OS ESPAÇOS LIVRES DA CIDADE E A LIBERDADE DAS CRIANÇAS trabalho de conclusão de curso . faculdade de arquitetura e urbanismo . escola da cidade . guega rocha carvalho
OS ESPAÇOS LIVRES DA CIDADE E A LIBERDADE DAS CRIANÇAS trabalho de conclusão de curso em parceria com a disciplina estúdio vertical
autora
Guega Rocha Carvalho
co-autores
Juliana Flahr
Mateus Loschi colaboradores
Felipe do Amaral
Joana Andrade
orientação 2o semestre
Ana Carolina Tonetti
orientação 1o semestre
Martin Corullon
co-orientação 2o semestre
André Vainer
Silvio Oksman co-orientação 1o semestre
Ana Carolina Tonetti
instituição
Escola da Cidade
data dezembro/2017
À Iza, que me inspira, todos os dias, a desejar uma cidade mais amigável e divertida para as crianças.
e
Ao Duda, que tornou possível meu sonho tardio de me tornar arquiteta urbanista.
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PREFÁCIO
Durante a minha graduação, experimentei uma dupla transformação. A de planejadora estratégica de comunicação em arquiteta e urbanista e a de mulher em mãe. Essa combinação de experiências foram muito intensas e me sinto privilegiada de tê-las vivido junto. Desde que a Iza começou a pesar na minha barriga, passei a olhar a cidade de uma maneira completamente diferente. Por um lado, a responsabilidade de carregar uma vida dentro de mim me fez enxergar uma cidade mais hostil e alguns medos foram intensificados, como o de sair a noite sozinha. E, nas minhas viagens diárias do Alto de Pinheiros (nossa casa) para o centro (Escola da Cidade), comecei a me angustiar em ver tantas praças vazias e me incomodar profundamente com a falta de crianças caminhando e brincando nas ruas. Por outro lado, especialmente depois do nascimento dela, passei a buscar maneiras de me relacionar melhor com a cidade e de fazer a minha filha conhecê-la, procurando evitar mantê-la sempre fechada e protegida entremuros, como infelizmente acontece com muitas crianças. No segundo ano escolar da Iza, e no meu quarto da faculdade, as professoras da sua turma, na escola Vera Cruz, apresentaram a instalação ‘Ocupando a Praça’, na exposição anual de artes. O projeto consistiu em mostrar a produção das visitas semanais dos seus alunos, que tinham entre três e quatro anos, às praças do entorno da escola, e da discussão sobre a propriedade, ocupação e manutenção da praça. Aquilo foi tão inspirador para mim. A relação aberta e franca entre praça e escola me pareceu a base para a formação de um pequeno cidadão e a esperança de tornar a cidade mais acessível e amigável para as crianças. Foi assim que nasceu a minha vontade de estudar o binômio praçaescola e de pensar um projeto que pudesse, de alguma maneira, estimular a brincadeira cotidiana das crianças de volta aos espaços livres da cidade.
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ÍNDICE 1
A CRIANÇA NA CIDADE CONTEMPORÂNEA
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a infância na contemporaneidade na rua ou no sofá: onde mora o perigo? conceitos que excluem e incluem a criança na cidade
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OS LUGARES DA CRIANÇA NA CIDADE
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escala da cidade escala dos distritos escala do bairro os espaços do cotidiano
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O PERCURSO ENTRE A PRAÇA E A ESCOLA
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a idealização do caminho pelas crianças
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PROJETO: LIBERDADE PARA CAMINHAR E BRINCAR
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objetivo do projeto leitura do território fatores para um bom percurso a importância da rede amiga a questão da continuidade permanência & ambivalência novos pontos de brincar
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1. A CRIANÇA NA CIDADE CONTEMPORÂNEA
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“Uma cidade que negligencia a presença da criança é um lugar pobre. Seu movimento será incompleto e opressivo. A criança não pode redescobrir a cidade a não ser que a cidade redescubra a criança.” 1 (EYCK, 1962)
A explosão demográfica das cidades pós revolução industrial e os decorrentes projetos de planejamento urbano foram, pouco a pouco, afastando as crianças dos espaços públicos urbanos. Ruas mais largas e velozes, com o surgimento do automóvel; ritmo de vida mais acelerado, com a mulher unindo-se à força de trabalho, deixando seus filhos aos cuidados da creche ou escola; e as distâncias entre casa, trabalho e escola muitas vezes aumentada; reduziram a atenção ao pedestre e tornaram as cidades cada vez menos amigáveis para os pequenos. Em meados do século XX, o arquiteto holandês Aldo Van Eyck já se incomodava com a ausência da infância na cidade e dedicou treze anos de trabalho, na prefeitura de Amsterdam, para desenhar cerca de setecentos playgrounds, que passaram a fazer parte do cenário urbano. Parquinhos que serviam não apenas para o lazer das crianças, mas de passagem e estar para adultos e pontos de encontro para famílias.
(1) Tradução livre da autora de “A city which overlooks the child’s presence is a poor place. Its movement will be incomplete and oppressive. The child cannot rediscover the city unless the city rediscovers the child”.
Se na Europa reconstruída pós guerra a criança tornou-se ausente da vida urbana, na cidade contemporânea o cenário é ainda mais perturbador. Fatores como o aumento da violência urbana, a redução demográfica e consequente aumento de filhos únicos, surgimento de novas tecnologias e crescimento das redes sociais virtuais, e ênfase desenfreado no consumo, contribuíram para uma tendência de isolamento das crianças em espaços fechados e privativos. Nas grandes metrópoles, como São Paulo, a grande maioria das crianças vive aprisionada nos muros de suas casas, condomínios, escolas, shopping centers e centros de lazer. O seu trânsito na cidade é predominantemente muito rápido, 11
sendo reduzido ao simples deslocamento e confinado dentro do carro ou do transporte público. O caminhar pelas calçadas e ruas e a permanência em espaços livres da cidade é sempre muito limitada. Zygmunt Bauman refletiu sobre essa imobilidade infantil e seu consequente reflexo no isolamento e privatização dos espaços públicos da cidade. “A mobilidade urbana da infância é limitada devido às transformações decorrentes do processo de urbanização – aumento do número de carros, crescimento populacional, aumento da violência, etc. Sendo assim, os espaços públicos são privatizados pela ‘procura infinita de proteção e insaciável aspiração à segurança’.” (BAUMAN, 2005)
O resultado é que se consolida na contemporaneidade uma cidade de adultos, na qual estes que têm circulação livre, participam e opinam sobre sua configuração. Já os desejos das crianças raramente são ouvidos e sua presença é claramente delimitada aos espaços do brincar, como os parques e praças, e os espaços educativos, como as escolas (BRETTAS, 2009). As crianças estão sempre vigiadas e supervisionadas por um adulto, processo que as infantiliza e as coloca nessa engrenagem de medo e privatização. Nesse contexto, há uma série de discussões e iniciativas, ao redor do mundo, centradas na busca de uma melhor relação entre a cidade e a criança. Um bom exemplo disso é ‘La Cittá dei Bambini’ , ONG criada pelo pensador, psicopedagogo e cartunista italiano Francesco Tonucci. Tonucci aposta na transformação das cidades a partir da presença da criança, pois acredita que uma cidade na qual as crianças participam e têm autonomia para se movimentar é uma cidade mais diversa, mais limpa, mais gentil, mais saudável, mais sustentável. Uma cidade que respeita e estimula a presença da criança no espaço público também dá mais lugar para outros grupos como idosos e deficientes físicos. É uma cidade mais humana, inclusiva, e democrática. “Eu não quero uma cidade infantil, uma cidade pequena. Não quero uma cidade montessoriana3 . Quero uma cidade para todos. E para estar seguro de que não esquecerei ninguém, escolho o mais novo.” (TONUCCI, 2015)
Mas se por um lado Tonucci deixa claro que a motivação da sua iniciativa não é apenas educadora, ela é política, pois uma cidade para a criança é uma 12
(2) A Cidade das Crianças. (3) Expressão relacionada à italiana Maria Montessori (1870-1952), primeira mulher a se formar em medicina em seu país, foi pioneira no campo pedagógico ao dar mais ênfase à auto-educação do aluno do que ao papel do professor como fonte de conhecimento.
cidade para todos, por outro ele reconhece na escola papel fundamental para a reinserção da criança nas ruas, uma vez que o caminho de casa para a escola é o percurso urbano que faz parte do seu cotidiano. Fazer esse caminho, a pé, de forma mais autônoma, seria o primeiro passo para as crianças transitarem mais livremente na cidade. Sabemos que a autonomia das crianças nas Metrópoles é uma questão muito delicada. Histórias e índices de violência urbana, tão noticiados pela mídia, muitas vezes sensacionalista, apavoram pais e também inquietam filhos, como apontou a pesquisa IRBEM (Indicadores de Referência de Bem-Estar no Município) Criança e Adolescente, da Rede Nossa São Paulo, que revela que a violência em São Paulo assusta 56% das crianças e adolescentes que vivem na capital paulista. As pesquisas do Instituto Igarapé, que desenvolveu o ISC4 (Índice de Segurança da Criança) também reforçam essa percepção dos pequenos moradores de cidades como São Paulo e Rio de Janeiro e a associam aos espaços públicos. “Crianças e adolescentes consideram agressões físicas, verbais e sexuais como as principais formas de violência, e atribuem a espaços públicos o principal local em que a violência pode afetá-los.”
(4) O ISC é um aplicativo de pesquisa de percepção simples que visa identificar a percepção de crianças e jovens sobre a segurança ao seu redor, desenvolvido pelo Instituto Igarapé. (5) As cidades representadas no 1o Congresso Internacional das Cidades Educadoras, que teve lugar em Barcelona em Novembro de 1990, reuniram na Carta inicial, os princípios essenciais ao impulso educador da cidade. Elas partiam do princípio que o desenvolvimento dos seus habitantes não podiam ser deixado ao acaso. Esta Carta foi revista no III Congresso Internacional (Bolonha, 1994) e no de Gênova (2004), a fim de adaptar as suas abordagens aos novos desafios e necessidades sociais.
Pensando a cidade como território vivo, ‘resultado de um longo processo de seleção cumulativa’ (SECCHI, 2006) permanentemente concebido, destruído e reconstruído, produzido pelos sujeitos que a habitam, a cidade precisa da criança para ser uma cidade completa. E a criança precisa da cidade, não apenas para se mover, para brincar ou estudar, mas também para se educar como cidadã. Prova disso é que a formação, promoção e desenvolvimento de crianças e jovens é prioridade no conceito de Cidade Educadora5 , fundado em 1990. “A cidade será educadora quando reconheça, exerça e desenvolva, para além das suas funções tradicionais (econômica, social, política e de prestação de serviços), uma função educadora, isto é, quando assuma uma intencionalidade e responsabilidade, cujo objetivo seja a formação, promoção e desenvolvimento de todos os seus habitantes, a começar pelas crianças e pelos jovens. O grande desafio do século XXI é investir na educação de cada indivíduo, de maneira que este seja cada vez mais capaz de exprimir, afirmar e desenvolver
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o seu próprio potencial humano. Potencial feito de individualidade, construtividade, criatividade e sentido de responsabilidade assim como de um sentido de comunidade - capacidade de diálogo, de confrontação e de solidariedade. Uma cidade será educadora se oferecer todo o seu potencial de forma generosa, deixando-se envolver por todos os seus habitantes e ensinando-os a envolverem-se nela. “
O papel educador da cidade também é enfatizado pela arquiteta e pensadora da arquitetura escolar Beatriz Goulart, que defende a educação integral não reduzida ao tempo de escola, mas ampliada ao espaço da cidade, fundindo o pátio escolar aos espaços livres urbanos. “Acredito que poderemos avançar na construção de caminhos para a superação da oposição entre a escola e a cidade, onde o que uma ensina a outra desensina, e que cinde os sujeitos em dois, com papéis antagônicos e contraditórios: o de ser aluno e o de ser cidadão (...) A Educação Integral precisa da escola, mas também do seu entorno, da comunidade, do bairro, de toda a cidade. Espaços edificados e espaços livres de edificação. A escola integral precisa das ruas. Ao contrário do que muitos pensam e desejam, não quer tirar as crianças das ruas, mas, sim, dar-lhes a oportunidade e o direito do reencontro.” (GOULART, 2011)
A temática da ausência da criança na cidade contemporânea, analisando suas causas, conteúdos, contradições e efeitos é o foco desse estudo que buscará, junto com os pequenos, encontrar soluções, não idílicas, mas possíveis, para uma melhor mobilidade e maior permanência das crianças na cidade metropolitana de São Paulo. Para começar, vamos destacar de forma bastante breve, alguns conceitos e ações que tem excluído a criança da cidade e outros que têm buscado a inclusão dos pequenos na cena metropolitana.
Crianças do projeto Curumim (SESC Consolação) à caminho do Parque Buenos Aires, foto Joana Andrade. 14
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na rua ou no sofá: onde mora o perigo?
O que é mais perigoso de fato para uma criança, brincar ao ar livre, na rua, nos parques e praças da cidade ou ficar presa dentro de casa, horas e horas sentada no sofá da sala ou, pior ainda, trancada em seu quarto, vendo televisão, jogando games, e surfando na internet pelo celular ou computador? Essas crianças, que parecem estar mais protegidas em seus lares, estão expostas a riscos que podem comprometer sua saúde física e mental, hoje e no seu futuro. O primeiro risco à saúde física das crianças é a obesidade, Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), é uma das questões de saúde pública 16
mais graves do século XXI, e já pode ser considerada o problema crônico mais prevalente entre as crianças do planeta. Estima-se que 41 milhões de pequenos com menos de 5 anos estejam acima do peso, número que engloba tanto países desenvolvidos como aqueles em desenvolvimento. No Brasil, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que 15% das crianças com idade entre 5 e 9 anos têm obesidade e cerca de 30% não chegaram ao nível da obesidade, mas estão com peso acima do recomendado pela OMS e pelo Ministério da Saúde, índices que já são considerados de epidemia.
A obesidade infantil pode aumentar o risco ou causar diversos problemas de saúde a curto prazo, como aumento nos níveis de colesterol e problemas ortopédicos; e a longo prazo, como diabetes, hipertensão e redução na expectativa de vida. Além disso, pode ocasionar distúrbios psicológicos para crianças e adolescentes, como baixa auto-estima, depressão e ansiedade crônica. Todos esses problemas podem ser levados e intensificados na vida adulta, já que muitos médicos alertam que crianças e adolescentes obesos terão mais probabilidade de continuarem obesos quando adultos. É consenso que a obesidade é
o resultado da combinação de má alimentação com sedentarismo. A Pesquisa, The Infant Kids Study (IKS), realizado pela Nestlé em parceria com o Ibope, na região metropolitana de São Paulo, em 2016, envolvendo 1.000 crianças com idade entre 0 e 12 anos, de todas as classes sociais, acende um alerta sobre a questão da atividade física. O estudo revelou que mais da metade das crianças entre 1 e 12 anos estão sedentárias, ou seja praticam menos de 300 minutos (5 horas) de atividade física por semana. Quando a faixa etária é limitada para crianças de 10 a 12 anos, idade em que as crianças deveriam estar em plena atividade física, para seu bom desenvolvimento,
o número é ainda bastante assustador, já que 45% dessas crianças estão sedentárias. O hábito de assistir tv é um indicador de sedentarismo e, segundo o estudo, 75% das crianças entre 7 e 12 anos passam quatro horas ou mais por dia em frente à televisão ou computador, ou seja, o dobro da permanência recomendada pela OMS e Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Para a psicóloga e pedagoga Elizabeth Monteiro, a atividade física é mais importante do que a alimentação. “O movimento, o ato motor, ajuda a desenvolver a inteligência e a cognição.
Além disso, a falta de exercícios tem deixado nossas crianças doentes fisicamente e mentalmente. Cada vez mais eu tenho atendido crianças com depressão, transtorno obsessivo compulsivo (TOC), esquizofrenia e, depois de muito pesquisar, percebi que nossas crianças perderam a infância. Elas não brincam mais… na rua, com amigos, na natureza.”, afirma. A impressão da psicóloga e pedagoga é reiterada por pesquisa publicada no periódico americano Pediatrics, em 2010. Pesquisadores da universidade de Bristol, na Inglaterra, desenvolveram estudo com 1.013 crianças de 10 e 11 anos. As crianças 17
que passavam duas ou mais horas por dia na frente de uma tela eram mais hiperativas, tinham mais dificuldades em se relacionar socialmente e mais problemas emocionais do que aquelas que passavam menos tempo na tv ou no computador, ainda que, fisicamente, fossem bastante ativas. Mas a televisão não está sozinha quando o assunto é sedentarismo, sabemos que as tecnologias da informação e comunicação estão transformando o mundo à nossa volta e os comportamentos e relacionamentos das pessoas. Segundo o Manual de Orientação - Saúde de Crianças e Adolescentes na Era Digital, da SBP, “Estudos científicos comprovam que a tecnologia influencia comportamentos através do mundo digital, modificando hábitos desde a infância, que podem causar prejuízos e danos à saúde. O uso precoce e de longa duração de jogos online, redes sociais ou diversos aplicativos com filmes e vídeos na Internet pode causar dificuldades de socialização e conexão com outras pessoas e dificuldades escolares; a dependência ou o uso problemático e interativo das mídias causa problemas mentais, aumento da ansiedade, violência, cyberbullying1, transtornos de sono e alimentação, sedentarismo, problemas auditivos
por uso de headphones, problemas visuais, problemas posturais e lesões de esforço repetitivo (LER); problemas que envolvem a sexualidade, como maior vulnerabilidade ao grooming2 e sexting3, incluindo pornografia, acesso facilitado às redes de pedofilia e exploração sexual online; compra e uso de drogas, pensamentos ou gestos de autoagressão e suicídio; além das ‘brincadeiras’ ou ‘desafios’ online que podem ocasionar consequências graves e até o coma por anóxia cerebral ou morte.” Por fim, a superproteção das crianças dentro de casa pode levar à baixa exposição ao sol e consequente redução nos níveis de vitamina D, vitamina que ajuda o corpo a absorver sais minerais como o cálcio e auxilia na formação de dentes e ossos fortes. Também funciona como um hormônio, com muitas outras funções no organismo da criança, incluindo a regulação do sistema imunológico, a produção de insulina e o crescimento celular. Com todos esses riscos para a saúde física e mental das crianças podemos colocar a questão: onde realmente está o perigo para as crianças que moram nas metrópoles contemporâneas?
