu escritório e baixar arquivos do computador. Se a segurança visse as fitas de vigilância, ela seria pega. Eles a prenderiam imediatamente e seu Destiny seria tão sinistro quanto o do 416. Ambos estariam mortos no fim do dia. Ela oscilava entre fazer algo incrivelmente estúpido para salvá-lo ou seguir as ordens de seu verdadeiro chefe para que nunca interferisse. Ellie enfim obtivera evidências danosas para possivelmente libertar as cobaias. Tinha a oportunidade de contrabandear algo no fim de seu turno se apenas mantivesse a cabeça baixa, a boca fechada e não chamasse a atenção de ninguém. Isso significava nada fazer enquanto Jacob assassinava o homem preso à parede.
Seu olhar se fixou no 416. De todos os prisioneiros, era ele quem mais desejava libertar. Aquele prisioneiro a havia mantido acordada por noites desde que ela fora transferida para as Indústrias Mercile, um centro de pesquisas de drogas ilegais. 416 se tornara a última imagem que ela via toda noite antes de cair no sono. Admitia que, às vezes, ele era até mesmo a figura central em seus sonhos. Sua decisão se fez rapidamente. Seria inaceitável apenas assistir a tudo aquilo, seu coração ficaria destroçado. Ela não conseguiria viver se nem ao menos tentasse salvá-lo. – Dessa vez você não vai poder me enfrentar. Você estará indefeso. Quero que saiba que você vai morrer. – a voz de Jacob se tornava áspera – Mas não antes de eu te ferir, seu animal. Ellie se virou, sem plano nenhum em mente, mas desesperada para salvar o 416. Deixou a sala, forçou-se a desacelerar quando pisou no corredor, ciente de que ali havia câmeras de segurança, e parou na sala de suprimentos para pegar um kit de testes. Seria suspeito se ela entrasse na cela sem um motivo válido. Puxou de um armário um recipiente plástico do tamanho de uma caixa e tentou não parecer tão agitada quando voltou para o corredor, porém sabia que precisava se apressar em direção à cela do 416 antes que Jacob fizesse algo horrível. – Ellie! Ela congelou, seus olhos se arregalaram, e então virou-se lentamente. Doutor Brennor, um homem alto e ruivo, saiu de uma das salas, segurando uma tabela. – Sim? – Você pegou a amostra da boca do 321? – Peguei. – ela continuou parada apesar de querer se virar e sair correndo. – Bom. Deixou-a no laboratório? – Claro. Com a mão que estava livre, esfregou a nuca. – Dia longo, não? Já não queria que fosse o fim de semana? Eu queria. Cale a boca, ela ordenou silenciosamente, para que eu possa ir. Ela balançou os ombros. – Gosto do trabalho. Por falar nisso, preciso retirar uma amostra de sangue. É uma ordem imediata. – Sim, claro. – seu olhar deslizou pelo corpo dela – Quer jantar comigo
amanhã? Por um momento, ela ficou pasma com o convite. – Tenho namorado. – ela mentiu facilmente. A ideia de sair com alguém que trabalhava para Mercile a enojava – Mas obrigada por convidar. Ele apertou os lábios e o olhar amigável esfriou em seus olhos verdes. – Entendo. Tudo bem. Pode ir. Preciso atualizar uns relatórios. – ele se virou na direção oposta e saiu a passos largos – Faço muita papelada. – ele resmungou, antes de fazer uma curva e desaparecer. Há câmeras me observando, lembrou Ellie, resistindo à urgência de sair correndo. Ela foi caminhando calmamente até a cela do 416, como se não estivesse preocupada. Pelo menos, era a impressão que esperava passar. Deus, orou silenciosamente, deixe-me alcançá-lo a tempo! Seus dedos tremiam enquanto ela batia nas teclas da fechadura eletrônica. A porta fez um barulho ao reconhecer os números e as barras de aço emitiram um som característico ao se abrirem, permitindo que ela abrisse a porta. Ellie rapidamente adentrou a sala. Forçou um sorriso. – Estou aqui para colher uma amostra de sangue. A porta se fechou automaticamente atrás dela, os pinos da tranca se cerraram, deixando-a trancada na cela, e um barulhinho rápido e agudo fez-se para enfatizar o fato. Ela olhou para aquela cena e se espantou com o puro horror que testemunhou. 416 não estava mais acorrentado à parede mas, esticado sobre o chão gelado de concreto, de bruços. As correntes nos seus pulsos haviam sido presas ao pinos cimentados no chão, forçando seus braços acima da cabeça, enquanto suas pernas se encontravam algemadas à parede. Jacob havia tirado a calça do preso, e ela agora formava um emaranhado branco no chão. Ele estava de joelhos entre as coxas do 416 que, pela forma como fora amarrado, haviam sido afastadas à força. Em segundos, ela entendeu a coisa horrível que havia interrompido. Jacob se sentou nos calcanhares, imóvel, também chocado com a aparição repentina de Ellie, mas se recobrou mais rápido do que ela. O homem largou no chão de concreto o instrumento de tortura, que parecia ser o cassetete de um dos guardas, e tentou se levantar. Pegou em sua calça aberta, tentando fechá-la e xingou. Ellie reagiu.
– Seu doente desgraçado! A mulher se pôs em ação sem pensar, com a caixa de plástico duro tão firme em sua mão que até machucava, e a balançou com toda a força que conseguiu juntar. A caixa afundou no rosto de Jacob. Ele cambaleou, deu um grito, e Ellie não parou quando o homem caiu no chão. Jogou-se em cima dele, montou sobre sua barriga, seu corpo segurando o dele, e pegou a caixa com as duas mãos. Raiva pura a levou a espancá-lo com o objeto. Jacob tentou proteger o rosto após alguns golpes, mas suas mãos caíram no chão. – Seu monstro – ela ofegava. Bateu nele de novo, e daí percebeu como o rosto dele estava ensanguentado. Ela parou, com o corpo inteiro tremendo, e olhou com horror para o técnico. O olhar de Ellie se distanciou do nariz e da boca esmagados e pousou no kit. O lado que ela havia usado para golpeá-lo repetidamente estava ensopado de sangue. Em choque, ela o largou no chão e saiu de cima do homem abatido. O peito dele não se mexia. – Meu Deus – ela arfava. Pôs a mão na garganta dele, um gemido rasgou seus lábios, e ela tentou encontrar pulso. Não havia – Meu Deus, meu Deus, meu Deus – entoava, certa de que o havia matado. Ela se virou e olhou para o 416, ao lembrar-se dele. O prisioneiro a encarava com os olhos abertos, seu rosto contra o concreto, e piscou. Ele vira o que Ellie havia feito. Ela olhou rapidamente para as próprias mãos, que tremiam. Acabei de matar Jacob. Seu olhar se voltou à visão terrível do monstro que ela atacara em um acesso de pura raiva. Ele mereceu. Ela tentava aliviar sua mente apavorada. Pense. Eles virão aqui e o encontrarão. V ão saber que o matei. V ão me arrastar daqui, me torturar para descobrir por que interferi e vão me matar. A evidência jamais chegará ao meu chefe. Droga, Ellie, pense! Ela olhou para a câmera à procura de algo. Normalmente havia uma luz vermelha que piscava, mas não naquela. Não estava ligada. O guarda havia seguido as instruções de Jacob. Ninguém, a não ser o 416, testemunhara o acontecido. Ela não fazia ideia de quanto tempo
aquelas câmeras permaneceriam desligadas, mas presumia que ficariam assim até que Jacob ordenasse que voltassem a monitorar o prisioneiro. Ela engoliu seco e se pôs de joelhos. Toda a sua atenção se voltou ao homem que a observava atentamente, desamparado no chão. – Vai ficar tudo bem – ela murmurou para ele. As cobaias eram perigosas. Ela fora avisada de que, às vezes, as correntes que as prendiam quebravam. De alguma forma, as Indústrias Mercile haviam, ilegalmente, modificado seres humanos com genética animal, deixando-os mais fortes que humanos normais, e até mesmo suas aparências haviam mudado. Assistentes do centro de testes e alguns médicos foram mortos por pessoas que eles ajudaram a criar. Ellie havia comemorado esses fatos silenciosamente; ela odiava todos que trabalhavam naquele centro secreto fazendo testes ilegais. As Indústrias Mercile eram uma empresa de pesquisa e desenvolvimento de drogas que faria qualquer coisa por dinheiro. Ellie observava o 416 com cautela, enquanto permitia que seu olhar deslizasse pelo corpo nu. A respiração dele fazia as costas se elevarem e descerem mas, além de piscar, ele não se mexia. Ela notou uma marca vermelha em seu lado. Como os braços dele estavam esticados acima da cabeça, ela podia vê-la com nitidez. Ellie hesitou. Ele poderia matá-la se quebrasse uma corrente. Vale a pena salvá-lo. Ela repetiu aquela entoação silenciosa algumas vezes enquanto se preparava para se aproximar de seu corpo abatido. Ela já havia decidido arriscar a vida quando aceitou trabalhar disfarçada, entendendo a real possibilidade de que poderia não sobreviver. Muitas vidas se perderam em nome da ciência. Essa empresa só se importava com o dinheiro e precisava ser detida. – Não vou machucar você – ela prometeu a ele. Sua mão roçou próxima à marca e a raiva se agitou. Jacob havia espetado-o com uma agulha com força suficiente para deixar uma lesão do tamanho de uma moeda. Seu olhar se voltou ao rosto dele – Ele o drogou? O homem não respondeu, mas ela não esperava que ele o fizesse. Ela sabia que a cobaia podia falar, já ouvira alguns deles xingarem e ameaçarem a equipe enquanto colhia sangue, mas 416 nunca havia falado com ela. Nas vezes em que entrara em sua cela, ele nem mesmo rosnara. Silenciosamente, o prisioneiro a observava se aproximar, de vez em quando a fungava, mas seus olhos castanho-escuros sempre se fixavam nos movimentos dela. Ellie
engoliu de novo, percebendo sua pele quente, e se perguntou se ele não estaria doente. Ela o sentia febril. – Vai ficar tudo bem. Ele está morto, não pode mais machucá-lo. Sua mão o abandonou e ela chegou mais para baixo de seu corpo. Ela se contraiu ao ver o que Jacob havia feito a ele. Seu traseiro estava vermelho em razão dos golpes de cassetete. Jacob o usara para bater em suas nádegas, na parte de dentro das coxas e de trás das pernas. Ela cerrou os dentes. Não chegara a tempo de impedir também outro horror. O sangue perto do reto lhe dava certeza de que Jacob fez exatamente o que ela imaginou. Ele usara o cassetete para abusar sexualmente de 416. A raiva tomou conta dela de novo, enquanto lançava um olhar assassino na direção do homem morto. Suas calças ainda estavam abertas e seu pênis mole estava para fora, coberto com um preservativo. Ela não viu sangue nele. O pequeno alívio de que ela havia chegado antes de ele estuprar a vítima ajudava um pouco. 416 emitiu um rosnado. – Calma – murmurou ela – Você está sangrando. Deixe-me ver, sou enfermeira. Ela nem pegou luvas no armário do canto. Não estava certa de quanto tempo tinha. Com apenas uma leve hesitação, passou a perna por cima da coxa grossa e musculosa do preso para ter uma visão melhor, e examinou seu traseiro redondo e carnudo. Suas mãos o tocaram suavemente, afastando as nádegas o bastante para conferir o dano, que era mínimo, levando tudo em conta. – Sinto muito pelo que ele fez. Aparentemente ele não… – sua voz sumiu. Dizer que Jacob não o havia estuprado muito ou que ele não havia penetrado tão fundo era horrível demais. Isso simplesmente não deveria ter acontecido. – Você vai ficar bem, “pelo menos fisicamente” – ela emendou. Suas mãos soltaram o traseiro dele. Ela saiu do meio de suas coxas, se pôs próxima ao seu corpo e se inclinou para examinar suas feições. Ele a observava e ela não perdia de vista seu olhar de raiva. Seus lábios semiabertos revelavam afiadas presas. Ele rosnou, um pouco mais alto que antes. Seu corpo, porém, não se mexia. Meu Deus, ele tem caninos. Ela podia ver os dentes mais afiados bem de perto. Como os de um cachorro, ou talvez de um vampiro. Ela imaginou que
provavelmente se tratava de alguma espécie de criação canina. Isso explicava o terrível rosnado que irrompia de sua garganta e de forma sinistra lembrava um cão selvagem. Ela hesitou, com medo de que ele pudesse abocanhá-la com aqueles dentes afiados, caso ela se aproximasse demais. – Calma – exclamou novamente – Não vou machucálo. Ao examinar seus olhos, ela descobriu algumas coisas. As pupilas estavam anormalmente grandes e ele parecia um pouco confuso. Jacob obviamente o havia drogado, mas ela não fazia ideia do que usara. O poderoso homem esparramado no chão provavelmente não conseguia se mexer, senão ele teria lutado quando Jacob o atacou. Ele se encontrava submisso ao lado dela, mas seus olhos estavam cheios de vida e outro rosnado irrompeu de seus lábios semicerrados. Ela tentou não estremecer ao ver suas presas afiadas. – Ele fez mais alguma coisa com você? Mencionou que droga usou? 416 parou de rosnar, mas nada disse. Ela se perguntou se ele podia falar. Talvez a droga estivesse impedindo-o de fazer qualquer coisa além de emitir sons guturais. Ellie sabia que precisava examiná-lo com rapidez e pensar em um jeito de sair daquele caos que ela criara ao correr até a cela dele. As câmeras de segurança deviam tê-la gravado entrando na sala. Ela abriu a tranca de metal cimentada no chão para libertá-lo das correntes que o prendiam ao solo, e deu um grunhido ao virar aquele homem enorme para deixálo de costas. Ele era muito alto e devia pesar uns 120 quilos. Ela se esforçou para não pasmar olhando para seu peito ou com o fato de que ele não vestia nenhuma roupa. Ellie notou como ele parecia bronzeado, e chegou à conclusão de que era a cor natural de sua pele, já que o mantinham no subsolo. Sua coloração nunca mudava. Devido ao seu cabelo castanho-escuro e aos seus olhos cor de chocolate, ela achou que uma boa parte dele vinha de nativos norte-americanos. Ele era bem maior do que qualquer nativo que já havia visto e imaginou que teria também alguma ascendência germânica ou qualquer outra alta e robusta. 416 não era bonito de um jeito convencional. As maçãs de seu rosto eram tão salientes, que lhe davam um ar rude. Talvez alguns não o considerassem bonito, mas ele tinha uma grande beleza exótica. Ela imaginou que aquela
estrutura óssea viera de alguma modificação genética. Ele parecia humano, mas não inteiramente. O olhar cheio de ódio e a mandíbula tensa faziam parecer que ele rosnava, e foi exatamente o que fez no momento em que Ellie chegou um pouco mais perto. O rosnado profundo a fez parar, o coração batendo forte, e o medo tomou conta dela. Ele parecia intensamente masculino e bruto, mostrando o quão perigoso poderia ser. O fato de ela o achar extremamente atraente a incomodava. Ela não podia negar que seu corpo musculoso e o intenso magnetismo masculino a atraíam. Se ele recobrasse os movimentos, ela morreria. Ela sabia disso e ele provavelmente desejava pôr as mãos nela. Ellie olhou de relance para o outro lado da sala e fixou os olhos na tinta descascada no chão, perto da porta, que atravessava a sala. A equipe a chamava de linha da morte. Cada membro das cobaias era algemado e, apesar de elas serem fortes o bastante para, de vez em quando, quebrarem correntes, nenhuma havia quebrado as quatro de uma vez. Elas só precisavam de um membro livre para matar. Ellie se sentou dentro da zona de morte com um macho enorme e raivoso, cujos braços estavam acorrentados, mas não mais conectados a nada. Ao perceber aquilo ela quis sair de perto dele, mas resistiu. Vale a pena salvá-lo. Ela balançou a cabeça. Ele precisa de ajuda. Examine-o, faça o que puder por ele e reze para que ninguém entre aqui. Isso. Ela esperava que o efeito das drogas não passasse de imediato. Ele provavelmente abocanharia seu pescoço antes que ela pudesse implorar por sua vida. Ele devia odiar todos que trabalhavam para a Mercile, e ele tinha uma boa razão. O olhar dela pousou no corpo morto de Jacob, ela cerrou os dentes e forçouse a olhar de volta para o 416. Veja como ele está ferido. Marcas vermelhas manchavam a barriga. Os dedos dela procuravam provas de que Jacob o havia socado. Ela sentiu suas costelas, nas quais havia mais marcas. Não notou nenhum osso quebrado. O abdômen tinha músculos duros e firmes mesmo enquanto ele estava solto ali, mas ela não sentiu nada que sugerisse um sangramento interno. Tentou manter-se profissional, mas as pontas de seus dedos demoravam um pouco demais enquanto ela as passava por um intrincado padrão de grupos musculares. Era inegável que tocá-lo a afetava como mulher. Ele era proibido, perigoso e sexy.
Seus olhos desceram até a região pélvica, não conseguindo deixar de olhar para o macho que ela achava tão atraente, e suspirou. Ela se mexeu sem pensar, agarrou o pênis dele levemente inchado e começou a mexer nas dolorosas ataduras na base. Ela tentou ser delicada, mas Jacob havia amarrado um grosso pedaço de elástico e dado algumas voltas. Ela conseguiu soltá-lo e jogou aquela coisa ofensiva para longe assim que a tirou. Seus dedos massagearam delicadamente a pele avermelhada, e ela logo notou como aquilo era inapropriado. Seu olhar se demorou ali e percebeu que, mesmo mole, era impressionante. O fluxo de sangue havia sido dolorosamente obstruído e impedido de chegar. – Aquele filho da puta – ela murmurou, xingando Jacob por ter feito algo tão horrível e selvagem. Sua face se aqueceu ao perceber o que havia feito. Mais vergonha a atingiu ao notar que seu corpo respondia ao tocá-lo, até mesmo para remover o ofensivo instrumento de tortura. Ela estava mexendo em seu pau. 416 rosnou. O olhar dela se dirigiu rapidamente ao rosto dele. Ele a observava com olhos escuros e furiosos. Ela percebeu que ainda o aconchegava na palma de sua mão e rapidamente o soltou. – Desculpe-me! Eu precisava remover aquilo. Ela olhou para o membro e viu que a marca deixada pelo elástico ainda estava vermelha e dolorosa. – Tenho certeza de que ficará bem. Era o que ela esperava. Obviamente, Jacob havia feito aquilo para machucar 416. Se fosse mantido por muito tempo, a obstrução do fluxo de sangue teria causado sérios danos, mas é claro que aquele cretino planejara matá-lo. Seria um crime horrível desfigurar um cara tão atraente. Esse pensamento a fez querer gemer, e deixou-a mais ciente de que seu corpo respondia ao homem nu esparramado na frente dela. Ela afastou tal pensamento; não poderia ir até lá e precisava parar de olhar para o corpo nu. Ela mordeu os lábios, pensando em como tirá-los da confusão em que estavam metidos. Ela precisava estar livre para sair do trabalho após seu turno e pegar os dados que havia roubado para o chefe. Ela dirigiu o olhar rapidamente para o cara morto mais uma vez. Ele estava caído ali, ensanguentado, onde ela o havia deixado, sendo a causa da morte, o traumatismo provocado pelos golpes com o kit. Ela havia sentido muita raiva para fazer aquele estrago. Aquilo podia ser confundido com um dano causado
por um punho. Suas entranhas se contorceram. – Merda. Só consigo pensar em uma solução para isso. – ela encontrou o olhar zangado de 416 – Desculpe-me por isso. Não tenho escolha. Hesitou, quis dizer a ele quem realmente era, por que precisava fazer algo tão horrível a ele, mas não ousou. E se ele contar a eles? Ele poderia. Não tem motivo algum para confiar em qualquer um que trabalhe aqui. Corro menos risco se eu apenas fizer com que ele assuma o pior. 416 estava seguro de que Ellie não lhe faria mal. O pânico correu pelo seu corpo quando ela se desculpou pela intenção. Ele tentou se mexer, porém seu corpo se recusava. Ele podia mover os olhos, piscar e engolir. Alguns rosnados surgiram, mas ele não conseguia falar. Agora ela está planejando me matar? Então por que ela apagou o técnico que me atacou? Qualquer um, menos ela, pensava 416 freneticamente, preocupado em morrer indefeso ali, no chão de sua cela. Ele inalou o perfume limpo da mulher que nunca falhava em excitar seu corpo. Ellie sempre ia até ele de forma doce, seu toque era delicado e seu olhar era gentil quando ela recolhia amostras dele. Ela era o único humano que ele conhecera que lhe dava sorrisos calorosos e honestos, e ele até mesmo ansiava pelos momentos em que ela entrava em seu local. Confiava que não o machucaria. Ela era a única pessoa que entrava em sua cela sem deixá-lo tenso por antecipação por conta do sofrimento, da dor ou da humilhação. Ele via o medo oculto em seu lindo olhar azul, enquanto ela o observava, o que fazia seu coração se torcer de leve. Ele propositadamente nunca a ameaçara ou rosnara para ela, como fazia quando outros técnicos se aproximavam. Até hoje. A ideia de assustá-la o fez se arrepender. Isso teria acabado com os sorrisos que ele aprendera a apreciar quando ela começou a trabalhar lá. Não fazia muito tempo. Ele não tinha ideia de tempo, mas ela não fazia parte de sua vida até recentemente. Seu corpo começou a responder à presença dela quando seu pênis se contraiu. Isso fez com que sofresse de dor, latejando por conta do que quer que o homem lhe havia feito, mas o movimento que sentia lhe dava
esperanças de que o resto de seu corpo se recuperaria em breve. Ellie fez coisas a ele, deixou-o com vontade de tocar seus cabelos loiros e afundar o nariz em seu pescoço para inalar aquele perfume maravilhoso. Às vezes ele sonhava com ela debaixo dele, nua, com ele livre das correntes. Ele desejava tocá-la e sentir o gosto de cada centímetro de seu corpo, ouvir sua voz e saber de tudo sobre a mulher que o fascinava de todas as maneiras. O som da voz dela sempre soava como música para seus ouvidos. Ele queria vê-la sorrir, conhecer sua risada e sua cabeça estava cheia de perguntas que ele gostaria de fazer à mulher que havia capturado sua alma. Sua pele parecia inacreditavelmente macia e tinha um cheiro bom, bom demais. Entretanto, ela havia determinado que planejava feri-lo. O pior tipo de crueldade e de traição bradava dentro dele. Ele também sentia vergonha pelo que ela havia testemunhado. Ela o salvara de ser estuprado pelo homem morto, mas sabia do sofrimento pelo qual ele havia passado, a indignidade da crueldade humana. Doía saber que ela nunca mais o olharia sem ter aquela imagem em algum lugar de sua memória. Isso o machucava em todos os sentidos e deixava-o com raiva. Eles haviam acabado até mesmo com a fantasia que tinha de que ela poderia vê-lo como um macho sexual. Ele rosnou de novo numa tentativa de assustá-la, de impedi-la de fazer o que quer que estivesse planejando. Seu corpo se recusava a funcionar, seus membros não respondiam, mas ele sabia que não a mataria mesmo que conseguisse se libertar. Ele apenas a empurraria para uma distância segura, além da linha, para prevenir a tentação de fazer o que seus instintos mandavam. Ele a desejava de maneiras que sabia serem impossíveis para um prisioneiro e seu captor. Ele a viu se levantar e sair de seu campo de visão. Quando ela o virou de costas no chão, sua visão do morto foi bloqueada. Tentou virar a cabeça, mas não conseguiu. No entanto, ele a ouvia, sentia o cheiro de seu cabelo e ouvia barulhos estranhos. O que ela está fazendo? Ele não fazia ideia, mas temeu. Todos os humanos eram cruéis, eles não tinham piedade. Contudo, ainda estava impressionado com o fato de ela ter matado seu agressor, por duas razões. A primeira era porque ela fizera aquilo para interromper o ataque, e a segunda era porque ela não era uma mulher grande. Ela havia abatido um homem. Talvez ele a tivesse julgado mal. Acreditava que fosse gentil e delicada, mas ela havia atacado um enorme
homem de uma forma selvagem e brutal. Seu coração disparou. Ele tentou desesperadamente mover seus membros, mas eles continuaram sem responder. – Você é um cretino imprestável. Odeio você e quero que você saiba disso – Ellie chiou. A mente dele aceitou aquelas palavras, a dor o tomou, mas ele não estava surpreso. Ele sabia que todos que trabalhavam no centro de testes o consideravam nada mais do que um pedaço de carne a ser abusado e que respirava. Achar que ela era diferente fora um erro. Estúpida e imperdoável. A fúria o tomou e seu dedo se contraiu. Ele mexeu a boca, um rosnado silencioso preso em sua garganta, e jurou que ficaria quite com a mulher que o enganou e o fez acreditar que ela era diferente. – Você é um cretino imprestável. Odeio você e quero que você saiba disso. – Ellie esperava que, aonde quer que Jacob tivesse ido após sua morte, ele ainda poderia ouvi-la. Ela queria que ele soubesse o que achava dele. Ela não se sentia mal por tê-lo matado. Aquilo mexera com sua cabeça, mas compreendeu que logo superaria. Ele não merecia seus sentimentos de culpa. Ellie limpou o kit, examinou-o e não encontrou nenhum sinal do sangue de Jacob. A caixa estava amassada, mas ela duvidava que alguém notasse logo. Escondeu os lenços ensanguentados que usara para limpar na parte de dentro do kit. E fez caretas ao puxar sua calça mais para baixo para expor totalmente a camisinha que ele havia colocado, para não deixar dúvidas sobre sua intenção. Ellie tentou apaziguar o pânico que crescia dentro de si. Seu olhar rolou até o 416 no chão. Felizmente ele não havia se movido um centímetro sequer, e ela ainda estava viva por tal fato. Ela só podia rezar para que seu plano funcionasse e para que o que haviam lhe dito fosse verdade. Ele era valioso demais para matar. Os médicos e a equipe abusavam dele, mas Jacob havia planejado matá-lo, contrariando as ordens do doutor Trent. Ele vai ficar bem. Tenho que acreditar nisso. Ela retirou outro lenço do kit e limpou um pouco de sangue que havia no chão. Virou-se e olhou para 416. Ele vai me odiar por fazer isso. Provavelmente. Mas ela não tinha
escolha. Jamais deixariam que saísse do subsolo se suspeitassem que era a responsável pela morte de Jacob. Ela nem mesmo ousou contar ao 416 o que planejava fazer. Se ele contasse a alguém, eles a prenderiam, exigiriam respostas e ela nunca chegaria à superfície. Ela precisava evitar todas as suspeitas e salvar 416 e todas as outras cobaias. Ela encontrou a agulha que Jacob usara. Por sorte, ele a havia tampado de novo depois de usá-la em 416. Ela odiava arriscar que 416 fosse infectado, mas não havia outra escolha a não ser reusar a agulha. Ela esperava que Jacob não a tivesse deixado encostar em nada antes de tampá-la novamente. Ellie hesitou. Uma vez feito, não haveria como voltar atrás. Ela se mexeu antes que mudasse de ideia. Agachou-se ao lado de 416 e passou o lenço ensanguentado em suas juntas e mãos, sujando-as com o sangue de Jacob. Ela se recusava a encará-lo enquanto o incriminava por assassinato. Ela simplesmente não conseguia. Eles não o matariam. Aqueles homens às vezes matavam técnicos. Ela ouvira falar muito a respeito, e ainda assim eles estavam vivos. Eles não matam cobaias. Elas são valiosas demais. Ele vai ficar bem, entoava Ellie em sua cabeça. Ela se levantou, jogou o que restava de evidência do sangue, tirou a seringa de onde a havia colocado dentro da caixa e se virou. Ela odiava machucá-lo. Seus olhos se encheram de lágrimas. Ele estava ali, indefeso. Ela queria abraçá-lo, mesmo que ele desejasse sua morte. Alguém devia demonstrar-lhe compaixão, mas aquele não era o momento. Alguém tinha que levar a culpa pela morte de Jacob para garantir que ela pudesse entregar aqueles dados ao chefe sem ser incomodada. Assim que houvessem provas suficientes, um juiz expediria mandados de busca. O centro de testes seria vasculhado, as cobaias seriam descobertas e as Indústrias Mercile teriam seus segredos imundos expostos ao mundo. Ela se agachou sobre 416. Seus lindos, porém, raivosos olhos se fixaram nela. A raiva queimava em seu olhar intenso. Ela engoliu a bílis que lhe subiu pelo que ela teria que fazer com ele em seguida. – Sinto muito. De verdade. Preciso fazer isso com você. – Eu vou matar você – esganiçou ele. Sua mão caiu no chão perto dela. – Eu juro! – sua garganta funcionava – Vou matá-la com minhas próprias mãos. Ela foi tomada pelo medo. Ele, obviamente, começava a retomar o
controle do corpo. Ela olhou para baixo, procurando o local em que Jacob havia aplicado a injeção. Ela socou a agulha nele, o êmbolo já pressionado da injeção anterior, e então se levantou rapidamente, sem olhar para 416, mesmo enquanto ele rosnava por conta da dor que ela acabara de lhe infligir. Ela pegou o kit, correu em direção à parede ao lado da porta e virou o rosto no último segundo antes de batê-lo nela. A dor explodiu em sua face. Suas pernas se enfraqueceram e sua boca se encheu de gosto de sangue. Ela não tinha um espelho, mas se lembrou da sala de observação. E se alguém tivesse entrado lá e visto tudo o que havia acontecido? Ela pensou que, se fosse o caso, os seguranças já teriam corrido até a cela para prendê-la. Ela esperava que seu rosto estivesse o mais horrível possível. Seus dedos tremiam enquanto ela socava o código na tranca. Ouviu-se o ruído, as barras de aço dentro da porta correram, e a porta se abriu enquanto ela a empurrava desesperadamente. Ellie cambaleou para fora da sala, a porta se fechou automaticamente atrás dela, e o barulho confirmou que fora trancada. Ela caiu de joelhos no corredor, virou a cabeça para localizar a câmera de segurança e gritou. – Socorro! Meu Deus, socorro! Alguns segundos se passaram, e já fazia mais de um minuto quando o som de botas correndo chegou aos seus ouvidos. Quatro seguranças apareceram no corredor, vindo o mais rápido possível. Os homens ofegavam quando diminuíram o passo e olharam confusos para ela. – Eu entrei na sala para colher uma amostra de sangue – ela soluçou – Jacob estava estuprando a cobaia. Ele me atacou. – ela levou a mão à área ferida de seu rosto – Acho que desmaiei e, quando acordei, vi o 416 soltar as correntes de seu braço. Jacob o golpeou com uma agulha, mas o que ele lhe deu não fez efeito rápido o suficiente. Acho que ele está morto! Acho que aquela coisa o matou antes de ele cair no chão. Deus me perdoe, orou ela silenciosamente ao terminar de falar. Os seguranças pegaram suas armas de choque, um deles se atrapalhou digitando o código para abrir a porta, e então correram para dentro da cela do 416. A porta se fechou atrás deles. Outra equipe de segurança chegou, junto de alguns médicos. O doutor Brennor cuidou dela na sala de um dos funcionários. Ele tinha algo de sinistro ao limpar a boca dela. – Você vai ficar bem. Ela balançou a cabeça.
– O que eles vão fazer com o 416? Não acredito que Jacob estava fazendo aquilo. É errado. A raiva fez o médico de cabelos ruivos apertar a boca ao franzir a testa. – Eu sei. Nós fizemos essas coisas para encontrar curas para doenças às quais os animais são naturalmente imunes ou resistentes, e para impedir que doenças nunca mais sejam passadas de animais para humanos. Você sabe quanto dinheiro nos custou criá-los? A equipe devia usar prostitutas para transar, e não cobaias caras. Ellie precisou segurar a boca e baixar o olhar para não mostrar como ficava enojada, horrorizada e possessa com sua fria insensibilidade com pessoas de carne e osso. – Agora estamos ganhando uma grana preta testando neles drogas que inventamos para bombar os militares e os malucos por fitness. – ele se virou para tirar as luvas – Você viu como eles ficaram grandes e fortes? Nós os treinamos para lutar só para mostrar o que é possível fazer com humanos e quanto estrago eles aguentam com o novo lote de remédios que curam rápido. Sabe quantos bilhões em contrato estamos esperando? Quanto dinheiro já ganhamos? Eles são nossos protótipos. Mostrar o que podemos fazer com eles, o quão rápidos, fortes e letais eles são, será a pesquisa que fará a Mercile acabar com os concorrentes. Todo mundo vai querer comprar o que fizermos. Aquele idiota do Jacob podia ter acabado com um dos nossos melhores. Ele é valioso demais para correr riscos. Ela fechou os olhos para conter as lágrimas. Eles não matariam o 416. Ela havia feito a coisa certa. Ele podia odiá-la por incriminá-lo por homicídio, mas ele continuaria vivo. Agora ela só precisava ir embora no fim do turno, entregar a evidência que havia roubado e salvá-lo da única maneira que podia. Ela ajudaria a levar as Indústrias Mercile à justiça. – Escute – doutor Brennor suspirou –, desculpe. Estou aqui falando de dinheiro e você acabou de sobreviver a uma experiência traumática. Por que não vai para casa? Você devia tirar o resto do dia para descansar. Ligue amanhã e diga que não está bem, que se dane. Ela abriu os olhos e encarou-o, escondendo o quanto ela o odiava. – Obrigada. – sua voz tremeu – Eu estava com medo. Ele agarrou seu braço, acariciou-o e sorriu. – Eu posso passar na sua casa mais tarde para ver como você está. – seus
olhos se dirigiram aos peitos dela – Você não devia ficar sozinha. – Tenho namorado – mentiu novamente. Ele a soltou. – Tudo bem. Pode ir. Vou falar aos seguranças que liberei você mais cedo. Ele se virou e foi até o telefone. Ellie o observava. Ela esperava que ele passasse o resto da vida na cadeia. Era o que ele merecia. CAPÍTULO UM Sul da Califórnia. Onze meses depois. Ellie suspirou e ajustou seus fones de ouvidos para ficarem mais confortáveis. Uma música heavy metal era despejada do aparelho de MP3 que ela havia colocado no bolso da frente de sua calça capri. A temperatura quente a fazia suar mesmo às onze da noite, apesar da leve brisa que ventilava sua pele. Ela olhou para a janela aberta. O ar-condicionado do dormitório tinha quebrado de novo. O pessoal da manutenção ainda estava tentando consertar as falhas técnicas do prédio recém-construído. Ela se aproximou da porta do terraço, abriu-a e saiu para aproveitar a brisa gostosa e refrescar seu corpo quente. Deu um gole na água gelada da garrafinha que pegou do frigobar quando entrara no apartamento. Apoiou-se na balaustrada para observar Homeland do terceiro andar. Havia acabado de fazer seus exercícios noturnos. A brisa em sua pele era maravilhosa. Sua atenção se voltou aos muros de segurança a cerca de quarenta e cinco metros dali. Eles tinham nove metros de altura, e guardas patrulhavam o perímetro nas passarelas acima. Abaixo dela havia grama e algumas árvores cuja disposição lembrava um parque, entre o prédio de apartamentos e o muro externo. A nova Homeland de cinco mil acres acabara de ser completada e Ellie passara seu segundo dia ali. Ninguém passava pela calçada que se torcia entre a grama e as árvores. O prédio excessivamente silencioso a incomodava um pouco, porém haviam lhe alertado sobre isso. A maioria das mulheres ainda não havia mudado para os apartamentos mas, assim que acontecesse, Ellie esperava que tudo corresse calmamente. Ela queria muito ter certeza de que Homeland funcionava de acordo com o planejado. Aquele lugar acolheria os sobreviventes das Indústrias Mercile, um oásis à parte do mundo, onde
poderiam viver e se ajustar à liberdade em uma comunidade segura. Eles precisavam de um porto seguro. Ela conheceu apenas um centro ilegal de testes das Indústrias Mercile, porém, depois de invadido, outros três foram descobertos. Ela fechou os olhos, ainda mal por conta do número de vítimas envolvidas noticiado nos meses anteriores. Aqueles centros de testes tinham sido invadidos pelo governo e por órgãos de segurança pública. As vítimas foram libertadas, mas nem todas sobreviveram a tempo do resgate. Houve centenas de cobaias mortas e esses números partiam seu coração. Ellie abriu os olhos. Dois anos antes, ela trabalhava no prédio administrativo da Mercile, quando o oficial Victor Helio a procurou. Ele explicara que havia rumores sobre um centro de pesquisas secreto que forçava humanos a serem cobaias para testes de drogas ilegais. A polícia havia tentado mandar agentes infiltrados para dentro da Mercile, mas a indústria se recusava a contratar qualquer um de fora. Por já ser uma funcionária da empresa, ela não levantou suspeitas quando pediu para ser transferida para um dos centros de testes de pesquisa e desenvolvimento. Ela ficara tão horrorizada com a ideia de haver humanos sofrendo, que aceitou trabalhar como espiã. Foram necessários seis meses para que o pedido fosse aceito, e ainda outros para que ela ganhasse acesso aos andares do subsolo do prédio de pesquisas, e então ela conheceu 416 e outros que viviam no inferno. Ela ficara orgulhosa por acabar com o centro original de testes. Havia arriscado a vida para roubar aqueles arquivos, mas eram provas suficientes para que um juiz expedisse mandados de busca que resultaram em um ataque ao centro. Ela suspirou. “Informação sigilosa” e “políticas de proteção à vítima” eram os termos que ela ouvia sempre que perguntava sobre ele. Ela sabia que algumas cobaias não haviam sobrevivido ao resgate no centro de testes. Elas haviam sido mortas antes que a segurança pública chegasse às áreas subterrâneas mais seguras, nas quais muitas das vítimas eram mantidas. Pelo que ela supunha, 416 havia morrido nos andares abaixo da superfície, trancado em sua cela, sem nunca saber que o socorro tentou chegar até ele. Considerar essa possibilidade deixava seu coração em pedaços. Ellie arrancou os fones, desligou o MP3 e o deixou na escrivaninha, lutando contra a angústia que sentia sempre que pensava em 416. Ela queria ter estado lá quando os mandados foram expedidos, para ficar de guarda em
sua porta para protegê-lo. Ela devia a ele aquilo e muito mais. Havia implorado para que o oficial Helio permitisse, mas ele recusou. Ela não era da segurança pública e havia sido claramente avisada de que eles não arriscariam uma informante de cujos testemunhos eles precisavam para acusar a Mercile. – Merda – reclamou ela. Ellie não conseguia esquecer aqueles olhos escuros, o olhar de 416 quando ela o abandonou aquele dia na cela, ou quando ele rosnara para ela. Ela só queria salvar a vida dele, mas ele não tinha como saber por que o havia feito levar a culpa pela morte daquele técnico. 416 deve tê-la achado monstruosa e cruel. Lágrimas quentes a cegaram, mas ela piscou rapidamente para contê-las. Já havia chorado muitas delas desde aquele dia terrível em que ela o deixou no chão. O telefone de Homeland tocou, assustando-a. Seu celular era o único meio de contato com o mundo lá fora, mas ninguém ligava para ela. Ellie havia se distanciado dos amigos e da família. Tudo em sua vida mudara enquanto trabalhava para o centro de testes durante aqueles meses. Não tolerava mais seus pais divorciados usando-a como uma arma um contra o outro, ou atacando-a por causa de seu próprio divórcio. Havia problemas reais no mundo e seu tempo podia ser gasto fazendo alguma diferença. Agora ela se concentrava em ajudar as Novas Espécies e, para ela, fazer algo para consertar uma injustiça valia a pena. – Ellie Brower. – Senhorita Brower, aqui é Cody Parks, da segurança. Estou ligando para informá-la de que um transporte tardio está chegando com quatro mulheres. Elas estavam expostas no hotel e acabamos de ser notificados de que estão aqui. – Estou indo até a porta agora – ela desligou. Droga. A mídia deve ter descoberto que quatro das mulheres resgatadas estão na área. O protocolo determinava que, se um voo chegasse à noite, as vítimas deveriam ser abrigadas com guardas em um hotel, para depois serem transferidas até Homeland à luz do dia. A segurança julgara ser mais fácil protegê-las durante o trânsito àquela hora, mas esconder os sobreviventes em um hotel não havia sido tão inteligente como pensavam. Ela só podia esperar que as mulheres não estivessem muito traumatizadas com o que quer que tivesse ocorrido. Para aqueles pobres sobreviventes, o
mundo real já podia ser amedrontador o bastante sem aqueles urubus da mídia em volta deles, gritando perguntas e disparando flashes. Ela só precisou de alguns segundos para calçar os sapatos e pegar o cartão de segurança. Ellie saiu de seu quarto e propositadamente evitou o elevador, que era lento demais para sua paciência. Correu escada abaixo até a entrada. Era possível enxergar através das janelas, mas elas eram feitas de um vidro forte o suficiente para resistirem aos piores abusos. Do lado de fora, ela viu quatro mulheres se aproximando da entrada com dois guardas atrás, carregando quatro malas. Ela apertou o passo. Cody Parks, o homem da segurança a quem se dirigir, a saudou com um sorriso. – Boa noite, senhorita Brower. Desculpe pela chegada tardia das nossas novas residentes. Ellie sorriu. Ela dirigiu sua atenção às mulheres com jeito de amazonas. A mais baixa delas tinha pelo menos 1,80 metro de altura. Já havia dez mulheres morando nos dormitórios e todas eram daquele tipo, altas e musculosas. Ellie se sentiu baixinha perto delas. Seu sorriso crescia conforme olhava para cada uma delas, mas nenhuma retribuiu o gesto. Pareciam cansadas, bravas e mal-humoradas. Compaixão jorrou dentro de Ellie. – Bem-vindas à sua nova casa – disse Ellie gentilmente – Sei que vocês passaram por muita coisa, mas aqui estão a salvo. Sou Ellie, sua governanta. Duas das mulheres franziram a testa. Uma delas, a maior e que parecia ser a mais durona do pequeno grupo, fixou os olhos nela. A quarta, uma loira, falou. – Nossa o quê? – Sua governanta. É apenas um título – explicou Ellie rapidamente – Não estou tentando de fato ser isso. É a mim que vocês devem vir se tiverem problemas, dúvidas, ou se precisarem de algo. Estou aqui para ajudar de qualquer forma possível. Vocês podem falar comigo sobre qualquer coisa, que vou ouvir. – Uma médica de cabeça – rosnou a mais baixa, de cabelos escuros. Ela mostrou seus dentes afiados a Ellie. – Não – corrigiu Ellie – Sei um pouco de enfermagem, mas não sou médica. Sei que vocês tiveram que passar por terapeutas. Eu mesma precisei passar por alguns e odiei. – ela lhes deu um sorriso piedoso – Vou mostrar os quartos de vocês, rapidamente o entorno dos dormitórios e vocês irão se
instalar. Eu… – Senhorita Brower – interrompeu Cody Parks. Ellie se virou para ele enquanto as mulheres passavam pelas portas. Elas olhavam em volta da grande entrada à frente da área dos quartos. Ela sabia que precisavam de alguns minutos para se localizarem. – Sim? – Uma reunião foi convocada para daqui a vinte minutos. Eles querem que a senhorita participe, já que está responsável pelo alojamento feminino. O diretor do novo conselho exigiu ser informado de tudo sobre Homeland. Ele quer ter certeza de que seu povo não está sendo maltratado. Ele acabou de assumir a posição e precisa ser tranquilizado. Ellie ficou consternada. – Mas está muito tarde. Eu queria ajudá-las a se instalarem e vai demorar. – Eu entendo, mas ele apareceu com elas e afirmou que era importante. – o olhar do homem segurou o de Ellie – É imperativo que eles saibam que estamos com eles para tornar tudo mais fácil, para que a transferência ocorra com normalidade. Ele está preocupado. Ela hesitou. As Novas Espécies haviam sido separadas e enviadas a diferentes locais seguros depois de serem libertadas, até que Homeland finalmente ficou pronta para recebê-las. Aquele seria seu lar permanente para o futuro previsível. Ele tinha motivos válidos para se preocupar com a segurança e o bem-estar de seu povo. – É claro. Deixe-me tomar conta delas e já vou. A reunião será na sala de conferências do escritório principal? Ele fez que sim com a cabeça. Ellie fechou a porta atrás deles.
O alarme soou instantaneamente, assegurando-a de que as travas automáticas estavam funcionando. Apesar de forte, a segurança nunca era rigorosa o suficiente, não depois do jeito que a mídia havia se voltado para os sobreviventes daqueles centros de testes. Estavam constantemente tentando romper o perímetro para obter fotos das vítimas, agora que havia um local fixo para algumas delas. O governo havia começado o processo para implementar leis que proibiam a mídia de revelar fotografias, para que as Novas Espécies ficassem protegidas. Elas eram vítimas que tinham o direito de ficar protegidas da imprensa. Havia também grupos de ódio que achavam que as Novas Espécies não deveriam ser consideradas humanos com direitos iguais, opunham-se a elas ficarem em Homeland e se juntavam em frente aos portões para protestar. Ela se apressou, movimentando-se automaticamente, enquanto fazia um pequeno tour no andar de baixo do dormitório. Ele abrigava uma sala de conferências para reuniões, duas grandes salas de estar, uma cozinha aconchegante, uma sala de jantar com capacidade para cinquenta pessoas, um grande banheiro com quatro cabines e uma biblioteca completa. O segundo e o terceiro andares abrigavam miniapartamentos, e cada um tinha um pequeno quarto, uma sala, um banheiro privativo e uma copa. Ellie levou as mulheres aos seus quartos, um ao lado do outro e à frente um do outro, no segundo andar. Ela havia aprendido a fazer aquilo nos dois dias em que estivera cuidando das mulheres que chegavam. Elas estavam com medo. Não que admitissem, mas queriam ficar perto umas das outras. Ellie sabia que algumas delas haviam passado por horrores indescritíveis, e agora havia outro muito diferente lançado a elas, algo totalmente estranho. A liberdade podia ser uma experiência amedrontadora depois de uma vida inteira sendo espécime para testes. – Se sentirem fome, há bebidas geladas e comida nas caixas metálicas perto da pia. – ela não as chamou de refrigeradores. Aprendera logo que eles não sabiam o que era – Há outras dez mulheres no segundo andar, então, se ouvirem barulhos, não se assustem. Elas são de lugares diferentes. Centro de testes, ela pensou. – Mas são o seu povo. O prédio está seguro, então ninguém que não deva estar aqui pode entrar. Vocês estão totalmente a salvo. As mulheres que estavam no corredor a examinavam como se ela fosse
um inseto. Ellie suspirou, infelizmente acostumada a tal situação. Eles não confiavam em outros, e os outros eram qualquer um que não tivesse sido criado como um experimento. – Estarei no terceiro andar quando voltar da reunião a que preciso ir. O número do meu quarto está na parede perto do elevador. Podem me procurar para qualquer coisa que precisarem ou se tiverem dúvidas. Estou aqui para ajudá-las e quero fazê-lo. Vocês têm alguma pergunta antes de eu ir? Nenhuma das quatro mulheres falou. A mais alta seguiu para um dos quartos que Ellie acabara de mostrar. As outras três fizeram o mesmo, e a porta bateu com força, com Ellie do outro lado. Nenhuma delas parecia querer algo com ela, e ela esperava que isso mudasse com o tempo. Ellie olhou para sua roupa: tênis de corrida, a calça capri preta e uma regata azul-claro. Seu cabelo estava preso em um rabo de cavalo. Ela sabia que provavelmente deveria vestir algo mais profissional, mas uma conferida no relógio disse que não havia tempo. Ela precisava correr para a reunião. Ellie se lançou à escada. Os escritórios principais ficavam perto da entrada de Homeland. Cada dormitório e prédio tinha um carrinho de golfe. Ellie dirigiu o seu até as vagas e desligou o motor. Olhou novamente para o relógio com uma leve irritação, certa de que estaria atrasada. Cody não havia lhe dado uma hora exata, mas vinte minutos havia se passado. Ela correu até a porta da frente, e desacelerou quando viu um segurança armado a postos no prédio. Ela ainda não o conhecia. – Olá, sou Ellie Brower, governanta do alojamento feminino. Cody Parks disse que está tendo uma reunião da qual preciso participar. O homem ficou tenso e sua mão pegou na arma em sua cintura, enquanto mantinha os olhos fixos nela. Ellie pôs devagar a mão no bolso da calça para pegar seu cartão de segurança. Ele não só abria portas, como também tinha sua foto para identificá-la como funcionária. Ela se aproximou para ele poder conferi-lo. O guarda pegou o cartão, examinou-o com cuidado e o devolveu. – Vá até a sala de conferências à esquerda. Sabe onde fica, senhorita Brower? – Sim, obrigada. Ellie passou devagar pelo homem e entrou no escritório principal.
Apressou-se pelo corredor em direção à porta dupla, em que não havia guardas a postos. Agarrou a maçaneta, virou-a para abrir a pesada porta e entrou. A escuridão da sala a surpreendeu. As luzes de cima estavam apagadas, apenas candeeiros iluminavam fracamente as paredes. Ela não enxergava direito, porém o rumor suave de várias vozes a assegurou de que a sala estava cheia de gente. Dois seguranças se viraram instantaneamente e pegaram suas armas. Ela sorriu para seus rostos alarmados. Suas mãos se afastaram do corpo para mostrar a eles que não carregava nada ameaçador, apenas o cartão de segurança. A sala ficou completamente em silêncio. Ela não ousou desviar a atenção para longe dos dois homens com as mãos em volta de suas armas. – Sou Ellie Brower, governanta do alojamento feminino, e venho em paz. Nenhum dos guardas riu da piada. Um deles continuou com a mão na arma na cintura, enquanto o outro chegou à frente e arrancou o cartão da mão dela. Ela não se mexeu enquanto ele o examinava e, então, ele balançou a cabeça. – Sente-se. Você está atrasada. – ele devolveu o cartão. Ellie pegou seu cartão e o pôs de volta no bolso. Precisava dar a volta no guarda, já que ele decidira ficar ali, bloqueando seu caminho. Ela deu alguns passos além dele e olhou para as pessoas que estavam na sala. Darren Artino, chefe da segurança de Homeland, e o diretor Boris também estavam presentes. O diretor franziu a testa ao diminuir a distância entre eles. Ela se encolheu quando ele olhou para sua vestimenta, comunicando sua desaprovação ao que ela vestia. – Não tive tempo de me trocar – ela explicou – Eu precisava instalar quatro mulheres e tinha menos de vinte minutos para o fazer antes de vir para cá. Só me avisaram da chegada delas quando já estavam na porta. As linhas tensas em volta da boca do diretor Boris se desfizeram. – Tudo bem, Ellie. Da próxima vez, vista-se adequadamente. Parece que você acabou de sair da academia. – Quase isso – ela admitiu – Quer que eu acenda as luzes? Está escuro aqui. – Não – o diretor Boris suspirou – Alguns membros do conselho preferem assim.
Ellie entendeu imediatamente. Ela fora avisada de que alguns sobreviventes haviam passado anos trancados em celas escuras, o que resultou em hipersensibilidade à luz. Ela arrumara alguns dos apartamentos pensando nas mulheres sobreviventes, havia até mesmo comprado óculos escuros para deixá-los nos quartos, para que elas os usassem nas áreas comuns, e colocara em alguns quartos interruptores que regulam a luz. Ela passara muito tempo levando em conta os sentimentos e as necessidades das Novas Espécies para fazer seu trabalho, algo que se tornara quase uma obsessão. Ela reconheceu mais alguns rostos ao olhar em volta. Sorriu para Mike Torres, do alojamento masculino, quando ele acenou para ela. Ele parecia ser um cara legal de uns trinta e poucos anos, e havia flertado com ela durante a primeira reunião, no dia em que chegara. O funcionário que passara a Ellie a lista de suas obrigações como governanta estava ao lado dele. Dominic Zort balançou de leve a cabeça. Em geral, seu trabalho parecia ser o de fazer os departamentos cooperarem, e ele fazia a maioria das contratações. Um movimento no canto de seu olho chamou sua atenção. Ela se virou. Alguém se moveu em sua direção, vindo do outro lado da sala, mas ser a menor pessoa no meio de um grupo de homens altos impediu que identificasse quem se aproximava. – Ellie? – o diretor Boris a chamou de volta – Vamos nos sentar ali. – Claro. Ela o seguiu. – Você – rosnou asperamente uma voz masculina atrás dela. Ellie tentou se virar para ver de quem era aquela voz assustadora, mas alguém pegou sua mão. Ela emitiu um som, uma mistura de grunhido e arquejo, e então seu corpo se levantou do chão. Braços fortes a giraram no ar. A dor atravessou suas costas e o ar foi arrancado de seus pulmões. Seus olhos se arregalaram ao olhar para o rosto de um raivoso… 416. CAPÍTULO DOIS 416 rosnou para Ellie, revelando seus caninos afiados, e ela notou que seus braços doíam onde ele havia pegado, acima dos cotovelos. Ele bateu suas costas com força em uma das mesas de conferência. Inclinou-se sobre ela, seus olhos raivosos a poucos centímetros dos dela, e ódio despejou de seu olhar escuro. Ellie foi inundada por puro terror. Sua boca se abriu, mas nada
saiu. Ela tomava ar. Ele rosnou mais alto e a segurou com mais força. – O que diabos é isso? Largue-a! – exclamou o diretor Boris. A visão periférica de Ellie via movimento em volta, mas ela não ousou desviar a atenção do olhar negro e furioso de 416. Ele parecia pronto para estraçalhar sua garganta com os dentes afiados, que pairavam a centímetros dela. O coração dela batia tão forte que ela se perguntou se explodiria por suas costelas. Ele havia sobrevivido e iria matá-la, como havia prometido, caso um dia tivesse a chance. – Solte-a – exigiu firmemente uma voz masculina, num tom duro. – Que diabos está acontecendo? – isso veio de outro homem, que parecia estar chocado e irritado. – Fury, solte-a – ordenou outro homem, com uma voz extraordinariamente profunda. Os olhos cheios de raiva de Fury se moveram para longe dos olhos horrorizados de Ellie quando ele virou a cabeça para o lado. Ele rosnou para alguém atrás dele. – Não. Isso é entre mim e ela. Afastem-se. Ellie passou a língua pelos lábios secos, aliviada por poder respirar novamente. As mãos em seus braços a machucavam tanto que seus olhos se inundaram de lágrimas. Fury encarou furiosamente alguém atrás dele, que desviava sua atenção. Apesar de a sala estar cheia de homens, ela sabia que morreria na frente de todos quando a atenção dele voltasse para ela. – Largue-a, Fury. – a voz masculina ficava mais e mais profunda, chegando a um rosnado ameaçador – Por favor. – Ela é uma deles. – gritou Fury – Ela trabalhava como técnica no centro de testes. Agora se afastem, eu tenho o direito de me vingar. Um som distinto cortou a sala e os olhos de Ellie se arregalaram. Ela reconheceu o som de uma arma sendo engatilhada. Engoliu o nó que se formou em sua garganta, com medo de que atirassem nele para salvá-la. Droga. Ela não deixaria aquilo acontecer. Todo o terror se dissipara para dar lugar à preocupação com a vida dele. Ela o havia salvo uma vez e o faria de novo. – Está tudo bem – ela falou o mais alto que podia. Sua voz tremeu, mas as palavras saíram – Não o machuquem. Não atirem, por favor. – Ellie? – o diretor Boris se aproximou – Do que ele está falando? Ellie ofegou quando seu algoz virou a cabeça para encará-la novamente.
Um arrepio desceu por sua espinha com o olhar frio e intenso dele, e com a certeza de que ele definitivamente cumpriria sua ameaça. Ela não tinha dúvidas de que a mataria em cima da mesa, na frente de todos. – Fury – rosnou outra voz masculina – Solte a mulher. Vamos resolver isso adequadamente. – Ela é minha – rosnou Fury, obviamente tão bravo que não conseguia falar com o tom de voz normal. Seus dedos apertaram ainda mais. Lágrimas correram pelo seu rosto, mas ela não emitiu um som sequer. Tinha medo de aborrecer a todos em volta, especialmente à pessoa que tinha engatilhado a arma. – Ellie – Dominic Zort parecia estar mais perto – você era uma informante, não era? Ela engoliu um gemido de dor – Fury rosnou suavemente e suas mãos faziam uma força brutal nos braços dela. – Sim – ela arquejou. – Eu o conheço. O rugido na garganta de Fury virou um rosnado selvagem. – Fury! – um homem esganiçou – Solte a mulher agora! O aperto das mãos de Fury aliviou, mas ele não abandonou o controle. Ele se afastou alguns centímetros, porém. Não ficou sobre todo o corpo dela e seus lábios se apertaram para esconder os caninos. Respirou fundo algumas vezes pelo nariz, mas não tirou os olhos de Ellie. Fury. Sim, o novo nome combina com seu olhar. – Ela já fazia parte da equipe médica da Mercile. Foi enviada como espiã quando surgiram rumores sobre o verdadeiro centro de testes. Tentamos infiltrar agentes, mas a Mercile nunca os contratava. Acho que era a enfermeira no escritório corporativo. Ela teve muito trabalho para conseguir ser transferida àquele lugar infernal para descobrir se os boatos eram verdadeiros. Ela roubou provas suficientes para conseguirmos os mandados que foram usados no primeiro centro de testes. – Dominic Zort falava rapidamente. – Eu não sabia que ela havia conhecido alguém do seu povo, Justice. Eu não era o chefe dela, mas Victor Helio não escreveu nada no arquivo que indicasse que ela tenha feito mal a algum Nova Espécie ou que interagiu com um deles. Eu nunca a teria contratado para trabalhar com seu povo se soubesse que um deles a conhecia pessoalmente. – a voz de Dominic Zort continuava calma – O nome dela é Ellie Brower e é quem administra o
alojamento das mulheres. Ela arriscou a vida por dias para espiar a Mercile para nós, Justice. Ela sabia que eles iriam matá-la se percebessem que ela havia ido trabalhar lá para coletar provas do que eles estavam fazendo. – Solte-a. – o tom de voz de Justice ficou mais suave, mas ainda continha a autoridade de uma ordem – Relaxe, Fury. Eu entendo. Ouviu o que o homem disse? Ela trabalhava lá para ajudá-los a juntar provas de nossa existência. Ela ajudou a salvar nosso povo. Fury não soltou Ellie e continuou a olhar furiosamente para ela. Ela o encarou de volta, certa de que ele não se importava com o motivo de ela ter estado lá. Ela sabia que ele a odiava por tê-lo incriminado pela morte de Jacob, e não o culpava por aquilo. Ela tinha feito para salvar a vida dele, mas tal fato não a aliviava da culpa pelo crime cometido contra ele. – Ellie? – o diretor Boris falou – Qual era exatamente seu trabalho no centro de pesquisas e o que você fez a esse homem? Merda. Ellie engoliu seco. Ela observava os olhos de Fury enegrecerem ainda mais, indo de chocolate-escuro a quase preto. – Eu só ajudava quando era preciso – ela explicou suavemente. – Eu cuidava de várias tabelas com os resultados dos testes das amostras de sangue e saliva que eles me faziam colher. – Por que ele a odeia tanto? Você o machucou pessoalmente de algum jeito? – a voz do diretor Boris se elevou afrontada. – Você fez mal a eles? Ellie encarou o rosto tenso e cheio de linhas de Fury. Se ela tivesse sido sexualmente abusada, não gostaria que o assunto fosse espalhado por aí. Ele era um macho orgulhoso, e aquilo provavelmente não era algo que ele quisesse compartilhar com o resto da sala. Ela teria que contar a todos por que havia matado o técnico se admitisse o que havia feito, para deixar Fury com tanta raiva. Ela hesitou. Os olhos dele viraram fendas estreitas conforme o rugido que rumorava em seu peito ficava mais alto. – Não – ordenou Fury. – Fury? – disse Justice. Aquele homem tinha uma voz extraordinariamente profunda – O que ela fez para deixá-lo com tanta vontade de machucá-la? Ela o forçou a tomar as drogas deles? – Ellie, diga-nos agora – exigiu o diretor Boris. – Eu precisava fazer testes – ela mentiu – Tive que infligir dor nele. Essa parte era verdadeira. Ela sabia que o que fizera havia lhe causado
estresse, junto ao que Jacob havia feito, enquanto ele estava indefeso no chão de sua cela. – Ele também não gostava que eu colhesse suas amostras. Como resposta, ele rosnou para ela. Ellie não tirou os olhos de Fury, seu olhar se fixou no dele. – Desculpe, mas não tive escolha. Eu sabia que o socorro chegaria apenas se eu conseguisse levar as evidências. Fiz o que precisava para salvá-lo. Você estava perto de ganhar uma chance de ser livre. – mais lágrimas rolaram pelo seu rosto – Sinto muito. Eu só queria salvar você. Fury tinha em seu domínio a mulher que o traíra. Ele não podia acreditar que encontrara Ellie novamente. Ela trabalhava em Homeland e suas mãos estavam mesmo nela. Ele tinha liberdade agora, não estava mais indefeso e lutava contra si mesmo sobre o que deveria fazer com ela. Uma pequena parte dele queria abocanhar seu pescoço, enquanto o resto queria puxá-la contra seu corpo e abraçá-la. De qualquer jeito, ele não queria soltála. Um nojo de si mesmo jorrava por causa de suas emoções conflitantes depois do que ela havia feito a ele dentro da cela. Ele jamais esqueceria aquele dia ou o outro que se seguiu. Novamente, Justice exigiu que ele soltasse Ellie, mas suas mãos se recusavam a largá-la. O fato de ela ousar estar onde as Novas Espécies deviam estar a salvo de seus atormentadores o enraivecia. Ela fora a pior, com seus lindos olhos azuis que o haviam induzido a acreditar que nunca faria mal a ele. Seus dedos repousaram em sua pele macia enquanto ele inalava aquele perfume que o perseguira por tantas noites. Seu olhar azul-claro parecia mais belo do que se lembrava e, por dentro, ele se encolheu ao ver as lágrimas inundarem seus olhos e rolarem por seu rosto, sabendo que a machucava. Ele lutava sabendo que tinha o direito de se vingar, mas ao mesmo tempo odiava causar-lhe dor. Quando ela pediu para não o ferirem, ele ficou ainda mais confuso. Ellie era sua inimiga, então por que tentou protegê-lo? – Fury – sussurrou Justice – Ela é uma mulher. Ninguém precisava dizer a ele o sexo de Ellie. Seu doce perfume de morango e baunilha o deixava com vontade de gemer, de afundar o nariz em sua pele e investigar de onde exatamente ele vinha. Ele se perguntava se o cheiro emanava de seus produtos para cabelo ou da loção de banho. Querer descobrir aquilo o deixava com ainda mais raiva.
Saber que ela estava trabalhando contra o inimigo o surpreendeu. Para ele, era importante saber por que ela estivera no centro de testes, mas ele não conseguia se desfazer do sentimento de traição que surgiu quando ela o deixou na cela para encarar as consequências das ações dela. Será que ela não percebeu o que fez ou como aquilo fez mal a ele? Mas não queria que ela dissesse a verdade sobre o que havia feito para deixá-lo com tanta raiva. Muitas perguntas seriam feitas. Ele sentia vergonha o bastante. Não queria que ninguém soubesse como sua humilhação se intensificava quando se lembrava de como se sentiu indefeso por todos aqueles anos que ficou preso e do abuso que sofreu durante a vida. Ele era uma Nova Espécie, com controle sobre sua mente e seu corpo, apesar de ter sido um prisioneiro. Ele não poderia ter impedido o técnico de atacá-lo quando estava no chão, mas quando ele estava ali, indefeso, ainda traumatizado com o que havia sofrido, seu corpo respondeu ao fato de Ellie estar tão perto dele. Ela o havia excitado, apesar daquela situação horrível. Ele não queria reagir a ela daquela maneira, aquilo só fazia sua traição ser ainda mais imperdoável. Ele baixara a guarda e ela lhe fizera mal. Reconhecia que perdera novamente o controle quando, sem pensar, agarrou-a e agora se recusava a soltá-la. A dor que suas feições revelavam fizeram-no compreender o quão forte segurava os braços dela e isso o horrorizou, percebendo que machucara sua delicada pele. Ele devia querer matá-la mas, em vez disso, desejava massageá-la para aliviar a dor, até mesmo pedir desculpas, o que o enojou. Ele recebera o honroso trabalho de ser o segundo no comando de seu povo, um exemplo para as Espécies, de como elas podiam viver em paz com os humanos e, mesmo assim, ele se encontrava em cima de uma mulher pequena e amedrontada, que o havia assombrado desde que fora libertado. Ele sempre se perguntara o que havia acontecido com ela. Até mesmo usara sua nova autoridade para ver a lista dos empregados da Mercile que haviam sido presos. Ele fantasiara sobre entrar na cela dela e… observá-la, apenas para revê-la. Um rosnado rasgou sua garganta e ele sabia que precisava sair de perto dela antes que perdesse o pouco controle que havia retomado. Ele precisava pensar, ter alguma noção do que havia dado errado em sua mente quando o assunto era Ellie.
Normalmente, ele era racional, mantinha-se calmo, independente das circunstâncias, e os outros o consideravam de boa índole. Seu povo dependia dele para continuar daquele jeito. Ele escolhera aquele nome pelo que mantinha em seu coração mas, por fora, ele escondia muito bem. Normalmente. Olhou para Ellie e mentalmente ordenou que suas mãos se abrissem, apesar de seus instintos gritarem para continuar segurando-a. A pressão das mãos de Fury diminuiu e ele libertou Ellie como se tocar nela o queimasse, e então ele se virou e empurrou as pessoas para fora de seu caminho. Ellie ficou imóvel em cima da mesa até que alguém tocou sua perna. Ela estava chocada com o fato de Fury tê-la deixado viver. Darren Artino se aproximou, tocando-a suavemente enquanto a ajudava a se sentar. Ellie olhou para o rosto em choque daqueles homens à volta dela. Rapidamente enxugou as lágrimas, impressionada por ainda estar viva. Procurou por Fury, mas ele desaparecera. – Senhorita Brower? O homem que falava era quase tão alto quanto Fury. Ele tinha ombros largos e seu longo cabelo estava preso em um rabo de cavalo. Seus olhos eram de um atraente negro azulado e tinham um formato diferente, similar aos de um gato. Ele vestia um terno de alfaiataria, mas nada escondia as vibrações perigosas que projetava enquanto se mantinha a alguns metros dela. – Peço desculpas por Fury… – ele pausou – tê-la atacado. Sou o Justice North e garanto que Fury será castigado pelo que fez aqui. Ele a machucou? – seu olhar exótico e inquietante deslizou sobre o corpo dela. – Estou bem – mentiu Ellie, com delicadeza. Seu coração se partiu com o fato de o homem por quem estava obcecada simplesmente ter ido embora. Ela resistiu ao desejo de correr atrás de Fury, implorar para que ele a ouvisse e pedir desculpas novamente pelo que lhe havia feito. Ela queria tanto se acertar com ele, que até sentia dor. Percebeu que aquilo seria impossível ao olhar para o grande homem que bloqueava seu caminho. No momento, ele era uma ameaça a Fury e ela precisava controlar a situação antes que ficasse mais séria. Ellie tentou não mostrar como estava pasma com aquele homem atraente
com olhos fascinantes. – Por favor, não o castigue. – ela imploraria se fosse necessário. Era o mínimo que poderia fazer para garantir que Fury não tivesse nenhum tipo de problema – A raiva dele é justificada, acredite em mim. Eu não o teria culpado se ele tivesse me matado. O choque empalideceu as feições do homem enquanto ele piscou algumas vezes na direção dela. Seus largos ombros pareceram relaxar. – Talvez você devesse ser dispensada dessa reunião. Você teve um trauma e tenho certeza de que alguém aqui poderá deixá-la informada do que será discutido, amanhã, quando lhe for conveniente, depois de ter se recuperado. O diretor Boris se moveu à frente. – Devemos tirá-la de Homeland imediatamente, senhor North. Por favor, aceite nossas desculpas. Ellie ficou atemorizada. Ela se mudara para um novo Estado para ser parte do projeto para assimilar as Novas Espécies a uma forma normal de vida, mas agora ela perderia o emprego. Ela não culpava o diretor Boris por demiti-la, levando em conta as circunstâncias. Homeland havia sido dada às Novas Espécies para servir como um porto seguro dos abusos que haviam sofrido. Ter alguém que trazia lembranças andando pela propriedade violaria o conceito. Justice franziu a testa ao olhar para o diretor Boris. – Não é necessário demiti-la. Ela salvou nosso povo do centro de testes, e não estaremos agradecendo seu altruísmo se a afastarmos de algo que ajudou a ser possível. Não fazemos as coisas desse jeito. Essa é a nossa Homeland, não é? O diretor Boris abriu a boca em choque. – Mas o Fury a odeia e ele é o segundo no comando. – Fury lidará com sua raiva. – Justice então olhou para Ellie. A expressão rude em seu rosto suavizou-se – Vá descansar, senhorita Brower. Seu emprego está seguro, pode continuar administrando o alojamento feminino. Sua sinceridade foi revigorante e agradeço sua compreensão sobre o comportamento do Fury. Ellie sabia escapar quando tinha oportunidade. Ela desceu da mesa, seus joelhos enfraqueceram, mas ela se segurou ao ficar em pé. Continuou com a cabeça baixa, com os olhos no chão, e caminhou rapidamente em direção ao
corredor vazio. Ela parou do lado de fora da sala de conferência, inclinou-se contra a parede e cobriu o rosto. Seu corpo inteiro tremia. Ela precisou de um minuto para recompor suas emoções desgastadas. Ellie finalmente se mexeu, deixou as mãos caírem ao lado do corpo e saiu pela porta. 416 sobrevivera e agora se chamava Fury. Pior, ele era o segundo no comando, depois de Justice North. Ela tremeu ao pisar do lado de fora. O guarda armado franziu a testa ao vê-la, mas não disse nada enquanto ela caminhava em direção ao seu carrinho de golfe. Justice comandava a Organização das Novas Espécies. Seu povo o escolhera para comandá-lo, para ser o rosto e a voz das Novas Espécies, mas eles também indicaram membros do conselho para representar grupos de sobreviventes, ajudando-o a fazer seu trabalho. A ONE, como eles se intitularam, proclamaram seu próprio governo quando lhes foi garantido que os EUA os apoiariam para terem o controle e estruturar sua independência. O fato de o governo ter financiado aqueles centros de testes sem saber, dando-lhes grandes concessões, havia feito o “Tio Sam” se esforçar muito para acomodá-los com qualquer coisa que pedissem. Eles haviam usado o dinheiro dos contribuintes para ajudar a criar as Novas Espécies e continuar com a horrenda pesquisa que fora feita por décadas em nome do aperfeiçoamento de drogas prescritas e vacinas. Muito dinheiro havia circulado a custo do sofrimento das Novas Espécies. A nova base militar recém-construída fora dada a eles de presente como sua pátria, o que criou boatos de que aquele era o grande gesto do governo para livrar-se e manter-se favorável à opinião pública. Ellie estacionou o carrinho de golfe na frente do alojamento e saiu. Esfregou os braços doloridos e correu em direção à porta. Ela estava quase alcançando-a quando os pelos de sua nuca se arrepiaram. Ela parou depois que pegou seu cartão de identidade e lentamente espiou por cima do ombro. Um homem se espreitava sob a sombra de uma árvore do outro lado da rua, só se via um fraco vulto de uma figura, mas Ellie sentia que ele a observava. Ela sabia que só podia ser Fury e ficou ali, encarando-o. Ela ficou onde estava e ele também, nenhum dos dois se mexia. Ellie mordeu o lábio, refletindo se deveria se aproximar dele. Ela podia pedir desculpas novamente pelo que havia feito, e talvez explicar com mais detalhes até que ele compreendesse suas ações naquele dia dentro da cela. A indecisão a mantinha em seu lugar enquanto lutava com a necessidade de
falar com ele e com o medo de que ele não tivesse se acalmado. Ele não se movia e ela não conseguia fazer com que suas pernas fossem até ele. A lembrança de sua raiva e de suas mãos esmagando sua carne a fez mudar de ideia sobre falar com ele naquele momento. O medo a motivou a olhar para a porta, passar o cartão para abri-la e correr para dentro do alojamento. Ela se assegurou de que as travas se fecharam antes de sair em disparada em direção ao elevador. Um silêncio sinistro se estabelecia no alojamento à noite. Ela entrou no elevador com a sensação de estar sendo observada. Com paredes de vidro, ela sabia que ele podia vê-la. As portas se fecharam com firmeza para deixá-la fora da visão da rua e Ellie se curvou contra a parede. Ele deixaria isso para lá? Ela não sabia, mas agora ele sabia onde ela morava. Ele trabalhava em Homeland e provavelmente morava em uma das unidades residenciais construídas a algumas quadras para o conselho e os membros do alto escalão das Novas Espécies. Droga. O elevador fez um barulho ao abrir no terceiro andar, onde, por enquanto, ela era a única residente. Quando mais mulheres fossem transferidas ao alojamento, os quartos seriam preenchidos e o prédio estaria cheio de vida em todos os andares. De repente, ela se preocupou muito sobre estar sozinha ali. O prédio era seguro, lembrou a si mesma. As únicas pessoas com acesso a ele eram as mulheres morando lá e os guardas responsáveis por vigiá-lo. Nem mesmo os membros do conselho tinham acesso. Fury não conseguiria entrar. Ela abriu sua porta. Deixara as luzes acesas em seu pequeno apartamento e a porta da sacada estava totalmente aberta. Foi em direção a ela para fechá-la bem e a trancou pela primeira vez. Ninguém podia alcançar a sacada, mas ela não se importava com lógica. Olhou para os braços ao se despir, vendo que estavam vermelhos e machucados das mãos de Fury, e entrou no banheiro para tomar um banho. Fury sobreviveu! Aquele pensamento circulava por sua mente. Lágrimas quentes se derramaram em sua face. Se aquele dia nunca tivesse existido, ela teria tido a chance de conhecê-lo. Talvez ele tenha… Seu olhos se fecharam de dor. O quê? Se apaixonado por mim do jeito que me apaixonei por ele? Era insano até mesmo considerar tal possibilidade. Eles não se conheciam de fato, mas ela queria mudar aquilo. Ele me odeia. Isso havia ficado claro
quando ele a jogou em cima da mesa e a raiva jorrou de dentro dele. Ellie enxugou as lágrimas. O que ela fizera com ele não poderia ter sido evitado. Só podia esperar que um dia ele a perdoasse por deixá-lo na cela e levar a culpa pelo crime que cometeu. Então talvez… – Droga, não faça isso com você mesma – ela sussurrou, balançando a cabeça. CAPÍTULO TRÊS Ellie observava as mulheres das Novas Espécies com frustração. Sabia que se tornar amiga delas seria uma tarefa difícil, mas não fazia ideia de como elas planejavam infernizar sua vida. Nenhuma delas havia se mostrado amigável. Elas eram muito unidas, mas não com Ellie. Ela esperava conseguir esconder sua mágoa. Ajudá-las havia se tornado sua missão de vida, seu único propósito, e até então elas não haviam permitido. – Alguma de vocês gostaria de aprender a cozinhar? Posso ensinar, ou mostrar uma tonelada de DVDs sobre cozinha que consegui. – ela olhava de um rosto para o outro – Tenho certeza de que vocês estão fartas das refeições oferecidas no refeitório da ONE. Eu gosto de cozinhar, aprender é bom e todos adoram comida. Ninguém respondeu e todos aqueles pares de olhos ficaram observando-a. Ellie suspirou. – Eu juro que não sou sua inimiga. Estou aqui para ajudá-las a aprender a viver e a se integrarem à sociedade. Quero ajudá-las de qualquer forma que precisem. Quero muito que me deixem fazer isso. O silêncio delas se alongava por um tempo desagradavelmente longo. Os ombros de Ellie desmoronaram em uma derrota momentânea. – Está bem. Talvez vocês precisem de mais tempo para me conhecer. Se precisarem de algo, falem comigo, por favor, é para isso que estou aqui. Ah, e fiz alguns bolos e coloquei-os na geladeira, então tratem de comê-los. Ellie deixou a sala antes que elas pudessem ver como estava deprimida. Assim que saiu da vista delas, ouviu vozes femininas, o que lhe deu ainda mais vontade de chorar. Todas ficavam caladas quando ela adentrava, mas a conversa voltava assim que ela saía. Ela não conseguia ignorar a possibilidade de que a odiassem. Recusavam-se a falar com ela, a não ser quando precisavam, e não pareciam querer sua ajuda. Ela precisara dar-lhes aulas obrigatórias apenas
para ensinálas coisas básicas, como usar os utensílios da casa. As perguntas eram poucas mas, de novo, ela notara que algumas possuíam uma memória extraordinária. Elas guardavam as informações e depois ajudavam as outras mulheres que estavam com dificuldades. Ellie havia considerado se demitir, mas fora assegurada por um dos membros do conselho de que as mulheres evitariam qualquer um que estivesse naquele cargo. Ela não era uma delas, apenas isso, e ser uma humana pura fazia com que as Novas Espécies não confiassem nela. Ellie fora avisada para dar-lhes tempo e lembrada de que só haviam se passado duas semanas. Duas semanas infernais, resmungou baixinho, e foi para seu apartamento. Se ela fosse embora, porém, não teria para onde ir, nem uma vida para a qual regressar, depois de ter cortado todos os laços com seu passado. A simples ideia de pedir para morar com um dos pais até se restabelecer podia lhe deixar com enxaqueca. Seus pais discutiam por tudo, mesmo morando separados, e depois pediam a ela que fosse a juíza de suas brigas estúpidas. Os dois haviam se oposto veementemente ao divórcio da própria Ellie, a única coisa sobre a qual concordavam, e mantinham contato com seu ex-marido. Eles a faziam passar tempo com ele com suas atrapalhadas e irritantes tentativas de fazê-los reatarem. Ela preferia pular em um ninho de cobras do que voltar à vida que tinha. Não ligava para casa por uma razão e certamente não queria voltar para lá. Tanto seu pai quanto sua mãe estavam bravos com ela, o que significava que finalmente lhe dariam paz, algo que ela não tinha deles desde que se divorciaram, quando ela tinha dez anos. Sua nova vida consistia em ir adiante e ajudar pessoas com problemas de verdade e queria fazê-lo com as Novas Espécies. Elas lhe eram valiosas e precisavam da companhia de quem se importava com elas e ela, definitivamente, se importava. Ellie se trocou rapidamente, vestiu calças de ginástica, uma regata e tênis de corrida. Precisava de ar fresco e de um tempo longe do alojamento, certa de que não sentiriam sua falta. Tentou não ficar com dó de si mesma. Presumia que o trabalho a teria deixado mais ocupada e que talvez fosse recompensador, porém, em vez disso, sofria com solidão e depressão. Ela enfiou o tocador de MP3 e o cartão de identidade no bojo do sutiã, já que não
tinha bolsos, saiu do quarto e começou a se aquecer enquanto esperava o elevador. Ellie deu uma olhada no relógio ao sair do alojamento e observou o céu escuro lá fora, com apenas algumas estrelas brilhando. Ela se virou e ficou de frente para as janelas para espiar as mulheres sentadas no sofá, rindo juntas na área da sala de estar. Não conseguia ouvir o que diziam, mas as várias mulheres que ela espiava pareciam felizes. Felizes por eu não estar lá, pensou, emburrada. Murmurou um palavrão ao virar as costas. Ela não era de correr até se mudar para Homeland, mas a atividade física a ajudava a lidar com o tédio. Ela começou uma corrida suave pela calçada. A área parecida com um parque se estendia por uma boa distância ao longo dos muros policiados. Colocou a mão no sutiã para aumentar o volume do MP3 até a música martelar seus ouvidos. Ela tinha fases com tipos de música e, ultimamente, ouvia heavy metal para se ajustar ao seu humor. Ela se deslocava de forma regular pelo caminho, que se curvou para longe dos muros e em direção ao parque, no qual havia uma grande lagoa. Gostava de correr perto da água. Ellie desacelerou para uma caminhada rápida quando começou a se cansar, até chegar à lagoa. Parou para se alongar, se curvou para tocar os dedos dos pés, e depois se levantou. Com o canto do olho, percebeu um movimento. Ela se virou, esperando mais alguém se exercitando aparecer, mas não viu ninguém. Franziu a testa. Podia jurar que vira alguém. Balançou a cabeça e deixou para lá. Imaginou que fora o vento que balançava os topos das árvores que lhe chamara a atenção. Ela esticou os braços para cima e virou o corpo em várias posições para relaxar a musculatura. Seu corpo doía ao correr, mas ela queria entrar em forma, parecia ser bom fazê-lo aos 29 anos. Ela deu um sorrisinho jocoso, sabendo que seu ex-marido teria um ataque do coração se a visse agora. Ela já fora mais do que gordinha. Tinha se tornado uma pessoa totalmente diferente depois de se divorciar de um babaca que a traía, era verbalmente abusivo e acreditava que ela era patética o bastante para aceitar qualquer coisa que ele repartisse. Ele estava errado. Ela não era seu capacho, jamais ficaria com alguém que não sabia amar e terminara o casamento apesar dos protestos de Jeff. Ela mudara sua vida completamente depois de ver o sofrimento com os próprios olhos enquanto trabalhava no centro de testes. Dezoito quilos mais
magra e livre de seu ex, ela parecia bem mais feliz. Ela deu uma risadinha. Na verdade havia perdido 118 quilos indesejados, pois 100 deles eram do peso de Jeff. Seu último rompimento com o passado fora escapar de seus pais depois de eles tentarem persuadi-la a voltar com Jeff. É mais fácil chover canivete, pensou ela com um sorriso zombateiro. Os pelos de sua nuca se arrepiaram de repente. Seus membros congelaram enquanto seus olhos se lançavam pelo parque. Os paisagistas haviam plantado muitas árvores, tornando a área uma minifloresta em volta da lagoa. Alguns bancos tinham sido dispostos estrategicamente e os prédios ficavam nos limites exteriores do parque. Ela só conseguia ver o topo deles de onde estava. Estudou a escuridão mais uma vez, e a sensação de estar sendo observada crescia. Ellie pôs a mão dentro da regata para pegar o MP3 e apertou o botão de desligar enquanto o removia. Ela ouvia atentamente, mas nada escutou de estranho. Começou a ligar a música novamente, mas um rosnado suave a fez pular. Um cachorro? Ela olhou por cima dos ombros para verificar os arredores. Havia alguns cães de guarda patrulhando Homeland, mas estavam sempre presos às coleiras de seus treinadores. Ela veria seguranças se uma das unidades caninas estivesse nas redondezas. Um repentino desejo de voltar ao dormitório a dominou. Ellie deu alguns passos, mas ouviu outro rosnado, dessa vez mais perto. Seu corpo ficou tenso. Ela verificou a área novamente para procurar de onde o barulho vinha, enquanto tirava os fones de ouvido e segurava firme o MP3 em suas mãos. Ela esperava que nenhum cachorro tivesse se soltado. Eles eram animais grandes, ferozes e bem treinados para defender a propriedade, e a tratariam como uma intrusa. – Olá? – sua voz saiu. Ela esperava que um segurança respondesse – Tem alguém aí? Fury havia observado o alojamento feminino em que Ellie morava e a tinha visto algumas vezes pelas janelas de vidro do primeiro andar. Ela trabalhava com as suas mulheres e ele ficara orgulhoso com a frieza delas, até ver a tristeza no rosto de Ellie. Vê-la sofrer deixava-o arrasado. Ele não devia, mas se importava. Ele ficara perplexo ao vê-la sair do prédio sozinha, correndo para longe
da segurança. Ela não percebia o perigo que ele representava? Que andara observando-a? Seus instintos de sobrevivência não lhe gritavam que ele estaria por perto? Era óbvio que não, já que facilmente a seguira e a observara correndo devagar para dentro do parque, e aquela área isolada quase implorava para que ele se aproximasse dela. Depois ela parou como se estivesse o esperando. Ele inalou seu perfume no ar e gemeu quando seu corpo reagiu. Desejava demais estar perto dela, o que o deixava com muita raiva, pois era sua inimiga. Ele rosnava ao combater a fera que se emboscava dentro de si por controle. Seu lado humano sabia que ela era inacessível. Ela era um informante e havia ajudado seu povo, eis a razão por que estivera no centro de testes. Mas seu lado animal queria chegar mais perto para tocá-la e arrebatá-la. Tal verdade o assustava. Ele freou seus instintos. Ela o traíra depois de tê-lo feito acreditar que ela jamais faria algo para lhe prejudicar. Quaisquer que fossem suas razões para trabalhar para a Mercile, não serviam como desculpa para o que ela lhe fizera, ou para a raiva com que ele convivia, sabendo o preço que suas ações lhe custaram. Ele treinou seus homens para manterem seus instintos animais presos na coleira e precisava fazer o mesmo, dar o exemplo, ficar sob controle.
