Pré-história

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Como podemos explicar o surgimento dos seres vivos, especialmente do ser humano? Hoje sabemos que as espécies se desenvolveram/desenvolvem pelo fenômeno da evolução, mas como isso aconteceu? Quem começou a explicar esses acontecimentos, desta forma foi o famoso cientista inglês, Charles Darwin (1809-1882). Em uma viagem de 5 anos pela América do Sul, Darwin estudou diversas espécies de plantas e animais e, com isso, desenvolveu a Teoria da Evolução das Espécies. Nessa teoria ele afirma que os seres vivos se modificam ao longo do tempo, “evoluindo”. A partir de mudanças graduais, espécies velhas dão origem a espécies novas. As espécies, melhor adaptadas ao ambiente, sobrevivem, mas algumas, não tão bem adaptadas quanto as outras, se extinguem, ou seja, deixam de existir, o que chamamos de seleção natural. Mas atenção! Evolução tem o sentido de mudança, não de melhora. O elefante de milhares de anos atrás não é “superior” ou “inferior” ao elefante de hoje, por exemplo. Mas afinal, o ser humano descende mesmo do macaco? Não exatamente, mas vamos explicar.

Assim como os macacos, os seres humanos são primatas, animais caracterizados principalmente pela presença de polegares opositores (nossos “dedões”) e por terem um cérebro grande em comparação com o tamanho do corpo. Há aproximadamente 60 milhões de anos, surgiram os primeiros primatas, que ao longo de muito tempo foram evoluindo, até chegar nos primatas que existem hoje (como macacos-prego, gorilas, gibões e nós humanos). Em uma época, milhões de anos atrás, todos nós éramos uma mesma espécie, que gerou diferentes espécies que se dividiram nos diferentes primatas. Uma parte evoluiu até chegar nos macacos que conhecemos hoje, como gorilas, chimpanzés e orangotangos, e outro grupo foi se transformando até chegar na nossa espécie atual, Homo sapiens. Assim, por sermos primatas, temos um ancestral em comum com os macacos, mas não significa que somos, por exemplo, chimpanzés Entende a diferença? Surgimento do ser humano: Após o surgimento dos primeiros primatas, demorou muito tempo até que surgisse o primeiro indivíduo do gênero Homo cerca de 57 milhões de anos! Os australopitecos, antepassados mais próximos do nosso gênero, surgiram por volta de quatro milhões de anos atrás e ainda eram mais parecidos com macacos:


baixos, com o corpo coberto de pelo, com dentes grandes e cérebro pequeno, mas já eram bípedes (na maior parte do tempo) e não tinham rabo. Depois, evoluindo dos australopitecos (que deixaram de existir), surge finalmente o gênero Homo a partir do Homo habilis. Essa espécie tinha o cérebro um pouco maior e dentes menores, e seu nome surge por mostrarem habilidades manuais (já produziam ferramentas de pedra). Da evolução do Homo habilis, surgiu o Homo erectus, chamado assim por já caminhar de forma muito parecida com os humanos modernos (erectus significa “em pé”). O erectus era mais alto, tinha cérebro bem maior e menos pelos no corpo (provavelmente se adaptando a um clima um pouco mais frio). Foi essa espécie que controlou o fogo pela primeira vez, entre 1,5 e 1 milhão de anos atrás, o que ajudou muito na sua sobrevivência. Com o fogo, puderam cozinhar os alimentos, ajudando a evitar

doenças e melhorando a absorção dos nutrientes, além de ajudar a afastar predadores e ser uma fonte de luz no escuro. Assim, o Homo erectus, com um corpo mais ágil e com maior controle sobre a natureza, conseguia andar por distâncias maiores e povoar locais diferentes. Após essa história toda, veio uma espécie Homo muito forte e bem adaptada ao frio, o Homo neanderthalensis, que viveu principalmente na Europa. Mas o mais legal é enfim chegarmos ao Homo sapiens, ser humano moderno, que surgiu cerca de 200.000 anos atrás, o animal que mais modificou a natureza em torno desses poucos anos (200 mil anos em um planeta que surgiu há uns 4,5 bilhões de anos é pouco, não?). É dentro de todo esse emaranhado evolutivo, que trataremos nas próximas páginas com maior profundidade. Do H. habilis ao H. sapiens, traremos à superfície a nossa querida, Pré-história, a nossa história.


Como vimos antes, no texto sobre Teoria da Evolução, existiram vários outros primatas antes do nosso surgimento. Porém, foi a partir de aproximadamente 2,8 milhões de anos atrás que surgiram os primeiros seres do gênero Homo, começando a apresentar certos hábitos e maneiras mais parecidos com nós, os Homo sapiens. Foi com o aparecimento do Homo habilis, no momento conhecido como Paleolítico Inferior, que os nossos antepassados começaram a construir e usar ferramentas para aumentar as chances de sobrevivência e facilitar a coleta de alimento. Os primeiros fósseis de Homo habilis foram encontrados na Tânzania, no famoso Grande Vale do Rift do continente africano. Por mais que eles sejam os primatas do gênero Homo mais diferentes fisicamente dos humanos, os “homens habilidosos”, como são conhecidos, são considerados um dos primeiros produtores de ferramentas de madeira, e, principalmente, de pedra.