NÚMEROS ALARMANTES obesidade no mundo4 A obesidade e o sobrepeso infantil deverão atingir cerca de 75 milhões de crianças no mundo até 2025.
obesidade no brasil5 Entre 1975 e 1997, aumentou em 12%, de 3 para 15% da população.
15% das crianças com idade entre 5 e 9 anos têm obesidade.
(1) Cyberbulling: assédio entre menores, praticado virtualmente, expondo as crianças às maldades de estranhos. (2) Grooming: aliciamento, prática através da qual um adulto ganha a confiança de um menor com propósito sexual. (3) Sexting: troca de fotografias ou vídeos com conteúdo erótico entre os jovens. (1) (2) (3) Fonte: site guiainfantil.com. (4) Fonte: Organização Mundial da Saúde. (5) Fonte: Organização Pan-Americana da Saúde e IBGE. (6) Fonte:The Infant Kids Study (IKS), São Paulo, 2016 - Nestlé e Ibope. (7) Fonte: Manual de Orientação Promoção de Atividade Física na Infância e Adolescência - SBP. (8) Fonte: Manual de Orientação - Saúde de Crianças e Adolescentes na Era Digital - SBP. Ilustrações, Frato (Francesco Tonucci). Foto, Praça Rotary, Juliana Flahr.
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Cerca de 30% não chegaram ao nível da obesidade, mas estão com peso acima do recomendado pela OMS e pelo Ministério da Saúde.
sedentarismo em sp6 Mais de 50% de crianças entre 1 e 12 anos estão sedentárias (praticam menos de 5 horas de atividade física por semana).
45% de crianças entre 10 e 12 anos estão sedentárias.
75% das crianças entre 7 e 12 anos passam quatro horas ou mais por dia em frente à televisão ou computador, ou seja, o dobro da permanência recomendada pela OMS e SBP.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA RECOMENDA atividade física7
uso da tecnologia8
crianças 0 - 2 anos devem ser incentivadas a serem ativas, mesmo por curtos períodos, várias vezes ao dia. As que conseguem andar sozinhas devem ser estimuladas fisicamente durante pelo menos 180 minutos, em ações que podem ser fracionadas ao longo de cada período.
crianças 0 - 2 anos não devem ficar em frente a telas de tv, tablets, celular e jogos eletrônicos em momento algum, especialmente durante as refeições e 1 a 2 horas antes de dormir.
crianças 3 - 5 anos devem acumular pelos menos 180 minutos de atividades físicas de qualquer intensidade distribuídas ao longo do dia, incluindo atividades que desenvolvam a coordenação motora. crianças e adolescentes 6 - 19 anos devem acumular pelo menos 60 minutos diários de atividades físicas de intensidade moderada a vigorosa (com respiração acelerada e batimento cardíaco mais rápido). As atividades intensas que ajudam no fortalecimento e desenvolvimento de músculos e ossos devem ser feitas pelo menos três vezes por semana.
crianças 3 - 5 anos o tempo de tela sugerido é de no máximo 1 h / dia. crianças e adolescentes 6 - 19 anos o tempo de tela sugerido é de 2h diárias, excluídas, entretanto, as horas gastas para a realização de tarefas escolares no computador.
conteúdo x tecnologia8 crianças com até 6 anos devem ser mais protegidas da violência virtual, pois não conseguem separar fantasia da realidade. crianças com até 10 anos não devem fazer uso de tv e computador nos seus próprios quartos.
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exclui a criança da cidade conceito de cidade metrópole desenvolvimentista A ideia de uma cidade que cresce para cima e para os lados foi personificada pelo lema “São Paulo não pode parar” pelo político Ademar de Barros (ex-prefeito e governador de SP) nos anos 1950. Apesar de antigo, o lema ademarista é revisitado constantemente em campanhas políticas e projetos
de desenvolvimento urbano da cidade. O atual prefeito da cidade, João Dória, venceu as últimas eleições caracterizado pelo personagem de ‘João Trabalhador’, um funcionário que, acima de tudo trabalha 24h por dia. Av Paulista anos 1970, foto autor desconhecido.
conceito de mobilidade rodoviarista, baseado no transporte individual Desde a implantação do ‘Plano de Avenidas”, idealizado pelo engenheiro Prestes Maia, na década de 1930, a cidade deu preferência pelo sistema de transporte em superfície, transformando o automóvel em símbolo de sucesso e o sistema de mobilidade priorizado. Ações como a ampliação do número
de pistas da Av Marginal Tietê, implementadas pelo ex-governador José Serra, em 2010, e aumento do limite de velocidade nas vias Marginais, ordenadas pelo atual prefeito João Dória, são infelizmente aclamadas por grande parte, senão a maioria, da população.
Limite de velocidade implementado em Janeiro de 2017 nas vias Marginais, foto revista Veja.
conceito de espaço público protegido, cercado, privatizado O lazer em espaço, protegido, cercado e privatizado é um costume paulistano que me parece ir além do medo da violência urbana. Ele está associado à mobilidade, à conveniência e ao consumo. Num shopping center, por exemplo, a família encontra o estacionamento para o carro, a 20
refeição para a família, o lazer para as crianças, e ainda aproveita para fazer uma “comprinha”. Essa valorização de tipo de espaço de compra e lazer criou a triste ideia de que o “shopping” é a praia do paulista. Criança em shopping center, foto autor desconhecido.
inclui a criança na cidade cidade educadora conceito de cidade
Av Paulista, domingo de 2016, foto portal G1.
‘Cidade Educadora é aquela que se propõe, em todos os níveis, a ser fonte de educação. Promotora dos valores democráticos, da liberdade e da convivência pacífica entre todos, respeitando diferenças e identidades, é uma cidade participativa e interativa, que busca a qualidade de vida na sua
construção diária e na pró-atividade de seus cidadãos.’ (site prefeitura de SP, 2007). Esse conceito de cidade por centrar-se na educação, coloca as crianças e jovens em primeiro lugar. Um bom exemplo concreto dessa ideia são as ruas do brincar, ruas que abrem para os pedestres no fim de semana.
diversa, sustentável e inclusiva conceito de mobilidade
Ciclovia na ponte da Casa Verde, foto Hélvio Romero/Estadão Conte,
A Política de Mobilidade Urbana, de 2012, estabelece que o pedestre é prioridade absoluta, e que a distribuição do espaço urbano deve ser proporcional à modal do transporte, o que significaria reservar apenas 30% do espaço da cidade para o carro. Isso está longe de ser verdade por aqui. O ex-prefeito de SP Fernando Haddad, implementou uma política de
mobilidade corajosa, dando prioridade ao transporte coletivo, e criando a malha cicloviária, mas ele não pôde dar continuidade a esse trabalho. Na última década, muitos movimentos surgiram para estimular os paulistanos a caminharem mais, como o Carona a pé, projeto que faz as crianças irem a pé de casa para a escola.
aberto, livre e de uso comunitário conceito de espaço público
Inauguração da revitalização da praça Horácio Sabino, foto Folha de São Paulo.
Muitos movimentos de associações de moradores têm surgido buscando a reapropriação dos espaços públicos do bairro. Foi assim que surgiu o movimento Boa Praça, em 2008, com a intenção de mobilizar cidadãos, empresas, governos e instituições para ocupar e revitalizar os espaços públicos,
em especial as praças da cidade, devolvendo a elas o seu propósito inicial: o de locais de convívio, lazer, debate e inclusão. Um exemplo é a revitalização da pça Horácio Sabino, viabilizada pelos moradores do entorno. A praça que vivia vazia agora recebe crianças para brincar, todos os dias. 21
2. OS LUGARES DA CRIANÇA NA CIDADE
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Para discutir sobre os lugares da criança na cidade é necessário deixar claro de que criança e de que espaços estamos falando. Nosso foco são as crianças a partir dos 6 anos, primordialmente os alunos do ensino fundamental 1. Isso porque a partir dos 6 anos as crianças poderiam, gradualmente, conquistar e desfrutar dos espaços livres da cidade com mais autonomia. Caminhar até a esquina para comprar pão, ir e voltar da escola a pé, tomar lanche na casa do vizinho ou passar a tarde na praça com um grupo de amigos. Os lugares da criança na cidade que, a princípio, vamos discutir são a praça e a escola, sendo a escola concebida como espaço educador e a praça percebida como o lugar do brincar. Definir o que é praça, espaço livre ou espaço público é um tanto complexo. Da ágora da Grécia antiga ao surgimento dos parklets em São Francisco no novo milênio, valores relativos ao espaço público foram se sobrepondo e se transformando. No grande espaço livre da ágora grega, no qual cidadãos se encontravam e circulavam livremente e múltiplas atividades transcorriam
simultaneamente, comerciais, sociais e políticas, surgiu a ideia de um espaço público de exercício da democracia. Direito esse amplamente exercitado nos dias de hoje, através de manifestações populares, em grandes espaços livres, como o Vale do Anhangabaú, na região central, o vão livre do MASP, na avenida Paulista ou o Largo da Batata, na zona oeste de São Paulo. Na idade média, a praça que abrigava a igreja, reafirmou-se como ponto central da cidade protegida entremuros. Esse desenho e ideia de centralidade foi trazido ao Brasil para as cidades coloniais e ainda resiste em pequenas cidades interioranas e mesmo em alguns bairros da nossa cidade. No começo do século XX, as praças ajardinadas tornaram-se sinal do progresso e descolamento do passado arcaico e colonial, como foi o caso do Parque do Anhangabaú (1911) e da Praça Buenos (1916), ambos projetos do arquiteto e urbanista francês JosephAntoine Bouvard, trazido ao Brasil, pelo prefeito Antônio Prado (1908-1911), para o início do processo de urbanização da cidade. Esses novos e belos espaços eram desfrutados pela elite paulistana, 23
deixando de lado o caráter democrático da praça. Em contrapartida, com a industrialização, surgiram novos espaços de lazer destinados à população operária e suas famílias, como os parques infantis idealizados por Mario de Andrade durante a prefeitura de Fabio Prado (1934-1938). O seu objetivo era garantir que as crianças estivessem assistidas por meio do esporte e cultura, enquanto os pais e mães trabalhavam. Era um espaço complementar à educação formal, destinado prioritariamente ao brincar, vinculando esses novos espaços livres às crianças. Nesse mesmo período, foi iniciada a implementação do Plano de Avenidas, idealizado pelo engenheiro que tornouse prefeito da cidade, Prestes Maia, no qual muitos desses espaços públicos e jardins, deram lugar a grandes avenidas, com o objetivo de permitir o crescimento da cidade. A partir daí, o automóvel tornou-se o símbolo de sucesso e o sistema de mobilidade priorizado e a malha viária deu forma à cidade, criando muitos espaços ‘livres’ que são simplesmente resíduos inabitados. Com a chegada dos anos 1950 e intensificação do processo de 24
metropolização de São Paulo, surgiram novos espaços públicos que se transformaram em ícones da cidade e da arquitetura moderna brasileira, proclamando a liberdade e versatilidade do uso dos espaços livres como o Museu de Arte de São Paulo MASP (1951-1954), com seu vão livre de 74 metros de comprimento e 10.000 metros quadrados de área, projetado por Lina Bo Bardi, e a Marquise do Ibirapuera (1957-1958), de Oscar Niemeyer com sua sinuosa sombra de 600 metros de extensão. Em contraposição à continuidade da arquitetura e urbanismo modernista, a figura da fragmentação do espaço urbano é a mais presente na metrópole contemporânea do novo milênio, como definiu o urbanista italiano Bernardo Secchi (2015). Muito mais complexa, dispersa e heterogênea do que a São Paulo das praças ajardinadas, a cidade tornou-se um grande quebracabeça unidos pelos seus espaços abertos. É nesses espaços livres que a cidade e seus habitantes encontram a possibilidade de se reconectarem. Nessa chave de busca pelo reencontro dos moradores com a sua comunidade e sua cidade que surgiram iniciativas como os parklets, as mini praças, a adoção de praças pela comunidade e pela iniciativa privada e as ruas do
brincas (ruas que são fechadas para o trânsito de carros e abertas para os pedestres nos fins de semana). É essa noção de praça ou espaço público que nos interessa. Um espaço livre que independentemente do seu tamanho convida à permanência e à experiência, pois acreditamos que o começo de uma solução para os desencontros das grandes cidades é a melhoria e apropriação dos seus espaços livres pelos seus moradores. E as crianças não podem ficar de fora dessa conquista.
Iza dançando na praça, foto Eduardo A Carvalho.
o que é praça? pelo dicionário sf. 1. Lugar público cercado de edifícios; largo. 2. Mercado, feira. 3. O conjunto das casas comerciais duma cidade; o seu comércio (AURELIO, 1993) sf. 1. Área urbanizada geralmente arborizada, para descanso e lazer. 2. Comunidade comercial e financeira de uma cidade. 3. Local público onde estacionam carros de aluguel. (HOUAISS, 2001) sf. 1. Área pública sem construções, dentro de uma cidade; largo. 2. Local aberto onde se compra e se vende; mercado, feira. (Google, 2015)
por historiadores/arquitetos Espaço público e aberto de uma cidade ou vilarejo. (CHING, 2003). Praça pública é um elemento urbano que identifica e organiza o espaço da cidade. Sua característica fundamental é o acesso livre depositado no seu caráter público. (OLIVEIRA, 2010) Espaço para permanência para atividade em proporção capacidade do olhar... o espaço movimento, (é) a rua, e o espaço experiência, a praça. (GEHL, 2013).
e à de da
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escala da cidade
mapa de densidade escolar
O primeiro passo para definir o recorte de estudo dentro da cidade de São Paulo, foi criar um índice de densidade escolar (matrículas/área), tomando como referência o índice de densidade demográfica (população/área). O objetivo era entender a concentração das crianças matriculadas da primeira a quinta série do ensino fundamental 1 (crianças de aproximadamente seis a doze anos) de escolas públicas e privadas, dos distritos da cidade. Escolhemos a Consolação, o Alto de Pinheiros e o Campo Limpo para nossa análise da relação praça-escola. Três distritos com características urbanas bem diferentes e níveis de densidade escolar do fundamental 1 também significativamente distintos quando comparados à média da cidade de São Paulo, que é 5,17 matrículas/ha. 26
alto de pinheiros 5,5 matrículas/ha
ALTO DE PINHEIROS
consolação 12,1 matrículas/ha
CONSO LAÇAO
campo limpo 16,6 matrículas/ha
legenda 00 - 05 06 - 10 (média MSP) 11 - 15 16 - 20 21 +
densidade escolar = matrículas no ensino fundamental 1 /ha fonte: Censo Escolar MEC/Inep e Centro de Informações Educacionais da Secretaria de Estado da Educação 2015, IBGE Censos demográficos 2010.
escala dos distritos
principais indicadores
alto de pinheiros
consolação
zona
oeste
zona
centro
área
7,7 km2
área
3,70 Km2
população
43 mil
população
57 mil
dens demo
05,6
dens demo
15,5
dens escolar
5,5
dens escolar
12,1
idade média
44,6
idade média
43,7
escolaridade
49% superior
escolaridade
65% superior
classe social
73% AB
classe social
73% AB
melhor pior
qualidade ambiental excesso veículos/ falta transporte público
campo limpo zona sul rea 12,80 Km2 população 211 mil dens demo 16,5 dens escolar 16,8 idade média 35,1
melhor pior
comércio poluição sonora /trânsito
escolaridade 47% fundamental classe social 86% BC melhor transporte / escola pior insegurança
densidade demografica MSP 74,58 habitantes/ha densidade escolar MSP 05,17 matrículas ensino fundamental 1/ha melhor / pior: o melhor e o pior do bairro, na opinião dos moradores fonte: Infocidade / Datafolha, pesquisa DNA Paulistano 2012 27
escala dos distritos Nesse primeiro momento, em que vamos começar o levantamento com uma visão macro da cidade de São Paulo, vamos concentrar nossa análise nas escolas de ensino fundamental, públicas e privadas e nas praças. Mapear as escolas foi fácil, usamos os dados do GEO SAMPA, o mapa digital da cidade de São Paulo, disponibilizado pela prefeitura. Já o mapeamento das praças foi um processo mais complicado. Não existe um mapa de praças da cidade ou pelo menos não conseguimos localizar. Há um mapa de parques e áreas verdes da SVMA Secretaria do Verde e Meio Ambiente, mas como as praças são responsabilidade da SDL Secretaria Desenvolvimento e Licenciamento (anterior SMDU Secretaria Municipal do Desenvolvimento Urbano) elas não fazem parte explicitamente desse mapa. Consultamos diversos mapas da prefeitura, e nenhum deles mostrava as praças de São Paulo. Minha esperança surgiu com o esforço atual da prefeitura em estimular a adoção de praças pela iniciativa privada. Para isso me parece que um mapa de praças seria fundamental, não? Parece que não. Encontrei no site da prefeitura apenas uma lista de praças disponíveis 28
para adoção onde sequer aparece o nome das praças, elas são listas por área e endereço! Não nos restou outra alternativa senão criar nosso próprio mapa de praças. Usamos como ferramenta básica o Google Maps para primeiramente listar todas as praças dos três distritos e depois visitamos e fotografamos todas elas, com exceção de algumas praças do Campo Limpo onde o acesso é mais difícil. A Consolação, com índice de densidade escolar de 8,85 matrículas/ ha, bem acima da média da cidade, foi eleita como distrito representante do centro, primeira região da cidade a se verticalizar. Com 3,70 km2 de área, e aproximadamente 57 mil habitantes é o menor dos distritos, sendo uma região bastante densa demograficamente (155,04 hab/ha) quando comparada com a média de São Paulo (74,6 hab/ ha). Compreendendo os bairros do Pacaembu, Higienópolis, Vila Buarque e Cerqueira César, a Consolação tem morfologia bastante vertical, uso predominantemente misto com forte presença de comércio, 12 praças e 32 escolas. Como a grande maioria da população vive em apartamentos,
há uma demanda muito grande pelo uso dos parquinhos das praças pelas crianças, que se dá especialmente nos fins de semana. As principais praças da região são o Parque Buenos Aires, no coração de Higienópolis, (transformado em parque em 1987), muito arborizada, equipada, bem cuidada e cercada, a Praça Vilaboim, pequena em área deve sua importância ao seu entorno de restaurantes e lojas da moda e a Praça Rotary, na Vila Buarque, também cercada, abriga a biblioteca Monteiro Lobato e tem um público bem eclético. O Alto de Pinheiros, com o dobro da extensão da Consolação e 75% da população (43 mil habitantes), tem a menor densidade demográfica (56 hab/ha) e escolar (4,33 matrículas/ ha) dos três distritos, e foi escolhido como distrito representante dos bairro-jardins. Compreendendo onze bairros, entre eles os nobres Alto de Pinheiros, e City Boaçava, o distrito se caracteriza por farta arborização, uma morfologia bastante horizontal, uso prioritariamente residencial, com grandes residências unifamilires, muitas praças (30) e 24 escolas. Em geral as praças são muito arborizadas e pouco ocupadas, sendo que muitas delas não são propriamente praças e sim
resíduos viários ou lotes não ocupados pela sua difícil topografia. Destacamse na região a Praça Barão Pinto Lima, no centro do City Boaçava, adotada pela associação de moradores, é muito ocupada nos fins de semana por moradores do bairro e seus cachorros; a praça Conde de Barcelos, que com sua extensão convida os moradores a caminhadas diárias e foi palco de manifestações recentes por localizar a residência particular do atual presidente da república Michel Temer; a praça Panamericana, enorme ilha viária; e a praça do Pôr do Sol, que recebe até 2 mil visitantes de toda a cidade durantes os finais de semana para apreciar a vista durante o crepúsculo. A fartura de espaço público se mostrou um grande desperdício, já que a maioria das praças são pouco ocupadas. O Campo Limpo, maior distrito em extensão (12,8 km2) e população (211 mil habitantes) é o distrito que representa a periferia e apresenta maior densidade demográfica (165,13 hab/ha) e escolar (12,8 matrículas/ha). Apesar de ter uma ocupação bastante horizontal, com o predomínio de residências unifamiliares, sua alta densidade devese à forte presença de favelas na região, são cerca de 70 comunidades,
com 60 mil habitantes, mais do que o total de moradores da Consolação. É também o distrito com mais escolas (112, sendo 76 públicas) e menos praças, localizamos apenas 10, pouquíssima área de espaço público num território tão extenso. Em nosso passeio pelo Google Maps encontramos algumas pistas para a ausência de espaços públicos. Pelo menos três praças (Praça V, Praça Cinza e Praça Aduano do Nascimento Cabral), que são marcadas no mapa estão ocupadas por favelas. A maioria dos espaços livres ainda remanecentes da região são privativos e estão cercados nos condomínios de alta renda da região. A praça mais importante do bairro é a Tadeu Tripolli, também conhecida como praça do Campo Limpo, com extensa área, parquinho e pista de skate, ela recebe os encontros e eventos culturais da região.