Ele tinha a responsabilidade de mostrar às Espécies que havia vida fora do centro de testes e que eles não eram apenas animais criados pela Mercile, que perfurara suas cabeças com insultos durante suas vidas. Mas Ellie era a prova viva de que ele tinha uma fraqueza: ela. Ela espiou em torno da escuridão, como se pudesse senti-lo. Seu lado animal urrava dentro de sua alma para ir até ela, pegá-la e tocá-la. Ele lutava contra a forte vontade, mas se moveu até ela apesar do que tencionava. Mais uma vez ele perdera o controle quando o assunto era ela. Ele simplesmente não conseguia resistir àquele perfume, ao intenso desejo de olhar em seus olhos e ouvir sua voz. A ira fervia em seu lado humano, enquanto seu lado animal se deliciava com o puro desejo ao ouvir sua voz doce e sedutora. Ele lutou contra si mesmo novamente ao inalar o medo dela, quis protegê-la, porém também precisava aterrorizá-la para mandá-la para o mais longe possível dele. Um movimento chamou novamente a atenção de Ellie. Ela engasgou quando Fury saiu de trás de uma árvore a alguns metros dali. Todo seu corpo reagiu à visão daquele homem alto e atraente, e à sensação de perigo que irradiava dele. Ela engoliu em seco, sua respiração aumentou e o medo a agitou quando o choque diminuiu. O que ela ouvira não era um cachorro; o rosnado viera dele. Fury havia feito aquele som amedrontador. Seus cabelos longos e sedosos caíam sobre seus ombros e peito como uma cascata, tão livre e desimpedida como ele parecia estar naquele momento. A vestimenta preta que ele usava abraçava seus ombros, seus impressionantes braços musculosos e delineava sua elegante cintura. Um ar de perigo emanava dele quando seu olhar sombrio pareceu se prender ao dela, deslizou por todo seu corpo lentamente e um rugido suave soou no fundo de sua garganta. Sua mandíbula se enrijeceu e seus músculos ficaram tensos, aparentes mesmo sob a luz fraca. Ele deu um passo à frente, mais de uma forma predatória do que do jeito que um homem se moveria, avançando lentamente em sua direção. Os olhos dela desceram às suas coxas musculosas, marcadas em sua apertada calça preta, e foram até seus sapatos pretos. Ele irradiava força e sex appeal, e ela engoliu seco. Seu coração acelerou, sua respiração aumentou e seu corpo o reconheceu como um puro macho. Ninguém jamais a afetara como ele. Ele avançou em mais um passo
perseguidor, o movimento fluido era quase sedutor, e ela percebeu que ele se vestira de forma a se fundir à escuridão, como se pretendera se esconder, mas permitira que ela o visse quando saiu à luz minimamente necessária para revelar sua presença. Agora, Fury a observava em silêncio, seus olhos focados em seu rosto e, enquanto ela o observava, jurou ter visto um olhar faminto em suas belas feições. Sua língua se lançou para fora para umedecer o lábio inferior, aquela ponta rosada tinha um quê de proibida, mas também de tentadora, e seus olhos escuros se estreitavam, fazendo parecer que ele lia sua mente. Ela queria beijá-lo, desejava saber qual era a sensação de ser tocada por ele de novo, mas sem raiva. É claro que isso não aconteceria. Ele a odiava. – Ai, merda – cochichou ela, mas depois falou mais alto – Olá… ahn… Fury. Está uma boa noite para correr, não? Ele não disse nada, e deu mais um passo à frente antes de parar. O terror que ela sentia cresceu. Eles estavam sozinhos e ele jurara matá-la. Ela não podia pedir socorro aos guardas da patrulha, não havia nenhum deles à vista. Um leve rosnado passou pelos lábios semiabertos dele, enquanto dava mais um passo na direção da mulher. A necessidade de sair correndo crescia em Ellie, mas ela ficou firme lá, pois havia lido relatórios falando sobre como as Novas Espécies eram rápidas. Seu DNA alterado, dependendo do animal com o qual fora combinado, explicava o fato. Fury obviamente havia sido misturado com algo canino e podia seguramente alcançála, caso ela fugisse. Ela não sabia se deveria gritar, tentar sair por meio de uma conversa daquela situação assustadora, ou esperar que ele não a machucasse. Ele chegou mais perto. – Sabe para que eles nos treinaram para nos exibirem aos investidores? – sua voz saía com um tom rude, frio e amedrontador. Ela precisou limpar a garganta, que queria se fechar de medo. – Não muito. A maioria dos arquivos foi destruída quando os centros de testes nas Indústrias Mercile foram invadidos, e eu não tinha acesso a essas informações quando trabalhava lá. – Caçar – rosnou ele – Eu me aperfeiçoei nisso, era o melhor dos protótipos. Eles nos ensinaram como fazer coisas para vender suas drogas, para mostrar exemplos vivos do que humanos poderiam virar se comprassem suas injeções e pílulas idiotas. Ellie percebeu que, naquele momento, seu futuro parecia ser
questionável. Fury a odiava e falava de um modo que ela sabia poder tornarse letal. Ela não conseguia encontrar as palavras certas, não sabia como atenuar aquela situação. Ele deu outro passo em sua direção. Merda, merda, que merda, pensava ela agitadamente. Ele a alcançaria com só mais alguns passos. – Naquele dia eu não tive outra escolha – ela falou abruptamente – Matei Jacob para proteger você, mas se eles soubessem que fui eu, não teriam me deixado sair. Eu só queria salvá-lo, eu nem mesmo tive a intenção de matá-lo. – Você contou a alguém o que ele fez comigo ou como você me fez sofrer pelo que fez? – Não. – ela balançou a cabeça. Ela tivera muito medo de contar ao chefe que havia interferido; ele certamente teria ficado bravo, já que ela agira contra as ordens do diretor para que nada fizesse com que alguém fosse suspeito na Mercile. Matar um técnico para proteger uma Nova Espécie fora exatamente aquilo. As palavras dele a pegaram. Sofrer? – Ficou cheia de vergonha do que fez? Ela hesitou. – Você não tem ideia do quanto. Eu… – Você disse aos guardas que eu o matei – ele rugiu, interrompendo-a – Você espalhou o sangue dele nas minhas mãos. Nem tente negar. Lágrimas quentes de arrependimento ameaçaram rolar, mas ela rapidamente as segurou. – Eu… – ela engoliu seco – Eu não tive escolha. Não achei que eles fossem matá-lo, senão jamais teria deixado implícito que você matou Jacob. Você tem que acredi… – Acreditar em você? – seus olhos escuros se estreitaram e um som perigoso emanou do fundo de sua garganta – Você ficou excitada em me ver sofrendo, em saber que tipo de crueldade você faria comigo. Como ele sabe que fiquei excitada? Ela não ousou perguntar, mas não mentiria para ele, considerando que devia demais a ele para fazer algo assim. Seus lábios cerraram. Ela estava insegura sobre como explicar por que ela respondera tão fortemente a ele, pois não conseguia justificar. A reação de seu corpo a ele naquelas circunstâncias fora simplesmente errada. – Não foi por que você estava sofrendo ou por planejar enfiar aquela agulha em você. Eu precisei fingir que ele havia morrido enquanto tentava
injetar aquilo para deixar a história crível. Sinto muito. – Me surpreende que você não esteja tentando mentir. Ellie levantou o queixo e se deparou com seu olhar zangado. – Você está certo. Meu corpo realmente reagiu ao ficar tão perto de você, não tenho desculpa. Tudo que posso fazer é pedir perdão. Sei que foi imoral e me sinto muito culpada. Você é… – ela hesitou, quase dizendo a ele como o achava atraente – Você estava nu e eu não pude deixar de notar, mesmo sob aquelas terríveis circunstâncias. Desculpe-me. O maxilar de Fury ficou tenso. Ela podia ver suas feições claramente agora que apenas alguns passos os separavam. – Você trabalhava para as Indústrias Mercile. Você ficou se arrastando para encontrar evidências incriminatórias? Gostou do que aquele técnico fez comigo? – ele rosnou para ela, mostrando rapidamente seus dentes afiados, agora um pouco mais perto – Ficou excitada por ele me machucar e planejar me estuprar? Você ganhava a confiança de outros Espécies machos também quando entrava em suas celas sem que eles rosnassem? Enganou-os passando a impressão de não ser perigosa? Permitiu que levassem a culpa por algo que você fez? – suas narinas se abriram e ele rosnou mais forte – Quem mais você traiu? Suas selvagens acusações fizeram Ellie cambalear, como se ele a tivesse atingido fisicamente. – Não! Você foi o único a quem tive que fazer isso. Tentei encontrar provas suficientes para um juiz expedir um mandado. Como ousa? Eu colhia amostras, escrevia relatórios, mas não tinha acesso a nenhum dos arquivos antigos que mostrassem qualquer coisa que provasse sua existência lá embaixo. Todos os dias eles nos revistavam antes de irmos embora, eu não podia levar até lá nenhuma câmera para provar que diabos estavam fazendo com vocês ou que vocês eram apenas boatos. Você não tem ideia de como era aterrorizante para mim ter que passar pela porta principal e tomar aquele elevador em todos os meus turnos. Sempre me perguntei se eu voltaria a ver a luz do dia se eles descobrissem que eu estava fazendo espionagem para a polícia. Eles teriam me matado. Os outros funcionários falavam e me alertavam sobre o que aconteceria se a Mercile apenas suspeitasse de que alguém estava contra eles. Eles cuidariam para que eu desaparecesse e meu corpo nunca fosse encontrado.
– Se eles a revistavam, então como você conseguiu contrabandear evidências? O calor fez sua face corar. – Quer mesmo saber? – Quero – rugiu ele. – Eu as engoli. Por um segundo, ele empalideceu, depois franziu a sobrancelha. – Não entendo… – Precisei fazer amizade com alguns médicos, e isso demorou. Eu não tinha acesso a nada vital, mas eles, sim. Cuidadosamente, fui ganhando a confiança deles, fiquei muito próxima de uma médica que se parecia comigo, e troquei meu avental com o dela durante o almoço. Roubei seu cartão de segurança, arrumei meu cabelo como ela, inclinei a cabeça ao passar pelas câmeras de segurança e ao entrar no escritório dela. Eu já a havia visto digitar o código algumas vezes e me lembrei dele para conseguir entrar lá. Eu tinha um pequeno drive para guardar dados, que meu chefe havia me dado para copiar arquivos. Eu o engoli. Tanta coisa podia ter dado errado… Ele a fitou, franzindo a testa. – Eu tinha certeza de que seria pega e de que os guardas tomariam o escritório e me matariam. Você não sabe como estava apavorada ao sair de lá, rezando para conseguir destrocar os aventais sem que ela percebesse. Isso também foi naquele dia, você sabe. – ela pausou – A última coisa que eu queria fazer era chamar atenção com aquela porcaria dentro do meu estômago, sabendo como era importante entregá-la ao meu chefe, mas ainda assim tentei salvar você, mesmo arriscando a mim ou a evidência. Quer ouvir sobre como é doloroso vomitar algo do tamanho de um pen drive? Parecia fácil de engolir. Eu estava disposta até mesmo a deixar que me operassem para consegui-lo de volta, caso o vômito não funcionasse. Eles temiam que os ácidos estomacais o danificassem se passasse muito tempo. Ele continuou a franzir a testa durante os segundos que passaram. – Você me enganou também. É isso o que você faz. – ele apertou os lábios – Você mente para as pessoas e depois as trai, você não é melhor do que aqueles monstros que criaram e escravizaram meu povo . A dor perfurou seu peito com aquelas palavras rudes, sendo rapidamente seguida por uma raiva que a consumia. Ela havia matado uma pessoa por ele e arriscado a própria vida para salvar seu povo. Ele que se dane.
– Eu não quis lhe fazer mal de nenhum jeito. – ela pausou – Mas vou dizer uma coisa. Eu salvei sua pele, Fury. Você só está vivo por causa do que fiz, você estaria morto se eu não tivesse entrado na sua cela e parado aquele cretino. Você teria morrido acorrentado ao chão, sendo abusado por aquele filho da puta, a apenas alguns dias de ser libertado. Se isso é imperdoável para você, então, que pena. Manter você vivo se tornou minha maior prioridade. – Você disse que me odiava. Me chamou de cretino imprestável e quis que eu soubesse disso. Nunca me esqueci do que você disse. Ellie ficou boquiaberta. – Não. – Eu estava lá, deitado no chão, indefeso, e você se afastou de mim para pegar o sangue do técnico e espalhá-lo nas minhas juntas. Você cuspiu aquelas palavras de ódio para mim. Por fim, ela entendeu e sentiu a cor sumir de seu rosto. – Eu não estava falando com você, estava dizendo aquilo para o Jacob! Eu o odiava e ele era um filho da puta pelo que fez com você. – O homem estava morto. Não minta, você disse aquelas palavras para mim. – Não. – ela balançou a cabeça freneticamente, com os olhos fixos nos dele – Eu juro, estava falando com ele. Esperava que ele me ouvisse no inferno; tenho certeza de que é para lá que ele foi por suas ações. Esperava que ele soubesse o que achava dele. Fury franziu a testa, estudou as feições dela e ficou em silêncio. – Essa é a verdade. – Quer saber qual foi a pior parte quando você entrou na minha cela? – sua voz profunda ficou fria como gelo e seu corpo todo ficou visivelmente tenso. Ela apenas balançou a cabeça e seu medo voltou. Ódio emanava dos olhos dele. Eles pareciam mais escuros do que ela se lembrava, porém no parque havia menos luz do que na sala de conferência, semanas antes. – Eu ainda posso sentir seu toque em mim. Primeiro você me acalmou, me salvou e eu acreditei que você não fosse me fazer nenhum mal. Na verdade, eu recebi suas mãos no meu corpo com alegria. Fecho os olhos e sua memória está marcada ali. – ele deu mais um passo – Lembro de você fugindo depois do que fez, me deixando confuso e sofrendo. A agulha que
você enterrou na minha pele doeu menos do que a dor que perfurou meu coração. – Eu sinto muito. Não se passa um dia sequer sem que isso não me assombre. – ela pausou – Fiz isso para salvar sua vida. Você sabe o que Jacob planejava fazer com você, mas eu o impedi. Precisava encontrar um jeito de roubar evidências. Me desculpe. A última coisa que quis foi machucá-lo ainda mais. Não queria incriminá-lo pelo assassinato dele, ou enfiar aquela agulha em você, mas eu tive que fazer tudo parecer convincente o bastante para eles me deixarem sair de lá. Ele deu mais um passo. – Nada disso importa – rosnou ele – Só me lembro do que você fez, só disso. Jurei que se a visse outra vez a mataria com minhas próprias mãos. – ele quase a tocou quando parou a alguns centímetros dela – Você devia correr se tem cérebro. Estou lutando para me controlar, e não faço ideia de qual lado meu irá ganhar. Nunca se esqueça de que uma parte de mim é animal. Fury esperava que ela seguisse seu conselho. Ele podia ver o medo no rosto expressivo e delicado de Ellie. Notou as pequenas linhas perto da boca dela, o que revelava que ela sorria com frequência. Se perguntou como seria ouvir sua risada. Ele nunca tivera um motivo para sorrir até ganhar a liberdade. Com o lábio inferior, ela fez um beicinho de preocupação, e a vontade de chupá-lo o golpeou. Depois foi aos cabelos dela que ele se atentou. Eram tão diferentes dos dele, com sua aparência muito clara e cachos desobedientes. Pareciam ter uma textura macia, cheiravam a morangos, e emolduravam seu rosto, fazendo sua estrutura óssea parecer frágil. As mulheres das Novas Espécies são drasticamente diferentes da minha pequena humana. Ele congelou, percebendo que acabara de chamá-la de sua. A indignação o engolfou. Ele sabia que não deveria confiar em humanos, eles infligiam dor a cada chance que tivessem. Em especial, ela. Ela acabara de admitir ser uma boa mentirosa. Até onde ele sabia, tudo o que ela acabara de dizer podia ser mentira, dito apenas para ganhar a compaixão dele. Ele estaria perdido se lhe desse uma chance para traílo de novo. Ainda assim, a ideia de ela pertencer a ele o deixava confuso. Suas vísceras se apertaram, seus dedos coçavam para tocá-la e ele sentia a vontade louca de dizer algo que aliviasse o medo que ela sentia dele. Merda, ele percebeu com repulsa, quero fazê-la rir só para vê-la sorrir.
Era insano e errado. Seus pensamentos e suas emoções conflitantes faziam seu ódio queimar ainda mais. Ellie, ao que parecia, se tornara uma grande manipuladora e ele não queria ser a vítima, nunca mais. Fury tentou se focar no presente. O inimigo estava na sua vista e ele tinha a oportunidade de enfim se vingar de pelo menos uma pessoa que lhe fizera mal. Até então não tivera uma ocasião sequer para ficar quite. Os piores criminosos não tinham sido presos para encararem o castigo pelo que haviam feito, enquanto outros conseguiram se esconder. Isso fazia daquela mulher à sua frente sua única saída. Seu coração martelava de forma errática e a imagem da última vez em que ela saiu correndo, depois de o ter traído, encheu sua mente. Essa memória voltou com tanta força, que ele cambaleou para trás com aquela rajada de emoções que passava por ele. Ela saíra com tanta urgência que errou a porta e deu de cara na parede, em sua pressa para vê-lo ser punido pelo que ela havia feito. O animal dentro dele uivava para que ele a pegasse. Não havia mais correntes prendendo-o, nem drogas para manter seu corpo imóvel. Ele ficou tenso, com todos os músculos rígidos, e a viu dar um passo para trás. Ele inspirou agudamente; o medo dela era tão forte que ele podia até sentir o gosto. Isso fez com que seus instintos gritassem para cobri-la, para protegê-la, mesmo que ficasse enfurecido com o efeito que ela tinha sobre ele. Ele rugiu enquanto suas emoções conflitantes se combatiam. Ela era o inimigo, e ainda assim ele queria desesperadamente tocá-la. No segundo em que ela se virou e saiu correndo, ele deu um pulo para a frente, perseguindo a mulher que ele queria mais do que qualquer outra coisa que já desejara na vida. Não havia o que o fizesse impedir seu animal de assumir o controle. Mais uma vez, ele tinha perdido totalmente o controle. Ellie sentia o sangue abandonar seu rosto ao observar as emoções se evidenciarem nas feições de Fury. As boas intenções que a mantinham no lugar se dispersaram quando ela viu seu olhar feroz e ouviu seu rugido doloroso e animalesco. Ela se virou e saiu correndo em pânico. Fury diminuiu a distância entre eles. O terror a fazia correr mais rápido. Seu MP3 escorregou de seus dedos e se espatifou na calçada, um segundo antes de ele agarrá-la por trás.
Ellie abriu a boca para gritar, mas caiu na grama antes de sua voz sair. O corpo pesado dele travou o ar em seus pulmões. Ele arrancou seus fones de ouvido. O peso em cima dela se movimentava. Ellie respirou antes que ele a agarrasse de novo, e o peso dele voltou quando a deixou de costas no chão. Seu enorme corpo prendia o dela firmemente contra a grama úmida. Ela tentava tirá-lo de cima, mas ele não se moveu. Suas palmas empurravam seu peitoral de aço em vão. Ela gemeu de medo ao se deparar com sua fúria raivosa e sombria. Sob a luz fraca, dentes caninos se mostraram logo acima de seu rosto. As mãos dele ficaram mais leves ao pegarem em seus braços e os puxaram para cima da cabeça dela. Depois ele envolveu seus pulsos com apenas uma mão. Ele apertou os dentes, ainda mostrando suas presas, e rosnou do fundo de seu peito. Ele vibrava contra o corpo dela ao fazer aquele som aterrorizante. – Por favor, não me machuque – ela arfou. Ele levantou um pouco o peito, o suficiente para que ela pudesse respirar. Ellie arquejou. Os olhos dele procuravam algo nos dela, e ela se perguntou o que ele queria ver. O que quer que ele tenha descoberto o fez sussurrar um xingamento. Ele soltou seus pulsos e, de repente, rolou e se levantou. Ellie continuava esparramada na grama, olhando-o, chocada por ele tê-la soltado. Ela sentia dores por conta do que ele fizera e seu coração estava acelerado. – Levante – ele ordenou rudemente. Ellie precisou lutar para ficar em pé. Não era nada gracioso, mas ela se levantou. Queria fugir de novo, mas não tinha forças. – Já pedi desculpas. O que mais você quer de mim? – ela se aproximou mais e olhou fundo em seus olhos estreitos – Seja lá o que for preciso, apenas diga, que o farei. Vou fazer qualquer coisa para deixar tudo bem entre nós. Fale. Fury a observava enquanto ela se aproximava, mas continuou em silêncio e cauteloso. De repente, ele lançou a mão e lentamente enrolou-a em volta do pescoço dela. A confusão de Ellie virou pânico ao perceber que, apesar de não sentir dor, algo estranho estava acontecendo. Suas duas mãos pegaram no pulso dele, e ele usou sua mão livre para
soltar as pontas daqueles dedos de sua pele. As pernas de Ellie se enfraqueceram, contudo Fury não a deixou cair, segurando-a pelo pescoço. Ela tentou gritar, e nada saía. Olhou nos olhos dele, implorando silenciosamente para que ele parasse. Algo no olhar dele cintilou e, de repente, ele soltou os dedos dela e passou o braço em volta de sua cintura. Ele a puxou com força contra seu corpo e a segurou no colo, enquanto baixava a cabeça até sua orelha. – Não lute – ele murmurou com aspereza. Não lute? gritou sua mente apavorada. Ela sabia que devia estar ficando azul. Sua visão foi ficando turva e a voz dele parecia estar longe. Ellie se debatia em suas mãos, mas Fury não desviava o olhar de seus olhos amedrontados. A escuridão ameaçou tomá-la, mas ela a combatia, querendo viver. Ele jurou que ia me matar e é o que está fazendo. Eu realmente não acreditava que ele pudesse fazer isso. Fury soltou seu pescoço no momento em que o corpo dela desmoronou contra ele, e a segurou com mais força contra seu corpo. Agora que ele parara de restringir o fluxo de sangue ao cérebro dela, ela relaxou contra ele, inconsciente mas respirando. Ele escolhera o método mais seguro e rápido para dominá-la. Ela teria lutado mais e com mais força se ele não tivesse feito nada. Daquela forma, ela não estava ferida, apenas dormia em paz contra ele. Ele inspirou profundamente, esfregou o nariz no pescoço dela, e gemeu. Ela cheirava tão bem, que o deixava com vontade de arrancar as roupas de ambos e roçar sua pele na dela. Um cachorro latiu ao longe e Fury levantou a cabeça. Lançou o olhar em volta do parque, com seus instintos em alerta máximo. Os guardas da patrulha chegariam logo. Ele conhecia sua rotina desde que começara a ficar de olho nos humanos que achavam controlar Homeland por completo. Eles não faziam ideia de que Fury e Justice haviam tramado secretamente para acelerar o processo que os faria ter o comando das próprias vidas: treinar seu povo para fazer o trabalho dos humanos. Os humanos pensavam que eles precisariam de muito mais tempo para aprenderem a ser independentes, mas estavam errados. Ele olhou para baixo e viu a cabeça de Ellie, o rosto dela pressionado
contra seu peito e, então, a levantou delicadamente e a segurou no colo, indo em direção à escuridão para se esconder. Seria um desafio levá-la à sua casa sem ninguém notar, mas ele era furtivo o bastante para conseguir. Ele também era um assassino. As Indústrias Mercile os havia treinado para lutar, mas nunca conseguiram controlá-los. As Espécies se recusaram a fazer mal a outras Espécies machos, não importava a ordem que recebessem. A Mercile queria gravar provas de suas… Queria gravar provas de suas habilidades ampliadas, para mostrar o que suas drogas poderiam fazer. Dada a oportunidade de atacar seus captores do sexo masculino, eles os matariam, embora não devessem. Os guardas haviam sido perversos e brutais e Fury atingiu alguns sempre que foram descuidados o suficiente para cometer algum erro. As Indústrias Mercile haviam unido DNA animal aos seus genes e lhe dado incontáveis drogas, mudando mais do que sua aparência. Seu olfato ficava mais apurado conforme envelhecia, e ele ficara mais forte, com reflexos mais rápidos do que um homem comum e, às vezes, o instinto que comandava sua mente. Era difícil controlar a raiva que sentia, mas aprendera a ter paciência com o passar dos anos. Ainda mais, aprendera a ter controle. Olhou para Ellie e franziu a testa. Ele observara e ouvira todas as palavras ditas entre os médicos e a equipe, quando eles faziam testes nele. Tudo o que ele ouvira lhe ensinara as diferenças entre os humanos e as Novas Espécies. Os humanos não tinham os mesmos sentidos que as Espécies. Eles não podiam enxergar no escuro ou sentir seu cheiro se ele estivesse contra o vento, e eles também não possuíam uma audição excepcional. Os humanos não tinham nem sua velocidade, nem sua força, a não ser que tomassem drogas. As alterações nas Espécies eram permanentes, mas as drogas da Mercile não mantinham o mesmo efeito nos humanos, a longo prazo. Às vezes, as drogas matavam os humanos voluntários. Acidentalmente, eles haviam feito com que as Novas Espécies fossem superiores, mas as tratavam como inferiores. Fury moveu o corpo inconsciente de Ellie em seus braços e a carregou delicadamente enquanto seguia pelas sombras. Ele não tinha ideia do que fazer com ela quando chegasse em casa, mas seu animal parecia contente
agora que a possuía. O homem dentro dele tramava uma vingança. Ela oferecera fazer as pazes com ele, e algumas possibilidades passaram por seus pensamentos. Ele não a machucaria realmente, não seria capaz disso, mas ela poderia pelo menos aprender uma ou duas lições sobre o que ele sofrera com o crime dela.
Uma pequena parte dele esperava que um tempo a sós com Ellie o curaria da obsessão que ela havia se tornado. Ellie acordou confusa, e as memórias voltaram rapidamente. Sua garganta doía um pouco. Tentou colocar as mãos nela, mas seus braços estavam presos a algo. Seus olhos se abriram e viram um teto branco em uma sala mal iluminada e estranha. Levantou a cabeça para olhar em volta. O grande quarto tinha mobília escura e fogo queimava em uma lareira no canto, sendo uma fonte de luz. Um barulho de descarga se fez, alarmando-a. Com alguns puxões, ela descobriu que seus braços estavam esticados e bem abertos acima de sua cabeça, amarrados pelo pulso com um material macio e preto que os ligava aos lados da cabeceira. Houve um barulho alto e rápido de água correndo, e depois uma porta se abriu de um lado do quarto. Fury saiu do banheiro. Ela olhou para seu peito nu e a calça preta de ginástica que ele vestia. O medo de Ellie cresceu ao vêlo seminu. Ela estudou seu porte muscular cautelosamente. Ele apagou a luz, deixando o quarto escuro novamente, escondendo todos os minúsculos detalhes de seu corpo. – Você acordou. – seu tom de voz suavizou-se. Sua calma parecia enganosa, dadas as circunstâncias. Ele foi em direção à cama – Que bom. Ele havia coberto Ellie com um lençol espesso e macio. Ela olhou para baixo e notou que a parte de cima de seu peito estava despida e exposta. Mexeu a perna, sentindo os lençóis de novo… corpo despido. Seu olhar espantado retornou a Fury. Ele parou na ponta da cama. – Tirei suas roupas. – ele pausou – Todas. – Por quê? – sua voz saiu estridente, devido à sua garganta seca. Seu nível de medo subiu. Por que ele a levaria até a casa dele e a amarraria nua à sua cama? Ela estava com um péssimo pressentimento e não queria saber a
resposta, certa de que a deixaria ainda mais apavorada. – Você sabe por quê. – ele foi em direção ao criado-mudo – Está com sede? Ela fez que sim com a cabeça. A cama afundou quando ele se sentou na extremidade, pegou a garrafa de água, obviamente posta ali para ela, e se virou para encará-la. Ele dirigiu uma das mãos a ela para, gentilmente, passála por seu pescoço e levantá-lo, enquanto levava a boca da garrafa aos lábios dela. Ela engoliu o máximo que conseguiu sem engasgar. Ele se afastou e seu toque a abandonou, enquanto colocava a água de volta no criado-mudo. – Pensei muito e por muito tempo sobre o que fazer com você – ele a informou suavemente – Já quis matá-la instantaneamente, mas isso foi antes de eu saber que você era uma espiã. Eu não entendia que você estava naquele lugar infernal para salvar meu povo. – ele pausou enquanto ajustava sua posição para se sentar de lado e olhar para Ellie – Agora decidi que você pode viver. Sua frequência cardíaca diminuiu e um pouco do terror passou. – Por que estou aqui? Por que me trouxe do parque? Os olhos de Fury se estreitaram. – Você disse que faria qualquer coisa para ficar bem comigo. Decidi que você merece um castigo. – ele pausou – Também não sei se acredito no que diz. Você é uma espiã, acostumada a mentir e a dizer às pessoas o que elas querem ouvir para evitar perigos. Você feriu meu orgulho, traiu minha confiança e tem que pagar por isso. Sabe como eles me fizeram sofrer por matar o técnico? Ela ficou boquiaberta. – O quê? Sua mente cambaleou ao ouvir as palavras dele. Ah não. A dor apertou seu coração. – Eles ficaram muito bravos por eu ter matado aquele homem. Me castigaram pelo o que você fez. CAPÍTULO QUATRO Ellie viu a verdade em sua expressão sinistra. Ela tivera esperanças de que Fury não fosse punido pela morte de Jacob. O técnico o havia atacado, planejara estuprá-lo e o teria matado. Ela precisou conter as lágrimas que encheram seus olhos. – Eu não sabia. – ela odiava ter que perguntar, mas precisava saber – O
que eles fizeram com você? Um rugido leve atravessou os lábios dele. – Quer saber dos detalhes para sentir prazer com o sofrimento que você me causou? – Não! – a acusação a deixou horrorizada – Não achei que eles fossem realmente lhe fazer mal. Eu juro, Fury. Eles achavam que você era valioso demais para ser morto, colocaram muito dinheiro em você, e, honestamente, nunca passou pela minha cabeça que alguém se importaria com a morte de Jacob depois do que aquele filho da puta tentou fazer com você. – Mas eles se importaram. – ele se inclinou um pouco para a frente, encarando-a – Eles me torturaram em retaliação à morte desse homem. Me causaram enorme dor. Você com certeza sabia disso. Era uma espiã habilidosa e evitou a punição pela morte dele. – Eu só queria salvar você. Meu chefe prometeu que seria só uma questão de dias até resgatarem você se eu conseguisse roubar aqueles arquivos. Arrisquei tudo para entrar naquela sala e impedir Jacob de matá-lo. Menti para todo mundo naquele centro de testes, mas não estou mentindo para você. Também não sou exatamente uma espiã. Sou uma enfermeira, Fury. – ela fez uma pausa – Eu trabalhei nos escritórios das Indústrias Mercile distribuindo aspirinas, até que me falaram sobre trabalhar disfarçada. Um agente contou sobre os boatos a respeito de um centro secreto de testes com cobaias humanas, e fiquei ultrajada em saber que uma empresa pudesse fazer aquilo. – Por quê? – seu tom de voz ficou áspero. – Uma coisa é alguém se oferecer voluntariamente para que uma empresa de pesquisas teste drogas experimentais nele. Ele sabe ao que está se submetendo e, para mim, essa pessoa não tem nada a perder se é doente o bastante para correr os riscos. Mas é algo completamente diferente quando pessoas são forçadas a tomar algo contra a vontade delas. Os boatos diziam que elas eram trancadas em celas. Eu trabalhava para eles, e isso queria dizer que eu acidentalmente me tornara parte daquilo. Eu só queria fazer justiça. – Por que você se importaria com o que aconteceu comigo ou com meu povo? Por que arriscaria sua vida para me salvar? Ellie escolheu suas palavras com cuidado. – Eu o via por uma sala de observação que descobri sem querer alguns dias depois de ter começado a trabalhar lá. As portas eram tão parecidas, que
achei que fosse uma sala de suprimentos. O espelho na sua sala era falso. Às vezes eu entrava de fininho para ver você. – ela não mencionou que o fazia diariamente, não queria que ele soubesse como ela ficara quase obcecada por saber se ele estava bem – Respeitava sua coragem, e você não deixaria que eles destruíssem sua força de vontade. O que eles fizeram foi um crime. Por acaso eu estava lá, fazendo uma pausa, quando Jacob entrou em sua cela, e eu o ouvi dizendo que queria matá-lo. Não aguentei ficar ali sem fazer alguma coisa. Fury parecia ponderar sobre sua explicação. – Você nunca impediu nada das outras coisas que faziam comigo. Você ficava assistindo quando eles levavam mulheres à força até minha cela e batiam nelas para que fizessem sexo comigo? Você gostava de observar aquilo? O horror manteve Ellie em silêncio. Ela não sabia que os médicos faziam tal tipo de coisa; talvez eles a deixaram por fora de propósito, porque ela fora transferida há não muito tempo. Jacob fora o único a atacar Fury sexualmente. Aquilo a enojava. Ela se perguntou se eles a teriam forçado a fazer sexo com alguma das Espécies machos, se ela não tivesse ajudado a acabar com o centro de testes. – Eles faziam você ter relações sexuais com outras mulheres? Eu não sabia, nunca vi mulheres na sua cela. Eram as outras enfermeiras e técnicas? Nunca ouvi nada sobre isso, Fury, eu juro. – Eram Novas Espécies fêmeas. Por anos, eles tentaram fazer com que nos reproduzíssemos. Precisavam fazer mais de nós, mas não conseguiam refazer os procedimentos que usaram para nos criar. Eu ouvi o suficiente para saber que a médica que conseguira unir nossos genes aos de animais os deixou quando éramos novos, levou sua pesquisa, destruiu o que tinham, e eles queriam mais exemplares de nós. Estávamos envelhecendo e eles tinham medo de que morrêssemos. – a raiva fez sua voz virar um rugido – Uma criança ou um cachorrinho? Era a piada que um daqueles médicos contava. Ele ria sobre descobrir se nossas mulheres estavam grávidas. – a voz de Fury se intensificou para um rosnado – Você alguma vez tentou salvar alguma delas de ser forçada a fazer sexo?
Ele tinha muitas razões para odiar. Sua raiva, direcionada a ela, era ainda mais compreensível. – Eu não sabia de nada disso, nunca nem mesmo vi uma de suas mulheres. Eu era uma técnica do grau mais baixo, com movimentação limitada no centro. Mais tarde, quando ouvi sobre mulheres resgatadas, foi um choque. Eu só vira homens, Fury. – Você não perguntava. Às vezes, as mulheres eram estupradas pelos técnicos. Fico muito bravo em saber que você interviu por mim, mas não por elas. – Eu fazia muitas perguntas, mas eles me diziam que não era da minha conta. Eu havia recebido ordens de não insistir muito por respostas, por medo de que a Mercile me achasse suspeita. Meu chefe pensava que me matariam se tivessem a menor suspeita do porquê de eu querer saber exatamente o que eles faziam lá embaixo, e ele tinha razão. Ellie piscou para conter as lágrimas. Ela sabia que horrores haviam sido cometidos em nome da ciência, mas o que fora feito a Fury e sua espécie a deixava atordoada. Eles foram tratados como meras cobaias, ferramentas, nada além disso. Colher amostras de sangue, enchê-los de drogas e mantê-los trancados havia sido horrível, mas ouvir que eram forçados a fazer sexo e usados como procriadores a deixava doente. – Acreditei que você não fosse me fazer mal. Você tinha noção disso? Quando eu não rosnava sempre que você entrava na minha cela, ficava feliz? Eu não queria lhe causar medo. Você tinha sorrisos gentis e era delicada com as agulhas. Quando matou aquele técnico, no começo acreditei que você queria impedir que eu sofresse. – suas feições ficaram tensas e sua voz ficou mais profunda, pronunciando cada palavra cuidadosamente – Você me deixou lá para ser torturado pelos guardas pelo seu crime. Eles me chicotearam e se revezavam para me machucar. Alguns deles eram amigos do técnico. Eles não podiam me matar, mas me fizeram muito mal. Lágrimas rolaram pelo rosto de Ellie. – Me desculpe. Eu… – ela sabia que nada do que dissesse acabaria com o ódio que ele sentia dela, mas precisava tentar – Eu sinto muito. Não sabia que fariam isso. Eu achava que apenas Jacob queria alguma coisa com você, por você ter quebrado o nariz dele. Eu sabia que o valorizavam demais para matálo. Também nunca achei que estivessem fazendo experimentos de procriação. Achei que você ficaria a salvo até eu pegar as evidências e a ajuda chegar. Eu
não teria dito a eles que você o matou se soubesse que pagaria por isso. Seus caninos apareceram quando ele abriu a boca. – “Obrigado”. É isso que você espera ouvir? Você o impediu de me estuprar e me matar. Devo ficar grato pelas horas em que apenas me torturaram? – Não. – Talvez. A confusão a deixou em silêncio – Você está vivo e ele não o estuprou. Isso não conta nada? Não assisti a tudo sem fazer nada, arrisquei minha vida entrando naquela cela para tentar salvá-lo. Eu tinha que fazê-los pensar que você o matara em defesa própria, e nunca quis que algo de mal acontecesse. Precisava fazer aquilo, Fury. Por favor, tente entender. A evidência que roubei acabou sendo o elemento-chave para influenciar um juiz a expedir os mandados de busca que encontraram seu povo. Se eu tivesse dito àqueles seguranças que eu matara Jacob, eles jamais teriam me deixado sair. Eu teria morrido e você ainda estaria preso naquela cela, junto de seu povo. Isso não importa nenhum pouco? Ele respirou profundamente. Ao falar, era claro que havia se acalmado um pouco, já que não rugia mais. – Desculpas não mudam o que aconteceu comigo, mudam? Não mudam o que você fez a mim ou o quão traído eu me senti. Eu confiava em você e, mesmo assim, paguei pelos seus atos. Não vou matá-la, mas quero ter certeza de que você entenda a humilhação e a impotência. Fury agonizava sobre como tinha sido idiota em confiar em Ellie. Os guardas haviam até mesmo o provocado antes do incidente, sobre ele não rosnar quando ela entrava em sua cela. Ele aguentara aquelas palavras rudes e as acusações de que ele queria montar naquela fêmea humana, seus cruéis deboches de que ela jamais desejaria ter relações sexuais com um animal, contudo ela havia sido sua fraqueza. O sentimento de traição era profundo depois daquele dia. Ele passara meses odiando-a, relembrando-se das torturas que sofreu e culpandoa. Ela o abandonara no chão, mandara guardas para chutá-lo e depois prendêlo de volta à parede na qual o abuso continuou. Humanos eram criaturas enganadoras e cruéis. Ele já havia julgado Ellie erroneamente uma vez. A memória dolorosa de suas ações rasgava seu coração. Ele não permitiria que ela o enganasse de novo passando uma falsa sensação de confiança.
Todo humano com quem ele se importara o traíra. Memórias de sua infância vieram à tona. Ele considerava a doutora Vela quase como uma mãe. Ela lhe dava biscoitos, um mimo raro pelo qual ele aguardava com ansiedade. Ele teria feito qualquer coisa por ela. A doutora prometera que ele podia ser livre caso se tornasse um habilidoso lutador. Eles até mesmo o filmaram para exibir como as drogas funcionavam em seu corpo. Era tudo uma mentira para manipulá-lo a consentir. Quando vieram para levá-lo a outro centro, ela riu de como ele fora incrivelmente ingênuo e estúpido. O inferno começou depois daquilo, quando o ensinaram a suportar dores físicas. A tortura continuou até sua vida adulta. Os espancamentos que aguentava enquanto tentavam criar drogas que curariam os humanos mais rápido, os males e as dores que sofria com as que falhavam e quase o mataram… todas essas lembranças voltaram. Houve também a guarda que prometera ajudá-lo a escapar. Ele era jovem, dominado pela luxúria, e ainda sentia vergonha por morrer de vontade de montar naquela mulher. Seu nome deixou um gosto amargo em sua boca. Mary o desacorrentara e ele a seguira para fora da cela, por um longo corredor, direto para a armadilha que fizeram para que treinasse suas habilidades de luta contra uma dúzia de lutadores fortemente armados. Bateram nele com tacos e atiraram nele com arma de choques, e Mary comemorava ao lado com os outros guardas, enquanto ele lutava para sobreviver. Depois ela se agachou ao lado de seu corpo ensanguentado, balançando a cabeça. Suas palavras mataram algo vital dentro dele. – Você não achou mesmo que eu queria que você me tocasse, achou? Você não passa de um animal, 416. – ela sorriu para os homens em volta dela e se levantou – Que pena que não podemos matá-lo. Levem-no de volta à cela. Gravou tudo, Mike? Isso deve impressionar o doutor Trent, com o tanto que ele aguentou antes de cair. Um dos médicos tem um novo lote de drogas que querem testar nele, para ver se conseguem acelerar o processo de cura. Bom trabalho, rapazes. Ele ficara inconsciente mas, se não estivesse, teria tentado matá-la. Ele queria se vingar de todos que já o haviam ferido, mentido para ele e o traído. Ellie olhou para ele com seus lindos olhos grandes e cheios de medo. Se
ela não estivesse cara a cara com ele, daria risada de como ele fora estúpido ao confiar nela? Fora ele uma fonte de diversão e deboche quando ele a deixava chegar perto sem rosnar ou tentar se soltar das correntes? Teria feito piadas com a equipe sobre 416 parecer não odiá-la? – Vou ficar longe de você se me soltar. É o que você quer, certo? Vou me demitir e deixar Homeland. – a esperança se acendeu em seus olhos azuis – Você nunca mais terá que me ver de novo. A raiva explodiu, quente e violenta, pelo corpo de Fury. Se ela estivesse de fato arrependida de suas ações, aceitaria qualquer punição pela qual ele passara para ficarem quites. Isso era o que pessoas honrosas faziam. Ela dissera que faria qualquer coisa para ficarem bem, mas agora ela pedia por misericórdia. Um rosnado rasgou sua garganta. Ellie observava a expressão de Fury se torcer com a raiva que queimava em seu olhar. Ela percebeu que pedir para libertá-la desencadeara algo nele. Ela ficou tensa. Fury se mexeu, pegou no lençol e o puxou com força. Em uma fração de segundos, ele o jogou longe da cama, expondo a nudez de Ellie. Ele se levantou e encarou-a com uma expressão dura. – Você deve entender como é estar nu, sem poder se mexer, enquanto alguém controla o que é feito com você. É parte do que você fez comigo. Você viu exposto cada centímetro de mim. Como é se sentir indefesa, Ellie? O embaraço esquentou seu rosto e ela tentou se virar para ficar de lado, mas ele a amarrara muito firme. Ela só conseguia dobrar as pernas de forma a protegê-la, enquanto tentava usá-las para cobrir os seios. Ela entendia o que era ser submissa sem que ele fizesse aquilo, mas não o disse em voz alta. – Toques estavam envolvidos, portanto vou fazer isso com você também. É justo, não? Sabe como é ter alguém escorregando as mãos pelo seu corpo? Tocando seu sexo? Entendo que você precisava remover aquela coisa restritiva dolorosa que ele pôs em mim, mas seu toque foi demorado, não pense que não notei. O corpo de Ellie se endureceu com o choque e o temor, e ela respirou rapidamente. Não era fácil, mas lutou contra o pânico que tentava tomar conta dela. Entendeu que ele precisava de vingança. Ele não podia ir até Jacob porque ela o havia matado e deixado Fury para sofrer. Ela o tocara, ficara pasma com seu corpo, observara cada centímetro nu. Ela supôs merecer
aquilo. Ele disse que não iria matá-la, ela podia aguentar se humilhação era o que ele havia planejado de pior. Ele fora espancado e torturado. Embaraço parecia inofensivo, se comparado àquilo. – Vá em frente e olhe. Eu entendo. – ela relaxou as pernas, esticou-as no colchão e ficou parada – Apenas não me machuque, por favor. Um olhar confuso desfigurou o rosto dele enquanto seus olhos se fixavam um no outro. Ele a olhava enquanto subia na cama para ficar de quatro sobre o corpo dela. – O quê? – ele parecia mesmo estar chocado. – Eu entendo – ela sussurrou – Faça. Ele cerrou os dentes, mas então desceu o corpo sobre o dela até deixá-la aprisionada debaixo dele. Se deixá-la aterrorizada fora seu plano, ele tinha conseguido. O silêncio entre os dois se alongou. A frequência cardíaca dela baixou. – Psicologia reversa não funciona comigo, mas quero que saiba que não vou machucá-la – ele sussurrou – Jamais a faria sofrer o que sofri. Eu nunca a socaria ou a faria sangrar. Acho que consegui pensar em algo adequado: vou tocá-la. Sabe o que é pior do que ser torturado com dor? Ela não queria saber a resposta. Até então, todas as respostas que Fury dera não prenunciavam algo bom. Ele esperou por uma resposta, porém, ela não queria que sua raiva voltasse. Ela precisava dizer algo. – Não. Acho que dor é a pior coisa possível. – É quando seu próprio corpo lhe trai, querendo algo que você sabe que não deve querer. Você aprende a ser derrubado por outros, mas nunca por você mesmo. É uma grande e humilde lição a aprender. Também vai nos dar a resposta à pergunta que tenho em mente neste momento. O que isso significa? Ela franziu a testa. Ele deu um sorriso voraz. O coração dela acelerou quando os olhos dele desceram em direção aos seus seios. Uma mão esfregava sua barriga tão levemente que chegava a fazer cócegas. A palma dele deslizou até envolver um de seus seios com sua mão quente e grande. O alarme disparou dentro de Ellie quando ele o apertou delicadamente. – Macios. Para uma mulher do seu tamanho, são maiores do que eu
esperava. – ele abaixou a cabeça ao soltá-lo. Ellie arfou quando sua respiração quente roçou seus seios um segundo antes da boca quente de Fury agarrar seu mamilo. Seus dentes arranhavam sua pele sensível enquanto ele movia rapidamente sua língua áspera sobre ele. Ellie estremeceu e fechou os olhos com força. O prazer disparou de seu mamilo direto para seu abdômen, que estremeceu. Ela mordeu o lábio para silenciar um gemido, chocada por reagir tão fortemente a ele. Ele chupava com mais força, os puxões fortes de sua boca davam choques no corpo inteiro de Ellie. Ele não a machucava, mas ela sabia que ele podia. Um calor líquido umedeceu suas coxas e ela as juntou com força sob o corpo dele, prova de como ficara excitada. Isso é pior, decidiu ela, enquanto seu corpo respondia à sedução de Fury. A excitação que ele a forçava a sentir lhe dava um aperto na barriga, e ela jurava que podia sentir no clitóris os puxões que sua boca dava. Os lábios implacáveis dele se recusavam a soltar seu peito, o prazer quase se tornava doloroso, e seu corpo queimava. O que ele fazia com seu seio era certamente a coisa mais incrivelmente erótica que ela já experimentara. Ela mordeu o lábio, mas não conseguiu impedir o suave gemido que escapou. A boca dele começou a se afastar, deixando seu mamilo duro até soltá-lo. Ellie engoliu seco ao olhar para aquele par de olhos intensamente castanhos. Um rugido suave saiu de sua garganta. Ele afastou seu olhar do dela e focou sua atenção em seu corpo novamente. – Está vendo, Ellie? – ele falava com uma voz áspera e sexy – Tenho controle sobre seu corpo. Você não pode me impedir de fazê-la reagir dessa vez. – ele olhou para cima, para fixar o olhar no dela de novo – Apesar do que Jacob me fez naquele dia, eu queria você, e essa é a vingança perfeita. Você fez meu pau ficar duro depois de me tocar, e seu perfume excitante encheu minha cela. Machucou mais do que seu abandono. Agora você sabe o gosto do desejo não realizado, despertado por alguém a quem tentou resistir. Ela olhou em seus olhos enquanto suas palavras se faziam entender. A mortificação de sua reação esmagadora à sedução dele a deixou sem palavras. A dignidade de Ellie definitivamente estava ferida. Ela fora traída por um corpo que formigava ao toque de um homem que a odiava. Ela esperava que ele estivesse se sentindo melhor, que pensasse que agora estavam quites, e a
soltasse. Ela relaxou debaixo dele. Sim, esse é definitivamente o melhor jeito de se vingar, ela concordou. Segurou as lágrimas e esperou ficar calma o bastante para falar de novo. – Estamos quites agora? – ela odiou o jeito que falou, num sussurro sem fôlego. Olhos escuros se elevaram e encontraram os dela. – Quites? Ainda não. Eu disse a vingança perfeita. – Mas você… Ele rugiu suavemente. – Eles me feriram por horas. Eu poderia atormentá-la por horas com minha boca e minhas mãos. Há tantas maneiras de causar dor a alguém… Ellie ficou boquiaberta. Ele se apressou para baixo, suas mãos envolveram as coxas dela e as afastaram bem. Seus braços escorregaram por baixo das pernas dela e se enrolaram nelas para prendê-las abertas, com seus ombros pressionados contra a parte de dentro das coxas. Ellie tentou fechar os joelhos após o choque inicial, mas o corpo dele estava no caminho. Ele desviou a atenção de seu rosto e a levou até sua boceta, abertamente exposta sob o queixo dele; pareceu estudá-la, e então abaixou a cabeça. Choque, consternação e surpresa a tomaram. Ela podia sentir a respiração quente dele tocando suas dobras internas e seu clitóris. – Espere! Ellie se debateu, balançou o quadril e tentou se soltar dele, quando ele virou o rosto para lamber a parte de dentro de sua coxa. Ela se sacudiu na cama, tentou se virar, mas ele se recusava a soltá-la. Ele exibia sua força ao prendê-la mais firmemente, até ela não conseguir se mexer. Seu maxilar roçava sua pele, se esfregava mais alto na parte de dentro da coxa, para cima e para baixo, acariciando-a com delicadeza. – Pode deixar as pernas abertas para eu a tocar com as mãos? Vou soltar seus pulsos da cabeceira se fizer o que digo. – Eu não faço isso no primeiro encontro, nem mesmo no quinto. Não me sinto confortável com alguém fazendo sexo oral em mim. – ela puxava freneticamente o material que amarrava seus pulsos. Sacudia o quadril, mas por mais que se contorcesse não conseguia se soltar do cerco dele – Me castigue de outro jeito, mas não assim. Deixei você com raiva, mas não o envergonhei de propósito, não é? Você quer que fiquemos quites, mas eu não pus minha boca abaixo da sua cintura.
– Não achei que você fosse concordar. Vou usar minhas mãos para mantê-la parada. Fury inclinou a cabeça. – Assim? – Não me toque só para se vingar. – Ah, Ellie – disse ele numa voz áspera – Eu quero você. Você não sabe? Isso está muito além do que algo simples como vingança. Me diga sim, para que eu possa dar a nós dois o que precisamos. Ellie viu a paixão queimando em seus lindos olhos castanhos. Ele parecia incrivelmente sexy e seu corpo doía do desejo de ver aquele lindo rosto entre suas coxas, tão perto de onde ela mais sentia dor, e relaxou. Ela fez que sim com a cabeça, provavelmente perdera a noção, mas a expressão de alívio em Fury validou seu acordo. Ellie arfou quando a língua dele tremulou sobre o ponto mais sensível de seu corpo. Os lábios dele se fecharam na pequena pilha de nervos e sua língua aplicou pressão, se movendo em seu clitóris para cima e para baixo, provocando-o. Ela congelou, ficou tensa, e as sensações causadas por aquela boca que chupava se espalhavam por seu corpo todo. Ele está mesmo fazendo isso. Ele… Meu Deus, é tão bom. A língua dele tinha uma textura incomum, e a reação que causava com cada lambida, cada chupada, quase doía, mas do melhor jeito possível. Ele mantinha a pressão e sua língua se movia contra o clitóris sem parar, sem hesitar. Ela não podia evitar os gemidos altos que encheram a sala enquanto jogava a cabeça para trás, seus dedos pegando no material em volta dos pulsos, apenas para se segurar em algo. Ele vai me matar, afinal, ela pensou. Não seria por enforcá-la ou quebrar seu pescoço. Ele planejava lambêla até a morte, fazer seu corpo doer de maneiras deliciosas, e ansiar dolorosamente por gozar. Ela tentou raciocinar, tentou se lembrar de que odiava quando homens faziam oral nela, nunca tinha gostado daquilo, mas um rosnado de Fury mandou vibrações contra seu clitóris inchado. Ela perdeu a linha de raciocínio, conseguindo apenas sentir a ele, Fury, e sua boca que a fazia tremer e queimar de desejo. O clímax a atingiu brutalmente, uma explosão de êxtase que a fez gritar ao ondular por seu corpo, que sacudia. Seus músculos tremiam e sua mente se desligou. Ela perdeu toda a capacidade de pensar e de formar palavras,
conseguindo apenas experienciar a névoa quente e branca de prazer, até que a boca dele a soltou. Ellie precisou recuperar o fôlego. Seu corpo, sensível demais, tremeu quando as mãos dele soltaram suas pernas e a pele quente roçou em seu monte, em sua barriga e depois em seus seios quando ele se moveu para cima, até ficarem cara a cara. Se ele a matasse agora, ela nem se importaria. Ela era como um marshmallow que respirava. Sem ossos. Caramba, ela pensou, nunca me senti tão bem na vida. Abriu os olhos e fixou-os nos dele, lindos e castanhos. – Eu devia sair do quarto, deixando-a aqui sem nem mesmo olhar para trás. É o que você fez comigo. Não ligo mais se ela está mentindo para mim, pensou Fury, lambendo os lábios. O gosto de mel da paixão dela levava seu desejo de possuir Ellie completamente a uma dor insuportável. Ela era tão doce, tão receptiva, e ele não queria mais pensar no pior dela enquanto olhava para aqueles lindos olhos azuis. Ele queria acreditar, mesmo que só por aquele tempo com ela, que cada palavra que ela pronunciasse fosse verdade. Patético, ele repreendeu silenciosamente sua linha de pensamento. Ele havia perdido a cabeça por uma humana pequena e frágil. Jurara nunca mais permitir que uma chegasse tão perto dele, mas ali estava ele, numa cama com uma: sua Ellie. Ele não só perdera a cabeça, como também as rédeas curtas sobre seus desejos animalescos e sua consciência. Ele também havia perdido seu coração para ela. Ela era uma humana, alguém em quem não confiar, mas ainda assim ele a desejava. Quando foi que virei um masoquista? CAPÍTULO CINCO Ellie abriu a boca para falar, mas não havia palavras que desfizessem a expressão amarga no lindo rosto dele. Ela havia ajudado a colocá-la ali e nenhuma desculpa podia mudar o passado. Ela olhou para ele e fechou a boca. Fury dirigiu o foco ao seu peito. Apenas uma pequena hesitação até ele levantar a mão para agarrar seu seio de novo, segurá-lo delicadamente, e ela arqueou as costas para se pressionar contra a palma dele. O olhar dele retornou ao dela. – Eu quero você. Odeio isso, mas desejo muito estar dentro de você, saber
como seria ter você envolta de mim, e o prazer que acho que encontraria com você. Nunca quis tanto uma mulher. Me diga que posso ter você, ou me ajude a lembrar que nunca devo perdoar o que fez comigo. Diga alguma coisa, qualquer coisa, para me lembrar do porquê eu não deveria desejar tanto estar com você, tanto que chega a ser difícil respirar. O olhar dele quando se observavam quase parou o coração de Ellie. Ela viu tantas emoções ali: desejo, vontade, um pouco de medo, e paixão crua. Sua língua saiu para umedecer os lábios. Um rosnado leve saiu de Fury, mas não era um som bravo, e sim mais um pequeno gemido. Ela entendia. Ele a queria. Lentamente, ela fez que sim com a cabeça. Ela o queria tanto quanto ele a queria, desde o primeiro momento em que o vira trancado em uma cela. Ele fora tão orgulhoso apesar das circunstâncias, a pura beleza masculina de seu corpo malhado havia tentado sua paixão, e sua poderosa presença a atraíra fortemente. – Diga! – ele exclamou. – Sim – ela sussurrou. Os olhos dele se fecharam por longos segundos antes de olharem de novo para ela. – Se enrole em mim. Ela hesitou por apenas um segundo antes de mover as pernas, e seus calcanhares roçaram a pele nua e quente detrás das coxas dele. Ele se levantou mais, se posicionando até pressionar a boceta dela com a ponta grossa de seu pau. O corpo dela já estava molhado de desejo quando ele cutucou sua entrada para penetrá-la. Ele deslizou facilmente por suas dobras sedosas, mas errou o ponto. A frustração fez suas feições se contorcerem. Ele apoiou um braço na cama, suspendeu o peso da parte de cima do seu corpo, passou o outro braço entre seus abdômens, pegou seu pau para segurá-lo firme e deixálos perfeitamente alinhados. Ele pausou ali, pairando sobre ela. – Você é muito menor que nossas mulheres. Vou tentar não machucá-la. Me machucar? Ela tinha noção da diferença entre eles, nunca se considerara pequena, mas naquele momento percebeu que era, comparada a ele. Ela abriu a boca para perguntar o que ele queria dizer, mas ele soltou o peso para deixar que a gravidade trabalhasse em seu favor antes que ela
pudesse dizer qualquer coisa. Os olhos de Ellie se arregalaram em choque quando a obtusa e grossa cabeça de seu pau a pressionou forte, rompeu seu canal e forçou o corpo dela a se esticar para recebê-lo. Pânico foi a próxima emoção a saltar quando ele empurrou fundo em sua boceta. – Você é grande demais – ela arfou. Ele congelou quando seus olhares se encontraram. Seus olhos se estreitaram até ficarem quase como fendas e sua respiração ficou dura. – Você consegue me receber – ele rosnou – Eu a quero demais. Vou ser delicado. Ele se abaixou mais sobre o corpo dela, afundando ainda mais. Os músculos dela se esticaram para acomodar seu pau grosso enquanto ele continuava a penetrá-la, não dando a seu corpo outra chance a não ser recebêlo. Ele não parou até ficar totalmente assentado dentro de seu canal apertado. Ele parou para deixá-la se ajustar ao seu tamanho. Ellie respirou fundo, mas tinha que admitir que a sensação de estar tão preenchida era incrivelmente boa. Ele se moveu, recuou alguns centímetros lentamente, e então empurrou de volta. Um gemido rasgou seus lábios. Ele era grande e largo o bastante para se esfregar em cada sensível terminação nervosa que explodia em vida. Ela não tinha nada o que temer de Fury. Seu corpo desfrutava do encaixe apertado que os mantinha juntos. Ele ficou tenso e um leve gemido passou por seus lábios, enquanto seus olhares se mantinham um no outro. – Eu sabia que seria incrível assim – ele declarou com uma voz áspera – Bom demais. – a raiva contraiu suas feições por alguns segundos – Que merda você me afetar tão fortemente, Ellie. Um rugido rasgou seus lábios e ele se mexeu de novo, se afastando um pouco antes de deslizar novamente para o fundo da boceta dela. Ela gritou outra vez de prazer, o pau incrivelmente duro criando um êxtase puro que a tomava. Ela nunca experimentara aquele nível de magnificência sexual. Ele se mexeu de novo, repetindo o leve golpe, mas enfiando nela com mais força. Ellie gritou de prazer com aquele movimento e a forma com que o pau deslizava contra seu clitóris inchado, o quadril dele em um ângulo que o impedia de esmagá-la debaixo de seu corpo maior. O corpo dela ficou tão excitado sexualmente, sua boceta tão molhada, e o prazer tão intenso que ela percebeu que não duraria muito. Ela se impressionava com sua reação tão
forte a um homem. Nunca havia considerado possível gozar apenas com um homem a penetrando sem vários outros estímulos, mas Fury não era apenas um homem qualquer, afinal. Fury se mexia mais rápido, o prazer intenso crescendo até que Ellie soube que não aguentaria mais. As paredes de sua vagina se apertaram fortemente em volta daquele pau em movimento, ela jurava que o pau dele ficara ainda mais duro dentro dela, e deu um grito, seu corpo convulsionando enquanto o clímax a tomava em lampejos quentes de prazer. Seus músculos se contraíam e o sugavam enquanto ele continuava a se mexer dentro dela. Ele gozou fora dela e virou o quadril para o lado, enquanto se movia uma boa distância para baixo. Com um berro alto, ele se libertou e seu rosto caiu no peito dela. Dentes afiados a arranharam suavemente. Fury tremia quando jatos quentes de seu sêmen umedeceram as coxas dela enquanto gozava. Ele havia propositadamente se afastado dela no final. Ellie admitiu ficar um pouco desapontada quando conseguiu pensar de novo depois de passada aquela deliciosa névoa. O fato de Fury não ter gozado dentro dela a deixara se sentindo vazia e com a impressão de que ele não queria compartilhar aquele tipo de intimidade. Ela abriu os olhos para espiar o topo da cabeça escura dele, o rosto ainda pressionado contra seu peito, e sua respiração quente e pesada acariciando sua pele. Ela queria poder passar seus braços em volta dos ombros dele e abraçá-lo forte. Fury saíra de dentro dela antes que pudesse lhe fazer mal ou deixá-la horrorizada com as mudanças feitas em seu corpo no centro de testes. Ele duvidava que ela soubesse das diferenças sexuais entre suas espécies e ficara impressionado por ter se controlado o bastante para lembrar que não podia gozar dentro dela, já que no segundo em que penetrou o corpo de Ellie, ele conheceu o paraíso pela primeira vez na vida. Não gozar dentro dela fora difícil e quase impossível, ele queria preenchêla com sua essência e marcá-la com seu perfume. Tocá-la, fazer amor com ela e sentir seu gosto fora muito melhor do que ele podia imaginar. Merda, ele podia se viciar nela. Talvez eu já esteja, uma pequena parte de sua mente avisou. Ela era humana, não era realmente dele, e ele precisava se lembrar daquilo. Por mais que desejasse mantê-la amarrada à sua cama, fazer amor
com ela até que ficasse cansada demais para tentar fugir, ele sabia que não podia. Em algum momento, alguém a procuraria quando notassem que estava desaparecida. Ela ficaria ressentida por ter sido feita prisioneira, não importava o prazer que ele lhe desse. Ele sabia como era ficar trancado e preso. Ele pode ter feito aquilo para levá-la à sua cama uma vez, mas forçá-la a ficar por mais tempo seria imperdoável. Ela o odiaria e ele não suportava tal pensamento. A frustração ressurgiu em seu peito quando ele estremeceu de outra contração de prazer. Ele a marcara com seu líquido na coxa e, droga, ele já pensava nela como sendo dele. Ela o pertencera desde o momento em que entrou em sua cela, o tocou e matou Jacob para protegê-lo. Ele simplesmente não podia mantê-la ali. Um ódio ofuscante o enfureceu agora que acreditara que ela não tivera a intenção de ser cruel por fazê-lo levar a culpa pelo assassinato. Ele lutava contra aquilo e mantinha a face contra a pele dela para esconder sua expressão. A raiva começou a passar e, então, ele sentiu o cheiro do sangue dela. Seus olhos se abriram e ele passou a língua pelos lábios, sentindo o gosto dele. Aterrorizado, ele percebeu o que fizera. – Merda – ele rosnou de forma selvagem. É exatamente o que ele acha que acabamos de fazer, Ellie pensou. Mas para mim foi mais do que apenas sexo. A cabeça dele se levantou de seu peito, sendo mais fácil para ela respirar. Seu pênis, que ainda estava duro, bateu nas partes íntimas de Ellie, deixando-a ciente de que ela estava muito sensível naquela área. Fazia muito tempo desde a última vez que transara. Fury se apoiou nas mãos para tirar o peso de cima dela e se agachou sobre ela, deixando o corpo dela preso entre seus braços e pernas, enquanto ele pairava. – Droga – ele suspirou – Me desculpe. Nunca quis machucá-la, Ellie. Me machucar? Aquilo a deixou confusa. O que eles tiveram juntos fora muito incrível. Fantástico, clímax extremo, o orgasmo mais forte que ela já tivera. Ela seguiu a trilha do olhar dele e encontrou sua atenção fixa no seu seio direito. Ela precisou levantar a cabeça para ver melhor, e ficou surpresa quando viu uma pequena quantidade de sangue espalhado do lado do seio e correndo em direção ao espaço entre ele e o outro. O
olhar dela flutuou até o dele e viu arrependimento em seu lindo rosto. Ela tentou pensar no que causara o sangramento e de quem ele viera. Ele abriu a boca, mas nada saiu. Cerrou os lábios, uma expressão furiosa entalhada no rosto, e então saltou da cama e correu até o banheiro. Ela ficou momentaneamente cega com a claridade quando ele apertou o interruptor, mas o viu desaparecer lá dentro. Ela fechou as pernas com cuidado. É, vou ficar frágil por um tempo, admitiu silenciosamente, seu sexo levemente inchado e sensível a qualquer movimento. Ele era maior do que a média e ela não transava desde o divórcio, tendo renunciado a homens depois daquele pesadelo. Ellie sentiu uma leve vergonha com o fato de ter se excitado tão facilmente por causa de Fury, mas ela o queria desde a primeira vez que pusera os olhos nele dentro daquele frio centro de testes. Ela jamais imaginara a possibilidade de estar com ele, amarrada a uma cama, em um lugar diferente. Não é o tipo de final depois de uma boa transa que eu esperava, se ficássemos. Que desastre. O som de água corrente veio do outro cômodo, tirando-a de seus pensamentos. Fury reapareceu em segundos e ela ficou orgulhosa de se manter calma sob as estranhas e estressantes circunstâncias. Ele se recusara a olhar para seu rosto e ficou com os olhos fixos em seu peito. Ele segurava uma toalha de rosto úmida ao se empoleirar na beira da cama. – Me deixe cuidar de você. Eu realmente não quis causar dor. – Não estou sentindo dor. – ela falava baixo, mas sabia que ele a ouvia – Apenas me solte. – Vou limpá-la. – ele suspirou – Você está sangrando. Cortei com meus dentes, mas não mordi. É só um arranhão, mas profundo o suficiente para sangrar. Ótimo. Meu sangue. Pelo menos não doeu. – Apenas me solte e eu cuido disso. – Não. – ele cuidadosamente limpou a pele abaixo do seio direito, tocando-a de leve. Hesitou e, então, passou a toalha na coxa dela, onde ele deixara sua marca sexual, limpando seu sêmen. Uma boa transa se tornara uma calamidade. Sua paixão esfriou e a deixou com um gosto amargo na boca. Fury não a abraçara depois do sexo, nenhuma palavra afetuosa viera dele, a não ser um pedido de desculpas por tê-la feito sangrar. E ele limpou a evidência da paixão que deixara nela, frio como a
toalha úmida que usara. De repente, ela sentiu vontade de ir embora da pior forma possível e esquecer o que acontecera entre ambos. Ela tentou esconder a vergonha que sentia por ter se desfeito com tanta facilidade sob Fury, sendo que ele provavelmente ainda a odiava. Tudo aquilo fora um ato de vingança, independentemente do que ele declarara, apesar de tudo ter significado muito mais para ela. Ellie queria sair de perto dele antes que desmoronasse, o que aconteceria logo. Esperava que ele tivesse encontrado o tipo de justiça pelo qual procurava. – Estamos quites agora, certo? Ela lutou contra as lágrimas que ameaçavam rolar. Droga, não chore. Ficou repetindo para si mesma algumas vezes. Suas emoções estavam muito próximas da superfície e ela se sentia vulnerável. Também não queria que ele se sentisse mal pelo arranhão que fizera, e poderia confundir aquelas lágrimas com lágrimas de dor física. Uma expressão cheia de remorso desfigurou suas feições soturnas. Eles já tinham mal-entendidos suficientes para uma vida inteira, e ela não queria acrescentar mais um. O olhar escuro dele se levantou até o dela. Ele a estudou por um longo momento e uma emoção que ela não conseguia ler cintilou naqueles olhos negros. Ele abriu a boca para dizer algo, mas não disse as palavras. Batidas fortes fraturaram de repente o silêncio. – Droga – rosnou Fury. Ele se levantou da cama e correu em direção à porta do banheiro. Ellie ficou impressionada com a rapidez com que se movia. Ele jogou a toalha molhada para dentro do banheiro, se virou, voltou até a cama e se abaixou para pegar o lençol que tirara de cima dela. Esticou-o sobre ela novamente, cobrindo-a do peito até os pés. No segundo seguinte, se enfiou na calça de ginástica e deixou o cômodo. A porta do quarto bateu atrás dele. Ellie ficou deitada ali, pensando se deveria gritar por socorro. Se ela chamasse atenção, seria encontrada amarrada à cama e com a ferida causada pelos dentes dele. Pareceria algo de muito ruim, e provavelmente concluiriam que ele abusara sexualmente dela. Ela não queria que ele fosse preso por um crime que não cometera. Ele já pagara caro por um outro crime que não cometera. Ela não sofrera em nenhum momento por ter matado Jacob. Ficou em silêncio para que a
pessoa que fora à casa dele não a ouvisse. Preferia se arriscar a encarar outro castigo que Fury quisesse dar por causar qualquer tipo de problema. Temos que estar quites agora, ela raciocinou. Ele vai me soltar depois que a pessoa for embora. De repente, a porta se abriu com violência. O sangue se escoou do rosto de Ellie e ela se encheu de temor quando Justice pisou forte dentro do quarto. Ele vestia uma camiseta amarela e jeans, e seu longo cabelo estava amarrado em um rabo de cavalo, deixando seu rosto visível. Ela não pode deixar de notar a expressão de choque e horror que se fez nele. Ellie se encolheu, certa de que ele fazia todo tipo de suposição errada. Depois de um momento em choque, ele se moveu para frente, rugiu e parou ao lado da cama. Fury ocupava a porta do quarto, pálido e em silêncio. Ele não olhava para ela; seu queixo apontava para o chão e ele tinha o olhar fixo no carpete. Justice pegou o lençol e o arrancou. Ellie emitiu um som apavorado, boquiaberta por seu corpo estar totalmente exposto a um estranho. Outro rugido irrompeu da garganta de Justice. Ele jogou o lençol de volta em Ellie para esconder sua nudez, antes de se sentar na beira da cama. Seu olhar ultrajado se fixou em Fury, enquanto alcançava o braço dela. Puxou os nós em seu pulso, livrando-o da cabeceira. – Como pôde fazer isso? – Justice rosnou com uma voz bem áspera. Ele se levantou, andou em volta da cama e soltou o outro braço. Se posicionou entre a mulher e Fury, com as costas para ela. Ellie se sentou, esfregou os pulsos e cuidadosamente manteve o lençol cobrindo o corpo. Ela não conseguia ver Fury direito com aquele homem enorme entre eles. – Como pôde fazer isso, Fury? Como? Ela nos salvou. Arriscou a vida para nos ajudar. Você está vivo, independentemente do que ela fez com você. Você está respirando! Estamos tentando provar aos humanos que somos mais que animais, e você a pega à força? Você a estuprou na sua cama como se fosse um cão raivoso? Que merda! Vão prendê-lo por isso. Não acho que eu possa protegê-lo e nem sei se quero, a essa altura. Como pôde fazer isso? Você sabe o que está em jogo. Nosso povo precisa de nossa orientação e proteção! Você é o segundo no comando; se eu cair, você lidera. – a voz de Justice ficou mais baixa e calma – Você está partindo meu coração. Você machucou esta mulher. Sinto o cheiro do sangue dela e, porque você a feriu, vai nos causar problemas que nem imagino. Que diabos você achou que estava fazendo?
Ficou louco? Isso reforça a crença de que somos animais irracionais, perigosos demais para ficarmos à solta. A vergonha queimava dentro de Fury enquanto ele olhava fundo no olhos chocados de Justice. Ele sabia que deixaria seu povo desapontado por ter sequestrado Ellie. Tinha a responsabilidade de liderança, e mesmo assim permitia que seus sentimentos por uma mulher o levassem a fazer coisas que sabia serem erradas. Ele a colocara acima de seu povo, algo que prometera nunca fazer quando aceitou o trabalho de ser o segundo no comando de Justice. – Me desculpe – Fury sussurrou. Justice deu uma leve rosnada. – O que há de errado com você? Perdeu a cabeça? Alguma coisa mexeu com você? Não posso e não vou permitir que saia impune disso. Você tem que ser severamente disciplinado para dar o exemplo. – Não espero nada além disso. – Fury respirou profundamente. Ele sabia que seria castigado antes mesmo de encostar em Ellie, e aceitaria qualquer consequência que tivesse que enfrentar. Ele queria Ellie mais do que a coisa mais importante em sua vida: seu povo. Quando as Novas Espécies foram libertadas, muitas quiseram travar uma guerra contra os humanos, mas Justice fora a voz calma da razão. Para sobreviver, teriam que trabalhar com os humanos que os libertaram. Quando souberam que ganhariam Homeland, um lugar para viverem em paz, um lugar no qual poderiam reconstruir suas vidas, Justice procurara Fury e pedira para que ele ajudasse a guiá-los a um novo estilo de vida. Fury concordara rapidamente, disposto a carregar qualquer fardo que pudesse. Ele assumira o treinamento das equipes de segurança e os ensinou a controlar seus animais interiores. A ironia não se perdera nele. Ele não praticara o que pregava. Fora atrás de algo que sabia que não podia ter: Ellie. Levara-a até sua casa e a seduzira, independentemente dos riscos. Ele não conseguia se arrepender do que fizera. Mesmo o pouco tempo que passara com ela valia a dor que enfrentaria. Sentira seu gosto, a tocara e sabia o quão maravilhoso era estar tão perto dela. Se fosse preso, a imagem dela o faria companhia, a voz dela presa para sempre em suas memórias, seus
lindos olhos entalhados em sua alma. Ele podia para sempre fechar os olhos e ouvi-la, imaginá-la. – Você está bem? – Justice olhou de volta para Ellie. – Sim – ela pigarreou. Justice direcionou a atenção de volta para ele. Fury encarou seu olhar duro com uma determinação sombria. Ele asseguraria que todos soubessem que a culpa recaía unicamente sobre ele. Se distanciaria das Novas Espécies, teria esperanças de que os humanos não culpassem os outros por suas ações e receberia qualquer punição que lhe aplicassem, sem reclamações ou desculpas. O desapontamento e o choque de Justice o machucavam profundamente. Ele sabia o quanto daquilo repousava em seu comportamento. Havia magoado seu povo, seu melhor amigo e ele mesmo. – Não posso fazer isso sozinho, Fury – Justice o informou delicadamente, com uma expressão dolorosa no rosto – Eu precisava que você mantivesse isso unido por todos nós. O diretor Boris lutou contra todos os passos que demos para controlar Homeland. Ele está tentando dizer ao presidente que não somos capazes de administrar nossas próprias vidas. Ele realmente acredita que somos mais animais que humanos, apenas um pouco mais treinados para falar e imitá-los. Ele não disse isso com essas palavras, mas seu desprezo é tão forte que é impossível ignorar. – Me desculpe. – Isso só vai justificar as acusações dele. Temos que trabalhar ainda mais duro para mostrar que somos iguais e que somos uma raça de pessoas inteligentes e responsáveis. Não havia momento pior para você perder a cabeça. – Entendo que haverá uma má repercussão na ONE. Vou assumir toda a responsabilidade, assegurá-los de que sou o único que falhou, e vocês terão que pressioná-los para que lidem severamente comigo. Justice estudou o amigo. – Você não está sendo você mesmo. Por quê? A atenção de Fury flutuou em direção à cama, mas ele não conseguia ver Ellie atrás do grande porte de Justice. Ele encontrou o olhar curioso do amigo. – Acho que você sabe o porquê. Há algo nela que não consigo ignorar. Não é só raiva, há mais do que isso.
Algumas Espécies machos haviam experienciado uma vontade esmagadora de acasalar com certas fêmeas, de mantê-las bem próximas, fazêlas deles, mas nenhum se rendera àqueles instintos. Não que tivessem tido a chance enquanto eram prisioneiros; foram mantidos separados das fêmeas a não ser nas vezes em que elas eram levadas a eles para procriação. No entanto, eles sabiam do problema. Acontecera poucas vezes no centro de testes, mas eles haviam discutido o problema potencial que haveria se mais Espécies sofressem do que eles consideravam ser uma necessidade de acasalamento. Tenho essa necessidade, Fury admitiu. Ele tinha certeza de que uma parceira era também para a vida, por conta do quão fortemente Ellie o afetava. Ele não conseguia se imaginar querendo largála. Justice olhou para trás com preocupação, e a compreensão se marcou em seu rosto. – O quão forte é isso? – Esmagador, obviamente. Tenho lutado contra isso com unhas e dentes. – seus ombros desmoronaram – Sinto muito pelos problemas que causei, mas… – ele deixou o resto sem ser dito. Ele ainda não se arrependia, mesmo sabendo como era fundo o buraco que cavara. Deu uma olhada para cima para tentar ver Ellie novamente, mas Justice continuava bloqueando a visão. Ele a tivera uma vez. Nunca seria o suficiente, mas pelo menos tinha a memória para saborear. Ellie viu suas roupas no chão, perto da cama. Fury devia tê-la despido e jogado as roupas. Seu cartão de identidade e seus sapatos também estavam ali. Ela se mexeu devagar, muito sensível entre as pernas por conta da rodada quente de sexo, e deslizou a bunda até a beira da cama. Os homens pareciam estar em um concurso de encaradas. – Os seguranças humanos estão procurando pela mulher em toda parte. – Justice fez uma pausa – Eles encontraram o equipamento elétrico dela quebrado perto da lagoa e suspeitam que algo tenha acontecido a ela. Assim que soube de quem se tratava, vim para cá, esperando que você não tivesse feito algo estúpido. Precisamos dizer a eles que ela está aqui. Ela vai precisar de cuidados médicos e você tem que encarar a pena por seu crime. Ela não é uma de nós. Acho que vão aplicar as leis de punição deles. Não sei o que são, mas você tem que assumir isso pelo nosso bem. Não lute se o prenderem. Sei que a
vontade vai ser grande se o acorrentarem, mas não piore as coisas. – Não vou lutar – Fury prometeu delicadamente – Vou chamá-los agora. Ellie terminou de se vestir. Calçou os sapatos e se levantou. O movimento a fez notar o desconforto quando sua camisa encostou em seu seio ferido. Ela não tivera tempo para checar a gravidade do arranhão, prometendo fazê-lo mais tarde, quando chegasse em casa. Tentou se dirigir à porta. – Com licença. – ela pigarreou. Justice virou a cabeça para encontrar seu olhar, um franzido sinistro contorcia seus lábios. Ellie não olhou para Fury. – Vou retornar ao dormitório agora, então, por favor, não chamem ninguém. Vou falar que estava visitando um amigo. Não envolvam a segurança. Fury e eu estamos quites agora, não vai mais haver problemas entre nós. – ela então se forçou a olhar para Fury, vendo o choque arrefecer em seu lindo rosto. – Estamos quites agora? Ele fez que não com a cabeça, franzindo a testa. Ela balançou com o choque. Suas pernas enfraqueceram, mas Justice a pegou antes que caísse no chão. Suas mãos fortes agarraram sua cintura para mantê-la firme, até que ela recobrou o controle e se esticou. Ele a soltou instantaneamente quando ela empurrou suas mãos. Ela olhou para Fury, boquiaberta. – Não? O que mais você quer de mim? – lágrimas escorreram soltas por sua face, ela não conseguia mais segurá-las – Me desculpe! Achei que você estaria a salvo, caramba. Estou falando a verdade. Não tive outra escolha. Fiz tudo o que podia por você. Não podia contar o que tinha que fazer porque não achei que você fosse confiar em mim. Eu não podia arriscar que você repetisse tudo o que eu dissesse. Fury piscou. Seu olhar definitivamente parecia doloroso. – Não estamos quites porque estou em dívida com você. Não quis machucá-la com meus dentes. Ellie usou as costas das mãos para enxugar as lágrimas. Seu cartão estava apertado na palma da mão. Fury nunca parava de surpreendê-la. – Sei disso e acredito em você. Não há problema com o arranhão. Então, estamos quites, Fury, você não me deve nada. Preciso ir. – ela mordeu o lábio – Por favor, saia do meu caminho.
Fury se afastou da porta. Ellie se lançou para fora assim que percebeu que não encostaria nele. Quase cambaleou ao sair do quarto, atravessou o hall e uma grande sala. Viu a porta da entrada e foi correndo em direção a ela. Manteve a cabeça levantada ao abri-la. A brisa fresca da noite soprou em sua face úmida. Olhou para baixo, para onde seu relógio deveria estar, para ver quanto tempo havia se passado. Seu pulso nu a fez retrair-se. Ela não voltaria até o quarto de Fury para procurá-lo. De jeito nenhum. Guinou para a frente, olhou em volta e identificou sua localização. Seus sapatos escorregaram um pouco na grama úmida até chegar à calçada que a levaria aos dormitórios. De repente, uma mão agarrou seu ombro e a girou. Ellie fitou Justice North cheio de medo. Ele a seguira desde o apartamento. – Por que não quer que ele seja preso? Que diabos há entre vocês dois? – Justice a segurava com delicadeza, mas sua confusão era evidente no jeito que se dirigia a ela. Ellie estudou seus olhos bonitos, que lembravam os de um gato. A estrutura facial dele não era completamente humana, os ossos de seu rosto eram muito salientes, com maçãs musculosas, e seu nariz era mais largo e achatado que o de um humano. Suas feições eram… diferentes, como as de Fury, mas seus traços eram felinos. Ela se afastou das mãos dele que apertavam fortemente e elas caíram para os lados. – Preciso voltar ao alojamento e avisar a segurança que estou bem, para que interrompam as buscas. O que aconteceu lá não foi o que você pensa. Ele não me estuprou nem me machucou de qualquer outro jeito. – O que aconteceu entre você e Fury no centro de testes? Me diga agora – ele exigiu. Ela espiou em volta e viu as janelas escuras de Fury e a porta da entrada bem fechadas. Fury não estava à vista. O olhar dela retornou a Justice. – Por que – ele rosnou – você o deixaria machucá-la daquele jeito e não gostaria que ele fosse punido? Me diga, ou vou arrancar a resposta dele. Ele se recusou a contar qualquer que seja a história de vocês. Você é a única coisa sobre a qual ele não discute. Ellie segurou as lágrimas, odiava a ideia de que Fury sofreria se ela não admitisse o próprio crime. – É uma história para ele contar, não eu.