Através do lascamento e talhamento de seixos (um tipo de pedregulho), eles conseguiam fabricar tipos de facas, perfuradores, raspadeiras e objetos denticulados (em formato de dente). A pedra talhada podia ser, muitas vezes, um núcleo onde as lascas iam sendo retiradas pouco a pouco e, em seguida, usadas para diversas funções. Todos os materiais fabricados eram fáceis de transportar, pois os grupos de hominídeos dessa época eram todos nômades (não moravam em um lugar fixo) e multifuncionais, ou seja, cada artefato fabricado não era planejado para uma função específica apenas, mas para várias. Isso pode ser explicado pela falta de criatividade da espécie ou até pela tentativa de evitar carregar muitas ferramentas no deslocamento do grupo. Imagine ter que carregar tanta pedra, caminhando!


Mas como que o Homo habilis conseguiu sobreviver por tanto tempo e ter a capacidade de produzir ferramentas? Isso se explica pelo tamanho do cérebro, que é bem maior do que o dos primatas mais antigos. Existem vários tipos de respostas para a questão do porquê de o Homo habilis ficar com um grande tamanho cerebral. Acredita-se, principalmente, que isso aconteceu por causa do início de uma vida social entre grupos de hominídeos, pelo consumo de carne, que garantiu aos nossos antepassados, bastante proteína para o cérebro se desenvolver, e também, pela gestação durar nove meses, permitindo que o crânio e o cérebro, do recém-nascido, cresça fora do útero da sua mãe, com proporções maiores se isso acontecesse dentro.

aproximadamente 1,9 milhões de anos atrás, surgiram os hominídeos da espécie Homo erectus. Seus fósseis foram encontrados inicialmente na região central de Java, na Indonésia, mas depois foram encontrados em outros lugares do mundo: na Europa, na África e na região da China.

Diferente dos Homo habilis, que eram carniceiros oportunistas, o Homo erectus já era predador, ou seja, utilizava suas ferramentas para a caça, e não apenas para consumir restos de animais já caçados por outros predadores.


Essas características presentes na vida do Homo erectus abriram portas para ele se tornar uma sociedade caçadora e coletora. Os caçadores e coletores extraem recursos da natureza (sem o uso da agricultura), porém, somente o que é realmente necessário, ou seja, não há acúmulo de excesso de alimento e ferramentas, pois isso dificultaria seu modo de vida nômade. Eles planejavam suas viagens conforme a estação do ano, sempre buscando um lugar que esteja com um clima mais ameno para obterem mais conforto e sucesso nas atividades que garantiam a sua sobrevivência. Diferente do nosso estilo de vida, os caçadores coletores não tinham propriedade privada: todos os materiais e objetos que eram adquiridos ou fabricados pertenciam a todos os membros do grupo que estavam vivendo juntos.

É importante dizer que, nesse tipo de sociedade não existe nenhum indivíduo que esteja acima dos outros, como atualmente ocorre, todos são iguais, exceto no trabalho, onde há divisão de tarefas conforme o sexo e a idade. Muitos pensam que o estilo de vida de caça e coleta é menos desenvolvido que o nosso. Mas não! Ele funciona tão bem (ou até melhor) quanto o nosso! Até os dias de hoje, existem inúmeras sociedades caçadoras e coletoras ao redor mundo, porém, infelizmente, estão sempre ameaçadas pelos governos que querem tomar os seus territórios.


O período conhecido como Paleolítico Médio durou pouco tempo (de 250.00 a.C até 40.000 a.C), foi um momento histórico considerado curto e com fatos mais restritos a um novo integrante do gênero Homo: o Homo neanderthalensis, mais conhecido como homem de neandertal. O Homo sapiens também surgiu durante esse período, mas não tinha uma população tão grande e um legado arqueológico tão relevante assim, por isso, iremos discutir seu surgimento no Paleolítico Superior. Os primeiros restos do homem de neandertal foram encontrados

na Bélgica, embora o nome desse nosso antepassado tenha surgido pela descoberta de uma ossada em uma mina de calcário em Neanderthal (Vale do Neander), na Alemanha. Segundo estudos da Arqueologia, o Homo neanderthalensis viveu na Europa e no sudoeste da Ásia. O homem de Neanderthal possuía um corpo mais robusto (ossos e músculos maiores) e é considerado por muitos um hominídeo grosseiro e com pouca inteligência. Porém, essa ideia é considerada um grande erro hoje em dia. Os neandertais inventaram certos padrões culturais envolvendo rituais (funerários e canibais), técnicas especializadas em construção de ferramentas de pedra e inventaram os primeiras cabanas ao ar livre (em lugares mais frios, eles se abrigavam em cavernas), logo, não eram pouco inteligentes!