Praça Marechal Rondom vista do Minhocão num domingo, foto Guega Rocha Carvalho. 29
distrito consolação
2
P
1
3
9
12
4
REPÚBLICA
S IZE ERD
SANTA CECÍLIA
5 1. PRAÇA WENDELL WILKIE
8
2. PRAÇA ESTHER MESQUITA 3. PRAÇA VILABOIM
7
6
4. PRAÇA CHARLES MILLER 5. PRAÇA FARIAS BRITO 6. PRAÇA HUMBERTO DE CAMPOS 7. PRAÇA UNIVERSIDADE MACKENZIE 8. PRAÇA VITOR DEL MAZO 9. PRAÇA ROTARY 10. PRAÇA DO CICLISTA 11. PRAÇA JOSÉ MOLINA 12. PRAÇA BUENOS AIRES 30
A IST
11
JAR
DIM PAU LI
STA
10
AV BEL
escola pública escola privada praça ciclovia corredor de ônibus ponto de ônibus estação de metrô
foto aĂŠrea, Google Earth 31
01 praça wendell wilkie
02 praça esther mesquita
03 praça vilaboim
32
área
7.000 m2
equipamentos
banca de jornal, bancos
arborização
farta
uso entorno
residencial, supermercado
mobilidade
ponto de táxi, linhas de ônibus
escola próxima
Carlitos (privada) 750m
observações
movimento nas áreas de equipamentos
área
6.300 m2
equipamentos
lanchonete, bancos, mesas
arborização
farta, grande porte
uso entorno
residencial
mobilidade
ponto de táxi, linhas de ônibus
escola próxima
Colégio Rio Branco e Syon(privada) 100m
observações
praça em desnível,
área
1.700 m2
equipamentos
banca de jornal, bancos, parquinho
arborização
farta, árvores de grande porte
uso entorno
residencial, comercial
mobilidade
ponto de táxi, linha de ônibus, ciclovia
escola próxima
Colégio FAAP (rede privada) 200m
observações
parquinho interditado, paraciclo
04 praça charles miller
05 praça farias brito
06 praça humberto campos
área
10.000 m2
equipamentos
banca de jornal, Pacaembu
arborização
nenhuma
uso entorno
residencial
mobilidade
carro, ponto de táxi, linha de ônibus
escola próxima
Escola Carlitos (privada) 100m
observações
ponto de dispersão em jogos de futebol e feira livre aos fins de semana
área
470 m2
equipamentos
parquinho
arborização
pouca
uso entorno
residencial
mobilidade
carro
escola próxima
Escola Coruja (privada) 200m
observações
bem cuidada, cercada
área
1500 m2
equipamentos
nenhum
arborização
abundante
uso entorno
residencial
mobilidade
carro
escola próxima
Escola Ofélia Fonseca (privada) 300m
observações
resíduo viário, ligação de duas ruas com cotas de nível diferentes 33
07 praça universidade mackenzie
08 praça vítor del mazo
09 praça rotary
34
área
980 m2
equipamentos
bancos
arborização
pouca
uso entorno
residencial, comercial, cemitério, Anglo
mobilidade
carro, ponto de ônibus, ciclovia
escola próxima
Escola Estadual Profª Marina Cintra 190m
observações
ponto de encontro entre alunos e funcionários do cursinho
área
440 m2
equipamentos
bancos, lixeiras
arborização
mínima
uso entorno
residencial, comercial, cemitério
mobilidade
carro, linhas de ônibus, ponto de táxi
escola próxima
Escola Estadual Profª Marina Cintra 500m
observações
as sextas feiras a praça faz parte da feira de rua que tem na rua.
área
9.250 m2
equipamentos
biblioteca, quadra, parquinho, horta, wifi
arborização
pouca, porém bastante sombra
uso entorno
residencial, comercial, hospital, SESC
mobilidade
ponto de táxi, linhas de ônibus, carro
escola próxima
Colégio Mackenzie (privado)
observações
horta abandonada
bancos,
mesas,
10 praça do ciclista
11 praça josé molina
área
1500 m2
equipamentos
paraciclo, horta
arborização
pouca
uso entorno
serviços, comercial, residencial
mobilidade
carro, linhas de ônibus, ciclovia
escola próxima
Colégio São Luís (privado)
observações
ponto de encontro de manifestações (Av. Paulista)
área
3.400 m2
equipamentos
bicicletário, bancos, mesas, lanchonete, esculturas
arborização
pouca
uso entorno
residencial, comercial
mobilidade
ciclovia, carro, linhas de ônibus
escola próxima
Colégio São Luís (privado) 500m
diversas
observações
12 parque buenos aires
área
25.000 m2
equipamentos
parquinho, equipamento de ginástica, pista de corrida, parcão (para cães)
arborização
abundante
uso entorno
residencial, comercial
mobilidade
carro, ônibus, ponto de táxi, ciclovia
escola próxima
Colégio Rio Branco e Syon (privado)
observações
EMEF na quadra do parque 35
distrito alto de pinheiros LAPA A DIN L O
P EO L A
3
VIL
5. PÇA PROVÍNCIA DE SAITAMA 6. PÇA DR SALES JÚNIOR
PERD IZES
4
4. PÇA ENG NORIVALDO PERA GERALDINI
1
6
2
7. PÇA CDOR MANUEL MELO PIMENTA
7
8. PÇA GASTÃO CRUZ
9
9. PÇA SÃO GONÇALO
10 14
11. PÇA EMÍLIA BARBOSA LIMA 12. PÇA JOSÉ ALVES NENDO
17 21 18 19 20
13. PÇA RICARDO GOSTO 14. PÇA CAP MATEUS ANDRADE
16. PÇA BETIONE
16
24. PÇA POR-DO-SOL
18. PÇA ELISABETH SOUZA LOBO GARCIA
25. PÇA FIORANTE SALOMÃO
19. PÇA MÚCIO B. DA FONSECA
26. PÇA ERNANI BRAGA
20. PÇA ITÁLIA IOLANDA PANSARDI
27. PÇA SILVEIRA SANTOS
21. PÇA CONDE DE BARCELOS
28. PÇA MARQUÊS DE ITANHAÉM
22. PÇA PERO VAZ DE CAMINHA
29. PÇA JORGE BAPTISTA
23. PÇA PANAMERICANA
30. PÇA RUI WASHINGTON
30
28 29 24
23
BU
17. PÇA PADRE CHARBONNEAU
13
15
25
PIN
15. PÇA JOÃO DA CRUZ
22
12
11
10. PÇA ELVIRA DE JESUS JARRA
36
8
5
S
3. PÇA WALDIR AZEVEDO
IRO
2. PÇA BARÃO PINTO LIMA
HE
1. PÇA AMUNDSEN
TA N
26
TÃ
27 rio pin he iros
escola pública escola privada praça ciclovia corredor de ônibus ponto de ônibus estação de metrô
foto aĂŠrea, Google Earth 37
01 praça amundsen
área
13.600 m2
equipamentos
bancos, academia
arborização
farta
uso entorno
residencial, Parque Villa Lobos
mobilidade
próximo à ciclovia Av. Fonseca Rodrigues
escola próxima
Maple Bear (1000m)
observações
também conhecida como praça dos cachorros, cercada e adotada pela SAB (Sociedade Amigos do Bairro City Boaçava)
02 praça barão pinto lima
03 praça waldir azevedo
38
área
21.800 m2
equipamentos
parquinho, palco, 2 quadras, bancos, posto policial
arborização
farta, muita sombra
uso entorno
estritamente residencial
mobilidade
carro, ônibus não entra no Boaçava
escola próxima
Maple Bear (500m)
observações
presença marcante de cachorros
área
40.000 m2
equipamentos
escada, banco, parquinho, academia, banca de jornais
arborização
farta
uso entorno
residencial, food truck
mobilidade
ponto de ônibus, vagas para carros
escola próxima
Colégio Oswald de Andrade (1000m)
observações
parquinho abandonado, ligação entre níveis, patamares
04 praça eng. norivaldo pera geraldini
05 praça província de saitama
06 praça salles jr
área
7.200 m2
equipamentos
bancos
arborização
farta
uso entorno
residencial
mobilidade
carro
escola próxima
Instituto Paulo Freire (200m)
observações
ligação entre níveis, patamares
área
13.500 m2
equipamentos
parquinho, quadra, arquibancada
arborização
massas de árvore com clareiras
uso entorno
residencial, supermercado San Marché
mobilidade
ponto de táxi
escola próxima
Prof Emiliano Augusto de Cavalcanti de Albuquerque (500m)
observações
parquinho cercado
área
6.700 m2
equipamentos
não tem
arborização
farta
uso entorno
residencial, rua sem saída, fundos de lote
mobilidade
estacionamento para carro
escola próxima
Prof Manuel Cirdião Buarque (500m)
observações
eucaliptos exalam cheiro agradável, pipas, ligação entre níveis 39
07 praça cdor manuel de melo pimenta
08 praça gastão cruz
09 praça são gonçalo
área
6.600 m2
equipamentos
academia, parquinho, bancos, banca de jornal
arborização
massas de árvore com clareiras
uso entorno
residencial
mobilidade
ponto de táxi, ponto de ônibus
escola próxima
Colégio Rainha da Paz (100m), Vera Cruz I
observações
escola de educação infantil Vera Cruz costuma levar as crianças na praça
área
930 m2
equipamentos
bancos, guarita
arborização
farta
uso entorno
residencial
mobilidade
carro
escola próxima
Instituto Paulo Freire (500m)
observações
-
área
1000 m2
equipamentos
nenhum
arborização
árvores espalhadas, jardim com arbustos
uso entorno
residencial
mobilidade
carro
escola próxima
Escola Estadual Victor Oliva (400m)
observações
ilha
viária,
adotada
pela
(Associação dos Amigos de Alto dos Pinheiros) 40
SAAP
10 praça elvia de jesus lara
11 praça emília de barbosa lima
12 praça josé alves nendo
área
1.100 m2
equipamentos
bancos
arborização
farta
uso entorno
residencial, padaria, consultório médico, asilo
mobilidade
ponto de ônibus
escola próxima
Escola Estadual Victor Oliva (180m)
observações
totém de propaganda
área
980 m2
equipamentos
bancos, mesa de xadrez, rosa dos ventos, banca de jornal
arborização
árvores pontuais, porém com sombra
uso entorno
comercial, padaria, residencial
mobilidade
ponto de táxi, ponto de ônibus
escola próxima
Vera Cruz (50m)
observações
usada pelos alunos da escola Vera Cruz, durante o intervalo de aulas
área
420 m2
equipamentos
guarita, horta
arborização
farta
uso entorno
residencial
mobilidade
carro
escola próxima
Vera Cruz (250m)
observações
horta aos cuidados dos guardas
41
13 praça ricardo gosto
14 praça cap. matheus andrade
15 praça joão cruz
42
área
660 m2
equipamentos
bancos
arborização
árvores de pequeno porte
uso entorno
residencial
mobilidade
carro
escola próxima
Colégio Santa Clara (180m)
observações
calçada em má condição
área
5.600 m2
equipamentos
bancos, banca de jornal
arborização
massas de árvores com clareiras
uso entorno
residencial
mobilidade
ponto de ônibus
escola próxima
Vera Cruz II (50m)
observações
escola de educação infantil Vera Cruz costuma levar as crianças na praça
área
3.700 m2
equipamentos
banco, guarita
arborização
farta
uso entorno
residencial
mobilidade
carro
escola próxima
Vera Cruz II (300m)
observações
grafite nos muros, fundo de lote
16 praça betione
17 praça padre charbonneau
área
3.300 m2
equipamentos
bancos
arborização
arborizada com clareiras
uso entorno
residencial
mobilidade
ponto de ônibus
escola próxima
Colégio Oswald de Andrade (140m)
observações
-
área
1.000 m2
equipamentos
bancos
arborização
árvores de pequeno/médio porte
uso entorno
Clube Anhembi
mobilidade
carro
escola próxima Colégio Santa Cruz (550 m)
18 praça elizabeth souza lobo garcia
observações
rosa dos ventos em mosaicoo nos pisos
área
1.000 m2
equipamentos
bancos, balanço, mesa, guarita
arborização
áreas sombreadas por árvores, áreas ajardinadas ensolaradas
uso entorno
residencial
mobilidade
carro
escola próxima
Colégio Santa Cruz (650 m)
observações
43
19 praça múcio borges da fonseca
20 praça itália iolanda pansardi
21 praça conde de barcelos
44
área
1.000 m2
equipamentos
nenhum
arborização
árvores pequeno/médio porte
uso entorno
residencial
mobilidade
carro
escola próxima
Escola Santa Cruz (750 m)
observações
-
área
1.000 m2
equipamentos
bancos
arborização
farta, bem sombreada
uso entorno
residencial
mobilidade
carro
escola próxima
Escola Santa Cruz (750 m)
observações
-
área
16.250m2
equipamentos
bancos, parquinho, academia
arborização
farta, muita sombra
uso entorno
residencial
mobilidade
carro
escola próxima
Colégio Santa Cruz (750m)
observações
parquinho cercado, frequentadores costumam caminhar em volta da praça
22 praça pero vaz de caminha
23 praça panamericana
24 praça coronel custódio pinheiros (praça pôr do sol)
área
3.300 m2
equipamentos
bancos
arborização
acompanhando as calçadas
uso entorno
residencial
mobilidade
cruza com ciclovia
escola próxima
Colégio Oswald de Andrade (300m)
observações
calçada estreita contígua ao fluxo de carros
área
17.000 m2
equipamentos
estação de exercícios
arborização
arbustiva, poucas massas de sombra
uso entorno
serviços, comercial
mobilidade
ciclovia, ponto de ônibus
escola próxima
Colégio Oswald de Andrade (600m)
observações
ilha no viário
área
35.000 m2
equipamentos
parquinho, exercícios
arborização
pontual, pouca sombra
uso entorno
residencial
mobilidade
paraciclo, carro
escola próxima
CEI Mãe do Salvador (50m)
observações
vista privilegiada da cidade, ligação entre níveis, patamares
paraciclo,
estação
de
45
25 praça fiorante salomão
26 praça ernani braga
27 praça silveira santos
área
680 m2
equipamentos
parquinho, casinha
arborização
bem sombreada
uso entorno
sacolão, papelaria, residencial
mobilidade
carro
escola próxima
Creche Maria de Nazaré (65m)
observações
cercada, manutenção por funcionários da creche, ilha viária
área
7.500 m2
equipamentos
bancos
arborização
farta, bem sombreada
uso entorno
reidencial, Biblioteca Álvaro Guerra
mobilidade
ciclovia, bike sampa, ponto de ônibus, ponto de táxi
escola próxima
CEI Indir Mãe Salavador (300 m)
observações
ilha viária
área
13.600 m2
equipamentos
banca de jornal
arborização
farta, muita sombra
uso entorno
residencial, clube
mobilidade
ponto de ônibus
pais/
escola próxima observações
46
ilha viária próxima à Marginal Pinheiros
28 praça marquês de itanhaém
área
820 m2
equipamentos
bancos
arborização
farta
uso entorno
residencial
mobilidade
ciclovia
escola próxima
Escola de Educação Infantil Alto de Pinheiros (80m)
observações
29 praça jorge baptista
área
1.500 m2
equipamentos
bancos, mesas
arborização
farta
uso entorno
residencial
mobilidade
carros
escola próxima
Escola de Educação Infantil Alto de Pinheiros (30m)
observações
30 praça das corujas
área
20.000 m2
equipamentos
bancos, estação de exercício, barquinho, balanços em árvores, horta
arborização
áreas sombreadas e áreas abertas
uso entorno
comercial, residencial
mobilidade
caminho pelo Córrego das Corujas
escola próxima
EMEF Prof Olavo Pezzotti (300 m)
observações
adotada pela comunidade, projeto Escola na Praça, galeria das Corujas 47
distrito campo limpo
DA
DE
ÃO O B
RA ND
AA VIL
2
RA
R SE
TA
3
4 5
1
6
7
9
1. PRAÇA TADEU PRIOLLI / CAMPO LIMPO
8
2. PRAÇA AMADOR AUGUSTO 3. PRAÇA ANDAGUAÇU
10
4. PRAÇA CRISTÓVÃO DE MORAES 5. PRAÇA TERRAS DE BOURO 6. PRAÇA MIGUEL AMBIELA
S
7. PRAÇA ALEXANDRE VANUCHI LEMOS 8. PRAÇA JOÃO PAIS MALIO 9. PRAÇA ARENA PORINGÁ
IM RD
JA
CA
PÃO R
EDO ND
48
escola pública escola privada praça ciclovia corredor de ônibus ponto de ônibus estação de metrô
O
10. PRAÇA JOSÉ AMÉLIO
O SÃ
Í LU
foto aĂŠrea, Google Earth 49
01 praça tadeu priolli (praça campo limpo)
02 praça amador augusto
03 praça andaguaçu
área
15.500 m2
equipamentos
bancos, mesas, pista de skate, banca de jornal, parquinho
arborização
árvores grandes com sombra
uso entorno
escola, comercial
mobilidade
ponto de ônibus, carro
escola próxima
EMEI Campo Limpo
observações
ponto de encontro para os eventos culturais do bairro
área
4.000 m2
equipamentos
equipamentos de ginástica, bancos
arborização
farta
uso entorno
residencial, comercial, igrejas
mobilidade
carro, ponto de ônibus, estrada do Campo Limpo
escola próxima
E E Amador e Catharina Saporito Augusto 500m
observações
muito usada para estacionar carros
área
750 m2
equipamentos
bancos pouca
arborização
50
uso entorno
residencial, comercial, Anhanguera
universidade
mobilidade
carro, linhas de ônibus
escola próxima
EMEF Profª Vera Lucia Fusco Borba 700m
observações
frequentada durante intervalos de aulas da universidade
04 praça cristóvão de moraes
05 praça terras de bouro
06 praça miguel ambiela
área
800 m2
equipamentos
bancos, mesas, aparelhos de ginástica
arborização
árvores grandes com sombra
uso entorno
residencial
mobilidade
carro
escola próxima
Colégio Guararapes
observações
bem cuidada para os parâmetros da região
área
16.000 m2
equipamentos
quadra de futebol
arborização