– Ele não vai contar. Sou o melhor amigo dele. Ele está agindo como um louco. Faça-me entender ou terei que prendê-lo, mandar alguém para avaliálo e forçá-lo a me contar o que aconteceu. Ele não vai lidar bem em ser preso. Se você se importa mesmo, me conte o que ele não conta. Ela hesitou, odiava estar no meio daquilo, mas não queria que Fury sofresse mais pelo que acontecera no último dia em que ela o vira na cela. Ela fitou a camiseta de Justice. – Não vai usar isso contra ele, vai? – seu olhar seu levantou – Prometa para mim. – Eu o amo como um irmão. Família é tudo para mim. Preferiria decepar minha mão do que fazer mal a ele. Ela acreditou na sinceridade que viu naqueles olhos exóticos. – Havia um técnico horrível chamado Jacob. Ele gostava de ferir as Novas Espécies e, um dia, Fury lhe deu uma cotovelada na cara, quebrando o nariz dele. Ele foi atrás de Fury no meu último dia de trabalho na Mercile. Eu havia acabado de roubar alguns arquivos baixados do computador de uma médica e os engoli para conseguir passar pela segurança. Eu costumava ver como Fury estava, havia uma sala de observação, e eu ouvi Jacob dizendo que ia matá-lo. Ele havia feito com que desligassem a câmera que ficava dentro da cela. Fui para lá assim que pude. – ela hesitou. – Continue. Seus olhos se baixaram até a camiseta dele, incapaz de olhá-lo enquanto contava o resto. – Ele havia drogado Fury e o esticado no chão, acorrentando-o de barriga para baixo. Jacob começou a fazer coisas repugnantes a ele. Eu ataquei Jacob e ele morreu. – sua voz se interrompeu. – Fury devia ser grato por isso. – Justice pegou em seu queixo, forçandoo para cima até que seus olhos se encontrassem – O que você não está me contando? Por que ele acha que você o prejudicou se o salvou daquele Destiny ? Ela pigarreou. – Eu tinha evidência o bastante repousando em meu estômago naquele pen drive para conseguir que um juiz enfim expedisse um mandado de busca nas Indústrias Mercile. Se alguém notasse que eu matara aquele técnico, eles não me deixariam sair quando meu turno acabasse. Eu incriminei Fury pelo assassinato do técnico. Espalhei o sangue daquele cretino em suas mãos
enquanto ele estava lá, no chão, indefeso, sem conseguir se mexer, espetei a agulha de volta nele para parecer que acabara de ser drogado, para explicar como ele conseguira se mexer a tempo de fazer aquilo, e fiquei com muito medo de contar a ele por que fiz aquilo. Ela esperou o homem ficar bravo enquanto ele a fitava com seus olhos estreitos e inteligentes. – Há mais coisa que você não está me contando. Nós costumávamos levar a culpa pelos acontecimentos. Isso é pessoal pra caramba para Fury. Ela cerrou os dentes. – Eu entrei lá e encontrei aquele filho da puta espancando-o e se preparando para estuprá-lo, ok? – ela piscou para conter as lágrimas e baixou os olhos novamente até sua camiseta – Jacob já havia feito coisas horríveis a Fury, começara a estuprá-lo com um cassetete e foi traumático, ok? Fury achava que eu jamais o machucaria, mas em vez disso eu o incriminei por assassinato. Ele me contou que foi torturado depois de eu ter jogado o homicídio para ele. Os funcionários o espancaram e o feriram por causa do que eu fiz. Ele tem razões para estar bravo comigo, só queria se vingar, e conseguiu. Justice não disse nada. A brisa se agitou. Ela não ousou olhar para seu rosto, com medo de ver nojo ou, pior, fúria. Ela acabara de admitir ter feito algo horrível a seu amigo. – Ele me levou do parque para me dar uma amostra do que ele vivenciou: ficar presa, indefesa, enquanto alguém fazia o que queria com meu corpo. Ele sofreu isso e mais pela morte daquele técnico. – ela fez uma pausa – Ele não me forçou a fazer sexo com ele. Não me bateu, nem nada. Decidiu que me seduzir seria mais adequado para se fazer entender. Eu consenti. Fury e eu estamos quites agora, ele teve sua vingança, e eu preciso ir. – E o cheiro de sangue que senti? Você concordou que ele a machucasse? – Ele me acertou sem querer com os dentes. Não é nada, só um arranhão. Justice deu um suspiro alto. – Entendo. – ele soltou seu rosto e se afastou. Ellie se virou e fugiu pela calçada. Não ousou olhar por cima do ombro para ver se Justice viria atrás dela novamente. Não parou até um segurança encontrá-la algumas quadras depois. Ela inventou uma mentira, jurou que estava visitando uma pessoa e o assegurou de que não sofrera nenhum mal. Recusou-se a dar nomes a ele, mas deixou a dica de que sua aparência
desarrumada, que ele não podia deixar de notar, tinha a ver com sexo. Ela notou o sorrisinho que o guarda deu e o jeito malicioso com que ele olhou para seus peitos ao fazer uma ligação para avisar que ela fora encontrada e estava a salvo. Quando ela entrou no alojamento, queria desmoronar por causa do inferno emocional que havia sofrido. Quatro mulheres das Novas Espécies assistiam à televisão quando Ellie passou pela sala para ir até o elevador. Ela parou para esperá-lo abrir e as estudou, e percebeu que elas a observavam de volta. A mulher sentada próxima a ela se levantou de repente. Seu nariz se alargou ao farejar o ar e ela franziu o cenho. – Você está bem? Ellie ficou surpresa que uma delas tivesse se importado com seu estado emocional. – Estou bem, obrigada por perguntar. Boa noite. Ela encarou as portas do elevador para interromper o contato visual. O elevador demorou para chegar ao andar térreo. Ellie fechou os olhos e abraçou o peito. Tentou ignorar a sensibilidade onde sua calça esfregava, contra seu sexo, e onde seu peito queimava levemente. Ela precisava de um banho, de um drink forte, e talvez de um bom e velho choro. O elevador fez um barulho quando suas portas se abriram. Ellie abriu os olhos quando entrou, se virou para apertar o botão de seu andar e arfou. Quatro Novas Espécies mulheres entraram naquele pequeno espaço com ela, e todos os quatro pares de olhos se estreitaram em direção a ela. Elas farejavam alto, seus olhares se remexiam para cima e para baixo de seu corpo, e se aproximaram. Ellie se chegou no canto. O interesse repentino delas atingira a já bastante alarmada Ellie. Elas eram fêmeas altas, musculosas e mais fortes do que as mulheres medianas. Ela acabou ficando sem saída enquanto as mulheres a encurralavam. Uma delas virou sua cabeça ruiva e apertou o botão para o terceiro andar. Ellie lutava para lembrar seus nomes. A mulher ruiva parecia ser alterada com genes de gato, por causa do formato de seus olhos. Ela virou seu olhar quase negro calmamente em direção a Ellie. – Sentimos seu cheiro. Sangue, medo e sexo. Tudo tem um cheiro. – E também sentimos o cheiro de um de nós em você – declarou a mulher à esquerda de Ellie. Era uma mulher de aparência estranha, que parecia um gato cálico por causa de seu cabelo multicolorido e suas feições felinas.
Ela farejou de novo – Espécie de cachorro, acho. Mas nosso olfato não é tão bom quanto o dos machos. Eles podiam farejá-la e identificar instantaneamente quem a feriu. Para nós é mais difícil identificar cheiros. – Não nos chame assim – a ruiva redarguiu, seus olhos amarelados mostrando braveza. – Não sou um cachorro. Sou parte canina. A mulher com jeito felino encolheu os ombros e estreitou o olhar em Ellie. – Você foi atacada. – ela farejou. – Estou bem. – Ellie engoliu seco – Obrigada pela preocupação. As quatro mulheres a fitaram em silêncio. O sinal do elevador soou ao chegar ao terceiro andar. Ellie tentou passar por elas, mas as mulheres continuaram bloqueando seu caminho. Ela mordeu o lábio com força e olhou para cada uma delas. – Eu gostaria de ir até meu quarto agora. Elas se afastaram para deixá-la sair daquele espaço pequeno. Ellie se espremeu entre as mulheres, com cuidado para não encostar nelas, e sumiu no corredor. Elas a amedrontaram. Não sabia que o olfato delas era forte o bastante para perceber tanta coisa, nem que podiam sentir o cheiro de emoções. Deu uma corridinha quando estava quase chegando ao quarto e pegou o cartão. A luz ficou verde e ela puxou a maçaneta com força, escancarando a porta. Entrou e a fechou. Porém, alguém a empurrou e as quatro mulheres entraram no apartamento de Ellie. O medo jorrou dentro dela ao ver suas expressões sinistras. Ela andou para trás devagar, alarmada com aquela sucessão de eventos. A porta se fechou firme atrás delas. – Kit, por favor, vá preparar um banho. – a mulher mais alta e de cabelos negros comandava. Kit saiu em direção ao banheiro sem mencionar nenhuma palavra. – Sou a Breeze – informou delicadamente a mais alta – Há muitas de nós e não sei se você sabe nossos nomes. Kit está no banheiro. – ela então apontou com a cabeça para a ruiva – Essa é Rusty, e a que está em silêncio é Sunshine. Sunshine, vá procurar algo confortável para ela vestir depois do banho. Sunshine foi até o armário de Ellie. Ellie fitava Breeze em choque, enquanto a mulher franzia o cenho em direção a ela. – Sinto cheiro de sangue, sexo, e seus pulsos estão vermelhos por terem
sido presos. Fomos forçadas muitas vezes a ficar com machos em nossos anos de cativeiro. – seus olhos enegreceram – Os machos humanos sentiam prazer em nos machucar ocasionalmente. Nossos machos eram sempre cuidadosos para nunca nos ferir quando éramos forçadas a procriar com eles. – ela pausou – Éramos castigadas ou forçadas a vê-los punindo a outro se não obedecêssemos quando queriam que fizéssemos sexo. Nossos homens são incapazes de forçar dolorosamente uma mulher, mas um deles a prendeu e a feriu. Por quê? Muda, Ellie fitava Breeze, aterrorizada com a descrição do que era feito a elas. Silenciosamente xingou as pessoas que faziam daquilo um doloroso inferno. – Estou bem – jurou ela – Ninguém me forçou. Breeze rosnou, com seus traços caninos à mostra. – Não minta. Quem fez isso com você? Vamos vê-lo sofrer grandemente por isso. Não há razão para um macho forçar a procriação com uma mulher. Somos livres agora. Quem quer que tenha feito isso deve pagar. Ele a feriu e isso é imperdoável. Sunshine colocou roupas na cama e se moveu atrás de Ellie, que girou a cabeça a tempo de ver a mulher se inclinar para cheirar suas costas. Sunshine agarrou de repente a camisa de Ellie e puxou-a para cima. Ellie se manteve imóvel, num silêncio atordoado, enquanto o nariz da mulher roçava por suas costas desnudas e inalava profundamente. A camisa caiu quando a mulher se esticou de volta a sua altura real, que era de cerca de um metro e oitenta. – Não reconheço o cheiro dele. Está fraco, então não acredito que ele tenha montado nela. Deve a ter pegado do jeito humano. Ellie tentou se esgueirar por entre as duas mulheres, se sentia presa no meio delas, mas Breeze a agarrou de repente pela frente da camisa. Ela se agachou e puxou a camisa de Ellie até a parte inferior de seus seios. Breeze empurrou o rosto contra a barriga de Ellie para farejar antes que ela pudesse protestar. A outra mulher levantou sua cabeça com uma expressão sombria. – Como um humano, ele suou nela durante o ataque. Também não conheço o cheiro dele. – ela franziu a testa para Ellie ao se pôr novamente em pé – Por que está protegendo-o? Sabe o nome dele? Descreva-o para nós, vamos encontrá-lo e fazê-lo pagar. Você é nossa e ele devia saber que não deve tocá-la.
Ellie ficou boquiaberta. Forçou sua mente a funcionar. No último minuto houvera um choque atrás do outro entre os farejos e as palavras. Elas podiam sentir o cheiro do suor de Fury nela só de sua barriga encostar na dela? Ela fechou a boca e apertou as coxas. Não sabia o que fariam se sentissem o cheiro do sêmen dele. E, então, a última frase a fez se dar conta. – Sou de vocês? Achei que me odiassem. Kit saiu do banheiro. – Não a odiamos. Você é nosso bichinho. – Kit! – Rusty balançou a cabeça – Não diga isso, vai ofendê-la. Kit baixou os ombros. – Mas ela é. É tão pequena e bonitinha. Fica tagarelando em volta, tentando nos agradar como um… Como se chama? Um Yorkie? Rusty suspirou. – Decidimos que ela se parece mais com um poodle pequenino e fofinho, com seus longos cabelos loiros. – ela lançou um sorriso a Ellie – Não se ofenda, por favor. Gostamos de tê-la por perto e você nos diverte infinitamente. Sabemos que se importa conosco com o jeito que tenta nos agradar. – Preciso me sentar – Ellie murmurou, atordoada, e tentou envolver sua mente na ideia de que elas a consideravam um bichinho de estimação. Ela se moveu e se estatelou na beira da cama. Arfou quando se sentou com força demais, lembrando estar sensível por causa do sexo. – Droga. – ela fechou os olhos. Elas me consideram um bicho de estimação. A comparação a um poodle a fez se retrair. – Você a deixou mais triste – rosnou Breeze – Peça desculpas, agora. – Desculpe – disse Kit instantaneamente – É um carinho. Gostamos de você. Mencionei isso, não? É uma coisa ruim ser um bichinho de estimação? As pessoas os adoram. Temos muito afeto por você. Ellie abriu os olhos e forçou um sorriso. – Bem, leva algum tempo para se acostumar a isso, mas obrigada. Fico feliz que gostem de mim, essa é a parte importante. – Gostamos mesmo – assegurou Rusty – Agora nos diga qual de nossos homens a machucou e vamos acabar com ele. Podemos identificar a diferença entre machos e fêmeas com nossos narizes, mesmo que sejam primatas,
felinos ou caninos, mas determinar a diferença entre indivíduos é mais difícil. Você precisa nos contar tudo o que puder sobre o macho que a feriu, para podermos descobrir quem foi. Breeze estalou as juntas. – Vamos deixar você assistir. Vê-lo sangrar vai fazê-la sentir melhor. – ela olhou para as outras – Mas não podemos matá-lo. Vamos apenas bater severamente nele para ter certeza de que ele sentirá dor por uma boa semana. Ellie lançou um olhar para cada uma das mulheres. Não tinha certeza se devia ficar grata por elas fazerem aquilo por justiça ou se ficava profundamente perturbada pelo mesmo motivo. – Agradeço muito pela preocupação. Vocês não têm ideia do que isso significa para mim. Eu poderia até chorar de tão emocionada, mas não é o que vocês pensam. Ele não me forçou. – Explique por que a segurança chegou aqui para checar nossos quartos depois de nos informarem que você estava desaparecida. Eles disseram que havia sinais de luta no parque. – Breeze estudou Ellie com um olhar calculado – Somos espertas, então, por favor, não nos insulte. Você entrou cheirando a sexo, medo e sangue. Seus pulsos estão vermelhos, o que nos diz que você foi amarrada. Sabemos que se trata de uma perversão humana sobre a qual lemos, mas você fez sexo com uma Nova Espécie macho. Não curtimos esse tipo de jogo sexual e jamais amarraríamos alguém, já que isso nos lembra o centro de testes, mas ainda assim um de nossos machos a prendeu. Diga o nome dele, ou diga como ele é, se você não sabe seu nome. Vamos puni-lo e assegurar que você fique a salvo. Você é nosso animalzinho de estimação e não deixaremos que abusem de você, nunca mais. Essa tinha que ser a conversa mais esquisita que Ellie já tivera. Elas a viam como um bichinho de estimação, um poodle, e não como a governanta. Ela resistiu a se encolher. Sempre odiara seu cabelo selvagem e encaracolado, mas poodles tinham problemas horríveis com frizz. Talvez algum shampoo antifrizz pudesse entrar em sua lista de compras. Elas estavam sendo protetoras e aquilo significava o mundo para Ellie. Ela tinha certeza de que cada mulher naquele alojamento a odiava. Aquele podia ser o primeiro passo para conhecê-las e talvez ensiná-las o que ela podia fazer. Tinha que ser algo bom, em sua opinião. – Estou bem. Por favor, deixem isso pra lá, é um assunto pessoal. Não fui
ferida e o cheiro de sangue que vocês sentem é de um arranhão acidental. Kit chegou mais perto para inspecionar Ellie. – Ela está com medo de falar o nome dele. – ela se inclinou, agarrou a camisa de Ellie e enfiou o nariz em sua barriga. Farejou-a e, em seguida, se afastou com um salto. O horror se mostrou em suas feições e ela emitiu um som leve. – Fury – ela arfou e cambaleou para trás – O Fury não. Ele… – ela se calou. Rusty proferiu um xingamento. Foi para cima de Ellie, agarrou-a e esticou-a em cima da cama. O medo atingiu Ellie forte como um tijolo esbofeteando-a quando a grande mulher puxou sua camisa para cima de forma selvagem até seus seios e pressionou o nariz com força contra sua pele. Sons de farejo foram seguidos por um rugido. Rusty saltou para trás e se virou. Andou até o canto e suas mãos bateram contra a parede, forte o suficiente para fazer Ellie se encolher. – Fury – confirmou Rusty com uma voz trêmula – Foi ele, definitivamente. Breeze parecia ser a única a se manter calma. Ela se dirigiu a Rusty e Kit de um jeito sinistro. – Vocês não disseram que ele era um protetor? Não disseram que, de todos os seus homens, ele foi o mais castigado para protegê-las da dor e do sofrimento? Têm certeza de que é o cheiro dele? Rusty fez que sim com a cabeça enquanto fungava. Ela se virou de repente e revelou as lágrimas que corriam por sua face enquanto fitava Ellie, confusa. – Por que ele faria isso com você? Por quê? – Não estamos culpando-a – acrescentou Kit rapidamente. Ela parecia muito triste, como se também fosse chorar – Estamos tentando entender por que ele faria isso. Ele sempre foi o mais cuidadoso para que não sofrêssemos dor quando nos mandavam fazer sexo. Quando uma de nós se recusava totalmente a transar com ele, ele era espancado e não encostava em nós. Ele sofria para que não sofrêssemos. Ele morreria, mas não nos sujaria com sangue ou nos machucaria de qualquer jeito. Estamos tentando compreender. Ellie se agarrou à cama e se pôs de pé. – Por favor, não é o que estão pensando. Sei que ele não quis me
machucar, e é só um arranhão. É um assunto pessoal. Nós, er… droga. Não sei como explicar. Ele não quer que ninguém saiba e eu já contei ao Justice North hoje, quando ele me encontrou na casa do Fury. Eles faziam isso com vocês no centro de testes? Meu Deus! – Ellie se sentou de novo, se esqueceu da sensibilidade e se retraiu. – Isso não vai sair desse quarto – Breeze jurou delicadamente – Você tem nossa palavra, jamais vamos repetir o que nos contar. Elas estão magoadas porque aquele macho a feriu, e ele significa muito para elas. Você precisa contar o que aconteceu. Vamos protegê-la dele. Ellie gemeu. Estudou cada mulher, notou que Breeze olhava severamente para ela, com os braços cruzados, esperando que ela despejasse toda a história. Kit e Rusty estavam pálidas, tremiam e pareciam prontas para chorar. Doloridas. Essa palavra era adequada. Sunshine parecia apenas curiosa. Ela não podia deixar que pensassem o pior sobre Fury. Duas delas obviamente o conheciam bem. Ellie odiava o ciúme que vinha à tona com a ideia de que ele provavelmente transara com duas daquelas mulheres. Talvez elas não tivessem tido escolha, isso ajudava um pouco. Ela respirou fundo e começou do começo. Acabou contando absolutamente tudo até o momento em que a seguiram até o quarto. Ela enxugou as lágrimas enquanto estudava cada mulher. Tinha medo de que elas pudessem odiá-la, agora que confessara o que havia feito. Kit e Rusty haviam se sentado no chão enquanto Ellie contava sua história. Breeze ficou na porta e Sunshine estava sentada na cama, próxima a Ellie. Ellie encontrou os olhos de Breeze. – Só quero tomar um banho, ir pra cama e nunca mais falar sobre isso, ok? Ele não me forçou e não teve a intenção de me acertar com os dentes. Breeze fez que sim com a cabeça, dando um sorriso triste a Ellie. – Você é uma mulher generosa, Ellie. A maioria das mulheres não entenderia a necessidade de vingança dele ao pegá-la essa noite. Elas teriam… – ela suspirou – Teriam mentido, dizendo que ele as machucou sem consentimento. Você não merecia a raiva dele. Sabe disso, não sabe? Você salvou a vida dele. Querer desforra é da macheza dele, ele estava errado. Sinto sua vergonha pelo que teve que fazer, permitindo que a Mercile acreditasse que ele matara o técnico, mas entendo o motivo. Eu teria feito o
mesmo. – ela respirou profundamente – Ele não vai mais chegar perto de você. Vamos nos revezar para protegê-la. – Isso não é necessário. Estamos quites agora e ele não vai mais se aproximar de mim. – Ellie se levantou – Obrigada por se importarem e compreenderem. Tive medo de que fossem me odiar pelo que precisei fazer. Eu só queria salvá-lo de Jacob e precisava entregar a evidência ao meu chefe. Nunca achei que fossem espancá-lo por isso. Estou mesmo bem e vou me sentir mil vezes melhor amanhã. Só quero deixar isso para trás. – Vá tomar seu banho e jogue suas roupas para nós. Vamos lavá-las para remover o cheiro dele. – Sunshine ofereceu gentilmente – Você fez o que precisava. Coisas horríveis foram feitas a nós; essa é a mais gentil que já ouvi. Você poderia ter sido morta pelo técnico. – Sei que não significa muito, mas Fury é um bom homem. – Kit lhe deu um sorriso triste – Sei que ele não quis machucá-la de jeito nenhum, ele sempre foi muito cuidadoso conosco. Ellie balançou a cabeça, sua suposição sobre as histórias sexuais de Fury com as duas mulheres se confirmou, e tentou não ser comida pelo ciúme. Entrou no banheiro, mas deixou a porta aberta. A banheira quente e cheia a esperava. Ela se despiu, entregou suas roupas pela porta e relaxou no banho. Se encolheu quando se posicionou e a água a deixou ciente da parte inferior do seio. Ela o levantou, inclinou a cabeça e viu dois arranhões feitos pelos dentes afiados. Droga. Seus olhos fecharam, relaxados. Pelo menos ela não precisava mais ter medo de Fury tramando para colocar as mãos nela. É claro que ela agora tinha lembranças eróticas deles juntos com as quais teria de conviver. Duvidava de que conseguiria esquecê-lo. Seu ex-marido a machucara o bastante para fazê-la renunciar a amar novamente. Ela prometera nunca mais deixar alguém ter tanta importância a ponto de encher seus pensamentos por completo mas, então, viu Fury pela primeira vez. Algo que pensava estar morto dentro dela rugiu. Ele se tornara uma obsessão; primeiro para salvá-lo, depois para fazer justiça ao que ela lhe havia feito. Ela havia sido deixada para cuidar de seu povo, já que não sabia o que acontecera a ele. Fury importava para ela mais do que seu ex-marido já tinha importado. Já
tivera certeza uma vez de que conhecera o amor, certa de que nada poderia machucá-la como seu casamento destruído fizera, quando ela entendeu que havia se casado com um traidor cretino, mas estava errada. Seus sentimentos pelo ex não eram nada comparados ao que Fury a fazia sentir. Nada mesmo. O toque de Fury a assombraria pelo resto da vida. Ela desejava que eles tivessem uma chance verdadeira de ficarem juntos. Por ele, teria corrido o risco de ter o coração partido de novo, mas… – Droga – murmurou Ellie em voz alta – Deseje o quanto quiser que as coisas fossem diferentes, mas simplesmente não é para ser. – Fury? Ele ficou um pouco surpreso ao ouvir seu nome sendo dito com suavidade, sem saber que alguém havia ido sorrateiramente até ele, o que atestou o quão obcecado se tornara por ficar observando Ellie em seu alojamento. Ele virou a cabeça apenas o suficiente para fitar Slade. – O quê? – Sua obsessão com a humana está começando a me assustar. Preciso reportar isso ao Justice? – Não. – o olhar de Fury retornou ao alojamento feminino e foi até Ellie sentada no sofá com algumas mulheres. Ela sorriu para algo que disseram, e ele desejou saber o que causara aquele divertimento. – Só estou checando Ellie. – Você precisa deixar pra lá. Foi dito que ela trabalhava para a Mercile. Entendo sua necessidade de vingança, mas ela não é nossa inimiga. Fury segurou a língua. Era melhor que seu amigo acreditasse que aquela era a razão pela qual ele se escondia atrás de uma árvore do outro lado da rua, observando a mulher que o fascinava e se recusava a abandonar seus pensamentos. Ele só conseguia pensar nela. Os sons de seus gemidos, o gosto doce do seu desejo e a lembrança de seu corpo apertado e paradisíaco enquanto ele a repassava em sua mente. Seu pau endureceu dolorosamente com a lembrança de como era possuíla. Ele estragara tudo, a deixara magoada e não tinha ideia de como consertar aquilo. Recebera ordens de se manter longe dela, de não interagir de forma alguma, porém não queria dizer que não podia observá-la de longe. Ela não sabia e, portanto, não podia se sentir ameaçada com sua presença.
– Você me ouviu? – Slade se aproximou mais. – Sim. – seu foco permanecia em Ellie. A mão dela se levantou para colocar os cabelos loiros para trás do rosto e, ao invés daquilo, ele desejava poder sentir as pontas de seus dedos arranhando seu rosto – Ouvi. – Você é um perigo para ela? Seja honesto comigo, somos amigos. Aquilo desviou sua atenção dela. – Não vou machucá-la. Eles se fitaram por um longo momento e, então, Slade suspirou, olhando rapidamente para o alojamento feminino e quebrando o contato visual. – Nossas mulheres parecem gostar dela. Eu também gosto dela, Fury se conteve para não admitir. Estou obcecado e não consigo parar de pensar nela. Ela é tudo com que sonho quando tento pegar no sono. CAPÍTULO SEIS Ellie deu uma gargalhada. – Vamos lá, Monarch. Você consegue sim. Monarch, uma mulher loira e com pouco menos de um metro e oitenta de altura, examinou o aspirador com nojo. – Faz muito barulho e tenho medo que sugue meus dedos do pé. Ellie levantou a mão para cobrir a boca, tentando esconder seu divertimento. – Todas achamos isso. Confie em mim. Mas eu prometo que, se você apontá-lo para longe, isso não acontecerá. Você já dominou a máquina de lavar e suas habilidades para cozinhar com o micro-ondas são maravilhosas. Você pode com essa coisa. Monarch suspirou. – Tudo bem, mas machuca meus ouvidos. Destiny, uma mulher de cabelos pretos, comemorou por ela. Monarch ligou o aspirador e o empurrou pelo carpete da sala de estar sem causar ferimentos. Ellie sorriu. Qualquer que fosse o motivo, durante as últimas três semanas, as mulheres a haviam aceitado. Permitiram que conversasse com elas, que desse risadas com elas e as ensinasse tarefas domésticas. – Ellie? Ellie se virou e encarou Breeze com um sorrisinho. As Novas Espécies altas haviam ajudado muito a Ellie com as outras mulheres. Breeze fora indicada a líder no alojamento feminino. Ela e algumas outras mulheres
tinham aulas durante o dia para receber a educação básica que lhes fora negada. Elas haviam acabado de voltar ao alojamento. – E aí? Breeze parecia soturna. – Precisamos conversar em particular. – Ah… – Ellie teve um momento de confusão – Claro. Ela sabia que algo estava errado. Breeze a levou em direção ao banheiro, o que a intrigou ainda mais. Rusty e Kit esperavam na porta. Breeze escancarou-a e Ellie a seguiu para dentro. Sunshine verificou as cabines para ter certeza de que não estavam sendo usadas. – Tudo vazio – anunciou Sunshine – Estamos sozinhas. Ellie deu uma olhada por cima do ombro quando a porta se fechou e encontrou Rusty e Kit bloqueando a saída. Ellie direcionou a atenção a Breeze. – O que está acontecendo? Breeze suspirou. – Você não pode sair desse alojamento sem que uma de nós esteja com você. Quero que você durma no meu quarto, ou uma de nós ficará no seu. Você nunca deve ficar sem uma de nós ao seu lado. – Ahn… Por quê? – Ellie levantou as sobrancelhas ao olhar para cada uma delas. Breeze prendeu sua atenção franzindo a testa. – Fury está aí fora novamente. Não queríamos assustá-la, mas o vimos examinando o prédio em várias ocasiões. Ontem à noite, ele se aproximou mais e suspeitamos de que esteja testando a segurança para encontrar uma forma de entrar. O choque percorreu Ellie. – Por que ele faria isso? Um alarme alto começou a tocar repentinamente com avisos agudos, assustando todas as cinco mulheres. Ellie sabia que não era o alarme de incêndio, o som era muito alto. Aquele era o toque de recolher. Ela se moveu rapidamente, correndo para fora do banheiro. Kit e Rusty estavam à sua frente enquanto ela corria para a porta da frente, mas ninguém estava ali tentando arrombá-la. O alarme continuava a berrar. Ellie se virou e viu uma dúzia de mulheres da Nova Espécie se apressarem em direção a ela.
– Toque de recolher – berrou Ellie – Vão. Ellie se mexeu e agarrou o telefone de emergência da parede. Tocou uma vez antes de alguém do prédio da segurança atendê-lo. – Aqui é Ellie Brower, do alojamento feminino. O que está acontecendo? – ela se assegurou de que a porta fora trancada automaticamente dando uma batida nela. – Temos uma violação – gritou o segurança do outro lado da linha, deixando seu medo aparente – Um daqueles grupos de ativistas abriu passagem pelo portão principal. Há forças indo até vocês, mas garanta que as mulheres fiquem seguras e que as portas estejam fechadas. – Filho da puta – Ellie xingou. Ela bateu o telefone e se virou para descobrir que algumas das mulheres ainda estavam ali. – São aqueles cretinos loucos que andam protestando do lado de fora dos portões sobre… – ela pressionou os lábios, não encontrando um jeito mais educado de terminar a frase. – Tranquem-se em seus quartos, por favor. O portão principal foi violado, e a segurança está a caminho. Ficaremos absolutamente seguras aqui dentro. Breeze xingou. – São os humanos que acham que devíamos ser mortos, não é? Ellie não podia negar, portanto, não tentou. – Eles são idiotas. Deviam ir para suas casas e esperar que suas naves alienígenas venham buscar seus traseiros loucos, porque não os considero humanos. Deviam voltar para seu próprio planeta e deixar o nosso em paz. Sunshine bufou enquanto ia embora. – Estarei em meu quarto, então. Breeze mostrou sua raiva ao enrugar o nariz. – Vamos esperar aqui com você. Ellie balançou a cabeça. – Vocês sabem que o protocolo diz para irem aos seus quartos. Ficarei bem. Preciso ficar aqui para operar a porta, caso algumas de nossas mulheres precisem entrar. Algumas ainda estão lá fora, voltando da escola. Aqueles babacas invadiram pelo portão principal e talvez tenham armas. Quero que fiquem a salvo. Meu trabalho é ficar aqui, e o de vocês é subir para os quartos. Breeze hesitou. – Por favor? Estou bem – jurou Ellie.
Breeze inclinou a cabeça em direção às mulheres que ainda estavam ali, indicando que deveriam ir. Ellie soltou a respiração que havia segurado, aliviada, enquanto as observava irem até a escada. Elas evitaram os elevadores que não funcionariam com os alarmes disparados. Ellie se virou para a porta para olhar para fora, não vendo nada de incomum. Ela odiava os ativistas que tinham a Organização das Novas Espécies como alvo. Desde que os noticiários publicaram a história sobre os sobreviventes do centro de pesquisa de testes, alguns grupos de ódio surgiram, alegando que as vítimas não eram nada além de animais, que não tinham direitos e deviam ser destruídas. Ellie cerrou os dentes. Os únicos animais a serem derrubados, em sua opinião, eram os que ameaçavam o bemestar das Novas Espécies. Ellie ficou tensa ao ouvir um barulho de motor subindo a rua. Ela viu um dos carros da segurança virar uma esquina rápido demais, com outro veículo logo atrás; uma grande picape que parecia ter sido convertida em algo parecido com um tanque. No lado da picape, a palavra “Caçadores” fora pichada infantilmente em vermelho-claro. Ellie observava horrorizada enquanto a picape golpeou o carro da segurança, que era bem menor, fazendo-o derrapar. Os pneus do veículo menor bateram no meio-fio, ele parou abruptamente na frente do prédio e a picape parou logo atrás. Ellie ficou boquiaberta ao ver armas quando dois homens vestindo jeans saltaram do carro. Pior, ela viu a porta de trás do carro da segurança se abrir e duas mulheres correram em sua direção. Os dois seguranças que saíram do carro puxaram suas armas e tiros irromperam. O homem da picape mergulhou para trás dela e revidou, dando às mulheres tempo para correrem ao alojamento. As mãos de Ellie tremiam demais enquanto ela agarrava a porta e rezava muito para que as irmãs, Blue e Sky, chegassem até ela a salvo. Ellie jogou o peso contra a porta que abrira e pressionou firme o corpo contra o vidro para sair do caminho das duas grandes mulheres que passaram em alta velocidade pela porta aberta. – Vão para seus quartos – Ellie ordenou. Ela bateu a porta e a puxou para ter certeza de que as travas automáticas funcionaram. Como a porta não se moveu, ela a soltou e se lançou ao telefone na parede. Estava mudo. Merda. Mais tiros do lado de fora desviaram a atenção de Ellie. Horrorizada, viu um dos seguranças ser atingido por uma bala. Ele voou para trás, se esparramou no capô do carro da segurança e, então, seu
corpo desmoronou na rua. Ele não se levantou, nem se moveu. O outro segurança continuou atirando, mas ele estava em menor número. Um grito de angústia saiu de Ellie, quando balas atravessaram o guarda que sobrara. Seu corpo girou com os impactos, sangue irrompeu em seu rosto e peito antes de cair fora de vista, atrás do carro. Ellie cambaleou, horrorizada. Os intrusos riam e dois deles faziam um gesto de “toca aqui” um para o outro. Eles se viraram de frente para o prédio e se aproximaram, indo na direção dela. Merda. Ellie agarrou a barra de emergência e a puxou para baixo. Ela fora acrescentada como uma tranca adicional, caso cartões de segurança fossem roubados ou alguém tentasse conseguir o código torturando um guarda. Eles precisariam das duas coisas para contornar as medidas de segurança do toque de recolher e conseguirem entrar. – Ela não parece um animal – disse um deles alto, olhando para ela. Outro homem, o maior dos quatro, apontou a arma diretamente para Ellie e gritou. – Abra! Ellie sabia que o vidro aguentaria. O prédio fora projetado para resistir a um ataque. Ela mostrou o dedo do meio e, com a outra mão, apertou o botão de comunicação para que eles a ouvissem claramente. – Vão se ferrar. É à prova de balas. – Sua animal de merda – gritou um deles. Ele puxou uma arma, apontou-a para o rosto de Ellie e atirou. Ela se retraiu, mas o vidro não quebrou. Ficara com uma pequena marca, mas sequer trincara. – Isso aqui é só um prédio de reuniões e vocês não têm como entrar – ela explicou – Podem ficar esmurrando o próprio peito, seus macacos idiotas. Ela sabia que os provocava, mas contanto que ficassem onde estavam, fazendo ameaças, não tinham como ferir alguém do outro lado. Ela esperava que a segurança aparecesse rápido para prendê-los, antes que percebessem que ela só queria distrai-los. – Também não sou um animal. Deviam se olhar no espelho se quiserem ver um. – Ellie lançou aos quatro um olhar sacana – Vocês são um zoológico ambulante. O que estava com a arma se afastou e disparou. Ellie cambaleava e se encolhia ao som de cada tiro. Ela soltou o botão do comunicador, mas ele mal
abafava o som enquanto o homem continuava atirando. Algumas marcas apareceram, mas o vidro se segurava. Ela estava odiando presenciar tão de perto um teste de resistência a balas. O imbecil com a arma parou de atirar. Ellie se lembrou das câmeras sem fio de segurança e deu alguns passos para trás. A câmera estava pendurada no alto da parede e apontada para a entrada. Ela mantinha sua atenção ali, enquanto acenava freneticamente para chamar a atenção de alguém. Ela uniu os dedos das duas mãos e começou a fazer uma mímica que sugeria que segurava uma arma, movendo o dedão para fingir que dava tiros. Ela apontava para o relógio para indicar que estava acontecendo naquele momento. Esperava que alguém na central de segurança que estivesse observando-a pela câmera já tivesse brincado de mímica, já que aquelas câmeras não tinham cabos de som. Ela encostou na parte do braço em que as patentes dos guardas ficavam e passou os dedos pelo pescoço para dizer que havia dois guardas mortos, esperando que a entendessem. Os homens abriram fogo novamente contra as janelas, dessa vez em uníssono, talvez pensando que um ataque múltiplo as quebraria. Ellie tapou os ouvidos para protegê-los do barulho alto. Afastou-se mais das janelas e tentou novamente transmitir para a câmera o que os intrusos estavam fazendo. Os tiros cessaram de repente. Ellie virou a cabeça e viu os homens se fechando em uma roda para conversar. Um deles se separou e correu até os veículos. Ela se perguntou por que ele fora até o carro dos seguranças e sentou no banco do motorista. Se ele achasse que roubar o cartão de identificação de um dos funcionários iria ajudá-los a entrar, ele ficaria decepcionado. Ellie teve um mal pressentimento, quando sorrisos cortaram os rostos dos homens. Eles pareciam muito alegres ao saírem do caminho. O homem atrás do volante do carro da segurança o ligou e o posicionou na rua de maneira a ficar apontado para o alojamento. Seu estômago se revirou, uma sensação ruim atiçando-o. Naquele momento, ela soube o que ele planejara. O motorista pisou no acelerador. O carro deu um pulo para a frente, passou por cima do meio-fio e acelerou pela calçada que levava à porta dupla de vidro. – Merda! – Ellie gritou ao tropeçar para trás. O som feriu seus ouvidos, quando o carro bateu nas portas e ela acabou
esticada no chão. Observou a fumaça sair da parte da frente, danificada, enquanto o motor morria. As portas de vidro aguentaram, mas, ao levantar os olhos, ela notou, para seu horror, que o impacto criara um vão de uns bons dez centímetros na parte de cima do batente. – Ai, Deus – murmurou Ellie em choque. As janelas não haviam quebrado, mas o que as segurava no lugar, sim. Ela continuou sentada ali até que os três homens puxaram o amigo de dentro do carro amassado. Ele parecia atordoado, mas o airbag o salvara de ferimentos mais graves. Os quatro homens estudaram o dano causado na parte de cima do batente, sorriram e começaram a empurrar aqueles destroços fumegantes para longe do alojamento. Manobraram o carro para fora da calçada e o colocaram na grama, deixando o caminho livre para outro ataque. Ellie lutou para ficar em pé e correu até o lugar em que ficava o sistema de interfone. Ela sabia que aqueles homens estavam prestes a usar a picape para empurrar as portas totalmente e entrar. Ela apertou o botão de comunicação. Seu coração ameaçava explodir de terror, mas tentou manter a voz calma. – Trancando as portas de emergência – ela declarou claramente – Repito, trancando as portas de emergência. Fiquem em segurança agora. – ordenou ela às mulheres – Dirijam-se ao terceiro andar. Corram todas, caramba. Eles estão invadindo o prédio. Só acionarei as portas secundárias de emergência quando não der mais, mas mexam-se. Ela soltou o botão e com um puxão abriu o painel de emergência abaixo do sistema de comunicação. Nos segundo e terceiro andares havia portas de aço que conduziam à escadaria, ao elevador, e também havia venezianas de aço que cobririam as janelas. Era o último recurso ao qual recorrer, caso o andar térreo fosse violado após o toque de recolher. As portas de dentro, que dividiam os andares, tinham 25 centímetros de espessura, pesavam centenas de quilos e as venezianas externas eram à prova de bombas. Elas também fechariam o chão no fosso do elevador. Ellie torceu o corpo o bastante para ver a parte danificada da parede perto das portas, mas ainda alcançava o painel. Um dos homens subiu na grande picape, confirmando seu pior medo. Os homens riam enquanto falavam, se divertindo ao tramar como a matariam. Ela fez caretas e esperava que eles ficassem falando bobagens por mais tempo, enquanto suas mulheres iam para
um andar mais alto. Ela soube que o tempo acabara quando a porta do motorista se fechou, o motor da picape rugiu e passou por cima do corpo de um dos seguranças mortos. O motorista manobrou a picape para alinhá-la com as portas. Droga. – Ellie? – a voz de Breeze veio do alto-falante – Estamos todas no terceiro andar. Suba aqui, agora. – Elas estão aqui. – assegurou-lhe Breeze – Suba aqui com a gente ou vou até aí pegar você. O alívio correu por Ellie. – Tem certeza de que estão todas aí? Positivo? Sky e Blue foram as últimas a entrar. – Protejam-se, eu estou bem – mentiu Ellie. Ela queria poder subir até Breeze, mas alguém tinha que ativar as portas de emergência no painel. Quem projetara o prédio havia cometido aquela falha, em sua opinião, ao ver como ficar em pé ali a deixava vulnerável. Deviam ter instalado painéis de ativação das portas em todos os andares. Ela apertou o código de três dígitos no painel de emergência e girou a chave. Uma sirene alta explodiu pelo prédio em rebentos rápidos. Ela sabia que as portas e venezianas de aço se fecharam nos andares mais altos do prédio. As mulheres teriam ficado seguras no segundo andar, mas ela queria que subissem mais para ser mais difícil alcançá-las, caso os homens rompessem uma porta interior. Ela não havia pensado que o alojamento podia ser invadido, mas estava errada. Não ia mais se arriscar fazendo suposições erradas. Ellie bateu a porta do painel de emergência. Sabia que o centro de segurança estaria recebendo o sinal sobre o que ela fizera. O sistema trabalhava com as câmeras por meio de uma conexão sem fio. Era um backup de segurança, caso os telefones não estivessem funcionando e a energia caísse, pois assim eles ainda tinham como monitorar os sistemas de emergência. Ela se tranquilizou, pensando que a segurança tinha que saber que ela acabara de acionar o último protocolo de proteção, o que significava que o alojamento fora invadido. Eles viriam mais rápido para salvá-la. Assim espero. Por favor, nos mandem ajuda agora. A raiva tomou Justice. Ele se encontrava trancado na sala principal do
controle de segurança, observando as telas cheias de imagens de Homeland. Quinze picapes haviam se dirigido para dentro depois de explodirem o portão principal com um carro-bomba. Tiros estavam sendo disparados, pessoas estavam morrendo e ele estava preso numa caixa de aço, vendo tudo desmoronar. Seu povo em perigo e ele queria ajudá-los. – Acalme-se – Darren Artino exigiu – A SWAT e a segurança pública estão a caminho. Os prédios foram lacrados, todos estão cientes de que há um problema e seu conselho está seguro em um bunker. Você tem observado a tudo exatamente como nós. É só a minha força de segurança que está sendo morta lá fora. Seu povo está a salvo. – Senhor – gritou uma mulher – Ahn, há um grande problema. – O quê? – rosnou Darren Artino – Temos centenas deles neste exato momento. – É a mulher no alojamento feminino. Ela parou de acenar para nós e acabou de colocar em ação o último código do protocolo. Ela acionou as portas de Hail Mary. – As o quê? – Justice rosnou as palavras. Ele se perguntou se havia fumaça saindo de suas orelhas. Ele não queria se sentir indefeso nunca mais depois de ter começado sua nova vida, mas naquele momento, ele estava. Isso o deixava furioso. – Deixe-me ver as câmeras daquele prédio. – Darren Artino berrou – Aquela mulher é muito imatura, aposto que ela só está entrando em pânico. Vou mandá-la embora quando isso acabar. – Estou com a câmera da rua Leste na linha. – um homem anunciou – Tela catorze. Darren Artino apontou para a tela à direita e sentiu a respiração de Justice em sua nuca. Os dois focaram a atenção na tela. Viram uma picape acelerar em direção à entrada do alojamento das mulheres. – Filho da puta – disparou Darren. – O que são portas de Hail Mary? – Justice agarrou Darren pelo braço e o girou. Darren inspirou profundamente ao se deparar com um enraivecido par de olhos de gato. – Hail Mary é uma oração. É um “ai, merda, é grave”. Portas de reforço foram ativadas dentro do alojamento, e elas
interrompem seções inteiras do prédio. – ele puxou o braço para se livrar da pegada de Justice – Ponha todas as câmeras do alojamento na tela, e quero sinais de emissão de calor sendo detectados em todo os andares, já! Prioridade um para todas as telas frontais. Justice pegou seu celular e fez uma ligação. – O alojamento feminino está sobre grave ataque. – desligou em seguida. – Trinta e quatro sinais de emissão de calor no terceiro andar. As portas de Hail Mary estão fechadas e seguras – uma mulher gritou – Uma emissão de calor vem do primeiro andar e se move rápido. – Há 35 mulheres vivendo nos dormitórios, de acordo com nossos registros. – um homem falou – Estão todas lá. Câmeras que normalmente ficavam desligadas no alojamento ligaram. Uma tela mostrava as mulheres sentadas ou apoiadas nas paredes do corredor do terceiro andar. – Aquelas são minhas mulheres. – Justice ficou tenso – Elas estão a salvo ali? Darren fez que sim com a cabeça. – Muito. Nada pode alcançá-las. As portas de aço têm quase meio metro de espessura, nem mesmo uma bomba poderia amassá-las. Eu disse que elas estariam seguras. – Temos as portas de entrada na tela dez – um homem berrou. Justice e Darren olharam para a tela e Darren xingou. As portas de vidro estavam no chão. O dano no alto da parede fora torcido para o lado de dentro. – Filho da puta! O vidro aguentou, mas a construção não. – alguém constatou o óbvio. – Temos movimento com quatro novos sinais de emissão de calor. – uma mulher anunciou – Estamos rastreando a emissão de calor da pessoa que estava sozinha. Está na cozinha. Estou com todas as câmeras ligadas agora. Ellie correu para a cozinha. Ela ouvira o barulho das portas quebrando e sabia que estava presa. Ela podia se esconder e rezar para que o socorro chegasse antes de aqueles homens a encontrarem, ou podia lutar. As chances de encarar os quatro homens armados e vencêlos não eram boas. Sua maior preocupação fora com as Novas Espécies
mulheres, e saber que elas estavam a salvo a confortava. Ela compreendera que aquele emprego seria perigoso quando o aceitou, mas nunca pensou que algo daquele tipo pudesse acontecer. Com um puxão, ela abriu a gaveta de facas e pegou a maior que encontrou, enquanto observava por cima do ombro a entrada aberta. Tentou amainar o pânico, sabendo que precisava manter a cabeça em ordem. Preciso de um lugar para me esconder. Seu foco imediatamente pousou na ilha e ela foi até lá, se abaixou e sumiu de vista. Abriu um dos armários e começou a afastar os utensílios que estavam dentro, o mais silenciosamente possível. – Aqui, gatinha, gatinha – uma voz masculina gritou. É sério isso? Ellie chacoalhou a cabeça. Eles não sabem nem diferenciar um humano de uma Nova Espécie. Os idiotas não sabem nem em quem atirar. Caçadores o caramba, enfureceu-se, lembrando-se da palavra pintada na picape deles. – Vem cá, gatinha. – A voz parecia estar mais perto. O coração de Ellie acelerava enquanto ela entrava dentro do pequeno armário. Não havia muito espaço, mas ela conseguiu se enfiar e fechar a porta do armário. Seus joelhos estavam pressionados contra o corpo e ela inclinou a cabeça, ficando em uma posição fetal na escuridão. Tentou controlar a respiração para que não fosse ouvida. Seus ouvidos se esticavam ao menor ruído. Tudo o que ela podia fazer àquela altura era rezar para que eles não a encontrassem enquanto a ajuda não chegasse.
– Não vou matá-la, só quero conversar. Ellie cerrou os dentes. O homem obviamente achava que ela era uma completa imbecil se julgava que ela acreditaria nele. De jeito nenhum ela tentaria conversar com aqueles babacas insanos sem que um vidro à prova de balas os separasse. Deixar que eles se aproximassem seria a forma mais rápida de morrer, e ela queria viver. Justice continuava a olhar para diferentes telas, para observar o que acontecia no alojamento feminino. Pegou o telefone e apertou o botão de discagem rápida. Acabara de ver Ellie Brower se esconder num armário embaixo da ilha na cozinha. Seu olhar rastreava os quatro invasores, que
faziam buscas no andar térreo do prédio. Eles haviam percebido que os elevadores não estavam funcionando e que o acesso ao segundo andar estava bloqueado por uma grande porta de aço que obstruía a escada. Os homens se separaram e foram de sala em sala no primeiro andar, procurando por Ellie. – Nossas mulheres estão seguras no terceiro andar, mas a humana está se escondendo na cozinha. É só uma questão de tempo até a encontrarem, ela está presa. Há quatro homens fortemente armados lá dentro e eles conseguiram entrar quebrando as portas de entrada. – ele desligou. Darren Artino se virou e franziu a testa para Justice. – Com quem você estava falando? – Minha equipe de segurança está a caminho. Darren escancarou a boca e, em seguida, fechou-a com força. – A segurança é trabalho meu. A comunicação ainda está interrompida. Não posso chamar meus seguranças e ordenar que eles deem permissão para alguém entrar em Homeland. Eles bloquearam os portões de entrada, fazendo uma barricada com carros de funcionários, para impedir que mais alguém entre. – Eles já estão aqui – rosnou Justice – São meus homens, meu povo. A raiva fez o rosto de Darren ruborizar. – Meu trabalho é proteger as Novas Espécies, e não deixar que saiam dos lugares de onde estão a salvo para confrontar esses cretinos malucos. Já estamos quase controlando a situação. Ligue de novo para eles e ordene que voltem aonde estavam em segurança. – “Quase” não vai salvar aquela mulher – Justice apontou o queixo para a tela que mostrava a cozinha. Falou discretamente um palavrão. Um dos invasores acabara de entrar na cozinha. CAPÍTULO SETE – Gatinha, gatinha, gatinha – chamou uma voz masculina, como se ela fosse uma gata. Ele começou a puxar as portas dos armários no outro lado da cozinha. O corpo inteiro de Ellie tremeu e sua mão agarrou a faca com força, fazendo o cabo afundar em sua palma. Ela fechou os olhos e ouviu alguém bater em coisas. De repente, algo bateu no balcão acima dela. Ela conteve um gemido de pavor. Talvez ele não pense em olhar dentro dos armários de baixo, rezou ela fervorosamente.
Sua sorte acabou quando a porta do armário se escancarou. Ele pôs a mão dentro e agarrou o braço esquerdo dela. Uma pegada brutal a arrastou para fora do esconderijo com um forte puxão. – Peguei você, sua gatinha vadia. – Não sou uma gata. – informou ela, com uma voz trêmula – Sou tão humana quanto você. Ele lhe deu um puxão dolorido para colocá-la em pé e fixou os olhos nela. Ele parecia ter vinte e poucos anos, tinha mais de um metro e setenta, de um porte grande. A gola de sua camiseta revelava parte de uma tatuagem. – Não me importa o que você é, vadia. Agora você vai morrer. Esse país é nosso e vocês, merdas de animais de duas pernas, têm que morrer. – ele pôs a mão na parte de trás do jeans e sacou uma pistola. Ellie viu a arma e compreendeu que ele planejava atirar nela. O terror percorreu seu corpo ao mergulhar a faca no peito dele. Ela fitou seus olhos quando a lâmina o acertou, atravessou a camiseta e a pele, e observou seus olhos verdes se arregalarem em choque. Ele cambaleou, arrastou-a pelo braço, e ela largou o cabo da faca enfiada fundo no peito dele. Sangue escorreu por ele e nela. A mão que segurava a arma se levantou em sua última tentativa de atirar. Ellie agarrou seu pulso com as duas mãos e lutou para não deixá-lo apontar a arma para ela. A pegada dele em seu braço ficou mais forte, causando dor, mas foi se soltando conforme ele enfraquecia. Suas pernas amoleceram e ele desmoronou no chão de ladrilho da cozinha. Um gemido terrível saiu de sua boca, junto de sangue vermelho e reluzente. Ellie gemeu numa angústia horrível quando o olhar do homem se fixou no dela, com sua dor, seu pavor e sua raiva claramente expostos. Ele soltou o braço dela, e também a arma, que se estatelou no chão um segundo antes de ele cair para trás. Ellie o fitou em silêncio. Ele estava esparramado com as costas no chão e as panturrilhas torcidas sob as coxas, em uma estranha posição curvada. Seus olhos estavam bem abertos, uma poça de sangue se fazia no ladrilho e ele arfou mais algumas vezes. Um barulho leve de algo borbulhando chegou aos ouvidos dela. As mãos dele estremeceram, espasmaram e ele piscou antes de dar o último suspiro. O cabo da faca se sobressaía no peito, perto do coração, onde ela o esfaqueara. Ela engoliu a bílis que subiu ao mesmo tempo em que um vidro se quebrou ali perto. O som viera de outro cômodo, tirando sua atenção do homem morto a seus pés.
O instinto assumiu o controle. Ela mergulhou para pegar a arma no chão. Agarrou com as duas mãos a pistola gelada e pesada e se ajoelhou atrás da ilha, espiando por cima do balcão para ver as únicas entradas da cozinha. A arcada aberta para uma das salas e a que levava à área de jantar eram suas únicas rotas de fuga. Ela usou a ilha para proteger o corpo e apontou a arma para o espaço entre essas duas aberturas. Pretendia atirar em qualquer coisa que se movesse. Ela não precisou esperar muito até ouvir um barulho vindo da área de jantar, de uma cadeira sendo derrubada. Apontou a arma naquela direção, certificou-se de que seu corpo permanecia atrás da ilha, e usou a parte de cima do balcão para manter as mãos firmes enquanto segurava a arma. Ela tremia, assustada, e acabara de esfaquear um homem até a morte. Afastou tais pensamentos, sabendo que perderia o controle se ficasse se preocupando com aquilo. Não tinha tempo para encarar as repercussões do que tivera que fazer para sobreviver. O cara com a pistola adentrou a cozinha, passeando como se não tivesse preocupação alguma, o que mudou instantaneamente ao vê-la com a arma apontada. Ele abriu a boca, arregalou os olhos e, então, reagiu. Ele parecia se mover em câmera lenta, quando começou a baixar o cano da arma em direção a ela. Sua boca se comprimiu em uma linha de determinação para atirar, mas Ellie apertou o gatilho antes. O som a ensurdeceu quando a arma disparou. Ele se jogou de volta na sala de jantar e desapareceu de vista. A pistola apareceu do outro lado da parede e ele atirou, mas acabou acertando o teto em algum lugar atrás de Ellie. Algo suave e que lembrava neve choveu em sua cabeça. Como reação, ela gritou e atirou na parede atrás da qual ele se escondia, perto do arco. Ela não tinha certeza de que acertara o cretino, mas esperava que sim. Ela percebeu que não devia tê-lo ferido quando o cabo da pistola apareceu de novo. Ele apontou para ela sem ver ao puxar o gatilho. O armário perto de Ellie explodiu em pedaços. Ela se jogou no chão, quase em cima do homem morto. Escorregou no sangue espesso e molhado quando tentou se levantar do chão. Seus joelhos escorregaram na substância escorregadia, ela arfou, e suas mãos saíram debaixo dela. Ela caiu de barriga para baixo e grunhiu. Precisou rolar para ficar longe do sangue que manchava o chão. Viu movimento pelo canto dos olhos e se virou em direção a ele. O
homem com a pistola se apressou e correu em direção à ilha. Ela apontou a arma e atirou, deitada de lado. Ele se abaixou atrás do outro lado do balcão e bateu nos armários, provocando um estalo alto quando a madeira fina recebeu o impacto de seu corpo. – Largue a arma, sua vadia – ele exigiu – E então não vou torturá-la antes de explodir sua cabeça. O olhar aterrorizado de Ellie se fixou no armário que ele acertara com o último tiro, prova de sua força destrutiva. A madeira tinha um buraco do tamanho de um punho e partes dela explodiram com o impacto e se espalharam pelo chão de ladrilho. Ela respirou fundo, percebeu que tinha que sair dali e encontrar outro lugar para se esconder. O que ela realmente precisava era que o filho da puta com a pistola atirasse em si mesmo. – Ellie? Estamos ouvindo tiros pelos alto-falantes. Você está bem? Merda. Ela esquecera de desligar o sistema de comunicação. A voz de Breeze parecia preocupada, mas Ellie não podia responder. Saber que Breeze e as outras mulheres estavam seguramente trancadas dois andares acima a confortava. Apenas o chefe da segurança e o diretor sabiam os códigos para abrir aquelas portas de aço quando elas fossem ativadas. Nem mesmo Ellie tinha o acesso quando as portas de Hail Mary eram acionadas. O homem podia torturá-la, mas ela não tinha a informação de que precisavam para chegar às mulheres. – Ellie? – ele riu entredentes atrás da ilha, entregando sua localização – Que tipo de nome idiota para se colocar numa animal? Ellie abriu a porta do armário de leve. Ele devia estar bem atrás dela, no outro lado. Ela espiou dentro e mirou. – Vou matá-la lentamente pelo que você fez com o Eddie. Ellie puxou o gatilho e atirou naquela direção até a arma não disparar mais, vazia depois das poucas balas que arrebentaram a madeira. Ela se virou, caso ele atirasse de volta, e rastejou para a esquerda. A arma não serviria para nada, a não ser como algo para arremessar na direção dele. O silêncio se fazia enquanto ela esticava os ouvidos para escutar alguma coisa. Ela hesitou no canto para espiar em volta da ilha, seu coração martelando. Um gemido veio do outro lado do móvel. Ela o acertara? Não podia ter tido tanta sorte assim. Ela rastejou para a frente, apoiada nas mãos e nos joelhos. O sangue
pegajoso do homem morto cobriu suas mãos, deixando os movimentos escorregadios. Ela se mexeu alguns centímetros para a frente, apavorada, mas sabia que ainda havia dois outros homens que apareceriam a qualquer momento, atraídos pelo barulho dos tiros. Se ela continuasse ali, eles com certeza a matariam. O homem da pistola a estava enganando, talvez fingindo que estava ferido para que ela esticasse a cabeça para ver e ele atirasse. Ela ficou com um mau pressentimento até ver sangue escorrendo pelo chão, ao longo da linha de rejunte. Ellie segurou a respiração e arriscou esticar a cabeça e dar uma olhada no outro lado da ilha. O corpo dele estava encostado nela, sentado. A pistola repousava no chão, próxima às suas pernas, e ele olhava para a frente, na direção da sala de jantar. Ele piscou. Sangue cobriu seu peito e correu por seu braço esquerdo, revelando que ela o acertara ao menos uma vez. Ela continuou a observá-lo. – Buck? – uma voz masculina chamou da sala – Eddie? Ela se levantou com um salto e correu para a sala de jantar. Se Buck fosse o cara da pistola, ela rezou para que ele não tivesse tempo ou condições, com seus ferimentos, para pegar a arma e atirar nela enquanto ela saía correndo. Conseguiu sair da cozinha sem levar um tiro nas costas. O lugar mais seguro seria a biblioteca. Se ela conseguisse chegar lá sem ser pega, teria uma chance para criar uma barricada lá dentro. Mobília pesada preenchia a grande sala. Ela poderia arrastá-la para bloquear a porta dupla. Com tal novo plano em mente, ela correu como louca para colocá-lo em prática. Um homem exclamou um palavrão, enquanto ela saía em disparada por uma porta aberta em direção a um dos cômodos. Ela sabia que ele a havia visto e correu mais rápido. Todos os outros cômodos do andar de baixo estavam abertos ou tinham formas limitadas para serem isolados. Ellie alcançou a biblioteca e bateu a porta. Inclinou-se contra a madeira e ouviu o homem seguindo-a logo atrás; ela não teria tempo de pegar a mobília. Ela arfou, totalmente sem fôlego e fez uma careta ao ver que suas mãos, seus braços e sua camisa estavam cobertos de sangue. – Por aqui – berrou um homem – Ela está aqui dentro. – Buck e Eddie estão mortos – um deles gritou – Ela os matou. Aquela vadia animal matou os dois. Um dos homens tentou abrir a porta. Ellie gritou e a empurrou com toda a
força que tinha. Ouviu um xingamento selvagem e daí alguém bateu com tanta força, que o impacto a jogou alguns centímetros longe da superfície que ela pressionava fortemente com as costas. Ela procurou freneticamente por algo que pudesse alcançar com os pés e arrastá-lo para ajudar a bloquear a porta, contudo não teve tal sorte. Preciso de uma arma. A grande sala tinha alguns sofás, algumas mesas e cadeiras confortáveis. A lareira ficava do outro lado do cômodo. Livros preenchiam todas as prateleiras. Sua atenção desesperada voou de volta até a lareira e à ferramenta repousada próximo a ela. Seu foco se fixou no atiçador. Os dois homens jogaram o peso do corpo contra a porta. A força foi grande o bastante para fazer Ellie voar. Ela bateu em um dos sofás, escorregou pela lateral dele e caiu no chão atrás. Agarrou-se agitadamente no carpete para se apoiar e se colocar novamente em pé. – Pegue aquela vagabunda – berrou um dos homens. Ellie agarrou o atiçador de fogo e se virou para encarar os agressores. Golpeou o homem que estava mais perto, usando a barra de metal como se fosse um taco de baseball. A dor se lançou pela mão de Ellie com o impacto agudo do contato com o corpo do homem. Ele gritou de dor e saltou para trás, e fitou a camisa rasgada, de onde o sangue saía e a sujava. O homem olhou para Ellie. – Você vai pagar por isso – ele chiou. O outro homem desembainhou da cintura uma faca de caça, enquanto os dois iam para lados diferentes. Ellie ficou de costas para a lareira e agitou o atiçador entre eles, tentando mantê-los longe. Eles se afastaram mais um pouco um do outro para que ficasse mais difícil para Ellie manter os olhos nos dois. Eles partiram para cima. Ela girou. Ellie conseguiu atingir um deles segundos antes de o outro derrubá-la. Ela caiu e bateu forte no chão, e um grande peso a esmagava. Ela arfou, tentou gritar, mas não conseguia sequer tomar fôlego. – Sua vagabunda – rugiu o que a atingiu – Acho que ela quebrou a merda da minha mão. Você a pegou, Roy? O homem em cima dela a pegou pelo cabelo na base do pescoço e bateu seu rosto contra o carpete. Ela tentava lutar, mas não conseguia escapar. Ele a empurrava com mais força contra o carpete e um joelho se afundou dolorosamente na parte de trás de sua perna.
– Peguei a vadia raivosa, Chuck. Ele se ajustou para que ela virasse a cabeça. Ellie tomou fôlego e instantaneamente se arrependeu; o homem tinha um bafo pútrido. Ele a manteve presa no chão e segurava sua cabeça pelos cabelos. Ela não conseguiria sair de baixo daquele homem pesado, ele devia pesar em torno de cento e trinta quilos. – Deixe-me retalhar essa vadia – resmungou Chuck – Acho que ela quebrou mesmo minha mão, está doendo pra caramba. Roy grunhiu. Ele se moveu e Ellie gritou de dor quando seu corpo pressionou o dela em cheio, empurrando mais e mais, até suas costelas ameaçarem quebrar. Algo a cutucou em uma nádega. O outro homem arrancou o atiçador de fogo da mão dela. – Me ajude a levantá-la – disse Roy rispidamente – Sei como mostrar a essa vagabunda seu lugar na sociedade, e depois deixo você cortar a merda da garganta dela como se ela fosse um coelho. Vamos ficar observando-a se contrair até o sangue todo escorrer. Ellie só conseguia dar alguns espasmos e se contorcer quando tentava lutar. O objeto pressionado contra sua bunda não era mais um mistério. Roy estava com tesão. Ela teve ideias horríveis do que ele planejava fazer com ela para mostrar qual seria seu lugar em seu conceito bagunçado de sociedade. Ovelhas, coelhos… Para ela, qualquer coisa que respirasse devia atiçar aquele cretino. Mãos agarraram seus calcanhares e logo depois Roy tirou o peso de cima dela, soltou seu cabelo e pegou seu outro pulso. Eles a seguraram pelos braços e pernas, carregando-a entre eles, deixando-a com as costas a centímetros do chão. Ellie gritava e lutava, tentava chutar o homem que segurava suas pernas, mas eles não a soltavam. Chuck parecia não ter problemas em segurar seus calcanhares com uma pegada tão forte, forte demais para um homem com uma mão supostamente quebrada. – Jogue-a no sofá. Depois vá para o outro lado e agarre o cabelo dela. – Roy arfava, sem fôlego por tê-la segurado enquanto ela lutava. Eles balançaram o corpo de Ellie e ela bateu em uma mesinha de café. Uma dor aguda explodiu na lateral de seu corpo. Ela se perguntou se eles haviam quebrado uma costela sua quando sentiu dor ao tomar fôlego. Os homens a balançaram de novo e, daquela vez, ela atingiu o sofá, e eles torceram seu corpo com mãos brutas. Roy segurava seus braços e Chuck
soltou suas pernas. Ela tentou chutar Roy quando eles a inclinaram sobre a parte de trás do sofá. Roy jogou seu corpo em cima dela, esmagando-a debaixo dele, e a prendeu firme no sofá. Ela gritou nas almofadas quando mãos pegaram seus cabelos e pressionaram seu rosto mais fundo no material. Pânico absoluto se espalhou por ela ao perceber que não conseguia respirar. Eles a estavam sufocando. – Me passa a faca. – Roy parecia excitado e sem fôlego. Uma das mãos soltou o cabelo de Ellie. Ela virou o rosto, tomou ar para seus pulmões vazios e gritou ao exalar. Roy agarrou a parte de trás da camisa dela, e a faca deslizou por sua coluna. Paralisada de terror, ela não sabia se ele a havia cortado também. Tentou chutá-lo, mas não conseguia usar força nenhuma em seus movimentos. Sem ver, ela esticou as mãos, tentando agarrar Chuck. Uma mão bruta pegou novamente em seus cabelos, mas ela apanhou seu braço. Ela cravou as unhas na pele dele, enquanto ele empurrava seu rosto de volta nas almofadas, tentando sufocá-la de novo. Ela ouviu seu xingamento selvagem e tomou bastante fôlego quando ele soltou a mão dela para interromper a dor que ela lhe aplicava. Suas calças foram puxadas para baixo, não deixando dúvidas de que eles planejavam estuprá-la. Ellie lutou mais, gritou, e de repente o peso foi arrancado de cima dela. Ela jogou o corpo para longe do sofá no momento em que o corpo de Roy se moveu. Ela tropeçou e caiu sentada no chão. Respirou o ar precioso enquanto olhava boquiaberta para os homens à sua volta. Ela instintivamente puxou as calças de volta para cima. Roy estava deitado no chão, de barriga para baixo, com uma arma apontada para sua nuca. Chuck estava com as mãos para cima e parecia completamente apavorado. Quatro homens vestindo roupas pretas parecidas com as da SWAT e com a sigla ONE em branco olhavam para ela. Seus rostos não eram totalmente humanos e ela imediatamente soube que eram as Novas Espécies. Eles portavam armas e facas grandes presas às coxas. Ela ouviu um movimento vindo de trás e virou a cabeça na direção do barulho. Fury estava ali, eriçado de uma raiva muito mais negra que a roupa que ele e os outros homens vestiam. Algo feio se torcia dentro de Fury. Ele fizera seus homens irem até o alojamento feminino, assim que Justice ligou para a equipe e declarou que
Ellie estava em perigo. Ele ficara apavorado com a ideia de que pudesse chegar tarde demais, o que quase acontecera. Ao correr para o cômodo e ver aquela cena diante dele, com aqueles homens prontos para fazer coisas horríveis à sua Ellie, um impulso assassino o atingiu. Fez um enorme esforço para não rugir de cólera e matá-los. Seu animal queria vê-los sangrar e morrer. Ele lançou um olhar na direção das câmeras, cujas presenças ajudavamno a se conter. Ele sabia que, se elas não estivessem ali, ele teria matado os humanos sem nem mesmo pensar por ousarem tocar em sua Ellie. Mesmo ali ele estava tentado, que se danem as consequências. Eles haviam ido atrás de sua mulher e feito mal a ela. Ele deu um passo ameaçador na direção de um dos homens, mas Ellie deu um gemido suave. O olhar dele se virou para ela no mesmo momento, o que o forçou a repensar sua decisão. Zelar por ela se tornara sua principal prioridade. Ele podia matar aqueles cretinos depois de assegurar-se de que ela não estava gravemente ferida. Ele respirou algumas vezes pela boca para ajudar a diluir o cheiro de pavor que ela exalava e lutou para deixar seu animal sob controle. Deu uma olhada para cada um de seus homens, reconheceu também a raiva deles e entendeu que esperavam que ele os guiasse e mostrasse como lidar com aquela situação. Aquilo também o ajudou a se acalmar, forçando-o a relaxar os punhos. Com a mão, fez um sinal para que seus homens prendessem os cretinos responsáveis pelo ataque. Ele não estava confiando na própria voz. Com muita dificuldade, Fury tentava parecer calmo, algo que definitivamente não estava, ao se aproximar de Ellie. Ele queria se soltar no chão, pegá-la no colo e confortá-la. Ficara aliviado por chegar a ela a tempo, mas os cheiros dos homens haviam se misturado com o dela. Senti-los nela o enfureceu. Ela era dele e ele lutara para ficar longe dela depois do aviso de Justice. Ele ficara, a não ser por algumas saídas noturnas para vê-la de longe, e ali ela quase morrera. As ordens que se danassem, ele iria tocá-la. Ele se mexeu com cuidado para não assustá-la. Precisava ter certeza de que ela estava bem, mesmo que precisasse despi-la e inspecionar cada milímetro de seu corpo. Ele não deixaria por menos. Fury sabia que devia manter a cabeça fria. Ellie devia ter ficado desconfiada dele depois do incidente em sua casa, e ele não queria demonstrar o quanto ela era importante para ele. A última coisa de que
precisava era que Ellie compreendesse o quanto ela podia machucá-lo. Fique calmo, ele ordenou a si mesmo. Aja como se pudesse manter o controle na presença dela. Ele esperava que conseguisse, mesmo. Ela estaria a salvo e ele ficaria com ela, já que estava traumatizada. Preocupar-se sobre jogá-la por cima do ombro, carregá-la de volta à sua casa e amarrá-la em sua cama de novo não era algo de que ela precisasse naquele momento, não importava o quanto ele quisesse fazê-lo. Ele a manteria segura mesmo que significasse ficar de guarda 24 horas por dia. Sabia que não podia fazer aquilo, mas seu animal se acalmava em pelo menos considerar a possibilidade. Ele precisava estar com ela, falar com ela, ficar bem perto até que não tivesse dúvidas de que ela estava bem; caso contrário, romperia o limite da insanidade sabendo como ela esteve perto da morte e que ele poderia tê-la perdido para sempre. Ellie fitou o olhar intenso e negro de Fury, quando ele se agachou na frente dela. Ele hesitou um segundo antes de seu dedo se curvar sob o queixo dela. Ele vestia luvas pretas, que ela soube serem de couro pela textura, e tocou-a delicadamente enquanto a examinava. Ele virou a cabeça dela para estudar seu pescoço e rosto e soltou o queixo dela. Sem nenhum aviso ou nenhuma palavra, agarrou os braços dela abaixo dos cotovelos e gentilmente a levantou. Ela percebeu que a parte de trás de sua camisa estava partida e expunha sua pele. O aperto das mãos de Fury se intensificou quando ela quase caiu, com as pernas bambas. Um rugido leve saiu do fundo da garganta dele e mais uma vez a raiva deformou seu rosto. Ellie ficou com medo, se perguntando por que ele faria aquele barulho assustador para ela. As mãos dele relaxaram e, em um segundo, ele se abaixou e agarrou a parte de trás de suas pernas e as costas. Carregou-a no colo, segurando-a firme contra seu peito. Ele não olhava para ela. – Vou limpá-la e ver se está ferida. Fiquem firmes com eles lá fora. – Fury rosnava as palavras – Ninguém entra no alojamento. Um homem com um ar feroz e longos cabelos negros fez que sim com a cabeça. – Entendido. Fury começou a andar com passos largos. Ellie hesitou por um momento
antes de passar o braço em volta do pescoço dele. Ela estava cansada, sentia dores e traumatizada demais para se importar com aonde ele a levava. Descansou o rosto no ombro dele e fechou os olhos. Por alguma razão, ele e seus homens foram salvála de uma morte horrível nas mãos de dois agressores. Mais alguns minutos e… Ela tremeu de medo ao pensar no que teria acontecido. Afundou-se mais em Fury e não deixou de notar quando o corpo dele ficou tenso. Ele, no entanto, continuou andando. Ellie abriu os olhos quando ele parou e chutou algo. Ele empurrou a porta e a carregou para dentro do banheiro feminino. Ele franziu as sobrancelhas, olhou em volta, e se dirigiu ao longo balcão de pias. Ele a desceu gentilmente e ela se posicionou na beirada, encarando-o. Ela precisou soltá-lo quando ele se afastou lentamente. Fury se virou e olhou em volta do cômodo. Ela seguia seu olhar e notou que ele olhava para os cantos, e imediatamente entendeu o que ele procurava. – Não há câmeras aqui – Ellie informou-o delicadamente – A segurança queria instalá-las, mas fui contra por causa da privacidade das mulheres. Fury balançou a cabeça e se atentou à pia ao lado dela. Tirou as luvas e as jogou no balcão. Abanou as mãos abaixo da torneira, ativando-a. Quando a água começou a correr, ele lavou as mãos e se dirigiu a um porta-papel toalha. Ellie o observou com as sobrancelhas arqueadas enquanto ele puxava montes de papel e os empilhava ao lado dela no balcão. Ele o esvaziou completamente e foi até o outro. – Acho que é o bastante. Fury franziu a testa. Colocou o resto dos papéis na pilha e andou até ela de um jeito gracioso, parecendo um gato prestes a saltar. – Agora tire a roupa. Um arquejo rasgou os lábios de Ellie e ela precisou fechar a boca que se abrira com o choque ao ouvir a exigência dele. – Não. Ele rosnou levemente para ela. – Você está coberta com o cheiro e o sangue deles, não consigo dizer o que é seu e o que é deles. Vou lavá-la e encontrar seus ferimentos. Se você não consegue tirar a roupa, deixe comigo. Ellie relaxou, entendendo por que ele estava fazendo exigências malucas. – Você quer me limpar e tratar dos meus ferimentos?
Só isso? Os olhos dele se estreitaram. – Prefere que eu mande um dos meus homens vir aqui para despi-la? Sua segurança ainda está tentando manter a ordem. – ele bufou – Já devemos estar aqui há um tempo. Um de nós vai remover suas roupas e limpá-la para ver se você está ferida e o quanto. Decida agora se quem fará será eu ou um de meus homens. Não quero desperdiçar meu tempo e é o que você está fazendo. Ellie cerrou os dentes. Às vezes, ele realmente conseguia ser um babaca grosseiro. Ela acabara de passar pelo pior trauma de sua vida; ele não precisava ser tão bruto. – Acho que eu mesma consigo. – Eu a segurei para não cair. Você não consegue nem andar. – Acabei de matar dois homens, podia ter sido brutalmente estuprada e eles iam me matar. Mil perdões se minhas pernas estão meio bambas. Ele se aproximou dela. – Você matou dois? Eu não vasculhei o lugar, já que a ouvi lutando e sabia onde a encontrar. Apenas corri para onde você estava. – Eles não tropeçaram e se mataram. – ela tremia. A ficha do que fizera para sobreviver caiu. O sangue escoou de seu rosto e uma onda de tontura a fez balançar. – Eu os matei. Matei mesmo os dois. Fury rosnou um pequeno xingamento. – Foi autodefesa. Não fique assim, querida. Você não tinha escolha e eles estavam indo para cima. Você fez um favor ao mundo em tirá-los daqui. Eles a teriam matado sem pensar duas vezes. – ele encurtou a distância até ficarem a apenas alguns centímetros um do outro. Agarrou a parte da frente da camisa dela e a puxou até tirá-la do corpo, o que foi fácil, já que a parte de trás estava partida – Entende? Eles não valem esse assombro nos seus olhos. Brigue comigo, converse comigo, mas pense em qualquer outra coisa. Não fique mal, porque não aguento ver suas lágrimas. Em vez disso, me xingue e fique brava. Ela segurou as lágrimas. Ele estava sendo gentil, e aquilo só servia para levar suas emoções para ainda mais perto da superfície. Ele tinha os olhos mais bonitos do mundo. O desejo de se jogar nos braços dele e se prender a ele se tornou quase irresistível. Antes que ela pudesse fazê-lo, ele desviou os
olhos dos dela. – Agora preciso limpá-la. Realmente não aguento o fedor deles em você. É uma coisa das Novas Espécies, que me faz ter que controlar minha raiva. – ele pausou, olhando para ela – Tenho a impressão de que é um efeito colateral do que fizeram comigo, e às vezes preciso combater essas necessidades. É pior do que quando fico bravo, agitado ou com medo. Se esse cheiro horrível não sair de você logo, serei obrigado a ir até lá e arrancar as cabeças deles. – Ok. – ela fez que sim com a cabeça – Por mais que eu também não me opusesse a alguém fazer isso com aqueles imbecis, não quero que seja você. Você arranjaria problemas. Ellie notou que seu sutiã fora cortado junto com a parte de trás da camisa, e tentou segurar e cobrir seus seios nus. Antes que ela pudesse escondê-los, Fury pegou seus pulsos e puxou seus braços. Ele não olhou para o peito dela, apenas examinou suas mãos ensanguentadas. – Não se toque com o sangue deles. Desça e fique de frente para a pia. Vou limpá-la. O tom de voz macio e rouco de Fury a fez relaxar e não brigar com ele, quando seus olhares se encontraram novamente. Ela se chegou mais à beirada do balcão, não querendo brigar com ele. Ele tentou distraí-la da dor da realidade, e ela percebeu que aquilo era quase doce. Ela também não tinha deixado passar o fato de que ele fora afetuoso ao chamá-la de “querida”. Aquilo a fez sentir-se um pouco melhor do choque que sofrera. Seus pés tocaram o chão e suas pernas oscilaram. Fury a virou, ficou pairando em suas costas e soltou os braços dela. Pôs os braços em volta da cintura dela e balançou as mãos sob a torneira, ativando-a novamente. Pegou seus pulsos delicadamente e os enfiou debaixo da água fria. Ellie olhou para baixo e viu a água se colorir com o sangue que era lavado de seus pulsos e suas mãos. Ela fechou os olhos com força para suportar a sensação ruim que a atingiu ao ver a água ficando vermelha. – Por que diabos não há chuveiros aqui? – Fury rosnou. – Temos nossos próprios banheiros com chuveiro nos apartamentos. Ninguém nunca achou que o alojamento pudesse ser invadido. Ele suspirou. – Bem, agora você precisa de um e tudo que temos são essas pias.
Ellie continuou com os olhos fechados, grata por ele mantê-la distraída fazendo perguntas. Fury se inclinou contra suas costas nuas, suas roupas a arranharam um pouco, e seus braços roçaram a lateral de suas costelas enquanto ele esfregava o sangue de sua pele. Ordenou que ela se curvasse para a frente e ela não hesitou. Ele continuou limpando-a, espalhando água ao longo de seus braços, até os ombros. A água pingava pelo seu corpo e molhou suas calças. Não havia o que fazer em relação àquilo, e também não havia importância, pois suas roupas já estavam encharcadas de sangue. – Tire os sapatos. – a voz dele cochichou próxima à orelha dela. Ellie obedeceu, tirando com auxílio dos próprios pés os sapatos iate que já haviam sido brancos, mas que agora estavam manchados de sangue. Ela escorregara em sangue na cozinha, engatinhando sobre ele, e sabia que os sapatos estavam destruídos. Ela empurrou tais pensamentos para longe. As mãos de Fury se moveram alguns centímetros por sua calça de algodão, mas hesitaram. – Só estou limpando você. Aguente mais um pouco. Você está segura e ninguém vai machucá-la, Ellie, eu não vou permitir. Teriam que passar por cima de mim para alcançá-la, e isso não aconteceria. Ela acreditou nele. – Ok. Ela manteve os olhos fechados para não ver se Fury fitava seu corpo. As mãos dele foram delicadas quando ele terminou de tirar sua calça e enganchou os dedões em sua calcinha para removê-la também. Ela levantou uma perna e depois a outra, para ajudá-lo quando percebeu que ele queria tirá-las totalmente até que ela ficasse nua. Fury ligou novamente a torneira e, com as mãos em forma de concha, jogou água pelo corpo dela. Quando todo seu corpo, do pescoço aos pés, pingava, ele usou toalhas de papel úmidas para esfregar suavemente sua pele, e ela permanecia imóvel de um jeito nada natural. – É o melhor que posso fazer – disse Fury com uma voz profunda e firme – Vai precisar de um banho, mas não vejo mais sangue. Você conseguiu que ele não pegasse em seu cabelo, pelo que posso ver e sentir. Ellie finalmente abriu os olhos quando ele não encostava mais nela. Seu olhar imediatamente encontrou a imagem dele refletida no espelho, e ela abriu a boca em choque. Fury estava de costas para ela enquanto tirava o colete e desabotoava a camisa para descobrir seus largos ombros.