Estudamos anteriormente o Paleolítico Inferior e o Paleolítico Médio, períodos importantes em nosso desenvolvimento evolutivo e social, principalmente. Antes de mais nada, amigo leitor, é importante falar que o fim do Paleolítico Médio é marcado pela extinção do nosso primo evolutivo, Homo neanderthalensis, ou seja, neste período chamado Paleolítico Superior apenas nossa espécie (de todos os Homo) existe, que você já sacou que é o Homo sapiens. O Paleolítico Superior é datado entre 35000 a.C (antes de Cristo) e 8500 a.C., ainda que muitos historiadores e arqueólogos discutam sobre essa precisão de tempo, alguns defendem que o período começou há uns 40 mil anos atrás. Mesmo que a famosa “Era do Gelo” tenha acabado, o clima começou a esfriar muito, novamente, há uns 30 mil

anos atrás (não precisa decorar, amigo leitor). Essa época foi muito rigorosa para a nossa espécie, já que por longos anos o frio predominou, era muito difícil caçar. Com o frio extremamente rigoroso, muitas plantas morreram, e consequentemente, muitos animais também. Foi mais ou menos nesse período que a nossa espécie começou a produzir mais intensamente agulhas, uma ferramenta relativamente simples (mas complexa de se produzir) de ossos, que nos ajudou na produção de roupas quentinhas, para que nos protegêssemos desse friozão. Brrrrrr… Apenas 10 mil anos mais tarde que o clima começou a melhorar lentamente, mas, após um certo tempo, ele se manteve muito parecido com o clima atual. Com tudo isso que falamos, devemos nos lembrar de algumas características importantes que ocorreram nesse período: Vá para a próxima página e descubra!



Mais do que em qualquer outra época já existente, o Homo sapiens deste período começou a desenvolver novas maneiras de lascar pedras: fizemos facas, machados, pontas de lanças, arpões e martelos, usando essas pedras, ossos e madeira, mais abundante no período em que a temperatura começou a subir. Imagine agora que com tudo isso, podíamos caçar animais maiores e mais ferozes, um ser relativamente pequeno, como nós, poderia matar um grande animal sem ser morto tão facilmente como antes. Isso também contribuiu para o aumento em nossa população. Sabendo que o Homo sapiens deste período migrava de lugar para lugar, sendo nômade, como já dito, dá para se ter noção do porquê nossas ferramentas ficarem tão diferentes (de região para região) e mais elaboradas, porque aprendemos, nos aperfeiçoamos e descobrimos novas maneiras de nos re-

lacionar com o ambiente em que vivemos: desenvolvendo ainda mais nossa inteligência. Ah, quase ia esquecendo algo muito importante: esse período ficou muito conhecido por fazermos uma enorme quantidade de lâminas de pedra (com lascas longas e estreitas), agulhas de ossos, que já disse serem muito importantes para fazermos roupas quentinhas, além de trabalharmos muito bem com a arte. Nenhum animal faz arte, apenas nós. Observando esculturas de lugares muito distantes, com temas similares, trabalhadas de forma muito semelhante, podemos notar uma comunicação cultural bem complexa. Essas esculturas analisadas, bem como armas trabalhadas de forma artística, são feitas em ossos e em pedra, como o calcário, por exemplo. Percorremos longas distâncias até chegarmos à América. Mas essa história fica para outra página!


Com o decorrer dos trabalhos arqueológicos, se percebeu um novo padrão em algumas aldeias antigas, as pessoas passaram a produzir artefatos de pedra polida. Estas descobertas foram motivo para o estabelecimento do período Neolítico (“nova pedra”) que durou aproximadamente de 10.000 até 3.000 a.C. A pedra polida foi muito útil! O polimento dava mais resistência para o material, facilitando a coleta de madeira e a moagem de grãos.

Existem indícios de manipulação de plantas bem antes do Neolítico, porém, foi neste período que muitas sociedades tornaram-se produtoras do próprio alimento. A agricultura permitiu a alimentação de uma quantidade de pessoas maior do que o sistema de caça e coleta, por isso, seu surgimento está relacionado com o aparecimento de aldeias cada vez maiores e a formação das primeiras cidades que conhecemos. Foram encontrados diversos focos de surgimento da agricultura com diferentes plantas domesticadas. Na região do Oriente Próximo (alguns países do Oriente Médio e o Egito) foi importante a domesticação do trigo e da cevada, por exemplo. Na América, foi notável a domesticação de milho, feijão e batatas. No Extremo Oriente o principal grão foi o arroz (comida típica da mesa brasileira). A domesticação de animais foi uma atividade recorrente na época, porém, principalmente importante nas regiões do Oriente Próximo e de América Andina. No Oriente Próximo, a domesticação de ovelhas, cabras e bovinos, por exemplo, permitiu o consumo de leite, carne e a produção têxtil (para tecidos) de lã. Na América Andina foi notável a domesticação de lhamas e a criação de alpacas (lhamas especiais) através do cruzamento.




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