capim alto
uso entorno
residencial, conjunto habl Lírio dos Vales
mobilidade
carro, corredor de ônibus
escola próxima
EMEI Campo Limpo
observações
cercada pelo conjunto abandonada, muito lixo
área
650 m2
equipamentos
banco
arborização
farta, árvores com sombra
uso entorno
residencial, serviço
mobilidade
carro, corredor de ônibus
escola próxima
Escola Infantil Passo a Passo
observações
passagem / cruzamento de caminhos
habitacional,
51
07 praça alexandre vanuchi lemos
08 praça joão pais malio
09 praça arena poringá
52
área
12.000 m2
equipamentos
-
arborização
capim
uso entorno
muro Congregação Franciscana Filhas da Divina Providência
mobilidade
carro, corredor de ônibus
escola próxima
EMEF Coronel Palmercio de Rezende
observações
residuo viário, sem uso
área
4.500 m2
equipamentos
bancos, mesas, quadra c arquibancada, parquinho
arborização
farta, bastante sombra
uso entorno
residencial
mobilidade
carro, corredor de ônibus, ciclovia
escola próxima
EMEF Elvira Cavalheiro Faustino
observações
vale entre comunidades
área
5.000 m2
equipamentos
Arena Poringá
arborização
nenhuma
uso entorno
residencial
mobilidade
carro, ponto de táxi, linha de ônibus
escola próxima
EMEF Jornalista Millôr Fernandes
observações
área entre campo de futebol e escola, embaixo do fio de distribuição de energia
10 praça josé amélio
área
700 m2
equipamentos
bancos, mesas
arborização
árvores com sombra nas pontas
uso entorno
residencial, igreja cristã
mobilidade
carro, corredor de ônibus
escola próxima
EE Professor Messias Freire
observações
lado mais cuidado próximo a igreja
53
principais aprendizados Praça & Escola. Constatamos, em nosso levantamento, pouca relação entre praça e escola, mesmo quando há proximidade espacial. Ela só acontece quando o espaço educador está disposto a se abrir e levar seus alunos para visitar a praça. As poucas exceções registradas são a escola Vera Cruz, no Alto de Pinheiros, que leva seus alunos do ensino infantil para desenhar e brincar nas praças da região e permite que os alunos do ensino fundamental frequentem a praça vizinha (Praça Emília Barbosa Lima) no intervalo de aulas, a EMEF Professor Olavo Pezzoti, na Vila Madalena, que desenvolve o projeto ‘Escola na Praça’ na praça das Corujas e o projeto Curumim do SESC Consolação que leva as crianças para brincar nas praças Buenos Aires, em Higienópolis, e Praça Rotary, na Vila Buarque, semanalmente. A cidade de São Paulo tem cerca de 5.500 praças públicas e 3000 escolas de ensino fundamental 1. Com raríssimas exceções, a relação entre essas praças e escolas é absolutamente inexistente. O método de ensino tradicional, das escolas públicas e de grande parte das escolas privadas, somado ao medo 54
dos pais de deixar os filhos ‘soltos’ na cidade grande, mantêm as crianças presas dentro dos muros das escolas. Seria muito interessante se esses espaços pudessem ser compartilhados e assim o tempo da escola incluisse mais brincadeira e a visita à praça mais educação. Certamente teríamos crianças mais felizes e pequenos cidadãos com menos temor e mais respeito pelo espaço público.
Área x Uso Área não, necessariamente, define a vitalidade da praça. Observamos que há pequenas praças com muito mais vida do que praças mais extensas e mais bem equipadas. O uso do entorno é muito mais importante para a manutenção e cuidados com a praça do que a área em si: quanto mais diversidade, mais vida. O comércio, além de trazer movimento, confere uma sensação de segurança para a praça. Isso explica porque tantas praças localizadas em áreas estritamente residenciais são tão vazias durante a semana. Às vezes uma banca de jornal, ou o comercio informal já são suficientes para conferir mais trânsito e segurança à praça.
Equipamento & Vida Uma praça bem equipada não necessariamente é uma praça com vida. Instalações, muitas vezes, fragmentam a praça, reduzindo a importância de espaços de convívio. A especialização dos espaços, que muitas vezes são cercados, como o parquinho, quadra e equipamentos de ginásticas para idosos, acabam colocando em segundo plano os espaços de uso comum. A vida pulsa na praça quando ela é adotada e frequentada cotidianamente pela comunidade. As relações através das redes sociais têm possibilitado a criação de novos grupos comunitários que tem se unido para cuidar, melhorar e frequentar as praças de seu bairro. E, quando essas redes se formam, barreiras como espaço, equipamento e dificuldade de manutenção são suprimidas pelo encontro e compartilhamento da vontade de apropriar-se do espaço livre do seu bairro.
Mobilidade Não dá para pensar em vivenciar a praça sem pensar em como chegar até ela. A presença ou proximidade de pontos de transporte público (ônibus,
(1) Fonte: Ministério da Educação, Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais - INEP - Censo Educacional 2012.
metrô, trem, táxi) trazem benefício tanto para o acesso quanto para a segurança da praça, mas eles não garantem a frequência cotidiana, uma vez que a praça pode tornar-se um lugar mais de passagem do que de permanência. Como o automóvel é uma modalidade de transporte importante para o paulistano, muitas praças servem mais como estacionamento de automóveis do que para usufruto das pessoas. Com a implementação das ciclovias na gestão da prefeitura de Fernando Haddad (2013-2016), a cidade ganhou uma nova forma de se locomover e claramente as praças que se localizam próximas a essa malha cicloviária ganharam com isso, mas ainda há poucas praças que oferecem paraciclo ou bicicletário, o que é uma grande pena. Mas a verdade é que o espaço livre ideal para o uso cotidiano é aquele que que é acessível caminhando. Se as crianças dependerem de algum tipo de transporte para brincar ao ar livre todos os dias, pode ter certeza que elas continuarão trancadas dentro de casa.
Crianças do projeto Curumim em visita ao parque Buenos Aires, foto Joana Andrade. 55
escala do bairr0 escolas Na aproximação da escala do bairro, optamos por reduzir o recorte de estudo ao distrito da Consolação, especialmente aos bairros Higienópolis Vila Buarque e Santa Cecília. Foram cinco os principais fatores que levaram a essa escolha: 1. A alta densidade demográfica, um bairro bastante verticalizado, cria uma demanda clara pelo uso do espaço público por crianças. Descartamos, assim, o Alto de Pinheiros, que tem baixa densidade demográfica e muitas praças, que em grande parte, são pouco usadas cotidianamente. 2. A oferta já existente de praças na região. Certamente o Campo Limpo, como muitos distritos da periferia, é muito mais carente de espaços públicos, e poderíamos desenvolver um projeto sobre estratégias para criar espaços livres para as crianças, mas nossa hipótese de trabalho foi buscar uma relação entre a praça e a escola, então optamos por concentrar nosso diagnóstico numa área onde as praças já existem. 3. A diversidade socioeconômica que a combinação dos bairros Higienópolis e Vila Buarque oferece, nos dando a oportunidade de conhecer um pouco 56
da relação das crianças de diferentes classes sociais com o espaço público.
01 CEI PACAEMBU
4.A proximidade com a faculdade de Arquitetura e Urbanismo Escola da Cidade, local onde o grupo estuda, se encontra e é orientado, facilitando a vivência quase que cotidiana dos espaços públicos e possibilitando desenvolver uma pesquisa com as crianças da região.
03 ESCOLA CARLITOS
5. A dificuldade que encontramos em conseguir parceria com escolas públicas para realizar a cartografia com as crianças e por outro lado a abertura que tivemos com instituições privadas da região da Consolação. No aprofundamento do estudo do território da Consolação, detalhamos o mapa de espaços educadores, incluindo espaços culturais e esportivos como o SESC Consolação, escolas de idiomas e artes.
02 CEI PINOCHIO IV 04 CEI HIGIENÓPOLIS 05 EXTERNATO PIA S VICENTE DE PAULO I 06 COLÉGIO OSWALDO CRUZ 07 COLÉGIO EQUIPE 08 CEI PINOCHIO II 09 ESCOLA CARINHA SUJA 10 E. E. PROF FIDELINO DE FIGUEIREDO 11 COLÉGIO RENASCENÇA 12 COLÉGIO RIO BRANCO 13 COLÉGIO NOSSA SENHORA DE SION 14 CLARET CRECHE 15 COLÉGIO CLARETIANO DE SÃO PAULO 16 COLÉGIO HIGIENÓPOLIS 17 E. E. ARTHUR GUIMARÃES 18 EMEI MONTEIRO LOBATO 19 COLÉGIO PRESBITERIANO MACKENZIE 20 EMEI DR GABRIEL PRESTES 21 E. E. PROFa MARINA CINTRA 22 FACES EDUCAÇÃO BILINGUE
praças
23 ESCOLA CORUJA
escolas
24 COLÉGIO OFÉLIA FONSECA
outros espaços educadores
25 SESC CONSOLAÇÃO
24
PÇA FARIAS BRITO
23
01
13
PÇA ESTHER MESQUITA
12
02
PÇA VILABOIM
03
18
04 PARQUE BUENOS AIRES PÇA VITOR DEL MAZO
cemitério da consolação
07
11
05
22 14
PÇA UNIV. MACKENZIE
06 15
21
19
09
16
20
PARQUE AUGUSTA
PÇA MAL DEODORO
10
17
25
PÇA ROTARY
08
os espaços do cotidiano
O passo seguinte e crucial para nosso trabalho, foi conversar com cerca de 130 crianças crianças, de 7 a 12 anos, de diferentes classes sociais moradoras de Higienópolis e Vila Buarque, cerca de 60 crianças de escola privada e 70 crianças de escola pública, sendo 10 delas moradoras de uma ocupação do centro. Contamos com a parceria de uma escola privada de Higienópolis de alto padrão social, com o projeto Curumim do SESC Consolação, que recebe crianças, na sua maioria de escolas públicas, e com a ocupação José Bonifácio, próxima ao Largo São Francisco, no Centro. Com a parceria dos espaços educadores, desenvolvemos três dinâmicas com as crianças, em sala de aula, em junho de 2017.
58
Na primeira delas, narramos uma história sobre a transformação de uma vila em cidade, usando como ilustração o livro PopVille, que demonstra de uma maneira bastante lúdica o surgimento das infraestruturas e desaparecimento do verde e espaços públicos da cidade. Modificamos um pouco a história para inserir a questão do lugar da criança nessa nova cidade e questionamos: Onde foram parar as crianças? Onde as crianças brincam nessa nova cidade?
A história de uma vila que virou cidade. (1) No início, havia uma igreja com sua torre, que era possível de ser vista de longe. Todo mundo chegava até a vila pela mesma estrada e encontrava ali ao redor da igreja alguns dos moradores da vila. Eram homens, mulheres e crianças, que gostavam de passear no campo e visitar outras vilas para buscar aquilo que precisavam para viver. Um dia, para que não precisassem mais viajar até as vilas vizinhas, eles decidiram aprender a construir, e fizeram com as próprias mãos o início de uma cidade. (2) Assim eles poderiam fazer menos viagens e acumular ali os itens de necessidade, o que também atraía os moradores das vilas vizinhas. As crianças assistiam àquela transformação e aos poucos viam que o amontoado de tijolos se transformava num pequeno novo conjunto de casas e armazéns. (3) Os trabalhos não paravam e o barulho da construção da cidade tomou conta da vila. O martelo batia, os tratores levantavam a poeira e as máquinas tomavam conta da comunidade dia e noite. Os espaços em volta da igreja, que antes eram cheios de árvores, agora estavam tomados por novos prédios que abrigavam as novas atividades. (4) Cada vez mais, novas pessoas chegavam e novos caminhos que eram abertos. As árvores agora só eram vistas de longe, na estrada, quando se estava chegando ou saindo da cidade, ou nas praças, onde os homens e mulheres poderiam descansar no intervalo de construção da nova cidade. (5) A cidade cresceu e foi tomando conta de todo o espaço. A estrada do trem chegou até lá, e a cidade agora tinha outra cara. De onde antes se podia ver a torre da igreja, agora só era possível ver o relógio e as chaminés. As pessoas que moravam nas vilas vizinhas também se mudaram para a cidade e aos poucos todo mundo se cruzava pelas ruas. Mas um dia perceberam que uma coisa havia acontecido... (6) Agora as ruas tomavam conta de tudo. Os ruídos da cidade estavam por todos os lados. Só que na cidade grande, construída por homens e mulheres, ninguém mais podia ver as crianças. Onde foram parar as crianças na cidade? O que uma criança tem pra fazer na cidade? 59
60
Num primeiro momento, as crianças respondem com naturalidade sobre as razões de haver poucas crianças nas ruas. Parece ser normal o fato da rua não ser um lugar para as crianças e elas ficarem a maior parte do tempo fechadas dentro de espaços controlados e dedicarem grande parte do seu lazer com a tecnologia, afinal elas já nasceram dentro dessa realidade. “As crianças estão dentro de um lugar, tão na escola, na perua, no carro.” “Estão em algum lugar da cidade, brincando do mesmo jeito.” “Estão jogando videogame, brincando no celular.” (alunos de escola pública) “Na rua não tem muito o que fazer”. “As crianças ficam dentro de casa, mexendo na tecnologia.” (alunos de escola privada) Rapidamente percebemos uma diferença clara entre a relação dessas crianças com a cidade. As crianças
Crianças do projeto Curumim em visita à biblioteca Monteiro Lobato praça Rotary, fotos Juliana Flahr.
“As crianças estão dentro de um lugar, tão na escola, na perua, no carro.” “Estão em algum lugar da cidade, brincando do mesmo jeito.” “Estão jogando videogame, brincando no celular.” alunos de escola pública
“Na rua elas correm o risco de serem atropeladas.” “Elas (crianças) podem ser assassinadas.” “As crianças podem ser levadas, sequestradas.” alunos de escola privada da escola privada, contaminadas pela vivência e visão dos adultos, têm um temor absoluto das ruas e praticamente nenhuma experiência de cidade. A maioria vai de carro para escola e frequenta pouco os espaços públicos. Para elas, a rua representa uma constante ameaça à vida e à integridade física. “Na rua elas correm o risco de serem atropeladas.” ”Mesmo na calçada é perigoso, porque as pessoas ficam olhando no celular e podem bater no poste.” “Elas (crianças) podem ser assassinadas.” As crianças podem ser levadas, sequestradas.” (alunos de escola privada) Já as crianças que frequentam o projeto Curumim costumam andar mais pela cidade. Muitas vão a pé para a escola, todas elas visitam e brincam nas praças da região, atividade regular desenvolvida pelo projeto Curumim e algumas ainda brincam nas ruas,
na frente de casa. Elas conhecem e se preocupam com os perigos da cidade, mas de forma menos aterrorizadora. “Essa cidade é mais perigosa. Tem muito carro”. “Tem que ter cuidado para não ser roubado”. “Não tem criança porque não tem praça.” (alunos de escola pública) Um triste destaque é a reação das crianças alunas de escola pública e moradoras da ocupação José Bonifácio. Se por um lado as crianças da escola privada vêem com terror a possibilidade de brincar na rua, as crianças da ocupação temem a maneira como são tratadas, o preconceito que sofrem, de pessoas de diferente nível social. Além disso, para elas, a rua representa o risco de seguirem por maus caminhos. “Lá fora a gente pode ser maltratada.” “Na rua a gente corre o risco de fazer coisa errada.” (alunos de escola pública, moradores da ocupação JB).