– O que está fazendo? – sua voz pareceu surpresa, o que ela detestou. – Você precisa vestir algo seco e limpo. Pensei em lhe dar minha camisa e minha cueca. – ele olhou por cima do ombro e encontrou o olhar dela no espelho – Quer sair do banheiro pelada? – os olhos negros se estreitaram – Não vou deixar, então nem pense nisso. Se você tivesse me falado para mandar outro homem ajudá-la a se despir, isso também não teria acontecido. Ela balançou a cabeça e cruzou os braços sobre os seios para escondê-los da vista dele. – Por favor, me empreste a camisa e a cueca. Eu agradeço. Ele virou a cabeça. – Não precisa me ver tirando a roupa. Ellie percebeu que o fitava enquanto ele desabotoava a camisa e a tirava, revelando costas bronzeadas e musculosas. Ela fechou os olhos e os apertou. Era sua única escolha, já que estava de frente para um espelho e virar-se apenas faria com que ela o visse em carne e osso. Ela o ouviu se despir e parecia que ele não terminaria nunca, até que ele falou. – Pronto. Pode olhar. Ellie abriu os olhos e encontrou Fury mais perto dela, quase tocando suas costas. Ele virou o rosto e segurou a camisa e a cueca boxer azul por cima do ombro, na direção dela. Ellie se virou e esticou os braços para pegálos. De novo ele notou como era mais alto que ela. – Obrigada. – Eu devia uma. – ele rosnou as palavras. A raiva explodiu com aquela provocação sobre a relação tensa dos dois. Ela cerrou os dentes para evitar soltar uma resposta rude. Não precisava ser lembrada daquilo naquele momento. Em vez daquilo, se vestiu rapidamente. A cueca boxer era de algodão macio, ainda quente do corpo dele, e ficou folgada em seu quadril. Agora tenho uma cueca. O pensamento a fez dar um sorrisinho enquanto vestia a camisa. Tinha o cheiro dele, carregava o calor dele, e ela estava feliz em estar coberta de novo. – Pode se virar agora. – ela terminou de abotoar a camisa emprestada. Ele a encarou lentamente. Ele estava sexy vestindo apenas o colete e as calças que contornavam suas formas. Seus braços estavam totalmente expostos, músculos grandes e grossos eram ostentados pelo colete apertado, que parecia pequeno demais para seu porte impressionante. Ela tirou os olhos
daqueles bíceps e começou a enrolar as mangas da camisa para que não cobrissem suas mãos. Fury deu um passo à frente para ajudá-la, afastando seus dedos para se encarregar da tarefa. Ela fitou seu colete, no qual a sigla ONE fora estampada com letras grandes. – Não sabia que vocês tinham a própria equipe de segurança. Ele respirou fundo. – É, bem, não podemos confiar nos humanos para nos protegerem totalmente. Temos treinado em segredo e ninguém do seu povo sabia, até agora. Veja que trabalho incompetente eles fizeram hoje. A Mercile nos deu força, reflexos e a capacidade de aguentar um espancamento e continuar lutando abaixo da resistência normal. Os que têm qualquer habilidade ensinam os outros. Aprendemos rápido. – Por que fazem isso em segredo? Homeland é de vocês, podem fazer o que quiserem. – Diga isso ao seu povo. – ele hesitou – Eles negaram nossas solicitações quando pedimos um espaço para treinar ou para que seus instrutores treinassem as habilidades de lutas de nossos homens. Agora fazemos isso sozinhos no alojamento masculino, longe das vistas deles. Tiramos todas as câmeras lá de dentro. Arrancamos quando a segurança se recusou a obedecer. Ela franziu a testa. – Mike não o dedura para o diretor? – O que cuida do alojamento? – Fury chacoalhou a cabeça – Ele bebe um álcool fedorento toda noite. Depois das nove, uma bomba pode explodir em seu apartamento e ele não vai se mexer. Ele não tem ideia do que fazemos à noite. – Sinto muito por terem que fazer isso. – ela não sabia o que mais poderia dizer – Se suas mulheres quiserem treinar aqui, não vou dedurá-las. Elas não vão precisar se esconder de mim. Ele balançou os ombros. – Trabalhamos apesar dos obstáculos que eles colocam em nosso caminho, mas obrigado pela oferta às mulheres. Passarei isso à frente. De um jeito ou de outro, vamos nos tornar autossuficientes. – Sei que vão. Ele levantou a mão, mas congelou-a no ar, seus dedos a milímetros do rosto dela.
Ellie não resistiu e se aproximou ainda mais, até que as pontas dos dedos dele roçassem em sua bochecha. Dedos se curvaram ao longo de sua face, deslizaram por seu cabelo, e ela pressionou o rosto contra a palma da mão dele. O toque dele a acalmou. Ela não diria em voz alta, mas estava feliz em vê-lo de novo, mesmo sob circunstâncias terríveis. Ellie elevou o olhar até o dele. – Obrigada por me salvar. Os olhos negros dele eram lindos, e alguma emoção desconhecida cintilou neles por um segundo. – Já disse que não quero mais que você morra. – ele acariciou o rosto dela – Fiquei preocupado com você. Ela hesitou. – Algumas de suas mulheres me contaram que já o viram do lado de fora observando o alojamento. Por que você faz isso?
A face dele ruborizou como se estivesse envergonhado, mas em seguida suas feições se tornaram inexpressivas. Suas mãos se soltaram dela e caíram ao lado de seu corpo. – Gosto de saber onde meus inimigos estão. Venha – ele rosnou – O sangue não era seu. Você tem alguns ferimentos e arranhões, mas ficará bem. Tenho um trabalho a fazer. Preciso ver o que está acontecendo. Foi como se ele a tivesse golpeado com suas palavras repentinamente ásperas, deixando-a ciente de que não eram sequer amigos. Ela afastou o olhar dele. – Vou calçar os sapatos. – Não. Eles estão sujos de sangue e eu acabei de lavá-la. Não posso fazer isso de novo. Não sou tão forte assim – ele murmurou. O que isso quer dizer? Ellie não tinha certeza ao andar em direção à porta do banheiro. Fury ficou ao seu lado, mas não tocou nela enquanto cruzavam o cômodo e ele vestia as luvas novamente. Ele abriu a porta do banheiro para ela e depois saiu andando, deixando que ela o seguisse. Ela olhou para a parte de trás de sua cabeça, tentando imaginar o que ele pensava. Ele havia sido gentil com ela até o comentário sobre inimigos. Os quatro policiais da ONE guardavam a entrada danificada. Darren Artino e uma dúzia de seguranças aguardavam. Ele olhou para Fury. – Seus homens não me deixaram entrar. Fury deu um sorriso que não chegou aos olhos dele, e mostrou seus caninos afiados. – Agora você pode entrar. Artino pronunciou um palavrão feio e acenou para que seus homens entrassem no alojamento. Seu olhar raivoso passou pelo corpo de Ellie e ele ficou visivelmente tenso. Seu foco se fechou na cueca que ela vestia, da qual um ou dois centímetros se mostravam abaixo da camisa, e ele ficou boquiaberto. Virouse para olhar para Fury. Fury deu de ombros. – Ela precisava de roupas. Vocês deviam colocar chuveiros e toalhas nos banheiros do térreo, se sua segurança é uma merda. Quando as pessoas que vocês falham em proteger precisam se limpar do sangue que espirrou, podem fazê-lo confortavelmente depois de salvarem a pele. Toalhas de papel não iriam cobri-la, assim era preferível que ela usasse minhas roupas de baixo do
que ficasse andando nua por aí. Ellie cobriu a boca com a mão para esconder o sorriso. A cara de Artino foi ficando vermelha, conforme as palavras iam entrando em seus ouvidos. Às vezes, o chefe da segurança era um moralista idiota, e ela gostava quando ele ouvia umas boas. Ela deixou a mão cair enquanto observava Fury balançando a cabeça para seus homens. Eles saíram do alojamento feminino sem olhar para trás. Artino encarou-a. – Acredita que ele me disse aquilo? – ele olhou para Ellie, ultrajado. Ela hesitou, escolhendo as palavras cuidadosamente. Ela não estava em posição de falar que a segurança dele havia falhado e muito. – Vocês deviam mesmo colocar pelo menos um chuveiro e toalhas de verdade no banheiro do primeiro andar. Teria sido útil. Ela afastou os olhos de sua expressão surpresa, foi em direção a um dos sofás e desmoronou em seu tecido macio. A exaustão e a necessidade de um bom choro se instalaram. Ou talvez uma bebida forte. Talvez todos os anteriores. Fury parou na calçada do lado de fora para encarar seus homens e olhar Ellie por cima do ombro. Ela sentou no sofá, parecendo cansada e pálida de seu suplício traumático. Ele usara cada gota de sua força de vontade para deixá-la, quando o que realmente queria era passar os braços em volta dela e confortá-la. Se ela se debulhasse em lágrimas, ele sabia que voltaria para dentro, não importava o quão estúpido seria segurá-la no colo até que o medo dela passasse. Seu telefone tocou e ele o agarrou. – Sim, Justice? – O que você fez com a mulher humana enquanto estavam no banheiro? As câmeras o seguiram quando você a carregou para lá, mas não há gravações do interior dele. As coisas estão bem? – Sim. – Fury ficou tenso. – Você devia ter mandado um de nossos homens acompanhá-la, se ela precisava de ajuda. Já tivemos longas conversas sobre ela, meu amigo. Você está bem? Ele baixou o tom de voz. – Eles a tocaram e a feriram, mas não esquentei a cabeça.
– Bom. – Justice fez uma pausa – Você fez um trabalho bom pra caramba, Fury. Estou orgulhoso de você. Os humanos estão meio chateados porque nossa equipe salvou a mulher. Eles não ficaram felizes ao saberem que agora temos nossa própria segurança. – É a nossa Homeland. O presidente dos Estados Unidos nos disse que esta é nossa casa e que, quando formos capazes, podemos administrá-la sozinhos. – Eu sei. Eles se sentem culpados por financiarem as Indústrias Mercile sem saber exatamente pelo que pagavam. Eles querem se acertar conosco e pegaria muito mal no mundo todo se os acusássemos de alguma coisa. Mas ainda estamos pisando em ovos até que estejamos em posição de nos governarmos. A conversa com Darren Artino não pareceu amigável. O que foi dito? – Ele não gostou do fato de que tivemos êxito onde sua segurança falhou, e ficou contrariado por eu ter ordenado a equipe a não deixar ninguém entrar no alojamento até que eu tivesse certeza da segurança e do bem-estar de Ellie. Justice hesitou. – Você está controlado? Preciso que esteja. Tudo de que nosso povo mais precisa agora é liderança e orientação, enquanto aprendemos a prosperar no mundo fora do cativeiro. Escolhi você para ser o segundo no comando porque você é respeitado, costuma controlar as emoções com rédeas curtas e quer o melhor para seu povo, tanto quanto eu. – Você não tem com o que se preocupar – Fury jurou, com os olhos ainda fixos em Ellie – Eu sei que não posso tê-la. – Eu queria que você pudesse. – Justice suspirou delicadamente – Você merece a felicidade. Retorne ao alojamento masculino, estarei lá em breve para falar com nossos homens. CAPÍTULO OITO O diretor Boris olhava com raiva para Ellie. – Quero uma explicação sobre sua recusa agora mesmo. Ela o olhou de volta, furiosa, mais do que pronta para responder a ele de um jeito grosseiro. – Explicar o quê? Não me faça entrar nesse assunto de novo, já entrei uma centena de vezes e nada vai mudar só porque para você é um problema eles terem os próprios seguranças. O oficial Fury ajudou a me lavar naquele banheiro. Eu tremia demais para andar, de tão transtornada que estava. Tive
que matar dois homens, não sou militar, e não tenho esse tipo de vivência. – Eu sei – ele redarguiu. – Eu estava atordoada no dia em que aqueles pirados invadiram Homeland e não conseguia nem andar. Se você viu os vídeos do que aconteceu, sabe que o oficial Fury precisou me carregar. Minhas roupas estavam sujas de sangue e ele apenas me emprestou sua cueca e sua camisa. Ele fez algo decente e gentil. Qual é o problema? – ela se levantou e resistiu à vontade de dar uma bofetada naquele cretino ofensivo. – Ele a tocou inapropriadamente e eu quero uma reclamação formal até às seis da tarde de hoje. Precisamos mostrar que eles não podem fazer o que quiserem, não tiveram autorização para realizar o que fizeram. Inacreditável. Elllie ficou boquiaberta. – Não vou fazer isso. Ele não me tocou inapropriadamente. Se você quer fazer com alguém um concurso de irritação para ver quem está no comando, não me ponha nele. Nem tenho o equipamento apropriado. Ele ignorou seu comentário sarcástico. – Aquele homem a carregou para dentro de um banheiro, onde você se despiu na frente dele e ele na sua, obviamente para lhe dar a droga da cueca. Isso é totalmente inaceitável. Escreva esse relatório agora. Isso é uma ordem. – Não há câmeras dentro do banheiro, você não sabe o que aconteceu lá! – Ellie gritou, para lá de furiosa. – Mas posso imaginar. É isso, senhorita Brower? Você sente tesão pelo oficial Fury? Vocês fizeram mais do que trocar roupas? Ele te comeu? Ela deu um passo para trás e seus punhos se fecharam. Tinha tanta vontade de derrubá-lo, que precisou lutar para não perder a cabeça. Ela não podia. Ele havia ido longe demais. – Você é um cretino com uma mente suja, diretor Boris. O homem e a equipe dele me salvaram. Onde diabos estava a sua segurança quando aqueles caras estavam usando veículos para derrubar as portas de entrada do alojamento? Onde eles estavam quando eu estava sendo perseguida pelo primeiro andar e fui forçada a matar dois homens? Onde eles estavam enquanto aqueles dois babacas me violentavam e planejavam me estuprar brutalmente na frente de suas câmeras antes de me matar? Deixe-me dizer
onde estavam. Eles estavam observando tudo de dentro daquela segura sala de controle. Os seguranças da ONE salvaram minha vida e o oficial Fury, para sua informação, entrou em uma cabine enquanto eu me limpava, ficando de costas para mim o tempo inteiro, de olhos fechados. Ele nunca me viu nua. – ela mentiu – E eu nunca vi mais que alguns milímetros de sua pele, a não ser seus braços – mentiu ela de novo – Não me faça cometer perjúrio em um relatório falso só porque você está puto por eles terem salvado o dia, enquanto suas medidas de segurança de merda foram uma piada. O diretor Boris se levantou. – Você está demitida. Pegue suas tralhas e saia de Homeland imediatamente. Eu mesmo vou mandar prender você se depois de uma hora ainda estiver aqui, e vou fazer minha segurança de merda jogar seu traseiro para fora dos portões. A polícia local estará esperando para lhe dar um novo lar na cadeia municipal. Ela balançou a cabeça. – Você é um covarde imbecil. – ela se virou e saiu da sala pisando duro. Ellie se engasgava com as lágrimas, enquanto se dirigia à porta de saída. Ela tinha apenas uma hora para juntar tudo o que tinha e deixar seu único lar. Teria que ligar para a segurança e pedir que levassem seu carro ao alojamento para colocar suas coisas nele. Todos os veículos privados ficavam guardados em um estacionamento seguro na parte de trás de Homeland. Era uma medida padrão da segurança para impedir que os carros fossem vandalizados. Ela não tinha mais casa, tinha pouco mais de mil dólares na poupança e estava desempregada. O que mais doía era o fato de que sentiria falta das mulheres de quem se aproximara. Ela alcançou o guarda que ficava na porta que levava para a saída, mas ele se mexeu repentinamente para bloquear o caminho, fazendo-o de modo desagradável. – O diretor Boris ordenou que eu pegasse seu cartão de segurança e a acompanhasse diretamente para fora de Homeland. Ele declarou que seus pertences seriam encaixotados, colocados em seu veículo e levados até você no portão de entrada, em uma hora. O choque por não poder nem mesmo dizer adeus às mulheres ou empacotar os próprios pertences rasgou seu corpo. Meu comentário sobre o diretor Boris ser um imbecil deve tê-lo levado a um outro nível de cretinice. Merda. Seu próximo pensamento se concentrou em Fury. Nunca mais vou vê-lo. A dor se espalhou por ela.
Talvez ela não fosse a pessoa favorita dele, mas a ideia de nunca mais colocar os olhos nele a deixou arrasada. Emburrada, ela fez que sim com a cabeça, enquanto o segurança colocava a mão na arma, caso ela resolvesse discutir. Tal fato só deixaria aquela situação surreal ainda pior. Ela desprendeu o cartão de segurança da roupa e entregou-o. Ele soltou a arma, mas agarrou seu braço. – Posso andar sozinha, obrigada. – ela puxou o braço, mas ele não a soltou. – Recebi ordens de prendê-la e pedir que seja transferida aos policiais civis ao chegarmos ao portão, caso você apresente qualquer resistência. Ela não lutou, apesar de querer. Em vez daquilo, levantou o queixo. Conteve mais lágrimas enquanto o homem a segurava com força e a empurrava em direção à luz do sol. Outros dois guardas a esperavam lá fora, e um deles agarrou o cartão de segurança de sua mão. Aparentemente, o diretor Boris havia mesmo lhe estendido o tapete vermelho da raiva, já que três guardas foram encarregados de cuidar dela. Babaca. Os dois homens novos tomaram posições à frente e atrás, enquanto o guarda que ainda segurava seu braço se apressou até um dos carros de segurança. Ele praticamente a jogou no banco de trás. Ela fechou os olhos quando o carro se moveu, sabendo que a levavam até o portão e embora da vida de Fury para sempre. Ellie foi empurrada para fora do portão, na direção de um grupo de manifestantes. O nervosismo a devorava enquanto ela esperava por seu carro. Ela olhou para o grupo AntiNovas Espécies, mas desviou o olhar ao notar que lhe lançavam olhares furiosos e suspeitos. Os manifestantes não sabiam qual era sua relação com as Novas Espécies, mas haviam visto a segurança levá-la até ali. Ela andou alguns centímetros na direção dos portões, quando alguns manifestantes se aproximaram. – Para trás – mandou um dos guardas, colocando a mão na arma. Ellie congelou. – Estou esperando por meu carro. Eles não gostam de mim. – ela inclinou a cabeça na direção das pessoas atrás dela – Não posso esperar aqui em segurança até meu carro chegar? Isso é pedir muito? O segurança deu um sorrisinho afetado. – Vá agora para trás da linha antes que eu o faça. Ele parecia estar mesmo falando a verdade. Ela se virou e andou por três
metros até a linha pintada no chão. Alguns dos manifestantes estavam a um metro dela. Um dos homens a olhou e se aproximou. Ele era do tipo robusto e brutamontes e parecia ser um rejeitado da prisão, com tatuagens desbotadas em seus braços à mostra. – Quem é você? Você veio lá de dentro. É uma daquelas adoradoras cheias de dó dos animais? Ela engoliu seco. – Por favor, me deixe em paz. Uma manifestante a olhou e se virou para encarar um dos guardas. – Quem é essa mulher? O guarda nem olhou para Ellie. – Ela trabalhava aí dentro, mas acabaram de mandá-la pro olho da rua. Ellie olhou boquiaberta para o guarda por ele tê-la dedurado e, no mesmo instante, sentiu a hostilidade vindo das pessoas à volta dela. De novo, ela se aproximou do portão, com medo. Alguns deles pertenciam ao mesmo grupo que invadira Homeland. O guarda com a pistola chacoalhou a cabeça. – Mandei ir para trás. – Isso aí – berrou um dos manifestantes para Ellie – Por que não vem até aqui, vagabunda? Vamos adorar ter uma conversinha com você. Ellie estudou a multidão. Eles não estavam mais andando e carregando placas com mensagens de ódio. Eles a observavam e se aproximavam juntos, se aglomerando. Seguravam as placas como tacos de baseball, e Ellie se encheu de pavor. Ela se virou novamente para os portões e segurou nas barras. – Vou processar cada um de vocês se permitirem que eu seja ferida, e aí vocês vão pro olho da rua comigo. – Então vá embora – bufou um dos guardas – Eles não podem atacá-la se você não estiver aqui. – Não posso. Meu carro e meus pertences estão sendo trazidos até o portão, nem mesmo minha bolsa está aqui. Ele deu de ombros e sorriu friamente. – Protegê-la não é mais nosso trabalho. Você é uma ex-funcionária, então se defenda e afaste-se antes que a forcemos. – ele pausou – E seria um prazer dar uns safanões em você. Ouvimos dizer que você quer que nos demitam para que aquelas Novas Espécies fiquem com nossos empregos. – O que está acontecendo aqui? – uma zangada voz masculina se fez
ouvir de cima, da passarela. Ellie olhou para cima. Ela não sabia o nome e não conhecia o rosto da Nova Espécie, mas as feições revelavam que ele era uma delas. Ele também vestia uma roupa parecida com a da SWAT , com as letras ONE no peito. – Nada – gritou o guarda. A Nova Espécie franziu a testa ao se deparar com o olhar de Ellie. – Sou um oficial da ONE e estou no comando. Por que você está aí fora? – Fui demitida. – Ellie olhou por cima do ombro para a multidão atrás dela – Preciso esperar que tragam meu carro para que eu possa ir embora. A segurança se recusa a deixar que eu espere do lado de dentro, e agora estou num aperto aqui. – ela olhou de volta para ele – Eu realmente gostaria de ficar em segurança enquanto espero. Alguém arremessou algo no braço de Ellie. Ela se encolheu e virou para ver o que a acertou. Uma lata de refrigerante estava caída no chão e um líquido negro espirrava do ponto em que ela havia rachado. Ellie se afastou dos manifestantes, se aproximou dos portões e alguém jogou mais alguma coisa. Ela se abaixou a tempo de desviar de uma garrafa de água que bateu na barra de metal próxima à sua cabeça. – Traga-a para dentro – ordenou o oficial da ONE – Agora! – Ela foi demitida – explicou o segurança – Ela não é problema nosso. – Estou mandando que faça isso agora – rosnou o oficial da ONE – Garanta que ela fique segura. Não me faça dizer isso de novo. Ellie se encheu de alívio quando um dos seguranças olhou para ela e apontou para a área de entrada. Mais alguma coisa voou e a atingiu no ombro. Ela não viu o objeto, mas doeu. O portão se abriu ao mesmo tempo em que a multidão arremessou outro objeto que quase a acertou, enquanto ela se lançava para dentro da cerca. Ela esfregou o ombro no ponto em que fora atingida e olhou para cima, querendo agradecer ao guarda, mas ele havia desaparecido. – Fique perto do portão – ordenou o segurança mais próximo a ela. Ela balançou a cabeça. Esperaria pelo seu carro ali com alegria, enquanto observava os manifestantes em segurança. Eles a olhavam e continuavam com o protesto. Imbecis, pensou ela, e virou as costas para eles. Ela queria poder sentar, mas o chão não era convidativo. Fechou os olhos, abraçou o corpo e esperou não ter que aguardar muito. – Senhorita Brower?
Ellie abriu os olhos, surpresa ao ver Fury com o oficial da ONE que ordenara aos seguranças que a deixassem voltar para dentro. Fury vestia jeans, uma camisa preta de manga comprida e botas. Seu cabelo estava preso em um rabo de cavalo e ele parecia furioso. O coração dela acelerou imediatamente só de vê-lo. Apesar de sua expressão zangada e firme, ele estava sexy com aquelas roupas casuais que ostentavam seus ombros e sua cintura definida. Ele parou a cerca de um metro dela, com os oficiais da ONE à sua direita. – O que está acontecendo? O Slade aqui me informou o que houve lá fora. – ele a olhou de cima a baixo, examinando-a – Foi ferida por algo que jogaram em você? Ela chacoalhou a cabeça, decidindo não mencionar o ombro latejante. Forçou-se a tirar os olhos de Fury e dirigi-los a Slade. O oficial da ONE que a salvara a olhava com curiosidade. – Obrigada por deixar que eu espere aqui pelo meu carro. As coisas estavam ficando feias lá fora. Ele fez que sim com a cabeça. A atenção de Ellie retornou a Fury. Ela mordeu os lábios, indecisa por alguns segundos e, então, se decidiu. Ele precisava ser alertado e ela queria que ele soubesse o que se passara no escritório do diretor. Ela também queria dizer adeus. – Podemos falar em particular? – Ela olhou para o guarda que estava bem perto deles e que obviamente ouvira todas as palavras. Fury franziu a testa, mas consentiu com a cabeça. – É um assunto particular entre nós dois ou o Slade pode participar? Ellie sorriu para Slade. – Ele é mais que bem-vindo a fazer parte da conversa. Fury se virou. – Siga-me. O segurança que estava perto de Ellie a segurou pelo braço. – Ela fica aqui. Recebi ordens do diretor Boris para mantê-la do lado de fora, e já estou violando as instruções ao deixá-la desse lado do perímetro. Para mais longe, ela não vai. Fury se virou de volta. – Tire a mão dela. – Fury rosnou essas palavras, mostrando sua irritação – Eu dou ordens acima do seu diretor. A mulher vai andar com a gente e você vai ficar na sua. Entendeu? Não toque nela de novo.
O segurança pareceu surpreso, mas soltou Ellie e deu um passo atrás. Fury fez um sinal para que ela andasse à frente dele e de Slade. Ela deu uns vinte passos e se virou para encarar os dois homens que vinham logo atrás dela. Lançou um olhar em volta para se certificar de que não havia nenhum guarda perto o suficiente para ficar ouvindo. – O que você quer falar em particular? – Fury olhou para ela com delicadeza e suas feições tensas e zangadas relaxaram. – Queria avisá-lo que o diretor Boris quer acabar com suas novas equipes de segurança. Hoje ele tentou fazer com que eu redigisse uma falsa queixa contra você e seus homens. Tenho certeza de que se ele fez isso comigo, tentará fazer com outras pessoas. Ele está muito bravo por vocês estarem controlando sua própria comunidade. Só queria que vocês soubessem. – ela pausou – Vocês me salvaram outro dia e acho que são melhores do que a segurança atual. Acredito que vocês estão mais do que certos quando dizem que ele quer ficar no controle de Homeland. Só queria alertá-los. Fury a estudou, mas balançou a cabeça depois de um longo momento. A expressão de Slade ficou pétrea. Ele não revelou o que pensava. Foi como se ela estivesse falando sobre o tempo. Fury respirou profundamente. – Que tipo de relatório ele queria que você fizesse contra minha equipe? De repente, o chão se tornou muito interessante para Ellie. Ela não conseguia encará-lo. – Ele tentou fazer parecer grave o fato de você ter me ajudado a me lavar no banheiro do alojamento. Deixou implícitas algumas coisas absurdas. – ela levantou os olhos para ele antes de se focar novamente no chão – Eu me recusei a redigir a queixa e disse que ele não podia me fazer cometer perjúrio. Só queria avisar vocês sobre o que ele tentou fazer. Ela podia sentir Fury observando-a enquanto o silêncio se alongava. Ela finalmente olhou para ele e viu linhas franzidas em torno de sua boca. – É por isso que você foi demitida? Acabaram de me informar sobre isso. As palavras realmente correm rápido. – Foi por isso, e talvez também tenha a ver com o ter chamado de algumas coisas não muito legais, quando ele se zangou por causa da minha recusa. – ela deu um sorriso triste – Ele provavelmente teria deixado eu mesma empacotar meus pertences antes de eu insultá-lo. Fury contraiu os lábios, mas não sorriu. – Entendo. – ele fez uma pausa – Preciso do seu endereço e telefone para
caso o Justice queira falar com você. Apenas me diga, que vou memorizá-los. Os ombros de Ellie caíram. Ela odiava ter que admitir a ele sua situação. – Vou arranjar um quarto num motel da cidade e ir atrás de um emprego. Eu mudei de estado quando me realocaram para trabalhar aqui. No momento, não tenho uma casa. Mas posso dar o número do meu celular, se eles o trouxerem com minhas coisas. Senão, posso ligar para o departamento para deixar o número do quarto do motel para Justice, se você acha mesmo que ele vai querer falar comigo. Ainda não tenho ideia de em qual motel ficarei. Os olhos negros piscaram e a boca de Fury se apertou, formando uma linha firme. Ele a fitou, parecia estar estudando-a por algum motivo que ela não conseguia compreender. Ela se forçou a tirar os olhos dele quando Slade falou. – Tenho certeza de que vai ficar bem, senhorita Brower. Por favor, não se esqueça de ligar para o departamento para deixar seu contato. Ellie consentiu com a cabeça. – Bem, mais uma vez, obrigada por fazer com que me deixassem voltar para dentro. – seu olhar voltou a Fury. Ela percebeu que seria a última vez que falaria com ele, e o fato a encheu de tristeza. Ele a fitou em silêncio. Ela queria dizer tantas coisas a ele, mas só conseguiu pensar em uma que resumia tudo. – Por favor, fique feliz, e obrigada por decidir que eu não devia morrer. – ela deu a ele um sorriso triste antes de voltar até o segurança que a aguardava perto do portão. Durante todo o trajeto, ela sentiu que seus olhos a acompanhavam, mas continuou com as costas viradas. Não queria vê-lo ir embora pela última vez. Ele tinha sua liberdade e eles estavam quites. Meia hora depois um carro chegou no portão. Ela apanhou as chaves, notou que haviam deixado sua bolsa no banco da frente, e entrou. A depressão a atingiu fortemente. Ela nunca voltaria para Homeland ou para Fury. Não tinha ideia de aonde ir ou do que fazer com sua vida naquele momento. Os guardas abriram os portões e empurraram para trás os manifestantes para dá-la acesso à rua. Alguém arremessou algo que atingiu a lateral do carro. Ela se encolheu, mas continuou dirigindo sem parar para ver se haviam causado algum dano. Aquele era o menor de seus problemas. – Você fez a coisa certa. – Justice pôs a mão no ombro de Fury. Ele olhou
para o portão que seu amigo observava há quase quarenta minutos – Sei que para você foi difícil deixá-la ir. Fury lutava contra suas emoções, algo complexo de se fazer, e encontrou o olhar preocupado do amigo, quando se virou para acabar com a vigília. – Fiz o que você pediu quando me informou que ela fora demitida. Deixei-a ir embora. Ela vai ficar mais segura agora que não está em Homeland, caso mais imbecis nos ataquem. – Nossos inimigos poderiam tê-la matado – Justice o lembrou – Sei que isso é difícil para você. – Não consigo imaginar como será nunca mais vê-la – Fury admitiu – Sinto dor. O arrependimento endureceu o rosto de Justice e ele apertou mais uma vez o ombro que segurava. – Não sabia que era tão forte assim. – Mas é. – Sinto muito. – Entendo que ela estará melhor em seu mundo, mas ela diz que não tem um lar. O que Ellie vai fazer? Talvez eu devesse ter pedido a ela que ficasse. Poderíamos ter forçado o diretor a mantê-la no alojamento. – Não podemos arranjar encrenca agora, Fury. Há hora e lugar certos para tudo. Você fez o melhor para nosso povo, sinto muito que custe tanto, já que ela significa muito para você. A única coisa que posso dizer é que você pode oferecer a ela um emprego novamente quando estivermos prontos para assumir o controle de Homeland. A dor aliviou um pouco no peito de Fury. – Quero que ela volte. – ele precisava dela. A ideia de nunca mais vê-la ou ouvir sua voz deixara um gosto amargo em sua boca. Um futuro sombrio se formava em sua cabeça – Acredito que ela tenha sido demitida por nos defender. Não fazer o mesmo por ela não parece certo. – Então, definitivamente, ofereça a ela o emprego que tinha assim que puder. Não vai demorar muito, apenas temos que aprender a fazer as coisas do jeito certo, mas ainda há muito que não sabemos. Todos os dias nos aproximamos mais do controle sobre nosso próprio Destiny . – E se ela não quiser o emprego? E se ela nunca mais quiser voltar? Ela pode encontrar outro emprego lá no mundo dela. – um rasgo de pesar atravessou Fury – Talvez eu nunca a veja de novo.
– Então deixe-a ir, Fury. Tente superar seus sentimentos. Fury não disse nada, mas a dor que queimava em seu peito se espalhou. Ele não queria deixar Ellie ir embora, e certamente não acreditava que conseguiria superar as emoções que sentia quando se tratava dela. Ela estava em seu sangue, era parte dele, mas já não era mais parte de sua vida. – Venha – Justice pediu gentilmente – Vamos andar juntos, você não deve ficar sozinho nesse momento. Fury hesitou, olhou para o portão, mas sabia que ela não voltaria. Ele fez que sim com a cabeça. – Obrigado. Ellie xingou ferozmente ao ver a pichação em seu carro, entendendo que um dos manifestantes devia tê-la seguido até o motel. Ela observara se alguém a estava seguindo, mas não vira nada desde que deixara Homeland quatro horas antes. Merda, aqueles cretinos são sorrateiros. E babacas obcecados. Eles sabiam em que motel ela se hospedara e haviam vandalizado seu carro por causa de sua associação com a ONE. Ela realmente odiava aqueles idiotas fanáticos. Ellie foi pisando duro até seu quarto, brava por ter que chamar a polícia, fazer um boletim de ocorrência e ligar para o seguro do carro. Não poderia dirigir pela cidade com aquelas palavras feias pichadas com letras grandes na lateral, passaria uma péssima impressão quando chegasse para uma entrevista de emprego. Ela bufou e apertou a sacola de fast food, enquanto procurava pela chave do quarto no bolso traseiro do jeans. Ellie pegou a chave e tentou enfiá-la na fechadura, mas algo a impediu de entrar. Ela se inclinou para espiar pelo pequeno buraco da fechadura e seus olhos se estreitaram enquanto examinava o que parecia ser um chiclete mascado grudado no buraco, e se perguntou que tipo de delinquente sairia ferrando com as portas daquele jeito. A porta do quarto ao lado se abriu de repente com um estrondo. Ela virou a cabeça a tempo de ver três homens grandes e com caras de poucos amigos saindo para o corredor para olhá-la. O medo a atingiu ao perceber que eles estavam totalmente focados nela. Ellie soltou a maçaneta da porta e cambaleou para trás. Três metros separavam seu quarto do outro, o que, em sua opinião, não estava nem perto de ser longe o suficiente daqueles caras, o que se confirmou quando o que estava à frente se lançou rapidamente a ela.
– Pegamos você – ele arfou e agarrou Ellie, quando ela tentou correr. – Arraste-a pra cá, Bernie – resmungou um deles com urgência. – Qual é seu problema, diabo? – Ellie se prendeu ao corrimão com as duas mãos, enquanto o pânico a agarrava tão fortemente quanto as mãos cruéis em seu quadril – Me solta! – Meu problema – chiou o homem em seu ouvido enquanto passava os braços em volta de sua cintura e a puxava, tentando soltá-la do corrimão – é que ficamos sabendo que você anda trepando com um daqueles animais e vamos salvá-la. Você sofreu lavagem cerebral. Me salvar? Pelo menos, eles não estavam tentando matá-la. Isso é algo, ela pensou. Os idiotas achavam que ela fora forçada a mudar sua forma de pensar. Ela gritava e chutava com força contra aquele homem grande. Seus olhos se moviam agitadamente pelo entorno, procurando por ajuda. Viu algumas pessoas no estacionamento embaixo, que a olhavam boquiabertas. Alguém gritou de longe para que o homem a soltasse. – Droga – um homem berrou do outro quarto – As pessoas estão vendo! – ele parecia apavorado – Corram. O braço em volta de Ellie soltou sua cintura de repente. Os três saíram em disparada para o outro lado. Ela estava ofegante, com dores por causa da luta, e inclinada contra o corrimão. Aquele grande e maluco idiota que a atacara era forte. Ela girou a cabeça e observou os três homens alcançarem o final do corredor, quase rolarem pela escada de tanta pressa e fugirem do estacionamento, desaparecendo atrás do prédio. Ela quase caiu ao se levantar, mas conseguiu travar os joelhos para se manter esticada. Seu corpo inteiro tremia. Uma porta se abriu e ela se virou na direção do barulho, esperando outra ameaça. Uma mulher segurando um bebê apareceu, pálida. – Eram ladrões? Ellie relaxou. – Não. – A polícia está a caminho – gritou um homem do estacionamento – Você está bem? Ellie precisou limpar a garganta. – Estou bem, obrigada! Ela viu a sacola de fast food no chão, onde havia derrubado-a quando agarrou o corrimão. Abaixou-se para pegá-la e se contraiu com a dor que o
movimento causou em sua cintura dolorida. Sem fôlego, ela xingou, torceu para que o imbecil não tivesse deixado hematomas com o cabo de guerra que fizera com seu corpo e cambaleou até a escada. Ela se sentou, lançou olhares às pessoas que tinham os olhos cravados nela e notou que uma multidão pasma havia se juntado. Seu coração ainda martelava do susto, mas ela estava segura e com fome. Colocou a mão dentro da sacola. Iria comer enquanto esperava pela polícia. Ellie comia seu hambúrguer com vontade e abria a garrafa de água flavorizada, feliz por não ter comprado um refrigerante, pois ele não teria sobrevivido à queda. Ela enfiou os dedos no bolso de trás para pegar o celular. Uma hora antes havia ligado para Homeland, para deixar seu número para Justice, mas a secretária dele insistira para que ela deixasse também um endereço. Ela não podia mais ficar no motel agora que os doidões sabiam onde ela estava se hospedando. Ela apertou o redial para se conectar ao escritório de Justice. Queria falar com alguém antes que o turno deles acabasse, e seu relógio anunciava que ela tinha apenas alguns minutos até às cinco da tarde. – Oi – disse Ellie depois de finalmente ser transferida para uma mulher que declarara ser a secretária de Justice. – Acho que nos falamos antes. Sou Ellie Brower. Deixei as informações do motel onde estou, caso o senhor North quisesse me contatar, mas creio que elas não sirvam mais. Tenho que ir para outro motel. Tentarei ligar amanhã para deixar as novas informações. Você tem meu celular, então pode me ligar, certo? A mulher do outro lado da linha ficou em silêncio por um momento. – Por que você vai para outro motel? – Ahn… – Ellie viu um carro de polícia entrar no estacionamento – Tive alguns problemas. Prometo que ligo amanhã cedo e passo meu novo endereço. Preciso desligar agora, a polícia chegou e preciso fazer as malas rapidamente para ser escoltada em segurança de onde estou saindo. Falo com você amanhã. – Ellie desligou. Fury andava pelo seu escritório. Ellie não voltaria nunca, ele nunca mais a veria, e precisava se ater àquela dolorosa parte da realidade. Uma batida soou em sua porta. Ele respirou fundo, ajeitou a expressão e limpou a garganta.
– Entre. Brass, seu amigo e homem que ele havia encarregado de agendar aulas para as Espécies aprenderem diferentes habilidades, entrou. Fechou a porta atrás dele e se encostou na madeira. – Temos um problema. – O que mais? O que é agora? – Alguns dos guardas humanos andam flertando com nossas mulheres. Nossos homens estão sendo muito protetores com elas. Um sorrisinho curvou a boca de Fury. – Nossas mulheres conseguem lidar com um humano. Estou para conhecer um humano que possa derrubar uma Espécie, seja ela homem ou mulher, quando estão bravas. – o sorriso morreu – É assédio ou apenas aquele flerte típico? – O flerte típico, mas é possível que nossos homens arranjem brigas por isso. Nenhuma das mulheres se sentiu ameaçada ou deu queixa. Gostaria de evitar conflitos entre os humanos e nós. Se nossos homens começarem a estourar as cabeças dos humanos que ficam piscando para nossas mulheres, haverá muita tensão. – Vou falar com eles. Chame-os para uma reunião. – ele olhou para o relógio – Daqui umas duas horas? – Parece bom. – Brass deu um sorrisinho – Você percebeu que virou uma figura paterna para todo mundo. Você dá conselhos e faz ameaças duras quando nos comportamos mal. Justice é nossa figura materna; nos protege, educa e prepara o ninho de nossa nova Homeland como um lar. Fury levantou a mão e estendeu o dedo do meio. – Aqui está sua lição de hoje, filho. A sala se encheu de gargalhadas. – Se isso é uma oferta, eu recuso. Você não é meu tipo. – Ninguém é – Fury riu – Nossas mulheres são espertas demais para escolherem acasalar com você. Brass se desencostou da parede e se aproximou alguns passos, seu sorriso se esvaecendo. Seus olhos se estreitaram enquanto estudava Fury. – Por falar em mulheres, ouvi dizer que a pequena humana que você salvou deixou Homeland. Todo o humor de antes fugiu. Fury fez que sim com a cabeça.
– O diretor a demitiu e Justice pediu para eu não me envolver. Eu queria passar por cima da autoridade do diretor, devolver o emprego a ela e mantê-la aqui. Vi o perigo que se formou para ela por ser associada a nós depois do ataque que sofremos. Justice me fez entender que ela teria uma vida melhor sem mim. – Se você tivesse mandado naquele cretino pomposo, ele perceberia que temos noção do poder que produzimos. – Isso é o que Justice falou. Fiquei em conflito, Brass. Não queria que ela fosse embora, mas tenho responsabilidades com nosso povo. Estou dividido. O único jeito de fazê-la ficar seria enfrentar o diretor, mas essa atitude teria acabado com o plano para nossa comunidade. – Você realmente se importa com essa mulher? – suas sobrancelhas se elevaram – Eu a vi várias vezes e ela é muito diferente de nossas mulheres. Ela é pequena. – Sei da nossa diferença de tamanho. – E ela é humana. – Brass franziu o cenho – Ela também trabalhava para a Mercile, sei o porquê, todos foram informados de que ela trabalhava disfarçada para juntar evidências, mas também ouvi dizer que você tinha um problema pessoal com ela. Eu estava naquela sala de conferências, Fury. Temi que você fosse matá-la em uma sala cheia de humanos. Fury se sentou na beirada da mesa, cruzou os braços sobre o peito e suspirou alto. – Algo aconteceu entre nós e me senti traído por ela. Perdi totalmente o controle. – Não brinca. Nunca o vi ser tão feroz. O que ela fez? Ele pausou. – Ela é a mulher sobre quem lhe contei quando fomos libertados e mantidos naqueles motéis, enquanto esperávamos para sermos trazidos para cá. Ela é a humana que entrou na minha cela e matou Jacob. – Merda – murmurou Brass, sem ter mais o que falar. – Nunca reagi tão fortemente a alguém quanto a ela. Eu… – ele procurou uma forma de expressar suas emoções – Eu estou obcecado por ela. Ela sorri e eu derreto. Quero ouvir sua voz e apenas estar perto dela. – Merda – Brass repetiu.
– Quero-a de volta. Eu não podia ficar com ela, mas todas as noites dirigia até o alojamento para, pelo menos, observá-la de longe interagindo com nossas mulheres. Agora não tenho nem isso. Isso… dói. O silêncio se alongou. Brass finalmente falou. – Quando assumirmos Homeland, você poderia convidá-la de volta. Você vai estar no comando da segurança, não teremos que nos preocupar com a reação dos humanos. Você pode aguentar só até lá? – Não sei – ele admitiu – Só a quero de volta. Quero-a perto de mim. – ele pausou – Preciso dela por perto mesmo que não possa realmente estar junto. Só consigo pensar no que ela está fazendo agora, para onde irá e… – sua voz se intensificou para um rosnado – se homens humanos vão tentar tocar o que é meu. Brass elevou a sobrancelha. – Sua? – Minha. – Fury balançou a cabeça – É como me sinto quando penso nela. – Calma. Nosso povo aprende rápido e logo vamos poder controlar Homeland completamente. Poderá convidá-la de volta. Por você, espero muito que ela aceite sua oferta. – Eu também. – Fury se levantou – Faça aquelas ligações e combine a reunião. Conversarei com nossos homens e agendarei sessões extras de treinamento para controlarem a raiva. Os humanos do lado de dentro de nossos muros não são nossos inimigos, em geral. CAPÍTULO NOVE Ellie terminou de arrumar a bolsa após o funcionário do motel fazer uma artimanha para abrir a porta e deixar que ela pegasse suas coisas. Deu graças por ainda não ter desfeito a mala. Ela estudou o policial que estava à porta e observava cada movimento seu. – Obrigada, já terminei e estou pronta para ir. Agradeço por ficar de babá. O policial deu de ombros. – É meu trabalho. Ellie apanhou a bolsa e a mala. O policial saiu do caminho e fechou a porta do quarto para ela. Ela desceu a escada, tentando não notar que alguns dos hóspedes do motel ainda estavam do lado de fora, pasmos, como se ela
fosse o entretenimento da noite. Ela suspirou. Não gostava de ser a principal fonte de diversão mórbida para estranhos. Ela se encolheu ao ver as palavras pichadas no carro. O policial fizera um boletim de ocorrência sobre o dano, tirara fotografias e lhe dera um cartão com o número do B. O. O policial abriu o porta-malas do carro enquanto ela levantava a mala. Ela o fechou e forçou um sorriso quando ele entregou as chaves. – Quer um conselho? Ela balançou a cabeça. – Claro. Ele olhou para o carro e depois para ela. – Alugue um carro e deixe esse no estacionamento da empresa de que alugar. Essa é uma cidade pequena. Se aqueles imbecis quiserem incomodála, só precisam ficar passando em todos os motéis e hotéis, procurando por este carro. Seria bem fácil achá-la enquanto o seguro não refaz a pintura. Ótimo, pensou Ellie. Seu dinheiro estava apertado até que encontrasse outro emprego. Ela quase podia ver o dinheiro queimando, mas a observação dele era válida. – Obrigada. Acho que é um ótimo plano, vou fazer isso. – Não vejo a hora de esses imbecis saírem daqui. Tem sido assim desde que os manifestantes apareceram. Os moradores locais, em geral, estavam felizes em aceitar Homeland, e nós demos àquelas pobres pessoas as boasvindas à nossa comunidade. Era um saco ter uma base militar na vizinhança. Eu morava perto de uma quando era criança e eles sempre detonavam a cidade quando estavam de folga. As Novas Espécies não fazem isso. Mas aí esses babacas dos Humanos por Humanos Puros chegaram. Eu achava que eles tinham mais o que fazer. Ellie lhe deu um sorriso de gratidão e seu corpo tenso começou a relaxar. Era bom ouvir alguém que concordava com sua opinião depois do suplício pelo qual passara. – Sim. As Novas Espécies já tiveram o bastante desses idiotas racistas. – Vou dirigindo atrás de você por alguns quarteirões para ter certeza de que ninguém a está seguindo. – Obrigada. Ellie se aproximou da porta do carro, mas parou quando uma grande SUV preta entrou no estacionamento. Ela congelou, fitando-a. Parecia-se muito
com as usadas em Homeland, com todas as janelas com insulfilme. Estacionaram-na logo atrás do carro de Ellie, e ela ficou tensa quando o policial ao lado dela pôs uma mão na arma e a outra no rádio. A porta do motorista se abriu e Ellie fitou com cautela o homem que andava em círculos à frente da SUV. Ele vestia um terno de negócios e óculos escuros. Ele parou, virou-se para o policial e depois parecia olhar para Ellie, pois abaixou a cabeça na direção dela. Suas mãos estavam ao lado do corpo, abertas, e ele separou os dedos e afastou as mãos do corpo, para mostrar ao policial que não estava armado. – Senhorita Brower? Sou Dean Hoskins. O senhor Fury me mandou aqui. Você ligou para o escritório do senhor North e ele ficou ciente de que estava com algum tipo de problema. Fury? Ellie relaxou. – Está tudo bem – ela certificou o policial. Dean Hoskins abaixou os braços assim que o policial soltou o cabo da arma. Ele ergueu as mãos, tirou os óculos de sol e revelou os olhos verdes que seu bonito rosto carregava. – O senhor Fury me pediu para pegar você e suas coisas. Me pediram para lhe passar um recado. Não tenho certeza do que significa, mas o senhor Fury me assegurou de que você iria entendê-lo. Ele me disse que, depois que ele salvou sua vida, você deve uma a ele. Ele pede que você me siga até Homeland para conversarem pessoalmente. Ele mesmo teria vindo mas, infelizmente, por conta da situação do lado de fora de Homeland, não era recomendável que ele saísse. É brincadeira, pensou Ellie. Fury queria conversar com ela. Tentou imaginar o que ele queria discutir. Talvez tivesse se arrependido por não ter se despedido direito. Talvez até mesmo quisesse dizer que a perdoava pelo que ela havia feito a ele. É claro que talvez ele só quisesse saber o que acontecera. Ela não queria criar esperanças de que Fury apenas queria vê-la de novo. Ela nunca saberia se não fosse lá falar com ele, e ficar apenas se perguntando a deixaria incomodada. Ela consentiu com a cabeça para Hoskins. Não tinha dúvidas de que ele estava falando sério. Apenas Fury para falar sobre alguém dever algo a alguém. – Tudo bem. Ele colocou os óculos escuros de volta no rosto. Ellie se virou para o
policial. – Muito obrigada por tudo. Vou até a empresa de aluguéis de carro assim que minha reunião com o senhor Fury tiver terminado. Ellie entrou no carro e esperou enquanto Hoskins manobrava a grande SUV no estacionamento. Ellie deu uma ré para seguir a SUV de volta para Homeland. Ela odiava os olhares que recebia dos outros motoristas e temeu, quando os manifestantes viram a pichação em seu carro. As palavras de ódio a humilhavam e a deixavam envergonhada. O guarda que abriu o portão para ela levantou as sobrancelhas, boquiaberto. Ela xingou baixinho e se segurou para não mostrar o dedo do meio para ele. Ela não tinha outra escolha a não ser dirigir seu carro vandalizado. Seguiu a SUV preta até o escritório principal e estacionou ao lado dele na área de visitantes. Ellie apanhou a bolsa e saiu do carro. Não deixaria a carteira fora de vista depois de ter sido enxotada de Homeland. Ela precisava ter opções, caso a chutassem para fora de novo sem o carro. Dean Hoskins examinava seu veículo, franzindo a testa. – Essa foi a encrenca que você arranjou? – Parte dela. Parece que alguns idiotas acham que sofri lavagem cerebral, e três imbecis foram atrás de mim para supostamente me salvar. Só Deus sabe o que eles pensavam em fazer se tivessem conseguido me sequestrar. – ela balançou a cabeça – Alguns deles são apenas loucos. Fury andava de um lado para o outro, enquanto Justice o observava de perto, estudava tudo nele, o que o irritava. Ele parou e lançou um olhar a Justice. – O quê? Ela estava em apuros, mencionou a polícia para sua secretária e precisava de escolta para sair de lá. Há algum problema sobre eu mandar o Dean buscá-la? Ele trabalha para nós. De que adianta ter humanos nos ajudando se eles não fizerem nada? – Não estou questionando seu raciocínio. Acreditei que ela estaria mais segura no mundo dela, mas admito que estou errado se ela já teve problemas. Só estou me perguntando se você vai explodir quando ela chegar. Você parece estar prestes a perder totalmente o controle de novo.
Fury rosnou, combateu a raiva e mirou nos olhos preocupados do amigo. – Todos os instintos protetores dentro de mim estão numa batalha. Meu primeiro impulso foi pular dentro de um jipe e sair por aí tentando encontrála. Estou controlado desde que mandei o Dean. – Bom saber. – Justice se aproximou – Se significa tanto para você, pode mantê-la aqui. Amenizarei as coisas de algum jeito com o diretor e, se não der certo, ordenarei categoricamente que ele permita que ela fique. Sob as atuais circunstâncias, talvez ele não suspeite de que eu passaria por cima dele. Ele está muito paranoico sobre todo o poder que exibimos e está tentando ficar com o controle absoluto de Homeland. Ele está sendo um imbecil nos tratando como crianças, mas o ponto principal é: ele trabalha para nós. Tenho certeza de que há alguma vaga na seção de humanos visitantes. Farei umas ligações. Os olhos de Fury se estreitaram. – E deixar o diretor agir pelas nossas costas de novo? Você me colocou no comando da segurança. Não a deixarei fora da minha vista. O queixo de Justice caiu. – Você vai encarregá-la do quê, então? – Tenho dois quartos. Ela vai ficar segura na minha casa. Ninguém seria estúpido o suficiente para ir até lá atrás dela, e posso vigiá-la. – Você quer dizer “protegê-la”. – É a mesma coisa. – Não é uma boa ideia. – Justice deu de ombros – Mas você está no comando. Já tenho dores de cabeça o bastante tentando entender a parte de negócios de Homeland, como pagar por tudo e onde encontrar mais fundos para usarmos depois que começarmos a nos administrar. Como o presidente é generoso, estamos torrando dinheiro com os custos de construção de todas as medidas preventivas que precisamos ter depois do ataque. Não se esqueça de que você tem uma reunião amanhã de manhã com o arquiteto. Quero que você estude os planos com cuidado e é você quem diz se o que eles planejaram vai nos prevenir de outra invasão pelos portões de entrada. – Estarei lá. Justice deu alguns passos à frente, apertou o ombro de Fury e olhou fundo nos olhos dele. – Sei que você vai fazer seu trabalho. Fico mais preocupado com seu
estado emocional quando o assunto é essa mulher. Ela é o único ponto fraco que já vi em você. As emoções podem ser um inferno para a nossa espécie. – Posso separar minha responsabilidade com nosso povo, dos meus problemas. – Sei que pode. – Justice o soltou – Boa sorte com sua humana. – um sorriso se fez em seus lábios – Não invejo você. Claro, elas, com certeza, são mais fáceis de lidar do que nossas mulheres. Fury bufou. – Não muito. É muito difícil entendê-la, já que viemos de mundos diferentes. – ele hesitou – Sinto raiva por ela poder estar ferida. – Tente deixar isso em segredo. Eles se assustam com facilidade, quando rugimos e mostramos os dentes. – Justice deu uma risadinha e foi embora. Fury deu um rosnado leve. Ele tentaria ouvir o que acontecera com Ellie sem demonstrar sua raiva. Dean havia ligado para informá-lo de que ela o estava seguindo até Homeland, mas se recusou a contar a ele o que se
passara. Ellie não estava ferida se podia dirigir, e era só isso que importava. Ele saiu apressado do escritório e foi até o estacionamento, aonde ela chegaria. Ele queria estar lá esperando, mas Justice o atrasara. – Eles o quê? A voz profunda atrás de Ellie a assustou. Ela se virou e derrubou a bolsa. Fury havia chegado atrás dela sem ela notar. Ele se mexera de um jeito tão furtivo, que não fizera nenhum som para que ela soubesse que estava se aproximando. Ela apertou o peito ao encará-lo. – Não se aproxime de mansinho assim de alguém. Eu não tinha ideia de que você estava aí, quase me fez ter um ataque cardíaco. – ela derrubou os braços ao lado do corpo. Fury se aproximou. – Tentaram sequestrá-la? – ele se abaixou, pegou a bolsa do asfalto e a segurou com suas mãos enormes enquanto se esticava novamente. – Como? O coração acelerado de Ellie começou a se acalmar. – Acho que um dos manifestantes me seguiu até o motel, e então alugaram o quarto ao lado do meu. Eles fizeram uma emboscada para me pegar quando voltei para o quarto depois de buscar comida. Gritei quando um dos três homens me agarrou. Havia pessoas em volta que começaram a gritar,
e com isso, eles fugiram. O olhar no rosto de Fury fez jus ao seu nome. O nome realmente combina com ele, decidiu Ellie. Ele ficou em silêncio enquanto continuava a fitá-la e então deu um rosnado baixo. Seus caninos apareceram pela pequena abertura que se fez em seus lábios. Ela se afastou, desconfiada de sua raiva. O que eu fiz? Não foi minha culpa. Ele parecia querer, novamente, rasgar sua garganta. – Você não está a salvo lá fora – ele concluiu num tom rude – De agora em diante, você fica aqui. Não discuta comigo. Dean Hoskins pigarreou e apanhou o celular. – Vou ligar para o prédio das visitas para ter certeza de que há um quarto para ela. – Desligue – Fury exigiu – Ela vai ficar comigo. Ellie o olhou pasma, tentando entender a oferta dele. – Com você? – ela arfou. Ele deu um passo para se aproximar. – Você parece saber como se meter em encrenca, querida. Ou talvez a encrenca saiba como encontrá-la. Tenho um quarto de visitas e você ficará comigo. Assim posso ficar de olho em você. Essa não. Ela observou Fury tirar os olhos dela e focar a atenção em seu carro. Ele andou em volta dele, examinou cada parte do dano e só parou ao ficar novamente de frente para Ellie. Ele apanhou sua mão e a segurou firme com sua pegada quente, mas delicada. – Vamos. Minha casa não é muito longe, então vamos andando. Vou pedir a alguém que tire suas coisas de dentro daquilo e dizer para consertar o que fizeram. – Mas minha mala… – Ellie tentou diminuir o passo. – Agora não – ele rugiu, puxando-a com força pela mão, forçando-a a se mover quando ela não queria. Ele puxou Ellie para seu lado, não lhe deixando escolha a não ser acompanhá-lo. Ela notou a expressão alarmada de Dean Hoskins. Não queria armar confusão, nem causar problemas a Fury. Ela sabia que ele a estava protegendo por algum motivo, e ela odiava mais a ideia de deixar Homeland do que a de morar na casa dele. – Obrigada por vir me buscar – ela gritou. – Sem problemas – murmurou Hoskins.
Ellie olhava para o perfil belo, porém sombrio, de Fury, enquanto tudo o que conseguia fazer era correr ao lado dele para acompanhá-lo, pois as pernas dele devoravam o chão com suas passadas largas. Sua mão ainda mantinha a bolsa dela agarrada. Ela olhou preocupada para a bolsa, esperando não haver nada dentro que quebrasse com aquela pegada tensa e forte. Ellie não fez nenhum protesto enquanto Fury andava, até chegarem à casa dele. Ele a soltou quando alcançaram a porta de entrada, pôs a mão no bolso de trás e usou a chave para abri-la. Seu olhar negro se fixou nela. – Para dentro, agora. Ellie hesitou. – Por que você está tão bravo comigo? – Não estou. – rosnou ele – Entre. Ellie adentrou o local mal iluminado, lançando olhares em volta para reconhecer a sala. A porta bateu com força atrás dela. Ela se virou para encará-lo. Fury estava encostado na porta, apenas jogou a bolsa no chão, e ela se encolheu, esperando que o celular que ela havia enfiado lá dentro tivesse sobrevivido à dura queda no ladrilho da entrada. Sua atenção retornou a Fury e o encontrou olhando para ela com seu olhar negro e intenso. Seus dentes afiados apareceram de novo entre os lábios partidos. – Para alguém que não está bravo comigo – declarou ela, delicadamente –, você passa muito a impressão de que está. Poderia pelo menos – ela apontou para a própria boca – esconder as presas? Ele rosnou. Ela se afastou alguns centímetros. – Tudo bem. Não esconda. É que quando você mostra as presas e está com esse olhar zangado, tende a passar às pessoas a impressão, bem, pelo menos para mim, de que está puto com elas. – ela inspirou – E o rosnado… – Ela balançou os ombros – Meio que deixa implícito que você está bravo. – Estou furioso – ele rugiu. – O que eu fiz? – ela deu mais um passo para atrás. – Nada. Não é diretamente com você. Você foi demitida por me proteger, foi jogada no seu mundo e, por causa de nós, virou um alvo como se fosse uma de nós. – Bem – ela relaxou, secretamente alegre por não ser a responsável por deixá-lo zangado – eu trabalhava em Homeland e sabia que não faria amizade com gente babaca quando aceitei o emprego. Se eu concordasse com aqueles
idiotas, não teria vindo para cá, e eles sabem que sou pró-Novas Espécies. Eles serem uns imbecis é apenas um fato. Há grupos de ódio para tudo. – Ninguém a odeia por causa do lugar de onde você veio. Ela sorriu. – Originalmente sou da Califórnia, depois minha família se mudou para Ohio. Metade do país tem certeza de que todos os doidos e esquisitões dos Estados Unidos vivem ou nasceram aqui no sul da Califórnia. Fury piscou. – O quão pró-Novas Espécies você é? Ela se perguntou se ele questionava se ela não odiava seu povo em segredo. – Se está perguntando se sou preconceituosa, não sou. Quando ouvi os rumores sobre as Indústrias Mercile e o tipo de testes e as cobaias que usavam, fiquei ultrajada. Concordei imediatamente em ajudar a desmascarálos. Eu ficava horrorizada de saber que talvez eu fosse parte de qualquer coisa que tivesse a ver com uma empresa tão cruel. – ela pausou – Para mim, Novas Espécies são gente, ponto final. Assim como todo mundo. Vocês têm o direito de fazer qualquer coisa que os humanos fazem. É isso o que você quer dizer? Odeio até mesmo fazer essa distinção. Ele desencostou da porta e deu um passo na direção de Ellie, e parou. – Já ouviu falar sobre o mais novo protesto contra nós? Eles têm medo de que comecemos a namorar humanos. O que você acha disso? – Você não me ouviu quando eu disse que acho que vocês são apenas pessoas? Vocês têm tanto direito quanto eu de namorar ou estar com quem quiserem. Ele balançou a cabeça. – Você ficaria com um de meus homens? Slade está bem interessado em você. Slade? Ellie piscou, lembrando do cara que salvara sua pele no portão. Foi uma surpresa saber que talvez ele se sentisse atraído por ela. – Não o conheço. – ela não conseguia pensar em mais nada para dizer. – Você o conheceu hoje de manhã. – Bem, sei quem ele é, mas não o conheço pessoalmente. Não sei se gostaria ou não de passar um tempo com ele. – Mas se você gostasse dele, iria namorá-lo? Mesmo sabendo o que ele é? Ela observou Fury com atenção o suficiente para identificar sua raiva. Ela
não conseguia entender o homem. – Claro. Acho. Não entendo por que não. Nunca pensei muito nisso. – Nossas espécies não são totalmente compatíveis. – Fury deu mais um passo a ela. Ellie deu um passo na direção contrária. Ele avançava enquanto ela se afastava. Ela se sentia perseguida. A raiva irradiava dele, assegurando-a de que ir até a casa dele fora um erro. Ele ainda está bravo com o que aconteceu no centro de testes? Ele ainda quer me punir por aquilo? Ela o perdoara e ele havia feito pior. Ela não o aterrorizara, deixara-o sem ar ou o sequestrara no parque para amarrá-lo a uma cama. – Por que está me encurralando na parede? – ela olhou por cima do próprio ombro. Ela tinha apenas mais alguns metros de espaço, e daí não teria para onde ir. Ela virou a cabeça e fitou Fury – Pode parar, por favor? Você está começando a me assustar. – Você teria medo de mim, se eu fosse o Darren Artino ou um homem como ele? Humano? Ela franziu o cenho. – Se fosse alguém bravo vindo na minha direção, sim. Quer parar? – Notei que você não negou que nossas espécies não são compatíveis. – ele avançou. Ellie deu mais um passo para trás e bateu na parede. Ela ficara sem espaço para colocar entre eles. – O que você quer que eu diga? Nem sei o que falar. Sei que você tem mais DNA humano e não entendo seu argumento. Somos ambos gente. – Passei minha vida inteira num centro de testes. – suas mãos se apoiaram na parede, uma de cada lado de Ellie. Ele a prendeu ali, entre seu peito e seus ombros, sem tocá-la. – Eu imaginei. – ela não conseguia tirar os olhos daquele belo rosto, pairando tão perto dela. Ela inalou aquele perfume masculino maravilhoso e ficou imóvel para evitar roçar em seu corpo. – Passávamos constantemente por experimentos, modificações e testes – ele rosnou – Ainda estamos aprendendo coisas novas sobre nossos corpos e o que foi feito a nós, e não somos humanos o bastante para nos enganarmos acreditando que podemos ser. Há muitos traços animais presentes. Você pode
ver algumas das mudanças se olhar para nós, mas elas estão também dentro de nossos corpos, em nosso DNA. Me preocupa você ficar apavorada em saber o quanto dentro de mim não é humano. – ele pausou – Muitos humanos ficariam assustados se soubessem o que escondemos na esperança de nos adaptarmos a eles. Queremos viver juntos em paz, esperamos ser aceitos e ficarmos livres dos grupos de ódio. Ellie o examinou com curiosidade. – Que tipo de traços animais você esconde? Com certeza não é o rosnado. Ele faz isso com frequência e talvez apenas para mim. Ele hesitou. – Apenas não sou completamente humano. Não entrarei em detalhes. Mas somos muito diferentes do seu povo. Não temos nem mesmo pais e, se tivéssemos, nunca os conheceríamos. Aquelas gravações não foram recuperadas, nos levando a acreditar que foram destruídas. Nossas infâncias foram completamente diferentes, tanto que temos pouquíssimo em comum. – Como foi sua infância? Ele cerrou a mandíbula. – Lembro de ter medo e ficar trancado. Lembro da escuridão que me apavorava e da dor em seguida. Eles me amarravam e me davam injeções com aquelas merdas de agulhas. Eu lembro – ele chiou – que a dor e o terror eram minhas únicas companhias na infância. Lágrimas encheram os olhos de Ellie. Ela levantou a mão sem pensar e a colocou no braço dele. – Sinto muito. – ela queria confortá-lo. Ele fechou os olhos, respirou longa e profundamente, e depois os abriu. – Eles me modificaram. Lembro-me de como fiquei chocado quando meus dentes de leite caíram e no lugar havia dentes maiores e afiados. Eu não tinha um espelho, mas podia sentir a diferença. Podia sentir meu rosto, saber que não me parecia com os técnicos ou os médicos. Quando atingi a puberdade, fiquei musculoso porque eles me enchiam de drogas para alterar meu corpo. Eu sabia que não estava bem, meu corpo estava mudado, e eles me faziam ficar diferente com as drogas, e não pararam de dá-las a mim. – Sinto muito mesmo, Fury. – ela colocou as mãos mais acima e depois abaixo, acariciando-o – Eles estavam muito errados em fazer isso. – Eu sei. É um pequeno conforto saber que algumas pesquisas que eles
fizeram criaram drogas para ajudar humanos doentes, quando uma vida cheia de memórias dolorosas me assombra. Agora há grupos de pessoas, milhares delas, que querem que eu morra só porque me jogaram no inferno quando eu era criança e me forçaram a aguentar aquele pesadelo. Nós sofremos pelo benefício dos humanos e para a Mercile ganhar dinheiro. – ele limpou a garganta – Estou cansado de sempre me sentir como se estivesse do lado de fora da vida, espiando-a. De ser diferente. – ele falou num tom áspero – Eu sabia que algo me fazia único, até onde me lembro. Eu olhava para eles, sentia meus dentes e minha face, notava as diferenças em meu corpo e, então, comecei a prestar atenção ao que falavam. Aprendi a entender o que fora feito conosco e o porquê. Eu me sentia muito sozinho e só via humanos até… – ele fechou a boca. – Não o culpo por odiar todo mundo da Mercile. Mas não ajuda nenhum pouco saber que algo bom saiu disso? – Não – ele rugiu suavemente – Talvez. Não sei. Odeio o que foi feito com a gente. – Eu também. O que você ia dizer sobre só ver humanos até…? Você parou. Os olhos negros dele se estreitaram, observaram-na, e ele pigarreou. – Até que eles levaram uma mulher à minha cela. Ela era uma Nova Espécie e foi a primeira vez que vi alguém parecido comigo. Eles queriam ver se podíamos procriar. – ele olhou para a parede próxima ao rosto de Ellie, e fixou os olhos ali – Eles nos forçaram a ficarmos juntos algumas vezes, mas nunca funcionou. Não conseguíamos procriar. – seu maxilar ficou tenso antes de ele voltar os olhos a ela – Fico feliz. Não queríamos que eles tivessem sucesso e levassem novas vidas para aquele inferno. Ellie mordeu o lábio e parou de mexer a mão. – Ouvi algo sobre isso das mulheres – ela admitiu – Não é justo o que fizeram com vocês. Eles estavam errados e foram maus ao fazerem isso, Fury. Chamo pessoas assim de imbecis sem um pingo de inteligência ou compaixão. Fury examinou seus olhos, olhando fundo neles. – Você tem medo de mim, Ellie? Ela hesitou. – Tenho quando você está zangado mas, para ser honesta, você me
assustaria com ou sem DNA animal. Você é grande. Ele deixou o corpo inteiro cair, sua tensão começando a se desfazer. – Eu não quis machucá-la na minha cama, fazendo-a sangrar. Ela não esperava que ele fosse dizer aquilo. Ela soltou o ar que havia tomado. Seu coração estava acelerado e ela o forçou a se acalmar. Fury a observava em silêncio. – Acredito em você. – Acho que não teria te machucado se não fosse pelo que fizeram comigo. Eu não teria dentes afiados. Ellie não sabia o que dizer. Engoliu o nó que se formara em sua garganta. A atração que sentia por Fury era forte, ela admitia, sempre fora, desde o dia em que colocara os olhos nele. Ela pensara muitas noites sobre o que ele fizera com ela em sua cama, com sua mente cheia de memórias eróticas enquanto sonhava. Tudo fora fantástico até aquele momento em que ele se afastara repentinamente dela e Justice chegara. – Eu apenas agradeço ao seu Deus por não ter feito as coisas que queria fazer com você. O corpo todo de Ellie se esquentou de repente. – O quê…? – ela precisou engolir seco. Sua voz havia sumido – O que você queria fazer? – a pergunta saiu em um sussurro. Os olhos dele mostraram rapidamente uma emoção que ela não conseguiu identificar com clareza. – Eu realmente a teria assustado. Não somos compatíveis sexualmente de todas as formas. Ellie o fitou. Abriu a boca para perguntar o que ele queria dizer com aquilo. Fury desencostou da parede e virou as costas para ela. Ele saiu andando até que uns bons metros os separassem. – Seu quarto é na primeira porta à direita no fim do corredor. Sinta-se em casa. Vou até o departamento de segurança solicitar para que façam um passe temporário para você e, no momento, você deve ficar aqui dentro. Vou me certificar de que as coisas do seu carro estão a caminho. Há bastante comida na cozinha se estiver com fome. – ele saiu da casa com passos duros e bateu a porta. Ellie ficou encostada na parede por um bom tempo, olhando para a porta pela qual ele havia desaparecido. O
que ele queria fazer comigo naquela noite? Ela fechou os olhos, abraçando o corpo. E por que de repente eu quero tanto, tanto saber? Droga!
Fury deixou a casa antes de agir como um tolo completo e agarrar Ellie, afundar o nariz no pescoço dela e inalar aquele perfume maravilhoso. A vontade de pegála, colocar os braços em volta dela e ficar com ela no colo era tão forte, que chegava a doer. Ele se arrependia de ter dito que não eram sexualmente compatíveis. Dissera apenas para chocá-la. Ela estava perto demais, eles estavam sozinhos, e ele queria fazer um monte de coisas. Foi preciso dar passos rápidos para distanciá-los. Ele procurou se focar em sua raiva. Ela poderia ter sido sequestrada, levada apenas por ter uma ligação com as Novas Espécies, e aquilo o deixava furioso. Ela se importava com o povo dele, arriscara a vida para salvar sua espécie, primeiro trabalhando disfarçada no centro de testes, depois protegendo as mulheres quando o alojamento foi invadido. Ela ficara sozinha para encarar aqueles invasores violentos e ativar as portas de aço para manter as mulheres a salvo. Aquela fora a primeira coisa que ele mandara mudar. Os humanos tinham ferrado aquele projeto ao não colocarem paredes reforçadas para fechar o primeiro andar e os demais. Além disso, o painel principal de controle devia ter sido instalado onde ela também teria ficado protegida. Os olhos dela o perseguiam, tão azuis e lindos, ele podia olhar neles o dia todo e nunca se cansar. Seus dedos doíam do desejo de tocar sua pele macia e pálida, e correr por seus cachos sedosos e loiros. Sua voz era doce como mel para ele, suave e levemente rouca. Se ele soubesse que podia lidar com o desejo de tocá-la, teria ficado e interrogado-a sobre mais informações pessoais. Precisava saber tudo sobre ela, mas o desejo de ficar mais perto se tornara forte demais. Agora que ela havia retornado e viveria sob seu teto, ele não deixaria que ela fosse embora. Fury podia ficar com ela e cuidar de seu povo ao mesmo tempo. Ele não
desapontaria Justice por não fazer seu trabalho, mas Ellie estaria lá quando ele voltasse para casa. Um pequeno sorriso curvou seus lábios. Ela estava dentro da casa dele. Fury aumentou a velocidade. Quanto mais rápido fizesse tudo o que precisava, mais rápido poderia vê-la de novo. Ele só precisava ir com calma e evitar que ela se assustasse e fosse embora. Ele podia ser paciente. Não era sua melhor característica, mas ele a aprenderia por ela. CAPÍTULO DEZ Ellie sorriu para Breeze. – Estou tão feliz que tenha vindo me visitar. Senti muita falta de todas vocês. Eu queria visitar o alojamento, mas Fury me disse que não era uma boa ideia. – ela olhou em volta da sala – Estou meio que presa aqui dentro. – sua atenção voltou para Breeze – Você está me salvando de enlouquecer por ficar trancada. Estou aqui há três dias e Fury se recusa a me deixar sair. Breeze sorriu de volta. – Pense em como foi difícil convencê-lo a me deixar vê-la. Queria trazer mais mulheres comigo, mas ele se recusou a dar permissão para mais gente vir. – ela estudou Ellie e inclinou a cabeça – Ele deve estar mesmo preocupado com sua segurança. Ellie deu de ombros. – Por quê? Aqueles idiotas loucos segurando cartazes do lado de fora não podem me ferir, enquanto eu estiver segura dentro de Homeland. Um olhar estranho passou pelo rosto de Breeze, mas Ellie o entendeu. Ela se sentou de volta no sofá e cruzou os braços. – O que não estou sabendo? Breeze hesitou. – Há rumores. – De que tipo? – Sei que não é verdade. Não sinto o cheiro de Fury vindo de você, a não ser aquele perfume leve e persistente que fica quando moramos na mesma casa de alguém. É que desde que ele a trouxe para a casa dele, algumas pessoas acham que vocês estão acasalando. – Acasalando? – as sobrancelhas de Ellie pularam – Você quer dizer que os fofoqueiros acham que estamos transando? Um risinho escapou de Breeze. – Sim. Esse é o termo. Transando.
– Mas não estamos. Quer dizer, nós conversamos, e depois ele me evita como se eu fosse uma praga. – Uma praga? Isso é algum membro de um grupo religioso fanático? Ellie deu risada. – É uma doença mortal. – Ah… – Breeze deu um sorrisinho – Ainda estamos aprendendo o português ao qual não fomos expostos no centro de testes. Eu ainda não tinha ouvido essa palavra. – o sorriso de Breeze se desfez – Há uma… fofoca… de que você e Fury estão acasalando. Transando – ela corrigiu – Nem todos estão felizes com isso. Houve alguns problemas sobre isso com os humanos que trabalham em Homeland. Acho que Fury teme por você. – Ele ouviu essa merda sobre nós por aí? Breeze fez que sim com a cabeça, – Todos ouviram. – seu olhar moveu-se rapidamente pela sala e pousou na TV – Sua televisão está quebrada? – Televisão? – Ellie engasgou – Está no noticiário? – Sim. Alguns dos funcionários devem ter ouvido e contaram para alguns… Como vocês os chamam? Urubus da mídia? Eles não sabem os nomes de vocês, mas há urubus da mídia dizendo que um Nova Espécie e uma humana estão morando juntos. Ai, merda! Os ombros de Ellie desmoronaram. – Por isso que ele recusou a me deixar sair de casa, quando mencionei sair de Homeland para ir procurar um emprego. Quer dizer, por quanto tempo vou ficar parasitando no quarto de hóspedes dele? – Parasitando? O que significa essa palavra? Ellie sorriu. – É um termo usado para quando você mora com alguém e usa de graça as coisas pelas quais ela precisa trabalhar para ter. Não é uma coisa boa. Essa é difícil de explicar. Acho que para descrevê-la posso dizer que sou um peso para ele. – Como? Ele já tinha um quarto para você ficar. Ellie lutou com seu pensamento. Algumas palavras eram difíceis de explicar. – Sim, ele tinha, mas normalmente não se mora com alguém a não ser que vocês sejam um casal, então é aceitável que dividam a comida e uma casa. Se não são, os dois devem trabalhar, algo parecido com uma parceria, serem
iguais. Não sou a namorada ou a esposa dele. Ele me dá casa e comida, enquanto eu não lhe dou nada em troca. Sou uma parasita. – Acho que entendo. – Breeze sorriu – E você não é uma parasita. Ele não sabe o que é isso, portanto você não pode ser o que ele não sabe que existe. Ellie gargalhou. – Acho que você me pegou. – Você devia transar com ele, e aí vai se sentir melhor. Você vai dar a ele algo em troca para evitar ser uma parasita. Ellie ficou feliz por não ter dado um gole no refrigerante que segurava, pois teria se engasgado. Ela olhou boquiaberta para Breeze. – Ahn, você não devia transar com alguém a não ser que esteja em um relacionamento e tenha um carinho especial por ele. Se você transa com alguém por comida, dinheiro ou para ter onde ficar, isso se chama prostituição. Isso é ruim. – Seu mundo é complicado demais. – É. – Ellie concordou, dando um gole no refrigerante – É mesmo. – Mesmo assim você devia transar com ele. Ele gosta de você e acho que você gosta dele. Ele é bem macho e tem bastante sex appeal. Todos nós achamos que devemos transar se nos sentimos mutuamente atraídos. Tivemos reuniões sobre isso. Ellie pousou a bebida. – Vocês tiveram reuniões sobre sexo? – Claro. Antes não tínhamos escolhas. Tínhamos que transar com quem nos forçavam. Nós fazemos todos os tipos de reunião em que discutimos coisas. Transar foi um desses temas. Podemos transar com qualquer um com quem desejamos transar, se a pessoa quiser também. Ellie esfregou a boca com a mão, tentando esconder um sorriso. – Isso também é aceitável. – Foi o que pensamos. Nós até mesmo discutimos sobre transar com você depois que os boatos começaram. – Fury e eu fomos o assunto de uma reunião? – chocada, Ellie sabia que o volume de sua voz havia aumentado. Um rubor esquentou suas bochechas. A ONE discutiu sobre eu e Fury fazermos sexo? Deus do céu! – Não exatamente você e Fury, mas falou-se sobre transar com seu povo e com o nosso. – Ah. – ela relaxou enquanto o alívio a percorria.
Graças a Deus – Como foi? Breeze deu de ombros. – Não sabemos se vai funcionar. Vimos seu povo transando em DVDs e fazemos diferente. Ellie tentou não rir. Ela precisou arrumar as feições para esconder seu divertimento. – Vocês assistiram pornôs? É isso que você está dizendo? Pornôs são vídeos do meu povo fazendo sexo. – Sim. – Breeze sorriu – Assistimos a isso. – Ahn… – Ellie olhou para Breeze – Esses vídeos são meio… – ela não sabia o que dizer – Bem, eles não, bem, não são muito… – ela suspirou – Eu não faço sexo daquele jeito. – Não? O que é diferente? Por onde eu começo? Isso pode ser constrangedor, mas estou aqui para ajudar essas mulheres. Ellie tirou os sapatos para cruzar as pernas no sofá. – O jeito que eles conversam durante as preliminares. Eu nunca falo daquele jeito, e se um homem falasse comigo da maneira que falam naqueles filmes, eu provavelmente ficaria bem magoada. – Chamar as mulheres com palavrões ofensivos e exigir delas ações sexuais, mesmo que não pareçam prazerosas a elas? – Sim. Exatamente. – Achamos aquilo meio chocante. Alguns acham completamente rude. – É, bem, se um cara dissesse algumas daquelas falas do filme para uma mulher na vida real, bem, ele provavelmente acabaria levando um tapa na cara, ou coisa pior. – Entendi. O que mais é diferente? Ellie balançou os ombros. – Não sei o que vocês viram. Pra começar, a maioria das pessoas não faz sexo com vários parceiros. No geral, somos monogâmicos. – Então, não preciso convidar uma amiga mulher para a cama se eu quiser transar com um homem totalmente humano, ou dormir com dois deles ao mesmo tempo? Eu tinha decidido nunca tocar num humano por causa disso. Não somos bons em partilhar, e acho que um homem deveria ser capaz de conseguir dar prazer a uma mulher sem precisar da ajuda de um amigo. – Não! – Ellie levantou o queixo, que havia caído – Parem de assistir àquilo. Assistam a histórias de amor.
Filmes pornôs são… bem, eles só… – ela xingou baixinho – Diga a eles para pararem de assisti-los e esquecerem o que viram. Por favor. Aqueles atores e atrizes são pagos para fazerem sexo no filme. Eles seguem um roteiro que alguém escreveu. Entende? Eles são feitos para entretenimento, mas não para serem guias de como fazer sexo, a não ser que você queira ver como algo é feito sem realmente fazê-lo. – Ok. – Qual é a sua versão de sexo? Talvez possamos começar por aí. Pode ser a mesma coisa. – Bem, nós gostamos de beijos. Adoramos beijar. Isso é novo para nós, mas pegamos isso depois de sermos libertados. Adoramos nos tocar. Dizemos palavras delicadas, atraentes, e rosnamos para mostrar nosso nível de excitação. Tudo bem com isso? – Perfeito – Ellie admitiu. O rosnado… Ela deixou a conversa seguir. – Lutamos por dominância e quem for mais forte pode decidir a posição para fazermos sexo. Normalmente o homem ganha, a não ser que esteja cansado ou fraco por causa de ferimentos. – Ahn… – a mente de Ellie se esvaziou com aquela novidade chocante. Breeze parou de falar. – Isso é diferente de vocês? – Explique “lutar por dominância”. Ela piscou. – É exatamente o que parece ser. – Como uma luta? Ela fez que sim com a cabeça. – Bem parecido. Ellie deu de ombros. – Não teria problema, mas normalmente não gostamos de dor durante o sexo. Você sabe disso, certo? – Ok. Vou compartilhar isso. Então nada de luta? – Eu pularia essa parte. Tenho certeza de que algumas pessoas gostariam disso, mas não é algo que você consideraria como normal de se fazer, em geral. – Então quem decide a posição? Ela abriu a boca e depois a fechou. É mesmo. Quem? Ellie sorriu.
– Nós conversamos e tentamos concordar mutuamente sobre isso. Às vezes misturamos tudo. – Misturam tudo? Explique. Ellie hesitou. – Bem, vamos dizer que estou por cima, montada em um homem, e depois de um tempo ele poderia me virar para ficar por cima de mim. Misturando. Está claro o bastante assim? Breeze fez que sim. – Sim. Não fazemos isso. Ficamos em uma posição e a mantemos até o final. – ela hesitou – Por que você ficaria por cima? Que homem ficaria deitado para isso? O orgulho dele não fica ferido por ser dominado desse jeito? Ellie soube que seus olhos se arregalavam. – É… – Droga. Fico muito feliz por não ter filhos se esse é o tipo de discussão que eu teria que encarar. Ela estava sem palavras de novo, mas Breeze esperava por uma resposta – Para nós, isso não tem a ver com dominância. Tem a ver com prazer. Você já ficou por cima durante o sexo? Breeze pareceu horrorizada com a pergunta. – Não. Eu me recusava a montar em um homem quando ele estava amarrado e indefeso. Mesmo quando os técnicos ameaçavam me castigar, eu não fazia isso. Eu preferia apanhar do que ferir o orgulho de um macho. – Ai, cara. Humanos não pensam assim. Eles adorariam que uma mulher fizesse isso. – Ah. Nossos homens, não, eles ficariam muito bravos. Fury se sentiria ofendido só de você pedir para ele ficar debaixo de você, submisso. Nossos homens são dominadores. Ela não tinha o que dizer. Ellie apenas balançou a cabeça. – Eu não pediria isso a ele – ela finalmente deixou sair. – Que bom. Ele ficaria bem ofendido. Nossos homens preferem morrer a serem submissos. É por isso que, no centro de testes, eu apanharia antes de fazer o que eles queriam quando amarravam um de nossos homens. Uma imagem de Fury preso ao chão enquanto Jacob o machucava passou rapidamente pela memória de Ellie. Ela jamais esqueceria aquela visão ou o pavor que sentiu ao saber em que
tipo de pesadelo infernal ela entrara. Meu Deus, ela pensou, abraçando o peito firme, com dois braços. – Ellie? Você está com frio? – Estou bem. Então, que posições você gosta para o sexo? – Gostamos de ficar de frente para os homens para manter contato visual, mas nossos homens preferem nos pegar por trás. É por isso que lutamos. – ela hesitou – Fico bem chocada por Fury ter ficado cara a cara com você. Ele devia estar com pressa, senão a teria soltado para montar em você por trás. É isso que nossos homens fazem. Uma imagem daquilo correu pela mente de Ellie. Fury nu, aprisionando-a sob seu corpo grande e sexy, e talvez com seu braço em volta da cintura dela ao entrar nela por trás. Montando. Uau. Ela mordeu o lábio. – E se uma mulher não quiser ser montada? – Nossos homens não nos tocam a não ser que tenhamos vontade de transar com eles. – O que eu quis dizer foi: o que acontece se vocês quiserem fazer sexo, mas não nessa posição? Breeze deu um sorriso largo, revelando dentes afiados. – Melhor sexo possível. Ellie não perguntou, apenas balançou a cabeça. – Bem, isso clareou um pouco as coisas, não? Breeze concordou. – Sim. Vou compartilhar essas informações na próxima reunião. Obrigada, Ellie. Você me contou muitas coisas que vou passar adiante. – Você poderia deixar meu nome fora disso? Breeze deu risada. – Sim, eu entendo. Seu rosto está vermelho. Você tem vergonha do seu sexo. – Breeze se levantou – Preciso ir. A nova governanta – ela cuspiu essa palavra como se fosse uma ofensa – exigiu que estejamos lá para ter aulas quatro vezes ao dia. Ela é uma idiota. – Sinto muito. – Se ela não ganhar nossa simpatia em breve, e posso dizer que não ganhará, irá embora. Temos uma reunião daqui a uns dias sobre ela. – Breeze sorriu – Nós temos a palavra final sobre se ela fica ou não, e podemos colocar outra no lugar dela se não estiver dando certo. Ellie acompanhou Breeze até a porta de entrada e abraçou aquela mulher
mais alta. Breeze ria ao ir embora. Ellie suspirou alto quando ficou sozinha. Boatos estavam sendo espalhados sobre um casal dormindo junto. Droga. Se dessem o nome de Ellie para a imprensa, ela jamais poderia deixar Homeland sem medo de que algum imbecil a incomodasse, ou pior, a tornasse alvo de violência. Ela foi para a cozinha depois de olhar rapidamente para o relógio. Notara que Fury costumava ir para casa trocar o uniforme por volta das seis da tarde. Ele colocava roupas confortáveis, fazia a ela perguntas sobre seu dia e desaparecia pela porta o mais rápido possível. Ela não fazia ideia de onde ele passava a noite depois. Simplesmente não ficava em casa com ela. Ela abriu a geladeira para pegar o pacote de peito de frango que descongelara. Cantarolava baixinho enquanto começava a cozinhar.
O cheiro de comida fez o estômago de Fury roncar, enquanto ele se aproximava da porta. Ele perdia o almoço quando as reuniões duravam muito tempo. Ellie sabia cozinhar, obviamente, e ele seguiu o cheiro provocante até a pequena sala de jantar, onde encontrou um belo jantar para dois posto na mesa. Ele se virou e congelou na frente do arco enquanto ela saía da cozinha. Ele quis gemer ao ver o sorriso dela direcionado a ele. Ela parecia genuinamente feliz em vê-lo. Sua fome por comida instantaneamente se transformou em desejo de tocá-la. O cheiro dela o tentava mais que o cheiro da comida, despertava seu lado animal, e a necessidade de pegá-la nos braços quase o dominou, enfraquecendo sua determinação em resistir. A luxúria rugiu com vida por todo seu corpo. Todo sorriso que ela dava derretia seu coração, e toda palavra que dizia o fascinava. Na noite anterior, ela se sentara com ele no sofá, a apenas alguns centímetros, e ele lhe fizera perguntas sobre sua família. A expressão triste em seu rosto o deixou feliz por não ter pais pela primeira vez na vida. Ela contara sobre o divórcio amargo dos pais e como ela ficou no meio, com apenas dez anos. Ele já não gostava dos pais dela e jamais os conheceria. Ele não queria Ellie por perto deles depois de ela dizer que tentavam
repetidamente convencê-la a se reconciliar com o ex-marido. Se algum dia ele conhecesse Jeff, bateria naquele humano estúpido. Ellie evitava o olhar dele quando ele fez perguntas sobre seu casamento. A ideia de outro homem tocando nela quase o deixara furioso, mas ele se manteve calmo. A conversa permanecera em seus pensamentos. – Por quanto tempo ficou com ele? – Não importa. Cometemos um erro ao nos casarmos. Ele tinha casos e eu não sabia. – Casos? – Fury franziu a testa, sem entender – Ele ia a eventos? De que tipo? Um sorriso se espalhou pelos lindos e tentadores lábios, quando ela se virou para encará-lo no sofá. – O evento a que ele ia era passar tempo com outras mulheres. – o sorriso dela se esvaeceu e a raiva cintilou, mudando seus olhos para um azul mais escuro – Ele disse que era minha culpa quando descobri que me traía com outras mulheres. – ela levantou o queixo, mostrando o traço teimoso que ele admirava – Que merda. Eu podia estar acima do peso, mas ele também não era magro. O olhar de Fury passeou lentamente pelo corpo dela, observando cada pedacinho que ele achava deleitoso. – Você não está acima do peso. Acho suas curvas perfeitas. Ela esticou a mão para colocá-la sobre a dele, recompensando-o com um sorriso. – Obrigada. Eu perdi peso. – Mesmo se você ganhasse peso, eu a acharia perfeita. Ela o fitou por um longo momento, e ele se perguntou se dissera algo de errado. Ela era a Ellie. Ele a queria independentemente de seu tamanho. Na verdade, ele desejava que ela fosse maior. Talvez se eu colocar mais comida na casa, ela consiga ganhar de volta o peso que perdeu, ele pensou. Ela era muito pequena, em sua opinião, e ele sempre se preocupava que pudesse machucá-la de novo acidentalmente, se ela permitisse que ele a tocasse de novo. – Sei que você não quer dizer exatamente isso, mas foi ótimo ouvir. – Quero sim. – ele rosnou suavemente, levemente ofendido por ela ter questionado sua palavra. Os olhos dela se arregalaram como reação. Ele limpou a garganta – Eu não minto.
– Há mentiras e há coisas que dizemos para sermos educados. Ele riu. – Você ainda não aprendeu que não digo coisas apenas para acalmar alguém? Sua linda Ellie riu com ele. – Isso é bem verdade. Você é duro. Todas as Novas Espécies são. – Isso é ruim? Ela balançou a cabeça. – Não, é uma qualidade maravilhosa. – Fico feliz. Então, ele passava tempo com outras mulheres? – Ele fazia sexo com elas. O choque percorreu Fury. – Por quê? O que há de errado com ele? Ele tinha você e não precisava de mais ninguém. Pequenos dedos delicados passaram em volta da curva das costas de sua mão. – Acredito que você queira mesmo dizer isso. Obrigada, Fury. – Não gosto do seu ex-marido. – ele rosnou – Vou fazê-lo mudar de ideia rapidinho, se algum dia ele vier aqui e tentar fazer com que você se case de novo com ele. Não me importaria de usar meus punhos algumas vezes para ter certeza de que ele a deixaria em paz. Ele instantaneamente se preocupou sobre se sua ameaça ao homem com quem ela fora casada a magoaria, mas ele não censurara os pensamentos antes de saírem de sua boca. Pelo contrário, ela reagiu com uma gargalhada. – Você me chama antes se ele aparecer aqui? Quero ver você socá-lo. – Ellie então o soltou, se pôs em pé e lhe um sorriso caloroso – Boa noite, Fury. Tenha bons sonhos. O quadril dela balançou quando ela saiu da sala, e ele esperou até ouvir a porta do quarto dela fechar antes de liberar um gemido reprimido e frustrado. Ficara mais difícil para ele resistir aos impulsos de levá-la para a cama dele em vez de deixá-la ir sozinha a dela. Ele não queria deixá-la com medo. Ela precisava de tempo para entender que ele nunca a machucaria de jeito nenhum, e tinha certeza de que conseguiria tal feito antes de tentar levá-la novamente para a cama.
Ele sentia o cheiro do desejo nela, o que lhe dava esperanças de que a memória deles juntos permanecia na mente dela do jeito que permanecia na dele. Ele queria levá-la de volta para seu quarto, deitá-la nua sobre seus lençóis e tocar cada milímetro de sua pele. Ele só precisava de um sinal quando ela chegasse ao ponto de querer que o relacionamento deles fosse mais longe… Ele trouxe os pensamentos de volta para o presente, quando ela colocou mais comida na mesa. Seus dedos coçavam com vontade de tocá-la. Ele inalou quando ela se aproximou e precisou segurar o corpo para não se mexer, ou acabaria com a distância e faria exatamente aquilo. Apenas me dê uma dica de que está pronta, ele implorou silenciosamente. Ele conversara com alguns seguranças humanos com quem fizera amizade. Eles lhe disseram que algumas mulheres precisavam que o homem desse o primeiro passo. Algumas gostavam de um macho forte que ficasse no comando, e se Ellie fosse assim, Fury seria esse homem para ela. Ele olhou para os dois pratos cheios, pensando que preparar uma refeição para eles dois pudesse ser seu jeito sutil de indicar que poderia estar pronta para aprofundarem a relação. Claro, ele havia dado permissão a Breeze para visitá-la. Talvez o segundo prato de comida não fosse para ele. Ele tentou não ficar esperançoso. Se ela planejasse dividir o jantar com ele, ele entenderia como um sinal. Se ele conseguisse levar Ellie para a cama, talvez conseguisse seduzi-la a ficar lá. As mulheres da Nova Espécie eram de forte determinação, preferindo manter os homens a uma certa distância a não ser durante o sexo. Ele precisava encontrar uma forma de desarmar as defesas de Ellie e tentar algo mais, algo mais profundo do que apenas sexo. Ele mostraria a ela que tudo podia ser ótimo entre eles, e poderiam ter aquilo fora da cama também. CAPÍTULO ONZE Fury estudou a mesa. – Isso é para mim? Ellie sorriu. – Sim. Juro que sou uma boa cozinheira, é seguro comer. O olhar escuro dele se fixou nela. – Isso foi legal. Qual é o motivo?
– Não tem motivo. Eu só queria fazer uma coisa legal para você. Adoro cozinhar. Ontem, entregaram as compras, eu cozinhei ontem à noite, mas você voltou tarde. Hoje, chegou na hora. Ele a estudou mais de perto. – Você quis fazer algo legal para mim? – Sim. – Por quê? – Eu queria fazer algo especial para você. Você me trouxe para sua casa e eu… Fury se moveu tão repentinamente que Ellie não teve tempo de reagir antes de ele a agarrar. Braços fortes a levantaram até o colo dele e a carregaram em direção ao corredor antes de ela perceber para onde estavam indo. – Fury? – A inquietação a agitava e ela se agarrou a ele. Ele entrou no quarto e a colocou em sua cama com delicadeza. Ellie o olhava pasma enquanto ele pegava na parte da frente da camisa e a arrancava. Botões voaram. Ela desceu seu olhar chocado até o peitoral nu dele. A pele bronzeada e musculosa era iluminada pela luz fraca do sol poente que entrava através das cortinas finas das janelas. – O que está fazendo? – a voz dela estava trêmula. Ele pôs as mãos no cinto enquanto tirava as botas com o auxílio dos próprios pés. – Dessa vez não vou machucá-la, já sei como fazer. Fury deu um puxão na frente da calça para abri-la e jogou o cinto que arrancara do passante. O som do objeto caindo no carpete desviou a atenção dela daquele abdominal definido e da cueca preta e sexy, que aparecia pela abertura da calça que abraçava uma cintura definida. Os olhos dela se dirigiram aos dele, viram-no se curvar para abaixar a calça e o coração dela disparou. Com um puxão, Fury terminou de tirar a roupa e se ergueu novamente na frente de Ellie, vestindo apenas a cueca. Ela baixou o olhar para ver aquilo, mas de repente ele investiu. Ellie arfou de novo quando ele se abaixou sobre ela, pegou os dois lados de sua camisa com as mãos e rasgou. O ar se encontrou com a pele. A surpresa a mantinha imóvel enquanto ela o fitava nos olhos. Ele rosnou suavemente, enquanto seus olhos absorviam a visão do que ele desnudara: a
barriga e o sutiã dela. – Fury? Ele rasgou ainda mais a camisa dela e depois soltou-a para agarrar a saia. Ele não perdeu tempo puxando-a para baixo; pegou no cós, seus bíceps cresceram, e mais tecido se rasgou. Ele o retalhou até embaixo para abri-lo completamente. Ellie não conseguia se mexer, nem mesmo respirava, até que ela arfou quando os dedos dele deslizaram para dentro de sua calcinha. As costas da mão dele se faziam sentir quentes em seu abdômen. Um belo puxão, e então ele jogou o tecido sedoso por cima do ombro. – Fury! – ela tentou rolar para longe dele. Ele quase a despira completamente, só o sutiã dela sobrara – O quê… As mãos dele agarraram o quadril dela e a jogaram de costas na cama. Ele se ajoelhou próximo à cama, com o corpo entre as coxas dela, e a puxou em sua direção. – Não vou machucá-la dessa vez, vou tomar mais cuidado com meus dentes. – Pare – disse Ellie ofegante. Seu coração martelava, mas ela não estava com medo, apenas chocada e confusa. Sua respiração estava como a de alguém que acabara de correr um quilômetro. O olhar negro dele se prendeu no dela. – Você gostou dessa parte – suas palmas ásperas acariciavam a parte de dentro das coxas dela, as afastaram mais, e ele lambeu os lábios – Eu dei prazer a você com a minha boca. Ela engoliu com dificuldade. Os olhos dele se dirigiram às suas mãos, que mantinham as coxas dela afastadas com firmeza. Ellie se lembrou. Ela se arrepiou. Sim, ela adorara a primeira parte na última vez, depois de passado o choque do que ele estava fazendo com ela. A tentação a tomou, mas ela tentou ser razoável. – Me solte. Não podemos fazer isso de novo. Os olhos dele se levantaram e se estreitaram sobre ela. – Por que não? Eu desejo o seu gosto, os sons que você faz enquanto minha língua provoca seu clitóris e ele incha de prazer. Ela olhou nos olhos deles. É, Ellie, ela se perguntou, por que não? Sua barriga tremia. Ela não queria pensar de que outros jeitos seu corpo reagia ao que ele queria fazer, mas imaginou que ele não teria que persuadi-la com a
boca para deixá-la molhada. Isso acontecia apenas ao olhá-lo. Ela abriu a boca. – Ahn… – sua mente se esvaziou. – Não vou machucá-la. Dou minha palavra. Vou fazêla gritar, mas não será de dor. Ela mordeu o lábio com força. Fury a excitava, ela não podia negar. Só de ele estar tão perto de repetir o que fizera da última vez, deixara sua barriga tensa e uma dor começou logo acima de onde as mãos dele brincavam em suas coxas. Seus mamilos se enrugaram. – Eu sei que você me quer, querida. Ela adorava quando ele usava nomes carinhosos com aquele tom suave de rosnado. – Você espera que eu queira – ela corrigiu. Ele mostrou os dentes. – Olfato. Sei que você me quer. Seu perfume é tão doce quando você fica excitada… Quero lambê-la e me deliciar no seu desejo. Faz dias que você me tortura. Ela sabia que a cor tinha sumido do seu rosto. Olhar para ele e estar tão perto sempre a afetara, mas ela achava que ele não tinha noção disso. – Isso é verdade? Ele rosnou. – Sim. Tenho convivido com isso me provocando. Só estive esperando você parar de esconder e me dar um sinal de que estava pronta para ficar comigo. – Mas… – Não vou ter um caso com outra. Não sou o macho idiota que você escolheu mal para dar a honra de estar com você. Ellie sorriu, se divertindo apesar do momento tenso. – “Escolheu mal” é pouco. Ele deu de ombros. – Você é a única que quero ou de que preciso, Ellie. Dou minha palavra, não vou tocar em nenhuma outra mulher. Você é a mulher para mim. Isso não é algo de momento. A sinceridade brilhou em seu olhar intenso. Ellie hesitou e então fez que sim com a cabeça. – Eu quero você, Fury. Quero você desde o dia em que o vi pela primeira
vez, isso nunca mudou. É que as coisas entre nós são tão complicadas… – Só é complicado se você deixar ser. – um lampejo de determinação brilhou em seus olhos escuros – Apenas sinta. – suas mãos soltaram as coxas dela e se moveram para o quadril. Ele rosnou de novo, suavemente, enquanto puxava a bunda dela para a beirada da cama. Ellie arfou quando ele deixou a mão escorregar de seu quadril de volta para suas coxas. Ele as afastou bem. Sua cabeça se abaixou e, no segundo seguinte, ele a lambeu. Sua língua quente e molhada foi direto para o clitóris dela. Ela ficou tensa enquanto pegava na colcha. Seus dedos agarraram o tecido. Ele rosnou de novo ao pressionar a boca com mais força contra a boceta dela. Ele lambia aquele ponto sensível com rapidez, quase num frenesi. O prazer se lançou diretamente ao cérebro dela e a fez abrir mais as pernas para dar a ele um melhor acesso. – Caramba – ela ofegava. – Você parece um vibrador com língua. Ele deu um risadinha e então rosnou mais alto contra ela, prolongando as vibrações enquanto sua língua aplicava pressão e corria ao longo do sensível monte de nervos. Ele provocava sem dó. Ela gemia e sacodia a cabeça. Fury moveu as pernas dela para se engancharem frouxamente em volta de seus ombros e, em seguida, mudou de posição, tirando os joelhos do chão e pairando sobre a boceta dela, empurrando os joelhos dela mais alto, segurando-a totalmente aberta. Ellie se preocupava achando que ele a mataria de prazer puro. Ela não conseguia aguentar as sensações intensas que ele criava, eram fortes demais para resistir. Aquele homem sabia tão bem como acionar seu botão de “ligar”, que ela achava que nada poderia desligá-la. Ela sabia que seus dedos rasgavam a colcha, com suas unhas se enterrando no tecido. Precisou reunir todas as forças que tinha para não se agarrar a ele, com medo de arranhar sua pele. – Fury! – ela gritou. Seu corpo espasmava sob a boca dele, enquanto o êxtase percorria seu corpo com ondas atrás de ondas. O clímax a atingiu tão fortemente, que ela gritou de novo. Fury a soltou com a boca. Ele esfregou a bochecha na parte interna de suas coxas enquanto afastava o rosto do meio das pernas e as tirava dos ombros para colocar seus calcanhares na cama. Ela ficou deitada ali, ofegante, enquanto tentava reunir de volta os
pensamentos, mas não conseguia. Ele a fizera se sentir como se sua mente tivesse sido feita em pedaços. A cama se mexeu. Os olhos dela se abriram e viram Fury subindo pela beirada da cama para se agachar sobre ela, se apoiando nas mãos e nos joelhos. Quando ficaram cara a cara, ele parou e ficou pairando sobre ela. Seus olhares se encontraram. – Desta vez não vou perder o controle e vou garantir que não sangre com meus beijos. Vá mais para cima. A atenção dela passeou por aquele peitoral belamente esculpido enquanto ela se mexia para chegar ao meio da grande cama, como ele havia instruído. Ele ainda estava de cueca, mas não conseguia esconder a prova do quão excitado ficara. Ela esticou o braço até a grossa ereção que formava uma barraca com o tecido. Ela sentiu o algodão macio em sua palma quando a deslizou pela dura extensão de seu pau preso, e então sua mão se fechou delicadamente, se curvando em volta da largura do membro. As lembranças da última vez que ela o vira nu foram instantâneas. Ele não era uma aberração de tão grande mas, com certeza, era impressionante, e dera a ela muito prazer com seu tamanho. Os olhos dela se dirigiram até os dele enquanto ela engolia. Suas mãos empurraram a cueca pelas coxas, e ele fez uma manobra para chutá-la para longe. – Você é maior que todos… – ela fechou os lábios ao notar a raiva instantânea dele. – Não quero saber sobre outros que a tenham tocado – ele rosnou. Ela balançou a cabeça. Podia dizer com sinceridade que também não gostaria de ouvir sobre outras mulheres com quem Fury estivera. Sua intenção fora elogiá-lo, mas ele não era humano, não totalmente, e ela precisava se lembrar daquilo. Ela lambeu os lábios secos. Ele rosnou delicadamente. – Vire-se para mim. Mãos e joelhos. Como eu. Ela hesitou, mas rolou sob ele, ficando de bruços. Ele a ajudou a jogar o que sobrara de sua saia destruída de baixo dela e a tirar seu sutiã. Ela não queria nada entre eles. Ele se agachou sobre ela. Uma das mãos dele deslizou sob seu quadril para erguê-lo. Ela pôs as duas mãos para baixo para apoiar o peso da parte de cima do corpo. Tinha uma boa ideia de que ele queria montá-la. Aquele termo era o adequado. Ela se lembrou de tudo o que Breeze
contara sobre os homens das Novas Espécies. Ao posicionar as mãos e os joelhos, deixando seu corpo pressionado contra o dele, ela notou a temperatura quente do corpo de Fury. Ela inalou aquele perfume suave e maravilhoso que ele carregava. – Com medo? – a boca dele roçou na orelha dela. Fez cócegas e ela se arrepiou em resposta, excitada demais para rir. A voz dele se aprofundou em um tom bem sexy – Não fique. Estou me matando para ser delicado com você. Não é um jeito ruim de morrer. Ela virou a cabeça para espiar aqueles incríveis olhos. A boca dele se moveu na direção da boca dela, ficando a apenas um respiro de distância. A vontade de beijá-lo ficou mais forte. Ela empurrou as costas contra o peitoral dele. Ele hesitou e depois se mexeu. Deixou que ela se movesse lentamente contra ele, e ele ia para trás, até que se sentou e ela se inclinou sobre o peito dele, quase sentando em seu colo. – Me beije – pediu ela delicadamente. Uma das mãos dele se esticou na barriga dela. Ele a abriu bem e escorregou a palma pelo local, e depois mais para baixo, entre as coxas ligeiramente separadas. Seus dedos provocaram o clitóris, esfregando-o, e ela gemeu. A boca dela abriu e os lábios de Fury cobriram os dela. Sua outra mão agarrou firme um dos seios. Suas línguas se encontraram delicadamente e se entrelaçaram. Ellie gemeu dentro de sua boca enquanto as pontas de seus dedos traçavam a linha do sexo dela, provocando-a quando seus dedos chegaram perto de entrar na boceta. Ela se empurrou mais contra o corpo dele, ajustando o quadril num pedido para que ele fizesse exatamente aquilo. Fury rosnou dentro da boca dela como resposta. Seus caninos deslizaram delicadamente pela língua dela, mas Fury interrompeu o beijo. Ele respirou com mais força quando seus olhares se encontraram. – Estou prestes a perder o controle. – ele levantou o quadril contra o dela. Ele estava tão duro, que sua ereção roçava contra Ellie, no ponto em que seus dedos traçavam a linhas dela. Ele rosnou mais fundo, de forma quase selvagem – Estou fazendo certo, do jeito que você quer? Ela fez que sim com a cabeça.
– Eu acho você tão linda. – Você também é – ela suspirou. Ela o considerava a perfeição. Ele rugiu, fazendo um som amedrontador. Ela o olhou e o viu franzindo a testa. – O que foi? – Não sou lindo. Ela sorriu. – Eu acho que é. É uma coisa boa. – Mulheres são lindas. – Homens também, quando são como você. Ele franziu o cenho mais ainda. Ellie sorriu. – Falha de comunicação? Ele suspirou suavemente. – Positivo. Ela deu uma risada suave. – Você está rindo durante o sexo? – Isso é ótimo. Estou me divertindo. – Eu não. Quero tanto entrar em você, que até dói. Ela mordeu os lábios para não rir de novo. – Breeze e eu conversamos. Ela mencionou algo sobre montar. – se apoiando nas mãos, ela se jogou para a frente para se curvar na frente dele, e virou a cabeça para lançar-lhe um olhar sexy por cima do ombro. Suas pernas se abriram, suas costas se curvaram, e ela elevou a bunda – É assim? Em um segundo, ele se curvou sobre ela, aprisionando-a em seus braços, e pressionou firmemente o peito contra as costas dela. – Sim. – Vá em frente. – o olhar dela segurou o dele – Monte em mim, Fury. Quero que monte. – Vou ser delicado. – Espero que sim, você é bem grande. Vá devagar para que eu possa me ajustar a você. Ele pôs a mão entre eles. Ellie fechou os olhos para se concentrar na maravilhosa sensação da cabeça do pau dele deslizando, provocando toda a extensão de suas dobras escorregadias. Ele se esfregou no clitóris inchado, arrancou um gemido dela e, então, pressionou contra a entrada da boceta. Ela estava molhada e pronta para ele, encharcada de desejo.
Ele rosnou profundamente, o que produziu um ruído em seu peito enquanto começava a pressionar para dentro. – Relaxe. Ela engoliu. – Estou relaxada. O pau dele parecia ser bem grosso, e a lembrança da primeira vez deles só confirmou. Quando ele começou a invadir sua boceta, ela resistiu à ponta larga, não querendo aceitar algo daquele tamanho. Outro rosnado saiu da garganta de Fury. Ele empurrou mais para dentro dela, fez o corpo dela se alargar para se ajustar a ele, e Ellie lutou contra um gemido à imediata satisfação que era têlo preenchendo a dor ali. Ela temeu que, se fizesse algum som, ele pudesse achar que era de dor. Fury parou e se afastou um pouco. Empurrou de novo, foi mais fundo em sua boceta. Ele gemeu. – Fale comigo – pediu ele de repente, num tom agitado. Os olhos de Ellie se abriram rápido, ela virou a cabeça e viu uma expressão dolorosa no rosto dele. – O que quer que eu diga? Não consigo pensar enquanto você faz isso. Não pare. É muito bom. Eu consigo aguentar. Ele mordeu o lábio. – Me diga para não machucar você. Me diga para não perder o controle e não entrar em você com tanta força e tão fundo que irá fazê-la gritar. Você é tão apertada que tenho medo de te rasgar ao meio se for muito bruto. Quero foder você com força e rápido. Aquilo surpreendeu Ellie. – Isso é o que você quer fazer? Ele rosnou. – Sente-se. O corpo inteiro dele ficou tenso. – Por quê? – Por favor. Ele xingou e se afastou totalmente. Ellie se esticou quando Fury caiu para se sentar sobre as pernas. Ele segurou as coxas com tanta força, que suas juntas ficaram brancas. Seus olhos estavam quase pretos e cheios de um olhar de paixão frustrada. Ellie relaxou de novo e passou os dedos em volta do pau dele. Ele fechou
os olhos, gemeu e seu grande porte tremeu. Ela ficou impressionada com o fato de que criava uma reação tão grande no corpo dele apenas com seu toque. Ela se moveu para mais perto, posicionou o quadril sobre o pau dele e curvou as pernas entre as dele, de costas para ele, quase sentando em seu colo. Seus olhares se prenderam quando ele abriu os olhos num estalo. – Consegue ficar bem parado? – Se me matar – ele jurou. – Não vá tão longe. Ellie abaixou o quadril até que a cabeça do pau se pressionou de novo contra sua entrada. Ela ficou se mexendo até o pau deslizar para dentro de sua boceta com menos resistência, porém ele ainda era grande demais, e ela, muito apertada. A sensação era quase dolorosa, mas prazerosa também. Ela se levantava e se abaixava. Continuou fazendo aquilo e, a cada vez que descia, o pau de Fury a preenchia mais. Barulhos suaves vinham dele enquanto um brilho fino de suor irrompia em sua pele, de tanto que lutava para controlar seu enorme corpo. Ele manteve as mãos presas nas coxas. Ellie gemia e se movia contra ele um pouco mais rápido, se ajustava a ele, até que se sentou totalmente em seu colo, com ele inteiro dentro dela. A sensação era incrivelmente boa com ele enfiado ali, sendo parte dela, e ela adorou o sentimento de ligação que experimentava. Cada centímetro duro dele dentro de sua boceta acariciava seus nervos sensíveis. – Ellie – ele grunhiu. Ellie teve um momento de choque, quando Fury se moveu repentinamente. Ele empurrou os dois para a frente, até posicioná-la sob as mãos e os joelhos debaixo dele. Ele ficou no controle, enfiando nela mais rápido, e ela gemia toda vez que o quadril dele batia em sua bunda. Ele era incrível, poderoso, e um êxtase puro florescia a cada enfiada. Os lábios dele roçaram seus ombros com um beijo. Ele levantou uma mão da cama, passou-a firme em volta da cintura dela para segurá-la, e pareceu se livrar do pouco controle que mantinha. Gemidos se rasgavam de Ellie. Ele golpeava sua bunda, se agitando contra ela com estocadas poderosas, e seu pau parecia ficar maior. O corpo dela ficou tenso e ela gritou o nome de Fury. O calor percorreu seu corpo quando ela atingiu o clímax, e ela podia jurar que o sentia ficando mais grosso dentro dela, até que a pressão se tornou quase insuportável. O corpo
de Fury ficou tenso, curvando o dela sob ele, e um som que ela nunca tinha ouvido encheu o cômodo enquanto Fury produzia um barulho alto e animalesco, que parecia ser metade grito, metade uivo. Ele ficou completamente em silêncio, mas os dois estavam com a respiração pesada. A pressão contra as paredes da vagina dela aliviou, mas ela podia sentir o pau dele tremendo fundo em sua boceta, pequenos tremores que a provocavam. – Machuquei você? – ele ofegava – Dessa vez não tentei mordê-la. – Você definitivamente não me machucou – disse ela com uma risadinha – Foi incrível. Ele também riu enquanto forçava o corpo dela para baixo, até deixá-lo de barriga para baixo. Seu pau continuava dentro dela, seu peito e seu quadril ainda estavam pressionados contra as costas dela, e suas pernas repousavam uma de cada lado dela. Ele usou os braços para envolver o peito e impedir que seu peso a esmagasse. – Ahn… Fury? Ele roçou um beijo delicado no rosto dela. – Sim? Ela abriu os olhos e virou a cabeça para olhá-lo. – O que acabou de acontecer? Ele arqueou a sobrancelha. – Tivemos uma transa ótima. Ellie concordou com a cabeça. – A melhor. Mas eu estava falando sobre a pressão no final. Foi como se… – ela não tinha palavras para descrever. – Ah… isso. – o sorriso dele se esvaeceu – Seus médicos achavam interessante quando nos examinavam. Nossos paus incham quando ejaculamos. É o jeito com que a natureza prende um macho dentro de uma fêmea no final do sexo, em algumas espécies. Os médicos nos garantiram que não machucaria as mulheres, porque não podemos inchar para além de onde estamos colocados. Na última vez, eu tirei de você antes que acontecesse, mas dessa vez quis gozar dentro de você. Ela absorveu aquela informação, tentando compreender o conceito. – Onde está colocado? Você quer dizer eu? – Sim. Você é tão apertada que quase me causou dor. Eu poderia ter inchado mais, mas seu corpo não permitiria. É também por
isso que não tirei logo depois de gozar. Adoro ficar onde estou, mas acho que te machucaria se tentasse deixar seu corpo. Me dê um minuto ou dois antes de eu tentar sair de você. Ela piscou para ele. – Você está maior agora do que no começo? A expressão dele ficou soturna e ele balançou a cabeça de um jeito bruto. – Sinto como se houvesse um punho fechado em volta de mim, e isso é quase doloroso. É por isso que não estou me mexendo. É só na base do meu pau. Ellie mexeu o quadril e parou na hora. Ela se sentia fundida a ele da melhor maneira. Ela se mexeu de novo sob ele e Fury gemeu. – Pare.
Ela o estudou. – Tire um pouquinho. – Estou machucando? – Não. Estou curiosa. Ele a observava atentamente enquanto usava os braços para se empurrar para trás, tentando se afastar devagar. – Pare! Ele congelou. Ellie olhou para ele. – Não vamos mais fazer isso. A pressão… – Dói quando tento tirar? Ela hesitou. – É estranho, mas não dói. Ele suspirou. – Isso tira sua excitação? Ela hesitou, mas sorriu. – Acho que significa que, se fizermos de novo, posso transformá-lo em um “abraçador”. – Um o quê? – uma expressão confusa transformou seu lindo rosto. Ela riu. – Você sabe. Abraço. Me segure. Você vai ter que conversar comigo depois do sexo. Seus dentes apareceram quando ele deu um sorrisinho. – Você definitivamente pode me transformar num “abraçador”. E vamos fazer isso de novo. Muitas, muitas vezes. – Caramba – Ellie riu – Sorte a minha! O divertimento de Fury se esvaeceu. – Eu sou o sortudo, Ellie. Obrigado por confiar em mim. Isso significa mais para mim do que o prazer sexual que acabamos de compartilhar. Ela fitou dentro daqueles lindos olhos e lutou contra a vontade de chorar. Ele realmente estava sendo sincero. Ela decidiu mudar de assunto antes que virasse uma chorona. Nenhum cara gostava que a mulher ficasse emotiva depois de uma boa transa. Faria com que ele se arrependesse do que fizeram, e ela não estava disposta a correr o risco. – Por que não me contou que isso do inchaço aconteceria?
– Não sabia como você reagiria. Outra coisa não mencionada sobre eles fazerem sexo chegou de repente ao pensamento dela. – Não usamos camisinha. Não tenho nenhuma doença, mas não estou usando nada, nem pílulas ou outro contraceptivo – ela explicou – Preciso ir a um médico se vamos começar a transar. Corremos um grande risco. – Não uso camisinha e tenho certeza de que não posso engravidá-la. Ela examinou os olhos dele. Sua voz tinha um tom triste, mas aquela emoção não se mostrava em seu rosto. – Por que não? Ele se afastou devagar de seu corpo e procurou sinais de desconforto em suas feições. Ellie não sentiu dor. Ele rolou para o lado para se esticar. Ellie virou a cabeça e ficou de barriga para baixo. Seus olhares se encontraram. – Ellie, naquele centro de testes, passaram-se anos com experimentos de procriação para fazerem mais de nós, mas nunca deu certo. Eles surgiam com novas drogas para nos deixarem férteis, contudo, sempre falhavam. Quando acreditaram ter encontrado um jeito para contornar todas as mudanças que fizeram em nossos corpos com o DNA que acrescentaram, fomos resgatados antes que pudessem fazer os testes. As drogas que nos deram perderam o efeito. Nossa raça será extinta quando a velhice reclamar a última Nova Espécie que a Mercile criou. O lembrete do que fora feito a ele a assombrou. Ela não tinha palavras de conforto para oferecer. Fury se sentou de repente. – Vamos tomar um banho. Estou faminto, e o cheiro do que você fez para o jantar está delicioso. Fico feliz que o tenha tirado do forno quando entrei. O cheiro é bom demais para desperdiçar se tivesse queimado. – ele se recusou a olhar para Ellie. Fury entrou no banheiro e deixou a porta aberta. Ellie xingou baixinho. Ela o lembrara de sua época no centro de testes. Talvez ele tivesse se lembrado do que ela fizera a ele e de como devia odiá-la, e talvez tivesse se arrependido do que acabavam de ter juntos. Aquilo a
deixou fria por dentro. A água foi ligada no banheiro.
– Ellie? Estou esperando você. Ela desceu da cama para ir até o banheiro. Fury estava em pé, segurando a porta do chuveiro aberta. Seus olhos negros encontraram os dela e ele sorriu. – Me deixe lavar seu cabelo. Surpresa e aliviada por ele querer sua companhia, ela sorriu de volta. – Ninguém nunca fez isso para mim. Pelo menos, não desde que eu era criança. O sorriso dele se alargou. – Então é hora de ganhar um agrado. Ellie terminou de colocar a louça na máquina. Escutava o silêncio da casa. Fury lhe informou que precisava fazer umas ligações depois do jantar, quando ela começou a enxaguar os pratos. Ela se perguntou para quem ele teria que telefonar depois das oito da noite, mas não quis ser invasiva. Ellie saltou para fora da cozinha e foi andando devagar até a sala. Fury estava em frente à porta de entrada escancarada e suaves vozes masculinas a saudaram. Ela se virou para ir até o quarto de hóspedes, não querendo bisbilhotar a conversa dele com quem quer que fora vêlo. Ela ligou a televisão e se sentou na cama. Não foi difícil encontrar o canal de notícias locais. Queria saber o que estavam dizendo sobre a Nova Espécie e a humana que estavam transando. Aquilo certamente a preocupava. Fury entrou no quarto alguns minutos depois. Ela virou a cabeça para dar a ele um sorriso. Ele não sorriu de volta, e tinha uma expressão soturna. – Preciso sair. Há uns problemas que meu povo precisa que eu resolva. Ellie fez que sim com a cabeça, curiosa, mas não fez perguntas, já que ele não oferecera a informação prontamente. – Tudo bem. Ele hesitou. – Não quero que esteja aqui quando eu chegar. O choque percorreu Ellie enquanto ela olhava calada para ele. Eles haviam transado, tomado banho juntos, gargalhado durante o jantar, e então ele queria colocá-la para fora de casa? Ela não conseguia nem formar as palavras. Foi como se tivesse levado um soco no estômago, física e emocionalmente.
Fury se mexeu de repente, se lançou até ela, agarrou-a pelos braços e, com um puxão, colocou-a em pé. – Você está com cara de chocada. Eu quis dizer que não quero que você fique nesse cômodo. Seu lugar é no meu quarto, onde quero que você fique daqui em diante. Achou mesmo que eu iria pedir para você sair da nossa casa? Eu quis dizer que não quero você dormindo longe de mim. Seu lugar é na minha cama, dormindo no meu quarto, comigo. Ela podia respirar outra vez. Sabia que aquilo beirava o patético, ficando tão intensamente aliviada com o mal-entendido. Fury rosnou para ela. – Traga suas coisas para o meu quarto. Vou caçá-la e amarrá-la à minha cama se você sair da minha casa. Vou montar em você até ficar cansada demais mesmo para pensar em se arrastar para longe de mim. Fui claro o bastante? Ela fez que sim com a cabeça, em silêncio. A imagem dele montando nela até que ela não pudesse nem se arrastar a excitava. Aquilo significava muito sexo. Ela mordeu o lábio e deu um sorrisinho para ele. Fury balançou a cabeça. – Mulheres… – Falha de comunicação. A pegada de Fury em seus braços relaxou e o olhar dele se suavizou. – Você acha que sou lindo. – Acho. – Entenda que falo sério sobre amarrá-la na minha cama. Não me deixe. Não quero perdê-la. Não vou. – Eu quero ficar com você. CAPÍTULO DOZE – Não – Fury rugiu. Ellie ouviu uma agitação depois que a campainha tocou. Eles haviam planejado passar o sábado juntos, assistindo a uns filmes. Ellie acabara de tirar algumas roupas da máquina de lavar e Fury estourava pipocas. Ao ouvi-lo explodir de raiva, Ellie saiu correndo do quarto, onde estava dobrando roupas. Justice, dois oficiais da ONE e Fury se enfrentavam na sala. Ellie se deteve abruptamente, quando percebeu o quão tensa a situação parecia ser.
Com medo de que uma briga pudesse estourar entre eles, ficou imóvel na porta. Justice cruzou os braços sobre o peito. Ele vestia jeans e uma camiseta. Seu olhar negro deslizou até Ellie. A expressão raivosa no rosto dele a surpreendeu. Suas feições estavam tensas e seus lábios pressionados, formando uma linha sombria. – Eu disse não. – Fury rosnou profundamente. Se voltou para Ellie, mas não olhou na direção dela – Ellie, venha aqui agora e fique atrás de mim. O tom de voz de Fury fez o medo subir pela espinha de Ellie imediatamente. Sem pensar, ela fez o que ele mandou. Um dos braços dele se curvou para trás e a aninhou contra suas costas, até que ela quase o abraçasse por trás. O corpo dele estava rígido. Ellie não sabia o que o deixara zangado, mas quando mexeu a cabeça para espiar em volta do corpo de Fury, o medo cresceu. Os oficiais da ONE estavam com arma de choques nas mãos. – Fury – rosnou Justice – O povo dela está preocupado. Só estou dizendo que eles precisam vê-la e falar com ela. Vamos trazê-la de volta. Ninguém vai machucá-la. – Eu vou com ela, ou então ela não vai. – Fury rugiu do fundo do peito. Justice rugiu de volta. – Os humanos não estão sendo razoáveis mas, assim que a virem, vão ter certeza de que você não a machucou. Vão deixar o assunto pra lá. – Não! Ellie pigarreou. – O que está havendo? – ela olhou para Justice, esperando pela resposta. – Você não vai com eles – ordenou Fury rudemente, enquanto olhava para ela por cima do ombro. – Eles não querem me deixar ir com você para protegê-la, e não vou deixar que eles a levem de mim – seus olhos negros se arrancaram dela, e ele olhou para os homens na sala. Fury deu outro passo para trás, encurralando Ellie com seu corpo na frente dela. O coração de Ellie se acelerou com a adrenalina. Ela notou que Fury a protegia fechando-a num canto, para impedir que alguém chegasse a ela sem passar por ele antes. Esfregou as costas dele com as mãos, tentando acalmá-lo silenciosamente. Precisou se mexer para olhar em volta, e sua atenção se voltou para Justice. – Quem quer me ver, e por quê? O que está havendo?
Justice mostrou rapidamente seus dentes afiados ao curvar o lábio superior numa expressão de nojo e, em seguida, seus ombros se esticaram. Ele respirou profundamente quando encontrou o olhar questionador de Ellie. – Alguns do seu povo acham que Fury está forçando-a a ficar aqui, como uma espécie de… – ele deu de ombros – Eles estão com medo de que ele esteja estuprando-a, espancando-a e fazendo qualquer outra coisa de monstruosa que consigam imaginar. – Isso não é verdade. – Ellie bufou com raiva – Quem está dizendo essa merda? Justice rosnou. – Seu chefe fez essas acusações. O diretor Boris deixou todos alvoroçados com os supostos maus-tratos que você estaria recebendo. – Ei, ele não é mais meu chefe. Caramba, ele é um cretino. – Ellie parou de esfregar as costas de Fury. No entanto, manteve seu corpo encostado no dele, e passou uma das mãos em volta da cintura dele – Fury, está tudo bem. Ninguém vai me machucar. – Eles não vão tirar você de mim – Fury rugiu. Deu outro passo para trás, apertando Ellie ainda mais no canto. – Ela precisa vir conosco – Justice rugiu – Olha como você está agindo. O que há de errado com você? Ela não é um brinquedinho de morder, Fury. Você está se comportando do jeito que estão nos acusando. Acalme-se. – Ninguém vai machucar a minha Ellie. As sobrancelhas de Justice se elevaram quando a surpresa transformou suas feições. – Sua Ellie? Você está procriando com ela, não está? – a voz dele se suavizou – Você não vai nos deixar chegar perto dela para cheirá-la. É por isso? – Ela é minha – rugiu Fury. Lentamente, o tom bronzeado da pele de Justice foi ficando pálido. Seu olhar foi até Ellie. – Ele a forçou? Você está bem? A lembrança de Justice descobrindo-a amarrada na cama de Fury fez Ellie se encolher. – Estou bem, tirando o fato de estar sendo apertada num canto. Fury, você está me esmagando. Pode parar de me empurrar para trás, por favor? Não é um bom jeito de me prender na parede. – ela relaxou quando ele lhe deu
alguns centímetros de folga. Ela prendeu o olhar nos olhos surpresos de Justice – Fury não me forçou a nada, nunca forçou. Estamos ótimos. Estamos bem. – Ele não apenas copulou com você. Ele fez amor com você. – a conclusão de Justice tinha um tom sombrio. Ellie hesitou. – Estamos dormindo juntos, se é o que você quer dizer. Sim. Estamos ótimos. Está tudo bem e eu quero ficar aqui. Fury não me machucaria. Você o conhece, então devia saber disso. Os olhos de Justice se estreitaram. – E na última vez? O que ele fez não foi racional. Um rubor esquentou o rosto de Ellie. – Estávamos acertando as coisas. Ele não quis me machucar, me arranhou acidentalmente com os dentes. Sobrancelhas se ergueram. – Como alguém acidentalmente sequestra uma mulher em um parque e a amarra nua na cama? – Essa parte não foi um acidente e você sabe disso. Eu contei a você por que ele me levou embora do parque. Fury se enrijeceu contra ela e virou a cabeça para olhá-la, em choque. Ela olhou para ele, se encolhendo por dentro, e voltou toda a atenção a Justice. Ela teve a certeza de que muito em breve ela e Fury teriam uma conversa tensa. Ellie se recusava a admitir os dois oficiais da ONE. Queria que um buraco se abrisse sob ela. Não queria discutir aquilo, mas sabia que Justice estava preocupado com sua segurança. Ele trouxera homens que pareciam prontos a possivelmente ferir Fury para tirá-la de perto dele. – Você sabe que tivemos alguns problemas. Ele pode ter me levado para a cama sem meu consentimento mas, uma vez lá, tudo foi consensual. Eu já disse que ele não me estuprou, e não estava sendo desonesta ou mentindo por ele, caramba. Ele pediu minha permissão antes de me penetrar. Justice a observou de perto, estudando-a por um longo momento. Finalmente, ele balançou a cabeça. – Entendo. Você foi seduzida até não conseguir resistir a ele. Ela inspirou profundamente. – Sempre me senti muito atraída por Fury. Ele não precisou se esforçar
muito. Podemos deixar isso pra lá agora? Estou aqui com Fury porque quero muito. Justice se virou para os dois oficiais da ONE. – Saiam e fiquem de guarda na porta. Os dois homens fecharam a porta atrás deles quando saíram. Justice passou os dedos pelo cabelo e deixou as mãos caírem ao lado do corpo. Seu dedão estava enganchado no bolso da frente do jeans. Seu foco se voltou para Fury. Fury odiava sentir medo, mas era o que vivenciava naquele momento. Sabia que alarmara Justice com seu comportamento rude e a possessão sobre Ellie. O pânico de que algum humano iria espantá-la de algum jeito de Homeland, para longe dele, o percorreu. Ele não confiava no diretor Boris. O humano tinha olhos pequenos e não conseguia esconder sua antipatia pelas Novas Espécies. Alguns dos funcionários humanos não estavam felizes com o fato de Ellie estar morando com ele, e ficavam ressentidos por uma humana estar com alguém da espécie dele. Ellie se tornara dele, fazendo dela uma Nova Espécie e, em sua opinião, os humanos não podiam mais reclamá-la. Era simples assim. Se ele tivesse permissão para ir ver o diretor Boris com ela, teria mais segurança de que nada aconteceria com ela, mas eles se recusavam a deixá-lo estar presente. Aquilo acionava todos os alarmes dentro dele. Ele havia designado um guarda das Novas Espécies para ficar do lado de fora, protegendo Ellie de ser levada enquanto ele trabalhava. Ele iria a qualquer lugar para mantê-la segura. Fury encontrou os olhos de Justice e não desviou deles. Seu amigo sabia como seus sentimentos por Ellie eram profundos. Justice o observava com curiosidade. – Fico preocupado por você agir tão diferente quando o assunto é ela. – Sei disso, mas eu jamais a machucaria. Confie em mim. Os olhos de gato de Justice se estreitaram. – Eu confio. Me desculpe por dar a entender outra coisa, mas você tem que admitir que nem sempre é você mesmo quando se trata da sua fêmea. – Sei disso também. Os dois homens se estudavam. Justice falou primeiro. – Eles estão me pressionando para levá-la até eles, para se certificarem de que ela está bem. Não tenho escolha e você sabe que precisamos apaziguar os
ânimos. Era difícil ser razoável quando se tratava de Ellie, mas ele sabia que Justice tinha um bom argumento. Os humanos ainda estavam cautelosos com relação às Novas Espécies e certamente se preocupavam com o bem-estar dela. Para ser honesto, se aquilo fosse com outra Nova Espécie homem e uma humana mulher, ele estaria monitorando a situação de perto. Fury suspirou, se acalmou, e sabia que Ellie não o deixaria por vontade própria. Ele tinha que permitir que os humanos a vissem. – Eles querem que um médico a examine. Estão preocupados. Caramba, eu estou preocupado. Temos falado sobre ultrapassar a linha, mas não sei de ninguém que tenha ido tão longe, exceto você e ela. – Justice fez uma pausa – Então, somos sexualmente compatíveis? Fury fez que sim com a cabeça. – Um pouco diferente, como suspeitávamos, mas funciona extremamente bem. Ela não precisa de um médico. Eu não a machucaria. Justice franziu o cenho. – E morder? – o olhar dele passeou pela pele exposta em volta do pescoço e dos ombros dela. Seus olhos voltaram para Fury – Elas são mais frágeis que nossas mulheres e não se curam tão rápido. – Eu não a mordo. – Vocês realmente mordem durante o sexo? – aquilo surpreendeu Ellie. A discussão sobre a vida sexual dela com Fury a deixara envergonhada, mas a curiosidade venceu – Eu não sabia disso. Fury olhou para ela e mostrou suas presas rapidamente quando levantou o lábio superior. – Não acho que você iria gostar. Ela estudou os caninos dele. – Provavelmente não. Fury bufou, um certo divertimento cintilou em seus olhos castanhos antes de se virar para Justice. – Vou deixá-la ir, mas vou ficar ao lado dela. Aqueles grupos de ódio já a atacaram por trabalhar aqui. Não vou arriscar a vida dela, agora que dizem que ela mora comigo. Isso fez dela um alvo maior. – Compreendo, mas o diretor Boris insiste para que você não esteja presente. Ele teme que você tenha abusado dela o suficiente para deixá-la com medo de dizer a verdade na sua presença.
– Não estou nem aí para o que Boris quer – rosnou Fury – Ela é minha, não dele. Ele não tem mais que se preocupar com ela. Ellie moveu o próprio peso, desencostou o corpo do canto e se mexeu em volta de Fury. Ele a deixou se mover, até que ela tentou se afastar. Um braço embrulhou a cintura dela para impedir que saísse de seu alcance. Ele a encostou em sua frente, até que ela se inclinou contra seu corpo. Ellie relaxou. Ela adorava que ele a segurasse, não importava em quais circunstâncias. Ela dobrou os dedos no braço dele, para assegurá-lo de que não planejava se mexer. Justice os observava com interesse. – Você fez amor com ela assim que a trouxe para sua casa? – Fizemos ontem à noite. – o corpo de Fury relaxou – Não confio no Boris. Não confio a vida dela a ninguém. Ela é minha, Justice, não vou deixar que ninguém a machuque. Nem mesmo você com suas preocupações. – Eu jamais a machucaria – Justice jurou delicadamente – Dou minha palavra de que nada vai acontecer com ela e de que vou defendê-la com a minha vida. Preciso levá-la comigo para ver o diretor. Estamos perto de assumir o controle e ele vai embora em breve mas, por ora, temos que trabalhar com ele. Vou trazê-la logo de volta. Eles querem que um médico a examine primeiro, mas não sairei do lado dela. Precisamos acalmar as cabeças deles, Fury. Eles têm preocupações quanto à combinação dos nossos hábitos de acasalamento com os deles. Eles têm certeza de que você copulou com ela e não vão deixar isso para lá. – Eles não têm certeza de que eu e Fury temos intimidades, certo? – perguntou Ellie. Justice fez que sim com a cabeça. – Só vai precisar de uma fungada para eles saberem a verdade. Agora que você está perto de mim, sinto o cheiro de Fury. Você está coberta dele. Ellie hesitou. – Adivinha só? Não sentimos cheiros tão bem quanto vocês. Tudo o que podemos fazer é estudar as coisas com nossos olhos e fazer especulações. Justice sorriu lentamente. – Eu me esqueço disso. Para nós, isso é óbvio. Ela balançou a cabeça.
– Eles só podem supor o que eu e Fury fizemos juntos. O sorriso sumiu do rosto de Justice. – Você está morando com ele. – Ela é minha – declarou Fury delicadamente, mas com um tom ameaçador – Ela vai continuar morando comigo. Isso não está em jogo. Justice estudou Fury bem de perto. – Você está bem? Está muito possessivo. – Estou bem. Admito que me sinto possessivo. Ela é minha, simples assim. Justice hesitou. – Você definitivamente acasalou com ela. Isso é muito mais do que procriar com uma fêmea. Vou levá-la para ver o Boris e depois trazê-la de volta. Não sairei do lado dela. – Você vai protegê-la como se ela fosse uma dos seus – exigiu Fury. Justice fez que sim com a cabeça. – Ela é sua e isso significa que é uma de nós. O braço de Fury em volta da cintura dela relaxou, e suas mãos seguraram o quadril dela. Ele a virou de frente, até que seus olhos se encontraram. – Vou pegá-la de volta se eles tentarem fazer com que você saia de Homeland. Ninguém vai deixar você longe de mim. Ellie ficou alarmada com o tom feroz dele, mas consentiu com a cabeça. – Estarei em casa logo mais. Eu… – ela queria dizer que o amava, mas resistiu. O nível de emoção que ela sentia em relação a ele não a surpreendeu – Eu vou sentir sua falta – ela finalmente conseguiu dizer. Fury segurou seu rosto com as duas mãos e se abaixou até seus narizes quase se encostarem. – Também vou sentir sua falta. – o olhar apaixonado dele se levantou para lançar um olhar penetrante por cima da cabeça dela – Traga-a de volta logo e faça de tudo para protegê-la. – Farei isso – prometeu Justice – Mesmo que eu precise arriscar minha própria vida. Vamos, Ellie. É melhor você calçar os sapatos. Ellie lançava olhares aos homens intimidadores e grandes que a cercavam, e lutava contra uma sensação claustrofóbica causada por todos
aqueles corpos pressionados uns contra os outros. Ninguém a tocava, mas ela sabia que se levantasse um braço, roçaria em um oficial da ONE. Justice agia como se a vida dela estivesse em perigo extremo. Aquilo a deixava mais do que apenas um pouco apavorada, até que eles entraram na sala de conferências. O choque ao ver a sala totalmente cheia soterrou o medo. Ela cerrou os dentes para impedir que o queixo caísse, quando olhou em volta da sala preenchida com mais de sessenta pessoas. Aquilo certamente batia o recorde de comparecimentos a uma reunião. O diretor Boris estava em pé, atrás de uma mesa no fundo. – Senhorita Brower. O olhar de Ellie encontrou o dele, e a raiva surgiu. Ela olhou para Darren Artino, que estava ao lado do diretor. Outros rostos familiares estavam presentes, entretanto ela não reconheceu a maioria das pessoas. Todos pareciam focados unicamente nela, o que a deixou se sentindo como se fosse um inseto num microscópio. Justice fez um gesto para que os oficiais da ONE se afastassem, mas ele ficou ao lado dela para se dirigir ao diretor Boris. – Aqui está Ellie Brower e ela está bem, como podem ver. – a irritação de Justice se mostrava em sua voz. Darren Artino pigarreou enquanto estudava Ellie. – Chegou ao nosso conhecimento que você deseja deixar a casa do senhor Fury. Estamos preocupados com você. Ellie cruzou os braços e forçou o queixo para fora, muito desconfortável com todos olhando para ela. – Eu estou bem. O senhor Fury foi gentil o bastante para me deixar ficar no quarto de hóspedes dele. – ela pausou, olhando abertamente para o diretor Boris, sem se importar em esconder a antipatia por ele – Quando saí de Homeland, quase fui sequestrada por alguns membros dos grupos de ódio que fazem piquete lá fora. O senhor Fury está preocupado com a minha segurança. Estou muito melhor aqui do que fora dos portões. Uma mulher loira, com os cabelos presos em um coque, se levantou. Ela vestia um terninho social, alinhado e preto. – Sou a doutora Trisha Norbit. A mulher parecia jovem demais para ser uma médica, mas Ellie não expressou sua opinião em voz alta. – Muito prazer. – ela não sabia bem o que dizer.
– Soubemos que você e o senhor Fury ficaram bem íntimos. Gostaria de examiná-la para termos certeza de que sua saúde está boa, e poderíamos discutir algumas coisas. – a mulher olhou em volta da sala e lançou a Ellie um olhar significativo – Em particular, é claro. – Não há nada sobre o que conversar e não preciso de um exame médico. – Ellie suspirou alto, não querendo passar o dia todo lá – Olha, deixe-me explicar. Eu ouvi as notícias no jornal. Sei que vocês acreditam que o senhor Fury me machucou ou qualquer outra merda, mas não é verdade. – Ela jogou outro olhar ousado na direção do diretor Boris e depois voltou a atenção para a médica. – Sou hóspede dele e durmo em outro quarto. Eu mal o vejo e não há nenhuma safadeza acontecendo. Nem sei por que estou aqui, mas o senhor North disse que eu precisava aparecer para que todos pudessem ver que estou bem. Meu dia estava ótimo até eu ter que vir aqui para todos ficarem me olhando embasbacados, imaginando o pior. – Você e o senhor Fury estão envolvidos num relacionamento físico? – um estranho perguntou. Ellie olhou para ele. – É algo grosseiro para se perguntar a alguém, bem desnecessário, mas a resposta é não. Eu não acabei de falar isso? O senhor Fury é um perfeito cavalheiro. Eu durmo no quarto de hóspedes dele. – Mas você está morando com ele. – o homem olhou para Ellie, sua hostilidade era visível – Sabemos que vocês são sexualmente ativos juntos. Ellie perdeu a calma. Deu um passo na direção daquele homem rude, mas parou. – Somos colegas de quarto. Você não ouviu essa parte? Você é uma daquelas pessoas idiotas que acham que um homem e uma mulher não podem dividir uma casa sem pularem juntos na cama? Um homem mais velho suspirou. – Não queremos ser desrespeitosos, senhorita Brower. É que precisamos saber se você e o senhor Fury estão tendo relações sexuais. Vocês seriam o primeiro casal de nosso conhecimento entre as duas espécies que estariam fazendo isso. Precisamos fazer testes e estudar isso. – ele empurrou os óculos mais acima do nariz – Poderia haver efeitos colaterais perigosos. Queremos o melhor para você e o senhor Fury. Você não gostaria de machucá-lo de nenhuma forma, gostaria? Ellie franziu a testa.
– Compreendo o que está dizendo, mas entenda: não estou com o senhor Fury da maneira que você está sugerindo. Não estamos tendo relações, como você colocou. Ele é apenas um homem muito gentil que me deixa morar com ele, enquanto não arrumo outro emprego. Saí dos portões e minha associação com as Novas Espécies quase fez com que eu fosse sequestrada por doentes fanáticos. Estou mais segura vivendo aqui em Homeland. – Está bem. – o diretor Boris suspirou alto – Você pode ter seu emprego no alojamento feminino de volta imediatamente. Vamos mandar a segurança com você até a casa do senhor Fury para pegar seus pertences. O chão poderia também ter se aberto abaixo de Ellie. Ela olhou boquiaberta para o diretor Boris. Esse filho da puta dos infernos. Ela precisou se acalmar antes de responder, negando com a cabeça, se recusando a deixar que ele a deixasse longe de Fury à força. Todos os olhos na sala escrutinavam-na, esperando uma reação, e ela sabia disso. Droga. Ela forçou a mente a funcionar enquanto inclinava a cabeça para olhar para aquele imbecil. – Adoraria ter meu antigo emprego de volta, acredite, mas, antes de mais nada, a razão para eu tê-lo perdido foi por que você tentou fazer com que eu cometesse perjúrio. Você não gostou da nova equipe de segurança da ONE que me salvou, quando os guardas de Homeland não conseguiram lidar com o ataque. Você ordenou que eu redigisse uma falsa queixa dizendo coisas horríveis contra eles, que não eram verdade. Eles salvaram minha vida, enquanto seus guardas não conseguiram nem chegar até mim. Ela viu o rosto dele ficar sem cor e muitos dos olhares deixaram de fitá-la para se fixarem no diretor Boris. Ele parecia chocado demais para fazer alguma coisa, exceto lançar o olhar pela sala. – Não trabalho para gente que me faz inventar falsas e safadas acusações e depois me manda embora porque me recuso. Eu teria me demitido se você não tivesse me colocado no olho da rua. Me recuso a trabalhar para você, diretor Boris. Vou encontrar um emprego em que não me obriguem a mentir. – Isso não é verdade – cuspiu finalmente o diretor Boris. Ele apontou um dedo para Ellie – Escoltem-na daqui agora e quero que seja removida de Homeland permanentemente! Justice olhou para um dos seguranças, que deu um passo na direção de Ellie. Ela quase tropeçou em um oficial da ONE que se aproximou dela. Notou que todos os oficiais da ONE a haviam cercado novamente de forma
protetora. Ellie congelou no lugar, assim como a intenção do guarda de retirála da sala. – Esse é um bom ponto – declarou Justice, friamente – Você tem algum problema com as minhas equipes, diretor? A não ser que alguém tenha mentido para mim, este lugar foi estabelecido para que pudéssemos estruturar nossa própria comunidade, criar um lar verdadeiro para as Novas Espécies, e isso inclui treinar nossas próprias equipes de segurança. A senhorita Brower me informou sobre a conversa que se deu entre vocês dois no dia em que você a mandou embora. Por falar nisso, você nem tinha o direito de fazer isso sem o meu consentimento. Você realmente ultrapassou os limites, e está repetindo essa ofensa aqui. Essa mulher está sob a proteção das Novas Espécies e ainda assim você ousa ordenar para que a removam à força? Um homem mais velho, vestindo um terno, levantou-se de repente e se moveu em volta de uma mesa. Ele andou até o diretor Boris, com um profundo franzido enrugando seu rosto. – Jerry? – ele obviamente conhecia bem o diretor, a ponto de chamá-lo pelo primeiro nome. – Não é verdade – o diretor Boris cuspiu – Um desses homens, aquele Fury com quem ela está morando agora, carregou a senhorita Brower para dentro de um banheiro e a despiu. Ele deu a ela suas roupas de baixo para vestir. Ela se lavou nas pias e ele certamente a viu se despir e se banhar. Eu só tentei proteger a mulher fazendo com que ela contasse a verdade e confessasse o abuso que sofreu. Não podemos deixar que a segurança force mulheres para dentro do banheiro para se aproveitar delas. O homem mais velho arqueou a sobrancelha para Ellie. – Isso é verdade? – Não – respondeu ela de forma mecânica – Sim, Fury me levou até o banheiro, pois eu estava coberta de sangue. Ele entrou em uma cabine e removeu as roupas de baixo para me emprestar algo para vestir, enquanto eu me lavava com privacidade. Havia uma crosta de sangue na minha pele. A única outra opção envolveria andar por aí nua ou colocar de novo minhas roupas molhadas e ensanguentadas. Estávamos em toque de recolher e não havia outras roupas disponíveis. Eu disse isso claramente ao diretor mas, ao contrário, ele fez acusações horríveis de que eu fora molestada sexualmente ou de que era uma tremenda vadia, que transaria com um cara dentro de um
banheiro depois da experiência mais traumática da minha vida. O diretor Boris ordenou que eu escrevesse um relatório acusando o senhor Fury de coisas horríveis, mas não foi o que aconteceu. Me recusei a inventar coisas doentias como essa só por que ele estava muito bravo pelo fato da equipe de segurança da ONE salvar minha vida. O homem mais velho estudou Ellie silenciosamente com seus gélidos olhos azuis. Ele por fim balançou a cabeça e se virou para encarar o diretor Boris. – Jerry, odeio fazer isso, mas estou realocando-o imediatamente. Parece que há um conflito e esse é um projeto importante demais para permitirmos qualquer tipo de mal-entendido. – o homem se dirigem a Justice – Peço desculpas. Obviamente nos deram informações incorretas. Sou o novo diretor. – ele fez uma pausa – Apenas, é claro, se for aceitável para você. Justice concordou com a cabeça. – Tudo bem, Tom. Tenho uma conferência por telefone com o presidente em dez minutos, estou de saída. – Justice balançou a cabeça para seus homens. Ele deu o braço para Ellie – Podemos ir, senhorita Brower? Ellie lançou um último olhar ao diretor Boris. Ex-diretor, ela se lembrou, e passou o braço em volta do braço de Justice. A equipe de segurança da ONE os cercou ao deixarem o prédio. – Me lembre de nunca deixá-la irritada, senhorita Brower – Justice deu uma risadinha leve enquanto caminhavam para fora. Ela olhou para ele. – Aquilo não foi de irritação. Admito que ando meio brava, mas eu estava mais assustada. Ele parou e a examinou com curiosidade. – Com o quê? Não teríamos deixado você sofrer mal algum. Eles não iriam jogá-la para fora dos portões outra vez. Ela não disse uma palavra. Não tinha certeza de que podia confiar nele. Ele a observou por um longo momento. – Achou que fossem tirar você de Fury? Essa era a fonte do seu medo? Diabos, ela pensou. Sou tão transparente assim? Ela tirou os olhos dele, para olhar em volta do estacionamento. Carros se amontoavam pela rua em que normalmente era proibido estacionar. Ela fez que sim com a cabeça. Fury era uma parte muito importante de sua vida desde que ela colocara os olhos nele pela primeira vez.
Ela teria feito qualquer coisa por aquele homem. Sonhara com ele, continuara trabalhando disfarçada na Mercile apesar do pavor de ser morta e, até mesmo, aceitara o emprego para trabalhar com as Novas Espécies, numa tentativa de corrigir o erro que cometera com ele. Ver Fury fora algo que mudara sua vida, e ela deixara a família e os amigos depois daquilo. Seu mundo se centrava nele e no povo dele. Estavam juntos, eram um casal, e não queria perdê-lo. Aquilo acabaria com ela por dentro. – Então, vamos levá-la de volta para ele – Justice declarou delicadamente. Ellie olhou nos olhos dele. – Obrigada. Haviam dado alguns passos, quando um rugido de alerta se fez atrás deles. Justice se virou, pegou Ellie e deixou-a fora de perigo. Ela fitou as costas largas de Justice quando ele a protegeu com seu corpo. Ela espiou. Ellie reconheceu Slade, o oficial da ONE, que bloqueava a médica que estava lá dentro, esticando os braços para deixá-la encurralada e impedi-la de se aproximar mais. A médica tinha uma expressão amedrontada em seu rosto pálido, pois o rugido fora feito para ela. Slade parecia tenso e um rosnado mais suave veio de seus lábios. Justice relaxou a postura. – O que você quer, doutora Norbit? Slade olhou para Justice. – Você a conhece? Ela veio correndo até nós. Justice fez que sim com a cabeça. – Slade, está tudo bem. Deixe-a passar, ela não é uma ameaça. Trisha Norbit se esgueirou em volta de Slade, quando os braços dele caíram. O olhar dela cravou em Ellie. – Eu só queria falar rapidamente com a senhorita Brower, em particular. Justice enfiou os dedões nos bolsos da frente do jeans. – O que você quer dizer a ela, doutora? A médica ainda parecia amedrontada. – Quero dar meu cartão a ela. – ela puxou um do bolso da saia e o ofereceu com a mão trêmula. Ellie hesitou para pegá-lo. – Por que eu precisaria disso? – Caso você precise de mim. Você tem que saber como isso é importante. Eu seria a sua médica e nossas conversas seriam estritamente privadas. Se você e o senhor Fury estão tendo intimidades, por favor, pense no que
poderia significar se você permitisse que eu a examinasse e ficasse encarregada dos seus cuidados médicos. – Que você é xereta? É isso que significaria. – Slade bufou – Deixe-a em paz, doutora. Ela teria dito lá dentro se quisesse sua ajuda. Trisha Norbit ignorou Slade, mantendo seu foco em Ellie. – Vi os relatórios médicos sobre a fisiologia deles, e eles são levemente diferentes de nós. Há muita coisa que desconhecemos. – O que é diferente? – Slade franziu o cenho, mas então um sorriso debochado dividiu seu lábios – Você quer dizer que somos maiores que seus homens. A doutora Norbit lançou um olhar irritado a Slade, porém sua atenção se focou novamente em Ellie. – Não quer saber se poderia engravidar? Não gostaria de saber se isso é possível caso os tratamentos corretos forem aplicados? Justice franziu a testa. – Já tive muitas conversas com médicos e eles chegaram à conclusão de que não é. Somos incapazes de conceber crianças. A doutora Norbit inclinou a cabeça para Justice. – Não temos certeza de nada, apenas de que nunca tivemos um casal de espécies diferentes para fazermos um estudo. Se essa mulher e um de seus homens estão tendo relações, não acha que seria uma boa ideia ver o que poderia resultar? Não é só a gravidez que me interessa. Pense nisso, senhor North. Talvez outros do seu povo queiram se envolver com os do meu. Não gostaria de saber se há efeitos adversos? Seus homens não conseguiam engravidar suas mulheres, mas ela é totalmente humana. – Que tipo de efeitos adversos? Inveja de pênis? – Slade riu – Já estive no banheiro masculino com humanos, doutora. A única coisa que suas mulheres devem temer é perceber como os paus dos seus homens são pequenos em comparação aos nossos. Trisha Norbit lançou um olhar provocador para Slade. – Você é um porco. O sorriso de Slade se desfez e um rosnado baixo saiu de sua garganta. – Sou canino, não porco. – Isso é uma gíria, não uma denominação de espécie – Ellie conseguiu dizer sem rir – Ela acha que o que você falou é sujo e ofensivo. Slade balançou a cabeça para Ellie antes de dar um sorriso debochado
para a médica. – Mas sincero. – Chega. – Justice riu – Por mais divertida que essa conversa esteja ficando, preciso atender uma ligação do presidente. Isso não é apenas uma desculpa para nos tirar daqui. – Por favor – a doutora Norbit implorou delicadamente – Senhorita Brower, Ellie, por favor, pegue meu cartão. Sou a médica das Novas Espécies. Entendo a necessidade de discrição e eu posso visitar a casa do senhor Fury de forma privada, ninguém precisa saber. Apenas considere me deixar entrar nisso. Você não faz ideia de como é importante para nós entendermos como nos relacionamos sexualmente. Ellie ponderou, mas pegou o cartão e o enfiou no bolso do jeans. – Não estou fazendo sexo com o senhor Fury. Declarei isso lá dentro e sei que, se estivesse, isso viraria um circo. As narinas de Slade se alargaram e ele moveu o olhar para Ellie. Ela o olhou rapidamente. Ele inalou suavemente e sorriu. Ela desviou os olhos dele. Slade sabia que ela estava mentindo, podia sentir o perfume de Fury nela, mas ficou aliviada por ele não falar nada. – É imperativo que eu saiba como nossas espécies interagem durante o sexo – explicou a doutora Norbit delicadamente – Estou encarregada da saúde e do bem-estar não apenas das Novas Espécies, mas também dos humanos. Entre as Novas Espécies e os funcionários humanos, realmente preciso saber com o que estou lidando. É apenas uma questão de tempo até isso se tornar um assunto importante. – Vou dizer uma coisa – Ellie começava a mentir – Se algum dia eu considerar fazer sexo com o senhor Fury, vou deixá-lo ciente e, na remota possibilidade de ele aceitar, você será a segunda pessoa a quem vou contar. Ellie se virou e começou a andar. Justice imediatamente igualou seu passo ao dela e se dirigiram à casa de Fury. Ele riu. – Você lidou bem com isso. – ele hesitou – Talvez devesse ligar para ela amanhã. De acordo com as informações que li, ela é uma das melhores médicas do país. Eu mesmo a escolhi. Ela é nova, mas brilhante, e é simpática às Novas Espécies. Se ela diz que vai manter em segredo, eu tenderia a acreditar nela. Ellie fez que sim com a cabeça.
– Não vou hesitar, se vier a precisar de um médico. CAPÍTULO TREZE Fury ficou andando de um lado para o outro durante todo o tempo em que Ellie esteve ausente, certo de que algo daria errado. Ele havia se contido para não ir correndo até a sala de controle e espionar a reunião por meio das câmeras espalhadas por Homeland. Como chefe da segurança e o segundo no comando, ele tinha acesso a elas. No entanto, não saiu, preferindo ficar em casa e esperar pelo retorno dela. Ele confiava em Justice e seus homens para protegerem Ellie. Treinara pessoalmente todos os oficias de segurança, cada um deles, e seu povo sabia o quanto ela era importante. Ele sentia falta de seu perfume, de ouvir sua voz musical e, quando fechava os olhos, o rosto dela surgia, marcado a ferro e fogo na memória dele. Dormir com Ellie, sentindo a pele dela na dele enquanto conversavam até tarde da noite antes de pegarem no sono, fora maravilhoso. Ele queria fazer aquilo todas as noites e ouvir todos os detalhes sobre a vida dela – exceto qualquer menção a homens que ela conhecera. Não queria imaginar ninguém tocando sua Ellie. Teria que ir atrás deles e fazê-los sumir. Se algum dia o exmarido dela aparecesse em Homeland querendo Ellie de volta como esposa, ele não estava brincando sobre espancá-lo até que ele mudasse de ideia. Ela era dele, agora e para sempre. Pensar sobre o ex-marido dela o fazia lembrar de seus pais problemáticos. Fury parou de se movimentar e fitou a porta. Ela nunca mais ficaria sozinha de novo. Ela tinha a ele e a todo o povo dele como família. Ele a asseguraria daquilo e faria todos saberem que ela pertencia a ele. Lutaria com unhas e dentes com Justice se fosse necessário para que se criasse uma lei das Novas Espécies dizendo que qualquer humano que estivesse com uma Nova Espécie deveria ser considerado uma delas. Queria que ela tivesse os mesmos direitos que ele. Sabendo que Ellie não fazia nenhuma distinção entre eles, então, nenhuma deveria ser feita contra ela em relação às Novas Espécies. Ela deveria ser considerada uma Nova Espécie. Ele balançou a cabeça, decidido a empurrar aquela lei a Justice enquanto fizessem novas para governar seu povo. Logo, eles administrariam sua própria Homeland e convenceria Ellie a terem um relacionamento permanente. Já era, para ele.
Ela só precisava chegar em casa. Parecia que se passava uma eternidade, até que a viu pela janela. Ele combateu seus instintos para se apressar para fora, correr até ela e abraçá-la, mas ele se manteve calmo o máximo que podia. Ninguém tentara pegar Ellie, já que ela não parecia estar com medo. Justice e os membros da equipe pareciam completamente tranquilos. Ele escancarou a porta de entrada. Fury saiu e foi pisando firme na direção de Ellie, com o alívio evidente em seu rosto. – Estamos sendo observados – alertou Justice delicadamente – Ellie, entre na casa como se não déssemos a mínima. Fury, não pareça tão feliz em vê-la. Ela acabou de mentir para uma sala cheia de gente. Não faça o esforço dela ser inútil beijando-a onde qualquer um pode ver. Vamos conversar por um minuto para parecer que você veio correndo da porta para interagir comigo. Ellie continuou andando. Quis tocar Fury quando passaram um pelo outro, mas não o fez, se recusando até mesmo a olhar na direção dele até entrar em casa. Ela fechou a porta, chutou os sapatos e ficou andando pela sala. Um minuto depois, Fury entrou na sala e trancou a porta atrás dele. Seus olhares se encontraram por um breve segundo, antes de ela se lançar a ele. Braços fortes a levantaram e a abraçaram com força. Os pés de Ellie não tocavam o chão, quando ela se encontrava com seu rosto enterrado no pescoço de Fury. Ele a agarrava com tanta força que quase doía. – Não consigo respirar – ela arfou. O aperto das mãos de Fury ficou mais suave. – Você voltou. – Voltei. Fury ajeitou-a no colo e andou com passos largos pela casa, carregando-a até o quarto e colocando-a na beirada da cama. Ele pegou a camisa e tirou-a por cima da cabeça. Ellie sorriu para ele. – Quando você chegou em casa ontem à noite, achou que eu estaria frágil demais para fazer qualquer coisa, exceto dormir abraçada com você. Hoje de manhã, quando acordou, se recusou a tomar banho comigo, dizendo que eu precisava de mais alguns dias para me ajustar a você. Por que está tirando a
roupa? Fury tirou os sapatos e abaixou as calças. Seu olhar negro e sexy se fixava no dela. – Isso foi antes de tirarem você de mim. Preciso possuí-la agora. Ellie se levantou e começou a se despir. Um Fury nu esperava e a observava silenciosamente, até que ela terminou de tirar as roupas. Ela deu um passo na direção dele. Ellie arfou quando Fury se lançou, agarrou-a e virou-a de costas. Ela se viu curvada sobre a cama, de joelhos, antes que pudesse tomar fôlego. O corpo dele se curvou sobre o dela, prendendo-a sob ele. – Fury? Ele rosnou e, em seguida, enterrou o nariz no pescoço dela. Inalou profundamente e rugiu com suavidade. – Você vai só montar em mim? – aquilo a deixou alarmada – Sem preliminares? Nada? – Você é minha. Um pequeno medo se fez sentir em Ellie. – Você está me assustando. Meu corpo não está pronto para você. – Não é minha intenção assustá-la. – ele mordiscou o lóbulo da orelha dela – Apenas quero você. Fiquei inquieto o tempo todo em que esteve fora, imaginando o pior. Só quero ficar dentro de você. Quero você gritando meu nome e o seu perfume enchendo minha cabeça. Preciso sentir seu calor úmido, me enfiar fundo em você e ficar assim pelo máximo de tempo que conseguir nos manter conectados. – Esqueça as preliminares – disse Ellie com uma voz trêmula, excitada com suas palavras. As mãos dele agarraram o quadril de Ellie, mas se moveram para deslizarem pelas costelas dela até que ele pegasse em seus seios e a pressionasse mais forte contra o peito dele. Sua boca se abriu no ombro dela para permitir que sua língua se movimentasse na pele dela. Suas mãos firmes apertaram os seios, seus dedões brincavam com os mamilos até que estes, em reação, ficaram duros. Ellie pôs as mãos entre os corpos deles e pousou as palmas nas coxas dele. Hesitou por apenas alguns segundos antes de movê-las e pegar na bunda dele. Ela o empurrou com mais força contra seu corpo e mexia freneticamente a bunda contra o pau duro.
Ellie soltou a bunda dele e torceu a mão entre os corpos até seus dedos se curvarem em volta da carne quente e dura da grossa ereção. Fury se movia contra os dedos dela, permitindo que ela o alisasse. Ellie elevou o quadril e apoiou o peito no colchão. Ela se posicionou até que a cabeça do pau estivesse exatamente onde ela queria, e então ele foi para frente. Ela estava molhada e pronta quando ele começou a fazer pressão em sua boceta. Um gemido alto deu as boas-vindas a ele. Ele preenchia a necessidade dolorosa que ela sentia. O corpo dela se alargou para acomodar aquela grande ereção. Era maravilhoso. Ela gemia, mexendo o quadril contra ele. Fury se afastou um pouco, e depois suas mãos soltaram os seios dela e deslizaram pela pele, até o quadril. Mãos firmes a envolveram, agarraram-na bem e ele enfiou mais rápido e mais fundo. Ellie gemia mais alto de prazer com aquele pau que a golpeava. – Você é tão apertada e quente. Tão molhada pra mim – ele rosnou – Mas não quero machucá-la. – Você não vai. – ela arfou – Caramba. É como se só houvesse você. Quando você se mexe dentro de mim, nada mais existe. Fury se afastou e depois meteu com força e rapidez. Ellie choramingou. Fury congelou, mantendo seu quadril imóvel, com seu pau enterrado fundo dentro de Ellie. – Não pare – ela implorou. – Estou machucando você. – Não. Caramba, não. Você é tão bom. Não pare, Fury. Ele rosnou e mordiscou o pescoço dela. Sua língua trabalhava na carne sensível da lateral do pescoço, dentes arranhavam a pele, fazendo com que ela ficasse ciente deles, o que aumentou a paixão dela. Ellie tentou empurrar o quadril contra ele, mas Fury segurou-o firme no lugar, mantendo-a parada. Ele começou a se mexer novamente, indo para dentro e para fora do canal escorregadio dela, cada vez mais rápido. O corpo de Ellie ficou tenso, em antecipação ao clímax iminente, e seus dedos agarraram a beirada da cama. Os dentes de Fury se afundaram no ombro dela com firmeza, mas não feriram a pele. Naquele ponto, ela pouco ligava se acontecesse. Somente o prazer que se fazia dentro dela existia, enquanto ele rosnava e penetrava com firmeza, roçando contra suas terminações nervosas que doíam para serem libertadas. Fury se mexeu e se enfiou nela outra vez, e depois outra, em um novo
ângulo, atingindo o ponto que a levou a um jato irracional de delírio e prazer. O corpo dela se agarrou no de Fury. Ela tremia ao atingir o clímax. O corpo de Fury quase a esmagou contra a cama, quando ele soltou os dentes do ombro dela. Ele jogou a cabeça para trás e um som alto rasgou seus lábios, enquanto ele começava a inchar dentro dela. Ellie jogou a cabeça para trás, contra o ombro dele, quando mais ondas de prazer a atingiram. Ela gritou o nome de Fury outra vez. Ambos estavam sem fôlego, deitados na cama, com Ellie presa sob ele, quando a calma se instalou sobre eles como consequência do sexo. Eu amo Fury. Nunca soube que algo forte desse jeito podia existir entre duas pessoas. Nunca quero deixá-lo e nunca quero ficar sem ele. Era por aquilo que ela abandonara a vida que possuía antes. Ela tinha certeza, de uma vez por todas, de que fizera a coisa certa. Fury se recuperou antes de Ellie. Tirou um pouco do peso das costas dela e deu uma risadinha. – Senti muito sua falta. Ela abriu os olhos e girou o pescoço para fitá-lo por cima do ombro. – Estive fora só por uma hora. – Foi uma hora longa. Ellie riu. – Me lembre de sair mais de casa se isso é o que vou ganhar quando voltar. Ele deu risada. – Esqueça. Acho que devia logo amarrar você na minha cama e deixá-la aqui. Não preciso que você saia para querer que esteja exatamente onde está. Seus corpos estavam relaxados e pareciam ter derretido juntos. Para Ellie, era uma sensação divina. Fury a tocou, acariciando-a onde suas mãos alcançavam. Delicadamente, removeu o pau de dentro dela depois que a pressão criada pelo inchaço aliviou. – O quão flexível você é? Ellie balançou os ombros. – Não sei. Fury se levantou. Ellie se mexeu para se pôr em pé, mas Fury se curvou repentinamente e a colocou nos braços. Ele sorria enquanto contornava a cama para, gentilmente, deitar a cabeça dela no travesseiro na parte de cima
da cama, e depois ajustou-a confortavelmente até que ela estivesse com as costas esticadas. – Você ainda vai quebrar alguma coisa se continuar me carregando por aí – provocou Ellie. – Eu podia ter engatinhado até aqui se você tivesse me dito que queria que eu ficasse aqui. – Você não é pesada o bastante para me machucar. Sou muito, muito mais forte que você. Poderia carregála por horas e nem mesmo suar. Ele agarrou sua panturrilha e a levantou. Ellie observava em silêncio enquanto Fury subia na cama com ela, empurrava sua perna para dobrá-la e colocava o quadril no meio de suas coxas. Ellie esticou os braços para tocar o peito dele, deixando as pontas de seus dedos explorarem todos os músculos rígidos dali, encontrando muitos deles naquele corpo malhado. Seu olhar passeou pelos ombros dele, sentindo prazer em olhá-lo. Ele era lindo. Seus dedos roçaram nos mamilos e ele respirou profundamente quando eles responderam instantaneamente e se arrepiaram. Ellie se sentou e sua boca se fechou em uma daquelas tensas protuberâncias. Sua língua traçava um círculo em volta do monte enrijecido e o corpo dele se retesou sobre o dela. Fury gemeu. Ellie sorriu, a boca encostada na pele dele, e então chupou o mamilo. Seus dentes mordiscaram levemente a ponta. O corpo de Fury tremeu e ele rosnou. Seu pau reagiu na mesma hora contra o colo dela, crescendo, aprisionado entre seus corpos. Ela não esperava que ele fosse se recuperar tão rápido do sexo. A maioria dos homens precisava de tempo. Fury, ela pensou, não é nada como a maioria dos homens. Amo isso nele também. Ellie soltou o mamilo dele e deixou as mãos escorregarem pelas costelas dele, indo até as costas. Suas unhas arranhavam a pele, começando nos ombros e descendo pela coluna. Fury se curvou contra seu peito, parecendo um gato grande. Ela sorriu e lambeu a pele entre os mamilos dele. Ela queria ter mel por perto. Teria adorado derramá-lo sobre a pele de Fury e tirá-lo com a língua. Suas unhas se movimentavam para cima e para baixo, dos ombros até as curvas da bunda bem esculpida, adorando o jeito que ele se arqueava e tremia. – Você está suando. Fury sorriu.