“Lá fora a gente pode ser maltratada.” “Na rua a gente corre o risco de fazer coisa errada.” alunos de escola pública, moradores da ocupação JB 61
os espaços do cotidiano
As crianças e os espaços livres do cotidiano Essa diferença de realidade e vivência da cidade se acentua quando realizamos a segunda atividade com as crianças. Inspirados pelo trabalho de mapeamento coletivo desenvolvido pelo coletivo Argentino Iconoclasistas, que tomamos contato durante o Seminário Internacional de 2017 da Escola da Cidade, desenvolvemos uma cartela de ícones, com atividades, ações e sentimentos ligados à relação das crianças com os espaços livres do cotidiano. Entregamos para cada grupo, de 4 a 5 crianças, quatro cartelas, cada uma representando um espaço livre que as crianças transitam no seu dia a dia: o pátio residencial, o pátio escolar, a praça e a rua (como as que estão na folha 62
ao lado). Pedimos aos pequenos que colassem bolinhas adesivas coloridas nos ícones das atividades, ações e sentimentos, para ilustrar as atividades que elas podem fazer (bolinhas verdes), não podem fazer (bolinhas vermelhas) e que gostariam de fazer (bolinhas amarelas) em cada um dos espaços do cotidiano. Os espaços deixados em branco significam que ou a atividade não é relevante para o lugar ou para a criança. As crianças receberam muito bem o convite para a atividade e a desenvolveram como um jogo, em que elas tinham que conversar sobre as suas experiências e buscar registrar na cartela a vivência da maioria do grupo.
Iconoclasistas é um duo formado por Julia Risler y Pablo Ares, em 2006. Elaboram projetos combinando a arte gráfica, os mapeamentos criativos e a investigação coletiva. Todas suas produções se difundem na web através de licenças creative commons, potencializando a livre circulação e seu uso derivado.
CASA
ESCOLA
PRAÇA
RUA
63
os espaços do cotidiano O resultado da atividade está consolidado nas cartelas ao lado e apesar de termos uma amostra bastante significativa, não temos a pretensão de ler os resultados como uma pesquisa quantitativa. Nos interessa observar as principais tendências e a comparação entre os três grupos de crianças (alunos de escola privada, alunos de escola pública e alunos de escola pública moradores da ocupação), percebendo as diferenças e semelhanças de percepção dos espaços e a comparação das experiências dos quatro ambientes (casa, pátio escolar, praça e rua) dentro de cada grupo. Além disso, queremos filtrar os principais aprendizados que poderiam ser aproveitados nas diretrizes de projeto. De modo geral, a vivência nos ambientes privados e protegidos (casa e escola) aproximam o cotidiano das crianças de escola privada e pública (com exceção das crianças moradoras da ocupação José Bonifácio, que vivem uma realidade de carência e exclusão incomparável com os outros dois grupos). Já a experiência nos espaços públicos, como já dissemos, acentuam as diferenças entre os grupos. 64
pode fazer não pode fazer gostaria de fazer
65
66
principais aprendizados Tanto para as crianças da escola privada quanto da escola pública, a residência, é o lugar onde elas se sentem protegidas e livres para fazerem uma série de atividades de lazer: atividades físicas como correr, pular, jogar bola; atividades culturais como desenhar, pintar, ler, escrever, ouvir música, tocar um instrumento; brincar com outras crianças; divertirse com a tecnologia (tv, jogos, redes sociais) e comer suas comidas e lanches favoritos. Os dois grupos sentem falta de poderem realizar atividades ao ar livre como brincar no parquinho, andar de skate e jogar vôlei. Tocar um instrumento sem limite de barulho, como bateria, também é o desejo comum dos dois grupos. Todas crianças também concordam que não devem tratar mal ou machucar outra criança mesmo em casa. Os alunos de escola privada parecem ter um cotidiano em casa mais vigiado, pois a eles não é permitido escalar, subir nas coisas, fazer muito barulho (cantar ou manifestarse em grupo). Por outro lado, o uso da tecnologia parece ser um pouco mais livre e acessível para esse grupo. Consolação, atlas fotográfico, foto 069, Tuca Vieira
A cartela dos alunos moradores
da ocupação revela a total carência por atividades de lazer do dia a dia dessas crianças. Para manter a ordem, a administração da ocupação estabelece regras muito rígidas que devem ser seguidas para garantir a moradia no edifício. É proibida a bagunça e barulho dentro do prédio e as crianças não devem sair para a rua desacompanhadas. A própria administração da ocupação busca escola e atividades de contra turno para manter as crianças ocupadas e afastálas da ameaça do mundo do crime. O resultado é que as crianças não podem fazer quase nada além de comer, ver televisão, jogar videogame e desenhar dentro de casa. Sentem muito a falta de atividades ao ar livre, de cunho físico e cultural.
Os alunos de escola privada e da escola pública demonstram que a escola dá acesso a atividades esportivas (futebol, basquete e vôlei), culturais (artes, teatro e música), mas todas com o intuito educativo. Sentem falta de atividades mais livres e radicais de brincar, como andar de skate e patins, escalar e pular. Gostariam de tocar guitarra ou bateria, quem sabe
montar uma banda. Sabem que se transgredirem as normas da boa educação serão punidos, imagens como dançar de ponta cabeça, fazer manifestação pública ou brigar com outro do grupo, ilustram isso. A principal diferença entre os dois grupos é que as crianças da escola privada parecem gostar mais da escola do que as crianças de escola pública, que frequentam o projeto Curumim. Uma hipótese é que as crianças do projeto do SESC participam de um projeto educativo mais livre e participativo, o que torna a experiência da escola ainda mais limitadora. Apesar de crianças da ocupação possivelmente frequentarem as mesmas escolas do que as crianças do projeto Curumim, as primeiras, pertencentes a uma classe social e condição de vida inferior, não se sentem tão bem na escola, provavelmente por sentirem-se excluídas e estigmatizadas como “crianças sem teto”. Um de seus principais desejos é que elas sejam acolhidas pelo grupo.
67
principais aprendizados DESTAQUES De maneira geral, parece ser consenso entre os grupos que a praça é o lugar de todos. Das crianças, das famílias, dos idosos e dos deficientes. Também para as crianças da escola privada e da escola pública a praça é o lugar que elas sentem ou imaginam, que têm mais liberdade. A praça é o ambiente que elas podem fazer as atividades mais radicais que são proibidas em casa ou na escola, como andar de patins, skate, escalar, correr e pular. Para aquelas que costumam frequentar a praça, sabem que na praça elas podem tudo, menos desrespeitar o próximo ou ficar triste. A única coisa que sentem falta é de ter mais autonomia para ir sozinhos à praça. Os alunos de escola privada concordam que a praça é lugar de ser feliz e mostram o desejo de viverem mais essa experiência. Ao contrário do que imaginávamos, as crianças da ocupação JB não podem ir sozinhas à praça e não tem acesso a praça com parquinho e outros equipamentos de esporte e lazer. Para elas, a praça é um lugar onde sentemse mais uma vez excluídas.
68
Para todas as crianças, estar na rua é estar totalmente ao ar livre, exposto ao sol e à chuva, e isto traz sensações positivas. As crianças da escola privada e da escola pública parecem não ter muito certeza do que se pode fazer na rua, além de sair para comer fora, mas ao mesmo tempo, parecem desejar brincar mais na rua para poder fazer as atividades que não são permitidas em casa ou na escola, e que elas até poderiam fazer na praça, mas não cotidianamente, já que a frequência à praça é mais eventual, mesmo no caso das crianças frequentadoras do projeto Curumim, não costuma passar de uma vez por semana. Criança quer brincar todos os dias. Mais uma vez a percepção das crianças da ocupação JB é filtrada pela lente do cerceamento e exclusão. Atividades como jogar bola, dançar ou empinar pipa, que são desejadas por outras crianças são vistas como proibidas para elas.
A ligação entre praça e escola pode ser muito interessante para a instituição escolar e seus alunos. A escola amplia seu território educador, incluindo a vivência da cidade no seu curriculum escolar e permitindo às crianças mais liberdade para brincar cotidianamente. A rua e os espaços livres do pedestre podem se transformar em lugares de encontro e brincadeira dessas crianças de diferentes níveis socioeconômico. Há um desejo recorrente das crianças por atividades ao ar livre mais radicais, como andar de patins, skate, escalar, correr e pular. Além de futebol, as crianças gostariam de jogar voleibol nas ruas. Música fascina todas as crianças, especialmente os instrumentos guitarra e bateria. Tomar sol e chuva só é permitido quando se anda nas ruas e pode ser bem divertido.
Chico (6) e Iza (4) brincam, no domingo, na Av Paulista, foto Eduardo A Carvalho.
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3. O PERCURSO ENTRE A PRAÇA E A ESCOLA
70
Depois que descemos do ônibus na rua da Consolação, cruzamos a rua na direção do Cemitério e chegamos à rua Coronel José Eusébio, Otto olha para mim e diz “aqui é a rampa!”. Eu olho e vejo uma quadra tomada pelo muro do cemitério, repleta de carros estacionados, um monte de lixo e dejetos na calçada e não entendo sua exclamação. Vendo seu sorriso no rosto, olho de novo e enxergo uma calçada contínua, sem nenhuma entrada de garagem, com um declive gradual, totalmente sombreada, um lugar ideal para uma criança correr e brincar. Perfeito para uma de nossas intervenções. Eu jamais teria percebido isso sozinha.
A terceira e última atividade realizada com as crianças foi uma espécie de contra-cartografia do caminho da escola até a praça. Essa dinâmica foi realizada apenas com os alunos da escola privada e do projeto Curumim. O grupo das crianças da ocupação José Bonifácio era muito pequeno e dispersou antes de fazermos essa atividade. Primeiro, organizamos as crianças em grupos de quatro a cinco integrantes. Demos a cada grupo uma folha de papel A2 e lápis/caneta para colorir. Pedimos que fizessem um desenho livre do caminho ideal (mais seguro e mais
divertido) para as crianças caminharem do espaço educador até a praça com mais autonomia. Depois de cerca de trinta minutos de iniciada a atividade, entregamos para as crianças uma cartela de ícones que elas poderiam adicionar ao desenho, com o objetivo de verificar imagens recorrentes nos caminhos. Além dos desenhos, acompanhamos e observamos as crianças andando nas ruas em seu percurso de casa e no trajeto escolapraça. Percurso casa-escola: Acompanhamos duas crianças no seu trajeto casa-escola: 1) Otto, um garoto
de 6 anos, que mora no edifício Copan e vai de ônibus até a escola Ofélia Fonseca, acompanhado pelos pais ou por outro adulto responsável; 2) e Violeta, uma garota de 11 anos que estuda no colégio Equipe e vai a pé sozinha ou com os amigos até seu apartamento nas imediações do parque Buenos Aires. Percurso espaço educador-praça: Acompanhamos duas turmas do projeto Curumim do SESC Consolação no seu passeio semanal às praças da região. Com a turma da manhã visitamos a praça Rotary e com a turma da tarde fomos ao parque Buenos Aires. 71
idealizando o caminho Ao analisarmos os desenhos, mais uma vez, percebemos a diferença da relação com a cidade entre os alunos da escola privada e da escola pública. As crianças do projeto Curumim (sua maioria estudante de escola pública) criam um caminho bastante enraizado na realidade. Já os alunos da escola privada idealizam um caminho muito mais ligado à fantasia, o que aponta seu descolamento da vida urbana. Na cidade dos alunos do projeto Curumim aparece a experiência cotidiana dessas crianças, que andam mais a pé, usam transporte público e frequentam as praças da região, semanalmente, guiadas pelo próprio SESC. Parece ser uma cidade mais caótica, mais desordenada, o que espelha melhor a complexidade e os conflitos do dia a dia na cidade. No caminho das crianças do espaço educador à praça aparecem uma diversidade de estabelecimentos que as crianças se identificam na cidade, como livrarias, loja de eletrônicos, cinema, teatro, escolas de música, de artes, de esportes, pet shop, lanchonete, pizzaria, padaria, sorveteria. Também encontramos equipamentos coletivos como hospital, biblioteca e faculdade, e elementos de infraestrutura de 72
mobilidade, como minhocão, terminal de ônibus, estacionamentos e ciclovia, Essas crianças também tendem a mostrar um pouco mais diversidade de pessoas trafegando nesse caminho, que é compartilhado por crianças, adultos, idosos e cadeirantes. Já, no exercício dos alunos da escola privada, a maioria das ilustrações parece revelar a falta de conhecimento e identificação dessas crianças com a urbanidade. Muitos desenhos remetem a desenhos animados, jogos de videogame e contos fadas. Neles encontramos ruas de balas de menta, frangos voadores, máquinas que cospem dinheiro, chuvas de sorvetes e heróis de videogame, que matam e prendem vilões, por exemplo. Outros desenhos, dessas crianças, mostram uma cidade organizada e idílica, onde tudo parece funcionar bem e nada está fora do lugar. Arco íris, estrada de terra, lago, casa com piscina e quadra privativa, fazem parte dessas ilustrações que parecem revelar um cotidiano fechado nos condomínios e nos centros de compras e lazer. Quando os desenhos se aproximam mais da realidade, a diversidade e
complexidade é menor do que a descrita pelos alunos de escola pública, e os estabelecimentos recorrentes, que aparecem no caminho, são o shooping center, lojas de brinquedos, padaria, lanchonete e sorveteria. Outra diferença marcante entre os dois grupos é a maneira como ilustram a praça. As crianças do projeto Curumim refletem em seus desenhos o seu conhecimento e convívio cotidiano com esse espaço público. A maioria dos desenhos detalha bastante a praça, mostrando os elementos existentes, como árvores, bancos, parquinho, quadra e biblioteca. Alguns desenhos ainda incluem pista de skate, parede de escalada, e cama elástica como objeto de desejo. Os desenhos dos alunos de escola privada parecem reforçar a falta de afinidade dessas crianças com a praça, pois a maioria deles mostra um olhar mais de fora do que de dentro da praça. Outros simplesmente suprimem a ilustração da praça. Em comum entre os dois grupos, aparece o desejo de fazer refeições fora de casa, como ir a lanchonete, padaria, pizzaria, sorveteria, etc. Outra semelhança é que mesmo sendo um caminho idealizado pelas crianças
para ser mais divertido e mais seguro, as crianças quase nunca aparecem nas ruas e calçadas representadas. Elas geralmente estão na escola, na praça ou em lugares fechados, como outros espaços educadores (escolas de dança, música, esportes, etc), espaços culturais (cinema, teatro, biblioteca), lojas, lanchonetes, sorveterias, pizzarias, padarias, etc. Quando a criança aparece, o carro é claramente excluído ou proibido, o que retrata a percepção da falta de prioridade sofrida pelo pedestre. Num dos desenhos as crianças desenham um helicóptero atravessando a faixa de pedestre, destacando que este seria o único meio seguro de atravessar a rua. Agora, se para elas, a presença do carro é incompatível com um caminho ideal para crianças, a bicicleta é a grande aliada. Ela aparece em praticamente todos os desenhos e em muitos deles acompanhada por uma ciclovia. Por fim, um valor comum à essas crianças é a natureza. Todas elas desenham ou colam árvores e flores em seus desenhos e gostariam que o caminho e a praça fosse mais bem cuidado e limpo.
73
o uso dos ícones Durante a atividade de desenho, no qual as crianças deveriam ilustrar o caminho ideal do espaço educador até a praça, os grupos receberam a cartela dos ícones ao lado, depois de cerca de trinta minutos de iniciada a atividade. As crianças podiam optar por usar ou não as figuras. Observamos que as crianças do projeto Curumim (sua maioria de escola pública) tenderam a usar mais os ícones do que as de escola pública, o que pode reforçar o vínculo das primeiras com a realidade urbana. Na página ao lado, mostramos uma tabulação geral da incidência desses ícones nos desenhos. Mas atenção, estamos falando em quantos desenhos o ícone aparece e não quantas unidades do ícone foram colados, pois em muitos desenhos o mesmo ícone po de se repetir várias vezes. Outra observação é que só colocamos na tabulação geral de ícones aqueles que se repetiram em pelo menos dois desenhos. Novamente, não temos o intuito de fazer uma leitura quantitativa da tabela, mas observar algumas possíveis tendências. A incidência dos ícones nos desenhos 74
dos dois grupos parece mostrar sobre: pessoas: percepção de maior diversidade de pessoas no caminho por parte dos alunos de escola pública (maior repetição dos ícones pessoa com cachorro idoso, cadeirante e manifestante, no caminho). esportes, recreação ao ar livre e mobiliário urbano: maior conhecimento e uso da praça por parte dos alunos de escola pública (maior repetição de todos os ícones de esporte e de recreação outdoor, exceto tomar sol, e de mobiliário urbano, na praça). cultura: maior diversidade de programas culturais no caminho da cidade retratada pelas crianças do projeto Curumim (exemplo: maior repetição de todos os ícones de cultura, no caminho). comida, tecnologia e natureza: nesses três ítens as diferenças se reduzem ou se equilibram, o que aponta serem temas valorizados pelas crianças de forma mais horizontal. mobilidade: alta identificação dos dois grupos com a bicicleta e um pouco maior de afinidade dos alunos da escola pública com o transporte coletivo, no caminho,
Tabela de ícones acima usada pelas crianças em seus desenhos. Tabulação geral, ao lado, da incidência dos ícones nos desenhos das crianças.