– Eu disse que você não era pesada o suficiente para me fazer suar, mas com certeza é gostosa o bastante para me fazer suar de desejo. Ela riu. – Entendi. Fury abaixou a boca e Ellie levantou a sua para fazê-la encontrar com a dele. Ellie adorava o jeito que ele a beijava. Não havia nada de incerto. Ele dominava a boca dela, com lábios fortes e seguros. A língua provocava, explorando a boca dela com lambidas e golpes, uma promessa silenciosa do que seu corpo faria com ela. Ela só lembrou dos dentes afiados quando sua língua raspou neles. Ela gemeu na boca dele, arqueando o corpo contra o dele, desejando-o. Seu corpo queimava de vontade de fazer amor novamente. A mão de Fury escorregou pela coxa dela. Ele a pegou por trás dos joelhos e levantou as pernas dela para passálas em volta de sua cintura, enquanto se abaixava sobre ela, pressionandoa contra o colchão. Ellie tentou se livrar do beijo, mas a outra mão de Fury envolveu seu rosto e seu queixo para mantê-la parada. Ele continuou beijando-a, se recusando a parar, e gemeu em sua boca enquanto mexia o quadril. Seu pau alargava as paredes vaginais dela enquanto deslizava para o fundo, por inteiro, enterrando seu sexo no dela. Ellie gemeu na língua dele. Fury finalmente interrompeu o beijo. Abriu os olhos e Ellie olhou dentro deles. – Não tire os olhos de mim, querida. Seus olhos são para mim a coisa mais incrível, e ver como você reage quando a toco é a coisa mais linda que já vi. Ellie sentiu vontade de chorar ao ouvir palavras tão maravilhosas e ternas. Nunca um homem havia dito a ela coisas tão notáveis como aquelas. Ele estava mesmo sendo sincero, e ela acreditava de coração. – É a coisa mais linda que já me disseram. Seus olhares se prenderam e Fury entrou nela. Ela agarrou os ombros dele, se prendendo a ele conforme ele penetrava lentamente, profundamente, criando êxtase a cada movimento. Ela sentia vontade de jogar a cabeça para trás e seus olhos quase se fecharam de prazer. A mão de Fury que segurava seu rosto apertou, mantendo-a no lugar. – Fique olhando para mim – ele ordenou – Quero ver seus olhos quando você gozar. Ellie parou de pensar, e só o que conseguia era sentir e fazer o que ele
mandava. Os movimentos que Fury fazia para dentro e fora dela eram quase uma tortura. A sensação se intensificava, mas ela queria que ele se mexesse mais rápido. Seus olhos quase se fecharam de novo, mas Fury rosnou, enquanto seu quadril batia com força no dela. – Olhe para mim. – Mais rápido – ela pediu – Não aguento isso. É tão bom. Sinto dor. Preciso… Fury meteu mais rápido, mantendo contato visual o tempo todo, e Ellie o agarrava com mais força conforme ele dava estocadas. Ela ficou tensa, sentindo algo parecido com dor deslizar por seu abdômen antes de o êxtase explodir quando o clímax a atingiu. Ela não desviava o olhar daqueles lindos olhos. Ellie viu os olhos dele se estreitarem e sua face se contorcer numa satisfação selvagem. O castanho dos olhos dele pareceu escurecer enquanto ele abria a boca para gritar o nome dela. Ela podia sentir o pau inchando e o sêmen jorrando dentro dela enquanto ele gozava. Fury sorriu. – Me diga que não foi melhor. Ela notou que suas unhas haviam se enterrado nos ombros dele. Horrorizada, ela o soltou. No mesmo instante, sangue começou a surgir dentro das marcas que ela deixara. – Me desculpe! Fury riu. Ele virou a cabeça para conferir o ferimento em seu ombro. Seu olhar encontrou o dela. – Estou feliz. – Você gosta de marcas de arranhões? – Espere até ver os seus ombros. Agora não me sinto mais tão culpado. Ela tentou olhar para os ombros, mas Fury desmoronou em cima dela. Não a esmagou, mas definitivamente a deixou presa. Beijou-a rapidamente e depois levantou a cabeça para sorrir para ela. – Eu mordi você, Ellie. – ele piscou – Meio que perfurei um pouco a pele. Pronta para um banho? Ele realmente me mordeu? Ellie sabia que provavelmente devia ficar magoada, talvez horrorizada, mas não se sentia assim de jeito nenhum. Não sentira dor quando ele a agarrara com os dentes, achando que ele fizera só aquilo, então não tinha por
que reclamar se estava sangrando. Ao contrário, sorriu. Sem danos, sem problemas, ela decidiu. Não pode ser pior do que as marcas das minhas unhas. – Sim. E também estou com fome, não almoçamos. CAPÍTULO QUATORZE Ellie estudava o diretor Tom Quish com suspeita. O homem de olhos azuis tinha um belo rosto para alguém da sua idade. Ela imaginava que ele teria uns 60 anos, e estava em notável boa forma. Podia ver aquilo com clareza, pois ele vestia uma regata e calças de ginástica. Antes de passar na casa de Fury, estava fazendo uma corrida. Fora uma surpresa encontrá-lo na entrada quando a campainha tocou. Ela o reconheceu daquele dia na sala de conferências, jamais se esqueceria do homem que demitira o diretor Boris. Vê-lo era algo gratificante. – Posso entrar? Ellie saiu da casa e pisou na varanda, parando próxima a ele. Viu dois oficiais da ONE do outro lado da rua, sabia que observavam a casa para Fury mas, ao encontrar seus olhares, não notou alarme. Obviamente, eles não achavam que o diretor era uma ameaça à segurança dela, senão o teriam impedido de chegar à porta. Ela relaxou um pouco. – Como você sabe, não é bem minha casa, e não me sentiria confortável em convidá-lo a entrar. – ela respirou fundo – Posso ajudá-lo? – Espero que sim. Estou aqui para oferecer a você de volta o emprego no alojamento feminino. As mulheres a respeitam muito, senhorita Brower. Decidiram substituir a governanta atual e seu nome surgiu. Ellie tentou esconder a consternação que a declaração dele causou. Os olhos do homem eram azuis e frios, lembrando cubos de gelo. Ele, porém, tinha linhas de sorrisos em volta da boca, que desviavam a atenção de seu olhar gelado e desconcertante. Ele parecia bem simpático e ela acreditava que suas intenções eram honestas, mas não sabia como responder. Se aceitasse o emprego, teria que sair da casa de Fury, e ela não queria aquilo. – Posso pensar a respeito? – Dê uma enrolada, ordenou a si mesma – Foi muito traumático quando fui demitida. Fiquei ao mesmo tempo sem casa e sem emprego. Ele olhou-a de cima a baixo. Seus olhos eram inteligentes, talvez até demais. – É claro que pode pensar. Se quiser, o emprego é seu. Só peço que
decida logo, precisamos de uma nova governanta no alojamento o quanto antes. Como você sabe, há mais mulheres chegando nas próximas semanas. – Eu não sabia disso. – Ellie admitiu – Achei que primeiro eles fossem mandar só algumas mulheres para ter certeza de que seria um bom ambiente. – Elas decidiram que é. – ele sorriu – Você ajudou-as a tomar essa decisão. Todas as mulheres no alojamento indicaram você como um modelo positivo a ser seguido. Ouvi dizer que suas aulas de culinária eram as preferidas. Ellie sorriu de volta. – Tentei fazer com que fossem divertidas. – E conseguiu. Elas gostam muito de você. – Sinto mesmo falta delas – admitiu – E também gosto muito dessas mulheres. – Ouvi dizer que precisaram de ajuda para aprender a fazer quase tudo. Ellie balançou os ombros. – Elas ficavam trancadas em celas estéreis dentro dos centros de testes. Tirar poeira, fazer café e cozinhar panquecas não são bem coisas que elas tiveram a oportunidade de aprender enquanto cresciam. Lembro de como uma máquina de lavar podia ser aterrorizante quando virei adolescente e minha mãe disse que eu teria que lavar minhas próprias roupas. Quando você cresce com todas essas coisas, aprende um pouco de cada vez. Toda a tecnologia foi empurrada a elas de repente, mas são coisas naturais para nós. Imagine se deparar com uma secretária eletrônica sendo que um ano antes você não sabia nem o que era um telefone. Um interesse faiscou no olhar dele. – Elas conversaram com você sobre como era a vida delas antes de serem libertadas? Ellie estudou o homem com cautela. Se recusava a compartilhar detalhes pessoais que soubera ao fazer amizades. – Algumas. Por quê? A expressão dele se suavizou. – Li relatórios e conversei com muitos deles. As coisas com as quais tiveram que lidar durante suas vidas são horríveis. Prometi a Justice North que daria tudo de mim para assegurar que o resto de suas vidas não seja nada parecido com o passado. Para mim é muito importante que as Novas Espécies estejam felizes e seguras. Quero o melhor para elas e acho que, para as
mulheres, isso significa você. Aquilo a tocou. Ellie teria aceitado o emprego de volta no mesmo segundo se não tivesse que deixar Fury. Ela notou um lampejo de satisfação nos olhos de Tom Quish e abriu a boca. – Você é muito bom em manipular. Sabe disso, certo? Um sorriso curvou os lábios dele. – É o meu trabalho. Como acha que consegui tão rápido os fundos para Homeland e fiz com que militares abrissem mão dela? A razão pela qual ela está quase totalmente construída e pudemos nos mudar tão rápido é que ela era candidata a ser uma nova base para o exército. Charme e bons amigos em cargos altos têm suas vantagens. Aceita o emprego, senhorita Brower? Ela queria, mas não podia. – Ainda preciso pensar. – Você faz parecer que ofereci um doce que você quer muito, mas tem medo de aceitá-lo porque aprendeu a nunca confiar em estranhos. Ela deu um sorrisinho. – Eu não podia ter dito melhor. – Sou bom com palavras também. – O que está acontecendo? – Fury se apressou pela calçada, olhando para o novo diretor de Homeland. Ele chegou até o lado de Ellie, tenso e zangado. Ellie olhou para ele e quis se encolher. Parecia um namorado ciumento, e ela imaginava que ele era mesmo. Se ele não colocasse rédeas em suas emoções, o diretor seria idiota de não perceber que eles estavam envolvidos. Ela olhou para cima e lançou-lhe um olhar de aviso, mas ele se recusou a olhar para ela. Estava ocupado demais encarando o diretor de forma ameaçadora. Tom Quish deu alguns passos para trás. – Só estava conversando com a senhorita Brower. É bom vê-lo de novo, senhor Fury. – O que você quer com ela? Ela fica aqui. Você não tem poder para fazer com que ela saia. O olhar de Quish se movia de um para o outro. Ellie quase podia ver a mente do homem absorvendo a cena, seus pensamentos indo aonde ela temia, o que só se confirmou quando ele deu mais um passo atrás. Uma expressão cautelosa de “ai, merda”, empalideceu as feições bronzeadas dele.
– Vim oferecer à senhorita Brower o emprego dela de volta. Suas mulheres sentem muito a falta dela e mandaram embora a mulher que estava ocupando o cargo da senhorita Brower. Elas declararam que desejam que Ellie retorne ao alojamento. Vim aqui para deixá-la ciente de que o emprego está aberto e disponível para ela, caso haja interesse. – Ela não quer – Fury afirmou com um rugido zangado. Merda, pensou Ellie. Fury não está mantendo a calma nenhum pouco. O olhar dela voou até Tom Quish. Ele a estudou e depois olhou novamente para Fury. – Ellie pode continuar morando na sua casa, se está preocupado com a segurança dela. Ela poderia trabalhar no alojamento durante as suas horas de trabalho. Não é exatamente o que as horas de trabalho requerem, mas tenho certeza de que todos vão conseguir trabalhar em um horário que você ache adequado. Fury finalmente olhou para Ellie. – O que você acha? Ela ficou impressionada por ele ter pedido sua opinião depois de ter reagido daquela maneira, recusando a oferta de emprego dela. Ela fez que sim com a cabeça. Tom Quish observava os dois com fascínio. Fury concordou com a cabeça de volta. Seu foco retornou a Tom Quish. – Ela vai aceitar o emprego, sob a condição de morar comigo. De repente, Tom pareceu feliz. – Ótimo, senhorita Brower. Pode começar amanhã às nove? – Sim – respondeu, antes que Fury pudesse abrir a boca para falar por ela outra vez. O diretor parecia satisfeito. – Maravilha. Vou fazer umas ligações e arrumar tudo. Alguém da segurança vai passar aqui mais tarde com o seu novo distintivo. – Obrigada. – Ellie gritou enquanto observava o novo diretor se afastar e sumir de vista, antes de ousar olhar para Fury. Ela lançou a ele um olhar irritado – Droga. Você devia ter ficado frio. Ele sabe que somos um casal. Você agiu como se fosse meu namorado. O olhar de Fury se escureceu e sua boca se firmou em uma linha.
– Eu sou. – Bem, não é para ninguém saber disso, lembra? E obrigada por deixar que eu tomasse a decisão final. – ela entrou na casa com passos duros. – Por que você está brava? – Fury a seguiu e fechou a porta. Ellie se virou e colocou as mãos no quadril. – Temos que esconder nosso relacionamento, lembra? Quer que aqueles médicos fiquem nos enchendo para que a gente faça testes e que pessoas fiquem exigindo saber como fazemos sexo? Eu não. Já pensou se eles quiserem nos filmar? E você falou para ele que eu não queria o emprego sem nem me perguntar antes. Sinto falta do alojamento, mas também quero morar com você aqui. Fury sabia que tinha feito besteira. Ficara instantaneamente alarmado quando seus homens lhe disseram que Tom Quish, o novo diretor, fora até a porta dele. Não havia razão para um humano estar naquela seção de Homeland, exceto Ellie. Ele apressara o passo, sabendo que todos do lado humano preferiam que Ellie não vivesse com ele. Ouvira aquelas preocupações e ignorara cada uma delas. Ellie adorava trabalhar com as mulheres das Novas Espécies; ele sabia o tanto que elas significavam para ela. Então, quando ouviu Tom oferecer o emprego de volta, no mesmo instante disse não, sem pensar. Certamente era uma isca para fazer com que ela o abandonasse, mas um olhar no rosto de Ellie disse-lhe que tinha feito errado em responder por ela. Mulheres humanas podiam ser tão teimosas quanto as das Novas Espécies. Elas exigiam o direito de tomar as próprias decisões e, enquanto gostavam de uma certa proteção, não eram de forma alguma fracas para se cuidar, se fosse necessário. Ele recuara quando foi assegurado de que Ellie poderia morar com ele e de que o emprego não era um suborno para que ela deixasse a casa. Relaxara quando o novo diretor se afastou, mas a raiva de Ellie permaneceu. Ele estudou as feições dela e soube que ainda estava irritada. Ele reagira com exagero, mas só queria protegê-la e mantê-la perto dele. Ele estava cansado de esconder o relacionamento. Tinha orgulho de estar com Ellie, mesmo que alguns do seu povo não entendessem. Alguns deles ainda eram um pouco amargos em relação aos humanos. Aquilo era problema deles e, contanto que não descontassem em
Ellie, poderiam lentamente se desfazer de tais preconceitos em seu próprio tempo. Ele sabia que precisava amainar a raiva de Ellie. Ela era rápida para fazer piadas, tinha um ótimo senso de humor e não ficava ressentida por muito tempo. Eram as coisas que ele aprendera sobre ela. Sexo também funcionava para amaciá-la e fazer com que ela o perdoasse. Um sorriso curvou os lábios de Fury. – Sabe como você fica atraente quando está brava? Vídeos, hein? Eu poderia comprar uma câmera e filmar a gente transando. – Não! – Ellie olhou para ele – É bom que você esteja brincando sobre essa última parte. Ele riu. – Estou sim. Não quero filmar nosso sexo. Só quero fazê-lo. – andou em direção a ela – Você fica sexy quando está zangada comigo, querida. Não estou brincando sobre isso. Estou com tesão. Ellie se afastou e deixou as mãos caírem do quadril. – Eu estou brava com você. Não me venha com essa de “querida”, Fury. Estou com vontade de gritar com você. Você não escondeu o fato de que estamos juntos e falou para aquele cara que eu não pegaria o emprego de volta. Essa escolha é minha. – Você tem razão, estou errado, me desculpe. – ele sorria ao se aproximar dela. Ellie se afastou mais. – Está me amaciando, não está? – Sim. – ele piscou – Agora vamos transar. – ele se lançou a ela, abrindo os braços, e tentou agarrá-la. Ellie se virou em direção à cozinha, se divertindo com o comportamento dele. Era ótimo ver aquele homem costumeiramente sério ser tão alegre. Droga, como posso ficar brava quando ele age assim? Ela não conseguia. Entrou na cozinha e se esquivou atrás da pequena ilha. Agarrou-se nela e seu olhar se estreitou quando Fury parou do outro lado. – Estamos conversando. Pare com isso. – Vamos conversar durante o sexo. – ele foi até o lado esquerdo. Ellie sacudiu a cabeça e se moveu para que continuassem em lados opostos da ilha. – Que droga, Fury. Estou tentando ficar brava com você. Tire esse sorriso
da cara. Ele parou e o sorriso sumiu. – Não vou sorrir. Ela apertou os olhos e viu os lábios dele se contorcerem. Uma fagulha de divertimento se acendeu e ela quase riu. Precisou lutar para se lembrar do motivo de ele tê-la deixado zangada. Ah, sim. – Você não pode sair por aí tomando decisões por mim, e sabe que devemos esconder que somos um casal. – Você está mesmo me excitando agora. Está respirando forte e, se não cuidar, seus peitos vão estourar os botões dessa camisa. – ele cravou os olhos no peito dela – Respire mais forte. Por favor! Ellie olhou para baixo para ver a camisa, mas também percebeu um movimento no canto de seu olho. Inclinou a cabeça tarde demais; Fury a agarrou. Os braços dele se enrolaram em volta de sua cintura, levantou-a e sentou-a na ilha, deixando seus rostos quase na mesma altura. Fury abriu as pernas dela e se colocou entre suas coxas. Os braços dele se apertaram em sua cintura, puxando-a contra seu corpo em um abraço forte. – Desculpe por tê-la deixado brava. – ele deu a ela um olhar sincero – Agora vamos fazer sexo de reconciliação. Ouvi dizer que é o melhor. Ellie pegou o rosto dele com as duas mãos e sorriu. – Você é mau, sabia? – Sou bom. Sabe disso ou devo lembrá-la? – abaixou a cabeça e empurrou o rosto dela até que seus lábios roçaram o pescoço dela. Sua língua se lançou para fora e lambeu o ponto sensível abaixo da orelha dela. O quente arfar de sua respiração fazia cócegas nela – Eu poderia comer você aqui mesmo. Ellie riu. – Quarto. Fury levantou a cabeça e sua voz ficou mais grave. – Aqui. – Quarto. Preparamos comida na ilha, Fury. As sobrancelhas dele se elevaram e ele a soltou quando deu um passo para trás. Pôs as mãos na camisa dela e desabotoou. Ellie segurava a respiração enquanto Fury a abria e a arrancava. Depois abriu as calças dela e
se afastou. Puxou-a de cima da ilha até que os pés estivessem de novo no chão e se curvou na frente dela, se ajoelhando, e ajudou-a a tirar as calças. – Acho que na cozinha está bom – Ellie sussurrou, ficando totalmente excitada. O coração dela acelerou quando chutou as calças para longe e colocou as mãos nos botões da calça de Fury quando ele se levantou. Ele tirou a camisa por cima da cabeça, jogando-a para o lado. – Muito bom – Ellie murmurou ao se esfregar no corpo dele. Sua língua tracejou o mamilo dele. Fury gemeu e abaixou as calças, chutando-as para baixo. As mãos de Ellie corriam por sua barriga lisa e deslizavam para baixo, escorregando os dedos até o elástico de sua cueca. Ela arranhou seu quadril com as unhas. Fury empurrou o quadril contra o corpo de Ellie. Sua excitação, presa entre seus corpos, se pressionava contra a barriga dela. – Doce – Ellie sussurrou enquanto movia a boca até o outro mamilo dele. – Querida – ele rosnou. Ellie sorriu e se afastou do peito dele. – Quero o mel que está no armário atrás de você. Na parte de cima, à esquerda, minha esquerda. Sobrancelhas escuras se elevaram ligeiramente. – Mel? Você quer comer mel agora? Ela deu um sorrisinho. – Quero lambê-lo de você. As presas dele morderam o lábio inferior quando ele rosnou suavemente. Ele torceu o corpo e se esticou para pegar o mel do armário para entregá-lo a ela. Ellie girou a tampa. Olhou para ele uma vez, se certificou de que ele estava a fim, e virou o pote de plástico sobre um dos mamilos dele. Deixou o agrado dourado se derramar sobre o peitoral dele e o outro mamilo. Ouviu Fury respirar fundo, mas ele não disse uma palavra. Ela colocou o pote em cima da ilha ao lado deles. Ellie ficou na ponta dos pés e começou a lamber a pele dele onde as gotinhas de mel grudavam, seguindo cada uma delas com a língua. Fury deu um rosnado profundo. Ellie se moveu para baixo, até o mamilo dele, e sorveu o mel que estava ali, provocando o monte enrijecido.
Cobriu o mamilo com a boca e começou a chupá-lo. As mãos de Fury se emaranharam em seu cabelo, mas ele não tentou interromper a tarefa dela. – Isso é incrível – ele rosnou. Ellie o mordiscou com os dentes. O corpo dele deu um puxão com o choque do solavanco que aquilo criara. O pau dele golpeava a barriga dela e ficara mais rígido quando ele encostou o quadril na barriga macia. Ela soltou o mamilo dele e lentamente se moveu por seu peito. Sua boca e seus dentes limpavam as doces gotas lentamente, de forma provocante. Em seguida, ela o empurrou contra o balcão. Fury se mexeu para se inclinar contra ele. Seu olhar negro e cheio de paixão encontrou o de Ellie quando ela olhou para cima. Notara quando ele ficara realmente excitado, com os olhos mais escuros. Amava aquilo nele. Ela se moveu para a frente e começou a lamber os pingos de mel que haviam caído sobre a barriga dele. Lambeu um a um. Parou no elástico da cueca quando percebeu que não havia mais gotas. Sorriu para ele e então escorregou os dedos para dentro do elástico para puxá-lo para baixo. O pau de Fury estava tão duro, que ela precisou esticar ao máximo o elástico da cueca para libertá-lo. Fury deu um gemido quando ela beijou seu quadril e virou o rosto, estudando de perto aquela ereção impressionante. Ela não conseguia evitar um Fury excitado. Sorriu e correu a língua ao longo daquela carne dura e quente que estava em pé para ela, da base até a cabeça. Fury rugiu e agarrou a parte de cima dos braços dela, puxando-a para deixá-la em pé. O choque percorreu Ellie enquanto fitava o rosto dele. Ele parecia bravo. Ela franziu a testa. – Não quer que eu continue? Eu estava chegando na melhor parte. Ele levantou-a até que a bunda dela estivesse plantada novamente em cima da ilha. Fury se virou e abriu os armários, procurando por algo. – Fury? Deixei você bravo? O quê… – Não posso deixar você fazer isso. Estou frustrado pra caramba, mas não bravo. – Por que não? Eu quero. Fury se virou, revelando ter um rolo de fita adesiva nas mãos. Ele se aproximou e delicadamente abriu a mão no peito dela. Empurrou-a até que ela ficasse deitada na superfície gelada. Ele se inclinou sobre ela.
– Meu pau incha, lembra? Estou tão pronto para gozar agora que não duraria um minuto. Já imaginou se eu inchasse dentro da sua boca? Ela o fitou, compreendendo o que Fury dissera. – Ah. Isso provavelmente não seria bom, levando em conta que você já é bem grande. Acho que não teria problema desde que eu ficasse só na parte de cima. Você incha perto da base. As feições dele se relaxaram e um pouco de tensão se desfez. – Sim. Eu adoraria que você fizesse isso, mas não me excite tanto da próxima vez, quando fizermos algo pela primeira vez. Sou um atirador, Ellie. Você consegue me sentir dentro de você quando meu sêmen sai, não é? Eu atiraria com tanta força e tanto, que a afogaria. Você pode fazer isso mais tarde se estiver a fim de um segundo round. Agora preciso me acalmar, ou não vai ser bom para você. Ela olhou confusa para o rolo de fita adesiva. – Pra que isso? Ele sorriu. – Me dê seus pulsos. – Por quê? Ele pegou um pano de prato. – Agora. Ela hesitou, mas confiou nele o suficiente para levantar os braços. Fury sorriu e enrolou o pano de prato em volta deles, e depois usou os dentes para cortar um pedaço de fita adesiva do rolo. Ellie ficou surpresa quando ele passou a fita sobre o pano de prato e uniu os pulsos dela. Ela ficou lá e o observou puxar mais fita, deixando-a conectada ao rolo e aos seus pulsos. Ele circundou a ilha e pôs perto da cabeça dela. Ela olhava para ele, até que ele se agachou e sumiu da vista dela. Ela ouviu mais fita sendo puxada, e então ele puxou seus pulsos lentamente para cima de sua cabeça, até que seus braços estivessem esticados. Ela o escutou fazendo algo do lado da ilha antes de ele se levantar. Ele se livrara do rolo. Ellie puxou os pulsos, mas não conseguia abaixá-los. Seus olhos voaram até Fury. Ele parecia estar se divertindo muito. – O que você está fazendo? Ele levantou o pote de mel, moveu as pernas dela e se curvou contra a ilha até que seu quadril se encaixou entre as coxas dela. – Também quero um pouco de mel.
Ellie mordeu o lábio e estremeceu. Fury virou o pote e derramou mel sobre a barriga dela e mais para baixo, até que gotas caíram na parte de dentro das coxas. Fury mexeu o quadril, abrindo mais as pernas dela, e Ellie fechou os olhos quando mais gotas pousaram em sua boceta aberta. Ele colocou o pote de mel na beirada e se inclinou sobre ela. Sua boca quente e sua língua a lambiam, enquanto sorvia cada uma das doces gotas. Ellie queria tocá-lo, mas suas mãos estavam presas acima da cabeça. Quando ele chegou na parte de dentro de suas coxas, ela estava queimando de puro desejo. – Fury – ela pediu. – Calma. Estou chegando lá. – Agora, Fury. Por favor? Faça isso depois, mas preciso de você. Por favor? Me coma. Ele rosnou. Ellie abriu os olhos e encontrou os dele. Ele se levantou e pegou na parte de dentro de suas coxas, movendo o quadril para mais perto do dela. Ellie passou as pernas em volta da cintura dele e ele a puxou um pouco para a beirada da ilha um segundo antes de entrar no corpo dela. Ellie jogou a cabeça para trás e gritou de prazer. – Me solte – ela gemia – Quero tocar você. – ela puxava os braços, mas a fita adesiva e o pano de prato não se soltavam. Ele prendera o pano com a fita com muita força. As mãos de Fury agarraram o quadril dela quando ele começou a enfiar, num ritmo regular e profundo. Ellie se debatia no balcão. Ela gemia, choramingava e se perguntava se sobreviveria às sensações maravilhosas de ter seu corpo despertado por ele, levando-a à beira do êxtase. Ele se mexia mais rápido, deixando ainda melhor. Ellie apertou as pernas na cintura dele, elevando-as para que ele tivesse livre acesso com seu quadril que a penetrava. Ela o ouviu rosnar e então uma pressão se fez sentir contra suas paredes vaginais, quando ele começou a inchar dentro. A pressão aumentava enquanto ele continuava fodendo. Uma de suas mãos se abriu onde ele a segurava, e seu dedão roçou no clitóris dela, esfregando. Ellie gritou, atingiu o clímax fortemente, e Fury gritava seu nome ao enterrar seu pau mais fundo, com seu corpo tremendo enquanto o sêmen quente jorrava dentro dela e ele gozava forte. – Fury! – uma voz masculina rugiu.
Ellie abriu os olhos rápido. Ficou atordoada, chocada e horrorizada, quando Justice correu para dentro da cozinha com dois oficiais da ONE logo atrás. Justice se atirou contra Fury, derrubou-o e jogou-o para longe de Ellie. Ellie gritou de medo e choque com o que acontecia, enquanto Justice e Fury travavam uma batalha no canto da cozinha. Justice socava Fury e Fury tentava tirá-lo do caminho para chegar até ela. Os dois oficiais da ONE se apressaram para ajudar Justice a prender Fury, pegaram seus braços e jogaram-no no balcão. Fury rugiu e jogou um dos homens no balcão próximo com força. Vidro se quebrou. Ellie se virou com força para o lado, tentando rolar de cima do balcão, onde ela estava deitada e nua, com os pulsos ainda presos acima da cabeça, mas demasiadamente magoada, chocada e cheia de adrenalina para ser graciosa. Seu movimento foi violento demais e ela acabou errando a beirada. Caiu e um pânico completo a atingiu quando ela não conseguiu agarrar em algo para impedir a queda. A dor explodiu em sua cabeça quando ela bateu contra a lateral da ilha e a beirada de azulejo se chocou com sua têmpora. Uma escuridão percorreu-a junto de uma dor intensa. Ela ouviu algo antes de perder a consciência. – Ellie! – Fury berrou. Fury odiou estar preso em uma cela, quando acordou no departamento de segurança. Justice andava de um lado para o outro. Sua memória voltou naquele ponto. – Onde está Ellie? Ela está bem? – ele pulou para se pôr em pé e segurou as barras que o prendiam. – Ela está na médica. – Justice se virou para as barras, com um olhar sombrio – Você a forçou? – Não – Fury rugiu – Eu teria explicado isso se você não tivesse me atacado e me nocauteado. – Você a prendeu e ela estava gritando. – o rosto bronzeado de Justice parecia anormalmente pálido – Agora que sei como é intenso o que você sente por ela, jamais teria acreditado que você a machucaria se não tivesse visto com meus próprios olhos. – Eu não a forcei. Justice rosnou.
– É esse tipo de merda que temíamos quando alguns de nós começaram a mostrar fortes traços animais com nossos instintos apurados. Mas você estava cientes deles, discutimos bastante sobre isso, porém você não se controlou. A ira percorreu Fury. – Sei que não sou razoável quando se trata da Ellie e que acasalei com ela. Isso vai além de sexo. Eu afirmei que ela é minha, mas jamais a machucaria, Justice. Você entendeu tudo errado. – Você está descontrolado! – Justice se mexeu rápido, agarrou as barras a centímetros dos dedos de Fury e mostrou os dentes com um rosnado selvagem – Sabemos tudo sobre força, não é? Você a ama? Então não devia tê-la amarrado e enfiado seu pau nela. – Eu não fiz isso – Fury rugiu. Justice soltou as barras e se afastou. – Quero confiar em você, mas… – ele sacudiu a cabeça – Você é o primeiro de nós a acasalar. Permitiu que seus instintos animais o controlassem a ponto de chegar a esse nível. Não somos totalmente humanos, não importa o quanto fingimos ser para que tenhamos paz entre nós e eles, e não há câmeras aqui. É tão grande assim, Fury? A necessidade de possuí-la é tão grande que você a forçaria? – Eu não forcei! – Fury tentou se acalmar soltando as barras da cela de sua pegada mortal e se afastando alguns passos – Não vou mentir. Estou obcecado por ela. Respiro e vivo Ellie. Meu coração bate por ela, Justice, ela é tudo para mim. Acho que estou viciado no perfume dela. É só no que consigo pensar quando ela não está por perto. Apesar de tudo isso, eu jamais faria qualquer coisa para causar dor a ela. Você está entendendo tudo errado. – Preciso ouvir isso dela. Até vermos como esse acasalamento acontece e que efeitos colaterais você sofre com isso, sinto muito, mas não posso deixar que você fale com ela. Fury se moveu rapidamente para frente, agarrou a porta da cela, puxou-a, mas ela estava trancada. – Deixe-me sair. Ela está ferida? Preciso ir até ela. – Você não vai a lugar nenhum até que eu fale com ela. Prender uma mulher e amarrá-la é forçar. Você ficou louco? – Justice rosnou suavemente – Você fica insano quando se trata dessa humana, droga. Estou chocado e… – ele pigarreou – Como pôde fazer isso? – Eu não estava machucando Ellie. Você me conhece, sabe que ela é tudo
para mim. Eu nunca a machucaria. Estávamos fazendo amor. – Os anos dentro do centro de testes o levaram à loucura se acredita que forçar uma mulher, amarrando-a e fazendo-a gritar de dor, é fazer amor. Você ficou com a mente deturpada, Fury. Preciso ir. Meu coração está se partindo. Justice se virou, se movendo rapidamente em direção à porta. – Justice? Volte! Me solte. Não é o que você pensa. Não sou louco e nunca machucaria minha Ellie. – ele balançou as barras da cela violentamente, mas elas se seguraram. Ele se virou e uivou de raiva. Ellie estava ferida e ele não podia ir até ela. Seu melhor amigo achava que ele ficara louco por acasalar. CAPÍTULO QUINZE Ellie sabia que algo estava errado mesmo antes de acordar por completo. Sua cabeça latejava com uma dor chata. Abriu os olhos e viu apenas uma luz, e estudou um teto que não reconhecia. A confusão a atingiu. Onde estou? O que aconteceu? Alguém se inclinou sobre ela, se colocando entre ela e a fonte de luz acima. Ellie reconheceu a doutora Trisha Norbit e, na mesma hora, franziu o cenho. Por que essa mulher está sobre mim? O cabelo da médica fora preso num rabo de cavalo desgrenhado e não se via mais sua aparência arrumada. Ela parecia preocupada ao piscar os olhos azuis na direção de Ellie. – Você está bem. Dei a você alguns analgésicos. Gostaria de um gole de água? Ellie franziu a testa. – O que houve? Trisha franziu a testa de volta. – Você não se lembra? Se lembra do quê? A última coisa de que me lembro é… a memória retornava lentamente. Ellie lutou para se sentar. Procurou agitadamente por Fury pela sala. De algum jeito, ela fora parar num pequeno quarto, mas ele não estava lá com ela. – Onde está o Fury? – Eles o prenderam. – Por quê? Trisha se sentou na ponta da cama. – Alguém informou ao Justice que o novo diretor foi até sua casa. – ela
respirou fundo – Justice foi ver você e Fury e perguntar o que Tom Quish queria. Ele bateu na porta mas, como ninguém respondeu, ele e os seguranças resolveram entrar depois de ouvirem você gritar, e Fury berrar. Correram para a cozinha e o viram te machucando. Eles acreditam que ele a amarrou para impedir que lutasse contra ele. – Me machucando? – o queixo de Ellie caiu. Ela estava tão pasma, que levou alguns segundos para responder – Estávamos transando. Trisha mordeu o lábio. – Você bateu forte a cabeça na beirada da ilha a que você estava presa. Precisei dar alguns pontos na sua têmpora. – ela pausou – Posso trazer uma pessoa em uma hora para falar sobre estupro, se você quiser conversar com alguém. Sua cabeça vai ficar boa. Talvez você tenha uma pequena concussão, mas tenho certeza de que ficará bem fisicamente. Emocionalmente… – Trisha esticou os braços e pegou a mão de Ellie – Estou aqui para você. Acho que deveria falar com um terapeuta especialista em lidar com estupros. Ninguém vai saber. Justice North está esperando na outra sala para conversar com você, quando estiver pronta. Ele prometeu que vão punir Fury severamente pelo que ele fez, mas se você quiser entrar em contato com a polícia de fora, ele fará isso. Você é quem sabe. Ellie puxou a mão que a médica segurava. – Justice! – ela berrou o nome dele. A porta se escancarou em alguns segundos. Justice parecia o demônio. Sua camisa estava rasgada, seu lábio estava inchado e havia um ferimento em sua testa. Ele adentrou o quarto e congelou. – Solte-o agora. – a voz de Ellie tremia de raiva e terror – Ele não me machucou. Você me machucou. Solte o Fury agora mesmo, droga! – ela começou a gritar, mas não se importou – Que diabos há de errado com todo mundo? Fury não estava me estuprando! O choque empalideceu o rosto de Justice. Ele abriu a boca, mas nada saiu. Ellie pegou os cobertores que a cobriam, jogou-os longe e ficou grata por não estar nua. Ela não tinha certeza até que balançou as pernas na beirada da cama. Alguém a vestira com um pijama rosa-claro e largo. Pôs os pés no chão. Sua cabeça doeu tanto, que ela quase se arrependeu de se apoiar na cama para
se levantar. – Não se levante – exigiu a médica enquanto a segurava – Você está sob efeito de drogas, precisa ficar deitada. Ellie deu um tapa nas mãos da mulher e direcionou a ira a Justice. Conseguiu dar um passo antes de suas pernas dobrarem. A médica a pegou, mas ambas iam se estatelar no chão, quando Justice de repente se lançou para a frente e passou os braços em volta das duas mulheres. A força dele se mostrou quando ele as posicionou delicadamente para que caíssem na cama. Ellie a atingiu e a médica veio logo em seguida, caindo ao lado dela no colchão macio. Ellie ficou deitada ali, olhando para ele e lutando contra as lágrimas. – Ele não estava me machucando. Como você pôde achar isso? Ele hesitou. – Você estava amarrada e gritando. Ele é a razão por você estar ferida. Lágrimas rolaram pelo rosto dela. – Estávamos transando e estava ótimo até você derrubá-lo e jogá-lo para longe de mim, seu filho da puta. Estávamos nos divertindo, rindo e então… – a voz dela sumiu enquanto olhava para ele – Você me machucou, não ele. Você me feriu. Tudo estaria bem se você não tivesse entrado lá e atacado Fury, e eu não teria despencado de cima da ilha. Justice deu um passo para trás e ficou mais pálido. – Mas eu ouvi você gritar quando passamos pela porta de entrada. Você estava amarrada quando corremos para lá. Ellie olhou para a médica. – As mulheres deles às vezes não fazem barulho no final do sexo? A médica deu de ombros. – Não sei. Algumas de nossas fêmeas são barulhentas no sexo. Isso é verdade. – Ele a amarrou – Justice a lembrou delicadamente – Isso é forçar. – Não foi isso. Você é surdo? Estávamos brincando e nos divertindo. Você não notou que ele colocou um pano de prato em volta dos meus pulsos para que a fita adesiva não entrasse em contato com minha pele? Acha que se ele quisesse me machucar se importaria de eu ficar com marcas vermelhas da fita adesiva? – mais lágrimas quentes escorregaram pelo rosto de Ellie – Onde ele está? Você o machucou? Solte-o. Quero Fury, agora mesmo.
Justice se virou. – Vou buscá-lo. – ele saiu do quarto e bateu a porta. Ellie se virou de lado na cama e cobriu o rosto. Não conseguia parar de chorar. Uma mão esfregou suas costas. Era a médica tentando confortá-la. Ellie suspirou. – Eles machucaram Fury? – Não sei. – Trisha admitiu – Tratei um oficial que chegou com você. Fury fez alguns danos antes de ser contido. O alarme causado pela notícia disparou em Ellie, motivando-a a se sentar e enxugar as lágrimas. Ela fitou a médica. – Mas você não teve que tratar Fury? Isso significa que ele está bem, certo? A médica hesitou. – Não sei. Sinto muito. Se ele estivesse mesmo ferido, imagino que o teriam trazido aqui também ou chamado uma ambulância para cuidar dele. – Caramba! – Ellie exclamou – Por que diabos isso aconteceu? Estávamos rindo e fazendo amor. E então isso. – ela sacudiu a cabeça e instantaneamente se arrependeu quando o movimento lhe causou tonturas – Por que ninguém nos deixa em paz? O olhar de Trisha parecia ter se suavizado. – Ninguém sabe o que esperar. Tenho certeza de que o senhor North e os dois oficiais acharam que a estavam salvando. – Do Fury? – Ellie ignorou as outras lágrimas que rolaram por seu rosto – Ele não me machucaria. Trisha esticou o braço e pegou na mão de Ellie. – Sinto muito. A porta do quarto quase explodiu para dentro e Ellie e Trisha pularam quando Tom Quish adentrou o quarto. O olhar dele pulou de Ellie para a médica. – Que diabos aconteceu? Acabei de ser informado de que há um enorme problema aqui. A segurança me informou que uma Espécie está presa e que a senhorita Brower teve que ser carregada até sua casa, inconsciente, por dois Espécies homens que pareciam ter se envolvido numa briga. Ótimo, pensou Ellie. Que ótimo. Ela não conseguia nem falar. Agora o novo diretor também estava envolvido em seu pior pesadelo. Trisha soltou a mão de Ellie.
– Como ousa entrar desse jeito na minha casa? Esse é o meu quarto, diretor Quish. Quanto ao que você ouviu, um acidente infeliz aconteceu, e isso é tudo. Ela se moveu para a frente, colocando o corpo entre Ellie e o diretor. Ele parecia confuso. – O que houve? – ele pareceu mais calmo. Trisha esticou os ombros e olhou para o diretor. – O que houve é que alguém passou pela sua segurança e assustou a senhorita Brower. Ela gritou. O senhor Fury, o senhor North e os guardas estavam na casa – mentiu a médica – Eu disse que vi algum idiota com uma câmera bisbilhotando em volta da clínica hoje. Pode ter sido o mesmo cara. – ela virou a cabeça para olhar para Ellie com os olhos arregalados – O cara que você viu espiando pela janela era baixinho, loiro e vestia jeans e uma camiseta verde? Ellie fitou a médica, tentando esconder o choque da surpresa de que aquela estranha contaria mentiras para proteger seus segredos, mas conseguiu fazer que sim com a cabeça. – Parece o cara que me assustou. Um franzido desfigurou o rosto do diretor. – Então é por isso que o senhor Fury está preso? O alívio passou rapidamente pela face da médica, antes de ela encarar o diretor novamente. – Porque ele queria ir atrás do filho da puta e matá-lo. A senhorita Brower estava alarmada, caiu para trás e bateu a cabeça. Ela apagou ao se chocar contra a beirada do balcão. Você sabe como esses homens são protetores com as mulheres. Ela é uma hóspede na casa dele e um imbecil com uma câmera a assustou, ela se feriu e ele perdeu a cabeça. Você sabe que eles podem caçar e matar com aqueles instintos animais. O senhor North achou que seria uma má ideia deixar que o senhor Fury matasse o homem, já que é um humano. No calor do momento, eles não se entenderam. O senhor Fury está detido até que consiga se acalmar. – É verdade – concordou Slade, encostado na porta. Dessa vez, ele não vestia o uniforme da ONE, mas sim jeans e uma regata preta – Vim aqui ouvir o depoimento da senhorita Brower sobre o homem que ela viu na janela. Perdão, diretor, não estou no meu horário de trabalho mas gostaria de pegar a declaração dela o mais rápido possível. Será que o
senhor poderia pedir aos seus guardas que procurem por esse cara antes que ele cause mais problemas? Ellie observava o rosto de Tom Quish e via raiva nele. – Está bem. Se é essa a história que você quer contar, vou aceitar. – ele olhou de um jeito sombrio para Ellie – Você está bem, senhorita Brower? Há algo que eu possa fazer por você? – Estou bem agora – ela disse delicadamente – Mas obrigada por se importar. Ele se virou e marchou para fora do cômodo. Ellie fitou a médica, ainda surpresa com o fato de ela a ajudar contando mentiras. A médica deu de ombros. – Falei que você pode confiar em mim. Slade exalou o ar com força. – Acho que vou me sentar na sala para impedir que alguém mais entre sem pedir licença. – seu olhar deslizou até Ellie – Estão trazendo Fury até você e ele deve chegar logo. Ele está muito puto, mas bem. – seus olhos foram até a médica e ele deu um sorrisinho zombateiro – Você mente bem, doutora. – Slade piscou para ela e fechou a porta delicadamente atrás dele. Os ombros de Trisha caíram. Ela se sentou ao lado de Ellie na cama. – Não sou a melhor das mentirosas. Aquilo foi pelo menos aceitável? – Muito. Ele foi embora, não foi? Trisha estudou Ellie. – Você precisa pegar leve nas próximas semanas. Você deu mesmo uma pancada naquele balcão. Se tiver dores de cabeça, tonturas, ou se apenas não se sentir bem, precisa me ligar imediatamente. Quero que você pegue leve e que tente não fazer sexo por pelo menos uma semana. Precisa ficar calma e sem atividade física. Mantenha a área em que dei os pontos o mais seca possível. Usei pontos que se dissolvem, então não vou ter que removê-los. Duvido que fique uma cicatriz aparente. – Ótimo. – Ellie não conseguia esconder a raiva que ardeu em seu rosto nem o sarcasmo em relação àquela novidade. – Posso só fazer algumas perguntas? – Tipo o quê? – Bem – Trisha se apressou para encará-la, ajustando o corpo na beirada do colchão – Li alguns dos relatórios médicos sobre as Novas Espécies e
descobri que Fury é canino. Lá diz que o pênis deles incham durante o sexo. – ela fez uma pausa – Esse inchaço a machuca? – Não – Ellie sacudiu a cabeça – Não acredito que isso tenha acontecido. – Por quanto tempo você tem que esperar, normalmente, até que o inchaço pare? Ellie franziu a testa para a médica. – Por favor? Quero saber. – Para que você possa ajudar outras pessoas, caso uma mulher decida dormir com um deles? Trisha hesitou. – É para o meu próprio bem. Sinto-me atraída por um deles. Ellie relaxou. – Ah… Bem, nesse caso, não é doloroso. O inchaço dura só alguns minutos, talvez uns três. – Obrigada. Alguma surpresa? – Eu o amo mais do que minha própria vida. Trisha se levantou. – Pode ir para casa com ele hoje. Apenas lembre-se do que avisei sobre sua cabeça, e o senhor Fury terá que acordá-la em alguns momentos para ter certeza de que você está bem. Se ele tiver algum problema para te acordar, deve me ligar imediatamente. Vou te dar analgésicos para ajudar com a dor de cabeça que vai ter depois que passar o efeito da medicação. – Obrigada, doutora Norbit. – Pode me chamar de Trisha. – ela saiu do quarto. Ellie ouviu vozes alguns minutos depois. A porta do quarto se abriu e Fury entrou. Ellie arfou. Hematomas desfiguravam o rosto dele e alguém lhe dera uma camisa que parecia ter sido rasgada em alguns pontos. Ele cruzou o quarto com apenas alguns passos, deixando a porta entreaberta. Ele a pegou e cuidadosamente levou-a até o colo, abraçando-a forte contra o peito. – Você está bem? Ela pendurou o braço no pescoço dele. Ele estava com um olho roxo, mas não estava inchado. Estudou os ferimentos dele. Uma de suas mãos tremia ao tocar o rosto dele, pressionando a palma na única parte da pele que parecia não estar ferida. – Precisei levar alguns pontos na cabeça. Você está bem? O que aconteceu?
Ele rosnou. – Tentaram me impedir de vir até você. – o olhar dele passou pela testa dela – Há pontos debaixo da atadura? – Só alguns. Mas estou bem. – sua mão abandonou o rosto dele e se dirigiu à camisa que ele vestia. Ela afastou a gola e espiou dentro, vendo marcas vermelhas no peito dele. O olhar apavorado correu para fitar dentro dos olhos dele. – Estou bem. Enorme falha de comunicação. Ellie conteve um soluço. – Foi mais do que isso. Fury a abraçou com um pouco mais de força. – Sim, mas agora está resolvido. Aprendi uma lição importante com isso. – Qual? – Da próxima vez, vamos fazer barricadas nas portas. Um sorriso se arrancou dos lábios de Ellie por amor a ele, apreciando a tentativa de humor. – Quero ir para casa. Trisha disse que posso ir embora. Ela está me dando analgésicos agora. Estamos proibidos de fazer sexo por uma semana e você tem que me acordar algumas vezes à noite para ter certeza de que estou bem. Fury se encolheu. – Uma semana, é? – seus olhos castanhos se suavizaram – Estou feliz por você estar bem. Ouvi você gritar. Fiquei apavorado quando você caiu, você não se mexia e eu senti o cheiro do seu sangue. – Estou bem. Fury se levantou, carregando Ellie no colo. – Vamos para casa. Ellie descansou o rosto no ombro dele e passou o outro braço em volta do pescoço dele. Ela estava saindo com um pijama emprestado, mas não se importava com quem a via. Fury andou até a porta do quarto, usando o pé para abri-la totalmente. Justice, Slade e Trisha esperavam-nos na sala. – Desculpe-me – disse Justice delicadamente – Eu não sabia, senão jamais teria corrido até aquela cozinha. – ele encontrou o olhar de Fury – Não achei que você a machucaria mas, depois daquela última vez, não tinha certeza. Trisha franziu a testa. – Que última vez? O que aconteceu antes?
Ellie suspirou. – É outra confusão, Trisha. Conto para você em outra hora. Trisha esticou um frasco de comprimidos na direção de Ellie e Fury. – Eu fico com isso – ofereceu Slade, pegando-o da mão dela – Vou leválos para casa. Seria estranho se alguém visse Fury carregando uma mulher de pijama. – Tome só um comprimido se tiver dor – Trisha instruiu. Slade hesitou à porta. – Quer que eu a leve para você, Fury? Aquelas arma de choques doem pra burro. – Eu a seguro – Fury rosnou. Slade abriu a porta e saiu do caminho. Fury carregou Ellie para fora da casa e foi até o carro que aguardava no meio-fio. Slade abriu a porta de trás para eles. Fury mexeu Ellie nos braços e entrou no carro com ela no colo. Ele se sentou com força o bastante para chacoalhála e a dor atravessou a cabeça dela. Ela gemeu suavemente. Fury rosnou. Ellie o esfregou onde suas mãos o tocavam. – Estou bem. É só uma dor de cabeça. Fury a abraçou mais forte, obviamente chateado. Ellie estava chocada com o quão terrível a noite deles tinha se tornado. Precisou conter as lágrimas por medo de que Fury ficasse ainda mais chateado se ele as visse.
Ellie sorriu para as mulheres que estavam na cozinha do alojamento com ela. As oito mulheres eram novas, haviam chegado cedo naquela manhã. Ellie ficara pasma quando elas foram levadas até a porta com as malas. Breeze estava ao lado dela para dar as boas-vindas às novas companheiras de alojamento. – Elas são tão pequenas – disse Ellie. – Sim – Breeze concordou soturnamente – São mesmo. Ellie olhou para ela. – Eu achava que vocês eram todas altas, já que até então era tudo o que eu vira. Breeze hesitou.
– Nós éramos os protótipos experimentais, Ellie. Fomos modificadas para termos força e resistência para testarmos drogas que deixariam os humanos mais fortes. Justice nos mandou para cá primeiro porque somos mais resistentes. Somos fortes. Aquelas – a atenção de Breeze se focou nas mulheres que adentravam a casa – Aquelas são as realmente infelizes. – O que isso quer dizer? Breeze deu um olhar de advertência a Ellie. – Depois. Ellie havia designado quartos para elas e naquele momento estavam todas reunidas na cozinha para as primeiras lições. Depois de se acostumar com mulheres das Novas Espécies bem maiores que ela, fora estranho estar no meio de mulheres de seu tamanho ou até menores. As novas mulheres tinham entre um metro e cinquenta e um metro e sessenta. O porte físico delas era menor, similar a um humano frágil, mas suas feições revelavam que eram Novas Espécies. Elas também pareciam tímidas e acanhadas, diferentemente das Novas Espécies maiores. Ellie sorriu numa tentativa de deixá-las à vontade. – Sei que tudo isso parece ser demais, mas acreditem em mim, até o fim da semana vocês estarão cozinhando e saberão lidar com tudo nesta cozinha. Uma loira com grandes olhos cinzas levantou a mão. Ellie manteve o sorriso. – Sim? A loira mordeu o lábio. – Você é uma de nós? Ellie negou com a cabeça. – Não sou uma Nova Espécie. – Ellie olhou para Breeze. Ela permanecera perto do grupo de mulheres como se fosse a sombra delas desde que haviam entrado no alojamento algumas horas antes. – Ela é uma humana pura, mas é boa – Breeze assegurou delicadamente – Ela é nosso bichinho de estimação. – Breeze piscou para Ellie – Nós a chamamos de poodle. É aquele cachorrinho bonitinho, pequeno e com pelo fofo. A loira parecia chocada ao olhar para Ellie. – Você não fica brava por ser chamada de bicho de estimação? Ellie riu.
– Sei que elas dizem isso com amor. Qual é seu nome? A loira hesitou. – Elas me chamam de Halfpint. Ellie olhou para Breeze, que deu de ombros. Ellie tinha uma tonelada de perguntas sem resposta, mas deixou a que mais queria perguntar para mais tarde. – Bem, vocês têm alguma outra pergunta? Halfpint se dirigiu a Breeze. – Posso? Breeze suspirou. – Você não precisa mais de permissão. Você é livre. Não há medo aqui, Halfpint, pode perguntar o que quiser. Halfpint esticou os ombros. Parecia com medo quando encarou Ellie. – Você está nos treinando para voltarmos a ser melhores no que devemos ser? – Não – exclamou Breeze – Isso acabou. Você é livre. Entende isso? Está aqui para aprender a administrar sua casa como qualquer outro humano. Todos aprendem a cozinhar as refeições e usar utensílios. – Breeze se levantou de repente da cadeira – Preciso de um pouco de ar. – ela abandonou a cozinha. Confusa, Ellie ficou ali. Não sabia o que estava acontecendo. Os olhos cinza de Halfpint se encheram de lágrimas. Ellie se moveu e parou na frente dela. – Está tudo bem, tudo isso é novo para vocês. Você está bem? Halfpint enxugou as lágrimas. – Eu a deixei brava. Ellie olhou para a porta, sabendo que não tinha como discordar. – O que você quis dizer com voltar a ser o que era antes? Halfpint pareceu ainda mais apavorada. Ela se virou de repente e se jogou nos braços de outra mulher, abraçando-a forte. Ellie notou que de repente todas estavam amedrontadas por algum motivo. Nunca uma mulher das Novas Espécies tivera medo dela. Ellie andou para trás, esperando que aquilo aliviasse o medo delas. – Por que não vão desfazer as malas? Iremos bem devagar hoje e vocês podem conhecer as outras mulheres. Coloquei avisos atrás das portas de vocês para que saibam os horários das refeições. Se tiverem perguntas, estarei
aqui até às cinco. As outras mulheres ajudarão vocês se eu não estiver. Ellie viu as mulheres saírem e, depois, foi procurar Breeze. Ela a viu através da janela da sala e saiu do prédio. Breeze estava sentada em um banco debaixo de uma árvore, no jardim na frente do alojamento. Ellie se sentou ao lado. – O que foi aquilo? Breeze esfregou a grama com o pé. – O que foi feito a elas me deixa indignada. Os médicos as fizeram fracas de propósito. Aquelas mulheres têm medo até de fazer uma pergunta, e você ouviu o comentário sobre antes? Não importa quantas vezes digam a elas que acabou, ainda ficam apavoradas que mintam para elas e as mandem de volta. – Não entendo. Breeze levantou a cabeça e as lágrimas em seus olhos se revelaram. – Eles uniram o DNA delas ao de animais domésticos para fazê-las fracas e pequenas. Não foram criadas para testes, não foram combinadas com espécies diferentes para pesquisas médicas… Foram feitas para serem usadas e abusadas. Ellie cruzou os braços. – Para quê? Breeze enxugou uma lágrima que correu por seu rosto e deixou a cabeça cair. – Presentes. Os médicos as fizeram ser escravas sexuais dos filhos da puta que financiaram os centros de testes. Eram entregues a qualquer babaca que tivesse dinheiro e fosse pervertido o suficiente para querer comer uma animal que se parecesse humana o bastante para ser atraente. Eles as fizeram pequenas o suficiente para serem impotentes e incapazes de se defender. – Meu Deus. – Ellie sabia que o sangue havia sumido de seu rosto – Por favor, me diga que está brincando. Breeze sacudiu a cabeça. – Encontramos algumas delas, mas Justice ainda está fazendo buscas com a ajuda do seu governo. Chegamos tarde demais para salvar a maioria delas que encontramos rastreando as transações financeiras. Os homens que foram presos confessaram que abusaram delas até a morte. Essas são as maiores e mais fortes, que sobreviveram ao pior. – Acho que vou vomitar. Breeze olhou-a nos olhos.
– Eu também. Aqueles cretinos não só as deram como presentes para doentes com fetiches animais, como também as deram para o que há de pior na humanidade: assassinos que admitiram terem as espancado até lhes tirarem a vida, ou feito com que passassem fome até morrer. Ellie ficou grata por não ter tomado café da manhã, pois teria vomitado na grama. – Então, quando elas disseram “antes”, quiseram dizer isso? Elas acham que as estou treinando para serem melhores… – ela fechou a boca quando a bílis subiu. – Presentes – Breeze rosnou. – Aqueles filhos da puta. Breeze concordou com a cabeça. – Eu não devia ter perdido a cabeça, mas fiquei irada. Me fez mal, Ellie. Acredite em mim. Todas tínhamos vidas infernais, mas as delas eram muito piores. Alguns guardas tentaram me atacar sexualmente, revidei e até matei um deles. Grande parte da equipe dentro do centro de testes queria nos proteger daquilo, então não acontecia com frequência. Diziam que éramos muito caras para estragar. O centro de testes só nos fazia transar com nosso próprio povo, mas não nos machucávamos. Partilhávamos dignidade, respeito e gentileza. Elas não tinham isso quando eram tocadas por homens. Ellie se levantou, com as pernas fracas. – Acho que precisarei mesmo ajudá-las muito, e tomara que aprendam a confiar em nós. Breeze se levantou e deu um sorriso triste para Ellie. – Você é pequena como elas e talvez isso as ajude. Halfpint achou que você fosse uma delas. Ela e Breeze voltaram ao alojamento. A depressão se alastrou por Ellie. Sempre que pensava ter superado o tipo de horror que as Novas Espécies haviam sofrido, surgia um novo. Ellie sorriu para Fury. Ele não queria que ela tivesse ido trabalhar, mas brigara com ele pela manhã. Agora ele estava fazendo de tudo para fazer as pazes com ela. Sexo de reconciliação não era possível, já que Fury tinha medo de
machucá-la de algum jeito. O sorriso de Ellie morreu. Ela desejava que Fury percebesse que ela não era tão frágil quanto ele achava. – Sinto-me tão mal por elas – ela admitiu. – Você tem um bom coração. – Fury acariciou o rosto dela com o dedão – Agora elas estão livres. Vamos encontrar outras em breve. – Eu queria poder fazer algo legal para elas. – O que você tem em mente? – Fury a puxou para ela se sentar ao lado dele no sofá. Ellie se curvou contra ele, adorando ficar agarrada com ele. – Não sei. Breeze mencionou que elas eram mantidas longe de todos, menos de seus abusadores. – Sim. Eles nos chamam de animais, mas aqueles homens eram verdadeiras bestas. Algumas daquelas mulheres foram encontradas trancadas em porões. Eram mantidas longe de qualquer outra pessoa para evitar que fossem descobertas. Nunca foram levadas a lugar nenhum e, em alguns casos, não tinham nem mesmo roupas. Ellie estremeceu com as imagens horríveis que aquele relato criou em sua mente. – Elas acharam que eu tentaria ensiná-las como usar a cozinha para que aprendessem novas habilidades e as usassem com seus antigos donos. Fury se encolheu. – Ouvi dizer que era horrível. Justice as mantém bem longe de todos os homens. Ele quer que elas se fortaleçam emocionalmente antes de serem apresentadas a nós. – Mas vocês protegem as mulheres de vocês, já os vi fazendo isso. – Protegemos, mas elas nunca tiveram isso, Ellie. Foram feridas e abusadas por homens. É só o que elas conhecem. – Onde elas foram mantidas depois de serem resgatadas, se não estiveram perto de homens? Elas foram descobertas todas de uma vez e trazidas diretamente até aqui? – Não. Justice entrou em contato com uma igreja. Eles têm alguns retiros onde não há homens. Aceitaram as mulheres de braços abertos para dar-lhes tempo e paz para se recuperarem do que passaram. Vão ser enviadas para cá quando os terapeutas acharem que estão fortes o suficiente. A primeira leva é um teste para ver como se saem. Esperamos que consigam superar o passado e encontrar um futuro.
– E se não estiverem? – Justice pensou em fazermos uma comunidade só de mulheres para protegê-las. – Pobres mulheres. – Ellie se aninhou mais em Fury e olhou para a televisão. Fury gostava de assistir baseball e o jogo começaria em breve – Queria poder fazer alguma coisa para ajudá-las. – Você vai pensar em algo. – É, espero que sim. O noticiário passou antes do jogo. Ellie se esticou e olhou em choque para o repórter que abria o jornal com a manchete da noite sobre as Novas Espécies. Mostravam uma imagem de Fury carregando Ellie para um carro. Ele parecia furioso na foto e Ellie parecia sentir dor. – Filho da puta – Fury rosnou. Ele se mexeu, se esticando até o telefone. – Fique quieto – Ellie ordenou – Quero ouvir isso. – Como eles conseguiram uma foto daquilo? – Não sei. Os dois ouviram a história. Fury finalmente desligou a televisão e se pôs em pé. Discava o telefone enquanto ia a passos duros até a cozinha. Ellie o ouvia do outro cômodo. Ela ficou sentada lá, tremendo. Agora o público sabia sobre ela e Fury. O repórter afirmara que ela e Fury eram o primeiro casal entre uma Nova Espécie e um humano. Sugeriram que Ellie – os nomes dos dois foram mencionados – fora ferida de algum jeito. O repórter alegou que Fury devia tê-la machucado. Ela fechou os olhos e lutou contra lágrimas de raiva. Pior, ela se sentia péssima por Fury. Por que as pessoas achavam que ele a machucaria automaticamente apenas por ser uma Nova Espécie? Eles sabiam até mesmo que ele fora misturado a DNA canino; fora mencionado na reportagem. Era óbvio que alguém dentro de Homeland vazara aquela informação para a imprensa. Ellie ainda tremia ao se levantar. Encontrou Fury andando de um lado para o outro na cozinha, falando ao telefone. Seus olhares se encontraram. Fury pausou, furioso e pálido. Ellie foi direto até ele. Um dos braços dele envolveu sua cintura e ele repousou o queixo em sua cabeça. Ellie apenas abraçava Fury até que ele terminasse a ligação. Ele desligou o telefone e o bateu no balcão. O
outro braço dele passou em volta de sua cintura, abraçando-a, enquanto esfregava suas costas. – Justice entrou nisso. Ele precisa chamar uma coletiva de imprensa, Ellie. Ele não tem escolha. Estavam sugerindo que você estava sendo ferida. Precisamos do apoio do público. Ela balançou a cabeça contra o peito dele. – Eu sei. – Com certeza há um vazamento em algum lugar. Eles sabiam que eu sou canino. Isso não é de conhecimento público. Citaram nossos primeiros nomes. Ellie se retraiu. – Acha que foi a doutora Norbit? Odiaria pensar que ela fez isso. – Não sei, mas vamos descobrir. Odeio dizer isso, mas aposto que foi ela ou alguém da força de segurança humana. Eles também têm acesso aos nossos arquivos. Alguém me informou de que o Tom apareceu na casa da doutora. Os seguranças humanos o alertaram, e isso significa que eles sabiam que algo acontecera. Ellie se afastou dele para olhar para seu rosto. – Sinto muito por eles terem deixado implícito que você me feriu. São uns idiotas. Um pouco da ira em seu rosto se suavizou. – Não é sua culpa. As pessoas sempre acham o pior. Caramba, meu próprio povo achou que eu fosse capaz disso. – O que fazemos agora? Os lábios dele se contorceram e ele deu um sorriso leve para ela. – Veja pelo lado bom. Não temos mais que esconder nosso relacionamento. Ela deu um riso debochado. – Pois é. Saiu no jornal. Acho que eu devia ligar para minha família antes que eles fiquem sabendo e enlouqueçam. O sorriso dele se esvaeceu. – E se eles não gostarem de você estar comigo? – os olhos dele procuraram os dela – Você vai me deixar? Ellie o abraçou mais forte. – Nunca. Eu juro. Não ligo para o que eles pensam.
Ele não conseguia esconder o alívio. – Eu verifiquei uma coisa. – O quê? Ele hesitou. – Já disse que te amo? O coração de Ellie se elevou. – Não, não falou. Está me falando agora? Os lábios dele se contorceram antes de falar e a alegria piscou em seus olhos. – Depende. Você me ama? Ellie riu e fez que sim com a cabeça. – Amo. – Eu te amo, querida. – Eu também te amo. – lágrimas a cegaram e ela piscou para se livrar delas – Te amo há um tempo, mas me segurei para não falar. – Por quê? Ela deu de ombros. – Acho que estava sendo idiota. Caras humanos tendem a se retrair um pouco quando uma mulher declara que se apaixonou rapidamente. As sobrancelhas dele se arquearam. – Não sou um deles, não totalmente, e estou cheio de alegria por você me amar. Nunca mais diga que você é idiota. Você tem cautela porque já foi muito machucada no passado. Isso nunca vai acontecer conosco porque dessa vez você escolheu direito. – um sorriso curvou os lábios dele, com uma faísca provocativa em seus lindos olhos. Ellie precisou combater as emoções para que não tomassem conta. Ela riu com a piada dele. Ele me ama! Mais lágrimas a cegaram e ela precisou contê-las. Para ele não era apenas sexo, ele partilhava dos mesmos sentimentos que ela. De repente, os problemas deles pareciam irrelevantes. Ele me ama! – Que bom. Te amo mais do que as palavras podem expressar, e estou muito feliz por você me amar também. Fury riu. – Verifiquei sobre casamento. – o sorriso dele sumiu – Não há uma cláusula especial para nós, mas não é exatamente contra a lei, já que não há nada que fale sobre as Novas Espécies.
Casamento? Ellie o olhou em choque. Ela jamais esperaria que Fury pensasse sobre aquele tipo de compromisso, porém obviamente ele pensara. Ela queria se casar com ele? Ela o fitou nos olhos. Ele se tornara uma grande parte de sua alma desde aquele dia que a assombrara, o dia em que o vira naquela cela estéril. – Você quer falar sobre se casar? Mesmo? – Você se importaria em casar comigo? Eu te amo e quero ter um compromisso com você, Ellie. Esse é o compromisso mais profundo que os humanos têm. – Eu te amo ainda mais por isso. Ele a levantou e carregou-a até a sala. Sentou-se no sofá com ela no colo. Ela pôs os braços em volta dele e os dois sorriram um para o outro. – Você consideraria seriamente me dizer sim se eu a pedisse em casamento num futuro próximo? Ellie riu. – Sim, mas você não deve me perguntar se eu consideraria. Apenas peça. – Eu pediria, mas ainda não pude comprar uma aliança. – ele pegou na mão de Ellie em sua nuca. Levou-a a seus lábios e pressionou um beijo na palma. Depois a virou para estudar seus dedos – Não sei qual é o tamanho do seu dedo, a não ser que as alianças sejam todas pequenas. – Meu tamanho é quatorze. – Quatorze. – o olhar dele encontrou o dela enquanto segurava sua mão – Vou pedir para o departamento legal ver se podemos nos casar. Até agora tudo o que eles descobriram é que não há nada nas leis, mas também não há nada que seja contra nos casarmos. Somos o que eles chamam de marco de referência. Parece até que somos um imóvel. Rindo, Ellie concordou com a cabeça. – Sim, é meio que isso. – Eles acham que isso não deve ser um problema. Esperavam que ninguém descobrisse que você aceitou ser minha esposa até depois de nos casarmos. Agora tenho medo de que alguém pense nisso e proteste contra nosso direito de fazê-lo. – Acho que eles não podem. Você tem direitos, Fury. Não podem dar às Novas Espécies o direito de viver como cidadãos e depois dizer que vocês não têm os mesmos direitos que outras pessoas. Seria errado demais.
O telefone tocou, então Fury tirou Ellie do colo e gentilmente colocou-a ao lado dele no sofá. Ele se levantou e pegou o telefone. Ellie se encostou e tentou relaxar. Podia ouvir a voz de Fury, mas não as palavras. Ele quer casar comigo. Ela deu um sorrisinho.
– As ligações já começaram, Fury. – Justice xingou em voz baixa – Acabei de falar com o presidente. Ele nos apoia totalmente, mas senti uma preocupação em sua voz. Assegurei-o de que as coisas estão bem e de que a reportagem foi propositadamente cruel. – Bom. Avisei nossas equipes e eles estão a postos para ajudar as forças humanas nos portões, caso haja um influxo de manifestantes. Estou esperando que isso aconteça. Isso vai deixar aqueles doentes malucos, achando que seu pior medo se tornou realidade: o de que uma Nova Espécie vive oficialmente com uma mulher humana. – Fury fez uma pausa – Me desculpe por esse problema, mas eu não mudaria nada. Ela vale a pena para mim, Justice. – Você deixou isso claro e, como eu disse, estamos felizes por vocês. Apoiamos vocês. – Justice pausou – Sei que precisamos comunicar esse assunto à imprensa. Eles estão imaginando o pior: que ela foi ferida por abusos de um dos nossos. Precisamos esclarecer esse assunto. – Concordo, mas me recuso a colocar Ellie na frente deles para responder a perguntas. Eles a atacarão verbalmente e vão dizer-lhe coisas más que ferirão seus sentimentos. Não permitirei. É meu trabalho protegê-la. Precisamos deixar que os humanos lidem com sua própria espécie. Estão recebendo para lidarem com a imprensa. Deixe que façam isso. – Também é seu trabalho proteger as Espécies e nossa imagem. Pode ser que tenhamos que permitir que eles vejam Ellie para que assegurem aos humanos de que ela está bem. Precisamos do público ao nosso lado, Fury. A última coisa de que precisamos é de mais humanos nos odiando e aparecendo do lado de fora dos portões. O presidente não poderá nos dar apoio se for apanhar de todos por fazer isso. – Posso fazer meu trabalho e Ellie é uma Nova Espécie. Também devo
protegê-la. Não arriscarei uma coisa pela outra porque não será isso. – Ótimo. Vou convocar uma reunião com Tom em seguida e ele é o melhor relações públicas que temos. Ele tem muito interesse na política e tem bastante experiência em lidar com o público, nos dirá o melhor jeito de lidarmos com isso. – Justice suspirou – Queria que esses AntiNovas Espécies apenas fossem embora. – Eu também, mas somos livres. Esse parece ser o preço. Sabíamos desde o começo que não seria fácil. Vamos superar isso. Nossas equipes de segurança estão preparadas para o pior e você vai lidar com os humanos. Você faz isso muito melhor do que eu. – Fury deixou escapar uma risada – Hoje não tenho inveja do seu trabalho. – Tem algum jeito de você permitir que a imprensa tenha acesso à Ellie? – Não. Ela está esperando que eu termine essa ligação para que eu vá até ela. Está preocupada, preciso acalmála. – Por acaso você acabou de dizer que precisa acalmála? – Justice gargalhou. Um lampejo de irritação percorreu Fury. – O quê? Ela fica chateada e não aguento vê-la daquele jeito. – Acalmar? – Passo minhas mãos por ela. – Fury riu – Eu a distraio e, como seu parceiro, é meu dever ocupar a cabeça dela com coisas mais agradáveis. Você vai mesmo debochar de mim por isso? Se houvesse uma mulher esperando por você, iria querer acalmá-la também. – Vá lá. Agora estou com inveja de você. Não tenho ninguém esperando por mim. – Justice desligou.
– Justice vai dar uma coletiva de imprensa amanhã. Ele decidiu que não temos que falar com eles a não ser que a gente queira. Disse a ele que não vamos. – Fury disse isso ao sair da cozinha sem o telefone. Ellie ergueu uma sobrancelha. – Você podia ter me perguntado. Os olhos negros se estreitaram.
– Não vou expor você e deixar que humanos digam coisas que irão magoá-la. – Não fique bravo. Eu mesma estou tentando não ficar zangada. Mas você precisa me perguntar as coisas. É a coisa certa a se fazer. Fury rosnou. – Eu tenho que protegê-la Ellie suspirou. Ela o amava. Ele era naturalmente dominador, era algo de sua natureza, e queria protegê-la. Ela podia ou combater tudo o que ele fizesse ou apenas aceitar que ele tendia a esse comportamento. Sabia que ele a amava tão profundamente quanto ela o amava. Ela fez que sim com a cabeça e a ira dele se suavizou. – Só quero dar proteção a você. – Eu sei, Fury. Eu apenas gosto de ser consultada, está bem? – Vou tentar. Quer que eu ligue de volta para Justice e diga a ele que estaremos lá para os repórteres nos fazerem perguntas? – Você faria isso por mim? Iria comigo se eu quisesse? Ele se sentou ao lado dela. – Se você for, eu vou. Ela o amava ainda mais por dizer aquilo. – Não ligue de volta para ele. Não quero estar lá de jeito nenhum. – Mulheres… – Fury rosnou, mas sorriu. Ellie se inclinou na direção dele e delicadamente roçou um beijo em seus lábios antes de se afastar. – Acostume-se se quer casar com uma. – Eu quero. O telefone tocou outra vez. Fury xingou. – Droga, isso não vai parar. Ellie concordou em silêncio. – Acho que devia ligar para a minha família do meu celular, enquanto você atende. Seria grosseiro não alertálos antes de eles verem isso no noticiário. O olhar de Fury se enegreceu. – Não ligo se eles não estão felizes sobre nós. Você é minha vida agora, Fury. Você é tudo que importa. Mas devo ligar para eles para que escutem isso de mim. – Talvez eu deva apenas arrancar os telefones das paredes. Ellie ficou tentada a deixá-lo fazer aquilo, mas a realidade se colocou.
– Então eles viriam até a porta. – Bem pensado. CAPÍTULO DEZESSEIS – Mil perdões por fazer vocês virem até aqui. – o diretor Tom Quish parecia sincero ao olhar para Ellie e Fury. – Justice está furioso comigo, mas tenho mais experiência em lidar com a imprensa e o público do que ele. A maioria das pessoas adora um bom romance, e precisamos delas do nosso lado. Eles querem vê-los juntos, o que vai detonar os boatos malvados que andam circulando pelos tabloides. – Queremos saber, que boatos são esses? – Fury arqueou a sobrancelha. Tom negou. – Não exatamente, a não ser que você esteja mesmo mantendo Ellie presa em uma casinha de cachorro e em uma coleira para se vingar pelo que os humanos fizeram com você. É uma merda desse tipo. Ellie virou a cabeça para sorrir para Fury. – Isso parece meio depravado. Ele riu. – Talvez eu construa uma casinha de cachorro. – É disso que preciso – Tom os encorajou – Vocês estão lidando muito bem com isso. Fury balançou os ombros. – Fiquei bravo, mas Ellie me disse que isso só piora tudo. Ela chorou quando jurei que mataria todos eles. O sorriso de Tom sumiu na mesma hora. Seus olhos se arregalaram de pavor. Ellie deu uma risadinha. – Ele está brincando. – Graças a Deus. – Tom sorriu de novo. – Eu não chorei quando ele disse isso. Eu disse que não gosto de ver sangue. Fury riu. Ellie piscou para ele. Tom resmungou. – Vocês vão me matar lá se agirem assim. As pessoas não saberão o que pensar de vocês. Espero que tenha sido uma piada. – Eles acham que sou um animal selvagem que está forçando Ellie a ser escrava sexual. – Fury cerrou os dentes – Estou errado? – Acalme-se. – Ellie chegou mais perto dele e tocou em seu peito para
acariciá-lo com a mão – A raiva não é nossa amiga. Lembra da nossa conversa hoje de manhã? Sei como você está bravo, mas é isso o que eles querem ver. Você precisa manter o controle. Ria deles. Se for acusado de alguma merda dessas por um repórter, apenas pense nisso. – ela se aproximou mais – Eu adoraria ser sua escrava sexual qualquer dia. Fury deu um sorriso largo que mostrou seus dentes caninos. – Isso não vai me impedir de ficar bravo. Vai me fazer querer levar você para casa. – Uma hora, Fury. É só durante esse tempo que você terá que ficar frio. Você consegue se controlar, precisa fazer isso! – Ellie o assegurou – Você pode berrar mais tarde e ficar zangado, se as coisas ficarem feias lá. Ele segurou o rosto dela. – Prometo que vou tentar, Ellie. Faria qualquer coisa por você. – Obrigada. – Mas se eles a insultarem, posso ficar bravo. Você sabe que meu pavio é curto quando alguém te faz mal ou diz coisas ruins sobre você. Ellie deu um gemido. – Eles vão me insultar, tenho certeza. Posso lidar com isso, portanto fique calmo. – Que tipo de homem eu seria se ficasse lá sentado enquanto falam coisas ruins sobre você? – Um homem esperto – Tom exclamou – O mundo estará vendo isso, Fury. Vocês dois são uma notícia e tanto no mundo todo. Vocês não têm ideia da cobertura que haverá lá. Se vocês encantarem a imprensa, vão adorar vocês. Vão apoiá-los totalmente sobre seu relacionamento. Se as coisas não forem bem, problemas surgirão. Precisamos muito do dinheiro que recebemos, Fury. Pense em todas as Novas Espécies e mesmo na Ellie. O que aconteceria se o apoio pulasse fora e os fundos que mantêm Homeland funcionando parassem de entrar? Ela fecharia, e então para onde iriam todos? Nossa equipe jurídica está trabalhando duro naquelas ações judiciais para manter o dinheiro entrando, mas me asseguraram de que não vai durar muito antes de as Indústrias Mercile pagarem pelo que fizeram. – Está bem – Fury suspirou – Eu entendo. Vou me sentar lá e ficar calmo, não importa o quanto eu queira machucar alguém. – Obrigado. – Tom suspirou. Ele lançou um olhar sinistro a Ellie e cruzou
os dedos. O homem andou em volta da mesa e colocou o casaco – Vamos lá. Fury pegou a mão de Ellie. Ela tentava lutar contra o nervosismo. Nunca tivera que falar na frente de um monte de câmeras e repórteres. Por razões de segurança, a coletiva de imprensa seria realizada na frente do portão principal, pois assim todos ficariam fora de Homeland, mas perto dos muros de segurança para ajudar a controlar a área. – Estou aqui – Fury a confortou – Não vou deixar que ninguém faça mal a você. Ellie esboçou um sorriso fraco. – Simplesmente odeio estar no meio de um monte de gente, mas vou ficar bem com você ao meu lado. Fury apertou sua mão e a puxou mais para perto quando saíram pelos portões. Ellie percebeu na mesma hora que aquilo se tornara um circo midiático das piores proporções. Flashes de câmeras os cegavam enquanto se aproximavam da área destinada a eles. Justice e Tom andavam à frente de Ellie e Fury. Ele soltou a mão dela e passou o braço em volta de sua cintura. O corpo dele a protegia daquele monte de câmeras. A imprensa gritava perguntas que eles ignoravam de propósito, já que Tom os havia preparado bem. Ellie se sentou entre Fury e Trisha Norbit. Ellie ficou grata por estar ao lado da mulher. Trisha apertou sua mão debaixo da mesa e lançou-lhe um sorriso corajoso. Ellie apertou a mão de Fury. A outra mão dele cobriu a dela, segurandoas com as duas. Ele esfregou a pele dela delicadamente para confortá-la. Tom se levantou e tentou silenciar a imprensa. Boa sorte, pensou Ellie. Uma gritaria de louco irrompeu. Tom conseguiu silenciar a multidão depois de alguns minutos. Ellie ouvia enquanto Tom falava à imprensa. – Os boatos que circulam sobre Fury ferir Ellie Brower não são verdadeiros. – sua voz soava de forma clara – Eles são um casal vivendo junto dentro de Homeland. O vídeo que vocês viram na televisão era de algo que aconteceu depois de Ellie sofrer um pequeno acidente. Ela foi tratada por nossa médica. Esta é a doutora Trisha Norbit, que irá confirmar isso a vocês. Trisha se inclinou em direção ao microfone, se apresentou e imediatamente os repórteres gritaram uma enxurrada de perguntas. Ela precisou esperar todos se calarem para poder falar.
– É claro que os boatos não são verdadeiros. – Trisha balançou a cabeça e parecia zangada ao olhar para os repórteres – Foi um pequeno acidente enquanto Ellie limpava a cozinha. – mentiu ela – Ela bateu a cabeça na quina da ilha da cozinha quando se levantou depois de varrer o chão. Ela deu uma pancada na cabeça. O senhor Fury nem estava em casa na hora do incidente, ele chegou e encontrou Ellie. Tudo o que vocês viram foi ele carregando Ellie para o carro depois de eu ter tratado dela. Foi simples assim. – Senhorita Brower – um dos repórteres se levantou – Isso é verdade? Ellie forçou um sorriso e tentou acalmar os inconstantes batimentos cardíacos, provocados por ela ser o centro das atenções. – Infelizmente. Acredite em mim. – Apenas sorria e minta, ela disse a si mesma. Eu posso fazer isso. – Imagine como estou envergonhada. Bati minha cabeça e isso está no noticiário das onze. – Você e o senhor Fury estão fazendo sexo? – mais alguém se levantou e perguntou. Ellie hesitou. – Você está fazendo sexo? Essa é uma pergunta meio pessoal, não? – Não estou. – o repórter sorriu – Mas faria se estivesse namorando alguém. Vamos lá, senhorita Brower. Você e o senhor Fury estão fazendo sexo? Ellie apertou a mão de Fury para assegurá-lo de que estava bem quando ele ficou tenso. – Minha vida sexual não é objeto de discussão pública, mas digo que eu e Fury estamos morando juntos, como Tom informou, e estamos envolvidos em um relacionamento sério. O homem balançou a cabeça e se sentou. Outro homem surgiu. – Senhor Fury, o senhor morde a senhorita Brower? Ouvimos rumores de que há mordidas durante o sexo. A pegada de Fury na mão dela ficou tão intensa, que ela precisou se conter para não se encolher. Ellie usou o dedão para esfregar as costas da mão dele. Fury relaxou e negou. – Eu jamais machucaria Ellie. – de repente ele elevou o lábio superior para mostrar rapidamente seus dentes – Eu a machucaria se a mordesse. Perguntas começaram a chover. Ellie se segurava para não gargalhar do absurdo que algumas delas eram. Tom gritou, pedindo ordem. Ele repetiu as instruções sobre uma pergunta de cada vez, ou então a entrevista terminaria. O silêncio reinou novamente e outra pessoa se levantou.
– Como vocês se beijam com os dentes afiados dele? Fury abriu a boca. Ellie o cutucou com o ombro e respondeu. – Como se beija alguém que tem os dentes para a frente? Ou alguém dentuço? Ou alguém que não tem um dente? Você simplesmente beija. Essa é uma pergunta tola. – Então vocês realmente se beijam? – É claro que eu o beijo. Olhe para ele. – Ellie virou a cabeça e sorriu para Fury. Ela olhou de volta para o repórter – Dentes não são um problema. Em seguida, uma outra repórter se levantou. – Como você se sente sabendo que está com um homem com quem não poderá ter filhos? – Doutora Norbit – gritou um repórter sem esperar a vez –, você está fazendo pesquisas com eles? – Não – Trisha negou – Eles são pessoas, não ratos de laboratório. – Como se sente em estar com alguém com quem talvez nunca possa ter filhos, Ellie? Ellie fitou a repórter que perguntara novamente sobre filhos. Ela hesitou. – Nunca há uma garantia, não importa com quem você esteja, de que possa ter filhos. Há vários casais que estão juntos e descobrem que, por sei lá que motivo, não podem tê-los. É por isso que há barrigas de aluguel, bancos de esperma e adoções disponíveis para esses casais. Não acho que uma pessoa conheça alguém e decida se gosta dela ou não com base no quão bem o sistema reprodutivo dela funciona e em quantas crianças pode conseguir daquela pessoa. Isso é insensato e estúpido. Não estou nem um pouco preocupada com isso, nem mesmo penso a respeito. A repórter se sentou. O próximo apareceu, e assim foi. Ellie tentava se manter calma. A maioria fazia perguntas idiotas. Queria saber se Fury ajudava nas tarefas domésticas e se Ellie o tratava como se ele fosse uma pessoa normal. Fury manteve a cabeça fria, riu de várias perguntas e nenhuma vez perdeu o controle. Ellie o observava, muito orgulhosa de como ele estava lidando com tudo. Ele sabia ser charmoso quando queria. Ele encontrou o olhar dela e sorriu de volta. – Ellie? – um homem lá atrás gritou de repente. Ellie virou a cabeça, tentando ver onde ele estava. – Sim? – Como é trair sua própria raça deixando que um animal a coma?
O choque percorreu Ellie com aquele repentino ataque verbal. Ela encontrou o cretino que fizera aquela pergunta, um homem magro, alto e vestindo um terno de negócios que, de repente, empurrou as pessoas na frente dele, exibindo uma arma nas mãos. Gritos irromperam e tiros explodiram. Ellie congelou, apavorada, antes de alguém jogá-la no chão, e algo pesado se estatelou em cima dela. Os olhos de Ellie se abriram. Fury estava esparramado em cima dela, cobrindo o corpo dela com o dele. Tiros continuavam a soar junto de gritos de pânico e berros da multidão. Fury engatinhou para cobri-la melhor, contorcendo o corpo para se colocar entre ela e a fonte do ataque. Os braços dele se enfiaram debaixo dela e ele a levantou, empurrou os joelhos dela para junto do peito, forçando-a a se fechar nos braços dele, e se levantou, cambaleando. Ele correu para os portões com Ellie firme em seus braços, curvando-se sobre ela, ainda protegendo o corpo dela com o dele. Fury estremeceu fortemente, sua pegada se afrouxou, e então ficou firme de novo. Ele continuava se movendo e gritando palavras que ela não entendia. Ellie estava chocada demais para entendê-lo e não conseguia respirar. Ele a esmagava em seus braços e os joelhos e as pernas dela estavam empurrados contra o próprio peito, comprimindo os pulmões. O impacto que o corpo dele fazia enquanto corria também não ajudava. Ellie não conseguia enxergar muito com ele a cobrindo e com a força com que ele a segurava. Ela sabia que o portão estava livre, viu uma parte do muro passar por eles no mesmo momento em que Fury caiu de joelhos. Ele gemeu alto, mas de alguma forma ainda a mantinha segura em seus braços. E, então, sua pegada se soltou. Ellie se mexeu nos braços dele, levantou a cabeça e viu a dor desfigurar as lindas feições dele. – Fury? Ele a moveu e colocou-a no chão, na frente dele. Ela o olhou e viu seus olhos rolarem para dentro. Ele apenas se contorcia, esmagando a grama ao lado dela. Ellie ignorava os berros, os gritos e todos os outros sons em volta. Ela engatinhou agitadamente para se aninhar na figura imóvel dele. Foi então que ela viu o sangue. – FURY! – ela gritava. Suas mãos se esticaram freneticamente à lateral dele, por onde a viscosidade vermelha se espalhava. Sua mente apavorada e em pânico entendeu que ele fora atingido. Ela pressionou as duas mãos contra o ferimento, tentando estancar o sangramento. Seu olhar horrorizado se fixou
no rosto de Fury. Ele respirava, mas estava inconsciente. – Alguém me ajude! – Ellie gritou. Trisha Norbit de repente se ajoelhou do outro lado do corpo de Fury. A médica empurrou as mãos de Ellie para longe e arrancou a camisa de Fury para ver o ferimento. Ellie ignorava as mãos, cobertas com o sangue de Fury. Ela se aproximou do rosto dele enquanto a médica e algumas outras pessoas começavam a trabalhar por ele. Ellie estremeceu. – Fury? – ela tocou a face dele, sem se importar se os dedos que esfregavam a pele dele estavam ensanguentados. Lágrimas se derramavam em seu rosto – Fury? Por favor, acorde. – sua voz sumiu com um soluço. – Tragam um kit de primeiros socorros – Trisha exigiu, num tom bem alto – Agora! Ele não se mexeu. Ellie olhava de forma agitada para a médica. – Trisha? Ele vai ficar bem? A médica encontrou os olhos de Ellie e depois virou a cabeça. – Precisamos levá-lo ao hospital imediatamente. Ligue para o centro de traumas e diga que precisamos que uma sala de operações seja preparada e… – ela soltou um palavrão – Justice? Preciso que alguns caninos do seu povo venham comigo. Ele vai precisar de sangue e espero que um deles seja compatível. Justice estava atrás de Ellie e pegou o celular. – Vou chamar todos. – Trisha? – Ellie ainda tremia. Trisha a encarou, com uma expressão soturna. – Ele levou dois tiros, Ellie. É muito grave. Prometo que vou fazer tudo o que puder para salvá-lo. Ellie desmoronou totalmente naquele instante. Ela sabia que ele não sobreviveria. Ela vira todo o sangue ensopando suas mãos, as roupas dele e as mãos de Trisha. Ela acariciou o rosto dele e sussurrou seu nome. Alguém a pegou por trás e jogou-a para longe do homem que amava. Ela lutou contra quem a segurava, gritando o nome de Fury, mas ele não se moveu. O homem que a segurava a pegou com mais força e se virou. – Precisam cuidar dele, Ellie. Vou te encaminhar para onde ele será levado. Você precisa se acalmar – o homem gritou na orelha dela – Isso não
vai ajudá-lo. Ellie soluçou. Ela parou de gritar e de lutar, admitindo a inutilidade daquilo. Slade a segurava, e era tão grande quanto Fury. Os pés dela não estavam nem mesmo tocando o chão. Ele continuou segurando-a, dizendo coisas tranquilizantes em seu ouvido, enquanto Ellie observava a médica e a equipe da emergência cuidando de Fury, tentando estabilizá-lo. Alguém trouxe uma maca e eles rapidamente o colocaram nela. Ela olhou para cima ao ouvir um helicóptero circulando. Slade se virou com ela. Continuava segurando-a firme, caso ela ainda quisesse sair correndo atrás de Fury, e deu passos largos em direção ao estacionamento. Ele colocou-a gentilmente no banco de trás de uma das SUVs ao chegar lá e pegou o rádio. – Caninos, me encontrem no estacionamento. Estamos prontos para ir. Ellie está segura comigo. Slade se pôs atrás do volante, se virou no assento e estudou Ellie. Ela chorava, enrolada como uma bola no banco de trás, mas ouvira o suficiente pelo rádio do carro para montar as peças do que acontecera. Slade também estava atordoado com tudo aquilo, o que era óbvio pela sua expressão sombria e pelo olhar dolorido que ele tinha enquanto se olhavam. – Eu estava patrulhando os muros quando aconteceu. Havia três atiradores. Apaguei um deles, mas não conseguiria fazer o mesmo com os outros dois sem correr o risco de atingir inocentes. Me desculpe por não ter conseguido apagar todos antes de atirarem nele. – sua voz áspera pausou – Fury vai ficar bem. – Slade prometeu com uma voz firme – Somos mais fortes que os humanos e nos curamos mais rápido. Aguentamos mais coisas. Ellie enxugou as lágrimas. – Não posso perdê-lo. Slade balançou a cabeça. – Você não vai. Homens abriram as portas e entraram na SUV. Ellie notou que estavam armados até os dentes, com armas presas dos calcanhares ao peito em seus enormes corpos. Eles também eram caninos, a julgar pelo formato de seus olhos solenes. Slade ligou o motor e saiu da vaga. Ele acelerou e dirigiu-se ao portão. Aumentou o volume do rádio para ouvir melhor sem o barulho do motor.
– Liberem o caminho. Estamos chegando lá. Ele nem mesmo desacelerou ao chegarem aos portões abertos. A área fora evacuada da multidão, que normalmente estava presente ali. Tiros e derramamento de sangue haviam dispersado os manifestantes e os repórteres. Ellie andava de um lado para o outro e ficava olhando para os homens que a cercavam. Havia, pelo menos, sete oficiais da ONE de guarda na sala de espera particular. O hospital oferecera uma a eles assim que perceberam que os oficiais da ONE estavam armados e determinados a cuidar de Ellie. Mais oficiais estavam do lado de fora da sala de operação, em que Fury lutava por sua vida. – Ele ainda está vivo – Justice assegurou a Ellie. Ela fez que sim com a cabeça, sabendo que Justice falara ao telefone com um dos oficiais da ONE que estava de guarda na sala de operação. O oficial podia ver dentro dela para dar informações detalhadas. Ellie estava grata pelo sistema de transmissão de informações que Justice planejava para monitorar como Fury estava se saindo. Ellie não sabia como as pessoas aguentavam ficar esperando, sem nenhum tipo de palavra, quando um ente querido estava em cirurgia. Slade adentrou a sala, foi direto até Ellie e ofereceu um copo de isopor grande, branco e coberto. Um canudo saía dele. Ellie forçou um sorriso. – Café não vem com canudo, mas obrigada. – É café gelado. – Slade sorriu – Você está tremendo. Não queria dar algo quente que poderia espirrar em você. Fury me daria umas porradas se eu deixasse que você se queimasse. Lágrimas encheram os olhos de Ellie e ela sorriu de verdade para ele. – Obrigada. Ele balançou a cabeça antes de se virar para se aproximar de Justice, que mantinha o celular contra a orelha, mas o moveu para longe da boca. – Relatório. Slade suspirou. – Todos os três atiradores foram pegos. Um sobreviveu, infelizmente. A polícia me informou que o cara é um idiota que não para de falar. Ele afirma
ser membro do grupo terrorista Humanos Puros. Justice bufou. – Não podemos chamá-los de terroristas, mas prossiga. – Eles ouviram sobre a coletiva e se infiltraram usando credenciais de fotógrafos. Não cobrimos a segurança. – Slade rosnava as palavras – Parece que não revistaram quem tinha passe de imprensa. – De agora em diante vamos fazer toda a segurança onde qualquer um do nosso povo esteja no centro. Slade concordou com a cabeça. – Alguma notícia sobre Fury? – Ele está lutando e sobreviveu até agora. Temos dois com sangue compatível. Searcher e Darkness estão dentro da sala doando sangue, como é necessário. Ellie dava goles no café enquanto os escutava. Precisava admitir que todos foram muito bons para ela. Eles protegiam a ela e a Fury. As Novas Espécies haviam garantido que vários de seus homens fossem ao hospital para doar sangue para Fury. O sangue humano comum poderia ter funcionado, mas o que era compatível à química alterada deles funcionava melhor. Justice precisou explicar isso a ela. Ellie se lembrou de quando chegaram ao hospital. Justice a levara para um dos banheiros, conversou calmamente e prometera que tudo seria feito por Fury. Ele a levara até uma pia enquanto conversavam. Ela ainda estava em choque enquanto ele lavava as mãos ensanguentadas dela como se ela fosse uma criança, e depois deu a ela roupas que alguém levara, ainda com etiquetas. Ele a deixara dentro do banheiro para que ela trocasse aquelas roupas manchadas e ensanguentadas. Ele não saíra do lado dela depois que ela deixara o banheiro. A atenção dela se voltou a ele. Ele moveu o telefone de volta para perto da boca. – Sim, ainda estou aqui. O que está havendo? O coração de Ellie palpitou ao ver Justice fechar os olhos. O medo a atingiu fortemente quando Justice fechou o telefone com um golpe. Ellie continuou olhando para ele até que os olhos dele se abriram. O olhar dele se virou em direção a ela. – Ele está vivo, Ellie. Removeram as duas balas e o suturaram.
Estancaram o sangramento e os sinais vitais estão bons. Trisha está certa de que, a não ser por circunstâncias imprevistas, ele vai ficar bem. Lágrimas deslizaram pelo rosto de Ellie, quando ela entendeu que Fury viveria. Balançou a cabeça, contudo tinha medo de acreditar naquilo até que o visse. Horas se passaram até que Fury foi levado da sala de recuperação para uma sala privada na UT I. Permitiram que a ONE ficasse de guarda, vendo-o pela sala de observação ao lado. Ellie esfregou a nuca, cansada, mas não queria dormir. Observava Fury por meio de uma parede de vidro, da mesma sala em que os oficiais estavam. Eles permitiram que ela se sentasse ao lado dele na cama apenas por alguns minutos a cada vez. A médica, não Trisha, monitorava Fury. Aquilo trouxe lembranças de outras vezes que o vira através do vidro, quando ele ainda estava preso no centro de testes, o que a fez chorar de novo. Ver um homem tão forte e vital desamparado partia seu coração. Justice estava sentado no canto. Alguém levara para ele um laptop, e o fone de ouvido de seu celular estava preso à orelha. Ele falava delicadamente com alguém de vez em quando. Ellie olhou para ele. O homem parecia nunca parar de trabalhar. O foco de Ellie voltou ao vidro. Fury dormia. A médica checou seus sinais vitais e então saiu por outra porta. – Ellie? – Justice disse suavemente. Ellie se virou. – Sim? Justice deu um pequeno sorriso. – Ele vai ficar bem. Eu disse que Trisha ordenou que ele fique sedado. As Novas Espécies não lidam bem em ficar esticadas numa cama, porque gostamos de nos movimentar. É melhor deixá-lo longe disso enquanto se recupera mais, senão vai querer se levantar, não importa a dor que sinta. Somos irritantemente teimosos, infelizmente. – Eu sei. Só não acho que me sentirei melhor até ouvir sua voz e olhar em seus olhos. – Eu entendo. Sei que Fury pediu por informações sobre casamento. Você sabia disso? Ele me contou que planejava pedir você em casamento. – Sim. – ela se sentou – Na verdade falamos sobre isso ontem à noite. – Ele ama você. Sabe disso?
– Eu também o amo. Ele é tudo para mim. – Você não precisa me dizer. Vejo isso sempre que olha para ele. – ele pausou – Nunca tivemos nada que pertencesse a nós enquanto crescíamos. Ele contou isso? Também nunca ousávamos nos importar muito. A equipe e os médicos sempre nos tiravam tudo ou usavam contra nós qualquer fraqueza que percebiam como castigo. Casamento significa segurança para ele, que pode ter você até morrer. Significa que você pertence a ele e que nunca vai ser tirada dele. Eu quero que você entenda bem isso. Se você se casar com ele, ele vai esperar que isso signifique para sempre. Não concorde a não ser que tenha certeza. – Eu tenho. Os olhos dele se estreitaram. – Ele não vai permitir que você se divorcie. É o que estou falando. Isso o mataria. Casamento é algo permanente para ele. É jurar que ele nunca precisará ter medo de perder você. Ele vai morrer ou matar para protegê-la, e vai amá-la com tudo o que tem para dar. Já ouvi falar sobre casamentos humanos. Não somos nada parecidos com os humanos nesse assunto. Ele seria fiel e mataria outro homem se você deixasse que um deles a tocasse. Somos possessivos como o diabo. Isso nos foi forçado, com o DNA que colocaram em nossas células. Isso não só nos mudou fisicamente, como também carregamos algumas das características. Somos protetores e agressivos. Somos possessivos com o que é nosso. Não sei se Fury explicou isso, mas eu queria. Chamamos isso de acasalar, e isso é para a vida. Ele já acasalou com você, mas parte dele o segurou porque ele tinha que aceitar que você poderia deixá-lo. Ele já está comprometido com você. – Obrigada, mas pode deixar isso pra lá se quer me assustar. Eu o amo. Não planejo me divorciar e com certeza jamais o trairia. – Ellie não estava ofendida. Sabia que Justice queria ter certeza de que ela entendia o que teria de encarar como esposa de Fury – Estou ansiosa para passar minha vida com ele. Cada segundo dela. – Ele vai assustá-la às vezes. Rugimos, rosnamos e dominamos. Tentamos segurar isso, mas piorou desde que encontramos nossa liberdade. Lutamos com o animal e com a humanidade dentro de nós, Ellie. Sei como as mulheres são independentes. Nossas próprias mulheres são assim, até certo
ponto, mas também entendem nossos homens. Elas conseguem se virar melhor conosco. Eu só queria que você ficasse ciente disso. Ele não terá a intenção de insultar você ou seu orgulho. É de nossa natureza sermos agressivos e assumirmos o controle das situações. – Como quando ele recusou um emprego por mim sem me consultar? – Ellie sorriu àquela lembrança. – Ele fez isso? Você conseguiu o emprego mesmo assim. – Ele finalmente me perguntou se eu queria. Aquilo me irritou num primeiro momento. Um sorriso passou pela boca de Justice. – Tenho certeza que sim. Mas ele queria proteger você. – Eu sei. – Então você já sabe das diferenças. – Sim. Justice hesitou. – Posso fazer uma pergunta bem pessoal? – Claro, vá em frente. – Por que ele a amarrou? Me amarrou? A mente dela parou por um segundo, e daí ela entendeu o que ele quis dizer. Ah. Ellie ficou vermelha. – Você se refere ao pano de prato e à fita adesiva? – Sim. – Ele ficou um pouco excitado demais e queria se acalmar. Amarrou minhas mãos para que eu não o tocasse. – Ele estava bravo? Ellie sacudiu a cabeça, ficando mais ruborizada. – Ele ficou muito excitado sexualmente. Queria que fosse bom para nós dois e queria me tocar até que eu ficasse tão excitada quanto ele. Eu adoro tocá-lo, então ele amarrou minhas mãos. Os olhos de Justice brilharam com divertimento. – Agora entendi. Você não se importa em ser amarrada? Nosso povo odeia ficar preso. Temos medo. – Nunca me feriram do jeito que seu povo foi ferido. Não tenho pesadelos com gente fazendo testes em mim ou me cutucando. Tenho certeza de que algumas pessoas teriam medo de ser amarradas, mas eu não tenho. Confio em Fury e sei que ele não me machucaria, e também não
acho um problema ser dominada. Gosto quando Fury faz isso. É um jeito bom de explicar? – Perfeito. Obrigado, Ellie. Me desculpe pela minha reação e pelo consequente dano que causei a vocês. Achei que ele tivesse perdido a cabeça e te machucado. Desde o dia em que ele a agarrou naquela sala de conferências, ele não tem sido razoável quando o assunto é você. Achei que ele quisesse mesmo feri-la. – Na verdade, ele quis, sim, me matar aquele dia. – Ellie deu uma risadinha – Fico feliz que ele tenha mudado de ideia. – Tenho boas notícias. – O quê? – Ellie se encostou de volta na cadeira, relaxando – Eu preciso mesmo de uma. – Algo de bom saiu de tudo isso. – Justice fez um gesto na direção de Fury – Acabei de sair de uma reunião com a nossa diretora de relações públicas. Ela me informou que a imprensa nos apoiou cem por cento. Estão chovendo telefonemas e e-mails de apoio a nós. Seu povo está horrorizado com o que aconteceu. As câmeras ainda estavam ligadas e muitas estações de TV transmitiram tudo ao vivo. Sabia disso? Ellie foi tomada pelo horror. – Eles estavam transmitindo ao vivo quando Fury levou os tiros? – Está tudo bem – disse Justice para confortá-la – Na verdade é algo bom, pelo jeito. As opiniões favoráveis às Novas Espécies deram um salto fenomenal. Quanto você se lembra do que houve? Sei que vocês não são treinados como nós para guardar detalhes ou reagir calmamente a condições extremas. – Não muito. O inferno se instalou e então Fury me carregou para um lugar seguro dentro dos portões, onde não seríamos atingidos pelos disparos. Depois ele caiu no chão. – Quando os homens abriram fogo – Justice informou calmamente –, Fury reagiu. Ele chutou a mesa para virála e fazer dela um escudo para proteger todos que estavam sentados ali. Ele se jogou sobre seu corpo para assegurar que as balas atingissem ele e não você. Ele levou um tiro e deve ter percebido que a mesa não era espessa o bastante para pará-las. Nesse momento, ele a levantou e correu para levá-la a
um local seguro. Ele foi atingido por outra bala enquanto corria. – Justice fez uma pausa – Você era o alvo. Eles queriam matar vocês. Antes que conseguissem, ele a colocou em segurança. Lágrimas cegaram Ellie e ela teve que enxugá-las. Fury a salvara. Ela sabia disso, mas ouvir o que ele fizera exatamente para protegê-la despedaçara seu coração. Ele levara dois tiros por ela. – Eles me feriram, sim. Atiraram em Fury. – Eu sei. A boa notícia é que nossa diretora de relações públicas acredita que há um consenso geral de que todos os pais querem, nesse momento, que suas filhas cresçam e se casem com uma Nova Espécie, já que Fury arriscou a própria vida para salvar a sua. As mulheres acham que somos heróis por natureza. – ele deu de ombros e olhou para ela parecendo confuso – Me asseguraram de que é algo bom que os pais se sintam assim. Ellie não se aguentou e deu uma gargalhada. – É bom que as mulheres tenham a tendência a se sentir muito atraídas por homens assim. – Entendo. Obrigado. – ele piscou para ela – Preciso saber dessas coisas, mas a verdade é que ainda estou aprendendo sobre os humanos. – Estou feliz que as reações tenham sido favoráveis às Novas Espécies. Ele concordou com a cabeça. – A verdade é que isso acabou sendo algo positivo para nós. Fury arriscou a vida para salvá-la e isso parece ter causado uma ótima impressão para o público geral. Soubemos até que muitos do seu povo estão pressionando o governo e as autoridades públicas locais para fazer algo contra os grupos extremistas que nos têm como alvos. Estão pressionando qualquer um que tenha apoiado os manifestantes para que eles parem. Pode mesmo ter sido a melhor coisa que aconteceu, por mais horrível que pareça. Deu ao mundo uma visão real de nossa situação e nos fez um pouco mais humanos para eles.
O olhar de Ellie voltou para o vidro, para observar o rosto de Fury, que dormia. – Fico feliz que algo de bom tenha saído disso.
– Eu também. Ele vai ficar bem, Ellie. Ela concordou com a cabeça. – Eu sei. A dor percorreu Fury quando ele acordou, mas pensou em Ellie primeiro. Ele lutou para se sentar e achála. Mãos fortes o seguraram. – Fury? – a voz doce e suave de Ellie o chamou. Os olhos dele se abriram e ali estava ela, pálida, cansada e pairando a milímetros acima do rosto dele. Ele inalou o perfume dela para ter certeza de que ela não era uma aparição. O cheiro de remédio, produtos de limpeza e algo estranho quase se sobrepunha ao dela, porém. – Não se mexa, Fury – ela ordenou – Você levou tiros. – grandes lágrimas surgiram em seus lindos olhos azuis – Você me salvou e vai ficar bem. Precisa ficar quieto para se recuperar. Ele estudou o rosto dela cuidadosamente. – Você não está ferida? – choques de medo o percorreram ao pensar no que poderia ter acontecido a sua Ellie – Só queria tirá-la da linha de fogo, não podia deixar que algo acontecesse com você. – Você me deixou em segurança. Ele relaxou e as mãos fortes que o seguravam o soltaram. – Onde está Justice? – Estou aqui. Fury virou a cabeça para fitar seu melhor amigo. – Proteja minha Ellie enquanto eu não puder. Quero uma equipe inteira tomando conta dela. Apenas Novas Espécies. Só confio no nosso povo para ter certeza de que ninguém vai feri-la. Ela é prioridade, Justice. Prometa para mim. – Você sabe que isso está sendo feito sem que você precise pedir. Recupere-se e não pense em nada, apenas em melhorar. Haverá oficiais das Novas Espécies protegendo-a vinte e quatro horas por dia e ninguém chegará perto dela. Dou minha palavra. O olhar de Fury flutuou de volta até Ellie e ele mexeu o braço, esticandoo para acariciar o rosto dela. Seu dedão roçou as lágrimas que escorriam pelo rosto dela. – Eu te amo. – Eu também te amo, Fury. Tive tanto medo de que você fosse morrer por
mim. – Você não se livraria de mim tão fácil. Está presa a mim para sempre. Ele adorava vê-la sorrir entre as lágrimas. Ela estava a salvo, ele levara os tiros em vez de eles a atingirem e era só isso que importava. – Que bom. Eles deram uma medicação forte para ajudá-lo a dormir, mas estou bem aqui, ok? – Eu te amo. Já falei isso? – a voz dele saía com dificuldade e ele lutava para manter os olhos abertos. – Eu também te amo e você me disse isso. Apenas melhore. Eu estou bem. Ele relaxou, deixou a dor tomá-lo, e a escuridão veio rapidamente. CAPÍTULO DEZESSETE Ellie observava Tiny, a pequena de cabelos morenos, esfregar o chão do corredor enquanto ria. Ellie precisou esconder o próprio sorriso. Ela olhou para Breeze. – Ela faz parecer que lavar o chão é legal. Breeze deu uma risadinha. – Você devia ver a alegria de algumas delas ao esfregar uma privada. É meio maluco. Eu odeio limpá-las, os produtos têm um cheiro ruim. – Vocês têm mesmo narizes muito sensíveis. – Temos mesmo. Como está Fury? – Ótimo. Ele está bravo por manterem-no tão drogado, mas foi preciso. Ele ficava tentando sair da cama, exigindo suas roupas. Você devia ter visto a pobre enfermeira que entrou quando ele estava fazendo isso. Imagine o Fury com a bunda de fora, rosnando por suas roupas. Ela gritou ao ver aquilo. Acho que só a fizeram parar de correr quando ela chegou ao estacionamento. – Por que isso faria uma mulher gritar? – Breeze parecia confusa. Ellie riu. – Ele é um cara grande, Breeze. Estava bravo e seu sangue bombeava para todos os lados. Todos mesmo. Agora imagine ser uma mulher tímida que entra num lugar com um cara grande e musculoso, com uma ereção enorme, e ele rosna para você. Um sorriso se espalhou pelo rosto de Breeze. – Nossos homens são impressionantes assim. – Sim, são – concordou Ellie com um sorriso igual ao dela.
– Ela não ficou excitada? – Ela ficou morrendo de medo pela vida dela. – Que tonta. Ellie deu risada. – Onde você ouviu isso? – Tenho assistido mais à televisão. Estou meio para baixo esses dias. Que tonta. Palerma. Piranha sem cérebro. Rindo mais ainda, Ellie balançou a cabeça. – Você ainda precisa treinar. Estava indo bem até chamá-la de piranha sem cérebro. Uma piranha é uma mulher que dorme com vários homens. Essa mulher viu um homem pelado e disparou de pavor. – Saquei. – Breeze piscou – Vou ver mais TV. – Ai, cara. Tenho uma pergunta. – Manda ver – Breeze sorriu – Isso é uma gíria. – O sorriso morreu – Mas não me bata. Você não poderia me machucar, mas talvez eu bata em você de volta e isso a deixaria ferida. – Eu entendi. – Ellie tentou esconder seu divertimento – Tenho certeza de que você poderia me machucar. Minha pergunta é: de onde vocês tiram os nomes de vocês? Eles são ótimos, mas o que vocês têm contra nomes normais, como Mary ou Tina? – É simples. Não somos pessoas normais. Alguns de nós têm nomes de acordo com suas melhores habilidades, e alguns têm o nome de suas coisas favoritas. Outros escolhem o nome de acordo com o que os descreve melhor. Eu escolhi Breeze porque gostei da brisa em meu rosto mais do que tudo quando conheci a liberdade. – Escolheram o meu nome – Halfpint disse enquanto ia até o sofá e se sentava ao lado de Ellie. – quando me levaram ao hospital onde estavam cuidando das Novas Espécies, um dos médicos olhou direto para mim e disse que as outras mulheres davam duas de mim. Começaram a me chamar de Halfpint enquanto eu me recuperava, e então pegou. Ellie segurou uma risada, mas conseguiu sorrir. – Os médicos que cuidaram de nós só haviam visto os protótipos experimentais de nossas mulheres. Halfpint foi uma das primeiras de seu tipo a ser tratada – explicou Breeze. – Tiny é menor que eu, então, quando a trouxeram, os médicos a chamaram assim. – Halfpint deu um sorriso radiante.
– Justice escolheu esse nome porque era o que ele queria para o nosso povo – Breeze disse a Ellie – Ele era de um centro de testes ao norte, e escolheu isso para ser seu sobrenome. – Achei que a maioria de vocês não tivesse sobrenomes. – Ellie olhou para Breeze, esperando uma resposta. – Não, não temos. Vamos trabalhar isso um dia. Quando precisarmos de um, vamos escolher alguma coisa. Justice ofereceu dividir seu sobrenome com quem quisesse. O que você acha de Breeze North? – Soa bem – Ellie admitiu. – Eu também gosto. Tem significado e sou do mesmo centro de testes do Justice. – Não sabia disso. – Sim. Eles costumavam tentar com que eu e Justice procriássemos. Ele é um bom homem. – Sei que é. – Ellie concordou. A imagem de Justice e Breeze juntos a chocou. Não conseguia imaginá-los fazendo sexo. – Quando há mulheres e homens do mesmo centro de testes, é provável que nos forcem a ficar juntos. Os cientistas queriam ver se podíamos ter crias. Pensavam que, se um homem e uma mulher não reproduziam, talvez conseguíssemos conceber com outro homem se nos trocassem. – Nunca fomos dadas a nenhum de nossos homens – Halfpint sussurrou com uma voz suave e triste – Eu queria ter sido. Breeze se esticou para dar um tapinha no braço de Halfpint. – Sinto muito. Eles sempre foram bons e gentis conosco. Compartilhávamos respeito e dignidade. Queria que você tivesse conhecido isso também mas, se um dia estiver pronta, vai conhecer. Ellie quis fazer uma pergunta, mas se deteve. Halfpint olhou para Ellie. – Fui uma das mais sortudas. Só me entregaram a um homem velho que não me dividia com ninguém. Tiny… – Halfpint segurou as lágrimas – O homem a quem foi entregue era novo, forte e a machucava mais. Ele também a disponibilizava para alguns de seus amigos. O que me tinha era mais frágil e suas estocadas não eram muito dolorosas. Nos últimos anos, ele não conseguia mais usar sua parte masculina, ela foi falhando com a idade. Ele ficava zangado quando tentava e me batia, mas não
me machucava muito. Perto do fim, ele mais gritava do que outra coisa. – Sinto muitíssimo. – Ellie resistiu à vontade de tentar abraçar a outra mulher para confortá-la – Sabe como você foi encontrada? – Os registros financeiros foram rastreados. – Breeze respondeu – Quando entendemos que algumas de nossas mulheres haviam sido dadas, qualquer um que tivesse depositado quantias enormes nas contas das Indústrias Mercile recebeu mandados de busca. Encontraram a Halfpint. Foi assim que a maioria das Mulheres de Presente foram resgatadas. – Foi apavorante – Halfpint sussurrou, quase parecendo que estava com medo de que alguém ouvisse – Ouvi barulhos altos, e então aqueles homens com armas derrubaram a porta. Achei que eles tivessem ido me matar. Foi quando vi uma mulher atrás deles; ela disse para os homens nos deixarem a sós. Ela conversou comigo enquanto removia minhas correntes e me levava a um lugar seguro, fora de onde eu estava sendo mantida. Ela prometeu que me levaria a um lugar no qual não me machucariam mais. – Uma mulher das Novas Espécies? – Ellie se encheu
de curiosidade. – Não – Breeze negou – Ela é totalmente humana. Esqueci seu nome, mas ela vai a todas as buscas quando um novo mandado é expedido. É ela que cuida de nossas mulheres quando são encontradas e as traz até nós para cuidados e tratamentos. – O nome dela é Jessie. – Halfpint sorriu – Ela tem cabelos vermelhofogo e olhos bem azuis. É pequena como nós e tem a voz mais suave do mundo. – Ellie? – uma das mulheres das Novas Espécies chamou sua atenção. – Sim? – Ellie se levantou. – Talvez você queira ir para casa. Acabei de receber uma ligação no telefone do alojamento dizendo que Fury deixou o hospital. Ele está indo para lá. – Mas ele não devia fazer isso antes de amanhã. Breeze deu uma risadinha zombateira atrás de Ellie. – Nossos homens nem sempre fazem o que devem. – Ai, que inferno – Ellie suspirou – Vejo vocês amanhã. Espero que ele não tenha machucado ninguém – ela murmurou baixinho.
Ellie puxava e empurrava Fury na direção da cama, apesar de ele não querer ir até lá. Ela lançou uma olhar zangado a Tiger, o oficial da ONE que sorria, se divertindo imensamente com a situação. Ele cruzou os braços sobre o peito e se recusava a ajudar Ellie fazer Fury ir até a cama. Ele recuou, deixando sua intenção bem clara. – Não quero deitar, fiz isso por uma semana inteira. – Fury rosnou. Ellie assentiu. – Você vai descansar, ou juro que vou pegar uma arma de choque emprestada, atirar no seu traseiro e amarrar você na cama. Fury rosnou de forma selvagem para ela e seus olhos escuros se apertaram. Ellie rosnou de volta e o puxou com mais força. – Não rosne para mim, porque vou revidar imediatamente. Agora vamos despi-lo. – ela olhou para o rosto dele – Você ainda devia estar no hospital. Não me tire do sério, Fury. Amo você demais, mas se não deitar, vou pegar a arma de choque dele. Estou falando sério. Fury parou de lutar. De repente, deu um sorrisinho e mostrou os dentes afiados. – Se eu for para a cama pelado, você também tira suas roupas? Ellie arfou. – Não vai ter nada disso. Você passou por cirurgia há uma semana, esteve com um pé na cova e ainda não está pronto. Agora, comporte-se. – Estarei na sala ao lado. – Tiger gargalhou. Ellie se virou e viu o segurança sair. Seu olhar voou de novo até Fury. – Você sabia que ele não tinha saído e disse aquilo de propósito. Ele riu. – Ele foi embora. Tire suas roupas e tiro as minhas também. Vamos os dois para a cama. Pelo menos posso olhar e tocar. – ele se virou e passou o braço em volta dela – Quero sentir você na minha pele. Isso vai fazer com que me recupere mais rápido. – Não sabia que encostar um corpo no outro ajudava no seu processo de recuperação. – Não ajuda, mas eu me sentiria melhor. Ellie riu. – Vou fazer um trato com você. Você tira a roupa de bom grado, sobe na cama e eu farei o almoço. Depois que você comer, eu me deito com você. – Pelada?
– Não. Você tem que descansar, mas talvez eu coce suas costas e brinque com seu cabelo. Você vai gostar. Ele deu um rosnado suave. – Querida, eu deitaria numa cama de pregos se você quisesse me tocar e brincar comigo, mas não é nas minhas costas ou no meu cabelo que quero que você ponha as mãos. Ellie lambeu os lábios, pensando, e decidiu que talvez não fizesse mal a ele se apenas o esfregasse com loção caso ele ficasse bem imóvel. Fury rosnou, apertando o corpo contra o dela. Ela fez que sim com a cabeça. – Vou fazer o almoço. Vá para a cama. Volto em alguns minutos. Ele a soltou. Ellie foi em direção à porta. Ela ouviu o barulho de tecido rasgando, virou a cabeça para olhar por cima do ombro e viu que Fury olhava para ela. Ele rasgara a camisa em vez de tirá-la cuidadosamente por cima da cabeça e da atadura. Ela riu. – Com pressa? – Corra até a cozinha e volte. Ellie abriu a porta do quarto com uma risada e quase trombou em Tiger. O homem se afastou, com um sorriso zombateiro. Ele parecia estar se divertindo muito. – Não me diga. Ótimo olfato e boa audição? – Vou ficar de guarda na sala. Assim há cômodos o suficiente entre nós para que eu não ouça sobre com o que ele quer que você brinque. Ellie preparou para Fury um sanduíche de peito de peru e pegou um refrigerante. Ela também levou para ele um saco de batatas chips quando foi para o quarto. Mesmo que ele tivesse ido para casa com dias de antecedência, Ellie estava animada por tê-lo com ela. Ela queria ter ficado o tempo todo no hospital, mas os funcionários não a queriam lá. A mídia armara um circo e ficava pior quando ela estava com ele. Ela fechou firme a porta do quarto. Não havia tranca, mas ela não estava preocupada com isso, já que Tiger sabia que não devia entrar. Fury estava na cama, obviamente nu debaixo dos lençóis, com um sorriso feliz em seu lindo rosto, e ele colocara travesseiros em suas costas para ficar mais confortável enquanto esperava. O lençol estava erguido acima do colo dele. Ellie viu aquilo e deu risada. – Um pouco excitado de me ver com o almoço? – ela provocou – Sei que
você gosta de peito de peru, mas… Minha nossa, Fury. Os olhos dele cintilaram. – Vai mesmo me fazer comer isso antes? Ela se empoleirou na beirada do colchão e deu o prato a ele. Sua atenção desceu até a impressionante estaca que mantinha a “barraca” armada. – Eu o colocaria no seu colo, mas não há espaço. – ela riu – Coma, querido. Com um gemido, Fury agarrou o sanduíche e deu uma enorme mordida. Ele mal mastigava. Ellie riu e abriu o refrigerante para dá-lo a ele. Ele deu um gole, mas mantinha o olhar fixo em Ellie. Ela se levantou e foi em direção ao banheiro. – Aonde você vai? – Fury rosnou e seu sorriso se esvaeceu. – Já volto. Tenha paciência. – Não tenho nenhuma. Ellie abriu o armário do banheiro e encontrou a loção. Pegou uma toalha de mão. Voltou ao quarto exibindo os itens para que ele os visse. – O que acha de uma massagem? – Não me provoque. Foi uma semana longa e solitária. Ellie se sentou na beira da cama e abriu a garrafa. Derramou loção nas mãos e usou o cotovelo para afastar o lençol do colo dele. Fury gemeu e se arqueou contra as palmas dela no instante em que ela tocou em seu pau duro e excitado. Ellie se inclinou para a frente, lambendo o peito dele. Precisou evitar o esparadrapo que mantinha a atadura no lugar. Ele levara um tiro nas costas, perto da lateral, e outro, perto do ombro. Ele tivera sorte por sua omoplata não ter sido estilhaçada pela bala. – Eu te amo – ele gemeu. Ellie acariciava lentamente, adorando cada segundo que passava tocando a pele aveludada que envolvia o membro dele, duro como aço. Ela o provocava com a boca, indo de um mamilo a outro enquanto suas mãos o massageavam, da cabeça até a base do pau. Fury rosnou e inchou até ficar de um tamanho considerável. Ela olhou para baixo. Dessa vez queria vê-lo gozar. Fury rugia o nome de Ellie conforme se tensionava contra ela. Seu corpo todo tremeu quando ele começou a gozar. Um calombo se formou na parte
debaixo do pau, acima das bolas, na base do membro. Era aquilo que ela sentia quando ele estava enterrado fundo em sua boceta no final do sexo. A visão a fascinava enquanto ele continuava inchando. Ela se lembrou do que ele afirmara sobre ser um forte atirador. Ela curvou uma das mãos sobre a cabeça do pau enquanto o estimulava com mais vigor, apertando com um pouco mais de força. Jatos quentes de sêmen branco explodiram em suas mãos e ela entendeu que ele não estava brincando sobre fazê-la engasgar se ficasse muito excitado. Ela levantou os olhos para observar o rosto dele. Ele jogou a cabeça para trás e gritou o nome dela, enquanto ela continuava a ordenhar cada gota. Ellie sorriu e continuou tocando o membro que estava extremamente sensível até que Fury agarrou suas mãos para fazêla parar. Ellie beijou os lábios de Fury. Sua língua provocou o lábio inferior dele. Ele gemia o nome dela enquanto suas mãos se esticavam até os seios dela. – Se sente melhor? Mais relaxado? Ele respondeu com um rosnado. Ellie se afastou das mãos exploradoras dele para limpá-lo com a toalha, e jogou-a na direção do banheiro. Colocou uma distância entre os dois. O olhar de Fury se prendeu no dela. – Quero você – ele rosnou. Ela deu um grunhido de surpresa, quando Fury se lançou de repente, agarrou seu braço e puxou-a com força, fazendo-a se esparramar na cama. Suas costas bateram no colchão e Fury desceu sobre ela para aprisioná-la debaixo dele. Ellie encarou-o. – Você vai abrir suas feridas, Fury. – Não vou. – ele esticou o braço para pegar na saia de Ellie, agarrando-a. Deu um puxão forte para levantar o tecido até a cintura de Ellie. – Fury, pare. Os olhos negros dele encontraram os dela. – Ainda estou almoçando e você está no menu. O desejo se infiltrou nos ossos de Ellie. – Mas os seus pontos… – Vou tomar cuidado para não estourá-los. – ele sorriu – Vou ficar mais acima para não me mexer muito. Como é que vocês chamam? Umbigo? Estou a fim de lamber um umbigo, Ellie.
– Eu devia falar não, mas não consigo – Ellie arfou, com seu corpo inteiro despertando com a promessa do que ele queria fazer. Ela se pressionou contra a mão de Fury enquanto ele remexia os dedos para dentro da calcinha dela. Ele enganchou o dedo no meio dela e puxou-a com força, depois jogou o tecido rasgado para longe da cama. – Você sabe que deve parar de vestir essas coisas – ele rosnou – Elas só me irritam. – Tudo bem. Ele riu. – Sem argumentos? Ela chacoalhou a cabeça. Os dedos de Fury massageavam seu clitóris, provocando-a e aumentando sua paixão. Ele se moveu mais para baixo de seu corpo. Ela abriu mais as coxas para que se colocasse no meio delas. – Vou queimá-la se isso o deixa feliz, desde que você não pare de me tocar. – Queime-as – ele pediu delicadamente, deslizando ainda mais para baixo da cama, sobre Ellie. Ele usou a mão livre e puxou a camisa dela para cima dos seios. Sua boca roçou a barriga dela e sua língua circulou o umbigo – Queime os sutiãs também. – Qualquer coisa – Ellie gemeu, queimando de paixão. Ela sentira tanta falta do toque dele, que já ansiava por gozar, apesar de ele mal ter começado. Ela gemeu – Amo seu dedo e o jeito que você me atormenta. Fury se moveu um pouco mais para baixo, com sua boca passando por cima do tecido amontoado sobre a cintura dela, e encontrou mais pele. Ele afastou ainda mais as coxas. Rosnou e então abaixou o rosto. Ellie se agarrou ao lençol e gemeu o nome dele, se arqueando na boca dele quando ele lambeu sua boceta. – Estava com saudade do seu gosto – ele arfou – Estou viciado em você. A língua dele se remexeu, encontrou o ponto exato que a deixava louca, e ela gemeu para que ele soubesse como aquilo era incrível. Ele se apertou mais contra ela, mantendo a superfície da língua ali para roçar em seu clitóris para cima e para baixo. – Fury – ela gemeu.
– Eu disse “pare”, droga! – Tiger berrou. A porta do quarto se escancarou. A cabeça de Fury se levantou, mas seu punho agarrou a saia amontoada na cintura dela e puxou-a para baixo o suficiente para preencher o espaço entre seu queixo e o corpo dela, para esconder a boceta exposta. Confusa e atordoada, Ellie virou a cabeça. Uma mulher e Tiger se detiveram em um pulo à porta. A mulher estava de boca aberta, em choque. Tiger gargalhou antes de se virar e ficar de costas. – Tentei impedi-la. – Tiger riu – Desculpe, Fury, desculpe, Ellie. Essa é a enfermeira domiciliar. Fury rosnou. Ellie agitadamente empurrou a saia mais para baixo das pernas, mas o corpo de Fury impediu-a de fazê-lo. Ela se mexeu toda para se soltar dos ombros de Fury, até que se sentou. Seu olhar desceu pelo corpo de Fury, que estava esparramado de bruços na cama. O lençol se emaranhara no quadril dele, mal cobrindo o traseiro. Em seguida, Ellie olhou para a enfermeira morena, de vinte e poucos anos, que olhava boquiaberta para eles. A enfermeira fechou a boca, mas abriu-a de novo rapidamente. – Vocês não deviam estar fazendo isso – a mulher afirmou – Senhor Fury, você vai abrir as feridas. Senhorita Brower, você devia se envergonhar! – Saia daqui – Fury rosnou. Ele agarrou os calcanhares de Ellie quando ela tentou sair da cama – Agora. A enfermeira tinha um rosto bonito, mas sua expressão era séria no momento. – Não vou. Ainda bem que cheguei aqui agora. – Acho que eles não concordam com você. – Tiger bufou com uma risada – Acho que você tem um timing péssimo. Certo, Fury e Ellie? – Tire-a daqui – exigiu Fury. – Não posso. – Tiger se virou de novo e deu de ombros – Ela é sua enfermeira e ficará aqui durante a próxima semana. Foi a condição que Justice estabeleceu, já que Ellie sai todo dia para trabalhar. Você concordou para que pudesse vir antes para casa para se recuperar com Ellie. Sinto muito, Fury, isso não está nas minhas mãos. A enfermeira balançou a cabeça em desaprovação. – Você sabe que ele levou dois tiros para protegê-la. Não foi o bastante para você, senhorita Brower? Ele precisa dormir, não
ficar se movimentando por aí. – a mulher se agachou, depois se levantou segurando a calcinha rasgada de Ellie com o dedo indicador e o dedão. Ela olhou para Ellie – Esse tipo de coisa é inaceitável. Tiger se encostou na parede, pôs as mãos na barriga e começou a rir de novo. Ellie sabia que seu rosto devia estar vermelho, e Fury parecia prestes a matar alguém. A enfermeira jogou a calcinha rasgada na cesta de lixo ao lado da porta. – Todos, com exceção do senhor Fury, devem sair desse quarto agora mesmo. Preciso ver se ele não estourou os pontos e ele precisa tomar os remédios para dor. Ellie puxou os calcanhares, que Fury ainda segurava. No momento em que ele a soltou, ela desceu da cama pelo outro lado. Andou até o armário e escancarou a gaveta onde suas calcinhas ficavam. Ela sabia que seu rosto continuava queimando de vermelho quando marchou até o banheiro e fechou a porta. Ela se apressava, mas ouvia tudo o que se passava no cômodo ao lado. – E eu achei que esse trabalho fosse ser chato – Tiger disse e riu alto. – Cale a boca – Fury rosnou – Nunca mais venha ao nosso quarto quando a porta estiver fechada. Nunca mais. Ellie saiu vestindo uma calcinha novamente. Ela marchou de volta até o armário e abriu outra gaveta para pegar calças de ginástica para Fury. Ela olhou nos olhos da enfermeira. – Você tem que sair ou se virar enquanto ajudo Fury a se vestir. A enfermeira bufou para ela. – Não há necessidade. Só vou dar um banho nele. – Eu vou dar um banho nele. Você pode dar a ele os remédios. Você tem que sair para que ele possa vestir isso. A enfermeira e Ellie se colocaram em posição de defesa. – É meu trabalho cuidar do senhor Fury. Ellie apertou a boca. – É meu trabalho cuidar dele. Por acaso, também sou enfermeira. – Oh-oh – Tiger rosnou suavemente – Briga por território. Fury franziu a testa, irado por terem interrompido-o enquanto ele curtia sua Ellie – outra vez! Tudo em que ele pensara era ir para casa ficar junto dela, para que pudessem ficar sozinhos sem os olhares vigilantes da segurança e da equipe do hospital. Ele sentira falta de segurá-la nos braços,
de ouvir a risada dela e de conversar com ela até tarde da noite enquanto se aninhavam. Ele também sentira saudade do gosto dela e de ter as mãos dela em seu corpo. Recuperara-se o suficiente para que pudessem fazer amor. A enfermeira só deveria chegar bem mais tarde e ele não estava feliz com quem haviam enviado. Ela olhava para Ellie de um jeito que o fazia ter que segurar um rosnado. Ninguém deveria olhar para sua mulher com raiva e, se ele não tivesse prometido deixar que uma enfermeira fosse à sua casa, faria Tiger levá-la para o portão principal imediatamente. As mulheres das Novas Espécies eram protetoras em relação às suas posses. Ao observar Ellie, ele viu como os ombros dela estavam esticados e a boca tensa, e entendeu que Tiger não estava exagerando. As duas mulheres estavam prestes a lutar por dominância. De forma alguma ele permitiria que sua mulher combatesse com outra. Ellie poderia ser ferida. Ele se forçou a relaxar, esperando que sua calma também a acalmasse e mostrasse que ela devia se sentir segura sendo a mulher dele, e que a outra não representava ameaça. Ele jamais deixaria que alguma mulher além de Ellie o tocasse. Ele deixaria bem claro quem iria banhá-lo vesti-lo se precisasse de ajuda, e que a enfermeira deveria obedecer aos comandos de Ellie. Ele respirou fundo. – Ellie vai me dar os banhos – afirmou claramente – Apenas Ellie. A enfermeira olhou para Fury. – Ela não é sua enfermeira. Eu sou. – Não estou nem aí – Fury rugiu, com seu sangue subindo por causa daquela humana rude – Ellie é a única mulher que quero que me toque. Ellie? – Ellie virou a cabeça e o olhar dela encontrou o dele. – Acalme-se. Eu pertenço a você – ele fez contato visual com ela para assegurá-la de que falava sério. – Não tenho casos. Você é a única mulher que quero. – A única mulher que vou querer para o resto da minha vida, ele emendou silenciosamente. Estava certo de que ter uma parceira era definitivamente para sempre. Cada segundo com Ellie apenas estreitava mais os laços que tinha com ela – Você é a mulher para mim. – Eu sei disso. – a expressão tensa dela se suavizou. – Não estraçalhe a garganta dela. – ele decidiu usar o humor para chamar a atenção de Ellie e, se a enfermeira ficasse assustada, paciência. Ele escondeu a risada – Não importa o quanto ela mereça por entrar aqui e nos interromper.
A enfermeira arfou e deu um pulo para longe de Ellie. – Eles me disseram que você era humana. Você é uma Nova Espécie? – o pânico contaminou sua voz. Uma fagulha de diversão se acendeu em Fury com o medo daquela humana irritante. – Ela é uma Nova Espécie, sim. Ela está comigo. Ellie suspirou. – Sou humana como você. Não é exatamente uma coisa muito boa, na minha opinião. – ela se aproximou de Fury – Eu não iria estraçalhar a garganta dela. Credo! Eu só não gosto da ideia de ela ficar tocando você. Ele sorriu. – Ciúmes? Ela balançou levemente a cabeça. Sua raiva se desfez por completo de seu rosto. – Eu dou os banhos. Fury esticou o braço para apertar a mão de Ellie. – Só você. Agora, posso comer outro sanduíche? Ainda estou com fome. – ele conteve a frustração – Minha refeição foi interrompida. Um sorriso tocou os lábios de Ellie. Ela derrubou as calças de ginástica dobradas no colo dele, coberto pelo lençol. – Já que não estamos sozinhos, vista isso. – Ellie encarou a enfermeira – Siga-me. Vou mostrar o quarto de hóspedes enquanto Fury se veste. – ela lançou um olhar zangado para Tiger – Você… pare de rir. Não é engraçado. Pode ficar aqui um minuto e cuidar para que ele não caia quando vestir as calças? – Claro. – Tiger riu – Essa definitivamente não é uma tarefa chata. – Vá se foder – Ellie murmurou ao passar por ele. – Isso você faz comigo na cama – Fury gritou, gargalhando. Tiger riu com ele. Ellie queria matar Belinda Thomas. Ela abriu as mãos e tentou respirar fundo, mas não ajudou. Contou até dez, devagar. Não, ainda estou puta. Ellie relaxou o maxilar. A última coisa de que precisava era ir a um dentista por causa de dentes quebrados. Seu sangue fervia. A enfermeira estava com Fury de novo. A mulher vestia um shortinho
jeans que devia mandá-la para a cadeia por atentado ao pudor, e coroava seu mau gosto por moda com um top que mais parecia um sutiã. Com a barriga bronzeada e chapada de fora, ela se curvava na frente de Fury enquanto fingia aspirar o chão já limpo. O olhar de Fury parecia cravado nos milímetros nus da bunda que a mulher exibia. – Fury? A atenção dele se moveu instantaneamente para Ellie e ele sorriu. – Oi. Belinda pulou de surpresa, lançou a Ellie um franzido nada amigável enquanto se esticava e desligava o aspirador. – Você chegou cedo do trabalho hoje. – aquilo tinha um tom próximo a uma acusação. Ellie fez que sim com a cabeça. – Esse é o novo uniforme das enfermeiras? Alguém devia falar com o seu chefe. A raiva piscou nos olhos da enfermeira. – Está quente. Não preciso vestir uniforme de enfermeira enquanto faço atendimento domiciliar. – Bem, devia. Eu aspirei o chão ontem, você não precisava fazer isso de novo. Sobrancelhas escuras se ergueram. – Talvez você devesse aprender a aspirar melhor – respondeu a mulher de um jeito esnobe – Faço várias coisas muito bem. Acho que apenas sou melhor nessas coisas do que você. – a enfermeira piscou para Fury. Ellie deu um passo na direção dela. – Sua… – Ellie! – a voz de Fury surgiu – Venha aqui. Senti sua falta. Ellie foi até Fury em vez de nocautear a enfermeira vadia do jeito que queria. Sua ira se manteve ao sentar na cama. Fury teve a coragem de parecer estar se divertindo e aquilo a deixou ainda mais zangada. Ele parecia gostar do ciúme dela e ela se sentia imatura com aquilo. Belinda Thomas estava ousadamente flertando com ele havia dias. – Vou esquentar um pouco de óleo – Belinda gritou – Preciso esfregar seus ombros. Vão ficar duros se eu não fizer isso. – ela saiu do quarto carregando o aspirador.
– Não permita que te provoque – Fury pediu delicadamente. – Acabei de entrar em nosso quarto e peguei você olhando para a bunda dela – Ellie resmungou. – E se ela tocar em você com óleo quente, juro por Deus que saio de casa, Fury. O divertimento dele desapareceu instantaneamente. – Não estou atraído por ela, Ellie. Estava olhando para a bunda dela, mas é porque a pele dela é esquisita. Sua bunda não é daquele jeito. – Esquisita? – Ellie se segurou para não explodir. – Ela tem dobras de pele embaixo da bunda e há buracos. Sua bunda é cheia e macia. Adoro sua bunda. – Você olha para a bunda dela porque ela tem celulite? – Não tenho o que fazer. Ela pegou o controle e disse que a televisão é ruim para minha recuperação. Quis fazê-la devolver, mas Tiger disse que não devo torturá-la para ela me contar onde o escondeu. Ellie o fitou. – Não posso viver assim. Ela está flertando com você. Talvez você não saiba, mas ela está. Ela está me deixando louca. Eu sou enfermeira, posso cuidar de você e não ligo se você prometeu a Justice que ele podia enviar uma para você. – Você está com ciúme. – Sim, caramba. Fury deu um sorrisinho. – Eu também te amo. Não se sinta assim, você é a única que eu quero. Não fique abatida por causa dela. Sei que ela está flertando. Ela pode fazer tudo o que quiser, mas não importa, não sinto nada por ela – ele puxou Ellie para o colo dele. – É por você que eu fico duro. Está sentindo? Tudo por você, só por você. – Hora de massagem no ombro – Belinda gritou. Ellie fechou os olhos. Fury a segurou com mais força nos ombros até que a cabeça dela pousasse em seu ombro bom. – Vá embora – Fury rosnou para Belinda – Ellie vai me massagear. – Agora, Fury – Belinda bufou – Sou uma profissional. Diga a sua amiguinha aí para ir fazer outra coisa enquanto cuido desse ombro. Ellie ficou tensa. Fury rugiu, obviamente enraivecido. – Ellie não é minha amiguinha. Ela vai ser minha esposa. Nunca fale sobre ela como se ela significasse tão pouco, sendo que ela é tudo para mim.
Também avisei para não me chamar pelo meu nome. Para você é senhor Fury. Mandei você sair e, porra – ele rugiu – saia! Os ouvidos de Ellie apitaram. Ela ouviu Belinda arfar e, em seguida, a porta se bateu atrás dela. As mãos de Fury esfregaram as costas dela. – Ela foi embora. Ellie levantou a cabeça. – Obrigada. Eu confio em você, de verdade. É que… – ela sacudiu a cabeça – Sei que tudo vai melhorar quando você estiver totalmente recuperado e aquela vagabunda for embora. – Estamos sob muito estresse com outras pessoas em nossa casa e não passamos muito tempo sozinhos. – ele pausou e segurou o rosto de Ellie – Não vejo a hora de ficar sozinho com você de novo. Não há nada que eu queira mais do que simplesmente ficarmos juntos. – Eu sei. É que ela realmente me tira do sério, Fury. Honestamente, não consigo pensar em ninguém que eu odeie mais e ela se joga em você. Consegue imaginar como você se sentiria se eu tivesse um enfermeiro que desse em cima de mim do jeito que ela dá em você? – Não consigo. – ele deu um sorrisinho – Nenhum homem ousaria. Seria duro para ele dar em cima de você com mãos quebradas para impedi-lo de tocá-la e o maxilar quebrado para impedi-lo de falar com você. Ela riu. – Ah, não me dê ideias do que fazer com aquela mulher. Mal posso esperar para ela ir embora. Graças a Deus falta pouco. Ele riu. – Sim, graças a Deus por isso. – os olhos dele cintilaram – Me prometeram uma massagem com óleo quente. Quer fazer isso? – Eu adoraria. – Não no meu ombro – ele rosnou suavemente – E tire esse jeans. Espero que tenha mantido sua palavra e não esteja de calcinha. – Ei, eu prometi que queimaria todas se você não parasse de me tocar, mas você parou no dia em que a Enfermeira Bruxa entrou. – Ellie desceu do colo dele e se afastou alguns passos da cama. Desceu o zíper do jeans e o abriu – Mas não estou vestindo nenhuma, mesmo assim. O olhar de Fury se fixou na pele exposta dela. Ele rosnou e agarrou a roupa de cama, arrancando-a. Ele se levantou rapidamente. Ellie lambeu os lábios e olhou nervosa para a porta.
– Precisamos colocar uma tranca naquilo. Fury rosnou. – Ela não ousaria. Ellie levantou um dedo. – Espere um pouco. Ela se virou e correu até a escrivaninha. Pegou a cadeira e levou-a até a porta para colocá-la sob a maçaneta. Virou-se e agarrou a camisa, passou pela cabeça e jogou-a no chão. – Você não queimou os sutiãs. – Fury pegou no elástico da calça, empurrou-a para baixo e chutou-a longe. – Eu tinha que trabalhar. Não quer que eu fique balançando por aí na frente de outros homens, quer? – Eu teria que matar alguém que ficasse olhando para os meus seios. Ellie riu, saindo de dentro do jeans. – Seus seios, é? Fury esticou os braços. – Meus. – suas mãos os pegaram. Ellie passou os braços em volta do pescoço dele. – Massagem primeiro? – Não. Eu fui o primeiro na última vez. Deite para mim, Ellie. Você me deve uma refeição. Ellie deslizou dos braços dele e subiu na cama. Ela deitou de costas e sorriu para Fury enquanto ele ia até ela. – Se alguém interromper dessa vez, vou ter que matar um. – Fury rosnou ao pegar nas coxas dela, suas mãos acariciando a pele dela – Tenho uma arma na gaveta da cabeceira. Ellie riu. – Você não devia ter me dito isso. Talvez eu a use com aquela enfermeira. Fury piscou para ela. – Mais tarde ensino a dispará-la. CAPÍTULO DEZOITO – Não. – Fury rosnou as palavras. Um lampejo de raiva passou por seus olhos escuros. Ellie o observava com uma expressão sombria. – Justice afirmou que é importante. O público quer me ver e ter certeza de que estou bem agora. Eu poderia dizer a eles que você está bem e se
recuperando. – Não. – Fury cruzou os braços. Ellie voltou ao telefone. – Ele não quer deixar, Justice, sinto muito. Ellie ouviu e depois desligou. Sentou-se na beirada da cama. – Ele entende e vai só fazer um press release com uma declaração nossa. Disse que alguém vai nos trazer isso mais tarde para nossa aprovação, antes de ser liberado hoje à noite. – Não ligo para o que vai estar escrito. Ligue de novo e fale para ele dizer o que acha que precisa ser dito. Confio no julgamento dele. – Está bem. – Ellie hesitou – Por que você não quer que eu fale com os repórteres? – Você não vai sair para lugar nenhum lá fora. Atiraram em você, não vou deixar que você seja um alvo outra vez. A raiva dela se amainou. – Você está preocupado comigo. – Sempre me preocupo com você. É meu trabalho protegê-la e isso significa que não deixarei que você seja um alvo para mais ninguém. – Ok. – Ok? Você está aceitando? Nenhum argumento? – ele não parecia completamente convencido – Você não vai falar com os repórteres pelas minhas costas, vai? – Já falei para Justice que não. Mesmo assim, eu nunca faria isso. – Ellie franziu a testa para ele. – Você não gosta que eu diga a você o que fazer. Ela balançou os ombros. – Sei que é por que você se preocupa comigo, e tem razões para isso, já que levou dois tiros na última vez em que estivemos com repórteres. Fury relaxou na cama. – Obrigado. – o tom de voz dele ficou mais duro. – É hora de trocar suas ataduras e dar seus remédios – disse Belinda ao entrar no quarto carregando a maleta médica. A irritação percorreu Ellie. Ela fez uma careta para Fury para mostrar o que sentia, e depois se levantou. – Acho que vou tomar um banho.
– Volte logo. Ellie lançou um olhar zangado para a enfermeira ao entrar no banheiro. Belinda ignorava a existência de Ellie. Era assim desde que Fury gritara com a enfermeira. Ninguém entrara de novo no quarto deles quando a porta estava fechada. Ellie se despiu e regulou a água. Estava cansada, e aquele fora um longo dia de trabalho. Um suspiro alto passou por seus lábios, quando entrou embaixo do jato quente de água. Fechou os olhos, tentou relaxar e aproveitar o momento. Entretanto, sua mente flutuou imediatamente ao trabalho. Um dos seguranças humanos entrara no alojamento para fazer uma inspeção e surpreendera uma das mulheres pequenas das Novas Espécies, que fez uma gritaria assim que o encontrou na cozinha. Ellie precisou de uma hora para acalmar a mulher. Depois, precisou fazer ligações para o departamento de segurança, Darren Artino e Justice. Pedira para que nenhum segurança homem tivesse permissão para entrar no alojamento, a não ser que houvesse uma emergência, até que o novo grupo de mulheres se acostumasse com os homens. Fazer a segurança concordar fora um suplício, mas Ellie vencera a batalha com a ajuda de Justice. Para piorar, encontrara a Enfermeira Vagabunda em casa e todo o estresse que vinha com ela. A porta do banheiro se escancarou de repente. Bateu na parede com tanta força que Ellie deu um pulo. Ela agarrou a porta do chuveiro e puxou-a para abri-la. Fury estava ali e a raiva enegrecia seu rosto. Ellie pegou a toalha e se encolheu, com a dor se espalhando por sua mão, e olhou para baixo. Ela viu o arranhão causado quando bateu na quina de metal, que cortara sua mão de leve. Sangue apareceu, mas ela ignorou. Era algo pequeno, e sua preocupação estava fixa em Fury. – O que foi? O que aconteceu? Fury bateu a porta do banheiro, fechando os dois lá dentro. – Aquela mulher tem que ir embora. Ellie enrolou a toalha no corpo e saiu do chuveiro. A água pingava por todo o banheiro, porém ela não se importou. – A Enfermeira Vagabunda? Você está ensinando o padre a rezar missa. – Sim, essa! – Fury estremecia e empalidecia ao fitar Ellie – Eu não a beijei. Ela me agarrou e colocou os lábios dela nos meus. Tentou colocar a
língua na minha boca. – ele rugiu – Empurrei-a para longe e ela começou a tirar a roupa. – ele rugiu de novo, enraivecido – Vim para cá. Quero aquela mulher fora da minha casa. Agora Ellie estava mais zangada que Fury. – Ela o beijou? – Ela me deu uma injeção e trocou minha atadura. De repente, tentou me tocar quando se jogou no meu colo. Tire-a daqui ou vou machucá-la, Ellie. – Entre na fila. Ellie derrubou a toalha e puxou a camisola do gancho na porta. Não queria desperdiçar tempo indo até o quarto pegar uma roupa, mas também não queria vestir de novo a que estava suja. Ela estudou Fury, gravando suas feições tensas. Ele a observava em silêncio. – Vou cuidar disso. – Não flertei com ela para provocar isso. Ellie fez que sim com a cabeça. – Acredito em você. Fury agarrou Ellie de surpresa quando ela tentou passar por ele. Ele a colocou nos braços e segurou o rosto dela. – Me beije. – Deixe-me cuidar dela antes. – Me beije – ele rugiu – O cheiro dela está em mim e não estou suportando. A ficha de Ellie caiu. Ela sabia como o olfato de Fury podia ser sensível e ele gostava demais do cheiro dela, sempre se esfregava nela para deixá-lo em suas roupas. Era meio estranho, mas era ótimo saber que ele queria sentir o cheiro dela aonde quer que fosse. Ela se virou nos braços dele e o beijou. Esfregou o corpo contra o dele. Ele parecia não se importar por ela estar encharcada e a água molhar a camisola dela e a roupa dele. Ela passou as mãos pelo rosto e pelo pescoço dele, e se certificava de se esfregar em qualquer lugar onde achava que Belinda teria pegado. Os pés dela deixaram o chão e suas costas se pressionaram de repente contra a parede. As mãos de Fury deslizaram até seu quadril. Ele a levantou mais, abrindo suas pernas até que elas estivessem em volta da cintura dele.
Ellie voltou à realidade e lutou nos braços de Fury. Ela soltou o rosto dele e deixou as pernas caírem. Tirou a boca da dele. No mesmo instante, ela viu o sangue de seu ferimento, do qual havia se esquecido, espalhado no maxilar e no rosto dele. – Me solte, sangrei em você. Fury pareceu instantaneamente preocupado. – Você está sangrando? Está machucada? Eu estava muito distraído para notar e estava tentando não inalar o cheiro daquela mulher grudado em mim. Ela ficou vermelha. – Eu só arranhei a mão na porta do chuveiro. Acho que bati na quina. Só preciso de um curativo e então vou me acertar com a Belinda. Também estou de TPM; portanto, ela vai se arrepender de ter mexido com você hoje. Algo nos olhos de Fury mudou. Ele inalou. – Não sinto o cheiro da sua menstruação. – Isso é muito louco. Breeze me avisou que vocês conseguem sentir o cheiro da menstruação de uma mulher a um quilômetro de distância. Explicou como lidar com isso quando acontecer. Fury rosnou suavemente. – Ela precisava dizer. – Ela disse que, de outro jeito, eu não conseguiria chegar em casa sem ninguém sentir meu cheiro. – Ellie sorriu de repente – Ela estava brincando, certo? – É algo que excita – Fury rosnou, com a paixão enegrecendo seus olhos. – Por quê? – Já deixou um homem encostar em você nesses períodos? Ellie negou. Ela nunca deixara. Seu ex-marido tinha nojo e Ellie não tinha mesmo vontade de insistir. Não se sentia exatamente sexy naquele período do mês, inchando e tendo cólicas. – Você fica mais quente e molhada por dentro. – ele se aproximou mais de Ellie, pressionando-a com mais força contra a parede – Já disse que é excitante? – ele rosnou para ela e a prendeu com firmeza contra a parede. – Fury, afaste-se. – Ellie riu e delicadamente empurrou os ombros dele para colocar uma distância entre os dois – Ainda não está descendo. Minha mão ainda está sangrando e preciso ir falar com aquela enfermeira. Mas se segure. Não devo demorar, e então vamos voltar a isso. Fury rosnou mais fundo, se recusou a se afastar e continuou prendendo-a
com força. Um desconforto subiu pela coluna dela. Ela o empurrou com mais força. – Fury? Por favor? Você está me esmagando, precisa me soltar. Ele se afastou, mas parecia ter sido a contragosto. Ellie passou pelo espaço estreito entre o corpo dele e a parede e se libertou. Ellie sacudiu a cabeça para ele. – Afaste-se, grandão. Estou falando sério. Preciso chutar a bunda de uma enfermeira para fora dessa casa e depois vamos colocá-lo de volta na cama. – ela o acariciou – Depois vou cuidar de você. Ainda não está totalmente curado. Ouviu o que Trisha disse: se me pegar em pé pode estourar seus pontos. Só mais uns dias, e aí poderemos transar de qualquer jeito que quisermos, mas no momento precisamos pegar bem leve, em uma cama. O calor ferveu o corpo de Fury e ele lutou muito para se controlar. Ele franziu a testa, combatendo a necessidade de uivar. Ele respirava com força, observando Ellie se movimentar pelo banheiro. Não era com ela, mas ficara muito bravo repentinamente. Ele a queria tanto que chegava a doer. Seu corpo queimava com a necessidade de pegá-la, prendê-la na parede de novo e possuí-la. Suas mãos se apertaram em sua cintura enquanto ele lutava contra tal vontade. Ela dissera não e ele nunca machucaria Ellie, nunca a forçaria, e ele combatia o desejo de agarrá-la. O que diabos há de errado comigo? Ele não encontrou nenhuma resposta e inspirava e expirava. Sua carne quente ficou mais quente e, conforme ele inalava o perfume de Ellie, seu pau ficava mais duro, até latejar dolorosamente. Deve ser alguma reação por aquela mulher ter vindo até mim e me tocado. Ele sabia que tinha se viciado seriamente no cheiro de Ellie, precisando tê-lo sempre em volta, caso contrário, sentia falta. Ele apenas não percebera como aquela compulsão ficara forte até outra mulher tocá-lo. Certamente é um daqueles traços animais se mostrando. Ele precisava conter aquilo por Ellie, mas quanto mais tempo ele ficava ali, mais difícil era tentar esconder sua necessidade de foder Ellie. Ele queria seu pau dentro dela. A vontade de sentir o gosto do sangue dela o fez babar um pouco quando o cheiro dele provocou seu nariz. Aquilo o chocou e o deixou um pouco assustado.
Apavorado, na verdade. Ele se afastou, sua respiração ficou ofegante e ele tentou controlar a mente. As necessidades foram se fazendo, até que ele não conseguiu aguentar mais. Fury se virou de repente e socou a parede. A agonia da dor se espalhando por seu braço ajudou. A raiva retrocedeu o suficiente para que ele voltasse a raciocinar. A surpresa congelou Ellie no momento da explosão violenta de Fury, e ela entendeu como aquela enfermeira dos infernos podia chatear alguém. Ela entendia bem a reação dele. – Ainda bravo com o que ela fez? Esmurrar a parede ajudou? Ele se virou, chacoalhando a mão que ele acabara de socar na parede. – Não. Estou bravo porque não posso tocar você do jeito que quero. – Eu sei, mas não queremos que você volte para o hospital, Fury. Agora volte para a cama e eu vou cuidar da Enfermeira Beijoqueira. Vamos transar depois, na cama, bem devagar para que você não distenda nada. – ela colocou um curativo na mão – Vou me livrar dela de uma vez por todas. Fury bufou e abriu a porta do banheiro com força. Ellie o seguiu até o quarto, deixou-o lá e saiu em busca da enfermeira. Não desperdiçou tempo procurando uma calcinha para vestir, já que a camisola ia até abaixo dos joelhos. Não demoraria muito para mandar Belinda Thomas recolher as merdas dela e cair fora. Nunca vira Fury tão agitado. Ellie encontrou a enfermeira sentada no sofá parecendo irritada, segurando o controle remoto da TV. Tiger estava sentado numa cadeira perto da porta, folheando uma revista. Suas sobrancelhas se levantaram quando Ellie entrou na sala vestindo a camisola. – Meio cedo para ir deitar, não? – Tiger olhou para o relógio – São só quatro da tarde. – Você – ela apontou para Belinda –, você não é mais necessária. Está demitida. Acabou. Diga o que quiser, mas vá fazer suas malas e caia fora. – ela se virou para Tiger – Tire-a de dentro de Homeland imediatamente, ou juro que ela vai parar no centro médico em uma maca. Ela não deve nunca mais voltar aqui. – Você não pode me dizer o que fazer. – Belinda olhou para Ellie – Fui contratada por Justice North para cuidar de Fury. Só ele pode me demitir.
– Está bem. – ela deu passos duros até o telefone. Agora sabia o telefone de Justice de cor e discou rapidamente. – Justice North falando – anunciou sua voz calma. – Belinda Thomas se jogou em cima de Fury. Ele está extremamente bravo e eu, pior ainda. Acabei de falar para ela recolher as tralhas dela e sair, mas ela me disse que só você pode demiti-la. Ele pausou. – Ela fez o quê? – Ela se jogou em Fury. Fui tomar um banho e ela o atacou na cama. Ele entrou no banheiro puto da vida. Sorte a minha ele não ter me esmagado tentando tirar o cheiro dela do corpo dele. Ele está mais do que zangado, Justice, nunca o vi daquele jeito. Nós dois queremos que ela vá embora e não precisamos mais dela. Vou tirar folga nos próximos dias de trabalho e cuidar dele. Apenas tire-a daqui, por favor. A voz de Justice ficou profunda. – Você está bem? Ele a machucou? – Estou bem. Ele só está enraivecido porque ela deu em cima dele e ficou muito agressivo, tentando tirar o cheiro dela do corpo dele para ficar de novo com o meu. – Ele a machucou? Fez sexo agressivo com você? Preciso mandar a médica aí? – Nós não transamos. Ele só se esfregou em mim e quase me esmagou na parede. E daí? Quero essa mulher fora daqui, Justice. Ele quer que ela saia. Você vai demiti-la ou terei que quebrar os braços dela para ter certeza de que ela não poderá mais trabalhar aqui? Acredite em mim, vou fazer isso. – Estou a caminho. Passe o telefone para o Tiger agora. Ellie voltou e deu o telefone a Tiger. Ele parecia alarmado ao apanhá-lo. Ellie olhou para Belinda. Devia estar saindo fogo de suas narinas, tamanho era o nível de raiva que estava sentindo. – Pegue suas tralhas. Ele está vindo para demiti-la. Belinda se levantou. – Sua… – O quê? – Ellie gritou, completamente enraivecida. Olhos verdes brilharam de raiva.
– Você vai ver só. – Belinda saiu pelo corredor. Ellie tentou esfriar a cabeça. Olhou para Tiger. Ele estava encostado na porta de entrada, longe dela, e a expressão tensa em seu rosto a fez franzir o cenho. Ela o fitou quando ele desligou. – Você está bem? – Ellie estava preocupada, pois Tiger parecia um pouco pálido. – Ellie, venha comigo agora. – ele escancarou a porta de entrada. Ela olhou para baixo. – Não vou sair de camisola. Por que quer falar comigo lá fora? Aquela mulher está fazendo as malas e não pode nos ouvir do quarto dela. Tiger se moveu rapidamente na direção de Ellie. – Droga, mulher, não discuta comigo. Você precisa sair da casa agora mesmo. Ellie recuou alguns centímetros. Tiger parou e a farejou com a testa franzida. – Sinto cheiro de sangue em você. Você disse a Justice que Fury não a feriu. – Ele não me machucou. – ela levantou a mão para mostrar o curativo rosa – Eu a cortei um pouco quando saí do chuveiro. Fury jamais me machucaria. Ele farejou de novo. – Não sinto muito o cheiro do seu sangue. – É por que foi só um arranhão, não sangrou muito. – Precisamos sair agora mesmo. Ela se afastou mais. – Não vou a lugar nenhum com você. Nem estou vestida e, se você acha que vou deixar a Enfermeira Vagabunda sozinha com Fury de novo, pense outra vez. – Ellie – Tiger chiou –, eles entupiram Fury com drogas para recuperação para ajudá-lo a se curar mais rápido. Temos avaliado Fury para ver se há sinais de ameaça, e agora ele está agindo de forma hostil. Você está correndo perigo aqui e precisa ir a algum lugar seguro. – ele olhou para o relógio – Ele recebeu medicação há uns quinze minutos, certo? Ellie olhou para ele. – Belinda me disse que daria a ele a medicação quando fui para o chuveiro. Fury disse que ela lhe deu uma injeção. Por que eu estaria correndo
perigo? Tiger se moveu rapidamente e agarrou Ellie pela cintura, girou-a e cobriu a boca dela com a mão. Os pés dela abandonaram o chão. Tiger deu passos largos em direção à porta com ela se debatendo em seus braços. Em segundos, eles estavam do lado de fora. – Quieta – rosnou Tiger no ouvido dela – E não tenha medo, ele vai farejá-lo. Você disse que ele pegou seu cheiro. Apenas respire fundo e vou explicar tudo, ok? Você precisa falar baixo. Promete para mim? Ellie estava furiosa, não com medo, quando balançou a cabeça contra a mão dele. O corpo que a segurava foi relaxando enquanto ele a colocava no chão e a soltava. A mão dele descobriu sua boca. Ellie se virou para olhar para ele. – Por que fez isso? – ela cochichava. – Não entende o quanto Fury foi ferido? – Tiger franziu a testa – Um humano teria morrido. Só faz uma semana, mas ele já está andando por aí, está se curando muito rápido. Você não se perguntou nada sobre isso? – Vocês se recuperam rápido, Fury me disse que isso é normal para as Novas Espécies. – É rápido até um certo nível, mas não tão rápido como Fury, sem ajuda. Isso não está registrado ainda mas, como parceira de Fury, você é uma Nova Espécie. Precisa saber disso. Nem todos os registros foram destruídos quando fomos descobertos. Alguns dos médicos não mantinham todas as anotações e pesquisas nos sistemas de computadores que destruíram quando os centros de testes foram invadidos. Em alguns casos, conseguimos até mesmo arranjar as fórmulas e as composições químicas exatas de algumas drogas que usavam em nós. Aquela novidade a surpreendeu. – Por que isso é segredo? Ele hesitou. – Alguma vez você se perguntou por que o presidente dos Estados Unidos foi tão ávido em nos entregar uma base militar para ser nossa casa e em concordar tanto com quaisquer exigências que fizéssemos? Houve alguns humanos que foram muito solidários e ficaram felizes em aconselhar Justice. Falaram a ele sobre soberania.