PESSOAS
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ESPORTES
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2
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2
1
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0
2
0
1
0
CULTURA
COMIDA
TECNOLOGIA
MOBILIÁRIO URBANO
NATUREZA
ícone 4
5
4
2
3
4
3
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0
1
0
3
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4
0
6
2
7
0
8
0
5
1
7
0
3
0
3
MOBILIDADE
5
0
2
6
4
4
3
3
4
2
# desenhos com o ícone
escola escola pública privada na praça
2
na praça
3
no caminho
3
no caminho
4
0
75
Os dois desenhos ilustram bem a complexidade da cidade percebida pelos alunos da escola pĂşblica. 76
desenho 1 crianças, projeto Curumim
AlÊm dos diversos estabelecimentos, percebemos a ciclovia no desenho 1 (em vermelho) e a calçada no desenho 2 (em marrom).
desenho 2 crianças, projeto Curumim
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Vemos bem a volorização e conhecimento dos equipamentos e atividades da praça por essas crianças. 78
desenho 3 crianças, projeto Curumim
Além do Parque Buenos Aires, que era o destino pedido na dinâmica, as crianças incluiram espontaneamente a Praça Rotary.
desenho 4 crianças, projeto Curumim
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Chama a atenção a importância dada à faixa de pedestre e à criança, que aparece em toda parte e é maior do que o carro. 80
desenho 5 crianças, projeto Curumim
O helicóptero é apontado pelas crianças como a única maneira segura de atravessar a faixa de pedestre.
desenho 6 crianças, projeto Curumim
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Nesse desenho o carro é proibido, o único veículo permitido são os Animacars, carrinhos pilotados por crianças. 82
desenho 7 crianças, projeto Curumim
Percebemos a familiaridade das crianças com os equipamentos da cidade, pela inclusão da Santa Casa e do Minhocão.
desenho 8 crianças, projeto Curumim
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Na fantasia dessas crianças de escola privada, a cidade é um parque de diversões, cheio de guloseimas, e a rua é coberta por menta. 84
desenho 9 crianças, escola privada
ESCOLA Nesse caminho, chove sorvete e dinheiro. Em ambos os desenhos não há carros e a ilustração da praça é bastante simplificada.
desenho 10 crianças, escola privada
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ESCOLA
A cidade, o caminho e a praça são convertidos num jogo de videogame, com herói e vilão. O único contato com a realidade é a padaria. 86
desenho 11 crianças, escola privada
LA
SC O
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A cidade é transformada num parque bucólico, com estrada de terra, toda arborizada, com lago, onde carro não pode entrar.
desenho 12 crianças, escola privada
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A cidade entre a escola e a praça limita-se à casa das alunas e ao shopping center, numa atmosfera de um paraíso perfeito. 88
desenho 13 crianças, escola privada
ESCO LA Novamente a ilustração da cidade é bastante simplificada, restringindo-se ao shopping, loja de brinquedos, games e lanchonetes.
desenho 14 crianças, escola privada
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ESCOLA
Nesses dois últimos desenhos a cidade já aparece mais elaborada, mas a afinidade com a praça ainda parece pequena. 90
desenho 15 crianças, escola privada
ESCOLA
Eles também destacam a importância da continuidade do caminho e a valorização da bicicleta e ciclovia.
desenho 16 crianças, escola privada
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principais aprendizados
1. Continuidade. O melhor caminho para as crianças é o mais contínuo, com menos travessias e menos interrupções de entradas de garagem. A maioria dos desenhos das crianças revela essa busca pela continuidade, já que poucos indicam o cruzamento de ruas. Quando ele aparece, tem um cuidado em reforçar a prioridade para o pedestre. Essa importância da continuidade é indicada nos manuais de caminhos escolares. Implicação: buscar calçadas mais contínuas eapropriação de muros, pois o aspecto positivo dos grandes muros é justamente a continuidade.
Crianças de escola privada desenhando durante a dinâmica, foto Joana Andrade.
2. Tem que cruzar! No último cruzamento de via, antes de chegarmos ao parque Buenos Aires, percebemos que dois meninos (do grupo dos menores, com aproximadamente 7 anos), darem-se as mãos antes de atravessarem a rua. Ao chegar ao outro lado eles soltam e continuam a jornada, ansiosos por chegarem ao parque. Perguntamos aos dois porque atravessaram de mãos dadas e eles responderam com doçura, “porque assim a gente fica com menos medo.” Atravessar a rua é inevitável, não existe
nenhum caminho totalmente contínuo. Nos desenhos e conversas com as crianças, percebemos que esse é o momento de maior temor dos pequenos e eles já pedem que a prioridade do pedestre seja respeitada. Na conversa com os (as) professores do projeto Curumim e Carolina Padilha, uma das fundadoras do projeto Carona a pé, a escolha do caminho para a praça ou escola leva em conta a existência de faixa de pedestre e o tempo dos semáforos. A escolha sempre prioriza o cruzamento mais seguro (de tempo mais longo e com botoeira) em vez do caminho mais curto. Implicação: consultar manuais de departamento de trânsito, para entender formas de tornar cruzamentos mais seguros. 3. Tempo & Distância. O tempo e a distância são muito diferentes para as crianças, especialmente para as menores. Geralmente elas se cansam e se entediam mais rápido. Não foi difícil perceber o tédio na cara do Otto, enquanto pegávamos o ônibus para chegar à escola. Ele acha a escola muito longe de casa e preferia poder ir apenas caminhando. Já a Violeta, toda
orgulhosa, nos apresentou um atalho para vencer a diferença de cota da rua Doutor Veiga Filho para a Avenida Higienópolis, usando o elevador de serviço do shopping Higienópolis. Implicação: atalhos e pontos de encontro / paradas são bem vindos. 4. Menos carros, mais brincadeira. Em muitos desenhos das crianças a presença do carro é suprimida para dar lugar à criança. O medo de atropelamento é muito presente em suas vidas, já que o tempo todo elas são alertados pelos adultos sobre esse risco. Para elas está muito claro que a presença da criança na cidade está inversamente relacionada à do carro. Menos carros para elas significa mais liberdade para caminhar, brincar, correr, andar de bicicleta, patinete, patins, etc. A implantação das ruas do brincar (ruas que fecham para os carros nos domingo) é uma grande prova disso. Por outro lado precisamos pensar numa cidade onde adultos e crianças, carros e patinetes convivam e se respeitem. Implicação: evitar vias com tráfego intenso e alta velocidade.
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principais aprendizados 5. Beleza & Obstáculo. Estávamos no parquinho do Parque Buenos Aires quando uma criança pediu para ir ao banheiro. O professor indicou o caminho “É só sair por aquele portão, e virar à direita”. O primeiro garoto se dirigiu ao banheiro, seguindo a instrução do professor. Em seguida um gritou “eu também vou”, saiu correndo e em vez de sair pelo portão, escalou o bebedouro e pulou a grade, os amigos olharam maravilhados e numa
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sequencia de 4 ou 5 repetiram o novo caminho descoberto pelo amigo. Como disse Irene Quintáns1 em entrevista à Folha de SP (2017) “ elas (crianças) vêem beleza e obstáculo em todo lugar”. O olhar da criança para a cidade é muito diferente do olhar do adulto. Eles transformam uma guia, uma rampa, uma escada, um banco, uma grade, um muro, e seja lá o que for em brinquedo e desafio para testar seus
limites. Isso vale também para a beleza, as crianças enxergam beleza em tudo. Um pequeno arbusto, um jardim com flores, uma árvore frutífera, um muro desenhado, ou uma foto intrigante, pondem transformar o caminho de uma criança. Por outro lado a cidade ideal da criança é um parque de diversão, é preciso um filtro para transformar o seu desejo em arquitetura: sim ao lúdico, não ao exclusivamente infantil.
Implicação para projeto: tirar proveito do conceito da ambivalência, pensar em intervenções que sirvam para a criança brincar, mas que também sejam úteis para os adultos, para a cidade.
(1) Arquiteta urbanista especialista em Estudos Territoriais, Políticas Sociais, Mobilidade, Habitação e Gestão Urbana. Vicepresidente da IPA Brasil (Associação Brasileira pelo Direito de Brincar).
6. Comer e comer! Tanto nos desenhos quanto nas observação das crianças andando na ruas, percebemos que os principais pontos que as localizam na cidade estão relacionados com a comida: padaria, restaurante, lanchonete, sorveteria e doceria. Faz todo o sentido, já que muitas vezes que elas saem às ruas com os adultos, elas fazem refeições fora de casa. Além disso são lugares que trazem experiências prazerosas.
Implicação para projeto: na criação de uma rede amiga da criança (ferramenta importante usada nos caminhos escolares) os estabelecimentos de serviços de refeição são fundamentais, especialmente os de fachada permeável, pois são facilmente reconhecidos e acessíveis pelas crianças. Crianças do projeto Curumim no parque Buenos Aires, fotos Joana Andrade.
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4. PROJETO: LIBERDADE PARA CAMINHAR E BRINCAR
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Vai já pra dentro menino! Vai já pra dentro estudar! É sempre essa lengalenga Quando o que eu quero é brincar. Eu sei que aprendo nos livros, Eu sei que aprendo no estudo, Mas o mundo é variado E eu preciso saber tudo! Há tempo pra conhecer, Há tempo pra explorar! Basta os olhos abrir, E com o ouvido escutar. Aprende-se o tempo todo, Dentro, fora, pelo avesso, Começando pelo fim Terminando no começo! Se eu me fecho lá em casa, Numa tarde de calor, Como eu vou ver uma abelha A catar pólen na flor? Como eu vou saber da chuva Se eu nunca me molhar? Como eu vou sentir o sol, se eu nunca me queimar?
Poema ‘Vai já pra dentro menino’, Pedro Bandeira Iza, comendo grama pela primeira vez, no parque Villa Lobos. foto Eduardo A Carvalho.
Como eu vou saber da terra, Se eu nunca me sujar? Como eu vou saber das gentes, Sem aprender a gostar? Quero ver com os meus olhos, Quero a vida até o fundo, Quero ter barros nos pés, Eu quero aprender o mundo! 97
objetivo do projeto
Gostaria de começar esse capítulo retomando o objetivo do projeto. O que despertou o interesse por desenvolver esse trabalho foi a angústia de perceber a ausência da criança das ruas e espaços livres da cidade, e o pouco uso de muitos espaços públicos, especialmente nas grandes metrópoles, como é o caso de São Paulo. Isso é maléfico para a saúde física e social das crianças, porque elas tomam menos banho de sol, desenvolvem menos suas funções motoras, interagem menos socialmente, ficam mais isoladas e limitadas ao lazer dentro de casa associado à tecnologia e, por fim, não desenvolvem nenhum sentimento de pertencimento em relação à cidade. É também ruim para a cidade, pois uma cidade adequada para a criança é uma cidade mais diversa, mais saudável, mais amigável, mais divertida, mais democrática, enfim, é uma cidade boa para todos. Nosso desejo é que as crianças possam brincar ao ar livre cotidianamente, para isso ser possível precisamos olhar as ruas e os espaços livres da cidade de uma outra maneira. Raquel Rolnik, em seu texto ‘O lazer humaniza o espaço urbano’, reflete sobre como a rua e os espaços livres da 98
cidade foram reduzidos basicamente à função de circulação entre ‘ilhas’ de morar e de lazer, que prometem segurança e qualidade de vida, contrapondo-se ao caos e violência da cidade. Para o mercado imobiliário, quanto maior for a diferença entre o oásis protegido e a realidade da cidade inóspita, melhor, pois mais valorizados tornam-se esses paraísos murados de morar e de lazer. Soma-se a esse triste contexto, a administração pública atual da cidade que se preocupa muito mais em garantir a fluidez do sistema viário que conecta essas ilhas, do que promover efetivamente as condições de sociabilidade na cidade, melhorando e promovendo o encontro nos espaços públicos. Assim como Secchi, Rolnik acredita que o lazer nos espaços públicos apresenta-se como saída para a humanização da cidade, para a conexão entre esses fragmentos, um instrumento antiexclusão. Para melhorar o espaço público há necessidade de uma política antiexclusão, o que significa organizar a heterogeneidade, não fugir dela. Significa organizar, defender e fomentar a convivência entre pessoas
diferentes, diminuindo a segregação e as distâncias sociais, suprimindo os guetos, atuando com solidariedade, como uma coletividade que amplie, incentive e aumente a comunicação entre os projetos de vida pessoais e coletivos. [...] acredito que um lazer encarnado na cidade, identificado na sua dimensão pública, é um grande instrumento antiexclusão. (ROLNIK, Raquel 2000)
Nosso trabalho coloca a criança no centro dessa discussão. Para grande parte, ou talvez a maioria, das crianças paulistanas a rua é uma passagem obrigatória e muitas vezes indesejável entre a casa e a escola, a casa e o curso de inglês, a casa e a natação, a casa e o dentista, a casa e a praça, etc... No recorte de estudo que estamos estudando há 24 escolas, entre públicas e privadas, e mais 24 espaços educadores (como escolas de inglês, dança, artes e esportes), que somam cerca de 10 mil crianças e adolescentes, mas essas crianças hoje estão isoladas nos muros de suas casas e escolas. Pensem na oportunidade que essas crianças estão perdendo de se conhecerem, de trocarem experiências, de brincarem juntas! Pensem na possibilidade
dessas escolas compartilharem seus espaços de uso comum e ampliarem sua vivência, abrindo-se para o espaço público. Juntas essas escolas poderiam compartilhar quadras poliesportivas, milhares de livros de suas bibliotecas, teatros, laboratórios, etc. Nosso projeto tem a vocação de promover esse encontro e compartilhamento. É um percurso entre praças e escolas com pontos de brincar no caminho. O encontro do espaço educador e do espaço de brincar para que ambos transformem-se em lugares de brincaderia e aprendizado. Queremos que as crianças se libertem dos muros e possam usar esses novos espaços para brincar ao ar livre, todos os dias. Por fim, como último desejo, gostaríamos que esse percurso fosse capaz de criar uma rede entre escolas, para que juntas elas percebessem os benefícios de levar as crianças para experimentar os espaços livres da cidade, como a praça, e compartilhassem seus equipamentos umas com as outras, nos parece que seria um grande ganho para toda a comunidade.
situação atual
problemas
ausência da criança das ruas e espaços livres da cidade contemporânea.
crianças isoladas e confinadas entre muros de casa, escola, shoppings e centros de lazer privados.
sua presença na cidade está reduzida aos espaços educadores (escolas), e aos espaços de brincar (praças e parques).
crianças de diferentes níveis sociais quase nunca se encontram.
situação desejada
proposta
crianças e suas famílias andando mais a pé e se divertindo nas ruas da cidade.
criar um caminho entre praças e escolas que seja mais seguro e mais lúdico para as crianças e suas famílias.
crianças de diferentes níveis sociais se encontram e brincam juntas nos espaços livres da cidade. escolas abrem-se, compartilham seus equipamentos e ocupam espaços livres da cidade.
cidade criada e vivenciada apenas por adultos.
implementar nesse percurso pontos de brincar para que as crianças possam se encontrar e brincar ao ar livre, cotidianamente.
Minhocão num domingo, 2011, foto Guega Rocha Carvalho. 99
leitura do território Depois de mapeadas as praças, escolas, estabelecimentos de comércios e serviços, sistema de transporte (pontos e corredores de ônibus, estações de metrô e ciclovia), do recorte escolhido, desenhamos uma primeira tentativa de caminho. O próximo passo foi fazer a leitura mais aproximada do território para refinar a escolha do caminho entre as praças e escolas do bairro e as melhores calçadas para caminhar e brincar. Percorremos o território sucessivas vezes para conhecê-lo de perto observando e vivenciando: Topografia: o recorte de pouco menos do que um quilômetro de diâmetro apresenta 60 metros de desnível, por isso sentir na pele e nos pés o que é caminhar nesse trecho era fundamental. Calçadas: observamos a qualidade, largura, quantidade de entradas de garagem, o fluxo de pedestres, a presença de bancas de jornais, os diferentes pisos, canteiros, iluminação e arborização. Fachadas: mapeamos nos edifícios residenciais os muros, grades e recuos e nos estabelecimentos comerciais e 100
de serviços destacamos aqueles que tinham vocação para integrar a rede amiga. Ruas: observamos o fluxo de carros, ônibus e bicicleta, a presença de faixas de pedestres, o tempo de semáforo nos cruzamentos mais complicados, a presença de pontos de táxi e de bicicleta. Cobertura: verificamos as calçadas com mais arborização e consequente melhor sombreamento e a presença de marquises. A seguir, mostramos alguns destaques do nosso levantamento, que ilustram nossa leitura e justificam a escolha do caminho e da calçada da proposta de percurso. Começamos com algumas imagens dos canteiros de árvores, nas fotos ao lado destacamos sua total falta de continuidade e homogeneidade. Terminamos com uma seleção de fachadas residências, que no recorte de estudo em sua maioria são gradeadas, para pontuar o impacto na calçada das diferentes opacidades de vedação e a monotonia que essas extensas grades provocam no espaço público.
Canteiros de árvores registrados no percurso, fotos Guega Rocha Carvalho.
101
restaurante / comĂŠrcio pontos da rede amiga toldos - bons p pontos de encontro rua alagoas, face norte
banca de jornal limitou a passagem do pedestre fachada edifĂcio sem grade, mas c rua interna
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posto de gasolina entrada de carro em todo lote, essa calçada deve ser evitada
rua alagoas, face sul
arborização árvores de maior porte, mais sombra fachada edifício, sem muro /grade e com extensa área sem entrada de garagem
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rua albuquerque lins, face leste
guarda corpo ajuda para vencer a topografia rua a
lbuq uerq ue li ns
fachada edifício com recuo, mas com jardim não permeável
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escada usada pelos funcionários do shopping como banco
alameda barros, face sul
ciclovia proteção entre carro e pedestre, importante em via c alto tráfego
paisagismo não embeleza, não drena e não zonifica positivamente a calçada
paraciclo único encontrado no percurso
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condomínio de alto padrão entrada que atrapalha o trânsito rua itambé + maria antônia + higienópolis + major sertorio + dona veridiana
muro iate clube extenso e tombado
cruzamento de via entroncamento de 5 vias, tempo de travessia da rua major sertório muito curto (7 segundos)
Fachadas residenciais registradas no percurso, fotos Guega Rocha Carvalho. 106
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mapa do percurso escolas 01 CEI PACAEMBU 02 CEI PINOCHIO IV 03 ESCOLA CARLITOS 04 CEI HIGIENÓPOLIS 05 EXTERNATO PIA S VICENTE DE PAULO I 06 COLÉGIO OSWALDO CRUZ 07 COLÉGIO EQUIPE 08 CEI PINOCHIO II 09 ESCOLA CARINHA SUJA 10 E. E. PROF FIDELINO DE FIGUEIREDO 11 COLÉGIO RENASCENÇA 12 COLÉGIO RIO BRANCO praças
13 COLÉGIO NOSSA SENHORA DE SION
escolas
14 CLARET CRECHE
outros espaços educadores edifícios do percurso
16 COLÉGIO HIGIENÓPOLIS 17 E. E. ARTHUR GUIMARÃES
rede amiga
18 EMEI MONTEIRO LOBATO
banca de jornal
19 COLÉGIO PRESBITERIANO MACKENZIE
ponto de táxi
20 EMEI DR GABRIEL PRESTES
ponto de ônibus ponto de bicicleta
108
15 COLÉGIO CLARETIANO DE SÃO PAULO
21 E. E. PROFa MARINA CINTRA 22 FACES EDUCAÇÃO BILINGUE 23 ESCOLA CORUJA
ciclovia
24 COLÉGIO OFÉLIA FONSECA
percurso
25 SESC CONSOLAÇÃO
PÇA FARIAS BRITO
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PÇA ESTHER MESQUITA
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PÇA ROTARY
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fatores para um bom percurso Considerando todo nosso aprendizado, somando a pesquisa de dados secundários, com as dinâmicas com as crianças e a leitura do território, definimos os fatores para uma boa experiência do percurso, dividindo-os em 4 planos (calçada, rua, fachada e cobertura), como fez a prefeitura de Nova York em seu manual Active Design. Shaping the Sidewalk Experience*. GSPublisherVersion 0.0.100.100
CALÇADA continuidade: uma calçada larga com um percurso contínuo é muito mais agradável e segura. Ao escolher o caminho, é importante selecionar as quadras com menos entradas de garagem e evitar os postos de gasolina, pois é possível a entrada de carros em toda sua extensão. A topografia também tem que ser levada em conta, para seleção de percursos mais planos. Idealmente, a travessia da rua deveria ser uma continuação clara da calçada e um projeto de piso contínuo, acessível, passando por todas as quadras e cruzando as vias, pode dar conta disso. pontos para brincar: mais do que caminhar, queremos que as crianças recuperem a possibilidade de brincar nas ruas. Calçadas mais largas ou 110
de possível alargamento podem ser ideais para instalação de uma linha de mobiliário-brinquedo, que permitam as crianças sentar, saltar, escalar, correr, escorregar e pular, podem tornar o brincar ao ar livre possível e cotidiano para os pequenos. RUA cruzamento: os aspectos a serem considerados na escolha do melhor cruzamento para as crianças é avaliar a presença de faixa de pedestre, semáforo com botoeira, o tempo de semáforo, a intensidade do tráfego e a possibilidade de reduzir a distância da travessia. Transformar o cruzamento numa continuidade da calçada, ocupando algumas vagas de estacionamento de carros, sem comprometer o leito carroçável da via ou impedir uma mão de virar ou cruzar, em casos extremos, também pode ser considerado. GSPublisherVersion 0.0.100.100
sinalização: no cruzamento da via deve haver um alerta muito claro sobre a prioridade do pedestre (criança), que pode ser feito através do piso e placas de sinalização, presente em todo o caminho.