Exigimos direitos humanos iguais e os recebemos. As Novas Espécies se governam em solo americano, na terra que nos deram. Também nos deram imunidade diplomática. Somos considerados cidadãos americanos, porém com concessões especiais. – É claro que vocês são americanos, nasceram aqui. É justo que tenham um lugar seguro para viver. Há tantos grupos de ódio lá fora, que não seria seguro para vocês tentarem se integrar à sociedade comum logo de cara. – As Indústrias Mercile receberam bilhões de dólares para financiar estudos e pesquisas sobre drogas por décadas. O presidente assinou o financiamento do dinheiro dado à Mercile nos últimos seis anos. Veio de fundos militares. Ellie o fitou, confusa. – E como isso se aplica a Fury nesse momento? – A Mercile prometeu criar drogas que deixariam as forças armadas mais fortes, as fariam combater melhor, fariam com que se curassem rápido e até mesmo elevariam seus sentidos. Uma vantagem farmacêutica que outros países não teriam. Eles vacinam nossas forças de combate para prevenir doenças quando são enviadas a outros países. Imagine uma injeção que os deixaria mais fortes, rápidos e mais difíceis de matar em uma batalha. Isso faria com que guerras fossem vencidas com mais facilidade, mais rapidamente e com muito menos baixas. Ninguém sabia que a Mercile ultrapassara barreiras morais e legais para conseguir os avanços que prometeram desenvolver. Cada dólar que receberam ajudou a nos escravizar e a pagar por sangue, suor e tortura. As pessoas ficariam ultrajadas se soubessem que o dinheiro de seus impostos estava servindo a algo cruel. Todas as organizações de direitos humanos do planeta se levantariam e alguns países poderiam acusar o governo de crimes horrendos. – Isso é horrível – ela sussurrou – Sinto muito. O que isso tem a ver com Fury e por que você acha que ele poderia ser perigoso? Quero voltar lá para dentro, Tiger. Vá logo ao ponto. – Eles criaram muitas drogas e os relatórios recuperados afirmavam que alguns humanos que se apresentaram como voluntários para testá-las morreram. Um lote das drogas acelerou o processo de cura nas Novas Espécies num
ritmo fenomenal. – ele pigarreou – Também levou uma pequena porcentagem das Novas Espécies a uma insanidade temporária quando as testaram em nós. Os médicos não largaram o estudo. De acordo com algumas anotações, acreditavam que a insanidade temporária valia a pena por alguém louco e ferido. As Novas Espécies que tiveram esse efeito colateral de insanidade agressiva sempre se recuperavam rápido. Os humanos que participaram desse estudo não tiveram tanta sorte; ou morriam, ou, se seus corpos se recuperavam, suas mentes ficavam permanentemente destruídas. A mente dela deu um estalo. – Você estava com medo de Fury ficar louco? – Sim. As anotações não estavam completas. Não sabemos quando a insanidade rebenta, ou quanto tempo ela dura, caso ele seja um dos infelizes atingidos por ela. Agressão e iras assassinas fazem parte desses efeitos colaterais. – E você acha que ele está apresentando-os? – Você disse que ele estava enraivecido e muito agressivo e que a forçou contra a parede quando sentiu seu cheiro, Ellie. Me fale a verdade: é normal ele agir assim? Você o conhece bem. Ela hesitou, se lembrando da cena dentro do banheiro. – Ele não me machucou e não acredito que fará isso. Talvez ele só esteja bravo, porque aquela enfermeira consegue irritar qualquer um. Não estou sob efeito de drogas experimentais, mas ainda quero esganá-la. – É melhor estar segura do que arrependida. Você precisa ser mantida longe dele até que tenhamos certeza de que ele não representa perigo. O lado humano das Espécies parece se esvaecer durante essa reação e nossos instintos animais assumem todo o controle. Somos predadores naturais e talvez ele a tenha farejado como uma presa, Ellie. – Não seja ridículo – cuspiu Ellie – Fury me ama. Ele só estava chateado porque a Enfermeira Vagabunda se atirou nele. Ele não me machucou e não faria isso. Tiger observou o rosto dela de perto. – Não podemos correr riscos. Ela hesitou. – Eu entendo, mas não vou abandoná-lo. Vamos lá falar com ele, e você
vai ver que ele está bem. Um carro encostou na frente da casa. Ellie se virou e viu Slade abrir a porta do motorista e Justice sair do lado do carona. Trisha e um estranho saíram do banco de trás. – Você está a salvo. – Justice parecia aliviado – Você precisa ir embora. Tiger vai levá-la até a casa da doutora Norbit. Trisha entregou as chaves para a Nova Espécie alta. – Essas são as da minha casa. Tenho um quarto de hóspedes. – ela examinou Ellie dos pés à cabeça – Use minhas roupas e qualquer outra coisa de que precise. Meu armário é seu armário. – Onde está a enfermeira? – Slade olhou em volta. – Ainda lá dentro. – Tiger balançou os ombros – Ela está fazendo as malas. – Droga – Justice rosnou – Ele pode atacá-la, ela começou isso. Tire Ellie daqui. Slade puxou a porta de entrada e entrou na casa, com Justice logo atrás dele. Trisha e o estranho ficaram do lado de fora. Ellie estudou o homem com curiosidade. – Este é o doutor Ted Treadmont. Ele é o cientista chefe das Novas Espécies – disse Trisha – Você tem que ir, Ellie. Pode voltar quando tudo estiver seguro. – Quantas vezes preciso dizer que Fury não vai me machucar até alguém me ouvir? Não vou sair daqui. Tiger xingou. – Ele vai me matar por isso. – de repente ele se lançou, agarrou Ellie pela cintura e cobriu a boca dela com a mão. Ele inclinou a cabeça na direção de Trisha – Não fique parada aí, doutora Norbit. Pode por favor abrir o portamalas para mim? No painel há um botão para abri-lo. Preciso deixá-la longe dele, caso ele enlouqueça. Trisha correu até o carro. Ellie se debatia e agarrava os braços de Tiger, mas ele não a soltava e ela não conseguia fazer mais do que sons baixos com a mão dele firme sobre sua boca. Ela chutava as pernas dele, mas não importava quantas vezes ela o atingisse com seus pés descalços, ele não se afetava. O porta-malas se abriu e Tiger jogou Ellie dentro. – Não – Ellie gritou. O porta-malas se fechou com força, deixando-a no
escuro. Ellie chutava a porta e gritava – Me solte! O carro ligou. Ellie chutou de novo, mas a porta não abria. Ela gritou, ainda chocada por ter sido trancada por Tiger no porta-malas de um carro. Ela confiara nele. Parou de gritar conforme o carro andava. Ela odiava lugares pequenos e apertados. Lutou contra um ataque de pânico. O carro se virou de repente e Ellie rolou, batendo em algo duro. A dor fisgou seu joelho e ela gritou de novo. Ela se arrebentaria toda de tanto ser jogada para lá e para cá se ele continuasse fazendo curvas fechadas naquela velocidade. O carro fez mais uma dessas curvas e Ellie bateu contra a parte de trás do banco do passageiro. A dor percorreu seu braço. Ellie se encolheu e lutou para respirar normalmente, até que o carro parou. Ela sabia que havia bastante ar, mas aquilo não a impedia de sofrer. Sua claustrofobia nunca fora tão forte. O porta-malas se abriu e Ellie tentou freneticamente sair de dentro. Ela arfava grandes tragos de ar fresco enquanto Tiger esticava o braço na direção dela. Ellie deu um tapa nas mãos dele. Ele deu um salto para trás quando Ellie praticamente se jogou para fora do porta-malas. Ela lhe lançou um olhar selvagem. Tiger franziu a testa. – O que há com você? Estamos na casa da doutora. – Nunca mais me tranque num lugar pequeno! – Ellie gritou. Ela cambaleou para trás. Lágrimas quentes correram por seu rosto – Eu odeio lugares pequenos e escuros! – Pare de gritar – Tiger ordenou – Me desculpe. Se acalme, Ellie. Respire fundo, você está bem. Inspire e expire. Assim. Não sabia que você tinha enjoo de buraco. – Não tenho enjoo de buraco! – ela parou de gritar – O que é enjoo de buraco? – Você entra em pânico quando é colocada em lugares escuros e pequenos. É como chamamos isso. Me desculpe. Você está bem agora? É melhor entrarmos. Essa camisola é fina e tenho medo de chamar atenções indesejadas aqui. Essa é a área humana de Homeland. A ficha caiu, ela percebeu que estava quase nua e queria roupas imediatamente. Depois vou descobrir como voltar para casa. Ellie concordou
com a cabeça e seguiu Tiger até a porta da frente. Ele abriu a porta. Ellie entrou, se virou e deu um chute tão forte na canela de Tiger, que seu pé doeu. Tiger xingou e rosnou para ela. – Por que fez isso? – Por tudo. Não sofro de enjoo de buraco. Tenho claustrofobia. Ele franziu a testa. – Não é a mesma coisa? – Vá para o inferno. – Ellie saiu pisando duro na direção do quarto de Trisha, lembrando-se de onde ficava por causa de sua última visita. Ela bateu a porta com força entre eles e foi até o armário da médica. Ellie pegou uma calça de ginástica, um sutiã de ginástica e uma camiseta grande de um show de rock a que Trisha devia ter ido. Ela experimentou um par de sapatos da médica, mas elas não usavam o mesmo tamanho. Precisou ficar descalça. Ellie pegou o telefone na mesa ao lado e ligou para casa, querendo falar com Fury. Ela lançou um olhar nervoso à porta, com medo de que Tiger entrasse no cômodo para impedi-la. – Ellie? – Fury parecia estar irado. – Oi, Fury. Eles me fizeram sair. Você está bem? – Onde você está? – ele rosnou. – Não diga a ele! – Tiger berrou, quase explodindo na sala. – Onde você está? – Fury repetiu, rugindo as palavras. Tiger arrancou o telefone da mão dela e o bateu no gancho. Ele olhou para Ellie. – Não ouviu a coisa toda sobre cheiro e presa que conversamos? – Eu só queria que ele soubesse que estou segura e perguntar como ele está. Vocês estão seriamente exagerando se acham que Fury é um perigo para mim. Tiger levantou uma sobrancelha. – Mesmo? – ele pegou o telefone – Vamos ver o quanto. – Para quem está ligando? – Justice. Ellie se sentou na ponta da cama de Trisha, olhando furiosamente para Tiger. Ele ouvia e um franzido desfigurou seu rosto. Ele desligou. – Alguma coisa está muito errada. Justice não atendeu ao telefone. Caiu na caixa-postal dele depois de tocar seis vezes. – Então, ele está ocupado.
– Ele sempre atende. – Tiger discou outro número. Ouviu e seu rosto ficou mais pálido antes de desligar. – Slade também não atendeu e ele sempre atende no terceiro toque. Os dois entraram na casa e não estão atendendo os telefones. Merda. – ele discou outro número. Depois de um minuto, xingou e desligou. Balançou o telefone para Ellie – A doutora Norbit também não atende. – Talvez estejam conversando com ele nesse momento e não queriam ser mal-educados atendendo o celular. – Ligue para casa, fale com ele por alguns minutos para ver como ele está, mas não diga onde você está. Pode fazer isso? Ellie aceitou o telefone. – Isso é muito idiota. – Só fale com ele. Você conhece Fury. Veja se ele está sendo o seu homem ou se não é ele mesmo. Pergunte onde Justice e Slade estão. – Você vai se sentir estúpido. – Vou arriscar. Apenas não diga a ele onde você está. Promete? – Claro – ela murmurou, feliz por falar com Fury. Tiger estava sendo paranoico. Fury atendeu no primeiro toque, rugindo o nome dela. Ele parecia tão bravo, que ela mal reconheceu seu nome vindo da boca dele. – Sou eu. Você está bem? – Onde você está? – Eles estavam com medo de que você estivesse reagindo a uma das medicações que está tomando e acham que você é um perigo para mim. Estou bem. Justice e Slade ainda estão aí? – Onde você está? – ele pronunciou as palavras de uma forma rude – Me diga agora mesmo, Ellie. Ellie encontrou o olhar preocupado de Tiger, tendo que admitir que Fury estava agindo de um jeito estranho. – Estarei em casa daqui a pouco. Justice e Slade ainda estão aí? – Eles estão lá fora – Fury rosnou – Vou sair e encontrá-la se não me disser onde está. Venha para casa ficar comigo agora mesmo. Não me faça
procurar por você. – Você tem que se acalmar. Os médicos só querem examiná-lo, e irei direto para casa depois que tiverem certeza de que tudo está bem. – Estou indo atrás de você – ele rugiu e bateu o telefone. – Fury? – ela balançou a cabeça, chocada – Ele está muito bravo. Disse que vem atrás de mim e desligou. Pareceu uma… ameaça. – Droga – Tiger gemeu – Ele está em total modo de caça, como eu temia. Precisamos tirar você daqui urgentemente. – Ele desligou o telefone, sacou o celular do bolso de trás e discou. – Aqui é Tiger. Perdi contato com Justice e Slade, eles estavam na casa de Fury. Ele está feroz por causa da medicação e está à caça da parceira. Estou na casa da doutora Norbit com Ellie. Preciso que uma equipe seja enviada à casa de Fury agora e preciso que outra seja enviada para cá para tirá-la da zona de morte. – ele desligou. – Zona de morte? – Ellie arfou – Vocês ficaram todos loucos? Se Fury está bravo, é por que vocês me tiraram de casa e ele está preocupado. Tiger agarrou os braços de Ellie com firmeza. – Ele não está preocupado; está louco. Mexa esse traseiro. Seu parceiro é um dos melhores localizadores que temos. Precisamos tirá-la do alcance dele. – ele a puxou para colocá-la em pé. – Pare! – Ellie berrou e deu um puxão para se soltar dele. – Deixe-me lembrá-la do que já falei caso você não tenha entendido na primeira vez. A droga que ele recebeu pode dominar o lado humano dele e soltar o animal. Seu parceiro está sendo sobretudo animal agora e, se estou certo, se ele farejou você significa que ele está caçando você como uma presa. Ser uma presa significa que ele provavelmente vai machucá-la se a encontrar. – Fury me ama. Ele só está bravo porque… – Ele poderia matá-la. Imagine como ele vai se sentir quando as drogas perderem o efeito no sistema dele e precisar viver com algo sobre o qual ele não teve controle. Vai ter que suportar a dolorosa realidade de que matou a única coisa que ama. Agora, se você se importa com ele, mexa seu traseiro, Ellie. Deixe-me levá-la a um lugar seguro para assegurar que ele não faça algo que destruirá vocês dois. Ellie fitou Tiger. Havia muita coisa que não se sabia sobre as Novas
Espécies. É possível que ele esteja certo? Fury agiu mesmo de uma forma meio louca no momento em que entrou no banheiro. É claro que abandoná-lo não era uma opção se ele precisasse dela. – Preciso de mais algumas roupas e tenho que usar o banheiro. Aonde vamos? – Temos que tirá-la de Homeland, isso é certo. Aqui não é grande o bastante para escondê-la e não precisamos de um circo com humanos de testemunhas. Ellie entrou no banheiro e abriu as portas dos armários, procurando por aspirina, já que sentia uma dor de cabeça vindo. A médica parecia não ter remédios no banheiro. Ellie se virou, um pouco alarmada por ver Tiger pairando na porta. – Preciso usar o banheiro e isso não vai acontecer com você me olhando. – ela avisou – Já ouviu falar sobre privacidade? – Apresse-se – Tiger exigiu – Talvez ele não tenha que farejá-la se achar que a trouxemos até aqui. Breeze saiu do carro e olhou sombriamente para os dois homens. Justice e Slade esperavam do lado de fora da casa de Fury. Ela esperara o pior quando recebeu a ligação, mas Fury não machucara nenhum dos dois. Fora informada da situação, do único plano de salvar a Espécie macho, e concordara. Ela se aproximou deles com temor. Justice falou primeiro. – Breeze, sinto muito por pedir isso. – os olhos dele desceram aos pés dela e lá ficaram – Ele poderia ferir mesmo a fêmea dele. Ela é muito mais frágil que nossas mulheres. Ele poderia quebrar os ossos dela só de segurá-la e ela provavelmente morreria se estiver agressivo do jeito que tememos que esteja. Breeze se encolheu. – Eu entendo. Talvez ela me odeie por isso depois, mas não vou deixar que seja morta. Vou entrar e lidar com a situação. Justice finalmente levantou os olhos. – Sinto muitíssimo. Breeze balançou a cabeça. – Gosto muito de Ellie. Eu faria isso por você porque me pediu, mas
preciso fazer isso por ela. – Ela vai entender quando explicarmos. Breeze bufou para Justice. – Homens não sabem de nada. Aquela resposta o fez franzir o cenho. – Se entrarmos e tentarmos prendê-lo, ele tentará nos matar, ou nós teremos que matá-lo – Justice explicou delicadamente – Até que possamos ir até ele, é muito perigoso tranquilizá-lo. Mais drogas poderiam causar uma overdose ou um infarto. Mandar você para lá para acalmá-lo é a única coisa que podemos pensar em tentar. Grite por ajuda se ele não deixar que você o ajude. Não vou deixar que você morra. Teremos que apagá-lo sem pensar nas consequências, se ele a atacar. Breeze abriu a porta e entrou na casa. Fechou a porta com firmeza atrás dela e parou, lutando contra o medo. Ela só vira aquela situação uma vez antes e quase não sobrevivera. Ela esticou os ombros. Ellie se tornara sua amiga e aquele era um problema das Novas Espécies. Ela só esperava que ele não a matasse de cara, já que ela não era a mulher que ele queria. Breeze congelou depois de alguns passos dentro da sala, respirou fundo e então se afastou. Ela abriu a porta com um puxão para falar com Justice. – Quem esteve dentro dessa casa? – Por quê? – Me fale – Breeze rosnou. – Eu, Tiger, Slade, Fury, Ellie e a enfermeira estivemos aqui. Por quê? Breeze o fitou. – É uma enfermeira baixinha e de olhos verdes? Justice fez que sim com a cabeça. – Isso descreve a enfermeira, Belinda Thomas. O que há de errado? – Conheço esse cheiro. Ela trabalhava na minha seção no centro de testes. Você nunca a conheceu? O nome dela não é Belinda Thomas, é Beatrice Thorton. – Tem certeza? – um lampejo frio e mortal passou pelos olhos zangados de Justice. Breeze mostrou a própria raiva ao exibir os dentes. – Jamais esqueceria o cheiro de alguém tão mau. Ela estava cuidado de
Fury? Justice empalideceu. – É ela quem cuida da medicação. Breeze rosnou mais fundo. – Ela era uma das mais cruéis. Isso não é coincidência. Ela era a encarregada dos testes de drogas que faziam em nós. Eles ouviram algo quebrar nos fundos da casa. Breeze cerrou os punhos. – Onde ela está? – A segurança a levou enquanto providenciam a saída dela de Homeland. Não pudemos pegar as coisas dela ainda, então ela está esperando que sejam entregues. – Justice esticou o braço para pegar o celular e percebeu que, na pressa para fugir da ira de Fury, deixara-o no quarto. Quando fora jogado na parede, ele caíra de seu bolso – Vou fazer com que ela seja presa. – ele se virou e foi até o carro para usar o rádio. Breeze fechou a porta, preocupada com os sons que vinham dos fundos da casa. Se o inimigo estivera dando as drogas erradas para Fury, eles poderiam estar lidando com algo muito grave. Breeze tremeu levemente e depois esticou os ombros. Talvez ele conseguisse raciocinar, e assim não seria tão grave quanto ela temia. Ela ouviu mais coisas quebrando. Parecia que Fury começara a destruir pelo menos um cômodo da casa.
– Estou indo – exclamou Ellie, olhando para Tiger, que acenava para ela ir até a porta – Deixe-me vestir umas meias antes. Não quero ficar andando descalça aonde quer que iremos. – Apresse-se. A equipe estará aqui a qualquer momento e quero que estejamos prontos quando chegarem. – ele deu passos largos em direção à porta de entrada – Espero que Breeze consiga pará-lo antes que saia de casa à sua procura. Ellie ouviu o que ele disse e deu um passo em direção a ele. – Breeze? Por que Breeze iria à casa de Fury? Tiger se virou. – Ela vai tentar fazer com que ele a fareje. Ela sabe que ele a mataria no estado em que está e quer salvar sua vida. De todas as nossas mulheres, ela é a mais forte.
Queríamos uma do centro de testes de Fury, já que ele é familiarizado com elas, mas elas tiveram muito medo. Já viram isso acontecer no centro de testes quando davam drogas demais a um de nossos homens. Apenas Breeze foi corajosa o bastante e se dispôs a arriscar a própria vida por você. Agora, se apresse, Ellie. Se Fury não farejar Breeze, ele virá atrás de você. – Ela vai deixar que ele a cheire? Por que isso seria arriscar a vida dela? Tiger xingou. – Às vezes, se estamos em modo de caça, a ira pode ser convertida em desejo sexual. – ele pausou – Não é algo que uma mulher gostaria, Ellie. Se ele aceitar Breeze no seu lugar, acredite em mim, será horrível para ela. Ele ainda poderia matá-la. Ellie sentiu como se tivesse levado um soco forte no estômago. – Você quer dizer que ela… ele… eles… – Seria basicamente um sexo animal e violento, Ellie. Agora faça o que precisa e vamos sair daqui. Não há como dizer se ele vai aceitá-la ou não. Ele pode apenas matá-la, e ela pode ser a única que consiga acalmá-lo. Eles acham que, se derem mais drogas além das que ele tomou, podem matá-lo. Estamos tentando salvar vocês dois. – Tiger virou as costas para espiar pela janela, vendo se a equipe chegava. O coração dela martelou. Ela fechou os olhos e tudo a atingiu. Filho da puta. – Acho que vou vomitar. Ela correu até o banheiro, bateu a porta e a trancou. Ellie abriu toda a torneira na pia para abafar o barulho e abriu a janela do banheiro. CAPÍTULO DEZENOVE Ellie tivera sorte. Tiger deixara a chave do carro na ignição ao levá-la para dentro da casa de Trisha. Provavelmente ele achava que ela continuava dentro do banheiro, até que ele a viu passando como um raio pelo jardim até a rua. Ele berrara quando ela puxou a porta do carro para abri-la mas, quando ele chegou do lado de fora, o motor ligara e deixara marcas de pneu pela rua com a pressa dela para impedir que ele a parasse. Ela estacionou o carro atrás da casa de Fury, olhou em volta e se certificou de que ninguém a esperava ali para impedi-la. Ela desligou o motor
e saiu do carro. Testou a grade do jardim, concluindo que não era muito alta para pulá-la. Ellie xingou e se agarrou na parte de cima. Não pulava um muro desde adolescente. Aquilo se mostrou ser mais difícil do que ela lembrava, mas conseguiu ir para o outro lado. Ela mancava enquanto ia até o quarto dos fundos. Cortara o pé ao pular de cima da cerca para o pátio. Falava palavrões por não estar de sapatos. Suas mãos queimavam e, ao olhar para baixo, viu alguns arranhões que ganhara da textura áspera da parede. O som de rosnados furiosos e vidro quebrando a fez mancar mais rápido em direção aos fundos da casa de Fury e à porta de correr de vidro do quarto deles. – Não – Fury rugiu. Ellie não pensou nem parou antes de agarrar a maçaneta da porta de correr e escancarou-a. Ela passou entre as cortinas e ficou chocada com a cena diante dela. O quarto fora destruído. O armário estava no chão, a cabeceira estava quebrada e o espelho que ficava acima do armário fora estraçalhado em pedaços que se amontoavam num canto do quarto. Breeze se aninhava naquele mesmo canto, entre o closet e a porta do banheiro, presa contra a parede. Uma marca vermelha se exibia no rosto dela. Sangue de sua boca se espalhava naquele lado e escorria por seu queixo e caía na camisa. Breeze parecia amedrontada e Fury a prendera ali com seu corpo a poucos metros dela. Ele rosnou de forma selvagem. Rasgara a própria camisa e se agachou como se fosse se lançar em Breeze. Seus punhos estavam fechados. – Fury? – a voz de Ellie tremia de choque e medo. Fury virou a cabeça na direção dela. Seu olhar frio fez Ellie dar um passo atrás. Ele rugiu para ela, um som profundo e selvagem, e mostrou os dentes afiados. – Cheguei – Ellie sussurrou. – Corra – Breeze cochichou – Corra agora. Ellie olhou para Breeze e viu de novo seus ferimentos. Aquilo significava que Fury os fizera. Ellie ficou chocada por ele ter mesmo atacado uma mulher. Isso aumentou o medo dela, sabendo que ele perdera o controle. O homem que ela conhecia e amava jamais atacaria Breeze. O olhar dela retornou a Fury, incerta de que ele, naquele estado, a
reconheceria. Ele rosnou de novo e se levantou, dando um passo na direção dela. – Fuja – Breeze rosnou – Saia daqui. Ellie ficou tensa, mas não interrompeu o contato visual com ele. – Fury? Consegue me ouvir? Ele se lançou a Ellie. Ela cambaleou para trás, apavorada com o olhar assustador no rosto dele. Breeze pulou nas costas de Fury e os dois se estatelaram no chão, quase aos pés de Ellie. – Saia daqui – Breeze arfou, lutando para conter Fury – Ele vai matar nós duas. Corra! Fury jogou Breeze longe e ela bateu com força na parede. Ellie ouviu o barulho quando Breeze atingiu o gesso. O vidro quebrado do espelho trincou embaixo do corpo dela quando pousou. Fury se agachou e seus olhos selvagens se fixaram em Ellie. De novo, ele rosnou ferozmente, do fundo da garganta. Ela via um estranho fitando-a, alguém que não estava bem ali, totalmente insano. Ela deu um passo atrás, e depois outro, conforme Fury se levantava. – Fique de joelhos – Breeze gemeu, se levantando do chão cheio de cacos de vidros – Não olhe nos olhos dele. Abaixe a cabeça. Ellie estava tão apavorada que não hesitou em obedecer às ordens de Breeze. Ela caiu de joelhos e se curvou. Seus olhos se fecharam com força e ela tinha medo de olhar para seu namorado seriamente drogado. Ela sabia que Fury pairava sobre ela, estava muito perto, pois podia ouvir a respiração pesada dele. – Fury? – Breeze rosnou quando falou – Ouça-me. Você não quer machucar Ellie. Você a ama, lembra? – ouviu-se um som de tecido se rasgando – Olhe para mim, Fury. Aqui. Ellie levantou a cabeça e abriu os olhos. Breeze rasgara a própria camisa para expor os seios. Ela esfregou a mão em alguns dos cortes no braço feitos pelo vidro quebrado quando caiu e espalhou-o nos seios. Ela esticou as mãos lentamente na direção de Fury, como se quisesse ter certeza de que o sangue chamaria a atenção dele. Ele farejou, rosnou e deu as costas a Ellie para encarar Breeze. – Isso – Breeze cantou baixinho – Venha até mim. Fury deu alguns passos hesitantes na direção dela e começou a rosnar de novo. Breeze tremeu de medo e empalideceu mais, mas não se afastou. O que
fez foi deixar as mãos que oferecera caírem lentamente ao lado do corpo, depois fechou os punhos. – Saia daqui agora – Breeze ordenou a ela delicadamente. Ellie sabia que Breeze falava com ela enquanto lutava para se levantar. – O que há de errado com ele? – Aquela enfermeira trabalhava para a Mercile. Acho que ela deu algo a ele que o deixou totalmente violento. – Breeze sussurrou. Lentamente, ela chegou de novo ao canto até suas costas se pressionarem contra a parede e virou a cabeça com cautela até que conseguiu enxergar Ellie. – Saia daqui enquanto ele está focado em mim e no sangue. Não sei se ele vai copular comigo ou me matar. – ela lançou a Fury um olhar preocupado. Copular com ela? Ellie pensou. – Vou distraí-lo. Saia daqui, Breeze. Diga a todos para ficarem de fora. Ele não vai me matar. A cabeça de Breeze se virou na direção dela para lançar-lhe um olhar chocado. Fury agora estava a poucos milímetros da outra mulher. Ele farejou o sangue no peito de Breeze e rosnou. Agarrou uma das mãos de Breeze de repente e a puxou para a boca. Horrorizada, Ellie observava Fury cheirar o sangue espalhado na palma dela. Achou que aquilo era melhor do que ele arrancar a mão dela com uma mordida. – Saia daqui, Ellie – Breeze sussurrou. – Saia você! – Ellie tirou as roupas rapidamente. Se Fury quisesse uma mulher, ele teria uma: ela – Saia, Breeze. Ele não vai me matar. Diga a eles para ficarem de fora. Fury? – Ellie andou lentamente até ele e aumentou a voz – Fury! Deixe a mulher ir embora, droga! A cabeça de Fury se virou na direção de Ellie. Por um instante, o pânico se instalou quando os olhos negros dele se prenderam de forma faminta em seu corpo. Ela ainda não enxergava Fury naqueles olhos. – Ei, grandão, lembra de mim? Sou Ellie. Eu te amo e você me ama. Deixe-a ir e venha até mim se quer tocar uma mulher. Ele soltou as mãos de Breeze e se virou. Seu olhar percorreu o corpo dela novamente e suas narinas se alargaram quando ele farejou. O coração de Ellie batia de forma irregular. Breeze pegou em Fury, tentando fazer a atenção dele se voltar a ela. Fury lançou uma mão, atingindo o lado da cabeça de Breeze. Ele a jogou
em direção à porta, onde ela ficou esparramada no carpete. Fury deu um passo na direção de Ellie, e depois outro. Ela fazia que sim com a cabeça para ele e deu um passinho atrás, na direção do banheiro. Rezava para que ele a seguisse até lá dentro. Ela poderia trancar a porta e tinha esperanças de que ele ficasse arremessando-a de um lado para o outro num lugar pequeno. – Isso, Fury. Vamos, grandão. É a Ellie. Vamos para dentro do banheiro, onde teremos mais privacidade. – Ellie olhou em volta e viu Breeze apoiada nas mãos e nos joelhos, se levantando. – Breeze – Ellie pediu delicadamente – Saia. Diga para eles ficarem de fora, não importa o que aconteça. Ellie se afastou mais. Fury rosnava e lentamente ia até ela. Ela se movia mais para perto do banheiro. – Venha, amor – Ellie cantarolava para ele – Venha para a Ellie. Vamos brincar. – Fury! – Breeze rosnou o nome dele. – Pare, Breeze. Fique fora disso. – Ellie exigiu – Não olhe para ela, Fury. Olhe para mim. Estou bem aqui. Aquele perfume o chamava. Fury farejava, lutando contra o atordoamento que dominava sua mente, fazendo com que fosse quase impossível raciocinar. Ele conhecia a ira e a dor, tanta agonia… Sua visão se clareou enquanto ele combatia a escuridão que enevoava sua mente. Uma mulher humana estava nua a alguns metros dele e parecia familiar. Seus olhos azuis estavam arregalados, apavorados, e ele a farejou de novo, lutando para raciocinar. Ele estava de novo dentro da cela, haviam feito algo a ele, e a humana devia ser a responsável, mas de repente outras imagens preencheram sua mente. Aquela humana sorrindo para ele, o som de sua risada e suas mãos que acariciavam o rosto dele passaram rapidamente por suas lembranças confusas. Ele a conhecia bem, mesmo que não conseguisse pensar com clareza. Ele farejou de novo, aquele perfume encheu seu nariz e mais flashbacks passaram em suas lembranças. Ele abaixou os olhos e uma luxúria pura o atingiu. Queria agarrá-la, jogá-la e possuí-la. No entanto, hesitou. Ele sabia que a machucaria e, por algum motivo, importava que ele não o fizesse, não devia querer aquilo.
Ela era valiosa para ele de algum jeito. Ele lutou para afastar a névoa que diminuía sua habilidade de raciocinar. Esforçou-se para lembrar quem ela era e por que uma humana significaria alguma coisa para ele, já que todos eles eram seus inimigos. Mais imagens vieram à tona, numa montagem confusa. Ela sorrindo enquanto comia à mesa ao lado dele, ela sentada no colo dele com os braços em volta dele. Eles dividiam um chuveiro e ela lavava o peito dele com suas mãos pálidas e pequenas, e ele se inclinava para beijá-la. Seu nome estava na ponta da língua dele e, então, enquanto lutava contra a dor escaldante de tão quente, seu cérebro explodiu com o conhecimento. Ellie se tornara seu mundo inteiro, a mulher que o fazia feliz, e ele cambaleou em um passo na direção dela, contendo a ira que tentava consumilo e os dolorosos golpes de agonia que ameaçavam enfraquecer suas pernas. Ele precisava abraçá-la, tocá-la, e sabia seu nome. Ele a amava. O perfume dela o ajudava e ele precisava se aproximar. – Ellie – ele rosnou a palavra. Algo finalmente cintilou nos olhos de Fury, um sinal de reconhecimento e emoção real. Ellie sorriu. – Sou eu, Fury. Venha até mim com calma, você não quer me ferir. Ele deu passos cambaleantes para a frente e, de repente, parou na frente dela. Ela esticou os braços lentamente na direção dele, queria confortá-lo, e então ele a pegou. Os braços dele passaram em volta de sua cintura e suas costas bateram contra a parede tão forte, que o ar saiu de seus pulmões. Fury enfiou o rosto no espaço entre seu ombro e seu pescoço para respirar em sua pele. Ellie tomou fôlego. Breeze estava em pé no meio do quarto, observando-os com uma expressão preocupada. – Estou bem – Ellie sussurrou – Pode sair. Breeze hesitou. – Ellie – Fury rosnou. Ellie passou os braços com força em volta do pescoço dele, abraçando-o. – Sim, amor, sou eu. Ele rosnou de novo e lambeu o pescoço dela. Ele arfou. Sua mão em volta da cintura dela se moveu para segurar a bunda dela, uma mão grande agarrou sua carne macia com uma pegada que poderia deixar um hematoma. Ellie balançava a cabeça na direção de Breeze por cima do ombro dele, assegurando-a de que estava bem. Breeze fez que sim com a cabeça, se
afastando. Ellie a viu sair do quarto e fechar a porta. – Ellie – Fury rosnou. – Estou aqui. Ele endireitou a postura. Pressionou o peito contra o dela e uma de suas mãos deixou o quadril dela. Tecido se rasgou. Ellie fechou os olhos. Tentou acalmar a respiração. – Fury? Está me ouvindo? Fale comigo. Ele rosnou. Um de seus braços agarrou sua cintura de um jeito quase doloroso. A outra mão agarrou sua coxa. Ele as abriu pressionando o quadril no meio dela. Ela arfou de dor. Fury rosnava ferozmente, mas parou de pressioná-la com tanta força. – Fury? Ele a soltou no mesmo instante e cambaleou para longe. Ellie tremia enquanto se esforçava para manter o equilíbrio depois de ele soltá-la repentinamente. Fury caiu de quatro e emitiu um som terrível, cheio de dor e sofrimento, que fez Ellie se encolher. Ela se ajoelhou atrás e não hesitou em curvar o corpo sobre as costas dele e passar os braços em volta da cintura dele. – Estou aqui, Fury. Você vai ficar bem. Está me ouvindo? Eu te amo. Ele se mexeu de repente, virou seu corpo grande e forte, o que fez com que Ellie saísse de sua posição curvada e caísse de bunda no carpete. Fury acabou pressionado contra ela em um segundo. Ele se curvou de lado, encarando-a, usando as coxas dela como travesseiro, e curvou as pernas em volta das costas dela. Passou os braços com força em volta da cintura dela e se prendeu nela. Seu rosto estava pressionado contra a barriga dela e um choramingo suave veio de sua garganta. Ellie olhou para baixo. Vê-lo daquele jeito a destroçava, e seus olhos se encheram de lágrimas. Ela piscou para contê-las. O olhar de medo e confusão no rosto dele partiu seu coração. Ela tremia levemente ao passar os dedos pelo cabelo dele com uma mão, enquanto a outra esfregava as costas. – Está tudo bem, Fury. Estou aqui. Vamos ficar bem. – O que há de errado comigo? – ele gemeu e a apertou mais. – Eles acham que um dos remédios que deram a você para sua recuperação está deixando-o meio maluco. Vai ficar tudo bem.
Ele negou. – Não. Eles estão errados. Já estive sob efeito dessas drogas antes, mas essa é diferente. Repentina. – ele tremeu forte, seu grande corpo tremia em volta dela – É difícil raciocinar e sinto tanta raiva… – Vai ficar tudo bem – Ellie jurou delicadamente – Estamos juntos e vou ficar sentada aqui com você o tempo que for necessário para que se sinta melhor. Você não vai me machucar. Sei que não vai porque me ama tanto quanto eu te amo. O rosto dele roçou na barriga dela. Sua língua saiu e lambeu a parte de baixo do seio dela. Fez cócegas. Ellie recuou para que ele não fizesse aquilo de novo. – Isso faz cócegas. – Você está pelada. – Bem, sim. Eu precisava chamar sua atenção. – Você sempre a terá. Os olhos de Ellie desceram pelo corpo de Fury e notaram que ele rasgara a parte da frente do jeans. Fora dali que viera o som de tecido se rasgando que ela ouviu enquanto ele a prendia na parede. Ela tremeu. Se não o tivesse acalmado, se não o tivesse tocado em seu lado emocional, ele a teria possuído contra a parede agressivamente, sem carinho ou consideração pela dor dela ou pelos ferimentos dele. Ellie continuou acariciando-o enquanto seus dedos percorriam o cabelo dele. – Fale comigo. Estou lutando para ficar com você, mas a escuridão está muito perto. Ellie olhou para a cabeça de Fury descansando em seu colo e viu que ele a fitava. Seus olhos negros estavam cheios de confusão ao encontrar os dela. – Estou bem aqui, Fury. – ela forçou um sorriso, tentando esconder seu alarme e sua preocupação – Vou abraçá-lo até que sinta que voltou a ser você mesmo. – Eu feri alguém? Está difícil de raciocinar e lembrar. – Todos estão bem. – ela esperava que Breeze não estivesse muito machucada, mas não falaria sobre aquilo, lá. Ele apertou os olhos para fechá-los. – Quero você. – ele rosnou suavemente. Ellie ficou tensa.
– Fury? Deixe-me vestir umas roupas. Ele negou. – Isso me distrai da minha ira, e não importaria; eu ainda sentiria seu cheiro, não importa o que vista. Você está sangrando. Machuquei você? – Não. Estou com alguns cortes e arranhões porque pulei a cerca dos fundos para chegar até você. – ela virou o pé para ver os ferimentos com mais facilidade. O corte parecia maior do que ela pensava, e ela viu sangue espalhado no carpete – Meu pé está sangrando. Se você se mexer um pouco, acho que consigo alcançar alguma coisa para colocar embaixo dele, senão vou sujar o carpete de sangue. – Não dou a mínima. Ellie riu. – Você diz isso agora porque não está sendo você mesmo, mas espere até amanhã, quando estiver tentando encontrar um pedaço da mobília para colocá-la em cima da mancha e escondê-la. Fury gemeu. – Eu te amo, Ellie. – Eu também te amo. Como está se sentindo? – Irado – ele rosnou – Tanta raiva e dor… Parece que minha pele está pegando fogo. – Apenas me abrace. – Acho que não conseguiria soltá-la. Tem certeza de que não a machuquei? – Tenho. Você não me machucou, apenas me assustou pra… A porta do quarto se abriu com um barulho. Ellie olhou para ela. Fury ficou tenso, rosnando. O rosto de Trisha apareceu quando ela espiou dentro. – Você está bem? Ellie esfregava as costas de Fury, tentando acalmá-lo. – Estamos bem agora – Ellie falou alto, para todos ouvirem, esperando que fosse verdade. Sua voz ficou mais suave – Relaxe, Fury. É só a doutora Trisha. – Posso entrar? – Trisha sussurrou – Preciso examiná-lo, se eu puder. Ellie não tinha certeza se ele atacaria outras pessoas que estivessem muito perto dele enquanto o estudava.
– Apenas segure em mim, Fury. Trisha precisa muito examiná-lo para que possa ajudar. – Não – ele rosnou. Seus braços se apertaram dolorosamente em volta de Ellie enquanto ele virava a cabeça para fitá-la – Você é minha. Eles não podem tirála de mim. – Não vou a lugar nenhum. Não vou me mexer, ok? Por favor, deixe a doutora dar uma olhada em você. Vamos ficar assim enquanto ela faz isso. Fury respirou de forma trêmula e piscou na direção de Ellie. Concordou com a cabeça e virou o rosto para a barriga dela. Ellie olhou para Trisha. Trisha adentrou o quarto devagar e se afastou da porta. – Preciso do Ted aqui também, Ellie. Pode ser que ele identifique pelos sintomas qual droga deram a Fury. Ellie se encolheu por estar nua. – Pode me dar alguma coisa antes? Trisha se moveu entre os escombros para ir até a cama. Puxou o lençol do colchão e se aproximou deles, hesitando. Tentou enrolá-lo em Ellie com cuidado, se assegurando de que não encostava em Fury. Ellie hesitou, entendeu que, para se cobrir, o lençol teria que cobrir Fury também, já que ele se moldara ao seu corpo e estava enrolado com firmeza em volta dela. – Isso não vai funcionar. Que tal me dar uma das camisas do armário? – de repente ela se lembrou que a porta do armário estava contra o chão. Ela suspirou – Que tal a que ele tirou? Está vendo em algum lugar? Trisha jogou o lençol na cama e foi até o canto, pisando cautelosamente sobre o espelho quebrado que trincava sob seus sapatos. Pegou a camisa rasgada de Fury e a levou até Ellie. Ela precisou se soltar de Fury para vestila. No instante em que ela tirou as mãos de seu cabelo e de suas costas, ele ficou tenso, abraçando-a com mais força, e enfiou o rosto mais fundo na barriga dela. Ellie colocou a camisa na frente dela para cobrir os seios e voltou a acariciar Fury. A pegada dele se afrouxou assim que o toque confortante dela voltou e ele relaxou tanto, que seu rosto não se enterrava mais dolorosamente contra a barriga dela. – Estou bem aqui – Ellie sussurrou para confortá-lo – Apenas me abrace. Eles vão dar um jeito nisso e fazer você se sentir melhor. – Ellie olhou para Trisha – Acho que você pode trazê-lo agora. Meus seios estão cobertos, e
você não consegue ver o resto do meu corpo com Fury em volta de mim, consegue? Trisha balançou a cabeça. – Seja como for, somos médicos. Ele não a feriu? – Estou bem. Eu disse, Fury jamais me machucaria. Fury rosnou em resposta. Ellie o segurou com mais força, usando uma mão para massagear as costas dele e os dedos da outra para passá-los pelos cabelos. – Quieto, Fury. Está tudo bem. Apenas se segure em mim. O doutor Ted Treadmont entrou no quarto e Justice parou do lado de fora atrás dele. Justice farejou, ficou tenso e seu olhar se fixou em Ellie com um franzido. – Ele não me machucou. Pulei o muro dos fundos e me machuquei um pouco, se está sentindo cheiro de sangue. – Eu sei. Estávamos ouvindo atrás da porta e escutamos tudo o que você disse. Estou tentando sentir o cheiro dele. – Justice permanecia na porta enquanto estudava Fury cuidadosamente – Isso não está certo, Ted. Ele está com um cheiro estranho, não é o mesmo das drogas que ele está tomando há dias. O doutor concordou com a cabeça. – Eu sei. Esses sintomas não são causados pelo que estou dando a ele. – O que está havendo? – Ellie olhava para os dois homens. – A droga que demos a ele não devia ter feito isso. – Ted se ajoelhou perto de Fury e Ellie. Abriu a mala e olhou para Ellie – Preciso colher sangue. Achamos que aquela enfermeira pode ter dado a ele outra coisa para deixá-lo assim. Precisamos de um pouco de sangue para fazer um teste. Fury ficou tenso e rosnou, mas Ellie o abraçou mais forte. – Fury? Me escute. Estou com você e você está comigo. Eles vão ajudar você, ok? Apenas relaxe. Ele fez que sim contra a barriga dela. Justice se virou e falou delicadamente com alguém no corredor que estava fora do campo de visão. – Vá conferir as coisas da enfermeira e a casa. Traga qualquer droga que encontrar. – Justice encarou Ellie – Como ele está? – Bem. Como está Breeze? – Preocupada com você.
– Estou bem. Ellie observava Ted e Trisha, conforme examinavam Fury. Ela o acariciava, fazia sons suaves e confortantes, e falava para ele ficar bem quieto enquanto Trisha colhia sangue do braço dele. Ele ficou tenso e rosnou algumas vezes, mas continuou abraçando Ellie, ouvindo suas palavras. O rosto dele se manteve pressionado contra a barriga dela o tempo inteiro. – Fury? – Ted falou delicadamente – O que está sentindo, filho? – Raiva – Fury sussurrou – Tesão. Dificuldade para raciocinar. Minha pele queima. Confusão. Muita dor. Quero comer a Ellie e, se não fizer isso, acho que vou morrer. Ellie ficou ruborizada, mas não ficou chocada. Ela sabia que ele estava sexualmente excitado. O jeans dele estava rasgado, com seu colo contra o dela. Ele vestia cuecas boxer e ela não tinha como não sentir a saliência. – Está sentindo vontade de ver sangue derramado? – Ted pôs a mão na mala e retirou um frasco com um líquido claro. Depois pegou uma seringa, removendo-a da embalagem estéril. Fury concordou com a cabeça. – Quero desesperadamente estraçalhar alguma coisa. – Filho, não vou fazer isso se você não quiser, mas posso aplicar uma injeção? Vai colocá-lo para dormir. Você vai ficar apagado por algumas horas e, assim espero, o que quer que tenha sido injetado no seu organismo terá desaparecido quando estiver de volta. Se algo der errado, Trisha e eu estamos aqui para socorrê-lo imediatamente. O medo tomou Ellie. – Não! Tiger disse algo sobre ele poder morrer se mais drogas forem dadas a ele. O médico olhou para ela de um jeito sinistro. – Isso era uma preocupação quanto a outra droga, mas não é a que pensávamos. Estou mais do que certo de que ele pode receber um sedativo. Estamos bem aqui a postos se estivermos errados. – ele levantou outra injeção – Essa é para se o coração dele parar. Estamos preparados, mas ele está sofrendo. Precisa ser sedado. Fury ficou muito tenso, mas depois relaxou. – Vá em frente – ele rosnou – Não me abandone, Ellie. – ele se segurou nela com mais força.
– Não vou abandoná-lo. – Ellie prometeu delicadamente. Ted aplicou a injeção em Fury e em seguida balançou a cabeça para Ellie. – Vai levar só alguns minutos. Ele vai relaxar e dormir. – Estou bem aqui, Fury – Ellie sussurrou para ele – Não vou sair do seu lado. Quando você acordar, as coisas estarão melhores, está bem? Serei a primeira coisa que você vai ver. Ele fez que sim contra a barriga dela. Alguns minutos se passaram e ela notou que o corpo de Fury parecia mais pesado, quase esmagando suas pernas. Precisou segurá-lo contra o peito para impedir que a cabeça dele rolasse para trás, num ângulo perigoso. Os braços dele se afrouxaram em sua cintura, até que repousaram no chão atrás dela. Ela balançou a cabeça para Trisha e Ted. – Ele dormiu. – Vamos tirá-lo de cima de você – Justice entrou no quarto. – Não vão não – contestou Ellie – Estou meio pelada. – Vamos fazer de um jeito que não vai exibi-la aos meninos. – Trisha se levantou – Ted, você e Justice pegam os braços dele. Fechem os olhos quando o levantarem. Vou dar a Ellie uma toalha para ela se enrolar. Depois que a tirarmos debaixo dele, ela pode ir até o banheiro e se vestir enquanto vocês o colocam na cama. É a única coisa aqui que não está destruída. Eles cuidadosamente manobraram Fury com os olhos fechados e Ellie cobriu seu corpo nu com a toalha que Trisha pegou. Pôs-se em pé com a ajuda de Trisha e correu para o banheiro. Fechou a porta e se apressou para vestir as roupas sujas, ainda espalhadas no chão, onde as havia deixado. Ao voltar para o quarto, havia mais pessoas. Fury estava deitado de costas, inconsciente. Ellie foi até o lado dele e se sentou na beirada do colchão. Agarrou a mão mole dele. – Ele vai ficar bem – Ted assegurou-a. – Veja isto – Trisha falou. Ela segurava uma garrafa marrom-escura que retirara da maleta médica de Belinda que fora levada ao quarto – É Freltridontomez. Ted soltou um palavrão.
– Merda. Que bom que não o tranquilizamos quando ele estava em pé. Ele poderia ter explodido de raiva com injeção antes que ela fizesse efeito. – O que é isso? – Ellie olhou para os dois médicos, querendo uma resposta. – É uma química que ataca a mente. Manda sinais falsos ao cérebro de que há uma dor cegante, mas sem o desconforto físico. Normalmente leva o paciente a sentir raiva, confusão e destrói o pensamento racional. Explicaria todos os sintomas de Fury. Ele pioraria progressivamente com o passar das horas. – Por que ela faria isso? – Trisha continuou mexendo na maleta da suposta enfermeira – Ela sabia que isso seria perigoso pra diabo. Pelo que li nos relatórios, eles usavam essa droga ocasionalmente em algumas Espécies para forçar brigas físicas entre as cobaias. – Usavam mesmo – rosnou Tiger da porta – Já me deram essa merda, não conseguia lembrar nem do meu nome. Eu só queria matar alguém e qualquer coisa que se mexesse me provocava. Quando saía dela, eu mal podia me lembrar do que acontecera e, às vezes, não lembrava de absolutamente nada. Ellie fitou Tiger enquanto ele entrava no quarto, e se perguntou se ele estava bravo por ela tê-lo largado na casa de Trisha. Ele lançou um olhar a ela. – Você está ferrada comigo. Nunca mais fuja de mim ou roube meu carro. – Não seja estúpido o bastante para deixar a chave na ignição. Eu disse que ele não me machucaria. – revidou Ellie, brava por ele ter falado daquele jeito com ela. – Eu tomei aquela decisão – Justice suspirou – Temi que sua vida estivesse em perigo, Ellie. – Bem, eu disse que ele não me machucaria. – Você teve sorte – Trisha interveio – Li os relatórios de um monte de cobaias em que a Mercile testou essa droga. – Trisha sacudiu a cabeça – Uma raiva brutal, insana e mortal costuma ser o resultado. Mas duvido que eles tenham tentado virar um homem contra a mulher por quem está apaixonado. Breeze deu passos hesitantes dentro do quarto. Limpara o rosto e vestira uma camisa nova. Ellie a estudou com preocupação. – Você está bem? Breeze se aproximou e sentou na ponta da cama.
Franziu a testa para Ellie. – Estou. Você, por outro lado, é ou muito tonta ou muito apaixonada. – Um pouco dos dois – Ellie admitiu. Um sorriso passou pelo rosto de Breeze antes de ela se encolher, tocando a boca delicadamente. Ela parecia inchada e um hematoma começava a se formar. Ellie estudou a área ferida. – Sinto muito por ele ter batido em você. Sei que ele não faria isso em condições normais. – Ele queria você e foi ficando cada vez mais bravo por eu estar no seu lugar. Entendi isso bem rápido. Ele poderia ter me machucado muito mais, mas não o fez. – Breeze lançou um olhar para Fury – Você escolheu bem, Ellie. Ele é um homem incrível, com um controle extremamente bom. – Como pode dizer isso depois de ele ter batido em você? Você devia estar bem magoada com ele. – Ellie não entendia a reação de Breeze. – Já vi nossos homens ficarem loucos e eles podem provocar muita dor, mas ele lutou contra tudo. Só me bateu quando eu o tocava ou tentava impedi-lo de ir até você. Ele não tentou me ferir, mas me golpeou com tapas para me afastar. – ela hesitou – Ele não a machucou. Você não sabe como ele deve amá-la para combater tudo o que estava se passando dentro dele para se acalmar. – Breeze balançou a cabeça – Ele é um bom macho, muito forte e muito protetor em relação a você. Você escolheu bem, Ellie Brower. Ellie concordou com a cabeça. – Obrigada por se arriscar por mim. – Que melação. – Tiger gemeu – Parem, por favor. Slade riu. – Eu não ia dizer, mas… abraço coletivo? – Pare com isso – Justice ordenou suavemente. Ele parecia um pouco irritado ao lançar olhares entre seus homens – Isso é sabotagem. Slade, vá falar com aquela enfermeira. – a raiva fez suas feições ficarem tensas – Descubra por que ela fez isso e quem a ajudou, não importa o que for preciso para isso. O sorriso de Tiger se desfez. – Posso ir com ele? Justice o estudou com suspeita. – Você passou um tempo com aquela mulher. Sente algo por ela?
– Não. Estou bravo. Ela fez isso debaixo do meu nariz. Se Slade tem problemas em apavorá-la para conseguir respostas dela, eu não tenho. Não vou matá-la, mas pode ser que ela deseje que eu faça isso. – Está bem. – Justice pausou – Cuidado com as câmeras e esteja ciente de que os humanos estarão observando. Pode ser que eles não aprovem seu método. – Sem problemas. – Slade deu um sorriso frio antes de se virar e ir embora. Ellie viu Tiger segui-lo, até que saíram de vista. A atenção dela se moveu para Justice. – Por que alguém faria isso a Fury? – Você – Ted respondeu no lugar dele – Bem, seu relacionamento com Fury tem dado o que falar na mídia e os grupos de ódio não querem um romance de conto de fadas. – Acho que é mais que isso – declarou Trisha – As Indústrias Mercile adorariam que Fury ficasse insano e atacasse Ellie. Vamos encarar os fatos. Eles são vistos como merda depois de manter pessoas trancadas nos centros de testes e fazer experimentos ilegais. Ficam afirmando que as Novas Espécies são mais animais que humanas, tentando dessensibilizar a mídia e o público que os apoia. Se um homem das Novas Espécies virasse um assassino e matasse sua namorada humana que vive com ele, seria bem grave. Ellie e Fury são os alvos perfeitos, já que o mundo os observa tão de perto. – Beatrice Thorton trabalhava para as Indústrias Mercile – rosnou Breeze. – Quem é Beatrice Thorton? – Ellie franziu o cenho. – É uma ex-funcionária das Indústrias Mercile. Você a conhecia pelo nome que ela usa agora, Belinda Thomas – disse Justice enquanto ia até o armário caído e se sentava na beirada dele. – Aquela vadia trabalhava para as Indústrias Mercile? – chocada, Ellie olhou boquiaberta para Breeze, esperando uma confirmação. – Eu reconheci o odor dela quando entrei na casa. – a raiva fez a voz de Breeze se aprofundar quase a um rugido – Eu jamais esqueceria um inimigo. Ela era a pior. Torturava nosso povo e sempre enfiava agulhas em nós com um grande sorriso de deboche. Ela gostava da nossa dor. – Breeze se virou para Justice – Tem certeza de que nunca a conheceu?
– Não. Ela deve ter trabalhado só na área feminina do centro de testes. – Acho que ela teria medo de que uma de vocês a reconhecesse – Ted especulou. – Talvez ela achasse que estaria segura, já que só trabalhava com mulheres das Novas Espécies. – Ellie olhou em volta do quarto – Quero dizer, a única mulher na vida de Fury sou eu. Eles sabem que eu não reconheceria. Trabalhei no centro de testes onde Fury ficava preso e ela não trabalhava lá. É de conhecimento público que todas as mulheres das Novas Espécies moram em um alojamento e que não há muitas delas. Assisto ao jornal e eles fazem parecer que há apenas algumas. – Você trabalhava para as Indústrias Mercile? – Ted olhou para Ellie. – Não é o que você está pensando. – Justice franziu a testa na direção do médico – Ela trabalhava para Victor Helio. Você o conheceu. Ele abordou Ellie quando ela tinha um emprego nos escritórios corporativos das Indústrias Mercile, sem saber o que eles realmente faziam. Ele a abordou, contou a ela sobre o que suspeitavam e pediu a ajuda dela para descobrir a verdade. Ela roubou evidências, arriscou a vida para isso e pegou o suficiente para conseguirem mandados de busca. Alguns dos relatórios médicos e de testes que você leu são os que ela roubou. – Ah! – Ted relaxou – Você foi corajosa. O que a fez fazer isso? Você sempre quis ser uma espiã ou trabalhar para uma agência de polícia? Ellie segurou uma bufada. – Não, não sou tão aventureira. É que fiquei realmente tocada quando Victor Helio veio até mim e me disse quais eram os boatos. Eu precisava fazer qualquer coisa que pudesse para ajudar a descobrir se eles realmente estavam fazendo testes em pessoas. Fiquei horrorizada com essa ideia. – Você é uma boa pessoa. – em seguida, Ted falou com Trisha – Se estão usando drogas para atacar as Novas Espécies, precisamos estar cientes disso. Temos que barrar todos os produtos que entram aqui e que poderiam estar adulterados. – Começando pela comida – Trisha concordou. – Você acha possível? – Justice parecia cauteloso. – Estou pensando sobre o que eu poderia fazer se quisesse sabotar seu povo, Justice. Contaminar a comida deixaria todos loucos – afirmou Ted de forma sombria. – Isso também não afetaria os humanos? – Justice não parecia
convencido. Ted deu de ombros. – Claro, mas aposto que eles não ligam. Estão sendo processados pelo que fizeram a vocês, e a única defesa deles é declarar que vocês não são humanos. O que poderia ferir mais as Novas Espécies do que fazer pelo menos uma boa parte de vocês ficar louca o bastante para tornar tudo um banho de sangue, com a imprensa a par da história? – Não sabemos nem se a trama é tão grande assim – Justice rosnou – Não quero deixar ninguém em pânico. – Certo – exclamou Ted – Vou começar a procurar algo que neutralize o Freltridontomez. Assim, se o usarem de novo, podemos usar injeções para dar um antídoto a quem for afetado antes que alguém se machuque. É a coisa mais segura a fazer. Como eu disse, se o sedarmos enquanto estão sob o pico do efeito, a raiva induzida pela droga provavelmente os matará. Poderiam ter um derrame ou um infarto. Trisha se levantou. – Acha que conseguimos encontrar algo para isso? Teremos que trabalhar depressa, Ted. Também devíamos ordenar testes aleatórios na água e na comida que chegam. – Havia algumas anotações nos arquivos que conseguimos sobre o Freltridontomez. Talvez eles estivessem perto de achar uma droga para neutralizá-lo. – Ted pegou a mala – Só porque não temos o resultado final no papel, não significa que não está bem ali. – Vamos. – Trisha pegou a mala dela. Antes de sair, parou para sorrir para Ellie – Quando Fury acordar, pode ser que ele tenha dor de cabeça e inflamações, mas ele deve ficar bem. Caso contrário, ligue para nós. Estaremos no centro médico. – Uau! – Ellie murmurou quando o casal saiu. Ela arqueou as sobrancelhas ao olhar para Justice – Acho que minha cabeça deu um nó. Eles são sempre assim? Ele fez que sim com a cabeça. – Ted é o que você chamaria de paranoico, mas é o melhor no que faz. Não acho que seja um ataque de grandes proporções contra nós. Coma suas refeições sem medo, Ellie. Se eles fossem atacar nossa comida ou nossa água, não precisariam ter enviado uma mulher para envenenar Fury com agulhas.
Já teriam nos atacado desse jeito. – Acha que ela veio de um dos grupos de ódio ou da Mercile? – A Mercile faz mais sentido para mim. Dois coelhos com uma cajadada só. – Dois coelhos? A sobrancelha dele se arqueou. – Você acabou com eles, Ellie. Haveria melhor vingança do que fazer aquele por quem você arriscou a vida para salvar ser o homem que causou sua morte? Fury poderia ter matado você. A má publicidade na mídia teria sido esmagadora. Ted tem razão. A única defesa que eles têm para seus crimes é convencer as pessoas de que não somos humanos e, portanto, impossíveis de sofrer abuso. Estão enfrentando acusações criminais, mas também estamos processando-os por dinheiro. A ficha dela caiu. – Meu voto também é para Mercile. – ela verificou Fury. Ele dormia em paz. – Preciso fazer algumas ligações, Ellie. Quero checar o que essa Beatrice Thorton está dizendo. Estarei na sala, se precisar de alguma coisa. – Você não precisa ficar. A propósito, obrigada por tudo hoje. Bem, menos por fazer Tiger me jogar no porta-malas de um carro e me sequestrar. Ele se encolheu. – Estarei no outro cômodo. Precisamos ficar por perto para ter certeza de que Fury estará bem ao acordar. – Justice inclinou a cabeça para seus homens o seguirem. Breeze se levantou. – Vou para casa. Ellie deu a Breeze um olhar sincero para expressar sua gratidão. – Você é mesmo uma amiga muito boa por ter vindo aqui hoje e não me esquecerei disso. Obrigada do fundo do meu coração. – Nos vemos quando você voltar ao trabalho. Tire uns dias de folga. Estamos bem no alojamento, não se preocupe conosco. – Obrigada. Ellie observou todos saírem do quarto. Ela estava sozinha com Fury outra vez. Se virou de lado e se curvou contra o corpo quente dele. – Eu te amo – ela sussurrou. Ela o abraçou, sabendo que um deles poderia
ter morrido. Aquilo a deixou muito assustada. CAPÍTULO VINTE Ellie queria ir até o centro de detenção e socar Beatrice Thorton, também conhecida como Enfermeira Vagabunda, Belinda Thomas. Tiger e Slade haviam interrogado a mulher até ela amolecer e confessar tudo. Alguém das Indústrias Mercile a contratara para sabotar as Novas Espécies pela má publicidade que renderia. Acharam que fazer Fury parecer um animal incapaz voltaria a opinião pública a favor deles. Fury se recuperou completamente, mas estava muito magoado por ter perdido o controle daquele jeito. A culpa recaiu estritamente sobre os ombros da Enfermeira Vagabunda por não ter escrúpulos. A ONE entregou a mulher para as autoridades para ser processada por uma longa lista de crimes, mas isso mal consolava Ellie ou Fury. A vadia quase destruíra suas vidas. Escolhera Fury porque ele era de fácil acesso após levar os tiros. Ela só precisaria ser contratada para ser enfermeira domiciliar e subornar algumas pessoas na lista para se recusarem a trabalhar para as Novas Espécies. Beatrice Thorton admitira ter tido curiosidade para saber como seria transar com Fury. Era por isso que dera em cima dele e fizera Ellie sofrer. Quando finalmente percebeu que não haveria nada entre ela e Fury, decidiu colocar o plano em prática quando Ellie foi tomar banho, esperando que ele ficasse louco e matasse a mulher que amava. Era um esquema cruel e poderia ter funcionado a favor da mulher, mas ela não contara com a profundidade do amor de Fury por Ellie. Justice fitava Ellie e Fury soturnamente. – Eu juro, ela vai passar por maus bocados. Prometeram que ela serviria de exemplo. Preciso mudar totalmente nossos protocolos de segurança agora. Decidimos começar a treinar alguns de nosso povo para enfermagem. Assim, se precisarmos de ajuda no futuro, não dependeremos totalmente de humanos para cuidados de enfermagem. Fury se mexeu na cadeira e olhou em volta do escritório de Justice. – Ela disse se sabia se a Mercile enviaria outros? Os ombros de Justice caíram. – Temos certeza de que tentarão se infiltrar outra vez.
Pelo menos não foi um ataque tão grande como nossos médicos temiam. Nossos estoques de comida e nossa água nunca foram adulterados. Só precisamos ter muito cuidado com os totalmente humanos. – ele deu a Ellie um olhar de quem pedia perdão – Sem ofensas. Eu confiaria minha vida a você. É só com os estranhos que temos que ter cuidado. De agora em diante, vamos checar todo o histórico de qualquer humano que tenha permissão para passar pelos portões. – Precisamos depender mais de nós mesmos – Fury concluiu – Há muitos totalmente humanos trabalhando aqui. Se a Mercile quiser que a coisa se complique, podem começar a tentar suborná-los para que deixem alguém passar pela segurança para nos fazer mal. – Vou deixá-lo encarregado disso. – Justice parecia cansado – Será sempre uma batalha para nós, meu amigo. Sempre haverá inimigos com quem teremos que lidar. Espero que a Mercile seja completamente destruída pelas ações judiciais e pela má publicidade. Espero que um dia não existam mais. E, então, tudo com o que teremos que lidar serão os humanos que acham que somos uma abominação contra a humanidade. Fury suspirou. – Não se esqueça dos funcionários da Mercile que foram presos e estão enfrentando vários anos na prisão. Tenho certeza de que suas famílias e seus amigos têm muita raiva de nós. Há também os que ainda estão lá fora e que evitaram a prisão, precisamos ter cuidado com eles. Nosso povo pode identificá-los, e esse incidente me fez perceber o perigo que representamos para eles. Aquela mulher poderia ter ido atrás de nossas mulheres que sabiam como ela era e que podiam tê-la reconhecido. Tivemos sorte por ela não as atacar também. – Esse é apenas outro medo que teremos que combater. – Justice passou os dedos pelo cabelo. Ellie olhou para o relógio. – Ei, me desculpem por sair, mas preciso ir ao trabalho, as mulheres estão me esperando. Vamos fazer uma festa de aniversário e não posso me atrasar. Fury sorriu lentamente. – Uma festa de aniversário? Ellie se levantou e se inclinou para colocar o rosto dele entre as mãos. – Sim. Temos presentes, um bolo, enfeites e tudo mais. Vai ser divertido.
Fury a beijou. Ellie deu um sorriso, se afastou e acenou para os dois homens. – Foi bom vê-lo, Justice. Vejo você em casa mais tarde, Fury. – Vai ver sim – ele rosnou – Eu e você temos planos agora que me consideram completamente curado. Um calor percorreu o rosto de Ellie, quando Justice gargalhou. Ninguém sabia que Fury foi liberado para sexo hoje de manhã? Provavelmente não. Ela saiu do prédio e entrou no carrinho de golfe. Sentira falta dele. Pegou a chave e dirigiu até o alojamento feminino. Lá, todas estavam tremendo de excitação. Estavam fazendo uma festa de aniversário para uma das mulheres, preparando tudo enquanto ela estava em aula na escola das Novas Espécies. Ellie assumiu o comando. As mulheres haviam garantido que estariam em casa para gritar para a aniversariante quando ela entrasse na biblioteca. A pobre e surpresa mulher pulou alguns metros para trás, pareceu muito confusa, mas sorriu ao entender o que haviam feito para ela. Ellie nunca havia visto a mulher tão feliz, fazendo valer a pena cada probleminha que houvera para planejar a festa surpresa. Perto das seis da tarde, Ellie abriu a porta de entrada de sua casa e de Fury. Ela pediu para ele voltar para casa e correu até a cozinha. Escondera sanduíches na parte de baixo da geladeira naquela manhã depois que Fury saíra para uma reunião com a segurança. Ela puxou-os para fora, pegou alguns refrigerantes, um saco de batatas chips do armário da despensa e se apressou para o quarto. Dez minutos depois a porta de entrada bateu. Ellie pulou da cama e olhou para o armário. Ela ria enquanto se escondia dentro dele e aguardava. Fury sempre a procurava assim que entrava na casa. Ela sabia que ele a farejaria bem rápido e ele se divertiria com ela tentando se esconder. Ela o ouviu chegar. Ellie tentou não rir quando a porta do armário se abriu. Fury franziu a testa, até que seus olhos deslizaram lentamente pelo corpo nu dela. Ela sorriu. – Você demorou para me achar. – Por que está se escondendo? Ellie deu um passo na direção dele. – Achei que devia pelo menos fazer você trabalhar um pouco.
– Trabalhar para quê? – o foco dele se mantinha nos seios descobertos dela. – Para mim. – ela agarrou a frente do uniforme dele – Pensei em esperá-lo na cama, mas era muito fácil. Fury a ajudou a tirar seu colete e chutou os sapatos. – Eu gosto quando é fácil. Ela deu uma risadinha. – Viu o piquenique que arrumei? Achei que podíamos ficar pelados, jantarmos juntos e talvez ver um pouco de TV. Parece um jeito ótimo de passar a noite – ela provocou. Os lábios de Fury se contorceram. – Está bem. Ele saiu do alcance dela para impedir que ela o tocasse. Abriu a calça e empurrou-a para baixo junto da cueca. Por fim, as meias foram tiradas. Totalmente nu e excitado, ele deu um sorriso largo para ela. – Vamos comer. – ele se movimentou em direção à cama. Ellie o seguiu. Sentou no outro lado do colchão, com as pernas abertas, de frente para ele, exibindo a boceta. O olhar negro de Fury se fixou no colo dela. Ele respirou longa e profundamente e rosnou baixinho do fundo da garganta. – O que foi, Fury? Não entendi direito o que você disse. – Ellie deixou que seus olhos mostrassem seu divertimento quando ele olhou para cima. – Nada. – ele deu um sorriso zombateiro – Isso parece estar muito bom. Adoro rosbife. – Tentei colocar na cama tudo o que você adora. – Ellie lambeu os beiços, deixando a língua passar lentamente pelo lábio inferior e, depois, pelo de cima. Fury olhou para a boca dela. Mordeu o sanduíche, mastigou-o e engoliuo. – Que se dane isso – ele rosnou e jogou o sanduíche de lado enquanto se lançava a ela. Ellie caiu de costas na cama, rindo enquanto Fury a derrubava e a prendia embaixo dele. – A única coisa que quero mesmo comer é você. – E o jogo? Ele afastou o pescoço dela e roçou os lábios no ombro.
– A única coisa que estou interessado em ver é você. – ele pegou o seio dela, esfregando o dedão no mamilo – Estou totalmente curado e planejo fazer tudo o que quero com você. – Trancou a porta de entrada? – Com chave e tranca. Ainda tenho a arma na gaveta da cabeceira também. Vou atirar em qualquer um que entre nesse quarto. Ellie arranhou as costas dele. Fury se arqueou contra o corpo dela e rosnou. – Vá devagar. Não me excite demais, não demoraria muito para eu perder o controle. Quero que isso seja bom para mim e para você. – Você confia em mim? Fury não hesitou. – Com a minha vida. – Posso ficar por cima? A surpresa atravessou as feições de Fury, mas algumas linhas apareceram no canto de seus olhos ao fitá-la. – Você quer ficar por cima? Estou esmagando-a com meu peso? – ele levantou o peito de cima dela para deixar alguns milímetros de espaço entre eles. Ela o puxou de volta. – Você nunca é pesado demais. Adoro sua pele encostando na minha e adoro ficar embaixo de você. Só quero montar em você. – o olhar dela o estudava atentamente – Breeze mencionou que seus homens não deixam as mulheres ficarem por cima, mas eu quero. Pode pelo menos tentar por mim? Fury cerrou os dentes. – Quer que eu fique submisso a você? Ela sorriu. – Não. Quero que confie em mim e me deixe ficar por cima. Acho que você vai gostar. Ele rolou de repente, levando-a junto, até que ela montasse nele, mas ele não parecia feliz em fazê-lo. – Eu te amo. Se isso é tão importante para você, então vou ser submisso. Vou provar que faria qualquer coisa por você, até isso. O sorriso de Ellie se desfez. Ele não parecia feliz, nem excitado. Na verdade, parecia triste. Droga. Ela não queria chateá-lo ou fazer com que ele
reagisse mal. Ela se esticou, montando na barriga dele. Mordeu o lábio, tentada a fazer com que ele rolasse para cima dela de novo, mas em vez disso examinou cuidadosamente o corpo dele esticado sob o dela. Ellie se apressou para olhar para baixo e ver a ereção forte dele, feliz por aquilo não ter tirado o tesão dele daquele departamento, e se moveu para se sentar nas coxas dele. Ela se inclinou para a frente e lambeu um dos mamilos dele, puxando aquele bico firme com a boca, arqueando-se para deixar um espaço entre eles quando o pau dele se enterrou em sua barriga. Fury ficou tenso embaixo dela e rosnou. Ellie usava os dentes para brincar com o mamilo dele e o chupou. As mãos de Fury pegaram firme nela, mas ele não se mexeu. Ela não podia deixar de notar como o pau dele ficava mais e mais duro contra sua barriga. – Ellie – ele rosnou – Faz muito tempo desde a última vez em que estive dentro de você. Não posso esperar mais. Estou tentando ficar submisso, mas não sou um homem humano, não tenho a paciência que você espera de mim. Ela riu, soltando o mamilo dele, e se sentou. O sorriso dela se esvaeceu. – Relaxe. Ele ergueu uma sobrancelha e baixou os olhos para a carne protuberante na frente da barriga de Ellie. Seus olhares se encontraram. – Pareço relaxado para você? Ellie levantou o quadril e pegou no pau de Fury. Passou a mão em volta do membro duro e roçou as pontas dos dedos na lateral dele, tracejando-o de leve com as unhas. Ele deu um rosnado rouco e suas mãos deixaram o quadril dela. Esticou os braços e agarrou a cabeceira. A madeira rangeu em protesto quando suas mãos a atingiram com força. O foco dela se moveu até os dois, notou que as juntas dele estavam brancas e que os músculos do corpo dele ficavam rígidos. Ela o fitou, pensando em como o achava lindo. Ellie se levantou até que sua boceta estivesse posicionada acima do pau de Fury e se afundou lentamente, se ajustando a ele até que seus corpos estivessem perfeitamente alinhados. Ela sentiu um prazer intenso. Ansiava por tê-lo enterrado fundo dentro dela e sentir o que seus corpos faziam juntos. Ela estava molhada e mais do que pronta para cavalgálo e mostrar a ele como ser montado podia ser bom. Ela gemia enquanto ele entrava mais fundo. Cada milímetro escorregava de uma forma aconchegante para dentro da boceta conforme descia nele até que estivesse
totalmente sentada bem onde era seu lugar. Fury jogou a cabeça para trás e rosnava mais profundamente enquanto a madeira rangia. Seu olhar se virou para cima e viu que ele quebrara uma das barras da cabeceira. Ele jogou o pedaço de madeira para o lado e se agarrou no outro. Os olhares deles se encontraram. Aquilo parecia importante para Ellie, e ele tinha que admitir que ela ficava bem sexy em volta do quadril dele. A sensação que o sexo apertado e quente dela proporcionava em volta de seu pau o deixou lutando contra a vontade de meter com força. – Você vai me matar. Ela começou a se mexer nele. – Se isso é morrer, estou quase pronta. – Ellie gemeu antes de cair nele, se levantou, requebrou o quadril e desceu outra vez com força. Fury soltou a cabeceira e levou os braços até ela. Uma de suas mãos pegou o seio dela enquanto a outra deslizou para o espaço entre os corpos deles. Ellie jogou a cabeça para trás, gemendo mais alto enquanto Fury esfregava o dedão em seu clitóris. Agitada, ela se mexia nele ainda mais rápido, cavalgando-o de forma selvagem. Fury rosnou, com seu quadril enfiando dentro dela, usando os calcanhares na cama para fazer uma alavanca e bater mais forte dentro dela. Ele falou um palavrão selvagem quando seu pau começou a inchar, suas bolas se apertaram contra ele, e ele sabia que não podia mais segurar. O prazer que ele sentia sempre que ela descia o corpo nele, combinado aos músculos dela que se apertavam em volta de seu pau e ao clímax iminente que vinha com seu dedo que se esfregava no clitóris dela era como o paraíso. Ele rugiu, tentando conter o gozo, e conseguiu segurá-lo até que ela gritou seu nome enquanto ele a fazia gozar. Fury tremeu debaixo dela, quase tirando-a de cima dele, quando ele deu a última estocada. Ele gemia alto enquanto gozava. Ele empurrava o quadril e gemia profundamente por se sentir no paraíso. Ellie desmoronou sobre o peito dele, os dois ofegantes. Os braços dele se enrolaram nela e uma alegria pura o fez sorrir. Ellie era o paraíso. Ela entrara na vida dele quando ele estava no inferno, um anjo de luz e esperança, mesmo que ele não tivesse percebido na época por que sua atração por ela era tão intensa. Em algum lugar, lá no fundo, deve ter entendido que ela era a outra metade de sua alma.
Ele quase a perdera quando foi drogado e ficava apavorado em pensar sobre como estivera perto de machucar o que mais amava. Mesmo louco, sabia que ela era especial, que importava, e ele não conseguiria sobreviver se ela tivesse morrido. Sua preciosa Ellie fazia a vida dele valer a pena. Estar com ele a deixara em perigo, mas a vida sem ela não era vida. Ele não poderia viver sem sua Ellie. – Então – disse ela ofegante no peito dele – Como foi? Todos os pensamentos ruins desapareceram. Fury riu. – Vou me submeter a isso sempre. Ellie o acariciou. – Achei que você pudesse adorar isso. – Eu amo simplesmente tudo sobre você. – ele rolou de repente e prendeu-a debaixo dele. Ellie o fitou enquanto passava as pernas em volta das costas dele e os braços em volta do pescoço. – Não consegue mais aguentar, hein? – Quero ter certeza de que você não vai levantar. – Estamos presos um ao outro. Não ousaria sair até o inchaço diminuir. Eu disse, quero fazer de você um “abraçador”. – Você pode fazer isso, mas não é por isso que não quero que você se levante ainda. – Quer só me abraçar? Que lindo. – ela beijou o queixo dele – Adoro quando você faz isso. Ele riu. – Também não é por isso, mas gosto quando ficamos conectados, e abraçar você é a minha segunda coisa favorita. Tenho tempo para me recompor. – ele se mexeu dentro dela, dando estocadas delicadas – Essa é a minha coisa favorita de fazer com você. Ellie gemeu com o prazer instantâneo, o desejava, mas aquilo a surpreendeu. – De novo? Tão rápido? Ele fez que sim com a cabeça, abaixando até seus lábios roçarem o pescoço dela. – De novo. – Eu te amo tanto – ela sussurrou. CAPÍTULO VINTE E UM
– Acalme-se – Ellie riu. Fury andava de um lado para o outro e um rosnado suave passou por seus lábios. Ellie se aproximou dele, pegou-o pelo braço e puxou-o para ficar de frente para ela. Esticou as mãos para acariciar o rosto dele. – Não vai acontecer nada de ruim. – Sempre acontece algum desastre. – ele suspirou, mas passou os braços em volta da cintura dela, enquanto seu olhar intenso estudava o rosto dela – Tem certeza de que não se importa em fazer desse jeito? Breeze e algumas das outras mulheres me disseram que estou cometendo um erro. Acham que você vai ficar ressentida depois. Espero que elas andem vendo filmes demais. Breeze me lembrou das famílias humanas e acham que devíamos ter mais gente do seu povo aqui. – Elas andam vendo filmes demais. É verdade e a culpa é minha. Assistimos a um quase todos os dias para ajudá-las a aprender sobre a vida normal… até certo ponto. É isso o que quero. Você é minha família agora, Fury. Amo minha família de sangue, mas eles não foram muito compreensivos quanto ao nosso relacionamento, quando conversei com eles. Preciso encarar o fato de que, não importa o que eu faça ou com quem eu esteja, eles não vão ficar felizes. Vão ter que lidar com isso; se não conseguirem, que pena. Essa é a minha vida agora, aqui com você. Você é tudo para mim. Fury mordia o lábio inferior. – E sobre filhos? Queria poder dá-los a você, mas não posso. – a tristeza encheu seus olhos – Me desculpe. – Não se desculpe. Quer ter uns? O coração de Ellie pulou com a ideia de ter um pequeno Fury correndo pela casa. Tinha certeza de que seria um bebezinho adorável, mas sabia que isso jamais aconteceria. – Eu gostaria. – Fury a empurrou mais contra o peito – Mas acima de tudo, quero você. Tudo o que importa é que estamos juntos e sou muito grato por ter você, Ellie. Você sempre será mais do que suficiente para me fazer feliz. – Eu gostaria de umas criancinhas. – ela olhou para cima e sorriu para ele – Vamos dar um jeito nisso. Trisha e Ted são ótimos médicos que talvez encontrem uma forma de consertar o que foi feito a você, e, se não
conseguirem, sempre podemos adotar. Sempre há opções. Se nunca tivermos filhos, tudo bem também. Ele concordou com a cabeça. – Precisamos pelo menos falar com os médicos. Seria a primeira vez na minha vida em que não me importaria em fazer testes e ser examinado. Nunca achei que fosse dizer essas palavras depois de tudo o que foi feito comigo naquela cela. O coração de Ellie quase parou com as lembranças do passado deles e de como se conheceram. – Um dia você vai me perdoar pelo que fiz com você? Ele encontrou os olhos dela e os fixou. – Não precisa nem me perguntar isso. Já perdoei. Você fez o que precisava para salvar todos nós. Ela sorriu. – Obrigada. O sorriso de Fury vacilou. – Tem certeza de que não vai se arrepender de hoje? Está certa de que é isso que quer? Preciso que isso seja perfeito para você. – Ei – Ellie sussurrou – Não faça cara de triste. Estar com você me deixa mais feliz do que estive a vida toda. Quantas vezes tenho que dizer isso para que acredite em mim? Eu te amo. Se você tivesse ideia de como isso me faz feliz, nem pensaria em me fazer essa pergunta. Estou certa de que isso é exatamente o que quero, desse jeito mesmo, porque estou fazendo isso com você. A porta da sala de conferências se abriu e Ellie virou a cabeça para olhar para trás. Justice entrou e um grupo de pessoas o seguiu. Ellie sorriu para os rostos familiares. – Tem certeza, Ellie? Podemos esperar e planejar algo melhor, algo mais tradicional. Ellie olhou para ele. – Já falei. Não ligo para onde vai ser, nem como será feito, Fury. – Não quero que nada dê errado – Fury rosnou. – Sem atiradores, sem enfermeiras loucas. Ellie mordeu o lábio com força. Não queria rir. Ele parecia estar muito certo de que algo daria errado. – É por isso que decidimos fazer isso hoje, só com algumas pessoas que
sabem o que vamos fazer. Ninguém pode estragar uma coisa que não está esperando. – Gosto da sua lógica. Ellie se aproximou mais, ficando na ponta dos pés para roçar os lábios na orelha dele. – Adoro sua bunda e o fato de você estar totalmente curado. Mal posso esperar para ficar sozinha com você. – Ellie? – Slade falou. Ellie virou a cabeça. – Estou conversando aqui. – E todos estão escutando. – Slade ria enquanto tapava os ouvidos – Boa audição. Mas é bom saber que Fury já está cem por cento. Ruborizada, Ellie olhou para ele. – Qual é, gente? Não podiam pelo menos fingir que não estavam ouvindo? Slade piscou. – E onde estaria a graça? Você fica tão bonitinha vermelha. Fury rosnou, lançando ao amigo um olhar de aviso, e Slade se afastou para se sentar. Ellie balançava a cabeça enquanto Fury balançava os ombros. Um homem de cabelos brancos entrou por último. Ele vestia uma túnica preta e segurava uma bíblia. Ele se posicionou na frente de Ellie e Fury. Seu olhar sério passeou pela sala. – Preciso que todos se sentem. A sala ficou em silêncio. Ellie viu muitos rostos confusos ao se sentarem, fitando o casal na frente deles com o homem humano desconhecido. A maioria nem sabia por que fora chamada a uma reunião obrigatória, mas havia alguns que escondiam risos de que sabiam do que se tratava. Breeze acenou para Ellie de uma cadeira na frente. Ellie acenou de volta e depois olhou para Fury. Seus olhares se encontraram e se fixaram. – Estamos reunidos aqui hoje – o homem de cabelos brancos declarou em voz alta – para unir Fury North e Ellie Brower em casamento – ele tomou fôlego. – Não fale – Fury deu ao ministro uma olhada assustadora. – Não ouse perguntar se alguém tem alguma objeção. Conversamos sobre isso. O homem empalideceu e pigarreou.
– Fury, aceita Ellie como sua esposa? – Sim. O ministro abriu a boca, mas Fury rosnou outra vez. Sobrancelhas brancas se ergueram e a voz ficou mais baixa. – O que mais você quer que eu corte? Olhos escuros se estreitaram e Fury rosnou suavemente de novo, enquanto Ellie segurava uma risada. O ministro pigarreou de novo. – Ellie, aceita Fury como seu marido? – Sim. – Eu os declaro marido e mulher – ele olhou para Fury cautelosamente. – Foi rápido o bastante para você? Pode beijar a noiva. Estão legalmente casados. Um sorriso largo atravessou o rosto de Fury. – Ninguém nos impediu. – Alguém teria que ser muito rápido para protestar contra e falar alguma coisa aqui – Ellie se inclinou na direção dele e riu. – Agora me beije. Fury abaixou a cabeça e Ellie fechou os olhos, com o coração acelerado. A vida nunca seria chata com seu marido. A boca dele possuiu a dela e ela se perdeu no homem que amava, em uma sala cheia de testemunhas. – Eles não deviam trocar alianças? – Halfpint sussurrou a pergunta. – Ah, eles vão trocar várias – Slade riu. – Acho que colocar alguma coisa nela é a última coisa que Fury quer nesse momento. Breeze deu risada. – Er, talvez tenhamos que separá-los ou sair da sala, porque parece que ele vai aproveitar. Estão muito felizes por estarem casados. Justice se levantou. – Vamos cair fora daqui – ele sussurrou, sabendo que seu povo o ouviria. – Agora. Ele olhou para o casal se beijando na sala, entrelaçados, e emoções diferentes se agitaram. Ele estava grato por eles terem encontrado tanta felicidade juntos, mas, ao mesmo tempo, ansiava por encontrá-la também. Uma mão tocou seu ombro e ele tirou os olhos de Ellie e Fury, encontrando o olhar de Tiger. – Eles estão saindo – Tiger sussurrou. – Vou mandar um de nossos homens ficar lá fora para impedir que sejam incomodados. Slade está escoltando o ministro para fora – ele pausou. – Eles estão tão emaranhados,
que a sala podia pegar fogo e eles nem perceberiam. Justice olhou para a sala e sorriu. – Vamos – ele fechou as portas da sala de conferências quando chegaram no corredor. – Quero isso um dia – ele admitiu. Tiger pausou, inclinou um pouco a cabeça e observou Justice por um longo momento. – Eu teria muito medo de ter esse tipo de amor e depois perdê-lo. Justice concordou. – Somos livres. Qualquer coisa é possível agora se formos atrás. Slade retomou a caminhada. – Eles estão pelados e transando em cima de uma das mesas? – Provavelmente – Tiger sorriu. – Justice está ficando sentimental e quer uma mulher para ele. Eu não. Gosto da minha vida do jeito que é. E você? Slade tinha na cabeça uma imagem da doutora Trisha e o sorriso dela passou rapidamente por seus pensamentos. – Não estou decidido, mas quem sabe o que o futuro guarda?
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Table of Contents Página de Título Direitos Autorais Página PRÓLOGO CAPÍTULO UM CAPÍTULO DOIS CAPÍTULO TRÊS CAPÍTULO QUATRO CAPÍTULO CINCO CAPÍTULO SEIS CAPÍTULO SETE CAPÍTULO OITO CAPÍTULO NOVE CAPÍTULO DEZ CAPÍTULO ONZE CAPÍTULO DOZE CAPÍTULO TREZE CAPÍTULO QUATORZE CAPÍTULO QUINZE CAPÍTULO DEZESSEIS CAPÍTULO DEZESSETE CAPÍTULO DEZOITO CAPÍTULO DEZENOVE CAPÍTULO VINTE CAPÍTULO VINTE E UM