ciclovia: para as crianças as bicicletas fazem parte da sua vida e do seu lazer. Elas já reconhecem a ciclovia com parte integrante da mobilidade da cidade. Na implementação de um percurso da escola para a praça a presença da ciclovia é muito bem vinda. Primeiro para educar as crianças sobre as diferentes formas de mobilidade na cidade, segundo para que elas passem a usá-la a medida que forem crescendo, por fim, e não menos importante, por que a faixa da ciclovia garante mais segurança para as crianças na calçada, pois colocase como mediadora entre o tráfego do carro e do pedestre. GSPublisherVersion 0.0.100.100
FACHADA rede amiga: uma rede de comércio, serviços, edifícios e profissionais liberais deve ser previamente definida junto com pais e escolas e sinalizada no percurso para que essa rede de relações ajude a ‘vigiar’ e cuidar das crianças ao longo do caminho e dos pontos de brincar. recuos: os poucos recuos que ainda existem de edifícios e casas, presenteando a cidade com calçadas mais largas, podem ser aproveitados para definr os pontos de brincar.
muros e gradis: se por um lado os extensos muros e gradis são nocivos para a cidade por criar espaços sem fachada ativa, por outro eles garantem continuidade na calçada, o que é muito interessante para estabelecer pontos de brincar. COBERTURA árvores: é muito desejável que haja árvores no caminho, pois as árvores além de oferecer sombra e melhorar a qualidade do ar, elas educam as crianças sobre a importância da sustentabilidade. marquises: a existência ou criação de marquises, especialmente nos pontos de brincar das crianças, devem ser consideradas também no desenho do caminho, embora devamos levar em conta que tomar sol e chuva é um dos objetivos de levar as crianças para rua.
(*) “Desenho ativo: moldando a experiência nas calçadas”, em tradução livre para o português. Estudo desenvolvido em Nova Iorque a partir da colaboração entre diversos departamentos da prefeitura da cidade, como Secretaria de Planejamento, Construção, Saúde e Transporte, faz parte de uma coleção de estudos e pesquisas que buscam relacionar a forma urbana e o ambiente construído a aspectos da saúde, centrado no ponto de vista do pedestre.
cobertura rua
fachada
calçada Crianças do projeto Curumim em visita à praça Rotary, foto crianças. 111
a importância da rede amiga “Eu vim para escola a pé com minha mãe para a gente ir olhando todas as coisas. Eu vi a praça das Corujas, passei pela Teresa, minha professora de fono, e pelo Verinha. Como eu estava a pé, eu vi o Jorge (auxiliar do Verinha) e corri para dar um abraço nele, eu também vi uma mulher que eu sempre vejo passeando com cachorros... Quando a gente vai a pé, vê as coisas mais de pertinho e mais devagar. No carro é muito rápido e a gente se distrai.” Antonia, 5 anos, aluna da escola Vera Cruz II
Para a maioria de pais e professores, dar autonomia às crianças na cidade grande poderia equivaler a abandonálas à própria sorte. As próprias crianças acreditam nisso. Nas dinâmicas que desenvolvemos com crianças entre 6 e 12 anos, moradoras do distrito da Consolação, elas declaram claramente seu receio: “Eu não brinco na rua, porque é muito perigoso”, “Tem gente que rouba crianças.”, “É, o homem do saco”. Essa autonomia só pode existir se houver um adensamento das relações, a criação e reforço de vínculos. A segurança da criança, que parece estar garantida apenas dentro de casa, pelos pais e tutores, e na escola, pelos educadores, pode também existir na cidade se ela for afiançada pela comunidade. As bem sucedidas experiências de caminhos 112
escolares na Europa, EUA, Japão e até na América Latina comprovam isso. Com a participação da comunidade, são definidas rotas mais seguras do percurso casa-escola, nas quais estabelecimentos comerciais do percurso são estimulados a fazerem parte da ação, ganhando o selo de comércio amigo, assim as crianças sabem a quem recorrer em caso de alguma necessidade ou perigo. Mas achamos que devemos ir além do comércio e criar uma REDE AMIGA que seja composta de estabelecimentos e pessoas que são amigas, acessíveis e reconhecidas pelas crianças. Em nossa rede temos: Estabelecimentos relacionados com refeições: padarias, lanchonetes, restaurantes, pizzarias, sorveterias e docerias (fundamentais porque são
facilmente reconhecidas e acessíveis para as crianças, principalmente os de fachada totalmente permeável). Pequenos mercados e quitandas (crianças podem frequentar com os pais e normalmente tem fachada permeável). Livrarias, petshops, academias, cabelereiros (lugares que as crianças possivelmente frequentam com seus pais). Bancas de jornais, pontos de taxi (já está na rua, de acesso direto pelas crianças). Porteiros de edifícios e vendedores ambulantes (aqueles que as famílias reconhecem e confiam e já são amigos das crianças).
Crianรงas do projeto Curumim conversando com vendedor de cocada no caminho do parque Buenos Aires, foto Joana Andrade.
113
a questão da continuidade Toda a nossa pesquisa, da cartografia com as crianças aos manuais de caminhos escolares e trânsito apontam para a importância da continuidade e da clara sinalização do caminho a ser percorrido pelas crianças. A maior preocupação está relacionada com a convivência segura entre pedestre e automóveis. Os automóveis são os responsáveis pela presença de entradas de garagem e cruzamento de vias, que interrompem o caminho das crianças. Além disso não há nenhuma continuidade visual e de qualidade das calçadas, uma vez que a responsabilidade pela sua execução e manutenção fica a cargo do dono ou usuário do lote, seja residencial, comercial, de serviço ou institucional e não sob custódia do poder público. Em nossa leitura do território encontramos dezenas de tipos de piso e inúmeras entradas de garagem. Percebemos que seria vital para nosso projeto buscar uma solução que ao mesmo tempo trouxesse a desejada continuidade, mas que fosse capaz de sinalizar muito claramente as interrupções e perigos de entradas de carro para as crianças. Começamos 114
então
a
exercitar
possíveis soluções de unificação de piso para esse caminho. Num primeiro momento, buscamos referencias de intervenções já feitas para caminhos e travessias para crianças e o grande denominador comum entre elas era o uso lúdico da cor. Tínhamos como uma das premissas do nosso trabalho, usar o conceito da ambivalência, ou seja, criar uma intervenção que fosse atraente para as crianças mas também adequada e absorvida pela cidade. É claro que o uso da cor pode ser universal, mas queríamos fugir de soluções que infantilizassem o caminho.
Crianças correm na calçada na saída da escola sem darem-se conta do risco das entradas de garagem, foto Guega Rocha Carvalho. Pisos de calçada registrados no levantamento do território, fotos Guega Rocha Carvalho.
115
a questão da continuidade Chegamos então na ideia que nos pareceu muito interessante e realística, pois outra premissa do nosso projeto era trabalhar dentro do possível e do existente na cidade. Usar o ladrilho hidráulico com a estampa consagrada do mapa de São Paulo1 para criar continuidade e sinalizar claramente o percurso.
Totalmente livre: composições livres do mosaico, ora subtraindo os quadrados pretos, ora os triângulos, ora juntando-os de maneiras diferentes, enfim criando estampas divertidas para indicar as novas áreas de brincar na calçada.
Apesar de aparentemente séria e sem cor a combinação dos ladrilhos quadrados brancos, quadrados pretos, e triângulos preto e branco nos dá a possibilidade de criar infinitas combinações. Definimos então usar 4 padrões:
calçada rua alagoas
Tradicional, o mapa de São Paulo: para indicar o caminho do pedestre, uma vez que essa combinação já é consagrada como piso de calçada. Totalmente preto: para indicar guia rebaixada / entrada de garagem, já que o preto é o que mais se aproxima do asfalto, que é o lugar do carro. Totalmente branco: para indicar aproximação da faixa de pedestre, pois a faixa é reconhecidamente branca e pretendemos estendê-la, fundido-a com a calçada.
116
(1) A estampa foi criada em 1996 pela desenhista de obras da prefeitura, Mirthes Bernardes, vencedora do concurso aberto pelo então prefeito Faria Lima, para escolha de uma estampa para cobrir as principais avenidas da cidade.
primeiros croquis
paginação tradicional indica passeio do pedestre
piso preto: entrada de garagem
piso branco: faixa de pedestre
paginação livre indica área de brincar
exemplo 1 desenho subtraindo triângulos pretos
exemplo 2 desenho subtraindo quadrados pretos
exemplo 3 desenho totalmente livre GSPublisherVersion 0.0.100.100
117
permanência e ambivalência
IMPACTO POSITIVO DAS RUAS DO BRINCAR
“Olhe, a neve! Um milagroso truque dos céus, uma fugaz correção. De repente a criança é o senhor da cidade. Ela está por todos os lados, redescobrindo a cidade enquanto a cidade redescobre suas crianças, mas só por um instante. Porém, o que precisamos é de algo mais permanente do que a neve1.” (EYCK, 1962) Uma das grandes referências para o nosso trabalho é a concepção e projeto dos 736 parquinhos de Amsterdan, desenvolvido pelo arquiteto Aldo Van Eyck entre 1947 e 1978. O primeiro ponto importante é a questão da perenidade. É muito bonito essa imagem que Van Eyck nos desperta ao olhar as crianças brincando na neve. Ele percebe que a cidade, involuntariamente, naquele momento, se torna mais lenta, amigável e divertida. A neve planifica tudo e transforma a cidade num imenso parquinho. Mas, logo após essa grata surpresa, ele chama a atenção para a necessidade de ter uma solução mais perene, que possa ser absorvida pela cidade e por isso um dos grandes méritos do seu projeto é a capilaridade. Os mais de setecentos parquinhos dão conta de cobrir todos os bairros da cidade e, assim, as crianças não precisam percorrer grandes distâncias, nem esperar o fim de semana para ir a um espaço livre para brincar cotidianamente. 118
Vivemos um momento na cidade em que as pessoas estão despertando para o espaço público. Ações como as rua do brincar, ruas que são fechadas para os carros e aberta para as pessoas aos domingos, têm ajudado nesse resgate, mas ainda são poucas na cidade. Não temos dúvida de que essa ação é muito benéfica. Há estudos que já evidenciam que as crianças se tornam mais saudáveis e as comunidades mais felizes, mas de qualquer forma é um modelo provisório, que só funciona aos fins de semana. Queremos dar possibilidade para as crianças brincarem ao ar livre todos os dias. Outro aspecto que nos fascina no trabalho de Van Eyck é a questão da ambivalência. Como ele próprio define “A coisa especial sobre esses parquinhos é que eles não pertencem exclusivamente às crianças.” As peças criadas pelo arquiteto são baseadas em formas arquetípicas relacionados
aos movimentos básicos da criança de correr, pular, escalar, esticar, que por um lado dão mais liberdade para a criança brincar, explorar e inventar e por outro permite que todos os habitantes da cidade as usem, de dia, de noite, com ou sem as crianças. O nosso projeto não cria propriamente brinquedos, cria espaços e objetos ambivalentes que podem servir como banco, mesa, palco de teatro, casa de boneca ou o que a criança e os adultos imaginarem. Acreditamos que não necessariamente é o brinquedo que cria o brincar e sim a criança que transforma elementos do cotidiano em brincadeira.
(1) Tradução livre da autora de “Look, snow! A miraculous trick of the skies – a fleeting correction. All at once, the child is Lord of the city. The child is everywhere, rediscovering the city whilst the city in turn rediscovers its children, if only for a while. Yet what it needs is something more permanent than snow. Foto do primeiro playground projetado por Van Eyck para o bairro de Bertelmanplein, em Amsterdan, foto Amsterdam City Archives.
Pesquisa aplicada na rede britânica das “Playing out” streets mostrou como o modelo provisório da Rua do Brincar está causando uma repercussão profunda nas crianças, adultos e em toda a comunidade de cada rua. Os principais impactos positivos verificados são: A maioria das pessoas atestou que as crianças aprenderam ou melhoraram suas habilidades físicas e competências sociais, como andar de bicicleta (80%) e interagir com outras crianças (88%) A maioria afirmou que graças ao resultado das ruas do brincar elas conheceram mais pessoas vizinhas de sua rua (91%) e passaram a ter um maior sentimento de pertencimento em relação ao seu bairro (84%)
Publicado por Irene Quintáns, 02/08/2017, em mobilize.com.br
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pontos de brincar CRITÉRIOS PARA DEFINIÇÃO DOS PONTOS DE BRINCAR CALÇADA
Boa condição espacial (largura e continuidade) / possibilidade de criá-la. Evitar ou proteger de trechos com alto tráfego de pedestres, como proximidade com equipamentos público.
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RUA
Escolher trecho com menor tráfego / velocidade de automóveis. Avaliar a possibilidade de redução das vagas de estacionamento de carros para permitir o alargamento da calçada, ou implantação de parklets de brincar sem comprometer o leito carroçável da via.
FACHADA
Imprescindível ter proximidade de ponto (s) da rede amiga, permitindo a franca visibilidade do ponto de brincar pela rede. Avaliar a existência de recuos, muros e gradis que podem ser potencializados pelo ponto de brincar.
COBERTURA DISTÂNCIA
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Existência ou possibilidade de criação de sombra (árvores ou marquises). Mínimo de 200m e máximo de 500m de distância de uma praça ou outro ponto de brincar.
ALGUNS PROCEDIMENTOS POSSÍVEIS DE PROJETO Mudança de piso, buscando continuidade e clareza na demarcação das áreas do pedestre, da brincadeira, da travessia de rua e da entrada de carros.
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Novo desenho de canteiros de árvores, buscando maior permeabilidade e continuidade, e implantação de jardins com flores. Criação de volumetria no piso e implantação de mobiliários-brinquedos seguindo o conceito de ambivalência de brincar-usar.
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Alargamento da calçada, ocupando vagas de estacionamento de carros. Instalação de parklets, ocupando duas vagas de estacionamento de carros, em frente ou próximo da rede amiga.
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Instalação de brinquedos-mobiliários em muros e gradis. Aumento da arborização e criação de pequenas marquises, quando necessário.
5 PASSOS PARA CRIAR UM PERCURSO PRAÇAS-ESCOLAS 1. Limite a área para estabelecer a rede entre praças e escolas, com idealmente no máximo 1 km de diâmetro, para que as crianças andem sem se cansarem e se entediarem. 2. Levante as praças, escolas, outros espaços educadores e estabelecimentos para integrar a rede amiga. 3. Faça a leitura do território para eleger o melhor caminho entre as praças e escolas e as melhores calçadas para caminhar e brincar. 4. Escolha os lugares para implementar os pontos de brincar. 5. Defina os procedimentos de projeto para dar unidade à intervenção.
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pontos de brincar rua coronel josĂŠ eusĂŠbio
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rua alagoas x itacolomi
rua albuquerque lins
rua são vicente de paulo
alameda barros
rua barão de tatuí
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pontos de brincar largo santa cecĂlia
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rua jaguaribe
rua general jardim
rua maranhão
Dos dez pontos de brincar definidos, escolhemos três, de escalas diferentes, para desenvolver o projeto arquitetônico-urbanístico de fato. Esses projetos representam uma pequena amostra de como poderiam ser os pontos de brincar não apenas nesse distrito, mas de qualquer outro ponto da cidade, uma vez que nos apropriamos de estruturas que encontramos em todas as partes, como calçadas, vagas de estacionamento, muretas e muros. Cada um deles tem uma escala e um procedimento próprio, para exercitar e exemplificar um leque de situações possíveis. ponto de brincar . grande escala rua Coronel José Eusébio, muro do cemitério da Consolação. ponto de brincar. escala média rua Alagoas, edifício residencial. ponto de brincar . escala pequena rua Barão de Tatuí, parklet.
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PONTO DE BRINCAR . GRANDE ESCALA O quarteirão da lateral do Cemitério da Consolação, de 180m de extensão totalmente contínuo, sem nenhuma entrada de garagem, mostrou-se um excelente lugar de intervenção. O primeiro procedimento foi eliminar todas as vagas de estacionamento de carro dessa face da via e ampliar a calçada em 2,50m. A área ampliada tornou-se o espaço de circulação do pedestre e a antiga calçada, de 3m, transformou-se no espaço de brincar. Nessa área, a topografia, com declive de quase sete metros foi redesenhada, acomodando de um lado uma caixa de areia ladeada por bancos, e, do outro, uma rampa recreativa para as
crianças e adolescentes andarem de patins, patinete, skate ou bicicleta, para atender aos desejos tão latente das crianças por atividades mais radicais. No centro da quadra, um patamar de 50cm separou a área de brincar do passeio do pedestre e deu acesso aos vãos criados dentro do muro, onde se encontram escorregador, balanços, rede e banco. A iluminação da quadra foi reforçada, medidas de traffic calm adotadas e estabelecimentos de comércio e serviços foram integrados à rede amiga, para garantir mais segurança para as crianças e suas famíilas.
Traffic calming pode ser definido em dois sentidos: amplo e restrito. O primeiro propõe uma política geral de transportes que inclui, além da redução da velocidade média nas áreas edificadas, um grande incentivo ao tráfego de pedestres, ao ciclismo, ao transporte público e à renovação urbana. No seu sentido restrito, traffic calming pode ser considerado como uma política para a redução da velocidade dos veículos em áreas edificadas e, portanto, amenizando o impacto ambiental desses veículos. Considerando o traffic calming no sentido restrito, seus objetivos dividem-se em três categorias: • reduzir o número e a severidade dos acidentes; • reduzir os ruídos e a poluição do ar; e • revitalizar as características ambientais das vias através da redução do domínio do automóvel. Fonte: Manual de Medidas Moderadoras de Tráfego, BHTRANS (Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte).
ELEVAÇÃO NORTE escala 1:750
RESTAURANTE
PLANTA BAIXA escala 1:750
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CORREIO
INSTITUTO LOJA DE MOVEIS DE PESQUISA
5
10
20
PERSPECTIVA sem escala 127
PONTO DE BRINCAR . GRANDE ESCALA
O Cemitério da Consolação, com sua farta arborização, é a mais antiga necrópole em funcionamento da cidade, abriga obras de arte, que serviram para ornamentar os jazigos de personalidades importantes na história do Brasil. Pela sua importância e beleza, abrimos janelas para que as crianças possam brincar dentro de seus muros, sob a sombra de suas árvores.
RUA MARANHÃO
ELEVAÇÃO NORTE escala 1:250
PLANTA BAIXA escala 1:250
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Implantação de lombadas para redução de velocidade (velocidade permitida baixou para 30 km/h).
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Nova desenho da topografia tira proveito do desnível para criar uma caixa de areia e pista recreativa.
RUA CORONEL EUSÉBIO JOSÉ EUSÉBIO
RESTAURANTE
CORREIO
GSPublisherVersion 0.0.100.100
Estabelecimentos comerciais e de serviço selecionados para fazerem parte da rede amiga, para dar segurança e assistência para as crianças.
INSTITUTO DE PESQUISA
LOJA DE MOVEIS
Todos as vagas de estacionamento de carros desse lado da via foram removidas e a calçada foi aumentada em 2,50m. Essa nova área se tornou a passagem do pedestre e a calçada antiga foi convertida em espaço para brincar.
RUA DA CONSOLAÇÃO
Topografia original.
PONTO DE BRINCAR . GRANDE ESCALA Piso Preto: indica perigo para pedestre, entrada de garagem.
DETALHE PISO escala 1:100 GSPublisherVersion 0.0.100.100
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Estampa Tradicional: indica passeio do pedestre, calçada regular.
Estampa Livre: Indica liberdade, áreas de brincar e estar.
Piso Branco: indica atenção, travessia de pedestre.
A farta arborização dentro do cemitério, próxima aos muros e já existente na quadra garante sombra para os novos espacos de brincar e estar.
O desnível de 6m de altura ao longo de uma rampa gradual de 80m de extensão, nos permitiu criar uma rampa recreativa para esportes radicais, um dos maiores desejos das crianças para espaços públicos. Janelas foram abertas no muro para abrigar balanços, escorregadores, redes e bancos, para crianças e adultos de todas as idades brincarem e ficarem.
O pequeno desnível de 80 cm foi perfeito para encaixar uma caixa de areia rodeada por bancos, para desfrute especialmente das crianças mais novas e suas famílias.
Medidas de traffic calm adotadas: 1. Redução do limite de velocidade permitido (para 30 km/h). 2. Colocação de lombadas ao longo da via (que é de mão única). 3. Aumento da calçada e eixo de giro das esquinas em 2,50m. A iluminação foi reforçada em toda quadra, com implantação de postes de luz mais baixos (2,50m de altura) para o ponto de brincar poder ser desfrutado também a noite.
PERSPECTIVA AXONOMÉTRICA sem escala
PONTO DE BRINCAR . MÉDIA ESCALA
Nesse ponto, de escala média, tiramos proveito de um dos dois únicos edifícios sem grade e muros do percurso. A vantagem desse ponto é sua área contínua de calçada de 45m, na rua Alagoas, e 15m na rua Itacolomi. O primeiro procedimento foi aumentar a largura da calçada em 2,2m nas quatro esquinas, seguindo a recomendação da NACTO (National Association of City Transportation Officials), para reduzir a distância de cruzamento em vias menores, extendendo um pouco mais essa ampliação nos 45m da rua Alagoas e 15m da Itacolomi para criar o ponto de brincar. Em frente ao edifício, há uma mureta que começa com 30cm de altura e termina com 70cm, por conta do gradual declive. Em frente a essa mureta, implantamos uma linha de mobiliáriosbrinquedos, no qual se destaca os 132
bancos-gangorras, para demarcar claramente o espaço de brincar. A iluminação da quadra foi reforçada, medidas de traffic calm adotadas e o edifício residencial, a banca de jornal e o ponto de táxi foram integrados à rede amiga, para garantir mais segurança para as crianças e suas famíilas.
PERSPECTIVA sem escala
RUA ITACOLOMI
Medidas de traffic calm adotadas: 1. Redução do limite de velocidade permitido (para 30 km/h). 2. Colocação de lombadas ao longo das duas via (que são de mão única). 3. Aumento do eixo de giro das quatro esquinas em 2,20m.
TÁXI
BANCA JORNAL
RUA ALAGOAS
EDIFÍCIO RESIDENCIAL O edifício comercial, a banca de jornal e o ponto de táxi fazem parte da rede amiga, para dar segurança para as crianças.
PLANTA BAIXA escala 1:250
GSPublisherVersion 0.0.100.100
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PONTO DE BRINCAR . MÉDIA ESCALA
Além de ser um dos poucos edifícios residenciais da região, sua pequena mureta que varia entre 30 e 60 cm, cria um banco simpático para os passantes. O projeto cria uma linha paralela de mobiliários-brinquedos que limita claramente o espaço de brincar.
A iluminação foi reforçada, com implantação de postes de luz mais baixos (2,50m de altura) para o ponto de brincar poder ser desfrutado ao noitecer.
Bancos-gangorra, seguem o conceito da ambivalência, de objetos que possibiltam diversos usos.
PERSPECTIVA AXONOMÉTRICA sem escala 134
Estampa Tradicional: indica passeio do pedestre, calçada regular.
Estampa Livre: Indica liberdade, áreas de brincar e estar.
Piso Branco: indica atenção, travessia de pedestre.
Aumento da calçada em 2,20 m em toda a frente do edifício. Na área ampliada está o passeio do pedestre e a calçada antiga, mais abrigada, tornou-se o espaço de brincar.
DETALHE PISO escala 1:100 GSPublisherVersion 0.0.100.100
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PONTO DE BRINCAR . PEQUENA ESCALA micro, que permite dar capilaridade para os pontos de brincadeira. Esses pequenos equipamentos poderiam ser instalados em frente de edifícios residenciais, ou próximo de estabelecimentos amigos da criança, como padarias, lanchonetes, pet shops, etc, financiado por parcerias públicoprivada ou associações de moradores. Nesse exemplo que desenvolvemos, ele fica em frente a um pequeno edifício residencial sem garagem, e consiste numa estrutura metálica que serve ao mesmo tempo de proteção,
floreira, banco e trepa-trepa. O piso do parklet, é revestido com os mesmos ladrilhos preto e branco, só que com uma estampa livre que se estende para a calçada, chamando a atenção para a instalação do ponto de brincar. A iluminação da quadra foi reforçada, medidas de traffic calm adotadas e o edifício residencial e a loja vizinha foram integrados à rede amiga, para garantir mais segurança para as crianças e suas famíilas.
ALAMEDA BARROS
Tiramos proveito da ferramenta de intervenção urbana rápida e pontual já existente na cidade, os parklets, para criar esse ponto de brincar de escala micro. Embora questionemos o uso atual dos parklets, largamente usado por bares e restaurantes, privatizando o espaço público, acreditamos que ocupar duas vagas de estacionamento criando um espaço livre para brincar pode ser uma interpretação muito positiva desse tipo de operação. Seus pontos positivos são a possibilidade de rápida implementação e sua característica
RUA BARÃO DE TATUÍ
PLANTA BAIXA escala 1:200 136
1
5
10
PERSPECTIVA sem escala
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PONTO DE BRINCAR . PEQUENA ESCALA
Uma estrutura metálica única funciona como proteção, floreira, banco e trepa trepa.
DETALHE PISO / PARKLET escala 1:50 138 GSPublisherVersion 0.0.100.100
O piso do parklet se funde com o da calçada, ampliando o espaço de brincar.
A iluminação foi reforçada, com postes de luz mais baixos (2,50m de altura).
O parklet mede 2,2 x 10m e ocupa duas vagas de estacionamento de carro e foi implantada a mais de 15m da esquina, conforme norma da prefeitura.
Medidas de traffic calm adotadas: 1. Redução do limite de velocidade permitido (para 30 km/h). 2. Colocação de lombadas ao longo da via (que é de mão única).
PERSPECTIVA AXONOMÉTRICA sem escala 139
considerações finais Gostaria de concluir esse trabalho retomando porque acreditamos nesse projeto e, em seguida, refletindo sobre a possibilidade de expansão para o território da cidade e os entraves para sua real execução. Acreditamos na potência da ligação entre a praça e escola, porque transformar esse espaço de circulação das crianças entre suas casas, a escola e a praça, num caminho mais seguro, um passeio mais agradável e uma experiência cotidiana mais divertida é um ato político, educativo e social. Político porque enfatiza a importância da presença da criança na cidade. O novo desenho de piso que liga praças e escolas tem o papel de chamar a atenção de toda sociedade, é como ele dissesse “Hei, há crianças por aqui e elas podem e querem ocupar esse espaço livre da cidade, que, afinal, também é delas, tome cuidado.” Queremos trazer a tona o papel de cidade educadora e formadora dos seus habitantes, estimulando a criação de uma rede amiga da criança, que viabiliza o brincar das crianças nas ruas com mais autonomia e segurança. Educativo porque evidencia a necessidade de reformar o ensino 140
tradicional, há muito tempo ineficiente e ultrapassado. O Brasil é o 58o colocado, entre 64 países participantes no PISA1 2012. 60% das escolas públicas estão abaixo das metas do IDEB2 2014 nos anos finais do ensino fundamental e as escolas públicas estaduais tem um índice muito abaixo das escolas privadas. A proposta de educação integral, para muitos pensada como solução, tem que ser vista sob a perspectiva do tempo e do espaço. Novas proposta pedagógicas, como as Comunidades de Aprendizagem, ampliam os limites da escola, apropriando-se de ambientes ociosos do bairro, desenvolvendo uma série de atividades fora da escola. Nosso projeto almeja destacar a importância do brincar e da vivência do espaço público para a formação das crianças em cidadãos conscientes e atuantes, e a rua e a praça nos parece excelentes lugares de aprendizado. Social porque permite que as crianças brinquem ao ar livre, o que é fundamental para sua saúde e desenvolvimento, estimula o encontro cotidiano da comunidade e permite o convívio de crianças de diferentes níveis sócio econômicos nas ruas e pontos de brincar da cidade. O cotidiano infantil é
um espelho da sociedade, cada grupo vive segregado em seu ambiente. A rua e a praça são espaços democráticos e representam praticamente a única possibilidade dessas crianças se mesclarem. Quanto à possível expansão do projeto para o território da cidade, confiamos que isso seria possível, mesmo a cidade sendo tão heterogênea e o nosso recorte de estudo ter sido um distrito central e não por exemplo, um outro periférico. A ausência de uma farta oferta de praças foi definitiva para a escolha do território para diagnóstico, mas não impede a implantação do projeto, uma vez que o percurso praças-escolas propõe a transformação do espaço de circulação em lazer, criando espaços de brincar ao longo do caminho, ‘pracificando’3 esses caminhos. Essa ideia de fragmentação dos espaços do brincar foi trazido pelo próprio olhar da criança, que almeja mais liberdade e transforma qualquer obstáculo numa divertida brincadeira. Apesar de acreditarmos na força da ideia, temos consciência das dificuldades para sua concretização. Para realizar esse projeto precisamos
de novas calçadas e mobiliáriosbrinquedo, apropriação de algumas vagas de estacionamento, mudanças de algumas vias de trânsito, formação de uma rede amiga da criança, a coragem e o desejo dos pais de exporem seus filhos ao dia a dia da cidade e a disposição de escolas de se abrirem. São muitos atores que precisariam se mobilizar para que isso de fato acontecesse. O gestor da cidade precisaria dar prioridade para a questão da presença da criança na cidade e assumir a responsabilidade de refazer as calçadas, autorizar a apropriação de espaços livres e vagas de estacionamento, além de repensar a segurança das vias. A sociedade, incluindo os pais, precisaria acreditar na formação de uma rede que pode ser responsável pelo cuidado da criança na rua ao invés de buscar soluções que trancafiem e vigiem as crianças entremuros. Por fim, as escolas deveriam se dispor a usar o espaço público como espaço também educador e, idealmente, abrirem-se para compartilhar seus equipamentos dentro de uma rede educadora. Enfim, os entraves são muitos, mas como diz Francesco Tonucci levar as crianças para caminhar na cidade não
é uma relação fácil e seu projeto confia no conflito. Nós também confiamos. Essa é a realidade da cidade, e pensamos que essa disputa deve incluir e acolher as crianças.
(1) Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, que avalia o desempenho em matemática, leitura e ciência, de estudantes que estão perto de concluir o ensino fundamental. Fonte: OCDE. (2) Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, que avalia o desempenho dos alunos, baseado no aprendizado de português e matemática (Prova Brasil) e no fluxo escolar (taxa de aprovação, reprovação e abandono). (3) ‘pracificar’, transformar um espaço livre em praça - expressão do professor mestre em antropologia social, Pedro Lopes. Crianças do projeto Curumim chegando ao Parque Buenos Aires, foto Joana Andrade.
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bibliografia ANDRADE, Luciana Teixeira de. Singularidade e igualdade nos espaços públicos. Revista do Arquivo Público Mineiro. Ouro Preto: Imprensa Oficial de Minas Gerais. Ano 1, n. 1. P. BAUMAN, Zygmunt. Confiança e Medo na Cidade. Relógio d’augua, 2005. BRETTAS, Nayana. A cidade (re) criada pelo imaginário e cultura lúdica das crianças. Tese de Mestrado, 2009. CHING, Francis D. K. Dicionário visual de arquitetura, São Paulo, Editora, Martins Fontes, 2003. EYCK, Aldo Van. Aldo Van Eyck Withings. The child, the city and the Artist, editado por LIGTELIJN, Vincent e STRAUVEN, Francis. SUN, 1962. GEHL, Jan; tradução Anita Di Marco, Cidade para Pessoas, 2a edição, São Paulo, Editora Perspectiva, 2013. GOULART Beatriz. O pátio escolar como território entre escola e cidade, 2011. SECCHI, Bernardo. Primeira Lição de Urbanismo, São Paulo, Editora Perspectiva, 2015. ROLNIK, Raquel. O lazer humaniza o espaço urbano. In: SESC SP. (Org.). Lazer numa sociedade globalizada. São Paulo: SESC São Paulo/World Leisure, 2000 TONUCCI, Francesco. La ciudad de los ninos. Espanha, Grao, 2015. PESQUISAS A percepção de crianças e adolescentes sobre a segurança e a violência. Instituto Igarapé. Junho, 2017 Infância e Segurança. Um estudo sobre a percepção da violência por crianças e adolescentes do Complexo do Muquiço, Rio de Janeiro. Instituto Igarapé. Agosto, 2016. IRBEM (Indicadores de Referência de Bem-Estar no Município) Criança e Adolescente, Rede Nossa São Paulo, IBOPE, Instituto Alana e C&A. Junho, 2015. Relatório do V Encuentro La ciudad de los niños, la infância y la ciudad – una relación difícil. PLATAFORMAS DIGITAIS http://alana.org.br https://bernardvanleer.org/solutions/urban95/ http://caronaape.com.br http://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br http://lacittadeibambini.org http://mobilize.org.br http://movimentoboapraca.com.br http://nacto.org http://redocara.com
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AGRADECIMENTOS
Agradeço à minha orientadora de TC e EV Carol Tonetti, que desde o início nos estimulou com seu talento, boas referências, muita dedicação e desejo de dar visibilidade para toda nossa pesquisa e projeto. Ao nosso orientador de EV Martin Corullon que nos desafiou a ir além da pesquisa e criar um projeto que fosse realmente capaz de transformar a cidade e a vida das pessoas. Aos co-orientadores de EV André Vainer e Silvio Oskman por suas colaborações e provocações. À Irene Quintãs, que se dispôs a ver nosso trabalho, aceitou o convite para fazer parte da banca avaliadora, e fez questionamentos muito importantes para direcionarmos mais claramente o objetivo do projeto. À equipe de colaboradores, especialmente à Juliana Flahr, pela seu comprometimento e parceria incondicional em todo processo de pesquisa e projeto, à Joana Andrade pelo empenho nas dinâmicas com as crianças, ao Felipe do Amaral pelas discussões sobre educação e cidadania e ao Mateus Loschi pelo sua incansável dedicação em projeto. À Ana Cristina de Souza, supervisora do Núcleo de Programas Socioeducativos do SESC Consolação, e Sandra Carlini, coordenadora de área EI / EF1 do Colégio Rio Branco Higienópolis, pela abertura, disposição e parceria na realização das dinâmicas com as crianças. Às professoras do ensino infantil da escola Vera Cruz, Silvia Macul e Silvia Zerbini, que despertaram meu olhar sobre a importância de relacionar o espaço educador com o espaço público, que também educa. À Carolina Padilha, professora do colégio Equipe e uma das idealizadoras do projeto Carona a Pé, por compartilhar comigo a experiência de caminhar com as crianças na mesma área de recorte do projeto. Ao Eduardo, o Duda, meu marido, e toda minha família, especialmente meu pai Mario Mattos Rocha e minha mãe Elizabeth Gonçalves Evangelista, por toda paciência e apoio nesse período tão intenso da minha vida. Por fim, não poderia deixar de agradecer à Rosália e Cristiana por cuidarem tão bem da Iza por muitos dias e noites para eu poder cursar a faculdade com tanta dedicação e paixão.
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guega rocha carvalho . grocha.carvalho@gmail.com